Item 1 | |||
Id | 70874064 | ||
Date | 2024-11-24 | ||
Title | Catedral católica de Berlim reabre após polêmica reforma | ||
Short title | Catedral católica de Berlim reabre após polêmica reforma | ||
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Santa Edwiges teve interior totalmente mudado por projeto arquitetônico controverso que demorou mais de seis anos para ser concluído. Obra do século 18 é ícone em cidade de maioria protestante.Quem visitar a recém-reformada Catedral de Santa Edwiges, um edifício circular do século 18 inspirado no Panteão de Roma e situado no centro de Berlim, irá encontrar um interior modestamente diferente: amplo e banhado pela luz natural, fruto de mais de seis anos de obras. A Catedral de Santa Edwiges é o primeiro templo católico construído na cidade após a Reforma Protestante, sob autorização do então rei da Prússia, Frederico 2º. O templo de marcante cúpula redonda fica na Bebelplatz, mesma praça onde os nazistas atearam fogo a livros em 1933 e que se converteria, anos mais tarde, no coração da antiga Berlim Oriental. A reforma da catedral, aberta ao público neste domingo (24/11), talvez admire ou intrigue quem já a conhecia. É quase um recomeço radical – e após muitas controvérsias. A abertura de oito metros de largura no piso do centro da igreja, com a escada em espiral para a cripta, desapareceu. Ela havia sido criada durante a reconstrução tardia, quase 20 anos depois da Segunda Guerra Mundial. Alguns apreciavam-na como detalhe arquitetônico, outros viam nela um incômodo. Agora, exatamente no centro, sob a cúpula de 30 metros de altura, está um modesto altar – uma meia-esfera com o lado plano virado para cima, lembrando uma versão em miniatura de uma das cúpulas do Congresso brasileiro. À escultura em cimento e areia foram incorporados mais de mil pequenos pedaços de pedra coletados por pessoas de todas as partes da arquidiocese. Dispostas em torno do altar estão as cadeiras dos fieis. E… Isso é tudo. Mais não há a ver: nem quadros coloridos, nem anjos ou degraus até o altar, tampouco algum mobiliário imponente ou uma grande cruz. Entusiasmado, o clérigo Tobias Przytarski enfatiza o "espaço maravilhoso que ganhamos" com a reforma. Celebração no centro das atenções Quem busca esplendor e grandiosidade pode encontrá-los não muito longe dali. Por exemplo, na vizinha casa de ópera "Staatsoper Unter den Linden" e na Universidade Humboldt, ou na imponente Catedral de Berlim, esta sim protestante, e de arquitetura de influência neobarroca e neorrenascentista. A reforma da Santa Edwiges, no entanto, enfatiza algo que os arquitetos originais do século 18 já haviam buscado ao se inspirar no Panteão de Roma: colocar a celebração religiosa no centro das atenções. Conforme explica o arquiteto Peter Sichau, era isso que faziam as primeiras igrejas, que eram frequentemente estruturas circulares como o Panteão. A construção italiana, datada do segundo século depois de Cristo, só foi virar igreja cristã 500 anos depois. Agora, diz Sichau, a Santa Edwiges tornou-se um "espaço de celebração", projetado para "ajudar as pessoas a experimentar Deus". Daí a escolha dos arquitetos de "liberar [seu interior] de todas as distrações". Parte da história de Berlim A Santa Edwiges diz muito sobre a história de Berlim. Inaugurada em 1773, ela foi a primeira igreja católica da cidade, e a primeira construção do gênero autorizada no Reino da Prússia (Estado precursor da Alemanha) desde a Reforma Protestante. O prédio, como muitas construções em Berlim, já não preservava sua forma original há muito tempo: durante a Segunda Guerra Mundial, bombardeios em 1943 destruíram a cúpula de cobre e provocaram um incêndio que consumiu todo o seu interior, inclusive a cripta. Sobrou somente a fachada com suas colunas. Até hoje, o edifício segue sendo o único templo católico no centro de Berlim Oriental. Perfil demográfico da cidade pesou nas escolhas arquitetônicas A capital alemã é considerada também uma "capital das religiões", já que igrejas, sinagogas, mesquitas, templos hindus e budistas, e até mesmo casas de religiões afrobrasileiras convivem lado a lado. Ainda assim, o maior grupo na cidade é de pessoas que não professam nenhuma fé. Isso, claro, em um país onde quem declara uma fé tem quase sempre a obrigação de pagar impostos religiosos para financiar sua congregação. Para o arcebispo de Berlim, Heiner Koch, a alta prevalência de habitantes na cidade sem religião declarada foi um fator que pesou na reforma. "Prestamos muita atenção para também nos dirigirmos a pessoas que não estão enraizadas na fé cristã", afirma. No fim das contas, como explica Koch, a catedral também é a "igreja católica na capital federal", e será usada para celebrações com a presença de políticos. O arcebispo espera que a nova cara da igreja atraia mais passantes e turistas. O prédio deve ser um lugar em que, "num espírito aberto e acolhedor, cristãos, pessoas de outras religiões e pessoas sem vínculos religiosos se encontrem com total abertura e aprendam uns com os outros". Subsolo de cara nova A catedral é o coração de uma arquidiocese, e isso está expresso na Santa Edwiges em seu subsolo com pé direito de três metros. Ali, diretamente debaixo da cúpula e do altar, há uma pia batismal em forma de cruz, com água corrente – e, no que é mais inusitado para uma igreja católica, grande o suficiente para batizar um adulto. Ao redor da pia, há doze salas temáticas, capelas para meditação e oração, e espaços para confissão. Há também uma "sala do arrependimento", que tematiza abusos sexuais cometidos por clérigos. Um dos espaços mais importantes ali é seguramente o túmulo do padre Bernhard Lichtenberg (1875-1943), que intercedeu pelos judeus perseguidos durante o nazismo e morreu no campo de concentração de Dachau. A memória de sua coragem contra os nazistas é mantida viva pela arquidiocese. Custo na casa das dezenas de milhões de euros Construir custa caro na Alemanha. Isso vale também para a Igreja Católica, que nos últimos anos tem se ocupado mais da venda ou demolição de seus templos pelo país. E muitos serviços necessários na catedral, principalmente a parte elétrica, foram adiados por muito tempo. É por isso que a reforma deu quase tanto trabalho quanto uma construção do zero. Em 2016, o custo da obra era estimado em 40 milhões de euros. No fim, porém, a despesa foi de mais de 44 milhões de euros (R$ 266 milhões). Além da arquidiocese de Berlim, outras dioceses na Alemanha e os próprios governos federal e estadual ajudaram a bancar a empreitada. Mas ainda há outros gastos à vista: a reconstrução da Casa Bernhard Lichtenberg, que fica logo atrás da catedral, e cujas obras devem continuar por mais de um ano, sairá por mais de 30 milhões de euros (R$ 181,7 milhões) – muito acima dos 20 milhões de euros inicialmente orçados. |
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Short teaser | Construída no século 18, Santa Edwiges teve interior totalmente mudado por projeto arquitetônico controverso. | ||
Author | Christoph Strack | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/catedral-católica-de-berlim-reabre-após-polêmica-reforma/a-70874064?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70840957_354.jpg | ||
Image caption | Catedral de Santa Edwiges, que dá para a famosa Bebelplatz, no distrito de Mitte, foi inspirada no Panteão de Roma | ||
Image source | Schoening/imageBROKER/picture alliance | ||
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Item 2 | |||
Id | 70873662 | ||
Date | 2024-11-24 | ||
Title | "Você tem medo de ouvir isso, Alemanha?" Discurso de artista sobre guerra em Gaza irrita políticos | ||
Short title | Discurso de artista sobre Gaza irrita políticos em Berlim | ||
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Fotógrafa americana Nan Goldin, que tem origem judaica, acusou Israel de "genocídio em Gaza e no Líbano" ao discursar na abertura de exposição na Neue Nationalgalerie. "Você tem medo de ouvir isso, Alemanha?"De passagem por Berlim para inaugurar uma exposição, a fotógrafa americana Nan Goldin, de 71 anos, acusou Israel de cometer "genocídio em Gaza e no Líbano" e afirmou que criticar o Estado judaico não é antissemitismo. "Decidi usar esta exposição como plataforma para amplificar minha posição de revolta moral com o genocídio em Gaza e no Líbano", disse Goldin na última sexta-feira (22/11), durante a abertura de "This Will Not End Well" (isso não vai acabar bem, em tradução livre) na Neue Nationalgalerie. Goldin, que tem origem judaica e é uma das mais renomadas artistas na fotografia contemporânea, lembrou o processo aberto contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), que apura crime de genocídio contra palestinos. Preocupações nesse sentido também foram externadas pelas Nações Unidas e pelo papa Francisco, que ela citou em sua fala. "E, ainda assim, não deveríamos chamar isso [a ofensiva israelense] de genocídio. Você tem medo de ouvir isso, Alemanha?", indagou. O questionamento, ao mesmo tempo em que alude aos 6 milhões de judeus que o nazismo assassinou durante a Segunda Guerra Mundial, é também uma crítica à forma como as autoridades do país têm reagido a protestos pró-palestinos. A Alemanha contemporânea assumiu um compromisso de Estado com o direito de defesa de Israel e a proteção da vida judaica. Mas críticos como Goldin afirmam que a reação do país às reverberações do conflito em seu próprio território tem ajudado a alimentar o ódio antissemita. "Antissionismo não tem nada a ver com antissemitismo", insistiu Goldin. O termo, segundo ela, foi esvaziado e estaria sendo instrumentalizado pelo governo alemão contra a comunidade palestina e aqueles que se solidarizam com ela. "Ao declarar toda crítica a Israel como antissemita, isso torna mais difícil definir e fazer cessar o ódio violento contra judeus. Estamos menos seguros." "Meus avós fugiram dos pogroms na Rússia. Fui criada sabendo do Holocausto nazista. O que vejo em Gaza me lembra os pogroms dos quais meus avós escaparam", afirmou. "O que você aprendeu, Alemanha? [...] 'Nunca mais' significa 'nunca mais' para todos", acrescentou, referindo-se à guerra em Gaza como o primeiro "genocídio com transmissão ao vivo". Citando um clima de repressão na Alemanha contra o setor cultural desde a eclosão do conflito, Goldin disse que o discurso dela era um teste para saber se um artista do calibre dela poderia expressar suas visões políticas sem ser cancelada. E que, se esse fosse o caso, ela esperava "abrir o caminho" para que outros artistas possam fazer o mesmo. Netanyahu é alvo de mandado de prisão Os comentários de Goldin foram feitos um dia depois de o Tribunal Penal Internacional (TPI) expedir um mandado de prisão contra o premiê israelense Benjamin Netanyahu e o ex-ministro israelense de Defesa Yoav Gallant, para que respondam a acusações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade. O mandado de prisão não é um veredito, e sim um sinal de que o TPI – órgão da ONU que, diferentemente da CIJ, processa apenas indivíduos, e não países – leva a sério as acusações a ponto de investigá-las. De acordo com seu próprio portal de internet, o TPI somente emite mandados de prisão se os juízes julgarem necessário para assegurar que a pessoa vai comparecer ao julgamento. O mandado também pode ser emitido para evitar que o acusado atrapalhe a investigação ou o processo, e que cometa novos crimes. Políticos e líderes culturais se distanciam de discurso O diretor da Neue Nationalgalerie, Klaus Biesenbach, discursou logo após Goldin, mas mal conseguiu se fazer ouvir diante dos gritos de parte da plateia. A polícia interveio e, posteriormente, ele repetiu sua fala. Nela, reafirmou o direito de Israel de existir e lembrou que o conflito começou com o atentado terrorista de 7 de outubro contra Israel, mas também pediu empatia pelo sofrimento de civis em Gaza. Posteriormente, Biesenbach divulgou um comunicado em que dizia que o museu se distanciava das visões de Goldin, mas que defendia a "liberdade de expressão e o diálogo e interação respeitosos". A ministra alemã da Cultura, Claudia Roth, reagiu ao discurso de Goldin acusando a artista de propagar "visões políticas insuportavelmente unilaterais", e que estava "chocada" com a forma com que o público presente ao evento sufocou o discurso de Biesenbach na base do grito. Roth, contudo, descartou boicotes e disse torcer por um debate civilizado e aberto. O ministro estadual da Cultura, Joe Chialo, também acusou Goldin de "parcialidade" e "amnésia histórica". Hermann Parzinger, presidente da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, entidade que administra a Neue National Galerie, também criticou o discurso de Goldin, afirmando que ele "não corresponde à nossa concepção de liberdade de expressão". ra (AP, dpa, DW, ots) |
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Short teaser | Ao abrir exposição, fotógrafa americana Nan Goldin acusou Israel de genocídio: "Você tem medo de ouvir isso, Alemanha?" | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/você-tem-medo-de-ouvir-isso-alemanha-discurso-de-artista-sobre-guerra-em-gaza-irrita-políticos/a-70873662?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70868754_354.jpg | ||
Image caption | Nan Goldin é uma das artistas mais renomadas da fotografia contemporânea e teve retrospectiva inaugurada no Neue Nationalgalerie | ||
Image source | Fabian Sommer/dpa/picture alliance | ||
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Item 3 | |||
Id | 70858068 | ||
Date | 2024-11-24 | ||
Title | Consciência Negra: conheça Divino Mestre, o "Lutero negro" do Brasil | ||
Short title | Divino Mestre: o "Lutero negro" do Brasil | ||
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Agostinho José Pereira pregava pela liberdade dos escravizados nas ruas do Recife e deixou versos que resumem sua visão religiosa: um cristianismo contrário à Igreja Católica e os argumentos divinos para a abolição. Tudo o que entrou para a história sobre Agostinho José Pereira, o pregador negro que usava a Bíblia para clamar pela liberdade dos escravizados nas ruas do Recife, foi graças à sua prisão, em 1846. Tanto os relatos policiais quanto a repercussão na imprensa acabaram gerando "uma documentação que, se não é farta, é intensa em significados", pontua o historiador Marcus Joaquim Maciel de Carvalho, professor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em artigo acadêmico publicado em 2004. Àquela altura, o Divino Mestre, como era conhecido, já arrebanhava mais de 300 discípulos, todos negros que se diziam livres ou libertos. "Ele vagava pela cidade discursando de forma revolucionária", afirma a historiadora Maria Helena Pereira Toledo Machado, professora na Universidade de São Paulo (USP). Foi detido com sete homens e sete mulheres. Entre seus pertences, estava um exemplar da Bíblia com passagens que falavam de liberdade grifadas. E alguns versos, chamados de ABC, que chamaram a atenção das autoridades. Leia mais conteúdos relacionados ao Dia da Consciência Negra "A imprensa começou a discutir até onde seria ele um rebelde, que alfabetizava e pregava para negros à beira de uma insurreição, ou simplesmente um fanático religioso cujo único objetivo era converter almas desesperançadas à sua fé", afirma Carvalho. "Ao prendê-lo, o Chefe de Polícia da Província não teve dúvidas: seu 'cisma' era apenas um disfarce para uma insurreição escrava." Menção emblemática ao HaitiOs versos ABC abordavam a ingratidão "que fazem com os morenos" e diziam que "lá do centro do sertão virá a nossa liberdade". Afirmavam que Adão — segundo a Bíblia, o primeiro homem — também havia sido negro e que "no princípio do mundo os reis eram morenos". E, para o pavor da aristocracia de então, lembravam do Haiti. "Oh! Grande é a cegueira desta gente brasileira, não olha para o Haiti e para a América Inglesa." A Revolução Haitiana, ocorrida de 1791 a 1804, foi uma rebelião liderada por escravizados e ex-escravizados que conseguiu não só a abolição como a independência da então colônia francesa de São Domingo. Para o historiador Philippe Arthur dos Reis, pesquisador na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), esse compilado de versos permite definir que a pregação do Divino Mestre tinha "um fundo político-religioso". "É interessante pensar como ele era um agente que mobilizava uma religião cristã em favor da liberdade", comenta. Para o historiador, a menção ao Haiti é emblemática. "Havia um medo disso nas elites brasileiras, um medo que isso [algo parecido com a revolução de lá] também acontecesse no Brasil", aponta. Um Deus "caboclo"No depoimento prestado à polícia, Divino Mestre declarou ter 47 anos e afirmou que havia participado, como oficial de milícias, da Confederação do Equador, em 1824 — movimento de caráter republicano que havia eclodido em Pernambuco. Sobre os versos que carregava, ele negou ser o autor, dizendo que os mesmos haviam sido dados à sua esposa por um sujeito ligado a um grupo religioso da Zona da Mata, próximo à Paraíba. Também interrogada, a mulher disse que havia ganhado o ABC de "um homem que veio do sertão" e que tinha achado o conteúdo "bonito". Na seita liderada por Pereira, havia a ideia de que Deus não era branco. Uma das mulheres detidas afirmou, em depoimento, que havia conhecido "o Senhor" por meio de uma visão. Quando foi questionada se ele era branco ou preto, respondeu que "era acaboclado". "Lutero negro"Quando o naturalista inglês Charles Blachford Mansfiedl (1819-1855) passou pela região, ele se deparou com a história do Divino Mestre e se referiu a ele como "o Lutero negro". Isso porque em um momento de catolicismo como religião oficial e praticamente única no território brasileiro, o religioso criou uma dissidência cristã que não seguia os princípios da doutrina católica. Há indícios de que ele tenha tido contato com a literatura protestante, embora não se saiba de nenhum vínculo oficial dele com alguma Igreja ou movimento de origem europeia ou norte-americana. "Era difícil enquadrá-lo. Apontá-lo como cismático somente traduzia sua ruptura com o catolicismo; reconhecia-se cristão, mas não era tido como alguém que professasse a lei da reforma; sobre o apelido de Divino Mestre afirmava ser o povo quem o dizia assim", escreveu o historiador e sociólogo Alexandro Silva de Jesus, professor na UFPE, em artigo acadêmico publicado em 2008. "[Ele] destituía os santos, desinvestia os padres, seguia somente a lei de Deus. Forjou uma espiritualidade bem ao seu sabor, fez dos homens seus inimigos, aglutinou discípulos." A historiadora Machado analisa como "hiperrevolucionário" o discurso do líder religioso, sobretudo pelo conteúdo do compilado de versos. "[Estes] são simplesmente incríveis. Botam o mundo de cabeça baixo. Não foi Jesus negro? O berço da humanidade não é negro?”", interpreta ela. "O Divino Mestre tem uma visão completamente revolucionária da ordem das coisas." No tribunal, Agostinho José Pereira foi defendido pelo liberal radical Borges da Fonseca (1808-1872), depois conhecido como um dos líderes da Revolução Praieira, ocorrida entre 1848 e 1850. A imprensa da época chegou a noticiar que o líder religioso foi solto mediante habeas corpus. Depois disso, não há mais informações sobre ele. |
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Short teaser | Agostinho José Pereira pregava pela liberdade dos escravizados no Recife e reuniu argumentos divinos para a abolição. | ||
Author | Edison Veiga | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/consciência-negra-conheça-divino-mestre-o-lutero-negro-do-brasil/a-70858068?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 4 | |||
Id | 70869042 | ||
Date | 2024-11-23 | ||
Title | China: novo líder global na ação climática? | ||
Short title | China: novo líder global na ação climática? | ||
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País ouviu apelo na COP29 para destinar mais dinheiro ao enfrentamento das mudanças climáticas. Dúvida é se gigante asiático poderia assumir liderança internacional diante do desinteresse pelo tema nos EUA de Trump.Enquanto a Conferência do Clima da ONU em Baku (COP29) caminhava para um desfecho, as atenções se voltavam para a China. Há esperanças de que o país assuma o vácuo de liderança deixado pela eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. O americano já avisou que planeja abandonar o Acordo de Paris quando tomar posse do cargo, em janeiro. Seria "uma grande oportunidade" para a China, dado seu progresso em termos de descarbonização e capacidade de expandir tecnologia em larga escala, avalia Yao Zhe, analista do Greenpeace East Asia. Atualmente maior emissor de carbono e segunda maior economia do mundo, a China está sendo pressionada a enviar sinais positivos à comunidade internacional, estabelecendo metas de emissão mais ambiciosas e assumindo mais responsabilidade no financiamento climático global. Economistas estimam que países em desenvolvimento precisarão de 1 trilhão de dólares por ano para reduzir suas emissões e enfrentar eventos climáticos extremos. Espera-se que essa conta seja paga pelas nações industrializadas que mais contribuíram para o aquecimento global ao longo da história. Mas negociadores dos Estados Unidos, da União Europeia e de alguns países em desenvolvimento presentes na COP29 acham que a China também deveria assumir uma parte dessa responsabilidade. Apesar de sua pujança econômica, a China ainda é classificada pelas Nações Unidas como país em desenvolvimento. Por que a China está sendo cobrada a fazer mais pelo clima? Países em desenvolvimento que têm altos níveis de emissões e podem se comprometer com o financiamento climático internacional deveriam fazê-lo, afirma Rizwana Hasan, conselheira do Ministério do Meio Ambiente do governo interino de Bangladesh. "A China pode contribuir, a Índia pode contribuir até certo ponto", exemplifica. Mas membros da delegação chinesa na COP29 insistiram em manter contribuições voluntárias. O país, que não se comprometeu com a meta anterior acordada por países desenvolvidos de destinar 100 bilhões de dólares anuais ao financiamento climático, afirma que desde 2016 já gastou cerca de 24,5 bilhões com isso. Também investiu maciçamente em energia solar e eólica, e em carros elétricos. Para Adonia Ayebare, representante do G77, grupo que inclui países em desenvolvimento e a China, Pequim já contribui com o financiamento climático internacional. "Eles têm os maiores painéis solares do mundo. Eles os produzem, e nós os compramos." "Eles financiam um monte de projetos fora da China. Hoje, falamos de pelo menos 3 bilhões de dólares por ano", concorda Niklas Höhne, especialista em política climática no New Climate Institute, um think tank sem fins lucrativos. Reconhecer contribuições já feitas por países como a China poderia ajudar a desbloquear negociações internacionais, avalia Celine Kauffmann, do IDDRI, um instituto que pesquisa políticas públicas para o desenvolvimento sustentável. China tem peso no cenário global A China também é pressionada a sinalizar liderança e propor metas climáticas mais ambiciosas por causa do peso de suas emissões de carbono no balanço global, segundo Höhne. "A China é tão grande. Responde por um quarto das emissões globais de gases estufa. Então, se a China tiver um pico e cair, as emissões globais de gases estufa também terão um pico e cairão", afirma. O país hoje gera mais ou menos o dobro de emissões dos Estados Unidos, que é o segundo maior poluidor global, e é responsável por 90% do crescimento das emissões de carbono desde 2015. Países desenvolvidos são convocados pelo Acordo de Paris a assumirem a liderança da ação climática por causa de seu papel desproporcionalmente alto nas emissões históricas. Só que as próprias emissões históricas da China hoje já superaram as da UE, segundo uma análise da organização britânica Carbon Brief. Por outro lado, a China também é um líder global quando o assunto é investimento e expansão de energia limpa. Em 2023, o país investiu 273 bilhões de dólares no setor – mais ou menos o dobro da Europa, que ficou em segundo lugar. O país asiático respondeu em 2023 por um terço dos investimentos globais em energias renováveis, segundo a Agência Internacional de Energia, e encomendou no período a mesma quantidade de painéis solares que o mundo inteiro em 2022, além de ter expandido em 66% sua capacidade eólica e responder por quase 60% de todos os novos registros de carros elétricos. Em setembro de 2020, o presidente chinês Xi Jinping disse que a meta do país era atingir o ápice de suas emissões antes de 2030 e a neutralidade de carbono em 2060. Em termos de ação climática, a China está na 55ª posição dentre 67 países monitorados pelo Climate Change Performance Index, divulgado nesta semana. Isso porque, apesar de ser um gigante no setor de renováveis e estar prestes a atingir o ápice de suas emissões, o país não tem metas climáticas suficientes e segue muito dependente de combustíveis fósseis, segundo especialistas. Cientistas têm alertado que o mundo precisa cortar drasticamente emissões de gases estufa até 2030 se quiser limitar o aquecimento global a 1,5 ºC. "É por isso que todo mundo está esperançoso que a China possa propor uma meta de redução significativa de emissões até 2030. E eles podem, porque as renováveis estão se expandindo realmente muito, muito rápido na China", afirma Höhne. |
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Short teaser | País ouviu apelo na COP29 para destinar mais dinheiro ao enfrentamento das mudanças climáticas. | ||
Author | Holly Young (com colaboração de Tim Schauenberg) | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/china-novo-líder-global-na-ação-climática/a-70869042?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | China é uma gigante no setor de energia renovável. Ainda assim, é atualmente o maior emissor global de carbono | ||
Image source | Tingshu Wang/REUTERS | ||
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Item 5 | |||
Id | 70809546 | ||
Date | 2024-11-23 | ||
Title | Clarice Lispector jornalista: como a escritora reinventou a arte de entrevistar | ||
Short title | Como Clarice Lispector reinventou a arte de entrevistar | ||
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Entre 1968 e 1977, escritora trabalhou como jornalista nas revistas "Manchete" e "Fatos & Fotos". Livro reúne 83 entrevistas conduzidas por Clarice, 35 delas inéditas, com figuras como Clóvis Bornay e Maysa. Em 1968, Clarice Lispector (1920-1977) foi até o estádio do Botafogo, na rua General Severiano, no Rio de Janeiro, entrevistar o técnico Zagallo (1931-2024). À época, a escritora ucraniana naturalizada brasileira tinha uma coluna na extinta revista Manchete. Lá pelas tantas, a entrevistadora surpreende o entrevistado ao perguntar: "Qual é o santo de sua devoção?". "Santo Antônio, e o seu?", devolve o então técnico do Botafogo. "Nos momentos difíceis, me agarro a Santo Antônio, Santa Rita de Cássia e São Judas Tadeu", responde. O bicampeão do mundo, então, parte para o contra-ataque: "Você está satisfeita como escritora?". "Não, mas é o que melhor sei fazer", avalia a autora de obras-primas da literatura nacional como Laços de Família e A Paixão Segundo G.H.. Seis meses depois, Clarice entrevista Tônia Carrero (1922-2018). A certa altura, indaga: "Que é que você mais deseja no mundo, Tônia?". "Paz", responde a dama do teatro, antes de acrescentar: "Outra coisa que eu desejo muito é custar bastante a envelhecer". Dali a pouco, é a atriz quem faz uma pergunta à escritora: "Que é que você tem, Clarice?". "Não só estou vaga como de inteligência um pouco lenta", admite a entrevistadora. E justifica: "Não dormi esta noite". "Que é que você faz quando não dorme?", Tônia procura saber. "Dou a noite por encerrada, esquento café e tomo", Clarice dá de ombros, resignada. "Aconselho você a fazer palavras cruzadas e a jogar paciência", recomenda a atriz, que também sofria de insônia. Reinventando a entrevista"Clarice Lispector reinventou a entrevista. Como, aliás, reinventou a crônica, o conto e o romance. Como entrevistadora, era uma espécie de camaleoa: o tom da entrevista mudava dependendo do entrevistado", afirma Claire Williams, professora de Literatura e Cultura Brasileira da Universidade de Oxford, responsável pela organização, introdução e notas de Clarice Lispector Entrevista (Rocco). "Quando entrevistava amigos, a conversa fluía. Muitas vezes, compartilhava informações pessoais. Os entrevistados se sentiam à vontade para fazer perguntas. Quando tinha pouco ou nada em comum com o entrevistado, o tom era frio e profissional." O livro reúne 83 entrevistas, feitas entre 1968, quando Clarice trabalhou na revista Manchete, e 1977, na Fatos & Fotos. Dessas, 35 são inéditas em livro. As entrevistas do carnavalesco Clóvis Bornay, do cirurgião plástico Ivo Pitanguy, da cantora Maysa, da atriz e modelo Elke Maravilha e do padre Oscar Quevedo, entre outras, não constam da edição de 2007, também organizada por Williams. Cinco personalidades foram entrevistadas mais de uma vez: o pintor Iberê Camargo, o poeta Vinícius de Moraes, a escritora Nélida Piñon e a artista plástica Fayga Ostrower, duas vezes cada um; e o pintor Carlos Scliar, três. "O maior mérito de Clarice como entrevistadora é o fato de ter sido uma das primeiras no Brasil. Quantas mulheres exerciam tal função? Vamos registrar uma das pioneiras, bem antes dela, a magnífica Eneida. Clarice seguiu essa trilha e abriu caminho para outras gerações. Não teve receio de impor seu estilo", analisa Teresa Montero, doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e autora de À Procura da Própria Coisa: Uma Biografia de Clarice Lispector (2021), que elege a entrevista com Fernando Sabino como uma de suas favoritas. "Revela muito do ofício de escritor", diz. Dos 77 entrevistados do livro (cinco foram entrevistados mais de uma vez), apenas quatro ainda estão vivos: o maestro Isaac Karabtchevsky, a artista plástica Maria Bonomi, o cantor e compositor Chico Buarque e o piloto Emerson Fittipaldi. Prestes a completar 90 anos, Karabtchevsky revela que, a exemplo de Clarice, sua mãe, Genya, também era da Ucrânia – a primeira nasceu em Chechelnyk; a segunda em Kiev, a capital do país. "Quando abri a porta de casa para receber Clarice, estava revivendo um passado bem familiar. Ela enfatizava os ‘erres', como minha mãe fazia", recorda o maestro. "Daquele momento em diante, nos adotamos como irmãos. Somos, Clarice e eu, tenazes e inconformistas. Ou, como ela dizia, tímidos e ousados." Se Clarice e Karabtchevsky eram "irmãos", ela e Bonomi, de 89 anos, são comadres – a escritora é madrinha de batismo de Cássio, filho de Bonomi. Segundo a artista plástica, a entrevista foi 50% presencial e 50% remota – por telefone. "Fomos à praia e, depois, comemos uma pizza no restaurante La Fiorentina, no Leme", relata. A entrevista com Maria Bonomi, publicada na revista Fatos & Fotos de junho de 1977, é uma das últimas do livro. Clarice morreu no dia 9 de dezembro daquele ano. "Foi uma coisa terrível. Estou devastada até hoje. Clarice me faz muita falta", emociona-se. "Nélida [Piñon] e Olga [Borelli] me esconderam o estado de saúde dela. Se eu soubesse que era grave, teria visitado no hospital e me despedido dela. Não me perdoo." Chico Buarque tinha 22 anos quando foi entrevistado por Clarice em 1968. A entrevista foi às quatro da tarde porque, às cinco, ele tinha aula com a pianista Wilma Graça. "Todas as mães com filhas em idade de casar consentiriam que casassem com você. De onde vem esse ar de bom rapaz?", perguntou a escritora. "Clarice tinha mania de encarar você e fazia perguntas diretas. Ela era desconcertante”, define o cantor no livro Clarice na Memória de Outros (Autêntica, 2024). "Clarice tinha esse poder de intimidar as pessoas". O livro, organizado por Nádia Battella Gotlib, reúne o relato de 57 personalidades, como o cantor Caetano Veloso, a escritora Marina Colassanti e o economista Paulo Gurgel Valente, filho de Clarice. Qual é a coisa mais importante do mundo?Três das perguntas feitas a Chico Buarque são recorrentes no repertório de Clarice: "Qual é a coisa mais importante do mundo?", "Qual é a coisa mais importante para você, como indivíduo?” e "O que é amor?”. Em geral, fazia perguntas inusitadas: "Você acaba um caso porque encontra outra mulher ou porque se cansa da primeira?”, "Recebe muitas cartas e telefonemas de admiradoras alucinadas?" e "No tempo de garoto se julgava um craque ou um perna de pau?", indagou a Vinícius, Tarcísio Meira e João Saldanha. "Clarice não seguia regras ou padrões. Fazia as perguntas que ela queria", analisa Gotlib, professora de Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP). "Por vezes, pedia ao entrevistado para entrevistar a si mesmo." Tão surpreendentes quanto as suas perguntas eram as suas divagações: "Fico espantada quando encontro pessoas que leram um livro meu várias vezes", "Não tenho mais paciência de ler ficção” e "Não sei por que escrevo", refletiu durante os encontros com Rubem Braga, Tom Jobim e Djanira. Durante a entrevista com Pedro Bloch, deixou escapar: "Acho que não consegui me realizar como escritora." Nisso, escutou de seu interlocutor: "Se você diz que não conseguiu se realizar como escritora, sendo a maior escritora do continente, então ninguém se realizou em nada." "Seu maior mérito era revelar o inesperado dos entrevistados. Para conseguir tal fato, tinha uma estratégia: se expunha para captar a confiança de seu interlocutor até o ponto de ele se expor também", analisa Aparecida Maria Nunes, doutora em Letras pela USP. Em geral, as entrevistas eram feitas no apartamento de Clarice, na rua Gustavo Sampaio, no Leme. Algumas, no entanto, foram realizadas na casa do entrevistado – ou em seu escritório, fazenda ou ateliê. Ou, no caso de Émerson Fittipaldi, durante um voo entre o Rio e São Paulo. "Avião da Varig é mais seguro que carro de corrida", brincou Clarice, que abordou o piloto na fila de embarque do aeroporto. Algumas vezes, bebeu água ou tomou café com o entrevistado. Outras, uísque, cerveja e até refresco de mangaba – cortesia do casal Jorge Amado e Zélia Gattai. No fim da entrevista com Elis Regina, ainda ganhou carona até sua casa. "Não usava gravador. Preferia fazer anotações à mão e, depois, digitá-las em casa", revela Williams. Entre entrevistar e ser entrevistada, preferia a primeira opção. "Gosto de pedir entrevista: sou curiosa. Detesto dar entrevistas: me deformam”, dizia. "Tinha dificuldade de se expor publicamente", esclarece Montero. Em setembro, Cate Blanchett rasgou elogios a Clarice Lispector. Foi durante o Festival de Cinema de San Sebastian, na Espanha. Na ocasião, a atriz australiana chegou a citar um trecho da crônica Diálogo do Desconhecido, extraída do livro A Descoberta do Mundo. "Mais importante do que o mero aspecto comercial, esse comentário atrairá novos leitores para a obra de Clarice", prevê seu editor, Pedro Karp Vasquez. "Não se trata de literatura de entretenimento e sim de transformação. O efeito dos seus livros não termina com o fim da leitura. Em muitos casos, começa justamente neste momento, quando as ideias de Clarice ficam trabalhando em nosso íntimo, como um convite para a reavaliação de nosso papel no mundo." |
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Short teaser | Livro reúne 83 entrevistas conduzidas por Clarice, 35 delas inéditas, com figuras como Clóvis Bornay e Maysa. | ||
Author | André Bernardo | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/clarice-lispector-jornalista-como-a-escritora-reinventou-a-arte-de-entrevistar/a-70809546?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Clarice%20Lispector%20jornalista%3A%20como%20a%20escritora%20reinventou%20a%20arte%20de%20entrevistar |
Item 6 | |||
Id | 70863926 | ||
Date | 2024-11-23 | ||
Title | Combate ao desmatamento também é questão de saúde, aponta estudo | ||
Short title | Combater desmatamento também é questão de saúde, diz estudo | ||
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Medidas de combate a incêndios florestais evitaram centenas de mortes e milhares de hospitalizações na Amazônia associadas ao fogo e à fumaça, apontam cientistas brasileiros e alemães.As florestas costumam ser descritas como pulmões da Terra, por seu papel importante em remover do meio ambiente poluentes como o dióxido de carbono. Um estudo conjunto da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade de Bonn reforça uma outra função das árvores, além da ecológica: a de nos manter saudáveis. Ao analisarem o impacto de medidas conservacionistas na Amazônia sobre a saúde das populações locais, os pesquisadores descobriram que a redução das queimadas levava a uma queda proporcional no número de hospitalizações e mortes por problemas respiratórios. O combate aos incêndios florestais acarretou a redução da fumaça e, portanto, da concentração de micropartículas no ar, uma das principais causas de problemas pulmonares. "É bem direta a relação entre a deflagração de um incêndio, o trânsito da fumaça e os problemas de saúde de quem a inala ", confirma o autor principal, Yannic Damm, de Bonn. O fogo na Amazônia é um tópico constante da agenda ambiental da América do Sul. Em 2024, o Brasil registrou os piores incêndios florestais em 14 anos. Na Bolívia, queimadas destruíram um recorde de 10 milhões de hectares. 18 mil hospitalizações, 680 mortes a menos Para a análise, os pesquisadores de Minas Gerais e Bonn primeiro calcularam se os incêndios e a poluição diminuíram em decorrência das medidas introduzidas em 2007 e 2009 para impedir que os comerciantes comprassem produtos bovinos e de soja originários de áreas desmatadas. Foi considerada uma zona de 100 quilômetros em torno do bioma amazônico, nos estados do Maranhão, Tocantins, Pará, Mato Grosso e Rondônia. Nos anos seguintes às medidas, observou-se uma diminuição do número de incêndios e, consequentemente, emissões bem menores de gases poluentes como monóxido de carbono e dióxidos de enxofre e de nitrogênio. Em seguida, os cientistas cotejaram esses dados com as hospitalizações por moléstias associadas à poluição atmosférica. Na região amazônica, a preservação ecológica proporcionou cerca de 18 mil hospitalizações a menos por ano, assim como menos 680 mortes por problemas relacionados a fumaça e fogo. Para verificar suas estimativas, os pesquisadores compararam esses números com os de infecções sexualmente transmitidas (em princípio, sem relação com a incidência de incêndios) no mesmo período, as quais permaneceram estáveis. Fumaça não é o único perigo das queimadas Em áreas florestais desmatadas, criam-se condições mais quentes e secas, que as tornam mais propensas ao fogo por causas naturais ou humanas. Além de um coquetel de gases tóxicos, a fumaça contém micropartículas de diversas dimensões. As denominadas PM2,5 têm 2,5 micrômetros ou menos, sendo menores que muitas bactérias. Em comparação, as células vermelhas do sangue humano medem cerca de 7 micrômetros. Assim, as PM2,5 são facilmente absorvíveis pela corrente sanguínea através dos pulmões, tendo o potencial de causar problemas de saúde no curto ou longo prazo. A exposição prolongada à fumaça agrava doenças como a asma e reduz a função pulmonar, podendo também causar problemas cardíacos e respiratórios crônicos. Contudo, a fumaça não é o único fator de morbidade associado ao desmatamento: a própria derrubada de árvores pode aumentar a probabilidade de moléstias transmissíveis já que, ao reduzir o habitat da fauna nativa, acaba empurrando-a para mais perto dos humanos. Quando os animais são portadores de vírus, bactérias ou parasitas, pode ocorrer o que a ecologista Nicole Lynn Gottdenker, da Universidade de Geórgia, EUA, denomina "um transbordamento de patógenos da vida selvagem para os seres humanos e animais domésticos". No caso de transmissão entre animais e humanos, fala-se de transbordamento zoonótico. Diversos estudos indicaram uma correlação entre a transmissão da malária na Amazônia e o desmatamento. Em um deles, 1% de aumento da derrubada mensal provocou um acréscimo de 6,3% dos casos dessa enfermidade infecciosa transmitida por mosquitos. O próprio impacto da perda das florestas sobre a vida dos habitantes é um fator de risco para a saúde humana: "Muitas vezes a população é desalojada e marginalizada, tornando-se mais vulnerável aos patógenos responsáveis por doenças infecciosas", explica Gottdenker. Alguns estudos constataram que medidas para coibir o desmatamento e a perda de habitat reduziram a probabilidade de eventos de transbordamento zoonótico. Exemplos recentes desse fenômeno foram o coronavírus Sars-Cov-2, causador da covid-19, e o vírus da mpox. |
