Item 1 | |||
Id | 72030393 | ||
Date | 2025-03-27 | ||
Title | Bolsonaro réu por tentativa de golpe: quais são os próximos passos do julgamento no STF | ||
Short title | Bolsonaro réu: quais são os próximos passos do julgamento | ||
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Ministros da Primeira Turma do STF aceitam, por unanimidade, denúncia contra ex-presidente e mais sete aliados por tentativa de golpe. Entenda o que acontece agora.A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou, por unanimidade, a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e de mais sete investigados por integrar o núcleo central de uma trama golpista arquitetada após a derrota nas eleições de 2022.
Com a decisão, Bolsonaro e sete aliados se tornam réus e vão responder a ação penal pela trama golpista que culminou na invasão e depredação da sede dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, poucos dias após a posse do presidenteLuiz Inácio Lula da Silva (PT).
A previsão de analistas consultados pela DW é de que, após esse primeiro passo, o processo se arraste pelos próximos meses, quando o tribunal ouvirá testemunhas e acusados, analisará provas e fará as demais diligências. Há o risco de que a conclusão do julgamento fique para 2026, o que pode levar a corrida eleitoral a atropelar o rito judicial.
O que pesa sobre os acusados?
O ex-presidente é acusado de cinco crimes: liderança de organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. As penas podem somar mais de 40 anos de reclusão.
A peça da Procuradoria-Geral da República (PGR) denuncia 34 pessoas, mas o julgamento do STF dividiu os acusados em cinco grupos. Nesta primeira etapa, além de Bolsonaro, a corte também avalia a abertura dos processos contra os ex-ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Anderson Torres (Justiça) e o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência).
Foram implicados ainda Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha do Brasil, e Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência, além do ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem.
O relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, disse não haver "dúvida nenhuma " de que Bolsonaro discutiu a "minuta do golpe ". Segundo a investigação da Polícia Federal, o documento circulou entre integrantes do governo no final de 2022 e consistia em um plano para impedir a posse de Lula.
O que vem agora?
Assim como no julgamento que decidiu pela abertura da ação, o restante do processo será conduzido inteiramente pela Primeira Turma, composta pelos ministros Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luis Fux. Na semana passada, a maioria do plenário do tribunal rejeitou pedido da defesa de Bolsonaro e de Braga Netto para afastar Dino, Zanin e Moraes da análise do caso por suspeição.
O ordenamento jurídico não prevê a possibilidade de um recurso pelo recebimento da denúncia, de acordo com o advogado Acácio Miranda, especialista em Direito Penal. A defesa, porém, pode lançar mão de um dispositivo conhecido como "embargos de declaração", em que são pedidos esclarecimentos sobre aspectos específicos da decisão.
O cronograma dos passos seguintes é imprevisível, porque o caso envolve múltiplos acusados. Cada equipe de defesa deve empregar estratégias próprias e podem, inclusive, entrar em contradição, o que amplia o prazo de apurações. "É muito provável que o julgamento do mérito não aconteça este ano, então deve entrar no calendário eleitoral", avalia Miranda.
Bolsonaro pode ser preso?
A composição da Primeira Turma do STF torna o cenário "desfavorável" ao ex-presidente, avalia o advogado criminalista Marcelo Crespo, coordenador do curso de direito da ESPM. No passado, os ministros do colegiado já tomaram decisões que contrariaram Bolsonaro. Moraes, em particular, é alvo frequente de ataques bolsonaristas.
Crespo considera improvável que uma eventual condenação produza uma pena que não leve Bolsonaro à prisão, sobretudo por conta da profundidade das denúncias da PGR ."Mas tudo vai depender do julgamento, de como será a interpretação da turma", pondera.
Na mesma linha, Acácio Miranda vê chances significativas de que o ex-presidente seja condenado. O Código Penal Brasileiro ainda prevê recursos após a decisão e o réu só pode ser preso após o esgotamento de todos eles, cenário conhecido como "trânsito em julgado". "Resta saber o timing disso, o momento dessa condenação. Sendo ele condenado, uma tendência lógica, em circunstâncias normais, é de que ele seja preso", afirma.
Somados todos os crimes pelos quais Bolsonaro foi acusado, a sentença pode chegar a 43 anos de prisão.
Consequências políticas
O processo avaliado pelo STF não afetará diretamente as perspectivas eleitorais, porque Bolsonaro já foi declarado inelegível em 2023 por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação durante a campanha de 2022. O ex-presidente e Braga Netto estão impedidos de concorrer a cargos eletivos até 2030.
A evolução do litígio, no entanto, terá impacto em outras frentes. Para o cientista político Carlos Pereira, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EBAPE), Bolsonaro perde algum capital político com o imbróglio jurídico, embora o núcleo mais firmes de apoiadores deva manter a lealdade ao ex-presidente.
"Por mais que o julgamento elenque evidências robustas de que houve envolvimento direto de Bolsonaro e seus ministros e vice-presidente na tentativa de golpe, essa parcela da população vai continuar com ele de qualquer maneira", avalia.
Por outro lado, o segmento do eleitorado menos ideológico, que votou em Bolsonaro mais como repúdio ao PT, pode ser negativamente influenciado pela situação. Por isso, Pereira vê o caso como uma "janela de oportunidade" para que a direita encontre uma alternativa para a eleição do ano que vem.
A solidez e a repercussão da ação penal ditarão também a influência de Bolsonaro na escolha de um sucessor. Se ficar comprovado de forma inequívoca o envolvimento na trama golpista, candidatos conservadores independentes do ex-presidente ganhariam mais viabilidade. "Mas se o julgamento não mostrar uma clara conexão, a força política dele continuará sendo relevante", ressalta Pereira.
Intervenção de Brasília?
Para tentar contornar as perspectivas na Justiça, Bolsonaro busca mobilizar apoio popular a projetos de anistia total aos envolvidos na trama golpista. No último dia 16 de março, o ex-presidente participou de um ato em Copacabana, no Rio de Janeiro, para pedir a aprovação no Congresso do perdão aos responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. A Polícia Militar contabilizou 400 mil pessoas no protesto, mas o Datafolha disse que foram 30 mil.
Bolsonaro voltou a convocar apoiadores para uma nova manifestação, no próximo sábado (29/03), na Avenida Paulista, em São Paulo.
Apesar disso, Carlos Pereira, da FGV, vê pouco apetite para uma intervenção do legislativo nesse caso. "É muito custoso impor perdas ao judiciário em um ambiente fragmentado de muitos partidos. Então, acho pouco provável que o Congresso inicie medidas que venham a restringir o papel e o poder do Suprema", avalia.
O advogado Acácio Miranda acredita que uma virada de mesa liderada pelos parlamentares dependeria de evidências muito contundentes em favor de Bolsonaro. Para ele, ainda que haja um equilíbrio de força mais favorável a grupos conservadores no Congresso, não há espaço para uma ação radical. "Não se sei a polarização política do Brasil permitiria isso", diz.
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Short teaser | STF aceitou denúncia contra o ex-presidente por tentativa de golpe. Entenda o que acontece agora. | ||
Author | André Marinho | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/bolsonaro-réu-por-tentativa-de-golpe-quais-são-os-próximos-passos-do-julgamento-no-stf/a-72030393?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Bolsonaro é acusado de cinco crimes relacionados à tentativa de golpe | ||
Image source | Amanda Perobelli/REUTERS | ||
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Item 2 | |||
Id | 71667808 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | Bolsonaro réu por tentativa de golpe: o que vem pela frente | ||
Short title | Bolsonaro réu por tentativa de golpe: o que vem pela frente | ||
Teaser |
Brasil terá o primeiro julgamento de um ex-presidente por tentativa de golpe. Bolsonaro tenta reverter situação, buscando anistia e mudança na Lei da Ficha Limpa.O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sete aliados viraram réus em ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a trama golpista que culminou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, poucos dias após a posse do presidenteLuiz Inácio Lula da Silva (PT).
A decisão foi tomada nesta quarta-feira (26/3) pela Primeira Turma do STF, e tem como base denúncia apresentada em 18 de fevereiro pela Procuradoria Geral da República (PGR). Agora, a ação deve se arrastar pelos próximos meses, quando o tribunal ouvirá testemunhas e acusados, analisará provas e fará as demais diligências. Especialistas que acompanham o processo avaliam que a conclusão do julgamento pode acabar ficando para 2026, ano de eleição.
O que pesa sobre os acusados?
O ex-presidente é acusado de cinco crimes: liderança de organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas máximas podem chegar a 43 anos de prisão.
A peça da PGR denuncia 34 pessoas, mas o julgamento do STF dividiu os acusados em cinco grupos.
Nesta primeira etapa, além de Bolsonaro, a corte decidiu tornar réus outros sete ex-auxiliares do ex-presidente. São eles: os ex-ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência); o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos, o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem e Mauro Cid, ex-auxiliar da Presidência.
Juntos, esses oito denunciados formam o núcleo central da trama golpista.
Quais as etapas do julgamento?
O julgamento está sendo conduzido pela Primeira Turma, formada pelos ministros Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux. Na semana passada, o plenário do STF rejeitou pedido da defesa de Bolsonaro e de Braga Netto para afastar Dino, Zanin e Moraes da análise do caso por suspeição.
"É importante que se lembre que o julgamento não decide se há condenação ou não, mas sim se há elementos suficientes para o andamento do processo", ressalta o advogado criminalista Marcelo Crespo, coordenador do curso de direito da ESPM.
O que vem agora?
Agora que Bolsonaro e outros sete viraram réus, começa uma nova etapa do processo em que serão avaliados os méritos das acusações.
O ordenamento jurídico não prevê a possibilidade de um recurso pelo recebimento da denúncia, de acordo com o advogado Acácio Miranda, especialista em Direito Penal. A defesa, porém, pode lançar mão de um dispositivo conhecido como "embargos de declaração", em que são pedidos esclarecimentos sobre aspectos específicos da decisão.
O cronograma dos passos seguintes é imprevisível, porque o caso envolve múltiplos acusados. Cada equipe de defesa deve empregar estratégias próprias e pode, inclusive, entrar em contradição, o que amplia o prazo de apurações. "É muito provável que o julgamento do mérito não aconteça este ano, então deve entrar no calendário eleitoral", avalia Miranda.
A Primeira Turma considera ampliar a frequência de suas reuniões – tornando-as semanais em vez de quinzenais – para agilizar a análise dos processos e tentar concluir o de Bolsonaro antes de 2026.
Bolsonaro pode ser preso?
A composição da Primeira Turma do STF torna o cenário "desfavorável" ao ex-presidente, avalia Crespo. No passado, os ministros do colegiado já tomaram decisões que contrariaram Bolsonaro. Moraes, em particular, é alvo frequente de ataques bolsonaristas.
Crespo considera improvável que uma eventual condenação produza uma pena que não leve Bolsonaro à prisão, sobretudo por conta da profundidade das denúncias da PGR ."Mas tudo vai depender do julgamento, de como será a interpretação da turma", pondera.
Na mesma linha, Acácio Miranda vê chances significativas de que o ex-presidente seja condenado. O Código Penal Brasileiro ainda prevê recursos após a decisão e o réu só pode ser preso após o esgotamento de todos eles, cenário conhecido como "trânsito em julgado". "Resta saber o timing disso, o momento dessa condenação. Sendo ele condenado, uma tendência lógica, em circunstâncias normais, é de que ele seja preso", afirma.
Consequências políticas
O processo avaliado pelo STF não afetará diretamente as perspectivas eleitorais, porque Bolsonaro já foi declarado inelegível em 2023 por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação durante a campanha de 2022. O ex-presidente e Braga Netto estão impedidos de concorrer a cargos eletivos até 2030.
A evolução do litígio, no entanto, terá impacto em outras frentes. Para o cientista político Carlos Pereira, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EBAPE), Bolsonaro perde algum capital político com o imbróglio jurídico, embora o núcleo mais firme de apoiadores deva manter a lealdade ao ex-presidente.
"Por mais que o julgamento elenque evidências robustas de que houve envolvimento direto de Bolsonaro e seus ministros e vice-presidente na tentativa de golpe, essa parcela da população vai continuar com ele de qualquer maneira", avalia.
Por outro lado, o segmento do eleitorado menos ideológico, que votou em Bolsonaro mais como repúdio ao PT, pode ser negativamente influenciado pela situação. Por isso, Pereira vê o caso como uma "janela de oportunidade" para que a direita encontre uma alternativa para a eleição do ano que vem.
A solidez e a repercussão da ação penal ditarão também a influência de Bolsonaro na escolha de um sucessor. Se ficar comprovado de forma inequívoca o envolvimento na trama golpista, candidatos conservadores independentes do ex-presidente ganhariam mais viabilidade. "Mas se o julgamento não mostrar uma clara conexão, a força política dele continuará sendo relevante", ressalta Pereira.
Como Bolsonaro se movimenta
Pouco mais de dois anos após os atos golpistas e de um volume expressivo de denúncias e condenações ter atingido a massa de bolsonaristas que invadiu e depredou as sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, o sistema de Justiça brasileiro deu, com a abertura de processo contra Bolsonaro e outros sete ex-auxiliares, mais um passo para avaliar a responsabilização de membros do alto escalão político e militar acusados de comandar uma tentativa de golpe de Estado.
O ex-presidente articula em frentes políticas e jurídicas para se defender da denúncia, tentar recuperar sua elegibilidade e se manter como candidato da direita, que já discute nomes alternativos para 2026, como o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O tensionamento com o Supremo faz parte dessa estratégia, e a Corte se verá nos próximos meses em um clima que pode lembrar o do julgamento do mensalão, ocorrido em 2012, analisando um caso complexo e com fortes reflexos políticos.
Em nota, a defesa de Bolsonaro afirmou que "não há qualquer mensagem do Presidente da República que embase a acusação, apesar de uma verdadeira devassa que foi feita em seus telefones pessoais", e classificou a peça da PGR como "inepta" e "baseada numa única delação premiada".
No início de fevereiro, antes de ser denunciado pela PGR, Bolsonaro se reuniu com congressistas da oposição em Brasília para buscar o apoio de partidos do centrão para duas propostas legislativas que podem beneficiá-lo indiretamente.
Uma delas é perdoar as condenações criminais dos envolvidos nos atos golpistas. Há alguns projetos de lei com esse teor tramitando no Congresso, e o mais avançado aguarda a instalação de uma comissão especial na Câmara para ser analisado.
Outra frente é tentar alterar a Lei da Ficha Limpa para reduzir de oito para dois anos o período de inelegibilidade de políticos condenados por abuso de poder político, abuso de poder econômico ou uso indevido dos meios de comunicação.
Bolsonaro está inelegível até 2030 após ter sido condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral em duas ações distintas: por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao atacar o sistema eleitoral em uma reunião com embaixadores do Palácio da Alvorada, e por abuso de poder político e econômico por ter transformado as comemorações do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro de 2022, em um comício eleitoral.
Após reunir-se com os congressistas da oposição, Bolsonaro afirmou que a Lei da Ficha Limpa "é usada para perseguir a direita", e citou que os Estados Unidos não possuem uma norma do tipo. "Se tivesse, o [Donald] Trump estaria inelegível", afirmou.
A mudança na lei o beneficiaria, já que a sua atual inelegibilidade começa a ser contada a partir do pleito de 2022, mas no momento há pouca chance de aprovação de uma iniciativa nesse sentido.
Cogitação ou preparação de golpe?
Na seara jurídica, um dos argumentos que devem ser explorados pela defesa de Bolsonaro será afirmar que não houve uma tentativa efetiva de golpe de Estado, e que, portanto, não haveria crime cometido.
Essa linha foi expressa, por exemplo, pelo filho do ex-presidente e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ): "Por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime", escreveu ele no X em novembro, após a Polícia Federal (PF) revelar um suposto plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Para embasar a denúncia contra o ex-presidente, a PGR baseou-se, entre outros elementos, em uma minuta de um decreto golpista localizada na residência de Anderson Torres, em mensagens trocadas entre militares que mencionavam o plano de execução de autoridades, e em documentos apreendidos em dispositivos usados pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que fez um acordo de delação.
Segundo o relatório da PF, a partir de mensagens trocadas por Cid e outros envolvidos na trama, há indícios de que Bolsonaro teria feito ajustes na minuta do decreto golpista, que decretava estado de defesa e criava uma comissão para revisar o resultado das eleições de 2022.
Diego Nunes, professor de direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e organizador de um livro sobre a lei dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, avalia à DW ser "pouco provável" que investigações de crimes dessa natureza encontrem frases expressas de autoridades como "façam um golpe de Estado", e que nesse cenário cabe ao Ministério Público apontar um "conjunto de elementos contextuais" que consigam representar uma cadeia de comando e execução para um golpe.
Um desses elementos contextuais pode ter surgido em uma reunião convocada por Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas na qual a apontada minuta do golpe teria sido discutida. Segundo um depoimento à PF do então comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Junior, o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, ameaçou prender Bolsonaro se ele levasse adiante a ideia de decretar estado de sítio, estado de defesa ou Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
"O STF terá de marcar a separação entre atos preparatórios e início de execução. A se confirmar, porém, que houve ordem ao comandante do Exército, será impossível falar em mera cogitação", afirma à DW Davi Tangerino, professor de direito penal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Teste para uma lei relativamente nova
Outro aspecto que agrega importância à análise da denúncia contra Bolsonaro é que a lei dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, que revogou a Lei de Segurança Nacional da época da ditadura, é relativamente nova, de 2021.
O primeiro caso de político acusado com base na norma foi o do ex-deputado federal Daniel Silveira, condenado pelo STF em abril de 2022 pelo crime de ameaça ao Estado Democrático de Direito.
Em seguida, aponta Nunes, vieram as diversas condenações de bolsonaristas que invadiram as sedes dos Três Poderes. Agora, será a primeira vez que um ex-presidente ou ex-ministros poderão vir a ser enquadrados na nova norma.
"Seria a primeira vez em que um ex-presidente estaria sendo julgado por um tribunal regular por conta do cometimento de uma tentativa de golpe de Estado. O Brasil, na sua história, é farto de tentativas de golpe, principalmente quarteladas feitas pelo pelos militares, mas nunca houve um julgamento desse tipo", afirma.
Ele prevê que isso irá testar o Poder Judiciário, e em particular o Supremo Tribunal Federal, na sua capacidade de conseguir realizar um julgamento imparcial e dentro das regras. "O tribunal vai ter que, estrategicamente, pautar as datas dos atos processuais e do julgamento a ponto de conseguir minimamente se explicar para a opinião pública – porque não bastará para ele apenas fazer justiça, ele vai ter que ser compreendido fazendo justiça. Vai existir uma mediação com a opinião pública, que não se dá de um dia para o outro", afirma.
Tangerino avalia que, tão importante quanto a denúncia contra Bolsonaro, seria a responsabilização de militares de alta patente. "É a primeira vez na história do Brasil e é muito simbólico. Dá importante sinalização de que tentativas de golpe não serão aceitas e não pouparão ninguém."
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Short teaser | Com penas podem chegar a 43 anos de prisão, Bolsonaro tenta reverter situação pela anistia ou mudança na Ficha Limpa. | ||
Author | Bruno Lupion | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/bolsonaro-réu-por-tentativa-de-golpe-o-que-vem-pela-frente/a-71667808?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Bolsonaro é acusado de cinco crimes, entre eles golpe de Estado | ||
Image source | Andre Penner/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 3 | |||
Id | 72048300 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | Bolsonaro vira réu no STF por tentativa de golpe de Estado | ||
Short title | Bolsonaro vira réu no STF por tentativa de golpe de Estado | ||
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Ministros da Primeira Turma do Supremo aceitam, por unanimidade, denúncia contra ex-presidente e mais sete aliados. Se condenado, Bolsonaro estará sujeito a pena de até 40 anos de prisão.A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira (26/03), por unanimidade, tornar réu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete aliados acusados pelos crimes de tentativa de abolição do Estado democrático de direito e golpe de Estado.
É a primeira vez que um ex-presidente eleito é colocado no banco dos réus por crimes contra a ordem democrática estabelecida com a Constituição de 1988. Esses tipos de crime estão previstos nos Artigos 359-L (golpe de Estado) e 359-M (abolição do Estado democrático de direito) do Código Penal brasileiro.
A denúncia, apresentada no mês passado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi acatada pelos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
Além dos crimes de tentativa de abolição do Estado democrático de direito e golpe de Estado, Bolsonaro e seus ex-auxiliares são acusados de integrar uma organização criminosa armada, dano qualificado pelo emprego de violência e grave ameaça contra o patrimônio público, e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem passar de 40 anos de cadeia.
Quem são os réus
Além de Bolsonaro, a Primeira Turma tornou réus na mesma ação penal mais sete aliados do ex-presidente. Todos são acusados de integrarem o núcleo central da trama golpista. São eles:
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
Walter Braga Netto, general de Exército, ex-ministro e vice de Bolsonaro na chapa das eleições de 2022;
Augusto Heleno, general do Exército e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal;
Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
Paulo Sérgio Nogueira, general do Exército e ex-ministro da Defesa;
Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
O papel de Bolsonaro no golpe, segundo a PGR
Conforme a denúncia da PGR, Bolsonaro tinha conhecimento do plano, intitulado "punhal verde amarelo", para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
A Procuradoria também afirma que o ex-presidente sabia da "minuta do golpe", um rascunho de decreto com o qual ele pretendia dar um golpe de Estado no país. O documento, que teria sido discutido por Bolsonaro, previa a prisão de ministros do STF e a realização de novas eleições.
O que disse Alexandre de Moraes
Relator do caso – responsável, portanto, por ordenar e dirigir o processo no STF –, o ministro Alexandre de Moraes disse não haver dúvidas "de que a Procuradoria apontou elementos mais do que suficientes, razoáveis, de materialidade e autoria para o recebimento da denúncia" contra Bolsonaro.
Em seu voto, Moraes frisou que o plano de Bolsonaro, segundo a denúncia, teria começado a ser posto em prática ainda em julho de 2021, quando em uma transmissão ao vivo pela internet o ex-presidente "atacou as urnas eletrônicas sem nenhum fundamento e sem apresentar nenhum elemento concreto".
Segundo o ministro, além de ter liderado uma estrutura que usou mentiras sobre o sistema eleitoral para favorecer o golpe, Bolsonaro também "conhecia, manuseava e discutiu sobre a minuta de golpe".
Moraes ressaltou que, embora a questão sobre se ele quis ou não dar um golpe só vá ser analisada durante o processo, "não há dúvida que ele tinha conhecimento da minuta do golpe."
Ainda de acordo com o ministro, o ex-presidente e os outros sete denunciados teriam agido de forma coordenada até janeiro de 2023 para tentar reverter a derrota de Bolsonaro nas urnas, inclusive incentivando os acampamentos de manifestantes golpistas em frente aos quartéis das Forças Armadas.
O objetivo seria insuflar aliados e criar o clima para que Bolsonaro permanecesse no poder, conforme narra a denúncia, destacou Moraes.
Na avaliação do ministro, a denúncia da PGR "aponta o aumento da intensidade da agressividade de forma progressiva, integrando a execução de seu plano" autoritário.
O que disseram os demais ministros
O ministro Flávio Dino, que chegou a ocupar o cargo de ministro da Justiça no início do governo Lula antes de ir para o STF, rejeitou o argumento da defesa dos denunciados de que não há crime porque não houve golpe: "Se fosse consumado, não teria juízes para julgar."
Dino, porém, ponderou que ainda será preciso averiguar se alguém dos denunciados eventualmente desistiu do plano de golpe.
A ministra Cármen Lúcia frisou que os atos golpistas foram o desfecho de um processo longo e articulado e defendeu o esclarecimento da "máquina que tentou desmontar a democracia".
Já o ministro Cristiano Zanin reforçou, ao votar pela aceitação da denúncia, que ela está amparada em diversas provas além da delação de Mauro Cid.
Zanin também rejeitou um dos principais argumentos da defesa dos denunciados: o de que eles não podem ser associados aos atos de 8 de janeiro porque não estavam lá. O ministro afirma haver indícios de participação em uma série de atos que teriam levado à depredação em Brasília.
Embora tenha votado com Moraes pela aceitação da denúncia contra Bolsonaro e sete ex-auxiliares, o ministro Luiz Fux divergiu dos demais colegas ao defender que o caso deveria estar sendo analisado pelo plenário do Supremo, e não pela Primeira Turma.
Fux também sinalizou pretender rever as penas de pessoas já condenadas por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro em Brasília, sugerindo que as condenações teriam sido exageradas.
O que diz a defesa
As defesas dos réus não negaram que houve articulação para um golpe, mas alegam que seus clientes não participaram.
Eles também afirmam que não teriam tido acesso integral às provas, questionaram se a Primeira Turma do STF seria o foro mais adequado para discutir o caso e pediram a rejeição da denúncia.
A defesa também questiona o julgamento do caso pelos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin. Moraes é questionado por ter sido um dos alvos da suposta trama golpista. Dino e Zanin são questionados por terem servido a Lula em outros momentos de suas carreiras – Dino como ministro da Justiça e Zanin como advogado do petista.
Um recurso que pedia a declaração do impedimento dos ministros, porém, foi rejeitado em 19 de março pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.
ra (Agência Brasil, ots)
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Short teaser | Os cinco ministros da Primeira Turma do STF aceitam, por unanimidade, denúncia contra ex-presidente e mais sete aliados. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/bolsonaro-vira-réu-no-stf-por-tentativa-de-golpe-de-estado/a-72048300?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Ex-presidente Jair Bolsonaro vai responder por tentativa de abolição do Estado democrático de direito e golpe de Estado, organização criminosa armada, dano, ameaça e deterioração de patrimônio público | ||
Image source | Ton Molina/NurPhoto/picture alliance | ||
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Item 4 | |||
Id | 72043434 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | "Telefone sem fio" ajuda a prevenir desastres em Petrópolis | ||
Short title | "Telefone sem fio" ajuda a prevenir desastres em Petrópolis | ||
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Para driblar a falta de energia e de sinal de internet quando chove, voluntários desenvolveram sistema de alerta usando rádios comunicadores e conhecimento comunitário.Quando chove no Vale do Cuiabá, em Petrópolis (RJ), costuma faltar energia elétrica e internet. "É muito cruel ficar no meio da chuva, no escuro e sem informação. Estamos traumatizados pela tragédia de 2011", disse Ana Montenegro, 60 anos, referindo-se ao desastre que matou centenas de pessoas na região serrana do Rio de Janeiro. Para enfrentar o desafio, voluntários criaram uma tecnologia social usando rádios comunicadores.
Produtora rural, Montenegro começou, em junho de 2023, a pesquisar uma solução para a falta de comunicação durante chuvas e tempestades. Por ser uma região de montanhas, até mesmo os rádios têm alcance limitado. Foi preciso então formar uma rede de moradores, que monitoram as nascentes e os níveis dos rios, repassando informações uns aos outros, como em um telefone sem fio.
A rede conta com 42 pontos, onde há um morador e um rádio. O projeto teve início no Vale do Cuiabá, a parte mais alta da região. Depois foi expandido para as comunidades do Jacó, Madame Machado e Benfica, até chegar ao Gentio, a parte mais plana, onde fica a sede do Núcleo Comunitário de Defesa Civil (Nudec) do Vale do Cuiabá e Adjacências.
Quando informações como a rápida elevação dos rios chegam ao Nudec, Cristina Rosário de Oliveira, 55 anos, entra em ação. Com experiência tanto como vítima quanto como voluntária em desastres, além de diversos treinamentos, ela avalia a situação e pode acionar a Defesa Civil.
Vítima e voluntária
Em 2011, fortes chuvas causaram um dos maiores desastres da história do Brasil, com mais de 900 mortes na região serrana do Rio de Janeiro – principalmente em Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis. Após a tragédia, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) começou a formar cidadãos em monitoramento socioambiental e a criar os Nudecs naquelas cidades.
Convidada a participar da formação, Rosário, inicialmente, não aceitou. Achava que a tarefa deveria ser do poder público, como Bombeiros e Defesa Civil. Mas mudou de ideia, convencida de que sua experiência como vítima e voluntária em desastres poderia ser importante para a comunidade.
Rosário foi vítima em 2008. Naquele ano, quando começou a chover forte, ela e o marido iniciaram uma estratégia corriqueira para evitar os prejuízos dos alagamentos: levantar os bens da casa, como camas e geladeira, pendurando-os com cordas. Mas a água subiu tanto e tão rápido naquela oportunidade que ela ficou submersa.
Os vizinhos tiveram que fazer um cordão humano, segurando os braços uns dos outros, para tirá-la da água, tamanha a força da correnteza. Após ser salva, ela ainda passou uma noite e uma madrugada angustiada. Só no outro dia viu que o filho Matheus, então com 16 anos, estava salvo na casa da avó.
Grávida de sete meses e meio, Rosário começou a ter fortes dores dias depois e pediu para ser levada ao hospital. No meio do caminho, sentiu que tinha perdido o filho. Logo depois os médicos constataram a morte de Vitor Emanuel.
A casa foi reconstruída sobre pilares, para evitar novos alagamentos. Então, em 2011, foi a vez de Rosário ajudar os vizinhos. Acolheu quatro famílias, que ficaram morando com ela, o marido e o filho por cinco meses. "Quando entrei no Nudec pensei: ‘Não quero que ninguém passe pelo que passei.'” A sua residência se tornou a sede do núcleo.
Mapa de risco e rota de fuga
Uma das primeiras ações do Nudec foi realizar reuniões de conscientização, as "Rodas de Mulheres”. "Na maioria das situações de tragédia, são as mulheres que se colocam em risco. São elas que vão buscar filhos na escola, por exemplo, passando por fiação e por áreas alagadas", explicou Rosário.
Embora, eventualmente, muitos homens ajudem nas ações do Nudec, as mulheres é que tomam a frente. "Elas abraçaram a causa”, disse a líder comunitária. Atualmente, dos 14 participantes do núcleo, só dois são homens: o marido e o filho de Rosário.
As participantes do Nudec passaram por inúmeras capacitações durante os últimos anos, além de auxiliar em ações da Defesa Civil, como simulados de evacuação. Também trabalharam no mapeamento das áreas de risco, que mostra as regiões suscetíveis a perigos, como deslizamentos de terra e inundações.
Fizeram ainda um mapeamento de rotas de fuga, usando a experiência dos moradores e dados ambientais. O objetivo é que, em um momento de desastre, as pessoas saibam quais caminhos percorrer, evitando locais perigosos. O documento ainda não foi referendado pela Defesa Civil.
Mas para tudo isso funcionar bem é necessário informação. É esta uma das funções da rede dos moradores, chamada de "Comunicação comunitária – monitoramento comunitário de eventos climáticos de água e fogo”. Ou seja, além de monitorar inundações e deslizamentos, a rede ajuda a detectar fogo, algo cada vez mais recorrente na região.
Conhecimento dos moradores
Quando entrou no Nudec, há dois anos, Ana Montenegro já havia iniciado o Projeto Rádios, como eles chamam a rede de comunicação e alertas. Os equipamentos foram comprados por ela, por moradores ou recebidos por doação – a voluntária chegou a pedir rádios de Natal.
Para formar a rede, foi preciso um trabalho minucioso. "Nós víamos até onde ia o sinal. Aqui começou a falhar? Então é preciso de um rádio. Quem mora aqui? Tem alguém que mora aqui e que tenha responsabilidade de ficar com um rádio?", explicou Montenegro. Em janeiro, a rede ficou completa, chegando ao Nudec.
A rede de comunicação e alerta funciona de duas formas, basicamente. Se Rosário receber um alerta da Defesa Civil da iminência de um evento extremo, por exemplo, ela pode pedir, por whatsapp, que os moradores da região liguem os seus rádios para iniciar a troca de informações.
Ou os próprios moradores podem ligar os rádios, se observarem a chegada de chuva forte ou o aumento do nível dos rios, passando as informações até chegar no Nudec e, se preciso, à Defesa Civil. "Enquanto isso, os moradores já têm informações e têm tempo de se salvar, se for preciso", analisou Montenegro.
"O conhecimento empírico do morador é muito importante", destacou Montenegro. "Esse conhecimento de sentir o cheiro do ar e saber que vai chover. Saber o barulho do rio. Saber que vai encher. Saber que a quantidade de chuva é perigosa. Isso ninguém tem, nenhum aparelho."
Com o aumento dos eventos extremos, como fortes chuvas e incêndios, por causa das mudanças climáticas, especialistas costumam frisar a importância de trabalhar com a gestão do risco em vez apenas da gestão do desastre. Ou seja, promover a cultura de prevenir o desastre.
Em fevereiro, ocorreu o Fórum Nacional de Boas Práticas em Proteção e Defesa Civil, com o objetivo de compartilhar experiências, aprimorar práticas e fortalecer a gestão de riscos e desastres no Brasil. Rosário e Montenegro apresentaram o Projeto Rádios, cuja experiência pode ser replicada em outras iniciativas, como em um telefone sem fio.
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Short teaser | Para driblar a falta de energia e de de internet quando chove, voluntários desenvolveram sistema de alerta usando rádios | ||
Author | Maurício Frighetto | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/telefone-sem-fio-ajuda-a-prevenir-desastres-em-petrópolis/a-72043434?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Destruição causada pelas chuvas em Petropólis em 2022 | ||
Image source | Silvia Izquierdo/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 5 | |||
Id | 72046615 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | Justiça alemã mantém "imposto da Reunificação" | ||
Short title | Justiça alemã mantém "imposto da Reunificação" | ||
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Tribunal Constitucional rejeitou ação de deputados liberais que pediam extinção total de imposto criado nos anos 1990 para cobrir custo da Reunificação. Taxa ainda é cobrada sobre ganhos de contribuintes de renda elevadaO Tribunal Constitucional Federal da Alemanha decidiu manter o chamado "imposto de solidariedade" introduzido nos anos 1990 após a reunificação da Alemanha Oriental e Ocidental. Numa decisão divulgada nesta quarta-feira (26/03), a Corte declarou que a taxação é constitucional e rejeitou uma ação apresentada por seis membros do Partido Liberal-Democrático (FDP, na sigla em alemão), que pediam o fim do imposto.
Criado em 1991 e apelidado "Soli", que vem do nome em alemão Solidaritätszuschlag, o imposto tem o objetivo de captar verbas para financiar projetos e infraestrutura nos estados do Leste, antes sob regime comunista, onde os padrões de vida e renda média eram inferiores nos anos 1990.
Hoje, a tributação do "Soli" é atualmente de 5,5% dos impostos de renda e corporativo. Antigamente, quase todos os contribuintes também eram afetados, mas uma reforma que entrou em vigor em 2021 aumentou o teto para o imposto, que passou a ser cobrado na maioria de pessoas de renda mais elevada. Hoje, apenas cerca de 10% das pessoas físicas na Alemanha ainda pagam o imposto.
Na ação apresentada ao Tribunal Constitucional, os membros do partido pró-livre mercado FDP alegaram que o imposto viola a Constituição porque o chamado "Pacto de Solidariedade II", do qual o imposto fazia parte, expirou em 2019.
Os liberais também alegaram que o imposto viola o princípio da igualdade de tratamento porque a maioria dos contribuintes - cerca de 90% - passou a ser isenta do imposto nos últimos anos.
No entanto, um juiz do Tribunal Constitucional, sediado na cidade de Karlsruhe, decidiu que essas reclamações eram infundadas, apontando que ainda há necessidade de um financiamento adicional para cobrir os custos da Reunificação alemã.
O juiz enfatizou, no entanto, que o imposto de solidariedade continua sendo uma medida temporária que se tornaria inconstitucional se a sua necessidade desaparecesse.
Em 2001, o governo federal também fechou um "Pacto de Solidariedade" com as administrações estaduais, visando apoiar financeiramente os estados do Leste alemão, a fim de alçá-los à paridade econômica com a Alemanha Ocidental.
