DW

Item 1
Id 73056622
Date 2025-06-26
Title Alemanha corta apoio financeiro a resgates de migrantes no Mediterrâneo
Short title Alemanha corta apoio financeiro a resgates no Mediterrâneo
Teaser

ONG humanitária Sea-Eye, da Alemanha, lamentou decisão do governo em Berlim de cortar financiamento aos resgates

Governo conservador diz que redirecionará recursos para os países de origem dos migrantes, "onde a necessidade é maior". ONGs que promovem resgates dizem ter salvado 175 mil vidas em dez anos.A Alemanha decidiu cortar o apoio financeiro a instituições de caridade que promovem resgate de migrantes em risco de afogamento no Mar Mediterrâneo, afirmando que redirecionará os recursos para lidar com as condições nos países de origem que incentivam as pessoas a migrarem. Há anos, os migrantes, impulsionados pelas guerras e pela pobreza, se arriscam nas perigosas travessias do Mediterrâneo para chegar aos países do sul da Europa na tentativa de alcançar um continente cada vez mais hostil à migração. Todos os anos, milhares de mortes ocorrem nessas jornadas, com o ano de 2024 tendo sido o mais letal para os migrantes em todo o mundo. "A Alemanha está comprometida em ser humana e ajudará aonde as pessoas sofrem, mas não acho que seja função do Ministério do Exterior financiar esse tipo de resgate marítimo", disse o Ministro alemão do Exteriores, Johann Wadephul, nesta quinta-feira (27/06). "Precisamos ser ativos onde a necessidade é maior", acrescentou, mencionando como exemplo a atual emergência humanitária no Sudão, país devastado pela guerra. No governo anterior liderado pelos social-democratas, a Alemanha começou a pagar cerca de 2 milhões de euros (R$ 12,8 milhões) anualmente a organizações não governamentais que realizam resgates de barcos carregados de migrantes em dificuldades no mar. Essa tem sido uma fonte fundamental de recursos para entidades como a Sea-Eye, da Alemanha, que afirmou que instituições humanitárias que realizam os resgates salvaram 175.000 vidas desde 2015, recebendo em torno de 10% de sua receita total de cerca de 3,2 milhões de euros do governo alemão. "O apoio [do governo] possibilitou missões extras e salvou vidas de forma muito concreta", disse Gorden Isler, presidente da Sea-Eye. "Agora, é possível que tenhamos que permanecer no porto, apesar das emergências." Potencial para agravar crise humanitária O partido conservadores União Democrata Cristã (CDU) do chanceler federal, Friedrich Merz, venceu as eleições nacionais de fevereiro após uma campanha prometendo conter a migração irregular, que parte dos eleitores da maior economia da Europa consideram estar fora de controle. Embora os números gerais estejam caindo há vários anos, muitos alemães culpam os temores relacionados à migração pela ascensão do partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que se tornou a segunda maior força no Bundestag (Parlamento). Muitos especialistas avaliam que os níveis de migração são impulsionados principalmente por emergências econômicas e humanitárias nos países de origem, com a indiferença oficial nos países de destino tendo pouco impacto para dissuadir os migrantes. Mesmo assim, autoridades alemãs sugerem que os resgates marítimos apenas incentivam as pessoas a se arriscarem nas travessias. O Partido Verde, da oposição, que controlava o Ministério do Exterior quando os subsídios foram introduzidos, criticou a medida. "Isso agravará a crise humanitária e aprofundará o sofrimento humano", disse a líder da bancada dos Verdes no Bundestag, Britta Hasselmann. rc (Reuters, AFP)


Short teaser Governo conservador diz que redirecionará recursos para os países de origem dos migrantes, "onde a necessidade é maior".
Item URL https://www.dw.com/pt-br/alemanha-corta-apoio-financeiro-a-resgates-de-migrantes-no-mediterrâneo/a-73056622?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption ONG humanitária Sea-Eye, da Alemanha, lamentou decisão do governo em Berlim de cortar financiamento aos resgates
Image source Alberto Lo Bianco/La Presse/AP/picture alliance
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Item 2
Id 73056596
Date 2025-06-26
Title STF determina que redes podem ser responsabilizadas por conteúdos de terceiros
Short title STF: redes são responsáveis por conteúdos de terceiros
Teaser Supremo julga inconstitucional exigência de ordem judicial para remoção de conteúdos ofensivos. Redes devem agir proativamente em casos de discurso de ódio, racismo, pedofilia, incitação à violência ou golpe de Estado.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira (06/26) que as redes sociais poderão ser responsabilizadas por postagens irregulares de terceiros, ou seja, dos usuários das plataformas.

