Item 1 | |||
Id | 73308878 | ||
Date | 2025-07-17 | ||
Title | Aumento de porcentagem de etanol na gasolina impulsiona biocombustíveis de milho | ||
Short title | Gasolina com mais etanol impulsiona biocombustível de milho | ||
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Crescimento do setor de etanol de milho no Brasil tornou-se peça-chave para atender demanda crescente do país por combustível. Mas expansão também acende alerta para preocupações ambientais. De olho nas nuances geopolíticas que impactam a economia brasileira, o governo Lula anunciou o aumento da mistura obrigatória de biocombustíveis: a gasolina passará a ter 30% de etanol. Já o diesel, 15% de biodiesel. A decisão, que entrará em vigor em agosto, foi celebrada como um passo rumo à autossuficiência energética e à redução das emissões de carbono. Mas há um detalhe: boa parte do novo etanol virá do milho – e não da cana, como tradicionalmente ocorre. E a mudança, apesar de ser vista como positiva por especialistas ouvidos pela DW, poderá alterar o mapa da energia e do agronegócio no Brasil, com implicações ambientais, econômicas e sociais. "Se não houver um planejamento territorial, agrícola e hídrico robusto e com base em evidências, os usos competitivos [da terra para plantação] irão agravar os impactos ambientais e anular os potenciais benefícios climáticos", alerta a pesquisadora e membro eleita da Academia Brasileira de Ciências, Mercedes Bustamante. Menor dependência, combustível mais limpoO governo federal decidiu elevar a mistura obrigatória de etanol na gasolina de 27% para 30% (E30) e de biodiesel no diesel de 14% para 15% (B15), a partir de 1º de agosto. A expectativa é diminuir a dependência brasileira do petróleo e reduzir as importações, em um momento conturbado no mercado diante das instabilidades geopolíticas no mundo, além de um avanço estratégico na descarbonização do transporte pesado, um dos setores mais difíceis de reduzir emissões. Além do apelo ambiental, o E30 reacende a promessa de alívio no bolso dos brasileiros: com a nova mistura, o Brasil voltaria à autossuficiência em gasolina, após 15 anos, e a queda no preço desse combustível nos postos pode chegar a R$ 0,20 por litro, segundo cálculos do governo. "Estamos avançando com segurança no E30 e no B15 em nossos veículos. Estamos vencendo a batalha do preço dos combustíveis, para mantê-los cada vez mais baratos na bomba para o consumidor brasileiro. Isso é fundamental para manter o círculo virtuoso da economia por meio do combate à inflação", afirmou, no dia do anúncio, o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira. Nova fronteiraPara atingir esses objetivos, o país conta com o aumento no cultivo do milho. De acordo com relatório do Citi, a indústria de etanol de milho no Brasil passou de praticamente inexistente a um dos pilares da matriz de biocombustíveis em menos de uma década, com previsão de produção de até 16 bilhões de litros até 2032/33 - cerca de um terço de todo o etanol produzido no país. Segundo o Citi, já existem 22 usinas dedicadas à operação, com 12 em construção e 9 autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O banco afirma que, como o milho é plantado na segunda safra, popularmente conhecida como safrinha, ele garante suprimento estável durante o ano, inclusive na entressafra da cana-de-açúcar – que normalmente ocorre entre março a novembro no centro-sul do país. Para Guilherme Nolasco, presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), se não houvesse o aumento da produção de etanol de milho nos últimos anos, o Brasil não teria condições de fazer uma política pública de aumento da mistura, dado que não haveria combustível disponível e previsibilidade de oferta. "Essa solução está pronta, é economicamente viável, ambientalmente positiva dado que descarboniza de 70% até 90% da matriz fóssil, e o país ainda tem uma estrutura de abastecimento consolidada, não é necessário investimentos para aquele combustível chegar ao tanque do veículo. Ela é made in Brasil, é a nossa jabuticaba", diz O CO2 emitido pelo etanol pode ser considerado neutro, dado que a emissão já foi capturada da atmosfera durante o plantio. "Esse é o grande ativo dos combustíveis renováveis, com o etanol sendo utilizado em grande escala no Brasil", diz Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Atenção ao meio ambienteMas a promessa de uma energia mais verde esbarra na preocupação de ambientalistas e pesquisadores: a demanda por milho pode fomentar uma corrida pelo aumento das áreas cultiváveis, pressionando populações e áreas ambientalmente sensíveis - principalmente no Centro-Oeste, como em Mato Grosso e Goiás. "Estudos científicos indicam que o Cerrado já se tornou mais seco e quente em função da conversão em grande escala para pastagens e cultivo de grãos. Adicionalmente, há os impactos do aquecimento global. O último atlas de irrigação da Agência Nacional de Águas já mostra anomalias de precipitação na região na última década e a previsão do aumento de demanda de água para irrigação", afirma Mercedes Bustamante. "O agravamento de períodos secos e queimadas afeta a saúde. Adicionalmente, populações de comunidades tradicionais são particularmente afetadas pela perda de seus territórios e meios de vida com o avanço da agricultura industrial sem as salvaguardas adequadas", completa a pesquisadora. Para Felipe Barcellos e Silva, do IEMA, o fomento ao etanol de milho é uma iniciativa interessante, mas com impactos ambientais. Por isso, é necessário que o poder público trace limites para que o aumento da demanda não amplie confrontos e impactos negativos no campo no longo prazo. "A produção extensiva e sem nenhuma salvaguarda socioambiental de monocultura para a produção de biocombustível causa preocupação. A gente já percebe problemas importantes no Brasil em relação à produção de commodities, não necessariamente para a produção de biocombustíveis, mas para a exportação, principalmente a soja, e, agora, também o milho", diz. A solução para o especialista poderia ser oficializar áreas de exclusão, como locais importantes para a biodiversidade e áreas de produção agrícola destinada à alimentação humana, onde não será permitido a exploração comercial de commodities, mesmo que para biocombustíveis. "O que precisa ser feito é pensar exatamente quais áreas podem ser utilizadas. Uma área que não esteja com estresse hídrico, que não tenha pressão pela terra ou conflitos, ou seja, uma área que não seja próxima a territórios protegidos, e também o consumo mínimo de insumos agrícolas, como os agrotóxicos", afirma. Já para o representante do setor, o fato de o milho ser plantado na segunda safra, em revezamento com a soja, faz com que o impacto seja mitigado, dado que não é necessário novas terras para o plantio, que acaba sendo utilizado como adubo natural para outras culturas. "Você não terá uma mudança drástica no plantio, diferente do resto do mundo. A palha do milho ajuda a cultura da soja. Ela mantém a umidade do solo, protege do sol na seca, faz um controle biológico de nematóides - vermes microscópicos que parasitam plantas cultivadas - e resguarda o solo com todas as características para o plantio direto", afirma Guilherme Nolasco. "O Brasil tem o poder de influenciar as duas grandes pautas mundiais: segurança alimentar e transição energética através do seu modelo de produção, sem necessidade de desmatar e avançar sobre novas áreas intactas", conclui. |
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Short teaser | Crescimento do setor de etanol de milho no Brasil tornou-se peça-chave para atender demanda crescente do país. | ||
Author | Vinicius Pereira | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/aumento-de-porcentagem-de-etanol-na-gasolina-impulsiona-biocombustíveis-de-milho/a-73308878?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 2 | |||
Id | 73316382 | ||
Date | 2025-07-17 | ||
Title | Como é a taxação dos mais ricos pelo mundo? | ||
Short title | Como é a taxação dos mais ricos pelo mundo? | ||
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Brasil poderá ter um imposto de renda mínimo para os super-ricos, mas ideia de taxar o patrimônio deles, sugerida ao G20, está longe da realidade. Como é em outros países.O Brasil e boa parte do mundo vêm debatendo formas de fazer os super-ricos pagarem mais tributos, já que essa pequena parcela de pessoas está cada vez mais rica, mas paga proporcionalmente muito menos tributos do que o resto da população.
Por exemplo, segundo um estudo divulgado em julho pela Oxfam Brasil, os 10% de brasileiros mais pobres pagam, em proporção da sua renda, três vezes mais tributos do que 0,1% mais rico da população. A pesquisa aponta que os mais pobres comprometem 32% da sua renda com tributos, contra 10% dos mais ricos.
Não é tarefa fácil mudar esse panorama. Os super-ricos são em geral bem conectados com a classe política e os tomadores de decisão. Além disso, junto com a globalização, veio a maior facilidade de mover dinheiro de um país para outro, e o enfraquecimento das instituições multilaterais torna mais difícil a adoção de iniciativas globais.
Os defensores de cobrar mais impostos sobre os super-ricos, entre os quais estão alguns bilionários, afirmam que a medida seria importante para aumentar a justiça tributária e usar os recursos extras para enfrentar problemas como a pobreza e o aquecimento global. Já seus críticos argumentam que a medida poderia reduzir os incentivos ao empreendedorismo e à inovação.
As propostas sobre como cobrar mais tributos dos indivíduos super-ricos se dividem em dois grandes grupos:
Aumentar o imposto sobre a renda
Essa é a forma tradicional que países vêm adotando para cobrar mais impostos dos mais ricos, por meio da progressividade das alíquotas do imposto de renda – quanto maior a renda, maior a alíquota de imposto devido.
A maior faixa do Imposto sobre Renda de Pessoas Físicas no Brasil (IRPF) é hoje de 27,5%. Em outros países, a alíquota máxima atual é a seguinte, segundo um relatório da consultoria PwC:
Alemanha: 45%
Argentina: 35%
Chile: 40%
China: 45%
Colômbia: 39%
França: 45%
India: 39%
Indonésia: 35%
Itália: 43%
Japão: 45%
México: 35%
Noruega: 39,7%
No entanto, apenas cobrar uma alíquota maior de quem ganha mais não funciona perfeitamente, pois muitos super-ricos não recebem salários, e sim lucros e dividendos de empresas que podem estar sujeitos a um regime de tributação distinto.
Eles também costumam ter à disposição consultores que os orientam como organizar seus investimentos de modo a pagar menos impostos – por exemplo, aplicando o dinheiro em fundos específicos ou abrindo empresas em paraísos fiscais.
Uma das formas que os governos têm para tentar corrigir essa distorção é cobrar uma alíquota mínima de imposto de renda dos super-ricos, independentemente da fonte da renda.
Esse mecanismo está em um projeto de lei enviado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso, aprovado nesta quarta-feira (16/07) pela comissão especial da Câmara encarregada de analisá-lo.
O texto estabelece que as pessoas que recebem mais de R$ 50 mil por mês, incluindo dividendos e juros, terão que pagar uma alíquota mínima de imposto de renda, que será progressiva e de até 10%.
Se uma pessoa na faixa superior, com renda anual superior a R$ 1,2 milhão, já pagou mais do que 10%, não precisa pagar nada mais. Porém, se pagou 8%, terá que pagar mais 2% ao fazer sua declaração à Receita, segundo a proposta.
Outras formas indiretas de aumentar o pagamento de imposto sobre a renda é apertar a cobrança sobre alguns instrumentos usados pelos super-ricos.
Em dezembro de 2023, por exemplo, o Brasil sancionou uma lei para cobrar imposto de renda sobre o rendimento anual de fundos exclusivos e offshores – antes, o tributo era cobrado somente quando e se o recurso fosse resgatado.
Quando a lei foi aprovada, apenas 2,5 mil brasileiros aplicavam em fundos exclusivos, que somavam R$ 756 bilhões em patrimônio e respondiam, sozinhos, por 12,3% da indústria de fundos do Brasil.
Criar um imposto sobre o patrimônio
Além de cobrar imposto sobre a renda, alguns poucos países também cobram um imposto anual sobre o patrimônio dos super-ricos.
Entre os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas quatro cobram imposto sobre o patrimônio:
Colômbia: alíquota progressiva de 0,5% a 1,5% para patrimônio acima de 3,6 bilhões de pesos colombianos (R$ 5 milhões)
Espanha: alíquota progressiva de 0,2% a 3,5% para patrimônio acima de 167 mil euros (R$ 1 milhão)
Noruega: alíquota de 1% para patrimônios superiores a 1,7 milhão de coroas norueguesas (R$ 950 mil).
Suíça: alíquota de 0,02% a 1,02%, dependendo do cantão e do patrimônio
Outros quatro países da OCDE cobram taxas sobre alguns tipos de patrimônio, mas não sobre a fortuna total de uma pessoa: França, Itália, Bélgica e Holanda.
Cobrar um imposto sobre o patrimônio é o cerne de uma proposta do Brasil feita no ano passado no âmbito do G20, quando o país exercia a presidência rotativa do grupo, que reúne tanto potências industrializadas do Ocidente como países do Sul Global, além da União Europeia e da União Africana.
A proposta é cobrar uma taxa anual de 2% sobre o patrimônio das pessoas que têm mais de 1 bilhão de dólares (R$ 5,59 bilhões) em ativos. Esse grupo reúne cerca de 3 mil pessoas em todo o mundo, que pagam hoje tributos equivalentes a 0,3% de seu patrimônio por ano.
Segundo o economista francês Gabriel Zucman, que elaborou a proposta a pedido do governo brasileiro, a medida geraria receitas adicionais de 200 bilhões a 250 bilhões de dólares por ano.
A declaração final da cúpula do G20 em novembro de 2024, no Rio de Janeiro, expressou apoio à ideia de buscar formas para que os super-ricos sejam taxados de forma eficaz, mas não houve acordo sobre uma proposta concreta de como fazer isso.
Cobrar imposto sobre grandes patrimônios é um assunto mais controverso do que aumentar o imposto sobre a renda. Críticos afirmam que essa medida, se adotada por países individualmente, provocaria fuga de capitais para outras nações e, na prática, poderia anular os rendimentos obtidos de investimentos.
A Constituição brasileira prevê a existência de um imposto sobre grandes fortunas, mas ele nunca foi criado, apesar de diversos projetos de lei apresentados nesse sentido.
Uma dessas tentativas ocorreu no ano passado, quando o Congresso discutia a reforma tributária. O PSB e as federações PT-PCdoB-PV e PSOL/Rede propuseram uma emenda para criar um imposto anual sobre fortunas acima de R$ 10 milhões.
A alíquota seria de 0,5% para fortunas de R$ 10 milhões a R$ 40 milhões, de 1% para aquelas de R$ 40 milhões a R$ 80 milhões, e de 1,5% sobre as fortunas acima de R$ 80 milhões – e foi rejeitada pela Câmara, por 262 votos a 136.
bl/ra (ots)
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Short teaser | Brasil poderá ter imposto de renda mínimo sobre os mais ricos, mas taxar patrimônio está longe. Como é em outros países. | ||
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Image caption | Super-ricos estão ficando cada vez mais ricos – e pagam menos tributos que o resto da população | ||
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Item 3 | |||
Id | 73309388 | ||
Date | 2025-07-17 | ||
Title | Taxa de fertilidade na Alemanha continua em queda | ||
Short title | Taxa de fertilidade na Alemanha continua em queda | ||
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No ano passado, cerca de 677 mil bebês nasceram na Alemanha, 2% a menos do que em 2023. Mães de origem estrangeira têm mais filhos, mas até mesmo nesse grupo o número de nascimentos está em queda.O número médio de nascimentos por mulher na Alemanha voltou a cair no ano passado. Segundo o Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis), a taxa de fertilidade em 2024 foi de 1,35, 2% a menos que no ano anterior, quando a taxa foi de 1,38.
No ano passado, nasceram na Alemanha 677.117 crianças, contra 692.989 em 2023.
No entanto, o declínio desacelerou se comparado com as quedas registradas em 2022 e 2023, quando o índice caiu 8% e 7%, respectivamente.
A taxa de 1,35 é a mais baixa desde 2006, quando esse índice caiu para 1,33.
A estatística variou entre os estados da Alemanha. A mais baixa foi de 1,21 em Berlim, e a mais alta de 1,42, na Baixa Saxônia. Nos estados do Leste, a taxa de 1,27 filhos por mulher foi significativamente menor do que nos estados do Oeste, com 1,38.
O declínio, no entanto, foi observado em todos os estados, com o mais acentuado registrado na Turíngia, no leste, com 1,24 (queda de 7%). O menor declínio ocorreu em Baden-Württemberg, no sul, com 1,39 (queda de 1,0%).
Taxa menor entre mulheres com cidadania alemã
Entre as mulheres com cidadania alemã, a taxa de fertilidade foi de 1,23 filhos, sendo que uma baixa em nível semelhante foi medida pela última vez há quase 30 anos, em 1996. Naquele ano, a média era de 1,22 filhos por mulher. Ainda assim, segundo o Destatis, o declínio anual também desacelerou entre as mulheres com cidadania alemã.
Entre as mulheres com cidadania estrangeira, a taxa de fertilidade foi de 1,84 (queda de 2%). Segundo a agência de estatísticas, a taxa de fertilidade entre as estrangeiras tem diminuído quase continuamente desde 2017.
A taxa de fertilidade também vem caindo em nível europeu. Dados disponíveis até 2023 mostram que a taxa continuou a diminuir na maioria dos estados da União Europeia (UE) em comparação com o ano anterior. Naquele ano, o índice para todos os 27 Estados-membros da UE era, em média, de 1,38 filhos por mulher, sendo que dez anos antes era de 1,51.
Alemanha em linha com a média da UE
A Alemanha estava em linha com a média europeia em 2023, ano em que a maior taxa de fertilidade foi registrada na Bulgária, com 1,81 filhos por mulher. As menores taxas de fertilidade ocorreram em Malta, com 1,06, e na Espanha, com 1,12 filhos por mulher.
Em 2024, a idade média das mães ao nascimento do primeiro filho na Alemanha era de 30,4 anos, enquanto a dos pais era de 33,3 anos. "Nos últimos dez anos, os pais tenderam a envelhecer na época do nascimento do primeiro filho", explicou o Destatis. Em 2015, as mães tinham em média 29,7 anos e os pais 32,8 anos.
rc/jps/ra (DPA, Reuters)
Erramos: Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, os números citados dizem respeito à taxa de fertilidade – número médio de filhos por mulher – e não à taxa de natalidade – número de nascidos vivos por 1.000 habitantes. A informação foi corrigida. Pedimos desculpas pelo erro.
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Short teaser | No ano passado, cerca de 677 mil bebês nasceram na Alemanha, 2% a menos do que em 2023. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/taxa-de-fertilidade-na-alemanha-continua-em-queda/a-73309388?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Taxa de fertilidade na Alemanha em 2024 foi de 1,35, número 2% menor que no ano anterior | ||
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Item 4 | |||
Id | 73313603 | ||
Date | 2025-07-17 | ||
Title | Nova técnica de fertilização pode evitar transmissão de doenças hereditárias | ||
Short title | Nova técnica pode evitar transmissão de doenças hereditárias | ||
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Método que usa DNA de três pessoas – pais e uma doadora – pode evitar que crianças nasçam com doenças mitocondriais graves herdadas da mãe. Graças a ele, pesquisadores anunciaram nascimento de 8 bebês saudáveis.Uma técnica experimental que usa DNA de três pessoas para impedir a transmissão de doenças raras devastadoras das mães para os filhos resultou no nascimento de oito bebês saudáveis, relataram nesta quarta-feira (16/07) especialistas das Universidades de Newcastle, no Reino Unido, e de Monash, na Austrália, em artigo publicado no jornal científico New England Journal of Medicine.
São quatro meninos e quatro meninas, incluindo um par de gêmeos idênticos, que nasceram com saúde e estão todos bem após o tratamento realizado por uma equipe em Newcastle. Uma das mulheres ainda está em período de gestação.
Dos oito bebês nascidos, três têm menos de seis meses, dois têm entre seis e 12 meses, um tem entre 12 e 18 meses, outro tem entre 18 e 24 meses e uma criança tem mais de dois anos. Todos são saudáveis e estão atingindo todos os marcos de desenvolvimento.
A maior parte do DNA – o material genético herdado da mãe e do pai – é encontrada no núcleo das células, mas também em estruturas chamadas mitocôndrias, localizadas fora do núcleo e herdadas exclusivamente da mãe.
O método científico, conhecido como transferência pronuclear, foi desenvolvido para evitar que crianças nasçam com doenças mitocondriais potencialmente fatais, capazes de danificar gravemente órgãos como cérebro, músculos, fígado, coração e rins.
DNA de três pessoas
A técnica tenta evitar o problema usando mitocôndrias saudáveis de um óvulo doado. Cientistas coletam material genético do óvulo ou embrião da mãe, que é então transferido para um óvulo ou embrião de uma doadora que possui mitocôndrias saudáveis, mas cujo DNA essencial restante foi removido.
Dessa forma, o uso desse método significa que o embrião tem DNA de três pessoas – do óvulo da mãe, do espermatozoide do pai e das mitocôndrias da doadora.
Foi necessária uma mudança na lei do Reino Unido em 2016 para que essa técnica pudesse ser posta em prática. O método também é permitido na Austrália, mas ainda é proibido em muitos outros países, incluindo os Estados Unidos.
Um dos oito bebês nascidos apresentou níveis de mitocôndrias anormais ligeiramente acima do esperado, disse Robin Lovell-Badge, cientista de células-tronco e genética do desenvolvimento do Instituto Francis Crick, que não esteve envolvido na pesquisa. Segundo o pesquisador, esse nível ainda não era considerado alto o suficiente para causar doenças, mas deveria ser monitorado à medida que o bebê se desenvolve.
"Triunfo da inovação científica"
Andy Greenfield, especialista em saúde reprodutiva da Universidade de Oxford, chamou o trabalho de "um triunfo da inovação científica" e disse que o método de troca de mitocôndrias seria usado apenas com um pequeno número de mulheres para as quais outras maneiras de evitar a transmissão de doenças genéticas, como testar embriões em estágio inicial, não eram eficazes.
Lovell-Badge disse que a quantidade de DNA da doadora é insignificante, observando que qualquer criança resultante não teria características da mulher que doou as mitocôndrias saudáveis. O material genético do óvulo doado representa menos de 1% do bebê nascido após essa técnica.
"Se você fez um transplante de medula óssea de uma doadora, terá muito mais DNA de outra pessoa", explicou.
No Reino Unido, todo casal que deseja realizar a fecundação utilizando mitocôndrias doadas precisa ser aprovado pelo órgão regulador de fertilidade do país. Até este mês, 35 pacientes foram autorizadas a se submeter à técnica.
Impacto desconhecido nas futuras gerações
Os críticos alertam que é impossível saber o impacto que esse tipo de técnica inovadora poderá ter nas gerações futuras.
"Atualmente, a transferência pronuclear não é permitida para uso clínico nos EUA, em grande parte devido a restrições regulatórias sobre técnicas que resultam em alterações hereditárias no embrião", disse o pesquisador Zev Williams, da Universidade de Columbia, nos EUA, que não esteve envolvido com o estudo.
Ele diz que a manutenção ou não das restrições "dependerá da evolução das discussões científicas, éticas e políticas."
Por cerca de uma década, o Congresso americano incluiu disposições em projetos de lei anuais que proíbem as agências regulatórias de aceitarem solicitações para pesquisas clínicas envolvendo técnicas "nas quais um embrião humano é intencionalmente criado ou modificado para incluir uma modificação genética hereditária".
Contudo, nos países onde a técnica é permitida, seus defensores dizem que ela pode ser uma alternativa bastante promissora para algumas famílias.
rc/ra (DPA, AP)
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Short teaser | Método que utiliza DNA de três pessoas pode evitar que crianças nasçam com doenças mitocondriais transmitidas pela mãe. | ||
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Image caption | Método científico foi desenvolvido para evitar que crianças nasçam com doenças que podem ser fatais | ||
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Item 5 | |||
Id | 73309999 | ||
Date | 2025-07-17 | ||
Title | Câmara aprova enfraquecimento do licenciamento ambiental | ||
Short title | Câmara aprova enfraquecimento do licenciamento ambiental | ||
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Proposta simplifica procedimentos e reduz prazos para a obtenção de licenças, acelerando liberação de obras. Texto é criticado por ambientalistas, que apelidaram projeto de "PL da Devastação".A Câmara dos Deputados aprovou na madrugada desta quinta-feira (17/07), o projeto que flexibiliza as regras para o licenciamento ambiental. Aprovado por 267 votos favoráveis e 116 contrários, o texto foi o último a ser votado antes do recesso parlamentar e agora segue para a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pode vetar alguns trechos.
Aprovado pelo Senado em maio, o projeto voltou para a Câmara após passar por mudanças. O relator, o deputado federal Zé Vitor (PL-MG), acolheu 31 das 32 alterações aprovadas pelos senadores. Uma delas foi acolhida parcialmente e outra, rejeitada.
O projeto é criticado por ambientalistas. Eles o apelidaram de "mãe de todas as boiadas" e "PL da Devastação", argumentando que o texto pode reduzir o controle sobre atividades que causam degradação do meio ambiente e gerar riscos a comunidades tradicionais.
Já os defensores das novas regras dizem que elas irão desburocratizar processos para obtenção de licenças ambientais.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), orientou a base a votar contra a matéria.
Enquanto o Ministério do Meio Ambiente, encabeçado por Marina Silva, é contra o texto, pastas como Agricultura e Minas e Energia se posicionaram favoravelmente.
Durante a tramitação da proposta, o governo não assumiu uma posição clara. Na votação no Senado, liberou a bancada, e grande parte da base foi favorável ao texto.
Duas décadas de tramitação
A proposta tramitou no Congresso por 21 anos e estabelece diretrizes nacionais sobre emissão de licenças, que são hoje distribuídas nas competências estaduais, municipais e da União. Ela simplifica procedimentos e reduz prazos para a obtenção de licenças, especialmente para empreendimentos estratégicos, agilizando a tramitação, acelerando a liberação de obras.
Promovido pela bancada ruralista, o projeto impacta diretamente a Política Nacional do Meio Ambiente, que desde 1981 determina uma extensa análise prévia para autorizar atividades que utilizem recursos ambientais, causem poluição ou possam provocar degradação ambiental.
Um dos setores mais beneficiados pelas novas regras seria a agropecuária, que não precisará de licenciamento para atividades extensivas, semi-intensiva e intensiva de pequeno porte que não ameaçam a vegetação nativa.
Deputados já preveemque o tema deve ser mais um a parar no Supremo Tribunal Federal (STF), já que durante a tramitação do texto diversos parlamentares acusaram possíveis pontos que seriam inconstitucionais.
O que muda com a nova lei
Um dos pontos mais polêmicos é a ampliação da Licença Ambiental por Adesão e Compromisso (LAC). Ela funciona mediante uma autodeclaração do empreendedor, que afirma não explorar o meio ambiente de forma ilegal. A concessão da licença é automática, ou seja, não há exigência de estudos prévios ou análise técnica para averiguar a veracidade da declaração.
Segundo cálculo informado pela ex-presidente do Ibama Suely Araújo à imprensa, a proposta amplia o modelo de autodeclaração para 90% dos atuais licenciamentos ambientais expedidos no Brasil.
A única condição para obter a licença é que a atividade seja de pequeno ou médio porte e não cause extensa degradação ao meio ambiente. Anteriormente, a LAC era válida apenas para atividades de baixo impacto ambiental.
A licença não será autorizada se houver desmatamento de vegetação nativa, já que nesse caso há necessidade de autorização específica.
Mesmo assim, projetos em áreas sensíveis poderão usar o mecanismo. Ele será válido, por exemplo, para obras de duplicação de rodovias e dragagens, além de empreendimentos de saneamento básico.
Segundo o MMA, estes empreendimentos seriam monitorados por amostragem, dispensando a necessidade de fiscalização e ampliando o risco ambiental. A pasta também avalia que o texto enfraquece o papel do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ao permitir que empreendimentos em unidades de conservação sejam licenciados sem a manifestação obrigatória prévia do órgão gestor da área.
Licença especial definida por órgão político
O PL também cria uma modalidade nova, a Licença Ambiental Especial (LAE). Entram nesse rol projetos que forem considerados por decreto como prioritários ou estratégicos pelo governo federal.
Eles passarão por um rito especial, com dispensa de etapas e prioridade de análise. O responsável por escolher as atividades estratégicas que contornam o licenciamento seria o Conselho de Governo, um órgão político composto por ministros de Estado e outros membros do gabinete presidencial. Tais empreendimentos podem entrar nesta lista ainda que seja "utilizador de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente".
A criação dessa licença especial pode possibilitar, por exemplo, o avanço da autorização para a exploração de petróleo na Amazônia, como no caso do pedido feito pela Petrobras para explorar petróleo na Margem Equatorial do Rio Amazonas.
Fim da análise do impacto indireto
Segundo o ISA, o PL ainda impede que sejam exigidas condicionantes sobre os empreendimentos, inclusive em casos de significativo impacto ambiental, como desmatamento, pressão sobre comunidades indígenas, ou contaminação de corpos d'água. Isto porque ele exclui as áreas de influência indireta (AII) do processo de licenciamento. O impacto secundário de hidrelétricas e ferrovias, por exemplo, não poderá, segundo as novas regras, ser considerado para liberação da construção.
Ainda recorre a um novo modelo de renovação automática de licenças para atividade de baixo ou médio potencial poluidor que não tenha mudado seu porte. A renovação também aconteceria via autodeclaração.
Outro ponto que muda com o novo projeto é a punição. O agente público que autorizar um licenciamento em desacordo com as normas ambientais só poderá ser punido criminalmente se houver intenção de cometer o crime.
Por fim, o texto abre um rol de 13 isenções licenciamento para atividades. Entre eles, ficam dispensadas as atividades de agropecuária reguladas pelo Código Florestal, atividades militares, obras emergenciais, como as realizadas em estado de calamidade pública, obras para manutenção e ampliação de rodovias, obras de distribuição de energia elétrica e a instalação de sistemas e estações de tratamento de água e esgoto sanitário, até o atingimento das metas de universalização estabelecidas pelo Marco Legal do Saneamento Básico.
md (ots)
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Short teaser | Proposta simplifica procedimentos e reduz prazos para a obtenção de licenças, acelerando a liberação de obras. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/câmara-aprova-enfraquecimento-do-licenciamento-ambiental/a-73309999?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | A proposta tramitou no Congresso por 21 anos e estabelece diretrizes nacionais sobre emissão de licenças | ||
Image source | AP | ||
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Item 6 | |||
Id | 73310228 | ||
Date | 2025-07-17 | ||
Title | Por que Trump está mirando o Pix? | ||
Short title | Por que Trump está mirando o Pix? | ||
Teaser |
Meio de pagamento é hoje o mais usado no Brasil, ocupando espaço potencial de operadoras de cartões e sistemas dos EUA. Decisão do Banco Central contra o WhatsApp Pay pode ter sido estopim para disputa.A investigação comercial contra o Brasil aberta na terça-feira (15/07) pelo governo dos Estados Unidos, sob ordem do presidente Donald Trump, mira diversas práticas que a Casa Branca descreveu como potencialmente "desleais": obrigações e multas contra redes sociais americanas, acordos comerciais brasileiros com o México e a Índia e tarifas aplicadas sobre o etanol, entre outras.
No entanto, nenhuma delas teve tanta repercussão entre os brasileiros como a menção a uma suposta prática injusta com "meios de pagamentos eletrônicos criados pelo governo" – o Pix.
A investigação foi aberta sob a seção 301 da legislação de comércio norte-americana, que abrange "atos, políticas ou práticas de um país estrangeiro que são desarrazoadas ou discriminatórias e prejudicam ou restringem o comércio dos EUA".
O relatório da agência federal responsável por comércio internacional dos EUA (USTR, na sigla em inglês) afirma que esses meios de pagamento poderiam prejudicar "a competitividade de empresas americanas que atuam no comércio digital e em serviços de pagamento eletrônico".
Disputa por mercado
Até o momento, a USTR não especificou por que um meio de pagamento eletrônico criado pelo governo brasileiro poderia ser uma prática injusta contra os EUA.
Desde que foi lançado, o Pix abocanhou parcela considerável de um mercado dominado por bandeiras de cartão de crédito ou débito, como a Mastercard e a Visa, ambas sediadas nos EUA, e por sistemas de pagamento eletrônico como Google Pay e Apple Pay, também americanos.
No entanto, segundo análises publicadas na mídia brasileira, uma delas na coluna de Mariana Barbosa no portal UOL, o principal motivo para a inclusão do Pix na investigação americana teria envolvido questões relacionadas ao WhatsApp Pay, de propriedade da Meta, comandada pelo bilionário americano Mark Zuckerberg, que se aproximou da Casa Branca após a volta de Trump ao poder.
O WhatsApp Pay foi lançado inicialmente no Brasil em junho de 2020 – o primeiro país do mundo a receber o serviço – para permitir transferências e pagamento de compras pelo WhatsApp, o aplicativo de mensagens mais difundido entre os brasileiros.
As transferências de dinheiro entre usuários eram gratuitas, mas as operações de compra de produtos envolviam uma tarifa de 3,99% do valor, cobrada do comerciante.
Suspensão do WhatsApp Pay
Na semana seguinte ao lançamento do sistema da Meta, contudo, o Banco Central – que estava na fase final de desenvolvimento do Pix – e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) determinaram a suspensão do WhatsApp Pay no Brasil.
O Banco Central afirmou à época que o objetivo era "preservar um adequado ambiente competitivo, que assegure o funcionamento de um sistema de pagamentos interoperável, rápido, seguro, transparente, aberto e barato" e que "o eventual início ou continuidade das operações sem a prévia análise do regulador poderia gerar danos irreparáveis ao SPB notadamente no que se refere à competição, eficiência e privacidade de dados".
Já o Cade apontou que a Cielo, que faria a operação técnica das transações via WhatsApp Pay, poderia reforçar ainda mais sua posição de mercado e oferecer riscos à concorrência. "Tal base seria de difícil criação ou replicação por concorrentes da Cielo, sobretudo se o acordo em apuração envolver exclusividade entre elas", afirmou.
