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Item 1
Id 71366897
Date 2025-01-21
Title Canadá e México rebatem ameaças de Trump
Short title Canadá e México rebatem ameaças de Trump
Teaser Presidente dos EUA prometeu reprimir a imigração ilegal e impor pesadas tarifas de importação a produtos canadenses e mexicanos. Países prometem reagir na mesma moeda.

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirmou nesta terça-feira (21/01) que seu país defenderá sua soberania e independência ao rebater uma série de declarações feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, logo após seu retorno à Casa Branca.

No mesmo dia, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, prometeu que seu país reagirá de maneira robusta caso Trump cumpra sua ameaça de impor pesadas tarifas sobre as importações do Canadá.

Em seu primeiro dia no cargo, Trump sinalizou a intenção de enviar soldados à fronteira mexicana para conter a imigração ilegal e renovou a ameaça de punir o Canadá com novas taxas alfandegárias. O republicano disse que irá impor tarifas de 25% sobre as importações mexicanas e canadenses, possivelmente a partir de 1º de fevereiro.

O 47º presidente dos EUA também assinou uma série de ordens executivas nesta segunda-feira para designar cartéis de drogas mexicanos como organizações terroristas e declarar a imigração ilegal na fronteira EUA-México como uma emergência nacional. Outra ordem assinada por ele prevê a troca do nome do Golfo do México para "Golfo da América".

Vizinhos prometer reagir

Sheinbaum disse que "é importante sempre manter a cabeça fria e consultar acordos assinados, além de discursos reais". "Sobre os decretos que o presidente Donald Trump assinou ontem, gostaria de dizer o seguinte: o povo do México pode ter certeza de que sempre defenderemos nossa soberania e nossa independência", disse a presidente.

A mexicana, contudo, sinalizou que não vai aceitar a troca de nome da plataforma continental localizada entre os dois países. "Ele diz que o chamará de 'Golfo da América' [...] para nós, ainda é o Golfo do México e para o mundo inteiro ainda é o Golfo do México."

Horas depois de tomar posse, o americano sinalizou que as tarifas punitivas de 25% contra os dois principais parceiros comerciais dos Estados Unidos podem entrar em vigor já em 1º de fevereiro.

O Canadá prometeu forte resistência às ameaças comerciais de Trump, que arriscam desestabilizar sua economia.

"O Canadá responderá e todas as opções estão na mesa", disse Trudeau em coletiva de imprensa, prometendo uma reação "robusta, rápida e comedida", mas que também igualaria dólar por dólar as tarifas americanas.

Acordo de Livre Comércio ainda em vigor

Canadá e México estão, em tese, protegidos pelo Acordo EUA-México-Canadá de Livre Comércio (USMCA), assinado durante o primeiro mandato de Trump e aclamado como "o melhor e mais importante acordo comercial já assinado pelos Estados Unidos".

O pacto substituiu um acordo comercial continental anterior da década de 1990 e incluiu novas disposições trabalhistas destinadas a melhorar os direitos dos trabalhadores no México. O acordo deve ir à revisão em 2026.

Sheinbaum disse que seu governo buscará colaborar com os EUA em questões de segurança e outros temas, e que o país está comprometido em revisar os termos comerciais no próximo ano. "Por enquanto, o tratado comercial continua em vigor", observou a líder mexicana.

O México ultrapassou a China em 2023 e se tornou o maior parceiro comercial dos EUA. Naquele ano, o déficit comercial americano com seu vizinho ao sul aumentou para 150 bilhões de dólares (R$ 903 bilhões).

Os conflitos comerciais entre os três signatários se multiplicaram nos últimos anos, envolvendo, por exemplo, milho geneticamente modificado americano, laticínios canadenses e comércio de autopeças.

Prejuízos à economia canadense

"Este é um momento crucial para o Canadá e os canadenses", alertou Trudeau nesta terça-feira.

O premiê disse que uma guerra comercial seria custosa para os Estados Unidos, mas ressaltou que "também haverá custos para os canadenses".

Economistas avaliam que uma confrontação poderia mergulhar o Canadá em uma recessão. O país envia aproximadamente 75% de suas exportações para os Estados Unidos, lideradas pelos setores de energia e automobilístico.

Uma estimativa divulgada pelo Scotiabank sugere que qualquer interrupção comercial bilateral poderia cortar mais de 5% do PIB canadense, aumentar significativamente o desemprego e impulsionar a inflação.

Antes de tomar posse, Trump brincou que o Canadá poderia ser anexado como 51º estado americano, e chegou a zombar de Trudeau – que renunciou devido às taxas de aprovação em declínio –, chamando-o de "governador" do "Grande Estado do Canadá".

rc (AFP, AP, Reuters)

Short teaser Presidente dos EUA prometeu reprimir a imigração e impor pesadas tarifas de importação a produtos canadenses e mexicanos
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Item 2
Id 71354039
Date 2025-01-21
Title Entrevista com Fernanda Torres: "Eu poderia ter sido uma das crianças de 'Ainda estou aqui'"
Short title "Eu poderia ter sido uma das crianças de 'Ainda estou aqui'"
Teaser Em entrevista à DW, atriz Fernanda Torres destaca que filme de Walter Salles sensibiliza pessoas de diferentes posições políticas sobre a ditadura militar.

Nunca uma brasileira havia ganhado o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama. Em 1999, Fernanda Montenegro foi indicada pela atuação em Central do Brasil, de Walter Salles, que poderia ter lhe valido um Oscar. Mas o prêmio das associações de imprensa de Hollywood teria que esperar 26 anos para ser entregue à sua filha, por um filme do mesmo diretor: Ainda estou aqui, sobre a saga da família de Rubens Paiva no Rio de Janeiro dos anos 70, após a prisão e desaparecimento do ex-deputado.

Em entrevista à DW por e-mail em meio à maratona de divulgação do filme nos Estados Unidos, Fernanda Torres falou de sua gratidão a Eunice Paiva, que ela encarna no filme; da honra de estar ao lado de outras atrizes como Tilda Swinton, Kate Winslet ou Demi Moore; e de seu "pessimismo" quanto às perspectivas de concorrer ao Oscar.

Torres falou ainda do atual "momento distópico" do mundo; da tensão política esquerda-direita no Brasil, de democracia. E do "choque" ao perceber sua proximidade biográfica em relação às crianças daquela família, que perderam o pai nas mãos dos torturadores da ditadura militar. "Meu irmão foi assistir ao filme, e falou: 'Nanda, é a nossa casa.'"

Confira abaixo a entrevista.

DW Brasil: Em 5 de janeiro do 2025, você ganhou o prêmio de Melhor Atriz de Drama no Globo de Ouro por sua atuação como Eunice Paiva no filme Ainda estou aqui. No dia 23 (quinta-feira) sai a lista dos indicados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Ganhar o Globo de Ouro aumenta suas chances de ser indicada à estatueta de Melhor Atriz? Ou você continua "pessimista" em relação à sua indicação ao Oscar? Por quê?

Fernanda Torres: Eu sou pessimista por natureza porque eu odeio alimentar expectativa e depois me frustrar. A gente foi fazendo esse filme assim, um dia atrás do outro, e ele já nos levou a tantos lugares incríveis. Ele já levou mais de 3 milhões aos cinemas no Brasil, já colocou nos cinemas pessoas de diferentes credos, diferentes posições políticas, em torno da questão da suspensão dos direitos civis, adolescentes entendendo o que é realmente viver numa ditadura militar, então eu não sou pessimista deprimida, eu sou pessimista feliz.

Eu saí do palco com o Golden Globes, e tinha uma entrevista nos bastidores e o repórter já me perguntou do Oscar. Eu não sei se as minhas chances aumentam ou diminuem porque quem vota no Oscar são atores, quem vota no Golden Globes são críticos. É claro que esse prêmio aumenta a curiosidade sobre quem é o azarão que levou o Golden Globes, e mais atores, espero, vão ver o filme e talvez se sintam inclinados a me colocar entre as cinco.

Mas é um ano de grandes performances femininas, como eu falei no palco. É um ano de interpretações femininas de mulheres maduras, o que é muito legal. Tenho uma honra imensa de estar entre aquelas mulheres incríveis: Tilda Swinton, Nicole Kidman, Kate Winslet, Pamela Anderson, Demi Moore, que fez um discurso deslumbrante no prêmio. Então eu realmente, eu não sei o que virá porque agora são outros votantes e o fogo em Los Angeles também interrompeu uma série de sessões que a gente faria. Então não sei realmente o que virá, mas o que vier será bem-vindo.

Em entrevista ao Valor Econômico, o diretor do filme, Walter Salles, disse que, com sua atuação, você "convidou diferentes públicos, incluindo o jovem, a refletirem sobre a ditadura e a sociedade que queremos ser no futuro. Ao mesmo tempo, presta homenagem à criatividade brasileira nos memes, o que me faz lembrar do humor do gênio Millôr Fernandes". Como vê a repercussão de Ainda estou aqui entre o público jovem brasileiro? E o que isso significa numa era digital, onde as pessoas dessa faixa etária interagem menos presencialmente?

Esse fenômeno aconteceu na minha vida, porque muita gente não era nem nascida quando eu fiz Os Normais, quando eu fiz a Fátima e Sueli [a dupla que fez com Andréa Beltrão na série Tapas e beijos (Fernanda era Fátima e Andréa, Sueli)], que foram duas das séries na televisão que me tornaram muito popular. E muita gente só me conhecia dessas séries.

Os que não eram nem nascidos me conheceram por causa dos memes que essas séries inspiraram, se tornaram meus fãs de alguma maneira ou tomaram conhecimento da minha existência. Então os memes realmente me deram uma 'sobrevida' entre os mais jovens.

Além de mim tem o Selton Mello, que é um tipo de ator muito parecido comigo: eu escrevo, ele dirige; a gente faz comédia, faz drama, faz cinema, teatro. Então nós dois somos duas figuras muito queridas no Brasil, e que os jovens conhecem pelas maneiras mais diferentes.

Hoje em dia, as pessoas interagem muito através do celular e menos presencialmente. Isso é uma das coisas lindas desse filme: as pessoas sentiram a necessidade de ir até o cinema ter a experiência coletiva nas salas, que é diferente de ver um filme na sua casa. A experiência de assistir um filme numa sala cheia e ter um impacto coletivo, dá uma terceira dimensão e um outro significado ao filme.

Muita gente nova que cresceu na democracia foi ao cinema porque, de repente, escutou falar da "ditadura militar", mas isso era um nome que não tinha muito sentimento envolvido.

Mas no filme você sente a perda daquela família. Você sente a perda daquele pai, a perda da alegria daquela casa. Isso é uma coisa que as pessoas experimentam, e a gente deve isso ao diretor extraordinário, impressionista e profundamente sensível que é o Walter.

Então as pessoas entendem o que é suspensão dos direitos civis, não através de um parágrafo num livro de história da escola, mas através da identificação com os jovens daquela família. E isso realmente fez diferença no Ainda estou aqui. Eu acho que ele teve um sentido de consciência cívica, através da família Paiva, que impactou os jovens. Isso é muito legal.

Depois de uma sessão do filme em Palm Springs (EUA), Walter Salles declarou, respondendo a uma pergunta do moderador, que um eventual boicote da direita ao filme no Brasil "não funcionou". Você acrescentou dizendo que houve quem escrevesse para vocês explicando que não sabia o que estava acontecendo com ele porque era de direita e tinha se emocionado com o filme. Ainda estou aqui conseguiu despir os brasileiros de suas divergências ideológicas? Que papel o filme em si, ou o cinema no geral, exerce para conseguir essa façanha?

A gente está vivendo um momento distópico do mundo, né? Um momento apocalíptico, de muito medo, e acho que quando isso acontece, a ideia de que um governo autoritário, como um "pai autoritário'" – que talvez ponha ordem na casa – cresce.

E o que aconteceu é que muitos jovens, os que cresceram na democracia, e muita gente que viveu o período do milagre econômico – que faz muito tempo – se esqueceu da crise econômica dos anos 80, que se seguiu ao governo militar no Brasil. Então muitas pessoas mais velhas sentem saudades e muitos jovens passaram a acreditar que talvez uma uma economia liberal com "um pouco" de ditadura, ou um "pouco menos" de democracia, traria um futuro melhor para o país.

Eu acho que a democracia não resolveu as nossas grandes mazelas – a desigualdade social; a crise na escola pública, (que, aliás, começou durante o governo militar); a crise na saúde. Mas ela nos trouxe muitas outras coisas.

Muitas pessoas passaram a achar que talvez a democracia fosse a culpada desses problemas, e acho que um filme como esse, através da empatia, da identificação, faz com que a arte produza nas pessoas um sentimento com relação aquela família, permitindo entender o que a violência de Estado provoca. Isso o filme trouxe.

A fala do cara que se dizia de direita, mas que não entendia porque estava tão tocado pelo filme, é por isso, acho. O filme, ao longo da sua trajetória no Brasil, amainou um pouco o caráter binário dos últimos anos de que ou você só pode ser de direita ou de esquerda, e trouxe a discussão um pouco mais para o senso comum de que ninguém aqui gostaria de viver num país sob censura ou que não respeite os direitos humanos e os direitos civis.

Há quem diga que não se deve politizar o Globo de Ouro. No entanto, Ainda estou aqui é um filme político. O próprio presidente Lula, na cerimônia que marcou os dois anos dos ataques golpistas de 8/1, declarou: "Hoje é dia de dizer em alto e bom som: ainda estamos aqui". Em algum momento, você imaginou que o filme ganharia essa repercussão? A que você atribui esse sucesso? E como vê a declaração do presidente Lula?

Primeiro eu quero dizer que você não precisa ser Lula ou não ser Lula. Acho que eu e todos os envolvidos neste filme somos pela democracia. E eu acredito na alternância de poder, que é a base da democracia. O que aconteceu nos últimos anos, que desde a crise de 2008 começou a ser desenhar, foi a ultra extrema direita muito organizada para alimentar o ódio nas redes sociais.

Eu, pessoalmente, sonho pela volta um pouco mais ao centro. Mas o Lula é uma figura importante da nossa luta democrática. Fernando Henrique Cardoso estava orgulhoso quando passou a faixa para o Lula. Ele tem uma história alinhada com a democracia.

Então eu acho que o Lula prestar uma homenagem a esse filme faz sentido, isso não quer dizer que o filme seja pró-Lula ou anti-Lula. Eu acho que a Eunice Paiva reconhecia no Lula uma força democrática e isso é legítimo. Ele é o presidente e tem o direito de prestar uma homenagem a esse filme, à família Paiva, ao Rubens Paiva, assim como qualquer brasileiro, assim como o cara de direita que se sentiu emocionado com o filme.

Ainda lembra da primeira coisa que passou pela sua cabeça ao receber o convite do Walter Salles para interpretar Eunice Paiva em Ainda estou aqui? Era um daqueles convites irrecusáveis que simplesmente não dá para recusar ou, por um motivo ou outro, você pediu alguns dias para pensar? O que mais chamou sua atenção no filme como um todo ou no papel em particular?

Walter já estava pensando em mim, mas eu não sabia, e ele foi me dar o roteiro. Eu fiquei encantada com o roteiro. Eu já tinha lido o livro, que daria quatro temporadas de série, porque ele descreve todo o período do golpe de 64, depois a prisão, tortura e morte do Rubens Paiva e a visão da família sobre aquilo, depois tem o acidente do Marcelo e, finalmente, ela [Eunice Paiva], já uma advogada defendendo as causas indígenas e os direitos humanos e participando da Constituição do Brasil, recebendo o atestado de óbito. Então seria uma temporada de 40 capítulos, quatro temporadas de 10 capítulos, né?

Assim que o livro saiu eu corri para ler porque sou amiga do Marcelo, sou fã dele há muitos anos e sempre quis entender o que tinha acontecido com o Rubens, porque tudo o que a gente tinha do pai do Marcelo era uma foto e a notícia de que ele tinha sido torturado e morto pela ditadura militar, mas eu não sabia os detalhes.

Eu amei o livro e fiquei muito surpresa com a eficiência do corte que o roteiro fez. Disse isso ao Walter e um dia ele me chamou para tomar um café e me convidou para fazer a Eunice. Eu fiquei chocada, porque eu não achava que o encontro era para isso.

No ato eu aceitei, porque era tudo muito emocionante: voltar a trabalhar com Walter, num filme em que também estava a minha mãe… Era um pouco uma junção do Terra estrangeira com Central do Brasil, 30 anos depois. Era uma espécie de alinhavo na nossa vida. Tudo muito emocionante e o que eu fiz foi cair dentro.

Até antes da primeira leitura, eu, sozinha, peguei um coach para mim e fui me preparar para fazer a primeira leitura, porque senti o peso da responsabilidade de encarnar essa mulher.

O que mais me surpreendeu no filme, a primeira vez que eu assisti, foi que nós não parecíamos estar atuando, que aquela casa parecia real. O filme tinha algo de documentarista do Walter, e eu me lembrei de como ele perseguiu isso ao longo de toda a feitura. Ele não queria roupas e uma casa que parecessem ficção. Como ele tinha vivido naquela casa, ele tinha na memória algo muito real daquelas pessoas, e ele não queria fazer ficção, sabe? E às vezes você pode cair nesse erro num filme sobre os anos 70: você acaba fazendo a ficção dos anos 70.

O que me chocou no filme é que eu poderia ter sido uma daquelas crianças. Meu irmão foi assistir ao filme, e falou: "Nanda, é a nossa casa." A minha adolescência foi num carro como aquele da menina no início do filme, eu era uma daquelas crianças, a minha mãe parecia a Eunice Paiva.

Tudo isso era muito, muito fiel no filme. E me impressionou que eu não estivesse parecida comigo, que eu parecesse outra pessoa, que o Selton parecesse tanto o Rubens Paiva, e que, no final, quando as fotos da família entram, não houvesse um pulo entre "Ah, então essa pessoa é aquela". Não. A gente parecia aquelas pessoas, então isso foi o que mais me chocou, que o Walter tenha feito um filme onde ele quase desaparece.

O filme também não te empurra com a música, não empurra com a câmera. O Walter quase some como diretor, e isso é uma obra extraordinária de um diretor – ter a capacidade de sumir, de criar algo que você toma como verdade. Isso é mérito do Walter, absolutamente. Acho que fiquei muito chocada com ele.

Em novembro de 2024, um ano depois do fim das filmagens de Ainda estou aqui, você compartilhou em seu perfil numa rede social a visita que fez à sepultura da Eunice Paiva (1929–2018), em São Paulo. O Marcelo Rubens Paiva disse que, de onde estiver, a mãe dele deve estar "feliz" e "orgulhosa" com o seu sucesso. Se você pudesse dizer algo a Eunice hoje, o que diria?

Eu passei quase um ano na pele da Eunice Paiva. A gente filmou toda uma parte em que ela tem Alzheimer – que foi cortada do filme – e que foi mais um mês de filmagem. Não é nada espiritual, sobrenatural, mas eu senti a presença da Eunice em mim, como se ela estivesse ali pela própria recuperação da memória do gestual, da história dela.

No último dia de filmagem, estava chovendo em São Paulo, e eu falei "eu tenho que ir lá no túmulo dela agradecer". Eu fui sozinha, demorei a achar. Eu fiquei tão emocionada quando achei, porque mais de uma vez durante o filme, eu senti a presença dela em mim. E repito, não de forma sobrenatural, mas pelo próprio esforço de recriá-la.

Eu acho que se tem algo que a gente fez nesse filme foi tentar não transformar a vida dela num melodrama, tentar ser fiel ao desejo dela de estar inteira, com a espinha no lugar, acreditando e apostando na vida, mesmo vivendo uma tragédia grega, que é o que ela vive e viveu mais de uma vez.

Então, o que eu gostaria dizer para a Eunice é que nós tentamos ser fiéis a ela e que agradeço muito por tudo o que ela me ensinou, porque todo o processo de contenção, de interiorização, o sorriso que ela me obrigou a ter, a feminilidade que ela me obrigou a ter, eu acho que ela me mudou como atriz.

Short teaser Fernanda Torres destaca em entrevista à DW como filme de Walter Salles sensibiliza público sobre a ditadura militar.
Author André Bernardo, Renate Krieger (edição)
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Item 3
Id 71365323
Date 2025-01-21
Title [Coluna] Posse do Trump foi celebração de era das trevas
Short title Posse do Trump foi celebração de era das trevas
Teaser Celebração da nova presidência americana foi como filme distópico estrelado por um déspota e multimilionários egocêntricos fora de controle. Começa uma "era de ouro" do desrespeito e das fake news?

"A partir de hoje será a política oficial dos EUA de que temos apenas dois gêneros: o feminino e o masculino." A frase foi dita pelo presidente dos Estados Unidos em sua cerimônia de posse, realizada na segunda-feira (20/01) em Washington, no seu discurso no Capitólio, pouco depois dele jurar sobre uma Bíblia cumprir a Constituição dos Estados Unidos.

Donald Trump recebeu aplausos. No mesmo discurso, disse que ia "trazer de volta a liberdade de expressão para a América de verdade". Logo atrás dele, junto com sua família, Elon Musk – o multibilionário de extrema direita dono do X, um dos maiores apoiadores de Trump e que integrará o governo – sorriu. Além de Musk, os bilionários Mark Zuckerberg (dono da Meta) e Jeff Bezos (dono da Amazon) também ocuparam lugares de destaque na cerimônia.

Junto com membros do novo governo e apoiadores do presidente, eles ouviram com contentamento Trump dizer que faria "o maior programa de deportação da história do país", que mandaria tropas para a fronteira com o México e que mudaria o nome do Golfo do México para Golfo da América. Ele também ameaçou "tomar de volta" o Canal do Panamá. Tudo sob aplausos e benção dos bilionários que controlam as redes de comunicação mais usadas em todo o mundo.

Megalomania exagerada até para os padrões Musk

Assistir à posse da nova presidência americana foi como ver um filme distópico estrelado por um presidente autoritário e por multimilionários egocêntricos fora de controle.

As festas foram uma celebração desse egocentrismo sem limites de Trump e seus apoiadores. "A era de ouro dos Estados Unidos começa hoje", disse Trump no Capitólio. Em outro momento, o bilionário Elon Musk – o mesmo que no momento faz campanha para o partido de extrema direita da Alemanha, a AFD – entrou dando saltos de alegria na arena onde fãs de Trump se reuniram para um "desfile", e disse: "Hoje é um grande dia, o futuro da humanidade está salvo", demonstrando uma autoconfiança e uma mania de grandeza exagerada até para os seus padrões. Para aumentar ainda mais o surrealismo, ele fez um gesto de vitória que muitos compararam com uma saudação nazista.

É assustador pensar que esses homens, com seus egos gigantes, violentos e sem noção, vão governar um dos países mais poderosos do mundo.

Sim, Trump já foi presidente antes. Mas todo mundo sabe que ele está mais forte nesse governo: sua votação foi um sucesso, ele venceu com folga. E tem ao lado os multimilionários que controlam as redes sociais, e assim, parte da comunicação do mundo.

"Era de ouro" ou era das trevas?

Donald Trump, assim como seus colegas da extrema direita do mundo todo, faz sucesso com o discurso de "volta aos bons tempos" (aqueles em que todo mundo amava gasolina e podia fazer piada sobre gays e mulheres).

Mas a era de ouro anunciada por ele na posse mais parece a era das trevas. Ela é aquela onde a diversidade de gênero é desrespeitada, os discursos de ódio e as fake news são legalizados (é disso que se trata quando ele fala em "liberdade de expressão"). Nessa nova velha era, os compromissos com o clima também são totalmente ignorados.

No mesmo dia da posse, a Casa Branca avisou que o país sairia do acordo de Paris para o clima. Trump já havia avisado que investiria em petróleo, ao contrário de todas as evidências científicas sobre a ligação entre o uso de combustíveis fósseis e o aquecimento global.

Como o surrealismo não tem limites, a trilha sonora desse filme distópico, que infelizmente é real, é feita pelo Village People, uma banda ícone da cena gay dos anos 70. Os hits Y.M.C.A. e Macho man foram amplamente usados na campanha de Trump, e o grupo se apresentou em eventos da posse.

A música Y.M.C.A. diz, entre outras coisas: "Jovem, você pode sair com todos os garotos… Jovem, coloque seu orgulho de lado... Jovem, não fique deprimido". Trump e seus apoiadores fazem uma dancinha estilo "machos" ao dançarem essa música. E o mundo prende a respiração diante de tanta masculinidade descontrolada.

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Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000, quando lançou com duas amigas o grupo "02 Neurônio". Já foi colunista da Folha de S.Paulo e do UOL. É uma das criadoras da revista TPM. Em 2015, mudou para Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada. Desde então, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão.

O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente da DW.

Short teaser Celebração da nova presidência americana foi como filme distópico com um déspota e multimilionários egocêntricos.
Author Nina Lemos
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Item 4
Id 71352085
Date 2025-01-20
Title Energia eólica avança e registra ano recorde na Alemanha
Short title Energia eólica avança e registra ano recorde na Alemanha
Teaser

Órgãos reguladores alemães aprovaram mais de 2,4 mil novas turbinas eólicas em 2024

Setor responde por mais de um quarto da energia gerada e é fonte mais importante do país. Ano de 2024 teve 59% de renováveis e recorde de licenciamentos para eólicas, que viraram alvo preferencial da ultradireita.A produção de energia eólica na Alemanha contou com um impulso recorde em 2024, de acordo com um relatório da Associação Alemã de Energia Eólica (BWE) e da VDMA Power Systems, a associação para engenharia de usinas de energia. Segundo as associações, os órgãos reguladores aprovaram a instalação de mais de 2.400 novas turbinas eólicas no país, com uma produção total de cerca de 14 gigawatts — um recorde no país. "Esse é um passo significativo na direção certa", disse Dennis Rendschmidt, diretor administrativo da VDMA. Ele defendeu que o governo deve "manter esse impulso", independentemente do resultado da eleição federal de 23 de fevereiro. Apesar dos números positivos, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) tem na oposição às atuais políticas energéticas da Alemanha — e à energia eólica em particular — um elemento central de sua campanha eleitoral. Na recente convenção nacional do partido, segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, a candidata a chanceler federal Alice Weidel criticou a energia eólica por ser "instável". Ela prometeu, se eleita, derrubar todas as "turbinas eólicas da vergonha" da Alemanha. Já à emissora alemã ZDF, defendeu que energias renováveis não funcionam "quando o vento não sopra e o sol não brilha". Seu plano de governo propõe um aumento do uso de combustíveis fósseis, incluindo o gás russo, e o retorno da energia nuclear como parte de uma "combinação de energia sustentável e séria". Principal fonte de geração de energia elétrica da Alemanha, o avanço da energia eólica faz parte da tentativa da Alemanha de cobrir pelo menos 80% do consumo do país até 2030 com renováveis, rumo à neutralidade climática até 2045. Em 2024, o país alcançou metas individuais de redução de emissões na geração de energia, mas não bateu os objetivos mais rigorosos impostos pela União Europeia. Retorno à energia nuclear "não é plausível" "O retorno à energia nuclear na Alemanha não é plausível nem útil em termos de proteção climática, nem seria econômico", disse Wolf-Peter Schill, especialista em energia do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica, em Berlim. A Alemanha encerrou completamente suas plantas de geração de energia nuclear em 2023. "[Os reatores] já foram desmontados a tal ponto que não podem simplesmente ser recolocados em operação." A construção de novas usinas nucleares, acrescentou ele, levaria tempo demais para ajudar a atingir as metas climáticas. Acabar com todas as turbinas eólicas da Alemanha, que hoje somam mais de 30 mil, custaria caro ao país, segundo especialistas, considerando os custos de desativação, desapropriação e pagamentos de indenização, sem levar em conta os valores relacionados à compensação do déficit de energia, já que o país seria forçado a aumentar suas importações de eletricidade. "Se você não quer energia eólica ou solar, então a única opção são os combustíveis fósseis", disse Schill à DW. "Não vejo nenhuma outra opção realista para a geração de energia na Alemanha." A queima de combustíveis fósseis é a principal causa do aumento das temperaturas globais ligadas a eventos climáticos extremos em todo o mundo. Energias renováveis fornecem quase dois terços da eletricidade da Alemanha Apesar da afirmação de Weidel de que a energia renovável atrasa a Alemanha, dados divulgados pelo órgão regulador federal de energia no início de janeiro indicam que 59% da eletricidade da Alemanha em 2024 provinham de fontes renováveis, 3% a mais que em 2023. Pouco mais da metade disso veio da energia eólica. O ministro das Finanças e Proteção Climática da Alemanha, Robert Habeck, atribuiu o crescimento às medidas tomadas pelo governo do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, para "simplificar e acelerar" o processo de licenciamento de instalações eólicas e solares nos últimos dois anos. Schill, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica, disse que o governo de Scholz preparou o terreno para um "crescimento muito mais forte" da energia eólica, o que pode colocar a Alemanha no caminho certo para atingir sua meta de 115 gigawatts de capacidade instalada de energia eólica até 2030. Turbinas eólicas maiores e mais avançadas estão sendo construídas para substituir usinas mais antigas e podem ajudar a elevar as energias renováveis a cerca de 80% do fornecimento total de energia do país. Schill disse que seria "absurdo" que o próximo governo não capitalizasse o impulso dado ao setor. "Essa decisão da AfD, não apenas de frear a energia eólica, mas até mesmo de desmantelá-la, vai completamente na direção errada." Energia eólica é mais barata? Aumentar a participação da energia renovável na geração de eletricidade poderia ajudar a reduzir os preços da energia na Alemanha, que estão entre os mais altos do mundo. Schill destacou que a energia eólica desempenha um papel importante nos planos de neutralidade climática, "precisamente porque é barata". Um estudo realizado em julho de 2024 pelo Instituto Fraunhofer, que calculou o custo médio da geração de energia durante a vida útil de uma usina, mostrou uma grande diferença entre as usinas renováveis e as convencionais na Alemanha. Os custos de vários tipos de energia solar e eólica variaram de 0,225 euro a 0,41 euro (R$ 1,3 a R$ 2,5) por quilowatt-hora, enquanto o gás, o carvão e a energia nuclear custaram de 0,109 a 0,49 euro (R$ 0,62 a R$ 3,05) por quilowatt-hora — sendo a nuclear a mais cara. Os custos de energia também foram um ponto importante na oposição de Weidel à energia renovável. Em sua entrevista à ZDF, ela enfatizou o ônus que a energia eólica estaria impondo à economia alemã. "Nossas empresas não são mais competitivas devido aos altos preços da energia", disse. Schill, por outro lado, defende que o cenário energético e a economia do país dependem de uma combinação de energias solar e eólica. É também o que argumenta Kerstin Andreae, ex-parlamentar dos Verdes e presidente da Associação Alemã das Indústrias de Energia e Água. "A energia eólica não é apenas um meio de proteção climática, mas também contribui para a estabilidade econômica, criando empregos e promovendo investimentos", disse ela em comunicado de 13 de janeiro, acrescentando que a o setor também ajudou a garantir o abastecimento em tempos de escassez de energia provocada pela invasão russa à Ucrânia em 2022. Para Schill, o fato de muitos fabricantes de turbinas eólicas estarem sediados na Alemanha e na Europa também deu ao setor uma vantagem. "Diferentemente de outras tecnologias de energia, como a fotovoltaica, por exemplo, em que somos extremamente dependentes das importações da China, esse não é o caso da energia eólica", disse ele.


