Item 1 | |||
Id | 73854200 | ||
Date | 2025-09-02 | ||
Title | Por que o terremoto no Afeganistão foi tão destruidor? | ||
Short title | Por que o terremoto no Afeganistão foi tão destruidor? | ||
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Não é só a magnitude de um sismo que determina sua destrutividade. Profundidade, características do solo e os métodos e materiais de construção usados também são determinantes.Escalas como a Richter, que medem a magnitude de um terremoto, são importantes por permitirem uma comparação entre as energias liberadas, mas dizem pouco sobre os danos causados. Estes dependem também da profundidade do sismo e das condições locais.
O recente terremoto no Afeganistão, que atingiu com mais força as províncias de Kunar e Nangarhar, teve magnitude 6 na escala Richter. Embora isso não seja extremamente forte, três outros fatores ampliaram a devastação: a baixa profundidade do sismo, as condições do solo e o uso disseminado de materiais de construção rudimentares.
Terremotos superficiais
O epicentro do terremoto foi localizado a uma profundidade de apenas 8 quilômetros. Terremotos que ocorrem a profundidades inferiores a 70 quilômetros são chamados de superficiais e têm um elevado poder de destruição porque a energia liberada atinge a superfície de forma direta e repentina.
No caso de terremotos superficiais, a probabilidade de danos graves aumenta nas zonas de subducção, como são chamadas as áreas geológicas onde uma placa tectônica é empurrada para debaixo de outra, o que frequentemente causa fortes terremotos.
Embora o Afeganistão não esteja localizado numa zona de subducção oceânica, ele está localizado numa zona de colisão, onde um antigo remanescente da placa indiana, nas profundezas do Hindu Kush, afunda lentamente no manto terrestre, desencadeando fortes terremotos.
Composição do solo
Em muitas regiões do Afeganistão, os solos têm baixa coesão ou são constituídos por sedimentos ou camadas de argila. Solos argilosos ou arenosos saturados de água podem se liquefazer durante um terremoto e, em consequência, perdem sua capacidade de suportar cargas. Isso pode fazer com que edifícios afundem ou deslizem. Em paralelo, especialmente após chuvas fortes, a umidade reduz a estabilidade das construções.
Métodos e materiais de construção
As casas afegãs são frequentemente construídas com argila, pedras e tijolos de barro cru, em geral sem estruturas metálicas de apoio ou fundações de concreto. Esse método de construção é considerado particularmente vulnerável a terremotos, pois as paredes mal conseguem suportar vibrações e podem facilmente desabar.
Nas áreas rurais, há uma completa ausência de normas de construção e de estruturas resistentes a terremotos. Nas áreas urbanas, até mesmo casas de tijolos são construídas sem vigas de aço. Estimativas científicas mostram que mesmo terremotos moderados podem causar danos graves nessas condições.
Falta de estações sísmicas
Os terremotos devastadores de 2023 em Herat já haviam destacado a necessidade urgente de medições científicas no Afeganistão, dizem especialistas do centro alemão de pesquisa em geociências GFZ, de Potsdam, depois de décadas de instabilidade no país.
"Há apenas um número limitado de estações sísmicas e nenhuma medição adicional por satélite GNSS na extremidade oeste da falha geológica de Herat", declarou o GFZ após o terremoto de Herat. "Isso representa um desafio significativo para a modelagem precisa desses terremotos afegãos e para a obtenção de conclusões confiáveis."
Quando um terremoto se torna perigoso?
Além da magnitude na escala Richter, o perigo representado por um terremoto depende decisivamente da resistência das construções e da natureza do solo.
Somente a partir da magnitude 3,5 as pessoas começam a perceber tremores em áreas povoadas: elas sentem vibrações e leves movimentos. A partir da magnitude 5, móveis e objetos soltos tremem, e rachaduras visíveis surgem nas paredes de edifícios mal construídos.
A partir da magnitude 6, casas mal construídas desabam, pontes podem quebrar, pessoas são soterradas ou feridas por objetos que caíram. A partir da magnitude 7, mesmo edifícios robustos desabam, e bairros inteiros podem ser destruídos. A partir da magnitude 8, a destruição é muito grande e mesmo a centenas de quilômetros do epicentro pode-se ter por certo que houve muitas mortes.
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Short teaser | Não é só a magnitude: profundidade, características do solo e métodos e materiais de construção também são decisivos. | ||
Author | Alexander Freund | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/por-que-o-terremoto-no-afeganistão-foi-tão-destruidor/a-73854200?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Vilarejo na província de Kunar destruído pelo terremoto de agosto de 2025 no Afeganistão | ||
Image source | Wahidullah Kakar/AP Photo/dpa/picture alliance | ||
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Item 2 | |||
Id | 73850020 | ||
Date | 2025-09-02 | ||
Title | [Coluna] Processo contra Bolsonaro pode melhorar imagem do Brasil | ||
Short title | Processo contra Bolsonaro pode melhorar imagem do Brasil | ||
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Reações no exterior ao julgamento do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado são positivas, o que finalmente melhora a imagem e revigora o soft power do país.É surpreendente como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro é acompanhado com atenção no exterior. Amigos meus na Alemanha que pouco se interessam pelo Brasil me escrevem para dizer que admiram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ele desafiar o presidente dos EUA, Donald Trump, em vez de adotar uma postura submissa, como os líderes europeus.
O mesmo vale para o julgamento de Bolsonaro. Veículos de imprensa como a revista britânica The Economist dedicam várias páginas para explicar e detalhar o processo. A capa para as Américas da atual edição do semanário, O que o Brasil pode ensinar aos EUA, já diz tudo.
O jornal americano The Washington Post vê no julgamento de Bolsonaro e seus cúmplices até mesmo um ponto de virada histórico para o Brasil. Segundo o diário, é a primeira vez que os participantes de um golpe de Estado vão a julgamento no país. Além disso, acrescenta, a Justiça brasileira não se deixa intimidar por Trump e seus aliados das big techs.
É surpreendente como o Brasil soma pontos com democratas de todo o mundo por ter levado a julgamento um presidente que, como mostra a investigação, tentou se manter no poder por meio de uma revolta após ter perdido a eleição nas urnas.
Uma explicação para isso pode ser o fato de que, nos EUA, o maior modelo de democracia no mundo, isso não ocorreu. Ao contrário: lá há um presidente no poder (Trump) que tentou algo semelhante a Bolsonaro. Ambos tentaram mobilizar seus apoiadores para ameaçar a ordem constitucional e assim continuar no poder mesmo depois de perderem uma eleição.
Quem poderia imaginar que o Brasil um dia seria um modelo para os Estados Unidos devido ao respeito aos princípios democráticos?
Reviravolta positiva?
Acho que isso é um enorme ganho de imagem para o Brasil que pode ter efeitos positivos duradouros. O que o Brasil está acumulando é soft power.
Soft power se baseia em poder de atração e de persuasão por meio da cultura, de valores ou da diplomacia, em oposição ao hard power, por meio do qual os países impõem seus interesses com violência ou coerção militar ou econômica.
Por décadas o Brasil foi a nação do soft power. Pessoas em todo o mundo amavam o Brasil por causa da cultura, da música, do estilo de vida, do futebol, da descontração e da natureza, e não por causa de sua reduzida força econômica ou militar.
Em 2010, isso começou a ir água abaixo. A corrupção nos governos do PT exposta pela Operação Lava Jato, o impeachment de Dilma Rousseff, a miséria econômica, as queimadas na Amazônia e depois Bolsonaro com sua política cínica e desumana, mas aprovada pela metade dos brasileiros.
Será que agora haverá uma reviravolta positiva – lá onde ninguém esperava? Num mundo onde a democracia perde força e influência, o Brasil segue exatamente o caminho oposto e fortalece sua democracia?
O efeito positivo desse novo soft power pode ser visto no dossiê da Economist, uma revista liberal que costuma ser cética e não otimista. Só que, diante das surpreendentes qualidades democráticas do Brasil, os jornalistas da revista estão convencidos de que a condenação de Bolsonaro terá efeitos políticos positivos.
A polarização da sociedade poderia diminuir, e o centro político seria fortalecido. Assim, mesmo os grandes desafios, como as reformas necessárias do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e da economia e suas inúmeras subvenções, não seriam mais um problema.
Será que é o novo soft power brasileiro que deixa até mesmo a Economist tão otimista?
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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.
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Short teaser | Reações no exterior ao julgamento do ex-presidente são positivas, o que finalmente revigora o soft power do país. | ||
Author | Alexander Busch | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/coluna-processo-contra-bolsonaro-pode-melhorar-imagem-do-brasil/a-73850020?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Ao julgar Bolsonaro, Brasil segue caminho oposto ao de outros países e fortalece sua democracia | ||
Image source | Mateus Bonomi/Anadolu/picture alliance | ||
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Item 3 | |||
Id | 73849690 | ||
Date | 2025-09-02 | ||
Title | Os riscos da adultização de crianças e adolescentes | ||
Short title | Os riscos da adultização de crianças e adolescentes | ||
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A adultização aparece em comportamentos e exigências que antecipam a vida adulta das crianças e vai além da exposição nas redes sociais. Quando tinha 13 anos, Manuela Garbugio decidiu compartilhar nas redes sociais o presente que havia acabado de ganhar dos pais. A ideia foi fazer um vídeo mostrando a abertura do brinquedo e também como usá-lo. O brinquedo em questão era uma cauda de sereia. "Essa cauda você vestia no corpo para nadar como uma sereia. Eu quis fazer um vídeo abrindo meu presente e depois nadando com ela na piscina. Eu queria compartilhar aquele meu momento de alegria com as minhas amigas", conta. Na época, a estudante, que hoje tem 21 anos, tinha um canal no YouTube onde compartilhava viagens, presentes que ganhava e fazia trends do momento. Tudo era gravado e postado com a supervisão dos pais e tinha como seguidores apenas amigos da escola. Porém, dois anos depois da publicação, o vídeo em que Manuela aparecia usando o brinquedo viralizou e teve mais de 100 mil visualizações. "Achei estranho o vídeo ganhar destaque tanto tempo depois de ser postado, mas fiquei feliz e me senti famosa", recorda. O sentimento mudou dias depois quando a estudante percebeu que seu conteúdo estava ganhando visibilidade por estar sendo compartilhado em redes de pedofilia. No mesmo dia, ela removeu o vídeo nas redes sociais. "Para mim era um vídeo inocente, mas em alguns momentos eu aparecia de biquíni, nadando com a cauda de sereia. O vídeo começou a ter muitos comentários indicando os minutos em que essas imagens apareciam. Na época, eu fiquei muito impactada, são coisas que a gente só vê na TV, nos jornais e eu não imaginava que poderia acontecer comigo", diz a estudante. Quando esse episódio aconteceu, Manuela já fazia acompanhamento psicológico e as consequências emocionais foram tratadas imediatamente. Além de apagar o conteúdo, a estudante recorda que também deixou de compartilhar fotos ou vídeos que expusessem seu corpo de alguma maneira. "Eu percebi que as pessoas têm más intenções e a partir do momento que postamos algo na internet não sabemos onde esse conteúdo vai parar e com que olhos as pessoas vão ver aquilo", diz. Mesmo sempre sendo acompanhada pelos pais e tendo os conteúdos consumidos fiscalizados de perto por eles, a estudante considera que as redes sociais fazem mal, independentemente do tipo de conteúdo que você consome. Além disso, a jovem mudou completamente a forma como enxerga a exposição de crianças no universo online. O que era para ser apenas uma lembrança da adolescência virou prova de que a inocência pode ser facilmente distorcida no ambiente digital. "A rede social faz muito mal. Eu tenho que de vez em quando parar um pouco, apagar o Instagram, ficar um tempo fora das redes, porque é uma um ambiente muito tóxico que você tem que aprender a filtrar muito o conteúdo e também os comentários que vê. Quando você é criança, você não tem esse tipo de filtro e tudo pode te afetar muito", acrescenta. Adultização vai além das dancinhas nas redes sociaisA exposição de crianças e adolescentes nas redes sociais chamou a atenção de grande parte da sociedade recentemente após o influenciador digital Felca publicar um vídeo denunciando canais que se utilizam de imagens sexualizadas de menores de idade para ganhar dinheiro. Essa erotização precoce recebe o nome de adultização. No entanto, a adultização não está relacionada somente à exposição nas redes sociais. Ela também acontece quando expectativas e comportamentos típicos da vida adulta são impostos às crianças antes do tempo, como uso de roupas inapropriadas, maquiagens e até mesmo a criação de uma agenda cheia de compromissos. "A adultização é quando a criança passa a assumir comportamentos, responsabilidades ou aparências que não condizem com a sua idade. Isso acontece, por exemplo, quando ela é estimulada a usar roupas sensuais, maquiagens e acessórios que imitam o universo adulto. Esse tipo de prática passa a mensagem de que o valor da criança está na aparência e na sexualização precoce, quando na verdade a infância deveria ser marcada pelo brincar, pela criatividade e pelo desenvolvimento saudável", explica Tamiris Mariano, neurologista infantil. Esse processo de adultização também envolve expectativas de maturidade que não condizem com a idade. É comum que crianças sejam cobradas a "agir como adultos", a reprimir brincadeiras consideradas infantis cedo demais ou a assumir responsabilidades emocionais para as quais não estão preparadas. Esse tipo de cobrança, muitas vezes naturalizada no ambiente familiar ou escolar, pode comprometer etapas fundamentais do desenvolvimento infantil, como a criatividade, a socialização e a construção da identidade. "Quando a rotina da criança é estruturada apenas em compromissos, sem espaço para brincar, descansar ou simplesmente não fazer nada, ela acaba sendo submetida a um ritmo semelhante ao de um adulto. A infância precisa de tempo para a imaginação, a criatividade e uma rotina saudável. É importante lembrar: o brincar é essencial para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social", explica Lígia Vezzaro Caravieri, psicóloga e gerente técnica da ONG Ficar de Bem. Esse processo de adultização também pode acontecer de outras maneiras consideradas ‘inofensivas' e que até muito pouco tempo atrás eram vistas como normais pela sociedade brasileira, como tornar a criança responsável por cuidar dos irmãos mais novos ou até mesmo ajudar financeiramente. Regras ignoradasE no aspecto financeiro, mais uma vez entram as redes sociais e o universo online. Não é difícil encontrar crianças e adolescentes que são monetizados pelos conteúdos criados, ou seja, que recebem pelos vídeos postados em seus canais. São os chamados influenciadores mirins ou coaches mirins. Muitos desses conteúdos, inclusive, minimizam a importância do estudo e enfatizam a ideia de um trabalho fácil nas redes sociais, com bons lucros. Assim, muitas dessas crianças desencorajam seus seguidores a estudarem e os incentivam, muitas vezes, a seguirem seus passos. "Tem todo um conjunto de condições muito específicas para autorizar o trabalho infantil no Brasil, no entanto quando a gente vai para o ambiente digital, temos essas regras ignoradas. Então, não faz sentido só na internet não ter essas condicionantes", diz Rodrigo Nejm, coordenador do Eixo Digital e Especialista em Educação Digital do Instituto Alana. No Brasil, a idade mínima permitida para o trabalho é de 16 anos e na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. Há exceções como a autorizações para o trabalho, antes da idade mínima permitida, para a participação em representações artísticas, como em novelas, filmes e comerciais. Essas autorizações são concedidas por autoridade judicial de maneira individual, não se admitindo autorizações genéricas. Além disso, devem ser estabelecidas as condições em que o trabalho é permitido e limitado o número de horas de trabalho. Já quando o assunto é trabalhar com redes sociais ou de maneira online não há nenhuma especificação de como ele deve ser feito no caso de crianças e adolescentes. Como deixar as crianças e adolescentes longe das redesPular etapas não é saudável, já que o nosso cérebro evolui conforme nos desenvolvemos. O córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pela tomada de decisões e pelo pensamento racional, só se desenvolve completamente entre os 20 e os 25 anos. Isso significa que até essa idade ainda não estamos preparados para lidar com pressões, tarefas e emoções que não são adequadas para crianças e adolescentes. Além da exposição, há os efeitos emocionais em crianças que são expostas à adultização, independentemente da forma que ela ocorra – nas redes sociais ou longe. Pulando a fase lúdica da infância ou sobrecarregadas com tarefas, elas começam a ficar mais irritadas, cansadas e reativas. "Às vezes as crianças estão muito abatidas, não querem brincar ou fazer atividades prazerosas. Elas preferem ficar largadas no sofá, porque estão muito sobrecarregadas e muito cansadas. Ou então, não querem brincar porque só querem ficar no celular", diz Danielle Admoni, psiquiatra geral e psiquiatra da infância e adolescência, supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). No entanto, fazer com que as crianças e adolescentes passem menos tempo nas redes sociais não é tarefa fácil e esse afastamento das telas deve começar pelos pais. Pesquisa feita pela TIC Kids Online Brasil mostra que aproximadamente 22,3 milhões de usuários no Brasil são crianças e adolescentes. Dados da agência de comunicação We Are Global colocam o Brasil em segundo lugar no tempo gasto em redes sociais, com uma média de 9h13 semanais, ficando atrás somente da África do Sul, com 9h24, segundo o relatório Digital 2024. "Crianças e adolescentes percebem quando os pais também estão viciados nas telas. Um detox digital precisa ser vivido em conjunto, mostrando que a desconexão vale para toda a família. E planejar essas desconexões progressivamente, começando com pequenas pausas, como uma noite por semana, todo mundo sem telas, até se tornar um hábito. Isso evita a frustração e aumenta as chances de sucesso", diz Mariano. Outra estratégia prática é propor atividades presenciais que substituam o hábito de rolar o feed. Caminhadas ao ar livre, jogos de tabuleiro ou até mesmo um passeio de bicicleta podem servir como alternativas de lazer. "Pintar, tocar instrumentos, dançar, ler e praticar esporte. Essas atividades, dão prazer e estimulam a criatividade e reduzem naturalmente o tempo de tela, porque elas ocupam a criança, o adolescente e o adulto, de forma saudável ajudando a desenvolver novas habilidades", acrescenta a neurologista infantil. E por fim, organizar a rotina com tarefas bem definidas também ajuda a reduzir a dependência digital. Ao planejar os estudos, o tempo de descanso e as atividades de lazer, as crianças e adolescentes ganham clareza sobre a importância de equilibrar responsabilidades e diversão. A ideia, segundo os profissionais, não é eliminar totalmente o uso das redes, mas recuperar o controle sobre quando e como elas são utilizadas. "Aqui entra o ponto mais difícil. Tempo livre não pode ser sinônimo de tempo em frente à tela. Muitos pais lotam a agenda dos filhos para evitar que eles passem o dia no celular. Mas o desafio é criar tempo livre verdadeiro, com estímulos de qualidade, como brincar com amigos, desenvolver hobbies criativos, explorar a natureza ou simplesmente estar em famílias sem telas. Essas experiências nutrem o cérebro infantil muito mais do que qualquer curso extra ou vídeo da internet, além de fortalecer vínculos e memórias afetivas", finaliza Mariano. |
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Short teaser | A adultização aparece em comportamentos e exigências que antecipam a vida adulta das crianças. | ||
Author | Simone Machado | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/os-riscos-da-adultização-de-crianças-e-adolescentes/a-73849690?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Os%20riscos%20da%20adultiza%C3%A7%C3%A3o%20de%20crian%C3%A7as%20e%20adolescentes |
Item 4 | |||
Id | 73840865 | ||
Date | 2025-09-02 | ||
Title | [Coluna] Efeito Felca prova necessidade de regulamentar redes | ||
Short title | Efeito Felca prova necessidade de regulamentar redes | ||
Teaser |
Foi preciso haver um escândalo nacional e a votação de um projeto de lei para que o YouTube deletasse canais que expunham crianças. Entendem por que as redes precisam de regulamentação? Em seu perfil no Instagram, que tem quase 3 milhões de seguidores, o youtuber Taspio (Felipe Sápio) publica imagens de carros de luxo e um estilo de vida de ostentação. Ali, ele partilha também um pouco do seu trabalho. Um deles é produzir reality shows com crianças no YouTube. Basicamente, ele lucra expondo menores. No YouTube, perfis de fãs que exibem o conteúdo do canal mostram crianças fazendo danças sensuais, curtindo festas e muitas meninas usando roupas de adultas. É de enjoar. Talvez você, como eu, nunca tivesse ouvido falar antes desse youtuber. Mas o canal de Taspio somava 12 milhões de seguidores nas redes sociais. Só no YouTube, ele tinha 7 milhões de seguidores. Junto com outros canais, como "Bel para Meninas", "Paty e Dedé" e "João Caetano", ele foi retirado da plataforma no fim de agosto. Sim, o YouTube finalmente deletou alguns canais que geravam lucro absurdo para seus criadores e para a plataforma expondo e ridicularizado menores de idade. Mas isso só aconteceu depois de um escândalo nacional e da votação de uma lei. Eca DigitalFalo, claro, do "efeito Felca": a justa indignação que tomou conta do país depois que um vídeo do youtuber Felca denunciando a "adultização" de crianças na internet, o quanto isso era lucrativo e, ainda, o quanto esses vídeos atraíam pedófilos, viralizou. O vídeo gerou manifestações de horror de políticos de todos os campos e impulsionou a aprovação, na semana passada, do Projeto de Lei 2.628/2022, que visa proteger as crianças e os adolescentes em ambientes digitais. Chamado de "Estatuto Digital da Criança e do Adolescente", ou, "Eca Digital" , o projeto ainda precisa ser sancionado pelo presidente Lula, o que deve acontecer em breve. Ele prevê, entre outras coisas, que as plataformas sejam obrigadas a retirar imediatamente conteúdos que violem os direitos de crianças e adolescentes e o pagamento de multas milionárias caso isso não seja feito. Mas o "Eca Digital" nem precisou ser sancionado para que canais como o de Taspio fossem deletados. Em reportagem publicada no Estado de S. Paulo, o YouTube confirmou as remoções e afirmou que "conteúdo que visa menores de idade e famílias, mas que contém temas sexuais ou violência, ou que de outra forma coloca em risco o bem-estar emocional e físico de menores, não é permitido" e é retirado da plataforma "assim que é identificado". Que bom que esses canais finalmente foram deletados. Mas, vamos combinar, eles existiam há anos, a ponto de somarem esses números inacreditáveis. Eles não estavam "escondidos". A remoção só prova que as chamadas "big techs" só agem para apagar conteúdos danosos e que violam leis (esse tipo de exposição já era proibida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente) diante de muita pressão. Foi preciso que um escândalo nacional fosse criado e que um projeto de lei fosse votado para que canais que expunham crianças fossem deletados do YouTube. Sem isso, nada seria feito. Entendem por que as redes precisam de regulamentação? Isso prova que aquela velha conversa das big techs e de seus defensores de que as redes, de certa forma, se "autorregulam" não funciona. Se isso desse certo, esses canais já teriam sido deletados há anos, ou, na verdade, nunca existiriam. E não venham dizer que trata-se de liberdade de expressão. Estamos falando de vídeos que expunham crianças a situações vexatórias e atraíam pedófilos. Esse tipo de conteúdo não é só repulsivo moralmente, mas é, repito, contra a lei. Em seus canais, os youtubers reclamaram do apagamento de seus canais falando que estavam sendo "perseguidos" e que não fizeram nada de errado. Já conhecemos esse mimimi. Ele, junto com a defesa da tal liberdade de expressão, é usado por todos que lucram infringindo leis nas redes sociais. Vale explicar: se alguém for pego vendendo fotos de crianças sensualizando, essa pessoa vai ser presa porque isso é contra a lei. Essa prática seria mais explícita, mas não tão diferente de lucrar com conteúdo que atrai pedófilos na internet. Tomara que esse escândalo e a aprovação da "Lei Felca" sirvam para finalmente impulsionar os projetos que regularizam as redes no Brasil. Não vai ser fácil, já que esse é um assunto que mobiliza até o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para aqueles que temem que uma lei que regularize as redes no Brasil cause problemas ou seja "a volta da censura", relembro: na União Europeia as redes já são regulamentadas desde 2022. Apesar de ser parte da UE, a Alemanha ainda tem uma outra lei, a Jugendschutzgesetz (JuSchG), atualizada em 2021, que faz com que as plataformas sejam obrigadas a apagar conteúdos ofensivos e contra a lei, sob o risco de pagarem multas milionárias. Regular as redes não é, portanto, nenhuma novidade. Tomara que a proteção às crianças, que causou tanta indignação, deixe claro para todos que as redes precisam ser regulamentadas também no Brasil. E que isso é urgente. _____________________________ Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000, quando lançou com duas amigas o grupo "02 Neurônio". Já foi colunista da Folha de S.Paulo e do UOL. É uma das criadoras da revista TPM. Em 2015, mudou para Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada. Desde então, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão. O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW. |
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Short teaser | Foi preciso haver um escândalo nacional para que o YouTube deletasse canais que expunham crianças. | ||
Author | Nina Lemos | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/coluna-efeito-felca-prova-necessidade-de-regulamentar-redes/a-73840865?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 5 | |||
Id | 73842684 | ||
Date | 2025-09-01 | ||
Title | Reduzir feriados pode mesmo melhorar a economia de um país? | ||
Short title | Reduzir feriados pode mesmo melhorar a economia de um país? | ||
Teaser |
Vários países decidiram reduzir feriados, alegando que isso ajuda os orçamentos e impulsiona o crescimento. Outras análises sugerem que a produtividade não se resume aos dias trabalhados e que o tempo livre é essencial.A eliminação de feriados está em voga. Em julho, o primeiro-ministro francês, François Bayrou, propôs eliminar a Segunda-feira de Páscoa e o Dia da Vitória na Europa – celebrado em 8 de maio – da lista anual de 11 feriados da França. O plano gerou indignação e recebeu críticas de líderes políticos de todas as vertentes.
Bayrou afirmou que a medida ajudaria a França a aliviar as pressões orçamentárias. Ele não foi o único a apresentar tal proposta.
No início deste ano, a Eslováquia cortou um de seus feriados em um esforço para melhorar sua situação fiscal, espelhando uma medida tomada pela Dinamarca em 2023, quando removeu um feriado pós-Páscoa. O raciocínio em Copenhague era criar espaço fiscal para atender ao aumento dos orçamentos de defesa.
Do outro lado do Atlântico, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou na onda. Em 19 de junho, ele escreveu em sua rede social pessoal que "muitos feriados sem trabalho nos Estados Unidos" estavam custando "bilhões de dólares".
Muitos interpretaram os comentários de Trump como uma declaração política, pois ele a fez no dia 19 de junho, o chamado Juneteenth, data em que se comemora o fim da escravidão nos EUA e que foi transformada em feriado pelo governo de seu antecessor, Joe Biden.
Mas, há evidências suficientes para sugerir que países com menos feriados sejam mais produtivos economicamente?
Efeito parcialmente comprovado
"As evidências que sustentam essa ideia são limitadas", avaliou Charles Cornes, economista sênior da consultoria econômica britânica Cebr, em entrevista à DW. "A produtividade é impulsionada menos pelo número de feriados e mais por fatores como a eficiência da mão de obra, investimento de capital, qualificação da força de trabalho e tecnologia."
Estudos sugerem que aumentos muito pequenos no Produto Interno Bruto (PIB) são possíveis como resultado da redução de feriados.
Um estudo de 2021 realizado por Lucas Rosso e Rodrigo Andres Wagner constatou que feriados podem, de fato, aumentar a demanda por algumas subcategorias do PIB, mas também que, quando os feriados caem nos fins de semana e não são substituídos, há um pequeno aumento no índice.
No entanto, estudos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Bundesbank da Alemanha constataram que qualquer aumento no PIB seria proporcionalmente muito menor do que o aumento no total de dias úteis.
Em teoria, um dia de folga para um trabalhador significa que sua produtividade é zero naquele dia. Há também o argumento de que a produtividade do trabalhador diminui nos dias próximos aos feriados, já que muitas pessoas tiram folgas para maximizar o tempo livre.
Embora a redução de um feriado possa levar ao aumento da arrecadação tributária para o governo, há contra-argumentos de que os dias de folga aumentam o bem-estar dos trabalhadores a longo prazo, o que também pode impactar a produtividade.
"Há evidências que sugerem que, sem mais férias e feriados, os trabalhadores correm maior risco de burnout, e isso pode levar a um declínio no bem-estar dos trabalhadores de forma mais holística", disse Adewale Maye, analista de políticas e pesquisa do Instituto de Política Econômica em Washington, à DW.
Feriados e férias remuneradas
O debate sobre feriados faz parte de uma discussão mais ampla sobre a jornada de trabalho em geral. Alemanha, Reino Unido e Holanda estão entre os países que tentam combater o crescimento econômico lento, revertendo as recentes quedas na média de horas de trabalho.
No entanto, eliminar feriados é uma ideia distinta de incentivar uma maior participação na força de trabalho – por exemplo, incentivando aqueles que trabalham meio período a trabalhar mais horas, como vem fazendo a Alemanha.
Isso normalmente provoca uma reação muito menos intensa do que a ideia de eliminar completamente os feriados nacionais.
Somando feriados e férias remuneradas, a maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) oferece entre 30 e 36 dias de folga remunerada para os trabalhadores anualmente, de acordo com um estudo de 2020.
EUA como exceção
Alguns dos países com o maior número de dias combinados, como Áustria (38), Dinamarca (36) e Finlândia (36), também apresentam alguns dos maiores PIB per capita do mundo.
Os EUA são o único país da OCDE que não possui férias remuneradas. O país tem 11 feriados, mas, de acordo com a analista Adewale Maye, muitos setores, como varejo, turismo e transporte, ainda operam durante os feriados, pois os trabalhadores não têm garantia de folga remunerada.
Ele cita todos os outros países da OCDE que oferecem férias remuneradas sem prejudicar suas economias. "Essas economias se saíram bem, ao mesmo tempo em que permitiram aos trabalhadores o direito ao descanso", observou.
Maye afirma que esse é um dos argumentos centrais contra a hipótese do presidente Trump de que os EUA têm muitos "feriados inúteis".
"Trabalhar mais nunca foi o problema nos Estados Unidos", disse, "mas sim, construir uma economia onde todos os trabalhadores e suas famílias possam se sentir apoiados, seguros e prosperar."
Fatores de produtividade dos trabalhadores
Charles Cornes afirma que, devido às dimensões do território americano, pedir para as empresas fecharem por um dia pode de fato ter um impacto econômico materialmente negativo. No entanto, ele afirma que cada setor é diferente.
"O setor de hotelaria e varejo, em particular, frequentemente registra um aumento na atividade, fornecendo o suporte tão necessário aos varejistas tradicionais que enfrentaram a pressão constante do crescimento do comércio eletrônico na última década", disse.
Comes enfatiza que a produtividade dos trabalhadores, em última análise, se resume a outros fatores e não é simplesmente uma questão de horas trabalhadas.
"Por exemplo, se os alemães estivessem trabalhando menos horas, mas com o mesmo nível de produção dentro dessas horas reduzidas, isso não prejudicaria a economia e poderia, em vez disso, ser benéfico tanto social quanto economicamente se as pessoas tivessem mais tempo livre para dedicar a outras experiências."
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Short teaser | Vários países querem reduzir feriados para impulsionar o crescimento, mas o tempo livre também pode ser essencial. | ||
Author | Arthur Sullivan | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/reduzir-feriados-pode-mesmo-melhorar-a-economia-de-um-país/a-73842684?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | A eliminação de feriados está em voga em muitos países como meio de impulsionar a economia | ||
Image source | Waldemar Thaut/Zooonar/picture alliance | ||
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Item 6 | |||
Id | 73811571 | ||
Date | 2025-09-01 | ||
Title | O que está em jogo no julgamento histórico de Bolsonaro | ||
Short title | O que está em jogo no julgamento histórico de Bolsonaro | ||
Teaser |
STF decide se ex-presidente e outros sete réus são culpados em trama golpista. Caso atrai holofotes mundiais e rompe com tradição conciliadora pós-ditadura.Poucos momentos no calendário brasileiro evocam o espírito nacionalista como o 7 de Setembro, Dia da Independência. Crianças são estimuladas a celebrar as cores do país e desfiles cívicos e militares tomam as ruas de várias cidades. Em Brasília, tanques passam pela Esplanada dos Ministérios e um militar costuma bater continência para o presidente da República.
Neste ano, as celebrações terão um pano de fundo especial: o julgamento dos acusados de integrarem o núcleo central da trama para dar um golpe de Estado após as eleições de 2022, cuja figura de proa é o ex-presidente e militar reformado Jair Bolsonaro. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) inicia o julgamento nesta terça-feira (02/09) e reservou sessões para isso até a sexta-feira da próxima semana.
Apoiadores de Bolsonaro organizarão atos no 7 de Setembro em sua defesa, sob o mote de que seria um julgamento injusto, e críticos ao ex-presidente também irão às ruas defendendo sua punição. O país está dividido, com uma leve maioria de apoio ao trabalho do STF e à prisão de Bolsonaro.
Uma pesquisa Datafolha realizada em 29 e 30 de julho apontou que 55% concordavam com as primeiras restrições aplicadas pelo STF contra o ex-presidente, como tornozeleira eletrônica e proibição de sair de casa à noite, enquanto 41% discordavam. O resultado é mais apertado sobre se Bolsonaro deveria ser preso por tentativa de golpe: 48% responderam que sim e 46%, que não, no limite da margem de erro de dois pontos percentuais.
O presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, reconheceu que o julgamento traz "algum grau de tensão" ao país, mas o considera importante para encerrar um ciclo. "É imperativo o julgamento, porque o país precisa encerrar o ciclo em que se considerava legítima e aceitável a quebra da legalidade constitucional por não gostar do resultado eleitoral", disse em 25 de agosto.
Nos 50 dias que antecederam o julgamento, Bolsonaro sentiu gradativamente os efeitos de restrições à sua liberdade. Em 18 de julho, teve que instalar uma tornozeleira eletrônica e foi proibido de usar redes sociais, de sair de casa à noite e de se comunicar com investigados e autoridades estrangeiras. Em 4 de agosto, após descumprir a proibição de uso de redes sociais, teve sua prisão domiciliar decretada e seus celulares apreendidos e foi proibido de receber visitas sem autorização judicial.
Essas decisões foram tomadas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator de inquéritos e ações penais relacionadas à tentativa de golpe. A primeira, que decretou as cautelares, foi referendada pela Primeira Turma da corte.
Bolsonaro nega que tenha tentado um golpe e diz estar sendo perseguido por Moraes. Sua defesa afirmou, nas alegações finais, que o ex-presidente em momento algum "praticou qualquer conduta que tivesse por finalidade impedir ou dificultar a posse" de Luiz Inácio Lula da Silva e que ele "sempre defendeu e reafirmou a democracia e o Estado de Direito". Os demais réus também negam ter participado de atividades criminosas.
Como será o julgamento
O presidente da Primeira Turma, ministro Cristiano Zanin, programou sessões nos dias 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro para julgar a ação penal sobre o chamado "núcleo crucial" da trama do golpe. Compõem o colegiado Zanin, Moraes, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux.
Além de Bolsonaro, há outros sete réus nessa ação penal, sendo quatro militares da reserva de alta patente: Almir Garnier Santos, almirante da reserva da Marinha, Augusto Heleno, general da reserva do Exército e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, Paulo Sérgio Nogueira, general da reserva do Exército e ex-ministro da Defesa, e Walter Braga Netto, general da reserva do Exército e ex-ministro da Casa Civil.
Os demais três réus são Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Alexandre Ramagem, deputado federal (PL-RJ) e ex-diretor geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e Mauro Cid, tenente-coronel da ativa do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
O grupo é acusado de ter cometido cinco crimes em 2022 e 2023: golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, associação criminosa armada, dano contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Apenas Ramagem não responderá ao crimes de dano contra o patrimônio da União e de deterioração de patrimônio tombado.
O julgamento será iniciado com Moraes lendo seu relatório sobre o caso, seguido pela manifestação do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Depois, os advogados dos réus apresentam suas sustentações orais, começando pela defesa de Mauro Cid, que firmou um acordo de colaboração premiada. A defesa de Bolsonaro será a quinta a se manifestar.
Por fim, os ministros apresentam seus votos e, caso haja maioria pela condenação, fixam a pena de cada réu. Dependendo da evolução, é possível que o julgamento não seja encerrado no dia 12, e novas sessões seriam marcadas. Também é possível que algum ministro peça vista do processo, com prazo de 90 dias para devolução. Mesmo que haja pedido de vista, a expectativa é que o julgamento termine neste ano.
Brasília terá um contingente extra de policiais durante os dias de julgamento, e cerca de 30 policiais estarão permanentemente de prontidão no STF, inclusive durante a noite. Também foram realizadas varreduras nas casas dos ministros.
O que está em jogo
Sob uma perspectiva histórica, o julgamento será a primeira vez que o sistema de Justiça brasileiro irá processar e, eventualmente, punir um ex-presidente por tentativa de golpe de Estado. Trata-se de uma ruptura com o modelo adotado da última vez em que o Brasil sofreu um golpe de Estado, em 1964, cujos líderes e patrocinadores foram poupados após a redemocratização por uma generosa anistia.