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Short teaser | Prevenção de incêndios florestais evitou centenas de mortes e milhares de hospitalizações na Amazônia. | ||
Author | Matthew Ward Agius | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/combate-ao-desmatamento-também-é-questão-de-saúde-aponta-estudo/a-70863926?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/69989387_354.jpg | ||
Image caption | Visão de drone: em 2024, Amazônia teve piores incêndios em 14 anos | ||
Image source | Adriano Machado/REUTERS | ||
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Item 7 | |||
Id | 70867999 | ||
Date | 2024-11-23 | ||
Title | Influência de Musk no governo Trump preocupa Merkel | ||
Short title | Influência de Musk no governo Trump preocupa Merkel | ||
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Bilionário ganhou cargo do republicano após apoio na campanha. Em entrevista à revista "Der Spiegel", ex-chanceler federal da Alemanha defendeu equilíbrio entre os interesses "dos poderosos e dos cidadãos comuns".A ex-chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, se disse preocupada com a influência do bilionário Elon Musk sobre a política dos Estados Unidos no governo de Donald Trump. "Quando uma pessoa como ele [Musk] é dono de 60% de todos os satélites que orbitam no espaço, então isso deve nos preocupar enormemente, além das questões políticas", declarou em entrevista ao semanário alemão Der Spiegel publicada nesta sexta-feira (22/11). A referência a Musk foi feita quando Merkel foi indagada pela revista se a volta de Trump à Casa Branca representava um desafio maior do que o primeiro mandato do republicano, iniciado em 2016. A alemã reagiu citando uma "aliança visível" entre o novo presidente da maior economia do mundo e grandes empresas do Vale do Silício, "que têm enorme poder financeiro". Musk foi nomeado junto com o empresário Vivek Ramaswamy para a chefia do novo Departamento de Eficiência Governamental. Caberá à dupla, segundo Trump, desmantelar a burocracia, reduzir regulamentações, cortar gastos e reestruturar agências federais. Musk, que é dono do X, da SpaceX e da Tesla, doou milhões de dólares para a campanha de Trump e apoiou ativamente o candidato republicano nas últimas eleições. Merkel, que está afastada da política desde o final de 2021, afirmou que os 16 anos que passou como líder da Alemanha a ensinaram que é preciso ter um equilíbrio entre os interesses "dos poderosos e dos cidadãos comuns". Segundo a alemã, a crise financeira de 2007/2008 evidenciou a importância da política como "última instância capaz de endireitar as coisas". "E quando essa última instância é muito influenciada por empresas, pelo capital financeiro ou por tecnologias, isso é um desafio desconhecido para todos nós." Merkel, porém, frisou que "em uma democracia, a política nunca é impotente contra as empresas". Merkel lança livro de memórias Merkel está lançando um livro de memórias, em que recapitula sua trajetória desde a juventude na antiga Alemanha Oriental até os anos na política à frente da Alemanha reunificada. A obra chega nesta terça-feira (26/11) às livrarias, e é aguardada com expectativa e curiosidade, dada a personalidade reservada da alemã, que raras vezes se pronunciou desde que deixou o governo. Na mesma entrevista ao Der Spiegel, Merkel também alfinetou o partido alemão de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), segundo mais bem cotado nas pesquisas, acusando-o de usar as redes sociais para inflamar os ânimos do eleitorado. Na opinião dela, o papel da política deveria ser justamente o oposto, mais conciliador. A Alemanha, que atravessa no momento uma crise política e viu ruir a coalizão de governo entre social-democratas, verdes e liberais, terá eleições antecipadas ao Parlamento em 23 de fevereiro de 2025. O partido de Merkel, o conservador CDU, deve voltar ao comando do país. ra (DW, ots) |
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Short teaser | Em entrevista, ex-chanceler da Alemanha defendeu equilíbrio entre interesses "dos poderosos e dos cidadãos comuns". | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/influência-de-musk-no-governo-trump-preocupa-merkel/a-70867999?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/69688983_354.jpg | ||
Image caption | "Quando uma pessoa como ele [Musk] é dono de 60% de todos os satélites que orbitam no espaço, então isso deve nos preocupar enormemente", afirmou Angela Merkel à revista alemã "Der Spiegel" | ||
Image source | Carsten Koall/dpa/picture alliance | ||
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Item 8 | |||
Id | 70857874 | ||
Date | 2024-11-23 | ||
Title | Consciência Negra: conheça Negro Cosme, de escravizado a líder dos marginalizados | ||
Short title | Negro Cosme: de escravizado a líder dos marginalizados | ||
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Revolta da Balaiada, da qual Cosme foi um dos principais mobilizadores, uniu escravizados, vaqueiros, lavradores, indígenas e outros grupos marginalizados em busca de melhores condições de vida no Maranhão. Em seu auge, a chamada Revolta da Balaiada chegou a reunir 12 mil pessoas no Maranhão. Quando o movimento começou, em 1938, Cosme Bento das Chagas (1800 ou 1802-1842) estava preso. No ano seguinte, fugido da prisão, ele arregimentou milhares de ex-escravizados, reorganizou o Lagoa Amarela — o maior quilombo da história maranhense, localizado na Fazenda Tocanguira — e se juntou à insurreição, tornando-se um de seus principais líderes. Conhecido como Negro Cosme, a essa altura ele já era uma figura popular. Desde que havia conseguido sua alforria, no fim dos anos 1820, ele se dedicava a formar quilombos e ajudar escravizados a escapar de seus senhores. Autointitulou-se Dom Cosme Bento das Chagas, Tutor e Imperador da Liberdade Bem-Te-Vi. Leia mais conteúdos relacionados ao Dia da Consciência Negra "Fornecia alforrias assinadas por ele ou obrigava proprietários de escravos a fazê-lo. Dava aos ex-escravizados trabalho remunerado nas fazendas. Como alguém que viveu os horrores da escravidão, o Negro Cosme almejava a liberdade dos escravos e agia dentro das possibilidades locais, o que fez dele um grande líder", explica o historiador Yuri Alhadef, pesquisador na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Defensor da liberdadeCosme dizia que sua luta era a "guerra da lei da liberdade republicana" e chegou a criar uma organização bastante peculiar em seu quilombo. "A singularidade do Negro Cosme está no fato de ele ser minimamente alfabetizado, algo não comum entre os escravizados", salienta Alhadef. Acreditando na igualdade entre todos, ele entendia que era preciso capacitar seu grupo para que, assim, houvesse força para vencer o sistema escravagista. Em Lagoa Amarela, foi fundada uma escola básica. "Gosto de pensar que por mais que estejamos falando de um personagem que tem contornos de herói, sua contribuição é muito mais bem entendida se não tão individualizada", pontua o historiador Francisco Phelipe Cunha Paz, pesquisador na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da Associação Brasileira de Estudos Africanos. "Dom Cosme parecia ter bastante consciência de formas de governanças tradicionais negro-africanas e dos ideais republicanos de cidadania e liberdade." Devoto de Nossa Senhora do Rosário, ele também trazia elementos do catolicismo popular em sua ideologia. Costumava dizer que seu movimento era o "partido sagrado dessa irmandade", referindo-se aos que rezavam para a santa. A BalaiadaA revolta popular e social que teve Cosme como uma das lideranças ocorreu de 1828 a 1841 no Maranhão e foi uma das que abalaram o período monárquico brasileiro. Incomodados com o que consideravam ser uma má gestão do governo local e enfrentando uma grave crise no comércio de algodão, grupos marginalizados se uniram em protesto. Entre os estopins estiveram os casos de um fabricante de balaios (cestos típicos feitos na região) que havia sido vítima de violência policial e de um vaqueiro que se revoltou com a detenção de seu irmão, que ele considerava injusta. O movimento teve vários levantes sucessivos e, com o passar do tempo, passou a arregimentar diversos grupos considerados marginalizados na sociedade maranhense, incluindo escravizados e ex-escravizados, lavradores, indígenas, ex-policiais, vaqueiros e camponeses pobres em geral. Foi uma guerra civil. "O caso da Balaiada mostra o processo de articulação que existia entre os descontentes: escravizados e libertos com outros grupos sociais, como brancos pobres", comenta o historiador Philippe Arthur dos Reis, pesquisador na Unicamp. "Os balaios [participantes da revolta] constituíam um grupo heterogêneo e tinham anseios diversos, com seu espaço próprio de experiência, que os conduziam nas suas ambições e modos de enfrentar as batalhas travadas contra as autoridades locais", acrescenta Alhadef. "O grupo do Negro Cosme aparece como mais homogêneo por ser constituído por escravos, o que fez com que as autoridades da época tratassem esse grupo como um movimento a parte, como uma 'revolta dos pretos'. O certo é que, mesmo com as diferenças entre os sertanejos balaios e os escravizados, algumas situações unificaram as suas lutas naquele contexto, e esses dois grupos puderam se unir na fase final do movimento", aponta o historiador. Escravidão como pauta central da revoltaCom o ingresso de Cosme, a Balaiada ganhou não só em número de revoltosos como também em causa: com recorrentes invasões a latifúndios, criando piquetes e provocando a insurreição de escravizados, os fazendeiros ficaram amedrontados; na pauta da ala liderada por Negro Cosme, que chegou a contar com 3 mil pessoas, o fim da escravidão era a tônica. "Sua causa era sem dúvida coletiva. Os rebeldes se apresentavam como defensores da liberdade", comenta o historiador Petrônio Domingues, professor na Universidade Federal de Sergipe (UFS). "Ele pretendia acabar com a escravidão. A pauta dos escravizados foi mote para a deflagração da Balaiada e, ao longo de todo o movimento, essa pauta assumiu centralidade." Conta-se que ele tinha uma boa visão estratégica, por isso estabeleceu alianças convenientes e conseguiu fazer com que o movimento resistisse a investidas das forças policiais. A cidade maranhense de Caxias chegou a ser cercada e tomada pelo grupo que, de lá, expandiu a revolta em direção ao Piauí. Medo de um levante negro aos moldes do HaitiA partir de 1840, o movimento se enfraqueceu. Por um lado porque o Império concedeu anistia aos rebeldes, o que fez com que muitos saíssem das frentes de batalha e retomassem suas vidas. Por outro, pelo comando militar do então coronel Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880), mais tarde Duque de Caxias, que conseguiu abafar boa parte dos levantes da região. Os que ainda não haviam capitulado eram todos parte do grupo de Cosme Bento — a essa altura, cerca de 200 negros. A guerra civil só terminaria em 7 de fevereiro de 1841, quando, após uma longa batalha ocorrida em Mearim (atual Bernardo do Mearim), no interior do Maranhão, ferido, Cosme foi capturado pelas forças legalistas. A maior parte dos que faziam parte de seu grupo morreu em combate. "Cosme Bento das Chagas e os seus seguidores foram as miras privilegiadas da violência liderada pelo futuro Duque de Caxias, focado na luta contra os revoltosos de procedência cativa", diz Alhadef. Preso, ele enfrentou um processo de mais de um ano até ser condenado à forca. Foi executado em setembro de 1842, em frente à Cadeia Pública de Itapecuru. "O fim de Dom Cosme ajuda a entender o que precisava ser sufocado naquele período de um Brasil territorial e demograficamente negro, que já via a escravidão perder suas forças e ideais republicanos emergirem: o risco de um levante negro aos moldes da Revolução do Haiti [ocorrida] no final do século 18 e início do 19", analisa Paz. "Esse temor […] e o medo do que uma rebelião escrava, ou camponesa como a Balaiada, pudesse causar aos interesses políticos e econômicos das elites dará unidade à classe senhorial e garantirá a subcidadania negra no projeto de nação branca no Brasil." |
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Short teaser | Balaiada, da qual Cosme foi um dos mobilizadores, uniu escravizados e outros grupos marginalizados no Maranhão. | ||
Author | Edison Veiga | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/consciência-negra-conheça-negro-cosme-de-escravizado-a-líder-dos-marginalizados/a-70857874?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Consci%C3%AAncia%20Negra%3A%20conhe%C3%A7a%20Negro%20Cosme%2C%20de%20escravizado%20a%20l%C3%ADder%20dos%20marginalizados |
Item 9 | |||
Id | 70860986 | ||
Date | 2024-11-22 | ||
Title | Pesquisa mostra antepassados escravizadores de Sarney e Itamar | ||
Short title | Pesquisa mostra linhagem escravizadora de Sarney e Itamar | ||
Teaser |
Segundo levantamento da Agência Pública, ex-presidente José Sarney teria antepassado que combateu Balaiada e "patriarca do sertão", e trisavô de Itamar Franco teria participado da negociação de escravizados. Este texto faz parte do Projeto Escravizadores, uma investigação inédita da Agência Pública. O trabalho foi financiado pelo Pulitzer Center e republicado pela DW. Na entrada de Oeiras, cidade de quase 40 mil habitantes no centro do Piauí, um "herói" brasileiro foi imortalizado em uma construção que celebra a data mais importante do calendário oficial do estado. O Monumento 24 de Janeiro, inaugurado em agosto de 2021 após anos de idas e vindas e promessas frustradas de governantes, destaca os feitos de Manuel de Sousa Martins [em grafias antigas, o sobrenome Sousa aparece também com Z], o primeiro barão e visconde da Parnaíba. Ele foi responsável, segundo a história oficial, por consolidar a independência do Piauí, justamente em 24 de janeiro de 1823, na própria Oeiras, então capital do Piauí, quando se declarou ao lado de dom Pedro I e lutou no confronto sangrento da Batalha do Jenipapo, uma das batalhas da independência do Brasil. Mas o legado do visconde da Parnaíba não se resume aos louros da guerra e da adesão do Piauí ao Estado imperial brasileiro. Martins era pecuarista, dono de grandes fazendas herdadas do pai, que tinha o mesmo nome do filho. Nessas propriedades, o visconde teria usado o trabalho de escravizados. Segundo pesquisa da Agência Pública, que mapeou a genealogia de mais de cem autoridades brasileiras, o visconde é o quinto avô do ex-presidente brasileiro José Sarney, primeiro a governar o país após o fim da ditadura de 1964 e responsável por consolidar o clã familiar dos Sarney no controle do estado do Maranhão. Além de Sarney, a Pública encontrou na linhagem de mais três ex-presidentes antepassados que teriam mantido mão de obra escravizada: Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco. A herança escravizadora do patriarca do sertãoA linhagem de Sarney vai longe, muito longe. Para contar a história do seu quinto avô, visconde da Parnaíba, que viveu entre 1767 e 1856, é preciso voltar ainda mais no tempo. Os antepassados do ex-presidente podem ser identificados com certa facilidade até quase o ano 1500, quando Pedro Álvares Cabral desembarcou em Porto Seguro. Isso porque Sarney descende de uma família tradicional que tem envolvimento com a política brasileira há séculos, os Coelho Rodrigues. A memória dessa família é muito bem preservada, pela quantidade de cargos públicos e posses que seus membros tiveram ao longo dos anos, o oposto do que ocorre com os antepassados de pessoas negras descendentes de escravizados. Talvez o membro mais antigo da família que ainda guarda notoriedade atualmente seja Valério Coelho Rodrigues, avô do visconde da Parnaíba e sétimo avô de Sarney. Valério, que nasceu em Portugal, na freguesia de São Salvador do Paço de Sousa, em 1713, foi um dos principais colonizadores do interior do Piauí, apelidado de "patriarca do sertão". O sobrenome Coelho Rodrigues vem de seus avós portugueses, Francisco Coelho e Bento Rodrigues, nascidos no século 17. Valério ocupou diversos cargos na então capitania do Piauí, desde juiz até ouvidor-geral. Ele era dono da fazenda do Paulista, que ficava num arraial de mesmo nome – a região se tornaria o que hoje é o município de Paulistana. Como muitos homens donos de terra no seu tempo, ele também seria um escravizador. A Agência Pública encontrou registros de pessoas que teriam sido escravizadas na propriedade de Valério, que foram reunidos por um grupo de genealogia dedicado ao próprio patriarca. "Aos três de agosto de mil setecentos secenta e sete na Fazenda do Paulista Ribeira do Canindé, batizei solenemente e pus os santos óleos a Euzebio filho de Maria Rodrigues preta angolla solteira, escrava de Valério Coelho Rodrigues, pai incógnito" [sic], diz um registro de batismo. Outros documentos dão conta de batismos de Florêncio, filho de Theodozia, em 1768; de Maximiniano filho de Anna, em 1773; de Ignacia, filha de Benta, em 1774; e de Luiza, filha de Quiteria, no mesmo ano. Em comum, Theodozia, Anna, Benta e Quiteria são todas identificadas como "escravas de Valério Coelho Rodrigues", na fazenda do Paulista. A história oficial dá tanta importância ao "patriarca do sertão" que foi criado um prêmio que leva o seu nome: a Ordem Estadual Valério Coelho Rodrigues, decretada em 19 de agosto de 2013 pelo então governador do Piauí Wilson Nunes Martins, na época filiado ao PSB. O próprio ex-governador é um dos herdeiros de Valério – como indica o sobrenome Martins, o mesmo do visconde da Parnaíba. Ele foi homenageado também pelo Tribunal de Justiça do Piauí no ano passado, quando o presidente do tribunal discursou a favor de Valério e se tornou sócio benemérito da Associação de Descendentes de Valério Coelho (ADVC), criada para preservar a memória do patriarca e congregar seus descendentes que até hoje se reúnem em eventos no estado. Falecido em 1782, o patriarca deixou posses ao seu filho Manuel, que, por sua vez, repassou o legado para seu herdeiro, também chamado Manuel, homem que se tornaria o visconde da Parnaíba. O herói que garantiu a independência do Piauí e a continuação da escravidãoManuel de Sousa Martins é celebrado como um dos nomes de maior sucesso da linhagem de Valério Coelho Rodrigues. Isso porque, em 1823, ele ajudou a consolidar a adesão do Piauí à independência do Brasil, que havia sido proclamada no ano anterior pelo imperador dom Pedro I, às famosas margens do rio Ipiranga, em São Paulo. Martins foi um dos responsáveis por comandar tropas locais contra os portugueses no norte do Piauí, na região do delta do Parnaíba. As tropas lusitanas foram para o interior, em direção a Oeiras, e no caminho foram interceptadas pelos separatistas, como relembra estudo de Pedro Vilarinho Castelo Branco, do Departamento de História da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A chamada Batalha do Jenipapo é frequentemente referenciada como o conflito armado mais sangrento pela independência do país – o humorista Whindersson Nunes chegou a anunciar que faria um filme sobre o evento. Na ocasião, os brasileiros enfrentaram os portugueses comandados por João José da Cunha Fidié. Com a contribuição na batalha e uma inteligente articulação política feita após a batalha, estava selado o legado de herói libertador do Piauí, e Martins se tornou o primeiro presidente da província, desbancando outras lideranças. Em 1825, ele seria agraciado com o título de barão da Parnaíba, por dom Pedro I, após ter atuado em prol do imperador contra revoltas como a Confederação do Equador, quando Pernambuco e parte das províncias da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará tentaram a independência. Antes mesmo de conquistar a glória no Piauí, Martins já seria conhecido como proprietário de terras e de pessoas escravizadas. Ele herdaria, pelo pai, diversas fazendas, onde seguiria usando mão de obra escravizada, tal qual seu avô e seu pai teriam feito. "Manuel de Sousa Martins era um grande proprietário de terras e escravos e vice-presidente da Junta Governativa em 1821", descreve a tese de doutorado de Francisca Raquel da Costa, da pós-graduação em História Social da Universidade Federal do Ceará (UFC). Segundo os registros, em 1826, período em que o presidente da província era o barão da Parnaíba, a população total do Piauí seria de 84,4 mil pessoas, sendo 25,1 mil delas escravizados (identificados como pretos, pardos e mulatos). No trabalho, que analisa a escravidão e reescravização de pessoas livres no Piauí no século 19, a pesquisadora aponta como o herói do estado também seria responsável por reprimir a revolta da Balaiada na província. A insurreição, que começou no Maranhão, mas se espalhou para o Piauí e Ceará, durou entre 1838 e 1841 a partir da rebelião de pessoas pobres contra medidas autoritárias, como o recrutamento obrigatório. Segundo a tese, o barão da Parnaíba seria "conhecido como implantador de uma ditadura rural no Piauí", devido à legislação que permitia o recrutamento forçado de homens e jovens para lutar contra os revoltosos. O trabalho resgata inclusive a história de um jovem "mulato" de 16 anos, Luiz Mandy, que teria sido enviado para a luta e ficou anos lutando pela sua liberdade contra um coronel. "Nesse período, o presidente da província era Manuel de Sousa Martins também conhecido como o Barão da Parnaíba e que ficou muito famoso devido à força com a qual comandou a província durante seu governo e também a repressão que organizou juntamente com os líderes de cada região do Piauí, inclusive Miranda Ozório, em relação ao movimento de insurreição", descreve. O clã Sarney no MaranhãoA linhagem de Valério Coelho Rodrigues, como apontamos, levaria a uma família numerosa, que até hoje mantém, orgulhosa, sua genealogia. Essa linha começa com o filho do visconde, José de Sousa Martins, que teria atuado junto ao pai na independência do Brasil, mas também na repressão à Balaiada. Ele é pai de Leopoldina Ferreira de Sousa Martins, mãe de João Leopoldino Ferreira, que foi juiz e bisavô de Sarney. João é pai de Assuero Leopoldino Ferreira, avô de Sarney, que se mudou para o Maranhão. Ele teve Kyola Ferreira de Araújo Costa, mãe de Sarney, nascida em Pernambuco, mas que também foi para o Maranhão. Ela, por sua vez, se casou com Sarney de Araújo Costa, pai do ex-presidente, que, na verdade, foi batizado como José Ribamar. O nome Sarney viria do fato de ele ser conhecido como Zé do Sarney, devido à fama do pai, que foi promotor e desembargador do Tribunal de Justiça do Maranhão. Com um pai estabelecido na Justiça, Sarney fez carreira no Legislativo e no Executivo. A lista de cargos que ele ocupou é extensa – e costuma ser referenciada como a maior entre os parlamentares brasileiros vivos. Sarney ocupou o primeiro cargo há quase 70 anos, quando passou de suplente a deputado federal em exercício em 1955. Ele já foi filiado a cinco partidos (PSD, UDN, Arena, PDS e MDB), senador pelo Maranhão e Amapá, governador do Maranhão, presidente do Senado e, talvez o cargo mais conhecido, o primeiro presidente do país após o fim da ditadura de 1964, quando substituiu Tancredo Neves, morto em 1985 antes de tomar posse. Sarney também instalou sua linhagem no poder: seu filho José Sarney Filho foi deputado federal nove vezes seguidas; sua filha, Roseana Sarney, deputada federal, governadora do Maranhão e senadora; e o neto José Adriano Cordeiro Sarney, deputado estadual. A família Sarney controla o maior grupo de comunicação do Maranhão, o Mirante, tem laços com grandes grupos empresariais de comércio e até mesmo da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), através do seu filho Fernando José Macieira Sarney. O trabalho de doutorado de Elthon Ranyere Oliveira Aragão, na Universidade Federal de Sergipe (UFS), descreve bem a teia de relações dos Sarney no Maranhão, apontando como a maioria dos deputados estaduais era eleita com apoio do clã. "Além disso, retribuições em forma de doação de concessões de radiodifusão eram comuns, principalmente quando José Sarney foi presidente da república na segunda metade da década de 1980. Os políticos que por ventura perdessem as disputas nos municípios ainda eram agraciados com cargos na administração estadual, através de secretarias (titulares ou adjuntas) no período estudado", diz. Questionado sobre as relações com o herói da independência do Piauí e seu passado escravizador, Sarney respondeu à Pública que "se eu tivesse vivido na época de meu pentavô, tendo recebido a sua pergunta, eu diria: 'Vou puxar a orelha desse Visconde, que deve libertar todos os seus escravos, pois sou abolicionista e vou, ao longo do séc. XIX, ao lado de Joaquim Serra e Joaquim Nabuco, cada vez mais, lutar por essa causa.'" "E acrescentaria que 'eu, no futuro, apresentaria (como apresentei) o primeiro projeto no Brasil das quotas raciais para ascensão da raça negra e ainda que criaria a Fundação Palmares durante a comemoração dos 100 anos da Abolição da escravidão'." O ex-presidente ainda completou: "O meu ancestral mais próximo, fruto do meu amor e da minha admiração, é minha mãe, retirante da seca de 1921, de Pernambuco para os vales úmidos do Maranhão". Veja a resposta completa aqui. Os indícios de escravidão na linhagem de Itamar FrancoA pesquisa da Pública mostra ainda que trisavô do ex-presidente Itamar Franco, morto em 2011 devido a uma leucemia, teria participado de negociação de escravizados, inclusive de uma jovem de 16 anos, chamada Maria. A genealogia de Franco tem início no ano de 1898 – essa é a data mais antiga na linha do tempo exibida no site do Memorial da República do Presidente Itamar Franco, organização herdeira do Instituto Itamar Augusto Franco, ligada à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e responsável por guardar o histórico oficial do político. No ano, como destaca o Memorial, nasceu Augusto César Stiebler Franco, o pai de Itamar, um engenheiro que viria a falecer pouco tempo antes do nascimento do filho. O nome de Augusto, nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, acrescentou mais uma importante figura à linhagem dos Franco, que vai muito além do ano de 1898, a despeito do que consta na memória oficial. Segundo a Agência Pública apurou, há ao menos mais três ascendentes conhecidos de sobrenome Franco na família do ex-presidente: o avô, Arquimedes Pereira Franco; o bisavô, Atabalipa da Cayba Americano Franco; e o trisavô, Vicente Ferreira Franco. É justamente esse último antepassado que, segundo os registros históricos do Tabelionato do 1º Ofício do Fórum Desembargador Filinto Bastos, que a Pública acessou, teria participado da negociação de pessoas escravizadas. Os registros dão conta de ao menos três – um deles, uma jovem de 16 anos, chamada Maria, oferecida como garantia em uma transação como um imóvel qualquer. A reportagem questionou o Memorial para esclarecer os achados sobre a árvore genealógica e a relação do antepassado de Itamar com a escravidão, assim como fizemos com todas as autoridades citadas no Projeto Escravizadores. O Memorial respondeu que "o supervisor do Memorial da República Presidente Itamar Franco encontra-se de férias, não podendo participar do levantamento em questão dentro do prazo estipulado para resposta". O órgão enviou material publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, que foca na genealogia materna de Itamar. Itamar Franco assumiu a Presidência do Brasil entre 1992 e 1995, depois do impeachment de Fernando Collor de Melo. Nascido a bordo de um navio que fazia a rota entre Salvador e Rio de Janeiro, foi registrado na capital baiana. De família mineira, ingressou no Exército em Juiz de Fora (MG), onde também se formou como engenheiro. Também foi prefeito de Juiz de Fora, governador por dois mandatos em Minas Gerais e se elegeu senador pelo estado. Na vila, vendiam-se casas, vendiam-se MariasVicente Franco, nascido no Ceará, morreu no Rio de Janeiro em 1863, segundo o obituário da edição do jornal Correio Mercantil de 24 de abril. A causa, de acordo com o periódico, foi "febre algida", termo usado para descrever quadros febris causados por complicações após infecções. Antes de chegar ao Rio, o trisavô Franco teria vivido um tempo na Bahia, na antiga Villa do Arraial de Feira de Santanna, que mais tarde originaria a atual cidade de Feira de Santana. Isso é o que aponta o livro de notas número 4 da Villa, referente ao período de 1839 a 1847. O documento foi compilado pelo trabalho de conclusão do curso de história de Maria Alice de Sá Barbosa Mendes, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), de 2018. O livro de notas mostra que Vicente Franco teria hipotecado uma casa, isto é, oferecido o imóvel como garantia de uma dívida, na rua da Alegria, em 1842, por 920 mil-réis. Para ter uma comparação, com a ressalva de que é uma aproximação, na obra 1822 de Laurentino Gomes, uma libra esterlina valia cerca de 5 mil réis. Uma libra esterlina em 1822 valeria, hoje, cerca de 100 libras. Então, 920 mil réis valeria em torno de R$ 135 mil. No mesmo ano, há um segundo registro de hipoteca na mesma rua, dessa vez por 1 conto e 100 mil-réis, ou 1,1 milhão de réis. Este é sinalizado como um imóvel de Franco com a sua esposa, dona Antonia Delmira Franco, trisavô de Itamar. Quem recebeu a garantia, de acordo com as notas, foi o capitão Antonio Augusto Guimarais, com sobrenome escrito dessa forma. É justamente no mesmo ano, e na mesma Villa de Santana, que Vicente Franco teria participado da negociação de duas pessoas escravizadas, a primeira delas, Maria, de 16 anos. Em 14 de fevereiro de 1842, uma xará da jovem negociada, Maria Thomazia do Nascimento, assina uma escritura de empréstimo que tomou de Franco. No acordo, que valeu 166 mil-réis e teria duração de três meses, Maria, a escravizada, foi posta como garantia tal qual os imóveis da rua da Alegria, caso o empréstimo não fosse quitado. Assim como um imóvel, uma pessoa escravizada poderia ser colocada como garantia de um empréstimo, porque era vista como propriedade. Na Bahia, o preço médio de um escravizado em 1840 chegava a 450 mil réis, segundo o livro Ser Escravo no Brasil, de Kátia Mattoso. Dois dias depois, em 16 de fevereiro, o nome de Vicente Franco aparece novamente em um acordo envolvendo uma pessoa escravizada. Dessa vez, ele se chama Gonçalo, identificado como "crioulo". O acordo, no valor de 100 mil-réis, indica que Antonio Vidál Corrêa Lima, através do seu procurador e filho Antonio Lião Corrêa Lima, teria confirmado a compra de Gonçalo por Franco. Pessoas vendidas como coisasAs informações de compra e venda de pessoas escravizadas no passado de Feira de Santana são acessíveis graças aos registros históricos do Tabelionato do 1º Ofício do Fórum Desembargador Filinto Bastos. Uma série de documentos que vão de 1830 a 1880 foi recuperada e digitalizada pela UEFS e pelo Tribunal de Justiça da Bahia, num trabalho que buscou resgatar a história da escravidão na região. A catalogação do material teve como objetivo tornar mais prático o acesso aos documentos, auxiliando a comprovar a relação entre senhores e seus respectivos escravizados. Segundo o vice-coordenador do Cedoc, Aldo Silva, é muito comum não associarmos ao papel de escravizadores o nome de pessoas que desempenharam um importante trabalho social. "É o caso do padre Ovídio, que nomeia uma das praças centrais da cidade", diz. "Isso porque, por muito tempo, a população não acreditava que havia trabalho escravo aqui na cidade. E há um motivo para isso: proprietários de escravos sempre estiveram ligados ao poder econômico e político, à medida que promoviam uma imagem de que não havia resistência contra esse tipo de organização social." São justamente esses registros que mostram um terceiro acordo de pessoa escravizada que envolveria o antepassado de Itamar. Dois anos depois da negociação de Maria e Gonçalo, o nome de Vicente Franco, o parente do ex-presidente, aparece novamente nos registros, dessa vez sendo ele quem teria vendido Antonio, que era parte do dote da esposa, para Fortunato Mascarenhas José, por 500 mil-réis. Os documentos também indicam que Maria, a jovem escravizada dada como garantia em 1842 entre Vicente Franco e Maria do Nascimento, seria vendida um ano depois, para Anna Aguida Cerqueira, por 400 mil-réis. Os mesmos registros indicam que o capitão Antonio Augusto Guimarais – o mesmo homem que aparece na hipoteca da casa de Vicente Franco, em 1842 – teria negociado, um ano antes, um jovem escravizado de nome Faustino com Manoel Ferreira de Carvalho. A transação teria ocorrido por 120 mil-réis. De acordo com os registros, um escravizado também de nome Faustino seria vendido, um ano depois, junto a um grande grupo de "mais de 20 pessoas escravizadas: homens, mulheres, idosos, crianças de 2 anos de idade, saudáveis e enfermos", numa grande transação de 70 milhões de réis que negociou em uma tacada o engenho chamado de Lixa, seus pastos, cercas e pessoas escravizadas. Mercado colonial girava à custa de escravizadosUm casal de quintos avós de Itamar Franco, Pedro Antonio da Fonseca e Joaquina Maria dos Prazeres, também teria sido dono de escravizados. Em 1802, um inventário dos bens da dupla, que eram lavradores de tabaco e pecuaristas, contou 17 pessoas escravizadas, sendo doze homens e cinco mulheres, dos quais oito eram crianças. Todos viviam na fazenda do Salgado, em São Pedro da Muritiba, parte do que é hoje o município baiano de Muritiba. Segundo os registros, era lá que vivia Inácio, identificado como crioulo, que trabalhava com "serviço da enxada" e "carreiro", avaliado em 140 mil-réis; Domingos, identificado como de origem angola, que era vaqueiro, também era usado no "serviço da enxada" e "valia" 140 mil-réis, e Francisco, igualmente notado como angola, do "serviço da enxada" e "fumeiro". O levantamento foi feito pela dissertação de mestrado de 2015 de Ana Paula de Albuquerque, do Programa de Pós-Graduação em História Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A pesquisa se baseou em inventários, o rol de fazendas e lavradores do Recôncavo, uma lista de enroladores de tabaco de 1809 e documentos de representações, petições e pareceres. Segundo o trabalho, a economia do Recôncavo baiano nos séculos 18 e 19 dependeu da mão de obra escrava, e os lucros que esse tipo de cultivo gerou acabaram potencializando o tráfico de pessoas. "O fumo, por sua vez, era a principal moeda de troca para a aquisição desses escravos [...] o tabaco da Bahia, além de ter sido produzido para abastecer o mercado europeu, alcançou elevados níveis de exportação através do comércio com a Costa da Mina, pois serviu de incremento para o tráfico de escravos", descreve. O casal Pedro da Fonseca e Joaquina dos Prazeres teve como filha Maria Magdalena do Espírito Santo. Ela, por sua vez, foi mãe de Joaquim Antunes da Fonseca, pai de Amélia Pires Pedreira de Cerqueira Lima. Já Amélia se casou com Atabalipa Franco, bisavô do ex-presidente Itamar e filho do casal Vicente e Antônia Franco, que estariam envolvidos nas negociações de pessoas escravizadas em Feira de Santana. |
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Short teaser | Levantamento da Agência Pública detalha a presença de escravizadores nas linhagens de José Sarney e Itamar Franco. | ||
Author | Bruno Fonseca, Mariama Correia, Danilo Queiroz (da Agência Pública) | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/pesquisa-mostra-antepassados-escravizadores-de-sarney-e-itamar/a-70860986?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 10 | |||
Id | 70863738 | ||
Date | 2024-11-22 | ||
Title | Bosch anuncia 5,5 mil demissões e culpa automobilísticas | ||
Short title | Bosch anuncia 5,5 mil demissões e culpa automobilísticas | ||
Teaser |