Short teaser Setor que responde por mais de 25% da energia gerada e é fonte mais importante do país tornou-se alvo da ultradireita.
Author Martin Kuebler
Item URL https://www.dw.com/pt-br/energia-eólica-avança-e-registra-ano-recorde-na-alemanha/a-71352085?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Órgãos reguladores alemães aprovaram mais de 2,4 mil novas turbinas eólicas em 2024
Image source Thomas Warnack/dpa/picture alliance
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Item 5
Id 71347024
Date 2025-01-20
Title Riqueza de bilionários cresceu a níveis recordes em 2024, diz Oxfam
Short title Oxfam: riqueza de bilionários cresce a níveis recordes
Teaser Bilionários acumulam mais R$ 12 trilhões em 2024, numa velocidade de crescimento da riqueza três vezes maior que no ano anterior. Primeiro trilionário deve surgir na próxima década.

A riqueza somada de bilionários em todo o mundo cresceu 2 trilhões de dólares (R$ 12 trilhões) em 2024 e atingiu 15 trilhões de dólares (R$ 90 trilhões), numa velocidade de acúmulo de recursos três vezes maior do que a registrada em 2023.

As informações são de um relatório da ONG de combate à pobreza Oxfam publicado nesta segunda-feira (20/01), antes do início do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, um encontro anual que reúne chefes de Estado, representantes das principais economias do mundo e líderes empresariais e da sociedade civil.

Se o 1% mais rico da população mundial possui agora 45% da riqueza global, 44% da humanidade vive com menos de 6,85 dólares (R$ 41,5) por dia, e as taxas de pobreza global praticamente não mudaram desde 1990, segundo o relatório.

"Apresentamos este relatório como um alerta de que as pessoas comuns em todo o mundo estão sendo esmagadas pela enorme riqueza de poucos", disse o diretor executivo da Oxfam, Amitabh Behar.

Segundo a organização, o peso da riqueza transferida através de herança cria uma "oligarquia aristocrática" que acumula riquezas em níveis recordes em todo o mundo e aumenta a desigualdade social.

Os ricos estão ficando mais ricos

Uma média de quatro pessoas se tornaram bilionárias por semana em 2024, diz a Oxfam, que projeta a existência de ao menos cinco trilionários em todo o mundo em uma década. Isso porque a riqueza dos 10 bilionários mais ricos cresceu em média 100 milhões de dólares (R$ 606 milhões) por dia nos últimos 10 anos.

Behar alertou sobre a criação de um sistema econômico em que "os bilionários agora são praticamente capazes de moldar as políticas econômicas e sociais, o que acaba lhes gerando cada vez mais lucro".

O relatório também apontou que uma em cada dez mulheres no mundo vive em extrema pobreza. Elas fornecem o equivalente a 12,5 bilhões de horas por dia de trabalho não remunerado, acrescentando um valor estimado de 10,8 trilhões de dólares (R$ 65 trilhões) à economia global, três vezes o valor da indústria global de tecnologia.

Políticas de Trump podem alimentar as desigualdades

O presidente dos EUA, Donald Trump, também foi mencionado no relatório da Oxfam, pois suas políticas, incluindo cortes de impostos e desregulamentação, estão sendo criticadas por potencialmente alimentar a desigualdade e enriquecer ainda mais bilionários como Elon Musk — um dos principais apoiadores da campanha de reeleição de Trump.

"A joia da coroa dessa oligarquia é um presidente bilionário, apoiado e comprado pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk, comandando a maior economia do mundo", disse Behar.

Segundo o relatório, isso também influencia o Sul Global, já que o 1% mais rico dos países do Norte Global, como os EUA, extraiu cerca de 30 milhões de dólares (R$ 182 trilhões) por hora de países de baixa e média renda em 2023.

Além disso, "os países do Norte Global controlam 69% da riqueza global e acolhem 68% dos multimilionários, apesar de representarem apenas 21% da população global".

Em Davos, manifestantes com faixas onde se lia "taxem os ricos" e "queimem o sistema" se reuniram antes da cúpula, que deverá se concentrar principalmente em estratégias econômicas, inteligência artificial e conflitos globais. Entre seus 3 mil participantes estão líderes mundiais e executivos de negócios.

gq/as (AP, AFP, Lusa, dpa, ots)

Short teaser Bilionários acumulam mais R$ 12 trilhões, numa velocidade de crescimento da riqueza três vezes maior que em 2023.
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Item 6
Id 71331873
Date 2025-01-18
Title O que a América Latina deve esperar de Trump 2.0?
Short title O que a América Latina deve esperar de Trump 2.0?
Teaser

Donald Trump com o secretário de Estado Marco Rubio, nascido em Cuba

Donald Trump está de volta como presidente dos Estados Unidos, mas os tempos mudaram e sua equipe também. Quais as implicações deste novo mandato para a região?Em 20 de janeiro de 2025, Donald Trump tomará posse como presidente dos Estados Unidos, fortalecido por um grande apoio popular e com ambas as câmaras do Congresso nas mãos dos republicanos pelos próximos dois anos. Um Trump que sabe que este segundo mandato é o seu último e que pratica uma retórica de provocação antes mesmo de assumir o cargo, rendendo manchetes intermináveis ​​à mídia. "É ultrajante dizer neste momento que vai anexar o Canal do Panamá. Mas Trump diz e repete. Dizer coisas ultrajantes não é novidade, mas veremos um Trump ainda mais fortalecido, porque sua vitória é indiscutível", comenta Carolina Jiménez Sandoval, presidente do Escritório de Washington para a América Latina (WOLA). Entre o punitivo e o transacional Durante o primeiro mandato trumpista, a América Latina não era prioridade na agenda dos EUA, embora tenha havido ações pontuais, como na questão da Venezuela. Um olhar para o pessoal com que ele agora se cercou sugere que as coisas poderão ser diferentes. É uma equipe diversa, que oscila entre o ideológico e o pragmático, entre o punitivismo contra autocratas e o transacionalismo em favor dos negócios. "Acho que isso é uma coisa boa. Por um lado, há o secretário de Estado Marco Rubio, que é cubano de nascimento e muito a favor de sanções contra governos autocráticos de esquerda: Cuba, Nicarágua, Venezuela. Há também Mauricio Claver-Carone, arquiteto da estratégia de 'pressão máxima' em relação à Venezuela no primeiro mandato de Trump." "Por outro lado, há Richard Grenell como enviado Especial para a Venezuela, que conduziu negociações diretas com Nicolás Maduro e está em contato com muitos investidores e empresários, uma pessoa que é contra sanções”, lista Chris Sabatini, pesquisador-chefe para América Latina do think tank Chatham House. Ter um secretário de Estado hispânico com tantos vínculos com vários países da América Latina é algo inédito, mas as crises internacionais se multiplicam, e isso pode relegar novamente a região a um segundo plano. "Reconheço que o coração de Marco Rubio está na América Latina, mas deve ter cuidado para não lhe prestar atenção demasiada, já que ele é o diplomata mais importante do país e terá que lidar com questões globais extremamente complexas", adverte Michael Shifter, professor do Centro de Estudos Latino-Americanos de Georgetown e ex-presidente do think tank Inter American Dialogue. O mundo de 2025 certamente não é o mesmo de quatro anos atrás. "O próprio Trump acabou decepcionado com a política de 'pressão máxima', que não gerou mudanças. Agora temos a migração venezuelana querendo chegar à fronteira dos EUA e uma guerra russa na Ucrânia e outra no Oriente Médio, algo que gera preocupações no nível energético", analisa Carolina Jiménez Sandoval. Isso implica que, se Trump quiser deportar os venezuelanos por via aérea, terá que negociar com o país de origem. E se estiver interessado em continuar a exploração de concessões de petróleo na Venezuela, terá que relaxar as sanções. Migração, cartéis e fentanil Um tema politicamente polêmico nos Estados Unidos é a crise de saúde causada pelo fentanil. O mesmo acontece com o crime organizado e os cartéis do México. "Trump vai pressionar muito o governo de Claudia Sheinbaum para agir", prevê Michael Shifter. Há vozes nos EUA exigindo medidas sobre o assunto. Alguns trumpistas chegaram a falar de intervenções militares no México para destruir laboratórios de fentanil e combater cartéis, o que implicaria uma violação da soberania daquele país. "Isso criaria uma crise hemisférica, porque o México receberia solidariedade imediata e esmagadora de outros países latino-americanos, como Brasil ou Colômbia", alerta Jiménez Sandoval. "Seria um precedente muito perigoso e abalaria seriamente o relacionamento entre EUA e América Latina". América Latina entre Estados Unidos e China Desde sua vitória eleitoral, Donald Trump tem repetidamente ameaçado impor tarifas sobre produtos chineses. Sua guerra comercial com o gigante asiático pode determinar suas relações com os vários países latino-americanos que mantêm laços econômicos estreitos com a China. "Trump sabe que isso não pode ser cortado da noite para o dia, mas pode haver mais pressão e ameaças de tarifas, para que esse relacionamento não continue a se aprofundar, para tentar reduzir a presença da China nas economias da região", diz Shifter. É nessa direção que iriam as ameaças de Mauricio Claver-Carone de sobretaxas de 60% sobre qualquer produto que passe pelo porto chinês de Chancay, no Peru. "Ameaças e pressão são as ferramentas que podemos esperar na grande competição China-EUA. Elas são as favoritas de Trump, esse é o estilo dele, mas o tiro pode sair pela culatra e aproximar essas economias ainda mais da China", alerta o especialista em assuntos latino-americanos.


Short teaser Trump está de volta como presidente dos EUA, mas os tempos mudaram e sua equipe também.
Author María Santacecilia
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Image caption Donald Trump com o secretário de Estado Marco Rubio, nascido em Cuba
Image source Evan Vucci/AP Photo/picture alliance
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Item 7
Id 71329962
Date 2025-01-18
Title "Não tem nada de gay": o elo entre Trump e o Village People
Short title "Não tem nada de gay": o elo entre Trump e o Village People
Teaser Parecia claro que a canção "Y.M.C.A." é hino gay. Mas uso pelo presidente eleito a associou ao movimento MAGA. Após resistência inicial, herdeiro da banda se apresenta até na posse presidencial. Tudo pelo dinheiro?

É longa a lista dos músicos que, durante as campanhas presidenciais de 2016, 2020, e 2024, se manifestaram contra o uso de suas canções nos comícios do candidato Donald Trump: ela vai do Abba aos White Stripes. E, a certa altura, a banda Village People também.

Em junho de 2020, o líder do grupo, Victor Willis, se opôs publicamente à prática. Mais tarde, criticando a ameaça do então presidente de empregar força militar contra os manifestantes do movimento Black Lives Matter, ele, que é negro, postou no Facebook: "Desculpem, não dá mais para olhar para o outro lado."

Mais adiante, porém, Willis mudou o tom, ao notar que, 46 anos depois, durante a campanha de 2024, a canção Y.M.C.A. estava tendo uma onda de sucesso renovado, emplacando os primeiros lugares do Billboard entre as músicas de dança mais vendidas.

"Os benefícios financeiros foram ótimos, também, pois se calcula que Y.M.C.A. vai fazer vários milhões de dólares, desde o uso continuado pelo presidente eleito", reconheceu Willis num post em dezembro.

"Unir o país com música"?

Agora o Village People se mostra pronto para "olhar para o outro lado" de vez, pois aceitou o convite da equipe trumpista para se apresentar em diversos eventos de posse, pelo menos um dos quais na presença do próprio magnata nova-iorquino.

"Sabemos que alguns de vocês não vão ficar felizes de ouvir isso, no entanto nós acreditamos que música é para ser tocada, sem considerar a política", justificou-se o grupo em sua página oficial no Facebook.

"Nossa canção Y.M.C.A. é um hino global que, esperamos, vai ajudar a unir o país depois de uma campanha tumultuosa e dividida, em que o nosso candidato preferido perdeu", prossegue o post. "Então agora acreditamos que é hora de conciliar o país com música."

O anúncio nas páginas oficiais do Village People e de Victor Willis desencadeou milhares de comentários. Enquanto os seguidores de Trump saudaram a decisão, ativistas LGBTQ+ expressaram choque, lembrando que, originalmente, o grupo de disco music começou no fim dos anos 1970 como um ícone da comunidade gay, e que o movimento trumpista "Make America Great Again" (MAGA) é abertamente homofóbico e contrário ao casamento homoafetivo.

"Não podemos colocar a política de lado, quando é essa mesma política que vai privar os LGBTQs, as mulheres e outros dos seus direitos. Não se está cantando numa celebração, mas num funeral dos valores americanos", escreve Aundaray Guess, diretor executivo da ONG Griot Circle, de Nova York, dedicada ao combate de todas as formas de opressão a minorias.

De ativismo gay a mainstream

O Village People foi criado em 1977 pelos produtores musicais franceses Jacques Morali e Henri Belolo, na esperança de fazer sucesso nos Estados Unidos. Morali era abertamente homossexual, mas foi participando de festas gays em Greenwich Village que ambos chegaram à ideia de reunir um grupo de cantores e dançarinos fantasiados para encarnar diferentes figuras do imaginário gay: um cacique americano, um caubói, um policial, um operário de construção, um motoqueiro de roupa de couro, um marinheiro.

Portanto o Village People era um boy group criado artificialmente, como tantos outros, mas especificamente concebido para apelar à comunidade gay numa época crucial da liberação e ativismo político queer, também intimamente ligados ao movimento disco.

Morali estava "engajado em dar fim à invisibilidade cultural dos gays", afirma a musicóloga Alice Echols em seu livro Hot stuff: Disco and the remaking of American culture (Coisa quente: Disco e o remake da cultura americana), de 2010. Ela cita uma entrevista dada pelo produtor francês em 1978 à revista Rolling Stone, após revelar sua homossexualidade: "Eu penso que os gays não têm nenhum grupo, ninguém para personalizá-los, sabe?"

Echols também ressalva que, embora a banda tenha realmente contribuído para visibilizar a cultura gay, o público heterossexual não interpretou necessariamente seu estilo como travestismo macho gay. E as canções – que brincam com laços masculinos especiais nos regimentos militares (In the Navy) ou na Associação Cristã de Moços (Y.M.C.A.) – logo foram adotadas pelo mainstream.

De fato: até hoje, de bebês a idosos, qualquer um pode se divertir saudavelmente soletrando as iniciais Y M C A com os braços, ao som do hit dos anos 70, sem pensar em eventuais duplos sentidos sobre as formas de diversão dos rapazes na ACM. E assim o Village People contribuiu para apresentar "as identidades gays de machos urbanos como produtos de mídia banais", conclui Echols.

"I gotta be a macho man"

Ao aquecer as multidões em seus comícios com a canção Macho man, Donald Trump e sua agenda MAGA falam de perto aos homens para quem o feminismo e os movimentos pelos direitos LGBTQ+ são uma ameaça, e que tentam redefinir seu papel através de uma hipermasculinidade – incorporando o hiperbólico "homem macho".

Ao analisar como Trump e o Village People combinam perfeitamente, analistas costumam recorrer ao termo "camp", evocando a intelectual americana Susan Sontag. Em seu ensaio Notes on 'camp', de 1964, ela reconhece que o conceito é muito difícil de definir, tratando-se, antes, de algo que se reconhece ao se deparar com ele, que desperta a reação "é bom porque é horrível".

O camp "neutraliza a indignação moral" pela brincadeira, explica Sontag. A comunidade LGBTQ+ adotou desde cedo essa estética, como recurso protetor, ao promover seu estilo de vida e valores. No entanto o conceito em si independe de gênero ou sexualidade.

Trump lança mão do camp de modo análogo: sua fanfarronice debochada o protege de consequências, já que ninguém sabe ao certo quando ele está brincando ou falando sério. Como analisa Dan Brooks, num artigo para o New York Times Magazine, um "miasma de ironia mal definida, mas sempre presente, torna quase impossível zombar de Trump".

Processo para quem disser que Y.M.C.A. é hino gay

Enquanto cantor principal do Village People, Willis escreveu junto com Morali alguns dos maiores sucessos da banda, como Macho man, Y.M.C.A., In the Navy e Go West. Contudo desligou-se em 1979, na esperança de fazer carreira solo. Na década de 2010, ao longo de anos de batalhas legais, obteve 50% dos direitos autorais de muitas das músicas do grupo.

Como Morali morreu em 1991 de complicações médicas relacionadas à aids, num acordo judicial Willis foi considerado o único proprietário vivo das canções. Ele reuniu-se ao Village People, substituiu todos os membros, e agora, como dono da banda, pratica rebranding agressivo, a fim de redefinir a percepção de seus sucessos. Entre outras medidas, ameaça processar qualquer veículo de imprensa que caracterize Y.M.C.A. como um hino gay.

Ele alega que a intenção nunca foi fazer um statement político ou cultural. "Quando eu digo 'hang out with all the boys' [passar tempo com todos os garotos], era simplesmente uma gíria dos negros dos anos 70 para se encontrar e fazer esporte, apostas, qualquer coisa assim", escreveu Willis no Facebook em dezembro de 2024, pontificando: "Não tem nada de gay nisso."

Short teaser Tudo pelo dinheiro? Após resistência inicial, herdeiro da banda vai até apresentar "Y.M.C.A." na posse presidencial.
Author Elizabeth Grenier
Item URL https://www.dw.com/pt-br/não-tem-nada-de-gay-o-elo-entre-trump-e-o-village-people/a-71329962?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 8
Id 71329859
Date 2025-01-18
Title Como países podem reduzir a sobrecarga das mulheres no cuidado
Short title Como países podem reduzir sobrecarga das mulheres no cuidado
Teaser Brasil ganhou no final do ano sua primeira Política Nacional de Cuidados, que busca apoiar as famílias e incentivar os homens a se engajarem mais. Chile, México e Colômbia também desenvolvem iniciativas.

Lavar a roupa, alimentar as crianças e arrumar a casa dá um baita trabalho – e se alguém não tivesse feito isso quando você usava fraldas, dificilmente você estaria lendo este texto agora. Essas são as chamadas atividades de cuidado: tudo o que é necessário para sustentar e dar continuidade à vida humana.

Em geral, quem realiza a maior parte desse trabalho é uma mulher. Caso você tenha crescido numa família de renda mais alta no Brasil, é possível que uma empregada doméstica – também mulher – tenha assumido parte dessas atividades.

Além das crianças, as atividades de cuidado são essenciais para idosos e pessoas com deficiência, e a desigualdade de gênero se mantém, com as mulheres respondendo pelo grosso das demandas.

Esse retrato está na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE de 2022: em média, as mulheres dedicaram 21,3 horas por semana a atividades de cuidados e afazeres domésticos, enquanto os homens, 11,7 horas. A diferença é ainda maior para mulheres negras, que empregaram nessas atividades 1,6 hora por semana a mais do que as brancas.

Isso gera o que especialistas chamam de pobreza de tempo, que dificulta que as mulheres entrem e permaneçam no mercado de trabalho em condições de igualdade com os homens, e reduz sua disponibilidade para se dedicar a estudos ou à vida pública.

Alguns países da América Latina estão adotando políticas públicas para tentar reduzir essa desigualdade. E o Brasil é um deles. No último trimestre do ano passado, a Câmara dos Deputados e o Senado aprovaram a Política Nacional de Cuidados, sancionada em 23 de dezembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Qual é o objetivo da política

Originado de uma proposta do Executivo enviada ao Congresso, o texto estabelece diretrizes para a elaboração e promoção de políticas públicas que apoiem as famílias no cuidado de quem precisa, garantam direitos das pessoas que trabalham no serviço de cuidado e incentivem uma mudança cultural que engaje mais os homens nessas atividades.

Uma das autoridades envolvidas no desenho da política é Laís Abramo, secretária nacional de Cuidados e Família. À DW, ela afirma esperar que a iniciativa sirva não só para reduzir as desigualdades presentes no cuidado de crianças, pessoas com deficiência e idosos. Mas também para preparar melhor a sociedade brasileira para o futuro – afinal, a população está envelhecendo, e o número de idosos será cada vez maior, enquanto as famílias tendem a ter cada vez menos integrantes para prover esse cuidado.

"Queremos promover a corresponsabilização pelo trabalho de cuidado entre homens e mulheres dentro das famílias; e entre as famílias, a comunidade, o Estado e o setor privado", afirma. "Olhando ao mesmo tempo quem precisa do cuidado e quem cuida."

No caso das crianças e adolescentes, ela diz que o objetivo principal é a expansão da cobertura de creches. Por lei, toda criança brasileira de zero a três anos já tem direito à creche, mas na prática muitas não têm esse acesso garantido – segundo um levantamento divulgado em agosto de 2024, 632 mil estão nessa situação.

Também é necessário expandir a escola em tempo integral e criar espaços para que as crianças possam ser cuidadas à noite, caso a mãe e o pai precisem sair para estudar ou trabalhar nesse período.

No caso de idosos e pessoas com deficiência, a política buscará ampliar serviços de atendimento domiciliar para apoiar as atividades básicas e centros para essas pessoas passarem o dia com atividades, como os Centro-Dia, já existentes em algumas cidades brasileiras.

"Isso é muito benéfico tanto para quem está nessa condição, como para seus cuidadores, pois libera o tempo dessas mulheres para que possam ter atividades de auto-cuidado, descansar, fazer algum curso de formação profissional e ter alguma atividade de geração de renda", diz Abramo.

Outra proposta é criar locais que facilitam o trabalho de cuidado, como cozinhas comunitárias e lavanderias coletivas, já existentes em algumas cidades. O objetivo é apoiar em especial as famílias que não têm em suas casas as máquinas e o espaço apropriados. O Ministério das Mulheres já vem financiando a construção e manutenção de algumas lavanderias comunitárias.

Não há, porém, detalhes ainda de como exatamente o governo pretende promover a "corresponsabilização" entre homens e mulheres nas famílias. Uma medida relevante nesse sentido seria o aumento da licença-paternidade – hoje de apenas cinco dias, contra 120 dias assegurados às mães.

No final de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu ao Congresso prazo de 18 meses para regulamentar as regras do benefício para os pais. O prazo termina em junho deste ano, e se até lá os legisladores não encaminharem uma proposta, a Corte assumiria a tarefa.

O detalhamento das propostas do governo constará do Plano Nacional de Cuidados, que está na fase final de elaboração e não precisa de aprovação do Congresso. Elas envolvem a ampliação da cobertura de serviços já existentes, assim como a criação de novos serviços – para os quais serão necessários investimentos.

Abramo diz que o plano em discussão no governo aloca verbas já existentes e prevê cofinanciamento entre governo federal, estados e municípios, mas que para que a política "se implemente e se consolide" serão necessários mais recursos, que não estão garantidos.

Debate no G20 e avanços na América Latina

As políticas públicas de cuidado foram tema de um simpósio internacional em outubro na Universidade de São Paulo, promovido pelo Centro Mecila, um consórcio de universidades e institutos alemães e latino-americanos. O evento fez parte das atividades paralelas de think tanks para a preparação da cúpula do G20 no Rio de Janeiro, ocorrida em novembro.

Raquel Rojas, pesquisadora de pós-doutorado do Mecila e da Universidade Livre de Berlim, relata à DW que a inclusão das políticas de cuidado no rol de responsabilidades governamentais só não entrou em um dos comunicados do G20 por causa da oposição do governo da Argentina, motivado pela visão de que cuidado seria um assunto restrito à família.

Apesar disso, ela diz que a última década tem sido de avanços na América Latina. O Uruguai foi o primeiro país a adotar uma política estruturada para o tema, em 2015, e outros caminham nesse sentido. O governo do Chile enviou em junho ao Congresso um projeto de lei para criar seu Sistema Nacional de Apoios e Cuidados, e o governo do México recebeu no começo de dezembro financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento para projetar seu Sistema Nacional de Cuidados.

Bogotá também é um exemplo: a cidade colombiana tem 24 unidades de suas Manzanas del Cuidado (Quarteirões do Cuidado), onde as cuidadoras deixam suas crianças sob supervisão enquanto elas podem, no mesmo local, obter qualificação profissional, fazer exercícios físicos, receber orientação jurídica e psicológica, lavar as roupas da família de graça ou simplesmente descansar.

No Brasil, o assunto foi tema da redação do Enem de 2023, que pediu aos estudantes para escreverem sobre os "desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil".

"O cuidado não deve ficar dependente somente da família, pois de acordo com a posição da família na estrutura social, elas terão mais ou menos acesso a serviços de cuidado e isso reproduz desigualdades. Se há serviços de cuidado ofertados pelo Estado, isso torna o campo mais igualitário", diz Rojas. "Além disso, os homens devem participar mais. Não há uma razão biológica para que as mulheres tenham que carregar sozinhas esse fardo."

A secretária Laís Abramo também pontua que a desigualdade no cuidado não é só de gênero, mas também de renda e de raça. "Tanto na carga do trabalho não remunerado, como nas profissões do cuidado, a maioria são mulheres negras", afirma. "E as mulheres negras estão nas piores ocupações, com menos proteção. Muitas vezes são mulheres sozinhas que têm que ser, ao mesmo tempo, as provedoras econômicas e as cuidadoras das famílias, porque não têm recursos para comprar os serviços de cuidado no mercado".

Short teaser Brasil lança política para apoiar famílias no cuidado de quem precisa; outros países latinos desenvolvem iniciativas.
Author Bruno Lupion
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-países-podem-reduzir-a-sobrecarga-das-mulheres-no-cuidado/a-71329859?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 9
Id 71333915
Date 2025-01-17
Title Homem sobrevive após viajar a 282 km/h do lado de fora de trem na Alemanha
Short title Homem sobrevive após se agarrar a trem-bala na Alemanha
Teaser

Passageiro viajava sem bilhete; polícia alemã apelou à população para que não ponha vida em risco com esse tipo de atitude

Segurando nas ferragens entre dois vagões do lado de fora, húngaro de 40 anos percorreu 30 quilômetros antes de parada de emergência. Comboio chegou a viajar a 282 km/h.Um homem de 40 anos saiu ileso após agarrar-se às ferragens entre um vagão e outro de um trem de alta velocidade na Alemanha e, em pleno inverno, percorrer cerca de 30 quilômetros antes que o comboio fizesse uma parada de emergência. O suspeito, que é da Hungria, havia embarcado nesta quinta-feira (17/01) em Munique, na Baviera, em um trem com destino a Lübeck, em Schleswig-Holstein. Ele afirma ter feito uma pausa do lado de fora para fumar um cigarro quando o trem parou em Ingolstadt, a mais ou menos uma hora de distância de Munique. Quando o trem retomou a viagem, ele pulou entre um vagão e outro, agarrando-se às ferragens. Ele justificou a atitude afirmando que não queria perder a bagagem que estava no trem. Testemunhas que presenciaram a ação notificaram os serviços de emergência à operadora da linha, a estatal Deutsche Bahn, que fez uma parada de emergência cerca de dez minutos depois. Até isso acontecer, porém, o trem chegou a atingir uma velocidade de 282 quilômetros por hora. "Uma sorte ele ter encontrado onde se agarrar" Um policial que viajava por acaso no trem deteve o homem e o despachou em outro trem com destino a Nürnberg, onde ele foi entregue a policiais federais. O suspeito não tinha bilhete e, por causa disso, terá que pagar uma multa. Além disso, ele também pode responder a um processo por "perturbação" do serviço de trens da Deutsche Bahn. Um porta-voz da PF alemã se declarou surpreso pelo fato de o homem ter saído ileso. "Uma sorte ele ter encontrado onde se agarrar, porque o ICE [trem rápido] tinha acelerado logo depois de sair da estação", afirmou ele ao tabloide alemão Bild. A corporação apelou à população, pedindo que evite "bobagens [semelhantes] que ponham suas vidas em risco". ra (AFP, dpa, ots)


Short teaser Comboio chegou a 282 km/h e se deslocou por 30 quilômetros antes de fazer parada de emergência.
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Image caption Passageiro viajava sem bilhete; polícia alemã apelou à população para que não ponha vida em risco com esse tipo de atitude
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Item 10
Id 71316779
Date 2025-01-17
Title Obesidade não é só questão de índice de massa corporal
Short title Obesidade não é só questão de índice de massa corporal
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Mais de 1 bilhão de pessoas são atualmente classificadas como acima do peso pela OMS

Comissão internacional propõe diretrizes alternativas para diagnóstico de sobrepeso. Promessa é de terapias mais eficazes e racionais. Críticos temem otimismo excessivo e recuo dos planos de saúde.Atualmente há mais de 1 bilhão de indivíduos bem acima do peso ideal, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A entidade das Nações Unidas já fala em "epidemia de obesidade", pois esse número cresce vertiginosamente, afetando também crianças e adolescentes. Há décadas, a diretriz para diagnóstico de obesidade é o índice de massa corporal (IMC). Ele é calculado dividindo-se o peso em quilos pelo quadrado da altura em metros. Por exemplo: quem mede 1,75 metro e pesa 70 quilos tem um IMC de 22,86. Quem apresenta um índice de 30 ou mais é considerado obeso, o que é o caso de um quarto dos alemães e, segundo dados da associação Abeso, quase um quinto dos brasileiros. Contudo, há consenso entre os pesquisadores de que só o IMC não é um indicador suficiente de sobrepeso, pois não distingue entre gordura e massa muscular, nem informa sobre o estado de saúde individual. Para além do IMC Uma comissão internacional de mais de 50 especialistas elaborou diretrizes diagnósticas alternativas para obesidade, considerando também dados sobre a gordura e medidas físicas. Em artigo na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, eles propõem três fatores, além do IMC: pelo menos uma medida da massa corporal (circunferência da cintura, relação cintura-quadril ou relação cintura-altura); pelo menos duas medidas da massa corporal, independente do IMC; medição direta da gordura corporal. Além disso, deve-se atentar para sinais ou sintomas objetivos de um mau estado de saúde. Se o IMC está acima de 40, pode-se partir do princípio de que há um nível de gordura excessivo. Sobrepeso infantil é especialmente perigoso Crianças com sobrepeso têm risco mais elevado de diabetes do tipo 2, hipertensão arterial e dislipidemia (distúrbio do nível de gordura no sangue). Podem ocorrer também danos aos órgãos internos, como esteatose hepática (fígado gordo), cálculos na vesícula biliar, doenças circulatórias e acidentes vasculares cerebrais (AVC). O excesso de peso sobrecarrega ossos e articulações, resultando em artrose e problemas na coluna vertebral. Crianças com adiposidade excessiva estão também mais expostas a ter falta de ar, apneia noturna e asma, e a metade delas sofrerá de obesidade por toda a vida. Quanto maior o IMC, maior o risco de enfermidades graves e potencialmente fatais. Quando o excesso de peso é doença? As novas diretrizes também visam esclarecer quando o excesso de peso deve ser classificado como enfermidade. Para tal, os membros da comissão médica propõem a definição de duas formas de obesidade, as quais exigem estratégias terapêuticas distintas: Obesidade pré-clínica: adiposidade com funções orgânicas normais. Os afetados não são considerados doentes crônicos, mas apresentam risco acentuado de desenvolver diversas outras enfermidades. Com a devida assistência, essa condição pode ser minorada. Obesidade clínica: há sintomas de função orgânica restrita e/ou considerável limitação das atividades cotidianas. Portadores de obesidade clínica são considerados doentes crônicos, necessitando de tratamento urgente. Com essa proposta, os cientistas esperam amenizar a longa controvérsia sobre a classificação da obesidade como doença, possibilitando abordagens terapêuticas mais específicas e eficazes. Isso resultaria também numa distribuição mais racional de recursos e na priorização justa das opções de tratamento disponíveis. Pró: tratamento mais adequado para casos perigosos As propostas da comissão divulgadas na The Lancet dividem a comunidade médica. De um lado, estão os que saúdam que se questione a definição de obesidade e se amplie o conceito de enfermidade. "Considerando exclusivamente o IMC, também atletas com grande massa muscular apresentam um índice alto", lembra Susanna Wiegand, diretora do ambulatório pediátrico de obesidade e adiposidade da renomada Clínica Charité de Berlim. "Por outro lado, há já alguns anos existe o conceito de healthy obesity [obesidade saudável], ou seja: indivíduos que têm excesso de peso, mas não são doentes. Assim, uma definição de obesidade exclusivamente com base no IMC pode ser muito inexata, incluindo também quem não sofre de obesidade." Martin Wabitsch, diretor do departamento de endocrinologia e diabetologia pediátrica da Clínica Universitária de Ulm, concorda: aplicada na prática, a nova proposta de definição poderia constituir "um grande marco para um melhor atendimento dos pacientes atingidos", já que "até agora tínhamos dificuldade de definir como doença a obesidade entre crianças e adolescentes". "Muitos afirmavam que é algo que passa com o crescimento, o que é cientificamente errado. Com essa nova abordagem, a obesidade só será classificada como doença se houver distúrbios objetivos de uma função orgânica, ou uma limitação clara nas atividades cotidianas. Isso vai ajudar a oferecer uma terapia adequada, pelo menos para esse grupo infanto-juvenil", espera Wabitsch. Contra: planos de saúde podem se recusar a custear terapias Para o médico Thomas Reinehr, por sua vez, a nova terminologia é igualmente vaga demais, com valor agregado restrito, e não se estabelecerá, até porque a medição do IMC é exata e bastante reproduzível. "Esse não é o caso, por exemplo, da medição da cintura ou da gordura corporal: examinadores diferentes chegam a circunferências distintas; e a taxa de gordura depende do consumo de líquidos e da hora do dia. Os métodos de mensuração mais exatos, como a calorimetria, são complicados demais para o dia-a-dia", afirma o pediatra da Clínica Infanto-Juvenil de Datteln, em Recklinghausen, no oeste da Alemanha. A seu ver, a definição proposta resultaria em menos indivíduos serem classificados como obesos, dando a falsa impressão de que o problema diminuiu. Além disso, menos pacientes teriam sua terapia para redução de peso custeada pelos planos de saúde. Reinehr considera a discussão sobre o IMC "na maior parte, de natureza acadêmica", pois hoje em dia os estudos clínicos e, acima de tudo, a classificação individual dos pacientes leva também em consideração eventuais comorbidades e a distribuição da gordura corporal.