O Pix acabou sendo lançado em novembro de 2020, cinco meses após a suspensão do WhatsApp, e rapidamente se tornou um dos meios de pagamento favoritos dos brasileiros, sem envolver o pagamento de taxas.
Segundo o Banco Central, no final de 2024, 76,4% dos brasileiros utilizavam o sistema, que se tornou o meio de pagamento mais usado no país.
O WhatsApp Pay, por sua vez, foi autorizado e começou a fazer transações financeiras apenas em março de 2021 – quando o Pix já havia ganhado a preferência dos brasileiros.
Uma das dúvidas que podem ser suscitadas na investigação americana é se o Banco Central brasileiro teria usado seu poder indevidamente para prejudicar uma plataforma privada que seria concorrente ao Pix.
A USTR abriu nesta quinta-feira o prazo para o recebimento de comentários sobre a investigação contra o Brasil, e uma audiência pública está prevista para o dia 3 de setembro, em Washington.
Governo brasileiro rebate investigação
Em publicação nas redes sociais na quarta-feira, o perfil oficial do Palácio do Planalto defendeu o Pix.
"O Pix é do Brasil e dos brasileiros. Parece que nosso Pix vem causando um ciúme danado lá fora, viu? Tem até carta reclamando da existência do nosso sistema Seguro, Sigiloso e Sem taxas", escreveu o governo brasileiro na publicação.
"Só que o Brasil é o quê? Soberano. E tem muito orgulho dos mais de 175 milhões de usuários do Pix, que já é o meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros", completou, endossando o discurso favorável à soberania do país repetido por Lula após Trump taxar produtos brasileiros em 50%.
O vice-presidente Geraldo Alckmin, que tem sido escalado por Lula para liderar as negociações com a Casa Branca, também defendeu o Pix em reunião com empresários nesta quarta-feira.
A jornalistas, Alckmin disse que o sistema de pagamentos é um "sucesso" e que o Brasil irá explicar ponto a ponto os questionamentos elencados na investigação comercial dos EUA.
bl (ots)
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Short teaser | Meio de pagamento é hoje o mais usado no Brasil, ocupando espaço potencial de operadoras e sistemas dos EUA. | ||
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Image caption | No final de 2024, 76,4% dos brasileiros utilizavam o Pix, segundo o Banco Central | ||
Image source | Cris Faga/NurPhoto/picture alliance | ||
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Item 7 | |||
Id | 73302461 | ||
Date | 2025-07-17 | ||
Title | Lula veta aumento no número de deputados federais | ||
Short title | Lula veta aumento no número de deputados federais | ||
Teaser |
Governo diz que ampliação "não observou os princípios da eficiência e da responsabilidade fiscal". Presidente argumenta que veto atende desejo da maioria da população, segundo assessores.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou integralmente o projeto de lei que aumentava de 513 para 531 o número de deputados federais. A decisão foi publicada nesta quinta-feira (17/07) no Diário Oficial da União.
O projeto havia sido aprovado pelo Congresso como forma de cumprir uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a redistribuição das cadeiras da Câmara a partir de dados do Censo Demográfico de 2022.
Segundo a Constituição, a representação por estado deve ser proporcional à população — com o mínimo de 8 e o máximo de 70 deputados.
O texto da Constituição define que o número de deputados "será estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à população, procedendo-se aos ajustes necessários, no ano anterior às eleições, para que nenhuma daquelas unidades da Federação tenha menos de oito ou mais de setenta deputados”.
Repercussão negativa
O Congresso, então, decidiu aumentar o número de assentos para não precisar reduzir a quantidade de deputados de nenhum estado. No entanto, a proposta gerou repercussão negativa entre a opinião pública. Sondagem da empresa de pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira indica que 85% dos brasileiros são contra a ampliação no número de deputados. Já em uma pesquisa do Datafolha, 76% se disseram contra o aumento.
O governo argumentou que vetou a proposta porque ela "não observou os princípios da eficiência e da responsabilidade fiscal" e que a ampliação geraria aumento de despesas com impacto no orçamento público. A expansão da Câmara teria um custo estimado de R$ 10 milhões.
O veto gera mais um atrito entre o governo e a Câmara dos Deputados e potencialmente prejudica a aprovação de pautas governistas pelos parlamentares.
Lula comentou com assessores que o veto da proposta é coerente com o desejo da maioria da população.
A taxa de aprovação de Lula subiu recentemente para 43%, segundo uma pesquisa da Quaest, depois da reação dele à ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, de taxar as importações brasileiras em 50%. A popularidade de Lula estava em queda.
Derrubada do veto é improvável
O Congresso poderia derrubar o veto do presidente à criação de novas vagas de deputados, mas teria de arcar com o desgaste junto à população. Por causa disso, líderes partidários consideram uma eventual derrubada como algo improvável.
Com o veto, a responsabilidade pela redistribuição das cadeiras na Câmara fica com a Justiça Eleitoral, como é previsto pela decisão do STF. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deverá fazer a nova divisão levando em conta os limites constitucionais, sem alterar o número total de parlamentares.
O TSE deverá usar os dados do Censo de 2022 e, nesse caso, alguns estados ganhariam até quatro vagas, mas outros, como Rio de Janeiro, Bahia, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Sul, poderiam perder cadeiras no parlamento federal.
md/as/ra (OTS, EFE, Agência Brasil)
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Short teaser | Governo diz que ampliação "não observou os princípios da eficiência e da responsabilidade fiscal". | ||
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Image caption | Popularidade do presidente Lula, que estava em queda, voltou a subir recentemente após Brasil ser alvo de tarifaço dos EUA | ||
Image source | Ton Molina / NurPhoto /picture alliance | ||
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Item 8 | |||
Id | 73300138 | ||
Date | 2025-07-16 | ||
Title | Pix automático deixa usuários vulneráveis a golpes? | ||
Short title | Pix automático deixa usuários vulneráveis a golpes? | ||
Teaser |
Sistema que substituiu o dinheiro vivo ganhou uma nova modalidade: o Pix automático. Para especialistas, principal fragilidade é a possibilidade de vazamento de dados para o uso em golpes. O principal meio de pagamento dos brasileiros ganhou recentemente uma nova funcionalidade, o Pix automático, cuja implementação completou um mês nesta quarta-feira (16/07). A inovação no sistema de transações do Banco Central (BC) veio para bater de frente com o débito automático, permitindo programar pagamentos com mais agilidade e de forma mais personalizada. Por meio do Pix automático, já é possível cadastrar pagamentos com periodicidade definida – por exemplo, para quitar mensalidades com serviços como a conta de celular ou a escola dos filhos. Diferentemente do débito automático, cuja exigência de uma parceria entre bancos e empresas específicas acabava deixando de fora os empreendedores de menor porte, a mais recente funcionalidade do Pix é ampla e permite, pelo usuário, o controle de um limite de valor e da periodicidade. Tudo isso, com um simples comando no celular. Introduzido em outubro de 2020, o Pix praticamente substituiu o uso de dinheiro físico no Brasil. De acordo com uma pesquisa do Google, divulgada nessa terça (15/07), o uso de papel-moeda caiu para 6% em 2024. Para os entrevistados do estudo, entre as vantagens do sistema digital, que representa 47% das transações no país, a mais citada foi a segurança (37%). No entanto, o Pix ainda não é um sistema totalmente blindado – e possibilita algumas brechas, principalmente no que diz respeito aos dados do usuário. De acordo com especialistas em direito digital consultados pela DW, a maior fragilidade tem a ver com as informações privadas que ficam armazenadas no sistema do BC e podem ser acessadas por instituições financeiras. Se sofrerem vazamentos ou caírem nas mãos erradas, esses dados podem virar a base para tentativas de golpe e fraudes por meio de terceiros. Mas qual é o nível de segurança do Pix?No começo deste mês, a Polícia Civil de São Paulo prendeu um suspeito de envolvimento em uma fraude no sistema Pix, que teria causado um prejuízo de cerca de R$ 1 bilhão a oito instituições financeiras. De acordo com as investigações, porém, uma organização criminosa teria subornado o suspeito, que é funcionário de uma empresa que faz integração de segurança entre o sistema do Pix do BC e as vítimas, que eram bancos e fintechs de pequeno porte. Utilizando credenciais de segurança, ele teria atuado para desviar esses valores. O caso está longe de ser um "ataque hacker" propriamente dito, pois não envolveu a invasão remota a um servidor a partir de falhas de tecnologia do próprio sistema. De acordo com a polícia, o esquema utilizou do aliciamento de uma pessoa, que liberou o acesso para os criminosos depois de enganar colegas na empresa em que trabalhava para que elas compartilhassem credenciais de segurança. O crime está sendo investigado como furto mediante fraude. Como explica Rafael Guazelli, advogado especialista em direito bancário e sócio da Guazelli Advocacia, atualmente há bastante segurança nas transações bancárias no Brasil, inclusive no Pix. "O que ocorre, na maioria das vezes, são fraudes por vazamentos de dados, por alguém da própria instituição financeira ou por descuido do usuário. Essas são as maiores causas", afirma. A facilidade de utilização do Pix, inclusive de maneira remota, tem implicado no surgimento de outras ferramentas, como o uso de QR Codes, além da própria profusão de chaves para o pagamento pelo Pix, lembra ele. "No mesmo passo, os golpes vão se aperfeiçoando", completa. As estatísticas confirmam a tendência. De acordo com um levantamento do Serasa Experian, em janeiro foram registradas 1,2 milhão de tentativas de golpe no país, 41,6% a mais que no mesmo período do ano passado. E o foco principal é o setor financeiro, que responde por 52% dessas tentativas de fraude. Onde ficam esses dados do usuário?Via de regra, os dados dos clientes de instituições financeiras, como chaves Pix, nome, dados de contas e agência e CPF ficam armazenados em um diretório de contas do Banco Central. Essas informações podem ser acessadas pelas instituições bancárias para que as transações sejam concluídas. De acordo com Fabrício Polido, professor associado da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e advogado especialista em direito internacional digital, um dos problemas pode ocorrer quando há portabilidade: quando um usuário muda de banco e leva para essa nova instituição o mesmo identificador Pix que era utilizado na anterior. "Toda vez que tem portabilidade, compartilhamento de dados, pode haver risco de intercepção, acesso não autorizado, compartilhamento indevido – ou seja, violação de dados pessoais dos clientes", diz ele. Ele pontua que o Banco Central tem exigido dos bancos e fintechs um maior nível de segurança na cadeia de prestadores de serviço, funcionários e ex-funcionários, que podem, em tese, acessar esses dados, vazá-los ou até mesmo vendê-los para empresas que praticam golpes digitais. E as fraudes são quase sempre baseadas em engenharia social. É o caso, por exemplo, das ligações falsas que manipulam alguém a fazer um Pix para deixar de ser negativado; dos boletos de pagamento falsos que chegam no endereço com o nome e o endereço do cliente; das contas de WhatsApp clonadas que tentam se passar por um parente em apuros financeiros. Em casos mais refinados, golpistas podem levar os usuários a instalar softwares "espiões" nos dispositivos e, a partir disso, assumir o controle inclusive dos aplicativos bancários das vítimas. "Da mesma forma que está na vanguarda com o Pix, que possibilitou uma enorme inclusão da população no sistema bancário, o Brasil também virou exportador de golpes em serviços digitais", pontua Polido. O que pode ser feito para proteger o usuário?No caso do Pix automático, o usuário precisará seguir o mesmo procedimento para as outras modalidades, se perceber que caiu em um golpe. O pedido de estorno deve ser feito diretamente ao banco, que terá até sete dias para analisar o que aconteceu. Se for confirmada a fraude, o valor é devolvido da conta do golpista. Contudo, há um porém: o valor deve estar disponível na conta utilizada pelo criminoso para receber os valores. Como parte deles utiliza chaves Pix de laranjas para realizar essas transferências, o cliente afetado pode acabar não conseguindo recuperar o dinheiro. A partir daí, ele pode reclamar no próprio Banco Central ou entrar na Justiça. Segundo Fabrício Polido, da UFMG, já há jurisprudência consolidada no país que estabelece a responsabilidade das instituições bancárias nesses casos. Os processos, no entanto, demoram meses e até anos. "É a instituição financeira quem tem que zelar pela segurança dos sistemas informáticos e também pelo seus serviços e proteção dos aplicativos", diz ele. "Sempre existirá [fragilidade]. Por isso que os sistemas devem estar adequados às leis de proteção de dados. A legislação bancaria, as diretrizes do BC já estabelecem o grau de dados de clientes e o sigilo dessas operações." No começo do mês, o Banco Central impôs novas regras de segurança para a criação de chaves Pix. Agora, os bancos são obrigados a verificar nome, CPF e CNPJ dos clientes antes de criar os identificadores – e a chave só pode ser cadastrada se os dados da conta forem iguais ao registro na Receita Federal. O objetivo é impedir o uso de CPFs irregulares, como o de pessoas mortas, ou de CNPJs de empresas suspeitas. Para Polido, ainda é preciso reforçar o sistema de comunicação entre bancos e fintechs nos casos de fraude. "A pessoa lesada tem que se valer de um mecanismo mais célere para contestar e reverter. Deve haver um melhor mecanismo de controle e reversão dos prejuízos aos clientes. Esse é o ponto que tem dado mais discussão pela falta ou ausência do que tem sido feito nesse caso", comenta o professor de Direito da UFMG. Segundo ele, órgãos como a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) também devem ser acionados, para barrar a enxurrada de telefonemas de golpistas que têm ocorrido no país. Já o advogado Rafael Guazelli ressalta que as instituições financeiras precisam informar melhor os clientes para que não caiam em golpe. "Uma pessoa ligando se dizendo do banco e pedindo uma informação sua é um grande indício de fraude, porque o banco não entra em contato dessa forma – salvo que seja um gerente da sua conta, alguém que você conheça bem", finaliza o especialista em direito bancário. |
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Short teaser | Principal fragilidade é a possibilidade de vazamento de dados para o uso em golpes, afirmam especialistas. | ||
Author | Fábio Corrêa | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/pix-automático-deixa-usuários-vulneráveis-a-golpes/a-73300138?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Pix%20autom%C3%A1tico%20deixa%20usu%C3%A1rios%20vulner%C3%A1veis%20a%20golpes%3F |
Item 9 | |||
Id | 73304849 | ||
Date | 2025-07-16 | ||
Title | Governo brasileiro manifesta "indignação" em carta aos EUA sobre tarifas | ||
Short title | Governo brasileiro manifesta "indignação" em carta aos EUA | ||
Teaser |
Vice-presidente Geraldo Alckmin e o chefe do Itamaraty, Mauro Vieira, criticam tarifas impostas por Trump e ressaltam que o Brasil compra mais do que vende aos EUA, mas propõem negociação.O governo brasileiro reagiu formalmente nesta terça-feira (15/07) à ameaça de sobretaxar em 50% as exportações do Brasil pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em carta enviada ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o chanceler Mauro Vieira se disseram "indignados" pela decisão da Casa Branca, mas propuseram a abertura de um canal de negociação.
O texto foi divulgado nesta quarta-feira pelo Palácio do Planalto, embora tenha sido enviado no mesmo dia em que o escritório de Comércio americano chefiado por Greer abriu uma investigação por "práticas comerciais desleais" do Brasil.
É a primeira manifestação direta do governo desde a recente troca de farpas entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma carta anterior, confidencial, foi enviada pelo Brasil em maio, antes da escalada de tensões entre Brasília e Washington, mas não foi respondida pelos americanos.
Brasil manifesta "indignação"
"O governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto", diz a carta.
No documento, os ministros argumentam que a imposição das tarifas terá impacto "muito negativo em setores importantes de ambas as economias", colocando em risco a parceria econômica histórica entre os dois países.
"Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas", ressalta o texto.
Governo ressalta déficit comercial e boa-fé
A carta reitera que o governo brasileiro dialoga em boa-fé com as autoridades americanas, mas ressalta que o Brasil acumula déficit de 410 bilhões de dólares (R$ 2,2 trilhões) nas trocas comerciais com os EUA nos últimos 15 anos.
"Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte-americano", dizem as autoridades brasileiras na carta.
Apesar da crescente tensão entre os líderes, Alckmin diz no texto que o Brasil permanece pronto para "negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral", afirma a carta.
Minuta confidencial
A carta cita ainda uma minuta confidencial enviada por Brasília à Casa Branca no dia 16 de maio de 2025, na qual são apresentadas áreas de negociação que poderiam ajudar na busca por uma solução que agrade aos dois países.
Segundo o texto, o ofício, enviado em meio às primeiras ameaças americanas de taxação, não foi respondido.
"Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira."
EUA acusam Brasil de práticas desleais
Apesar da iniciativa brasileira, a Casa Branca não dá sinais de que pretende recuar na taxação.
Nesta terça-feira, o governo americano iniciou uma investigação sobre o que chamou de práticas comerciais "desleais" do Brasil. O Escritório do Representante Comercial dos EUA acusa o país de impactar empresas americanas, trabalhadores, agricultores e inovadores tecnológicos americanos.
Também critica "serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo" – uma referência ao sistema de pagamentos instantâneos Pix –, por temer que eles prejudiquem "a competitividade de empresas americanas que atuam no comércio digital e em serviços de pagamento eletrônico".
gq/ra (Agência Brasil, OTS)
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Short teaser | Texto critica tarifas impostas por Trump e ressalta déficit comercial do Brasil, mas sugere negociação. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/governo-brasileiro-manifesta-indignação-em-carta-aos-eua-sobre-tarifas/a-73304849?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Governo propõe negociação para evitar taxação de produtos brasileiros | ||
Image source | E. Blondet/W. Oliver/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/73227735_354.jpg&title=Governo%20brasileiro%20manifesta%20%22indigna%C3%A7%C3%A3o%22%20em%20carta%20aos%20EUA%20sobre%20tarifas |
Item 10 | |||
Id | 73292149 | ||
Date | 2025-07-16 | ||
Title | Trump manda investigar práticas "desleais" do Brasil; Pix é um dos alvos | ||
Short title | Trump manda investigar práticas "desleais" do Brasil | ||
Teaser |
Governo americano acusa Brasil de impedir ou restringir comércio dos EUA e menciona redes sociais, desmatamento ilegal, etanol, pirataria e até mesmo o Pix. O governo dos Estados Unidos iniciou uma investigação comercial sobre o que chamou de práticas "desleais" do Brasil, uma semana após o presidente Donald Trump ameaçar impor uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras. O Escritório do Representante Comercial dos EUA afirmou nesta terça-feira (15/07) que a investigação visa determinar se "as ações, políticas e práticas do governo do Brasil" são "irracionais ou impedem ou restringem o comércio dos EUA". "Sob a orientação do presidente Trump, estou iniciando uma investigação nos termos da seção 301 sobre os ataques do Brasil", acrescentou o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, referindo-se à Lei de Comércio de 1974 dos EUA. Entre as vítimas desses ataques, ele relacionou as empresas de redes sociais e outras empresas americanas, bem como trabalhadores, agricultores e inovadores tecnológicos, que ele descreveu como prejudicados pelas "práticas comerciais desleais" do Brasil. O governo americano está irritado com "atos, políticas e práticas" possivelmente "desarrazoadas ou discriminatórias" relacionadas ao comércio digital e serviços de pagamento eletrônico, tarifas preferenciais injustas, interferência anticorrupção, proteção da propriedade intelectual, acesso ao mercado de etanol e desmatamento ilegal, de acordo com o comunicado. EUA chateados com o Pix?Embora não cite nominalmente o Pix – sistema brasileiro de transferências em tempo real –, o relatório do governo americano sinaliza insatisfação com a promoção de "serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo", por temer que eles prejudiquem "a competitividade de empresas americanas que atuam no comércio digital e em serviços de pagamento eletrônico". O Pix é o único serviço de pagamento eletrônico desenvolvido pelo governo brasileiro. Ele revolucionou o sistema bancário ao permitir transferências ilimitadas livres de tarifas bancárias. O sistema foi introduzido em 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), embora os estudos que levaram à criação tenham começado ainda em 2018, sob a gestão de Michel Temer (MDB). A modalidade de pagamento já é aceita por alguns estabelecimentos na Argentina e em algumas cidades dos EUA e Portugal, e o Banco Central quer internacionalizá-la. Outra funcionalidade em desenvolvimento é o Pix Garantido, que possibilitaria o parcelamento de compras. O Pix levou bancos a perderem receita e tirou força de modelos de pagamento desenvolvidos por empresas americanas, como o Google Pay, o Apple Pay e a ferramenta de pagamentos do WhatsApp por cartão de débito de um grupo restrito de bancos – o recurso foi descontinuado no ano passado. Que outras práticas os EUA consideram "desleais"O relatório americano cita ainda decisões judiciais contra redes sociais americanas e "restrições excessivamente amplas sobre a transferência para fora do Brasil de dados pessoais [de usuários dessas plataformas]". No caso desta última medida, empresas americanas já são obrigadas a cumprir regras semelhantes na União Europeia, por exemplo. Ainda segundo o dcumento, "o Brasil concede tarifas preferenciais mais baixas às exportações de certos parceiros comerciais globalmente competitivos, o que prejudica as exportações americanas". Greer disse que o Brasil cobrou tarifas substancialmente mais altas sobre as exportações de etanol dos EUA e "parece estar falhando" em aplicar as leis contra o desmatamento ilegal, o que, segundo ele, prejudica a competitividade dos produtores de madeira dos EUA. Em relação às medidas anticorrupção, os EUA reclamam de "falta de aplicação pelo Brasil de medidas anticorrupção e de transparência, o que levanta preocupações quanto às regulamentações antissuborno e anticorrupção". "Determinei que as barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil mereçam uma investigação completa e, potencialmente, uma ação corretiva", afirmou Greer. Em seu primeiro mandato, Trump utilizou a seção 301 para justificar uma série de tarifas contra a China. A lei também foi utilizada para investigar outros países por impostos sobre serviços digitais aplicados a empresas de tecnologia americanas. Apoio a BolsonaroA investigação é iniciada num momento de tensão diplomática entre os dois países devido ao apoio de Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sendo processado por tentativa de golpe de Estado, entre outras acusações. Trump justificou a imposição de uma tarifa de 50% a partir de 1º de agosto, bem acima da taxa de 10% inicialmente anunciada, com o julgamento de Bolsonaro. A tarifa de 50% surpreendeu muitos especialistas em comércio, já que as importações de produtos americanos pelo Brasil excedem as exportações e por Trump ter explicitamente vinculado a taxa ao julgamento de Bolsonaro. Nesta terça-feira, antes de embarcar para a Pensilvânia, Trump reiterou seu apoio a Bolsonaro, que chamou de "um homem bom", e insistiu que o seu julgamento é uma "caça às bruxas" com a qual "ninguém está contente". Também nesta terça-feira, o procurador-geral Paulo Gonet pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a condenação de Bolsonaro e mais sete réus por crimes como organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Os acusados podem ser condenados a penas que variam de 12 a 40 anos de prisão. O governo brasileiro afirmou que "deplora e repudia, mais uma vez, as declarações indevidas" dos Estados Unidos em relação ao processo contra Bolsonaro. as/ra (Reuters, Efe, Lusa, ots) |
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Short teaser | EUA acusam Brasil de impedir ou restringir comércio e menciona pix, redes sociais, desmatamento ilegal e pirataria. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/trump-manda-investigar-práticas-desleais-do-brasil-pix-é-um-dos-alvos/a-73292149?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 11 | |||
Id | 73287624 | ||
Date | 2025-07-16 | ||
Title | Quem são os super-ricos que podem ter que pagar mais imposto | ||
Short title | Quem são os super-ricos que podem ter que pagar mais imposto | ||
Teaser |
Comissão da Câmara aprova projeto que cria alíquota mínima de imposto de renda para quem ganha mais de R$ 50 mil e isenta quem ganha até R$ 5 mil por mês.A forma como o Imposto sobre a Renda de Pessoa Física (IRPF) é cobrado dos brasileiros deve mudar a partir do ano que vem, a depender da vontade do atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Um projeto de lei enviado pelo Palácio do Planalto ao Congresso e aprovado em comissão especial da Câmara nesta quarta-feira (16/07) estabelece que as pessoas que ganham até R$ 5 mil por mês ficarão isentas do tributo, e as que recebem de R$ 5 mil a R$ 7,35 mil terão um desconto parcial.
Hoje, estão isentas do IRPF pessoas que recebem até dois salários mínimos, o equivalente a R$ 3.036.
Para compensar a perda de arrecadação, quem ganha mais de R$ 50 mil por mês terá que pagar uma alíquota mínima de imposto de renda, que será de até 10%.
O governo espera que a renda extra na mão das pessoas beneficiadas pela isenção total ou parcial acabe voltando para a economia na forma de gastos e investimentos, contribuindo para o crescimento.
Ao mesmo tempo, seria reduzida a desigualdade do sistema tributário brasileiro, no qual os super-ricos pagam proporcionalmente muito menos tributos sobre seus rendimentos do que o resto da população brasileira.
Segundo um estudo divulgado em julho da Oxfam Brasil, organização britânica que atua no combate à desigualdade, os 10% de brasileiros mais pobres pagam, em proporção da sua renda, três vezes mais tributos do que 0,1% mais rico da população.
A pesquisa aponta que os mais pobres comprometem 32% da sua renda com tributos, contra 10% dos mais ricos.
Quem precisará pagar mais imposto
O governo estima que a nova alíquota mínima de imposto de renda atingirá 141,4 mil brasileiros – que são 0,13% do total de contribuintes e 0,06% da população do país.
Esse universo abrange pessoas que ganham mais de R$ 600 mil por ano (R$ 50 mil por mês), incluindo lucros e dividendos – como no caso de empreendedores individuais, proprietários ou acionistas de empresas.
Segundo o governo, essas pessoas pagam hoje uma alíquota efetiva média de imposto de renda de 2,54%.
Com a reforma, quem recebe a partir de R$ 600 mil por ano terá que pagar uma alíquota mínima de imposto de renda, que subirá linearmente até alcançar 10% para quem ganha a partir de R$ 1,2 milhão por ano.
Para quem ganha R$ 750 mil, por exemplo, a alíquota mínima será de 2,5%. Para quem recebe R$ 900 mil, de 5%. Para os que ganham R$ 1,05 milhão, de 7,5%. E para quem ganha a partir de 1,2 milhão, de 10%.
Essa alíquota será chamada de Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas Mínimo (IRPFM). Para quem é contratado via CLT e tem salários altos, não haverá mudança, pois essas pessoas já são tributadas na fonte.
A medida considera o quanto a pessoa já recolheu de imposto de renda para definir o valor devido. Se um contribuinte que recebeu R$ 1,2 milhão em um ano já pagou 8% de imposto de renda, ele terá que pagar mais 2%. Se, por outro lado, ele já pagou 12% de imposto de renda, não precisará pagar mais.
Um dos super-ricos que poderá ter que pagar mais imposto de renda – e se destacou por vir a público defender a reforma – é o cineasta Walter Salles, herdeiro do Itaú Unibanco e da mineradora CBMM. Ele tem uma fortuna estimada em R$ 26 bilhões, segundo o ranking de bilionários brasileiros da revista Forbes.
"Temos a chance de construir um país mais justo e igualitário, corrigindo as distorções de um sistema que, como a gente sabe, cobra mais de quem tem menos", afirmou ele em 8 de julho durante a cerimônia do prêmio Faz Diferença 2024, promovido pelo jornal O Globo. "Quero deixar todo o meu apoio à tributação progressiva, à taxação das grandes fortunas e à democracia com justiça tributária."
Outro afetado que defendeu o projeto foi o acionista controlador da Porto Seguro, Jayme Garfinkel. "É correto e precisamos aumentar o imposto [de quem ganha mais] porque há uma distribuição de renda totalmente absurda e incrivelmente injusta no Brasil", afirmou ao site Reset, do portal UOL. "Eu recebo dividendos e rendimentos de investimento, que são isentos. Na hora H, não pago imposto de renda efetivo. Então, eu, que sou privilegiado, tento cumprir a minha parte com filantropia – que, aliás, não tem benefício fiscal."
Quem vai ficar isento ou pagar menos imposto
Os recursos extras arrecadados com o imposto de renda mínimo dos super-ricos, segundo a proposta do governo, seriam usados para isentar de imposto de renda as pessoas que ganham até R$ 5 mil por mês, e dar um desconto parcial a quem ganha entre R$ 5 mil e R$ 7 mil.
O governo afirma que 10 milhões de pessoas seriam beneficiadas pela isenção total ou parcial, equivalente a 90% do atual universo de declarantes do imposto de renda.
Para quem ganha de R$ 5 mil a R$ 7 mil, haverá um desconto linear. Segundo a regra, quem ganha R$ 5,5 mil terá um desconto de 75%, quem ganha R$ 6 mil, de 50%, e quem ganha R$ 6.500, de 25%. A partir de R$ 7 mil, vale a tabela normal do imposto de renda.
O governo espera que o dinheiro extra na mão para quem for beneficiado com a isenção ou ou desconto será utilizado em consumo. Em seu material de divulgação da proposta, há algumas simulações.
Por exemplo, um motorista que ganha R$ 3.650,66 por mês terá, no final do ano, R$ 1.058,71 a mais na conta, o que poderia "ajudar na compra do material escolar do filho, pagar a revisão do carro ou garantir as compras do supermercado".
Alguns economistas, porém, projetam que essa renda extra na mão das pessoas, além de estimular o crescimento, irá também pressionar a inflação.
O economista José Alfaix, da gestora Rio Branco, afirmou à revista Veja que a medida teria um impacto positivo no PIB de 0,2% em 2026 e de 0,1% em 2027, e um impacto ainda maior na inflação, com acréscimo anual de 0,4% em 2026 e de 0,6% em 2027.
Como está a tramitação no Congresso
O relator do projeto na Câmara é o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Casa.
Durante a análise do tema, ele cogitou reduzir a alíquota mínima do imposto de renda para os super-ricos para 9%, devido ao fato de o ganho de arrecadação previsto com a alíquota mínima ser superior à renúncia com a isenção e o desconto parcial.
Segundo o governo, a queda de arrecadação prevista com a isenção e o desconto parcial seria de R$ 25,84 bilhões em 2026, enquanto a alta de arrecadação com a alíquota mínima seria de R$ 34,12 bilhões.
Depois, Lira voltou atrás e manteve a alíquota de 10% em seu relatório. Mas ele aumentou a faixa das pessoas que receberiam um desconto parcial de R$ 7 mil para até R$ 7,35 mil por mês. A faixa de isenção total segue a mesma, até R$ 5 mil.
O relatório de Lira foi aprovado nesta quarta-feira (16/07) na comissão especial da Câmara que analisa o projeto, e agora a proposta segue para análise do plenário. A expectativa é de que seja votado após o recesso parlamentar, em agosto.
O texto de Lira mantém a cobrança de imposto de renda sobre lucros e dividendos acima de R$ 50 mil mensais, retido na fonte, e a tributação de 10% dos rendimentos de estrangeiros ou no caso de envio dos valores ao exterior.
Após passar pela Câmara, o texto segue para o Senado. Se for aprovado neste ano, as medidas valeriam a partir de 2026.
Maioria dos brasileiros aprova ideia
Uma pesquisa Datafolha divulgada em 9 de abril apontou que 76% dos brasileiros são favoráveis à proposta de cobrar mais imposto de renda de quem ganha mais de R$ 50 mil por mês, enquanto 20% são contra.
A pesquisa também perguntou o que os entrevistados achavam da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês – nesse caso, 70% foram a favor e 26%, contra.
A proposta de criar uma alíquota mínima de imposto de renda para os super-ricos enfrenta menos resistência do que a ideia de criar um imposto sobre grandes fortunas, proposta no ano passado pelo PSB e as federações PT-PCdoB-PV e PSOL/Rede durante a tramitação da reforma tributária.
Essa medida previa cobrar alíquota anual de 0,5% a 1,5% sobre patrimônios a partir de R$ 10 milhões, e foi rejeitada pela Câmara em outubro passado.
A proposta de criar um imposto global sobre grandes fortunas também foi uma das apostas do Brasil durante o exercício da presidência rotativa do G20, mas não prosperou até o momento.
bl/ra (ots)
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Short teaser | Comissão da Câmara aprova projeto que cria alíquota mínima para quem ganha mais de R$ 50 mil. | ||
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Image source | Jens Kalaene/dpa/picture alliance | ||
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Item 12 | |||
Id | 73288078 | ||
Date | 2025-07-16 | ||
Title | Há 100 anos era publicado "Minha Luta", o manifesto antissemita de Hitler | ||
Short title | Há 100 anos era lançado "Minha Luta", o manifesto de Hitler | ||
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Misto de autobiografia e manifesto antissemita, "Mein Kampf" foi publicado em 18 de julho de 1925. Livro que antecipava planos genocidas foi inicialmente fracasso de vendas, mas depois transformou Hitler em milionário.Oitenta anos após a sua morte, Adolf Hitler continua presente, ao menos na internet. Quem digitar "Hitler" numa busca nas redes sociais encontrará resultados em apenas alguns segundos. Fotos do líder da Alemanha nazista, memes, suásticas e slogans como Heil Hitler circulam no mundo digital.
E um usuário não terá dificuldade de encontrar edições online do manifesto político do líder nazista: o livro Minha Luta (Mein Kampf), que foi originalmente lançado há exatamente cem anos na Alemanha.
Décadas depois da derrocada do nazismo, a obra ainda costuma ser chamada de "o livro mais perigoso do mundo" e suscitar discussões entre historiadores sobre como lidar com seu conteúdo e disseminação.
