DW

Item 1
Id 74373946
Date 2025-10-16
Title Iogurte à base de formigas? Cientistas testam tradição dos Bálcãs
Short title Formigas no iogurte? Cientistas testam tradição dos Bálcãs
Teaser

Iogurte fermentado a partir de formigas foi parar em um restaurante premiado pelo guia Michelin

Pesquisadores revelam que os ácidos e bactérias das formigas aceleram a fermentação do leite. Receita foi comum na Turquia e em países como Bulgária e Albânia, e acabou incorporada à alta gastronomia.Seguindo uma antiga receita de iogurte antes comum nos Bálcãs e na Turquia, uma equipe de cientistas utilizou formigas vivas para fazer iogurte e demonstrou que os ácidos e as bactérias presentes nesses insetos aceleram a fermentação do leite. O estudo, realizado por cientistas de diversas instituições sob a liderança da Universidade Técnica da Dinamarca e da Universidade de Copenhagen, mostra como as práticas tradicionais podem "inspirar novas abordagens na ciência dos alimentos" e trazer "criatividade" à culinária. "O iogurte, um produto lácteo fermentado e picante, era uma adaptação cultural funcional que dependia das interações entre as pessoas, os animais leiteiros, o meio ambiente e os micróbios. São os micróbios que entram no leite e, por meio de seus processos enzimáticos, catalisam a fermentação para produzir o iogurte ácido e viscoso", afirmam os pesquisadores no estudo. "Hoje em dia, os iogurtes são geralmente feitos com apenas duas cepas bacterianas", ressalta uma das autoras, Leonie Jahn. No entanto, segundo ela, as receitas tradicionais de iogurte têm uma biodiversidade muito maior, que varia de acordo com a localização, as famílias e a estação do ano. "Isso proporciona mais sabores, texturas e personalidade." Pesquisadores refazem receita tradicional Para entender melhor como usar formigas na produção de iogurte, os pesquisadores visitaram o vilarejo da família da coautora e antropóloga Sevgi Mutlu Sirakova, na Bulgária, onde seus parentes e outros moradores locais ainda se lembram da tradição. Foram usadas formigas vermelhas da madeira (Formica rufa), encontradas nas florestas dos Bálcãs e da Turquia, onde essa técnica de fabricação de iogurte era popular no passado. Histórias repassadas oralmente indicam que países como Albânia e Macedônia do Norte também seguiam a receita. "Observamos que esses países estão conectados por laços culturais anteriores ao estabelecimento das fronteiras nacionais, contribuindo para a continuidade geral entre suas práticas culinárias, tanto hoje quanto ao longo dos milênios", consta do estudo. "Colocamos quatro formigas inteiras em um pote de leite morno, seguindo as instruções do tio de Sevgi e dos membros da comunidade", lembra a autora Veronica Sinotte. O pote foi então colocado em um formigueiro para fermentar durante a noite e, no dia seguinte, o leite começou a engrossar e azedar. Os pesquisadores, que provaram o iogurte durante a viagem, o descreveram como "ligeiramente ácido, herbáceo e com sabores de gordura de pasto". De volta à Dinamarca, a equipe analisou o iogurte feito com formigas e descobriu que esses insetos transportam bactérias lácticas e acéticas que ajudam a coagular os laticínios. Uma dessas bactérias era semelhante à encontrada no pão comercial. Os insetos em si também contribuem no processo de fabricação do iogurte: o ácido fórmico, que faz parte do sistema de defesa química natural da formiga, acidifica o leite, altera sua textura e cria um ambiente favorável para que os micróbios se desenvolvam, explicam os pesquisadores. Paralelamente, as enzimas da formiga e os micróbios trabalham em conjunto para decompor as proteínas do leite e transformá-lo em iogurte. Do laboratório à alta gastronomia Michelin Os pesquisadores produziram e compararam iogurtes feitos com formigas vivas, congeladas e desidratadas. Apenas as formigas vivas inocularam a comunidade microbiana adequada, o que significa que são as mais eficazes para a produção de iogurte, mas a equipe indica cuidado para garantir que os produtos sejam seguros para consumo. As formigas vivas podem abrigar parasitas, e congelar ou desidratar os insetos pode permitir que bactérias nocivas se proliferem. Para testar as possibilidades culinárias contemporâneas deste iogurte, a equipe se associou a chefs do Alchemist, um restaurante com duas estrelas Michelin em Copenhague, na Dinamarca, que deram um toque moderno ao iogurte tradicional. Os convidados foram servidos com várias criações, como sanduíches de sorvete de iogurte em forma de formiga, queijos semelhantes ao mascarpone com sabor picante e coquetéis clarificados com um toque de leite, todos inspirados no iogurte de formiga e utilizando o inseto como ingrediente principal. "As evidências etnográficas do iogurte de formigas em várias regiões sugerem que as formigas podem desempenhar um papel funcional negligenciado na fermentação", afirmam os pesquisadores no estudo. "Fornecer evidências científicas de que essas tradições têm um significado e um propósito profundos, embora possam parecer estranhas, acho isso realmente bonito", completa Jahn. gq/ra (efe, dw, ots)


Short teaser Pesquisadores comprovam que ácidos e bactérias das formigas aceleram a fermentação do leite.
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Image caption Iogurte fermentado a partir de formigas foi parar em um restaurante premiado pelo guia Michelin
Image source David Zilber/dpa/picture alliance
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Item 2
Id 74386826
Date 2025-10-16
Title Crônica: um gênero atual ou que respira por aparelhos?
Short title Crônica: um gênero atual ou que respira por aparelhos?
Teaser A crônica é para muitos a porta de entrada para a leitura. Gênero vem perdendo espaços nos jornais, mas é aberto a adaptações. DW conversou com cronistas de diferentes gerações.

Certa vez, uma repórter de TV perguntou a Luis Fernando Verissimo: "Como nasce uma crônica?". "Qualquer coisa pode virar uma crônica", respondeu ele. E deu alguns exemplos: "Uma frase, um cheiro, um incidente…". Terminada a entrevista, a repórter tirou um livro da bolsa, e o entregou ao entrevistado. Antes, porém, rabiscou um bilhetinho: "Sua braguilha está aberta".

Na mesma hora, Verissimo sorriu, virou-se para a jornalista e reiterou: "Qualquer coisa pode virar uma crônica. Até uma braguilha aberta". E, realmente, virou: Nasce Uma Crônica foi publicada no jornal Correio Popular, em 1º de maio de 2003.

Noutra ocasião, Ignácio de Loyola Brandão foi sabatinado por uma turma de estudantes. Lá pelas tantas, alguém comentou: "O senhor tem 88 anos e não tem voz de velho". "Voz de velho?", repetiu o autor. "Voz frágil, hesitante", explicou o aluno. "Falou por duas horas e está firme. Qual o segredo?"

"Sou ansioso, como bem, bebo vinho; não tenho disciplina nenhuma", respondeu. "E como chegou a esta idade?", indagou outro. "Ora, não morri", respondeu. E todos caíram na risada. Sim, aquele bate-papo também foi parar nos jornais, em Como Nasce uma Crônica, na edição de 3 de novembro de 2024 do jornal O Estado de S. Paulo.

Aos 89 anos, Ignácio de Loyola Brandão é um dos mais experientes cronistas brasileiros. Seus textos estão em incontáveis coleções do gênero, como Crônicas para Ler na Escola, da Editora Objetiva, e Crônicas para Jovens, da Global Editora. "A crônica sobrevive porque evolui. Ou ela mudava, ou perdia o sentido", avalia o autor. "Minha crônica tem algo de memorialista. Abordo muito o cotidiano. Às vezes, resvalo para o realismo mágico. Creio que estou fadado a desaparecer", admite o autor de Sonhando com o Demônio (1998) e O Homem que Odiava Segunda-Feira (1999).

Cinco das Cem Melhores Crônicas Brasileiras (2007) são de Verissimo e Loyola. Ed Mort e o Anjo Barroco (1983), Grande Edgar (2001), Homem Que É Homem (2001) e Sexo na Cabeça (2002) são do gaúcho de Porto Alegre. Já Calcinhas Secretas (2003) é do paulista de Araraquara.

Quem também marca presença na antologia organizada por Joaquim Ferreira dos Santos é Mario Prata: Minhas Bunda (2001). "Por que escrevo? Ora, para pagar boletos", diverte-se o mineiro de Uberaba, aos 79 anos, que calcula já ter escrito mais de 3 mil crônicas. "É a minha profissão. Trabalho com um puta prazer. Não sei fazer mais nada da vida. Nem fritar ovos eu sei."

"Patinho feio"

Recentemente, dois novos livros de crônicas chegaram às livrarias: Viagem no País da Crônica, escrito por Humberto Werneck, e Um Século em Cem Crônicas, organizado por Maria Amélia Mello, com a colaboração de Cláudia Mesquita. No primeiro deles, o ex-editor do Portal da Crônica Brasileira explica que o gênero nasceu na França e chegou ao Brasil em 1852 trazido pelo poeta carioca Francisco Otaviano. Diz também que foi Machado de Assis quem popularizou o termo "crônica" na década de 1870 e Rubem Braga quem o abrasileirou na década de 1930. É de Braga, aliás, uma de suas definições mais famosas: "Se não é aguda, é crônica…".

"Não creio que ‘o patinho feio' vá se transformar um dia em cisne. Pensando bem, é melhor que ele jamais vire cisne – ave um tanto enfatuada, convenhamos. O que precisa acontecer com a crônica é que se generalize a constatação de que ela constitui um gênero autônomo, e não um subgênero, como ainda há quem avalie", destaca Werneck. "Estamos a caminho desse reconhecimento, e um sinal disso é que, nos concursos literários, a crônica já merece categoria própria, quando até recentemente, como no Prêmio Jabuti, ela, no máximo, dividia espaço com o conto, o que não tem nada a ver."

Das 77 crônicas do livro, muitas fazem referência a Rubem Braga, definido por Werneck como "o maior de todos". Em Original Até no Plágio, fala da vez em que Braga, "à míngua de inspiração", pergunta a Fernando Sabino se ele não tem alguma crônica "usada" que pudesse lhe ceder. O mineiro, então, oferece ao capixaba a história de uma sopa servida a preços irrisórios num refeitório popular do Centro do Rio de Janeiro. Tempos depois, a situação se inverte: e o que Braga faz? Oferece a Sabino a mesmíssima crônica! "Fernando ensaiou reclamação, mas, sem alternativa, engoliu a requentada sopa", ri Werneck.

Braga e Sabino, aliás, são presenças obrigatórias em qualquer antologia, como Os Sabiás da Crônica (2021), da Autêntica. Nela, estão ao lado de outros gigantes, como Vinicius de Moraes, Paulo Mendes Campos, Sérgio Porto e José Carlos Oliveira. O livro, organizado por Augusto Massi, reúne 90 crônicas, 15 de cada autor. "Crônica é conversa de taxista: de repente, sem nenhuma intimidade, o sujeito se abre. Tem o timing da corrida: os segredos de uma vida são revelados entre você abrir a porta e descer no seu local de destino", explica o doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP).

A concepção de Os Sabiás da Crônica é de Maria Amélia Mello, responsável pela seleção e organização de Um Século em Cem Crônicas. Se naquela antologia os seis autores pertenciam à Editora Sabiá; nesta, os 32 cronistas passaram pela redação do jornal carioca O Globo. Vão desde nomes clássicos, como os dos jornalistas Antonio Maria, Nelson Rodrigues e Otto Lara Resende, a outros inusitados, como o humorista Jô Soares, o compositor Aldir Blanc e o cineasta Cacá Diegues. "Ao cronista tudo é permitido, menos entediar o leitor", avisam as autoras logo na apresentação do livro.

Aperitivos literários

Uma das primeiras coleções a reunir textos de grandes cronistas se chamava Para Gostar de Ler e saiu pela Editora Ática, em 1976. Foi criada pelo editor Jiro Takahashi depois de uma ligação de Affonso Romano de Sant'Anna para falar sobre Rubem Braga. "Por que meus livros vendem pouco?", queria saber o cronista. Nos primeiros cinco volumes, as crônicas eram de Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. O mais recente título, Um Peixe Boiando no Ar (2024), é de Ricardo Azevedo.

Mas, e se a coleção Para Gostar de Ler fosse criada hoje, em 2025? Quem Jiro Takahashi convidaria para escrever os volumes dedicados a crônicas? "Humberto Werneck, Antonio Prata, Martha Medeiros e Ruy Castro", responde o editor de 77 anos.

Gaúcha de Porto Alegre, Martha Medeiros lançou sua primeira coletânea do gênero em 1995: Geração Bivolt. Uma delas, Doidas e Santas (2008), chegou a inspirar filme, protagonizado por Maria Paula, e peça, estrelada por Cissa Guimarães. A crônica Pessoas Habitadas (2005), aliás, foi escolhida uma das cem melhores do Brasil por Joaquim Ferreira dos Santos, em 2007.

"A periodicidade é o grande diferencial da crônica em relação a outros gêneros mais perenes. Mas, não vejo isso como um demérito. É apenas a crônica sendo o que é, meio moleca em meio aos ‘adultos'. Um vagalume que ilumina um tema aqui e, no momento seguinte, acolá", afirma Medeiros.

Quem cresceu lendo a coleção Para Gostar de Ler foi Janaína Senna. "Como eu, muitos da minha geração conheceram primeiro o cronista Drummond e só depois o poeta", diz. Hoje, ela é editora da Nova Fronteira, responsável pela coleção Jovem Leitor. Com seis títulos publicados e dois a caminho, já dedicou volumes a Rachel de Queiroz, João Ubaldo Ribeiro e Carlos Heitor Cony.

"A crônica é ideal para leitores em formação, que ainda não têm fôlego de leitura ou não conhecem determinado autor. É como se fosse um aperitivo oferecido aos iniciantes. Incentivamos o interesse deles pelo banquete literário que os aguarda", opinou Senna.

A Global tem duas coleções dedicadas ao gênero: Melhores Crônicas, com 36 títulos, e Crônicas para Jovens, com 13. Manuel Bandeira, Cecilia Meireles e Marina Colasanti, por exemplo, estão nas duas. "Os jornais e revistas deixaram de ser o espaço exclusivo para os cronistas darem o seu recado e passaram a conviver com outras formas de publicação, como o Instagram e o Substack", exemplifica Gustavo Tuna, gerente editorial da Global. "Esses novos meios de publicação possibilitam um contato direto do autor com seus leitores. Infelizmente, muitos internautas aproveitam o espaço para fazer comentários inoportunos e rudes."

A nova geração

Indagados sobre jovens talentos, Senna e Tuna citam, entre outros, Leo Aversa, de 57 anos, e Vanessa Barbara, de 43. Aversa começou a escrever aforismos e microcrônicas nas redes sociais por volta de 2013. Muitos likes e compartilhamentos depois, foi chamado para publicar crônicas no Colabora, um site de jornalismo independente sobre desenvolvimento sustentável, em 2015. O convite para assinar uma coluna no jornal O Globo, onde está até hoje, surgiu em 2018. "A crônica e a fotografia são bem parecidas: as duas são frutos da observação", afirma o cronista e fotógrafo.

Para o autor de Crônicas de Pai (2021), a parte mais difícil é achar o assunto certo. "Se você escreve algo que está nas manchetes, mas não te diz nada pessoalmente, vira um texto burocrático. Por outro lado, se escreve algo que só interessa a você mesmo, pode ficar hermético. É preciso achar o equilíbrio. Uma vez definido o tema, o resto é mais fácil", acredita o admirador confesso de Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Antonio Prata. "De qualquer maneira, é preciso ficar atento às repetições. Já publiquei quase quatrocentas crônicas e, volta e meia, penso em algo que já disse antes."

Versátil, Barbara já escreveu romance, infantil e até HQ. Dos seus onze livros, apenas um é de crônicas: O Louco de Palestra e Outras Crônicas Urbanas (2014). "Temos alguns raros cronistas em atividade: Humberto Werneck, Antonio Prata e Gregório Duvivier. Mas o fato de serem poucos não é culpa da crônica", salienta. "Os jornais não estão mais interessados nesse tipo de texto, então quase não há espaço para publicar." Barbara não escreve semanalmente desde 2017 quando saiu do Estadão. De 2019 a 2020, publicou na revista online Brechas Urbanas, do Itaú Cultural. "Adoraria continuar escrevendo esse gênero tão brasileiro, mas o mercado é extremamente limitado", lamenta.

Por essas e outras, Barbara se considera uma cronista não praticante. "A crônica é considerada um gênero menor, mas eu acho que é imenso. É preciso ter um bom domínio de literatura e de jornalismo para acertar o tom – o texto não pode ser bobo, mas envolvente", ensina.

"A maior virtude de um bom cronista é a versatilidade na hora de escolher os assuntos. Eu gostava muito de publicar uma crônica sobre astronomia, seguida de outra sobre horticultura, política, gatos, literatura e sapateado. É uma delícia poder escrever com esse grau de liberdade sobre assuntos aleatórios e variados." E você, já leu uma crônica hoje?

Short teaser A crônica é para muitos a porta de entrada para a leitura. Gênero vem perdendo espaços nos jornais.
Author André Bernardo
Item URL https://www.dw.com/pt-br/crônica-um-gênero-atual-ou-que-respira-por-aparelhos/a-74386826?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 3
Id 74380199
Date 2025-10-16
Title Acordo de Paris ajuda a reduzir calor extremo, indica relatório
Short title Acordo de Paris ajuda a reduzir calor extremo, diz relatório
Teaser Calor extremo causa milhares de mortes por ano. Sem acordo para limitar o aquecimento global, planeta estaria caminhando para cenário catastrófico, apontam cientistas.

O cumprimento dos compromissos atuais para a redução das emissões de gases de efeito estufa pode evitar 57 dias extras de calor extremo por ano, em comparação com um mundo sem o Acordo de Paris para conter as mudanças climáticas, indicou um relatório da Atribuição Climática Global (WWA, na sigla em inglês) e da organização de pesquisa americana Climate Central divulgado nesta quinta-feira (16/10).

Apesar de ser a forma mais mortal de clima extremo, o calor é muitas vezes ofuscado por ameaças mais catastróficas, como enchentes e tempestades. Porém, mesmo pequenos aumentos de temperatura podem causar grandes danos a plantas, animais e humanos.

As mudanças climáticas estão tornando as ondas de calor ainda mais intensas e prováveis. Todos os anos, o calor causa meio milhão de mortes, e o aumento das temperaturas está levando ecossistemas críticos, como os recifes de corais, à beira do colapso.

Neste cenário, aumentar os cortes de emissões para atingir as metas do Acordo de Paris faria uma diferença crucial no que diz respeito ao calor para muitas comunidades ao redor do mundo, segundo o relatório. "Ainda não estamos vendo a ambição máxima, e isso é obviamente um problema enorme", disse a climatologista Friederike Otto, ligada à WWA. "É um problema que será pago com as vidas e os meios de subsistência das pessoas mais pobres do mundo, em todos os países."

O impacto do Acordo de Paris

Adotado em 2015, o Acordo de Paris uniu 196 países em um compromisso de limitar o aquecimento global a menos de 2 °C, com esforços para não ultrapassar a marca de 1,5 °C. As metas são medidas em relação aos níveis pré-industriais, antes que o uso generalizado de combustíveis fósseis começasse a alterar o clima do planeta. Um aumento superior a esse limite coloca em risco diversos ecossistemas do planeta.

Atualmente, o aquecimento global chegou a cerca de 1,4 °C. E mesmo se os países cumprirem as metas para reduzir as emissões, o mundo estaria a caminho de um aquecimento de pelo menos 2,6 °C até o final do século. Isso representaria 57 dias de calor extremo adicionais em comparação com o clima atual.

"Ainda estamos caminhando para um futuro perigosamente quente", disse Kristina Dahl, vice-presidente de ciência da Climate Central, acrescentando que muitos países continuam despreparados até mesmo para o nível de aquecimento atual.

Ainda assim, sem o histórico Acordo de Paris, o futuro seria muito mais sombrio, com 4 °C de aquecimento e 114 dias extras de calor extremo por ano até 2100, em comparação com os registrados atualmente – o dobro do previsto no cenário de aquecimento com base nas promessas atuais. Dias de calor extremos são aqueles nos quais as temperaturas ficam muito acima do normal para um determinado local.

Tal aquecimento tornaria eventos recordes recentes – como as temperaturas extremas na Europa em 2023 e o calor de 2024 no sul dos EUA e no México – de cinco a 75 vezes mais prováveis ​​do que hoje. Na Europa, essas ondas de calor causaram cerca de 47 mil mortes, enquanto as temperaturas escaldantes nos EUA e no México agravaram a seca existente.

Cada fração conta

Desde a adoção do Acordo de Paris, o mundo aqueceu 0,3 °C e agora registra 11 dias calor extremo a mais por ano, observou o relatório.

Mesmo esse pequeno aumento teve grandes impactos. As ondas de calor de 2022 na Índia e no Paquistão, que provocaram incêndios florestais, redução nas safras de trigo e cortes de energia, ficaram duas vezes mais prováveis. Já as temperaturas extremas em 2024 no Mali e em Burkina Faso, onde os termômetros atingiram 45 °C, estão nove vezes mais prováveis.

O relatório também destaca o perigo de pequenos aumentos de temperatura em regiões, como a Floresta Amazônica, crucial para a estabilidade do clima por sua capacidade de armazenar bilhões de toneladas de carbono.

"Ao longo de uma década, com 0,3 °C a mais de aquecimento, períodos de seis meses de calor extremo na Amazônia , como em 2023, que agravou severamente a seca devastadora, se tornaram dez vezes mais prováveis", disse Theo Keeping, pesquisador ambiental do Imperial College de Londres, que também trabalha com a WWA.

A seca afastou cerca de 420 mil crianças da escola, com muitos outros enfrentando escassez de alimentos e água, de acordo com um relatório da ONU.

Para a saúde humana, cada fração de grau "significará a diferença entre a segurança e o sofrimento de milhões", alertou Otto, que também é professora de ciências climáticas no Imperial College de Londres.

O calor costuma atingir com mais força os mais vulneráveis, incluindo famílias de baixa renda, pessoas com condições médicas preexistentes, trabalhadores de áreas externas e idosos. Desde a década de 1990, as mortes relacionadas ao calor entre idosos com mais de 65 anos aumentaram 167%, por exemplo. "Nós, humanos, somos muito mais vulneráveis ​​do que costumamos pensar", disse Otto.

Necessidade de maior adaptação ao calor

Mesmo que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas, dois meses extras de calor extremo por ano têm "enormes implicações para os direitos humanos e a necessidade de adaptação", avaliou Otto. O calor extremo pressiona não apenas a saúde, mas também o trabalho, os meios de subsistência e a infraestrutura.

Embora as medidas de proteção tenham melhorado desde 2015, apenas cerca da metade dos países possui sistemas de alerta precoce para o calor, e cerca de 47 têm planos nacionais de ação contra o calor, segundo o relatório. "As pessoas não precisam morrer de calor: existem medidas, relativamente simples, que as sociedades podem adotar para salvar vidas", acrescentou Otto.

As medidas incluem o fortalecimento dos sistemas de água, energia e saúde, a ampliação de áreas verdes urbanas para resfriar as cidades e reduzir inundações, e a aplicação de proteções trabalhistas para garantir a saúde e a capacidade de trabalho. No entanto, o financiamento para a adaptação continua criticamente insuficiente.

O relatório concluiu que o Acordo de Paris afastou o mundo dos cenários climáticos mais perigosos por enquanto. Pela primeira vez, as energias renováveis ​​ultrapassaram o carvão como principal fonte de eletricidade do mundo, por exemplo. No entanto, 2024 também foi o ano mais quente já registrado, e os níveis de CO2 na atmosfera atingiram novos recordes, de acordo com um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial.

Os países ainda precisam cortar ainda mais as emissões para manter o aumento da temperatura abaixo de 2 °C. Muitos nem anunciaram suas metas climáticas. Até o momento, afirmou Otto, o mundo não tem feito o suficiente para abandonar o petróleo, o gás e o carvão. "Temos todo o conhecimento e a tecnologia necessários para a transição dos combustíveis fósseis, mas políticas mais fortes e justas são necessárias para acelerar esse processo."

Short teaser Sem acordo para limitar o aquecimento global, planeta estaria caminhando para cenário catastrófico, apontam cientistas.
Author Holly Young
Item URL https://www.dw.com/pt-br/acordo-de-paris-ajuda-a-reduzir-calor-extremo-indica-relatório/a-74380199?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 4
Id 74370961
Date 2025-10-16
Title [Coluna] O protecionismo brasileiro está inspirando Trump?
Short title O protecionismo brasileiro está inspirando Trump?
Teaser

Com Trump, o protecionismo econômico que sempre foi visto como uma peculiaridade brasileira encontrou eco nos Estados Unidos

Presidente dos EUA está usando muitos elementos de uma política econômica que sempre foi típica do Brasil e que explica por que poucas empresas brasileiras são competitivas no mercado mundial.Em várias regiões do mundo, empresas e governos estão preocupados com a política econômica agressiva do presidente dos EUA, Donald Trump. Eles se incomodam com as tarifas alfandegárias arbitrárias, as sanções impostas se as exigências do americano não forem cumpridas, as subvenções para setores que não têm competitividade. Aqui no Brasil, algumas dessas medidas soam bem familiares, mesmo que elas não sejam impostas com a agressividade de Trump. O presidente americano usa muitos elementos de uma política econômica que há décadas é comum no Brasil. Os governos brasileiros tradicionalmente protegem seu mercado interno com elevadas tarifas para produtos importados. Isso vale para produtos industriais de ponta, como automóveis e celulares, e também para artigos mais simples, como móveis, sapatos e roupas. A economia brasileira é uma das mais fechadas entre as maiores do mundo. Por anos o Brasil manteve uma política de substituição de importações: tudo deveria ser fabricado aqui, incluindo computadores e automóveis. Oficialmente essa política não vale mais, mas, mesmo assim, as tarifas alfandegárias brasileiras fazem com que os consumidores brasileiros paguem mais caro pela maioria dos produtos – e geralmente com qualidade inferior. As subvenções a setores não competitivos também são comuns no Brasil. Se Trump interfere a favor de siderúrgicas ultrapassadas no Rust Belt, o Brasil se permite ter uma Zona Franca de Manaus, onde produtos eletrônicos são montados a partir de peças importadas. A participação local na cadeia de valor é pequena, e a produção só compensa por causa das isenções fiscais às custas do Estado. Lobby em Brasília Nos Estados Unidos, empresários peregrinam até Washington na esperança de que Trump vá ouvi-los. No Brasil, todas as grandes empresas têm escritórios de lobby em Brasília para tentar convencer deputados, senadores e ministros de suas posições. Há quem sugira acrescentar mais um B na lista dos lobbys mais influentes no Congresso Nacional, os chamados 3B (Bíblia, bala e boi) por causa da enorme influência das bets sobre os políticos brasileiros. Também na política econômica externa o Brasil já faz há décadas o que Trump agora persegue: o americano não quer fechar acordos de livre comércio com outros países ou regiões. Ao contrário: Trump quer renegociar ou até mesmo abolir a zona de livre comércio com o Canadá e o México, a USMCA, que antes se chamava Nafta, e que há 30 anos vem funcionando bem. No centro dos interesses de Trump está o mercado dos EUA. Empresas americanas devem poder exportar sem dificuldades, já as importações são, nessa perspectiva mercantilista, algo ruim. O Brasil, ao longo da sua história, também recusou acordos de livre comércio com outros países. Há 20 anos, o Brasil e outros países da região derrubaram a proposta de uma zona de livre comércio em todo o continente americano que era capitaneada pelos Estados Unidos. As negociações entre a União Europeia e o Mercosul também já existem há mais de 20 anos. Se um acordo for alcançado agora, o Brasil obterá prazos de transição generosos para muitos mercados. Isso não é o que se pode chamar de livre comércio. O próprio Mercosul não é exatamente uma exceção à essa regra: são tantas exceções e regras especiais para produtos que não se pode falar de uma comunidade econômica, mas, na melhor das hipóteses, de uma zona de livre comércio cheia de lacunas. Parece até que aquilo que sempre foi visto como uma peculiaridade brasileira – protecionismo, dirigismo estatal e desconfiança em relação ao livre mercado – encontrou um eco surpreendente nos EUA. Como afirmou o especialista em política externa Matias Spektor, "pela primeira vez, o Brasil exporta know-how para os Estados Unidos". __________________________________ Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.


Short teaser Presidente dos EUA está usando muitos elementos de uma política econômica que sempre foi típica do Brasil.
Author Alexander Busch
Item URL https://www.dw.com/pt-br/coluna-o-protecionismo-brasileiro-está-inspirando-trump/a-74370961?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/74231636_354.jpg
Image caption Com Trump, o protecionismo econômico que sempre foi visto como uma peculiaridade brasileira encontrou eco nos Estados Unidos
Image source Muhammed Selim Korkutata/Anadolu/picture alliance
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Item 5
Id 74357079
Date 2025-10-15
Title Drones ucranianos provocam crise de combustível na Rússia
Short title Drones ucranianos provocam crise de combustível na Rússia
Teaser País enfrenta falta de gasolina e fechamento de postos após ataques seguidos da Ucrânia contra refinarias de petróleo. Acordo discreto com Zelenski pode ser uma saída para o Kremlin.

A crise de combustível na Rússia desencadeada por ataques de drones ucranianos continua a piorar. Uma refinaria após a outra está tendo que fechar para reparos, e os volumes de produção diminuem significativamente.

Como resultado, os preços dos combustíveis na bolsa de valores atingiram níveis recordes. Os preços também estão subindo nos postos de gasolina. No entanto, ainda não de forma tão drástica, pois o governo os mantém artificialmente baixos. Mas, como na era soviética, a regulação de preços está levando à escassez.

Quais danos os drones causaram?

De acordo com fontes abertas analisadas pela DW, drones ucranianos atingiram nos últimos meses inúmeras refinarias de petróleo na Rússia. Entre elas, Afipsky, Ilsky e Slavyansk, no Território de Krasnodar, assim como instalações em Volgogrado, Novokuybyshevsk, Novoshakhtinsk, Ryazan, Samara, Saratov, Syzran e Ukhta. No total, quase metade de todas as refinarias na Rússia foram atacadas pelo menos uma vez.

As autoridades russas mantêm os dados oficiais de produção em segredo. A extensão dos danos só pode ser estimada com base em relatos anônimos de fontes internas e especialistas. De acordo com pesquisas da agência de notícias Reuters e da revista The Economist, até 20% da capacidade das refinarias poderia ter sido temporariamente comprometida.

Um participante do mercado confirmou uma estimativa semelhante à do jornal russo Kommersant: em setembro, houve uma escassez de cerca de 400 mil toneladas de gasolina – de um volume total de 2 milhões de toneladas. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, também afirmou que a escassez de gasolina na Rússia havia chegado a 20%.

Por que falta gasolina na Rússia?

A crise já havia se manifestado em meados do ano, mesmo antes de as refinarias terem a produção afetada. Vários fatores convergiram: um aumento sazonal na demanda, manutenção programada em algumas refinarias e reparos não programados em outras. Além disso, as empresas petrolíferas aumentaram significativamente suas exportações.

Quando a escassez elevou os preços a níveis recordes, as autoridades impuseram uma proibição temporária de exportação. Isso inicialmente esfriou o mercado. No entanto, especialistas alertaram desde o início que o efeito diminuiria rapidamente se novas interrupções ocorressem – como ataques massivos de drones. E foi exatamente isso que aconteceu.

Um fator-chave também pode ter sido a mudança de tática das Forças Armadas da Ucrânia, que estão atacando as mesmas refinarias repetidamente e impedindo que elas retomem os trabalhos. Por exemplo, a usina em Ryazan, uma das maiores do país, foi atingida pelo menos seis vezes, e as de Volgogrado e Syzran, quatro vezes cada.

"Antes, por volta de 2024, cada refinaria era atacada apenas uma vez, de modo que os danos podiam ser reparados em poucos dias ou semanas", explica Sergei Vakulenko, especialista do Centro Carnegie Rússia-Eurásia, em Berlim.

Como a Rússia tenta controlar os preços

Os fabricantes russos têm que vender pelo menos 15% de sua gasolina na bolsa. Os preços lá subiram mais de 40% desde o início do ano. Ao mesmo tempo, o governo mantém o mercado interno artificialmente estável com os chamados pagamentos de amortecimento: as petrolíferas vendem gasolina internamente a preços regulamentados e recebem indenização do Estado por quaisquer perdas. A autoridade antimonopólio também monitora os aumentos de preços e anunciou no fim do mês passado inspeções em postos de gasolina em diversas regiões.

Os preços da gasolina no varejo subiram 8,36% desde o início do ano (até 24 de setembro), segundo a Rosstat, agência de estatísticas do governo. Embora esse percentual seja o dobro da taxa geral de inflação, ainda é moderado. O problema é que postos de gasolina que não são afiliados a petrolíferas e não compram combustível diretamente delas não recebem o pagamento do governo. Eles precisam comprar combustível na bolsa, onde os preços são próximos aos do varejo.

Impacto nos postos

"Isso não é um colapso nem um pesadelo. Os problemas surgem porque o mercado estava acostumado a uma situação em que a gasolina era geralmente abundante", explica Sergei Vakulenko. "Há problemas logísticos porque uma refinaria após a outra está fechando. Redes de postos de gasolina independentes são forçadas a parar de comprar porque a gasolina está muito cara para elas na bolsa", acrescenta.

Muitos postos de gasolina independentes estão fechando para evitar prejuízos. De acordo com a agência OMT-Consult, o número deles caiu em cerca de 360 estabelecimentos entre 28 de julho e 22 de setembro. Isso pode parecer pequeno à primeira vista, mas em algumas regiões – como Rostov, Mari El e a Região Autônoma Judaica – até 14% dos postos tiveram que fechar. Na península ucraniana da Crimeia, que foi anexada pela Rússia, metade de todos os postos de gasolina está fechada. De acordo com a OMT-Consult, as regiões do Extremo Oriente estão particularmente em risco. Em outras regiões onde nenhum posto de gasolina fechou, o fornecimento de gasolina, entretanto, é limitado.

Como Moscou está reagindo?

O embargo às exportações de combustível vigorou inicialmente até o final de agosto, mas foi prorrogado até o final de 2025. A Rússia agora importa mais gasolina de Belarus, mas mesmo isso pouco contribui para aliviar a escassez.

De acordo com o jornal Kommersant, o vice-primeiro-ministro Aleksandr Novak propôs a abolição das tarifas sobre as importações da China, Coreia do Sul e Singapura, para garantir o abastecimento dessas regiões. Outra proposta é permitir que os fabricantes utilizem monometilanilina, um aditivo que permite a produção de gasolina a partir de matérias-primas de baixa qualidade. A Rússia proibiu seu uso em 2016, alinhando-se assim aos padrões europeus de emissões.

A eficácia dessas medidas é incerta – especialmente com a continuidade dos ataques por drones. Em algumas refinarias, diz Sergei Vakulenko, "nada mais funciona". A longo prazo, a liderança russa pode ser forçada a considerar um acordo tácito com a Ucrânia – uma renúncia mútua a ataques a instalações energéticas.