Impacto da crise na indústria automobilística gerou "necessidade de ajustes", diz empresa ao justificar os cortes. Maioria das demissões ocorrerá em fábricas na Alemanha.A multinacional alemã de produtos eletrônicos Bosch planeja cortar 5,5 mil empregos, em meio à crise na indústria automobilística, afirmou uma porta-voz da empresa nesta sexta-feira (22/11). A direção da Bosch, segundo a porta-voz, justificou a decisão ao mencionar uma "necessidade de ajustes" diante das dificuldades enfrentadas pelo setor automotivo. Mais de dois terços desse empregos, em torno de 3,8 mil, estão na Alemanha. "Temos que adaptar nossas estruturas para um ambiente de mercado em transformação e reduzir custos de maneira sustentável para reforçar nossa competitividade", afirmou em nota um dos diretores da empresa, Stephan Hoelzl. Os cortes planejados foram um "tapa na cara", dos trabalhadores, disse o chefe do conselho de funcionários da divisão automotiva da Bosch na Alemanha, Frank Sell. Ele prometeu resistir à medida. Apesar do anúncio da direção, o número de demissões ainda vai depender de negociações com os representantes dos funcionários. Maioria dos cortes na Alemanha A Bosch já anunciara em dezembro de 2023 planos para cortar 1,5 mil empregos em sua divisão de peças para automóveis, devido às transformações que ocorrem na indústria automobilística da Alemanha como parte da transição para os veículos elétricos Segundo o conselho de funcionários, serão afetadas as unidades da Bosch em Leonberg, Abstatt, Renningen e Schwieberdingen no estado de Baden-Württemberg, e em Hildesheim, na Baixa Saxônia. A divisão Cross-Domain Computing Solutions, responsável, por exemplo, por sistemas de assistência e direção automatizada, deverá ser a mais afetada, com o corte de 3,5 mil funcionários até o final de 2027, cerca de metade destes na Alemanha. Até 2032, cerca de 750 empregos adicionais serão cortados na fábrica de Hildesheim, onde a Bosch fabrica produtos para eletromobilidade, 600 deles até o final de 2026. Há também planos de corte de custos para a divisão que produz sistemas de direção para automóveis e caminhões. Até 1,3 mil empregos serão eliminados na unidade de Schwäbisch Gmünd, também em Baden-Württemberg, entre 2027 e 2030, o que corresponde a mais de um terço da força de trabalho. Crise no setor automobilístico Os principais fabricantes de automóveis da Alemanha atravessam uma forte crise, com a Volkswagen planejando fechar fábricas e cortar milhares de empregos, algo sem precedentes na Alemanha. "A produção global de veículos estagnará este ano em cerca de 93 milhões de unidades, se não diminuir ligeiramente em comparação com o ano anterior", disse a Bosch. Uma ligeira recuperação, na melhor das hipóteses, é esperada no próximo ano em meio a uma sobrecapacidade considerável na indústria. De acordo com a Bosch, os fabricantes precisam de significativamente menos peças para veículos elétricos, por exemplo, o que gera ociosidade de pessoal. A pressão competitiva e de preços também se intensificou. Além disso, o cenário no mercado para tecnologias futuras ficou abaixo das expectativas da empresa, com a demanda por sistemas de assistência ao motorista e soluções para direção automatizada significativamente aquém do que se projetava. Muitos desses projetos estão sendo adiados ou cancelados pelos fabricantes, disse a empresa. A diretoria da Bosch afirma pretender enfrentar esse cenário promovendo o acúmulo de funções entre seus funcionários e a redução de custos. rc (DPA, AFP) |
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Short teaser | Impacto da crise na indústria automobilística gerou "necessidade de ajustes", diz empresa ao justificar os cortes. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/bosch-anuncia-5-5-mil-demissões-e-culpa-automobilísticas/a-70863738?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | "Temos que adaptar nossas estruturas para um ambiente de mercado em transformação e reduzir custos", afirma direção da empresa | ||
Image source | Alicia Windzio/dpa/picture alliance | ||
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Item 11 | |||
Id | 70832666 | ||
Date | 2024-11-22 | ||
Title | Inteligência artificial: a nova arma na luta contra a resistência a antibióticos | ||
Short title | IA: a nova arma na luta contra a resistência a antibióticos | ||
Teaser |
Com a ajuda da inteligência artificial, pesquisadores descobrem novos agentes antimicrobiais. Especialistas veem potencial para tratamentos mais eficientes e com menos efeitos colaterais.Infecções resistentes a antibióticos matam milhões de pessoas todos os anos. Elas evocam a lembrança de um passado difícil para a humanidade, em que males comuns como infecção urinária e pneumonia eram letais e intratáveis pela medicina. A resistência antimicrobiana (RAM) ocorre quando germes causadores de infecções – como bactérias, fungos, vírus e parasitas – conseguem sobreviver a medicamentos usados para exterminá-los. A RAM põe em risco o tratamento e prevenção eficaz de um número cada vez maior de doenças. É um problema de saúde pública, impulsionado pelo uso excessivo de antibióticos na pecuária e em hospitais. A boa notícia é que a ciência fez um avanço significativo na busca de soluções para esse mal. Uso de IA para descobrir novos antibióticos "A resistência aos antibióticos ainda está longe de ser resolvida, mas houve muitos avanços, tanto na melhor compreensão quanto em melhores práticas para descobrir novos antibióticos [que superem a resistência antimicrobiana]", afirma Luis Pedro Coelho, biólogo computacional da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália. Um estudo coautorado por Coelho e publicado na revista Cell em julho apresentou um enorme banco de dados com quase um milhão de potenciais compostos de antibióticos. Sebastian Hiller, que é biólogo da Universidade de Basel, na Suíça, e não participou do estudo, diz que o estudo prova que há razões para otimismo no combate à resistência antimicrobiana. "Este é apenas um exemplo de pesquisas atuais que mostram que nossas capacidades científicas para combater superbactérias são enormes." O estudo de Coelho usou aprendizado de máquina (machine learning) para buscar potenciais agentes antibióticos em um enorme banco de dados de micróbios presentes no solo, no oceano, e no trato intestinal de humanos e animais. "As bactérias lutam constantemente entre si nesses ambientes, usando peptídeos como armas de combate, que são disparados contra outras bactérias para matá-las. Os pesquisadores exploraram esse espaço para encontrar peptídeos antibióticos e descobriram algumas joias escondidas", explica Hiller. O algoritmo analisou bilhões de potenciais sequências proteicas, selecionando depois os melhores candidatos a um bom desempenho antimicrobiano. No total, foram previstos 863.498 novos peptídeos antimicrobianos. Destes, mais de 90% nunca haviam sido descritos antes pela ciência. Segundo Coelho, todos os peptídeos têm o mesmo mecanismo geral de ação para matar bactérias, atacando as membranas celulares que as protegem do ambiente. "Também vimos que alguns peptídeos são mais eficazes contra certas cepas bacterianas do que outros, mas ainda não podemos prever exatamente o motivo ou [dizer] qual peptídeo funcionará contra qual bactéria", disse Coelho à DW. Peptídeos antibióticos têm ação eficaz contra infecções bacterianas Para descobrir quais desses peptídeos poderiam ser usados como antibióticos, os pesquisadores sintetizaram e testaram a eficácia de 100 deles contra 11 cepas bacterianas causadoras de doenças. Os testes foram feitos em placas de laboratório. Os cientistas descobriram que 79 peptídeos conseguiram romper as membranas bacterianas, e que 63 peptídeos atacaram especificamente bactérias resistentes a antibióticos, como a Escherichia coli (E.coli) – que provoca doenças no trato gastrointestinal, entre outros males – e a Staphylococcus aureus – desencadeadora, entre outras doenças, da pneumonia. Os pesquisadores também fizeram testes em camundongos com abscessos cutâneos infectados, mas apenas três dos peptídeos demonstraram efeitos antimicrobianos em organismos vivos. "Isso indica que sua eficácia pode ser limitada", pondera Seyed Majed Modaresi, do Instituto para Engenharia Médica e Ciência do MIT, nos Estados Unidos. "Ainda assim, este é um resultado notável", emenda, explicando que os peptídeos podem ser uma alternativa muito melhor diante dos "graves efeitos colaterais" associados a antibióticos mais agressivos, como as polimixinas. Modaresi também não participou do estudo. Achados promissores diante da resistência a antibióticos A equipe de Coelho liberou o acesso aos dados da pesquisa, permitindo que outros cientistas revisem os 863.498 peptídeos e desenvolvam medicamentos antibióticos para usos específicos. Por exemplo, outros pesquisadores poderiam ajustar as propriedades dos antibióticos para minimizar os efeitos nas bactérias "do bem" presentes no intestino humano – muitos antibióticos atualmente em uso atacam a microbiota intestinal benéfica, o que pode acarretar sérios problemas de saúde. Além disso, cientistas também poderiam usar o conjunto de dados para criar antibióticos contra os quais as bactérias não desenvolvem resistência, algo que auxiliaria significativamente na luta de longo prazo contra a resistência antimicrobiana. Para Modaresi, o estudo demonstra como a inteligência artificial se tornou uma aliada na luta da ciência contra a AMR, já que o uso de IA "acelerou o processo de descoberta de novos antibióticos". O pesquisador afirma ainda que os peptídeos descobertos nesse estudo representam apenas um tipo de agente antimicrobiano, e que as mesmas técnicas poderiam ser usadas para descobrir muitos outros tipos de antibióticos, incluindo bacteriófagos (vírus que infectam bactérias). Já Hiller ressalta que, apesar de haver motivos para otimismo, o próximo grande desafio será criar agentes antibióticos que sejam viáveis comercialmente. "Só usamos novos antibióticos quando os antigos não funcionam mais. Isso é bom porque evita que as bactérias desenvolvam resistência a eles, mas significa que não são financeiramente viáveis", diz. Segundo ele, organizações de saúde e governos já trabalham para tornar a comercialização de antibióticos mais viável, de olho nos enormes conjuntos de potenciais antibióticos que os cientistas têm descoberto. |
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Short teaser | Com ajuda da IA, cientistas acham novos agentes antimicrobiais. Promessa é de maior eficácia com menos danos colaterais. | ||
Author | Fred Schwaller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/inteligência-artificial-a-nova-arma-na-luta-contra-a-resistência-a-antibióticos/a-70832666?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/68201623_354.jpg | ||
Image caption | Germes ultrarresistentes preocupam autoridades de saúde ao redor do mundo | ||
Image source | Dr.Gary Gaugler/OKAPIA/picture-alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/68201623_354.jpg&title=Intelig%C3%AAncia%20artificial%3A%20a%20nova%20arma%20na%20luta%20contra%20a%20resist%C3%AAncia%20a%20antibi%C3%B3ticos |
Item 12 | |||
Id | 70861286 | ||
Date | 2024-11-22 | ||
Title | "Radicalização deve crescer com problemas legais de Bolsonaro" | ||
Short title | "Radicalização deve crescer com problema legal de Bolsonaro" | ||
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Para coordenador do Observatório da Extrema Direita, Odilon Caldeira Neto, recentes atentados de extrema direita no país não são só um perigo, mas também um alerta à democracia.A sequência de atentados a instituições políticas no Brasil aponta para um aprofundamento do radicalismo no país. Em novembro, um homem morreu ao detonar dois explosivos na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF). A Polícia Federal revelou ainda um plano golpista para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que previa seu assassinato. Para o coordenador do Observatório da Extrema Direita e professor de História Contemporânea da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Odilon Caldeira Neto, é preciso estar alerta aos riscos trazidos por esse aumento. "À medida que os indícios, as averiguações, os problemas jurídicos de Bolsonaro e outras lideranças da extrema direita brasileira tendem a avançar, a radicalização e a contraposição contra as instituições democráticas aumentam também", afirma Caldeira Neto em entrevista à DW. O especialista destaca ainda que o país precisa enfrentar o extremismo de direita, para que o tema não caia no esquecimento. "O evento mais extremado não concretizou seus objetivos, mas o alerta precisa estar ligado porque o grau de radicalização da extrema direita brasileira estabelece uma relação com as instituições que não é apenas de crítica." DW: Diante desses episódios recentes de ação violenta, é possível dizer que o Brasil passa por um surto de terrorismo? Odilon Caldeira Neto: Eu diria que os indícios de terrorismo, a utilização do terrorismo como uma estratégia do extremismo de direita está envolta num cenário mais amplo, que é o cenário de naturalização do discurso da presença dos valores do extremismo de direita na sociedade brasileira. Não é um problema somente do campo político, é um problema que diz respeito a toda a sociedade, a formas inclusive exclusivistas de perceber a sociedade, a comunidade nacional e assim por diante. Então os eventos recentes são, na verdade, pontas de um iceberg mais profundo, que é justamente a naturalização e a presença do extremismo de direita na sociedade brasileira. Nesses últimos dez anos ou mais, a extrema direita se tornou um elemento ativo. O senhor pode detalhar como ocorreu essa naturalização? Como se passa da disseminação de um discurso de ódio para a formação de grupos de extrema direita que partem para a ação terrorista? É um fenômeno de dupla dimensão: uma institucional, que diz respeito à política formal; e uma mais subalterna, que é anti-institucional. Nessa dinâmica anti-institucional, coexistem no campo do extremismo de direita desde grupos voltados ao bolsonarismo, até outras ideologias políticas ainda mais radicais e violentas, como neonazismo, neofascismo, supremacistas brancos. Essas tendências existem no Brasil desde a transição democrática, para não dizer antes, mas existem momentos em que esses grupos se sentem legitimados e podem sair da profundeza das suas próprias limitações e ambições políticas, buscando não apenas assumir compromissos com lideranças políticas, e até mesmo atuando na vida material por meio de atentados. É necessário ponderar que esse fenômeno em alguma medida é retroalimentado pela própria dinâmica institucional, ou seja, com o processo de formação e chegada do bolsonarismo ao poder. Com seus processos de radicalização, essas bases extremadas sentiram-se mobilizadas para as suas atuações. Como esses grupos de extrema direita se organizam, se espalham e mobilizam apoiadores que passam do discurso à prática? Esses grupos se organizam e se articulam das mais diversas maneiras possíveis. Por exemplo, o campo bolsonarista é muito plural e muito fértil. Ele converte diversas subtendências: intervencionistas militares, grupos orientados para o resgate de valores do fascismo histórico e grupos que articulam uma importação de ideias da direita alternativa nos Estados Unidos. Quais são os objetivos dos grupos de extrema direita com essas ações mais violentas? O evento mais extremado não concretizou seus objetivos, mas o alerta precisa estar ligado porque o grau de radicalização da extrema direita brasileira estabelece uma relação com as instituições que não é apenas de crítica, não é apenas de uma contraposição episódica. Do 8 de Janeiro para cá, o bolsonarismo, sobretudo o mais extremado, não vê mais em um sistema político e na via política eleitoral uma forma legítima de atuação, não somente para eles, mas para a totalidade da sociedade brasileira. Então, eles vêm em grande medida que o inimigo agora são as próprias instituições democráticas, as suas lideranças e representações. Qual tipo de risco a democracia no país estaria submetida diante dessa mobilização ou avanço da extrema direita? À medida que os indícios, as averiguações, os problemas jurídicos de Bolsonaro e outras lideranças da extrema direita brasileira tendem a avançar, a radicalização e a contraposição contra as instituições democráticas aumentam também. Por isso, não é apenas um perigo, mas um alerta para que estejamos preparados e atentos à diversidade e a complexidade desse fenômeno. Enquanto a sociedade brasileira, e eu falo em termos inclusive das instituições políticas e da democracia, não discutir esse problema, o perigo continua ativo efetivamente. Não é possível colocar mais uma camada de esquecimento aos problemas dos ataques à democracia. Então esse tipo de atentado não é isolado, certo? A tese do lobo solitário faz sentido no caso da extrema direita no Brasil? Como as pessoas são captadas para esse tipo de movimento? A figura do lobo solitário vem sendo utilizada por alguns expoentes do campo bolsonarista com uma espécie de tábua de salvação, e busca estabelecer uma leitura de desvios patológicos, de perspectivas psicológicas e psiquiátricas para retirar essa figura do cenário mais coletivo, de uma comunidade forjada por valores políticos em comum, que têm inimigos políticos bem definidos e pessoas que são alvos prioritários. A noção de lobo solitário não retira um grau de socialização que estabelece a legitimidade para esses indivíduos em buscar esses atos extremados e atentados terroristas. O lobo solitário é um tipo de estrutura que diz respeito à inexistência nítida de uma cadeia de comando. No terrorismo em grande medida praticado no século 20, existia uma estrutura, existiam lideranças. O líder que falava e ditava as regras para aqueles que eram seus seguidores. Na atualidade, essa espécie de liderança é partilhada pela própria comunidade. Há lideranças que ultrapassam essas comunidades de radicalização. Muitas dessas lideranças estão em expoentes do campo político formal e em espaços estratégicos das instituições políticas da sociedade brasileira. Então o lobo solitário precisa ser lido como a figura que participou de uma alcateia de radicalização mobilizado em torno das ideias basilares da extrema direita brasileira. Qual é o perfil de quem participa e milita nesses grupos e chega a atitudes extremas? As vias de acesso a esse tipo de extremismo são das mais variadas. Elas podem partilhar desde questões individuais, figuras que não tem alto grau de sociabilidade, que se radicalizam nessas comunidades digitais em busca justamente de sociabilização, de solidariedade entre os seus pares. Mas, em grande medida, também há o fenômeno da radicalização em comunidade, exercido por lideranças que ocupam espaços estratégicos em pequenos grupos sociais e políticos. Por isso, as barreiras de contenção e as políticas de prevenção não são apenas as políticas, legais, não são apenas as questões do ponto de vista educacional, é necessário um esforço que consiga estabelecer a pluralidade desses caminhos que levam ao extremismo para conseguir construir as barreiras de contenção ao extremismo na sociedade brasileira e nas comunidades presentes em ambientes virtuais e reais. |
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Short teaser | Para coordenador do Observatório da Extrema Direita, recentes atentados de extrema direita são alerta à democracia. | ||
Author | Jéssica Moura | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/radicalização-deve-crescer-com-problemas-legais-de-bolsonaro/a-70861286?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/64321465_354.jpg | ||
Image caption | Em 8 de janeiro de 2023, bolsonaristas golpistas invadiram e depredaram sedes dos Três Poderes em Brasília | ||
Image source | Adriano Machado/REUTERS | ||
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Item 13 | |||
Id | 70859299 | ||
Date | 2024-11-22 | ||
Title | "Autocratas e ditadores fascinavam Trump", diz Merkel em livro de memórias | ||
Short title | "Autocratas fascinavam Trump", diz Merkel em novo livro | ||
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Ex-líder alemã revisita trajetória em "Liberdade". Nas memórias, relata "sensação ruim" após encontro com presidente dos EUA em 2017, e defende decisões de manter proximidade com a Rússia e barrar a Ucrânia na Otan. A ex-chefe de governo alemã Angela Merkel escolheu como título para seu livro de memórias nada menos do que Freiheit (Liberdade). Às vésperas do ansiosamente aguardado lançamento, a revista Zeit Magazin publicou alguns trechos instigantes, também sobre as interações da política conservadora com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Sobre o encontro entre ambos na Casa Branca, em março de 2017, logo após ele assumir o mandato, a ex-chanceler federal relata ter ouvido "uma série de perguntas" do magnata nova-iorquino, que queria saber sobre do histórico dela na Alemanha Oriental e da relação dela com Vladimir Putin. "Ele estava claramente muito fascinado com o presidente russo [...]. Nos anos seguintes, tive a impressão de que era atraído por políticos com tendências autocráticas e ditatoriais." O encontro, em que o mandatário republicano repetiu muitas das críticas à Alemanha feitas durante sua campanha eleitoral, deixou a então chanceler federal "com uma sensação ruim". Pedindo conselhos ao papa sobre TrumpSegundo Merkel, Trump "alegou que eu tinha arruinado a Alemanha ao aceitar tantos refugiados em 2015 e 2016, nos acusou de não gastar o suficiente com defesa e nos criticou por práticas comerciais injustas." Em especial a visão de tantos carros alemães em Nova York era "uma pedra no sapato dele". "Estávamos falando em dois níveis diferentes – Trump, no emocional; eu, no factual. Quando ele sequer prestava atenção aos meus argumentos, em geral era para transformá-los em novas acusações." A política democrata-cristã chegou a pedir conselhos ao papa Francisco sobre o assunto, pouco antes da cúpula de 2017 do G20, em Hamburgo. Sem mencionar nomes, ela lhe perguntou como deveria manobrar opiniões fundamentalmente díspares num grupo de personalidades importantes. "Ele entendeu logo e me respondeu diretamente: 'Curve, curve, curve, mas se assegure de que não vai quebrar.'" Ela gostou da imagem: "Nesse espírito, eu ia tentar resolver meu problema com o Acordo de Paris e Trump, em Hamburgo, embora não soubesse exatamente o que isso significava, em termos concretos." Em junho daquele mesmo ano, o então presidente americano retirou seu país do acordo do clima. Merkel ainda defende a RússiaFreiheit será lançado na terça-feira (26/11) em 30 países. Abarcando desde a juventude na República Democrática Alemã (RDA), sob regime socialista, aos 16 anos à frente do governo da República Federal da Alemanha (RFA) unificada, o volume de 736 páginas foi coescrito por Beate Baumann, consultora política de Merkel de longa data. Entre outros temas da política mundial, a ex-líder conservadora, atualmente com 70 anos, defende tanto sua política de manter laços estreitos com a Rússia, quanto sua decisão, na cúpula de Bucareste, em 2008, de barrar o ingresso da Ucrânia e da Geórgia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – ambas posturas severamente criticadas, sobretudo desde o início da guerra russa contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. "Eu entendia o desejo de se tornar membro da Otan o mais rápido possível, porque elas queriam ser parte da comunidade ocidental após o fim da Guerra Fria." No entanto a Aliança Atlântica tinha que considerar o efeito de cada novo filiado potencial em sua própria "segurança, estabilidade e capacidade de funcionar", justifica. Após a cúpula na capital da Romênia, Merkel voltou para casa com a sensação de que "nós, na Otan, não tínhamos nenhuma estratégia comum para lidar com a Rússia": muitos países da Europa Central e Oriental "pareciam desejar que o país simplesmente desaparecesse, que não existisse". "Seria difícil culpá-los, pois haviam sofrido por longo tempo sob o regime soviético [...]. Mas a Rússia, com seu arsenal nuclear, existia, sim, e era – e é – geopoliticamente indispensável." av/ra (AFP,KNA,ots) |
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Short teaser | Em suas memórias, ex-líder alemã relata encontro com presidente dos EUA em 2017 que a deixou "com uma sensação ruim". | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/autocratas-e-ditadores-fascinavam-trump-diz-merkel-em-livro-de-memórias/a-70859299?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 14 | |||
Id | 70852754 | ||
Date | 2024-11-22 | ||
Title | UE entre carência de mão de obra e políticas anti-imigração | ||
Short title | UE entre carência de mão de obra e políticas anti-imigração | ||
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À medida que as populações da Europa envelhecem, cresce a falta de trabalhadores especializados, sobretudo na saúde. Ao mesmo tempo, políticos de direita exigem restrições à imigração. Para os governos, um sério impasse.Com o avanço da ultradireita, a imigração ocupa o topo da agenda política da União Europeia (UE), e aumenta a pressão sobre os governos para que mantenham baixas as taxas de ingresso. No entanto, diversos países, mesmo os que sustentam uma postura ostensivamente anti-imigrantes, estão atraindo trabalhadores estrangeiros para preencher uma vasta lacuna de mão de obra e manter as economias nacionais em funcionamento, num continente que está envelhecendo. Quase dois terços das pequenas e médias empresas do bloco não conseguem encontrar os profissionais de que precisam, e a UE identificou 42 ocupações em que a escassez é extrema e elaborou um plano para compensá-la. Diante desse quadro, certos líderes europeus, sobretudo ultradireitistas, reivindicam acordos com países terceiros para restringir o afluxo de imigrantes ou deportá-los. Paralelamente, contudo, há sinais de um reconhecimento crescente da necessidade de reforço externo. Enfermeiras indianas para a Itália Na Itália, o governo populista de direita de Giorgia Meloni decidiu recrutar centenas de milhares de trabalhadores para cobrir as carências nacionais. Em 2023, anunciou que contava trazer um total de 452 mil estrangeiros até 2025, embora admitindo estar bem aquém da "necessidade detectada, de 833 mil". Segundo o Centro de Estudos e Pesquisa do German Institute of Development and Sustainability (IDOS), a Itália precisaria de 280 mil profissionais por ano até 2050 para superar suas faltas em 37 setores, entre os quais agricultura, turismo e, acima de tudo, saúde. Recentemente, Roma anunciou que recrutaria na Índia 10 mil enfermeiras para cobrir cerca de um terço de suas necessidades. Em outubro, o ministro italiano da Saúde, Orazio Schillaci, comentou que o país asiático dispõe de 3,3 milhões, portanto um superávit, de profissionais do setor. As cuidadoras seriam contratadas diretamente pelas regiões carentes, onde for necessário, assim que se confirme que dominam o idioma italiano. Segundo o professor de sociologia e especialista em migração Maurizio Ambrosini, da Universidade de Milão, o governo se viu forçado a mudar sua política por pressão da classe patronal: "Durante anos, os empregadores italianos estiveram muito silenciosos no debate sobre a imigração. Acho que eles não queriam uma luta com os partidos de direita. Mas agora a coisa mudou." Mesmo dentro da coalizão governamental ultradireitista, muitos consideram a nova política um forte revés para Meloni, que costumava criticar as políticas pró-imigração como parte de uma conspiração da esquerda para "substituir os italianos por imigrantes". O vice-prefeito da ilhota de Lampedusa, aonde chega grande parte dos migrantes que entram ilegalmente no país, Attilio Lucia, da populista de direita Liga, manifesta sua frustração: "Eu esperava que, agora que temos um governo direitista, a situação mudaria, mas a direita está ficando pior do que a esquerda." Holanda: empresariado coloca competência na frente da nacionalidade Na Holanda, o novo governo liderado pelo populista de direita Partido pela Liberdade (PVV), de Geert Wilders, tentou obter ser isento ou se excluir do sistema de asilo da União Europeia, que considera a medida "um direito fundamental e uma obrigação internacional para os países". No entanto, a mídia nacional tem sugerido que a exacerbada retórica anti-imigração perpetuada pela ultradireita faz os trabalhadores especializados se sentirem menos bem-vindos no país. Porém até mesmo esses grupos têm que encarar a realidade: as companhias holandesas necessitam mão de obra estrangeira para permanecer competitivas. Assim, é possível que o empresariado também tenha influenciado o reposicionamento governamental. A maior companhia do país, a fabricante de equipamento para produção de semicondutores ASML Holding, declarou que depende de funcionários altamente qualificados, não importa de onde venham. Assim, quase 40% de seus quadros são de estrangeiros, e ela defende que a imigração não deve ser restringida. "Erguemos a nossa companhia com mais de 100 nacionalidades", comentou em outubro o diretor executivo Christophe Fouquet na Cúpula Tecnológica Bloomberg, em Londres. "Trazer talento de todas as partes tem sido uma condição absoluta de sucesso, e isso tem que continuar." Uma das medidas estatais foi introduzir um incentivo fiscal para os trabalhadores imigrantes, reduzindo sua alíquota de 30% para 27%. Embora relativamente pequena, essa vantagem aparentemente vem atraindo muitos jovens empregados estrangeiros altamente capacitados. Alemanha aposta na Chancenkarte Em junho, a Alemanha introduziu a Chancenkarte (Carta Oportunidade), um esquema de permissão de residência permitindo a profissionais de fora da União Europeia procurarem trabalho no país. Até o fim de 2024 está prevista a concessão de 200 mil vistos. Para cobrir as necessidades de seu mercado, a Alemanha necessita cerca de 400 mil novos trabalhadores especializados por ano, sobretudo nos setores de engenharia, tecnologia da informação (TI) e saúde. A Índia é um de seus alvos: em vista recente, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, afirmou que seu país "está aberto para empregados especializados", prometendo reduzir os obstáculos burocráticos e aumentar o número anual de vistos para indianos, de 20 mil para 90 mil. Por outro lado, devido à ascensão da sigla populista de direita e anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD) nas eleições regionais e a um ataque a facadas na cidade de Solingen, no oeste alemão, o chefe de governo social-democrata abonou a instituição de controles nas fronteiras internas da UE para "restringir a migração". Em declaração, Scholz enfatizou a necessidade de "fazer baixar" a imigração irregular para a Alemanha, porém ressalvando que o país precisa de mão de obra capacitada. Política pública versus política silenciosa Praticamente todos os países-membros da UE se confrontam com o mesmo problema: falta de mão de obra numa população cada vez mais idosa. Apesar de um acréscimo da imigração, eles não querem dar a impressão de que incentivem os ingressos sem visto de permanência. Para o sociólogo Ambrosini, o problema é a dificuldade dos Estados europeus em conciliar duas políticas de imigração díspares. Uma é para consumo público, exigindo "acordos de controle de fronteiras, com países de trânsito como a Tunísia, ou de deportação para instalações no exterior, como o da Itália com a Albânia". "Por outro lado, está ficando claro que eles precisam de trabalhadores, e estão criando novas medidas para atrair mão de obra não só especializada, mas também sazonal. Essa segunda política é mantida um pouco oculta, não é divulgada demais, e talvez só seja visível para as associações patronais." No fim das contas, a questão é os governos poderem assegurar que têm o controle de quem está entrando e quem pode ficar, resume o professor da Universidade de Milão. "Mas isso é um mito, pelo menos em relação aos empregos 'de colarinho azul', porque os empregadores recebem daqueles que já estão na Europa as referências sobre quem contratar. Como é que o patrão vai saber quem trazer do Peru, por exemplo?" |
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Short teaser | Cresce a falta de trabalhadores, e políticos de direita exigem restrições à imigração. Para os governos, um impasse. | ||
Author | Anchal Vohra | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ue-entre-carência-de-mão-de-obra-e-políticas-anti-imigração/a-70852754?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/56069343_354.jpg | ||
Image caption | Itália enfrenta grave carência de mão de obra na saúde | ||
Image source | Matteo Bazzi/REUTERS | ||
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Item 15 | |||
Id | 70845432 | ||
Date | 2024-11-22 | ||
Title | Zeferina, a quilombola que organizava expedições para resgatar escravizados | ||
Short title | Zeferina, a quilombola que resgatava escravizados | ||
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De origem angolana, ela chegou a planejar uma invasão a Salvador no início do século 19. De acordo com historiador, sua vida foi pouco documentada, de modo que as narrativas sobre ela tendem a ter uma conotação mítica. A exposição Histórias Afro-Atlânticas, realizada em 2018 no Museu de Arte de São Paulo (Masp), resgatou e destacou as produções e o pensamento afrobrasileiro. Entre as personagens que foram trazidas ao público está Zeferina, retratada em quadro homônimo feito pelo artista contemporâneo Dalton Paula. "Para a exposição, e considerando o legado violento e de apagamento, quis criar uma contra-narrativa a partir da história desses personagens que foram grandes líderes, confabulando uma imagem que oferecesse às futuras gerações uma outra referência do corpo negro", recorda ele. "Como artista, temos a possibilidade, que é muito cara e preciosa, de forjar novas perspectivas de mundo." Ele mergulhou na história de Zeferina em um trabalho de pesquisa para fundamentar a obra. Conta que se deparou com histórias "de luta dos quilombos que se constituíram no período colonial" e "também aqueles presentes na atualidade, que continuam a construir frentes de liderança em defesa e preservação de seus territórios." "Conheci Zeferina pelo seu legado à frente do Quilombo do Urubu, na luta por direitos e liberdades, em pleno século 19, na Bahia, onde hoje está situada a cidade de Salvador", esclarece. "Sem dúvidas, para mim, o que é mais marcante em sua trajetória é o fato de ela ser uma mulher em um lugar de liderança. Sua coragem é inspiradora, e sua figura também me lembra as mulheres pretas atuais, que são chefes de família e provedoras." Quem foi ZeferinaNão se sabe exatamente quando e onde Zeferina nasceu, mas acredita-se que ela tenha origens angolanas e tenha chegado ao Brasil, ainda criança, trazida pela mãe, Amália. Escravizada, logo passou a se destacar como líder proeminente. Segundo Paula, ela era "reconhecida por sua sabedoria espiritual e habilidades de liderança", já que tinha aprendido com a mãe os "conhecimentos espirituais ancestrais". Zeferina teria então organizado fugas de negros e indígenas escravizados. O artista destaca ainda que ela "desempenhou um papel crucial na articulação de ataques às propriedades escravocratas" e que chegou a "planejar uma invasão a Salvador" — ideia esta frustrada. "Ela liderou corajosamente a resistência quilombola contra a opressão. Com um grupo de escravizados fugitivos ela criou o Quilombo do Urubu na região do atual bairro de Pirajá, em Salvador. Sob seu comando, o grupo conseguiu criar uma organização, cultivando a própria comida e praticando rituais de candomblé. "Era um desses quilombos expressivos, que causavam desagregação da ordem social vigente", contextualiza o historiador Philippe Arthur dos Reis, pesquisador na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dali, confabulavam e realizavam expedições para resgatar outros escravizados de fazendas da região. Essas operações de resgate passaram a incomodar mais e mais a elite escravocrata. Em dezembro de 1826, quando os guerreiros quilombolas estavam em Cabula, distrito próximo a Pirajá, uma tropa de 30 soldados foi enviada de Salvador para atacá-los. "Havia extrema tensão entre quilombolas e Salvador. O quilombo era na periferia da cidade, que estava em expansão e se aproximava do quilombo", contextualiza a historiadora Maria Helena Pereira Toledo Machado, professora na Universidade de São Paulo (USP). "Então veio a repressão." Armados com arcos, flechas, machados e lanças, os quilombolas conseguiram vencer a primeira batalha contra os militares. "Ela [Zeferina] e seu grupo lutaram com o que tinham. Eles não tinham acesso a pólvora e armas de fogo", comenta Machado. "Eles não tinham necessariamente um material bélico significativo. Usavam facas, lanças, instrumentos curtos", acrescenta Reis. Dias depois, contudo, chegou o reforço e veio o revide. Aí os quilombolas foram derrotados. "O quilombo foi completamente destruído", diz o historiador. Ele enfatiza que, segundo os relatos da época, as forças policiais encontraram grande quantidade de comida estocada na comunidade. "Isso demonstra que eles estavam em processo de formação de base para se estabelecer com maior longevidade", avalia. Zeferina foi presa apenas em 10 de janeiro de 1827. Em seu Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, o sociólogo Clóvis Moura (1925-2003), relata que em depoimento de um soldado que participou da diligência ficou registrado que não foi fácil: "a preta Zeferina […] custou bastante a entregar-se", ele declarou, enfatizando que durante a resistência dos quilombolas ela portou-se bravamente, lutando com "arco e flecha nas mãos". Na prisão, ela foi obrigada a confessar os planos futuros de resgatar mais escravizados, inclusive a abortada ideia de invadir Salvador. "Não havia projeto de tomada do poder. […] ao que parece a luta era pela conquista da liberdade, mas esse e outros episódios envolvendo Zeferina ou o Quilombo do Urubu precisam ser melhor investigados, do ponto de vista da pesquisa histórica", pontua o historiador Petrônio Domingues, professor na Universidade Federal de Sergipe. Moura afirma que não se sabe quando e onde ela morreu. Outra versões, como a defendida pelo artista Paula, dizem que depois de capturada ela foi executada no Forte do Mar, em Salvador. Legado"A história de Zeferina ainda é pouco documentada, de modo que as narrativas sobre ela tendem a ter uma conotação mítica, idealizada, sem respaldos, portanto, em fontes de época, produzidas ao longo da experiência de vida daquela personagem", comenta Domingues. "Há uma memória e uma tradição oral que precisam, ainda, serem cotejadas com fontes arquivísticas." "Seu legado perdura na história afro-brasileira e se entrelaça com o mito do urubu [nome do quilombo], uma ave que simboliza a conexão espiritual com a África", diz Paula. Ele explica que os africanos escravizados costumavam invocar esse animal "quando precisavam do poder ancestral, acreditando que ele podia voar até a África, reunir energia, o axé, de seus ancestrais, e retornar ao Brasil para fortalecê-los". |
