DW

Item 1
Id 72510757
Date 2025-05-11
Title Os cigarros eletrônicos dispararam uma crise de saúde mundial?
Short title Os vapes dispararam uma crise de saúde mundial?
Teaser Casos de danos pulmonares raros, porém graves, foram relatados nos EUA e em outros países. Adolescentes são mais vulneráveis aos riscos.

Uma adolescente de 17 anos nos Estados Unidos foi recentemente diagnosticada com bronquiolite obliterante após usar vape em segredo por três anos. Essa condição irreversível provoca cicatrizes nos bronquíolos — pequenas ramificações das vias aéreas nos pulmões — e compromete a capacidade de respirar.

Apesar de rara, a doença diagnosticada na jovem reflete um problema maior. Em 2019, quase 3 mil casos de lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos — conhecida como Evali — foram registrados pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Sessenta e oito pessoas morreram, a maioria adolescentes e jovens adultos.

Apesar do número de mortes associadas ser considerado baixo, os riscos à saúde causados pelo uso do vape podem ser permanentes, diz Donal O'Shea, professor de química na Universidade de Medicina e Ciências da Saúde RCSI, na Irlanda.

"De vez em quando, alguns dos casos mais graves chegam às manchetes. Mas por trás de tudo isso está o dano lento e prolongado que os usuários de cigarros eletrônicos estão sofrendo em seus pulmões", afirma.

Embora o cigarro eletrônico seja frequentemente promovido como uma alternativa mais segura aos cigarros tradicionais, cientistas questionam a falta de conhecimento sobre seus efeitos a longo prazo.

Este foi um dos motivos para países como Inglaterra, Brasil, México, Japão e integrantes da União Europeia proibirem ou regulamentarem a comercialização dos cigarros eletrônicos descartáveis. Até o momento, pesquisas já indicam que usuários de vapes são mais propensos a desenvolver câncer de pulmão, e que o uso do dispositivo pode causar infarto e depressão.

O que acontece ao usar o vape?

Ao inalar um vape, uma bateria ativa uma bobina de metal que aquece o líquido dentro do aparelho. Esse aquecimento gera um aerossol que é puxado diretamente para os pulmões.

O líquido do vape contém uma mistura de produtos químicos com sais de nicotina e aromatizantes. A combinação desses elementos pode gerar milhares de reações químicas.

Ainda não se sabe exatamente o que acontece quando esses compostos aquecidos entram nos pulmões.

"O que nunca foi testado é colocar [esses produtos químicos] em um dispositivo, aquecê-los e inalar", afirmou O'Shea. "A forma como você introduz um composto ou um produto químico no seu corpo é muito importante para determinar quão tóxico ele é."

"O que esse produto químico vai encontrar primeiro? Vai ser o tecido pulmonar sensível, que não se regenera. É aí que a cicatrização prolongada ou o dano ao tecido pulmonar ao longo dos anos acaba levando à bronquiolite obliterante", completou.

Vape faz mal à saúde?

Pesquisadores ainda tentam entender os efeitos do vape no corpo humano, mas os sinais são preocupantes. Estudos indicam que o uso do dispositivo causa inflamação nos pulmões, e usuários relatam tosse, irritação na garganta e falta de ar.

"Historicamente, foram necessárias décadas de pesquisa para provar que o tabaco causa doenças, com as empresas que vendiam esses produtos negando qualquer dano", lembra O'Shea. "Infelizmente, parece que estamos permitindo que a história se repita com o vape."

Cigarros tradicionais vêm sendo estudados há décadas, com o câncer como uma consequência já bem estabelecida. Os vapes, por outro lado, só se popularizaram nos últimos anos, e seus efeitos prolongados ainda são pouco compreendidos.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ainda que não se saibam os efeitos futuros do uso do vape, já se comprovou que eles liberam substâncias cancerígenas, aumentando o risco de transtornos cardíacos e pulmonares. As substâncias contidas nos vapes, diz a entidade, podem afetar o desenvolvimento do cérebro e causar transtornos de aprendizagem nos jovens.

Riscos maiores para adolescentes

"Nos adolescentes, o tecido pulmonar, o tecido cardíaco e o tecido cerebral ainda estão se desenvolvendo […] então são muito mais sensíveis a danos. E, por isso, eles são mais suscetíveis às toxinas que estão inalando", explicou O'Shea.

A nicotina, principal ingrediente da maioria dos vapes, é altamente viciante. Muitos adolescentes relatam sentir ansiedade ou irritação poucas horas após o último uso.

Profissionais da saúde também alertam que o vape pode facilitar o vício em nicotina. "O que estamos vendo, de fato, é que os jovens estão ficando viciados muito, muito rapidamente", afirmou O'Shea.

Nos cerca de 3 mil casos registrados de lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos nos EUA, o principal responsável pelas mortes parece ter sido o acetato de vitamina E, um produto sintético usado como espessante. Em 2019, pesquisadores descobriram que, ao ser aquecido, ele produz um gás altamente tóxico e inalável chamado ceteno.

Casos em diversos países

O uso de vapes não é uma tendência exclusiva dos EUA.

Ainda não há dados globais consolidados sobre o número de mortes associadas ao uso de cigarros eletrônicos, mas casos similares também já foram identificados em países como Canadá, Dinamarca, Irlanda, Espanha, Bélgica e Austrália.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que crianças entre 13 e 15 anos usam vapes em taxas mais altas do que os adultos em várias partes do mundo.

Um estudo recente da Universidade da Cidade do Cabo (UCT) com 25 mil estudantes do ensino médio na África do Sul revelou que 16,8% deles usam vape — muito mais do que os 2% que relataram fumar cigarros tradicionais.

Os cigarros eletrônicos atraem jovens por meio de sabores chamativos e da crença generalizada de que são menos nocivos que os cigarros.

O número coincide com o encontrado na Pesquisa Nacional de Saúde Escolar do IBGE, de 2019. O estudo indicou que 16,8% dos adolescentes brasileiros entre 13 e 17 anos já usaram o vape.

No Brasil, o número de usuários de cigarro eletrônico subiu de quase 500 mil, em 2018, para 2,8 milhões, em 2023, segundo dados do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica Ipec.

Short teaser Casos de danos pulmonares raros, porém graves, foram relatados nos EUA e em outros países.
Author Amy Stockdale
Item URL https://www.dw.com/pt-br/os-cigarros-eletrônicos-dispararam-uma-crise-de-saúde-mundial/a-72510757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 2
Id 72504004
Date 2025-05-11
Title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
Short title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
Teaser

Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte

Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006. Federação prepara plano para resgatar interesse dos jovens pelo esporte.Na Alemanha, o entusiasmo pela participação da seleção na Copa do Mundo de 2026 contrasta com uma realidade preocupante para o esporte: desde 2006, o país perdeu quase 6 mil equipes masculinas de futebol nas categorias sub-19 e sub-17. Em resposta à crise que ameaça o futuro do futebol no país, a Federação Alemã de Futebol (DFB) vem desenvolvendo uma série de reformas estruturais coordenadas por Hannes Wolf, ex-treinador da Bundesliga – o campeonato alemão – e atual diretor de futebol juvenil da entidade. "Temos que garantir que não haja uma participação falsa, mas que os jovens realmente se envolvam", disse em uma conferência da entidade. "Se você já está no banco no sub-13 e não é bom o suficiente para se dedicar à sua paixão, então eu também diria aos meus filhos que se dediquem a outra coisa." A conferência realizado em Frankfurt reuniu 220 representantes das 21 federações regionais da Alemanha. O objetivo era construir um novo plano nacional para as categorias de base, com foco na identidade do esporte — onde a diversão precede os resultados. As propostas discutidas devem ser apresentadas até setembro, durante o Dia Nacional da Juventude da Alemanha, e testadas por federações regionais antes da adoção plena em 2026. "O futebol precisa se modernizar se quiser continuar sendo atraente para os jovens no futuro", disse Bernd Neuendorf, presidente da DFB. "Mesmo que atualmente tenhamos longas listas de espera nos clubes de muitas cidades, já não é garantido que as crianças comecem a jogar futebol e permaneçam nas categorias de base." O que vem mudando no futebol europeu O desafio enfrentado pela Alemanha não é exclusivo. Na Inglaterra, por exemplo, houve crescimento na adesão de crianças e adolescentes de 5 a 16 anos ao futebol após a pandemia da covid-19, mas a faixa de 16 a 24 anos registrou queda de 27% na participação entre 2015 e 2023, segundo levantamento da Sport England. A Federação Inglesa de Futebol (FA) respondeu com uma nova estratégia lançada em 2024. Entre as medidas, está o formato 3 contra 3 para menores de 7 anos, com estreia prevista para 2026, com o objetivo de aumentar o tempo de contato com a bola. Na Alemanha, Hannes Wolf acredita que a criatividade precisa voltar aos treinamentos. Uma das ideias é popularizar jogos em campos oficiais que simulem o estilo do futebol de rua. Pressões, custos e novas prioridades Plataformas digitais, altos custos para praticar o esporte, cronogramas excessivos e expectativas desproporcionais são apenas alguns dos obstáculos. Lesões, separações familiares e mudanças de cidade completam o quadro. Thomas Broich, diretor da categoria de base do Borussia Dortmund, alertou recentemente que o futebol juvenil pode se tornar um "grande problema cultural" para a Alemanha. Já o treinador Malte Boven, radicado em Hamburgo, observa que reformas feitas em 2019 priorizaram os mais novos, deixando os adolescentes em segundo plano — justamente os que estão mais próximos do futebol profissional. Para ele, compreender por que esta faixa etária tem desistido do esporte exige olhar para múltiplos fatores, especialmente as mudanças culturais. "Acho que o 'porquê' e o 'como' queremos jogar se tornaram mais importantes para os jogadores nos últimos anos", disse Boven à DW. "Há uma diferença social entre gerações." Confiança e estrutura como resposta Apesar de não prever uma escassez iminente de jogadores, Boven defende ajustes importantes para que o futebol continue sendo uma escolha atrativa. Isso inclui rever o modo de comunicação com atletas e pais, melhorar o acesso a instalações esportivas e ensinar os jovens a lidar com a pressão de forma conjunta com os treinadores. Ele apoia as propostas da Federação Alemã de Futebol, mas reconhece que a cultura do resultado ainda domina. "A participação é uma realidade quando se trata de vencer no futebol juvenil, especialmente em clubes amadores. Nesse caso, há uma pseudoparticipação de todos os jogadores envolvidos, porque não lhes dou a oportunidade de realmente fazer parte do jogo", pontua. "É preciso incutir neles a máxima confiança de que podem fazer isso, que merecem jogar no clube, que há um motivo para vestirem essa camisa. Porque, como treinador ou como clube, decidimos que eles joguem esse esporte, e agora nossa obrigação e responsabilidade é lhes dar tempo de jogo." Estratégias além do campo Boven também propõe alternativas para tornar o futebol mais relevante: oferecer aos jovens atletas uma "carta de desenvolvimento de habilidades" ao deixarem as categorias de base, ajudando a dar os próximos passos no mercado de trabalho. "Eu teria um incentivo completamente diferente de simplesmente me tornar um jogador profissional. Ainda quero ser, mas sei que aqui vou ter algo para mostrar pelo meu esforço", afirma. Para ele, é o futebol profissional — com sua mentalidade, cultura e influência — que mais precisa de atenção.


Short teaser Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006.
Author Jonathan Harding
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Item 3
Id 72509786
Date 2025-05-11
Title Habitação consome em média 24,5% da renda na Alemanha
Short title Habitação consome em média 24,5% da renda na Alemanha
Teaser

Pessoas em situação de risco de pobreza na Alemanha chegam a gastar em média 43,8% de sua renda com habitação

Gastos com aluguel e despesas com moradia são 5,3 pontos percentuais maiores no país do que a média europeia.Muitos acham que a vida na Alemanha se tornou mais cara, e agora os números mostram que pelo menos no quesito habitação essa sensação se confirma. O Departamento Federal de Estatísticas alemão analisou dados da agência de estatísticas da União Europeia Eurostat sobre custos com moradia a pedido do partido Aliança Sahra Wagenknecht (BSW, na sigla em alemão). Segundo os dados divulgados neste domingo (11/05) pela BSW, os habitantes da Alemanha gastaram no ano passado em média 24,5% da sua renda com aluguel ou outros custos de habitação, como financiamento da casa própria, aquecimento, seguros, impostos e consertos. Esse valor é 5,3 pontos percentuais maior do que a média na União Europeia (UE), que ficou em 19,2%. As pessoas em situação de risco de pobreza na Alemanha chegam a gastar em média 43,8% de sua renda com habitação. Na Alemanha, 12% das famílias gastaram mais de 40% de sua renda com despesas relacionadas à moradia. Na Europa, essa média fica em 8,2%. Custos maiores na Dinamarca e Grécia Em países comparáveis com a Alemanha, como França, Áustria e Holanda, a parcela de gasto com habitação em relação à renda é relativamente menor, afirmou a BSW. Os países europeus onde os custos de moradia consomem as menores as parcelas da renda são Chipre (11,4%), Malta (12,5%), Itália e Eslovênia (ambas com 13,6%). Os custos com habitação em relação à renda são maiores na Grécia (35,5%) e na Dinamarca (26,3%). Para reduzir os custos na Alemanha, a BSW defendeu um teto no valor dos aluguéis que seja válido para todo o país e uma maior participação de empresas públicas no setor imobiliário. cn (AFP, DW, ots)


Short teaser Gastos com aluguel e despesas com moradia são 5,3 pontos percentuais maiores no país do que a média europeia.
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Item 4
Id 72482655
Date 2025-05-11
Title Quem são os "herdeiros literários" de Rubem Fonseca
Short title Quem são os "herdeiros literários" de Rubem Fonseca
Teaser Luminar do romance policial brasileiro marcou e influenciou uma geração de escritores, como Marçal Aquino e Tony Bellotto. Ele faria cem anos neste domingo.

O escritor Marçal Aquino havia sido convidado para dar um depoimento sobre a obra de Rubem Fonseca no México, onde o autor de O Caso Morel (1973), Feliz Ano Novo (1975) e A Grande Arte (1983) receberia o Prêmio Juan Rulfo, um dos mais importantes da América Latina, em 2003. No pavilhão da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, Fonseca viu um enorme banner com sua foto, leu a citação escrita nele ("Eu sou um homem consumido pelo presente", em espanhol) e comentou com o amigo: "Muito bonito. Só que eu nunca escrevi essa frase".

Na mesma hora, Aquino rebateu: "Escreveu, sim". "Onde?", Fonseca ficou curioso. "Está no conto O Inimigo", desvendou o mistério. "Você não pode saber mais do que eu", insistiu, incrédulo. "A solução foi recorrer ao estande da editora Alfaguara, que havia lançado no México um volume com os melhores contos de Rubem Fonseca. E lá estava, no conto O Inimigo, a frase renegada", recorda Aquino. "A partir daquele dia, me converteu numa espécie de consultor da própria obra. De vez em quando, me escrevia perguntando em qual livro estava determinada cena."

Aos 67 anos, Marçal Aquino é considerado, pelo crítico Karl Erik Schollhammer, doutor em semiótica pela Universidade Aarhus, da Dinamarca, e professor do departamento de letras da PUC-Rio, um dos "herdeiros literários" de Rubem Fonseca. É autor, entre outros títulos, de O Amor e Outros Objetos Pontiagudos (1999), Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2005) e Baixo Esplendor (2021) e, entre outros roteiros, de Os Matadores (1997), O Invasor (2001) e O Cheiro do Ralo (2006).

Em 2023, Aquino foi convidado para dar uma palestra sobre seu mentor no ciclo Cadeira 41, da Academia Brasileira de Letras. "O primeiro livro dele que me caiu nas mãos foi Os Prisioneiros. Me impressionou a força da linguagem, a temática e, sobretudo, a capacidade de traduzir a realidade à nossa volta de maneira tão urgente e contundente", afirma. "Boa parte dos livros que saíam na década de 70, quando o Brasil vivia sob uma ditadura militar, eram alegóricos. Falavam da realidade por elipses. Rubem Fonseca ia direto ao nervo exposto".

"Você é Rubem Fonseca?"

Se Os Prisioneiros (1963) foi o primeiro livro a cair nas mãos de Marçal Aquino, O Caso Morel (1973) foi o primeiro a ser devorado por Patrícia Melo. À época, ela tinha apenas 15 anos. "Era uma leitora voraz de romances policiais e acreditava, na minha inocência e ignorância, que não era possível ter uma literatura cinematográfica como, por exemplo, a de Dashiell Hammett e Raymond Chandler, escrita em português", relata a escritora, hoje com 62. "Toda a minha geração foi muitíssimo influenciada por Rubem Fonseca. Ele criou uma escola de literatura urbana".

Patrícia Melo conheceu Rubem Fonseca no começo dos anos 90 em um jantar oferecido por Suzana Amaral. A cineasta estava produzindo um filme baseado no romance O Caso Morel e convidou a autora do recém-lançado Acqua Toffana (1994) para assinar o roteiro. "Durante o jantar, brinquei com Rubem: 'Vou te fazer um favor. Vou matar aquele dentista que o seu cobrador deixou escapar'". O dentista a que Patrícia se referia era o Dr. Carvalho, do conto O Cobrador (1979). E o assassino dele, Máiquel, do romance O Matador (1995), de sua autoria.

Os dois voltaram a trabalhar juntos outras vezes. Em 2001, Patrícia adaptou o romance Bufo & Spallanzani (1996) para o cinema e, dois anos depois, Rubem escreveu o roteiro de O Homem do Ano, versão de O Matador (1995). "Embora tivesse muitos amigos, era esquivo com fãs que o abordavam nas ruas. Uma vez, ele estava no cinema, na sessão das duas, de um cinema do Leblon, e o fotógrafo Toni Vanzolini o reconheceu por debaixo de seu indefectível boné. 'Você é o Rubem Fonseca?', perguntou Toni. 'Depende', respondeu Rubem. Esse era o jeito dele", relata.

Noutra ocasião, saiu de casa e sofreu uma queda de pressão. Para não cair, se apoiou numa árvore. Em seguida, sentou-se perto do meio fio. Pôs, então, as duas mãos na cabeça e ficou descansando por uns minutos. Dali a pouco, passa uma mulher e pergunta: "Você não é o Rubem Fonseca?". "Final da história: ela chegou em casa e deve ter dito: 'Encontrei o Rubem Fonseca bêbado, na sarjeta'", contou, certa vez, ao amigo Zuenir Ventura, de 93 anos.

Avesso a entrevistas

Rubem Fonseca era tão arredio que, no dia 9 de novembro de 1989, o jornalista Luiz Carlos Azenha, então repórter da extinta TV Manchete, não reconheceu o escritor, avesso a entrevistas e fotografias, ao entrevistá-lo durante a cobertura da queda do Muro de Berlim, na Alemanha. No crédito da reportagem, saiu apenas: "José Fonseca". "Meu pai era um homem discreto. Sempre foi. Não era uma figura conhecida. Queria ser reconhecido por sua obra", explica a escritora e pesquisadora Bia Corrêa do Lago, a primogênita do escritor.

Ao todo, Rubem Fonseca escreveu 32 livros: 19 de contos, 12 romances e um de crônicas – O Romance Morreu (2007). Desses, Vera Follain, doutora em letras pela PUC-Rio e autora do livro Os Crimes do Texto – Rubem Fonseca e a Ficção Contemporânea (2003), destaca Feliz Ano Novo: "Não só pelo impacto que causou devido à abordagem crua da violência urbana como pelo fato de ter sido proibido pela ditadura militar na década de 70".

Já Deonísio da Silva, doutor em letras pela USP e autor do volume Rubem Fonseca – Proibido e Consagrado (1996), aponta O Caso Morel como um dos mais importantes. "Como o auge de Rubem Fonseca coincide com uma queda acentuada na qualidade do ensino médio e universitário brasileiros, suponho que a maioria dos leitores não está preparada para ler e entender esse romance. Vai preferir outros títulos, como Agosto".

Peripécias em Berlim

Em comemoração ao centenário de Rubem Fonseca, no próximo dia 11, a editora Nova Fronteira lança, a partir de junho, o box Todos os Contos + 2, que traz os inéditos Natal e Arinda. Os dois foram escritos em 1958 e descobertos em 2020 na casa do autor, no Leblon. Até o final do ano, a editora Capivara lança uma fotobiografia, com fotos raras ao lado da cantora Carmen Miranda, em 1954, ou do escritor Gabriel García Márquez, no final dos anos 70, entre outros. Segundo Bia Corrêa do Lago, o pai gostava de ler poesia ("Sua favorita era Florbela Espanca!"), fazer exercícios ("Guardava halteres debaixo da cama") e trabalhar com música ("Ouvia de tudo: samba, ópera, rock…").

O caçula José Henrique Fonseca, irmão de Bia e do fotógrafo Zeca Fonseca, também pretende homenagear o pai. Diretor de Agosto (1993), Mandrake (2005) e Lúcia McCartney (2016), inspirados na obra de Rubem Fonseca, o cineasta está rodando o documentário José. Ainda sem previsão de estreia, vai trazer depoimentos de amigos como o cineasta Walter Salles, diretor de A Grande Arte (1991), e imagens de cidades como Berlim, onde Rubem morou cinco meses como bolsista do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) – dois em 1985 e três em 1989.

Na crônica Reminiscências de Berlim (2007), Fonseca lembra das vezes em que cruzou a fronteira com obras de autores nacionais, como Clarice Lispector, Érico Veríssimo e Guimarães Rosa, contrabandeados para um professor alemão, Erhard Engler. "Os livros enviados pelo correio não chegavam às suas mãos. Na fronteira, por portador, eram apreendidos", escreve. "Como era inverno no dia em que levei a primeira remessa, vesti um largo casacão e enfiei os livros em torno da barriga e das costas. Não podiam ser vistos, a não ser que eu tirasse o sobretudo".

Na cena do crime

Além dos três filhos, todos do casamento com a tradutora Théa Maud Komel, Rubem Fonseca deixou incontáveis discípulos. Um deles é o carioca Raphael Montes, de 34 anos. Seu primeiro contato com a obra do mestre foi por meio do conto O Anjo das Marquises (1998). Na opinião do autor de Dias Perfeitos (2014), Jantar Secreto (2016) e Uma Família Feliz (2024), o personagem Paulo Mendes, o Mandrake, tem, apesar de advogado, um quê de detetive como Sam Spade ou Philip Marlowe, criados por Hammett e Chandler. "Um noir à brasileira", definiu Montes, em 2020.

Outro pupilo é o músico e escritor paulista Tony Bellotto, de 64. O criador de Remo Bellini é o primeiro a admitir que seu detetive – protagonista de Bellini e a Esfinge (1995), Bellini e o Demônio (1997), Bellini e os Espíritos (2005) e Bellini e o Labirinto (2014) – deve muito a Mandrake. "Os contos de Lúcia McCartney mostraram que havia outra literatura para além dos livros que me sugeriam na escola. Não havia alívio nem consolo neles, e isso me fascinou. Decidi ser escritor por causa dele", recorda. "Me deu conselhos inesquecíveis: 'Um livro só não tem o direito de ser chato'".

Mineiro de Juiz de Fora, José Rubem Fonseca nasceu no dia 11 de maio de 1925. Formado em direito, entrou para a polícia em 1952. "O fato de ter sido delegado o colocou em um lugar privilegiado para constatar o crescimento da violência urbana", explica Sandra Reimão, doutora em comunicação e semiótica pela PUC-SP e autora de Literatura Policial Brasileira (2005). "Feliz Ano Novo foi censurado por enfocar a 'face obscura da sociedade' e tratar de temas sensíveis, como delinquência, latrocínio e homicídio".

Exonerado em 1958, estreou na literatura em 1963. Ganhou, entre outros prêmios, Jabuti (1969, 1983, 1996, 2002 e 2014), Camões (2003) e Machado de Assis (2015). "Inventou o policial brasileiro. Até então, nossos romances soavam como imitações canhestras. Pela primeira vez, um romance policial tinha 'cheiro de Brasil'", afirma o escritor Fernando Bonassi, autor da trilogia Luxúria (2015), Degeneração (2021) e Violência (2023). "A leitura de Feliz Ano Novo foi um espanto e uma revelação: era possível elevar à categoria de arte a nossa crônica policial".

Short teaser Luminar do romance policial brasileiro influenciou uma geração de escritores. Ele faria cem anos neste domingo.
Author André Bernardo
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Item 5
Id 72495797
Date 2025-05-11
Title O que você gostaria de ter ouvido antes de ser mãe?
Short title O que você gostaria de ter ouvido antes de ser mãe?
Teaser Livros, filmes, podcasts, perfis em redes sociais e até stand-up comedy tentam mostrar a dura realidade e as delícias da maternidade.

"Olhe no espelho e se despeça de você!". Foi esse o conselho que a jornalista e escritora Manuela D'Ávila, de 43 anos, ouviu de seu médico ao descobrir que estava grávida de Laura, hoje com nove anos. "O que eu gostaria que me dissessem e disseram foi que a maternidade seria uma mudança radical", afirma. "Meu médico alertou: 'Olhe no espelho e se despeça de você!'. Fiz isso. Me preparei [para ser mãe] e acho que tenho me saído bem", avalia.

A escritora e roteirista Tati Bernardi, de 46, não teve a mesma sorte. O que ela gostaria que tivessem dito e não disseram? Bem, que existe depressão na gravidez. "Não tive no pós-parto, mas tive uma horrível na gestação", recorda a mãe de Rita, de sete anos.

"Os hormônios me deixaram maluca. Me sentia uma sociopata por não estar feliz". Mesmo assim, a conclusão a que Tati chegou é parecida com a de Manuela: você deixa de ser a pessoa mais importante do mundo quando engravida. "Não me amo nem metade do que amo minha filha", declara-se Tati.

Manuela D'Ávila e Tati Bernardi decidiram compartilhar com outras mães as dores e as delícias da maternidade. A primeira escreveu um livro: Revolução Laura – Reflexões Sobre Maternidade & Resistência. A segunda criou um podcast: Calcinha Larga, apresentado ao lado de Camila Fremder e Helen Ramos.

Não faltam projetos do tipo. Desde filmes, como A Melhor Mãe do Mundo, de Anna Muylaert, que estreia 1º de junho, até stand-ups, como Da Mama ao Caos!, de Ana Carolina Sauwen, em cartaz no Rio de Janeiro até 28 de maio.

Maternidade sem tabu

Quem arrisca uma explicação para o grande número de iniciativas que se debruçam sobre a maternidade é a jornalista Leonor Macedo, de 42 anos. Ela é mãe do Lucas, de 23 anos, e autora do livro Eneaotil – Mãe É Pra Quem a Gente Pode Contar Tudo Mas Não Conta Nada. "Você já foi em reunião de pais e professores em escola infantil? Então, é insuportável! Todo mundo quer falar hoooras sobre o filho. Escrevi um livro para evitar ser essa mãe. Quem quiser que leia!", cai na risada. "Brincadeiras à parte, acabou sendo uma válvula de escape na minha vida".

Leonor conta que foi mãe muito jovem. Quando Lucas nasceu, tinha acabado de completar 19 anos. "A maternidade não é algo que escolhi, planejei ou quis. Aconteceu. Foi assustador!", confessa. Hoje, procura conversar abertamente com o filho: se ele tem sonhos, a paternidade pode obrigá-lo a adiar esses sonhos. Mais do que isso. Pode obrigá-lo a dormir mal ou pouco à noite ou, ainda, a trabalhar em dobro para pagar as contas.

Maiores temores

Por essas e outras, a atriz Shirley Cruz, de 49 anos, optou por ser mãe mais tarde. Antes de engravidar de Mali, hoje com quase três anos, atuou em filmes e séries. No momento, conta as horas para a estreia de A Melhor Mãe do Mundo, de Anna Muylaert.

No longa, que foi destaque na edição deste ano do Festival de Cinema de Berlim, ela interpreta Gal, uma catadora de material reciclável que foge do marido abusivo. Mãe de duas crianças, Gal transforma a fuga em aventura. "Mãe, a gente vai dormir na rua?", pergunta Rihanna, assustada. "Não, filha, a gente vai acampar na rua!", improvisa Gal, para alegria de Benin.

Shirley é casada com o norueguês Martin Tonholt, que conheceu no Rio de Janeiro em 2014. Além de atriz, é apresentadora da websérie Diário de Uma Mãe na Noruega, que fala, entre outros assuntos, de parto humanizado e licença-maternidade. "Ser mãe na Noruega é muito diferente de ser mãe no Brasil", garante a atriz e apresentadora. "Do que mais tenho medo? Da violência de gênero. Os números no Brasil são assustadores!".

Shirley Cruz não é a única. Manuela D'Ávila admite que o seu primeiro 8 de março, Dia Internacional da Mulher, com Laura ainda criança foi desesperador. Vítima de violência de gênero na política, a ex-candidata a presidente da República em 2018 diz pensar muito em como criar uma filha em um país que odeia tanto as mulheres. Só em 2024, o Brasil registrou 1.450 casos de feminicídio. "Me dei conta de que ela seria uma das pessoas que viveriam a realidade que eu denuncio", afirma D'Ávila.

São muitos os temores enfrentados pelas mães. E não importa se elas são, como dizem por aí, "marinheiras de primeira viagem". A jornalista Juliana Tiraboschi, de 43 anos, é mãe de gêmeos: Francisco e Manuela, de 11. Idealizadora do podcast É A Mãe!, ao lado de Bárbara dos Anjos Lima e Camila Borowsky, conta que, em casa, procura dar uma educação não machista aos filhos.

Entre outras lições, ensina Francisco a respeitar as mulheres e Manuela a ser o que ela quiser. "Se nos deparamos com alguma situação machista em livros, filmes ou séries, sentamos para conversar e tiramos dúvidas. Não fugimos de perguntas difíceis", garante.

"O que não te disseram antes de você ser mãe?"

O que ela gostaria que tivessem dito sobre maternidade e não disseram? Bem, que não há manual, fórmula ou receita. "No início, ficamos inseguras. Não sabemos se o bebê mamou o suficiente, se está dormindo direito ou por que está chorando. Cada um fala uma coisa diferente", queixa-se. Na dúvida, ela chegou a ler o livro A Encantadora de Bebês, da escritora britânica Tracy Hogg. Deu certo? "Não, fiz tudo diferente", ri.

O que não tem graça, pondera a jornalista, é a romantização da maternidade. "A maternidade é tão romantizada que, ainda hoje, causa espanto quando uma mulher diz que não quer ser mãe. Em 2025, esse tipo de escolha deveria ser respeitada".

Parentalidades plurais e preconceito

A escritora Marcela Tiboni, de 42 anos, e a arquiteta Melanie Graille, de 35, tiveram a mesma ideia de Juliana: comprar um livro que, no caso delas, falasse sobre a gestação de um casal de mulheres lésbicas. Em 2017, as duas foram a uma livraria em São Paulo e descobriram que esse livro não existia. No mesmo dia, Marcela sentou-se ao computador e começou a rascunhar as primeiras linhas de sua história de amor com Mel. Em duzentas e poucas páginas, relatou também as descobertas que fizeram sobre fertilização in vitro.

Foi assim que, em outubro de 2018, nasceram os gêmeos Bernardo e Iolanda, hoje com seis anos. E, em junho de 2019, Mama – Um Relato de Maternidade Homoafetiva. "As duas gestações duraram nove meses", brinca a escritora. "Mel gerou o Bê e a Ioiô e eu, o Mama. Quando ele nasceu, trouxe luz para muitas parentalidades pelo Brasil afora".

De lá para cá, Marcela publicou mais dois títulos: Maternidades no Plural: Retratos de Diferentes Formas de Maternar e Desmama: Memórias de Uma Mãe Com Outra Mãe. O quarto está a caminho.

Contando assim, até parece que a maternidade de Marcela e Melanie não teve perrengues. Teve sim, e muitos! Os primeiros ainda no hospital. Para começo de conversa, a diretora proibiu Marcela de amamentar os filhos no recinto hospitalar. Alegou que as crianças já tinham mãe e não precisavam de outra para amamentá-los. Graças à equipe médica, o impasse foi solucionado e Marcela conseguiu amamentar seus bebês.

Pouco tempo depois, um funcionário do hospital precisava preencher a Declaração de Nascido Vivo (DNV) e perguntou ao casal quem era a mãe e o pai das crianças. Por mais que elas tentassem explicar que Bernardo e Iolanda tinham duas mães e nenhum pai, o rapaz argumentou que o documento do Ministério da Saúde (MS) não poderia ser rasurado. Dessa vez, não houve jeito: a batalha foi perdida. "Houve dores, algumas delas bem latentes, mas houve delícias também", avalia Marcela. "Eu diria que são seis anos de delícias diárias. O convívio, aliás, é tão delicioso que a gente está pensando em ter um terceiro filho".

Mães à beira de um ataque de... risos

Transformar apuros em piadas não é fácil. Mas a jornalista Paola Guaraná, de 36 anos, e a atriz Ana Carolina Sauwen, de 40, tentam. A primeira é autora do livro Eu Era Uma Mãe Perfeita... Até Me Tornar Uma e, ao lado de Rúbia Baricelli, apresentadora do podcast A Mãe Tá Off.

"Só consigo ficar off quando gravo o programa. Mesmo assim, se for da escola, paro tudo e atendo a ligação", diverte-se a mãe de Mateus, Lucas e Júlia, de oito, cinco e três anos. "Depois que me tornei mãe, não consigo mais ficar desconectada. De vez em quando, até terceirizo as crianças, mas a antena não desliga nunca".

A segunda é autora do stand-up Da Mama ao Caos e idealizadora da oficina de palhaçaria Juntas! "Tive meu filho no meio da pandemia. Consegue imaginar o que é ficar 12 horas em trabalho de parto usando máscara? Foi traumatizante!", reclama a mãe do Vicente, de quatro anos. "Demorei a fazer humor de situações doloridas, como o puerpério, ou solitárias, como a quarentena. Quando ouço a plateia rindo, penso: 'Ufa, passou!'".

A atriz e apresentadora Maíra Azevedo é mãe de dois: Aladê Koman, de 16 anos, e Ayanna Luiza, de quatro. Aos 44 anos, ela acaba de lançar o livro A Menina que Não Sabia que Era Bonita, escrito para a criança que ela foi um dia. Certa ocasião, brincando com a caçula, Maíra disse: "Filha, você é linda!". A menina respondeu: "Eu sei".

Foi quando Maíra se deu conta: quem não tinha consciência de sua beleza era ela; não a filha. "Não sabia que era bonita porque nunca tinha ouvido que era bonita", confessa. "Hoje, digo aos meus filhos: nunca duvidem da beleza ou da inteligência de vocês. São capazes de ocupar o espaço que quiserem".

O que ela gostaria de ter ouvido sobre maternidade e nunca ouviu? Que você só aprende a ser mãe depois que dá à luz – e que isso não muda quando os filhos ficam maiores, o aprendizado é diário e constante. "Nenhuma mulher sabe o que é ser mãe até exercer a maternidade. Uma nunca é igual à outra", avisa.

Short teaser Livros, filmes, podcasts e até stand-up comedy tentam mostrar a dura realidade e as delícias da maternidade.
Author André Bernardo
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-que-você-gostaria-de-ter-ouvido-antes-de-ser-mãe/a-72495797?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 6
Id 72503607
Date 2025-05-10
Title Por que é tão difícil para a UE romper com o gás da Rússia?
Short title Por que é tão difícil para a UE romper com o gás da Rússia?
Teaser A União Europeia apresentou um roteiro para eliminar gradualmente a compra de combustíveis fósseis russos até 2027. Mas especialistas alertam que crise energética e divisões no bloco podem comprometer o plano.

Após meses de atraso e críticas por aumentar a importação de gás natural liquefeito (GNL) da Rússia, a União Europeia anunciou um plano nesta semana para eliminar os combustíveis fósseis russos da matriz energética do bloco em menos de três anos.

A proposta elaborada pela Comissão Europeia propõe uma abordagem em duas fases: proibir novos contratos de gás com fornecedores russos até o final de 2025 e eliminar gradualmente todas as importações restantes até 2027.

"Conseguimos montar um pacote legislativo que garantirá que agora vamos eliminar completamente o gás russo da nossa matriz energética", disse o comissário de Energia da UE, Dan Jorgensen, à DW.

No entanto, o aumento da demanda energética europeia, o esvaziamento dos estoques e divisões internas no bloco são desafios crescentes para que o plano seja aprovado e implementado.

Em 2022, por exemplo, a UE já havia anunciado uma proposta similar para romper com o gás russo e apostar na transição energética, mas a crise de abastecimento levou ao aumento das importações no último ano.

UE aumenta importação de GNL russo

Embora as importações totais de combustíveis fósseis da UE provenientes da Rússia tenham caído desde a invasão da Ucrânia, em 2022, as importações de GNL e gás por gasoduto da Rússia cresceram 18% em 2024.

Apesar da queda na participação do gás russo na matriz energética da UE, o combustível ainda representou entre 17,5% e 19% das importações totais energéticas em 2024.