Por 8 votos a 3, os juízes decidiram que o artigo 19 do Marco Civil da Internet, que diz respeito à responsabilidade das redes sociais, é parcialmente inconstitucional.

O artigo em questão exige uma ordem judicial específica para responsabilização civil das redes por postagens ofensivas. Os magistrados, porém, entenderam que esse procedimento oferecia proteção insuficiente aos direitos fundamentais das vítimas, como a honra e a dignidade. A partir de agora, o Marco Civil da Internet deverá passar por ajustes até que o Congresso aprove uma nova legislação sobre o tema.

Até que isso aconteça, as plataformas podem ser responsabilizadas civilmente nos termos do artigo 21 do Marco Civil por danos gerados por conteúdo de terceiros, inclusive quando se tratar de contas inautênticas.

Apesar de o STF já ter garantido anteriormente a maioria para ampliar a responsabilização das plataformas, ainda era necessário um acordo em torno do texto final do julgamento em razão de divergências entre alguns dos juízes sobre a amplitude, o momento e os casos em que as empresas devem ser responsabilizadas.

Plataformas devem agir proativamente

Após a decisão desta quinta-feira, as redes deverão acatar notificações extrajudiciais feitas pelas vítimas ou seus advogados para remover um conteúdo irregular. Se após ser notificada a plataforma não agir e, mais tarde, a Justiça considerar que o conteúdo era irregular, a rede estará sujeita a responsabilização civil.

A decisão estabelece que as redes devem agir de forma proativa e imediata para remover conteúdos, mesmo sem notificação prévia, em casos de discurso de ódio, racismo, pedofilia, incitação à violência ou a um golpe de Estado. Em casos de omissão, as plataformas poderão estar sujeitas à responsabilização civil direta. Essa punição, no entanto, não se aplica à legislação eleitoral, regida por regras próprias e normas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A decisão do STF, além de transformar a lógica de funcionamento das redes sociais no Brasil, deve levar as empresas de tecnologia a adotar protocolos mais rigorosos de moderação de conteúdo e criar meios eficazes de recebimento de denúncias e notificações extrajudiciais.

rc (ots)

Short teaser Supremo julga inconstitucional exigência de ordem judicial para remoção de conteúdos ofensivos nas redes sociais.
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Item 3
Id 73055034
Date 2025-06-26
Title Economia dos EUA se contrai no 1º trimestre após tarifas de Trump
Short title Economia dos EUA encolhe após tarifas de Trump
Teaser PIB do país encolhe 0,5% no primeiros três meses do ano, após empresas e consumidores acumularem estoques de produtos importados antes das tarifas de Donald Trump entrarem em vigor.

A economia americana sofreu uma contração maior do que a prevista anteriormente nos primeiros três meses deste ano, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (26/06) pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos.

O Produto Interno Bruto (PIB) real americano caiu 0,5% no primeiro trimestre do ano, em comparação com uma previsão anterior do Departamento de Comércio de queda de 0,2%.

A queda de janeiro a março no PIB reverteu um aumento de 2,4% nos último trimestre de 2024 e marcou a primeira vez em três anos que a economia se contraiu. As importações aumentaram 37,9%, o maior crescimento desde 2020, e pressionaram o PIB em quase 4,7 pontos percentuais.

Os gastos do consumidor também desaceleraram acentuadamente, expandindo apenas 0,5%, abaixo dos robustos 4% do quarto trimestre do ano passado.

O mau desempenho veio na esteira de um aumento nas importações desencadeado pelo anúncio das tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que levou empresas e consumidores a estocarem produtos importados, principalmente da China, antes das novas taxas entrarem em vigor.

Tarifas de Trump valerão a partir de julho

O ritmo das importações provavelmente não se repetirá no segundo trimestre e, portanto, não deverá pesar sobre o PIB, já que o crescimento entre maio e junho deve retornar a 3%, segundo algumas previsões.

Trump acabou adiando ou recuando em algumas das tarifas mais altas devido às negociações com os parceiros comercias, ainda em andamento. Contudo, a aproximação do prazo final de julho para a entrada em vigor das tarifas mais altas aumenta as incertezas econômicas no país.

As tarifas de Trump levaram a China e a União Europeia (UE) a uma corrida para encontrar novos parceiros comerciais, com os Estados-membros da UE se aproximado de países das regiões do Indo-Pacífico e do Sul Global.