Bolsonaristas e integrantes conservadores do Congresso tentaram fazer avançar um projeto que anistia o ex-presidente e seus apoiadores, mas a empreitada não deslanchou. Segundo a pesquisa Datafolha citada no início deste texto, 55% dos brasileiros são contra uma anistia, enquanto 35% são favoráveis.
O julgamento ocorrerá de forma relativamente célere considerando a complexidade do caso e os padrões do Judiciário brasileiro: dois anos e oito meses após os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, que depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília e balançaram o início do atual governo Lula. .
A maioria da massa de bolsonaristas que participou dos atos golpistas já foi responsabilizada. Foram abertas 1.628 ações penais no STF sobre o caso, e até 12 de agosto 1.190 pessoas haviam sido responsabilizadas pela corte – 638 foram julgadas e condenadas e outras 552 admitiram a prática de crimes menos graves e fizeram acordo com o Ministério Público Federal.
O STF também estará sob holofotes internacionais. Bolsonaro integra uma corrente de partidos e movimentos de extrema direita atuantes em diversos países do mundo. Os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 em Brasília emularam o ataque ao Capitólio de 5 de janeiro de 2021 em Washington DC, quando apoiadores de Donald Trump, então derrotado em sua campanha à reeleição, tentaram impedir a posse de seu sucessor, Joe Biden.
A evolução de ambas as tentativas violentas de subversão da ordem institucional teve caminhos muito distintos até o momento, o que levou a revista britânica The Economist a publicar uma reportagem de capa sustentando que o julgamento de Bolsonaro no Brasil oferece uma lição de "maturidade democrática" aos EUA.
Essa distinção tem sido frisada por Lula, cujo governo está no alvo de Trump. O líder dos EUA anunciou um tarifaço contra o Brasil para, entre outros motivos, pressionar pela suspensão do julgamento de Bolsonaro.
"Se Trump fosse brasileiro e se tivesse feito o que aconteceu no Capitólio, ele também seria julgado, e se ele também tivesse violado a Constituição de acordo com a Justiça, ele também estaria preso", afirmou Lula em uma entrevista à CNN publicada em 17 de julho. O paralelo internacional dá a Lula um discurso de defesa da soberania, mas pode vir a causar mais problemas para o Brasil – é possível que Trump amplie a pressão sobre seu governo caso Bolsonaro seja condenado.
Por fim, uma eventual condenação de Bolsonaro acelera a disputa na direita entre pré-candidatos ao Planalto que querem o apoio da base política do ex-presidente, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo)
Bolsonaro já está inelegível até 2030, em função de outros processos julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas se recusa a apoiar um nome para as eleições de 2026. Essa estratégia é similar ao que fez Lula quando ficou preso de abril de 2018 a novembro de 2019 por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação penal sobre o triplex no Guarujá, posteriormente anulada pelo STF.
O petista seguiu candidato às eleições de 2018, como forma de aumentar a pressão política pela reversão de seu julgamento, e o PT só declarou que Fernando Haddad seria seu candidato no último dia do prazo eleitoral.
O que acontece se Bolsonaro for condenado
Caso seja considerado culpado pelos crimes dos quais é acusado, Bolsonaro pode receber uma pena máxima de mais de 40 anos de reclusão. A definição de pena leva vários fatores em conta, inclusive a idade do condenado.
Se houver divergência entre os ministros da Primeira Turma sobre a sentença para Bolsonaro, é possível que seus advogados apresentem um recurso chamado embargos infringentes para tentar levar o processo ao plenário da corte, mas há dúvida sobre se isso poderia ser aplicado neste caso.
Bolsonaro tem 70 anos e alguns problemas de saúde, parte deles decorrente da facada que levou durante a campanha eleitoral de 2018. Desde que foi colocado em prisão domiciliar, ele tem tido crises de soluço e sintomas de refluxo. Em 16 de agosto, o ex-presidente foi a um hospital para realizar exames, e seu boletim médico apontou um quadro de infecções pulmonares, esofagite e gastrite.
Segundo uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, ministros do STF avaliam que uma eventual condenação de Bolsonaro à prisão não seria cumprida em um quartel do Exército, pois poderia estimular uma movimentação de seus apoiadores. Outras duas possibilidades são consideradas: uma cela especial no presídio da Papuda, em Brasília, ou uma sala adaptada na Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal – similar ao que ocorreu quando Lula esteve preso em Curitiba.
Se for condenado, a defesa de Bolsonaro deve pedir que ele cumpra a pena em regime domiciliar, citando o precedente do ex-presidente Fernando Collor, que tem 76 anos e foi condenado por um esquema de corrupção na BR Distribuidora. Poucos dias após ser preso, o STF autorizou em 1º de maio que ele cumprisse a pena em casa, após a defesa alegar que ele sofre de doenças graves, que incluem doença de Parkinson, apneia do sono grave e transtorno afetivo bipolar.
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Short teaser | STF decidirá se ex-presidente e outros sete réus são culpados em trama para dar golpe de Estado. | ||
Author | Bruno Lupion | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-que-está-em-jogo-no-julgamento-histórico-de-bolsonaro/a-73811571?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Bolsonaro nega que tenha tentado um golpe, e afirma estar sendo perseguido por Alexandre de Moraes | ||
Image source | Marco Bello/REUTERS | ||
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Item 7 | |||
Id | 73838911 | ||
Date | 2025-09-01 | ||
Title | Brasileiros vasculham arquivos da Europa em busca de cartas indígenas | ||
Short title | Brasileiros buscam cartas indígenas em arquivos da Europa | ||
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De passagem por Espanha, Reino Unido, Portugal e Holanda, pesquisadores procuram resquícios inéditos da história dos povos indígenas entre os séculos 17 e 19. Existe um mantra que diz que a história indígena é uma história a se fazer. Partindo dessa premissa, dois pesquisadores brasileiros decidiram percorrer arquivos de museus e nações europeias em busca de evidências que possam ajudar a contar histórias ainda desconhecidas dos povos indígenas do Brasil. A professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e fellow na University of London Suzane Costa e o professor visitante da UFBA e fellow no King's College de Londres Rafael Xucuru-Kariri estão visitando durante um ano arquivos, museus e bibliotecas da Espanha, Reino Unido, Portugal e Holanda em busca de cartas e evidências de escritos de povos indígenas brasileiros. A pesquisa é a terceira etapa do projeto As Cartas dos Povos Indígenas ao Brasil, iniciado há 15 anos com o objetivo de coletar, organizar e publicizar cartas escritas por indígenas em três importantes períodos da história literária e política do Brasil: 1630-1680, época do Brasil Colônia, 1888-1930 e 1999-2020. Até agora, foram reunidas cerca de 2 mil cartas; destas, 1,3 mil estão disponíveis digitalmente no site do projeto. Com base nesse acervo e também no levantamento da Biblioteca Nacional das fontes de interesse do Brasil em arquivos da Espanha, França, Bélgica, Holanda, Inglaterra, Áustria, Itália, Vaticano e Estados Unidos, os pesquisadores montaram um roteiro de visitas a serem feitas até 2026. "Tem muita coisa já digitalizada, mas tem alguns materiais que a gente também pode encontrar fisicamente e que ainda não foram digitalizados por esses grandes arquivos europeus", diz Costa. Em outubro, a dupla estará em Portugal para visitar o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, um dos mais antigos do mundo, aberto em 1378, e o Arquivo Histórico Ultramarino. Em seguida, pretendem ir uma segunda vez a Haia, na Holanda, para buscar novos documentos no Arquivo Nacional – eles já fizeram uma viagem desde que chegaram ao Reino Unido, onde estão morando durante a pesquisa. Também nos planos está uma visita a campo em Oxford, na Inglaterra, e ao British Museum, em Londres. "Eles [British Museum] têm um departamento muito interessante agora de América Latina e estão convidando pesquisadores e pesquisadoras indígenas para fazer intervenções e acompanhamento do material que eles aprisionam lá", conta Xucuru-Kariri. Há o sonho ainda de conseguir financiamento e autorização para visitar o Arquivo Nacional Francês, conhecido como Archives Nationales, em Paris, que pode ter documentos da relação dos franceses com os indígenas potiguaras, e também os arquivos do Vaticano, em busca da memória perdida dentro das cartas da Companhia de Jesus. Os desafios da pesquisa nos arquivos europeusEncontrar as cartas nos arquivos europeus não é tão simples como parece, requer o uso da imaginação e o levantamento de hipóteses não previstas na história, como considerar mulheres e indígenas como autores de cartas escritas aos governos europeus durante o período colonial. E os documentos estão arquivados a partir de uma lógica europeia, que coloca os personagens importantes para locais como Portugal, Espanha e Holanda na centralidade dos fatos. Os arquivos não estão catalogados como cartas dos indígenas, mas cartas do país, de um determinado comandante ou, por exemplo, da Companhia das Índias Ocidentais. Tampouco haverá um destaque para indígenas nas cartas ou matérias jornalísticas arquivadas, ou uma ala do museu dedicada a eles. Eles também nem sempre estarão nas estantes dedicadas ao Brasil. "A gente sabe que essas pessoas [indígenas, mulheres e negros] são protagonistas dessa história, mas não sabe como viveram esse protagonismo em suas próprias vidas. Toda a montagem desses personagens, dessas pessoas, tem uma adjetivação europeia. É o arquivo deles", diz Xucuru-Kariri. De acordo com o pesquisador, a primeira vez que a Europa começou a discutir textos considerando os povos indígenas como autores foi entre a década de 1970 e 1980, com a publicação da obra Nova Crônica e Bom Governo, escrita pelo cronista indígena Felipe Guamán Poma de Ayala em 1615. O documento estava no Museu Real da Dinamarca e, para Xucuru-Kariri, isso reflete os desafios da pesquisa que os brasileiros estão fazendo nos arquivos europeus. "Até então a Europa só discutia a colonização a partir da sua própria perspectiva", diz. A carta que despertou novas possibilidadesEm outubro de 1654, o indígena potiguara Antônio Paraupaba escreveu uma carta ao Grande Pensionário da Holanda, Johan de Witt, preocupado com sua família. Paraupaba queria retirá-los da ilha das Caraíbas, sob controle neerlandês, e levá-los aos Países Baixos. Buscava, sobretudo, informações sobre a esposa Paulina. Oficial de cavalaria da companhia do comandante Broeckhuijsen, Paraupaba havia deixado a Paraíba rumo à Europa em 1625, com o pai e uma dezena de indígenas. Lá, foi um dos principais articuladores da aliança entre os potiguara e os neerlandeses. Na época em que a carta foi escrita, essa relação já havia ruído. O documento estava no Arquivo Nacional de Haia, dentro do inventário dos arquivos de Johan de Witt, entre os anos de 1653 e 1672, e foi encontrado por Rafael Xucuru-Kariri enquanto ele procurava por resquícios da história de Paulina. A tradução foi publicada em 2024 na Revista de História da Universidade de São Paulo (USP). O achado motivou ele e Costa a buscarem por novos materiais nos arquivos europeus e a iniciarem a terceira fase da pesquisa, prevista no projeto desde 2018, com a busca de documentos dos séculos 17, 18 e 19 – algo que só agora está em curso. Costa se mantém com uma bolsa da Capes destinada a pesquisadores de destaque, e Xucuru-Kariri conseguiu o fellowship após ter sido premiado na edição de 2024 do Prêmio Capes de Tese na área de sociologia. O que os pesquisadores querem encontrarApesar de as cartas serem a prova documental e a motivação para vasculhar os arquivos europeus, o objetivo principal dos pesquisadores não é necessariamente achar os documentos, e sim pistas que possam contar a história de pessoas que o Brasil desconhece. "A gente está indo em busca de todo o complexo do fato, mas não da materialidade em si, porque a gente acredita que [as cartas] estão lá, mas a gente não pode afirmar que vai encontrar", afirma Costa. Isso porque muitos documentos de autoria de indígenas, mulheres e negros escritos durante o período colonial não foram conservados. "Eles não eram importantes, não eram considerados relevantes para construir uma memória, para construir história", explica ela. Um exemplo é a própria carta de Paraupaba, encontrada pelos pesquisadores enquanto buscavam informações sobre Paulina. Eles acreditavam que ela pudesse ter escrito algo ou feito demandas diretas ao governo neerlandês, o que os levou aos arquivos de Witt. Costa afirma que seria muito bom achar as cartas, mas principalmente as evidências do que não foi documentado e, a partir disso, montar o quebra-cabeça da vida de algumas pessoas, como Paulina e Paraupaba: saber quem eram, por onde passaram, o que fizeram e qual o legado que deixaram. "O século de ouro [dos neerlandeses] foi construído com povo indígena. Se não fosse o povo indígena, esse século não seria tão dourado", aponta Costa, que também busca identificar a participação das mulheres indígenas nesse período histórico. O sonho de levar as cartas para as escolasO interesse de Costa pelas cartas dos povos indígenas brasileiros nasceu por acaso, quando era professora do magistério indígena – hoje licenciatura intercultural indígena. Ao fim de uma aula, ela viu seus alunos se reunirem para escrever coletivamente um documento, algo que testemunhou pela primeira vez. O assunto era "a escola indígena que a gente quer", e destinatário, o atual senador e então governador da Bahia Jaques Wagner (PT). "Ver aqueles indígenas todos reunidos foi uma cena incrível. Foi lindo eles dizendo tudo o que eles queriam para a escola", conta. O relato dessa experiência acabou indo parar na tese de doutorado de Costa e motivou alguns anos depois a criação do Núcleo de Estudos das Produções Autorais Indígenas da UFBA, mais ou menos na mesma época em que uma carta dos indígenas guarani-kaiowá, interpretada como uma ameaça de suicídio em massa, mobilizou o país em 2012. Tanto por esse começo quanto por entender que as cartas são importantes para compreender a história do país, Costa e Xucuru-Kariri pretendem transformar essas cartas reunidas em novos documentos e formatos acessíveis ao público. Além de disponibilizá-las no site do projeto, os pesquisadores também querem instalar QR codes nos locais onde essas cartas foram escritas, como na casa onde Paraupaba escreveu o pedido de traslado da família, em Haia, e criar material didático para escolas brasileiras. "A gente quer que as cartas indígenas sejam consideradas cartas do Brasil também e que elas entrem na formação escolar de qualquer brasileiro, que eles possam ler essas cartas como parte constituinte da história", conclui Costa. |
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Short teaser | Pesquisadores procuram resquícios inéditos da história dos povos indígenas entre os séculos 17 e 19. | ||
Author | Alice de Souza | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/brasileiros-vasculham-arquivos-da-europa-em-busca-de-cartas-indígenas/a-73838911?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 8 | |||
Id | 73838313 | ||
Date | 2025-09-01 | ||
Title | A nova aposta latino-americana no transporte por trens | ||
Short title | A nova aposta latino-americana no transporte por trens | ||
Teaser |
Sob críticas, países da região acumulam projetos bilionários para ampliar sua malha ferroviária. Brasil estuda linha que liga Ilhéus, na Bahia, a Chancay, no Peru.O plano brasileiro anunciado pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, de abrir uma ferrovia capaz de ligar o Atlântico ao Pacífico coincide com um esforço latino-americano mais amplo de modernizar e integrar sua defasada rede de trilhos.
Segundo o Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF), atualmente existem 155 projetos ferroviários deste tipo na região, que demandam investimentos na casa dos 400 bilhões de dólares (R$ 2,1 trilhões) e, se concluídos, ampliariam a malha ferroviária latino-americana em 57 mil quilômetros.
A Ferrovia Bioceânica, por exemplo, foi apresentada como uma espécie de revolução no setor. "Se este projeto for realizado, vamos transformar todo o cenário econômico do Brasil", defendeu Tebet em julho.
"O projeto ferroviário tornará o Brasil muito mais competitivo. É uma mudança radical. Terá impacto direto sobre regiões do Norte, do Centro-Oeste, do interior do Sudeste e do Nordeste", completou.
A proposta do megaprojeto é conectar o porto de Ilhéus, na Bahia, ao porto de Chancay, no Peru, aproveitando partes de linhas ferroviárias já implementadas. Em julho, o governo brasileiro assinou uma parceria com a China para estudar a viabilidade de implementar e conectar os demais trechos, que cruzariam ainda Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre. A estimativa é que o trajeto contemple 3 mil quilômetros de extensão.
Projetos ferroviários acumulam críticas
O envolvimento chinês é visto com receio por críticos, que acusam Pequim de avançar sobre projetos de infraestrutura na América Latina para consolidar seu poderio econômico na região. O país também financiou a construção do porto peruano de Chancay, por exemplo. O Brasil não aderiu à Nova Rota da Seda, mas tem ampliado acordos bilaterais com o parceiro asiático. A Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (ABIFER) se disse "indignada" pela proximidade com Pequim, por considerar uma desvalorização da capacidade da indústria nacional.
Megaprojetos ferroviários como este também são alvo constante de críticas devido aos impactos que causam. Se consolidada, a Ferrovia Bioceânica cortaria quatro biomas somente em território brasileiro. Outro plano, o de abrir a Estrada de Ferro Maranhão do norte do Tocantins até São Luís, por exemplo, tem sido duramente criticado por lideranças quilombolas devido aos seus possíveis prejuízos sociais e ambientais.
Por outro lado, a modernização da malha facilitaria o escoamento de produtos para a Ásia e é vista como uma estratégia geopolítica para diminuir a dependência do Brasil aos Estados Unidos. "O investimento ferroviário chama atenção por seus diversos benefícios e por marcar o início de uma parceria estratégica voltada à promoção da cooperação entre países do Sul Global", diz artigo publicado no site brasileiro do Brics.
"O Brasil não tem saída para o Pacífico. Os produtos brasileiros destinados à Ásia precisam percorrer um longo caminho, seja pelo Canal do Panamá ou pelo Cabo da Boa Esperança. Uma ligação terrestre direta com o Pacífico, especialmente para as regiões produtoras de commodities agrícolas e minerais para exportação, traria grandes benefícios à economia brasileira", afirma o cientista político Mauricio Santoro, especialista nas relações Brasil-China.
Integração se desdobra em outros países
No caso brasileiro, a proposta compõe um projeto do Ministério do Planejamento que prioriza obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) aos modais rodoviários, fluviais e ferroviários em áreas de fronteira com países vizinhos.
A pressão pela integração ferroviária tem sido vista em outros países da região, cujo desenvolvimento historicamente privilegiou rodovias.
O presidente do Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe, Sergio Díaz Granados, defende que é preciso repensar o papel das ferrovias para o "desenvolvimento sustentável e a integração da região". A fala aconteceu durante o Fórum Internacional sobre Reativação Ferroviária, organizado pelo CAF em Bogotá no final de julho.
Entre os 155 projetos monitorados pelo Banco, 50 estão no Brasil, 21 no México e 20 na Colômbia. O Peru, além de planejar a Ferrovia Bioceânica, também projeta uma linha costeira que parte de sua fronteira com o Equador, ao norte, até a divisa sul, com o Chile.
Mexicano Tren Maya começa com problemas
No México, um projeto já está em operação: o "Tren Maya", que busca tanto interligar destinos turísticos no sul do país quanto transportar cargas. Desde o início da operação, inaugurada parcialmente em 2023 e com novos trechos conectados em 2024, cerca de 1,36 milhão de passageiros foram transportados em 7.290 viagens.
Apesar disso, a avaliação tem sido cautelosa. Segundo o portal especializado El Financiero, o Tren Maya acumulou desde a inauguração um prejuízo de 5,8 bilhões de pesos (R$ 1,7 bilhão). Segundo o jornal espanhol El País, a inauguração do projeto ficou marcada por acusações que se acumularam durante sua construção, que envolvem conflitos sociais, desmatamento e superfaturamento.
O diretor do projeto, Óscar David Lozano Águila, minimiza o impacto. "Graças a essa infraestrutura, a região está se desenvolvendo em um novo polo econômico, com grande potencial de médio e longo prazo."
No país vizinho, a Guatemala, o interesse em criar uma integração ao Tren Maya já é grande. O objetivo é apresentar um plano para viabilizar uma conexão da linha mexicana à Cidade da Guatemala.
"Acreditamos que as fronteiras não separam, mas conectam, e que é dever dos países vizinhos e amigos se coordenarem da melhor forma para alcançar objetivos comuns de desenvolvimento nas regiões de fronteira", disse o presidente guatemalteco Bernardo Arevalo. Ele também quer que os trilhos cheguem até a vizinha Belize.
No Chile, a estatal EFE planeja duas linhas de passageiros: Santiago–Melipilla (R$ 9,7 bilhões) e Santiago–Batuco (R$ 5,1 bilhões). Já na capital da Colômbia, Bogotá, avança o projeto do metrô, que deve melhorar a conexão da metrópole com os municípios vizinhos de Cundinamarca e combater o colapso do trânsito dentro da cidade.
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Short teaser | Puxados pelo Brasil, países da região acumulam projetos bilionários para ampliar malha ferroviária. | ||
Author | Tobias Käufer | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-nova-aposta-latino-americana-no-transporte-por-trens/a-73838313?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Tren Maya promove turismo e integração no México mas é alvo de críticas por impactos sociais e ambientais | ||
Image source | Juan Carlos Buenrostro/picture alliance/dpa | ||
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Item 9 | |||
Id | 73838135 | ||
Date | 2025-09-01 | ||
Title | Ioga vira ferramenta de soft power para a Índia | ||
Short title | Ioga vira ferramenta de soft power para a Índia | ||
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Milenar prática espiritual é motivo de orgulho para os indianos. E, sob o premiê Narendra Modi, torna-se cada vez mais uma forma de projetar influência internacional.A ioga, uma prática que se acredita ter entre 3 mil e 6 mil anos, é uma das principais expressões culturais da Índia e virou um dos produtos de exportação cultural de maior sucesso do país da Ásia Meridional, comparável apenas a Bollywood, tornando-se um fenômeno global nas últimas décadas.
Por meio de eventos internacionais, intercâmbios culturais e programas educacionais, a ioga deixou de ser uma mera prática espiritual que combina posturas físicas, técnicas de respiração, meditação e princípios éticos para se tornar uma expressão da identidade cultural e da presença da Índia em todo o mundo.
Esse movimento não é apenas natural, mas também estimulado, pois a ioga vem sendo utilizada como instrumento de soft power pela diplomacia do primeiro-ministro Narendra Modi, à medida que o país do Brics assume um papel mais importante nos assuntos mundiais.
Devido aos esforços de Modi, as Nações Unidas decidiram, no fim de 2014, declarar o 21 de junho como o Dia Internacional da Ioga. Nas celebrações deste ano, o próprio Modi praticou ioga entre uma multidão à beira-mar na cidade de Visakhapatnam, no sul do país. "A ioga nos conduz numa jornada rumo à unidade com o mundo", afirmou.
Soft power da Índia
Em 21 de junho de 2023, Modi liderou as celebrações do Dia da Ioga na sede das Nações Unidas, em Nova York, "o mesmo lugar onde ele propôs a ideia pela primeira vez", observou o diplomata indiano Chaitanya Prasad, em artigo no jornal The Pioneer.
Prasad vê a ioga como uma força transformadora que fortalece o sentimento de unidade e harmonia num mundo cada vez mais fragmentado e volátil. Cada vez que alguém desenrola um tapete para iniciar sua prática, está se conectando com a rica herança da Índia, observa. "Isso em si é o soft power da Índia", afirma Prasad.
O professor de direito internacional Venkatachala G. Hegde, da Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Déli, vê a promoção do ioga como parte dos esforços do governo indiano para preservar e fortalecer sistemas de conhecimento tradicionais.
O Ministério de Ayush, pasta do governo criada por Modi em 2024 que promove seis sistemas da medicina tradicional indiana – aiurveda, ioga e naturopatia, unani, siddha, sowa-rigpa e homeopatia –, tem impulsionado a promoção nacional e global da ioga, incluindo colaborações com instituições de vários países europeus.
O ministério indiano e a Organização Mundial da Saúde (OMS) também lançaram um aplicativo, o Myoga, para disseminar a ioga globalmente.
Diplomacia cultural
O apoio à prática da ioga no exterior é diplomacia cultural exercida em nível de organizações sociais, observa o professor de relações internacionais Ajay Darshan Behra, da universidade Jamia Milia Islamia.
"Os laços interpessoais costumam ser mais fortes do que os laços entre Estados", comenta. Ele acrescenta que a ioga lembra ao mundo que a Índia não é apenas uma potência política e econômica, mas também uma força cultural.
Behra destaca ainda que a promoção da ioga pela Índia não provoca medo nem é vista como uma ameaça por outras nações. "É isenta de controvérsias, não violenta e universal em seu apelo. Ela constrói influência silenciosamente, ao contrário do poder militar ou econômico."
Uma indústria global
No Ocidente, porém, a ioga costuma ser limitada ao aspecto físico, ou seja, às posturas (conhecidas como asanas), e é frequentemente associada pela publicidade a pessoas magras e brancas, o que gera críticas de que reforça ideias estereotipadas e exclui pessoas que não se enquadram nesse padrão corporal. Há também críticas à apropriação cultural e comercialização da prática.
Estima-se que a indústria global da ioga movimente anualmente mais de 35 bilhões de euros (cerca de R$ 220 bilhões) com aulas, retiros, equipamentos, livros, revistas e incensos, de acordo com a empresa de pesquisas de mercado Allied Market Research.
"A ioga é atualmente e em grande parte uma prática elitista, adotada principalmente por setores ricos, muitas vezes excluindo comunidades marginalizadas que a consideram desconectada de suas realidades", diz Hegde.
Behra teme que a ioga perca seu caráter universal se vinculada a agendas políticas, como o uso pelo partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP), no poder na Índia, para incitar o orgulho hindu e promover a religião hindu praticada pela maioria dos indianos. "Isso limita a universalidade da ioga e retira dela sua essência espiritual", comenta.
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Short teaser | Sob o premiê Narendra Modi, prática torna-se cada vez mais uma forma de projetar influência internacional. | ||
Author | Hridi Kundu | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ioga-vira-ferramenta-de-soft-power-para-a-índia/a-73838135?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | O premiê indiano Narendra Modi: "A ioga nos conduz numa jornada rumo à unidade com o mundo" | ||
Image source | Xinhua/dpa/picture alliance | ||
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Item 10 | |||
Id | 72454352 | ||
Date | 2025-09-01 | ||
Title | Como é a técnica de túnel imerso, a ser usada em Santos | ||
Short title | Como é a técnica de túnel imerso, a ser usada em Santos | ||
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Leilão nesta sexta definirá qual empresa vai construir e operar o túnel. Na preparação do certame, autoridades visitaram obras do túnel Fehmarnbelt, entre Alemanha e Dinamarca. O túnel entre Santos e Guarujá, no litoral paulista, um projeto de infraestrutura discutido há quase um século, deve finalmente começar a sair do papel no próximo ano. Nesta sexta-feira (05/09), um leilão na B3 definirá qual empreiteira vai construir e operar a obra, que usará uma técnica inédita no Brasil, a de túnel imerso. Funciona assim: em vez de cavar o túnel por baixo do leito do canal, ele será primeiro construído na superfície, em partes feitas de concreto armado. Depois, essas partes recebem uma vedação temporária, são rebocadas até o local desejado, afundadas até o leito do canal e conectadas. Em seguida, faz-se o acabamento interno e o túnel está pronto. Como uma obra dessas nunca foi feita no Brasil, autoridades viajaram ao exterior para tentar atrair empresas que dominam a técnica para participarem do certame. Um dos locais visitados é o canteiro de obras de um túnel imerso que está sendo construído entre a Alemanha e a Dinamarca, o túnel Fehmarnbelt. Em abril, uma missão composta pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, visitou, entre outros destinos europeus, as obras do Fehmarnbelt. "É a mesma tecnologia que será usada no túnel de Santos", afirmou Costa Filho. Já Tarcísio o considerou "um exemplo para que possamos entregar o que há de melhor para a população da Baixada Santista". Um novo grupo de autoridades brasileiras foi ao canteiro de obras em maio, composto por congressistas e autoridades, entre elas o prefeito de Santos, Rogério Santos, e o ministro Walton Alencar, do Tribunal de Contas da União, em uma missão organizada pela Frente Parlamentar Mista de Portos e Aeroportos (FPPA). Segundo reportagens da imprensa brasileira, duas empresas apresentaram lances para o leilão: a espanhola Acciona e a portuguesa Mota-Engil, que tem capital da chinesa CCCC, que construiu o túnel subaquático de Taihu, o maior da China, com 10,8 quilômetros de extensão. Túnel Santos-Guarujá, uma ideia de cerca de cem anosHoje as duas cidades do litoral paulista são conectadas por terra, em um caminho que leva 43 quilômetros e pode durar cerca de uma hora, ou por balsas, cuja travessia leva 18 minutos, sem contar o tempo de fila. As balsas competem no canal com os gigantescos navios cargueiros que entram e saem do Porto de Santos, o maior da América Latina em movimentação de contêineres. Quando o túnel ficar pronto, a travessia deve ser feita em dois a três minutos, e o canal ficará mais livre para a movimentação dos navios cargueiros. O projeto para o túnel rejeitou a opção de cavar o subsolo devido a instabilidades geológicas da região, segundo o governo de São Paulo, e uma ponte foi descartada devido à altura dos navios cargueiros que por ali passam e à Base Aérea de Santos, que fica nas proximidades. A via terá 1,5 quilômetro, dos quais 870 metros serão de túnel submerso. O túnel será construído em seis partes de concreto, em um canteiro de obras próximo. Depois de as partes ficarem prontas, o canteiro de obras é inundado e os segmentos, que boiam por estarem temporariamente vedados, são rebocados até o canal. É então bombeada água para piscinas provisórias dentro dos segmentos, para que eles afundem até encontrarem o leito, já preparado para recebê-los. Os seis elementos são então conectados com o auxílio de macacos hidráulicos e são retiradas as vedações entre eles. O túnel é coberto por pedras, e são feitas as obras de acabamento interno. Serão três faixas em cada sentido, sendo uma adaptável para VLT, e uma via exclusiva para pedestres e ciclistas. O túnel tem custo estimado de R$ 5,78 bilhões, dos quais R$ 4,96 bilhões serão custeados meio a meio entre governo federal e governo estadual – será o maior projeto do Novo PAC. As obras devem começar em 2026, e a previsão é de durarem três anos. O consórcio vencedor construirá o túnel e irá operá-lo por 30 anos – em troca, cobrará pedágio dos veículos e caminhões que por ali transitarem e receberá uma contraprestação anual do governo. Vencerá o leilão o consórcio que oferecer o maior desconto na contraprestação do poder público. Túnel Fehmarnbelt será o maior do tipo do mundoUma das inspirações para o túnel entre Santos e Guarujá, o túnel entre a Alemanha e a Dinamarca já está em construção e é hoje o maior canteiro de obras da Europa. Em junho de 2024, o rei da Dinamarca, Frederik 10, inaugurou o primeiro elemento de concreto que comporá o túnel. No total, serão 89 elementos, cada um de 42 metros de largura por 270 metros de comprimento e pesando cerca de 70 mil toneladas. Juntos, eles formarão os 18 quilômetros de túnel que conectará a cidade dinamarquesa de Rødby à vila alemã de Puttgarden, que fica na ilha de Fehmarn. O túnel terá duas pistas para carros e caminhões em cada direção e duas linhas ferroviárias. Quando ficar pronto, a ligação direta entre Hamburgo e Copenhagen terá 330 quilômetros. A obra faz parte de uma iniciativa mais ampla da União Europeia para construir uma conexão mais rápida por trem entre o norte e o sul do continente e desincentivar o uso de aviões, que emitem muitos gases do efeito estufa. Outra grande obra que integra essa iniciativa é o túnel de base do Brennero, que corta os Alpes entre a Áustria e a Itália e terá 55 quilômetros – será o segundo maior túnel ferroviário do mundo. O custo estimado do túnel Fehmarnbelt e suas conexões é de cerca de 7,4 bilhões de euros (R$ 48 bilhões). O túnel imerso custará 6,6 bilhões de euros (R$ 43 bilhões) e é financiado integralmente pela Dinamarca. A Alemanha investirá cerca de 800 milhões de euros para conectá-lo à rede alemã de rodovias e ferrovias. A obra deve ficar pronta em 2029, e o pedágio por veículo de passeio deve custar cerca de 70 euros (R$ 453). Será o maior túnel de uso ferroviário e rodoviário do mundo, e o maior túnel imerso do mundo. |
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Short teaser | Leilão nesta sexta-feira definirá quais empreiteiras irão construir e operar o túnel, debatido há quase um século. | ||
Author | Bruno Lupion | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/como-é-a-técnica-de-túnel-imerso-a-ser-usada-em-santos/a-72454352?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 11 | |||
Id | 73826502 | ||
Date | 2025-08-31 | ||
Title | Alemanha amplia debate sobre proibição de smartphones em escolas | ||
Short title | Alemanha amplia debate sobre proibir smartphones em escolas | ||
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No início do ano letivo, após as férias de verão no meio do ano, país intensifica discussões em torno de como lidar com celulares. Experiências em algumas cidades indicam bons resultados, embora não agradem a muitos.No primeiro dia de aula após as férias de verão, Klara Ptak quase esqueceu o celular em casa. Talvez esta seja a melhor prova de que a representante estudantil do escola Dalton de ensino médio em Alsdorf, no estado alemão da Renânia do Norte-Vestfália, já tenha assimilado que não precisa mais do aparelho durante as aulas. Desde o final de abril, a escola proibiu rigorosamente o uso de celulares para todas as séries.
"Não consigo mais verificar meu celular de forma intermitente e enviar uma mensagem rapidamente durante o recreio. No início, vários alunos perguntavam qual era o sentido [da proibição], mas com o tempo, muitos perceberam que não era tão ruim e, na verdade, tinha muitos aspectos positivos."
As opiniões, no entanto, não foram unânimes. "Os professores, em sua maioria, acham muito bom, os alunos mais novos aceitam, mas os mais velhos não estão tão satisfeitos."
A Dalton é uma das muitas escolas na Alemanha que não querem mais permanecer indiferentes ao uso massivo de celulares por seus alunos. Após o feriado da Páscoa, o conceito "Smart sem fone" foi introduzido como teste; desde então, os celulares devem obrigatoriamente permanecer nas mochilas escolares do início ao fim das aulas. Se um aluno for flagrado com seu smartphone, somente os pais poderão retirar o aparelho na secretaria da escola no dia seguinte.
"Um total de 51 celulares foram apreendidos, o que é um resultado impressionante para uma escola com 700 alunos", diz Ptak. "Agora é possível ver que, especialmente as crianças mais novas, que antes ficavam em círculo olhando para seus celulares, agora estão jogando futebol, badminton ou jogos de tabuleiro juntas. É uma grande mudança."
Proibições geram debates acalorados
O controverso debate sobre o uso de smartphones nas escolas surgiu na Alemanha, em parte, porque não há uma regulamentação nacional padronizada. As discussões giram em torno da proibição ou da confiança.
A Academia Leopoldina de Ciências propõe a proibição do uso de celulares até o décimo ano – de um máximo de treze no currículo escolar alemão – e recomenda manter crianças menores de 13 anos longe da internet e das redes sociais. O comissário federal da Alemanha encarregado do combate ao vício e às drogas, Hendrik Streeck, também defende limites de idade graduais para as redes sociais, mas se opõe à proibição de celulares.
A Conferência Federal de Estudantes da Alemanha também rejeita a proibição geral dos smartphones. Em vez disso, defende a promoção ativa da alfabetização midiática nas escolas.
E os pais? Eles certamente se incomodam bastante com o tema dos celulares. Uma pesquisa realizada pelo instituto de pesquisa de opinião Forsa, em nome da Fundação Körber, constatou que o maior fator de estresse para pais de crianças entre 12 e 18 anos é o consumo de mídia por seus filhos.
Medida recebida amplamente de forma positiva
O diretor da escola Dalton em Alsdorf, Martin Wüller, tem impulsionado a ideia da proibição do uso de celulares ao mesmo tempo em que promove a digitalização em sua escola, com um tablet escolar para todos a partir da sétima série. Wüller fala com orgulho sobre os resultados do projeto, que sua equipe avaliou detalhadamente com alunos, pais e professores.
Dos professores, 90% apoiam a proibição, observando uma melhora significativa no comportamento social e na concentração dos alunos, especialmente entre os mais jovens.
A maioria dos alunos das séries iniciais (com até cerca de 13 anos) também considera a proibição muito sensata, enquanto apenas os jovens de 16 a 19 anos das séries mais avançadas permanecem bastante céticos. Já entre os pais, 85% apoiam a proibição, afirmando que veem seus filhos como mais independentes e ressaltando uma melhora na comunicação, mesmo em casa.
"Os pais de crianças menores, em particular, são gratos pela proibição aos celulares e elogiam nossa iniciativa, dizendo 'graças a Deus, é a mesma coisa na escola de ensino fundamental", disse Wüller à DW. Ele gostaria que os pais adotassem uma abordagem mais consistente em relação ao uso do celular por seus filhos. "Não podemos compensar tudo o que não funciona em casa. Sempre enfatizamos que não precisamos apenas nos unir aos pais, mas, idealmente, ir também na mesma direção."
