DW

Item 1
Id 72688695
Date 2025-06-01
Title Como o setor financeiro alimenta a crise climática (com o seu dinheiro)
Short title O que seu dinheiro tem a ver com a crise climática
Teaser

Interesse em alternativas financeiras sustentáveis tem crescido entre pessoas preocupadas com o clima

Qual o papel dos nossos investimentos, pensões e decisões bancárias em projetos que envolvem combustíveis fósseis? E quão verdes são as alternativas sustentáveis?Quando o assunto é finanças pessoais, a questão climática é um ponto cego para muitas pessoas. Decisões sobre ações individuais nessa seara têm peso menor quando comparado a temas como alimentação, viagens ou compras. No entanto, em termos de redução de pegada de carbono pessoal, trocar o plano de previdência privada convencional por um sustentável pode ser 20 vezes mais eficaz do que o impacto combinado de parar de viajar em voos comerciais, tornar-se vegetariano ou trocar de fornecedor de energia, de acordo com uma análise do movimento britânico Make My Money Matter ("Faça com que meu dinheiro importe"). Qual o papel dos bancos no financiamento de combustíveis fósseis? Estima-se que os 60 maiores bancos do mundo tenham empenhado 705 bilhões de dólares (R$ 3,9 trilhões) na indústria de combustíveis fósseis em 2023, e 6,9 trilhões de dólares desde que o Acordo Climático de Paris foi firmado em 2015. Grande parte disso financia planos de expansão que vão contra os inequívocos alertas climáticos da ciência. "Todos nós temos grandes quantias de dinheiro que contribuem para isso de várias maneiras, muitas vezes sem o nosso conhecimento", diz Adam McGibbon, estrategista de campanha da organização americana de pesquisa Oil Change International. Esse dinheiro pode ser na forma de contas correntes, pensões ou apólices de seguro que são reinvestidas na indústria de combustíveis fósseis. Especialistas, contudo, destacam a dificuldade em quantificar com precisão a contribuição das finanças pessoais para o financiamento de combustíveis fósseis, devido à complexidade dos sistemas financeiros e a circunstâncias individuais. Isso porque, em grande parte, é pelo lado corporativo – e não pelo varejo, onde o dinheiro de clientes individuais é mantido – que os bancos geralmente emprestam dinheiro ou subscrevem títulos para empresas com projetos de combustíveis fósseis. Quem diz isso é Quentin Aubineau, analista de políticas do BankTrack, uma ONG internacional que monitora as atividades financeiras de bancos comerciais. No entanto, McGibbon ressalta que os bancos ainda usam nosso dinheiro para expandir seus negócios, gerar mais receita e atrair investidores. Ele pontua que nossas economias poderiam, no mínimo, ser "usadas para inflar o balanço de um banco, o que os permite atender clientes corporativos" vinculados aos combustíveis fósseis. Seus investimentos e o aumento da temperatura global Quando se trata de investimentos, algumas finanças pessoais vão diretamente para a indústria de combustíveis fósseis através de ações ou títulos, afirma Carmen Nuzzo, diretora executiva do Transition Pathway Initiative Centre no Reino Unido, que pesquisa os avanços feitos pelo mundo financeiro e corporativo rumo a uma economia de baixo carbono. "Isso inclui investimentos em empresas de petróleo e gás, que têm se mostrado muito atraentes e lucrativas nos últimos anos [...] assim como investimentos em outras empresas que dependem fortemente de combustíveis fósseis para sua produção ou prestação de serviços, como a siderurgia ou a aviação", diz Nuzzo. Muitas pessoas também financiarão combustíveis fósseis por meio de economias que vão para fundos de pensão que investem em empresas dos setores com maior emissão de gases de efeito estufa e de carbono. As pensões geralmente são mantidas e controladas pelos Estados, empregadores ou empresas privadas. "Você contribui para um fundo de pensão, esse dinheiro é investido em seu nome e parte dele pode acabar indo para empresas que garantem que você viva sua aposentadoria em um mundo instável e difícil", explica McGibbon. Estudos recentes estimam que, em um mundo com aquecimento global de 4 ºC, uma pessoa poderá se tornar 40% mais pobre e os retornos dos fundos de pensão nos Estados Unidos e Canadá poderão cair até 50% até 2040, devido à exposição dos ativos a eventos climáticos extremos. Os fundos de pensão estão entre os maiores investidores mundiais em combustíveis fósseis, com cerca de 46 trilhões de dólares investidos no setor e detendo 30% de suas ações, de acordo com a Climate Safe Pensions, uma campanha de desinvestimento com sede nos EUA e Canadá. Esses fundos também estão entre os principais financiadores da expansão dos combustíveis fósseis na África. Em 2023, o grupo alemão de jornalismo investigativo Correctiv revelou que fundos de pensão em 10 dos 16 estados federais da Alemanha investiram em atividades relacionadas a combustíveis fósseis. Quais são as alternativas de financiamento verde? Embora os bancos verdes nem sempre ofereçam as condições mais favoráveis, há um apetite cada vez maior entre pessoas preocupadas com o clima por alternativas financeiras sustentáveis, aponta Katrin Ganswindt, pesquisadora financeira da ONG alemã Urgewald. Entre o crescente grupo de bancos verdes, estão aqueles que se comprometem a parar de emprestar para empresas de combustíveis fósseis e investir em atividades favoráveis ao clima. Ferramentas online como o bank.green surgiram para ajudar os consumidores a comparar as credenciais ambientais de diferentes bancos. No entanto, superar a falta de conhecimento financeiro ainda é um dos principais desafios, explicou Nuzzo. "Nos países onde a maioria das pessoas possui uma pensão, os indivíduos não controlam onde seus ativos de pensão estão sendo investidos [...] ou podem não revisar suas opções regularmente." Ativos como pensões que investem no longo prazo são meios eficazes para fazer uma mudança, disse Ganswindt. "Os fundos de pensão têm um grande impacto porque investem grandes somas." A Make My Money Matter estimou que o setor previdenciário do Reino Unido teria a capacidade de investir 1,2 trilhão de euros (R$ 7,7 trilhões) em energias renováveis e soluções climáticas até 2035. O setor previdenciário verde, porém, está evoluindo. Na Holanda, fundos de pensão para funcionários públicos e professores, bem como para profissionais de saúde, removeram seus investimentos em empresas de combustíveis fósseis. No Reino Unido, os grandes planos de pensão são obrigados a reportar seus riscos climáticos. O que é a "lavagem verde"? No entanto, apesar do aumento da conscientização e das opções de financiamento verde, ainda há falta de padrões e regulamentações nesse setor, aponta Franziska Mager, pesquisadora sênior da Tax Justice Network, um grupo de defesa do Reino Unido que trabalha contra a evasão fiscal. "Mesmo que você tenha um banco 'verde', poderá se surpreender ao descobrir onde seu dinheiro está investido – se conseguir descobrir, é claro. Isso sem falar na definição de 'sustentável' por parte dos grandes atores", afirma. Um artigo recente de sua coautoria sobre "lavagem verde" no setor bancário conclui que a existência de práticas financeiras obscuras – incluindo o uso de jurisdições sigilosas, um tipo de paraíso fiscal – obscurece a verdadeira dimensão do financiamento de combustíveis fósseis. Quanto aos ETFs – um tipo de fundo de investimento negociado na bolsa de valores –, Ganswindt, da Urgewald, aponta que eles podem se autointitular "verdes" mesmo que isso não signifique nada. Mas Ganswindt afirma ter observado progressos recentes em termos de transparência, citando uma nova regulamentação da UE sobre quais empresas podem ou não participar de fundos rotulados como verdes ou sustentáveis. Em última análise, as finanças pessoais provavelmente representam uma pequena fração das enormes somas de financiamento de combustíveis fósseis – mas a pesquisadora diz que esse não é o sentido de ações como migrar para um banco mais verde. Trata-se de enviar uma mensagem. "Certamente, temos algum poder como clientes, mas muito mais como cidadãos", disse McGibbon. "É ótimo mudar para um banco mais verde, ótimo mudar para um plano de previdência mais verde. Mas, em última análise, poderíamos ter muito mais poder como cidadãos, mudando a forma como votamos e exigindo que os políticos regulem o setor financeiro."


Short teaser Investimentos, pensões e até a escolha de banco têm peso nas emissões globais de CO2. É possível fazer algo a respeito?
Author Holly Young
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-o-setor-financeiro-alimenta-a-crise-climática-com-o-seu-dinheiro/a-72688695?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Interesse em alternativas financeiras sustentáveis tem crescido entre pessoas preocupadas com o clima
Image source Andrii Yalanskyi/Zoonar/picture alliance
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Item 2
Id 72745742
Date 2025-05-31
Title Volkswagen no banco dos réus por trabalho escravo no Brasil
Short title Volkswagen no banco dos réus por trabalho escravo no Brasil
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Volkswagen é acusada de submeter trabalhadores a condição análoga à escravidão em fazenda na Amazônia durante a ditadura militar

Empresa responde na Justiça por supostos crimes cometidos entre 1974 e 1986 em uma fazenda na Amazônia apoiada pela ditadura militar. Montadora nega as acusações.Quatro elementos, mesmo isolados, caracterizam trabalho análogo à escravidão: trabalho forçado, servidão por dívida, condições degradantes e jornada exaustiva. Na Companhia Vale do Rio Cristalino, em Santana do Araguaia, no Pará, as quatro violações estavam presentes, segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT). A fazenda de criação de gado e extração de madeira da Volkswagen, que teve apoio da ditadura militar, funcionou entre 1974 e 1986. Em dezembro do ano passado, o MPT entrou com uma ação contra a Volkswagen do Brasil acusando a companhia de crimes cometidos na chamada Fazenda Volkswagen. Além de assumir a responsabilidade pelos crimes, os procuradores pedem que a empresa pague R$ 165 milhões em indenização por danos morais coletivos. Nesta sexta-feira (30/05), foi realizada uma audiência para ouvir as testemunhas na Justiça do Trabalho em Redenção (PA). A empresa afirmou que investigou as denúncias na época, mas não encontrou irregularidades, de acordo com reportagem da ONG Repórter Brasil, que acompanhou a audiência. Em nota enviada à DW, a montadora disse acreditar na Justiça. "A Volkswagen do Brasil refuta e rejeita categoricamente todas as alegações apresentadas na ação movida pelo Ministério Público sobre a investigação da Fazenda Vale do Rio Cristalino. A empresa permanece firme na busca por justiça, alicerçada na segurança jurídica e na confiança à imparcialidade do Sistema Jurídico Brasileiro." Tráfico de pessoas e servidão por dívida Não é todo dia que uma empresa multinacional é investigada por trabalho análogo à escravidão, mas também não é algo inédito, afirmou o procurador do MPT Luciano Aragão Santos, coordenador nacional de Combate ao Trabalho Escravo (Conaete). A montadora de automóveis Build Your Dreams (BYD), por exemplo, foi denunciada nesta terça-feira por ter mantido 220 trabalhadores chineses nestas condições em Camaçari, na Bahia. Em outro caso importante, a Zara Brasil chegou a ser responsabilizada pela Justiça em 2017 por manter trabalho escravo na sua cadeia produtiva. "O caso da Fazenda Volkswagen, para mim, é inédito porque faz o resgate de uma situação comprovada, que há inúmeros elementos de prova, mas que o Estado brasileiro não buscou responsabilizar os infratores e aqueles que violaram os direitos humanos à época dos fatos", avaliou o procurador. A Fazenda Volkswagen tinha 139 mil hectares, quase o tamanho da cidade de São Paulo. A empresa chegou à Amazônia para derrubar a vegetação nativa e criar gado, impulsionada pela política dos governos militares de ocupação e exploração da floresta. Os incentivos que recebeu estariam na casa dos milhões. Contava com cerca de 300 empregados diretos, como pessoal administrativo, vigilantes, vaqueiros, mantendo uma boa infraestrutura, que incluía áreas de lazer e serviços de saúde. As violações de direitos humanos foram cometidas, segundo a denúncia, principalmente contra centenas de lavradores ou peões, responsáveis por derrubar a floresta para transformá-la em pasto. Eles eram aliciados em pequenos povoados, sobretudo em Mato Grosso, Goiás e no atual Tocantins por empreiteiros conhecidos como "gatos". "Esses gatos eram, na verdade, traficantes de pessoas", explicou o procurador Rafael Garcia Rodrigues, que coordenou as investigações e foi um dos procuradores que apresentou a denúncia. Na entrada da fazenda havia uma guarita com seguranças armados para controlar a entrada e saída dos trabalhadores. Ao chegarem ao local, as pessoas aliciadas tinham que comprar utensílios em uma cantina, como lona para o barraco onde dormiriam e comida. "No momento do acerto, o ‘gato' ou seu cantineiro informavam que os trabalhadores não seriam remunerados porque não haveria saldo a lhes pagar. Ao contrário, os peões é que estariam devendo à fazenda após meses de prestação de serviços", destacou a denúncia. Pedro Valdo Pereira Vasconcelos, de 60 anos, funcionário público e ex-trabalhador da fazenda, confirmou a servidão por dívida em seu depoimento durante a audiência, conforme a Repórter Brasil. "A gente levantava às 4h para fazer comida. Partia às 6h para o serviço e voltava às 6h [da tarde]. Ia a pé até o local de trabalho. Trabalhava de segunda a sábado e às vezes emendava domingo, porque a gente queria ir embora", descreveu. "No final, para pegar [dinheiro] para ir embora, eles diziam que não tinha saldo." O trabalho se dava sob vigilância armada e em péssimas condições de saúde e higiene, afirmou o procurador Garcia Rodrigues. "E, sobretudo, com a condição de servidão por dívida, que por si só já caracteriza trabalho escravo contemporâneo desde o início do século 20, reconhecido assim pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelos países signatários, dentre eles o Brasil." Para o procurador, essa ação foi possível graças ao engajamento da sociedade civil na época, como sindicatos de trabalhadores, advogados, ativistas, defensores de direitos humanos e membros da igreja católica. Uma das lideranças mais importantes foi Ricardo Rezende Figueira, então padre da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O padre e as denúncias Figueira morava em Conceição do Araguaia (PA) e coordenava a CPT na região, incluindo o local onde estava a fazenda. Aos poucos foi ouvindo denúncias, mas não tinha nada concreto. Até que recebeu, em 1983, um telefonema que o fez agir. "Recebi um telefonema de São Félix do Araguaia (MT), dizendo que cinco trabalhadores tinham retornado da Volks, andando a pé, pegando carona. Eles tinham sido aliciados no Mato Grosso e levados para a fazenda, onde não podiam sair por causa do sistema de endividamento progressivo e de muita violência", contou. Os cinco trabalhadores, sendo dois adolescentes de 17 anos, usaram um pretexto falso para fugir. Disseram que tinham se comprometido a se apresentar para o serviço militar. Com medo da ditadura militar, os gatos os deixaram sair. Com um dos trabalhadores, Figueira foi até Belém (PA), mas não encontrou o governador Jader Barbalho – que havia ido para Brasília. Voou no mesmo dia para a capital federal, novamente não encontrando o político. Então fez a denúncia à imprensa. No mesmo ano, uma comitiva de parlamentares e jornalistas foi verificar as denúncias na fazenda, lideradas pelo deputado Expedito Soares (PT). Ele havia sido um funcionário da fábrica da Volkswagen no ABC Paulista. Fora da fazenda, a comitiva encontrou o gato Abílio Dias, que, segundo Figueira, acabara de capturar um trabalhador. "Ele mostra o trabalhador e fala: ‘Esse trabalhador fugiu, é um vagabundo. Estava me devendo, me deu prejuízo, eu tive que ir atrás dele, tive que pegar e trazer para trabalhar.' Então ele mostrou o crime sem ter consciência, aparentemente, de que ele estava cometendo um crime." Dentro da fazenda houve outro momento marcante. "Um trabalhador falou: ‘Quem é o padre?' Disse que era eu. Ele me segurou pelo braço, tremendo de febre e disse: ‘Eu estou aqui há nove meses trabalhando, tô doente, tô com febre. Estou com malária, preciso sair, mas não me deixam porque tenho dívida.'" Segundo os depoimentos, pelo menos dois trabalhadores teriam morrido vítimas de malária na fazenda. Além disso, outros dois bebês teriam perdido a vida no local, todos sem o atendimento médico adequado. Cúmplice do crime Em 2020, a Volkswagen assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MPT e com os ministérios públicos Federal e de São Paulo em outro caso envolvendo a ditadura militar. A empresa se comprometeu a destinar R$ 36,3 milhões a ex-trabalhadores presos, perseguidos ou torturados em São Bernardo do Campo (SP). Ricardo Rezende Figueira tornou-se professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o Grupo de Pesquisa de Trabalho Escravo Contemporâneo (GPTEC). De acordo com o docente, durante as investigações do caso em São Bernardo do Campo, um historiador alemão foi contratado pela Volkswagen para analisar aquela situação. Embora a investigação se concentrasse no caso paulista, o historiador teria reconhecido indícios de servidão por dívida na Fazenda Volkswagen. Figueira decidiu então procurar o MPT e entregar os documentos que tinha colhido no Pará. Durante a audiência, o representante da Volkswagen afirmou, segundo a Repórter Brasil, que a empresa não tinha conhecimento sobre o tratamento feito pelos intermediários aos trabalhadores, que seria uma prática comum na época. Para o professor da UFRJ, a responsabilidade da montadora é inequívoca. "Se você tem um crime na sua casa e sabe, tem que agir. No mínimo, tem que denunciar. Ao permitir que dentro da sua fazenda houvesse trabalho escravo, assassinato e abandono de pessoas, a Volkswagen foi cúmplice do crime."


Short teaser Empresa responde por supostos crimes cometidos entre 1974 e 1986 em uma fazenda. Montadora nega acusações.
Author Maurício Frighetto
Item URL https://www.dw.com/pt-br/volkswagen-no-banco-dos-réus-por-trabalho-escravo-no-brasil/a-72745742?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Volkswagen é acusada de submeter trabalhadores a condição análoga à escravidão em fazenda na Amazônia durante a ditadura militar
Image source Wolfgang Weihs/picture alliance
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Item 3
Id 72742744
Date 2025-05-31
Title Trump eleva de 25% para 50% tarifas sobre importação de aço e alumínio
Short title Trump eleva de 25% para 50% tarifas sobre aço e alumínio
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Trump anunciou aumento das tarifas em comício em uma metalúrgica na Pensilvânia.

Trump informou que o aumento entrará em vigor na próxima quarta-feira. Segundo maior exportador de aço para os EUA, Brasil está entre os mais afetados pela medida.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, informou nesta sexta-feira (30/05) que o aumento das tarifas sobre a importação de aço de 25% para 50% entrará em vigor na próxima quarta-feira, 4 de junho, e esclareceu que o aumento também se aplica ao alumínio. "É uma grande honra aumentar as tarifas sobre o aço e o alumínio de 25% para 50%, com efeito a partir de quarta-feira, 4 de junho. Nossas indústrias de aço e alumínio estão voltando como nunca", escreveu o presidente americano em sua rede social Truth Social. Ele acrescentou que esta será "mais uma grande sacudida de ótimas notícias para nossos maravilhosos trabalhadores" da indústria. Antes, Trump havia anunciado o aumento das tarifas em um comício realizado na sexta-feira em uma planta da metalúrgica U.S. Steel em Pittsburgh, na Pensilvânia, estado estratégico do nordeste em termos eleitorais e berço da indústria siderúrgica do país. "As taxas protegem o aço dos EUA contra dumping. Ninguém vai evitá-las", acrescentou o presidente no pódio, diante de trabalhadores que usavam capacetes e jaquetas com faixas refletivas. Segundo o presidente americano, inicialmente ele pensou em aumentar essas tarifas para 40%, mas executivos da indústria pediram que ele as elevasse para 50%. O Brasil está entre os mais afetados pela medida. De acordo com a Administração de Comércio Internacional dos EUA, de março de 2024 a fevereiro de 2025, o Brasil foi o segundo maior exportador de aço para os EUA, com 3,7 milhões de toneladas métricas, seguido pelo México, com 2,9 milhões. O primeiro é o Canadá. Os EUA importam cerca de metade do aço e do alumínio que utilizam em setores como o automotivo, aeroespacial, petroquímico e de bens de consumo básicos, como produtos enlatados. Vitória na Justiça O anúncio de Trump ocorreu apenas um dia depois que um tribunal de apelações suspendeu o bloqueio da Corte de Comércio Internacional de grande parte da política tarifária do presidente americano sobre exportações de vários países. Esse bloqueio não teria afetado as taxas sobre o aço, mas sim as anunciadas em 2 de abril, que consistem em uma tarifa global de 10% para praticamente todos os parceiros comerciais dos EUA. Além disso, também teria bloqueado uma proporção – que ficou congelada até julho para a assinatura de acordos – que varia de acordo com o país, em função dos déficits e volumes comerciais, e que a Casa Branca classificou como "tarifas recíprocas". UE prepara retaliação Neste sábado (31/05), a União Europeia ameaçou retaliar os EUA se as taxas entrarem em vigor. "Lamentamos profundamente o aumento das tarifas sobre as importações de aço de 25% para 50%", disse um porta-voz da Comissão Europeia em Bruxelas, que é responsável pela política comercial da UE. "Essa decisão acrescenta mais incerteza à economia global e aumenta os custos para os consumidores e empresas de ambos os lados do Atlântico." Segundo comunicado, a UE está pronta para aplicar contramedidas antes mesmo de 14 de julho. Nesta data, as tarifas impostas por Trump a dezenas de países devem começar a valer, após 90 dias de suspensão. md/gq (EFE, AFP)


Short teaser Trump informou que o aumento entrará em vigor na próxima quarta-feira. Brasi está entre os mais afetados pela medida.
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Image caption Trump anunciou aumento das tarifas em comício em uma metalúrgica na Pensilvânia.
Image source David Dermer/AP/dpa
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Item 4
Id 72736273
Date 2025-05-31
Title Família acolhedora: afeto que transforma vidas
Short title Família acolhedora: afeto que transforma vidas
Teaser No Dia Mundial do Acolhimento Familiar, DW ouviu voluntários que recebem temporariamente crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. País tem mais de 34 mil menores desabrigados, segundo o CNJ.

"Eu descobri um sentimento novo, parece um misto de várias coisas. É saudade, é felicidade, é bonito." É assim que Fran Lima, 31 anos, descreve sua experiência com acolhimento de crianças. A administradora está registrada no Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA) junto a outros 3.184 voluntários no Brasil. "Sempre que eu lembro desse processo, sinto saudade, mas é uma saudade gostosa de saber que aquela criança fez parte da minha vida por um período e que foi fundamental, tanto para mim quanto para ela."

O uso do termo "família" para o serviço não segue um padrão específico, muito menos a definição do dicionário Michaelis: "Conjunto de pessoas, em geral ligadas por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto". No SFA, a palavra adquire um valor muito mais amplo e diverso. O mais importante é a vontade e capacidade de receber e ajudar as crianças e adolescentes em situação de desabrigo.

Para se tornar uma família acolhedora, é preciso passar por capacitações que variam de um a três meses, conforme o município. O processo envolve preparo emocional e compreensão de que o acolhimento é temporário: por lei, o período máximo é de 18 meses, salvo exceções autorizadas judicialmente. Ainda assim, o vínculo criado durante esse tempo é essencial. A proposta é oferecer à criança ou ao adolescente sob tutela do Estado a chance de se desenvolver em um ambiente familiar, onde possam criar laços afetivos, ser escutados e viver em comunidade.

No Dia Mundial do Acolhimento Familiar, celebrado em 31 de maio, a DW entrevistou voluntários que fazem parte do serviço de família acolhedora no país.

A beleza das pequenas coisas

Filha única que vive com os pais em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, a matemática Isabel Cristina já acolheu oito crianças em sua casa desde que se cadastrou no Serviço de Acolhimento Familiar da Secretaria de Assistência Social do município, em 2018.

Poder ajudar alguém, ainda mais de crianças e adolescentes que estão em situação de extrema vulnerabilidade, é o que motiva a família continuar no serviço.

As primeiras crianças acolhidas foram dois irmãos que "foram um furacão" na rotina da casa e o estopim para que a família se apaixonasse de vez pela política pública. Isabel se emociona ao lembrar que os dois menores nunca tinham tomado banho de chuveiro, algo que pode soar tão simples e corriqueiro. "A gente transforma a vida de uma criança e tem a nossa transformada também", diz a jovem de 21 anos.

Isabel conta que, no primeiro aniversário de um dos meninos que abrigou, a família preparou um bolo em casa. Um gesto que eles consideravam "simples", mas que emocionou a criança. Em meio às lágrimas, ele falou que "nunca ganhou um bolo".

A jovem diz que se encontrou sendo família acolhedora, que sente que "essa é sua vocação". As crianças estiveram presentes nos melhores e piores momentos dos últimos anos, desde problemas pessoais até a graduação na faculdade. Para ela, ser família acolhedora significa que "a sua história vai ser modificada para sempre". "Você vai ser marcado, assim como você marcou aquela vida."

A importância do cuidado individualizado

Ainda que a convivência com a criança ou adolescente seja curta, esse período é "fundamental tanto para mim quanto para ela", reflete Fran Lima, família acolhedora desde 2024 no SFA de Sorocaba. Ela descobriu que poderia abrigar crianças após procurar um trabalho voluntário. Desde então, com o apoio de pais e amigos, já acolheu duas bebês.

Fran viveu na pele o significado do acolhimento individualizado que a política pública defende. A primeira criança de que cuidou, de apenas um ano, veio de um abrigo institucional. Fran se frustrava todas as vezes que tentava acalmar a pequena. Até que, num encontro inesperado, recebeu uma dica de ouro das ex-cuidadoras da bebê, que a reconheceram por acaso enquanto Fran esperava o atendimento no Posto de Saúde em Sorocaba: bastava cantarolar a "música da baleia" que a criança sossegava na hora. A bebê acabou adotada, e essa e outras orientações sobre os gostos da menina foram repassadas à nova família.

O segundo acolhimento foi de uma criança com cinco anos. Foi com ela que Fran resgatou a tradição de Natal que havia se perdido em sua família. A garota ajudou com as compras de decoração e Fran gravou o momento simbólico em que ela escolheu um enfeite escrito "amor". "Esse sentimento existia ali, ela entendia que o amor também é bonito", relembra Fran.

Ela diz que ser uma família acolhedora é ser uma "ponte". "A gente entende que é um período em que a criança precisa de um apoio e está aprendendo muito conosco, mas nós também estamos aprendendo muito com ela", explica. Vivenciar algumas das primeiras vezes de uma criança, como os primeiros passos ou a primeira viagem de avião, reforçam a importância do convívio familiar, ao qual se "passa a dar valor depois de acompanhar esse processo de descoberta da criança".

Quando o amor supera o medo

"Eu tinha muito medo de bebês, não segurava recém-nascido de ninguém, dei o primeiro banho no primeiro neném que acolhi morrendo de medo porque estava sozinha", relata Keliane Salú, família acolhedora da capital de São Paulo. A contadora de 32 anos conheceu o serviço em 2020 e vivenciou muitas das primeiras vezes dos três bebês que acolheu desde então. A vontade de ser mãe futuramente somou-se ao desejo de poder ajudar as crianças que estão nos abrigos, e fez com que ela superasse todos os seus temores.

Durante os acolhimentos, ela acompanhou de perto as primeiras tentativas de fala dos bebês e até os primeiros dentes nascendo. Participar desses momentos e poder dar atenção e afeto num momento de vulnerabilidade para essas crianças nos relembra de que elas são o "agora", segundo Keliane. Afinal "se a gente pensar nelas como uma resposta para o amanhã, elas vão continuar vivendo essa realidade de agora com carência de afeto".

Além disso, abrigar recém-nascidos, apesar de não ter sido a primeira opção para Keliane, é essencial para o desenvolvimento deles com um cuidado individualizado. É comum que bebês em abrigos institucionais, onde as cuidadoras dividem atenção entre 20 crianças, tenham alopecia de contato – ou seja, queda de cabelo em áreas específicas do couro cabeludo, geralmente na parte de trás da cabeça, causada pelo atrito ou pela pressão de permanecerem deitados por longos períodos na mesma posição.

Keliane precisou superar, também, o seu medo da despedida. Foi necessário um trabalho intenso para ressignificar o momento para si. "Eu sofro um pouquinho, mas entendo que faz parte", desabafa. "Quando eu penso por que estou fazendo isso, é uma dor que vale a pena ser sentida." O desacolhimento faz parte do processo e, no caso dos bebês que acolheu, Keliane tem sorte de manter contato com os responsáveis legais. É uma escolha da família de origem, extensa ou adotiva continuar ou não a comunicação com a família acolhedora.

"Foi algo que transformou o olhar da família inteira"

O casal Daltro Mendonça, 52 anos, e Luana Cazela, 53, apadrinhou uma das crianças que abrigou. A dupla, que tem dois filhos biológicos, é família acolhedora desde 2020 e já recebeu três menores de idade. O impacto do serviço foi tão grande que Luana até trocou de carreira. Saiu da área da gestão ambiental e hoje atua como doula de adoção, dando suporte emocional e operacional para pessoas que desejam adotar no Brasil.

"A gente queria que os nossos filhos tivessem um outro olhar e saíssem da bolha de conforto", reflete Daltro, que é arquiteto e cenógrafo. "Foi algo que transformou o olhar da família inteira para a sociedade."

Esse entendimento das vulnerabilidades sociais e recortes resultantes da construção histórica do Brasil traz uma dimensão ainda mais profunda do acolhimento familiar. O casal compreendeu logo cedo que "às vezes não é falta de amor, é falta do Estado e da assistência social em dar esse apoio”, explica Luana.

Apesar de a prioridade do Estado ser retornar o menor de idade à sua família de origem, "o tempo de uma família se reestruturar não é o mesmo tempo da urgência da criança", diz Luana. Por isso, não é raro que elas sejam encaminhadas para a adoção.

No caso dos filhos biológicos do casal, Luana diz que o serviço voluntário auxiliou na formação deles enquanto cidadãos, conscientizando-os sobre a responsabilidade de viver em sociedade.

Como fica o cuidado do adolescente?

O acolhimento familiar deve ser prioridade para crianças dos 0 aos 6 anos, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Diversos SFAs atuam especificamente com essa faixa etária, tanto por conta dessa priorização quanto pelo estigma de que jovens entre 12 e 17 anos são mais desafiadores. No Brasil, Cascavel, no interior do Paraná, e Belo Horizonte, em Minas Gerais, se destacam com esse tipo de acolhimento.

Para Carlos Henrique de Oliveira Nunes, coordenador do Serviço de Acolhimento Familiar de Belo Horizonte, a idade carrega dificuldades diferentes, como o debate da sexualidade e inserção das redes sociais, mas também pode ser muito gratificante, visto que, por conta da idade, eles podem participar mais ativamente da rotina. Na capital mineira, o acolhimento de adolescentes é trabalhado desde as primeiras conversas com as famílias que se interessam pelo serviço a fim de mostrar o potencial desse tipo de abrigo.

Uma das discussões em andamento no país é a ampliação da idade máxima para permanência no acolhimento – hoje limitada aos 18 anos incompletos. A proposta é permitir a extensão até os 21 anos, considerando a dificuldade dos adolescentes em conquistar autonomia e apoio suficientes para estruturar um projeto de vida ao deixarem a tutela do Estado.

Em Cascavel, essa possibilidade já é realidade. A cidade tem uma equipe especializada no trabalho com adolescentes acolhidos. Segundo Mary Weber, coordenadora do SFA no município, os jovens que completam a maioridade no serviço costumam já ter vínculos profundos com as famílias acolhedoras. Por isso, muitas vezes permanecem na residência mesmo após os 18 anos. "Isso é conversado desde a capacitação, para que as famílias saibam que existe a possibilidade de ele ficar", explica.

Dois casos recentes em Belo Horizonte demonstram o impacto positivo do acolhimento de adolescentes. Em um deles, a jovem obteve apoio para prestar vestibular e, com a ajuda do SFA, conseguiu uma república para se manter durante os estudos. Em outro, a família acolhedora optou por manter o jovem em casa mesmo após os 18 anos. Ele passou a trabalhar, contribuir com as despesas básicas e guardar dinheiro em uma poupança, planejando seus próximos passos com segurança e apoio.

A Secretaria Nacional de Assistência Social está realizando estudos e planejamentos para disseminar metodologias específicas para trabalhar com os adolescentes e tornar relatos como os de Cascavel e Belo Horizonte ainda mais frequentes. Dessa forma, o Brasil pode avançar com a política pública e ampliar a divulgação do serviço para que, em breve, as mais de 34 mil crianças e adolescentes desabrigados, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), possam estar em uma família acolhedora.