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Short teaser | De origem angolana, ela chegou a planejar uma invasão a Salvador no início do século 19. | ||
Author | Edison Veiga | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/zeferina-a-quilombola-que-organizava-expedições-para-resgatar-escravizados/a-70845432?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 16 | |||
Id | 70841155 | ||
Date | 2024-11-21 | ||
Title | Por que é tão difícil traçar a genealogia de pessoas negras no Brasil? | ||
Short title | Por que é difícil traçar a genealogia de negros no Brasil? | ||
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Historiadores explicam em reportagem da Agência Pública os desafios da preservação da memória e da ancestralidade em um país onde mais de 55% da população é preta ou parda. Esse texto faz parte do Projeto Escravizadores, uma investigação inédita da Agência Pública. O trabalho foi financiado pelo Pulitzer Center e republicado pela DW. Se o futuro é ancestral, como recuperar a memória que se apagou? Como acessar as histórias que a escravidão combinou de silenciar? Enquanto uma parte da população se beneficiou do sistema da escravidão, pessoas negras sofreram duros impactos. Um deles foi o apagamento de suas identidades, culturas e genealogias. Durante pesquisa sobre antepassados escravizadores de políticos e autoridades brasileiras, a equipe de reportagem da Agência Pública percebeu uma dificuldade em comum ao fazer o levantamento das genealogias: ter acesso a informações sobre antepassados de pessoas negras e indígenas, assim como a falta de dados sobre ancestrais negros libertos ou pessoas escravizadas, como sobrenome, origem e descendentes. Geralmente, essas pessoas eram citadas apenas pelo primeiro nome ou por uma alcunha. Mesmo com mais de 55% da população sendo negra – considerando a soma dos grupos de pretos e pardos –, nosso país ainda tem dificuldade de preservar a memória e o orgulho de quem lutou por liberdade. Um caso emblemático é Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares. Sua história precisou ser recuperada da narrativa de imagens pejorativas contra ele, como conta Sueli Carneiro. Somente este ano, a data de sua morte, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, passou a ser celebrada como feriado nacional. Desde 2003, a Lei 10.639 determina a inclusão de história e culturas africanas no currículo escolar, mas uma pesquisa realizada no ano passado pela Pública revelou que sete em cada dez secretarias de Educação dos municípios fizeram pouco ou nenhuma ação para implementar esses conteúdos em suas programações. Este ano, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) provocou os estudantes sobre os "Desafios para a valorização da cultura africana no Brasil". Recuperar e manter essa memória é "um tema político do tempo presente", diz a professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Hebe Mattos. Ela é uma das responsáveis pelo "Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil". O projeto também virou o site "Passados Presentes – Memória da Escravidão no Brasil". "A historiografia da escravidão é fantástica para contar a experiência das pessoas negras que foram escravizadas. Mas sempre sobre documentos que estão coisificando essas pessoas. [O nome da pessoa escravizada] Está no inventário, está num processo de crime como escravo. Para você ter uma outra visão, que não essa, você só tem a memória e a tradição oral", explica. Resgatar registros históricos e memórias de pessoas escravizadas é um trabalho dificultado não apenas porque envolve processos de apagamentos, mas também por traumas sociais, individuais e familiares, e por processos históricos que foram colocados pela violência da escravidão, pela complexidade das hierarquias desse sistema, a miscigenação e, também, as migrações, explica a professora Hebe Mattos. "Há processos familiares de apagamento das memórias do cativeiro. É uma memória difícil, é uma memória traumática. E, quando ela está mais longe no tempo, sobretudo longe num tempo que passa a própria sociedade escravista, pode acontecer realmente uma quebra dessa memória", diz. Os processos de migração também têm um papel importante no apagamento de memórias e genealogias de famílias de pessoas negras que foram escravizadas, segundo a pesquisadora. Por isso, "mesmo com as famílias brancas ou esbranquiçadas você não vai além da terceira geração. Porque, quando a gente trabalha com os extratos mais subalternos, populares – estou pensando no campesinato, seja branco ou seja negro –, você tem um processo de migração, de desenraizamento, então de uma memória genealógica mais curta". "O silêncio sobre memórias coletivas é uma escolha de sujeitos do presente"A dificuldade de recuperar a genealogia de pessoas negras que foram escravizadas não é um problema de falta de documentos, diz a professora do Instituto Federal do Pará (IFPA) de Belém e doutora pela Universidade Federal do Pará (UFPA) Marley Antonia Silva da Silva. "O silêncio sobre memórias coletivas é uma escolha de sujeitos do presente. Temos que pensar na memória que a gente quer evocar, porque a gente só faz história partindo do presente. Eu penso que a memória não consegue se construir fora das coletividades negras que sempre existiram, que sempre se rearranjaram, que sempre se azeitaram", explica. Ela fez o parecer técnico do Memorial Afro-Amazônico que deve ser construído na capital paraense. Mesmo com mais de 70% da população no grupo de pessoas negras – considerando pretos e pardos – na cidade, a professora diz que "é o passado português que ainda continua muito vivo". "Uma das formas de descrição de Belém é: Belém é uma cidade morena. Belém não é morena, Belém é negra. E Belém não é negra de hoje, Belém é negra do período colonial", argumenta. As pesquisas sobre as figuras históricas de Mariana e Generalda, que lutaram pela liberdade em Belém no século 18, foram feitas com consultas às instituições de preservação de acervos, como o Arquivo Histórico Ultramarino, de Portugal, e o Arquivo Público do Pará. Mas a memória, segundo ela, se constrói também pelos relatos das pessoas mais velhas e pelo movimento negro. Mariana queria pagar sua alforria ao senhor Augusto Domingues de Sequeira, mas ele impediu por todos os meios. Africana, como era descrita, enviou seu pedido ao rei português dom João V. Não há informações sobre se seu pedido foi acatado. Na mesma Belém, no final do século 18, Generalda era mãe e queria alforriar a si mesma e seus três filhos: Vitório, Dionísio e Ignês. Contou com uma rede de apoio de familiares e amigos para lutar em busca do direito de ser quem ela era junto aos descendentes. Infelizmente, apenas sua liberdade e de um dos filhos foi conquistada. A família seguiu separada. Os núcleos familiares são, diz Marley Antonia Silva da Silva, uma das formas de resistência de histórias e identidades na escravidão. "A busca por memória é um direito individual e também coletivo", argumenta a professora. "O Estado, a imprensa, as instituições de ensino têm obrigação com a memória, com a memória coletiva, de nomear esse passado, de nomear as cores dos Estados, de dar nome aos sujeitos escravizados e não escravizados, dar nome a esses escravizadores e a seus não escravizadores. A memória é um direito coletivo pelo qual nós temos que lutar", defende. As sementes da memóriaSe as barreiras estão colocadas, a história pode ajudar a derrubá-las para chegar até a vida de quem foi escravizado, mas não foi reduzido à escravidão. Nilma Teixeira Accioli é professora doutora em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela descobriu que sua a tataravó, Margarida, foi escravizada pela família de Manoel Fernandes Barata, cuja família tinha terras em Campo Grande, no Rio de Janeiro. A partir dos relatos que ouvia da avó quando criança, sobre seus ancestrais que teriam sido escravizados, a pesquisadora passou a procurar os processos relacionados à família Barata. Ela descobriu que, ao ser capturada por mercenários ainda em solo africano, Margarida, sua ancestral originária de Angola, trouxe consigo uma semente de tinhorão – uma planta de folhas grandes e rajadas. No porão do navio para o Brasil, ela conheceu Gonçalo, do Congo. Hoje, seus descendentes têm um tinhorão plantado em suas casas. "Todo mundo da família tem a semente da batata do tinhorão. É como se a presença de vó Margarida e de vô Gonçalo estivessem sempre com a gente. Tenho muito orgulho de descender deles, não tenho orgulho deles terem sido escravizados. Tenho orgulho deles terem superado a escravização, terem formado a família deles, terem organizado a família de uma maneira que o amor persistiu durante tantas gerações. Esse tinhorão é um elo com vô Gonçalo e a vó Margarida", conta a professora. Descobrir a história de seus ancestrais foi, para Nilma Accioli, descobrir a si mesma. "Esse caminho é importante que as pessoas sigam. Procurem saber as suas identidades, porque a valorização da ancestralidade é que dá também o seu reconhecimento como ser humano. Você não nasceu do nada. Você nasceu de uma linha genealógica. E isso as pessoas deveriam começar a aprender até nas escolas de ensino fundamental." |
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Short teaser | Historiadores explicam os desafios da preservação da memória e da ancestralidade no país. | ||
Author | Pedro Ezequiel (Agência Pública) | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/por-que-é-tão-difícil-traçar-a-genealogia-de-pessoas-negras-no-brasil/a-70841155?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 17 | |||
Id | 70841367 | ||
Date | 2024-11-21 | ||
Title | Google conseguiria sobreviver sem o Chrome? | ||
Short title | Google conseguiria sobreviver sem o Chrome? | ||
Teaser |
O Departamento de Justiça dos EUA está propondo que o Google venda seu navegador, a fim de romper seu monopólio do mercado de buscas online. Se isso ocorrer, o que representaria para a gigante da internet? Em agosto de 2024, a gigante da internet Alphabet Inc. perdeu o maior processo antitruste de sua existência, quando um tribunal dos Estados Unidos entendeu que sua subsidiária Google estava monopolizando ilegalmente o mercado de busca online. Com base num slide divulgado durante a ação, ela foi acusada de ter pagado 26,3 bilhões de dólares (R$ 152,5 bilhões) em 2021, para se tornar o mecanismo de busca padrão nos telefones celulares e navegadores. A companhia anunciou que recorreria do veredicto, tachando-o de "excesso regulatório" que prejudicaria os consumidores. Em consequência da sentença, Departamento de Justiça dos EUA (DoJ) está agora propondo à Justiça que a Alphabet seja obrigada a vender seu navegador, o Chrome. "O comportamento ilícito da Google privou as rivais, não só de canais de distribuição críticos, como também de parceiros de distribuição que, de outro modo, poderiam permitir o ingresso de concorrentes nesses mercados, de maneiras novas e inovadoras", consta da ata publicada nesta quarta-feira (20/11). Em outubro, o DoJ já havia anunciando a intenção de impor "corretivos estruturais" para impedir a Google de usar parte de seus produtos. Além da proposta da venda do Chrome, o departamento também defende novas medidas relativas à inteligência artificial (IA) e ao sistema operacional para celulares Android. Autoridades antitruste e alguns estados americanos aderiram ao assim chamado "processo da década", pois iniciou-se durante o mandato de Donald Trump (2017-2021) e continuou sob o presidente Joe Biden. Ele marca o mais significativo esforço governamental para conter o poderio de uma multinacional tecnológica, desde a tentativa frustrada do DoJ para desmembrar a Microsoft, cerca de 20 anos atrás. O que o Chrome representa para a GooglePerder seu navegador seria um duro golpe para a Google: enquanto 90% das buscas online globais se realizam através de sua máquina, mais de 60% dos usuários recorrem ao Chrome para tal. Enquanto porta de entrada da Google para a internet, ele lhe permite promover seus próprios produtos e manter sua clientela, inclusive serviços como o Gmail para mensagens eletrônicas, e o Gemini para IA. Mais importante ainda, o Chrome é uma parte crucial do negócio central da Google, de venda de publicidade na internet. As buscas através dele lhe permitem coletar um volume de dados – tais como procedimentos de busca e websites preferidos – bem maior do que as realizadas por outros navegadores. A multinacional usa essa quantidade de informações para posicionar seus anúncios mais eficazmente. E publicidade é essencial para Google e sua matriz, a Alphabet: em 2023 esta faturou mais de 230 bilhões de dólares com essa atividade, de um ganho anual total de 307 bilhões de dólares. Segundo Nils Seebach, um dos diretores da consultora digital Etribes, "se o Chrome cair, a Google vai vacilar bastante". Na atual configuração, ele é "parte integral do modelo de negócios da Google, mas provavelmente não sobreviveria sozinho". E vice-versa: a venda do navegador também representaria um sério desafio para a Alphabet, e "tal evento seria um grande abalo, até mesmo para o mercado digital". Ulrich Müller, da entidade antimonopólio Rebalance Now avalia que uma eventual venda do navegador reduziria o faturamento da Google com publicidade, contendo sua dominância de mercado e forçando-a a competir mais através da qualidade de seus serviços. Ele também vê potencial para modelos alternativos, como máquinas de busca por assinatura. No entanto, não se pode prever quanto os procedimentos legais vão durar, nem quando um desligamento acontecerá de fato, e "até lá, os navegadores e máquinas de busca, como os conhecemos hoje, talvez já estejam obsoletos". Vitória das leis antitmonopólio americanasA decisão contra a Google e as intenções do Departamento de Justiça se alinham com mais de um século de legislação antitruste nos EUA: já em 1911, ela possibilitou a ruptura do monopólio de petróleo pela companhia de John D. Rockefeller, a Standard Oil. Müller lembra que o escrutínio regulatório de monopólios esteve muito intenso na década de 1960 e início da seguinte, mas decaiu nos anos 1980, quando a doutrina neoliberal da Chicago School of Economics abonava a concentração de mercado, caso as companhias monopolizadoras fossem eficientes, o que resultou em menos intervenções estruturais nos anos seguintes. Uma exceção, contudo, foi o processo antitruste contra a gigante de telecomunicações AT&T, desmembrada em 1982. Cerca de duas décadas mais tarde, a Microsoft foi alvo das entidades reguladoras: seu navegador Internet Explorer era tão intimamente integrado no sistema operacional Windows, que expulsou do mercado o concorrente Netscape. No entanto a gigante tecnológica apelou e evitou a sentença de desmembramento ao possibilitar à concorrência o acesso a partes de seu sistema. |
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Short teaser | Autoridades antitruste propõem que o Google deve vender seu navegador, acusando-a de monopolizar o mercado de buscas. | ||
Author | Nicolas Martin | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/google-conseguiria-sobreviver-sem-o-chrome/a-70841367?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 18 | |||
Id | 70833789 | ||
Date | 2024-11-21 | ||
Title | Os conflitos de interesse de Musk no futuro governo Trump | ||
Short title | Os conflitos de interesse de Musk no futuro governo Trump | ||
Teaser |
Bilionário vai liderar uma comissão de "eficiência governamental" do governo dos EUA. Só que ele também comanda empresas com contratos públicos, como Tesla e SpaceX. Muito já foi escrito sobre a nascente amizade entre o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e o homem mais rico do mundo, o empresário Elon Musk. Na semana passada, os dois foram vistos juntos em Palm Beach, no ringue de uma luta de UFC em Nova York e comendo hambúrgueres do McDonald's dentro do avião Trump Force One. E o que começou como uma parceria exótica acabou se transformando numa oportunidade de trabalho para Musk. Ainda antes da eleição, Trump anunciou que colocaria Musk, que é natural da África do Sul, no comando de uma comissão de eficiência do governo. Já eleito, foi mais específico e confirmou que a nova agência vai se chamar Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Para dirigir o órgão, Musk terá a ajuda de outro rico empresário, Vivek Ramaswamy. O que Musk fará no governo?Como se trata de um órgão a ser criado, ninguém ainda sabe o que de fato ele fará e que autoridade terá. No fim das contas pode acabar sendo apenas um pequeno grupo consultivo que vai operar fora do governo sem qualquer autoridade regulatória real. Mas o que ele provavelmente terá é influência e um porta-voz barulhento: Musk. Com o nome sugere, o Departamento de Eficiência Governamental terá por objetivo cortar os gastos do governo dos EUA – e em nada menos que 2 trilhões de dólares. A intenção é reduzir permanentemente o tamanho do governo federal, eliminando burocracia, regulamentações e gastos desnecessários. O projeto é limitado a 21 meses e deverá se encerrar em julho de 2026. Musk é conhecido por cortar custos em suas próprias empresas, mas reduzir gastos federais é algo bem diferente. "Musk não tem qualquer experiência real com o governo, além de processá-lo ou de espalhar teorias da conspiração sobre ele", observa o professor de políticas públicas Donald Moynihan, da Universidade de Michigan. "O governo federal precisa ser modernizado, mas Musk só fala em cortar custos e em punir aqueles de quem ele discorda", diz Moynihan. "Sua matemática básica não fecha." No último ano fiscal, o orçamento federal foi de 6,1 trilhões de dólares. Um terço desse valor foi destinado à seguridade social e ao serviço de saúde Medicare, programas nos quais Trump disse que não tocaria. Apenas 1,7 trilhão de dólares são recursos que os legisladores controlam, de acordo com a agência federal que fornece números ao Congresso. E os conflitos de interesse?Musk já está bem atarefado comandando seis empresas, entre elas a Tesla, a SpaceX e a rede social X. Seu novo cargo no governo gera inúmeros conflitos de interesse, pois algumas de suas empresas recebem subsídios do governo ou têm contratos públicos – ou seja, trabalham para o governo. Elas também desenvolvem e usam tecnologias que estão sujeitas a regulação. "Não me lembro de outro caso de alguém com conflitos de interesses tão claros e óbvios, com um servidor público oferecendo conselhos – sobre orçamento, estrutura e remoção de funcionários – que afetam diretamente seus negócios", diz Moynihan. "É uma corrupção grotesca." Ao longo dos anos, a SpaceX recebeu bilhões em contratos públicos da Nasa e do Departamento de Defesa para lançar satélites, prestar serviços à Estação Espacial Internacional (ISS) ou permitir o uso de sua rede de comunicação por satélite Starlink. Durante a última década, esses contratos somaram mais de 15 bilhões de dólares, de acordo com números analisados pelo jornal The New York Times. Somente no ano passado, empresas de Musk obtiveram cem contratos públicos diferentes de 17 agências federais, totalizando 3 bilhões de dólares. E outros interesses?Musk tem um histórico de desavenças públicas com departamentos federais e outros órgãos reguladores. Uma investigação da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, que regula o mercado financeiro, levou a acusações de fraude em 2018. Um acordo com a SEC para encerrar o caso incluiu a renúncia de Musk ao cargo de presidente da Tesla. A Tesla recebeu grandes incentivos fiscais e também incentivos de vários estados dos EUA. Em nível federal, ela tem um pequeno contrato com o governo para fornecer alguns veículos. Mas Musk poderia convencer Trump a manter os créditos fiscais para veículos elétricos para incentivar as vendas, ou aumentar as tarifas para os concorrentes que fabricam veículos no México ou em qualquer outro lugar. Ele poderia influenciar os órgãos reguladores que querem examinar mais de perto a iniciativa de direção autônoma da Tesla. Ele também poderia convencer autoridades a manter em vigor as metas de emissões de carbono que permitem à Tesla, uma fabricante de carros elétricos, vender créditos de carbono no valor de bilhões de dólares para montadoras que não conseguem atingir essas metas. As outras empresas de Musk – xAI, The Boring Co, Neuralink e X – não têm contratos públicos com o governo. Ainda assim, elas têm muito a ganhar estando próximas de Trump. Essa proximidade poderia impulsionar a inteligência artificial, influenciar regulamentações ou ajudar a bloquear rivais, como a rede social TikTok. Será que essa amizade repentina pode acabar?Trump não é o primeiro presidente que quer cortar gastos ou que chama especialistas em eficiência. O que é diferente desta vez é quem o presidente eleito está chamando e as possibilidades de ganho pessoal dos envolvidos. Até o momento, Trump teve o cuidado de dizer que Musk não seria uma parte oficial do poder executivo e que apenas "forneceria conselhos e orientações de fora do governo e faria uma parceria com a Casa Branca e o Escritório de Administração e Orçamento para promover reformas estruturais em larga escala". Isso é importante porque a legislação federal proíbe que pessoas participem de assuntos governamentais nos quais tenham interesse financeiro. E seja qual for o título ou cargo oficial de Musk, grandes cortes só serão implementados com a aprovação do Congresso. "De certa forma, designar Musk para um comitê consultivo pode ser visto como um rebaixamento, já que não está claro se ele conseguirá de fato fazer alguma coisa", opina Moynihan. A parte mais imprevisível de todo esse projeto é o próprio Trump. Ele tem um longo histórico de eleger favoritos e, de repente, abandoná-los. Descartar o homem mais rico do mundo poderia ser um impulso irresistível para o ego de Trump. Trata-se de duas personalidades que adoram os holofotes, mas Trump não suporta ser ofuscado, diz Moynihan. Manter esse relacionamento improvável poderá ser um desafio tão grande quando cortar trilhões nos gastos do governo. |
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Short teaser | Bilionário vai liderar comissão de eficiência governamental. Só que ele também comanda empresas com contratos públicos. | ||
Author | Timothy Rooks | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/os-conflitos-de-interesse-de-musk-no-futuro-governo-trump/a-70833789?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 19 | |||
Id | 70839122 | ||
Date | 2024-11-21 | ||
Title | PT pede arquivamento do PL da Anistia após revelação de trama golpista | ||
Short title | PT pede arquivamento de projeto de anistia bolsonarista | ||
Teaser |
Após revelação de plano para matar Lula, partido do presidente afirma que projeto de lei que pretende conceder perdão a golpistas do 8 de janeiro de 2023 é "inconveniente" para a democracia. O Partido dos Trabalhadores (PT) pediu nesta quarta-feira (20/11) o arquivamento de um projeto de lei (PL) que previa a anistia dos condenados pela tentativa de golpe no 8 de janeiro de 2023. O movimento ocorre após a Polícia Federal revelar uma suposta trama conduzida por militares bolsonaristas que envolvia um plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)Alexandre de Moraes em 2022. No requerimento que pede o arquivamento do PL 2.858, conhecida como PL da Anistia, enviado ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lia (PP), o PT afirma que a tramitação do projeto é "inoportuna" e "inconveniente para o processo democrático e a paz nacional". O texto argumenta que isso ficou demonstrado pelo recente atentando a bomba contra o STF e pelas revelações da Polícia Federal (PF) sobre os planos para assassinar autoridades. O documento alega ainda que o PL concederia perdão aos "comandantes da trama golpista", além de estimular extremistas. "Além de demonstrar a gravíssima trama criminosa dos chefes do golpe, que poderiam vir a se beneficiar da anistia proposta, a perspectiva de perdão ou impunidade dos envolvidos tem servido de estímulo a indivíduos ou grupos extremistas de extrema direita", diz o texto. O documento foi assinado pela presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, e pelo líder do partido na Câmara, Odair Cunha. De autoria do deputado Major Vitor Hugo (PL), a PL da Anistia prevê o perdão a todos que "tenham participado de manifestações em qualquer lugar do território nacional do dia 30 de outubro de 2022" até a entrada em vigor da lei. O projeto está em tramitação na Câmara e aguarda a criação de uma comissão especial para debater a proposta. Um projeto de lei semelhante de autoria do senador Hamilton Mourão (Republicanos), que foi vice no governo de Jair Bolsonaro, também tramita no Senado. A proposta, no entanto, está parada na Comissão de Defesa da Democracia da Casa. O plano para matar LulaA Polícia Federal prendeu nesta terça-feira um membro da própria corporação e quatro militares ligados às forças especiais do Exército, incluindo um general da reserva, suspeitos de planejar um golpe de Estado após as eleições de 2022 para impedir a posse de Lula. Segundo a PF, o grupo tinha um "detalhado planejamento operacional", batizado de "'Punhal Verde e Amarelo', que seria executado no dia 15 de dezembro de 2022" para matar o presidente eleito Lula e seu vice, Geraldo Alckmin. Uma das possibilidades cogitadas contra Lula, segundo a PF, era de envenenamento. Os planos incluiriam ainda a "prisão e execução" do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. No lugar de Lula e Alckmin, um "gabinete de crise" assumiria o controle do país. Segundo o portal G1, esse gabinete seria comandado pelos generais Augusto Heleno e Braga Netto, à época ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e da Defesa de Bolsonaro. As prisões foram autorizadas por Moraes e realizadas no âmbito do inquérito sobre os atos golpistas que culminaram com a depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, após a posse de Lula. cn (abr/ots) |
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Short teaser | Após revelação de plano para matar Lula, PT afirma que projeto que concede perdão a golpistas é"inconveniente". | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/pt-pede-arquivamento-do-pl-da-anistia-após-revelação-de-trama-golpista/a-70839122?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=PT%20pede%20arquivamento%20do%20PL%20da%20Anistia%20ap%C3%B3s%20revela%C3%A7%C3%A3o%20de%20trama%20golpista |
Item 20 | |||
Id | 70837643 | ||
Date | 2024-11-21 | ||
Title | Ford projeta demissão de 4 mil funcionários na Europa até 2027 | ||
Short title | Ford projeta demitir 4 mil funcionários na Europa até 2027 | ||
Teaser |
Cortes impactam principalmente a Alemanha, com 2,9 mil demissões previstas. Montadora norte-americana pediu ao país uma "agenda política clara" para promover a venda de carros elétricos em meio à queda nas receitas.A gigante automotiva norte-americana Ford afirmou nesta quarta-feira (20/11) que deve demitir 4 mil funcionários na Europa até 2027. Os cortes correspondem a 14% da força de trabalho da montadora no continente e afetam principalmente a Alemanha, onde são esperados 2,9 mil cortes em três anos. Outros 800 postos de trabalho serão cortados no Reino Unido e 300 em outros países. A empresa afirmou em um comunicado que as montadoras da Europa "enfrentam ventos contrários, competitivos e econômicos, e, ao mesmo tempo, lidam com um desequilíbrio entre as regulamentações de CO2 e a demanda dos consumidores por veículos elétricos". O vice-presidente europeu de transformação e parcerias da montadora, Dave Johnston, disse que é "fundamental tomar medidas difíceis, mas decisivas, para garantir a competitividade futura da Ford na Europa". A empresa também planeja reduzir o tempo de trabalho dos funcionários de sua fábrica na cidade de Colônia, na Alemanha, que emprega cerca de 11,5 mil pessoas, e reduzir a produção dos veículos elétricos Capri e Explorer fabricados no local. A Ford afirmou que os cortes de empregos, que devem eliminar um em cada quatro postos de trabalho na planta de Colônia, acontecerão em consulta com os sindicatos e representantes dos trabalhadores. Tempos difíceis para os veículos elétricos na Europa A empresa defende que "a indústria automobilística global continua em um período de perturbação significativa à medida que muda para a mobilidade elétrica". A alemã Volkswagen enfrenta crise similar e pretende, pela primeira vez,fechar fábricas na Alemanha e demitir milhares de funcionários. As montadoras ocidentais poderão enfrentar multas bilionárias se não cumprirem as novas regulamentações da União Europeia sobre emissões de carbono, que entrarão em vigor no próximo ano. O esforço para vender mais veículos elétricos também é restringido pela concorrência da China, onde diversas montadoras conseguem produzir e comercializar carros elétricos mais baratos. Além da regulamentação futura e do aumento da concorrência, a Alemanha cortou os subsídios governamentais para os veículos elétricos em dezembro do ano passado, a fim de aprovar o orçamento do governo. Isso resultou em uma queda de 28,6% nas vendas de carros deste tipo no país nos primeiros nove meses deste ano. Ford pressiona o governo alemão A diretoria da Ford pediu que o governo alemão melhore as condições de mercado para as vendas de veículos elétricos. Em uma carta ao chanceler federal, o diretor financeiro da Ford, John Lawler, disse que a Alemanha e a Europa precisavam de "uma agenda política clara e inconfundível" para promover a mobilidade elétrica, que incluiria "investimentos públicos em infraestrutura de carga [de baterias], incentivos significativos e maior flexibilidade no cumprimento das metas de conformidade de CO2". De acordo com o diretor financeiro da Ford para a Alemanha, Marcus Wassenberg, os últimos cortes mostram as mudanças que aconteceram no setor automotivo. Ele destacou os altos custos de mão de obra e energia no país como parte do problema. Cortes e paralisações também atingiram as montadoras no Brasil. Em 2021, por exemplo, a Ford anunciou o encerramento de suas fábricas no país. gq (dw) |
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Short teaser | Cortes impactam principalmente a Alemanha, com 2,9 mil demissões previstas. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ford-projeta-demissão-de-4-mil-funcionários-na-europa-até-2027/a-70837643?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70837429_354.jpg | ||
Image caption | Montadora norte-americana segue caminho da Volkswagen e deve demitir milhares de funcionários na Europa | ||
Image source | Thilo Schmuelgen/REUTERS | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/70837429_354.jpg&title=Ford%20projeta%20demiss%C3%A3o%20de%204%20mil%20funcion%C3%A1rios%20na%20Europa%20at%C3%A9%202027 |
Item 21 | |||
Id | 70837601 | ||
Date | 2024-11-20 | ||
Title | CEO do Carrefour na França diz que empresa não vai mais comprar carne do Mercosul | ||
Short title | Carrefour francês interrompe compra de carne do Mercosul | ||
Teaser |
Sede francesa da empresa endossou movimento de agricultores contra acordo entre União Europeia e bloco-sul americano. Governo brasileiro criticou a decisão.O CEO do Grupo Carrefour na França, Alexandre Bompard, informou nesta quarta-feira (20/11) que a rede varejista não comprará mais carne dos países que compõem o Mercosul – Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – como forma de pressionar contra o acordo do bloco sul-americano com a União Europeia "Em toda a França, ouvimos o desânimo e a raiva dos agricultores face ao acordo de livre-comércio proposto entre a União Europeia e o Mercosul e o risco de o mercado francês ser inundado com carne que não atende às suas exigências e normas", escreveu em carta direcionada ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França (FNSEA) e publicada em sua conta pessoal nas redes sociais. "Esperamos inspirar outros atores do setor agroalimentar e dar impulso a um movimento de solidariedade mais amplo, que vá além do setor da distribuição que já está na vanguarda da luta a favor da origem francesa da carne que comercializa", publicou. Brasil critica decisão Em nota, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) rechaçou a decisão do Carrefour, maior rede varejista na França, e defendeu a "qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais". "O posicionamento do Mapa é de não acreditar em um movimento orquestrado por parte de empresas francesas visando dificultar a formalização do Acordo Mercosul - União Europeia", publicou a pasta. "O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros." Em nota à imprensa, a sede brasileira do Carrefour afirmou que as operações da empresa no país não serão impactadas pela decisão, o que indica que os supermercados do grupo continuarão a comprar carnes de frigoríficos brasileiros. Agricultores franceses voltam a protestar O anúncio acontece em meio a massivos protestos de agricultores franceses contra um possível acordo de livre comércio entre o bloco sul-americano e a União Europeia. Eles defendem que o texto que está sendo discutido abre uma concorrência desleal da carne brasileira e argentina no mercado francês. Isso porque os padrões sociais e ambientais exigidos pelo bloco para a produção agropecuária não se aplicariam aos parceiros comerciais, permitindo a entrada de alimentos mais baratos. O adiamento da implementação da Lei Europeia Antidesmatamento também reacendeu a indignação contra o acordo, que voltou a ser discutido na cúpula do G20, sediada nesta semana pelo Brasil. Entre segunda e quarta-feira, os manifestantes abriram tanques de vinho espanhol nas ruas, fecharam a entrada de prédios públicos com pneus e lixo e chegaram a bloquear a fronteira da França com a Espanha, país que apoia o acordo comercial. A barricada só se encerrou nesta quarta-feira, após uma manifestação de apoio do primeiro-ministro Michel Barnier. Em Agen, no sudoeste da França, ponto de encontro de protestos semelhantes que aconteceram no início do ano, os agricultores borrifaram chorume em um escritório de previdência social agrícola. Sem acordo O acordo entre UE e Mercosul é discutido desde 1999. Em 2019 o texto chegou a ser finalizado, mas não houve ratificação, apesar do empenho de países como a Alemanha e a Espanha. O presidente francês Emmanuel Macron é um dos líderes que pressionam pela não assinatura do tratado, que se fosse aprovado criaria a maior zona de livre-comércio do mundo, atingindo 780 milhões de pessoas. Nesta quarta-feira, Macron esteve no Chile para finalizar um acordo bilateral com o presidente Gabriel Boric. Ele disse que o tratado com os chilenos deveria servir de exemplo por ser "respeitoso com o interesse dos dois lados". "É um acordo comercial consistente com nossas ambições climáticas e de biodiversidade", disse. gq (reuters, ots) |
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Short teaser | Sede francesa da empresa endossou movimento de agricultores contra acordo entre União Europeia e bloco-sul americano. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ceo-do-carrefour-na-frança-diz-que-empresa-não-vai-mais-comprar-carne-do-mercosul/a-70837601?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70837533_354.jpg | ||
Image caption | Carrefour endossou protestos de agricultores contra acordo entre União Europeia e Mercosul | ||
Image source | Stephane Mahe/REUTERS | ||
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Item 22 | |||
Id | 70821439 | ||
Date | 2024-11-20 | ||
Title | "Conceição Evaristo é a maior escritora negra do Brasil" | ||
Short title | "Conceição Evaristo é a maior escritora negra do Brasil" | ||
Teaser |