Manifesto antissemita
Misto de autobiografia e manifesto político, Minha Luta foi usado por Hitler para expor sua visão de mundo fanática, seu antissemitismo brutal e seu desprezo pela democracia e pela diversidade social. No texto, os alemães são descritos como um povo injustiçado pela derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e ao mesmo tempo como uma raça superior.
Os judeus, por sua vez, são descritos no livro como inimigos mortais dos alemães e Hitler também prega a imposição de leis raciais contra deficientes. Vários historiadores apontam que obra já antecipava as intenções genocidas de Hitler que culminaram no Holocausto e na guerra de extermínio lançada no leste europeu.
No livro, Hitler ainda argumentou que a Alemanha precisava expandir seu "espaço vital" (Lebensraum), ou seja, conquistar território da Europa Oriental às custas de milhões de eslavos.
"O tema luta já está no título – na verdade, todo o racismo já vem a reboque", explica o historiador austríaco Othmar Plöckinger em entrevista à DW. "Isso significa que o mais forte se impõe, a 'raça mais forte' se impõe. Mas também no nível individual, na luta por cargos e funções, quem se impõe é aquele com a vontade mais forte, o mais inescrupuloso; aquele que, de um modo geral, é da 'melhor raça' ou tem melhores habilidades."
Plöckinger é um dos maiores especialistas no assunto e coeditou uma das edições mais esclarecedoras desse manifesto: a versão comentada de Mein Kampf, publicada em 2016. Em dois volumes que somam 2 mil páginas, historiadores alemães e austríacos analisaram e classificaram os pensamentos e o linguajar de Hitler, palavra por palavra. À época, a obra comentada entrou para a lista de mais vendidas na Alemanha, mas também provocou protestos e pedidos para que o projeto fosse cancelado.
Livro tornou Hitler um milionário
Quando foi originalmente publicado, em 18 de julho de 1925, com uma tiragem de 10 mil exemplares, o livro não foi inicialmente um fenômeno editorial. Hitler havia produzido a primeira parte da obra em 1924, quando cumpria pena numa prisão no estado alemão da Baviera na esteira de uma tentativa fracassada de golpe, o Putsch de Munique, também conhecido como Putsch da Cervejaria.
Originalmente, Hitler queria chamar a obra de Quatros anos e meio de luta contra mentiras, estupidez e covardia, mas um editor ligado ao movimento nazista sugeriu um título mais simples e comercial: Minha Luta.
Em 1926, foi publicado o segundo tomo da obra. Em 1930, uma edição única de 780 páginas, acabaria se tornando a versão padrão.
Quando Minha Luta foi lançado, Hitler tinha 36 anos e o movimento nazista ainda era pequeno e tinha pouca influência política na Alemanha e na Áustria. E o livro ainda enfrentava a concorrência de outras obras nacionalistas no mercado editorial. Nesse cenário, o livro só vendeu entre pessoas que já abraçavam o nazismo.
Mein Kampf é considerado difícil de ler e não era muito original – seu conteúdo foi uma decepção até mesmo para muitos de seus apoiadores, explica o historiador Plöckinger.
"Há essa passagem famosa do Deutsche Zeitung [jornal nacionalista ultraconservador e antissemita] que irritou Hitler profundamente. Ela afirma: ‘Estamos há 40 anos numa luta defensiva nacionalista e aí aparece um jovem golpista [Hitler] que quer nos explicar o que é pensamento político!'".
No entanto, no final da década de 1920, o Partido Nazista recebeu um impulso com a deterioração da situação econômica e política da Alemanha na esteira do Crash de 1929. Com o partido ganhando cada vez mais influência política, as vendas de Minha Luta começaram a subir para a casa das centenas de milhares de exemplares. Em 1933, quando Hitler ascendeu ao poder na Alemanha, as vendas explodiram e alcançaram milhões, enriquecendo o líder nazista com o pagamento de royalties.
Até 1945, o ano derrocada da Alemanha nazista, a obra havia sido traduzida para 18 línguas e vendido mais de 12 milhões de cópias.
Tática para impedir republicação na Alemanha após a 2° Guerra
Na Alemanha, o livro de Hitler nunca foi estritamente proibido. Após a morte de Hitler em 1945, os direitos autorais da obra passaram a ser controlados pelo estado alemão da Baviera, já que o ditador não tinha deixado herdeiros e sua última residência registrada havia sido em Munique. Sem uma proibição formal em vigor, o governo bávaro usou nas décadas seguintes seu poder de veto para barrar reedições da obra na então Alemanha Ocidental.
Na Alemanha Oriental comunista também não vigorou uma proibição formal, mas as editoras estatais evitaram republicar a obra. Já na terra natal de Hitler, a Áustria, que fez parte do império nazista entre 1938 e 1945, a obra foi completamente banida e até mesmo a posse de edições antigas passou a ser considerada ilegal após 1947.
Os bávaros também agiram para tentar vetar novas edições no exterior, enviando notificações, mas nem sempre com sucesso.
Os direitos exclusivos do governo bávaro expiraram em 2015, 70 anos após a morte de Hitler, levando a obra a entrar em domínio público na Alemanha e no exterior.
No entanto, hoje em dia na Alemanha vigoram restrições à produção, comercialização e promoção de edições que não ofereçam a devida contextualização do conteúdo. Apenas edições críticas, como a de 2016 com o apoio de historiadores, podem ser lançadas sem problemas.
Já vender ou possuir cópias antigas editadas na era nazista, porém, não é passível de punição – desde que eventuais suásticas na capa do livro não sejam exibidas em público. Não é incomum encontrar edições antigas em sebos alemães ou sites de antiguidades. em portais online, os preços de edições alemãs pré-1945 chegam a custar cerca de 250 euros. Algumas, autografadas por Hitler, já alcançaram a marca de dezenas de milhares de euros em leilões.
História das edições brasileiras de Mein Kampf
A primeira edição brasileira de Minha Luta foi publicada em 1934, pela editora Globo de Porto Alegre, com tradução do major cearense Júlio de Matos Ibiapina. Há versões conflitantes de como essa edição foi negociada e não se sabe a porcentagem de royalties enviada para Hitler.
A primeira impressão também tinha uma curiosidade, a gaúcha Globo divulgou na orelha do livro outros títulos publicados pela editora. A ação de marketing provocou protestos da embaixada da Alemanha nazista no Brasil, já que alguns dos títulos anunciados eram de autores judeus.
A obra teve várias sete novas edições nos anos seguintes, até ser proibida pelo regime de Getúlio Vargas em 1942, ano em que o Brasil declarou guerra à Alemanha nazista. Posteriormente, cópias foram apreendidas e destruídas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do Estado Novo. Mas vários exemplares dessa leva ainda existem no Brasil.
A segunda edição brasileira apareceu em 1962, pela editora Mestre Jou, mas foi retirada de catálogo meses depois, por determinação da Justiça. Nos anos 1970, o regime militar incluiu Minha Luta numa relação de obras proibidas no Brasil, ao lado de livros de autores comunistas.
Nos anos 1980 e 1990, com o fim da censura, a obra voltou a ser publicada de maneira clandestina por pequenas editoras, sem aval do governo bávaro, e usando a mesma tradução de 1934. Entre as editoras estava a gaúcha Revisão, notória por publicar outros livros antissemitas e obras negacionistas do Holocausto, e cujo editor foi condenado por racismo pelo Supremo em 2000.
Em 2001, a Centauro Editora lançou uma nova edição que permaneceu por anos no estoque de grandes redes de livrarias brasileiras até o governo da Baviera mandar notificações na segunda metade dos anos 2000.
No Brasil, não existe uma lei nacional para banir a publicação e venda de Minha Luta, há apenas leis municipais nesse sentido no Rio de Janeiro e Porto Alegre. Mas grupos de defesa de minorias costumam evocar a legislação contra o racismo e apologia ao nazismo para ingressar com ações para barrar reedições ou a venda do livro em plataformas de comércio eletrônico.
Em 2015, quando os direitos expiraram, houve uma corrida entre três editoras para relançar a obra. Uma delas, a Edipro acabou desistindo após má repercussão. Já uma edição da Geração Editorial, que teria notas e comentários de especialistas, foi barrada pela Justiça do Rio. Apenas a Centauro, já veterana na publicação da obra, prosseguiu com uma nova edição. Em março de 2025, os donos da editora foram condenados pela Justiça do Rio por racismo pela venda de outro livro notoriamente antissemita: Os Protocolos dos Sábios do Sião, uma falsificação produzida na Rússia no início do século 20 que influenciou Hitler na elaboração de Minha Luta.
Colaboraram Alexandre Schossler e Rayanne Azevedo.
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Short teaser | Misto de autobiografia e manifesto antissemita, "Mein Kampf" foi publicado na Alemanha em 18 de julho de 1925. | ||
Author | Hans Pfeifer, Jean-Philip Struck | ||
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Image caption | Uma edição em volume único de "Mein Kampf" publicada nos anos 1930 | ||
Image source | picture-alliance/dpa/D. Karmann | ||
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Item 13 | |||
Id | 73287725 | ||
Date | 2025-07-15 | ||
Title | O desafio de manter profissionais da medicina na Amazônia | ||
Short title | O desafio de manter profissionais da medicina na Amazônia | ||
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Número de médicos e médicas dobrou na região Norte na última década, mas cobertura ainda é a mais baixa do país. Abertura de novos cursos é aposta para melhorar cenário. Aos 13 anos de idade, Marcos* descobriu que seu ouvido direito não captava os sons ao redor. Os pais até desconfiavam que o filho mais velho não escutava bem, mas a confirmação veio em uma consulta gratuita oferecida na escola pública perto da casa da família, no Quilombo Piratuba, em Abaetetuba, Pará. O diagnóstico ocorreu durante uma maratona de atendimentos na comunidade. Todos os profissionais são voluntários do projeto Rios da Saúde, da Afya Faculdade de Ciências Médicas Abaetetuba, que também leva estudantes para aulas práticas na Amazônia. A região Norte tem a menor cobertura de médicos do país. Um exame rápido foi o suficiente para saber o que acontecia com Marcos. É muito provável que nenhum médico tenha examinado antes o ouvido dele com um simples otoscópio. "Não foi visualizada a membrana timpânica, por provável anomalia congênita", explica Cássia de Barros Lopes, nefropediatra no Sistema Único de Saúde (SUS) e coordenadora do curso na faculdade. Com o laudo e um encaminhamento em mãos, os pais dele sabem que terão uma longa jornada em busca de um otorrinolaringologista. Pelo menos eles sabem por onde começar: pedindo ajuda da agente comunitária de saúde do quilombo. Edinelma Sousa da Costa faz esse trabalho há 19 anos e conhece todos os 1,3 mil moradores. Como ainda não existe uma Unidade Básica de Saúde no Piratuba, ela orienta e monitora os casos durante as visitas. "Apesar de a gente ter acesso ao SUS, a gente pode enfrentar uma longa fila de espera por algumas especialidades. Por isso é importante para nós receber iniciativas como a dos médicos voluntários, que atendem os moradores e ajudam a descobrir algumas doenças", diz Nelma, como é chamada, depois de ler e explicar o laudo sobre a condição de Marcos ao lado dos pais dele, já no quintal da casa perto de um igarapé. Melhora gradualOs dois dias de atendimento gratuito na escola transformada em clínica mobilizaram o quilombo. Muitos moradores nunca tinham passado por um pediatra, cardiologista, infectologista ou psiquiatra, especialidades oferecidas no projeto. O Pará tem a segunda pior distribuição de médicos no país. Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) mostram que há 1,38 profissional em atuação para cada mil habitantes. O estado só perde para o Maranhão, com taxa de 1,36. O número está muito abaixo dos primeiros colocados do ranking, como Distrito Federal (6,3) e Rio de Janeiro (4,3). "Reconhecemos que ainda é a região do país que tem a menor média de médicos por habitante, mas ao mesmo tempo tem tido políticas públicas para melhorar essa distribuição e corrigir essas iniquidades", diz à DW Felipe Proenço, secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde. A disparidade é grande, mas o cenário já foi pior. Até 2013, a região Norte tinha 0,8 médico por mil habitantes. Naquele ano, a implantação do programa Mais Médicos priorizou a contratação de profissionais onde mais eles mais faltavam. No Norte, o número de profissionais dobrou: passou de 15.624 em 2011 para 30.549 em 2024. Domingos Sávio Matos Dantas, conselheiro do CFM em Roraima, concorda que o programa tem influenciado uma mudança gradual, juntamente com a abertura de novas faculdades e a migração de profissionais. O estado onde Dantas atua tem uma taxa de 1,8 médico por mil habitantes. "Existe uma relação de médicos clínicos gerais que está crescendo, mas precisamos de especialidades que não temos. Precisamos fomentar residência médica para qualificar profissionais e reduzir esse déficit", afirma Dantas à DW. Até janeiro de 2024, o Brasil contava com 2,81 médicos por mil habitantes. A taxa é menor do que a média dos países avaliados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 3,36. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram Mônaco (8,87), Áustria (5,35) e Alemanha (4,46) com as maiores taxas entre os europeus. Novas faculdades de medicinaDesde que foi retomado em 2023, o programa Mais Médicos trabalha em três frentes: contratação emergencial para completar as equipes e melhorar a proporção de médicos em locais mais carentes, melhora da estrutura das unidades, ampliação de vagas de graduação e de residência médica. O número de vagas em cursos de medicina na região Norte saltou de 8 para 23 para cada 100 mil habitantes. Os editais para abertura de novos cursos são feitos com participação do Ministério da Educação e priorizam os municípios com menor cobertura. "A estratégia do Mais Médicos é que pelo menos 10% das vagas oferecidas nos novos cursos sejam com bolsa integral. Quanto mais estudantes da região, maior a probabilidade de que eles permaneçam na região", argumenta Proenço. A graduação inaugurada em 2022 em Abaetetuba faz parte desta política. Com mensalidade de R$9.365 no primeiro semestre, o curso ainda não formou sua primeira turma. Muitos dos alunos participaram do projeto de atendimento no quilombo, como Gabriel Pinheiro, 23 anos, um dos cinco bolsistas de seu período. "É muito diferente da sala de aula e da clínica em geral. Aqui praticamos o atendimento mais humanizado, cuidadoso, conhecemos a realidade da população", diz Pinheiro enquanto faz triagem dos moradores que aguardavam atendimento no quilombo. Entre 2013 e 2022, o Brasil registrou a maior expansão do ensino médico de sua história, mostra o estudo Demografia Médica no Brasil, conduzido pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Das cerca de 42 mil vagas de graduação atualmente disponíveis, 23 mil foram abertas depois de 2014 – a grande maioria delas (77%) em faculdades particulares. Proporcionalmente, a oferta mais baixa de cursos é na região Norte. A abertura de novos cursos é vista com reservas pela Associação Médica Brasileira, que se mostra preocupada com a falta de investimento na residência médica. "Neste vácuo, surgem propostas de empresas privadas de formar especialistas fora do preceituado legalmente reconhecido em nosso país. Esse caminho não é aceitável e devemos estar atentos a medidas que podem comprometer a formação de especialistas qualificados para o atendimento da população", afirma César Eduardo Fernandes, presidente da associação, em comentário no estudo. Os profissionais que ficamPara muitos médicos, trabalhar em comunidades remotas é um desafio e requer preparo: conhecer um pouco da cultura local, do idioma – no caso de povos indígenas. Às vezes, o profissional fica isolado, por isso o apoio psicológico também é importante, pontua Dantas. "Como não existe um plano de cargos e um salário federal, é mais difícil o médico se fixar. Às vezes, ele atende em regiões distantes, em locais de difícil acesso. Ele precisa de um vínculo melhor, como o concurso público", analisa o conselheiro, alegando que a contratação pelo Mais Médicos tem seguido um formato de bolsa, o que torna o vínculo empregatício muito tênue. Fagner Carvalho, médico ribeirinho, como ele mesmo diz, sabe que é um dos poucos. O infectologista nasceu em Abaetetuba e viveu um dilema depois de se formar: seguir a residência fora ou ficar em sua cidade natal para ajudar a família. Permaneceu e virou inspiração para os estudantes, como Pinheiro. "Como profissional daqui, eu entendo muito essa realidade. Lidamos com pacientes que muitas vezes estão com dificuldade financeira ou logística por causa da geografia da Amazônia", diz Carvalho à DW. Carvalho é professor e coordena o Serviço Especializado em Doenças de Chagas de Abaetetuba, da Secretaria Municipal de Saúde. A cidade, de 168 mil habitantes, tem uma alta incidência da doença. Os pacientes que ele costuma atender vivem do açaí, da pesca, da caça e em condições sociais que muitas vezes determinam o processo de adoecimento. "Para mim, voltar e atender muitas vezes pessoas conhecidas, colegas, filhos de amigos é muito gratificante. É uma sensação de dever cumprido, de atender essa população na qual eu me enxergo e me insiro", diz Carvalho na sala de aula transformada em farmácia e centro de eletrocardiograma no quilombo Piratuba. *Nome alterado pela reportagem. |
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Short teaser | Número de médicos dobrou na região Norte na última década, mas cobertura ainda é a mais baixa do país. | ||
Author | Nádia Pontes | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-desafio-de-manter-profissionais-da-medicina-na-amazônia/a-73287725?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 14 | |||
Id | 73286971 | ||
Date | 2025-07-15 | ||
Title | Economia chinesa cresce 5,2% no 2º trimestre apesar de tarifaço de Trump | ||
Short title | Economia chinesa cresce apesar de tarifaço de Trump | ||
Teaser |
PIB do país expandiu 5,2% no segundo trimestre, em comparação com mesmo período do ano anterior. Mas cenário favorecido por impulso a exportações pré-tarifas pode piorar na segunda metade do ano. A economia da China cresceu 5,2% no segundo trimestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo anunciou o Escritório Nacional de Estatísticas chinês nesta terça-feira (15/07). O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ocorre apesar das tensões comerciais contínuas com os Estados Unidos e segue uma expansão de 5,4% registrada no primeiro trimestre do ano, também em comparação ao mesmo período de 2024. Contudo, analistas avaliam que o cenário pode piorar na segunda metade do ano. O desempenho do primeiro semestre foi apoiado por estímulos estatais e uma pausa nas escaladas da guerra comercial entre EUA e China. Isso permitiu que exportadores chineses antecipassem embarques antes de possíveis aumentos de tarifas, o que ampliou momentaneamente as exportações. O resultado mantém a segunda maior economia do mundo em linha com a meta anual do governo, de "cerca de 5%". "A China atingiu um crescimento acima da meta oficial de 5% no segundo trimestre, em parte devido ao adiantamento de exportações", disse Zhiwei Zhang, economista-chefe da Pinpoint Asset Management. Segundo o instituto de pesquisa econômica e consultoria Prognos Institute, empresas chinesas agora respondem por 16% das exportações globais, o dobro da participação da Alemanha, por exemplo, aumentando a competitividade no cenário comercial internacional. Crescimento pode não ser sustentávelApesar de a China se manter estável diante da disputa tarifária com os EUA, analistas avaliam que o ritmo de crescimento pode não ser sustentável. O país vive uma demanda interna enfraquecida e ainda aguarda o impacto do comércio global, que deve passar por um novo ajuste caso as barreiras impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, entrem em vigor para a maioria dos países, em 1º de agosto. Exportações a mercados alternativos nos últimos meses e a tentativa de empresas americanas de aumentar o estoque de produtos também ajudaram a mascarar o enfraquecimento da demanda interna, que tem provocado uma queda acelerada nos preços do varejo e no mercado imobiliário. "A crise do setor imobiliário continua sendo um grande fator de pressão de médio prazo sobre os orçamentos dos governos locais", disse Dan Wang, economista do Eurasia Group. Enquanto isso, investidores já se preparam para um segundo semestre mais fraco, mesmo com a expectativa de que novos estímulos sejam anunciados na próxima reunião executiva do governo, em julho. Guerra comercial entre China e EUAAs tensões entre China e EUA seguem elevadas e podem colocar um freio na alta de exportações chinesas dos últimos meses, que ajudou a alavancar os resultados do primeiro semestre. No momento, as tarifas americanas para produtos chineses permanecem reduzidas a 30% para viabilizar negociações entre os países, que devem durar até meados de agosto. Se não houver acordo, os EUA ameaçam impor uma sobretaxa de 145% sobre produtos chineses, conforme anunciado em abril por Trump. Caso a guerra comercial volte a escalar, a China poderá tentar usar o mercado da União Europeia e da América Latina para absorver o excesso de sua produção. Por sua vez, os EUA poderiam redefinir produtos fabricados na UE com investimento direto chinês como produtos chineses e exigir tarifas mais altas de empresas europeias. gq/ra (Reuters, DPA, DW, OTS) |
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Short teaser | PIB do país expandiu 5,2% no segundo trimestre, em comparação com mesmo período do ano anterior. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/economia-chinesa-cresce-5-2-no-2º-trimestre-apesar-de-tarifaço-de-trump/a-73286971?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 15 | |||
Id | 73284370 | ||
Date | 2025-07-15 | ||
Title | Disputa por vaga no STF alemão ameaça virar crise de governo | ||
Short title | Disputa por vaga no STF alemão ameaça virar crise de governo | ||
Teaser |
O que era para ser uma votação rotineira no Parlamento virou cabo de guerra ideológico, com bloqueio de conservadores a candidata dos social-democratas. Episódio azedou o clima na coalizão de governo.O Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, deixou de cumprir uma de suas mais importantes funções constitucionais na sexta-feira passada (11/07), quando a eleição de três novos juízes para o Tribunal Constitucional Federal, a corte constitucional da Alemanha, teve de ser adiada na última hora.
Isso porque ficou claro que ao menos uma candidata, a jurista Frauke Brosius-Gersdorf, poderia não obter a maioria necessária de dois terços dos votos dos deputados.
Na Alemanha, a metade dos 16 juízes da corte constitucional é eleita pelo Bundestag; a outra metade é eleita pela câmara legislativa onde estão representados os estados, o Bundesrat. O preenchimento das três atuais vagas cabe ao Bundestag.
Numa primeira etapa, a comissão parlamentar de eleição de juízes analisa os nomes que foram sugeridos pelos partidos políticos. Na atual eleição, dois foram propostos pelo Partido Social Democrata (SPD), e um pela bancada conjunta de União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU).
A sugestão de nomes pelos partidos é uma prática consolidada que visa garantir a maioria de dois terços. Tradicionalmente, essa maioria é garantida concedendo a todos os partidos necessários para alcançá-la o direito de propor candidatos com base em suas representações no Bundestag e Bundesrat. A fórmula usada desde 2018 é 3-3-1-1. Isso significa que a CDU/CSU e o SPD podem indicar três juízes constitucionais cada, enquanto o Partido Verde e o Partido Liberal Democrático (FDP) podem indicar um cada. A Esquerda e a Alternativa para a Alemanha (AfD) permanecem de fora desse acordo.
Seja qual for o arranjo entre os partidos, a maioria de dois terços, tanto na comissão como no plenário, deve sempre ser alcançada. Após a mais recente eleição, os partidos da atual coalizão de governo, a CDU/CSU e o SPD, não têm maioria de dois terços no Bundestag. Assim, eles dependem dos votos da oposição.
Isso não deveria ser um problema, pois tanto o Partido Verde como A Esquerda já haviam sinalizado que iriam votar em Brosius-Gersdorf, uma das indicadas pelo SPD. Porém, ficou claro que alguns parlamentares da CDU não iriam, principalmente por causa de posições da jurista que eles consideravam liberais demais em relação ao aborto.
Restava a AfD, um partido com o qual os demais excluem qualquer cooperação e que, neste caso específico, já havia deixado clara sua veemente oposição ao nome de Brosius-Gersdorf – o que não surpreende, pois a jurista já se manifestou a favor da proibição da AfD se as exigências legais forem cumpridas.
Acusação de plágio pela CDU
As acusações contra Brosius-Gersdorf começaram a circular primeiro em sites e blogs de nicho da ultradireita, segundo uma análise do think tank Polisphere, sendo depois reproduzidas pela imprensa tradicional.
Na sexta-feira, poucas horas antes da votação, a CDU exigiu que o SPD retirasse o nome de Brosius-Gersdorf, alegando que ela teria plagiado trechos de sua tese de doutorado em 1997, citando declarações do "caçador de plágios" alemão Stefan Weber. Nesse meio tempo o próprio Weber declarou na rede social X que a interpretação feita pela CDU/CSU de suas acusações é falsa, pois a tese de Brosius-Gersdorf é anterior a um artigo do marido dela com o qual há semelhanças, publicado em 2000.
Com a exigência da CDU ao SPD, a sessão do Bundestag foi interrompida e, após uma reunião de crise, o Parlamento decidiu adiar as votações dos nomes dos novos juízes da corte constitucional.
A AfD, prevendo que o nome seria rejeitado, votou contra o adiamento e defendeu que a votação ocorresse como planejado. "Esta juíza é inaceitável, e a indicação prejudicou gravemente a reputação do Tribunal Constitucional", declarou o secretário-executivo da bancada, Bernd Baumann.
Durante o debate, o parlamentar Gottfried Curio, da AfD, chamou Brosius-Gersdorf de "extremista de esquerda" – o que lhe rendeu uma reprimenda da presidência parlamentar.
A líder da bancada d'A Esquerda, Heidi Reichinnek, culpou a CDU pelo impasse. "Vocês estão fazendo jogos de poder político partidário e, mais uma vez, gerando absoluto caos." A colíder da bancada do Partido Verde Britta Hasselmann externou opinião semelhante: "Hoje é um dia ruim para o Parlamento, para a democracia e para o Tribunal Constitucional Federal".
Sem data para a votação
Normalmente a eleição de um juiz para o Tribunal Constitucional é uma decisão rotineira feita por meio de uma eleição secreta. Os parlamentares entram nas cabines de votação um a um e depositam seus votos nas urnas. Enquanto isso, o próximo debate parlamentar começa. O resultado da votação é anunciado durante a discussão dos demais itens da pauta, que são brevemente interrompidos para esse fim.
A atual votação ameça virar a primeira crise do governo do chanceler federal Friedrich Merz, que se elegeu criticando as constantes brigas internas da coalizão anterior, do ex-chanceler Olaf Scholz, e prometendo estabilidade.
O secretário-executivo da bancada do SPD, Dirk Wiese, falou em "caça às bruxas" contra uma "jurista altamente respeitada". Dirigindo-se à CDU/CSU, Wiese disse que o SPD acatou decisões difíceis da coalizão nas últimas semanas e que agora espera o mesmo dos conservadores.
Críticas vieram também do presidente estadual do SPD na Turíngia, Georg Maier. "É alarmante que nem mesmo o chanceler federal tenha conseguido mobilizar a CDU/CSU", disse ele ao jornal Handelsblatt. "Como ele pode liderar o país em tempos difíceis se seus próprios comandados se recusam a segui-lo mesmo em decisões comparativamente insignificantes?"
O vice-chanceler Lars Klingbeil, do SPD, aparentemente compartilha desse temor. "Se há votações controversas aqui, deve haver liderança e responsabilidade também, e isso deve ser demonstrado", exigiu ele no Bundestag, sem se referir diretamente à CDU/CSU.
A oposição fala em crise no governo. "O adiamento da eleição para o Tribunal Constitucional Federal mergulhou a coalizão numa grave crise", declararam as duas líderes da bancada do Partido Verde, Britta Hasselmann e Katharina Dröge.
Ainda não está claro quando a votação para preencher as três vagas no Tribunal Constitucional ocorrerá. O recesso parlamentar de verão começou esta semana e dura até setembro. No entanto, o Partido Verde defende que haja uma sessão extraordinária na próxima semana, argumentando que se trata de uma questão de respeito para com os candidatos e o Tribunal Constitucional Federal. "Não podemos aceitar um impasse durante todo o verão, em que o país esteja incerto sobre se ainda temos um governo estável."
Jurista reage a acusações: "Difamatório e irrealista"
Nesta terça-feira, Brosius-Gersdorf se manifestou publicamente pela primeira vez sobre o caso. Em carta divulgada pela imprensa, ela afirmou que a imagem dela apresentada em alguns meios de comunicação é "imprecisa e incompleta, pouco objetiva e pouco transparente". Como exemplo ela citou a alegação, que chamou de difamatória, de que ela defende a legalização e a descriminalização do aborto até o nascimento. Brosius-Gersdorf também rejeitou o rótulo de "radical de esquerda" como "difamatório e irrealista". "Se categorizarmos politicamente minhas posições acadêmicas em toda a sua amplitude, emerge uma imagem do centro democrático."
Em carta aberta, mais de 300 juristas criticaram o tratamento dispensado pelo Parlamento a Brosius-Gersdorf, afirmando que ele está prejudicando as instituições envolvidas e a ordem democrática. Eles descreveram as acusações de plágio como "marcadamente inverossímeis" e um "ataque à reputação da ciência", e acusaram os parlamentares de "falta de compostura política". Entre os signatários estão ex-juízes do Tribunal Constitucional, como Susanne Baer e Andreas L. Paulus.
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Short teaser | Caso virou cabo de guerra ideológico, com veto de conservadores a candidata indicada pelos social-democratas. | ||
Author | Marcel Fürstenau, Alexandre Schossler | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/disputa-por-vaga-no-stf-alemão-ameaça-virar-crise-de-governo/a-73284370?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Brosius-Gersdorf foi chamada de "radical de esquerda", o que ela considerou difamatório e inverídico | ||
Image source | picture alliance/teutopress | ||
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Item 16 | |||
Id | 73286332 | ||
Date | 2025-07-15 | ||
Title | Empresas alemãs restringem atividades no X em reação a Musk | ||
Short title | Empresas alemãs restringem atividades no X em reação a Musk | ||
Teaser |
Estudo mostra que 58% das empresas publicam menos ou pararam de usar a rede após ela ser comprada por Musk. Mais da metade também reduziu ou encerrou investimento em publicidade na plataforma.Cada vez mais empresas da Alemanha estão restringindo suas atividades no X, rede social do bilionário Elon Musk. Isso é o que revela uma pesquisa representativa da associação digital Bitkom, realizada com 602 companhias que têm ao menos 20 funcionários.
Segundo o levantamento, 58% das empresas que utilizam o X publicam menos ou até pararam completamente de postar na plataforma desde que o bilionário comprou o antigo Twitter, em 2022. Apenas 32% continuam postando como antes, enquanto 3% aumentaram suas atividades ou só passaram a usar a rede social após ela mudar de dono. Cerca de 4% não publicam qualquer conteúdo.
Resistência contra Elon Musk
Um dos principais motivos para esse recuo, segundo a Bitkom, é o crescente ceticismo em relação a Elon Musk. A figura do bilionário se tornou ainda mais controversa na Alemanha após seu apoio ao partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), o que levou até mesmo a uma queda nas vendas de carros elétricos de sua empresa Tesla. Em janeiro, mais de 60 universidades alemãs e austríacas excluíram suas contas na plataforma pelo mesmo motivo.
Para quase dois terços (63%) dos entrevistados Musk é "perigoso", e 74% não concordam que pessoas com esse tipo de influência nas redes sociais assumam cargos políticos.
"Muitas empresas preferem manter distância quando alguém concentra grande poder econômico, político e midiático", afirma Bernhard Rohleder, diretor executivo da Bitkom.
Isso se reflete em uma queda significativa na veiculação de anúncios pagos: 51% das empresas entrevistadas investem menos em publicidade no X. Em 2023, após a aquisição do serviço, esse percentual era de 26%.
Atualmente, apenas 7% continuam anunciando na mesma proporção que anunciavam antes de Musk comprar o Twitter, enquanto 37% deixaram totalmente de fazer publicidade.
Empresas pedem mais controle sobre o X
Apesar das críticas, a maioria das companhias não pretende abandonar completamente a ferramenta. Apenas 11% delas planejam excluir seu perfil oficial ainda este ano ou no próximo. Outros 4% consideram fazer o mesmo, mas sem prazo definido. 43% cogitam essa possibilidade, mas não tomam medidas para isso no momento. Já 39% pretendem manter o perfil no X como está.