Short teaser Distinguir obesidade pré-clínica de clínica promete terapias mais eficazes. Críticos temem um recuo de planos de saúde.
Author Alexander Freund
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Image caption Mais de 1 bilhão de pessoas são atualmente classificadas como acima do peso pela OMS
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Item 11
Id 71331907
Date 2025-01-17
Title Caminhão elétrico a bateria ou a hidrogênio: qual é melhor?
Short title Caminhão elétrico a bateria ou a hidrogênio: qual é melhor?
Teaser Indústria de veículos pesados está sob pressão para reduzir suas emissões. Duas tecnologias de eletromobilidade competem: baterias e células de combustível a hidrogênio. Qual estratégia vencerá no longo prazo?

De gêneros alimentícios a roupas e aparelhos eletrônicos, quase todos os bens de consumo são transportados por caminhões – que poluem maciçamente o meio ambiente. Na Europa, embora representem apenas 2% dos veículos em circulação, são responsáveis por 28% das emissões carbônicas do tráfego.

Como os transportes de mercadorias continuam crescendo, fabricantes de caminhões de todo o mundo se veem impelidos a buscar soluções urgentes para reduzir os gases do efeito estufa que os veículos lançam na atmosfera.

A melhor solução de todas são os motores elétricos, em que a energia é fornecida por uma bateria ou produzida pelo hidrogênio numa célula de combustível. Nos carros de passageiros e utilitários leves, a propulsão a bateria já venceu, pois os veículos são mais baratos, assim como seu funcionamento.

Contudo os caminhões apresentam outros desafios, pois viajam até 800 quilômetros por dia e transportam cargas muito maiores. Até alguns anos atrás, parecia impraticável movimentá-los com baterias elétricas.

Como recorda Felipe Rodriguez, diretor do programa de veículos de carga pesada do International Council on Clean Transportation (ICCT), sediado em Berlim, a noção é que seriam necessárias baterias gigantescas, "caras demais, pesadas demais", que restringiriam a capacidade de carga.

Além disso, elas precisariam ser recarregadas no meio do caminho, forçando os motoristas a esperarem horas – uma opção impensável para expedidores que precisam operar com margens de lucro apertadas.

Avanço vertiginoso da eletromobilidade

"Mas o que aconteceu nos últimos anos foi realmente impressionante", comenta Rodriguez. O preço das baterias íon-lítio caiu acentuadamente na última década, pois as matérias primas e os componentes ficaram mais baratos, enquanto a capacidade de produção cresceu ao longo de toda a cadeia de agregação de valor, em parte graças aos investimentos estatais em eletromobilidade, para reduzir as emissões dos automóveis de passageiros.

"Toda uma indústria automobilística de fato faz baixar os custos das baterias, mas só um pequeno ramo industrial trabalha no desenvolvimento de células de combustível e da produção de hidrogênio", explica David Cebon, professor de engenharia mecânica da Universidade de Cambridge.

Além disso, nos últimos anos a densidade energética das baterias foi grandemente ampliada. Com um dispositivo do mesmo tamanho, hoje a autonomia para um caminhão é muito maior.

Os postos de abastecimento também estão cada vez mais potentes, já apresentando capacidades de até 400 kilowatts. E tanto pesquisadores quanto as empresas estão desenvolvendo sistemas com vários milhares de kilowatts, o que poderá abreviar o tempo de recarga de um caminhão elétrico, de várias horas para apenas 15 minutos. Assim, enquanto os motoristas fazem suas pausas regulamentares de 30 a 45 minutos, os veículos se abastecem.

Comparando autonomia, capacidade de carga e redução de emissões

A grande vantagem da propulsão a hidrogênio para o transporte comercial seria reduzir as emissões sem restrições à capacidade de carga. Além do mais, o abastecimento é bastante rápido. Em princípio, células de combustível são como baterias, só que alimentadas com hidrogênio e oxigênio, em vez de eletricidade, e liberando apenas calor e água.

"O abastecimento de um caminhão a hidrogênio transcorre mais ou menos como em um a diesel", explica Volker Hasenberg, diretor para a estratégia de hidrogênio da montadora Daimler Truck. "Há um posto, e tudo leva só alguns minutos."

Em termos de emissões, contudo, segundo o ICCT os caminhões a bateria são a melhor opção, emitindo 65% menos gases-estufa do que os movidos a diesel, se a eletricidade é produzida com uma combinação de combustíveis fósseis e energias renováveis. Com fontes exclusivamente renováveis, essa redução chega a até 92%.

Em comparação, as células de combustível economizam apenas 33% de CO2 emitido, podendo chegar a 89% se o hidrogênio é gerado através de fontes renováveis. No momento, porém, isso é raro, pois a produção mundial de hidrogênio verde é muito pequena.

Guerra de preços e o futuro

Até agora, as vendas de caminhões a hidrogênio têm sido bem modestas, enquanto as dos elétricos crescem. As baterias se destacam pelo seu baixo consumo, que as torna mais econômicas e competitivas. O abastecimento é também mais eficaz: o dispositivo é carregado com eletricidade, movimentando diretamente o motor.

O processo é mais laborioso no caso das células de combustível: primeiro o hidrogênio é produzido pelo processo de eletrólise, que consome eletricidade, para em seguida ser transportado até os postos. Lá é bombeado para as células, onde se produz novamente eletricidade, a fim de propelir o motor. Assim, o método exige cerca de três vezes mais energia do que de baterias.

Por isso a maioria das montadoras tem optado pelas baterias, em vez de células de combustível. Entretanto a Daimler e a Volvo, entre outras, partem do princípio de que o processo nunca estará avançado o suficiente para alimentar cargas super pesadas. Por isso estão desenvolvendo paralelamente caminhões a hidrogênio.

"Não podemos estar seguros de que uma tecnologia vá satisfazer todas as necessidades de nossos clientes", comenta Hasenberg. "É melhor termos duas pernas para nos apoiar, do que só uma."

Apesar disso, os prognósticos são de que até 2050 os caminhões movidos a células de combustível não representarão mais do que 10% do mercado. A grande maioria utilizará baterias elétricas.

Short teaser Duas tecnologias de eletromobilidade competem: baterias e propulsão a hidrogênio. Qual vencerá no longo prazo?
Author Beatrice Christofaro
Item URL https://www.dw.com/pt-br/caminhão-elétrico-a-bateria-ou-a-hidrogênio-qual-é-melhor/a-71331907?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 12
Id 71330771
Date 2025-01-17
Title Taxação de estrangeiros vai resolver crise de moradia da Espanha?
Short title Taxar estrangeiros vai resolver crise de moradia da Espanha?
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Preços de moradias duplicaram na Espanha na última década

Em meio à alta nos preços, premiê defende imposto de 100% sobre imóveis comprados por cidadãos não residentes de fora da UE. Como o plano se compara a outros países onde faltam moradias a preços acessíveis?O mercado imobiliário espanhol está está passando por um grande boom. Nos primeiros nove meses de 2024, os preços dos imóveis aumentaram em uma média de 9%, de acordo com o Índice de Preços de Imóveis da agência nacional de estatísticas INE. Os preços médios duplicaram na última década, marcando uma recuperação muito bem-vinda após o colapso bancário e imobiliário durante a crise financeira de 2008/2009. Essa queda foi alimentada por anos de construção excessiva e especulação imobiliária, o que acabou forçando a Espanha a buscar um resgate de 100 bilhões de euros (R$ 625 bilhões) da União Europeia para estabilizar seu setor bancário. O atual aumento nos preços dos imóveis residenciais e dos aluguéis reacendeu as preocupações com o custo da moradia. Um relatório de julho passado da plataforma imobiliária Idealista revelou que os aluguéis em Madri e Barcelona aumentaram 25% e 33%, respectivamente, nos últimos cinco anos. A questão entrou no debate político, provocando agitação pública e protestos em massa nas principais cidades da Espanha. Em resposta, o primeiro-ministro Pedro Sanchez propôs uma medida controversa: um imposto de 100% sobre a compra de imóveis por cidadãos de fora da UE sem residência na Espanha. Sanchez argumenta que essa política reduziria a especulação no mercado imobiliário. Onde estão os especuladores? No entanto, críticos se perguntam se a medida resolverá de fato o problema da falta de moradias na Espanha ou as tornará mais acessíveis aos moradores locais, já que os especuladores representam uma pequena proporção dos compradores. Mark Stücklin, que dirige o site Spanish Property Insight, diz à DW que "não há especuladores no mercado imobiliário espanhol". Citando os altos custos de transação, a burocracia e outros obstáculos que os compradores de imóveis enfrentam, Stücklin sustenta que "não é possível ganhar dinheiro com imóveis na Espanha – não vale a pena". Os custos de transação são normalmente de 10% a 15% do preço de compra, enquanto os lucros com a venda são taxados em até 24%. A Espanha também é famosa por atrasos nos registros de planejamento, com muitas propriedades não registradas e alguns proprietários fazendo modificações ilegais em suas casas – problemas que geram disputas legais complexas que podem se arrastar por anos. Compradores estrangeiros ajudaram a elevar os preços Embora os especuladores possam não ser muitos, a demanda de estrangeiros por imóveis na Espanha cresceu acentuadamente desde a pandemia da covid-19, aponta um relatório do terceiro maior credor da Espanha, o CaixaBank. Quase um quinto das casas vendidas nos 12 meses que antecederam o final do terceiro trimestre de 2024 foram compradas por estrangeiros – um total de 125.857 propriedades, segundo o relatório, baseado em dados do Ministério da Habitação e da Agenda Urbana (MIVAU). "Não há dúvida de que a demanda estrangeira é um pilar fundamental para explicar a força da demanda habitacional", disse a economista-chefe do CaixaBank, Judit Montoriol Garriga. "Grande parte dessa demanda vem de estrangeiros que residem na Espanha – um grupo que tem aumentado nos últimos anos com o influxo de imigrantes em nosso país." Montoriol Garriga observou que os estrangeiros não residentes – liderados por cidadãos britânicos, alemães, holandeses, belgas e franceses – tendem a comprar casas de férias em áreas turísticas ao longo da costa mediterrânea e nas ilhas Canárias ou Baleares. Por outro lado, os estrangeiros residentes adquirem imóveis sobretudo em áreas urbanas. Cidades litorâneas como Valência e Alicante, juntamente com as capitais Madri e Barcelona, têm populações em rápido crescimento e disponibilidade limitada de imóveis, de modo que seu estoque de moradias está "sob muita pressão", observou Stücklin. Ele acrescentou que os controles de aluguel, introduzidos em Barcelona em março passado, ajudaram a "estabilizar os preços, mas a oferta entrou em colapso”. Alugar para turistas reduz oferta para locais Os aluguéis também foram impulsionados por contratos de curto prazo, por meio de plataformas de aluguel de temporada como o Airbnb, oferecidos principalmente a turistas – um recorde de 94 milhões deles passaram férias na Espanha no ano passado. Várias regiões têm restringido os aluguéis de curto prazo. A ilha de Mallorca, por exemplo, ameaçou multar em 80 mil euros (R$ 500 mil) qualquer pessoa que alugue ilegalmente uma propriedade para fins turísticos. Embora Sanchez aposte na tributação de especuladores de fora da UE, seu plano não impedirá que cidadãos e empresas da UE continuem a comprar imóveis na Espanha. O Partido Popular (PP), conservador e de oposição, quer aliviar a carga tributária sobre as vendas de imóveis e ajudar os compradores com menos de 40 anos a se beneficiarem de hipotecas de 100%. O partido disse recentemente que também liberaria terrenos para novas moradias populares em áreas com maior demanda. Como outros países afastam compradores estrangeiros Até o momento, acredita-se que o Sri Lanka seja o único país do mundo a ter introduzido um imposto de 100% sobre a propriedade de imóveis estrangeiros. O imposto efetivamente matou o interesse estrangeiro na ilha do Oceano Índico e foi revogado há uma década. Outros países impuseram medidas menos punitivas. Singapura, por exemplo, cobra dos compradores estrangeiros um imposto adicional de 15%, que foi aumentado para 60% para alguns tipos de propriedade no ano passado. Atualmente, esse é o imposto mais alto sobre propriedade estrangeira no mundo. Hong Kong impôs um imposto de selo extra de 15% sobre compradores estrangeiros, enquanto o Canadá proibiu temporariamente estrangeiros não residentes de comprar imóveis residenciais, em meio a um mercado superaquecido. A Suíça tem cotas anuais sobre o número de casas que podem ser vendidas a estrangeiros não residentes. Na Dinamarca, os estrangeiros precisam de aprovação do governo antes de adquirir um imóvel – algo que geralmente é concedido apenas para residências primárias ou propriedades para fins comerciais. "Os dias de ganhar dinheiro rápido com a compra especulativa de imóveis acabaram por causa das regulamentações e restrições em vigor em muitos desses mercados", disse à DW Kate Everett-Allen, chefe de pesquisa residencial europeia da Knight Frank, consultoria imobiliária sediada em Londres. É provável que proprietários estrangeiros de imóveis sejam alvo de outros países no futuro, devido ao fato de muitos governos enfrentarem altas dívidas públicas. "Os governos estão tentando andar na corda bamba para atrair investimentos, manter o crescimento econômico e, ao mesmo tempo, garantir que as moradias não fiquem fora do alcance de suas populações locais”, disse Everett-Allen. O lado positivo, acrescentou ela, é que essas medidas significam que muitos países estão "menos propensos aos ciclos de expansão e recessão que eram evidentes antes da crise financeira”.


Short teaser Em meio à alta nos preços, premiê defende imposto de 100% sobre imóveis comprados por nâo residentes de fora da UE.
Author Nik Martin
Item URL https://www.dw.com/pt-br/taxação-de-estrangeiros-vai-resolver-crise-de-moradia-da-espanha/a-71330771?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Preços de moradias duplicaram na Espanha na última década
Image source Frank Fell/robertharding/picture alliance
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Item 13
Id 71325093
Date 2025-01-17
Title Dragão do Mar: o jangadeiro que desafiou o tráfico negreiro
Short title Dragão do Mar: o jangadeiro que desafiou o tráfico negreiro
Teaser Líder abolicionista é apontado como um dos responsáveis pelo fato de a então província do Ceará ter sido a primeira do Brasil a proibir a escravidão.

"A liberdade é um dragão no mar de Aracati", cantou a escola de samba Estação Primeira de Mangueira no carnaval do Rio de 2019. Nascido em Aracati, no Ceará, Dragão do Mar foi como ficou conhecido Francisco José do Nascimento (1839-1914), ou Chico da Matilde, um líder jangadeiro, prático-mor e abolicionista.

O apelido lhe foi conferido por outro dos grandes nomes do abolicionismo brasileiro, o farmacêutico e jornalista José do Patrocínio (1853-1905). Em 1882, ambos se encontraram quando Patrocínio, engajado no movimento abolicionista, visitou a província nordestina.

A esta altura, Chico da Matilde já era uma figura conhecida no meio. Desde janeiro do ano anterior, ele e seus colegas jangadeiros empreendiam uma greve contra o tráfico negreiro interprovincial. A tática foi baseada no controle que eles tinham sobre o porto local: passaram a recusar sistematicamente o transporte de escravizados para os navios que os levariam para serem revendidos no Rio de Janeiro e em outras localidades.

"No porto do Ceará não embarcam mais escravos", teria dito ele, de acordo com algumas fontes.

O engajamento do Dragão do Mar na luta abolicionista não foi por acreditar que um país moderno se fazia sem a força da escravidão. Foi porque ele, filho de um pescador e sempre trabalhador livre, havia construído laços de amizade com escravizados e ex-escravizados libertos — portanto, nutria empatia pela causa. Ele também não era negro — tinha a tez que hoje é considerada "parda".

"O desmonte do sistema escravista, lento e gradual, quando colocado em curso, se mostrou irreversível", comenta a historiadora Lucimar Felisberto dos Santos, membro da Rede de Historiadorxs Negrxs e autora de Entre a escravidão e a liberdade: africanos e crioulos nos tempos da abolição, entre outros.

"Em sua época, o jangadeiro Francisco José do Nascimento fazia parte daqueles grupos que atuaram no desmonte fundamentalmente por compartilharem com trabalhadores escravizados e libertos espaços de trabalho e lazer", acrescenta ela. "Com essa lógica, faz todo o sentido que ele tenha liderado a ação que interrompeu o transporte interprovincial de escravizados, contribuindo para que muitos escravos cearenses tivesses condições de adquirir suas alforrias."

Trajetória e abolição

O Dragão do Mar teve uma infância pobre. "Ele era filho e neto de pescadores e jangadeiros", contextualiza a historiadora Keila Grinberg, professora na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Seu pai morreu quando ele tinha 8 anos, o que o obrigou a começar a trabalhar cedo. O primeiro emprego dele foi como menino de recados em navios. "Passou parte da juventude em uma plantação de borracha na Amazônia e, quando retornou ao Ceará, foi trabalhar em navios locais", completa a historiadora.

Foi quando começou a trabalhar em um veleiro, primeiro como embarcadiço, depois como comandante. Depois, conseguiu emprego na Capitania dos Portos do Ceará. Foi chefe dos catraieiros e acabou nomeado prático-mor. "Tinha um posto alto dentro [do porto], como uma autoridade portuária. Era o responsável por guiar os navios para as docas", explica Grinberg.

Em paralelo, alugava jangadas para o vaivém de produtos e pessoas.

Foi com esse poder de autoridade e de liderança junto aos outros trabalhadores do porto que ele conseguiu fazer com que todos cruzassem os braços, em 1881, para o transporte de escravizados.

Em março de 1884, graças a esse movimento mas também a outros fatores de uma conjuntura econômica peculiar, o Ceará foi a primeira província do território a abolir a escravidão. "As condições sociais favoreceram, uma vez que os senhores, atravessando uma grave crise econômica no estado, não queriam mais gastar recursos mantendo escravos em seus territórios. Ou seja: o fato de o Ceará te se tornado a primeira província brasileira a abolir a escravidão teve a ver com os interesses econômicos que foram ao encontro dos desejos dos abolicionistas", afirma a historiadora Santos.

Em artigo publicado no Simpósio Nacional de História em 2009, a historiadora Patricia Pereira Xavier recorre à obra do jornalista e escritor Edmar Morel (1912-1988) para analisar a imagem do Dragão do Mar naquele contexto. Morel publicou em 1949 o livro Dragão do Mar: o jangadeiro da abolição no Ceará.

Segundo ele, o personagem acabou se tornando uma espécie de "garoto-propaganda" da abolição, contribuindo para angariar simpatizantes na população local. Xavier escreve que "analisando as fontes utilizadas pelo autor [Morel], bem como os episódios reforçados pela sua narrativa", há uma construção "narrativa cronológica e coerente que corresponde ao que se espea de um verdadeiro herói".

Apagamento histórico

A história do Dragão do Mar não teve, ao longo do século 20, o destaque merecido. "É um recado do apagamento histórico que hoje a gente está conseguindo reverter", analisa o jornalista Guilherme Soares Dias, pesquisador e fundador do Guia Negro.

Nos últimos anos sua memória vem sendo resgatada. Em 1999 foi inaugurado em Fortaleza um complexo cultural de 30 mil metros quadrados chamado Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Em 2013, a Petrobras lançou um navio petroleiro batizado de Dragão do Mar. E em julho de 2017 seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, em Brasília.

Para Grinberg, se hoje ele se tornou reconhecido, "é claro que a história dele foi romantizada, assim como outras ao longo desses anos". "Mas o que eu acho importante é […] o ponto de que ele é um herói nacional, um herói que fez uma greve contra a escravidão", pontua. "E ele contribuiu fundamentalmente para o processo de abolição no Brasil. Esta é uma mensagem fundamental."

A historiadora ressalta um outro aspecto importante da trajetória do Dragão do Mar: o fato de que ele foi uma liderança popular, de origem pobre, dentro dos grupos que pediam a libertação dos escravizados. "É uma das pessoas que demonstram que o movimento abolicionista foi popular e veio principalmente das classes populares", ressalta ela. "Ainda existe no Brasil uma ideia de que o movimento abolicionista foi um movimento das elites, ou da classe média do Rio, composta por jornalistas, engenheiros, entre outros. E a participação dele mostra que foi um movimento também da classe trabalhadora, um movimento social importantíssimo. O mais importante movimento social brasileiro."

"O principal legado dele é [a mensagem de] que precisamos lutar pela resistência. Não podemos aceitar o que é imposto e podemos lutar contra o que consideramos errado", comenta Dias.

Short teaser Abolicionista é tido como um dos responsáveis pela proibição da escravidão na então província do Ceará.
Author Edison Veiga
Item URL https://www.dw.com/pt-br/dragão-do-mar-o-jangadeiro-que-desafiou-o-tráfico-negreiro/a-71325093?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 14
Id 71247411
Date 2025-01-17
Title Escândalo da BYD expõe contradições do investimento chinês no Brasil
Short title Caso BYD expõe contradições do investimento chinês no Brasil
Teaser Resgate de pessoas em condições análogas à escravidão em fábrica de gigante automotiva põe investidores estrangeiros na mira da Justiça brasileira. Na China, caso gera discussão sobre condições de trabalho locais.

O termômetro registrava mais de 30ºC no início da manhã do dia 23 de dezembro de 2024, quando agentes de uma força-tarefa liderada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) resgataram 163 operários chineses do canteiro de obras da nova fábrica da gigante automotiva BYD em Camaçari, na Bahia. Segundo o MPT, eles trabalhavam em condições análogas à escravidão.

O cenário encontrado alarmou os agentes. Nos dormitórios da empreiteira Jinjiang Group, empresa contratada pela BYD para a obra, não havia colchões nas camas, e os poucos banheiros, em condições de severa falta de higiene, serviam a centenas de trabalhadores.

Os operários também tinham alimentos armazenados sem refrigeração e estavam expostos à intensa radiação solar, "apresentando sinais visíveis de danos à pele". O MTP ainda acusou as empresas de reter os passaportes dos trabalhadores e de deter 60% dos seus salários – os demais 40% seriam pagos em moeda chinesa.

Após a autuação, o MPT afirmou que os trabalhadores haviam sido vítimas de tráfico internacional de pessoas e optou por interditar a obra e resgatar os 163 trabalhadores dos locais. Os operários foram enviados a hotéis. Dias depois, o governo brasileiro suspendeu a emissão de vistos de trabalho temporários para a BYD.

Os trabalhadores haviam entrado no país com vistos de trabalho temporário tipo 5, que são reservados para pessoas com formação e experiência específicas – o que não teria sido o caso dos cidadãos chineses. Por isso, o Ministério das Relações Exteriores suspendeu os vistos. O governo, contudo, não fez comentários para além do posicionamento da força-tarefa.

Procurada pela DW, a BYD afirmou que colaborou com as autoridades brasileiras e reforçou que não tolerará desrespeito à lei brasileira e à dignidade humana.

Especialistas ouvidos pela DW dizem que o episódio mostra que empresas estrangeiras terão que se adequar às normas brasileiras – apesar da importância política da indústria.

"Foi uma atuação ainda mais significativa por ter ocorrido em uma empresa que desfruta de forte apoio político, tanto no governo federal quanto na Bahia, pela importância que seus investimentos no Brasil têm para os projetos de reindustrialização do presidente Lula", comenta Maurício Santoro, cientista político e professor de Relações Internacionais na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Mancha no projeto da reindustrialização do Brasil

Em Camaçari, próximo a Salvador, o sol brilha e faz forte calor na maioria dos dias. A cidade de 300 mil habitantes também representa um pouco da história recente da indústria brasileira. Foi lá que a Ford inaugurou uma fábrica em 2001, com investimentos de 1,2 bilhão de dólares. Em 2021, a montadora americana anunciou que fecharia a fábrica na cidade e deixaria de produzir carros no Brasil, refletindo a derrocada da indústria no país, que teve apenas 11% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) daquele ano.

Eleito em 2022 com a intenção de reindustrializar o Brasil, o terceiro governo Lula buscou empresas parceiras interessadas em se instalar no país. No ano seguinte, a gigante chinesa BYD anunciou um investimento de R$ 3 bilhões em uma nova fábrica para a produção dos seus carros elétricos, em parte do terreno de que já pertenceu à Ford. A montadora acabou se tornando um símbolo tanto do estreitamento de relações entre Brasil e China quanto da influência chinesa no país sul-americano.

"São investimentos vultosos que indicam que a marca chegou para brigar de forma estruturada no mercado brasileiro automotivo. Não são aventureiros, como eventualmente observamos", avalia Milad Kalume Neto, consultor do setor automotivo.

A chegada da BYD também representou esperança para a economia local. "A Ford criou um conjunto de empresas para apoiar a sua operação. Não apenas fornecedores, mas pequenas empresas se desenvolveram prestando serviços. Com a saída, estas empresas tiveram diminuição de suas atividades e, agora, passam a ter novamente a possibilidade de trabalhar para uma montadora", completa.

Consequências jurídicas para a BYD

O investimento bilionário da BYD na nova fábrica não impediu, porém, que os trabalhadores chineses responsáveis pela construção da planta fossem encontrados em condições degradantes. Nesta terça-feira (07/01), o MPT se reuniu em audiência com representantes da BYD e de empresas envolvidas na construção. Segundo o órgão, todos os resgatados já receberam os valores referentes à rescisão dos contratos e retornaram para a China.

Já a proposta de termo de ajuste de conduta que seria apresentada neste encontro "ficou para a próxima semana, quando o relatório da fiscalização realizada no canteiro de obras estará finalizado". Por isso, haverá uma nova reunião, ainda sem data marcada, para discutir os termos de acordos para esses trabalhadores estrangeiros.

Para Paulo Feldmann, economista e professor da FIA Business School, o ingresso de trabalhadores estrangeiros para a obra da BYD se assemelha ao modo como multinacionais chinesas atuam na África e em países mais pobres da América Latina, para onde costumam levar muitos trabalhadores.

A prática traz pouco benefício para os países que recebem os investimentos, destaca. "Para o Brasil, teria sido melhor que esses trabalhadores fossem locais, pela renda que isso geraria para eles e suas famílias, o impacto positivo em suas comunidades e a capacitação profissional que iriam adquirir. Também seria mais fácil fiscalizar suas condições de trabalho."

Como os chineses reagiram ao caso?

A reação pública na China se dividiu entre ceticismo em relação a acusações estrangeiras e discussões sobre direitos trabalhistas no país.

Após o escândalo, a BYD e a contratada Jinjiang Group refutaram a acusação, rotulando-a como parte de uma campanha de difamação contra marcas chinesas.

"Quando alguém quer acusar você, não faltam desculpas", postou Li Yunfei, diretor de Marca e Relações Públicas do grupo BYD, no Weibo, uma plataforma de microblog popular na China. Li então acusou forças estrangeiras de manchar deliberadamente a imagem da China e tentar prejudicar suas relações com o Brasil.

O Jinjiang Group também divulgou um vídeo no qual trabalhadores chineses leem uma declaração, assinada com suas impressões digitais, afirmando que "ser injustamente rotulados como 'escravizados' deixou seus funcionários se sentindo profundamente insultados... a dignidade do povo chinês severamente prejudicada."

A narrativa foi ecoada pela mídia estatal e por muitos internautas chineses que caracterizam o escândalo como um desafio enfrentado por corporações nacionais que se expandem para o exterior.

Porém, houve críticas na China apontando que as condições de trabalho na fábrica da BYD no Brasil são semelhantes às dos trabalhadores da construção civil no país asiático. Isso gerou discussões online sobre quantos trabalhadores na China podem estar vivendo em condições análogas à escravidão pelos padrões internacionais.

O mercado de trabalho chinês é conhecido pela chamada cultura de trabalho 996, que envolve trabalhar das 9h às 21h, seis dias por semana, apesar de violar as leis trabalhistas. O fenômeno predomina especialmente no setor de tecnologia.