Alunos do quinto ano sem acesso às redes sociais
Em Solingen, cerca de 100 quilômetros a leste de Alsdorf, está sendo dando um passo adiante com um projeto único na Alemanha. A partir deste ano letivo – iniciado no final de agosto – todos os alunos do quinto ano da cidade serão completamente banidos das redes sociais. Alunos de 10 e 11 anos também irão viver sem Instagram, Snapchat e TikTok em casa. A ideia surgiu de Burkhard Brörken, ex-diretor de escola e agora atual chefe de educação do governo distrital de Düsseldorf.
"Solingen é um lugar especial porque conseguimos rapidamente a adesão dos diretores de todas as 13 escolas do ensino médio, e até mesmo as escolas para alunos com necessidades especiais estão participando do projeto", ressaltou. "Assim, iniciamos uma parceria educacional única entre escolas, pais e alunos."
Isso significa que todos assinaram uma carta de intenções por escrito, comprometendo-se a implementar o projeto em conjunto por um ano. O acordo, obviamente, não é juridicamente obrigatório, enfatiza Brörken. Isso é importante para ele, uma vez que se trata apenas de uma recomendação ou oferta de serviço e, de forma alguma, uma tentativa da escola de interferir na educação dos pais.
"Muitos pais com quem conversamos também reconhecem o problema dramático do comportamento de risco no uso de celulares e nos perguntaram por que estamos fazendo isso só agora. Mas quando as crianças dizem, com razão 'você está me isolando, eu sou a única que não tem celular, todos os meus amigos têm', isso só pode ser resolvido com coordenação social. É quase impossível para os pais fazerem isso sozinhos."
Pais querem mais clareza e regras mais uniformes
Alev Kanowski também está familiarizada com essas discussões. Sua filha, de nove anos, foi uma das últimas da turma a receber um celular. A tendência para o uso de smartphones já começa no ensino fundamental, disse Kanowski à DW. A pressão para que a criança não se torne excluída é enorme. Agora, sua filha é uma das novas alunas do quinto ano em Solingen e, a princípio, não estava nada entusiasmada com a proibição das redes sociais.
"Só quando explicamos a ela como as crianças se distraem com celulares no dia a dia e como elas não podem mais ser abordadas é que ela cedeu." Kanowski gostaria de obter mais esclarecimentos sobre o assunto.
"Como mãe, às vezes me sento sobrecarregada, especialmente com a pressão de quando permitir o primeiro celular e o acesso às redes sociais. Projetos como esse deveriam ser implementados em diversos lugares para proporcionar às crianças uma infância despreocupada e sem distrações."
O projeto será avaliado nos próximos meses e contará com o apoio de 50 observadores de mídia treinados nas escolas: alunos de 12 a 14 anos, que se aproximam em termos de idade das preocupações dos alunos do quinto ano e devem protegê-los dos perigos online. Burkhard Brörken espera que a proibição das redes sociais seja bem recebida. Seu diagnóstico é o de que as crianças estão pior do que antes.
"Estamos lidando com muito mais crianças e jovens nas escolas que sofrem de depressão e transtornos de ansiedade. Este é um fenômeno que não existia com tanta frequência há dez anos e agora atingiu verdadeiramente todas as escolas. A pandemia de covid-19 foi o combustível, mas a chama já estava lá."
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Short teaser | No início do ano letivo, após as férias de verão, país intensifica discussões em torno de como lidar com celulares. | ||
Author | Oliver Pieper | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-amplia-debate-sobre-proibição-de-smartphones-em-escolas/a-73826502?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Cada vez mais escolas na Alemanha apoiam a proibição do uso de smartphones durante as aulas | ||
Image source | Marijan Murat/dpa/picture alliance | ||
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Item 12 | |||
Id | 73821150 | ||
Date | 2025-08-30 | ||
Title | Inovação e risco: como as fintechs mudaram o sistema financeiro no Brasil | ||
Short title | Como as fintechs mudaram o sistema financeiro no Brasil | ||
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Empresas que unem tecnologia e serviços financeiros se tornaram parte fundamental da economia brasileira. Mas crescimento também expôs uso do setor pelo crime organizado e vem alimentado debate sobre maior regulação.O professor de educação física João Almeida nunca pisou em uma agência bancária. Aos 21 anos, gerencia suas contas pelo celular. "É muito mais fácil, rápido e não preciso me deslocar a alguma agência para fazer qualquer transação", diz. Assim como ele, milhares de pessoas no Brasil possuem contas em fintechs, empresas que unem tecnologia e serviços financeiros, que se tornaram parte fundamental da economia brasileira.
Esse crescimento acelerado da parte digital do sistema bancário, no entanto, impõe desafios às autoridades. Nesta semana, uma megaoperação que investigou crimes de organizações criminosas revelou que o Primeiro Comando da Capital (PCC) movimentou cerca de R$ 140 bilhões em fundos de investimento via fintechs sediadas na Faria Lima, em São Paulo.
Além do uso para crimes financeiros, questões regulatórias, segurança de dados e sustentabilidade financeira dessas startups estão no centro do debate, em um setor que movimenta bilhões e redefine o futuro do sistema bancário brasileiro.
O que são fintechs
O termo fintech surgiu da combinação de duas palavras em inglês: financial e technology, e passou a identificar um modelo de empresa que mudou a forma como serviços financeiros são oferecidos.
Essas companhias têm na tecnologia o principal diferencial em relação aos bancos tradicionais. Ao digitalizar processos e eliminar camadas de intermediação, conseguem oferecer serviços menos burocráticos, de fácil acesso e, muitas vezes, a custos mais baixos.
O fenômeno ganhou força na última década, em paralelo à expansão do acesso à internet móvel e à crescente desconfiança em relação às tarifas bancárias tradicionais. Entre 2017 e 2023, o número de fintechs na América Latina passou de 703 para 3.069, uma alta de 340% em apenas seis anos, segundo levantamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O movimento consolida a região como um dos pólos mais dinâmicos de inovação financeira no mundo, com um ecossistema que se expandiu rapidamente impulsionado pelo avanço da digitalização e pela busca de serviços financeiros mais acessíveis para a população ainda desbancarizada.
De acordo com a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), que representa as demandas do setor junto aos órgãos reguladores, atualmente o Brasil conta com 1.481 fintechs, que oferecem mais de 250 milhões de contas digitais e geram cerca de 100 mil empregos diretos.
"As fintechs têm um papel relevante, auxiliando na inclusão e cidadania financeira. De acordo com o BC, 60 milhões de pessoas passaram a acessar serviços financeiros pela primeira vez por meio de fintechs", diz Diego Perez, presidente da associação.
Concorrência positiva
Com tal expansão, as fintechs passaram a disputar espaço com os bancos tradicionais em áreas como crédito, meios de pagamento, investimentos, seguros, câmbio e negociação de dívidas. E o impacto é visível. Do ponto de vista dos consumidores, essa disputa significou velocidade de operação sem tanta burocracia, além do acesso facilitado a serviços antes restritos a clientes de alta renda.
Segundo Marcos Piellusch, professor da FIA Business School, o ambiente altamente concentrado, onde os cinco grandes bancos controlavam cerca de 80% do mercado, abriu espaço para que concorrentes oferecessem melhores condições aos clientes.
"As fintechs ajudaram a reduzir tarifas, já que muitas passaram a oferecer pacotes gratuitos. Também ampliaram a inclusão de crédito, permitindo que pessoas com pouco ou nenhum histórico bancário tivessem acesso a financiamentos. Além disso, a conveniência aumentou de forma significativa, pois quase todos os serviços passaram a estar disponíveis diretamente no celular", afirma.
O crescimento das fintechs ligou um sinal de alerta nos grandes bancos, trazendo mudanças importantes no mercado. O Nubank, por exemplo, uma das maiores fintechs que operam no Brasil, já ocupa a terceira colocação em número de clientes no país, com cerca de 100 milhões, segundo dados do BC, e anunciou um lucro líquido de cerca de R$ 3,6 bilhões no segundo trimestre deste ano - número próximo aos R$ 3,8 bilhões do Banco do Brasil, instituição secular.
De acordo com Piellusch, com a concorrência, a principal linha pressionada dos cinco grandes bancos brasileiros foi a de receitas de tarifas e serviços, que perdeu relevância diante da competição de fintechs que oferecem transferências e cartões sem custo. Isso obrigou os bancos grandes a reagirem para manter a rentabilidade.
"Por outro lado, os grandes bancos reagiram reforçando áreas como crédito, seguros e investimentos, setores nos quais ainda têm escala e relacionamento de longa data com os clientes. Além disso, a digitalização e o fechamento de agências trouxeram ganhos de eficiência. Mesmo pressionados, os bancões brasileiros continuam registrando retornos sobre patrimônio (ROEs) acima de 15%, um patamar elevado quando comparado a bancos internacionais", diz.
Regulação e futuro
Quando a inovação caminha mais rápido do que a regulação, no entanto, abre-se caminho para que a tecnologia seja mal utilizada, assim como no caso do PCC.
Para o presidente da ABFintechs, apesar do volume da operação, os casos registrados ainda são poucos e faz com que o setor trabalhe para deixar claro os benefícios da concorrência no mercado. Além disso, fake news sobre regulação fizeram com que o poder público atrasasse o projeto de regulação, dificultando o combate ao crime por meio das fintechs.
"Houve uma tentativa de fazer a regulação para que a Receita acompanhasse as movimentações no final do ano passado, mas foi objeto de fake news, com parte da política nacional acusando o governo de querer taxar e perseguir usuários do Pix. Por isso, tivemos que esperar uma operação policial, o envolvimento do crime orgnaizado para equivaler a obrigação de bancos e fintech", afirma.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, em resposta à operação policial, que as fintechs terão de cumprir as mesmas regras de transparência e prestação de informações e prestar os mesmos esclarecimentos sobre movimentações financeiras à Receita Federal do que grandes bancos.
Dessa forma, as companhias deverão ser submetidas à supervisão do Banco Central (BC) ou da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de acordo com a natureza de suas atividades, como crédito, pagamentos ou investimentos. Nesse cenário, precisam seguir as regras da Circular nº 3.978/2020 e da Carta Circular nº 4.001/2020, que estabelecem diretrizes de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo.
Essas normas determinam, entre outras obrigações, a comunicação ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) sempre que forem identificadas operações consideradas suspeitas, em conformidade com a Lei nº 9.613/1998.
A medida foi vista de forma positiva pelo setor. "A gente celebra, é um passo importante, e é uma correção, dado que as fintechs começaram a surgir no Brasil entre 2015 e 2016, e com essa norma apresentada, se corrige o problema", diz Perez.
Para a advogada Erika Nachreiner, especialista no contencioso cível bancário, a atuação é positiva, mas é necessário atenção à regulação, que não pode ser severa demais, criando barreiras de entrada para novos players, e atrapalhando a inovação.
"A regulamentação é essencial para segurança e confiança, mas o excesso pode sufocar a agilidade, a inovação e a competitividade, prejudicando tanto as fintechs quanto os consumidores", diz Nachreiner. "O equilíbrio entre inovação e segurança depende de uma regulação proporcional ao risco, do uso de tecnologia para automatizar processos de compliance, de uma padronização mínima de procedimentos, da avaliação contínua de riscos sistêmicos e do diálogo constante com reguladores", completa.
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Short teaser | Empresas se tornaram parte fundamental da economia. Mas crescimento também expôs uso do setor pelo crime organizado. | ||
Author | Vinicius Pereira | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/inovação-e-risco-como-as-fintechs-mudaram-o-sistema-financeiro-no-brasil/a-73821150?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
https://static.dw.com/image/64528697_354.jpg![]() |
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Image caption | O Brasil conta com 1.481 fintechs, que oferecem mais de 250 milhões de contas digitais | ||
Image source | Klaus Ohlenschläger/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/64528697_354.jpg&title=Inova%C3%A7%C3%A3o%20e%20risco%3A%20como%20as%20fintechs%20mudaram%20o%20sistema%20financeiro%20no%20Brasil |
Item 13 | |||
Id | 73807965 | ||
Date | 2025-08-30 | ||
Title | Moais da Ilha de Páscoa podem ser engolidos pelo mar até 2080 | ||
Short title | Moais da Ilha de Páscoa podem sumir no mar até 2080 | ||
Teaser |
Estudo analisou modelos de aumento do nível do mar e alertou que esculturas gigantes na ilha do Pacífico correm risco diante de ondas cada vez mais intensas turbinadas pelas mudanças climáticas.As mudanças climáticas ameaçam os famosos moais da Ilha de Páscoa, no Chile. As estátuas gigantes, construídas pelo povo rapanui, entre os anos 1250 e 1500, podem serem engolidas pelo mar até 2080, devido ao aumento do nível dos oceanos causado pelo aquecimento global, revelou um estudo publicado em meados de agosto na revista especializada Journal of Culture Heritage.
"O aumento do nível do mar é real. Não é uma ameaça distante", destacou o autor principal do estudo, Noah Poa. A Ilha de Páscoa está localizada no Oceano Pacífico e é administrada pelo Chile. O local foi reconhecido como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
"A questão principal não era se o local seria afetado, mas quando e com que intensidade", afirmou o pesquisador num comunicado divulgado pela Universidade do Havaí, em Manoa.
Para avaliar esse impacto, os pesquisadores construíram uma réplica digital em alta resolução da costa leste da ilha e executaram modelos computacionais para simular o avanço futuro das ondas em vários cenários de aumento do nível do mar.
Posteriormente, os resultados foram sobrepostos em mapas que incluíam os locais onde estão os moais. O estudo mostrou que as ondas podem atingir Ahu Tongariki, maior plataforma cerimonial da ilha, já em 2.080.
Segundo Poa, a descoberta fornece os dados específicos e urgentes necessários para incentivar o debate e o planejamento comunitário futuro.
Importância cultural e econômica
Em Ahu Tongariki, estão localizados 15 moais, que atraem dezenas de milhares de visitantes todos os anos. A região é um dos principais pilares do turismo local. Mas, além de seu valor econômico, Ahu Tongariki, que fica dentro de um parque nacional, está profundamente ligado com a identidade cultural dos habitantes da ilha.
"Este estudo revela uma ameaça crítica à cultura e aos meios de subsistência rapanui. Para a comunidades estes sítios são essenciais para reafirmar sua identidade e apoiar a revitalização das tradições locais", destacou Poa.
Entre os séculos 10 e 16, o povo rapanui construiu aproximadamente 900 moais, que estão espalhados por toda a Ilha de Páscoa e representam ancestrais e líderes comunitários importantes. A ameaça ambiental a essas estátuas gigantes não é inédita. Em 1960, o maior terremoto já registrado da história, um sismo de magnitude 9,5 na costa do Chile, provocou um tsunami no Pacífico que atingiu a ilha e varreu os moais, que haviam sido derrubados durante guerras civis, para o interior – o que danificou as estátuas.
Como a ilha pode ser protegida
As possíveis medidas para proteger Ahu Tongariki incluem a construção de diques, reforçar a costa e a remoção dos monumentos para outras regiões da ilha. Poa espera que o estudo gere um debate agora e não somente quando danos irreparáveis já tiverem ocorrido.
"Infelizmente, do ponto de vista científico, os resultados não são surpreendentes. Sabemos que o aumento do nível do mar representa uma ameaça direta ao litoral em todo o mundo", acrescentou o pesquisador. "É melhor antecipar e ser proativo, em vez de reagir a potenciais ameaças."
Embora o estudo se concentre na Ilha de Páscoa, suas descobertas podem ser replicadas em patrimônios culturais do mundo inteiro, com regiões costeiras cada vez mais ameaçadas pelo aumento do nível do mar. Um relatório da Unesco divulgado no mês passado concluiu que 50 patrimônios mundiais estão altamente expostos a inundações costeiras.
cn (DW, ots)
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Short teaser | Estudo analisou modelos de aumento do nível do mar e alertou que esculturas gigantes na ilha do Pacífico correm risco. | ||
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Image caption | Ahu Tongariki é maior plataforma cerimonial da Ilha de Páscoa | ||
Image source | Raphael36543/Pond5 Images/IMAGO | ||
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Item 14 | |||
Id | 73821901 | ||
Date | 2025-08-30 | ||
Title | Moraes manda ampliar vigilância sobre Bolsonaro | ||
Short title | Moraes manda ampliar vigilância sobre Bolsonaro | ||
Teaser |
A poucos dias do início do julgamento de Jair Bolsonaro, ministro do STF determina revistas nos carros que saírem da residência do ex-presidente e reforço na vigilância da área externa para mitigar risco de fuga.O ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou neste sábado (30/08) novas medidas para reforçar o monitoramento da área externa da residência do ex-presidente Jair Bolsonaro, que segue em prisão domiciliar desde o início de agosto. A ampliação do monitoramento ocorre a poucos dias da fase final do julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Em sua decisão, Moraes mandou a Polícia Penal do DF realizar monitoramento presencial na área externa da residência e das divisas com os demais imóveis, onde poderia haver exposição ao risco de fuga.
Além do monitoramento externo, o ministro do STF autorizou a realização de vistorias nos "habitáculos e porta-malas de todos os veículos que saírem da residência do réu". Essas vistorias, segundo a decisão, deverão ser documentadas, com a indicação dos veículos, motoristas e passageiros, e envio dessas informações ao STF diariamente.
Moraes justificou as medidas com base na solicitação da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal, que apontou a existência de "pontos cegos" não visíveis a partir da fachada da residência, o que representaria um "risco" de fuga.
Na última segunda-feira (25/08) Moraes já determinado o reforço de medidas de vigilância, ordenando uma presença policial permanente diante da residência.
Na terça-feira, a Polícia Federal chegou a solicitar autorização para monitorar a parte interna da casa do ex-presidente, mas a Procuradoria-Geral da República (PGR) se posicionou contra a presença de policiais no interior da residência de Bolsonaro. Apesar disso, a PGR se manifestou favorável ao reforço da segurança nas proximidades da residência e na entrada do condomínio, o que foi acatado pelo ministro.
Na próxima terça-feira (02/09), Bolsonaro e mais sete aliados, que são réus do núcleo 1 da trama golpista, serão julgados pela Primeira Turma do STF.
O ex-presidente cumpre prisão domiciliar desde o início de agosto, com uso de tornozeleira eletrônica. A medida foi determinada após Alexandre de Moraes entender que o ex-presidente violou as medidas cautelares que proibiam postagens nas redes sociais de terceiros.
Na semana passada, em outra investigação, a PF descobriu que Bolsonaro tinha um documento de asilo político para ser apresentado ao presidente da Argentina, Javier Milei. Segundo a PF, o documento estava salvo no aparelho desde 2024.
De acordo com a defesa, o documento era apenas um "rascunho", e a solicitação de asilo não ocorreu. Os advogados negaram ainda a tentativa de fuga do país.
jps (Agência Brasil, AFP)
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Short teaser | Ministro do STF determina revistas nos carros que saírem da residência do ex-presidente e reforço na vigilância. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/moraes-manda-ampliar-vigilância-sobre-bolsonaro/a-73821901?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Bolsonaro segue em prisão domiciliar desde o início de agosto | ||
Image source | Mateus Bonomi/Anadolu/picture alliance | ||
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Item 15 | |||
Id | 73821163 | ||
Date | 2025-08-30 | ||
Title | AfD teve de pagar € 1,1 milhão em multas no Parlamento alemão | ||
Short title | AfD teve de pagar € 1,1 milhão em multas no Parlamento | ||
Teaser |
Doações não autorizadas, informações falsas, uso indevido de fundos: ultradireitistas pagaram mais da metade do total cobrado de todos os partidos no Bundestag, segundo dados do próprio Legislativo. O partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) é responsável por mais da metade das penalidades administrativas aplicadas no Bundestag (Parlamento), segundo dados do próprio Legislativo alemão. Desde 2017, os partidos políticos alemães tiveram que pagar um total acumulado de 1,8 milhão de euros (R$ 2,1 milhões) em penalidades, sendo que, desse total, a AfD teve de arcar com 1,1 bilhão de euros. Segundo os dados divulgados neste sábado (30/08) pelo jornal Welt am Sonntag e pela agência de notícias DPA, as multas se referem a questões como doações ilegais, uso indevido de verbas de grupos parlamentares e fornecimento de informações falsas em relatórios financeiros. A maior transgressão administrativa da AfD foi a aceitação de doações ilegais da empresa suíça Goal AG para propaganda eleitoral antes das eleições estaduais em Baden-Württemberg em 2016 e na Renânia do Norte-Vestfália em 2017, além de uma doação adicional de 400.000 euros, também da Suíça. O partido entrou com uma ação na Justiça contra outra alegação referente a uma suposta doação ilegal de 108.000 euros, cuja análise ainda não foi finalizada. AfD atribui multas à sua "inexperiência"Em sua defesa, a AfD apontou para sua história relativamente jovem como partido. "Em particular nos primeiros anos, a AfD não pôde recorrer à vasta experiência em lidar com doações que outros partidos acumularam ao longo de décadas", disse um porta-voz da legenda. Ele disse que, atualmente, o partido opera com um rigoroso "princípio dos seis olhos" e oferece treinamento intensivo. Os outros partidos no Bundestag receberam multas totais muito menores, com a União Democrata Cristã (CDU), do chanceler federal Friedrich Merz, acumulando prejuízos de cerca de 200.000 euros. Sua legenda coirmã na Baviera, a União Social Cristã (CSU), teve de pagar 79.300 euros. Já o Partido Social-Democrata (SPD), parceiro do bloco conservador CDU/CSU na coalizão de governo, foi multado em 140.000. Entre as demais legendas de oposição, os Verdes desembolsaram 134.000, o A Esquerda, 92.000, e o Partido Liberal Democrático (FDP), apenas 2.300 euros. rc (DW, ots) |
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Short teaser | Ultradireitistas tiveram de pagar mais da metade do total cobrado de todos os partidos no Bundestag,. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/afd-teve-de-pagar-€-1-1-milhão-em-multas-no-parlamento-alemão/a-73821163?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 16 | |||
Id | 73820689 | ||
Date | 2025-08-30 | ||
Title | Artistas e políticos lamentam morte de Luis Fernando Veríssimo | ||
Short title | Artistas e políticos lamentam morte de Veríssimo | ||
Teaser |
Escritores, humoristas e personalidades exaltam a obra e o legado deixado pelo cronista. Presidente Lula lembra que Veríssimo "usou a ironia para denunciar a ditadura e defender a democracia." A morte do escritor e cronista Luis Fernando Veríssimo neste sábado (30/08) teve grande repercussão no meio cultural e político. Muitas personalidades destacaram o humor de seus textos e charges e os personagens que ele imortalizou, como o Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté e Ed Mort. Veríssimo morreu nesta madrugada aos 88 anos. Ele estava internado desde o dia 17 na UTI do hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. A morte foi confirmada por sua esposa, Lucia, e familiares. O cronista parou de escrever em 2021, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Nos últimos anos, enfrentava uma série de problemas de saúde, como a doença de Parkinson e um câncer ósseo na mandíbula. Artistas, políticos e personalidades lamentaram a morte e prestaram suas homenagens ao escritor. O escritor Antonio Prata destacou que humor era de Veríssimo era o traço mais marcante de sua obra que suas crônicas são uma "porta de entrada à leitura". "Ele foi um grande cronista, um grande humorista e um grande comentador da realidade nacional", disse Prata à rádio CBN. "Ele era um cara que escrevia sobre política também, sempre pelo viés do humor. Ele é um grande humorista, mas que comentava a realidade brasileira de uma maneira muito árdua, muito precisa". O jornalista e escritor Ruy Castro, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, comparou o estilo dos textos do cronista gaúcho com os do cineasta Woody Allen, publicados pela revista americana New Yorker. "Assim como Woody, Verissimo se punha na posição do observador que via o ridículo ou o absurdo com grande naturalidade. Também como Woody, ele não buscava a gargalhada, mas o riso silencioso. E seus personagens, assim como os de Woody, eram homens e mulheres nascidos não para, mas um contra o outro." "Ele conseguiu a proeza de fazer o país rir com um personagem de forte sabor regional, o analista de Bagé. Outra de suas criações, a velhinha de Taubaté – a última pessoa no Brasil a continuar acreditando no regime militar – nos lavava semanalmente a alma. Minha favorita, no entanto, era uma que ele explorava pouco, a ravissante Dorinha Doravante, a socialite socialista, que escrevia ao cronista cartas deliciosamente cínicas", escreveu Castro. "Escritor, cartunista e herói"O humorista Antônio Tabet, apresentador e fundador do grupo Porta dos Fundos, também, lamentou a morte do cronista. "Morreu um dos maiores de todos os tempos: Luis Fernando Verissimo. Escritor, cartunista e herói. Meu herói. Verissimo foi, desde quando seus livros encheram meu peito com um entusiasmo inédito, o norte da minha bússola profissional. Pensava, ainda nos devaneios da adolescência, que um dia seria como ele. Nunca fui. Nunca serei. Ninguém será. Completo, magnífico e unanimidade, Verissimo foi além dos livros. Foi um verdadeiro Robin Hood da endorfina." "Sem ele, a vida de um país que não valoriza artistas como ele seria mais sem graça e as comédias da vida privada continuariam privadas. Verissimo, como o próprio nome diz, foi gênio de verdade. Literal. Tanto que até este "literal” é literal. É veríssimo. Verissimo. Descanse em paz. Todo meu afeto e gratidão para a família. Te amo, ídolo!" A escritora, jornalista e amiga de Verissimo Cíntia Moscovich destacou o papel de Veríssimo em se tornar um elemento aglutinador no meio literário. "Ele fazia questão de estar muito próximo de todos nós, que vivíamos a literatura", disse à emissora GloboNews. "Verissimo estreitava e formava um núcleo agregador em Porto Alegre e no Brasil, que fazia com que a gente se comunicasse com os vários 'Brasis' que existem, em termos literários e afetivos", disse, acrescentando que ele "estava sempre presente, e não era muito de falar, mas de olhar." O cartunista Angeli publicou uma charge na qual Veríssimo aparece tocando saxofone – uma das paixões do cronista – ao lado de sua personagem Rê Bordosa e prestou solidariedade à família do escritor. "Todo amor para Lúcia, Fernanda, Mariana, Pedro e família. Imensurável é 'o pai'", escreveu. "Ironia para denunciar a ditadura e o autoritarismo"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que Veríssimo usava a ironia para denunciar a ditadura e o autoritarismo e defender a democracia. "Dono de múltiplos talentos, cultivou inúmeros leitores em todo o Brasil com suas crônicas, contos, quadrinhos e romances. Criou personagens inesquecíveis, a exemplo do Analista de Bagé, As Cobras e Ed Mort." "Sua descrição bem-humorada da sociedade ganhou espaço nas livrarias e na TV, com a Comédia da Vida Privada. E, como poucos, soube usar a ironia para denunciar a ditadura e o autoritarismo; e defender a democracia. Eu e Janja deixamos o nosso carinho e solidariedade à viúva Lúcia Veríssimo – e a todos os seus familiares." O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, expressou "enorme pesar" pela morte do escritor e decretou três dias de luto oficial no estado. "O Rio Grande do Sul e o Brasil perdem um dos grandes nomes da literatura nacional, cuja obra marcou gerações de leitores com sacadas inteligentes e um humor peculiar para falar dos nossos desafios como brasileiros. Autor de crônicas inesquecíveis e criador de personagens que se tornaram parte do imaginário brasileiro, Verissimo deixa um legado que permanecerá vivo em suas palavras, sempre atuais e cheias de sensibilidade e humor." "Em reconhecimento à sua trajetória e contribuição à cultura, decreto três dias de luto oficial no Estado. O Rio Grande do Sul se despede de um gênio da escrita, mas suas histórias seguirão entre nós, pois são imortais. O Sport Club Internacional lamentou através das redes sociais a perda de um de seus torcedores mais ilustres. "Hoje nos despedimos de um colorado que, com sua escrita, marcou o imaginário do povo brasileiro", afirma a postagem do perfil oficial do clube. "Torcedor do Clube do Povo, ficou conhecido pelos seus textos em formato de crônicas, contos e poemas," "O Sport Club Internacional deseja força para todos os familiares, amigos e leitores de um dos maiores nomes da literatura nacional." rc (ots) |
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Short teaser | Escritores, humoristas e personalidades exaltam a obra e o legado deixado pelo escritor e cronista. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/artistas-e-políticos-lamentam-morte-de-luis-fernando-veríssimo/a-73820689?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 17 | |||
Id | 73820027 | ||
Date | 2025-08-30 | ||
Title | Antidepressivos podem ajudar a combater dores crônicas? | ||
Short title | Antidepressivos podem ajudar a combater dores crônicas? | ||
Teaser |
Medicamentos contra depressão e outras condições mentais também são utilizados no tratamento de dores físicas. As evidências científicas, no entanto, ainda não permitem uma conclusão definitiva.Este artigo foi publicado um pouco mais tarde do que o havia planejado. No dia em que eu deveria escrever sobre a conexão entre dor crônica e antidepressivos, minhas mãos e pulsos doíam tanto que eu não conseguia digitar por mais de alguns minutos. Ah, a ironia...
Felizmente, a dor diminuiu bastante ao longo de um fim de semana. No passado, quando digitar, ou qualquer atividade que envolvesse o uso das mãos, se tornou quase impossível, precisei me ausentar do trabalho durante semanas.
A origem dessa dor, no entanto, é um mistério que nenhum dos muitos médicos que consultei ao longo dos anos conseguiu resolver.
O meu caso é comum. Embora não saibamos o número exato de pessoas que vivem com dor crônica em todo o mundo, estima-se que no Ocidente cerca de 20% dos adultos lidem com esse problema, segundo uma estimativa da Associação Internacional para o Estudo da Dor (Iasp).
A Iasp define dor crônica como "uma condição na qual um indivíduo sente dor na maioria dos dias ou durante todos os dias por mais de três meses".
Se a dor afeta significativamente sua vida diária, como quando você não consegue mais cozinhar, praticar seu esporte favorito ou escrever um artigo, isso se enquadra na classificação da Iasp como "dor crônica de alto impacto".
Dor crônica nos leva a tentar quase tudo
Se você ou alguém que você ama faz parte deste clube, é provável que já tenha se encontrado no ponto em que eu cheguei há cerca de um ano. Eu estava disposta a fazer quase tudo para que a dor desaparecesse.
Fiz várias radiografias e ressonâncias magnéticas dos pulsos, braços, coluna cervical e torácica, além de um teste de reumatismo, todos com resultado positivo. Experimentei vários tipos de fisioterapia, osteopatia e acupuntura, mas nenhum desses métodos ajudou muito.
Foi assim que, em uma manhã de setembro de 2024, acabei sentada em frente a uma terapeuta da dor, concordando enfaticamente com a cabeça ao ser perguntada: "você consideraria experimentar antidepressivos?".
Esta é uma pergunta que, para muitos, não cai bem.
"Muitos pacientes se sentem insultados", disse Tamar Pincus, reitora da Faculdade de Ciências Ambientais e da Vida da Universidade de Southampton, no Reino Unido, em entrevista à DW. "Eles acham que o médico está sugerindo que a dor estaria apenas na mente deles."
"Para que antidepressivos se não estou deprimida?"
Pincus disse que, com o tempo, os analgésicos comuns tendem a parar de funcionar. Isso fez com que ela e outros pesquisadores da área buscassem soluções alternativas.
Há várias razões lógicas para eles terem considerado os antidepressivos como uma alternativa aos analgésicos convencionais. Uma delas é que a dor crônica pode afetar o humor ou a saúde mental de uma pessoa.
"Uma grande proporção das pessoas que convivem com dor crônica, cerca de 40%, fica de mau humor", disse Pincus. "Elas não estão clinicamente deprimidas, mas se sentem culpadas por não se esforçarem no trabalho ou em casa, e muitas vezes não conseguem fazer o que querem ou amam fazer."
Os antidepressivos, disse Pincus, podem ajudar com isso, além de também ajudar com a dor em si. As substâncias químicas que os antidepressivos regulam no cérebro, como a serotonina e a noradrenalina, afetam tanto o humor quanto a dor.
"As áreas que envolvem o processamento da dor em nosso cérebro são próximas às que processam as emoções negativas", disse Pincus.
Portanto, faz sentido pensar que os mesmos medicamentos usados para tratar a depressão também podem aliviar a dor crônica. Mas a pesquisa de Pincus e colegas parece não apoiar essa ideia.
Ensaios clínicos não são conclusivos
Em cooperação a rede global de revisão de dados de saúde Cochrane, pesquisadores da Universidade de Southampton analisaram os resultados de 176 ensaios clínicos sobre antidepressivos e dor crônica. Os ensaios envolveram cerca de 30.000 pacientes e 27 antidepressivos diferentes.
A análise dos resultados foi preocupante: os ensaios sobre o efeito de antidepressivos na dor crônica pareciam insignificantes e produziam dados tão escassos entre os ensaios, que eles se sentiram confiantes quanto à eficácia de apenas um dos 27 antidepressivos testados, a duloxetina.
Outro medicamento, a amitriptilina, não passou no teste, embora seja justamente o antidepressivo mais comumente prescrito para dor crônica nos EUA, Reino Unido e Alemanha – e é um dos dois medicamentos que tomo há quase um ano.
Nenhum dos ensaios com amitriptilina analisados pelos especialistas envolveu um número suficiente de participantes para pudessem ser considerados confiáveis.
Isso não significa que a amitriptilina seja totalmente ineficaz contra a dor crônica. Durante a entrevista, contei a Pincus que meus sintomas começaram a melhorar drasticamente depois de tomar amitriptilina por cerca de quatro semanas e que também estava dormindo muito melhor. Ela não ficou nem um pouco surpreso ao ouvir isso.
"Trabalhamos com evidências baseadas em grupos", disse a especialista. "Não podemos prever como um indivíduo reage ao medicamento. A amitriptilina, um tipo de medicamento chamado antidepressivo tricíclico, pode ter efeitos colaterais bastante desagradáveis, como causar sonolência."
Para mim, como indivíduo, a amitriptilina funcionou bem – talvez eu tenha tido sorte. Mas, na análise de grupo, os pesquisadores encontraram baixa eficácia geral e alta probabilidade de efeitos colaterais para o medicamento. Isso não é bom quando se tenta avaliar se um medicamento pode oferecer um bom tratamento para um número maior de pessoas.
O melhor conselho: "viva a vida ao máximo"
Mesmo a duloxetina, que pareceu de fato reduzir a dor e aumentar a capacidade das pessoas de retornar às atividades cotidianas, mostrou eficácia apenas a curto prazo. E havia poucos dados sobre quaisquer efeitos colaterais ou os danos que o medicamento possa causar – se de fato causar– quando tomado a longo prazo.
"Os resultados foram promissores, mas [a falta de informações sobre possíveis danos] me preocupa", disse Pincus.
Ao encerrarmos a conversa, a especialista, que tem experiência própria com dor crônica, me deu um conselho sobre o que talvez seja a alternativa mais natural à medicação.
"Viva a vida ao máximo que puder", disse ela. "Seja aventureira com sua criatividade. Quando você faz isso, as sinapses no seu cérebro mudam. Qualquer tipo de atividade que lhe traga alegria ajuda você a conviver com a dor crônica."