Short teaser País enfrenta falta de gasolina e fechamento de postos após ataques seguidos da Ucrânia contra refinarias de petróleo.
Author Oleg Loginov
Item URL https://www.dw.com/pt-br/drones-ucranianos-provocam-crise-de-combustível-na-rússia/a-74357079?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 6
Id 74370943
Date 2025-10-15
Title Xarope mortal expõe falhas do setor farmacêutico na Índia
Short title Xarope mortal expõe falhas do setor farmacêutico na Índia
Teaser

Xaropes para tosse fabricados na Índia têm sido associados a envenenamentos em larga escala em vários países nos últimos anos

Mais de 20 crianças morreram na Índia após tomar xarope para tosse contaminado. Caso revela lacunas de segurança no país que ficou conhecido como a "farmácia do mundo".A morte de mais de 20 crianças no estado de Madhya Pradesh, no centro da Índia, em setembro, abalou profundamente o país, que se considera uma potência farmacêutica. Todas as vítimas tinham menos de seis anos e haviam tomado um xarope para tosse comum. Autoridades locais analisaram a água do local e levantaram outras hipóteses para a tragédia, logo descartadas quando exames indicaram que os rins das crianças haviam deixado de funcionar. Semanas depois, um laboratório confirmou a suspeita: o xarope estava contaminado, com níveis fatais de dietilenoglicol – um solvente industrial e anticongelante químico que pode provocar insuficiência renal aguda. A mesma substância tóxica foi associada a tragédias anteriores, também relacionadas ao xarope para tosse fabricado na Índia, incluindo a morte de 18 crianças no Uzbequistão em 2023, cerca de 70 crianças em Gâmbia em 2022 e outras 12 na região do Jammu, território administrado pela Índia, em 2019 e 2020. Alertas e empresário preso A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta na terça-feira (14/10) sobre a contaminação de lotes específicos de três xaropes usados para aliviar sintomas de resfriado e tosse na Índia: Coldrif, Respifresh TR e ReLife. O uso dos medicamentos contaminados pode causar danos graves ou morte, especialmente em crianças, com efeitos como dor abdominal, vômitos, diarreia, dificuldade para urinar, dor de cabeça, confusão mental e lesão renal aguda, afirmou a OMS. Com a mais recente tragédia, a Organização Central de Controle de Medicamentos da Índia (CDSCO), autoridades estaduais e outros órgãos reguladores proibiram a venda do xarope em vários estados, emitiram alertas para a população e iniciaram uma investigação sobre o processo de fabricação. "Iniciamos inspeções baseadas em risco em 19 unidades de fabricação de medicamentos em seis estados para identificar falhas de qualidade", informou a CDSCO, em comunicado. O proprietário da Sresan Pharmaceuticals, empresa indiana responsável pelo xarope para tosse contaminado em Madhya Pradesh, foi preso, e a empresa fechada. No entanto, especialistas alertam que a indústria farmacêutica da Índia continua a operar sob um emaranhado de regulamentações estaduais desiguais, corrupção e coordenação interestadual deficiente. Cada estado, uma regra A Índia é o maior fornecedor mundial de vacinas, responsável por mais da metade da demanda global. Também é líder mundial na produção de medicamentos genéricos, ao abastecer 20% do mercado – embora algumas estimativas apontem para até 40%. A indústria farmacêutica indiana, no entanto, é descentralizada. Cada estado supervisiona sua própria produção e adota seus próprios protocolos de segurança. Algumas empresas exploram as lacunas desse sistema para evitar serem responsabilizadas. Soumya Swaminathan, ex-cientista-chefe da OMS, alertou que a estrutura regulatória de medicamentos da Índia precisa urgentemente de uma reforma abrangente. "A qualidade da supervisão varia significativamente de estado para estado, e a corrupção continua sendo uma preocupação séria", disse. "Além disso, a fraca coordenação entre os reguladores estaduais continua prejudicando a aplicação eficaz da segurança em todo o país", acrescentou. Dinesh Thakur, que expôs fraudes generalizadas na Ranbaxy, uma das maiores empresas farmacêuticas da Índia, compartilha preocupações semelhantes. "Há evidências mais do que suficientes de que as compras públicas em nível estadual estão repletas de corrupção. De que outra forma se pode explicar por que Madhya Pradesh comprou medicamentos de empresas incluídas na lista negra do governo?", questionou. O ativista da saúde pública aponta para um relatório recente do Controlador e Auditor Geral da Índia que mostrou que a administração de Madhya Pradesh continuou comprando e distribuindo medicamentos proibidos para uso humano pelo governo, colocando em risco a saúde pública. "As compras públicas em nível estadual são basicamente um esquema de patrocínio para fabricantes que financiam campanhas políticas", acrescentou. Protocolos de segurança Revistas médicas e estudos estimam que entre 20% e 25% dos medicamentos disponíveis no mercado estão abaixo dos padrões exigidos, principalmente em países em desenvolvimento. Medicamentos falsificados são uma indústria paralela em expansão na Índia, representando riscos graves à saúde pública e desestabilizando o setor farmacêutico. Nakul Pasricha, CEO da PharmaSecure (empresa de tecnologia voltada para segurança de medicamentos), disse que o país precisa de testes e inspeções regulares e contínuas, além de medidas mais rigorosas contra os infratores. "As penalidades atuais são um impedimento suficiente? Isso deve ser examinado. Precisamos conscientizar mais os pacientes e consumidores para que fiquem atentos. Acredito que precisamos aproveitar a tecnologia e as soluções para ter melhor rastreabilidade e divulgação de informações", avaliou Pasricha. "Agora, os fabricantes estão sendo solicitados a incorporar e divulgar informações sobre excipientes nos rótulos dos medicamentos. Por que não podemos ter visibilidade completa aproveitando os códigos QR já aplicados aos rótulos?", disse Pasricha, que trabalha com fabricantes farmacêuticos para rastrear e verificar suas cadeias de suprimentos e garantir a autenticidade de seus medicamentos. No caso da empresa de Pasricha, as embalagens dos medicamentos têm códigos que permitem aos consumidores confirmar a sua autenticidade. A "farmácia do mundo" passou a perna nos reguladores? O mercado farmacêutico da Índia vale cerca de 50 bilhões de dólares (R$ 274 bilhões), de acordo com estimativas da indústria e do governo. O país mais populoso do mundo está entre os três maiores fabricantes de produtos farmacêuticos, em volume produzido. "A Índia tem expertise para produzir medicamentos em nível mundial, mas a escala da indústria pode ter superado seus controles de qualidade. Sem testes consistentes e independentes, o sistema depende da confiança em vez da verificação, o que ajuda a explicar as recentes mortes relacionadas ao xarope para tosse", disse Rajeev Jayadevan, médico e comunicador da área da saúde. Jayadevan explica que a Índia é frequentemente chamada de "farmácia do mundo" devido à sua vasta indústria de medicamentos genéricos, que fornece remédios acessíveis a muitos países. O título vem com uma enorme responsabilidade. "Embora muitas empresas farmacêuticas indianas sigam boas práticas de fabricação e exportem para os mercados mais rigorosamente regulamentados, várias empresas menores podem estar operando com uma supervisão regulatória desigual."


Short teaser Mais de 20 crianças morreram na Índia após tomar xarope para tosse contaminado. Caso revela lacunas de segurança.
Author Murali Krishnan
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Image caption Xaropes para tosse fabricados na Índia têm sido associados a envenenamentos em larga escala em vários países nos últimos anos
Image source Priyanshu Singh/REUTERS
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Item 7
Id 74370448
Date 2025-10-15
Title [Coluna] Dia do Professor: Chega de homenagens vazias
Short title Dia do Professor: Chega de homenagens vazias
Teaser Os professores já estão cansados de ouvir que são importantes, quando na prática são desrespeitados e desvalorizados. Nesta data, eles gostariam é de mais ações e menos promessas.

Que tipo de homenagem já está cansado(a) de receber no Dia do Professor? Esta foi uma das perguntas que fiz ao entrevistar 29 docentes brasileiros de 11 estados.

A resposta de Luana da Silva, docente pernambucana, representa bem a de seus colegas: "O discurso da profissão como dom, sacerdócio e 'por amor'. Eu trabalho com amor, mas por amor, não. A profissão é uma parte da minha vida, mas minha vida não se resume a ela."

Os professores são unânimes: "vocês são heróis" ou "sem vocês não teria nenhuma outra profissão", embora muitas vezes proferidas com a melhor das intenções, soam vazias e não cobrem as lacunas deixadas por décadas de desrespeito e desvalorização.

O que gostariam de homenagem?

Se for para ser palavras, que sejam proferidas em um anúncio formal e seguido de ações reais e concretas: "A partir de hoje vocês receberão o piso nacional, que é lei. Terão um plano de saúde digno. Portanto, não precisarão mais trabalhar três turnos para ter uma vida razoável", diz Nivia Cardoso, docente há 37 anos na rede carioca.

Além disso, querem melhores condições de trabalho e ter a oportunidade de não mais lecionar em turmas superlotadas, muitas delas sem uma climatização básica.

O que os professores querem dizer?

Yaciara Mendes, docente no Distrito Federal, gostaria de deixar uma mensagem para os leitores desta coluna: "Queria dizer que estou bem, que amo meu trabalho e que me sinto realizada, mas a verdade é outra: estou exausta. E sei que não estou sozinha. Estamos todos cansados, sobrecarregados, desmotivados. E isso dói. Dói porque a gente não deixou de se importar. O problema é justamente esse: ainda nos importamos demais, mesmo quando ninguém parece se importar conosco ou ficam apenas nos discursos."

Ela prossegue: "É difícil continuar acreditando quando parece que estamos gritando num vazio. As condições são cada vez piores, o respeito cada vez menor. A cobrança só aumenta. E o apoio? Quase nenhum. Estamos adoecendo, física e emocionalmente. Fingindo força para seguir mais um dia, mais uma aula, mais uma correção de prova."

Muitas razões para desistir, mas resistem

Dentre os professores entrevistados, 65% já pensaram em desistir da profissão. Joseane Alves, docente alagoense, está dentro do time majoritário. Segundo ela, a maior razão é: "O tanto de trabalho que levamos para casa parece não ter fim. Minha casa virou outro local de trabalho, e isso é cansativo."

Ana Kevia, docente cearense, concorda e complementa: "O que mais cansa não é o ensinar, o esforço de preparar aulas, corrigir provas e nem lidar com diferentes temperamentos. O que realmente cansa é a falta de valorização. É ver tanto amor e dedicação sendo ignorados por quem deveria apoiar. É trabalhar sem recursos, improvisar todos os dias e ainda ouvir que 'professor reclama demais'."

Ela complementa: "O que faz pensar em desistir é perceber que a educação virou jogo político, que quem está na ponta — na sala de aula, nas escolas do interior, nas comunidades rurais — carrega tudo nas costas, enquanto decisões importantes são tomadas por quem nunca sentiu o cheiro de um giz."

Por que então resistem? O que os impede de desistir? Pode parecer clichê, mas são justamente as razões que os fizeram ingressar na profissão: simplesmente acreditam na educação como ferramenta e nos estudantes como agentes de transformação.

O que mantém Marilene Alves, docente paulista, resistindo é: "A paixão pelo que faço; também a possibilidade de ver os alunos alçando voos interessantes em vários segmentos da vida, da sociedade, alicerçados em conhecimentos que, muitas vezes, fomos nós que levamos até eles."

Querem ações concretas e não promessas

A melhor homenagem para os professores em seu dia não são palavras, mas sim ações: uma real valorização, não apenas salarial, mas também através do reconhecimento real da importância do trabalho que desenvolvem. Os professores precisam do básico que qualquer profissional precisa: serem valorizados e respeitados enquanto detentores do conhecimento que estudaram arduamente para adquirir.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do programa no Instagram em @salvaguarda1.

Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

Short teaser Não adianta dizer que eles são importantes se, na prática, não os valorizamos. Por mais ações e menos promessas.
Author Vinícius De Andrade
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Item 8
Id 74370164
Date 2025-10-15
Title Remake de "Vale Tudo" teve o mesmo impacto do original?
Short title Remake de "Vale Tudo" teve o mesmo impacto do original?
Teaser Especialistas apontam erros e acertos do remake de um dos maiores clássicos da teledramaturgia nacional.

O relógio marcava 18 horas quando o telefone tocou na casa de Beatriz Segall. Era sexta-feira, 23 de dezembro de 1988, antevéspera de Natal. Do outro lado da linha, o publicitário Washington Olivetto explicou à atriz que tinha criado um anúncio para uma companhia de seguro, e precisava de autorização para publicá-lo nos jornais.

A ideia era estampar uma foto dela e, logo abaixo, a seguinte frase: "Faça seguro. A gente nunca sabe o dia de amanhã". No dia seguinte, na noite de Natal, sua personagem em Vale Tudo, Odete Roitman, seria assassinada a tiros. Na mesma hora, Segall aceitou a proposta. "Cobrei muito pouco. Poderia ter cobrado mais", admitiu, aos risos, em depoimento ao portal do Memória Globo, em 2016.

Em 7 de outubro deste ano, um dia depois do (novo) assassinato de Odete Roitman, Débora Bloch caiu na risada ao se deparar com uma mobilização no Instagram para um bloco de Carnaval chamado Débora Bloco, que reuniu fãs do remake. "Eu iria, se estivesse viva", brincou a atriz nos comentários.

Trinta e sete anos separam a versão original, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, de sua releitura, adaptada por Manuela Dias. Em 1988, ainda não existia rede social. Em 2025, o telefone fixo virou peça de museu – só 7,5% dos domicílios têm o modelo para fazer e receber ligações.

"O jeito de ver televisão também mudou. Antigamente, o público repercutia o capítulo da novela no dia seguinte. Hoje, repercute em tempo real", compara a socióloga Maria Immacolata Vassallo de Lopes. Uma curiosidade: em 1988, a audiência de Vale Tudo no dia do assassinato de Odete Roitman chegou a 81 pontos; em 2025, não passou, em média, de 30,8. Já na plataforma de streaming da emissora, a transmissão ao vivo do capítulo da novela bateu recorde. Sinal dos tempos digitais.

Altos e baixos

Uma pesquisa do Datafolha revelou que 65% dos entrevistados consideram o remake ótimo ou bom, 25% regular e 8% ruim ou péssimo. Coordenadora da Rede Brasileira de Pesquisadores da Ficção Televisiva (Obitel Brasil), Immacolata faz parte do primeiro grupo. "A Odete de Débora Bloch é diferente da Odete de Beatriz Segall. Não tinha cabimento fazer igual. Para copiar a anterior, reprisa a original", ironiza.

Entre os acertos, Immacolata destaca a escalação de duas atrizes negras, Taís Araújo e Bella Campos, para interpretar Raquel Acioli e Maria de Fátima. "Dizem que a nova versão é despolitizada. Não se fala em inflação, mas se fala em racismo. Tudo é política!". No original, só havia dois atores negros: Zeni Pereira, que interpretava uma empregada doméstica, e Fernando Almeida, um menino de rua.

O jornalista Mauricio Stycer é dos que dizem que a nova versão é despolitizada. "Suspeito que isso tenha ocorrido por receio de afastar parte da audiência", arrisca o coautor da biografia de Gilberto Braga, O Balzac da Globo. Stycer explica que, em geral, remakes geram muita expectativa, mas, na maioria das vezes, dão pouca audiência.

Quem também gostou do que viu foi o consultor Mauro Alencar, doutor em Teledramaturgia pela Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro A Hollywood Brasileira. No entanto, para evitar comparações, ele mudaria os créditos iniciais: "Novela inspirada no original de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères".

"O correto mesmo seria ter outro nome, mas esbarraria na questão mercadológica. O intuito era produzir uma nova versão de um clássico da teledramaturgia", pondera Alencar. Ele destaca o drama de Heleninha (Paolla Oliveira), sobre o alcoolismo; a campanha Prato Solidário, sobre pessoas em situação de vulnerabilidade, e o Instituto Vida Livre, sobre o tráfico de animais silvestres. "A ficção extrai o drama da realidade e devolve, em forma de arte, importantes resoluções sociais."

O fato de gostar do remake de Vale Tudo não impede a jornalista Cecília Almeida Rodrigues Lima de apontar eventuais deslizes na nova versão. Doutora em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ela lamenta o apagamento de certos personagens centrais na reta final: "De heroína, Raquel foi reduzida a coadjuvante", queixa-se.

O mesmo se pode dizer do mote original da novela: "Vale a pena ser honesto no Brasil?". "Era uma boa oportunidade para discutir ética, desigualdade e meritocracia", provoca Lima.

Remake ou reboot?

Entre os 25% dos brasileiros que classificam o remake como regular está o roteirista Lucas Martins Néia, doutor em Ciências da Comunicação pela USP. Ele concorda com Immacolata quando ela diz que Dias escreveu uma nova novela, mas discorda quando o assunto é a politização da trama. "A Globo não queria desagradar nenhum dos dois lados", opina.

Em compensação, a novela conseguiu dialogar com a geração Z. Um exemplo disso é o perfil de Fátima Acioli no Instagram, com 812 mil seguidores. "Muitas falas de Odete eram pensadas para viralizar nas redes", Néia dá outro exemplo. Uma curiosidade: 80% dos espectadores entre 16 e 24 anos consideram o remake de Vale Tudo ótimo ou bom.

Os mais jovens assistem à telenovela de maneira distinta. Enquanto a Geração X espera o Jornal Nacional acabar para assistir ao capítulo do dia, a Geração Z vê Vale Tudo onde, como e quando bem entende. "Alguns se interessam apenas por ver recortes da narrativa. Outros preferem ‘maratonar' vários capítulos de uma vez", observa o historiador Jéfferson Balbino, doutor em História pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Para Balbino, Vale Tudo não foi nem excepcional, nem vexatória. Foi protocolar. Se dependesse dele, obras atemporais não deveriam ser refeitas. A não ser que fossem pelos autores originais. "Por que Mulheres de Areia e A Viagem fizeram sucesso na TV Globo? Porque foram adaptadas pela própria Ivani Ribeiro. Ela apenas acrescentou o que faltou dizer na versão original", observa.

Para a publicitária Sandra Depexe, doutora em Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Vale Tudo teve altos e baixos. Entre os pontos positivos, sublinha o casal Cecília e Laís, que seguiu até o fim da trama e chegou a adotar uma criança. Na versão original, Cecília morre e Laís disputa os bens da esposa, com o irmão dela, Marco Aurélio. Causa mortis? Rejeição do público!

Mas, houve pontos negativos também. "Pecou na inserção de trends sem aprofundamento narrativo, como no caso dos bebês reborn, ou de alguns merchandisings que pareciam fugir do contexto da cena, como o sabão em pó da Solange", adverte. Quem também escapou da morte foi Leonardo. No original, o irmão gêmeo de Heleninha morreu em um acidente de carro.

Paródia de si mesmo

Mas há quem não tenha aprovado a releitura de Manuela Dias. São os 8% que avaliam o remake como ruim ou péssimo. A pesquisadora Tatiana Siciliano, doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é uma delas. Como novela, Vale Tudo conquistou tudo o que se espera de uma produção do gênero: gerou receita, engajou o público, causou polêmica... Mas, como obra, deixou a desejar, na sua opinião.

"Naturalmente, não se pode cobrar de um remake uma cópia da obra original. Por outro lado, é importante preservar a essência da obra original. Isso, a Vale Tudo de 2025 não fez", pondera Siciliano. "A nova versão não teve o mesmo impacto sociopolítico da original. Trocou a crítica pela caricatura. É uma paródia."

Autora de O Brasil Mostra a Sua Cara: Vale Tudo, a Telenovela que Escancarou a Elite e a Corrupção Brasileira, a jornalista Ana Paula Gonçalves engrossa o coro dos descontentes. "Foram tantas as mudanças que não dá para chamar de remake", lamenta.

Doutora em Comunicação pela PUC-Rio, ela acredita que até temas importantes foram tratados superficialmente. Na trama, Lucimar decide processar Vasco por não pagar a pensão alimentícia do filho. A novela provocou um aumento de 300% na busca pelo aplicativo da Defensoria Pública. Em 1988, Vale Tudo não discutiu o tema. "Logo depois, Lucimar volta para o ex-marido e se casa com ele. Para muitos, a autora prestou um desserviço. Uma pena", lamenta Gonçalves.

Um dado curioso diz respeito a Odete Roitman: em 1988, 38% dos entrevistados eram a favor da morte da vilã – 20% queriam que ela fosse para prisão e 14% que ficasse na miséria. Em 2025, o índice dos que torciam pela morte dela despencou para 4%. Para 47% dos participantes, a megera tinha que ficar pobre e, para 35%, ser presa.

"Muitos se identificaram com a vilã, e chegaram a transformá-la em símbolo de ‘autenticidade'", afirma a pesquisadora Bruna Aucar, doutora em Comunicação pela PUC-Rio. "Mais do que repulsa, essa adesão afetiva revela um sintoma do nosso tempo: a naturalização do cinismo. A Vale Tudo de 2025 confirma o que a Vale Tudo de 1988 denunciava: a esperteza se confunde com inteligência, e a falta de escrúpulos é celebrada como sinal de força."

Short teaser Especialistas apontam erros e acertos do remake de um dos maiores clássicos da teledramaturgia nacional.
Author André Bernardo
Item URL https://www.dw.com/pt-br/remake-de-vale-tudo-teve-o-mesmo-impacto-do-original/a-74370164?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 9
Id 74354493
Date 2025-10-14
Title Cientistas "ressuscitam" micróbios de 40 mil anos
Short title Cientistas "ressuscitam" micróbios de 40 mil anos
Teaser Pesquisadores americanos conseguiram reativar micróbios congelados há milhares de anos no permafrost do Alasca. Experimento levanta novas questões sobre o impacto das mudanças climáticas.

Um grupo de cientistas afirma ter "ressuscitado" micróbios de até 40 mil anos que estavam presos no permafrost do Alasca, nos Estados Unidos. As conclusões do estudo foram publicadas no Journal of Geophysical Research Biogeosciences.

O permafrost é uma camada congelada de solo, gelo e rocha que cobre quase um quarto do Hemisfério Norte, em regiões como a Sibéria (Rússia) e o Alasca. Ele preserva restos de animais, plantas, insetos e outros microrganismos quase intactos no gelo por milhares de anos.

Os micróbios em questão foram descobertos nas paredes do Túnel de Permafrost do Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA, uma instalação de pesquisa que se estende 107 metros abaixo do solo do Alasca.

Micróbios "despertam" após milhares de anos

Segundo os autores, os microrganismos levam tempo para emergir da dormência, mas, quando isso acontece, podem formar colônias ativas capazes de se propagar.

"Não se trata de amostras mortas. Elas ainda são capazes de sustentar vida resiliente, capaz de decompor matéria orgânica e liberá-la como dióxido de carbono", explica o autor principal, Tristan Caro, em um comunicado da Universidade do Colorado em Boulder.

Experimento prova que bactérias ainda estão vivas

A equipe extraiu amostras das paredes do túnel, submergiu-as em água e as manteve entre 3 e 12 °C — temperaturas baixas para humanos, mas altas para a região.

"Queríamos simular o que acontece no verão do Alasca sob condições climáticas futuras, onde essas temperaturas atingem camadas mais profundas do permafrost", disse Caro.

Nos primeiros meses, as bactérias cresceram lentamente. Após seis meses, no entanto, começaram a formar biofilmes, estruturas viscosas visíveis a olho nu, evidência de que esses microrganismos haviam sido "ressuscitados".

Um lugar que "cheira mal"

O túnel contém restos mortais de mamutes, bisões e outros animais pré-históricos e foi descrito como um lugar que "cheira mal".

Caro o descreve como "um porão mofado que foi abandonado por muito tempo", embora, "para um microbiologista, isso seja muito emocionante, porque cheiros interessantes geralmente são microbianos".

As condições únicas deste lugar o tornam um local ideal para estudar como a vida microscópica pode persistir por milênios e ser reativada com o aumento das temperaturas.

Preocupação com o degelo causado pelas mudanças climáticas

O coautor do estudo, Sebastian Kopf, alerta que a descoberta está ligada às mudanças climáticas e ao aumento das temperaturas globais.

Ele explica que, à medida que o planeta aquece, o permafrost descongela e libera micróbios que decompõem a matéria orgânica, liberando metano e dióxido de carbono, dois gases de efeito estufa.

"Como o degelo deste solo, onde sabemos que há toneladas de carbono armazenado, afetará a ecologia dessas regiões e o ritmo das mudanças climáticas? É uma das maiores incógnitas", questiona Kopf.

Riscos e outras questões em aberto

Os autores acreditam que esses micróbios não representam um perigo direto para os humanos, embora nenhum teste de infecção tenha sido realizado.

Em anos anteriores, porém, outras equipes científicas conseguiram reviver "vírus zumbis" do permafrost, alguns dos quais são potencialmente perigosos.

Mas, além do risco biológico, os cientistas enfatizam o impacto ambiental do degelo. "Pode haver um único dia quente no verão do Alasca, mas o que importa muito mais é o prolongamento da temporada de verão, a ponto de essas temperaturas quentes se estenderem até o outono e a primavera", ressalta Caro.

Short teaser Experimento com microorganismos do permafrost do Alasca levanta novas questões sobre o impacto das mudanças climáticas.
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Item 10
Id 74347717
Date 2025-10-14
Title Saúde mental: o maior desafio para professores no Brasil
Short title Saúde mental: o maior desafio para professores no Brasil
Teaser

Violência em sala de aula é um dos principais fatores que comprometem o estado mental dos professores

Violência em sala de aula e rotinas desgastantes afetam saúde psicológica de profissionais da educação."Feminista filha da puta" foi como um aluno descreveu a professora Laura* após ter sido tirado da sala por mau comportamento. Em meio ao contexto de discussões sobre a educação, a convivência violenta e o adoecimento mental dos professores permeiam o cotidiano em escolas. Segundo o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, coordenado pelo Ministério Público do Trabalho, houve um aumento de 66% na concessão de benefícios previdenciários associados à saúde mental, acidentários e comuns para profissionais da educação infantil ao ensino médio entre 2023 e 2024. Patrícia*, professora de biologia do estado de São Paulo e de ciências do município de São Carlos, faz parte dessa estatística. Ela retornou, neste ano, de seu quarto afastamento por saúde mental, em que se encontrava desde 2023. Desde maio, ela está em processo de readaptação e, por isso, trabalha na biblioteca da escola. Regulamentada por lei desde 1990, a readaptação tem previsão de dois anos, mas pode ser estendida até o profissional estar preparado para retornar à sala de aula. A professora com 28 anos de experiência considera um privilégio poder se recuperar adequadamente, mas ainda se sente "fracassada". "Não é uma coisa que eu me orgulhe de fazer, muito menos que eu despreze. Mas, de certa forma, é frustrante pois me preparei tanto para ser uma boa professora e agora nem professora eu sou mais." Patrícia sofre de Transtorno Misto Ansioso e Depressivo. Em 2000, após enfrentar uma depressão pós-parto, iniciou tratamento com medicamentos e psicoterapia. Em 2004, após mudar de cidade, abandonou o tratamento e disse ter ficado relativamente bem durante alguns anos. Em 2012, 2014, 2019 e 2023, ela foi afastada para tratar da saúde mental. Nesse período, enfrentou divórcio, sobrecarga e crises de ansiedade em sala de aula. Rafaella Pamela Ferreira, pós-graduada em neuropsicopedagogia e professora do ensino infantil há 15 anos no município de Palhoça (SC), explica que existe uma pressão para que professores exerçam sempre o máximo de produtividade, apesar de seus limites. "Você fica pensativo, com aquele aperto, aquela angústia, achando que não é um profissional bom suficiente para trabalhar com aquelas crianças." Violência em sala de aula afeta alunos e professores A violência em sala de aula é um dos principais fatores que comprometem o estado mental dos professores. Para Patrícia, esse foi o motivo de seu primeiro afastamento, em 2012, quando uma aluna de 11 anos a segurou pelo pescoço após ter o pedido de sair da sala negado. Na época, a professora precisou sair da sala para chorar. Ferreira relata que também em 2012, no início de sua carreira, notou um aluno de 3 anos utilizando uma faca de brinquedo para representar violência contra bichos de pelúcia. Além disso, a criança fazia sempre desenhos com cores escuras e cenários violentos. Ela entendeu que isso poderia ser tanto algo próprio da criança quanto resultado de algo que estivesse acontecendo em casa. Segundo o Atlas da Violência deste ano, a residência aparece como o principal local das ocorrências de violência contra crianças e adolescentes. Na faixa de 0 a 4 anos, 67,8% dos casos acontecem em casa; dos 5 a 14 anos, a ocorrência é de 65,9%. A escola aparece como cenário de violência em 2,2% e 5,7% dos casos, respectivamente. O professor do Departamento de Psicologia Clínica e Vice-Diretor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Andrés Eduardo Aguirre Antunez, concorda. "A violência que acontece na sala de aula é a que acontece na vida e a criança leva para a escola", afirma. Ferreira conta que, ao observar os sinais, chamou a mãe do aluno para uma reunião. A mãe contou que o filho havia presenciado seu ex-marido tentar esfaqueá-la em casa. A professora iniciou um trabalho de recondicionar o garoto para tentar fazer desenhos mais positivos. Embora tenha obtido sucesso enquanto ele estava na instituição, a criança foi transferida de escola e a docente perdeu contato. Patrícia afirma que é comum os professores se envolverem com os problemas pessoais dos alunos. A menina que a pegou pelo pescoço era cega de um olho, resultado de um acidente por negligência da família. Enquanto brincava no canteiro de uma obra, a aluna caiu em uma pilha de entulho e teve o olho perfurado por um pedaço de ferro. Laura, professora do estado de Santa Catarina e com experiência de 7 anos em educação, concorda com Patrícia. Uma de suas alunas de 15 anos sofreu abuso sexual de um primo e a procurou para desabafar. Segundo Laura, a mãe da adolescente se recusa a levar a filha a um psicólogo, algo que preocupa a docente. O caso foi levado para o Conselho Tutelar. Estresse constante Gisela Ivani Hermann, ex-secretária de educação em Saudades (SC) com 32 anos de experiência em educação, afirma que professores enfrentam constantemente uma série de fatores estressantes. "A saúde mental dos professores é uma questão crítica e muitas vezes negligenciada, especialmente diante dos desafios cada vez maiores enfrentados no ambiente educacional ", disse a ex-secretária. Antunez alerta para a fragilização dos professores, principalmente quando não existe mais felicidade em dar aula. É o caso de Patrícia. "Quando eu estou lá dando as 48 aulas por semana, eu não sei nem mais quem é a Patrícia pessoa. Ela não sabe do que gosta. Ela sente muita culpa por estar tanto tempo fora de casa em vez de estar cuidando dos filhos." Antes de seu afastamento mais recente, a professora enfrentava um turno de 11h diárias às terças-feiras. Semanalmente, sentia tremores e fraqueza. Um dia, após passar mal novamente, saiu da sala e encontrou uma aluna do 8º ano, que a explicou que aquilo seria uma crise de ansiedade. "A gente costuma falar ‘saúde mental' como se o problema estivesse no cérebro. Os problemas mentais acontecem no corpo todo. Eles envolvem uma complexidade maior", explica Antunez. A DW questionou se as profissionais já pensaram em mudar de profissão. "Todo dia. Quando você está na faculdade, você vai com a ideia de salvador da pátria. Quando você vê como realmente funciona, é que cai a ficha", respondeu Laura. Ana Luiza Siqueira, professora de sociologia da rede estadual de São Paulo há 20 anos, conta, inclusive, que já deixou a área por dois anos. Entre 2007 e 2009, a docente trabalhou com pesquisa de opinião política de uma empresa em São Carlos. Em consulta com o psiquiatra após seu primeiro afastamento, Patrícia ouviu: "essa atividade que você exerce vai sempre fazer você piorar". Entretanto, ela afirmou não enxergar uma mudança de área como algo viável. "A minha vida sempre foi estudar e trabalhar com educação. Como você vai mudar de profissão de uma hora para outra? Eu só sei ser professora." Problema estrutural "A instituição escolar está doente", diz Laura. Ela conta se sentir desgastada pela exigência constante de métodos incompatíveis com os recursos disponíveis nas escolas. "Eu já tive aluna desmaiando de calor porque não tinha ar-condicionado na sala. ‘Cultura digital' é uma das competências dos Itinerários Formativos do Novo Ensino Médio. A minha escola não tem nem internet. Como é que eu vou aplicar isso?" Todas as professoras entrevistadas apontaram ainda o grande número de alunos por turma como um dos principais problemas para o exercício da profissão com qualidade. Para Siqueira, as mudanças no tempo de contribuição para aposentadoria de professores tornam o cenário "desesperador". "Não tem como ficar 40 anos trabalhando sem se arrebentar. Eu não acredito que a minha saúde vá dar conta de chegar até lá." Já Ferreira destaca o desejo pela previsão de um acompanhamento psicológico para professores, "porque a gente tem que entender a família e a criança, mas nós não somos entendidos. Esse é o maior desafio hoje, a saúde mental". * As entrevistadas tiveram o nome alterado na reportagem para preservar suas identidades.