"Eu estou do lado do Brasil", comentou um usuário em uma postagem do Weibo. "Trabalhadores chineses estão sendo explorados implacavelmente".

Atuação da Justiça no Brasil

Apesar da repercussão internacional do caso, a atuação das autoridades brasileiras no caso BYD não deve interferir nos investimentos chineses no país, avalia o economista Paulo Feldmann.

"O mercado brasileiro é hiper atraente para as empresas chinesas. Então elas vêm para o Brasil principalmente por conta desse mercado. Não acho que a relação entre Brasil e China corra algum risco por causa desse episódio", afirma.

Para ele, o investimento bilionário na Bahia mostra que o país também se tornou importante para a BYD após as restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos, Canadá e União Europeia dificultarem a expansão da montadora.

O cientista político Maurício Santoro avalia que a calorosa recepção das autoridades brasileiras pode ter passado um sinal de complacência e influenciado a decisão da BYD de terceirizar a obra e não fiscalizar as condições de trabalho.

"O governador da Bahia, por exemplo, chegou a elogiar a sensibilidade social da BYD com os trabalhadores. O presidente Lula recebeu a vice-presidente da empresa, já em meio às denúncias de trabalho escravo, e não manifestou publicamente nenhuma preocupação com o tema", diz.

Ele espera que o caso sirva de lição para os investidores chineses sobre a independência dos Poderes no Brasil. "Eles aprenderam que, independentemente dos acordos que façam com líderes políticos, o Ministério Público e o Judiciário atuam de maneira própria e fazem valer as leis trabalhistas. Sendo otimista, isso pode prevenir novos abusos", completa.

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OUTRO LADO

Após a publicação deste texto, a assessoria de imprensa da BYD enviou comunicado à DW dizendo que "encerrou definitivamente o contrato com a construtora Jinjiang" e que contratou uma empresa brasileira – cujo nome será divulgado nos próximos dias – "para realizar as adequações necessárias [às exigências do Ministério do Trabalho e Emprego] na fábrica de Camaçari".

A conclusão da obra na Bahia, de acordo com a montadora, será acompanhada por um comitê de prestação de contas ("compliance"), criado em 08/01. O órgão é responsável "por avaliar as condições de trabalho, alimentação, segurança e moradia dos funcionários terceirizados". O texto ainda destaca que a fábrica em Camaçari continua sendo construída, "respeitando apenas embargos parciais por parte dos auditores" do MTE.

A empresa ainda tem trabalhadores estrangeiros na Bahia e informou que todos eles estão hospedados em hotéis. A montadora estaria selecionando "novas moradias" para os funcionários que estão no Brasil a trabalho. Estas "deverão seguir todas as normas brasileiras". "Todos os trabalhadores das construtoras contratadas para a obra agora almoçam no refeitório e recebem as refeições de acordo com as regras trabalhistas. O espaço é o mesmo usado pelos colaboradores da BYD em Camaçari".

Short teaser Resgate de pessoas em fábrica de montadora põe investidores estrangeiros na mira da Justiça brasileira.
Author Vinicius Pereira, Yuchen Li (colaboração (Taipei))
Item URL https://www.dw.com/pt-br/escândalo-da-byd-expõe-contradições-do-investimento-chinês-no-brasil/a-71247411?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 15
Id 71319685
Date 2025-01-16
Title Morre o cineasta David Lynch, aos 78 anos
Short title Morre o cineasta David Lynch, aos 78 anos
Teaser

David Lynch marcou a história do cinema e da televisão com produções surrealistas

Renomado diretor americano, Lynch também era reconhecido por seu trabalho como escritor e artista plástico.O renomado cineasta americano David Lynch, diretor de Cidade dos Sonhos e Twin Peaks, morreu nesta quinta-feira (16/01), aos 78 anos. "É com grande pesar que nós, sua família, anunciamos o falecimento do homem e do artista, David Lynch", escreveram os familiares do diretor nas redes sociais. "Agora há um grande buraco no mundo, já que ele não está mais conosco. Mas, como ele diria, 'Mantenha seus olhos no donut e não no buraco.'" A causa da morte ainda não é conhecida. Em 2024, ele havia afirmado que lutava contra um enfisema pulmonar. Quem foi David Lynch? Aclamado como um artista que se dedicou ao cinema, televisão, pintura e música, Lynch foi considerado um dos grandes autores do cinema. O diretor é conhecido por trazer uma narrativa surrealista em suas obras, navegando da ficção científica, com Duna, ao suspense neo-noir Veludo Azul. Em 1980, seu drama biográfico estrelado por Anthony Hopkins, O homem elefante, recebeu oito indicações ao Oscar. O primeiro prêmio internacional do diretor, porém, veio com a Palma de Ouro, do Festival de Cannes de 1990, por Coração Selvagem. Ele voltou a vencer um prêmio, desta vez de direção, em Cannes, em 2001, por Cidade dos Sonhos. Ao todo, o cineasta recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo três indicações de Melhor Diretor. Em 2019, recebeu o Oscar honorário por suas realizações ao longo da vida. Com a inovadora série de televisão Twin Peaks, Lynch deixou uma marca ainda maior em sua carreira. O drama surrealista de mistério e horror rompeu com os padrões até então praticados em séries de TV. Alguns dos maiores nomes de Hollywood participaram de seus filmes, como Kyle MacLachlan, Laura Dern e Richard Farnsworth. "Seus filmes resistiram ao teste do tempo", diz Spielberg O cineasta americano Steven Spielberg prestou homenagem a Lynch, descrevendo-o como um "sonhador singular e visionário que dirigiu filmes que pareciam feitos à mão". "O mundo vai sentir falta de uma voz tão original e única. Seus filmes já resistiram ao teste do tempo e sempre resistirão", afirmou Spielberg. Em novembro de 2009, Lynch concedeu uma entrevista à DW ao apresentar seu trabalho como artista plástico. Na ocasião, cerca de 140 obras do diretor foram expostas Museu Max Ernst de Brühl. "Eu sempre digo que são as ideias que dizem a você o que fazer, e caso você se apaixone por elas, então você se vê transmitindo tais ideias através de um meio, um meio ou outro", disse à época. "Para nós seres humanos é emocionante captar tais ideias que levam à construção de algo. Existem diferentes coisas, como aquarelas, fotografia de natureza morta, há pintura, escultura, fotografias, como também manipulações de fotografias. Existe uma infinidade de coisas possíveis, mas é a ideia que comanda o barco." gq (DW, ots)


Short teaser Renomado diretor americano, Lynch morreu aos 78 anos.
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Image caption David Lynch marcou a história do cinema e da televisão com produções surrealistas
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Item 16
Id 71319477
Date 2025-01-16
Title Geração de energia nuclear deve bater recorde em 2025, diz AIE
Short title Geração de energia nuclear deve bater recorde em 2025
Teaser Agência Internacional de Energia prevê pico de produção nuclear neste ano, impulsionado pela crescente demanda por eletricidade e por países emergentes, principalmente a China.

A crescente demanda por eletricidade em todo mundo deve elevar a produção de energia nuclear a um nível recorde em 2025, segundo estudo da Agência Internacional de Energia (AIE) divulgado nesta quinta-feira (16/01).

"Hoje está claro que o forte retorno da energia nuclear previsto pela AIE há vários anos está bem encaminhado, com a energia nuclear pronta para gerar um nível recorde de eletricidade em 2025", disse o diretor executivo da AIE, Fatih Birol.

A agência projeta que o conjunto global de 410 reatores em 30 países produza 2.900 terawatts-hora em 2025, impulsionado pelas demandas da indústria, centros de dados e até veículos elétricos.

Crescimento em países emergentes

Embora alguns países como a Alemanha estejam eliminando gradualmente a energia nuclear ou desativando suas usinas, outros seguem no caminho contrário.

De acordo com a organização, a geração global de eletricidade nuclear deve crescer até o final do ano, já que 40 países buscam expandir ou implantar usinas deste tipo em 2025 – o maior interesse no modelo desde a crise do petróleo na década de 1970.

Até o final de 2024, 62 novos reatores nucleares estavam em implantação, correspondentes a 70 gigawatts de produção. Destes, 46 estavam sendo construídos por economias emergentes, metade deles somente na China. O país asiático agora tem a terceira maior frota nuclear em operação no mundo.

O Japão também está retomando a produção e novos reatores estão entrando em operação em países como Índia e Coreia do Sul. Na Europa, a França concluiu o trabalho de manutenção em suas usinas nucleares, embora enfrente atrasos e aumentos de custos devido à necessidade de modernização das plantas.

A agência alertou que a expansão da energia nuclear depende muito da tecnologia e dos recursos chineses e russos, como o urânio, o que acarreta o risco de futuras dependências.

Investimento privado

A AIE disse ainda que, embora a energia nuclear tenha tradicionalmente dependido de financiamento estatal, os investidores privados também são necessários para uma rápida expansão do setor;

Isso acontece em especial dado o crescimento de uma nova geração de reatores nucleares, os chamados "Pequenos Reatores Modulares", que deve ganhar maior protagonismo nos próximos anos, segundo a AIE.

Hoje a energia nuclear é responsável por quase 10% da geração global de eletricidade e é a segunda maior fonte de eletricidade de baixa emissão, depois da energia hidrelétrica.

gq/ra (AFP, DPA, ots)

Short teaser Agência Internacional de Energia prevê pico de produção nuclear, impulsionado por países emergentes.
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Item 17
Id 71318008
Date 2025-01-16
Title Vaca fertilizada in vitro na Escócia emite menos metano
Short title Vaca fertilizada in vitro na Escócia emite menos metano
Teaser

A chegada de Hilda foi anunciada como um marco para a redução da pegada de carbono da indústria

Hilda está sendo anunciada como um avanço significativo rumo a uma indústria de laticínios e a pecuária mais verdes. Mas será que tecnologia basta para conter o impacto do setor sobre o clima?O nascimento de uma vaca leiteira na Escócia está sendo celebrado como um avanço nos esforços para reduzir as emissões agrícolas. Criada para emitir menos gases, Hilda é a primeira bezerra do rebanho de vacas de Langhill, no sul do país, a nascer por meio de fertilização in vitro. Os arrotos e o esterco do gado produzem metano, um gás de efeito estufa que aquece o planeta e é até 80 vezes mais potente do que o CO2 em um prazo de 20 anos. A pecuária gera cerca de 30% das emissões globais de metano, e dois terços desse volume vêm do gado usado para a produção de carne ou leite. A chegada da bezerra escocesa foi saudada por veterinários e cientistas como um momento significativo para a redução da pegada de carbono do setor. Acelerando a redução do metano Hilda é o resultado da combinação de três tecnologias, explica Mike Coffey, professor da Scotland's Rural College, uma universidade com foco em sustentabilidade e parceira do projeto. Elas são: a capacidade de prever a produção de metano de uma vaca com base em seu DNA, a extração de óvulos de animais mais jovens e a sua fertilização com sêmen selecionado. "Você mistura essas três [tecnologias] e isso permite acelerar a seleção de fêmeas para reduzir a produção de metano, um bezerro de cada vez", diz Coffey, acrescentando que repetir esse procedimento durante alguns anos levaria a um rebanho com baixa emissão de metano. Rob Simmons, do Paragon Veterinary Group, outro parceiro do projeto, afirmou à agência PA Media que o "aprimoramento genético na eficiência do metano" seria "fundamental para continuar a fornecer alimentos nutritivos ao público e, ao mesmo tempo, controlar o impacto das emissões de metano no meio ambiente no futuro". O rebanho de Langhill é o foco do projeto de genética de gado mais antigo do mundo e seleciona as vacas com base em fatores como saúde, fertilidade, produtividade e consumo de ração. A seleção tradicional baseada nessas características ajudou até agora a reduzir as emissões de metano em cerca de 1% ao ano, segundo Coffey. Ele assegura que essa nova técnica deve aumentar essas reduções em 50% a cada ano, o que equivaleria a um corte geral de 30% nas emissões nos próximos 20 anos. Um estudo canadense publicado no ano passado também sugeriu que fazendeiros que selecionassem e criassem vacas para melhorar a emissão de metano poderiam obter reduções de até 30% até 2050. Viabilidade da tecnologia No total, há 1,5 bilhão de bovinos no mundo, dos quais cerca de 270 milhões são vacas leiteiras. Em 2022, o setor global de laticínios valia quase 900 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 5,4 trilhões). O processo de produção de uma vaca como Hilda custa atualmente cerca de duas vezes mais do que o valor econômico do animal, afirma Coffey. "Não seria lucrativo [para os fazendeiros] da forma como está atualmente. Mas o objetivo desse projeto foi demonstrar que ele pode funcionar." Ele diz que a próxima etapa é encontrar formas de financiar uma ampliação do projeto. "[Queremos saber] que alavancas o governo tem para permitir que seja economicamente viável para os agricultores fazerem isso, assim como eles [o governo] fizeram com carros elétricos." Coffey acha que a mudança para carros elétricos também é uma boa analogia para a velocidade da mudança na redução do metano das vacas. "Haverá um momento em que eles deixarão de produzir carros a gasolina, mas os carros a gasolina existentes ainda continuarão e terão uma vida, e isso é o mesmo que o rebanho de vacas." No entanto, Coffey enfatiza que o projeto faz parte de uma onda muito mais ampla de esforços científicos. Além daqueles que usam a seleção genética, outros projetos estão analisando o impacto de aditivos para ração, como algas marinhas, ou colhendo o metano produzido pelo esterco e transformando-o em biogás que pode abastecer veículos ou aquecer residências. O rebanho de Langhill também tem sido usado em estudos que exploram como as mudanças na dieta e o uso de fertilizantes afetam as emissões de gases de efeito estufa produzidas pela pecuária leiteira. "A maioria dos outros países do mundo está fazendo a mesma coisa. É como uma corrida internacional para reduzir as emissões de metano dos ruminantes o mais rápido possível", diz Coffey. Criação seletiva é o suficiente? As emissões de metano estão aumentando mais rapidamente em termos relativos do que qualquer outro gás de efeito estufa, de acordo com um estudo da Universidade Stanford. Cientistas afirmam que as melhorias tecnológicas no gerenciamento das fazendas não podem reduzir essas emissões na escala necessária para atingir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius em relação ao período pré-industrial. Eles argumentam que a única maneira de conseguir isso é reduzir significativamente a produção de carne e laticínios e mudar para dietas mais baseadas em vegetais. Os setores de carne e laticínios contribuem com 12 a 20% das emissões globais de gases de efeito estufa e respondem por 60% das emissões provenientes dos sistemas alimentares, segundo artigo publicado na revista nature food. Isso se deve, em grande parte, ao dióxido de carbono liberado pelo desmatamento de florestas para pastagem e alimentação, bem como ao metano proveniente da pecuária. De acordo com um outro estudo publicado na nature climate change, a redução do consumo de carne e laticínios poderia diminuir as emissões globais da dieta em 17%. Os cientistas afirmam que uma redução de 45% nas emissões de metano até 2030 poderia ajudar a evitar 0,3ºC de aquecimento. "Somente até 2030, em uma trajetória normal, as emissões do setor pecuário consumirão quase 50% do orçamento de emissões de GEE [gases de efeito estufa] compatível com a limitação do aumento da temperatura global a 1,5ºC", afirmou um relatório recente da Harvard Law School elaborado por mais de 200 especialistas em clima e agricultura. Apesar da crescente popularidade de alternativas à base de plantas – como o leite de amêndoas e de aveia – em algumas partes do mundo, leite e laticínios são consumidos por cerca de 6 bilhões de pessoas em todo o mundo, e espera-se que a demanda cresça de forma constante na próxima década, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). A entidade projeta também um aumento de até 14% no consumo global de carne até 2030.


Short teaser Hilda está sendo anunciada como avanço significativo para tornar indústria leiteira menos prejudicial ao meio ambiente.
Author Holly Young
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Image caption A chegada de Hilda foi anunciada como um marco para a redução da pegada de carbono da indústria
Image source Phil Wilkinson/Sruc/PA Media/dpa
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Item 18
Id 71319204
Date 2025-01-16
Title Pobreza atinge metade das crianças e adolescentes no Brasil
Short title Pobreza atinge metade das crianças e adolescentes no Brasil
Teaser

Falta de moradia, saneamento e renda melhorou no país, mas desigualdade entre crianças e adolescentes brancas e negras permanece

Estudo da Unicef mostra melhora em indicadores de renda e acesso a direitos básicos desde 2017. Mas pobreza multidimensional ainda atinge quase 29 milhões de menores de 17 anos – e afeta mais negros que brancos.Mais da metade das crianças e adolescentes brasileiras vivem em situação de pobreza multidimensional, segundo o estudo Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) nesta quinta-feira (16/01). De acordo com o Unicef, 28,8 milhões de crianças e adolescentes até 17 anos viviam nesta situação em 2023, o equivalente a 55,9% do total. O número, porém, é menor do que o observado em anos anteriores. Em 2017, a pobreza atingia 34,3 milhões de crianças e adolescentes, mais de 6 em cada 10. A pobreza multidimensional extrema também caiu, de 13 milhões (23,8%) de pessoas, em 2017, para 9,8 milhões (18,8%), em 2023. A análise considera não apenas a renda das famílias, mas também o nível de educação, acesso à informação, água, saneamento, moradia, proteção contra o trabalho infantil e segurança alimentar. "A pobreza infantil é multidimensional porque vai além da renda. Ela é resultado da relação entre privações, exclusões e vulnerabilidades que comprometem o bem-estar de meninas e meninos", diz Liliana Chopitea, chefe de Políticas Sociais do Unicef no Brasil, em nota publicada no site da instituição. "Os resultados deste estudo mostram que o Brasil conseguiu avançar nas diversas dimensões avaliadas, reduzindo a pobreza multidimensional e impactando positivamente meninas e meninos em todo o país", conclui. Aumento da renda impulsiona indicadores Segundo o estudo, que se baseia na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a redução dos indicadores de pobreza foi impulsionada principalmente pela ampliação de programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial, instituído em resposta à crise provocada pela pandemia e, a partir de 2022. Segundo a pesquisa, cerca de 17,9 milhões de famílias eram beneficiárias dos programas no primeiro trimestre de 2022. Esse número aumentou para aproximadamente 21,6 milhões de famílias no primeiro trimestre de 2023. Em termos absolutos, o estudo mostra que, em 2019, 750 mil crianças e adolescentes saíram da pobreza devido aos programas de transferência de renda. Em 2022, esse número saltou para 2,9 milhões, até crescer mais uma vez para 4 milhões, em 2023. Com isso, a dimensão renda foi uma das que apresentaram a redução mais significativa de famílias em situação de vulnerabilidade no período analisado. Em 2017, por exemplo, uma a cada quatro crianças e adolescentes de até 17 anos vivia abaixo da linha da pobreza monetária (25,4%), cuja renda familiar era inferior a R$ 355 mensais por pessoa. Em 2023, esse percentual caiu para 19,14%, o que equivale a aproximadamente uma em cada cinco crianças e adolescentes. Outras categorias O percentual de crianças sem acesso à informação também teve uma mudança drástica no período analisado, caindo de 17,5% para 3,5% no período analisado. Na dimensão água, o recuo foi de 6,8% para 5,4%. No caso do saneamento o percentual caiu de 42,3% para 38%. Já em relação a moradia, os valores oscilaram de 13,2% para 11,2% crianças sem condições adequadas de habitação em seis anos. A insegurança alimentar também teve redução de 50,5% em 2018 para 36,9%, em 2023. Com relação ao percentual de crianças e adolescentes em trabalho infantil, houve estabilidade, de 3,5% para 3,4%, o que ainda significa que 1,7 milhão de meninos e meninas estão nesta situação. A organização destaca o impacto negativo da pandemia da covid-19 nesse período. Em 2023, cerca de 30% das crianças entre sete e oito anos de idade não estavam alfabetizadas, em comparação a 14% em 2019, por exemplo. Desigualdades Apesar das reduções, o país apresenta ainda diversas desigualdades. A pobreza multidimensional entre crianças e adolescentes negros permanece, segundo o estudo, mais alta em comparação com brancos. Enquanto, entre meninas e meninos brancos, 45,2% estão em pobreza multidimensional, entre negros o percentual é de 63,6%. Há também diferenças geográficas. Dados da pesquisa mostram que a maior parte das crianças e adolescentes que residem em áreas rurais enfrentam privações de direitos. Esse percentual passou de 96,3% em 2017 para 95,3%, em 2023. No caso de áreas urbanas a privação recuou de 55,3% para 48,5%. A privação ao saneamento básico é o maior destaque, chegando a quase 92% das crianças e adolescentes de áreas rurais, enquanto nas áreas urbanas é de 28%. "A pobreza afeta mais as crianças e adolescentes justamente porque estão em um momento de desenvolvimento. Qualquer direito que não seja garantido na idade certa pode ter consequências a médio e longo prazo para o desenvolvimento das crianças, e a longo prazo também para a economia de um país", diz Chopitea. gq/ra (Agência Brasil, ots)


Short teaser Estudo da Unicef mostra que indicadores melhoraram no país, mas pobreza ainda atinge 28,8 milhões de menores de 17 anos.
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Image caption Falta de moradia, saneamento e renda melhorou no país, mas desigualdade entre crianças e adolescentes brancas e negras permanece
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Item 19
Id 71307355
Date 2025-01-16
Title Após anúncio da Meta, o que muda no Instagram e Facebook?
Short title Após anúncio da Meta, o que muda no Instagram e Facebook?
Teaser

Dona de Instagram, Facebook e Threads, Meta encerrará programa independente de verificação de fatos

Com o encerramento da checagem independente, empresa vai adotar recurso de "notas da comunidade". Entenda como funciona modelo já utilizado no X.A comunidade de usuários de redes sociais foi pega de surpresa com o anúncio da Meta de que vai relaxar medidas tomadas contra a circulação de conteúdos suspeitos no Instagram, Facebook e Threads. Em vídeo, Mark Zuckerberg disse ter decidido encerrar o programa independente de verificação de fatos porque os moderadores de conteúdo são "tendenciosos demais". Em substituição a esse modelo, o presidente da gigante tecnológica vai adotar o modelo de notas da comunidade. A função de marcar postagens com comentários de usuários selecionados é utilizada desde 2021 pelo X, que chegou a ser suspenso no Brasil pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, em 2024. Zuckerberg até citou a rede social de Elon Musk em seu pronunciamento, sugerindo a existência de "tribunais secretos" na América Latina que obrigariam as empresas a removerem conteúdos. "Vamos trabalhar com o presidente [Donald] Trump para resistir a governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e pressionando por mais censura", disse o proprietário do Instagram e do Facebook. Sua empresa Meta também controla o WhatsApp, mas o aplicativo não tem moderação de conteúdo por usar criptografia nas trocas de mensagens. Até agora, pouco se sabe sobre como a Meta vai lidar com fake news daqui para frente. De acordo com a empresa, as notas da comunidade devem ser implementadas nos próximos meses nos Estados Unidos. Para o Brasil, ainda não há data para o recurso entrar em vigor, declarou a empresa americana à Advocacia-Geral da União (AGU), que pediu esclarecimentos sobre as novas políticas da gigante tecnológica no país. Atualmente a Meta identifica temas como drogas, exploração infantil, terrorismo e fraudes como de "maior gravidade". O fim da moderação independente valerá para as postagens consideradas de "menor gravidade" – ou seja, as denunciadas pelos usuários. No entanto, essa classificação deverá sofrer mudanças. Um dia após o anúncio de Zuckerberg, a Meta atualizou as diretrizes sobre o que considera discurso de ódio, possibilitando a circulação de opiniões que, por exemplo, associem orientação sexual e gênero a doenças mentais. À AGU, a empresa se disse "comprometida em respeitar os direitos humanos" e a "liberdade de expressão". O que vai mudar na prática? O modelo de checagem de informações independente começou a ser utilizado pela Meta em 2016, na esteira da primeira eleição do republicano Donald Trump para a presidência dos EUA. Os moderadores, parte de uma rede de 80 veículos e agências de jornalismo associados à Aliança Internacional de Checagem de Fatos, do Instituto Poynter, auxiliavam as plataformas da Meta a identificarem conteúdos suspeitos. A seleção das postagens potencialmente falaciosas podia ser feita pelos checadores independentes ou pela própria Meta, que lhes enviava material viral suspeito de desinformação. Os moderadores verificavam os dados ou imagens apurando as fontes primárias para garantir que os dados utilizados eram factualmente corretos. Identificada uma violação, os checadores informavam a Meta. Esta podia então reduzir o alcance, exibir um rótulo informativo ou suspender a postagem. Esse tipo de contato entre organizações independentes e a administração das plataformas não vai mais existir para as postagens de "menor gravidade". Se o modelo utilizado seguir o exemplo do X, o conteúdo suspeito vai receber, abaixo da publicação, um acréscimo em forma de texto escrito por usuários. Na plataforma de Elon Musk, essas informações indicam "sensacionalismo", "falta de comprovação" e inserem contexto ou correções ao material. A postagem, porém, pode ser clicada da mesma forma que as demais, sem ter nenhum "carimbo". Além disso, por ficar no fim do texto, as notas são as últimas informações a serem lidas pelo usuário. No X, o recurso funciona assim: alguns usuários mais atuantes se oferecem e são selecionados para integrar o grupo que pode acrescentar as observações. Depois disso, elas são avaliadas por outros usuários do grupo autorizado. Se bem aceitas, as notas podem ser incluídas. Mas isso não garante que o rodapé informativo vai aparecer no post. O modelo do X prega a imparcialidade total dos comentários, e para isso é necessário que eles sejam reconhecidos como positivos por contas de visões políticas opostas, cujas orientações ideológicas são analisadas por um algoritmo que varre as postagens dos colaboradores. De acordo com o nível de concordância entre esses usuários – o que, em posts políticos, é ainda mais complicado –, a plataforma decide se a nota tem muita, pouca ou nenhuma visibilidade para o resto dos internautas. Novo modelo da Meta vai funcionar? A grande questão é como será implementada essa função nas redes sociais da Meta – Instagram, Facebook e Threads. No exemplo do X, são poucas as informações disponíveis sobre quem efetivamente trabalha para incluir as notas da comunidade. "Há coisas que não estão claras: quantas pessoas deverão opinar sobre uma postagem para que vire uma nota, por exemplo. Existem pormenores que não estão claros", lembra Iná Jost, coordenadora de pesquisa do InternetLab, organização voltada para o estudo dos direitos humanos na internet. Segundo ela, mesmo ainda envolta em dúvidas, a mudança representa um retrocesso. "Me parece voltar algumas casas numa política dos últimos anos de melhora dos sistemas de moderação de conteúdo. Não era perfeito, mas foi se ajustando de acordo com certas demandas. Um bom exemplo era a política de desinformação sobre saúde, que veio depois da pandemia: teve demanda e comprometimento da empresa com isso", aponta Jost. A pesquisadora diz não ser contra as notas da comunidade, mas reforça que elas precisam estar aliadas a outros processos de checagem. De fato, um levantamento feito pela empresa de dados Lagom Data a pedido da Agência Lupa indicou que, entre março e dezembro de 2023, foram aceitas 8% das 6,8 mil sugestões de notas indicadas pela comunidade de falantes do português na plataforma. Por que a mudança? O alinhamento de Zuckerberg ao discurso de Trump e da direita por uma "liberdade expressão" irrestrita não ficou só nas novas políticas das redes sociais. Na sexta-feira (10/01), um dia após o anúncio do fim da moderação independente, a Meta divulgou o encerramento dos programas internos de diversidade e inclusão da empresa. Além de um aceno trumpista, Zuckerberg pode estar enxergando nesse movimento uma oportunidade de negócios, explica o diretor-executivo do Instituto de Tecnologia & Sociedade (ITS) do Rio de Janeiro, Fabro Steibel. Segundo ele, há uma demanda explícita de atores políticos de direita pela circulação de conteúdo desenfreada e com discursos que até então eram barrados pelas redes sociais da Meta – mas não por concorrentes como o X. "Estão vindo muito mais Bolsonaros e Trumps do que Bidens e Lulas. Acho que estão apostando nisso, que essas pessoas precisam não de uma plataforma, mas de todas, para espalhar a mensagem. Não é mais questão de conteúdo, é o conjunto de atos, é a viralização", conclui Stiebel.


Short teaser Com o fim da checagem independente, empresa adota "notas da comunidade". Entenda como funciona modelo já utilizado no X.
Author Fábio Corrêa
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Image caption Dona de Instagram, Facebook e Threads, Meta encerrará programa independente de verificação de fatos
Image source Jens Büttner/dpa/picture alliance
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Item 20
Id 71314270
Date 2025-01-16
Title Uso excessivo de tela reduz massa cerebral, apontam estudos
Short title Excesso de tela estaria de fato "apodrecendo" cérebros?
Teaser Consumo compulsivo de conteúdos de baixa qualidade está associado a redução no volume de massa cinzenta em regiões do cérebro responsáveis por tomada de decisões, apontam estudos.

Embora possa parecer exagerado à primeira vista, o termo "cérebro podre" ou "podridão cerebral", da expressão em inglês "brain rot", pode ser mais literal do que pensamos. Eleita a palavra do ano de 2024 pelo Dicionário Oxford por mais de 37 mil pessoas, o termo descreve, de acordo com a Oxford University Press, a deterioração mental causada pelo consumo excessivo de conteúdo superficial, especialmente na internet. As citações ao termo em inglês aumentaram 230% entre 2023 e 2024, refletindo uma preocupação social crescente com esse fenômeno.

Assim, o que começou como uma expressão coloquial encontrou apoio na ciência. Pesquisas citadas pelo jornal britânico The Guardian indicam que o uso excessivo de mídias sociais e o consumo compulsivo de conteúdo de baixa qualidade – como notícias sensacionalistas, teorias da conspiração e entretenimento vazio – podem literalmente encolher a massa cinzenta, diminuir a capacidade de atenção e enfraquecer a memória. Uma combinação de efeitos que faz com que o termo "podridão" não pareça exagerado.

Do e-mail à rolagem infinita

Os primeiros sinais de alarme soaram no início do século com algo que hoje nos parece inofensivo: o e-mail. Como o jornal El País noticiou recentemente, citando um artigo do Guardian de 2005, uma equipe da Universidade de Londres, após 80 testes clínicos, descobriu que o uso diário de e-mail e telefone celular causava uma queda média de dez pontos no QI dos participantes, um impacto que eles descreveram como mais prejudicial do que o uso de maconha.

Imagine então o que acontece agora com a constante enxurrada de tweets, stories, reels, notificações, pushes e fluxos intermináveis de conteúdo.

Os aplicativos modernos são projetados especificamente para nos manter viciados, aproveitando o que Michoel Moshel, pesquisador da Universidade Macquarie, descreveu ao El País como "a tendência natural do nosso cérebro de buscar novidades, especialmente quando se trata de informações potencialmente prejudiciais ou alarmantes, uma característica que já nos ajudou a sobreviver".