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Short teaser | Medicamentos contra depressão e outras condições mentais também são utilizados no tratamento de dores físicas. | ||
Author | Carla Bleiker | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/antidepressivos-podem-ajudar-a-combater-dores-crônicas/a-73820027?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Dor crônica nas mãos e pulsos: longe de ser ideal para alguém que escreve para viver | ||
Image source | Monique Wüstenhagen/dpa/picture alliance | ||
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Item 18 | |||
Id | 73730666 | ||
Date | 2025-08-30 | ||
Title | Morre Luis Fernando Verissimo, o cronista da vida privada | ||
Short title | Morre Luis Fernando Verissimo, o cronista da vida privada | ||
Teaser |
Escritor gaúcho tinha 88 anos. Com inteligência e bom humor, Verissimo publicou cerca de 90 livros e vendeu mais de 5 milhões de exemplares. Conheça algumas obra do autor. O escritor Luis Fernando Verissimo morreu nas primeiras horas deste sábado (30/08), aos 88 anos. Ele estava internado desde o dia 17 na UTI do hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. A morte foi confirmada por sua esposa, Lucia, e familiares. Verissimo nunca pensou em ser jornalista ou escritor. Quando criança, sonhava mesmo era ser aviador. Na adolescência, cogitou fazer arquitetura. Homem feito, queria estudar cinema. Foi pensando nisso que, em 1962, o filho de Érico e Mafalda, então com 26 anos, se mudou para o Rio de Janeiro. O plano era estudar cinema, ganhar dinheiro e embarcar para Londres. Não atingiu nenhuma das três metas. Em compensação, conheceu Lúcia Helena, com quem se casou em 1969 e teve três filhos: Fernanda, Mariana e Pedro, hoje com 61, 58 e 55 anos. "O casamento é como um número de trapézio", compara ele na crônica Trapezista, publicada no livro As Mentiras que os Homens Contam (2000). "Um precisa confiar no outro até de olhos fechados." De volta à Porto Alegre, onde nasceu no dia 26 de setembro de 1936, Luis Fernando e Lúcia Helena, recém-casados, fixaram residência no número 1.415 da Rua Felipe de Oliveira, o endereço de seu pai, o autor de Olhai os Lírios do Campo (1938), Um Certo Capitão Rodrigo (1949) e Incidente em Antares (1970), entre outros, no bairro de Petrópolis. Até então, o caçula da família Verissimo havia tentado de tudo, mas não tinha dado certo em nada. Sem perspectiva alguma de trabalho, foi apresentado a Paulo Amorim, diretor de redação do Zero Hora que o convidou, em 1967, a trabalhar como copidesque. No jornal gaúcho, Verissimo fez de tudo: de horóscopo a editorial. "A primeira coisa que fazia ao acordar era ler a previsão que eu mesmo fizera para o meu dia", diverte-se, em entrevista ao Jornal do Brasil. Sucesso como cronistaSe a carreira de astrólogo foi um fiasco, a de cronista é um sucesso. Em 19 de abril de 1969, Verissimo publicou sua primeira coluna no Zero Hora. A crônica Entrando em Campo, era sobre o Sport Club Internacional, seu time do coração. A última, A Caixinha, foi publicada na edição do dia 14 de janeiro de 2021, do jornal O Globo. O tema era a invasão do Capitólio por correligionários do presidente Donald Trump em 6 de janeiro daquele ano. "Até hoje, ninguém definiu direito o que é crônica", observou, por ocasião do lançamento de As Mentiras que as Mulheres Contam (2015). "Você pode fazer o que quiser e chamar de crônica. É dessa liberdade que eu gosto". Em 2020, a Objetiva reuniu mais de 300 delas no livro Verissimo Antológico: Meio Século de Crônicas, ou Coisa Parecida. O escritor nunca teve rotina de trabalho. Em geral, dormia tarde e acordava mais tarde ainda. Só começava a trabalhar depois do cochilo vespertino. "Sempre escrevi muito. Hoje, escrevo menos. Não sei se estou mais conciso ou mais preguiçoso", brincou, ainda em 2015. "As três melhores coisas do mundo são pudim de laranja, gol do Internacional e netos", afirmou o avô coruja de Lucinda, de 17 anos, e Davi, de 12, na crônica A Cordilheira, publicada no jornal O Globo, de 3 de dezembro de 2015. "Não necessariamente nessa ordem", acrescentou, gaiato. Verissimo parou de escrever em 2021, após sofrer acidente vascular cerebral (AVC). Nos últimos anos, enfrentou uma série de problemas de saúde, como a doença de Parkinson e um câncer ósseo na mandíbula. Segundo uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo, no fim da vida, o escritor falava apenas algumas palavras em inglês – idioma presente na vida do escritor desde sua infância. Verissimo viveu parte da sua infância e adolescência nos Estados Unidos, onde foi alfabetizado. Em 1943, sua família se mudou para os EUA, onde seu pai, Erico, lecionou por dois anos literatura brasileira na Universidade da Califórnia em Berkeley. Em 1953, a família se mudou novamente para Washington, onde viveu por três anos. Verissimo morreu neste sábado (30/08), aos 88 anos. Ele estava internado desde 11 de agosto no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS), com quadro de pneumonia. Ao longo de sua carreira, o escritor gaúcho publicou cerca de 90 livros e vendeu mais de 5 milhões de exemplares. Confira as principais obras do escritor gaúcho – em ordem cronológica: As Cobras (1975)Desenhar é uma paixão antiga. Tanto quanto ler quadrinhos. "Tenho um problema curioso, para um desenhista. Não sei desenhar. Isto não me impede de insistir com o desenho, apesar dos conselhos de amigos, das indiretas da família e de telefonemas ameaçadores", observa em As Cobras & Outros Bichos (1977). Na capa de O Popular (1973), avisava o leitor que o "culpado" pelos desenhos era ele mesmo. Durante a ditadura, Verissimo criou As Cobras para criticar o governo. Nunca sofreu censura, garante. Por via das dúvidas, evitava nomes proibidos, como o de Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul, e o de Dom Hélder Câmara, arcebispo do Recife e de Olinda. As Cobras ganharam duas coletâneas: Se Deus Existe que Eu Seja Atingido por Um Raio (1997) e Antologia Definitiva (2010). Outra criação: Aventuras da Família Brasil (1985). Ganhou versão televisiva em 2009, exibida pela RBS TV. Além de crônicas, romances e cartuns, escreveu peças (Brasileiras e Brasileiros, de 1989), poemas (Poesia numa Hora Dessas?, 2002) e contos (Os Últimos Quartetos de Beethoven, 2013). Ed Mort e Outras Histórias (1979)Inspirado no detetive Philip Marlowe do escritor americano Raymond Chandler, Ed Mort fez tanto sucesso na literatura que migrou para outras mídias. Nas tirinhas, o traço é do cartunista Miguel Paiva. Entre 1985 e 1990, a parceria gerou cinco livros: Procurando o Silva (1985), Disneyworld Blues (1987), Com a Mão no Milhão (1988), Conexão Nazista (1989) e O Sequestro do Zagueiro Central (1990). Na TV, a interpretação é de Luiz Fernando Guimarães no especial Ed Mort – Nunca Houve uma Mulher como Gilda (1993), da Globo, e de Fernando Caruso no seriado Ed Mort (2011), do Multishow. No espetáculo Procurando o Silva (1993), quem interpreta o detetive que fez curso por correspondência e divide um escritório em Copacabana com 117 baratas e um rato albino é o humorista Nizo Neto e, no filme Ed Mort – Quem é o Silva? (1997), o ator Paulo Betti. Outros personagens hilários do escritor gaúcho são: O Analista de Bagé (1981), que acredita curar qualquer transtorno com um joelhaço, e A Velhinha de Taubaté (1983), que acredita em tudo que o presidente João Figueiredo diz. O Analista de Bagé (1981)O personagem foi criado para o programa Viva o Gordo, apresentado por Jô Soares e exibido na TV Globo entre 1981 e 1987. Era um garçom mal-educado que trabalhava em um restaurante francês. Quando o humorista parou de interpretá-lo, Verissimo o transformou em livro. Em uma semana, a L&PM vendeu os 3 mil exemplares da primeira tiragem. Também virou quadrinhos, ilustrados por Edgar Vasques; peça de teatro, encenada por Cláudio Cunha; e estátua, esculpida pelo artista plástico Sérgio Coirolo. "Os psicanalistas acham que é uma gozação com o gauchismo. Já os gaúchos pensam que é uma gozação com a psicanálise. Então, fica todo mundo em paz", declarou Verissimo ao jornal Zero Hora, em 2014. Além do Viva o Gordo, Verissimo colaborou como redator no TV Pirata, programa criado por Cláudio Paiva e exibido pela TV Globo entre 1988 e 1992. Os roteiros foram doados, em regime de comodato, para a Biblioteca da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em 2017. São, ao todo, 464 obras e 1,4 mil exemplares disponíveis para consulta online. Traçando New York (1991)Em companhia dos pais, morou por duas vezes nos EUA: entre 1943 e 1945, na Califórnia, e, entre 1953 e 1956, em Washington. Da primeira vez, Érico assumiu o cargo de professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e, da segunda, a função de diretor cultural da União Pan-Americana, órgão que precedeu a Organização dos Estados Americanos (OEA). Já adulto, Verissimo publicou, em parceria com o artista plástico Joaquim da Fonseca, sete guias de viagem – seis internacionais e um nacional. Os internacionais são Traçando New York (1991), Traçando Paris (1992), Traçando Roma (1993), Traçando América (1994), Traçando Japão (1995) e Traçando Madrid (1997). O nacional é Traçando Porto Alegre (1993). Entre outras cidades, morou em Nova York, em 1980; em Roma, em 1986; e em Paris, em 1990. "Gosto tanto de viajar que gosto até de espera em aeroporto", declarou na crônica San, do livro Traçando Japão (1995). Traduzido para mais de 15 países, foi convertido para o inglês pela britânica Margaret Jull Costa, responsável pela tradução de gigantes como Eça de Queiroz, Fernando Pessoa e José Saramago. Comédias da Vida Privada (1994)Impossível calcular quantas crônicas escreveu em 51 anos de profissão. Trabalhou em alguns dos maiores jornais, como O Globo e O Estado de S. Paulo, e revistas, como Veja e Playboy. Muitas crônicas foram publicadas em livros: originais ou antologias. O primeiro deles, O Popular, foi lançado em 1973. Um dos mais vendidos, Comédias da Vida Privada, em 1994. De 1995 a 1997, a Globo produziu 21 episódios, divididos em três temporadas. A princípio, os roteiros eram baseados em crônicas de jornal. Com o tempo, o próprio Veríssimo passou a produzir textos originais. Além da série de TV, escrita por Jorge Furtado e dirigida por Guel Arraes, inspirou variações, como Comédias da Vida Pública (1995), Novas Comédias da Vida Privada (1996) e Todas as Comédias (1999). Ao ser indagado sobre seu processo criativo, Verissimo, espirituoso, costumava responder: "A minha musa inspiradora é o meu prazo de entrega!". "Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas", define-se na crônica Gigolô, incluída no livro Mais Comédias para Ler na Escola (2008). O Clube dos Anjos (1999)Verissimo estava tão ocupado escrevendo crônicas, para garantir o "uísque das crianças", que publicou apenas seis romances. "Se a crônica é um barco a vela, o romance é um transatlântico", compara em entrevista ao médico Drauzio Varella, em 2015. Com exceção de Os Espiões (2009), o último deles, todos os anteriores foram encomendados. A começar por O Jardim do Diabo (1987), uma sugestão dos sócios da MPM Propaganda, agência onde Verissimo trabalhou na década de 1980, para dar de presente aos clientes no Natal. Detalhe: entregou a encomenda em dois meses! Escreveu O Clube dos Anjos (1998) para a coleção Plenos Pecados, Borges e os Orangotangos Eternos (2000) para Literatura ou Morte, O Opositor (2004) para Cinco Dedos de Prosa e A Décima Segunda Noite (2006) para Devorando Shakespeare. "Desses, o mais bem-acabado é O Clube dos Anjos", aponta. Coincidência ou não, virou longa-metragem em 2022, com roteiro e direção de Ângelo Defanti. Em 2023, a Alfaguara lançou o box Todos os Romances, em tiragem limitada. Os livros podem ser adquiridos separadamente. Jazz (2013)Se não fosse escritor, seria músico – mais exatamente saxofonista. Em sua segunda passagem pelos EUA, aprendeu a tocar um instrumento aos 17 anos. Sua primeira opção era o trompete. Afinal, queria ser Louis Armstrong quando crescesse. Mas, na falta de um para alugar, se contentou com o saxofone. Em uma de suas idas a Nova York, assistiu a um show de seu saxofonista predileto: Charlie Parker, no clube de jazz Birdland. Não bastasse, o show contou com a participação especial do trompetista Dizzy Gillespie. "Eventualmente, toco saxofone", disse na crônica Os Indecisos, de Comédias da Vida Pública (1995). "Há discussões sobre se ‘tocar' é o verbo exato.". De volta ao Brasil, fez parte de dois conjuntos: o Renato e Seu Sexteto, amador, e o Jazz 6, profissional. Com o segundo, chegou a lançar cinco álbuns: Agora é Hora (1998), Speak Low (2001), A Bossa do Jazz (2003), Four (2007) e Nas Nuvens (2011). Com o grupo, ajudou a compor e tocou sax na faixa Olho Mágico, do álbum Com Todas as Letras (2015), da dupla gaúcha Kleiton & Kledir. Sem escrever crônicas desde 2021, um de seus hobbies era ouvir jazz. Verissimas – Frases, Reflexões e Sacadas sobre Quase Tudo (2016)Verissimo é engraçado até quando não pretende ser. Numa entrevista, ao falar de sua notória timidez, explicou: "Não sou eu que falo pouco. São os outros que falam muito". Noutra ocasião, sobre a tragédia de falar em público, declarou: "Não sei quem sofre mais: se sou eu ou se é o público". Em 2016, a Objetiva selecionou oitocentas frases, de livros, crônicas e entrevistas, e as reuniu numa antologia: Verissimas, organizada por Marcelo Dunlop. Em ordem alfabética, fala sobre o amanhã ("Temos que confiar no amanhã. A não ser que descubram alguma coisa contra ele durante a noite"), Carpe diem ("Viva cada dia como se fosse o último. Um dia, você acerta"), morte ("Minha relação é esquecer que ela existe. E espero que ela faça o mesmo comigo"), poltrona ("Você sabe que está ficando velho quando só consegue sair da poltrona na terceira tentativa. Aí, esquece porque levantou"), timidez ("Para o tímido, duas pessoas são uma multidão") e vida eterna ("Não deixa de ser um conceito atraente. Dependendo, é claro, de quem serão nossos vizinhos"). |
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Short teaser | Escritor gaúcho tinha 88 anos. Com inteligência e bom humor, Verissimo publicou cerca de 90 livros. | ||
Author | André Bernardo | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/morre-luis-fernando-verissimo-o-cronista-da-vida-privada/a-73730666?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 19 | |||
Id | 72596188 | ||
Date | 2025-08-29 | ||
Title | Por que Brasil não classifica facções criminosas como grupos terroristas? | ||
Short title | Por que Brasil não classifica facções como terroristas? | ||
Teaser |
Emissários do governo Trump estiveram em Brasília em maio para propor possibilidade de mudar classificação de grupos como o PCC e o CV, mas autoridades brasileiras não veem espaço para enquadrá-los na Lei Antiterrorismo.O Brasil tem indicado aos Estados Unidos que não pretende classificar facções criminosas com origem em território nacional como organizações terroristas. O argumento é de que a legislação brasileira não sustenta esse tipo de classificação e que há instrumentos mais adequados para combater grupos armados como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Emissários da Casa Branca sondaram o Ministério da Justiça sobre a possibilidade durante reunião em Brasília no começo de maio. Como parte de uma política mais ampla de cerco à imigração ilegal, o presidente americano, Donald Trump, tem reforçado a atuação contra gangues latino-americanas como a venezuelana Tren de Aragua e a salvadorenha MS-13.
À época, as conversas foram descritas como "respeitosas" e "objetivas" por pessoas a par do encontro, mas a posição brasileira foi apresentada de maneira enfática.
À DW, o secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, explicou em maio que as facções funcionam como "empresas criminosas" que buscam lucro financeiro, sem conotação política ou relacionado a preconceitos de religião ou raça. "Portanto, sob o prisma jurídico do Direito brasileiro, elas não são organizações terroristas", defendeu.
O que é terrorismo?
A comunidade internacional não dispõe de um conceito único universalmente aceito para definir legalmente o terrorismo.
Numa resolução não vinculativa de 1994, a Assembleia Geral da ONU condenou ações terroristas como "atos pretendidos ou calculados para provocar um estado de terror no público em geral, um grupo de pessoas ou pessoas em particular para fins políticos".
O documento acrescenta que esses atos são "injustificáveis, quaisquer que sejam as considerações de natureza política, filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa ou de qualquer outra natureza que possam ser invocadas para justificá-los".
Uma década depois, já no contexto da "Guerra ao Terror" após os ataques de 11 de setembro de 2001, uma outra resolução do Conselho de Segurança da ONU reafirmou o combate ao terrorismo com a condenação de "atos contra civis" com "propósito de provocar estado de terror no público em geral, em grupos de pessoas ou em pessoas particulares".
A terminologia usada no âmbito de organizações multilaterais, no entanto, não resolve o debate sobre a definição do terrorismo no Direito internacional. Cada país ainda pode formular conceitos próprios, que variam com base em demandas e contextos políticos locais.
O que diz a legislação brasileira sobre o terrorismo?
No Brasil, o tema é regulado pela Lei Antiterrorismo de 2016, aprovada no final do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. A legislação define o terrorismo a partir da finalidade de "provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública".
Mas o texto apresenta uma condicionante: "Por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião". É baseado nesse ponto que o governo brasileiro resiste em identificar as facções criminosas como organizações terroristas.
Para Sarrubbo, esses grupos se aproximam mais do conceito de máfia, com estruturas cada vez mais organizadas. Segundo ele, o Ministério da Justiça prepara um projeto de Lei Antimáfia, para endurecer o combate ao crime organizado. A proposta deve ser apresentada ao Congresso até junho.
"Entendemos, sim, que as facções criminosas estão num estágio hoje que pode-se falar em máfias, mas, na nossa visão, não há qualquer ligação com o conceito jurídico de terrorismo", argumenta.
Política externa dos EUA
Sob Trump, os EUA vem ampliando a pressão internacional pelo combate ao narcoterrorismo, mas os esforços precedem o segundo mandato do republicano. Em março do ano passado, ainda na gestão do ex-presidente Joe Biden, o Departamento do Tesouro impôs sanções contra um integrante do PCC. Na época, o órgão alegou que a facção opera uma "rede extensa" na América Latina e tem expandido a atuação global.
Em fevereiro, já com Trump de volta à Casa Branca, o Departamento de Estado designou oficialmente uma série de cartéis do narcotráfico como organizações terroristas globais que representam "significativo risco" à segurança nacional do país.
No Brasil, a abordagem dos EUA tem apoio de parte da classe política. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, chegou a viajara Nova York em maio para discutir a segurança pública no estado. A comitiva dele apresentou a autoridades americanas um dossiê com argumentos que fundamentam o reconhecimento formal do CV como organização terrorista, conforme revelou o jornal O Globo.
O que dizem os especialistas?
O enquadramento do crime organizado como terrorismo pode gerar riscos ao Estado de Direito, avalia o cientista político e professor de relações internacionais Thiago Moreira, da Universidade Federal Fluminense (UFF). "Um grupo de crime organizado tem finalidade econômica, não político-ideológica", explica.
Moreira explica que, ao contrário de grupos extremistas como a Al Qaeda, as facções internas têm finalidade estritamente econômicas, não político-ideológicas. Mesmo quando se infiltram no aparato estatal, elas buscam cumprir propósitos financeiros, diz o professor.
Para ele, embaralhar os dois conceitos abre margem para a securitização estatal, ou seja, a transformação de questões de segurança em ameaças existenciais que demandam uso de força excessiva.
"Implicar alguém numa lei antiterrorismo aumenta a capacidade do Estado em reprimir um determinado grupo e cria um precedente perigoso", argumenta. "Um movimento social, por exemplo, poderia não só ser entendido como crime organizado, mas também como organização terrorista, a exemplo do MST num contexto de um governo federal conservador", ressalta.
Dificuldades na tipificação
O professor de Direito Penal Gerson Faustino Rosa, da UniCuritiba e da Escola Superior da Polícia Civil do Estado do Paraná, afirma que o texto atual da Lei Antiterrorismo foi elaborado de maneira equivocada ao exigir a comprovação de fatores como racismo e xenofobia. "Esses elementos estão relacionados [ao conceito de] genocídio, não de terrorismo", diz.
Rosa classifica o terrorismo como um ato de violência máxima com objetivo de expor e tirar proveito da fragilidade do Estado. Segundo ele, no entanto, a exigência das condicionantes faz com que a legislação não seja aplicável para a tipificação de atividades terroristas.
"O Brasil poderia criar um tipo penal ou causa de aumento dizendo que, quando tiver finalidade específica de causar terror social para obtenção desse proveito político, o crime poderia ser chamado de terrorista e, assim, prever pena um pouco maior", defende.
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Short teaser | Emissários dos EUA estiveram em Brasília em maio para questionar possibilidade de mudar classificação de grupos como PCC | ||
Author | André Marinho | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/por-que-brasil-não-classifica-facções-criminosas-como-grupos-terroristas/a-72596188?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Facções criminosas promovem ataques como incêndio de ônibus, mas não são consideradas terroristas pela legislação brasileira | ||
Image source | Bruno Kelly/REUTERS | ||
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Item 20 | |||
Id | 73815131 | ||
Date | 2025-08-29 | ||
Title | Alemã filmada enquanto corria tenta mudar lei sobre assédio | ||
Short title | Alemã filmada enquanto corria tenta mudar lei sobre assédio | ||
Teaser |
Yanni Gentsch fazia jogging quando percebeu que um homem a filmava por trás. Ela o confrontou e tentou prestar queixa, e acabou descobrindo que conduta não é classificada como crime – mas iniciou um debate na Alemanha.Em fevereiro deste ano, a redatora publicitária Yanni Gentsch, de 30 anos, estava correndo sozinha em um parque na cidade alemã de Colônia, no estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Ao olhar para trás, ela percebeu que um ciclista a estava seguindo e filmando suas nádegas com seu celular. Gentsch confrontou o homem e o obrigou a apagar a filmagem. Enquanto isso, ela pegou seu próprio celular e filmou o agressor.
Sua filmagem mostra que o voyeur ficou perplexo com sua determinação em responsabilizá-lo. Ele gaguejou um pedido de desculpas, afirmando ainda que "nada aconteceu" e acaba por culpá-la.
"Por que você está usando esse tipo de calças?", disse ele, na tentativa de culpar a vítima. Gentsch respondeu com uma declaração simples que se tornou o slogan de seu movimento: "Minhas roupas não são um convite!"
Desde então, o vídeo dela viralizou, com mais de 16 milhões de visualizações no Instagram, e provocou uma onda de solidariedade.
"Estou impressionado com sua coragem", diz um comentário. "Quando uma mulher se defende, ela defende todas as mulheres", afirma outro.
"Tornar as gravações de voyeurs um crime"
Gentsch queria prestar queixa, mas descobriu que isso não era possível segundo a lei alemã.
Filmar alguém secretamente só é crime quando inclui suas partes íntimas. Ou seja, filmar por baixo da saia ou filmar pele nua é crime. Mas filmar partes do corpo vestidas, mesmo que deliberadamente filmadas para fins sexuais, não é proibido.
Gentsch não desistiu. Ela iniciou um abaixo-assinado intitulado "Tornar as gravações de voyeurs um crime", que nesta sexta-feira tinha mais de 125 mil apoiadores.
A principal exigência da petição é que o Código Penal alemão seja alterado para tornar qualquer gravação secreta com motivação sexual uma ofensa criminal, independentemente de envolver nudez.
"A estrutura legal atual protege os agressores, não as vítimas", escreve Gentsch na petição. "Filmagem de forma secreta é um abuso de poder: a vergonha pertence aos agressores."
Assédio sexual contra mulheres é alto na Alemanha
Em 25 de agosto, Gentsch entregou pessoalmente sua petição, endereçada à ministra da Justiça, Stefanie Hubig, e ao secretário da Justiça de seu estado, Benjamin Limbach.
Em novembro, os secretários da Justiça de todos os estados alemães se reunirão em uma conferência anual e devem discutir uma alteração ao Código Penal.
Limbach é a favor da alteração: "Nossa lei deve traçar uma linha clara quando partes do corpo são filmadas ou fotografadas secretamente para fins sexuais ou contra a vontade da pessoa", disse ele.
A iniciativa de Gentsch gerou um debate nacional, não apenas nas redes sociais, mas também em jornais nacionais, estações de rádio e programas de notícias no horário nobre. Isso se deve, em parte, à capacidade de Gentsch de articular uma realidade cotidiana para quase todas as mulheres na Alemanha.
De acordo com um estudo de 2022 da Universidade de Ciências Aplicadas de Merseburg, nove em cada dez entrevistadas já sofreram algum tipo de assédio sexual em espaços públicos.
Ao entregar sua petição, Yanni Gentsch deixou claro: "O assédio sexual nunca é inofensivo, mas sim o primeiro passo em uma espiral de violência".
bl (DW)
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Short teaser | Yanni Gentsch fazia jogging quando viu que homem a filmava. Ela quis dar queixa, e descobriu que conduta não era crime. | ||
Author | Stuart Braun | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemã-filmada-enquanto-corria-tenta-mudar-lei-sobre-assédio/a-73815131?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Yanni Gentsch filmou o homem que a gravava e compartilhou o vídeo, que viralizou e gerou onda de solidariedade | ||
Image source | Federico Gambarini/dpa/picture alliance | ||
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Item 21 | |||
Id | 73802120 | ||
Date | 2025-08-28 | ||
Title | Polícia alemã alerta sobre aumento no tráfico de crianças | ||
Short title | Polícia alemã alerta sobre aumento no tráfico de crianças | ||
Teaser |
Autoridades investigaram mais casos de tráfico e exploração de pessoas em 2024 do que em qualquer ano desde 2000. Falhas nas proteções online são um dos principais fatores, com muitos menores de idade entre as vítimas. O Departamento Federal de Investigações (BKA) da Alemanha anunciou nesta quinta-feira (28/07) que seus agentes concluíram 576 investigações sobre incidentes de tráfico de pessoas em 2024. Esse total representa um aumento de 13% em relação a 2023 e o nível mais alto desde que o BKA começou a compilar esses dados, em 2000. A maior parte dos casos (364) envolveu exploração sexual, o nível mais alto registrado pela agência na Alemanha em uma década. A exploração sexual ocorre cada vez mais em residências particulares, afirmam as autoridades, um ambiente difícil de monitorar. Isso leva o BKA a concluir que o número real de crimes é muito maior do que o registrado. Muitas vítimas e suspeitos também são pessoas de outros países europeus, com aumentos notáveis de vítimas de nacionalidades chinesa e colombiana. Falhas na proteções onlineMuitas vítimas são mulheres, jovens e menores de idade, segundo o BKA, O contato é frequentemente estabelecido online através do chamado "método lover boy". Através dessa tática, bastante comum, homens atraem mulheres para relacionamentos falsos a fim de criar dependência antes de explorá-las financeiramente através da prostituição forçada. "Cada vez mais, a violência psicológica e física desempenha um papel importante", relatou o BKA. Segundo a polícia, os menores de idade estão particularmente em risco, com mais de 200 casos envolvendo crianças e adolescentes, quase todos no contexto de exploração sexual comercial. "Uma razão para o aumento dos números é, entre outras coisas, que várias plataformas online têm poucos mecanismos de proteção, o que facilita a exploração de menores usando a internet como ferramenta", informou a agência. "Em dois casos, crianças foram colocadas à venda na internet." Recorde de casos de exploração do trabalhoO BKA relatou ter investigado um número recorde de casos de exploração do trabalho em 2024. "Os casos frequentemente envolvem agências de trabalho temporário e principalmente pessoas do Leste Europeu e do Sudeste Asiático." As investigações sobre tráfico e exploração de pessoas frequentemente decorrem do trabalho da polícia, explicou a agência. "Muitas vítimas não entram em contato com as autoridades por medo ou desconhecimento da situação legal. Consequentemente, o número de vítimas permanece alto." rc (AFP, DPA) |
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Short teaser | Autoridades alemãs investigaram mais casos de tráfico e exploração de pessoas em 2024 do que em qualquer ano desde 2000. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/polícia-alemã-alerta-sobre-aumento-no-tráfico-de-crianças/a-73802120?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Pol%C3%ADcia%20alem%C3%A3%20alerta%20sobre%20aumento%20no%20tr%C3%A1fico%20de%20crian%C3%A7as |
Item 22 | |||
Id | 73798960 | ||
Date | 2025-08-28 | ||
Title | Acidificação dos oceanos está fragilizando dentes dos tubarões | ||
Short title | Acidificação dos mares está fragilizando dentes dos tubarões | ||
Teaser |
Fenômeno causado pela absorção de CO2 pela água do mar tem impacto em uma das armas mais afiadas da natureza; cientistas alertam que integridade dos tubarões depende de menos emissões.Tubarões em todo o mundo podem estar sofrendo nos dentes as consequências das mudanças climáticas. Segundo um estudo publicado na revista científica Frontiers in Marine Science, a crescente acidificação dos oceanos fragiliza a estrutura dos dentes, tornando-os mais propensos a quebrar.
Segundo os cientistas envolvidos na pesquisa, a capacidade dos tubarões de desenvolver nova dentição à medida que a antiga se desgasta não é suficiente para protegê-los dos impactos de um mundo em aquecimento, no qual os oceanos estão se tornando mais ácidos.
Ameaça invisível
Os dentes dos tubarões "são armas muito desenvolvidas, projetadas para cortar carne, não para resistir à acidez do oceano", afirma o pesquisador Maximiliam Baum, um dos integrantes da equipe responsável pelo estudo, da Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf, na Alemanha.
Os resultados mostram "o quão vulneráveis podem ser até mesmo as armas mais afiadas da natureza", acrescenta Baum.
A acidificação oceânica, impulsionada principalmente pela liberação de CO2 gerado pelo ser humano, é um processo pelo qual o valor do pH do oceano diminui, resultando em água mais ácida.
O pH médio dos oceanos é atualmente de 8,1 e, para 2300, espera-se que caia para 7,3, tornando-os quase 10 vezes mais ácidos do que atualmente.
Experimento com dentes coletados
Os pesquisadores utilizaram esses dois valores para examinar os efeitos da água nos dentes do tubarão-de-pontas-negras-do-recife, que nada com a boca permanentemente aberta para poder respirar.
Para o trabalho, foram coletados dentes descartados de um aquário. Dentre eles, 16 que estavam completamente intactos e sem danos foram usados para o experimento de pH e outros 36 para medir a circunferência antes e depois.
Os dentes foram incubados durante oito semanas em tanques separados de 20 litros. Em comparação com os introduzidos em um pH de 8,1, os expostos a água mais ácida apresentaram danos significativamente maiores.
"Observamos danos visíveis na superfície, como rachaduras e buracos, um aumento da corrosão das raízes e uma degradação estrutural". Além disso, a circunferência dos dentes era maior em níveis de pH mais altos, destaca Sebastian Fraune, outro autor da pesquisa.
O estudo analisou apenas dentes descartados de tecido mineralizado não vivo, o que significa que não foi possível levar em consideração os processos de reparação que podem ocorrer em organismos vivos.
Em tubarões vivos, a situação "pode ser mais complexa", pois eles poderiam remineralizar ou substituir os dentes danificados mais rapidamente. Mas "o custo energético desse processo provavelmente seria maior em águas acidificadas", pondera o estudo.
Impacto das mudanças climáticas nos ecossistemas marinhos
Além disso, mesmo quedas moderadas no pH poderiam afetar espécies mais sensíveis com ciclos lentos de replicação dentária ou ter efeitos cumulativos ao longo do tempo. Por isso, manter o pH do oceano próximo da média atual "pode ser fundamental para a integridade física das ferramentas dos predadores", insiste Braum.
Estudos futuros devem examinar as mudanças nos dentes, sua estrutura química e sua resistência mecânica em tubarões vivos, sugere a equipe.
A pesquisa atual já mostra que danos microscópicos podem ser suficientes para representar um problema grave para os animais que dependem dos dentes para sobreviver.
"É um lembrete de que os efeitos das mudanças climáticas se propagam por toda a cadeia alimentar e pelos ecossistemas", concluiu Baum.
(EFE, Frontiers in Marine Science)
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Short teaser | Cientistas mostram impacto da absorção de CO2 pela água do mar sobre uma das armas mais afiadas da natureza. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/acidificação-dos-oceanos-está-fragilizando-dentes-dos-tubarões/a-73798960?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Mergulhadores na Flórida, EUA, alimentam tubarão; feras do mar podem estar com dentes ameaçados | ||
Image source | Ken Kiefer/CATERS/SIPA/picture alliance | ||
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Item 23 | |||
Id | 73787496 | ||
Date | 2025-08-27 | ||
Title | Políticos alemães querem mudança em lei após caso de "neonazista trans" | ||
Short title | Políticos defendem mudar lei após caso de "neonazista trans" | ||
Teaser |
Após condenação, extremista da Alemanha passou a se apresentar como mulher trans e vai cumprir pena em prisão feminina. Conservadores querem rever lei de autodeclaração que abriu brecha, mas ativistas são contra.O caso de um membro da cena neonazista do leste da Alemanha que recentemente passou a se identificar como uma mulher trans e agora vai cumprir pena em um presídio feminino tem levado membros da classe política a defender revisões na lei de autodeterminação de gênero do país.
Marla-Svenja Liebich sofreu uma condenação em 2023 por incitação ao ódio étnico, injúria e difamação – crimes que cometeu quando ainda atendia pelo nome Sven Liebich.
No fim de 2024, quando estava perto de esgotar todas as vias legais para evitar cumprir uma pena de 18 meses de prisão, Liebich resolveu trocar de nome e de gênero nos seus documentos, graças a uma lei à Lei de Autodeterminação de Gênero, que havia entrado em vigor semanas antes.
Em agosto de 2025, Liebich, de 54 anos, finalmente recebeu uma ordem de um juiz no estado da Saxônia, no leste do país, para começar a cumprir sua pena. Embora os promotores tenham se recusado a confirmar a data prevista de sua chegada, eles observaram que havia um prazo de duas semanas para se apresentar ou correr o risco de receber mais uma pena de prisão. O local da apresentação foi definido como sendo a prisão feminina JVA, na cidade de Chemnitz.
Ativistas progressistas e o próprio governo alemão, liderado por conservadores, suspeitam que Liebich tenha se aproveitado da nova lei para obter melhores condições prisionais, de modo a cumprir sua pena em uma prisão feminina.
Também existe a suspeita de que Liebich também esteja tentando instrumentalizar a lei para zombar de ativistas LGBTQ+ e apoiadores da regra de autoderminação. Antes da mudança, Liebich se notabilizou no leste alemão por fazer insultar membros da comunidade LGBTQ+ como "parasitas da sociedade" e alertar contra o que chamava de "transfacismo".
O ministro do Interior, Alexander Dobrindt, do bloco conservador CDU/CSU – a mesma coligação do chanceler federal Friedrich Merz –, afirmou que pretende reavaliar a nova lei de autodeterminação de gênero, afirmando à revista Stern que o caso de Liebich poderia abrir um precedente ruim para abusos da lei por parte de extremistas que buscam zombar do governo.
O deputado Günter Krings, que chefia a pasta da Justiça da CDU no Bundestag (Parlamento), destacou que ficou fácil demais realizar uma mudança legal de gênero na Alemanha.
Mudança "há muito esperada"
A nova lei de autodeterminação permite que adultos mudem seu gênero legal através de uma simples autodeclaração em qualquer cartório, sem necessidade de apresentação de laudos periciais e pisiquiátricos ou comprovação de tratamentos hormonais. A legislação substituiu a antiga "lei dos transexuais" de 1980, que era criticada pelas pessoas trans por exigir o que consideravam sessões de aconselhamento e exames médicos humilhantes.
A nova lei foi resultado de uma campanha progressista adotada pela coalizão do governo anterior, composta pelo Partido Social-Democrata (SPD) de centro-esquerda, os Verdes e os neoliberais do Partido Liberal Democrático (FDP).
À época, a lei foi saudada como um conquista, tanto pela comunidade trans quanto por seus aliados. "Já era esperada há muito tempo", disse Theresa Richarz, especialista jurídica da Federação Alemã para a Diversidade Queer (LSVD), em entrevista à DW.
Richarz, no entanto, observou que, infelizmente, "o caso de Liebich foi usado para promover o discurso de ódio" que caracterizou o debate em torno do projeto de lei no Parlamento. "A lei de autodeterminação visa fortalecer os direitos humanos de pessoas trans e não binárias e proteger seus direitos fundamentais", disse.
"Em vez disso, este caso específico ridiculariza a autodeterminação de gênero ou a declara como um perigo. Isso põe em risco a democracia."
Apelos "populistas e apavorantes"
Para Richarz e outros ativistas, o bloco conservador CDU/CSU agora tem tentado explorar um caso individual para tentar reverter os direitos conquistados.
A porta-voz de ações LGBTQ+ do Partido Verde da Alemanha, Nyke Slawik, disse à revista alemã Der Spiegel que "querer restringir os direitos fundamentais de pessoas trans, inter e não binárias de forma generalizada porque uma pessoa pode ter violado a lei de autodeterminação seria populista e apavorante".
Mas, e sobre a questão de que Liebich possa representar um perigo para outras detentas, considerando seu histórico bem documentado de declarações de ódio?
O Departamento Prisional (JVA) em Chemnitz informou que, durante o período de admissão, cada nova detenta se encontra com um médico e um conselheiro, que podem sugerir a transferência para uma prisão diferente ou a sua não inclusão na população em geral. A menos que haja tal encaminhamento, Liebich permanecerá na prisão feminina, afirmou a JVA.
Para Richarz, a vulnerabilidade das pessoas trans na prisão significa que a identidade de gênero de uma pessoa é primordial, mesmo que um indivíduo pareça estar se aproveitando das regras.
"Não existe registro de gênero vantajoso" para pessoas trans, disse Richarz, destacando a discriminação generalizada na forma de misoginia e feminicídio e as desvantagens enfrentadas por casais do mesmo sexo. O caso individual de um membro da cena neonazista não deve restringir os direitos de uma minoria já em risco, afirmou.
De acordo com dados do governo, os crimes de ódio contra pessoas LGBTQ+ e de gênero diverso aumentaram quase dez vezes entre 2010 e 2023.
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Short teaser | Após condenação, extremista passou a se apresentar como mulher trans e exigiu cumprir pena em prisão feminina. | ||
Author | Elizabeth Schumacher | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/políticos-alemães-querem-mudança-em-lei-após-caso-de-neonazista-trans/a-73787496?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Em 2023, um tribunal alemão condenou Liebich por incitação ao ódio racial e difamação, entre outros crimes | ||
Image source | Sebastian Willnow/dpa/picture alliance | ||
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Item 24 | |||
Id | 73783713 | ||
Date | 2025-08-27 | ||
Title | O que esperar do Festival de Veneza deste ano | ||
Short title | O que esperar do Festival de Veneza deste ano | ||
Teaser |
Pontapé inicial da temporada de premiações, festival terá estrelas de Hollywood e obras com potencial para o Oscar, mas também filmes e documentários sobre conflitos geopolíticos atuais.As ruas e as telonas da ilha italiana de Lido, onde ocorre a partir desta quarta-feira (27/09) o Festival de Cinema de Veneza, receberão estrelas de Hollywood como Julia Roberts, George Clooney e Cate Blanchett em obras com potencial de Oscar, mas também filmes e documentários independentes de forte componente político.