Atualmente, não há vetos à importação direta do GNL russo, que pode ser transportado por navios. Os dados são do Eurostat, o escritório de estatísticas da União Europeia.

No total, o bloco comprou ao menos 23 bilhões de euros (R$ 146 bilhões) em combustíveis fósseis russos no ano passado, contribuindo diretamente para financiar a guerra do Kremlin. O novo roteiro visa interromper esse fluxo.

Pawel Czyzak, pesquisador do think tank britânico Ember, avalia o plano da Comissão Europeia como uma tentativa de reverter a perda de ímpeto político rumo à independência da Europa do petróleo e gás russos, um processo que, segundo ele, sempre foi complexo.

"Tem sido muito difícil para a Europa escapar totalmente da energia russa", disse Czyzak à DW.

Por um lado, a invasão da Ucrânia impôs uma grave ameaça à segurança da UE, levando a apelos pelo rompimento da dependência energética. Por outro, a instabilidade provocada pela Rússia nos mercados globais desde 2021 gerou desafios econômicos — como a disparada dos preços da energia para a indústria e o agravamento da crise do custo de vida para as famílias. "Por isso a abordagem da Comissão Europeia tem sido inconsistente", acrescentou Czyzak.

Eliminação gradual sem caminho claro

Até agora, o GNL não foi incluído nos pacotes de sanções da UE contra a Rússia. Em março de 2025, a Comissão apenas implementou um regulamento proibindo o transporte do gás liquefeito via portos europeus para países fora da UE. No entanto, as importações para consumo doméstico europeu não foram afetadas.

Segundo o Instituto de Economia Energética e Análise Financeira (Ieefa), o GNL russo continua entrando na Europa principalmente por meio da França, Bélgica e Espanha.

Em 2024, por exemplo, a França ampliou suas importações do produto em 81% ao custo de 2,68 bilhões de euros (R$ 17 bilhões).

Ana Maria Jaller-Makarewicz, analista de energia do Ieefa, avalia que a França pode estar exportando a commodity russa, apesar das sanções.

"Uma vez dentro da rede, não dá mais para rastrear. Isso beneficia tanto o exportador quanto o comprador", disse ela à DW. Na prática, o gás russo pode ser reclassificado como europeu assim que entra no sistema.

O plano REPowerEU

Esse cenário dificulta o cumprimento do plano REPowerEU, lançado pela UE em 2022, que prometia reduzir a dependência dos combustíveis fósseis russos, ampliar o uso de energias renováveis e diversificar os fornecedores.

Embora Czyzak reconheça que a UE tem alcançado marcos importantes na transição energética, ele critica a postura do bloco em relação às importações de gás. Segundo ele, a UE apenas substituiu um fornecedor problemático por outro. Atualmente, o GNL dos Estados Unidos domina parte do abastecimento da UE.

"Os EUA estão usando sua posição de poder para pressionar a Europa a comprar gás — e até ameaçam com tarifas quando a Europa não obedece", afirmou Czyzak. "Desde a posse de Donald Trump, é difícil avaliar se os EUA ainda podem ser tratados como um parceiro confiável."

O comissário Jorgensen rebate a crítica, dizendo que seria difícil "encontrar qualquer fornecedor no mundo tão ruim quanto a Rússia."

Apesar dos esforços para garantir fontes alternativas de gás, os preços da energia na Europa seguem elevados. Em 2024, o custo do gás no continente subiu 59%, saltando de 30 para 48 euros por megawatt-hora (R$190 para R$305).

Embora os preços tenham caído devido ao fim do inverno, eles continuam acima dos níveis pré-guerra. O problema aprofunda a desvantagem de custo industrial da Europa frente a Estados Unidos e China e resvala em projeções de estagnação econômica.

Soluções de longo prazo esbarram na divisão interna da UE

Em vez de substituir o gás russo por outro fornecedor, os especialistas concordam que a UE precisa reduzir o consumo geral de gás. Embora diminuir a demanda da indústria seja um desafio, Jaller-Makarewicz, do Ieefa, acredita que há "potencial real de redução nas residências europeias."

A analista defende que um caminho seria investir na construção de casas com melhor isolamento térmico, reduzindo a demanda de gás para aquecimento — responsável por uma fatia significativa do consumo —, além de promover a instalação de painéis solares nas residências.

Mas, como demonstrou a reação contrária à expansão das energias renováveis na Alemanha, reformas verdes precisam do apoio da população para serem bem-sucedidas.

O roteiro da Comissão Europeia agora segue para análise dos Estados-membros. Embora baste uma maioria qualificada para aprovação, os riscos políticos são claros. Países como Hungria, Eslováquia e Áustria — todos ainda dependentes do gás russo via gasoduto — já se opuseram a medidas semelhantes no passado.

Fora de Bruxelas, a diplomacia também pode criar obstáculos. Nos bastidores, conversas sobre um cessar-fogo mediado pelos EUA na guerra da Ucrânia incluem discussões sobre o alívio das sanções à Rússia, o que pode enfraquecer a determinação da UE.

Por isso, Jaller-Makarewicz reforça a importância da cooperação dentro do bloco quando o tema é energia. "Só se os Estados-membros conseguirem permanecer unidos, o bloco poderá fortalecer a união enquanto garante a segurança do abastecimento."

Short teaser A União Europeia tenta eliminar a compra de combustíveis fósseis russos, mas crise energética dificulta o plano.
Author Tessa Clara Walther
Item URL https://www.dw.com/pt-br/por-que-é-tão-difícil-para-a-ue-romper-com-o-gás-da-rússia/a-72503607?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 7
Id 72440949
Date 2025-05-10
Title Como os hormônios bioidênticos atuam durante a menopausa
Short title Menopausa: o que são hormônios bioidênticos?
Teaser

Sintomas da menopausa como ondas de calor afetam mais de metade das mulheres

Quem procurar ajuda para lidar com os sintomas da menopausa pode se deparar com a opção de terapia de reposição hormonal bioidêntica. Como os hormônios bioidênticos agem no organismo e quão seguros eles são?Mais de uma em cada duas mulheres sofre com ondas de calor e suor durante o climatério, ou seja, antes e depois da menopausa, que marca a cessação definitiva da menstruação. Distúrbios do sono, secura vaginal, dores nas articulações e depressão também são sintomas comuns. Estrogênio, um aliado contra as ondas de calor Segundo as diretrizes das sociedades ginecológicas da Alemanha, Áustria e Suíça, o remédio mais eficaz contra as ondas de calor é o hormônio sexual feminino estrogênio. A falta dele no corpo feminino se faz sentir sobretudo após a menopausa, ou seja, o último período menstrual, que é quando os óvulos, cujas membranas produzem a maior parte do estrogênio no corpo feminino, já estão esgotados. No entanto, a ausência da progesterona (produzida pelo corpo lúteo e que tem um papel antagônico ao do estrogênio) também tem um grande impacto nesta fase da vida da mulher, conforme explica Katrin Schaudig, ginecologista e presidente da Sociedade Alemã da Menopausa. "Quando as mulheres tomam apenas estrogênios por um longo período, o revestimento do útero fica muito denso e, na pior das hipóteses, isso pode resultar em câncer. Quando usamos estrogênio, precisamos da progesterona para nos proteger contra o câncer endometrial" disse Schaudig à DW, frisando a importância de que a dose de progesterona seja suficientemente alta. Nas terapias de reposição hormonal (TRH) modernas, usa-se sobretudo os chamados hormônios bioidênticos: progesterona combinada com estradiol, para combater as ondas de calor; e estriol, que ajuda contra o ressecamento da mucosa vaginal, com os dois últimos pertencendo ao grupo dos estrogênios. Eles são chamados "bioidênticos" pois sua estrutura molecular corresponde à dos próprios hormônios do corpo. Hormônios bioidênticos protegem de doenças relacionadas à idade Tanto estrogênio quanto progesterona bioidênticos têm o potencial de prevenir muitas das doenças metabólicas relacionadas à idade que afetam as mulheres na pós-menopausa. Entre elas estão, acima de tudo, diminuição da densidade óssea e fraturas dos ossos, arteriosclerose, trombose, ataque cardíaco, derrame, insuficiência renal e demência, enumera Helena Orfanos-Boeckel, clínica geral e nefrologista especializada em nutrição e endocrinologia. "Pele, mucosas, articulações e saúde bucal também se beneficiam da TRH. Todos os processos do corpo são bioquimicamente dependentes de hormônios no sentido mais amplo, e os hormônios promovem um envelhecimento mais saudável", acrescenta. O que distingue os hormônios bioidênticos dos derivados hormonais? No passado, mulheres passando pelo climatério ou após a menopausa eram tratadas com substâncias que continham apenas um pequeno equivalente estrutural aos hormônios do corpo humano: os chamados derivados hormonais. "Embora essas substâncias sejam estranhas ao corpo, elas eram e ainda são chamadas de 'hormônios'", explica Orfanos-Boeckel em entrevista à DW. "E essas substâncias com nomes errôneos, que na realidade suprimem os níveis hormonais, têm o potencial de causar efeitos colaterais, ao contrário dos hormônios bioidênticos." Derivados da progesterona e da testosterona naturais são usados, por exemplo, na pílula anticoncepcional para impedir a ovulação. Risco de trombose inalterado com hormônios bioidênticos Alguns derivados da progesterona têm um efeito adverso na coagulação sanguínea e podem aumentar o risco de trombose e derrame. Mas segundo estudos atuais, a progesterona bioidêntica não apresenta esse risco, ressaltam Orfanos-Boeckel e Schaudig. Com o estrogênio, isso vai depender da forma de aplicação. Independentemente de ser bioidêntico ou derivado do estrogênio, o risco de trombose aumenta quando ele é ingerido, ou seja, metabolizado pelo fígado. Na terapia de reposição hormonal moderna, portanto, o estradiol é geralmente administrado através da pele na forma de gel, adesivo ou spray, evitando o risco de coagulação sanguínea. A terapia de reposição hormonal aumenta o risco de câncer de mama? Mulheres que tiveram ou têm câncer de mama também são desaconselhadas a usar hormônios bioidênticos. "Ainda é motivo de debate se o estrogênio realmente causa câncer", diz Schaudig. "Mas o que sabemos é que os estrogênios podem promover o crescimento de células do câncer de mama, mesmo precursoras ou em estágio inicial. E o estrogênio que o próprio corpo produz também promove o crescimento de células do câncer de mama — é uma espécie de fertilização hormonal dessas células", explica. Em um estudo feito em mulheres sem diagnóstico prévio de câncer de mama, o risco da doença aumentou levemente após um período de seis a nove anos de TRH com estrogênio e progesterona bioidênticos. "Não é um bom estudo, é apenas um estudo observacional, mas é o único que temos." No entanto, a ginecologista ressalta: "Duas taças de vinho à noite representam um risco muito maior, estar acima do peso, por si só, representa um risco maior, e não se exercitar também representa um risco maior." Ambas as médicas enfatizam a importância de se examinar os seios regularmente durante a menopausa, independentemente de se estar sob terapia de reposição hormonal ou não. Estudos mais recentes sugerem ainda que o uso de cremes ou supositórios vaginais contendo hormônios em baixas dosagens é inofensivo. Nesta modalidade de terapia, costuma-se usar estriol bioidêntico, um subtipo de estrogênio que neutraliza a atrofia e o ressecamento do revestimento vaginal, protegendo assim contra cistite e a dor durante o sexo. Por quanto tempo se pode tomar hormônios bioidênticos? Aqui fala-se muito na chamada "janela de oportunidade": quanto mais cedo for iniciada a terapia de reposição hormonal após o último período menstrual, melhor será a eficácia contra doenças relacionadas à idade, especialmente doenças do sistema cardiovascular. No entanto, também é possível iniciar o tratamento vários anos depois, diz a ginecologista Schaudig. "Provavelmente não haverá proteção cardiovascular, mas ainda terá proteção contra a osteoporose, mesmo depois de cinco anos, e também contra a diabetes." Mas isso tampouco significa que não haja um prazo limite. No caso de vasos sanguíneos já danificados, tomar hormônios, incluindo os bioidênticos, pode causar trombose. Para essas mulheres, é extremamente importante manter os níveis de colesterol e a pressão arterial sob controle, alerta Schaudig, inclusive por meio de medicamentos.


Short teaser Como os hormônios bioidênticos agem no corpo feminino e quão seguros eles são?
Author Jeannette Cwienk
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-os-hormônios-bioidênticos-atuam-durante-a-menopausa/a-72440949?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Sintomas da menopausa como ondas de calor afetam mais de metade das mulheres
Image source Christin Klose/dpa/picture alliance
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Item 8
Id 72449112
Date 2025-05-10
Title "O Eternauta": A tragédia por trás da nova série da Netflix
Short title "O Eternauta": A tragédia por trás da nova série da Netflix
Teaser

Escritor de "O Eternauta" teve um fim trágico

História em quadrinhos criada por Héctor Germán Oesterheld, em 1957, ganhou sua primeira adaptação para as telas. Obra virou símbolo contra o esquecimento sobre os horrores da ditadura na Argentina.A clássica história em quadrinhos argentinade ficção científica, O Eternauta, de 1957, ganhou sua primeira adaptação para as telas. Lançada em 30 de abril pela Netflix, a série de seis episódios é estrelada por Ricardo Darín, que interpreta Juan Salvo, um homem comum que, após uma nevasca tóxica dizimar milhares de pessoas em Buenos Aires, torna-se um viajante do tempo e do espaço em busca de sua família. Com efeitos especiais de última geração, a produção acompanha a odisseia de Salvo — que se transforma no Eternauta, um viajante eterno — enquanto ele se junta a um grupo de resistência para sobreviver e, mais tarde, enfrentar uma ameaça alienígena que pretende destruir a Terra. No entanto, a produção traz consigo uma trágica história que envolve o autor dos quadrinhos. Vinte anos depois de escrever a história do Eternauta, o renomado escritor argentino Héctor Germán Oesterheld teve um destino semelhante ao de seu personagem durante a ditadura militar no país. Em sua história em quadrinhos, alienígenas exterminaram impiedosamente a população de Buenos Aires. Na Argentina real, a junta militar de Jorge Rafael Videla impôs um regime totalitário em 1976, aterrorizando a população. Oesterheld e sua família foram sequestrados pelos militares. Quando a ficção científica reflete a realidade O Eternauta reflete profundamente a personalidade e os valores de Oesterheld, que colocava na história do quadrinho sua perspectiva social e política em um contexto de Guerra Fria. Mais tarde, isso o levou a se juntar à resistência contra o regime militar, junto com suas quatro filhas. Eles participaram do grupo Montoneros, uma organização política-militar argentina contra a ditadura. No entanto, em 1977 todos foram sequestrado e acabaram entre os 30 mil argentinos que desapareceram naquele período. Os corpos do autor e de suas filhas nunca foram encontrados. Desde então, foi estabelecido que suas filhas foram assassinadas, e acredita-se que o próprio Oesterheld foi morto pelo regime em 1979. No caso da família Oesterheld, os militares deixaram vivos apenas sua esposa, Elsa Sánchez, e dois netos pequenos: Martín Mortola Oesterheld, de 4 anos, e Fernando Araldi Oesterheld, de 1 ano. Símbolo contra o esquecimento A história em quadrinhos de Oesterheld, com os desenhos de Francisco Solano López, tornou-se um enorme sucesso na Argentina. Até hoje, O Eternauta é lembrado como um poderoso capítulo contra o esquecimento – um alerta permanente sobre um dos períodos mais sombrios da história do país. Um capítulo que, para muitos, ainda está em aberto. Na ficção científica, o herói passa sua vida buscando sua família através do espaço e do tempo. Assim como ele, milhares de argentinos ainda não sabem o que aconteceu com seus entes queridos durante a ditadura militar e seguem procurando pais, filhos e netos desaparecidos. Há quase meio século, por exemplo, a organização Abuelas de Plaza de Mayo (Avós da Praça de Maio, em português) procura o paradeiro de quase 500 bebêsroubados durante a ditadura e criados sob identidades falsas. A estreia da série lançada na Netflix, inclusive, motivou a volta das buscas pelos dois possíveis netos ou netas de Oesterheld, nascidos em cativeiro. Segundo o El País, Diana Oesterheld, a segunda das quatro filhas do autor estava grávida de seis meses quando foi sequestrada, enquanto Marina Oesterheld, estava a poucas semanas de dar à luz. "Você está assistindo 'O Eternauta'? Se sim, e nasceu em novembro de 1976 [data prevista para o parto do filho ou filha de Diana] ou entre novembro de 1977 e janeiro de 1978 [possível nascimento do filho ou filha de Marina] e tem dúvidas sobre sua identidade ou a de alguém que nasceu nessas datas, entre em contato com a Abuelas Difusión", publicou nas redes a organização Avós da Praça de Maio, em parceria com o grupo de direitos humanos HIJOS (Filhos e Filhas pela Identidade e Justiça contra o Esquecimento e o Silêncio). Assim, a figura de Juan Salvo, presente em murais e grafites por toda Buenos Aires, continua a representar algo maior do que um personagem de ficção científica. Símbolo político e memorial vivo, o Eternauta segue lembrando aos argentinos a importância de enfrentar o passado e lutar, sempre, pelos direitos humanos.


Short teaser Obra de Héctor Germán Oesterheld virou símbolo contra o esquecimento sobre os horrores da ditadura na Argentina.
Author Janina Martens , Luiza Palermo
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-eternauta-a-tragédia-por-trás-da-nova-série-da-netflix/a-72449112?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Escritor de "O Eternauta" teve um fim trágico
Image source Mariano Landet/Netflix/Courtesy Everett Collection/picture-alliance
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Item 9
Id 72436123
Date 2025-05-10
Title Como festivais de música paravam o Brasil em plena ditadura
Short title Como festivais de música paravam o Brasil em plena ditadura
Teaser Iniciada há 60 anos, a chamada Era dos Festivais mobilizava torcida em todo o país – apesar da censura e da perseguição de artistas pelos militares.

Foi Walter Clark, diretor-executivo da TV Globo, quem detonou a bomba: "A Nara tem que sair do júri!". Solano Ribeiro, organizador do 7º Festival Internacional da Canção (FIC), realizado em 1972, arregalou os olhos: "Por quê?". "Ordens superiores", limitou-se a responder. "Não há o que discutir". Dias antes, Nara Leão havia concedido uma entrevista ao Jornal do Brasil que desagradou os militares. Em 1966, ela já tinha defendido a extinção do Exército. "Os generais podem entender de canhão, mas não de política", declarou ao Diário de Notícias.

Por muito pouco, Nara Leão não foi enquadrada pelo então presidente da república, o marechal Arthur da Costa e Silva, na Lei de Segurança Nacional. Na ocasião, até Carlos Drummond de Andrade saiu em defesa da cantora: "Meu honrado marechal / dirigente da nação / venho fazer-lhe um apelo: / não prenda Nara Leão…", escreveu no poema Apelo (1966). "A censura começou em 1968, mas a barra ficou pesada de vez em 1972", avalia Solano Ribeiro, o idealizador dos festivais de Música Popular Brasileira (MPB) e autor do livro Prepare seu Coração (2018), hoje com 86 anos. "Quando os militares souberam que a Nara estava à frente do júri, pediram a cabeça dela".

Num primeiro momento, Solano Ribeiro pediu demissão do cargo de diretor do festival. "Se a Nara sair, eu também saio", foi o que ele respondeu para Walter Clark. Pouco depois, decidiu trocar o júri nacional por outro, internacional. O novo júri seria montado às pressas por artistas e jornalistas estrangeiros que já estivessem no Rio de Janeiro para a final do dia 30 de setembro de 1972, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. A decisão desagradou o júri nacional, formado pelo compositor Rogério Duprat, o poeta Décio Pignatari e o jornalista Sérgio Cabral, entre outros.

"Tentaram ler um manifesto e deu a maior confusão", relata o historiador Marcos Napolitano, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e autor do artigo Os Festivais da Canção como Eventos de Oposição ao Regime Militar Brasileiro (2004). "A polícia interveio e Roberto Freire foi preso". Um dos jurados destituídos, o psiquiatra Roberto Freire, foi espancado por policiais, teve duas costelas quebradas e passou 15 dias no hospital. Terminava ali a última edição da chamada Era dos Festivais, que começou há 60 anos, em 1965, e chegou ao fim em 1972.

"Quem sabe faz a hora / não espera acontecer"

Se aquela não foi a primeira vez que Nara Leão concedeu uma entrevista criticando o regime militar, não foi a primeira vez também que o regime militar tentou interferir em um festival de MPB. Em 1968, Walter Clark recebeu um telefonema da parte do general Sizeno Sarmento avisando que nem Pra Não Dizer que Não Falei de Flores, de Geraldo Vandré, nem América, América, de César Roldão Vieira, poderiam ganhar o 3° FIC. "Não posso impedir o júri de votar", tentou argumentar. "Problema seu", o oficial foi taxativo. "As músicas não podem ganhar".

"A edição de 1968 é, sem dúvida, um marco do embate entre a sociedade civil e a ditadura militar", afirma o jornalista Leonêncio Nossa, autor de Roberto Marinho: A Globo na Ditadura (2025). "A música do Vandré se tornou o hino de uma geração". Para alívio de Walter Clark, Sabiá, de Tom Jobim e Chico Buarque, venceu Pra Não Dizer que Não Falei de Flores, de Geraldo Vandré, por 109 votos a 106 na final do dia 29 de setembro de 1968. "Os militares não deixavam passar músicas que pudessem causar inquietação social", explica o pesquisador Ricardo Cravo Albin, um dos jurados daquela edição. "Os tempos eram bicudos".

Na marca do pênalti

Geraldo Vandré perdeu a edição de 1968. Mas, em compensação, ganhou a de 1966. Disparada, interpretada por Jair Rodrigues, terminou em primeiro lugar, empatada com A Banda, de Chico Buarque. Quem estava lá no dia 10 de outubro de 1966, uma segunda-feira, garante que a final do 2° Festival da Música Popular Brasileira, realizada no Teatro Record, em São Paulo, parou o país. "Era como Palmeiras contra Corinthians em decisão de campeonato", compara o pesquisador Zuza Homem de Mello no livro A Era dos Festivais (2003).

De um lado, os torcedores de A Banda, apelidados de "bandidos". De outro, os defensores de Disparada, os "disparatados". O júri, lembra o maestro Júlio Medaglia, que fazia parte dele, estava dividido. Na primeira contagem de votos, Chico Buarque levou a melhor: sete votos a cinco. Dali a pouco, o presidente da TV Record, Paulo Machado de Carvalho, invade a sala dos jurados e avisa: "Se A Banda for a primeira colocada, o Chico Buarque devolve o prêmio em público!". Estava decidido: empate técnico! "Foi um alívio!", suspira Medaglia, aos 87 anos. "Estávamos com medo de sermos linchados na rua caso a opinião pública não aprovasse o resultado final".

O último a sair…

Chico Buarque não foi o único artista a ganhar duas edições de festival: em 1966, com A Banda, cantada por Nara Leão, e em 1968, com Sabiá, na voz de Cynara e Cybele. O cantor e compositor Edu Lobo também conseguiu essa façanha: em 1965, com Arrastão, composta com Vinicius de Moraes e cantada por Elis Regina, e em 1967, com Ponteio, parceria com José Carlos Capinam. Há quem diga, inclusive, que aquela edição do festival, o terceiro da Música Popular Brasileira, exibido pela TV Record, foi a mais emocionante de todas.

Ponteio ganhou, entre outras concorrentes, Domingo no Parque, de Gilberto Gil, que ficou em segundo lugar; Roda Viva, de Chico Buarque, em terceiro lugar, e Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, em quarto. Terminado o festival, Edu Lobo embarcou para uma temporada de dois anos nos EUA. "Algumas pessoas, como Gil e Caetano, foram embora porque tinham problemas sérios. Eu não tinha nenhum problema, não ia ser preso, não ia acontecer nada comigo, mas eu queria ir embora. A gente achava melhor, porque estava feio, sujo, pesado", declarou Edu Lobo aos jornalistas Renato Terra e Ricardo Calil, autores do documentário e do livro Uma Noite em 67.

Na mira da ditadura

Em tempos de ditadura, todo cuidado era pouco. Nem os ganhadores estavam livres de serem perseguidos pelo regime. Foi o que aconteceu com Tony Tornado, hoje com 94 anos, e Maria Alcina, atualmente com 76, os respectivos vencedores das edições de 1970 e 1972, com BR-3, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, e Fio Maravilha, de Jorge Ben.

Tony Tornado foi detido em 1971 por erguer o punho cerrado, símbolo dos Panteras Negras, durante apresentação de Elis Regina, com a música Black is Beautiful, dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle. "Era visto como um agente subversivo que queria importar um problema racial", explica o historiador Lucas Pedretti, doutor em Sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e autor do livro Dançando na Mira da Ditadura (2022). "Para os militares, o Brasil era uma democracia racial. Em outras palavras: não havia racismo no país".

Já Maria Alcina foi proibida de cantar em 1974. Por determinação da censura, não pôde fazer shows ou aparecer na TV por 20 dias. "Do 7º Festival Internacional da Canção, eu guardo as melhores recordações: foi lindo ver o Maracanãzinho cantando o refrão da música. É daquelas lembranças que ficam para sempre", emociona-se a cantora. "Meu jeito de cantar, porém, incomodava os militares. Alegaram atentado ao pudor e à moral".

Protesto nas entrelinhas

No livro A Era dos Festivais, Zuza Homem de Mello fala da vez em que Solano Ribeiro foi chamado para uma reunião no Palácio do Catete. Lá, foi avisado de tudo que não seria tolerado. Punhos cerrados? De jeito nenhum! Letras subversivas? Muito menos! Decotes avantajados? Nem pensar! "Esse é o primeiro ano em que o festival será exibido em cores, e um decote avantajado em cores é muito mais imoral do que um decote avantajado em preto e branco", explicou o censor. "Fui obrigado a ouvir uma bobagem dessas", resigna-se Solano Ribeiro, 53 anos depois.

Por causa de letras supostamente subversivas, compositores tiveram que dar explicações. Judith de Castro Lima, chefe da Censura em São Paulo, implicou com a frase "Armadura e espada a rifar", da música Dom Quixote, d'Os Mutantes. "É uma crítica ao Exército?", quis saber. "Não", respondeu Rita Lee. "A armadura e a espada são de Dom Quixote!". Não houve jeito. Só foi liberada depois que a cantora trocou "espada" por "lança". Enquanto isso, Gotham City, de Jards Macalé e José Carlos Capinam, passou despercebida no 4º FIC, de 1969. "Caçavam bruxas nos telhados de Gotham City", "Só serei livre se sair de Gotham City" e "Não se fala mais de amor em Gotham City" diziam alguns dos versos da canção. "'O que Capinam queria dizer com aquilo?', devem ter pensado os censores", ironiza Homem de Mello. "Se tivessem substituído Gotham City por Brasil, teriam matado a charada".

Válvula de escape?

As vaias merecem um capítulo à parte em todo e qualquer livro sobre a história dos festivais. Até Roberto Carlos, quem diria, foi alvo delas em 1967 quando arriscou o samba Maria, Carnaval e Cinzas, de Luís Carlos Paraná, no 3º Festival de MPB. A primeira vaia de que se tem notícia, porém, aconteceu um ano antes, no 1º Festival Internacional da Canção, em 1966: Nana Caymmi foi vaiada ao ganhar o primeiro lugar com Saveiros, letra de Nelson Motta e música de Dori Caymmi. A certa altura, Jair Rodrigues apelidou os festivais de "festivaias".

Outras vaias históricas foram ouvidas por Sérgio Ricardo, em 1967, e por Caetano Veloso, em 1968. "Podem vaiar. Depois deste festival, minha música vai se chamar Beto Bom de Vaia", ironizou o primeiro, ao ser vaiado no 3º Festival da MPB. O autor de Beto Bom de Bola até tentou manter o bom humor, mas não conseguiu. Indignado, quebrou o violão e o arremessou contra a plateia. "Mas, que juventude é essa?", protestou o segundo, ao ser achincalhado pelo público depois de cantar É Proibido Proibir no 3º FIC. "Vocês estão por fora!", trovejou.

Na final do MPB Shell 81, a história se repetiu: "Não esperava que Purpurina pudesse ganhar. A favorita era Planeta Água. É a famosa 'zebra'", admite Lucinha Lins, de 72 anos, referindo-se às músicas de Jerônimo Jardim e Guilherme Arantes. "Se era uma válvula de escape em plena ditadura? Talvez. Não saberia dizer. O que eu sei é que o festival era como uma Copa do Mundo. Todo mundo parava para torcer. Trazia uma imensa alegria para o país".

Short teaser Iniciada há 60 anos, a chamada Era dos Festivais mobilizava torcida em todo o país – apesar da censura.
Author André Bernardo
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-festivais-de-música-paravam-o-brasil-em-plena-ditadura/a-72436123?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 10
Id 72481287
Date 2025-05-09
Title Com tarifas de Trump, UE teme inundação de produtos chineses
Short title Com tarifas de Trump, UE teme inundação de produtos chineses
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Produtos da Temu e da Shein que entram nos EUA enfrentam novas burocracias e custos

Após presidente dos EUA revogar brecha tributária e impor sua versão da "taxa das blusinhas", Temu e Shein devem intensificar aposta na Europa, arriscando prejudicar o já combalido varejo local.Após o governo do presidente americano, Donald Trump, revogar a brecha tributária para produtos de valor inferior a 800 dólares (R$ 4,54 mil) com a qual as marcas chinesas Temu e a Shein contavam há tempos para enviar pequenas encomendas isentas de impostos da China para os EUA, as duas empresas asiáticas sofreram um tombo no faturamento. Em 2024, 1,36 bilhão de produtos entraram nos EUA sob a chamada regra de minimis (expressão em latim que significa o mínimo). Esse número representa um aumento de nove vezes em relação aos 153 milhões registrados em 2015. Produtos comprados da Temu e da Shein, que juntas movimentaram 30% dos pacotes diários de baixo valor nos EUA no ano passado, agora estarão sujeitos a uma tarifa de 30% ou taxas fixas de até 50 dólares (R$ 284), além da tarifa de 145% sobre importações da China introduzida por Trump no mês passado. A medida de Trump é semelhante à política do governo brasileiro que impôs em 2024 um imposto de importação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, que ganhou no Brasil o apelido de "taxa das blusinhas". Com os preços para os consumidores americanos mais que dobrando, as margens de lucro desses varejistas estão despencando. Por isso, Temu e Shein provavelmente irão intensificar a aposta na Europa, explorando a brecha de minimis da União Europeia para sustentar seu modelo de baixo custo. Europa planeja eliminar brecha de minimis Embora inferior ao limite dos EUA, a isenção de 150 euros (R$ 961) da UE não desacelerou o crescimento explosivo da Temu e da Shein. Em 2024, 4,6 bilhões de encomendas de baixo valor inundaram o mercado da UE – o dobro em relação a 2023 e o triplo em relação a 2022, com 91% provenientes da China. Esses 12,6 milhões de pacotes diários são entregues com isenção de impostos, prejudicando os varejistas europeus, sobrecarregados por custos mais altos de mão de obra e da cadeia de suprimentos. Ao contrário de seus concorrentes chineses, as empresas da UE não se beneficiam de tarifas postais internacionais favoráveis. Embora a Comissão Europeia tenha proposto há dois anos a eliminação da isenção de minimis da UE, o plano ainda aguarda a aprovação dos 27 Estados-membros da UE e do Parlamento Europeu. A medida não deve ser adotada antes de 2027, de acordo com a agência de notícias Bloomberg. Esse atraso acarreta pouco alívio às empresas europeias, que já enfrentam a forte concorrência chinesa, desde o comércio eletrônico até painéis solares e veículos elétricos (VEs), e que agora precisam enfrentar as tarifas americanas de Trump, que desviam mais VEs e produtos de baixo custo da China em direção à Europa. Muitos comerciantes da UE temem que, por consequência disso tudo, a Temu e a Shein acabem despejando ainda mais produtos baratos nos mercados europeus, levando-as à falência. Muitos produtos chineses são reprovados em testes Além de ameaçar prejudicar a lucratividade e provocar demissões entre empresas da UE, esse fluxo de produtos baratos levanta preocupações maiores sobre a segurança dos produtos. Agustin Reyna, diretor-geral do BEUC, um grupo de lobby de organizações europeias de consumidores com sede em Bruxelas, diz que grupos como o seu coletaram "amplas evidências" de que produtos chineses – de maquiagem e roupas tóxicas a brinquedos e eletrodomésticos – não cumprem os padrões de segurança da UE. "Precisamos de ferramentas adicionais para lidar com o fluxo de produtos inseguros que entram na Europa por meio de pequenas encomendas, muitas vezes compradas em plataformas como a Temu", afirma Reyna à DW. "Os consumidores estão, sem saber, colocando sua saúde e segurança em risco." Empresas da UE perdem bilhões com falsificações chinesas Em janeiro, a Comissão Europeia prometeu novos controles rigorosos sobre as plataformas de varejo chinesas, para impedir a entrada na Europa de produtos "inseguros, falsificados ou mesmo perigosos". O comissário europeu para o Comércio, Maros Sefcovic, solicitou aos legisladores europeus que impusessem uma taxa de manuseio às encomendas chinesas para cobrir os crescentes custos de compliance. Muitos formuladores de políticas querem responsabilizar as plataformas online diretamente pela venda de produtos perigosos e falsificados. Atualmente, marketplaces como o Temu atuam como intermediários, não como vendedores, isentando-se de responsabilidade direta. Isso cria uma enorme dor de cabeça para as autoridades alfandegárias e reguladoras. "Com mais de 12 milhões de encomendas entrando no mercado único [da UE] todos os dias, é simplesmente irrealista esperar que a alfândega atue como a última linha de defesa", diz Reyna. "Portanto, é essencial responsabilizar os marketplaces online pela segurança e conformidade dos produtos que vendem aos consumidores europeus." Fraude de IVA é problema crescente Há evidências crescentes de outras práticas ilícitas por parte de vendedores chineses, incluindo a subdeclaração do valor das mercadorias para evitar o imposto sobre vendas ou o imposto sobre valor agregado (IVA). Essas alíquotas variam de 20% a 27%, dependendo do país da UE. "Há muitos casos em que importadores declaram um valor incorreto para suas remessas, ficando abaixo do limite e evitando as formalidades alfandegárias", afirma Momchil Antov, economista e especialista em alfândega da Academia de Economia D. A. Tsenov, na Bulgária. "Isso é fraude." No mês passado, o OLAF, órgão antifraude da UE, e as autoridades polonesas descobriram um sofisticado esquema de fraude de IVA envolvendo mercadorias chinesas importadas para a UE. Os fraudadores alegaram que as mercadorias tinham como destino outros países da UE para evitar impostos e taxas alfandegárias. Na realidade, a maioria das mercadorias permaneceu na Polônia. Em outro exemplo, a partir de 2023, exportadores chineses usaram o Aeroporto de Liège, na Bélgica, para sonegar 303 milhões de euros em impostos, usando um sistema complexo envolvendo agências alfandegárias privadas e empresas falsas em outros países da UE. França planeja controle de fraudes Embora o plano da Comissão Europeia de eliminar a isenção de 150 euros continue suspenso, alguns países da UE adotaram a sugestão de Sefcovic. O governo francês anunciou na semana passada que intensificaria as inspeções em produtos de baixo valor que entram no país. As importações serão analisadas quanto à segurança do produto, aos padrões de rotulagem e aos padrões ambientais, e Paris cobrará uma "taxa de administração" fixa sobre cada pacote. Os formuladores de políticas europeias terão que coibir fraudes, garantir o cumprimento das normas e promover a concorrência justa, sem limitar o acesso dos consumidores a produtos acessíveis de varejistas chineses.