Mudanças cerebrais preocupantes

Em geral, o quadro atual é preocupante. Uma meta-análise de 27 estudos de neuroimagem revelou que o uso excessivo de internet está associado a uma redução no volume de massa cinzenta em regiões críticas do cérebro responsáveis pelo processamento de recompensas, controle de impulsos e tomada de decisões. De acordo com Moshel, essas alterações são semelhantes às observadas em casos de dependência de substâncias como metanfetaminas e álcool.

Além do ambiente clínico, o "uso desordenado de tela" tem sido estudado em ambientes educacionais. Uma meta-análise citada em um artigo do The Conversation, do qual Moshel é um dos autores, lista 34 estudos que vinculam o uso compulsivo a um desempenho cognitivo significativamente inferior, especialmente no que diz respeito a atenção sustentada e controle de impulsos. O problema, de acordo com o relatório, não se limita aos mais jovens; ele também afeta adultos que passam muitas horas na frente de celulares e computadores.

Ainda assim, o problema é particularmente grave entre os jovens. De acordo com dados de 2021 da ONG americana Common Sense Media citados no The Conversation, pré-adolescentes passam 5 horas e 33 minutos por dia em frente às telas, enquanto esse tempo é de 8 horas e 39 minutos para adolescentes.

Na Austrália, por exemplo, uma pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto Gonski da UNSW revelou que 84% dos educadores consideram tecnologias digitais uma distração na sala de aula. De acordo com uma pesquisa da organização australiana especializada em saúde mental Beyond Blue, citada pela emissora americana ABC, o tempo excessivo de tela está entre os principais desafios para os jovens, perdendo apenas para problemas de saúde mental.

Círculo vicioso da era digital

Eduardo Fernández Jiménez, psicólogo clínico do Hospital La Paz, em Madri, explicou ao El País que o cérebro ativa diferentes redes neurais para gerenciar diferentes tipos de atenção. O bombardeio constante de estímulos variáveis afeta particularmente nossa capacidade de atenção sustentada, que é fundamental para o aprendizado acadêmico.

O problema é agravado por um círculo vicioso difícil de romper: de acordo com um estudo publicado na revista Nature, pessoas com saúde mental debilitada têm maior probabilidade de consumir conteúdo de baixa qualidade, o que, por sua vez, piora seus sintomas. E quanto mais tempo se passa em frente à tela, mais difícil é reconhecer e limitar o problema.

Existe uma solução?

Especialistas recomendam uma abordagem em duas frentes: qualidade e quantidade. É fundamental estabelecer limites claros para o tempo de tela e fazer um esforço consciente para se desligar. Atividades que exigem presença física, como esportes ou reuniões com amigos, são essenciais para neutralizar os efeitos negativos do uso prolongado da tela, recomendou o psicólogo Carlos Losada em dezembro ao El País.

Também é importante dar prioridade a conteúdos educativos que evitem características viciantes e estabelecer intervalos regulares. Porque, como sugere a pesquisa, o "cérebro podre" pode ser mais do que uma metáfora, mas um processo real de deterioração cognitiva causada por nossos hábitos digitais.

Com as empresas de tecnologia projetando algoritmos para maximizar nosso tempo de tela e um público cada vez mais digitalizado, o desafio vai além do indivíduo. É preciso políticas públicas que incentivem a transparência e a educação digital crítica.

A ironia é que essa "podridão cerebral" pode estar alterando a forma como percebemos e respondemos ao mundo justamente quando mais precisamos de nossas capacidades cognitivas. Talvez seja hora de lembrar que existe um mundo além da tela, um mundo que nossos cérebros foram realmente projetados para explorar.

Short teaser É possível que o uso excessivo de internet cause danos cerebrais semelhantes aos de drogas pesadas, apontam estudos.
Author Felipe Espinosa Wang
Item URL https://www.dw.com/pt-br/uso-excessivo-de-tela-reduz-massa-cerebral-apontam-estudos/a-71314270?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 21
Id 71314987
Date 2025-01-16
Title [Coluna] Uma verdadeira Diva brasileira
Short title Uma verdadeira Diva brasileira
Teaser

Insurgência da qual Dona Diva tão bem nos lembrou também pode ser vista na vida miúda de pessoas negras que, de diferentes formas, se levantaram e seguiram adiante

Ao contar sua história de vida, Dona Diva Guimarães nos explicou o Brasil. Filha de escravizados, fez da educação uma ferramenta de transgressão. A ela, que nos deixou aos 84 anos, agradeço por ter sido insurgência.Conheci Dona Diva Guimarães da mesma forma que outros milhares de brasileiros: por meio de um vídeo que viralizou nas redes sociais em 2017. O vídeo registrava o momento no qual uma mulher de mais de 75 anos pedia a palavra em meio à mesa Territorialidades, na qual Lázaro Ramos lançava seu livro na Festa Literária de Paraty (Flip) – a maior feira de livros do Brasil. Com o microfone na mão, ela se recompôs depois de dizer da emoção de estar vivendo ali, aquele presente, e pediu licença para contar uma história que não seria assim, tão rapidinha. E com a voz embargada de quem guarda palavras há muito caladas, D. Diva nos explicou o Brasil. Foram pouco mais de 10 minutos em que ela passou por diferentes momentos de sua vida, cada um eles podendo ilustrar muito dos últimos 130 anos da história brasileira. Dona Diva disse que era neta de escravizados que foram libertos por uma abolição torta, que não lhes garantiu a cidadania plena. Disse também que sua mãe (a filha dos escravizados) fez absolutamente tudo o que estava ao seu alcance (lavando roupa em troca de caderno e lápis) para garantir que suas filhas tivessem a única coisa que poderia lhes garantir uma vida melhor: a escola. Uma escola que trouxe consigo a possibilidade real de um mundo maior e um futuro melhor, afinal D. Diva se tornou ela própria professora. Mas uma escola que, desde muito cedo, explicou para a menina Diva como o mundo funcionava. Ela se alongou um pouco mais para contar uma das primeiras e mais terríveis lições que aprendeu aos seis anos de idade, assim que entrou na escola: por meio de uma parábola, as freiras que trabalhavam no internato justificaram porque os brancos eram melhores que os negros. Segundo elas, em tempos bíblicos, Deus teria feito um rio para que todos se banhassem e purificassem, e por conta da sua preguiça inata, os negros teriam chegado por último nesse rio, só conseguindo banhar as palmas das mãos e as plantas dos pés. Isso explicaria não só porque os negros continuavam negros, com exceção das palmas das mãos e dos pés, mas também fomentava uma ideia muito bem construída naquele começo do século 20: os negros seriam preguiçosos, enquanto brancos eram inteligentes e aptos para o trabalho. Isso mesmo: naquela época, a abolição da escravidão não havia completado nem 40 anos, e o Brasil já contava uma versão torpe da sua própria história, na qual negava à população negra não só atributos inatos à humanidade (como a inteligência), mas também, e talvez sobretudo, o lugar de trabalhadores brasileiros. Eu poderia ficar muito tempo explicando as razões que levaram a Igreja e também o Estado brasileiro a fazerem da escola uma instituição que promovia ordenação racista. A história que as freiras contavam foi uma das tantas outras que crianças negras e brancas ouviram e aprenderam em sua vida escolar, e que ajudaram a sedimentar um projeto que segregava a população brasileira de um jeito menos direto, e talvez mais sofisticado, daquele que foi empregado em outros países como Estados Unidos e África do Sul. Mas o que realmente importa nessa história toda, é que Dona Diva Guimarães nunca aceitou essa história. E insurgente como era, resolveu dar o troco: fez da educação uma forma de transgredir, como muito bem nos ensina Paulo Freire e bell hooks. Ela estudou, tentou ser atleta, mas virou professora de educação física e, por 40 anos, trabalhou para que seus alunos e alunas andassem de cabeça erguida, e fizessem do estudo uma saída, mesmo em tempos difíceis, como na ditadura militar (1964-1985), em que saber demais poderia colocar sua liberdade e sua vida em risco. É importante dizer que a intransigência de D. Diva só foi possível porque atrás dela estava sua mãe, uma mulher negra, filha de escravizados e lavadeira, que tinha uma compreensão arguta daquele Brasil que ainda caminhava na experiência republicana, e que insistiu e garantiu que sua filha estudasse. Como outras tantas mães fizeram com seus filhos e filhas. E tão bonito quanto ver uma senhora de quase 80 anos se levantar para contar sua própria história, fazendo da sua vida uma ponte para se pensar o Brasil, é saber como mesmo em meio a toda singularidade que cada experiência humana traz, D. Diva é a cara do Brasil que todos nós sabemos que existe, mas sobre o qual estudamos muito pouco em nossas escolas. Dona Diva nos lembrou de uma insurgência que tem a mesma idade que esse país que chamamos de Brasil. Uma insurgência que vez ou outra é estampada nos rostos (conhecidos ou não) de heróis e heroínas recentemente reconhecidos, mas que também pode ser vista na vida miúda de pessoas negras que, de diferentes formas, se levantaram e seguiram adiante. Dona Diva Guimarães nos deixou no último sábado (11/01), aos 84 anos. A ela agradeço por ter sido insurgência e levante. __________________________________ Mestre e doutora em História Social pela USP, Ynaê Lopes dos Santos é professora de História das Américas na UFF. É autora dos livros Além da Senzala. Arranjos Escravos de Moradia no Rio de Janeiro (Hucitec 2010), História da África e do Brasil Afrodescendente (Pallas, 2017), Juliano Moreira: médico negro na fundação da psiquiatria do Brasil (EDUFF, 2020) e Racismo brasileiro: Uma história da formação do país (Todavia, 2022), e também responsável pelo perfil do Instagram @nossos_passos_vem_de_longe. O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.


Short teaser Ao contar sua história de vida, Dona Diva Guimarães nos explicou o Brasil. A ela agradeço por ter sido insurgência.
Author Ynaê Lopes dos Santos
Item URL https://www.dw.com/pt-br/coluna-uma-verdadeira-diva-brasileira/a-71314987?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Insurgência da qual Dona Diva tão bem nos lembrou também pode ser vista na vida miúda de pessoas negras que, de diferentes formas, se levantaram e seguiram adiante
Image source Fabio Teixeira/ZUMAPRESS/picture alliance
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Item 22
Id 71301789
Date 2025-01-15
Title Albert Schweitzer: herói humanista ou paternalista prepotente?
Short title Albert Schweitzer: herói ou paternalista prepotente?
Teaser Nobel da Paz é celebrado nos 150 anos de seu nascimento como humanista e filantropo. Para críticos, porém, silêncio sobre o Holocausto e condescendência com africanos são falhas graves na biografia do "Doutor da Selva".

Numerosas ruas e centenas de escolas da Alemanha portam o nome de Albert Schweitzer (1875-1965): há décadas o cientista, missionário, médico, filósofo, teólogo, autor, músico, musicólogo e Prêmio Nobel da Paz alemão é reverenciado, em especial por sua atividade humanitária na África. A clínica que fundou em Lambarena, no atual Gabão, no oeste do continente, valeu-lhe o cognome "Doutor da Selva".

Mas Schweitzer também era um filho de seu tempo. Nascido na Alsácia, então parte do Império Alemão e hoje pertencente à França, sua mentalidade foi em parte ditada pela constante e brutal colonização europeia de amplas regiões da África.

Com seus característicos bigodão e cabeleira branca, pensava e agia como um paternalista em plena "missão civilizatória": não bastava cuidar da saúde daquelas "crianças sem cultura", era preciso também fazer delas "seres humanos civilizados".

Estranha reticência sobre o Holocausto

A fama do cientista atraiu a atenção do regime nazista da Alemanha – apesar de ele ter criticado a ascensão de Adolf Hitler. O ministro da Propaganda Joseph Goebbels chegou a enviar-lhe um convite assinado "com saudações alemãs", o qual ele teria recusado educadamente, "com saudações centro-africanas".

Vivendo quase continuamente no Gabão desde 1924, Schweitzer mantinha distância dos horrores do Holocausto, mas também jamais condenou as atrocidades nazistas, o que lhe custou duras críticas da posteridade.

A jornalista e autora Caroline Fetscher – cujo livro Tröstliche Tropen (Trópicos consoladores) aborda a ambígua posição do "Doutor da Selva" na história alemã – acredita que ele "estava bem ciente da perseguição dos judeus", apesar de seu isolamento.

"No entanto, não protestou nem elevou a voz de nenhuma maneira, mesmo depois de 1945, mesmo com seus contemporâneos esperando e exigindo isso dele." Fetscher constatou que a maior parte dos médicos atuantes durante o regime nazista no hospital de Lambarena era de judeus forçados a fugir da perseguição na Europa.

Um dos clínicos, candidato à sucessão como diretor do hospital, trazia até tatuado no braço um número do campo de extermínio de Auschwitz, e "Schweitzer conhecia a história dele e sabia das atrocidades".

Além disso, sua esposa e parceira médica, Helene Schweitzer, tinha ascendência judaica, e escapara por um triz de ir para o campo de concentração. Assim, para diversos biógrafos esse silêncio representa "uma enorme falha" do Nobel da Paz de 1952, observa Fetscher.

Expiação pelos crimes dos brancos europeus

Por outro lado, Albert Schweitzer e sua equipe salvaram tantas vidas, combatendo as doenças e a mortalidade infantil no Gabão que talvez, de sua perspectiva, isso compensasse em parte os crimes da Segunda Guerra Mundial.

"Os alemães podiam recalcar a realidade da Shoah e das vítimas judaicas, engajando-se pelos 'pobres negros' em terras distantes, aos quais Albert Schweitzer, como 'bom alemão', tanto bem fazia", é a tese de Caroline Fetscher.

Assim, não é surpresa que, na Alemanha do pós-guerra, muitas crianças e jovens o tivessem como ídolo. Classes escolares inteiras escreviam-lhe cartas, sua foto estampava selos e artigos de jornal; muitos livros também contribuíam para sua reputação de filantropo heroico e abnegado.

Schweitzer considerava uma missão sua reparar os males gerados por outros europeus: "No fim das contas, todo o bem que façamos pelos povos das colônias não é beneficência, mas sim expiação pelo grande sofrimento que nós, brancos, lhes causamos, a partir do dia em que nossos navios aportaram em suas praias."

Em prol da "reverência pela vida"

Isso não significava que ele encorajasse as aspirações emancipatórias das populações colonizadas e exploradas, que desejavam erguer uma sociedade e economia funcionais, sem a ajuda dos brancos. Aos africanos, costumava dizer: "Sou teu irmão. Mas o teu irmão maior."

Mesmo à medida que os movimentos de emancipação avançavam irresistivelmente na África, essa atitude prepotente não se alterou fundamentalmente: "Precisamos nos arranjar com o fato de que os irmãozinhos negros também ficam adultos", comentou certa vez.

Apesar do legado paternalista, nos 150 anos de seu nascimento Albert Schweitzer está sendo celebrado como ativista humanitário e, mais tarde, da paz. O mundo não o conhece apenas como "Doutor da Selva", humanista e amigo dos animais, mas também como um opositor incansável do armamento nuclear durante s Guerra Fria.

Seu slogan, "Reverência pela vida", o também filósofo explicava assim: "Tendo reverência pela vida, entramos numa relação espiritual com o mundo. Praticando a reverência pela vida, nos tornamos bons, profundos e vivos." Ou, em outras palavras: "Faz algo maravilhoso, que vão te imitar."

Short teaser Para críticos, condescendência com africanos é falha grave na biografia do "Doutor da Selva" e Nobel da Paz.
Author Silke Wünsch
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Item 23
Id 71294032
Date 2025-01-14
Title Justiça alemã autoriza cobrança ao futebol por gastos com polícia
Short title Futebol tem que pagar gasto com polícia, diz Justiça alemã
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Presença policial reforçada em dias de jogo é financiada com dinheiro do contribuinte

Tribunal Constitucional autoriza poder público a cobrar de grandes clubes custos com policiamento extra por causa de jogos com risco de tumulto entre torcedores. Decisão afeta a Bundesliga.A Justiça alemã decidiu nesta terça-feira (14/01) que grandes clubes de futebol têm que arcar por conta própria com os custos de policiamento em caso de jogos com alto risco de tumulto. A decisão, emitida pelo Tribunal Constitucional Federal, representa uma derrota para a Liga Alemã de Futebol (DFL), entidade responsável pela organização e promoção do futebol profissional alemão. A DFL havia recorrido ao tribunal contra uma regra vigente em Bremen desde 2014 que autoriza a cidade-estado a cobrar os clubes pelos gastos com policiamento por causa de partidas com alto risco de conflito entre torcedores e público superior a 5 mil pessoas. "Os custos adicionais com a mobilização de policiais não devem ser bancados por todos os pagadores de impostos, e sim também pelos que dela se beneficiam economicamente", afirmou o presidente da primeira câmara da corte, Stephan Harbath. Os magistrados reforçaram que a regra de Bremen é compatível com a Lei Fundamental (Constituição) da Alemanha, e que ela tem por objetivo repassar os custos aos responsáveis pela origem dessas despesas aos cofres públicos – nesse caso, as entidades que organizam as partidas e que lucram com elas. Primeira cobrança foi feita em 2015 A primeira cobrança – no valor de 425 mil euros – foi feita à DFL no ano de 2015, por causa de um jogo da Bundesliga (o campeonato nacional da Alemanha) entre SV Werder Bremen e Hamburger SV. A DFL considerou a regra inconstitucional e recorreu aos tribunais para questioná-la, argumentando que apenas alguns indivíduos eram responsáveis pela desordem, e não a organização. A entidade também alegou que caberia ao Estado garantir a segurança pública fora dos estádios, recorrendo para isso ao dinheiro do contribuinte. A DFL chegou a vencer na primeira instância em 2017 porque a Justiça entendeu à época que o cálculo das despesas apresentado pela cidade-estado de Bremen era muito genérico, mas a decisão acabou revista nas instâncias superiores. A administração de Bremen alega ter tido custos de quase 2 milhões de euros por causa dos jogos da DFL desde a entrada em vigor da regra. O que dizem críticos Ainda não está claro se outros estados também optarão pela cobrança, mas o estado da Baixa Saxônia já sinalizou interesse nela. Times menores, como o FC St. Pauli de Hamburgo, disseram temer não poder arcar com esses custos. O clube, famoso por sua torcida esquerdista e antifascista, afirma ser visado por extremistas e estar, portanto, involuntariamente exposto a jogos com potencial de conflito. "Quando torcedores de fora que não gostam de nosso clube vêm para cá, nós pagamos o preço pelo mau comportamento deles", afirmou num comunicado. "Essas hostilidades podem levar o FC St. Pauli a mais jogos de alto risco e, consequentemente, a mais despesas – despesas essas que não atrapalham outros clubes com muito mais dinheiro." Secretário do Interior de Bremen, Ulrich Mäurer comemorou a decisão do Tribunal Constitucional Federal e propôs a criação de um fundo comum entre os estados com contribuições da DFL para o custeio do policiamento nas partidas de futebol. A proposta, porém, foi descartada pelo cartola da DFL Hans-Joachim Watzke, que disse que os clubes dos estados sem essa cobrança não vão apoiar um fundo do tipo. "Isso é responsabilidade também de cada governo estadual", insistiu. ra/bl (dpa, ots)


Short teaser Tribunal Constitucional autoriza poder público a cobrar de grandes clubes custos com policiamento extra em jogos.
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Image caption Presença policial reforçada em dias de jogo é financiada com dinheiro do contribuinte
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Item 24
Id 71293064
Date 2025-01-14
Title Em autobiografia, Francisco denuncia o mundo – com esperança
Short title Em autobiografia, Francisco denuncia o mundo – com esperança
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Primeira aparição pública do papa Francisco, em 13 de março de 2013

Pela primeira vez um papa publica em vida impressões pessoais, tecendo história familiar e fatos atuais, sem poupar críticas à ganância e à "globalização da indiferença". Lançamento em mais de cem países, em 80 idiomas.É preciso "varrer com ainda mais determinação a 'cultura cortesã' para fora da Cúria e outros locais". Pois "a Igreja não é uma corte, não é um lugar para cliques, nepotismo [...] Ela não é, de modo algum, a última corte europeia de uma monarquia absoluta." Palavras que soam como a declaração de guerra de um jovem revolucionário católico. No entanto, seu autor conta 88 anos de idade e é o líder da Igreja Católica. Há quase 12 anos no posto, o papa Francisco publica sua autobiografia. É uma narrativa plena de lembranças e visões, de tristeza quase terna e de conexão íntima com tudo o que é humano, de ira juvenil e de grande esperança. É a primeira vez que um sumo pontífice apresenta em vida escritos tão pessoais. O livro de 385 páginas será lançado nesta terça-feira (14/01), em cerca de 80 idiomas, em cem países. Na verdade, o desejo de Francisco era "que sua autobiografia fosse lançada como legado, após sua morte", explica no posfácio o coautor Carlo Musso, que colaborou na obra desde 2019. No entanto, o ano do jubileu 2025 e "as exigências de nossa época" o convenceram a não esperar. Palavras de ordem de significado profundo O lema do ano santo 2025 é "Peregrinos da esperança". Assim, o título Esperança funciona também como uma espécie de roteiro para a leitura dessa autobiografia. Musso resume: "Adiante! Um homem nascido em 1936, que só olha para trás a fim de dirigir o olhar ainda mais para frente." Como seria de esperar, Francisco aborda temas explosivos da atualidade e cita suas já conhecidas palavras de ordem: por que "a economia mata"; que há muito a humanidade se encontra "pouco a pouco" na Terceira Guerra Mundial; que para muitos "migração" continua sendo "invasão"; ou como "estamos jogando pingue-pongue com seres humanos". Para ele, a Europa é simplesmente "o velho continente". E o acampamento para refugiados Moria, na ilha de Lesbos, no Mar Mediterrâneo, que visitou duas vezes, encarna "a vergonha da União Europeia". O papa fala da agressão russa contra a Ucrânia, do terrorismo do Hamas ("barbárie", "carnificina") e da guerra na Faixa de Gaza. "Terrorismo" é também como define certas operações militares de Israel. E, é claro, ele trata do estado de sua Igreja. Sobre o abuso sexual, escreve que "a dor das vítimas é um lamento que se ergue até os céus". Condena o tradicionalismo que transforma a liturgia "numa questão de ideologia"; a "crassa exibição de clericalismo", "desfiles de fantasias, distúrbios afetivos". Ele menciona o debate ferrenho sobre a ordenação de diaconisas, que vem sendo travado há anos, como "uma questão em aberto, que ainda exige um esclarecimento fundamental". Ponte entre história pessoal e drama global Mas, apesar de todas essas palavras-chaves e pontos de conflito, no fundo o livro é uma grande narrativa sobre indivíduos e sobre o humano, sobre os modelos que geraram essa esperança. O ponto de partida da história está no início do século 20, com as raízes da família de Jorge Mario Bergoglio na região norte-italiana de Piemonte e a aventurosa emigração para a Argentina. Os avós perdem o navio em que deveriam viajar com o filho – futuro pai do papa – de Gênova para a América do Sul, e a embarcação afunda diante da costa, causando a morte de centenas. A partir desse drama familiar, o líder religioso nascido em 17 de dezembro de 1936 faz a ponte para sua primeira visita ao campo de refugiados na ilha italiana de Lampedusa e os incontáveis mortos no mar. Ele denuncia a "globalização da indiferença", o atual isolamento da Europa. "Não pode e não deve ficar estabelecido na cabeça e no coração da humanidade que seja certo ver homens, mulheres e crianças se afogarem no Mediterrâneo, vez após vez." A fórmula de tecer história familiar, pessoal, com os dramas globais se repete. Das lembranças de guerra do avô, a narrativa salta para os conflitos atuais e o comércio de armas, as quais "vêm de toda parte": "Daqueles países que mais tarde rechaçam os refugiados, os mesmo que foram, justamente, criados pelas armas desses conflitos." O pontífice detalha as impressões marcantes da infância e juventude, assim como dos tempos de doença grave. Dos primeiros amores ("... também eu me senti atraído por duas jovens damas"), chega à situação estranhamente misteriosa que, numa manhã de 1953, em Buenos Aires, atraiu o jovem de 26 anos para dentro de uma igreja católica ("E súbito eu soube que me tornaria padre"). Segue-se a guerra civil e a ditadura militar argentina, tempos de dor e perda. Na linguagem eclesiástica, o que o autor conta é "teologia do povo". Nesse sentido, um trecho central do livro, que também recebe destaque gráfico, é sua "confissão de fé pessoal": um texto como um testamento bíblico. Conectado à grande dor do mundo Os heróis e heroínas de sua grande narrativa são gente comum. Ele fala simplesmente como pastor, ser humano, abalado pela dor, dá a palavra a uma menina do Congo e as companheiras de sofrimento dela, que conheceu durante sua viagem pela África em 2023. "Uma coleção de cenários de horror, assassinatos, estupros, destruição" um "abismo de dor", enumera. E conta também o encontro com uma sobrevivente de campo de concentração, ao visitar Auschwitz em 2015. Em detalhe, narra suas conversas com a jovem yazidi Nadia Murad, Prêmio Nobel da Paz em 2018, cujo calvário de abduções e estupros o comove. Esse destino – típico de tantas mulheres dessa minoria étnico-religiosa curda – contribui para a decisão do papa Francisco de visitar o Iraque: "Conheci tantos testemunhos de fé corajosos durante essa viagem. Conheci tantos 'santos da casa ao lado' [...]. Até o fim da vida, o Iraque vai me acompanhar sempre."


Short teaser Papa tece história familiar e fatos atuais, sem poupar críticas à "globalização da indiferença".
Author Christoph Strack
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Image caption Primeira aparição pública do papa Francisco, em 13 de março de 2013
Image source Michael Kappeler/dpa/picture alliance
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Item 25
Id 71291038
Date 2025-01-13
Title "Chocolate de Dubai" tem que vir de Dubai, diz corte alemã
Short title "Chocolate de Dubai" tem que vir de Dubai, diz corte alemã
Teaser Tribunal decide disputa jurídica na Alemanha sobre quem pode fabricar cobiçada iguaria recheada com pistache. Rede de supermercado foi processada por vender "chocolate de Dubai" feito na Turquia.

Uma corte alemã proibiu uma rede de supermercados de vender como "chocolate de Dubai" produtos que não tenham sido de fato fabricados nos Emirados Árabes Unidos.

A disputa começou após a rede varejista Aldi oferecer aos seus clientes um produto feito na Turquia, mas batizado como "Alyan Dubai Handmade Chocolate".

A Aldi argumentou que a origem do doce era informada explicitamente no verso da embalagem, mas o tribunal em Colônia que julgou o caso concluiu que o nome do produto poderia induzir clientes ao erro, levando-os a achar "que o produto é mesmo produzido em Dubai e importado pela Alemanha".

Chocolate de Dubai virou sensação na Alemanha

A queixa foi apresentada pelo importador alemão Andreas Wilmers, que vende "chocolate de Dubai" da marca emiradense "Fix". Ainda cabe recurso da decisão.

Wilmers move outras duas ações semelhantes contra a rede de supermercado alemã Lidl e a fabricante suíça de chocolates Lindt.

A Lidl argumenta que o termo "chocolate de Dubai" diz respeito apenas a um tipo de chocolate recheado com pistache cremoso e kadaif (doce típico da culinária árabe), e não a chocolates que vêm especificamente de Dubai.

A associação alemã de fabricantes de doces BDSI também alega que o "chocolate de Dubai" poderia ser produzido em qualquer lugar do mundo.

A iguaria – que chega a ser vendida por até 15 euros – virou sensação na Alemanha, e pessoas chegaram a fazer fila nas portas de supermercados para comprá-la.

ra (AFP, epd, ots)

Short teaser Rede de supermercado foi processada por vender "chocolate de Dubai" feito na Turquia.
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Item 26
Id 71290538
Date 2025-01-13
Title AfD distribui "bilhetes para deportação" de imigrantes
Short title AfD distribui "bilhetes para deportação" de imigrantes
Teaser Imitando bilhetes aéreos, panfletos pregando a deportação de estrangeiros e ostentando logo do partido de ultradireita alemão foram jogados em caixas de correio de imigrantes em Karlsruhe. Polícia investiga caso.

No mesmo final de semana em que o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) lançou oficialmente sua campanha sob a promessa de promover a "remigração" – eufemismo para a deportação de estrangeiros e seus descendentes –, alguns moradores de uma cidade alemã se depararam em suas caixas de correio com "bilhetes aéreos" para deportá-los.

Os panfletos, que trazem a logo da AfD, imitam o design de passagens de avião e trazem as inscrições "bilhete de deportação", "só a remigração ainda pode salvar a Alemanha" e "hora de deportar os ilegais!". No campo onde apareceria o nome do passageiro, está o "imigrante ilegal", e a data do voo seria 23 de fevereiro – a mesma das eleições antecipadas.

Ainda não está claro se imigrantes foram alvos propositais da panfletagem, ou se os "bilhetes" foram parar em caixas de correio aleatórias na cidade.

O caso foi reportado em Karlsruhe, cidade no estado de Baden-Württemberg. A polícia disse que apura o caso por suspeita de incitação ao ódio étnico.

O prefeito de Karlsruhe, o social-democrata Frank Mentrup, disse à SWR que a ação passou dos limites e põe em risco a coesão social.

O material publicitário estava disponível na página do diretório regional da AfD em Karlsruhe e teria circulado entre filiados durante a convenção partidária realizada neste fim de semana em Riesa, no estado da Saxônia, segundo a emissora alemã SWR.

Liderança estadual diz apoiar "ações criativas"

A ação da AfD lembra uma campanha feita em 2011 pelo partido neonazista NPD em Berlim, que enviou flyers imitando bilhetes aéreos (imagem abaixo em vermelho) junto com uma carta em que afirmava que a "estrangeirização" era o principal problema da Alemanha. Oficialmente, a AfD se distancia da sigla extremista.

À SWR, um vereador da AfD destacou que o verso do panfleto trazia, na sua opinião, reivindicações políticas legítimas: acolhida humanitária só para quem de fato tiver motivo para fugir de seu país, deportação de todos aqueles cujos pedidos de asilo foram rejeitados, fim da imigração ilegal e da islamização da Alemanha, Bürgergeld (a versão alemã do Bolsa Família) apenas para cidadãos alemães e, por fim, a ressalva de que cidadãos nacionais "não serão deportados".

A panfletagem também foi confirmada pelo deputado federal Marc Bernhard ao jornal Badischen Neuesten Nachrichten. Segundo ele, 30 mil flyers foram impressos e distribuídos em locais de campanha e nas caixas de correio.

Na Alemanha, parte importante da vida dos cidadãos é resolvida por meio de correspondência trocada com serviços públicos e prestadores de serviço – daí a importância da caixa de correio, que exibe o sobrenome do morador.

Bernhard, porém, nega que a panfletagem tenha focado em pessoas com sobrenomes estrangeiros.

Ao portal alemão t-online, ele frisou que o verso do panfleto deixa claro que as reivindicações políticas são absolutamente legais, não têm como alvo imigrantes que adquiriram a cidadania alemã e seus descendentes, e pedem apenas o cumprimento do que já prevê a lei.

Segundo o t-online, apoiadores da AfD teriam espalhado apenas a frente do panfleto na internet.