Em entrevista, biógrafa de Conceição Evaristo destaca a complexidade das obras de personalidade que é referência de autoria negra, e sua influência no novo cenário literário brasileiro. A profundidade de uma escrita marcada pela desconstrução de padrões estéticos e morais destinados a pessoas negras, associada a um ativismo baseado na própria existência, faz de Conceição Evaristo uma das maiores escritoras da história do Brasil, na avaliação da jornalista Yasmin Santos, autora do livro Conceição Evaristo: voz insubmissa, lançado em novembro de 2024. Em entrevista à DW, Santos afirma que a escritora mineira de 77 anos, autora de Canção para ninar menino grande e Insubmissas lágrimas de mulheres, coloca a mulher negra no centro das discussões, algo raro na literatura predominantemente dominada por autores brancos, além de revelar uma realidade social precária, mesmo fugindo ao padrão de uma "alta" literatura. "Às vezes, sua obra possui uma narrativa que parece muito simples, porque é muito fácil de entender a primeira camada do que ela está escrevendo. Não é uma leitura rebuscada. Mas ali tem uma escolha muito marcada de construir um discurso ancorado na oralidade negra. O ativismo dela aparece quando, sempre no centro da conversa, está a vivência de mulheres negras." Para a autora, Conceição busca desconstruir a idealização branca de personagens, oferecendo às mulheres negras todas as complexidades e imperfeições que fazem delas pessoas com histórias reais. "Nós fomos tão mal retratados pela literatura brasileira, tão destituídos de humanidade, que a gente acha que ser restituído de humanidade é ter esse personagem perfeito, muito bom para a sociedade, e não é. Às vezes, os personagens negros de Conceição não conseguem completar esse arco da bondade porque nós somos completamente imperfeitos." DW: Qual é a importância de Conceição Evaristo, a figura central da sua obra, para a literatura brasileira? Yasmin Santos: Conceição Evaristo é não só a maior escritora negra do país, como também uma das maiores escritoras brasileiras da história, mas que acaba tendo um reconhecimento tardio na sua carreira. Conceição é muito devota do trabalho de Maria Firmina dos Reis, lá no século 19, que é a primeira escritora mulher brasileira, e que era negra; e também de Carolina Maria de Jesus, de quem ela defende honrosamente que Carolina fundou uma corrente literária com Quarto de Despejo. Ela escreve romances, ensaios, poesias, contos, então consegue versar em diferentes gêneros da ficção e da não-ficção, além de ser essa intelectual pública que está sempre presente, não só para falar de literatura, mas também de política, de arte de forma geral, pensa muito o que é o Brasil e que país queremos construir. De que maneira sua própria experiência como jornalista e escritora foi impactada por essa influência? Eu devia ter uns 17 para 18 anos, quando estava na faculdade ainda, e o primeiro livro dela que eu li foi Olhos d'água, uma obra de contos, que foi muito impactante para mim, porque eu nunca tinha visto tantos personagens negros de diferentes faixas etárias, de diferentes orientações sexuais, com diferentes origens, retratados em um livro. Então, para mim, ler aquilo foi quase uma revolução. Então, Conceição ocupa esse lugar de uma espécie de re-encanto pela literatura brasileira, pela literatura contemporânea, afrodiaspórica, assim, na minha vida. Em sua análise da vida e da obra de Conceição Evaristo, como percebe a relação entre literatura e ativismo no trabalho da escritora? E de que forma Evaristo consegue dar voz a experiências de luta e sobrevivência, sem cair em simplificações ou estereótipos? É indissociável o ativismo de Conceição da literatura dela. Ela sempre fala que o olhar dela, a escrita dela, está muito contaminada por sua vivência como uma mulher negra. Às vezes, sua obra possui uma narrativa que parece muito simples porque é muito fácil de entender a primeira camada do que ela está escrevendo. Não é uma leitura rebuscada. Mas ali tem uma escolha muito marcada de construir um discurso ancorado na oralidade negra. O ativismo dela aparece quando, sempre no centro da conversa, está a vivência de mulheres negras. Conceição faz uma coisa, por exemplo, que devolve a maternidade às mulheres negras. Porque se a gente entende o contexto, não só na literatura, as mulheres negras não eram mães. Davam à luz os filhos, mas não podiam criar os seus próprios, não podiam ter afeto por esses filhos. Então tem esse racismo extremo, mas ao mesmo tempo a população negra ao longo dos séculos conseguiu imprimir a sua identidade dentro de tudo que a gente entende de brasilidade. E Conceição provoca isso tanto na sua carreira acadêmica, que é menos conhecida, quanto nos livros. Na hora de construir um personagem, ela traz o que quer dizer politicamente com uma história, sem perder a poética tão conhecida da literatura dela. Você afirma que os papéis femininos desempenham um dos arquétipos mais poderosos da literatura, e Conceição, por sua vez, busca desconstruir a idealização branca dessa figura. Pode nos falar mais sobre isso? Nós fomos tão mal retratados pela literatura brasileira, tão destituídos de humanidade, que a gente acha que ser restituído de humanidade é ter esse personagem perfeito, muito bom para a sociedade, e não é. Às vezes os personagens negros de Conceição não conseguem completar esse arco da bondade, porque nós somos completamente imperfeitos. Numa obra, existe a figura de uma mãe que tem uma relação complicada com o filho dela que, quando a nora engravidou, faz de tudo para essa nora perder o filho. Então, ela retrata uma violência terrível ali, mas é algo que na cabeça daquela mãe faz sentido. Ela não é uma vilã, ela não é vilanizada, mas há um contexto em que você consegue entender os traumas dessas personagens. A literatura de Conceição é muito polifônica. E eu acho que tem um elemento na literatura dela que perpassa os contos, perpassa também os romances, perpassa a poesia, que é o elemento erótico. E a gente tem nas mulheres negras esse lugar da hipersexualização. Então é muito difícil pensar que uma mulher negra ativista está construindo uma literatura e decide usar o erótico ali, dentro da sua literatura, de uma forma que não reforce o papel dessa visão de hipersexualização da mulher negra. Como você acredita que o legado de Evaristo tem influenciado as novas gerações de escritoras e escritores no Brasil? Há uma discussão sobre se os novos escritores, como Itamar Vieira Júnior, por exemplo, e mesmo a escrita de Conceição, são identitários. A gente sempre foi ensinado que existia uma literatura universal que era branca. E quando a gente aprende, entende que Machado de Assis era negro, por exemplo, abre-se uma nova chave de leitura para a própria literatura dele. Conceição provoca e diz que se tem uma literatura universal, é o que ela faz, porque consegue dialogar com diferentes grupos. O projeto de país e também da literatura negra é um projeto em que ninguém fica de fora pois aprendemos ao longo dos séculos a trazer elementos da cultura branca, do cristianismo, mesmo que impostos, sem deixar ninguém de fora, e que dialoga com o Brasil como um todo e de diferentes facetas. Esse seja talvez o principal legado dela: mostrar na própria literatura uma coisa que ocorre no campo político, no ativismo de várias organizações negras. Então ela diz que se tem uma literatura universal, é essa que ela faz, que o Itamar Vieira Júnior faz, que a Eliana Alves Cruz ou a Luciany Aparecida fazem. Essa é a literatura que os escritores negros de diferentes regiões do Brasil fazem, e que agora recebem o devido destaque. |
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Short teaser | Em entrevista, biógrafa de Conceição Evaristo destaca a complexidade da autora e sua influência sobre novos talentos. | ||
Author | Vinicius Pereira | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/conceição-evaristo-é-a-maior-escritora-negra-do-brasil/a-70821439?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 23 | |||
Id | 70826225 | ||
Date | 2024-11-19 | ||
Title | Scholz arrisca perder indicação do SPD para concorrer nas eleições | ||
Short title | Scholz arrisca perder indicação do SPD antes das eleições | ||
Teaser |
Social-democratas alemães se dividem entre chanceler federal em baixa nas pesquisas e popular ministro da Defesa, Boris Pistorius, que vem ganhando cada vez mais apoio dentro do partido há poucos meses do pleito.Aumenta a pressão entre os membros do Partido Social-Democrata (SPD) para que a legenda defina rapidamente o futuro político do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, em meio a temores de um possível vexame nas eleições federais antecipadas marcadas para 23 de fevereiro. Scholz seria o candidato natural do SPD por ser o líder maior do partido e o atual chefe de governo. Contudo, o fato de sua popularidade ter despencado nas pesquisas, assim como o colapso da coalizão de governo liderada por ele nos últimos três anos, fez com que várias lideranças do SPD passassem a apoiar o nome do bem mais popular ministro da Defesa, Boris Pistorius. Questionado sobre o assunto na cúpula do G20 no Rio de Janeiro, Scholz disse simplesmente que "queremos ter sucesso juntos, queremos vencer juntos, eu e o SPD", o que sinaliza uma mudança em relação à sua insistência anterior em concorrer a um segundo mandato como chanceler. As principais lideranças do partido se reuniram nesta terça-feira (19/11) à noite em Berlim – sem a presença do chanceler, que ainda voltava do Brasil – para avaliar se Scholz deve continuar sendo o principal candidato do partido nas eleições. Uma porta-voz do SPD afirmou se tratar apenas de "uma teleconferência regular com os vice-presidentes do partido para organizar a campanha eleitoral antecipada no que diz respeito a datas e prazos". Contudo, vários veículos da imprensa alemã destacaram que o partido quer apressar a confirmação de seu candidato, de modo a evitar um prejuízo ainda maior nas eleições de fevereiro. Social-democratas divididos As pesquisas colocam o bloco conservador de oposição formado pela União Democrata Cristã (CDU) e sua legenda parceira na Baviera, a União Social Cristã (CSU), em ampla vantagem entre os eleitores. O SPD, por outro lado, arrisca perder um grande número de assentos no Bundestag (Parlamento). Nos últimos dias, um número cada vez maior de políticos social-democratas, tanto em nível regional quanto nacional, se manifestaram abertamente a favor da indicação de Pistorius. Sigmar Gabriel, que liderou o partido de 2009 a 2017, destacou a resistência na base do SPD a simplesmente apoiar Scholz, bem como a péssima avaliação do chanceler nas pesquisas e o desempenho ruim dos social-democratas em várias eleições regionais realizadas recentemente no país. Gabriel, que atuou como vice-chanceler de Angela Merkel em uma coalizão do SPD com a CDU, pediu coragem das lideranças do partido e disse que aqueles que ignorassem as reclamações da base arrastariam o SPD para o patamar de menos de 15% dos votos. Isso seria um resultado catastrófico para um partido que tem sido uma das principais forças políticas da Alemanha há mais de um século. Scholz, porém, ainda tem o apoio de boa parte da liderança do SPD, como o parlamentar e colíder da legenda Lars Klingbeil, que disse não haver outra opção para o partido que não seja Olaf Scholz. Algumas das figuras históricas do SPD decidiram manter o apoio a Scholz, Entre estes está o polêmico ex-chanceler Gerhard Schröder, que chefiou o governo da Alemanha entre 1998 e 2005. "Qualquer debate sobre um chanceler em exercício que não pode ser substituído prejudica a todos", afirmou ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung. "O partido não pode desmantelar seu próprio chanceler", disse o veterano político, cujo relacionamento próximo com o presidente russo, Vladimir Putin, e seu trabalho lucrativo como lobista para os interesses energéticos russos o tornaram uma figura altamente controversa dentro do partido. Lealdade à prova Em declarações recentes, Pistorius colocou sua lealdade a Scholz em primeiro plano, mas sinalizou que não rejeitaria uma possível indicação do partido. Nesta segunda-feira, ele desconversou ao ser perguntado sobre uma potencial candidatura. "Na política, você nunca deve descartar nada, não importa do que se trata." "A única coisa que posso definitivamente descartar é que me tornarei papa", brincou. O ministro, porém, disse que jamais desafiaria Scholz, "primeiramente, porque sou uma pessoa profundamente leal e, em segundo lugar, porque meu plano de vida nunca incluiu me tornar ministro da Defesa ou mesmo chanceler". "Você não ouvirá isso de mim. Sou um soldado do partido", acrescentou. Em entrevista a uma emissora alemã nesta terça-feira, Scholz elogiou Pistorius e disse ter "total certeza de sua lealdade", O chanceler disse que o ministro da Defesa faz "um bom trabalho, e a cooperação entre nós é muito, muito boa". Scholz, no entanto, confirmou mais uma vez sua intenção de ser o candidato do SPD à chancelaria nas eleições de fevereiro. "Digo muito claramente: o SPD e eu queremos vencer as próximas eleições juntos. Agimos como um só nos últimos anos de uma forma que ninguém teria imaginado antes, e será o mesmo agora, quando chegar o dia das eleições", disse o chanceler à Welt TV. O que dizem as pesquisas Uma pesquisa sobre a popularidade dos principais políticos alemães realizada semanalmente pelo Instituto Insa revelou que Olaf Scholz caiu do 19ª para a 20ª posição, ocupando o último lugar no levantamento, algo inédito para um chanceler no exercício do cargo. Em forte contraste, Pistorius ocupa a primeira colocação. Numa escala de 1 a 100, o ministro soma 52,8 pontos no ranking do Insa, enquanto o chanceler tem apenas 31,4. Na avaliação por partido, os conservadores liderados por Friedrich Merz aparecem bem à frente. A mais recente pesquisa do instituto Infratest Dimap, publicada em 7 de novembro, coloca em primeiro lugar na preferência do eleitorado a União (CDU/CSU), com 34%, seguida da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), com 18%. O SPD aparece em terceiro lugar, com 16%, ainda à frente das duas legendas com quem formava até há pouco a coalizão de governo: o Partido Verde, com 12%, e o Partido Liberal Democrático (FDP), que soma 5%. O partido populista de esquerda Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) aparece com 6%. A decisão sobre quem será o candidato do SPD deverá ser tomada durante uma conferência do partido para tratar da campanha eleitoral, em 30 de novembro. A indicação será confirmada pelos delegados do SPD em um encontro nacional da legenda agendado para 11 de janeiro. rc/as (AFP, DPA) |
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Short teaser | Social-democratas alemães divididos entre chanceler em baixa nas pesquisas e ministro da Defesa, Boris Pistorius. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/scholz-arrisca-perder-indicação-do-spd-para-concorrer-nas-eleições/a-70826225?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70135474_354.jpg | ||
Image caption | Pistorius vem se tornando uma sombra cada vez maior para o chanceler alemão Olaf Scholz (d) | ||
Image source | Christian Charisius/dpa/picture alliance | ||
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Item 24 | |||
Id | 70813159 | ||
Date | 2024-11-19 | ||
Title | Como identificar e estimular crianças superdotadas | ||
Short title | Como identificar e estimular crianças superdotadas | ||
Teaser |
Especialistas alertam para a importância do diagnóstico precoce e do suporte adequado às necessidades de crianças com habilidades excepcionais. A advogada Marcela Monferdini não esperava que seu filho Diógenes, de seis anos, fosse uma criança que, antes mesmo de chegar ao primeiro ano do ensino regular, conseguisse fazer multiplicações e até desenhasse o alfabeto grego. Ela conta que desde pequeno o menino sempre gostou de placas, e quando ainda era bebê já identificava algumas letras. "Na parte da piscina do prédio tinha uma placa bem grande de manutenção e ele já começava a soletrar, inclusive com os acentos", relembra. Mesmo diante desse avanço intelectual, a advogada conta que o filho era muito introspectivo, não brincava com outras crianças e ficava sempre mais recluso. Marcela chegou a pensar que o garoto era autista ou sofria com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Quando o menino começou a frequentar a escola, os bilhetes sobre seu comportamento também não eram positivos. "Eram relatórios ruins, que diziam que ele era uma criança que não se adequava e que só queria ficar com adultos", relembra. Foi então que Marcela começou a ir atrás de mais informações. Ela viu uma reportagem sobre crianças superdotadas e, a partir daí, procurou clínicas que realizavam testes específicos para ver se o filho se encaixava nessa classificação. No primeiro exame, quando ainda tinha três anos, ele foi diagnosticado com superdotação e com o dobro da idade intelectual. Na época, ela e o marido chegaram a mudar o menino de escola, pois acreditavam que o local "estava sabotando" as habilidades do garoto. "Quando informei, as professoras disseram que já sabiam e eu questionei por que não haviam me falado nada", afirma. Após um ano e meio, a criança realizou novos testes. Os resultados indicaram um aumento em sua capacidade cognitiva, e ele foi admitido na Mensa, organização internacional para pessoas com alto QI, presente em diversos países e com mais de 150 mil membros. A entidade funciona como um apoio ou mentoria para indivíduos superdotados. Para ingressar na organização, é preciso demonstrar capacidade intelectual acima de 98% da população geral. A admissão se dá por meio de testes de QI, aplicados por profissionais credenciados. Na Europa, a Mensa utiliza testes próprios, enquanto países como EUA e Brasil adotam testes padronizados, aprovados por órgãos reguladores locais. Cada país membro da Mensa possui regras específicas para aplicação dos testes, adequadas à legislação local. A comparação de resultados entre diferentes testes não é válida, dada a variação de parâmetros. O critério de admissão se baseia no percentil do candidato, que deve estar acima de 98. Em alguns países, o número aceito pode ser até de 89. Diagnóstico de altas habilidadesIdentificar superdotação em bebês e crianças envolve observar uma série de características que os diferenciam dos demais. Renata Yamasaki, neuropsicóloga pela Unifesp, explica que "bebês superdotados geralmente apresentam um desenvolvimento cognitivo acelerado em comparação a seus pares". Esse público pode demonstrar atenção prolongada, capacidade de resolver problemas e habilidades de memória acima da média para a idade. Isso se reflete em marcos de desenvolvimento, como a fala e a caminhada precoces, além de alta curiosidade e reatividade sensorial. Roberta Zunega, neuropsicopedagoga e especialista em Neurociência Aplicada à Educação pela Santa Casa de São Paulo, complementa: "Desde a infância, costumam exibir um alto grau de atenção e curiosidade, conseguindo focar em objetos e indivíduos por períodos mais longos do que a média." Marcela confirma que o hiperfoco era algo frequente na vida do filho antes do diagnóstico. Muitas vezes, relata, ele se concentrava em uma atividade específica e não conseguia parar de reproduzir determinado movimento ou palavra. "Ele tinha um hiperfoco gritante. Ficava rodando, contava em inglês e rodava, querendo mostrar para as pessoas. Mas tinha semana que era só o alfabeto", relembra a advogada. Esse comportamento repetitivo melhorou depois que Diógenes começou a fazer psicoterapia e outras atividades como terapia ocupacional. A memória aprimorada também é uma característica comum, com esses bebês mostrando habilidade em guardar informações ou identificar padrões e rostos desde cedo, recordando lugares e brinquedos ou relacionando acontecimentos. "Com quatro anos de idade, ele já escrevia frases em inglês que aprendia em desenhos, fazia contas de multiplicação", afirma Marcela. Testes para identificar alto QIO reconhecimento de superdotação na primeira infância permite que as crianças recebam um acompanhamento adequado para desenvolver suas habilidades. Yamasaki enfatiza, contudo, que esse diagnóstico deve ser feito com cautela para evitar enganos e pressão indevida sobre a criança. Geralmente, para chegar a uma conclusão são realizados testes específicos, feitos por neuropsicólogos, nos quais a criança é submetida a diversas atividades e exercícios. Detalhamos alguns deles abaixo: Escala Bayley de Desenvolvimento Infantil: Amplamente utilizada para avaliar o desenvolvimento cognitivo, motor e socioemocional em bebês de 1 a 42 meses, abrangendo habilidades como resolução de problemas, coordenação motora e desenvolvimento linguístico. Escala de Desenvolvimento Infantil de Griffiths: Avalia uma ampla gama de habilidades em bebês e crianças até 8 anos, incluindo desenvolvimento locomotor, pessoal-social e habilidades de coordenação. É frequentemente utilizada para detecção precoce de superdotação e atrasos no desenvolvimento. Inventário de Desenvolvimento de Denver II: Ferramenta de triagem para avaliar fases do desenvolvimento motor, linguístico e social em crianças de 0 a 6 anos. Escalas Wechsler Pré-escolar e Primária de Inteligência (WPPSI): Com "subtestes" adaptáveis para crianças menores, oferece uma visão do funcionamento cognitivo, como compreensão verbal e capacidade visual-espacial. Segundo Yamasaki, é o mais aplicado no Brasil. Escala de Comportamento Adaptativo de Vineland: mede o desenvolvimento de habilidades adaptativas, como comunicação, habilidades sociais e motoras. Dificuldade de acesso e dadosA Mensa destaca o Brasil como o primeiro país da América Latina com o maior número de membros e o vigésimo no ranking mundial, evidenciando um interesse crescente em superdotação. Atualmente, o país com mais membros registrados na entidade são os Estados Unidos, com aproximadamente 50 mil inscritos, seguidos por Inglaterra (17 mil membros) e Alemanha (16 mil membros). Contudo, ainda há obstáculos significativos na identificação precoce de habilidades excepcionais e na orientação para o suporte adequado dessas crianças no país. Segundo o presidente da Mensa Brasil, Carlos Eduardo Fonseca, falta incentivo e políticas públicas que facilitem o diagnóstico. "Hoje, a Mensa tem membros em quase todos Estados, menos no Acre. Conseguimos credenciar somente agora uma psicóloga nesse Estado. Nossa dimensão tão gigantesca acaba inibindo um superdotado no interior da Bahia, ou no interior de Minas Gerais, por exemplo. Quanto mais perto das capitais, mais fácil. Além disso, são poucas escolas que vão ter uma oferta de ensino especial", diz. Para ele, os países ricos e desenvolvidos conseguem aproveitar melhor indivíduos com altas habilidades, facilitando o acesso a testes e convívios com especialistas nos primeiros anos de vida. "Os EUA têm um outro incentivo ali e a gama é mais alta. Não depende só de política pública. A República Tcheca, por exemplo, é a única Mensa no mundo que tem uma escola para superdotados. No Brasil, a gente está engatinhando", afirma Fonseca. Segundo Yamasaki, crianças de famílias mais abastadas geralmente têm mais acesso a ambientes estimulantes, o que pode facilitar a identificação precoce. "Já em contextos de vulnerabilidade, a superdotação pode ser subdiagnosticada devido à falta de recursos e oportunidades", pontua. O aspecto socioeconômico também foi sentido por Marcela ao acompanhar o filho. Após a mudança de escola e o diagnóstico, o menino passou a ter acompanhamento profissional e reforço escolar. "A gente gasta muito dinheiro com ele. Só de psicólogo e terapia ocupacional é R$ 1,7 mil. A nova escola é muito mais cara", enumera. Outro ponto abordado por Fonseca é a subnotificação de indivíduos superdotados em famílias sem condições financeiras ou acesso à informação. O próprio Fonseca ouviu a vida inteira que era um gênio antes de descobrir, aos 35 anos e depois da morte do pai, que tinha um QI alto. "Eu sofri muito bullying e acabei desenvolvendo alguma malícia para lidar com isso", diz. O papel da escola e métodos de ensinoPara crianças superdotadas, ambientes de ensino adaptados ao ritmo e às necessidades de aprendizado são essenciais. Segundo Yamasaki, práticas como projetos por interesse, aceleração e agrupamento por habilidades ajudam a equilibrar o desenvolvimento acadêmico e emocional. "Essas abordagens permitem flexibilidade curricular, beneficiando tanto o avanço cognitivo quanto o desenvolvimento socioemocional desses alunos", diz. O método Montessori e a abordagem Reggio Emilia podem ser importantes para esse público, ressalta Zunega. O objetivo deve ser dar autonomia à criança, permitindo que ela escolha atividades conforme seus interesses e capacidades, o que reforça a responsabilidade pelo próprio aprendizado. Ambientes que incentivam a independência e o raciocínio criativo também são particularmente úteis, apontam as especialistas. Para Yamasaki, além das metodologias, atividades extracurriculares e suporte socioemocional são necessários para um desenvolvimento equilibrado, já que esses alunos frequentemente enfrentam desafios afetivos proporcionais ao seu desenvolvimento cognitivo. "Contar com especialistas em psicologia infantil pode auxiliar no enfrentamento de problemas como perfeccionismo, autoexigência excessiva, receio do insucesso e obstáculos na socialização", aponta Zunega. |
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Short teaser | Especialistas alertam para importância do diagnóstico e suporte a necessidades de crianças com habilidades excepcionais. | ||
Author | Priscila Carvalho | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/como-identificar-e-estimular-crianças-superdotadas/a-70813159?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Como%20identificar%20e%20estimular%20crian%C3%A7as%20superdotadas |
Item 25 | |||
Id | 70814666 | ||
Date | 2024-11-18 | ||
Title | Alemanha recorre a imigrantes para contornar escassez de funcionários em creches | ||
Short title | Alemanha investe em imigrantes na crise das creches | ||
Teaser |
País enfrenta escassez de mão de obra e déficit de vagas em jardins de infância. Um estabelecimento em Colônia adotou modelo bilíngue para solucionar problema.Em uma manhã cinzenta de novembro na cidade alemã de Colônia, duas dúzias de crianças, entre 2 e 6 anos, cantam Sol solecito caliéntame un poquito em um jardim de infância. Poucas delas sabem realmente falar espanhol, mas elas aprendem o idioma na creche bilíngue. "Não falamos o tempo todo em espanhol com as crianças, mas cantamos em espanhol e repetimos com frequência palavras como cadeira, mesa e prato. Assim elas aprendem a língua brincando", conta a pedagoga boliviana Jessica Roja Flores, que há dois anos se mudou da Espanha para a Alemanha. "As crianças também são muito empáticas comigo e falam devagar, quando eu não entendo logo algo." Diversos cartazes com palavras em espanhol estão pendurados nas paredes. Pais e crianças se cumprimentam com "buenos días" e se despendem com "adiós". É uma situação onde todos saem ganhando: crianças aprendem espanhol e as pedagogas que acabaram de chegar à Alemanha aprendem alemão por meio do cotidiano do jardim de infância. "Alguns pais me falaram que estão orgulhosos pois os filhos podem contar em espanhol e conhecem algumas palavras", afirma a espanhola Carmen Casares Naranjo. "O que torna o conceito bilíngue especial é que as crianças são preparadas para a vida e para o cotidiano, pois precisam desenvolver estratégias para situações quando talvez não entendam outras pessoas", acrescenta. Cynthia Malca-Buchholz impulsionou o conceito bilíngue em 2013, ao qual o Fröbel, grupo responsável pelo jardim de infância, aderiu. A vice-diretora do local conta, porém, que ela ainda precisa tranquilizar alguns pais que se preocupam que as crianças fiquem sobrecarregadas com um segundo idioma. Ela diz a eles que é oposto: o multilinguismo abrirá portas. O modelo tem atraído potenciais trabalhadores qualificados da Espanha. Malca-Buchholz acaba de receber mais uma candidatura de emprego. Mas isso significa que a Alemanha está retirando trabalhadores qualificados de países que também necessitam deles? "Não. Muitos dos pedagogos da Espanha e da América Latina não conseguem trabalho na área. Aqui na Alemanha, eles têm a chance de atuar na área na qual são formados", afirma Malca-Buchholz. Escassez de mão de obra qualificada A contratação de mão de obra qualificada no exterior pode ser um dos meios para solucionar a crise dos jardins de infância na Alemanha. Atualmente, faltam 430 mil vagas em creches no país. Uma pesquisa do Paritätischer Gesamtverband, uma associação de organizações dedicadas a promover a igualdade na sociedade, estimou o déficit de funcionários em creches de todo o país em 125 mil – uma média de dois pedagogos por estabelecimento. A escassez atinge principalmente o lado ocidental da Alemanha. Jardins de infância na Renânia do Norte-Vestfália, estado mais populoso do país, foram obrigados a reduzir os serviços 3,6 mil vezes em setembro – um número recorde. E isso ocorreu antes do início da temporada habitual de gripes e resfriados. Com a redução dos serviços, os pais precisam buscar os filhos mais cedo ou as crianças são reunidas em grupos maiores. No pior dos cenários, a creche pode ficar fechada. "Temos há mais de dez anos o direito legal a uma vaga em creche para menores de três anos. Se eu tenho o direito legal, então devo ser capaz de fornecer uma vaga para todas as crianças", afirma Wido Geis-Thöne, especialistas em política familiar do Instituto da Economia Alemã. A crise dos jardins de infância também tem prejudicado a economia alemã. Um estudo recente da agência de recrutamento Stepstone estimou esses danos em 23 bilhões de euros (R$ 139 bilhões) devido às aproximadamente 1,2 bilhão de horas de trabalho não preenchidas por ano. Algumas empresas passaram a reduzir a jornada dos funcionários ou estão demitindo devido à falta de opção para o cuidado infantil. Segundo Geis-Thönes, esse é um problema histórico que atinge principalmente os estados da antiga Alemanha Ocidental. "Na antiga República Federal da Alemanha, a regra foi por muito tempo não institucionalizar o cuidado infantil. Por outro lado, na Alemanha Orientalforam estabelecidas as opções de cuidado para que as mulheres tivessem a possibilidade de trabalhar. Por isso, o Leste forneceu tradicionalmente melhores opções de cuidado infantil, enquanto o Oeste foi expandindo gradualmente", explica. Petição recorde Katja Ross cansou de observar a crise dos jardins de infância de braços cruzados. A pedagoga de Rostock iniciou uma petição chamada "Cada Criança Conta", que já reuniu mais de 220 mil assinaturas, e é o maior movimento para melhorias no setor da Alemanha. A campanha pede melhores condições de trabalho na educação infantil, o que inclui mais especialistas em desenvolvimento da linguagem e inclusão e padrões mínimos vinculativos para a equipe, além da ampliação das vagas em creches. Mas Ross diz não acreditar que os 4 bilhões de euros destinados pelo governo federal por meio da Lei de Qualidade do Jardim de Infância para os próximo dois anos serão suficientes para alcançar essas metas. A situação é tão crítica que a pedagoga disse à DW que, quando chega ao jardim de infância na manhã para trabalhar, torce para que "ao menos metade dos colegas estejam lá". "Somos a primeira instituição educacional que as crianças frequentam, tudo que vem depois se baseia na creche. O que as crianças não aprendem até os seis anos são noções básicas muito difíceis de se recuperar na escola", afirma. "Cada euro investido em educação infantil retorna quatro vezes mais a longo prazo. Crianças que são bem apoiadas em creches têm mais chances de atingir um nível mais alto de educação, o que impacta em fundos de pensão. Mas para isso é necessário políticos corajosos que deem o primeiro passo e pensem para além do período da legislatura", diz Ross. |
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Short teaser | País enfrenta escassez de mão de obra e déficit de vagas em jardins de infância. | ||
Author | Oliver Pieper | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-recorre-a-imigrantes-para-contornar-escassez-de-funcionários-em-creches/a-70814666?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70734272_354.jpeg | ||
Image caption | Nicole Waldthausen, Irina Cipa, Carmen Casares Naranjo e Jessica Rojas Flores, pedagogas em creche alemã que investiu na educação bilíngue | ||
Image source | Oliver Pieper/DW | ||
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Item 26 | |||
Id | 70798242 | ||
Date | 2024-11-18 | ||
Title | "Palácio amaldiçoado" de Veneza é vendido a comprador anônimo | ||
Short title | "Palácio maldito" de Veneza é vendido a comprador anônimo | ||
Teaser |
Construído no século 15, Palácio Ca' Dario foi palco de eventos trágicos, e muitos de seus compradores morreram precocemente. Superstição, porém, não parece ter desvalorizado imóvel na turística cidade italiana. Um comprador anônimo pagou 18 milhões de euros (mais de R$ 110 milhões) pelo "palácio maldito" Ca' Dario, em Veneza, na Itália. Construído no final do século 15, o luxuoso e icônico edifício é famoso não só por sua arquitetura gótica renascentista e localização privilegiada, mas também pela superstição em torno das mortes e tragédias que se abateram sobre quem viveu ali. Por causa disso, o palácio passou anos vazio entre um comprador e outro, e chegou a ser considerado impossível de vender. Desta vez, o Ca 'Dario ficou pouco mais de um ano exposto até encontrar um novo dono, segundo informado pelo jornal italiano Il Corriere na última quinta-feira (14/11). História sombriaCom localização privilegiada às margens do Grande Canal, próximo à Basílica de Santa Maria della Salute, o Palácio Ca' Dario é uma construção histórica com oito quartos e oito banheiros, vista panorâmica e um jardim privado – daí seu alto valor. O dono original do imóvel, o secretário do Senado veneziano Giovanni Dario, mandou erguê-lo em 1479. Desde então, a família se viu envolta em uma série de infortúnios que renderam ao palácio sua fama de amaldiçoado. Dario não chegou a ver a obra pronta, morrendo cinco anos depois. A filha dele, Marietta, herdou o palácio e se mudou para lá com o marido, Vicenzo Barbaro, que acabaria assassinado após ir à falência. Desconsolada, a esposa cometeu suicídio. Já o filho do casal e neto de Dario, Vicenzo, foi morto em um atentado na Grécia. Mas a tragédia continuaria a cercar o palácio mesmo depois de ele ser entregue a outros proprietários: comerciantes foram à ruína, poetas adoeceram, amantes mataram e morreram. Na década de 60, Christopher "Kit" Lambert, agente da banda de rock inglesa The Who, comprou o imóvel e se mudou para Veneza. Ali, entregou-se ao vício em drogas e acabou com sua fortuna e sua carreira. Anos depois, o baixista do mesmo grupo, John Entwistle, passou uma semana de férias em Ca' Dario, apenas para morrer dias depois repentinamente de um infarto por overdose. Um dos últimos e mais célebres proprietários do imóvel foi o magnata italiano Raul Gardini, que se matou em 1993 após ver seu nome envolvido em um grande escândalo de corrupção que abalou a Itália. ra/bl (efe, ots) |
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Short teaser | Ícone arquitetônico, Palácio Ca' Dario foi palco de eventos trágicos; muitos de seus compradores morreram precocemente. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/palácio-amaldiçoado-de-veneza-é-vendido-a-comprador-anônimo/a-70798242?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 27 | |||
Id | 70805710 | ||
Date | 2024-11-17 | ||
Title | Oposição russa faz passeata contra Putin em Berlim | ||
Short title | Oposição russa faz passeata contra Putin em Berlim | ||
Teaser |
A viúva de Alexei Navalny, Yulia Navalnaya, e os ex-prisioneiros Vladimir Kara-Murza e Ilya Yashin lideraram a marcha na capital alemã, encerrada em frente à embaixada da Rússia.Cerca de duas mil pessoas, entre as quais proeminentes figuras das oposição russa que vivem no exílio, participaram de uma marcha em Berlim neste domingo (17/11) que pediu o fim da guerra na Ucrânia e a queda do presidente russo, Vladimir Putin. Entre os líderes da passeata estavam Yulia Navalnya, viúva do opositor de Putin Alexei Navalny, e Vladimir Kara-Murza e Ilya Yashin, que estavam detidos na Rússia e foram libertados em uma troca de prisioneiros em 1º de agosto. Os manifestantes carregavam cartazes com mensagens como "vitória na Ucrânia", "queda de Putin" e "liberdade para a Rússia", e a passeata tinha à frente uma grande faixa vermelha com os dizeres, em inglês: "Sem Putin. Sem guerra". "É uma tentativa de galvanizar os russos que vivem fora da Rússia, muitos deles aqui em Berlim e em toda a Alemanha, que estão querendo expressar sua oposição a Putin e sua esperança de um fim para a guerra", disse Simon Young, da DW, ao vivo do local. A polícia estimou que 1.800 pessoas participaram do ato. A Alemanha abriga cerca de 235 mil cidadãos russos, de acordo com o escritório federal de estatísticas, além de milhões de alemães étnicos que emigraram do Leste Europeu e pessoas de ascendência russa que possuem cidadania alemã. O protesto começou na Potsdamer Platz por volta das 14h (horário local), seguiu pela Friedrichstraße – onde ficava o posto da passagem Checkpoint Charlie entre Berlim Oriental e Ocidental a Guerra Fria e que abriga a Casa Russa, descrita por Moscou como sua "embaixada cultural" em Berlim – e terminou próximo à embaixada da Rússia, na famosa avenida Unter den Linden. Quem eram os líderes da passeata Yulia Navalnaya está no centro das atenções da oposição russa desde a morte de seu marido, Alexei Navalny, em um campo de prisioneiros na Sibéria, em fevereiro. Ela tem dito que espera assumir um papel de liderança na oposição russa no exterior. Vladimir Kara-Murza era um protegido do líder da oposição assassinado Boris Nemtsov e diretor da ONG Open Russia, agora banida, fundada pelo político exilado e magnata dos negócios Mikhail Khodorkovsky. Sobrevivente de supostas tentativas de envenenamento no passado, assim como Navalny, Kara-Murza foi preso em meio a uma série de acusações baseadas em declarações contrárias à invasão da Ucrânia em 2022. Ilya Yashin costumava liderar o Partido da Liberdade do Povo (PARNAS) da oposição na Rússia e também foi preso logo após a invasão da Ucrânia, condenado pela acusação de desacreditar os militares do país ao criticar as mortes de civis ucranianos em Bucha, nos arredores de Kiev. bl/cn(AFP, dpa, Reuters) |
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Short teaser | A viúva de Alexei Navalny, Yulia Navalnaya, e os ex-prisioneiros Vladimir Kara-Murza e Ilya Yashin lideraram a marcha. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/oposição-russa-faz-passeata-contra-putin-em-berlim/a-70805710?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70805609_354.jpg | ||
Image caption | Protesto buscou reunir russos opositores de Putin que vivem fora da Rússia | ||
Image source | Daniil Sotnikov/DW | ||
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Item 28 | |||
Id | 70805409 | ||
Date | 2024-11-17 | ||
Title | Alemanha: Verdes escolhem Habeck para candidato a chanceler | ||
Short title | Alemanha: Verdes escolhem Habeck para candidato a chanceler | ||
Teaser |