Short teaser No Dia Mundial do Acolhimento Familiar, DW ouviu voluntários que abrigam menores em situação de vulnerabilidade.
Author Amanda Saori
Item URL https://www.dw.com/pt-br/família-acolhedora-afeto-que-transforma-vidas/a-72736273?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 5
Id 72731069
Date 2025-05-30
Title Escolas sem celulares: menos conflitos e mais interação
Short title Escolas sem celulares: menos conflitos e mais interação
Teaser

Lei federal sancionada no início do ano autoriza uso de celular em sala de aula pelos estudantes apenas para fins educativos

Quase seis meses após banimento de celulares no ambiente escolar, educadores apontam melhora na atenção dos alunos, mas advertem que lei não deve ser único mecanismo para prevenir uso excessivo de plataformas viciantes.Todas as manhãs, as colegas Bruna Pinha e Yasmin Bispo, de 17 anos, depositam seus celulares em uma caixa identificada. De lá, os aparelhos só serão retirados ao fim da última aula, seguindo o protocolo estabelecido pela escola onde cursam o 3º Ano do Ensino Médio. Apesar do incômodo de não poder registrar a rotina do último ano na escola, elas veem reflexos positivos na lei que proíbe celulares nas escolas brasileiras. "No final das contas é bom ter este momento de desintoxicação; algumas pessoas ficavam como zumbis no intervalo", relata Pinha. "Em algumas redes sociais dá até medo, depois que entro não consigo sair; o resultado é que passa o dia e você se sente um lixo porque não fez nada do que devia", afirma a adolescente. Marcus Loures, diretor da escola em São Paulo onde elas estudam, vê melhoras na atenção, na interação entre alunos, e diminuição de conflitos entre eles com os professores. Entretanto, ele pondera: "As leis geralmente suprem lacunas de um modo coercitivo, que não é o ideal. Talvez um dia a gente não precise de uma lei para dizer que não pode usar o celular na escola, quando todo mundo estiver mais acostumado com a tecnologia e como lidar com ela, mas por enquanto precisamos dela". "Estancar a sangria" A lei 15.100/2025, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 13 de janeiro deste ano, proíbe aos estudantes o uso de celular dentro da escola, em qualquer momento. Ela permite apenas o uso de aparelhos para fins educativos. Debatido desde 2015 – antes mesmo da explosão das redes sociais–, o texto não define como as escolas devem restringir o acesso aos celulares, de modo que cada escola acabou adotando a medida que julgou mais adequada. São apenas dois meses de vigência, mas com resultados já visíveis para especialistas e profissionais da educação. Segundo fontes, certas escolas da capital paulista tiveram uma melhora média de até 20% nas notas quando comparadas com o primeiro bimestre de 2024. A experiência do Rio de Janeiro, onde a proibição vigora desde 2024, reforça os resultados. Uma pesquisa da Secretaria Municipal de Educação carioca apontou que alunos do 9º ano tiveram 53% mais chances de alcançar o nível adequado em matemática; no 8º ano, o aumento foi de 32%. A pesquisa também apontou queda nos casos de cyberbullying durante intervalos. Embora os relatos locais apontem avanços, o Ministério da Educação (MEC) ressalta que, em âmbito nacional, ainda é cedo para mensurar impactos acadêmicos. Os ciclos de avaliação são longos, e os indicadores atuais não permitem estabelecer causalidade, explica a pasta. O doutor em psicologia e especialista em educação digital Rodrigo Nejm avalia que a lei não pode ser o único mecanismo de prevenção do uso excessivo de plataformas viciantes para crianças e adolescentes. Para ele, a legislação deve ser um ponto de partida para "estancar a sangria de ver uma geração tendo a saúde mental afetada por plataformas sem regulação nem compromisso com o bem-estar do usuário". "O design manipulativo das redes sociais acaba gerando uma ansiedade, sobretudo nos mais jovens, que é muito cruel", explica Nejm. O design manipulativo que Nejm cita é como os algoritmos das redes sociais, jogos online e plataformas de apostas são projetados para influenciar comportamentos do usuário como o tempo de tela e engajamento assim que se abre o aplicativo. O Instituto Alana, onde Nejm atua, realizou em 2024 uma pesquisa que apontou que, para 75% dos brasileiros, as crianças e adolescentes estão passando tempo demais na internet e redes sociais. E 90% acreditam que as empresas estão fazendo menos do que o suficiente para proteger os jovens. Pela primeira vez na história, os atendimentos a casos de ansiedade em crianças e adolescentes pelo SUS já superam os de adultos. A taxa de pacientes de 10 a 14 anos atendidos pelo transtorno é de 125,8 a cada 100 mil, e a de adolescentes, de 157 a cada 100 mil. Aluna de uma escola municipal da zona leste de São Paulo, Samantha de Paula, do 8º ano, conta passar todo o tempo fora da escola navegando pelas redes. "Faço minhas tarefas de casa com uma mão só, mexendo no celular; se deixar, vou até as 4h da manhã navegando, porque não consigo dormir, sou ansiosa", comenta. A colega do 9º ano Rayanne Carlani, por sua vez, admite passar 24 horas por dia, se permitirem, ao celular. A navegação pelas telas de rolagem infinitas das redes sociais não cessou com a proibição recente, diz a jovem de 14 anos: "A gente vê escondido debaixo da mesa mesmo, ou vai ao banheiro para poder usar". Intervalos mais ativos Dois pré-adolescentes do oitavo ano se abraçam no pátio da escola estadual durante o intervalo. A amizade, que parece antiga, surgiu recentemente. "Descobrimos que as pessoas são legais", disse Miguel Lopes, de 12 anos. "Tem amigo meu que antes só ficava no celular, não falava com ninguém, e agora vem jogar com a gente", conta. O diretor, Vilso Giron, celebra o aumento da interação dos alunos. "Víamos um paredão de alunos, cada um no seu celular e ninguém brincando; era desesperador, não se ouvia essa gritaria saudável que ouvimos hoje", conta. Segundo ele, mesmo nas refeições o aparelho era uma companhia fixa. Para preencher o tempo livre, a gestão comprou mesas de pebolim e tênis de mesa, disponibilizou jogos como xadrez e damas, e passou a abrir a quadra em todos os intervalos. Práticas semelhantes foram adotadas em outras escolas públicas e particulares. Observando o cotidiano de uma tradicional escola particular de São Paulo, Ruth Nassiff se surpreendeu com o comportamento dos alunos quando voltaram às aulas neste ano. "Eles ficavam sem saber o que fazer; com 30 minutos de intervalo, questionavam se não havia mais nada para fazer, sofriam com a ociosidade", relata. Até que os jogos, de esportivos a cartas, passaram a ser estimulados. "Ainda é necessário lidar com a competitividade, mas saindo da tela, e ampliando olhar", comenta a presidente da seção paulista da Sociedade Brasileira de Psicopedagogia (SBPp). Membro do Movimento Desconecta, ela amparou com dados a campanha da entidade pela proibição dos aparelhos em estudos feitos na Universidade de Heidelberg. Lá, pesquisadores analisaram exames de ressonância magnética de 48 participantes, dos quais 22 eram viciados em smartphones. Os resultados mostraram que aqueles com dependência apresentaram alterações físicas na forma e tamanho de seus cérebros, especialmente na massa cinzenta. Nela estão as áreas que controlam as emoções, a memória, a tomada de decisões e o autocontrole. As ressonâncias mostraram uma diminuição importante em áreas responsáveis pelas emoções e pelo processamento de memórias concretas e abstratas. Realidades distintas Diretora da escola municipal Padre Serafin Gutierrez, Viviane Jordano relembra realidades diferentes da maioria dos alunos. "Recebi uma aluna do 9º ano desesperada para ligar para a mãe, porque quando ela saiu de casa, os pais discutiam e sempre que isso acontece, a mãe apanha do pai", relembra. "Ela bateu na minha porta chorando e tremendo." Casos assim ilustram o que o pesquisador Alexandre Sayad chama de defeitos da nova lei. Para ele, a proibição dos celulares é fruto da pressão da classe média alta urbana de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo para resolver problemas que as próprias famílias não sabem como resolver. "A restrição pode ser positiva, principalmente ao estimular a socialização saudável, mas somente se andar de mãos dadas com educar esses jovens para lidar com esses algoritmos viciantes", defende, ressaltando que não cabe apenas à escola e ao Estado lidar com o problema. "De certo modo também atesta a incompetência da família e da escola, que se veem desconectados deste mundo digital inevitável", afirma. Sayad aponta que a sociedade em 2025 se vê diante de uma tempestade perfeita no campo da formação dos jovens: Educação formal em descompasso com os interesses dos estudantes; universidade em descompasso com o mercado; profusão de problemas de saúde mental, fragilizada na pandemia e pós-pandemia; e uma crise econômica global com desigualdade de renda se acirrando de modo crítico. Apesar da crítica, a proibição contou com o respaldo de boa parte da população. Um levantamento promovido no ano passado pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados mostrou que 86% dos brasileiros são a favor de algum tipo de restrição ao uso de celular dentro das escolas. Mais da metade, a favor da proibição total dos aparelhos. Uma a cada três pessoas acreditam que o uso do celular deve ser permitido apenas em atividades didáticas e pedagógicas, com autorização prévia dos professores. Essa concordância é ainda maior entre pais e mães de crianças mais jovens. Um estudo recente da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) apontou que 25% dos adolescentes brasileiros estão viciados em acessar a internet por meio de diversos dispositivos, enquanto a pesquisa Tic Kids Online revelou que 63% as crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos possuem perfil no Instagram, e 45% no TikTok. Mesmo aldeias indígenas encaram o problema do uso desenfreado das redes. Thiago Kumaru, professor da escola indígena da Aldeia Solimões, no Pará, conta que após a instalação de uma antena Starlink na aldeia, jovens acabaram abandonado afazeres e o lazer usual. "Você via cinco, seis jovens a tarde e a noite inteira em volta de um celular próximo da antena... Gente que deixou de jogar futebol, pescar, até mesmo cuidar da roça porque não largava o aparelho", lamenta. Dois anos atrás a solução encontrada foi desligar a antena durante a noite, e determinar que alunos deixem os celulares na entrada da escola, se antecipando à lei federal. Como nos ambientes urbanos, ele se vê aliviado com a redução dos conflitos e mudança até mesmo no linguajar, revelando que mesmo com críticas, pais e responsáveis veem vantagens na proibição até o momento.


Short teaser Quase seis meses após banimento de celulares no ambiente escolar, educadores apontam melhora na atenção dos alunos.
Author Gustavo Basso
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Image caption Lei federal sancionada no início do ano autoriza uso de celular em sala de aula pelos estudantes apenas para fins educativos
Image source DW
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Item 6
Id 72739982
Date 2025-05-30
Title Na Alemanha, solidão aflige principalmente jovens e idosos
Short title Na Alemanha, solidão aflige principalmente jovens e idosos
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Com jovens e idosos na linha de frente da solidão, governo alemão busca maior convívio em sociedade para sanar o problema

Solidão leva ao adoecimento e prejudica a democracia, apontam especialistas. Governo alemão botou o assunto na agenda política, e busca soluções para combater o problema.Uma sensação de se estar sozinho no mundo, incompreendido, isolado, vazio, inútil, triste ou desesperado: solidão. Cerca de 60% dos alemães sofrem desse mal, confirmado em estudos como o "Relatório sobre a solidão", divulgado no ano passado pela seguradora de saúde pública alemã Techniker Krankenkasse (TK). E os jovens estão entre os mais afetados, o que foi evidenciado no levantamento da TK, bem como por outro estudo, publicado recentemente pela Fundação Bertelsmann. De acordo com a pesquisa, intitulada "Jovens, solitários – e engajados?", quase metade dos jovens entrevistados se sente muito ou moderadamente solitária. O levantamento ouviu 2.532 pessoas entre 16 e 30 anos na Alemanha. Ao todo, 10% dos entrevistados disseram se sentir muito solitários, e outros 35%, moderadamente solitários. Desempregados com baixo nível de escolaridade, mulheres e imigrantes ou filhos de imigrantes são os mais atingidos entre os jovens. Como aponta o estudo da TK, a solidão pode causar estresse, cansaço, distúrbios do sono, ansiedade e depressão, possivelmente até mesmo demência precoce. Desencanto cresce A pesquisa da Fundação Bertelsmann também destacou que jovens solitários têm pouca confiança na política e, consequentemente, na democracia, algo muito mais acentuado entre os que se dizem muito solitários: 76% deles acreditam que os políticos não levam a sério as preocupações da geração mais jovem. Entre os jovens que não são solitários, esse índice é de 61%. Mais da metade dos jovens solitários (60%) também declarou sentir-se incapaz de promover mudanças políticas e sociais. Aos 20 anos e à procura de emprego, Jennifer, nome fictício de uma entrevistada que mora em Berlim, raramente se sente solitária, mas se mostra igualmente decepcionada com a política: "Os políticos dão atenção demais às pessoas mais velhas. Nós, jovens, quase não recebemos atenção." Ela diz sentir uma espécie de "impotência", uma "profunda decepção": a sensação de não ser capaz de mudar nada. A nova ministra da Família, Karin Prien (CDU), se diz preocupada com a profunda frustração dos jovens solitários: "Isso também tem a ver com a satisfação em relação à democracia. Os jovens solitários estão menos satisfeitos com a democracia e, assim, são mais suscetíveis a abordagens extremistas", diz, em entrevista à DW. O risco disso, segundo o estudo da Bertelsmann, é de que essas pessoas se afastem dos processos políticos. A ministra da Família e o governo alemão assumiram um compromisso de fazer algo a respeito da solidão e suas consequências sociais. Pela terceira vez, foi lançada uma campanha nacional contra a solidão, e o governo trabalha em uma "estratégia contra a solidão". No evento de abertura, Prien disse que gostaria de "formar uma aliança que, em conjunto, ajude a fortalecer a convivência social em nosso país". Os autores do estudo da Bertelsmann recomendam que os políticos envolvam os jovens de forma mais específica nos processos políticos. Atividades de lazer gratuitas, com pontos de encontro em bairros, centros de juventude e mais quadras esportivas podem ajudar; lugares onde os jovens se sintam confortáveis e vivenciem o senso de comunidade. Aliança contra o problema Além dos jovens, outro grupo frequentemente afetado pela solidão é o de pessoas mais velhas. O "Relatório sobre a solidão" de 2024 da TK aponta que mais da metade das pessoas acima dos 60 anos se sente solitária, seja com frequência, às vezes ou raramente. Christa Seeger, de Berlim, conhece bem esse sentimento: "Às vezes, a solidão me invade do nada", confidencia ela à DW num encontro de idosos na capital alemã. "Você não espera isso. De repente, você está sozinho." Os idosos do grupo de Seeger se reúnem para evitar a solidão e o incômodo de se sentirem "inúteis". Eles conversam, ouvem palestras ou jogam minigolfe. São receitas contra a solidão, mas, às vezes, o sentimento aflora até mesmo durante os encontros, diz Seeger: "Quando você se senta consigo mesma, é muito deprimente. Isso acontece comigo aqui e também em casa". E solidão, neste caso, não significa depressão, algo que ela viveu na época da reunificação alemã, no início dos anos 1990, quando ficou desempregada. Reino Unido como exemplo O Reino Unido poderia servir de modelo para políticos alemães. Desde 2018, o país tem uma secretaria de Estado para a solidão. Um mecanismo fundamental é a chamada "prescrição social", em que médicos ou terapeutas podem receitar atividades sociais, como cursos de culinária ou caminhadas. Comunidades online também estão sendo criadas para jovens a fim de promover o contato social em um ambiente positivo e de apoio. Desde 2024, o governo britânico também tem usado influenciadores digitais para atingir os jovens, com o objetivo de tirá-los da solidão e motivá-los a participar da política. "Acho que precisamos fazer algo para que os idosos pensem mais sobre o que podem fazer pelos jovens. E os jovens devem pensar mais sobre o que podem fazer pelos idosos. Para que nos tornemos uma sociedade que cuida uns dos outros novamente", sugere a ministra alemã da Família. Jennifer, de Berlim, dá uma recomendação muito pessoal contra a solidão: "Encontrem pessoas que amem vocês!"


Short teaser Solidão leva ao adoecimento e prejudica a democracia, apontam especialistas. Governo traça estratégias para combatê-la.
Author Volker Witting
Item URL https://www.dw.com/pt-br/na-alemanha-solidão-aflige-principalmente-jovens-e-idosos/a-72739982?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Com jovens e idosos na linha de frente da solidão, governo alemão busca maior convívio em sociedade para sanar o problema
Image source Eibner-Pressefoto/picture alliance
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Item 7
Id 72739973
Date 2025-05-30
Title PIB do Brasil cresce 1,4% no primeiro trimestre de 2025
Short title PIB do Brasil cresce 1,4% no primeiro trimestre de 2025
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Produção de soja registrou alta de 13,3% na comparação com o mesmo período de 2024

Na comparação com o mesmo período do ano passado, alta foi de 2,9%. Setor agropecuário puxou o desempenho da economia no início do ano, com destaque para a colheita de soja.O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, soma de todos os bens e serviços produzidos no país, cresceu 1,4% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre do ano passado. Na comparação com o primeiro trimestre de 2024, a alta foi de 2,9%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em valores correntes, o PIB somou R$ 3 trilhões no trimestre. Agropecuária representa um quarto do crescimento O desempenho do PIB no primeiro trimestre do ano foi puxado pelo desempenho do setor agropecuário, que registrou alta de 12,2% em comparação com o trimestre anterior. Isso equivale a cerca de um quarto do crescimento da economia brasileira no período. O IBGE menciona como motivos para esse desempenho a lavoura maior e a alta de produtividade em alguns itens agropecuários, com destaque para a soja, com alta de 13,3% na comparação anual, milho (11,8%), arroz (12,2%) e fumo (25,2%). A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a colheita de soja na safra de 2024/25 será recorde e vai chegar a 168 milhões de toneladas. Como a safra da soja se concentra entre janeiro e maio, não deverá ter tanto efeito positivo sobre o PIB nos próximos meses. Serviços têm alta modesta Já os serviços cresceram 0,3% em relação ao quarto trimestre do ano passado, ou 2,1% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. As atividades do setor de serviço representam 70% da economia brasileira. No primeiro trimestre do ano, o IBGE destacou o desempenho dos serviços de informação e comunicação, que cresceram mais de 38% desde a pandemia. O consumo das famílias aumentou 1% no primeiro trimestre do ano em relação ao trimestre passado, ou 2,6% comparado ao mesmo período do ano passado. Segundo o IBGE, isso se explica pelo dinamismo do mercado de trabalho, auxílios governamentais às famílias mais pobres e aumento do crédito para a pessoa física, apesar dos juros mais altos. A indústria teve oscilação negativa de -0,1% em relação ao trimestre anterior, e registrou alta de 2,4% na comparação com o mesmo período do ano passado. bl/ra (Agência Brasil, Agência IBGE, ots)


Short teaser Setor agropecuário puxou desempenho no início do ano, com destaque para a soja.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/pib-do-brasil-cresce-1-4-no-primeiro-trimestre-de-2025/a-72739973?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Produção de soja registrou alta de 13,3% na comparação com o mesmo período de 2024
Image source picture alliance/dpa
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Item 8
Id 72739025
Date 2025-05-30
Title Além das tarifas de Trump: Hollywood está mesmo em declínio?
Short title Além das tarifas de Trump: Hollywood está mesmo em declínio?
Teaser Número de filmes gravados nos EUA diminuiu, mas empresas americanas de streaming estão florescendo. Tarifas anunciadas por Trump trarão as produções de volta a Los Angeles?

Quando Donald Trump anunciou que criaria uma tarifa de 100% sobre qualquer filme "produzido em terras estrangeiras", a indústria cinematográfica dos EUA, altamente globalizada, entrou em pânico.

As ações das principais empresas do setor, como Netflix e Disney, logo caíram. Investidores projetaram que haveria aumento nos custos se as produções não pudessem mais se beneficiar de locações baratas no exterior.

Nas últimas décadas, filmes e séries de TV americanos vêm fazendo uso de generosos incentivos fiscais para realizar as gravações na Europa, no Canadá ou na Austrália, o que deixou as locações em Hollywood comparativamente mais caras.

Além disso, a indústria do cinema e de conteúdo se descentralizou, com coproduções internacionais que compartilham recursos e obtêm financiamento em vários países.

Em Cannes, estrelas criticaram tarifas

Embora ainda não haja detalhes sobre as tarifas, como se serão aplicadas apenas a filmes ou também a séries de TV, o anúncio feito por Trump foi criticado no Festival de Cannes, realizado na semana passada.

O diretor americano Wes Anderson, que estava na cidade francesa para lançar seu novo filme, O Esquema Fenício, questionou com um tom irônico como as tarifas poderiam funcionar quando aplicadas à propriedade intelectual em vez de produtos físicos.

"Você pode reter o filme na alfândega? Ele não é enviado dessa forma", disse o cineasta em uma coletiva de imprensa.

O ator ganhador do Oscar Robert De Niro, que aceitou uma Palma de Ouro honorária em Cannes, também falou sobre as tarifas de Trump sobre filmes: "Não se pode colocar um preço na criatividade, mas aparentemente pode-se colocar uma tarifa sobre ela."

Enquanto isso, Vivek Ranjan Agnihotri, ator indiano, cineasta e astro de Bollywood, disse em redes sociais que uma tarifa de 100% sobre filmes estrangeiros poderia significar que "a indústria cinematográfica em dificuldades da Índia entrará em colapso total", considerando o tamanho do mercado americano.

A crise em Hollywood está sendo exagerada?

Na publicação na rede social Truth Social em que anunciou as tarifas sobre filmes, Trump disse que "a indústria cinematográfica dos Estados Unidos está morrendo rapidamente".

O número de filmagens realizadas em Hollywood diminuiu cerca de 34% nos últimos cinco anos, de acordo com a Film LA, uma publicação do setor cinematográfico.

Embora muitos trabalhadores do setor do cinema tenham perdido seus empregos como resultado disso, a desaceleração não se deve apenas aos incentivos para filmar em outros países. A pandemia, a desaceleração econômica global e uma greve de atores e roteiristas que durou meses em 2023 também atrapalharam a produção em Hollywood.

À medida que os orçamentos ficam mais apertados, filmes poderão não ser realizados sem coproduções que aproveitem os incentivos oferecidos fora dos EUA, diz Stephen Luby, professor de cinema na Victorian College of the Arts, na Austrália.

"Produções americanas que aproveitaram incentivos fiscais em lugares como a Austrália para fazer filmes no exterior o fizeram porque a produção dos filmes é mais barata dessa forma", afirma ele à DW. "Talvez eles não sejam feitos se não seguirem esse caminho."

Um exemplo: o ator e diretor Mel Gibson está aconselhando Trump sobre as tarifas e maneiras de "tornar Hollywood grande novamente", mas seu novo filme, A Ressurreição de Cristo, será filmado em Roma e no sul da Itália.

Os EUA registram um pequeno déficit comercial em conteúdo de entretenimento. Em 2023, foram 27,7 bilhões de dólares em importações e 24,3 bilhões em exportações.

Mas, de acordo com Jean Chalaby, professor de sociologia da Universidade de Londres, esse desequilíbrio é acentuado por empresas de streaming como a Netflix, que não exportam oficialmente conteúdo produzido nos EUA, como a série Stranger Things, mas o distribuem internacionalmente por meio de sua própria plataforma baseada nos EUA.

Por outro lado, séries de sucesso como Adolescência e Squid Game, adquiridas no exterior, são consideradas importações, mesmo que sejam ativos dos EUA que rendem à Netflix "centenas de milhões de dólares" em assinaturas, observou Chalaby em um artigo para o site The Conversation. Apesar do déficit comercial, "o setor de entretenimento sediado nos EUA nunca foi tão dominante globalmente."

Os EUA também continuam sendo o maior exportador de filmes e produções de TV do mundo, mesmo que Hollywood esteja enfrentando mais concorrência de outros centros de produção de conteúdo, como a Coreia do Sul.

"Se implementadas, essas tarifas certamente terão consequências de longo alcance para o setor de cinema e TV", concluiu Chalaby. "Mas é improvável que elas deixem alguém mais próspero."

EUA questionam regras da UE sobre audiovisual

Alguns setores da indústria cinematográfica americana apoiam a intenção de Trump de trazer as produções de volta aos EUA, inclusive o sindicato que representa os atores, o Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists.

A Motion Picture Association (MPA), que representa grandes empresas como Disney, Netflix, Paramount, Universal e Warner Bros, também concorda que mais conteúdo deve ser produzido nos EUA, e apoia o uso de incentivos fiscais para fortalecer as produções locais.

Em fevereiro, quando Trump começou a anunciar sua série de tarifas, ele criticou as regras do mercado cinematográfico da União Europeia (UE), onde as plataformas de streaming dos EUA são obrigadas a incluir pelo menos 30% de conteúdo europeu em sua programação nos países-membros do bloco. A MPA também questiona essas cotas.

De acordo com a Diretiva Serviços de Comunicação Social Audiovisual da UE (SCSA), os países-membros também podem exigir que empresas como a Netflix e a Disney sejam obrigadas a financiar produções locais – o que os gigantes do streaming tentaram evitar por meio de ações judiciais.

Outros em Hollywood questionaram a lógica das tarifas de Trump e sua disposição em efetivá-las. "A questão das tarifas não vai acontecer, certo? Esse homem muda de ideia 50 vezes", disse o diretor americano Richard Linklater em Cannes, na sessão de lançamento de seu filme Nouvelle Vague, gravado em Paris.

Mas, na mesma coletiva de imprensa, o debate sobre as tarifas de Trump levou a atriz Zoey Deutch, que estrela o filme de Linklater, a dizer que "seria bom fazer mais filmes em Los Angeles". "Acabei de fazer um filme lá e foi mágico."

Short teaser Número de filmes gravados nos EUA diminuiu, mas empresas americanas de streaming estão florescendo.
Author Stuart Braun
Item URL https://www.dw.com/pt-br/além-das-tarifas-de-trump-hollywood-está-mesmo-em-declínio/a-72739025?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 9
Id 72736456
Date 2025-05-30
Title Europa: até quando será preciso trabalhar para se aposentar?
Short title Europa: até quando será preciso trabalhar para se aposentar?
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A fim de evitar a pobreza na velhice, cada vez mais aposentados continuam trabalhando ao mesmo tempo em que recebem pensão

Na Dinamarca, a partir de 2040, a aposentadoria será possível apenas aos 70 anos de idade. Medida é debatida também entre governantes da Alemanha, que sofre com envelhecimento da população.À medida que a vida profissional se aproxima do fim, muitas pessoas que ainda estão empregadas e, assim, prestes a se aposentar, enfrentam uma série de questionamentos: a aposentadoria será suficiente ou ainda será necessário seguir trabalhando? A pobreza na velhice é uma ameaça? A Dinamarca busca sanar o problema com uma medida que não é exatamente original e que pode provocar conflitos: com 81 votos a favor e 21 contra, o parlamento aprovou uma lei que eleva a idade da aposentadoria para 70 anos, a partir de 2040, para todos os cidadãos nascidos após 31 de dezembro de 1970. Antes, até 2030, a idade mínima, que atualmente é de 67 anos, subirá para 68 anos, e até 2035, para 69. Antes disso, no ano passado, a social-democrata e primeira-ministra Mette Frederiksen, de 47 anos, havia dito que estava disposta a rever o sistema assim que a idade de aposentadoria atingisse 70 anos. O gráfico abaixo mostra como a idade oficial de aposentadoria varia de país para país na comparação internacional. Vale ressaltar, porém, que em muitos países as pessoas seguem trabalhando mesmo depois disso. Modelo para a Alemanha? O novo governo alemão ainda está tentando descobrir como lidar com os problemas do sistema de previdência, e muitos detalhes ainda estão em debate. Na conferência estadual do partido conservador União Democrata Cristã (CDU) em Stuttgart, o chanceler federal, Friedrich Merz, comentou que "muitas coisas corretas foram escritas no acordo de coalizão". Mas um dos pontos que o acordo deixou em aberto é justamente o futuro do sistema de seguridade social. "Da forma como está hoje, ele só poderá permanecer por mais alguns anos, na melhor das hipóteses", reconheceu o chanceler. Fato é que há uma necessidade fundamental de reforma dos sistemas de previdência, saúde e seguro assistencial para o longo prazo. Na semana passada, o economista e ex-assessor do governo alemão Bernd Raffelhüschen defendeu que a Alemanha copiasse o modelo dinamarquês: "Deveríamos aumentar a idade de aposentadoria para 70 anos rapidamente para que possamos pegar ao menos alguns dos baby boomers", declarou ao jornal Augsburger Allgemeine Zeitung. Raffelhüschen argumentou que, até 2035, a Alemanha perde a cada ano um milhão de trabalhadores que se aposentam, o que faz aumentar as contribuições previdenciárias para os mais jovens. Beveridge vs. Bismarck Quando se fala em financiamento de sistemas previdenciários, há basicamente duas escolas, que recebem o nome de seus teóricos ou idealizadores: a legislação social criada pelo então chanceler federal alemão Otto von Bismarck, no século 19, e o modelo Beveridge, formulado na década de 1940. Esse último é um sistema de bem-estar social que abrange toda a população e é financiado pela receita tributária. Baseia-se nos cálculos do economista britânico William Henry Beveridge, que era membro do grupo liberal do parlamento do Reino Unido na época. O modelo britânico contrasta com o de Bismarck, que prevê um sistema de seguro no qual trabalhadores e empregadores alimentam um fundo. Em termos simples, é um modelo de pagamento por meio de rateio, no qual a população ativa financia as aposentadorias dos que não estão mais trabalhando. No entanto, comparar os sistemas previdenciários na Europa só é possível até certo ponto, pois vários países têm uma mistura dos modelos de Bismarck e Beveridge. Além disso, os detalhes, às vezes muito específicos e complicados, diferem de país para país. A questão demográfica O princípio bismarckiano aplicado na Alemanha esbarra num problema cada vez mais evidente: o envelhecimento da população. O número de pessoas na ativa, que contribuem para a seguridade social, não aumenta na proporção necessária para cobrir os gastos com o número cada vez maior de aposentados. Além disso, os contribuintes estão vivendo mais devido ao aumento da expectativa de vida – ou seja, demandam pagamentos previdenciários por mais tempo. O resultado disso são fundos de pensão cada vez mais sobrecarregados. Como consequência, ou as contribuições terão que continuar aumentando, ou as pensões não poderão mais ser reajustadas para compensar a inflação – ou, ainda, o nível geral da pensão cairá. Trabalhar por mais tempo É claro que a perspectiva de aposentar-se mais cedo é tentadora. Às vezes, é preciso parar antes que o corpo fique incapaz de lidar com as demandas. O "último terço da vida" pode ser também um momento para fazer atividades específicas e individualmente gratificantes, ao mesmo tempo em que se passa mais tempo com a família. E isso também influencia a economia: pessoas com mais tempo também têm mais oportunidades de gastar dinheiro – desde que a aposentadoria seja suficiente. Isso poderia incentivar o consumo privado, o que, por sua vez, beneficiaria a economia. Mas trabalhar por mais tempo também pode ter suas vantagens. Há os que, na faixa dos 60 anos, ainda se sentem em forma e apreciam o trabalho. São pessoas que buscam passar sua experiência e conhecimentos adiante e manter contato com os mais jovens, o que beneficia empregadores. E isso também pode atenuar, pelo menos um pouco, a escassez de mão de obra qualificada. Às vezes mais cedo, às vezes mais tarde As estatísticas apontam que a idade legal da aposentadoria só corresponde ao fim da vida profissional de fato em pouquíssimos casos, já que a maioria se aposenta mais cedo. Isso pode ocorrer porque o corpo simplesmente não responde mais como deveria ou por esgotamento, que ocorre principalmente entre profissionais do ramo criativo. Em alguns países, as pessoas trabalham além da idade da aposentadoria, como na Nova Zelândia ou no Japão, também na Suécia e na Grécia. Mas fazem isso por vontade própria? As razões são tão particulares, em alguns casos, que não podem ser representadas em estatísticas. Equilíbrio social Algumas condições estruturais, no entanto, poderiam ser alteradas. Por exemplo, a taxa de reposição bruta — o percentual do valor do benefício em relação ao último salário — é um fato importante na hora de decidir em qual momento se aposentar. Se essa diferença for muito grande, algumas pessoas não podem se dar ao luxo de parar de trabalhar. A pobreza na velhice poderia ser evitada se o nível da pensão fosse ajustado para ser suficiente para fornecer ganhos adequados após uma longa vida de trabalho. Mas isso custa alto, um dinheiro que não está disponível no fundo de pensão. Por outro lado, aumentar o valor das contribuições dos que estão na ativa comprometeria a capacidade deles de economizar para a própria aposentadoria.