Short teaser Violência em sala de aula e rotinas desgastantes afetam saúde psicológica de profissionais da educação.
Author Iraci Falavina
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Image caption Violência em sala de aula é um dos principais fatores que comprometem o estado mental dos professores
Image source Klaus-Dietmar Gabbert/ZB/dpa/picture alliance
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Item 11
Id 74305591
Date 2025-10-14
Title Estilo de vida ocidental impulsiona acúmulo de gordura no fígado
Short title Modo de vida ocidental estimula acúmulo de gordura no fígado
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O fígado produz proteínas e bile, regula o açúcar no sangue e decompõe substâncias tóxicas, como medicamentos e álcool

Casos de esteato-hepatite não alcoólica aumentam no mundo todo. Doença silenciosa geralmente é diagnosticada tardiamente, quando já há danos hepáticos graves.Uma pressão incômoda na parte superior direita do abdômen, uma sensação ocasional de inchaço após as refeições, por vezes cansaço, dificuldades de concentração ou simplesmente fadiga em geral. Muitos pacientes atribuem tais sintomas ao estresse ou à alimentação – mas a causa, geralmente, é o fígado, que já se encontra aumentado e inflamado. A esteato-hepatite não alcoólica ou metabólica (EHNA) pode se tornar uma das doenças mais subestimadas do nosso tempo. A inflamação do fígado com acúmulo de gordura, geralmente um reflexo do estilo de vida, está se espalhando rapidamente – não mais apenas nos EUA e na Europa, mas agora também na Índia e em outros países emergentes. Os especialistas alertam: o número de afetados está aumentando de forma tão veloz a ponto de colocar os sistemas de saúde em todo o mundo sob pressão. O que é esteato-hepatite não alcoólica A esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) é a variante agressiva da doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Ela se desenvolve quando a gordura se deposita no tecido hepático, resultando em inflamação crônica. Quando o fígado é permanentemente danificado, células individuais começam a morrer – os médicos chamam isso de "morte do tecido". O fígado tenta reparar esse dano, mas substitui cada vez mais células hepáticas funcionais por tecido conjuntivo resistente, um processo conhecido como fibrogênese. Essa formação de cicatrizes inicialmente não causa sintomas, mas quanto mais elas se desenvolvem, pior é o fluxo sanguíneo e menos o fígado é capaz de desempenhar suas funções. À medida que o processo avança, toda a arquitetura do fígado muda. Ele encolhe, ganha um aspecto nodular e gradualmente perde suas funções – um estágio final que os médicos chamam de cirrose. Isso pode levar a complicações graves, como insuficiência hepática, sangramento, ascite (acúmulo de líquido na cavidade abdominal) e um maior risco de câncer de fígado. Como diagnosticar a doença hepática gordurosa O problema da EHNA é que ela costuma passar despercebida por muito tempo, já que inicialmente não apresenta sintomas claros. Fadiga, pressão no abdômen, redução no desempenho de atividades cotidianas ou flutuações de peso sem motivo aparente ​​são frequentemente ignoradas ou atribuídas a outras causas. Valores hepáticos elevados, que podem ser indício de inflamação hepática, geralmente só são descobertos durante exames de rotina. Técnicas de imagem como ultrassom ou Fibroscan ajudam a avaliar o tamanho e a rigidez do fígado e, assim, detectar sinais precoces de fibrose, ou seja, cicatrizes. O diagnóstico final geralmente é feito por meio de uma biópsia hepática, na qual uma amostra de tecido é coletada. Como resultado, a EHNA geralmente só é diagnosticada tardiamente, quando já há danos hepáticos graves. A detecção precoce, portanto, é essencial para pacientes em risco. Causa costuma estar no estilo de vida Indivíduos com sobrepeso são os principais afetados pela EHNA: cerca de 70 a 80% de todos os pacientes sofrem de obesidade. Comorbidades como diabetes tipo 2 e pressão alta também são comuns. É na combinação de alguns fatores que residem as causas da EHNA: dieta ruim, falta de exercício e predisposição genética. Um fator particularmente crucial é uma ingestão calórica consistentemente acima das necessidades diárias – muitas vezes independentemente da idade, e agravada pela alta ingestão de açúcar em refrigerantes e gordura saturada. Tal estilo de vida promove resistência à insulina, na qual as células do corpo param de responder adequadamente ao hormônio metabólico, levando ao armazenamento de gordura nas células do fígado. Mas os afetados não são apenas pessoas com sobrepeso: magros com alto percentual de gordura corporal, fisicamente inativas ou com histórico familiar da doença também podem desenvolver EHNA. Outros fatores que podem favorecer a doença incluem alta ingestão de frutose por meio de refrigerantes, níveis elevados de lipídios no sangue e diabetes mellitus tipo 2. O risco é maior sobretudo entre homens, pessoas de meia-idade e moradores de áreas urbanas – indivíduos cujos estilos de vida e hábitos alimentares ocidentais costumam fazer parte do dia a dia. Esteatose hepática: um desafio global Nos Estados Unidos, até 6,5% dos adultos sofrem de EHNA – algo entre 9 e 15 milhões de pessoas – e a incidência está aumentando. Na Índia, os números também têm aumentado rapidamente nos últimos anos. Estimativas recentes sugerem que 30 a 38% das pessoas têm esteatose hepática. O fato de obesidade, sedentarismo e diabetes estarem igualmente em ascensão também contribui para a alta de casos de EHNA. Na Europa, os números variam entre 6% e 18%, dependendo do país e do grupo de risco. A América Latina, Oriente Médio e Norte da África apresentam taxas de incidência semelhantes, com valores acima de 12%. No resto da África, a EHNA ainda é rara, mas os casos estão aumentando nas regiões urbanas. Qual é o tratamento indicado para a EHNA A prescrição de medicamentos só costuma acontecer em casos isolados. Para reduzir a inflamação, recomenda-se uma mudança do estilo de vida, com mais exercícios, uma dieta rica em fibras, com menos açúcar e menos gordura, e perda de peso. Intervenções alimentares, como o jejum intermitente ou a dieta 5:2, também podem ajudar a tratar a doença hepática gordurosa existente e prevenir a EHNA. A dieta 5:2 consiste em comer normalmente cinco dias por semana e reduzir significativamente a ingestão calórica nos dois dias restantes, geralmente para cerca de 500 a 600 calorias diárias.


Short teaser Casos de esteato-hepatite não alcoólica aumentam no mundo. Doença silenciosa geralmente é diagnosticada tardiamente.
Author Alexander Freund
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Image caption O fígado produz proteínas e bile, regula o açúcar no sangue e decompõe substâncias tóxicas, como medicamentos e álcool
Image source magicmine/Zoonar/picture alliance
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Item 12
Id 74349039
Date 2025-10-14
Title O que se sabe sobre apagão que afetou vários estados
Short title O que se sabe sobre apagão que afetou vários estados
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Apagão atingiu vários estados

Moradores de diversos estados relatam quedas de energia, que variam de alguns segundos a até uma hora. Incêndio no Paraná teria provocado a falha.Moradores de vários estados relataram nesta terça-feira (14/10) falhas no fornecimento de energia. Em alguns casos, a queda foi de apenas alguns segundos e, em outros, de até uma hora. Há relatos de falta de eletricidade em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Amazonas, Santa Catarina, Bahia, Pernambuco, Goiás, Ceará, Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Norte, Rondônia, Santa Catarina, Sergipe, Tocantins e Distrito Federal. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, um incêndio em um reator numa subestação em Campo Largo (PR), na região metropolitana de Curitiba, desligou a instalação, o que provocou apagões em vários estados. Ainda não se sabe como o fogo começou. Logo após o apagão, empresas do setor afirmaram que uma interferência no Sistema Interligado Nacional (SIN) teria ocasionado a falha no fornecimento de energia. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) confirmou essa informação. A ONS e o ministério marcaram uma reunião nesta terça para identificar as causas do incidente. Acionamento de Esquema Regional de Alívio de Carga Em São Paulo, o apagão teria afetado 937 mil clientes da Enel por cerca de oito minutos. A empresa afirmou que o problema foi causado pela atuação do Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC), de responsabilidade do Operador Nacional do Sistema (ONS). "O procedimento de corte de carga, conhecido como ERAC, acontece de forma automática, quando alguma ocorrência é identificada no SIN, para proteger o sistema elétrico", disse a Enel. No Rio de Janeiro, a falha atingiu 450 mil clientes da Light, que também citou o acionamento do ERAC e uma falha no SIN como possível causa na queda de energia. Em algumas regiões do estado, o apagão durou quase uma hora. No Amazonas, a empresa responsável pelo fornecimento de energia relatou uma perturbação no SIN no fim da noite desta segunda-feira, que interrompeu o fornecimento em algumas regiões. cn (ots)


Short teaser Moradores de diversos estados relatam quedas de energia, que variam de alguns segundos a até uma hora.
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Image caption Apagão atingiu vários estados
Image source Gustavo Basso/DW
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Item 13
Id 74337043
Date 2025-10-13
Title Crise fiscal na França: o que a Itália tem a ensinar?
Short title Crise fiscal na França: o que a Itália tem a ensinar?
Teaser A crise política e econômica francesa parece se aprofundar cada vez mais: governos caem, orçamentos seguem indefinidos e a dívida pública só aumenta. A Itália já esteve em situação parecida.

A crise política na França não dá sinais de que vai arrefecer. A recondução de Sébastien Lecornu como primeiro-ministro na última sexta-feira (10/10), quatro dias após renunciar com apenas 27 dias no cargo, pode até ter afastado a necessidade de novas eleições, mas não salva por completo a segunda maior economia da UE.

O risco é que se repita o cenário de 2024, quando o orçamento de 2025 não foi acordado a tempo de ser debatido e aprovado até o final do ano. Devido à instabilidade política, ele teve que ser então "realocado" para o ano seguinte – o que, na prática, significa que o orçamento antigo foi usado até que um novo fosse finalmente acordado em fevereiro.

Embora essa solução de curto prazo evite o risco de uma paralisação do governo ao estilo americano, ela não resolve em nada os problemas econômicos de longo prazo do país: a dívida e finanças públicas francesas.

O problema da dívida francesa

Após a renúncia de Lecornu na semana passada, as agências de classificação de risco emitiram novos alertas sobre as dificuldades fiscais da França.

A Fitch Ratings, que rebaixou a França para a classificação A+ no mês passado, afirmou que a atual situação política indicava que a resolução dos problemas fiscais do país é improvável.

Enquanto isso, a S&P Global enfatizou a necessidade de a França implementar um orçamento que lhe permita cumprir com suas obrigações decorrentes do tratado da UE, referindo-se especificamente ao fato de a França ter desrespeitado as rígidas regras de empréstimo e dívida do Pacto de Estabilidade e Crescimento do bloco por algum tempo.

Durante o mandato do presidente francês, Emmanuel Macron, no poder desde maio de 2017, os gastos públicos aumentaram significativamente, ao tempo que ele também implementou cortes profundos de impostos. Como resultado, a dívida nacional do país aumentou em mais de 1 trilhão de euros (cerca de 6,3 trilhões de reais) – embora isso tenha sido compensado por um aumento de 30% no crescimento do PIB no período.

Uma medida muito adotada pelos economistas é a dívida como porcentagem do PIB. A dívida da França aumentou de 101% do PIB em 2017 para 114% – a terceira maior taxa da UE, atrás apenas da Grécia e da Itália.

Há décadas que a França apresenta desequilíbrio orçamentário, normalmente superando outros países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em gastos públicos. No entanto, crises recentes, como a pandemia de covid-19, a guerra da Rússia na Ucrânia e uma série de choques nos preços da energia, levaram a um aumento nos gastos, resultando em déficits orçamentários cada vez maiores.

Quando Macron assumiu o cargo, o déficit era de 3,4%. Agora, porém, já está em 5,8% – e em tendência de alta. A instabilidade política atual, que surgiu depois que Macron convocou eleições parlamentares antecipadas para o verão de 2024, na tentativa de afastar o partido de direita Reunião Nacional, tornou ainda mais difícil lidar com os problemas fiscais.

As eleições levaram a um parlamento ainda mais dividido, sem nenhum bloco político com maioria absoluta — consolidando a instabilidade atual.

Alexandra Roulet, economista da Insead Business School, afirma que os gastos durante as crises recentes, combinados com os cortes de impostos, são os principais motivos do aumento da dívida.

"Essas políticas se mostraram decepcionantes em termos de seus efeitos sobre o orçamento francês", disse ela à DW. "A esperança era estimular o investimento e impulsionar a economia de tal forma que levasse a um crescimento da receita fiscal, apesar da redução da alíquota de impostos, mas não vimos isso acontecer."

O exemplo italiano

No entanto, na hipótese de o cenário político francês eventualmente se estabilizar, alguns especialistas apontam para um modelo a ser seguido em termos de organização fiscal: a Itália.

Embora o país vizinho ainda tenha uma taxa de dívida em relação ao PIB maior que a da França, de quase 138%, Melanie Debono, economista sênior para a Europa na Pantheon Macroeconomics, diz que a "situação fiscal do país melhorou significativamente nos últimos anos", destacando que seu déficit orçamentário caiu para 3,4%, próximo à taxa prescrita pela UE de 3%.

Recentemente, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, anunciou que espera que o déficit da Itália caia para 3% do PIB ainda este ano, o que permitiria que Roma saísse do programa da UE para países com déficits excessivos antes do previsto.

Em entrevista à DW, Debono disse que o governo Meloni tem sido "prudente", cortando bônus de construção e se esforçando para arrecadar impostos não pagos, ao mesmo tempo em que consegue cortar impostos de renda e empresariais.

Ela vê semelhanças entre as situações fiscais italiana e francesa "no sentido de que ambas sofrem com desafios estruturais relacionados a gastos e passivos futuros cronicamente altos e crescentes, além de uma oferta fraca na economia, que está lutando para arrecadar receita suficiente para cobrir os gastos comprometidos".

No entanto, enquanto a situação italiana dá sinais de melhora, a francesa só parece piorar. "O déficit francês vem aumentando de forma alarmante devido ao aumento contínuo dos gastos e à fraqueza da arrecadação tributária", avalia.

Em termos de lições que a França poderia tirar do exemplo italiano, Debono acredita que os diferentes sistemas políticos não permitem comparações fáceis.

"Não está claro para nós que a relativa estabilidade na Itália possa servir de guia para o que a França deve fazer", disse Debono. "A França não está sendo ajudada pela configuração da Quinta República, na qual o presidente e o parlamento podem facilmente acabar em conflito quando este último não tem maioria para apoiar a política do primeiro."

No entanto, ela observou como a Itália tem administrado as aposentadorias desde a crise da dívida soberana no início da década de 2010, aumentando a idade em três meses a cada dois anos, exceto em certos anos especiais em que o aumento foi congelado.

A França poderia seguir esse exemplo, sugere Debono. Ela destaca, porém, que Paris precisa de muito mais do que uma reforma previdenciária para se aproximar da meta de 3% da UE. "A França precisa de cortes radicais de gastos e/ou aumentos de impostos."

Itália, um modelo de reforma?

Durante anos após a crise da dívida da zona do euro, a Itália foi vista como o potencial problema que poderia desencadear o próximo desastre financeiro na Europa. Em 2018 e 2019, uma combinação de instabilidade política perene e níveis de dívida vertiginosos parecia um coquetel perigoso, e que agora soa familiar aos ouvidos franceses.

Naquela época, forças próximas aos extremos políticos, como o populista Movimento 5 Estrelas (M5S) e a Liga, flertavam abertamente com a ideia de retirar a Itália da zona do euro ou da UE como um todo.

No final, foram Meloni e seu partido, Irmãos da Itália, que consolidaram o poder, onde permanecem desde outubro de 2022. O governo de Meloni tem sido elogiado por sua disciplina fiscal, surpreendendo muitos com a forma como desvirtuou a imagem do país em termos de gestão financeira.

A França, por sua, vez, também tem uma grande força da direita que há anos anos tenta chegar ao poder. Para Debono, no entanto, não há garantia de que o Reunião Nacional praticará disciplina fiscal se eventualmente for eleito.

"O Reunião Nacional tem o corte de impostos e gastos previsto em seu programa, mas é provável que corte sobretudo impostos e que ache muito difícil cortar gastos", avalia.

Short teaser Paris afunda numa crise política e orçamentária, e a dívida pública só aumenta. A Itália já esteve em situação parecida.
Author Arthur Sullivan
Item URL https://www.dw.com/pt-br/crise-fiscal-na-frança-o-que-a-itália-tem-a-ensinar/a-74337043?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 14
Id 74301828
Date 2025-10-12
Title Pesquisa indica que "lobo mau" tem medo de humanos
Short title Pesquisa indica que "lobo mau" tem medo de humanos
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Quando os lobos escutam vozes humanas, fogem rapidamente

Experimentos em um bosque da Polônia comprovam que os lobos fogem ao escutar vozes humanas. Descoberta reabre o debate sobre medo e convivência com o animal.É possível que a imagem que temos do "lobo mau" precise ser reajustada. Um grupo internacional de cientistas assegura que os lobos (Canis lupus) não são os predadores terríveis narrados nas histórias fictícias, mas animais que sentem muito medo dos humanos, segundo detalha em um estudo recente publicado na Current Biology. "O medo do lendário 'lobo mau' dominou a percepção pública sobre os lobos durante milênios e influi consideravelmente nos debates atuais sobre o conflito entre os seres humanos e a fauna silvestre", pontua comunicado divulgado pela Universidade do Oeste de Ontário, no Canadá. No entanto, até "quando existem leis para protegê-los, os lobos temem profundamente o 'superpredador' humano", continua a instituição. Um experimento nas florestas da Polônia Os pesquisadores realizaram um experimento em uma zona de 1.100 quilômetros quadrados em uma intersecção dos caminhos na floresta Tuchola, no centro-norte da Polônia. Eles instalaram câmeras e alto-falantes ocultos. Cada vez que um animal passava a menos de 10 metros, se reproduziam sons de humanos falando tranquilamente em polonês, cachorros latindo ou barulhos não ameaçadores, como o canto de pássaros. A pesquisa revelou que os lobos apresentavam o dobro de propensão a fugir – e o faziam duas vezes mais rápido – após escutarem as vozes humanas, em comparação com os outros sons, um padrão que se repete para animais como cervos e javalis. O verdadeiro "superpredador" é o ser humano "Os lobos não são uma exceção no seu medo de humanos, e têm ótimas razões para nos temer", aponta a coautora Liana Zanette. Os resultados indicam que os lobos são conscientes do risco de se encontrarem com humanos durante o dia, o que faz com que os animais sejam 4,9 vezes mais ativos que as pessoas durante a noite – comportamento documentado globalmente. As pesquisas demonstram que "os humanos matam presas a um ritmo muito maior que outros predadores e matam grandes carnívoros como os lobos a um ritmo nove vezes superior à sua mortalidade natural, o que converte os humanos em um 'superpredador'", agrega Zanette. Além disso, "há cada vez mais evidências experimentais em todos os continentes habitados que demonstram que a fauna silvestre de todo o mundo, incluídos outros grandes carnívoros como os leopardos, as hienas e os pumas, temem o 'superpredador' humano acima de tudo", destaca o relatório. Proteção legal não implica ausência de medo Zanette adverte que a proteção legal não muda a relação entre humanos e os animais, porque na maioria dos lugares as leis não impedem que lobos sejam mortos, mas sim que sejam exterminados. Muitos acreditam que certas proibições de caça aumenta a população do animal e, consequentemente, reduz seu medo dos humanos. No entanto, mesmo em regiões em que estão protegidos, como a União Europeia, os lobos morrem a um ritmo sete vezes maior que a sua mortalidade natural, tanto por causas legais como ilegais. Na Europa e na América do Norte, os animais estão recuperando sua presença depois de quase terem sido exterminados. Isso gera mais encontros com humanos, mas a hipótese de que "os lobos perdem o medo graças à proteção legal não tem base científica", esclarece o estudo. Possíveis medidas para remediar o problema Ao mesmo tempo em que alguns fazendeiros denunciam ataques de lobo ao seu gado, a pesquisa sugere que "qualquer lobo aparentemente destemido é, na realidade, um lobo assustado que se arrisca a chegar perto de seres humanos para conseguir um pedaço de comida", explica Zanette. A especialista propõe reorientar o debate sobre o conflito entre seres humanos e lobos por meio da educação pública sobre o armazenamento de alimentos, a eliminação de resíduos e a proteção do gado. cs (EFE, OTS, DW)


Short teaser Experimentos em florestas na Polônia demonstram que lobos fogem ao escutar vozes humanas.
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Image caption Quando os lobos escutam vozes humanas, fogem rapidamente
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Item 15
Id 74248074
Date 2025-10-12
Title Quem foram as primeiras mulheres viajantes?
Short title Quem foram as primeiras mulheres viajantes?
Teaser Livros resgatam histórias de mulheres que perambulam pelo mundo desde o século 4. O que explica essa nova febre editorial após séculos de esquecimento?

O que uma freira do século 4 que peregrinou à Terra Santa tem em comum com uma freira espanhola do século 17 que matou o próprio irmão? E o que uma brasileira escritora, feminista e viúva tem em comum com uma suíça que morreu no deserto aos 27 anos? As quatro foram viajantes e tiveram suas histórias resgatadas recentemente por pesquisas que compartilham relatos de mulheres que desbravaram o mundo.

Egéria, Catalina de Erauso, Nísia Floresta e Isabelle Eberhardt foram pioneiras – seja pela forma de viajar ou por ocuparem espaços, até então, restritos a homens. Obras que resgatam suas trajetórias e de outras viajantes hoje estão em prateleiras de livrarias, após séculos de esquecimento. O que explica o sucesso editorial dessas histórias?

"Febre" nas prateleiras

De acordo com Paula Carvalho, jornalista e historiadora que organizou uma obra sobre a viajante suíça Isabelle Eberhardt (1877–1904), os textos mostram que as mulheres sempre viajaram, uma vez que o deslocamento é natural ao ser humano. A novidade é a descoberta e o interesse recente pelos relatos femininos, que são menos numerosos do que os masculinos.

"Primeiro, tem a questão da alfabetização, porque homens eram de classe mais alta, então tinham mais acesso à educação e à alfabetização. Segundo, há a questão da validação, de eles acharem que o que escrevem é importante", afirma a organizadora de Direito à vagabundagem: As viagens de Isabelle Eberhardt. "Por isso, se vê muito mais relatos de viagens de mulheres em cartas e diários do que em livros."

Para a historiadora e pesquisadora da Universidade São Paulo (USP) Stella Maris Scatena Franco, esses lançamentos são fruto de uma tendência mais ampla que começa nos anos 1960: a expansão de pesquisas de teoria feminista e de movimentos de mulheres.

"Esse é um momento rico de consolidação de estudos críticos que tiveram que buscar um espaço na academia, no âmbito das letras e da produção literária. Então esse momento é de consagração dessas lutas, de produção intelectual, debates", explica.

As primeiras viajantes

O primeiro relato de viagem escrito por uma mulher do qual se tem conhecimento é o de Egéria, que estudiosos inferem ter sido uma freira. A pesquisadora portuguesa e autora do livro Mulheres Viajantes, Sónia Serrano, a chama de "padroeira das viajantes modernas". Ela viajou, acompanhada de homens do clero e de oficiais do Império Romano, à Terra Santa. Tudo indica que a empreitada se deu no século 4 e durou três anos.

Na contramão dessa história, há a de outra freira cuja vida parece um roteiro de filme: a da espanhola Catalina de Erauso, que viveu na era das grandes navegações e, posteriormente, assumiu identidades e nomes masculinos. Ela fugiu do noviciado ainda jovem e empreendeu viagens, chegando a servir como soldado a forças espanholas na América do Sul, em países como Chile e Peru. Em um causo real de contornos ficcionais, ela matou o irmão, o capitão Miguel de Erauso, sem que fosse por ele reconhecida.

A história das duas é contada por Serrano, que se dedicou por quatro anos à pesquisa de 19 mulheres viajantes. Lançado em Portugal em 2014, o livro já está na quinta edição. Em 2025, ganhou uma versão brasileira pela editora Tinta da China.

Serrano afirma que queria preencher uma lacuna na história de mulheres viajantes que escreveram relatos sobre o que viram e, com isso, inspirar outras mulheres. "Até agora, a história sempre foi feita por homens, eles sempre escreveram a história. Isso não é nem sequer uma crítica, mas uma constatação. A partir daí, eu quis contrariar um pouco isso", explica.

Ela lembra que, ao escrever sobre a velejadora brasileira Tamara Klink para compor o capítulo de viajantes modernas – acrescentado à edição brasileira –, ficou surpresa com o reforço da importância de contar histórias de mulheres. "Li que, quando ela era criança, ela queria ser um 'homem do mar'. Então há uma ansiedade das mulheres em ter modelos e referências de outras mulheres que alcançaram o que desejam", diz.

Mulheres à frente do seu tempo?

Essas mulheres são, frequentemente, descritas como "à frente do seu tempo" - expressão da qual Paula Carvalho discorda. "Ninguém está à frente do seu tempo. Cada uma está inserida no seu contexto e tempo histórico", esclarece. "A literatura de viagem está bastante inserida no colonialismo do mundo. Ela também era uma das fontes para validar o colonialismo europeu dentro do imaginário, porque essas obras tinham bastante sucesso comercial."

Isabelle Eberhardt, por exemplo, sobre quem Paula se debruçou, explorou o mundo árabe e ganhou uma obra que reúne seus textos ao longo de sete anos de viagem. O inusitado da história dela é que vivia como homem e mulher ao mesmo tempo.

"Desde cedo ela criou essa ideia de que para você sair de casa você precisa se vestir de homem. Ela já era um ser meio andrógino, ela escrevia cartas com pseudônimos masculinos quando mais nova", explica Carvalho.

Quando foi morar na Argélia, aos 20 anos, adotou uma identidade masculina, chegando a ser aceita por grupos de homens árabes. "Não que ela enganasse eles, porque as pessoas sabiam que ela era mulher, mas ela era aceita", afirma Paula, que acrescenta que ela casou com um soldado argelino que aceitava sua condição andrógina.

A vida aventureira da jovem suíça teve um fim trágico com a inundação de sua casa por uma enchente súbita. ”Ela morreu aos 27 anos, que é a idade dos rockstars, afogada no deserto", conta Carvalho.

Estado civil e condição socioeconômica eram determinantes

Empreender viagens pelo mundo exigia estratégia e o entendimento de condições sociais e econômicas que favoreciam ou facilitavam o deslocamento. A educadora e feminista brasileira Nísia Floresta (1810-1885) viajou sozinha à Europa, no século 19, desfrutando de um privilégio concedido às mulheres viúvas. Franco reforça que a condição de viuvez chancelava, na época, aquelas viagens.

"Para colocar as viagens dela ou essa ação pouco comum de ser uma mulher que vivia viajando dentro de um marco de aceitabilidade e legitimidade, ela recorria a estratégias, como falar o tempo inteiro do marido ou da mãe. É uma recorrência, não só nos relatos dela, quanto no de outras mulheres", explica Franco.

Diferenças entre relatos de homens e mulheres

Apesar da distância temporal, a identificação também exerce um papel no interesse crescente pelas obras de mulheres viajantes. "Embora sejam relatos de viagens de muito tempo atrás, a forma com que essas mulheres viajavam e escreviam sobre suas experiências dialoga com as nossas experiências hoje", afirma Gabriele Duarte da Silva, escritora da newsletter Bom Proveito, viajante e consultora de viagens.

"Os relatos dos homens são muito focados em fazer descobertas e mapas, então a abordagem das mulheres é diferenciada, mais aprofundada, com mais conjugação das paisagens internas e externas, ou seja, do que se sente quando se vê as coisas", completa.

Silva também afirma que o motivo pelo qual as mulheres saíam pelo mundo difere das de hoje, mas ainda há pontos em comum. O principal é escapar ao que é esperado do gênero feminino.

"As primeiras viajantes e as viajantes de hoje são mulheres com privilégios, sejam de recursos, de tempo ou de apoio familiar, mas a mulher que se propõe a viajar sempre escapa do que se espera dela. Então acho que ler essas mulheres, contemporâneas ou não, ajuda a desmistificar a ideia do que é esperado da gente", comenta.

Franco lembra que é preciso sempre colocar em perspectiva os relatos, já que, ao mesmo tempo em que adotaram posturas disruptivas, essas mulheres também se adaptaram às normas vigentes. "É importante que nós tenhamos um olhar que saiba identificar os propósitos daquele momento", pontua.

Short teaser Livros resgatam histórias de mulheres que rodam pelo mundo desde o século 4. O que explica essa nova febre editorial?
Author Cândida Schaedler
Item URL https://www.dw.com/pt-br/quem-foram-as-primeiras-mulheres-viajantes/a-74248074?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 16
Id 74321177
Date 2025-10-11
Title Geração Z rejeita "fast furniture" e aposta em móveis usados
Short title Geração Z rejeita "fast furniture" e aposta em móveis usados
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Daniel Santos garimpou móveis usados para montar seu apartamento

Conscientes do crescente impacto ambiental da indústria moveleira, consumidores mais jovens lideram o interesse por peças duráveis e reutilizáveis.Cada móvel do apartamento de Daniel Santos em Berlim tem uma história. Há a escrivaninha que o levou aos antigos subúrbios soviéticos da cidade, a estrutura da cama que ele carregou com a ajuda de cinco amigos, e a cômoda de quase um século que ele restaurou com cola e pregos. Santos diz que é "louco" pensar que o antigo móvel amarelo-pálido que comprou de um neto se desfazendo dos bens da família "sobreviveu até agora". "Na verdade, há alguns dias, enviei fotos dele no meu quarto e ele ficou feliz em ver que a cômoda continua viva," contou à DW. Santos faz parte de uma geração mais jovem cada vez mais consciente da enorme pegada de carbono produzida pela indústria de móveis. Por isso, preferem comprar peças usadas e não querem adquirir itens que serão descartados pouco tempo depois. Pesquisadores estimam que, globalmente, pelo menos 51 milhões de toneladas de móveis são consumidos todos os anos. Mais de 95% são descartados. Essa alta taxa de compra e descarte é consequência do "fast furniture". Primo do "fast fashion", o termo é usado para se referir à compra de móveis baratos e produzidos em massa, feitos para conveniência e não durabilidade. Nos últimos anos, o estilo sempre mutável deste mercado incentiva as pessoas a jogarem fora os móveis antes do fim de sua vida útil. No Reino Unido, por exemplo, um estudo identificou que consumidores britânicos redecoram suas casas a cada um a cinco anos. "Para se manterem na moda, recorrem a móveis baratos e descartáveis que podem ser facilmente substituídos quando a tendência de decoração muda," escreveram os autores. Além disso, os itens geralmente não são feitos para serem recicláveis. Um único sofá pode conter tecidos, espumas plásticas, compensado, papelão e molas metálicas. Tudo é unido com laminados, resinas e colas, o que torna a reciclagem mais difícil. Nos Estados Unidos, só em 2018, foram geradas 12,1 milhões de toneladas de resíduos de móveis, com menos de 0,5% recicladas. Isso representa um aumento quase seis vezes maior em relação aos níveis da década de 1960. A ascensão do fast furniture A designer de móveis de Chicago, CoCo Ree Lemery, diz que a explosão do fast furniture é parcialmente impulsionada por materiais novos e baratos. A estante Billy da marca sueca Ikea é um exemplo clássico, diz ela. Quando apareceu pela primeira vez no catálogo da empresa em 1979, tinha acabamento em madeira. Segundo Lemery, desde então, foi redesenhada com materiais mais simples. Hoje, a empresa afirma vender uma nova estante deste modelo a cada cinco segundos. Lemery diz que a influência das marcas de fast fashion no design de decoração também foi um fator importante no crescimento do mercado de móveis baratos. Varejistas europeias de roupas lançaram divisões de artigos para o lar, por exemplo, apostando em tendências sazonais, como mesas rústicas para o outono ou cadeiras de veludo para o inverno, lembra a especialista. Estas tendências de compra mostram uma ênfase maior em móveis baratos e da moda, afirma Lemery. "Então muitos designers, fabricantes e grandes empresas estão seguindo esses dados." Florestas sob pressão Com o aumento da demanda por móveis baratos, há maior pressão sobre a cadeia de suprimentos e os recursos naturais. A Ikea é uma das maiores consumidoras de madeira do mundo, usando cerca de 0,5% do total colhido para fins industriais a cada ano, segundo a empresa. O grupo ambientalista Greenpeace acusou a marca de derrubar florestas em montanhas da Romênia, que, segundo a ONG, deveriam ser protegidas por seu alto valor de biodiversidade. À DW, a gigante de móveis disse que revisou o relatório do Greenpeace e defendeu que "a madeira usada nos produtos Ikea dessas florestas está em conformidade com as leis aplicáveis" e com os padrões do Forest Stewardship Council (FSC), uma ONG global que certifica a produção de madeira. "Madeira de florestas antigas protegidas é estritamente proibida em nossa cadeia de suprimentos," disse um porta-voz da empresa. "Mesmo assim, pedimos ao FSC Romênia que considere a necessidade de proteção adicional após nossa revisão." Geração Z impulsiona compras de segunda mão Por outro lado, as gigantes do flat-pack, empresas que dominam o mercado de móveis desmontáveis, e varejistas de fast fashion podem estar perdendo influência entre os consumidores que compram itens de mobília pela primeira vez. Segundo pesquisa do site de e-commerce Capital One Shopping, mais de um bilhão de pessoas visitam o Facebook Marketplace todos os meses. Estima-se que 491 milhões compram itens usados por meio deste canal. Já um relatório de tendências da plataforma Pinterest revelou que buscas por "cozinhas de segunda mão" dispararam 1.012% e "decoração de segunda mão" 283%, com usuários da Geração Z representando metade da base do site. Deana McDonagh, professora de design industrial na Universidade de Illinois, diz que os consumidores mais jovens estão recorrendo às compras de segunda mão por vários motivos: sustentabilidade, mudanças frequentes, orçamentos apertados, transporte limitado e também pela conexão emocional que formam com os itens adquiridos. "Com esses móveis antigos, essas cadeiras velhas, você precisa investir em renová-los," disse McDonagh, o que os torna parte da história de quem usa. Em Berlim, Santos se identifica com essa ideia, e garante que jamais jogaria fora a cômoda que restaurou. Defensores da sustentabilidade dizem que o reaproveitamento é um dos antídotos mais claros contra os impactos ambientais do fast furniture. "Quanto mais você consegue obter dentro da sua bolha, melhor você está fazendo para o mundo," disse Lemery.


Short teaser Jovens conscientes do impacto ambiental da indústria moveleira estão priorizando peças duráveis e reutilizáveis.
Author Josh Axelrod
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Image caption Daniel Santos garimpou móveis usados para montar seu apartamento
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Item 17
Id 74315575
Date 2025-10-11
Title Conceição Evaristo: "O Brasil se tornou um país menos cínico"
Short title Conceição Evaristo: "O Brasil virou um país menos cínico"
Teaser Um dos nomes mais consagrados da literatura brasileira contemporânea, escritora diz que a literatura negra pode ajudar a combater o racismo e pede que a Europa faça mea-culpa de passado colonial.

Aos 78 anos, a escritora, professora e ensaísta mineira Conceição Evaristo parece incansável. Em meio a uma disputada agenda, que inclui palestras, oficinas e aulas em universidades, Evaristo está escrevendo um novo livro: Em Nome de Mãe.

A obra será uma celebração de sua própria mãe – uma mulher que criou nove filhos e teve forte influência na formação da autora –, uma homenagem à "potência de maternidade que as mulheres negras têm", nas palavras de Evaristo. Não apenas a maternidade física, mas também a maternagem – o ato mais amplo de cuidar, exercido por avós, tias e mulheres sem filhos. Há ainda um sentido simbólico, "onde as mães de santo tornam-se mães de toda a comunidade".

A escritora, que disputou uma vaga para Academia Brasileira de Letras (ABL), em 2018, diz não saber se voltaria a se candidatar. "O importante não é ser a primeira, é abrir perspectivas. A minha candidatura marcou a história da ABL. Apesar de eu não ser vitoriosa, ela ajudou a ABL a pensar nessa representatividade", avalia Evaristo.

Depois da sua candidatura, várias mulheres foram eleitas, além do músico Gilberto Gil e do indígena Ailton Krenak. "Hoje celebramos a eleição de Ana Maria Gonçalves como a primeira mulher negra a ser eleita para a ABL. Já entrei para a Academia Brasileira de Letras, mesmo sem ter uma cadeira lá. O papel agora é da ABL de pensar a minha ausência ou a minha presença lá dentro", afirma.

Em 2024, ao se tornar a primeira mulher negra eleita para a Academia Mineira de Letras (AML) em 115 anos da instituição, a escritora disse que não gostaria de ser só "representatividade" ou "enfeite" na entidade – na sua avaliação, um risco que muitos negros correm ao alcançarem posições de destaque no Brasil.

"Se formos procurar, por exemplo, nas grandes empresas, nas Forças Armadas, nas comunidades acadêmicas, vamos encontrar uma ou outra pessoa negra em lugar de destaque. Mas não podemos esquecer que essa é uma exceção", alerta. Esses espaços "ainda têm uma maioria de pessoas brancas – é preciso haver uma paridade maior em todos os setores".

"A literatura forma consciências"

Considerada uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira contemporânea, a autora teve duas obras citadas em um ranking da Folha de S.Paulo dos 25 Melhores Livros Brasileiros do Século 21: Olhos d'água e Ponciá Vicêncio. Também ganhou o troféu Juca Pato de intelectual do ano, entregue pela União Brasileira de Escritores, em 2023.

Para Evaristo, ao quebrar estereótipos, a literatura negra – que ela confirma estar em expansão – pode ajudar a reduzir o racismo na sociedade brasileira: "Personagens com suas próprias potências, qualidades e defeitos acabam falando à humanidade de cada pessoa que lê."

A autora conta que tem encontrado muitas pessoas brancas que dizem nunca ter pensado num racismo brasileiro, mas que passaram a pensar através de suas obras. A literatura, para Evaristo, forma consciências. "Textos de autoria negra convocam as pessoas a pensar nas suas responsabilidades como pessoas brancas", acredita.

Evaristo já superou a marca de meio milhão de livros vendidos somente pela editora Pallas. Seus livros conseguem o feito de conquistar tanto os que têm "uma cultura acadêmica, quanto os que não têm a competência de uma linguagem mais sofisticada", observa.