Short teaser Com fim da brecha tributária nos EUA, Temu e Shein devem focar na Europa, ameaçando o já combalido verejo local.
Author Nik Martin
Item URL https://www.dw.com/pt-br/com-tarifas-de-trump-ue-teme-inundação-de-produtos-chineses/a-72481287?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Produtos da Temu e da Shein que entram nos EUA enfrentam novas burocracias e custos
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Item 11
Id 72494592
Date 2025-05-09
Title Sophia e Noah são os nomes preferidos para bebês na Alemanha
Short title Sophia e Noah são os nomes preferidos para bebês na Alemanha
Teaser

É muito provável que haja muitos Noahs e Sophias sentados em salas de aula alemãs daqui a alguns anos

Ambos mantiveram em 2024 a primeira posição no ranking para meninas e meninos. Dez nomes mais populares ficaram inalterados em relação ao ano anterior, com uma exceção.Sophia e Noah mantiveram o primeiro lugar no ranking dos nomes de bebês mais populares na Alemanha em 2024, segundo uma classificação feita pela Sociedade para a Língua Alemã (GFDS). Noah, em particular, está em primeiro lugar entre os nomes de meninos de forma ininterrupta desde 2019. A diretora administrativa da GFDS, Andrea Ewels, acredita que a sonoridade desses nomes é um dos motivos para sua prolongada popularidade. "Os pais escolhem nomes que são percebidos como bonitos e agradáveis", disse. Além disso, os nomes favoritos são geralmente curtos, fáceis de pronunciar e compreensíveis internacionalmente. Eles parecem familiares, modernos e atemporais ao mesmo tempo – características que conquistam muitos pais. Em comparação com o ano anterior, a disputa pelo primeiro lugar entre os nomes de meninas foi menos acirrada. Em 2023, Sophia/Sofia e Emilia quase empataram, mas no ano passado Sophia aumentou consideravelmente a diferença. Emma, Mia e Lina seguem nas posições seguintes. Uma mudança no ranking dos dez mais entre meninos Mat(h)eo continua em segundo lugar entre os meninos, seguido de perto por Leon. Luca/Luka e Paul vêm em seguida. Theo é novo no ranking dos dez mais, e subiu para o sétimo lugar. Por outro lado, Liam, que havia subido no ranking no ano passado, caiu para o 14º lugar. A GFDS publica a lista dos nomes próprios mais populares desde 1977, com base em dados de cerca de 750 cartórios com cerca de 900 mil nomes individuais enviados, o que corresponde a mais de 90% dos nomes próprios dados na Alemanha. bl (kna, dpa, afp)


Short teaser Ambos mantiveram em 2024 a primeira posição no ranking para meninas e meninos.
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Image caption É muito provável que haja muitos Noahs e Sophias sentados em salas de aula alemãs daqui a alguns anos
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Item 12
Id 72454352
Date 2025-05-09
Title Como é a tecnologia de túnel imerso, que será usada em Santos
Short title Como é a tecnologia de túnel imerso, a ser usada em Santos
Teaser Autoridades brasileiras tentam atrair empreiteiras estrangeiras que dominam a tecnologia, inédita no país. E visitaram as obras do túnel Fehmarnbelt, que conectará Alemanha e Dinamarca e será o maior do tipo no mundo.

O túnel entre Santos e Guarujá, no litoral paulista, um projeto de infraestrutura discutido há quase um século, deve finalmente começar a sair do papel no próximo ano. Em agosto, um leilão definirá quais empreiteiras irão construir e operar a obra, que usará uma tecnologia inédita no Brasil, a de túnel imerso.

Funciona assim: em vez de cavar o túnel por baixo do leito do canal, ele será primeiro construído na superfície, em partes feitas de concreto armado. Depois, essas partes recebem uma vedação temporária, são rebocadas até o local desejado, afundadas até o leito do canal e conectadas. Em seguida, faz-se o acabamento interno e o túnel está pronto.

Como uma obra dessas nunca foi feita no Brasil, autoridades têm viajado ao exterior para tentar atrair empresas que dominam a tecnologia para participarem do certame. E um dos locais visitados é o canteiro de obras de um túnel imerso que está sendo construído entre a Alemanha e a Dinamarca, o túnel Fehmarnbelt.

Em abril, uma missão composta pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, visitou, entre outros destinos europeus, as obras do túnel Fehmarnbelt. "É a mesma tecnologia que será usada no túnel de Santos", afirmou Costa Filho. Já Tarcísio o considerou "um exemplo para que possamos entregar o que há de melhor para a população da Baixada Santista".

Um novo grupo de autoridades brasileiras foi ao canteiro de obras do túnel Fehmarnbelt nesta terça-feira (06/05), composto por congressistas e autoridades, entre elas o prefeito de Santos, Rogério Santos, e o ministro Walton Alencar, do Tribunal de Contas da União, em uma missão organizada pela Frente Parlamentar Mista de Portos e Aeroportos (FPPA).

"Viemos conhecer as boas práticas, é importante compartilhar essa experiência para a realização do túnel entre Santos e Guarujá, que o Brasil espera há um século", afirmou à DW o deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), presidente da FPPA e ex-prefeito de Santos. As autoridades também se reuniriam com representantes de empresas envolvidas na obra.

O leilão está previsto para ocorrer em 1º de agosto, e segundo reportagens da imprensa brasileira haveria no momento quatro consórcios interessados: Mota-Engil (Portugal) com CCCC (China), Acciona (Espanha) com Ballast Nedam (Holanda), Andrade Gutierrez (Brasil) com Webuild (Itália), e OEC (Brasil) com EGTC (Brasil) e uma terceira empresa.

Uma das empresas visitadas pelas autoridades brasileiras foi a holandesa Tec Tunnel, que atua na obra do túnel Fehmarnbelt e em outras do tipo no mundo. A chinesa CCCC construiu o túnel subaquático de Taihu, o maior da China, com 10,8 quilômetros de extensão, e a holandesa Ballast Nedam já realizou túneis semelhantes na Holanda e está construindo um no Iraque.

Túnel Santos-Guarujá, uma ideia de cerca de cem anos

Hoje as duas cidades do litoral paulista são conectadas por terra, em um caminho que leva 43 quilômetros e pode durar cerca de uma hora, ou por balsas, cuja travessia leva 18 minutos, sem contar o tempo de fila.

As balsas competem no canal com os gigantescos navios cargueiros que entram e saem do Porto de Santos, o maior da América Latina em movimentação de contêineres. Quando o túnel ficar pronto, a travessia deve ser feita em dois a três minutos, e o canal ficará mais livre para a movimentação dos navios cargueiros.

O projeto para o túnel rejeitou a opção de cavar o subsolo devido a instabilidades geológicas da região, segundo o governo de São Paulo, e uma ponte foi descartada devido à altura dos navios cargueiros que por ali passam e à Base Aérea de Santos, que fica nas proximidades.

A via terá 1,5 quilômetros, dos quais 870 metros serão de túnel submerso. O túnel será construído em seis partes de concreto, em um canteiro de obras próximo. Depois de as partes ficarem prontas, o canteiro de obras é inundado e os segmentos, que boiam, são rebocados até o canal. É então bombeada água para piscinas provisórias dentro dos segmentos, para que eles afundem até encontrarem o leito, já preparado para recebê-los.

Os seis elementos são então conectados com o auxílio de macacos hidráulicos e são retiradas as vedações entre eles. O túnel é então coberto por pedras, e são feitas as obras de acabamento interno. Serão três faixas em cada sentido, sendo uma adaptável para VLT, e uma via exclusiva para pedestres e ciclistas.

O túnel tem custo estimado de R$ 5,78 bilhões, dos quais R$ 4,96 bilhões serão custeados meio a meio entre governo federal e governo estadual – será o maior projeto do Novo PAC. As obras devem começar em 2026, e a previsão é de durarem três anos.

O consórcio vencedor construirá o túnel e irá operá-lo por 30 anos – em troca, cobrará pedágio dos veículos e caminhões que por ali transitarem e receberá uma contraprestação anual do governo. Vencerá o leilão o consórcio que oferecer o maior desconto na contraprestação do poder público.

Túnel Fehmarnbelt será o maior do tipo do mundo

Uma das inspirações para o túnel entre Santos e Guarujá, o túnel entre a Alemanha e a Dinamarca já está em construção e é hoje o maior canteiro de obras da Europa.

Em junho de 2024, o rei da Dinamarca, Frederik 10, inaugurou o primeiro elemento de concreto que comporá o túnel. No total, serão 89 elementos, cada um de 42 metros de largura por 270 metros de comprimento, e pesando cerca de 70 mil toneladas.

Juntos, eles formarão os 18 quilômetros de túnel que conectará a cidade dinamarquesa de Rødby à vila alemã de Puttgarden, que fica na ilha de Fehmarn. O túnel terá duas pistas para carros e caminhões em cada direção, e duas linhas ferroviárias. Quando ficar pronto, a ligação direta entre Hamburgo e Copenhagen terá 330 quilômetros.

A obra faz parte de uma iniciativa mais ampla da União Europeia para construir uma conexão mais rápida por trem entre o norte e o sul do continente e desincentivar o uso de aviões, que emitem muitos gases do efeito estufa. Outra grande obra que integra essa iniciativa é o túnel de base do Brennero, que corta os Alpes entre a Áustria e a Itália e terá 55 quilômetros – será o segundo maior túnel ferroviário do mundo.

O custo estimado do túnel Fehmarnbelt e suas conexões é de cerca de 7,4 bilhões de euros (R$ 48 bilhões). O túnel imerso custará 6,6 bilhões de euros (R$ 43 bilhões) e é financiado integralmente pela Dinamarca. A Alemanha investirá cerca de 800 milhões de euros para conectá-lo à rede alemã de rodovias e ferrovias.

A obra deve ficar pronta em 2029, e o pedágio por veículo de passeio deve custar cerca de 70 euros (R$ 453). Será o maior túnel de uso ferroviário e rodoviário do mundo, e o maior túnel imerso do mundo.

Short teaser Autoridades brasileiras tentam atrair empreiteiras estrangeiras que dominam a tecnologia, inédita no país.
Author Bruno Lupion
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-é-a-tecnologia-de-túnel-imerso-que-será-usada-em-santos/a-72454352?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 13
Id 72479816
Date 2025-05-08
Title Agência alemã pausa classificação de "extremista" para a AfD
Short title Agência alemã pausa classificação de "extremista" para a AfD
Teaser Inteligência interna da Alemanha se comprometeu a não se referir publicamente à sigla de ultradireita como "movimento extremista de direita confirmado" até tribunal se pronunciar sobre pedido de liminar do partido.

A agência de inteligência interna da Alemanha se absterá temporariamente de classificar o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma organização extremista, informou nesta quinta-feira (08/05) um tribunal na cidade de Colônia, no oeste do país.

Na sexta-feira passada, o Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV) classificou a AfD nacional como uma "organização comprovadamente extremista de direita" que ameaça a democracia. A AfD então anunciou que tentaria reverter o novo rótulo na Justiça.

Na decisão divulgada agora, o BfV se comprometeu a não se referir mais publicamente à AfD nestes termos até que o tribunal se pronuncie sobre um pedido de liminar apresentado pela AfD para que categorização seja revertida.

O tribunal não especificou quando isso acontecerá. Pode levar várias semanas ou até meses para que o assunto finalmente seja concluído.

A pausa também deve valer para os instrumentos expandidos de vigilância que a BfV poderia contar no caso de manter a classificação de "organização comprovadamente extremista de direita" .

A classificação de extremista anunciada na semana passada permitia que a agência de espionagem sediada em Colônia intensificasse o monitoramento da AfD, com, por exemplo, recrutamento informantes e interceptação de comunicações partidárias.

Agora, pelo menos por enquanto, a AfD vai continuar a ser monitorada de maneira mais limitada como "uma organização suspeita de extremismo", como já vinha acontecendo desde 2022.

O comunicado original sobre a nova classificação da sigla, divulgado na semana passada, também foi retirado da homepage da BfV.

A AfD comemorou a decisão após o anúncio. "Este é um primeiro passo importante para realmente nos exonerar e, assim, combater a acusação de extremismo de direita", disseram os colíderes federais da AfD, Tino Chrupalla e Alice Weidel. "Estamos nos defendendo com todos os meios legais contra a elevação da classificação pelo Departamento Federal de Proteção à Constituição."

Mas, segundo a imprensa alemã, a medida anunciada nesta quinta-feira não se trata de uma revogação da classificação pela agência, mas uma pausa.

Não é a primeira vez que o BfV se compromete a suspender uma classificação dada ao partido em função de uma ação judicial. Isso também ocorreu em janeiro de 2021, depois que a AfD entrou com recurso contra a sua então classificação, na época ainda como um "caso suspeito". A ação judicial da sigla de ultradireita, entretanto, não teve sucesso em duas instâncias.

O relatório de especialistas de 1.100 páginas do BfV, que não será divulgado ao público, concluiu na semana passada que a AfD é uma organização racista e antimuçulmana.

A AfD afirma que sua designação é uma tentativa politicamente motivada de desacreditá-la e criminalizá-la.

Trajetória da AfD

Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, a legenda é rotineiramente acusada de abrigar neonazistas em suas fileiras. Atualmente, quatro diretórios estaduais da AfD são classificados como "extremistas" por autoridades locais de inteligência. O mais recente é o do estado de Brandemburgo, que recebeu a classificação nesta semana.

Apesar disso, o partido tem registrado crescimento na última década. A legenda conseguiu formar sua primeira bancada federal em 2017. Em 2021, chegou a sofrer um leve declínio, mas retomou sua trajetória ascendente na última eleição federal, em fevereiro, dobrando seu apoio eleitoral e formando a segunda maior bancada de deputados no Parlamento (Bundestag). Atualmente, a AfD também é o partido político mais forte nas pesquisas de opinião, com cerca de 26% de apoio entre os alemães.

A AfD é especialmente forte no Leste alemão. Em uma tripla eleição estadual na região em 2024, a legenda chegou a terminar em primeiro lugar na Turíngia e em segundo na Saxônia e Brandemburgo – nesta última conquistou a maior fatia de eleitores entre 16 a 24 anos.

No entanto, o crescimento da AfD nos últimos anos ainda não se traduziu necessariamente em poder para a legenda, já que todos os partidos tradicionais têm evitado se aliar com a sigla para compor governos estaduais.

O recente cerco às atividades da AfD provocou críticas do outro lado do Atlântico, com membros do governo Trump, nos EUA, demonstrando repúdio contra a classificação do partido como "extremista" pelo (BfV). Mas nem todos os movimentos de ultradireita pelo mundo simpatizam com a AfD e sua estratégia de radicalização pública crescente. Em 2024, o movimento da francesa Marine Le Pen chegou a romper com a AfD no Parlamento Europeu após um eurodeputado alemão da legenda relativizar o histórico de uma antiga organização nazista.

md (Reuters, DPA, EPD)

Short teaser Órgão se comprometeu a não chamar sigla de ultradireita de "extremista" até tribunal decidir sobre pedido de liminar.
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Item 14
Id 936505
Date 2025-05-08
Title A Segunda Guerra Mundial
Short title A Segunda Guerra Mundial
Teaser

Soldados alemães nos subúrbios de Varsóvia em 1939

Ao dar início à sua política expansionista, Hitler planejou lançar a guerra desde o início. Com a invasão da Polônia em setembro de 1939, deflagrou um conflito mundial que se estendeu até 1945.Hitler não se contentou em anexar a Áustria e os Sudetos (em março e setembro de 1938, respectivamente). Sua intenção era dominar a Europa. Depois de desmembrar a então Tchecoslováquia, ordenou a invasão da Polônia em 1º de setembro de 1939. O Reino Unido e a França declararam guerra à Alemanha dois dias depois, cumprindo o acordo de defesa da Polônia. Começava, assim, a Segunda Guerra Mundial, que até 1945 devastou quase toda a Europa. Josef Stalin, que recusava uma aliança com a França e o Reino Unido, assinara um pacto com a Alemanha em 23 de agosto de 1939 para dividir a Polônia. Hitler fez um jogo militar ousado com seus adversários. Sabendo que a vantagem alemã no armamento não se manteria por muito tempo, e que somente uma rápida sequência de campanhas militares poderia evitar um fracasso semelhante ao da Primeira Guerra Mundial, criou o conceito do blitzkrieg. Lançada a guerra, boa parte ocidental da Polônia foi anexada ao Deutsches Reich após a capitulação daquele país no fim de setembro. Os judeus poloneses foram amontoados em guetos, como o de Varsóvia. Depois disso, a Alemanha ocupou a Noruega e a Dinamarca. Depois da Polônia, a França Superestimando o poderio militar alemão nesse momento, o Reino Unido e a França permaneceram na defensiva. Como os adversários não reconhecessem suas anexações no leste da Europa, Hitler iniciou uma campanha em 10 de maio de 1940, invadindo a França depois de ferir a neutralidade de Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Paris foi ocupada pelas tropas alemãs em 14 de junho de 1940. Embora o então novo primeiro-ministro do Reino Unido Winston Churchill propusesse uma união com a França, bem como o prosseguimento da resistência francesa no norte da África, a maioria do gabinete francês decidiu-se por um armistício. Este foi assinado em 22 de junho pelo marechal Philippe Pétain, que dias depois transferiu seu governo para Vichy, no sul da França. Seu regime cooperou com o nazismo. O general Charles de Gaulle, que se refugiara em Londres, anunciou a continuidade da resistência. Países e regiões ocupados foram colocados sob comando militar alemão; Luxemburgo e a Alsácia Lorena, anexados. No entanto, falharam tentativas alemãs de preparar um desembarque na Grã-Bretanha e de enfraquecer o adversário através de uma ofensiva aérea. Nesse meio tempo, os Estados Unidos passaram a apoiar cada vez mais o Reino Unido. África, Bálcãs e Grécia No fim de 1940, o exército britânico iniciou uma ofensiva contra as forças italianas no norte da África. Hitler atendeu a um pedido de Mussolini, enviando uma esquadra à Sicília e, em fevereiro de 1941, uma divisão à Líbia integrando o Afrika-Korps, sob o comando do general Erwin Rommel. Após o fracasso do ataque italiano à Grécia, iniciado em 28 de outubro de 1940, Hitler preparou uma ofensiva de apoio, procurando incluir Hungria, Romênia, Bulgária e os países dos Bálcãs na Tríplice Aliança, forjada com a Itália e o Japão em 27 de setembro de 1940. As tropas alemãs esbarraram em resistência na Iugoslávia e, depois de tomar Belgrado em 17 de abril de 1941, venceram o exército grego. Dez dias depois, entraram em Atenas. Os preparativos para a campanha contra a União Soviética foram iniciados em julho de 1940. Até meados de 1941, mais de 3 milhões de soldados alemães haviam avançado na região entre o Mar Báltico e o Mar Negro, bem como na aliada Finlândia. Além dos objetivos militares, Hitler queria aplicar seu programa racial. Convencido da superioridade da raça ariana, ele determinou, a partir de 1941, o extermínio sistemático dos judeus, a dizimação da população eslava e a aniquilação da liderança comunista. Um plano geral para o Leste Europeu, elaborado pela cúpula da SS, previa a expulsão e o traslado de milhões de eslavos e uma gradual germanização da Europa Oriental. O governo soviético não fez grandes preparativos, apesar das advertências. Stalin não acreditava que Hitler, seu aliado na divisão da Polônia, atacasse a Rússia antes de encerrar a campanha na frente ocidental. Em vão, tentou negociar com Hitler, a fim de ganhar tempo para armar o Exército Vermelho e mobilizar de 10 a 12 milhões de reservistas. A expansão da guerra Em 22 de junho de 1941,a Alemanha e seus aliados europeus atacaram a União Soviética. Hitler calculava que seria possível debilitar o Exército Vermelho em pouco tempo e depois transferir a maior parte dos tanques para as campanhas seguintes. A combatividade do Exército Vermelho e sua superioridade numérica, porém, levaram ao fracasso o ataque alemão rumo a Moscou. A contraofensiva soviética no duro inverno de 1941/42 causou muitas baixas ao exército alemão. Hitler, que ordenara "não se perder uma polegada" do solo conquistado e que os soldados mostrassem uma "resistência fanática", assumiu pessoalmente o comando militar. O ataque à União Soviética levou à formação da "coalizão anti-Hitler", que até então fracassara pelo conflito de interesses. Em 12 de julho de 1941, o Reino Unido e a União Soviética assinaram um tratado de ajuda mútua. No mês seguinte, um ataque conjunto dos dois países ao Irã abriu caminho para o envio de material de apoio logístico à União Soviética. O agravamento do conflito entre os Estados Unidos e o Japão fez com que os combates se estendessem. Depois que os japoneses ocuparam o sul da Indochina francesa, o presidente americano Franklin Roosevelt determinou um embargo de petróleo que afetou profundamente a economia japonesa. Em 7 de dezembro, o Japão, que já estava em guerra com a China, atacou de surpresa a base americana Pearl Harbor e várias possessões britânicas na Ásia. Estabeleceram-se assim as frentes de guerra: as potências do Eixo, no triângulo Berlim-Roma-Tóquio, e os Aliados, compondo a coalizão anti-Hitler. O Japão e a União Soviética, contudo, mantiveram o acordo de neutralidade assinado em abril de 1941. A luta no Pacífico O Japão conquistou rapidamente terreno no Sudeste Asiático, avançando por Tailândia, Birmânia, Malaia (atual Malásia), Índias Orientais Holandesas (atual Indonésia), Singapura, Hong Kong, e boa parte das Filipinas, o que lhe garantiu o acesso a matérias-primas de que necessitava para uma guerra de longa duração. No início de 1942, Alemanha e Japão dividiram as zonas de operação, mas não chegou a haver uma intensa cooperação militar entre os dois países. Preferindo subjugar primeiramente a União Soviética, Hitler rechaçou o plano do comandante da Marinha, almirante Erich Raeder, de atuar em conjunto com o Japão e transferir as ações de guerra alemãs para o Mediterrâneo e o Oriente Médio. O Holocausto As primeiras ordens para o extermínio dos judeus foram dadas em 31 de julho de 1941, mas foi durante a Conferência de Wannsee, em 20 de janeiro de 1942, que assumiram forma concreta os planos da "solução final" (Endlösung): a aniquilação sistemática de todos os judeus nos países sob o domínio nazista. Nos meses seguintes, começou o genocídio dos judeus nos campos de concentração e extermínio de Auschwitz, Treblinka, Belzec, Sobibor, Chelmno e Maidanek. Os que não morreram de doenças e subnutrição durante a rotina de trabalhos forçados foram levados para as câmaras de gás. Fuzilamentos em massa, geralmente executados pelas SS, também foram frequentes, principalmente na Europa Oriental. O genocídio custou a vida de 5,2 milhões a 6 milhões de judeus, a maioria poloneses. A guerra marítima No mar, os submarinos alemães causavam graves perdas aos inimigos e às nações que os apoiavam, atacando e afundando navios até mesmo da Marinha Mercante Brasileira. De janeiro a julho de 1942, a marinha de guerra alemã afundou tantos navios aliados que, somados, pesariam 2,9 milhões de toneladas. Sobre as águas, porém, as batalhas praticamente terminaram para os alemães após o afundamento do encouraçado de guerra Bismarck, em 27 de maio de 1941. Paralelamente, desde março de 1942, aumentaram os ataques aéreos britânicos contra cidades alemãs. A capitulação na África A mudança decisiva no cenário de guerra europeu e africano começou no fim de 1942, com a grande ofensiva do general britânico Bernard Montgomery contra Rommel na África. Em etapas, a batalha foi se deslocando para o oeste. Tropas americanas e britânicas desembarcaram no Marrocos e na Argélia, sob o comando de Dwight Eisenhower. Os Aliados escolheram a região do Mediterrâneo para uma guerra de desgaste, em grande estilo. Na conferência de Casablanca, em 24 de janeiro de 1943, Roosevelt e Churchill anunciaram como objetivo de guerra a "capitulação incondicional" da Alemanha, da Itália e do Japão. Decidiu-se reforçar os bombardeios contra a Alemanha, que passaram a contar com a participação da Força Aérea dos Estados Unidos. A capitulação do que restou do exército de Rommel e das tropas italianas na África deu-se em maio de 1943. A ofensiva soviética Na frente leste, uma grande ofensiva soviética no fim de 1942 acabou cercando o 6º Exército alemão entre os rios Volga e Don. Embora Hitler proibisse tanto a capitulação como a retirada, o marechal Friedrich Paulus entregou-se, com parte das tropas, em 31 de janeiro de 1943. Stalingrado foi o começo do fim para Hitler. A notícia de que os Aliados haviam desembarcado na Sicília, em 10 de julho de 1943, levou os alemães a transferirem ainda mais tropas. A partir de então, a União Soviética passou a ditar os acontecimentos na frente leste. Após um último aumento da capacidade destrutiva dos submarinos alemães até março de 1943, os ingleses conseguiram decifrar o código alemão de radiocomunicação. As perdas foram tão grandes que o comandante da marinha de guerra alemã, almirante Karl Dönitz, suspendeu, em maio, o combate aos comboios aliados no Atlântico. A queda da Itália O desembarque dos Aliados na Sicília encontrou pouca resistência italiana. Uma moção de desconfiança contra Mussolini culminou com sua prisão em 25 de julho de 1943. O governo nomeado pelo rei Victor Emmanuel 3º assinou um armistício com os Aliados, que desembarcaram no sul da Itália em setembro. As tropas alemãs ocuparam Roma em 10 de setembro e começaram a desarmar as tropas italianas. Mussolini foi libertado por um comando alemão de paraquedistas e passou a chefiar uma república social italiana, fascista e dependente da Alemanha. A grande ofensiva aliada, contudo, só teve início em 12 de maio de 1944. No mês seguinte, as tropas alemãs deixaram Roma, concentrando-se no norte. Em 3 de janeiro de 1944, o Exército Vermelho ultrapassou a fronteira soviético-polonesa de 1939. Em 22 de junho do mesmo ano, quando se completavam três anos da invasão alemã, Stalin ordenou uma grande ofensiva contra as divisões alemãs concentradas no centro. Como Hitler insistisse em manter a linha do front, em poucos dias os soviéticos conseguiram rompê-la, desgastando as 38 divisões alemãs. Com isso, os soviéticos chegaram até o leste de Varsóvia e cortaram as vias de abastecimento das tropas alemãs nos países bálticos. A ofensiva aérea dos Aliados ganhou grande força a partir do verão europeu de 1943. Bombardeios britânicos causaram graves danos a cidades alemãs, como Hamburgo e Berlim. No ano seguinte, o alvo foram as refinarias, o que levou a uma queda fatal da produção de combustível. O desembarque na Normandia Após meses de preparativos, o grande desembarque dos Aliados na costa da Normandia teve início na madrugada de 6 de junho de 1944. Apesar da resistência dos alemães, as tropas aliadas conseguiram romper as linhas de defesa. Tropas americanas e da resistência francesa tomaram Paris em 25 de agosto. Dias antes, os Aliados também haviam desembarcado na costa mediterrânea. De Gaulle assumiu o governo da França. Em 20 de julho de 1944, o coronel alemão Claus Schenk, conde de Stauffenberg, perpetrou um atentado contra Hitler, em nome do movimento de resistência do qual faziam parte vários oficiais. Hitler saiu apenas levemente ferido da explosão de uma bomba em seu quartel-general na Prússia Oriental. A represália não se fez esperar: mais de 4 mil pessoas, membros e simpatizantes da resistência, foram executadas nos meses seguintes. Embora a queda do Terceiro Reich fosse incontestável, Hitler ordenou, em 25 de setembro de 1944, que todos os homens alemães de 16 a 60 anos fossem convocados para o exército, pouco depois de seu ministro da Propaganda, Josef Goebbels, tornar a proclamar a "guerra total". A inversão da situação fez com que pequenos países que haviam se aliado à Alemanha, como a Romênia, abandonassem a guerra ou mudassem de lado. O fim da guerra na Europa Enquanto a ofensiva nas Ardenas consumiu as últimas reservas alemãs na frente ocidental, um novo ataque soviético acabou com o que restava das tropas alemãs no leste. O Exército Vermelho tomou Varsóvia em 17 de janeiro de 1945 e logo depois isolou a Prússia Oriental do resto do Reich. Em 30 de janeiro, as tropas soviéticas atingiram o rio Oder, na atual fronteira entre a Polônia e a Alemanha. Nos meses seguintes, os alemães caíram na Silésia, Prússia Ocidental, Pomerânia Oriental, e em Königsberg e Danzig. A ofensiva dos aliados ocidentais não avançou com tanta rapidez. Vindos da Holanda, os americanos entraram na Alemanha em 23 de fevereiro, chegando a Colônia em 7 de março de 1945. No mesmo dia, tomaram a ponte de Remagen, sobre o Reno, a única que não fora destruída. Os ingleses dirigiram-se à região industrial do Ruhr e avançaram depois para o norte, enquanto as tropas americanas rumaram para o sul. A queda de Berlim e a capitulação Munique caiu em 30 de abril, restando ao Exército Vermelho a conquista de Berlim, Praga e Viena. O comandante de Berlim capitulou em 2 de maio de 1945. Hitler se suicidou dias antes na capital alemã, em 30 de abril, num bunker, após nomear o almirante Karl Dönitz seu sucessor como chefe de Estado. Dönitz ordenou que o chefe do Estado-Maior, general Alfred Jodl, assinasse a capitulação incondicional em 7 de maio de 1945, no quartel-general dos Aliados, em Reims. A rendição entraria em vigor no dia seguinte, 8 de maio, data que marca, oficialmente, o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. Ainda em 8 de maio, o comandante da Wehrmacht, marechal Wilhelm Keitel, repetiu a assinatura da capitulação também no quartel-general soviético, em Berlim. Em 5 de junho de 1945, os quatro comandantes-em-chefe dos Aliados anunciaram ter assumido o controle em toda a Alemanha. No Pacífico, a guerra se estendeu até 2 de setembro de 1945, quando o Japão assinou sua capitulação. Para pôr fim ao conflito, os americanos lançaram bombas nucleares sobre Hiroshima em 6 de agosto de 1945, e Nagasaki, em 9 de agosto. O balanço da 2ª Guerra A Segunda Guerra Mundial deixou um saldo de pelo menos 30 milhões de mortos – algumas estimativas calculam o número em mais de 55 milhões. Só na União Soviética, morreram cerca de 20 milhões. O Holocausto custou a vida de 5,2 milhões a 6 milhões de judeus. Na Alemanha, morreram 5,25 milhões; na Polônia, 4,5 milhões; no Japão 1,8 milhão, e na Iugoslávia, 1,7 milhão de pessoas. Ao fim da Segunda Guerra, a Alemanha, a Itália e o Japão deixaram de ser grandes potências. Os Estados Unidos e a nova superpotência União Soviética haviam definido a guerra na Europa, que dividiram de fato em duas zonas, conforme seu poderio e sua esfera de influência. No Leste Asiático, os EUA dominaram inicialmente, enquanto a Grã-Bretanha e a França, embora também vencedores, entraram em declínio.


Short teaser Com a invasão da Polônia em setembro de 1939, Hitler deflagrou um conflito mundial.
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Image caption Soldados alemães nos subúrbios de Varsóvia em 1939
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Item 15
Id 72477933
Date 2025-05-08
Title Afro-alemães vitímas do nazismo: os grandes esquecidos da história
Short title Alemães negros sob o nazismo: ainda esquecidos pela história
Teaser Alvos de discriminação, perseguição e até esterilização forçada, os afro-alemães não tiveram sua experiência ainda estudada em detalhe, ao contrário de outras vítimas do regime nazista.

"Acho que a gente não se deu conta de que a época nazista da Alemanha durou só 12 anos, e o que esse tempo pode fazer com uma sociedade e o que pode acontecer nele. Não é preciso 50 ou 100 anos", comenta a historiadora Katharina Oguntoye, de Berlim.

Os crimes, subjugação, racismo, escravização e genocídio contra judeus, etnias sinti e roma, LGBTQ+ e outras comunidades estão bem documentados. Mas para os negros da Alemanha não tem sido fácil obter o reconhecimento dos crimes e abusos sofridos.

O historiador Robbie Aitken, da Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, estuda as comunidades negras há 20 anos, e registra uma relutância da sociedade alemã em reconhecer e aceitar que os negros são parte do país desde o fim do século 19.

"Estamos falando de gente que atravessou fronteiras, que se deslocou muito, e de um período em que os próprios nazistas destruíram documentos, então é difícil encontrar informações. Acho que muitos historiadores estão relaxando nesse ponto, e há uma falta de saber público e acadêmico sobre o período."

Na década de 1880, a presença do Império Alemão na África colocou o país em contato com a população local, sua mão de obra e os recursos naturais de seus territórios. Após ser derrotada na Primeira Guerra Mundial, porém, a Alemanha teve que renunciar às colônias que incluíam os Camarões, Togo, a África Oriental Alemã (atuais Tanzânia, Burundi e Ruanda) e a Namíbia.

Ascensão nazista intensifica a perseguição racista

Vários milhares de afrodescendentes (não se dispõe de cifras exatas) afluíram para a Alemanha, vindos da África, Caribe, América do Sul e Estados Unidos.

Outro grupo de afro-alemães tem sua origem na presença de tropas coloniais francesas que ocuparam a região alemã da Renânia após a 1° Guerra Mundial, entrer 1918 e 1930, quando alguns desses militares acabaram se envolvendo com mulheres alemãs, deixando uma descendência local.

A minoria negra no país já era marginalizada devido à Grande Depressão de 1929, porém a natureza racista do regime nacional-socialista, que assumiu o governo em 1933, exacerbou sua situação.

"Quando os nazistas subiram ao poder, todo mundo que quisesse ser racista, que concordasse com os pontos de vista deles, podia dizer essas coisas pelas ruas com todo o entusiasmo, podia maltratar os outros física, verbalmente. Eles tinham rédea livre", relata Aitken.

Assim, ficou mais raro ver os residentes negros em público, em especial quem tinha cônjuges brancos e filhos. Toda essa camada da população era considerada racialmente inferior, e entre 1933 e 1945 o regime impôs leis e medidas raciais para restringir suas oportunidades econômicas e sociais.

"No nível local, famílias foram efetivamente despejadas dos seus apartamentos para dar lugar aos adeptos do nazismo ou membros do partido", prossegue o historiador de Sheffield. "Alguns alemães negros que tinham estabelecimentos comerciais foram explicitamente perseguidos."

Esterilização forçada, estereótipos e propaganda

Um exemplo foi o bem-sucedido comerciante camaronense Mandenga Diek, um dos raros africanos com cidadania alemã: com a ascensão dos nazistas, ele perdeu sua firma em Danzig (hoje Gdańsk, Polônia) e foi declarado apátrida, juntamente com a família.

Após sua morte, em 1943, sua esposa Emilie e as filhas Erika e Dorothea escaparam por pouco da esterilização forçada. Enquanto isso, também na região da Renânia a Gestapo, polícia secreta do ditador Adolf Hitler, recebeu ordens secretas para localizar e esterilizar as crianças birraciais.

Segundo Aitken, tais ações provam que havia uma "intenção genocida": "Não quer dizer que todas as pessoas negras fossem esterilizadas, mas considerando-se as medidas de alto nível e como as forças policiais locais agiam, fica claro que elas compreendiam essa intenção."

A implementação das Leis Raciais de Nurembergue foi uma das pedras fundamentais da política nazista sobre o assunto. Baseada em protótipos desenvolvidos para separar brancos e negros durante a época colonialista alemã, a legislação incluía restrições a casamentos e relações sexuais entre judeus alemães e os assim chamados "arianos".

O termo "ariano" descrevia uma raça supostamente "branca" e superior a outros grupos, como os judeus. O então ministro do Interior, Wilhelm Frick, também empregou o conceito para discriminar mulheres e homens considerados negros.

Calcadas nos zoológicos humanos de décadas anteriores, as exposições itinerantes intituladas "Deutsche Afrika Schau" (Show Alemão da África) evocavam clichês dos tempos coloniais. Criadas pelo togolês residente na Alemanha Kassi Bruce, de 1937 a 1940 elas eram uma oportunidade de sobrevivência financeira para os cidadãos negros – embora o regime controlasse estritamente quem podia participar.

Igualmente estereotipada era a participação negra nos filmes de propaganda, sempre no papel de criados – refletindo também as esperanças dos nazistas de reconquistar os territórios perdidos na África.

Inspirada na pioneira May Ayim

A antologia de 1986 Farbe bekennen ("Assumir a cor", mais tarde publicada em inglês como Showing our colors. Afro-German women speak out – Mostrando nossas cores. Mulheres afro-alemãs se manifestam), da poeta, educadora e ativista afro-alemã May Ayim (1960-1996), representa um momento-chave para a experiência negra na Alemanha e o feminismo interseccional, combinando análise histórica, entrevistas, testemunhos pessoais e poesia.

Katharina Oguntoye, que participou da edição de Farbe bekennen, prossegue nessa linha de pesquisa histórica, recolhendo narrativas de resistência e coragem de existir de alemães negros durante o período nazista. Desse modo, ela chegou à compositora de canções políticas Fasia Jansen, o ator Theodor Wonja Michael, e o jornalista Hans Massaquoi.

Apesar de ter nascido 14 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, de mãe alemã branca e pai nigeriano, Oguntoye acredita que sua identidade forma uma plataforma para contar tais histórias: "Pouca gente faz essa pesquisa, tem dois ou três outros acadêmicos que estudam as pessoas negras durante os tempos nazistas."

Para ela, continuam subvalorizadas a presença e contribuição negra à Alemanha. Por exemplo: muitos só ficaram sabendo da existência do pioneiro Anton Wilhelm Amo (1703-1759) – primeiro afrodescendente a se doutorar numa universidade europeia – quando uma rua berlinense recebeu seu nome, em 2021.

Superando a vitimização

Neste ínterim, outros afro-alemães vêm ganhando mais visibilidade em Berlim, graças a placas comemorativas nos espaços públicos. E na cidade de Colônia inaugurou-se em 2022 a Biblioteca Theodor Wonja Michael (1925-2019), como lar para as histórias negras e para estudos sobre identidade, raça e cultura. A criação da instituição foi inspirada, em parte, pelo lançamento de My father was a German (Meu pai era alemão), um relato franco de Michael sobre sua vida na Alemanha do século 20.

Outra medida positiva, propõe Oguntoye, seria abordar mais intensamente nos currículos escolares a contribuição negra: "É bom transmiti-la através de biografias; histórias de vida, pois essa é a forma mais fácil de lembrar das pessoas."