O pacto expira no fim de 2019, e em maio o presidente do Tribunal Constitucional alemão, Hans-Jürgen Papier, concluiu que também o "Soli" deveria ser abolido até essa data. Ele argumentou que a tributação extra seria efetivamente inconstitucional sem um pacto para enquadrar como a verba deve ser investida.
Alívio no governo alemão
No ano passado, o imposto de solidariedade rendeu cerca de 12,6 bilhões de euros (R$ 78 bilhões) aos cofres do Estado alemão.
Se o imposto tivesse sido declarado inconstitucional, o governo poderia esperar um buraco de tal tamanho no próximo orçamento. Para piorar, o governo alemão ainda correria o risco de ter que devolver para os contribuintes que pagaram a taxa nos últimos anos cerca de 65 bilhões de euros arrecadados desde 2020.
O governo alemão defendeu o imposto no tribunal em uma audiência no ano passado. Ele argumentou que os custos associados à reunificação da Alemanha ainda estão em andamento e que o imposto não precisa estar vinculado a uma despesa única e específica.
jps (DW, ots)
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Short teaser | Tribunal Constitucional rejeitou ação de deputados liberais que pediam extinção total de imposto criado nos anos 1990. | ||
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Image caption | No ano passado, o imposto de solidariedade rendeu cerca de 12,6 bilhões de euros aos cofres do Estado | ||
Image source | Sven Hoppe/dpa/picture alliance | ||
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Item 6 | |||
Id | 72044456 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | Estudantes estrangeiros geram bilhões de euros para a Alemanha | ||
Short title | Estudantes estrangeiros geram bilhões de euros para Alemanha | ||
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Estudo mostra que quem chega para estudar, mesmo recebendo uma educação superior gratuita, beneficia os cofres públicos e ajuda o crescimento econômico do país, através de impostos e contribuições para a previdência.Os estudantes estrangeiros geram bilhões de euros para os cofres públicos da Alemanha e ajudam a estimular o crescimento econômico, de acordo com um estudo publicado na semana passada pelo Instituto Econômico Alemão (IW).
Os pesquisadores da entidade, sediada em Colônia, calcularam que apenas os 79 mil estudantes estrangeiros que começaram a estudar na Alemanha em 2022 pagarão quase 15,5 bilhões de euros (quase R$ 100 bilhões) a mais em impostos e contribuições para a previdência social do que receberão em benefícios.
O presidente do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), Joybrato Mukherjee, que encomendou o estudo, disse que o resultado mostra que "os estudantes estrangeiros são um trunfo para o nosso país de muitas maneiras, não apenas academicamente, mas também economicamente".
A Alemanha tem uma elevada "taxa de permanência" de estudantes estrangeiros: de acordo com um estudo da OCDE de 2022, cerca de 45% das pessoas que foram para a Alemanha com um visto de estudante em 2010 ainda estavam no país dez anos depois.
Nesse período, eles já terão mais do que coberto o custo de sua educação: o IW calculou que esse custo estará coberto, pelo pagamento de impostos e contribuições para a previdência social, se 40% deles permanecerem por três anos após o término dos estudos.
Por que estudantes estrangeiros gostam da Alemanha?
Certamente há vários motivos para estudantes estrangeiros optarem pela Alemanha, mas um foi particularmente atraente para o desenvolvedor de software egípcio Younis Ebaid, de 28 anos, que se mudou para Ingolstadt em 2021 para fazer seu mestrado em inglês em engenharia automotiva na Universidade Técnica de Ciências Aplicadas (THI) da cidade bávara.
"Minha primeira opção eram países de língua inglesa, mas é muito, muito caro", explica Ebaid. "A Alemanha era a opção mais acessível." Quase todas as instituições acadêmicas na Alemanha não cobram mensalidades, mesmo para estudantes estrangeiros.
O ensino superior gratuito pode ter sido estabelecido devido a preocupações com justiça social, muitas décadas atrás, mas hoje ele é um incentivo para atrair mão de obra qualificada para o país.
"Nós só pagamos contribuições públicas semestrais, que na minha universidade eram de 60 euros por semestre – isso é ainda mais barato do que minha universidade no Egito", diz Ebaid.
Ingolstadt também pontuava por outros motivos: essa cidade de apenas 140 mil pessoas é a sede da montadora Audi, que financia grande parte da pesquisa feita no THI.
Ebaid disse que muitos de seus professores tinham experiência de trabalho na gigante automobilística. "Basicamente, a cidade inteira respira automóveis, então foi uma opção muito boa", acrescenta.
Transição para o mercado de trabalho
O ensino superior na Alemanha pode até ser gratuito, mas o custo de vida na Baviera é maior do que o de Ebaid no Egito – razão pela qual ele encontrou um trabalho de meio período como desenvolvedor de software em Munique, um emprego mediado pelos serviços universitários.
O economista Wido Geis-Thöne, coautor do relatório, disse que esta foi a principal surpresa do estudo: "Estudantes estrangeiros estão fazendo contribuições já durante seus estudos, porque uma grande parte deles consegue emprego".
Bem mais difícil é a transição para o mercado de trabalho após a formatura. Os empregos de meio período mediados pela universidade são apenas para estudantes. Depois que se formam, os estrangeiros estão no mercado de trabalho como todos os outros, e a indústria automotiva da Alemanha está passando por uma fase difícil. Tanto a Audi quanto a Volkswagen têm demitido trabalhadores nos últimos meses.
"Quando cheguei à Alemanha, a economia estava em boa forma", diz Ebaid. "Mas, quando terminei meu mestrado, em 2024, o declínio começou. Eu enviei candidaturas por oito meses até conseguir um emprego de tempo integral."
Enquanto não achava emprego, Ebaid se virou trabalhando em restaurantes e hotéis. Hoje ele é engenheiro de desenvolvimento de software para uma empresa indiana global que faz software para fabricantes de automóveis alemães. "Tive sorte", comenta. "Era uma das poucas empresas que estava iniciando projetos." Ele menciona que conhece ex-colegas que estão há mais de um ano procurando trabalho.
Ficar na Alemanha
A experiência de Ebaid corrobora o resultado do estudo do IW. Na última década, a Alemanha tentou criar uma estrutura legal para fazer com que estudantes estrangeiros permanecessem no país. "No mundo anglo-saxão, não é sempre o caso que eles realmente queiram que os estudantes estrangeiros fiquem", diz Geis-Thöne. "Na verdade, às vezes há obstáculos legais para isso."
Se em outros países os estudantes estrangeiros são vistos principalmente como uma fonte de renda extra para as universidades, na Alemanha a indústria começou a ver os campi universitários como locais de recrutamento. Ebaid concorda: "O sistema que já está em vigor é muito bom", diz. "Minha universidade deu workshops sobre como preparar um currículo, como se sair bem em entrevistas, como entrar no mercado alemão. Eles também organizam feiras anuais de empregos e trazem empresas para o campus universitário."
Ebaid ressalva que sempre foi seu plano ficar na Alemanha depois dos estudos embora hoje, diante das dificuldades econômicas do país, ele esteja pensando em se mudar. "O principal problema é que as grandes empresas estão perdendo dinheiro, então estão fechando muitos projetos e demitindo muitas pessoas", comenta.
A Alemanha pode estar fazendo muitas coisas certas, mas há espaço para melhorias. Ebaid diz que seu maior problema era a falta de flexibilidade quando se trata do idioma. "Em alguns escritórios do governo, as informações estão disponíveis apenas em alemão, e, embora as pessoas lá falem inglês, elas preferem falar alemão", diz. "Isso é algo que eles podem melhorar: ser mais tolerantes com a barreira do idioma."
Embora não precise falar alemão no seu emprego, onde o idioma de trabalho é o inglês, Ebaid está aprendendo alemão porque quer se candidatar à residência permanente. "Se eu fosse mais proficiente em alemão, minha vida teria sido muito mais fácil", diz. "Fui rejeitado em muitas empresas porque o idioma de trabalho era o alemão."
O IW fez várias recomendações sobre como melhor integrar os estudantes estrangeiros na força de trabalho, incluindo promover uma imigração direcionada – mas, acrescentou, esse não deve ser um fim em si mesmo. Afinal, educar pessoas de todo o mundo é, em última análise, vantajoso para a Alemanha, pois fortalece as relações com outros países e promove uma comunidade internacional no meio acadêmico – mesmo se, ou especialmente se, os estudantes estrangeiros voltarem para casa após seus estudos.
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Short teaser | Quem chega do exterior para estudar, mesmo recebendo educação superior gratuita, beneficia os cofres públicos alemães. | ||
Author | Ben Knight | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/estudantes-estrangeiros-geram-bilhões-de-euros-para-a-alemanha/a-72044456?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Estatísticas mostram que muitos estrangeiros que estudam na Alemanha ficam no país | ||
Image source | Christoph Hardt/Geisler-Fotopress/picture alliance | ||
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Item 7 | |||
Id | 72041980 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | [Coluna] Brasil de Lula está preso no passado | ||
Short title | Brasil de Lula está preso no passado | ||
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Alimentos caros, pouco investimento na juventude, corrupção: já avançado em seu mandato, o presidente parece só estar apostando em seus antigos êxitos. E o país segue travado por abordagens nostálgicas e ultrapassadas. O presidente e ícone da esquerda Luiz Inácio Lula da Silva já está bem avançado na segunda metade de seu mandato, mas não consegue convencer a maioria dos brasileiros. As pesquisas mostram um profundo sentimento de insatisfação, ligado principalmente à percepção de que nada avança, que o Brasil está parado. Falta visão, faltam projetos, não há um conceito claro de futuro ou ideias inovadoras. Onde está o Brasi, para onde quer ir? Lula respondeu a essa pergunta recentemente? O próprio Lula não havia colocado o sarrafo muito alto: o Brasil deveria voltar a ser "feliz", prometeu, e os pobres novamente poder comprar "picanha e cervejinha". Mas nem isso foi alcançado. A inflação persistente, somada às más colheitas (mudanças climáticas!) e a uma oferta reduzida pela agricultura voltada à exportação, resulta em preços elevados dos alimentos – algo especialmente duro para os brasileiros socialmente vulneráveis. A autoconfiança de Lula se baseou em seus antigos êxitos presidenciais, quando a economia crescia e a pobreza diminuía. Mas é como no mercado financeiro: desempenho passado não é garantia de resultados futuros. Uma ação que só sobe não significa que nunca vai cair. Lula aparentemente confiou tanto no passado e em seu talento de comunicador, que achou desnecessário um plano inovador e de longo prazo. Percebe-se uma ausência crítica na compreensão das mudanças sociais e econômicas por que o Brasil vem passando. Na retaguarda globalEspecialmente preocupante é a falta de investimentos na juventude. Onde estão as grandes iniciativas em ciência, tecnologia, educação e pesquisa? São esses os campos que definirão o futuro do Brasil na economia global do conhecimento. Ou o país pretende continuar para sempre fornecendo produtos primários e alimentos ao mundo (gerando poucos empregos qualificados), enquanto gerações de jovens brasileiros fazem "carreiras" no Betano, OnlyFans, como motoristas de Uber, entregadores de comida ou pedreiros não qualificados? O que mais simboliza essa triste realidade são os aviões sobrevoando diariamente as praias do Rio com faixas anunciando a Fatal Model, um serviço de acompanhantes. É paradoxal que, especialmente num governo de esquerda, faltem boas escolas públicas, formação e qualificação para os jovens, iniciativas e programas de incentivo ao empreendedorismo. Além disso, falta capital de risco das instituições financeiras e empresas. Aparentemente não há confiança no potencial inovador brasileiro – apesar do gigantesco reservatório disponível de gente talentosa e ambiciosa. Todo esse talento desperdiçado é o verdadeiro escândalo do Brasil. A paralisia do país fica especialmente evidente na urgente, mas inexistente, reforma da administração pública. O Estado brasileiro tradicionalmente sofre com ineficiência, burocracia, nepotismo e clientelismo. Em muitas cidades, a prefeitura é a maior empregadora, com prefeitos garantindo apoio político por meio dessa estrutura. Há, especialmente no Judiciário, servidores beneficiados por privilégios quase barrocos. Muito dinheiro dos impostos desaparece em bolsos particulares, sem qualquer contrapartida real, mas alimentando uma mentalidade baseada no jeitinho e na corrupção. Tente importar uma caixa de cerveja da Alemanha para o Brasil: a cerveja ficará mofando na Alfândega, se você não pagar uma "taxa de agilização". Nostalgia e visões ultrapassadasNão surpreende, portanto, que o Brasil ocupe a 123ª posição no quesito eficiência, entre 148 países no Índice Global de Competitividade do Fórum Econômico Mundial. Apesar da elevada carga tributária, a qualidade dos serviços públicos como educação, segurança e saúde não melhora – nem mesmo com Lula. Entre os 30 países com maior carga tributária do mundo, o Brasil oferece aos cidadãos o menor retorno, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Seria justamente tarefa básica de um governo de esquerda combater essa injustiça, que afeta sobretudo os mais pobres, já que os ricos podem comprar segurança, saúde e educação. Mas Lula, em vez de desenvolver uma visão moderna e ousada para o futuro, está preso a abordagens nostálgicas e ultrapassadas. Pior ainda é que Lula, como um patriarca ciumento, não deixa espaço para que surja uma liderança mais jovem e dinâmica no espectro da esquerda. Se Lula não mudar de rumo rapidamente, abrirá o caminho – assim como Joe Biden fez por teimosia geracional nos EUA –, para um bolsonarista como Tarcísio de Freitas chegar ao Palácio do Planalto no próximo ano. ================================= Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para jornais da Alemanha, Suíça e Áustria. Ele viaja frequentemente entre Alemanha, Brasil e outros países do continente americano. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio. O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente da DW. |
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Short teaser | Alimentos caros, pouco investimento na juventude, corrupção. E o presidente segue apostando em seus antigos êxitos. | ||
Author | Philipp Lichterbeck | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/coluna-brasil-de-lula-está-preso-no-passado/a-72041980?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=%5BColuna%5D%20Brasil%20de%20Lula%20est%C3%A1%20preso%20no%20passado |
Item 8 | |||
Id | 72041903 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | Por que a comida ficou mais cara no Brasil | ||
Short title | Por que a comida ficou mais cara no Brasil | ||
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Especialistas ouvidos pela DW apontam fatores que vão da valorização do dólar, no fim do ano passado, às mudanças climáticas, que provocaram "tempestade perfeita" que turbinou alta dos alimentos.Enquanto a inflação dos alimentos e bebidas segue elevada no Brasil – esteve em 7% no acumulado dos 12 meses até fevereiro, segundo dados mais recentes do IBGE –, as análises ainda tateiam a conjuntura econômica atrás de explicações para esse fenômeno. Especialistas ouvidos pela DW nos últimos dias se dividem entre algumas delas: desde efeitos robustos das mudanças climáticas até "desencontros fiscais" do governo.
Em paralelo, itens comuns da mesa da maioria da população têm sido vilões desse cenário: é o caso do café, que subiu cerca de 66% em um ano, ou do ovo de galinha – que costuma servir de substituto à carne vermelha para as classes mais pobres –, em alta de 10,5% no mesmo período, ou ainda os próprios cortes bovinos, cuja inflação anual já é de 22%.
Não é trivial, como mostrou a DW há algumas semanas, que as famílias das classes mais baixas têm recorrido a estratégias para continuar consumindo proteína, como comprar carcaças de frango, cujo quilo sai em torno de R$ 7, ou suã de porco, uma espécie de espinha suína (R$ 10 por kg). E mesmo estratos mais altos têm mudado alguns padrões de consumo quando diante de preços em disparada nas gôndolas, como trocar marcas de sucos ou de iogurtes.
Dólar alto
É um consenso entre os especialistas consultados pela reportagem que a valorização do dólar perante o real, no fim do ano passado, foi definitiva para encarecer a comida. É a leitura, por exemplo, do economista Samuel Pessoa, sócio-diretor da consultoria Julius Baer Family Office (JBFO), cuja sede fica na Faria Lima, em São Paulo. "O preço doméstico dos alimentos está ligado ao preço internacional, determinado em dólar”, explica.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostram que a moeda americana entrou em 2024 valendo R$ 4,91, em média, mas saiu do ano negociada a R$ 6,10, o que representa elevação de cerca de 24%. E, ainda que tivesse em lenta progressão, a escalada se deu em novembro, como reação do mercado financeiro ao pacote de ajuste fiscal proposto pelo governo federal com um horizonte de economia de R$ 70 bilhões até 2026.
A discordância com a proposta anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi tanta que, em vários dias de dezembro, o câmbio chegou às suas taxas mais altas desde a criação do Plano Real, em 1994.
"Na verdade, o governo tem dificuldades em estabilizar a dívida pública", afirma Pessoa, lembrando que a dívida bruta pública, incluindo estados e municípios, estava na casa dos 75% do PIB brasileiro em janeiro, segundo relatório do Banco Central. "Como o mercado percebe que não há esforço [em estancar a dívida], o câmbio fica 'machucado' e vira inflação", completa.
Seguindo esse raciocínio, produtos importados são mais sujeitos à variação do dólar – muitos deles que também fazem parte da mesa dos brasileiros e brasileiras, casos do óleo de soja (alta de 23,3% em 12 meses até fevereiro, segundo o IPCA), e do azeite de oliva (14%), mas também de algumas peças bovinas.
Foi justamente por isso que a última medida do Planalto para tentar conter a disparada dos preços da comida no país passa por cortes de impostos de alguns desses itens, como açúcar, milho e as carnes, por exemplo. Há alguns dias, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, admitiu que o governo também aposta nas boas previsões agrícolas para 2025.
"Estamos mais otimistas: o clima melhorou. Há expectativa de crescimento da safra de quase 10%. Se no ano passado a indústria ajudou a elevar o PIB, esse ano a agricultura vai dar um empurrão", disse durante um evento do jornal Valor Econômico, em São Paulo.
A taxa diz respeito ao horizonte de alta de 10,6% nas safras de alguns grãos e cereais neste ano estabelecido pelo IBGE. A expectativa é especialmente alta para a soja e para o arroz.
Tempestade perfeita
Para o economista André Braz, que coordena uma área de análise de preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro, o dólar alto até ajuda a entender o cenário. "Com câmbio valorizado, é como se o Brasil estivesse em promoção. Todo mundo quer vir aqui comprar da gente. Isso, claro, desabastece o nosso mercado interno", nota. Mas, para ele, esse é um dos vários nós que atravessam uma cadeia complexa de acontecimentos.
"Em 2020 teve a pandemia, que já inflacionou a comida. No ano seguinte, o país viveu uma grave crise hídrica que fez o preço da energia subir demais. Voltou até o esquema de bandeiras tarifárias. Então, em 2022, teve início a guerra na Ucrânia, que afetou as cadeias globais e, em 2023, o Brasil passou a sofrer os impactos mais severos do [fenômeno climático] El Niño. Todos eles foram subindo os alimentos, sem que estabilizassem", elenca Braz.
Na leitura dele, o ano passado foi, enfim, uma "tempestade perfeita", termo utilizado por economistas para descrever cenários em que muitos eventos distintos colaboram, cada um ao seu modo, para uma crise maior. "Além do El Niño, teve o aumento da demanda, por conta da queda do desemprego e da alta do PIB, e a valorização do câmbio no fim do ano. Tudo isso atingiu em cheio os preços da comida".
Braz se refere ao fato de o Brasil ter diminuído ter terminado o ano passado com uma taxa de desemprego de 6,2%, o menor desde que o IBGE passou a fazer a medida, em 2012. Como consequência, a renda média do país subiu 4,3% em um ano, segundo uma pesquisa do IPEA publicada há alguns dias. Em dezembro, ela era de cerca de R$ 3,3 mil mensais. Com mais dinheiro no orçamento, as famílias ampliaram o consumo – notadamente de comida.
Mudanças climáticas
As mudanças climáticas, porém, têm papel definitivo nessa conjuntura de alimentos mais caros. Em primeiro lugar, pelos já citados efeitos do El Niño, uma anomalia que aquece o Pacífico e, por consequência, mude os padrões de chuvas em vários lugares do mundo. No Brasil, enquanto regiões como o Norte e o Nordeste ficam mais secos, no Sul há uma abundância de chuva. Foi o que aconteceu entre abril e maio de 2024 no Rio Grande do Sul, por exemplo.
"Até o fim do século passado, a gente quase não falava de El Niño ou La Niña. É porque esses aspectos do clima aconteciam a cada sete, oito anos. Era uma vez na década, talvez. Mas, por conta do aquecimento global, ficaram mais frequentes. Se você notar, a gente só fala disso agora. E, óbvio, a produção de comida é muito afetada", diz André Braz, da FGV.
De fato, a consultoria LCA calculou que 2.25 pontos percentuais (p.p.) da inflação de 8,22% da alimentação em domicílio do Brasil em 2024 – uma das categorias analisadas pelo IBGE – aconteceram justamente por causa do El Niño. A análise da empresa é que os impactos do fenômeno climáticos foram mais graves no ano passado do que em períodos anteriores, afetando safras de vários alimentos. Em 2023, por exemplo, essa mesma taxa havia sido de 1,55 p.p.
Muitos desses efeitos persistem. Não é trivial, por exemplo, que, entre os itens mais inflacionados no acumulado dos 12 meses, estejam frutas como tangerina (59%), abacate (28,4%) e limão (25,3%), ou ainda legumes como a abobrinha (28,7%). Mesmos os vilões do momento o são por conta do clima adverso resultante do fenômeno – seja por chuvas em excesso ou secas.
É o caso do café, por exemplo. "Entre abril e outubro, praticamente não teve chuva na plantação", conta a bióloga Denise Bittencourt, que gerencia um sistema agroflorestal no interior de São Paulo que, entre outras coisas, produz o fruto. Segundo ela, algumas áreas do plantio terão, neste ano, colheitas de apenas 10% do que foi semeado antes. "A produção ainda está muito fraca". De fato, segundo estudo da Universidade Federal do Alagoas (Ufal), mais da metade (55%) do território brasileiro foi afetado pela estiagem de 2024. Em alguns estados, como o Pará, por exemplo, a seca atingiu bacias hídricas inteiras.
Para outros alimentos, porém, é o contrário – o excesso das chuvas – que prejudica a produção. É o caso da própria tangerina, cujas áreas plantadas no Sul e no Sudeste têm sofrido com tempestades desde o fim de 2025. Isso sem contar que a sazonalidade (o período de colheita é entre maio e agosto). "Tanto o calor quanto a chuva em excesso reduzem a frutificação e causam amadurecimento acelerado", explica Franciele Cardoso, que pesquisa sobre insegurança alimentar e mudanças climáticas na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul.
"Isso pode levar a perda de safra e ainda gerar desperdício", finaliza ela.
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Short teaser | Valorização do dólar, no fim de 2024, e mudanças climáticas provocaram "tempestade perfeita" que turbinou alta de preços | ||
Author | Vinícius Mendes | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/por-que-a-comida-ficou-mais-cara-no-brasil/a-72041903?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Clima, dólar e aumento de demanda criaram "tempestade perfeita" para alta dos alimentos | ||
Image source | Vinícius Mendes/DW | ||
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Item 9 | |||
Id | 72029457 | ||
Date | 2025-03-25 | ||
Title | Europa está migrando do pacifismo à economia de guerra? | ||
Short title | Europa está migrando do pacifismo à economia de guerra? | ||
Teaser |
Conflito na Ucrânia obriga a uma mudança de paradigma. Europeus reforçam seus recursos militares, enquanto EUA renegam décadas de garantias de segurança transatlântica.Não existe uma definição oficial para "economia de guerra", mas sim diversos atributos que confluem nesse sentido. Um deles é o país mobilizar seus recursos, capacidades industriais e mão de obra para sustentar preparativos e produção militares, antecipando ou durante tempos de guerra. A mudança mais óbvia é o desvio da produção industrial, afastando-se de bens de consumo para se concentrar em armamentos, munição e outros equipamentos bélicos.
"Além do material militar tradicional, armas modernas exigem investimentos em tecnologia e serviços digitais como software, análises de dados, sistemas de satélites e internet confiável", explica Penny Naas, especialista em políticas públicas do Fundo Marshall Alemão sediando em Washington, Estados Unidos.
Para gerir tudo isso, acirra-se o controle governamental centralizado dos setores industriais necessários e da alocação de recursos. Assim, os governos ficam aptos a intervir, redirecionando matérias primas para setores e bens relacionados à guerra. Outros artigos, como combustível ou alimentos, ficam sujeitos a racionamento, a fim se priorizar a produção militar.
Quem se beneficia de uma economia de guerra?
"Numa verdadeira economia de guerra, todos os elementos de uma sociedade são reorientados no sentido de defender a pátria", explica Naas. Essa reorientação é cara, e financiá-la costuma implicar um grande aumento dos gastos governamentais. O resultado pode ser mais endividamento e inflação, impostos mais altos e menos benefícios sociais.
Segundo o professor da escola de comércio HEC Paris Armin Steinbach, as grandes ganhadoras são as companhias especializadas em produtos militares, tecnologia digital, de informação e inteligência, farmacêutica e médica.
"Voltar-se para economias de guerra pode ser um catalizador para avanços científicos e tecnológicos. Novos sistemas de comunicação, motores de aviação, radar, informação se beneficiam. E essas tecnologias influenciam outros setores", afirma o integrante do think tank econômico europeu Bruegel.
Transição da economia civil para a militar
A passagem de uma economia civil para uma de guerra pode ocorrer gradual ou rapidamente, dependendo da situação. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha tinha a vantagem de saber quando ia atacar, e se preparava de antemão. Os EUA, Reino Unido e outros países aliados tinham menor controle sobre a situação, sendo forçados a reagir freneticamente.
Hoje, a Rússia e a Ucrânia se encontram em circunstâncias comparáveis. Moscou aumentou significativamente seus gastos militares, intensificou a produção de artefatos bélicos e impôs controles de capital para dificultar a saída de dinheiro do país. A inflação é alta, e o governo elevou seus gastos a fim de manter a economia civil funcionando.
A situação da Ucrânia, mais pobre, é muito mais desesperada. Como está sob ataque, ela luta pela própria sobrevivência, e investe muito mais nos esforços de guerra. "Atualmente Kiev aplica 58% de seu orçamento em gastos militares", aponta Steinbach. Assim como o país agressor, ela mobilizou sua população para fins bélicos, retirando assim numerosos profissionais experientes da força de trabalho tradicional. A pedido do governo, diversas fábricas ucranianas foram remanejadas para a produção de armas e munição.
Outros países em esquema de economia de guerra
Devido aos conflitos em curso, outros países estão, até certo ponto, num esquema de economia de guerra. Entre eles, Mianmar, Sudão e Iêmen – todos os três em plena guerra civil. Os conflitos em Israel, Síria, Etiópia e Eritreia também causaram perturbações econômicas em nível nacional, com os governos se concentrando em iniciativas militares.
Israel elevou seus gastos com defesa e está fabricando mais artigos militares. Muitos trabalhadores foram recrutados para os combates, ficando de fora do mercado de trabalho civil. Para financiar essas medidas, Tel Aviv elevou o imposto sobre valor agregado (IVA), as taxas de eletricidade, água e outros serviços, assim como os impostos imobiliários.
Recentemente a União Europeia foi igualmente forçada a se mover, devido aos cortes do apoio americano à Ucrânia, Otan e à Europa em geral. Tal guinada após décadas de cooperação, assim como a aproximação entre Donald Trump e seu homólogo Vladimir Putin, são especialmente preocupantes para as garantias de segurança transatlântica.
Os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), 23 dos quais pertencem à UE, já vinham tendo dificuldades em dedicar 2% de seu PIB à defesa. Agora, nem mesmo essa percentagem parece bastar.
Em 4 de março de 2025, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou um plano de defesa no valor de 800 bilhões de euros (R$ 5 trilhões), incluindo 150 bilhões de euros em empréstimos para os países-membros da UE. Além disso, a liberalização das rigorosas regras de déficit orçamentário permitirá que os Estados gastem mais, podendo acrescentar outros 650 bilhões de euros em despesas militares nos próximos anos.
Alemanha se arma
Por sua vez, a Alemanha adentrou novo território em 21 de março, ao aprovar novas regras orçamentárias. Agora o governo estará mais livre para se armar, já que, em grande parte, os gastos com defesa não estarão mais sujeitos às regras de déficit fiscal. A iniciativa é tão monumental que exige uma emenda à Lei Fundamental, a Constituição alemã. E poderá abalar a política de segurança do continente.
Para Berlim e a Europa em geral, priorizar recursos financeiros será um primeiro passo importante. Penny Naas aponta que, no nível europeu, é também necessário melhor acesso à energia e mais coordenação para se orientar num labirinto de capacidades nacionais. Aquisição conjunta e pesquisa e desenvolvimento compartilhados deverão reduzir os custos.
"Num nível político, fala-se muito de aumentar as capacidades militares europeias, mas isso está num estágio muito preliminar. A Europa parte de uma posição forte, com recursos fiscais e capacidades industriais fortes", assegura a especialista do Fundo Marshall Alemão.
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Short teaser | Europeus reforçam seus recursos militares, enquanto EUA renegam décadas de garantias de segurança transatlântica. | ||
Author | Timothy Rooks | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/europa-está-migrando-do-pacifismo-à-economia-de-guerra/a-72029457?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Armas expostas em feira: numa economia de guerra, governo intervém, redirecionando recursos para fins militares | ||
Image source | Dwi Anoraganingrum/Panama Pictures/picture alliance | ||
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Item 10 | |||
Id | 71963620 | ||
Date | 2025-03-25 | ||
Title | "Austeridade serve para preservar poder da elite sobre trabalhadores" | ||
Short title | "Austeridade é meio de poder da elite sobre trabalhadores" | ||
Teaser |
Ao impor cortes de gastos mesmo sem crise financeira, governo enfraquece classe trabalhadora e alimenta ciclo de autoritarismo, afirma economista italiana Clara Mattei em entrevista à DW.A máxima de que um Estado precisa reduzir constantemente suas despesas, independente de estar em crise, ganhou força com a ascensão de governos de ultradireita pelo mundo, como o de Donald Trump, nos EUA, e de Javier Milei, na Argentina, segundo avaliação da economista italiana Clara Mattei.
A professora e diretora do Centro de Economia Heterodoxa (CHE) da Universidade de Tulsa, nos EUA, afirma que tais eleições intensificaram uma tendência global implacável de austeridade, sem justificativas macroeconômicas.
"É uma estratégia vencedora para aqueles que querem manter o status quo, porque a austeridade cria mais xenofobia, mais autoritarismo, e esse autoritarismo só produz mais austeridade", diz.
Segundo ela, mesmo governos de centro-esquerda, como o de Luiz Inácio Lula da Silva, também acabam reféns de uma pressão do capital internacional por cortes de gastos. "Governantes centristas em todo o mundo estão pressionados para fazer políticas semelhantes, talvez menos aceleradas. Eu sei que o governo Lula, por exemplo, está tendo que lidar com a austeridade por causa da pressão da elite econômica e dos investidores do mercado", afirma.
DW: O que é a austeridade autoritária e como isso vem se tornando uma tendência global, mesmo sem novas crises financeiras?
Clara Mattei: Nosso sistema econômico está mostrando a sua cruzada de repressão econômica sobre a maioria, dado que a austeridade está sendo liderada sem o motivo de uma crise financeira. E isso é muito claro.
Todos os governos de direita, como Trump, nos EUA, ou Milei, na Argentina, estão pressionando pela austeridade. Sabemos que governantes centristas em todo o mundo estão pressionados para fazer políticas semelhantes, talvez menos aceleradas. Eu sei que o governo Lula, por exemplo, está tendo que lidar com a austeridade por causa da pressão da elite econômica e dos investidores do mercado.
Acho que é um momento histórico muito interessante, porque, de certa forma, as desculpas caíram, e agora o que você vê é uma guerra de classes muito clara. No fim das contas, a austeridade serve para preservar o equilíbrio de poder entre a maioria das pessoas trabalhadoras e a elite. Essa elite está capturando quase todos os recursos que são produzidos pela sociedade e mantendo o resto das pessoas em uma forma muito vulnerável e precária de vida.
Essa simbiose de austeridade e autoritarismo se forma em si mesma – no sentido de que, quanto mais austeridade os governos implementam, mais as pessoas acreditam na narrativa de que é o mais fraco que é responsável pelo quadro atual. É uma estratégia vencedora para muitos daqueles que querem manter o status quo, porque a austeridade cria mais xenofobia, mais autoritarismo, e esse autoritarismo só produz mais austeridade.
O retorno de Trump à Casa Branca pode trazer novas ondas de cortes orçamentários e políticas pró-mercado. Na sua visão, quais seriam as principais características da "austeridade autoritária" nesse novo mandato?
Eu acho que alguém como Elon Musk sabe que os trabalhadores podem se organizar e contestar o capitalismo e a relação social pela qual eles são explorados.
É interessante notar como essa administração [o governo Trump] ataca diretamente a área social. Trump quer desmantelar completamente a pequena infraestrutura social que restou após [Joe] Biden, como o Medicaid e o Head Start [dois programas voltados a pessoas de baixa renda, sendo o primeiro de assistência à saúde e o segundo focado na primeira infância].
Acho que é algo parecido com o que vimos na administração [de Jair] Bolsonaro no Brasil: um ataque à infraestrutura para ver o quão rápido ela pode se desmantelar, com a ideia de que, uma vez que ela se desmantela, é muito difícil reconstruir.
Mas isso não significa que o Estado não estará gastando; o Estado estará gastando para apoiar, subsidiar e incentivar a elite.
O que geralmente acontece é que taxam mais o trabalho, a classe trabalhadora, enquanto reduzem taxas sobre o capital, dividendos, propriedade, e lucros corporativos.
Além disso, a austeridade constante espreme os trabalhadores, porque, com uma taxação regressiva, se eles têm que comprar o que antes tinham como direito, isso significa que eles são mais dependentes do mercado e estão também mais dispostos a aceitar qualquer condição de trabalho.
Como essa nova onda de austeridade pode impactar a economia europeia, principalmente em países como a Alemanha, que flexibilizou o limite de endividamento introduzido pelo governo de Angela Merkel em 2009?
Sabemos que os níveis de pobreza estão subindo em toda a Europa. A desigualdade é obscena agora. Na Itália, o número de bilionários no país continua aumentando e, ao mesmo tempo, a pobreza absoluta continua subindo também.
Essa desigualdade não produz futuro para os cidadãos. Ela produz um grande banquete para aqueles que já estão ganhando. A Itália é privatizada e continua a privatizar o máximo possível. Meloni continua cortando os benefícios dos cidadãos, jogando milhares de famílias em pior condição, enquanto ela está dizendo que precisamos nos rearmar.
E isso é algo que nós estamos ouvindo na Alemanha também. A retórica é que nós estamos rearmando, precisamos aumentar nosso setor de defesa, enquanto o custo dele é desmantelar o setor social.
O setor de defesa é o melhor setor para o governo investir, no sentido de que ele não desafia o equilíbrio de classes.
Não é sobre empoderar as pessoas diretamente através de recursos sociais, através do trabalho público, através de uma sensação de participar da economia. Na verdade, é o melhor jeito de estimular os investidores enquanto preservam a total despolitização e a desdemocratização da economia.
No Brasil, a austeridade é frequentemente justificada como necessária ao equilíbrio das contas públicas, mas também resulta em cortes em áreas sociais e aumento da desigualdade. Você vê paralelos entre a "austeridade autoritária" e as políticas econômicas adotadas no Brasil nos últimos anos?
O Brasil tem recursos abundantes. E há formas de o país ter uma produção muito mais sustentável, ecológica e democrática.
Isso deveria ser algo que poderia ser expandido com o apoio do Estado, se o Estado parar de focar em satisfazer os investidores internacionais – que, de qualquer forma, nunca estarão satisfeitos. Porque, de novo, se você fizer austeridade, você vai causar uma recessão que trará sua morte econômica no longo prazo.