Short teaser Na Dinamarca, a partir de 2040, aposentadoria será possível apenas aos 70 anos de idade. Alemanha também debate medida.
Author Dirk Kaufmann
Item URL https://www.dw.com/pt-br/europa-até-quando-será-preciso-trabalhar-para-se-aposentar/a-72736456?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption A fim de evitar a pobreza na velhice, cada vez mais aposentados continuam trabalhando ao mesmo tempo em que recebem pensão
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Item 10
Id 72734821
Date 2025-05-30
Title Como a Ilha dos Museus encarna a agitada história de Berlim
Short title Como a Ilha dos Museus encarna a agitada história de Berlim
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O Bode-Museum, inaugurado em 1904 em uma das pontas da Ilha dos Museus

Conjunto de museus à margem do rio Spree completa 200 anos. Iniciado após as guerras napoleônicas, complexo refletiu glória da antiga Prússia no século 19, mas também foi palco de destruição e saques durante a 2° GuerraA Ilha dos Museus de Berlim resume de forma única a história moderna da Alemanha. Seus edifícios são testemunho das ideias do Iluminismo e da destruição da Segunda Guerra Mundial, assim como da divisão da Guerra Fria e da restauração contemporânea que transformou o conjunto de museus em um ímã turístico. Registro concreto dos desenvolvimentos arquitetônicos e culturais da Europa, o complexo histórico de edifícios foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial em junho de 1999. Neste ano, comemora seu 200º aniversário desde que a pedra fundamental do primeiro edifício foi colocada. Legado do Iluminismo Durante as Guerras Napoleônicas (1803-1815), quando os franceses invadiram a Prússia (o antigo reino que liderou a unificação da Alemanha no século 19), muitas obras de arte foram saqueadas de sua capital, Berlim. Depois que os itens foram devolvidos após a guerra, os líderes prussianos decidiram criar um museu para exibir publicamente os tesouros. O Altes Museum (Museu Antigo) foi o primeiro edifício da série de cinco instituições que mais tarde se tornaria conhecida como Ilha dos Museus. Chamado simplesmente de Museu em seus primeiros anos, sua pedra fundamental foi lançada em 1825 e ele foi inaugurado em 1830. Naquela época, após décadas de guerra, a Prússia estava arruinada economicamente, "e mesmo assim investiu em um edifício cultural como esse, contratando o melhor arquiteto da época, [Karl Friedrich] Schinkel", diz à DW Hermann Parzinger, que está deixando o cargo de presidente da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano. Ele gosta de ressaltar esse detalhe no contexto atual, quando alguns políticos vêm questionando a importância de financiar a cultura. Alinhada aos ideais do Iluminismo, a educação foi considerada pela Prússia como uma prioridade. O pensador e estadista Wilhelm von Humboldt via os museus como um pilar da reforma educacional que ele implementou: "O museu, como um espaço de educação estética do cidadão, era muito importante para ele", explica Parzinger. "Era mais do que apenas construir um museu; havia uma visão por trás disso, e a arte, ao lado da ciência, tinha um papel central." Conjunto construído ao longo de um século Durante a era colonial, a coleção de artefatos históricos cresceu, assim como a vontade de mostrar também os artistas românticos alemães. Mas eram necessários mais museus em Berlim para abrigar essas obras. No século seguinte, mais quatro grandes museus foram acrescentados ao complexo, que fica na parte norte da Ilha do Spree, no coração histórico de Berlim: o Neues Museum (Novo Museu) foi inaugurado em 1859; a Alte Nationalgalerie (Antiga Galeria Nacional), em 1876; o Bode-Museum (então Kaiser-Friedrich-Museum), em 1904; e, finalmente, o Pergamonmuseum (Museu de Pérgamo), projetado para abrigar o Altar de Pérgamo e a monumental Porta de Ishtar da Babilônia, em 1930. Glória de curta duração antes da Segunda Guerra Por alguns anos antes da Segunda Guerra Mundial, a Ilha dos Museus foi uma das joias da coroa da cultura europeia. Os nazistas celebravam as obras clássicas e antigas das coleções de seus museus, que eles viam como parte de uma suposta herança ariana. Durante a Segunda Guerra Mundial, funcionários dos museus levaram parte dos artefatos valiosos para bunkers subterrâneos, minas e castelos em toda a Alemanha. Isso salvou muitas peças, inclusive o busto de Nefertiti e grandes porções dos frisos do Altar de Pérgamo, mas também contribuiu para que várias peças se dispersassem. Após a guerra, o Exército Vermelho Soviético ocupou a área, e coleções de arte de toda a Alemanha foram saqueadas a título de reparação de guerra. As Brigadas de Troféus do Exército Vermelho enviaram milhões de itens históricos para Moscou e São Petersburgo, muitos dos quais acabaram em coleções particulares não documentadas. Muitos objetos foram devolvidos a Berlim na década de 50, especialmente durante a era do líder soviético Nikita Khrushchev, mas estima-se que cerca de um milhão de obras de arte, mais de quatro milhões de livros e manuscritos e um número considerável de materiais de arquivo ainda estejam na Rússia e seus países vizinhos. Embora instituições alemãs e russas tenham nas últimas décadas desenvolvido esforços comuns de pesquisa sobre esses objetos disputados, hoje, "por causa da guerra [na Ucrânia], tudo está em suspenso e interrompido – e não sabemos quando poderemos retomar esses contatos", diz Parzinger. Reconstrução da Ilha dos Museus Na Alemanha dividida, a Ilha dos Museus ficou em Berlim Oriental, sob o controle da República Democrática Alemã. O Estado comunista "simplesmente não tinha os recursos para a reconstrução após 1945. Os edifícios foram reparados, mas não completamente renovados", explica Parzinger. O Neues Museum, que havia sido especialmente danificado, foi deixado intocado, como uma ruína simbólica da guerra. Parzinger se lembra claramente de sua própria visita a Berlim Oriental quando era estudante, em 1984 – décadas antes de se tornar, em 2008, presidente da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, órgão governamental que supervisiona os museus estaduais de Berlim, incluindo os da Ilha dos Museus. Foi nessa época que ele viu pela primeira vez a fachada bombardeada do Neues Museum: "Lembro-me de que havia árvores enormes crescendo na escadaria. Não havia telhado, e era possível ver copas das árvores acima do prédio. Era inacreditável para mim." Quando o Muro de Berlim caiu, era essencial renovar completamente os edifícios e prepará-los para o futuro, explica Parzinger. E um plano diretor delineou a restauração dos cinco museus que compõem a ilha. Abordagem excepcional para a restauração Sem dúvida, o projeto de restauração mais importante foi a ressurreição do Neues Museum. O projeto do arquiteto britânico David Chipperfield foi inicialmente recebido com forte resistência. Ele integrou as ruínas em uma nova construção, e trabalhou com as cicatrizes da guerra ao deixar visíveis buracos de bala e afrescos faltantes no teto – os puristas preferiam uma restauração fiel ao edifício neoclássico original. Mas implementar esse "conceito magnífico" foi a decisão correta, diz Parzinger com entusiasmo, citando que ainda descobre novos detalhes toda vez que retorna ao prédio. O museu reformado ganhou vários prêmios nacionais e internacionais de arquitetura. Lar do museu egípcio e da coleção de papiros, a exposição mais famosa do Neues Museum é o busto faraônico da rainha Nefertiti. No ano passado, foi lançada uma petição para que o busto de 3.370 anos seja devolvido ao Egito. Mas, para a Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, não há nada a ser discutido sobre seu retorno: "Nefertiti veio para Berlim como parte de uma descoberta totalmente legal e bem documentada", afirma Parzinger. No entanto, ele tem sido uma figura importante no debate sobre a restituição de peças históricas, especialmente no tocante à devolução dos Bronzes de Benin e de outros objetos com origens coloniais. Após 17 anos à frente da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, ele se aposentou do cargo e será sucedido por Marion Ackermann. Ela se tornará a nova presidente da fundação neste domingo (01/06), quando serão lançadas as festividades do 200º aniversário da Ilha dos Museus. A restauração dos edifícios prosseguirá, conforme definido pelo plano diretor. Um marco notável recente foi a abertura da Galeria James Simon em 2019. Nova adição à Ilha dos Museus, ela serve como entrada principal e espaço de orientação para os visitantes. O Museu de Pérgamo está fechado até 2027, devido a uma reforma. E o Altes Museu será o próximo a ser renovado. Quando todas as restaurações estiverem concluídas, quatro dos cinco edifícios históricos serão conectados por um caminho subterrâneo – chamado de Passeio Arqueológico – inspirado nas pontes históricas entre os museus que foram destruídas durante a Segunda Guerra. Todos os acréscimos e restaurações contribuem para consolidar ainda mais o status da Ilha dos Museus como o sucesso de bilheteria da Alemanha, equivalente ao Louvre em Paris ou ao Museu Britânico em Londres. Como cada novo sopro de vida ao complexo de museus no rio Spree, a Ilha dos Museus se prepara para seguir refletindo a história de Berlim nos próximos séculos.


Short teaser Área à margem do Spree estava em ruínas após a Segunda Guerra. Plano de restauração deu vida nova aos seus cinco museus.
Author Elizabeth Grenier
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-a-ilha-dos-museus-encarna-a-agitada-história-de-berlim/a-72734821?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption O Bode-Museum, inaugurado em 1904 em uma das pontas da Ilha dos Museus
Image source elxeneize/shotshop/picture alliance
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Item 11
Id 72735955
Date 2025-05-30
Title Quais são os impactos reais do derretimento das geleiras?
Short title Quais são os impactos reais do derretimento das geleiras?
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Geleiras ao redor do mundo estão derretendo  ao dobro da taxa registrada há apenas duas décadas

Geleiras sustentam o suprimento de água, os ecossistemas e até mesmo tradições culturais. Mas, com o aquecimento global, comunidades estão sendo afetadas tanto pelo excesso quanto pela escassez de água dos glaciaisNa última quarta-feira (28/05), o colapso de uma geleira nos Alpes Suíçossoterrou o pequeno vilarejo de Blatten, na região de Wallis, sul do país. O episódio evidenciou os impactos diretos do aquecimento global nas regiões glaciais, que abrigam 70% das reservas de água doce do planeta, e mostrou como comunidades inteiras estão sendo afetadas. Segundo o Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento da Água (WWDR, na sigla em inglês) da ONU, quase 2 bilhões de pessoas no mundo dependem da água proveniente de geleiras, do derretimento da neve e do escoamento das montanhas para abastecimento, agricultura e geração de energia. No entanto, com as mudanças climáticas, geleiras ao redor do mundo estão derretendo a uma velocidade duas vezes maior do que há apenas duas décadas, segundo um estudo publicado na revista Nature. Entre 2000 e 2023, as geleiras perderam uma massa de gelo equivalente a 46 mil Pirâmides de Gizé, impactando comunidades em todo o mundo de diferentes formas. Geleiras como recursos essenciais Na pequena cidade de Huaraz, no oeste do Peru, a população obtém cerca de 20% de seu suprimento anual de água a partir do derretimento do gelo na cordilheira dos Andes. No entanto, as geleiras andinas estão derretendo ainda mais rápido do que em outras regiões, representando um risco de inundações. Um estudo multinacional publicado no International Journal of Applied Earth Observation and Geoinformation mostrou que as temperaturas diurnas de inverno na superfície dos Andes aumentaram 0,5 graus Celsius por década desde o ano 2000, em altitudes de 1.000 a 1.500 metros. Em um processo judicial que durou mais de 10 anos, Saul Luciano Lliuya, um morador de Huaraz, processou a empresa de energia alemã RWE pelo risco potencial à sua casa causado por um lago que está se enchendo rapidamente com água do derretimento glacial. O processo aconteceu depois que a quantidade de água no lago glacial acima da casa de Lliuya aumentou mais de quatro vezes desde 2003, levando especialistas a alertar para um risco crescente de inundações, com consequências potencialmente terríveis para a região. Comunidades ameaçadas pelo derretimento Não é só no Peru que o derretimento cria grandes lagos glaciares. Quando se enchem demais, inundações mortais da água nesses lagos podem destruir prédios, pontes e terras férteis. Em outubro de 2023, um rompimento de lago glacial no Paquistão causou danos severos, enquanto, naÍndia, o transbordamento do lago de degelo Lhonak matou 179 pessoas no estado de Sikkim. Cientistas estimam que, no mundo todo, pelo menos 15 milhões de pessoas estejam vulneráveis a inundações repentinas causadas pelo degelo, a maioria vivendo na Índia e no Paquistão, segundo um estudo publicado no Nature Communications. Desde 1990, o volume de água em lagos de montanha aumentou cerca de 50%. Nos Alpes Suíços, o derretimento da geleira Birch tem deixado as rochas acima da vila de Blatten cada vez mais instáveis nas últimas semanas, fazendo com que a maioria dos habitantes teve que ser evacuada. Redução do abastecimento de água Assim como algumas comunidades são afetas pelo excesso da água do degelo, outras estão sendo impactadas pelaescassez da água vinda dos glaciais. Inicialmente, o derretimento do gelo aumenta o volume de água nos rios e reservatórios, mas depois atinge o chamado "pico da água” — o momento em que o fornecimento começa a diminuir. Como resultado, menos água do degelo chega às áreas mais baixas, com consequências potencialmente graves. Em algumas comunidades dos Andes, por exemplo, a redução no abastecimento de água forçou agricultores locais, que tradicionalmente cultivavam milho e trigo, a mudar tanto suas culturas quanto a gestão da água. Com isso, muitos passaram a cultivar uma variedade de batata amarga mais resistente à seca. Além disso, a instabilidade no fornecimento de água também afeta a geração de energia elétrica. No Chile, 27% da eletricidade é gerada por usinas hidrelétricas que dependem criticamente do degelo. Em 2021, a usina de Alto Maipo foi desligada devido à baixa vazão. Geleiras no oceano e o aumento do nível do mar Não são apenas as geleiras em altas altitudes que estão derretendo — mas também aquelas no oceano, como a geleira Thwaites, na Antártica Ocidental. Este grande bloco de gelo possui o tamanho do estado da Flórida, nos Estados Unidos, e foi considerada por cientistas como "muito instável” e derretendo por todos os lados. O derretimento do gelo marinho contribui significativamente para aelevação do nível do mar. A geleira Thwaites foi apelidada de "geleira do juízo final" por causa de seu potencial de causar um aumento abrupto no nível do mar, segundo pesquisadores do estudo "Intrusões generalizadas de água do mar sob o gelo da geleira Thwaites”. Nos últimos 25 anos, o derretimento das geleiras elevou o nível global do mar em quase 2 cm. Pode não parecer muito, mas ilhas baixas como Fiji e Vanuatu, no Pacífico, correm o risco de desaparecer sob as ondas. Além disso, mais de 1 bilhão de pessoas vivem em megacidades como Jacarta, Mumbai, Lagos e Manila, a menos de 10 km da costa — e os diques de proteção são apenas uma solução temporária diante da elevação contínua do mar. Impactos culturais e econômicos As geleiras também possuem significados espirituais e culturais em algumas regiões. No Peru, por exemplo, milhares de peregrinos se reúnem anualmente na geleira Colquepunco, uma das mais sagradas do país, para celebrar um festival religioso tradicional. No passado, blocos de gelo eram retirados da geleira e levados às comunidades locais, que acreditavam em suas propriedades curativas. Mas com o desaparecimento da geleira, essa tradição ancestral está sob ameaça. Na Europa, o impacto também é econômico. A geleira Presena, no norte da Itália, um destino popular entre esquiadores, perdeu cerca de um terço de seu volume desde 1990, ameaçando a atividade econômica da comunidade que depende do turismo. Além disso, espera-se que a neve natural nos Alpes europeus diminua 42% até o final do século, segundo uma pesquisa publicada na revista científica PLOS One. Com isso, cientistas estimam que muitas estações de esqui ao redor do mundo não serão mais economicamente viáveis no futuro. O que pode ser feito? Para tentar minimizar os estragos de desastres causados pelo derretimento das geleiras, moradores podem se adaptar a alguns desses perigos. Na vila de Hassanabad, no Paquistão, foi instalado um sistema de alerta precoce para monitorar a atividade da geleira Shisper. Caso haja necessidade de alerta, ele pode ser comunicado por alto-falantes na vila. Na vizinha região de Ladakh, pesquisadores estão experimentando a criação de geleiras artificiais para mitigar a escassez de água no verão. No entanto, essas estratégias têm limites. Cientistas afirmam que a melhor maneira de lidar com o recuo das geleiras é reduzir o aquecimento das temperaturas que está aquecendo o planeta.


Short teaser As geleiras são os bancos de água do planeta. Mas muitas estão derretendo. Por que isso importa?
Author Katharina Schantz
Item URL https://www.dw.com/pt-br/quais-são-os-impactos-reais-do-derretimento-das-geleiras/a-72735955?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Geleiras ao redor do mundo estão derretendo ao dobro da taxa registrada há apenas duas décadas
Image source Angela Ponce/Reuters
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Item 12
Id 72700747
Date 2025-05-29
Title Por que o Brasil ainda aposta em termelétricas
Short title Por que o Brasil ainda aposta em termelétricas
Teaser Entre a justificativa de segurança energética e o lobby do gás e do carvão, país mantém usinas que emitem mais gases do efeito estufa que a cidade de São Paulo.

Uma audiência pública sobre a instalação de uma termelétrica a gás natural em Samambaia (DF), a cerca de 35 quilômetros da praça dos Três Poderes, foi suspensa pela Justiça em março porque a população não teve tempo hábil para ser informada. Um mês antes, duas empresas desistiram de construir uma usina a carvão em Candiota e Hulha Negra, no Rio Grande do Sul, após o empreendimento ser questionado judicialmente.

Os dois casos geram intensos debates sobre os impactos ambientais locais desses empreendimentos e sobre a emissão de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. E reforçam o questionamento: por que o Brasil ainda investe em termelétricas movidas a combustíveis fósseis, como gás natural e carvão, em plena crise climática?

O principal argumento a favor das termelétricas é a segurança energética. Ou seja, elas poderiam ser acionadas a qualquer momento, independentemente das condições climáticas, como possível falta de água, vento ou sol. Essa foi a justificativa usada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) durante o lançamento do Plano Decenal de Expansão de Energia 2034 na defesa do "fortalecimento da geração termelétrica".

Um estudo publicado em dezembro pela ONG Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) mostrou que as 67 termelétricas fósseis conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) emitiram, em 2023, 17,9 milhões de toneladas de gás carbônico (CO₂), o principal responsável pelo aquecimento global.

Para se ter uma ideia da magnitude dessas emissões, alertou a pesquisadora do IEMA, Raíssa Gomes, as termelétricas fósseis lançaram na atmosfera mais gás carbônico do que o município de São Paulo. Segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), os paulistanos foram responsáveis por emitir 14,5 milhões de toneladas do gás em 2023.

"Ou seja, apenas as térmicas fósseis do SIN emitiram mais gases de efeito estufa do que a maior cidade do país, com seus mais de 11 milhões de habitantes e intensa atividade econômica", comparou a pesquisadora.

Entre lobbies e jabutis

Para o físico especializado em mudanças climáticas e pesquisador do Instituto ClimaInfo, Shigueo Watanabe Jr, outras alternativas poderiam reduzir a necessidade das termelétricas, como a "repotencialização das hidrelétricas". "A maior parte das hidrelétricas do Sudeste foram construídas na década de 1970, 1980. Mas hoje a situação é diferente. Se você trocar as turbinas, tem um ganho potencial de energia e de potência sem mexer na altura do reservatório, sem mexer em nada da parte física", disse.

Além disso, segundo o especialista, também há previsibilidade em relação ao vento e ao sol. "Se eu fosse um planejador energético, estaria muito mais preocupado com o preço do gás. A Rússia invade a Ucrânia, e o preço do gás dispara. Aí o Catar fala assim: 'Não, tá muito alto, eu vou bombar mais gás, o preço do gás cai.' É totalmente imprevisível", avaliou.

Para o pesquisador, os interesses econômicos estão por trás de grande parte das termelétricas. "Existe um lobby muito forte para alavancar mais ainda o gás natural. Toda vez que você tem alguma obra de uma termelétrica, há vários interesses políticos e econômicos e um lobby muito forte dentro do Congresso e dentro dos ministérios para poder ter mais gás, mais termelétrica."

Esse lobby pode ser visto em dois jabutis colocados em leis na área de energia – o termo é usado para designar um apêndice incluído em um projeto que trata de tema diferente do assunto principal. Em 2021, o Congresso Nacional aprovou uma lei que viabilizou a privatização da Eletrobras. Mas os congressistas colocaram no texto a obrigação da contratação de 8 gigawatt (GW) de eletricidade das termelétricas a gás natural sem infraestrutura de distribuição.

Já no projeto de lei que discutiu o marco legal para a geração de energia eólica offshore (em alto mar), os parlamentares acrescentaram a obrigação de contratar 4,25 GW de usinas termelétricas a gás natural. Eles também prorrogaram os contratos das usinas a carvão de 2040 para 2050. Em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o projeto, mas vetou os jabutis, alegando que iam na contramão da lei sancionada, por serem matrizes mais poluidoras, caras e ineficientes. O Congresso ainda pode derrubar os vetos presidenciais.

Crise de 2001

A história das termelétricas atuais está relacionada com a crise de 2001, quando houve forte escassez de chuva, comprometendo os reservatórios de água das usinas hidrelétricas e o fornecimento de energia. "A maior parte das termelétricas que estão em operação hoje vieram do apagão que teve no governo Fernando Henrique. Eles criaram um programa prioritário de térmicas, que era basicamente térmicas a gás. Naquela época já se falava em aquecimento global, mas nada parecido com o que se fala hoje", lembrou Watanabe Jr.

De acordo com Raíssa Gomes, com a expansão das fontes renováveis como a solar e a eólica, há uma transição em curso para que as térmicas fósseis operem cada vez mais de forma pontual, apenas em períodos de maior demanda ou baixa geração renovável. "Essa transição é fundamental, pois as termelétricas fósseis, ao contrário das fontes renováveis, são altamente emissoras de gases de efeito estufa e de emissões atmosféricas locais como óxidos de nitrogênio, enxofre, monóxido de carbono e material particulado."

Além disso, segundo a pesquisadora, dependendo do sistema de resfriamento adotado, as usinas podem ter um elevado consumo de água, o que agrava a pressão sobre os recursos hídricos. "Soma-se a isso o fato de que a geração térmica, especialmente com combustíveis fósseis, tende a ser mais cara, contribuindo para o aumento nas tarifas de energia elétrica."

A questão climática no licenciamento

A Usina Nova Seival, projetada para ser instalada em Candiota e Hulha Negra, no Rio Grande do Sul, consumiria cerca de 12,6 mil toneladas de carvão por dia. Além disso, usaria água equivalente ao consumo diário de um município de 230 mil habitantes.

Organizações como o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá) e a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) entraram com uma ação na Justiça fazendo uma série de questionamentos: solicitaram audiências públicas, mostraram inconsistências nos estudos e pediram a suspensão do licenciamento ambiental.

Em fevereiro, a Energia da Campanha Ltda e a Copelmi Mineração Ltda desistiram do empreendimento. Mesmo assim, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) confirmou um pedido das entidades: que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) considere os impactos climáticos nos próximos licenciamentos ambientais.

"A decisão inclui o componente climático no licenciamento ambiental de termelétricas no Rio Grande do Sul. Ela determina e obriga que, a partir de agora, isso seja sempre observado pelo Ibama. Isso significa a inclusão das diretrizes da Política Nacional da Mudança do Clima e da Política Gaúcha da Mudança do Clima", explicou o advogado da InGá e Agapan, Marcelo Mossmann.

Para a pesquisadora do IEMA, Raíssa Gomes, é fundamental a avaliação das emissões de gases de efeito estufa das usinas termelétricas. "No entanto, esta análise não pode ocorrer isoladamente e tão somente no licenciamento ambiental. É essencial que se realize uma avaliação ambiental estratégica (AAE), que incorpore também aspectos locacionais – como a qualidade do ar, a capacidade de monitoramento ambiental e a disponibilidade hídrica – além de critérios socioambientais."

A pesquisadora também chamou a atenção para o número crescente de projetos de termelétricas em processo de licenciamento ambiental no país. "Estima-se que existam cerca de cem empreendimentos em diferentes fases de tramitação, sinalizando o interesse dos investidores em disputar futuros leilões. No entanto, os leilões anteriores já demonstraram falhas importantes na seleção de projetos, como a habilitação de usinas sem a licença ambiental prévia, que é um requisito mínimo para participação."

Short teaser País mantém usinas que emitem mais gases do efeito estufa que a cidade de São Paulo.
Author Maurício Frighetto
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Item 13
Id 72709713
Date 2025-05-29
Title Trump reverte ordem judicial que havia suspendido "tarifaço"
Short title Trump reverte ordem judicial que havia suspendido "tarifaço"
Teaser Um dia depois de tribunal concluir que medida excedia autoridade do presidente dos EUA e suspender tarifas de Trump, Casa Branca recorre e consegue liminar favorável que restaura sobretaxas.

Uma corte federal de apelações reverteu nesta quinta-feira (29/05) decisão judicial emitida no dia anterior que suspendia as tarifas sobre produtos importados impostas pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos.

A reviravolta veio menos de 24 horas depois da suspensão inicial de boa parte das tarifas na quarta-feira, sob o argumento de que a medida era inconstitucional e excedia os poderes do presidente. A decisão havia sido proferida por um colegiado de três juízes da Corte de Comércio Internacional, em Nova York.

A liminar desta quinta-feira, emitida pela Corte de Apelações para o Circuito Federal em Washington, autoriza Trump a continuar cobrando tarifas com base em uma lei de poderes emergenciais de 1977 até que as partes sejam ouvidas e o assunto seja devidamente analisado em juízo.

Em seu recurso, a Casa Branca argumentou que a suspensão das tarifas põe em risco a "segurança nacional".

O que dizia a ordem judicial que foi derrubada

A decisão de quarta-feira da Corte de Comércio Internacional ameaçava acabar com, ou ao menos atrasar, boa parte das tarifas impostas a parceiros comerciais dos EUA sob uma lei emergencial de 1977. Também punha em cheque tarifas impostas ao Canadá, México e China com base na acusação de que os três países estariam facilitando o tráfico de fentanil.

A decisão fora tomada por uma comissão de três juízes, que apontou que o Congresso dos EUA não delega autoridade "ilimitada" ao presidente para usar a Lei de Poderes Econômicos em Emergências Internacionais de 1977 (IEEPA).

"As ordens de tarifas globais e de retaliação excedem qualquer autoridade concedida ao presidente pela IEEPA para regular as importações por meio de tarifas", apontaram os juízes.

A decisão representava um revés para o líder republicano e sua guerra comercial, uma vez que bloqueava a maioria das categorias de novas tarifas. A decisão, no entanto, não afetava taxas sobre veículos, aço e alumínio, que se baseiam em regras diferentes.

Auxiliares de Trump reagiram com indiferença à primeira decisão da quarta-feira, dizendo que esperavam revertê-la ou recorrer a outros poderes presidenciais para manter as tarifas em vigor.

Um porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, afirmou à rede de televisão CNBC que "não é função de juízes não eleitos decidir como lidar adequadamente com uma emergência nacional". Desai reiterou o argumento de Trump de que outros países alimentaram o déficit comercial dos EUA e que isso "criou uma emergência nacional" que prejudicou a sociedade, os trabalhadores e a indústria, "fatos que o tribunal não contesta".

Além desse processo, Trump enfrenta várias outras ações na Justiça que argumentam que o "tarifaço" excede seus poderes presidenciais.

Independente de decisão judicial, boa parte das tarifas estão "pausadas"

De qualquer modo, a maioria das tarifas afetadas pela decisão de quarta-feira já estão temporariamente suspensas. Em 9 de abril, diante da queda das bolsas, Trump anunciou uma pausa de 90 dias nas sobretaxas, decidindo manter apenas cobranças de 10%, para supostamente tentar forçar a negociação de acordos com os países atingidos.

A reviravolta desta quinta-feira significa que a tarifa de 10% segue em vigor, valendo também para o Brasil.

O tarifaço de Trump reverteu décadas de política comercial dos EUA, interrompeu o comércio global, abalou os mercados financeiros e aumentou o risco de uma recessão nos Estados Unidos e no mundo. O prejuízo às empresas teria sido de mais de 34 bilhões de dólares (R$ 192,7 bilhões) em vendas perdidas e custos elevados, segundo uma análise da agência de notícias Reuters.

jps/ra (AFP, EFE, AP, Reuters)

Short teaser Casa Branca conseguiu liminar que restaura tarifas menos de 24h depois de corte de comércio exterior suspendê-las.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/trump-reverte-ordem-judicial-que-havia-suspendido-tarifaço/a-72709713?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 14
Id 72725604
Date 2025-05-29
Title OMSA reconhece Brasil livre de febre aftosa, e agro comemora
Short title OMSA reconhece Brasil livre de febre aftosa, e agro comemora
Teaser Chancela internacional deve ajudar a abrir novos mercados e impulsionar venda da carne brasileira no exterior. País já é campeão em exportações da commodity, com vendas de US$ 12,8 bilhões em 2024.

Em anúncio celebrado por representantes do agronegócio brasileiro, a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) reconheceu nesta quinta-feira (29/05) o Brasil, principal exportador de carnes do mundo, como país livre da febre aftosa sem vacinação.

Antes do reconhecimento internacional, esse status já havia sido declarado no ano passado por autoridades do governo brasileiro. Desta vez, porém, o anúncio foi especialmente festejado porque a expectativa do agro é que esse título ajude na abertura de novos mercados internacionais e eleve ainda mais as exportações do setor, ampliando as margens de lucro dos produtores.

Representantes de alguns dos maiores produtores de carne, como a JBS, a Minerva e o Marfrig, saudaram o anúncio da OMSA. O reconhecimento ainda será formalizado em cerimônia no dia 6 de junho em Paris, sede da entidade, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à França.

Em 2024, empresas brasileiras exportaram 12,8 bilhões de dólares (R$ 72,3 bilhões) em carne, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Na lista de grandes compradores estão países como a China, Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos.

Setor importante da economia brasileira, a pecuária é apontada como o principal vetor do desmatamento. Mais de 90% da destruição da Amazônia nos últimos 40 anos foi impulsionada por essa atividade, segundo imagens satélites analisadas pelo Mapbiomas, rede de pesquisadores ligados a universidades, ONGs e empresas de tecnologia que monitoram as transformações do uso do solo em território nacional.

Doença compromete ganhos do agro

A febre aftosa é uma doença infecciosa aguda que causa febre, seguida do aparecimento de vesículas (aftas), principalmente, na boca e nos pés de animais de casco fendido, como bovinos, búfalos, caprinos, ovinos e suínos.

A doença, que se espalha com facilidade e compromete a produtividade dos rebanhos, causa prejuízos comerciais ao setor e inviabiliza as exportações de carne. No Brasil, segundo o Ministério da Agricultura, o último foco de aftosa foi detectado em 2006, no Paraná e Mato Grosso do Sul.

Em nota, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) disse que o reconhecimento da OMSA reforça o compromisso do setor agropecuário e dos produtores rurais com a sanidade de seus rebanhos e com a qualidade dos produtos ofertados aos mercados compradores.

"Apesar de retirar a vacina, o Brasil continuará com as ações de vigilância e controle sanitário do rebanho", afirmou a entidade.

ra (Agência Brasil, Reuters, DW, ots)

Short teaser Chancela internacional deve ajudar a abrir novos mercados e impulsionar venda da carne brasileira no exterior.
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Item 15
Id 72706657
Date 2025-05-29
Title Governo da Alemanha anuncia novas regras para reduzir migração
Short title Alemanha anuncia novas regras para reduzir migração
Teaser Mudanças visam dificultar vinda de parentes de determinados grupos de refugiados e suspender processo acelerado de obtenção do passaporte alemão.

O governo alemão aprovou nesta quarta-feira (28/05) medidas para restringir a possibilidade de certos grupos de refugiados trazerem suas famílias para a Alemanha e para abolir a chamada "cidadania acelerada" em apenas três anos para imigrantes "bem integrados".

As restrições à reunificação familiar afetarão os migrantes na Alemanha com o chamado "status de proteção subsidiária", ou seja, pessoas que não têm o status completo de refugiado, mas têm permissão para permanecer no país devido à ameaça de perseguição política em seus países de origem.

Já as regras que permitem que determinados migrantes solicitem a cidadania alemã após três anos, em vez dos cinco anos normais, foram introduzidas pelo governo de coalizão anterior.

Os dois projetos de lei, propostos pelo ministro alemão do Interior, Alexander Dobrindt, ainda precisam ser aprovados pelo Bundestag, o Parlamento alemão.

O que foi decidido?

1. Reunificação familiar

O governo alemão quer suspender por dois anos a reunificação familiar para um determinado grupo de refugiados. Exceções serão feitas apenas por razões humanitárias, por exemplo, em casos de doenças graves.

Para justificar o projeto de lei, o ministro alemão do Interior, Alexander Dobrindt, afirmou que as cidades e os municípios estão sobrecarregados com a recepção e a integração dos refugiados. "Primeiro, as famílias não são trazidas, o que traz um alívio direto. Em segundo lugar, é percebido mundo afora que esse mecanismo não funciona mais, quando um membro da família parte por conta própria. E isso também traz alívio."

2. Cidadania

Não haverá mais a modalidade de "naturalização acelerada" após três anos para imigrantes particularmente integrados.

A regulamentação atualmente em vigor, introduzida pelo governo anterior, determina que imigrantes que vivem legalmente na Alemanha podem solicitar a cidadania após cinco anos no país.

Entretanto, o prazo pode ser reduzido para três anos se eles demonstrarem uma integração excepcional, como no domínio do idioma, em atividades voluntárias ou no desempenho escolar ou profissional. Essa última modalidade, mais rápida, é a que deixará de existir.

3. Meta oficialmente formulada: limitar a imigração

O direito de residência está sendo reformulado. As regulamentações legais não se destinam mais apenas a "controlar a imigração" e sim "controlar e limitar a imigração".

Quem será afetado?

As alterações na lei de naturalização afetam todos que desejam solicitar um passaporte alemão. A partir da entrada em vigor da lei, será necessário viver permanentemente na Alemanha por pelo menos cinco anos para pedir a cidadania alemã. Os pré-requisitos incluem bons conhecimentos do idioma alemão e um emprego permanente. Em 2024, mais de 200 mil pessoas foram naturalizadas na Alemanha. Esse foi o nível mais alto em 25 anos.

A suspensão da reunificação familiar afeta aqueles que têm direito à proteção subsidiária. Esses são refugiados que não são perseguidos no sentido da Convenção de Genebra para Refugiados nem têm direito a asilo político. Entretanto, eles podem estar correndo risco de sofrer riscos em seu país de origem, por exemplo, devido a uma guerra civil.

Quem tem direito à proteção subsidiária pode ter menos direitos do que aqueles com status regular de refugiado. Isso foi confirmado pela Corte Europeia de Direitos Humanos. Cerca de 388 mil pessoas com esse status vivem na Alemanha, sendo que a grande maioria vem da Síria e muitas outras do Afeganistão e do Iraque.

Como é a regra atual de reunificação familiar?

Na Alemanha, os refugiados foram reconhecidos pela primeira vez como elegíveis para proteção subsidiária em 2011. Eles não tinham permissão para trazer seus cônjuges e filhos com eles. Isso mudou no início de 2015 e, depois que um grande número de refugiados da guerra civil da Síria chegou à Alemanha a partir de meados do ano, o governo alemão suspendeu novamente o reagrupamento familiar.

Desde 2018, existe uma cota máxima de mil familiares próximos por mês que podem receber um visto para a Alemanha. Nunca houve um direito legal à reunificação familiar; a autorização fica a critério das autoridades. O pedido deve ser apresentado a uma missão diplomática alemã no exterior. Cerca de 12 mil vistos foram emitidos em 2023 e 2024.

Como o governo alemão justifica as mudanças?

Os partidos conservadores União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), que formam a coalizão de governo juntamente com o Partido Social-Democrata (SPD), querem que menos pessoas fujam para a Alemanha. "Estamos abertos à migração legal para o nosso mercado de trabalho e para a nossa sociedade", disse Dobrindt diante do Bundestag. Entretanto, ele ressaltou que o "limite foi alcançado" no que se trata da chamada migração "ilegal" ou "irregular", ou seja, quando migrantes chegam à Alemanha sem controle.

Imediatamente após assumir o cargo, Dobrindt já ordenou controles mais rígidos nas fronteiras e a rejeição de solicitantes de refúgio. Agora, outras medidas serão adotadas. "Nosso objetivo é eliminar os fatores de atração que também têm atraído pessoas para a Alemanha", disse Dobrindt.