No total, 85% de todas as empresas – inclusive as que não estão presentes no X – defendem que a plataforma deveria estar sujeita a um maior controle de conteúdo e moderação. Além disso, 80% acreditam que a gestão de Musk acelera a polarização da sociedade, enquanto 21% afirmam que o executivo fortalece a liberdade de expressão com sua atuação.
gq/ra (DPA, DW, OTS)
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Short teaser | Estudo mostra que 58% das empresas publicam menos ou pararam de usar a rede após ela ser comprada pelo bilionário. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/empresas-alemãs-restringem-atividades-no-x-em-reação-a-musk/a-73286332?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Endosso de Musk à ultradireita alemã vem gerando reação no país | ||
Image source | Hendrik Schmidt/dpa/picture alliance | ||
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Item 17 | |||
Id | 73283094 | ||
Date | 2025-07-15 | ||
Title | Brasil retorna à lista de países com mais crianças não vacinadas no mundo | ||
Short title | Brasil volta à lista de países com mais crianças sem vacina | ||
Teaser |
Levantamento da Unicef e OMS coloca o país em 17º no ranking, com 229 mil crianças que não receberam a tríplice viral. Em todo o mundo, mais de 14 milhões estão na mesma situação. O Brasil retornou à lista dos 20 países com maior número de crianças não vacinadas, segundo levantamento divulgado nesta segunda-feira (14/07) pelo Unicef e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O dado considera o número de crianças que não receberam a primeira dose da vacina tríplice bacteriana (DTP), que protege contra difteria, tétano e coqueluche. Em 2024, esse total chegou a 229 mil crianças "zero dose" — o equivalente a 16,8% de toda a população desta faixa etária não vacinada na América Latina e no Caribe. Com isso, o Brasil ocupa agora a 17ª posição no ranking mundial, em situação pior que países como Mianmar, Costa do Marfim e Camarões. Na América Latina, apenas o México tem mais crianças nesta situação, com 341 mil. No topo da lista, nove países concentraram mais da metade das crianças não vacinadas do mundo: Nigéria, Índia, Sudão, República Democrática do Congo, Etiópia, Indonésia, Iêmen, Afeganistão e Angola. Apesar desse aumento, a cobertura geral da primeira dose da DTP tem apresentado sinais de recuperação no Brasil. Entre 2000 e 2012, o país alcançou taxas próximas de 99%. A partir de 2019, contudo, a cobertura caiu drasticamente para 70%. Durante a pandemia de covid-19, em 2021, chegou a 68%, mas subiu novamente para 91% em 2024. Segundo o Unicef e a OMS, as principais causas para que tantas crianças permaneçam sem vacinação incluem dificuldade de acesso aos serviços de saúde, interrupções no fornecimento, conflitos, instabilidade e desinformação sobre vacinas. Cortes severos na ajuda internacional também estão ampliando as lacunas na cobertura vacinal, colocando milhões de crianças em risco, diz o relatório. Mundo soma 14 milhões sem vacinaEm escala global, a OMS e o Unicef estimam que 14,3 milhões de crianças continuam totalmente sem vacinação, enquanto outras 20 milhões receberam apenas uma das três doses recomendadas da vacina DTP. Por outro lado, um milhão de crianças a mais completou o esquema da tríplice viral em relação a 2023. "É animador ver um aumento contínuo no número de crianças vacinadas, embora ainda tenhamos muito trabalho pela frente. Cortes drásticos na ajuda internacional, somados à desinformação sobre a segurança das vacinas, ameaçam desfazer décadas de progresso", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. "Embora os avanços sejam modestos, eles representam um progresso contínuo dos países que buscam proteger as crianças, mesmo diante de desafios crescentes", afirmam as organizações. Na Europa e na Ásia Central, as taxas médias de vacinação infantil estagnaram ou caíram 1%. Na Europa, os casos de coqueluche triplicaram, chegando a quase 300 mil em 2024, enquanto as infecções por sarampo dobraram, ultrapassando 125 mil casos. Já os Estados Unidos vivem seu pior ano de registros de sarampo, 25 anos após ter sido declarado livre da doença. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), 1.288 casos de sarampo foram registrados em 2025 no país. gq (DW, OTS) |
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Short teaser | Levantamento da Unicef e OMS coloca o país em 17º no ranking, com 229 mil crianças que não receberam a tríplice viral. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/brasil-retorna-à-lista-de-países-com-mais-crianças-não-vacinadas-no-mundo/a-73283094?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Brasil%20retorna%20%C3%A0%20lista%20de%20pa%C3%ADses%20com%20mais%20crian%C3%A7as%20n%C3%A3o%20vacinadas%20no%20mundo |
Item 18 | |||
Id | 73276670 | ||
Date | 2025-07-14 | ||
Title | Trump ameaça Rússia com tarifaço por acordo de paz na Ucrânia; Brasil pode ser um dos atingidos | ||
Short title | Trump ameaça Rússia com tarifaço se não houver acordo de paz | ||
Teaser |
Tarifas anunciadas podem chegar a 100% e atingir parceiros comerciais da Rússia caso guerra na Ucrânia não termine em 50 dias; mesmo sem ser citado, Brasil pode ser um dos atingidos.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu nesta segunda-feira (14/07) um ultimato ao presidente russo, Vladimir Putin: caso não chegue a um acordo de paz com a Ucrânia em até 50 dias, será alvo de "tarifas severas", que poderão atingir inclusive o Brasil.
Trump ameaçou impor uma tarifa de aproximadamente 100% aos produtos procedentes da Rússia – além das alíquotas em vigor – e sobre países com os quais ele faz negócios se a guerra não for interrompida no prazo determinado.
O anúncio aconteceu no início de uma reunião com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, no Salão Oval da Casa Branca.
"Uma das razões pelas quais você [Rutte] está aqui hoje é porque estou muito insatisfeito com a Rússia", disse Trump, que nas últimas semanas expressou crescente frustração com a recusa de Putin em interromper os ataques à Ucrânia.
"Vamos aplicar tarifas muito severas se não chegarmos a um acordo em 50 dias. Tarifas de cerca de 100%, que chamaríamos de tarifas secundárias", acrescentou.
As tarifas secundárias são impostas a outros países ou entidades que mantêm comércio com uma nação sancionada, neste caso a Rússia. Ele não mencionou o Brasil em sua ameaça, mas o país é grande comprador de itens como fertilizantes e óleo diesel russos.
Além disso, Trump está em pé de guerra com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem enviou na semana passada uma uma carta na qual afirma que começará a cobrar uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras.
Como pano de fundo da ameaça, estão fatores como a pressão das gigantes da internet, como Meta e Google, em relação à decisão da Justiça brasileira de ampliar a responsabilização das plataformas de redes sociais sobre o conteúdo postado por terceiros. Trump mencionou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado – classificado por ele como uma perseguição – como uma das justificativas para a sanção.
No encontro desta segunda com Rutte, Trump disse também que chegaram a um acordo para vender armas aos países da Otan. O representante da aliança militar afirmou que esses membros repassarão parte desse armamento à Ucrânia, marcando a retomada da ajuda dos Estados Unidos a Kiev. Entre as entregas prometidas, estão sistemas antimísseis Patriot, o dispositivo de defesa mais avançado que o Ocidente já enviou à Ucrânia, e cada unidade custa cerca de 3 milhões de euros (R$ 19,5 milhões) – a serem pagos pela União Europeia (UE), segundo o presidente americano.
"Fechamos um acordo hoje em que vamos enviar armas a eles e eles vão pagar por elas", disse Trump.
Mudança de tom
Os comentários de Trump selam uma mudança de postura em relação a Putin, de quem ele havia tentado se aproximar quando assumiu o cargo, em 20 de janeiro, com o objetivo de chegar a um acordo para acabar com a guerra na Ucrânia.
Quando o presidente dos EUA anunciou uma série de sanções contra grande parte do mundo em abril, ele excluiu a Rússia com o argumento de que o país já estava sob pesadas sanções financeiras desde a invasão do país vizinho, em fevereiro de 2023.
O ponto de virada ocorreu em 3 de julho, durante uma ligação telefônica entre os dois líderes, na qual Putin disse a Trump que não desistiria de seus objetivos na Ucrânia, o que enfureceu o presidente dos EUA.
Nas últimas semanas, Trump ameaçou repetidamente impor novas sanções à Rússia se não houver progresso em um acordo, mas ainda não tinha detalhado um valor específico de tarifa.
Há um movimento no Congresso americano de pressionar por sanções secundárias ainda mais duras, à medida que a guerra se prolonga. O senador republicano Lindsey Graham, por exemplo, está propondo tarifas de até 500% sobre qualquer país que ajudar a Rússia.
sf/ra (EFE, dpa, ots)
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Short teaser | Tarifas podem chegar a 100% e atingir parceiros comerciais da Rússia caso guerra na Ucrânia não termine em 50 dias. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/trump-ameaça-rússia-com-tarifaço-por-acordo-de-paz-na-ucrânia-brasil-pode-ser-um-dos-atingidos/a-73276670?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Trump e o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, discutem paz na Ucrânia e sanções secundárias à Russia | ||
Image source | Evan Vucci/AP/picture alliance | ||
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Item 19 | |||
Id | 73274337 | ||
Date | 2025-07-14 | ||
Title | Estudo com primatas desmonta mito do macho alfa dominador | ||
Short title | Estudo com primatas desmonta mito do macho alfa dominador | ||
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Segundo cientistas, fêmeas têm quase a mesma probabilidade de dominar machos que o contrário. Achado contradiz argumentos que apresentam o patriarcado humano como um legado dos primatas. Em geral, acredita-se que em quase todas as espécies o macho lidera o grupo, mas a verdade é que as relações de poder entre machos e fêmeas não são tão claras e variam significativamente. Na maioria das espécies, não há uma dominância clara de um sexo sobre outro. Fatores evolutivos determinam o poder, e os machos dominam quando superam fisicamente as fêmeas, enquanto as fêmeas buscam diferentes maneiras de se impor aos machos, pelo menos entre os primatas. Essa é a principal conclusão de um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Montpellier, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig e do Centro Alemão de Primatas em Göttingen, cujos detalhes foram publicados na semana passada na revista científica PNAS. O estudo também descobriu que as assimetrias de poder entre machos e fêmeas variam entre as sociedades de primatas. De acordo com a pesquisa, que reuniu observações detalhadas do comportamento entre machos e fêmeas de 253 populações de 121 espécies de primatas, o domínio claro de um sexo é raro. Batalha dos sexosUma análise dos dados disponíveis sobre agressão entre os sexos revelou que as disputas entre machos e fêmeas são surpreendentemente comuns: quase metade de todas as brigas em grupos sociais foi entre um macho e uma fêmea. Até agora, as pesquisas se concentravam em brigas entre indivíduos do mesmo sexo, porque as teorias existentes sobre evolução social pressupõem que machos e fêmeas competem por recursos diferentes. O estudo analisou o resultado das disputas entre indivíduos do sexo oposto. Os machos ganhariam mais? Isso ocorre da mesma forma em todas as espécies? Por muito tempo, presumiu-se que, entre os primatas, o poder tende a ser dominado pelos machos e que as poucas espécies icônicas dominadas por mulheres, como os lêmures de cauda anelada ou os bonobos, representavam uma exceção que exigia uma explicação especial. Mas o novo estudo revela a complexidade e a variabilidade das tendências de gênero nas relações de dominância nas sociedades de primatas. Em 25 das 151 populações com dados quantitativos, os machos venceram mais de 90% das disputas com as fêmeas. Em contraste, há uma clara dominância feminina em 16 populações. Quanto ao restante (mais de 70%), o viés de gênero em relações de poder é moderado ou sequer existe. Quais fatores estão associados à dominância por cada sexo?A equipe de pesquisa testou cinco hipóteses para explicar as tendências de gênero nas relações de dominância e descobriu que a tendência feminina está associada a vários fatores-chave. O poder feminino é observado principalmente em espécies onde as fêmeas são monogâmicas, de tamanho semelhante ao dos machos ou que se alimentam principalmente em árvores — situações em que as fêmeas têm mais opções para acasalar ou não com um determinado macho. Além disso, a dominância feminina prevalece em situações em que as fêmeas enfrentam intensa competição por recursos, como em espécies solitárias ou que vivem em pares, bem como quando os conflitos entre machos e fêmeas são menos arriscados para sua prole dependente, porque, por exemplo, as mães deixam seus filhotes em um local seguro ao se alimentarem, em vez de levá-los consigo. Em contraste, a dominância masculina prevalece em espécies terrestres, onde os machos possuem corpos ou armas maiores que as fêmeas e onde os machos acasalam com múltiplas fêmeas. "É crucial notar que, enquanto os primatas machos obtêm poder por meio da força física e da coerção, o empoderamento feminino depende de caminhos alternativos, como estratégias reprodutivas para obter controle sobre o acasalamento", observa Elise Huchard, da Universidade de Montpellier. A descoberta desafia as visões tradicionais sobre as origens naturais dos papéis de gênero ao demonstrar que as fêmeas têm quase a mesma probabilidade de dominar os machos do que o contrário, e que na maioria das sociedades de primatas não há diferenças claras de poder entre os sexos. Diante desses achados, os cientistas defendem a revisão de postulados que apresentam o patriarcado humano como um legado primata. Segundo eles, as relações de gênero devem ser analisadas considerando seus contextos sociais e ecológicos. "Os humanos não compartilham todos os traços que caracterizam espécies em que os machos dominam estritamente as fêmeas", argumentam os pesquisadores em artigo publicado no site do Insituto Max Planck. "Em vez disso, o conjunto de características humanas os coloca mais próximos de espécies que apresentam relações mais complexas, nas quais indivíduos de qualquer sexo podem se tornar dominantes." md/ra (AFP, EFE, DW) |
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Short teaser | Segundo cientistas, fêmeas têm quase a mesma probabilidade de dominar machos que o contrário. | ||
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Item 20 | |||
Id | 73273894 | ||
Date | 2025-07-14 | ||
Title | O mistério da "Atlântida japonesa": maravilha natural ou cidade perdida? | ||
Short title | "Atlântida japonesa": maravilha natural ou cidade perdida? | ||
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Monumental formação rochosa submarina gera disputa entre cientistas sobre sua origem. Alguns acreditam que foi construída por humanos, mas a maioria afirma que foi moldada por atividade tectônica.Basta descer cerca de 25 metros nas águas cristalinas que cercam a ilha japonesa de Yonaguni para se deparar com um espetáculo que desafia os limites das convenções arqueológicas.
Um maciço de arenito medindo 100 metros por 40 e com cerca de 25 metros de altura se ergue em grandes degraus perfeitos, com arestas retas e rampas que parecem saídas de uma maquete de cidade antiga. Seria uma ruína de uma civilização desconhecida? Ou simplesmente uma formação rochosa extraordinária?
A descoberta da "Atlântida japonesa"
A descoberta do Monumento Yonaguni remonta a 1986, quando o instrutor de mergulho Kihachiro Aratake explorava a área, localizada a cerca de 100 quilômetros a leste de Taiwan, em busca de novos cenários para apresentar a turistas.
Ao se aproximar, deparou-se com gigantescas estruturas de pedra que imediatamente lhe lembraram construções arqueológicas. Surpreso, Aratake avisou pesquisadores da Universidade de Ryukyu, dando início à lenda da "Atlântida japonesa", em referência à ilha fictícia mencionada nas obras de Platão.
Vestígios de uma civilização submersa?
Um dos principais defensores da hipótese de origem humana é Masaaki Kimura, professor emérito de geofísica da Universidade de Ryukyus, que passou décadas estudando o local. Kimura não tem dúvidas: para ele, o que está sob o mar seriam restos de uma cidade antiga, possivelmente construída pelo povo Jōmon há mais de 10 mil anos, quando essa região ainda não estava submersa devido ao nível do mar mais baixo.
Posteriormente, Kimura reduziu sua estimativa para algo em torno de 2 a 3 mil anos de idade, segundo informa o site especializado IFL Science.
"Imediatamente me lembrei das pirâmides e pensei que estava no antigo Egito", disse o professor em um documentário citado pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung, em 2017.
Como evidência de sua origem artificial, Kimura afirma ter identificado marcas nas pedras e rochas que parecem ter sido esculpidas em forma de animais. "Um exemplo que descrevi como uma esfinge submarina se assemelha a um rei chinês ou da antiga Okinawa", declarou à National Geographic em 2007.
Para Kimura, as provas são duas: de um lado, marcas que poderiam indicar trabalho de extração e figuras talhadas; de outro, a intensa atividade sísmica da região. Ao jornal japonês Yomiuri Shimbun, ele lembra que, em 1771, um tsunami com ondas de até 40 metros devastou a ilha de Yonaguni, causando cerca de 12 mil mortes. De acordo com Kimura, não seria impensável que um evento semelhante tivesse inundado uma cidade inteira.
Sua teoria conta com o apoio de outros especialistas, como Toru Ouchi, professor associado de sismologia na Universidade de Kobe, que mergulhou pessoalmente no local. "O que o professor Kimura diz não é nada exagerado. É fácil perceber que aquelas relíquias não foram causadas por terremotos", defende.
Evidências geológicas: formações naturais no fundo do mar
No entanto, a tese não é unânime. Robert Schoch, professor da Universidade de Boston e geólogo, está no extremo oposto do debate. Após seu primeiro mergulho no local, defendeu que a formação não é artificial. "Não é tão regular quanto muitos afirmam, e os ângulos retos e a simetria não se confirmam em vários pontos."
Segundo Schoch, as formações seriam resultado de processos geológicos naturais. "É geologia básica e estratigrafia clássica de arenito, que tende a se romper ao longo de planos, criando essas bordas muito retas, especialmente numa área com muitas falhas e atividade tectônica", explicou à National Geographic.
Em um artigo para o jornal alemão Spiegel Online, o geólogo e mergulhador profissional Wolf Wichmann concordou com essa visão após analisar o local várias vezes, apontando que as paredes dos blocos de rocha repetem padrões naturais de erosão. "As superfícies e paredes seguem ao longo das zonas fracas predeterminadas da rocha: as juntas das camadas da rocha sedimentar e a rede de fraturas que corre perpendicularmente a elas", escreveu.
Wichmann explica que fenômenos como "canais de ondulação, buracos escavados pela força da água, crostas endurecidas, bem como buracos feitos por ouriços-do-mar e conchas" são claramente identificáveis como formações naturais.
Um dos argumentos mais fortes contra a teoria da civilização perdida envolve a cronologia. Conforme destaca o IFL Science, se o monumento fosse artificial, teria que ter sido construído antes de ficar submerso, ou seja, há mais de 12 mil anos. Isso o colocaria antes de qualquer outra civilização sofisticada conhecida, inclusive anterior a Göbekli Tepe, o templo monumental mais antigo já descoberto, o que desafiaria a compreensão atual sobre o surgimento de sociedades humanas complexas.
Além disso, o consenso científico atual aponta que grandes construções monumentais surgiram apenas após o desenvolvimento da agricultura (há cerca de 12 mil anos), que permitiu excedentes de alimentos, estruturas de poder centralizadas e especialização do trabalho. Caso fosse comprovado que Yonaguni é artificial, "seria necessário reescrever completamente a história", como observa uma reportagem do canal indiano NDTV.
O que as evidências indicam?
Apesar dos corredores estreitos, entradas em arco e ângulos de 90 graus aparentemente paralelos encontrados submersos em Yonaguni, não há evidências suficientes que indiquem que as rochas foram talhadas por seres humanos.
Alguns defensores que sugerem o contrário vão além, e argumentam que a formação remete ao lendário continente perdido de Lemúria (também conhecido como o continente de Mu, semelhante à Atlântida) no Pacífico.
Mas não há qualquer evidência científica de que Lemúria tenha de fato existido. A hipótese que surgiu no século 19 tentava explicar os padrões de distribuição de espécies entre continentes em um período anterior à compreensão científica do movimento das placas tectônicas.
Segundo o geocientista japonês Takayuki Ogata, também da Universidade de Ryukyu, tudo indica que se trata de uma formação natural, sobretudo considerando as formações rochosas semelhantes ao redor, bem como o fato de a estrutura estar ligada a um maciço rochoso maior, sugerindo que as camadas bem definidas se formaram gradualmente devido à sua localização em uma área propensa a terremotos.
Para além do debate, o que é certo é que o monumento de Yonaguni se tornou um destino popular para mergulhadores aventureiros, embora não esteja isento de riscos devido às fortes correntes da região. Além de seu interesse arqueológico e geológico, o local abriga uma rica biodiversidade, incluindo tubarões-martelo.
gq/ra (DW, ots)
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Short teaser | Monumental formação rochosa submarina fomenta disputa entre cientistas sobre sua origem. | ||
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Image caption | Degraus perfeitos, bordas retas e figuras aparentemente esculpidas levam muitos a crer que formação rochosa foi parte de "cidade submarina" | ||
Image source | maxppp/Kyodo News/picture alliance | ||
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Item 21 | |||
Id | 73216916 | ||
Date | 2025-07-13 | ||
Title | O drama de um boxeador vítima de doping na Alemanha Oriental | ||
Short title | O drama de um boxeador vítima de doping na Alemanha Oriental | ||
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Cerca de 15 mil atletas da antiga Alemanha Oriental foram dopados durante anos sem seu consentimento, com danos graves e duradouros à saúde. Um deles é o boxeador Andreas Wornowski. Andreas Wornowski teve a sensação de que algo estava errado em 1993, quatro anos após a mudança política que derrubou o regime comunista da República Democrática da Alemanha (RDA), a Alemanha Oriental. "Um médico no hospital da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) me perguntou diretamente sobre drogas para melhorar o desempenho esportivo. Minha resposta foi dar de ombros. Não admiti essa ideia, nunca mais pensei no assunto e o ignorei." Há mais de quatro décadas o ex-boxeador de 54 anos sofre consequências graves para a sua saúde, com dores dia e noite – a começar pela mão esquerda, que usava para dar socos, incapacitada. O quadro é agravado por uma depressão grave. O ex-atleta da RDA se deu conta de que essas são consequências do doping forçado na RDA, o que fez com que ele começasse a lidar com seu passado. Início de carreira aos 13 anosO caminho de Wornowski para os esportes de elite começou relativamente tarde, aos onze anos. Com talento, disciplina e dedicação aos treinamentos, ele se tornou campeão distrital em sua faixa etária em Magdeburg apenas um ano depois. Aos treze anos, ingressou na Escola de Esportes Infantis e Juvenis de Berlim, um internato esportivo de elite onde a RDA formava seus futuros medalhistas, onde Wornowski morou até atingir a maioridade, só podendo voltar para casa a cada quatro semanas. Inicialmente, sua mãe, enfermeira de profissão, era estritamente contra o boxe. O esporte era brutal demais para ela. Mas o pai de Wornowski e o conselho distrital de sua cidade natal a convenceram. Olhando para o passado, Wornowski compreende a preocupação de sua mãe. Praticar boxe significava consentir com agressões físicas. Se a força dos golpes fosse então aumentada com medicamentos, culminava em um verdadeiro "massacre com material corporal", nas palavras do ex-boxeador, com golpes de "martelo a vapor" na cabeça. Na seleção juvenil da RDAEle descreve o período que viveu a partir de então como "uma espécie de campo de treinamento extremo", no qual crianças e adolescentes eram obrigados a atingir seu potencial máximo por meio de medicamentos para melhorar o desempenho, aliviar a dor e desinibir, sob enorme pressão psicológica e física para demonstrarem bom desempenho. Qualquer um que não conseguisse suportar isso ou fizesse perguntas incômodas sobre comprimidos ou injeções era expulso. Na 8ª série havia 21 jovens e, na 10ª, apenas quatro. Wornowski rapidamente alcançou o sucesso e chegou à seleção juvenil da RDA. A partir de 1986, ele passou a receber regularmente vários medicamentos na forma de cápsulas azuis, pretas e vermelhas oficialmente rotuladas como "vitaminas e agentes de reforço imunológico". Hoje, Wornowski está convencido de que esses medicamentos incluíam o agente anabolizante Oral-Turanibol, o esteroide anabolizante Mestanolona, a substância de teste esteroide 646 e drogas psicotrópicas projetadas para aumentar a agressividade. Esses medicamentos foram comprovadamente administrados a todo o grupo de treinamento de Wornowski durante os tratamentos experimentais de treinamento sob a direção de Hans Gürtler, um renomado médico esportivo da Alemanha Oriental e corresponsável pelo programa estatal de doping, que, a partir de 1974, ficou conhecido como "Plano Estatal Tema 14.25". Sessões brutais de treinamentoO auge esportivo de Wornowski começou aos 16 anos, quando ele se tornou campeão juvenil dos meio-pesados da Alemanha Oriental e venceu torneios internacionais. Tornou-se representante da RDA, um "diplomata de agasalho de treino", como era chamado na época. Um memorando da Stasi, a polícia secreta da RDA, atestava que Wornowski "determina o nível de desempenho da RDA em sua idade e categoria de peso." A decisão em suas lutas era frequentemente tomada por nocaute no primeiro round. "Por mais de um ano, ninguém ficou em pé", diz o ex-boxeador. Mas, paralelamente à sua fama, seu declínio físico aumentou. As dores aumentaram e seus ferimentos se acumularam: um nariz quebrado, pálpebras costuradas e dentes arrancados. Somou-se a isso um treinamento implacável com até quatro sessões de duas horas por dia. Em circunstâncias normais, isso vai além dos limites de resistência física. "Eu realmente não conseguia continuar, mas fui em frente mesmo assim. Hoje eu diria [que aquelas eram] condições brutais", lembra Wornowski. Ele afastava a dor ingerindo até 20 analgésicos por dia, algo que não era incomum para ele. Para perder peso antes de uma competição, ele frequentemente tinha que fazer seu treinamento com luvas – socos com luvas de boxe em almofadas especiais seguradas pelo treinador – em uma sauna a uma temperatura de 90º C. Na Universidade Alemã de Cultura Física e Esportes em Leipzig, ele foi até forçado a desmaiar em uma esteira ergométrica para testar seus limites de desempenho. Apenas uma cinta o impedia de cair. Fim de carreira por razões políticasA carreira esportiva de Wornowski terminou abruptamente aos 19 anos, na primavera de 1989, mais de seis meses antes da queda do Muro de Berlim. Oficialmente, isso ocorreu devido a seus problemas de saúde, principalmente oculares. Wornowski, no entanto, acredita que o motivo teria sido o fato de que ele havia se recusado a se filiar ao partido estatal da Alemanha Oriental, o Partido Socialista Unitário (SED). O que lhe restou foi uma profissão para a qual nunca havia se formado: mecânico de automóveis. Wornowski nunca havia visto o interior de uma oficina mecânica, mas a Stasi lhe forneceu um exame profissional. Oficialmente, como todos os atletas competitivos na RDA, ele era considerado amador, já que não havia em caráter oficial esportes profissionais no regime socialista. Após a Reunificação alemã – em 3 de outubro de 1990 – foi somente em 1997 que alguns processos judiciais trouxeram à tona a extensão do doping estatal da Alemanha Oriental. Em resposta, diversas leis de auxílio às vítimas de doping foram aprovadas em 2002 e posteriormente. Por meio delas, cerca de 2.000 pessoas afetadas, incluindo Wornowski, receberam pagamentos únicos de 10.500 euros cada (R$ 67 mil). Essas leis, porém, já expiraram. Os procedimentos atuais de reconhecimento são complicados e envolvem enormes obstáculos. A Associação de Assistência às Vítimas de Doping estima que cerca de 15.000 pessoas sejam afetadas. Wornowski luta por uma pensão mensal devido aos danos causados à sua saúde. Um pedido foi rejeitado, uma vez que é difícil provar os danos causados pelo doping da RDA. Todos os seus registros médicos desapareceram, o que o levou a entrar com uma ação judicial. "Esta é uma grande tragédia. O verdadeiro problema para as pessoas afetadas é que seus registros médicos desapareceram e elas estão em uma situação difícil que provavelmente não será resolvida mesmo com a emenda" explica o advogado de Wornowski, Ingo Klee, se referindo a uma nova regulamentação que visa beneficiar as vítimas de doping da RDA. Mudança na lei traz novas esperançasAlguns ex-funcionários e médicos do sistema esportivo da RDA ocupam cargos importantes ainda nos dias atuais, afirma Michael Lehner, presidente da Associação de Assistência às Vítimas de Doping. No caso de Wornowski, o chefe dos serviços médicos do estado de Brandemburgo redigiu um parecer médico negativo. O especialista trabalhou no serviço de medicina esportiva da RDA no final da década de 1980, justamente a instituição responsável pela implementação prática do doping forçado. O médico em questão, porém, nega qualquer envolvimento em práticas de doping. Lehner tem esperanças em uma nova regulamentação que visa inverter o ônus da prova: para certas doenças típicas, o doping deve ser considerado a causa. No entanto, isso não é de forma alguma automático, alerta Klee. O advogado de Wornowski diz que os órgãos de Previdência Social ainda podem duvidar dos danos resultantes do doping, por exemplo, citando um histórico de saúde familiar. "Não é só a falta de provas, os problemas de saúde, as dificuldades financeiras – isso tudo é repugnante e quase insuportável", diz Wornowski. Hoje, ele e a esposa vivem uma vida isolada em sua casa em uma floresta. Alguns de seus antigos companheiros de treino já faleceram. "Em todos os funerais, todos têm o mesmo pensamento: quem vai saber o que nos deram naquela época?" |
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Short teaser | Cerca de 15 mil atletas foram dopados durante anos sem consentimento. Um boxeador ainda luta pela verdade dos fatos. | ||
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Item 22 | |||
Id | 73262419 | ||
Date | 2025-07-13 | ||
Title | Unesco declara Cânion do Peruaçu, em MG, Patrimônio Mundial | ||
Short title | Unesco declara Cânion do Peruaçu, em MG, Patrimônio Mundial | ||
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Local abriga complexo de cavernas e sítios arqueológicos milenares. É o primeiro reconhecimento do tipo no estado de Minas Gerais.O Cânion do Peruaçu, localizado no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, foi reconhecido neste domingo (13/7) pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade.
O título foi concedido com base nos critérios que reconhecem a excepcional beleza natural e a relevância geológica e geomorfológica única do cânion.
Com 38.003 hectares de extensão, o Cânion do Peruaçu fica a 670 quilômetros de Belo Horizonte e reúne ecossistemas da Mata Atlântica, do Cerrado e da Caatinga, e abriga um complexo de cavernas, sítios arqueológicos milenares e uma rica biodiversidade.
Um dos destaques é a Gruta do Janelão, cujas galerias ultrapassam 100 metros de altura e 60 de largura. No local, encontra-se também a Perna da Bailarina, a maior estalactite do mundo, com aproximadamente 28 metros de comprimento.
O cânion abrange 114 sítios arqueológicos que registram ocupações humanas com aproximadamente 12 mil anos, evidenciadas por pinturas rupestres excepcionalmente preservadas. A região apresenta ainda mais de mil espécies de flora e 950 de fauna identificadas.
Marina Silva celebra reconhecimento
O processo de candidatura foi promovido por Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima (MMA), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela gestão da unidade, e Ministério das Relações Exteriores.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que o resultado reflete os esforços conjuntos do governo federal, de parlamentares, da academia, da sociedade civil e da comunidade local, sobretudo o povo indígena xakriabá, que vive na região.
"A inclusão do Cânion do Peruaçu na lista do Patrimônio Mundial da Unesco representa uma conquista da conservação e da valorização do nosso patrimônio espeleológico. O sítio reúne ecossistemas de diferentes biomas, um conjunto de cavernas de enorme importância geológica, rica biodiversidade e arte rupestre pré-histórica. É um local que deve ser preservado para a presente e futuras gerações", afirmou a ministra.
O secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, acompanhou o anúncio, em Paris. Ele ressaltou que o reconhecimento do Cânion do Peruaçu "reforça o compromisso do governo brasileiro com a cooperação entre países para a proteção do meio ambiente, além de coroar décadas de dedicação da comunidade ambientalista e espeleológica brasileira, cujos esforços garantiram a preservação do sítio."
A secretária nacional de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do MMA, Rita Mesquita, pontuou que as unidades de conservação, como o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, protegem áreas importantes não apenas para a biodiversidade, mas para que a população conheça sua história e os processos que levaram à formação do atributos naturais de seu país.
"Esperamos que isso desperte a curiosidade das pessoas em conhecer essas maravilhas de nossa nação, atraindo a atenção para as culturas que vivem nesses locais", disse. "Essa inscrição representa ainda oportunidade concreta de promover o turismo sustentável e impulsionar o desenvolvimento em uma região historicamente marcada por vulnerabilidades socioeconômicas", destacou o coordenador técnico da candidatura e também coordenador-geral de Gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza do MMA, Bernardo Issa.
Brasil tem 25 Patrimônios Mundiais
O título de Patrimônio Mundial é dado a lugares cuja relevância natural ou cultural, segundo a Unesco, ultrapassa fronteiras nacionais e tem importância para toda a humanidade.
A inclusão coloca o Brasil como um dos principais detentores de sítios naturais de relevância global. Além do Peruaçu, outros oito sítios naturais brasileiros já receberam o título da Unesco.
São eles: Parque Nacional do Iguaçu (PR), Costa do Descobrimento: Reservas da Mata Atlântica (BA/ES), Reservas da Mata Atlântica (PR/SP), Complexo de Conservação da Amazônia Central (AM), Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal (MT/MS), Ilhas Atlânticas - Fernando de Noronha e Atol das Rocas (PE/RN), Reservas do Cerrado: Parques Nacionais da Chapada dos Veadeiros e das Emas (GO) e Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (MA).
Com o Cânion do Peruaçu, o Brasil passa a ter 25 títulos de Patrimônio Mundial: 15 culturais, nove naturais e um misto.
Novas inclusões na lista
No sábado, a Unesco também havia declarado o castelo de Neuschwanstein, no estado alemão da Baviera, conhecido por ter inspirado filmes de Walt Disney, Patrimônio Mundial da Unesco, junto com outros três outros edifícios reais também construídos no final do século 19 sob o comando do rei Ludwig 2º da Baviera.
Também foram incluídos na lista neste ano o Arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau, o complexo Gola-Tiwai, na Serra Leoa, e três locais usados pelo brutal regime do Khmer Vermelho do Camboja, entre outros.
bl (ots, AP, AFP)
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Short teaser | Local abriga complexo de cavernas e sítios arqueológicos milenares. É o primeiro reconhecimento do tipo em Minas Gerais. | ||
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Image caption | Um dos destaques do local é a Gruta do Janelão, cujas galerias ultrapassam 100 metros de altura | ||
Image source | Tony Waltham/robertharding/picture alliance | ||
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Item 23 | |||
Id | 73261674 | ||
Date | 2025-07-13 | ||
Title | Como a IA consegue prever decisões humanas | ||
Short title | Como a IA consegue prever decisões humanas | ||
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Modelo de inteligência artificial conseguiu acertar em mais de 60% dos casos durante teste psicológico. Será que ele pode fazer o mesmo na vida real?A inteligência artificial (IA) na forma de modelos de linguagem parece ser capaz de descrever cada vez melhor o comportamento humano. Mas será que esses modelos de IA também são capazes de prever decisões humanas? Uma equipe internacional de pesquisa do Institute for Human-Centered AI do Centro Helmholtz de Munique quis descobrir e desenvolveu o novo modelo de linguagem Centaur.