Acho que o Brasil é um país típico que, se tivesse coragem política para dizer que persegue uma agenda original, ecológica e democrática, poderia realmente fazer isso. Mas é preciso muita coragem, apoio popular e imaginação política.
Será que o Lula vai conseguir fazer isso? Não sei, eu não acho. Ele está muito dentro desse sistema. E isso só vai acontecer se houver pressão de baixo.
O Estado precisa apoiar atividades que são relacionadas à produção para, finalmente, conseguir uma independência do mercado. Isso não vai acontecer na Europa, acho que a Europa está morta politicamente. Isso precisa acontecer no Sul Global, começando pelo Brasil.
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Short teaser | Governo alimenta ciclo autoritário ao impor cortes de gastos mesmo sem crise, diz economista Clara Mattei à DW. | ||
Author | Vinicius Pereira | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/austeridade-serve-para-preservar-poder-da-elite-sobre-trabalhadores/a-71963620?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Para economista Clara Mattei, políticas de austeridade espremem classe trabalhadora, deixando-as a mercê de um mercado mais precarizado | ||
Image source | picture alliance/imageBROKER | ||
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Item 11 | |||
Id | 72029338 | ||
Date | 2025-03-25 | ||
Title | Mudança climática agrava doenças cardiovasculares | ||
Short title | Mudança climática agrava doenças cardiovasculares | ||
Teaser |
Na Austrália, calor extremo leva à perda anual de 50 mil anos de vida saudável devido a doenças cardiovasculares, mostra estudo. Pesquisadores da Austráliadescobriram que o aumento global das temperaturas está elevando os riscos causados pelas doenças cardiovasculares, segundo um estudopublicado no periódico científico European Heart Journal. As doenças cardiovasculares são o segundo maior contribuinte na chamada "carga de doença fatal" na Austrália. Elas incluem doença cardíaca coronariana, fibrilação auricular, ataque cardíaco, cardiopatia congênita, insuficiência cardíaca e AVC. A carga de doença é o impacto que um problema de saúde tem na vida das pessoas, considerando não apenas a mortalidade, mas também o quanto uma vida normal fica comprometida pela doença. Pressão alta, colesterol alto, falta de atividade física, má nutrição, tabagismo e estressesão fatores de risco bem conhecidos para doenças cardiovasculares. O estudo destaca como a exposição ao calor extremo tem sido negligenciada. "A carga de doenças cardiovasculares devido ao clima quente no contexto das mudanças climáticas pode dobrar nos próximos 25 anos", diz o principal autor do estudo, o cientista Peng Bi, especialista em saúde pública da Universidade de Adelaide, Austrália. O estudo se soma a crescentes evidências de que o calor causado pelas mudanças climáticas é um problema cada vez maior para a saúde. "Este é um chamado bastante alarmante para nossa comunidade, para nossos provedores de serviços e para nossos formuladores de políticas", afirma Bi. Anos de vida saudável perdidosO estudo analisou dados de saúde da população australiana entre 2003 e 2018 e é o primeiro a mostrar que altas temperaturas têm um grande impacto na saúde cardiovascular. Os investigadores utilizaram uma métrica conhecida como disability-adjusted life years (DALYs), que quantifica os anos de vida saudável perdidos devido a uma doença, seja por viver com uma deficiência ou por morrer prematuramente. A análise descobriu que a população da Austrália perdeu, a cada ano, em média, quase 50 mil anos de vida saudável (DALYs) devido a doenças cardiovasculares relacionadas ao calor durante o período analisado. O estudo descobriu ainda que pessoas que vivem em áreas mais quentes da Austrália, no Território do Norte, correm maior risco de sofrer com doenças cardiovasculares relacionadas ao calor. A modelagem realizada pelo grupo de pesquisa também descobriu que as doenças cardíacas relacionadas ao calor devem dobrar à medida que as temperaturas globais continuem a aumentar. Adaptação ao calorBi diz que as autoridades precisam considerar novas medidas para proteger populações vulneráveis de problemas de saúde relacionados ao calor. "Pessoas com doenças crônicas, idosos e pessoas com baixo status socioeconômico correm alto risco", afirma. Isso inclui verificações em grupos vulneráveis. Após uma forte onda de calor em 2009, Bi trabalhou com autoridades locais para introduzir um sistema de verificação por telefone. Durante os dias quentes, estudantes universitários voluntários na Cruz Vermelha faziam uma ligação telefônica para idosos duas vezes por dia para verificar se eles estavam bem e, caso contrário, sugeriam algumas ações. Outras medidas incluem mudanças de comportamento para se adaptar ao calor, como: • Manter-se em ambiente fresco e fechado sempre que possível em dias quentes. • Reduzir os níveis de atividade física. • Reduzir a exposição ao sol ao ar livre. • Manter-se hidratado. • Usar ar-condicionado para reduzir as temperaturas internas. Essas conclusões se aplicam ao resto do mundo?A pesquisa incluiu apenas dados de saúde da população australiana, o que significa que é difícil transpô-la para outras partes do mundo, diz o cardiologista Filippo Crea, da Universidade Católica do Sagrado Coração, em Roma. "No entanto, é definitivamente razoável supor que a tendência seja a mesma em outras regiões. Na Austrália, a mudança climática é, em média, maior do que na Europa, então esse é um extremo", diz. O estudo australiano se alinha com dados de outros países que mostram que o aumento das temperaturas está causando problemas de saúde. Em 2017, estudos previram que até 70% da população da Índia poderia ser exposta a um calor sob o qual não é mais possível viver até 2100. Um estudo mexicano recente projetou um aumento de 32% nas mortes relacionadas à temperatura entre pessoas com menos de 35 anos até 2100 se a população global e as emissões de carbono continuarem crescendo no atual ritmo. Bi e seus colegas escreveram que estudos são necessários para avaliar como as pessoas podem se adaptar às mudanças climáticas, particularmente as pessoas mais vulneráveis a condições de saúde afetadas pelo calor. |
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Short teaser | Na Austrália, calor extremo leva à perda anual de 50 mil anos de vida saudável devido a doenças cardiovasculares. | ||
Author | Matthew Ward Agius | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/mudança-climática-agrava-doenças-cardiovasculares/a-72029338?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Mudan%C3%A7a%20clim%C3%A1tica%20agrava%20doen%C3%A7as%20cardiovasculares |
Item 12 | |||
Id | 72021165 | ||
Date | 2025-03-25 | ||
Title | Ex-terrorista capoeirista da Fração do Exército Vermelho começa a ser julgada na Alemanha | ||
Short title | Ex-terrorista capoeirista do Grupo Baader-Meinhof é julgada | ||
Teaser |
Num dos prováveis últimos processos do gênero, Daniela Klette, que participava de rodas de capoeira em Berlim, é acusada de assaltos a carros-fortes e supermercados entre 1999 e 2016, já depois da dissolução da RAF.É bem possível que o julgamento da alemã Daniela Klette, que começa nesta terça-feira (25/03) em Celle, na Baixa Saxônia, seja um dos últimos grandes processos judiciais envolvendo os antigos terroristas do grupo alemão Fração do Exército Vermelho (RAF), também conhecido como Grupo Baader-Meinhof.
O caso recebe grande atenção da mídia, como sempre ocorre quando se trata do grupo terrorista que alarmou a antiga Alemanha Ocidental, sobretudo entre meados da década de 1970 e início de 1980. De acordo com investigadores, ele seria responsável por mais de 30 assassinatos.
Klette é acusada de envolvimento num ataque a bomba a uma prisão de Hessen e no atentado contra a embaixada dos EUA em Bonn nas décadas de 1980 e 1990, entre outros atos. Porém tudo isso terá ainda que ser esclarecido mais tarde, num outro processo, já que os crimes cometidos durante os tempos da RAF não são objeto deste julgamento.
Junto com Ernst-Volker Staub e Burkhard Garweg, Klette, hoje com 66 anos, teria atacado carros-fortes e supermercados entre 1999 e 2016, principalmente no norte da Alemanha, razão pela qual o julgamento ocorre na Baixa Saxônia. Como houve disparos de tiros durante os assaltos, Klette também é acusada de tentativa de homicídio.
Ela foi detida em Berlim em fevereiro de 2024, depois de anos vivendo tranquilamente sob identidade falsa no bairro berlinense de Kreuzberg, onde participava da comunidade brasileira e frequentava rodas de capoeira, segundo a imprensa alemã. Staub e Garweg – assim como ela, membros da "terceira geração" da RAF – continuam foragidos.
Klette aparentemente se sentia segura em Berlim. Segundo relatos na imprensa alemã, ela pegou um voo para o Brasil com documentos falsos, fez contatos com a cena de capoeira local, e publicou fotos da viagem em sua página no Facebook.
A RAF anunciou sua dissolução em 1998, numa carta que as autoridades consideram autêntica. O total de 13 assaltos que Klette, Staub e Garweg são acusados de ter cometido depois disso, não tinham mais o propósito de financiar atos terroristas, mas aparentemente apenas de sustentar três velhos revolucionários. Eles teriam roubado mais de 2,7 milhões de euros.
O Outono Alemão
Mas, quando se trata da RAF, todo cuidado é pouco para os investigadores e a Justiça alemães. O julgamento deveria ocorrer na cidade de Verden, na Baixa Saxônia, mas o tribunal local não foi considerado suficientemente seguro. Por isso, uma antiga pista hípica na cidade está sendo adaptada para receber o processo. Até lá, o julgamento ocorrerá na cidade de Celle, também na Baixa Saxônia.
Isso lembra os tempos em que a RAF chocou a antiga Alemanha Ocidental, especialmente em 1977, durante o que ficou conhecido como o Outono Alemão. Na época, foi construído dentro da prisão de Stuttgart-Stammheim um tribunal, especialmente para o julgamento dos líderes do grupo, encarcerados lá.
Desde seus primórdios, no início da década de 1970, a RAF, que se autodefinia como uma guerrilha urbana comunista e anti-imperialista, visou representantes do Estado alemão e empresários. O grupo assassinou o procurador-geral da República Siegfried Buback e o chefe do Dresdner Bank, Jürgen Ponto. Ao todo, 27 membros da RAF foram condenados à prisão perpétua ao longo das décadas seguintes.
A luta do grupo contra o Estado alemão atingiu seu auge no terceiro trimestre de 1977, no que ficou conhecido como o Outono Alemão. A RAF sequestrouo presidente da Federação dos Empregadores Alemães e da Federação Alemã da Indústria, Hanns-Martin Schleyer, para forçar a libertação de membros seus presos.
Quando o governo alemão, liderado pelo chanceler federal Helmut Schmidt (SPD), se recusou a negociar, simpatizantes palestinos da RAF sequestraram um avião da Lufthansa com turistas alemães em Maiorca, Espanha. Após passar pelo Oriente Médio, a aeronave finalmente pousou em Mogadixo, na Somália. Lá, uma unidade antiterrorista da polícia alemã resgatou todos os turistas.
Três dos quatro sequestradores foram mortos na ação. O piloto já havia sido assassinado pelos terroristas. Em consequência, suicidaram-se na prisão em Stuttgart três dos terroristas que eram acusados do sequestro de Schleyer.
Depois de seis semanas de martírio em poder dos sequestradores, Schleyer foi levado do esconderijo em Bruxelas para a França, onde o deixaram sair caminhando num campo, dando-lhe a impressão de liberdade, para logo depois matarem-no a tiros pelas costas. Seu corpo foi encontrado no dia 19 de outubro de 1977, no porta-malas de um carro, em território francês, perto da Alemanha.
Simpatia na extrema esquerda
O Estado alemão venceu a luta contra a RAF, que continuou atuando, mas nunca mais recuperou sua antiga força. Ao longo da década de 1970, muitos jovens alemães-ocidentais simpatizaram com o grupo, de forma aberta ou velada, na sua declarada "luta contra o imperialismo americano”.
Ao mesmo tempo, sobretudo a mídia criou um cenário de ameaça pública por parte do grupo, que provavelmente nunca existiu. Ao longo de toda sua existência, o núcleo de membros ativos da RAF não incluiu mais do que 80 indivíduos.
Klette parece nunca ter renunciado aos ideais da RAF e à luta revolucionária. Não se espera que faça alguma declaração ou confissão de culpa por ocasião do julgamento. Pouco antes de ser detida, ainda conseguiu alertar seus antigos companheiros Garweg e Staub, que continuam foragidos.
A polícia acredita que eles encontrem apoio na cena de extrema esquerda da Alemanha, na qual continua existindo muito simpatia pela RAF. Os membros sobreviventes do grupo são tratados como mitos por extremistas de esquerda. Houve diversas pequenas manifestações em frente à prisão onde Klette está detida há mais de um ano, na Baixa Saxônia, assim como em Berlim.
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Short teaser | Num dos prováveis últimos processos do gênero, Daniela Klette é acusada de assaltos entre 1999 e 2016. | ||
Author | Jens Thurau | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ex-terrorista-capoeirista-da-fração-do-exército-vermelho-começa-a-ser-julgada-na-alemanha/a-72021165?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Daniela Klette é conduzida por policiais em 07/03/2024 | ||
Image source | Uli Deck/dpa/picture alliance | ||
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Item 13 | |||
Id | 71989485 | ||
Date | 2025-03-24 | ||
Title | Homens estão crescendo mais do que mulheres | ||
Short title | Homens estão crescendo mais do que mulheres | ||
Teaser |
Altura média masculina aumentou duas vezes mais rápido do que a feminina nos últimos anos, mostra estudo. Alimentação, acesso à saúde, fatores genéticos e hormônios podem explicar essa diferença evolutiva.Entre os 20 países com as populações mais altas do mundo, quase todos estão na Europa. Mas os habitantes da Ásia, América Latina e África também estão ficando mais altos. Em outras regiões, como nos Estados Unidos, o tamanho da população está praticamente estagnado.
E os homens estão crescendo mais: a diferença média de altura deles em relação à das mulheres é muito maior hoje do que há um século, e segue aumentando.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 135 mil pessoas de 69 países com suas respectivas condições de vida foram comparados por pesquisadores para um estudo, e os resultados, publicados em janeiro na revista científica Biology Letters.
A análise indica que a altura e o peso dos homens aumentaram duas vezes mais rápido do que as das mulheres no último século, especialmente em regiões mais prósperas. O aumento de tamanho está relacionado a melhores condições de vida, bom atendimento médico e uma melhor alimentação. Em países mais carentes, ambos os sexos seguem menores e com pouca diferença de altura.
Quanto mais rico, mais alto?
A população da Holanda é mais alta do mundo: os holandeses medem em média 1,83m, e as holandesas, 1,70m. Os homens mais baixos vivem no Timor Leste, com 1,60m de altura em média. Já as guatemaltecas são menores mulheres do mundo, com média de 1,50m.
O Brasil figura na 70ª posição entre as mulheres, com uma média de 1,62m de altura, e na 64ª entre os homens, com média de 1,75m.
Há uma hipótese que considera que quanto mais rico for um país e quanto melhor for a assistência médica, mais alta será sua população. Mas ela não é totalmente verdade. A altura média menor de países ricos, como Cingapura ou Catar, mostra que há outros fatores que influenciam o crescimento, além de questões econômicas ou médicas.
Fatores ambientais, como dieta e padrão de vida, são responsáveis por somente 20% da variabilidade. A genética determina cerca de 80% do crescimento, ou seja, a altura média dos pais é uma boa referência para o tamanho dos filhos.
Certos genes, inclusive um no cromossomo Y, prolongam a fase de crescimento dos ossos nos homens. Mas, basicamente, não existem "genes de altura" únicos. Até 12 mil variantes influenciam a estatura. Eles regulam processos como o crescimento do esqueleto, mecanismos de formação de ossos e cartilagens, além da produção de colágeno, proteína que serve como estrutura de suporte para o tecido humano.
Além das razões genéticas, as diferenças hormonais também determinam o processo. As meninas passam pela puberdade mais cedo, o que interrompe o crescimento mais cedo. Os meninos, por outro lado, têm mais tempo para crescer.
De acordo com o estudo, a "seleção sexual", ou seja, a competição entre os sexos, também desempenha um papel central. As mulheres tendem a preferir homens mais altos, pois a altura é frequentemente associada à força, vitalidade e proteção. Ao longo das gerações, isso fez com que os homens mais altos conseguissem transmitir seus genes com mais frequência.
Homens se beneficiam de melhores cuidados
Em muitas partes do mundo, meninas e mulheres se alimentam pior do que meninos e homens, o que pode afetar o potencial de crescimento. No entanto, mesmo em condições ideais, as mulheres não necessariamente ficam mais altas.
De acordo com o estudo, melhores condições de vida parecem ter mais efeito no quesito crescimento sobre os homens do que as mulheres. É possível que o corpo masculino utilize adicionalmente de maneira mais intensa alimentos ricos em energia para o crescimento. Isso torna o corpo maior e mais forte.
Esse mesmo efeito não é tão marcante nas mulheres. De acordo com o estudo, a razão evolutiva para isso pode ser o fato de o corpo feminino despender significativamente mais energia em gestações e períodos de amamentação do que no crescimento.
Mas o tamanho também tem desvantagens evolutivas, pois homens mais altos sofrem com mais frequência de dores nas costas, adoecem mais e têm um risco maior de câncer.
E por que as pessoas encolhem na velhice?
Seja homem ou mulher, saudável ou doente, a partir dos 30 anos de idade, as pessoas invariavelmente começam a encolher cerca de um centímetro a cada dez anos, devido principalmente aos discos intervertebrais.
Isso ocorre porque o conteúdo de fluido do corpo diminui com a idade, fazendo com que esses discos, que atuam como amortecedores entre as vértebras, percam a elasticidade. Como não podem mais se encher de água, eles se tornam mais finos, e a pessoa diminui de tamanho.
Doenças como a osteoporose ou a má postura durante um prolongado tempo sentado podem acelerar o encolhimento, um processo que não pode ser interrompido, mas sim retardado, por exemplo, adotando uma postura ereta ao sentar-se, exercícios adequados e treinamento focado nas costas.
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Short teaser | Altura média masculina aumentou duas vezes mais rápido do que a feminina nos últimos anos, mostra estudo. | ||
Author | Alexander Freund | ||
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Image caption | Holandeses são a população mais alta do mundo | ||
Image source | mabe123/Shotshop/picture alliance | ||
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Item 14 | |||
Id | 72019077 | ||
Date | 2025-03-24 | ||
Title | Crime organizado e internet impulsionam venda e uso de agrotóxicos ilegais no Brasil | ||
Short title | Crime organizado e internet impulsionam agrotóxicos ilegais | ||
Teaser |
Ofertas de insumos irregulares e proibidos no país são facilmente encontradas em redes sociais e marketplaces. Estima-se que 25% dos agrotóxicos que circulam no Brasil sejam irregulares.Nos últimos anos, a preocupação com o uso de agrotóxicos no Brasil ganhou maior destaque, acompanhada de um avanço na aplicação destes produtos de forma irregular no país. Com a facilidade das vendas online, os agrotóxicos ilegais, muitas vezes contrabandeado de países vizinhos, encontraram terreno fértil para ampliar sua presença no campo.
As estimativas do setor são de que 25% dos agrotóxicos que circulam no Brasil sejam irregulares. Em 2023, a Polícia Federal apreendeu 575 toneladas destes produtos, quase 180% mais que em 2022. Em 2023, o Ministério da Agricultura apreendeu 422,9 toneladas e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) 195,7 toneladas.
Na maioria das vezes, os insumos são apreendidos em rodovias ou em fiscalizações em propriedades rurais. O mercado ilegal é composto por uma cadeia dividida em contrabando, roubo de cargas, falsificação de produtos e desvio de finalidade na utilização de princípios ativos importados.
A atração para os compradores está especialmente nos preços, pois esses insumos de origem ilegal tendem a ser mais baratos que as opções regulamentadas. Observadores apontam que a alta do dólar nos últimos anos, ao tornar os produtos legalizados mais caros, impulsionou a demanda no mercado paralelo.
Além disso, há substâncias que são permitidas em países vizinhos, mas não no território brasileiro, como no caso do paraquat, proibido no país desde 2020 devido aos riscos para a saúde, que vão desde câncer à doença de Alzheimer. Na União Europeia, a substância é banida desde 2007. O Paraguai é uma das portas de entrada do insumo proibido no Brasil. Importante de países como China e Índia, o paraquat é vendido legalmente no Paraguai. Depois, a substância ingressa por via terrestre no Brasil, com destaque para o Paraná.
Crime organizado
O grande mercado chamou a atenção do crime organizado. Recentemente, a Operação Mafiusi da Polícia Federal destacou os agrotóxicos entre os produtos comercializados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), assim como drogas e cigarros, além de outras atividades mais tradicionais para o crime.
"Não importa tanto o produto, são quadrilhas especializadas em logística", afirma Luciano Stremel Barros, presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf). Em sua visão, a possibilidade de transportar diferentes mercadorias, muitas vezes no mesmo veículo, propicia a ascensão do crime organizado, que vai se apropriando das rotas no país.
Barros lembra que, além do uso de produtos inadequados para a produção nacional, há riscos no descarte das substâncias tóxicas ilegais. No caso de produtos regulamentados, a ampla maioria das embalagens segue rigorosos padrões sanitários. No caso irregular, segundo ele, diante da falta de fiscalização e impossibilidade de usar os descartes legais, os recipientes são enterrados ou queimados, o que causa ainda maiores danos ambientais e potencialmente à saúde da população local.
Legislação só no papel
Para muitos produtores, as práticas no campo são bem distantes das regulamentações e permissões dos organismos de controle. Eric Gustavo Cardin, professor de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), conversou com uma série de agricultores na região nos últimos anos, e afirma que há um perfil que chega a "dar risadas" das mudanças de legislações referentes à questão.
De acordo com Cardin, aqueles com maior capacidade de investimento costumam ter mais cuidados com eventuais transgressões, no entanto, há outros que veem no uso de substâncias ilegais uma forma de aumentar a rentabilidade de seus negócios. "Agrotóxicos são caros, se alguém pode ter uma diminuição do custo com relação a esta mercadoria, muitas vezes opta por essa alternativa."
Nestes casos, muitos pedem os insumos ilegais pela internet. "Muitos conhecem os vendedores no Paraguai, sendo comum o envio cruzando a fronteira", aponta. "Especialmente na região de fronteira no oeste do Paraná, é algo muito comum."
Facilidade online
Em outras regiões do Brasil, a facilidade que marketplaces oferecem para o envio de agrotóxicos irregulares cumpre papel "significativo" na expansão do mercado, avalia Barros. Em sites especializados do setor, produtos como o paraquat são oferecidos para entrega em todo o país, algo que também ocorre em comunidades do Facebook que contam com dezenas de milhares de seguidores.
Questionada sobre o tema, a Meta, empresa que controla a rede social, enviou um link para a política de produtos e serviços restritos da plataforma. Após a companhia ser notificada sobre os anúncios, alguns não estavam mais disponíveis. Nestes casos, deveria haver maior atuação das plataformas, aponta Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCPI). "Existem condições para isso, como o controle com algoritmos. Sabemos que há ferramentas disponíveis", avalia.
Segundo ele, nos últimos anos, houve movimentos distintos entre as empresas do setor, com alguns marketplaces aderindo mais ao controle de conteúdo do que outros. Para Vismona, o Brasil é tratado como um "mercado marginal" por certas companhias que não são originárias do país, o que favorece a oferta de produtos proibidos no território nacional.
Frequentemente, plataformas alegam não poder exercer censura prévia, e pedem que violações sejam denunciadas pelos próprios usuários para a retirada de conteúdos. Para Vismona, este movimento "delega para as vítimas o controle, sendo que são as empresas que detém o poder". Além disso, ele argumenta que a questão se trata do Código de Defesa do Consumidor, não de liberdade de expressão.
Legislação comum e acordo com UE
Uma proposta frequente de envolvidos no tema é a de que o Mercosul adote uma legislação comum sobre substâncias permitidas no bloco, similar a que está em vigor na União Europeia (UE). Desta forma, as disparidades que permitem a circulação legal de produtos como o paraquat no Paraguai seria eliminada, o que, em tese, facilitaria o controle.
Barros vê a possibilidade com ceticismo, apontando que uma paridade nas legislações teve pouco avanço em instâncias como o Parlasul, o parlamento do Mercosul. Cardin lembra ainda que a capacidade de execução interna no bloco é reduzida, com aprovações de temas por consenso sendo difíceis, especialmente em momentos de divergências políticas entre os países.
No entanto, ele observa que o fechamento de um acordo com a UE poderia ser um "fator novo" para exercer pressão sobre o tema. Segundo Cardin, o Paraguai se encontra em uma posição "confortável", mas uma maior cobrança internacional para que o país adotasse legislações mais restritivas em conformidade com regras em vigor no exterior poderia ser um caminho para mudanças.
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Short teaser | Ofertas de insumos irregulares e proibidos no país são facilmente encontradas em redes sociais e marketplaces. | ||
Author | Matheus Gouvea de Andrade | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/crime-organizado-e-internet-impulsionam-venda-e-uso-de-agrotóxicos-ilegais-no-brasil/a-72019077?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Insumos proibidos no Brasil são vendidos legalmente em países vizinhos, como Paraguai | ||
Image source | Patrick Pleul/dpa-Zentralbild/dpa/picture alliance | ||
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Item 15 | |||
Id | 72012402 | ||
Date | 2025-03-23 | ||
Title | Marcha neonazista em Berlim termina com 90 presos | ||
Short title | Marcha neonazista em Berlim termina com 90 presos | ||
Teaser |
Centenas de extremistas de direita pretendiam marchar por distrito da capital alemã, mas mal conseguiram sair do lugar após terem passagem bloqueada por contramanifestações de esquerda.Uma marcha de extremistas de direita em Berlim foi dispersada abruptamente no sábado (22/03), após cerca de quatro horas, diante de várias contramanifestações organizadas por grupos de esquerda. Marcada por diversas brigas e choques com a polícia, a marcha terminou com 90 pessoas presas pela polícia.
A manifestação, que reuniu membros da cena de extrema direita e diversos neonazistas, havia sido convocada por um ex-membro do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) chamado Ferhat Sentürk, com o mote "Pela Lei e pela Ordem. Contra o extremismo de esquerda e a violência com motivação política". Ao todo, 860 pessoas compareceram, com a intenção de marchar por sete quilômetros em ruas do distrito berlinense de Friedrichshain, na região central da capital alemã.
Mas, segundo a imprensa alemã, os participantes mal conseguiram sair do lugar por causa de pelo menos dez contramanifestações que ocorreram nas imediações. Convocadas por grupos de esquerda e ativistas antifascistas, elas reuniram mais de 2 mil pessoas, e efetivamente bloquearam as vias que estavam na rota da marcha de extrema direita.
Segundo a polícia, após um atraso de quase quatro horas, os participantes da marcha só conseguiram se deslocar por apenas 100 metros antes de a manifestação ser dispersada pelos próprios organizadores.
90 prisões
A polícia relatou repetidas brigas durante a (tentativa) de marcha e as contramanifestações. As autoridades deslocaram 1,6 mil agentes de segurança para o local, com reforço de membros das polícias dos estados de Bremen e da Baviera
De acordo com um porta-voz da polícia, várias prisões foram efetuadas porque os participantes da manifestação neonazista violaram a proibição do uso de máscaras. Outros exibiram símbolos nazistas proibidos.
Segundo a imprensa alemã, foi possível ouvir vários manifestantes de extrema direita cantando músicas de organizações do antigo regime nazista (1933-1945)
De acordo com uma porta-voz da polícia, manifestantes do campo de esquerda também tentaram romper uma barreira. Policiais também usaram spray de pimenta para conter participantes das contramanifestações, após alguns atirarem garrafas nos policiais, de acordo com as autoridades.
Ao todo, 90 prisões foram efetuadas, envolvendo acusações de lesão corporal perigosas, uso de símbolos de organizações inconstitucionais e terroristas, agressão a agentes da lei, resistência a agentes da lei e danos à propriedade.
Segundo comunicado da polícia, entre os 90 presos, 41 foram detidos por crimes ou infrações "com motivação de direita". Outros 31 foram por crimes ou infrações com "motivação de esquerda". Ainda de acordo com o comunicado, 19 policiais ficaram feridos.
Essa foi a terceira manifestação de extremistas de direita em Berlim desde dezembro. A primeira delas, no ano passado, reuniu apenas 60 participantes. Já uma marcha em fevereiro reuniu 150 neonazistas. Em ambos os casos as marchas foram bloqueadas por contramanifestantes.
Jps (DW, ots)
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Short teaser | Extremistas pretendiam marchar por distrito da capital alemã, mas tiveram passagem bloqueada por contramanifestações. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/marcha-neonazista-em-berlim-termina-com-90-presos/a-72012402?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Participantes de marcha que reuniu extremistas de direita em Berlim | ||
Image source | Michael Kuenne/ZUMA/picture alliance | ||
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Item 16 | |||
Id | 71997307 | ||
Date | 2025-03-23 | ||
Title | Mulheres trans têm vantagens injustas no esporte? | ||
Short title | Mulheres trans têm vantagens injustas no esporte? | ||
Teaser |
Muitas federações esportivas agora excluem mulheres transgêneros de competições femininas, o que tem gerado debate intenso. Pesquisadores analisam um tema emocional e pleno de contradições.A controvérsia sobre atletas transgêneros em esportes competitivos já transcorre há anos. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump assinou em fevereiro um decreto proibindo a participação trans em nível nacional.
Muitas federações endureceram suas regras de participação, e mudanças também podem estar à vista para os Jogos Olímpicos, com a recém-eleita presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Kirsty Coventry, que se manifestou a favor de restrições mais rígidas para a categoria feminina.
Há diferenças no desempenho físico?
Homens e mulheres são avaliados separadamente na maioria dos esportes. Em 2023, cientistas fizeram uma declaração conjunta que consolidou esse entendimento: "Em eventos atléticos e esportes que dependem de resistência, força muscular, velocidade e potência, os homens normalmente superam as mulheres devido a diferenças sexuais fundamentais ditadas por seus cromossomos sexuais e hormônios sexuais na puberdade, em particular a testosterona".
Mulheres trans – designadas como do sexo masculino ao nascer, mas que se identificam como mulheres – também contam com essas vantagens. Se forem submetidas a terapia hormonal, as diferenças em relação às mulheres cisgênero são reduzidas. Mas mesmo assim ainda têm vantagens.
Além disso, a identidade trans é muito confundida no debate público com a intersexualidade. No caso das pessoas intersexuais, elas têm características sexuais masculinas e femininas desde o nascimento – que não é o caso das trans.
Num estudo de 2024, publicado na revista científica British Journal of Sports Medicine (BJSM), a força absoluta de preensão manual de 23 atletas trans analisados (que haviam passado por pelo menos um ano de terapia hormonal) foi menor do que a dos 19 homens cis participantes, mas maior do que a das 21 mulheres cis. A força de preensão manual é considerada um indicador da força muscular geral.
As mulheres trans que participaram também tiveram uma vantagem em parâmetros como o índice de massa magra e o consumo máximo absoluto de oxigênio (VO2 max), uma medida de condicionamento físico.
Em algumas modalidades, no entanto, tiveram desempenho pior do que as mulheres cis, por exemplo no salto vertical por estocada (chamado também de salto de contramovimento absoluto). De acordo com os autores do estudo, isso mostra a complexidade da fisiologia das atletas trans. Os pesquisadores alertam contra uma exclusão preventiva.
"As mulheres trans, como grupo populacional, são mais altas, maiores e, num sentido absoluto, mais fortes do que as mulheres cis", explica Joanna Harper, física médica da Universidade de Loughborough, no Reino Unido. "No entanto, depois de passar pela terapia hormonal, seus corpos se movem com capacidade aeróbica e massa muscular reduzidas."
Isso pode implicar desvantagens em termos de velocidade, recuperação e resistência. Pessoas trans enfrentam ainda uma carga de preconceito, violência e discriminação que pode afetar sua saúde mental e não deve ser subestimado como componente do desempenho atlético, destacam os pesquisadores.
Vantagens trans mesmo após terapia hormonal
Um estudo de 2020 realizado pelo médico Timothy Roberts e colegas da Universidade de Missouri-Kansas City examinou militares dos EUA que se submeteram a cirurgia de afirmação de gênero.
Após um ano de terapia hormonal, as trans tiveram melhor desempenho nos esportes do que as cis. Depois de dois anos, o desempenho praticamente se igualou. De acordo com os autores do estudo, isso seria uma indicação de que é breve demais o período de um ano de terapia hormonal, prescrito por algumas associações esportivas como pré-requisito para participação.
Em 2021, Alun Williams e outros pesquisadores da Associação Britânica de Ciências do Esporte e Exercícios concluíram, com base nos indícios científicos disponíveis, que a terapia hormonal só elimina uma parte da vantagem masculina, mesmo após dois anos. Não há, portanto, uma unanimidade sobre o tema entre pesquisadores.
Cromossomos, diferenças sexuais e puberdade
Antes da puberdade, meninos e meninas são fisiologicamente muito mais parecidos em termos de desempenho atlético. As diferenças se tornam particularmente claras quando o nível de testosterona se multiplica nos meninos, por volta dos 11 anos de idade. Entretanto, algumas pesquisas sobre os primeiros anos de vida mostram que as diferenças antes da puberdade são maiores do que se supunha anteriormente.
Em estudo publicado em 2024, o cientista esportivo Gregory Brown, da Universidade de Nebraska, e pesquisadores da Universidade de Essex, no Reino Unido, analisaram o desempenho de crianças com 8 anos ou menos e entre 9 e 10 anos nas provas de corrida de 100, 200, 400, 800 e 1.500 metros, assim como no arremesso de peso, lançamento de dardo e salto em distância.
"Os meninos estavam correndo mais rápido do que as meninas, estavam arremessando mais rápido, saltando mais rápido", explica Brown. "E, é claro, calculamos a diferença percentual e chegamos à conclusão de que, na corrida, a diferença era de cerca de 3% a 6%, dependendo do evento. No salto em distância, cerca de 5%; para os eventos de arremesso, de 20% a 30%."
De acordo com Brown, as diferenças pré-pubertárias podem também estar relacionadas à assim chamada minipuberdade dos meninos nos primeiros meses de vida, bem como ao cromossomo Y ou ao gene SRY. O Y é um dos dois cromossomos sexuais. As mulheres geralmente têm dois cromossomos X (XX), e os homens, um X e um Y (XY).
O cromossomo Y carrega muitos genes associados ao desenvolvimento e à reprodução masculina. O gene SRY é particularmente importante para o desenvolvimento sexual masculino, responsável por acionar o desenvolvimento das características físicas masculinas.
Para Brown, a descoberta de uma vantagem contínua, mesmo antes da puberdade, lança ainda mais dúvidas sobre se a terapia hormonal poderia compensar as vantagens físicas de atletas trans e nivelar as condições de competição, pois a vantagem masculina iria além dos hormônios e da puberdade.
Os resultados também lançam dúvidas sobre se seria suficiente, para fins esportivos, não ter passado pela puberdade masculina. A Associação Mundial de Atletismo tem se baseado nesse requisito para a participação em competições femininas desde 2023. Na prática, a regra acaba por excluir atletas trans em geral, já que a grande maioria não toma medidas de redesignação de gênero antes da puberdade.
Em muitos países, bloqueadores de puberdade e cirurgia de mudança de sexo pré-pubertária são controversos, e o acesso a esses procedimentos é restrito.
Vantagem de mulheres trans sobre cis nos esportes é injusta?
As opiniões divergem sobre até que ponto é possível uma competição justa entre atletas trans e cisgêneros do sexo feminino. Mas os especialistas concordam que há grande necessidade de mais estudos sobre o desempenho atlético de pessoas trans em esportes de elite.