Contudo a luta por reconhecimento e aceitação está longe de terminar, e as novas gerações se confrontam com uma sociedade alemã tendendo politicamente cada vez mais para a direita.

Sophie Osen Akhibi, da associação alemã Rede Acadêmica Afrodiaspórica (Adan), fundada em 2014, enfatiza a importância de identificar onde é possível exercer influência para promover mudanças culturais.

"Não vai ajudar permanecer no modo de vítima e reclamar, em vez de almejar a profissões e poder para sermos incluídas na mesa de tomada de decisões ou, se não, construirmos a nossa própria."

Através da Adan, Akhibi e seus colegas se esforçam para que os tomadores de decisão compreendam as realidades que confrontam os imigrantes e minorias, e as abordem.

Short teaser Afro-alemães não tiveram sua experiência ainda estudada em detalhe, ao contrário de outras vítimas do regime nazista.
Author Okeri Ngutjinazo
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Item 16
Id 72446997
Date 2025-05-08
Title Fim da Segunda Guerra: um trauma presente 80 anos depois
Short title O trauma do fim da Segunda Guerra vivido por um veterano
Teaser Hoje com 99 anos, George Leitmann esteve entre os soldados americanos que libertaram a Alemanha do nazismo em 1945. Oitenta anos após o fim da guerra, ele alerta para o risco do retorno do fascismo.

Quando George Leitmann veio à Alemanha pela primeira vez, ele tinha 19 anos. Foi na primavera de 1945, pouco antes do fim da Segunda Guerra mundial na Europa. Em todas as frentes, soldados americanos, soldados britânicos e o Exército Vermelho soviético avançavam para libertar a Europa dos crimes do nazismo sob Adolf Hitler.

Quando Leitmann e seus companheiros do 286º Batalhão de Pioneiros do 6º Exército dos EUA pisaram em solo alemão, a guerra ainda estava em andamento. A situação nos vilarejos do sul da Alemanha era confusa. "A linha de frente era extremamente fluida", recorda. Nos últimos meses da guerra, a Wehrmacht e a organização paramilitar Schutzstaffel (SS) lutavam com todas suas forças para tentar salvar o regime nazista da ruína.


George vivenciou muitos horrores da guerra. Alguns jamais o abandonaram.

"Chegamos a um subúrbio", lembra ele quase 80 anos depois, "e havia de 15 a 20 crianças. Todas eram meninos. Eles tinham entre 10 e 12 anos." Mortos. Haviam sido enforcados. "Bati na porta mais próxima e perguntei o que havia acontecido." Os moradores lhe contaram que membros da notória Waffen SS alemã estavam por trás da matança. "Eles aparentemente reuniram as crianças locais e deram a cada uma delas uma Panzerfaust [arma antitanque]. E a ordem de atirar na chegada do primeiro tanque americano."

Quando os tanques chegaram, porém, as crianças fugiram. "Um dia depois, a SS voltou, reuniu os meninos e os enforcou em árvores. Eles enforcaram suas crianças!" Mais tarde, historiadores documentariam vários outros assassinatos de civis alemães que se recusavam a lutar, cometidos pela Wehrmacht e pela SS, os chamados Crimes da Fase Final.

Ao longo da Segunda Guerra, os alemães assassinaram milhões de pessoas na Alemanha e na Europa – além de matarem suas próprias crianças. "É essa imagem que nunca esqueci: os corpos das crianças balançando ao vento", recorda Leitmann.

Descrença na humanidade

Essas impressões de guerra deixaram marcas duradouras em George Leitmann. "A imagem das crianças foi tão profunda para mim que comecei a duvidar da humanidade. Talvez o que mais me perturbe até hoje seja o fato de nós, enquanto seres humanos, não podermos confiar em nós mesmos. Pois o que motivou a SS não era racional."

Tais questionamentos perturbam os pensamentos de Leitmann, soldado e libertador americano, ainda que os crimes tenham sido cometidos por outros. Talvez esta seja uma das grandes diferenças entre as biografias das vítimas do nazismo e as dos perpetradores: nas décadas seguintes ao fim da guerra, quase todos os nazistas e seus cúmplices negaram sua própria responsabilidade por uma guerra que custou a vida de mais de 60 milhões de pessoas.

Da mesma forma, eles negam seu apoio a uma ideologia fascista que divide a vida humana entre aquelas que valem ou não a pena serem vividas – a mesma que resultou no assassinato em escala industrial de judeus europeus, sinti e roma, e inúmeras outras pessoas. Os alemães atiraram, usaram gás lacrimogêneo e mataram 1,5 milhão de crianças apenas – a maioria delas porque eram judias.

George Leitmann não foi apenas um soldado americano que lutou contra a Alemanha nazista. Nascido em Viena, capital da Áustria, ele próprio é um sobrevivente do Holocausto. Quando os nazistas tomaram sua terra natal, sua família judia decidiu emigrar em 1940. George, sua mãe e seus avós conseguiram vistos para os EUA, mas seu pai, Josef, não. Ele acabou então fugindo para o que então era a Iugoslávia. Quando tudo parecia estar seguro, George e o resto de sua família embarcaram em um navio para os EUA. Ele nunca mais veria seu pai.

A extensão dos crimes alemães jamais saiu de sua memória. Depois da guerra, Leitmann seguiu carreira acadêmica nos EUA, lecionando por muitos anos como professor de engenharia na universidade de elite de Berkeley, na Califórnia, onde receberia inúmeras honrarias e prêmios.

Berkeley continua sendo sua morada ainda hoje. É na cidade californiana que ele vive atualmente com sua esposa Nancy, de 100 anos, ambos na mesma casa de repouso. Mas a inquietude não o deixou. "Eu sempre me pergunto: como pessoas tão instruídas como os alemães foram capazes de fazer algo tão ruim em tão pouco tempo?"

Sua pergunta, assim como tantas outras, segue sem resposta. Nenhuma delas o abandona. Elas ficam rodeando seus pensamentos. "Sempre que eu conhecia alemães, me perguntava o quão culpados eles ou seus pais eram. Mas responder a essa pergunta com a suposta culpa de seus ancestrais parecia, do ponto de vista científico, inapropriado." George crê ter sido uma pessoa muito controlada ao longo de toda a sua vida. "Nunca perdi a cabeça, nunca levantei a voz. Sempre achei que poderia cumprir melhor minha missão se me controlasse."

Em busca do pai

Mas quando, com apenas 18 anos, ele decidiu se voluntariar para o serviço militar em seu novo país, os EUA, ele seguia também um impulso: a incerteza sobre o destino de seu pai. Sua luta contra os alemães tornou-se assim também uma busca, algo que o diferenciava de muitos de seus camaradas.

"Quando chegamos no campo de concentração de Kaufering, perto de Munique, meus camaradas ficaram horrorizados. Estavam enojados com as ações dos alemães. Mas, para mim, imediatamente surgiu uma conexão com meu pai. Quando encontrávamos pessoas libertadas, eu sempre tinha a esperança de rever meu pai."

O campo de concentração de Kaufering, na Baviera, era composto por onze campos diferentes. Os nazistas deportaram 23 mil pessoas para lá. A maioria deles eram judeus do Leste Europeu que tiveram que realizar trabalhos forçados para a indústria de armamentos alemã. Ao fim, foram todos assassinados – ou, como se dizia, "exterminados pelo trabalho".

Quando George Leitmann entrou no campo libertado em abril de 1945 foi como se "um mundo do Inferno de Dante" se abrisse para ele. "Havia cadáveres por toda parte. Muitos deles ainda fumegavam porque os alemães tentaram queimá-los. Mas, como as pessoas eram apenas pele e osso, [os corpos] não queimaram." Imagens como essa o perturbam até hoje durante a noite.

"A frieza e a crueldade recaem sobre todos nós"

Atualmente, no local do antigo campo de concentração, um memorial é operado pela Fundação Europeia Memorial do Holocausto – e George Leitmann é membro honorário. Em 27 de abril de 2025, vários convidados se reuniram lá para celebrar o 80º aniversário da libertação. George, porém, não pôde comparecer, pois a viagem desde a Califórnia seria muito longa e muito difícil para ele.

O serviço memorial foi marcado pelo luto pelos mortos. Mas também por preocupações com o futuro: a ascensão do grupo extremista de direita AfD na Alemanha, a ascensão de Donald Trump nos EUA, a guerra de agressão russa na Ucrânia.

O fantasma do fascismo está de volta – o poder dos fortes, nas palavras do historiador vienense Florian Wenninger: "Elon Musk considera a empatia a maior fraqueza da civilização ocidental. Apesar disso, devemos permanecer firmes. Se o comportamento social, se o senso de justiça e a compaixão forem deliberadamente atacados, então fica claro, por outro lado, que a frieza e a crueldade podem se voltar contra todos nós, ameaçar a todos nós."

George Leitmann também se mostra preocupado com a política atual. "Que um homem como Donald Trump possa se tornar presidente é algo impressionante. O fato de grandes segmentos da sociedade apoiarem ideias fascistas é perturbador. Culpar certos grupos de pessoas por algo sempre causou infelicidade. "

George Leitmann completará 100 anos em maio de 2025. Apesar de todas as dificuldades, ele avalia que teve uma vida boa: pôde viajar, constituir família e conhecer pessoas interessantes. Mas ressalta que a velhice também pode ser um fardo. "Tente não ficar tão velho", diz, balançando o dedo indicador. "Isso não é brincadeira. Estou falando sério."

Quanto ao destino de seu pai, ele só teve conhecimento muitos anos após o fim da guerra. Foi em um campo na Iugoslávia: seu pai, assim como centenas de outros, foi fuzilado pelos alemães. Simplesmente por ser judeu.

Até hoje, George Leitmann imagina como terão sido os últimos minutos da vida de seu pai. É um pensamento que lhe acomete todos os dias.

Short teaser Hoje com 99 anos, George Leitmann esteve entre os soldados americanos que libertaram a Alemanha do nazismo em 1945.
Author Hans Pfeifer
Item URL https://www.dw.com/pt-br/fim-da-segunda-guerra-um-trauma-presente-80-anos-depois/a-72446997?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 17
Id 514943
Date 2025-05-08
Title Capitulação da Alemanha nazista na 2ª Guerra completa 80 anos
Short title Capitulação da Alemanha na 2ª Guerra completa 80 anos
Teaser

O marechal Wilhelm Keitel assina a capitulação da Alemanha nazista em 8 de maio de 1945

Em 8 de maio de 1945, o Alto Comando da Wehrmacht assinou a capitulação definitiva do Terceiro Reich nazista ante as forças aliadas. Era o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa, cinco anos e meio após seu início."Nós, abaixo-assinados, que negociamos em nome do Alto Comando alemão, declaramos a capitulação incondicional ante o Alto Comando do Exército Vermelho e ao mesmo tempo ante o Alto Comando das forças expedicionárias aliadas de todas as nossas Forças Armadas na terra, na água e no ar, assim como de todas as demais que no momento estão sob ordens alemãs. Assinado em 8 de maio de 1945 em Berlim. Em nome do Alto Comando alemão: Keitel, Friedeburg, Stumpf..." O que o locutor da Rádio do Reich anunciava em poucas palavras na manhã de 9 de maio de 1945 era o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. Todos os sobreviventes respiraram aliviados. Mas aquilo que a maioria – também dos alemães – sentiu como libertação, significava, para outros, vergonha. As vitórias-relâmpago sobre a Polônia, a França e a Noruega haviam cegado muitos alemães e, acima de tudo, a própria liderança nazista. O ataque à União Soviética, em 22 de junho de 1941, resultava desse delírio provocado pelas fáceis conquistas militares. "Do quartel-general do führer, o Alto Comando informa: em defesa contra o ameaçador perigo do leste, a Wehrmacht (as Forças Armadas) atacou, às 3 horas da manhã de 22 de junho, a violenta marcha das tropas inimigas. Uma esquadrilha da Luftwaffe bombardeou o inimigo soviético ainda ao alvorecer." Otimismo de Hitler Os esmagadores sucessos iniciais da Operação Barbarossa, nome secreto do assalto alemão à União Soviética, também pareciam levar o Reich a mais um triunfo militar. Em 3 de outubro de 1942, o ditador nazista Adolf Hitler zombou das reações da imprensa estrangeira: "Se nós avançamos mil quilômetros, não se pode chamar isso exatamente de fracasso (...). Por exemplo, nos últimos meses – e é em apenas alguns meses que se pode sensatamente promover uma guerra neste país – nós avançamos até o Rio Don, o descemos e chegamos finalmente ao Volga. Cercamos Stalingrado e vamos tomá-la – no que os senhores podem confiar." Era a primeira vez que Hitler mencionava publicamente o nome da cidade que viria, quatro meses mais tarde, mudar o destino da guerra. Se na ocasião muitos generais acreditavam no sucesso militar da ofensiva, no momento da capitulação do Sexto Exército em Stalingrado restavam poucos otimistas ainda cegamente convictos de um fim vitorioso para a Alemanha de Hitler. A derrota das tropas alemãs na África do Norte, também em 1943, o desembarque dos Aliados na Normandia, em junho de 1944, e uma série de novas derrotas esmagadoras para os soviéticos entre 1943 e 1944 acabaram acelerando a derrota nazista. Finalmente, cercado pelos soviéticos, Hitler tirou a própria vida em seu bunker em Berlim em 30 de abril de 1945. Dois dias depois, a capital alemã se rendeu. Rendição A assinatura oficial da capitulação, no entanto, ainda demoraria alguns dias. Em 7 de maio, generais alemães assinaram em Reims, na França, um primeiro documento de capitulação antes às forças aliadas. Mas os soviéticos insistiram que uma nova assinatura fosse realizada em Berlim no dia seguinte, o que foi aceito pelos alemães e o restante dos aliados. Finalmente, em 8 de maio, o documento de rendição definitiva foi assinado no bairro de Karlshorst, no leste de Berlim. O lado alemão foi representado pelo almirante Hans-Georg von Friedeburg, o marechal Wilhelm Keitel e o brigadeiro Hans-Jürgen Stumpff. Os soviéticos foram representados pelo marechal Georgy Zhukov; os britânicos, pelo marechal-do-ar Arthur William Tedder; os americanos, pelo general Carl Spaatz; os franceses, pelo general Jean de Lattre de Tassigny. Um dia após a capitulação incondicional, a emissora de rádio do Reich da cidade de Flensburg, onde residia o almirante Karl Dönitz, que após o suicídio de Hitler exerceu interinamente o posto de presidente do Reich até 23 de maio, levou ao ar o último boletim da Wehrmacht, elogiando o que chamou de heroica resistência dos últimos batalhões na foz do Rio Vístula, no leste alemão. "Vinte horas e três minutos. No ar, a emissora do Reich de Flensburg e sua rede de afiliadas. Hoje, transmitimos o último boletim da Wehrmacht sobre esta guerra. Do quartel-general do almirante, em 9 de maio de 1945, o Alto Comando informa que..." O que todos os boletins oficiais das Forças Armadas sempre haviam omitido, passou gradualmente a ficar claro a partir de 8 de maio de 1945. Além dos monstruosos danos materiais e da destruição irreparável de obras de arte, a Segunda Guerra Mundial consumira mais de 40 milhões de vidas humanas apenas na Europa.


Short teaser Alto Comando da Wehrmacht assina a capitulação incondicional do Terceiro Reich ante os Aliados.
Author Norbert Ahrens
Item URL https://www.dw.com/pt-br/capitulação-da-alemanha-nazista-na-2ª-guerra-completa-80-anos/a-514943?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/72237151_354.jpg
Image caption O marechal Wilhelm Keitel assina a capitulação da Alemanha nazista em 8 de maio de 1945
Image source akg-images/picture-alliance
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Item 18
Id 72469982
Date 2025-05-08
Title Novo governo alemão anuncia reforço nos controles de fronteira
Short title Novo governo alemão reforça controles de fronteira
Teaser

Contingente adicional de 2.000 a 3.000 policiais federais será acrescentado aos 11.000 já alocados nas fronteiras alemãs

Em seu 1º dia de governo, chanceler Merz diz que país vai rejeitar entrada de migrantes sem documentos nas fronteiras. Medida, que integra estratégia para minar ascensão da ultradireita, irrita parceiros europeus.O novo governo da Alemanha anunciou nesta quarta-feira (07/05) medidas para reforçar o controle nas fronteiras do país que incluem a rejeição da entrada de imigrantes sem documentos, incluindo requerentes de asilo, no território alemão. A medida, que gerou irritação em alguns parceiros europeus, é parte dos planos do novo chanceler federal, o conservador Friedrich Merz, de limitar a imigração irregular e conter a ascensão da extrema direita, ao se apropriar de uma bandeira do partido ultradireitista e anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD), que ficou em segundo lugar nas eleições gerais de fevereiro e continua em alta nas pesquisas. Merz, que visitou nesta quarta-feira o presidente da França, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, disse que as medidas, que serão adotadas em caráter temporário, "serão necessárias enquanto tivermos níveis tão altos de migração irregular na União Europeia". O novo governo da Alemanha, que tomou posse nesta terça-feira, adotou medidas para reforçar sua polícia de fronteira e ordenou que os agentes rejeitem imigrantes sem documentos, afirmou o ministro do Interior, Alexander Dobrindt. Exceções seriam feitas para "grupos vulneráveis", incluindo mulheres grávidas e crianças, acrescentou. Tentativa de esvaziar discurso da ultradireita Merz argumentou que medidas duras serão necessárias para aliviar as preocupações dos eleitores e deter a ascensão da ultradireita, que vem ganhando popularidade ao defender causas que alimentam sentimentos xenófobos e anti-imigração. A AfD obteve uma votação recorde de mais de 20% nas últimas eleições federais, ficando atrás apenas da aliança conservadora União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU) liderada por Merz. Desde então, a sigla vem subindo nas pesquisas de opinião, chegando algumas vezes ao primeiro lugar. O acordo de coalizão entre a CDU/CSU e o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, estabelece que todas as pessoas que chegarem às fronteiras alemãs sem documentos terão a entrada recusada, incluindo as que buscam asilo. Este último ponto gerou controvérsia, com alguns no SPD expressando preocupações de que a medida pode não ser compatível com a legislação da União Europeia. O acordo diz ainda que o aumento dos controles de fronteira permanecerá em vigor até que "haja proteção efetiva das fronteiras externas da UE". Reforço policial nas fronteiras Para implementar a medida, Dobrindt reverteu uma diretiva de 2015, o ano que marcou o auge da crise migratória na Europa, quando a Alemanha acolheu mais de um milhão de refugiados, principalmente pessoas que fugiam de conflitos e da pobreza em países como Síria, Iraque e Afeganistão. O jornal alemão Bild relatou que Dobrindt teria dado uma ordem para que um contingente adicional de 2.000 a 3.000 agentes federais fossem enviados às fronteiras da Alemanha, além dos 11.000 já alocados. O semanário Der Spiegel disse que a polícia teria que trabalhar em turnos de até 12 horas por dia para colocar em prática as novas diretrizes. O objetivo era garantir "humanidade e ordem" na migração, disse Dobrindt, acrescentando que a ordem deverá "ter maior peso e força do que se viu no passado". A decisão do novo governo alemão irritou alguns países vizinhos, com a Suíça dizendo que "lamenta" que as medidas tenham sido tomadas "sem consulta". Merz enfatizou que os controles seriam realizados "de uma forma que não causaria problemas para nossos vizinhos", e assegurou que a Alemanha quer resolver lidar com essa questão juntamente com outros países da UE. AfD na mira das autoridades Em meio a uma onda de ataques violentos atribuídos a estrangeiros que antecedeu as eleições de fevereiro, Merz fez da repressão à migração irregular um tema central de sua campanha. Em certo momento, ele contou com o apoio da AfD no Bundestag (Parlamento) para aprovar uma moção que demandava maior repressão à imigração, uma manobra amplamente vista como uma violação do chamado "cordão sanitário" – o consenso entre os principais partidos políticos da Alemanha de rejeitar qualquer colaboração em qualquer nível com os partidos políticos ultradireitistas. Na semana passada, a agência de inteligência interna da Alemanha classificou a AfD como uma "organização comprovadamente extremista de direita" que ameaça a democracia. Segundo o Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV), o partido viola a dignidade humana e a democracia ao tentar excluir grupos populacionais, como imigrantes, da participação igualitária na sociedade. A medida permite à agência monitorar de forma mais incisiva o partido. Afagos em Paris... Merz sinalizou um "novo começo" nas relações com os parceiros europeus França e Polônia ao visitar os governantes dos dois países vizinhos em seu primeiro dia como chanceler alemão. Os encontros, porém, deixaram à mostra sinais de discussões difíceis pela frente sobre questões delicadas, como migração e financiamento da defesa. Em Paris, ao ser calorosamente recebido por Macron, Merz disse que uma maior unidade europeia era essencial para tornar a UE mais segura e competitiva, e disse que irá reforçar a cooperação franco-alemã em defesa e segurança. "Somente conseguiremos enfrentar esses desafios se a França e a Alemanha se mantiverem ainda mais unidas do que no passado", afirmou. "É por isso que Emmanuel Macron e eu concordamos com um novo impulso franco-alemão para a Europa." Macron se dirigiu ao líder alemão como "querido Friedrich" e agradeceu por lhe conceder "a honra de iniciar seu mandato aqui em Paris". ... críticas em Varsóvia Horas depois, ao lado de Donald Tusk em Varsóvia, Merz elogiou o importante papel militar da Polônia no flanco oriental da Otan e o apoio do país à Ucrânia. Contudo, ficaram claras algumas diferenças em termos de políticas migratórias. Falando ao lado de Merz em uma coletiva de imprensa, Tusk pediu que a Alemanha "se concentre nas fronteiras externas da UE" e preserve o espaço Schengen – a zona de livre trânsito que abrange 25 dos 27 países da UE, além da Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein, num total de 420 milhões de pessoas. O premiê, ciente das eleições presidenciais em seu país na próxima semana, nas quais o sentimento anti-imigração provavelmente desempenhará um papel importante, expressou críticas cautelosas ao plano de Merz de recusar a entrada de imigrantes na fronteira. Ele rejeitou o plano de Merz de reforçar os controles na fronteira germano-polonesa. "Se alguém introduzir controles na fronteira polonesa, a Polônia também introduzirá tais controles. E isso simplesmente não faz sentido a longo prazo", afirmou. "A Alemanha deixará entrar em seu território quem ela quiser. A Polônia só deixará entrar em seu território aqueles que ela aceitar", disse Tusk. Embora Paris seja um ponto de escala tradicional para novos chanceleres alemães, a viagem a Varsóvia reflete a crescente influência da Polônia na política europeia devido à sua centralidade em angariar apoio para a Ucrânia contra a invasão da Rússia, que já dura três anos. rc (AFP, Reuters, DPA)


Short teaser Em seu 1º dia de governo, chanceler Merz diz que país vai rejeitar entrada de migrantes sem documentos nas fronteiras.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/novo-governo-alemão-anuncia-reforço-nos-controles-de-fronteira/a-72469982?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Contingente adicional de 2.000 a 3.000 policiais federais será acrescentado aos 11.000 já alocados nas fronteiras alemãs
Image source Joachim Herrmann/REUTERS
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Item 19
Id 72462237
Date 2025-05-07
Title [Coluna] Lady Gaga e a megalomania de números do Rio de Janeiro
Short title Lady Gaga e a megalomania de números do Rio de Janeiro
Teaser Um público de mais de 2 milhões que teria estado no show da Lady Gaga é algo numericamente impossível. Mas por que a Riotur divulga essas cifras gigantescas?

A repercussão em torno do show de Lady Gaga no sábado (03/05) em Copacabana foi gigantesca. Já pela manhã, horas antes do show começar, a praia em frente ao enorme palco estava lotada, apesar do sol implacável. Mas a declaração da Riotur de que 2,1 milhões de pessoas assistiram ao show levanta dúvidas.

Isso representaria 500 mil a mais do que há um ano, quando a diva pop Madonna se apresentou no mesmo local diante de supostos 1,6 milhão de fãs. Mas isso não é tudo: o organizador do show de Gaga depois falou até de um público de 2,5 milhões – claro, esse seria o maior show da carreira de Lady Gaga, e provavelmente o maior público que uma estrela da música mulher já recebeu em um show.

No Rio de Janeiro, gosta-se de divulgar tais números gigantescos de público. Dizem que o Réveillon em Copacabana sempre atrai cerca de 3 milhões de pessoas, sem nenhuma explicação sobre a origem desses números.

Abordagem científica

É possível abordar isso cientificamente: a Praia de Copacabana tem uma extensão total de 4,2 quilômetros; com mais um quilômetro da praia do Leme, que desemboca em Copacabana sem interrupção. No total, são 5,2 quilômetros de praia e ruas na Avenida Atlântica, por onde os milhões que festejam a virada podem se espalhar.

Nos dois shows, foi diferente. Tanto no de Lady Gaga quanto no de Madonna, o palco foi montado na altura do hotel Copacabana Palace. A área onde os fãs ficaram, com diversas torres com telões e caixas de som, estendia-se até aproximadamente a altura da Avenida Princesa Isabel. Fotografias aéreas mostram uma densa concentração de público até aproximadamente o nível da Praça do Lido. Com isso, a área do show ocupa apenas cerca de um quilômetro dos 5,2 quilômetros de extensão total da orla.

Isso corresponde a uma área total de cerca de 100 mil metros quadrados – como pode ser medido usando ferramentas online.

Se acreditarmos nos números da Riotur, isso significaria 21 pessoas por metro quadrado, e segundo a organização, até 25 pessoas – e isso sem contar árvores, quiosques, centenas de banheiros químicos, torres de som, barreiras, etc., que limitam ainda mais o espaço disponível para o público.

Cientistas estimam que de 6 a 8 pessoas podem caber em um metro quadrado de um ônibus lotado. Em shows ao ar livre, são consideradas densidades máximas de 4 pessoas por metro quadrado, com uma média de apenas 2 pessoas por metro quadrado em toda a área.

Fãs dançavam

Em fotos aéreas do show de Gaga é possível ver que em diversas áreas o público estava dançando – um indício que fala contra a densidade máxima. Em termos puramente matemáticos, uma audiência de centenas de milhares seria mais provável. Mariana Aldrigui, professora de turismo da Universidade de São Paulo (USP), estima o número de espectadores em cerca de 500 mil.

Aldrigui já havia escrito em março sobre como governos e autoridades brasileiras muitas vezes exageram deliberadamente o número de turistas durante o Carnaval. Aqui também se fala sempre de milhões de foliões que supostamente povoam e superpovoam as ruas das cidades.

Observei um fenômeno semelhante quando ainda morava em São Paulo. Os organizadores da Parada Gay de 2012, por exemplo, informaram um número de participantes de 4,5 milhões, enquanto o Datafolha calculou que o número foi de apenas 270 mil. Naquela época, minha impressão era de que a Parada Gay estava competindo durante anos com a Marcha para Jesus, que também passava pela Avenida Paulista e dizia ter atraído vários milhões de pessoas. Era obviamente importante para os organizadores desses dois eventos tão diferentes reclamar para si o maior público.

Mas o que motiva os responsáveis ​​do Rio a publicar números de público completamente irreais? Em primeiro lugar, certamente há a necessidade de justificar os milhões em recursos públicos – R$ 20 milhões para Madonna e R$ 30 milhões para Lady Gaga. Além dos R$ 15 milhões com que a cidade e o estado contribuíram para o show de Gaga, cada um, outros R$ 60 milhões vieram de patrocinadores. Seus fundos são ainda mais importantes se a prefeitura quiser dar continuidade à série de shows Todo Mundo no Rio nos próximos anos.

Aparentemente, o mito da audiência gigantesca de milhões faz parte da planejada repercussão que visa ajudar a garantir patrocínio e dinheiro da TV. Entretanto um número mais realista de espectadores – seja 500 mil ou um pouco mais – já seria impressionante o suficiente. Mas no Rio de Janeiro, que está se tornando cada vez mais uma cidade de eventos, tudo aparentemente sempre tem que ser melhor e maior. Mesmo que para isso se tenha que distorcer a realidade.

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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há mais de 25 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, desde então, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há doze anos.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente da DW.

Short teaser Público acima 2 milhões que teria estado no show da Lady Gaga é algo impossível. Por que a Riotur divulga tais cifras?
Author Thomas Milz
Item URL https://www.dw.com/pt-br/coluna-lady-gaga-e-a-megalomania-de-números-do-rio-de-janeiro/a-72462237?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 20
Id 72464694
Date 2025-05-07
Title Novo líder alemão defende ratificação de acordo Mercosul-UE
Short title Novo líder alemão defende ratificação de acordo Mercosul-UE
Teaser Um dia após ter sido eleito em difícil votação no Parlamento alemão, o chanceler federal Friedrich Merz argumentou que o tratado deve ser implementado "rapidamente". Esforço, porém, esbarra na oposição da França.

O novo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, defendeu nesta quarta-feira (07 /05) uma rápida implementação do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia (UE). O tratado foi assinado no final do ano passado, mas ainda precisa ser ratificado pelo Parlamento Europeu e os legislativos de cada país dos blocos.

"O acordo com o Mercosul deve ser ratificado e implementado rapidamente", afirmou, durante coletiva de imprensa em Paris, junto ao presidente francês, Emmanuel Macron.

Merz realizou a primeira viagem internacional desde que tomou posse ontem, após uma eleição difícil no Parlamento alemão (Bundestag) em que se tornou o primeiro candidato derrotado na primeira votação desde a Segunda Guerra Mundial.

A defesa ao acordo de livre comércio indica que o político da União Democrata Cristã (CDU) mantém a posição do antecessor. O ex-chanceler federal Olaf Scholz era um dos principais fiadores da integração comercial com os sul-americanos, em meio ao aumento do protecionismo com a volta do presidente dos EUA, Donald Trump, à Casa Branca.

Em fevereiro, Scholz chegou a dizer que estava confiante de que o processo de ratificação seria finalizado. "Gostaria de ver mais acordos de livre comércio. Lamento a hesitação e a lentidão com que as coisas estão progredindo, e isso também se aplica a este acordo que foi negociado durante tanto tempo [entre Mercosul e UE]", disse à época.

Oposição da França

O apoio alemão, porém, esbarra na firme oposição da França. Nos últimos meses, agricultores franceses realizaram sucessivos protestos contra o que consideram o aumento da concorrência desleal de produtos estrangeiros.

Sob pressão, Macron disse que a versão do texto aprovada em dezembro é "inaceitável" e que trabalha para bloqueá-lo na União Europeia. O presidente francês garantiu que o "assunto não está encerrado". "Continuaremos defendendo vigorosamente a consistência dos nossos compromissos", afirmou.

Não é a primeira vez que a resistência da França trava a implementação de um acordo. Em 2019, ainda durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), um entendimento chegou a ser firmado entre os líderes dos dois blocos. A pauta, contudo, nunca saiu do papel.

A Comissão Europeia, então, reabriu as negociações com o Mercosul e fechou um novo acordo na Cúpula do Mercosul no Uruguai, em dezembro do ano passado.

O novo texto incluiu acenos a ambientalistas, entre eles dispositivos que exigem alinhamento com as metas climáticas do Acordo de Paris. Prevê ainda um período de transição para a aplicação das isenções tarifárias, com objetivo de dar mais tempo para adaptação dos setores mais afetados.

am/cn (AFP)

Short teaser Na primeira viagem internacional como chanceler, Friedrich Merz argumentou que tratado deve ser adotado "rapidamente"
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Item 21
Id 72464337
Date 2025-05-07
Title Os artistas favoritos de Hitler que seguiram ativos no pós-guerra
Short title O destino dos artistas favoritos de Hitler após 1945
Teaser

Passado nazista só abalou ligeiramente a fama do maestro Herbert von Karajan

Herbert von Karajan, Wieland Wagner, Arno Breker: ter lucrado com o regime nazista não impediu diversos músicos e artistas plásticos alemães de continuarem um carreira de sucesso após a Segunda Guerra. Como é possível?Terminada a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha passou por um grande processo de purgação: depois de mais de uma década de domínio do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) e de loucura coletiva, era preciso colocar a sociedade nos eixos, restaurar a ordem e a justiça. Então seria de pensar que todos aqueles que se beneficiaram do regime, também na área da cultura, teriam suas carreiras pelo menos congeladas, até segunda ordem. No entanto os exemplos em contrários são muitos. Albert Speer (1905-1981), arquiteto-mor e mais tarde ministro dos Armamentos de Adolf Hitler, pagou por seu passado nazista com 20 anos de cárcere. Depois, no entanto, nos anos 70, lançou livros de sucesso, justamente sobre sua vida no nazismo. O diretor e cenógrafo Wieland Wagner, outro favorito de Hitler, fez fama na década de 50 como grande inovador do teatro no Festival de Bayreuth, criado por seu avô, o célebre compositor de óperas Richard Wagner. Herbert von Karajan (1908-1989), duplamente filiado ao NSDAP (uma vez na Áustria e outra na Alemanha), foi celebrado após a guerra como um dos maiores maestros de todos os tempos. A "Lista dos Talentos Divinos" de Hitler Compositor Richard Strauss (1864-1949), regente Wilhelm Furtwängler (1886-1954), escultores Arno Breker (1900-1991) e Richard Scheibe (1879-1964): todos eles prosperaram com o nazismo, porém, com raras exceções, prosseguiram suas atividades, praticamente sem ruptura, após a queda do regime. Seus nomes constavam da "Lista dos Talentos Divinos" (Gottbegnadeten-Liste), de 36 páginas, que em 1944, pouco antes do fim da guerra, Hitler ainda encomendou a seu ministro da Propaganda, Joseph Goebbels. Essas personalidades culturais privilegiadas desfrutavam de proteção especial, ficando isentas do serviço militar. Quem era tão próximo assim do líder nazista teve que se submeter a um processo de desnazificação, a partir de 1945. Wilhelm Furtwängler só pôde voltar a reger a Orquestra Filarmônica de Berlim após dois anos de interdição profissional. A diretora do Festival de Bayreuth Winifred Wagner teve que renunciar ao cargo – retomado alguns anos mais tarde por seus filhos Wieland e Wolfgang. "No âmbito da democratização, havia um procedimento de segurança, em que os implicados tinham que preencher formulários muito detalhados para determinar quem podia permanecer em qual profissão", explica a historiadora Hanne Lessau. A regra se aplicava em especial aos funcionários públicos e detentores de cargos altos. Quem apresentasse dados falsos, por exemplo sobre a filiação ao NSDAP, era severamente punido, sobretudo pelos aliados americanos. O caso Wieland Wagner O homem de teatro Wieland Wagner (1917-1966) também constava da "Lista dos Talentos Divinos" do regime nazista. Seu avô, o compositor Richard Wagner, fundara em 1872 o Festival de Bayreuth, exclusivamente para a encenação de suas próprias óperas. A direção passou para seu filho Siegfried em 1908, e com a morte deste, em 1930, foi assumida pela nora, Winifred. O casal já apoiava Hitler desde a década de 20, antes que ele tomasse o poder. O líder nazista "tinha as mais afetuosas conexões familiares", conta Sven Friedrich, diretor do Museu Richard Wagner, de Bayreuth. "O primogênito Wieland era o centro das atenções e pessoalmente privilegiado por Hitler." Mais tarde o artista se revelaria um representante típico de sua geração: "Ele fez exatamente o que milhões de seus contemporâneos fizeram: recalcar tudo. Depois da guerra, dizia sempre: 'Hitler é assunto encerrado para mim.'" Em seu livro Entnazifizierungsgeschichten (Histórias da desnazificação), Hanne Lessau trata da margem de ação que tinham os implicados, contrapondo-se à ideia de que o indivíduo seja totalmente impotente num sistema totalitário. "No sentido negativo, tinha, por exemplo, quem usasse sua posição para passar à frente dos outros. Mas também havia os pequenos atos de resistência, como dar secretamente pão aos trabalhadores forçados." Wieland Wagner foi um dos que usaram o sistema nazista em favor próprio, conta o especialista Sven Friedrich: para se livrar de um concorrente, o bem-sucedido cenógrafo Emil Preetorius, denunciou-o às autoridades. No entanto saiu do processo de desnazificação apenas com uma multa, e em 1951 assumiu com o irmão Wolfgang a direção dos festivais wagnerianos, e, com seus cenários despojados e abstratos, fundou a nova Bayreuth. Como lidar hoje com os "Talentos Divinos"? Ao organizar a exposição A lista dos "Talentos Divinos" – Artistas do nacional-socialismo na República Federal da Alemanha, em 2021, Wolfgang Brauneis constatou que numerosas personagens dos meios artísticos da era nazista continuaram atuando profissionalmente como artistas plásticos no país. "A nova cena artística progressista na verdade os ignorava. Porém, mesmo depois de 1945, esses artistas receberam uma enorme quantidade de encomendas para o espaço público, em prefeituras, escolas, teatros ou hospitais." Seu passado não era nenhum grande obstáculo, até porque alguns dos contratadores também tinham um histórico ligado ao nazismo, explica o historiador. Artistas como Willy Meller (1887-1974) ou o pintor e designer Hermann Kaspar (1904-1986) se beneficiaram de ambos os sistemas, e praticamente não houve protestos contra eles: "Ninguém se apresentou para intervir nos registros da história da arte ou na crítica artística", observa Brauneis. Se, por um lado, Meller criou a escultura monumental de um portador de tocha para o complexo arquitetônico nazista Ordensburg Vogelsang; por outro ganhou com sua Mulher de luto o concurso para o Memorial de Oberhausen. O curador considera especialmente questionáveis a entrega, a artistas da era nazista, de encomendas para locais em memória das vítimas do regime, como é o caso da Mulher de luto: "A gente está diante do primeiro centro de documentação, inaugurado em 1962 em Oberhausen, e aí é desvelada uma figura monumental esculpida por um dos principais representantes do nacional-socialismo. É incompreensível." Entretanto hoje em dia encontra-se ao lado dessa escultura uma enorme placa explicativa, esclarecendo as circunstâncias. "Desse modo, a obra em si não fica tão central", comenta Wolfgang Brauneis. Para ele, trata-se de um exemplo positivo de processamento da história – mas infelizmente raro. Sua mostra sobre os "Talentos Divinos" despertou grande atenção sobre o assunto, resultando em apelos para as prefeituras contribuírem ao esclarecimento do público sobre as obras de arte problemáticas. Contudo o historiador diz ter a impressão de que "três anos mais tarde, tudo isso caiu para segundo plano" "Deixa-se que essas esculturas fiquem expostas, sem documentação. Se nada for feito, então uma ou outra poderia ser realmente retirada. Senão esses artistas vão continuar sendo celebrados com essa exposição no espaço público."