Julia Roberts fará a primeira aparição de sua carreira em Veneza para lançar Depois da Caçada, de Luca Guadagnino, um thriller inspirado no movimento #MeToo. Ela interpreta Alma, uma professora de filosofia de Yale que se vê em uma situação difícil quando sua aluna de doutorado e protegida (Ayo Edebiri, de O Urso) acusa um colega e amigo (Andrew Garfield) de agressão sexual.
Outro novato em Veneza é o lutador profissional que se tornou astro de filmes de ação Dwayne Johnson, estrelando um filme sério (pela primeira vez). Ele interpreta o ex-lutador de wrestling amador e de MMA Mark Kerr em The Smashing Machine, do queridinho indie Benny Safdie. Emily Blunt interpreta a esposa de Kerr, Dawn Staples.
A atriz Fernanda Torres faz parte do júri do festival neste ano, que será presidido pelo diretor americano Alexander Payne. Após ter destaque na edição anterior, com Ainda Estou Aqui levando o prêmio de melhor roteiro, nenhum filme brasileiro foi selecionado para a competição neste ano.
Hollywood no tapete vermelho de Veneza
Entre os frequentadores assíduos do Festival de Veneza, estará lá novamente neste ano George Clooney, protagonista de Jay Kelly, de Noah Baumbach, a história de um ator famoso que viaja pela Europa com seu empresário de longa data (interpretado por Adam Sandler) enquanto refletem sobre seus legados e escolhas de vida.
Cate Blanchett e Adam Driver, também figurinhas carimbadas de Lido, retornam com Father Mother Sister Brother, o novo filme muito aguardado do pioneiro do cinema independente Jim Jarmusch. Estudo triplo de personagens contemporâneos ambientado nos Estados Unidos, Dublin e Paris, o filme acompanha as relações entre filhos adultos (incluindo Blanchett e Driver) e seus pais um tanto distantes, interpretados por Tom Waits e Charlotte Rampling.
Os fãs de cinema sul-coreano ficarão satisfeitos com No Other Choice, o novo thriller policial do mestre Park Chan-wook (Old Boy, A Criada). O filme é estrelado por Lee Byung-hun, que interpreta um homem demitido de seu emprego de muitos anos que tenta impiedosamente recuperar o posto.
Enquanto isso, Emma Stone trabalha novamente com o diretor de Pobres Criaturas, Yorgos Lanthimos, para Bugonia, o remake em inglês do completamente insano (e totalmente brilhante) filme de ficção científica sul-coreano de 2003, Jigureul Jikyeora!
O galã australiano Jacob Elordi também está na cidade, participando da aguardada adaptação de Frankenstein, de Guillermo del Toro, que conta ainda com Oscar Isaac, Mia Goth e Christoph Waltz.
O retorno das plataformas de streaming
Depois de ficar de fora no ano passado, a Netflix está de volta a Veneza com tudo. Ao lado de Frankenstein, de Del Toro, e Jay Kelly, de Baumbach, a plataforma apresenta House of Dynamite, o primeiro longa-metragem da diretora de ação Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror) em oito anos.
O thriller acompanha um grupo de funcionários da Casa Branca – interpretados, entre outros, por Idris Elba, Rebecca Ferguson, Greta Lee e Jared Harris – que se esforçam para lidar com um ataque iminente de mísseis nucleares contra os EUA.
Temporada de premiações começa aqui
Veneza se tornou o pontapé inicial não oficial da temporada de premiações, e a programação deste ano parece especialmente sintonizada com o Oscar. O diretor Paolo Sorrentino, vencedor do Oscar por A Grande Beleza, abre o festival com La Grazia, estrelado por seu muso de longa data, Toni Servillo.
Mona Fastvold, coautora e produtora de O Brutalista, vencedor de três Oscars, chega a Veneza com The Testament of Ann Lee, um drama musical histórico estrelado por Amanda Seyfried como a personagem-título Ann Lee, líder fundadora da seita religiosa Shakers no século 18.
O artista e cineasta Julian Schnabel retorna a Veneza com seu próprio drama de época com potencial para troféus, In the Hand of Dante, um thriller policial sobre um manuscrito da Divina Comédia de Dante Alighieri. Oscar Isaac estrela um papel duplo ao lado de um elenco que inclui Jason Momoa, Gerard Butler, Gal Gadot, Martin Scorsese e Al Pacino.
Há também vários documentários em Veneza neste ano que podem aparecer nas listas de prêmios e melhores filmes.
O lendário diretor alemão Werner Herzog, que recebe um prêmio pelo conjunto de sua obra na cerimônia de abertura do festival, apresentará um documentário não convencional sobre a natureza, Ghost Elephants. O filme acompanha rastreadores coissã em Angola na procura por uma manada lendária – e possivelmente mítica – de elefantes.
Laura Poitras, vencedora do Oscar por seu documentário sobre Edward Snowden, Citizenfour, une-se a Mark Obenhaus em Cover-up, um retrato de Seymour Hersh, jornalista investigativo vencedor do Prêmio Pulitzer que revelou escândalos do Exército dos EUA durante a Guerra do Vietnã e a Guerra do Iraque.
Entre os filmes internacionais estão O Estrangeiro, de François Ozon, uma adaptação do clássico existencialista de Albert Camus, e Orphan, o novo longa-metragem do diretor de O Filho de Saul, Laszlo Nemes, que acompanha os desenvolvimentos da Revolução Húngara de 1956 em Budapeste contra o regime comunista.
Conflitos geopolíticos na telona
Em geral, Veneza é menos conhecida por obras de conteúdo político, mas o festival deste ano tem vários filmes carregados de geopolítica contemporânea.
The Voice of Hind Rajab, da cineasta tunisiana Kaouther Ben Hania, é um drama da vida real baseado na história verdadeira e angustiante de uma menina de seis anos presa em Gaza durante a invasão israelense, incluindo sua última ligação telefônica desesperada para os socorristas do Crescente Vermelho.
Ao descrever o filme durante uma coletiva de imprensa, o diretor artístico de Veneza, Alberto Barbera, mal conseguiu conter as lágrimas.
A política russa está em destaque em The Wizard of the Kremlin, de Olivier Assayas, estrelado por Jude Law como Vladimir Putin e Paul Dano como um poderoso agente político nos bastidores do Kremlin.
O Irã é o foco de dois filmes exibidos nas seções paralelas do festival de Veneza: Divine Comedy, de Ali Asgari, uma sátira sombria sobre um cineasta iraniano que luta contra a censura, e Inside Amir, de Amir Azizi, que acompanha um jovem iraniano prestes a deixar o país.
Também haverá tensão política fora das salas de exibição. Em 23 de agosto, centenas de cineastas e personalidades culturais, sob a bandeira Venice4Palestine, assinaram uma carta aberta instando o festival a tomar uma posição clara sobre a guerra em Gaza, que condenasse a agressão israelense e desse mais espaço a vozes palestinas.
O coletivo de artistas italianos Artisti #NoBavaglio convocou uma grande manifestação para o sábado, alertando que o festival corre o risco de se tornar "uma vitrine triste e vazia" se ignorar a guerra em curso no território palestino.
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Short teaser | Pontapé inicial das premiações, festival terá estrelas e obras com chance de Oscar e filmes de forte teor político. | ||
Author | Scott Roxborough | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-que-esperar-do-festival-de-veneza-deste-ano/a-73783713?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Frequentador assíduo de Veneza, George Clooney (à esquerda) estará lá para o lançamento de "Jay Kelly", de Noah Baumbach | ||
Image source | Peter Mountain/Everett Collection/picture alliance | ||
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Item 25 | |||
Id | 73779980 | ||
Date | 2025-08-27 | ||
Title | Pintura do século 17 saqueada pelos nazistas reaparece na Argentina | ||
Short title | Pintura saqueada pelos nazistas reaparece na Argentina | ||
Teaser |
"Retrato de Dama", do pintor italiano Giuseppe Ghislandi, foi saqueada de colecionador judeu durante a Segunda Guerra Mundial e é vista nos anúncios de uma casa à venda em Mar del Plata. Uma pintura do século 17 roubada pelos nazistas em Amsterdã durante a Segunda Guerra Mundial e que estava desaparecida havia décadas foi encontrada numa casa na Argentina, pendurada sobre o sofá da sala de estar de uma das filhas de um ex-oficial nazista, noticiou o jornal holandês Algemeen Dagblad (AD), que localizou o retrato, nesta segunda-feira (25/08). Nesta terça-feira, a polícia argentina invadiu a casa, na cidade costeira de Mar del Plata, como parte de uma operação de busca pelo retrato que se acredita ter sido saqueado há 80 anos de um colecionador judeu. A obra Retrato de Dama, do pintor italiano Giuseppe Vittore Ghislandi (1655-1743), fazia parte da coleção do comerciante judeu Jacques Goudstikker, falecido em 1940 enquanto fugia dos nazistas. As mais de 1.100 peças da galeria dele em Amsterdã, incluindo obras de Rembrandt e Vermeer, foram compradas por valores muito inferiores ao real por altos funcionários do regime nazista, entre eles Hermann Göring. A pintura a óleo sobre tela acabou nas mãos de Friedrich Kadgien, um oficial nazista próximo a Göring e membro da organização paramilitar nazista Schutzstaffel (SS), que fugiu primeiro para a Suíça e depois para a América do Sul, estabelecendo-se na Argentina e falecendo em 1978 em Buenos Aires. Documentos de época indicam que ele acumulou diamantes e obras de arte por meio de extorsão em Amsterdã. O banco de dados oficial holandês de arte desaparecida da Segunda Guerra Mundial, mantido pela Agência do Patrimônio Cultural da Holanda, identifica Retrato de Dama como pertencente ao negociante de arte Jacques Goudstikker que antes da invasão nazista, em maio de 1940, possuía uma importante galeria em Amsterdã. O jornal AD tentou durante anos entrar em contato com as filhas de Kadgien, que sempre evitavam responder a perguntas sobre o passado do pai. Finalmente encontraram a obra quando uma das filhas colocou sua mansão à venda numa imobiliária argentina, e fotos do interior mostraram a pintura pendurada na sala de estar. Especialistas: não deve ser cópiaEspecialistas da Agência do Patrimônio Cultural da Holanda enfatizam que não há razão para acreditar que seja uma cópia, pois as medidas correspondem às informações disponíveis em seus arquivos sobre essa obra, desaparecida desde 1946. Eles observaram que somente um exame do verso poderia fornecer uma confirmação definitiva por meio das marcações ou etiquetas originais da pintura. A imobiliária Robles Casas & Campos não respondeu a um pedido de comentário. O anúncio da casa ainda estava disponível na noite de terça-feira, mas a imagem do retrato parece ter sido removida. O promotor federal Carlos Martínez disse à agência de notícias Associated Press que a pintura não foi encontrada na casa, mas que os policiais apreenderam outros itens que podem ser úteis para a investigação, como armas e gravuras. Ele disse que os investigadores estão examinando possíveis acusações de ocultação e contrabando. Herdeiros lutam pelo legadoOs herdeiros de Goudstikker já anunciaram que reclamarão a pintura. "Minha busca pelas obras do meu sogro começou no final da década de 1990 e não me abandonou até hoje. O objetivo da minha família é recuperar todas as peças roubadas da coleção e restaurar seu legado", disse Marei von Saher, de 81 anos. Num caso histórico em 2006, o governo holandês concordou em devolver 202 pinturas saqueadas da coleção de Goudstikker a Von Saher após uma prolongada batalha judicial. A recuperação da pintura agora localizada pode se transformar num processo judicial prolongado se os atuais proprietários se recusarem a entregá-la. "Pode ser uma história complicada", enfatizam os herdeiros, que notificaram formalmente sua reivindicação após a publicação da reportagem do AD. Além disso, investigadores da Agência do Patrimônio Cultural da Holanda localizaram outra pintura nas redes sociais das filhas de Kadgien, que também consta como desaparecida: uma natureza-morta floral do artista holandês Abraham Mignon. Refúgio de nazistasO caso reabre umcapítulo sombrio na história da Argentina, que abrigou dezenas de nazistas que fugiram da Europa para evitar processos por crimes de guerra após a Segunda Guerra Mundial, incluindo membros de alto escalão do partido e arquitetos notórios do Holocausto, como Adolf Eichmann. Sob o governo do general argentino Juan Perón, cujo primeiro mandato durou de 1946 até sua deposição em 1955, nazistas fugitivos trouxeram consigo propriedades judaicas saqueadas do outro lado do mundo, incluindo ouro, depósitos bancários, pinturas, esculturas e móveis. O destino desses itens continua a ser notícia décadas depois, enquanto o doloroso processo de restituição se arrasta na Argentina e além. as/cn (Efe, AP) |
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Short teaser | "Retrato de Dama", do pintor italiano Giuseppe Ghislandi, é vista nos anúncios de uma casa à venda em Mar del Plata. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/pintura-do-século-17-saqueada-pelos-nazistas-reaparece-na-argentina/a-73779980?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 26 | |||
Id | 73779497 | ||
Date | 2025-08-27 | ||
Title | Ações de Trump para debilitar Brics podem resultar no oposto | ||
Short title | Ações de Trump para debilitar Brics podem resultar no oposto | ||
Teaser |
Tarifas punitivas da Casa Branca a países do grupo superam às aplicadas ao resto do mundo. Em resposta, eles se articulam para ampliar seu comércio e reduzir dependência do dólar.O presidente dos EUA, Donald Trump, é acusado de estar, de forma inadvertida, contribuindo para aproximar os países do Brics, ao impor tarifas de importação particularmente mais altas contra eles. É o que acaba de acontecer com a Índia, que nesta quarta-feira (27/08) viu as taxas de importação americanas contra seus produtos subir para 50% – metade da alíquota é uma punição pelo país comprar petróleo russo.
O Brasil também está sujeito a uma tarifa geral de importação de 50%, como forma de pressionar o país a anular o julgamento sobre tentativa de golpe de Estado contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, um aliado de Trump. Apesar de diversos produtos brasileiros terem entrado numa lista de exceções, o país está sujeito a uma das maiores alíquotas do mundo no tarifaço da Casa Branca.
A China, maior membro do Brics, ainda corre o risco de enfrentar uma tarifa de 145% se não conseguir chegar a um acordo com os EUA, e a África do Sul recebeu uma tarifa de 30%. Mesmo membros mais novos, incorporados na recente expansão do grupo, como o Egito, podem ver suas tarifas aumentarem devido à sua participação no Brics.
Desde o início do seu atual mandato, Trump alertou várias vezes sobre aplicar punições adicionais contra qualquer nação que se alinhe com o que ele chama de "políticas antiamericanas" – uma referência direta ao crescente desafio que o Brics representa ao domínio global dos EUA.
Trump deu ao Brics "incentivo comum"
Ajay Srivastava, ex-servidor do órgão de comércio externo do Índia (ITdS, na sigla em inglês), acredita que os países do Brics se sentem "pouco intimidados" por serem alvo de penalidades adicionais por parte de Trump. Ele disse à DW que as tarifas "dão ao Brics um incentivo comum para reduzir sua dependência dos EUA, mesmo que suas agendas divirjam".
Segundo uma reportagem do jornal alemão FAZ, Trump fez quatro ligações telefônicas nas últimas semanas para tentar falar com o premiê da Índia, Narendra Modi, que ignorou todas as chamadas.
As tarifas punitivas da Casa Branca criaram uma queixa comum entre os membros do Brics, que agora estão expandindo acordos comerciais bilaterais em moedas nacionais para reduzir a dependência do dólar americano. Os bancos centrais do Brics também aumentaram as compras de ouro, o que também sinaliza o desejo de dar menos peso ao dólar em suas reservas.
No início de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que iria buscar uma resposta conjunta do Brics ao tarifaço de Trump.
Após Trump declarar que "o Brics está morto", um pesquisador acusou o presidente dos EUA de "negligência estratégica", argumentando que o republicano transformou uma coalizão de países com objetivos muito diferentes em um bloco mais unificado.
Em um artigo recente para o jornal Washington Post, Max Boot, membro sênior do think tank Council on Foreign Relations, disse que Trump estava "diminuindo o poder dos EUA ao unir de forma perversa amigos da América com nossos inimigos" – uma referência à forma como Brasil, África do Sul e Índia estão se alinhando mais estreitamente com China e Rússia.
Modi vai à China pela primeira vez em sete anos
Uma demonstração adicional da crescente solidariedade entre os membros do Brics será exibida em uma reunião de cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (SCO) em Tianjin, no norte da China, a partir deste domingo.
O presidente chinês, Xi Jinping, receberá seus homólogos indiano e russo, Narendra Modi e Vladimir Putin, além de líderes de cerca de 20 outros países do Sul Global. Esta será a primeira vez que Modi pisará em solo chinês em sete anos.
Antes da cúpula, o Kremlin vem pressionando para que China, Rússia e Índia realizem suas primeiras negociações trilaterais em seis anos, uma iniciativa que fortaleceria o núcleo da aliança do Brics. Moscou acredita que o reatamento do diálogo de alto nível entre os três maiores países do grupo poderia ajudar a acalmar tensões de longa data, especialmente entre a Índia e a China, e apresentar um contrapeso mais coeso ao Ocidente.
Nova Délhi recalibra abordagem sobre Pequim
A significativa tarifa aplicada por Trump levou Nova Délhi a fortalecer os laços econômicos com a China, retomando voos diretos, flexibilizando as restrições de visto e aumentando as discussões comerciais.
Os dois países também tiveram conversas para tentar resolver disputas de longa data ao longo de sua fronteira de fato de quase 3.500 quilômetros.
Durante uma visita à Índia na semana passada, o ministro do Exterior da China, Wang Yi, concordou em aumentar o fornecimento de minerais de terras raras aos indianos. A China controla mais de 85% do processamento global de terras raras, e a Índia precisa desses minerais para desenvolver produtos para a transição energética, veículos elétricos e tecnologias de defesa.
Mas, apesar de se apoiarem mutuamente para sediarem as cúpulas do Brics em 2026 e 2027, há várias razões para ceticismo sobre uma melhora significativa nas relações sino-indianas, dadas as suspeitas de Nova Délhi sobre as ambições da China na Ásia.
Shilan Shah, economista-chefe adjunto de mercados emergentes da consultoria Capital Economics, sediada em Londres, citou as relações estreitas da China com o principal inimigo da Índia, o Paquistão, e a construção de uma barragem hidrelétrica chinesa no planalto tibetano, o que causou inquietação em Nova Délhi.
Em um artigo, Shah também observou que "o influxo de importações chinesas baratas" estava "prejudicando os esforços da Índia para fortalecer sua indústria doméstica".
Além da desconfiança da Índia sobre a China, seus laços de longa data com Washington podem prejudicar a ambição de fazer o Brics avançar. A Índia depende fortemente do mercado e da tecnologia americanos, e exportou 77,5 bilhões de dólares (R$ 433 bilhões) para os EUA em 2024, contra exportações muito menores para a Rússia e a China.
Outros países do Brics reforçam laços com China
O Brasil também tentou impulsionar o comércio bilateral com a China, seu maior parceiro comercial, durante uma ligação telefônica no início do mês entre Xi e Lula. A China compra 26% das exportações do Brasil – o dobro do que os Estados Unidos.
A presença muito simbólica de Xi ao lado de Putin no desfile do Dia da Vitória da Rússia, em maio, ressaltou o aprofundamento do alinhamento estratégico entre Moscou e Pequim. Mais de 90% do comércio bilateral entre a Rússia e a China agora é realizado em yuan e rublos, de acordo com o Kremlin.
A África do Sul também permanece firme em seus compromissos com o Brics, sinalizando sua intenção de traçar seu próprio caminho apesar da pressão de Trump.
"O governo sul-africano não está disposto a reverter nenhum de seus compromissos com o Brics, especialmente sobre reforma da governança global, tecnologia, agricultura, intercâmbios acadêmicos e comércio bilateral", disse Sanusha Naidu, pesquisadora sênior do Instituto para o Diálogo Global, com sede na África do Sul, à DW.
Ambições divergentes dentro do Brics
Recém-expandido de cinco para dez membros – com a Arábia Saudita ainda indecisa sobre a adesão –, o Brics está se tornando cada vez mais fragmentado, devido a interesses nacionais divergentes, o que pode limitar suas ambições. Ele também está se tornando mais autoritário.
Srivastava, que fundou a Iniciativa de Pesquisa Comercial Global, com sede em Nova Délhi, disse que o Brics "tem menos a ver com unidade perfeita e mais com cooperação pragmática em comércio, finanças e cadeias de abastecimento".
Embora o comércio entre os países do Brics tenha crescido mais rapidamente do que o comércio entre o Brics e os países do G7, grande parte dele é de petróleo e gás. E o comércio intra-Brics está sujeito a mais barreiras do que as existentes entre os países do Ocidente, segundo uma pesquisa do Boston Consulting Group (BCG).
O BCG identificou sinais futuros de que a cooperação comercial do Brics estava aumentando, incluindo uma reversão de medidas antidumping e outras restrições comerciais, movimentos em direção a um acordo de livre comércio em todo o Brics, apoio unânime à reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC) e mais investimentos estrangeiros entre os países do bloco.
Comércio intra-Brics deve crescer mais
Embora essas ambições possam não se concretizar imediatamente, Mihaela Papa, diretora de pesquisa do Center for International Studies do MIT, em Cambridge, nos EUA, projeta que o comércio intra-Brics ficará mais relevante.
"Podemos esperar maior apoio político para novas iniciativas comerciais, campanhas 'Compre Brics' e projetos como a bolsa de grãos do Brics e a expansão dos mecanismos de liquidação em moeda local", disse Papa à DW.
Uma proposta apoiada pela Rússia para uma moeda única do Brics para desafiar o dólar permanece em compasso de espera, sugerindo um futuro moldado menos por sistemas financeiros concorrentes e mais por uma colcha de retalhos de redes sobrepostas.
Srivastava prevê que o dólar seguirá "dominante por anos, mas os sistemas paralelos de liquidação em yuan, rupia e rublo crescerão". Isso não destronará o dólar, disse ele à DW, "mas irá minar gradualmente seu monopólio".
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Short teaser | Tarifas dos EUA a países do grupo superam às aplicadas ao resto do mundo. Em resposta, eles estão se articulando mais. | ||
Author | Nik Martin | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ações-de-trump-para-debilitar-brics-podem-resultar-no-oposto/a-73779497?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Lula defendeu resposta comum do Brics ao tarifaço, e Modi vai à China pela primeira vez em sete anos para reunião com Xi | ||
Image source | Li Xueren/Xinhua/picture alliance | ||
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Item 27 | |||
Id | 73775904 | ||
Date | 2025-08-26 | ||
Title | 25 países suspendem envios postais para os EUA após tarifas | ||
Short title | 25 países suspendem envios postais para os EUA após tarifas | ||
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Agências de vários países decidem suspender serviços para os Estados Unidos após decreto de Trump que reduz de US$ 800 para US$ 100 o limite máximo das isenções para encomendas de pequeno porte. Ao menos 25 países decidiram suspender as entregas de encomendas de pequeno porte para os Estados Unidos devido a preocupações com o impacto da iminente entrada em vigor de um decreto assinado pelo presidente Donald Trump que encerra uma isenção criada em 1938 a produtos de baixo valor, informou a agência postal da ONU. No final do mês passado, a Casa Branca anunciou o fim da isenção de impostos sobre pequenas encomendas em valores de até 800 dólares (R$ 4,3 mil) que entrarem nos EUA a partir de 29 de agosto. A medida desencadeou uma série de anúncios de serviços postais em países como França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Índia, Austrália e Japão, de que a maioria das encomendas com destino aos EUA não seria mais aceita. A União Postal Universal (UPU) das Nações Unidas relatou ter sido informada por 25 Estados-membros de que suas operadoras de correios "suspenderam seus serviços postais de saída para os EUA, citando incertezas relacionadas especificamente aos serviços de trânsito". A agência afirmou que as suspensões permanecerão em vigor até que haja mais clareza sobre como as autoridades americanas planejam implementar as medidas anunciadas. Isenção para presentes de até US$ 100A organização, criada em 1874 e que conta com 192 Estados-membros, alertou que as novas medidas americanas "implicariam mudanças operacionais consideráveis para as operadoras postais em todo o mundo". Na sexta-feira, a UPU afirmou que as medidas exigiriam que as transportadoras que entregam encomendas aos Estados Unidos "cobrassem os direitos alfandegários dos remetentes com antecedência", em nome da Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA. De acordo com as novas medidas, clientes individuais ainda poderão enviar ao país documentos e itens no valor de até 100 dólares (R$ 542,9) como presentes sem serem tributados. Qualquer valor acima disso deverá ser atingido pelas mesmas alíquotas tarifárias aplicadas a outras importações do país remetente. Isso significaria, por exemplo, 15% para os países da União Europeia e 50% para o Brasil. O serviço postal alemão DHL alertou na semana passada que mesmo os itens isentos estariam sujeitos a verificações adicionais para impedir que o serviço fosse usado para mercadorias comerciais. UPU tenta mitigar danosA UPU enfatizou que estava "tomando todas as medidas possíveis para preparar seus Estados-membros para os impactos que [as novas medidas] podem ter em seus fluxos postais". O chefe da UPU, Masahiko Metoki, enviou nesta segunda-feira uma carta ao Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, para comunicar a preocupação dos países com as interrupções operacionais. A entidade disse estar "trabalhando com as autoridades americanas relevantes para garantir que as informações sobre os requisitos operacionais das medidas sejam comunicadas de forma eficaz aos outros países-membros", apontando para o curto prazo de implementação e expressando preocupação especial com o impacto na entrega de itens de comércio eletrônico. Paralelamente, afirmou estar trabalhando com "partes interessadas relevantes do setor postal" para ajudar a encontrar soluções sustentáveis, incluindo uma iniciativa destinada a desenvolver um sistema para facilitar a cobrança e o envio de impostos em sua rede. O que diz o decreto de Trump?O decreto assinado por Trump no mês passado elimina a isenção alfandegária amplamente utilizada para remessas internacionais de 800 dólares ou menos a partir desta sexta-feira, quase dois anos antes do prazo estabelecido por um projeto de lei de cortes de impostos e gastos aprovado pelo Congresso. A medida adotada pelos EUA visa tornar o país menos dependente de produtos estrangeiros e redefinir o comércio global através das tarifas. Embora o presidente tenha encerrado anteriormente a chamada regra de minimis para itens de baixo custo enviados da China e Hong Kong, o pagamento de impostos de importação sobre pequenas encomendas enviadas a partir de qualquer outro país deverá acarretar grandes mudanças para algumas pequenas empresas e compradores online. Compras que anteriormente entraram nos EUA sem necessidade de desembaraço aduaneiro precisarão ser verificadas e estarão sujeitas à alíquota tarifária aplicável ao seu país de origem, que pode variar de 10% a 50%. Pelos próximos seis meses, as transportadoras que processam pedidos enviados pela rede global de correios também podem optar por uma tarifa fixa de 80 a 200 dólares por pacote em vez da tarifa baseada no valor do produto. O governo Trump afirma que a isenção se tornou uma brecha que as empresas estrangeiras exploram para sonegar tarifas e que criminosos a utilizam para enviar drogas, produtos falsificados e outros contrabandos nos EUA. Outros países têm isenções semelhantes, mas o limite geralmente é menor. Por exemplo, na zona do euro, o limite de valor é de 150 euros. O Reino Unido permite que empresas estrangeiras enviem encomendas no valor de até 135 libras (R$ 988) isentas de tarifas. 1,36 bilhão de pacotes somente em 2024Nos EUA, a isenção de minimis – que em latim quer dizer falta de significância ou importância – começou em 1938 como uma forma de poupar ao governo federal o tempo e as despesas de cobrança de impostos sobre produtos importados com valor de varejo de um dólar ou menos. Os legisladores americanos acabaram aumentando o limite de elegibilidade para 5 dólares em 1990, para 200 dólares em 1993 e para 800 dólares em 2015. Desde então, o número de remessas que reivindicam a isenção explodiu. Um total de 1,36 bilhão de pacotes, com um valor combinado de 64,6 bilhões de dólares, chegou aos EUA no ano passado, em comparação com 134 milhões de pacotes enviados sob a isenção em 2015, segundo dados da Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA. Cerca de 60% das remessas de 2024 vieram da China e de Hong Kong, de acordo com uma análise da empresa de logística Flexport, elaborada com base em dados do governo americano. Diversos países e regiões foram responsáveis pelo restante, incluindo Canadá, México, União Europeia, Índia e Vietnã. rc (AFP, AP) |
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Short teaser | Países decidem suspender os serviços após decreto de Trump que reduz limite máximo das isenções para encomendas. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/25-países-suspendem-envios-postais-para-os-eua-após-tarifas/a-73775904?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 28 | |||
Id | 73772723 | ||
Date | 2025-08-26 | ||
Title | China é vilã ou protetora do meio ambiente no Sudeste Asiático? | ||
Short title | China é vilã ou protetora ambiental no Sudeste Asiático? | ||
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China é a maior financiadora de projetos de energia limpa no Sudeste Asiático, mas suas empresas são acusadas de poluição e degradação ambiental. De usinas de processamento de níquel na Indonésia a minas de terras raras em Mianmar, empresas chinesas estão expandindo suas operações em setores que, segundo ambientalistas, podem gerar graves efeitos de longo prazo em rios, na qualidade do ar e para comunidades locais. Em parte, essa expansão é impulsionada por regras ambientais mais rígidas e pelo excesso de capacidade industrial na China, mas ela é também o resultado da atratividade exercida por uma mão de obra mais barata, uma fiscalização ambiental mais relaxada e regiões ricas em recursos naturais nos países vizinhos. Embora a China tenha se tornado a maior financiadora de energia limpa do Sudeste Asiático, analistas afirmam que esses investimentos verdes são ofuscados pelo envolvimento do país em algumas das indústrias mais poluidoras da região. O resultado é um quadro difuso e complexo: por um lado, o capital chinês está ajudando a construir parques solares e hidrelétricas, por outro está favorecendo disputas ambientais, riscos à saúde e crescentes tensões políticas. Essa expansão chinesa coloca também em evidência se os governos do Sudeste Asiático estão tão comprometidos com a proteção do meio ambiente quanto afirmam. "A realidade é que a maioria dos governos se preocupa mais com o desenvolvimento econômico do que com a sustentabilidade ambiental, exatamente como o governo chinês fez", comenta o analista Zachary Abuza, da Escola Nacional de Guerra, em Washington, nos EUA. Processamento de níquel na IndonésiaNo fim de 2024, protestos e greves começaram em diversas usinas de processamento de níquel administradas por chineses na Indonésia. Em julho passado, autoridades em Jacarta anunciaram que sancionariam empresas por violações ambientais no polo de níquel do Parque Industrial Morowali, na ilha de Celebes, administrado pela metalúrgica chinesa Tsingshan Holding Group. Em fevereiro, a organização sem fins lucrativos C4ADS, que se dedica à análise de conflitos e segurança mundial e é financiada pelo governo dos EUA, revelou que mais de três quartos da capacidade de refino de níquel da Indonésia são controlados por empresas chinesas, muitas delas com vínculos com o governo em Pequim. Duas delas, incluindo a Tsingshan, respondem por mais de 70% dessa capacidade. "A falta de controle interno deixa a Indonésia dependente de investimentos chineses, o que pode limitar a capacidade do governo de responsabilizar a indústria", afirmou a C4ADS. A professora de ciência política e relações internacionais Fengshi Wu, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, observa que vários estados do Sudeste Asiático, especialmente a Indonésia, adotaram o "nacionalismo de recursos", introduzindo proibições de exportação para garantir que os minerais sejam processados internamente. Isso lhes permite obter lucros agregando valor à extração dos recursos, em vez de simplesmente exportar as matérias-primas para que empresas estrangeiras fiquem com a maior parte da receita. "A Indonésia quer ver mais minerais sendo processados dentro do país. Mas com isso vem a poluição, a menos que medidas mais eficazes contra a poluição ambiental sejam adotadas", diz Wu. Poluição no Rio MekongAumentaram também as críticas de que empresas chinesas estão poluindo grandes extensões do Rio Mekong com a expansão da extração de terras raras em Mianmar, um país devastado por uma guerra civil. Comunidades no Laos e na Tailândia têm reclamado nos últimos meses da elevada presença de arsênio e de outros metais tóxicos. O Rio Mekong tem 4.500 quilômetros de extensão e nasce no Planalto Tibetano, na China. Ele atravessa a China, Mianmar, o Laos, o Camboja, a Tailândia e o Vietnã e deságua no Mar da China Meridional. Em junho, a agência de poluição da Tailândia testou a água nas províncias de Chiang Mai e de Chiang Rai, uma região de forte atividade mineradora no norte do país, na fronteira com o estado de Shan, em Mianmar, e detectou níveis de arsênio quase cinco vezes superiores aos padrões internacionais para água potável. O Instituto de Estratégia e Política de Mianmar constatou que o número de minas de terras raras num dos estados do país quase triplicou, chegando a cerca de 370, desde o golpe militar de 2021. Autoridades e parlamentares tailandeses estão pressionando a China para conter o impacto ambiental dessas operações, o que fez a embaixada da China em Bangkok afirmar que todas as empresas chinesas "cumprem as leis do país anfitrião e realizam seus negócios sempre de forma legal e organizada". O ativista Pianporn Deetes, da ONG ambientalista e de direitos humanos International Rivers, alertou que o risco "deve se tornar ainda mais concentrado e persistente" com a planejada barragem hidrelétrica de Pak Beng, financiada pela China no Laos, que "pode reter e acumular sedimentos poluídos em seu reservatório". Dinheiro e conhecimento técnico da ChinaSe há cada vez mais críticas, também é verdade que a China é a maior investidora em energia renovável do Sudeste Asiático. A organização internacional de pesquisa Zero Carbon Analytics relatou em junho que a China investiu mais de 2,7 bilhões de dólares em projetos de energia limpa na região na última década, em grande parte por meio da Iniciativa Cinturão e Rota, mais conhecida como Nova Rota da Seda. No entanto, as empresas chinesas estão simultaneamente se expandindo para setores com alta poluição. Num artigo na revista semanal Nikkei Asia, os analistas Soon Cheong Poon e Guanie Lim, do National Graduate Institute for Policy Studies (Grips), do Japão, observaram que indústrias com alta poluição estão deixando a China e se estabelecendo em países menores do Sudeste Asiático. Isso inclui as indústrias de ferro e aço e de reciclagem de papel. "Enfrentando regulamentações ambientais mais rígidas e excesso de capacidade interna, as siderúrgicas chinesas se voltaram para o Sudeste Asiático a partir de 2017", dizem os analistas. Lim disse à DW que evitar as tarifas dos Estados Unidos é outro motivo para a realocação. "Essas usinas, devido a sua escala, tendem a criar empregos e conexões com um ecossistema industrial mais amplo. No entanto, muitos desses empregos são mal remunerados e criam riscos à saúde." A China tem algumas das empresas mais experientes e capazes do mundo em alguns dos setores mais poluentes e de mais alto impacto ambiental. Esses setores, com suas altas necessidades de investimento, são cada vez mais rejeitados por bancos de países ocidentais, mas ao mesmo tempo são importantes para o rápido crescimento econômico dos países do Sudeste Asiático. E aí que a China, com seus bancos estatais, entra em cena. "A pergunta que não é feita com frequência suficiente é se e como empresas não chinesas que operam nos mesmos setores e dentro dos mesmos contextos nacionais agem de forma diferente", diz a professora Juliet Lu, da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá. Terras raras, por exemplo, são matérias-primas essenciais para a indústria, difíceis de adquirir no mercado internacional. É por isso que o dinheiro e o conhecimento técnico da China têm alta demanda. "Países como Indonésia, Malásia e Mianmar, que querem estradas construídas, infraestrutura energética estabelecida ou minas abertas, têm vários motivos para recorrer à China", diz Lu. |
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Short teaser | China é maior financiadora de projetos de energia limpa no Sudeste Asiático, mas suas empresas são acusadas de poluição. | ||
Author | David Hutt | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/china-é-vilã-ou-protetora-do-meio-ambiente-no-sudeste-asiático/a-73772723?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 29 | |||
Id | 73767990 | ||
Date | 2025-08-26 | ||
Title | Terrorista alemã da NSU entra em programa de reabilitação que pode reduzir prisão perpétua | ||
Short title | Terrorista alemã busca reabilitação que pode reduzir pena | ||
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Familiares das vítimas duvidam do arrependimento de Beate Zschäpe, única sobrevivente de um grupo neonazista e condenada à prisão perpétua por assassinatos de pessoas com origem estrangeira.Em 2018, a alemã Beate Zschäpe foi condenada pelo Tribunal Regional Superior de Munique à prisão perpétua por sua participação na organização terrorista de extrema direita Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU, na sigla em alemão), responsável pela morte de dez pessoas, com a corte determinando um grau de culpa particularmente severo.