No mês passado, Trump suspendeu as tarifas de 50% sobre produtos da UE até 9 de julho.

Americanos mais pessimistas com a economia

Na cúpula Otan realizada nesta quarta-feira, o presidente da França, Emmanuel Macron, chamou "aberração" a guerra comercial impulsionada por Trump e pediu a redução das tarifas após os membros da aliança militar do Atlântico Norte firmarem o compromisso de dedicar 5% de seus PIBs aos gastos com defesa.

O think tank Conference Board relatou esta semana que a perspectiva dos americanos sobre a economia piorou em junho, retomando uma queda que havia levado a confiança do consumidor em abril para seu nível mais baixo desde a pandemia de covid-19, há cinco anos.

O Conference Board informou nesta terça-feira que seu índice de confiança do consumidor caiu para 93 em junho, uma queda de 5,4 pontos em relação aos 98,4 do mês passado.

rc (Reuters, AFP, AP)

Short teaser PIB do país encolhe 0,5% no primeiro trimestre, após empresas e consumidores acumularem estoques de importados.
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Item 4
Id 73005615
Date 2025-06-26
Title Insetos invasores ameaçam ecossistemas da Europa
Short title Insetos invasores ameaçam ecossistemas da Europa
Teaser

Campanhas de erradicação de espécies invasoras como a vespa asiática podem custar milhões de euros