"Jorge Amado de saias"

Para Julio Ludemir, autor, curador e cofundador da Festa Literária das Periferias (Flup), "Conceição é uma Jorge Amado de saias". Ludemir diz que a escritora traz o que hoje se conhece como lugar de fala, "o universo dessa mulher negra e intergeracional, interregional". E faz isso "tocando no coração das pessoas".

Não por acaso, tornou-se um fenômeno de popularidade: "Por onde passa, ela atrai multidões. Há sempre pessoas querendo abraçá-la, vendo-a como uma grande nanã (orixá das religiões de matriz africana ligada à sabedoria), vendo-a como essa senhora sábia, serena, delicada, acolhedora".

Durante um trabalho em colégios da zona norte do Rio, isso ficou visível: "Como foi professora e aluna de escola pública, ela ocupa o espaço dessa grande avó que tem sido no imaginário brasileiro, que cativa a todas as crianças, todos os adolescentes, todas as professoras, todas as mães."

Homenagem da Flup em solo alemão

Evaristo foi a grande homenageada de uma edição especial da Flup realizada na capital alemã nos dias 10 e 11 de outubro, e que contou com leituras, debates, workshops e performances. O evento acontece há 12 anos em comunidades periférias do Rio de Janeiro, com grandes personalidades da literatura em sua programação.

"A Flup concorre para a democratização do livro, e traz essa possibilidade de a periferia reconhecer que os seus escritos, a sua dança, a sua música, têm esse teor de arte literária", diz Evaristo.

A autora cobra dos europeus uma reflexão sobre a questão racial: "É uma espécie de mea-culpa que a Europa tem que fazer, na medida em que nós sabemos que essa questão do racismo nasce, ou é fomentada, pelo processo de colonização. Para se entender, ela precisa entender o mundo".

"Nós sabemos das questões raciais que a Europa enfrenta com a imigração. E não por coincidência, essa imigração normalmente vem de países que foram colonizados por ela. A Europa deve saber que ela é responsável e criar medidas que possam dirimir um problema que está aí há séculos."

Criadora do conceito de escrevivência

Evaristo costuma dizer que não nasceu rodeada de livros, mas de palavras. O que influenciou uma estética oral, que a leva a buscar expressões que possam dar conta de decifrar silêncios e olhares: "É um exercício extremo de tentar traduzir esse texto oral para o texto escrito."

Criadora do conceito de ‘escrevivência', a autora explica que ele surge da junção "de escrever, viver, escrever se vendo" – e nessa aglutinação de palavras está a união entre uma voz lírica e o sujeito criador.

O processo, segundo a autora, permite que escritores negros incluam em seus projetos literários as suas experiências, suas formas de estar no mundo e sua "brasilidade enquanto sujeitos descendentes de povos africanos" – que assim se tornam matérias que podem ser ficcionalizadas.

É também uma retomada da voz das mulheres negras – "da ama de leite, da mãe preta, que dentro da casa grande era obrigada a contar histórias para ninar", mas cuja voz estava inscrita em processo de escravização.

"É cedo demais para se dizer que o país está menos racista"

Apesar de avançar na criminalização do racismo e apostar no sistema de cotas, o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente na luta contra o racismo estrutural, diz a autora. "É cedo demais para se dizer que o país está menos racista. O que se pode dizer é que o Brasil se tornou um país menos cínico."

O racismo brasileiro era tratado "com um cinismo muito grande, através do mito da democracia racial brasileira. Hoje, brancos e negros têm mais coragem de discutir o racismo. E acho que quando você põe o dedo na ferida é mais fácil você pensar em processos de cura dessa ferida."

Sobre o racismo estrutural, Evaristo diz que há uma tendência em culpabilizar a sociedade – o que tira a responsabilidade das pessoas. "Só que as estruturas são criadas por sujeitos humanos. Eles vão criar leis, vão organizar as grandes empresas. E podem, portanto, promover mudanças."

A escritora espera que a nova geração "não perca a perspectiva do que foi construído no passado, e saiba o que essa construção significa para a nossa vida no presente". Ela lembra das palavras de Jurema Werneck, médica e ativista feminina: "Nossos passos vêm de longe".

Short teaser Ícone da literatura brasileira contemporânea diz que a literatura negra pode ajudar a combater o racismo.
Author Cristiane Ramalho
Item URL https://www.dw.com/pt-br/conceição-evaristo-o-brasil-se-tornou-um-país-menos-cínico/a-74315575?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 18
Id 74313009
Date 2025-10-10
Title Alta recorde do ouro expõe ordem econômica frágil e põe Brasil sob pressão ambiental
Short title Alta recorde do ouro põe Brasil sob pressão ambiental
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Ouro ultrapassou pela primeira vez os 4 mil dólares por onça (R$ 21,8 mil); dinâmica é alimentada também por política errática de Trump nos EUA, segundo especialistas

Preço do metal reflete perda de confiança no dólar, tensões geopolíticas e insegurança diante de crises sucessivas, e coloca emergentes como o Brasil diante de dilemas econômicos e ambientais.A alta recorde do ouro, que ultrapassou pela primeira vez os 4 mil dólares por onça nesta semana (R$ 21,8 mil), expõe a fragilidade da atual ordem financeira global e reacende dilemas antigos. Em meio à desconfiança crescente no dólar e à busca por refúgios de valor, o metal volta a ser aposta de investidores, mas também pressiona florestas e comunidades afetadas pela corrida por extração em países emergentes, como o Brasil. De acordo com especialistas ouvidos pela DW, a disparada do preço do ouro não é apenas reflexo de especulação: ela revela um mundo mais instável, em que os instrumentos clássicos de confiança internacional, como dólar, títulos americanos e instituições multilaterais, perdem força. Por isso, bancos centrais e grandes investidores institucionais passam a comprar mais ouro para se proteger de possíveis choques externos. "Quando o mercado volta a buscar o ouro como segurança em detrimento de dólar ou mesmo de cripto, que também são ativos considerados como abrigo de segurança, mostra que a percepção de risco geral acabou aumentando", afirma a economista Bruna Centeno. Ativos dos EUA eram segurança Desde a Segunda Guerra Mundial, o dólar e os títulos do Tesouro dos Estados Unidos se consolidaram como reservas de valor globais porque refletem confiança e estabilidade em um país que ocupa o centro do sistema financeiro internacional. A economia americana é a maior do mundo, o governo dos Estados Unidos nunca deu calote em sua dívida e seu mercado de títulos é o mais líquido e seguro do planeta, ou seja, é fácil comprar e vender esses papéis sem risco de perdas bruscas. Além disso, como o comércio internacional e as commodities são majoritariamente cotados em dólar, manter reservas nessa moeda garante proteção em períodos de crise e poder de compra em escala global. Agora, contudo, há um profundo menosprezo por instituições multilaterais, que ajudaram a moldar o comércio e as relações internacionais, como a OMC (Organização Mundial do Comércio) e a ONU (Organização das Nações Unidas), por exemplo, deixando dúvidas nos agentes do mercado sobre como será o futuro. "A palavra central para entender a influência do governo Donald Trump é a incerteza. Uma vez que movimentos da economia norte-americana tomam curso – alguns contrários à fundamentação econômica esperada –, os agentes de mercado não sabem exatamente o que esperar", afirma Marcio Sette, professor de relações internacionais do Ibmec-RJ e ex-diretor do Brasil no Banco Interamericano de Desenvolvimento. A economia norte-americana também dá sinais confusos e perdeu parte da confiança global por causa do endividamento público recorde, da instabilidade política e da perda de controle fiscal. "Se o dólar está diretamente ligado à economia norte-americana e essa economia está em risco, naturalmente esse fluxo do capital vai buscar outros lugares e aí a moeda tem essa perda de valor em detrimento de outras buscas que o mercado vem fazendo para se sentir seguro, para buscar esse abrigo que nesse momento a gente não consegue no dólar, via percepção geral do mercado", explica Centeno. "Diante, portanto, de repercussões incertas na economia emissora da moeda de referência que é o dólar, além do shutdown [paralisação do governo dos Estados Unidos] e das expectativas de política monetária com redução dos juros pelo FED [o Banco Central americano], despontam o ouro e outro metais, como a prata, como preferência, como ativos invioláveis. A aversão ao risco domina o mercado", completa. Para além dos Estados Unidos, o mundo também passa por transformações. Para Sette, essa crescente desconfiança em relação ao dólar ampliou o debate sobre alternativas ao sistema financeiro dominado pelos Estados Unidos. Moedas locais, sistemas de pagamento regionais e stablecoins ganharam destaque, enquanto alguns países reduziram a participação de títulos do Tesouro americano em suas reservas e aumentaram a compra de ouro como forma de diversificar e proteger seus ativos. "Não se trata exclusivamente da incerteza oriunda de dentro dos EUA, mas também da instabilidade de um mundo fragmentado, sem apoio multilateral, que se desglobaliza e, pior, vive sob a ameaça de uma guerra europeia generalizada diante do conflito entre Rússia e Ucrânia", diz. Pressão ao meio ambiente Com a valorização do ouro, há mais atrativos para a exploração. O Brasil produz cerca de 70 toneladas do metal por ano, segundo a consultoria Mining Technology, sendo o décimo maior produtor mundial. Mas, em um mercado que carrega as marcas históricas da exploração socioambiental a qualquer custo, a nova corrida também desperta preocupações. Segundo Larissa Rodrigues, doutora em energia pela USP e responsável pelos projetos de mineração, energia e uso de terras do Instituto Escolhas, sempre que o preço do ouro sobe, há um estímulo maior à extração, seja legal ou ilegal, e essa "corrida" pelo metal tende a acelerar o desmatamento, agravar conflitos fundiários e aumentar violações aos direitos de comunidades locais. "Os riscos ambientais e sociais estão presentes, porque junto da proliferação de áreas ilegais temos o desmatamento, a contaminação dos rios e das pessoas por mercúrio – que é altamente tóxico, mas ainda amplamente usado na extração de ouro –, além de conflitos com comunidades locais e a atuação do crime organizado", diz. Rodrigues defende que o Brasil precisa assumir um compromisso real com uma mineração responsável e legal, evitando o uso de mercúrio, e que comprova a origem do ouro por meio de mecanismos de rastreabilidade, gerando riqueza ao país. O Brasil, porém, ainda está longe de cumprir plenamente esses padrões. "Apesar de termos conquistado avanços recentes nos controles – como a adoção de notas fiscais eletrônicas para o ouro e o fim da presunção de boa-fé no comércio – e termos feito um grande esforço de repressão ao crime, precisamos ainda de rastreabilidade de origem obrigatória, proibir o uso de mercúrio e fiscalização ambiental. Precisamos seguir nessa direção para continuar estrangulando o crime e manter as atividades minerais dentro de contornos ambientais e sociais responsáveis", completa.


Short teaser Preço do metal reflete perda de confiança no dólar, tensões geopolíticas e insegurança diante de crises sucessivas.
Author Vinicius Pereira
Item URL https://www.dw.com/pt-br/alta-recorde-do-ouro-expõe-ordem-econômica-frágil-e-põe-brasil-sob-pressão-ambiental/a-74313009?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Ouro ultrapassou pela primeira vez os 4 mil dólares por onça (R$ 21,8 mil); dinâmica é alimentada também por política errática de Trump nos EUA, segundo especialistas
Image source Tolga Bozoglu/dpa/picture alliance
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Item 19
Id 74261999
Date 2025-10-10
Title Empresas apostam em plantas que coletam metais estratégicos
Short title Empresas apostam em plantas que coletam metais estratégicos
Teaser Com o aumento da demanda por metais como o níquel, a fitomineração pode se tornar um negócio lucrativo e mais sustentável que a mineração convencional, mas em menor escala.

Em um campo no norte da Albânia, agricultores trabalham entre fileiras amarelas de mostarda em flor. O que eles colhem? Níquel.

A planta é uma das cerca de 700 espécies hiperacumuladoras, ou seja, que têm a propriedade de acumular grandes quantidades de metais do solo, como níquel, zinco, cobre, até mesmo ouro e elementos de terras raras.

Elas evoluíram para armazenar esses metais em seus brotos, folhas ou seiva, e usam esse pequeno truque tóxico para se defender contra predadores e patógenos. Para as próprias plantas, os metais são inofensivos.

De limpeza de solos contaminados a mineração de metais

O uso dessas plantas para limpar solos que haviam sido contaminados por minas ou fundições começou na década de 1980. Uma planta foi capaz de remover pequenas quantidades de césio radioativo do solo do local do desastre nuclear de Chernobyl.

Mas foi somente na década de 1990 que os cientistas se perguntaram: e se utilizássemos todos esses metais preciosos coletados pelas plantas? Eles chamaram a ideia de fitomineração.

Trinta anos depois, plantar flores para fins de mineração está prestes a se tornar um negócio. Mas será que ele pode realmente competir com as grandes minas industriais?

Modelo de negócio

Nos campos da Albânia, há níquel demais no solo, o que impede boas colheitas. Mas também não há níquel suficiente para montar uma mina convencional. Isso torna o local ideal para a fitomineração, de acordo com Eric Matzner, cofundador da startup Metalplant, responsável pelo campo de dez hectares perto da cidade de Tropoje.

"A meta mínima que buscamos é cerca de um terço de tonelada de níquel por hectare", disse ele.

As plantas do gênero Odontarrhena absorvem o metal e o armazenam. Depois de colhidas e secas, cerca de 2% do seu peso seco é níquel. A Metalplant tritura e queima as plantas, deixando um concentrado cinzento, ou "bio-minério". As cinzas são lavadas e, com o uso de ácido sulfúrico, transformadas em líquido. Em seguida, são filtradas e cristalizadas em sulfato de níquel, um recurso muito procurado para uso em baterias de grande porte, como as de carros elétricos.

Rejeitos e resíduos tóxicos na mineração convencional

"O impacto ambiental da fitomineração é baixo", defende Antony van der Ent. Pesquisador da Universidade de Wageningen, na Holanda, ele é um dos pesquisadores mais ativos do mundo na área de fitomineração e consultor da Botanickel, outra empresa do ramo.

O setor espera ganhar relevância diante dos danos ao meio ambiente causados pela mineração convencional, como o desmatamento de grandes áreas de terra e a produção de muito mais resíduos e detritos tóxicos, que podem vazar para o meio ambiente e envenenar pessoas e ecossistemas. Devido ao processamento intensivo em energia, a atividade é responsável ainda por altas emissões de gases de efeito estufa. Com 10 a 59 toneladas de emissões por tonelada de metal, o níquel é especialmente poluente.

A fitomineração propõe mitigar esses impactos. "Uma quantidade enorme de carbono é capturada pela cultura metálica. Ela é liberada de volta na atmosfera durante a incineração das plantas, mas isso significa que você obtém níquel altamente puro com emissões de carbono próximas de zero", afirma van der Ent.

A fitomineração também tem como alvo terras áridas e consideradas inadequadas para a agricultura devido aos metais presentes no solo.

"Essas terras estão sendo limpas dos metais presentes no solo. Depois disso, provavelmente poderão ser usadas para silvicultura ou fins recreativos", pontua Rupali Datta, bioquímica da Michigan Tech University que realizou uma extensa pesquisa sobre fitomineração.

Demanda de baterias para veículos elétricos

Embora as plantas sejam capazes de absorver diferentes tipos de metais, cientistas e empresas têm aplicado a fitomineração quase exclusivamente à colheita de níquel: o metal é conhecido por ser abundante na camada superficial do solo em muitas partes do mundo, em países como Brasil, Indonésia, Filipinas, África do Sul ou Estados Unidos.

Enquanto isso, a demanda por níquel deve crescer rapidamente, de acordo com a Agência Internacional de Energia, com expectativa de dobrar até 2050, impulsionada pela demanda global por baterias para veículos elétricos. No entanto, a maior parte do fornecimento vem de minas de propriedade da China na Indonésia, onde as concentrações no solo são altas. A fitomineração poderia servir como uma alternativa em países com menor teor de níquel, ajudando-os a garantir seu próprio abastecimento.

Vale a pena?

A empresa de pesquisa estratégica BloombergNEF estimou que a fitomineração seria muito cara para os compradores de níquel. A Metalplant não divulgou quanto custou para eles extrair o metal, mas afirma que seu objetivo é igualar o preço de qualquer outro níquel no mercado.

"O objetivo é obter demonstrações da paridade de preços. Chamamos isso de vantagem verde ou dividendo verde, em que você obtém um produto melhor pelo mesmo custo", disse Matzner, da Metalplant. A startup também combina a agricultura com a captura de carbono, pela qual eles podem vender créditos de carbono, para que valha a pena.

Em sua terceira temporada, a Metalplant disse ter colhido mais de três toneladas de níquel em seu campo de 10 hectares na Albânia. Isso é o que cientistas de outros lugares também esperam alcançar. Mas é insignificante em comparação com as minas convencionais, onde a mesma quantidade é extraída em apenas meia hora.

Fitomineração pode substituir minas convencionais?

Para igualar a produção anual de uma mina de níquel convencional, um campo precisaria ter cerca de 200 mil hectares, o que representa 2,5 vezes o tamanho da cidade de Nova York. Para substituir totalmente a produção global convencional atual de níquel, seriam necessários 15 milhões de hectares de campos — uma área do tamanho da Tunísia.

"As economias de escala realmente desempenham um papel fundamental", disse Kwasi Ampofo, analista de mercado de metais da BloombergNEF. "Quanto maior, mais barato fica. Mas, para a fitomineração, o desafio não tem sido o custo. Tem sido a terra."

"A fitomineração definitivamente não pode substituir a mineração convencional. Ela pode ser um processo adicional", aponta a bioquímica Rupali Datta. E campos de monocultura na escala de milhares de hectares não seriam tão ecológicos, no fim das contas. "Onde quer que você esteja fazendo agricultura intensiva, você está usando fertilizantes, pesticidas, água — tudo isso também se aplica à fitomineração", observa.

Para o pesquisador van der Ent, as comunidades menores que não têm sucesso em cultivar alimentos em suas terras são as que mais têm a ganhar com esse tipo de mineração. Enquanto limpam o solo, moradores podem obter um pequeno lucro com a venda do níquel. "É aí que vejo o potencial", acredita.

Short teaser Com o aumento da demanda por metais como níquel, a fitomineração pode se tornar um negócio lucrativo e mais sustentável.
Author Jonas Mayer
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Item 20
Id 74309696
Date 2025-10-10
Title "O Agente Secreto" confronta Brasil com passado mal resolvido
Short title "O Agente Secreto" confronta Brasil com fantasmas do passado
Teaser Diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho surfa o bom momento do cinema nacional com thriller político arrojado sobre a ditadura militar, com estreia simultânea no Brasil, Alemanha e Portugal em 6 de novembro.

O cinema brasileiro tem uma longa tradição de filmes sobre a ditadura militar (1964-1985), a exemplo de Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. O Agente Secreto, quinto longa metragem do cineasta Kleber Mendonça Filho e aposta do Brasil na premiação do ano que vem, também busca reconstruir esse momento histórico, mas de um jeito diferente.

As primeiras cenas do filme se passam em 1977, uma época "cheia de pirraça", como se lê na tela. O protagonista Armando, vivido por Wagner Moura, aparece dirigindo um fusca amarelo em direção ao Recife, em pleno carnaval. Ele é um pesquisador de universidade perseguido pelo regime militar que adota uma identidade falsa, sob o nome de Marcelo, para retornar à sua cidade natal – e do diretor.

Kleber Mendonça tinha nove anos na época retratada e conta que acessou referências reais da sua infância para construir o filme, como o vocabulário, cenários meticulosamente reconstituídos, além de memórias que "pegou emprestadas" de outras pessoas. Ele havia reunido muitas imagens e relatos de moradores durante a produção do seu longa anterior, Retratos Fantasmas, em que faz uma ode aos saudosos cinemas de rua recifenses.

Mas o diretor também foi fundo nas lendas e pilhérias que ocuparam o imaginário de sua geração. "Eu venho de uma cidade que – ainda bem – é muito irreverente, de muitas, muitas formas", argumentou, durante uma das sessões de pré-estreia em Berlim.

Apesar de ser um thriller político sangrento com toques de realismo fantástico, a obra tem a qualidade histórica de transmitir a "sensação" daquele tempo, ainda presente no país, definiu o diretor. "O filme vem desse momento recente, de um ex-presidente que será preso, que tentou trazer de volta elementos muito conhecidos pelo regime militar", afirmou, em referência à condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

A obra faz ainda alusão a episódios trágicos recentes da memória nacional, como a morte do menino Miguel, que tinha apenas cinco anos quando caiu do nono andar de um prédio de luxo onde sua mãe trabalhava como empregada doméstica no Recife, em junho de 2020.

A mãe da criança, a empregada doméstica Mirtes Renata Souza, precisou levar Miguel consigo para o trabalho, já que a escola estava fechada naquele momento da pandemia de covid-19. Enquanto Mirtes descia para passear com o cachorro da família, Miguel ficou sob os cuidados da patroa, Sari Corte Real. Imagens das câmeras de segurança mostram a criança chorando, tentando encontrar a mãe, e sendo colocada sozinha no elevador por Sari. Miguel apertou botões aleatoriamente, saiu no nono andar e caiu de uma altura de cerca de 35 metros.

Condenada a sete anos de prisão pela morte do menino, Sari Corte Real nunca chegou a ser presa, já que foi autorizada a recorrer em liberdade.

No filme, uma patroa ficcional aparece no local de trabalho de Marcelo (Armando) para prestar depoimento e é confrontada pela doméstica desesperada, mãe do garoto morto, apenas para ser protegida por policiais.

Estreia simultânea no Brasil, Portugal e Alemanha

O filme tem lotado sessões em eventos de divulgação em todo o mundo. Na Alemanha, ele estreou no Festival de Cinema de Hamburgo, no fim de semana passado, e depois teve duas exibições em Berlim.

O longa entrará oficialmente em cartaz em 6 de novembro no Brasil, na Alemanha e em Portugal.

"A ideia é que haja um diálogo entre o público desses países. É divertido quando os amigos e a família do Brasil podem recomendar e conversar sobre o filme com quem está aqui, do outro lado do oceano", disse à DW Fred Burle, um dos coprodutores da obra, que vive em Berlim.

A estreia simultânea marca um momento de prestígio da produção cinematográfica brasileira na Alemanha e em outras partes da Europa, com obras como O Último Azul, de Gabriel Mascaro, vencedor do Urso de Prata no último Festival de Berlim.

"Nosso cinema cresce enquanto comunidade e isso é bonito de ver. O Oscar para Ainda Estou Aqui nos trouxe visibilidade, mas a corrente só continuou porque entregamos mais e mais filmes de qualidade, com potencial de atingir público dentro e fora do Brasil", afirma Burle.

"Talvez o bom momento do cinema brasileiro tenha muito mais relação com as boas políticas públicas de incentivo à cultura e um governo que valoriza nossos artistas e os possibilita fazerem seus trabalhos com dignidade. Só O Agente Secreto foi responsável pela geração de mais de 1,3 mil empregos diretos e indiretos", diz o produtor.

Wagner Moura, Tânia Maria e a perna cabeluda

Premiado neste ano em Cannes por sua interpretação, Wagner Moura foi uma das primeiras certezas do filme – que abocanhou ainda o troféu de melhor direção na última edição do prestigiado festival. "Escrevi o roteiro para ele, sob medida", contou o diretor.

Wagner Moura é atualmente um dos brasileiros que mais transitam pelos estúdios de Hollywood. Nos últimos anos, protagonizou grandes produções internacionais, como as séries Narcos e Ladrões de Drogas e o filme Guerra Civil. Ele agora tem empenhado seu carisma e influência na promoção do filme, uma estratégia parecida com a campanha de Fernanda Torres para Ainda Estou Aqui.

Maria Fernanda Cândido, Alice Carvalho, Gabriel Leone e Carlos Francisco também integram o elenco, além de Tânia Maria, que interpreta a carismática Sebastiana, dona do prédio que acoberta Marcelo e outros "refugiados" da ditadura. A atriz potiguar de 78 anos, que era artesã até ser chamada para atuar em Bacurau, serve os melhores alívios cômicos do filme, chegando a ser cotada para concorrer ao Oscar de melhor coadjuvante pela revista Variety – primeira publicação americana a apostar na indicação de Fernanda Torres na categoria de melhor atriz.

Outro personagem que tem chamado a atenção do público é a "perna cabeluda", célebre lenda urbana do Recife que ganhou tração na época do governo de Ernesto Geisel (1974-1977). O membro decepado marcou presença inclusive na estreia no Festival do Rio, nesta semana.

A entidade aparece pela primeira vez no filme dentro da barriga de um tubarão, enquanto os cinemas da "cidade dos tubarões" – como Recife é conhecida devido aos casos de ataques a banhistas na praia de Boa Viagem – exibem o primeiro blockbuster da história: Tubarão, de Steven Spielberg.

A partir de então, ninguém segura a figura mitológica pernambucana, que ataca na escuridão quem atenta contra o pudor.

Kleber Mendonça conta que lembra da mãe, a historiadora Joselice Jucá, lendo no café da manhã histórias da "perna cabeluda", escritas como notícias na sessão policial do jornal, com direito a ilustração. A temida criatura noturna era, na verdade, invenção de jornalistas que, sob censura, atribuíam a ela crimes violentos cometidos pelas forças policiais ou militares, principalmente contra a comunidade LGBT. "Encontraram uma maneira de dizer aquilo sem dizer", explica.

Processos e escolhas

Foram dois anos para escrever o roteiro, um ano de preparação e filmagem, sete meses de montagem e três meses de pós-produção, conta Kleber Mendonça.

O tratamento de imagem amarelado e o diligente trabalho de restaurar uma Recife (e uma São Paulo e uma Brasília) dos anos 1970 – sem uso de inteligência artificial, como faz questão de frisar o diretor – desperta uma sensação ambígua de nostalgia, em meio a atrocidades e derramamentos de sangue ultraexplícitos.

"Tinha que ser muito violento porque, em primeiro lugar, acho que no cinema a violência costuma ser muito fácil e muito limpa. É muito fácil matar alguém na maioria dos filmes de ação", disse Kleber Mendonça.

Parte da pós-produção foi feita na Alemanha, no estúdio Babelsberg, o maior e um dos mais antigos da Europa, situado em Potsdam (do lado de Berlim).

Sobre a memória de um país

O Agente Secreto é uma obra que "confronta os brasileiros com o seu próprio presente ao analisar o passado", define Fred Burle. "Sem romantizar, o filme é tenso quando tem que ser, é violento quando tem que ser, é irônico quando tem que ser. Infelizmente, perseguições políticas, ideias estapafúrdias de perdoar crimes, não são algo exclusivo do período da ditadura militar no Brasil."

"Esses regimes de ultradireita, infelizmente, não foram exclusividade do Brasil e ainda são encontrados em muitos países do mundo. Por isso, nosso filme também dialoga com um público internacional", complementa o produtor.

Para Kleber Mendonça, o Brasil tem um problema real com a sua memória, o que, para ele, foi agravado pela lei da anistia de 1979 – proposta pelos militares para passar uma borracha em todos os crimes cometidos durante a ditadura, perdoando tanto perseguidos quanto perseguidores.

"Pode ter parecido uma boa ideia em 1979, depois de tanta violência e tanto sofrimento. Mas acho que isso realmente traumatizou a psique do Brasil", diz o diretor.

Não é por acaso que um dos cenários mais importantes para o filme é o São Luiz, um dos últimos cinemas de rua ainda de pé no Brasil, na contramão das salas em shopping centers. O espaço aparece como um dos poucos lugares seguros da trama, um templo da memória preservada.

Short teaser Diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho surfa bom momento do cinema nacional com thriller político sobre a ditadura.
Author Sofia Fernandes
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-agente-secreto-confronta-brasil-com-passado-mal-resolvido/a-74309696?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 21
Id 74292907
Date 2025-10-10
Title Roqueiro brasileiro na mira da Stasi é tema de podcast da DW
Short title Roqueiro brasileiro na mira da Stasi é tema de podcast da DW
Teaser Segundo episódio de "O Pulo de Miguel" começa com Stasi procurando Miguel Carmo na escola em busca de informações sobre show dos Rolling Stones. Série conta a história do brasileiro que pulou o Muro de Berlim.

Em outubro de 1969, um adolescente brasileiro entrou na mira da Stasi, o temido serviço secreto da Alemanha Oriental. Miguel Carmo, então aos 17 anos, foi surpreendido na escola, durante uma aula, por um funcionário do governo socialista.

O burocrata queria saber se o rapaz tinha mais informações sobre uma possível apresentação dos Rolling Stones em cima de um prédio em Berlim Ocidental, mas com as caixas viradas para Berlim Oriental – marcado para o mesmo dia das comemorações do aniversário de 20 anos da Alemanha Comunista.

Esse fato é o ponto de partida do segundo episódio do podcast O Pulo de Miguel, da DW, que conta a história exclusiva do brasileiro que pulou o Muro de Berlim.

A informação de um show dos Stones na Berlim dividida tinha circulado, primeiro, na Rias, a rádio oficial do setor americano, que ficava do lado Ocidental. Mas isso não impedia que a emissora fosse captada, clandestinamente, pelos jovens da Alemanha Oriental. A Rias divulgava não só informações com a perspectiva do lado capitalista da Guerra Fria, mas também tocava música. Principalmente o rock and roll.

O estilo de Elvis Presley e Chuck Berry tinha sido banido da Alemanha Oriental em 1965, numa resolução do Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED), que era quem comandava o país. Os camaradas temiam que o estilo preferido dos cabeludos influenciasse "negativamente" os cidadãos e servisse como um meio de infiltração das potências ocidentais no bloco socialista.

Miguel Carmo, no alto da rebeldia da juventude, já era um crítico contumaz do sistema político da Alemanha do Leste. Filho de Ana Montenegro, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) exilada em Berlim Oriental, Miguel achava que a República Democrática da Alemanha (RDA) não era socialista o bastante.

O episódio dos Rolling Stones é um dos mais simbólicos não só na história do brasileiro, que foi para a prisão alguns dias depois por vários meses, mas também da Alemanha Oriental. Em 7 de outubro de 1969, no aniversário dos 20 anos da RDA, o governo socialista e a Stasi colocaram em ação uma operação especial.

Intitulada "Stafette", ela tinha como objetivo coibir as aglomerações no entorno do Muro de Berlim de uma multidão de roqueiros cabeludos, que tinham ido, de todas as partes da Alemanha Oriental, para a capital, com a esperança de enfim escutar os Rolling Stones.

Essa ação das autoridades da Alemanha Oriental teve como resultado não só um embate direto da polícia com os fãs dos Stones, mas também a detenção de mais de 400 pessoas – cerca de uma centena delas chegou a ficar semanas na prisão, de acordo com informações oficiais do governo da Alemanha.

Série de podcast da DW

Dois anos depois, na madrugada de 5 de novembro de 1971, Miguel Carmo ignorou a perigosa fronteira entre as Alemanhas para cometer um feito espantoso. Aos 19 anos, o brasileiro, simplesmente pulou o Muro de Berlim. Tudo isso sem ser notado pelos guardas, que tinham permissão para atirar em quem tentasse transpor clandestinamente a Cortina de Ferro.

Mas, diferentemente dos casos mais conhecidos, em que a travessia acontecia do lado Oriental, socialista, para o lado Ocidental, capitalista, Miguel fez o caminho contrário. Por ser considerado "subversivo" pelo governo da Alemanha Oriental, o brasileiro estava ilhado em Berlim Ocidental. Ele tinha sido expulso do lado socialista do Muro por ter ideias radicais demais, mesmo que também fosse um comunista.

Mandado para o outro lado do Muro, impedido de ver os pais, a irmã, os amigos e a namorada, Miguel fez o mais difícil para matar a saudade. Toda a investigação em torno do pulo do brasileiro e dos embates dele com a Stasi estão num dossiê de 600 páginas compilado pela polícia secreta da Alemanha Oriental, onde foram inclusive anexadas fotos com os rastros deixados por Miguel Carmo durante a travessia da Cortina de Ferro.

"O Pulo de Miguel"

O documento, obtido com exclusividade pelo repórter Fábio Corrêa, é o ponto de partida para a nova série de podcasts da DW, O Pulo de Miguel.

São seis episódios, um por semana. A série vai estar dentro do DW Revista, o podcast semanal da DW, disponível no site e nas principais plataformas de áudio. Os episódios são publicados todas as sextas-feiras e seguem até o dia 7 de novembro.

Mas a história não para – nem começa – aí. O jornalista também empreendeu uma viagem entre Brasil e Alemanha para reencontrar pessoas que conheceram Miguel Carmo e que ajudam a tentar entender não só o "feito" do brasileiro, mas também como era o mundo durante Guerra Fria, esse período histórico cujas marcas continuam vivas até hoje.

Para além de Stasi e Alemanha, ditadura militar e Brasil, O Pulo de Miguel também faz um retrato do mundo que entrou em ebulição nos anos 1960 e 1970. Rolling Stones, Jorge Amado, Bahia e Minas Gerais são o pano de fundo da série de reportagens em áudio e que, no fundo, é a história de uma família brasileira dividida pela Guerra Fria.

O trabalho investigativo ainda inclui entrevistas, relatos biográficos, documentos históricos e até um livro independente, publicado pela alemã Johanna Vogel, em 2011, na Alemanha, sobre Miguel, que ela adotou oficialmente após o brasileiro ter cometido a travessia clandestina.

A série de podcasts contou com o apoio financeiro da bolsa Holbrooke Grant, por meio da fundação alemã IJP (Internationale Journalisten-Programme), que financia projetos de pesquisa com perspectiva transnacional.