Short teaser Mudanças dificultarão vinda de parentes de refugiados e abolirão processo acelerado de obtenção do passaporte alemão.
Author Sabine Kinkartz
Item URL https://www.dw.com/pt-br/governo-da-alemanha-anuncia-novas-regras-para-reduzir-migração/a-72706657?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 16
Id 72706203
Date 2025-05-29
Title [Coluna] Mestiçagem nunca foi garantia de igualdade
Short title Mestiçagem nunca foi garantia de igualdade
Teaser

"Durante a maior parte da nossa experiência republicana, a mestiçagem brasileira foi instrumentalizada para manter as desigualdades, maquiando nosso racismo", escreve Ynaê Lopes dos Santos

Pesquisa da USP sobre DNA brasileiro corrobora aquilo que já sabíamos há tempos: a história da mestiçagem no Brasil começa, em grande parte, com a violência sexual e física contra mulheres africanas e indígenas.Há alguns dias, uma pesquisa liderada pela geneticista Lygia da Veiga Pereira, da Universidade de São Paulo, foi publicada na revista Science, trazendo informações importantes sobre a população brasileira. Um dos dados mais interessantes, é que o Brasil tem a maior diversidade genética do mundo, dado comprovado por meio do exame do genoma completo de mais de 2,7 mil brasileiros em todas as regiões do país, que revelou mais de 8,7 milhões de variantes genéticas inéditas. O estudo integra o programa Genomas Brasil, uma iniciativa do Ministério da Saúde que busca sequenciar o DNA de 100 mil brasileiros. O maior objetivo dessa iniciativa é impulsionar a medicina de precisão no país. Como foi publicizado em inúmeras reportagens, a identificação de milhões de variantes genéticas únicas possibilita que Brasil se destaque no cenário científico internacional, ao mesmo tempo em que ganha novas ferramentas para enfrentar desafios de saúde pública. Em tese, essas descobertas têm o potencial de revolucionar o diagnóstico e o tratamento de doenças no Brasil, ao permitir terapias mais personalizadas e eficazes, bem como a formulação de políticas públicas na área da saúde direcionadas para a prevenção e tratamento dessas doenças. Uma dimensão especialmente importante, na medida em que a mesma pesquisa encontrou mais de 36 mil variantes raras e potencialmente prejudiciais, muitas delas concentradas em indivíduos com ancestralidade africana e indígena – que historicamente são as pessoas que mais precisam e utilizam o Sistema Único de Saúde. Se, por um lado, os dados expostos reforçam que essa pesquisa pode ter enorme relevância para a saúde pública brasileira, por outro lado, algumas interpretações da nossa imensa mestiçagem podem ser perigosas. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a mestiçagem brasileira não é nenhuma novidade. Desde meados do século 19, quando o Império do Brasil promoveu uma série de ações para contar (e em alguma medida criar) a história oficial do país, os intelectuais que estiveram à frente desse processo tiveram que lidar com a amplo gradiente da mestiçagem nacional. Um desafio imenso para os intelectuais brancos brasileiros que, formatados pela ideologia do racismo científico, não podiam esconder que o Brasil era um país mestiço, ao mesmo tempo em que identificavam essa mestiçagem como sinônimo do atraso e da incivilidade do Brasil daquela época. Entre as décadas de 1890 e 1930, políticas públicas foram desenhadas e executadas a partir dessa percepção. Uma das mais vigorosas tinha como objetivo embranquecer a população brasileira por meio da imigração europeia subvencionada pelo Estado nacional. A mestiçagem era o caminho obrigatório para que, no intervalo de 100 anos, o Brasil finalmente extirpasse toda sua população negra, e tivesse o menor contingente possível de mestiços. A partir da década de 1930, a história mudou um pouco. A mestiçagem, que era uma espécie de mal necessário para se chegar ao caminho da raça pura, passou a ser celebrada como uma característica genuinamente brasileira por grande parte dos intelectuais e dirigentes do país – que seguiam sendo homens brancos, em sua imensa maioria. O livro que serviu como uma espécie de bíblia desse momento da nossa história foi Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, publicado em 1933. Ali, em tese, havia uma explicação história e lógica sobre como e por que nos transformamos num país multirracial que, ao contrário do que acontecia nos Estados Unidos, não tinha segregação racial. Uma grande e bem acabada mentira, que serviu para pavimentar a reconfiguração do mito de que somos um país sem racismo, afinal de contas, como um país racista poderia ter uma população tão miscigenada? Aliada às políticas da era Vargas (1930-1945) e da ditadura militar (1964-1985), o mito da democracia racial foi sendo talhado para se tornar a maior e mais pura verdade sobre o Brasil: um país incontestavelmente miscigenado, que viveria em plena harmonia racial. Uma harmonia que fechava os olhos para os baixos índices de escolarização da população negra e mestiça. Uma harmonia que se calava frente à violência dos aparelhos de repressão do Estado contra essa mesma gente miscigenada. Uma harmonia que culpava esses mestiços pela sua pobreza, dizendo em alto e bom som que eles não haviam se esforçado o suficiente, trabalhado o suficiente. Durante a maior parte da nossa experiência republicana, a mestiçagem brasileira foi instrumentalizada para manter as desigualdades sociais, econômicas e políticas, maquiando nosso racismo, que sempre preferiu um mestiço de cabelo alisado. Um dos maiores ganhos da pesquisa feita pelos cientistas da USP é corroborar aquilo que historiadores e historiadoras sabem há tanto tempo: a história da mestiçagem no Brasil é, em grande parte, uma história que começa com a violência sexual e física contra mulheres africanas e indígenas. Isso porque um aspecto marcante do estudo está nos padrões de herança genética revelados. Enquanto a maioria dos cromossomos Y — herdados por via paterna — são de origem europeia, o DNA mitocondrial — transmitido pelas mães — é predominantemente africano e indígena. Essa assimetria genética reflete a estrutura violenta da colonização brasileira, marcada por relações desiguais e hierarquizadas entre homens europeus e mulheres indígenas ou africanas. Estudar o genoma brasileiro é também um convite para revermos nossa história e os caminhos escolhidos que fizeram com que a miscigenação do Brasil escondesse boa parte das desigualdades que nos constituem. __________________________________ Mestre e doutora em História Social pela USP, Ynaê Lopes dos Santos é professora de História das Américas na UFF. É autora dos livros Além da Senzala. Arranjos Escravos de Moradia no Rio de Janeiro (Hucitec 2010), História da África e do Brasil Afrodescendente (Pallas, 2017), Juliano Moreira: médico negro na fundação da psiquiatria do Brasil (EDUFF, 2020) e Racismo brasileiro: Uma história da formação do país (Todavia, 2022), e também responsável pelo perfil do Instagram @nossos_passos_vem_de_longe. O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.


Short teaser Nosso DNA prova: a história da mestiçagem no Brasil foi forjada na violência contra mulheres africanas e indígenas.
Author Ynaê Lopes dos Santos
Item URL https://www.dw.com/pt-br/coluna-mestiçagem-nunca-foi-garantia-de-igualdade/a-72706203?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption "Durante a maior parte da nossa experiência republicana, a mestiçagem brasileira foi instrumentalizada para manter as desigualdades, maquiando nosso racismo", escreve Ynaê Lopes dos Santos
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Item 17
Id 72702402
Date 2025-05-28
Title Justiça alemã rejeita ação contra gigante da energia por danos climáticos no Peru
Short title Justiça alemã rejeita ação por danos climáticos no Peru
Teaser Processo contra gigante de energia alemã RWE foi movido por fazendeiro de vilarejo ameaçado pelo aquecimento global. Apesar de derrota, ativistas veem caminho aberto para outros processos contra grandes poluidores.

O juiz presidente do Tribunal Regional Superior da cidade alemã de Hamm, Rolf Meyer, rejeitou nesta quarta-feira (28/05) o processo movido por um fazendeiro e guia de montanha peruano contra a empresa alemã RWE, gigante do setor de energia, por danos climáticos.

O agricultor Saúl Luciano Lliuya queria usar uma ação cível para garantir que a RWE arcasse com as medidas de proteção contra uma possível inundação de seu vilarejo pelo derretimento de um lago glacial nos Andes.

Ao explicar o veredito, o juiz disse que os custos acumulados do processo eram enormes. Apenas os honorários do tribunal e dos peritos somavam cerca de 800 mil euros (R$ 5,1 milhões).

Meyer justificou a decisão afirmando que a probabilidade de a casa do agricultor ser atingida por uma inundação nos próximos 30 anos causada, por exemplo, por um colapso de uma geleira ou por um deslizamento de rochas, era muito baixa.

Sem possibilidade de recurso

De acordo com o tribunal, Lliuya tinha o direito de alegar que a RWE, como empresa poluidora e emissora de CO2, poderia ser obrigada a cobrir os custos, por exemplo, da construção de uma barragem de proteção. A distância entre a RWE na Alemanha e o autor no Peru era irrelevante. Mas, segundo a corte, neste caso específico nenhum perigo concreto à sua propriedade pôde ser comprovado.

Meyer admitiu em sua decisão que os perigos representados pelas emissões de CO2 são conhecidos e cientificamente comprovados há muito tempo, referindo-se a estudos da década de 1960 nos EUA e a descobertas de pesquisadores alemães. Ele, porém, enfatizou que a decisão proferida por seu tribunal não é novidade, por se tratar de uma jurisprudência consolidada na Alemanha. "Não apresentamos nada de novo", disse o juiz.

Não cabe recurso da decisão. Esta possibilidade foi vetada pelo Tribunal Regional Superior, que argumentou que o valor em disputa é muito baixo. Dessa forma, não será possível apelar ao Tribunal Federal de Justiça em Karlsruhe, a mais alta instância jurídica da Alemanha.

Ativistas veem jurisprudência favorável

Apesar de a ação ter fracassado, ativistas destacaram que a decisão é um marco porque admite que empresas podem ser responsabilizadas pelo impacto de suas emissões, mesmo que os danos ocorram a milhares de quilômetros de distância.

"[Isso] significa que cada comunidade e cada pessoa que é afetada pelas mudanças climáticas hoje pode olhar para grandes emissores para responsabilizá-los legalmente", disse à DW a advogada Roda Verheyen, que representa Lluiya. Ela chamou a decisão de "histórica" e disse que ela irá impulsionar outros processos climáticos contra empresas do ramo de combustíveis fósseis.

"A decisão, que à primeira vista soa como uma derrota porque o caso foi dispensado, é na verdade uma decisão histórica e emblemática que pode ser invocada por pessoas afetadas em muitos lugares ao redor do mundo", declarou a ONG ambientalista Germanwatch, citando demandas semelhantes no Reino Unido, na Holanda e no Japão.

Para Sébastien Duyck, advogado sênior do Centro de Direito Ambiental (CEIL), a decisão é um "impulso jurídico para acelerar a busca por justiça climática". "O reconhecimento de que uma empresa pode, em princípio, ser responsabilizada judicialmente por danos climáticos do outro lado do planeta fortalecerá os argumentos apresentados em dezenas de casos pendentes, além de encorajar comunidades afetadas a buscar justiça por meio dos tribunais.”

O caso

A comunidade andina de Huaraz fica num vale abaixo do lago glacial Palcacocha, cujo nível tem subido continuamente, devido ao degelo progressivo. Segundo um estudo internacional, realizado por cientistas da Suíça e dos Estados Unidos, só entre 1990 e 2010 o volume de água do lago se multiplicou por 34.

Os autores do processo alegaram que as temperaturas mais elevadas e o derretimento do permafrost – ou pergelissolo, a camada da crosta terrestre permanentemente congelada – também agravam o risco de blocos de gelo ou rocha caírem da parede montanhosa de 2 mil metros de altura para dentro do lago. E isso poderia ter consequências dramáticas para a casa de Lliuya e para os cerca de 50 mil habitantes da comunidade.

Em 1941, uma avalanche causou uma enchente devastadora em Huaraz, deixando cerca de 1,8 mil mortos. O agricultor conta que recentemente uma precipitação de pedras encheu o lago até a borda.

O glaciar próximo ao vilarejo vem se dissolvendo continuamente há mais de 36 anos. Um estudo de 2021, publicado pela revista britânica Nature, concluiu que o fenômeno não é explicável sem a mudança climática.

Segundo uma análise de 2014 da Greenpeace e da ONG especializada em legislação ambiental Climate Justice Program, a RWE – que não atua no Peru – seria responsável por 0,47% de todas as emissões nocivas ao clima global desde o princípio da era industrial. A empresa tem um histórico de uso intenso de carvão para geração de energia.

Por isso, Saúl Lliuya queria que a companhia alemã contribuísse com uma parcela proporcional, para financiar medidas protetoras a um custo estimado de cerca de 17 mil euros (R$ 109 mil).

As medidas incluiriam sistemas de drenagem para que a água do degelo escape da laguna do glaciar, e uma ampliação da barragem local. Uma simulação de 2016 demonstrou que um nível d'água mais baixo reduziria significativamente o risco para a comunidade, mesmo na eventualidade de uma queda de rochas ou avalanche.

A advogada do peruano, Roda Verheyen, afirmou durante o processo que seu cliente não estava interessado numa indenização para si, mas sim que a RWE assumisse sua parcela dos custos. Para a jurista, o caso se refere basicamente ao princípio de "o poluidor paga": "Alguém faz algo que pode ser permitido ou proibido, mas que acarreta consequências incrivelmente amplas e inaceitáveis, neste caso a mudança climática."

Em 2023, um tribunal ordenou uma inspeção in loco para avaliar o perigo. Numa audiência anterior, estabeleceu-se que os efeitos transfronteiriços da mudança climática criariam uma espécie de "relação de vizinhança global", mesmo que os danos ocorram a milhares de quilômetros do agente poluidor.

Verheyen reconheceu que a RWE é apenas uma entre muitas poluidoras – apesar de, admitidamente, uma das maiores da Europa –, "mas a gente tem que começar de algum lugar".

Greenpeace celebra êxito para os ativistas

Nesta quarta-feira, Verheyen agradeceu ao tribunal, em nome de seu cliente, pela seriedade com que tratou o caso, e disse que o processo comprovou que "grandes emissores podem ser responsabilizados pelas consequências de suas emissões de gases causadores do efeito estufa".

Ela disse que, embora o próprio tribunal tenha avaliado o risco de inundação para seu cliente como não suficientemente alto, uma coisa ficou clara: "A decisão de hoje é um marco e dará origem a ações judiciais climáticas contra empresas de combustíveis fósseis e, portanto, a um impulso ao abandono dos combustíveis fósseis em todo o mundo."

A ONG ambientalista Greenpeace também considerou o caso como um sucesso para os ativistas climáticos, uma vez que o Tribunal declarou claramente que "grandes empresas que causam danos ao clima podem ser responsabilizadas" e enfatizou a responsabilidade dessas empresas pela crise climática.

RWE vê fracasso na tentativa de criar precedente legal

Já a RWE disse que a decisão do Tribunal é o fracasso da tentativa, apoiada por ONGs, de estabelecer um precedente para responsabilizar empresas em todo o mundo pelos efeitos das mudanças climáticas.

A RWE considerou que essa "responsabilidade climática" civil é inadmissível segundo a lei alemã. Isso teria consequências imprevisíveis para a Alemanha como polo industrial, já que, em última análise, reivindicações por danos relacionados ao clima poderiam ser feitas contra qualquer empresa alemã em qualquer lugar do mundo.

rc/ra (DPA, AFP, DW)

Short teaser Processo contra gigante de energia alemã RWE era movido por fazendeiro de vilarejo ameaçado pelo aquecimento global.
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Item 18
Id 72702852
Date 2025-05-28
Title França constrói igreja gótica usando só técnicas medievais
Short title França constrói igreja gótica usando só técnicas medievais
Teaser Franceses erguem uma capela, um pátio e uma igreja no interior do país recorrendo exclusivamente a métodos de construção do século 11. Projeto deve levar 40 anos para ficar pronto.

Em um vasto terreno verde no pequeno vilarejo de Lande-de-Fronsac, na França, algumas ovelhas pastam ao lado de um grupo de homens e mulheres vestidos com roupas medievais, enquanto eles usam grandes pás para, manualmente, misturar barro e pedras. O cenário bucólico revela a fundação de um projeto conduzido por uma associação que pretende construir, ao longo de quarenta anos, uma capela, um pátio e, depois, uma grande igreja gótica utilizando exclusivamente técnicas de construção da Idade Média.

"Bem-vindos ao século 11, à oficina medieval da Guyenne [antiga província do sudoeste francês], onde vamos reviver a epopeia dos construtores de catedrais e recriar 300 a 400 anos de evolução arquitetônica em apenas 40 anos", explica Valéry Ossent, engenheiro de obras públicas e idealizador do projeto, à agência de notícias AFP.

"Hoje se vê muita restauração de patrimônio, muitas vezes feita em tempo recorde e com tecnologias modernas. Mas o que me interessa é construir algo totalmente novo com técnicas antigas", afirma ele, um apaixonado pelos ofícios tradicionais.

Ossent convida os visitantes a se transportarem para o ano 1025 e imaginarem uma comunidade de monges construindo, com as próprias mãos, uma capela naquele terreno. Lande-de-Fronsac fica próxima a Bordeaux, no sudoeste da França.

"No século 11, se construía com o que havia à disposição, com as pedras encontradas por perto. Como montar um enorme Lego", explica Frédéric Thibault, pedreiro de 51 anos, que lidera o canteiro de obras e coordena cerca de cem voluntários, fixos ou temporários, que participam da construção.

"Estamos resgatando gestos simples. E a falta de técnica dos voluntários é, na verdade, fascinante, porque nos reconecta com a ingenuidade dos construtores da época. O segredo aqui é aprender a desaprender", enfatiza o artesão.

Até agora, os voluntários já construíram uma moradia de barro e palha, uma forja, um torno de carpintaria, um jardim medieval com mais de 70 espécies de plantas medicinais e aromáticas, e estão preparando a cabana dos carpinteiros, um forno de pão e até um galinheiro.

Comitê que restaurou Notre-Dame apoia o projeto

Um ano e meio após o início das obras, os muros de pedra e barro da capela já atingem cerca de 1,5 metro de altura. Depois será erguido um convento e, por fim, uma grande igreja gótica, com vitrais coloridos, vigas com arestas, colunas e gárgulas — como nas catedrais medievais.

Dado que existem poucos manuscritos do século 11, o projeto conta com o suporte de um comitê científico, formado em grande parte por especialistas que participaram da restauração da catedral de Notre-Dame, de Paris. O grupo também precisou usar técnicas e ferramentas medievais para reconstruir a igreja parisiense após o incêndio que a atingiu em 2019.

O grupo acredita que o projeto possui uma dimensão social. "Quando se instala [uma construção] em um território por décadas, é fundamental envolver seus moradores, especialmente os mais vulneráveis", afirma o engenheiro, que transformou o local em uma oficina de inclusão, contratando pessoas desempregadas que recebem formação no próprio canteiro.

A associação também acolhe pessoas com deficiência, ex-detentos e jovens. "O laço social que se constrói aqui já é, por si só, uma vitória", considera Ossent.

Mais do que um "desafio técnico monumental", Ossent também destaca a importância de transmitir conhecimento às próximas gerações.

"Deixar uma marca"

"Quando a gente chega aqui, entra em outro mundo, longe do século 21. É uma pausa que faz bem, um respiro das pressões do cotidiano acelerado", comenta a voluntária Corine Tanquerel.

"É emocionante fazer parte de um projeto em que sou útil, deixar uma marca — mesmo que eu não veja o fim da obra", diz a voluntária de mais de 60 anos, que costurou ela mesma seu traje medieval.

"O objetivo aqui não é terminar a construção. O que importa é o caminho percorrido", conclui Ossent. Ele admite que um dos maiores desafios será garantir o financiamento até o fim da obra.

Atualmente, o poder público cobre 10% do orçamento anual calculado em 300 mil euros (R$1,9 milhão). O restante vem de doações privadas e patrocínios. A meta é alcançar 1,5 milhão de euros (R$ 9,6 milhões) por ano.

gq/ra (afp, ots)

Short teaser Com métodos de construção do século 11, conjunto com capela, pátio e igreja deve levar 40 anos para ficar pronto.
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Item 19
Id 72700443
Date 2025-05-28
Title "Lixo" em caverna se revelou tesouro de uma cultura perdida
Short title "Lixo" em caverna se revelou tesouro de uma cultura perdida
Teaser Artefatos com símbolos de Vênus e do deus Quetzalcoatl permaneceram séculos escondidos em uma câmara subterrânea de uma caverna no México encontrada por exploradores.

Quando a espeleóloga russa Yekaterina Katiya Pavlova colocou sua cabeça por uma fenda estreita na caverna Tlayócoc, nas montanhas do estado de Guerrero, no México, sua primeira reação foi de perplexidade. O que ela viu entre as sombras pareceu, a princípio, ser lixo deixado por algum visitante descuidado.

No entanto, após uma inspeção mais detalhada, ela percebeu que estava diante de algo extraordinário: um achado arqueológico excepcional que permanecera intocado por pelo menos cinco séculos. Tratava-se de um conjunto de 14 objetos ritualísticos ligados a cerimônias de fertilidade dos tlacotepehuas, um povo extinto. Os itens estavam cuidadosamente dispostos em estalagmites, de acordo com o Instituto Nacional de Antropologia e História do México (Inah).

A descoberta arqueológica em Tlayócoc

A descoberta ocorreu em setembro de 2023 durante uma exploração conjunta de Pavlova e do guia local Adrián Beltrán Dimas na caverna localizada a 2.387 metros acima do nível do mar, próxima à comunidade de Carrizal de Bravo.

A caverna de Tlayócoc – cujo nome no idioma náuatle (asteca) significa "caverna do texugo", segundo o Inah – é conhecida em suas região como uma fonte de água e guano (adubo de estrume de morcego). Durante séculos, o local permaneceu praticamente intocado, possivelmente protegido por crenças populares sobre um suposto "ar ruim" que, segundo a lenda, poderia ser encontrado em seu interior.

Descoberta de artefatos pré-hispânicos

A jornada até a descoberta não foi fácil. Após avançar cerca de 150 metros na caverna, os exploradores encontraram uma passagem submersa com apenas 15 centímetros entre a água e o teto.

"Dei uma espiada e parecia que a caverna ainda continuava. Era preciso prender a respiração e mergulhar um pouco para conseguir passar. Adrian estava com medo, mas a água era funda o suficiente, e eu a atravessei primeiro para mostrar a ele que não era tão difícil", contou a espeleóloga, segundo a nota do Inah.

Ao entrar em uma câmara maior, os exploradores encontraram três estalagmites retocadas à mão com acabamento esférico e, sobre elas, dois braceletes de conchas cuidadosamente posicionados.

Os exploradores contataram imediatamente as autoridades locais, que, por sua vez, notificaram o Inah. Em março de 2025, uma equipe de arqueólogos do instituto viajou para o local remoto para documentar e estudar a descoberta.

O inventário final foi impressionante. Entre os objetos recuperados, além de três pulseiras de conchas completas com intrincadas gravuras antropomórficas, estão um fragmento de pulseira, uma concha gigante de caracol da espécie Strombus com ornamentos, oito discos de pedra preta semelhantes a espelhos de pirita (dois completos e seis fragmentados) e um pedaço de madeira carbonizada de 3,2 centímetros, de acordo com o inventário do instituto.

Rituais de fertilidade e simbolismo

As pulseiras apresentam símbolos fascinantes, incluindo motivos xonecuilli (em forma de "S") associados ao planeta Vênus e à medição do tempo, bem como possíveis representações do deus Quetzalcoatl. "Possivelmente, os símbolos e representações das figuras nas pulseiras estão relacionados à cosmogonia [teoria que busca explicar a origem do universo] pré-hispânica no que diz respeito à criação e à fertilidade", explicou Cuauhtémoc Reyes Álvarez, arqueólogo do Centro Inah Guerrero.

O mais intrigante é a disposição dos objetos. As pulseiras foram colocadas intencionalmente sobre as estalagmites, que foram modificadas para lhes dar um formato mais esférico e, segundo os arqueólogos, com "conotações fálicas". Essa configuração sugere que a caverna era o local de rituais de fertilidade, consistente com a concepção mesoamericana de cavernas como espaços sagrados, portais para o submundo e úteros da Terra.

Arqueólogos dataram os artefatos do período Pós-Clássico, entre 950 e 1521 d.C., e os atribuem aos tlacotepehuas, uma cultura praticamente desconhecida que habitava a região. Esse grupo, um ramo dos tepuztecas, dedicava-se à metalurgia e estabeleceu sua capital em Tlacotepec, município que ainda existe.

Os tlacotepehuas foram completamente extintos durante os primeiros anos da era colonial. Os espanhóis repovoaram a região, trazendo grupos nauas de Tlatelolco e Xochimilco e, posteriormente, mais pessoas para a extração de ouro e prata.

Conservação arqueológica e patrimônio cultural

O excepcional estado de conservação dos artefatos se deve ao ambiente estável da caverna. "É muito provável que, por estarem localizados em um contexto fechado, onde a umidade é bastante estável, os objetos tenham sido preservados por tantos séculos", afirmou o arqueólogo Miguel Pérez Negrete, do Inah, em nota.

De acordo com o estudo cartográfico de Pavlova, a caverna tem um comprimento total de 251,86 metros e foi formada pela dissolução de calcário, um processo que ocorre a uma taxa de aproximadamente 0,1 milímetro por ano.

A descoberta não tem apenas valor arqueológico, mas também é de grande importância para a comunidade local naua. As autoridades do Inah realizaram uma campanha de conscientização em Carrizal de Bravo para promover a preservação do patrimônio cultural. Os habitantes da região, descendentes dos "chiveros", criadores de cabras que se estabeleceram ali no século 19, guardam esses tesouros que conectam seu presente com um passado pré-hispânico sobre o qual se sabe muito pouco.

Os 14 artefatos, já registrados nos bancos de dados institucionais do Inah, permanecem sob a custódia das autoridades locais enquanto está sendo planejado um estudo detalhado de seu estado de conservação.

Short teaser Artefatos de povo pré-hispânico permaneceram séculos escondidos em uma câmara subterrânea de uma caverna no México.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/lixo-em-caverna-se-revelou-tesouro-de-uma-cultura-perdida/a-72700443?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 20
Id 72644219
Date 2025-05-28
Title Famílias acolhedoras oferecem lar temporário para crianças abandonadas
Short title Família acolhedora: lar temporário para crianças abandonadas
Teaser Serviço que deveria ser o destino prioritário para crianças em situação de vulnerabilidade é pouco conhecido e enfrenta resistências para se consolidar.

Uma criança de cinco anos é encontrada em situação de abandono, desnutrida e com sinais de abuso. Para garantir os direitos estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o serviço social municipal a encaminha para uma nova residência temporariamente enquanto busca os responsáveis biológicos ou parentes mais próximos. Ao invés de ser recebida num abrigo institucional, a criança é direcionada a uma família acolhedora apta a lhe dar o necessário para o seu desenvolvimento.

Esse deveria ser o destino prioritário para crianças em situação de vulnerabilidade, especialmente entre os 0 e 6 anos – a chamada primeira infância. No entanto, apenas 6,1% das mais de 34 mil crianças brasileiras que se encontram em situação de desabrigo estão em uma família acolhedora, segundo dados do Conselho Nacional da Justiça (CNJ) de maio de 2025.

Ainda emergente no país, o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (SFA) oferece um abrigo temporário em um núcleo familiar previamente preparado para receber a criança em situação de vulnerabilidade. Cerca de 3,1 mil famílias estão cadastradas nesse sistema.

Durante o tempo em que o menor de idade passa na família acolhedora, ele tem a oportunidade de desenvolver outros conhecimentos que partem, justamente, da convivência no dia a dia. A reintegração à família de origem ou inserção na família extensa ou adotiva "se dá de forma mais rápida e fácil, porque ela aprendeu a conviver em família ", pontua Fernanda Flaviana, secretária executiva do Movimento Nacional Pró Convivência Familiar e Comunitária (MNPCFC).

Estudos comprovam que o acolhimento institucional impacta no desenvolvimento cognitivo, físico e social. As crianças se beneficiam do afeto recebido e da inserção na comunidade em que a família pertence, mantendo uma relação de confiança diferente da estabelecida em um abrigo institucional.

Da institucionalização ao apego

O acolhimento familiar exige que as pessoas abram não só as suas casas, enquanto espaço físico, mas também suas rotinas e intimidade. Durante todo o tempo de acolhimento, as famílias e as crianças são constantemente acompanhadas pela equipe do SFA, o que inclui visitas periódicas e atendimento psicológico aos menores para auxiliar na adaptação.

"Quando uma família acolhedora recebe uma criança, ela não acolhe só a criança, mas uma problemática", afirma Jane Valente, pesquisadora e profissional que fez parte da primeira leva de estudiosos sobre o tema.

O maior benefício e, também, o maior embate subjetivo é com relação ao vínculo criado com a criança ou adolescente. Isso reflete a dificuldade, enquanto sociedade, de debater sobre a finitude das relações. Como Valente explica, "é um amor sem posse”, em que o menor de idade tem um tempo máximo, de 18 meses, até ser reintegrado na família de origem ou extensa ou ser dirigido à adoção.

Para as famílias um dos maiores desafios é a despedida. Pensar em deixar partir cria barreiras e é "um problema dos adultos, porque eles têm dificuldade de entender que vão cuidar sabendo que vai partir", afirma Julia Salvagni, coordenadora de projeto na Secretaria Nacional de Assistência Social.

De acordo com Carlos Henrique de Oliveira Nunes, coordenador do Serviço de Acolhimento Familiar de Belo Horizonte, essa situação envolve um processo de conhecimento da própria família, para compreender que "o acolhimento tem início, meio e fim. A partir desse serviço, segundo ele, a sociedade rompe a lógica do "meu" e passa a entender as crianças como "nossas", parte do coletivo comunitário.

Mas apesar de relativamente curto, esse período deixa marcas para a vida toda nas crianças acolhidas. Mary Weber, assistente social do Serviço de Família Acolhedora em Cascavel, no interior do Paraná, relata o retorno que receberam de uma família adotiva via carta encaminhada por meio do Poder Judiciário: "ele agradeceu ao serviço por ter cuidado do filho dele. A criança fala muito bem da família acolhedora e traz memórias afetivas do período em acolhimento. Diz que a mãe acolhedora o ensinou fazer bolinho, contava histórias... É esse olhar individualizado que o acolhimento familiar propicia e que uma instituição não consegue alcançar, infelizmente".

Os marcos legais das Famílias Acolhedoras no país

Apesar dos esforços atuais, o Brasil ainda é um jovem no tema, uma vez que projetos de acolhimento familiar começaram a ser implementados apenas no final da década de 1990. Enquanto em outros países, como Reino Unido, o formato de família acolhedora já era aplicado desde o início do século 20.

A virada de chave para o acolhimento familiar foi a criação da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), em 2004, que organizou o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e definiu o SFA como serviço de alta complexidade. Dois anos depois, criou-se Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Posteriormente, o ECA promulgou a Lei nº 12.010, em 2009, e institui que "a inclusão da criança ou adolescente em programas de acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento institucional".

Mesmo com os avanços legais, a política pública ainda caminha a passos lentos para se disseminar e se consolidar. Apenas 697 municípios, cerca de 12,5% do total no país, possuem o serviço em execução, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).

Os desafios para ampliar o programa

A principal dificuldade é o desconhecimento da própria sociedade. Muitos ainda confundem esse modelo com a adoção em si, sem saber que o acolhimento familiar tem um caráter provisório. Na Unidade de Acolhimento de Belo Horizonte, em Minas Gerais, a campanha mais recente de mobilização para captação de famílias resultou em 250 interessados iniciais, mas somente 25 passaram do questionário inicial aplicado por telefone.

Além disso, muitos municípios esbarram nos entraves logísticos de direcionar uma equipe exclusiva para o atendimento, que requer um coordenador, um assistente social e um psicólogo para prestar suporte para no máximo 15 crianças. Como alternativa, a regionalização está se tornando uma prática popular entre os municípios – especialmente os de pequeno porte. Dessa forma, o serviço pode ser oferecido de maneira integrada entre diferentes cidades próximas.

Outro grande desafio na implementação do acolhimento familiar é a luta contra a cultura da institucionalização no Brasil. O formato de enviar crianças e adolescentes para abrigos foi, por muito tempo, visto como uma solução, especialmente para os mais pobres, pontua Nunes.

O caráter provisório da família acolhedora também deveria caminhar em constante alinhamento com outras políticas públicas assistencialistas. Para Cristiane Ferreira Mendes, Gerente de Proteção Social Especial de Alta Complexidade da Secretaria de Assistência Social de Santa Catarina (SAS/SC), esse trabalho em conjunto é essencial. "É importantíssimo que todo mundo trabalhe em conjunto para também dar uma segurança para essas famílias que pretendem fazer esse serviço", destaca.

Para Salvagni, esta é a "política pública mais ousada" que está em vigor atualmente. Isso porque ela pega "o que há de mais íntimo, esse convite para dentro de uma casa, de uma família, e coloca dentro de uma política pública, que é o que temos de mais amplo e pensado para atingir a todos". Ela exige que a comunidade dê um passo para trás no individualismo e pense enquanto sociedade, enquanto um trabalho voluntário.