Agora, mesmo pouco tendo colaborado durante o julgamento para esclarecer a série de assassinatos, Zschäpe foi aceita no programa Exit de reabilitação criminal para quem deseja deixar grupos extremistas e que oferece aconselhamento e assistência para a reintegração à sociedade.
"Ouvi a notícia com uma mistura de descrença e choque", disse Michalina Boulgarides à DW. Ela é filha de Theodoros Boulgarides, que foi assassinado pela NSU em Munique em 2005. Ele é um dos nove homens com raízes estrangeiras que foram mortos pelo grupo neonazista entre 2000 e 2007. A décima vítima é uma policial.
A ombudswoman do governo alemão para as vítimas da NSU, Barbara John, suspeita que Zschäpe quer participar do programa apenas para aumentar as chances de sair da prisão.
A NSU cometeu assassinatos, atentados a bomba e assaltos a bancos em vários estados alemães entre 2000 e 2007. Todos os mortos pelo grupo, exceto a policial, tinham raízes estrangeiras. Zschäpe é a única sobrevivente do grupo, que incluía ainda os seus cúmplices Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt.
Inversão entre agressores e vítimas
Para Michalina Boulgarides, que soube da notícia pela mídia, o acordo feito por Zschäpe é um tapa na cara de todos os familiares das vítimas.
Juntamente com outros familiares de vítimas, ela lançou uma petição na plataforma online Campact e escreveu uma carta ao governo alemão. Eles reivindicam a remoção imediata de Zschäpe do programa de reabilitação, bem como apoio jurídico e financeiro para os afetados por meio de pensões permanentes e adequadas.
"Passamos por muita coisa nos últimos 20 anos, e é sempre a mesma coisa. O terrível é que, mais uma vez, percebemos que o aparato governamental não aprende nada, o que vale também para a maneira como ele lida com os afetados", diz Michalina Boulgarides. "Eu jamais conheci a proteção às vítimas."
Durante anos, as investigações policiais se concentraram quase exclusivamente nas famílias das vítimas assassinadas. Tanto os mortos como familiares deles eram suspeitos de terem ligações com a máfia ou o tráfico de drogas. A hipótese de assassinatos com motivações extremistas de direita praticamente não foi investigada.
Agora, a inclusão de Zschäpe num programa de reabilitação é mais um sinal da inversão de tratamento entre agressores e vítimas: a terrorista assassina condenada, diz Michalina Boulgarides, está sendo apoiada em sua reintegração, enquanto as vítimas dela são deixadas para trás.
"Se ela tivesse falado durante o julgamento ou durante o período em que esteve presa, talvez até se desculpado, os afetados estariam reagindo de outra maneira. Mas ela diz que está se afastando da cena de extrema direita, embora tenha comprovadamente mantido contato com ela durante seu tempo na prisão. Isso não faz sentido para nós e não é crível", diz.
Um porta-voz do programa de reabilitação disse ao jornal Frankfurter Rundschau que, como regra geral, não são feitos comentários sobre os participantes, mas ele ressalvou que a admissão exige uma reflexão séria, por parte do participante, sobre os crimes cometidos e suas motivações.
Em novembro de 2026, após 15 anos de prisão (incluindo o tempo na prisão preventiva), o Tribunal Regional Superior de Munique decidirá sobre a sentença final para Zschäpe, que atualmente cumpre pena na penitenciária de Chemnitz.
Michaelina Boulgarides suspeita que Zschäpe esteja participando do programa de olho numa redução da sua pena, mas sem real arrependimento dos crimes cometidos. "Ela está fazendo isso para encurtar sua pena, não consigo ver de outra forma. Se alguém está realmente arrependido e diz que sente remorso, as coisas são diferentes. Acredito nesses programas de saída e acho bom que eles existam."
Arrependimento é essencial
Existem muitos programas de reabilitação na Alemanha, tanto estatais quanto da sociedade civil. O Exit, criado em 2000, foi o primeiro e, por muitos anos, o único da sociedade civil.
Desde 2018, o Centro de Competência Contra o Extremismo (Konex), do Departamento Estadual de Investigações Criminais do estado de Baden-Württemberg, oferece programas de reabilitação voltados para o extremismo de direita, o extremismo de esquerda, o terrorismo islamista, o extremismo contra estrangeiros e recentemente também um para os chamados cidadãos do Reich, que não reconhecem a existência da República Federal da Alemanha.
"Para uma saída bem-sucedida, a vontade e a disposição de sair são essenciais – ou seja, a motivação de realmente querer sair. E isso depende do quanto uma pessoa continua firme, radicalizada e inserida na cena extremista", diz o chefe de aconselhamento de saída do Konex, Conrad Klosinski, à DW. "Então temos que avaliar se a motivação é genuína ou se a intenção é apenas obter uma redução da pena."
Em sete anos, o Konex lidou com mais de mil casos, desde meras consultas telefônicas até casos que se arrastaram por vários anos. Embora o extremismo de direita esteja em leve declínio, a proporção de jovens envolvidos aumentou significativamente. A radicalização está ocorrendo principalmente online, em grupos de chat e em redes sociais como o TikTok, com códigos e símbolos em constante mudança.
"O mais importante é construir uma confiança mútua para podermos avaliar o que a pessoa quer de nós, se o arrependimento é sério e o que podemos oferecer a ela", diz Klosinski. "Nosso objetivo mínimo é que a pessoa não volte a cometer crimes com motivação política. E, claro, ainda melhor seria, e é isso que buscamos, que ela se distancie verdadeiramente e de forma permanente, se desradicalize, se reoriente ideologicamente e, idealmente, se mantenha firme nos princípios da ordem fundamental liberal democrática."
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Short teaser | Familiares das vítimas duvidam do arrependimento de Beate Zschäpe, condenada à prisão perpétua por assassinatos. | ||
Author | Oliver Pieper | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/terrorista-alemã-da-nsu-entra-em-programa-de-reabilitação-que-pode-reduzir-prisão-perpétua/a-73767990?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Beate Zschäpe foi condenada em 2018 por um tribunal de Munique e terá uma revisão de pena em 2026 | ||
Image source | Koehler/Eibner-Pressefoto/picture alliance | ||
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Item 30 | |||
Id | 73764561 | ||
Date | 2025-08-26 | ||
Title | Onde nasce a consciência? A questão que opõe neurocientistas | ||
Short title | Onde nasce a consciência? A questão que opõe neurocientistas | ||
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Pesquisa conduzida por sete anos analisou as duas principais teses sobre o tema. Resultados ampliam disputa sobre se máquinas e animais, por exemplo, teriam experiências conscientes. No campo científico, poucas perguntas geram tanto debate quanto a origem da consciência humana. Agora, um experimento que levou sete anos para ser realizado colocou à prova as duas teorias neurocientíficas rivais mais proeminentes sobre esse enigma, desencadeando uma controvérsia central na discussão: um animal, uma máquina ou um feto teria acesso à experiência consciente? O estudo, que envolveu 256 participantes e 12 laboratórios colaboradores, conhecido como Consórcio Cogitate, submeteu os participantes a diversos testes visuais enquanto seus cérebros eram monitorados utilizando três técnicas diferentes de neuroimagem. O objetivo: tentar identificar qual tese está mais próxima da realidade: se a teoria da informação integrada (TII) ou a teoria do espaço de trabalho neuronal global (GNWT, na sigla em inglês). As duas propostas diferem tanto em seus pressupostos que quase parecem falar de fenômenos distintos. A GNWT sugere que uma rede de áreas cerebrais seleciona informações importantes, trazendo-as para o primeiro plano da mente. Quando essas informações competem pela atenção nas regiões cerebrais e superam outros sinais, elas se difundem amplamente pelo cérebro, gerando a experiência consciente. Para a teoria, atividades mentais que não foram destacadas correm no cérebro mesmo que de forma inconsciente. Esse processo está principalmente associado ao córtex pré-frontal, mas não se limita a ele. A TII, por sua vez, parte de uma definição mais abstrata: propõe que a consciência emerge da integração matemática da informação dentro de um sistema. Se diferentes partes do cérebro trocam informações de forma altamente conectada e unificada, atuando como um todo, surge a experiência consciente. Segundo essa teoria, a consciência resulta dessa interação entre várias partes do cérebro, especialmente nas regiões posteriores, e pode ser quantificada por meio de uma medida chamada phi; quanto mais integrada a informação, maior o valor de phi e maior a consciência. "As duas teorias são criaturas muito diferentes", explicou à revista especializada Scientific American Christof Koch, cientista cognitivo do Instituto Allen em Seattle e coautor do estudo publicado em abril deste ano na revista científica Nature. Resultados inconclusivos, mas deixam pistasOs resultados do experimento, liderado por Lucia Melloni, do Instituto Max Planck de Estética Empírica, foram inconclusivos. Enquanto alguns achados favoreciam a TII – como a decodificação de características visuais em regiões posteriores do cérebro e uma atividade neuronal mais sustentada durante a percepção consciente – outros padrões de sincronicidade se alinhavam melhor às previsões da GNWT. De fato, como reconhece o professor Anil Seth, especialista em neurociência cognitiva e computacional da Universidade de Sussex, "era claro que nenhum experimento refutaria de forma decisiva nenhuma das duas teorias". "Dito isso, os resultados da colaboração continuam sendo muito valiosos: aprendemos muito sobre ambas as teorias e sobre em que parte do cérebro é possível decodificar a informação da experiência visual", acrescentou. Mais do que um duelo técnico, os dados levantam novas questões sobre onde, e como, a consciência é gerada. Por exemplo, a pesquisa demonstrou que existe uma conexão funcional entre neurônios das primeiras áreas visuais (na parte posterior do cérebro) e áreas frontais, ajudando a entender como nossas percepções se ligam aos pensamentos. Além disso, os achados reduzem a ênfase no córtex pré-frontal no processo consciente, sugerindo que, embora seja crucial para raciocínio e planejamento, a consciência em si pode estar mais vinculada ao processamento sensorial e à percepção. Como resume o estudo do Instituto Allen: "A inteligência consiste em fazer, enquanto a consciência consiste em ser". Estudo abre controvérsia éticaO empate técnico não acalmou os ânimos. O verdadeiro drama se deu fora do laboratório. Após a publicação preliminar do estudo em 2023, um grupo de 124 cientistas assinou uma carta aberta acusando a TII de ser uma "pseudociência", argumentando que ela não é falseável, ou seja, que não pode ser refutada experimentalmente. Nessa mesma linha, um segundo artigo, assinado por 100 pesquisadores, reiterou as críticas: ausência de previsões precisas e incompatibilidade com as leis físicas. Além disso, a polêmica ganhou força devido às implicações éticas da TII. Segundo críticos, a teoria poderia sugerir que sistemas como a inteligência artificial, animais e até fetos em estágio inicial poderiam possuir algum grau de consciência. "Nos casos de pacientes em coma, consciência em IA e abortos, nos perguntamos: 'como sabemos se o paciente, o feto ou a IA são conscientes?'. Ainda não podemos usar a atividade cerebral para responder adequadamente a essa questão e seria perigoso, neste estágio, basear nossas respostas em qualquer teoria que não tenha validação empírica", alertou Chris Frith, da Universidade de Londres, signatário de ambas as críticas. Já os defensores da TII, como Christof Koch, do Instituto Allen para a Ciência do Cérebro, atribuem a reação negativa a ciúmes profissionais. "A TII foi percebida como mais atraente que outras teorias, recebendo mais atenção e recursos", afirmou Koch à revista New Scientist. "Qualquer inferência ou implicação de uma teoria deveria ser irrelevante para a questão de se ela está correta ou não." Anil Seth, por sua vez, argumenta que outras teorias revolucionárias – do heliocentrismo à evolução darwiniana – foram inicialmente rejeitadas por suas implicações. "O consequencialismo não é uma razão válida para rejeitar uma teoria como não científica", declarou ao periódico científico. Diagnóstico neurológico avança com estudoA pesquisa, no entanto, trouxe impactos positivos para além do debate teórico. As descobertas podem ter aplicações práticas sobre como melhorar a detecção de "consciência encoberta", por exemplo, quando um paciente parece inconsciente mas tem algum nível de atividade consciente, ainda que não seja detectada externamente. Segundo estudos recentes publicados no New England Journal of Medicine, a consciência encoberta ocorre em um quarto dos casos de pacientes com lesões graves que não respondem a estímulos, como quando estão em coma, por exemplo. Melloni, a principal autora da pesquisa, minimiza a controvérsia e, em entrevista à New Scientist, defende uma abordagem mais pragmática. "É apenas uma novela. O que precisamos são de mais dados, não de mais cartas", diz. Sua equipe planeja tornar públicos os dados para que outros pesquisadores possam testar todas as teorias potenciais sobre o tema. gq/cn (DW, OTS) |
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Short teaser | Estudo analisou 2 teses rivais. Resultados ampliam disputa sobre se máquinas e animais teriam experiências conscientes. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/onde-nasce-a-consciência-a-questão-que-opõe-neurocientistas/a-73764561?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&f=https://tvdownloaddw-a.akamaihd.net/dwtv_video/flv/vdt_br/2016/bbra160606_012_futevolucao_02i_sd_sor.mp4&title=Onde%20nasce%20a%20consci%C3%AAncia%3F%20A%20quest%C3%A3o%20que%20op%C3%B5e%20neurocientistas |
Item 31 | |||
Id | 73737807 | ||
Date | 2025-08-25 | ||
Title | Como a Alemanha está 10 anos após a crise dos refugiados | ||
Short title | Como a Alemanha está 10 anos após a crise dos refugiados | ||
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Em 2015, centenas de milhares de requerentes de asilo chegaram à Alemanha. A DW reuniu dados sobre asilo, integração e opinião pública que mostram o que não deu certo – e o que deu."Wir schaffen das", ou seja, "nós vamos conseguir". Três palavras que se tornaram símbolo global da postura aberta da Alemanha em relação aos refugiados. Quando a então chanceler federal conservadora Angela Merkel proferiu essa frase no verão europeu de 2015, centenas de milhares de pessoas estavam a caminho da Alemanha, muitas vindas da Síria, do Afeganistão e do Iraque.
A recepção ocorreu em meio a uma onda de solidariedade e solicitude. Na memória, por exemplo, estão as imagens da estação central de Munique, onde milhares de refugiados foram recebidos com pequenos presentes por locais.
No entanto, dez anos depois, o clima mudou. Em muitos setores da sociedade, a cultura inicial de boas-vindas se esvaiu, dando lugar ao ceticismo e à rejeição. Isso porque a Alemanha não conseguiu resolver todos os problemas relacionados à onda migratória. Muitos imigrantes ainda não encontraram emprego. A criminalidade cometida por refugiados e também contra eles é tema de debates acalorados, com a migração se tornando um assunto com alta carga emocional.
A DW preparou uma retrospectiva baseada em dados, com dez perguntas e respostas, sobre os resultados da integração e como a imigração mudou a Alemanha.
1. Quantos refugiados chegaram à Alemanha?
Em 2015 e 2016, 1,2 milhão de pessoas chegaram à Alemanha em busca de refúgio e solicitaram asilo no país. Nos anos seguintes, esse número diminuiu significativamente. Nenhum outro país da União Europeia (UE) acolheu tantos requerentes de asilo. Depois da Alemanha, aparecem a Itália (204 mil), a Hungria (203 mil) e a Suécia (178 mil).
Um pedido de asilo, porém, não significa que todos tiveram seus requerimentos deferidos e, assim, obtido o direito de residência de forma automática. Em média, em primeira instância, a Alemanha autorizou pedidos de asilo a mais da metade (56%) dos requerentes nos últimos dez anos, concedendo o direito de permanência a 1,5 milhão de pessoas.
Em uma comparação europeia, a Alemanha está acima da média da UE e também à frente de outros países que acolheram um alto número de refugiados. Vale lembrar que a Alemanha é um dos poucos países que concede direito de asilo a perseguidos políticos, algo que pode ser reivindicado na Justiça.
De acordo com os tratados da Convenção de Genebra, além de perseguidos políticos, podem permanecer na Alemanha aqueles que são considerados refugiados ou têm direito à proteção subsidiária, por exemplo, porque há guerra em seu país de origem. No total, cerca de 3,5 milhões de pessoas em busca de refúgio vivem hoje na Alemanha.
2. De onde vêm as pessoas que solicitaram asilo na Alemanha?
Em 2015 e 2016, a maioria dos requerentes de asilo na Alemanha veio da Síria, do Afeganistão e do Iraque, países que há anos sofrem com guerras e conflitos.
Metade de todos os sírios que vivem hoje na Alemanha chegou no país europeu entre 2014 e 2016 devido à guerra civil. Cerca de um quinto já possui a cidadania alemã, e um décimo nasceu na Alemanha.
Desde a invasão russa na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, muitos ucranianos também buscaram refúgio no país: atualmente, quase 1,3 milhão de refugiados na Alemanha vieram da Ucrânia.
3. Homens, mulheres, crianças: quem procurou refúgio na Alemanha?
Do 1,2 milhão de requerentes de asilo na Alemanha em 2015 e 2016, quase metade (564,4 mil) tinha entre 18 e 34 anos; destes, três quartos eram homens.
Ao ter o pedido de asilo deferido, esse direito também se aplica ao cônjuge do refugiado e aos filhos menores de idade, que podem ir para a Alemanha e ter a permanência autorizado por meio de reagrupamento familiar.
Entre 2015 e meados de 2017, 230 mil pedidos de reagrupamento familiar foram aprovados, segundo a Associação Alemã de Cidades e Municípios. Para refugiados com status de proteção restrita, porém, esse reagrupamento familiar foi suspenso por dois anos em julho de 2025.
4. Quão integrados estão os refugiados hoje?
Um dos indicadores mais importantes para medir o sucesso da integração é a inserção no mercado de trabalho. De acordo com a pesquisadora de migração na Universidade de Bamberg Yuliya Kosyakova, a Alemanha teve sucesso parcial nesse quesito. "Eu diria que conseguimos parcialmente. Ou melhor, não conseguimos com todos. Ainda há espaço para melhorias no que diz respeito às refugiadas e aos refugiados mais velhos."
Os números indicam uma tendência positiva: no final de maio de 2025, a taxa de desemprego estava no nível mais baixo desde janeiro de 2015, e a de emprego, no nível mais alto, para pessoas provenientes de países como Afeganistão, Paquistão, Irã, Iraque, Síria, Somália, Eritreia e Nigéria.
Se analisarmos outro indicador, a taxa de ocupação, que também inclui trabalhadores autônomos, vemos que quanto mais tempo os refugiados permanecem no país, mais chances têm de encontrar um emprego. Dos que chegaram à Alemanha em 2015, mais de 60% encontraram um emprego após sete anos.
"Vemos que a integração no mercado de trabalho é particularmente bem-sucedida entre os mais jovens, ou seja, para quem tem até 45 anos. Para pessoas com mais de 45 anos, a taxa de ocupação na Alemanha é significativamente mais baixa, mesmo ao longo do tempo", diz Kosyakova.
"Os requerentes de asilo que chegam à Alemanha são, em média, menos qualificados. É claro que também há médicos e médicas, mas a maioria não tem formação universitária ou profissional. As pessoas chegam, não sabem alemão, precisam ser assistidas pelo Estado e vivem de benefícios sociais. Leva alguns anos até que consigam encontrar um emprego e, mesmo assim, muitas vezes trabalham em funções que exigem pouca qualificação", observa Daniel Thym, que pesquisa migração na Universidade de Constança.
Em comparação com as atividades realizadas em seus países de origem, os refugiados na Alemanha trabalham mais frequentemente como ajudantes do que como profissionais qualificados, especialistas ou peritos, conforme revelou uma pesquisa realizada em 2017. Além da qualificação geralmente mais baixa e da falta de conhecimentos linguísticos, o não reconhecimento de diplomas ou a escassez de acomodação em regiões com menos oportunidades também contribuem para o cenário.
E isso também gera consequências para a renda: o salário bruto mensal dos refugiados que chegaram à Alemanha em 2015 era de 1.600 euros para os trabalhadores em tempo integral. No mesmo ano, o salário bruto médio mensal alemão era de 3.771 euros.
5. Qual é o nível de conhecimento de alemão dos refugiados?
Outro fator bastante utilizado para avaliar a integração é o conhecimento do alemão. Isso se deve, em parte, ao fato de que, para muitas profissões na Alemanha, é essencial ter um conhecimento amplo do idioma.
Há diferenças significativas entre os sexos em relação ao aprendizado do novo idioma. De acordo com uma pesquisa realizada com refugiados em 2020, 34% das mulheres tinham conhecimentos avançados de alemão (certificado nível B1). Entre os refugiados do sexo masculino, essa porcentagem era de 54%. E isso também se reflete nos números do mercado de trabalho: embora muitas vezes tenham boa formação, as mulheres têm mais dificuldades para encontrar um emprego.
Para Yuliya Kosyakova, há várias razões para isso. Por um lado, as mulheres mais jovens muitas vezes têm filhos para cuidar. Por outro, em seus países de origem, essas mulheres costumavam atuar mais frequentemente em profissões em que a língua e as qualificações profissionais desempenham um papel importante, como professoras ou funcionárias públicas.
"Há um risco maior de não reconhecimento das qualificações. E também é necessário ter um conhecimento do idioma muito maior para ingressar nessas profissões, em comparação, por exemplo, com um emprego no setor da construção", diz Kosyakova.
6. Quantos refugiados daquela época adquiriram cidadania alemã?
Desde 2016, cerca de 414 mil pessoas provenientes de países com histórico de refugiados foram naturalizadas, sendo destes 244 mil sírios.
"Estamos agora em uma época em que muitos refugiados de 2015 estão se naturalizando. Alguns sírios estão pensando em voltar para a Síria porque o regime de Assad caiu, embora talvez já tenham se naturalizado aqui. Muitas vezes, porém, eles decidem ficar porque abriram um negócio aqui, porque se estabeleceram aqui, porque os filhos estão na escola aqui", diz o pesquisador de migração Hannes Schammann, da Universidade de Hildesheim.
7. Quanto custou à Alemanha acolher tantos refugiados?
As estimativas sobre os custos do acolhimento de refugiados na Alemanha são divergentes, como mostra a plataforma Integration. Dependendo do método de cálculo, os custos variam entre 5,8 trilhões de euros e uma arrecadação anual posterior de 95 bilhões de euros.
Fato é que, quando alguém em busca de asilo chega à Alemanha, o país inicialmente arca com custos, antes de se beneficiar da força de trabalho do imigrante. Assim, os "gastos relacionados aos refugiados" no orçamento federal em 2023 foram de quase 30 bilhões de euros, com os benefícios sociais representando a maior fatia desse volume.
Em abril de 2025, cerca de 43% imigrantes em busca de refúgio – pouco menos de um milhão de pessoas – receberam apoio financeiro na Alemanha na forma de auxílio básico, um benefício do Estado para desempregados ou para aqueles que não ganham o suficiente para seu sustento.
Embora esse número tenha permanecido praticamente inalterado nos últimos anos, o número de estrangeiros que recebem o auxílio básico aumentou significativamente em 2022. Naquele ano, muitos refugiados deixaram a Ucrânia rumo à Alemanha e, devido a uma regulamentação especial, tiveram direito imediato ao auxílio.
No mesmo período, o número de alemães que recebem o auxílio diminuiu ligeiramente. No entanto, eles ainda representam a maior parte (52%). O segundo maior grupo entre os beneficiários são pessoas provenientes de países com histórico de refugiados (17%), seguidas pelos ucranianos (13%).
8. Como o clima mudou na Alemanha?
Enquanto a maioria dos alemães estava mais aberta à acolhida de imigrantes em janeiro de 2015, dez anos depois, 68% dos eleitores entrevistados acreditam que o país deveria receber menos refugiados.
Em 2023, cidadãos com essa opinião formaram pela primeira vez a maioria entre os entrevistados. No mesmo ano, uma pesquisa encomendada pela Fundação Bertelsmann também mostrou que a imigração é agora vista de forma mais negativa.
De acordo com a pesquisa, 78% observam peso extra da imigração para o Estado e 73% enxergam conflitos entre locais e imigrantes. Sobre o fato de a imigração ser importante para a economia da Alemanha, apenas 63% concordam com essa afirmação.
9. Existe um risco elevado de criminalidade por parte dos refugiados?
Crimes violentos cometidos por refugiados contribuíram para a mudança de opinião da sociedade alemã. Ataques como o ao mercado de Natal na praça Breitscheidplatz, em Berlim, em 2016, ou em Solingen, em 2024, alimentaram o medo de terrorismo. O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) soube tirar proveito político desses casos e, atualmente, elegeu a segunda maior bancada no Parlamento alemão.
Mas, afinal, como está a situação da criminalidade no geral? Uma análise das estatísticas da polícia mostra que os estrangeiros são suspeitos em 35% de todos os casos. No entanto, eles representam apenas cerca de 15% da população. De acordo com especialistas, esses dados não indicam necessariamente que os refugiados cometem crimes com mais frequência do que os alemães.
"Atualmente, poderíamos dizer que isso é claramente uma representação exagerada, mas há muitos fatores distorcivos", afirma Gina Wollinger, criminologista da Faculdade de Polícia e Administração Pública de Colônia.
A explicação estaria no fato de que pessoas que não são alemãs ou que são percebidas como estrangeiras são denunciadas com muito mais frequência do que os alemães, segundo Wollinger.
"Os refugiados também não são uma amostra representativa da sociedade da qual têm origem, mas principalmente homens jovens. E sabemos que essas duas características, ser jovem e do sexo masculino, estão fortemente relacionadas à criminalidade violenta", afirma.
10. Como a política migratória mudou desde 2015?
Desde a declaração de Merkel – "nós vamos conseguir" –, em 31 de agosto de 2015, a política migratória alemã mudou significativamente. Essa tendência também se reflete no sentimento dos refugiados: enquanto 57% se sentiam muito bem-vindos no ano em que chegaram, apenas 28% ainda tinham essa mesma sensação mais de sete anos depois, conforme um relatório do Instituto de Pesquisa do Mercado de Trabalho e Profissões.
E essa mudança política começou muito rapidamente, diz o pesquisador de migração Daniel Thym: "Já no outono de 2015, as leis foram consideravelmente endurecidas, os benefícios para os requerentes de asilo foram reduzidos, novos países de origem foram declarados seguros e o reagrupamento familiar foi restringido".
A política alemã enfrenta um dilema: por um lado, pretende reduzir o número de requerentes de asilo. Por outro, o país precisa urgentemente de mão de obra qualificada do exterior para impulsionar a economia.
Esse era um dos objetivos do governo de coalizão liderado pelo chanceler federal social-democrata Olaf Scholz (SPD, social-democratas, de centro-esquerda) a partir de 2021. Assim, a chamada "mudança de rota" permitiria a transição do processo de asilo para o direito regular de residência.
Desde a mudança de governo, em 2025, a coalizão formada pelos conservadores da União Democrata Cristã (CDU) e da União Social Cristã (CSU) e pelos social-democratas tem se concentrado em restringir a política migratória e repatriar aqueles que tiveram o pedido de asilo negado.
Com a introdução de um cartão de pagamento para requerentes de asilo, controles de fronteira mais rigorosos e mais deportações, a Alemanha "evidentemente não conseguiu", como disse o atual chanceler federal, Friedrich Merz (CDU), referindo-se à declaração de Merkel.
O pesquisador Hannes Schammann discorda desta conclusão. "Acredito que a tarefa de 2015 foi, em grande parte, cumprida". Agora, trata-se de encontrar soluções politicamente inteligentes para novos desafios e "não ficar olhando para 2015 o tempo todo, mas sim para frente, e perguntar: como podemos resolver isso?"
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Short teaser | Em 2015, milhares de refugiados chegaram à Alemanha. A DW reuniu dados que mostram o que deu certo e o que não. | ||
Author | Lisa Hänel, Gianna-Carina Grün, Peter Hille | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/como-a-alemanha-está-10-anos-após-a-crise-dos-refugiados/a-73737807?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | A então chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, posa para uma foto com um requerente de asilo no país em 2015 | ||
Image source | Bernd Von Jutrczenka/dpa/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&f=https://tvdownloaddw-a.akamaihd.net/Events/mp4/vdt_br/2021/bbra210809_002_zaina_01f_sd.mp4&image=https://static.dw.com/image/73700227_354.jpg&title=Como%20a%20Alemanha%20est%C3%A1%2010%20anos%20ap%C3%B3s%20a%20crise%20dos%20refugiados |
Item 32 | |||
Id | 73760650 | ||
Date | 2025-08-25 | ||
Title | Filme sobre a guerra na Ucrânia expõe força da propaganda russa | ||
Short title | Filme da guerra na Ucrânia expõe força da propaganda russa | ||
Teaser |
Documentário mostra como três adeptos de teorias da conspiração se apegam ao negacionismo mesmo após verem a realidade do conflito com seus próprios olhos. As imagens mostram uma floresta de pinheiros perto de Izium, no leste da Ucrânia. Há valas comuns vazias por toda parte. Foi lá que soldados russos enterraram os corpos de centenas de civis que mataram na primavera europeia de 2022. As vítimas foram exumadas para exames médicos – algumas haviam sido brutalmente torturadas. Juntamente com o massacre de Bucha, esse é um dos crimes de guerra russos mais conhecidos e graves na Ucrânia. Uma integrante do grupo, Petra, diz que a areia da floresta se parece com a de uma praia, o que ela descreve como uma sensação bizarra. O lugar tem um agradável cheiro de pinheiro, e a floresta é muito bonita, relata. Pouco depois, ela diz que o que se vê ali é falso. A câmera a acompanha enquanto ela caminha. De repente, ela diz: "Isso aqui é material excelente para a propaganda ucraniana alimentar o ódio aos russos. Parece algo saído de um manual do nacionalismo." A cena é do documentário A grande viagem patriótica, do cineasta tcheco Robin Kvapil. Ele conta a história de três compatriotas que adotam posições a favor da Rússia e contra a Ucrânia e que, a convite do diretor, viajam para a Ucrânia para serem confrontados com a realidade da guerra. Os três são filmados por Kvapil e sua equipe, mas também filmam e comentam eles mesmos o que veem. O filme apresenta as imagens dessa viagem sem comentá-las. Os protagonistas não são fervorosos agitadores nem ativos propagandistas – de certa maneira, eles são o mainstream do antimainstream. Eles duvidam da maioria das notícias sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, acreditam que se trata de uma guerra do Ocidente contra a Rússia e se sentem incomodados com os refugiados ucranianos em seu país. Os três se opõem às políticas ambientais, às questões de gênero, aos refugiados e à União Europeia (UE), e acham o sistema político tcheco antidemocrático. Um deles se descreve, meio sério, meio irônico, como um "desolado" – termo usado pejorativamente na República Tcheca para descrever teóricos da conspiração. Momento político críticoNão foi por acaso que o documentário estreou em 21 de agosto na República Tcheca, aniversário da brutal invasão soviética da Tchecoslováquia em 1968 que pôs um fim à Primavera de Praga. Mesmo antes do lançamento, o filme já estava nas manchetes e foi tema em todos os principais veículos de comunicação tchecos nas últimas semanas. Nas redes sociais, as discussões são acaloradas. Kvapil, de 43 anos e natural da metrópole morávia de Brno, relatou à DW ter recebido muitos elogios, mas também críticas e inúmeras ameaças anônimas contra si e sua família. O debate público em torno do filme se concentra em quão forte e perigosa é a influência russa na República Tcheca, na divisão da sociedade tcheca e se os "desolados" retratados no filme estão sendo injustamente expostos. O lançamento do filme se dá num momento político crítico: um novo parlamento será eleito na República Tcheca no início de outubro, e o favorito é o partido populista de direita ANO, do controverso ex-premiê e bilionário Andrei Babis – que, embora não seja um apoiador declarado do presidente russo Vladimir Putin, defende posições pró-Rússia por um certo pragmatismo. Além disso, um partido de extrema direita e o Partido Comunista, ambos pró-Rússia, provavelmente terão representação no parlamento. Presidente Pavel alertaO presidente tcheco, o pró-europeu Petr Pavel, se mostrou alarmado com o clima pré-eleitoral e se manifestou numa longa entrevista ao site de notícias Aktualne. Ele disse que viaja pelo país com frequência e conversa com muitas pessoas, e que se surpreendeu com a quantidade de tchecos que avaliam negativamente o estado do país e as condições gerais de vida, contrariando bons indicadores de saúde e criminalidade. Entre aqueles que parecem ver tudo de forma negativa na República Tcheca estão os três protagonistas do filme de Kvapil: Ivo, Nikola e Petra, dois homens e uma mulher, todos na faixa dos 50 e poucos anos. Petra, filha de um oficial comunista, estudou teologia. Nikola é criador de gado. Ivo, o "desolado", pode ser encontrado numa horta comunitária. Ele diz que não verifica se as notícias na internet são verdadeiras, mas se o conteúdo delas "parece certo" para ele. Kvapil encontrou os três por meio de um anúncio de jornal em setembro de 2024. "Para um documentário, procuramos homens e mulheres que tenham dúvidas sobre as informações divulgadas pela grande mídia sobre a guerra na Ucrânia. A equipe de filmagem lhes dará a oportunidade de descobrir a verdade", dizia o texto. O cineasta não deixa dúvidas sobre suas próprias opiniões, pois logo no início do filme mostra imagens da invasão soviética da Tchecoslováquia em 1968, seguidas de imagens da invasão russa da Ucrânia em 2022. Depois disso, porém, ele se abstém completamente de opinar. Ele, sua equipe e os três protagonistas viajam num microônibus da República Tcheca para a cidade de Kharkiv, no leste da Ucrânia. No caminho, Petra canta o hino nacional russo. Protagonista justifica estupro de criançasEm Kharkiv, os três testemunham a ampla destruição na cidade, visitam um hospital bombardeado e o distrito de Saltivka, que foi tornado inabitável pelas bombas russas. Eles visitam crianças que estudam em bunkers e conversam com moradores. Mais tarde, vão até uma vila perto da frente de batalha e, de lá, para a floresta com valas comuns perto de Izium. Ivo, Nikola e Petra comentam o que viram, e seus comentários vão do chocante ao abominável. Eles dizem que, numa guerra, mísseis podem erram o alvo, mas que certamente não era a intenção dos russos atingir civis ou doentes. Numa cena, Nikola "explica" o estupro de crianças por soldados russos atribuindo-o à "situação de emergência" deles – afinal, diz, assim são homens que querem ter algum prazer quando sabem que lhes restam apenas algumas horas de vida. Às vezes a dúvida parece se infiltrar nas certezas dos protagonistas, por exemplo, quando um homem conta como perdeu a esposa, os filhos e todos os seus vizinhos num bombardeio. Petra o abraça. Mas antes que os três encarem a realidade dos fatos, vem o desfecho deprimente: na viagem de volta, Ivo, Nikola e Petra dizem que não lutariam nem morreriam pela República Tcheca, pois não há nada no país pelo que valha a pena lutar, e que o propósito da viagem era "reeducá-los", mas que eles vão se manter fiéis às suas opiniões. Final sombrioNa cena final do filme, Kvapil se senta com os três e diz: "Aprendi que existe um mundo onde o mal vence quando pessoas como Ivo, Nikola e Petra, depois de terem visto tudo, continuam espalhando a narrativa propagada por um regime monstruoso que comete genocídio. E se eles ganharem eleições no Ocidente livre e enfraquecerem o nosso sistema político, então alguns de nós poderão não estar mais aqui porque alguém vai simplesmente nos matar." Nikola concorda. Então ele diz: "Meu amigo, é assim que será." Não está claro se ele está falando sério ou se é apenas um comentário sarcástico particularmente pérfido. Kvapil diz que perguntou, e Nikola teria dito que era sério. É um final sombrio. Kvapil comenta isso no filme com uma conclusão pessoal: "Aprendi que sou eu quem precisa mudar. Tentar entender a todos e chegar a um acordo a qualquer preço pode ser a nossa maior fonte de fraqueza, o motivo pelo qual essas guerras são perdidas – primeiro a guerra da informação, depois a guerra real." |
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Short teaser | Adeptos de teorias da conspiração se apegam ao negacionismo mesmo após verem in loco a realidade do conflito. | ||
Author | Keno Verseck | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/filme-sobre-a-guerra-na-ucrânia-expõe-força-da-propaganda-russa/a-73760650?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 33 | |||
Id | 73758249 | ||
Date | 2025-08-25 | ||
Title | Qual o tempo de tela recomendado para crianças | ||
Short title | Qual o tempo de tela recomendado para crianças | ||
Teaser |
Não só os riscos oferecidos pelo conteúdo inapropriado, mas também a influência sobre o desenvolvimento: o que dizem especialistas sobre o uso de celulares, tablets e televisão por crianças e adolescentes.Apesar de existirem inúmeros estudos, pesquisas e recomendações, até hoje não há regras internacionais uniformes sobre o tempo de tela para crianças. Existem, porém, alguns princípios básicos que unem médicos, psicólogos, pesquisadores de dependência química e educadores de mídia. Esses princípios se orientam pelas necessidades das crianças em cada estágio de desenvolvimento e seguem o raciocínio de que é melhor adotar a suspeita cientificamente fundamentada de que celulares e similares são prejudiciais do que se arrepender depois.