Atual ministro da Economia será o principal candidato do Partido Verde nas próximas eleições, que devem ocorrer de forma antecipada em fevereiro. As pesquisas no momento são desfavoráveis à legenda. Os delegados do Partido Verde da Alemanha decidiram neste domingo (17/11), por expressiva maioria, que Robert Habeck, atual vice-chanceler federal e ministro da Economia, será o principal candidato da legenda na provável eleição antecipada de fevereiro. A coalizão de três partidos que governava a Alemanha colapsou no início do mês após o chanceler federal Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD), exonerar o então ministro das Finanças e presidente do Partido Liberal Democrático (FDP), Christian Lindner. O Bundestag (câmara baixa do Parlamento) deverá promover em dezembro um voto de confiança sobre Scholz, no qual ele deve ser derrotado, abrindo caminho para novas eleições previstas para 23 de fevereiro – e os partidos já estão em pré-campanha. Habeck obteve cerca de 96% dos votos dos delegados da sua legenda, que se reuniram em uma conferência na cidade de Wiesbaden, no oeste da Alemanha. "Muita coisa pode mudar em todas as frentes"A decisão dos verdes significa que Habeck será o escolhido do partido para o cargo de chanceler federal, se a legenda estiver em posição de apresentar um. A Alemanha é um país parlamentarista e, em regra, cabe ao partido mais votado nas eleições liderar a construção de uma coalizão e indicar o chanceler federal. Atualmente, o partido mais bem posicionado nas pesquisas são os conservadores da União Democrata Cristã (CDU). Habeck e os verdes têm falado abertamente sobre essa ser uma perspectiva improvável. No momento, as pesquisas indicam que eles têm um apoio de 11% ou 12%. Mas em uma entrevista recente à DW, ele disse que as pesquisas atuais poderiam mudar até fevereiro. Os três partidos da coalizão vinham sofrendo queda de popularidade em meio a divergências públicas, impasses políticos e compromissos difíceis. "Todas as disputas e todos os compromissos que tivemos que fazer já não existem mais. E agora os partidos estão dando um passo à frente com suas próprias ideias. Agora muita coisa pode mudar em todas as frentes", disse Habeck. Baerbock não quis concorrer novamenteNa última campanha eleitoral, Habeck havia se retirado da disputa de candidato principal do partido para dar espaço à atual ministra do Exterior, Annalena Baerbock. No início do ano, ela disse que que não tinha ambição de concorrer novamente. Neste domingo, ele agradeceu explicitamente a Baerbock quando se dirigiu aos delegados. "É um grande privilégio saber que você está à minha frente, ao meu lado e me apoiando", disse Habeck a Baerbock. Baerbock, por sua vez, elogiou Habeck como "superpragmático", e disse que ele havia conseguido manter um curso firme e fazer a Alemanha superar sua dependência das importações de energia russas em meio à crise provocada pela invasão da Ucrânia por Moscou, referindo-se a políticas que, em alguns casos, irritaram parte da base ambientalista do partido. "Ninguém consegue manejar o leme como Robert Habeck em uma tempestade e, ao mesmo tempo, ajustar as velas corretamente em um vento de cauda", disse Baerbock. Brantner e Banaszak assumem a co-liderança do partidoNo sábado, dia de abertura da conferência, o partido também escolheu seus novos líderes: a especialista em política externa Franziska Brantner e Felix Banaszak, de 35 anos, um ex-copresidente da ala jovem do partido que só ingressou no Parlamento após as últimas eleições em 2021. Os verdes estiveram brevemente no topo das pesquisas no início da campanha de 2021, mas depois caíram e terminaram em terceiro lugar, com 14,7% de apoio, enquanto os social-democratas de Scholz tiveram um aumento no final da disputa que os colocou à frente de seus rivais tradicionais da CDU. bl (dpa/ots) |
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Short teaser | Atual ministro da Economia será o principal candidato dos verdes nas próximas eleições, que devem ocorrer em fevereiro. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-verdes-escolhem-habeck-para-candidato-a-chanceler/a-70805409?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 29 | |||
Id | 70802025 | ||
Date | 2024-11-16 | ||
Title | Água-viva "Benjamin Button" consegue reverter envelhecimento | ||
Short title | Água-viva "Benjamin Button" consegue reverter envelhecimento | ||
Teaser |
Pesquisadores descobriram que adultos da espécie "Mnemiopsis leidyi" podem voltar ao estágio de larva quando estão sob estresse – e depois se tornar adultos novamente. Não é a primeira vez que os cientistas fazem uma descoberta sobre uma espécie marinha escorregadia por acidente. Você talvez já tenha ouvido falar da "água-viva imortal", descoberta por acaso na década de 80 por dois jovens cientistas, Christian Sommer e Giorgio Bavestrello. Eles perceberam que, quando a medusa adulta da espécie Turritopsis dohrnii estava sob estresse, ela retornava a um estágio anterior de seu ciclo de vida, em vez de morrer. Normalmente, os indivíduos adultos liberam larvas que nadam livremente, as plânulas. Elas formam colônias de pólipos, e em algum momento essas colônias acabam liberando novas medusas. Mas, como o então líder de laboratório Ferdinando Boero escreveu na revista The Biologist, Sommer e Bavestrello registraram um processo que era "como uma borboleta se transformando novamente em uma lagarta". Reverter o ciclo de vida para sobreviverO processo é chamado de desenvolvimento reverso. E agora parece que a Turritopsis dohrnii não é a única criatura semelhante a uma água-viva capaz de fazer isso. Dois cientistas noruegueses descobriram que o ctenóforo tentaculado Mnemiopsis leidyi pode reverter de um estado maduro com lóbulos para um estado larval inicial – também quando sob estresse – exatamente como a Turritopsis dohrnii "imortal". "'Imortal' é um termo um pouco enganoso. 'Desenvolvimento reverso' é mais correto", disse Pawel Burkhardt, um dos pesquisadores, neurocientista evolucionário e líder de grupo no Michael Sars Centre, da Universidade de Bergen, na Noruega. O colega de Burkhardt e principal autor do estudo, Joan Soto-Angel, usou dois métodos para estressar a Mnemiopsis leidyi: fome prolongada e lesão física ou corte dos lóbulos adultos. Ambos os fatores de estresse foram seguidos por um regime de alimentação reduzida. Eles descobriram que os animais submetidos ao corte de lóbulos tiveram taxas de mortalidade mais baixas e maior sucesso de desenvolvimento reverso, com seis de 15 (40%) totalmente revertidos. Em contraste, a fome prolongada levou a apenas sete de 50 (14%) animais totalmente revertidos. "A particularidade da Mnemiopsis é que você tem um único indivíduo, que pode se reverter em uma única larva", disse Burkhardt. "É um indivíduo, portanto, você pode rastreá-lo. Com a Turritopsis, não é tão claro." Isso ocorre porque a Turritopsis se reverte em uma colônia de indivíduos, em vez de uma única larva. Portanto, não é possível ter certeza de que se está testemunhando o ciclo de vida e a estratégia de sobrevivência de um único espécime, algo importante para os cientistas que desejam mapear o processo com precisão. As descobertas são significativas, escreveu por e-mail à DW Ferdinando Boero, que não participou da pesquisa mais recente: "Elas mostram que o desenvolvimento reverso pode ocorrer também em não-cnidários, expandindo assim a gama de planos corporais que são capazes de fazê-lo". Para explicar a terminologia de Boero: tanto a Turritopsis dohrnii quanto a Mnemiopsis leidyi são "geleias do mar", mas pertencem a grupos diferentes, cnidários e ctenóforos, e têm "planos corporais" diferentes. Portanto, estruturas diversas, ou o que os cientistas chamam de características "morfológicas". Turritopsis dohrnii são cnidárias, Mnemiopsis leidyi são ctenóforas. Estratégia para condições adversasSe nos atermos à Mnemiopsis leidyi, os cientistas mostraram que a espécie pode se transformar novamente em adultos após sua reversão para larva. "É muito dinâmico. Quando voltam ao estágio larval, se receberem alimento suficiente, podem voltar a crescer e se tornar novamente adultos", disse Burkhardt. E, teoricamente, esse ciclo poderia se repetir várias vezes, embora isso não signifique necessariamente que vivam para sempre. Elas podem ser comidos por um predador, por exemplo. Mas como são uma "espécie altamente invasiva", essas descobertas também podem ter um impacto ecológico. "Há uma teoria de que o colapso da pesca no Mar Negro [na década de 90] foi causado pela Mnemiopsis", disse Burkhardt. "Como a larva tem tentáculos, ela se alimenta de forma completamente diferente do adulto – o adulto precisa de muito mais alimento e a larva precisa de muito menos – portanto, pode ser uma estratégia para sobreviver a condições adversas." Os humanos poderiam fazer o mesmo?O envelhecimento às vezes é citado como a principal causa de morte. É por meio do envelhecimento que nossas células se degeneram e nossa plasticidade cerebral – a capacidade do sistema nervoso de se adaptar ao longo do tempo – diminui. Cada vez mais, alguns pesquisadores estão procurando maneiras de retardar o processo de envelhecimento humano, mesmo que seja apenas para tornar a vida mais confortável à medida que nos aproximamos de uma morte natural. Mas, embora a pesquisa com a Turritopsis dohrnii tenha mostrado que parte do que sabemos sobre as águas-vivas é transferível aos seres humanos, esse trabalho ainda não foi feito com a Mnemiopsis leidyi. "Só posso especular", disse Burkhardt. "Mas parece haver um grande rearranjo no sistema nervoso [entre os dois estágios] e é isso que queremos analisar nos próximos dois anos." O que está claro até agora é que, quando a Mnemiopsis leidyi regride, ele desenvolve uma nova "estrutura" – tentáculos, que o adulto não tem – e os tentáculos precisam de um sistema nervoso específico para funcionar. E os genes precisam ser ativados para criar esse sistema nervoso. Mas como? Essa é a questão. "A observação do padrão de desenvolvimento reverso é o primeiro passo", disse Boero. "Em seguida, precisamos determinar os processos genéticos que regulam os padrões normais de desenvolvimento, de modo a reiniciar o desenvolvimento. Se houver um interruptor genético, podemos tentar ver se ele também funciona em células humanas. O rejuvenescimento dos seres humanos, no entanto, é altamente inviável devido à nossa baixa plasticidade." E, como Boero acrescentou: as coisas podem ser ainda bem mais complexas do que isso. |
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Short teaser | Espécie adulta pode voltar ao estágio de larva quando está sob estresse – e depois se tornar adulta novamente. | ||
Author | Zulfikar Abbany | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/água-viva-benjamin-button-consegue-reverter-envelhecimento/a-70802025?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=%C3%81gua-viva%20%22Benjamin%20Button%22%20consegue%20reverter%20envelhecimento |
Item 30 | |||
Id | 70798994 | ||
Date | 2024-11-16 | ||
Title | Berlim ganha seu primeiro memorial anticolonialista | ||
Short title | Berlim ganha seu primeiro memorial anticolonialista | ||
Teaser |
Obra em bronze intitulada "EarthNest", ou ninho do mundo, evoca impactos da colonização e convida a refletir sobre como lidar com as heranças desse sistema de dominação. Berlim ganhou seu primeiro memorial destinado à resistência anticolonialista. A obra de arte, uma escultura em bronze intitulada EarthNest (Ninho do Mundo, em tradução livre), foi produzida pelo coletivo de artistas The Lockward Collective e foi aberta ao público nesta sexta-feira (15/11) na capital alemã. O memorial está instalado em frente ao Berlin Global Village, um centro no bairro de Neukölln que abriga cerca de 50 associações e iniciativas de imigrantes que atuam nas áreas de justiça global, sustentabilidade e diversidade, dentre outras. A data de abertura do memorial, 15 de novembro, é a mesma da Conferência de Berlim – também conhecida como "Conferência do Congo" –, realizada nessa mesma data no ano de 1884. O evento selou a partilha da África pelos poderes imperialistas da Europa e mudou as relações internacionais de poder. A conferência terminou no dia 26 de fevereiro de 1885 com a assinatura de uma lei geral que assegurava a ocupação do território pelas potências colonialistas e estabelecia regras para o comércio no continente. O memorial convida à lembrança daquele período e presta homenagem às pessoas e territórios que sofreram ou ainda sofrem sob a violência colonial. Com ele, os artistas querem oferecer uma plataforma para um diálogo de cura e reconciliação, Uma instalação auditiva permite aos visitantes ouvir histórias e experiências de comunidades de antigas colônias. Obra venceu competição internacionalO memorial foi escolhido dentre 244 propostas de todo o mundo. A competição e realização da obra foi acompanhada por um extenso programa educativo sobre decolonização. O júri, encabeçado pela artista nigeriana e historiadora de arte Chika Okeke-Agulu e pela colombiana Maria Linares, elegeu a proposta vencedora em janeiro de 2024, arrematada pelo The Lockward Collective. O grupo é formado por Jeannette Ehlers, artista de origem dinamarquesa e trinitário-tobagense baseada em Copenhague, e Patricia Kaersenhout, artista com raízes no Suriname que vive entre Amsterdã e França. A dupla trabalhou em parceria com o conselheiro Rolando Vazquez e consultoria técnica do arquiteto Max Bentler. Os artistas descrevem a instalação em bronze como símbolo de um "templo comunal que crê na reunião de comunidades, na coleta de memórias e no resgate do que foi desmembrado pelo apagamento colonial". Em uma área subterrânea da obra, eles depositaram terra ancestral de antigas colônias. A escultura em formato cônico, iluminada em tons violetas, simboliza "o poder de curar a ferida colonial", segundo os artistas. Apoio político"O memorial decolonial contribuirá significativamente para abordar nosso passado colonial e suas consequências para o presente. Fico feliz por ter apoiado o projeto – financeiramente e ideologicamente", afirmou a ministra alemã da Cultura, Claudia Roth, ao inaugurar a obra no dia anterior. O memorial também foi celebrado pela secretária de Cultura de Berlim, Sarah Wedl-Wilson. Segundo ela, "Berlim está assumindo um papel pioneiro na decolonização do espaço público". O governo alemão e o estado de Berlim apoiaram a iniciativa com 750 mil (R$ 4,58 milhões) euros cada. Membro do conselho do Berlin Global Village, Akinola Famson disse que a obra é "um marco para as comunidades da diáspora", criando um espaço de reflexão e "consolidando o tema da decolonização das relações Norte-Sul em Berlim a longo prazo". |
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Short teaser | Obra em bronze "EarthNest" evoca impactos da colonização e convida a refletir sobre as heranças desse sistema de poder. | ||
Author | Elizabeth Grenier | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/berlim-ganha-seu-primeiro-memorial-anticolonialista/a-70798994?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Berlim%20ganha%20seu%20primeiro%20memorial%20anticolonialista |
Item 31 | |||
Id | 70798837 | ||
Date | 2024-11-15 | ||
Title | Agência reguladora aprova novo tratamento contra o Alzheimer na UE | ||
Short title | Agência da UE aprova novo tratamento contra o Alzheimer | ||
Teaser |
Embora cura ainda não esteja à vista, medicamentos como o Lecanemab prometem retardar o avanço da doença degenerativa, que afeta milhões ao redor do mundo.A busca por um tratamento eficaz contra o Alzheimer tem ocupado pesquisadores há décadas, mas os avanços até agora têm sido tímidos. E embora a cura ainda esteja longe, uma nova droga promete retardar a evolução da doença em seu estágio inicial: o Lecanemab, um anticorpo monoclonal. O medicamento atua se ligando aos amiloides, reduzindo a formação de placas da proteína anormal no cérebro de pacientes com Alzheimer. Nos Estados Unidos, o tratamento foi aprovado em 2023 pelo órgão regulador responsável, a FDA. Na União Europeia, foi primeiro barrado em julho de 2024 pela EMA, que alegou alto risco de efeitos colaterais graves, mas acabou liberado nesta quinta-feira (14/11) após reavaliação – embora somente para pacientes com risco menor. Segundo reportagem publicada pelo jornal americano New York Times, o medicamento, vendido sob o nome Leqembi, tem benefício limitado: desacelera o declínio cognitivo em pacientes por cerca de cinco meses. Ao mesmo tempo, pode causar inchaços e hemorragias cerebrais graves. Especialistas ouvidos pelo NYT também disseram temer que os riscos associados ao uso desse tipo de droga anti-amiloide ainda não sejam totalmente compreendidos. A comercialização do Leqembi na UE ainda depende do aval da Comissão Europeia. Por que o tratamento contra o Alzheimer ainda patina? Cerca de 55 milhões de pessoas no mundo sofrem alguma forma de demência, categoria que inclui o Alzheimer. Destas, dois terços vivem em países em desenvolvimento. Com o envelhecimento da população, espera-se que esse número chegue a 139 milhões até 2050, com crescimento particularmente significativo na China, Índia, América do Sul e na África Subsaariana. O desenvolvimento de medicamentos eficazes é desafiador porque muitos processos cerebrais relacionados ao Alzheimer ainda não são totalmente compreendidos, incluindo a razão pela qual as células cerebrais morrem em pessoas com a doença. Cientistas conseguiram evitar morte de células no cérebro Pessoas com Alzheimer têm um acúmulo de proteínas anormais no cérebro – conhecidas como amiloide e tau. Mas até recentemente não se sabia qual era a relação direta entre essas proteínas. Pesquisadores belgas e britânicos acreditam ter desvendado esse mistério. Um estudo publicado na revista científica Science aponta um elo direto entre proteínas anormais que se acumulam no cérebro e a necroptose, um tipo de morte celular. A necroptose normalmente atua em processos de defesa imunológica ou inflamatórios, eliminando células indesejadas para permitir a formação de novas células. Quando o fornecimento de nutrientes é interrompido, as células incham e suas membranas plasmáticas se rompem, o que leva à inflamação e morte dessas células. Segundo o estudo, pacientes com Alzheimer têm células cerebrais inflamadas por causa do acúmulo de amiloides anormais entre os neurônios, que alteram sua química interna. Esses amiloides formam "placas", enquanto a proteína tau se acumula em feixes fibrosos, ou "emaranhados". Isso leva as células cerebrais a produzir uma molécula chamada MEG3 – que, ao ser bloqueada pelos pesquisadores, salvou os neurônios da morte. O experimento utilizou células cerebrais humanas transplantadas para o cérebro de camundongos, que haviam sido geneticamente modificados para produzir grandes quantidades de amiloide anormal. "É a primeira vez que temos uma pista sobre como e por que os neurônios morrem na doença de Alzheimer. Faz 30, 40 anos que se especula muito, mas ninguém conseguiu identificar os mecanismos exatos", afirmou Bart De Strooper, um dos autores do estudo e professor do Dementia Research Institute do University College London. Esperança para novos medicamentos Os pesquisadores da KU Leuven, na Bélgica, e do Dementia Research Institute britânico esperam que essas descobertas possam abrir novos caminhos para o desenvolvimento de medicamentos contra o Alzheimer. Essa esperança é reforçada pelos avanços recentes, como o medicamento Lecanemab, que atua especificamente contra a proteína amiloide. Se medicamentos futuros conseguirem bloquear a molécula MEG3, poderá ser possível interromper o processo de morte celular no cérebro. Com informações de Alexander Freund. ra (DW, ots) |
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Short teaser | Medicamento, que está em vias de aprovação na Europa, promete retardar o avanço da doença degenerativa. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/agência-reguladora-aprova-novo-tratamento-contra-o-alzheimer-na-ue/a-70798837?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/61283484_354.jpeg | ||
Image caption | Desenvolvimento de medicamentos eficazes contra o Alzheimer é desafiador porque muitos processos cerebrais relacionados à doença ainda não são totalmente compreendidos | ||
Image source | Jens Wolf/dpa/picture-alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/61283484_354.jpeg&title=Ag%C3%AAncia%20reguladora%20aprova%20novo%20tratamento%20contra%20o%20Alzheimer%20na%20UE |
Item 32 | |||
Id | 70773309 | ||
Date | 2024-11-13 | ||
Title | Robert Habeck: "Alemanha sem governo neste momento parece piada de mau gosto" | ||
Short title | Habeck: "Alemanha sem governo neste momento parece piada" | ||
Teaser |
Colapso da coalizão em Berlim coincidiu com a vitória de Trump nos EUA. Mas vice-chanceler federal Robert Habeck aposta no futuro. Em entrevista, explica por que quer ser o candidato verde à chefia do governo alemão.O vice-chanceler federal e ministro da Economia e Proteção Climática da Alemanha, Robert Habeck, foi às redes sociais em 8 de novembro para anunciar o que muitos já esperavam: ele pretende concorrer à chefia de governo na próxima eleição federal, como principal candidato do Partido Verde. Está previsto para 23 de fevereiro o pleito antecipado em decorrência do colapso da coalizão "semáforo" que governa a Alemanha – no poder desde 2021, composta pelo Partido Social-Democrata (SPD, "vermelho") do chefe de governo Olaf Scholz, e o neoliberal Partido Liberal Democrático (FDP, "amarelo"), além dos verdes. É improvável que o político de 55 anos se torne o próximo chefe de governo alemão, já que tradicionalmente o cargo vai para o líder da sigla mais forte – que no momento é a centro-direitista União Democrata Cristã (CDU), enquanto os verdes contam apenas com 9% a 11% das intenções de voto. Em entrevista aos repórteres Jens Thurau, da DW, e Oliver Neuroth, da emissora ARD, durante sua viagem a Portugal no âmbito da conferência de tecnologia Web Summit, Habeck mostrou-se profundamente desiludido quanto à atual situação política da Alemanha: "Também do ponto de vista histórico, é muito, muito frustrante que esse governo 'semáforo' tivesse uma fama tão ruim, e no fim estivesse condenado ao fracasso." No entanto, suas conclusões são pragmáticas e proativas. DW: Por que a "coalizão semáforo" não entendeu que, no atual panorama partidário em mutação crescente, ela é uma das poucas constelações partidárias que representa algo voltado para adiante, talvez progressivo? Por que ela não entendeu, sobretudo após a agressão da Rússia à Ucrânia, que talvez fossem necessárias outras rubricas e prioridades? Ou essa impressão está errada? Robert Habeck: Sim, está errada. Sempre soubemos que temos grandes discordâncias nas áreas de política econômica e financeira, mas de início elas não eram relevantes. Então veio a guerra russa de agressão contra a Ucrânia, e aí a questão de como financiar a coisa toda, como manter o país estável, rapidamente se tornou preponderante. Nós conseguimos responder a ela com um fundo de crédito composto por várias fontes de verbas e, apesar das diferenças ideológicas, pudemos seguir trabalhando politicamente. E quando isso não foi mais possível – isto é, com a rejeição da moção [relativa ao orçamento federal] pelo Tribunal Constitucional, em dezembro de 2023 – a situação ficou insustentável, resultando também em rupturas entre figuras atuantes. Ainda nos arrastamos por mais ou menos um ano, mas já não nos entendíamos mais muito, e precisamente nesta questão: como será o financiamento justo de projetos presentes e futuros? Estávamos cientes que precisávamos mudar de paradigma, mas essa consciência acabou não bastando para concretizar resultados. Isso é uma explicação, mas na verdade não serve como desculpa. Também do ponto de vista histórico, é muito, muito frustrante que esse governo "semáforo" tivesse uma fama tão ruim, e no fim estivesse condenado ao fracasso. DW: O senhor visa ser escolhido como candidato ao cargo de chanceler federal na próxima convenção do Partido Verde. Onde os verdes precisam colocar novas ênfases? O que deve estar em primeiro plano para, talvez, recuperar um pouco da confiança perdida? Acho que todas as legendas têm duas tarefas pela frente – e isso também se aplica, claro, ao meu partido e a mim, pessoalmente. Em primeiro lugar, explicar o que de fato acontece aqui: por que todas as muitas crises, conflitos, desafios, essa atual sensação de dificuldade, tanta briga. Tudo isso tem diversas causas, pois há grandes mudanças em curso. Mas nós estamos justamente no processo de encará-las. Não há o menor motivo para se estar desmotivado e amargo, trata-se simplesmente de abraçar os desafios e agir para frente – e não voltar atrás, como alguns propõem. Posso dar alguns exemplos? Nesta legislatura, nós "limpamos" a energia, ela está mais verde; na próxima legislatura vamos torná-la barata. Criamos precondições para a eletromobilidade, postos de abastecimento; na próxima legislatura automóveis elétricos com que se pode ganhar dinheiro passarão a ser parte do sistema energético. Vamos tornar a moradia acessível financeiramente durante anos, promover uma nova forma de construção civil em cooperativa. Esses são exemplos bem concretos, para libertar os cidadãos das preocupações quotidianas. E vamos apresentar essa oferta, de A a Z, e aí tenho certeza de que alcançaremos um resultado eleitoral excelente. ARD: O senhor está sentado aqui conosco tranquilo, de casaco de moletom. A impressão é de que está realmente gostando de estar numa atmosfera tão relaxada, aqui em Lisboa, enquanto toda a semana de debates da coalizão semáforo ficou em Berlim... Desculpe interromper: a coalizão semáforo não existe mais, ela é história. E para mim é errado, trágico até, que no dia em que Donald Trump se torna presidente, em que possivelmente a Europa vai ter tanto a enfrentar, que nesse dia a economia europeia mais forte, a Alemanha, perca o seu governo. Parece uma piada de mau gosto histórica. Não sei se é para classificar como trágico ou irônico, mas eu considero errado. Mas agora aconteceu, e esse olhar retrospectivo, esse "quem disse o quê e quando", simplesmente me irrita, pois não leva absolutamente nada adiante. Temos que começar bem rápido a falar das respostas políticas ao nosso tempo; esse debate sobre a data da eleição antecipada tem que acabar: não é esse o principal problema do nosso país. Trata-se só de ser rápido, mas sem ser precipitado, não é tão difícil assim chegar a um acordo sobre a data da eleição. Mas a questão real é o que a Alemanha quer e pode fazer nestes tempos, e essa máquina de concessões da coalizão semáforo não deve estar no caminho. De certo modo, agora é bem simples e claro: livres das limitações da coalizão, enquanto protagonistas políticos, precisamos apresentar a nossa análise do nosso tempo e não ter receio das respostas. Agora é o momento de colocar as cartas na mesa e dar as respostas corretas aos grandes problemas do nosso tempo. DW: O senhor não está decepcionado com uns ou outros? Sim, claro, do meu ponto de vista, estou decepcionado. Mas eu sei que do outro lado a recíproca é provavelmente verdadeira. Agora, acima de tudo, eu me pergunto: de que me serve a minha decepção? Como eu já disse: considero um erro histórico não termos mais um governo, nestes tempos atuais – por mais horrível que pudessem ser as coisas na coalizão. Mas agora isso é um fato, de que serve agora essa coisa de ficar olhando para trás? Quando as relações fracassam, a pior coisa são as "guerras das rosas". Aí uma diz: "Ele roncava sempre, nunca fazia compras". E o outro: "Ela era tão impontual..." E quem quer saber disso? Então, vamos agora em frente, diria. |
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Short teaser | Em entrevista, vice-chanceler federal Robert Habeck explica por que quer ser candidato verde à chefia do governo alemão. | ||
Author | Jens Thurau, Oliver Neuroth | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/robert-habeck-alemanha-sem-governo-neste-momento-parece-piada-de-mau-gosto/a-70773309?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70765526_354.jpg | ||
Image caption | Vice-chanceler federal e ministro da Economia e Proteção Climática da Alemanha, Robert Habeck, durante Web Summit em Portugal | ||
Image source | Sebastian Gollnow/dpa/picture alliance | ||
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Item 33 | |||
Id | 70771689 | ||
Date | 2024-11-13 | ||
Title | "Pão e circo": Os paralelos entre batalhas de gladiadores e reality shows | ||
Short title | "Pão e circo": Paralelos entre gladiadores e reality shows | ||
Teaser |
"Gladiador 2", sequência do blockbuster de Ridley Scott, é um dos lançamentos mais antecipados do ano. Historiadores comparam antiga tradição romana de gladiadores aos reality shows de hoje.Gladiador, um sucesso de bilheteria do ano 2000, foi um épico monumental que recebeu diversos prêmios e indicações. Agora, 24 anos depois, a sequência finalmente chega aos cinemas do mundo todo. Um grande chamariz para os fãs, certamente, é o fato de que Gladiador 2 também foi dirigido por Ridley Scott. O cineasta britânico, de 86 anos, esteve por trás de produções famosas, como Alien (1979), Blade Runner (1982) e, mais recentemente, Napoleão (2023). Para além dos filmes de Scott, as batalhas de gladiadores são objeto de grande fascínio. E dá até para encontrar alguns paralelos com o sucesso dos reality shows de TV de hoje em dia. O povo precisa de "pão e circo" Essa citação, atribuída ao poeta romano Juvenal, refere-se a como a população geralmente pode ser mantida apaziguada, desde que receba comida e entretenimento. Juvenal estava, na verdade, criticando o povo romano por não se interessar o suficiente pela política e se deixar manipular por meio de distrações superficiais. A luta dos gladiadores foi a "maior ferramenta política de sua época", afirma o historiador e especialista em gladiadores Alexander Mariotti, que mora em Roma, perto do Coliseu. O imperador que encomendou o Coliseu, Vespasiano, assumiu o poder em tempos difíceis: Roma tinha acabado de sair de uma guerra civil e estava em uma fase conturbada. "Vespasiano era um homem do povo, e ele entendeu que precisava de uma maneira de se fazer amado pelo povo, porque o império estava basicamente ameaçado", Mariotti conta à DW. "Os romanos costumavam distribuir grãos, então a parte do 'pão' estava resolvida. E seus 'circos', é claro, eram essas caras e elaboradas disputas ao vivo." Reality show — o "circo" moderno? Olivia Stowell, doutoranda na Universidade de Michigan cuja pesquisa se concentra na história dos reality shows, também vê uma ligação entre lutas de gladiadores e programas como Survivor. Em ambos os formatos, participantes competem para o deleite da audiência. Ela brinca, que, embora Candid Camera, um programa de comédia de longa duração que estreou em 1948, seja frequentemente identificado como o primeiro reality show, ela deveria expandir sua pré-história de reality shows. "Eu deveria começar com o Coliseu!", diz. Aqui pode-se argumentar que os participantes de um programa de TV normalmente se inscrevem voluntariamente, enquanto os gladiadores da Roma Antiga não. Mas isso não é bem verdade. No início, a maioria dos gladiadores eram escravos ou criminosos sentenciados a cumprir pena na arena. Mas, à medida que esses jogos se tornaram populares, mais pessoas começaram a se inscrever voluntariamente em "escolas de gladiadores", que as treinavam para se tornarem profissionais — verdadeiros heróis que personificavam virtudes romanas como coragem e força. "Sabemos que por volta de 75 a.C. metade de todos os gladiadores eram pessoas livres, eram homens livres. E eram muito bem pagos: você recebia 2.000 sestersi como bônus de inscrição. Só para colocar isso em perspectiva, 900 sestersi era o salário anual de um soldado romano. Então você recebia o equivalente a dois anos de pagamento de um soldado em uma única inscrição", explica Mariotti. Era, portanto, uma maneira fácil de ganhar muito dinheiro. E é preciso lembrar, acrescenta o historiador romano, "que na antiguidade era muito mais difícil mudar de status social do que hoje em dia". Uma loteria para fama e fortuna Os gladiadores sabiam que estavam arriscando a vida. Mas também havia uma chance de se tornarem ricos e famosos. "Eles eram os atletas mais desejados sexualmente do seu tempo", diz Mariotti. "Estavam no degrau mais baixo da escala social, mas também eram muito admirados." Participantes de reality shows normalmente não arriscam a vida, mas também sacrificam algo em troca de fama e fortuna, diz Stowell. "A privacidade é um exemplo. E também a dignidade até certo ponto." Um método clássico de criar drama, por exemplo, é privar as pessoas do sono e fornecer a elas muito álcool. "Esse tipo de coisa, que cria as condições em que temos essas pessoas privadas de sono que às vezes estão embriagadas, e que, além disso, estão realmente isoladas de suas redes de apoio da vida real", aponta a pesquisadora. Exemplos famosos incluem The Bachelor, Survivor e Big Brother. Participantes de reality shows geralmente falam sobre "o mundo exterior", porque durante o programa eles vivem em um mundo separado, onde deixam suas famílias, amigos, empregos, confortos e rotina para trás — outro paralelo com os gladiadores, que também eram completamente isolados do resto da sociedade. Produtores — os imperadores modernos? Comparar os gladiadores com os participantes de um reality show moderno também levanta a questão: Quem é o imperador na analogia moderna? "Eu acho que somos nós — os criadores do show", diz Sagar More, produtor e diretor de Mumbai, na Índia — um país onde os reality shows viraram uma febre nos últimos anos. More dirigiu dez temporadas do reality show mais antigo da Índia, Roadies. Mas ele admite que jamais participaria como competidor de um programa desses. "De jeito nenhum – eu sei o que eu os faço passar!" Roadies acompanha jovens na estrada por 30 dias, enquanto viajam por diferentes partes do país cumprindo tarefas e desafios. "Apenas criamos situações, e as pessoas preenchem com suas emoções e estratégias. Mas conforme as temporadas foram crescendo, as tarefas foram se tornando cada vez maiores. E então as coisas se tornaram mais intensas", explica. More também aponta que há horas e horas de filmagem. Os editores têm que escolher o que incluir e, mais importante, o que deixar de fora. Isso é muito poder em suas mãos. "Isso pode realmente mudar o curso de uma história", diz. E o critério mais importante no processo de decisão é o fator entretenimento do público. Conquistando o público Na Roma antiga, o imperador tinha poder direto sobre o destino do gladiador. Mas ele também tinha os espectadores em mente, visando, em última análise, manter sua popularidade. Quando um dos gladiadores perdia sua arma e levantava um dedo — o símbolo para pedir misericórdia — o imperador normalmente pedia à multidão para sinalizar por gestos ou gritos se o gladiador deveria ser perdoado ou condenado à morte. Hoje em dia, os reality shows obviamente não envolvem a morte, mas têm recebido muitas críticas ao longo dos anos, seja pelas más condições de trabalho no set, por promover padrões de beleza pouco saudáveis ou por serem falsos e manipuladores. Recentemente, um aspecto que tem ganhado destaque é a saúde mental. Os participantes de muitos programas diferentes têm falado sobre a solidão, ansiedade e até depressão que vivenciaram durante e após as filmagens. É por isso que muitos programas agora oferecem alguma forma de apoio psicológico durante e mesmo após as filmagens, mas nem sempre é o suficiente. Lutas de gladiadores foram proibidas no início do século 5º, mas hoje filmes sobre o tema ainda atraem um grande público. O primeiro Gladiador de Ridley Scott arrecadou cerca de 457 milhões de dólares (R$ 2,6 bilhões) no mundo. E a sequência promete não ficar muito longe disso. |
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Short teaser | Historiadores comparam antiga tradição romana aos reality shows de hoje. | ||
Author | Petra Lambeck | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/pão-e-circo-os-paralelos-entre-batalhas-de-gladiadores-e-reality-shows/a-70771689?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70685317_354.jpg | ||
Image caption | Gladiadores e "Big Brother": qual é a semelhança? | ||
Image source | Paramount Pictures/ZUMAPRESS/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/70685317_354.jpg&title=%22P%C3%A3o%20e%20circo%22%3A%20Os%20paralelos%20entre%20batalhas%20de%20gladiadores%20e%20reality%20shows |
Item 34 | |||
Id | 70756555 | ||
Date | 2024-11-12 | ||
Title | Por que a puberdade está começando cada vez mais cedo | ||
Short title | Por que a puberdade está começando cada vez mais cedo | ||
Teaser |