Short teaser Segundo episódio de "O Pulo de Miguel" começa com Stasi procurando brasileiro em busca de informações sobre os Stones.
Author Fábio Corrêa
Item URL https://www.dw.com/pt-br/roqueiro-brasileiro-na-mira-da-stasi-é-tema-de-podcast-da-dw/a-74292907?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 22
Id 74294753
Date 2025-10-09
Title Agroterrorismo: como a IA transforma a biotecnologia em arma
Short title Agroterrorismo: como a IA transforma a biotecnologia em arma
Teaser

Fungo apreendido nos EUA com pesquisadores chineses é capaz de destruir colheitas inteiras e prejudicar tanto animais quanto seres humanos

Caso de pesquisadores chineses suspeitos de contrabandear um fungo para os EUA como arma de terrorismo agrícola preocupa autoridades de segurança, que temem uso malicioso de biotecnologia e IA.Exemplos de bioterrorismo ou sabotagem agrícola são bastante raros e muito difíceis de comprovar, já que são frequentemente marcados por operações secretas, acusações políticas e indícios. O caso "Fusarium graminearum" é o exemplo mais bem documentado até o momento de suspeita de terrorismo agrícola chinês contra uma democracia ocidental. Em julho de 2024, Zunyong Liu, 34, biólogo da Universidade de Zhejiang, em Guangzhou, no sudeste da China, foi revistado por funcionários da alfândega após aterrissar no Aeroporto Metropolitano de Detroit, nos EUA. Na bagagem: um emaranhado de lenços de papel, papel-filtro com círculos enigmáticos e quatro sacos plásticos com material vegetal marrom-avermelhado. Não se tratavam de ervas inofensivas, mas de Fusarium graminearum, um fungo que as autoridades americanas classificam como "potencial arma de terrorismo agrícola", capaz de destruir colheitas inteiras e intoxicar tanto animais quanto seres humanos. Liu inicialmente afirmou que iria visitar a namorada, Yunqing Jian, pós-doutoranda no laboratório da Universidade de Michigan. Mas, após pressão dos investigadores, ele admitiu ter escondido as amostras intencionalmente para cloná-las em laboratório e usá-las em outros experimentos. No celular de Liu, os investigadores do FBI encontraram literatura especializada sobre "guerra com patógenos vegetais" e transcrições de conversas com Jian que indicam planos coordenados de contrabando e tentativas anteriores de importar amostras proibidas. Pesquisadores sob suspeita A namorada de Liu logo entrou na mira dos investigadores: segundo o FBI, ela é patrocinada pelo governo chinês e uma fiel apoiadora do Partido Comunista, além de pesquisar os mesmos patógenos em Michigan. Os investigadores acusam o casal de conspiração, contrabando, falso testemunho e fraudes consulares. Enquanto Liu foi deportada imediatamente para a China e permanece fora do alcance da justiça americana, Jian segue detido, aguardando audiência para possível pagamento de fiança. Guerra secreta por sementes e esporos Já em 2020, vários estados americanos alertaram sobre pacotes inesperados vindos da China que foram recebidos por moradores. As autoridades agrícolas levantaram a suspeita de que se tratava de sementes desconhecidas de espécies invasoras de plantas. "As espécies invasoras causam danos devastadores ao meio ambiente, suplantam ou destroem plantas e insetos nativos e causam graves danos às colheitas", declarou à época, em nota, o Ministério da Agricultura e do Consumidor do estado da Virgínia. Agora, cresce nos EUA a preocupação de que o que começou como um intercâmbio científico possa ter sido parte de uma estratégia secreta para enfraquecer a agricultura americana, suscitando "sérias preocupações com a segurança nacional" por parte de especialistas e políticos. O caso dos pesquisadores chineses é um bom exemplo dessa nova ameaça de agroterrorismo na era da guerra híbrida: ataques direcionados à produção de alimentos por meio da introdução ou alteração seletiva de agentes patogênicos perigosos. É verdade que o Fusarium graminearum já é nativo dos EUA. O fungo faz com que os grãos de trigo e cevada fiquem murchos e pequenos. No milho, causa a podridão da espiga. Mas o verdadeiro perigo seria uma variante geneticamente modificada, contra a qual nenhum tratamento seria eficaz. Até o momento, não há provas de que as amostras contrabandeadas tenham sido realmente manipuladas. O perigo, no entanto, é real e alarmante. Bioterrorismo e IA: o novo front Além dos métodos clássicos de contrabando, a possibilidade de otimizar organismos nocivos com a ajuda da biologia sintética ou a partir da concepção de proteínas baseada em IA está ganhando importância. Cientistas alertam há muito tempo que as ferramentas para alterar fungos, esporos, vírus e proteínas tóxicas podem não ter apenas objetivos pacíficos, mas também fins potencialmente bélicos. "A engenharia de proteínas é uma pesquisa de mão dupla. Ela pode ter efeitos extremamente positivos, por exemplo, no desenvolvimento de vacinas, em terapias baseadas em genes, em conceitos de diagnóstico e terapia individualizados e em doenças para as quais até agora há poucos ou nenhum tratamento disponível", afirma Birte Platow, professora de pedagogia religiosa no Instituto de Teologia Evangélica da Universidade Técnica de Dresden e membro do Centro de Competência em IA ScaDS.AI da Universidade Técnica de Dresden/Universidade de Leipzig. "Ao mesmo tempo, essa pesquisa é de alto risco, pois a mesma tecnologia pode ter efeitos potencialmente prejudiciais, a exemplo da síntese acidental ou intencional de genes que codificam proteínas perigosas, como no caso do desenvolvimento de armas biológicas", pondera Platow. O Escritório de Avaliação de Impactos Tecnológicos do Parlamento Alemão também confirma que as tecnologias de dupla utilização e a concepção de proteínas baseada em IA tornam os ataques a infraestruturas críticas, à agricultura e às cadeias de abastecimento tecnicamente mais fáceis e acessíveis. Dirk Lanzerath, da Universidade Rheinische Friedrich-Wilhelms de Bonn e diretor do Centro Alemão de Referência para Ética nas Ciências Biológicas (DRZE), tem uma opinião semelhante: "As tecnologias de dupla utilização caracterizam-se pelo fato de que, além de terem uma utilidade civil, também podem ser utilizadas indevidamente para fins militares ou criminosos". Por isso, os pesquisadores sempre enfrentam um dilema: "Por um lado, a concepção de proteínas baseada em IA abre oportunidades para o desenvolvimento aprimorado de vacinas e a produção acelerada de medicamentos, mas, por outro, traz o risco de facilitar a produção de armas biológicas", pondera Lanzerath. Na avaliação da IA e da pesquisa de dupla utilização, além dos pesquisadores, também são incluídos especialistas em ética, como Lanzerath, e teólogos, como Platow. A expertise de outras áreas deve ajudar a situar a pesquisa no contexto social, questionar normas e incluir sistematicamente o senso de responsabilidade. Lacunas de segurança Para complicar ainda mais a avaliação de riscos, os atuais mecanismos de segurança não são satisfatórios: um estudo recente mostra que os modelos modernos de IA podem gerar variantes proteicas perigosas que escapam aos sistemas de controle convencionais. "As proteínas geradas por IA podem ter propriedades comparáveis às proteínas naturais, mas diferem na sequência de DNA. Se for uma proteína potencialmente perigosa, os sistemas de controle 'ignoram' o perigo", explica Platow. Pesquisa global na zona cinzenta É justamente o sigilo em torno de pesquisas altamente sensíveis que dificulta um controle eficaz: a maioria dos avanços tecnológicos em IA e biotecnologia ocorre em laboratórios privados ou públicos que raramente permitem acesso irrestrito, por motivos estratégicos ou devido a patentes. Até o momento, não existem órgãos de controle internacionais independentes, e também não há monitoramento global. Também não há regulamentações internacionais vinculativas e efetivamente aplicáveis para o controle da biotecnologia e da IA. Os acordos internacionais mais importantes são a Convenção para a Proibição de Armas Biológicas e Toxínicas (CPAB) e o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança. A CPAB proíbe o desenvolvimento e o uso de armas biológicas, mas não possui um sistema próprio de controle ou verificação – por isso, as violações são difíceis de detectar e faltam órgãos de monitoramento. Iniciativas regionais, como a Lei de IA da União Europeia (UE), regulamentam o uso de sistemas de IA de alto risco e exigem transparência, mas são válidas apenas dentro do bloco. Assim, a comunidade científica e as empresas apostam em códigos de ética e compromissos voluntários, cuja eficácia é muito limitada, tendo em vista o rápido desenvolvimento tecnológico e a possibilidade de projetos de pesquisa secretos.


Short teaser Autoridades de segurança estão preocupadas após apreensão nos EUA de fungo contrabandeado por chineses.
Author Alexander Freund
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Image caption Fungo apreendido nos EUA com pesquisadores chineses é capaz de destruir colheitas inteiras e prejudicar tanto animais quanto seres humanos
Image source Joshua A. Bickel/AP/picture alliance
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Item 23
Id 74287106
Date 2025-10-09
Title Nobel de Literatura premia o húngaro László Krasznahorkai
Short title Nobel de Literatura premia o húngaro László Krasznahorkai
Teaser

"Sátántangó" é a única obra do escritor húngaro László Krasznahorkai publicada no Brasil

Segundo a academia, Krasznahorkai é, assim como Kafka, um "grande escritor épico" da tradição literária centro-europeia "caracterizada pelo absurdo e o excesso grotesco".O escritor húngaro László Krasznahorkai foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura "por sua obra marcante e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte", anunciou nesta quinta-feira (09/10) a Academia Sueca em Estocolmo. O prêmio é atribuído à pessoa que "tiver produzido no campo da literatura o trabalho mais notável". Cada vencedor recebe 11 milhões de coroas suecas (R$ 6,1 milhões). A academia descreveu Krasznahorkai, autor de cinco romances e diversas outras coletâneas de ensaios e contos, como um "grande escritor épico na tradição centro-europeia que se estende de Kafka a Thomas Bernhard e é caracterizada pelo absurdo e o excesso grotesco". Nascido em Gyula, na Hungria, Krasznahorkai tem 71 anos e é autor dos romances como The Melancholy of Resistance (1989), War and War (1999), Destruction and Sorrow beneath the Heavens (2004) e Baron Wenckheim's Homecoming (2016). Sátántangó, única obra do escritor publicada no Brasil, foi editada em 2022 pela Companhia das Letras. A obra se desenrola em torno da chegada de um homem misterioso a uma aldeia húngara onde a chuva não para de cair. Antes de receber o Nobel, ele já havia sido reconhecido com o Booker International Prize de 2015 por suas "frases extraordinárias, frases de comprimento incrível que vão a extremos incríveis, cujo tom muda de solene para excêntrico, de curioso para desolado, enquanto seguem seu caminho errático". Tanto Sátántangó quanto The Melancholy of Resistance foram transformados em filmes pelo diretor húngaro Béla Tarr. Outros vencedores Em 2024, o Nobel de Literatura foi para a autora de romances, ensaios e contos sul-coreana Han Kang. Ela é a primeira mulher asiática a ganhar o prêmio e foi apenas a 18ª mulher a receber o Nobel de Literatura entre os 121 laureados desde 1901. A Academia Sueca, organizadora do prêmio, é frequentemente criticada pelo longo histórico de premiação a homens e pela baixa representatividade geográfica dos vencedores na categoria literária. Entre os 121 ganhadores, por exemplo, 97 eram europeus. Em 2023, o Nobel de Literatura foi para o escritor norueguês Jon Fosse. Em 2022, ele ficou com a escritora francesa Annie Ernaux. Outras categorias Criado pelo inventor sueco Alfred Nobel (1833-1896), com base em sua fortuna pessoal, o prêmio que leva seu nome já foi concedido 628 vezes a 1.015 indivíduos e organizações, alguns mais de uma vez, entre 1901 e 2024. Os seis dias de anúncios do Prêmio Nobel iniciaram-se na segunda-feira, com o da Medicina, designado aos pesquisadores americanos Mary E. Brunkow e Fred Ramsdell e o japonês Shimon Sakaguchi, por sua descoberta relacionada à tolerância imunológica periférica, que impede o sistema imunológico de causar danos ao corpo. No dia seguinte, o de Física foi para o britânico John Clarke, o francês Michel Devoret e o americano John Martinis por pesquisas fundamentais para o avanço da computação quântica. O de Química ficou com o japonês Susumu Kitagawa, o britânico Richard Robson e o jordaniano Omar M. Yaghi pelo desenvolvimento de estruturas metalorgânicas, que podem serem usadas para capturar substâncias específicas, desenvolver reações químicas e conduzir eletricidade. Após o anúncio do Nobel de Literatura, segue-se o da Paz. Em 13 de outubro, por fim, será divulgado o Nobel de Economia. A cerimônia de entrega, pelo rei da Suécia, Carl 16 Gustaf, está marcada para 10 de dezembro. cn/ra (AP/ots)


Short teaser Segundo a academia, Krasznahorkai é, assim como Kafka, um "grande escritor épico" do "absurdo e do excesso grotesco".
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Image caption "Sátántangó" é a única obra do escritor húngaro László Krasznahorkai publicada no Brasil
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Item 24
Id 71928484
Date 2025-10-09
Title Correção de certidões de óbito da ditadura é reparação histórica
Short title Ditadura: correção de certidão de vítimas é reparo histórico
Teaser Desde dezembro de 2024, documentos têm que informar que mortes foram violentas e causadas pelo Estado. Em cerimônia, mais de 100 famílias receberam certidões de óbito atualizadas, incluindo a de Vladimir Herzog.

Mais de 100 famílias receberam certidões de óbito atualizadas de parentes desaparecidos e assassinados durante a Ditadura Militar, em uma cerimônia realizada nesta quarta-feira (08/10) na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

A correção e emissão de uma nova certidão de óbito foi possível após o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinar, em dezembro de 2024, que os cartórios têm o dever de reconhecer e retificar as certidões de óbito de todos os mortos e desaparecidos vítimas da ditadura militar reconhecidos pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).

Mais do que um ato político, o evento foi uma celebração à correção obrigatória dos documentos. Segundo especialistas, a mudança é um reconhecimento simbólico. Familiares do político Rubens Paiva e do jornalista Vladimir Herzog, ambos assassinados durante o regime militar, estiveram presentes.

A certidão de Rubens Paiva já havia sido corrigida em janeiro deste ano, após entrada de pedido na Justiça pela família, enquanto a de Herzog foi entregue corrigida em 2013, atestando lesões por maus-tratos. Agora, porém, a redação do texto de todas as certidões de óbito vai ser padronizada, atestando a responsabilidade do Estado.

Reconhecimento da violência do Estado

Foi através de uma notícia na TV que Wladir Costa Danielli, à época com 5 anos, soube da morte do pai, Carlos Nicolau Danielli, durante a ditadura militar. Ele era um dos líderes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e foi preso em São Paulo no dia 28 de dezembro de 1972, três dias antes de ser assassinado.

"Eu era muito pequeno, mas tenho essa lembrança. Minha mãe estava na sala assistindo ao jornal e quando viu a notícia da morte do meu pai, ela deixou cair no chão o copo que segurava na mão. O barulhou chamou a minha atenção. Corri para ver o que aconteceu, e num primeiro momento ela disse que um amigo muito querido havia falecido", recorda Wladir.

A versão para a morte de Carlos Danielli divulgada à época pelos órgãos de segurança era de que ele havia sido morto em um tiroteio com policiais. Porém, décadas depois as investigações concluíram que ele foi torturado e morreu nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Exército, em São Paulo, um dos principais órgãos de repressão política durante a ditadura.

Mesmo após o esclarecimento da morte de Danielli, a certidão de óbito dele só foi corrigida em janeiro deste ano, com o reconhecimento de morte violenta causada pelo Estado brasileiro.

"Me sinto justiçada, pois o Estado está reconhecendo tudo o que fez contra meu avô, e a esperança é de que as pessoas possam de fato conhecer a história da ditadura, para que ela não se repita", afirma Laís de Araújo Costa Danielli, neta de Carlos.

"É uma reparação histórica porque o Estado brasileiro está assumindo que torturou, matou e sumiu com corpos", enfatiza o aposentado Wladimir Costa Danielli, também filho de Carlos.

Pela nova regra, as certidões de óbitos de 202 mortos durante a ditadura terão como causa mortis: "Morte não natural, violenta, causada pelo Estado no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política no regime ditatorial instaurado em 1964". A emissão das novas certidões é gratuita e pode ser solicitada pelos familiares das vítimas ou qualquer pessoa.

Já os 232 desaparecidos durante o regime militar terão direito a um atestado de óbito. E todos os registros terão que informar que essas pessoas foram vítimas da violência cometida pelo Estado.

Até então, as certidões de óbito só eram corrigidas ou emitidas aos familiares dos desaparecidos depois de batalhas na Justiça.

Foi assim que, em 2019, a advogada Altair de Almeida, de 68 anos, finalmente obteve a certidão de óbito do irmão Joel Vasconcelos Santos, um dos "desaparecidos" do regime. Ele foi preso no Rio de Janeiro pela repressão em 1971, aos 21 anos.

"É muito importante que haja essa reparação por parte do Estado. De certa forma, acalenta a família. E mais do que isso: é uma necessidade para despertar [para] o assunto, para que não ocorra novamente. Tem muita gente que ainda admira e idolatra torturador", enfatiza a advogada.

Segundo o relatório da CNV, a prisão de Joel foi justificada como suspeita de tráfico. No entanto, o rapaz apenas levava cartazes contra a ditadura e ingressos para o espetáculo "O Rei da Vela", montagem do Teatro Oficina de José Celso Martinez Corrêa baseada em obra de Oswald de Andrade.

De acordo com documentos do Exército do Rio de Janeiro, Joel foi interrogado entre 15 e 19 de março daquele ano. O corpo dele nunca foi entregue à família.

"Minha mãe morreu lutando para encontrar meu irmão. Na época do desaparecimento, todos os dias ela ia até a escadaria da Cinelândia com a foto dele. Ela nunca se calou, participou de movimentos contra a ditadura e lutou até o fim", conta Altair.

Reparação da história

Mais do que alento e reparação do Estado para as famílias das vítimas da ditadura, especialistas afirmam que a retificação das certidões de óbito significa uma reparação na história do país, com o reconhecimento dos crimes cometidos pelo regime militar.

"O Estado tinha técnicas para ocultar a verdade e encobrir os crimes. Além dos militares que agiam na tortura, haviam médicos que produziam e assinavam os atestados com explicações falsas para as mortes, colocando que havia sido suicídio, atropelamento, entre outras causas", explica Carla Osmo, professora de direito da Unifesp.

A ditadura durou de 1964 até 1985, mas quatro décadas depois ainda existe uma necessidade de lidar com os resultados das graves violações de direitos humanos da época: assassinatos, prisões arbitrárias, censura e repressão de dissidentes, de povos indígenas e de pessoas pobres.

"Essa reparação é importante para que a sociedade reconheça o que houve na época da ditadura, e assim haja uma reparação na história, já que essas vítimas por muitos anos foram vistas como criminosas, como se elas é que estivessem fazendo algo de errado, justificando suas prisões e tudo o que passaram", acrescenta Osmo.

Apuração dos crimes

Para apurar os crimes cometidos pelo Estado e mostrar para a sociedade os horrores do período foi criada, em 2011, a Comissão Nacional da Verdade. O relatório final, entregue em 2014, apontou 377 responsáveis por assassinatos e torturas e pediu a revisão da Lei da Anistia, que perdoou os crimes cometidos entre 1969 e 1979.

Para Rogério Sottili, diretor-executivo do Instituto Vladimir Herzog, as retificações nas certidões de óbitos das vítimas da ditadura são mais uma prova de que o Estado cometeu crimes, podendo também resultar em reparação material, além da simbólica.

"O documento é uma prova material que reforça o envolvimento do Estado nos crimes e pode ser usado para reforçar processos judiciais. Os militares envolvidos, se condenados criminalmente, por exemplo, podem perder os benefícios dados a eles, como as aposentadorias e as pensões destinadas aos seus familiares, caso já estejam mortos", explica.

Na última década, o Ministério Público Federal ingressou com 53 ações criminais pedindo a condenação de agentes que cometeram crimes durante a ditadura militar. O sucesso do filme Ainda Estou Aqui, que ganhou Oscar de melhor filme internacional, deu novo fôlego ao tema e fez com que o Judiciário voltasse a olhar para a questão.

No início do ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que vai analisar novamente a validade da Lei da Anistia no caso dos cinco militares acusados pela morte do ex-deputado federal Rubens Paiva, retratado no longa-metragem. A decisão fixará jurisprudência para o julgamento de outros processos da ditadura.

Short teaser Desde dezembro de 2024, por decisão do CNJ, documentos devem informar que mortes foram violentas e causadas pelo Estado.
Author Simone Machado
Item URL https://www.dw.com/pt-br/correção-de-certidões-de-óbito-da-ditadura-é-reparação-histórica/a-71928484?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 25
Id 74278276
Date 2025-10-08
Title Alemanha acaba com a naturalização em apenas 3 anos
Short title Alemanha acaba com a naturalização em apenas 3 anos
Teaser Via mais rápida para aquisição de cidadania foi criada no governo anterior e era criticada por partidos conservadores. Poucos imigrantes fizeram uso da opção, que tinha elevado grau de exigência.

A via para aquisição da cidadania alemã após apenas três anos, criada pelo governo anterior da Alemanha para estrangeiros especialmente bem integrados e que é chamada pelos partidos conservadores de "naturalização turbo", foi abolida nesta quarta-feira (08/10) pelo Bundestag (Parlamento), onde o governo do chanceler federal Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), tem maioria.

Com isso, imigrantes perdem a possibilidade que tinham de pleitear um passaporte alemão em tempo recorde, caso comprovassem ter se integrado excepcionalmente bem à sociedade alemã.

A opção introduzida pelo governo anterior, do chanceler Olaf Scholz, formado pelo Partido Social Democrata (SPD), pelos Verdes e pelo Partido Liberal Democrático (FDP), sempre irritou os conservadores da CDU e da União Demorata Cristã (CSU), razão pela qual sua abolição já havia sido incluída no acordo de coalizão entre os conservadores e os social-democratas.

A reforma da lei de cidadania aprovada no governo anterior, e que entrou em vigor em junho de 2024, também estipula que os imigrantes possam obter o passaporte alemão após cinco anos de residência, em vez dos oito anteriores. A extinção da "naturalização turbo" não muda isso nem a possibilidade de dupla cidadania.

O que é a naturalização acelerada?

A chamada "naturalização turbo" era um processo acelerado de naturalização que permitia a um imigrante na Alemanha obter o passaporte alemão em apenas três anos caso ele conseguisse preencher requisitos que comprovassem excelente integração à sociedade. Essa opção havia sido criada em junho de 2024 pelo então governo alemão.

Quais eram os requisitos?

Para poder solicitar a naturalização acelerada após três anos, o imigrante precisava comprovar uma excelente integração social, por exemplo por meio de um excelente desempenho acadêmico ou profissional, ou do engajamento em trabalhos voluntários.

Os candidatos também precisavam comprovar que eram capazes de sustentar a si próprio e suas famílias, além de demonstrar um alto grau de domínio do idioma alemão (nível C1, ou seja, capacidade de se expressar fluentemente).

Quantas pessoas usaram essa opção?

Um número oficial para todo o país não foi divulgado, mas estimativas feitas por diversos veículos de comunicação com base em consultas a autoridades estaduais indicam que ele é muito baixo, apesar do recorde de naturalizações em 2024.

Um levantamento da emissora pública MDR nos estados da Saxônia, Saxônia-Anhalt e Turíngia chegou a um número entre 20 e 25 no total dos três estados.

Uma consulta da emissora ARD a autoridades locais mostrou que, na Baviera, apenas 78 pessoas, ou 0,14% do total, obteve uma naturalização em três anos até abril passado.

No estado de Baden-Württemberg foram 16 casos em 2024. O maior número foi em Berlim, com 573 naturalizações, ou 1,02% do total da capital.

E como fica a situação de quem pediu e ainda não obteve a naturalização acelerada?

A mudança na lei não contém nenhuma disposição transitória. Portanto, quem tiver apresentado um pedido de naturalização acelerada e ainda estiver aguardando resposta, possivelmente vai ter agora de esperar para completar cinco anos de residência na Alemanha – mas, aí, sem exigências adicionais.

Ao jornal Rheinische Post, o Ministério do Interior comunicou que recomenda aos estados suspenderem os processos em andamento. Isso evita que eles sejam rejeitados e permite a retomada após cinco anos de residência, o que elimina a necessidade de novos pedidos.

Por que acabou?

Os partidos conservadores CDU e CSU, hoje no poder, são contra a naturalização em três anos e incluíram o fim dela no acordo de coalizão com os social-democratas.

Ao assumir o Ministério do Interior, a CSU prometeu uma reviravolta na política migratória.

O ministro do Interior, Alexander Dobrindt (CSU), argumenta que a naturalização em três anos cria "os incentivos errados", dá a impressão de que o passaporte alemão está sendo concedido "numa espécie de promoção" e era um fator de atração da imigração irregular.

"A naturalização após três anos de residência na Alemanha simplesmente não assegura que a integração vá funcionar plenamente", disse. Ele argumenta que a naturalização deve ocorrer ao final de um processo de integração, e não no início.

Quais são as reações à revogação?

Alguns especialistas lembram que a economia alemã precisa de pessoas altamente qualificadas e afirmam que o fim da naturalização acelerada reduz os incentivos para que esses profissionais optem por trabalhar na Alemanha.

A oposição de esquerda criticou a decisão. O colíder do Partido Verde Felix Banaszak disse que ela envia um sinal errado num momento em que a economia do país precisa de todos – "independentemente de alguém viver aqui há três anos ou três gerações".

A Diakonie, o serviço social da igreja evangélica EKD, também criticou a medida. "Em vez de recompensar a integração, os políticos a estão bloqueando – e efetivamente dizendo: engajamento não vale a pena", afirmou a presidente Elke Ronneberger. Para ela, a decisão envia um sinal errado a todos os imigrantes que se engajam, aprendem alemão e assumem responsabilidades.

Short teaser Naturalização acelerada foi criada no governo anterior e era criticada pelos conservadores. Poucos imigrantes a usaram.
Author Alexandre Schossler
Item URL https://www.dw.com/pt-br/alemanha-acaba-com-a-naturalização-em-apenas-3-anos/a-74278276?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Alemanha%20acaba%20com%20a%20naturaliza%C3%A7%C3%A3o%20em%20apenas%203%20anos

Item 26
Id 74274768
Date 2025-10-08
Title Nobel de Química premia estrutura que armazena gases e captura poluentes
Short title Nobel de Química premia estrutura que armazena gases
Teaser Trio desenvolveu uma arquitetura molecular capaz de armazenar substâncias, podendo ser usada para separar poluentes da água e reter CO2. Descoberta é comparada a bolsa de Hermione do Harry Potter.

O japonês Susumu Kitagawa, o britânico Richard Robson e o jordaniano Omar M. Yaghi foram os laureados do Prêmio Nobel de Química de 2025 "pelo desenvolvimento de estruturas metalorgânicas”, divulgou a Real Academia Sueca de Ciências nesta quarta-feira (08/10), em Estocolmo.

Os laureados desenvolveram um novo tipo de arquitetura molecular, as estruturas metalorgânicas, que contêm cavidades nas quais as moléculas podem entrar e sair. Essa porosidade pode ser usada para capturar substâncias específicas, desenvolver reações químicas e conduzir eletricidade.

"Uma pequena quantidade desse material pode ser quase como a bolsa da Hermione em Harry Potter. Pode armazenar enormes quantidades de gás em um volume minúsculo", afirmou o Comitê do Nobel de Química ao anunciar o prêmio.

Os três laureados trabalharam na criação de construções moleculares com grandes espaços por onde gases e outros produtos químicos podem fluir, e que podem ser utilizados para captar água do ar do deserto, capturar dióxido de carbono e armazenar gases tóxicos.

"Seguindo as descobertas inovadoras dos laureados, químicos criaram dezenas de milhares de estruturas metalorgâncias diferentes. Algumas delas podem contribuir para resolver alguns dos maiores desafios da humanidade, com aplicações que incluem a separação de poluentes da água, a decomposição de vestígios de produtos farmacêuticos no meio ambiente, a captura de dióxido de carbono ou a retenção de água do ar do deserto", diz o Comitê Nobel de Química.

Segundo a organização, a indústria já estuda como usar a arquitetura molecular para, por exemplo, decompor gases nocivos, e absorver o CO2 de fábricas e usinas de energia, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.

Iniciativa de um inventor sueco visionário

Em 2024, o Nobel de Química foi para o bioquímico americano David Baker, o britânico Demis Hassabis e o americano John M. Jumper por suas contribuições no campo do design computacional de proteínas e previsão da estrutura proteica.

Em 2023, a conceituada distinção do campo da química coube a Moungi Bawendi, Louis Brus e Alexei Ekimov, atuantes nos Estados Unidos, pela descoberta e desenvolvimento dos pontos quânticos, ou átomos artificiais, importantes para a computação quântica e já empregados em televisores modernos.

Criado pelo inventor sueco Alfred Nobel (1833-1896), com base em sua fortuna pessoal, o prêmio que leva seu nome já foi concedido 628 vezes a 1.015 indivíduos e organizações, alguns mais de uma vez, entre 1901 e 2024.

Os seis dias de anúncios do Prêmio Nobel iniciaram-se na segunda-feira, com o da Medicina, designado aos pesquisadores americanos Mary E. Brunkow e Fred Ramsdell e o japonês Shimon Sakaguch, por sua descoberta relacionadas à tolerância imunológica periférica, que impede o sistema imunológico de causar danos ao corpo.

No dia seguinte, o de Física foi para o britânico John Clarke, o francês Michel Devoret e o americano John Martinis por pesquisas fundamentais para o avanço da computação quântica.

Após o anúncio do Nobel de Química, seguem-se o de Literatura e o da Paz. Em 13 de outubro, por fim, será divulgado o Nobel da Economia. A cerimônia de entrega, pelo rei da Suécia, Carl 16 Gustaf, está marcada para 10 de dezembro.

gq/cn (OTS)

Short teaser Trio desenvolveu uma arquitetura molecular capaz de remover poluentes da água e capturar CO2.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/nobel-de-química-premia-estrutura-que-armazena-gases-e-captura-poluentes/a-74274768?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 27
Id 74249743
Date 2025-10-07
Title Maioria das praias do Brasil está poluída por microplásticos
Short title Maioria das praias do Brasil está poluída por microplásticos
Teaser

1.024 praias brasileiras foram analisadas em um estudo sobre poluição por microplástico

Maior levantamento do tipo revela que sete em cada dez praias apresentam fragmentos plásticos e aponta riscos de toxicidade. Governo anuncia estratégia para limpar o oceano.Das 1.024 praias brasileiras analisadas em um estudo publicado na revista Environmental Research em 24 de setembro, 69,3% estavam poluídas por microplásticos. Com menos de cinco milímetros – algo como um grão de arroz –, esses fragmentos podem afetar a biodiversidade, a segurança alimentar, a saúde humana e até as atividades econômicas do ambiente marinho e costeiro. A pesquisa faz parte do projeto MicroMar, liderado pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano). Segundo o artigo, o estudo é o mais extenso levantamento padronizado conduzido não só no Brasil, mas em todo o Sul Global. "O MicroMar representa um marco porque, pela primeira vez, conseguimos ter uma visão abrangente e sistemática da contaminação por microplásticos ao longo das praias brasileiras. Isso gera um banco de dados inédito, que pode ser usado de maneiras muito concretas", avaliou Guilherme Malafaia, professor do Departamento de Ciências Biológicas do IF Goiano e coordenador da pesquisa. O estudo também mostrou que a concentração de microplásticos é apenas parte do problema. "A principal mensagem do projeto não é só identificar onde há plástico, mas também onde estão os mais perigosos e quais áreas concentram os maiores riscos", explicou Thiarlen Marinho da Luz, doutorando em Biotecnologia e Biodiversidade pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e primeiro autor do artigo. O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) disse acompanhar as pesquisas sobre o tema. Em nota enviada à DW, destacou a importância da Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP), publicada no dia 1º de outubro. "É uma iniciativa inédita do governo federal que orienta e coordena ações estratégicas, sinérgicas e multissetoriais para a prevenção, redução e eliminação da poluição por plástico no oceano até 2030", informou o MMA. Presença e risco Para detectar os microplásticos e seus riscos, os pesquisadores seguiram algumas etapas. Primeiro, selecionaram 1.024 praias em 211 municípios de todos os 17 estados costeiros do Brasil, cobrindo aproximadamente 7,5 mil quilômetros de litoral. Depois, coletaram 4.134 amostras de areia entre 2022 e 2023, levando-as para o mesmo laboratório. A partir daí, os pesquisadores analisaram a quantidade de microplásticos por quilograma de areia em cada praia, encontrando a poluição em 69,3% delas. Os estados com os valores médios mais elevados foram Paraná, Sergipe, São Paulo e Pernambuco. Das 30 praias com maior concentração de microplásticos, oito estavam em Pontal do Paraná (PR) – entre elas Barrancos, que ficou no topo do ranking, com 3.483,4 itens por quilograma de areia. Questionada pela DW, a prefeitura informou que não conhecia o estudo. E levantou a hipótese de que esses materiais cheguem ao município, principalmente, pelas correntes marítimas. O passo seguinte foi calcular o Índice de Perigo do Polímero (PHI, na sigla em inglês), que mediu o quão tóxico eram os microplásticos encontrados. Os estados com maiores valores neste índice foram Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Maranhão e Pará. Para ter uma ideia de como o cálculo mudou o cenário, a praia de Barrancos, apesar de ter a maior densidade de microplásticos, caiu para a 107ª posição. Já a praia Paraíso, em Torres (RS), com poucos fragmentos encontrados comparados à realidade nacional, ficou no topo do ranking. Mas o estudo deu outro passo: combinou a quantidade de microplásticos com o perigo dos materiais, através do cálculo do Índice de Risco Ecológico Potencial (PERI, na sigla em inglês). Os estados com os maiores valores encontrados foram Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Piauí e Maranhão. Novamente, a praia Paraíso teve o índice mais alto. Apesar de não ter tantos microplásticos, foram encontradas amostras de materiais considerados mais tóxicos, como o PVC. A prefeitura de Torres não respondeu aos questionamentos da DW. Risco aos banhistas? Os microplásticos funcionam como pequenos fragmentos de poluição, explicou o professor Guilherme Malafaia, do MicroMar. "Eles podem ser ingeridos por organismos marinhos – desde o plâncton até os peixes – interferindo na nutrição, crescimento e reprodução dessas espécies. Isso gera um efeito em cascata, ou seja, se a base da cadeia alimentar sofre, todo o ecossistema fica comprometido." Para os seres humanos, a principal preocupação é indireta, por meio do consumo de peixes e frutos do mar contaminados. "Para os banhistas, a presença de microplásticos na areia não representa, no momento, um risco direto de intoxicação. Entretanto, é importante destacar que esses fragmentos podem atuar como ‘esponjas ambientais', absorvendo metais pesados, pesticidas e até microrganismos patogênicos", pontuou Malafaia. De forma geral, a proximidade de galerias de águas pluviais e esgoto, fozes de rios e áreas altamente urbanizadas explica boa parte da poluição. O estudo também apontou três frentes urgentes para resolver o problema: conter o lixo antes de chegar ao mar (drenagem urbana e manejo de resíduos), reduzir a carga plástica nas bacias hidrográficas e implementar metas regionais de monitoramento. Da fonte ao mar Apesar dos inúmeros alertas dos cientistas, o combate à poluição por plásticos e microplásticos enfrenta resistências. Em agosto, um acordo histórico no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para resolver o problema foi bloqueado pelos países produtores de petróleo. No Brasil, dois projetos de lei de 2022 seguem tramitando: o PL 2524, que propõe restringir plásticos de uso único e criar metas de reciclagem, e o PL 1874, que institui a Política Nacional de Economia Circular. O MMA acredita que o cenário pode mudar com a Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP). "Os objetivos da ENOP se ancoram no enfrentamento à poluição por plástico em todo o ciclo de vida do material, desde a extração de matérias-primas até a destinação final, para proteger recursos naturais e a biota marinha, incluindo o cuidado com cadeias alimentares e os efeitos do microplástico", informou, em nota. Essa abordagem é chamada de "da fonte ao mar". Em 90 dias deve ser lançado um plano de ação baseado na estratégia, conforme o MMA. "A expectativa é que o trabalho realizado a partir desta estratégia seja um marco para engajar consumidores e mercado em alternativas mais sustentáveis ao plástico, ampliar o acesso a financiamento, debater a revisão e orientação de subsídios que agravam impactos ambientais e sociais negativos, promovendo por fim dignidade, saúde e inclusão social." Para Thiarlen Marinho da Luz, primeiro autor do estudo publicado na Environmental Research, a sociedade está consciente do problema, mas falta ação. "As pessoas estão conscientes de que uma tartaruga pode comer uma sacola, de que o remédio pode causar dano nos peixes. Agora, se elas são sensíveis à causa, eu acredito que não."