Short teaser Serviço que deveria ser o destino prioritário para crianças em situação de vulnerabilidade é pouco conhecido.
Author Amanda Saori
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Item 21
Id 72695920
Date 2025-05-28
Title O que faz da Turquia líder em obesidade na Europa?
Short title O que faz da Turquia líder em obesidade na Europa?
Teaser

Até 2030, espera-se que 27 milhões de turcos sejam obesos, o que deverá afetar quase uma em cada três pessoas

Especialistas associam quadro a pobreza, agrotóxicos, baixa oferta de alimentos saudáveis e falta de políticas públicas. A obesidade cresceu nas últimas décadas e poderá atingir quase um em cada três turcos até 2030.Existem atualmente mais de um bilhão de pessoas obesas em todo o mundo, em meio ao que a Organização Mundial da Saúde (OMS) descreve como uma epidemia de obesidade. De acordo com o relatório de 2022 da OMS sobre o tema no continente europeu, a Turquia é líder em sobrepeso e obesidade, que atingem 66,8% da população. Além disso, a Turquia também ocupa a primeira posição dentre os países com aumento mais rápido da obesidade, segundo uma relação elaborada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Até 2030, espera-se que 27 milhões de turcos sejam obesos, o que deverá afetar quase uma em cada três pessoas. Especialistas em saúde e questões sociais atribuem esse quadro dramático à alimentação inadequada, desigualdade social, oferta de alimentos pouco saudáveis e à falta de políticas públicas. Segundo estudos, uma em cada cinco crianças na Turquia sofre de malnutrição, sendo que em 10% a 15% dos casos isso se deve ao sobrepeso e à obesidade. "O problema é a pobreza" A socióloga Hacer Foggo avalia que o crescente número de crianças com sobrepeso se deve principalmente à pobreza extrema. A Turquia sofre há anos com uma alta inflação nos preços dos alimentos, que impacta negativamente o poder de compra dos cidadãos. "A desnutrição leva ao crescimento atrofiado, por um lado e, por outro, à obesidade. Estamos na vanguarda desse problema na Europa porque nossa dieta não é variada", afirma. Ela menciona um relatório de 2022 do Instituto Turco de Estatísticas (TÜIK), segundo o qual 62,4% das crianças se alimentam principalmente de pães e massas – dados alarmantes que, segundo afirma, não foram levados suficientemente a sério até agora. O cientista de alimentos Bülent Şık enxerga uma conexão direta entre o aumento da obesidade infantil e o consumo generalizado de ultraprocessados com baixo valor nutricional e alto teor de açúcar. "O aumento do consumo de lanches baratos e facilmente disponíveis e refrigerantes açucarados está diretamente ligado ao aumento da obesidade", disse Şık. A seu ver, enquanto a produção desses itens não for restringida, muitas medidas de prevenção permanecerão puramente simbólicas. Ameaça dos agrotóxicos e aditivos alimentares Şık também alerta para outra fonte de perigo: o uso de produtos químicos danosos à saúde na produção de alimentos, como agrotóxicos e determinados aditivos que têm sido associados a distúrbios hormonais e ganho de peso. "Algumas dessas substâncias tóxicas têm impacto negativo no sistema hormonal, o que representa uma séria ameaça, especialmente para crianças em crescimento." O cientista menciona um estudo do Greenpeace Turquia que constatou que um terço das amostras de alimentos testadas no país continha pesticidas que podem prejudicar o sistema hormonal e o desenvolvimento neurológico ou até mesmo ser cancerígenos. Apesar disso, os mecanismos governamentais de controle alimentar se concentram principalmente em informações sobre calorias. Como parte de um novo programa de combate à obesidade, o Ministério da Saúde turco anunciou medições de altura, peso e índice de massa corporal da população em centros urbanos movimentados, espaços públicos e locais de eventos. O objetivo é identificar pessoas com sobrepeso e encaminhá-las a centros de saúde ou a clínicos gerais para atendimento com apoio de nutricionistas. Com esse trabalho, o Ministério pretende alcançar dez milhões de cidadãos em dois meses para educá-los sobre os perigos da obesidade e promover um estilo de vida saudável. Deficiências estruturais no sistema alimentar Os especialistas criticam o governo por não fornecer regulamentações legais suficientes para dietas mais saudáveis e não restringir a publicidade de alimentos nocivos. Segundo eles, esse quadro contribui para a vulnerabilização de crianças e das camadas mais pobres da população. "É responsabilidade dos tomadores de decisão encontrar soluções", afirma Şık. Alimentos saudáveis e frescos também costumam ser mais caros e dificilmente acessíveis para as famílias de baixa renda. Isso cria um desequilíbrio social que pode levar à obesidade, ao crescimento atrofiado e à deficiência de ferro em crianças. Por isso, Şık e Foggo defendem a criação de um programa gratuito de alimentação escolar no país. "As atas parlamentares mostram que o Ministério da Saúde reconheceu o problema e vê a merenda escolar como uma solução, mas nenhuma medida foi tomada", critica Foggo. Além disso, há uma escassez de profissionais qualificados nessa área. Sindicalistas apontam que o número de nutricionistas para o aconselhamento da população é insuficiente, tendo encolhido em quase 20% nos hospitais públicos.


Short teaser Especialistas associam quadro a pobreza, agrotóxicos, baixa oferta de alimentos saudáveis e falta de políticas públicas.
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Item 22
Id 72695789
Date 2025-05-28
Title Situação da democracia no Brasil é preocupante
Short title Situação da democracia no Brasil é preocupante
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"Quem saúda as medidas adotada por Alexandre de Moraes deveria tentar imaginar como seria se um ministro radical de direita tivesse o poder e a influência que ele tem hoje"

A degradação da democracia avança na América Latina, e o mais afetado é o Brasil.Primeiro a boa notícia: a América Latina continua sendo, depois da Europa e da América do Norte, a região com o maior número de democracias. O Uruguai está na 15ª posição, ao lado do Canadá e do Japão. A Costa Rica ocupa a 18ª posição, à frente de países como a França e a Itália. E o Chileestá no mesmo nível que a Bélgica. Mas esses já são os poucos destaques num quadro geral bastante sombrio do mais recente Índice de Democracia da Economist Intelligence Unit (EIU), a divisão de pesquisa e análise da revista The Economist: o estado da democracia piorou pela nona vez consecutiva desde 2016. Em apenas cinco dos 24 países avaliados na região da América Latina e do Caribe a situação da democracia melhorou, e nos outros 17 os indicadores democráticos continuaram a piorar. Em todo a América Latina, mais da metade das pessoas vive em democracias imperfeitas ou sob regimes autoritários. Em especial o Brasil apresentou uma evolução decepcionante: a maior democracia da região caiu seis posições no índice mais recente e ocupa a 57ª posição, entre a Namíbia e a Índia. Essa é a queda mais acentuada em toda a região. Por um lado, o Brasil tem uma boa nota no critério processo eleitoral e pluralismo político, com 9,58 de 10. Mas em outros critérios a situação é bem pior. O país tem fraquezas significativas, principalmente em termos de funcionamento do governo, cultura política e equilíbrio institucional. Numa pesquisa de 2024 do Pew Research Centers, 80% dos brasileiros dizem observar uma polarização forte ou muito forte entre apoiadores de diferentes campos políticos. Isso se reflete na crescente politização da mídia, da Justiça e das redes sociais e acelera a degradação da democracia. Crítica à Justiça A EIU critica sobretudo a Justiça brasileira, em especial a briga entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e a rede social X. Em agosto de 2024, a Corte Suprema brasileira ordenou o bloqueio temporário da rede porque ela havia se negado a bloquear contas que supostamente estavam espalhando "conteúdo antidemocrático". Por causa disso, o STF mandou bloquear o X por dois meses – em meio a uma campanha eleitoral. "Algo assim nunca havia acontecido numa democracia desse tamanho", afirma a EIU. Todos aqueles que saúdam as medidas adotada pelo ministro Alexandre de Moraes deveriam tentar imaginar como seria se um ministro radical de direita ou conservador-religioso tivesse o poder e a influência que Moraes tem hoje. Diante dos atuais acontecimentos na região, não se pode esperar nada de bom para o Brasil. Em outros países, como México, Equador e sobretudo El Salvador, o que se vê é que os eleitores estão dispostos a descartar princípios do Estado de Direito em favor de mais segurança pública. A população quer ordem, progresso e sobretudo segurança. Ao mesmo tempo cresce a desconfiança em relação a partido políticos, parlamentos e instituições. Como essas instituições não parecem estar em condições de resolver os problemas mais urgentes da população, medidas autoritárias têm cada vez mais apelo popular. Temo que isso também valha para o Brasil. A segurança pública falha é há décadas a maior preocupação da maioria dos brasileiros. Mas quem conhece as propostas do governo ou da oposição para enfrentar esse problema? O anseio por soluções autoritárias ainda é limitado no Brasil. Mas e se na próxima eleição presidencial aparecerem candidatos propondo medidas de linha dura ao estilo do presidente de El Salvador, Nayib Bukele? Temo que eles teriam boas chances. ==================== Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.


Short teaser A degradação da democracia avança na América Latina, e o mais afetado é o Brasil.
Author Alexander Busch
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Image source Adriano Machado/REUTERS
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Item 23
Id 72687395
Date 2025-05-27
Title Pac-Man completa 45 anos como ícone dos videogames
Short title Pac-Man completa 45 anos como ícone dos videogames
Teaser Do formato inspirado em uma pizza ao apelido carinhoso dado no Brasil, jogo criado no Japão virou símbolo da cultura pop.

Em 22 de maio de 1980, há 45 anos, o lançamento de um jogo no Japão revolucionou o entretenimento a nível mundial: "Pac-Man", criação de Toru Iwatani popularmente conhecida no Brasil como "Come-Come". Sua mecânica simples, com labirintos e fantasmas, conquistou toda uma geração, e seu sucesso perdura até os dias atuais.

A estreia no fliperama foi um sucesso sem precedentes na história da indústria. O estrondo foi tão grande que bateu dois recordes mundiais, mantidos até hoje: o de máquina mais comercializada na história, com cerca de 300 mil vendas apenas em seus primeiros sete anos de mercado, e de maior arrecadação financeira.

"Pac-Man é o ícone mais antigo dos videogames, o mais reconhecido. O personagem que está na história há mais tempo. Todo mundo reconhece seu desenho em suas mais de 200 aparições no universo dos videogames”, destaca José Carlos Tapia, diretor de marketing da Bandai Namco, empresa responsável pelo título do jogo, em entrevista à agência de notícias espanhola EFE.

A mecânica "simples" do videogame é um dos principais atributos que atraiu e ainda atrai uma série de jogadores. "Os jogos da época eram muito simples, mas Pac-Man tem um algoritmo muito peculiar. Cada fantasma tem um comportamento diferente", diz o chefe da empresa japonesa.

Mesmo agora, 45 anos após a estreia, o Pac-Man segue com uma base fiel de fãs e com lançamentos periódicos nos mais tecnológicos videogames, como o PlayStation 5. Ícone cult, estampou e inspirou uma infinidade de produtos. Virou até série.

Come-Come: apelido carinhoso entre brasileiros

Originalmente, o nome do jogo era "Puck-Man" – alusão à onomatopeia japonesa "paku", que representa o som que a boca faz ao se abrir e fechar. Para promovê-lo mais facilmente no exterior e evitar que o nome fosse corrompido no Ocidente – especialmente nos países de língua inglesa, onde uma troca de consoantes poderia transformá-lo em uma obscenidade –, "puck" virou "pac".

No Brasil, o jogo aterrissou em 1983 e se estabeleceu com um apelido um tanto quanto curioso. Segundo o Uol, "Come-Come" apareceu, pela primeira vez, numa reunião interna da Philips. Na época, o jogo foi descrito como "é um bichinho, ele vai num labirinto e come, come, come...". Marcus Garrett também contou essa história em seu livro, 1983 + 1984: quando os videogames chegaram. A adaptação do nome foi essencial para que a população brasileira se identificasse com o arcade.

Tudo começou com uma pizza

O Pac-Man lembra uma pizza com uma fatia faltando. Quando ele se move, essa "fatia" abre e fecha como se fosse uma boca animada, dando a impressão de que ele está mastigando os pontos espalhados no labirinto.

A referência à pizza, neste caso, também tem a ver com a ideia do criador para a criação do personagem. Iwatani já estava desenvolvendo o jogo que envolvia o ato de comer e algumas frutas, mas a ideia visual para desenhar a forma do Pac-Man veio justamente ao olhar para uma pizza e ver um pedaço faltando.

O design do jogo, diferente dos cenários violentos que eram comuns em arcade na época, também foi essencial para atrair um novo perfil de interessados: mulheres. Assim, o carisma do personagem e a interface amigável ajudaram a disseminar e conquistar novos públicos que estavam alheios ao universo dos games.

O legado de Pac-Man será mantido por muitos anos. "Ele é o nosso mascote, teve mais jogos de arcade em termos de mecânica, jogos de plataforma, esteve envolvido em jogos como Mario Kart, como Super Smash Bros... E, claro, ele estará aqui não apenas por esses 45 anos, mas por muitos mais", assegura Tapia.

Short teaser Do formato inspirado em uma pizza ao apelido carinhoso dado no Brasil, Pac-Man virou símbolo da cultura pop.
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Item 24
Id 72688070
Date 2025-05-27
Title Ouro está "vazando" de dentro da Terra, diz pesquisa
Short title Ouro está "vazando" de dentro da Terra, diz pesquisa
Teaser

Segundo estudo, metal precioso está enterrado a quase 3 mil quilômetros de profundidade

Núcleo metálico do planeta abriga mais de 99% do mineral precioso – e, segundo cientistas da Universidade de Göttingen, não é tão isolado como se pensava.Mais de 99% do ouro existente no mundo está enterrado a quase 3 mil quilômetros de profundidade, onde as temperaturas superam os 5.000 °C – é o que revelou um estudo científico realizado por pesquisadores da Universidade de Göttingen, na Alemanha, publicado na semana passada na revista Nature. Se toda essa riqueza estivesse acessível – e não trancafiada no núcleo metálico da Terra –, haveria ouro suficiente para cobrir a superfície do planeta com uma camada de 50 centímetros de espessura. Os pesquisadores, contudo, fizeram outra revelação suspreendente: parte dessa reserva está escapando lentamente e chegando à superfície. "Quando chegamos aos primeiros resultados, percebemos que tínhamos literalmente encontrado ouro", afirmou o geoquímico Nils Messling, que liderou o estudo, em comunicado. Sua equipe descobriu que o material do núcleo da Terra, "incluindo ouro e outros metais preciosos", está se infiltrando no manto da Terra e acaba chegando à superfície por meio do magma vulcânico. Rutênio-100: chave para a descoberta A descoberta foi feita a partir da análise de rochas vulcânicas das ilhas havaianas, onde os pesquisadores detectaram concentrações excepcionalmente altas de rutênio-100, um isótopo raro desse metal precioso que é mais abundante no núcleo da Terra do que no manto rochoso (camada entre o núcleo e a crosta terrestre). Isótopos são versões do mesmo tipo de átomo, com a mesma quantidade de prótons (o que define um elemento químico), mas com uma quantidade diferente de nêutrons. A diferença entre o rutênio situado no núcleo e no manto é tão minúscula que até agora era impossível detectá-la. No entanto, a equipe de Göttingen desenvolveu novas técnicas de análise isotópica altamente precisas que lhes permitiram comparar os dois tipos. Essa diferença sutil no rutênio-100 das lavas havaianas só poderia significar uma coisa, concluíram os pesquisadores: essas rochas se originaram na fronteira entre o núcleo e o manto da Terra, a uma profundidade de mais de 2,9 mil quilômetros. Esse fenômeno tem suas raízes na própria formação do nosso planeta. Há cerca de 4,5 bilhões de anos, durante o que é conhecido como a "catástrofe do ferro", os elementos mais pesados afundaram para o interior derretido da jovem Terra, ficando presos no núcleo já diferenciado, conforme explica a publicação Science Alert. Posteriormente, o bombardeio de meteoritos trouxe mais ouro e metais pesados para a crosta terrestre. Até o momento, pesquisas já haviam confirmado que alguns gases, como o hélio primordial (um dos elementos mais antigos do universo), poderiam vazar do núcleo, mas não havia evidências se o mesmo ocorria com metais pesados. O que esse estudo mostra, de acordo com os autores, é que todos os elementos siderófilos – que migraram para o núcleo quando a Terra era jovem e totalmente fundida – estão vazando. Isso inclui não apenas o rutênio e o ouro, mas também o paládio, o ródio e a platina. "Agora também podemos mostrar que grandes volumes de material superaquecido do manto – várias centenas de quatrilhões de toneladas métricas de rocha – originam-se na fronteira entre o núcleo e o manto e sobem para a superfície da Terra para formar ilhas oceânicas como o Havaí", explicou o professor Matthias Willbold, coautor do estudo, no comunicado da Universidade de Göttingen. É possível extrair ouro do núcleo da Terra? Embora não seja possível escavar os 2,9 mil quilômetros necessários para chegar ao núcleo terrestre, e o processo de vazamento ocorra a uma velocidade que não permite a exploração comercial dessas riquezas minerais, a recente descoberta muda a compreensão dos fundamentos do planeta. "Nossas descobertas não apenas mostram que o núcleo da Terra não é tão isolado como se supunha anteriormente", disse Willbold. Segundo o cientista, o achado científico também sugere que ao menos alguns dos metais preciosos usados em setores como o de energia renovável podem ter vindo originalmente do núcleo da Terra. Com isso, a pesquisa levanta novas questões: será que esses processos também aconteceram no passado? E de que forma eles ajudaram a moldar o funcionamento interno do nosso planeta? "Nossas descobertas abrem uma perspectiva totalmente nova sobre a evolução da dinâmica interna do nosso planeta", concluiu Messling. sf/ra (ots)


Short teaser Núcleo metálico do planeta abriga mais de 99% do mineral – e, segundo cientistas, não é tão isolado como se pensava.
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Image caption Segundo estudo, metal precioso está enterrado a quase 3 mil quilômetros de profundidade
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Item 25
Id 72684831
Date 2025-05-27
Title Mozart: criança prodígio sem amigos?
Short title Mozart: criança prodígio sem amigos?
Teaser Se vivesse hoje, o célebre compositor teria incontáveis curtidas no Instagram. Mas ele tinha amigos de verdade ou será que viveu apenas para a música? Questões como essa serão exploradas no Festival Mozart de Würzburg.

Se o célebre compositor Wolfgang Amadeus Mozart fosse uma criança prodígio nos dias de hoje, ele provavelmente teria milhões de seguidores nas redes sociais. Mas, já no século 18, o pai de Mozart, Leopoldo, alertou o filho contra os falsos amigos – os invejosos, mas também os bajuladores que lhe diriam o que ele queria ouvir.

O Festival Mozart de Würzburg deste ano aborda as amizades e supostos amigos de Mozart em mundos paralelos digitais. Seu lema, "Aber durch Töne: Freund Mozart" ("Através dos sons – o amigo Mozart"), sugere que ele preferia se comunicar pela música.

"Uma amizade verdadeira requer confiança e compreensão mútua", diz a diretora artística do festival, Evelyn Meining, acrescentando que nada pode substituir uma amizade verdadeira, não importa o número de seguidores virtuais.

Maior e mais antigo evento musical na Alemanha em torno da obra do compositor, o Festival Mozart de Würzburg é aberto todos os anos na Residência de Würzburg, palácio reconhecido como patrimônio cultural da humanidade pela Organização das Nações Unidas Para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Uma vida inteira cercado por músicos

Mozart causou sensação em meados do século 18 como uma criança prodígio. Ele viajou durante anos com o pai pela Europa e impressionou as nobrezas das cortes com seu talento no violino e no piano. Não havia tempo para amizades intensas com outras crianças. "É claro que a família era muito focada em si mesma; esse vínculo era particularmente forte no início da década de 1760", explica Meining à DW.

Mesmo em outras épocas, não seria possível imaginar Mozart em aconchegantes festas regadas a vinho ou em churrascos com amigos. "Eram relacionamentos mais do contexto musical; colegas, amigos músicos, professores, patronos ou músicos de orquestra." No caso de Mozart, amizades e música não podem ser separadas.

Joseph Haydn, o amigo paternal

Mozart ainda é considerado um modelo para muitos músicos nos dias de hoje. Ele próprio também teve modelos, como o compositor Joseph Haydn e o filho de Bach, Johann Christian Bach, a quem admirava por sua música elegante e leve. Apesar de Haydn ser 24 anos mais velho do que ele, Mozart escreveu em cartas que ele era seu "amigo mais querido". Em 1785, ele dedicou seis composições para quartetos de cordas a Haydn e lhes entregou as partituras com uma nota que dizia que elas eram seus "filhos" – uma alusão à amigável relação paternal entre ambos.

Entre os intérpretes, o trompista Joseph Leutgeb era um dos amigos mais próximos de Mozart, a quem ele escrevia provocações engraçadas na partitura, como "Para você, Sr. Burro". Mozart também era amigo de Anton Stadler, um dos melhores clarinetistas de sua época, para quem ele compôs um quinteto e um concerto para clarinete. Mais tarde, à medida que Mozart ficava cada vez mais doente e solitário, ele escreveu que a música era essencialmente sua única amiga.

Os supostos falsos amigos

O pai de Mozart o alertou sobre falsos amigos. O filme Amadeus, de Milos Forman, de 1984, mostra Antonio Salieri, retratado como um compositor medíocre, como adversário de Mozart. O filme conta que ele era um falso amigo que conspirou contra Mozart pelas costas e até o envenenou. Embora refutada há muito tempo, essa história permaneceu na memória coletiva.

No Festival de Mozart, Evelyn Meining quer acabar com esses clichês. "Salieri não era um competidor malvado. Isso está completamente errado", diz a diretora artística. Ele não foi um fracasso à sombra de Mozart, mas um compositor respeitado na corte. "Mozart e Salieri tinham um ao outro em alta estima."

O "Mozart Negro"

Joseph Bologne, ou Chevalier de Saint-Georges, também foi retratado como um rival de Mozart na literatura e no filme Chevalier (2022), do diretor Stephen Williams.

Nascido em Guadalupe em 1745, filho de um nobre francês branco e uma escrava negra, ele foi para a França quando criança e, ainda jovem, fez seu nome como violinista e compositor. Mais tarde, Haydn compôs para a orquestra de Bologne. Ele chegou a ser cogitado para o cargo de diretor da Academia Real de Música, mas a discriminação racial impediu sua nomeação.

O duelo de violinos entre Mozart e Bologne, com o qual o filme começa, nunca aconteceu de fato. É questionável se Bologne, que era nove anos mais velho, sequer teria tido contato direto com Mozart. "Essa é mais uma perspectiva histórica" que apenas "reúne compositores que compuseram na mesma época e que eram artistas celebrados em seus círculos", afirma Meining. O termo "Mozart negro" utilizado para descrever Joseph Bologne foi cunhado postumamente.

Amizades entre artistas no Festival de Mozart

As amizades também desempenham um papel especial entre os artistas do Festival Mozart deste ano. Na abertura, os amigos Nils Mönkemeyer (viola) e William Youn (piano) subiram ao palco, acompanhados pela Ensemble Resonanz sob a regência de Riccardo Minasi. Mönkemeyer e Youn se conheceram através da música. Eles amam Mozart, mas queriam algo moderno para sua apresentação.

Assim sendo, a composição foi comissionada a Manfred Trojahn, conhecido por produzir óperas modernas. Ele escreveu o concerto duplo Trame lunari – uma composição elaborada para dois solistas – para viola, piano e orquestra de câmara especialmente para essa combinação incomum de instrumentos.

Trame lunari significa algo como teias lunares. "Há muitas mudanças de cor na peça, muitas nuances de iluminação; é a isso que o título se refere", explicou Trojahn à DW. Ele diz apreciar a transparência e leveza da música de Mozart, características que incorporou à composição preparada para o festival.

Mönkemeyer e Youn formam uma dupla bem ensaiada. Eles saboreavam os sons, às vezes extremamente delicados, de uma forma diferenciada e sensível. O público ficou entusiasmado, não apenas com os solistas, mas também com a orquestra, que fez ainda uma apresentação animada da Sinfonia Haffner de Mozart.

Amizade ontem e hoje

Sejam bons ou falsos amigos, profissionais da cultura poderão trocar ideias sobre o tema da amizade no "Laboratório Mozart" do festival em Würzburg, onde o foco está nas associações de artistas e redes sociais, "porque, é claro, estamos no meio de uma transformação social revolucionária, fortemente impulsionada por novos desenvolvimentos digitais, como a internet, as mídias sociais e a inteligência artificial", diz Meining.

Ciente disso, o festival, que segue até 22 de junho, promoverá concertos em casas particulares, onde pessoas com ideias semelhantes se reunirão e talvez possam redescobrir a música como um "meio de amizade". Desta forma, novas relações pessoais podem surgir de encontros casuais.

Short teaser Nos dias de hoje, compositor seria um hit nas redes sociais. Mas ele tinha amigos de verdade ou vivia só para a música?
Author Gaby Reucher
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Item 26
Id 72678462
Date 2025-05-26
Title Morre o documentarista franco-alemão Marcel Ophüls
Short title Morre o documentarista franco-alemão Marcel Ophüls
Teaser Com o documentário "A Tristeza e a Piedade" (1969), diretor estilhaçou mito da resistência francesa ao expor escala do colaboracionismo com os nazistas na Segunda Guerra. Ele tinha 97 anos.

O documentarista franco-alemão Marcel Ophüls, célebre por suas obras que expuseram momentos dolorosos da história da França, morreu no último sábado (24/05) aos 97 anos, anunciou nesta segunda-feira a família do cineasta em comunicado.

"Através de um olhar pessoal, alimentado por uma rigorosa exigência documental, Marcel Ophüls captou momentos duradouros que a história e a política deixam na vida das pessoas. Exortou-nos a permanecer lúcidos, empenhados e profundamente ligados à democracia", escreveu o neto Andreas-Benjamin Seyfert, na nota distribuída à imprensa.

Em 1969, Ophüls provocou grande comoção na França com o documentário A Tristeza e a Piedade, que ajudou a destruir o mito fundador do pós-Guerra de que a França e os franceses haviam resistido em massa à ocupação nazista entre 1940 e 1944.

Com o documentário, Ophuls expôs como a colaboração com os nazistas era generalizada, da elite até as pessoas mais humildes. Com mais de quatro horas de duração, o filme inclui entrevistas de oficiais alemães, colaboradores e combatentes da resistência. Para as câmeras, vários deles falaram francamente sobre a natureza e os motivos da sua colaboração com os nazistas, incluindo antissemitismo, anglofobia e desejo de poder.

Ophüls disse à época do lançamento do filme que não pretendia julgar a França. "Durante 40 anos, tive que suportar todas as tolices de que era um filme de acusação. Quem pode dizer que sua nação teria se comportado melhor nas mesmas circunstâncias?", questionou.

Marcel Ophüls nasceu em Frankfurt, na Alemanha, em 1927. Mas logo a sua família exilou-se na França e depois nos Estados Unidos para escapar dos nazistas.

Já depois da Segunda Guerra Mundial, Ophüls regressaria à França, tendo começado a trabalhar como assistente de direção de outros cineastas, incluindo seu pai, o conhecido diretor alemão Max Ophüls (1902-1957), que teve uma carreira prolifica tanto na Alemanha quanto nos Estados Unidos.

Após A Tristeza e a Piedade, Marcel Ophuls também dirigiu L'Empreinte de la Justice (A Marca da Justiça, 1976), que aborda diferentes crimes de guerra e contra a Humanidade, usando como pano de fundo os julgamentos de Nurembergue (1946) e a Guerra do Vietnã. Na sequência, lançou Hotel Terminus (1988), sobre o criminoso de guerra nazista Klaus Barbie. Com este filme, venceu o Oscar de Melhor Documentário em 1989.

Segundo a família, Ophüls vinha trabalhando num filme "sobre a ascensão da extrema direita na Europa e nos Estados Unidos e o conflito israelo-palestino". "Nele, analisava a ocupação dos territórios palestinos e a possível relação entre esta situação e o ressurgimento do antissemitismo na Europa", diz o comunicado.

jps/as (AFP, Lusa)

Short teaser Com "A Tristeza e a Piedade" (1969), diretor estilhaçou mito da resistência francesa aos nazistas durante a 2° Guerra.
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Item 27
Id 72678426
Date 2025-05-26
Title Merz diz que Kiev poderá usar armas alemãs contra alvos na Rússia
Short title Ucrânia poderá usar armas alemãs contra alvos na Rússia
Teaser Chanceler federal Friedrich Merz afirma que Berlim não vai mais impor aos ucranianos limites no emprego de armas alemãs de longo alcance contra o território russo. Moscou crítica medida.

O chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, disse nesta segunda-feira (26/05) que seu governo não vai mais impedir a Ucrânia utilize armas alemãs de longo alcance, como mísseis, contra alvo militares em território russo.

"Já não há limitações de alcance para as armas fornecidas à Ucrânia, nem pelos britânicos, nem pelos franceses, nem por nós, nem pelos americanos", disse Merz, referindo-se a medidas que tinham sido tomadas por outros países em 2024, como os EUA, que autorizaram em novembro os ucranianos a utilizarem o Sistema de Mísseis Táticos do Exército, ou ATACMS, que têm um alcance de até 306 quilômetros, para ataques na Rússia.

"A Ucrânia pode agora defender-se, por exemplo, atacando posições militares na Rússia", completou o conservador Merz.

No entanto, o chefe do governo alemão evitou apontar especificamente quais armas alemãs os ucranianos poderão utilizar contra alvos na Rússia. Merz também evitou responder se os alemães pretendem entregar mísseis de longo alcance Taurus à Ucrânia, uma demanda antiga de Kiev. O Taurus alemão, com um alcance de mais de 500 quilômetros, poderia permitir que Kiev atingisse centros logísticos russos bem atrás das linhas inimigas com alta precisão.

O antecessor de Merz na chancelaria federal, o social-democrata Olaf Scholz, recusou terminantemente em fornecer estes mísseis à Ucrânia, argumentando que a Rússia poderia interpretar isto como o envolvimento direto da Alemanha na guerra. Enquanto ainda estava na oposição, Merz chegou a afirmar que era favorável a fornecer os Taurus para os ucranianos.

Mas, depois da sua posse, o governo alemão passou a enfatizar que não daria mais detalhes sobre quais armas estavam sendo enviadas à Ucrânia, preferindo adotar uma postura de ambiguidade estratégica. Em uma entrevista à emissora pública WDR, Merz evitou falar se a Alemanha pretende agora enviar mísseis Taurus para Kiev.

De acordo com a imprensa alemã. nenhum míssil de cruzeiro Taurus foi efetivamente entregue. A arma de maior alcance entregue pela Alemanha até o momento é o lançador de mísseis Mars II, que tem um alcance de 84 quilômetros. Já o sistema Panzerhaubitze 2000 pode atingir alvos a uma distância de 56 quilômetros.

Nas mesmas falas, o chefe do governo alemão ainda denunciou o que chamou de ataque "sem escrúpulos" da Rússia a alvos civis, como cidades, jardins de infância, hospitais e lares de idosos.

"Um país que só consegue defender-se de um agressor no seu próprio território não se está se defendendo suficientemente", comentou o chanceler federal.

O anúncio de Merz foi feito horas depois de a Rússia ter atacado o território ucraniano com 355 drones e nove mísseis de cruzeiro, que atingiram várias regiões, entre as quais Kiev, Kharkiv e Odessa.

Moscou fala em "decisão perigosa"

Após a divulgação das falas de Merz, a Rússia qualificou o anúncio como uma "decisão bastante perigosa". "Se estas decisões foram efetivamente tomadas, são absolutamente contrárias às nossas aspirações de chegar a um acordo político (...). Trata-se, portanto, de uma decisão bastante perigosa", afirmou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

Horas após a divulgação da reação russa, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, minimizou as críticas feitas pelo Kremlin.

"O governo federal alemão sempre disse que ia apoiar a Ucrânia na área da defesa, na sua defesa contra o agressor que é a Rússia. Houve muitas possibilidades para fazer [o presidente russo, Vladimir] Putin regressar à mesa das negociações. Essas oportunidades foram sempre rejeitadas e o que dissemos também sempre é que isto não pode ficar sem consequências", disse Waddephul.

Wadephul, assim como Merz, também evitou falar sobre os mísseis de longo alcance Taurus.

"Tal como o chanceler federal [Friederich Merz] já disse por diversas vezes, não vamos agora falar sobre sistemas de armas concretos para também manter uma certa ambiguidade, mas, portanto, vamos continuar a agir de forma responsável, mas também de forma eficaz. Isso foi assim no passado e será assim também no futuro", frisou.