Joanna Harper discorda – em contraste com a avaliação de Brown e Williams – que a ciência sugira o banimento de mulheres trans das competições femininas: para ela, a terapia hormonal bastaria.
De qualquer forma, não existe justiça absoluta no esporte, defende a física médica: "Há atletas que são talentosos por natureza e, como se sabe, é justo que atletas menos talentosos tenham que enfrentá-los. Portanto, os esportes são inerentemente injustos."
"Contudo, o objetivo de subdividir os esportes em categorias é que as diferenças biológicas não suplante aquilo que a gente busca nos esportes. Assim, por exemplo, os boxeadores grandes têm uma vantagem tão enorme sobre os de menor porte, que segregamos esse esporte por categorias de peso, para que os boxeadores pequenos possam ganhar alguma coisa", argumenta Harper.
O exemplo do boxe mostra como pode ser complexa a busca por categorias de competição que não sejam demasiado, mas suficientemente diferenciadas. A vantagem masculina também tem efeitos distintos no esporte. Embora crie diferenças importantes em modalidades que envolvem força, como levantamento de peso, a situação é diferente em esportes de tiro ou dança.
Por último, mas não menos importante, a questão da equidade não deve tirar de cena a da inclusão. O próprio COI manifesta que "Toda pessoa tem o direito de praticar esportes sem discriminação e de uma forma que respeite sua saúde, segurança e dignidade. Ao mesmo tempo, a credibilidade do esporte competitivo – e particularmente das competições esportivas organizadas de alto nível – depende de uma igualdade de condições."
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Short teaser | Federações esportivas excluem mulheres transgêneros de competições femininas, o que tem gerado debate intenso. | ||
Author | Stephanie Burnett, Ines Eisele | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/mulheres-trans-têm-vantagens-injustas-no-esporte/a-71997307?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Americana Lia Thomas foi a primeira atleta trans a ganhar um título universitário, em 2022 | ||
Image source | Chris Szagola/AP/Picture Alliance | ||
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Item 17 | |||
Id | 71942247 | ||
Date | 2025-03-22 | ||
Title | "Em vez de dicas, pais devem ir atrás de conhecimento", diz neurocientista | ||
Short title | "Em vez de dicas, pais devem buscar conhecimento" | ||
Teaser |
Especializada em parentalidade, Telma Abraão recomenda uma educação infantil que mescle amor com ciência e que considere autocuidado dos pais para que relação com os filhos não fique tóxica. A biomédica e neurocientista brasileira Telma Abrahão ficou conhecida nos últimos anos no nicho da educação parental por aplicar conhecimentos de neurociência nos ensinamentos sobre criação de filhos. Recentemente ela mergulhou numa faceta importante dessa questão: as reações do organismo, tanto dos pais como dos filhos, ao estresse. Em tempos de correria e acúmulos de tarefas, ambientes domésticos em que há um esgotamento mental não são raros, afinal. "O esgotamento parental é quando o cuidador primário chega ao ponto de não conseguir mais cuidar do próprio filho, que está sob responsabilidade dele. Porque ele esgotou todos os seus recursos, não só físicos, mas também emocionais." Na nova edição de seu best-seller Educar é um ato de amor, mas também de ciência, lançada na segunda quinzena de março, Abrahão procurou esmiuçar justamente as respostas ao estresse. Para ela, a partir dessa compreensão, é possível romper os ciclos de dor e promover ambientes emocionalmente saudáveis para a criação dos filhos. A especialista identifica três tipos de estresse na vida da criança: o positivo, o tolerável e o tóxico. Este último precisa ser evitado a todo custo, pois acarretaria "consequências duradouras na vida", já que "o nosso cérebro não foi feito para viver com medo". Nesta nova edição do livro, a senhora incluiu de forma mais contundente o impacto do estresse na criação dos filhos. Considerando que o estresse é um grande problema da vida contemporânea cheia de atribulações, de que maneira equilibrar essa biologia do apego às necessidades de trabalho e demais tarefas? Telma Abrahão: A vida adulta nos leva a ter muitas responsabilidades, principalmente quando a gente se torna pai ou mãe. Temos responsabilidades com a casa, com a alimentação, com a educação dos filhos e também com a demanda profissional, né? Claro que todas essas responsabilidades acabam, sim, gerando estresse. Porém quando a gente decide ter um filho, resolve se tornar pai ou mãe, a gente tem de olhar para todas as necessidades, não somente físicas, de se alimentar e de ser cuidada, mas principalmente suas necessidades emocionais. Porque a gente nasce com um cérebro imaturo. Então, a criança necessita se sentir segura, pertencente, vista. Ela precisa daquele adulto para sobreviver. A segurança emocional vem do relacionamento, do olhar, do toque, do dia a dia. Os pais precisam priorizar estar com seus filhos todos os dias, seja acordando mais cedo, seja no momento em que chega do trabalho ou na hora da refeição. Não é porque o pai e a mãe estão ocupados ou estressados que a criança vai deixar de precisar daquele adulto. Como a gente pode lidar com essa sobrecarga? Se autocuidando, buscando cuidar da saúde mental, fazendo exercício físico, tendo rotina, ficando menos tempo no celular, dormindo mais cedo, separando tempo na agenda para os compromissos pessoais. E, desses compromissos pessoais, separando um tempo para o filho, para sair do celular. Hoje se perde muito tempo no celular. Se você pegar 40 minutos do seu dia, 40 minutos que fica no celular e nas redes sociais, e usar para dar atenção aos filhos, o caos familiar vai começar a diminuir. Porque a criança vai se sentir amada. E aí vai se comportar melhor, vai colaborar mais. E isso diminui também o estresse da mãe e do pai. É um ciclo positivo de afeto, de atenção, de segurança. Mas dá para corrigir a rota? Ou seja: um bebê ou uma criança que não foi cuidada de modo adequado nos primeiros anos de vida, como pode ter sua criação ressignificada quando um pouco mais velha? Os primeiros três anos de vida, o que a gente chama de primeiríssima infância, são uma fase crucial para o bom desenvolvimento do cérebro humano. É uma época em que a gente está construindo, fazendo milhares de sinapses. É um número tão alto de sinapses e conexões de neurônios que nunca mais na vida a gente vai ter uma quantidade tão grande como nesse início da vida. O que acontece nessa fase se torna a base do adulto que seremos, a base dos nossos padrões comportamentais, da forma como a gente se relaciona com a gente e com o mundo. Graças à neuroplasticidade do cérebro, nós podemos, sim, mudar os nossos padrões ao longo da vida. Podemos, sim, aprender novas formas de olhar para a gente, para o mundo e se relacionar com o outro. Claro que os pais também vão poder ajustar a rota. Mas é importante entender que isso não acontece do dia para a noite. É um processo. Aquela criança que foi negligenciada, que sofreu abusos emocionais, ela pode ter um vínculo inseguro, um apego inseguro com seu pai e sua mãe. E isso é demonstrado em forma de comportamentos desafiadores, dificuldades de aprendizado e de socialização e outros desafios que surgem ao longo do caminho. Por isso que é tão importante os pais se reeducarem para melhor educar. Claro que quanto antes os pais começarem essa jornada de reconstruir a relação, melhor. Porque depois essa criança cresce, vira adolescente, sai de casa e as prioridades são outras. E esse relacionamento realmente pode se tornar mais distante e mais desafiador de ser recuperado. Mas, sim, é possível corrigir a rota desde que esses pais busquem olhar para o próprio comportamento e passem a enxergar esse filho, validando suas emoções e deixando ele também falar, ouvindo quem ele é e o que ele pensa, o que ele sente. Essa relação de confiança, de conexão, de afeto e segurança, ela pode ser reconstruída ao longo da infância e da adolescência. E no caso dos adultos que percebem seus traumas como consequência dessa carência de afeto na infância? Como desinflacionar essa angústia? Muitos dos problemas, desafios comportamentais e de relacionamentos e até de saúde física, mental e emocional da vida adulta vêm dos impactos das experiências diversas da infância. E muitos adultos acabam percebendo isso por repetição de ciclos negativos, de relacionamentos tóxicos, e acabam procurando terapia, buscando autoconhecimento e começam a perceber que estão, muitas vezes, repetindo um padrão aprendido, refletindo seus medos e suas dores emocionais da infância ali na sua relação na vida adulta. Então, o processo de você tomar consciência de como o que aconteceu ainda o impacta é o primeiro passo para a mudança. Porque quando eu tomo a consciência de que é algo que eu tenho, como adulto eu posso mudar. Como criança, a gente é vítima. Como adulto, é nossa responsabilidade buscar novas formas de agir, aprender a usar a razão para lidar com a emoção, ver as consequências de nossas atitudes e escolher moldar novos padrões para poder quebrar ciclos de dor e construir relações emocionalmente saudáveis a partir de agora. A tomada de consciência e o autoconhecimento são essenciais nessa jornada. Logo no início do seu livro, a senhora ressalta que a obra não traz receita milagrosa nem dicas. De que forma essa busca por soluções milagrosas se tornou uma ânsia de pais contemporâneos? Isso afeta também os bebês, à medida que estes percebem uma insegurança dos pais? Muitos pais querem uma dica que vá resolver todos os desafios deles com os filhos, isso é verdade. Porém não é isso que vai tirar as famílias do caos. É justamente entender a origem do comportamento infantil, por que uma criança faz o que faz, por que ela age como ela age. Muitos acreditam que a criança faz birra, se comporta mal de propósito porque quer atacar o pai, porque está testando os limites. E não é isso. Quando a gente começa a entender o desenvolvimento infantil, entende que uma criança não consegue lidar com emoções, com o impulso, tem dificuldade de raciocínio lógico. Toda a compreensão vai fazendo com os pais se tornarem mais empáticos, mais amorosos com seus filhos. Então, por isso, dica não é positivo na criação dos filhos, mas sim conhecimento. Porque o conhecimento sobre o desenvolvimento infantil vai fazer esses pais se tornarem emocionalmente saudáveis, consigam colocar limites respeitosos, de acordo com as fases do desenvolvimento daquela criança. Então, sim, essa expectativa em relação ao comportamento de um filho pequeno é de um comportamento que muitas vezes a criança não pode ter. E isso impacta negativamente o bebê, a criança. Porque ela não está sendo vista, cuidada como deveria, protegida como deveria, guiada como deveria. E essa falta de conhecimento muitas vezes é a raiz da violência na infância. Por isso é importante que os pais busquem conhecimento para se tornarem seguros na hora de agir e tomar decisões na educação de seus filhos. Essa responsabilidade muitas vezes gera um estresse grande nos pais. A senhora apresenta o conceito do esgotamento parental. O que é isso? O esgotamento parental é quando o cuidador primário chega ao ponto de não conseguir mais cuidar do próprio filho, daquela criança que está sob responsabilidade dele. Porque ele esgotou todos os seus recursos não só físicos, mas também emocionais. É quando essa pessoa chega ao ponto do "meu Deus, eu não quero mais levantar dessa cama, não tenho forças para levantar, cuidar, cozinhar". Então a pessoa perde a paciência e, nesse momento, é perigoso porque se torna uma ameaça para o filho, pode se tornar agressiva, violenta. O cérebro está impactado por um grande estresse e isso diminui a capacidade cognitiva, diminui a capacidade do pai ou da mãe de lidar com as próprias emoções e controlar o impulso que pode gerar agressividade e violência. É importante que os pais e mães façam autocuidado, descansem sempre que possível, peçam ajuda sempre que possível, busquem uma rede de apoio para poderem voltar para seu estado natural de um cuidador saudável. Com certeza isso impacta profundamente não só a educação, a criação do vínculo com os filhos, mas o ambiente familiar de um modo geral. No livro, a senhora diz que há três tipos de estresse. Como identificá-los? Durante a infância, existem três tipos de estresse: o positivo, o tolerável e o tóxico. O positivo é tipo quando a criança vai para a aula de natação pela primeira vez. Ela está com medo, está assustada porque é a primeira vez, vai começar a chorar, mas o pai e a mãe estão ali, dando apoio emocional. É um estresse positivo, porque está ensinando a criança, está desenvolvendo habilidades, resiliências. E com o apoio de um cuidador. Esse estresse é positivo e faz parte da vida, vamos viver isso muitas vezes ao longo da vida. Quando o estresse é, por exemplo, a criança que está indo pela primeira vez na escolinha, aquilo pode deixar ela com muito medo. É um lugar novo, longe do pai e da mãe. Ela não conhece aqueles adultos. É um estresse maior, mas tolerável, desde que ela se sinta apoiada pela mãe e pelo pai. O estresse se torna tóxico quando essa criança passa por repetidos problemas sem o apoio do adulto cuidador. Por exemplo uma casa onde tudo o que a criança faz, tudo o que acontece, que ela erra, tudo que ela comete fora da expectativa do pai e da mãe, ela apanha, fica de castigo. É educada na base do medo. E de que forma o estresse tóxico prejudica o desenvolvimento da criança? Essa forma de educação coloca o sistema nervoso da criança em constante estado de alerta, aumenta níveis de hormônios do estresse, impactando negativamente o comportamento e a saúde dessa criança. O adulto cuidador se torna uma ameaça, fonte de medo e de terror. Aí o estresse se torna tóxico, principalmente quando existe uma repetição ao longo de toda a infância. E isso acontece com muitas crianças, que são educadas na base do medo e têm no pai e na mãe figuras que assustam, que as deixam em pânico. Todo esse estresse tem consequências duradouras na vida dessa pessoa, que mais tarde pode desenvolver comportamentos de risco, buscando álcool e drogas para poder se autorregular e lidar com essa hiperativação do sistema nervoso. O nosso cérebro não foi feito para viver com medo. Esse sistema foi feito para nos proteger a vida, é para esses momentos de risco à vida que o nosso sistema de segurança deve ser ativado. Se uma criança vive com medo numa casa onde ela devia ser cuidada, mas na verdade está sendo ameaçada, castigada e punida, isso é um problema que traz consequências duradouras para a saúde física, mental e emocional do ser humano. |
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Short teaser | Especialista Telma Abraão recomenda amor e ciência na educação infantil, para evitar relação pais-filho tóxica. | ||
Author | Edison Veiga | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/em-vez-de-dicas-pais-devem-ir-atrás-de-conhecimento-diz-neurocientista/a-71942247?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 18 | |||
Id | 72002731 | ||
Date | 2025-03-21 | ||
Title | Bebês criam memórias após 1º ano de vida, aponta estudo | ||
Short title | Bebês criam memórias após 1º ano de vida, aponta estudo | ||
Teaser |
"Amnésia infantil" não se deve a incapacidade de codificar experiências, e sim a complexos mecanismos cerebrais que as tornam inacessíveis, sugerem pesquisadores. Por muitos anos, psicólogos acreditaram que bebês eram incapazes de criar memórias duradouras antes do terceiro ou quarto ano de vida. Novas pesquisas, porém, têm colocado essa crença em xeque. A mais recente, divulgada nesta quinta-feira (20/3) na revista Science, indica que a formação de memórias pode acontecer já por volta dos 12 meses de vida. Porém, continuamos sem saber por que essas memórias são tão difíceis de acessar à medida em que crescemos. Nossos primeiros anos de vida são um período de rápida aprendizagem, mas nós geralmente não temos lembranças específicas desse período – um fenômeno conhecido como amnésia infantil. "Sempre fui fascinado por essa misteriosa lacuna que temos em nossa história pessoal", disse Nick Turk-Browne, professor de psicologia de Yale e autor principal do estudo, à agência de notícias AFP. O mistério da amnésia infantilPor volta de um ano, os bebês se tornam aprendizes extraordinários: aprender a falar, andar, reconhecer objetos, compreender laços sociais, dentre outras habilidades. "Mas não nos lembramos de nenhuma dessas experiências. Há uma espécie de descompasso entre essa plasticidade incrível e a capacidade de aprendizado que nós temos", afirmou Turk-Browne. Para Sigmund Freud, pai da psicanálise, a explicação para isso estaria na repressão de memórias – a ideia de um processo ativo de supressão, porém, já foi descartada pela ciência. Teorias modernas se concentram no hipocampo, uma parte do cérebro fundamental para a memória episódica e que só se desenvolve totalmente depois da infância. Bebês que ainda não falam não podem comunicar memórias verbalmente, mas a tendência deles de contemplar por mais tempo o que lhes é familiar ajudou Turk-Browne a direcionar sua pesquisa. Estudos recentes de monitoramento de atividade cerebral feitos com roedores também demonstraram que os engramas – padrões de células que armazenam memórias – se formam no hipocampo infantil, mas se tornam inacessíveis com o tempo, embora possam ser artificialmente reativados por meio da estimulação de neurônios. Memórias episódicas a partir de um anoO estudo de imagens cerebrais de bebês é bem mais desafiador, já que é praticamente impossível mantê-los imóveis dentro de um equipamento de ressonância magnética funcional – aparelho que rastreia o fluxo sanguíneo para "ver" a atividade cerebral. Para driblar o desafio e mantê-los entretidos, a equipe de Turk-Browne contou com a ajuda de chupetas, cobertores, bichos de pelúcia, travesseiros e padrões psicodélicos projetados no interior do aparelho de ressonância – além, claro, dos próprios pais, que podiam interagir com seus filhos do lado de fora do aparelho. Imagens borradas tiveram que ser descartadas. Mas, após realizar centenas de sessões com 26 bebês – metade acima de um ano, metade abaixo disso –, os cientistas obtiveram material suficiente para suas análises. Enquanto passavam pela ressonância, os bebês realizaram um teste de memória adaptado de estudos com adultos: primeiro, a equipe lhes apresentou imagens de rostos, cenas e objetos; alguns segundos mais tarde, após visualizarem outras imagens, os bebês foram apresentados a duas imagens, lado a lado: uma já vista anteriormente e outra nova. "Quantificamos o tempo que passam olhando o que já tinham visto, e isso é uma medida de sua memória para aquela imagem", explicou Turk-Browne. Ao comparar a atividade cerebral durante a formação bem-sucedida de memória com as imagens esquecidas, os cientistas confirmaram que o hipocampo está ativo no processo de codificação de memória desde cedo. Esse foi o caso de 11 de 13 bebês com mais de um ano, mas não aconteceu com bebês mais jovens. Aqueles que, ao visualizar uma imagem, tinham maior atividade nessa área do cérebro, prestaram mais atenção nela ao revê-la mais tarde. Mas isso não acontecia quando o hipocampo não estava ativo. "Concluímos que bebês são capazes de codificar memórias episódicas no hipocampo a partir de cerca de um ano", afirmou Turk-Browne. Ele admite, porém, que a verdadeira memória episódica envolve mais do que a preferência por uma imagem familiar. Isso requer capacidade de contextualizar eventos, algo que um bebê pode desenvolver à medida em que começa a se movimentar por conta própria e processar estímulos sensoriais complexos, como linguagem e locais. "Demostramos que [esses bebês] podem codificar uma imagem, mas a memória episódica é a capacidade de associar múltiplas coisas", declarou à revista Science. Lembranças inacessíveis?O estudo de Turk-Browne só testou memórias de curtíssimo prazo. E ainda não sabemos o que acontece com essas memórias depois. Talvez as lembranças dessa primeira fase da vida nunca sejam totalmente consolidadas em nosso "armazenamento de longo prazo"; ou talvez sejam, mas se tornem inacessíveis – o pesquisador suspeita que esta última opção seja o caso. Turk-Browne lidera um novo estudo que testa se bebês e crianças são capazes de reconhecer vídeos gravados no passado a partir da perspectiva deles. Resultados preliminares sugerem que essas memórias podem persistir até por volta dos três anos de vida, dissipando-se em seguida. Turk-Browne está particularmente intrigado com a possibilidade de que tais fragmentos possam um dia ser reativados em etapas posteriores da vida. ra (AFP, ots) |
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Short teaser | Cientistas descobrem que hipocampo infantil começa a formar lembranças por volta dos 12 meses. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/bebês-criam-memórias-após-1º-ano-de-vida-aponta-estudo/a-72002731?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 19 | |||
Id | 71996063 | ||
Date | 2025-03-21 | ||
Title | Racismo na Alemanha é cotidiano, não exceção, aponta estudo | ||
Short title | Racismo na Alemanha é cotidiano, não exceção, aponta estudo | ||
Teaser |
Mais de 60% das muçulmanas e das pessoas negras afirmam sofrer discriminação na Alemanha, segundo levantamento do Monitor Nacional para Discriminação e Racismo. As consequências são graves.Quem é jornalista em Berlim, por exemplo, e quer conversar sobre experiências pessoais de discriminação na Alemanha, não precisa ir muito longe: os casos brotam por todos os lados. E o que confirma o recém-publicado Monitor nacional para discriminação e racismo (NaDiRa, na sigla em alemão).
Professora de um maternal em Berlim, Fatma começa o dia dirigindo o carro para o trabalho: "Os outros motoristas me olham com desconfiança." Ela se veste de maneira elegante, e usa lenço de cabeça. "No curso de formação, minha professora disse que achava o lenço anti-higiênico."
Fatma lembra que concluiu o treinamento com uma nota "muito boa". Mas não é fácil para ela conseguir um emprego, embora a Alemanha precise urgentemente de mais instrutores para as escolas maternais. Sua sensção é de que o lenço a coloca em desvantagem: "Isso me põe para baixo, faz algo comigo."
Hanna, que também mora em Berlim, diz que não se atreve a entrar em certos bairros. Quando viaja de metrô com os filhos, ouve regularmente o que chama de "comentários estúpidos", por causa das crianças e do seu cabelo escuro: "As pessoas dizem que eu deveria voltar para o meu país." É bem visível o quanto essa hostilidade a magoa, especialmente se acontece na frente dos filhos.
Experiências com racismo não são acaso
Coautora do Monitor sobre racismo, Aylin Mengi, do Centro Alemão de Pesquisa sobre Integração e Migração (Dezim), lembra que "as experiências de discriminação não acontecem por acaso, mas geralmente se baseiam em atribuições racistas".
O estudo, para o qual os pesquisadores entrevistaram quase 10 mil indivíduos de todo o país, se caracteriza como uma das mais abrangentes compilações de dados sobre racismo e discriminação na Alemanha.
Os resultados apontam que quem é percebido como imigrante ou muçulmano é particularmente afetado, independentemente de sê-lo ou não. Algumas mulheres por usarem um lenço na cabeça, como Fatma; outros por causa da cor da pele. Ou por terem cabelo escuro, como Hanna. Mais da metade dos entrevistados rotulados por características físicas como essas sofrem discriminação no dia a dia pelo menos uma vez por mês.
"Racismo torna-se mais sutil"
Entre os habitantes da Alemanha entrevistados para a pesquisa, as mulheres muçulmanas e os negros são os mais afetados, com mais de 60% sofrendo discriminação cotidiana.
"Vemos que as experiências de discriminação são distribuídas de forma desigual na sociedade alemã. E percebemos que o racismo na Alemanha está se tornando mais sutil e se adaptando às normas sociais", explica Cihan Sinanoğlu, diretor do Monitor.
A alegação de que as minorias étnicas e religiosas fazem exigências políticas demais ainda é bastante difundida na sociedade dominante: "Isso mostra que certos grupos sociais ainda têm direitos políticos negados."
Estresse psicológico
As experiências de preconceito e marginalização têm consequências graves, explica Sinanoğlu, com base nos resultados do estudo: "Os transtornos de ansiedade e depressão aumentam quanto mais experiências de discriminação e racismo se tem. E a confiança nas instituições diminui quanto maior é a dimensão das experiências discriminatórias".
Os autores do estudo criticam o fato de que o racismo é, com muita frequência, ignorado pelos partidos políticos na Alemanha, por considerá-lo uma questão minoritária.
"Vivemos numa sociedade pós-migratória: uma em cada três famílias na Alemanha tem relações com migrantes. As experiências discriminatórias não atingem somente determinados indivíduos, mas sim uma grande parte da sociedade", analisa Naika Foroutan, diretora do Dezim.
Por outro lado, ela acredita que uma percepção é constantemente esquecida: "Há uma ampla maioria contra o racismo na Alemanha. As pessoas querem aprender, e não estão cansadas de ser informadas sobre o tema."
A comissária federal para Antidiscriminação, Ferda Ataman, vê nos resultados uma tarefa clara para os políticos: "Temos leis antidiscriminação muito fracas. O estudo mostra claramente que os cidadãos precisam ser mais bem protegidos."
Ela dirige essa reivindicação sobretudo ao futuro governo alemão, que está sendo negociado em Berlim entre conservadores cristãos (CDU/CSU) e social-democratas (SPD).
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Short teaser | Mais de 60% das muçulmanas e dos negros sofrem discriminação na Alemanha. Consequências são graves. | ||
Author | Hans Pfeifer | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/racismo-na-alemanha-é-cotidiano-não-exceção-aponta-estudo/a-71996063?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Muçulmanas estão entre as maiores vítimas de discriminação pela sociedade alemã | ||
Image source | Dwi Anoraganingrum/Panama Pictures/picture alliance | ||
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Item 20 | |||
Id | 72001444 | ||
Date | 2025-03-21 | ||
Title | Alemanha quer investir 1 trilhão de euros – mas não sabe bem como | ||
Short title | Alemanha quer investir EUR 1 trilhão – mas não sabe bem como | ||
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É importante construir pontes, reformar ferrovias, proteger o clima, equipar as Forças Armadas. Mas dinheiro só não basta: é preciso planejamento rápido, empresas eficientes e especialistas. Nos últimos anos uma série de grandes projetos simplesmente saíram do controle na Alemanha. Por exemplo: o Aeroporto Berlim-Brandemburgo, a sala de concertos Elbphilharmonie em Hamburgo, ou a estação ferroviária Stuttgart 21. Erros de planejamento, defeitos na construção, explosões de custos, disputas legais, anos de atrasos nas obras: a lista é longa. E há muitas razões para isso, desde planos mal feitos e processos de autorização demorados, até gargalos de pessoal e material nos canteiros de obras. Em Stuttgart, houve incertezas e atrasos porque partes da empresa responsável por montar a infraestrutura digital foram vendidas. Dinheiro não resolve o problemaPara a Associação Alemã de Contribuintes (BdSt), todos esses empecilhos não são motivo para considerar um equívoco o bilionário pacote financeiro para defesa, infraestrutura e meio ambiente do provável futuro governo federal, formado por conservadores cristãos (CDU/CSU) e social-democratas (SPD). Depois do Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão, com deputados federais eleitos), o Bundesrat (câmara alta, com representantes dos 16 estados federados) também deu sinal verde para o pacote financiado por novas dívidas. Além dos gastos praticamente ilimitados com defesa, o pacote prevê 500 bilhões de euros para investimentos em infraestrutura nos próximos 12 anos. Para o presidente do BdSt, Reiner Holznagel, o problema não é necessariamente a ausência de recursos para remediar o atraso nos investimentos no país: "A Alemanha está sufocada pela burocracia e por estruturas ineficientes. Precisamos de licitações mais rápidas e competências claras. Mas um novo fundo de dívida não resolve todas essas questões." A economista e professora da Universidade Técnica de Nurembergue, Veronika Grimm, concorda: as verbas adicionais do pacote da dívida não podem ser gastos com a rapidez que seria necessária. Como declarou no Comitê de Orçamento do Bundestag, os procedimentos de planejamento e autorização são "um gargalo para o gasto desses fundos". Ela também urge por "reformas que estimulem o crescimento", já que, até o momento, as projeções indicam que o pacote não deverá dar grande impulso imediato ao crescimento econômico, com um possível efeito moderado em 2026: "Para 2027, dependerá de quão bem os fundos serão aplicados", observa Grimm. Construção como pedra fundamentalA previsão de economista alemã deve fazer soar o alarme entre os políticos: afinal, os bilhões em dívidas têm como objetivo principal revitalizar a economia da Alemanha o mais rápido possível. "Podemos começar imediatamente. A construção civil dispõe de capacidade para novas obras e tem a expertise para realizar os projetos de infraestrutura", assegura Felix Pakleppa, diretor executivo da Associação Alemã da Indústria da Construção. Atualmente, o setor está subutilizado, com 40% de todas as empresas reclamando da falta de encomendas, que, em alguns casos, caíram drasticamente nos últimos dois anos. A invasão da Ucrânia pela Rússia, a subsequente crise energética e a inflação impulsionaram os preços significativamente, o que desacelerou a construção civil em particular, já que muitos não conseguem pagar os aluguéis, necessários para cobrir os custos. Autorizações demoram muitoO setor de construção também pede enfaticamente a redução na burocracia, classificando a situação atual como inaceitável. "Na construção de autoestradas, até 85% do tempo pode ser gasto em processos de planejamento, apenas 15% na construção em si", relata Pakleppa. Há anos se reivindica a redução da burocracia. Atualmente, uma em cada duas empresas considera que o maior obstáculo para um maior crescimento econômico é a carga de longos procedimentos administrativos, comprovações e verificações de documentação, relatórios estatísticos e requisitos de proteção de dados. No fim de 2024, o Instituto de Pesquisas Econômicas (IFO) de Munique fez constar de um estudo: "A Alemanha está perdendo até 146 bilhões de euros por ano em produção econômica; devido ao excesso de burocracia." Mais escassez de mão de obraOutro problema para o país deve surgir da escassez de mão de obra qualificada, o que vem crescendo há anos. Em parte, o tema sumiu das manchetes porque a Alemanha está em seu terceiro ano de recessão, demissões e contratos de curta duração se tornaram a regra. Mas isso pode mudar rapidamente. Primeiro, a subutilização atual será sanada, e a "lacuna de produção", estancada, antecipa Grimm. Mas é possível que as empresas tenham muito mais encomendas do que realmente podem atender com suas equipes atuais, e neste caso será necessário aumentar a capacidade. Oferta e demanda determinam o preçoMas, afinal, de onde virá a mão de obra? A Alemanha é uma sociedade envelhecida, e um grande número de empregados se aposentará nos próximos anos. Falta sangue novo. Segundo um estudo da Fundação Bertelsmann, realizado em fins de 2024, serão necessários cerca de 288 mil trabalhadores estrangeiros todos os anos no país, até 2040 – e a pesquisa sequer inclui a demanda que pode surgir justamente a partir do pacote de defesa e infraestrutura. Veronika Grimm reforça que as verbas adicionais devem "realmente intensificar o potencial de produção, caso contrário, haverá pressão sobre os preços". Se houver mais encomendas do que a capacidade de produção, as empresas também podem fazer seus próprios preços, especialmente nas áreas onde são necessários resultados rápidos. Transporte no topo da listaA infraestrutura da Alemanha tem sido negligenciada há décadas. Cerca de 5 mil pontes estão tão dilapidadas que precisam ser reformadas com urgência. A empresa ferroviária Deutsche Bahn, notoriamente sobrecarregada e atrasada, lançou o maior projeto de reforma de sua história e planeja renovar mais de 4 mil quilômetros de trilhos em 40 fases trechos centrais nos próximos anos. Para reequipar logo as Forças Armadas alemãs, a Bundeswehr, armamentos e equipamentos militares precisam ser adquiridos mais rápido do que nunca. Fabricantes de armas já trabalham no limite, devido à guerra na Ucrânia. Sob comando de Donald Trump, os EUA não são mais um parceiro confiável da Otan. Contratos de defesa devem ser cada vez mais redistribuídos na Europa, o que promete tempos dourados para empresas como a siderúrgica Rheinmetall e a Airbus, de aeronavegação, que poderão praticamente ditar os preços. O dinheiro vai bastar?Muito dinheiro desperta cobiça. A Deutsche Bahn já calculou que precisará de 290 bilhões de euros para renovar sua infraestrutura até 2034. Um cálculo do Ministério dos Transportes projeta 140 bilhões de euros só para manter as principais estradas da Alemanha. Somente com essas duas somas, o recém-lançado pacote de infraestrutura de 500 bilhões de euros para os próximos 12 anos estaria praticamente esgotado. Uma análise atual da consultora Strategy&, subsidiária da empresa de auditoria PwC, confirmou: o valor não será mesmo suficiente. A demanda total, em níveis federal, estadual e municipal, seria de 982,1 bilhões de euros até 2035. |
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Short teaser | Construir pontes, reformar ferrovias, proteção climática, equipar a Bundeswehr. Dinheiro pode não ser suficiente. | ||
Author | Sabine Kinkartz | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-quer-investir-1-trilhão-de-euros-mas-não-sabe-bem-como/a-72001444?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Alemanha%20quer%20investir%201%20trilh%C3%A3o%20de%20euros%20%E2%80%93%20mas%20n%C3%A3o%20sabe%20bem%20como |
Item 21 | |||
Id | 71999383 | ||
Date | 2025-03-21 | ||
Title | Brasil tem cada vez menos áreas cobertas por água, aponta MapBiomas | ||
Short title | Brasil tem cada vez menos áreas cobertas por água | ||
Teaser |
Superfície coberta por água no país tem nova queda em 2024 puxada por seca extrema no Pantanal e na Amazônia, aponta MapBiomas. Pantanal, o bioma mais afetado, está 60% mais seco do que em 1985.A área do Brasil coberta por água sofre uma nova redução em 2024. Em doze meses, quatro mil quilômetros quadrados de área alagada evaporaram. É como se um lago equivalente a três vezes a cidade do Rio de Janeiro tivesse sumido.
Em todo território nacional, 179 mil quilômetros quadrados (km2) ainda estão cobertos por água, mas a área é 2% menor que a registrada em 2023.
O levantamento, divulgado nesta sexta-feira (21/03), é do MapBiomas, rede formada por universidades, ONGs e empresas que mapeia as mudanças em solo brasileiro e atualiza os dados anualmente.
"São más notícias. Desde os anos 2000 temos registrado, quase que regularmente, valores baixos. Em 2024, ficamos 4% abaixo da média histórica”, disse à DW Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água.
A tendência de queda é observada desde 2009. Segundo o MapBiomas, que mantém uma série histórica desde 1985, oito dos dez anos mais secos foram registrados nesta última década. Só em 2022 a superfície inundada aumentou.
A situação é mais grave por uma observação específica: os ambientes naturais são os que mais secaram. Rios e lagos tiveram uma perda de 15% no ano passado em comparação com 1985. No Brasil, eles formam a maior parte da superfície coberta por água (77%). O restante está em reservatórios construídos.
Onde mais secou
O Pantanal, maior planície alagável do planeta, foi o bioma brasileiro que mais perdeu superfície de água desde o início do mapeamento. Desde 1985, a queda foi de 61% nessa área.
Segundo Schirmbeck, todos os meses de 2024 foram marcados por uma cobertura de água perto da mínima já registrada. A última cheia na região aconteceu em 2018 e, desde então, foi seguida por períodos de seca severa.
Em 2024, vários rios da região alcançaram cotas mínimas, segundo o Serviço Geológico Brasileiro (SGB). A falta de água afetou a navegação, o abastecimento em várias cidades e o modo de vida de inúmeras comunidades tradicionais.
O impacto ambiental também é preocupante. Cientistas do SGB alertam que o baixo fluxo de água intensifica a degradação dos habitats aquáticos e pode provocar grande mortandade de peixes.
Um extremo atrás do outro
Pelo segundo ano consecutivo, a Amazônia sofreu uma seca extrema em 2024. O levantamento do MapBiomas aponta que houve uma redução de 3,6% na superfície coberta por água em comparação com a média do bioma.
"É muito intrigante que, na Amazônia, a seca de 2024 não foi como a de 2023. Ela se pronunciou em locais diferentes, em rios diferentes”, aponta Schirmbeck.
Mais da metade dos rios amazônicos registraram perda em relação à média dos últimos 40 anos. As bacias mais afetadas foram a do rio Trombetas, Negro e Solimões. O cenário também foi dramático no rio Tapajós - que havia sido poupado em 2023.
No total, a perda de superfície de água foi de 45 mil km2 no bioma em relação a 2022, quando o último ganho havia sido registrado.