Short teaser Maior levantamento do tipo revela que sete em cada dez praias apresentam fragmentos plásticos.
Author Maurício Frighetto
Item URL https://www.dw.com/pt-br/maioria-das-praias-do-brasil-está-poluída-por-microplásticos/a-74249743?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption 1.024 praias brasileiras foram analisadas em um estudo sobre poluição por microplástico
Image source Maurício Frighetto/DW
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Item 28
Id 74262154
Date 2025-10-07
Title Como bares lidam com a crise causada por bebidas adulteradas com metanol
Short title Como bares lidam com a crise causada pelo metanol
Teaser Estabelecimentos relatam prejuízos e mudança no consumo de bebidas. Clientes evitam destilados e optam por cerveja enquanto o setor tenta recuperar a confiança.

Depois do aumento de casos por intoxicação e até morte por metanol, a rotina dos bares em São Paulo e outras cidades do Brasil mudou por completo neste último fim de semana. Pessoas deixaram de ir aos locais para fazer happy hour ou trocaram os destilados por cerveja e outras bebidas enlatadas.

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde nesta segunda-feira (06/09), o Brasil contabiliza 217 notificações de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica. O total inclui casos suspeitos, confirmados e óbitos. Até agora, 17 foram confirmados e 200 continuam em investigação.

O estado de São Paulo reúne a maior parte dos registros, representando cerca de 82,49% das notificações no país. Desses,15 foram confirmados e 164 seguem sob análise. Além de São Paulo, o Paraná registra dois casos confirmados e quatro em investigação.

Diante da insegurança dos consumidores, mesas ficaram vazias e donos de bares e restaurantes, principalmente de sexta a domingo, tiveram prejuízo. Na capital paulista, segundo Paulo Solmucci, presidente executivo da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel), os estabelecimentos tiveram uma queda de aproximadamente 25% do público nesta última semana.

Solmucci destaca ainda que, desde o surgimento dos primeiros casos, o prejuízo foi observado em bares e restaurantes de classe média alta. Contudo, mesmo diante do ocorrido, ele afirma que as pessoas continuam frequentando os estabelecimentos e tomando precauções, como a substituição de um tipo de bebida por outra.

Bar vazio e 10% de faturamento

Devido ao receio por parte de alguns clientes, proprietários de estabelecimentos sentiram na pele a queda do faturamento e a pouca procura por bebidas destiladas. Foi o caso do bar Cama de Gato, localizado na Vila Buarque, no centro de São Paulo.

Focado em cocktails, o espaço teve uma diminuição drástica do público neste fim de semana e ficou vazio na última sexta-feira, dia em que a casa costuma receber de 100 a 150 clientes. "As pessoas realmente estão muito sensibilizadas com o que está acontecendo e isso reflete imediatamente no faturamento. Temos um faturamento de zero reais, assim, assustador", lamenta André Bandim, dono do bar.

Já no sábado, ele teve 10% do faturamento, comparado a outros finais de semana. "Falei com vários amigos do setor, e bares que têm movimento super alto faturaram 300 reais, por exemplo, que é um valor irrisório diante do que faturavam antes", diz.

Para tranquilizar os clientes, ele começou a disponibilizar todos os certificados de fiscalização das distribuidoras do bar, que, segundo ele, são inspecionados pela Vigilância Sanitária. Ele fez ainda comunicados e posts informativos nas redes sociais. "Compramos desde a abertura, há sete anos, dos mesmos fornecedores homologados. Nunca houve um problema sequer. Esses fornecedores explicam em cartas e certificados que já passaram por fiscalização e nada de irregular foi encontrado", reforça.

Como alternativa para os consumidores que ainda se sentem inseguros, Bandim conta que começou a fazer mais drinques sem álcool. "Já tínhamos opções sem álcool e estamos ampliando, mas dificilmente vai surtir algum efeito a curto prazo", destaca. Ele teme ter mais prejuízos e diz que a situação se assemelhe à época da pandemia.

Assim como Bandim, o dono do bar Armazém Garnizé, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo, afirma que houve uma diminuição do público neste fim de semana. "Com certeza teve uma queda visível. Provavelmente porque são consumidores que têm um relacionamento mais efêmero com o bar. Os clientes de meio de semana são consumidores mais fiéis, que têm confiança, que conversam com a gente sobre isso, pedem informação e acabam mantendo essa frequência mesmo com esse problema do metanol", conta Caetano Barreira.

Ele observou também uma queda nos pedidos dos drinques que são feitos com destilados. "A venda de destilados caiu 84%. Uma das distribuidoras de bebidas que nos atende interrompeu a venda de destilados temporariamente", complementa.

Para dar confiança aos frequentadores, o proprietário afirma que também está disponibilizando notas fiscais das "bebidas quentes", além de deixar esclarecimentos na página do bar pelo Instagram. Mesmo com a baixa procura por parte dos clientes, ele ainda não consegue mensurar o prejuízo e impacto financeiro, pois é preciso analisar o comportamento de consumo ao longo do mês.

O bar Das, localizado na Vila Buarque, também sentiu os efeitos da preocupação dos consumidores com o metanol. A proprietária, Nina Veloso, conta que, embora o fluxo de clientes tenha oscilado, a principal mudança foi no consumo. "Percebemos uma grande queda nos coquetéis com álcool e um aumento expressivo nos pedidos de cervejas, vinhos e drinques sem álcool", afirma.

Para tentar manter a confiança de quem frequenta a casa, Veloso, que administra o espaço há sete anos, reforça a transparência dos serviços nas redes sociais e a segurança dos produtos vendidos. Apesar disso, o impacto financeiro já é sentido. "O faturamento caiu em torno de dois terços em relação à semana anterior. Se continuar assim, vai ser difícil manter a saúde financeira do bar", avalia.

A medida de disponibilizar notas fiscais não se limitou a estes bares. Muitos estabelecimentos localizados em bairros como Pinheiros ou Vila Madalena, conhecidos por serem boêmios, também disponibilizam a documentação das bebidas aos clientes, quando solicitado. Em alguns lugares, o papel ficava aparente nas mesas.

Clientes mudaram os hábitos

Não foram só os donos dos bares e restaurantes que perceberam mudanças no consumo de bebidas alcoólicas neste último fim de semana. O coordenador comercial Guilherme Morandi comemorou o aniversário dos sogros em um bar na zona oeste de São Paulo no último sábado e optou pela cerveja. Já o marido, que sempre consome drinques à base de gim, mudou o hábito e disse que preferiu não arriscar.

"O bar estava cheio, mas só vi uma caipirinha passando no bar inteiro. As pessoas consumiam mais chope e cerveja. Inclusive, os garçons estavam fomentando o consumo dessas bebidas", conta.

O casal seguiu para uma festa na mesma noite, e no local a impressão foi diferente. "Era uma balada grande, com ativações de marcas conhecidas. Lá, percebi que as pessoas estavam menos preocupadas. Meu marido, por exemplo, bebeu só Aperol porque havia uma Kombi do Aperol oferecendo a bebida. Também vi ativações de outras marcas, como Jack Daniel's", relata.

Para Morandi, o fato de as bebidas estarem sendo servidas diretamente pelas marcas, e não por distribuidores, deu uma sensação maior de segurança para os clientes.

O paulista Alex Pierangelli visitou um bar na vila Leopoldina neste sábado e também preferiu beber somente cerveja. "Quando escolho destilados, prefiro caipirinha com cachaça simples, porque sempre tive receio de falsificação. Trabalhei por muitos anos com reciclagem de garrafas de vidro e sei dos riscos envolvidos", afirma.

A desconfiança não se instalou somente em bares e restaurantes da capital paulista. A gerente de produto Débora Sousa viajou à Praia Grande, no litoral sul de São Paulo, e percebeu que os clientes evitavam caipirinhas à base de vodka. "Pediam somente com velho barreiro ou ficavam na cerveja", diz.

Como bares e consumidores podem se precaver

Especialistas orientam bares, restaurantes e consumidores a adotar cuidados para reduzir riscos de falsificação de bebidas. Segundo o presidente executivo da Abrasel, há cursos disponíveis para donos de estabelecimentos, que ensinam a identificar sinais de adulteração. Entre as recomendações estão buscar fornecedores confiáveis, comprar sempre com nota fiscal e desconfiar de preços muito abaixo do mercado, que podem indicar produtos irregulares.

A inspeção visual também é apontada como ferramenta importante. Rótulos de fabricantes maiores geralmente têm detalhes sofisticados, selos da Receita Federal e alta padronização da bebida. "A bebida destilada de fábrica é homogênea, com a mesma coloração em toda a garrafa. Diferenças no tom ou no odor podem ser indicativos de falsificação", explica Solmucci.

No dia a dia, bares podem adotar medidas práticas de controle. O dono do Armazém Garnizé detalha que observar selos de fabricação e importação ajuda a identificar irregularidades. Ele aponta que a verificação de horários de envase e fechamento da caixa deve bater com o selo da garrafa. Divergências podem indicar adulteração, já que falsificadores costumam usar selos únicos ou caixas reutilizadas.

Barreira ressalta que a responsabilidade é compartilhada. "Os bares que tiveram contaminações também são vítimas, mas podem adotar verificações mais rigorosas. É preciso conhecer a procedência da bebida, checar os fornecedores e seguir orientações das associações do setor", afirma.

Para os consumidores, a recomendação é similar. Optar por estabelecimentos que mantenham controle de qualidade, desconfiar de bebidas com preço muito baixo e estar atento a rótulos e selos.

Short teaser Estabelecimentos relatam prejuízos e mudança no consumo de bebidas. Setor tenta recuperar a confiança.
Author Priscila Carvalho
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-bares-lidam-com-a-crise-causada-por-bebidas-adulteradas-com-metanol/a-74262154?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 29
Id 74253187
Date 2025-10-06
Title Gorjeta ainda é tabu no Japão, mesmo com alta do turismo
Short title Gorjeta ainda é tabu no Japão, mesmo com alta do turismo
Teaser

Com mais turistas no Japão, hábito de dar gorjeta tornou-se mais comum, o que não é muito bem aceito entre japoneses

Um boom recente de visitantes estrangeiros no Japão desencadeou um debate sobre se os clientes devem ou não dar gorjeta por um bom serviço. A maioria dos locais espera que o hábito não se espalhe.Nunca se viajou tanto para o Japão. Mais de 21,5 milhões de estrangeiros visitaram o país no primeiro semestre de 2025, e tudo indica que esse número vai superar os 40 milhões no ano, um recorde. Para efeito de comparação, o Brasil recebeu 6,7 milhões de turistas estrangeiros em 2024. Junto das receitas do turismo, vieram os choques culturais e moradores em fúria – um combo que já é um clássico europeu. No caso do Japão, mesmo os visitantes mais generosos e educados parecem estar incomodando, já que o hábito de dar gorjeta não é, de forma geral, bem visto entre os japoneses. Para além do código de costumes do país, que inclui tirar os sapatos na entrada e se curvar ao fazer reverências, existem também regras tácitas sobre como manusear e oferecer dinheiro. Por exemplo, presentes em dinheiro devem ser colocados em um envelope especial, e os pagamentos não são trocados com as mãos, mas sempre colocados em uma bandeja. No caso das gorjetas, a grande maioria dos japoneses não quer que o costume ocidental se torne a norma em seu país. Bom atendimento faz parte "Muitas vezes, quando entrego a conta a pessoas que suspeito estarem no Japão pela primeira vez, faço questão de dizer educadamente que uma das coisas maravilhosas do Japão é que não é necessário dar gorjeta, o que elimina imediatamente qualquer constrangimento", disse Andy Lunt, que ajuda a administrar o bar Shin Hinomoto, no centro de Tóquio. Lunt é cidadão britânico, casado com uma japonesa cuja família cuida do estabelecimento desde o fim da década de 1940. "Às vezes, eles perguntam por quê, e eu apenas digo que sempre foi assim aqui e que é bom que eles não tenham que pagar 20% a mais quando os preços estão subindo como têm subido", disse à DW. "Mas também é porque minha equipe e eu não achamos que precisamos receber um pagamento extra apenas por fazer nosso trabalho corretamente", acrescentou. "Se alguém deixar dinheiro em cima da mesa como gorjeta, é capaz que alguém da minha equipe corra atrás da pessoa para devolver." O salto do turismo estrangeiro no Japão está sendo impulsionado, em parte, pelo iene fraco, que faz com que tudo pareça relativamente barato para os viajantes. Em alguns bares, cafeterias e restaurantes, os proprietários começaram a deixar um pote de gorjetas ao lado da caixa registradora. Mas isso ainda é raro — e controverso, especialmente para os japoneses. Diferenças culturais No início deste ano, a rede de restaurantes Gyukatsu Motomura, especializada em costeletas de carne bovina, causou polêmica quando usuários das redes sociais postaram imagens de um pote de gorjetas em um dos restaurantes. "A cultura da gorjeta é ruim. Já trabalhei no setor de serviços e não demora muito para que as pessoas sintam que têm direito a gorjetas", dizia um dos comentários. "E então elas dizem coisas desagradáveis sobre quem não dá gorjeta ou dá apenas uma quantia pequena. No entanto, elas nunca parecem culpar seus empregadores." Os próprios donos de estabelecimentos esperam que a cultura de dar gorjetas não pegue no Japão, pelo pressuposto de que um bom atendimento é um requisito básico. "É uma diferença cultural e simplesmente não estamos acostumados a receber gorjetas", disse Mariko Shigeno, que até recentemente era proprietária do restaurante La Tour, no distrito de Kamika, na província de Kanagawa, ao sul de Tóquio. "Para mim, é meu trabalho garantir que o serviço seja bom e não há necessidade de me pagar a mais por isso", explicou ela. "Entendo que as gorjetas têm o objetivo de mostrar gratidão por um serviço excelente, mas eu já deveria estar prestando um serviço excelente." Taku Nakamura é proprietário do bar de vinhos Le Pipi d'Ange, no distrito de Motomachi, em Yokohama. Depois de viajar bastante pela Europa, ele disse que espera muito que as gorjetas não se tornem populares no Japão. "Para mim, parece que dar gorjeta é uma pessoa exibindo quanto dinheiro tem para outra pessoa que trabalha em um emprego de baixo nível e subalterno", disse ele. "No Japão, acho que a maioria das pessoas acredita que uma pessoa deve ser capaz de ganhar dinheiro suficiente para viver sem precisar de caridade." Será que a moda pega? Ashley Harvey, analista de marketing de viagens que trabalha no setor de turismo no Japão há mais de 15 anos, está confiante de que, embora alguns visitantes estrangeiros continuem pagando pequenas gorjetas em suas refeições, o conceito não pegará entre os japoneses. Ele explica que a questão não é tão cotidiana quanto alguns podem pensar com base no aumento do número de visitantes estrangeiros ou nos debates nas redes sociais. "Embora tenha havido um aumento acentuado no número de turistas estrangeiros que visitam o Japão nos últimos anos, a grande maioria deles é proveniente de outras partes da Ásia, como China, Coreia do Sul, Taiwan e assim por diante, que também não têm a tradição de dar gorjetas", disse à DW. "É realmente uma pequena minoria de pessoas que tenta dar gorjetas." "Acho que qualquer restaurante ou bar que sinta que isso realmente vai causar grandes problemas deveria simplesmente colocar uma placa informando que gorjetas não são necessárias", disse Harvey. E embora ele diga ter visto "alguns potes de gorjetas", elas estão longe de se tornar comuns. "Tenho certeza de que não são os japoneses que estão colocando dinheiro lá", disse.


Short teaser Clientes devem ou não dar gorjeta por um bom serviço? A maioria dos japoneses espera que o hábito não se espalhe.
Author Julian Ryall
Item URL https://www.dw.com/pt-br/gorjeta-ainda-é-tabu-no-japão-mesmo-com-alta-do-turismo/a-74253187?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Com mais turistas no Japão, hábito de dar gorjeta tornou-se mais comum, o que não é muito bem aceito entre japoneses
Image source Eugene Hoshiko/AP Photo/picture alliance
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/74215576_354.jpg&title=Gorjeta%20ainda%20%C3%A9%20tabu%20no%20Jap%C3%A3o%2C%20mesmo%20com%20alta%20do%20turismo

Item 30
Id 74244839
Date 2025-10-05
Title Perda de fiéis faz igrejas repensarem uso de espaços na Alemanha
Short title Esvaziadas, igrejas repensam uso de espaços na Alemanha
Teaser

Instalação artística na Catedral de Essen durante a edição de 2024 do Light Festival

Sem fiéis e pressionados por altos custos de manutenção, templos abrem suas portas a atividades incomuns: prática de esportes, eventos culturais e até mesmo baladas – tudo secular.Há anos a perda de fiéis aflige as igrejas na Alemanha – tanto a católica quanto as de linha protestante, que estão cada vez mais vazias. Não raro, a cena se repete também em templos centenários, cuja manutenção custa caro. "Já não precisamos mais de metade das igrejas, e temos que encontrar outras possibilidades", admite a Igreja Evangélica na Alemanha Central (EKM), entidade responsável pelos estados da Saxônia-Anhalt e Turíngia e partes da Saxônia e de Brandemburgo. "No futuro, de cada dez igrejas, quatro ou cinco não serão mais usadas somente como espaço de culto", afirmou a professora e pesquisadora Stefanie Lieb, do Instituto de História da Arte da Universidade de Colônia, à emissora alemã WDR. Algumas entidades, como a EKM, anunciam esses edifícios em portais imobiliários, mas vendê-los não é tarefa simples: muitos estão sujeitos a rígidas regras de proteção do patrimônio, e por isso não podem ser demolidos ou excessivamente modificados; outros estão em más condições. Em alguns casos, a solução para enxugar gastos é unir forças, trazendo católicos e protestantes para rezar debaixo de um mesmo teto, como já acontece em 51 templos na região de Oberpfalz, no sudeste alemão, por exemplo. Outra solução é repassar o uso do espaço para outras comunidades religiosas, como cristãos ortodoxos. Em outros casos, contudo, as igrejas podem abrir suas portas a outras atividades totalmente seculares e estranhas à sua função original: gastronomia, prática de esportes radicais, eventos empresariais, exposições e até mesmo baladas. Como igrejas vazias estão sendo reaproveitadas na Alemanha Na pequena cidade de Bad Orb, próximo de Frankfurt, uma igreja católica fechada desde 2016 foi convertida em centro de escalada para crianças e jovens e rebatizado como "Boulder Church" (Igreja do Boulder). "O padre foi um dos primeiros a subir pelas paredes", diverte-se o empresário Marc Ihl, que investiu cerca de 500 mil euros no negócio, em entrevista ao Tagesschau. A ideia de Ihl não é exatamente nova: em 2009, a Alemanha ganhou sua primeira "igreja para escaladores", em Mönchengladbach, com uma rota de até 13 metros de altura. Gelsenkirchen também fez algo parecido. Em Limburg, no estado de Hessen, um empresário transformou uma igreja, a "Kapelle auf dem Schafsberg", em restaurante e espaço para eventos. Destino semelhante teve a antiga Igreja Martini de Bielefeld, na Renânia do Norte-Vestfália. Em Berlim, uma atração famosa é o café Pandoras, na igreja protestante Heilig-Kreuz, no bairro de Kreuzberg. A moderninha Heilig-Kreuz, inclusive, é famosa por sediar eventos culturais, como exposições, concertos e espetáculos de dança e teatro e até mesmo noites de DJ. Outra igreja no mesmo bairro, a St. Thomas, já abrigou até rave. Iniciativas do tipo também ocorreram em outras cidades europeias. Um caso famoso é o da igreja de Santa Bárbara em Llanera, na Espanha, convertida no Kaos Temple, um espaço para skatistas. Igrejas cristãs em crise O número de pessoas que se declaram oficialmente como católicas ou protestantes vem caindo há anos na Alemanha, o que significa uma menor base de contribuintes para lidar com despesas administrativas cada vez maiores. Em média, os custos de manutenção de uma igreja na Alemanha giram em torno de 26,5 mil euros por ano, sem contar com eventuais reformas, segundo dados citados pelo portal alemão Tagesschau. Consideradas as cerca de 47 mil igrejas que existem no país, a conta gira em torno de 1,2 bilhão de euros anuais. Atualmente, a Igreja Católica reúne um total de 19,7 milhões de fiéis na Alemanha – 23,7% da população. Já a Igreja Protestante contabiliza cerca de 18 milhões de adeptos (21,5%). No início dos anos 1990, as duas somavam 57 milhões de fiéis; até 2060, esse número pode cair para 23 milhões, segundo projeções. Filiação religiosa é questão tributária na Alemanha Na Alemanha, a filiação religiosa é medida pelas declarações oficiais de pertencimento, usadas no recolhimento de impostos às denominações religiosas. Funciona assim: toda pessoa que reside na Alemanha tem que se registrar junto a um órgão da Prefeitura. Se declarar no ato do registro que segue uma religião, ela terá parte de sua renda automaticamente recolhida em impostos destinados à manutenção de denominações oficialmente registradas e reconhecidas junto ao Estado. As igrejas Católica e Evangélica recolhem valores que variam entre 8% e 9% da renda da pessoa física, descontado o teto de isenção fiscal. Algumas religiões, porém, prescindem desse imposto – é o caso do Islã e da Igreja Ortodoxa. ra (ots)


Short teaser Sem fiéis e pressionados por altos custos de manutenção, templos abrem suas portas para atletas e até mesmo baladeiros.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/perda-de-fiéis-faz-igrejas-repensarem-uso-de-espaços-na-alemanha/a-74244839?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Instalação artística na Catedral de Essen durante a edição de 2024 do Light Festival
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Item 31
Id 74242942
Date 2025-10-05
Title Fruta exótica mobiliza bombeiros na Alemanha
Short title Fruta exótica mobiliza bombeiros na Alemanha
Teaser

Odor exalado pelo durian quase enganou os bombeiros na cidade de Wiesbaden, Alemanha

Brigadistas foram acionados após diversos moradores se queixarem do que temiam ser um vazamento de gás – mas na verdade era apenas um durian, fruta que lembra a jaca e é famosa pelo seu forte odor.O Corpo de Bombeiros da cidade de Wiesbaden, no estado alemão de Hessen, recebeu quatro chamados no último sábado (04/10) para lidar com o que moradores acreditavam ser um vazamento de gás – mas, na verdade, era apenas o cheiro exalado por uma singela fruta. O durian, que é originário do Sudoeste Asiático, emite um odor muito semelhante ao do gás encanado, e que chamou a atenção de transeuntes que passavam por um shopping center em um edifício da cidade. No primeiro chamado, a brigada não conseguiu detectar a presença de gás, apesar dos esforços empreendidos; o prédio, aliás, sequer dispunha de uma tubulação de gás. Mesmo assim, novos chamados fizeram os bombeiros voltarem ao local na mesma noite. Após inspecionarem as lojas do shopping, os bombeiros finalmente encontraram o durian dentro de um mercadinho asiático. Segundo a corporação, a explicação mais plausível é que o sistema de ventilação do shopping tenha espalhado o cheiro por todo o edifício. Mas justo quando o mistério parecia solucionado, alguém voltou a acionar os bombeiros pelo mesmo motivo de suspeita de vazamento de gás, desta vez em outro edifício. Só então descobriu-se que o cheiro sentido por moradores na escadaria vinha, na verdade, do apartamento de um vizinho que também apreciava a iguaria.


Short teaser Calls by residents worried over a potential gas leak, caused the authorities to wonder, before finding the smelly cause.
Author Felix Tamsut (com dpa, AFP)
Item URL https://www.dw.com/pt-br/fruta-exótica-mobiliza-bombeiros-na-alemanha/a-74242942?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Odor exalado pelo durian quase enganou os bombeiros na cidade de Wiesbaden, Alemanha
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Item 32
Id 74238154
Date 2025-10-04
Title Como a Alemanha quer lidar com a ameaça dos drones
Short title Como a Alemanha quer lidar com a ameaça dos drones
Teaser Forças Armadas do país só ganharam drones de combate recentemente, e ainda estão penando para chegar a níveis satisfatórios de capacidade de defesa.

"Estamos todos mancando quando o assunto é defender-se de drones", admitiu recentemente o ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius. A sensação de insegurança é grande desde que diversos países europeus da Otan reportaram a violação de seus espaços aéreos por drones nas últimas semanas.

Episódios do tipo ocorreram também na Alemanha. Na última sexta-feira (03/10), um novo avistamento de drones levou ao fechamento do aeroporto de Munique pela segunda noite seguida. "Faremos de tudo para sanar esse déficit [na defesa]", garantiu Pistorius à emissora de TV alemã ZDF.

As ações têm sido atribuídas à Rússia, que nega estar por trás dos transtornos.

Por que a Alemanha se sai tão mal quando o assunto é defender-se de drones? Por um lado, é uma questão de equipamento: usar caças para abater drones invasores, como fez a Polônia em meados de setembro, é possível, mas caro – e também perigoso, caso eles estejam sobre uma região habitada.

À espera do Skyranger da Rheinmetall

Tal tarefa seria melhor confiada ao tanque antiaéreo Skyranger 30, da Rheinmetall, que pode ser mobilizado rapidamente e é capaz de combater enxames de drones. As Forças Armadas alemãs adquiriram 19 desses equipamentos, mas eles só serão entregues a partir de 2027. E especialistas militares afirmam que a quantidade é insuficiente.

O antecessor do Skyranger 30, o Gepard, foi rejeitado pelas Forças Armadas alemãs há anos e acabou sendo repassado à Ucrânia, que o usa com impressionante eficiência para repelir ataques de drones russos.

Além de bloqueadores de sinal, alguns drones também são úteis na tarefa. As Forças Armadas ganharam recentemente drones interceptadores de fabricação alemã que usam redes para "capturar" aparelhos inimigos.

"Precisamos chegar a uma defesa com mais camadas, em que há diferentes possibilidades de abater ou derrubar drones – contramedidas eletrônicas, medidas cinéticas e também de baixa tecnologia, como lançadores de redes", pontua Ulrike Franke, do Centro Europeu para Relações Exteriores (ECFR).

Defesa contra drones é tarefa de quem?

Um outro desafio que a Alemanha enfrenta na defesa contra drones tem a ver com a divisão de responsabilidades entre as Forças Armadas e as polícias nos 16 estados.

Cabe aos militares defender o país de ataques que vêm de fora, por exemplo de caças ou grandes drones. Eles também têm autonomia para agir para garantir a segurança de suas próprias instalações militares.

Em todos os outros casos, a defesa contra drones cabe à polícia, que é responsável pela segurança interna. Se um drone espiona, por exemplo, um aeroporto civil ou uma instalação industrial, não é possível acionar as Forças Armadas.

A polícia até tem meios para lidar com drones, mas mobilizá-los a tempo é um desafio. Já a criação de um "domo antidrones" que cubra o país inteiro é algo que especialistas consideram irrealista.

O que a Alemanha está planejando

A divisão histórica de tarefas entre polícias e Forças Armadas está prevista na Constituição. Mas agora deve mudar, diante das atuais ameaças. O plano do ministro do Interior, Alexander Dobrindt, é autorizar os militares a auxiliar as polícias em algumas situações, por exemplo com o abate de drones.

Dobrindt também quer criar um novo centro de defesa contra drones para coordenar o trabalho da União e dos estados.

Além disso, o governo também quer acelerar a aquisição de drones de uso militar. A meta é que até o final do ano as Forças Armadas possam "atirar para valer" com drones, segundo o inspetor-geral Carsten Breuer.

Em março, a instituição também aprovou a compra de drones kamikazes – equipamentos que explodem ao atingir seu alvo. Trata-se de algo totalmente novo para a Alemanha.

Aprender com a Ucrânia

Sem drones já não é mais possível guerrear. Isso ficou evidente pouco depois do início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022. Ali, os aparelhos estão presentes às centenas no campo de batalha, causando prejuízo a equipamentos militares muito mais caros. Os movimentos inimigos são monitorados com drones espiões amplamente usados. É uma tecnologia mudou radicalmente a forma de fazer guerra.

Franke, do ECFR, aconselha a Alemanha a se espelhar na Ucrânia: "Está absolutamente claro que os países da Otan estão de olho na Ucrânia e precisam aprender com ela quando o assunto é o emprego rápido, a fabricação, a modificação e a defesa contra drones."

As Forças Armadas alemãs estão sob pressão para se adaptar rápido à nova situação. Receios de ordem política impediram militares por muito tempo de recorrer a drones de ataque. Críticos temiam que o uso de aparelhos voadores não tripulados e operados à distância pudesse levar à banalização da violência militar. E muitos viam com reservas as funções autônomas de que muitos drones dispõem.

Isso só mudou com a guerra na Ucrânia. Em 2022, o governo alemão decidiu pela primeira vez armar seus militares com drones e encomendou mísseis guiados para cinco Heron TP – drones do tamanho de aviões, de produção israelense. Até então, as Forças Armadas utilizavam exclusivamente drones de reconhecimento não armados.

Já no início do ano, o governo decidiu comprar também drones kamikazes, inaugurando o "início de uma nova era para as Forças Armadas", nas palavras do Ministério da Defesa. Lá, os pequenos drones descartáveis entram na categoria "Loitering Munition" – uma "munição que paira sobre o alvo" antes de se lançar sobre ele e explodir.

A classificação dos drones kamikaze como "munição" tem razões práticas: munição é disparada e, portanto, consumida. Já um drone maior é considerado uma aeronave não tripulada e está, portanto, sujeito a requisitos técnicos muito mais rigorosos do ponto de vista de segurança de voo e certificação de pessoal – e que acabam sendo contornados com o rótulo de munição.

Inovação anda mais rápido que a burocracia das compras públicas

As Forças Armadas já estão treinando como usar drones e se defender deles – habilidades que agora passaram a ser consideradas básicas para todo soldado –, e por isso estão adquirindo uma quantidade específica de aparelhos para esse fim.

Mas os militares querem evitar um acúmulo de drones em seus estoques. Isso porque a tecnologia nesse ramo avança tão rápido que o caminho tradicional de compras públicas – que presume longos processos para um período de uso também logo – seria contraproducente. Por isso, a ideia é que os fornecedores se comprometam a entregar equipamentos atualizados em pouco tempo e em grande quantidade, caso necessário.

Não surpreende que as start-ups alemãs do ramo de inteligência artificial saiam na frente com esses contratos públicas. Uma dessas empresas é a Helsing, de Munique; fundada em 2021, ela já produziu vários milhares de drones de combate para a Ucrânia.

Short teaser Forças Armadas do país só ganharam drones de combate recentemente, e ainda estão penando para se defender de tecnologia.
Author Nina Werkhäuser
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-a-alemanha-quer-lidar-com-a-ameaça-dos-drones/a-74238154?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 33
Id 1049390
Date 2025-10-03
Title [Arquivo DW] Como foi a reunificação da Alemanha
Short title Como foi a reunificação da Alemanha
Teaser