À SWR, o co-líder do diretório estadual do partido em Baden-Württemberg, Markus Frohnmaier, disse apoiar "as ações criativas" de seus militantes, e afirmou que, com a queda do ditador Bashar al-Assad, está na hora dos quase um milhão de sírios que vivem na Alemanha voltarem ao país.

"Remigração" na plataforma de campanha da AfD

No início de 2024, a notícia de que políticos da AfD haviam participado de um encontro com neonazistas para discutir a deportação em massa de milhões de imigrantes e "cidadãos não assimilados" – independente de situação legal ou de possuírem cidadania alemã – escandalizou a Alemanha, gerando protestos massivos nas ruas e levando a AfD a desligar um assessor e se distanciar do termo "remigração".

Agora, a palavra parece ter sido reabilitada como mote de campanha da própria Alice Weidel, líder da sigla e candidata a chanceler federal da AfD, que no domingo (12/01) defendeu a "remigração" de ilegais e o fechamento das fronteiras. "Se é pra chamar isso de remigração, então que seja remigração."

A AfD aparece atualmente com 20% em segundo lugar nas intenções de voto nas eleições ao Parlamento, atrás apenas do bloco conservador formado por União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), que tem 31%.

É improvável, porém, que o partido integre qualquer coalizão de governo, dada a aversão dos partidos tradicionais alemães à AfD em razão da experiência traumática do país com o nazismo.

Por outro lado, recentemente o candidato a chanceler do bloco CDU/CSU, Friederich Merz, surpreendeu juristas com a insólita proposta de cancelar a cidadania alemã de pessoas com dupla nacionalidade que cometam crimes.

Desde o fim do nazismo, o ordenamento jurídico alemão prevê a perda da cidadania alemã apenas em casos excepcionais, como para terroristas que atuam no exterior.

ra/bl (ots)

Short teaser Panfletos pregando a deportação de "ilegais" foram jogados em caixas de correio em Karlsruhe. Polícia investiga o caso.
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Item 27
Id 71025184
Date 2025-01-13
Title O passo a passo até a eleição na Alemanha
Short title O passo a passo até a eleição na Alemanha
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Scholz comanda um governo minoritário, e apresentou uma moção de confiança com a intenção de perdê-la

Crise precipitou fim do governo Scholz. Seu mandato, porém, só termina com eleição de novo Parlamento e escolha de novo chanceler federal. Alemães vão às urnas em 23 de fevereiro.O governo do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, perdeu a maioria parlamentar em 6 de novembro de 2024, quando o Partido Liberal Democrático (FDP) abandonou a coalizão formada ainda pelo Partido Social Democrata (SPD) e pelos Verdes. Sem maioria para governar, Scholz decidiu em comum acordo com a oposição pela antecipação do pleito. No final do ano passado, o rito foi formalizado com a rejeição do voto de confiança apresentado por Scholz ao Bundestag (Parlamento alemão) e a dissolução do Parlamento, dias depois, pelo presidente Frank-Walter Steinmeier. As eleições antecipadas ao Parlamento serão realizadas em 23 de fevereiro. Em seguida, o partido mais votado deve iniciar negociações para formar uma coalizão de governo. Estes são os passos legais que levam à nova eleição na Alemanha: Apresentação da moção de confiança De acordo com o artigo 68 da Lei Fundamental (Constituição alemã), o chanceler federal apresenta uma moção de confiança para o Bundestag (Parlamento), ou seja, os parlamentares devem dizer se o chanceler tem ou não a confiança deles. Isso foi feito por Scholz em 11 de dezembro. Como não havia sessão na data, a moção foi encaminhada por escrito à presidente do Bundestag, Bärbel Bas. Votação O mesmo artigo 68 determina que a votação da moção só poderá ocorrer já tendo se passado 48 horas desde o recebimento. Por isso, a moção no Bundestag acabou sendo apreciada só no dia 16 de dezembro, com um placar de 394 contrários, 207 favoráveis e 116 abstenções. Para manter-se no governo, o chanceler federal precisava de uma maioria absoluta de 367 votos. O resultado desfavorável a Scholz já era previsto. O chefe de governo alemão encaminhou a votação com a intenção de perdê-la porque seu governo não tem mais maioria parlamentar, o que dificulta a aprovação de leis pelo governo no Bundestag. Pedido de dissolução do Parlamento Após perder o voto de confiança, o chanceler federal pode propor ao presidente da Alemanha a dissolução do Bundestag. Caso tivesse ganho o voto de confiança, o caminho para novas eleições não estaria aberto. Scholz poderia, porém, apresentar de novo uma moção de confiança ao Parlamento. Dissolução do Bundestag Depois que o chanceler federal propõe ao presidente a dissolução do Bundestag, o presidente tem 21 dias para decidir se vai ou não fazê-lo. O critério que deve orientá-lo na decisão é se há uma situação politicamente instável na composição atual do Bundestag. No seu discurso de 7 de novembro, logo após a saída do partido liberal FDP da coalizão de governo, o presidente Frank-Walter Steinmeier disse, não por acaso, que a capacidade de ação do governo, intrinsicamente ligada a uma maioria parlamentar, seria o critério que iria orientar sua decisão. Anúncio da decisão do presidente Steinmeier dissolveu o Bundestag em 27 de dezembro e oficializou o dia 23 de fevereiro de 2025 como data da eleição. A data, um domingo, havia sido acordada pelas bancadas do SPD e dos partidos conservadores CDU e CSU, tendo sido avalizada também por liberais e verdes. Questionamento no Tribunal Constitucional Um recurso à suprema corte da Alemanha contra a dissolução do Bundestag é possível. Nas moções de confiança de 1982, pelo então chanceler federal, Helmut Kohl, e de 2005, pelo então chanceler Gerhard Schröder, foram feitas queixas perante o Tribunal Constitucional Federal contra a decisão do presidente de dissolver o Bundestag. Membros do Bundestag alegaram que seus direitos haviam sido violados porque os requisitos constitucionais para a dissolução não teriam sido cumpridos e os mandatos deles haviam terminado antes do planejado. Em 1982 e 2005, no entanto, os pedidos em Karlsruhe não foram bem-sucedidos. Em sua decisão de 2005, o Tribunal Constitucional Federal enfatizou que o presidente tem uma grande margem de manobra na sua avaliação da situação política. O recurso à suprema corte não necessariamente adiaria a data da nova eleição, pois os juízes poderiam se pronunciar ainda antes dela. Em 2005, por exemplo, foi assim: em 21 de julho, o presidente Horst Köhler ordenou a dissolução do Bundestag e marcou a data da nova eleição para 18 de setembro. Os processos judiciais se estenderam por todo o mês de agosto. Em 25 de agosto, o Tribunal Constitucional Federal rejeitou as reclamações. Em meio a isso, os preparativos para a nova eleição continuaram. No entanto, se uma ação judicial for bem-sucedida desta vez, a nova eleição seria cancelada. Quem governa até a eleição Mesmo depois de perder a moção de confiança, o chanceler federal continua no cargo. A perda de uma moção de confiança e mesmo a dissolução do Parlamento não alteram o fato de que o chanceler federal está no cargo. O mandato de chanceler federal só termina com a constituição de um novo Parlamento, que só vai se reunir após a nova eleição. Isso está determinado no artigo 69 da Lei Fundamental. E mesmo depois disso Scholz permaneceria no cargo interinamente, a pedido do presidente, até a eleição, pelo Bundestag, de um novo chanceler federal. Um outro ponto: o atual Bundestag ainda pode aprovar leis – havendo, claro, a maioria parlamentar necessária – mesmo após a perda da moção de confiança pelo chanceler e a decisão a favor de sua dissolução.


Short teaser Crise precipitou fim do governo Scholz. Seu mandato, porém, só termina com eleição de novo Parlamento e novo chanceler.
Author Alexandre Schossler (com ARD)
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Image caption Scholz comanda um governo minoritário, e apresentou uma moção de confiança com a intenção de perdê-la
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Item 28
Id 71283169
Date 2025-01-13
Title "Biodeutsch" é eleita a "despalavra" do ano na Alemanha
Short title "Biodeutsch" é eleita a "despalavra" do ano na Alemanha
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Termo "Biodeutsch" possui conotação racista, porque representa a marginalização e a desvalorização dos alemães com histórico de migração

Anualmente, especialistas escolhem um termo para representar expressões depreciativas. Júri diz que palavra vencedora de 2024 tem conotação xenófoba, sendo usada para diferenciar "alemães legítimos" de outros cidadãos.Biodeutsch é a "despalavra" do ano de 2024, anunciou em Marburg nesta segunda-feira (13/01) o júri da campanha linguística anual "Unwort des Jahres" (Despalavra do Ano). A expressão – que significa "alemão biológico", em tradução livre – seria usada em contexto xenófobo e nacionalista, especialmente nas mídias sociais, de acordo com o júri do concurso. "A divisão entre alemães supostamente 'legítimos' e alemães de segunda classe, que anda de mãos dadas com o uso de Biodeutsch, é uma forma de racismo cotidiano", afirmou o júri. Originalmente, o termo tinha a intenção de ser irônico e satírico, explicaram os especialistas. No entanto, a palavra agora é claramente usada de forma racista e discriminatória porque representa a marginalização e a desvalorização dos alemães com histórico de migração. A porta-voz do júri, Constanze Spieß, rejeitou a crítica de que o termo Biodeutsch é pouco conhecido. "A palavra é usada em público e nas mídias sociais, inclusive em discursos de políticos", disse ela à agência de notícias Katholische Nachrichten-Agentur (KNA). Quase 650 palavras foram sugeridas O termo Heizungsverbot ("proibição de aquecimento") ficou em segundo lugar na votação dos especialistas. Ele é usado no contexto de uma recente lei vigente na Alemanha, visando a troca de sistemas de calefação por gás por outros menos poluentes. O júri lembrou que a expressão é "enganosa e factualmente incorreta", pois o regulamento não proíbe o aquecimento, mas visa substituir os sistemas de calefação a gás por outros ecologicamente mais sustentáveis. De acordo com o júri, foram recebidas quase 3.200 sugestões enviadas pelo público; nas quais 655 palavras foram propostas. Entretanto, a decisão foi tomada independentemente do número de menções para cada termo. No que deve ter sido uma campanha conjunta organizada por ativistas dos direitos dos animais, o júri recebeu 1.227 inscrições somente para a palavra Tierwohl (bem-estar animal). Biodeutsch foi sugerida dez vezes. O júri honorário do concurso é formado por linguistas e autores. Em 2023, a campanha linguística escolheu o termo Remigration (remigração) como uma "despalavra" do ano. Palavra depreciativa do ano A "despalavra do ano" visa promover a conscientização sobre termos que violam a dignidade humana e os princípios da democracia ou levam à discriminação. Escolhida na Alemanha desde 1991, a "despalavra" de ordem política foi selecionada pela Sociedade da Língua Alemã até 1994, quando um júri independente em Darmstadt assumiu o projeto anual. Qualquer pessoa pode propor uma palavra e cabe ao júri tomar a decisão final. Segundo os responsáveis pela seleção, entre sugestões enviadas ao colegiado pela população alemã, expressões linguísticas se tornam "despalavras" por serem pronunciadas de forma irrefletida ou com intenções dignas de crítica num contexto público. md (DPA, KNA)


Short teaser Júri diz que termo vencedor de 2024 tem conotação xenófoba, para diferenciar "alemães legítimos" de outros cidadãos.
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Image caption Termo "Biodeutsch" possui conotação racista, porque representa a marginalização e a desvalorização dos alemães com histórico de migração
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Item 29
Id 71279179
Date 2025-01-12
Title O raro "desfile" de planetas que poderá ser visto no céu em 2025
Short title O raro "desfile" de planetas que poderá ser visto em 2025
Teaser Sete planetas ficarão visíveis ao mesmo tempo em fevereiro. Conjunção só volta a acontecer em 2492.

O ano de 2025 promete ser inesquecível para os amantes da astronomia, que se preparam para observar vários alinhamentos planetários únicos. O maior deles acontecerá em 28 de fevereiro, quando sete planetas do Sistema Solar estarão visíveis ao mesmo tempo.

O que são alinhamentos planetários?

O "alinhamento planetário" não é estritamente um fenômeno astronômico, mas sim um efeito visual. Isso porque os planetas não estão realmente distribuídos em linha reta e só são percebidos desta forma quando vistos da Terra.

A explicação para esse efeito está no fato de que os planetas orbitam em torno do Sol, mantendo-se na trajetória marcada pela força gravitacional da estrela. Essa linha imaginária é conhecida como "eclíptica" e explica por que os planetas parecem se aproximar, quando na verdade estão distantes.

"É por isso que às vezes observamos que os planetas parecem se aproximar uns dos outros no céu, pois os vemos ao longo de uma linha enquanto circulam pela pista de corrida cósmica", explica a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa) dos EUA.

"Alguns dos planetas têm órbitas ligeiramente inclinadas acima ou abaixo dessa linha, mas todas são mais ou menos niveladas, como as ranhuras de um disco, graças à maneira como estrelas como o nosso Sol são formadas", acrescenta o portal LiveScience.

Estas conjunções planetárias são mais comuns quando até seis planetas estão envolvidos, como acontecerá em janeiro e em agosto deste ano. Os planetas sempre aparecem ao longo de uma linha no céu, portanto o "alinhamento" não é especial.

O que é incomum é quando ocorre uma percepção de alinhamento com sete planetas vistos ao mesmo tempo. É isso que acontecerá em 28 de fevereiro de 2025, um fenômeno que não volta a se repetir até o ano de 2492.

"É menos comum ver quatro ou cinco planetas brilhantes ao mesmo tempo, o que não acontece todo ano. É um 'desfile de planetas'? Não é um termo técnico em astronomia, então chame como quiser", observa a NASA em seu site.

Os alinhamentos para 2025

Em janeiro deste ano, ocorrerá o primeiro dos três alinhamentos planejados para 2025. Na noite de 21 de janeiro, será possível ver quatro planetas ao mesmo tempo no céu, seguindo uma linha imaginária. Vênus e Saturno estarão visualmente muito próximos, e serão vistos no sudoeste do céu nas primeiras horas da noite, com Júpiter no alto do céu e Marte no leste.

Marte é o único planeta que de fato vai ficar em posição oposta ao Sol em relação à Terra, formando uma linha reta, um fenômeno que acontece a cada dois anos.

Já Urano e Netuno também estarão alinhados, mas será necessário um telescópio para identificá-los.

Em 28 de fevereiro, um sétimo planeta, Mercúrio, aparecerá ao mesmo tempo no céu. Enquanto isso, em 11 de agosto, será possível observar até seis planetas: Mercúrio, Vênus, Júpiter, Urano, Netuno e Saturno. Nos dois casos, será necessário o uso de um telescópio para identificar todos os corpos celestes.

Short teaser Sete planetas ficarão visíveis ao mesmo tempo em fevereiro. Conjunção só volta a acontecer em 2492.
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Item 30
Id 71126700
Date 2025-01-11
Title Como a IA pode ajudar o Brasil a preservar seu patrimônio cultural e histórico
Short title IA pode ajudar o Brasil a preservar seu patrimônio cultural
Teaser Brasil tem penado para preservar patrimônio histórico e cultural guardado em museus. Para especialistas, problema não é só questão de dinheiro, mas também de despreparo para adoção de novas tecnologias.

"Muitos museus pegaram fogo no Brasil nos últimos 15 anos, em sua maioria museus ligados à esfera pública. Certamente a falta de recursos, como comprovada no caso do Museu Nacional, colaborou para o que aconteceu. Mas é preciso destacar também a dificuldade, e a necessidade urgente, de adequação dos prédios históricos que abrigam os museus a tecnologias que garantam sua segurança física", afirma Thainá Castro Costa, professora de Museologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Cientes desses problemas, cientistas brasileiros têm trabalhado em soluções modernas de Inteligência Artificial (IA) para ajudar gestores de museus a preservar e acessar esse patrimônio histórico e cultural brasileiro.

Perdas marcam gestão recente dos museus nacionais

Os museus brasileiros passaram por grandes tragédias em anos recentes, com a destruição de parte de seus acervos.

Em 2015, um incêndio de grandes proporções atingiu o complexo da Estação da Luz, espaço inaugurado no século 19 e que abrigava o Museu da Língua Portuguesa.

Já em 2018, o Paço de São Cristóvão, que abrigava grande parte do acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi igualmente consumido pelas chamas. Considerado a maior tragédia do setor no país, o fogo acabou com documentos, livros e coleções alocados no prédio, além de peças de plumária, tecido e madeira dos povos originários brasileiros.

Neste ano, com as enchentes no Rio Grande do Sul, a lista de tragédias para o patrimônio histórico e cultural brasileiro ficou mais longa. O Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que fica próximo ao rio Guaíba, foi inundado e perdeu cerca de 70% do acervo.

Coordenador-geral de sistemas de informação museal no Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Dalton Lopes Martins assegura que o poder público vem tomando medidas para evitar novas perdas para o patrimônio histórico brasileiro.

Segundo ele, o Brasil dispõe agora de uma política de fiscalização em museus – o órgão contabiliza cerca de 4 mil. "E o Ibram tem feito ações em cima dessa política para que possa ser feita uma fiscalização que seja pedagógica, orientativa, e que possa apresentar para os museus aquilo que precisa ser feito para que se evite outros acontecimentos catastróficos, como foi o do Museu Nacional no ano de 2018", conta.

Martins, no entanto, reconhece os desafios dos gestores na administração dos museus brasileiros e na adoção de novas tecnologias que os auxiliem na preservação histórica.

"Há os desafios estruturais de a gente ter reservas técnicas, laboratórios de conservação, restauro, preservação – que são, muitas vezes, desafios complexos tanto do ponto de vista logístico quanto do ponto de vista financeiro", admite.

A isso, some-se uma rotina de cortes de verbas ao setor. O orçamento planejado para o Ibram para o ano de 2025, que era de R$ 106 milhões, foi reduzido para cerca de R$ 79 milhões após cortes do governo federal.

Em nota conjunta assinada por Ibram e Ministério da Cultura, o Ibram informou ter atuado junto à pasta pela recomposição e incremento do orçamento, "sempre com a preocupação de manter os postos de trabalho e nossos museus abertos, com o mínimo impacto da prestação de nossos serviços à sociedade e cumprimento de nossa função social".

IA pode ajudar museus em cenário de falta de dinheiro

Para ajudar na preservação do acervo em museus brasileiros, uma pesquisa de doutorado conduzida junto à Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp trabalha em um método para a catalogação digital, automatizada e precisa de objetos com o auxílio da IA.

A mente por trás da iniciativa, Vagner Inacio de Oliveira, diz que os museus brasileiros hoje contam com sistemas precários de catalogação. O resultado, segundo ele, é que a tarefa acaba demandando mais tempo dos profissionais, além de aumentar a suscetibilidade a erros humanos no processo, tornando o trabalho mais custoso em um setor que já sofre com restrições orçamentárias.

"Um museólogo consegue catalogar, em média, apenas sete itens por dia, levando em conta o processo completo de curadoria e digitalização", diz. "Apesar desses desafios, é importante ressaltar a dedicação e o compromisso dos especialistas que se esforçam para superar essas barreiras e garantir a preservação dos bens culturais para as gerações futuras."

Oliveira defende que a IA pode ser uma aliada poderosa dos museus, oferecendo sistemas de catalogação automatizados, precisos e que ajudem a reduzir custos operacionais. "Através de descrições geradas automaticamente, acelera o processo e minimiza erros, permitindo que os museólogos dediquem seu tempo a atividades mais especializadas e estratégicas", diz.

Para que os museus possam contar com a tecnologia, no entanto, será necessário ainda um tempo de investimento no desenvolvimento e distribuição dessa ferramenta. O pesquisador diz querer disponibilizar um aplicativo para todos os interessados até o final deste ano.

A segunda etapa do projeto, que consistirá em aprimorar a IA para que ela seja capaz de detectar como, quando, e em quais possíveis épocas um objeto foi utilizado, deverá levar mais alguns anos para ser concluída.

Mas apesar dos esforços de Oliveira, ele aposta que a burocracia estatal ainda deva atrasar a chegada da IA aos museus em alguns anos.

"A implementação dessa tecnologia depende diretamente de investimentos contínuos em pesquisa e infraestrutura, tanto nos museus quanto nas universidades responsáveis pelo desenvolvimento das soluções. Embora os investimentos tenham aumentado nos últimos anos, impulsionados em parte pelas recentes perdas de patrimônio cultural, ainda há muito a ser feito para viabilizar plenamente essas tecnologias", afirma.

Short teaser Segundo especialistas, além da falta de dinheiro, museus também sofrem com despreparo para adoção de novas tecnologias.
Author Vinicius Pereira
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Item 31
Id 71274835
Date 2025-01-11
Title Milhares protestam em repúdio à convenção da AfD na Saxônia
Short title Milhares protestam em repúdio à convenção da AfD na Saxônia
Teaser

Mais de 10 mil pessoas participam de manifestação em pequena cidade do leste alemão contra a convenção nacional do partido ultradireitista. SPD confirma candidatura de Olaf Scholz e lança manifesto eleitoral.Milhares de pessoas participaram de uma manifestação contra o partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) na pequena cidade alemã de Riesa, no estado da Saxônia, durante a convenção da sigla que confirmou o nome da líder Alice Weidel como candidata à chefia de governo nas eleições de fevereiro na Alemanha. Os organizadores do protesto contaram 12.000 manifestantes presentes e disseram que pessoas de cerca de 70 cidades teriam se deslocado até Riesa em mais de 100 ônibus. Segundo a polícia, 10.000 pessoas participaram do protesto. A convenção da AfD é parte da campanha do partido para as eleições federais de 23 de fevereiro, convocada após o colapso do governo de coalizão do chanceler federal, Olaf Scholz. A manifestação atrasou o início da convenção durante algumas horas. Segundo a organização, um pequeno grupo realizou um bloqueio de uma estrada próximo ao local do evento. Os manifestantes também bloquearam temporariamente as entradas do local da convenção Um helicóptero e drones estavam sendo usados nas operações policiais para controlar o protesto. Os confrontos entre manifestantes e agentes de segurança deixaram seis policiais com ferimentos leves, informou a polícia em suas redes sociais. Segundo relatos, policiais usaram sprays de pimenta para conter os manifestantes. As pesquisas de opinião indicam que a AfD estaria prestes a se tornar a segunda maior força no Bundestag (Parlamento alemão) após a votação. AfD acusa manifestantes de serem "antidemocráticos" Na convenção, Weidel disse que a AfD planeja "derrubar todas as turbinas eólicas" e recolocar as usinas nucleares em funcionamento, assim como o gasoduto Nord Stream, através do qual a Alemanha importava gás natural vindo da Rússia até o inicio da guerra na Ucrânia. Ela disse que o partido quer enviar a mensagem de que as fronteiras da Alemanha estão "fechadas" e planeja realizar deportações "em larga escala" se assumir o poder. O colíder do AfD, Tino Chrupalla, agradeceu à polícia por seus esforços e acusou os manifestantes de comportamento "antidemocrático". A Saxônia e vários outros estados no leste da Alemanha são vistos como redutos do AfD. Nas eleições federais de 2021, o partido ficou em primeiro lugar na Saxônia com 24,6% dos votos, enquanto a legenda tradicional conservadora União Democrata Cristã (CDU) ganhou 17,4%. Em setembro do ano passado, a AfD foi o partido mais votado nas eleições regionais nos estados da Saxônia e da Turíngia, ambos no leste do país. Ainda assim, não conseguiu formar uma coalizão de governo devido à rejeição de todos os demais partidos. A agência de inteligência interna da Alemanha, o Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV), classificou a AfD como uma organização "suspeita" de extremismo de direita. A sigla é rotineiramente acusada de abrigar neonazistas e tem vários diretórios estaduais monitorados de perto por serviços de inteligência por suspeita de afronta aos valores constitucionais. SPD confirma Scholz e lança manifesto O Partido Social-Democrata (SPD) confirmou oficialmente neste sábado o chanceler Olaf Scholz como seu principal candidato às eleições de fevereiro. Ele já foi nomeado pela Executiva do partido no final de novembro, mas ainda precisava da aprovação dos delegados. Os delegados também aprovaram por unanimidade um manifesto eleitoral de mais de 60 páginas, no qual o partido promete cortes de impostos, aumento do salário mínimo, pensões estáveis e maiores investimentos públicos. No documento, o SPD apoia gastos com defesa de pelo menos 2% da produção econômica, em linha com a meta da Otan, e reformas no chamado "freio da dívida" da Alemanha, que impõe limites aos empréstimos do governo. As entregas de armas para a Ucrânia devem continuar "com prudência e senso de proporção", de acordo com o programa do partido, que descarta a entrega dos mísseis de longo alcance Taurus solicitados por Kiev. Sobre a questão da migração, o SPD afirma que está comprometido com "deportações rápidas e consistentes", especialmente de criminosos, mas ainda prefere o retorno voluntário de migrantes sem o direito de permanecer na Alemanha para seus países de origem. rc (AFP, AP, DPA, EPD)


Short teaser Mais de 10 mil participam de manifestação contra convenção da sigla ultradireitista. SPD confirma candidatura de Scholz.
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Item 32
Id 71265032
Date 2025-01-10
Title O que a ciência sabe sobre o envelhecimento do cérebro?
Short title O que a ciência sabe sobre o envelhecimento do cérebro?
Teaser Perante a perspectiva de 152 milhões de portadores de declínio cognitivo até 2050, saúde cerebral é tema premente. Uma resenha de pesquisas científicas traçou um panorama atual da área. Mas há muitas questões em aberto.

O transcurso da vida afeta o cérebro humano. Os neurônios se desgastam ao longo dos anos, diminuindo a velocidade do raciocínio e dos movimentos, e prejudicando a memória. Porém continua indefinido se essa deterioração se deve à passagem do tempo ou se é uma predisposição genética.

Diante da previsão de que até 2050 haverá 152 milhões de indivíduos sofrendo de alguma forma de declínio cognitivo, torna-se cada vez mais relevante responder essa e outras questões relacionadas.

A revista Neuron publicou um conjunto de resenhas científicas que sumarizam a atual compreensão do envelhecimento cerebral, e as estratégias para reduzir o risco de declínio cognitivo e de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer.

"Estamos compreendendo os mecanismos do envelhecimento", afirma o neurologista Costantino Iadecola, da Escola Superior de Medicina Weill Cornell, que pesquisou como o sistema vascular cerebral afeta esse processo.

Ciência longe do consenso em questões básicas

Uma conclusão da resenha é que diversas mudanças físicas e biológicas provocam deterioração neuronal. Com o avanço da idade física, o cérebro literalmente encolhe, com perda de volume e alteração de suas dobras estruturais.

Entre os fatores que contribuem para a perda de saúde cognitiva, estão danos ao DNA: naquilo que Iadecola denomina "inflamação de base", todo o cérebro perde sua capacidade de eliminar resíduos nocivos.

O neuroscientista David Rubinsztein, da Universidade de Cambridge, mostrou como eliminar proteínas residuais é um importante fator de envelhecimento. As proteínas tau estão entre as substâncias danosas associadas a doenças neurodegenerativas como Alzheimer, demência e outras relacionadas a impactos mecânicos repetidos, como a encefalopatia traumática crônica (ETC). Seu estudo destacou como o sistema imunológico cerebral perde resiliência, permitindo a deterioração da saúde do órgão.

Uma outra pesquisa revelou que os cientistas não chegaram a um consenso sobre questões absolutamente básicas, como o que é envelhecimento, o que o causa, ou quando começa.

"Essas são as questões que a humanidade vem colocando há séculos. Eram até discutidas na Bíblia", observa Iadecola. Entretanto, um dos propósitos das resenhas da Neuron é precisamente destacar o que a ciência ainda não sabe.

É possível retardar o envelhecimento cerebral?

Para Rubinsztein, um problema da área tem sido o foco excessivo no estudo do declínio cognitivo manifesto – gerado por patologias como AVCs e doenças de Alzheimer ou de Parkinson –, em vez de se examinar como os cérebros saudáveis desenvolvem tais problemas.

"Precisamos entender o que realmente é o declínio cognitivo relacionado à idade, na ausência de enfermidades como demência. Não temos respostas para isso", reforça o neuroscientista de Cambridge.

Há muito sabe-se que uma série de decisões de estilo de vida reduz o risco de demência e declínio cognitivo, entre as quais:

- mais exercício físico e dieta saudável;

- reduzir a exposição à poluição atmosférica e ao tabaco;

- evitar o isolamento social e a solidão;

- tratar a perda de visão e audição.

Iadecola está entre os cientistas para quem os genes predeterminam o envelhecimento futuro do cérebro desde o momento da concepção: "Dieta, exercícios, eliminação de toxinas com a suspensão do fumo, têm um impacto enorme sobre como envelhecemos. No entanto a genética é o fator fundamental: você pode piorar o envelhecimento ao tomar riscos como o fumo, mas só vai melhorar um pouco evitando-os."

O neurologista não é muito otimista quanto à perspectiva de tratar o processo como uma doença, ou de prolongar a vida: "O envelhecimento é parte da condição humana, e há um fator limitador para como ele transcorre, que são os genes. Há fatores demais envolvidos no processo, para que se prolongue a vida além de 120 anos."