RS depois das enchentes
No extremo sul do Brasil, o Pampa ficou ligeiramente abaixo da média histórica (0,03%). O bioma recebeu parte da chuva intensa que caiu no Rio Grande do Sul (RS) entre abril e maio do ano passado e afetou centenas de cidades.
"O ano começou seco no Sul e, no fim de 2024, estava seco de novo”, diz Schirmbeck. "A cheia é uma enxurrada, um pico de precipitação. O que recupera o nível de um rio ao longo de um ano é uma chuva mais regular”, adiciona, lembrando do impacto das mudanças climáticas na intensidade e frequência dos eventos extremos climáticos.
A média de chuva anual naquela região é de mil a dois mil milímetros. Durante as cheias, foram registrados mil milímetros em apenas sete dias.
Morador de Roca Sales, na região do Vale do Taquari (RS), Schirmbeck precisou deixar sua casa às pressas durante as enchentes de 2023. Naquela ocasião, ele se refugiou em Belém, Pará, para conseguir finalizar o levantamento anual do MapBiomas. Neste ano, ele completou a tarefa em sua cidade, que também foi atingida pelas enchentes de 2024 e ainda convive com os resquícios da devastação.
Onde há mais água
Os demais biomas do país, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, registraram em 2024 superfície de água acima da média. No caso da Caatinga, o período foi excepcionalmente positivo, com valores mais altos dos últimos 10 anos. Ainda assim, bolsões de seca persistente ainda estão no mapa, como pontos ao longo da bacia do São Francisco e Seridó Nordestino.
O Cerrado alcançou em 2024 um marco preocupante: há atualmente mais água armazenada em estruturas artificiais do que em rios e lagos. Segundo o MapBiomas, reservatórios, hidrelétricas, áreas de mineração e represas contém 60% de toda a água disponível na superfície - em 1985 eram 37%.
Um levantamento paralelo feito pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) concluiu que Cerrado perdeu água natural em 91% de suas bacias hidrográficas nos últimos 40 anos. Uma das causas para este cenário é o desmatamento, afirmam os pesquisadores.
O impacto é perigoso principalmente para as plantações, já que o bioma concentra 60% da produção nacional e metade da agricultura irrigada do país, alerta o Ipam.
No ranking nacional, mais da metade da água disponível está na Amazônia (61%). Mata Atlântica tem 13% da superfície, seguida pelo Pampa (10% do total), Cerrado (9%) e Pantanal (2%).
Como a conta é feita
Para fazer as contas, o MapBiomas utiliza imagens do satélite Landsat, que acumula a maior série de registros do território brasileiro captadas do espaço. As cenas são processadas e classificadas de acordo com cada pixel que se assemelha à superfície de água.
Schirmbeck lembra que a disponibilidade de água na superfície depende de alguns fatores que incluem regularidade de chuvas e condições dos ambientes naturais, como nascentes e vegetação ao longo dos rios.
"Esses ambientes acabam funcionando como espécie de ‘pulmão', que armazena a água e vai soltando aos poucos, de forma espaçada no tempo. Sem eles, quando falta chuva, não tem de onde vir água. E, quando chove demais, o risco de enxurrada é grande”, explica o pesquisador.
O armazenamento em reservatórios também "disfarça" a situação real. "Eles enganam porque fazem pensar que a situação é menos crítica, mas a água que eles armazenam vem do ambiente natural. Se lá na nascente não estou preservando, como vou ter água no reservatório?”, alerta Schirmbeck.
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Short teaser | Superfície coberta por água no país tem nova queda em 2024 puxada por seca extrema no Pantanal e na Amazônia. | ||
Author | Nádia Pontes | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/brasil-tem-cada-vez-menos-áreas-cobertas-por-água-aponta-mapbiomas/a-71999383?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Seca no esado do Amazonas em 2024. Pelo segundo ano consecutivo, a Amazônia sofreu uma seca extrema em 2024. | ||
Image source | Bruno Kelly/REUTERS | ||
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Item 22 | |||
Id | 71994730 | ||
Date | 2025-03-21 | ||
Title | Por que alemães estão sendo detidos na imigração dos EUA? | ||
Short title | Por que alemães estão sendo detidos na imigração dos EUA? | ||
Teaser |
Três turistas e um homem com autorização de residência permanente foram detidos por várias semanas pelas autoridades de imigração americanas. Casos acenderam alerta em Berlim para cerco promovido por Trump.Agentes de imigração nos Estados Unidos são conhecidos pela postura rígida, por vezes agressiva, durante os controles de passaporte nas fronteiras e aeroportos. No entanto, cidadãos da União Europeia são autorizados a entrar no país sem a necessidade de visto e podem permanecer por 90 dias, desde que preencham o formulário do Sistema de Autorização de Viagem (Esta, na sigla em inglês) e sejam aprovados em uma verificação de antecedentes.
Então por que quatro cidadãos alemães seguem detidos há semanas pelo Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) desde o começo de 2025?
Os casos refletem o cenário mais amplo do cerco à imigração intensificado após o presidente dos EUA, Donald Trump, voltar à Casa Branca. O republicano chegou a invocar uma lei do século 18 para prender mais imigrantes, mas a manobra foi anulada pela Justiça.
O governo americano também organizou voos para a deportação em massa de imigrantes ilegais para vários países, inclusive o Brasil. Em muitos deles, houve denúncias de tratamento considerado degradante, com uso indiscriminado de algemas e correntes – embora alguns desses procedimentos já fossem comuns antes da posse de Trump.
Alemão com autorização de residência detido sem acusação formal
“Me sinto impotente”, desabafou Astrid Senior à imprensa local em Boston após o filho dela, Fabian Schmidt, ter sido detido no aeroporto de Logan, o principal da cidade, em 7 de março. Senior e Schmidt não são turistas – morando no país desde 2007, eles têm a autorização de residência permanente, o chamado “Green Card”.
Schmidt, de 34 anos, foi interrogado “por horas”, ao retornar de uma viagem à Alemanha e ser informado apenas que o Green Card dele havia sido sinalizado pelas autoridades.
Senior relatou que o filho foi privado de sono, comida e água, e teve a medicação para ansiedade retida. A saúde de Schmidt se deteriorou tanto que ele teve que ser levado para um hospital local.
Embora tenha confirmado a intervenção médica, o ICE disse à mídia americana que não poderia comentar o caso por razões legais. Em declarações à imprensa, o advogado de Schmidt, David Keller, alegou que nem ele nem o seu cliente foram informados dos motivos da detenção.
John Gihon, da Associação Americana de Advogados de Imigração, disse à DW que não há limite legal para o tempo que alguém pode ser mantido em detenção pelo ICE sem ser informado das acusações formais.
“No passado, o ICE tinha uma política de entregar documentos de acusação em 72 horas. No entanto, essa política parece não estar mais em vigor", explicou.
Em entrevista à rádio pública de Boston WGBH, Astrid Senior confirmou que o filho dela já teve passagens pela polícia por infrações menores, como dirigir sob influência de álcool e uma acusação de porte de maconha, mas nenhuma nos últimos anos.
A acusação relacionada à maconha foi retirada após a legalização da droga na Califórnia, onde o incidente ocorreu. No entanto, ele descumpriu uma intimação judicial em 2022, depois que as autoridades não a encaminharam para seu novo endereço em New Hampshire.
"Fabian me disse que sente muito medo", lamentou Senior sobre o filho, que é engenheiro elétrico e tem uma parceira de longa data, além de uma filha de 8 anos. Ela acrescentou que Schmidt foi pressionado a renunciar ao seu Green Card, mas que ele não concordou em fazê-lo. Schmidt permanece em um centro de detenção de imigração em Rhode Island, onde vários ativistas e apoiadores começaram a se reunir para protestar contra sua prisão.
O ministério das Relações Exteriores da Alemanha informou à DW que o “nosso Consulado Geral em Boston está prestando assistência à pessoa em questão e está em contato com ele, os membros da família dele e autoridades locais”.
Turista detido por semanas
Lucas Sielaff, um jovem de 25 anos da cidade de Bad Bibra, no leste da Alemanha, contou à revista Der Spiegel sobre uma experiência igualmente angustiante no início deste mês. Ele foi liberado após duas semanas e deportado para o país europeu.
"Eu estava com raiva, triste e com medo", lembrou, descrevendo o que aconteceu durante enquanto visitava sua noiva americana, que mora no estado de Nevada, no oeste dos EUA, uma das muitas viagens que ele fez nos últimos anos.
O casal decidiu levar seu cachorro doente a um veterinário no México, onde é mais fácil conseguir consultas. Sielaff descreveu um interrogatório tenso na fronteira no caminho de volta, dizendo que suspeitava que o policial da patrulha da fronteira presumiu que ele estava vivendo ilegalmente nos EUA e que estaria tentando contornar a autorização de 90 dias fazendo a curta viagem para fora do país.
Sielaff afirmou ter sido algemado em volta da barriga e dos pés antes de ser levado para um centro de detenção do ICE na Califórnia, onde foi colocado em uma cela com outros 128 homens. Em 6 de março, após duas semanas sem ser informado sobre seu caso, ele foi colocado em um voo para Munique.
O caso é semelhante ao de Jessica Brösche, uma tatuadora de Berlim que ficou detida pelo ICE por duas semanas no início deste ano. Brösche estava tentando cruzar a fronteira doMéxico para os EUA em 15 de janeiro, quando um policial encontrou equipamento de tatuagem em sua bolsa e suspeitou que ela tentasse trabalhar ilegalmente nos EUA. A turista foi deportada para a Alemanha após seis semanas de detenção.
Celine Flad, 22, é outra alemã que se viu em situação complexa quando tentou tirar férias em Nova York e Miami. A estudante universitária revelou à Der Spiegel que, apesar de ter um passaporte válido e uma autorização pelo ESTA, foi informada de que havia um "problema" com seu passaporte. Ela foi mantida presa por 24 horas, durante as quais lhe perguntaram repetidamente por que queria entrar nos EUA. Flad acrescentou que os policiais pegaram seu smartphone e vasculharam suas fotos.
Apesar de mostrar aos policiais reservas de hotel em Nova York e Miami, além de passagens aéreas para Cancún, no México, os agentes disseram que ela seria enviada de volta para a Alemanha o mais rápido possível. Ela nunca foi informada sobre qual era o problema.
Alemanha emite alerta de viagem
Os quatro cidadãos alemães não são os únicos a relatarem situações difíceis com as autoridades de imigração americanas. Turistas de outros países com direito à isenção de visto, como Canadá e França, também denunciam incidentes similares.
Neste ambiente, o ministério das Relações Exteriores em Berlim emitiu um alerta aos seus cidadãos que planejam uma viagem aos EUA, em que enfatiza que ter um visto americano ou um formulário do ESTA não garante acesso para cidadãos alemães.
À DW, pasta disse "estar levando os incidentes que ocorreram nas últimas semanas muito a sério".
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Short teaser | Três turistas e um homem com autorização de residência permanente ficaram detidos várias semanas sem saber o motivo. | ||
Author | Elizabeth Schumacher | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/por-que-alemães-estão-sendo-detidos-na-imigração-dos-eua/a-71994730?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Sob Trump, EUA intensificaram controles de imigração nas fronteiras e aeroportos | ||
Image source | Sra Devlin Bishop/U.S Air/Planet Pix/ZUMA/picture alliance | ||
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Item 23 | |||
Id | 71987807 | ||
Date | 2025-03-21 | ||
Title | [Coluna] Alemanha deve ficar mais atenta às boas notícias do Brasil | ||
Short title | Alemanha deve ficar mais atenta às boas notícias do Brasil | ||
Teaser |
A economia alemã está em recessão, enquanto o Brasil vem crescendo há quatro anos. Seria de se esperar que a Alemanha tivesse mais interesse na maior economia da América Latina. Mas esse não é o caso. Há uma clara discrepância entre o clima nas filiais brasileiras de empresas alemãs e o nas suas matrizes: na Alemanha, os mais importantes grupos empresariais de capital aberto estão anunciando demissões em massa e programas de redução de custos. Com raras exceções, todos os carros-chefes da indústria alemã têm sido afetados por essas medidas. A situação e as perspectivas também não são nada animadoras. Há dois anos e meio, a economia alemã está em recessão, e as previsões indicam que não se recuperará significativamente neste ou no próximo ano. Muito diferente do clima no Brasil, onde 82% dos chefes de empresas do ecossistema de negócios Brasil-Alemanha contam com uma aceleração da economia brasileira nos próximos 12 meses, conforme uma pesquisa recente da consultoria empresarial PwC. Muitas vezes as mesmas empresas que precisam economizar na Alemanha estão no azul no Brasil, beneficiando-se da boa conjuntura econômica há quatro anos. A maior economia da América do Sul cresce anualmente mais de 3% desde 2021. Taxas de crescimento de mais de 2% também são esperadas para este e o próximo ano. E não se trata somente do mercado do Brasil, com seu mais de 210 milhões de habitantes. O país está no centro da América do Sul, que também cresce. As outras quatro principais economias sul-americanas – Argentina, Chile, Peru e Colômbia – também estão crescendo, e a previsão é de que continuarão nos próximos anos. A América do Sul é um mercado com 440 milhões de participantes – mais ou menos tão grande quanto o da União Europeia, mas com uma renda média significativamente menor. Ainda assim, as perspectivas não são necessariamente boas: a mudança na situação geopolítica mundial e as próximas campanhas eleitorais na região aumentam as incertezas. Mas, em vista das ameaças de Washington de fechar cada vez mais seu mercado às importações, é surpreendente as empresas e os políticos alemães não estarem adotando uma postura mais agressiva no Brasil e na América do Sul. Menos investimentosHá alguns dias, uma delegação de 50 representantes do estado alemão da Baixa Saxônia esteve no Brasil e assinou com o estado de São Paulo um acordo de "cooperação aprofundada". Em principio, trata-se de uma declaração inicial de intenções, nenhum projeto concreto de investimento foi anunciado. Bem o contrário de dinamismo econômico. Em conversas com empresários alemães in loco, ouvi que as matrizes alemãs estão reduzindo ou até cancelando investimentos no Brasil, mesmo que os negócios estejam indo bem. Dificilmente alguma empresa alemã deve expor em grandes feiras como a Agrishow, marcada para o final de abril, a terceira maior do setor agrícola do mundo – uma área em que o Brasil é líder internacional. O mesmo se aplica à Gamescom Latam, um dos eventos mais importantes do mundo para jogos de computador e videogames, setor que também cresce rapidamente. Também aqui, a participação alemã será mínima. Essa falta de interesse da Alemanha contrasta com o dinamismo econômico que empresas alemãs e de outros países europeus têm vivenciado no Brasil, entrando em nichos de mercado e sendo muito bem-sucedidas. Tive dezenas de conversas sobre isso nos últimos dias e fiquei surpreso como oportunidades surgem onde não se espera. Essas são boas notícias para a cooperação econômica Brasil-Alemanha. Agora elas precisam encontrar ouvidos abertos também nas sedes das empresas alemãs. __________________________________ Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW. |
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Short teaser | Seria de se esperar que a Alemanha tivesse mais interesse na maior economia da América Latina. Mas esse não é o caso. | ||
Author | Alexander Busch | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/coluna-alemanha-deve-ficar-mais-atenta-às-boas-notícias-do-brasil/a-71987807?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 24 | |||
Id | 71983988 | ||
Date | 2025-03-20 | ||
Title | Por que Trump pode tentar enfraquecer o dólar? | ||
Short title | Por que Trump pode tentar enfraquecer o dólar? | ||
Teaser |
Presidente americano já sugeriu que moeda americana mais fraca impulsonaria exportações e reduziria déficit comercial dos EUA. Especialistas, porém, veem pouco espaço para intervenção no câmbio.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , parece convencido de que a força recente do dólar está travando o avanço da indústria americana.
A visão dele é de que um enfraquecimento da moeda possa impulsionar as exportações, em um movimento para trazer mais empregos aos EUA e ajudar a reduzir o significativo déficit comercial.
O argumento reflete uma reclamação recorrente na Casa Branca de que cenário seria explorado por outros países para obter vantagens competitivas, inclusive o Brasil. Em artigo publicado no site da Fox Business em fevereiro, Peter Navarro, assessor de Trump para questões de comércio, acusou produtores de aço brasileiros de se aproveitarem do real mais fraco para "prejudicar siderúrgicas americanas".
Mas enquanto o governo republicano implementa múltiplas tarifas a produtos importados e impõe instabilidade aos mercados de câmbio, especialistas questionam a posição de Trump.
De fato, as oscilações cambiais geram consequências para os fluxos de comércio, reconhece David Lubin, pesquisador sênior no think tank Chatham House, sediado em Londres.
"Quando o dólar está forte, as importações dos EUA aumentam porque os bens estrangeiros se tornam baratos em relação aos bens produzidos domesticamente", diz. Ao mesmo tempo, as exportações dos EUA caem à medida que se tornam mais caras, ele acrescenta.
Quanto poder tem o presidente para influenciar o dólar?
No entanto, controlar a moeda é um processo complicado e, no geral, fora da alçada de qualquer presidente. O valor do dólar é determinado por um vasto mercado global de câmbio, não pelo governo americano, explica Lubin.
Anthony Abrahamian, estrategista no banco de investimento Rothschild & Co Wealth Management, argumenta que a resiliência da divisa americana na última década é reflexo de "taxas de crescimento econômico mais fortes" dos EUA em comparação com outras economias industrializadas.
Já o déficit comercial é resultado principalmente da "função de demanda relativa", disse Abrahamian à DW. "O consumidor americano é o cliente número um do mundo — gastando mais livremente do que em qualquer outro lugar — e, portanto, é provável que os Estados Unidos importem mais do que exportam", afirma.
Quanto poder tem o governo dos EUA para influenciar o dólar?
De qualquer forma, o governo americano dispõe de uma série de instrumentos para influenciar a tendência do dólar e da atividade econômica.
De maneira mais direta, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode cortar juros. A instituição é independente para definir a política monetária com base nos dois objetivos estabelecidos por lei – manter a estabilidade de preços e um quadro de pleno emprego.
Ainda assim, em contraste com os antecessores, Trump nunca deixou de expressar opiniões sobre o trabalho do banco central. "O Fed estaria muito melhor se cortasse os juros", defendeu ontem, em publicação na rede social Truth Social, pouco depois de o Fed anunciar manutenção da taxa básica na faixa entre 4,25% e 4,50%.
Para além do Fed, o Departamento do Tesouro também poderia tentar interferir na direção do dólar a partir da compra de moedas estrangeiras pelo Fundo de Estabilização do Câmbio. Abrahamian, porém, entende que seria necessário adquirir "grandes quantidades, dado o tamanho dos mercados de câmbio atuais, onde o volume de negócios global diário é estimado em trilhões de dólares".
Lubin especula que Trump também poderia enfraquecer o dólar tornando o país "menos atraente como destino de investimento". Para ele, esta seria uma "perigosa faca de dois gumes e altamente imprevisível", embora provavelmente já tenha acontecido nas últimas semanas.
"As frequentes reviravoltas de Trump em tarifas, por exemplo, dão a impressão de que o ambiente político nos EUA se tornou mais instável, e isso torna os EUA um pouco menos atraentes como destino de investimento", disse Lubin.
Uma desaceleração econômica nos EUA poderia empurrar ainda mais para baixo a cotação do dólar.
Ferramentas financeiras
Outra opção para a Casa Branca seria convencer – ou forçar – outros países a venderem suas reservas de dólar em troca de moedas diferentes. Parece uma alternativa difícil, mas há precedente: o "Acordo de Plaza", que leva o nome do hotel em Nova York onde o documento foi assinado em 1985.
O acordo reuniu EUA, Reino Unido, Japão e Alemanha Ocidental e França, que eram as cinco maiores economias do planeta na época.
Sob insistência dos americanos, os países concordaram em vender as reservas de maneira colaborativa e deliberada e, assim, enfraquecer o dólar frente a outras moedas importantes.
Um plano semelhante tem sido aventado com o nome de "Acordo de Mar-a-Lago", em referência a uma das propriedades de Trump no estado da Flórida. A ideia surgiu em novembro e está sendo promovida por Stephen Miran, presidente do Conselho de Assessores Econômicos de Trump.
A nova versão tem tom agressivo e puniria os não participantes com impostos, tarifas ou revogaria a proteção do "guarda-chuva de defesa" dos EUA.
Abrahamian vê grandes diferenças entre 1985 e hoje. O Acordo de Plaza tinha caráter mais voluntário, enquanto uma solução similar hoje seria "provavelmente recebida com resistência por formuladores de políticas e ministros das finanças".
Lubin também considera "muito improvável" uma reedição do acordo, já que o principal país do outro lado da mesa seria a China. "Acho que a China ficaria muito relutante em ter uma moeda significativamente mais forte", observa.
O que um dólar mais fraco significaria para os EUA?
Toda essa incerteza sobre o dólar ainda deixa interrogações e qualquer tentativa de manipulação estaria sujeita a consequências indesejadas.
Um dólar mais fraco teria efeitos indiretos como o encarecimento de commodities, que são negociadas na moeda americana nos mercados internacionais. O movimento amplia a atratividade desses produtos para investidores que negociam com outras divisas, o que fortalece a demanda e o preço. Para os consumidores americanos, o impacto seria sentido com a escalada da inflação e do desemprego, avalia Lubin.
Na visão de Abrahamian, a eventual desvalorização do dólar pode ser insuficiente para revigorar a competitividade da indústria americana, uma vez que os preços não são determinados apenas pelo câmbio, "mas por coisas como custos de produção, produtividade e qualidade".
Seja como for, ainda não está claro se Washington tentará ativamente depreciar o dólar. "Não devemos sempre interpretar o Trump de maneira literal", conclui.
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Short teaser | Trump vê dólar mais fraco como opção para reduzir déficit comercial e desenvolver a indústria americana | ||
Author | Timothy Rooks | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/por-que-trump-pode-tentar-enfraquecer-o-dólar/a-71983988?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Dólar mais fraco tende a impulsionar exportações e competitividade da indústria dos EUA, avalia governo Trump | ||
Image source | Ralph Goldmann/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/57841147_354.jpg&title=Por%20que%20Trump%20pode%20tentar%20enfraquecer%20o%20d%C3%B3lar%3F |
Item 25 | |||
Id | 71987341 | ||
Date | 2025-03-20 | ||
Title | A fascinante história do 'Príncipe Africano' de Gustav Klimt | ||
Short title | A fascinante história do 'Príncipe Africano' de Gustav Klimt | ||
Teaser |
Retrato de príncipe da África Ocidental William Nii Nortey Dowuona, feito pelo célebre pintor austríaco, está à venda por 15 milhões de euros. Mais impressionante do que o preço é a história por trás da obra de arte.Durante muito tempo, o retrato do príncipe da África Ocidental pintado em 1897 pelo austríaco Gustav Klimt foi dado por perdido: seus rastros desapareciam depois de 1938.
A reaparição da pintura Príncipe William Nii Nortey Dowuona se tornou uma sensação no mundo da arte, assim como o fato de ela estar prestes a ser vendida por 15 milhões de euros (R$ 92 milhões) na feira de arte Tefaf, em Maastricht, Holanda.
Um casal de colecionadores levou o quadro até a galeria dos negociantes de arte vienenses Wienerroither & Kohlbacher, há 25 anos especializada em Klimt. "Foi uma grande surpresa para nós", comenta o diretor da galeria, Alois Wienerroither.
Ele e seus sócios não reconheceram imediatamente o tesouro que estava escondido atrás da sujeira. "Nós olhamos para a pintura; ela estava suja e tinha uma moldura ruim; não parecia nada com Klimt." Após a limpeza, ficou claro que era a pintura de um príncipe da África Ocidental, de uma região que atualmente é parte do território de Gana.
Klimt, pioneiro da vanguarda austríaca
O vienense Gustav Klimt (1862-1918) foi um dos pintores mais importantes austríacos do final do século 19. Considerado o representante máximo do estilo art nouveau vienense, ou jugendstil, seus retratos abstratos de mulheres, como O beijo e a Dama dourada são mundialmente famosos.
Em 1897, fundou com um grupo próximo de artistas a Secessão de Viena. O coletivo de 50 artistas de vanguarda queria romper com o estilo realista do historicismo e lançar uma nova estética, tendo Klimt como presidente da associação.
Durante esse período de mudança ele pintou o retrato do príncipe da África Ocidental, em estilo realista. Para Wienerroither, trata-se de um quadro fundamental: "O fundo floral da pintura já é moderno e também evoca o retrato de Sonja Knips, filha de uma família de oficiais, que ele pintou um ano depois."
Exposições etnológicas em Viena
De acordo com as informações mais recentes, o próprio príncipe de Gana posou como modelo para Gustav Klimt, como parte de uma assim chamada "exposição etnológica".
O zoológico no parque de diversões vienense Prater, com suas populares "exibições etnográficas", seguia a tendência da virada do século. Representantes de outras culturas eram exibidos ou se apresentavam à força nesses shows, devido às ofertas tentadoras dos clientes.
Eventos semelhantes também eram realizados na Alemanha, por exemplo, no Zoológico Hagenbeck de Hamburgo. Os indivíduos dos grupos étnicos representados eram muitas vezes mantidos em espaços abertos, como animais num zoológico, em condições desconfortáveis e expostos à curiosidade do público. Da perspectiva atual, essas exibições eram racistas e indignas.
Como o príncipe foi a Viena para ver
Por muito tempo não ficou claro como Gustav Klimt entrou em contato com o príncipe da África Ocidental. Em 2007, o historiador de arte, fotógrafo e gerente de museu Alfred Weidinger publicou um catálogo crítico das pinturas de Klimt e descobriu que em 1897 o zoológico vienense havia convidado representantes do grupo étnico osu, da África Ocidental.
O sobrinho do rei Osu, William Nii Nortey Dowuona, foi enviado a Viena como líder do grupo. O príncipe posou não apenas para Klimt, mas também para seu colega Franz Matsch. Essa pintura está exposta no Museu Nacional de História da Arte de Luxemburgo.
História fantástica do retrato do príncipe
Após a morte de Gustav Klimt, em 1918, uma certa Ernestine Klein comprou o estúdio do artista e o converteu numa mansão. É possível que ela tenha também adquirido o retrato do príncipe num leilão em Viena, em 1923, mas isso não está documentado. O catálogo do leilão contém pelo menos uma fotografia da pintura.
Em 1928, dez anos após a morte de Klimt, a pintura apareceu numa exposição de aniversário. "Foi de lá que conseguimos encontrar o recibo de devolução", diz Alois Wienerroither, que foi em busca da procedência da pintura. "Ernestine Klein recuperou a pintura da exposição e assinou o recibo."
Como seu marido era judeu, a família teve que fugir dos nazistas em 1938. Adolf Hitler anexou a Áustria na "anexação" da Áustria à Alemanha. "Tudo indica que eles deixaram todas as obras para trás na casa. Quando retornaram depois da guerra, tudo havia sumido", relata Wienerroither. Como a pintura não apareceu em nenhum leilão depois da guerra, o dono da galeria suspeita que ela tenha sido revendida.
Ao vender pinturas que foram confiscadas ou roubadas – como neste caso pelos nazistas – a origem e a procedência devem ser verificadas. Por esse motivo, Alois Wienerroither visitou os descendentes da família Klein e chegou a um acordo financeiro com eles. "Há vários herdeiros, por isso demorou muito até finalmente negociarmos um acordo."
Visita à família do príncipe
Mas a história não termina aí: em Gana ela está apenas começando. "Neste caso, ficou provado quem é o príncipe, e eles até rastrearam seus descendentes", conta Wienerroither. Foi uma coincidência, pois "Alfred Weidinger, que elaborou o catálogo crítico de Klimt, há anos fotografava os reis na África".
Assim, ele também rastreou a família de William Nii Nortey Dowuona em Gana. "Ele agora está em contato com a família. É inacreditável. Aparentemente, eles ainda têm coisas que trouxeram de Viena, e elas ainda estão na família."
Weidinger tem um encontro planejado com a família em Gana. A história da pintura de Klimt e da pessoa do príncipe da África Ocidental serão transformadas num documentário para a televisão.
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Short teaser | Retrato de príncipe da África Ocidental feito pelo célebre pintor austríaco está à venda por 15 milhões de euros. | ||
Author | Gaby Reucher | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-fascinante-história-do-príncipe-africano-de-gustav-klimt/a-71987341?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Retrato de William Nii Nortey Dowuona: obra do pintor Gustav Klimt ficou perdida por muitos anos | ||
Image source | Oliver Berg/dpa/picture alliance | ||
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Item 26 | |||
Id | 71988495 | ||
Date | 2025-03-20 | ||
Title | Alemanha reabre embaixada na Síria após 13 anos | ||
Short title | Alemanha reabre embaixada na Síria após 13 anos | ||
Teaser |
Missão diplomática foi fechada em 2012, logo no início da guerra civil síria. Em Damasco, ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, defende um "novo começo político entre a Europa e a Síria".A Alemanha reabriu sua embaixada na Síria nesta quinta-feira (20/03), pouco mais de três meses após a queda do ex-presidente Bashar al-Assad.
Fechada em 2012, em meio à guerra civil no país árabe, a representação foi oficialmente reaberta pela ministra do Exterior da Alemanha, Annalena Baerbock, em sua segunda visita a Síria desde o colapso do regime.
A política verde informou que um número reduzido de diplomatas alemães retomará suas atividades em Damasco, mas o trabalho consular, como a emissão de vistos, permanecerá em Beirute, no vizinho Líbano.
A mudança marca um passo significativo na restauração das relações entre Berlim e o novo governo em Damasco, que enfrenta problemas humanitários e de segurança enquanto tenta reconstruir o país após a queda de Assad.
Na Alemanha vivem mais de 1 milhão de sírios, muitos dos quais fugiram de sua terra natal durante a sangrenta guerra civil.
Agenda de Baerbock na Síria
Baerbock deve se reunir nesta quinta-feira com o presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, e representantes de organizações da sociedade civil. A visita transcorre apenas duas semanas após confrontos violentos entre grupos leais a Assad e as novas forças do governo no noroeste do país.
Mais de 1.500 cidadãos foram mortos, sobretudo civis da minoria religiosa alauíta, à qual Assad pertence, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma organização sediada em Londres que monitora a situação na Síria.
Em Beirute, antes de embarcar para a Síria, Baerbock condenou o "assassinato seletivo de civis", que descreveu como um "crime terrível" que causou danos consideráveis à confiança no novo regime. Ela pediu ao governo de transição que "controle as ações dos grupos dentro de suas próprias fileiras e puna os responsáveis".
Alemanha reitera apoio a Damasco
Baerbock reafirmou o compromisso da Alemanha de manter o fornecimento de ajuda humanitária à Síria e sinalizou um possível alívio das sanções, mas apenas sob certas condições.
"Um novo começo político entre a Europa e a Síria, entre a Alemanha e a Síria, é possível", afirmou. Isso exigiria compromissos claros para garantir liberdade, segurança e oportunidades iguais para todos os sírios, independentemente de gênero, etnia ou religião.
A Alemanha anunciou nesta segunda-feira uma ajuda de 300 milhões de euros (R$ 1,8 bilhão) para a reconstrução da Síria, no âmbito de uma conferência de doadores que arrecadou um total de 5,8 bilhões de euros.
Outros membros da União Europeia (UE) também retomaram suas relações diplomáticas com a Síria. A Itália reabriu sua embaixada em Damasco em 2024, antes da queda de Assad, e a Espanha fez o mesmo após a deposição do ditador.
rc/av (AP, AFP, DPA, Reuters)
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Short teaser | Missão diplomática foi fechada em meio à guerra civil. Ministra alemã do Exterior defende "novo começo" nas relações. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-reabre-embaixada-na-síria-após-13-anos/a-71988495?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Ministra alemã Annalena Baerbock foi recebida por seu homólogo sírio, Assad al-Shaibani, no Palácio Presidencial | ||
Image source | Hannes P Albert/dpa/picture alliance | ||
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Item 27 | |||
Id | 71985199 | ||
Date | 2025-03-20 | ||
Title | Alemães barrados nos EUA geram alerta em Berlim | ||
Short title | Alemães barrados nos EUA geram alerta em Berlim | ||
Teaser |
Ministério alemão do Exterior adverte cidadãos que visto de entrada nos EUA não garante acesso ao país. Alerta ocorre após três alemães serem detidos quando ingressavam nos EUA, em meio a endurecimento de controles. A Alemanha atualizou suas recomendações de viagens para os Estados Unidos para alertar seus cidadãos que um visto ou isenção de visto de entrada não garante o acesso ao país, após Washington reforçar os controles como parte do endurecimento da política migratória adotada do governo do presidente Donald Trump. A recomendação foi emitida depois de três alemães serem barrados pelas autoridades americanas de fronteira, informou um porta-voz do Ministério alemão do Exterior nesta quarta-feira (19/03). Um desses casos envolveu um cidadão alemão que vive no país, que, de acordo com familiares, está detido em Boston há mais de uma semana. De acordo com a emissora pública WGBH, sediada em Boston, o alemão, que possui uma autorização de residência – o chamado "green card" – foi detido este mês por autoridades de imigração no aeroporto de Boston ao retornar ao país vindo de Luxemburgo e estava sendo mantido em um centro de detenção. Outros dois casos receberam ampla cobertura na imprensa alemã. Um deles envolve um alemão de 25 anos, detido ao cruzar a fronteira do México com sua noiva americana em fevereiro, de acordo com a revista alemã Der Spiegel. Ele passou duas semanas detido antes de ser enviado de volta para a Alemanha. De acordo com sua noiva, ele foi detido depois de responder incorretamente a uma pergunta sobre onde morava, devido ao seu fraco domínio do inglês. O outro caso envolve uma mulher de 29 anos que também foi parada na fronteira entre os EUA e o México em janeiro. Amigos relataram que ela estava viajando com equipamento de tatuagem - que pode ter sido interpretado pelos funcionários da imigração como um sinal de que ela estava planejando trabalhar nos EUA. Segundo os relatos, ela passou três semanas detida, incluindo nove dias em confinamento solitário - uma alegação refutada pelo centro de detenção. De acordo com portal de internet do Ministério, ter antecedentes criminais nos EUA, fornecer informações falsas sobre o propósito da viagem ou até mesmo uma curta extensão da permanência além do prazo oficial pode levar à prisão, detenção e deportação ao entrar ou sair do país. Trump reforça controle de fronteirasO porta-voz da pasta disse que o Berlim leva a sério esses incidentes. A recomendação atualizada alerta que obter um visto ou um documento do Sistema Eletrônico de Autorização de Viagem (ESTA) não garante a entrada no país. "A decisão final cabe às autoridades de fronteira dos EUA", disse o porta-voz, afirmando que o mesmo se aplica às autoridades alemãs. Desde que assumiu o cargo em 20 de janeiro, Trump assinou uma série de ordens executivas relacionadas à imigração que tornam mais rigorosos os procedimentos nas fronteiras, como a verificação de vistos, e impõem uma forte repressão a imigrantes sem documentos. O Ministério do Exterior da Alemanha disse que estava investigando se as detenções recentes eram casos isolados ou parte de uma mudança na política americana. Turistas da Alemanha e de outros países da União Europeia (UE) normalmente têm acesso sem visto aos EUA por um prazo de até 90 dias. (DPA, Reuters) |
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Short teaser | Incidentes levam Ministério alemão do Exterior a advertir cidadãos que visto de entrada não garante acesso aos EUA. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemães-barrados-nos-eua-geram-alerta-em-berlim/a-71985199?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 28 | |||
Id | 71972822 | ||
Date | 2025-03-19 | ||
Title | Banco Imobiliário: a história de um jogo roubado | ||
Short title | Banco Imobiliário: a história de um jogo roubado | ||
Teaser |
Comprar imóveis e levar outros jogadores à falência: essa é a moral do mundialmente famoso jogo de tabuleiro que nos EUA ficou conhecido como "Monopoly". Mas a proposta de sua inventora, na verdade, era bem diferente.Ela sonhava com um mundo onde a justiça reina e onde a riqueza e a terra são distribuídas igualmente. Elizabeth Magie Phillips viveu nos Estados Unidos no final do século 19 – e seu sonho ainda não se tornou realidade. E o jogo criado por ela também está sendo jogado hoje de forma diferente do que ela provavelmente tinha em mente quando o criou. Para Magie, aliás, o nome dele nem deveria ser "Monopólio" – e muito menos Banco Imobiliário, como ficou conhecido no Brasil –, mas sim "Jogo do Senhorio".