A equipe usou como base um modelo de linguagem de código aberto da empresa Meta AI. Em seguida, os pesquisadores programaram a IA do Centaur com dados de 160 experimentos psicológicos. Neles, cerca de 60 mil pessoas tiveram que realizar determinadas a tarefas. Por exemplo, elas foram solicitadas a categorizar objetos ou a tomar decisões sobre jogos de azar.
Dez milhões de decisões como treinamento
No total, o conjunto de dados do Centaur compreende mais de 10 milhões de decisões. A IA foi treinada com 90% dos dados dos resultados. Os resultados dos 10% restantes permaneceram desconhecidos para ela. Os pesquisadores então usaram esses dados para testar seu novo modelo de linguagem: será que o Centaur seria capaz de prever o comportamento das pessoas que realizaram os testes?
O resultado: o modelo de IA foi capaz de prever as decisões tomadas com uma precisão de até 64% em alguns casos. O Cenatur também apresentou bons resultados quando a configuração do teste foi ligeiramente alterada, em outras palavras, quando foi solicitado a fazer previsões sobre situações para as quais não havia sido especificamente treinado.
"Empresas usam IA para prever nossas preferências"
A novidade do Centaur é que a IA pode ser aplicada a "dados comportamentais", diz Clemens Stachl, diretor do Instituto de Ciência e Tecnologia Comportamental da Universidade de St. Gallen. "Isso foi alcançado com a tradução dos resultados de experimentos clássicos sobre tomada de decisões para a linguagem."
Modelos de IA como o Centaur também poderiam ser usados além das ciências sociais e comportamentais, diz Stachl. "Por exemplo, onde quer que o comportamento humano precise ser analisado e previsto, como em compras, educação ou no setor militar", afirma.
O cientista comportamental considera que uma aplicação prática é óbvia, pois esse tipo de modelo de IA foi desenvolvido pela indústria. O Centaur também usa a arquitetura básica do Google e a base pré-treinada da Meta.
"Podemos supor que as grandes empresas de tecnologia já estejam usando modelos semelhantes para prever nosso comportamento e nossas preferências de tomada de decisão, por exemplo, ao fazermos compras online ou usarmos as mídias sociais."
Stachl cita como exemplos o modelo de linguagem ChatGPT e a plataforma de mídia social Tiktok. "Esses modelos agora são muito bons – pense, por exemplo, em como o Tiktok sugere vídeos para manter os usuários no aplicativo pelo maior tempo possível."
IA deveria mesmo ser capaz de interpretar comportamento humano?
O modelo Centaur e os resultados do estudo devem ser vistos principalmente como uma contribuição para a pesquisa básica, diz o cientista comportamental Stachl. Modelos desse tipo poderiam, em princípio, ajudar a resolver problemas sociais complexos, por exemplo, no setor de saúde.
"Ao mesmo tempo, porém, há o risco de que eles nos tornem cada vez mais previsíveis e levem a uma forma de dependência digital ou até mesmo à ‘escravidão digital'." Nosso consumo diário de mídia e o uso de tecnologias digitais produzem novos dados comportamentais todos os dias, o que contribui para o aprimoramento desses modelos, segundo Stachl.
Para o cientista comportamental, lidar com essa tecnologia é uma questão que "nossa sociedade como um todo deve responder. No futuro, não só a ciência, mas também juristas e tomadores de decisões políticas em particular, serão chamados a dar mais atenção a essa questão."
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Short teaser | Modelo de IA acertou em mais de 60% dos casos durante teste psicológico. Será que ele pode fazer o mesmo na vida real? | ||
Author | Jeannette Cwienk | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/como-a-ia-consegue-prever-decisões-humanas/a-73261674?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
https://static.dw.com/image/73119133_354.jpg![]() |
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Image caption | A IA pode processar muito mais dados que o cérebro humano, mas os humanos (ainda) são necessários para avaliar os resultados | ||
Image source | Alexander Limbach/Zoonar/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/73119133_354.jpg&title=Como%20a%20IA%20consegue%20prever%20decis%C3%B5es%20humanas |
Item 24 | |||
Id | 73199823 | ||
Date | 2025-07-13 | ||
Title | O alto preço da cultura de gorjetas dos EUA | ||
Short title | O alto preço da cultura de gorjetas dos EUA | ||
Teaser |
Regras não escritas para gratificar quem presta serviço variam no mundo. Nos EUA, estabelecimentos têm recorrido a truques cada vez criativos e provocam uma verdadeira "inflação de gorjeta". Frank Sinatra era conhecido por dar gorjetas generosas com notas de 100 dólares (R$ 548) aos garçons. Isso em uma época em que 100 dólares realmente valiam muito mais do que hoje. Mas, quais são as regras para dar gorjetas hoje em dia? Muitas pessoas não pensariam duas vezes antes de dar gorjeta a um garçom em um bom restaurante, ao cabeleireiro, a um bom barman ou ao porteiro que carrega sua bagagem pesada em um hotel movimentado. Essas são situações com normas claras e há muito estabelecidas em muitos países. Mas, e o barista do Starbucks? Ou a pessoa que atende seu pedido em um guichê de lanchonete? E um quiosque de autoatendimento? Dar ou não gorjeta?A maioria dos historiadores concorda que a gorjeta começou na Europa medieval, com os aristocratas distribuindo gratificações aos servos ou àqueles que trabalhavam em suas terras. No século 19, a ideia estava desaparecendo na Europa, mas chegou aos EUA. Mais tarde, seria reexportada para todo o mundo. Hoje, as pessoas dão gorjeta por uma série de razões: para se sentirem melhor consigo mesmas, para impressionar os outros, para ajudar a compensar o salário irrisório dos funcionários ou porque são solicitadas. A gorjeta é motivada principalmente por ajudar os garçons ou recompensar um bom serviço, afirmou à DW Michael Lynn, professor de marketing de serviços na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, um estudioso das gorjetas. Alguns dão gorjeta para cumprir uma sensação de obrigação, disse Lynn. Outros ainda são mais egoístas. Essas pessoas dão gorjeta para obter ou manter um serviço preferencial futuro ou aprovação social, explicou o especialista, que atualmente está escrevendo um livro sobre o assunto, que se terá o nome The Psychology of Tipping: Insights for Service Workers, Managers and Customers ("A psicologia da gorjeta: dicas para trabalhadores de serviço, gerentes e clientes", em tradução livre). Gorjeta digital: como chegamos até aqui?Nos dias de hoje, as novas tecnologias mudam como e onde as gorjetas são esperadas. No passado, alguns dólares eram deixados na mesa do restaurante ou um pequeno troco era colocado na caixinha de gorjetas ao lado do caixa. O aumento do uso de cartões, aplicativos e sistemas de pagamento com telas sensíveis ao toque adicionaram opções de gorjeta – e ainda mais confusão para os clientes. "Observamos uma explosão nos pedidos de gorjeta, embora os valores não tenham mudado drasticamente", diz Ismail Karabas, professor associado de marketing na Universidade Murray, no estado americano do Kentucky. Durante a pandemia de covid-19, muitas empresas deixaram de usar dinheiro em espécie e passaram a receber pagamentos sem contato e online. Dessa forma, as empresas que fornecem esses dispositivos digitais decidiram incluir um pedido de gorjeta. "O pedido de gorjeta já está incorporado ao processo; as empresas precisam optar por não usar essa opção. Muitas não o fizeram, por vários motivos, e então começamos a vivenciar uma inflação generalizada nos pedidos de gorjeta", disse Karabas, especialista em marketing de serviços, gorjetas e publicidade, à DW. O padrão de não optar por não receberQuando os clientes recebem gorjetas pré-calculadas de 15%, 20% ou 25%, o que eles devem fazer? Simplesmente apertar um dos botões e pronto, reservar um tempo para adicionar seu próprio valor ou não deixar nada enquanto olha diretamente para o caixa? Os clientes geralmente escolhem uma opção de gorjeta predefinida ao invés de segurar a fila. Isso dá aos designers de tecnologia muita influência sobre a gorjeta. Lynn argumenta que a questão de como o design das interfaces afeta a gorjeta é uma "nova área em alta de pesquisa". "Aumentar o valor pedido para as opções de gorjeta aumenta o valor recebido – embora possa diminuir a proporção de pessoas que deixam gorjetas", disse. Os designers têm um incentivo para tornar a gorjeta a opção padrão e dificultar a opção de não dar gorjeta. Qualquer pessoa que queira optar por não receber gorjeta acaba se atrapalhando ou se perguntando como fazê-lo. "Mais gorjetas significam mais renda para os funcionários, mas também para os designers de tecnologia, porque eles cobram uma taxa por cada transação que passa por seus sistemas", acrescentou Karabas. O que realmente pensam os que dão gorjeta?Uma pesquisa do isntituto YouGov realizada em maio de 2023 nos EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Espanha e Itália mostrou que a esmagadora maioria dos que dão gorjeta em restaurantes nesses países repassa de 5% a 10%, não muito mais. Os EUA foram um caso à parte, com dois terços dos entrevistados dando gorjetas de 15% ou mais. A pesquisa também revelou que muitos americanos deixariam gorjeta em um restaurante com um serviço ruim ou péssimo. Outra pesquisa sobre a cultura da gorjeta nos EUA, publicada pelo Centro de pesquisas Pew em novembro de 2023, analisou a chamada inflação de gorjetas (tipflation) nos EUA. O levantamento da Pew descobriu que 72% dos adultos afirmam que dar gorjeta aos funcionários do setor de serviços é esperado com mais frequência do que há cinco anos. Além disso, apenas 34% dos adultos entrevistados afirmam que é extremamente ou muito fácil saber quando é realmente apropriado dar gorjeta. Dicas para situações complicadasComo lidar com essa nova cultura de gorjeta? Primeiro, saiba onde você está, qual é a situação local e como os funcionários são pagos. Eles ganham um salário mínimo onde a gorjeta é uma gratificação adicional? Ou recebem um salário muito menor, abaixo do mínimo, e, portanto, dependem das gorjetas para subsidiar o salário líquido? Em alguns lugares nos EUA, esse salário abaixo do mínimo para trabalhadores que recebem gorjeta pode significar ganhar apenas 2,13 dólares por hora. Saber quanto as pessoas ganham pode ajudar a decidir se e quanto de gorjeta deixar. Em segundo lugar, dedique um tempo para entender o sistema. Depois de conhecer as normas locais e a situação salarial, você poderá lidar com a tecnologia de gorjeta, como calcular o que aquele botão de 25% realmente significa em dólares e centavos. Não se deixe pressionar pela fila atrás de você ou pelo grupo sentado à mesa com você – embora esta seja provavelmente a parte mais difícil, especialmente se a ocasião for um encontro romântico. Também não dê gorjeta por culpa. "Dar gorjeta por culpa deixa uma má impressão nos clientes, o pedido os irrita e diminui a probabilidade de eles retornarem ao mesmo estabelecimento", explicou Karabas. Por fim, como último recurso para evitar pedidos de gorjeta confusos ou inesperados, os clientes devem considerar pagar em dinheiro, diz Karabas. Assim, tudo estará em suas mãos, mesmo que seja uma nota de 100 dólares novinha em folha, como as de Frank Sinatra. |
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Short teaser | Regras não escritas para gratificar quem presta serviço variam no mundo. O que clientes e funcionários devem fazer? | ||
Author | Timothy Rooks | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-alto-preço-da-cultura-de-gorjetas-dos-eua/a-73199823?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=O%20alto%20pre%C3%A7o%20da%20cultura%20de%20gorjetas%20dos%20EUA |
Item 25 | |||
Id | 73255343 | ||
Date | 2025-07-12 | ||
Title | A vida queer contada através dos séculos | ||
Short title | A vida queer contada através dos séculos | ||
Teaser |
Será que a Mona Lisa não era uma mulher, mas um amante de Leonardo da Vinci? A vida queer está longe de ser um fenômeno moderno – e um novo livro relata os principais momentos e personagens dessa história. Era o ano de 1476 quando o jovem Leonardo da Vinci (1452-1519) entrou na mira da polícia moral de Florença, acusado anonimamente de ter mantido relações sexuais com uma prostituta de 17 anos. Por falta de provas, o caso não foi para frente. Que Leonardo amava homens, no entanto, pesquisas atuais já comprovaram, afirma o historiador alemão Dino Heicker, autor do livro recém-lançado Weltgeschichte der Queerness (História Mundial do Ser Queer, em tradução livre). Ele tinha um afeto em especial por seu aprendiz Gian Giacomo Caprotti, 28 anos mais novo, conhecido como Salaj ("diabinho" em português), com quem viveu sob o mesmo teto por muitos anos. Historiadores de arte italianos também afirmaram ter encontrado provas de que a famosa Mona Lisa não retrata Lisa del Giocondo, esposa de um comerciante florentino, mas o próprio Caprotti. Ele posou para Da Vinci em várias ocasiões e a semelhança é inconfundível, segundo os pesquisadores. Além disso, as letras L e S (de Leonardo e Salaj) podem ser vistas nos olhos da Mona Lisa, e o termo carinhoso mon salaj (meu Salaj) pode ser lido como um anagrama de Mona Lisa. O Museu do Louvre, onde a pintura mundialmente famosa está exposta, não dá muito crédito à teoria. Será verdade? Da Vinci e seu companheiro levaram esse segredo para o túmulo. No entanto, como escreveu em 1550 Giorgio Vasari, o primeiro biógrafo de Leonardo, é fato que o pintor sentia um "prazer peculiar" pelo belo rapaz. Peculiar – um eufemismo para dizer que da Vinci era homossexual. Cidade bíblica de Sodoma como antro da imoralidade"Quando a maioria define o que é normal e anormal e declara que um modelo binário de gênero é a norma, a minoria que pensa diferente tem dificuldades", diz Dino Heicker. Em seu livro, ele relata as punições às vezes draconianas aplicadas a pessoas homossexuais, não binárias ou transgêneros que se entregavam a práticas "antinaturais". Elas eram acorrentadas, apedrejadas, castradas ou acabavam na fogueira. E muitos legitimavam isso na Bíblia, segundo a qual Deus destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra por causa de seus pecados – o termo sodomia foi usado por muito tempo como sinônimo de homossexualidade. Essa história "serviu de modelo para séculos de estigmatização de pessoas que eram diferentes", segundo Heicker. Em 1512, o conquistador espanhol Vasco Núñez de Balboa mandou seus cães dilacerarem indígenas na América porque eles haviam cometido "o terrível pecado da sodomia". Variações do amor na AntiguidadePor outro lado, também houve sociedades nas quais as diversas formas de ser queer eram em geral aceitas. Na Antiguidade, era comum que os homens tivessem ao seu lado um garoto (além de sua esposa) com quem mantinham relações eróticas. O imperador romano Adriano ficou tão inconsolável com a morte de seu amado Antinoos que o declarou postumamente um deus, e mandou construir inúmeras estátuas e locais de culto em homenagem ao belo jovem. Na ilha de Creta, os legisladores criaram algo muito especial para o controle da natalidade, segundo o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.): o "amor por meninos". Homens mais velhos levavam um jovem para sua casa para educá-lo. "Favores sexuais eram então esperados do jovem, mas isso não era visto negativamente pela sociedade", explica Dino Heicker. O amor entre mulheres também era conhecido naquela época. Na ilha de Lesbos, a poetisa Safo expressava adoração pela beleza do sexo feminino em seus versos. Modelos para as várias formas de amor eram encontrados no mundo dos deuses. O primeiro e mais importante era Zeus, o pai dos deuses, epítome por excelência do ser queer – mesmo que esse termo ainda não existisse naquela época. Ele se transformava em mulheres, animais e até mesmo em uma nuvem para se divertir com o objeto de seu desejo. Na Antiguidade, não havia nada de errado em um homem dormir com outros homens ou meninos, "desde que ele desempenhasse o papel ativo", explica Dino Heicker. "O penetrado, ou seja, o submisso, era considerado efeminado e socialmente oprimido." No Império Romano, oponentes políticos eram frequentemente acusados de serem sexualmente passivos, porque "essa era uma forma concreta de prejudicar sua honra". Igreja considerava "um crime contra a natureza"Com a disseminação do Cristianismo, acabou a tolerância com o amor entre pessoas do mesmo sexo. O bispo e monge beneditino Petrus Damiani (1006-1072), um dos clérigos mais influentes do século 11, criticava veementemente a fornicação – mesmo nos mosteiros, o "vício antinatural se espalhava como um câncer entre o clero e rugia como uma fera sanguinária no rebanho de Cristo". Ele estava convencido de que a sodomia era fruto de sussurros diabólicos. Entre os guerreiros samurais no Japão e na corte imperial chinesa, as atitudes em relação à homossexualidade eram mais relaxadas, e o amor entre homens era comum. Em 1549, o padre jesuíta Francisco de Xavier observou: "Os padres budistas cometem constantemente crimes contra a natureza e nem negam, mas o admitem abertamente." Quem é quem entre as pessoas queerNos séculos posteriores e nos tempos modernos, houve muitas personalidades homossexuais famosas. O livro de Heicker se assemelha a uma lista de "quem é quem" entre as pessoas queer. Seja o compositor russo Peter Ilyich Tchaikovsky (1840-1893), o escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900), o dramaturgo negro americano James Baldwin (1924-1987) ou Eleanor Butler e Sarah Ponsonby, que se retiraram para um vale solitário no País de Gales por volta de 1780 e eram vistas com desconfiança como as Damas de Llangollen: todos tentaram encontrar a felicidade à sua maneira. Os diários de Anne Lister, conhecida como "Gentleman Jack"A proprietária de terras inglesa Anne Lister (1791-1840) deixou um diário que foi adicionado ao Registro da Memória do Mundo da Unesco em 2011. "São 26 volumes nos quais ela faz descrições detalhadas sobre sexo lésbico e seus relacionamentos com mulheres", diz Heicker. Lister desenvolveu seu próprio código secreto para que nenhuma pessoa não autorizada pudesse ler suas confissões, que só foi decifrado em 1930. Em sua vila, ela era frequentemente chamada de "Gentleman Jack", mas era deixada em paz. Os escritos de Lister tiveram influência significativa nos estudos de gênero e na história das mulheres britânicas. O terceiro gêneroSejam os mahus no Taiti, os muxes do povo zapoteca no México, os hijras na Índia ou os lhamanas entre o povo originário norte-americano zuñi: por milhares de anos, todos eles sentiram que pertenciam a um terceiro gênero, nem masculino nem feminino. "Havia uma diversidade muito maior do que o modelo restrito de dois gêneros sugere ser possível hoje", diz Heicker. "Os zuñi, por exemplo, não assumem que o gênero é inato, mas sim uma construção social." Na Alemanha, o terceiro gênero é hoje classificado como "diverso". "Acho que as pessoas queer lutaram por uma liberdade incrível, especialmente na República Federal [da Alemanha]. As gerações anteriores só podiam sonhar com isso", diz Heicker. "Em 1994, o parágrafo 175 (que criminalizava atos sexuais entre pessoas do sexo masculino) foi finalmente removido do Código Penal (alemão), o casamento agora está disponível para todos e a discriminação sexual pode ser denunciada. Por outro lado, e aqui vem o grande porém: o que foi conquistado também deve ser protegido, porque definitivamente há tentativas de voltar para o passado." Na verdade, os crimes de ódio contra pessoas queer estão aumentando. "Está ficando cada vez mais comum ser abusado verbalmente ou até mesmo cuspido", disse recentemente Uwe Weiler, diretor-gerente da Cologne Pride, ao jornal Kölner Stadtanzeiger. "O limite da inibição ficou mais baixo." Na Alemanha, tais ataques são punidos, mas em outros lugares a situação é diferente. "Basta olhar para a Rússia, onde dar as mãos é proibido por ser considerado propaganda. E agora, mais recentemente, nos Estados Unidos, sob o presidente Donald Trump (que após assumir o cargo disse que existem apenas dois gêneros: masculino e feminino)", diz Heicker. "Portanto, em todo o mundo, este é, claro, mais um passo atrás. Nunca se deve dar como certo que as conquistas pelas quais se lutou permanecerão para sempre." |
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Short teaser | Será que Mona Lisa era um amante de Leonardo da Vinci? Ser queer não é algo moderno – e um livro relata essa história. | ||
Author | Suzanne Cords | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-vida-queer-contada-através-dos-séculos/a-73255343?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=A%20vida%20queer%20contada%20atrav%C3%A9s%20dos%20s%C3%A9culos |
Item 26 | |||
Id | 73254728 | ||
Date | 2025-07-12 | ||
Title | "Castelo da Cinderela" alemão é declarado Patrimônio Mundial | ||
Short title | "Castelo da Cinderela" alemão é declarado Patrimônio Mundial | ||
Teaser |
Neuschwanstein, que inspirou filmes de Walt Disney, e outros três castelos construídos pelo rei Ludwig II da Baviera entraram para a lista de proteção da Unesco.O castelo de Neuschwanstein, na Baviera, conhecido por ter inspirado filmes de Walt Disney, foi declarado Patrimônio Mundial da Unesco, anunciou a agência da ONU neste sábado (12/07).
Três outros edifícios reais, também construídos no final do século 19 sob o comando do rei Ludwig 2º da Baviera, que era obcecado por artes, também foram adicionadas à lista: Herrenchiemsee, Linderhof e Schachen.
Neuschwanstein, situado em um rochedo alpino de 200 metros de altura, é o castelo mais visitado da Alemanha e recebeu mais de 1,7 milhão de turistas no ano passado, muitos do exterior.
"Um conto de fadas se tornou realidade para nossos castelos de contos de fadas: somos #PatrimônioMundial!", escreveu o governador da Baviera, Markus Soeder, no X após o anúncio.
Neuschwanstein combina um exterior medieval idealizado e técnicas arquitetônicas consideradas de ponta na época.
Seus salões principais são decorados com pinturas de lendas alemãs e nórdicas, as mesmas histórias que inspiraram o compositor Richard Wagner, para quem Ludwig foi um generoso patrono.
Peter Seibert, da Administração dos Castelos da Baviera (BSV), disse que a inclusão na lista da Unesco "é uma grande responsabilidade, mas também um reconhecimento (...) pelo trabalho que fizemos até agora em preservação".
Philippe, um visitante canadense de 52 anos, ficou surpreso que o castelo ainda não era um Patrimônio Mundial da Unesco. "Temos sorte de ainda poder vivenciar isso", disse ele, chamando a inclusão na lista de "uma ideia muito boa".
Miniatura de Versalhes e caverna artificial
Herrenchiemsee, por sua vez, evoca um Palácio de Versalhes em miniatura na ilha de um lago entre Munique e Salzburgo, uma homenagem ao monarca absolutista Luís 14 da França, que Ludwig admirava.
De fato, Ludwig apelidou Herrencheimsee de Meicost-Ettal, um anagrama do suposto aforismo de Luís 14 L'Etat, c'est moit (Eu sou o Estado).
A terceira residência real que entrou na lista da Unesco é o pequeno castelo de Linderhof, inaugurado em 1878, o único cuja construção foi concluída ainda durante a vida de Ludwig.
Ele mistura elementos da arquitetura barroca francesa do reinado de Luís 14 com toques do estilo rococó desenvolvido no sul da Alemanha.
Seu parque possui uma caverna artificial inspirada na ópera Tannhaeuser, de Wagner, com 90 metros de comprimento e até 14 metros de altura, que abriga uma gruta de Vênus e foi projetada como um refúgio pessoal para Ludwig.
O sistema de iluminação elétrica usado na caverna era de última geração na época, com discos de vidro usados para iluminar a gruta em diferentes cores.
O último dos quatro locais da lista é Schachen, uma casa real no estilo de um grande chalé suíço, onde Ludwig gostava de celebrar o dia do santo de seu homônimo, São Luís, em 25 de agosto. Ela está localizado a 1.800 metros acima do nível do mar, não muito longe de Neuschwanstein.
As residências reais foram planejadas para evocar o romantismo medieval e a fantasia, e refletiam a visão de Ludwig de uma arquitetura teatral e onírica.
A entrada na lista da Unesco não é acompanhada por verbas extras, mas impulsiona o reconhecimento internacional e o turismo. O país onde fica o Patrimônio Mundial também precisa preservar e proteger o local, além de enviar relatórios para a Unesco.
A ideia para o reconhecimento dos castelos de Ludwig 2º surgiu há mais de 25 anos. Porém, somente 2015, ele entrou oficialmente na lista alemã de possíveis candidatos, e o pedido para o reconhecimento dos castelos de Ludwig 2º foi feito à Unesco no ano passado.
Gasto com construção levou à queda do rei
Os quatro castelos se tornaram "parte da identidade bávara", diz Seibert, "icônicos e perfeitamente integrados a uma bela paisagem".
Ironicamente, embora o legado arquitetônico de Ludwig seja hoje motivo de orgulho na Baviera – sem mencionar a receita oriunda do turismo –, eles foram parte do motivo de sua queda.
Os altos custos da construção das residências luxuosas levaram o governo da Baviera a destituí-lo, declarando-o insano. Internado no Palácio Berg, ele morreu pouco depois em circunstâncias misteriosas no Lago Starnberg.
Lista da Unesco cresce
Neste ano, cerca de 30 atrações culturais e naturais podem ser incluídas na lista da Unesco, incluído a cidade jamaicana de Port Royal, destruída por um tsunami em 1692, e o centro modernista da cidade polonesa de Gdynia. Do Brasil, está em avaliação a candidatura do Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais.
Atualmente, o Brasil têm sete Patrimônios Mundiais: Parque Nacional do Iguaçu (PR), Costa do Descobrimento: Reservas da Mata Atlântica (BA/ES), Reservas da Mata Atlântica (PR/SP), Complexo de Conservação da Amazônia Central (AM), Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal (MT/MS), Ilhas Atlânticas - Fernando de Noronha e Atol das Rocas (PE/RN) e Reservas do Cerrado: Parques Nacionais da Chapada dos Veadeiros e das Emas (GO)
bl (AFP, dpa, ots)
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Short teaser | Neuschwanstein, que inspirou Disney, e outros três castelos construídos pelo rei Ludwig II entraram na lista da Unesco. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/castelo-da-cinderela-alemão-é-declarado-patrimônio-mundial/a-73254728?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Situado em um rochedo alpino de 200 metros de altura, Neuschwanstein é o castelo mais visitado da Alemanha | ||
Image source | Lilly/imageBROKER/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&f=https://tvdownloaddw-a.akamaihd.net/Events/mp4/vdt_br/2018/bbra181128_001_c21koenighd_01v_sd.mp4&image=https://static.dw.com/image/73254655_354.jpg&title=%22Castelo%20da%20Cinderela%22%20alem%C3%A3o%20%C3%A9%20declarado%20Patrim%C3%B4nio%20Mundial |
Item 27 | |||
Id | 73246120 | ||
Date | 2025-07-11 | ||
Title | Popularidade do Ozempic expõe riscos desconhecidos do remédio | ||
Short title | Popularidade do Ozempic expõe riscos desconhecidos da droga | ||
Teaser |
Uso prolongado off label do medicamento evidencia novos efeitos colaterais, como pancreatite e perda de visão. Especialistas reforçam a importância de prescrição e acompanhamento médico. A crescente popularidade dos medicamentos injetáveis para emagrecimento à base de semaglutida, como Ozempic e Wegovy, tem revelado efeitos colaterais potencialmente fatais que não foram identificados nos estudos clínicos iniciais. Especialistas alertam que, embora raras, essas complicações podem surgir principalmente quando o uso não é acompanhado de orientação médica adequada. Os medicamentos que "imitam" o hormônio GLP-1, que dá sensação de saciedade, estão no mercado americano desde 2017. O Ozempic foi inicialmente aprovado para tratar diabetes tipo 2, enquanto o similar Wegovy passou a ser indicado para perda de peso a partir de 2021. No Brasil, a Anvisa aprovou o uso da semaglutida apenas para o tratamento do diabetes tipo 2. Ou seja, a prescrição para perda de peso é feita "off label", fora da indicação aprovada na bula. Ensaios clínicos que testaram a eficácia desses remédios mostram que eles são seguros para uso comercial, mas desde que chegaram ao mercado, pacientes têm relatado novas complicações. O Ozempic rapidamente ganhou fama por seus efeitos colaterais desagradáveis, como náusea, diarreia ou outros problemas digestivos. Também já foram relatadas alterações na visão, disfunção erétil e mudanças de humor, além de flacidez na pele devido à perda de peso. Mas o que mais preocupa os profissionais de saúde são relatos de doenças graves após a administração prolongada do fármaco. Recentemente, um órgão regulador do Reino Unido destacou efeitos colaterais potencialmente fatais de pancreatite aguda, uma inflamação do pâncreas, após pelo menos dez mortes terem sido associadas a essa condição entre usuários britânicos de drogas deste tipo. "Os efeitos colaterais mais preocupantes incluem pancreatite e impactos em distúrbios musculoesqueléticos", disse Penny Ward, médica e professora no King's College London, Reino Unido, à DW. Em abril deste ano, a Anvisa também alertou que dados de notificação no VigiMed sinalizaram eventos adversos relacionados ao uso das canetas emagrecedoras acima da média global e, por isso, passou a exigir retenção de receita para a venda do fármaco, assim como acontece com antibióticos. "Essa medida tem como objetivo proteger a saúde da população brasileira, especialmente porque foi observado um número elevado de eventos adversos relacionados ao uso desses medicamentos fora das indicações aprovadas pela Anvisa", diz em nota. Efeitos colaterais após ensaios clínicos 'não são incomuns'Um grande estudo publicado na revista Nature Medicine em janeiro de 2025 se propôs a analisar sistematicamente todos os riscos de saúde relatados por mais de 215 mil pessoas usando medicamentos GLP-1 para tratamento de diabetes. Os pesquisadores encontraram riscos adicionais além dos reconhecidos anteriormente em ensaios clínicos, incluindo um aumento de 11% no risco de artrite e de 146% no risco de pancreatite. Também foram relatados riscos maiores de pressão baixa, tontura ou desmaios, pedras e inflamação nos rins. A pesquisa também confirmou riscos já conhecidos de diversos distúrbios gastrointestinais, reforçando estudos anteriores que apontavam maior chance de efeitos colaterais digestivos. Segundo Ward, não é incomum que reações adversas adicionais sejam identificadas após o início da aplicação clínica de um produto. "Efeitos colaterais mais raros podem surgir à medida que mais pacientes utilizam esses medicamentos na prática clínica. Simplesmente porque um número muito maior de pessoas está sendo tratado em comparação ao incluído nos ensaios clínicos", afirma. "Por isso, continuamos monitorando a segurança dos remédios no mercado." Necessidade de mais pesquisas sobre efeitos colateraisNo ano passado, também surgiram relatos de pessoas que ficaram cegas após administração do Wegovy, que conta com o mesmo princípio ativo que o Ozempic. Pesquisadores que investigaram o caso descobriram que seu uso está associado a um aumento do risco de uma doença que afeta o nervo óptico, chamada Neuropatia Óptica Isquêmica (NAION). Casos como este também foram identificados pela Anvisa, que então exigiu a inclusão do efeito colateral na bula. Embora a condição seja rara, afetando cerca de 10 em cada 100 mil pessoas, um estudo publicado na revista JAMA Ophthalmology descobriu que pessoas com diabetes que consomem a semaglutida têm quatro vezes mais chances de desenvolver a doença do que a média da população. "Essa pesquisa sugere uma associação entre o tratamento com semaglutida e uma forma de neuropatia óptica que ameaça a visão, mas isso idealmente deveria ser testado em estudos maiores,” disse Graham McGeown, professor honorário de fisiologia na Queen's University Belfast, Reino Unido. Especialistas afirmam que são necessárias muito mais pesquisas em populações representativas para compreender melhor os efeitos colaterais do Ozempic e seus riscos reais para quem os utiliza. "Por exemplo, [precisamos de mais dados sobre] quem toma o medicamento para obesidade, pois precisa de uma dose maior do que quem tem diabetes e o usa por mais de dois anos", disse Karolina Skibicka, neuroendocrinologista da University of Calgary, Canadá. "Mas, especialmente, precisamos de estudos que incluam mulheres. As mulheres apresentam efeitos colaterais únicos a muitas terapias farmacológicas, e ainda assim, na maioria dos estudos, elas costumam ser sub-representadas em várias fases de testes", acrescentou Skibicka. Benefícios superam os riscos se usado sob prescriçãoApesar das preocupações com novos efeitos colaterais, Skibicka disse à DW que "a lista de benefícios desse fármaco, quando usado como prescrito na bula, ainda é significativamente maior e mais impactante do que os riscos". Por isso, Skibicka afirmou que é "improvável" que o surgimento de efeitos colaterais raros, mas graves, justifique novas recomendações mais restritivas para a prescrição de GLP-1. Pesquisadores têm identificado efeitos colaterais "benéficos" do medicamento quando administrado conforme a bula. Estudos indicam que seu uso está associado a um menor risco de demência e doença de Alzheimer. Além disso, investigações estão em andamento para avaliar se essas drogas podem ser eficazes no tratamento de transtornos relacionados ao consumo de substâncias químicas. O estudo de janeiro, da Nature, também relatou redução nos riscos de distúrbios de coagulação sanguínea, doenças cardiorrenais e metabólicas, e várias condições respiratórias em pacientes diabéticos que usam a semaglutida. Os autores especulam que o medicamento pode trazer benefícios secundários porque atua em várias partes do corpo e porque trata a obesidade, que contribui para diversos problemas de saúde. |
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Short teaser | Uso prolongado off label do medicamento evidencia novos efeitos colaterais, como pancreatite e perda de visão. | ||
Author | Fred Schwaller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/popularidade-do-ozempic-expõe-riscos-desconhecidos-do-remédio/a-73246120?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 28 | |||
Id | 73195329 | ||
Date | 2025-07-11 | ||
Title | Conventos e mosteiros estão morrendo na Alemanha | ||
Short title | Conventos e mosteiros estão morrendo na Alemanha | ||
Teaser |
Queda no número de membros de ordens católicas cria dilema sobre o futuro das freiras e monges que moram em conventos e mosteiros – e abre um filão imobiliário.Não é todo dia que surge um anúncio imobiliário desses: uma propriedade com mais de 136 mil metros quadrados, incluindo 11.664 metros quadrados de área útil e 130 quartos. As freiras beneditinas da abadia de St. Erentraud, perto de Kellenried, no sul do estado alemão de Baden-Württemberg, entre o Lago Constança e Ulm, estão procurando alguém para comprar seu convento. Preço: pouco menos de 5 milhões de euros (R$ 32,2 milhões).