Short teaser Perante a perspectiva de 152 milhões de portadores de declínio cognitivo até 2050, saúde cerebral é tema premente.
Author Fred Schwaller
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Item 33
Id 71256693
Date 2025-01-09
Title Incêndios florestais são ameaça crescente para as cidades
Short title Incêndios florestais são ameaça crescente para as cidades
Teaser

Los Angeles é nome mais recente em série de metrópoles ameaçadas pelo fogo florestal

Desastres como de Los Angeles e Atenas provam que perigo não se restringe a distantes áreas rurais ou agrestes. Zonas urbanas invadem natureza, e populações não estão preparadas para prevenir queimadas.Com diversos incêndios florestais à sua volta, a cidade de Los Angeles, Califórnia, é o mais recente na série crescente de centros urbanos ameaçados de destruição pelas chamas descontroladas, à medida que as temperaturas globais sobem. Alimentados por ventos fortes, os incêndios se alastraram por áreas densamente povoadas, causando pelo menos cinco mortes e destruindo milhares de edifícios. No verão de 2024 no Hemisfério Norte (junho a setembro), colunas de fumaça negra dominavam o céu por trás do icônico Partenon, enquanto o fogo grassava pelos subúrbios de Atenas. Na mesma época, um incêndio consumiu os bosques do Monte Mario, no centro de Roma. De Halifax, Canadá, à Cidade do Cabo, na África do Sul, a japonesa Nanyo City e agora Los Angeles forçaram milhares de pessoas a deixar suas casas nos últimos meses. As imagens dessas catástrofes tornaram-se um símbolo eloquente e uma advertência de que, não mais confinados a distantes áreas rurais ou agrestes, agora os incêndios florestais estão também tendo enorme impacto sobre as metrópoles. As mudanças climáticas globais estão elevando as temperaturas e prolongando as temporadas de seca, criando assim condições em que incêndios florestais queimam mais rápido, por mais tempo e com violência maior. Segundo dados recentes da ONG de pesquisa global World Resources Institute, os incêndios florestais atuais sacrificam duas vezes mais árvores do que duas décadas atrás. O crescimento das cidades em todo o mundo igualmente acentua sua vulnerabilidade ao fogo. "Elas estão se expandindo, e é sobretudo esse fenômeno que aumenta o risco de os incêndios florestais afetarem a população e as casas", confirma Julie Berckmans, especialista em avaliação de risco climático da Agência Europeia do Meio Ambiente (AEA). WUI, uma interface urbano-agreste perigosa O termo técnico para as zonas em que edifícios e vegetação silvestre se confrontam é wildland urban interface (WUI). Um estudo recente do Centro Nacional Americano de Pesquisa Atmosférica revelou que a WUI global cresceu 24% entre 2001 e 2020, cabendo à África a maior taxa de expansão. Calcula-se que isso implicou 23% mais incêndios florestais nessas regiões, e um aumento de 35% da área devastada por eles. Dois terços da população mundial exposta ao fogo florestal vivem nessas zonas fronteiriças entre paisagem urbana e agreste. Alexander Held, especialista-chefe do Instituto Florestal Europeu, destaca que vídeos de Atenas, em meados de 2024, demonstram com que facilidade o fogo se alastra nessas zonas. "A gente vê muita interface urbano-silvestre, onde a mata realmente cresce pelos jardins adentro, e neles está um monte de material inflamável, facilitando muito que o fogo avance até a casa." O abandono rural crescente, sobretudo no Mediterrâneo, igualmente contribui para o risco de incêndios, pois os terrenos ficam sem cultivo nem vigilância. Assim, focos que antes seriam detectados e rapidamente debelados passam a ameaçar as cidades, explica Held. E nem é preciso as chamas chegarem até as divisas urbanas para que o fenômeno se torne uma ameaça à população, já que a fumaça atravessa centenas, por vezes até milhares de quilômetros. Em 2023, Nova York registrou um de seus níveis máximos de poluição atmosférica devido ao fogo florestal no Canadá. Clima, secas e planejamento urbano "Cidades em regiões de clima subtropical seco, como Califórnia e o Mediterrâneo, são especialmente sujeitas a incêndios florestais", explica Alexandra Tyukavina, geógrafa da Universidade de Maryland, nos EUA. "Elas são realmente vulneráveis, por terem atravessado secas nos últimos anos, e em geral zonas mais secas são mais expostas ao fogo, tanto historicamente como na presença da mudança climática." A catástrofe de Atenas sucedeu-se ao inverno e ao junho-julho mais quentes já registrados na Grécia. "Subúrbios extensos, como nos Estados Unidos, são outro fator de risco", prossegue Tyukavina. No Japão, por exemplo, vê-se um tipo de planejamento urbano completamente diferente: "Lá, as cidades são mais compactas e as áreas naturais são separadas. Então existe menos área de WUI." Segundo uma pesquisa de 2022, publicada pela revista Nature, a Europa e a América do Norte apresentam a maior taxa de incêndios florestais dentro de zonas de interface urbano-agreste. Municipalidades e população unidos contra incêndios A fim de reduzir o risco de incêndios devastadores, é preciso maior financiamento para sistemas de alerta precoce, mais orientação para gestão florestal e um aumento da conscientização pública, já que a maior parte dos desastres parte de atividades humanas, segundo Berckmans, da AEA. "Planejamento espacial também pode ajudar a reduzir a expansão urbana", acrescenta. O porta-voz da Comissão Europeia Balazs Ujvári observa que dois aviões de combate ao fogo, dois helicópteros e quase 700 bombeiros de todo o bloco foram mobilizados para assistir as forças locais no combate aos incêndios do verão de 2024 em Atenas. Porém Held insiste na necessidade de encorajar mais medidas de prevenção entre a população. Elas incluiriam: evitar espécies inflamáveis nos jardins, limpar as calhas dos telhados, liberar espaço em torno dos edifícios e eliminar devidamente os dejetos de jardinagem a fim de não constituírem combustível para incêndios futuros. "A gente vê imagens de lugarejos e cidades inteiras aniquilados pelo fogo, e no meio deles, algumas casas sobrevivem, aparentemente intocadas, ainda com um jardim verde em volta. Essas são provas de que comportamento conscientizado funciona, sim." As cidades deveriam manter, em seus confins, áreas livres de galhos, mato e folhas que peguem rapidamente fogo quando secos, prossegue o especialista do Instituto Florestal Europeu. "Algumas municipalidades empregam pastores para preservar uma zona tampão desmatada: suas ovelhas e cabras devoram todas as plantas mais combustíveis, deixando as árvores maiores."


Short teaser Zonas urbanas invadem natureza, e populações não estão preparadas para prevenir queimadas.
Author Holly Young
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Image caption Los Angeles é nome mais recente em série de metrópoles ameaçadas pelo fogo florestal
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Item 34
Id 71242450
Date 2025-01-08
Title Arqueólogos derrubam mito da dieta paleo
Short title Arqueólogos derrubam mito da dieta paleo
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Dieta de humanos pré-históricos era mais rica e diversa em vegetais do que comumente se supõe

Pesquisadores encontram prova de que nossos antepassados não eram só caçadores, mas também processavam vegetais ricos em amido há pelo menos 780 mil anos.Na contramão da crença de que as dietas humanas pré-históricas eram predominantemente baseadas em carne, uma pesquisa mostrou que os nossos ancestrais já processavam alimentos vegetais ricos em amido há pelo menos 780 mil anos, época do início do Pleistoceno Médio. A descoberta revela que nossos ancestrais utilizavam carboidratos como fonte de energia, indo muito além da mera coleta de frutos, mesmo que o processamento de plantas silvestres fosse mais complexo e demorado do que o preparo de carne. O achado também aponta que a alimentação deles era mais rica e diversa em vegetais do que apregoam adeptos da hoje popular dieta paleo – um regime alimentar supostamente baseado nos hábitos dos homens pré-históricos antes do surgimento da agricultura, há 12 mil anos, que prioriza proteínas animais magras, frutas, vegetais, nozes e sementes, excluindo cereais e laticínios. "Vegetais ocupavam lugar central na dieta" Cientistas analisaram microvestígios vegetais encontrados em oito ferramentas extraídas do sítio arqueológico Gesher Benot Ya'aqov, em Israel, e descobriram mais de 650 grãos de amido incrustados nelas. O amido era procedente de bolotas (fruto de árvores da família dos carvalhos), gramíneas como trigo e aveia, castanhas-d'água, rizomas de plantas aquáticas e sementes de leguminosas de habitats diversos, incluindo um lago próximo ao sítio arqueológico e planaltos mais distantes dali. O fato de esses vestígios terem sido encontrados em ferramentas de pedra sugere que esses alimentos vegetais tenham sido processados por hominídeos. As pedras exibiam padrões de desgaste que indicavam que elas foram usadas em tarefas repetitivas de impacto, como o maceramento de alimentos. "Estudos de sociedades modernas de coletores-caçadores indicam que alimentos vegetais ocuparam um lugar central na dieta, principalmente plantas ricas em amido", destacam os pesquisadores num artigo publicado no site da Universidade de Leiden, na Holanda. "Eles tiveram um papel importante na evolução humana, já que carboidratos eram essenciais para apoiar as crescentes demandas metabólicas de um cérebro em expansão." Capacidades cognitivas avançadas A pesquisa destaca as "habilidades cognitivas avançadas dos nossos primeiros antepassados, inclusive sua habilidade de coletar plantas em distâncias distintas e de uma grande variedade de habitats para processá-las mecanicamente utilizando ferramentas". O grupo argumenta que os achados revelam comportamentos alimentares complexos, que mostram que carboidratos extraídos de plantas silvestres desempenham um papel importante em nossa dieta e história evolutiva há pelo menos 780 mil anos. "Em algum ponto da nossa história evolutiva, nossos ancestrais aprenderam como processar plantas potencialmente tóxicas para torná-las comestíveis. Essa habilidade foi um elemento chave para o nosso sucesso como espécie", afirmou a professora Amanda Henry no artigo. O mito do "homem carnívoro" Os cientistas afirmam que, apesar do potencial tanto alimentício como para a cognição e comportamento dos hominídeos, as plantas raramente são consideradas fatores importantes na evolução humana, possivelmente devido à menor visibilidade arqueológica desses vestígios. Para a arqueóloga Nira Alperson-Afil, da Universidade de Bar-Ilan e que participou do estudo, a ideia de uma dieta exclusivamente carnívora na pré-história reflete um viés na pesquisa arqueológica, dado que ossos de animais são mais facilmente encontrados que vestígios de plantas, que são muito mais vulneráveis à ação do tempo. Esse viés, por sua vez, deu origem a dietas modernas como a paleo e a cetogênica, que, segundo Alperson-Afil, idealizam erroneamente o passado. "Os carboidratos podiam satisfazer as necessidades evolutivas dessas pessoas, apoiando as crescentes demandas metabólicas de um cérebro maior", explicou ao jornal isralense Haaretz. "Adoro os carboidratos, eles me fazem feliz. E provavelmente era o mesmo para eles [homens pré-históricos]", brincou.


Short teaser Pesquisadores encontram prova de que humanos pré-históricos não eram só caçadores e processavam vegetais ricos em amido.
Author Felipe Espinosa Wang
Item URL https://www.dw.com/pt-br/arqueólogos-derrubam-mito-da-dieta-paleo/a-71242450?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Dieta de humanos pré-históricos era mais rica e diversa em vegetais do que comumente se supõe
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Item 35
Id 71237976
Date 2025-01-07
Title Dez anos após atentado, "Charlie Hebdo" satiriza Deus
Short title Dez anos após atentado, "Charlie Hebdo" satiriza Deus
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Edição comemorativa dos dez anos do atentado traz o título "Increvable" – algo como "inestourável"

Jornal satírico "Charlie Hebdo" marca dez anos de atentado terrorista com concurso de cartuns #RirDeDeus. Especialista coloca Brasil entre países onde "cartunistas são com frequência atacados e ameaçados."Como um cartunista deve fazer piada do Todo-Poderoso? Para homenagear as vítimas do atentado terrorista de 7 de janeiro 2015 a sua redação, o jornal satírico francês Charlie Hebdo propôs o concurso #RireDeDieu (Rir de Deus), cujos vencedores foram anunciados nesta terça-feira (07/01). Cartunistas profissionais "que estão de saco cheio de viver numa sociedade regida por Deus e pela religião" foram convocados a "realizar a caricatura mais engraçada e maldosa de Deus". A competição marcou o 10º aniversário do massacre por extremistas islâmicos, em Paris. Entre suas 12 vítimas estão oito membros da equipe editorial do jornal, inclusive os famosos Cabu, Charb e Wolinski. O pretexto foram as repetidas charges sobre o profeta Maomé no Charlie Hebdo. Considerado um ataque à liberdade de imprensa e de expressão em geral, o crime suscitou manifestações de apoio em âmbito global, sob o slogan "Je suis Charlie" (Eu sou Charlie). Mas também críticas de que a publicação teria ido longe demais. Uma década depois, certos observadores estão convencidos de que os humoristas e sua capacidade de provocar riso, mesmo que polêmico, são mais necessários do que nunca num momento em que a repressão à liberdade intelectual avança por todo o mundo. Riso sob ameaça também no Brasil "Estamos monitorando a situação dos cartunistas, onde quer que estejam no planeta, e tenho que dizer que a tendência é realmente ruim", afirma o profissional Patrick Lamassoure, conhecido pelo pseudônimo KAK. "China, Rússia, Irã, Índia, Indonésia, Malásia e Brasil, entre outros: a maioria da população do mundo vive em países onde há censura à imprensa e cartunistas são com frequência atacados e ameaçados." Lamassoure é presidente da Cartooning for Peace, uma rede internacional de cartunistas profissionais "que usa o humor para lutar pelo respeito às culturas e liberdades". A organização apoia incondicionalmente o concurso do Charlie Hebdo, mesmo que os resultados possam gerar ainda mais controvérsia. Em seguida à Revolução Francesa, as charges políticas ganharam popularidade no país, ao expor os abusos de poder, e desde então se mantém uma tradição de sátira antirreligiosa. "Os cartuns representam a capacidade dos cidadãos de olhar nossos líderes no olho e dizer: 'A gente está vendo o que vocês fazem e pode rir de vocês'", resume Lamassoure. Desde sua fundação, em 1970, Charlie Hebdo é notório por testar as fronteiras do que pode ou não ser dito publicamente. Segundo as leis francesas contra o discurso de ódio, é permitido zombar da religião, contanto que não se incite à violência, e as minorias permaneçam protegidas. Lamassoure argumenta que, embora as sátiras possam contrariar alguns, só a lei decide o que é aceitável: "Porque qualquer coisa que eu diga ou faça vai aborrecer alguém – qualquer coisa. E o único limite tem que ser a lei, pois quanto a ela nós todos estamos de acordo." Onde é "longe demais"? Charlie Hebdo não ridiculariza apenas o islamismo, mas também o cristianismo e o judaísmo. Antes mesmo do atentado de 2015, críticos acusavam alguns de seus cartuns de ultrapassar a fronteira para o fanatismo antirreligioso. Em 2011, pouco depois de o jornal publicar uma edição aos cuidados do "editor convidado profeta Maomé", uma bomba incendiária danificou seu edifício. Mas Lamassoure frisa que comentários provocadores constituem o quotidiano do cartunista político. "E se as pessoas ficam zangadas porque não gostam do que você diz, isso é bom, é liberdade de expressão – contanto que não se quebre nenhuma lei." Por outro lado há quem esteja disposto a infringir leis para expressar sua objeção à expressão artística do Charlie Hebdo – que é protegida legalmente. Por isso, a equipe de Paris precisa trabalhar em locais secretos, sob guarda rigorosa. Alguns de seus funcionários se encontram ainda sob proteção policial. Segundo a rede Cartooning for Peace, a França é um dos últimos bastiões que mantêm a sátira viva: nenhum tópico, nem mesmo a religião, escapa. "Não sobraram tantos países assim onde se possa de fato rir do que se quiser e não ser ameaçado por isso", afirma Lamassoure. Ele sente uma "responsabilidade por manter essa chama viva", já que a capacidade de rir de quem está no poder é "uma necessidade fundamental e uma liberdade muito importante". E "mesmo quem critica os cartunistas precisa dessa liberdade".


Short teaser Jornal satírico "Charlie Hebdo" marca dez anos de atentado terrorista com concurso de cartuns #RirDeDeus.
Author Sarah Hucal
Item URL https://www.dw.com/pt-br/dez-anos-após-atentado-charlie-hebdo-satiriza-deus/a-71237976?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Edição comemorativa dos dez anos do atentado traz o título "Increvable" – algo como "inestourável"
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Item 36
Id 70932615
Date 2024-12-01
Title Briga de torcidas deixa 79 feridos no leste da Alemanha
Short title Briga de torcidas deixa 79 feridos na Alemanha
Teaser Partida da quarta divisão do futebol alemão em Jena, no leste do país, foi marcada por confrontos com a polícia e brigas entre torcedores rivais.

Confrontos entre torcedores antes e durante uma partida de uma liga regional de futebol do leste da Alemanha no sábado (30/11) deixaram 79 feridos, incluindo dez policiais e cinco seguranças.

Os incidentes ocorreram na cidade de Jena, no estado da Turíngia, e tiveram como pano de fundo uma partida entre o Carl Zeiss Jena e o BSG Chemie Leipzig, duas equipes que disputam a Regionalliga Nordost, liga equivalente à quarta divisão do futebol alemão.

Além dos 79 feridos - que incluíram 64 torcedores de ambos os times -, foram registradas 40 acusações criminais e de contravenção.

Jena fica a cerca de 100 quilômetros de Leipzig, cidade-sede do rival Chemie e que fica no estado da Saxônia. Apesar de ambas às torcidas serem associadas à ideologia de esquerda, as autoridades esperavam confusão, e a partida foi considerada de alto risco devido à antipatia entre os grupos de torcedores.

Uma multidão de 7.224 espectadores, incluindo 1.084 torcedores do Chemie, compareceu à partida em Jena.

De acordo com a polícia, cerca de 350 torcedores do visitante Chemie fizeram uma marcha pela cidade antes do jogo, sem aviso prévio. Durante o ato, torcedores dispararam fogos de artificio e a polícia disse que teve de intervir "com o uso de força física e violência física, além de cassetetes e gás lacrimogêneo".

Mais tarde, durante a partida - vencida pelo Carl Zeiss Jena por 5 a 0 -, houve confrontos entre as duas torcidas dentro do estádio.

Clubes condenam a violência

O Carl Zeiss Jena divulgou uma declaração no domingo sugerindo que grande parte da culpa foi dos torcedores visitantes. "Um grande grupo de aproximadamente 1.200 torcedores visitantes do Leipzig rompeu violentamente a barreira entre o bloco de visitantes e o Bloco N e obteve acesso à área da torcida do Jena", apontou o comunicado.

"Acima de tudo, o FC Carl Zeiss Jena deseja aos afetados uma rápida recuperação. O clube terá um quadro abrangente do que aconteceu nos próximos dias.”

O Chemie Leipzig adotou uma postura semelhante, criticando "a má conduta de uma minoria" de seus torcedores.

"Como clube, sofremos grandes danos ontem. De acordo com nossas evidências, fogos de artifício foram lançados repetidamente do setor visitante em direção ao setor da torcida adversária", disse um comunicado no site do clube. "Condenamos a violência na forma de confrontos físicos, especialmente o uso de fogos de artifício contra pessoas. Isso não tem lugar em nossos jogos de futebol e não será tolerado por nós."

Ambos os clubes disseram que ainda pretendem investigar os incidentes.

jps (DW, dpa, ots)

Short teaser Partida da 4° divisão do futebol alemão no leste do país foi marcada por confrontos com a polícia e briga de torcidas
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Item 37
Id 70919291
Date 2024-12-01
Title A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids
Short title A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids
Teaser Em 1991, o então astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se um marco na luta contra a aids. Até hoje, ele segue empenhado em campanhas de esclarecimento sobre a doença.

Em meio a lágrimas dos repórteres veteranos, Earvin "Magic" Johnson permanece calmo. "Vou ter que me aposentar do Lakers porque contraí o vírus HIV", afirma. O astro do basquete tinha 32 anos quando proferiu essa frase, com voz firme, em 7 de novembro de 1991. Em seguida, acrescentou que não tinha aids, mas apenas HIV, o que havia sido confirmado pelo Dr. Michael Mellman pouco antes da coletiva de imprensa.

O médico do Los Angeles Lakers havia chamado Johnson depois de uma viagem do time para lhe dar a má notícia. "Quando ele me contou pela primeira vez, eu pensei: 'Ah, cara, eu vou morrer. Acho que acabou'. E ele disse: 'Não, não, não acabou'", lembrou Johnson mais tarde em uma entrevista à emissora pública PBS. Melman lhe disse que ele tinha que começar a tomar medicação e aprender a se sentir confortável com sua nova condição. Assim, poderia viver por muito tempo.

Em 1991, a infecção pelo HIV ainda era considerada uma sentença de morte pela opinião pública. Isso explica por que a coletiva de imprensa de Johnson causou um choque tão grande, comparável, para alguns, com a morte de John F. Kennedy, assassinado em 1963, ou com a renúncia de Richard Nixon após o caso Watergate em 1974.

"Magic" Johnson estava no auge da carreira e era uma superestrela do esporte em todo o mundo. Ele havia conquistado cinco títulos da NBA com o Lakers e tinha sido eleito o Jogador Mais Valioso (MVP) da temporada três vezes. "Magic" Johnson era famoso em quase todo o mundo.

Até então, muitos viam a aids como uma doença que só afetava gays ou viciados em drogas. Johnson, entretanto, não pertencia a nenhum desses grupos.

"Agora estou me tornando um porta-voz do HIV porque quero que as pessoas entendam que não há como evitar o sexo seguro. Às vezes, pensamos que somente os homossexuais podem contrair o vírus, que isso não pode acontecer comigo. Mas agora estou aqui para dizer que pode acontecer com qualquer um, até comigo. Todos deveriam ter mais cuidado", disse Johnson.

Dois meses antes do anúncio, em setembro de 1991, Johnson havia se casado com sua esposa Cookie. Na coletiva de imprensa, disse que sua esposa grávida não era portadora do vírus. Foi somente mais tarde que ele revelou que havia contraído o HIV durante relações sexuais desprotegidas com outra mulher.

"Efeito Johnson" em testes de HIV

Ainda em 1991, o astro do basquete criou a Fundação Magic Johnson, que apoia financeiramente grupos e campanhas contra a aids. E ele nunca se cansou de engajar ações para afetados e para aumentar a conscientização sobre a doença. Em 1º de dezembro de 1999, no Dia Mundial da Aids das Nações Unidas, ele foi um dos principais oradores, descrevendo a doença como "inimigo público número um".

As palavras de Johnson não foram em vão. Em 2021, cientistas americanos estimaram que a coletiva de imprensa de 7 de novembro de 1991 fez com que um número significativamente maior de homens nos EUA fizesse o teste de HIV nos meses seguintes, principalmente entre heterossexuais negros e hispânicos em cidades com clubes da NBA.

A carreira de "Magic" Johnson, porém, não terminou naquele dia de novembro. Em 1992, ele jogou no time All-Star da NBA pela conferência oeste – esse jogo coloca frente a frente jogadores de equipes do leste e do oeste dos EUA. No mesmo ano, fez parte do chamado "Dream Team" que ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona.

Na temporada 1995/96, Johnson comemorou outro retorno como jogador do Lakers antes de se aposentar definitivamente. Em homenagem ao ex-atleta, o clube aposentou a camisa número 32. E "Magic" Johnson entrou para o Hall da Fama do Basquete em 2002.

Bilionário e filantropo

"Magic" Johnson está agora com 65 anos. Investiu com sucesso o dinheiro que ganhou no esporte, em imóveis, cinemas e empresas como a seguradora de vida EquiTrust e a rede de cafeterias Starbucks. A revista Forbes estima que a fortuna atual de Johnson seja de 1,2 bilhão de dólares.

Há muito tempo, a Fundação Magic Johnson apoia não somente projetos de combate à aids, mas também outras organizações ligadas à educação, à saúde e que atuam para atuar carências sociais em cidades etnicamente diversas. Johnson está sempre envolvido, geralmente acompanhado de sua esposa Cookie e, com frequência, de seus filhos Earvin "EJ", Elisa e Andre, de um relacionamento anterior.

Quando Johnson foi diagnosticado com HIV em 1991, havia apenas um medicamento contra a aids no mercado, a azidotimidina, ou AZT. Atualmente, há várias substâncias ativas que ajudam a reduzir a carga viral do HIV. Quando bem-sucedido, o sistema imunológico do paciente se recupera e ele pode viver e trabalhar normalmente. O HIV é considerado altamente tratável, se a infecção for detectada precocemente e o tratamento for iniciado imediatamente.

Mas ainda há uma clara divisão entre os hemisférios Norte e Sul: o número de soropositivos no mundo todo é estimado em cerca de 40 milhões, com mais da metade vivendo no sul da África. Um quarto de todas os infectados não recebe nenhum medicamento.

"Não estou curado. Apenas tomei minha medicação. Estou fazendo o que devo fazer e, graças a Deus, o HIV no meu sistema sanguíneo e no meu corpo está praticamente morto. E não queremos que nada o desperte", disse Johnson em uma entrevista à PBS há alguns anos.

Short teaser Em 1991, astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se marco na luta contra o vírus.
Author Stefan Nestler
Item URL https://www.dw.com/pt-br/a-luta-de-magic-johnson-contra-o-hiv-e-a-aids/a-70919291?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 38
Id 70326170
Date 2024-09-25
Title Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher
Short title Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher
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Michael Schumacher e sua mulher, Corinna, em 2001

Três homens são acusados de exigirem 15 milhões de euros dos parentes do heptacampeão de Fórmula 1 em troca da não publicação de imagens privadas.O Ministério Público de Wuppertal, oeste da Alemanha, apresentou nesta quarta-feira (25/09) acusações contra três homens por supostamente tentarem extorquir dinheiro da família do ex-piloto de Fórmula 1 Michael Schumacher para não publicarem imagens privadas dele. Os três acusados são um segurança de boate, 53 anos, seu filho, de 30 anos, e um ex-funcionário de segurança da família do ex-campeão mundial, de 53 anos. De acordo com a investigação, o ex-funcionário da família de Schumacher disponibilizou gravações privadas ao segurança, que as teria adquirido para tentar fazer chantagem contra a família do ex-piloto. Telefonemas exigindo 15 milhões de euros Os supostos criminosos fizeram várias ligações exigindo 15 milhões de euros (R$ 79 milhões) da família Schumacher, caso contrário publicariam arquivos e materiais privados, obtidos e fornecidos pelo próprio ex-funcionário. No momento da primeira prisão, em junho, foram apreendidos até 1.500 documentos, incluindo fotografias, vídeos e relatórios médicos do alemão em discos rígidos, pen drives e telefones celulares. Os investigadores dizem que o material contém fotos e vídeos particulares da coleção da família, alguns tirados antes e outros depois do acidente de esqui de Schumacher em 2013. O segurança de boate implicou seu filho no momento da prisão (ele foi o primeiro a ser preso), que foi liberado sob fiança com a obrigação de se apresentar, e foi o pai que revelou aos investigadores a identidade da pessoa que lhes forneceu os documentos de Schumacher.Duas semanas depois, o ex-funcionário dos Schumacher foi preso em seu apartamento em Wülfrath, no estado de Renânia do Norte-Vestfália, onde foram confiscados mais dispositivos eletrônicos contendo material sensível do sete vezes campeão mundial de Fórmula 1. O caso não é o primeiro envolvendo de tentativa de chantagem contra os Schumachers. Em 2017, um homem de 25 anos recebeu uma sentença suspensa de 21 meses de prisão por exigir 900 mil euros da mulher do ex-piloto, Corinna Schumacher. Esse caso foi julgado em Reutlingen, no sudoeste da Alemanha. Em 2013, ex-piloto sofreu uma grave lesão na cabeça em um acidente de esqui na França, tendo passado quase seis meses em coma induzido. Desde então, tem sido recebido cuidados em sua casa na Suíça, longe da mídia, e não se sabe exatamente qual é sua condição física. md (EFE, AFP, DPA, SID)


Short teaser Três homens são acusados de exigirem dinheiro dos parentes do ex-piloto em troca da não publicação de imagens privadas.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/promotoria-acusa-trio-de-chantagem-contra-família-schumacher/a-70326170?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/67834031_354.jpg
Image caption Michael Schumacher e sua mulher, Corinna, em 2001
Image source Oliver Multhaup/dpa/picture-alliance
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Item 39
Id 70166593
Date 2024-09-08
Title Brasil pela primeira vez no top 5 dos Jogos Paralímpicos
Short title Brasil pela primeira vez no top 5 dos Jogos Paralímpicos
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Campanha brasileira em Paris deixou o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas

País bate próprio recorde nos Jogos de Paris com 89 medalhas, sendo 25 ouros, 26 pratas e 38 bronzes, e alcança sua melhor colocação na história da competição.O Brasil encerrou neste domingo (08/09) sua participação nos Jogos Paralímpicos de Paris com sua melhor campanha na história do evento. Foram 89 medalhas, sendo 25 de ouro, 26 de prata e 38 de bronze, que deixaram o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas. A grande campeã foi a China, com 84 ouros, seguida pelo Reino Unido (49 ouros), Estados Unidos (36) e Holanda (27). O Brasil manteve uma disputa acirrada com a Itália pelo quinto lugar, que apenas foi resolvida no último dia da competição. A batalha foi decidida com dois ouros – um no halterofilismo, com Tayana Medeiros, e outro na canoagem, com Fernando Rufino. A campanha brasileira superou o melhor resultado obtido pelo país até então. Nos Jogos de Tóquio, em 2021, os brasileiros conquistaram 72 pódios e garantiram a sétima posição. Esta é a quinta edição seguida que o Brasil termina no top 10 dos Jogos Paralímpicos. Os brasileiros ficaram em 8º nos Jogos do Rio 2016; em 7º em Londres 2012, e 9º em Pequim 2008. Em Paris, a maioria das medalhas brasileiras veio da natação (28 medalhas) e do atletismo (36), sendo estas as melhores participações na história em números quantitativos dessas modalidades. O nadador Gabriel Araújo, o Gabrielzinho, foi um dos grandes destaques, conquistando três ouros. Os judocas também tiveram grande contribuição para o bom resultado da delegação brasileira, conquistando quatro ouros. Meta mais do que atingida "Em cada brasileiro pulsa hoje um coração Paralímpico", festejou o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado. "Nossa meta era 75 a 90 [medalhas]. Era ficar entre os oito, ficamos entre os cinco. Muita sensação de que o trabalho compensa." Conrado disse que o plano, a partir de agora, é ampliar a participação de mulheres. "Essa delegação já teve 40% de mulheres. Se a gente olhar para China, mais de 60% das medalhas foram conquistadas por mulheres. Se a gente oportunizar, elas vão ser cada vez mais protagonistas." rc/as (ots)


Short teaser País bate próprio recorde nos Jogos de Paris com 89 medalhas e alcança sua melhor colocação na história da competição.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/brasil-pela-primeira-vez-no-top-5-dos-jogos-paralímpicos/a-70166593?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Campanha brasileira em Paris deixou o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas
Image source Umit Bektas/REUTERS
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Item 40
Id 70166081
Date 2024-09-08
Title Alemanha investiga novos casos de manipulação de resultados em jogos de futebol
Short title Alemanha apura manipulação de resultados em jogos de futebol
Teaser Casos estariam diretamente ligados à atuação das "bets", as empresas de apostas online. Autoridades analisam "decisões suspeitas dos árbitros" e comportamento de jogadores em 17 partidas de divisões diferentes.

A polícia alemã confirmou a abertura de investigações sobre 17 partidas das divisões mais baixas do futebol alemão por suspeitas de manipulação de resultados em associação a empresas de apostas online – as chamadas "bets".

Autoridades nos estados de Hesse e no Sarre deram inicio à análise de partidas consideradas suspeita. O Departamento Federal de Investigações Criminais (BKA) – a Policia Federal alemã – confirmou estar "envolvido no processo, no papel de coordenador central".

As investigações se seguiram a uma matéria publicada no jornal Hamburger Morgenpost neste fim de semana. A reportagem denunciou esquemas de manipulação de resultados em partidas na terceira divisão do futebol alemão (3. Liga), no torneio semiprofissional da quarta divisão (Regionallliga) e na liga amadora que equivale a 5ª divisão (Oberliga). As manipulações estariam ocorrendo por intermédio das casas de apostas online desde novembro de 2022.

Nos 17 jogos em questão, as autoridades disseram que estão sendo observadas decisões suspeitas dos árbitros das partidas e algum comportamento incomum de goleiros e defensores.

As discussões sobre manipulação teriam ocorrido na chamada dark web. As trocas de mensagens revelam que os ganhos ilegalmente acumulados seriam pagos em criptomoedas, como o Bitcoin.