Todos jogam, todos ganham
"A versão do Banco Imobiliário da Magie tinha dois conjuntos de regras: um sobre quebrar monopólios e outro sobre mostrar o quão prejudiciais os monopólios são. Estas últimas são as regras pelas quais jogamos hoje", diz Mary Pilon, autora de The Monopolists. Só que hoje o foco não está – como Magie talvez desejasse – em ver o prejudicial como de fato prejudicial.
O conjunto "idealista" de regras foi baseado na teoria do imposto único do economista americano Henry George (1837-1897), que propôs tributar a terra – pesadamente – e depois redistribuir a receita. No "Jogo do Senhorio" de Magie, todos os jogadores devem pagar impostos sobre suas propriedades. Quando alguém ganhava dinheiro, portanto, os lucros eram redistribuídos para que todos se beneficiassem no final.
No entanto, esse conjunto de regras nunca prevaleceu. Em vez disso, eis o que jogamos atualmente: quem tiver acumulado mais posses e dinheiro no final, vence. Já quem vai à falência, perde.
Em 1904, Magie registrou uma patente para o "Jogo do Senhorio". O jogo se espalhou entre os estudantes da Costa Leste e acabou ficando conhecido como Monopólio – ou Banco Imobiliário.
Cópia descarada de um vendedor
Na década de 1930, um grupo de quakers – religiosos protestantes – jogou com o vendedor desempregado Charles Darrow, que ficou impressionado. Ele copiou o jogo, alegou que era uma criação sua, apesar da patente, e vendeu os direitos para a fabricante de jogos Parker Brothers.
Segundo a fabricante, mais de 275 milhões de cópias foram vendidas no mundo todo até 2010. O jogo anticapitalista de Magie fez do vendedor desempregado um milionário – ela própria saiu de mãos vazias.
Essa história toda só veio à tona graças à jornalista Mary Pilon. Em 2009, ela trabalhava em um artigo para o Wall Street Journal sobre o Banco Imobiliário. Mas durante sua pesquisa ela estranhou o fato de não conseguir encontrar nenhuma fonte primária.
"A patente de Darrow era muito profissional e artística para um vendedor desempregado", disse Pilon à DW. "E ninguém conseguia me dizer as datas certas. Foi 1924, 1931 ou 1934?"
"Era tudo mentira"
A única pessoa viva que conhecia a verdadeira história do Banco Imobiliário naquela época era o professor de economia Ralph Anspach, inventor de um jogo anti-Monopólio. Na década de 1970, Anspach acabou se envolvendo em uma disputa judicial com a Parker Brothers sobre seu jogo e descobriu por acaso que foi Elizabeth Magie, não Charles Darrow, quem inventou o Banco Imobiliário.
"Esperei 40 anos que alguém me perguntasse", disse Anspach quando ela o contatou, lembra Pilon. Rapidamente, a jornalista percebeu que tudo o que havia lido na Internet sobre a história do Banco Imobiliário estava errado. Seu artigo acabou virando um projeto de livro para o qual Pilon viajou pelos EUA para pesquisar em arquivos durante cinco anos.
Nos passos de Lizzie Magie
Elizabeth Magie Phillips nasceu em uma família política em Macomb, Illinois, em 1866. Seu pai já havia feito campanha em seu jornal pela abolição da escravidão, que foi ratificada apenas um ano antes do nascimento de Magie.
Magie também era politicamente ativa décadas antes de as mulheres terem permissão para votar nos Estados Unidos. Quando se mudou para Washington D.C. com sua família, por volta de 1890, ela se associou ao "Woman's Single Tax Club" (Clube das Mulheres do Imposto Único), seguindo o espírito de Henry George.
Magie trabalhou em Washington D.C. como estenógrafa nos correios. Ela usava o cabelo castanho e cacheado em um corte curto e teve uma variedade de hobbies e profissões: publicou ensaios, poemas e contos, subiu no palco do teatro e, aos 26 anos, patenteou um dispositivo que havia inventado para fazer o papel deslizar mais facilmente nas máquinas de escrever.
Em algum momento, seu pai lhe deu uma cópia de Progresso e Pobreza, de Henry George. Na obra, George estabelecia as bases do jogo de Magie ao escrever: "O que destruiu todas as civilizações antes de nós foi a distribuição desigual de riqueza e poder." Essa frase foi uma inspiração para Magie.
Pico de desigualdade social
A Washington dos tempos de Magie – final do século 19 – era caracterizada pela industrialização, desigualdades e revoluções. Segundo o censo, em apenas vinte anos a cidade cresceu de 178 mil para quase 280 mil habitantes em 1900. E enquanto magnatas industriais como John D. Rockefeller, Andrew Carnegie e J.P. Morgan acumulavam riqueza, a classe trabalhadora vivia em condições precárias.
Magie era contra essa realidade: em um de seus poemas, ela descreveu a industrialização de Washington como um "lugar escuro e sombrio" onde "todos são egoístas".
Em uma edição de 1902 da Single Tax Review, ela descreveu seu jogo original: "Trata-se de uma demonstração prática do atual sistema de grilagem de terras, com todas as suas [...] consequências. Poderia muito bem ter sido chamado de 'O Jogo da Vida', porque contém todos os elementos do sucesso e do fracasso do mundo real, e o objetivo é o mesmo da humanidade em geral, ou seja, a acumulação de riqueza."
A luta de Lizzie Magie por seu jogo
Ironicamente, Charles Darrow e os irmãos Parker acumularam uma fortuna por meio do jogo – a despeito da crise econômica global de então. Magie, que já era uma senhora idosa na época, só soube disso pela imprensa.
"Lizzie ficou furiosa", conta Pilon. E reagiu: com o tabuleiro de jogo original e sua patente – pela qual recebera algumas centenas de dólares na época – em mãos, ela mesma procurou a imprensa.
A fabricante do jogo propôs então um acordo, que Ralph Anspach chamaria mais tarde de "acobertamento", segundo Pilon: a Parker Brothers ofereceu a Magie o lançamento de dois de seus jogos como compensação. "Mas não há evidências de que isso tenha acontecido", diz Pilon. "Até hoje, a Parker Brothers ainda não reconhece que Lizzie é a inventora do Banco Imobiliário."
O que Magie pensaria sobre os tempos de hoje? Uma época em que a desigualdade social aumenta e políticos como Donald Trump jogam Banco Imobiliário com o mundo? De acordo com os dados mais recentes da Oxfam, o 1% mais rico da população mundial possui mais riqueza do que os 95% mais pobres juntos.
"Lizzie certamente olharia de forma muito crítica para o presente, especialmente para a desigualdade social", pondera Pilon. Elizabeth Magie morreu em 1948, aos 81 anos, em Staunton, Virgínia. Ela viveu o suficiente para ver o sucesso de sua obra, mas não para experimentar o reconhecimento de seu trabalho.
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Short teaser | Comprar imóveis e levar outros jogadores à falência: seria mesmo essa a ideia original por trás do famoso jogo? | ||
Author | Djamilia Prange de Oliveira | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/banco-imobiliário-a-história-de-um-jogo-roubado/a-71972822?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Banco Imobiliário (ou Monopoly, em inglês): Quem acumula mais no final? | ||
Image source | Jakub Porzycki/NurPhoto/picture alliance | ||
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Item 29 | |||
Id | 71974959 | ||
Date | 2025-03-19 | ||
Title | Coração de Estudante, o hino das Diretas Já | ||
Short title | Coração de Estudante, o hino das Diretas Já | ||
Teaser |
Com música composta por Wagner Tiso para documentário sobre João Goulart, letra de Milton Nascimento presta homenagem a estudantes mortos na ditadura. Foi em 1982, durante a campanha de Leonel Brizola (1922-2004) ao governo do Rio de Janeiro, que Silvio Tendler teve a ideia de convidar Milton Nascimento para assinar a trilha sonora do documentário Jango (1984). "Puxa, como eu queria esse cara no filme!", pensou. Para surpresa do cineasta, o cantor e compositor, depois de assistir a algumas cenas na moviola, aceitou o convite. Mas Tendler não se deu por satisfeito: "E se eu convidar o Wagner Tiso também?", indagou, coçando a barba. "Se o Milton topou, o Wagner topa", raciocinou. Não deu outra. Amigos de longa data, Milton Nascimento e Wagner Tiso se conheceram em 1956. À época, o primeiro, carioca da Tijuca, tinha 14 anos e o segundo, mineiro de Três Pontas, 11. Quem conta essa história é a jornalista Maria Dolores, autora da biografia Travessia – A Vida de Milton Nascimento (Record, 2023). "Os dois moravam na mesma rua, a Sete de Setembro, em Três Pontas (MG). Bituca tinha dois anos quando se mudou para lá", relata a biógrafa. "Pequenino, Bituca sentava no alpendre para tocar sanfona e gaita. Três anos mais novo, Wagner Tiso, ao passar pela frente da casa do vizinho, ficava fascinado." Inspirados no grupo The Platters, Milton e Wagner começaram a tocar juntos em conjuntos de bailes, como Luar de Prata, W'Boys e Berimbau Trio. Por ocasião da montagem de Jango, Silvio Tendler chamou Milton Nascimento e Wagner Tiso para assistirem a um copião. Emocionado com as cenas que mostram o presidente deposto João Goulart (1919-1976) em seu exílio no Uruguai, Milton chorou baixinho. "Não merecia", balbuciou. Quando ouviu o tema instrumental composto pelo amigo especialmente para o filme, disse: "Vou colocar uma letra nesta música!". Dali, correu direto para casa. "Quando compus essa música, ganhei mais do que um prêmio"Com caneta e papel, rascunhou um esboço da letra. Lembrou-se da perseguição que sofreu durante a ditadura, dos estudantes mortos pela polícia e do apoio que recebeu do movimento. Terminada a escrita, refestelou-se no sofá da sala para descansar um pouco. Nessa hora, avistou um vaso pendurado no teto. O nome da planta? Coração de estudante! "Quando compus essa música, ganhei mais do que um prêmio", relata Milton no episódio da série Por Trás da Canção, do canal Bis. "Quando eu canto, todo mundo aplaude. É uma festa sem fim." São poucas as vezes em que Milton Nascimento se aventurou a escrever as letras de suas próprias canções. Coração de Estudante é uma delas. Na maioria dos casos, ele compunha apenas a música. Seu parceiro mais frequente foi Fernando Brant (1946-2015). Juntos, os dois compuseram alguns clássicos da MPB, como Travessia (1967), Maria Maria (1979), Canção da América (1980), Nos Bailes da Vida (1981) e Encontros e Despedidas (1985). Houve, também, parceiros esporádicos, como Caetano Veloso (Paula e Bebeto, de 1975), Tunai (Certas Canções, de 1982) e Paulo Ricardo (Feito Nós, de 1987). "Em geral, Milton compunha a música e, em seguida, convidava algum amigo, como Fernando Brant, Ronaldo Bastos ou Márcio Borges para escrever a letra. Uma curiosidade é que, durante a composição ou quando terminava de compor, já sabia quem seria seu parceiro", explica Maria Dolores. Hino das Diretas JáEm novembro de 1983, Milton Nascimento fez três shows no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo. A música escolhida para abrir o álbum que seria gravado ao vivo foi Coração de Estudante. A canção ganhou arranjo de um de seus autores, Wagner Tiso – que, além de reger a orquestra, tocou piano e acordeão. Composta para o documentário Jango (1984), Coração de Estudante ganhou vida própria. Teve incontáveis regravações, de Mercedes Sosa (1935-2009) a Roberto Carlos, e virou símbolo da redemocratização do país. "Embora tenha sido menos cantada que Apesar de Você (1978), do Chico Buarque, Coração de Estudante foi o grande hino das Diretas Já", aponta o jornalista Oscar Pilagallo, autor de O Girassol que nos Tinge: Uma História das Diretas Já, o Maior Movimento Popular do Brasil (Fósforo, 2023). "Milton emplacou outras duas músicas na trilha sonora das Diretas Já: Coração Civil, dos versos ‘Os meninos e o povo no poder, eu quero ver', e Nos Bailes da Vida, que diz 'Todo artista tem de ir aonde o povo está'". As duas são do álbum Caçador de Mim (1981). "A bem da verdade, o hino das Diretas Já foi, de fato, o Hino Nacional Brasileiro", pondera a historiadora Vânia Cury, autora de Como Saímos de Uma Ditadura: Das Diretas Já à Constituição Cidadã (Mórula, 2023). "Sempre que os comícios contavam com a Fafá de Belém, era o Hino Nacional que ela cantava com grande emoção". Outra música de Milton Nascimento bastante cantada por Fafá de Belém nos comícios pelo Brasil afora foi Menestrel das Alagoas (1983). Parceria com Fernando Brant, foi dedicada ao político alagoano Teotônio Vilela (1917-1983). "Mataram um estudante. E se fosse seu filho?"Coração de Estudante não foi a primeira canção composta por Milton em homenagem aos estudantes. Sete anos antes, ele gravou Menino no álbum Geraes (1976). A letra de Ronaldo Bastos é inspirada na história do estudante Edson Luís de Lima Souto (1950-1968). Nascido numa família pobre de Belém (PA), cursou o segundo grau no Instituto Cooperativo de Ensino (RJ), onde funcionava o Restaurante Calabouço, frequentado por estudantes de baixa renda. Foi lá que, no dia 28 de março de 1968, durante um protesto contra o aumento no preço das refeições, Edson Luís morreu com um tiro à queima-roupa. "A polícia invadiu o local e, sem qualquer justificativa, abriu fogo contra os manifestantes", relata Hugo Silva, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). "A brutalidade do crime chocou o país." Temendo pelo sumiço da vítima, os próprios estudantes levaram o corpo de Edson Luís para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No dia do enterro, manifestantes ergueram cartazes: "Bala mata fome?", "Os velhos no poder, os jovens no caixão" e "Mataram um estudante. E se fosse seu filho?". O assassinato de Edson Luís deu início a uma série de manifestações pelo Brasil, como a Passeata dos Cem Mil, no dia 26 de junho de 1968, no Centro do Rio. Milton Nascimento, entre outros artistas e intelectuais, participou do evento. No dia 13 de dezembro daquele ano, foi decretado o AI-5, o mais violento dos 17 atos institucionais do regime militar. "Edson Luís tornou-se um símbolo da luta da juventude contra a ditadura militar", afirma Hugo Silva, da UBES. Ao contrário de outros artistas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, Milton Nascimento não partiu para o exílio durante a ditadura. Mas ele também passou por apuros, como ser seguido pelas ruas, receber ameaças pelo telefone e depor no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). No álbum Milagre dos Peixes (1973), três músicas tiveram as letras censuradas: Os Escravos de Jó, de Fernando Brant; Hoje é Dia de El-Rey, de Márcio Borges; e Cadê, de Ruy Guerra. Em vez de excluí-las, o cantor preferiu gravá-las em versões instrumentais. "Se os jovens soubessem o que é uma ditadura, não iam querer. Só espero que não aconteça mais. Outra dessa o país não aguenta", declarou Milton Nascimento ao jornal O Globo, na edição de 15 de maio de 2022. "Viva a democracia!"O compositor Wagner Tiso é um dos mais de 40 convidados de Milton Bituca Nascimento, documentário que estreia nesta quinta-feira (20/3). A cineasta Flávia Moraes registrou os bastidores da Última Sessão de Música, que começou no Rio de Janeiro (RJ), no dia 11 de junho de 2022, e terminou em Belo Horizonte (MG), no dia 13 de novembro. A turnê de despedida percorreu 22 cidades – sete no Brasil e 15 no exterior. "Bituca é muito complexo. Às vezes, é piadista. Outras, turrão", descreve Moraes. "Em geral, é uma surpresa – divertida e agradável." Um dos pontos altos da turnê foi Coração de Estudante. Nos últimos acordes, Milton bradava: "Viva a democracia!" Aos entrevistados, como o cineasta Spike Lee, a filósofa Djamila Ribeiro e o rapper Mano Brown, a diretora perguntou: como explicar o fascínio que Milton desperta no Brasil e no mundo? "Bituca é um cara muito admirado. Todo mundo gosta dele. Não queria fazer um filme chapa-branca ou café com leite. Queria uma análise mais objetiva", afirma a cineasta. Entre os convidados, estão os já falecidos Sérgio Mendes (1941-2024), Wayner Shorter (1933-2023) e Quincy Jones (1933-2024). Apenas um artista não pôde participar: o cantor e compositor Edu Lobo. Dele, Bituca gravou Beatriz, parceria com Chico Buarque, no álbum O Grande Circo Místico (1983). "O Milton queria muito, mas, infelizmente, não conseguimos. Foi mais fácil conseguir o Quincy que o Edu", brinca a diretora. |
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Short teaser | Canção de Milton Nascimento composta para documentário sobre João Goulart homenageia estudantes mortos na ditadura. | ||
Author | André Bernardo | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/coração-de-estudante-o-hino-das-diretas-já/a-71974959?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 30 | |||
Id | 71974540 | ||
Date | 2025-03-19 | ||
Title | Como foi a odisseia dos astronautas da Nasa presos no espaço | ||
Short title | Como foi a odisseia dos astronautas da Nasa presos no espaço | ||
Teaser |
Dúvidas sobre segurança, tensões políticas e carona de volta para casa marcaram a missão dos veteranos, que acabaram ficando nove meses longe da Terra.Foram nove longos meses presos na Estação Espacial Internacional. Mas, finalmente, os astronautas da Nasa Butch Wilmore e Suni Williams chegaram aos Estados Unidos na terça-feira (18/03), depois de uma viagem que durou quase 17 horas.
Antes do resgate, eles viveram uma inesperada odisseia provocada por problemas técnicos na cápsula que os levara para longe do planeta Terra, no que deveria ter sido uma expedição de apenas oito dias.
A missão espacial de Wilmore e Williams acabou prolongada por dúvidas sobre a segurança da sua espaçonave e mudanças de calendário da Nasa. A questão ganhou contornos políticos após a chegada ao poder do presidente Donald Trump, que levou junto consigo o bilionário Elon Musk, CEO da SpaceX, para dentro da Casa Branca.
Veja abaixo a cronologia da aventura espacial dos astronautas, com as principais datas e episódios dos últimos nove meses.
2024
5 de junho: Wilmore e Williams decolam para o espaço como a primeira tripulação a bordo da Boeing Starliner, após vários atrasos causados pela análise de problemas no sistema de propulsão e um vazamento de hélio. A expectativa era de que a missão durasse aproximadamente oito dias.
6 de junho: A tripulação da Starliner chega em segurança à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) depois de 27 horas. O voo incluiu falhas em cinco dos propulsores da espaçonave usados para manobras espaciais — as mais recentes falhas na conturbada história do desenvolvimento da Starliner.
11 de junho: A Nasa adia o retorno de Wilmore e Williams à Terra até 18 de junho, enquanto investiga problemas com o sistema de propulsão e vazamentos de hélio, que é usado para fornecer pressão aos propulsores.
21 de junho: A Nasa adia novamente o retorno de Wilmore e Williams, sem especificar um prazo.
26 de junho: Um terceiro atraso no retorno dos astronautas levanta questões mais profundas sobre a natureza dos problemas técnicos da Starliner. Começam a surgir várias perguntas: Como Wilmore e Williams voltarão para casa? A Crew Dragon da SpaceX, a única espaçonave tripulada orbital ativa dos EUA, terá que se envolver?
27 de junho: Um antigo satélite russo se fragmenta em mais de cem pedaços de detritos orbitais que voam perto da ISS, forçando todos os astronautas a entrar em suas espaçonaves e se preparar para uma saída de emergência. Wilmore e Williams correm para a Starliner, apesar dos problemas com seu sistema de propulsão. Os destroços caem, e os astronautas retomam à vida "normal" no espaço.
28 de junho: O retorno de Wilmore e Williams à Terra se torna mais incerto. A duração da sua permanência na ISS, de acordo com a Nasa, depende dos resultados dos testes de solo da Boeing com modelos de propulsores. Continua a luta para obter evidências de que a Starliner é segura para a viagem de volta.
21 de julho: Wilmore e Williams completam 45 dias na ISS. Este é o tempo máximo pelo qual a Starliner foi aprovada para permanecer na estação. Enquanto isso, a Nasa e a Boeing continuam seus experimentos com estudos de sistemas de propulsão e alterações de software.
7 de agosto: Já se passaram mais de um mês de simulações e pesquisas técnicas. A Boeing e autoridades sênior da Nasa debatem a gravidade dos problemas da Starliner e a melhor maneira de trazer os astronautas de volta para casa. A agência está cada vez mais preocupada com a possibilidade de a Starliner não ser segura o suficiente para o retorno. Já a Boeing argumenta que a espaçonave oferece, sim, a segurança necessária.
24 de agosto: A Nasa opta por trazer Wilmore e Williams de volta à Terra em uma cápsula Crew Dragon da SpaceX, programada para ser lançada no mês seguinte como uma missão de rotina de rotação de astronautas, a Crew-9. Na prática, a "carona" de volta para casa significa que Wilmore e Williams se comprometem com uma estadia de oito meses na ISS. Fica decidido que eles só deixarão o espaço quando a Crew-9 for substituída pela Crew-10, em 2025.
6 de setembro: A Starliner retorna à Terra sem nenhum astronauta a bordo, aterrissando com segurança em White Sands Missile Range, no Novo México. A Nasa considerou o nível de risco da espaçonave muito alto para seus astronautas.
29 de setembro: Dois astronautas da missão Crew-9 da Nasa decolam para a ISS usando a cápsula Crew Dragon da SpaceX, prevista para levar Wilmore e Williams de volta para casa alguns meses mais tarde. Normalmente com quatro astronautas, a espaçonave viajou com dois assentos vazios para Wilmore e Williams.
17 de dezembro: Depois de os astronautas terem passado seis meses no espaço, a Nasa atrasa o lançamento da Crew-10, a missão de rotação que permitirá que Wilmore e Williams voltem para casa. A agência disse que a missão, programada para fevereiro, seria lançada no final de março devido a atrasos na produção pela SpaceX de uma nova cápsula Crew Dragon a ser usada no voo.
2025
29 de janeiro: O presidente Donald Trump, uma semana após o início de seu segundo mandato, pede publicamente a seu assessor mais próximo, o CEO da SpaceX, Elon Musk, que retire rapidamente Wilmore e Williams da ISS. Sem mostrar provas, ele acusa o ex-presidente Joe Biden de tê-los "praticamente abandonado" no espaço por motivos políticos. Musk aceita o pedido e diz que os levará para casa "o mais rápido possível".
30 de janeiro: A Nasa confirma seu plano original de trazer Wilmore e Williams para casa na Crew-10, em reação à fala de Trump.
11 de fevereiro: A Nasa modifica seu plano para o retorno de Wilmore e Williams para casa após a insistência pública de Trump e Musk. A agência decide trocar a cápsula Crew Dragon da SpaceX, cuja produção está atrasada, por uma que já voou três vezes anteriormente. Isso adianta a data de lançamento da Crew-10 em duas semanas, de 26 de março para 12 de março.
4 de março: Diante das acusações de Trump e Musk, surgem dúvidas sobre a tomada de decisões da Nasa. Em uma coletiva de imprensa do espaço, Wilmore diz a repórteres não acreditar que a política tivesse influenciado a decisão da Nasa para que ele e Williams permanecessem na ISS por nove meses. Ele acrescenta que, como astronautas, eles se prepararam para a possibilidade de uma missão prolongada.
12 de março: Um problema na plataforma de lançamento causa um atraso de dois dias na partida da Crew-10, a missão que possibilitaria o retorno de Wilmore e Williams à Terra.
14 de março: A Crew-10 decola para a ISS, e Wilmore e Williams estão um passo mais perto de casa.
16 de março: A tripulação da Crew-10 chega à ISS e é recebida por seus sete astronautas, incluindo Wilmore e Williams.
18 de março: Wilmore e Williams, juntamente com o astronauta da Nasa Nick Hague e o cosmonauta russo Aleksandr Gorbunov, desacoplam da ISS, iniciando a sua jornada de volta à Terra. Eles pousam no mar da Flórida em segurança.
ht/ra (Reuters)
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Short teaser | Dúvidas sobre segurança, tensões políticas e 'carona' de volta para casa marcaram a missão de nove meses longe da Terra. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/como-foi-a-odisseia-dos-astronautas-da-nasa-presos-no-espaço/a-71974540?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Os astronautas Suni Williams e Butch Wilmore viram sua missão de oito dias inesperadamente prolongada por nove meses | ||
Image source | NASA/ABACA/dpa/picture alliance | ||
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Item 31 | |||
Id | 71964532 | ||
Date | 2025-03-18 | ||
Title | Astronautas da Nasa pousam na Terra após 9 meses na ISS | ||
Short title | Astronautas da Nasa pousam na Terra após 9 meses na ISS | ||
Teaser |
Butch Wilmore e Suni Williams retornaram para casa em uma cápsula da SpaceX, depois que problemas técnicos prolongaram estadia original de uma semana na Estação Espacial Internacional.Após mais de nove meses "presos" no espaço, os astronautas da Nasa Barry Wilmore e Suni Williams retornaram à Terra nesta terça-feira (18/03). A cápsula que transportava os astronautas da agência espacial americana pousou na costa da Flórida às 18h57.
A dupla, cuja missão de uma semana foi prolongada devido a uma falha em sua nave, o Boeing Starliner, partiu da Estação Espacial Internacional (ISS) pela manhã em uma cápsula da SpaceX, empresa de exploração espacial do bilionário Elon Musk.
Ao lado de mais dois astronautas — o americano Nick Hague e o cosmonauta russo Aleksandr Gorbunov —, Willmore e Williams embarcaram às 2h05 (horário de Brasília) em uma viagem de 17 horas para a Terra.
Estação espacial enfim para trás
Antes de deixarem a ISS, os astronautas apareceram em uma transmissão ao vivo rindo, se abraçando e posando para fotos com seus colegas da estação.
Enquanto eram realizados os testes finais de pressão, comunicações e vedação, eles foram então afivelados dentro da cápsula, com seus devidos trajes de reentrada, botas e capacetes.
A tripulação de quatro pessoas é formalmente parte da missão de rotação de astronautas Crew-9 da Nasa.
"A Crew-9 está indo para casa", disse o comandante Nick Hague de dentro da cápsula.
Hague disse que foi um privilégio "chamar a estação de lar" como parte de um esforço internacional em "benefício da humanidade".
Ao chegarem à Terra, após passarem um longo período no espaço, os astronautas deverão ser submetidos a vários dias de exames de saúde no Centro Espacial da Nasa em Houston.
Missão prolongada vira espetáculo político
Os dois astronautas veteranos da Nasa e os pilotos de teste aposentados da Marinha dos EUA foram enviados ao espaço como a primeira tripulação da Starliner em junho, em uma missão que deveria durar apenas alguns dias.
No entanto, problemas com o sistema de propulsão da Starliner atrasaram seu retorno para casa, levando a Nasa a decidir por uma nave da SpaceX para o retorno à Terra.
A estadia de Willmore e Williams no espaço excedeu a rotação padrão de seis meses da ISS.
O atraso na missão colocou o planejamento de contingência da Nasa no centro das atenções, bem como as falhas do Boeing Starliner.
A missão acabou ganhando inclusive um caráter político, com o presidente dos EUA, Donald Trump, pedindo um retorno mais célere dos astronautas e culpando o ex-presidente Joe Biden pelo "abandono" da dupla na ISS.
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Short teaser | Butch Wilmore e Suni Williams retornaram para casa em uma cápsula da SpaceX. | ||
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Image caption | Barry Wilmore e Suni Williams retornam à Terra em cápsula da SpaceX | ||
Image source | NASA TV/REUTERS | ||
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Item 32 | |||
Id | 71953112 | ||
Date | 2025-03-18 | ||
Title | Pesquisadores acham origem de todos os idiomas indo-europeus | ||
Short title | Pesquisadores acham origem de todos os idiomas indo-europeus | ||
Teaser |
Todas as línguas germânicas, românicas, eslavas, bálticas, celtas e indo-iranianas podem ser rastreadas até a linha "Cáucaso-Baixo Volga". O povo equestre Yumna levou o idioma original para a Europa e a Ásia.Mother, mater, mētēr, mātṛ́, mātṛ́ – todos esses termos com sonoridade muito semelhante para dizer "mãe" apontam para uma origem comum que os pesquisadores vêm buscando há mais de 200 anos.
As palavras para pai, irmão, filha, filho, nome, olho ou pé em inglês, persa, russo, grego, latim, sânscrito e alemão também são muito semelhantes. Cerca de 400 idiomas germânicos, românicos, eslavos, bálticos, celtas e indo-iranianos pertencem à família de idiomas indo-germânicos ou indo-europeus.
"Elo perdido"
Quase metade da humanidade fala atualmente uma língua cujas origens, de acordo com as últimas descobertas, estão em um ramo pouco conhecido de nômades das estepes que viviam ao norte do Mar Negro.
De acordo com os pesquisadores, essa população do chamado grupo Cáucaso-Baixo Volga (CLV, na sigla em inglês) é o elo há muito procurado entre as línguas proto-indo-europeia e anatólia.
Presume-se que esse grupo tenha se espalhado em todas as direções e se misturado com os caçadores-coletores que viviam ali, formando novos grupos. Isso é confirmado por estudos recentes do geneticista americano David Reich e do antropólogo vienense Ron Pinhasi, que foram publicados na revista científica Nature. De acordo com Pinhasi, a "linhagem do Cáucaso e do Baixo Volga" pode ser "ligada a todas as populações de língua indo-europeia".
O exame do DNA de 435 pessoas de sítios arqueológicos da Ásia e da Europa mostrou que a população CLV também foi a ancestral da cultura Yamna e do povo da Anatólia. De acordo com o estudo, a população Cáucaso-Baixo Volga formou a cultura Yamna por volta de 4.000 a.C., que cresceu rapidamente depois de 3.750 a 3.350 a.C. O povo CLV contribuiu com cerca de quatro quintos da ascendência Yamna.
Cultura Yamna possibilitou ampla disseminação
Entretanto, a cultura Yamna foi responsável pela maior disseminação. Ela acabou levando a língua proto-indo-europeia para a Europa, o Irã e a Índia da Idade do Bronze. Esse povo nômade viveu entre 5.600 e 4.500 anos atrás na estepe eurasiática ao norte do Mar Negro e do Mar Cáspio. De lá, a cultura Yamna se espalhou para a Europa Oriental e a Ásia Central por volta de 3.100 a.C. e teve uma profunda influência na genética das populações europeias e da Ásia Central.
Os Yamna não eram apenas criadores de gado, coletores e caçadores. Eles também são considerados o primeiro povo a andar a cavalo. Resíduos de leite de cavalo em cerâmicas do atual Cazaquistão e achados de esqueletos indicam que os cavalos foram domesticados há cerca de 5.500 anos e eram usados não apenas como animais de tração e de carga, mas também para cavalgar. Isso revolucionou a mobilidade e pode explicar como a cultura, o DNA e a língua deles conseguiram se espalhar tão rapidamente e tão longe.
O que se sabe sobre o povo Yamna?
Os Yamna viajavam principalmente pela estepe como nômades. Portanto, há apenas alguns vestígios de assentamentos e castros (fortificações) em colinas, a maioria dos quais foi encontrada perto de rios. Eles provavelmente viviam em casas de cova, especialmente no inverno. Ocasionalmente, os habitantes também praticavam a agricultura no local. Os Yamna também são considerados pioneiros na criação de gado leiteiro, o que contribuiu para a produção de alimentos de longa duração, como o queijo.
Quando se deslocavam como nômades, os Yamna usavam carroças de duas rodas e vagões de quatro rodas com rodas de disco, que provavelmente eram puxados por bois. Isso permitiu que o povo transportasse grandes rebanhos por longas distâncias e estabelecesse uma extensa rede de comunicação.
Os Yamna enterravam seus mortos em covas cobertas por pequenos montes, os chamados kurgans. O morto era enterrado em decúbito dorsal com os joelhos dobrados. Artigos funerários e sacrifícios de animais são frequentemente encontrados nas sepulturas. Isso pode indicar uma crença na vida após a morte.
Em alguns túmulos, os pesquisadores encontraram colunas monolíticas semelhantes a humanos com cabeças, braços e pernas esculpidos, assim como armas e cintos. Aparentemente, personalidades de alto escalão eram enterradas até mesmo com a carroça de madeira inteira.
Por que eles deixaram a estepe?
Há cerca de 11 mil anos, o Holoceno, o período quente que continua até hoje, substituiu o último período frio. Por volta de 6.500 anos atrás, o norte da Europa também ficou significativamente mais quente. A camada de gelo recuou cada vez mais, e as condições de vida tornaram-se gradualmente mais fáceis. É por isso que o aquecimento do clima no Holoceno é considerado um pré-requisito positivo para o desenvolvimento de civilizações humanas avançadas.
As mudanças climáticas provavelmente explicam por que os Yamna não sedentários migraram para a Europa Central ou para o leste por volta de 3.100 a.C. A vida nas estepes da Eurásia pode ser muito difícil, com temperaturas que variam muito dependendo da estação. Os verões são quentes e secos. Algumas semanas muito chuvosas precedem um inverno frio e com neve. O gado e as ovelhas não podem mais pastar e precisam receber ração.
Provavelmente em três ondas de migração, os Yamna deixaram a estepe e se misturaram à população local. Como eram culturalmente e, acima de tudo, numericamente superiores, os Yamna logo dominaram o desenvolvimento genético e linguístico local.
Por volta de 2.500 a.C., seus vestígios se perderam, mas uma parte da cultura Yamna continua viva nas línguas indo-europeias.