A irmã Eva-Maria confirma o anúncio por telefone, mas não quer dar detalhes. "No momento, não estamos falando muito sobre isso", diz. O convento tem um site simpático e informativo, com uma foto principal mostrando muito mais irmãs do que as cerca de uma dúzia que vivem lá hoje. Em 2018, ainda havia 19 freiras no convento.
As primeiras freiras chegaram lá em 1924, e o convento foi oficialmente fundado dois anos depois. Agora, uma descrição de como foi a comemoração do centenário em 2024 aparece ao lado de uma nota informando que a ala para hóspedes foi fechada. Segundo especialistas, mesmo a venda do prédio não trará muito lucro para a ordem, pois construir acomodações adequadas para as freiras restantes será cara.
Mudança drástica em vinte anos
A vende do convento de Kellenried está sendo conduzida por um corretor especializado. O caso chama a atenção, mas não é o único desse tipo. Todos os anos, dezenas de mosteiros e conventos na Alemanha, grandes e pequenos, estão sendo fechados.
Segundo dados da Conferência das Ordens Religiosas da Alemanha (DOK), o número de conventos na Alemanha caiu de 1.627 para 964 de 2012 a 2022. O número de mosteiros caiu de 461 para 385 no mesmo período. Tradicionalmente, sempre houve mais freiras e conventos do que monges e mosteiros na Alemanha, principalmente porque na Igreja Católica as mulheres são impedidas de serem ordenadas diaconisas, sacerdotisas ou bispas.
Em 2004, as ordens femininas do país tinham 26.370 membros e as ordens masculinas 5.108, de acordo com a DOK. Dez anos depois, havia 17.513 mulheres e 4.370 homens, e em 2024, apenas 9.467 mulheres e 3.161 homens. O ápice das ordens femininas após a Segunda Guerra Mundial foi 1960, quando tinham mais de 93 mil freiras.
O que explica o fenômeno
A vice-presidente da DOK, Maria Thoma Dikow, acredita que há várias razões para a queda nos números. Por um lado, disse à DW, a força da igreja para conectar pessoas diminuiu. Ela também disse que agora é raro encontrar famílias com muitos filhos, que costumavam fornecer um número considerável de freiras.
E há outro fator que ela acredita ser importante. "Antigamente, as mulheres mal podiam estudar e era difícil para elas encontrarem um emprego em empresas privadas que lhes conferisse responsabilidade", disse, enquanto nas ordens religiosas elas tinham essas oportunidades. Há dez anos, ela própria é superiora geral de uma ordem dedicada à assistência social, a Heiligenstädter Schulschwestern.
Dikow disse que sua ordem também atuou em Moçambique por um longo tempo. "Muitas jovens ingressam lá", disse. "E lá, tenho a impressão de que esse passo é uma chance real para as jovens de hoje se emanciparem, para evitar um casamento que se resume principalmente a ter muitos filhos e, em vez disso, ter uma profissão."
O número de mulheres em ordens religiosas caiu em muitos países, disse, citando França, Espanha, Polônia, Canadá, Estados Unidos e Austrália, entre outros. Embora um segundo papa consecutivo tenha surgido de uma ordem religiosa, tais organizações católicas parecem estar em crise.
O rápido declínio na Alemanha, que levou muitas ordens à beira da extinção, também tem algumas consequências para a sociedade em geral. Nos últimos anos, as ordens têm transferido escolas ou hospitais que administravam há muito tempo para dioceses, ou mesmo para associações de caridade ou organizações privadas.
Particularmente em áreas rurais na Alemanha de predominância católica, como Eifel, Westfália, Baviera e Baden-Württemberg, numerosos conventos e mosteiros foram dissolvidos nas últimas décadas. Entre eles estão alguns muito conhecidos, como a abadia trapista Mariawald, em Eifel, o mosteiro franciscano Hardenberg-Neviges, a nordeste de Düsseldorf, e o mosteiro franciscano em Werl, destino de peregrinação na Westfália.
É importante notar que essa tendência também é observada nas igrejas protestantes, que têm apenas algumas comunidades monásticas. Hoje, a casa das diaconisas de Kaiserswerth, no norte de Düsseldorf, é um hotel quatro estrelas.
A despedida de um convento ou mosteiro costuma ser dolorosa para os afetados. O padre franciscano Damian Bieger, que viveu no mosteiro de Hardenberg-Neviges, resumiu isso há anos para o meio de comunicação católico katholisch.de: "Em Neviges, conheci os franciscanos. Entrei para a ordem lá; fui capelão lá; fui ministro lá. Doeu terrivelmente."
Às vezes, vender o prédio pode ser "libertação"
A irmã Maria Thoma não vê as coisas de forma tão drástica. Ela reconhece que a despedida das freiras costuma ser dolorosa. "É necessário um apoio muito bom, sensível e demorado", disse. Mas a madre superiora destaca que a venda de um prédio às vezes pode ser também "uma libertação".
Ela conhece exemplos muito bem-sucedidos de irmãs que dizem: "ficamos muito felizes quando vendemos nossa última propriedade, muitas preocupações foram tiradas de nossos ombros." Ela disse que seu próprio convento em Heiligenstadt estava pronto "para tentar algo novo" e já havia esvaziado um andar e o alugado a um provedor de cuidados para pessoas com deficiência.
Esse exemplo se encaixa bem com as ideias de Ulrike Rose, especialista na preservação de edifícios. Sua empresa é especializada em conventos. Ela trabalhou com a grande abadia beneditina de Santa Hildegarda em Eibingen, que já teve mais de cem irmãs e atualmente tem 33, além do convento das franciscanas de Oberzell em Würzburg, bem como outros conventos da Baviera. "Vale muito a pena pensar no futuro dos edifícios com as irmãs e trabalhar em soluções sustentáveis", disse.
Se é possível preservar a essência básica de um convento, isso pode ser benéfico para toda a região, afirmou. Muitos moradores das vizinhanças têm carinho por conventos e mosteiros, independentemente de estarem envolvidas com a igreja ou não. Projetos residenciais comunitários iniciados por associações, espaços para atividades culturais e educacionais ou acomodações adequadas para pessoas que buscam paz e apoio espiritual podem ser bem estabelecidos em um complexo desse tipo.
"Estamos falando sobre as propriedades valiosas das ordens, as grandes casas-mãe, bem como mansões ou pequenos castelos" que as pessoas doaram ou cederam às ordens, disse.
"É preciso abertura das irmãs"
A viabilidade da comunidade que morava no convento seguir existindo apesar das mudanças nas circunstâncias "não tem nada a ver com a idade das irmãs, mas sim com sua abertura", disse Rose.
Ela afirma que, para muitas irmãs, é mais fácil abrir mão completamente de um complexo de prédios para pôr fim a uma situação angustiante do que permitir que estranhos usem o edifício junto com elas. A grandiosidade de certos prédios, muitas vezes, é um fardo, disse. "É importante que as pessoas estejam abertas a receber ajuda", disse Rose.
Também é necessário tempo para trabalhar em soluções. Muitas vezes, foi possível criar projetos que levaram em consideração os desejos do convento e mantinham o bem comum em vista. "Soluções arquitetônicas inteligentes podem servir para preservar o espaço de vida das irmãs e dividir o fardo da manutenção", disse.
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Short teaser | Queda no número de membros de ordens católicas cria dilema sobre futuro de freiras e monges – e abre filão imobiliário. | ||
Author | Christoph Strack | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/conventos-e-mosteiros-estão-morrendo-na-alemanha/a-73195329?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | A abadia de Mariawald, na região do Eifel, no oeste da Alemanha, é hoje gerida por uma associação e tem restaurante, loja e fábrica de licor | ||
Image source | picture alliance | ||
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Item 29 | |||
Id | 73241020 | ||
Date | 2025-07-11 | ||
Title | Alemanha discute impor cota para limitar porcentagem de imigrantes em escolas | ||
Short title | Alemanha discute cota máxima para imigrantes em escolas | ||
Teaser |
Ministra da Educação da Alemanha sugere restringir porcentagem de matrículas de estrangeiros em instituições de ensino fundamental, impondo um teto máximo de 30% ou 40%. Proposta, no entanto, vem causando controvérsia.Quando Sabine Schwarz (nome fictício) ficou sabendo através de uma amiga da ideia da atual ministra da Educação da Alemanha, Karin Prien, inicialmente achou ser uma piada de mau gosto. Uma cota máxima para alunos imigrantes nas escolas alemãs seria um "modelo concebível", afirmou a política, acrescentando que outros países deveriam ser observados para ver se esta "acabaria sendo 30% ou 40%".
Se alguém deveria se sentir tocado por essa ideia, esse alguém é Schwarz, diretora de uma escola primária no estado da Renânia do Norte-Vestfália. O colégio tem quase 350 alunos, dos quais mais de 80% vêm de famílias de imigrantes.
No entanto, a proposta de Prien não funcionaria na realidade, diz ela. "Acho que nem pensou na política habitacional nem nas atitudes das pessoas, e nem tem ideia de como as coisas são de fato em alguns bairros. Porque as pessoas teriam que se mudar para o nosso bairro, pelo menos se quiserem ir à escola perto de casa. Nós sequer chegamos aqui à cota de pessoas que são tidas como falantes de alemão ou alemães."
Critério para escolha da escola
Nos arredores da escola de Schwarz, a parcela de imigrantes é de 60%. Mas Schwarz conta que os alemães que moram próximos à sua escola preferem colocar seus filhos em outros colégios. "Isso é triste", lamenta.
Quando se trata de educação, os alemães preferem ficar entre si: há quase 20 anos, a Renânia do Norte-Vestfália aboliu a obrigação de mandar os filhos para uma escola da vizinhança, e isso se aplica até mesmo no caso das escolas primárias. Como consequência, algumas famílias alemãs evitam escolas como a de Schwarz, entendendo que uma alta proporção de imigrantes possa ter um impacto negativo no sucesso acadêmico de seus filhos.
"O que sempre se ouve é que a migração é associada a um nível mais baixo de educação, e que as crianças aprendem mais lentamente. Mas isso não é verdade. Por exemplo, nós nos beneficiamos com a onda de refugiados em 2015 porque recebemos muitas crianças que estavam muito interessadas em uma boa educação."
Schwarz critica a generalização que muitos fazem. "Há crianças traumatizadas com a experiência de refugiado que não conseguem nem pensar em educação, há crianças que estão muito interessadas em educação e crianças que fugiram da pobreza", afirma. Ela ressalta que em sua escola toda criança é bem-vinda, não importa de onde venha. E nenhuma criança é abandonada à própria sorte.
Educação é problema na Alemanha
Quando se trata de educação na Alemanha, uma coisa é certa: professores, pais, alunos e especialistas concordam que o sistema precisa ser reformado com urgência, e que as coisas não podem continuar assim. O país tem um desempenho muito ruim em muitas categorias. Na última pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), em 2022, a Alemanha ficou apenas no meio da tabela em uma comparação internacional. A competência dos jovens de 15 anos em leitura, matemática e ciências caiu para os níveis mais baixos já medidos.
De acordo com a Pesquisa Internacional de Leitura na Escola Primária (Iglu) de 2023, um em cada quatro alunos da quarta série na Alemanha tem dificuldades com a leitura. E nesse mesmo ano, 56 mil alunos deixaram a escola na Alemanha sem obter nenhuma qualificação, cifra correspondente a mais de 7%, e a tendência é aumentar. Mas se um especialista ou político se atreve a apresentar uma sugestão de melhoria, o clamor é tradicionalmente enorme.
Há quem apoie proposta de Prien
Não são poucos os que compreendem a abordagem de Prien. Um argumento é de que as crianças ucranianas também foram distribuídas da forma mais uniforme possível entre as escolas após chegarem à Alemanha. "A proposta da ministra é compreensível, porque uma composição bem mesclada de turmas escolares e grupos de aprendizagem de acordo com a origem claramente leva a um melhor aprendizado", argumenta o conhecido pedagogo alemão Klaus Hurrelmann.
Entretanto, a proposta seria quase impossível de ser implementada na prática, porque exigiria a identificação da origem, o que muitos pais e alunos consideram discriminatório. "Os mal-entendidos resultantes e a discriminação percebida não compensam os possíveis benefícios. Melhor seriam abordagens que apoiem as escolas que têm uma proporção muito alta de crianças e jovens com problemas de linguagem", diz Hurrelmann.
Apoio à igualdade de oportunidades
Stefan Düll, presidente da Federação Alemã de Professores, também acredita que escolas com uma alta proporção de imigrantes precisariam de uma proporção maior de professores além daquela necessária para simplesmente cobrir as aulas, de forma a poderem oferecer medidas adicionais de apoio. Nesse contexto, ele elogia o programa Startchancen, dos governos federal e estadual da Alemanha, que nos próximos anos, disponibilizarão 20 bilhões de euros (R$ 129,3 bilhões) para 4 mil escolas com problemas. Düll saúda o debate iniciado por Prien. Entretanto, ele crê que a proposta dela não seria viável e que apenas deslocaria o problema, já que os pais alemães colocariam seus filhos em escolas privadas.
"A Federação Alemã de Professores vem apontando há anos que o ensino se torna consideravelmente mais difícil quando muitos alunos não têm conhecimento suficiente do idioma alemão. Em nossa opinião, no entanto, não faz muito sentido redistribuir os alunos apenas para atingir uma determinada cota em classes individuais. Isso dificilmente é viável em termos organizacionais e não promove a coesão social de uma comunidade escolar", argumenta Düll.
Alunos criticam estigmatização
A Conferência Federal de Alunos criticou duramente a ideia de Prien de uma cota máxima de imigrantes nas escolas alemãs, afirmando que a ideia envia um sinal perigoso. A entidade argumenta que assim nem todas as crianças seriam consideradas igualmente bem-vindas e que tais medidas não promovem um sistema educacional mais justo, mas sim a estigmatização. "A origem nunca deve se tornar um critério para oportunidades educacionais. E as escolas devem ser locais de participação, não de exclusão", afirma.
No entanto, os alunos podem concordar com uma das propostas da ministra da Educação. "Somos a favor dos testes de aptidão da língua alemã para crianças de quatro anos sugeridos por Karin Prien. Entretanto, esses testes devem ser introduzidos de forma generalizada e obrigatória para todas as crianças na Alemanha. Se os resultados forem inadequados, devem ser introduzidas medidas de apoio abrangentes e direcionadas – precoces, obrigatórias e eficazes. Essa é a única maneira de garantir que todas as crianças iniciem sua carreira educacional com as mesmas oportunidades."
Importância da pré-escola
A realidade é frequentemente a mesma da escola primária de Sabine Schwarz, na Renânia do Norte-Vestfália. A diretora relata que 60% das crianças chegam à sua escola com vários déficits de aprendizagem. Os desafios para as escolas alemãs, portanto, têm origens anteriores. São o resultado de problemas nas unidades pré-escolares alemãs, um efeito dominó.
De acordo com um estudo, faltam 125 mil educadores infantis nas pré-escolas na Alemanha, mais de dois por unidade.
Schwarz pode confirmar isso com base em sua própria experiência. "Trabalhamos em estreita colaboração com as pré-escolas, mas não podemos compensar a falta de pessoal. O idioma deve ser promovido, com especialistas treinados e com os recursos adequados. Mas, infelizmente, isso não está acontecendo no momento, então temos uma lacuna entre a pré-escola e a escola primária." A diretora de escola enfatiza: "O trabalho na pré-escola é fundamental para o sucesso educacional na escola primária".
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Short teaser | Ministra alemã da Educação cogita restringir parcela de alunos estrangeiros em colégios do país. Proposta é controversa. | ||
Author | Oliver Pieper | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-discute-impor-cota-para-limitar-porcentagem-de-imigrantes-em-escolas/a-73241020?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | A proposta de uma cota máxima de alunos imigrantes nas escolas alemãs causa debates acalorados | ||
Image source | Wolfram Steinberg/dpa/picture alliance | ||
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Item 30 | |||
Id | 73223771 | ||
Date | 2025-07-10 | ||
Title | Novo "Superman" político revolta ultradireita nos EUA | ||
Short title | Novo "Superman" político revolta ultradireita nos EUA | ||
Teaser |
Conservadores americanos criticam o que consideram versão "woke" do icônico super-herói. Crítico de Trump, diretor James Gunn afirma que filme foca na bondade humana.No aguardado novo filme Superman, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (10/07) e é estrelado por David Corenswet no papel-título, o Homem de Aço aparece logo de início ensanguentado e ferido, em um deserto ártico.
"Temos um Superman agredido no início. Esse é o nosso país", disse o diretor americano James Gunn em um evento para a imprensa após o lançamento do primeiro trailer do filme. Ele explicou que este Superman simboliza que os Estados Unidos, mesmo em estado deplorável, ainda apoiam o bem.
O Superman é frequentemente considerado o arquétipo do super-herói americano, personificando ideais de verdade e justiça, bem como o sonho americano. No entanto, no novo filme, Gunn decidiu se concentrar na "moralidade universal" ao invés do excepcionalismo americano. Em vez de ser um herói nacional, o Superman visa proteger e salvar os fracos ao redor do mundo "mesmo que isso o coloque em apuros", observou o diretor.
"Sim, é sobre política", disse Gunn ao jornal britânico The Times, antes de acrescentar que também é "sobre a bondade humana". "Obviamente, haverá idiotas por aí que simplesmente não são bondosos e considerarão isso ofensivo apenas porque é sobre a bondade", disse ele. "Mas eles que se danem."
Suas declarações deixaram comentaristas políticos de direita preocupados com a possibilidade de Gunn, que também dirigiu Guardiões da Galáxia, ter transformado o icônico super-herói em uma figura "woke", ou seja, alguém com uma conscientização elevada sobre discriminação racista e sexista, desigualdade social e temas semelhantes. Eles até pediram um boicote ao filme.
Da mesma forma, a apresentadora da emissora conservadora Fox News, Kellyanne Conway, se queixou do filme no talk show The Five. "Não vamos ao cinema para ouvir sermões e para que alguém nos imponha sua ideologia. Me pergunto se [o filme] vai fazer sucesso."
Marvel X DC e as guerras culturais
Filmes de super-heróis de grande sucesso geralmente evitam exibir abertamente qualquer coisa que os rotule como conservadores ou liberais. No entanto, uma teoria popular entre os fãs de super-heróis é que os universos cinematográficos das duas maiores editoras de quadrinhos americanas, a DC e a Marvel Comics, estão polarizados ao longo das linhas ideológicas que definem uma era de guerras culturais.
O universo DC – que inclui Superman e Batman – é considerado mais conservador e autoritário, com seus super-heróis retratados como os protetores supremos da ordem. Como extensões da lei, eles agem acima das pessoas comuns sem serem responsabilizados.
"Não há nenhum senso de participação democrática no mundo do Batman", observou o crítico de cinema A.O. Scott no podcast de 2025 X Man: The Elon Musk Origin Story ("X-Man: A História da origem de Elon Musk", em tradução livre).
Ao mesmo tempo, o mesmo podcast expõe a teoria de Scott de que os heróis dos filmes do Universo Marvel – Homem de Ferro, Capitão América, Homem-Formiga e os demais Vingadores – "são uma equipe de benfeitores: os filmes representam a visão de mundo de [Barack] Obama e [Joe] Biden".
Gunn, um crítico ferrenho de Trump
Como roteirista e diretor dos filmes da franquia Guardiões da Galáxia, James Gunn costumava pertencer à equipe da Marvel. Ele também fez inimigos no movimento "Make America Great Again" (Maga) como um crítico ferrenho do presidente Donald Trump.
Em 2017, ele compartilhou suas opiniões em várias postagens na rede social X. "Nos meus anos de redes sociais, nunca me manifestei politicamente", escreveu Gunn. "Mas estamos em uma crise nacional com um presidente incompetente forjando um ataque total aos fatos e ao jornalismo no estilo de [Adolf] Hitler e [Vladimir] Putin."
O portal de notícias de extrema direita Daily Caller desenterrou postagens consideradas ofensivas de Gunn de quase uma década antes. Usuários das redes sociais pediram à Disney, dona da Marvel, que dispensasse o cineasta.
Gunn foi retirado do terceiro filme dos Guardiões da Galáxia, mas acabou sendo reintegrado após um pedido público de desculpas e de conversas com os chefes dos estúdios Disney.
Ele, porém, acabou migrando para o time rival no mundo dos quadrinhos, tornando-se copresidente da DC Studios em 2022. Gunn é o criador-chefe do Universo DC, que foi reiniciado em 2024 com uma série de filmes novos, incluindo Superman.
Um "alienígena não documentado"
O Superman apareceu pela primeira vez na primeira edição da revista Action Comics, publicada em 1938. A história original do Homem de Aço não foi criada por Gunn para provocar o público "anti-woke", mas sim pelos imigrantes judeus de segunda geração, Jerry Siegel e Joe Shuster, que inventaram um super-herói que defendia os mais fracos em resposta à ascensão de do líder nazista Adolf Hitler e ao antissemitismo na Europa.
Nascido como Kal-El no planeta Kripton, os pais biológicos do bebê Superman conseguem enviá-lo para a Terra antes de morrerem em meio à destruição de seu planeta. A família que acolhe o órfão o registra fraudulentamente como seu filho biológico, Clark Kent, para encobrir o fato de que a criança é literalmente um alienígena não documentado.
Esse aspecto da biografia do super-herói foi reiterado em 2018, quando o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) publicou o livro Superman também foi um refugiado.
Um ano antes, Superman protegeu um grupo de imigrantes sem documentos de um supremacista branco armado na edição nº 987 da Action Comics, que foi lançada após Trump anunciar o fim da política de Ação Diferida para Chegadas na Infância (Daca, na sigla em inglês). O programa permitiu que centenas de milhares de imigrantes trazidos para os EUA ainda crianças vivessem e trabalhassem no país sem medo de deportação.
O atual governo Trump vem intensificando sua repressão à imigração, aumentando as preocupações sobre o estado da democracia dos EUA e aprofundando as divisões no país.
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Short teaser | Conservadores americanos criticam o que consideram versão "woke" do icônico super-herói. | ||
Author | Elizabeth Grenier | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/novo-superman-político-revolta-ultradireita-nos-eua/a-73223771?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Superman e seu novo assistente, o supercão Krypto, no filme dirigido por James Gunn | ||
Image source | Warner Bros. Pictures/AP/picture-alliance | ||
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Item 31 | |||
Id | 73220177 | ||
Date | 2025-07-09 | ||
Title | Onda de calor na Europa mata 2,3 mil em dez dias | ||
Short title | Onda de calor na Europa mata 2,3 mil em dez dias | ||
Teaser |
Estimativa considera apenas 12 grandes cidades. Do total de mortes, 1,5 mil foram associadas às mudanças climáticas. Europa Ocidental teve o seu mês de junho mais quente. A onda de calor intenso que assolou recentemente partes da Europa e provocou recordes de temperatura deixou 2,3 mil mortos em 12 cidades em questão de dez dias, segundo estimativa divulgada nesta quarta-feira (09/07). Do total de mortes, 1,5 mil foram associadas às mudanças climáticas provocadas pela ação humana, com a emissão de carbono e outros gases do efeito estufa lançados na atmosfera principalmente pela queima de combustíveis fósseis. Ou seja: não fossem as mudanças climáticas, o número de mortos seria bem menor, cerca de 800. Segundo os pesquisadores do Imperial College de Londres e da Escola de Londres de Higiene e Medicina Tropical, as mudanças climáticas tornaram as ondas de calor mais severas, triplicando o número estimado de mortes no período. O estudo considerou apenas o período de 23 de junho a 2 de julho, quando boa parte da Europa Ocidental sofreu sob temperaturas muito acima da média e até mesmo na Alemanha os termômetros beiraram os 40 ºC. O levantamento abrangeu as cidades Madrid e Barcelona (Espanha); Lisboa (Portugal); Londres (Reino Unido); Frankfurt (Alemanha); Milão, Roma e Sassari, na Sardenha (Itália); Atenas (Grécia); Budapeste (Hungria) e Zagreb (Croácia). Segundo os cientistas, a temperatura nesses locais esteve até 4 ºC acima do normal. Em Espanha e Portugal, os termômetros chegaram a marcar até mesmo 46 ºC. No norte de Londres, a sensação térmica bateu os 48 ºC. Como as mortes foram calculadasA estimativa foi feita com base em modelos epidemiológicos consagrados e dados históricos de mortalidade, para refletir óbitos em que o calor foi a causa subjacente. Isso inclui casos em que a exposição agravou problemas de saúde preexistentes. Oficialmente, a maioria dos óbitos relacionados ao calor não é registrada, e alguns governos não divulgam esses dados. É por isso que, segundo os pesquisadores, as ondas de calor são conhecidas como "assassinos silenciosos". "Ondas de calor não deixam um rastro de destruição, como incêndios florestais ou temporais. Seus efeitos são quase sempre invisíveis, mas silenciosamente devastadores. Uma mudança de apenas 2 ºC ou 3 ºC pode fazer a diferença entre vida e morte para milhares", afirma o líder do estudo, Ben Clark, do Imperial College London. Ondas de calor são especialmente perigosas para idosos, doentes, crianças pequenas e trabalhadores ao ar livre. Europa Ocidental teve seu mês de junho mais quente já registradoO mês de junho foi o terceiro mais quente do planeta na série histórica do Copernicus, serviço climático da União Europeia, perdendo apenas para 2024 e 2023. Mas foi o junho mais quente para a Europa Ocidental, que viu o calor chegar mais cedo e registrou sensação térmica igual ou superior a 38 ºC. "Essa onda de calor foi mais intensa devido a temperaturas recordes na superfície do oceano no Mediterrâneo ocidental", disse Samantha Burgess, do Copernicus. "Em um mundo que esquenta, as ondas de calor devem se tornar mais frequentes, mais intensas e impactar mais pessoas na Europa." Incêndios florestais também foram registrados em diversas partes do continente nesse período. Em alguns lugares, como em Marselha, na França, as chamas ainda são difíceis de controlar, mesmo sob temperaturas agora muito mais amenas. O fogo deixou mais de 100 feridos na cidade francesa, e centenas tiveram que ser evacuados de suas casas. Um estudo publicado em 2023 na revista nature estima que as ondas de calor tenham matado 61 mil em todo o continente em 2022. ra (Reuters, efe, dpa, AFP, ots) |
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Short teaser | Estimativa considerou apenas 12 grandes cidades. Mudanças climáticas fizeram número de mortes triplicar. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/onda-de-calor-na-europa-mata-2-3-mil-em-dez-dias/a-73220177?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 32 | |||
Id | 73205768 | ||
Date | 2025-07-08 | ||
Title | Daimler Truck cortará 5 mil empregos na Alemanha até 2030 | ||
Short title | Daimler Truck cortará 5 mil empregos na Alemanha até 2030 | ||
Teaser |
Fabricante alemã de caminhões tenta reduzir custos em reação a queda de vendas. Resultados negativos são puxados pela operação nos EUA. A fabricante alemã de caminhões Daimler Truck anunciou nesta terça-feira (08/07) vai cortar 5 mil postos de trabalho na Alemanha até 2030. Na segunda-feira, a empresa havia informado uma queda de 5% nas vendas do segundo trimestre, com resultados especialmente fracos em seu mercado nos EUA. Por que a Daimler está cortando empregos?Segundo a empresa, os números recentes indicam que a Mercedes-Benz Trucks, parte da Daimler, precisa se tornar mais resistente ao mercado. O programa de corte de custos, denominado "Cost Down Europe", tem o objetivo de colocar os negócios europeus de volta nos trilhos e melhorar a lucratividade. Seu objetivo é economizar mais de 1 bilhão de euros por ano até 2030. Um dia antes do anúncio, as vendas caíram pelo segundo trimestre – para 106.715 caminhões e ônibus, em comparação com 112.195 unidades no ano passado. A empresa, listada no DAX, chegou a um acordo em maio com o conselho central de trabalhadores sobre os principais pontos para suas unidades de caminhões na Alemanha, incluindo uma redução da força de trabalho e o compromisso de evitar demissões compulsórias até o final de 2034. Quais empregos serão cortados?A empresa planeja reduzir os custos recorrentes em mais de um bilhão de euros até 2030, tendo como alvo as despesas com pessoal, materiais, administração, infraestrutura de TI e pesquisa e desenvolvimento. Segundo um porta-voz da montadora a maioria dos empregos deve ser cortada por meio de desligamento natural e aposentadoria antecipada, embora também sejam possíveis programas de desligamento direcionados. Os cortes afetarão o centro de Stuttgart da divisão de caminhões, que empregava cerca de 28 mil pessoas no final de 2024. A Daimler Truck tem cerca de 35,5 mil funcionários na Alemanha, em cinco unidades no país: Gaggenau, Kassel, Mannheim, Stuttgart e Wörth – sendo esta última a maior fábrica de montagem de caminhões da Europa. A meta da companhia com as novas medidas é aumentar sua rentabilidade sobre o faturamento para mais de 12% (no ano passado a rentabilidade foi de 8,9%) "Temos a estratégia e alcançamos uma cultura de desempenho para atingir essa ambição. Se fizermos tudo certo, isso nos levará a uma lucratividade de mais de 12% sobre o faturamento até 2030", disse a CEO da empresa, Karin Radström. A Daimler Truck também anunciou nesta terça-feira, após uma reunião com investidores, que planeja aumentar a remuneração dos acionistas para entre 40% e 60 % do lucro líquido. A fabricante alemã de caminhões decidiu recomprar ações no valor de até 2 bilhões de euros. md (EFE, AFP, DPA) |
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Short teaser | Fabricante alemã de caminhões quer reduzir custos em reação a queda de vendas, principalmente nos EUA. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/daimler-truck-cortará-5-mil-empregos-na-alemanha-até-2030/a-73205768?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 33 | |||
Id | 73184334 | ||
Date | 2025-07-07 | ||
Title | Merz patina para aumentar protagonismo da Alemanha no mundo | ||
Short title | Merz patina para aumentar protagonismo da Alemanha no mundo | ||
Teaser |
Novo chanceler federal alemão criticou política externa "pouco ambiciosa" de antecessor e prometeu guinada. Até o momento, porém, há poucos indícios de que isso vá acontecer."Germany is back on track" ("A Alemanha voltou aos trilhos"). Há três meses, na apresentação do acordo da nova coalizão de governo em Berlim, o chanceler federal alemão, Friedrich Merz, do partido conservador União Democrata Cristã (CDU), anunciava a intenção de seu governo de conquistar um novo papel para a Alemanha.
Merz acusa o governo anterior, liderado pelo social-democrata Olaf Scholz, de ter fracassado, de ter sido cauteloso demais e hesitante em seu apoio à Ucrânia, muito pouco ambicioso em sua política europeia, muito prepotente com seus parceiros.
Merz declarou a política externa como prioridade, afirmando que a Alemanha quer assumir mais responsabilidades e que o país deve desempenhar um papel de liderança na União Europeia (UE). A Alemanha deve se tornar o país com as Forças Armadas mais fortes entre as nações europeias da Otan.
Ao mesmo tempo, a Europa deve "alcançar a independência dos EUA" em termos de política de defesa, como Merz disse imediatamente após sua vitória eleitoral em fevereiro, afirmando não ver mais os Estados Unidos sob Donald Trump como um parceiro confiável.
Merz faz o que Trump quer
Ele cumprirá essa promessa? Em sua primeira visita como chanceler federal a Washington, a maioria da imprensa alemã já considerava um sucesso o fato de a entrevista coletiva conjunta com Trump ter ocorrido sem maiores problemas. Merz quase não disse nada e parecia nervoso, enquanto Trump falava ainda mais.
O premiê alemão prometeu sobretudo mais gastos com defesa, e o presidente dos EUA pareceu satisfeito. "Trump não está interessado em parceria, mas em vassalagem", avalia o cientista político Johannes Varwick, da Universidade de Halle-Wittenberg.
Henning Hoff, do think tank Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP, na sigla em alemão), destaca que, em vez de "independência", Merz "retornou aos caminhos transatlânticos tradicionais".
"Considerando a grande dependência da Europa em relação aos EUA em termos de política de segurança, afastar-se abertamente de Washington também seria imprudente e insensato", avalia Varwick. "Não pode haver nenhuma questão de independência, nem política nem militarmente."
Essa percepção também é apoiada pela reação muito cautelosa de Merz à iniciativa de política de segurança do líder do grupo parlamentar do bloco conservador CDU/CSU, Jens Spahn. Ele havia se manifestado a favor de um guarda-chuva nuclear europeu sob a liderança alemã. Em entrevista recente à emissora pública de televisão alemã ARD, Merz falou na sobre um projeto que só se tornará realidade "em prazo muito, muito longo".
Alemanha pode e quer substituir os EUA na Ucrânia?