Espécies como o mosquito-tigre e a vespa asiática se tornam cada vez mais comuns em todo o continente, com consequências devastadoras para a saúde humana, a agricultura e o meio ambiente.À medida que os invernos se tornam mais amenos devido às mudanças climáticas, insetos normalmente encontrados apenas nos trópicos começam a se sentir mais à vontade em toda a Europa. A velocidade das viagens e do comércio global está facilitando mais do que nunca o trânsito deles, em madeira importada, vasos de plantas ou simplesmente como clandestinos. Mas esses recém-chegados exóticos estão longe de ser bem-vindos. Especialistas da Agência Europeia do Meio Ambiente (AEA) afirmam que espécies exóticas invasoras, incluindo insetos, formam uma "grande ameaça às plantas e animais nativos da Europa e são uma das cinco principais causas da perda de biodiversidade". Embora pequenas, essas pragas competem por recursos com as espécies nativas e desestabilizam ecossistemas frágeis que já lidam com poluição, superexploração e os efeitos de um planeta em aquecimento. Elas também representam um problema sério para os humanos, ao disseminar doenças e destruir plantações, gerando prejuízos à União Europeia (UE) de cerca de 12 bilhões de euros (R$ 76 bilhões) por ano em de recuperação e erradicação. Abaixo, apenas alguns dos insetos invasores que ameaçam atualmente a Europa. Mosquito-tigre-asiático (Aedes albopictus) O mosquito-tigre, assim chamado por suas listras brancas características, é nativo das florestas tropicais e subtropicais do Sudeste Asiático. Ele foi avistado pela primeira vez na Albânia em 1979, chegou à Itália e à França na década de 1990. Agora está bem estabelecido nos Bálcãs, sul da Ucrânia, sudoeste da Rússia e em grande parte da região do Mediterrâneo. Devido a seus ovos resistentes e à tolerância adquirida a climas mais frios, ele também foi avistado nos últimos anos na Bélgica, Alemanha e até na Suécia. O mosquito-tigre-asiático prospera em ambientes urbanos, reproduzindo-se em água parada em locais como vasos de flores ou sarjetas. Essa adaptabilidade – aliada à tendência de ser ativo durante o dia – tornou os humanos um alvo fácil para o inseto que pode se alimentar de sangue várias vezes ao dia. Além de causar coceira, suas picadas podem transmitir doenças contagiosas, como dengue, chikungunya e o vírus Zika. Vespa asiática (Vespa velutina nigrithorax) Originária do leste da Ásia, a vespa asiática chegou à França em 2004, e desde então se espalhou para mais de uma dúzia de países europeus, incluindo Espanha, Portugal, Bélgica, Itália, Alemanha e Reino Unido. Também conhecida como vespa-de-patas-amarelas, é ligeiramente menor que a variedade nativa europeia, tem uma coloração geral mais escura e é ativa durante o dia. Não deve ser confundida com a vespa-asiática-gigante, também conhecida como "vespa assassina" por sua picada perigosa. Embora a picada da vespa asiática possa ser bastante dolorosa para os humanos, o risco maior é para a segurança alimentar e a biodiversidade, de acordo com a organização ambiental agrícola sem fins lucrativos CABI. A espécie se alimenta de centenas de polinizadores cruciais, como zangões, borboletas e moscas. Mas seu principal alvo é a abelha europeia, que poliniza mais de 80% das plantações e plantas selvagens da Europa. Um estudo publicado na revista Science of the Total Environment em março de 2025 revelou que a vespa asiática pode matar até 50 abelhas por dia. Ela é uma das 88 espécies na lista da UE de "espécies exóticas invasoras preocupantes", cuja disseminação os Estados-membros devem impedir, e erradicar sempre que possível. Formigas das Américas (Solenopsis geminata, Solenopsis invicta, Solenopsis richteri, Wasmannia auropunctata) Também na lista dos mais procurados da UE estão quatro espécies de formigas estrangeiras: a formiga-de-fogo-tropical, a formiga-de-fogo-vermelha, a formiga-de-fogo-preta e a formiga-de-fogo-pequena. Essas minúsculas invasoras foram introduzidas acidentalmente da América Central e do Sul, com a formiga-de-fogo-tropical aparecendo pela primeira vez na Europa já na década de 1860. Dotada de picada dolorosa, que pode causar uma reação alérgica em humanos, essas espécies desalojam rapidamente outras populações de formigas nativas, perturbando ecossistemas e agricultura com hábitos alimentares agressivos. Um estudo de 2023 do Instituto de Biologia Evolutiva de Barcelona revelou que 7% do continente europeu seria um habitat adequado para a formiga, sendo provável que essa proporção aumente devido às mudanças climáticas. Metade das cidades da Europa já estavam vulneráveis à invasão. Isso é uma má notícia também porque os insetos podem danificar equipamentos elétricos ao roer a fiação e causar curtos-circuitos. Percevejo-marmorado-marrom (Halyomorpha halys) Extremamente invasivo e proveniente da Ásia, o percevejo-marmorado-marrom está atualmente disseminada na França, Itália e Suíça, mas também presente na maior parte do continente. Ele é especialmente atraído por frutas, nozes e videiras, mas também se alimenta de verduras e de grãos cultivados como a soja. Na Itália, causou danos de cerca de 588 milhões de euros às plantações de frutas, somente em 2019. Os agricultores tradicionalmente o ataca com inseticidas, mas pesquisadores também estão consideram um método mais ecológico: confrontar o percevejo asiático contra seu inimigo natural. A vespa-samurai (Trissolcus japonicus), outra introdução acidental da Ásia, é um parasita que deposita seus ovos dentro daqueles do percevejo-marmorado. As larvas se alimentam dos "ovos hóspedes", matando-os. Alguns pesquisadores alertaram que depender de outro inseto alienígena para lidar com o problema pode acabar causando novas perturbações ecológicas. Contudo, um estudo de 2023 liderado pelo CABI concluiu que a vespa tem aparentemente pouco impacto sobre a maioria das populações de insetos nativos. Besouro-asiático-de-chifres-longos (Anoplophora glabripennis) Listado entre as 100 piores espécies exóticas invasoras pela União Internacional para a Conservação da Natureza, o besouro-asiático-de-chifres-longos representa uma grande ameaça para árvores e arbustos caducifólios. Os adultos se alimentam de folhas, caules e galhos, enquanto as larvas se enterram no tronco, matando o vegetal ao longo de alguns anos. As árvores urbanas, que ajudam a refrescar as cidades, são especialmente vulneráveis devido à sua proximidade com os portos. No leste dos Estados Unidos, onde o inseto chegou na década de 1990, até 35% das árvores das cidades estão ameaçadas. Os besouros-asiáticos-de-chifres-longos insetos costumam ser introduzidos em embalagens de madeira, tendo sido encontrados na França, Alemanha, Itália, Suíça e Polônia. No entanto suas populações ainda não estão amplamente estabelecidas e algumas campanhas de erradicação tiveram sucesso. Aprender a conviver com espécies invasoras "Insetos exóticos invasores muitas vezes parecem mais difíceis de controlar do que plantas invasoras ou animais maiores. Eles são pequenos, móveis, reproduzem-se rapidamente, têm ciclos de vida curtos e muitas vezes passam despercebidos até que o estrago esteja feito", analisa a AEA. Embora seja quase impossível erradicar completamente uma espécie invasora de inseto, os danos podem ser mitigados. As vespas asiáticas foram contidas em algumas áreas com a utilização de armadilhas especiais e a remoção de seus ninhos. Na Itália, pesquisadores recentemente usaram drones e inteligência artificial para detectar e monitorar percevejos. Outros métodos envolvem deter o inseto na fonte, por exemplo, tratando embalagens de madeira com calor antes do transporte, para matar o besouro-asiático-de-chifres-longos. Em alguns casos, basta eliminar qualquer água parada na varanda ou quintal para impedir a propagação dos mosquitos. Contudo especialistas enfatizaram que os insetos não são necessariamente piores do que outras plantas e animais invasores, observando que "cada grupo – e cada caso de invasão – apresenta suas próprias complexidades biológicas e ecológicas".