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Short teaser | Todas as línguas germânicas, românicas, eslavas, bálticas, celtas e indo-iranianas podem ser rastreadas até uma linha. | ||
Author | Alexander Freund | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/pesquisadores-acham-origem-de-todos-os-idiomas-indo-europeus/a-71953112?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Responsável pela maior disseminação do idioma, povo Yamna enterrava seus mortos com as pernas dobradas | ||
Image source | Michal Podsiadlo/EurekAlert/dpa/picture alliance | ||
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Item 33 | |||
Id | 71941487 | ||
Date | 2025-03-17 | ||
Title | Gilberto Gil: mais um músico da geração dourada se despede | ||
Short title | Gilberto Gil: mais um músico da geração dourada se despede | ||
Teaser |
Com mais de 60 anos de carreira, Gilberto Gil inicia turnê de despedida. Cantor baiano segue passo de Milton Nascimento e de outros músicos de sua geração. Precedido de foguetório e contagem regressiva no telão, Gilberto Gil iniciou no sábado (15/03), na Arena Fonte Nova, em Salvador, a turnê Tempo Rei, que será a última de sua extensa carreira. Acompanhado pela banda formada em boa parte por seus familiares, Gil tocou e cantou 29 canções, além de trechos de outras duas, durante quase duas horas e meia de show. Ele abriu os trabalhos logo com Palco, que dialoga com seu momento atual. Em seguida, cantou Banda Um, seguida por Tempo Rei, que dá nome à turnê. "É lindo vocês aqui, eu e os nossos queridos músicos fazendo esta noite, este repertório, nessa despedida dos grandes espetáculos que já venho fazendo há mais de 60 anos", disse Gil no palco. "Estarmos aqui juntos é o sentido profundo de ter me dedicado, de nós termos nos dedicado, a essa longa carreira", disse ao público. Exatos 60 anos antes, em 15 de março de 1965, Gil estava no palco em outra despedida. Foi no show Inventário, no Teatro Vila Velha, em Salvador, antes de sua partida para São Paulo. Para aquele show, compôs Eu vim da Bahia, que traduzia seu sentimento de partir e ter vontade de voltar. "Sinto nele um homem realizado e com uma sensação de dever cumprido", diz o cineasta José Walter Lima, que assistiu o show Inventário há 60 anos, sobre o amigo Gilberto Gil. Na Fonte Nova, Gil tocou Eu vim da Bahia enquanto o telão mostrava imagens de Dorival Caymmi e João Gilberto, seus ídolos e influências evidentes para a canção. Geração dourada da música inicia saída de cenaEnquanto Gil abria sua última turnê, seus irmãos musicais, os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia, se apresentavam no Rio de Janeiro. Caetano Veloso fez no ano passado a sua última turnê internacional, mas segue na ativa nos palcos brasileiros, e diz que tem vontade de morar em Salvador e só fazer shows no Teatro Vila Velha, onde tudo começou. Em 2022, Milton Nascimento fez sua turnê de despedida definitiva dos palcos. Seu parceiro musical, o nova-iorquino Paul Simon, fez a sua Farewell Tour em 2018. Mas no mês passado, o cantor e compositor que formou dupla com Garfunkel voltou atrás e marcou uma nova turnê. Todos são artistas da mesma geração de Gilberto Gil, que nasceram na década de 1940 e começaram a brilhar profissionalmente nos anos 1960. "A profissão de artista é para sempre na vida porque você tem a compulsão de criar", explica o cantor, compositor e crítico Paquito. "Quando ele volta atrás é porque tem a compulsão de criar. Criar é como se você fosse Deus", diz o compositor. A discografia de Gil começou com um compacto simples lançado em 1962, em Salvador, pela JS Discos. São, portanto, 63 anos de carreira. Tom Jobim, por exemplo, um dos faróis para a geração de Gil, tinha 67 anos de idade quando faleceu. "A música brasileira desse período é uma coisa que a gente tem que se orgulhar muito", diz Paquito, que no fim dos anos 1990 coproduziu um disco do sambista Batatinha com participação de Gil. "Eu vi Gil em ação. Foi interessante porque eu perguntei se ele viria com outros músicos, mas ele disse que iria sozinho com o violão", conta. "Essa interação que Gil faz entre o violão e a voz é sublime." Outro ritmoNo palco da Fonte Nova, Gil tocou guitarra, mas também esteve com seu violão, como em Se eu quiser falar com Deus, acompanhado por um quarteto de cordas, um dos pontos altos da noite. "Foram vários os elementos que ponderei para chegar na decisão da realização de uma última turnê. Houve reflexão sobre este mercado e também sobre a exigência física necessária para esses grandes shows", disse Gil no site oficial da turnê. "Quero continuar fazendo música em outro ritmo, mas, antes, teremos essa celebração bonita junto do público e da família. Transformai as velhas formas do viver", completou Gil, citando um verso da sua canção Tempo Rei. Da mesma geração dourada dos anos rebeldes, Paul McCartney não fala em parar de fazer turnês e prometeu um disco novo para esse ano. Outro daquela leva, Chico Buarque também segue na ativa, e apareceu no telão da Fonte Nova contando sobre sua parceria com Gil na música Cálice, que foi censurada pela ditadura militar. Enquanto Chico falava no telão, o público no estádio puxou o coro de "sem anistia", numa referência ao movimento que busca a anistia aos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado e invasão da sede dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. Quando Gil começou a cantar a canção, imagens de vítimas da repressão durante a ditadura eram mostradas no telão, entre elas a do ex-deputado Rubens Paiva, que foi ovacionado. Ainda durante Cálice, fotos de Gil e Caetano quando estavam presos pela ditadura mexeram com o público, que os aplaudiu e voltou a puxar o coro de "sem anistia" para os golpistas. Emoção, convidados e encontro de ministrosLogo nos primeiríssimos momentos de Não chore mais, versão de Gil para No woman, no cry, de Bob Marley, o público já começou a vibrar. O reggae jamaicano e a Fonte Nova têm história antiga na vida de Gilberto Gil. Em 1980, Gil foi um dos pioneiros em shows em grandes estádios de futebol ao se apresentar com Jimmy Cliff na Fonte Nova. "Creio que o primeiro artista que fez show num estádio no Brasil foi Frank Sinatra, no Maracanã. E o primeiro artista brasileiro foi Gilberto Gil, na sua turnê junto com Jimmy Cliff", diz José Walter Lima, que foi um dos produtores daquele show em 1980. Na vez da música Realce, o telão mostrava purpurinas virtuais para combinar com o verso "Quanto mais purpurina, melhor", enquanto um show pirotécnico com labaredas reais fazia o público das primeiras fileiras sentirem o calor das chamas. Em mais um momento marcante da noite, Gilberto Gil disse que o show era para todos, mas especialmente para sua filha, Preta Gil, que estava na Fonte Nova. Depois, começou a cantar Drão, canção que ele fez para sua ex-mulher Sandra, mãe de Preta. Em 1967, conhecer a Banda de Pífanos de Caruaru mexeu com a cabeça e as ideias musicais de Gil, influenciando o que viria a ser a Tropicália. Em 1972, ele gravou Pipoca moderna, do grupo pernambucano, em seu disco Expresso 2222, o primeiro após a volta do exílio. Na noite que marcou o início do fim na Fonte Nova, o instrumental de Pipoca Moderna – que em 1975 ganhou letra de Caetano Veloso – foi tocado no palco enquanto Gil trocava de instrumento para poder tocar a canção Expresso 2222. "Gil, para mim, dos compositores, é o que tem mais atributos", diz Paquito. "Ele é um excelente cantor, um excelente violonista, ele tem uma noção de ritmo absurda, ele é um harmonizador também absurdo, ele também é um excelente band leader", enumera o crítico. "É um super letrista também. As pessoas não falam tanto disso porque essa coisa da música em Gil é muito exuberante." Para cantar com ele a canção Emoriô, Gil recebeu no palco o vocalista da banda BaianaSystem, Russo Passapusso. Em seguida, a cantora Margareth Menezes se juntou aos dois em Toda menina baiana, promovendo um encontro entre ela, atual ministra da Cultura, e Gil, que esteve no comando da pasta entre 2003 e 2008. No bis, Gil tocou Aquele abraço, música que compôs quando estava de partida para o exílio, e que na noite de estreia da turnê Tempo Rei teve a letra ligeiramente alterada para agradecer ao público: "pra você que não me esqueceu: aquele abraço". O abraço seria o último momento da noite, mas Gil ainda aproveitou que a banda tocava o instrumental de Na Baixa do Sapateiro, voltou ao palco para entoar o verso "Ô, Bahia" e terminou o show dançando animado, aos 82 anos, rei de seu próprio tempo. |
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Short teaser | Cantor baiano segue passo de Milton Nascimento e de outros músicos de sua geração. | ||
Author | Lucas Fróes | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/gilberto-gil-mais-um-músico-da-geração-dourada-se-despede/a-71941487?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 34 | |||
Id | 71925046 | ||
Date | 2025-03-14 | ||
Title | "Para enfrentar o racismo é preciso repensar o poder" | ||
Short title | "Para enfrentar o racismo é preciso repensar o poder" | ||
Teaser |
Lázaro Ramos lança livro e diz que, após conscientizar para discriminação racial, agora é preciso sensibilizar. "Isso mexe com as certezas que as pessoas têm e com os lugares que elas acham que têm de direito", afirma. Oito anos depois de seu best-seller Na Minha Pele, o ator, cineasta, apresentador de TV e ativista brasileiro Lázaro Ramos lança na próxima terça-feira (18/03) Na Nossa Pele – Continuando a Conversa. O novo livro parte de um entendimento coletivo da história da segregação racial, cultural e social que marca o racismo estrutural da sociedade brasileira – com o mesmo tom intimista, em que o autor parte de suas próprias experiências de vida para "bater um papo com o leitor”. Consagrado ator da cena cultural brasileira, Ramos expõe memórias da sua infância e ressignifica o papel de sua mãe, Célia, em sua formação. Ela era empregada doméstica e em uma das passagens mais marcantes do livro, o autor conta como foi revisitar o apartamento em Salvador onde ela trabalhava – e morava em um pequeno quartinho. Com as condições financeiras proporcionadas pelo seu sucesso profissional ele decidiu dar "uma rasteira na história", em suas palavras: comprou o antigo apartamento e transformou o espaço em um centro de assistência e acolhimento a vítimas de trabalho análogo à escravidão. Ramos concorda que essa "vingança pessoal" em busca de uma certa justiça social não é acessível para a maior parte das pessoas. E que ele só conseguiu fazer isso porque ascendeu socialmente. "É por isso que a gente tem de pensar em política pública", afirma. DWl: Já que neste livro você propõe "continuar a conversa" do anterior, Na Minha Pele, eu gostaria de retomar a partir dele. Você publicou Na Minha Pele em 2017, um livro íntimo e pessoal no qual você tratou de racismo, empoderamento, solidão da mulher negra, mortalidade jovem negra, vitimismo… Em sua visão, o que mudou no Brasil de lá para cá, no contexto desses temas? Lázaro Ramos: Acho que a gente tem algumas coisas a celebrar: uma presença no audiovisual que inegavelmente melhorou, apesar de a gente ter dificuldade de dar continuidade; tem uma presença de pessoas no meio universitário, que trouxe outros pontos de vista; a gente tem uma presença estética mais variada nos trabalhos do jornalismo; a gente tem uma imprensa negra que está ocupando mais espaço… Isso são coisas importantes de celebrar. Por outro lado, a gente tem uma retração, nas empresas, do debate racial e dos grupos de diversidade. A gente tem uma reação a alguns avanços e alguns posicionamentos de pessoas pretas, pessoas que dizem "se querem debater isso, vão para outro lugar". O que traz uma exigência de que a gente renove nossas estratégias. Por isso que é "continuando a conversa”. Eu entendo que o primeiro livro é reflexo de algumas décadas de aprendizado. Mas a gente precisa continuar a conversa sobre isso, tendo a coragem de não ser estanque, de não estar resolvido. De que não há fórmula fácil ou de que a gente não tem mais o que debater. Este livro é muito moldado para o hoje. Eu não sei se os meus livros vão envelhecer bem, mas eu sei que eles são tentativas de contribuir para o hoje, para a gente diagnosticar coisas hoje e pensar alternativas para melhorar o hoje. Eu não quero nem melhorar o amanhã. Eu quero melhorar o hoje. Por que "continuar a conversa" é importante, especialmente no momento em que o mundo vive o segundo governo de Donald Trump e que países como a Alemanha, por exemplo, veem um recrudescimento da ultradireita, concretizada na expressiva votação do partido AfD no Parlamento no final de fevereiro? Essa é uma conversa que não é única. Acho que algumas pessoas não querem conversar, estrategicamente. A tentativa, na verdade, é silenciar. Não é que [elas] não sabem conversar. A verdade é que não conversar facilitar você ser autoritário, facilita você parecer que tem uma resposta fácil para um problema complexo. Então, tem esse setor aí que não quer conversar estrategicamente. Conversar significa desconversar com as pessoas que estão no mesmo espectro, para a gente ter coragem de avaliar a trajetória, ver o que precisa se reinventar, se renovar. Essas conversas são fundamentais. E tem pessoas que não estão em extremo nenhum e que estão tentando encontrar, com suas novas fórmulas para o bem-viver… Essas sim é que [proporcionam] uma conversa interessantíssima. Eu acho que elas são o foco de esperança para a gente não viver um futuro bruto, um futuro que mata, um futuro que silencia, que não tenha a capacidade de mediar diferenças para um projeto coletivo. A minha fé está nesse lugar. Tendo a consciência de que a não conversa é estratégica, é estratégica por parte de pessoas que estão na liderança. A gente não pode ser tolo com relação a isso. Mas a minha função aqui é essa. Eu sou uma pessoa que tem sonhos, metas e utopias: tentar fazer com que a gente se medie para fazer um projeto coletivo. Porque esse que está aí não está legal não. Na última semana, a repercussão dos ataques a um jogador do Palmeiras ilustrou a persistência do racismo neste esporte, considerado paixão nacional. Que dificuldades você vê na sociedade para lidar com essa questão? Porque para a gente enfrentar o racismo a gente vai ter de repensar poder, pensar na mão de quem está na gestão das coisas. A gente vai ter de repensar a economia, a distribuição de renda. A gente vai ter de repensar os saberes que estão no mundo para gerir seja lá o que for. A gente vai ter de pensar no desequilíbrio que se tem. E isso mexe com as certezas que as pessoas têm, e com os lugares que as pessoas acham que têm de direito. Combater essa conversa é muito estratégico. Porque você faz as pessoas ficarem com medo, se apequenarem, se silenciarem. As pessoas estão tendo coragem de, na internet, sendo filmadas, praticarem atos de racismo. As pessoas estão tendo coragem de defender atitudes racistas. Mexe com a estrutura, eu sempre soube disso. Eu sempre soube disso. É preciso muita coragem, generosidade e sabedoria para conseguir enfrentar de verdade as nossas chagas. , Parece que o país tem de funcionar de determinada maneira. E mexer com o dinheiro, o poder e com aquilo que a gente acha que é quem detém o saber, isso aí, meu velho, é mexer com a cultura que está arraigada com a gente há muito tempo, há muito tempo. Felizmente fazemos parte de uma geração que veio para dizer assim "peraí, gente, eu também vi, eu quero falar isso aqui, presta atenção, tem outros caminhos, tem outros lugares”. A gente está lidando com uma falência de gerar o mundo. Eu aqui do meu lado fico tentando, através da utopia, dos sonhos, da arte, dos exemplos, das alternativas, da sensibilização, fazer um pouco minha parte. Este meu livro, inclusive, não é um livro para conscientizar. É um livro para sensibilizar este debate que está aí. Estou tentando fazer a minha parte oferecendo este livro utópico. Na Nossa Pele é descrito como um livro em que você mostra "que sua pele é coletiva, forjada em experiências e aprendizados comuns". Pode dar um exemplo concreto desses aprendizados? Que lições você quis deixar registradas com o livro? Olha como são as coisas. O Na Minha Pele chama "minha pele” e um monte de gente lia e falava "nossa, parece que sou eu”. E eu falava: "O que está acontecendo, esta história é minha, vocês estão querendo roubar a minha história". Este livro tem experiências que facilmente são compartilhadas. É uma maneira de olhar para a minha mãe e ser um pouco mais justo com ela. É um livro que traz também como identificação a questão sobre a emancipação. E falar sobre as prisões que a gente vive. Isso aí é um tema que toca as outras pessoas. No capítulo Emancipação, você conta como, em suas próprias palavras, "agora ator famoso" deu "uma rasteira na história". É comovente a compra do apartamento onde sua mãe trabalhava, revisitar o lugar sob outra perspectiva e, por fim, transformá-lo em centro de auxílio para os resgatados em trabalho análogo à escravidão. Como dar "rasteiras na história”? É por isso que a gente tem de pensar em política pública. Este é um livro em que falamos sobre arte, dos mecanismos da arte de salvação. Mas tem coisas de que a arte não dará conta. Tem coisas que estão no plano da política pública, da justiça, do Judiciário. Não dá para ler este livro tão utópico e falar que magicamente as pessoas vão dar rasteira na vida. Não vão dar. Tem pessoas que não vão conseguir deixar herança e legado nenhum para as próximas gerações, seus filhos. É por isso que a gente fala tanto em justiça social, em mobilização social. É por isso que a gente fala tanto em pautas de políticas que pensem em fazerem as pessoas progredirem tendo prazer na vida. É por isso que a gente fala em carga horária de trabalho, para as pessoas terem ócios. É por isso que a gente fala sobre acesso à cultura, educação. Está neste plano. Não vai acontecer magicamente. A maioria da pessoas que passarem pela Terra e pela vida vai ter uma vida muito difícil. Se a gente não fizer um esforço social e político as coisas não vão mudar. Este livro é um toque de esperança, de fé, de estratégia. Mas, ao mesmo tempo tendo muita consciência de que a arte, a literatura, a cultura não vão dar conta de tudo. Tem coisas que são do campo da Justiça e da política pública. E da consciência social. E de quem tem a oportunidade de fazer um bem para a sociedade. Gostaria que você revisitasse sua experiência escolar e nos dissesse: O que você gostaria que tivesse sido diferente para a sua formação cidadã dentro de um país estruturalmente racista? E o que foi fundamental na sua formação escolar nesse contexto, de um país estruturalmente racista? Nossa… Eu não sei se eu seria outra pessoa. Porque deixa eu dizer uma coisa muito legal que meu pai fez? Eu não tive um [videogame] Atari. Mas eu tive a [enciclopédia] Barsa. […] Eu tive um ensino de qualidade, eu tinha profissionais da educação apaixonados por ensinar. E sou fruto disso. Dessa educação. Então as faltas que eu tive acabaram moldando o meu caráter. A minha história é de exceção. Eu tive exceção por encontrar a professora Idalina, a professora que não deixou eu abandonar a escola para trabalhar e ajudar a minha mãe. Eu encontrei a voz da professora Idalina: ela me enxergou e disse: "Permaneça, porque você tem um caminho”. Eu tive o professor Alberto, que era de teatro e me ensinou, me deu aula… Essas pessoas fizeram a diferença. Eu não sei o que acrescentaria, porque eu tive pessoas assim. Eu fui muito beneficiado por pessoas que me ofereceram seu tempo e palavras de incentivo e direcionamento. Coisas que muita gente não tem porque não é vista. Qual é o papel da arte, sobretudo dos artistas negros, na formação e fabulação do Brasil? Na maneira de a gente ter um retrato mais justo do que nós somos. Eu me lembro de tanta coisa que fez um retrato mais justo do que nós somos num lugar de reconhecimento e fortalecimento de autoestima e justiça. […] A gente está com um monte de gente fazendo coisas muito legais. Dona Diva Guimarães faleceu no ano passado, aos 84 anos. Uma edição da coluna da DW Negros Trópicos prestou uma homenagem à professora que, em 2017, falou durante a mesa "A pele que habito" da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), num discurso em que nossa autora diz que dona Diva "explicou o Brasil". Em conversa no seu programa Espelho, dona Diva disse que queria falar com você na Flip para dizer como estava feliz "por ter uma pessoa que me representa, uma pessoa que representa os negros", num país que "é vendido lá fora como um país que não tem racismo". Como escritor, apresentador, diretor de teatro, cinema, autor de livros infantis, ator, como enxerga o impacto – e o legado – do seu trabalho e também do seu engajamento, tanto Brasil quanto para gerações mais jovens como as de seus filhos? Eu me sinto muito feliz. Era o que eu queria da minha vida. Eu acho que estou no lugar que eu estou, que eu mereço. Essa é a minha função mesmo. Acho que meus ancestrais estnao felizes. Mas eu não quero representar ninguém. Eu quero companhia. […] É muito bacana estar aqui, eu fico feliz de ser inspiração, de ser exemplo. Mas bacana mesmo é ter companhia, ter mais gente com oportunidade, com o talento reconhecido, com a sua voz também. Eu não quero ser dono de pauta nenhuma, não quero falar sozinho. Tenho muita coisa para aprender também e é libertador falar isso porque, de fato, é. Este é um pouco o desejo de agora. […] Mas é isto que a gente merece. E eu quero isso para mais gente. |
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Short teaser | Lázaro Ramos lança livro e diz que, após conscientizar para discriminação racial, agora é preciso sensibilizar. | ||
Author | Edison Veiga | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/para-enfrentar-o-racismo-é-preciso-repensar-o-poder/a-71925046?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 35 | |||
Id | 71920409 | ||
Date | 2025-03-14 | ||
Title | Cinco fatos sobre o Holi, o festival das cores na Índia | ||
Short title | Cinco fatos sobre o Holi, o festival das cores na Índia | ||
Teaser |
Desde a origem da festa popular, na lenda hindu, até bebidas especiais temperadas com cannabis fresca, veja de que forma os indianos comemoram o Holi, que neste ano é celebrado em 14 de março.1. As origens
De acordo com o calendário hindu, o Holi cai na última lua cheia do inverno – que este ano cai nesta sexta-feira (14/03). Historicamente, é comemorado nas regiões do norte da Índia, mas atualmente é popular também no resto do país.
Reza a lenda que um rei dos demônios – Hiranyakashyipu – exigiu que todos o adorassem como um deus. Mas seu filho, Prahlad, se opôs a ele, o que o deixou furioso. Hiranyakashyipu elaborou então planos malignos para matar seu filho, mas falhou miseravelmente.
Por fim, a irmã do rei, Holika, que era uma feiticeira, decidiu que sua missão seria matar o menino. Ela se sentaria em uma fogueira gigante com Prahlad e, enquanto seus poderes mágicos a protegeriam, ele morreria. Mas seus planos também falharam. Prahlad sobreviveu, e a feiticeira foi reduzida a cinzas.
Em muitas regiões, o festival Holi anuncia o fim do inverno e a chegada de um clima mais quente, embora também celebre a vitória do bem sobre o mal. Em Mathura, no norte da Índia, as pessoas observam o Holi como uma celebração do amor entre o deus hindu Krishna e sua amada, Radha, e encenam cenas de suas vidas.
2. Comida tradicional
Todo festival Holi na Índia está associado a comidas especiais. O "gujiya" caseiro, uma mistura de nozes e passas envolta em massa doce, é tradicionalmente preparado pelas mulheres da família na noite anterior ao feriado. Outros pratos tradicionais do Holi incluem "malpua", que são panquecas doces fritas; pães recheados, chamados "kachoris"; e os "laddoos", bolas feitas de coco, trigo ou farinha de grão-de-bico para sobremesa.
3. A bebida do Holi
O festival fica incompleto sem o tradicional bhang, feito de folhas frescas de cannabis. Alguns dias antes do início das festividades, entusiastas se dão as mãos para realizar a demorada tarefa de separar os brotos e as folhas da planta e triturá-los até formar uma pasta, que depois é adicionada a doces tradicionais ou misturada com leite de amêndoa adoçado.
4. É dia de Holi!
As festividades começam à noite, quando as famílias fazem fogueiras para simbolizar a queima de Holika, a feiticeira que queria matar Prahlad. No dia do Holi, os foliões tomam um café da manhã tradicional indiano e se reúnem com suas famílias e amigos para celebrar.
O "Holi Hai", que em hindi significa "é Holi", é a deixa para que todos se reúnam em um só lugar e joguem cores uns nos outros, em meio a uma grande celebração. Se tiver sorte, você deixará o local com cores orgânicas de boa qualidade e tendo sofrido o mínimo de assédio. Se não, multidões empolgadas podem carregá-lo e jogá-lo na poça de lama mais próxima ou você pode acabar encharcado com cores artificiais permanentes que deixam seu cabelo e rosto roxos por dias a fio.
Além disso, se você for homem, tome cuidado em Mathura: você pode ser espancado com um bastão se estiver participando do tradicional "lathmaar Holi", que, em hindi, significa "Holi para bater com um bastão". Se você for mulher, pode participar!
No oeste da Índia, os foliões costumam pendurar um pote de barro cheio de leite ou iogurte em uma determinada altura, enquanto grupos de meninos competem fazendo pirâmides humanas para chegar ao recipiente e quebrá-lo.
5. Músicas do Holi
As músicas, incluindo canções folclóricas e sucessos de Bollywood, são um elemento marcante da festa. Localidades geralmente tocam músicas religiosas e festivas para dançar a partir de alto-falantes colocados onde as pessoas se reúnem para brincar com tintas e cores.
Muitas canções, especialmente as de Bollywood, tornaram-se símbolo do festival nas últimas décadas. Talvez a voz mais popular seja a interpretada pelo famoso cantor Amitabh Bachchan: Rang Barse (em hindi, "Está chovendo cores") é o Holi em sua essência, com drogas, dança, flerte adúltero e insinuações sexuais.
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Short teaser | Da lenda hindu a bebidas especiais, veja como os indianos comemoram o Holi, este ano celebrado em 14 de março. | ||
Author | Manasi Gopalakrishnan | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/cinco-fatos-sobre-o-holi-o-festival-das-cores-na-índia/a-71920409?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Um devoto hindu participa do festival Holi em um templo em Nandgaon, no estado de Uttar Pradesh, na Índia | ||
Image source | Adnan Abidi/REUTERS | ||
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Item 36 | |||
Id | 71689720 | ||
Date | 2025-02-20 | ||
Title | Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora | ||
Short title | Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora | ||
Teaser |
Antigo presidente da federação de futebol da Espanha Luis Rubiales foi condenado a pagar quase 11 mil euros por beijar atleta na boca sem consentimento na Copa de Sydney, em 2023. Ele pretende recorrer da sentença.A Justiça da Espanha condenou nesta quinta-feira (20/02) o ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, a pagar 10.800 euros (R$ 64,2 mil) pelo crime de agressão sexual, por beijar a jogadora Jennifer Hermoso na boca após a conquista da Copa do Mundo em Sydney em 20 de agosto de 2023, sem o consentimento dela.
Por outro lado, Rubiales foi absolvido do crime de coação sobre a jogadora para declarasse que o gesto fora consensual. O ex-técnico da seleção feminina espanhola, Jorge Vilda, e outros dois ex-diretores, Albert Luque y Rubén Rivera, também foram absolvidos de coação.
Luque era diretor de futebol da seção masculina, enquanto Rivera, gerente de marketing da federação, acompanhou as jogadoras na viagem à ilha de Ibiza, no Mediterrâneo, com a qual foram premiadas pela conquista da Copa do Mundo.
Restrições a contato com jogadora
A decisão do juiz José Manuel Fernández-Prieto, da Audiência Nacional, onde foi realizado o julgamento, também proíbe Rubiales de se aproximar de Hermoso num raio de 200 metros e de se comunicar com ela por um ano.
O Ministério Público da Audiência Nacional havia solicitado uma pena total de dois anos e seis meses de prisão para Rubiales, dos quais um ano pelo crime de agressão sexual, mais um ano e meio por coação. Por este último crime, o representante do Ministério Público também havia pedido uma pena de um ano e seis meses para os outros três acusados.
O advogado de Rubiales já anunciou que recorrerá da sentença.
Beijo acabou com carreira do dirigente
"Rubi", como é chamado pelos amigos, era presidente da RFEF desde maio de 2018. Ele viu sua carreira desandar após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina em Sydney.
Em 20 de agosto de 2023, diante das câmeras, ele agarrou a cabeça de Hermoso com as duas mãos e a beijou de surpresa na boca: um ato "espontâneo", em sua opinião, mas "inapropriado" para Hermoso, que negou ter dado seu consentimento.
Diante da indignação pública, Rubiales pediu demissão em setembro de 2023 e encerrou uma carreira no futebol iniciada aos 14 anos de idade, quando ingressou no clube da pequena cidade de Motril, em Andaluzia, no sul da Espanha.
Nascido em Las Palmas há 47 anos, Luis Manuel Rubiales Béjar iniciou uma carreira discreta nas divisões inferiores antes de pendurar as chuteiras na Escócia com o Hamilton Academical em 2009.
Escândalos
Extrovertido e franco, Rubiales foi cercado por escândalos durante seu período à frente da RFEF. Ele causou alvoroço ao demitir o técnico da seleção espanhola Julen Lopetegui dois dias antes do início da Copa do Mundo de 2018.
Reeleito em 2020, transferiu a Supercopa da Espanha para a Arábia Saudita, num contrato controverso que foi examinado pelo Judiciário por suspeita de corrupção e acordos irregulares durante seu mandato. Ele chegou a ser detido no contexto do caso, que também envolve o ex-jogador do FC Barcelona Gerard Piqué, cuja empresa teria recebido uma comissão de 1 milhão de dólares para intermediar o acordo com Riad. Rubiales negou qualquer irregularidade.
Mas o ex-cartola é também reconhecido por ter aumentado a renda e o patrocínio da federação, e procurado melhorar as condições do futebol juvenil, o que lhe rendeu o apoio das federações regionais.
Ele também multiplicou o orçamento para o futebol feminino, embora tenha enfrentado a "rebelião das 15" que exigia melhorias estruturais e teve apoio de Jenni Hermoso. Desde que caiu em desgraça, Rubiales tem vivido discretamente na cidade andaluza de Granada como “só mais um vizinho”, segundo a mídia espanhola.
md/av (EFE, AFP)
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Short teaser | Ex-chefe da federação de futebol condenado a pagar 11 mil euros por beijar atleta anuncia que recorrerá da sentença. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ex-cartola-espanhol-condenado-por-beijo-forçado-em-jogadora/a-71689720?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney | ||
Image source | Noe Llamas/Sport Press Photo/ZUMA Press/picture alliance | ||
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Item 37 | |||
Id | 70932615 | ||
Date | 2024-12-01 | ||
Title | Briga de torcidas deixa 79 feridos no leste da Alemanha | ||
Short title | Briga de torcidas deixa 79 feridos na Alemanha | ||
Teaser |
Partida da quarta divisão do futebol alemão em Jena, no leste do país, foi marcada por confrontos com a polícia e brigas entre torcedores rivais. Confrontos entre torcedores antes e durante uma partida de uma liga regional de futebol do leste da Alemanha no sábado (30/11) deixaram 79 feridos, incluindo dez policiais e cinco seguranças. Os incidentes ocorreram na cidade de Jena, no estado da Turíngia, e tiveram como pano de fundo uma partida entre o Carl Zeiss Jena e o BSG Chemie Leipzig, duas equipes que disputam a Regionalliga Nordost, liga equivalente à quarta divisão do futebol alemão. Além dos 79 feridos - que incluíram 64 torcedores de ambos os times -, foram registradas 40 acusações criminais e de contravenção. Jena fica a cerca de 100 quilômetros de Leipzig, cidade-sede do rival Chemie e que fica no estado da Saxônia. Apesar de ambas às torcidas serem associadas à ideologia de esquerda, as autoridades esperavam confusão, e a partida foi considerada de alto risco devido à antipatia entre os grupos de torcedores. Uma multidão de 7.224 espectadores, incluindo 1.084 torcedores do Chemie, compareceu à partida em Jena. De acordo com a polícia, cerca de 350 torcedores do visitante Chemie fizeram uma marcha pela cidade antes do jogo, sem aviso prévio. Durante o ato, torcedores dispararam fogos de artificio e a polícia disse que teve de intervir "com o uso de força física e violência física, além de cassetetes e gás lacrimogêneo". Mais tarde, durante a partida - vencida pelo Carl Zeiss Jena por 5 a 0 -, houve confrontos entre as duas torcidas dentro do estádio. Clubes condenam a violênciaO Carl Zeiss Jena divulgou uma declaração no domingo sugerindo que grande parte da culpa foi dos torcedores visitantes. "Um grande grupo de aproximadamente 1.200 torcedores visitantes do Leipzig rompeu violentamente a barreira entre o bloco de visitantes e o Bloco N e obteve acesso à área da torcida do Jena", apontou o comunicado. "Acima de tudo, o FC Carl Zeiss Jena deseja aos afetados uma rápida recuperação. O clube terá um quadro abrangente do que aconteceu nos próximos dias.” O Chemie Leipzig adotou uma postura semelhante, criticando "a má conduta de uma minoria" de seus torcedores. "Como clube, sofremos grandes danos ontem. De acordo com nossas evidências, fogos de artifício foram lançados repetidamente do setor visitante em direção ao setor da torcida adversária", disse um comunicado no site do clube. "Condenamos a violência na forma de confrontos físicos, especialmente o uso de fogos de artifício contra pessoas. Isso não tem lugar em nossos jogos de futebol e não será tolerado por nós." Ambos os clubes disseram que ainda pretendem investigar os incidentes. jps (DW, dpa, ots) |
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Short teaser | Partida da 4° divisão do futebol alemão no leste do país foi marcada por confrontos com a polícia e briga de torcidas | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/briga-de-torcidas-deixa-79-feridos-no-leste-da-alemanha/a-70932615?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 38 | |||
Id | 70919291 | ||
Date | 2024-12-01 | ||
Title | A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids | ||
Short title | A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids | ||
Teaser |
Em 1991, o então astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se um marco na luta contra a aids. Até hoje, ele segue empenhado em campanhas de esclarecimento sobre a doença. Em meio a lágrimas dos repórteres veteranos, Earvin "Magic" Johnson permanece calmo. "Vou ter que me aposentar do Lakers porque contraí o vírus HIV", afirma. O astro do basquete tinha 32 anos quando proferiu essa frase, com voz firme, em 7 de novembro de 1991. Em seguida, acrescentou que não tinha aids, mas apenas HIV, o que havia sido confirmado pelo Dr. Michael Mellman pouco antes da coletiva de imprensa. O médico do Los Angeles Lakers havia chamado Johnson depois de uma viagem do time para lhe dar a má notícia. "Quando ele me contou pela primeira vez, eu pensei: 'Ah, cara, eu vou morrer. Acho que acabou'. E ele disse: 'Não, não, não acabou'", lembrou Johnson mais tarde em uma entrevista à emissora pública PBS. Melman lhe disse que ele tinha que começar a tomar medicação e aprender a se sentir confortável com sua nova condição. Assim, poderia viver por muito tempo. Em 1991, a infecção pelo HIV ainda era considerada uma sentença de morte pela opinião pública. Isso explica por que a coletiva de imprensa de Johnson causou um choque tão grande, comparável, para alguns, com a morte de John F. Kennedy, assassinado em 1963, ou com a renúncia de Richard Nixon após o caso Watergate em 1974. "Magic" Johnson estava no auge da carreira e era uma superestrela do esporte em todo o mundo. Ele havia conquistado cinco títulos da NBA com o Lakers e tinha sido eleito o Jogador Mais Valioso (MVP) da temporada três vezes. "Magic" Johnson era famoso em quase todo o mundo. Até então, muitos viam a aids como uma doença que só afetava gays ou viciados em drogas. Johnson, entretanto, não pertencia a nenhum desses grupos. "Agora estou me tornando um porta-voz do HIV porque quero que as pessoas entendam que não há como evitar o sexo seguro. Às vezes, pensamos que somente os homossexuais podem contrair o vírus, que isso não pode acontecer comigo. Mas agora estou aqui para dizer que pode acontecer com qualquer um, até comigo. Todos deveriam ter mais cuidado", disse Johnson. Dois meses antes do anúncio, em setembro de 1991, Johnson havia se casado com sua esposa Cookie. Na coletiva de imprensa, disse que sua esposa grávida não era portadora do vírus. Foi somente mais tarde que ele revelou que havia contraído o HIV durante relações sexuais desprotegidas com outra mulher. "Efeito Johnson" em testes de HIVAinda em 1991, o astro do basquete criou a Fundação Magic Johnson, que apoia financeiramente grupos e campanhas contra a aids. E ele nunca se cansou de engajar ações para afetados e para aumentar a conscientização sobre a doença. Em 1º de dezembro de 1999, no Dia Mundial da Aids das Nações Unidas, ele foi um dos principais oradores, descrevendo a doença como "inimigo público número um". As palavras de Johnson não foram em vão. Em 2021, cientistas americanos estimaram que a coletiva de imprensa de 7 de novembro de 1991 fez com que um número significativamente maior de homens nos EUA fizesse o teste de HIV nos meses seguintes, principalmente entre heterossexuais negros e hispânicos em cidades com clubes da NBA. A carreira de "Magic" Johnson, porém, não terminou naquele dia de novembro. Em 1992, ele jogou no time All-Star da NBA pela conferência oeste – esse jogo coloca frente a frente jogadores de equipes do leste e do oeste dos EUA. No mesmo ano, fez parte do chamado "Dream Team" que ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona. Na temporada 1995/96, Johnson comemorou outro retorno como jogador do Lakers antes de se aposentar definitivamente. Em homenagem ao ex-atleta, o clube aposentou a camisa número 32. E "Magic" Johnson entrou para o Hall da Fama do Basquete em 2002. Bilionário e filantropo"Magic" Johnson está agora com 65 anos. Investiu com sucesso o dinheiro que ganhou no esporte, em imóveis, cinemas e empresas como a seguradora de vida EquiTrust e a rede de cafeterias Starbucks. A revista Forbes estima que a fortuna atual de Johnson seja de 1,2 bilhão de dólares. Há muito tempo, a Fundação Magic Johnson apoia não somente projetos de combate à aids, mas também outras organizações ligadas à educação, à saúde e que atuam para atuar carências sociais em cidades etnicamente diversas. Johnson está sempre envolvido, geralmente acompanhado de sua esposa Cookie e, com frequência, de seus filhos Earvin "EJ", Elisa e Andre, de um relacionamento anterior. Quando Johnson foi diagnosticado com HIV em 1991, havia apenas um medicamento contra a aids no mercado, a azidotimidina, ou AZT. Atualmente, há várias substâncias ativas que ajudam a reduzir a carga viral do HIV. Quando bem-sucedido, o sistema imunológico do paciente se recupera e ele pode viver e trabalhar normalmente. O HIV é considerado altamente tratável, se a infecção for detectada precocemente e o tratamento for iniciado imediatamente. Mas ainda há uma clara divisão entre os hemisférios Norte e Sul: o número de soropositivos no mundo todo é estimado em cerca de 40 milhões, com mais da metade vivendo no sul da África. Um quarto de todas os infectados não recebe nenhum medicamento. "Não estou curado. Apenas tomei minha medicação. Estou fazendo o que devo fazer e, graças a Deus, o HIV no meu sistema sanguíneo e no meu corpo está praticamente morto. E não queremos que nada o desperte", disse Johnson em uma entrevista à PBS há alguns anos. |
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Short teaser | Em 1991, astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se marco na luta contra o vírus. | ||
Author | Stefan Nestler | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-luta-de-magic-johnson-contra-o-hiv-e-a-aids/a-70919291?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=A%20luta%20de%20%22Magic%22%20Johnson%20contra%20o%20HIV%20e%20a%20aids |
Item 39 | |||
Id | 70326170 | ||
Date | 2024-09-25 | ||
Title | Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher | ||
Short title | Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher | ||
Teaser |
Três homens são acusados de exigirem 15 milhões de euros dos parentes do heptacampeão de Fórmula 1 em troca da não publicação de imagens privadas.O Ministério Público de Wuppertal, oeste da Alemanha, apresentou nesta quarta-feira (25/09) acusações contra três homens por supostamente tentarem extorquir dinheiro da família do ex-piloto de Fórmula 1 Michael Schumacher para não publicarem imagens privadas dele.