Queda do Muro em novembro de 1989

O ano de 1989 entrou para a história como o ano em que o Muro de Berlim caiu. Em 1990, os dois Estados alemães se reunificaram, o que só foi possível graças a uma revolução pacífica e ao consentimento tácito de Moscou.O Muro de Berlim caiu no dia 9 de novembro de 1989. O que não passava de um sonho – derrubar a barreira que separava ao mesmo tempo os dois Estados alemães, os sistemas capitalista e comunista, o Leste e o Oeste – tornou-se realidade de repente. O processo iniciado nesse dia culminou em 3 de outubro de 1990, com a reunificação alemã e a integração dos territórios da República Democrática Alemã (RDA), no leste, à República Federal da Alemanha (RFA), no oeste. A RDA, que sempre esteve sob o firme domínio do SED (Partido Socialista Unitário) e a tutela da União Soviética, começou a apresentar fortes sinais de desagregação ao não acompanhar as reformas iniciadas por Mikhail Gorbatchov na União Soviética em 1985. Essa desagregação do bloco oriental já se manifestava na Polônia, onde o Partido Comunista se via obrigado a dividir o poder com o sindicato Solidariedade, e na Hungria, que passara a adotar elementos da economia de mercado. A RDA, que então tentou se isolar de Moscou, não estava, porém, em condições de subsistir sem ajuda soviética. Oposição e fuga de um sistema caducado Berlim Ocidental, a vitrine do Ocidente, e a mídia alemã-ocidental, a que os alemães-orientais tinham acesso, apesar da proibição, eram um constante convite a deixar o Estado condenado à falta de opções e de liberdade, à impossibilidade de viajar livremente ao exterior. A oposição, inicialmente sem partido, agrupou-se sob a proteção da Igreja Protestante. Era integrada por pacifistas e por grupos de base, de defesa dos direitos humanos e do meio ambiente. Entretanto, diante da espionagem onipresente da Stasi, a polícia secreta do Estado, e dos mecanismos de controle do regime, a oposição, que fermentava há anos no país, só conseguiu se manifestar em 1989. Antes disso, os dissidentes mais ativos deixavam o país, muitas vezes com a permissão das autoridades. De 1984 a 1988, 104 mil puderam ir para o Oeste, perdendo a nacionalidade da Alemanha Oriental. Em 1989, 161 mil pessoas solicitaram a expatriação. Logo, porém, já não seria necessária a autorização para viver no Ocidente. Quando a Hungria decidiu abrir sua fronteira com a Áustria, em maio, abriu-se uma brecha na Cortina de Ferro. Inicialmente, Budapeste não deixou os alemães-orientais passarem, muitos deles se refugiaram na embaixada da República Federal da Alemanha. As embaixadas da RFA em Praga e em Varsóvia também estavam lotadas, bem como sua representação permanente em Berlim Oriental. Em 11 de setembro, a fronteira húngaro-austríaca foi totalmente aberta. Em 30 de setembro, o ministro do Exterior da RFA, Hans-Dietrich Genscher, anunciou a 6 mil alemães-orientais refugiados em Praga que eles poderiam ir para a Alemanha Ocidental. Ao todo, 344 mil pessoas deixaram a RDA em 1989, o que deixou o governo comunista desorientado. Os últimos dias do regime Em 9 de setembro, constituiu-se na RDA o Novo Fórum, uma plataforma de discussão sobre reformas do sistema. As manifestações espontâneas às segundas-feiras em Leipzig foram uma das características da revolução pacífica na RDA, reunindo a cada semana um número maior de pessoas. Momentos críticos foram as passeatas de 9 de outubro – com 70 mil pessoas a exigir liberdade de viagem e eleições livres – e a de 16 de outubro, que reuniu 120 mil. Apesar do grande aparato repressivo, prevaleceram os apelos à sensatez e evitou-se um massacre. Durante o mês de outubro, realizaram-se manifestações em todas as cidades grandes, engrossando o coro dos protestos. Aparentemente insensível ao movimento, a cúpula da RDA festejou com desfiles militares, em 7 de outubro, o 40º aniversário da fundação do Estado comunista. Foi por ocasião dessas festividades que Gorbatchov pronunciou a célebre frase, ao conversar com o chefe de Estado, Erich Honecker, então com 77 anos: "A vida castiga quem chega tarde". Numa tentativa de salvar o que ainda era possível, Egon Krenz, que se tornaria o sucessor de Honecker, encenou um golpe branco com o apoio de Gorbatchov. Honecker foi afastado do cargo na reunião do Politburo em 17 de outubro, e Krenz o substituiu. As manifestações, porém, não cessaram. Em Leipzig, 300 mil pessoas se reuniram no dia 30 de outubro. Em Berlim Oriental, a multidão ultrapassou meio milhão em 4 de novembro. No dia 7, o governo do primeiro-ministro Willi Stoph renunciou; no dia 8, o Politburo. Equívoco precipitou o fim Com toda essa instabilidade, bastou um pequeno equívoco para selar o fim do regime alemão-oriental. No dia 9 de novembro, coube a Günter Schabowski, o novo secretário de Informação do Comitê Central, anunciar à imprensa as novas diretrizes sobre viagens ao exterior, que eliminavam qualquer condição prévia para a concessão de vistos para deixar o país. "Anuncie isto. Vai ser uma sensação e um ponto a nosso favor", disse Egon Krenz, ao entregar as duas páginas recém-aprovadas pelo Comitê Central a Schabowski, que se ausentara no momento da aprovação do documento e não conhecia seu conteúdo em detalhe. Schabowski não percebeu que a diretriz só deveria ser divulgada no dia seguinte. Quando um jornalista italiano perguntou quando a medida entraria em vigor, hesitou, consultou o texto e pronunciou a frase que derrubaria o Muro: "Que eu saiba, ela entra em vigor... agora, de imediato". Na verdade, ele se referia à manhã seguinte, quando as repartições abrissem, pois ainda era preciso solicitar visto de saída. Mas os alemães-orientais tomaram suas declarações literalmente como senha para avançar em direção à fronteira. Como o Conselho de Ministros ainda não aprovara as diretrizes, as tropas e os postos fronteiriços não tinham instruções e foram tomados de surpresa com a massa de gente que se aglomerou nos postos de passagem para Berlim Ocidental. O bom senso triunfou, e nenhum tiro foi disparado quando centenas de pessoas passaram para a Alemanha Ocidental. Os primeiros ainda receberam um carimbo de "expatriado", mas depois não restou alternativa aos soldados senão abrir caminho. O êxodo e a confraternização duraram toda a noite. Pela primeira vez, alemães-ocidentais e alemães-orientais podiam movimentar-se livremente de um lado da fronteira para o outro. O então chanceler federal alemão, Helmut Kohl, recebeu a notícia em Varsóvia, onde se encontrava em visita oficial, regressando na mesma noite a Berlim. Terceira via não teve vez A cúpula do SED ainda tentou salvar o regime, reformando-o, mas era tarde demais. Hans Modrow, considerado aliado de Gorbatchov, tornou-se o novo chefe de governo da RDA em 13 de novembro. Novas revelações sobre privilégios e mordomias dos altos funcionários e as dimensões do sistema de espionagem do Stasi causaram revolta. Em janeiro de 1990, o SED já perdera a metade dos seus 2,3 milhões de filiados. O vácuo de poder foi preenchido pelo movimento cívico de oposição. Conforme o modelo polonês, surgiram "mesas-redondas" em várias cidades da RDA. Por maiores que fossem seus méritos – entre eles a dissolução do Ministério de Segurança do Estado – contudo, esse movimento acabou na contramão da história, ao insistir na independência da República Democrática Alemã e numa "terceira via" entre capitalismo e socialismo. Enquanto isso, aumentavam na RDA os partidários da reunificação. Kohl aproveitou a oportunidade Inicialmente, o governo alemão-ocidental reagiu de forma reservada aos acontecimentos no outro Estado alemão. Ao ver aumentar o clamor popular pela reunificação e notando sinais de que Moscou não se oporia a ela, Helmut Kohl passou à ofensiva. Em 28 de novembro, apresentou ao Parlamento o Zehn-Punkte-Programm, programa de dez ações para superar a divisão da Alemanha. A princípio, Helmut Kohl contava com três ou mais anos até a reunificação, mas mudou de opinião ao ser calorosamente recebido em Dresden em 19 e 20 dezembro de 1989. Foi quando notou que "não havia margem para uma fase de transição e que o regime estava no fim". Hans Modrow ainda acenou com a proposta de uma reunificação em quatro fases, que tinha um grande senão: a neutralidade da Alemanha reunificada, o que era inaceitável para a RFA. O governo Modrow perdia rapidamente a autoridade. As instituições do Estado estavam em processo de dissolução e a situação econômica piorava a olhos vistos. Neste cenário realizaram-se, em março de 1990, as primeiras eleições livres para o Parlamento na RDA, que culminaram com a vitória da Aliança pela Alemanha, uma coligação entre a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Alemã (DSU), com 48,1% dos votos. A maioria dos novos partidos no Leste tinha seu correspondente na RFA. Setenta e cinco por cento do eleitorado votou em partidos favoráveis à unificação. O SED, que logo se transformaria no Partido do Socialismo Democrático (PDS), obteve 16,3% – em dezembro, seu papel como líder na RDA havia sido riscado da Constituição. A função do último governo da RDA, encabeçado por Lothar de Maizière, era encaminhar a unificação e negociar as melhores condições possíveis para os alemães-orientais. União monetária e tratados da reunificação O governo de Bonn apressou as negociações sobre uma união monetária, entre outras coisas, para conter a contínua emigração da RDA. No dia 18 de maio de 1990, os Parlamentos dos dois Estados aprovaram um tratado que praticamente estendeu os sistemas monetário, econômico e social vigentes na República Federal da Alemanha à República Democrática Alemã. O marco alemão-ocidental tornou-se, assim, a moeda dos dois países. O tratado, que entrou em vigor em 1º de julho do mesmo ano, estipulou um câmbio de 1 a 1 para salários, aposentadorias, aluguéis e outros pagamentos correntes na Alemanha Oriental. Essa também foi a taxa de câmbio para poupanças com limite entre 2 mil e 6 mil marcos orientais. As importâncias além desses limites foram trocadas na proporção de 2 por 1. No câmbio negro, 1 marco ocidental chegou a valer 15 marcos orientais ou mais. Por outro lado, negociações dos dois Estados alemães com os Aliados da Segunda Guerra Mundial (EUA, França, Reino Unido e União Soviética) – as chamadas conversações 2+4 – culminaram com a assinatura, em Moscou, em 12 de setembro de 1990, de um tratado dando plena soberania à Alemanha unificada. A Alemanha, por sua vez, reconheceu como invioláveis as fronteiras vigentes na Europa, comprometendo-se a reafirmar a fronteira com a Polônia, demarcada pelos rios Oder e Neisse, num tratado bilateral com este país, assinado em 14 de novembro do mesmo ano. No dia 20 de setembro, os Parlamentos de Bonn e de Berlim Oriental aprovaram o Tratado de Unificação. Os cinco estados alemães-orientais – Brandemburgo, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Saxônia, Saxônia-Anhalt e Turíngia – passaram a integrar o território da República Federal da Alemanha a partir de 3 de outubro de 1990. No dia 2 de dezembro, foram realizadas as primeiras eleições parlamentares da Alemanha unificada. Venceu a coalizão entre democrata-cristãos e liberais liderada por Helmut Kohl, que se tornou assim chanceler federal pela quarta vez e o primeiro chefe de governo da Alemanha reunificada.


Short teaser O consentimento tácito de Moscou foi um fator importante para a reunificação da Alemanha.
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Image caption Queda do Muro em novembro de 1989
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Item 34
Id 74223668
Date 2025-10-03
Title 35 anos após Reunificação alemã, desigualdade persiste no Leste
Short title Reunificação alemã, 35 anos: desigualdade persiste no Leste
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Antiga Alemanha Oriental se desenvolveu bem em muitas áreas, mas população encolheu e as oportunidades minguaram

Quem nasceu depois de 1990 nos estados da antiga Alemanha Oriental não viveu um país dividido, mas tem sua vida marcada por essa divisão, aponta relatório encomendado pelo governo.A encarregada do governo federal para o Leste Alemão, Elisabeth Kaiser, de 38 anos, é natural de Gera, na Turíngia. Quando ela nasceu, em 1987, a Alemanha ainda estava dividida. O Muro de Berlim caiu dois anos depois, e, em 3 de outubro de 1990, a Alemanha Oriental foi sepultada de vez. "Não vivi conscientemente a época da Reunificação, mas as histórias contadas pelos meus pais e avós me moldaram", escreve Kaiser em seu relatório anual, apresentado nesta quarta-feira (1º/10) em Berlim, antevéspera do Dia da Unidade Alemã, o feriado nacional da Alemanha. Este é o primeiro relatório de Kaiser, que assumiu o cargo em maio de 2025, quando o novo governo alemão foi formado. No balanço atual, a cientista política e social afiliada ao partido social-democrata SPD analisa como os jovens vivenciam a Alemanha, há 35 anos reunificada. E a pergunta no título já sugere que há diferenças entre os lados ocidental e oriental: "Crescemos em unidade?" Formalmente a resposta é "sim", pois existe apenas um Estado alemão. "Nós, as crianças do fim dos anos 1980 e 1990, somos a primeira geração socializada numa Alemanha unificada", afirma Kaiser em seu prefácio. "No entanto, para os jovens que crescem lá, 'o Leste' ainda é muito mais do que um ponto cardeal. É um espaço que molda identidades e influencia trajetórias de vida", enfatiza. Condições muito diferentes Kaiser, que estudou na Universidade de Potsdam, no estado oriental de Brandemburgo, vê diferenças em relação aos jovens do lado ocidental. "Para muitos jovens que são do território da antiga República Federal da Alemanha, o rótulo alemães ocidentais não diz nada – especialmente se vivem no litoral ou perto dos Alpes. Em contraste, os jovens alemães orientais se identificam muito mais frequentemente como ossis", diz, usando a expressão em alemão que designa esse grupo. E há boas razões para isso, afirma a encarregada. Pois, mesmo se ao longo de três décadas e meia os jovens alemães cresceram num mesmo país, as condições em que cresceram ainda diferem significativamente em pontos essenciais. "Isso vale sobretudo fora das metrópoles orientais." Renda menor, menos patrimônio Kaiser aponta para o chamado Relatório de Igualdade do Governo Federal. Ele mostra que, em pequenas cidades e regiões rurais, o transporte público e o atendimento médico não estão totalmente assegurados, e as pessoas ganham salários abaixo da média e dependem mais de benefícios sociais. "Os patrimônios também são menores no Leste do que no Oeste", acrescenta Kaiser. E como eles não podem contar com o mesmo apoio financeiro dos pais do que os alemães do lado ocidental, isso "molda a trajetória de vida de muitos alemães orientais até a idade adulta". Ao apresentar seu relatório anual, Kaiser aprofundou esse aspecto: "Até hoje os jovens do Leste são desfavorecidos porque riqueza se transmite principalmente por herança." Os números publicados pelo Departamento Federal de Estatística para 2024 são claros: as autoridades fiscais dos estados ocidentais tributaram mais de 106 bilhões de euros em bens herdados ou doados, enquanto no Leste, incluindo Berlim, o valor foi inferior a 7 bilhões. O valor per capita é quase quatro vezes maior no Oeste, com pouco menos de 1.600 euros, em comparação com apenas 400 euros no Leste. A encarregada considera essa diferença problemática e diz que, por isso, o atual debate na Alemanha sobre alterações no imposto sobre heranças é correto. Nesse ponto Kaiser retoma uma proposta apresentada por especialistas do instituto econômico DIW há vários anos: o Estado deveria pagar a todos os jovens adultos uma "herança" de 20 mil euros. Assim eles poderiam financiar seus estudos, abrir um negócio ou investir numa moradia. A fundação Uma Herança para Todos considera essa proposta realista e financiável: "Ela seria paga por um fundo alimentado por uma taxa relativamente pequena sobre grandes heranças", afirma em seu site. Pelos cálculos da fundação, 5% do valor anual de heranças na Alemanha seriam suficientes para implementar a ideia. Mas também a encarregada do governo federal sabe que o debate sobre a reforma do imposto sobre heranças é um tema delicado dentro da coalizão governista. Há simpatia por ela dentro de seu próprio partido, o SPD, mas é quase impossível encontrar alguém nos partidos conservadores CDU e CSU que a apoie. Assim, mesmo 35 anos após a Reunificação, as significativas disparidades financeiras entre o Leste e o Oeste dificilmente mudarão de uma hora para a outra. População no Leste alemão está encolhendo A avaliação geral de Kaiser é mista: a antiga Alemanha Oriental se desenvolveu bem em muitas áreas, a economia cresceu, há uma cena vibrante de startups e a região é pioneira na expansão das energias renováveis. Mas nada disso será suficiente, no longo prazo, para eliminar a diferença em relação ao lado ocidental. E o crescente envelhecimento da população no Leste e a emigração de muitos jovens – cuja proporção está muito abaixo da média nacional – devem tornar tudo ainda mais difícil. Se for excluída a capital alemã, Berlim, a parte oriental da Alemanha perdeu 2 milhões de habitantes devido à migração desde a Reunificação, em 1990 – um declínio de 16%. Atualmente, os cinco estados da antiga Alemanha Oriental (Brandemburgo, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Saxônia, Saxônia-Anhalt e Turíngia) têm uma população de pouco menos de 12,5 milhões. No mesmo período, a população da antiga Alemanha Ocidental cresceu 10%, chegando a quase 68 milhões.


Short teaser Mesmo quem nasceu depois de 1990 nos estados da antiga Alemanha Oriental ainda tem a vida marcada por esse passado.
Author Marcel Fürstenau
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Image caption Antiga Alemanha Oriental se desenvolveu bem em muitas áreas, mas população encolheu e as oportunidades minguaram
Image source Sebastian Willnow/dpa/picture alliance
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Item 35
Id 74224547
Date 2025-10-02
Title Futebol do Leste alemão segue em crise, 35 anos após Reunificação
Short title Futebol do Leste alemão segue em crise após Reunificação
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1. FC Magdeburg, que já conquistou a Europa, é um dos poucos times do Leste nas principais divisões do futebol alemão

Dos 56 times nas três principais divisões alemãs, apenas seis são da antiga Alemanha Oriental. Mas, apesar das disparidades com o Oeste, uma nova geração de jogadores traz esperanças.Há pouco mais de 50 anos, o 1. FC Magdeburg conseguiu um feito do qual nenhum outro time da Alemanha Oriental chegou perto, ao conquistar a Copa da Europa – a atual Liga dos Campeões. Hoje, após uma longa jornada nas ligas inferiores, o clube está na segunda divisão do futebol alemão. "Acho que era impossível prever naquela época o que aconteceria com o futebol no Leste, especialmente logo após a Reunificação da Alemanha. Havia muitos fatores desconhecidos. Acho que as pessoas podem ter sido um pouco ingênuas", disse à DW Carsten Müller, que jogou no Magdeburg antes e depois da queda do Muro de Berlim e agora dirige as categorias de base da equipe. A transformação do Magdeburg, de rei continental para um time de segunda divisão, reflete o destino de muitos de seus pares na Alemanha Oriental. Dos 56 times profissionais nas três principais divisões da Alemanha, apenas seis são da antiga República Democrática da Alemanha (RDA). O sétimo clube do Leste, o RB Leipzig, foi fundado após a Reunificação. Décadas após a queda do Muro de Berlim, as divisões geográficas permanecem tanto no futebol masculino quanto no feminino. Sonhos despedaçados "Quando as empresas que cercam um clube se desintegram e a situação econômica da cidade e da região só piora, você se depara repentinamente com uma onda de desafios. Jogadores e clubes são constantemente submetidos a novos testes", disse Müller. O choque gerado pela onda de privatizações que atingiu a indústria da Alemanha Oriental após a queda do Muro de Berlim também impactou o futebol. Clubes anteriormente estatais do Leste repentinamente tiveram que competir com os abastados times ocidentais. "Muitos jogadores do Leste foram rapidamente levados para a Bundesliga [a primeira divisão do futebol alemão] pelos clubes ocidentais", disse Marco Hartmann, ex-jogador do Dínamo Dresden e atual chefe das categorias de base, à DW. "Isso significou que os melhores jogadores do Dínamo também foram rapidamente contratados naquela época, e a um preço bastante baixo, o que não beneficiou muito o clube." O Dínamo Dresden, oito vezes campeão da Alemanha Oriental – atualmente jogando na segunda divisão –, tornou-se apenas mais uma peça na liquidação do Leste para os ricos clubes da Bundesliga. A partir daí, as coisas só pioraram. "Muitos clubes do Leste tiveram gestões financeiras extremamente ruins. Acho que isso se deveu a todas as novas possibilidades que não estavam disponíveis anteriormente através do financiamento estatal", disse Hartmann. Rebaixamentos e falências, muitas vezes andando de mãos dadas, tornaram-se comuns. Os dois únicos clubes da Bundesligada região, o Union Berlin e o RB Leipzig, são exceções. O Union Berlin, na primeira divisão desde 2019, se beneficia de uma infraestrutura mais ampla e de maiores oportunidades financeiras à sua disposição por ser um time da capital. A controversa propriedade estrangeira do RB Leipzig e a falta de um histórico na Guerra Fria tornam a trajetória do clube dificilmente comparável com seus rivais na Bundesliga. Caminhos diferentes, destinos semelhantes Enquanto os clubes masculinos do Leste se esforçavam ao máximo para se manter vivos, um time feminino da antiga RDA ascendia ao topo do futebol. O Turbine Potsdam conquistou seis títulos da Bundesliga e dois da Liga dos Campeões entre 2004 e 2012, em parte porque o futebol feminino oferecia um ambiente significativamente mais equilibrado. "Acho que no futebol feminino não era preciso investir tanto, em comparação com um time masculino", disse à DW a ex-jogadora Anja Mittag. Ela acredita que o clube prosperou graças à influência do técnico Bernd Schröder, que comandou a equipe desde sua fundação, em 1971, até 2016. O sucesso ajudou o clube a conquistar apoio e infraestrutura vitais. "Ainda precisávamos de bons patrocínios e público para ganhar dinheiro. Foi grandioso, tínhamos uma cidade que realmente nos apoiava em Potsdam", disse Mittag. "Se você tem sucesso, atrai jogadoras. Acho que vencer a Liga dos Campeões nos deu uma grande vantagem", acrescentou. "Além disso, não havia muitos outros times de ponta para escolher naquela época, principalmente em comparação com o futebol masculino." Desde então, o Turbine tem lutado para acompanhar vários clubes masculinos que recentemente investiram pesadamente no futebol feminino, a grande maioria dos quais está no oeste. O antigo clube de Mittag passou por uma década de lento declínio, que finalmente o levou ao rebaixamento em 2023. O time feminino oriental de maior sucesso agora é o RB Leipzig, onde Mittag é treinadora. A ex-atleta da seleção alemã ingressou no clube como jogadora da terceira divisão e acompanhou o Leipzig durante a ascensão à Bundesliga em 2023, como reserva. "Acho importante para a região criar oportunidades diferentes. Acho que isso realmente cria muitas possibilidades para jovens jogadoras e torna as coisas mais atraentes", observou. Esperanças para o futuro Segundo Mittag, o RB Leipzig se concentra em suas categorias de base para fortalecer seu elenco e alcançar a meta de classificação para a Liga dos Campeões a médio prazo. Embora a classificação europeia seja um sonho distante para a maioria dos times masculinos da antiga Alemanha Oriental, o sucesso nas categorias de base pode ser a única maneira de se tornar mais competitivo em um ambiente cada vez mais desigual. "Trata-se de desenvolver jogadores titulares que se identifiquem com o clube e sejam apaixonados por jogar pelo Dínamo Dresden. É muito importante para nossos sócios e torcedores que tenhamos jogadores da região e, idealmente, os próprios torcedores, no time", disse Hartmann. "Não acho que ser considerado um clube em desenvolvimento seja algo ruim", afirmou Müller. "Precisamos encontrar maneiras de desenvolver jogadores para o nosso time principal. [O Magdeburg] tem muito potencial e investiu pesado no futuro." Embora a disparidade financeira entre os times ocidentais da Bundesliga e a maioria dos clubes do Leste ainda permaneça intransponível, o investimento no futebol juvenil já começa a dar resultados. Segundo a emissora alemã ZDF, 22% dos 880 jogadores que representaram a Alemanha nas categorias de base na última década são do Leste. Considerando que apenas 18% da população alemã vem de estados da região, a super-representação no futebol juvenil é um sinal de que as coisas estão caminhando na direção certa. Seja qual for o futuro, os clubes do Leste – assim como seus torcedores – o aceitarão com naturalidade. "O futebol no Leste sempre mostrou que raramente caímos em lamentações. Em vez disso, sempre mostramos que, independentemente das dificuldades, mantemos a cabeça erguida. É disso que as pessoas se orgulham", disse Müller.


Short teaser Dos 56 times nas três principais divisões alemãs, apenas seis são da antiga Alemanha Oriental.
Author Dave Braneck
Item URL https://www.dw.com/pt-br/futebol-do-leste-alemão-segue-em-crise-35-anos-após-reunificação/a-74224547?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption 1. FC Magdeburg, que já conquistou a Europa, é um dos poucos times do Leste nas principais divisões do futebol alemão
Image source Melanie Zink/Sportfoto Zink/picture alliance
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Item 36
Id 63791517
Date 2025-09-10
Title Quais as diferenças entre os Artigos 4° e 5° da Otan?
Short title Quais as diferenças entre os Artigos 4° e 5° da Otan?
Teaser

Estado-membro da Otan pode invocar o Artigo 4° do tratado quando se sentir ameaçado

Polônia invocará Artigo 4° da aliança após derrubar drones russos que invadiram seu espaço aéreo. Otan possui mecanismos com medidas a serem adotadas em caso de ataque a seus países-membros.Após drones russo terem invadido nesta quarta-feira (10/09) o espaço aéreo da Polônia, o país – que faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – anunciou que invocará o Artigo 4° da aliança. Um Estado-membro da Otan pode invocar o Artigo 4° do tratado quando se sentir ameaçado por um outro país ou organização terrorista. Logo em seguida, os 30 membros da aliança iniciam consultas formais e analisam se existe uma ameaça e como combatê-la, tomando decisões por unanimidade. O Artigo 4° não significa, entretanto, que haverá uma pressão direta para agir. Esse mecanismo de consulta foi acionado várias vezes na história da Otan. Por exemplo, pela Turquia, há um ano, quando soldados turcos foram mortos num ataque da Síria. Naquela época, a aliança fez consultas entre seus membros, mas decidiu não tomar atitudes. Quais as diferenças entre os Artigos 4° e 5°? Após a Rússia invadir a Ucrânia no final de fevereiro, os membros da Otan Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia evocaram o Artigo 4°. Junto com a Eslováquia, Hungria e Romênia, esses países fazem parte do chamado "flanco oriental" da Otan, que foi reforçado com milhares de tropas de membros da aliança. Na Carta da Otan, o Artigo 4° difere do 5°. Este último estabelece a assistência militar de toda a aliança se um dos Estados-membros for atacado. O Artigo 5° foi acionado apenas uma vez: após os ataques da Al-Qaeda contra os EUA, quando a organização terrorista causou a morte de mais de 3 mil pessoas. Em resposta aos ataques terroristas de 11 de Setembro, os aliados da Otan também se juntaram aos EUA na luta no Afeganistão. O tratado da Otan se aplica apenas aos Estados-membros. Pelo fato de a Ucrânia não fazer parte da aliança, Kiev não pode acionar o Artigo 4° nem o 5°.


Short teaser Polônia invocará Artigo 4° da aliança após derrubar drones russos que invadiram seu espaço aéreo.
Author Bernd Riegert
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Item 37
Id 73592603
Date 2025-08-10
Title Lesão cerebral mata dois boxeadores no mesmo evento no Japão
Short title Lesão cerebral mata dois boxeadores no mesmo evento no Japão
Teaser Atletas japoneses, ambos com 28 anos, foram hospitalizados após lutas separadas ocorridas no mesmo dia e não resistiram aos ferimentos na cabeça.

Dois boxeadores japoneses morreram em decorrência de lesões cerebrais sofridas em lutas separadas no mesmo dia 2 de agosto último e no mesmo evento em Tóquio, informou a mídia japonesa neste domingo (10/08).

O superpluma Shigetoshi Kotari morreu na última sexta-feira e o peso leve Hiromasa Urakawa, neste sábado. Ambos tinham 28 anos. Eles foram levados ao hospital, onde passaram por uma cirurgia no cérebro, mas não resistiram.

Os dois atletas foram operados no crânio devido a um hematoma subdural, quando ocorre acúmulo de sangue entre o cérebro e o crânio.

Kotari empatou após 12 rounds contra o também japonês Yamato Hata e desmaiou logo depois.

Já Urakawa perdeu por knockout no oitavo e último round contra Yoji Saito. O atleta "sucumbiu tragicamente aos ferimentos sofridos em sua luta", informou a Organização Mundial de Boxe no Instagram.

Entidade reformula regra

Tsuyoshi Yasukochi, secretário-geral da Comissão Japonesa de Boxe, disse à mídia local que esta pode ser "a primeira vez no Japão que dois lutadores passaram por cirurgias de abertura de crânio para tratar ferimentos sofridos no mesmo evento".

Em resposta, a entidade anunciou que todas as lutas pelo título da Federação de Boxe do Oriente e do Pacífico serão reduzidas de 12 para 10 rounds.

Terceira morte no boxe em um ano

A morte de Urakawa marca a terceira fatalidade no boxe mundial devido a lesões no ringue neste ano.

Em fevereiro passado, o boxeador irlandês John Cooney morreu, também aos 28 anos, uma semana após ser hospitalizado após sua derrota pelo título superpluma do Celtic para Nathan Howells em Belfast.

Ele sofreu uma lesão cerebral grave durante a luta.

Apelos por uma supervisão mais rigorosa do boxe – tanto no Japão quanto internacionalmente – vêm ganhando força após as fatalidades.

Ativistas exigem lutas mais curtas, exames médicos obrigatórios após as lutas e aplicação mais rigorosa dos protocolos de concussão.

md (Reuters, AFP, AP)

Short teaser Atletas japoneses, ambos com 28 anos, foram hospitalizados após lutas separadas realizadas no mesmo dia.
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Item 38
Id 73216916
Date 2025-07-13
Title O drama de um boxeador vítima de doping na Alemanha Oriental
Short title O drama de um boxeador vítima de doping na Alemanha Oriental
Teaser Cerca de 15 mil atletas da antiga Alemanha Oriental foram dopados durante anos sem seu consentimento, com danos graves e duradouros à saúde. Um deles é o boxeador Andreas Wornowski.

Andreas Wornowski teve a sensação de que algo estava errado em 1993, quatro anos após a mudança política que derrubou o regime comunista da República Democrática da Alemanha (RDA), a Alemanha Oriental. "Um médico no hospital da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) me perguntou diretamente sobre drogas para melhorar o desempenho esportivo. Minha resposta foi dar de ombros. Não admiti essa ideia, nunca mais pensei no assunto e o ignorei."

Há mais de quatro décadas o ex-boxeador de 54 anos sofre consequências graves para a sua saúde, com dores dia e noite – a começar pela mão esquerda, que usava para dar socos, incapacitada. O quadro é agravado por uma depressão grave. O ex-atleta da RDA se deu conta de que essas são consequências do doping forçado na RDA, o que fez com que ele começasse a lidar com seu passado.

Início de carreira aos 13 anos

O caminho de Wornowski para os esportes de elite começou relativamente tarde, aos onze anos. Com talento, disciplina e dedicação aos treinamentos, ele se tornou campeão distrital em sua faixa etária em Magdeburg apenas um ano depois.

Aos treze anos, ingressou na Escola de Esportes Infantis e Juvenis de Berlim, um internato esportivo de elite onde a RDA formava seus futuros medalhistas, onde Wornowski morou até atingir a maioridade, só podendo voltar para casa a cada quatro semanas.

Inicialmente, sua mãe, enfermeira de profissão, era estritamente contra o boxe. O esporte era brutal demais para ela. Mas o pai de Wornowski e o conselho distrital de sua cidade natal a convenceram.

Olhando para o passado, Wornowski compreende a preocupação de sua mãe. Praticar boxe significava consentir com agressões físicas. Se a força dos golpes fosse então aumentada com medicamentos, culminava em um verdadeiro "massacre com material corporal", nas palavras do ex-boxeador, com golpes de "martelo a vapor" na cabeça.

Na seleção juvenil da RDA

Ele descreve o período que viveu a partir de então como "uma espécie de campo de treinamento extremo", no qual crianças e adolescentes eram obrigados a atingir seu potencial máximo por meio de medicamentos para melhorar o desempenho, aliviar a dor e desinibir, sob enorme pressão psicológica e física para demonstrarem bom desempenho.

Qualquer um que não conseguisse suportar isso ou fizesse perguntas incômodas sobre comprimidos ou injeções era expulso. Na 8ª série havia 21 jovens e, na 10ª, apenas quatro.

Wornowski rapidamente alcançou o sucesso e chegou à seleção juvenil da RDA. A partir de 1986, ele passou a receber regularmente vários medicamentos na forma de cápsulas azuis, pretas e vermelhas oficialmente rotuladas como "vitaminas e agentes de reforço imunológico".

Hoje, Wornowski está convencido de que esses medicamentos incluíam o agente anabolizante Oral-Turanibol, o esteroide anabolizante Mestanolona, a substância de teste esteroide 646 e drogas psicotrópicas projetadas para aumentar a agressividade.

Esses medicamentos foram comprovadamente administrados a todo o grupo de treinamento de Wornowski durante os tratamentos experimentais de treinamento sob a direção de Hans Gürtler, um renomado médico esportivo da Alemanha Oriental e corresponsável pelo programa estatal de doping, que, a partir de 1974, ficou conhecido como "Plano Estatal Tema 14.25".

Sessões brutais de treinamento

O auge esportivo de Wornowski começou aos 16 anos, quando ele se tornou campeão juvenil dos meio-pesados da Alemanha Oriental e venceu torneios internacionais. Tornou-se representante da RDA, um "diplomata de agasalho de treino", como era chamado na época.

Um memorando da Stasi, a polícia secreta da RDA, atestava que Wornowski "determina o nível de desempenho da RDA em sua idade e categoria de peso." A decisão em suas lutas era frequentemente tomada por nocaute no primeiro round. "Por mais de um ano, ninguém ficou em pé", diz o ex-boxeador.

Mas, paralelamente à sua fama, seu declínio físico aumentou. As dores aumentaram e seus ferimentos se acumularam: um nariz quebrado, pálpebras costuradas e dentes arrancados.

Somou-se a isso um treinamento implacável com até quatro sessões de duas horas por dia. Em circunstâncias normais, isso vai além dos limites de resistência física. "Eu realmente não conseguia continuar, mas fui em frente mesmo assim. Hoje eu diria [que aquelas eram] condições brutais", lembra Wornowski.

Ele afastava a dor ingerindo até 20 analgésicos por dia, algo que não era incomum para ele. Para perder peso antes de uma competição, ele frequentemente tinha que fazer seu treinamento com luvas – socos com luvas de boxe em almofadas especiais seguradas pelo treinador – em uma sauna a uma temperatura de 90º C.

Na Universidade Alemã de Cultura Física e Esportes em Leipzig, ele foi até forçado a desmaiar em uma esteira ergométrica para testar seus limites de desempenho. Apenas uma cinta o impedia de cair.

Fim de carreira por razões políticas

A carreira esportiva de Wornowski terminou abruptamente aos 19 anos, na primavera de 1989, mais de seis meses antes da queda do Muro de Berlim. Oficialmente, isso ocorreu devido a seus problemas de saúde, principalmente oculares. Wornowski, no entanto, acredita que o motivo teria sido o fato de que ele havia se recusado a se filiar ao partido estatal da Alemanha Oriental, o Partido Socialista Unitário (SED).

O que lhe restou foi uma profissão para a qual nunca havia se formado: mecânico de automóveis. Wornowski nunca havia visto o interior de uma oficina mecânica, mas a Stasi lhe forneceu um exame profissional.

Oficialmente, como todos os atletas competitivos na RDA, ele era considerado amador, já que não havia em caráter oficial esportes profissionais no regime socialista.

Após a Reunificação alemã – em 3 de outubro de 1990 – foi somente em 1997 que alguns processos judiciais trouxeram à tona a extensão do doping estatal da Alemanha Oriental. Em resposta, diversas leis de auxílio às vítimas de doping foram aprovadas em 2002 e posteriormente. Por meio delas, cerca de 2.000 pessoas afetadas, incluindo Wornowski, receberam pagamentos únicos de 10.500 euros cada (R$ 67 mil).

Essas leis, porém, já expiraram. Os procedimentos atuais de reconhecimento são complicados e envolvem enormes obstáculos. A Associação de Assistência às Vítimas de Doping estima que cerca de 15.000 pessoas sejam afetadas.

Wornowski luta por uma pensão mensal devido aos danos causados à sua saúde. Um pedido foi rejeitado, uma vez que é difícil provar os danos causados pelo doping da RDA. Todos os seus registros médicos desapareceram, o que o levou a entrar com uma ação judicial.

"Esta é uma grande tragédia. O verdadeiro problema para as pessoas afetadas é que seus registros médicos desapareceram e elas estão em uma situação difícil que provavelmente não será resolvida mesmo com a emenda" explica o advogado de Wornowski, Ingo Klee, se referindo a uma nova regulamentação que visa beneficiar as vítimas de doping da RDA.

Mudança na lei traz novas esperanças

Alguns ex-funcionários e médicos do sistema esportivo da RDA ocupam cargos importantes ainda nos dias atuais, afirma Michael Lehner, presidente da Associação de Assistência às Vítimas de Doping.

No caso de Wornowski, o chefe dos serviços médicos do estado de Brandemburgo redigiu um parecer médico negativo. O especialista trabalhou no serviço de medicina esportiva da RDA no final da década de 1980, justamente a instituição responsável pela implementação prática do doping forçado. O médico em questão, porém, nega qualquer envolvimento em práticas de doping.

Lehner tem esperanças em uma nova regulamentação que visa inverter o ônus da prova: para certas doenças típicas, o doping deve ser considerado a causa. No entanto, isso não é de forma alguma automático, alerta Klee. O advogado de Wornowski diz que os órgãos de Previdência Social ainda podem duvidar dos danos resultantes do doping, por exemplo, citando um histórico de saúde familiar.

"Não é só a falta de provas, os problemas de saúde, as dificuldades financeiras – isso tudo é repugnante e quase insuportável", diz Wornowski. Hoje, ele e a esposa vivem uma vida isolada em sua casa em uma floresta. Alguns de seus antigos companheiros de treino já faleceram. "Em todos os funerais, todos têm o mesmo pensamento: quem vai saber o que nos deram naquela época?"

Short teaser Cerca de 15 mil atletas foram dopados durante anos sem consentimento. Um boxeador ainda luta pela verdade dos fatos.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-drama-de-um-boxeador-vítima-de-doping-na-alemanha-oriental/a-73216916?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 39
Id 72986020
Date 2025-06-21
Title Ataques israelenses agravam situação de refugiados afegãos no Irã
Short title Conflito agrava situação de refugiados afegãos no Irã
Teaser Em meio à ofensiva israelense, refugiados no Irã enfrentam abusos, fome e medo de deportação enquanto buscam segurança longe do regime talibã.

O conflito entre Irã e Israel está sendo sentido pelos afegãos tanto em seu país quanto do outro lado da fronteira, no Irã. O combate piora ainda mais as condições já críticas do Afeganistão, onde os preços dos produtos importados do lado iraniano dispararam.

Enquanto isso, milhões de afegãos que fugiram para o Irã em busca de segurança enfrentam agora incertezas e pressões renovadas das autoridades, com a escalada do conflito armado: "Não temos onde morar", queixa-se a refugiada afegã Rahela Rasa. "Tiraram a nossa liberdade de ir e vir. Somos assediados, insultados e maltratados."

Condições deterioram para afegãos no Irã

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) registra que cerca de 4,5 milhões de afegãos residem no Irã, embora segundo outras fontes esse número possa ser muito maior. O Irã já deportou milhares de afegãosnos últimos anos, mas o afluxo continua. Muitos buscam emprego ou refúgio do regime do Talibã.

Depois da saída dos Estados Unidos do Afeganistão, em 2021, o Talibã desmantelou a mídia e a sociedade civil do país, perseguiu ex-membros das forças de segurança e impôs severas restrições a mulheres e meninas, proibindo-as de trabalhar e estudar.