"Mas o certo é que continuaremos a apoiar a Ucrânia na sua defesa contra o agressor Putin e evitar que, de fato, Putin consiga continuar a sua guerra".

jps (dpa, Lusa, ots)

Short teaser Chanceler afirma que Alemanha agora está entre aliados que não impõem limites ao emprego de armas de longo alcance.
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Item 28
Id 72675747
Date 2025-05-26
Title Alunos propõem slogans nazistas para formatura na Alemanha
Short title Alunos propõem slogans nazistas para formatura na Alemanha
Teaser

Um dos slogans propostos pelos estudantes aludia à frase "o trabalho liberta", inscrição colocada na entrada de campos de concentração nazistas

Estudantes do ensino médio chocam ao sugerir trocadilhos de teor nazista como lema de formatura. Episódio reacende debate sobre a normalização do discurso de extrema direita na sociedade alemã.A formatura do ensino médio, conhecida como Abitur, ou mais carinhosamente Abi, é um dos principais momentos na vida de um estudante na Alemanha, com direito a um lema ou ditado que acompanhará o grupo de formandos pelo resto de suas vidas. Esse lema estará impresso nas camisetas e adesivos feitos especialmente para o momento, será a inspiração das festas de formatura e costuma ser o título do jornal escolar com o qual os jovens de 18 e 19 anos encerram formalmente seus anos escolares. Para alguns estudantes da Escola Liebig de Giessen, no estado de Hessen, porém, o lema do Abitur é algo que já agora eles preferem esquecer. Ou, como disse a representante estudantil Nicole Kracke à revista Der Spiegel: "Agora nós somos aqueles com o selo de nazistas. Isso dói." Isso porque "Abi macht frei" (em referência à inscrição "Arbeit macht frei", ou "O trabalho liberta", que ficava nos portões de entrada de campos de concentração nazistas), "Abi-Akbar – De forma explosiva pelo Abitur" (em referência a ataques terroristas islamistas) e "NSDABI – Queimem o Duden" (em referência ao partido nazista NSDAP e à queima de livros e ao assassinato de judeus pelos nazistas – Duden é um dicionário muito popular na Alemanha, e Juden significa judeus em alemão) foram algumas das sugestões numa votação anônima num fórum online para o lema de 2026 dos concluintes do ensino médio na escola. Alguns alunos que participavam do fórum reagiram rapidamente e relataram o ocorrido à administração da escola. O acesso ao portal foi bloqueado, toda a turma foi convocada pela escola e a direção divulgou um comunicado, no qual afirma que "racismo, antissemitismo e discriminação não têm lugar em nossa comunidade escolar". A polícia está investigando o caso por suspeita de incitação ao ódio. Aceitação cada vez maior de ideias extremistas Seria o episódio uma provocação estúpida de alguns alunos imaturos do ensino médio ou a prova de como atitudes e ideias de extrema direitaestão cada vez mais fortes entre os jovens na Alemanha? Seja como for, a sugestão de uso de slogans nazistas como lema de uma turma de ensino médio que está de saída da escola causou escândalo e preocupação na Alemanha, e até a ministra da Educação, Karin Prien, se manifestou. Ela defendeu que as visitas aos memoriais dos campos de concentração nazistas se tornem obrigatórias para todas as escolas da Alemanha. Mas seria o incidente em Giessen apenas a ponta do iceberg? Diante do campo de extermínio de Auschwitz, onde os nazistas assassinaram mais de 1 milhão de pessoas, alunos do nono ano de Görlitz, na Saxônia, fizeram uma saudação neonazista. Em Oelsnitz, também na Saxônia, uma professora do ensino médio foi transferida porque foi ameaçada por extremistas de direita. E em Wiesbaden, em Hesse, estudantes aplaudiram um filme educativo sobre o assassinato de milhões de judeus. Os três episódios ocorreram neste ano. Por tudo isso, a especialista Tina Dürr não se mostra especialmente surpresa sobre o caso de Giessen. Ela é vice-diretora do Centro de Democracia de Hessen, que apoia e aconselha escolas, municípios e associações na luta contra o extremismo de direita. "Provocações e declarações extremistas de direita, como esse lema escolar, têm sido mais frequentes em escolas, e estamos ouvindo cada vez mais relatos sobre isso", disse ela. "Há suásticas e grafites de extremistas de direita, saudações a Hitler, músicas racistas ou extremistas cantadas em excursões escolares", diz. Espelho da sociedade Os estados alemães não registram os crimes de extrema direita nas escolas de forma uniforme. Porém, uma pesquisa conduzida pelo jornal Die Zeit entre as secretarias estaduais do Interior revelou um quadro preocupante: em 2024, os incidentes de extrema direita aumentaram em pelo menos 30% na comparação com o ano anterior. Muitos dizem que as escolas são um reflexo da sociedade alemã, na qual posicionamentos e provocações de extrema direita são cada vez mais aceitáveis, o que se reflete na popularidade do partido político Alternativa para a Alemanha (AfD), que as autoridades de vigilância alemãs consideram ter setores de extrema direita. Nas suas redes sociais, a AfD divulga conteúdo de masculinidade tóxica ou misógino. "A desvalorização das mulheres e o retorno aos papéis familiares tradicionais, ambos elementos do extremismo de direita, estão de novo em alta. Mulheres autoconfiantes estão sendo desacreditadas, pessoas queer estão sendo desacreditadas, chegando até mesmo à violência e ao feminicídio", diz Dürr. Isso representa um enorme desafio, especialmente para os educadores. Dois anos atrás, o caso de dois professores em Brandemburgo causou furor na Alemanha. Eles denunciaram incidentes extremistas de direita na sua escola, sofreram amplas hostilidades e acabaram deixando a escola. Porém, mais do que nunca é necessário que os professores reajam porque, do contrário, provocações racistas e de teor extremista de direita vão se tornar cada vez mais comuns, diz Dürr, do Centro de Democracia de Hessen. "Se o professor não intervém e deixa os perpetradores impunes, você sugere aos alunos, até certo ponto, que isso é normal. Precisamos apoiar aqueles que ousam defender os valores democráticos e identificam o extremismo como um problema." Memória da era nazista se apaga Quem conhece isso muito bem é o presidente da Associação de Professores Alemães, Stefan Düll, que também é diretor de uma escola secundária em Neusäss, na Baviera. Ele defende tratar casos de comportamento extremista de direita por parte de estudantes com a máxima severidade: chamar a polícia e registrar queixa, o que obriga os investigadores a agirem. "Não podemos varrer esses crimes para debaixo do tapete dizendo que vamos resolver o problema com uma pequena abordagem pessoal e pronto. Mesmo que o infrator tenha apenas 13 anos, temos que denunciar à polícia. E se a polícia for até o infrator e o abordar, isso tem um impacto diferente de meras medidas disciplinares escolares, que devem ser adicionalmente impostas", afirma. Düll apoia a ideia da ministra da Educação de tornar obrigatórias as visitas aos memoriais dos campos de concentração. Ele lembra que 90% das escolas alemãs já fazem isso, mas diz que, mesmo assim, manter viva a memória do Holocausto está se tornando cada vez mais difícil para as instituições educacionais. Num levantamento feito pela organização Jewish Claims Conference, cerca de 40% dos alemães de 18 a 29 anos entrevistados não sabiam que cerca de 6 milhões de judeus foram assassinados durante a era nazista. Testemunhas contemporâneas que visitam as escolas, como a recentemente falecida Margot Friedländer, em breve não estarão mais lá. E o Holocausto se torna um evento cada vez mais distante no tempo, com os estudantes vivendo o aqui e agora, diz Düll. "Os incidentes de teor extremista de direita nas escolas estão aumentando porque a conexão direta dentro da própria família não existe mais. De um lado, temos alunos cujos pais e avós não tiveram nada a ver com a era nazista porque não viviam na Alemanha. E temos aqueles cujos pais e avós nasceram após o fim da Segunda Guerra Mundial", comenta Düll.


Short teaser Episódio envolvendo estudantes secundaristas reacende debate sobre normalização do discurso de extrema direita no país.
Author Oliver Pieper
Item URL https://www.dw.com/pt-br/alunos-propõem-slogans-nazistas-para-formatura-na-alemanha/a-72675747?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/71466454_354.jpg
Image caption Um dos slogans propostos pelos estudantes aludia à frase "o trabalho liberta", inscrição colocada na entrada de campos de concentração nazistas
Image source Adrien Sarlat/DW
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Item 29
Id 72676619
Date 2025-05-26
Title Novo líder alemão diz que ações de Israel em Gaza "não têm mais justificativa"
Short title Novo líder alemão critica ações militares de Israel em Gaza
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Após atritos de vários países europeus com Israel, o líder da Alemanha, chanceler federal Friedrich Merz, também resolveu direcionar críticas

Chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz diz "não compreender mais que objetivo Israel espera alcançar" em Gaza. Mas seu governo, apesar de apelos, descarta deixar de fornecer armas a Israel.Em mais um sinal da insatisfação crescente de vários países europeus com o governo israelense, o chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou nesta segunda-feira (26/05) não enxergar justificativa para a escala atual dos ataques executados por Israel na Faixa de Gaza. Por outro lado, o governo alemão evitou traduzir as críticas em ações, apontando que não pretende parar de vender armas para os israelenses. "Prejudicar a população civil a tal ponto, como tem sido cada vez mais o caso nos últimos dias, não pode mais ser justificado como uma luta contra o terrorismo do Hamas", disse Merz à emissora pública alemã WDR. Merz acrescentou ainda que não "compreende mais" o que Israel espera alcançar em Gaza após um ano e meio de operações militares no enclave palestino. "Não compreendo mais o que o exército israelense está fazendo na Faixa de Gaza, com que objetivo a população civil está sendo afetada a tal ponto", disse Merz. As falas de Merz ocorrem em meio à insistência dos israelenses em manter um bloqueio quase total à entrada de ajuda humanitária à Faixa de Gaza e à continuidade de pesadas operações militares que envolvemevacuações em larga escala de civis palestinos e bombardeios. Nos últimos dias, o noticiário sobre a guerra foi dominado por relatos de mortes de civis e de como as cargas de alimentos que receberam permissão dos israelenses para entrar no enclave têm sido insuficientes. Todos esses episódios já levaram os governos de países como Espanha, França e Reino Unido a criticar Israel e até mesmo a afirmar que a Europa tem que repensar suas parcerias com o país do Oriente Médio. A Espanha, por exemplo, foi ainda mais longe, defendendo publicamente um embargo à venda de armas para Israel e acusando o país de estar executando um "genocídio" contra os palestinos. Já a Alemanha, país que mantém uma aliança estreita com Israel, tem sido mais comedida nas críticas. Na sua entrevista à WDR, o próprio Merz reconheceu isso, admitindo que, por "razões históricas", a Alemanha sempre é mais cautelosa em suas críticas. "Mas se as linhas forem ultrapassadas, quando o direito humanitário internacional estiver realmente sendo violado, então a Alemanha, o chanceler alemão, também deve dizer algo sobre isso", disse Merz. O chanceler federal acrescentou que pretende conversar nesta semana com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para dizer-lhe que "não exagere". O conflito entre palestinos e israelenses voltou a se intensificar após Israel romper em março um cessar-fogo e lançar novas operações militares na Faixa de Gaza. A guerra atual no enclave eclodiu em 7 de outubro de 2023, quando o grupo Hamas, que controlava Gaza, lançou uma ofensiva terrorista contra Israel, matando 1.200 pessoas e sequestrando mais de 200. Em mais de um ano e meio de conflito, o número total de mortos na Faixa de Gaza desde o início da contraofensiva israelense em outubro de 2023 já passa de 54 mil, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista Hamas. Apesar das críticas, Alemanha descarta parar de fornecer armas Apesar das críticas públicas de Merz, membros do governo alemão descartaram propostas como a da Espanha para barrar a venda de armas para Israel. Pelo contrário, o governo alemão se opõe abertamente a qualquer boicote desse tipo. Em 2023, as entregas de armas para Israel aumentaram acentuadamente, atingindo 326,5 milhões de euros, ou seja, dez vezes mais do que em 2022. Isso incluiu 3 mil armamentos antitanque portáteis e 500 mil cartuchos de munição para armas pequenas. Nesta segunda-feira, paralelamente ao comentário de Merz, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, disse que a Alemanha tem "a obrigação de ajudar Israel" a garantir a sua segurança e o direito à sua existência como Estado, "o que implica fornecer armas". "Ninguém está dizendo que a situação atual é aceitável e que pode ser tolerada por mais tempo. Nem mesmo a Alemanha", disse Wadephul após uma reunião em Madri com seu homologo espanhol, José Manuel Albares. No entanto, Wadephul enfatizou que a segurança de Israel é uma "razão de estado" para a Alemanha, citando um princípio que, embora não exista oficialmente na Constituição alemã, é regularmente invocado por grande parte da classe política do país europeu para justificar o apoio aos israelenses e as relações estreitas com Israel, que recentemente completaram 60 anos. Essa política está ligada à responsabilidade histórica da Alemanha com Israel após o Holocausto na Segunda Guerra Mundial, na qual 6 milhões de judeus foram mortos. Mas há também sinais de insatisfação com a continuidade nesse fornecimento de armas. Nesta segunda-feira, um grupo de deputados do Partido Social-Democrata (SPD) da Alemanha, legenda que é parceira de coalizão do governo do conservador Merz, pediu publicamente que as vendas sejam interrompidas, citando preocupações com o direito humanitário e o crescente sofrimento dos civis em Gaza. "As armas alemãs não devem ser usadas para espalhar catástrofes humanitárias e violar o direito internacional", disse Adis Ahmetovic, porta-voz de política externa da bancada parlamentar do SPD, em uma entrevista à revista alemã Stern. "É por isso que estamos pedindo ao governo do [primeiro-ministro Benjamin] Netanyahu que concorde com um cessar-fogo e retorne à mesa de negociações." jps/ra (dpa, AFP, ots)


Short teaser Chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz diz "não compreender mais que objetivo Israel espera alcançar".
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Image caption Após atritos de vários países europeus com Israel, o líder da Alemanha, chanceler federal Friedrich Merz, também resolveu direcionar críticas
Image source Michael Kappeler/dpa/picture alliance
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Item 30
Id 72675737
Date 2025-05-26
Title Estudo de DNA acha seis descendentes vivos de Leonardo da Vinci
Short title Estudo de DNA acha seis parentes vivos de Leonardo da Vinci
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Após 30 anos de pesquisa, os cientistas rastrearam o DNA de Leonardo da Vinci por 21 gerações e 400 indivíduos

Equipe internacional afirma ter conseguido seguir a trilha genética do gênio renascentista até os dias atuais.Leonardo da Vinci (1452-1519), o extraordinário gênio do Renascimento que há mais de 500 anos revolucionou a arte e a ciência, continua a surpreender o mundo desde sua sepultura, agora graças à genética. Após 30 anos de intensa pesquisa genealógica, uma equipe internacional conhecida como Leonardo DNA Project acaba de lançar um livro intitulado Genìa Da Vinci. Genealogy and Genetics for Leonardo's DNA ("Genìa Da Vinci. Genealogia e genética do DNA de Leonardo", em tradução livre). A publicação traz revelações fascinantes sobre a árvore genealógica do gênio renascentista, que remonta a 1331, abrangendo 21 gerações e mais de 400 indivíduos, de acordo com um comunicado do projeto. Embora Leonardo nunca tenha tido filhos, seus inúmeros meios-irmãos – até 22, de acordo com alguns relatos na imprensa – tornaram possível rastrear sua linhagem até os dias atuais. Cromossomo Y intacto A descoberta mais surpreendente é a identificação de 15 descendentes da linha masculina da família da Vinci, relacionados ao seu pai e ao seu meio-irmão Domenico Benedetto. Embora o comunicado do projeto não especifique se todos esses descendentes ainda estão vivos, ela esclarece que seis deles, ainda vivos, foram submetidos à análise genética. O que é realmente revolucionário é que esses seis compartilham segmentos idênticos do cromossomo Y, aquele que é passado de pai para filho. De acordo com o diretor do projeto David Caramelli, da Universidade de Florença, isso sugere que a linha masculina da família da Vinci permaneceu geneticamente intacta por pelo menos 15 gerações. Os pesquisadores também confirmaram a existência de uma tumba familiar na igreja de Santa Croce, em Vinci, povoado italiano onde o avô de Leonardo, Antonio, seu tio Francesco e vários meios-irmãos podem estar enterrados. Antropólogos da Universidade de Florença recuperaram fragmentos de ossos que estão sendo analisados. De acordo com Caramelli, um dos espécimes corresponde a um homem cuja idade coincide com a dos supostos parentes do artista. "Nosso objetivo ao reconstruir a linhagem da família da Vinci até os dias de hoje é possibilitar a pesquisa científica de seu DNA", explica Alessandro Vezzosi, coautor do livro, no comunicado. "Esperamos entender as raízes biológicas de sua extraordinária acuidade visual, criatividade e, possivelmente, até mesmo aspectos de sua saúde e causas de morte", acrescenta. O livro vai muito além da genética, revelando aspectos desconhecidos da vida do gênio florentino. Por exemplo, ao analisar registros cadastrais antigos, os autores identificaram sete casas da família da Vinci no povoado e no castelo de Vinci, bem como duas propriedades do próprio Leonardo, herdadas de seu tio Francesco. Entre as descobertas mais intrigantes está um misterioso desenho a carvão descoberto na lareira de um prédio antigo em Vinci. A obra, batizada de Dragão Unicórnio, retrata uma criatura fantástica com um chifre em espiral, focinho alongado, dentes em forma de gancho, língua flamejante, escamas pronunciadas e uma grande asa membranosa. Os especialistas sugerem que a obra, de "rara intensidade expressiva", pode ser do próprio Leonardo. Pioneiro da epigenética? Talvez um dos aspectos mais fascinantes do livro seja a sugestão de que Leonardo possa ter sido um pioneiros do que hoje se chama de epigenética. Segundo o texto explica, seus escritos sobre hereditariedade apontam para a possível influência da dieta, do sangue e do comportamento dos pais sobre seus descendentes, antecipando séculos de descobertas modernas sobre como fatores externos podem modificar a expressão dos genes. "Em seus estudos sobre geração, a concepção se torna um ato complexo no qual a natureza, a emoção e o destino se cruzam", diz Agnese Sabato, coautora do trabalho. O diretor do projeto, Jesse H. Ausubel, da Universidade Rockefeller, está otimista quanto às possibilidades. "Até mesmo uma pequena impressão digital em uma página pode conter células para sequenciamento. A biologia do século 21 está mudando a fronteira entre o incognoscível e o desconhecido." Limitações e futuro da pesquisa genética de Leonardo Entretanto, os pesquisadores continuam cautelosos. Caramelli lembra que análises mais detalhadas ainda precisam ser feitas para verificar se o DNA recuperado dos restos ósseos da família está suficientemente bem preservado para confirmar plenamente essas descobertas. Também é importante assinalar que o trabalho não é uma pesquisa revisada por pares, conforme lembra o site britânico especializado em ciência IFL Science. Além disso, de acordo com a mesma fonte, nunca foi identificado nenhum DNA confirmado do próprio Leonardo da Vinci. No caso do projeto, além da pesquisa genealógica, foram analisados fragmentos de ossos recuperados da tumba na igreja de Santa Croce em Vinci, onde se acredita que estejam enterrados alguns parentes de Leonardo. O projeto, lançado em 2016 e coordenado pela Universidade Rockefeller com a participação do J. Craig Venter Institute e da Universidade de Florença, representa um marco na interseção entre ciência, história e cultura. Se os pesquisadores conseguirem sequenciar fragmentos de DNA suficientes, poderemos estar diante de uma nova era em nossa compreensão do homem que pintou a Mona Lisa e projetou máquinas voadoras séculos antes de seu tempo.


Short teaser Equipe internacional afirma ter conseguido seguir a trilha genética do gênio renascentista até os dias atuais.
Author Felipe Espinosa Wang
Item URL https://www.dw.com/pt-br/estudo-de-dna-acha-seis-descendentes-vivos-de-leonardo-da-vinci/a-72675737?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Após 30 anos de pesquisa, os cientistas rastrearam o DNA de Leonardo da Vinci por 21 gerações e 400 indivíduos
Image source Costa/Leemage/picture alliance
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Item 31
Id 72671474
Date 2025-05-26
Title Geração online: muitos jovens querem viver sem redes sociais
Short title Geração online: muitos jovens querem viver sem redes sociais
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Uso excessivo de smartphones está associado a vários problemas de saúde mental

Quase metade dos jovens prefere um mundo sem internet, segundo uma pesquisa britânica. Isso também se reflete em uma nova tendência: a promoção de encontros em que os participantes deixam o smartphone em casa.O Offline Club tem quase 530 mil seguidores no Instagram. Parece uma ironia, já que o objetivo da entidade é justamente promover uma pausa consciente das redes sociais, incluindo o Instagram. Na apresentação dos três fundadores do clube, os jovens holandeses Jordy, Ilya e Valentijn dizem ser "estranho" que eles tenham uma conta na plataforma. Segundo o trio, o propósito do Offline Club é "trazer de volta humanidade à sociedade, atualmente isolada e fixada na tela". Há cerca de um ano, eles vêm organizando encontros com pessoas que pensam da mesma forma, nos quais smartphones e laptops devem ser deixados de lado. "Você está pronto para abandonar seu telefone?", diz uma postagem. E parece que cada vez mais pessoas estão dispostas a desligar seus celulares – pelo menos como parte do Offline Club. Normalmente, apenas por algumas horas, às vezes até por vários dias. Nos encontros, em vez de ficarem olhando para seus smartphones o tempo todo, eles leem, jogam, fazem trabalhos manuais ou simplesmente relaxam. Quase como naquela época em que não havia smartphones, diz o Offline Club. A ideia vinda da Holanda se espalhou pelo mundo. Amsterdã foi um dos primeiros locais. Mais tarde vieram Londres, Paris, Milão e Copenhague. Também a Alemanha já teve os primeiros encontros do tipo. Iniciativas semelhantes em restaurantes e clubes, onde os convidados são solicitados a deixar seus celulares em casa, estão aumentando. Sempre online, quer se goste ou não Os Offline Clubs estão tendo alta receptividade. Afinal de contas, os jovens, em especial, costumam ter dificuldade para se desligar, apesar de todas as configurações em seus celulares que poderiam limitar o tempo que passam na internet. Mesmo o retorno do bom telefone sem aplicativos não foi capaz de substituir seriamente os smartphones – mesmo que tenha sido comemorado nas redes sociais. De acordo com dados do final de 2024 da associação alemã do setor, Bitkom, jovens entre 16 e 29 anos passam mais de três horas por dia em seus smartphones. Com isso, eles têm o maior tempo de uso de todas as faixas etárias. E a duração declarada por eles provavelmente foi menor do que o tempo real que passaram online. Jovens querem menos internet E na verdade, muitos jovens gostariam de passar muito menos tempo em seus smartphones. De acordo com uma pesquisa recente da organização britânica British Standards Institution (BSI), quase 70% dos jovens entre 16 e 21 anos se sentem pior quando passam tempo na internet. A metade deles seria, por isso, a favor de um "toque de recolher digital" que restringiria o acesso a determinados aplicativos e sites após as 22h. E 46% deles até afirmaram que prefeririam ser jovens em um mundo sem internet. Para a sondagem, foram entrevistados 1.293 jovens. Os resultados estão de acordo com outras enquetes, como a realizada pelo instituto de pesquisa americano Harris Polls no final de 2024, em que muitos jovens expressaram o desejo de que o Tiktok, o Instagram ou o X nunca tivessem sido inventados. Como governos podem reagir É provável que o resultado também inspire alguns políticos – mesmo que seus esforços pareçam bastante tímidos em vista das fortes demandas de alguns jovens. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o ministro da Tecnologia do Reino Unido, Peter Kyle, insinuou estar considerando a possibilidade de criar toques de recolher obrigatórios. A Noruega quer aumentar o limite de idade para o uso das mídias sociais de 13 para 15 anos. A Austrália já aumentou o limite de idade para 16 anos no final de 2024 – um pioneiro global. Outros países, incluindo a Dinamarca, por exemplo, estão mudando suas políticas escolares e banindo tablets e smartphones quase completamente do pátio da escola. No Brasil, medida semelhante virou lei neste ano. Depressão devido a celulares? O uso excessivo de smartphones está associado a vários problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, estresse, distúrbios do sono e vício. Um estudo publicado no início deste ano na revista BMC Medicine, por exemplo, aponta que sintomas de depressão diminuíram em 27% após três semanas de redução do uso de smartphones. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a saúde mental dos jovens se deteriorou drasticamente nos últimos 15 anos – tendência que foi exacerbada pela pandemia. Nesse período, também houve um grande aumento no uso de mídias. No entanto, de acordo com a OCDE, pesquisadores ainda não conseguiram provar uma causalidade clara entre as duas coisas. Os fundadores do Offline Club, por outro lado, querem agir agora e expandir seus encontros. Num evento em Londres, no início de abril, mais de mil pessoas desligaram seus celulares e sorriram alegremente para a câmera. Um novo recorde, declararam os organizadores com orgulho – via Instagram, é claro.


Short teaser Quase metade dos jovens diz preferir um mundo sem internet. Encontros sem smartphones são uma nova tendência.
Author Stephanie Höppner
Item URL https://www.dw.com/pt-br/geração-online-muitos-jovens-querem-viver-sem-redes-sociais/a-72671474?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Uso excessivo de smartphones está associado a vários problemas de saúde mental
Image source Zacharie Scheurer/dpa-tmn/picture alliance
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/68442920_354.jpg&title=Gera%C3%A7%C3%A3o%20online%3A%20muitos%20jovens%20querem%20viver%20sem%20redes%20sociais

Item 32
Id 72616016
Date 2025-05-25
Title Natureza pode ajudar a diminuir dores e lesões
Short title Natureza pode ajudar a diminuir dores e lesões
Teaser Estudos mostram o potencial benéfico para a saúde mental e física do contato com a natureza.

Em um sábado, há 10 anos, Sarah Allely saiu de sua casa em Sydney, na Austrália, para participar de uma aula de ginástica matinal. Pedalando por ruas tranquilas, ela não tinha noção da reviravolta que sua vida estava prestes a dar. Momentos depois, ela acordou no meio da rua com dores intensas, cercada por pedestres e paramédicos. Ela havia sido atropelada.

Ela foi levada ao pronto-socorro, e mais tarde recebeu alta com uma contusão e uma lesão no ombro. Ela achou que estava bem. Ao chegar na casa onde mora com parceiro e as duas filhas pequenas, pegou o livro que estava lendo para relaxar. "Consigo passar os olhos pelas palavras, mas não consigo entender as frases. A sensação é a de que não consigo ler", lembrou.

Nos dias seguintes, ela teve dores de cabeça persistentes e confusão mental, o que tornou o dia a dia extraordinariamente desafiador. Ela foi afastada do trabalho por motivo de doença e sua agenda, que antes era dedicada ao trabalho, à família e aos compromissos sociais, começou a se encher de consultas médicas.

"Acho que eles não entendiam a gravidade da minha lesão. Eu não entendia. Nenhum dos médicos entendia", disse Allely. Os médicos lhe receitaram diversos medicamentos e até injeções de botox na cabeça para aliviar a dor. Como nada disso funcionou, ela foi encaminhada para uma tomografia e uma série de testes cognitivos.

"Com base na minha reação, o especialista conseguiu diagnosticar uma lesão cerebral traumática leve", disse Allely, acrescentando que foi um alívio saber o que havia de errado. Os médicos lhe disseram que ela se recuperaria completamente, embora "ainda não houvesse nenhum tratamento evidente".

Um tratamento inesperado

Algo que lhe disseram foi para aceitar a situação e não lutar contra ela. Mas, meses após o acidente, ela ainda estava afastada do trabalho e as dores de cabeça continuavam presentes em sua vida diária, até que ela e suas filhas foram convidadas para uma caminhada na mata com amigos.

"Foi o primeiro dia desde o acidente em que não tive dor de cabeça, e foi extraordinário", disse Allely. "Há algo em estar na mata que foi muito bom para mim. Eu não sabia o que era, mas sabia que algo havia mudado."

Então, ela começou a fazer caminhadas em seu bairro, observando jardins ou o rio local. Isso também teve um impacto. "Eu sentia quase como se uma névoa se dissipasse, assim como a pressão de qualquer dor de cabeça, então eu me sentia mais relaxada."

Os benefícios para a saúde mental de passar um tempo na natureza estão atualmente bem documentados. Um estudo recente sobre os chamados "banhos de floresta" – prática que teve origem no Japão na década de 1980 e envolve a observação conscientemente das áreas florestais – descobriu que essa atividade pode reduzir significativamente os sintomas de depressão e ansiedade.

Pesquisas em fase inicial também sugerem que passar tempo na natureza pode ser benéfico para quem sofre com dores físicas ou lesões, como Sarah Allely. Um estudo europeu publicado no mês passado revelou que mesmo uma breve exposição à natureza pode ajudar a reduzir a dor.

Uma pesquisa dinamarquesa publicada no ano passado afirma que 17 pacientes com lesão cerebral que incluíram tempo na natureza em sua reabilitação relataram uma "sensação de atividade aprimorada" e notaram como estar nesses locais "aumentou sua autoeficácia, senso de autonomia, espírito comunitário, cooperação e alegria, e levou a uma sensação de paz".

Como o cérebro reage à natureza

Holli-Anne Passmore, que estuda a relação entre a natureza e o bem-estar humano no Departamento de Psicologia da Universidade Concordia de Edmonton, no Canadá, avalia que passar um tempo natureza é benéfico pois pode literalmente dar ao cérebro uma pausa das armadilhas de uma vida em ritmo acelerado.

Ela diz que, do ponto de vista evolucionário, existem dois tipos de atenção – ou o que é conhecido em psicologia como fascínio intenso ou suave. "Um letreiro luminoso que você não consegue ignorar entra em contato e basicamente diz 'olhe para mim', enquanto as coisas na natureza tendem a capturar sua atenção, mas não entram em contato e te sacodem pelos ombros."

A neuroimagiologia mostra que esse tipo de atenção mais suave requer menos recursos mentais, o que dá ao cérebro a chance de se recuperar. Isso, segundo Passmore, pode trazer impactos de longo alcance.

"Sabemos que nossos cérebros, nossos corpos e como nos recuperamos estão intrinsecamente conectados. Quando você está na natureza, esse aspecto de dar um pouco de descanso ao cérebro vai ajudar", explicou a especialista, acrescentando que há uma outra dimensão na recuperação. "Nossas emoções têm um impacto incrível em nosso bem-estar físico. Quando estamos em um estado emocional melhor, não importa o tipo de lesão, o corpo vai responder."

Quanta natureza é suficiente para fazer a diferença?

Quando Sarah Allely finalmente se recuperou, ela criou um podcast dedicado a contar o que havia passado. Ao longo dos anos, ela ouviu relatos de muitos que compartilharam experiências semelhantes à sua.

Mesmo agora que está melhor, ela ainda faz questão de passar um tempo na natureza, muitas vezes indo ao mesmo lugar repetidamente e simplesmente observando pequenas mudanças em coisas como a luz, a vegetação ou os animais em um determinado horário do dia. Ela percebe o impacto positivo que isso tem em seu humor e em sua sensação de bem-estar.

Passmore afirma que esse tipo de qualidade, em vez da quantidade de tempo gasto com a natureza, é onde reside os verdadeiros benefícios. "Prestar atenção à natureza no seu dia a dia e perceber como ela faz você se sentir teve um aumento incrivelmente grande em diferentes aspectos do bem-estar, não apenas em emoções positivas, mas também em coisas como se sentir conectado a outras pessoas e à vida em geral, admiração, profunda gratidão e estar profundamente emocionado."

Allely afirma que um efeito colateral de uma jornada com a natureza é a possibilidade de um relacionamento mais saudável com ela. "Um dos motivos para contar minha história", disse, foi a esperança de que "as pessoas se sentissem inspiradas a cuidar do nosso mundo natural".