Salários baixos propiciam manipulação

O jornal Hamburger Abendblatt denunciou outros dois incidentes na quinta divisão da Oberliga de Hamburgo, na semana passada, onde os chamados scouts de dados foram descobertos enviando informações em tempo real para plataformas de apostas durante as partidas. Após os scouts serem retirados dos estádios, não era mais possível apostar nesses jogos.

A Associação Alemã de Futebol (DBF) afirmou não ter provas concretas, mas disse estar em contato com as autoridades e que analisa os casos junto a sua empresa parceira de monitoramento de apostas, a Genius Sports. A DFB disse que não vai comentar o caso em razão de as investigações estarem em andamento.

Na Alemanha, é proibido apostar em atividades do esporte amador, mas as legislações vigentes não se aplicam a empresas estrangeiras de apostas.

No final do ano passado, promotores públicos passaram a investigar uma quantidade incomum de apostas feitas em uma partida da quarta divisão do futebol alemão, envolvendo a equipe do FSV Frankfurt, após uma dica dada por uma empresa de apostas.

Hannes Beuck, fundador da Gamesright, uma entidade que apoia apostadores que perderam dinheiro em casinos online, avalia que o potencial para manipulação de resultados no esporte amador é mais alto, uma vez que jogadores e juízes recebem salários menores, ou inexistentes.

Lembranças do escândalo Hoyzer

As novas investigações reavivaram a memória dos alemães de um escândalo de 2005, quando foi revelado que o árbitro Robert Hoyzer manipulou partidas da segunda e da quarta divisão alemã e da Copa da Alemanha, em colaboração com uma máfia de apostas da Croácia. Hoyzer foi condenado a dois anos e cinco meses de prisão.

Também foi envolvido no escândalo o árbitro Felix Zwayer, que foi banido por seis meses por não denunciar imediatamente uma propina de 300 euros (R$ 1.856) oferecida por Hoyer em 2004. Zwayer negou ter aceitado o dinheiro e até hoje é árbitro da DFB e da União das Associações Europeias de Futebol (Uefa).

rc (dpa, AP)

Short teaser Casos estariam ligados à atuação das "bets". Autoridades analisam "decisões suspeitas de árbitros" e de jogadores.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/alemanha-investiga-novos-casos-de-manipulação-de-resultados-em-jogos-de-futebol/a-70166081?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 41
Id 70114392
Date 2024-09-02
Title Atletas norte-coreanos podem ser punidos por selfie com sul-coreanos
Short title Atletas norte-coreanos podem ser punidos por selfie em Paris
Teaser Mesatenistas teriam sido colocados sob "vigilância ideológica" após interação com colegas do país vizinho nos Jogos Olímpicos e podem ser punidos se não demonstrarem arrependimento e remorso pelo gesto.

Uma das imagens mais emblemáticas dos Jogos Olímpicos de Paris pode ter gerado graves problemas para alguns atletas norte-coreanos. Há semanas, mesatenistas da Coreia do Sul e Norte protagonizaram um momento histórico após disputarem o pódio na categoria de duplas mistas.

Após receberem a medalha de bronze, os sul-coreanos Lim Jong-hoon e Shin Yu-bin se juntaram aos norte-coreanos Kim Kum-yong e Ri Jong-sik, que conquistaram a prata em Paris, para uma selfie. Os chineses Wang Chuqin e Sun Yingsha, também aparecem na imagem. O gesto foi visto internacionalmente como um símbolo de como o esporte é capaz de superar barreiras e unir os povos.

Uma das imagens foi postada no Instagram oficial dos Jogos de Paris e gerou enorme repercussão positiva, sendo considerada um dos grandes momentos do megaevento esportivo.

Contudo, relatos divulgados na imprensa sugerem que Kim e Ri teriam sido colocados sob "escrutínio ideológico" após retornarem ao seu país. O portal de notícias sobre a Coreia do Norte Daily NK, com sede em Seul, citou uma autoridade de alto escalão em Pyongyang que disse que atletas e membros do Comitê Olímpico Norte-Coreano passaram por uma "lavagem ideológica" de um mês de duração. De acordo com a reportagem, este seria um procedimento padrão no país imposto aos atletas que forem expostos à vida fora do regime comunista.

"Lavagem ideológica"

Segundo o Daily NK, o termo "lavagem ideológica" reflete como Pyongyang avalia que passar algum tempo fora de suas fronteiras pode "contaminar" seus cidadãos ao serem expostos a outras culturas.

O portal destaca que os atletas norte-coreanos recebem instruções para não interagirem com competidores de outros países, incluindo da Coreia do Sul, e teriam sido advertidos que tais "confraternizações" seriam passíveis de punição.

Os mesatenistas teriam sido alvo de críticas em um relatório enviado às autoridades do regime de Pyongyang por sorrirem enquanto posavam ao lado de atletas do país vizinho, que o regime comunista considera como seu pior inimigo.

Não está claro qual punição deve ser dada aos atletas. O portal Korea Times sugeriu que isso pode depender da intensidade do arrependimento demonstrado pelos esportistas.

Segundo o portal, os atletas norte-coreanos que retornam de competições internacionais no exterior costumam passar por sessões de "avaliação ideológica" em três etapas. As avaliações terminam em sessões de autorreflexão, nas quais eles devem criticar "comportamentos inadequados" dos integrantes de suas equipes, além de suas próprias ações.

O Korea Times citou o relato de uma fonte anônima, segundo a qual, expressões emocionadas de arrependimento podem poupar os atletas de "punições políticas ou administrativas", cujo teor é desconhecido.

Pressão por resultados

A ONG Human Rights Watch disse que os relatos revelam os esforços do regime do ditador Kim Jong-un para controlar seus cidadãos além de suas fronteiras.

"O Comitê Olímpico Internacional (COI) tem a responsabilidade de proteger os atletas de todas as formas de assédios e abusos, como consta na Carta Olímpica", disse a entidade, em nota. "Os atletas norte-coreanos não deveriam temer retaliações por suas ações durante os Jogos, menos ainda quando incorporam os valores do respeito e da amizade, sobre os quais se ergue o movimento olímpico."

Segundo os relatos, outros atletas que não conquistaram medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris teriam sido punidos pela suposta baixa performance nas competições.

O Daily NK menciona o caso da seleção de futebol norte-coreana que foi eliminada da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, depois de perder os três jogos da fase de grupos e sofrer 12 gols. Segundo o portal, os jogadores teriam sido alvos de uma bronca de horas de duração por supostamente traírem o regime. O técnico da equipe teria sido forçado a trabalhar na construção civil.

rc/md (Reuters, ots)

Short teaser Mesatenistas teriam sido colocados sob "vigilância ideológica" após interação com sul-coreanos nos Jogos Olímpicos.
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Item 42
Id 70092029
Date 2024-08-30
Title Velocista transgênero deve chamar atenção nas Paralimpíadas
Short title Velocista transgênero deve chamar atenção nas Paralimpíadas
Teaser

Valentina Petrillo durante competição paralimpica na Itália em 2024

Especulações e desinformação assolaram os Jogos Olímpicos de Paris sobre questões de gênero. Nos Paralímpicos, uma atleta transgênero italiana competirá no atletismo. Mas ela não será a primeira."Costumo dizer que, se eu consegui, outros também conseguem. Espero ser a primeira de muitas, um ponto de referência, uma inspiração. Minha história pode ajudar muitas pessoas, sejam elas deficientes visuais, transgêneros ou não", disse Valentina Petrillo à agência de notícias AFP, à medida que cresce o interesse em sua participação nos Jogos Paralímpicos, que começou nesta quarta-feira (28/08). Petrillo competirá no evento T12 para atletas com deficiência visual. Ela se assumiu publicamente como transgênero em 2017, depois de por pouco não ter participado como homem da equipe paralímpica de Atlanta de 1996. Somente em 2023, ela foi reconhecida como mulher pelas autoridades italianas. A atleta de 50 anos ganhou duas medalhas de bronze nas provas de 200 metros e 400 metros no Campeonato Mundial de Atletismo de 2023. Embora tenha dito que espera ser "a primeira de muitas" atletas transgênero competindo nos jogos, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC) afirma que ela não será a primeira paralímpica transgênero, como foi amplamente divulgado. Um porta-voz da organização disse à DW que a lançadora de disco holandesa Ingrid van Kranen foi a primeira, nos Jogos do Rio em 2016. Lançadora de disco holandês é a primeira paralímpico trans Van Kranen ficou em nono lugar na final do lançamento de disco e causou pouca repercussão internacional. Nos oito anos que se seguiram, as questões transgênero tornaram-se um ponto de discussão muito mais proeminente, sendo muitas vezes uma questão controversa nas guerras culturais. O esporte geralmente está na vanguarda disso. As linhas de batalha são bem traçadas, mas cada caso tem suas próprias nuances. Para a para-atleta alemã Katrin Müller-Rottgardt, que correrá na mesma categoria que Petrillo, o palco esportivo apresenta dificuldades que a vida normal não apresenta. "Todos devem viver sua vida cotidiana da maneira que se sentem confortáveis. Mas acho isso difícil em esportes competitivos", disse ela ao tabloide alemão Bild. "Ela [Petrillo] viveu e treinou como homem por muito tempo, então é possível que os requisitos físicos sejam diferentes dos de alguém que nasceu mulher. Isso pode lhe dar uma vantagem", acrescentou a atleta alemã. A gama de pontos de vista científicos e institucionais é bastante bem estabelecida, mas não há nada como um consenso. Diferentes esportes e diferentes órgãos dirigentes têm adotado linhas totalmente diversas, mesmo quando se trata dos mesmos atletas. Caso Imane Khelif Isso ficou claro no caso da boxeadora vencedora da medalha de ouro olímpica, Imane Khelif. Depois que sua oponente italiana abandonou a luta de abertura, o gênero de Khelif se tornou um dos tópicos mais importantes dos jogos. Ela foi incorretamente rotulada como transgênero pelos meios de comunicação e por importantes figuras públicas. Lin Yu-ting, de Taiwan, enfrentou desafios semelhantes. A dupla foi inicialmente banida do campeonato de 2023, administrado pela Associação Internacional de Boxe. Posteriormente, a organização foi destituída de seu status de órgão regulador global do esporte, o que permitiu que as boxeadoras lutassem em Paris. As inconsistências aparentes entre esportes e eventos faz com que Petrillo não possa competir no atletismo feminino nos Jogos Olímpicos, mas possa nos Jogos Paralímpicos. A World Athletics, órgão regulador global do atletismo de pista e campo, proibiu os atletas transgêneros de competir em 2023. Mas a World Para Athletics diz que qualquer pessoa que seja legalmente reconhecida como mulher é elegível para competir na categoria para a qual sua deficiência a qualifica. O IPC disse à DW que, pelo menos por enquanto, deixa essas decisões a cargo das federações individuais. "O IPC, em seu papel de organizador de eventos importantes, não tem nenhuma regra relevante sobre a participação de atletas transgêneros e intersexuais, pois isso é responsabilidade de cada federação internacional", disse o porta-voz. No centro da tempestade Não há dúvida de que Petrillo está seguindo as regras atuais. Mas é improvável que isso a impeça de estar no centro de uma tempestade, como Khelif esteve antes dela. "Sei que haverá pessoas que não entenderão por que estou fazendo isso, mas estou aqui, lutei durante anos para chegar aonde estou e não tenho medo. Isso é quem eu sou", disse a atleta. Mas o abuso enfrentado pelos atletas nesses casos é sério. Depois de voltar para casa na Argélia, Khelif anunciou que havia entrado com uma ação judicial, supostamente contra a plataforma de rede social X, por suposto cyberbullying. O advogado de Khelif, Nabil Boudi, disse à revista especializada em entretenimento Variety que a queixa menciona o proprietário da X, Elon Musk, e a autora de Harry Potter, JK Rowling. Boudi acrescentou que ele também estaria considerando qualquer papel desempenhado pelo ex-presidente dos EUA e atual candidato republicano, Donald Trump. "Trump tuitou, portanto, quer ele seja ou não citado em nosso processo, ele será inevitavelmente analisado como parte da acusação", disse o advogado. Embora os Jogos Paralímpicos não tenham o mesmo perfil global que os Olímpicos, os olhos do mundo provavelmente estarão voltados para Petrillo quando ela entrar na pista.


Short teaser Especulações e desinformação assolaram os Jogos Olímpicos de Paris sobre questões de gênero.
Author Matt Pearson
Item URL https://www.dw.com/pt-br/velocista-transgênero-deve-chamar-atenção-nas-paralimpíadas/a-70092029?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Valentina Petrillo durante competição paralimpica na Itália em 2024
Image source Tommaso Berardi/IPA Sport/picture alliance
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Item 43
Id 64814042
Date 2023-02-25
Title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
Short title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
Teaser

O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia

UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção. Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março. Lei antioligarca De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda. Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias. Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado. Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares. Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados ​​por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas. Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares. Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país. Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros. A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões. Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares. Não existem mais oligarcas ucranianos? Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política. Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los". De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE. Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra. "Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos. Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.


Short teaser UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas.
Author Eugen Theise
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Image caption O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia
Image source Daniel Naupold/dpa/picture alliance
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Item 44
Id 64820664
Date 2023-02-25
Title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Short title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Teaser

Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil

De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02). A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes. Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros. O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro. Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado. Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos. De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas. Turquia começa reconstrução As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção. Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep. Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente. Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad. Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados. Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares. Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores. Istambul precisa de 40 bilhões de dólares Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto. "A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico. De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia. Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil. le (EFE, DPA, Reuters, ots)


Short teaser De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos.
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Image caption Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil
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Item 45
Id 64819106
Date 2023-02-25
Title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
Short title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
Teaser

"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,

Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado. Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética. Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia. Acordo após mais de 24 horas de reuniões As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões. "Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter. O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca. Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen. O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE. Sanções contra firmas iranianas Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia. As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas. Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco. O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia. No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional. md (EFE, Reuters, AFP)


Short teaser Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou.
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Image caption "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,
Image source Zhang Cheng/XinHua/dpa/picture alliance
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Item 46
Id 64816115
Date 2023-02-24
Title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
Short title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
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Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia

Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia. Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou. Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor." Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz. "No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter. Estreitar laços O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra. Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou. Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo". O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra". Proposta da China Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países. "Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou. Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev. cn/bl (Reuters, AFP, Efe)


Short teaser Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev.
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Image caption Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia
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Item 47
Id 64811757
Date 2023-02-24
Title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Short title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Teaser Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado.

Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos.

Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares.

Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia.

Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%.

No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente.

Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim.

"A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico.

A proposta da China para a guerra na Ucrânia

Até a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta.

Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito.

No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada.

"A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW.

Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia.

O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais.

"Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia.

"No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou.

Mediador duvidoso

Além disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou.

Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin.

"É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner.

Campanha de relações públicas sem riscos

A proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática.

"O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura.

"Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou.

"Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner.

Outros pontos da proposta

O texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais.

A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta.

"O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang.

Short teaser Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia.
Author Alena Zhabina
Item URL https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 48
Id 64811407
Date 2023-02-24
Title Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin
Short title Zelenski, o presidente subestimado por Putin
Teaser Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente.

As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo.

Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!".

"Preciso de munição, não de carona"

Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido.

A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos.

A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo.

Câmeras, as armas mais poderosas de Zelenski

Em seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana.

No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos".

No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo.

Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas.

Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação.

Putin não levou Zelenski a sério

Muitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin.

A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia.

Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado.

Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente.

Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir.

Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos.

Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar.

Nem tudo é fácil

Isso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos.

Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana.

O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia.

Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana.

Short teaser Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores.
Author Roman Goncharenko
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Item 49
Id 64810396
Date 2023-02-24
Title Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Short title Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão?
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Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia

Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online. Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa. "Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema." A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha". Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída. Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real. Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala. "Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW. Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos. Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento. Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real. "Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman. Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização. "É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman. Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse. "Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman. Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos. O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum". "Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças. Fadiga por compaixão em relação a refugiados Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia. "Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW. Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo. É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África. "Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa. A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo. "Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW. Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis. "Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW. Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida. Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.


Short teaser Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia.
Author Fred Schwaller
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Image caption Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia
Image source Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance
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Item 50
Id 64809638
Date 2023-02-24
Title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
Short title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
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Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos. Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março. Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados. Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos. Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas." Pressão por interdição total do TikTok nos EUA Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos. O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas". "Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro. Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China. TikTok nega ingerência de Pequim Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos. Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados. Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados. av/bl (AFP, Reuters, ots)


Short teaser Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos.
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Item 51
Id 64800152
Date 2023-02-24
Title Como e quando poderia haver paz na Ucrânia?
Short title Como e quando poderia haver paz na Ucrânia?
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Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar

Um ano após o início da guerra, nenhum dos lados parece disposto a negociações. Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para o conflito.Dezenas de milhares de soldados mortos e mutilados dos dois lados, milhares de vidas de civis ucranianos perdidas, cidades destruídas. A isso se somam uma crise energética mundial, inflação em diversos países em desenvolvimento e fome. Este é o balanço de uma guerra que, depois de um ano, parece longe de ter fim. O presidente russo, Vladimir Putin, não alcançou seu objetivo de conquistar totalmente a Ucrânia. Mas a Rússia ocupa atualmente um quinto do território vizinho. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por sua vez, afirma reiteradamente que pretende reconquistar toda a área tomada pelos russos – inclusive a Península da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014. Em discurso sobre o estado da naçãona última terça-feira (21/02), Putin não se mostrou disposto a ceder – pelo contrário. "É impossível derrotar nosso país no campo de batalha", afirmou. O mandatário escalou o discurso com o anúncio da suspensão da participação da Rússia no tratado de desarmamento nuclear New Start, o último acordo do tipo ainda em vigor entre Moscou e Washington. O anúncio parece ter sido uma reação à visita surpresa do presidente americano, Joe Biden, a Kiev no dia anterior. Biden garantiu a continuidade do apoio dos EUA a Zelenski. "Não se trata apenas da liberdade da Ucrânia. Trata-se da própria liberdade da democracia", disse Biden. Em seguida, em visita à capital polonesa, Varsóvia, Biden reforçou que a Ucrânia "jamais será uma vitória para a Rússia". Porém, tanto entre os republicanos no Congresso americano quanto entre a população dos EUA, a disposição em apoiar a Ucrânia no longo prazo está diminuindo. Temor de uma terceira guerra mundial A pressão para negociações de paz também aumenta na Alemanha. A mais recente Deutschlandtrend – pesquisa de opinião mensal da emissora pública ARD, realizada pelo instituto Infratest dimap – mostra que 58% dos entrevistados consideram que os esforços diplomáticos para encerrar a guerra são insuficientes – um recorde histórico. Uma petição encabeçada por Sahra Wagenknecht, da legenda A Esquerda, e pela feminista Alice Schwarzer pede o início imediato de negociações de paz e o fim do envio de armas à Ucrânia pela Alemanha, que reviu seu pacifismo de décadas e adotou uma postura voltada à remilitarização com o início do conflito. O documento, assinado por teólogos, artistas e políticos, alerta contra uma nova guerra mundial. O embaixador ucraniano em Berlim, Oleksei Makeiev, disse a um portal alemão de notícias que não consegue entender esse temor: "A Ucrânia já está na Terceira Guerra Mundial. A Rússia lidera uma guerra de aniquilação contra nós." Reconquista de territórios ocupados Já no ano passado, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, descartou, em entrevista à DW, passos unilaterais para alcançar a paz. O motivo: "Se a Ucrânia encerrar os combates, vai deixar de existir como Estado independente." Por isso, segundo Stoltenberg, Kiev precisaria vencer a guerra. Para que a Ucrânia possa manter sua liberdade, países ocidentais vêm reforçando seu auxílio militar à nação invadida pela Rússia. No início deste ano, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, decidiu após longa hesitação, enviar tanques alemães à Ucrânia, depois que os EUA e outros países da Otan, como o Reino Unido, anunciaram o envio de blindados a Kiev. Especialmente o modelo Leopard 2, fabricado na Alemanha, poderia ajudar a "superar a desvantagem da Ucrânia no campo de batalha", afirmou o coronel reformado Roderich Kiesewetter, que também é político do partido conservador alemão CDU, em mensagem por escrito à DW. "Mas, se os ucranianos conseguirão uma virada na linha de frente, dependerá do número, do tempo de fornecimento e da continuidade do envio de tanques", avalia. A Ucrânia não espera só rechaçar ataques russos com os blindados. O consultor em segurança Nico Lange, que desde julho de 2022 trabalha para a iniciativa Zeitenwende da Conferência de Segurança de Munique e já ocupou posições de liderança na Fundação Konrad Adenauer, ligada à CDU, considera "realistas as chances militares de a Ucrânia reconquistar a totalidade dos territórios ocupados [pela Rússia] e, assim, reconstituir a paz". Em entrevista à DW, Lange diz acreditar que "Putin só estará disposto a negociar quando a situação militar ficar tão favorável à Ucrânia que ele entenderá que não vai conseguir vitórias com essa guerra de agressão". O general aposentado da Bundeswehr Helmut Ganser não partilha dessa visão. Na edição de fevereiro da publicação especializada em política internacional Journal für Internationale Politik und Gesellschaft, ele traça dois cenários para uma contraofensiva ucraniana rumo ao sul do país, na direção do Mar de Azov, com a atuação de tanques ocidentais. No quadro mais pessimista, a ofensiva ucraniana ficaria atolada em meio à defesa maciça da Rússia. Para esse caso, Ganser já tenta preparar a opinião pública ocidental para "imagens de tanques Leopard destroçados", que a Rússia divulgaria na internet com prazer. Para Ganser, o cenário mais otimista é ainda mais perigoso: as unidades de blindados avançariam até o Mar de Azov e ficariam diante da Península da Crimeia. O ex-general suspeita que seria no máximo nesse momento que Putin "expandiria a área total da guerra ao território dos países ocidentais apoiadores", e alerta: "Está aumentando o perigo de um deslizamento lento e, na verdade, não intencional, rumo a uma grande catástrofe para toda a Europa." Já Lange vê a ameaça nuclear da Rússia como "um instrumento de guerra psicológica". Ele não apenas considera uma reconquista da Crimeia "possível do ponto de vista militar", mas endossa também a tentativa como algo aconselhável: "Exatamente pelo fato de que [perder] a Península da Crimeia seria uma vergonha para Vladimir Putin, a pressão militar sobre a Crimeia é uma possibilidade de fazer com que a Rússia se disponha a negociar", avalia. Onde está o limite? Os especialistas ouvidos pela DW se dividem quanto à possibilidade de a pressão militar aumentar ou a disposição de negociar da Rússia ou o risco de uma guerra nuclear. O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), sempre sublinhou que a Alemanha não pode se tornar parte diretamente envolvida no conflito. Por isso, houve longa hesitação do país em decidir enviar tanques à Ucrânia, e Scholz ainda descarta o envio de aviões de guerra a Kiev. Biden também não prometeu caças a Zelenski. Já o político da CDU e ex-militar Kiesewetter não "traçaria linhas vermelhas no que se refere a certos sistemas de armas". No contexto do direito internacional, um país só se transforma em parte envolvida numa guerra quando se envia soldados próprios, aponta Kiesewetter, que descarta tal cenário. Objetivos incompatíveis de pacificação Porém, entre os países que apoiam a Ucrânia, há muitos que acreditam que não será possível encerrar o conflito sem alguma disposição de Kiev de chegar a um acordo político. Na própria Ucrânia, essa vontade é quase imperceptível, segundo avalia o jornalista Roman Goncharenko, da redação ucraniana da DW. "Nas primeiras semanas depois da invasão, Kiev estava disposta a fazer concessões, como neutralidade em vez de se tornar país-membro da Otan. Mas a brutalidade do Exército russo e a anexação de mais regiões praticamente impossibilitaram a busca de um compromisso. Uma pesquisa encomendada pela Conferência de Segurança de Munique mostrou que 93% dos ucranianos veem uma retirada completa da Rússia – também da Crimeia – como condição para um cessar-fogo", explica Goncharenko. Um cenário irrealista na avaliação do cientista político Johannes Varwick, da Universidade alemã de Halle: "Muito provavelmente, no final, haverá uma Ucrânia neutra que não ficará na zona de influência do Ocidente ou da Rússia de forma nítida", especula. Varwick vê urgência numa iniciativa de negociação do Ocidente. "Se, ao final de uma guerra longa ou que foi intensificada, tivermos o mesmo resultado que já seria possível hoje, não faz sentido continuar lutando com dezenas de milhares de mortos e pessoas traumatizadas", pontua. Há sinais reais de pacificação? Na última semana, a embaixada russa em Berlim divulgou o seguinte tuíte: "Todas as ações de combate terminam em negociações, estamos dispostos a elas. Mas apenas a negociações sem condições prévias e com base na realidade válida e considerando os objetivos que comunicamos publicamente." Uma declaração que não pode ser interpretada como disposição a um acordo. A "realidade válida" inclui a ocupação russa de um quinto da Ucrânia, enquanto um dos objetivos era até mesmo a aniquilação completa do Estado ucraniano. Durante a Conferência de Segurança de Munique deste ano, a China anunciou um plano de paz. Os governos do Ocidente, no entanto, veem o anúncio com ceticismo devido ao fato de a China nunca ter condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia. O Secretário de Estado americano, Antony Blinken, também teme que a China possa enviar armas à Rússia – o que Pequim contesta. Vitória militar ou paz com compromissos? O economista americano Jeffrey Sachs escreveu na edição de janeiro da revista britânica The Economist que, para uma solução de paz "credível", é decisivo que "os interesses de segurança mais importantes dos dois lados sejam respeitados". "A soberania e a segurança da Ucrânia precisam ser garantidas, enquanto a Otan precisaria prometer não se expandir para o leste." Sachs espera impulsos de pacificação vindos sobretudo dos países que recusaram uma condenação da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas – além da China, Índia, Brasil e África do Sul, que são parceiros da Rússia no Brics. "Esses países não odeiam nem a Rússia, nem a Ucrânia", afirma o economista. "Eles não querem nem que a Rússia conquiste a Ucrânia, nem que a Otan se expanda para o leste." Kiesewetter, da CDU, alerta contra concessões a Moscou: "É um equívoco pensar que basta dar um pouco de terra para a Rússia para que o país mate sua sede de destruição. E uma eventual conquista de território pela Rússia serviria de modelo para outros países autocráticos definirem novas fronteiras militares, recorrendo a chantagem ou ameaça nuclear." O especialista acredita que principalmente a China já encara a Europa como uma "área de teste", tendo em vista a soberania de Taiwan.


Short teaser Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para a guerra.
Author Christoph Hasselbach
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Image caption Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar
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Item 52
Id 64793993
Date 2023-02-24
Title A guerra na Ucrânia em números
Short title A guerra na Ucrânia em números
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Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia

Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em apoio militar e várias sanções. Dez gráficos ilustram as consequências de um ano de guerra de agressão russa.A Rússia está em guerra com a Ucrânia há um ano. Apesar da recaptura bem-sucedida de várias áreas pelo Exército ucraniano, grandes partes do país permanecem sob controle russo. Recentemente, em 19 de janeiro de 2023, as forças ucranianas se retiraram de Soledar, na região do Donbass, e desde então a cidade voltou às mãos dos russos. Milhões de pessoas em fuga De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, a guerra desencadeou a segunda maior crise de deslocamento do mundo. Na Europa, 6,3 milhões de refugiados ucranianos encontraram abrigo até agora. Outros 6,6 milhões de pessoas estão em fuga dentro do próprio país. De acordo com as Nações Unidas, muitas pessoas são deportadas para a Rússia ou instadas a emigrar para lá, especialmente das áreas do leste da Ucrânia. Isso explica o alto número de refugiados na Rússia, país que usam para tentar chegar à União Europeia. Pobreza e recessão De acordo com o Acnur, a situação humanitária na Ucrânia "deteriorou-se rapidamente". Cerca de 40% da população depende agora de ajuda para sobreviver. A situação econômica também é catastrófica. De acordo com o Banco Mundial e o Ministério da Agricultura da Ucrânia, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 35% em 2022. Sessenta por cento da população vive agora na linha da pobreza. A destruição da infraestrutura doméstica pela guerra é estimada em mais de 130 bilhões de euros. Resiliência na Rússia Em contraste com a Ucrânia, a situação na Rússia é menos crítica do que o estimado. Entretanto, os especialistas esperam uma deterioração este ano devido às sanções adicionais da União Europeia (UE) contra a Rússia adotadas em fevereiro deste ano. As projeções para o desenvolvimento econômico da Rússia variam muito: enquanto a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) espera que a economia russa retroceda em 5,6% este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um pequeno crescimento, de 0,3%. As receitas da Rússia provenientes das exportações de energia inicialmente cresceram acentuadamente após a explosão dos preços em março de 2022, mas depois caíram de forma constante. Entretanto, se estabilizaram no nível de dezembro de 2021, anterior à guerra. Em vista da queda dos preços do gás e do petróleo, bem como da diminuição da demanda, especialmente na UE, mas também em vista da estagnação na China, espera-se no ano em curso uma nova queda na receita da Rússia proveniente das exportações de energia. Bilhões para a defesa ucraniana Bilhões de dólares em ajuda militar, humanitária e financeira têm fluído para a Ucrânia desde que a guerra começou. Com mais de 70 bilhões de euros em ajuda, os Estados Unidos encabeçam a lista de países doadores. A UE e seus membros já mobilizaram mais de 50 bilhões de euros. A Alemanha é um dos maiores fornecedores de armas para a Ucrânia. Para 2023, estão previstos 2,2 bilhões de euros em ajuda militar. Em vista da esmagadora superioridade militar da Rússia sobre a Ucrânia, a Otan também expandiu sua presença militar em seu flanco oriental. As chamadas forças de combate multinacionais foram destacadas para os Estados bálticos e a vigilância aérea na região foi reforçada. Queda do preço do trigo Pelo menos uma das catástrofes previstas não se concretizou: uma crise alimentar global devido à escassez de trigo foi evitada. De acordo com os ministérios da Agricultura da Ucrânia e dos Estados Unidos, a produção global de trigo aumentará de 778 milhões de toneladas na safra de 2021/2022 para 783 milhões de toneladas na de 2022/2023. O preço do trigo, que após a invasão russa da Ucrânia atingiu um pico de mais de 430 euros por tonelada no mercado mundial em maio de 2022, voltou a cair para pouco menos de 300 euros a tonelada. O valor aproxima-se assim do preço de antes da guerra, quando o grão era comercializado por 275 euros a tonelada. As perdas de produção na Ucrânia − ainda um dos principais produtores mundiais de trigo − estão sendo compensadas por outros países. A Austrália e a Rússia, em particular, aumentaram sua produção. Segundo a agência de notícias russa Tass, o aumento se deve "à incorporação de quatro territórios ucranianos". Com 102 milhões de toneladas, o Ministério da Agricultura russo também espera uma safra muito maior do que a estimada pelo Departamento de Agricultura americano.


Short teaser Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em ajuda militar: dez gráficos mostram consequências do conflito.
Author Astrid Prange
Item URL https://www.dw.com/pt-br/a-guerra-na-ucrânia-em-números/a-64793993?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia
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