Short teaser Herbert von Karajan, Wieland Wagner: lucrar com o regime nazista não impediu sucesso de artistas alemães após 2ª Guerra.
Author Gaby Reucher
Item URL https://www.dw.com/pt-br/os-artistas-favoritos-de-hitler-que-seguiram-ativos-no-pós-guerra/a-72464337?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Passado nazista só abalou ligeiramente a fama do maestro Herbert von Karajan
Image source Patrick Seeger/dpa/picture alliance
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Item 22
Id 72449471
Date 2025-05-07
Title Sangue menstrual tem potencial para fertilizar plantas em Marte
Short title Sangue menstrual pode fertilizar plantas em Marte
Teaser Estudo realizado em simulador das condições do planeta vermelho nos EUA mostrou que brotos fertilizados com solução de sangue menstrual cresceram mais rápido.

Com o intuito de investigar as condições de vida em Marte, uma missão de cientistas espanholas descobriu uma forma inusitada de se obter alimentos no espaço. Simulando as condições de vida no planeta vermelho, a missão Hypatia 2 constatou o potencial promissor do sangue menstrualcomo fertilizante para conseguir alimento de brotos verdes.

A Hypatia 2 foi a primeira missão simulada na qual as astronautas utilizaram coletores menstruais, numa iniciativa que busca normalizar a ideia de que as mulheres podem viajar ao espaço sem interromper o ciclo menstrual e que, longe de ser um fardo devido à geração de lixo, não produz resíduos e pode ainda gerar benefícios na produção de alimentos.

A tripulação ficou isolada por duas semanas no mês de fevereiro, com restrições de água e comida, na Estação de Pesquisa do Deserto Marciano (MDRS), localizada nos Estados Unidos. Durante esse tempo, as astronautas realizaram vários experimentos e os resultados das pesquisas foram publicados nesta segunda-feira (07/05).

Fertilizante natural para plantas

De acordo com a geóloga Marina Martínez, que participou do estudo, durante a missão, foi utilizado o sangue de duas tripulantes que estavam menstruadas naquele período como fertilizante natural para plantas. O projeto contou com a colaboração de pesquisadores do Hospital Sant Pau, em Barcelona, na Espanha.

"É surreal, mas até agora nenhum estudo científico se preocupou em provar que o sangue menstrual é de fato um fertilizante natural eficaz", diz Martínez.

De acordo com os resultados preliminares de experimentos conduzidos no canteiro de leguminosas previamente germinadas na estação, o canteiro fertilizado com uma solução de sangue menstrual misturada com água produziu um número maior de raízes e brotou mais rápido do que o não fertilizado.

Martínez enfatiza ainda o quão "valioso" é ter brotos verdes como alimento em missões espaciais, onde os astronautassó se alimentam com comida desidratada.

Os efeitos no corpo feminino

Jennifer García Carrizo, que também integrou a tripulação, afirmou que a visão masculinizada da ciência historicamente levou as astronautas a suspenderam suas menstruações com métodos hormonais para evitar o desperdício de absorventes internos e externos não recicláveis.

A falta de compreensão do corpo feminino é observada até mesmo entre a elite da comunidade científica. Para uma missão de uma semana da qual participou a astronauta Sally Ride, por exemplo, a Nasa (agência espacial americana) enviou para o espaço 100 absorventes internos, um número estratosférico para um período tão curto.

Outra área de pesquisa da missão – que também investigou o uso de energia fotovoltaica, entre outras coisas – foi analisar se há preconceito de gênero no impacto sobre o corpo das mulheres nessas condições de simulação de Marte.

Para isso, as integrantes da tripulação realizaram testes antropométricos antes e depois da estadia em Utah para avaliar os efeitos da missão analógica, que incluía mobilidade e restrições alimentares – especialmente de proteínas – na composição corporal. Uma das conclusões preliminares é que elas mantiveram o peso e a força, mas perderam massa muscular.

Esta e outras investigações, disseram as cientistas, continuarão a ser desenvolvidas em uma terceira missão Hypatia planejada para 2027.

ip/cn (DW)

Short teaser Estudo realizado em simulador de Marte mostrou que brotos fertilizados com sangue menstrual cresceram mais rápido.
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Item 23
Id 72456851
Date 2025-05-06
Title STF torna réus mais sete denunciados por tentativa de golpe
Short title STF torna réus mais sete denunciados por tentativa de golpe
Teaser Acusados integram grupo que teria agido por ordem do núcleo político da organização golpista no intuito de disseminar desinformação, promover instabilidade social e criar as condições para uma ruptura institucional.

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade nesta terça-feira (06/03) tornar réus outros sete denunciados por participação na trama golpista de 2022, aumentando para 21 o número de acusados de tentar impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os sete réus integram o núcleo 4 da organização golpista, que seria responsável por "operações estratégicas de desinformação" e teria agido por ordem do núcleo político da organização – que inclui também o ex-presidente Jair Bolsonaro –, com o objetivo de promover instabilidade e criar as condições para uma ruptura institucional.

Entre os denunciados estão os militares Ailton Gonçalves Moraes Barros (ex-major da reserva do Exército), Ângelo Martins Denicoli (major da reserva do Exército), Giancarlo Gomes Rodrigues (subtenente do Exército), Guilherme Marques de Almeida (tenente-coronel do Exército) e Reginaldo Vieira de Abreu (coronel da reserva do Exército).

Além destes, também foram tornados réus Marcelo Araújo Bormevet (agente da Polícia Federal e ex-membro da Agência Brasileira de Inteligência) e Carlos César Moretzsohn Rocha (presidente do Instituto Voto Legal).

A decisão contou com os votos dos cinco ministros da Primeira Turma: Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin e do relator do caso no STF, Alexandre de Moraes.

O que diz a denúncia da PGR

A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa o grupo de propagar notícias falsas sobre o processo eleitoral e realizar ataques cibernéticos a instituições e autoridades que representavam ameaças aos planos da organização golpista.

A denúncia da PGR afirma que os sete acusados estavam "cientes do plano maior da organização e da eficácia de suas ações para a promoção de instabilidade social e consumação da ruptura institucional".

Moraes destacou que as ações do núcleo estavam conectadas com o núcleo político, do qual faz parte o próprio Bolsonaro, com o objetivo de minar a credibilidade das eleições e do Judiciário. O relator avaliou que a denúncia da PGR contém os indícios que pesam contra todos os acusados, o que justificaria a abertura da ação penal.

"As ações ganham ainda mais relevo quando observada a consonância entre os discursos públicos de Jair Messias Bolsonaro e os alvos escolhidos pela célula infiltrada na agência brasileira de inteligência", afirmou Moraes.

Acusações

Em sua denúncia, a PGR imputou aos sete acusados os crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito (pena de quatro a oito anos de prisão), golpe de Estado (pena de quatro a 12 anos), organização criminosa (pena de três a oito anos), organização criminosa (pena de três a oito anos), dano qualificado (seis meses a três anos) e deterioração de patrimônio tombado (um a três anos).

Os acusados podem recorrer da decisão no próprio STF.

Agora, a ação penal entrará na fase de instrução processual, quando são feitas as audiências para a coleta de provas e apresentação de depoimentos, inclusive dos réus.

Após essa etapa, as partes deverão apresentar suas alegações finais, e o caso segue para julgamento. Se forem condenados, cada réu receberá uma sentença específica, da qual também poderão recorrer.

rc (ots)

Short teaser Acusados teriam agido em nome do núcleo político golpista para gerar instabilidade e facilitar ruptura institucional.
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Item 24
Id 72450801
Date 2025-05-06
Title Antiga sonda soviética retornará à Terra após 53 anos
Short title Antiga sonda soviética retornará à Terra após 53 anos
Teaser

Retorno da sonda ao planeta Terra não será controlado, diz a Nasa

Lançada pela antiga União Soviética em 1972 para estudar o planeta Vênus, a sonda Cosmos 482 nunca deixou a órbita da Terra devido a problemas técnicos. Sua reentrada não será controlada, alerta a Nasa.Lançado pela antiga União Soviética em 1972 rumo a Vênus, o módulo de pouso Cosmos 482 nunca deixou a órbita da Terra. Agora, depois de meio século, ele deve retornar para casa esta semana. Embora o retorno não vá ser controlado, há chances de ele resistir à reentrada na atmosfera terrestre. A órbita do dispositivo encontra-se atualmente em queda e espera-se que ele "reentre na atmosfera da Terra em algum momento entre 7 e 13 de maio", disse a Nasa (agência espacial americana) em seu site nesta segunda-feira (05/05). Dado que foi projetada para suportar a passagem pela atmosfera de Vênus, que é mais densa, "é possível que a sonda (ou partes dela) sobreviva à reentrada na Terra e alcance a superfície". No entanto, ainda pairam muitas incertezas, incluindo o fato de que será uma trajetória de reentrada longa e superficial, e que não se pode descartar que ela se fragmente ou desintegre extensivamente ao passar pela atmosfera da Terra, disse em seu site Marco Langbroek, astrônomo da Universidade de Delft, na Alemanha. A sonda tem uma capa protetora semiglobular de titânio, "uma espécie de cubo metálico, projetada para sobreviver à passagem pela atmosfera de Vênus", e estava equipada com paraquedas para diminuir sua velocidade, embora Langbroek duvide que o sistema de implantação de paraquedas ainda funcione mais de meio século depois. Por se tratar de uma reentrada descontrolada, atualmente é impossível dizer ao certo quando e onde ela ocorrerá. A incerteza diminuirá à medida que se aproxima a data prevista, "mas mesmo no próprio dia, ainda haverá incertezas significativas", acrescentou. Conforme Langbroek escreveu nas redes sociais, a data mais provável é 10 de maio, com uma margem de erro de 1,5 dia antes ou depois, mas, dadas as incertezas, a previsão "é melhor expressa como uma janela de reentrada de vários dias, entre 9 e 13 de maio, em vez de apontar um dia específico". Os riscos "não são particularmente altos, mas também não são nulos", com uma massa de pouco menos de 500 quilos e um comprimento de 1 metro, seria algo semelhante ao "impacto de um meteorito", afirmou em seu site o astrônomo, que há anos acompanha o caso da sonda soviética. Viagem fracassada ao planeta Vênus A Cosmos 482 fazia parte do projeto Venere, com o qual a extinta União Soviética lançou várias sondas para estudar o planeta, disse a Nasa. Segundo Langbroek, a Cosmos 482 foi lançada em 31 de março de 1972, poucos dias depois do lançamento da sonda Venere 8, mas falhou em sua tentativa de escapar da órbita baixa da Terra. Após uma aparente tentativa de lançamento em uma trajetória de transferência para Vênus, a nave se separou em quatro pedaços: dois permaneceram na órbita baixa da Terra e caíram em 48 horas, e os outros (presumivelmente o módulo de pouso e a unidade de motor do estágio superior destacada) entraram em uma órbita mais alta, de acordo com dados da Nasa. Cosmos é o nome que os soviéticos davam, desde 1962, às suas naves espaciais que permaneceram na órbita da Terra, independentemente de esse ser ou não seu destino final pretendido. ee (efe, Nasa)


Short teaser Lançada pela antiga URSS em 1972 para estudar o planeta Vênus, a sonda Cosmos 482 nunca deixou a órbita da Terra.
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Image caption Retorno da sonda ao planeta Terra não será controlado, diz a Nasa
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Item 25
Id 72450243
Date 2025-05-06
Title Como cidade do RJ tirou do papel projeto de renda básica
Short title Como cidade do RJ tirou do papel projeto de renda básica
Teaser Em 2013, Maricá lançou um experimento de renda básica. Hoje quase metade de sua população recebe o benefício, que aumentou a renda familiar e promoveu o comércio local.

Em 2013, a cidade de Maricá, a 60 quilômetros do Rio de Janeiro, aplicou uma medida inovadora: passou a pagar uma renda básica a parte seus moradores. Atualmente, quase metade dos seus cerca de 197 mil habitantes recebe o benefício. E, os resultados desse experimento, que inspirou iniciativas em outras cidades, indicam o aumento na renda dos beneficiários e do consumo.

Em 2010, com 127.461 habitantes, Maricá começava a se organizar para aplicar as milionárias verbas recebidas pela exploração dos royalties de petróleo, que tornariam a cidade a oitava com maior Produtor Interno Bruto (PIB) do Brasil. "Em 2013, com a nova partilha dos royalties, foi possível criar a secretaria de projetos sociais", conta Adalton Mendonça, que participou do começo da iniciativa, e é o atual subsecretário de economia solidária da cidade.

Segundo Mendonça, a renda básica fazia parte de um conjunto de projetos que eram vistos como "utópicos em razão da falta de orçamento", mas que se tornaram exequíveis com a chegada das contribuições. Além dela, outro projeto antes utópico era a tarifa zero no transporte público, aplicada desde 2014 na cidade, destaca o subsecretário.

Para o projeto, foi criada a moeda social mumbuca, com cada unidade equivalente a R$ 1. Os benefícios sociais, incluindo a chamada Renda Básica de Cidadania (RBC), são pagos em mumbuca, que pode ser utilizada somente no comércio local.

Em 2013, o programa beneficiava 40 famílias com renda de até um salário mínimo, que receberiam cada uma 70 mumbucas. Os benefícios foram sendo ampliados, e, em 2019, o município passou a pagar 130 mumbucas mensais a cada indivíduo, em uma iniciativa que alcançou 42 mil pessoas.

Cidade cresceu

Desde então, a cidade passou por uma grande expansão da população. Em 2022, o Censo registrou 197.300 habitantes em Maricá – um avanço de 55% com relação a 2010. O fluxo de habitantes de cidades próximas, como São Gonçalo, visando os benefícios foi importante para explicar o aumento populacional.

Carlos Eduardo da Silva se mudou para Maricá em 2004, devido à violência que assolava o Rio de Janeiro. Atualmente, ele preside a Associação de Moradores e Amigos do Bosque Fundo, e conta que os benefícios foram um grande incentivo para que muitos se mudassem para Maricá.

O morador conta que os benefícios o auxiliaram bastante, principalmente num momento em que esteve desempregado. "Conseguia usar em todo o comércio, ajudou bastante com a alimentação", conta. Por sua vez, ele diz que, atualmente, os dias de pagamento dos benefícios vêm sobrecarregando o comércio, e que a grande demanda gera um aumento de preços nessa época.

Iniciativa única

O programa chamou a atenção do mundo, já que a iniciativa de larga escala tinha características únicas. Até então, os experimentos não eram incondicionais e permanentes, além de envolverem populações reduzidas. Ao longo dos anos, programas assim foram reproduzidos em países como Finlândia, Reino Unido e Alemanha.

Neste cenário, em conjunto com pesquisadores brasileiros e internacionais, o professor do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Fábio Waltenberg realizou um amplo estudo para observar os resultados práticos da iniciativa. Mais de 5 mil beneficiários participaram da pesquisa.

O estudo revelou que a renda familiar dos beneficiários aumentou 9% e o consumo teve um crescimento de 5%. O maior aumento de renda ocorreu em domicílios com menores de idade e naqueles chefiados por mulheres, em comparação com os demais. A pesquisa também observou um impacto positivo nos indicadores de educação e saúde das crianças.

"A iniciativa ajudou muito na inclusão financeira, especialmente para a população sem acesso a crédito, e tradicionalmente fragilizada", aponta Waltenberg.

Além disso, o professor destaca que, durante a pandemia de covid-19, o cadastro que o munícipio possuía ajudou no pagamento dos benefícios emergenciais. À época, a cidade ampliou de 130 para 300 mumbucas o valor mensal pago. "Foi muito mais simples fazer um programa de transferência. Um cadastro geral como o de Maricá poderia ter ajudado em desastres, como no caso do Rio Grande do Sul", afirma, se referindo às enchentes que o estado sofreu em 2024.

Atualmente, a iniciativa chega a 92 mil beneficiários, que recebem 230 mumbucas mensais. A faixa de renda familiar para ter acesso ao programa passou de um salário mínimo para três. O programa é custeado pelos royalties do petróleo, com um valor mensal de R$ 18 milhões. Visando o longo prazo e a volatilidade da commodity, o município criou um fundo soberano que soma R$ 2 bilhões para cobrir as iniciativas sociais.

Em 2021, o munícipio vizinho de Niterói passou a adotar a arariboia, uma moeda social no mesmo estilo da mumbuca, destinada ao pagamento de benefícios aos cidadãos locais. "Há uma competição interessante. Niterói fez uma busca ativa por beneficiários, indo atrás e entregando cartões para benefícios, o que foi replicado por Maricá", conta Waltenberg. Além das duas cidades, ao menos outros oito munícipios fluminenses contam com iniciativas semelhantes.

É replicável?

Mendonça conta que a cidade recebe frequentemente gestores internacionais buscando conhecer melhor a iniciativa. Ao lado de Niterói, Maricá foi escolhida para sediar o congresso mundial de renda básica, que ocorre em agosto deste ano.

Jurgen De Wispelaere, membro do comitê executivo da Basic Income Earth Network (BIEN), avalia que os resultados da cidade são importantes, mas que é necessário entender os contextos locais. Ele observa ainda a experiência como singular e com muito valor para os que defendem uma renda básica.

"As pessoas estavam falando sobre a ideia, mas agora temos algo concreto. É uma política sólida, já que tem dez anos", argumenta. Em sua visão, o fato de se tratar de uma política municipal pode tornar mais fácil que outros governos se vejam influenciados, já que replicar uma experiência como esta em âmbito federal traz mais desafios.

Waltenberg reconhece que outros municípios podem não ter a capacidade orçamentária para realizar um movimento nos mesmos moldes, mas acredita que o exemplo possa servir a outros governantes. "Há algumas alternativas. Talvez não replicando o modelo como um todo, mas dinamizando certos comércios locais", avalia.

As iniciativas de renda básica ganharam um forte apoio global durante a pandemia, mas Wispelaere observa que o tema perdeu grande parte do apelo com o fim da emergência. "Quando a pandemia acabou, houve uma visão de que tudo deveria voltar ao normal. É melhor dar atenção a algo como Maricá do que a iniciativas adotadas em momentos de crise", aponta.

Short teaser Em 2013, Maricá lançou um experimento de renda básica. Hoje quase metade de sua população recebe o benefício.
Author Matheus Gouvea de Andrade
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-cidade-do-rj-tirou-do-papel-projeto-de-renda-básica/a-72450243?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 26
Id 72320481
Date 2025-05-06
Title Homens provam que masculinidade saudável é possível
Short title Homens provam que masculinidade saudável é possível
Teaser Série "Adolescência" denunciou que grupos misóginos oferecem violência como resposta a dilemas dos jovens. Mas iniciativas no Brasil querem mostrar que "ser homem" é um conceito plural que inclui modelos mais positivos.

Para muitos meninos, um dos primeiros contatos com as dinâmicas dos papéis de gênero deles esperados vem através de uma reprimenda: "vira homem!". A expressão condena qualquer tipo de atitude que represente um desvio do modelo tradicional de masculinidade, associado a atributos como força, virilidade e dominância.

Mas os meninos crescem e descobrem que, na sociedade ocidental do século 21, muitos dos códigos de comportamento que aprenderam estão sendo questionados. "Ser homem", um conceito historicamente singular, agora pode carregar múltiplos significados.

Em casos extremos, o dilema atrai jovens a comunidades virtuais da chamada "machosfera", onde o submundo dos incels oferece misoginia, ressentimento e violência como resposta a essas questões.O fenômeno ganhou visibilidade nas últimas semanas após ter sido retratado na série Adolescência,que tem quebrado recordes de audiência na Netflix.

Na outra ponta da equação, porém, um grupo de homens quer mostrar que há outros caminhos disponíveis. Eles defendem que é possível exercer uma masculinidade que não exija força física, superioridade financeira ou desejo sexual ilimitado. E que demonstrar vulnerabilidade e pedir ajuda não devem ser vistos como comportamentos exclusivos às mulheres.

"Isso não te torna menos homem", afirma Guilherme Nascimento Valadares, cofundador e diretor de pesquisa do Instituto PDH. A sigla é uma referência ao termo Papo de Homem, site que há quase duas décadas apresenta conteúdos e discussões sobre temas importantes à experiência masculina.

Uma conversa de homem para homem

O próprio Guilherme teve que transformar o modo de enxergar o mundo para entender que tipo de papel ocuparia na sociedade. O mineiro cresceu em uma família brasileira típica, em que o gênero define os traços de personalidade de uma pessoa. Mas ele era sensível e introspectivo. "Eu era rejeitado pelos outros meninos e também pelas meninas porque era fracote, torto, espinhoso, nerd", conta.

Ao se tornar adulto, reproduziu comportamentos que poderiam encaixá-lo no padrão mais aceito. Fisicamente mais forte, Guilherme tentou assumir uma postura de controle, inclusive em relação a mulheres. Quando percebeu que essas questões eram comuns a outros homens, em 2006, ele se juntou a amigos para criar um espaço de discussões de assuntos pouco abordados na mídia tradicional. Era o início da história do PapodeHomem.

Do blog, surgiu a ideia de criar um instituto para pesquisar as transformações das masculinidades, além de questões como diversidade, inclusão e saúde mental. Os estudos servem de base para documentários, livros, palestras e cursos de treinamento em empresas.

Para o fim do ano, junto com o Pacto Global da ONU no Brasil, o PDH prepara o documentário Meninos: Sonhando os Homens do Futuro, com base em uma ampla pesquisa nacional que ouviu adolescentes sobre as dores e as alegrias dessa fase da vida. O trabalho busca mapear questões caras aos meninos. "Os adultos vão gostar de ver, todo mundo que tiver filho adolescente vai gostar, mas o nosso alvo são os meninos adolescentes. Estamos fazendo algo com a linguagem deles", explica.

Com os resultados dos estudos, o instituto está elaborando um programa curricular para escolas e espaços esportivos que reflita os pontos levantados pelos meninos durante a pesquisa. A ideia é realizar rodas de conversa, grupos de treinamento emocional e atividades esportivas focados em ensinar equilíbrio emocional e enfrentar o preconceito e o assédio.

As iniciativas contestam a perspectiva de uma masculinidade singular, sem apresentar uma solução dicotômica. "Também não precisa cair num estereótipo de que ser homem significa ser sempre voz mansa, sensível, calminho, que não pode ser assertivo", explica Guilherme.

No lugar disso, o objetivo é promover uma "conversa honesta" com os homens sobre como lidar com a força, trabalhar a competitividade, desenvolver amizades saudáveis, entre outros aspectos.

"Estamos falando de homens que vão ser emocionalmente mais equilibrados, compassivos, inclusivos, que sabem o que é responsabilidade consigo mesmo com seu corpo, com a casa, com os amigos, com as amigas", lista Guilherme.

Amor de pai: o primeiro passo na construção da masculinidade

A construção desses referenciais começa ainda na infância, com o pai como o primeiro espelho. Para o psicanalista Thiago Queiroz, esse é um processo iniciado de dentro, pela autoconsciência sobre os padrões masculinos perpetuados. "A partir do momento em que entendo que preciso reconstruir o tipo de homem que sou, eu consigo me tornar um pai mais sensível, consciente, e cuidador, mais do que provedor apenas", afirma.

Pai de quatro crianças, incluindo dois meninos, Queiroz compartilha visões sobre o desenvolvimento de uma paternidade mais afetiva no site Paizinho, Vírgula. O influenciador produz vídeos, podcasts e textos em que discute maneiras de criar relações mais saudáveis com os filhos e, em particular, de excluir a violência na criação masculina.

A chave para uma criação saudável é pela disposição em se manter emocionalmente disponível para os filhos, inclusive na adolescência, avalia Queiroz. Na ausência do afeto paterno, os jovens buscam respostas para suas incertezas em outros lugares e podem encontrá-las de maneira distorcida na internet. "É importante que o pai expresse amor também para os filhos homens", argumenta o influenciador.

Diálogo como ponto de partida

Além do ambiente doméstico, a escola também tem papel importante nesse processo. Nela, os jovens têm a primeira validação de que estão no caminho para se tornarem homens, afirma o consultor de diversidade e gênero Caio César. "Meninos emulam outros meninos, porque a masculinidade é confirmada ou colocada em xeque por outros homens", diz.

O carioca era professor de geografia quando percebeu que as estruturas inflexíveis de gênero são prejudiciais não apenas às meninas, mas também aos meninos. Eles crescem sob a pressão da performance, com dificuldades para demonstrar afeto ou vulnerabilidade.

Para tentar romper esse ciclo, Caio César decidiu mudar a postura com os alunos. Deu abraços, proferiu elogios e demonstrou abertura para a conversa. O resultado foi uma relação mais afetiva e saudável. "É possível ser homem sem exercer uma violência para si mesmo ou para outras pessoas", afirma.

Hoje, Caio César atua na consultoria de assuntos de gêneros para eventos, empresas, órgãos públicos e outras entidades interessadas a explorar esse debate. Até o ano passado, ele participava do projeto Memoh, que organiza rodas de conversas para discutir questões próprias da masculinidade.

O diálogo costuma ser mais fluído quando há grupos formados exclusivamente por homens, que se sentem mais confortáveis para discutir os assuntos mais livremente. "É muito importante construir espaços onde essas questões possam ser trabalhadas de uma forma mais aberta e profunda", defende.

Também de um lugar de escuta, o educador Leonardo Oshiro mensalmente promove espaços para o compartilhamento de reflexões entre homens. São encontros de cerca de três horas em que os participantes são convidados a discutirem temas que constituem a formação de identidades masculinas.

Oshiro também é um dos fundadores do Projeto Okara, que leva exercícios semelhantes para jovens em escolas públicas e privadas em São Paulo. O projeto está suspenso desde que o educador se mudou para Osasco, no interior do estado, mas ele ainda busca apoiadores para retomá-lo. "É crucial que haja ambientes seguros para que esses jovens possam se expressar de maneira autêntica, na sua potência, sem o medo e a insegurança de estar sob olhares que julgam", destaca.

A Caixa dos Homens

Por trás dessas iniciativas, há uma tentativa de combater a ideia de uma "caixa dos homens". O conceito foi criado na década de 1980 pelo educador Paul Kivel, que cita um conjunto de normas sociais que define se alguém pode ser considerado um "homem de verdade".

Dentro da caixa, estariam os fortes, os controladores, os que se afastam de qualquer traço visto como feminino. Fora dela, um amplo universo de comportamentos comumente dissociado do padrão heterossexual.

Para Caio César, no entanto, o mais importante não é buscar um modelo único que determine o novo "cara ideal". "Existe uma série de outras questões envolvidas nisso, de raça, classe, sexo, sexualidade. Não dá para trilhar um único caminho", ressalta.

Homens negros, por exemplo, tendem a estar sujeitos a expectativas ainda mais extremas de uma conduta masculinizada, já desde a infância. Uma pesquisa do Instituto PDH indicou que cinco em cada dez dos meninos entrevistados tinham dúvidas sobre o amor do pai. Entre os diferentes recortes, os rapazes negros (49%) foram os que mais tinham incerteza sobre o amor paterno.

"Dentro da sua construção de masculinidade, esse homem vai enfrentar muito mais violências, pelas questões estruturais, sociais e de raça, do os que homens brancos e isso pode afetá-lo ainda mais na maneira como ele forma a sua masculinidade", explica Guilherme.

Já os homens LGBTQ+ buscam definições não necessariamente alinhadas aos comportamentos ligados à heterossexualidade. Há também diferenças regionais, econômicas, geracionais. "Eu não quero trocar a antiga caixinha por uma nova, ou seja, deixa aqui seu modelo desatualizado e pega um novo também um pouquinho claustrofóbico", resume Guilherme.

Afinal, o que significa ser homem?

A falta de uma saída única, no entanto, poderia amplificar as incertezas dos jovens que buscam decifrar a dúvida central na transformação de meninos em adultos: o que exatamente significa ser homem no Brasil do século 21?

Por muito tempo, a resposta se resumia aos imperativos de dominar e conquistar. Mas para Guilherme, é possível adotar uma nova perspectiva: "Pode ser muito interessante experimentarmos a ideia de servir e cuidar", diz.

"Ser homem significa se reconhecer como homem, mas não um reconhecimento individualista, ocidental, focado no sucesso. É um reconhecimento em rede, cercado de referências positivas", acrescenta.

O consultor Caio César ainda vê o conceito em construção, mas afirma que esse é um debate coletivo que precisa levar em consideração particularidades individuais. "Nós vamos cometer erros, haverá percalços, mas esse é um caminho possível e que é positivo para os homens", destaca.

Short teaser Projetos no Brasil querem mostrar que "ser homem" é um conceito que abriga múltiplas possibilidades.
Author André Marinho
Item URL https://www.dw.com/pt-br/homens-provam-que-masculinidade-saudável-é-possível/a-72320481?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Homens%20provam%20que%20masculinidade%20saud%C3%A1vel%20%C3%A9%20poss%C3%ADvel

Item 27
Id 72435849
Date 2025-05-05
Title Cientistas podem estar mais perto de criar antídoto universal para picadas de cobra
Short title É possível criar um soro universal para picadas de cobra?
Teaser

Embora existam cerca de 600 espécies de cobras venenosas no mundo todo, os antídotos existentes geralmente funcionam apenas contra uma espécie específica

Para estudo, americano se submeteu a centenas de picadas de cobras peçonhentas ou injeções de veneno – tudo voluntariamente. O resultado pode dar origem a um futuro soro antiofídico universal.O medo de cobras é algo inato em nós. A mera ideia destes seres rastejantes costuma provocar arrepios, mesmo em países onde raramente topamos com eles. O instinto é tão forte que mesmo bebês com poucos meses de vida apresentam sinais de estresse ao se depararem com uma serpente. Esse medo não é gratuito: todos os anos, picadas de cobra são responsáveis por entre 81 mil e 138 mil mortes e entre 300 mil e 400 mil sequelas permanentes. Atualmente, picadas de cobras venenosas só podem ser tratadas com antídotos específicos, os chamados soros antiofídicos. Entretanto, a maioria deles só é eficaz contra uma ou algumas espécies da mesma família. Além disso, os afetados – e, consequentemente, também a equipe médica encarregada de tratar o ferimento – muitas vezes não sabem qual cobra estás por trás da picada. No mundo todo, afinal, existem cerca de 600 espécies distintas de cobras peçonhentas. Um antídoto eficaz contra o veneno de diversas cobras diferentes, portanto, poderia simplificar muito o tratamento. E aqui reside a importância de um novo estudo publicado no periódico Cell, onde pesquisadores americanos afirmam ter encontrado a base para um soro antiofídico de amplo espectro. O voluntário que aceitou ser picado por cobras centenas de vezes Para o estudo, os pesquisadores usaram o sangue de um doador um tanto quanto peculiar: Timothy Friede, um colecionador de cobras do estado americano de Wisconsin que aceitou se expor ao veneno de várias cobras 856 vezes ao longo de 18 anos. Ao total, Friede foi submetido a mais de 200 picadas de cobras e outras centenas de injeções de veneno mortal – tudo deliberadamente. A ideia insólita, contudo, surgiu muito antes do estudo em questão, mais precisamente quando Friede ainda era estudante e imaginou como seria se conseguisse desenvolver imunidade contra picadas de cobras venenosas. Voluntariamente, então, ele passou a extrair o veneno de seus animais de estimação e injetá-lo diluído em si mesmo. O resultado foi exatamente o que Friede esperava: a cada picada, seu corpo reagia desenvolvendo os anticorpos correspondentes. E ainda que suas feridas sangrassem e inchassem após cada mordida dolorosa, Friede sobreviveu a picadas dos mais diversos tipos de serpentes. A busca pelo antídoto universal Como Friede já vinha filmando e divulgando seu estranho hobby no Youtube desde 1998, ele acabou chegando ao conhecimento do imunologista Jacob Glanville. Foi daí que surgiu a CentiVax, empresa fundada em conjunto pelo especialista farmacêutico e o ex-mecânico de caminhões Tim Friede na busca de um soro antiofídico universal. Dezoito anos e centenas de picadas depois, os pesquisadores identificaram dois anticorpos amplamente neutralizantes no sangue hiperimune de Friede: o LNX-D09 e o SNX-B03. O antídoto resultante se mostrou eficaz em experimentos com camundongos contra o veneno de 19 das cobras mais venenosas do mundo. "Sem esse doador tão especial, Timothy Friede, o desenvolvimento do antídoto teria sido difícil", avalia Michael Hust, diretor do Departamento de Biotecnologia Médica da Universidade Técnica de Braunschweig e que não participou do estudo. Longo caminho até um medicamento Nem todas as cobras venenosas são igualmente perigosas. Dependendo do seu grau de toxicidade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) as classifica em duas categorias: 109 das espécies de cobras mais venenosas pertencem à categoria 1; as demais à categoria 2. Em experimento com camundongos, o novo antídoto desenvolvido pelos pesquisadores dos EUA forneceu proteção completa contra dez cobras da categoria 1 e três cobras da categoria 2, bem como proteção parcial contra cinco cobras da categoria 1 e outra da categoria 2. "Nas próximas etapas, o coquetel também deverá ser testado em animais maiores, já que a toxicidade dos venenos de cobra individuais pode ser diferente em mamíferos maiores e camundongos." No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido antes que possa ser desenvolvido um medicamento potencial que não seja perigoso para humanos, diz Hust. Soros antiofídicos – um ramo não lucrativo Hust também chama a atenção para o fato de que o desenvolvimento de antídotos talvez não seja algo atrativo para as empresas farmacêuticas. "O maior desafio no desenvolvimento de terapias para 'doenças negligenciadas', como o envenenamento por picada de cobra, não é científico, e sim econômico. Em outras palavras: câncer, doenças autoimunes e queda de cabelo são economicamente lucrativos. Mas será que um medicamento para picadas de cobra também é economicamente viável? Espero que Glanville e Friede obtenham sucesso no desenvolvimento deste medicamento para ajudar mais de 100 mil pessoas anualmente." Andreas Laustsen-Kiel, professor e chefe da Seção de Engenharia Biológica da Universidade Técnica da Dinamarca, porém, tem suas dúvidas quanto a promessa de que o novo medicamento possa curar picadas de todas as espécies de cobras. Ele argumenta que o estudo selecionou apenas os antídotos que tiveram o efeito desejado. "Eles simplesmente selecionaram os que funcionam. Ainda que seja extraordinário, o estudo não deve resultar em possíveis exageros sobre um 'antídoto universal prestes a ser lançado no mercado'." Para Laustsen-Kiel, faria mais sentido focar em 'antídotos com eficácia regional ampla' do que na busca por um 'antídoto universal'. Embora reconheça as conquistas de Friede, o professor alerta que tais autoexperimentos arriscados podem "inspirar outras pessoas a fazer coisas semelhantes 'em nome da ciência'" – algo que pode não terminar bem.


Short teaser Para estudo, americano se submeteu a centenas de injeções de veneno e picadas de cobras peçonhentas - voluntariamente.
Author Alexander Freund
Item URL https://www.dw.com/pt-br/cientistas-podem-estar-mais-perto-de-criar-antídoto-universal-para-picadas-de-cobra/a-72435849?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/72416425_354.jpg
Image caption Embora existam cerca de 600 espécies de cobras venenosas no mundo todo, os antídotos existentes geralmente funcionam apenas contra uma espécie específica
Image source Dikky Oesin/Zoonar/picture alliance
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/72416425_354.jpg&title=Cientistas%20podem%20estar%20mais%20perto%20de%20criar%20ant%C3%ADdoto%20universal%20para%20picadas%20de%20cobra

Item 28
Id 72433408
Date 2025-05-05
Title Como a "Economia de Francisco" chegou nas comunidades brasileiras
Short title Como a proposta econômica do papa Francisco chegou no Brasil
Teaser Iniciativa do papa Francisco "por um novo tipo de economia" se espalha por 23 países e 13 cidades brasileiras. Ações incluem pesquisa acadêmica, hortas comunitárias, formações e finanças solidárias.