E de forma igualmente obsequiosa ocorreu a cúpula da Otan em Haia – como vários meios de comunicação disseram – com o secretário-geral da organização, Mark Rutte, se referindo jocosamente a Trump como "daddy" (papaizinho). Conforme exigido pelo presidente dos EUA, os europeus se comprometeram a gastar em defesa 5% de seus respectivos PIBs. A mensagem de Trump tem sido há muito tempo: se não pagar, não terá a proteção dos EUA. O principal objetivo da cúpula era manter os EUA como garantidor da segurança na Europa. Por enquanto, isso parece ter sido alcançado.
No entanto, um roteiro para a Ucrânia aderir à Otan, que também é de desejo da Alemanha, sequer foi discutido em Haia – os EUA sob o comando de Trump desistiram desse objetivo.
De modo geral, Trump parece estar perdendo lentamente o interesse em uma solução de paz na guerra da Ucrânia. A última entrega dos mísseis de defesa aérea Patriot, equipamento urgentemente necessário para Kiev, foi interrompida por Washington, supostamente porque o próprio país precisa deles.
Com isso, fica aberta a questão sobre se os europeus, e a Alemanha em particular, querem entrar nesta brecha deixada. Johannes Varwick acredita que, se os europeus quisessem compensar o papel dos EUA, a tarefa não seria "muito promissora, tanto financeiramente quanto em termos de alcance político". "Por isso, mais cedo ou mais tarde, Berlim e Bruxelas provavelmente acabarão tendo que seguir a reviravolta de 180 graus realizada pelos EUA."
Em meio a tudo isso, Merz permanece vago sobre a questão de fornecer ou não à Ucrânia mísseis de cruzeiro de longo alcance Taurus. "É e continua sendo uma opção", disse ele em um talk show da ARD. Seu antecessor, Scholz, sempre rejeitou o envio com o argumento de que a Alemanha poderia, com isso, ser arrastada para a guerra. "Uma coisa é certa. A Alemanha não participará da guerra", ressaltou Merz. Como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, vê isso, é outra questão.
Controles fronteiriços prejudicam as laços com Polônia
O novo chanceler federal viajou para Paris e Varsóvia imediatamente após assumir o cargo, como um sinal de que ele atribui uma importância especial a esses dois parceiros europeus. Houve uma recepção cordial do presidente francês, Emmanuel Macron.
No entanto, Merz se desentendeu com o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, quando mandou reforçar controles de fronteira pouco antes para evitar a entrada ilegal de migrantes. A Polônia não quer receber de volta esses migrantes e agora está controlando sua fronteira com a Alemanha. Henning Hoff chama isso de um "tropeço inicial" de Merz, "porque a política simbólica de migração parece para ele mais importante do que a coesão europeia e as relações de boa vizinhança com a Polônia".
Apenas espectador no Oriente Médio
Enquanto isso, a segunda maior crise ao lado da guerra na Ucrânia, o conflito no Oriente Médio, está ocorrendo praticamente sem os europeus. Israel e, alguns dias depois, os EUA, atacaram alvos no Irã para impedir que o país construísse uma bomba nuclear. Não houve consultas com os europeus. O papel da Alemanha se limitou, em grande parte, a pedir uma redução da escalada depois disso.
Merz já parece orgulhoso só por ter sido informado dos ataques após eles terem sido realizados. "Fui um dos primeiros, se não o primeiro, a ser informado", disse ele na ARD.
"Podemos ver a que nível baixo chegamos. A Europa e a Alemanha não desempenham nenhum papel nessa questão. E Merz não conseguirá mudar isso", lamenta Johannes Varwick.
O que as enormes dívidas rendem em política externa?
Uma visita bem-sucedida aos EUA, principalmente graças a um comprometimento de defesa significativamente maior, um futuro incerto para o apoio na Ucrânia, a esperança de uma reaproximação com a França, mas um relacionamento tenso com a Polônia e um mero espectador no conflito do Oriente Médio – um balanço inicial dos planos de política externa de Merz tem um resultado misto. Entretanto, o novo governo está no cargo há apenas dois meses.
"Continua sendo um mistério o que exatamente Merz quer dizer com 'a Alemanha voltou aos trilhos' em termos de política externa – ou sobre o que ele quer construir e em que 'trilhos' ele quer colocar o país de volta", avalia Hoff.
Ele ressalta que as ideias de Merz sobre um papel maior para a Alemanha "baseiam-se em uma política de gastos maciços financiados por dívidas para defesa e infraestrutura, possibilitada por sua própria reviravolta de 180 graus nessa questão e pelo apoio do Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz e dos verdes. O governo anterior não teve essa opção".
Pelo menos entre a população alemã, o premiê parece estar marcando pontos depois de ter sido bastante impopular por um longo tempo. Nas últimas sondagens, seu índice de aprovação aumentou três pontos percentuais. . Apesar de estar em apenas 42%, esse é o patamar mais alto desde que Merz voltou à política, há quatro anos.
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Short teaser | Novo premiê alemão criticou política externa de antecessor e prometeu guinada. Mas há poucos indícios de mudança. | ||
Author | Christoph Hasselbach | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/merz-patina-para-aumentar-protagonismo-da-alemanha-no-mundo/a-73184334?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Relação sem pé de igualdade: Merz busca contato com Trump, mas não o considera confiável | ||
Image source | Ludovic Marin/REUTERS | ||
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Item 34 | |||
Id | 73182423 | ||
Date | 2025-07-07 | ||
Title | Como o chocolate é apreciado pelo mundo | ||
Short title | Como o chocolate é apreciado pelo mundo | ||
Teaser |
Doce é popular em vários países, no entanto, sua forma de produção e sabores podem variar bastante entre os continentes.Apesar de a base ser a mesma: o cacau, o chocolate não é um produto único e igual no mundo inteiro. Há uma grande variedade de sabores e formas de produção, que proporcionam características próprias para o chocolate produzido em diferentes países.
Conheça as principais diferenças dessa iguaria entre os continentes.
Chocolate americano: doce, espesso e com recheio
O cacau chegou às colônias norte-americanas como uma bebida vinda da América Latina no século 17. O chocolate denso e doce que é popular hoje, no entanto, foi trazido para o Novo Mundo por chocolateiros suíços na segunda metade do século 19. Apesar de suas origens comuns, o chocolate suíço e o americano têm sabores muito diferentes.
Nos Estados Unidos, as marcas de maior sucesso priorizam uma longa vida útil e um sabor estranho aos paladares europeus. Isso ocorre, em parte, devido ao uso de ácido butírico, que confere ao chocolate americano um toque levemente azedo.
O alto teor de açúcar e aditivos como xarope de milho ou gorduras vegetais também são característicos do sabor típico do chocolate americano. "O que também é muito popular são as barras grandes e grossas com recheio", explica sommeliere de chocolate alemã Julia Moser.
Chocolate europeu: seguindo a tradição
Na Europa Ocidental – especialmente na Suíça, Bélgica, França e Alemanha – o foco está no sabor refinado e na alta qualidade. As receitas de chocolate na União Europeia (UE), por exemplo, são regulamentadas de forma mais rigorosa do que nos EUA. O chocolate ao leite deve conter pelo menos 25% de cacau, sendo que a principal gordura é a manteiga de cacau.
Os fabricantes utilizam processos tradicionais, como a conchagem, que confere uma textura fina e cremosa. "A apreciação por um bom chocolate está crescendo aqui, embora o chocolate ao leite ainda seja o mais consumido, porque a maioria de nós está acostumada com ele desde a infância", diz Moser. "O chocolate amargo só começa a se tornar mais popular na idade adulta."
Preferências próprias na Índia e na África
Na Índia e em outras partes da Ásia, o chocolate é uma iguaria relativamente nova. A produção industrial só começou aqui em meados do século 20. No entanto, o mercado está crescendo rapidamente e substituindo os doces tradicionais, especialmente entre os mais jovens.
"O chocolate indiano é considerado a dica de quem no momento", diz Julia Moser. "Os grãos de cacau de lá têm um sabor frutado muito característico, com um toque de nozes."
A África, especialmente a África Ocidental, é a maior produtora mundial de cacau. No entanto, o consumo de chocolate no continente representou apenas cerca de 4% do mercado global em 2018. Isso também se deve ao calor, que dificulta muito a produção de barras de chocolate, explica Julia Moser. "As pessoas lá costumam apreciar a polpa fresca dos grãos de cacau ou fazer uma pasta com os grãos torrados, que depois usam para fazer bebidas achocolatadas."
Em países como Gana, no entanto, o maior produtor mundial de cacau depois da Costa do Marfim, o interesse pelo chocolate produzido localmente está crescendo.
Os sabores de chocolate mais incomuns, pelo menos de uma perspectiva ocidental, podem ser encontrados no Japão, onde KitKat de matcha, molho de soja e wasabi são cultuados há anos.
O lado obscuro da produção de chocolate
Apesar de todo o prazer proporcionado pelo chocolate, não devemos esquecer o lado obscuro de sua história: a jornada triunfante do cacau da América Latina para o resto do mundo está inextricavelmente ligada à exploração colonial.
Foram as potências coloniais europeias que introduziram deliberadamente a planta do cacau em suas colônias tropicais para atender à crescente demanda na Europa. O cultivo e a colheita eram realizados com a ajuda da população local, geralmente em condições desumanas.
E mesmo hoje, muitos produtores de cacau ainda estão à mercê dosmecanismos de poder do mercado global. Apesar do trabalho árduo, muitos vivem na extrema pobreza devido aos baixos preços pagos aos produtores do fruto pelas empresas que comercializam o produto.
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Short teaser | Doce é popular em vários países, no entanto, sua forma de produção e sabores podem variar bastante entre continentes. | ||
Author | Katharina Abel | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/como-o-chocolate-é-apreciado-pelo-mundo/a-73182423?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Sabor varia não apenas de marca para marca, mas também de país para país | ||
Image source | Jan Walter/imageBROKER/picture alliance | ||
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Item 35 | |||
Id | 73182407 | ||
Date | 2025-07-07 | ||
Title | Cazuza: por que o poeta do rock ainda pulsa no Brasil | ||
Short title | Cazuza: por que o poeta do rock ainda pulsa no Brasil | ||
Teaser |
Cantor não se tornou um ícone LGBT, mas seu papel foi importante para conscientizar sobre a aids no Brasil, apontam especialistas. No Rio, exposição celebra seu legado. "Brasil, mostra a tua cara" ouvem diariamente os telespectadores da novela Vale Tudo, remake exibido atualmente pela Rede Globo. A música foi composta pelo poeta do rock brasileiro, Cazuza, como ficou conhecido Agenor de Miranda Araújo Neto (1958-1990), famoso artista morto há exatos 35 anos, em consequência da aids. Por que sua obra segue viva tanto tempo depois? Para especialistas, a explicação está tanto na qualidade de seu trabalho e na potência do personagem rebelde que ele próprio foi quanto no esforço da memória: ou seja, nas iniciativas que contribuem para a perpetuação de seu legado, seja por regravações constantes de suas composições, seja por ações específicas. De acordo com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), Cazuza deixou 253 obras próprias e 332 gravações. Em cartaz em shopping center no Rio de Janeiro, a exposição Cazuza Exagerado é a maior já dedicada ao cantor – nas duas primeiras semanas, recebeu um público de 17 mil pessoas. "Cazuza não perdeu a relevância artística e musical segue sendo lembrado através de filmes, livros e tributos", comenta o relações públicas Horácio Brandão, um dos idealizadores da mostra. "Artistas de diferentes gerações da MPB, do pop, do sertanejo e do rock, entre outros estilos, seguem gravando a rendendo-lhe homenagens." Nos streamings, é um artista em evidência. Na plataforma Spotify, por exemplo, são 3,8 milhões de audições mensais, o que o deixa em nível equivalente ao de Marisa Monte, por exemplo, cantora esta que segue produzindo. Voz da "geração perdida"Nascido em 1958 no Rio, Cazuza se tornou conhecido inicialmente como vocalista e principal letrista da banda Barão Vermelho, no qual atual de 1981 a 1985. Em seguida, empreendeu carreira solo. Professor de literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor da biografia Cazuza: Segredos de Liquidificador, o pesquisador Rafael Julião acredita que a relevância do artista está em ter conseguido "fazer a crônica" de um tempo histórico marcado pela contracultura, pelo sonho da juventude e pela ânsia de transformar o mundo. "Ele marcou o desejo de uma geração diante do sonho frustrado. Essa mensagem conserva uma potência." A longevidade de sua fama está na forma como ele "encarnou o espírito de uma era" ao mesmo tempo "em que abordava questões profundamente humanas e atemporais", argumenta a especialista em projetos culturais Gisele Jordão, coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). "Ele era uma figura multifacetada: poeta, roqueiro, rebelde e, paradoxalmente, extremamente vulnerável. Essa combinação única permitiu que ele falasse de liberdade, afetos, contradições e o combate à hipocrisia de uma maneira que ainda hoje foca e ressoa com as pessoas", analisa ela. Bissexual, ele teve um curto, porém, intenso relacionamento conturbado com o músico Ney Matogrosso – e este momento é retratado no filme Homem com H, cinebiografia de Matogrosso lançada neste ano. "Fui completamente apaixonado, mas era difícil conviver com os dois Cazuzas que havia nele", declarou Ney Matogrosso em entrevista de 2024. "No lado público, se mostrava agressivo, louco, bêbado e cheirava muito pó. Já na intimidade, era o oposto. Foi uma das pessoas mais encantadoras que conheci." O namoro durou três meses. Causas e bandeirasPara ativistas LGBT, contudo, Cazuza não é visto como um ícone porque nunca levantou a bandeira da causa. "Gosto de Cazuza como compositor e cantor, mas discordo dele por seu mutismo e por não ter falado nada explicitamente sobre homossexualidade e movimento gay", diz o antropólogo Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB) e professor aposentado na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mott afirma que o artista "no fundo era um gay egodistônico e egoísta" e, como outros, não percebeu "o papel crucial de apoiar a militância" da causa. Jordão, por sua vez, acredita que mesmo ele não tendo usado nenhum termo para se referir ao cenário LGBT, "o impacto de sua postura pública é inegável" para o segmento. Ela atribui à época essa ambiguidade de posicionamento. "Cazuza viveu sua bissexualidade com naturalidade e sem se esconder, num período de enorme preconceito." O que parece consenso, contudo, é a importância de Cazuza para a conscientização sobre a existência do vírus da aids e a importância dos cuidados para prevenir a doença. "Ele não apenas falou sobre sua condição, mas usou sua vasta visibilidade para quebrar o silêncio em torno da doença." Em 1989, foi capa da revista Veja, abordando o fato de ser soropositivo. Para Jordão, isso teve um "impacto massivo". "Naquele contexto, a simples existência de alguém como ele, jovem, famoso, talentoso, vivendo com HIV e sem vergonha de quem era, já era, por si só, um ato político potente", argumenta Jordão. Para o filósofo Beto de Jesus, um dos pioneiros do ativismo LGBT no Brasil e diretor para o Brasil da Aids Healthcare Foundation, a entrevista publicada pela revista semanal foi "avassaladora". "Trouxe a realidade de que a aids estava atingindo todas as pessoas. Ele teve a coragem de revelar isso, falar das dificuldades e do estigma da discriminação", comenta. De 1990 a 2020, os pais de Cazuza, a filantropa Lucinha Araújo e o empresário e produtor musical João Araújo, mantiveram a ONG Sociedade Viva Cazuza, mantida com os direitos autorais da obra do artista. O foco principal da entidade era a assistência crianças e jovens soropositivos. |
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Short teaser | Cantor não se tornou um ícone LGBT, mas seu papel foi importante para conscientizar sobre a aids no Brasil. | ||
Author | Edison Veiga | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/cazuza-por-que-o-poeta-do-rock-ainda-pulsa-no-brasil/a-73182407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 36 | |||
Id | 73160237 | ||
Date | 2025-07-04 | ||
Title | "Me sentia um cidadão de 2° categoria": Por que alguns imigrantes estão deixando a Alemanha? | ||
Short title | Por que alguns imigrantes estão deixando a Alemanha? | ||
Teaser |
Atraídos por bons empregos, vários imigrantes afirmam ter se deparado com barreira linguística, isolamento e dificuldade de formar conexões com alemães. Alguns escolhem voltar para países de origem, mesmo ganhando menos"Tudo que me trouxe à Alemanha já não estava mais lá, e a certa altura eu pensei: 'Chega'. Não quero que meus filhos, se eu um dia tiver filhos, cresçam neste país."
Giannis N., que prefere não revelar seu sobrenome, deixou a ilha grega de Samos aos 18 anos para estudar engenharia civil na Alemanha. À época, ele veio atraído pela crença de que aquele era um país de oportunidades, que valorizava a justiça social.
Em 2020, com um diploma de mestrado em mãos, ele decidiu voltar à Grécia após 16 anos na Alemanha.
Em Essen, onde vivia, Giannis foi gerente de projetos no setor privado, engenheiro civil responsável pela construção de pontes no setor público e, posteriormente, profissional liberal.
"Fiz tudo o que pude para construir uma vida lá, mas sempre me deparava com obstáculos", diz ele, hoje com 39 anos, à DW.
O engenheiro cita um episódio que o marcou profundamente: "Estava trabalhando em um canteiro de obras, e meu cliente se recusou a pagar a última parte do serviço, no valor de mais de 100 mil euros", relata. "Ele disse assim: 'Não vou deixar você ficar rico aqui na Alemanha.'"
Para Giannis, aquilo era uma manifestação clara de ressentimento contra ele por ser estrangeiro.
A sensação de nunca se sentir verdadeiramente aceito o levou a ir embora. A decisão, diz, se concretizou após ele perceber que sempre seria visto como "o grego", não importando o quão bem integrado à sociedade alemã ele estivesse.
"Primeiro você é o grego preguiçoso na universidade. Depois, no trabalho, você é o grego corrupto", diz, aludindo a uma percepção difundida na Alemanha à época da crise da dívida pública da Grécia. "Tenho orgulho de ser grego, mas a mentalidade por trás disso eventualmente se tornou tóxica para mim."
25% dos imigrantes pensam em deixar a Alemanha
As barreiras que Giannis enfrentou na Alemanha também são citadas num estudo recente do Instituto de Pesquisa do Mercado de Trabalho e Profissões (IAB), da Agência Federal do Trabalho.
O estudo, que se baseou em entrevistas feitas entre dezembro de 2024 e abril de 2025 com 50 mil imigrantes que se mudaram para a Alemanha quando tinham entre 18 e 65 anos, constatou que um em cada quatro deles cogitava deixar o país. Requerentes de asilo, que ainda não têm título de residência na Alemanha, não fizeram parte do levantamento.
A pesquisa aponta que a Alemanha tende a perder justamente os imigrantes de que mais precisa: aqueles altamente qualificados, bem-sucedidos e bem integrados.
Segundo o estudo, a intenção de deixar a Alemanha é resultado de uma "complexa combinação de características individuais, integração social, enraizamento econômico e percepção sobre a aceitação social", isto é, quão socialmente bem aceito um imigrante se sente na sociedade.
Participantes do estudo também citaram razões familiares, insatisfação com o cenário político, altos impostos e burocracias entre os motivos para querer emigrar.
Das 83,6 milhões de pessoas que vivem na Alemanha, uma em cada quatro é filha de pai e mãe imigrante ou veio do exterior. Destas, 6,5 milhões chegaram a partir de 2015, muitas vindas da Síria ou da Ucrânia.
Falta de domínio da língua alemã pesa
Utku Sen, um engenheiro de cibersegurança com 33 anos, deixou a Alemanha após viver no país por três anos. Assim como Giannis, ele também se sentia excluído.
Se o primeiro ano em Berlim foi como uma "lua de mel", Sen logo percebeu o quão dura a vida poderia ser para um recém-chegado sem bom domínio da língua alemã.
"Como turco, sempre me senti um cidadão de segunda categoria. Pensei que levaria décadas até me tornar parte da comunidade alemã, ou que talvez isso nunca chegasse a acontecer", relata.
Logo depois de postar um vídeo no YouTube sobre discriminação cotidiana na Alemanha, Sen se mudou para Londres, no Reino Unido. No vídeo, com mais de 500 mil visualizações, ele compara a vida na Alemanha ao personagem de Bruce Willis no filme O Sexto Sentido.
"Há uma vida lá fora que existe separada de você, e você não faz parte dela. Você perambula por ela como um fantasma. Outras pessoas sequer estão cientes de que você existe, e você também não consegue se conectar com elas", descreve Sen.
Sen diz que ter o domínio do inglês tornou a vida muito mais fácil em Londres. "Diferentemente da Alemanha, britânicos são geralmente mais abertos e tolerantes a estrangeiros e outras culturas. Não sofri discriminação aqui. Isso faz com que me sinta parte da sociedade, e me fez amá-la mais", relata.
Alemão fluente também não é garantia de integração
Mas o caso da búlgara Kalina Velikova, de 35 anos, sugere que nem mesmo o domínio fluente do alemão é garantia de integração.
Velikova, que passou nove anos em Bonn estudando e trabalhando como assistente social, diz que se sentiu excluída ainda na universidade – apesar de falar perfeitamente bem alemão.
"Nunca vou esquecer o quanto demorou para as pessoas me aceitarem, mesmo só como colega de universidade. Falava com alguém um dia e, no dia seguinte, eles agiam como se não me conhecessem. Isso não acontece no lugar de onde eu vim", conta.
Com o passar do tempo, a sensação constante de isolamento social começou a afetá-la. "Fui me tornando mais fria. Era como se estivesse desenvolvendo uma alergia à Alemanha – e não era isso que eu queria."
Em 2021, Velikova trocou Bonn por Sófia, capital da Bulgária, e agora trabalha como gerente de projetos.
"Claro que também tenho minhas batalhas diárias aqui", pondera. "Mas, no geral, a qualidade de vida melhorou, mesmo que eu esteja ganhando menos e trabalhando mais."
Alemanha caminha sobre "linha muito tênue" na migração
O alemão ainda é um fator central na integração, aponta o economista Christian Dustmann, diretor do Instituto para a Economia e o Futuro do Trabalho da Fundação Rockwool, em Berlim.
Aprender alemão é essencial, ele defende – não só para o mercado de trabalho, mas também para os próprios imigrantes. Ao mesmo tempo, o economista argumenta que a percepção de que a Alemanha é pouco receptiva a imigrantes não é algo exclusivo do país. "Se você fizer aquela pesquisa no Reino Unido, as respostas provavelmente não serão tão diferentes do que você ouve na Alemanha", afirma.
Dustmann também aponta que quanto mais imigrantes um país recebe, mais as preocupações entre a população nativa crescem. "Isso pode levar a uma cultura que alguns imigrantes veem como pouco acolhedora."
Um estudo de 2024 feito pela Fundação Bertelsmann aponta que as pessoas na Alemanha estão mais preocupadas com a migração. Essa tendência também se faz visível no apoio crescente à sigla de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem conseguido converter esses temores em capital eleitoral, tornando-se o segundo partido mais bem votado nas eleições gerais de 2025 e formando a segunda maior bancada do parlamento.
Muitos na Alemanha estão cada vez mais preocupados com as consequências potencialmente negativas da vinda de imigrantes para a Alemanha, como as despesas crescentes com programas sociais, a falta de moradia nos grandes centros urbanos e a sobrecarga do sistema educacional.
Para Dustmann, os políticos estão tendo que "caminhar por uma linha muito tênue", tendo que tomar o cuidado de não "sobrecarregar a população residente – o que por sua vez também abre espaço para partidos populistas à direita –, e, ao mesmo tempo, ser receptivos com os recém-chegados, que também são uma parte importante da economia e da sociedade".
Para além de políticas públicas, é preciso também uma mudança cultural
Enquanto a política precisa encontrar um equilíbrio entre a manutenção da coesão social e a abertura a estrangeiros, Anastasios Penolidis, que trabalha como gerente de campos de refugiados, acha que a verdadeira mudança vai além disso.
Penolidis, que se mudou para a Alemanha há sete anos, diz que para resolver os desafios com os quais imigrantes se deparam é preciso "mais educação social e política, novas instituições para combater fenômenos como o racismo e menos impostos para pessoas de baixa renda".
Ele mesmo diz que mal consegue pagar as contas, apesar de viver com a namorada e ambos trabalharem em tempo integral.
Penolidis critica as taxas de impostos mais elevadas para pessoas solteiras e sem filhos, que ele considera injustas e desmotivantes.
O gerente de 33 anos afirma que tem cogitado voltar à Grécia, seu país de origem, e cita entre suas principais preocupações a política de impostos e o racismo estrutural.
Mas Penolidis não está totalmente desesperançoso. Se houver mudanças significativas, ele diz que gostaria de ficar na Alemanha e formar família – um cenário que, segundo ele, não depende só de políticas públicas melhores, mas também de uma mudança mais profunda em como a sociedade alemã vê e apoia aqueles que escolhem chamar o país de lar.
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Short teaser | Atraídos pela promessa de bons empregos, muitos não se sentem bem acolhidos pelo país. | ||
Author | Sinem Özdemir | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/me-sentia-um-cidadão-de-2°-categoria-por-que-alguns-imigrantes-estão-deixando-a-alemanha/a-73160237?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Uma em cada quatro pessoas que vivem na Alemanha é imigrante ou filha de pai e mãe imigrantes | ||
Image source | Wolfram Steinberg/Wolfram Stein/picture alliance | ||
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Item 37 | |||
Id | 72986020 | ||
Date | 2025-06-21 | ||
Title | Ataques israelenses agravam situação de refugiados afegãos no Irã | ||
Short title | Conflito agrava situação de refugiados afegãos no Irã | ||
Teaser |
Em meio à ofensiva israelense, refugiados no Irã enfrentam abusos, fome e medo de deportação enquanto buscam segurança longe do regime talibã. O conflito entre Irã e Israel está sendo sentido pelos afegãos tanto em seu país quanto do outro lado da fronteira, no Irã. O combate piora ainda mais as condições já críticas do Afeganistão, onde os preços dos produtos importados do lado iraniano dispararam. Enquanto isso, milhões de afegãos que fugiram para o Irã em busca de segurança enfrentam agora incertezas e pressões renovadas das autoridades, com a escalada do conflito armado: "Não temos onde morar", queixa-se a refugiada afegã Rahela Rasa. "Tiraram a nossa liberdade de ir e vir. Somos assediados, insultados e maltratados." Condições deterioram para afegãos no IrãO Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) registra que cerca de 4,5 milhões de afegãos residem no Irã, embora segundo outras fontes esse número possa ser muito maior. O Irã já deportou milhares de afegãosnos últimos anos, mas o afluxo continua. Muitos buscam emprego ou refúgio do regime do Talibã. Depois da saída dos Estados Unidos do Afeganistão, em 2021, o Talibã desmantelou a mídia e a sociedade civil do país, perseguiu ex-membros das forças de segurança e impôs severas restrições a mulheres e meninas, proibindo-as de trabalhar e estudar. As condições também se deterioraram para os afegãos que vivem em solo iraniano. Os refugiados só têm permissão para comprar alimentos a preços extremamente inflacionados e estão proibidos de sair da capital, Teerã. Sob anonimato, uma refugiada comenta que não consegue comprar leite em pó para seu bebê: "Em todo lugar aonde eu vou, eles se recusam a vender para mim, porque não tenho documentos necessários." Sem opção de retornoAtualmente alvo de ataques israelenses, o Irã, que antes oferecia abrigo, já não parece mais seguro. Alguns afegãos já morreram em bombardeios. Abdul Ghani, da província afegã de Ghor conta que seu filho Abdul Wali, de 18 anos, recentemente concluiu os estudos e se mudou para o Irã para ajudar a família. "Na segunda-feira, falei com o meu filho e pedi que nos enviasse algum dinheiro. Na noite seguinte, seu empregador me ligou para informar que ele havia sido morto em um ataque. Meu coração está partido. O meu filho se foi." Retornar ao Afeganistão não é uma opção viável para a maioria dos refugiados, que temem ser perseguidos pelo regime talibã. Um ex-membro das forças de segurança do Afeganistão, falando sob anonimato, revela que vivia em medo constante: "Não podemos voltar ao Afeganistão, o Talibã nos perseguiria." Mohammad Omar Dawoodzai, ex-ministro do Interior afegão e embaixador no Irã no governo anterior, insta a comunidade internacional a agir para proteger ex-funcionários e militares que podem ser forçados a retornar ao Afeganistão se o conflito entre Israel e Irã se prolongar. "Estou particularmente preocupado com os ex-militares e servidores públicos que fugiram para o Irã após a tomada do poder pelo Talibã. A comunidade internacional deve responsabilizar o Talibã e garantir que os repatriados não sejam perseguidos." Traficantes de pessoas exploram medosRedes de tráfico humano parecem estar explorando o desespero dos refugiados afegãos. Circularam rumores sugerindo que a Turquia abriu as suas fronteiras. Mas Ali Reza Karimi, um defensor dos direitos dos migrantes, nega a abertura das fronteiras, afirmando tratar-se de informação de falsa, espalhada por traficantes. Os voos estão suspensos, e a fronteira da Turquia só está aberta para cidadãos iranianos e viajantes com passaporte e visto válidos, e permanece fechada para afegãos. Ele aconselha os refugiados afegãos a não caírem nas mentiras dos traficantes e evitarem armadilhas. O ex-ministro Dawoodzai reforça: "Fui informado que traficantes de pessoas estão dizendo aos refugiados para se dirigirem à Turquia, alegando que as fronteiras estão abertas, mas isso cria mais uma tragédia. Chegando lá, eles só vão descobrir que as fronteiras estão fechadas." Ele apela aos refugiados afegãos no Irã para que não precipitem: "Na medida do possível, nosso povo deve permanecer onde está e esperar pacientemente. E se, por qualquer motivo, forem forçados a se mudar, que se dirijam à fronteira afegã, não à Turquia." |
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Short teaser | Conflito Irã-Israel agrava crise de refugiados afegãos no Irã, que enfrentam abusos, fome e medo de deportação. | ||
Author | Shakila Ebrahimkhail, Ahmad Waheed Ahmad | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ataques-israelenses-agravam-situação-de-refugiados-afegãos-no-irã/a-72986020?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 38 | |||
Id | 57531509 | ||
Date | 2025-06-13 | ||
Title | Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel | ||
Short title | Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel | ||
Teaser |
Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011. Devido ao custo alto, só é empregado para proteger áreas habitadas. A escalada das agressões entre Israel e Irã nesta sexta-feira (13/06) colocou à prova a eficácia do sistema antimísseis israelense Iron Dome (Domo de Ferro), que desde 2011 é empregado para impedir ataques aéreos estrangeiros no país. Após o exército israelense atingir instalações nucleares iranianas, Teerã retaliou lançando dezenas de mísseis contra Israel. A maioria foi interceptada pelo sistema de defesa, mas alguns conseguiram furar o bloqueio e atingir sete pontos da capital. Em outubro de 2024, o sistema foi mais eficiente. Na ocasião, o Irã lançou mísseis contra Tel Aviv em retaliação à ofensiva israelense no sul do Líbano, mas o Domo de Ferro impediu danos maiores. Desde o início do conflito contra o Hamas, em outubro de 2023, o sistema também já barrou projéteis disparados de Gaza, Líbano, Síria, Iraque e Iêmen. Sistema de três elementosA defesa aérea israelense consiste em um sistema de três níveis. O "David's Sling" (também conhecido como a parede mágica) é responsável por barrar mísseis de médio alcance, drones e mísseis de cruzeiro. O sistema Arrow tem como alvo os mísseis de longo alcance. Já o Domo de Ferro intercepta mísseis de curto alcance e projéteis de artilharia. Louvado como "seguro de vida para Israel", o Domo de Ferro consiste de uma unidade de radar e um centro de controle, com a capacidade de reconhecer, logo após seu lançamento, projéteis – por exemplo, foguetes – que se aproximem voando, e de calcular sua trajetória e alvo. O processo leva apenas segundos. O Domo também conta com baterias para lançamento de mísseis. Cada sistema possui três ou quatro delas, com lugar para 20 projéteis de defesa, os quais só são disparados quando está claro que um míssil mira uma área habitada. Eles não atingem o foguete inimigo diretamente, mas explodem em sua proximidade, destruindo-o. No entanto, a consequente queda de destroços ainda pode causar danos. Os dez sistemas atualmente operacionais em Israel são móveis, podendo ser deslocados segundo a necessidade. Segundo a fabricante, a empresa armamentista estatal Rafael Advanced Defence Systems, uma única bateria é capaz de proteger uma cidade de tamanho médio. 90% de êxito, mas com custos altosO "Domo de Ferro" é especializado na neutralização de projéteis de curto alcance. Como cada unidade age num raio de até 70 quilômetros, seriam necessárias 13 delas para garantir a segurança de todo o país. De acordo com a fabricante, o sistema tem uma taxa de sucesso de 90%. Em seu site, a empresa estatal de defesa fala que mais de 5 mil projéteis já foram interceptados desde suas instação em 2011. Cada projétil interceptador do Domo de Ferro pode custar entre 40 mil e 50 mil euros (R$ 221 mil a 277 mil), segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA. Por este motivo, só são contidos os mísseis que cairiam em áreas habitadas. Nova arma a laser "Iron Beam"Em vista dos altos custos, o exército israelense quer complementar o Domo de Ferro com uma nova arma de defesa a laser, o chamado "Iron Beam". O laser de alta energia foi projetado para destruir pequenos mísseis, drones e projéteis de morteiro. Ele também deve ser capaz de neutralizar enxames de drones. A Iron Beam foi apresentada em fevereiro de 2014 pela Rafael Systems. A empreiteira de defesa americana Lockheed Martin também está envolvida no projeto desde 2022. As vantagens em comparação com o "Iron Dome" são os custos menores por lançamento, um suprimento teoricamente ilimitado de munição e custos operacionais mais baixos. Os valores variam consideravelmente: um lançamento a laser custaria até 2 mil dólares (R$ 5,5 mil). A implantação da nova tecnologia está planejada para 2025. |
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Short teaser | Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011. | ||
Author | Uta Steinwehr | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/como-funciona-o-domo-de-ferro-sistema-antimísseis-de-israel/a-57531509?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 39 | |||
Id | 72595695 | ||
Date | 2025-05-19 | ||
Title | Esportes "ninja" conquistam a Alemanha | ||
Short title | Esportes "ninja" conquistam a Alemanha | ||
Teaser |
Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV estreou sua própria "Bundesliga". O chamado "playground de adultos" agrada também crianças e pode ajudar no desenvolvimento motor infantil."É como um playground gigante para nós, adultos. Todos nos divertimos muito", conta Marlies Brunner à DW, com brilho nos olhos. "Ficamos tão felizes quanto crianças por podermos praticar esse esporte." A jogadora de 23 anos viajou da Áustria para Bonn, na Alemanha, para participar da estreia da Ninja Bundesliga ("liga nacional").
Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo. Acima de tudo, os atletas precisam de força, resistência, coordenação e técnica, além de vigor mental, para chegar à linha de chegada sem cair no colchão de ar ou nos colchonetes, sendo fiel ao lema "o chão é lava".
"Você voa bastante pelo ar, se sente leve e não mais preso à gravidade", explica Ouissal Touiher à DW. É completamente diferente se mover apenas com as mãos e não com os pés, diz a jovem de 20 anos.
"Há muitos movimentos diferentes que tornam o esporte tão especial", afirma Brunner, que no ano passado se tornou campeã austríaca da modalidade.
O que soa como algo espetacular, parece, de fato, ser. Os ninjas escalam, deslizam, balançam ou "voam" pela pista de obstáculos, com todo o peso do corpo quase que inteiramente apoiado nos dedos. "Acho admirável o quanto as mãos são capazes de suportar", diz Brunner. "Sou muito grata ao meu corpo por me permitir fazer tudo isso."
Os atletas iniciam o percurso um após o outro, alguns com tanta adrenalina que chegam ao limite e falham logo no primeiro obstáculo. Um erro ao tentar agarrar um obstáculo ou uma ação desconcentrada e a competição acaba.
"Parquinhos infantis são muito 'ninjas'"
O atual esporte da moda, que ainda é pouco conhecido na Alemanha, cresceu rapidamente nos últimos anos e vem se tornando cada vez mais popular. Existem atualmente no país quase 1.300 ninjas que praticam essa modalidade regularmente. Muitos deles migraram de outros esportes, como o montanhismo, boulder, acrobacia ou ginástica.
Há também cada vez mais crianças aderindo aos esportes ninjas e crescendo com eles. Atualmente, cerca de metade dos praticantes ativos têm menos de 16 anos. "As crianças geralmente adoram ser ativas. Os parquinhos infantis são muito 'ninjas'. Elas se balançam e escalam", explica Touiher. "Elas definitivamente deveriam frequentar mais os ginásios ninja."
Steffen Moritz, um dos fundadores da Ninja Bundesliga, concorda com essa afirmação. "Quem costumava escalar ou se pendurar muito vai se lembrar daqueles tempos. As crianças sabem imediatamente o que precisam fazer no percurso", afirmou Moritz à DW. Esses movimentos, segundo diz, estão ausentes em muitas crianças hoje em dia.
Isso também se confirma por dados atuais de um estudo da empresa Seguradora de Saúde do Comércio (KKH), segundo o qual, cada vez mais crianças e jovens na Alemanha sofrem de distúrbios de desenvolvimento motor.
A proporção de crianças de seis a 18 anos afetadas pelo problema aumentou cerca de 64% entre 2008 e 2023. Em 2023, mais de 311.000 alunos foram diagnosticados. A causa geralmente é a falta de exercícios, de acordo com o estudo da seguradora.
Os esportes ninjas podem ajudar a resolver o problema. Os organizadores estão satisfeitos com a adesão de um número cada vez maior de ninjas mais jovens à modalidade. "Queremos ser uma plataforma para esse esporte que foi inventado no Japão e tem origem em um programa de televisão", explica Moritz.
Origem EM programa de TV japonês
Na Alemanha, o esporte ficou conhecido através do programa de TV Ninja Warrior Germany ("Guerreiro Ninja Alemanha"). O programa, transmitido pelo canal de televisão RTL desde 2016, foi adaptado do original americano American Ninja Warrior. No entanto, o conceito de Ninja Warrior teve origem no Japão, onde foi transmitido pela primeira vez em 1997 sob o nome Sasuke. Esses programas também são muito populares no Vietnã e na Austrália.
Ao longo dos anos, uma comunidade internacional de entusiastas se desenvolveu, influenciada pelos programas de TV. O desafio para Steffen Moritz e sua equipe agora é fazer com que esse "esporte televisivo" se estabeleça na Alemanha. Como dinheiro e patrocinadores ainda são escassos, muito ainda funciona através do trabalho voluntário.
"Este esporte é financiado principalmente pelas taxas de inscrição que os atletas têm que pagar se quiserem participar da Bundesliga", diz Moritz. Contudo, os desenvolvimentos recentes deixam não apenas os organizadores, mas também os ninjas confiantes de que mais e mais patrocinadores acabarão tomando conhecimento do novo esporte.
Jovens prevalecem na estreia da Bundesliga
"O esporte progrediu enormemente. Há cada vez mais academias ninja, competições incríveis e muitos eventos como a Bundesliga Ninja na Alemanha", diz Marlies Brunner. "É possível perceber que o esporte já se tornou muito grande."
É fascinante ver o quanto as crianças se divertem e o quanto elas já se saem bem no esporte, diz a austríaca. "Nós, adultos, realmente precisamos correr atrás para acompanhar." Dessa forma, não é nenhuma surpresa que Jonas Elting, o vencedor do evento de estreia da Bundesliga em Bonn, tenha apenas 17 anos.
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Short teaser | Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV pode ajudar no desenvolvimento motor das crianças. | ||
Author | Thomas Klein | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/esportes-ninja-conquistam-a-alemanha/a-72595695?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo | ||
Image source | Toni Köln/DW | ||
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Item 40 | |||
Id | 72504004 | ||
Date | 2025-05-11 | ||
Title | Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol? | ||
Short title | Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol? | ||
Teaser |
Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006. Federação prepara plano para resgatar interesse dos jovens pelo esporte.Na Alemanha, o entusiasmo pela participação da seleção na Copa do Mundo de 2026 contrasta com uma realidade preocupante para o esporte: desde 2006, o país perdeu quase 6 mil equipes masculinas de futebol nas categorias sub-19 e sub-17.
Em resposta à crise que ameaça o futuro do futebol no país, a Federação Alemã de Futebol (DFB) vem desenvolvendo uma série de reformas estruturais coordenadas por Hannes Wolf, ex-treinador da Bundesliga – o campeonato alemão – e atual diretor de futebol juvenil da entidade.
"Temos que garantir que não haja uma participação falsa, mas que os jovens realmente se envolvam", disse em uma conferência da entidade. "Se você já está no banco no sub-13 e não é bom o suficiente para se dedicar à sua paixão, então eu também diria aos meus filhos que se dediquem a outra coisa."
A conferência realizado em Frankfurt reuniu 220 representantes das 21 federações regionais da Alemanha. O objetivo era construir um novo plano nacional para as categorias de base, com foco na identidade do esporte — onde a diversão precede os resultados. As propostas discutidas devem ser apresentadas até setembro, durante o Dia Nacional da Juventude da Alemanha, e testadas por federações regionais antes da adoção plena em 2026.
"O futebol precisa se modernizar se quiser continuar sendo atraente para os jovens no futuro", disse Bernd Neuendorf, presidente da DFB. "Mesmo que atualmente tenhamos longas listas de espera nos clubes de muitas cidades, já não é garantido que as crianças comecem a jogar futebol e permaneçam nas categorias de base."
O que vem mudando no futebol europeu
O desafio enfrentado pela Alemanha não é exclusivo. Na Inglaterra, por exemplo, houve crescimento na adesão de crianças e adolescentes de 5 a 16 anos ao futebol após a pandemia da covid-19, mas a faixa de 16 a 24 anos registrou queda de 27% na participação entre 2015 e 2023, segundo levantamento da Sport England.
A Federação Inglesa de Futebol (FA) respondeu com uma nova estratégia lançada em 2024. Entre as medidas, está o formato 3 contra 3 para menores de 7 anos, com estreia prevista para 2026, com o objetivo de aumentar o tempo de contato com a bola.
Na Alemanha, Hannes Wolf acredita que a criatividade precisa voltar aos treinamentos. Uma das ideias é popularizar jogos em campos oficiais que simulem o estilo do futebol de rua.
Pressões, custos e novas prioridades
Plataformas digitais, altos custos para praticar o esporte, cronogramas excessivos e expectativas desproporcionais são apenas alguns dos obstáculos. Lesões, separações familiares e mudanças de cidade completam o quadro. Thomas Broich, diretor da categoria de base do Borussia Dortmund, alertou recentemente que o futebol juvenil pode se tornar um "grande problema cultural" para a Alemanha.
Já o treinador Malte Boven, radicado em Hamburgo, observa que reformas feitas em 2019 priorizaram os mais novos, deixando os adolescentes em segundo plano — justamente os que estão mais próximos do futebol profissional. Para ele, compreender por que esta faixa etária tem desistido do esporte exige olhar para múltiplos fatores, especialmente as mudanças culturais.
"Acho que o 'porquê' e o 'como' queremos jogar se tornaram mais importantes para os jogadores nos últimos anos", disse Boven à DW. "Há uma diferença social entre gerações."
Confiança e estrutura como resposta
Apesar de não prever uma escassez iminente de jogadores, Boven defende ajustes importantes para que o futebol continue sendo uma escolha atrativa. Isso inclui rever o modo de comunicação com atletas e pais, melhorar o acesso a instalações esportivas e ensinar os jovens a lidar com a pressão de forma conjunta com os treinadores.
Ele apoia as propostas da Federação Alemã de Futebol, mas reconhece que a cultura do resultado ainda domina.
"A participação é uma realidade quando se trata de vencer no futebol juvenil, especialmente em clubes amadores. Nesse caso, há uma pseudoparticipação de todos os jogadores envolvidos, porque não lhes dou a oportunidade de realmente fazer parte do jogo", pontua.
"É preciso incutir neles a máxima confiança de que podem fazer isso, que merecem jogar no clube, que há um motivo para vestirem essa camisa. Porque, como treinador ou como clube, decidimos que eles joguem esse esporte, e agora nossa obrigação e responsabilidade é lhes dar tempo de jogo."
Estratégias além do campo
Boven também propõe alternativas para tornar o futebol mais relevante: oferecer aos jovens atletas uma "carta de desenvolvimento de habilidades" ao deixarem as categorias de base, ajudando a dar os próximos passos no mercado de trabalho.
"Eu teria um incentivo completamente diferente de simplesmente me tornar um jogador profissional. Ainda quero ser, mas sei que aqui vou ter algo para mostrar pelo meu esforço", afirma.
Para ele, é o futebol profissional — com sua mentalidade, cultura e influência — que mais precisa de atenção.
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Short teaser | Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006. | ||
Author | Jonathan Harding | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/os-adolescentes-alemães-perderam-o-amor-pelo-futebol/a-72504004?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte | ||
Image source | motivio/dpa/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/72451406_354.jpg&title=Os%20adolescentes%20alem%C3%A3es%20perderam%20o%20amor%20pelo%20futebol%3F |
Item 41 | |||
Id | 72410915 | ||
Date | 2025-05-01 | ||
Title | Federação inglesa vai barrar mulheres trans no futebol feminino | ||
Short title | Federação inglesa vai barrar trans no futebol feminino | ||
Teaser |
Entidade que regula futebol no país diz que nova regra segue decisão da Suprema Corte britânica, de que a definição legal de mulher é baseada somente no sexo biológico.As mulheres transgênero serão impedidas de participar em competições femininas de futebol da Inglaterra a partir de junho, anunciou a Associação de Futebol (FA) do país nesta quinta-feira (01/05), duas semanas após a Suprema Corte do Reino Unido decidir que, para fins legais, o termo "mulher" deve ser definido somente com base no sexo biológico de nascimento.
A decisão da FA ocorre dois dias depois de a Associação Escocesa de Futebol (SFA) ter tomado uma decisão no mesmo sentido. Segundo o comunicado, a modificação no regulamento na Escócia entrará em vigor a partir da temporada 2025/26.
"Entendemos que isto será difícil para as pessoas que querem simplesmente praticar o esporte que gostam, no gênero com o qual se identificam", indicou a inglesa FA, apontando que a decisão do Supremo a obriga a seguir esse rumo.
O regulamento anterior da FA permitia que mulheres trans participassem do futebol feminino, mas isso mudará a partir de 1º de junho. "A decisão da Suprema Corte no dia 16 de abril significa que estaremos mudando nosso regulamento", disse o órgão regulador do futebol inglês em um comunicado.
"As mulheres transgênero não poderão mais jogar futebol feminino na Inglaterra, e essa política será implementada a partir de 1º de junho de 2025."
A associação ainda apontou que pretende contatar as mulheres transgênero federadas, a fim de lhes "explicar as mudanças" que a decisão do Supremo do Reino Unido implica e de as informar sobre a forma "como podem continuar a praticar" futebol. Segundo a rede BBC, a decisão deve afetar 20 jogadoras transgêneros registradas na Inglaterra
Já a associação escocesa informou que vai "fornecer orientações sobre a forma como atualizará os regulamentos e as oportunidades de participação adequadas às mulheres transgênero, antes da entrada em vigor, no início da próxima temporada".
Decisão do Supremo
Em abril, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu, por unanimidade, que "os termos 'mulher' e 'sexo', na Lei da Igualdade de 2010 [que combate a discriminação], referem-se a mulher biológica e sexo biológico".
A decisão, que exclui pessoas trans dessa definição jurídica, encerrou uma longa disputa entre o grupo feminista For Women Scotland (FWS) e o governo escocês.
O regramento britânico reconhece o direito de pessoas trans obterem documentos legais, como a mudança do nome social, por exemplo. Contudo, a decisão da Suprema Corte entende que uma pessoa que passou por uma transição de gênero não pode ser considerada legalmente uma mulher para fins de igualdade.
Isto implica em um dos pontos mais controversos do debate – o acesso a espaços exclusivos para um gênero. Na prática, o veredicto significa que as mulheres trans podem ser excluídas de alguns espaços destinados exclusivamente para mulheres, como vestiários, abrigos para sem-teto, áreas de natação. Além de serviços médicos ou de ou de aconselhamento oferecidos somente a mulheres.
Espaços e serviços exclusivos "só funcionarão corretamente se 'sexo' for interpretado como sexo biológico", apontou o Supremo. Contudo, a lei também "oferece proteção às pessoas trans contra discriminação em seu gênero adquirido", afirmou o juiz Patrick Hodge ao anunciar o veredicto.
"Todo mundo sabe o que é sexo, e você não pode mudá-lo", disse Susan Smith, codiretora da FWS após a decisão. "É bom senso, puro e simples. O fato de termos ido parar em um buraco de coelho onde as pessoas tentaram negar a ciência e a realidade... esperamos que agora voltemos à realidade."
jps (Reuters, Lusa, ots)
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Short teaser | Entidade diz que nova regra segue decisão da Justiça, de que a definição de mulher é baseada somente no sexo biológico. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/federação-inglesa-vai-barrar-mulheres-trans-no-futebol-feminino/a-72410915?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image source | Mike Egerton/PA Wire/empics/picture alliance | ||
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Item 42 | |||
Id | 72119729 | ||
Date | 2025-04-04 | ||
Title | Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança | ||
Short title | Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança | ||
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Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e de extermínio do nazismo. Ser um jogador ou lutador importante podia trazer privilégios e esperança, ou perseguição cruel.Os campos de concentração do nazismo eram locais de horror e morte, de tortura e humilhação para os detentos. Para esse fim, o pessoal de vigilância também os submetia regularmente a exercícios esportivos cruéis.
"Os guardas mandavam os presos fazerem flexões ou saltarem, ou correrem até cair de exaustão", conta a historiadora do esporte Veronika Springmann, autora do livro Gunst und Gewalt – Sport in nationalsozialistischen Konzentrationslagern (Favoritismo e violência – Esporte nos campos de concentração nacional-socialistas). Quem estava no chão geralmente ainda era chutado e insultado: "Era realmente um ritual cotidiano."
Além do esporte imposto com violência, havia atividades esportivas que os prisioneiros praticavam de forma mais ou menos espontânea. Devido às condições desumanas, submetidos a duros trabalhos forçados ou experimentos médicos macabros, para a maioria deles não era como praticar esporte como lazer. E tampouco havia lugar para tal nos campos.
Além disso, havia uma hierarquia interna estrita. O fato de pertencer a um determinado grupo definia, em grande parte, as condições de prisão e, portanto, as chances de sobrevivência. Por exemplo: presos políticos ou criminosos profissionais em geral recebiam tratamento melhor do que judeus, homossexuais ou os assim chamados "antissociais".
Quem estava mais no alto na hierarquia era menos maltratado pelos guardas, recebia trabalho e alojamento melhor, roupas mais quentes, tinha acesso a mais comida, estando, portanto, mais apto praticar esportes. No total, porém, o número desses privilegiados era pequeno.
Entre eles estavam os "presos funcionais" (Funktionshäftlinge), designados para vigiar os companheiros e manter a ordem. Enquanto alguns se tornaram assim cúmplices do horror do sistema de concentração e extermínio, outros aproveitavam sua posição melhor para proteger outros detentos.
Futebol e boxe para sobrevivência e esperança
Dentro dos campos de concentração, promoviam-se regularmente partidas de futebol e lutas de boxe. Com o avançar da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942 as condições mudaram para alguns dos prisioneiros.
"A mão de obra dos internos era necessária para a indústria armamentista", explica Springmann. "Todas as firmas do setor produziam nos campos de concentração ou em instalações externas. Os que trabalhavam especialmente bem, ou que atuavam como presos funcionais, tinham permissão para organizar partidas de futebol."
Assim, o número de jogos aumentou. Os times eram, em geral, divididos por nações, embora raramente tivessem 11 jogadores completos. Os detentos tentavam até mesmo providenciar uniformes. No memorial do campo de Dachau, próximo a Munique, está exposta uma taça de madeira. Organizar esses eventos também tinha a ver com esperança.
"Planejamento está sempre direcionado para o futuro", lembra a historiadora do esporte. "Ou seja: eu espero que ainda vá estar viva amanhã, depois de amanhã, no próximo domingo. Isso fortalece e dá esperança. E esperança é um recurso importante para a sobrevivência"
Entretanto é preciso jamais esquecer que apenas uma parcela mínima dos presos tinha permissão ou condições para participar dos jogos – que, além disso, se realizavam num ambiente em que paralelamente se torturava e assassinava.
Lutando e jogando para sobreviver
Enquanto para os detentos e sobreviventes do sexo masculino havia diversas opções para praticar esportes, o mesmo não se aplicava às mulheres: "Naquela época o esporte simplesmente não contava como uma prática cotidiana feminina", explica Springmann.
"Mas eu partiria do princípio de que no campo de concentração de Ravensbrück, por exemplo, as prisioneiras fizessem ginástica de vez em quando. Mas elas não escreveram a respeito."
Havia entre os presos também atletas profissionais, mas, como eles não eram tão presentes na imprensa como hoje em dia, muitas vezes passavam despercebidos pelos guardas dos campos de concentração.
No início do século 20, Julius Hirsch era considerado um dos melhores futebolistas da Alemanha, duas vezes campeão nacional e integrante da seleção nacional entre 1911 e 1913. Por ser judeu, em março de 1943 foi deportado para Auschwitz e lá morreu. No entanto não está documentado que ele tenha sido identificado como ex-craque, ou que sequer tenha jogado lá.
O boxe era um esporte importante e popular para os nazistas. Alguns profissionais foram reconhecidos nos campos de concentração ou se apresentaram quando os guardas procuravam concorrentes talentosos para as lutas que organizavam para sua própria diversão.
Dois exemplos foram o polonês Antoni Czortek – participante dos Jogos Olímpicos de Berlim, em1936 – e o tunisiano Victor Perez – campeão mundial de peso-mosca em 1931 e 1932. Como judeus, ambos foram internados em Auschwitz em 1943, onde por diversas vezes tiveram que enfrentar outros detentos. Era literalmente questão de vida ou morte: o perdedor ou era abatido a tiros imediatamente ou enviado para morrer nas câmaras de gás.
Assim, com ironia macabra, o boxe salvou várias vidas nos campos de concentração nazistas. Czortek só morreu em 2003, aos 89 anos; Perez sobreviveu a Auschwitz, mas não ao Holocausto: ele foi fuzilado em janeiro de 1945, numa das "marchas da morte" em que, no fim da Segunda Guerra, os presos dos campos perto do front eram transferidos de lugar, à medida que os Aliados avançavam.
Para Johann "Rukeli" Trollmann, a arte do boxe não trouxe vantagens: o ex-campeão de peso-médio da Alemanha era cigano da etnia sinti, e quando seu passado veio à tona, os guardas do campo de concentração passaram a espancá-lo com frequência e crueldade extremas. Ele morreu em 1944 no campo secundário de Wittenberge: tendo vencido um dos "kapos" numa luta, foi abatido pouco mais tarde pelo perdedor, traiçoeiramente, durante os trabalhos forçados.
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Short teaser | Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e extermínio do nazismo. | ||
Author | Andreas Sten-Ziemons, Alima Hotakie | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/esporte-no-campo-de-concentração-entre-tortura-e-esperança/a-72119729?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau | ||
Image source | Sven Hoppe/dpa/picture alliance | ||
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Item 43 | |||
Id | 71689720 | ||
Date | 2025-02-20 | ||
Title | Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora | ||
Short title | Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora | ||
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Antigo presidente da federação de futebol da Espanha Luis Rubiales foi condenado a pagar quase 11 mil euros por beijar atleta na boca sem consentimento na Copa de Sydney, em 2023. Ele pretende recorrer da sentença.A Justiça da Espanha condenou nesta quinta-feira (20/02) o ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, a pagar 10.800 euros (R$ 64,2 mil) pelo crime de agressão sexual, por beijar a jogadora Jennifer Hermoso na boca após a conquista da Copa do Mundo em Sydney em 20 de agosto de 2023, sem o consentimento dela.
Por outro lado, Rubiales foi absolvido do crime de coação sobre a jogadora para declarasse que o gesto fora consensual. O ex-técnico da seleção feminina espanhola, Jorge Vilda, e outros dois ex-diretores, Albert Luque y Rubén Rivera, também foram absolvidos de coação.
Luque era diretor de futebol da seção masculina, enquanto Rivera, gerente de marketing da federação, acompanhou as jogadoras na viagem à ilha de Ibiza, no Mediterrâneo, com a qual foram premiadas pela conquista da Copa do Mundo.
Restrições a contato com jogadora
A decisão do juiz José Manuel Fernández-Prieto, da Audiência Nacional, onde foi realizado o julgamento, também proíbe Rubiales de se aproximar de Hermoso num raio de 200 metros e de se comunicar com ela por um ano.
O Ministério Público da Audiência Nacional havia solicitado uma pena total de dois anos e seis meses de prisão para Rubiales, dos quais um ano pelo crime de agressão sexual, mais um ano e meio por coação. Por este último crime, o representante do Ministério Público também havia pedido uma pena de um ano e seis meses para os outros três acusados.
O advogado de Rubiales já anunciou que recorrerá da sentença.
Beijo acabou com carreira do dirigente
"Rubi", como é chamado pelos amigos, era presidente da RFEF desde maio de 2018. Ele viu sua carreira desandar após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina em Sydney.
Em 20 de agosto de 2023, diante das câmeras, ele agarrou a cabeça de Hermoso com as duas mãos e a beijou de surpresa na boca: um ato "espontâneo", em sua opinião, mas "inapropriado" para Hermoso, que negou ter dado seu consentimento.
Diante da indignação pública, Rubiales pediu demissão em setembro de 2023 e encerrou uma carreira no futebol iniciada aos 14 anos de idade, quando ingressou no clube da pequena cidade de Motril, em Andaluzia, no sul da Espanha.
Nascido em Las Palmas há 47 anos, Luis Manuel Rubiales Béjar iniciou uma carreira discreta nas divisões inferiores antes de pendurar as chuteiras na Escócia com o Hamilton Academical em 2009.
Escândalos
Extrovertido e franco, Rubiales foi cercado por escândalos durante seu período à frente da RFEF. Ele causou alvoroço ao demitir o técnico da seleção espanhola Julen Lopetegui dois dias antes do início da Copa do Mundo de 2018.
Reeleito em 2020, transferiu a Supercopa da Espanha para a Arábia Saudita, num contrato controverso que foi examinado pelo Judiciário por suspeita de corrupção e acordos irregulares durante seu mandato. Ele chegou a ser detido no contexto do caso, que também envolve o ex-jogador do FC Barcelona Gerard Piqué, cuja empresa teria recebido uma comissão de 1 milhão de dólares para intermediar o acordo com Riad. Rubiales negou qualquer irregularidade.
Mas o ex-cartola é também reconhecido por ter aumentado a renda e o patrocínio da federação, e procurado melhorar as condições do futebol juvenil, o que lhe rendeu o apoio das federações regionais.
Ele também multiplicou o orçamento para o futebol feminino, embora tenha enfrentado a "rebelião das 15" que exigia melhorias estruturais e teve apoio de Jenni Hermoso. Desde que caiu em desgraça, Rubiales tem vivido discretamente na cidade andaluza de Granada como “só mais um vizinho”, segundo a mídia espanhola.
md/av (EFE, AFP)
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Short teaser | Ex-chefe da federação de futebol condenado a pagar 11 mil euros por beijar atleta anuncia que recorrerá da sentença. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ex-cartola-espanhol-condenado-por-beijo-forçado-em-jogadora/a-71689720?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney | ||
Image source | Noe Llamas/Sport Press Photo/ZUMA Press/picture alliance | ||
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Item 44 | |||
Id | 70932615 | ||
Date | 2024-12-01 | ||
Title | Briga de torcidas deixa 79 feridos no leste da Alemanha | ||
Short title | Briga de torcidas deixa 79 feridos na Alemanha | ||
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Partida da quarta divisão do futebol alemão em Jena, no leste do país, foi marcada por confrontos com a polícia e brigas entre torcedores rivais. Confrontos entre torcedores antes e durante uma partida de uma liga regional de futebol do leste da Alemanha no sábado (30/11) deixaram 79 feridos, incluindo dez policiais e cinco seguranças. Os incidentes ocorreram na cidade de Jena, no estado da Turíngia, e tiveram como pano de fundo uma partida entre o Carl Zeiss Jena e o BSG Chemie Leipzig, duas equipes que disputam a Regionalliga Nordost, liga equivalente à quarta divisão do futebol alemão. Além dos 79 feridos - que incluíram 64 torcedores de ambos os times -, foram registradas 40 acusações criminais e de contravenção. Jena fica a cerca de 100 quilômetros de Leipzig, cidade-sede do rival Chemie e que fica no estado da Saxônia. Apesar de ambas às torcidas serem associadas à ideologia de esquerda, as autoridades esperavam confusão, e a partida foi considerada de alto risco devido à antipatia entre os grupos de torcedores. Uma multidão de 7.224 espectadores, incluindo 1.084 torcedores do Chemie, compareceu à partida em Jena. De acordo com a polícia, cerca de 350 torcedores do visitante Chemie fizeram uma marcha pela cidade antes do jogo, sem aviso prévio. Durante o ato, torcedores dispararam fogos de artificio e a polícia disse que teve de intervir "com o uso de força física e violência física, além de cassetetes e gás lacrimogêneo". Mais tarde, durante a partida - vencida pelo Carl Zeiss Jena por 5 a 0 -, houve confrontos entre as duas torcidas dentro do estádio. Clubes condenam a violênciaO Carl Zeiss Jena divulgou uma declaração no domingo sugerindo que grande parte da culpa foi dos torcedores visitantes. "Um grande grupo de aproximadamente 1.200 torcedores visitantes do Leipzig rompeu violentamente a barreira entre o bloco de visitantes e o Bloco N e obteve acesso à área da torcida do Jena", apontou o comunicado. "Acima de tudo, o FC Carl Zeiss Jena deseja aos afetados uma rápida recuperação. O clube terá um quadro abrangente do que aconteceu nos próximos dias.” O Chemie Leipzig adotou uma postura semelhante, criticando "a má conduta de uma minoria" de seus torcedores. "Como clube, sofremos grandes danos ontem. De acordo com nossas evidências, fogos de artifício foram lançados repetidamente do setor visitante em direção ao setor da torcida adversária", disse um comunicado no site do clube. "Condenamos a violência na forma de confrontos físicos, especialmente o uso de fogos de artifício contra pessoas. Isso não tem lugar em nossos jogos de futebol e não será tolerado por nós." Ambos os clubes disseram que ainda pretendem investigar os incidentes. jps (DW, dpa, ots) |
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Short teaser | Partida da 4° divisão do futebol alemão no leste do país foi marcada por confrontos com a polícia e briga de torcidas | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/briga-de-torcidas-deixa-79-feridos-no-leste-da-alemanha/a-70932615?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 45 | |||
Id | 64814042 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
Short title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
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UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção.
Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março.
Lei antioligarca
De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda.
Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias.
Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado.
Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos
A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares.
Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas.
Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares.
Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo
A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país.
Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros.
A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões.
Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares.
Não existem mais oligarcas ucranianos?
Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política.
Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los".
De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE.
Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra.
"Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos.
Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.
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Short teaser | UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas. | ||
Author | Eugen Theise | ||
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Image caption | O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia | ||
Image source | Daniel Naupold/dpa/picture alliance | ||
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Item 46 | |||
Id | 64820664 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
Short title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
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De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02).
A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes.
Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros.
O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro.
Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado.
Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos.
De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas.
Turquia começa reconstrução
As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção.
Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep.
Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente.
Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad.
Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados.
Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares.
Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores.
Istambul precisa de 40 bilhões de dólares
Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto.
"A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico.
De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia.
Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil.
le (EFE, DPA, Reuters, ots)
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Short teaser | De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/mortos-em-terremoto-na-turquia-e-na-síria-passam-de-50-mil/a-64820664?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil | ||
Image source | Selahattin Sonmez/DVM/abaca/picture alliance | ||
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Item 47 | |||
Id | 64819106 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
Short title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
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Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou.
"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE.
O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado.
Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética.
Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia.
Acordo após mais de 24 horas de reuniões
As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões.
"Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter.
O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca.
Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen.
O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE.
Sanções contra firmas iranianas
Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia.
As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas.
Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco.
O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia.
No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional.
md (EFE, Reuters, AFP)
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Short teaser | Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. | ||
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Image caption | "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen, | ||
Image source | Zhang Cheng/XinHua/dpa/picture alliance | ||
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Item 48 | |||
Id | 64816115 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
Short title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
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Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia.
Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou.
Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor."
Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz.
"No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter.
Estreitar laços
O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra.
Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou.
Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo".
O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra".
Proposta da China
Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países.
"Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou.
Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev.
cn/bl (Reuters, AFP, Efe)
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Short teaser | Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. | ||
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Image caption | Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia | ||
Image source | President of Ukraine/apaimages/IMAGO | ||
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Item 49 | |||
Id | 64811757 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Short title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Teaser |
Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado. Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos. Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares. Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia. Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%. No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente. Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim. "A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico. A proposta da China para a guerra na UcrâniaAté a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta. Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito. No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada. "A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW. Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia. O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais. "Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia. "No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou. Mediador duvidosoAlém disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou. Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin. "É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner. Campanha de relações públicas sem riscosA proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática. "O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura. "Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou. "Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner. Outros pontos da propostaO texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais. A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta. "O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang. |
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Short teaser | Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia. | ||
Author | Alena Zhabina | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 50 | |||
Id | 64811407 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin | ||
Short title | Zelenski, o presidente subestimado por Putin | ||
Teaser |
Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente. As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo. Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!". "Preciso de munição, não de carona"Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido. A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos. A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo. Câmeras, as armas mais poderosas de ZelenskiEm seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana. No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos". No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo. Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas. Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação. Putin não levou Zelenski a sérioMuitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin. A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia. Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado. Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente. Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas. A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir. Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos. Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar. Nem tudo é fácilIsso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos. Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana. O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia. Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana. |
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Short teaser | Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores. | ||
Author | Roman Goncharenko | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Volodimir%20Zelenski%2C%20o%20presidente%20subestimado%20por%20Vladimir%20Putin |
Item 51 | |||
Id | 64810396 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Short title | Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Teaser |
Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online.
Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa.
"Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema."
A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha".
Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída.
Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência
Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real.
Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala.
"Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW.
Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos.
Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento.
Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real.
"Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman.
Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional
De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização.
"É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman.
Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse.
"Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman.
Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos.
O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum".
"Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças.
Fadiga por compaixão em relação a refugiados
Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia.
"Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW.
Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo.
É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África.
"Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa.
A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida
A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo.
"Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW.
Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis.
"Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW.
Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida.
Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.
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Short teaser | Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. | ||
Author | Fred Schwaller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia | ||
Image source | Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 52 | |||
Id | 64809638 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok | ||
Short title | Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok | ||
Teaser |
Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos.
Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março.
Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados.
Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos.
Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas."
Pressão por interdição total do TikTok nos EUA
Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos.
O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas".
"Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro.
Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China.
TikTok nega ingerência de Pequim
Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos.
Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados.
Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados.
av/bl (AFP, Reuters, ots)
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Short teaser | Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos. | ||
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Image source | Jakub Porzycki/NurPhoto/picture alliance | ||
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