Os três acusados são um segurança de boate, 53 anos, seu filho, de 30 anos, e um ex-funcionário de segurança da família do ex-campeão mundial, de 53 anos.
De acordo com a investigação, o ex-funcionário da família de Schumacher disponibilizou gravações privadas ao segurança, que as teria adquirido para tentar fazer chantagem contra a família do ex-piloto.
Telefonemas exigindo 15 milhões de euros
Os supostos criminosos fizeram várias ligações exigindo 15 milhões de euros (R$ 79 milhões) da família Schumacher, caso contrário publicariam arquivos e materiais privados, obtidos e fornecidos pelo próprio ex-funcionário.
No momento da primeira prisão, em junho, foram apreendidos até 1.500 documentos, incluindo fotografias, vídeos e relatórios médicos do alemão em discos rígidos, pen drives e telefones celulares.
Os investigadores dizem que o material contém fotos e vídeos particulares da coleção da família, alguns tirados antes e outros depois do acidente de esqui de Schumacher em 2013.
O segurança de boate implicou seu filho no momento da prisão (ele foi o primeiro a ser preso), que foi liberado sob fiança com a obrigação de se apresentar, e foi o pai que revelou aos investigadores a identidade da pessoa que lhes forneceu os documentos de Schumacher.Duas semanas depois, o ex-funcionário dos Schumacher foi preso em seu apartamento em Wülfrath, no estado de Renânia do Norte-Vestfália, onde foram confiscados mais dispositivos eletrônicos contendo material sensível do sete vezes campeão mundial de Fórmula 1.
O caso não é o primeiro envolvendo de tentativa de chantagem contra os Schumachers. Em 2017, um homem de 25 anos recebeu uma sentença suspensa de 21 meses de prisão por exigir 900 mil euros da mulher do ex-piloto, Corinna Schumacher. Esse caso foi julgado em Reutlingen, no sudoeste da Alemanha.
Em 2013, ex-piloto sofreu uma grave lesão na cabeça em um acidente de esqui na França, tendo passado quase seis meses em coma induzido. Desde então, tem sido recebido cuidados em sua casa na Suíça, longe da mídia, e não se sabe exatamente qual é sua condição física.
md (EFE, AFP, DPA, SID)
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Short teaser | Três homens são acusados de exigirem dinheiro dos parentes do ex-piloto em troca da não publicação de imagens privadas. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/promotoria-acusa-trio-de-chantagem-contra-família-schumacher/a-70326170?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Michael Schumacher e sua mulher, Corinna, em 2001 | ||
Image source | Oliver Multhaup/dpa/picture-alliance | ||
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Item 40 | |||
Id | 70166593 | ||
Date | 2024-09-08 | ||
Title | Brasil pela primeira vez no top 5 dos Jogos Paralímpicos | ||
Short title | Brasil pela primeira vez no top 5 dos Jogos Paralímpicos | ||
Teaser |
País bate próprio recorde nos Jogos de Paris com 89 medalhas, sendo 25 ouros, 26 pratas e 38 bronzes, e alcança sua melhor colocação na história da competição.O Brasil encerrou neste domingo (08/09) sua participação nos Jogos Paralímpicos de Paris com sua melhor campanha na história do evento. Foram 89 medalhas, sendo 25 de ouro, 26 de prata e 38 de bronze, que deixaram o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas.
A grande campeã foi a China, com 84 ouros, seguida pelo Reino Unido (49 ouros), Estados Unidos (36) e Holanda (27). O Brasil manteve uma disputa acirrada com a Itália pelo quinto lugar, que apenas foi resolvida no último dia da competição. A batalha foi decidida com dois ouros – um no halterofilismo, com Tayana Medeiros, e outro na canoagem, com Fernando Rufino.
A campanha brasileira superou o melhor resultado obtido pelo país até então. Nos Jogos de Tóquio, em 2021, os brasileiros conquistaram 72 pódios e garantiram a sétima posição. Esta é a quinta edição seguida que o Brasil termina no top 10 dos Jogos Paralímpicos. Os brasileiros ficaram em 8º nos Jogos do Rio 2016; em 7º em Londres 2012, e 9º em Pequim 2008.
Em Paris, a maioria das medalhas brasileiras veio da natação (28 medalhas) e do atletismo (36), sendo estas as melhores participações na história em números quantitativos dessas modalidades. O nadador Gabriel Araújo, o Gabrielzinho, foi um dos grandes destaques, conquistando três ouros.
Os judocas também tiveram grande contribuição para o bom resultado da delegação brasileira, conquistando quatro ouros.
Meta mais do que atingida
"Em cada brasileiro pulsa hoje um coração Paralímpico", festejou o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado. "Nossa meta era 75 a 90 [medalhas]. Era ficar entre os oito, ficamos entre os cinco. Muita sensação de que o trabalho compensa."
Conrado disse que o plano, a partir de agora, é ampliar a participação de mulheres. "Essa delegação já teve 40% de mulheres. Se a gente olhar para China, mais de 60% das medalhas foram conquistadas por mulheres. Se a gente oportunizar, elas vão ser cada vez mais protagonistas."
rc/as (ots)
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Short teaser | País bate próprio recorde nos Jogos de Paris com 89 medalhas e alcança sua melhor colocação na história da competição. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/brasil-pela-primeira-vez-no-top-5-dos-jogos-paralímpicos/a-70166593?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Campanha brasileira em Paris deixou o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas | ||
Image source | Umit Bektas/REUTERS | ||
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Item 41 | |||
Id | 70166081 | ||
Date | 2024-09-08 | ||
Title | Alemanha investiga novos casos de manipulação de resultados em jogos de futebol | ||
Short title | Alemanha apura manipulação de resultados em jogos de futebol | ||
Teaser |
Casos estariam diretamente ligados à atuação das "bets", as empresas de apostas online. Autoridades analisam "decisões suspeitas dos árbitros" e comportamento de jogadores em 17 partidas de divisões diferentes. A polícia alemã confirmou a abertura de investigações sobre 17 partidas das divisões mais baixas do futebol alemão por suspeitas de manipulação de resultados em associação a empresas de apostas online – as chamadas "bets". Autoridades nos estados de Hesse e no Sarre deram inicio à análise de partidas consideradas suspeita. O Departamento Federal de Investigações Criminais (BKA) – a Policia Federal alemã – confirmou estar "envolvido no processo, no papel de coordenador central". As investigações se seguiram a uma matéria publicada no jornal Hamburger Morgenpost neste fim de semana. A reportagem denunciou esquemas de manipulação de resultados em partidas na terceira divisão do futebol alemão (3. Liga), no torneio semiprofissional da quarta divisão (Regionallliga) e na liga amadora que equivale a 5ª divisão (Oberliga). As manipulações estariam ocorrendo por intermédio das casas de apostas online desde novembro de 2022. Nos 17 jogos em questão, as autoridades disseram que estão sendo observadas decisões suspeitas dos árbitros das partidas e algum comportamento incomum de goleiros e defensores. As discussões sobre manipulação teriam ocorrido na chamada dark web. As trocas de mensagens revelam que os ganhos ilegalmente acumulados seriam pagos em criptomoedas, como o Bitcoin. Salários baixos propiciam manipulaçãoO jornal Hamburger Abendblatt denunciou outros dois incidentes na quinta divisão da Oberliga de Hamburgo, na semana passada, onde os chamados scouts de dados foram descobertos enviando informações em tempo real para plataformas de apostas durante as partidas. Após os scouts serem retirados dos estádios, não era mais possível apostar nesses jogos. A Associação Alemã de Futebol (DBF) afirmou não ter provas concretas, mas disse estar em contato com as autoridades e que analisa os casos junto a sua empresa parceira de monitoramento de apostas, a Genius Sports. A DFB disse que não vai comentar o caso em razão de as investigações estarem em andamento. Na Alemanha, é proibido apostar em atividades do esporte amador, mas as legislações vigentes não se aplicam a empresas estrangeiras de apostas. No final do ano passado, promotores públicos passaram a investigar uma quantidade incomum de apostas feitas em uma partida da quarta divisão do futebol alemão, envolvendo a equipe do FSV Frankfurt, após uma dica dada por uma empresa de apostas. Hannes Beuck, fundador da Gamesright, uma entidade que apoia apostadores que perderam dinheiro em casinos online, avalia que o potencial para manipulação de resultados no esporte amador é mais alto, uma vez que jogadores e juízes recebem salários menores, ou inexistentes. Lembranças do escândalo HoyzerAs novas investigações reavivaram a memória dos alemães de um escândalo de 2005, quando foi revelado que o árbitro Robert Hoyzer manipulou partidas da segunda e da quarta divisão alemã e da Copa da Alemanha, em colaboração com uma máfia de apostas da Croácia. Hoyzer foi condenado a dois anos e cinco meses de prisão. Também foi envolvido no escândalo o árbitro Felix Zwayer, que foi banido por seis meses por não denunciar imediatamente uma propina de 300 euros (R$ 1.856) oferecida por Hoyer em 2004. Zwayer negou ter aceitado o dinheiro e até hoje é árbitro da DFB e da União das Associações Europeias de Futebol (Uefa). rc (dpa, AP) |
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Short teaser | Casos estariam ligados à atuação das "bets". Autoridades analisam "decisões suspeitas de árbitros" e de jogadores. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-investiga-novos-casos-de-manipulação-de-resultados-em-jogos-de-futebol/a-70166081?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 42 | |||
Id | 70114392 | ||
Date | 2024-09-02 | ||
Title | Atletas norte-coreanos podem ser punidos por selfie com sul-coreanos | ||
Short title | Atletas norte-coreanos podem ser punidos por selfie em Paris | ||
Teaser |
Mesatenistas teriam sido colocados sob "vigilância ideológica" após interação com colegas do país vizinho nos Jogos Olímpicos e podem ser punidos se não demonstrarem arrependimento e remorso pelo gesto. Uma das imagens mais emblemáticas dos Jogos Olímpicos de Paris pode ter gerado graves problemas para alguns atletas norte-coreanos. Há semanas, mesatenistas da Coreia do Sul e Norte protagonizaram um momento histórico após disputarem o pódio na categoria de duplas mistas. Após receberem a medalha de bronze, os sul-coreanos Lim Jong-hoon e Shin Yu-bin se juntaram aos norte-coreanos Kim Kum-yong e Ri Jong-sik, que conquistaram a prata em Paris, para uma selfie. Os chineses Wang Chuqin e Sun Yingsha, também aparecem na imagem. O gesto foi visto internacionalmente como um símbolo de como o esporte é capaz de superar barreiras e unir os povos. Uma das imagens foi postada no Instagram oficial dos Jogos de Paris e gerou enorme repercussão positiva, sendo considerada um dos grandes momentos do megaevento esportivo. Contudo, relatos divulgados na imprensa sugerem que Kim e Ri teriam sido colocados sob "escrutínio ideológico" após retornarem ao seu país. O portal de notícias sobre a Coreia do Norte Daily NK, com sede em Seul, citou uma autoridade de alto escalão em Pyongyang que disse que atletas e membros do Comitê Olímpico Norte-Coreano passaram por uma "lavagem ideológica" de um mês de duração. De acordo com a reportagem, este seria um procedimento padrão no país imposto aos atletas que forem expostos à vida fora do regime comunista. "Lavagem ideológica"Segundo o Daily NK, o termo "lavagem ideológica" reflete como Pyongyang avalia que passar algum tempo fora de suas fronteiras pode "contaminar" seus cidadãos ao serem expostos a outras culturas. O portal destaca que os atletas norte-coreanos recebem instruções para não interagirem com competidores de outros países, incluindo da Coreia do Sul, e teriam sido advertidos que tais "confraternizações" seriam passíveis de punição. Os mesatenistas teriam sido alvo de críticas em um relatório enviado às autoridades do regime de Pyongyang por sorrirem enquanto posavam ao lado de atletas do país vizinho, que o regime comunista considera como seu pior inimigo. Não está claro qual punição deve ser dada aos atletas. O portal Korea Times sugeriu que isso pode depender da intensidade do arrependimento demonstrado pelos esportistas. Segundo o portal, os atletas norte-coreanos que retornam de competições internacionais no exterior costumam passar por sessões de "avaliação ideológica" em três etapas. As avaliações terminam em sessões de autorreflexão, nas quais eles devem criticar "comportamentos inadequados" dos integrantes de suas equipes, além de suas próprias ações. O Korea Times citou o relato de uma fonte anônima, segundo a qual, expressões emocionadas de arrependimento podem poupar os atletas de "punições políticas ou administrativas", cujo teor é desconhecido. Pressão por resultadosA ONG Human Rights Watch disse que os relatos revelam os esforços do regime do ditador Kim Jong-un para controlar seus cidadãos além de suas fronteiras. "O Comitê Olímpico Internacional (COI) tem a responsabilidade de proteger os atletas de todas as formas de assédios e abusos, como consta na Carta Olímpica", disse a entidade, em nota. "Os atletas norte-coreanos não deveriam temer retaliações por suas ações durante os Jogos, menos ainda quando incorporam os valores do respeito e da amizade, sobre os quais se ergue o movimento olímpico." Segundo os relatos, outros atletas que não conquistaram medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris teriam sido punidos pela suposta baixa performance nas competições. O Daily NK menciona o caso da seleção de futebol norte-coreana que foi eliminada da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, depois de perder os três jogos da fase de grupos e sofrer 12 gols. Segundo o portal, os jogadores teriam sido alvos de uma bronca de horas de duração por supostamente traírem o regime. O técnico da equipe teria sido forçado a trabalhar na construção civil. rc/md (Reuters, ots) |
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Short teaser | Mesatenistas teriam sido colocados sob "vigilância ideológica" após interação com sul-coreanos nos Jogos Olímpicos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/atletas-norte-coreanos-podem-ser-punidos-por-selfie-com-sul-coreanos/a-70114392?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 43 | |||
Id | 64814042 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
Short title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
Teaser |
UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção.
Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março.
Lei antioligarca
De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda.
Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias.
Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado.
Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos
A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares.
Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas.
Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares.
Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo
A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país.
Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros.
A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões.
Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares.
Não existem mais oligarcas ucranianos?
Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política.
Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los".
De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE.
Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra.
"Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos.
Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.
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Short teaser | UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas. | ||
Author | Eugen Theise | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/qual-ainda-é-o-real-poder-dos-oligarcas-ucranianos/a-64814042?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia | ||
Image source | Daniel Naupold/dpa/picture alliance | ||
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Item 44 | |||
Id | 64820664 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
Short title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
Teaser |
De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02).
A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes.
Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros.
O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro.
Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado.
Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos.
De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas.
Turquia começa reconstrução
As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção.
Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep.
Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente.
Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad.
Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados.
Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares.
Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores.
Istambul precisa de 40 bilhões de dólares
Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto.
"A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico.
De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia.
Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil.
le (EFE, DPA, Reuters, ots)
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Short teaser | De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/mortos-em-terremoto-na-turquia-e-na-síria-passam-de-50-mil/a-64820664?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil | ||
Image source | Selahattin Sonmez/DVM/abaca/picture alliance | ||
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Item 45 | |||
Id | 64819106 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
Short title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
Teaser |
Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou.
"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE.
O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado.
Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética.
Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia.
Acordo após mais de 24 horas de reuniões
As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões.
"Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter.
O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca.
Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen.
O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE.
Sanções contra firmas iranianas
Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia.
As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas.
Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco.
O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia.
No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional.
md (EFE, Reuters, AFP)
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Short teaser | Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ue-impõe-10°-pacote-de-sanções-contra-a-rússia/a-64819106?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen, | ||
Image source | Zhang Cheng/XinHua/dpa/picture alliance | ||
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Item 46 | |||
Id | 64816115 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
Short title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
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Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia.
Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou.
Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor."
Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz.
"No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter.
Estreitar laços
O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra.
Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou.
Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo".
O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra".
Proposta da China
Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países.
"Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou.
Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev.
cn/bl (Reuters, AFP, Efe)
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Short teaser | Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/zelenski-quer-américa-latina-envolvida-em-processo-de-paz/a-64816115?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia | ||
Image source | President of Ukraine/apaimages/IMAGO | ||
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Item 47 | |||
Id | 64811757 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Short title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Teaser |
Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado. Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos. Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares. Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia. Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%. No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente. Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim. "A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico. A proposta da China para a guerra na UcrâniaAté a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta. Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito. No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada. "A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW. Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia. O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais. "Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia. "No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou. Mediador duvidosoAlém disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou. Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin. "É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner. Campanha de relações públicas sem riscosA proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática. "O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura. "Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou. "Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner. Outros pontos da propostaO texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais. A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta. "O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang. |
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Short teaser | Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia. | ||
Author | Alena Zhabina | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 48 | |||
Id | 64811407 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin | ||
Short title | Zelenski, o presidente subestimado por Putin | ||
Teaser |
Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente. As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo. Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!". "Preciso de munição, não de carona"Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido. A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos. A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo. Câmeras, as armas mais poderosas de ZelenskiEm seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana. No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos". No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo. Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas. Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação. Putin não levou Zelenski a sérioMuitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin. A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia. Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado. Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente. Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas. A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir. Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos. Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar. Nem tudo é fácilIsso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos. Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana. O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia. Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana. |
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Short teaser | Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores. | ||
Author | Roman Goncharenko | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 49 | |||
Id | 64810396 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Short title | Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Teaser |
Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online.
Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa.
"Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema."
A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha".
Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída.
Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência
Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real.
Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala.
"Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW.
Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos.
Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento.
Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real.
"Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman.
Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional
De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização.
"É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman.
Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse.
"Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman.
Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos.
O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum".
"Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças.
Fadiga por compaixão em relação a refugiados
Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia.
"Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW.
Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo.
É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África.
"Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa.
A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida
A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo.
"Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW.
Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis.
"Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW.
Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida.
Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.
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Short teaser | Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. | ||
Author | Fred Schwaller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia | ||
Image source | Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 50 | |||
Id | 64809638 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok | ||
Short title | Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok | ||
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Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos.
Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março.
Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados.
Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos.
Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas."
Pressão por interdição total do TikTok nos EUA
Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos.
O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas".
"Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro.
Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China.
TikTok nega ingerência de Pequim
Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos.
Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados.
Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados.
av/bl (AFP, Reuters, ots)
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Short teaser | Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos. | ||
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Item 51 | |||
Id | 64800152 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Como e quando poderia haver paz na Ucrânia? | ||
Short title | Como e quando poderia haver paz na Ucrânia? | ||
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Um ano após o início da guerra, nenhum dos lados parece disposto a negociações. Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para o conflito.Dezenas de milhares de soldados mortos e mutilados dos dois lados, milhares de vidas de civis ucranianos perdidas, cidades destruídas. A isso se somam uma crise energética mundial, inflação em diversos países em desenvolvimento e fome. Este é o balanço de uma guerra que, depois de um ano, parece longe de ter fim.
O presidente russo, Vladimir Putin, não alcançou seu objetivo de conquistar totalmente a Ucrânia. Mas a Rússia ocupa atualmente um quinto do território vizinho.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por sua vez, afirma reiteradamente que pretende reconquistar toda a área tomada pelos russos – inclusive a Península da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014.
Em discurso sobre o estado da naçãona última terça-feira (21/02), Putin não se mostrou disposto a ceder – pelo contrário. "É impossível derrotar nosso país no campo de batalha", afirmou.
O mandatário escalou o discurso com o anúncio da suspensão da participação da Rússia no tratado de desarmamento nuclear New Start, o último acordo do tipo ainda em vigor entre Moscou e Washington.
O anúncio parece ter sido uma reação à visita surpresa do presidente americano, Joe Biden, a Kiev no dia anterior. Biden garantiu a continuidade do apoio dos EUA a Zelenski. "Não se trata apenas da liberdade da Ucrânia. Trata-se da própria liberdade da democracia", disse Biden.
Em seguida, em visita à capital polonesa, Varsóvia, Biden reforçou que a Ucrânia "jamais será uma vitória para a Rússia".
Porém, tanto entre os republicanos no Congresso americano quanto entre a população dos EUA, a disposição em apoiar a Ucrânia no longo prazo está diminuindo.
Temor de uma terceira guerra mundial
A pressão para negociações de paz também aumenta na Alemanha. A mais recente Deutschlandtrend – pesquisa de opinião mensal da emissora pública ARD, realizada pelo instituto Infratest dimap – mostra que 58% dos entrevistados consideram que os esforços diplomáticos para encerrar a guerra são insuficientes – um recorde histórico.
Uma petição encabeçada por Sahra Wagenknecht, da legenda A Esquerda, e pela feminista Alice Schwarzer pede o início imediato de negociações de paz e o fim do envio de armas à Ucrânia pela Alemanha, que reviu seu pacifismo de décadas e adotou uma postura voltada à remilitarização com o início do conflito. O documento, assinado por teólogos, artistas e políticos, alerta contra uma nova guerra mundial.
O embaixador ucraniano em Berlim, Oleksei Makeiev, disse a um portal alemão de notícias que não consegue entender esse temor: "A Ucrânia já está na Terceira Guerra Mundial. A Rússia lidera uma guerra de aniquilação contra nós."
Reconquista de territórios ocupados
Já no ano passado, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, descartou, em entrevista à DW, passos unilaterais para alcançar a paz. O motivo: "Se a Ucrânia encerrar os combates, vai deixar de existir como Estado independente." Por isso, segundo Stoltenberg, Kiev precisaria vencer a guerra.
Para que a Ucrânia possa manter sua liberdade, países ocidentais vêm reforçando seu auxílio militar à nação invadida pela Rússia. No início deste ano, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, decidiu após longa hesitação, enviar tanques alemães à Ucrânia, depois que os EUA e outros países da Otan, como o Reino Unido, anunciaram o envio de blindados a Kiev.
Especialmente o modelo Leopard 2, fabricado na Alemanha, poderia ajudar a "superar a desvantagem da Ucrânia no campo de batalha", afirmou o coronel reformado Roderich Kiesewetter, que também é político do partido conservador alemão CDU, em mensagem por escrito à DW. "Mas, se os ucranianos conseguirão uma virada na linha de frente, dependerá do número, do tempo de fornecimento e da continuidade do envio de tanques", avalia.
A Ucrânia não espera só rechaçar ataques russos com os blindados. O consultor em segurança Nico Lange, que desde julho de 2022 trabalha para a iniciativa Zeitenwende da Conferência de Segurança de Munique e já ocupou posições de liderança na Fundação Konrad Adenauer, ligada à CDU, considera "realistas as chances militares de a Ucrânia reconquistar a totalidade dos territórios ocupados [pela Rússia] e, assim, reconstituir a paz".
Em entrevista à DW, Lange diz acreditar que "Putin só estará disposto a negociar quando a situação militar ficar tão favorável à Ucrânia que ele entenderá que não vai conseguir vitórias com essa guerra de agressão".
O general aposentado da Bundeswehr Helmut Ganser não partilha dessa visão. Na edição de fevereiro da publicação especializada em política internacional Journal für Internationale Politik und Gesellschaft, ele traça dois cenários para uma contraofensiva ucraniana rumo ao sul do país, na direção do Mar de Azov, com a atuação de tanques ocidentais.
No quadro mais pessimista, a ofensiva ucraniana ficaria atolada em meio à defesa maciça da Rússia. Para esse caso, Ganser já tenta preparar a opinião pública ocidental para "imagens de tanques Leopard destroçados", que a Rússia divulgaria na internet com prazer.
Para Ganser, o cenário mais otimista é ainda mais perigoso: as unidades de blindados avançariam até o Mar de Azov e ficariam diante da Península da Crimeia. O ex-general suspeita que seria no máximo nesse momento que Putin "expandiria a área total da guerra ao território dos países ocidentais apoiadores", e alerta: "Está aumentando o perigo de um deslizamento lento e, na verdade, não intencional, rumo a uma grande catástrofe para toda a Europa."
Já Lange vê a ameaça nuclear da Rússia como "um instrumento de guerra psicológica". Ele não apenas considera uma reconquista da Crimeia "possível do ponto de vista militar", mas endossa também a tentativa como algo aconselhável: "Exatamente pelo fato de que [perder] a Península da Crimeia seria uma vergonha para Vladimir Putin, a pressão militar sobre a Crimeia é uma possibilidade de fazer com que a Rússia se disponha a negociar", avalia.
Onde está o limite?
Os especialistas ouvidos pela DW se dividem quanto à possibilidade de a pressão militar aumentar ou a disposição de negociar da Rússia ou o risco de uma guerra nuclear.
O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), sempre sublinhou que a Alemanha não pode se tornar parte diretamente envolvida no conflito. Por isso, houve longa hesitação do país em decidir enviar tanques à Ucrânia, e Scholz ainda descarta o envio de aviões de guerra a Kiev. Biden também não prometeu caças a Zelenski.
Já o político da CDU e ex-militar Kiesewetter não "traçaria linhas vermelhas no que se refere a certos sistemas de armas". No contexto do direito internacional, um país só se transforma em parte envolvida numa guerra quando se envia soldados próprios, aponta Kiesewetter, que descarta tal cenário.
Objetivos incompatíveis de pacificação
Porém, entre os países que apoiam a Ucrânia, há muitos que acreditam que não será possível encerrar o conflito sem alguma disposição de Kiev de chegar a um acordo político. Na própria Ucrânia, essa vontade é quase imperceptível, segundo avalia o jornalista Roman Goncharenko, da redação ucraniana da DW.
"Nas primeiras semanas depois da invasão, Kiev estava disposta a fazer concessões, como neutralidade em vez de se tornar país-membro da Otan. Mas a brutalidade do Exército russo e a anexação de mais regiões praticamente impossibilitaram a busca de um compromisso. Uma pesquisa encomendada pela Conferência de Segurança de Munique mostrou que 93% dos ucranianos veem uma retirada completa da Rússia – também da Crimeia – como condição para um cessar-fogo", explica Goncharenko.
Um cenário irrealista na avaliação do cientista político Johannes Varwick, da Universidade alemã de Halle: "Muito provavelmente, no final, haverá uma Ucrânia neutra que não ficará na zona de influência do Ocidente ou da Rússia de forma nítida", especula.
Varwick vê urgência numa iniciativa de negociação do Ocidente. "Se, ao final de uma guerra longa ou que foi intensificada, tivermos o mesmo resultado que já seria possível hoje, não faz sentido continuar lutando com dezenas de milhares de mortos e pessoas traumatizadas", pontua.
Há sinais reais de pacificação?
Na última semana, a embaixada russa em Berlim divulgou o seguinte tuíte: "Todas as ações de combate terminam em negociações, estamos dispostos a elas. Mas apenas a negociações sem condições prévias e com base na realidade válida e considerando os objetivos que comunicamos publicamente."
Uma declaração que não pode ser interpretada como disposição a um acordo. A "realidade válida" inclui a ocupação russa de um quinto da Ucrânia, enquanto um dos objetivos era até mesmo a aniquilação completa do Estado ucraniano.
Durante a Conferência de Segurança de Munique deste ano, a China anunciou um plano de paz. Os governos do Ocidente, no entanto, veem o anúncio com ceticismo devido ao fato de a China nunca ter condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia. O Secretário de Estado americano, Antony Blinken, também teme que a China possa enviar armas à Rússia – o que Pequim contesta.
Vitória militar ou paz com compromissos?
O economista americano Jeffrey Sachs escreveu na edição de janeiro da revista britânica The Economist que, para uma solução de paz "credível", é decisivo que "os interesses de segurança mais importantes dos dois lados sejam respeitados". "A soberania e a segurança da Ucrânia precisam ser garantidas, enquanto a Otan precisaria prometer não se expandir para o leste."
Sachs espera impulsos de pacificação vindos sobretudo dos países que recusaram uma condenação da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas – além da China, Índia, Brasil e África do Sul, que são parceiros da Rússia no Brics.
"Esses países não odeiam nem a Rússia, nem a Ucrânia", afirma o economista. "Eles não querem nem que a Rússia conquiste a Ucrânia, nem que a Otan se expanda para o leste."
Kiesewetter, da CDU, alerta contra concessões a Moscou: "É um equívoco pensar que basta dar um pouco de terra para a Rússia para que o país mate sua sede de destruição. E uma eventual conquista de território pela Rússia serviria de modelo para outros países autocráticos definirem novas fronteiras militares, recorrendo a chantagem ou ameaça nuclear." O especialista acredita que principalmente a China já encara a Europa como uma "área de teste", tendo em vista a soberania de Taiwan.
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Short teaser | Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para a guerra. | ||
Author | Christoph Hasselbach | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/como-e-quando-poderia-haver-paz-na-ucrânia/a-64800152?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar | ||
Image source | Libkos/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 52 | |||
Id | 64793993 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | A guerra na Ucrânia em números | ||
Short title | A guerra na Ucrânia em números | ||
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Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em apoio militar e várias sanções. Dez gráficos ilustram as consequências de um ano de guerra de agressão russa.A Rússia está em guerra com a Ucrânia há um ano. Apesar da recaptura bem-sucedida de várias áreas pelo Exército ucraniano, grandes partes do país permanecem sob controle russo. Recentemente, em 19 de janeiro de 2023, as forças ucranianas se retiraram de Soledar, na região do Donbass, e desde então a cidade voltou às mãos dos russos.
Milhões de pessoas em fuga
De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, a guerra desencadeou a segunda maior crise de deslocamento do mundo. Na Europa, 6,3 milhões de refugiados ucranianos encontraram abrigo até agora. Outros 6,6 milhões de pessoas estão em fuga dentro do próprio país.
De acordo com as Nações Unidas, muitas pessoas são deportadas para a Rússia ou instadas a emigrar para lá, especialmente das áreas do leste da Ucrânia. Isso explica o alto número de refugiados na Rússia, país que usam para tentar chegar à União Europeia.
Pobreza e recessão
De acordo com o Acnur, a situação humanitária na Ucrânia "deteriorou-se rapidamente". Cerca de 40% da população depende agora de ajuda para sobreviver.
A situação econômica também é catastrófica. De acordo com o Banco Mundial e o Ministério da Agricultura da Ucrânia, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 35% em 2022. Sessenta por cento da população vive agora na linha da pobreza. A destruição da infraestrutura doméstica pela guerra é estimada em mais de 130 bilhões de euros.
Resiliência na Rússia
Em contraste com a Ucrânia, a situação na Rússia é menos crítica do que o estimado. Entretanto, os especialistas esperam uma deterioração este ano devido às sanções adicionais da União Europeia (UE) contra a Rússia adotadas em fevereiro deste ano.
As projeções para o desenvolvimento econômico da Rússia variam muito: enquanto a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) espera que a economia russa retroceda em 5,6% este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um pequeno crescimento, de 0,3%.
As receitas da Rússia provenientes das exportações de energia inicialmente cresceram acentuadamente após a explosão dos preços em março de 2022, mas depois caíram de forma constante. Entretanto, se estabilizaram no nível de dezembro de 2021, anterior à guerra.
Em vista da queda dos preços do gás e do petróleo, bem como da diminuição da demanda, especialmente na UE, mas também em vista da estagnação na China, espera-se no ano em curso uma nova queda na receita da Rússia proveniente das exportações de energia.
Bilhões para a defesa ucraniana
Bilhões de dólares em ajuda militar, humanitária e financeira têm fluído para a Ucrânia desde que a guerra começou. Com mais de 70 bilhões de euros em ajuda, os Estados Unidos encabeçam a lista de países doadores.
A UE e seus membros já mobilizaram mais de 50 bilhões de euros. A Alemanha é um dos maiores fornecedores de armas para a Ucrânia. Para 2023, estão previstos 2,2 bilhões de euros em ajuda militar.
Em vista da esmagadora superioridade militar da Rússia sobre a Ucrânia, a Otan também expandiu sua presença militar em seu flanco oriental. As chamadas forças de combate multinacionais foram destacadas para os Estados bálticos e a vigilância aérea na região foi reforçada.
Queda do preço do trigo
Pelo menos uma das catástrofes previstas não se concretizou: uma crise alimentar global devido à escassez de trigo foi evitada. De acordo com os ministérios da Agricultura da Ucrânia e dos Estados Unidos, a produção global de trigo aumentará de 778 milhões de toneladas na safra de 2021/2022 para 783 milhões de toneladas na de 2022/2023.
O preço do trigo, que após a invasão russa da Ucrânia atingiu um pico de mais de 430 euros por tonelada no mercado mundial em maio de 2022, voltou a cair para pouco menos de 300 euros a tonelada. O valor aproxima-se assim do preço de antes da guerra, quando o grão era comercializado por 275 euros a tonelada.
As perdas de produção na Ucrânia − ainda um dos principais produtores mundiais de trigo − estão sendo compensadas por outros países. A Austrália e a Rússia, em particular, aumentaram sua produção. Segundo a agência de notícias russa Tass, o aumento se deve "à incorporação de quatro territórios ucranianos". Com 102 milhões de toneladas, o Ministério da Agricultura russo também espera uma safra muito maior do que a estimada pelo Departamento de Agricultura americano.
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Short teaser | Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em ajuda militar: dez gráficos mostram consequências do conflito. | ||
Author | Astrid Prange | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-guerra-na-ucrânia-em-números/a-64793993?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia | ||
Image source | Nina Lyashonok/Avalon/Photoshot/picture alliance | ||
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