Quando o economista Vitor Hugo Tonin recebeu o convite para participar do primeiro encontro da recém-lançada Economia de Francisco, em Assis, na Itália, ele já investigava modelos de finanças solidárias que pudessem fomentar uma rede de agroecologia. Junto ao Sindicato Químicos Unificados, Tonin estudava a implementação de uma cooperativa de crédito em que os associados pudessem realizar empréstimos a juros baixos, ao mesmo tempo em que recebem uma fatia dos recursos obtidos pela instituição financeira.

O trabalho do sindicato foi selecionado para ser apresentado em uma iniciativa lançada pelo papa Francisco, em 2019. O pontífice, falecido em abril deste ano, chamou jovens empreendedores, pesquisadores e ativistas da área econômica para criar pontes entre pessoas que se interessavam "por um outro tipo de economia": "Uma que traga vida e não morte, que seja inclusiva e não exclusiva, humana e não desumanizante, que cuide do meio ambiente e não o destrua", escreveu Francisco na ocasião.

A ideia não era criar um braço institucional do Vaticano, mas uma plataforma de discussão e prática para o que ele chamou de "economia do futuro". Muitos participantes não tinham vínculo com a Igreja, por exemplo. O papa acreditava que o modelo econômico global precisava ser "reanimado", e que isso só aconteceria se houvesse um envolvimento ativo nas realidades locais. "Suas universidades, suas empresas e suas organizações são oficinas de esperança [...] para propor novos estilos de vida", escreveu.

Em virtude da pandemia da covid-19, porém, o encontro previsto para 2020 precisou acontecer de forma online. O pontífice convidou especialistas para mesas sobre novos modelos de negócios, desigualdade socioeconômica, inteligência artificial, alternativas para o desenvolvimento e um plano de recuperação de uma economia para a paz.

"O chamado do papa organizou muita gente que estava dispersa no Brasil pensando nisso. Isso já foi importante para nós. Pudemos trocar experiências e ideias com pessoas que partilham destes princípios de construir uma nova economia, livre de exploração", conta Vitor Tonin.

Assim como o nome escolhido para seu pontificado, Jorge Mario Bergoglio batizou a iniciativa em referência a São Francisco de Assis, que orientou seu pedido por uma igreja mais próxima dos pobres. Mais tarde, no Brasil, a proposta também incorporou o nome de Santa Clara de Assis. O papa lembrou, por exemplo, que franciscanos deram vida às primeiras experiências de empréstimos sem juros à população mais pobre, no final do século 15, os chamados Montes Pietatis. O modelo é tomado como precursor das iniciativas de bancos comunitários, como a assessorada por Tonin.

No encontro online, os temas discutidos fugiam de discussões estritamente eclesiais e eram sempre costurados com partilhas sobre experiências locais. Para os participantes, ficou claro que a proposta era pensar alternativas ao atual modelo econômico. Mesmo sem a atividade presencial, foi criado um grupo global, que incluía uma delegação de 100 brasileiros. Estavam lançadas as bases para iniciativas que hoje já se desdobram de forma consolidada em 23 países, principalmente com fomento acadêmico, todas vinculadas ao chamado do papa.

As Casas de Francisco e Clara no Brasil

Os projetos internacionais são divididos em eixos como negócios e paz, agricultura e justiça, finanças e humanidade, trabalho e cuidado e energia e pobreza.

No Brasil, a escolha da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara (ABEFC) foi a de resgatar a concepção de "Casa Comum", termo usado pelo papa Francisco para se referir ao planeta Terra em sua encíclica Laudato Si, e transformá-la, quando possível, em casa física.

O grupo fez uma primeira reunião em São Paulo, já em 2019, para pensar em como trazer o conceito para o Brasil. Quase seis anos depois, as chamadas Casas de Francisco e Clara se enraizaram de forma orgânica em ao menos 13 municípios e comunidades periféricas, cujos desafios da informalidade habitacional se somam à dificuldade dos moradores de acessar equipamentos e serviços públicos.

"O foco são as atividades territoriais com as pessoas preferidas de Francisco: empobrecidas, marginalizadas", escreve a Abefc, que também já publicou quatro livros e uma dezena de artigos científicos sobre o tema.

Nestes ambientes, são desenvolvidos desde painéis solares, na Paraíba, à instalação de hortas agroecológicas, em Manaus. Também há discussões sobre economia popular, orçamento participativo e incidência junto ao poder público em locais como Minas Gerais, Curitiba e Florianópolis.

Em Campinas, por exemplo, a cooperativa de crédito do Sindicato Químicos Unificados saiu do papel em parceria com a Cresol. Até o final de 2023, duas agências abertas na região foram capazes de economizar aos associados e produtores rurais mais de R$ 800 mil em juros e tarifas não cobrados, sobras e juros devolvidos.

A cooperativa se somou a uma série de projetos que aconteciam de forma separada e que aos poucos ganharam a cara da Economia de Francisco e Clara, conta a coordenadora local da articulação, Márcia Molina.

Além do fomento financeiro, também há um curso de multiplicadores de ecologia integral; uma cozinha solidária que oferece 300 refeições por dia e hortas agroecológicas instaladas na região – uma delas no presídio feminino de São Bernardo. Também será aberto um curso de extensão sobre soberania alimentar junto à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

"O papa Francisco tem um mérito imenso que nos une. Ele diz assim: 'olhem-se, vejam quantos vocês são, os que lutam e constroem uma sociedade nova. Não desanimem. Fortaleçam-se se olhando'", lembra Molina. O pontífice chegou a gravar um vídeo abençoando a cozinha solidária de Campinas.

Em Brasília o movimento se desdobrou na Sol Nascente, a segunda maior favela do Brasil, onde há distribuição de marmitas e uma casa de referência. O local recebe qualquer atividade que promova uma "ação transformadora", como a organização de um banco comunitário, artesanato local e formações.

Economia atrelada aos saberes indígenas

Já na Bahia, uma Casa de Francisco e Clara se formou em Serra Grande, um bairro do município de Uruçuca, no sul do estado, marcado pela gentrificação e instalação de megaprojetos imobiliários.

Lá, a proposta do papa encontrou eco no trabalho do instituto Etno, fundado pela educadora indígena tupinambá Maria Agraciada, que já atua há mais de duas décadas com comunidades de base e tradicionais. "Quando a gente abre a casa de Francisco e Clara, o intuito principal é ter um lugar que o bem viver e a economia afetiva seja praticada. A gente pratica a proposta da encíclica do papa. É uma proposta concreta", conta Agraciada.

A inspiração levou à criação, por exemplo, do modelo de casas abertas, onde um domingo por mês o instituto abre uma residência localizada na praia do Sargi e a comunidade pode ofertar materiais e serviços. "A casa de Serra Grande está sendo preparada para ser um ponto de troca de alimento. Se você produz abóbora, o outro produz inhame, cada um traz sua produção e troca os excedentes", explica Maria.

No Rio Grande do Sul, as Casas de Francisco foram impactadas pela necessidade de agir emergencialmente durante as enchentes que atingiram o estado em 2024. Em São Leopoldo, por exemplo, a casa virou abrigo para famílias. Em Canoas, as ações se voltaram para entrega de doações, mutirões de limpeza e apoio às famílias.

"Agora na continuidade, a gente vai fazendo encontros de formação, focando na questão do projeto de vida e de como apoiar as mulheres e as juventudes. O foco é vincular a economia à questão ambiental, a partir dessa necessidade de pensar como é que os nossos bairros são atingidos pelas catástrofes desse tempo", conta a irmã Fátima Ribas, que articula o movimento no estado.

A proposta econômica de Francisco

Ao lançar a Economia de Francisco, o papa já havia publicado dois documentos que nortearam seu pontificado, Evangelii Gaudium e Laudato Si. No primeiro, ele é taxativo. Rejeita o que chama de economia de exclusão e sistemas financeiros que "controlam no lugar de servir".

Do ponto de vista teológico, diz que esta economia mata, e por isso, deve ser vista como um pecado. Já no segundo documento, inaugura uma discussão sobre responsabilidade ambiental dentro da Igreja. Ele entende que nem todas as soluções ambientais têm os mesmos efeitos sobre os pobres, e por isso devem ser preferidas aquelas que reduzem a miséria.

"Evangelii Gaudium é um projeto de governo em que ele coloca com muita clareza os seus princípios. E ele bebe de uma reflexão jesuíta: o tempo é superior ao espaço, a unidade prevalece sobre o conflito, a realidade é superior à ideia, e o todo é superior à parte", resume Eduardo Brasileiro, doutorando em sociologia e articulador nacional da Economia de Francisco e Clara no Brasil.

Estas ideias que estabelecem uma Igreja "hospital de campanha", que estaria pronta para atender as emergências dos que necessitam, ficaram claras em diversos atos simbólicos de seu pontificado, como quando visita imigrantes na ilha de Lampedusa, na Itália, ou mesmo o complexo de Manguinhos, no Rio de Janeiro.

"O papa só vai culminar a discussão sobre a Economia de Francisco em 2019, depois de oito anos dialogando com líderes de bancos centrais, lideranças políticas, falando sobre desigualdade. Ele entende os problemas do Sul Global relacionados à periferia econômica, mas ele percebe que essas coisas não andam", continua Eduardo.

Na teoria econômica, a proposta se aproxima de umaperspectiva de decrescimento, dizem especialistas. O pontífice fala abertamente contra "o paradigma da tecnocracia orientado para a eficiência".

No entanto, Francisco buscou uma abordagem mais pragmática, para repensar não apenas as políticas econômicas, mas também as prioridades que as moldam, explica a professora associada da Universidade de Cambridge, Antara Haldar, em artigo publicado no portal Project Sindicate.

"Francisco reconheceu uma ameaça mais profunda: a economia havia deixado de ser uma ferramenta para o avanço da prosperidade humana e havia se tornado uma ideologia que corrói a solidariedade e incentiva a indiferença", escreveu. "Segundo essa lente, a economia e a ecologia não são campos acadêmicos separados, mas áreas interligadas de responsabilidade moral."

Continuidade dos trabalhos

Não é incomum os pontífices discutirem a economia global sob a diplomacia do Vaticano. Mas a possibilidade de transformar a doutrina em prática e traduzir para ambientes não-eclesiais chegou como uma onda de novidade para economistas do mundo todo.

Foi o que muitos participantes sentiram em 2022, quando o primeiro encontro presencial do grupo selecionado três anos antes aconteceu em Assis, conta Vitor Tonin. Naquele ano, o papa fez o seu terceiro discurso para a Economia de Francisco e reforçou seu interesse pessoal na iniciativa. As discussões revelaram proximidades mas também diferenças entre os participantes, que vinham de 100 países.

"O ponto que mais me chamou a atenção foi quando ele falou que as ideias são importantes, mas elas podem ser perigosas quando fechadas em si mesmo, porque muitas vezes a gente fica debatendo críticas ao que existe e o que poderia ser, mas não transformamos essas ideias em prática", diz o economista.

Para os articuladores brasileiros, a morte do papa não encerra o movimento aberto por ele. Na Bahia, por exemplo, a casa base será ampliada para uma aldeia, onde se estabelecerá uma Universidade Livre, construída em arquitetura indígena. "A gente chegou à conclusão que já temos o conhecimento que precisamos. E o que a gente não tem, a gente pode trazer para o território, não sair do território para absorver lá fora. É uma forma de preservar a nossa cultura e também os jovens", afirma Maria Agraciada.

Short teaser Iniciativa do papa Francisco "por um novo tipo de economia" se dissemina em 23 países e 13 cidades brasileiras.
Author Gustavo Queiroz
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-a-economia-de-francisco-chegou-nas-comunidades-brasileiras/a-72433408?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Como%20a%20%22Economia%20de%20Francisco%22%20chegou%20nas%20comunidades%20brasileiras

Item 29
Id 72431714
Date 2025-05-04
Title Polícia diz ter desarticulado ataque contra show de Lady Gaga
Short title Polícia diz ter desbaratado ataque contra show de Lady Gaga
Teaser

Polícia do RJ diz que envolvidos estavam recrutando adolescentes para cometer crimes e transmiti-los ao vivo como parte de "desafio coletivo", que incluía uso de explosivos contra show em Copacabana. Um homem foi preso.A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou neste domingo (04/05) que impediu um ataque com explosivos improvisados no mega show da cantora americana Lady Gaga, que ocorreu na noite anterior na praia de Copacabana. Um homem apontado como líder do plano foi preso no Rio Grande do Sul. De acordo com a polícia, a ação teve como alvo um grupo que atuava nas redes sociais, cooptando pessoas para cometer crimes e transmiti-los ao vivo. Ainda de acordo com a polícia, a investigação identificou que os envolvidos recrutavam pessoas, incluindo adolescentes, para promover ataques integrados com uso de explosivos improvisados e coquetéis molotov. O plano, segundo a polícia, era tratado pela rede como um "desafio coletivo", com o objetivo de obter notoriedade nas redes sociais. Os alvos da operação atuavam em plataformas digitais, promovendo a radicalização de adolescentes, a disseminação de crimes de ódio, automutilação, pedofilia e conteúdos violentos como forma de pertencimento. Ainda segundo a polícia, o grupo disseminava discurso de ódio e preparava um plano, "principalmente contra crianças, adolescentes e o público LGBTQIA+". Prisão O homem detido no sul do país foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo. Sua identidade não foi divulgada. Um adolescente foi apreendido por armazenamento de pornografia infantil no Rio de Janeiro. Como desdobramento da operação, os agentes policiais também cumpriram um mandado de busca e apreensão em Macaé, norte do estado do Rio. O suspeito responde por terrorismo e instigação ao crime. A operação policial contra a rede foi batizada de Fake Monster (falsos monstros, em inglês), referência à forma como Lady Gaga chama os fãs dela, little monsters (monstrinhos). Participaram da ação policiais da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) e da 19ª Delegacia de Polícia, em conjunto com o Laboratório de Operações Cibernéticas (Ciberlab) do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). As diligências contaram também contara com a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da polícia do Rio. Na ação, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Caxias e Macaé, no estado do Rio; Cotia, São Vicente e Vargem Grande Paulista, em São Paulo; São Sebastião do Caí, no Rio Grande do Sul; e Campo Novo do Parecis, no Mato Grosso. O trabalho contou com o apoio de policiais civis desses estados. Nos endereços, os agentes apreenderam dispositivos eletrônicos e outros materiais que, segundo a polícia, serão analisados. jps (Agência Brasil, ots)


Short teaser Polícia do RJ diz que envolvidos estavam recrutando adolescentes para cometer crimes e transmiti-los ao vivo.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/polícia-diz-ter-desarticulado-ataque-contra-show-de-lady-gaga/a-72431714?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/72428879_354.jpg
Image source Philipp Znidar/dpa/picture alliance
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Item 30
Id 72431256
Date 2025-05-04
Title Bolsonaro recebe alta após três semanas de internação
Short title Bolsonaro recebe alta após três semanas de internação
Teaser

Bolsonaro em 12 de abril, quando foi transferido de Natal para Brasília

Ex-presidente deixou hospital em Brasília após passar por mais uma cirurgia. No dia anterior, ele chegou a publicar uma foto explícita mostrando seu abdômen aberto.O ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu alta hospitalar no fim da manhã deste domingo (04/05), depois de três semanas internado após uma operação para desobstruir o intestino. "Depois de três semanas, a alta hospitalar está prevista para hoje, domingo. Graças a Deus por este milagre", afirmou Bolsonaro mais cedo, nas suas redes sociais. Nos últimos dias, Bolsonaro, de 70 anos, apresentou uma evolução positiva, "sem dor ou febre" e "com a pressão arterial sob controle", segundo um boletim médico divulgado no sábado pelo hospital DF Star, em Brasília. Também foi suspensa a alimentação intravenosa, devido à "boa aceitação da dieta pastosa" por via oral. Ainda no sábado, Bolsonaro divulgou nas redes uma fotografia explícita da sua cirurgia, que mostrava seu abdômen aberto, com um grande corte que deixou seu intestino à mostra. Nas redes, vários usuários, inclusive apoiadores do ex-presidente, expressaram incredulidade e choque com esse tipo de exposição. "Como estavam as alças intestinais após o acesso à cavidade abdominal e liberação parcial das aderências", escreveu Bolsonaro junto à imagem. Bolsonaro havia sido internado em 13 de abril, quando foi submetido a uma cirurgia que durou 12 horas para retirar aderências no intestino e reconstruir a parede abdominal. A operação foi realizada após ele passar mal, no dia anterior, durante uma viagem ao Rio Grande do Norte. Desde o atentado a faca sofrido em 2018, Bolsonaro já passou por seis cirurgias abdominais. Em 2019, precisou de intervenção cirúrgica para reconstruir o intestino e corrigir lesões no fígado. Entre 2021 e 2022, precisou corrigir aderências intestinais e tratar uma obstrução intestinal. No ano seguinte, passou por uma nova operação para corrigir uma hérnia de hiato. Convocação para ato por anistia Ainda neste domingo, Bolsonaro disse também que participará, na quarta-feira, de uma manifestação em Brasília a favor de um projeto de anistia para os condenados pela tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. "Regresso a casa revigorado. O meu próximo desafio: acompanhar a marcha pacífica pela mnistia humanitária na quarta-feira, 7 de maio", disse. Apesar dos pedidos por anistia, uma pesquisa divulgada em abril pela Quaest apontou que a maioria dos brasileiros é contra o perdão pelos crimes cometidos na data. Segundo o levantamento, 56% dos brasileiros defendem que "os envolvidos nas invasões de 8 de janeiro" devem "continuar presos por mais tempo cumprindo suas penas". Entre os entrevistados, apenas 34% acham que eles não deveriam ter sido presos ou "já estão presos por tempo demais". Em abril, poucos dias antes de ser internado, Bolsonaro participou de uma manifestação em São Paulo, ao lado de sete governadores de direita, também para pressionar pelo projeto de anistia. Na ocasião, essa havia sido a primeira grande manifestação bolsonarista depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou denúncia contra o ex-presidente e outras sete pessoas pelos crimes de tentativa de abolição do Estado democrático de direito e golpe de Estado. A decisão do STF marcou a primeira vez que um ex-presidente eleito foi colocado no banco dos réus por crimes contra a ordem democrática estabelecida com a Constituição de 1988. jps (ots)


Short teaser Ex-presidente deixou hospital em Brasília após passar por mais uma cirurgia.
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Image caption Bolsonaro em 12 de abril, quando foi transferido de Natal para Brasília
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Item 31
Id 72426680
Date 2025-05-04
Title Doulas do fim da vida: o trabalho de quem acompanha a morte
Short title Doulas do fim da vida: o trabalho de quem acompanha a morte
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O papel das doulas é complementar os cuidados com foco no acolhimento e no bem-estar

Profissionais dão apoio emocional e prático a pacientes em estágio terminal e também a seus parentes, acompanhando a última etapa da vida antes, durante e após o óbito.A palavra "doula", de origem grega, significa "mulher que serve" e refere-se a uma profissional que oferece suporte emocional, físico e informativo. Mais comumente relacionada à gestante e à chegada de uma nova vida, também existem profissionais que se dedicam a suavizar o momento da despedida. São as chamadas doulas do fim da vida ou doulas da morte. Ainda pouco conhecidas no Brasil, elas atuam no momento da morte com o mesmo cuidado e presença que as doulas do parto oferecem para as mães no período da gravidez, parto e pós-parto. Elas acompanham pessoas em estágio terminal, muitas vezes com doenças graves ou em idade avançada, oferecendo suporte emocional, espiritual e prático durante o processo de morrer. "O objetivo é dar suporte ao paciente e, consequentemente, à família para que essa pessoa faça sua passagem de forma mais tranquila possível. É importante falarmos sobre a morte e também ajudar esse paciente a viver bem seus últimos momentos e que suas vontades sejam respeitadas", explica Daniele Cristine Cândido Celeste, que atua como doula da morte há quatro anos. Ela, que é enfermeira especialista em cuidados paliativos começou a trabalhar como doula da morte após encontrar uma lacuna no setor, seja por falta de preparo dos profissionais de saúde ou as dificuldades enfrentadas pela pessoa e seus familiares para lidar com a última etapa da vida. Doula não é enfermeira Embora muitas doulas tenham formação em enfermagem ou na área da saúde, elas não têm essa função na vida do paciente. Essas profissionais não substituem médicos, enfermeiros ou equipes de cuidados paliativos. Enquanto os cuidados paliativos oferecidos por membros da área da saúde se concentram nas necessidades físicas e médicas, o papel das doulas é complementar os cuidados com foco no acolhimento e bem-estar. No Brasil existem alguns cursos livres para a formação em doulas da morte. Eles abordam, entre outros temas, mitos sobre a finitude, escuta e diretivas antecipadas de vontade e luto. Assim, a doula de fim de vida atua em três fases que envolvem a morte: a fase pré-morte, ou seja, quando o paciente desenvolve uma doença que não tem cura como por exemplo pacientes com câncer metastático ou com quadro de demências como o Alzheimer. Nessa fase, elas ajudam o paciente e os familiares a lidarem com o medo, a dor, o luto antecipado e ajudam a construir uma morte mais humanizada. Também discutem com os pacientes assuntos que, normalmente, a família tem dificuldade em abordar como: se o paciente gostaria de fazer as pazes com alguém antes de partir, se tem algum desejo em específico e até mesmo se ele prefere ser cremado ou enterrado. Na segunda fase, que é a da morte propriamente dita, ela está relacionada ao processo ativo de morte, que é uma etapa irreversível do fim de vida, marcada por mudanças nas dimensões físicas, psíquicas, sociais e espirituais do paciente. As doulas podem, inclusive, acompanhar os momentos finais do paciente, até mesmo estar lá segurando a mão da pessoa nos minutos finais da vida. E, por último, na fase pós-morte, que é a etapa do preparo do corpo daquele que se foi. No Brasil, a doula de fim de vida pode higienizar o corpo, caso a família deseje e autorize. Ela também pode ajudar a família a escolher a roupa que o ente querido escolheu utilizar; auxilia os familiares a organizar velório e o sepultamento e também apoia os familiares em todo o processo de luto. "É saber que você não estará sozinho na hora de sua morte, que você terá uma pessoa que te conhece, te respeita, te apoia e vai te defender quando você não for mais capaz de decidir sobre sua vida e sua morte. É saber que você poderá ter uma morte digna, respeitosa e pacífica. Para isso, a doula e seus serviços precisam ser apresentados aos familiares e à sociedade, para que tenham a sua prática reconhecida e respeitada genuína e legitimamente", diz Glenda Agra, enfermeira com especialização em cuidados paliativos e doula do fim da vida. A atuação das doulas pode ser no ambiente doméstico, hospitalar ou até mesmo em casas de repouso ou instituição de longa permanência, dependendo da situação. "Os cuidados são sempre práticos e não clínicos, como por exemplo, acompanhar o paciente em suas consultas médicas. Criar os rituais de despedida, conforme a religião e a cultura do paciente, respeitando e honrando todos os ritos. E também explicamos sobre as Diretivas Antecipadas de Vontade e Testamento Vital, que são direcionamentos descritos pelo paciente ao seu médico assistente sobre seus desejos, vontades e decisões em relação ao seu tratamento e cuidados em fim de vida", acrescenta Agra. Ainda falta regulamentação A presença das doulas do fim da vida ganhou força em países como Portugal, Estados Unidos e Canadá, mas tem se espalhado também pelo Brasil. Embora a profissão ainda não seja regulamentada, há cursos e formações voltados para essa atuação, que envolvem conhecimentos sobre tanatologia (o estudo da morte), cuidados paliativos, psicologia, escuta empática e práticas de autocuidado. Por não ter uma regulamentação, não há um piso ou teto de valores a serem cobrados, ficando a cargo de cada profissional fazer sua precificação de acordo com os serviços prestados. O valor médio, segundo apurado pela reportagem, fica em torno de R$ 30 a hora, podendo ser um pouco maior caso a profissional também preste outros serviços, como de cuidadora ou serviços de enfermagem, por exemplo. "A importância da doula é que o paciente recebe um cuidado mais qualificado, que o ajuda a entender a finitude e que aquele momento vai se aproximar. Quanto mais você prepara o paciente e a família, mais qualidade de vida esse paciente tem. Então você acaba dando muito mais peso para a própria vida do que necessariamente para a doença ou a morte em si, diminuindo o sofrimento", diz Érika Lara médica de família e paliativista e diretora de comunicação da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP).


Short teaser Profissionais dão apoio emocional e prático, acompanhando a última etapa da vida, antes, durante e após o óbito.
Author Simone Machado
Item URL https://www.dw.com/pt-br/doulas-do-fim-da-vida-o-trabalho-de-quem-acompanha-a-morte/a-72426680?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption O papel das doulas é complementar os cuidados com foco no acolhimento e no bem-estar
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Item 32
Id 72401313
Date 2025-05-03
Title Indígenas pataxó redescobrem herança ancestral na Alemanha
Short title Indígenas pataxó redescobrem herança ancestral na Alemanha
Teaser Comitiva de indígenas brasileiros visita em museu de Stuttgart artefatos do seu povo coletados por príncipe no século 19. "Foi como ver um ancião meu ali", diz membro do povo Pataxó.

Demorou mais de dois séculos para que artefatos indígenas levados do sul da Bahia se reunissem com seus donos originários. Na segunda-feira (28/04), uma comitiva com três membros do povo Pataxó visitou Stuttgart, no sul da Alemanha, em uma iniciativa para resgatar uma cultura ancestral fragmentada.

O grupo refez o caminho percorrido em maio de 1817 por Maximilian zu Wied-Neuwied, um príncipe da região da Renânia, na então Prússia, que reuniu ao longo de dois anos de expedição no Brasil uma expressiva coleção de artefatos indígenas.

Numa sala do museu etnográfico Linden, os visitantes eram aguardados por 16 artefatos de tamanhos variados, a única herança material dos seus antepassados hoje identificada. As bolsas, rede, arco e flechas, tecidos e matxakás — adornos de valor espiritual para os Pataxó — estavam dispostos ao lado de manuscritos e ilustrações originais de Wied-Neuwied.

O jovem Xohãhi Pataxó, cujo nome significa "herói" na língua Patxôhã, observou fixamente os detalhes das peças ao longo da visita de aproximadas três horas. Depois, tomou nas mãos o arco que um dia serviu para a proteção do seu povo e ergueu os braços sobre a cabeça, como um guerreiro

"Foi como ver um ancião meu ali", disse ele sobre o reencontro com os artefatos.

Reapropriação cultural

A visita da comitiva à Alemanha faz parte de um projeto que produz um longa e um curta metragem protagonizando o povo Pataxó, cujas cenas vão incluir o reencontro com os artefatos no museu.

Apoiada pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, com recursos da Lei Paulo Gustavo, a iniciativa liderada pelo pesquisador Ramon Rafaello Castro de Souza, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), fomenta esforços de revitalização cultural nas aldeias, levados a cabo sobretudo pelas novas gerações.

Ao chegar em casa, Xohãhi pretende mostrar as imagens dos artefatos no seu celular para a avó, que o criou mergulhado na cultura indígena, e reproduzir ele mesmo os matxakás que encontrou na Alemanha. "Hoje em dia a gente se orgulha de falar que é pataxó. Nossos avós não podiam falar a língua materna, praticar rituais nem falar da sua crença para sobreviver.

Naturalista considerado precursor da etnologia moderna no Brasil, Wied-Neuwied trocou objetos com vários povos indígenas entre o Espírito Santo e a Bahia. Em seu livro Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817, o apelidado "Alexander Humboldt renano" lançou um olhar colonizador sobre os Pataxó, a quem caracterizou como selvagens e incivilizados.

Os descendentes indígenas souberam ressignificar a obra. Recuperaram o seu glossário de 90 palavras do Patxôhã, que incluía nomes de artefatos que se tinham perdido, e passaram a reproduzir os cortes de cabelo tradicionais ali registrados. Em Stuttgart, Xohãhi usava adornos no lábio inferior e na orelha semelhantes aos descritos pelo príncipe renano, além de um matxaká próprio.

Decifrando a própria língua

Uma vez que descobriram os primeiros vocábulos, os Pataxó se mobilizaram para também decifrar os termos usados pelos anciãos vivos e criar palavras para aquilo que não existia antes. Hoje enriquecido, embora ainda incompleto, o idioma voltou não só à sala de aula, como também à vida nas aldeias.

Professora de Patxôhã, a jovem Yacewara Pataxó foi registrada com nome indígena, ao contrário dos seus pais e tios. "A gente pode trazer de verdade aquilo que já era nosso. Isso não precisa morrer, pode continuar com a gente", ela disse em Stuttgart.

O conhecimento das palavras antigas tem papel central na recuperação de culturas indígenas. Permite entender os cantos, cujas letras podem ser reproduzidas por gerações desacompanhadas do seu significado, ou metáforas por trás dos nomes da fauna e da flora, por exemplo.

"Estes nomes falam muito sobre a visão de mundo de um povo", explica Fabrício Ferraz Gerardi, professor de Linguística da Universidade de Tübingen.

Em Stuttgart, o museu Linden abriga ainda artefatos de outros povos indígenas do Brasil, incluindo de grupos Boe (conhecidos também como Bororo) de Mato Grosso. Com apoio de Gerardi, a viagem de uma artesã da Terra Indígena Meruri está sendo idealizada para que ela possa observar as técnicas empregadas e reproduzi-las.

No ano passado, um grupo de boes de outra região visitou em Paris objetos coletados nos anos 1930 pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss e sua então esposa, a etnóloga Dina Dreyfus, hoje mantidos no Museu do Quai Branly.

Milhares de peças pelo mundo

Não existe um inventário completo ou oficial de quantas peças indígenas brasileiras possam hoje estar espalhadas pelo mundo. Ao longo de séculos, artefatos se moveram com colonizadores, missionários e expedicionários, integraram diversas coleções e foram negociados separados de seus pares entre museus.

Por vezes, se conhecem informações tão detalhadas quanto a localização onde foram produzidos estes objetos por um determinado povo desde o século 16. Já outras peças nunca foram devidamente identificadas quanto à região ou ao povo de origem.

Hoje, rastrear estes vestígios culturais e espirituais, perdidos nas entranhas de museus estrangeiros, é um desafio global. E não só para estudiosos, como também para povos indígenas, que se mobilizam cada vez mais em busca da materialidade das suas raízes.

Depois do incêndio no Museu Nacional em 2018, o Setor de Etnologia e Etnografia da instituição catalogou 42 mil itens brasileiros em 16 grandes museus na Europa e nos Estados Unidos. Entre objetos etnográficos, arquivos sonoros, audiovisuais, fotográficos e iconográficos, as peças indígenas provêm de todas as regiões do Brasil, sobretudo da região amazônica, e datam dos séculos 16 ao 21.

Apenas no Museu Etnológico de Berlim, há cerca de 10 mil itens, dos quais aproximados 2 mil foram catalogados. Já um levantamento da artista brasileira Daiara Tukano mapeou 1.028 peças brasileiras nas Coleções Estatais de Arte de Dresden.

O objetivo do Museu Nacional era compensar historicamente os milhares de itens consumidos pelo fogo com uma base de dados digital pública, gratuita e em português. O site do inventário passa por manutenção para acréscimo de informações e deverá voltar ao ar ainda neste ano.

Já na Universidade de Leiden, na Holanda, os alunos da museóloga brasileira Mariana Françozo localizaram e inventariaram mais de 2 mil objetos ligados a quatro grupos indígenas do Maranhão em Europa, Japão, Estados Unidos e Canadá.

Repatriação é tema político

Ganha tração na Europa o debate sobre o retorno de peças ligadas à ancestralidade de povos colonizados aos seus países de origem desde 2017. À época, o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que a herança africana não deveria ser mantida exclusivamente por museus europeus, defendendo restituições temporárias ou definitivas.

Hoje brotam iniciativas de cooperação com povos indígenas ao redor do continente, com notórias repatriações já concluídas. No ano passado, a Dinamarca devolveu ao Brasil um de onze mantos tupinambá que existem em museus estrangeiros, enquanto a França retornou 585 peças provenientes de mais de 40 povos indígenas brasileiros.

Já em 2011, membros do povo Krenak haviam recebido o crânio de Joachim Kuêk, um indígena botocudo levado do Brasil por Wied-Neuwied. O serviçal do príncipe renano fora tratado como objeto de estudo após a sua morte e doado à Universidade de Bonn, na Alemanha.

Não há negociações formais para a repatriação dos artefatos pataxó no Museu Linden.

Demanda por estruturas

Os passos envolvidos na repatriação de artefatos ao Brasil são vários e complexos, começando com a realização de consultas amplas com comunidades indígenas. O Ministério dos Povos Indígenas criou em 2023 um grupo de trabalho para tratar do tema e desenvolve protocolos para melhorar o acesso a coleções.

Citando o trauma deixado pelo incêndio no Museu Nacional, observadores argumentam que é preciso ainda garantir estruturas de conservação adequadas nos museus brasileiros, no caso de eventuais novas devoluções.

"Há deficiências, mas elas não são tão profundas a ponto de servirem de justificativa para a não devolução. Sempre vai precisar de investimento, porque a chegada de peças demanda espaco e novas técnicas," diz Françozo. Ela destaca ainda que o Brasil tem uma museologia social avançada e que os museus brasileiros acumulam uma história de décadas de cooperação com povos indígenas, precedendo pares europeus.

Os artefatos têm impacto também sobre as lutas por território dos povos indígenas brasileiros. Para especialistas, a sua redescoberta engrossa as evidências contra contestações da sua presença no Brasil desde tempos imemoriais.

Na Bahia, os Pataxó vivem sob um contexto de pressão territorial e assassinato de lideranças, enquanto buscam assegurar e expandir suas terras demarcadas.

"Esta é uma memória viva e um material palpável com muito mais do que 50, 80 ou 100 anos. A nossa história não começa nem termina em 1988", disse Karkaju Pataxó, diante dos artefatos em Stuttgart, em referência ao ano de base do Marco Temporal.

Segundo a tese jurídica, que segue em negociação no Congresso Nacional, povos indígenas somente têm direito às terras que ocupavam ou já disputavam em 5 de outubro daquele ano.