Short teaser Estudos mostram o potencial benéfico para a saúde mental e física do contato com a natureza.
Author Tamsin Walker
Item URL https://www.dw.com/pt-br/natureza-pode-ajudar-a-diminuir-dores-e-lesões/a-72616016?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Natureza%20pode%20ajudar%20a%20diminuir%20dores%20e%20les%C3%B5es

Item 33
Id 72648286
Date 2025-05-23
Title O que levou o CFM a afrouxar regras para cirurgia bariátrica
Short title O que levou o CFM a afrouxar regras para cirurgia bariátrica
Teaser

Cirurgia bariátrica é usada como tratamento da obesidade e de doenças relacionadas

Mudanças na regra ampliam grupo de indicação do procedimento. Especialistas avaliam alteração como positiva, mas alertam para possível banalização da cirurgia.O Conselho Federal de Medicina (CFM) alterou as regras para a realização de cirurgias bariátricas no Brasil, ampliando o grupo para o qual o procedimento é indicado. Entre as principais mudanças está a indicação a adolescentes a partir de 14 anos e a pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30, os chamados obesidade de grau 1. Antes o IMC mínimo era 35. O procedimento de cirurgia bariátrica é usado como tratamento da obesidade e das doenças relacionadas. Segundo os dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), entre 2020 e 2024, o Brasil realizou 291 mil cirurgias. Porém no último ano, a busca pelo procedimento caiu 18% em relação a 2023, sendo realizados pouco mais de 58,5 mil procedimentos. O afrouxamento nas regras, segundo o CFM, baseia-se em evidências científicas atualizadas e em diálogos com sociedades médicas que analisaram o conhecimento que avançou nessa área nos últimos anos, podendo assim oferecê-lo com segurança para novos públicos. A resolução anterior que regulamentava essas práticas no país foi publicada em 2017. "Tivemos vários estudos que mostram uma melhora na qualidade de vida e um aumento de sobrevida em pacientes que passaram pelo procedimento, o que nos motivou a atualizar as nossas normas", diz Jeancarlo Cavalcante, 3º vice-presidente do CFM. Aumento da obesidade A cirurgia bariátrica tem como principal objetivo ajudar o paciente a emagrecer, mas também melhorar comorbidades como diabetes e hipertensão arterial. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica até 80% dos pacientes submetidos ao bypass gástrico – tipo de cirurgia bariátrica – tiveram remissão do diabetes tipo 2, enquanto a hipertensão arterial pode melhorar ou desaparecer em cerca de 60 a 70% dos casos. Outro fator que influenciou na alteração das regras para a realização do procedimento no Brasil, foi o aumento da obesidade no país. Dados do Atlas Mundial da Obesidade 2025 mostram que um a cada três brasileiros vive com obesidade e essa porcentagem tende a crescer nos próximos cinco anos. O relatório mostra que 68% da população tem excesso de peso – 31% têm obesidade e 37% têm sobrepeso. Ainda conforme o Atlas, 60,9 mil mortes que ocorrem de forma prematura no Brasil podem ser atribuídas às doenças crônicas devido ao sobrepeso e obesidade, como diabetes tipo 2 e acidente vascular cerebral (AVC). O levantamento mostra também que o Brasil pode ter até 50% das crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos com obesidade ou sobrepeso em 2035. Isso significa que o país terá mais de 20 milhões de crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso. Além disso, no país cerca da metade da população adulta, entre 40% e 50%, não pratica atividade física na frequência e intensidade recomendadas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que adultos pratiquem pelo menos de 150 a 300 minutos de atividade física de intensidade moderada por semana. Risco de banalização e sobrecarga no sistema Os especialistas são unânimes em enfatizar que a cirurgia bariátrica é apenas um tratamento para a obesidade e não a cura da doença. O procedimento é indicado após o paciente passar por análise de uma equipe médica e quando o tratamento clínico não surtir efeito. "Quando se faz a cirurgia, há um ajuste de hormônios que melhora o controle da fome e da saciedade. No entanto, temos um número de pessoas que não é desprezível que, mesmo operadas, depois de alguns anos, volta a recuperar o peso porque a doença continua. Portanto, somente a cirurgia bariátrica não vai curar a obesidade", explica Cintia Cercato, presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e diretora do departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Especialistas ouvidos pela reportagem da DW avaliam que é importante a alteração nas regras devido ao aumento da obesidade no país, porém chamam a atenção para uma possível banalização do procedimento cirúrgico, pois muitos acham que ele é uma questão estética que visa apenas o emagrecimento. "Muitas pessoas acham que a cirurgia bariátrica é uma solução fácil enquanto ela não é. É necessário mudar o estilo de vida e, em alguns casos, fazer acompanhamento multidisciplinar por anos, para que não haja o reganho de peso", diz Rodrigo Barbosa, cirurgião digestivo subespecializado em cirurgia bariátrica do corpo clínico dos hospitais Sírio Libanês e Nove de Julho. Para fazer o procedimento é necessária uma avaliação pré-operatória, que envolve uma equipe multidisciplinar e que abrange os campos nutricional, psicológico e endocrinológico. Apenas após esse acompanhamento há a indicação cirúrgica pelo próprio cirurgião bariátrico. Sobrecarga do sistema Nessa fase de acompanhamento pode haver sobrecarga do sistema, fazendo com que muitos pacientes desistam no meio do caminho. "A capacidade das instituições, principalmente públicas, de absorver pacientes com esse critério de indicação vai ficar mais dificultado, porque vai aumentar a demanda e um dos maiores empecilhos é o paciente aderir a um acompanhamento pós-operatório para reduzir o reganho de peso a longo prazo", explica Barbosa. Segundo a SBCBM, o Brasil conta com 7.700 hospitais, em 5.568 municípios. Destes, apenas 98 serviços realizam a cirurgia bariátrica e metabólica pelo SUS, sendo que quatro estados brasileiros não oferecem o procedimento. Atualmente Amazonas, Rondônia, Roraima e Amapá não possuem serviços habilitados no SUS para bariátrica. "O número total de cirurgias realizadas pelo SUS é de apenas 0,2% do total de pessoas que precisam deste tratamento para a obesidade. Enquanto isso, estamos vendo o sistema público recebendo a cada dia novos casos de pacientes com diabetes, hipertensão, gordura no fígado, problemas nas articulações e outros ocasionados pela obesidade", diz Antônio Carlos Valezi, presidente da SBCBM. Como ficam as novas regras Entre as principais mudanças nas regras para a realização da cirurgia bariátrica estão a redução do IMC mínimo para a cirurgia. Agora, pessoas com IMC entre 30 e 35 que tenham diabetes tipo 2, doença cardiovascular grave, apneia do sono grave, doença renal crônica precoce, doença gordurosa hepática e refluxo gastroesofágico passam a poder realizar o procedimento. Não existe mais tempo mínimo de convivência com a doença ou idade para poder fazer o procedimento. Antes, só podiam se submeter ao procedimento pacientes com dez anos de diagnóstico de diabetes, com mais de 30 anos e menos de 70 anos. Também era exigido que o paciente tivesse sido acompanhado por um endocrinologista por mais de dois anos, e não obtido resultados nos tratamentos clínicos. O IMC é o peso em quilos dividido pela altura ao quadrado. Entre 25 e 29,9 é considerado sobrepeso. Se for superior a 30 é considerado obesidade grau I e são esses pacientes que passam a ser abrangidos pela nova regra. Adolescentes também foram abrangidos Os adolescentes também foram incluídos e agora poderão passar pelo procedimento, a partir dos 14 anos – antes a idade mínima era de 16 anos. No entanto, para aqueles com idades entre 14 e 16 anos é necessário que eles tenham IMC acima de 40, que leve a complicações de saúde. Os adolescentes entre 16 e 18 anos também vão poder fazer a bariátrica e só serão exigidos os critérios já pedidos para adultos, como IMC mínimo (30) e comorbidades. "A obesidade em adolescentes tem crescido, e a nova regra vem para oferecer mais uma opção de tratamento àqueles casos mais graves onde já tem uma outra doença relacionada à obesidade", diz Carlos Schiavon, cirurgião bariátrico e presidente da ONG Obesidade Brasil. A nova resolução também é mais específica em relação às características do local de realização da cirurgia bariátrica. Conforme o documento, o procedimento só deve ser realizado em hospital de grande porte, com capacidade para cirurgias de alta complexidade, com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e plantonista 24 horas.


Short teaser Especialistas avaliam alteração como positiva, mas alertam para possível banalização da cirurgia.
Author Simone Machado
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-que-levou-o-cfm-a-afrouxar-regras-para-cirurgia-bariátrica/a-72648286?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Cirurgia bariátrica é usada como tratamento da obesidade e de doenças relacionadas
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Item 34
Id 72632237
Date 2025-05-22
Title Energia subsidiada pode ajudar indústria alemã a sair da crise?
Short title Energia subsidiada pode ajudar a indústria alemã em crise?
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Energia de baixo custo pode facilitar a eletrificação de processos industriais

Alemanha pretende apoiar empresas com um alívio nos preços de energia elétrica. Mas críticos dizem que plano pode ameaçar a estabilidade do mercado e metas climáticas, além de provocar oposição entre parceiros da UE.Antes das eleições gerais de fevereiro na Alemanha, os líderes da indústria do país soaram o alarme. Eles instaram o futuro governo alemão a adotar medidas para combater os altos preços da eletricidade e alertaram sobre o possível fechamento ou realocação de empresas para o exterior se nada acontecesse. Suas preocupações parecem ter sido ouvidas pelo novo governo de coalizão entre a conservadora União Democrata Cristã (CDU), do chanceler federal, Friedrich Merz, e o Partido Social-Democrata (SPD), que tomou posseno início de maio. Após apenas algumas semanas no poder, o governo já tem em seus planos algumas medidas significativas para aliviar os custos de energia, mas alguns especialistas alertam para as potenciais desvantagens dessa estratégia. Quão cara é a eletricidade para a indústria? É difícil especificar um valor único, já que o alívio atual nos custos de eletricidade varia de acordo com o tamanho da empresa e o setor. Segundo um estudo da Associação Industrial da Baviera (Vbw), sediada em Munique, em 2022 os preços da eletricidade industrial na Alemanha estavam próximos da média europeia. No entanto, o impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, abalou os mercados de energia, o que dificulta as comparações anuais. Dados recentes da União Europeia (UE) mostram que a Alemanha ocupa o terceiro lugar no bloco em termos de preços de eletricidade para consumidores não residenciais – uma categoria que inclui não apenas as indústrias, mas também instituições públicas, como escolas e repartições, o que torna complicado tirar conclusões sobre o impacto específico sobre a indústria. Quando se trata do preço da eletricidade no atacado – antes de impostos e taxas – a Alemanha está nem uma categoria intermediária na comparação com outros países, afirmou Bruno Burger, especialista em energia do Instituto Fraunhofer para Sistemas de Energia Solar, em entrevista ao jornal alemão Frankfurter Rundschau. Alemanha correndo atrás de EUA e China Uma coisa, porém, é certa: as empresas nos EUA e na China pagam significativamente menos. Em 2023, os preços da eletricidade industrial giravam em torno de 8 centavos de dólar (cerca de R$ 0,45 reais) por quilowatt-hora nos Estados Unidos, de acordo com o Instituto Pesquisas Econômicas (Ifo), e cerca de 9 centavos de dólar na China, segundo dados da Vbw. Na Alemanha, porém, as empresas industriais pagam cerca de 20 centavos de euro (R$ 1,28), segundo o Ifo. Os planos do governo em Berlim incluem, supostamente, medidas de alívio abrangentes para reduzir os preços da eletricidade industrial. Na Alemanha, o preço da eletricidade é composto pelo preço de atacado, além um imposto sobre eletricidade, sobretaxas que financiam iniciativas específicas do governo e taxas pelo uso da rede elétrica. Berlim agora planeja reduzir o preço da eletricidade em 5 centavos por quilowatt-hora para as empresas, reduzindo o imposto sobre eletricidade para o valor mínimo da UE e cortando as sobretaxas e taxas de rede. O governo também quer estender e expandir o programa de compensação do preço da eletricidade, que reembolsa as indústrias com uso intensivo de energia pelos custos decorrentes dos preços associados às emissões de dióxido de carbono. O preço do CO2 é aplicado ao uso de combustíveis fósseis na Alemanha e na UE para desestimular as emissões. Vantagens e desvantagens Andreas Fischer, especialista em política energética e climática do Instituto Econômico Alemão (IW), com sede em Colônia, afirmou à DW que "da perspectiva do consumidor, o alívio abrangente é positivo". Max Jankowsky, CEO da Fundição Lössnitz e presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Chemnitz, concorda. Em nota à DW, ele disse que a urgência de reduzir os preços da eletricidade para a indústria foi "reconhecida" pelo governo. O plano, porém, também é alvo de críticas. "Uma redução generalizada nos preços da eletricidade contradiz as necessidades de um sistema baseado em energia renovável", avalia Swantje Fiedler, diretora científica do Fórum para a Economia de Mercado Socioecológica. Em vez disso, o sistema energético alemão precisaria de incentivos para armazenamento de energia e flexibilidade devido à flutuação no fornecimento de eletricidade renovável, com oferta abundante no verão e escassa no inverno, explicou a especialista à DW. "Ao mesmo tempo, é importante considerar o quão flexível uma empresa pode ser”, diz Fischer, já que nem todas as empresas conseguem se adaptar rapidamente às mudanças no fornecimento ou nos preços de eletricidade. Os prós e contras da eletricidade mais barata Leonhard Probst, do Instituto Fraunhofer de Sistemas de Energia Solar, em Freiburg, na Alemanha, acredita que preços mais baixos de eletricidade podem reduzir os incentivos para que as empresas usem a eletricidade de forma mais eficiente. Probst, que administra a plataforma Energy-Charts.de – o banco de dados mais abrangente sobre geração de energia na Alemanha – observou ainda que, por outro lado, a eletricidade mais barata pode facilitar a eletrificação de processos industriais, o que é melhor para o meio ambiente a longo prazo. A Fundição Lössnitz seria um exemplo disso, já que o CEO da empresa, Max Jankowsky, planeja trocar o forno de coque por um de fundição elétrico. Até o momento, porém, os altos preços da energia o estão impedindo: "Parece que estou batendo em uma serra circular", disse ele, referindo-se ao risco de preços de eletricidade permanentemente altos. Possível objeção de Bruxelas O plano dos dois partidos da coalizão de governo da Alemanha também inclui um alívio maior para empresas com uso intensivo de energia. Ainda não está claro, porém, se isso inclui um limite ao preço da eletricidade no atacado, embora alguns especialistas acreditem que essa seja a intenção do governo. Como demonstramos nas análises de preços, impostos e sobretaxas representam apenas uma pequena parcela do custo final da eletricidade. Probst, do Instituto Fraunhofer, alerta que a redução artificial de preços pode ter um efeito contraproducente: "Se a eletricidade for escassa, mas vendida a baixo custo, a escassez se intensifica e os preços sobem ainda mais", argumentou. Sebastian Bolay, diretor de energia, meio ambiente e indústria da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK), enxerga ainda outro problema iminente para o governo. "Um teto de preço poderia interferir nos preços de mercado e provavelmente não seria permitido pelas regras de auxílio estatal da UE", disse o especialista à DW. Probst concorda que um teto de preço poderia ser caro para os contribuintes, já que muitas empresas que não precisam de alívio – uma vez que seus custos de energia representam apenas uma pequena parte de sua geração de valor – "se beneficiariam desnecessariamente". Adaptar medidas às empresas Swantje Fiedler está convencida de que uma implementação mais rápida de energia renovável na Alemanha poderia "reduzir os preços a longo prazo". Para Probst, "subsídios direcionados" são mais eficazes do que reduções generalizadas de preços e podem incluir tarifas especiais de eletricidade para o uso de bombas de calor. Jankowsky também defende o que chamou de "medidas adaptadas" voltadas especialmente para o auxílio às pequenas e médias empresas, já que muitos dos subsídios existentes não se aplicam a elas. Ele defende que isso precisa ser alterado, "e precisa acontecer rapidamente".


Short teaser Os prós e contras do plano do governo alemão de apoiar empresas com a alívio nos preços de energia elétrica.
Author Nadine Mena Michollek
Item URL https://www.dw.com/pt-br/energia-subsidiada-pode-ajudar-indústria-alemã-a-sair-da-crise/a-72632237?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Energia de baixo custo pode facilitar a eletrificação de processos industriais
Image source Nadine Mena Michollek/DW
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Item 35
Id 72625260
Date 2025-05-21
Title Estrangeiros na Alemanha pagam aluguel mais caro que os cidadãos do país
Short title Estrangeiros pagam aluguel mais caro na Alemanha
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Dados indicaram disparidades nos valores médios dos aluguéis pagos por estrangeiros em alemães

Diferença média no valor pago pelos estrangeiros em relação aos alemães chega a quase 10%, segundo órgão de estatísticas do país. Tamanho do apartamento ajuda a explicar disparidade, que varia conforme cidade.Os estrangeiros na Alemanha pagam, em média, quase 10% a mais que os alemães pelo aluguel de apartamentos no país, segundo mostraram dados divulgados pelo Departamento Federal de Estatísticas (Destatis) nesta quarta-feira (21/05). Cidadãos de outras nacionalidadespagaram 7,75 euros (Cerca de R$ 50) por metro quadrado conforme cálculos baseados no Censo mais recente, de 2022. O valor é 9,5% maior que a média desembolsada pelos alemães. Entretanto, nas grandes cidades, que normalmente concentram mais estrangeiros, essa média foi notavelmente mais alta. Por exemplo, entre as principais cidades, Munique teve a maior média de aluguel, com 12,89 euros por metro quadrado, seguida por Frankfurt (10,58 euros), Stuttgart (10,39 euros) e Heidelberg (10,02 euros). A média de Berlim foi de 7,67 euros por metro quadrado, o que a coloca na faixa intermediária entre as principais cidades. Entre outros fatores, as disparidades refletem o fato de que locatários estrangeiros tendem a viver em imóveis menores, que têm preço mais caro por metro quadrado, conforme explicou a própria agência de estatísticas. Para essas unidades menores, o aluguel médio foi de 8,01 euros, 15,6% mais alto do que os aluguéis de apartamentos maiores (60 m² ou mais), cuja média foi de 6,93 euros. Um quarto dos residentes com origem em outros países (25%) morava em apartamentos com menos de 60 metros quadrados de área habitável em 2022, bem mais que a proporção entre quem nasceu na Alemanha (8%). A dimensão média dos lares de estrangeiros era de 85,7 metros quadrados, enquanto a dos alemães era de 109,6 metros quadros. Diferenças também para quem vive há mais tempo na Alemanha Os estrangeiros também costumam permanecer no mesmo endereço por mais tempo, sob contratos mais antigos e, muitas vezes, com condições mais vantajosas. Pela legislação da Alemanha, os proprietários podem aumentar os aluguéis em apenas 20% no período de três anos. Na capital Berlim, o limite é ainda menor, de 15%. O tamanho da unidade, porém, não explica totalmente as desigualdades. De acordo com a agência de estatísticas, estrangeiros que moram no mesmo local há mais de 20 anos pagam 9,1% a mais de aluguel do que aqueles com passaporte alemão. Para locações de 10 a 15 anos, a diferença era de 7%, mas cai para 3,5% para vínculos de um ano ou menos. Os dados também variam conforme o tamanho do local em que a propriedade está situada. Em cidades com mais 100 mil habitantes, os estrangeiros pagam, em média, 7,3% a mais que os vizinhos alemães. Nas comunidades com até 10 mil residentes, essa distância salta para 10,6%. Os dados também destacam uma forte divisão na propriedade de imóveis. Enquanto 54% dos alemães moravam em casa própria em 2022, apenas 22% dos estrangeiros eram proprietários de imóveis, sendo que a grande maioria alugava. am (OTS, DPA)


Short teaser Diferença média no valor pago em relação aos alemães chega a quase 10%, segundo órgão de estatísticas do país.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/estrangeiros-na-alemanha-pagam-aluguel-mais-caro-que-os-cidadãos-do-país/a-72625260?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Dados indicaram disparidades nos valores médios dos aluguéis pagos por estrangeiros em alemães
Image source Britta Pedersen/dpa/picture alliance
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Item 36
Id 72595695
Date 2025-05-19
Title Esportes "ninja" conquistam a Alemanha
Short title Esportes "ninja" conquistam a Alemanha
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Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo

Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV estreou sua própria "Bundesliga". O chamado "playground de adultos" agrada também crianças e pode ajudar no desenvolvimento motor infantil."É como um playground gigante para nós, adultos. Todos nos divertimos muito", conta Marlies Brunner à DW, com brilho nos olhos. "Ficamos tão felizes quanto crianças por podermos praticar esse esporte." A jogadora de 23 anos viajou da Áustria para Bonn, na Alemanha, para participar da estreia da Ninja Bundesliga ("liga nacional"). Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo. Acima de tudo, os atletas precisam de força, resistência, coordenação e técnica, além de vigor mental, para chegar à linha de chegada sem cair no colchão de ar ou nos colchonetes, sendo fiel ao lema "o chão é lava". "Você voa bastante pelo ar, se sente leve e não mais preso à gravidade", explica Ouissal Touiher à DW. É completamente diferente se mover apenas com as mãos e não com os pés, diz a jovem de 20 anos. "Há muitos movimentos diferentes que tornam o esporte tão especial", afirma Brunner, que no ano passado se tornou campeã austríaca da modalidade. O que soa como algo espetacular, parece, de fato, ser. Os ninjas escalam, deslizam, balançam ou "voam" pela pista de obstáculos, com todo o peso do corpo quase que inteiramente apoiado nos dedos. "Acho admirável o quanto as mãos são capazes de suportar", diz Brunner. "Sou muito grata ao meu corpo por me permitir fazer tudo isso." Os atletas iniciam o percurso um após o outro, alguns com tanta adrenalina que chegam ao limite e falham logo no primeiro obstáculo. Um erro ao tentar agarrar um obstáculo ou uma ação desconcentrada e a competição acaba. "Parquinhos infantis são muito 'ninjas'" O atual esporte da moda, que ainda é pouco conhecido na Alemanha, cresceu rapidamente nos últimos anos e vem se tornando cada vez mais popular. Existem atualmente no país quase 1.300 ninjas que praticam essa modalidade regularmente. Muitos deles migraram de outros esportes, como o montanhismo, boulder, acrobacia ou ginástica. Há também cada vez mais crianças aderindo aos esportes ninjas e crescendo com eles. Atualmente, cerca de metade dos praticantes ativos têm menos de 16 anos. "As crianças geralmente adoram ser ativas. Os parquinhos infantis são muito 'ninjas'. Elas se balançam e escalam", explica Touiher. "Elas definitivamente deveriam frequentar mais os ginásios ninja." Steffen Moritz, um dos fundadores da Ninja Bundesliga, concorda com essa afirmação. "Quem costumava escalar ou se pendurar muito vai se lembrar daqueles tempos. As crianças sabem imediatamente o que precisam fazer no percurso", afirmou Moritz à DW. Esses movimentos, segundo diz, estão ausentes em muitas crianças hoje em dia. Isso também se confirma por dados atuais de um estudo da empresa Seguradora de Saúde do Comércio (KKH), segundo o qual, cada vez mais crianças e jovens na Alemanha sofrem de distúrbios de desenvolvimento motor. A proporção de crianças de seis a 18 anos afetadas pelo problema aumentou cerca de 64% entre 2008 e 2023. Em 2023, mais de 311.000 alunos foram diagnosticados. A causa geralmente é a falta de exercícios, de acordo com o estudo da seguradora. Os esportes ninjas podem ajudar a resolver o problema. Os organizadores estão satisfeitos com a adesão de um número cada vez maior de ninjas mais jovens à modalidade. "Queremos ser uma plataforma para esse esporte que foi inventado no Japão e tem origem em um programa de televisão", explica Moritz. Origem EM programa de TV japonês Na Alemanha, o esporte ficou conhecido através do programa de TV Ninja Warrior Germany ("Guerreiro Ninja Alemanha"). O programa, transmitido pelo canal de televisão RTL desde 2016, foi adaptado do original americano American Ninja Warrior. No entanto, o conceito de Ninja Warrior teve origem no Japão, onde foi transmitido pela primeira vez em 1997 sob o nome Sasuke. Esses programas também são muito populares no Vietnã e na Austrália. Ao longo dos anos, uma comunidade internacional de entusiastas se desenvolveu, influenciada pelos programas de TV. O desafio para Steffen Moritz e sua equipe agora é fazer com que esse "esporte televisivo" se estabeleça na Alemanha. Como dinheiro e patrocinadores ainda são escassos, muito ainda funciona através do trabalho voluntário. "Este esporte é financiado principalmente pelas taxas de inscrição que os atletas têm que pagar se quiserem participar da Bundesliga", diz Moritz. Contudo, os desenvolvimentos recentes deixam não apenas os organizadores, mas também os ninjas confiantes de que mais e mais patrocinadores acabarão tomando conhecimento do novo esporte. Jovens prevalecem na estreia da Bundesliga "O esporte progrediu enormemente. Há cada vez mais academias ninja, competições incríveis e muitos eventos como a Bundesliga Ninja na Alemanha", diz Marlies Brunner. "É possível perceber que o esporte já se tornou muito grande." É fascinante ver o quanto as crianças se divertem e o quanto elas já se saem bem no esporte, diz a austríaca. "Nós, adultos, realmente precisamos correr atrás para acompanhar." Dessa forma, não é nenhuma surpresa que Jonas Elting, o vencedor do evento de estreia da Bundesliga em Bonn, tenha apenas 17 anos.


Short teaser Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV pode ajudar no desenvolvimento motor das crianças.
Author Thomas Klein
Item URL https://www.dw.com/pt-br/esportes-ninja-conquistam-a-alemanha/a-72595695?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo
Image source Toni Köln/DW
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Item 37
Id 72504004
Date 2025-05-11
Title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
Short title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
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Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte

Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006. Federação prepara plano para resgatar interesse dos jovens pelo esporte.Na Alemanha, o entusiasmo pela participação da seleção na Copa do Mundo de 2026 contrasta com uma realidade preocupante para o esporte: desde 2006, o país perdeu quase 6 mil equipes masculinas de futebol nas categorias sub-19 e sub-17. Em resposta à crise que ameaça o futuro do futebol no país, a Federação Alemã de Futebol (DFB) vem desenvolvendo uma série de reformas estruturais coordenadas por Hannes Wolf, ex-treinador da Bundesliga – o campeonato alemão – e atual diretor de futebol juvenil da entidade. "Temos que garantir que não haja uma participação falsa, mas que os jovens realmente se envolvam", disse em uma conferência da entidade. "Se você já está no banco no sub-13 e não é bom o suficiente para se dedicar à sua paixão, então eu também diria aos meus filhos que se dediquem a outra coisa." A conferência realizado em Frankfurt reuniu 220 representantes das 21 federações regionais da Alemanha. O objetivo era construir um novo plano nacional para as categorias de base, com foco na identidade do esporte — onde a diversão precede os resultados. As propostas discutidas devem ser apresentadas até setembro, durante o Dia Nacional da Juventude da Alemanha, e testadas por federações regionais antes da adoção plena em 2026. "O futebol precisa se modernizar se quiser continuar sendo atraente para os jovens no futuro", disse Bernd Neuendorf, presidente da DFB. "Mesmo que atualmente tenhamos longas listas de espera nos clubes de muitas cidades, já não é garantido que as crianças comecem a jogar futebol e permaneçam nas categorias de base." O que vem mudando no futebol europeu O desafio enfrentado pela Alemanha não é exclusivo. Na Inglaterra, por exemplo, houve crescimento na adesão de crianças e adolescentes de 5 a 16 anos ao futebol após a pandemia da covid-19, mas a faixa de 16 a 24 anos registrou queda de 27% na participação entre 2015 e 2023, segundo levantamento da Sport England. A Federação Inglesa de Futebol (FA) respondeu com uma nova estratégia lançada em 2024. Entre as medidas, está o formato 3 contra 3 para menores de 7 anos, com estreia prevista para 2026, com o objetivo de aumentar o tempo de contato com a bola. Na Alemanha, Hannes Wolf acredita que a criatividade precisa voltar aos treinamentos. Uma das ideias é popularizar jogos em campos oficiais que simulem o estilo do futebol de rua. Pressões, custos e novas prioridades Plataformas digitais, altos custos para praticar o esporte, cronogramas excessivos e expectativas desproporcionais são apenas alguns dos obstáculos. Lesões, separações familiares e mudanças de cidade completam o quadro. Thomas Broich, diretor da categoria de base do Borussia Dortmund, alertou recentemente que o futebol juvenil pode se tornar um "grande problema cultural" para a Alemanha. Já o treinador Malte Boven, radicado em Hamburgo, observa que reformas feitas em 2019 priorizaram os mais novos, deixando os adolescentes em segundo plano — justamente os que estão mais próximos do futebol profissional. Para ele, compreender por que esta faixa etária tem desistido do esporte exige olhar para múltiplos fatores, especialmente as mudanças culturais. "Acho que o 'porquê' e o 'como' queremos jogar se tornaram mais importantes para os jogadores nos últimos anos", disse Boven à DW. "Há uma diferença social entre gerações." Confiança e estrutura como resposta Apesar de não prever uma escassez iminente de jogadores, Boven defende ajustes importantes para que o futebol continue sendo uma escolha atrativa. Isso inclui rever o modo de comunicação com atletas e pais, melhorar o acesso a instalações esportivas e ensinar os jovens a lidar com a pressão de forma conjunta com os treinadores. Ele apoia as propostas da Federação Alemã de Futebol, mas reconhece que a cultura do resultado ainda domina. "A participação é uma realidade quando se trata de vencer no futebol juvenil, especialmente em clubes amadores. Nesse caso, há uma pseudoparticipação de todos os jogadores envolvidos, porque não lhes dou a oportunidade de realmente fazer parte do jogo", pontua. "É preciso incutir neles a máxima confiança de que podem fazer isso, que merecem jogar no clube, que há um motivo para vestirem essa camisa. Porque, como treinador ou como clube, decidimos que eles joguem esse esporte, e agora nossa obrigação e responsabilidade é lhes dar tempo de jogo." Estratégias além do campo Boven também propõe alternativas para tornar o futebol mais relevante: oferecer aos jovens atletas uma "carta de desenvolvimento de habilidades" ao deixarem as categorias de base, ajudando a dar os próximos passos no mercado de trabalho. "Eu teria um incentivo completamente diferente de simplesmente me tornar um jogador profissional. Ainda quero ser, mas sei que aqui vou ter algo para mostrar pelo meu esforço", afirma. Para ele, é o futebol profissional — com sua mentalidade, cultura e influência — que mais precisa de atenção.


Short teaser Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006.
Author Jonathan Harding
Item URL https://www.dw.com/pt-br/os-adolescentes-alemães-perderam-o-amor-pelo-futebol/a-72504004?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte
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Item 38
Id 72410915
Date 2025-05-01
Title Federação inglesa vai barrar mulheres trans no futebol feminino
Short title Federação inglesa vai barrar trans no futebol feminino
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Entidade que regula futebol no país diz que nova regra segue decisão da Suprema Corte britânica, de que a definição legal de mulher é baseada somente no sexo biológico.As mulheres transgênero serão impedidas de participar em competições femininas de futebol da Inglaterra a partir de junho, anunciou a Associação de Futebol (FA) do país nesta quinta-feira (01/05), duas semanas após a Suprema Corte do Reino Unido decidir que, para fins legais, o termo "mulher" deve ser definido somente com base no sexo biológico de nascimento. A decisão da FA ocorre dois dias depois de a Associação Escocesa de Futebol (SFA) ter tomado uma decisão no mesmo sentido. Segundo o comunicado, a modificação no regulamento na Escócia entrará em vigor a partir da temporada 2025/26. "Entendemos que isto será difícil para as pessoas que querem simplesmente praticar o esporte que gostam, no gênero com o qual se identificam", indicou a inglesa FA, apontando que a decisão do Supremo a obriga a seguir esse rumo. O regulamento anterior da FA permitia que mulheres trans participassem do futebol feminino, mas isso mudará a partir de 1º de junho. "A decisão da Suprema Corte no dia 16 de abril significa que estaremos mudando nosso regulamento", disse o órgão regulador do futebol inglês em um comunicado. "As mulheres transgênero não poderão mais jogar futebol feminino na Inglaterra, e essa política será implementada a partir de 1º de junho de 2025." A associação ainda apontou que pretende contatar as mulheres transgênero federadas, a fim de lhes "explicar as mudanças" que a decisão do Supremo do Reino Unido implica e de as informar sobre a forma "como podem continuar a praticar" futebol. Segundo a rede BBC, a decisão deve afetar 20 jogadoras transgêneros registradas na Inglaterra Já a associação escocesa informou que vai "fornecer orientações sobre a forma como atualizará os regulamentos e as oportunidades de participação adequadas às mulheres transgênero, antes da entrada em vigor, no início da próxima temporada". Decisão do Supremo Em abril, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu, por unanimidade, que "os termos 'mulher' e 'sexo', na Lei da Igualdade de 2010 [que combate a discriminação], referem-se a mulher biológica e sexo biológico". A decisão, que exclui pessoas trans dessa definição jurídica, encerrou uma longa disputa entre o grupo feminista For Women Scotland (FWS) e o governo escocês. O regramento britânico reconhece o direito de pessoas trans obterem documentos legais, como a mudança do nome social, por exemplo. Contudo, a decisão da Suprema Corte entende que uma pessoa que passou por uma transição de gênero não pode ser considerada legalmente uma mulher para fins de igualdade. Isto implica em um dos pontos mais controversos do debate – o acesso a espaços exclusivos para um gênero. Na prática, o veredicto significa que as mulheres trans podem ser excluídas de alguns espaços destinados exclusivamente para mulheres, como vestiários, abrigos para sem-teto, áreas de natação. Além de serviços médicos ou de ou de aconselhamento oferecidos somente a mulheres. Espaços e serviços exclusivos "só funcionarão corretamente se 'sexo' for interpretado como sexo biológico", apontou o Supremo. Contudo, a lei também "oferece proteção às pessoas trans contra discriminação em seu gênero adquirido", afirmou o juiz Patrick Hodge ao anunciar o veredicto. "Todo mundo sabe o que é sexo, e você não pode mudá-lo", disse Susan Smith, codiretora da FWS após a decisão. "É bom senso, puro e simples. O fato de termos ido parar em um buraco de coelho onde as pessoas tentaram negar a ciência e a realidade... esperamos que agora voltemos à realidade." jps (Reuters, Lusa, ots)


Short teaser Entidade diz que nova regra segue decisão da Justiça, de que a definição de mulher é baseada somente no sexo biológico.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/federação-inglesa-vai-barrar-mulheres-trans-no-futebol-feminino/a-72410915?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 39
Id 72119729
Date 2025-04-04
Title Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança
Short title Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança
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Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau

Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e de extermínio do nazismo. Ser um jogador ou lutador importante podia trazer privilégios e esperança, ou perseguição cruel.Os campos de concentração do nazismo eram locais de horror e morte, de tortura e humilhação para os detentos. Para esse fim, o pessoal de vigilância também os submetia regularmente a exercícios esportivos cruéis. "Os guardas mandavam os presos fazerem flexões ou saltarem, ou correrem até cair de exaustão", conta a historiadora do esporte Veronika Springmann, autora do livro Gunst und Gewalt – Sport in nationalsozialistischen Konzentrationslagern (Favoritismo e violência – Esporte nos campos de concentração nacional-socialistas). Quem estava no chão geralmente ainda era chutado e insultado: "Era realmente um ritual cotidiano." Além do esporte imposto com violência, havia atividades esportivas que os prisioneiros praticavam de forma mais ou menos espontânea. Devido às condições desumanas, submetidos a duros trabalhos forçados ou experimentos médicos macabros, para a maioria deles não era como praticar esporte como lazer. E tampouco havia lugar para tal nos campos. Além disso, havia uma hierarquia interna estrita. O fato de pertencer a um determinado grupo definia, em grande parte, as condições de prisão e, portanto, as chances de sobrevivência. Por exemplo: presos políticos ou criminosos profissionais em geral recebiam tratamento melhor do que judeus, homossexuais ou os assim chamados "antissociais". Quem estava mais no alto na hierarquia era menos maltratado pelos guardas, recebia trabalho e alojamento melhor, roupas mais quentes, tinha acesso a mais comida, estando, portanto, mais apto praticar esportes. No total, porém, o número desses privilegiados era pequeno. Entre eles estavam os "presos funcionais" (Funktionshäftlinge), designados para vigiar os companheiros e manter a ordem. Enquanto alguns se tornaram assim cúmplices do horror do sistema de concentração e extermínio, outros aproveitavam sua posição melhor para proteger outros detentos. Futebol e boxe para sobrevivência e esperança Dentro dos campos de concentração, promoviam-se regularmente partidas de futebol e lutas de boxe. Com o avançar da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942 as condições mudaram para alguns dos prisioneiros. "A mão de obra dos internos era necessária para a indústria armamentista", explica Springmann. "Todas as firmas do setor produziam nos campos de concentração ou em instalações externas. Os que trabalhavam especialmente bem, ou que atuavam como presos funcionais, tinham permissão para organizar partidas de futebol." Assim, o número de jogos aumentou. Os times eram, em geral, divididos por nações, embora raramente tivessem 11 jogadores completos. Os detentos tentavam até mesmo providenciar uniformes. No memorial do campo de Dachau, próximo a Munique, está exposta uma taça de madeira. Organizar esses eventos também tinha a ver com esperança. "Planejamento está sempre direcionado para o futuro", lembra a historiadora do esporte. "Ou seja: eu espero que ainda vá estar viva amanhã, depois de amanhã, no próximo domingo. Isso fortalece e dá esperança. E esperança é um recurso importante para a sobrevivência" Entretanto é preciso jamais esquecer que apenas uma parcela mínima dos presos tinha permissão ou condições para participar dos jogos – que, além disso, se realizavam num ambiente em que paralelamente se torturava e assassinava. Lutando e jogando para sobreviver Enquanto para os detentos e sobreviventes do sexo masculino havia diversas opções para praticar esportes, o mesmo não se aplicava às mulheres: "Naquela época o esporte simplesmente não contava como uma prática cotidiana feminina", explica Springmann. "Mas eu partiria do princípio de que no campo de concentração de Ravensbrück, por exemplo, as prisioneiras fizessem ginástica de vez em quando. Mas elas não escreveram a respeito." Havia entre os presos também atletas profissionais, mas, como eles não eram tão presentes na imprensa como hoje em dia, muitas vezes passavam despercebidos pelos guardas dos campos de concentração. No início do século 20, Julius Hirsch era considerado um dos melhores futebolistas da Alemanha, duas vezes campeão nacional e integrante da seleção nacional entre 1911 e 1913. Por ser judeu, em março de 1943 foi deportado para Auschwitz e lá morreu. No entanto não está documentado que ele tenha sido identificado como ex-craque, ou que sequer tenha jogado lá. O boxe era um esporte importante e popular para os nazistas. Alguns profissionais foram reconhecidos nos campos de concentração ou se apresentaram quando os guardas procuravam concorrentes talentosos para as lutas que organizavam para sua própria diversão. Dois exemplos foram o polonês Antoni Czortek – participante dos Jogos Olímpicos de Berlim, em1936 – e o tunisiano Victor Perez – campeão mundial de peso-mosca em 1931 e 1932. Como judeus, ambos foram internados em Auschwitz em 1943, onde por diversas vezes tiveram que enfrentar outros detentos. Era literalmente questão de vida ou morte: o perdedor ou era abatido a tiros imediatamente ou enviado para morrer nas câmaras de gás. Assim, com ironia macabra, o boxe salvou várias vidas nos campos de concentração nazistas. Czortek só morreu em 2003, aos 89 anos; Perez sobreviveu a Auschwitz, mas não ao Holocausto: ele foi fuzilado em janeiro de 1945, numa das "marchas da morte" em que, no fim da Segunda Guerra, os presos dos campos perto do front eram transferidos de lugar, à medida que os Aliados avançavam. Para Johann "Rukeli" Trollmann, a arte do boxe não trouxe vantagens: o ex-campeão de peso-médio da Alemanha era cigano da etnia sinti, e quando seu passado veio à tona, os guardas do campo de concentração passaram a espancá-lo com frequência e crueldade extremas. Ele morreu em 1944 no campo secundário de Wittenberge: tendo vencido um dos "kapos" numa luta, foi abatido pouco mais tarde pelo perdedor, traiçoeiramente, durante os trabalhos forçados.