Crianças estão entrando na puberdade cada vez mais jovens, especialmente os filhos únicos. Culpa da pandemia de covid-19, toxinas ambientais, fragrâncias artificiais ou dieta?Se antes as mechas coloridas do cabelo da mãe eram legais, agora elas são motivo de vergonha. "Mãe, não dá para você ser só normal?". Quando as crias começam a se constranger com tudo, é porque estão na puberdade. Nessa fase, o corpo começa a produzir mais hormônios sexuais: estrogênio e progesterona nas meninas e testosterona nos meninos provocam mudanças físicas e psicológicas. As oscilações de humor são normais, assim como o distanciamento dos pais. Externamente crescem os pelos pubianos, nas meninas os seios se desenvolvem, então vem a menstruação. A voz dos meninos engrossa, os testículos e pênis crescem e eles ejaculam pela primeira vez. Puberdade quase um ano mais cedo do que há 50 anos Tudo isso ocorre hoje de forma mais precoce do que no passado. Uma meta-análise mostrou que, em 2013, a puberdade das meninas começou, em média, quase um ano antes do que em 1977. Os meninos também tendem a iniciar a puberdade mais cedo, embora os resultados do estudo não sejam tão conclusivos. A época da primeira menstruação, porém, tem se mantido mais ou menos constante. Desde a década de 60, as jovens na Europa menstruam pela primeira vez por volta dos 13 anos de idade – na Alemanha, em média, aos 12,8 anos de idade, relata Bettina Gohlke, chefe do Departamento de Endocrinologia Pediátrica (Kedas) do Hospital Universitário de Bonn, na Alemanha. No século 19, a menarca (primeiro ciclo menstrual) só começava aos 17 anos. Se agora ela vem tão mais cedo, é porque as mulheres se tornaram fortes o suficiente para dar à luz e cuidar dos filhos mais cedo, graças à melhora dos padrões de vida, explica Gohlke. "No entanto, a puberdade não começa com o primeiro período menstrual, mas com o crescimento dos seios." Mas por que essa fase foi antecipada em cerca de um ano, em apenas cinco décadas? Há diversas teorias a respeito. Obesidade em tempos do coronavírus e puberdade precoce Pesquisas demonstraram que crianças com sobrepeso entram na puberdade mais cedo. Uma maior concentração da substância mensageira leptina, produzida no tecido adiposo, é que sinalizaria ao cérebro o início da puberdade. O fato de as crianças se movimentarem menos e engordarem mais pode ser um dos motivos por que bem mais meninas apresentou puberdade precoce durante a pandemia da covid-19. Pubertas praecox é quando as características sexuais externas das meninas se desenvolvem antes dos nove anos de idade, e dos meninos, antes dos dez anos. "Além disso, todo o estilo de vida havia mudado, como o ritmo circadiano, as crianças estavam mais estressadas psicossocialmente e passavam mais tempo em frente ao computador – e a luz azul, como os estudos com animais mostraram, tem um efeito sobre os hormônios", relata a endocrinologista pediátrica Gohlke, que estuda a tendência à puberdade precoce. Atualmente, no entanto, essa tendência está desacelerando. Que influência têm os produtos químicos sobre a puberdade? Cientistas suspeitam que os produtos químicos no meio ambiente também influenciam a puberdade. Foi comprovado, por exemplo, que o pesticida DDT antecipa o início da menstruação. Suspeita-se também que substâncias presentes em produtos de higiene pessoal, como ftalatos, parabenos e outros fenóis, possam induzir a puberdade mais cedo, sobretudo nas meninas. Também é possível que os plastificantes com efeitos hormonais presentes na matéria plástica influenciem o início da puberdade, diz Gohlke. Ela frisa que a tendência global de iniciar a puberdade cada vez mais cedo se desenvolveu num prazo tão curto, que não pode ser explicada por mudanças genéticas. Não está claro, porém, quais exatamente são as substâncias responsáveis. "Há bem mais de 100 substâncias que podem ser as causas, como demonstraram os estudos com animais, e estamos expostos a uma grande variedade delas." Além disso, há sempre a questão da dose: uma dose considerada inofensiva em experimentos com animais pode francamente ter efeitos sobre uma criança. Lavanda, soja e filhos únicos Óleos essenciais também podem afetar os hormônios e, portanto, o início da puberdade. Tanto meninas quanto meninos desenvolveram crescimento prematuro dos seios ao usar produtos de lavanda. Testes de laboratório mostraram que 65 óleos essenciais contêm substâncias com efeito hormonal sobre as células humanas. A suspensão desses produtos resultou em redução dos seios de todas as crianças. Produtos à base de soja igualmente têm efeito hormonal, pois a leguminosa apresenta fitoestrogênios, substâncias vegetais semelhantes ao hormônio humano estrogênio. O mesmo se aplica à cerveja. Ainda não foi comprovada uma influência da soja no início da puberdade. Porém num estudo as mulheres que foram alimentadas com proteína de soja quando bebês relataram tanto regras significativamente mais longas quanto cólicas menstruais mais fortes. A Sociedade Alemã de Medicina Infanto-Juvenil (DGKJ) desaconselha, portanto, uma dieta à base de soja para bebês. Outro fator parece influenciar o início da puberdade: filhos únicos costumam alcançar a puberdade mais cedo do que se há irmãos, meio-irmãos ou meio-irmãos adotivos, mostrou um estudo dinamarquês. Uma explicação seria: já que filhos únicos não podem contar com irmãs e irmãos para passar adiante os genes da família, seus corpos acionariam mais cedo a capacidade reprodutiva. |
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Short teaser | Crianças estão entrando na puberdade cada vez mais jovens, especialmente entre filhos únicos. A que se deve isso? | ||
Author | Jeannette Cwienk | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/por-que-a-puberdade-está-começando-cada-vez-mais-cedo/a-70756555?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70473489_354.jpg | ||
Image caption | Irritação constante com os pais pode ser sinal do início da puberdade | ||
Image source | U. Grabowsky/photothek/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/70473489_354.jpg&title=Por%20que%20a%20puberdade%20est%C3%A1%20come%C3%A7ando%20cada%20vez%20mais%20cedo |
Item 35 | |||
Id | 70738037 | ||
Date | 2024-11-08 | ||
Title | Islândia poderá ter energia solar do espaço até 2030 | ||
Short title | Islândia poderá ter energia solar do espaço até 2030 | ||
Teaser |
Projeto visa produzir inicialmente até 30 megawatts a partir de satélite com painéis solares na órbita da Terra, o suficiente para abastecer até 3.000 casas no país.Até 2030, a Islândia poderá se tornar o primeiro país a receber energia solar do espaço. As empresas islandesas Reykjavik Energy e Transition Labs se uniram à Space Solar, sediada no Reino Unido, para desenvolver uma usina de energia solar baseada no espaço capaz de produzir até 30 megawatts de eletricidade. De acordo com estimativas dos pesquisadores, essa produção tem o potencial de abastecer entre 1.500 e 3.000 residências na Islândia. Até 2036, os cientistas esperam expandir o projeto para fornecer gigawatts – unidade de medida mil vezes maior que megawatts. Mas isso pode não ser tão fácil. Em fevereiro de 2024, um grupo de engenheiros do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) demonstrou que é de fato possível obter energia solar do espaço, embora eles só tenham conseguido enviar miliwatts (unidade um bilhão de vezes inferior a megawatts) para a Terra. Energia solar, independentemente do clima Há vários lugares na Terra onde a energia solar pode ser aproveitada. Mas mesmo nessas áreas não é possível recebê-la constantemente. No espaço, entretanto, isso é possível. A Space Solar afirmou, em um comunicado, que essa energia está disponível "independentemente do clima ou da cobertura de nuvens, e a custos de eletricidade semelhantes aos de energias renováveis intermitentes". "A energia solar espacial oferece vantagens inigualáveis, com custos competitivos e disponibilidade 24 horas por dia, sete dias por semana", afirmou Martin Soltau, codiretor executivo da Space Solar, no documento. Como o projeto funcionaria? O plano é absorver a luz solar no espaço por meio de um grande satélite em órbita da Terra, que será equipado com painéis solares. Esse objeto transmitirá a energia em ondas de rádio para uma estação na Terra, onde ocorrerá o processo de conversão em eletricidade. O satélite também poderá se tornar o objeto mais pesado já lançado ao espaço. Ele pode até mesmo ser maior do que a Estação Espacial Internacional (ISS), quando todas as suas matrizes estiverem instaladas. Outros países poderão ser abastecidos E não é apenas a Islândia que poderia ser beneficiada com energia solar espacial. Os gerentes de projeto veem o Canadá e o norte do Japão como possíveis áreas para expandir as estações receptoras, à medida que a constelação de usinas de energia se desenvolver. "Em um momento de rápido aumento da demanda global de energia, essa nova tecnologia energética tem o potencial de ajudar a colocar o mundo no caminho de um futuro livre de carbono", diz o comunicado. (Com informações do Space.com, IFLScience e Space Solar.) |
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Short teaser | Projeto visa produzir inicialmente até 30 megawatts a partir de satélite com painéis solares na órbita da Terra. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/islândia-poderá-ter-energia-solar-do-espaço-até-2030/a-70738037?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Um grande satélite em órbita da Terra será equipado com painéis solares e transmitirá a energia em forma de ondas de rádio | ||
Image source | aapsky/Pond5/IMAGO | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/70725319_354.jpg&title=Isl%C3%A2ndia%20poder%C3%A1%20ter%20energia%20solar%20do%20espa%C3%A7o%20at%C3%A9%202030 |
Item 36 | |||
Id | 70326170 | ||
Date | 2024-09-25 | ||
Title | Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher | ||
Short title | Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher | ||
Teaser |
Três homens são acusados de exigirem 15 milhões de euros dos parentes do heptacampeão de Fórmula 1 em troca da não publicação de imagens privadas.O Ministério Público de Wuppertal, oeste da Alemanha, apresentou nesta quarta-feira (25/09) acusações contra três homens por supostamente tentarem extorquir dinheiro da família do ex-piloto de Fórmula 1 Michael Schumacher para não publicarem imagens privadas dele. Os três acusados são um segurança de boate, 53 anos, seu filho, de 30 anos, e um ex-funcionário de segurança da família do ex-campeão mundial, de 53 anos. De acordo com a investigação, o ex-funcionário da família de Schumacher disponibilizou gravações privadas ao segurança, que as teria adquirido para tentar fazer chantagem contra a família do ex-piloto. Telefonemas exigindo 15 milhões de euros Os supostos criminosos fizeram várias ligações exigindo 15 milhões de euros (R$ 79 milhões) da família Schumacher, caso contrário publicariam arquivos e materiais privados, obtidos e fornecidos pelo próprio ex-funcionário. No momento da primeira prisão, em junho, foram apreendidos até 1.500 documentos, incluindo fotografias, vídeos e relatórios médicos do alemão em discos rígidos, pen drives e telefones celulares. Os investigadores dizem que o material contém fotos e vídeos particulares da coleção da família, alguns tirados antes e outros depois do acidente de esqui de Schumacher em 2013. O segurança de boate implicou seu filho no momento da prisão (ele foi o primeiro a ser preso), que foi liberado sob fiança com a obrigação de se apresentar, e foi o pai que revelou aos investigadores a identidade da pessoa que lhes forneceu os documentos de Schumacher.Duas semanas depois, o ex-funcionário dos Schumacher foi preso em seu apartamento em Wülfrath, no estado de Renânia do Norte-Vestfália, onde foram confiscados mais dispositivos eletrônicos contendo material sensível do sete vezes campeão mundial de Fórmula 1. O caso não é o primeiro envolvendo de tentativa de chantagem contra os Schumachers. Em 2017, um homem de 25 anos recebeu uma sentença suspensa de 21 meses de prisão por exigir 900 mil euros da mulher do ex-piloto, Corinna Schumacher. Esse caso foi julgado em Reutlingen, no sudoeste da Alemanha. Em 2013, ex-piloto sofreu uma grave lesão na cabeça em um acidente de esqui na França, tendo passado quase seis meses em coma induzido. Desde então, tem sido recebido cuidados em sua casa na Suíça, longe da mídia, e não se sabe exatamente qual é sua condição física. md (EFE, AFP, DPA, SID) |
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Short teaser | Três homens são acusados de exigirem dinheiro dos parentes do ex-piloto em troca da não publicação de imagens privadas. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/promotoria-acusa-trio-de-chantagem-contra-família-schumacher/a-70326170?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/67834031_354.jpg | ||
Image caption | Michael Schumacher e sua mulher, Corinna, em 2001 | ||
Image source | Oliver Multhaup/dpa/picture-alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/67834031_354.jpg&title=Promotoria%20acusa%20trio%20de%20chantagem%20contra%20fam%C3%ADlia%20Schumacher |
Item 37 | |||
Id | 70166593 | ||
Date | 2024-09-08 | ||
Title | Brasil pela primeira vez no top 5 dos Jogos Paralímpicos | ||
Short title | Brasil pela primeira vez no top 5 dos Jogos Paralímpicos | ||
Teaser |
País bate próprio recorde nos Jogos de Paris com 89 medalhas, sendo 25 ouros, 26 pratas e 38 bronzes, e alcança sua melhor colocação na história da competição.O Brasil encerrou neste domingo (08/09) sua participação nos Jogos Paralímpicos de Paris com sua melhor campanha na história do evento. Foram 89 medalhas, sendo 25 de ouro, 26 de prata e 38 de bronze, que deixaram o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas. A grande campeã foi a China, com 84 ouros, seguida pelo Reino Unido (49 ouros), Estados Unidos (36) e Holanda (27). O Brasil manteve uma disputa acirrada com a Itália pelo quinto lugar, que apenas foi resolvida no último dia da competição. A batalha foi decidida com dois ouros – um no halterofilismo, com Tayana Medeiros, e outro na canoagem, com Fernando Rufino. A campanha brasileira superou o melhor resultado obtido pelo país até então. Nos Jogos de Tóquio, em 2021, os brasileiros conquistaram 72 pódios e garantiram a sétima posição. Esta é a quinta edição seguida que o Brasil termina no top 10 dos Jogos Paralímpicos. Os brasileiros ficaram em 8º nos Jogos do Rio 2016; em 7º em Londres 2012, e 9º em Pequim 2008. Em Paris, a maioria das medalhas brasileiras veio da natação (28 medalhas) e do atletismo (36), sendo estas as melhores participações na história em números quantitativos dessas modalidades. O nadador Gabriel Araújo, o Gabrielzinho, foi um dos grandes destaques, conquistando três ouros. Os judocas também tiveram grande contribuição para o bom resultado da delegação brasileira, conquistando quatro ouros. Meta mais do que atingida "Em cada brasileiro pulsa hoje um coração Paralímpico", festejou o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado. "Nossa meta era 75 a 90 [medalhas]. Era ficar entre os oito, ficamos entre os cinco. Muita sensação de que o trabalho compensa." Conrado disse que o plano, a partir de agora, é ampliar a participação de mulheres. "Essa delegação já teve 40% de mulheres. Se a gente olhar para China, mais de 60% das medalhas foram conquistadas por mulheres. Se a gente oportunizar, elas vão ser cada vez mais protagonistas." rc/as (ots) |
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Short teaser | País bate próprio recorde nos Jogos de Paris com 89 medalhas e alcança sua melhor colocação na história da competição. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/brasil-pela-primeira-vez-no-top-5-dos-jogos-paralímpicos/a-70166593?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Campanha brasileira em Paris deixou o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas | ||
Image source | Umit Bektas/REUTERS | ||
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Item 38 | |||
Id | 70166081 | ||
Date | 2024-09-08 | ||
Title | Alemanha investiga novos casos de manipulação de resultados em jogos de futebol | ||
Short title | Alemanha apura manipulação de resultados em jogos de futebol | ||
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Casos estariam diretamente ligados à atuação das "bets", as empresas de apostas online. Autoridades analisam "decisões suspeitas dos árbitros" e comportamento de jogadores em 17 partidas de divisões diferentes. A polícia alemã confirmou a abertura de investigações sobre 17 partidas das divisões mais baixas do futebol alemão por suspeitas de manipulação de resultados em associação a empresas de apostas online – as chamadas "bets". Autoridades nos estados de Hesse e no Sarre deram inicio à análise de partidas consideradas suspeita. O Departamento Federal de Investigações Criminais (BKA) – a Policia Federal alemã – confirmou estar "envolvido no processo, no papel de coordenador central". As investigações se seguiram a uma matéria publicada no jornal Hamburger Morgenpost neste fim de semana. A reportagem denunciou esquemas de manipulação de resultados em partidas na terceira divisão do futebol alemão (3. Liga), no torneio semiprofissional da quarta divisão (Regionallliga) e na liga amadora que equivale a 5ª divisão (Oberliga). As manipulações estariam ocorrendo por intermédio das casas de apostas online desde novembro de 2022. Nos 17 jogos em questão, as autoridades disseram que estão sendo observadas decisões suspeitas dos árbitros das partidas e algum comportamento incomum de goleiros e defensores. As discussões sobre manipulação teriam ocorrido na chamada dark web. As trocas de mensagens revelam que os ganhos ilegalmente acumulados seriam pagos em criptomoedas, como o Bitcoin. Salários baixos propiciam manipulaçãoO jornal Hamburger Abendblatt denunciou outros dois incidentes na quinta divisão da Oberliga de Hamburgo, na semana passada, onde os chamados scouts de dados foram descobertos enviando informações em tempo real para plataformas de apostas durante as partidas. Após os scouts serem retirados dos estádios, não era mais possível apostar nesses jogos. A Associação Alemã de Futebol (DBF) afirmou não ter provas concretas, mas disse estar em contato com as autoridades e que analisa os casos junto a sua empresa parceira de monitoramento de apostas, a Genius Sports. A DFB disse que não vai comentar o caso em razão de as investigações estarem em andamento. Na Alemanha, é proibido apostar em atividades do esporte amador, mas as legislações vigentes não se aplicam a empresas estrangeiras de apostas. No final do ano passado, promotores públicos passaram a investigar uma quantidade incomum de apostas feitas em uma partida da quarta divisão do futebol alemão, envolvendo a equipe do FSV Frankfurt, após uma dica dada por uma empresa de apostas. Hannes Beuck, fundador da Gamesright, uma entidade que apoia apostadores que perderam dinheiro em casinos online, avalia que o potencial para manipulação de resultados no esporte amador é mais alto, uma vez que jogadores e juízes recebem salários menores, ou inexistentes. Lembranças do escândalo HoyzerAs novas investigações reavivaram a memória dos alemães de um escândalo de 2005, quando foi revelado que o árbitro Robert Hoyzer manipulou partidas da segunda e da quarta divisão alemã e da Copa da Alemanha, em colaboração com uma máfia de apostas da Croácia. Hoyzer foi condenado a dois anos e cinco meses de prisão. Também foi envolvido no escândalo o árbitro Felix Zwayer, que foi banido por seis meses por não denunciar imediatamente uma propina de 300 euros (R$ 1.856) oferecida por Hoyer em 2004. Zwayer negou ter aceitado o dinheiro e até hoje é árbitro da DFB e da União das Associações Europeias de Futebol (Uefa). rc (dpa, AP) |
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Short teaser | Casos estariam ligados à atuação das "bets". Autoridades analisam "decisões suspeitas de árbitros" e de jogadores. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-investiga-novos-casos-de-manipulação-de-resultados-em-jogos-de-futebol/a-70166081?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 39 | |||
Id | 70114392 | ||
Date | 2024-09-02 | ||
Title | Atletas norte-coreanos podem ser punidos por selfie com sul-coreanos | ||
Short title | Atletas norte-coreanos podem ser punidos por selfie em Paris | ||
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Mesatenistas teriam sido colocados sob "vigilância ideológica" após interação com colegas do país vizinho nos Jogos Olímpicos e podem ser punidos se não demonstrarem arrependimento e remorso pelo gesto. Uma das imagens mais emblemáticas dos Jogos Olímpicos de Paris pode ter gerado graves problemas para alguns atletas norte-coreanos. Há semanas, mesatenistas da Coreia do Sul e Norte protagonizaram um momento histórico após disputarem o pódio na categoria de duplas mistas. Após receberem a medalha de bronze, os sul-coreanos Lim Jong-hoon e Shin Yu-bin se juntaram aos norte-coreanos Kim Kum-yong e Ri Jong-sik, que conquistaram a prata em Paris, para uma selfie. Os chineses Wang Chuqin e Sun Yingsha, também aparecem na imagem. O gesto foi visto internacionalmente como um símbolo de como o esporte é capaz de superar barreiras e unir os povos. Uma das imagens foi postada no Instagram oficial dos Jogos de Paris e gerou enorme repercussão positiva, sendo considerada um dos grandes momentos do megaevento esportivo. Contudo, relatos divulgados na imprensa sugerem que Kim e Ri teriam sido colocados sob "escrutínio ideológico" após retornarem ao seu país. O portal de notícias sobre a Coreia do Norte Daily NK, com sede em Seul, citou uma autoridade de alto escalão em Pyongyang que disse que atletas e membros do Comitê Olímpico Norte-Coreano passaram por uma "lavagem ideológica" de um mês de duração. De acordo com a reportagem, este seria um procedimento padrão no país imposto aos atletas que forem expostos à vida fora do regime comunista. "Lavagem ideológica"Segundo o Daily NK, o termo "lavagem ideológica" reflete como Pyongyang avalia que passar algum tempo fora de suas fronteiras pode "contaminar" seus cidadãos ao serem expostos a outras culturas. O portal destaca que os atletas norte-coreanos recebem instruções para não interagirem com competidores de outros países, incluindo da Coreia do Sul, e teriam sido advertidos que tais "confraternizações" seriam passíveis de punição. Os mesatenistas teriam sido alvo de críticas em um relatório enviado às autoridades do regime de Pyongyang por sorrirem enquanto posavam ao lado de atletas do país vizinho, que o regime comunista considera como seu pior inimigo. Não está claro qual punição deve ser dada aos atletas. O portal Korea Times sugeriu que isso pode depender da intensidade do arrependimento demonstrado pelos esportistas. Segundo o portal, os atletas norte-coreanos que retornam de competições internacionais no exterior costumam passar por sessões de "avaliação ideológica" em três etapas. As avaliações terminam em sessões de autorreflexão, nas quais eles devem criticar "comportamentos inadequados" dos integrantes de suas equipes, além de suas próprias ações. O Korea Times citou o relato de uma fonte anônima, segundo a qual, expressões emocionadas de arrependimento podem poupar os atletas de "punições políticas ou administrativas", cujo teor é desconhecido. Pressão por resultadosA ONG Human Rights Watch disse que os relatos revelam os esforços do regime do ditador Kim Jong-un para controlar seus cidadãos além de suas fronteiras. "O Comitê Olímpico Internacional (COI) tem a responsabilidade de proteger os atletas de todas as formas de assédios e abusos, como consta na Carta Olímpica", disse a entidade, em nota. "Os atletas norte-coreanos não deveriam temer retaliações por suas ações durante os Jogos, menos ainda quando incorporam os valores do respeito e da amizade, sobre os quais se ergue o movimento olímpico." Segundo os relatos, outros atletas que não conquistaram medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris teriam sido punidos pela suposta baixa performance nas competições. O Daily NK menciona o caso da seleção de futebol norte-coreana que foi eliminada da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, depois de perder os três jogos da fase de grupos e sofrer 12 gols. Segundo o portal, os jogadores teriam sido alvos de uma bronca de horas de duração por supostamente traírem o regime. O técnico da equipe teria sido forçado a trabalhar na construção civil. rc/md (Reuters, ots) |
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Short teaser | Mesatenistas teriam sido colocados sob "vigilância ideológica" após interação com sul-coreanos nos Jogos Olímpicos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/atletas-norte-coreanos-podem-ser-punidos-por-selfie-com-sul-coreanos/a-70114392?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 40 | |||
Id | 70092029 | ||
Date | 2024-08-30 | ||
Title | Velocista transgênero deve chamar atenção nas Paralimpíadas | ||
Short title | Velocista transgênero deve chamar atenção nas Paralimpíadas | ||
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Especulações e desinformação assolaram os Jogos Olímpicos de Paris sobre questões de gênero. Nos Paralímpicos, uma atleta transgênero italiana competirá no atletismo. Mas ela não será a primeira."Costumo dizer que, se eu consegui, outros também conseguem. Espero ser a primeira de muitas, um ponto de referência, uma inspiração. Minha história pode ajudar muitas pessoas, sejam elas deficientes visuais, transgêneros ou não", disse Valentina Petrillo à agência de notícias AFP, à medida que cresce o interesse em sua participação nos Jogos Paralímpicos, que começou nesta quarta-feira (28/08). Petrillo competirá no evento T12 para atletas com deficiência visual. Ela se assumiu publicamente como transgênero em 2017, depois de por pouco não ter participado como homem da equipe paralímpica de Atlanta de 1996. Somente em 2023, ela foi reconhecida como mulher pelas autoridades italianas. A atleta de 50 anos ganhou duas medalhas de bronze nas provas de 200 metros e 400 metros no Campeonato Mundial de Atletismo de 2023. Embora tenha dito que espera ser "a primeira de muitas" atletas transgênero competindo nos jogos, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC) afirma que ela não será a primeira paralímpica transgênero, como foi amplamente divulgado. Um porta-voz da organização disse à DW que a lançadora de disco holandesa Ingrid van Kranen foi a primeira, nos Jogos do Rio em 2016. Lançadora de disco holandês é a primeira paralímpico trans Van Kranen ficou em nono lugar na final do lançamento de disco e causou pouca repercussão internacional. Nos oito anos que se seguiram, as questões transgênero tornaram-se um ponto de discussão muito mais proeminente, sendo muitas vezes uma questão controversa nas guerras culturais. O esporte geralmente está na vanguarda disso. As linhas de batalha são bem traçadas, mas cada caso tem suas próprias nuances. Para a para-atleta alemã Katrin Müller-Rottgardt, que correrá na mesma categoria que Petrillo, o palco esportivo apresenta dificuldades que a vida normal não apresenta. "Todos devem viver sua vida cotidiana da maneira que se sentem confortáveis. Mas acho isso difícil em esportes competitivos", disse ela ao tabloide alemão Bild. "Ela [Petrillo] viveu e treinou como homem por muito tempo, então é possível que os requisitos físicos sejam diferentes dos de alguém que nasceu mulher. Isso pode lhe dar uma vantagem", acrescentou a atleta alemã. A gama de pontos de vista científicos e institucionais é bastante bem estabelecida, mas não há nada como um consenso. Diferentes esportes e diferentes órgãos dirigentes têm adotado linhas totalmente diversas, mesmo quando se trata dos mesmos atletas. Caso Imane Khelif Isso ficou claro no caso da boxeadora vencedora da medalha de ouro olímpica, Imane Khelif. Depois que sua oponente italiana abandonou a luta de abertura, o gênero de Khelif se tornou um dos tópicos mais importantes dos jogos. Ela foi incorretamente rotulada como transgênero pelos meios de comunicação e por importantes figuras públicas. Lin Yu-ting, de Taiwan, enfrentou desafios semelhantes. A dupla foi inicialmente banida do campeonato de 2023, administrado pela Associação Internacional de Boxe. Posteriormente, a organização foi destituída de seu status de órgão regulador global do esporte, o que permitiu que as boxeadoras lutassem em Paris. As inconsistências aparentes entre esportes e eventos faz com que Petrillo não possa competir no atletismo feminino nos Jogos Olímpicos, mas possa nos Jogos Paralímpicos. A World Athletics, órgão regulador global do atletismo de pista e campo, proibiu os atletas transgêneros de competir em 2023. Mas a World Para Athletics diz que qualquer pessoa que seja legalmente reconhecida como mulher é elegível para competir na categoria para a qual sua deficiência a qualifica. O IPC disse à DW que, pelo menos por enquanto, deixa essas decisões a cargo das federações individuais. "O IPC, em seu papel de organizador de eventos importantes, não tem nenhuma regra relevante sobre a participação de atletas transgêneros e intersexuais, pois isso é responsabilidade de cada federação internacional", disse o porta-voz. No centro da tempestade Não há dúvida de que Petrillo está seguindo as regras atuais. Mas é improvável que isso a impeça de estar no centro de uma tempestade, como Khelif esteve antes dela. "Sei que haverá pessoas que não entenderão por que estou fazendo isso, mas estou aqui, lutei durante anos para chegar aonde estou e não tenho medo. Isso é quem eu sou", disse a atleta. Mas o abuso enfrentado pelos atletas nesses casos é sério. Depois de voltar para casa na Argélia, Khelif anunciou que havia entrado com uma ação judicial, supostamente contra a plataforma de rede social X, por suposto cyberbullying. O advogado de Khelif, Nabil Boudi, disse à revista especializada em entretenimento Variety que a queixa menciona o proprietário da X, Elon Musk, e a autora de Harry Potter, JK Rowling. Boudi acrescentou que ele também estaria considerando qualquer papel desempenhado pelo ex-presidente dos EUA e atual candidato republicano, Donald Trump. "Trump tuitou, portanto, quer ele seja ou não citado em nosso processo, ele será inevitavelmente analisado como parte da acusação", disse o advogado. Embora os Jogos Paralímpicos não tenham o mesmo perfil global que os Olímpicos, os olhos do mundo provavelmente estarão voltados para Petrillo quando ela entrar na pista. |
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Short teaser | Especulações e desinformação assolaram os Jogos Olímpicos de Paris sobre questões de gênero. | ||
Author | Matt Pearson | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/velocista-transgênero-deve-chamar-atenção-nas-paralimpíadas/a-70092029?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70029489_354.jpg | ||
Image caption | Valentina Petrillo durante competição paralimpica na Itália em 2024 | ||
Image source | Tommaso Berardi/IPA Sport/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/70029489_354.jpg&title=Velocista%20transg%C3%AAnero%20deve%20chamar%20aten%C3%A7%C3%A3o%20nas%20Paralimp%C3%ADadas |
Item 41 | |||
Id | 70084139 | ||
Date | 2024-08-29 | ||
Title | Ucrânia vive batalha crítica por cidade estratégica no leste do país | ||
Short title | Ucrânia vive batalha crítica por cidade estratégica no leste | ||
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Enquanto tenta pressionar Moscou com ofensiva na Rússia, Kiev vê tropas inimigas se aproximarem da importante Pokrovsk, na região do Donbass. Zelenski descreve situação como "extremamente difícil".Pokrovsk é atualmente o principal foco da guerra da Rússia contra a Ucrânia. A situação no entorno da cidade estratégica e em outras áreas de Donetsk, no leste do país, é "extremamente difícil", classificou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, nesta quarta-feira (28/08), apontando que o Exército russo tem concentrado suas ações na região. Zelenski fez as declarações com base em relatos do comandante-chefe da Ucrânia, Oleksandr Syrskyi, que passou vários dias no front de Pokrovsk. Syrskyi afirmou que a Rússia tem feito de tudo para romper as defesas da Ucrânia e que as tropas de Kiev vêm tendo que usar métodos não convencionais para fortalecer suas posições. Segundo o Exército-maior ucraniano, há "combates intensos" em uma série de vilarejos próximos a Pokrovsk. "Até agora o inimigo fez 38 tentativas de avançar sobre posições ucranianas. Em 14 locais, os combates continuam", afirmou. De acordo com relatos dos últimos dias, o Exército russo havia chegado a uma distância de até 10 quilômetros da cidade. Mais de um terço dos ataques de Moscou têm mirado essa área na região do Donbass. Na quinta-feira da semana passada, por exemplo, foram 53 de 144 bombardeios. Se a Ucrânia perder o controle sobre Pokrovsk, perderá também um importante centro de abastecimento para suas tropas. A liderança militar do país anunciou o envio de reforços, e os moradores de Pokrovsk e das cidades vizinhas de Myrnohrad e Selydove foram instruídos a deixar suas casas. Futura cidade-fantasma? "É um ciclo conhecido: a artilharia russa começa a bombardear os arredores, depois entram em ação bombas guiadas e drones FPV [com câmeras integradas], as cidades rapidamente se transformam em cidades-fantasma, e as pessoas fogem", afirmou Oliver Carroll, correspondente da revista britânica The Economist, que esteve em Pokrovsk na semana passada. Embora lojas e hospitais ainda estivessem em funcionamento, havia poucas pessoas nas ruas, descreveu Carroll. Desde 12 de agosto, uma nova proibição de circulação, entre as 17h e as 9h, foi imposta na parte do Donbass que é controlada por Kiev em povoados a menos de 10 quilômetros da linha de frente. Pokrovsk fica no extremo oeste da região de Donetsk e tinha cerca de 60 mil habitantes antes da invasão russa. Agora, estima-se que menos de 40 mil ainda vivam lá. Carroll disse ter visto pessoas deixando a cidade de trem. As autoridades locais estão transferindo moradores para a região de Rivne, no oeste da Ucrânia. No site da prefeitura, um trem gratuito é oferecido a cada oito dias. Serhij Harmash, editor-chefe do portal Ostriw, acredita que isso não seja suficiente: "As pessoas vão fugir de forma desorganizada." "Ver as pessoas fugindo com seus pertences empacotados em algumas poucas sacolas é uma cena muito triste, mas infelizmente muito familiar no Donbass. Você vê carros com móveis amarrados no teto", diz Carroll. "Conversei com uma mulher de 84 anos que está enfrentando uma situação dessas pela segunda vez na vida. Ela se lembra da primeira, quando era pequena, nos anos 1940. Agora, está fugindo do Exército de Vladimir Putin. A mulher estava tão revoltada que não conseguia nem pronunciar o nome dele." Por que Pokrovsk é importante Pokrovsk fica numa intersecção de importantes ferrovias e rodovias, incluindo a E50, que conduz ao oeste, até Pavlograd, na região vizinha de Dnipropetrovsk. São cerca de 20 quilômetros até a fronteira regional, e alcançá-la é um objetivo declarado do Kremlin. De acordo com estimativas oficiais, no segundo semestre de 2023, a Ucrânia controlava cerca de 45% da região de Donetsk, onde viviam cerca de 480 mil pessoas. Desde então, a área controlada diminuiu, mas não há dados exatos disponíveis (o mapa a seguir mostra a situação de três meses atrás). O Exército ucraniano dispõe de "dois importantes pontos logísticos que permitem o controle da parte ucraniana do Donbass", afirma Yuri Butusov, um dos mais renomados correspondentes de guerra ucranianos e chefe do Censor.net. "Trata-se dos centros urbanos de Pokrovsk-Myrnohrad e Sloviansk-Kramatorsk. Eles são de importância estratégica. A situação é crítica para toda a região de Pokrovsk-Myrnohrad", destaca o jornalista. O historiador militar austríaco Markus Reisner compartilha dessa preocupação. "Pokrovsk é uma importante base logística para a Ucrânia. Se for perdida, isso resultará em atrasos nas entregas em outras áreas. Além disso, é uma base na terceira linha de defesa, e para além dela, há uma área aberta", diz o coronel da Academia Militar Theresiana, em Wiener Neustadt. "É por isso que a situação é tão perigosa." Logo a oeste de Pokrovsk, não há grandes cidades que sejam importantes do ponto de vista da defesa ucraniana. Se a Ucrânia será capaz de estabelecer novas e fortes linhas de defesa é uma questão em aberto. Segundo Reisner, isso geralmente leva meses. Para o historiador, no pior cenário, caso haja problemas com o apoio ocidental, "o Donbass pode passar definitivamente para o lado russo, resultando em uma possível ruptura que talvez só possa ser contida em Dnipro". Como o Exército russo se aproximou de Pokrovsk A situação em Pokrovsk, segundo observadores, é o resultado de dois acontecimentos. Primeiro, em 17 de fevereiro deste ano, a Rússia conquistou Avdiivka, um subúrbio bem fortificado de Donetsk. De Avdiivka a Pokrovsk são cerca de 60 quilômetros, e o Exército russo percorreu a maior parte dessa distância em seis meses. O segundo acontecimento importante foi em maio, quando o Exército russo conseguiu explorar a rotação de tropas ucranianas perto do vilarejo de Ocheretyne e "romper" o front, descreve Butusov. Segundo o jornalista, as forças russas avançam em pequenos grupos. Carroll compartilha informações semelhantes: "Em Avdiivka, a infantaria contou com o apoio de unidades mecanizadas. A Rússia dispõe agora de menos veículos blindados, e a principal ofensiva está sendo conduzida por infantaria em motocicletas e scooters, essa é a principal tática." Reisner acredita que tenha sido por acaso que a área de Pokrovsk se tornou o ponto mais crítico da guerra no Donbass. "Foi lá que a Rússia conseguiu romper a segunda linha de defesa das tropas ucranianas, mas isso poderia ter ocorrido em outro lugar, como em Siversk", considera. Por que o Exército russo avança rumo a Pokrovsk? Observadores citam vários fatores para explicar o avanço russo rumo a Pokrovsk, incluindo as consequências da falta de munição no inverno no hemisfério norte, quando os fornecimentos dos EUA foram interrompidos. Agora, a situação melhorou, mas a Rússia ainda está em vantagem, havendo três munições de artilharia russas para cada uma do lado ucraniano, apontou recentemente o comandante-chefe Oleksandr Syrskyi. No entanto, essa não é a principal causa, consideram observadores. "Há um problema na organização e no planejamento das batalhas", diz Butusov. Carroll também menciona isso, mas, para ele, a principal razão é outra: "As forças ucranianas estão no limite, estão extremamente exaustas; alguns combatentes permanecem 30, 40 e, em alguns casos, até 70 dias em suas posições." A ofensiva ucraniana em Kursk vai ajudar? Muitos especialistas suspeitam que o objetivo da ofensiva ucraniana em Kursk, em território russo, seja reduzir a pressão da Rússia sobre o Donbass. Até agora, isso talvez não tenha ocorrido na medida que Kiev esperava, e observadores acreditam que esse suposto objetivo não será alcançado. A Rússia, na realidade, intensificou seus esforços, observa Carroll. Um militar ucraniano disse ao correspondente que, além da falta de munição para as tropas de Kiev, desde o início do ano a Rússia "melhorou significativamente seu sistema de rastreamento e destruição de artilharia". |
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Short teaser | Enquanto tenta pressionar Moscou com ofensiva na Rússia, Kiev vê tropas inimigas se aproximarem da importante Pokrovsk. | ||
Author | Roman Goncharenko | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ucrânia-vive-batalha-crítica-por-cidade-estratégica-no-leste-do-país/a-70084139?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/69990191_354.jpg | ||
Image caption | Moradores de Pokrovsk e das cidades vizinhas de Myrnohrad e Selydove foram instruídos a deixar suas casas | ||
Image source | Evgeniy Maloletka/AP Photo/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/69990191_354.jpg&title=Ucr%C3%A2nia%20vive%20batalha%20cr%C3%ADtica%20por%20cidade%20estrat%C3%A9gica%20no%20leste%20do%20pa%C3%ADs |
Item 42 | |||
Id | 70082567 | ||
Date | 2024-08-29 | ||
Title | Serviço secreto russo abre processo contra repórter da DW | ||
Short title | Serviço secreto russo abre processo contra repórter da DW | ||