Short teaser Comitiva de indígenas brasileiros visita em museu de Stuttgart artefatos coletados por príncipe no século 19.
Author Heloísa Traiano , Djamilia Prange de Oliveira
Item URL https://www.dw.com/pt-br/indígenas-pataxó-redescobrem-herança-ancestral-na-alemanha/a-72401313?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 33
Id 72399924
Date 2025-05-02
Title IA vai mesmo curar todas as doenças dentro de dez anos?
Short title IA vai mesmo curar todas as doenças dentro de dez anos?
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Em entrevista, Nobel de Química Demis Hassabis sugeriu que em breve a inteligência artificial vai acelerar o desenvolvimento de medicamentos e até as curas. Especialistas examinam a afirmativa polêmica.Dentro de apenas dez anos, o Prêmio Nobel de Química Demis Hassabis pretende curar todas as doenças com ajuda da inteligência artificial (IA) – pelo menos é o que se tem lido na internet. O cofundador e diretor executivo da Google DeepMind, especializada em IA, foi entrevistado sobre vários aspectos dessa tecnologia no programa 60 Minutes, da emissora americana CBS News. Juntamente com o colega John M. Jumper, inglês de 48 anos desenvolveu na DeepMind o modelo de IA AlphaFold2, capaz de prever as estruturas de praticamente todos os 200 milhões de proteínas atualmente conhecidas. Essas substâncias desempenham uma série de funções biológicas, e distúrbios em sua produção, estrutura ou função podem resultar em patologias. A descoberta valeu à dupla o prêmio de química em 2024. Na entrevista à 60 Minutes, Hassabis especulava que no futuro a IA será capaz de abreviar em semanas ou até meses o desenvolvimento de medicamentos. E completou: "E acho que um dia talvez vamos poder curar todas as doenças com a ajuda da IA." O entrevistador Scott Pelley inquiriu: "O fim de todas as doenças?" Isso está ao alcance da mão, confirmou Hassabis: "Talvez até mesmo dentro da próxima década, não vejo por que não." Estruturas moleculares reveladoras Por vezes é possível estimar a função de uma determinada proteína a partir de sua estrutura tridimensional, porém "ainda não sabemos isso em relação à maioria das proteínas do corpo humano", explica a bioquímica e informática Katharina Zweig, diretora do Algorithm Accountability Lab da Universidade Técnica de Kaiserslautern-Landau, na Alemanha. A alteração da estrutura proteica é causa de determinadas enfermidades, e "então é possível desenvolver um remédio para impedir esse processo". Antes, era preciso toda uma tese de doutorado, exigindo de três a cinco anos, para identificar uma única estrutura molecular, calculá-la e modelá-la. Nesse sentido, "a IA de Hassabis é, de fato, uma revolução", confirma Zweig. Florian Geissler, pesquisador-chefe do Instituto Fraunhofer de Sistemas Cognitivos (IKS), lembra que normalmente as causas de doenças não são redutíveis a um único elemento, "mas há muitos exemplos em que as proteínas representam um papel importante". Assim, "nos próximos anos a IA vai nos permitir coisas que hoje sequer podemos imaginar". Apesar disso, Katharina Zweig assegura que ainda não será possível curar todas as doenças dentro de dez anos, pois não se estabeleceu uma correspondência absoluta entre as muitas proteínas e certas doenças: "Também há mutações com estruturas tridimensionais anormais. Estatisticamente pode parecer que sejam a causa de sintomas patológicos, mas na verdade elas são inofensivas." E mesmo estando definido qual estrutura proteica resulta em qual moléstia, é necessário um longo processo até um medicamento entrar no mercado: "É preciso se testar em estudos clínicos, que exigem um número suficiente de pacientes, autorizações. Por isso acho que a coisa não vai, nem de longe, ser tão rápida assim." Usos atuais da inteligência artificial na medicina No diagnóstico baseado em imagens de tomografia computadorizada, a IA reconhece muito mais rapidamente a presença de alterações patológicas, explica Florian Geissler. A técnica também ajuda no caso de efeitos colaterais inesperados numa combinação de medicamentos, possibilitando otimizar os métodos de tratamento. A inteligência artificial tem ainda o potencial de reduzir a carga sobre o sistema de saúde, "por exemplo resumindo automaticamente as conversas com os pacientes e preparando relatórios estruturados para as caixas de saúde", diz o pesquisador. "Isso poupa tempo precioso do sistema de saúde. Aqui a IA terá um papel decisivo." A bioquímica Zweig ressalva, porém, que, apesar da assistência por IA, a cura de doenças exige grandes recursos financeiros: "Por isso os medicamentos continuarão só sendo desenvolvidos onde haja pacientes com dinheiro suficiente para depois pagá-los." Diagnósticos de valor limitado Outra questão é que, em geral, raramente é possível pronunciar um diagnóstico com base em regras definidas, acrescenta Katharina Zweig. Um desses casos é a diabetes, em que "há uma taxa limite e métodos de medição claros". A maioria dos outros diagnósticos, contudo, exige muita capacidade de julgamento e experiência, e "não conheço nenhum sistema de IA, hoje, que os torne tão confiáveis ao ponto de substituir os médicos e médicas". Florian Geissler parte igualmente do princípio que, nos próximos tempos, a decisão sobre o tratamento permanecerá de responsabilidade humana, "sobretudo por motivos éticos e legais". E possivelmente também pelo fato de, no momento, os sistemas de IA ainda serem uma espécie de "caixa preta", "onde se dá um input e se recebe uma resposta, mas sem saber cem por cento como a decisão foi tomada", compara o pesquisador do Instituto Fraunhofer. Katharina Zweig descreve assim: "Não temos como ver a máquina aprendendo, nem como chega a seu diagnóstico. Portanto tampouco podemos concluir se ela parte de critérios que nós, enquanto seres humanos, também estabeleceríamos."


Short teaser Nobel de Química Demis Hassabis sugeriu que em breve inteligência artificial promoverá curas. Uma afirmativa polêmica.
Author Jeannette Cwienk
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Item 34
Id 72410915
Date 2025-05-01
Title Federação inglesa vai barrar mulheres trans no futebol feminino
Short title Federação inglesa vai barrar trans no futebol feminino
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Entidade que regula futebol no país diz que nova regra segue decisão da Suprema Corte britânica, de que a definição legal de mulher é baseada somente no sexo biológico.As mulheres transgênero serão impedidas de participar em competições femininas de futebol da Inglaterra a partir de junho, anunciou a Associação de Futebol (FA) do país nesta quinta-feira (01/05), duas semanas após a Suprema Corte do Reino Unido decidir que, para fins legais, o termo "mulher" deve ser definido somente com base no sexo biológico de nascimento. A decisão da FA ocorre dois dias depois de a Associação Escocesa de Futebol (SFA) ter tomado uma decisão no mesmo sentido. Segundo o comunicado, a modificação no regulamento na Escócia entrará em vigor a partir da temporada 2025/26. "Entendemos que isto será difícil para as pessoas que querem simplesmente praticar o esporte que gostam, no gênero com o qual se identificam", indicou a inglesa FA, apontando que a decisão do Supremo a obriga a seguir esse rumo. O regulamento anterior da FA permitia que mulheres trans participassem do futebol feminino, mas isso mudará a partir de 1º de junho. "A decisão da Suprema Corte no dia 16 de abril significa que estaremos mudando nosso regulamento", disse o órgão regulador do futebol inglês em um comunicado. "As mulheres transgênero não poderão mais jogar futebol feminino na Inglaterra, e essa política será implementada a partir de 1º de junho de 2025." A associação ainda apontou que pretende contatar as mulheres transgênero federadas, a fim de lhes "explicar as mudanças" que a decisão do Supremo do Reino Unido implica e de as informar sobre a forma "como podem continuar a praticar" futebol. Segundo a rede BBC, a decisão deve afetar 20 jogadoras transgêneros registradas na Inglaterra Já a associação escocesa informou que vai "fornecer orientações sobre a forma como atualizará os regulamentos e as oportunidades de participação adequadas às mulheres transgênero, antes da entrada em vigor, no início da próxima temporada". Decisão do Supremo Em abril, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu, por unanimidade, que "os termos 'mulher' e 'sexo', na Lei da Igualdade de 2010 [que combate a discriminação], referem-se a mulher biológica e sexo biológico". A decisão, que exclui pessoas trans dessa definição jurídica, encerrou uma longa disputa entre o grupo feminista For Women Scotland (FWS) e o governo escocês. O regramento britânico reconhece o direito de pessoas trans obterem documentos legais, como a mudança do nome social, por exemplo. Contudo, a decisão da Suprema Corte entende que uma pessoa que passou por uma transição de gênero não pode ser considerada legalmente uma mulher para fins de igualdade. Isto implica em um dos pontos mais controversos do debate – o acesso a espaços exclusivos para um gênero. Na prática, o veredicto significa que as mulheres trans podem ser excluídas de alguns espaços destinados exclusivamente para mulheres, como vestiários, abrigos para sem-teto, áreas de natação. Além de serviços médicos ou de ou de aconselhamento oferecidos somente a mulheres. Espaços e serviços exclusivos "só funcionarão corretamente se 'sexo' for interpretado como sexo biológico", apontou o Supremo. Contudo, a lei também "oferece proteção às pessoas trans contra discriminação em seu gênero adquirido", afirmou o juiz Patrick Hodge ao anunciar o veredicto. "Todo mundo sabe o que é sexo, e você não pode mudá-lo", disse Susan Smith, codiretora da FWS após a decisão. "É bom senso, puro e simples. O fato de termos ido parar em um buraco de coelho onde as pessoas tentaram negar a ciência e a realidade... esperamos que agora voltemos à realidade." jps (Reuters, Lusa, ots)


Short teaser Entidade diz que nova regra segue decisão da Justiça, de que a definição de mulher é baseada somente no sexo biológico.
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Item 35
Id 72399385
Date 2025-04-30
Title Novo estudo relaciona plásticos com doenças cardíacas
Short title Novo estudo relaciona plásticos com doenças cardíacas
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Produtos químicos encontrados em plásticos domésticos podem estar associados a doenças cardíacas

Substância química presente em diversos itens do cotidiano, como recipientes de alimentos, pode ter sido responsável pela morte de 350 mil pessoas em todo o mundo em 2018.Uma substância química encontrada em diversos itens plásticos do dia a dia, como recipientes de alimentos e frascos de xampu, pode estar associada a doenças cardíacas e ter contribuído para cerca de 350 mil mortes no mundo em 2018, segundo um novo estudo divulgado nesta segunda-feira (28) pela revista eBioMedicine. A pesquisa, conduzida por cientistas da NYU Langone Health, nos Estados Unidos, sugere que cerca de 10% das mortes por doenças cardíacas entre adultos de 55 a 64 anos naquele ano podem ser atribuídas aos ftalatos — compostos químicos usados para aumentar a durabilidade e a flexibilidade dos plásticos. Segundo Leonardo Trasande, diretor do Centro de Investigação de Riscos Ambientais da NYU, o objetivo da pesquisa foi rastrear exposições globais a um tipo específico de ftalato, conhecido como DEHP. No entanto, ele alerta que os resultados devem ser interpretados com cautela e sem que sejam tiradas conclusões definitivas. "Tivemos que modelar as exposições ao redor do mundo com base nos dados disponíveis, então há limitações no que temos", afirmou Trasande, que liderou o estudo. Ftalatos: O que são e quais os riscos? Os ftalatos estão presentes em uma ampla variedade de produtos domésticos, desde xampus e perfumes até embalagens de alimentos e brinquedos infantis. A exposição a essas substâncias pode ocorrer pela ingestão de alimentos que tiveram contato com materiais contendo ftalatos, pela absorção pela pele por meio de cosméticos ou pela inalação de partículas suspensas no ar, segundo os Institutos Nacionais da Saúde dos EUA. "O que sabemos atualmente é que diversos produtos químicos usados em materiais plásticos contribuem para a inflamação, alteram nossos hormônios, nossas moléculas de sinalização naturais que sustentam funções biológicas básicas, incluindo metabolismo e função cardiovascular", explica Trasande. Pesquisas anteriores também apontaram efeitos negativos dos ftalatos na saúde reprodutiva e no sistema imunológico. Além disso, a substância está associada ao ganho de peso e ao desenvolvimento de diabetes, que podem causar doenças cardiovasculares. "O estudo anterior no qual a modelagem foi baseada levou em conta o índice de massa corporal, o consumo alimentar, a atividade física e uma série de outros determinantes sociais usuais da saúde que consideramos como possíveis explicações alternativas", completa o pesquisador. Um problema global Atualmente, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, sendo responsáveis por cerca de 17,9 milhões de óbitos por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O novo estudo utilizou dados populacionais de saúde e meio ambiente para traçar um panorama global e estimar a proporção de mortes atribuíveis à exposição a ftalatos em diferentes regiões. A análise abrangeu informações de cerca de 200 países. Embora o DEHP esteja presente em escala global, o impacto é mais acentuado em determinadas regiões. Oriente Médio, Sul da Ásia, Leste Asiático e Pacífico concentram aproximadamente três quartos do total estimado de mortes associadas à substância. Entre os países, a Índia lidera em número de óbitos atribuídos ao DEHP, com mais de 100 mil mortes em 2018, seguida por Paquistão e Egito. A alta produção de plásticos e a menor rigidez nas regulamentações industriais podem explicar os números elevados nessas regiões. Como reduzir a exposição? Todos os dias estamos cercados de plástico e evitá-lo pode parecer impossível, mas Trasande explica que as pessoas podem tomar várias medidas de precaução. "Podemos renegociar nossa relação com o plástico", disse o pesquisador. "Precisamos evitar, principalmente, aquecer plástico no micro-ondas e na máquina de lavar louça, porque essa é uma maneira de reabsorver os produtos químicos usados nos materiais plásticos ou transformá-los em microplásticos que podem levar esses produtos químicos para o ser humano." Atualmente, um tratado global sobre plásticos está sendo negociado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Já na União Europeia (UE), ftalatos como o DEHP são proibidos em brinquedos e cosméticos. "Há uma coalizão de países com grande ambição que está trabalhando para não apenas reduzir os produtos químicos usados em materiais plásticos preocupantes, mas também para lidar com a magnitude da poluição plástica", conclui Trasande.


Short teaser Produtos químicos encontrados em plásticos domésticos podem estar associados a doenças cardíacas
Author Amy Stockdale
Item URL https://www.dw.com/pt-br/novo-estudo-relaciona-plásticos-com-doenças-cardíacas/a-72399385?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 36
Id 72384690
Date 2025-04-30
Title Megashow da Lady Gaga vale a pena para o Rio de Janeiro?
Short title Megashow da Lady Gaga vale a pena para o Rio de Janeiro?
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A cantora americana Lady Gaga será a atração deste ano do evento "Todo mundo no Rio"

Eventos internacionais viram estratégia para movimentar economia. Mas falta clareza sobre destino de eventuais ganhos para as contas públicas.Enquanto esperam o megashow da cantora Lady Gaga no sábado (03/05), os arredores do palco na praia de Copacabana se preparam para um fim de semana de alto faturamento. A expectativa em bares, lojas, restaurantes e hotéis é, inclusive, superar os lucros do show da Madonna, que também aconteceu perto do Dia do Trabalhador no ano passado. Fora do bairro da zona sul carioca, entretanto, surgem contestações sobre o quanto os investimentos milionários num evento de grande porte como este valem a pena para a cidade e se são um bom uso do dinheiro do contribuinte. A maior parte das despesas será arcada pela iniciativa privada, mas a prefeitura do Rio de Janeiro e o governo do estado prometeram desembolsar R$ 15 milhões, cada, para viabilizar o espetáculo. A cifra representa um aumento de 50% em relação ao valor mobilizado para a apresentação de Madonna, que atraiu 1,6 milhões de pessoas. O custo total está estimado em R$ 92 milhões, segundo o jornal O Globo. A produtora Bônus Track, responsável pela organização, angariou uma série de patrocínios de empresas como Santander, Corona e C&A. Estratégia da prefeitura Ainda assim, múltiplas publicações nas redes sociais questionaram a abertura dos cofres públicos para investimentos em entretenimento, apesar das graves deficiências em segurança pública, mobilidade, saúde e educação. Numa mensagem compartilhada 8 mil vez no X (antigo Twitter), o deputado de extrema direita Nikolas Ferreira (PL) republicou o vídeo de uma mulher deitada no asfalto da Avenida Brasil, em meio a um tiroteio, acompanhado da legenda: "Ainda bem que o prefeito do RJ providenciou o show da Lady Gaga no Carnaval". O prefeito do Rio, Eduardo Paes, rebateu a crítica e prometeu trazer uma estrela internacional todo mês de maio. Para os próximos anos, Paes já expressou desejo de promover shows da banda U2 e da cantora Beyoncé. Sob a marca "Todo Mundo no Rio", o objetivo seria consolidar a praia de Copacabana como palco de grandes apresentações musicais a céu aberto. No passado, multidões já se reuniram na orla para assistir a Rolling Stones, Rod Stewart, Roberto Carlos, Ivete Sangalo, entre outros. A diferença é que, desde a vinda de Madonna, a prefeitura quer consolidar um calendário oficial. "'Vai gastar dinheiro público com a Lady Gaga?' Vou. Com a Madonna gastei também. Sabe por quê? Porque enche todos os hotéis, enche todos os restaurantes", afirmou Paes, no podcast PodK Liberados. Show deve movimentar R$ 600 milhões Especialistas e empresários ouvidos pela DW, de fato, esperam um impacto positivo para a atividade econômica, sobretudo para o setor de turismo. No entanto, argumentam que falta transparência sobre a composição das despesas e o uso dos rendimentos que poderão chegar às contas públicas como resultado do aquecimento temporário da economia. "Seria um ganho muito positivo se esses eventos que têm investimentos milionários também tivessem um plano de destinação desses recursos, pelo menos do ponto de vista público", defende o professor Osiris Marques, da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense (UFF). A expectativa é de que o show de Gaga gere quase R$ 600 milhões para a economia da cidade, de acordo com estimativas da secretaria municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) e da Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur). Se confirmado, seria um retorno maior que o de Madonna, que rendeu R$ 469,4 milhões. Os números refletem a estimativa da presença de 1,6 milhão de pessoas, mesmo volume observado no evento de maio do ano passado. Segundo o estudo, a composição do público seria semelhante ao do Réveillon: 85% de moradores da região metropolitana do Rio, 12% de turistas nacionais e 3% de estrangeiros. Cada visitante brasileiro deve gastar, em média, R$ 515,84 por dia, enquanto os estrangeiros desembolsariam R$ 590,40 diariamente, ainda conforme a pesquisa. Já o gasto médio do carioca somaria R$ 133,60. Aumento nas reservas de hotéis Antes mesmo da chegada dos turistas, os setores de hotelaria e transportes estão entre os primeiros a perceber o aumento da demanda. Para a semana do show, as buscas por passagens de ônibus ao Rio cresceram 170% em relação a igual período anterior à apresentação de Madonna, conforme levantamento da plataforma Clickbus em parceria com a Rodoviária do Rio. Cerca de 200 mil pessoas devem circular no terminal durante o final de semana. Na plataforma de aluguel por temporada Airbnb, as pesquisas por acomodação aumentaram 2,5 vezes na mesma base comparativa, segundo revelou a empresa. Entre as reservas, 83% são para estadias de grupos com até quatro pessoas. Copacabana, Botafogo e Leme lideram a preferência dos hóspedes. Já a ocupação dos hotéis cariocas supera a marca de 70% para o feriadão, de acordo com a prévia mais recente da HoteisRio. Copacabana (83,67%) e Ipanema/Leblon (82,10%) são as regiões mais procuradas. Expectativas nas alturas Todo esse contingente deve movimentar também os negócios nas redondezas de Copacabana. No Quiosque Arrastapé, que fica a poucos passos do palco onde Lady Gaga vai se apresentar, a procura dos fãs por uma reserva começou no dia seguinte ao anúncio do show em fevereiro. O estabelecimento resolveu montar dois telões e não reservar mesas, contando que a movimentação será tão grande que mais vale a pena atender a multidão indo e vindo do que fechar mesas por valor fixo durante a noite toda. Segundo Alessando Monteiro, relações públicas do quiosque, a movimentação da clientela supera a da Madonna, gerando expectativa de que o faturamento seja ainda maior. No ano passado, a noite do show da rainha do pop fez com que o lucro superasse em 30% uma noite comum. Então, o quiosque cobrou cerca de 200 reais por entrada individual, que poderiam ser revertidos em consumação. "Meu telefone não para. As pessoas querem muito vir ao show e fazer uma reserva. Um grupo de 25 pessoas do Rio Grande do Sul, por exemplo, está insistindo por uma reserva, porque eles não querem de jeito nenhum ficar sem lugar", diz Monteiro. A nove dias do show, ele recebeu 25 pedidos de reserva ao longo de meio expediente. Segundo ele, a procura é principalmente de jovens, e eles vem de vários estados, sobretudo São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás e Minas Gerais. O quiosque poderá aumentar em até 20% o seu quadro de funcionários durante o feriadão de quatro dias, a depender do movimento no primeiro dia. "Para a gente, é superimportante porque, quando há eventos da prefeitura e de grandes empresas, dá um levante no nosso faturamento. A gente consegue movimentar a nossa estrutura e dar oportunidade para quem está no mercado de trabalho. A maioria das pessoas chega antes do show, então nós vamos ter uma explosão de vendas de três ou quatro dias." Afinal, o investimento é válido? Uma análise dos resultados do show da Madonna pode fornecer pistas sobre o retorno econômico que esse tipo de evento produz. Levantamento da empresa de serviços financeiros Cielo indicou salto de 12,1% no faturamento do turismo no Rio no final de semana em que a Rainha do Pop esteve no Brasil, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Os ganhos foram mais expressivos nos setores de hotelaria (alta de 10,6%), transporte (16,7%) e supermercados (6,9%). O varejo total na cidade apresentou crescimento de 3,3% naqueles dias. "Tudo isso gera impostos para a cidade", ressalta Léo Morel, professor de MBAs em bens culturais da Fundação Getulio Vargas (FGV). "O evento levará a contratação de equipes para montagem, som e iluminação, mas há também uma geração indireta de empregas, com os ambulantes", acrescenta. O impacto tende a se alastrar por uma longa cadeia econômica que dissemina os benefícios para além dos envolvidos diretos no show, explica Osiris Marques, da UFF. Um hotel, por exemplo, amplia a compra de produtos com fornecedores para fazer frente ao aumento da demanda. Assim, em geral, cada real gasto pelo turista se multiplica entre 2 e 2,5 vezes, pelos cálculos do Observatório do Turismo da UFF. "Como o show será o único da Lady Gaga no Brasil, os gastos ficarão concentrados no Rio de Janeiro. Haverá um impacto econômico importante", ressalta Marques. Impacto para a imagem do Rio Mas há também consequências pouco mensuráveis, mas igualmente relevantes. Em particular, o professor cita uma melhora na imagem do Rio para o turismo, diante da exposição na mídia nacional e internacional. "O Rio de Janeiro acaba se consolidando como um grande salão de festas para o Brasil", avalia Marques. Esses eventos de grande porte podem, inclusive, gerar receita tributária que mitigue a dependência do estado em relação aos vultuosos, mas voláteis, royalties advindos da produção de petróleo. O turismo, então, serviria de alternativa ao ciclo econômico instável das commodities. No entanto, essas ações deveriam fazer parte de um plano de desenvolvimento socioeconômico mais amplo que inclua uma comunicação transparente, afirma Marques. "Isoladamente, podemos dizer que, sim, o show vale a pena, mas em conjunto, poderíamos ter outras ações de fomento ao turismo como uma grande estratégia de desenvolvimento econômico", argumenta.


Short teaser Eventos internacionais viram estratégia para movimentar economia, mas falta clareza sobre impacto nas contas públicas.
Author André Marinho, Heloísa Traiano
Item URL https://www.dw.com/pt-br/megashow-da-lady-gaga-vale-a-pena-para-o-rio-de-janeiro/a-72384690?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption A cantora americana Lady Gaga será a atração deste ano do evento "Todo mundo no Rio"
Image source Vianney Le Caer/Invision/AP/picture alliance
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Item 37
Id 72312003
Date 2025-04-30
Title Propulsão elétrica em vez de diesel: o futuro do transporte marítimo?
Short title Navios elétricos: o futuro do transporte marítimo?
Teaser Cada vez mais navios adotam motores elétricos, reduzindo a emissão de gases nocivos e favorecendo o meio ambiente. Mas novo modelo ainda está repleto de desafios.

A balsa Rheinfähre Mondorf, perto de Bonn, na Alemanha, não espalha mais fuligem preta no ar e, agora, o que se ouve, é só o barulho do vento e das ondas do rio Reno. Desde fevereiro de 2025, a embarcação é alimentada por motores elétricos com 290 kW (400 hp) em vez dos antigos motores a diesel.

Neste trecho, o Reno tem 400 metros de largura e exige dois minutos de balsa para a travessia. A energia para isso vem de uma bateria com 1000 quilowatts por hora (kWh), o que corresponde à capacidade da bateria de 14 carros elétricos. À noite, a bateria é então recarregada no píer com eletricidade renovável. Cerca de 600 kWh são suficientes para as 14 horas de operação diária da balsa.

Por trás da reforma da balsa de 60 anos está o governo federal alemão, que financiou o projeto com subsídios de até 80%. "Sem o subsídio, os custos seriam muito altos", diz o arquiteto naval Elmar Miebach-Oedekoven, diretor administrativo da Lux-Werft und Schifffahrt GmbH. A empresa de médio porte opera outra balsa elétrica perto de Bonn desde o ano passado e já converteu cerca de 20 navios de passageiros para propulsão elétrica.

Motores elétricos exigem menos manutenção do que os motores a diesel. Apesar do preço relativamente alto da eletricidade na Alemanha, operar a balsa é "provavelmente mais barato a longo prazo", disse Miebach-Oedekoven à DW. A tecnologia também é significativamente mais ecológica porque "não há diesel inflamável no navio, não há poluição da água durante o reabastecimento e toda a tecnologia é mais segura e simples", acrescenta o gerente de operações Ingo Schneider-Lux durante a travessia do Reno.

De acordo com Schneider-Lux, a tendência na Alemanha para balsas e navios de passageiros em lagos e rios interiores é para motores elétricos. No mundo todo, há também cada vez mais navios movidos a bateria.

De acordo com os dados mais recentes da Maritime Battery Forum, rede sem fins lucrativos na Noruega, mais de mil dos 109 mil navios do mundo já são movidos por propulsão elétrica ou híbrida. E esse número provavelmente crescerá ainda mais, já que o levantamento abrange apenas uma parte dos navios elétricos. Atualmente, mais de 460 navios elétricos adicionais estão sendo construídos.

Noruega, pioneira no transporte elétrico

A Noruega é atualmente líder no transporte movido a bateria, com o governo já há mais de dez anos promovendo a tecnologia para balsas, navios cargueiros, barcos de pesca, embarcações de manutenção para a indústria offshore – que no futuro poderão ser recarregadas diretamente a partir de turbinas eólicas – e até para navios de cruzeiro.

Até 2030, o governo norueguês pretende reduzir drasticamente as emissões de CO2 no transporte marítimo por meio de apoio financeiro e regulamentações. E os navios que navegam pelos fiordes ocidentais da Noruega em breve poderão navegar até lá sem emissão nenhuma de gases de efeito estufa.

Já há um número particularmente alto de motores elétricos nas balsas norueguesas, que são particularmente importantes para o tráfego ao longo da costa de 1.800 km de extensão. De acordo com dados da Fundação Norueguesa do Clima, mais de 80 das 199 balsas para carros já são elétricas.

Uma das maiores balsas elétricas opera desde 2020 no fiorde de Oslo, no sul do país. Com capacidade para mais de 200 carros e 600 passageiros, a "Basto Electric" funciona exclusivamente à bateria. Com ela, é possível percorrer os cerca de 10 quilômetros entre as cidades de Moss e Hortem em meia hora.

Durante a escala nos portos, a grande bateria (4300 kWh) é recarregada com carregadores rápidos particularmente potentes. Com uma potência de 9000 kW, aqui circula 25 vezes mais eletricidade do que com os carregadores rápidos altamente potentes para veículos rodoviários (350 kW).

O maior navio movido a bateria do mundo, com capacidade para 2,1 mil passageiros e 225 veículos, tem lançamento programado para maio de 2025 na Austrália. O catamarã de alumínio de alta velocidade deverá percorrer um trajeto de 50 km pelo Rio da Prata entre a Argentina e o Uruguai. Sua grande bateria tem capacidade de armazenamento de 43.000 kWh, o que corresponde à capacidade da bateria de 570 carros elétricos.

Modelos híbridos para distâncias maiores

Entretanto, a capacidade dos sistemas de armazenamento de baterias embutidos não é suficiente para distâncias muito longas. É por isso que alguns navios elétricos também podem ser movidos por motores de combustão que atualmente funcionam com diesel, gás natural liquefeito (GNL) ou biodiesel.

Um exemplo é a balsa híbrida-elétrica Saint-Malo, que cruza o Canal da Mancha desde fevereiro de 2025. A balsa para 1,3 mil pessoas, 330 carros e 60 caminhões leva de quatro a seis horas para percorrer o trajeto de 260 km.

A energia da bateria grande (12.000 kWh) é usada principalmente para viagens costeiras e para entrar e sair de portos, o que reduz ruídos e a emissão de gases nocivos.

Cartuchos de bateria intercambiáveis para longas distâncias

Entretanto, navios elétricos já conseguem percorrer distâncias muito maiores hoje em dia se viajarem com cartuchos de baterias intercambiáveis.

É este o caso dos dois cargueiros elétricos no rio Yangtze, o maior rio da China. Eles podem carregar até 700 contêineres (TEU) e percorrer cerca de 300 quilômetros entre a cidade de Nanquim e o porto de Yangshan, em Xangai.

A energia para os motores vem de até 36 contêineres de bateria, que são capazes de fornecer até 57.700 kWh de energia. Uma vez descarregadas, elas são trocadas no porto.

Na Holanda, dois navios porta-contêineres menores também operam com contêineres de bateria intercambiáveis. Segundo a locadora ZES, a troca da bateria leva apenas 15 minutos. O sistema para tal foi construído em conjunto pelo Porto de Roterdã, grandes empresas de tecnologia e um grande banco com apoio da UE.

O objetivo é que, até 2050, estejam operando na Holanda, Bélgica, França e Alemanha 400 embarcações elétricas de navegação interior com contêineres de bateria. Para atingir essa meta, será necessário construir muitas estações adicionais de troca de baterias nas próximas décadas.

Aposta em navios elétricos implica nova infraestrutura

O uso da rede elétrica local permite que os grandes navios de cruzeiro e cargueiros sejam abastecidos enquanto estão atracados no porto. Ao serem conectados à rede elétrica, as embarcações podem desligar seus motores de combustão a bordo, o que contribuiu para o fator ecológico.

Ainda assim, a demanda por eletricidade é imensa: um navio de cruzeiro no porto precisa de tanta eletricidade quanto 12 mil residências. Quando essa energia é gerada através da energia solar, eólica e hidrelétrica, há uma economia de custos, emissões nocivas e CO2.

Mas construir uma infraestrutura abrangente com conexões de energia em portos, contêineres de baterias e estações de carregamento para navios é um grande desafio: é necessário instalar novos cabos e construir novos transformadores e usinas. Isso requer não só altos investimentos iniciais, como também apoio governamental.

Qual é o futuro dos navios elétricos?

De acordo com a Comissão Europeia, o transporte marítimo é responsável por cerca de 2,8% das emissões globais de CO2. Ao mudar para motores elétricos, as emissões de CO2 podem ser reduzidas e a qualidade do ar local pode ser significativamente melhorada. Além disso, operações com eletricidade também podem economizar custos: navios movidos a bateria já são competitivos em rotas mais curtas.

"A perspectiva para o transporte marítimo elétrico é positiva. A demanda por aplicações híbridas e totalmente elétricas aumenta ano após ano", afirma Roger Holm, presidente da fornecedora de equipamentos para navios Wärtsilä Marine, com sede em Helsinque, Finlândia. Entre 2019 e 2024, a quantidade de pedidos no setor quadruplicou, disse Holm à DW.

"O transporte marítimo elétrico será moldado nas próximas duas décadas por inovações revolucionárias em tecnologia de baterias, um aumento nos sistemas de propulsão híbridos e um mercado em rápido crescimento impulsionado pelo apoio político e pela dinâmica competitiva", prevê o diretor administrativo da NatPower Marine, Stefano Sommadossi. A empresa sediada em Londres desenvolve infraestrutura de carregamento para portos e hidrovias.

A principal vantagem da eletricidade como energia de propulsão é sua alta eficiência em comparação com outras opções ecológicas, como combustíveis produzidos sinteticamente a partir do hidrogênio verde, enfatiza Sommadossi.

Para 1 kWh de energia do motor, navios movidos a bateria "precisam apenas de uma quantidade de energia[-inicial] de 1,09 kWh. Para combustíveis líquidos como amônia, metanol e hidrogênio, no entanto, a quantidade é de 4 a 9 kWh. O uso de eletricidade como combustível energético é mais barato do que as alternativas líquidas."

De acordo com a Organização Marítima Internacional (OMI), as emissões de gases de efeito estufa provenientes do transporte marítimo devem ser reduzidas em 30% até 2030, em 80% até 2040 e em 100% até 2050.

Segundo Sommadossi, "espera-se que a região da Ásia-Pacífico domine o mercado global de navios elétricos". É nesses países, afinal, que está sendo atualmente construída a grande maioria desses navios.

A Europa vem em segundo lugar, diz Sammadossi, pois conta com um impulso adicional vindo das metas europeias de descarbonização para o transporte marítimo.

Um exemplo é o chamado FuelEU Maritime, um regulamento europeu que exige que todos os portos do bloco instalem conexões de energia de alto desempenho que atendam toda a demanda por eletricidade de navios porta-contêineres, de passageiros e de cruzeiro a partir de 2030.

O que trava o deslanche dos navios elétricos?

A tecnologia de baterias, porém, deve permanecer limitada quando o assunto são distâncias muitos longas. Conforme um estudo publicado na revista Energy Conversion and Management, distâncias de até 15.000 km são tecnicamente viáveis ​​para navios porta-contêineres elétricos a bateria. Economicamente, no entanto, o escopo do transporte marítimo de águas profundas com impacto neutro no clima é reduzido a um "máximo de 10.000" km, aponta o estudo.

A travessia do Atlântico entre Nova York e Lisboa (aproximadamente 8.300 km) certamente seria possível com um navio porta-contêineres, mas a rota entre Xangai e Veneza (30.000 km) sem uma parada para reabastecimento seria inviável.

Para a propulsão de navios em longas rotas marítimas como essa, o mais adotado é geralmente o metanol ecológico. Desde 2024, a empresa de transporte dinamarquesa Maersk opera com o primeiro navio porta-contêineres do tipo. Metanol ecológico, aliás, é produzido desde 2025 em Kassø, na Dinamarca, a partir de energia solar e eólica.

Segundo especialistas, atingir um transporte climático neutro exigirá a construção de muitas outras instalações como essa no futuro.

Short teaser Cada vez mais navios adotam os motores elétricos, mas novo modelo ainda traz desafios.
Author Gero Rueter
Item URL https://www.dw.com/pt-br/propulsão-elétrica-em-vez-de-diesel-o-futuro-do-transporte-marítimo/a-72312003?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 38
Id 72119729
Date 2025-04-04
Title Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança
Short title Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança
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Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau

Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e de extermínio do nazismo. Ser um jogador ou lutador importante podia trazer privilégios e esperança, ou perseguição cruel.Os campos de concentração do nazismo eram locais de horror e morte, de tortura e humilhação para os detentos. Para esse fim, o pessoal de vigilância também os submetia regularmente a exercícios esportivos cruéis. "Os guardas mandavam os presos fazerem flexões ou saltarem, ou correrem até cair de exaustão", conta a historiadora do esporte Veronika Springmann, autora do livro Gunst und Gewalt – Sport in nationalsozialistischen Konzentrationslagern (Favoritismo e violência – Esporte nos campos de concentração nacional-socialistas). Quem estava no chão geralmente ainda era chutado e insultado: "Era realmente um ritual cotidiano." Além do esporte imposto com violência, havia atividades esportivas que os prisioneiros praticavam de forma mais ou menos espontânea. Devido às condições desumanas, submetidos a duros trabalhos forçados ou experimentos médicos macabros, para a maioria deles não era como praticar esporte como lazer. E tampouco havia lugar para tal nos campos. Além disso, havia uma hierarquia interna estrita. O fato de pertencer a um determinado grupo definia, em grande parte, as condições de prisão e, portanto, as chances de sobrevivência. Por exemplo: presos políticos ou criminosos profissionais em geral recebiam tratamento melhor do que judeus, homossexuais ou os assim chamados "antissociais". Quem estava mais no alto na hierarquia era menos maltratado pelos guardas, recebia trabalho e alojamento melhor, roupas mais quentes, tinha acesso a mais comida, estando, portanto, mais apto praticar esportes. No total, porém, o número desses privilegiados era pequeno. Entre eles estavam os "presos funcionais" (Funktionshäftlinge), designados para vigiar os companheiros e manter a ordem. Enquanto alguns se tornaram assim cúmplices do horror do sistema de concentração e extermínio, outros aproveitavam sua posição melhor para proteger outros detentos. Futebol e boxe para sobrevivência e esperança Dentro dos campos de concentração, promoviam-se regularmente partidas de futebol e lutas de boxe. Com o avançar da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942 as condições mudaram para alguns dos prisioneiros. "A mão de obra dos internos era necessária para a indústria armamentista", explica Springmann. "Todas as firmas do setor produziam nos campos de concentração ou em instalações externas. Os que trabalhavam especialmente bem, ou que atuavam como presos funcionais, tinham permissão para organizar partidas de futebol." Assim, o número de jogos aumentou. Os times eram, em geral, divididos por nações, embora raramente tivessem 11 jogadores completos. Os detentos tentavam até mesmo providenciar uniformes. No memorial do campo de Dachau, próximo a Munique, está exposta uma taça de madeira. Organizar esses eventos também tinha a ver com esperança. "Planejamento está sempre direcionado para o futuro", lembra a historiadora do esporte. "Ou seja: eu espero que ainda vá estar viva amanhã, depois de amanhã, no próximo domingo. Isso fortalece e dá esperança. E esperança é um recurso importante para a sobrevivência" Entretanto é preciso jamais esquecer que apenas uma parcela mínima dos presos tinha permissão ou condições para participar dos jogos – que, além disso, se realizavam num ambiente em que paralelamente se torturava e assassinava. Lutando e jogando para sobreviver Enquanto para os detentos e sobreviventes do sexo masculino havia diversas opções para praticar esportes, o mesmo não se aplicava às mulheres: "Naquela época o esporte simplesmente não contava como uma prática cotidiana feminina", explica Springmann. "Mas eu partiria do princípio de que no campo de concentração de Ravensbrück, por exemplo, as prisioneiras fizessem ginástica de vez em quando. Mas elas não escreveram a respeito." Havia entre os presos também atletas profissionais, mas, como eles não eram tão presentes na imprensa como hoje em dia, muitas vezes passavam despercebidos pelos guardas dos campos de concentração. No início do século 20, Julius Hirsch era considerado um dos melhores futebolistas da Alemanha, duas vezes campeão nacional e integrante da seleção nacional entre 1911 e 1913. Por ser judeu, em março de 1943 foi deportado para Auschwitz e lá morreu. No entanto não está documentado que ele tenha sido identificado como ex-craque, ou que sequer tenha jogado lá. O boxe era um esporte importante e popular para os nazistas. Alguns profissionais foram reconhecidos nos campos de concentração ou se apresentaram quando os guardas procuravam concorrentes talentosos para as lutas que organizavam para sua própria diversão. Dois exemplos foram o polonês Antoni Czortek – participante dos Jogos Olímpicos de Berlim, em1936 – e o tunisiano Victor Perez – campeão mundial de peso-mosca em 1931 e 1932. Como judeus, ambos foram internados em Auschwitz em 1943, onde por diversas vezes tiveram que enfrentar outros detentos. Era literalmente questão de vida ou morte: o perdedor ou era abatido a tiros imediatamente ou enviado para morrer nas câmaras de gás. Assim, com ironia macabra, o boxe salvou várias vidas nos campos de concentração nazistas. Czortek só morreu em 2003, aos 89 anos; Perez sobreviveu a Auschwitz, mas não ao Holocausto: ele foi fuzilado em janeiro de 1945, numa das "marchas da morte" em que, no fim da Segunda Guerra, os presos dos campos perto do front eram transferidos de lugar, à medida que os Aliados avançavam. Para Johann "Rukeli" Trollmann, a arte do boxe não trouxe vantagens: o ex-campeão de peso-médio da Alemanha era cigano da etnia sinti, e quando seu passado veio à tona, os guardas do campo de concentração passaram a espancá-lo com frequência e crueldade extremas. Ele morreu em 1944 no campo secundário de Wittenberge: tendo vencido um dos "kapos" numa luta, foi abatido pouco mais tarde pelo perdedor, traiçoeiramente, durante os trabalhos forçados.