Short teaser Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e extermínio do nazismo.
Author Andreas Sten-Ziemons, Alima Hotakie
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Image caption Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau
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Item 40
Id 71689720
Date 2025-02-20
Title Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora
Short title Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora
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Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney

Antigo presidente da federação de futebol da Espanha Luis Rubiales foi condenado a pagar quase 11 mil euros por beijar atleta na boca sem consentimento na Copa de Sydney, em 2023. Ele pretende recorrer da sentença.A Justiça da Espanha condenou nesta quinta-feira (20/02) o ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, a pagar 10.800 euros (R$ 64,2 mil) pelo crime de agressão sexual, por beijar a jogadora Jennifer Hermoso na boca após a conquista da Copa do Mundo em Sydney em 20 de agosto de 2023, sem o consentimento dela. Por outro lado, Rubiales foi absolvido do crime de coação sobre a jogadora para declarasse que o gesto fora consensual. O ex-técnico da seleção feminina espanhola, Jorge Vilda, e outros dois ex-diretores, Albert Luque y Rubén Rivera, também foram absolvidos de coação. Luque era diretor de futebol da seção masculina, enquanto Rivera, gerente de marketing da federação, acompanhou as jogadoras na viagem à ilha de Ibiza, no Mediterrâneo, com a qual foram premiadas pela conquista da Copa do Mundo. Restrições a contato com jogadora A decisão do juiz José Manuel Fernández-Prieto, da Audiência Nacional, onde foi realizado o julgamento, também proíbe Rubiales de se aproximar de Hermoso num raio de 200 metros e de se comunicar com ela por um ano. O Ministério Público da Audiência Nacional havia solicitado uma pena total de dois anos e seis meses de prisão para Rubiales, dos quais um ano pelo crime de agressão sexual, mais um ano e meio por coação. Por este último crime, o representante do Ministério Público também havia pedido uma pena de um ano e seis meses para os outros três acusados. O advogado de Rubiales já anunciou que recorrerá da sentença. Beijo acabou com carreira do dirigente "Rubi", como é chamado pelos amigos, era presidente da RFEF desde maio de 2018. Ele viu sua carreira desandar após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina em Sydney. Em 20 de agosto de 2023, diante das câmeras, ele agarrou a cabeça de Hermoso com as duas mãos e a beijou de surpresa na boca: um ato "espontâneo", em sua opinião, mas "inapropriado" para Hermoso, que negou ter dado seu consentimento. Diante da indignação pública, Rubiales pediu demissão em setembro de 2023 e encerrou uma carreira no futebol iniciada aos 14 anos de idade, quando ingressou no clube da pequena cidade de Motril, em Andaluzia, no sul da Espanha. Nascido em Las Palmas há 47 anos, Luis Manuel Rubiales Béjar iniciou uma carreira discreta nas divisões inferiores antes de pendurar as chuteiras na Escócia com o Hamilton Academical em 2009. Escândalos Extrovertido e franco, Rubiales foi cercado por escândalos durante seu período à frente da RFEF. Ele causou alvoroço ao demitir o técnico da seleção espanhola Julen Lopetegui dois dias antes do início da Copa do Mundo de 2018. Reeleito em 2020, transferiu a Supercopa da Espanha para a Arábia Saudita, num contrato controverso que foi examinado pelo Judiciário por suspeita de corrupção e acordos irregulares durante seu mandato. Ele chegou a ser detido no contexto do caso, que também envolve o ex-jogador do FC Barcelona Gerard Piqué, cuja empresa teria recebido uma comissão de 1 milhão de dólares para intermediar o acordo com Riad. Rubiales negou qualquer irregularidade. Mas o ex-cartola é também reconhecido por ter aumentado a renda e o patrocínio da federação, e procurado melhorar as condições do futebol juvenil, o que lhe rendeu o apoio das federações regionais. Ele também multiplicou o orçamento para o futebol feminino, embora tenha enfrentado a "rebelião das 15" que exigia melhorias estruturais e teve apoio de Jenni Hermoso. Desde que caiu em desgraça, Rubiales tem vivido discretamente na cidade andaluza de Granada como “só mais um vizinho”, segundo a mídia espanhola. md/av (EFE, AFP)


Short teaser Ex-chefe da federação de futebol condenado a pagar 11 mil euros por beijar atleta anuncia que recorrerá da sentença.
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Image caption Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney
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Item 41
Id 70932615
Date 2024-12-01
Title Briga de torcidas deixa 79 feridos no leste da Alemanha
Short title Briga de torcidas deixa 79 feridos na Alemanha
Teaser Partida da quarta divisão do futebol alemão em Jena, no leste do país, foi marcada por confrontos com a polícia e brigas entre torcedores rivais.

Confrontos entre torcedores antes e durante uma partida de uma liga regional de futebol do leste da Alemanha no sábado (30/11) deixaram 79 feridos, incluindo dez policiais e cinco seguranças.

Os incidentes ocorreram na cidade de Jena, no estado da Turíngia, e tiveram como pano de fundo uma partida entre o Carl Zeiss Jena e o BSG Chemie Leipzig, duas equipes que disputam a Regionalliga Nordost, liga equivalente à quarta divisão do futebol alemão.

Além dos 79 feridos - que incluíram 64 torcedores de ambos os times -, foram registradas 40 acusações criminais e de contravenção.

Jena fica a cerca de 100 quilômetros de Leipzig, cidade-sede do rival Chemie e que fica no estado da Saxônia. Apesar de ambas às torcidas serem associadas à ideologia de esquerda, as autoridades esperavam confusão, e a partida foi considerada de alto risco devido à antipatia entre os grupos de torcedores.

Uma multidão de 7.224 espectadores, incluindo 1.084 torcedores do Chemie, compareceu à partida em Jena.

De acordo com a polícia, cerca de 350 torcedores do visitante Chemie fizeram uma marcha pela cidade antes do jogo, sem aviso prévio. Durante o ato, torcedores dispararam fogos de artificio e a polícia disse que teve de intervir "com o uso de força física e violência física, além de cassetetes e gás lacrimogêneo".

Mais tarde, durante a partida - vencida pelo Carl Zeiss Jena por 5 a 0 -, houve confrontos entre as duas torcidas dentro do estádio.

Clubes condenam a violência

O Carl Zeiss Jena divulgou uma declaração no domingo sugerindo que grande parte da culpa foi dos torcedores visitantes. "Um grande grupo de aproximadamente 1.200 torcedores visitantes do Leipzig rompeu violentamente a barreira entre o bloco de visitantes e o Bloco N e obteve acesso à área da torcida do Jena", apontou o comunicado.

"Acima de tudo, o FC Carl Zeiss Jena deseja aos afetados uma rápida recuperação. O clube terá um quadro abrangente do que aconteceu nos próximos dias.”

O Chemie Leipzig adotou uma postura semelhante, criticando "a má conduta de uma minoria" de seus torcedores.

"Como clube, sofremos grandes danos ontem. De acordo com nossas evidências, fogos de artifício foram lançados repetidamente do setor visitante em direção ao setor da torcida adversária", disse um comunicado no site do clube. "Condenamos a violência na forma de confrontos físicos, especialmente o uso de fogos de artifício contra pessoas. Isso não tem lugar em nossos jogos de futebol e não será tolerado por nós."

Ambos os clubes disseram que ainda pretendem investigar os incidentes.

jps (DW, dpa, ots)

Short teaser Partida da 4° divisão do futebol alemão no leste do país foi marcada por confrontos com a polícia e briga de torcidas
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Item 42
Id 70919291
Date 2024-12-01
Title A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids
Short title A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids
Teaser Em 1991, o então astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se um marco na luta contra a aids. Até hoje, ele segue empenhado em campanhas de esclarecimento sobre a doença.

Em meio a lágrimas dos repórteres veteranos, Earvin "Magic" Johnson permanece calmo. "Vou ter que me aposentar do Lakers porque contraí o vírus HIV", afirma. O astro do basquete tinha 32 anos quando proferiu essa frase, com voz firme, em 7 de novembro de 1991. Em seguida, acrescentou que não tinha aids, mas apenas HIV, o que havia sido confirmado pelo Dr. Michael Mellman pouco antes da coletiva de imprensa.

O médico do Los Angeles Lakers havia chamado Johnson depois de uma viagem do time para lhe dar a má notícia. "Quando ele me contou pela primeira vez, eu pensei: 'Ah, cara, eu vou morrer. Acho que acabou'. E ele disse: 'Não, não, não acabou'", lembrou Johnson mais tarde em uma entrevista à emissora pública PBS. Melman lhe disse que ele tinha que começar a tomar medicação e aprender a se sentir confortável com sua nova condição. Assim, poderia viver por muito tempo.

Em 1991, a infecção pelo HIV ainda era considerada uma sentença de morte pela opinião pública. Isso explica por que a coletiva de imprensa de Johnson causou um choque tão grande, comparável, para alguns, com a morte de John F. Kennedy, assassinado em 1963, ou com a renúncia de Richard Nixon após o caso Watergate em 1974.

"Magic" Johnson estava no auge da carreira e era uma superestrela do esporte em todo o mundo. Ele havia conquistado cinco títulos da NBA com o Lakers e tinha sido eleito o Jogador Mais Valioso (MVP) da temporada três vezes. "Magic" Johnson era famoso em quase todo o mundo.

Até então, muitos viam a aids como uma doença que só afetava gays ou viciados em drogas. Johnson, entretanto, não pertencia a nenhum desses grupos.

"Agora estou me tornando um porta-voz do HIV porque quero que as pessoas entendam que não há como evitar o sexo seguro. Às vezes, pensamos que somente os homossexuais podem contrair o vírus, que isso não pode acontecer comigo. Mas agora estou aqui para dizer que pode acontecer com qualquer um, até comigo. Todos deveriam ter mais cuidado", disse Johnson.

Dois meses antes do anúncio, em setembro de 1991, Johnson havia se casado com sua esposa Cookie. Na coletiva de imprensa, disse que sua esposa grávida não era portadora do vírus. Foi somente mais tarde que ele revelou que havia contraído o HIV durante relações sexuais desprotegidas com outra mulher.

"Efeito Johnson" em testes de HIV

Ainda em 1991, o astro do basquete criou a Fundação Magic Johnson, que apoia financeiramente grupos e campanhas contra a aids. E ele nunca se cansou de engajar ações para afetados e para aumentar a conscientização sobre a doença. Em 1º de dezembro de 1999, no Dia Mundial da Aids das Nações Unidas, ele foi um dos principais oradores, descrevendo a doença como "inimigo público número um".

As palavras de Johnson não foram em vão. Em 2021, cientistas americanos estimaram que a coletiva de imprensa de 7 de novembro de 1991 fez com que um número significativamente maior de homens nos EUA fizesse o teste de HIV nos meses seguintes, principalmente entre heterossexuais negros e hispânicos em cidades com clubes da NBA.

A carreira de "Magic" Johnson, porém, não terminou naquele dia de novembro. Em 1992, ele jogou no time All-Star da NBA pela conferência oeste – esse jogo coloca frente a frente jogadores de equipes do leste e do oeste dos EUA. No mesmo ano, fez parte do chamado "Dream Team" que ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona.

Na temporada 1995/96, Johnson comemorou outro retorno como jogador do Lakers antes de se aposentar definitivamente. Em homenagem ao ex-atleta, o clube aposentou a camisa número 32. E "Magic" Johnson entrou para o Hall da Fama do Basquete em 2002.

Bilionário e filantropo

"Magic" Johnson está agora com 65 anos. Investiu com sucesso o dinheiro que ganhou no esporte, em imóveis, cinemas e empresas como a seguradora de vida EquiTrust e a rede de cafeterias Starbucks. A revista Forbes estima que a fortuna atual de Johnson seja de 1,2 bilhão de dólares.

Há muito tempo, a Fundação Magic Johnson apoia não somente projetos de combate à aids, mas também outras organizações ligadas à educação, à saúde e que atuam para atuar carências sociais em cidades etnicamente diversas. Johnson está sempre envolvido, geralmente acompanhado de sua esposa Cookie e, com frequência, de seus filhos Earvin "EJ", Elisa e Andre, de um relacionamento anterior.

Quando Johnson foi diagnosticado com HIV em 1991, havia apenas um medicamento contra a aids no mercado, a azidotimidina, ou AZT. Atualmente, há várias substâncias ativas que ajudam a reduzir a carga viral do HIV. Quando bem-sucedido, o sistema imunológico do paciente se recupera e ele pode viver e trabalhar normalmente. O HIV é considerado altamente tratável, se a infecção for detectada precocemente e o tratamento for iniciado imediatamente.

Mas ainda há uma clara divisão entre os hemisférios Norte e Sul: o número de soropositivos no mundo todo é estimado em cerca de 40 milhões, com mais da metade vivendo no sul da África. Um quarto de todas os infectados não recebe nenhum medicamento.

"Não estou curado. Apenas tomei minha medicação. Estou fazendo o que devo fazer e, graças a Deus, o HIV no meu sistema sanguíneo e no meu corpo está praticamente morto. E não queremos que nada o desperte", disse Johnson em uma entrevista à PBS há alguns anos.

Short teaser Em 1991, astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se marco na luta contra o vírus.
Author Stefan Nestler
Item URL https://www.dw.com/pt-br/a-luta-de-magic-johnson-contra-o-hiv-e-a-aids/a-70919291?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 43
Id 64814042
Date 2023-02-25
Title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
Short title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
Teaser

O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia

UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção. Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março. Lei antioligarca De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda. Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias. Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado. Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares. Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados ​​por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas. Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares. Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país. Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros. A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões. Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares. Não existem mais oligarcas ucranianos? Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política. Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los". De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE. Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra. "Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos. Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.


Short teaser UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas.
Author Eugen Theise
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Image caption O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia
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Item 44
Id 64820664
Date 2023-02-25
Title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Short title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
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Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil

De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02). A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes. Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros. O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro. Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado. Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos. De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas. Turquia começa reconstrução As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção. Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep. Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente. Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad. Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados. Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares. Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores. Istambul precisa de 40 bilhões de dólares Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto. "A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico. De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia. Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil. le (EFE, DPA, Reuters, ots)


Short teaser De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos.
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Image caption Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil
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Item 45
Id 64819106
Date 2023-02-25
Title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
Short title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
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"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,

Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado. Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética. Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia. Acordo após mais de 24 horas de reuniões As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões. "Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter. O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca. Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen. O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE. Sanções contra firmas iranianas Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia. As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas. Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco. O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia. No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional. md (EFE, Reuters, AFP)


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Item 46
Id 64816115
Date 2023-02-24
Title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
Short title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
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Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia

Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia. Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou. Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor." Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz. "No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter. Estreitar laços O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra. Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou. Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo". O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra". Proposta da China Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países. "Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou. Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev. cn/bl (Reuters, AFP, Efe)


Short teaser Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev.
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Image caption Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia
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Item 47
Id 64811757
Date 2023-02-24
Title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Short title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Teaser Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado.

Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos.

Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares.

Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia.

Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%.

No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente.

Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim.

"A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico.

A proposta da China para a guerra na Ucrânia

Até a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta.

Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito.

No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada.

"A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW.

Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia.

O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais.

"Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia.

"No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou.

Mediador duvidoso

Além disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou.

Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin.

"É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner.

Campanha de relações públicas sem riscos

A proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática.

"O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura.

"Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou.

"Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner.

Outros pontos da proposta

O texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais.

A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta.

"O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang.

Short teaser Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia.
Author Alena Zhabina
Item URL https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 48
Id 64811407
Date 2023-02-24
Title Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin
Short title Zelenski, o presidente subestimado por Putin
Teaser Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente.

As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo.

Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!".

"Preciso de munição, não de carona"

Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido.

A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos.

A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo.

Câmeras, as armas mais poderosas de Zelenski

Em seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana.

No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos".

No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo.

Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas.

Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação.

Putin não levou Zelenski a sério

Muitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin.

A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia.

Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado.

Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente.

Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir.

Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos.

Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar.

Nem tudo é fácil

Isso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos.

Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana.

O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia.

Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana.

Short teaser Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores.
Author Roman Goncharenko
Item URL https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 49
Id 64810396
Date 2023-02-24
Title Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Short title Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão?
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Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia

Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online. Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa. "Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema." A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha". Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída. Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real. Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala. "Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW. Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos. Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento. Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real. "Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman. Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização. "É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman. Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse. "Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman. Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos. O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum". "Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças. Fadiga por compaixão em relação a refugiados Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia. "Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW. Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo. É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África. "Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa. A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo. "Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW. Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis. "Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW. Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida. Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.


Short teaser Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia.
Author Fred Schwaller
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Image caption Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia
Image source Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance
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Item 50
Id 64809638
Date 2023-02-24
Title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
Short title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
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Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos. Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março. Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados. Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos. Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas." Pressão por interdição total do TikTok nos EUA Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos. O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas". "Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro. Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China. TikTok nega ingerência de Pequim Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos. Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados. Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados. av/bl (AFP, Reuters, ots)


Short teaser Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos.
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Item 51
Id 64800152
Date 2023-02-24
Title Como e quando poderia haver paz na Ucrânia?
Short title Como e quando poderia haver paz na Ucrânia?
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Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar

Um ano após o início da guerra, nenhum dos lados parece disposto a negociações. Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para o conflito.Dezenas de milhares de soldados mortos e mutilados dos dois lados, milhares de vidas de civis ucranianos perdidas, cidades destruídas. A isso se somam uma crise energética mundial, inflação em diversos países em desenvolvimento e fome. Este é o balanço de uma guerra que, depois de um ano, parece longe de ter fim. O presidente russo, Vladimir Putin, não alcançou seu objetivo de conquistar totalmente a Ucrânia. Mas a Rússia ocupa atualmente um quinto do território vizinho. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por sua vez, afirma reiteradamente que pretende reconquistar toda a área tomada pelos russos – inclusive a Península da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014. Em discurso sobre o estado da naçãona última terça-feira (21/02), Putin não se mostrou disposto a ceder – pelo contrário. "É impossível derrotar nosso país no campo de batalha", afirmou. O mandatário escalou o discurso com o anúncio da suspensão da participação da Rússia no tratado de desarmamento nuclear New Start, o último acordo do tipo ainda em vigor entre Moscou e Washington. O anúncio parece ter sido uma reação à visita surpresa do presidente americano, Joe Biden, a Kiev no dia anterior. Biden garantiu a continuidade do apoio dos EUA a Zelenski. "Não se trata apenas da liberdade da Ucrânia. Trata-se da própria liberdade da democracia", disse Biden. Em seguida, em visita à capital polonesa, Varsóvia, Biden reforçou que a Ucrânia "jamais será uma vitória para a Rússia". Porém, tanto entre os republicanos no Congresso americano quanto entre a população dos EUA, a disposição em apoiar a Ucrânia no longo prazo está diminuindo. Temor de uma terceira guerra mundial A pressão para negociações de paz também aumenta na Alemanha. A mais recente Deutschlandtrend – pesquisa de opinião mensal da emissora pública ARD, realizada pelo instituto Infratest dimap – mostra que 58% dos entrevistados consideram que os esforços diplomáticos para encerrar a guerra são insuficientes – um recorde histórico. Uma petição encabeçada por Sahra Wagenknecht, da legenda A Esquerda, e pela feminista Alice Schwarzer pede o início imediato de negociações de paz e o fim do envio de armas à Ucrânia pela Alemanha, que reviu seu pacifismo de décadas e adotou uma postura voltada à remilitarização com o início do conflito. O documento, assinado por teólogos, artistas e políticos, alerta contra uma nova guerra mundial. O embaixador ucraniano em Berlim, Oleksei Makeiev, disse a um portal alemão de notícias que não consegue entender esse temor: "A Ucrânia já está na Terceira Guerra Mundial. A Rússia lidera uma guerra de aniquilação contra nós." Reconquista de territórios ocupados Já no ano passado, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, descartou, em entrevista à DW, passos unilaterais para alcançar a paz. O motivo: "Se a Ucrânia encerrar os combates, vai deixar de existir como Estado independente." Por isso, segundo Stoltenberg, Kiev precisaria vencer a guerra. Para que a Ucrânia possa manter sua liberdade, países ocidentais vêm reforçando seu auxílio militar à nação invadida pela Rússia. No início deste ano, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, decidiu após longa hesitação, enviar tanques alemães à Ucrânia, depois que os EUA e outros países da Otan, como o Reino Unido, anunciaram o envio de blindados a Kiev. Especialmente o modelo Leopard 2, fabricado na Alemanha, poderia ajudar a "superar a desvantagem da Ucrânia no campo de batalha", afirmou o coronel reformado Roderich Kiesewetter, que também é político do partido conservador alemão CDU, em mensagem por escrito à DW. "Mas, se os ucranianos conseguirão uma virada na linha de frente, dependerá do número, do tempo de fornecimento e da continuidade do envio de tanques", avalia. A Ucrânia não espera só rechaçar ataques russos com os blindados. O consultor em segurança Nico Lange, que desde julho de 2022 trabalha para a iniciativa Zeitenwende da Conferência de Segurança de Munique e já ocupou posições de liderança na Fundação Konrad Adenauer, ligada à CDU, considera "realistas as chances militares de a Ucrânia reconquistar a totalidade dos territórios ocupados [pela Rússia] e, assim, reconstituir a paz". Em entrevista à DW, Lange diz acreditar que "Putin só estará disposto a negociar quando a situação militar ficar tão favorável à Ucrânia que ele entenderá que não vai conseguir vitórias com essa guerra de agressão". O general aposentado da Bundeswehr Helmut Ganser não partilha dessa visão. Na edição de fevereiro da publicação especializada em política internacional Journal für Internationale Politik und Gesellschaft, ele traça dois cenários para uma contraofensiva ucraniana rumo ao sul do país, na direção do Mar de Azov, com a atuação de tanques ocidentais. No quadro mais pessimista, a ofensiva ucraniana ficaria atolada em meio à defesa maciça da Rússia. Para esse caso, Ganser já tenta preparar a opinião pública ocidental para "imagens de tanques Leopard destroçados", que a Rússia divulgaria na internet com prazer. Para Ganser, o cenário mais otimista é ainda mais perigoso: as unidades de blindados avançariam até o Mar de Azov e ficariam diante da Península da Crimeia. O ex-general suspeita que seria no máximo nesse momento que Putin "expandiria a área total da guerra ao território dos países ocidentais apoiadores", e alerta: "Está aumentando o perigo de um deslizamento lento e, na verdade, não intencional, rumo a uma grande catástrofe para toda a Europa." Já Lange vê a ameaça nuclear da Rússia como "um instrumento de guerra psicológica". Ele não apenas considera uma reconquista da Crimeia "possível do ponto de vista militar", mas endossa também a tentativa como algo aconselhável: "Exatamente pelo fato de que [perder] a Península da Crimeia seria uma vergonha para Vladimir Putin, a pressão militar sobre a Crimeia é uma possibilidade de fazer com que a Rússia se disponha a negociar", avalia. Onde está o limite? Os especialistas ouvidos pela DW se dividem quanto à possibilidade de a pressão militar aumentar ou a disposição de negociar da Rússia ou o risco de uma guerra nuclear. O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), sempre sublinhou que a Alemanha não pode se tornar parte diretamente envolvida no conflito. Por isso, houve longa hesitação do país em decidir enviar tanques à Ucrânia, e Scholz ainda descarta o envio de aviões de guerra a Kiev. Biden também não prometeu caças a Zelenski. Já o político da CDU e ex-militar Kiesewetter não "traçaria linhas vermelhas no que se refere a certos sistemas de armas". No contexto do direito internacional, um país só se transforma em parte envolvida numa guerra quando se envia soldados próprios, aponta Kiesewetter, que descarta tal cenário. Objetivos incompatíveis de pacificação Porém, entre os países que apoiam a Ucrânia, há muitos que acreditam que não será possível encerrar o conflito sem alguma disposição de Kiev de chegar a um acordo político. Na própria Ucrânia, essa vontade é quase imperceptível, segundo avalia o jornalista Roman Goncharenko, da redação ucraniana da DW. "Nas primeiras semanas depois da invasão, Kiev estava disposta a fazer concessões, como neutralidade em vez de se tornar país-membro da Otan. Mas a brutalidade do Exército russo e a anexação de mais regiões praticamente impossibilitaram a busca de um compromisso. Uma pesquisa encomendada pela Conferência de Segurança de Munique mostrou que 93% dos ucranianos veem uma retirada completa da Rússia – também da Crimeia – como condição para um cessar-fogo", explica Goncharenko. Um cenário irrealista na avaliação do cientista político Johannes Varwick, da Universidade alemã de Halle: "Muito provavelmente, no final, haverá uma Ucrânia neutra que não ficará na zona de influência do Ocidente ou da Rússia de forma nítida", especula. Varwick vê urgência numa iniciativa de negociação do Ocidente. "Se, ao final de uma guerra longa ou que foi intensificada, tivermos o mesmo resultado que já seria possível hoje, não faz sentido continuar lutando com dezenas de milhares de mortos e pessoas traumatizadas", pontua. Há sinais reais de pacificação? Na última semana, a embaixada russa em Berlim divulgou o seguinte tuíte: "Todas as ações de combate terminam em negociações, estamos dispostos a elas. Mas apenas a negociações sem condições prévias e com base na realidade válida e considerando os objetivos que comunicamos publicamente." Uma declaração que não pode ser interpretada como disposição a um acordo. A "realidade válida" inclui a ocupação russa de um quinto da Ucrânia, enquanto um dos objetivos era até mesmo a aniquilação completa do Estado ucraniano. Durante a Conferência de Segurança de Munique deste ano, a China anunciou um plano de paz. Os governos do Ocidente, no entanto, veem o anúncio com ceticismo devido ao fato de a China nunca ter condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia. O Secretário de Estado americano, Antony Blinken, também teme que a China possa enviar armas à Rússia – o que Pequim contesta. Vitória militar ou paz com compromissos? O economista americano Jeffrey Sachs escreveu na edição de janeiro da revista britânica The Economist que, para uma solução de paz "credível", é decisivo que "os interesses de segurança mais importantes dos dois lados sejam respeitados". "A soberania e a segurança da Ucrânia precisam ser garantidas, enquanto a Otan precisaria prometer não se expandir para o leste." Sachs espera impulsos de pacificação vindos sobretudo dos países que recusaram uma condenação da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas – além da China, Índia, Brasil e África do Sul, que são parceiros da Rússia no Brics. "Esses países não odeiam nem a Rússia, nem a Ucrânia", afirma o economista. "Eles não querem nem que a Rússia conquiste a Ucrânia, nem que a Otan se expanda para o leste." Kiesewetter, da CDU, alerta contra concessões a Moscou: "É um equívoco pensar que basta dar um pouco de terra para a Rússia para que o país mate sua sede de destruição. E uma eventual conquista de território pela Rússia serviria de modelo para outros países autocráticos definirem novas fronteiras militares, recorrendo a chantagem ou ameaça nuclear." O especialista acredita que principalmente a China já encara a Europa como uma "área de teste", tendo em vista a soberania de Taiwan.


Short teaser Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para a guerra.
Author Christoph Hasselbach
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-e-quando-poderia-haver-paz-na-ucrânia/a-64800152?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/64777649_354.jpg
Image caption Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar
Image source Libkos/AP Photo/picture alliance
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Item 52
Id 64793993
Date 2023-02-24
Title A guerra na Ucrânia em números
Short title A guerra na Ucrânia em números
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Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia

Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em apoio militar e várias sanções. Dez gráficos ilustram as consequências de um ano de guerra de agressão russa.A Rússia está em guerra com a Ucrânia há um ano. Apesar da recaptura bem-sucedida de várias áreas pelo Exército ucraniano, grandes partes do país permanecem sob controle russo. Recentemente, em 19 de janeiro de 2023, as forças ucranianas se retiraram de Soledar, na região do Donbass, e desde então a cidade voltou às mãos dos russos. Milhões de pessoas em fuga De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, a guerra desencadeou a segunda maior crise de deslocamento do mundo. Na Europa, 6,3 milhões de refugiados ucranianos encontraram abrigo até agora. Outros 6,6 milhões de pessoas estão em fuga dentro do próprio país. De acordo com as Nações Unidas, muitas pessoas são deportadas para a Rússia ou instadas a emigrar para lá, especialmente das áreas do leste da Ucrânia. Isso explica o alto número de refugiados na Rússia, país que usam para tentar chegar à União Europeia. Pobreza e recessão De acordo com o Acnur, a situação humanitária na Ucrânia "deteriorou-se rapidamente". Cerca de 40% da população depende agora de ajuda para sobreviver. A situação econômica também é catastrófica. De acordo com o Banco Mundial e o Ministério da Agricultura da Ucrânia, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 35% em 2022. Sessenta por cento da população vive agora na linha da pobreza. A destruição da infraestrutura doméstica pela guerra é estimada em mais de 130 bilhões de euros. Resiliência na Rússia Em contraste com a Ucrânia, a situação na Rússia é menos crítica do que o estimado. Entretanto, os especialistas esperam uma deterioração este ano devido às sanções adicionais da União Europeia (UE) contra a Rússia adotadas em fevereiro deste ano. As projeções para o desenvolvimento econômico da Rússia variam muito: enquanto a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) espera que a economia russa retroceda em 5,6% este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um pequeno crescimento, de 0,3%. As receitas da Rússia provenientes das exportações de energia inicialmente cresceram acentuadamente após a explosão dos preços em março de 2022, mas depois caíram de forma constante. Entretanto, se estabilizaram no nível de dezembro de 2021, anterior à guerra. Em vista da queda dos preços do gás e do petróleo, bem como da diminuição da demanda, especialmente na UE, mas também em vista da estagnação na China, espera-se no ano em curso uma nova queda na receita da Rússia proveniente das exportações de energia. Bilhões para a defesa ucraniana Bilhões de dólares em ajuda militar, humanitária e financeira têm fluído para a Ucrânia desde que a guerra começou. Com mais de 70 bilhões de euros em ajuda, os Estados Unidos encabeçam a lista de países doadores. A UE e seus membros já mobilizaram mais de 50 bilhões de euros. A Alemanha é um dos maiores fornecedores de armas para a Ucrânia. Para 2023, estão previstos 2,2 bilhões de euros em ajuda militar. Em vista da esmagadora superioridade militar da Rússia sobre a Ucrânia, a Otan também expandiu sua presença militar em seu flanco oriental. As chamadas forças de combate multinacionais foram destacadas para os Estados bálticos e a vigilância aérea na região foi reforçada. Queda do preço do trigo Pelo menos uma das catástrofes previstas não se concretizou: uma crise alimentar global devido à escassez de trigo foi evitada. De acordo com os ministérios da Agricultura da Ucrânia e dos Estados Unidos, a produção global de trigo aumentará de 778 milhões de toneladas na safra de 2021/2022 para 783 milhões de toneladas na de 2022/2023. O preço do trigo, que após a invasão russa da Ucrânia atingiu um pico de mais de 430 euros por tonelada no mercado mundial em maio de 2022, voltou a cair para pouco menos de 300 euros a tonelada. O valor aproxima-se assim do preço de antes da guerra, quando o grão era comercializado por 275 euros a tonelada. As perdas de produção na Ucrânia − ainda um dos principais produtores mundiais de trigo − estão sendo compensadas por outros países. A Austrália e a Rússia, em particular, aumentaram sua produção. Segundo a agência de notícias russa Tass, o aumento se deve "à incorporação de quatro territórios ucranianos". Com 102 milhões de toneladas, o Ministério da Agricultura russo também espera uma safra muito maior do que a estimada pelo Departamento de Agricultura americano.


Short teaser Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em ajuda militar: dez gráficos mostram consequências do conflito.
Author Astrid Prange de Oliveira
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Image caption Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia
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