A regra dos 3 anos
"Sem tela até os 3 anos" é a regra básica na Alemanha. "Durante essa fase da vida, as crianças não precisam do conteúdo das telas nem o entendem", diz a pediatra Ulrike Gaiser, coautora das diretrizes alemãs de mídia para crianças.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) é menos rigorosa e recomenda no máximo uma hora de tela por dia para crianças a partir dos 2 anos. Mas também afirma: "Menos é melhor".
Os primeiros dois anos de vida são o período em que a criança entra em contato com o ambiente que a cerca. Nessa fase ela vai ampliando seu foco, passando da mãe para as outras pessoas, para o quarto em que está, diz Gaiser. "Aí ela percebe uma bola do outro lado do quarto – e começa a engatinhar pelo quarto." Para que seja assim, é importante que a própria criança aprenda a direcionar e controlar sua atenção – ela não deve ser colocada diante de algo que desvie essa atenção.
As crianças também devem aprender desde cedo que pode demorar um pouco para que suas necessidades sejam atendidas. Que do choro até os pais trazerem a comida pode-se passar algum tempo. Que não se pode moldar o mundo ou fazê-lo sumir com um deslizar de dedo ou apertando um botão. Esperar e aceitar as coisas são a base da vida, diz Gaiser.
Tempo de tela é tempo sem brincar
"Crianças percebem o mundo de forma diferente dos adultos", lembra a psicóloga infantil Julia Asbrand, da Universidade de Jena. Isso vale tanto para desenhos animados como para redes sociais. "Crianças bem pequenas podem acreditar que tudo o que elas veem é real", explica Asbrand. É claro que elas podem se assustar ou ficar com medo. O pai ou a mãe devem estar atentos e perguntar ao filho: "O que você acabou de ver? Você quer me perguntar algo sobre isso?"
O que mais incomoda os especialistas é que o tempo de tela substitui a vida real, o tempo em que as crianças poderiam estar desenvolvendo suas habilidades motoras ou interagindo com outras pessoas e adquirindo experiências sociais.
Pesquisas recentes mostram que, para cada minuto gasto diante de uma tela, as crianças ouvem seis palavras a menos de seus pais. Ao longo dos anos chega-se a um vocabulário perdido relativamente grande. Quanto mais tempo as crianças ficarem sozinhas diante de uma tela, piores serão suas futuras habilidades linguísticas. Se o tempo de tela for reduzido, a habilidade motora fina, a capacidade de atenção e o comportamento social melhoram.
Interação e imaginação
Antes de as crianças entrarem para a escola, elas precisam explorar o mundo, ter experiências sensoriais, aprender a se orientar num espaço e brincar com outras crianças. "E isso várias horas por dia", diz Gaiser. Com as brincadeiras, elas também aprendem que outras pessoas às vezes têm ideias diferentes, que é preciso negociar com elas, se impor ou ceder. Que falhar é uma possibilidade.
Esta fase também é importante para o desenvolvimento da imaginação. As crianças precisam aprender a explorar o seu entorno e a criarem seu próprio mundo. Quanto menos oportunidades elas tiverem de criar imagens próprias no cérebro, mais difícil será para elas desenvolver a imaginação. Por isso, o tempo máximo de tela indicado nessa fase é de 30 minutos diários.
Valores no ensino fundamental
Entre os 6 e os 9 anos, as crianças começam a desenvolver a moral, diz Gaiser. "Queremos que a internet assuma isso?" São características como disciplina, empenho e conhecimento – e a questão se é possível confiar no próprio conhecimento ou naquilo que as redes sociais dizem. Na Alemanha, a recomendação é de no máximo 30 a 45 minutos diários no tempo livre (sem contar o uso de tablets na escola, por exemplo). E acompanhadas do pai ou da mãe.
Mas é importante não ser dogmático. Claro que quanto menos tempo de tela, melhor. Mas uma boa parte da vida social nos dias de hoje acontece nas redes sociais, observa Asbrand. Se o seu filho não estiver no grupo de WhatsApp da turma da escola – especialmente na próxima fase da vida – ele estará excluído. E isso também não pode acontecer.
Monitorar o conteúdo fica mais difícil
Os especialistas também sabem: é uma ilusão querer manter as crianças longe dos celulares. Em vez disso, a questão passa a ser um uso mais saudável (ou menos prejudicial) das telas. Na Alemanha, os médicos recomendam um máximo de 45 a 60 minutos diários diante de telas para crianças de 9 a 12 anos durante seu tempo livre. Dos 12 aos 16 anos, o máximo sobe para de uma a duas horas e, entre 16 e 18, são cerca de duas horas.
Durante a pré-adolescência e a adolescência, é ainda mais importante os pais fazerem perguntas abertamente, demonstrarem interesse e deixar que os filhos lhes mostrem ao que estão assistindo, diz Asbrand. "Um dos maiores problemas é quando as crianças fazem coisas secretamente e são vítimas de aliciamento online (grooming). As crianças às vezes não ousam conversar com os pais sobre isso porque sabem que não deveriam ter agido em segredo."
Tablets podem ser úteis
"Nós sabemos que é difícil impor os limites de tempo que sugerimos", diz Gaiser. Muito mais importante do que respeitar o tempo exato é o conteúdo: ao que exatamente as crianças estão assistindo? A um jogo educativo para a escola? A reels da guerra da Ucrânia? A vídeos de gatos? Ou uma criança com transtorno alimentar está passando muito tempo com influenciadores digitais de fitness? E sobretudo: como ela está se sentindo?
Do ponto de vista da dependência, é especialmente importante que o consumo não se torne um hábito, diz Asbrand. Além disso, deve-se levar em conta que cada criança é diferente, cada mídia é diferente e cada conteúdo é diferente.
Abrir mão das mídias digitais é irreal. "Há coisas fantásticas na internet", comenta Gaiser. Tablets podem ser uma ferramenta útil na escola, por exemplo para aprender idiomas ou encontrar pessoas de interesses semelhantes. Na vida privada, as mídias sociais podem ajudar a manter contato, por exemplo, com os avós ou com os pais durante viagens de negócios. E também podem ajudar a estabelecer conexões: Gaiser conta que uma de suas pacientes troca ideias online com um explorador polar.
O que os pais podem fazer
Os pais devem evitar deixar seus filhos sozinhos em frente às telas, devem conversar sobre o uso de mídias e saber ao que seus filhos estão assistindo. Um bom relacionamento entre pais e filhos, liberdade e confiança são essenciais, assim como estar ciente dos potenciais riscos e do quão viciante a mídia digital pode ser.
Os pais devem ficar realmente alarmados quando os filhos se isolarem, passarem a evitar outras atividades ou se mostrarem tristes ou chateados sem motivo aparente.
Também é possível usar as limitações de tempo oferecidas pelos próprios aparelhos ou criar regras claras a serem seguidas por todos, inclusive os pais. Por exemplo: todos os celulares deixam de ser usados às 20h.
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Short teaser | Especialistas respondem a dúvidas sobre impacto no desenvolvimento e riscos oferecidos por conteúdo inapropriado. | ||
Author | Anna Carthaus | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/qual-o-tempo-de-tela-recomendado-para-crianças/a-73758249?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Abrir mão das mídias digitais é irreal, e elas também podem ser úteis para o aprendizado | ||
Image source | Max Slovencik/APA/picturedesk/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/72396700_354.jpg&title=Qual%20o%20tempo%20de%20tela%20recomendado%20para%20crian%C3%A7as |
Item 34 | |||
Id | 73747396 | ||
Date | 2025-08-24 | ||
Title | Sol: perigo para a pele ou um santo remédio? | ||
Short title | Sol: perigo para a pele ou um santo remédio? | ||
Teaser |
Ciência aponta que tomar sol tem efeitos benéficos para a saúde que vão além da geração de vitamina D. Exposição regula o sistema imunológico e evita doenças autoimunes, como a esclerose múltipla.Todos nós já ouvimos os alertas médicos sobre os riscos de câncer de pele decorrentes da exposição excessiva ao sol. Mas há também teorias que sugerem que a radiação solar poderia ser a chave no combate a doenças devastadoras. Afinal, o que diz a ciência hoje sobre o potencial terapêutico do sol?
A ideia de que o sol faz bem não é nova. Por séculos, diversas culturas reconheceram o poder curativo do astro-rei. Do Egito à Grécia antiga, passando pelas tradições médicas islâmicas, o sol foi considerado uma fonte de saúde e revitalização. O surpreendente é que, em pleno século 21, essa crença ancestral esteja sendo validada pela ciência com uma força inesperada.
A era da vitamina D
Durante anos, a hipótese preponderante foi simples: a luz solar produz vitamina D, essencial para a saúde óssea e, talvez, para a prevenção de uma série de doenças.
Num influente artigo de 1980, os irmãos Frank e Cedric Garland, epidemiologistas da Universidade Johns Hopkins (EUA), sugeriram que o nutriente era responsável pelas menores taxas de câncer colorretal em regiões ensolaradas do planeta. Assim começou a era da vitamina D, com médicos de todo o mundo recomendando cápsulas de suplementação.
Em países como o Reino Unido, por exemplo, pesquisas nos anos seguintes constataram o ressurgimento de doenças como o raquitismo – enfraquecimento severo dos ossos em crianças –, sobretudo em populações com pele mais escura e baixa exposição ao sol. Ali, os raios UVB simplesmente "não chegam ao solo" entre os meses de novembro e março, como explicou a especialista em nutrição Inez Schoenmakers, de Cambridge, ao jornal britânico The Guardian.
Mas a "era da vitamina D" parece hoje ter chegado ao seu limite. Os suplementos se mostraram úteis na prevenção de deficiências graves, mas os ensaios clínicos não confirmaram efeitos milagrosos sobre o câncer, diabetes ou doenças cardiovasculares – doenças que afetam igualmente quem toma suplementos e quem não toma.
Como conclui uma reportagem publicada em maio na Scientific American, "seja o que for que a luz solar esteja fazendo para prevenir uma miríade de doenças, é muito mais complicado do que simplesmente fazer a pele produzir um pouco de vitamina D".
Alguns estudos observacionais sugerem que, apesar do aumento de melanomas, as pessoas mais expostas à luz solar diária vivem mais.
Por exemplo, em um artigo publicado na revista Psychology Today, o diretor do Centro de Pesquisa sobre a Luz Circadiana, Martin Moore-Ede, cita um estudo com o pessoal da Marinha dos Estados Unidos que mostrou uma taxa de mortalidade por câncer de pele três vezes menor do que o esperado e 44% menos mortes por outros tipos de câncer, apesar da alta exposição ao sol.
Embora o estudo não estabeleça uma relação de causalidade e possa ter sido influenciado por outros fatores, ele sugere que a luz solar tem um efeito protetor.
Outro estudo sueco, que acompanhou mulheres ao longo de 20 anos, chegou a resultados semelhantes: a taxa de mortalidade entre aquelas com menor exposição à luz solar foi o dobro das mais expostas. O risco de morte por doenças cardiovasculares era 130% maior e o risco por outras causas não relacionadas nem a câncer nem a doenças cardiovasculares era 70% maior. Surpreendentemente, mesmo aquelas que desenvolviam melanoma tinham melhor sobrevida se continuassem a tomar sol.
De fato, segundo a Scientific American, alguns estudos em camundongos mostraram que a exposição a raios UV melhora doenças autoimunes sem afetar os níveis de vitamina D, o que levou cientistas como Robyn Lucas, na Austrália, a revisitar seus próprios dados e encontrar uma correlação mais forte com a exposição solar em si do que com a vitamina.
Exposição ao sol e esclerose múltipla
Um dos casos mais estudados e promissores é o da esclerose múltipla, doença autoimune em que o sistema imunológico ataca a mielina que recobre os nervos, e cuja ocorrência no planeta parece seguir um padrão geográfico.
Por mais de um século, pesquisadores constataram a correlação de diversas doenças, principalmente autoimunes e cardiovasculares, com a latitude. Mesmo após ajustar variáveis como dieta e nível socioeconômico, a incidência dessas patologias tende a aumentar conforme nos afastamos da Linha do Equador.
Na Austrália, por exemplo, as taxas de esclerose múltipla saltam de 12 a cada 100 mil pessoas no norte tropical para 76 no sul, segundo a Scientific American.
Por outro lado, a exposição ao sol, especialmente durante a infância ou a gravidez, parece exercer um efeito protetor. Estudos observacionais descobriram que crianças que passam mais de uma hora por dia ao ar livre têm até cinco vezes menos risco de desenvolver esclerose múltipla do que aquelas que passam menos de 30 minutos.
Um caso concreto citado pela Scientific American é o de uma americana diagnosticada com a doença em 2008. Poucos meses após começar a utilizar uma caixa de luz UV prescrita por seu médico, seu quadro regrediu e ela recuperou sua disposição.
Fotoimunologia é nova fronteira científica
A terapia com luz UV pode ser apenas a ponta do iceberg. Há indícios de que a luz UV é capaz de acalmar um sistema imunológico descontrolado, e cientistas agora querem entender como isso acontece.
Ao incidir sobre a pele, os raios desencadeiam uma cascata de reações bioquímicas, cujos impactos exatos na saúde humana ainda não estão claros: são geradas endorfinas, serotonina, óxido nítrico (que reduz a pressão arterial), lumisterol (com efeitos anti-inflamatórios) e outras moléculas que ainda estão sendo descobertas.
Um estudo publicado em 2023 , por exemplo, identificou lipídios gerados pela pele após a exposição solar que instruem as células T a não se multiplicarem descontroladamente – justamente o processo que desencadeia doenças autoimunes como a esclerose múltipla.
Em outro pequeno e preliminar ensaio clínico na Austrália, citado pela Scientific American, 30% dos pacientes no estágio inicial de esclerose múltipla tratados com fototerapia UV não desenvolveram a doença, frente a 0% do grupo de controle. E os efeitos positivos – embora ainda não confirmados em pesquisas mais amplas – persistiram meses após o fim do tratamento.
Esse campo, denominado fotoimunologia, também pode oferecer perspectivas valiosas para entender outras patologias com componentes inflamatórios, como diabetes tipo 1, artrite reumatoide, doença de Crohn e colite ulcerativa – males mais comuns em populações com exposição limitada ao sol.
Sol também afeta os ritmos circadianos
Há ainda outros benefícios. Como aponta a Psychology Today, mesmo sem exposição direta ao sol, sair ao ar livre ajuda a sincronizar os ritmos circadianos, o que impacta diretamente na regulação hormonal, no humor e no metabolismo. A luz azul da manhã, em particular, ajuda a calibrar o "relógio biológico interno" e pode reduzir o risco de desenvolver diversas doenças.
Em outras palavras, nem é preciso tomar sol pleno para obter benefícios: basta ver a luz natural diariamente, de preferência pela manhã.
Tradição milenar
A fascinação pela luz não é nova. O Papiro Ebers, um antigo pergaminho médico egípcio de 1500 a.C., contém receitas de unguentos que deviam ser aplicados para, depois, expor o corpo à luz solar. O médico grego Areteu da Capadócia já recomendava, no século 2 d.C., expor pacientes melancólicos aos raios solares. E no século 19, a enfermeira britânica Florence Nightingale (1820-1910) assegurava que "depois do ar fresco, a luz solar direta é o mais importante", enquanto pessoas como o americano Edwin Babbitt (1828-1905) e o indiano Dinshah Ghadiali (1873-1966) se notabilizaram por construir aparelhos de cromoterapia.
Embora muitas dessas ideias hoje sejam consideradas pseudociência, outras foram incorporadas à medicina moderna. A luz azul é usada em hospitais para tratar a icterícia neonatal, e as lâmpadas de luz branca ajudam no transtorno afetivo sazonal, popularmente conhecida como "depressão de inverno".
Questão de dosagem
Como equilibrar os benefícios da exposição solar com os riscos conhecidos do câncer de pele? A questão talvez já não seja se a luz solar pode ter efeitos curativos, mas sim como e quando aproveitá-los sem se exceder e expor a riscos.
O câncer de pele continua sendo um perigo real, como alertam as autoridades de saúde. Mas cada vez mais especialistas propõem repensar esse equilíbrio.
O mais sensato é agir com moderação: evitar queimaduras solares, manter-se afastado do sol entre 11h da manhã e 3h da tarde no verão e usar protetores solares com fator 15 ou superior.
É improvável que a fototerapia entregue todos os benefícios da luz solar de espectro completo, mas isso nem precisa acontecer. Para pessoas com doenças autoimunes, essa abordagem oferece uma esperança tangível de melhora.
Enquanto isso, cientistas seguem tentando desvendar o enigma sobre como exatamente a exposição ao sol "acalma" o sistema imunológico. Diferentemente do que sugeriu a "era da vitamina D", é bem possível que não exista uma única substância responsável. "Provavelmente são múltiplas", pontua a imunologista Prue Hart à Scientific American.
A lição, por ora, é clara: o sol não é vilão nem salvação absoluta. A chave, como em tantos aspectos da medicina, parece estar no equilíbrio.
ra (ots)
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Short teaser | Ciência aponta que tomar sol tem efeitos benéficos para a saúde, muito além da geração de vitamina D. | ||
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Image caption | Dados mostram que quanto mais longe da Linha do Equador se vive, maior é a incidência de doenças autoimunes | ||
Image source | Daan Roosegaarde/abaca/picture alliance | ||
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Item 35 | |||
Id | 73592495 | ||
Date | 2025-08-23 | ||
Title | Adidas pede desculpas ao México por "apropriação" de sandálias indígenas | ||
Short title | Adidas pede desculpas ao México após polêmica com sandálias | ||
Teaser |
Marca alemã foi acusada de "apropriação cultural" após lançar calçado inspirado em modelo com raízes indígenas. Representantes da Adidas viajaram até Oaxaca e se reuniram com artesãos locais.A Adidas fez um pedido público de desculpas a uma pequena cidade indígena no estado mexicano de Oaxaca. A marca esportiva alemã foi acusada recentemente de "apropriação cultural" após lançar no mercado uma sandália inspirada em um estilo tradicional de calçados da região, conhecido como huarache, e que tem raízes indígenas.
A sandália, batizada de Oaxaca Slip-On, foi criada em parceria com o designer americano Willy Chavarria.
Representantes da Adidas viajaram até a cidade de Villa Hidalgo Yalalag para se retratar pessoalmente, após divulgar um pedido de desculpas por escrito na semana passada. A empresa admitiu que o calçado tinha muitas semelhanças com as sandálias tradicionais produzidas pela comunidade – onde muitos dependem do artesanato para sobreviver –, e disse que pretende colaborar com a cidade no futuro.
O modelo Oaxaca Slip-On foi concebido com inspiração em um design originário do estado de Oaxaca, típico da tradição da cidade de Villa Hidalgo Yalalag", afirmou a chefe do jurídico da Adidas, Karen Gonzalez, em conversa com a comunidade. "Entendemos que a situação possa ter causado desconforto, e por isso oferecemos um pedido público de desculpas."
O Ministério da Cultura e das Artes de Oaxaca aceitou a retratação como um "ato histórico de reconhecimento dos povos indígenas de Oaxaca".
Caso mobilizou autoridades mexicanas
À época do lançamento da sandália, autoridades mexicanaspediram a suspensão das vendas, acusando a Adidas e o designer de não pedir autorização para o nome nem reconhecer os autores originais.
A controvérsia envolveu até mesmo a presidente do México, Claudia Sheinbaum, que acusou grandes corporações internacionais de se apropriarem de criações de comunidades indígenas e defendeu maior proteção contra o uso de designs tradicionais por marcas globais.
"Grandes empresas costumam tomar produtos, ideias e designs das comunidades indígenas; estamos analisando a parte jurídica para poder apoiá-los", disse Sheinbaum. "É propriedade intelectual coletiva. Precisa haver compensação. A lei de patrimônio precisa ser cumprida."
Após a controvérsia se estender por vários dias, Chavarria, um americano com raízes mexicanas, finalmente abordou a controvérsia em 10 de agosto.
"Lamento profundamente que este design tenha se apropriado do nome e não tenha sido desenvolvido em parceria direta e significativa com a comunidade de Oaxaca", disse em nota.
Chavarria afirmou reconhecer que as sandálias "não corresponderam ao respeito e à abordagem colaborativa" merecidos pela comunidade de Villa Hidalgo Yalalag.
Dois dias antes, a Adidas havia afirmado em carta pública que "valoriza profundamente a riqueza cultural dos povos indígenas do México e reconhece a relevância" das críticas, e que se reuniria com autoridades mexicanas para discutir como "reparar os danos" causados às populações indígenas.
Críticas
Sites especializados no mercado de tênis e outros sapatos esportivos haviam noticiado no início de agosto o lançamento das sandálias num evento da Adidas em Porto Rico. O modelo foi descrito como inspirado nas sandálias huarache e um tributo às raízes mexicanas de Chavarria.
No entanto, imagens do calçado rapidamente provocaram reação de políticos mexicanos da região de Oxaca, que pediram a suspensão da venda do produto e acusaram Chavarria e a Adidas de "apropriação cultural".
"Isso não é apenas um design, é cultura, história e identidade de um povo originário e não vamos permitir que seja tratado como mercadoria”, disse o governador de Oaxaca, Salomón Jara, em um vídeo publicado na rede X.
Por sua vez, a Secretaria de Cultura e Artes de Oaxaca destacou em comunicado que a adoção sem consentimento de elementos culturais dos povos originários para fins comerciais constitui "violação de seus direitos coletivos".
O órgão pediu ainda a "suspensão imediata da comercialização" do novo modelo, a abertura de um processo de diálogo e reparação de agravos da comunidade de Yalalag e o reconhecimento público da origem do design.
Tema sensível no México
Nos últimos anos, o México denunciou a apropriação cultural e o uso não autorizado da arte de seus povos indígenas por grandes marcas e designers ao redor do mundo.
Em 2023, foi a vez da empresa chinesa Shein, acusada de apropriação cultural de elementos da cultura e da identidade do povo Nahua, do estado de Puebla. À época, o governo mexicano se queixou de danos econômicos e morais para este segmento da população.
"Trata-se de um princípio de consideração ética que, local e globalmente, nos obriga a chamar a atenção e colocar em discussão pública um tema que não pode ser adiado: proteger os direitos dos povos originários que historicamente foram invisibilizados", afirmou a Secretaria de Cultura do Governo do México na ocasião.
Outros acusados de plágio e apropriação cultural de povos mexicanos nos últimos seis anos incluem a designer francesa Isabel Marant e as marcas de luxo Zimmermann e Carolina Herrera.
Discussão global
Acusações semelhantes também afetaram a imagem da Prada em julho. A grife italiana estreou na passarela da Semana de Moda Masculina de Milão rasteiras descritas como "sandálias de couro".
Mas, para críticos de moda, artesãos e políticos indianos, tratava-se de uma cópia das tradicionais Kolhapuri – sandálias artesanais que levam o nome da cidade de Kolapur, em Maharashtra, no oeste da Índia, e remontam ao século 12.
Há mais de 25 anos, países em desenvolvimento e povos indígenas vêm pressionando por leis de propriedade intelectual que protejam melhor, da exploração por terceiros, a flora, a fauna, saberes tradicionais e herança cultural locais.
Mais recentemente, porém, tem crescido o clamor, inclusive no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), para que se responsabilizem as companhias que cometem esse tipo de abuso na indústria da moda.
jps/ra (ots, DW)
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Short teaser | Novas sandálias da marca alemã inspiradas em modelo com raízes indígenas provocaram acusações de "apropriação cultural". | ||
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Image caption | A presidente do México, Claudia Sheinbaum, se queixou de como a Adidas usou design de sandália tradicional ao lançar novo calçado (que aparece à esquerda) | ||
Image source | Luis Barron/Grupo Eyepix/NurPhoto/picture alliance | ||
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Item 36 | |||
Id | 73592603 | ||
Date | 2025-08-10 | ||
Title | Lesão cerebral mata dois boxeadores no mesmo evento no Japão | ||
Short title | Lesão cerebral mata dois boxeadores no mesmo evento no Japão | ||
Teaser |
Atletas japoneses, ambos com 28 anos, foram hospitalizados após lutas separadas ocorridas no mesmo dia e não resistiram aos ferimentos na cabeça. Dois boxeadores japoneses morreram em decorrência de lesões cerebrais sofridas em lutas separadas no mesmo dia 2 de agosto último e no mesmo evento em Tóquio, informou a mídia japonesa neste domingo (10/08). O superpluma Shigetoshi Kotari morreu na última sexta-feira e o peso leve Hiromasa Urakawa, neste sábado. Ambos tinham 28 anos. Eles foram levados ao hospital, onde passaram por uma cirurgia no cérebro, mas não resistiram. Os dois atletas foram operados no crânio devido a um hematoma subdural, quando ocorre acúmulo de sangue entre o cérebro e o crânio. Kotari empatou após 12 rounds contra o também japonês Yamato Hata e desmaiou logo depois. Já Urakawa perdeu por knockout no oitavo e último round contra Yoji Saito. O atleta "sucumbiu tragicamente aos ferimentos sofridos em sua luta", informou a Organização Mundial de Boxe no Instagram. Entidade reformula regraTsuyoshi Yasukochi, secretário-geral da Comissão Japonesa de Boxe, disse à mídia local que esta pode ser "a primeira vez no Japão que dois lutadores passaram por cirurgias de abertura de crânio para tratar ferimentos sofridos no mesmo evento". Em resposta, a entidade anunciou que todas as lutas pelo título da Federação de Boxe do Oriente e do Pacífico serão reduzidas de 12 para 10 rounds. Terceira morte no boxe em um anoA morte de Urakawa marca a terceira fatalidade no boxe mundial devido a lesões no ringue neste ano. Em fevereiro passado, o boxeador irlandês John Cooney morreu, também aos 28 anos, uma semana após ser hospitalizado após sua derrota pelo título superpluma do Celtic para Nathan Howells em Belfast. Ele sofreu uma lesão cerebral grave durante a luta. Apelos por uma supervisão mais rigorosa do boxe – tanto no Japão quanto internacionalmente – vêm ganhando força após as fatalidades. Ativistas exigem lutas mais curtas, exames médicos obrigatórios após as lutas e aplicação mais rigorosa dos protocolos de concussão. md (Reuters, AFP, AP) |
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Short teaser | Atletas japoneses, ambos com 28 anos, foram hospitalizados após lutas separadas realizadas no mesmo dia. | ||
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Item 37 | |||
Id | 73216916 | ||
Date | 2025-07-13 | ||
Title | O drama de um boxeador vítima de doping na Alemanha Oriental | ||
Short title | O drama de um boxeador vítima de doping na Alemanha Oriental | ||
Teaser |
Cerca de 15 mil atletas da antiga Alemanha Oriental foram dopados durante anos sem seu consentimento, com danos graves e duradouros à saúde. Um deles é o boxeador Andreas Wornowski. Andreas Wornowski teve a sensação de que algo estava errado em 1993, quatro anos após a mudança política que derrubou o regime comunista da República Democrática da Alemanha (RDA), a Alemanha Oriental. "Um médico no hospital da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) me perguntou diretamente sobre drogas para melhorar o desempenho esportivo. Minha resposta foi dar de ombros. Não admiti essa ideia, nunca mais pensei no assunto e o ignorei." Há mais de quatro décadas o ex-boxeador de 54 anos sofre consequências graves para a sua saúde, com dores dia e noite – a começar pela mão esquerda, que usava para dar socos, incapacitada. O quadro é agravado por uma depressão grave. O ex-atleta da RDA se deu conta de que essas são consequências do doping forçado na RDA, o que fez com que ele começasse a lidar com seu passado. Início de carreira aos 13 anosO caminho de Wornowski para os esportes de elite começou relativamente tarde, aos onze anos. Com talento, disciplina e dedicação aos treinamentos, ele se tornou campeão distrital em sua faixa etária em Magdeburg apenas um ano depois. Aos treze anos, ingressou na Escola de Esportes Infantis e Juvenis de Berlim, um internato esportivo de elite onde a RDA formava seus futuros medalhistas, onde Wornowski morou até atingir a maioridade, só podendo voltar para casa a cada quatro semanas. Inicialmente, sua mãe, enfermeira de profissão, era estritamente contra o boxe. O esporte era brutal demais para ela. Mas o pai de Wornowski e o conselho distrital de sua cidade natal a convenceram. Olhando para o passado, Wornowski compreende a preocupação de sua mãe. Praticar boxe significava consentir com agressões físicas. Se a força dos golpes fosse então aumentada com medicamentos, culminava em um verdadeiro "massacre com material corporal", nas palavras do ex-boxeador, com golpes de "martelo a vapor" na cabeça. Na seleção juvenil da RDAEle descreve o período que viveu a partir de então como "uma espécie de campo de treinamento extremo", no qual crianças e adolescentes eram obrigados a atingir seu potencial máximo por meio de medicamentos para melhorar o desempenho, aliviar a dor e desinibir, sob enorme pressão psicológica e física para demonstrarem bom desempenho. Qualquer um que não conseguisse suportar isso ou fizesse perguntas incômodas sobre comprimidos ou injeções era expulso. Na 8ª série havia 21 jovens e, na 10ª, apenas quatro. Wornowski rapidamente alcançou o sucesso e chegou à seleção juvenil da RDA. A partir de 1986, ele passou a receber regularmente vários medicamentos na forma de cápsulas azuis, pretas e vermelhas oficialmente rotuladas como "vitaminas e agentes de reforço imunológico". Hoje, Wornowski está convencido de que esses medicamentos incluíam o agente anabolizante Oral-Turanibol, o esteroide anabolizante Mestanolona, a substância de teste esteroide 646 e drogas psicotrópicas projetadas para aumentar a agressividade. Esses medicamentos foram comprovadamente administrados a todo o grupo de treinamento de Wornowski durante os tratamentos experimentais de treinamento sob a direção de Hans Gürtler, um renomado médico esportivo da Alemanha Oriental e corresponsável pelo programa estatal de doping, que, a partir de 1974, ficou conhecido como "Plano Estatal Tema 14.25". Sessões brutais de treinamentoO auge esportivo de Wornowski começou aos 16 anos, quando ele se tornou campeão juvenil dos meio-pesados da Alemanha Oriental e venceu torneios internacionais. Tornou-se representante da RDA, um "diplomata de agasalho de treino", como era chamado na época. Um memorando da Stasi, a polícia secreta da RDA, atestava que Wornowski "determina o nível de desempenho da RDA em sua idade e categoria de peso." A decisão em suas lutas era frequentemente tomada por nocaute no primeiro round. "Por mais de um ano, ninguém ficou em pé", diz o ex-boxeador. Mas, paralelamente à sua fama, seu declínio físico aumentou. As dores aumentaram e seus ferimentos se acumularam: um nariz quebrado, pálpebras costuradas e dentes arrancados. Somou-se a isso um treinamento implacável com até quatro sessões de duas horas por dia. Em circunstâncias normais, isso vai além dos limites de resistência física. "Eu realmente não conseguia continuar, mas fui em frente mesmo assim. Hoje eu diria [que aquelas eram] condições brutais", lembra Wornowski. Ele afastava a dor ingerindo até 20 analgésicos por dia, algo que não era incomum para ele. Para perder peso antes de uma competição, ele frequentemente tinha que fazer seu treinamento com luvas – socos com luvas de boxe em almofadas especiais seguradas pelo treinador – em uma sauna a uma temperatura de 90º C. Na Universidade Alemã de Cultura Física e Esportes em Leipzig, ele foi até forçado a desmaiar em uma esteira ergométrica para testar seus limites de desempenho. Apenas uma cinta o impedia de cair. Fim de carreira por razões políticasA carreira esportiva de Wornowski terminou abruptamente aos 19 anos, na primavera de 1989, mais de seis meses antes da queda do Muro de Berlim. Oficialmente, isso ocorreu devido a seus problemas de saúde, principalmente oculares. Wornowski, no entanto, acredita que o motivo teria sido o fato de que ele havia se recusado a se filiar ao partido estatal da Alemanha Oriental, o Partido Socialista Unitário (SED). O que lhe restou foi uma profissão para a qual nunca havia se formado: mecânico de automóveis. Wornowski nunca havia visto o interior de uma oficina mecânica, mas a Stasi lhe forneceu um exame profissional. Oficialmente, como todos os atletas competitivos na RDA, ele era considerado amador, já que não havia em caráter oficial esportes profissionais no regime socialista. Após a Reunificação alemã – em 3 de outubro de 1990 – foi somente em 1997 que alguns processos judiciais trouxeram à tona a extensão do doping estatal da Alemanha Oriental. Em resposta, diversas leis de auxílio às vítimas de doping foram aprovadas em 2002 e posteriormente. Por meio delas, cerca de 2.000 pessoas afetadas, incluindo Wornowski, receberam pagamentos únicos de 10.500 euros cada (R$ 67 mil). Essas leis, porém, já expiraram. Os procedimentos atuais de reconhecimento são complicados e envolvem enormes obstáculos. A Associação de Assistência às Vítimas de Doping estima que cerca de 15.000 pessoas sejam afetadas. Wornowski luta por uma pensão mensal devido aos danos causados à sua saúde. Um pedido foi rejeitado, uma vez que é difícil provar os danos causados pelo doping da RDA. Todos os seus registros médicos desapareceram, o que o levou a entrar com uma ação judicial. "Esta é uma grande tragédia. O verdadeiro problema para as pessoas afetadas é que seus registros médicos desapareceram e elas estão em uma situação difícil que provavelmente não será resolvida mesmo com a emenda" explica o advogado de Wornowski, Ingo Klee, se referindo a uma nova regulamentação que visa beneficiar as vítimas de doping da RDA. Mudança na lei traz novas esperançasAlguns ex-funcionários e médicos do sistema esportivo da RDA ocupam cargos importantes ainda nos dias atuais, afirma Michael Lehner, presidente da Associação de Assistência às Vítimas de Doping. No caso de Wornowski, o chefe dos serviços médicos do estado de Brandemburgo redigiu um parecer médico negativo. O especialista trabalhou no serviço de medicina esportiva da RDA no final da década de 1980, justamente a instituição responsável pela implementação prática do doping forçado. O médico em questão, porém, nega qualquer envolvimento em práticas de doping. Lehner tem esperanças em uma nova regulamentação que visa inverter o ônus da prova: para certas doenças típicas, o doping deve ser considerado a causa. No entanto, isso não é de forma alguma automático, alerta Klee. O advogado de Wornowski diz que os órgãos de Previdência Social ainda podem duvidar dos danos resultantes do doping, por exemplo, citando um histórico de saúde familiar. "Não é só a falta de provas, os problemas de saúde, as dificuldades financeiras – isso tudo é repugnante e quase insuportável", diz Wornowski. Hoje, ele e a esposa vivem uma vida isolada em sua casa em uma floresta. Alguns de seus antigos companheiros de treino já faleceram. "Em todos os funerais, todos têm o mesmo pensamento: quem vai saber o que nos deram naquela época?" |
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Short teaser | Cerca de 15 mil atletas foram dopados durante anos sem consentimento. Um boxeador ainda luta pela verdade dos fatos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-drama-de-um-boxeador-vítima-de-doping-na-alemanha-oriental/a-73216916?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 38 | |||
Id | 72986020 | ||
Date | 2025-06-21 | ||
Title | Ataques israelenses agravam situação de refugiados afegãos no Irã | ||
Short title | Conflito agrava situação de refugiados afegãos no Irã | ||
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Em meio à ofensiva israelense, refugiados no Irã enfrentam abusos, fome e medo de deportação enquanto buscam segurança longe do regime talibã. O conflito entre Irã e Israel está sendo sentido pelos afegãos tanto em seu país quanto do outro lado da fronteira, no Irã. O combate piora ainda mais as condições já críticas do Afeganistão, onde os preços dos produtos importados do lado iraniano dispararam. Enquanto isso, milhões de afegãos que fugiram para o Irã em busca de segurança enfrentam agora incertezas e pressões renovadas das autoridades, com a escalada do conflito armado: "Não temos onde morar", queixa-se a refugiada afegã Rahela Rasa. "Tiraram a nossa liberdade de ir e vir. Somos assediados, insultados e maltratados." Condições deterioram para afegãos no IrãO Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) registra que cerca de 4,5 milhões de afegãos residem no Irã, embora segundo outras fontes esse número possa ser muito maior. O Irã já deportou milhares de afegãosnos últimos anos, mas o afluxo continua. Muitos buscam emprego ou refúgio do regime do Talibã. Depois da saída dos Estados Unidos do Afeganistão, em 2021, o Talibã desmantelou a mídia e a sociedade civil do país, perseguiu ex-membros das forças de segurança e impôs severas restrições a mulheres e meninas, proibindo-as de trabalhar e estudar. As condições também se deterioraram para os afegãos que vivem em solo iraniano. Os refugiados só têm permissão para comprar alimentos a preços extremamente inflacionados e estão proibidos de sair da capital, Teerã. Sob anonimato, uma refugiada comenta que não consegue comprar leite em pó para seu bebê: "Em todo lugar aonde eu vou, eles se recusam a vender para mim, porque não tenho documentos necessários." Sem opção de retornoAtualmente alvo de ataques israelenses, o Irã, que antes oferecia abrigo, já não parece mais seguro. Alguns afegãos já morreram em bombardeios. Abdul Ghani, da província afegã de Ghor conta que seu filho Abdul Wali, de 18 anos, recentemente concluiu os estudos e se mudou para o Irã para ajudar a família. "Na segunda-feira, falei com o meu filho e pedi que nos enviasse algum dinheiro. Na noite seguinte, seu empregador me ligou para informar que ele havia sido morto em um ataque. Meu coração está partido. O meu filho se foi." Retornar ao Afeganistão não é uma opção viável para a maioria dos refugiados, que temem ser perseguidos pelo regime talibã. Um ex-membro das forças de segurança do Afeganistão, falando sob anonimato, revela que vivia em medo constante: "Não podemos voltar ao Afeganistão, o Talibã nos perseguiria." Mohammad Omar Dawoodzai, ex-ministro do Interior afegão e embaixador no Irã no governo anterior, insta a comunidade internacional a agir para proteger ex-funcionários e militares que podem ser forçados a retornar ao Afeganistão se o conflito entre Israel e Irã se prolongar. "Estou particularmente preocupado com os ex-militares e servidores públicos que fugiram para o Irã após a tomada do poder pelo Talibã. A comunidade internacional deve responsabilizar o Talibã e garantir que os repatriados não sejam perseguidos." Traficantes de pessoas exploram medosRedes de tráfico humano parecem estar explorando o desespero dos refugiados afegãos. Circularam rumores sugerindo que a Turquia abriu as suas fronteiras. Mas Ali Reza Karimi, um defensor dos direitos dos migrantes, nega a abertura das fronteiras, afirmando tratar-se de informação de falsa, espalhada por traficantes. Os voos estão suspensos, e a fronteira da Turquia só está aberta para cidadãos iranianos e viajantes com passaporte e visto válidos, e permanece fechada para afegãos. Ele aconselha os refugiados afegãos a não caírem nas mentiras dos traficantes e evitarem armadilhas. O ex-ministro Dawoodzai reforça: "Fui informado que traficantes de pessoas estão dizendo aos refugiados para se dirigirem à Turquia, alegando que as fronteiras estão abertas, mas isso cria mais uma tragédia. Chegando lá, eles só vão descobrir que as fronteiras estão fechadas." Ele apela aos refugiados afegãos no Irã para que não precipitem: "Na medida do possível, nosso povo deve permanecer onde está e esperar pacientemente. E se, por qualquer motivo, forem forçados a se mudar, que se dirijam à fronteira afegã, não à Turquia." |
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Short teaser | Conflito Irã-Israel agrava crise de refugiados afegãos no Irã, que enfrentam abusos, fome e medo de deportação. | ||
Author | Shakila Ebrahimkhail, Ahmad Waheed Ahmad | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ataques-israelenses-agravam-situação-de-refugiados-afegãos-no-irã/a-72986020?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 39 | |||
Id | 57531509 | ||
Date | 2025-06-13 | ||
Title | Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel | ||
Short title | Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel | ||
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Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011. Devido ao custo alto, só é empregado para proteger áreas habitadas. A escalada das agressões entre Israel e Irã nesta sexta-feira (13/06) colocou à prova a eficácia do sistema antimísseis israelense Iron Dome (Domo de Ferro), que desde 2011 é empregado para impedir ataques aéreos estrangeiros no país. Após o exército israelense atingir instalações nucleares iranianas, Teerã retaliou lançando dezenas de mísseis contra Israel. A maioria foi interceptada pelo sistema de defesa, mas alguns conseguiram furar o bloqueio e atingir sete pontos da capital. Em outubro de 2024, o sistema foi mais eficiente. Na ocasião, o Irã lançou mísseis contra Tel Aviv em retaliação à ofensiva israelense no sul do Líbano, mas o Domo de Ferro impediu danos maiores. Desde o início do conflito contra o Hamas, em outubro de 2023, o sistema também já barrou projéteis disparados de Gaza, Líbano, Síria, Iraque e Iêmen. Sistema de três elementosA defesa aérea israelense consiste em um sistema de três níveis. O "David's Sling" (também conhecido como a parede mágica) é responsável por barrar mísseis de médio alcance, drones e mísseis de cruzeiro. O sistema Arrow tem como alvo os mísseis de longo alcance. Já o Domo de Ferro intercepta mísseis de curto alcance e projéteis de artilharia. Louvado como "seguro de vida para Israel", o Domo de Ferro consiste de uma unidade de radar e um centro de controle, com a capacidade de reconhecer, logo após seu lançamento, projéteis – por exemplo, foguetes – que se aproximem voando, e de calcular sua trajetória e alvo. O processo leva apenas segundos. O Domo também conta com baterias para lançamento de mísseis. Cada sistema possui três ou quatro delas, com lugar para 20 projéteis de defesa, os quais só são disparados quando está claro que um míssil mira uma área habitada. Eles não atingem o foguete inimigo diretamente, mas explodem em sua proximidade, destruindo-o. No entanto, a consequente queda de destroços ainda pode causar danos. Os dez sistemas atualmente operacionais em Israel são móveis, podendo ser deslocados segundo a necessidade. Segundo a fabricante, a empresa armamentista estatal Rafael Advanced Defence Systems, uma única bateria é capaz de proteger uma cidade de tamanho médio. 90% de êxito, mas com custos altosO "Domo de Ferro" é especializado na neutralização de projéteis de curto alcance. Como cada unidade age num raio de até 70 quilômetros, seriam necessárias 13 delas para garantir a segurança de todo o país. De acordo com a fabricante, o sistema tem uma taxa de sucesso de 90%. Em seu site, a empresa estatal de defesa fala que mais de 5 mil projéteis já foram interceptados desde suas instação em 2011. Cada projétil interceptador do Domo de Ferro pode custar entre 40 mil e 50 mil euros (R$ 221 mil a 277 mil), segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA. Por este motivo, só são contidos os mísseis que cairiam em áreas habitadas. Nova arma a laser "Iron Beam"Em vista dos altos custos, o exército israelense quer complementar o Domo de Ferro com uma nova arma de defesa a laser, o chamado "Iron Beam". O laser de alta energia foi projetado para destruir pequenos mísseis, drones e projéteis de morteiro. Ele também deve ser capaz de neutralizar enxames de drones. A Iron Beam foi apresentada em fevereiro de 2014 pela Rafael Systems. A empreiteira de defesa americana Lockheed Martin também está envolvida no projeto desde 2022. As vantagens em comparação com o "Iron Dome" são os custos menores por lançamento, um suprimento teoricamente ilimitado de munição e custos operacionais mais baixos. Os valores variam consideravelmente: um lançamento a laser custaria até 2 mil dólares (R$ 5,5 mil). A implantação da nova tecnologia está planejada para 2025. |
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Short teaser | Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011. | ||
Author | Uta Steinwehr | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/como-funciona-o-domo-de-ferro-sistema-antimísseis-de-israel/a-57531509?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 40 | |||
Id | 72595695 | ||
Date | 2025-05-19 | ||
Title | Esportes "ninja" conquistam a Alemanha | ||
Short title | Esportes "ninja" conquistam a Alemanha | ||
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Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV estreou sua própria "Bundesliga". O chamado "playground de adultos" agrada também crianças e pode ajudar no desenvolvimento motor infantil."É como um playground gigante para nós, adultos. Todos nos divertimos muito", conta Marlies Brunner à DW, com brilho nos olhos. "Ficamos tão felizes quanto crianças por podermos praticar esse esporte." A jogadora de 23 anos viajou da Áustria para Bonn, na Alemanha, para participar da estreia da Ninja Bundesliga ("liga nacional").
Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo. Acima de tudo, os atletas precisam de força, resistência, coordenação e técnica, além de vigor mental, para chegar à linha de chegada sem cair no colchão de ar ou nos colchonetes, sendo fiel ao lema "o chão é lava".
"Você voa bastante pelo ar, se sente leve e não mais preso à gravidade", explica Ouissal Touiher à DW. É completamente diferente se mover apenas com as mãos e não com os pés, diz a jovem de 20 anos.
"Há muitos movimentos diferentes que tornam o esporte tão especial", afirma Brunner, que no ano passado se tornou campeã austríaca da modalidade.
O que soa como algo espetacular, parece, de fato, ser. Os ninjas escalam, deslizam, balançam ou "voam" pela pista de obstáculos, com todo o peso do corpo quase que inteiramente apoiado nos dedos. "Acho admirável o quanto as mãos são capazes de suportar", diz Brunner. "Sou muito grata ao meu corpo por me permitir fazer tudo isso."
Os atletas iniciam o percurso um após o outro, alguns com tanta adrenalina que chegam ao limite e falham logo no primeiro obstáculo. Um erro ao tentar agarrar um obstáculo ou uma ação desconcentrada e a competição acaba.
"Parquinhos infantis são muito 'ninjas'"
O atual esporte da moda, que ainda é pouco conhecido na Alemanha, cresceu rapidamente nos últimos anos e vem se tornando cada vez mais popular. Existem atualmente no país quase 1.300 ninjas que praticam essa modalidade regularmente. Muitos deles migraram de outros esportes, como o montanhismo, boulder, acrobacia ou ginástica.
Há também cada vez mais crianças aderindo aos esportes ninjas e crescendo com eles. Atualmente, cerca de metade dos praticantes ativos têm menos de 16 anos. "As crianças geralmente adoram ser ativas. Os parquinhos infantis são muito 'ninjas'. Elas se balançam e escalam", explica Touiher. "Elas definitivamente deveriam frequentar mais os ginásios ninja."
Steffen Moritz, um dos fundadores da Ninja Bundesliga, concorda com essa afirmação. "Quem costumava escalar ou se pendurar muito vai se lembrar daqueles tempos. As crianças sabem imediatamente o que precisam fazer no percurso", afirmou Moritz à DW. Esses movimentos, segundo diz, estão ausentes em muitas crianças hoje em dia.
Isso também se confirma por dados atuais de um estudo da empresa Seguradora de Saúde do Comércio (KKH), segundo o qual, cada vez mais crianças e jovens na Alemanha sofrem de distúrbios de desenvolvimento motor.
A proporção de crianças de seis a 18 anos afetadas pelo problema aumentou cerca de 64% entre 2008 e 2023. Em 2023, mais de 311.000 alunos foram diagnosticados. A causa geralmente é a falta de exercícios, de acordo com o estudo da seguradora.
Os esportes ninjas podem ajudar a resolver o problema. Os organizadores estão satisfeitos com a adesão de um número cada vez maior de ninjas mais jovens à modalidade. "Queremos ser uma plataforma para esse esporte que foi inventado no Japão e tem origem em um programa de televisão", explica Moritz.
Origem EM programa de TV japonês
Na Alemanha, o esporte ficou conhecido através do programa de TV Ninja Warrior Germany ("Guerreiro Ninja Alemanha"). O programa, transmitido pelo canal de televisão RTL desde 2016, foi adaptado do original americano American Ninja Warrior. No entanto, o conceito de Ninja Warrior teve origem no Japão, onde foi transmitido pela primeira vez em 1997 sob o nome Sasuke. Esses programas também são muito populares no Vietnã e na Austrália.
Ao longo dos anos, uma comunidade internacional de entusiastas se desenvolveu, influenciada pelos programas de TV. O desafio para Steffen Moritz e sua equipe agora é fazer com que esse "esporte televisivo" se estabeleça na Alemanha. Como dinheiro e patrocinadores ainda são escassos, muito ainda funciona através do trabalho voluntário.
"Este esporte é financiado principalmente pelas taxas de inscrição que os atletas têm que pagar se quiserem participar da Bundesliga", diz Moritz. Contudo, os desenvolvimentos recentes deixam não apenas os organizadores, mas também os ninjas confiantes de que mais e mais patrocinadores acabarão tomando conhecimento do novo esporte.
Jovens prevalecem na estreia da Bundesliga
"O esporte progrediu enormemente. Há cada vez mais academias ninja, competições incríveis e muitos eventos como a Bundesliga Ninja na Alemanha", diz Marlies Brunner. "É possível perceber que o esporte já se tornou muito grande."
É fascinante ver o quanto as crianças se divertem e o quanto elas já se saem bem no esporte, diz a austríaca. "Nós, adultos, realmente precisamos correr atrás para acompanhar." Dessa forma, não é nenhuma surpresa que Jonas Elting, o vencedor do evento de estreia da Bundesliga em Bonn, tenha apenas 17 anos.
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Short teaser | Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV pode ajudar no desenvolvimento motor das crianças. | ||
Author | Thomas Klein | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/esportes-ninja-conquistam-a-alemanha/a-72595695?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo | ||
Image source | Toni Köln/DW | ||
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Item 41 | |||
Id | 72504004 | ||
Date | 2025-05-11 | ||
Title | Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol? | ||
Short title | Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol? | ||
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Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006. Federação prepara plano para resgatar interesse dos jovens pelo esporte.Na Alemanha, o entusiasmo pela participação da seleção na Copa do Mundo de 2026 contrasta com uma realidade preocupante para o esporte: desde 2006, o país perdeu quase 6 mil equipes masculinas de futebol nas categorias sub-19 e sub-17.
Em resposta à crise que ameaça o futuro do futebol no país, a Federação Alemã de Futebol (DFB) vem desenvolvendo uma série de reformas estruturais coordenadas por Hannes Wolf, ex-treinador da Bundesliga – o campeonato alemão – e atual diretor de futebol juvenil da entidade.
"Temos que garantir que não haja uma participação falsa, mas que os jovens realmente se envolvam", disse em uma conferência da entidade. "Se você já está no banco no sub-13 e não é bom o suficiente para se dedicar à sua paixão, então eu também diria aos meus filhos que se dediquem a outra coisa."
A conferência realizado em Frankfurt reuniu 220 representantes das 21 federações regionais da Alemanha. O objetivo era construir um novo plano nacional para as categorias de base, com foco na identidade do esporte — onde a diversão precede os resultados. As propostas discutidas devem ser apresentadas até setembro, durante o Dia Nacional da Juventude da Alemanha, e testadas por federações regionais antes da adoção plena em 2026.
"O futebol precisa se modernizar se quiser continuar sendo atraente para os jovens no futuro", disse Bernd Neuendorf, presidente da DFB. "Mesmo que atualmente tenhamos longas listas de espera nos clubes de muitas cidades, já não é garantido que as crianças comecem a jogar futebol e permaneçam nas categorias de base."
O que vem mudando no futebol europeu
O desafio enfrentado pela Alemanha não é exclusivo. Na Inglaterra, por exemplo, houve crescimento na adesão de crianças e adolescentes de 5 a 16 anos ao futebol após a pandemia da covid-19, mas a faixa de 16 a 24 anos registrou queda de 27% na participação entre 2015 e 2023, segundo levantamento da Sport England.
A Federação Inglesa de Futebol (FA) respondeu com uma nova estratégia lançada em 2024. Entre as medidas, está o formato 3 contra 3 para menores de 7 anos, com estreia prevista para 2026, com o objetivo de aumentar o tempo de contato com a bola.
Na Alemanha, Hannes Wolf acredita que a criatividade precisa voltar aos treinamentos. Uma das ideias é popularizar jogos em campos oficiais que simulem o estilo do futebol de rua.
Pressões, custos e novas prioridades
Plataformas digitais, altos custos para praticar o esporte, cronogramas excessivos e expectativas desproporcionais são apenas alguns dos obstáculos. Lesões, separações familiares e mudanças de cidade completam o quadro. Thomas Broich, diretor da categoria de base do Borussia Dortmund, alertou recentemente que o futebol juvenil pode se tornar um "grande problema cultural" para a Alemanha.
Já o treinador Malte Boven, radicado em Hamburgo, observa que reformas feitas em 2019 priorizaram os mais novos, deixando os adolescentes em segundo plano — justamente os que estão mais próximos do futebol profissional. Para ele, compreender por que esta faixa etária tem desistido do esporte exige olhar para múltiplos fatores, especialmente as mudanças culturais.
"Acho que o 'porquê' e o 'como' queremos jogar se tornaram mais importantes para os jogadores nos últimos anos", disse Boven à DW. "Há uma diferença social entre gerações."
Confiança e estrutura como resposta
Apesar de não prever uma escassez iminente de jogadores, Boven defende ajustes importantes para que o futebol continue sendo uma escolha atrativa. Isso inclui rever o modo de comunicação com atletas e pais, melhorar o acesso a instalações esportivas e ensinar os jovens a lidar com a pressão de forma conjunta com os treinadores.
Ele apoia as propostas da Federação Alemã de Futebol, mas reconhece que a cultura do resultado ainda domina.
"A participação é uma realidade quando se trata de vencer no futebol juvenil, especialmente em clubes amadores. Nesse caso, há uma pseudoparticipação de todos os jogadores envolvidos, porque não lhes dou a oportunidade de realmente fazer parte do jogo", pontua.
"É preciso incutir neles a máxima confiança de que podem fazer isso, que merecem jogar no clube, que há um motivo para vestirem essa camisa. Porque, como treinador ou como clube, decidimos que eles joguem esse esporte, e agora nossa obrigação e responsabilidade é lhes dar tempo de jogo."
Estratégias além do campo
Boven também propõe alternativas para tornar o futebol mais relevante: oferecer aos jovens atletas uma "carta de desenvolvimento de habilidades" ao deixarem as categorias de base, ajudando a dar os próximos passos no mercado de trabalho.
"Eu teria um incentivo completamente diferente de simplesmente me tornar um jogador profissional. Ainda quero ser, mas sei que aqui vou ter algo para mostrar pelo meu esforço", afirma.
Para ele, é o futebol profissional — com sua mentalidade, cultura e influência — que mais precisa de atenção.
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Short teaser | Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006. | ||
Author | Jonathan Harding | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/os-adolescentes-alemães-perderam-o-amor-pelo-futebol/a-72504004?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte | ||
Image source | motivio/dpa/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/72451406_354.jpg&title=Os%20adolescentes%20alem%C3%A3es%20perderam%20o%20amor%20pelo%20futebol%3F |
Item 42 | |||
Id | 72410915 | ||
Date | 2025-05-01 | ||
Title | Federação inglesa vai barrar mulheres trans no futebol feminino | ||
Short title | Federação inglesa vai barrar trans no futebol feminino | ||
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Entidade que regula futebol no país diz que nova regra segue decisão da Suprema Corte britânica, de que a definição legal de mulher é baseada somente no sexo biológico.As mulheres transgênero serão impedidas de participar em competições femininas de futebol da Inglaterra a partir de junho, anunciou a Associação de Futebol (FA) do país nesta quinta-feira (01/05), duas semanas após a Suprema Corte do Reino Unido decidir que, para fins legais, o termo "mulher" deve ser definido somente com base no sexo biológico de nascimento.
A decisão da FA ocorre dois dias depois de a Associação Escocesa de Futebol (SFA) ter tomado uma decisão no mesmo sentido. Segundo o comunicado, a modificação no regulamento na Escócia entrará em vigor a partir da temporada 2025/26.
"Entendemos que isto será difícil para as pessoas que querem simplesmente praticar o esporte que gostam, no gênero com o qual se identificam", indicou a inglesa FA, apontando que a decisão do Supremo a obriga a seguir esse rumo.
O regulamento anterior da FA permitia que mulheres trans participassem do futebol feminino, mas isso mudará a partir de 1º de junho. "A decisão da Suprema Corte no dia 16 de abril significa que estaremos mudando nosso regulamento", disse o órgão regulador do futebol inglês em um comunicado.
"As mulheres transgênero não poderão mais jogar futebol feminino na Inglaterra, e essa política será implementada a partir de 1º de junho de 2025."
A associação ainda apontou que pretende contatar as mulheres transgênero federadas, a fim de lhes "explicar as mudanças" que a decisão do Supremo do Reino Unido implica e de as informar sobre a forma "como podem continuar a praticar" futebol. Segundo a rede BBC, a decisão deve afetar 20 jogadoras transgêneros registradas na Inglaterra
Já a associação escocesa informou que vai "fornecer orientações sobre a forma como atualizará os regulamentos e as oportunidades de participação adequadas às mulheres transgênero, antes da entrada em vigor, no início da próxima temporada".
Decisão do Supremo
Em abril, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu, por unanimidade, que "os termos 'mulher' e 'sexo', na Lei da Igualdade de 2010 [que combate a discriminação], referem-se a mulher biológica e sexo biológico".
A decisão, que exclui pessoas trans dessa definição jurídica, encerrou uma longa disputa entre o grupo feminista For Women Scotland (FWS) e o governo escocês.
O regramento britânico reconhece o direito de pessoas trans obterem documentos legais, como a mudança do nome social, por exemplo. Contudo, a decisão da Suprema Corte entende que uma pessoa que passou por uma transição de gênero não pode ser considerada legalmente uma mulher para fins de igualdade.
Isto implica em um dos pontos mais controversos do debate – o acesso a espaços exclusivos para um gênero. Na prática, o veredicto significa que as mulheres trans podem ser excluídas de alguns espaços destinados exclusivamente para mulheres, como vestiários, abrigos para sem-teto, áreas de natação. Além de serviços médicos ou de ou de aconselhamento oferecidos somente a mulheres.
Espaços e serviços exclusivos "só funcionarão corretamente se 'sexo' for interpretado como sexo biológico", apontou o Supremo. Contudo, a lei também "oferece proteção às pessoas trans contra discriminação em seu gênero adquirido", afirmou o juiz Patrick Hodge ao anunciar o veredicto.
"Todo mundo sabe o que é sexo, e você não pode mudá-lo", disse Susan Smith, codiretora da FWS após a decisão. "É bom senso, puro e simples. O fato de termos ido parar em um buraco de coelho onde as pessoas tentaram negar a ciência e a realidade... esperamos que agora voltemos à realidade."
jps (Reuters, Lusa, ots)
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Short teaser | Entidade diz que nova regra segue decisão da Justiça, de que a definição de mulher é baseada somente no sexo biológico. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/federação-inglesa-vai-barrar-mulheres-trans-no-futebol-feminino/a-72410915?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image source | Mike Egerton/PA Wire/empics/picture alliance | ||
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Item 43 | |||
Id | 72119729 | ||
Date | 2025-04-04 | ||
Title | Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança | ||
Short title | Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança | ||
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Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e de extermínio do nazismo. Ser um jogador ou lutador importante podia trazer privilégios e esperança, ou perseguição cruel.Os campos de concentração do nazismo eram locais de horror e morte, de tortura e humilhação para os detentos. Para esse fim, o pessoal de vigilância também os submetia regularmente a exercícios esportivos cruéis.
"Os guardas mandavam os presos fazerem flexões ou saltarem, ou correrem até cair de exaustão", conta a historiadora do esporte Veronika Springmann, autora do livro Gunst und Gewalt – Sport in nationalsozialistischen Konzentrationslagern (Favoritismo e violência – Esporte nos campos de concentração nacional-socialistas). Quem estava no chão geralmente ainda era chutado e insultado: "Era realmente um ritual cotidiano."
Além do esporte imposto com violência, havia atividades esportivas que os prisioneiros praticavam de forma mais ou menos espontânea. Devido às condições desumanas, submetidos a duros trabalhos forçados ou experimentos médicos macabros, para a maioria deles não era como praticar esporte como lazer. E tampouco havia lugar para tal nos campos.
Além disso, havia uma hierarquia interna estrita. O fato de pertencer a um determinado grupo definia, em grande parte, as condições de prisão e, portanto, as chances de sobrevivência. Por exemplo: presos políticos ou criminosos profissionais em geral recebiam tratamento melhor do que judeus, homossexuais ou os assim chamados "antissociais".
Quem estava mais no alto na hierarquia era menos maltratado pelos guardas, recebia trabalho e alojamento melhor, roupas mais quentes, tinha acesso a mais comida, estando, portanto, mais apto praticar esportes. No total, porém, o número desses privilegiados era pequeno.
Entre eles estavam os "presos funcionais" (Funktionshäftlinge), designados para vigiar os companheiros e manter a ordem. Enquanto alguns se tornaram assim cúmplices do horror do sistema de concentração e extermínio, outros aproveitavam sua posição melhor para proteger outros detentos.
Futebol e boxe para sobrevivência e esperança
Dentro dos campos de concentração, promoviam-se regularmente partidas de futebol e lutas de boxe. Com o avançar da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942 as condições mudaram para alguns dos prisioneiros.
"A mão de obra dos internos era necessária para a indústria armamentista", explica Springmann. "Todas as firmas do setor produziam nos campos de concentração ou em instalações externas. Os que trabalhavam especialmente bem, ou que atuavam como presos funcionais, tinham permissão para organizar partidas de futebol."
Assim, o número de jogos aumentou. Os times eram, em geral, divididos por nações, embora raramente tivessem 11 jogadores completos. Os detentos tentavam até mesmo providenciar uniformes. No memorial do campo de Dachau, próximo a Munique, está exposta uma taça de madeira. Organizar esses eventos também tinha a ver com esperança.
"Planejamento está sempre direcionado para o futuro", lembra a historiadora do esporte. "Ou seja: eu espero que ainda vá estar viva amanhã, depois de amanhã, no próximo domingo. Isso fortalece e dá esperança. E esperança é um recurso importante para a sobrevivência"
Entretanto é preciso jamais esquecer que apenas uma parcela mínima dos presos tinha permissão ou condições para participar dos jogos – que, além disso, se realizavam num ambiente em que paralelamente se torturava e assassinava.
Lutando e jogando para sobreviver
Enquanto para os detentos e sobreviventes do sexo masculino havia diversas opções para praticar esportes, o mesmo não se aplicava às mulheres: "Naquela época o esporte simplesmente não contava como uma prática cotidiana feminina", explica Springmann.
"Mas eu partiria do princípio de que no campo de concentração de Ravensbrück, por exemplo, as prisioneiras fizessem ginástica de vez em quando. Mas elas não escreveram a respeito."
Havia entre os presos também atletas profissionais, mas, como eles não eram tão presentes na imprensa como hoje em dia, muitas vezes passavam despercebidos pelos guardas dos campos de concentração.
No início do século 20, Julius Hirsch era considerado um dos melhores futebolistas da Alemanha, duas vezes campeão nacional e integrante da seleção nacional entre 1911 e 1913. Por ser judeu, em março de 1943 foi deportado para Auschwitz e lá morreu. No entanto não está documentado que ele tenha sido identificado como ex-craque, ou que sequer tenha jogado lá.
O boxe era um esporte importante e popular para os nazistas. Alguns profissionais foram reconhecidos nos campos de concentração ou se apresentaram quando os guardas procuravam concorrentes talentosos para as lutas que organizavam para sua própria diversão.
Dois exemplos foram o polonês Antoni Czortek – participante dos Jogos Olímpicos de Berlim, em1936 – e o tunisiano Victor Perez – campeão mundial de peso-mosca em 1931 e 1932. Como judeus, ambos foram internados em Auschwitz em 1943, onde por diversas vezes tiveram que enfrentar outros detentos. Era literalmente questão de vida ou morte: o perdedor ou era abatido a tiros imediatamente ou enviado para morrer nas câmaras de gás.
Assim, com ironia macabra, o boxe salvou várias vidas nos campos de concentração nazistas. Czortek só morreu em 2003, aos 89 anos; Perez sobreviveu a Auschwitz, mas não ao Holocausto: ele foi fuzilado em janeiro de 1945, numa das "marchas da morte" em que, no fim da Segunda Guerra, os presos dos campos perto do front eram transferidos de lugar, à medida que os Aliados avançavam.
Para Johann "Rukeli" Trollmann, a arte do boxe não trouxe vantagens: o ex-campeão de peso-médio da Alemanha era cigano da etnia sinti, e quando seu passado veio à tona, os guardas do campo de concentração passaram a espancá-lo com frequência e crueldade extremas. Ele morreu em 1944 no campo secundário de Wittenberge: tendo vencido um dos "kapos" numa luta, foi abatido pouco mais tarde pelo perdedor, traiçoeiramente, durante os trabalhos forçados.
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Short teaser | Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e extermínio do nazismo. | ||
Author | Andreas Sten-Ziemons, Alima Hotakie | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/esporte-no-campo-de-concentração-entre-tortura-e-esperança/a-72119729?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau | ||
Image source | Sven Hoppe/dpa/picture alliance | ||
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Item 44 | |||
Id | 71689720 | ||
Date | 2025-02-20 | ||
Title | Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora | ||
Short title | Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora | ||
Teaser |
Antigo presidente da federação de futebol da Espanha Luis Rubiales foi condenado a pagar quase 11 mil euros por beijar atleta na boca sem consentimento na Copa de Sydney, em 2023. Ele pretende recorrer da sentença.A Justiça da Espanha condenou nesta quinta-feira (20/02) o ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, a pagar 10.800 euros (R$ 64,2 mil) pelo crime de agressão sexual, por beijar a jogadora Jennifer Hermoso na boca após a conquista da Copa do Mundo em Sydney em 20 de agosto de 2023, sem o consentimento dela.
Por outro lado, Rubiales foi absolvido do crime de coação sobre a jogadora para declarasse que o gesto fora consensual. O ex-técnico da seleção feminina espanhola, Jorge Vilda, e outros dois ex-diretores, Albert Luque y Rubén Rivera, também foram absolvidos de coação.
Luque era diretor de futebol da seção masculina, enquanto Rivera, gerente de marketing da federação, acompanhou as jogadoras na viagem à ilha de Ibiza, no Mediterrâneo, com a qual foram premiadas pela conquista da Copa do Mundo.
Restrições a contato com jogadora
A decisão do juiz José Manuel Fernández-Prieto, da Audiência Nacional, onde foi realizado o julgamento, também proíbe Rubiales de se aproximar de Hermoso num raio de 200 metros e de se comunicar com ela por um ano.
O Ministério Público da Audiência Nacional havia solicitado uma pena total de dois anos e seis meses de prisão para Rubiales, dos quais um ano pelo crime de agressão sexual, mais um ano e meio por coação. Por este último crime, o representante do Ministério Público também havia pedido uma pena de um ano e seis meses para os outros três acusados.
O advogado de Rubiales já anunciou que recorrerá da sentença.
Beijo acabou com carreira do dirigente
"Rubi", como é chamado pelos amigos, era presidente da RFEF desde maio de 2018. Ele viu sua carreira desandar após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina em Sydney.
Em 20 de agosto de 2023, diante das câmeras, ele agarrou a cabeça de Hermoso com as duas mãos e a beijou de surpresa na boca: um ato "espontâneo", em sua opinião, mas "inapropriado" para Hermoso, que negou ter dado seu consentimento.
Diante da indignação pública, Rubiales pediu demissão em setembro de 2023 e encerrou uma carreira no futebol iniciada aos 14 anos de idade, quando ingressou no clube da pequena cidade de Motril, em Andaluzia, no sul da Espanha.
Nascido em Las Palmas há 47 anos, Luis Manuel Rubiales Béjar iniciou uma carreira discreta nas divisões inferiores antes de pendurar as chuteiras na Escócia com o Hamilton Academical em 2009.
Escândalos
Extrovertido e franco, Rubiales foi cercado por escândalos durante seu período à frente da RFEF. Ele causou alvoroço ao demitir o técnico da seleção espanhola Julen Lopetegui dois dias antes do início da Copa do Mundo de 2018.
Reeleito em 2020, transferiu a Supercopa da Espanha para a Arábia Saudita, num contrato controverso que foi examinado pelo Judiciário por suspeita de corrupção e acordos irregulares durante seu mandato. Ele chegou a ser detido no contexto do caso, que também envolve o ex-jogador do FC Barcelona Gerard Piqué, cuja empresa teria recebido uma comissão de 1 milhão de dólares para intermediar o acordo com Riad. Rubiales negou qualquer irregularidade.
Mas o ex-cartola é também reconhecido por ter aumentado a renda e o patrocínio da federação, e procurado melhorar as condições do futebol juvenil, o que lhe rendeu o apoio das federações regionais.
Ele também multiplicou o orçamento para o futebol feminino, embora tenha enfrentado a "rebelião das 15" que exigia melhorias estruturais e teve apoio de Jenni Hermoso. Desde que caiu em desgraça, Rubiales tem vivido discretamente na cidade andaluza de Granada como “só mais um vizinho”, segundo a mídia espanhola.
md/av (EFE, AFP)
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Short teaser | Ex-chefe da federação de futebol condenado a pagar 11 mil euros por beijar atleta anuncia que recorrerá da sentença. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ex-cartola-espanhol-condenado-por-beijo-forçado-em-jogadora/a-71689720?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney | ||
Image source | Noe Llamas/Sport Press Photo/ZUMA Press/picture alliance | ||
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Item 45 | |||
Id | 64814042 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
Short title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
Teaser |
UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção.
Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março.
Lei antioligarca
De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda.
Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias.
Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado.
Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos
A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares.
Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas.
Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares.
Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo
A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país.
Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros.
A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões.
Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares.
Não existem mais oligarcas ucranianos?
Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política.
Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los".
De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE.
Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra.
"Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos.
Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.
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Short teaser | UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas. | ||
Author | Eugen Theise | ||
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Image caption | O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia | ||
Image source | Daniel Naupold/dpa/picture alliance | ||
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Item 46 | |||
Id | 64820664 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
Short title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
Teaser |
De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02).
A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes.
Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros.
O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro.
Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado.
Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos.
De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas.
Turquia começa reconstrução
As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção.
Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep.
Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente.
Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad.
Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados.
Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares.
Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores.
Istambul precisa de 40 bilhões de dólares
Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto.
"A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico.
De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia.
Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil.
le (EFE, DPA, Reuters, ots)
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Short teaser | De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/mortos-em-terremoto-na-turquia-e-na-síria-passam-de-50-mil/a-64820664?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil | ||
Image source | Selahattin Sonmez/DVM/abaca/picture alliance | ||
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Item 47 | |||
Id | 64819106 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
Short title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
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Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou.
"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE.
O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado.
Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética.
Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia.
Acordo após mais de 24 horas de reuniões
As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões.
"Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter.
O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca.
Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen.
O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE.
Sanções contra firmas iranianas
Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia.
As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas.
Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco.
O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia.
No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional.
md (EFE, Reuters, AFP)
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Short teaser | Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ue-impõe-10°-pacote-de-sanções-contra-a-rússia/a-64819106?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen, | ||
Image source | Zhang Cheng/XinHua/dpa/picture alliance | ||
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Item 48 | |||
Id | 64816115 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
Short title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
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Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia.
Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou.
Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor."
Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz.
"No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter.
Estreitar laços
O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra.
Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou.
Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo".
O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra".
Proposta da China
Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países.
"Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou.
Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev.
cn/bl (Reuters, AFP, Efe)
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Short teaser | Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/zelenski-quer-américa-latina-envolvida-em-processo-de-paz/a-64816115?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia | ||
Image source | President of Ukraine/apaimages/IMAGO | ||
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Item 49 | |||
Id | 64811757 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Short title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Teaser |
Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado. Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos. Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares. Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia. Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%. No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente. Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim. "A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico. A proposta da China para a guerra na UcrâniaAté a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta. Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito. No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada. "A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW. Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia. O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais. "Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia. "No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou. Mediador duvidosoAlém disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou. Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin. "É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner. Campanha de relações públicas sem riscosA proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática. "O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura. "Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou. "Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner. Outros pontos da propostaO texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais. A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta. "O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang. |
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Short teaser | Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia. | ||
Author | Alena Zhabina | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 50 | |||
Id | 64811407 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin | ||
Short title | Zelenski, o presidente subestimado por Putin | ||
Teaser |
Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente. As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo. Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!". "Preciso de munição, não de carona"Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido. A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos. A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo. Câmeras, as armas mais poderosas de ZelenskiEm seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana. No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos". No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo. Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas. Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação. Putin não levou Zelenski a sérioMuitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin. A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia. Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado. Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente. Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas. A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir. Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos. Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar. Nem tudo é fácilIsso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos. Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana. O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia. Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana. |
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Short teaser | Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores. | ||
Author | Roman Goncharenko | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 51 | |||
Id | 64810396 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Short title | Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Teaser |
Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online.
Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa.
"Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema."
A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha".
Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída.
Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência
Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real.
Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala.
"Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW.
Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos.
Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento.
Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real.
"Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman.
Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional
De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização.
"É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman.
Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse.
"Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman.
Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos.
O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum".
"Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças.
Fadiga por compaixão em relação a refugiados
Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia.
"Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW.
Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo.
É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África.
"Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa.
A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida
A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo.
"Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW.
Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis.
"Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW.
Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida.
Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.
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Short teaser | Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. | ||
Author | Fred Schwaller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
https://static.dw.com/image/64260087_354.jpg![]() |
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Image caption | Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia | ||
Image source | Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/64260087_354.jpg&title=Ap%C3%B3s%20um%20ano%20de%20guerra%20na%20Ucr%C3%A2nia%3A%20Por%20que%20sofremos%20fadiga%20por%20compaix%C3%A3o%3F |
Item 52 | |||
Id | 64809638 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok | ||
Short title | Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok | ||
Teaser |
Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos.
Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março.
Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados.
Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos.
Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas."
Pressão por interdição total do TikTok nos EUA
Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos.
O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas".
"Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro.
Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China.
TikTok nega ingerência de Pequim
Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos.
Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados.
Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados.
av/bl (AFP, Reuters, ots)
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Short teaser | Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/comissão-europeia-proíbe-funcionários-de-utilizarem-tiktok/a-64809638?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image source | Jakub Porzycki/NurPhoto/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/64591922_354.jpg&title=Comiss%C3%A3o%20Europeia%20pro%C3%ADbe%20funcion%C3%A1rios%20de%20utilizarem%20TikTok |