Short teaser Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e extermínio do nazismo.
Author Andreas Sten-Ziemons, Alima Hotakie
Item URL https://www.dw.com/pt-br/esporte-no-campo-de-concentração-entre-tortura-e-esperança/a-72119729?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/71387605_354.jpg
Image caption Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau
Image source Sven Hoppe/dpa/picture alliance
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Item 39
Id 71689720
Date 2025-02-20
Title Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora
Short title Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora
Teaser

Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney

Antigo presidente da federação de futebol da Espanha Luis Rubiales foi condenado a pagar quase 11 mil euros por beijar atleta na boca sem consentimento na Copa de Sydney, em 2023. Ele pretende recorrer da sentença.A Justiça da Espanha condenou nesta quinta-feira (20/02) o ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, a pagar 10.800 euros (R$ 64,2 mil) pelo crime de agressão sexual, por beijar a jogadora Jennifer Hermoso na boca após a conquista da Copa do Mundo em Sydney em 20 de agosto de 2023, sem o consentimento dela. Por outro lado, Rubiales foi absolvido do crime de coação sobre a jogadora para declarasse que o gesto fora consensual. O ex-técnico da seleção feminina espanhola, Jorge Vilda, e outros dois ex-diretores, Albert Luque y Rubén Rivera, também foram absolvidos de coação. Luque era diretor de futebol da seção masculina, enquanto Rivera, gerente de marketing da federação, acompanhou as jogadoras na viagem à ilha de Ibiza, no Mediterrâneo, com a qual foram premiadas pela conquista da Copa do Mundo. Restrições a contato com jogadora A decisão do juiz José Manuel Fernández-Prieto, da Audiência Nacional, onde foi realizado o julgamento, também proíbe Rubiales de se aproximar de Hermoso num raio de 200 metros e de se comunicar com ela por um ano. O Ministério Público da Audiência Nacional havia solicitado uma pena total de dois anos e seis meses de prisão para Rubiales, dos quais um ano pelo crime de agressão sexual, mais um ano e meio por coação. Por este último crime, o representante do Ministério Público também havia pedido uma pena de um ano e seis meses para os outros três acusados. O advogado de Rubiales já anunciou que recorrerá da sentença. Beijo acabou com carreira do dirigente "Rubi", como é chamado pelos amigos, era presidente da RFEF desde maio de 2018. Ele viu sua carreira desandar após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina em Sydney. Em 20 de agosto de 2023, diante das câmeras, ele agarrou a cabeça de Hermoso com as duas mãos e a beijou de surpresa na boca: um ato "espontâneo", em sua opinião, mas "inapropriado" para Hermoso, que negou ter dado seu consentimento. Diante da indignação pública, Rubiales pediu demissão em setembro de 2023 e encerrou uma carreira no futebol iniciada aos 14 anos de idade, quando ingressou no clube da pequena cidade de Motril, em Andaluzia, no sul da Espanha. Nascido em Las Palmas há 47 anos, Luis Manuel Rubiales Béjar iniciou uma carreira discreta nas divisões inferiores antes de pendurar as chuteiras na Escócia com o Hamilton Academical em 2009. Escândalos Extrovertido e franco, Rubiales foi cercado por escândalos durante seu período à frente da RFEF. Ele causou alvoroço ao demitir o técnico da seleção espanhola Julen Lopetegui dois dias antes do início da Copa do Mundo de 2018. Reeleito em 2020, transferiu a Supercopa da Espanha para a Arábia Saudita, num contrato controverso que foi examinado pelo Judiciário por suspeita de corrupção e acordos irregulares durante seu mandato. Ele chegou a ser detido no contexto do caso, que também envolve o ex-jogador do FC Barcelona Gerard Piqué, cuja empresa teria recebido uma comissão de 1 milhão de dólares para intermediar o acordo com Riad. Rubiales negou qualquer irregularidade. Mas o ex-cartola é também reconhecido por ter aumentado a renda e o patrocínio da federação, e procurado melhorar as condições do futebol juvenil, o que lhe rendeu o apoio das federações regionais. Ele também multiplicou o orçamento para o futebol feminino, embora tenha enfrentado a "rebelião das 15" que exigia melhorias estruturais e teve apoio de Jenni Hermoso. Desde que caiu em desgraça, Rubiales tem vivido discretamente na cidade andaluza de Granada como “só mais um vizinho”, segundo a mídia espanhola. md/av (EFE, AFP)


Short teaser Ex-chefe da federação de futebol condenado a pagar 11 mil euros por beijar atleta anuncia que recorrerá da sentença.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/ex-cartola-espanhol-condenado-por-beijo-forçado-em-jogadora/a-71689720?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney
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Item 40
Id 70932615
Date 2024-12-01
Title Briga de torcidas deixa 79 feridos no leste da Alemanha
Short title Briga de torcidas deixa 79 feridos na Alemanha
Teaser Partida da quarta divisão do futebol alemão em Jena, no leste do país, foi marcada por confrontos com a polícia e brigas entre torcedores rivais.

Confrontos entre torcedores antes e durante uma partida de uma liga regional de futebol do leste da Alemanha no sábado (30/11) deixaram 79 feridos, incluindo dez policiais e cinco seguranças.

Os incidentes ocorreram na cidade de Jena, no estado da Turíngia, e tiveram como pano de fundo uma partida entre o Carl Zeiss Jena e o BSG Chemie Leipzig, duas equipes que disputam a Regionalliga Nordost, liga equivalente à quarta divisão do futebol alemão.

Além dos 79 feridos - que incluíram 64 torcedores de ambos os times -, foram registradas 40 acusações criminais e de contravenção.

Jena fica a cerca de 100 quilômetros de Leipzig, cidade-sede do rival Chemie e que fica no estado da Saxônia. Apesar de ambas às torcidas serem associadas à ideologia de esquerda, as autoridades esperavam confusão, e a partida foi considerada de alto risco devido à antipatia entre os grupos de torcedores.

Uma multidão de 7.224 espectadores, incluindo 1.084 torcedores do Chemie, compareceu à partida em Jena.

De acordo com a polícia, cerca de 350 torcedores do visitante Chemie fizeram uma marcha pela cidade antes do jogo, sem aviso prévio. Durante o ato, torcedores dispararam fogos de artificio e a polícia disse que teve de intervir "com o uso de força física e violência física, além de cassetetes e gás lacrimogêneo".

Mais tarde, durante a partida - vencida pelo Carl Zeiss Jena por 5 a 0 -, houve confrontos entre as duas torcidas dentro do estádio.

Clubes condenam a violência

O Carl Zeiss Jena divulgou uma declaração no domingo sugerindo que grande parte da culpa foi dos torcedores visitantes. "Um grande grupo de aproximadamente 1.200 torcedores visitantes do Leipzig rompeu violentamente a barreira entre o bloco de visitantes e o Bloco N e obteve acesso à área da torcida do Jena", apontou o comunicado.

"Acima de tudo, o FC Carl Zeiss Jena deseja aos afetados uma rápida recuperação. O clube terá um quadro abrangente do que aconteceu nos próximos dias.”

O Chemie Leipzig adotou uma postura semelhante, criticando "a má conduta de uma minoria" de seus torcedores.

"Como clube, sofremos grandes danos ontem. De acordo com nossas evidências, fogos de artifício foram lançados repetidamente do setor visitante em direção ao setor da torcida adversária", disse um comunicado no site do clube. "Condenamos a violência na forma de confrontos físicos, especialmente o uso de fogos de artifício contra pessoas. Isso não tem lugar em nossos jogos de futebol e não será tolerado por nós."

Ambos os clubes disseram que ainda pretendem investigar os incidentes.

jps (DW, dpa, ots)

Short teaser Partida da 4° divisão do futebol alemão no leste do país foi marcada por confrontos com a polícia e briga de torcidas
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Item 41
Id 70919291
Date 2024-12-01
Title A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids
Short title A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids
Teaser Em 1991, o então astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se um marco na luta contra a aids. Até hoje, ele segue empenhado em campanhas de esclarecimento sobre a doença.

Em meio a lágrimas dos repórteres veteranos, Earvin "Magic" Johnson permanece calmo. "Vou ter que me aposentar do Lakers porque contraí o vírus HIV", afirma. O astro do basquete tinha 32 anos quando proferiu essa frase, com voz firme, em 7 de novembro de 1991. Em seguida, acrescentou que não tinha aids, mas apenas HIV, o que havia sido confirmado pelo Dr. Michael Mellman pouco antes da coletiva de imprensa.

O médico do Los Angeles Lakers havia chamado Johnson depois de uma viagem do time para lhe dar a má notícia. "Quando ele me contou pela primeira vez, eu pensei: 'Ah, cara, eu vou morrer. Acho que acabou'. E ele disse: 'Não, não, não acabou'", lembrou Johnson mais tarde em uma entrevista à emissora pública PBS. Melman lhe disse que ele tinha que começar a tomar medicação e aprender a se sentir confortável com sua nova condição. Assim, poderia viver por muito tempo.

Em 1991, a infecção pelo HIV ainda era considerada uma sentença de morte pela opinião pública. Isso explica por que a coletiva de imprensa de Johnson causou um choque tão grande, comparável, para alguns, com a morte de John F. Kennedy, assassinado em 1963, ou com a renúncia de Richard Nixon após o caso Watergate em 1974.

"Magic" Johnson estava no auge da carreira e era uma superestrela do esporte em todo o mundo. Ele havia conquistado cinco títulos da NBA com o Lakers e tinha sido eleito o Jogador Mais Valioso (MVP) da temporada três vezes. "Magic" Johnson era famoso em quase todo o mundo.

Até então, muitos viam a aids como uma doença que só afetava gays ou viciados em drogas. Johnson, entretanto, não pertencia a nenhum desses grupos.

"Agora estou me tornando um porta-voz do HIV porque quero que as pessoas entendam que não há como evitar o sexo seguro. Às vezes, pensamos que somente os homossexuais podem contrair o vírus, que isso não pode acontecer comigo. Mas agora estou aqui para dizer que pode acontecer com qualquer um, até comigo. Todos deveriam ter mais cuidado", disse Johnson.

Dois meses antes do anúncio, em setembro de 1991, Johnson havia se casado com sua esposa Cookie. Na coletiva de imprensa, disse que sua esposa grávida não era portadora do vírus. Foi somente mais tarde que ele revelou que havia contraído o HIV durante relações sexuais desprotegidas com outra mulher.

"Efeito Johnson" em testes de HIV

Ainda em 1991, o astro do basquete criou a Fundação Magic Johnson, que apoia financeiramente grupos e campanhas contra a aids. E ele nunca se cansou de engajar ações para afetados e para aumentar a conscientização sobre a doença. Em 1º de dezembro de 1999, no Dia Mundial da Aids das Nações Unidas, ele foi um dos principais oradores, descrevendo a doença como "inimigo público número um".

As palavras de Johnson não foram em vão. Em 2021, cientistas americanos estimaram que a coletiva de imprensa de 7 de novembro de 1991 fez com que um número significativamente maior de homens nos EUA fizesse o teste de HIV nos meses seguintes, principalmente entre heterossexuais negros e hispânicos em cidades com clubes da NBA.

A carreira de "Magic" Johnson, porém, não terminou naquele dia de novembro. Em 1992, ele jogou no time All-Star da NBA pela conferência oeste – esse jogo coloca frente a frente jogadores de equipes do leste e do oeste dos EUA. No mesmo ano, fez parte do chamado "Dream Team" que ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona.

Na temporada 1995/96, Johnson comemorou outro retorno como jogador do Lakers antes de se aposentar definitivamente. Em homenagem ao ex-atleta, o clube aposentou a camisa número 32. E "Magic" Johnson entrou para o Hall da Fama do Basquete em 2002.

Bilionário e filantropo

"Magic" Johnson está agora com 65 anos. Investiu com sucesso o dinheiro que ganhou no esporte, em imóveis, cinemas e empresas como a seguradora de vida EquiTrust e a rede de cafeterias Starbucks. A revista Forbes estima que a fortuna atual de Johnson seja de 1,2 bilhão de dólares.

Há muito tempo, a Fundação Magic Johnson apoia não somente projetos de combate à aids, mas também outras organizações ligadas à educação, à saúde e que atuam para atuar carências sociais em cidades etnicamente diversas. Johnson está sempre envolvido, geralmente acompanhado de sua esposa Cookie e, com frequência, de seus filhos Earvin "EJ", Elisa e Andre, de um relacionamento anterior.

Quando Johnson foi diagnosticado com HIV em 1991, havia apenas um medicamento contra a aids no mercado, a azidotimidina, ou AZT. Atualmente, há várias substâncias ativas que ajudam a reduzir a carga viral do HIV. Quando bem-sucedido, o sistema imunológico do paciente se recupera e ele pode viver e trabalhar normalmente. O HIV é considerado altamente tratável, se a infecção for detectada precocemente e o tratamento for iniciado imediatamente.

Mas ainda há uma clara divisão entre os hemisférios Norte e Sul: o número de soropositivos no mundo todo é estimado em cerca de 40 milhões, com mais da metade vivendo no sul da África. Um quarto de todas os infectados não recebe nenhum medicamento.

"Não estou curado. Apenas tomei minha medicação. Estou fazendo o que devo fazer e, graças a Deus, o HIV no meu sistema sanguíneo e no meu corpo está praticamente morto. E não queremos que nada o desperte", disse Johnson em uma entrevista à PBS há alguns anos.

Short teaser Em 1991, astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se marco na luta contra o vírus.
Author Stefan Nestler
Item URL https://www.dw.com/pt-br/a-luta-de-magic-johnson-contra-o-hiv-e-a-aids/a-70919291?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 42
Id 70326170
Date 2024-09-25
Title Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher
Short title Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher
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Michael Schumacher e sua mulher, Corinna, em 2001

Três homens são acusados de exigirem 15 milhões de euros dos parentes do heptacampeão de Fórmula 1 em troca da não publicação de imagens privadas.O Ministério Público de Wuppertal, oeste da Alemanha, apresentou nesta quarta-feira (25/09) acusações contra três homens por supostamente tentarem extorquir dinheiro da família do ex-piloto de Fórmula 1 Michael Schumacher para não publicarem imagens privadas dele. Os três acusados são um segurança de boate, 53 anos, seu filho, de 30 anos, e um ex-funcionário de segurança da família do ex-campeão mundial, de 53 anos. De acordo com a investigação, o ex-funcionário da família de Schumacher disponibilizou gravações privadas ao segurança, que as teria adquirido para tentar fazer chantagem contra a família do ex-piloto. Telefonemas exigindo 15 milhões de euros Os supostos criminosos fizeram várias ligações exigindo 15 milhões de euros (R$ 79 milhões) da família Schumacher, caso contrário publicariam arquivos e materiais privados, obtidos e fornecidos pelo próprio ex-funcionário. No momento da primeira prisão, em junho, foram apreendidos até 1.500 documentos, incluindo fotografias, vídeos e relatórios médicos do alemão em discos rígidos, pen drives e telefones celulares. Os investigadores dizem que o material contém fotos e vídeos particulares da coleção da família, alguns tirados antes e outros depois do acidente de esqui de Schumacher em 2013. O segurança de boate implicou seu filho no momento da prisão (ele foi o primeiro a ser preso), que foi liberado sob fiança com a obrigação de se apresentar, e foi o pai que revelou aos investigadores a identidade da pessoa que lhes forneceu os documentos de Schumacher.Duas semanas depois, o ex-funcionário dos Schumacher foi preso em seu apartamento em Wülfrath, no estado de Renânia do Norte-Vestfália, onde foram confiscados mais dispositivos eletrônicos contendo material sensível do sete vezes campeão mundial de Fórmula 1. O caso não é o primeiro envolvendo de tentativa de chantagem contra os Schumachers. Em 2017, um homem de 25 anos recebeu uma sentença suspensa de 21 meses de prisão por exigir 900 mil euros da mulher do ex-piloto, Corinna Schumacher. Esse caso foi julgado em Reutlingen, no sudoeste da Alemanha. Em 2013, ex-piloto sofreu uma grave lesão na cabeça em um acidente de esqui na França, tendo passado quase seis meses em coma induzido. Desde então, tem sido recebido cuidados em sua casa na Suíça, longe da mídia, e não se sabe exatamente qual é sua condição física. md (EFE, AFP, DPA, SID)


Short teaser Três homens são acusados de exigirem dinheiro dos parentes do ex-piloto em troca da não publicação de imagens privadas.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/promotoria-acusa-trio-de-chantagem-contra-família-schumacher/a-70326170?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/67834031_354.jpg
Image caption Michael Schumacher e sua mulher, Corinna, em 2001
Image source Oliver Multhaup/dpa/picture-alliance
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Item 43
Id 64814042
Date 2023-02-25
Title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
Short title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
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O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia

UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção. Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março. Lei antioligarca De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda. Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias. Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado. Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares. Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados ​​por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas. Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares. Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país. Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros. A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões. Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares. Não existem mais oligarcas ucranianos? Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política. Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los". De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE. Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra. "Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos. Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.


Short teaser UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas.
Author Eugen Theise
Item URL https://www.dw.com/pt-br/qual-ainda-é-o-real-poder-dos-oligarcas-ucranianos/a-64814042?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/61090061_354.jpg
Image caption O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia
Image source Daniel Naupold/dpa/picture alliance
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/61090061_354.jpg&title=Qual%20ainda%20%C3%A9%20o%20real%20poder%20dos%20oligarcas%20ucranianos%3F

Item 44
Id 64820664
Date 2023-02-25
Title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Short title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
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Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil

De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02). A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes. Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros. O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro. Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado. Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos. De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas. Turquia começa reconstrução As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção. Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep. Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente. Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad. Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados. Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares. Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores. Istambul precisa de 40 bilhões de dólares Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto. "A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico. De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia. Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil. le (EFE, DPA, Reuters, ots)


Short teaser De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos.
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Item 45
Id 64819106
Date 2023-02-25
Title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
Short title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
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"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,

Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado. Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética. Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia. Acordo após mais de 24 horas de reuniões As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões. "Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter. O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca. Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen. O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE. Sanções contra firmas iranianas Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia. As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas. Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco. O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia. No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional. md (EFE, Reuters, AFP)


Short teaser Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou.
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Item 46
Id 64816115
Date 2023-02-24
Title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
Short title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
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Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia

Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia. Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou. Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor." Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz. "No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter. Estreitar laços O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra. Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou. Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo". O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra". Proposta da China Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países. "Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou. Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev. cn/bl (Reuters, AFP, Efe)


Short teaser Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev.
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Item 47
Id 64811757
Date 2023-02-24
Title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Short title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Teaser Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado.

Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos.

Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares.

Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia.

Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%.

No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente.

Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim.

"A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico.

A proposta da China para a guerra na Ucrânia

Até a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta.

Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito.

No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada.

"A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW.

Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia.

O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais.

"Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia.

"No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou.

Mediador duvidoso

Além disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou.

Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin.

"É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner.

Campanha de relações públicas sem riscos

A proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática.

"O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura.

"Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou.

"Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner.

Outros pontos da proposta

O texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais.

A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta.

"O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang.

Short teaser Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia.
Author Alena Zhabina
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Item 48
Id 64811407
Date 2023-02-24
Title Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin
Short title Zelenski, o presidente subestimado por Putin
Teaser Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente.

As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo.

Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!".

"Preciso de munição, não de carona"

Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido.

A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos.

A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo.

Câmeras, as armas mais poderosas de Zelenski

Em seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana.

No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos".

No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo.

Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas.

Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação.

Putin não levou Zelenski a sério

Muitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin.

A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia.

Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado.

Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente.

Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir.

Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos.

Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar.

Nem tudo é fácil

Isso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos.

Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana.

O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia.

Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana.

Short teaser Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores.
Author Roman Goncharenko
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Item 49
Id 64810396
Date 2023-02-24
Title Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Short title Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão?
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Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia

Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online. Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa. "Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema." A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha". Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída. Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real. Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala. "Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW. Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos. Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento. Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real. "Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman. Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização. "É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman. Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse. "Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman. Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos. O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum". "Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças. Fadiga por compaixão em relação a refugiados Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia. "Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW. Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo. É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África. "Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa. A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo. "Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW. Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis. "Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW. Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida. Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.


Short teaser Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia.
Author Fred Schwaller
Item URL https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia
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Item 50
Id 64809638
Date 2023-02-24
Title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
Short title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
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Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos. Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março. Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados. Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos. Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas." Pressão por interdição total do TikTok nos EUA Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos. O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas". "Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro. Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China. TikTok nega ingerência de Pequim Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos. Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados. Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados. av/bl (AFP, Reuters, ots)


Short teaser Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos.
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Item 51
Id 64800152
Date 2023-02-24
Title Como e quando poderia haver paz na Ucrânia?
Short title Como e quando poderia haver paz na Ucrânia?
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Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar

Um ano após o início da guerra, nenhum dos lados parece disposto a negociações. Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para o conflito.Dezenas de milhares de soldados mortos e mutilados dos dois lados, milhares de vidas de civis ucranianos perdidas, cidades destruídas. A isso se somam uma crise energética mundial, inflação em diversos países em desenvolvimento e fome. Este é o balanço de uma guerra que, depois de um ano, parece longe de ter fim. O presidente russo, Vladimir Putin, não alcançou seu objetivo de conquistar totalmente a Ucrânia. Mas a Rússia ocupa atualmente um quinto do território vizinho. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por sua vez, afirma reiteradamente que pretende reconquistar toda a área tomada pelos russos – inclusive a Península da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014. Em discurso sobre o estado da naçãona última terça-feira (21/02), Putin não se mostrou disposto a ceder – pelo contrário. "É impossível derrotar nosso país no campo de batalha", afirmou. O mandatário escalou o discurso com o anúncio da suspensão da participação da Rússia no tratado de desarmamento nuclear New Start, o último acordo do tipo ainda em vigor entre Moscou e Washington. O anúncio parece ter sido uma reação à visita surpresa do presidente americano, Joe Biden, a Kiev no dia anterior. Biden garantiu a continuidade do apoio dos EUA a Zelenski. "Não se trata apenas da liberdade da Ucrânia. Trata-se da própria liberdade da democracia", disse Biden. Em seguida, em visita à capital polonesa, Varsóvia, Biden reforçou que a Ucrânia "jamais será uma vitória para a Rússia". Porém, tanto entre os republicanos no Congresso americano quanto entre a população dos EUA, a disposição em apoiar a Ucrânia no longo prazo está diminuindo. Temor de uma terceira guerra mundial A pressão para negociações de paz também aumenta na Alemanha. A mais recente Deutschlandtrend – pesquisa de opinião mensal da emissora pública ARD, realizada pelo instituto Infratest dimap – mostra que 58% dos entrevistados consideram que os esforços diplomáticos para encerrar a guerra são insuficientes – um recorde histórico. Uma petição encabeçada por Sahra Wagenknecht, da legenda A Esquerda, e pela feminista Alice Schwarzer pede o início imediato de negociações de paz e o fim do envio de armas à Ucrânia pela Alemanha, que reviu seu pacifismo de décadas e adotou uma postura voltada à remilitarização com o início do conflito. O documento, assinado por teólogos, artistas e políticos, alerta contra uma nova guerra mundial. O embaixador ucraniano em Berlim, Oleksei Makeiev, disse a um portal alemão de notícias que não consegue entender esse temor: "A Ucrânia já está na Terceira Guerra Mundial. A Rússia lidera uma guerra de aniquilação contra nós." Reconquista de territórios ocupados Já no ano passado, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, descartou, em entrevista à DW, passos unilaterais para alcançar a paz. O motivo: "Se a Ucrânia encerrar os combates, vai deixar de existir como Estado independente." Por isso, segundo Stoltenberg, Kiev precisaria vencer a guerra. Para que a Ucrânia possa manter sua liberdade, países ocidentais vêm reforçando seu auxílio militar à nação invadida pela Rússia. No início deste ano, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, decidiu após longa hesitação, enviar tanques alemães à Ucrânia, depois que os EUA e outros países da Otan, como o Reino Unido, anunciaram o envio de blindados a Kiev. Especialmente o modelo Leopard 2, fabricado na Alemanha, poderia ajudar a "superar a desvantagem da Ucrânia no campo de batalha", afirmou o coronel reformado Roderich Kiesewetter, que também é político do partido conservador alemão CDU, em mensagem por escrito à DW. "Mas, se os ucranianos conseguirão uma virada na linha de frente, dependerá do número, do tempo de fornecimento e da continuidade do envio de tanques", avalia. A Ucrânia não espera só rechaçar ataques russos com os blindados. O consultor em segurança Nico Lange, que desde julho de 2022 trabalha para a iniciativa Zeitenwende da Conferência de Segurança de Munique e já ocupou posições de liderança na Fundação Konrad Adenauer, ligada à CDU, considera "realistas as chances militares de a Ucrânia reconquistar a totalidade dos territórios ocupados [pela Rússia] e, assim, reconstituir a paz". Em entrevista à DW, Lange diz acreditar que "Putin só estará disposto a negociar quando a situação militar ficar tão favorável à Ucrânia que ele entenderá que não vai conseguir vitórias com essa guerra de agressão". O general aposentado da Bundeswehr Helmut Ganser não partilha dessa visão. Na edição de fevereiro da publicação especializada em política internacional Journal für Internationale Politik und Gesellschaft, ele traça dois cenários para uma contraofensiva ucraniana rumo ao sul do país, na direção do Mar de Azov, com a atuação de tanques ocidentais. No quadro mais pessimista, a ofensiva ucraniana ficaria atolada em meio à defesa maciça da Rússia. Para esse caso, Ganser já tenta preparar a opinião pública ocidental para "imagens de tanques Leopard destroçados", que a Rússia divulgaria na internet com prazer. Para Ganser, o cenário mais otimista é ainda mais perigoso: as unidades de blindados avançariam até o Mar de Azov e ficariam diante da Península da Crimeia. O ex-general suspeita que seria no máximo nesse momento que Putin "expandiria a área total da guerra ao território dos países ocidentais apoiadores", e alerta: "Está aumentando o perigo de um deslizamento lento e, na verdade, não intencional, rumo a uma grande catástrofe para toda a Europa." Já Lange vê a ameaça nuclear da Rússia como "um instrumento de guerra psicológica". Ele não apenas considera uma reconquista da Crimeia "possível do ponto de vista militar", mas endossa também a tentativa como algo aconselhável: "Exatamente pelo fato de que [perder] a Península da Crimeia seria uma vergonha para Vladimir Putin, a pressão militar sobre a Crimeia é uma possibilidade de fazer com que a Rússia se disponha a negociar", avalia. Onde está o limite? Os especialistas ouvidos pela DW se dividem quanto à possibilidade de a pressão militar aumentar ou a disposição de negociar da Rússia ou o risco de uma guerra nuclear. O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), sempre sublinhou que a Alemanha não pode se tornar parte diretamente envolvida no conflito. Por isso, houve longa hesitação do país em decidir enviar tanques à Ucrânia, e Scholz ainda descarta o envio de aviões de guerra a Kiev. Biden também não prometeu caças a Zelenski. Já o político da CDU e ex-militar Kiesewetter não "traçaria linhas vermelhas no que se refere a certos sistemas de armas". No contexto do direito internacional, um país só se transforma em parte envolvida numa guerra quando se envia soldados próprios, aponta Kiesewetter, que descarta tal cenário. Objetivos incompatíveis de pacificação Porém, entre os países que apoiam a Ucrânia, há muitos que acreditam que não será possível encerrar o conflito sem alguma disposição de Kiev de chegar a um acordo político. Na própria Ucrânia, essa vontade é quase imperceptível, segundo avalia o jornalista Roman Goncharenko, da redação ucraniana da DW. "Nas primeiras semanas depois da invasão, Kiev estava disposta a fazer concessões, como neutralidade em vez de se tornar país-membro da Otan. Mas a brutalidade do Exército russo e a anexação de mais regiões praticamente impossibilitaram a busca de um compromisso. Uma pesquisa encomendada pela Conferência de Segurança de Munique mostrou que 93% dos ucranianos veem uma retirada completa da Rússia – também da Crimeia – como condição para um cessar-fogo", explica Goncharenko. Um cenário irrealista na avaliação do cientista político Johannes Varwick, da Universidade alemã de Halle: "Muito provavelmente, no final, haverá uma Ucrânia neutra que não ficará na zona de influência do Ocidente ou da Rússia de forma nítida", especula. Varwick vê urgência numa iniciativa de negociação do Ocidente. "Se, ao final de uma guerra longa ou que foi intensificada, tivermos o mesmo resultado que já seria possível hoje, não faz sentido continuar lutando com dezenas de milhares de mortos e pessoas traumatizadas", pontua. Há sinais reais de pacificação? Na última semana, a embaixada russa em Berlim divulgou o seguinte tuíte: "Todas as ações de combate terminam em negociações, estamos dispostos a elas. Mas apenas a negociações sem condições prévias e com base na realidade válida e considerando os objetivos que comunicamos publicamente." Uma declaração que não pode ser interpretada como disposição a um acordo. A "realidade válida" inclui a ocupação russa de um quinto da Ucrânia, enquanto um dos objetivos era até mesmo a aniquilação completa do Estado ucraniano. Durante a Conferência de Segurança de Munique deste ano, a China anunciou um plano de paz. Os governos do Ocidente, no entanto, veem o anúncio com ceticismo devido ao fato de a China nunca ter condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia. O Secretário de Estado americano, Antony Blinken, também teme que a China possa enviar armas à Rússia – o que Pequim contesta. Vitória militar ou paz com compromissos? O economista americano Jeffrey Sachs escreveu na edição de janeiro da revista britânica The Economist que, para uma solução de paz "credível", é decisivo que "os interesses de segurança mais importantes dos dois lados sejam respeitados". "A soberania e a segurança da Ucrânia precisam ser garantidas, enquanto a Otan precisaria prometer não se expandir para o leste." Sachs espera impulsos de pacificação vindos sobretudo dos países que recusaram uma condenação da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas – além da China, Índia, Brasil e África do Sul, que são parceiros da Rússia no Brics. "Esses países não odeiam nem a Rússia, nem a Ucrânia", afirma o economista. "Eles não querem nem que a Rússia conquiste a Ucrânia, nem que a Otan se expanda para o leste." Kiesewetter, da CDU, alerta contra concessões a Moscou: "É um equívoco pensar que basta dar um pouco de terra para a Rússia para que o país mate sua sede de destruição. E uma eventual conquista de território pela Rússia serviria de modelo para outros países autocráticos definirem novas fronteiras militares, recorrendo a chantagem ou ameaça nuclear." O especialista acredita que principalmente a China já encara a Europa como uma "área de teste", tendo em vista a soberania de Taiwan.


Short teaser Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para a guerra.
Author Christoph Hasselbach
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-e-quando-poderia-haver-paz-na-ucrânia/a-64800152?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/64777649_354.jpg
Image caption Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar
Image source Libkos/AP Photo/picture alliance
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Item 52
Id 64793993
Date 2023-02-24
Title A guerra na Ucrânia em números
Short title A guerra na Ucrânia em números
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Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia

Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em apoio militar e várias sanções. Dez gráficos ilustram as consequências de um ano de guerra de agressão russa.A Rússia está em guerra com a Ucrânia há um ano. Apesar da recaptura bem-sucedida de várias áreas pelo Exército ucraniano, grandes partes do país permanecem sob controle russo. Recentemente, em 19 de janeiro de 2023, as forças ucranianas se retiraram de Soledar, na região do Donbass, e desde então a cidade voltou às mãos dos russos. Milhões de pessoas em fuga De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, a guerra desencadeou a segunda maior crise de deslocamento do mundo. Na Europa, 6,3 milhões de refugiados ucranianos encontraram abrigo até agora. Outros 6,6 milhões de pessoas estão em fuga dentro do próprio país. De acordo com as Nações Unidas, muitas pessoas são deportadas para a Rússia ou instadas a emigrar para lá, especialmente das áreas do leste da Ucrânia. Isso explica o alto número de refugiados na Rússia, país que usam para tentar chegar à União Europeia. Pobreza e recessão De acordo com o Acnur, a situação humanitária na Ucrânia "deteriorou-se rapidamente". Cerca de 40% da população depende agora de ajuda para sobreviver. A situação econômica também é catastrófica. De acordo com o Banco Mundial e o Ministério da Agricultura da Ucrânia, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 35% em 2022. Sessenta por cento da população vive agora na linha da pobreza. A destruição da infraestrutura doméstica pela guerra é estimada em mais de 130 bilhões de euros. Resiliência na Rússia Em contraste com a Ucrânia, a situação na Rússia é menos crítica do que o estimado. Entretanto, os especialistas esperam uma deterioração este ano devido às sanções adicionais da União Europeia (UE) contra a Rússia adotadas em fevereiro deste ano. As projeções para o desenvolvimento econômico da Rússia variam muito: enquanto a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) espera que a economia russa retroceda em 5,6% este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um pequeno crescimento, de 0,3%. As receitas da Rússia provenientes das exportações de energia inicialmente cresceram acentuadamente após a explosão dos preços em março de 2022, mas depois caíram de forma constante. Entretanto, se estabilizaram no nível de dezembro de 2021, anterior à guerra. Em vista da queda dos preços do gás e do petróleo, bem como da diminuição da demanda, especialmente na UE, mas também em vista da estagnação na China, espera-se no ano em curso uma nova queda na receita da Rússia proveniente das exportações de energia. Bilhões para a defesa ucraniana Bilhões de dólares em ajuda militar, humanitária e financeira têm fluído para a Ucrânia desde que a guerra começou. Com mais de 70 bilhões de euros em ajuda, os Estados Unidos encabeçam a lista de países doadores. A UE e seus membros já mobilizaram mais de 50 bilhões de euros. A Alemanha é um dos maiores fornecedores de armas para a Ucrânia. Para 2023, estão previstos 2,2 bilhões de euros em ajuda militar. Em vista da esmagadora superioridade militar da Rússia sobre a Ucrânia, a Otan também expandiu sua presença militar em seu flanco oriental. As chamadas forças de combate multinacionais foram destacadas para os Estados bálticos e a vigilância aérea na região foi reforçada. Queda do preço do trigo Pelo menos uma das catástrofes previstas não se concretizou: uma crise alimentar global devido à escassez de trigo foi evitada. De acordo com os ministérios da Agricultura da Ucrânia e dos Estados Unidos, a produção global de trigo aumentará de 778 milhões de toneladas na safra de 2021/2022 para 783 milhões de toneladas na de 2022/2023. O preço do trigo, que após a invasão russa da Ucrânia atingiu um pico de mais de 430 euros por tonelada no mercado mundial em maio de 2022, voltou a cair para pouco menos de 300 euros a tonelada. O valor aproxima-se assim do preço de antes da guerra, quando o grão era comercializado por 275 euros a tonelada. As perdas de produção na Ucrânia − ainda um dos principais produtores mundiais de trigo − estão sendo compensadas por outros países. A Austrália e a Rússia, em particular, aumentaram sua produção. Segundo a agência de notícias russa Tass, o aumento se deve "à incorporação de quatro territórios ucranianos". Com 102 milhões de toneladas, o Ministério da Agricultura russo também espera uma safra muito maior do que a estimada pelo Departamento de Agricultura americano.


Short teaser Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em ajuda militar: dez gráficos mostram consequências do conflito.
Author Astrid Prange de Oliveira
Item URL https://www.dw.com/pt-br/a-guerra-na-ucrânia-em-números/a-64793993?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/64793020_354.jpg
Image caption Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia
Image source Nina Lyashonok/Avalon/Photoshot/picture alliance
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/64793020_354.jpg&title=A%20guerra%20na%20Ucr%C3%A2nia%20em%20n%C3%BAmeros