As condições também se deterioraram para os afegãos que vivem em solo iraniano. Os refugiados só têm permissão para comprar alimentos a preços extremamente inflacionados e estão proibidos de sair da capital, Teerã.

Sob anonimato, uma refugiada comenta que não consegue comprar leite em pó para seu bebê: "Em todo lugar aonde eu vou, eles se recusam a vender para mim, porque não tenho documentos necessários."

Sem opção de retorno

Atualmente alvo de ataques israelenses, o Irã, que antes oferecia abrigo, já não parece mais seguro. Alguns afegãos já morreram em bombardeios. Abdul Ghani, da província afegã de Ghor conta que seu filho Abdul Wali, de 18 anos, recentemente concluiu os estudos e se mudou para o Irã para ajudar a família.

"Na segunda-feira, falei com o meu filho e pedi que nos enviasse algum dinheiro. Na noite seguinte, seu empregador me ligou para informar que ele havia sido morto em um ataque. Meu coração está partido. O meu filho se foi."

Retornar ao Afeganistão não é uma opção viável para a maioria dos refugiados, que temem ser perseguidos pelo regime talibã. Um ex-membro das forças de segurança do Afeganistão, falando sob anonimato, revela que vivia em medo constante: "Não podemos voltar ao Afeganistão, o Talibã nos perseguiria."

Mohammad Omar Dawoodzai, ex-ministro do Interior afegão e embaixador no Irã no governo anterior, insta a comunidade internacional a agir para proteger ex-funcionários e militares que podem ser forçados a retornar ao Afeganistão se o conflito entre Israel e Irã se prolongar.

"Estou particularmente preocupado com os ex-militares e servidores públicos que fugiram para o Irã após a tomada do poder pelo Talibã. A comunidade internacional deve responsabilizar o Talibã e garantir que os repatriados não sejam perseguidos."

Traficantes de pessoas exploram medos

Redes de tráfico humano parecem estar explorando o desespero dos refugiados afegãos. Circularam rumores sugerindo que a Turquia abriu as suas fronteiras.

Mas Ali Reza Karimi, um defensor dos direitos dos migrantes, nega a abertura das fronteiras, afirmando tratar-se de informação de falsa, espalhada por traficantes. Os voos estão suspensos, e a fronteira da Turquia só está aberta para cidadãos iranianos e viajantes com passaporte e visto válidos, e permanece fechada para afegãos. Ele aconselha os refugiados afegãos a não caírem nas mentiras dos traficantes e evitarem armadilhas.

O ex-ministro Dawoodzai reforça: "Fui informado que traficantes de pessoas estão dizendo aos refugiados para se dirigirem à Turquia, alegando que as fronteiras estão abertas, mas isso cria mais uma tragédia. Chegando lá, eles só vão descobrir que as fronteiras estão fechadas."

Ele apela aos refugiados afegãos no Irã para que não precipitem: "Na medida do possível, nosso povo deve permanecer onde está e esperar pacientemente. E se, por qualquer motivo, forem forçados a se mudar, que se dirijam à fronteira afegã, não à Turquia."

Short teaser Conflito Irã-Israel agrava crise de refugiados afegãos no Irã, que enfrentam abusos, fome e medo de deportação.
Author Shakila Ebrahimkhail, Ahmad Waheed Ahmad
Item URL https://www.dw.com/pt-br/ataques-israelenses-agravam-situação-de-refugiados-afegãos-no-irã/a-72986020?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 40
Id 57531509
Date 2025-06-13
Title Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel
Short title Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel
Teaser Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011. Devido ao custo alto, só é empregado para proteger áreas habitadas.

A escalada das agressões entre Israel e Irã nesta sexta-feira (13/06) colocou à prova a eficácia do sistema antimísseis israelense Iron Dome (Domo de Ferro), que desde 2011 é empregado para impedir ataques aéreos estrangeiros no país.

Após o exército israelense atingir instalações nucleares iranianas, Teerã retaliou lançando dezenas de mísseis contra Israel. A maioria foi interceptada pelo sistema de defesa, mas alguns conseguiram furar o bloqueio e atingir sete pontos da capital.

Em outubro de 2024, o sistema foi mais eficiente. Na ocasião, o Irã lançou mísseis contra Tel Aviv em retaliação à ofensiva israelense no sul do Líbano, mas o Domo de Ferro impediu danos maiores. Desde o início do conflito contra o Hamas, em outubro de 2023, o sistema também já barrou projéteis disparados de Gaza, Líbano, Síria, Iraque e Iêmen.

Sistema de três elementos

A defesa aérea israelense consiste em um sistema de três níveis. O "David's Sling" (também conhecido como a parede mágica) é responsável por barrar mísseis de médio alcance, drones e mísseis de cruzeiro. O sistema Arrow tem como alvo os mísseis de longo alcance.

Já o Domo de Ferro intercepta mísseis de curto alcance e projéteis de artilharia.

Louvado como "seguro de vida para Israel", o Domo de Ferro consiste de uma unidade de radar e um centro de controle, com a capacidade de reconhecer, logo após seu lançamento, projéteis – por exemplo, foguetes – que se aproximem voando, e de calcular sua trajetória e alvo.

O processo leva apenas segundos. O Domo também conta com baterias para lançamento de mísseis. Cada sistema possui três ou quatro delas, com lugar para 20 projéteis de defesa, os quais só são disparados quando está claro que um míssil mira uma área habitada. Eles não atingem o foguete inimigo diretamente, mas explodem em sua proximidade, destruindo-o. No entanto, a consequente queda de destroços ainda pode causar danos.

Os dez sistemas atualmente operacionais em Israel são móveis, podendo ser deslocados segundo a necessidade. Segundo a fabricante, a empresa armamentista estatal Rafael Advanced Defence Systems, uma única bateria é capaz de proteger uma cidade de tamanho médio.

90% de êxito, mas com custos altos

O "Domo de Ferro" é especializado na neutralização de projéteis de curto alcance. Como cada unidade age num raio de até 70 quilômetros, seriam necessárias 13 delas para garantir a segurança de todo o país.

De acordo com a fabricante, o sistema tem uma taxa de sucesso de 90%. Em seu site, a empresa estatal de defesa fala que mais de 5 mil projéteis já foram interceptados desde suas instação em 2011.

Cada projétil interceptador do Domo de Ferro pode custar entre 40 mil e 50 mil euros (R$ 221 mil a 277 mil), segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA. Por este motivo, só são contidos os mísseis que cairiam em áreas habitadas.

Nova arma a laser "Iron Beam"

Em vista dos altos custos, o exército israelense quer complementar o Domo de Ferro com uma nova arma de defesa a laser, o chamado "Iron Beam".

O laser de alta energia foi projetado para destruir pequenos mísseis, drones e projéteis de morteiro. Ele também deve ser capaz de neutralizar enxames de drones.

A Iron Beam foi apresentada em fevereiro de 2014 pela Rafael Systems. A empreiteira de defesa americana Lockheed Martin também está envolvida no projeto desde 2022.

As vantagens em comparação com o "Iron Dome" são os custos menores por lançamento, um suprimento teoricamente ilimitado de munição e custos operacionais mais baixos.

Os valores variam consideravelmente: um lançamento a laser custaria até 2 mil dólares (R$ 5,5 mil). A implantação da nova tecnologia está planejada para 2025.

Short teaser Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011.
Author Uta Steinwehr
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-funciona-o-domo-de-ferro-sistema-antimísseis-de-israel/a-57531509?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Como%20funciona%20o%20Domo%20de%20Ferro%2C%20sistema%20antim%C3%ADsseis%20de%20Israel

Item 41
Id 72595695
Date 2025-05-19
Title Esportes "ninja" conquistam a Alemanha
Short title Esportes "ninja" conquistam a Alemanha
Teaser

Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo

Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV estreou sua própria "Bundesliga". O chamado "playground de adultos" agrada também crianças e pode ajudar no desenvolvimento motor infantil."É como um playground gigante para nós, adultos. Todos nos divertimos muito", conta Marlies Brunner à DW, com brilho nos olhos. "Ficamos tão felizes quanto crianças por podermos praticar esse esporte." A jogadora de 23 anos viajou da Áustria para Bonn, na Alemanha, para participar da estreia da Ninja Bundesliga ("liga nacional"). Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo. Acima de tudo, os atletas precisam de força, resistência, coordenação e técnica, além de vigor mental, para chegar à linha de chegada sem cair no colchão de ar ou nos colchonetes, sendo fiel ao lema "o chão é lava". "Você voa bastante pelo ar, se sente leve e não mais preso à gravidade", explica Ouissal Touiher à DW. É completamente diferente se mover apenas com as mãos e não com os pés, diz a jovem de 20 anos. "Há muitos movimentos diferentes que tornam o esporte tão especial", afirma Brunner, que no ano passado se tornou campeã austríaca da modalidade. O que soa como algo espetacular, parece, de fato, ser. Os ninjas escalam, deslizam, balançam ou "voam" pela pista de obstáculos, com todo o peso do corpo quase que inteiramente apoiado nos dedos. "Acho admirável o quanto as mãos são capazes de suportar", diz Brunner. "Sou muito grata ao meu corpo por me permitir fazer tudo isso." Os atletas iniciam o percurso um após o outro, alguns com tanta adrenalina que chegam ao limite e falham logo no primeiro obstáculo. Um erro ao tentar agarrar um obstáculo ou uma ação desconcentrada e a competição acaba. "Parquinhos infantis são muito 'ninjas'" O atual esporte da moda, que ainda é pouco conhecido na Alemanha, cresceu rapidamente nos últimos anos e vem se tornando cada vez mais popular. Existem atualmente no país quase 1.300 ninjas que praticam essa modalidade regularmente. Muitos deles migraram de outros esportes, como o montanhismo, boulder, acrobacia ou ginástica. Há também cada vez mais crianças aderindo aos esportes ninjas e crescendo com eles. Atualmente, cerca de metade dos praticantes ativos têm menos de 16 anos. "As crianças geralmente adoram ser ativas. Os parquinhos infantis são muito 'ninjas'. Elas se balançam e escalam", explica Touiher. "Elas definitivamente deveriam frequentar mais os ginásios ninja." Steffen Moritz, um dos fundadores da Ninja Bundesliga, concorda com essa afirmação. "Quem costumava escalar ou se pendurar muito vai se lembrar daqueles tempos. As crianças sabem imediatamente o que precisam fazer no percurso", afirmou Moritz à DW. Esses movimentos, segundo diz, estão ausentes em muitas crianças hoje em dia. Isso também se confirma por dados atuais de um estudo da empresa Seguradora de Saúde do Comércio (KKH), segundo o qual, cada vez mais crianças e jovens na Alemanha sofrem de distúrbios de desenvolvimento motor. A proporção de crianças de seis a 18 anos afetadas pelo problema aumentou cerca de 64% entre 2008 e 2023. Em 2023, mais de 311.000 alunos foram diagnosticados. A causa geralmente é a falta de exercícios, de acordo com o estudo da seguradora. Os esportes ninjas podem ajudar a resolver o problema. Os organizadores estão satisfeitos com a adesão de um número cada vez maior de ninjas mais jovens à modalidade. "Queremos ser uma plataforma para esse esporte que foi inventado no Japão e tem origem em um programa de televisão", explica Moritz. Origem EM programa de TV japonês Na Alemanha, o esporte ficou conhecido através do programa de TV Ninja Warrior Germany ("Guerreiro Ninja Alemanha"). O programa, transmitido pelo canal de televisão RTL desde 2016, foi adaptado do original americano American Ninja Warrior. No entanto, o conceito de Ninja Warrior teve origem no Japão, onde foi transmitido pela primeira vez em 1997 sob o nome Sasuke. Esses programas também são muito populares no Vietnã e na Austrália. Ao longo dos anos, uma comunidade internacional de entusiastas se desenvolveu, influenciada pelos programas de TV. O desafio para Steffen Moritz e sua equipe agora é fazer com que esse "esporte televisivo" se estabeleça na Alemanha. Como dinheiro e patrocinadores ainda são escassos, muito ainda funciona através do trabalho voluntário. "Este esporte é financiado principalmente pelas taxas de inscrição que os atletas têm que pagar se quiserem participar da Bundesliga", diz Moritz. Contudo, os desenvolvimentos recentes deixam não apenas os organizadores, mas também os ninjas confiantes de que mais e mais patrocinadores acabarão tomando conhecimento do novo esporte. Jovens prevalecem na estreia da Bundesliga "O esporte progrediu enormemente. Há cada vez mais academias ninja, competições incríveis e muitos eventos como a Bundesliga Ninja na Alemanha", diz Marlies Brunner. "É possível perceber que o esporte já se tornou muito grande." É fascinante ver o quanto as crianças se divertem e o quanto elas já se saem bem no esporte, diz a austríaca. "Nós, adultos, realmente precisamos correr atrás para acompanhar." Dessa forma, não é nenhuma surpresa que Jonas Elting, o vencedor do evento de estreia da Bundesliga em Bonn, tenha apenas 17 anos.


Short teaser Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV pode ajudar no desenvolvimento motor das crianças.
Author Thomas Klein
Item URL https://www.dw.com/pt-br/esportes-ninja-conquistam-a-alemanha/a-72595695?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo
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Item 42
Id 72504004
Date 2025-05-11
Title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
Short title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
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Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte

Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006. Federação prepara plano para resgatar interesse dos jovens pelo esporte.Na Alemanha, o entusiasmo pela participação da seleção na Copa do Mundo de 2026 contrasta com uma realidade preocupante para o esporte: desde 2006, o país perdeu quase 6 mil equipes masculinas de futebol nas categorias sub-19 e sub-17. Em resposta à crise que ameaça o futuro do futebol no país, a Federação Alemã de Futebol (DFB) vem desenvolvendo uma série de reformas estruturais coordenadas por Hannes Wolf, ex-treinador da Bundesliga – o campeonato alemão – e atual diretor de futebol juvenil da entidade. "Temos que garantir que não haja uma participação falsa, mas que os jovens realmente se envolvam", disse em uma conferência da entidade. "Se você já está no banco no sub-13 e não é bom o suficiente para se dedicar à sua paixão, então eu também diria aos meus filhos que se dediquem a outra coisa." A conferência realizado em Frankfurt reuniu 220 representantes das 21 federações regionais da Alemanha. O objetivo era construir um novo plano nacional para as categorias de base, com foco na identidade do esporte — onde a diversão precede os resultados. As propostas discutidas devem ser apresentadas até setembro, durante o Dia Nacional da Juventude da Alemanha, e testadas por federações regionais antes da adoção plena em 2026. "O futebol precisa se modernizar se quiser continuar sendo atraente para os jovens no futuro", disse Bernd Neuendorf, presidente da DFB. "Mesmo que atualmente tenhamos longas listas de espera nos clubes de muitas cidades, já não é garantido que as crianças comecem a jogar futebol e permaneçam nas categorias de base." O que vem mudando no futebol europeu O desafio enfrentado pela Alemanha não é exclusivo. Na Inglaterra, por exemplo, houve crescimento na adesão de crianças e adolescentes de 5 a 16 anos ao futebol após a pandemia da covid-19, mas a faixa de 16 a 24 anos registrou queda de 27% na participação entre 2015 e 2023, segundo levantamento da Sport England. A Federação Inglesa de Futebol (FA) respondeu com uma nova estratégia lançada em 2024. Entre as medidas, está o formato 3 contra 3 para menores de 7 anos, com estreia prevista para 2026, com o objetivo de aumentar o tempo de contato com a bola. Na Alemanha, Hannes Wolf acredita que a criatividade precisa voltar aos treinamentos. Uma das ideias é popularizar jogos em campos oficiais que simulem o estilo do futebol de rua. Pressões, custos e novas prioridades Plataformas digitais, altos custos para praticar o esporte, cronogramas excessivos e expectativas desproporcionais são apenas alguns dos obstáculos. Lesões, separações familiares e mudanças de cidade completam o quadro. Thomas Broich, diretor da categoria de base do Borussia Dortmund, alertou recentemente que o futebol juvenil pode se tornar um "grande problema cultural" para a Alemanha. Já o treinador Malte Boven, radicado em Hamburgo, observa que reformas feitas em 2019 priorizaram os mais novos, deixando os adolescentes em segundo plano — justamente os que estão mais próximos do futebol profissional. Para ele, compreender por que esta faixa etária tem desistido do esporte exige olhar para múltiplos fatores, especialmente as mudanças culturais. "Acho que o 'porquê' e o 'como' queremos jogar se tornaram mais importantes para os jogadores nos últimos anos", disse Boven à DW. "Há uma diferença social entre gerações." Confiança e estrutura como resposta Apesar de não prever uma escassez iminente de jogadores, Boven defende ajustes importantes para que o futebol continue sendo uma escolha atrativa. Isso inclui rever o modo de comunicação com atletas e pais, melhorar o acesso a instalações esportivas e ensinar os jovens a lidar com a pressão de forma conjunta com os treinadores. Ele apoia as propostas da Federação Alemã de Futebol, mas reconhece que a cultura do resultado ainda domina. "A participação é uma realidade quando se trata de vencer no futebol juvenil, especialmente em clubes amadores. Nesse caso, há uma pseudoparticipação de todos os jogadores envolvidos, porque não lhes dou a oportunidade de realmente fazer parte do jogo", pontua. "É preciso incutir neles a máxima confiança de que podem fazer isso, que merecem jogar no clube, que há um motivo para vestirem essa camisa. Porque, como treinador ou como clube, decidimos que eles joguem esse esporte, e agora nossa obrigação e responsabilidade é lhes dar tempo de jogo." Estratégias além do campo Boven também propõe alternativas para tornar o futebol mais relevante: oferecer aos jovens atletas uma "carta de desenvolvimento de habilidades" ao deixarem as categorias de base, ajudando a dar os próximos passos no mercado de trabalho. "Eu teria um incentivo completamente diferente de simplesmente me tornar um jogador profissional. Ainda quero ser, mas sei que aqui vou ter algo para mostrar pelo meu esforço", afirma. Para ele, é o futebol profissional — com sua mentalidade, cultura e influência — que mais precisa de atenção.


Short teaser Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006.
Author Jonathan Harding
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Item 43
Id 72410915
Date 2025-05-01
Title Federação inglesa vai barrar mulheres trans no futebol feminino
Short title Federação inglesa vai barrar trans no futebol feminino
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Entidade que regula futebol no país diz que nova regra segue decisão da Suprema Corte britânica, de que a definição legal de mulher é baseada somente no sexo biológico.As mulheres transgênero serão impedidas de participar em competições femininas de futebol da Inglaterra a partir de junho, anunciou a Associação de Futebol (FA) do país nesta quinta-feira (01/05), duas semanas após a Suprema Corte do Reino Unido decidir que, para fins legais, o termo "mulher" deve ser definido somente com base no sexo biológico de nascimento. A decisão da FA ocorre dois dias depois de a Associação Escocesa de Futebol (SFA) ter tomado uma decisão no mesmo sentido. Segundo o comunicado, a modificação no regulamento na Escócia entrará em vigor a partir da temporada 2025/26. "Entendemos que isto será difícil para as pessoas que querem simplesmente praticar o esporte que gostam, no gênero com o qual se identificam", indicou a inglesa FA, apontando que a decisão do Supremo a obriga a seguir esse rumo. O regulamento anterior da FA permitia que mulheres trans participassem do futebol feminino, mas isso mudará a partir de 1º de junho. "A decisão da Suprema Corte no dia 16 de abril significa que estaremos mudando nosso regulamento", disse o órgão regulador do futebol inglês em um comunicado. "As mulheres transgênero não poderão mais jogar futebol feminino na Inglaterra, e essa política será implementada a partir de 1º de junho de 2025." A associação ainda apontou que pretende contatar as mulheres transgênero federadas, a fim de lhes "explicar as mudanças" que a decisão do Supremo do Reino Unido implica e de as informar sobre a forma "como podem continuar a praticar" futebol. Segundo a rede BBC, a decisão deve afetar 20 jogadoras transgêneros registradas na Inglaterra Já a associação escocesa informou que vai "fornecer orientações sobre a forma como atualizará os regulamentos e as oportunidades de participação adequadas às mulheres transgênero, antes da entrada em vigor, no início da próxima temporada". Decisão do Supremo Em abril, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu, por unanimidade, que "os termos 'mulher' e 'sexo', na Lei da Igualdade de 2010 [que combate a discriminação], referem-se a mulher biológica e sexo biológico". A decisão, que exclui pessoas trans dessa definição jurídica, encerrou uma longa disputa entre o grupo feminista For Women Scotland (FWS) e o governo escocês. O regramento britânico reconhece o direito de pessoas trans obterem documentos legais, como a mudança do nome social, por exemplo. Contudo, a decisão da Suprema Corte entende que uma pessoa que passou por uma transição de gênero não pode ser considerada legalmente uma mulher para fins de igualdade. Isto implica em um dos pontos mais controversos do debate – o acesso a espaços exclusivos para um gênero. Na prática, o veredicto significa que as mulheres trans podem ser excluídas de alguns espaços destinados exclusivamente para mulheres, como vestiários, abrigos para sem-teto, áreas de natação. Além de serviços médicos ou de ou de aconselhamento oferecidos somente a mulheres. Espaços e serviços exclusivos "só funcionarão corretamente se 'sexo' for interpretado como sexo biológico", apontou o Supremo. Contudo, a lei também "oferece proteção às pessoas trans contra discriminação em seu gênero adquirido", afirmou o juiz Patrick Hodge ao anunciar o veredicto. "Todo mundo sabe o que é sexo, e você não pode mudá-lo", disse Susan Smith, codiretora da FWS após a decisão. "É bom senso, puro e simples. O fato de termos ido parar em um buraco de coelho onde as pessoas tentaram negar a ciência e a realidade... esperamos que agora voltemos à realidade." jps (Reuters, Lusa, ots)


Short teaser Entidade diz que nova regra segue decisão da Justiça, de que a definição de mulher é baseada somente no sexo biológico.
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Item 44
Id 72119729
Date 2025-04-04
Title Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança
Short title Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança
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Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau

Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e de extermínio do nazismo. Ser um jogador ou lutador importante podia trazer privilégios e esperança, ou perseguição cruel.Os campos de concentração do nazismo eram locais de horror e morte, de tortura e humilhação para os detentos. Para esse fim, o pessoal de vigilância também os submetia regularmente a exercícios esportivos cruéis. "Os guardas mandavam os presos fazerem flexões ou saltarem, ou correrem até cair de exaustão", conta a historiadora do esporte Veronika Springmann, autora do livro Gunst und Gewalt – Sport in nationalsozialistischen Konzentrationslagern (Favoritismo e violência – Esporte nos campos de concentração nacional-socialistas). Quem estava no chão geralmente ainda era chutado e insultado: "Era realmente um ritual cotidiano." Além do esporte imposto com violência, havia atividades esportivas que os prisioneiros praticavam de forma mais ou menos espontânea. Devido às condições desumanas, submetidos a duros trabalhos forçados ou experimentos médicos macabros, para a maioria deles não era como praticar esporte como lazer. E tampouco havia lugar para tal nos campos. Além disso, havia uma hierarquia interna estrita. O fato de pertencer a um determinado grupo definia, em grande parte, as condições de prisão e, portanto, as chances de sobrevivência. Por exemplo: presos políticos ou criminosos profissionais em geral recebiam tratamento melhor do que judeus, homossexuais ou os assim chamados "antissociais". Quem estava mais no alto na hierarquia era menos maltratado pelos guardas, recebia trabalho e alojamento melhor, roupas mais quentes, tinha acesso a mais comida, estando, portanto, mais apto praticar esportes. No total, porém, o número desses privilegiados era pequeno. Entre eles estavam os "presos funcionais" (Funktionshäftlinge), designados para vigiar os companheiros e manter a ordem. Enquanto alguns se tornaram assim cúmplices do horror do sistema de concentração e extermínio, outros aproveitavam sua posição melhor para proteger outros detentos. Futebol e boxe para sobrevivência e esperança Dentro dos campos de concentração, promoviam-se regularmente partidas de futebol e lutas de boxe. Com o avançar da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942 as condições mudaram para alguns dos prisioneiros. "A mão de obra dos internos era necessária para a indústria armamentista", explica Springmann. "Todas as firmas do setor produziam nos campos de concentração ou em instalações externas. Os que trabalhavam especialmente bem, ou que atuavam como presos funcionais, tinham permissão para organizar partidas de futebol." Assim, o número de jogos aumentou. Os times eram, em geral, divididos por nações, embora raramente tivessem 11 jogadores completos. Os detentos tentavam até mesmo providenciar uniformes. No memorial do campo de Dachau, próximo a Munique, está exposta uma taça de madeira. Organizar esses eventos também tinha a ver com esperança. "Planejamento está sempre direcionado para o futuro", lembra a historiadora do esporte. "Ou seja: eu espero que ainda vá estar viva amanhã, depois de amanhã, no próximo domingo. Isso fortalece e dá esperança. E esperança é um recurso importante para a sobrevivência" Entretanto é preciso jamais esquecer que apenas uma parcela mínima dos presos tinha permissão ou condições para participar dos jogos – que, além disso, se realizavam num ambiente em que paralelamente se torturava e assassinava. Lutando e jogando para sobreviver Enquanto para os detentos e sobreviventes do sexo masculino havia diversas opções para praticar esportes, o mesmo não se aplicava às mulheres: "Naquela época o esporte simplesmente não contava como uma prática cotidiana feminina", explica Springmann. "Mas eu partiria do princípio de que no campo de concentração de Ravensbrück, por exemplo, as prisioneiras fizessem ginástica de vez em quando. Mas elas não escreveram a respeito." Havia entre os presos também atletas profissionais, mas, como eles não eram tão presentes na imprensa como hoje em dia, muitas vezes passavam despercebidos pelos guardas dos campos de concentração. No início do século 20, Julius Hirsch era considerado um dos melhores futebolistas da Alemanha, duas vezes campeão nacional e integrante da seleção nacional entre 1911 e 1913. Por ser judeu, em março de 1943 foi deportado para Auschwitz e lá morreu. No entanto não está documentado que ele tenha sido identificado como ex-craque, ou que sequer tenha jogado lá. O boxe era um esporte importante e popular para os nazistas. Alguns profissionais foram reconhecidos nos campos de concentração ou se apresentaram quando os guardas procuravam concorrentes talentosos para as lutas que organizavam para sua própria diversão. Dois exemplos foram o polonês Antoni Czortek – participante dos Jogos Olímpicos de Berlim, em1936 – e o tunisiano Victor Perez – campeão mundial de peso-mosca em 1931 e 1932. Como judeus, ambos foram internados em Auschwitz em 1943, onde por diversas vezes tiveram que enfrentar outros detentos. Era literalmente questão de vida ou morte: o perdedor ou era abatido a tiros imediatamente ou enviado para morrer nas câmaras de gás. Assim, com ironia macabra, o boxe salvou várias vidas nos campos de concentração nazistas. Czortek só morreu em 2003, aos 89 anos; Perez sobreviveu a Auschwitz, mas não ao Holocausto: ele foi fuzilado em janeiro de 1945, numa das "marchas da morte" em que, no fim da Segunda Guerra, os presos dos campos perto do front eram transferidos de lugar, à medida que os Aliados avançavam. Para Johann "Rukeli" Trollmann, a arte do boxe não trouxe vantagens: o ex-campeão de peso-médio da Alemanha era cigano da etnia sinti, e quando seu passado veio à tona, os guardas do campo de concentração passaram a espancá-lo com frequência e crueldade extremas. Ele morreu em 1944 no campo secundário de Wittenberge: tendo vencido um dos "kapos" numa luta, foi abatido pouco mais tarde pelo perdedor, traiçoeiramente, durante os trabalhos forçados.


Short teaser Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e extermínio do nazismo.
Author Andreas Sten-Ziemons, Alima Hotakie
Item URL https://www.dw.com/pt-br/esporte-no-campo-de-concentração-entre-tortura-e-esperança/a-72119729?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau
Image source Sven Hoppe/dpa/picture alliance
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Item 45
Id 71689720
Date 2025-02-20
Title Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora
Short title Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora
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Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney

Antigo presidente da federação de futebol da Espanha Luis Rubiales foi condenado a pagar quase 11 mil euros por beijar atleta na boca sem consentimento na Copa de Sydney, em 2023. Ele pretende recorrer da sentença.A Justiça da Espanha condenou nesta quinta-feira (20/02) o ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, a pagar 10.800 euros (R$ 64,2 mil) pelo crime de agressão sexual, por beijar a jogadora Jennifer Hermoso na boca após a conquista da Copa do Mundo em Sydney em 20 de agosto de 2023, sem o consentimento dela. Por outro lado, Rubiales foi absolvido do crime de coação sobre a jogadora para declarasse que o gesto fora consensual. O ex-técnico da seleção feminina espanhola, Jorge Vilda, e outros dois ex-diretores, Albert Luque y Rubén Rivera, também foram absolvidos de coação. Luque era diretor de futebol da seção masculina, enquanto Rivera, gerente de marketing da federação, acompanhou as jogadoras na viagem à ilha de Ibiza, no Mediterrâneo, com a qual foram premiadas pela conquista da Copa do Mundo. Restrições a contato com jogadora A decisão do juiz José Manuel Fernández-Prieto, da Audiência Nacional, onde foi realizado o julgamento, também proíbe Rubiales de se aproximar de Hermoso num raio de 200 metros e de se comunicar com ela por um ano. O Ministério Público da Audiência Nacional havia solicitado uma pena total de dois anos e seis meses de prisão para Rubiales, dos quais um ano pelo crime de agressão sexual, mais um ano e meio por coação. Por este último crime, o representante do Ministério Público também havia pedido uma pena de um ano e seis meses para os outros três acusados. O advogado de Rubiales já anunciou que recorrerá da sentença. Beijo acabou com carreira do dirigente "Rubi", como é chamado pelos amigos, era presidente da RFEF desde maio de 2018. Ele viu sua carreira desandar após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina em Sydney. Em 20 de agosto de 2023, diante das câmeras, ele agarrou a cabeça de Hermoso com as duas mãos e a beijou de surpresa na boca: um ato "espontâneo", em sua opinião, mas "inapropriado" para Hermoso, que negou ter dado seu consentimento. Diante da indignação pública, Rubiales pediu demissão em setembro de 2023 e encerrou uma carreira no futebol iniciada aos 14 anos de idade, quando ingressou no clube da pequena cidade de Motril, em Andaluzia, no sul da Espanha. Nascido em Las Palmas há 47 anos, Luis Manuel Rubiales Béjar iniciou uma carreira discreta nas divisões inferiores antes de pendurar as chuteiras na Escócia com o Hamilton Academical em 2009. Escândalos Extrovertido e franco, Rubiales foi cercado por escândalos durante seu período à frente da RFEF. Ele causou alvoroço ao demitir o técnico da seleção espanhola Julen Lopetegui dois dias antes do início da Copa do Mundo de 2018. Reeleito em 2020, transferiu a Supercopa da Espanha para a Arábia Saudita, num contrato controverso que foi examinado pelo Judiciário por suspeita de corrupção e acordos irregulares durante seu mandato. Ele chegou a ser detido no contexto do caso, que também envolve o ex-jogador do FC Barcelona Gerard Piqué, cuja empresa teria recebido uma comissão de 1 milhão de dólares para intermediar o acordo com Riad. Rubiales negou qualquer irregularidade. Mas o ex-cartola é também reconhecido por ter aumentado a renda e o patrocínio da federação, e procurado melhorar as condições do futebol juvenil, o que lhe rendeu o apoio das federações regionais. Ele também multiplicou o orçamento para o futebol feminino, embora tenha enfrentado a "rebelião das 15" que exigia melhorias estruturais e teve apoio de Jenni Hermoso. Desde que caiu em desgraça, Rubiales tem vivido discretamente na cidade andaluza de Granada como “só mais um vizinho”, segundo a mídia espanhola. md/av (EFE, AFP)


Short teaser Ex-chefe da federação de futebol condenado a pagar 11 mil euros por beijar atleta anuncia que recorrerá da sentença.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/ex-cartola-espanhol-condenado-por-beijo-forçado-em-jogadora/a-71689720?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/66608091_354.jpg
Image caption Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney
Image source Noe Llamas/Sport Press Photo/ZUMA Press/picture alliance
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Item 46
Id 64814042
Date 2023-02-25
Title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
Short title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
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O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia

UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção. Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março. Lei antioligarca De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda. Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias. Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado. Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares. Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados ​​por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas. Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares. Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país. Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros. A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões. Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares. Não existem mais oligarcas ucranianos? Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política. Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los". De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE. Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra. "Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos. Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.


Short teaser UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas.
Author Eugen Theise
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Image caption O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia
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Item 47
Id 64820664
Date 2023-02-25
Title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Short title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Teaser

Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil

De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02). A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes. Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros. O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro. Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado. Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos. De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas. Turquia começa reconstrução As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção. Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep. Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente. Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad. Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados. Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares. Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores. Istambul precisa de 40 bilhões de dólares Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto. "A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico. De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia. Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil. le (EFE, DPA, Reuters, ots)


Short teaser De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos.
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Image caption Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil
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Item 48
Id 64819106
Date 2023-02-25
Title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
Short title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
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"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,

Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado. Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética. Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia. Acordo após mais de 24 horas de reuniões As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões. "Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter. O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca. Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen. O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE. Sanções contra firmas iranianas Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia. As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas. Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco. O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia. No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional. md (EFE, Reuters, AFP)


Short teaser Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou.
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Image caption "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,
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Item 49
Id 64816115
Date 2023-02-24
Title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
Short title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
Teaser

Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia

Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia. Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou. Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor." Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz. "No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter. Estreitar laços O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra. Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou. Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo". O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra". Proposta da China Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países. "Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou. Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev. cn/bl (Reuters, AFP, Efe)


Short teaser Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev.
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Image caption Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia
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Item 50
Id 64811757
Date 2023-02-24
Title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Short title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Teaser Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado.

Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos.

Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares.

Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia.

Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%.

No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente.

Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim.

"A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico.

A proposta da China para a guerra na Ucrânia

Até a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta.

Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito.

No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada.

"A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW.

Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia.

O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais.

"Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia.

"No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou.

Mediador duvidoso

Além disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou.

Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin.

"É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner.

Campanha de relações públicas sem riscos

A proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática.

"O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura.

"Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou.

"Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner.

Outros pontos da proposta

O texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais.

A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta.

"O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang.

Short teaser Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia.
Author Alena Zhabina
Item URL https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 51
Id 64811407
Date 2023-02-24
Title Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin
Short title Zelenski, o presidente subestimado por Putin
Teaser Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente.

As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo.

Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!".

"Preciso de munição, não de carona"

Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido.

A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos.

A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo.

Câmeras, as armas mais poderosas de Zelenski

Em seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana.

No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos".

No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo.

Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas.

Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação.

Putin não levou Zelenski a sério

Muitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin.

A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia.

Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado.

Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente.

Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir.

Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos.

Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar.

Nem tudo é fácil

Isso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos.

Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana.

O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia.

Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana.

Short teaser Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores.
Author Roman Goncharenko
Item URL https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 52
Id 64810396
Date 2023-02-24
Title Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Short title Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão?
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Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia

Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online. Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa. "Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema." A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha". Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída. Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real. Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala. "Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW. Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos. Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento. Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real. "Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman. Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização. "É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman. Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse. "Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman. Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos. O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum". "Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças. Fadiga por compaixão em relação a refugiados Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia. "Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW. Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo. É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África. "Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa. A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo. "Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW. Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis. "Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW. Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida. Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.


Short teaser Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia.
Author Fred Schwaller
Item URL https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia
Image source Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance
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