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FSB instaurou ação penal contra Nick Connolly, que fez uma reportagem sobre a atual situação em Kursk, entrevistando moradores da região russa.O serviço secreto russo (FSB) anunciou a instauração de um processo penal contra dois jornalistas por terem viajado à região russa de Kursk. O correspondente da Deutsche Welle em Kiev Nick Connolly e Natalia Nagorna, da emissora ucraniana 1+1, são acusados de entrar ilegalmente em território russo. Connolly, que é alemão, esteve na quarta-feira passada (21/08) na pequena cidade de Sudzha, na região controlada pelos ucranianos em Kursk, para uma reportagem. O FSB afirmou que o jornalista de 38 anos cruzou ilegalmente a fronteira. O repórter da DW fazia parte de um pequeno grupo de jornalistas que viajava com militares ucranianos e, sob sua guarda, estiveram brevemente na região de Kursk. Ele entrevistou civis russos sobre suas experiências, além de soldados ucranianos. A atitude da Rússia não foi uma surpresa, afirmou Connolly nesta terça-feira (27/08) à DW. "Isso era esperado. Eles fizeram o mesmo com outros jornalistas que viajaram para lá. Quem está na Ucrânia noticiando sobre a guerra não pode viajar oficialmente para a Rússia", afirmou Connolly. O motivo é legal: segundo leis russas, uma reportagem sobre os fatos in loco na Ucrânia pode ser enquadrada como difamação do Exército russo. "Até mesmo os veículos que ainda são ativos na Rússia têm uma equipe em Moscou e outra aqui na Ucrânia", acrescenta Connolly. Não é um caso isolado Na semana passada, o FSB iniciou um processo penal semelhante contra Nick Paton Walsh, correspondente britânico especialista em segurança internacional da CNN. A Rússia anunciou que irá processar todos os jornalistas que atravessaram a fronteira sem autorização. Até o momento, foram instaurados sete processos contra jornalistas estrangeiros. Quem atravessa a fronteira ilegalmente, do ponto de vista da Rússia, pode ser punido com uma pena de até cinco anos de prisão. A liderança do Kremlin tem pressionado a imprensa estrangeira também de outras maneiras, inclusive a Deutsche Welle. No início de 2022, as autoridades russas proibiram a transmissão da DW no país, o que levou ao fechamento do escritório da emissora alemã em Moscou. Pouco depois, a Rússia classificou a DW como "agente estrangeiro". Atualmente, a Duma, o Parlamento russo, tenta proibir a Deustche Welle no país e classificá-la com "indesejável". Desde fevereiro de 2022, as Forças Armadas ucranianas têm resistido à invasão russa. A Rússia continua ocupando grandes partes do leste e do sul da Ucrânia. Em 6 de agosto, Kiev iniciou uma invasão surpresa. Os aliados ocidentais da Ucrânia, como Alemanha e Estados Unidos, aparentemente não foram informados sobre a operação. O problema, segundo Connolly, é o aumento dos pontos cegos, porque jornalistas já não podem estar in loco em muitas regiões disputadas. cn/le (DW) |
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Short teaser | FSB instaurou ação penal contra Nick Connolly, que fez uma reportagem sobre a atual situação em Kursk. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/serviço-secreto-russo-abre-processo-contra-repórter-da-dw/a-70082567?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/70062565_354.jpeg | ||
Image caption | Nick Connolly esteve em Kursk na semana passada | ||
Image source | DW | ||
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Item 43 | |||
Id | 70069372 | ||
Date | 2024-08-28 | ||
Title | O que faz do Brasil uma potência paralímpica | ||
Short title | O que faz do Brasil uma potência paralímpica | ||
Teaser |
Em 2021, a delegação brasileira conquistou 72 medalhas nos Jogos de Tóquio, ficando na sétima posição geral. Investimentos dos últimos anos no esporte adaptado explicam sucesso, que deve ser repetido em Paris. Desde os Jogos Paralímpicos de Pequim, em 2008, quando terminou na nona colocação no quadro geral de medalhas, a delegação brasileira se manteve entre os dez países que mais conquistaram medalhas. Foram 47 pódios em Londres 2012, que renderam uma incrível sétima posição. O Brasil conquistou o número total de 72 medalhas nos Jogos do Rio e novamente em Tóquio, ficando na oitava e sétima posição geral, respectivamente. Em comparação, o Brasil conquistou 74 medalhas nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, Londres 2012, Rio 2016 e Tóquio 2020 somados. Essa diferença mostra que o país é uma potência paralímpica. Se por um lado atletas paralímpicos alcançaram muito sucesso nos últimos anos, brasileiros com deficiência enfrentam ainda grandes dificuldades no cotidiano. Atualmente, cerca de 18,6 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência, o que corresponde a 8,9% da população, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2022. Também de acordo com a pesquisa, a taxa de analfabetismo entre pessoas com deficiência (PCDs) no terceiro trimestre de 2022 foi de 19,5%. Entre a população sem deficiência, ela ficou em 4,1%. Em relação à formação escolar, apenas 25,6% das PCDs haviam concluído o ensino médio, contra 57,3% das pessoas sem deficiência. No mercado de trabalho, o nível de ocupação de PCDs é de 26,6%, menos da metade do percentual registrado entre a população brasileira total, que é de 60,7%. Em relação a salário e remuneração, os dados mostram ainda que os PCDs têm uma renda média 30% menor: R$1.860 contra R$2.690 para pessoas sem deficiência. Essa lacuna na inserção escolar e no mercado de trabalho pode ser um dos motivos que leva muitos a recorrer ao esporte de alto rendimento, onde há um apoio muito maior para pessoas com deficiência do que em outros setores. No Brasil, o esporte funciona muitas vezes como uma ferramenta de transformação, muda vidas, e com PCDs isso não é diferente. "O Brasil ainda tem um caminho longo pra atuar em relação às pessoas com deficiência em toda área cultural, educacional, mas esportivamente estamos seguindo um rumo bem promissor", afirma Yohansson Nascimento, vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro e dono de seis medalhas paralímpicas no atletismo entre 2008 e 2016. Patrocínio e investimento no esporteSe o apoio no esporte paralímpico é maior que nos outros setores da sociedade, isso se deve ao trabalho do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Criado em fevereiro de 1995, o comitê teve um papel fundamental na ampliação e visibilidade do esporte paralímpico no país. Os resultados já vieram nos primeiros jogos após sua fundação, em Atlanta 1996: foram 21 medalhas (dois ouros, seis pratas e 13 bronzes) e a 37ª colocação no quadro de medalhas. Um grande ponto de virada para o desenvolvimento do esporte de modo geral no país foi o sancionamento da Lei Agnelo Piva, em 2001, que estabeleceu o repasse de uma parte da arrecadação das loterias federais para os Comitês Olímpico e Paralímpico. O CPB, no caso, recebe 0,95% de tudo o que é apostado nas loterias da Caixa. Somado a isso, marcas como Asics, Braskem, Havaianas, loterias Caixa e Toyota, também contribuem bastante como patrocinadoras de algumas modalidades ou do comitê de modo geral. Além disso, existem marcas apoiadoras, como a Ajinomoto, e fornecedoras, como a Max Recovery. Toda essa rede torna possível o investimento em infraestrutura e no desenvolvimento do esporte adaptado no país. "Isso faz com que o CPB consiga estruturar cada vez mais os nossos programas por conta de todo esse financiamento", diz Nascimento. Infraestrutura e plano estratégicoA oportunidade de sediar os Jogos Paralímpicos do Rio em 2016 também ajudou a alavancar o esporte adaptado no Brasil. Tido como o maior legado físico da competição, o Centro de Treinamento Paralímpico, construído em São Paulo, conta com instalações esportivas indoor e outdoor para treinamentos e competições de 15 modalidades. O complexo ainda tem uma área residencial com alojamentos, refeitório, lavanderia e um setor administrativo com salas, auditórios e outros espaços. Além do centro de treinamento, desde 2017, o CPB passou a incorporar no seu plano estratégico a difusão de centros de referência, que aproveitam espaços esportivos para oferecer modalidades paralímpicas, desde a iniciação até o alto rendimento. São 72 em todo o país, pelo menos um em cada estado, alcançando todas as regiões do Brasil. Também em 2017, o CPB passou a criar os programas de desenvolvimento esportivo com os festivais paralímpicos. "No ano passado, estivemos em 119 cidades espalhadas por todo o Brasil e mais de 40 mil crianças tiveram esse primeiro contato com o esporte paralímpico", completa o vice-presidente do CPB. O que esperar do Brasil em ParisO Brasil envia a Paris a maior delegação da sua história: 280 atletas, sendo 255 esportistas com deficiência, 19 atletas-guia (18 do atletismo e 1 do triatlo), três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo. Em apenas duas modalidades o Brasil não vai competir: basquete em cadeira de rodas e rúgbi em cadeira de rodas. As expectativas são as melhores possíveis. Depois de um bom ciclo, com treinamento em centros de excelência no Brasil e participações importantes em competições internacionais, o Brasil Paralímpico (como é chamada a delegação brasileira) tem tudo para superar o recorde de pódios batido no Rio e repetido em Tóquio. "No momento, o número mágico que o CPB está falando é bater o número de 72 medalhas conquistadas nos últimos jogos. O nosso próprio planejamento estratégico prevê a conquista de 70 a 90 medalhas no total, então pode esperar que muitas medalhas estão vindo por aí", afirma Nascimento. O carro-chefe, como nas outras edições, deve ser o atletismo. O Brasil terá 71 atletas e 18 guias, praticamente o número máximo possível, que permite que apenas 72 atletas de um mesmo país possam competir. A delegação brasileira ficou em segundo lugar geral nos últimos dois mundiais da modalidade, somente atrás da China, e deve vir forte em Paris. As equipes do vôlei sentado, sobretudo a feminina, campeã mundial em 2022, e do futebol para cegos, campeã de todos os Jogos Paralímpicos desde a estreia da modalidade, também estão cotadas para trazer medalhas. Entre os principais destaques individuais estão nomes como Carol Santiago, dona de cinco medalhas paralímpicas, incluindo 3 de ouro, na classe S12 da natação, Petrúcio Ferreira, bicampeão paralímpico da classe T47 do atletismo, e Alana Maldonado, campeã paralímpica em Tóquio na classe J2 do judô. |
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Short teaser | Investimentos dos últimos anos no esporte adaptado explicam sucesso refletido em medalhas nos últimos Jogos. | ||
Author | Enzo Kfouri | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-que-faz-do-brasil-uma-potência-paralímpica/a-70069372?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 44 | |||
Id | 70058645 | ||
Date | 2024-08-27 | ||
Title | O que você precisa saber sobre os Jogos Paralímpicos | ||
Short title | O que você precisa saber sobre os Jogos Paralímpicos | ||
Teaser |
Jogos reúnem em Paris mais de 4 mil atletas e terão competições em 22 modalidades. Brasil quer se consolidar como potência paralímpica.Os Jogos Paralímpicos de Paris começam nesta quarta-feira (28/08). O governo da França espera que as competições, que prosseguem até 8 de setembro, atraiam 4 milhões de visitantes, 10% deles estrangeiros. Cerca de 4.400 atletas em 168 delegações competirão por 549 medalhas de ouro (e o mesmo número em prata e bronze) em 22 modalidades. Uma semana antes do início, mais de 1,75 milhão dos 2,8 milhões de ingressos já haviam sido vendidos, segundo os organizadores. As primeiras competições terão início nesta quinta-feira, após a cerimônia de abertura, começando pelo badminton. O Comitê Paralímpico Internacional (IPC) também anunciou que oito atletas formarão a maior Equipe Paralímpica de Refugiados já existente. Eles vão representar as mais de 120 milhões de pessoas que foram obrigadas a deixar suas regiões de origem em todo o mundo. Nos Jogos Paralímpicos de 2021 em Tóquio, a equipe de refugiados era composta por seis atletas. Nos últimos sete anos, as autoridades investiram cerca de 125 milhões de euros para tornar a metrópole francesa mais inclusiva. Prédios públicos e o transporte público se tornaram mais acessíveis, e 10.400 caixas de som foram instaladas em cruzamentos para pessoas com deficiência visual. A história No verão de 1948, o neurologista judeu alemão Ludwig Guttmann, que havia fugido dos nazistas para o Reino Unido em 1939, organizou em Londres a primeira competição para atletas em cadeiras de rodas, que ele chamou de Stoke Mandeville Games. Essa é a origem dos Jogos Paralímpicos, que foram realizados pela primeira vez em Roma, em 1960, com 400 atletas de 23 países. Desde então, eles têm ocorrido a cada quatro anos. Os primeiros Jogos Paralímpicos de Inverno foram organizados na Suécia em 1976 e também são realizados a cada quatro anos desde então. Desde 1988, os Jogos Paralímpicos são realizados no mesmo local que os Jogos Olímpicos devido a um acordo entre o IPC e o Comitê Olímpico Internacional (COI). A importância Os Jogos Paralímpicos são um dos eventos mais importantes do paradesporto. O número de atletas participantes tem aumentado constantemente, assim como o interesse da mídia. "As perguntas nas entrevistas são cada vez mais genéricas", observa o velocista paralímpico alemão Johannes Floors, medalhista de ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Segundo ele, não se trata mais apenas da deficiência de um atleta, mas cada vez mais da pessoa, da personalidade ou da motivação. Para a nadadora paralímpica alemã e campeã mundial Elena Semechin, os Jogos Paralímpicos são mais do que apenas competições esportivas. "Eu vejo isso também como uma atividade de embaixador, como ser um modelo para outras pessoas", diz a medalhista de ouro em Tóquio. "É a melhor coisa que você pode fazer", diz o paraciclista Thomas Ulbricht, de 39 anos. "Você quer se apresentar, deixar seus pais orgulhosos e, é claro, seu país", diz o atleta, que está competindo nos Jogos Paralímpicos pela quinta vez. Diferenças entre Jogos Olímpicos e Paralímpicos Acabam-se os Jogos Olímpicos, começam os Paralímpicos. Para os organizadores em Paris, isso significa, entre outras coisas, que os locais de competição e a Vila Olímpica, onde os atletas moram durante os Jogos, têm de ser parcialmente reconstruídos. "As praças públicas, ruas e calçadas precisam ser adaptadas para que pessoas em cadeiras de rodas possam usá-las sem problemas", explica o diretor da Vila Olímpica, Laurent Michaud. "Isso significa estar em conformidade com os padrões de acessibilidade universal exigidos para novos empreendimentos urbanos." Somente os apartamentos da Vila Olímpica que tiverem pelo menos um banheiro com acessibilidade universal serão usados. Nas áreas externas, obstáculos pouco visíveis foram pintados, e rampas para usuários de cadeira de rodas foram instaladas nos locais de competição. A discussão sobre a qualidade da água do Sena também continuará nos Jogos Paralímpicos porque, como nos Jogos Olímpicos, a natação nas competições de triatlo será realizada no rio parisiense. No entanto, ao contrário dos Jogos Olímpicos, não haverá competições de natação em águas abertas nos Jogos Paralímpicos. Entretanto, ao contrário do Jogos Olímpicos, a bocha faz parte do programa paralímpico desde 1984. A paraescalada vai virar esporte paralímpico em Los Angeles em 2028, sete anos após a estreia olímpica da escalada esportiva em Tóquio. Os esportes praticados Os 22 esportes das competições de Paris são os mesmos de Tóquio – ou seja, nenhuma nova modalidade foi incluída. São eles: futebol de cegos, badminton, bocha, arco e flecha, adestramento, halterofilismo, golbol, judô, canoagem, atletismo, ciclismo, basquete em cadeira de rodas, esgrima em cadeira de rodas, rúgbi em cadeira de rodas, tênis em cadeira de rodas, remo, natação, vôlei sentado, tiro esportivo, taekwondo, tênis de mesa, triatlo. Apenas dois não têm um equivalente olímpico: bocha e golbol. Atletas russos Os atletas da Rússia e de Belarus podem participar dos Jogos Paralímpicos sob uma bandeira neutra, mas estão excluídos das cerimônias de abertura e encerramento. O Comitê Paralímpico Russo enviará um total de 88 atletas a Paris, apesar de uma comissão independente nomeada pelo IPC ter autorizado 185. Oito atletas belarrussos também competirão. Brasil A delegação brasileira chega a Paris com a meta de superar o número total de 72 medalhas dos Jogos do Rio e de Tóquio e também a sétima posição alcançada nesses dois eventos – a melhor que o Brasil já obteve. Nas quatro últimas edições, o Brasil se manteve entre os dez países que mais conquistaram medalhas. A expectativa dos dirigentes brasileiros é de que, na França, o país obtenha o seu melhor desempenho em Jogos Paralímpicos. No atletismo, na natação, no judô e no futebol de cegos estão algumas das principais esperanças de vitória. Em Paris, o Brasil terá 280 atletas nas competições paralímpicas, sendo 255 esportistas com deficiência, 19 atletas-guia (18 do atletismo e 1 do triatlo), três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo. Em apenas dois esportes o Brasil não vai competir: basquete em cadeira de rodas e rúgbi em cadeira de rodas. A primeira participação do Brasil em Jogos Paralímpicos foi em 1972, em Heidelberg, na Alemanha. A primeira medalha – de prata – foi conquistada quatro anos depois em Toronto, no Canadá, por Luiz Carlos da Costa e Robson Sampaio, na modalidade lawn bowls (um jogo semelhante à bocha), que já não faz mais parte das competições. O Brasil tem 373 medalhas conquistadas em Jogos Paralímpicos, em 11 edições. São 109 ouros, 132 pratas e 132 bronzes, sendo que as modalidades que mais garantiram pódios paralímpicos ao país são atletismo (170 medalhas: 48 ouros, 70 pratas e 52 bronzes), natação (125 medalhas: 40 ouros, 39 pratas e 46 bronzes) e judô (25 medalhas: cinco ouros, nove pratas e 11 bronzes). A melhor campanha do Brasil nos Jogos foi a mais recente, em Tóquio 2020, ocasião em que a delegação brasileira ficou na sétima posição, com 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes. Desde os Jogos de Atenas, em 2004, o Brasil tem se mantido num elevado nível nas competições, com um grande número de medalhas, e se consolidado como uma potência no esporte paralímpico. |
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Short teaser | Jogos reúnem 4 mil atletas e terão competições em 22 modalidades. Brasil quer se consolidar como potência paralímpica. | ||
Author | Thomas Klein | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-que-você-precisa-saber-sobre-os-jogos-paralímpicos/a-70058645?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Jogos Paralímpicos começam em 28 de agosto e vão até 8 de setembro | ||
Image source | Aurelien Morissard/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 45 | |||
Id | 70014974 | ||
Date | 2024-08-22 | ||
Title | O lucrativo e mortal tráfico de migrantes no México | ||
Short title | O lucrativo e mortal tráfico de migrantes no México | ||
Teaser |
Morte de criança chama atenção para crime organizado na fronteira com os EUA. Negócio bilionário, tráfico mira também cidadãos da África e Ásia, e Brasil entrou nessa rota como porta de entrada no continente.Mais uma vez, uma caminhonete que transportava migrantes em direção à fronteira com os Estados Unidos foi alvo de tiros no estado de Sonora, no norte do México. O saldo: um menor de idade morto, oito migrantes feridos e o veículo completamente destruído. O ataque ocorreu no último fim de semana, na estrada entre Tubutama e Sáric, a apenas cerca de 50 quilômetros da fronteira internacional. De acordo com a imprensa local, a criança morta seria mexicana, e os feridos, haitianos. No entanto, as autoridades mexicanas ainda não confirmaram as nacionalidades. A região fronteiriça em Sonora é uma área disputada por gangues criminosas que buscam controlar o tráfico de migrantes, armas e drogas. Os cartéis de Sinaloa, Jalisco Nova Geração e Caborca operam na área. "Mortes violentas de migrantes ocorrem constantemente na região. A população já está acostumada", afirma à DW Tamara Aranda, especialista em migração e ativista em Sonora. "Certamente se tratava da caminhonete de um 'coiote' [traficante de pessoas] que levava o grupo à fronteira e pode ser que tenha se recusado a pagar pedágio aos cartéis." O ataque trouxe à memória um incidente semelhante ocorrido em fevereiro deste ano, quando um menino e duas mulheres migrantes foram assassinados enquanto viajavam em uma caminhonete por Caborca, a poucos quilômetros de Tubutama e Sáric. "Não deram muitas informações até agora, mas como é possível que uma van transportando menores chegue até Sonora, depois de atravessar vários estados e quilômetros, sem ter sido parada por alguma autoridade, a menos que estejam coniventes com elas?", critica Gloria Valdez, coordenadora do Seminário de Assessoria à Infância Migrante do Colégio de Sonora, associação que acolhe crianças e adolescentes migrantes. O milionário negócio do tráfico de pessoas Somente entre janeiro e junho deste ano foram registrados 741 homicídios em Sonora, de acordo com dados oficiais. Devido aos múltiplos assassinatos, sequestros e extorsões, a fronteira entre o México e os Estados Unidos é considerada a rota migratória terrestre "mais perigosa" do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Isso não impediu que cerca de um milhão de pessoas cruzassem a fronteira em Sonora em 2023 – movimento aproveitado por traficantes. Dados de 2022 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) apontam que o tráfico de pessoas movimenta 31 bilhões de dólares por ano em todo o mundo. Somente o que ocorre entre a América Latina e os Estados Unidos seria responsável, em uma estimativa conservadora, por 8,5 bilhões de dólares. Em 2023, a organização Insight Crime estimou que, apenas na travessia do México para os Estados Unidos, o tráfico ilegal de migrantes possa garantir a organizações criminosas lucros de mais de 12 bilhões de dólares por ano. Até 20 mil dólares para cruzar a fronteira No continente americano, os chamados coiotes cobrariam entre 5 mil e 20 mil dólares (entre R$ 27 mil e R$ 100 mil) por pessoa dependendo de diversos fatores, como o local de origem do migrante, os meios de transporte utilizados e o uso de documentos falsos. Uma opção mais econômica, porém mais perigosa, é atravessar a selva de Darién, entre a Colômbia e o Panamá, onde se paga menos de 50 dólares aos traficantes para cruzar a fronteira. É, sem dúvida, um negócio criminoso lucrativo, mas que não garante que os migrantes cheguem sãos ou vivos ao seu destino. "Migrantes nos contam que precisam pagar quantias similares para chegar a Sonora, mas, na fronteira com os Estados Unidos, podem até ser abandonados [pelos traficantes], caso sejam descobertos pela patrulha fronteiriça", diz a ativista Valdez. Calcular números exatos é muito difícil e depende da fonte, segundo Aranda. "Mas é fato que, depois das armas e das drogas, o tráfico de pessoas é o negócio mais lucrativo para o crime organizado no México", afirma a especialista. Migração extracontinental em alta Além da migração proveniente de países das Américas, como Venezuela, Guatemala, Honduras e Haiti, vê-se atualmente um aumento da migração extracontinental. "Agora temos em Sonora migrantes de cinco continentes: Ásia, África, Oceania, Europa e América", relata Valdez. Um estudo recente da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime constatou que o tráfico de pessoas para os Estados Unidos evoluiu de tal forma que agora são oferecidos pacotes VIP, que podem custar até 60 mil dólares por pessoa para migrantes da Ásia. O custo depende do local de origem na África ou Ásia, de onde as pessoas geralmente são transportadas para a América do Sul e, em seguida, "sobem" pelo continente até os Estados Unidos. Tudo isso diante de uma aparente permissividade das autoridades mexicanas. "A rota da migração irregular no México não ocorre sem a vigilância do Estado. Há agentes migratórios em cada esquina, então é muito difícil para as pessoas transitarem do sul até o norte", ressalta Aranda. "Na ausência de uma política migratória horizontal e transversal, a situação vai continuar assim, mesmo com maior vigilância: com tecnologia ou muros, as pessoas vão continuar migrando", considera Valdez. Brasil na rota do tráfico de pessoas para os EUA Brasil é um dos países que entrou nessa rota da imigração ilegal com destino aos Estados Unidos, como indicou um relatório da Polícia Federal (PF). De acordo com uma reportagem da TV Globo, que teve acesso ao documento, estrangeiros de vários países compram passagens com conexão no Brasil para outros destinos sul-americanos. Ao chegar no país, deixam de embarcar para o destino final e entram com um pedido de refúgio. O documento afirma que a maioria dessas pessoas quer uma permissão para entrar no Brasil para, em seguida, tentar entrar ilegalmente nos Estados Unidos ou no Canadá. Grande parte desses migrantes são de países da África e do Sul da Ásia. A grande maioria destes pedidos de refúgio, 70%, foi feita por cidadãos do Nepal, Vietnã e Índia. Somente no aeroporto de Guarulhos, mais de 8 mil estrangeiros pediram refúgio entre janeiro de 2023 e junho deste ano. Em resposta ao aumento do fluxo migratório, o Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou que o Brasil passará a restringir a entrada de imigrantes sem visto para o país. |
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Short teaser | Tráfico mira também cidadãos da África e Ásia, e Brasil entrou nessa rota como porta de entrada no continente. | ||
Author | Camilo Toledo-Leyva | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-lucrativo-e-mortal-tráfico-de-migrantes-no-méxico/a-70014974?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Mãe e filha venezuelanas na fronteira entre México e Estados Unidos | ||
Image source | Adrees Latif/REUTERS | ||
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Item 46 | |||
Id | 64814042 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
Short title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
Teaser |
UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção. Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março. Lei antioligarca De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda. Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias. Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado. Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares. Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas. Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares. Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país. Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros. A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões. Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares. Não existem mais oligarcas ucranianos? Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política. Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los". De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE. Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra. "Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos. Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas. |
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Short teaser | UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas. | ||
Author | Eugen Theise | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/qual-ainda-é-o-real-poder-dos-oligarcas-ucranianos/a-64814042?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/61090061_354.jpg | ||
Image caption | O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia | ||
Image source | Daniel Naupold/dpa/picture alliance | ||
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Item 47 | |||
Id | 64820664 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
Short title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
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De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02). A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes. Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros. O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro. Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado. Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos. De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas. Turquia começa reconstrução As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção. Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep. Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente. Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad. Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados. Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares. Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores. Istambul precisa de 40 bilhões de dólares Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto. "A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico. De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia. Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil. le (EFE, DPA, Reuters, ots) |
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Short teaser | De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/mortos-em-terremoto-na-turquia-e-na-síria-passam-de-50-mil/a-64820664?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil | ||
Image source | Selahattin Sonmez/DVM/abaca/picture alliance | ||
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Item 48 | |||
Id | 64819106 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
Short title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
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Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado. Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética. Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia. Acordo após mais de 24 horas de reuniões As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões. "Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter. O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca. Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen. O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE. Sanções contra firmas iranianas Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia. As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas. Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco. O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia. No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional. md (EFE, Reuters, AFP) |
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Short teaser | Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ue-impõe-10°-pacote-de-sanções-contra-a-rússia/a-64819106?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen, | ||
Image source | Zhang Cheng/XinHua/dpa/picture alliance | ||
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Item 49 | |||
Id | 64816115 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
Short title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
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Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia. Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou. Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor." Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz. "No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter. Estreitar laços O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra. Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou. Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo". O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra". Proposta da China Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países. "Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou. Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev. cn/bl (Reuters, AFP, Efe) |
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Short teaser | Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/zelenski-quer-américa-latina-envolvida-em-processo-de-paz/a-64816115?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia | ||
Image source | President of Ukraine/apaimages/IMAGO | ||
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Item 50 | |||
Id | 64811757 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Short title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
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Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado. Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos. Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares. Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia. Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%. No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente. Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim. "A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico. A proposta da China para a guerra na UcrâniaAté a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta. Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito. No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada. "A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW. Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia. O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais. "Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia. "No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou. Mediador duvidosoAlém disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou. Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin. "É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner. Campanha de relações públicas sem riscosA proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática. "O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura. "Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou. "Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner. Outros pontos da propostaO texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais. A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta. "O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang. |
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Short teaser | Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia. | ||
Author | Alena Zhabina | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=%22Plano%20de%20paz%22%20chin%C3%AAs%20deixa%20mais%20d%C3%BAvidas%20do%20que%20respostas |
Item 51 | |||
Id | 64811407 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin | ||
Short title | Zelenski, o presidente subestimado por Putin | ||
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Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente. As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo. Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!". "Preciso de munição, não de carona"Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido. A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos. A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo. Câmeras, as armas mais poderosas de ZelenskiEm seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana. No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos". No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo. Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas. Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação. Putin não levou Zelenski a sérioMuitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin. A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia. Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado. Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente. Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas. A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir. Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos. Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar. Nem tudo é fácilIsso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos. Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana. O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia. Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana. |
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Short teaser | Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores. | ||
Author | Roman Goncharenko | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 52 | |||
Id | 64810396 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Short title | Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Teaser |
Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online. Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa. "Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema." A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha". Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída. Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real. Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala. "Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW. Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos. Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento. Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real. "Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman. Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização. "É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman. Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse. "Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman. Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos. O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum". "Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças. Fadiga por compaixão em relação a refugiados Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia. "Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW. Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo. É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África. "Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa. A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo. "Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW. Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis. "Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW. Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida. Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia. |
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Short teaser | Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. | ||
Author | Fred Schwaller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) | https://static.dw.com/image/64260087_354.jpg | ||
Image caption | Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia | ||
Image source | Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/64260087_354.jpg&title=Ap%C3%B3s%20um%20ano%20de%20guerra%20na%20Ucr%C3%A2nia%3A%20Por%20que%20sofremos%20fadiga%20por%20compaix%C3%A3o%3F |