Short teaser Espécies cada vez mais comuns podem trazer consequências devastadoras para saúde humana, agricultura e meio ambiente.
Author Martin Kuebler
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Image caption Campanhas de erradicação de espécies invasoras como a vespa asiática podem custar milhões de euros
Image source Axel Heimken/dpa/picture alliance
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Item 5
Id 73038942
Date 2025-06-26
Title Nazismo deixa de ser tabu para juventude alemã?
Short title Nazismo deixa de ser tabu para juventude alemã?
Teaser Suásticas pichadas, palavras de ordem nazistas, Hitler: nas ruas de Dessau, no Leste alemão, há sinais do racismo e xenofobia que já resultaram em mortes – e o prefeito é da AfD. Mas a esperança de mudança resiste.

Extremismo de direita e racismo têm se alastrado fortemente na cidade de Dessau, no estado de Saxônia-Anhalt, no Leste da Alemanha. "Nos últimos cinco a dez anos, tivemos mais casos de aconselhamento do que nunca nas escolas", relata Steffen Andresch, integrante do Projekt GegenPart, uma equipe móvel encarregada da temática.

Especialistas observam essa tendência em diversas cidades e regiões do país, sobretudo nas do Leste, antes pertencentes à República Democrática Alemã (RDA, 1949-1990), de regime comunista.

Numa entrevista em maio de 2025, o diretor do Departamento Federal de Investigações (BKA), Holger Münch, advertia: "Há cerca de um ano vemos como cada vez mais gente muito jovem, de mentalidade de ultradireita, se radicaliza ainda mais e se reúne em estruturas parcialmente bem organizadas para cometer delitos graves."

Em Dessau, essa radicalização é visível também nas ruas: por todo canto veem-se pichações de cruzes suásticas, caricaturas de Adolf Hitler, palavras de ordem nazistas. "Em certas regiões rurais do Leste alemão, 'nazista' se tornou simplesmente pop", comenta Lukas Jocher, que também trabalha para o GegenPart. "E é cool escrever nas paredes do estacionamento essa canção Heil Hitler, do rapper americano Kanye West."

Alemanha comunista, reunificação – e depois

Vários jovens com que a DW falou na cidadezinha alemã confirmaram: ser de ultradireita é, de algum modo, cool. Entre eles, está Jeremy (nome modificado), de 17 anos, alto e bem-educado, de roupas esportivas, acompanhado por duas meninas. À primeira vista, todos parecem adolescentes alemães medianos, perfeitamente normais.

Como é o extremismo de direita na escola que frequentam? "Hitler é adorado, e como!", dizem, rindo. A saudação nazista faz parte do dia a dia escolar; nas festas cantam "Ausländer raus!" (Fora com os estrangeiros): "A gente simplesmente canta junto, não importa que música esteja tocando", ri Jeremy.

A explicação de como se chegou a esse ponto de radicalização juvenil, vai longe. Com 75 mil habitantes, Dessau – ou, mais corretamente, Dessau-Rosslau, seu nome oficial desde a fusão com o município vizinho – é o que se chama na Alemanha um oberzentrum (supercentro): uma cidade que, com seu comércio, hospitais e museus abastece toda uma região.

A reunificação da RDA com a República Federal da Alemanha (RFA), em 1990, trouxe liberdades consideráveis aos moradores do Leste, mas também o colapso econômico, resultando em desemprego e êxodo em massa da população jovem, de boa formação – tendência que se mantém.

Contudo o Estado não ficou passivo, mas investiu enormes somas na região. Somente em Dessau, numa tradicional área de mineração de carvão, injetaram-se, desde a reunificação, 1 bilhão de euros para sustentar e ampliar a economia, infraestrutura e instituições culturais.

Hoje, ela é um orgulho da Saxônia-Anhalt, inclusive declarada Patrimônio Cultural Mundial da Unesco por seu o berço do Bauhaus, o inovador movimento que definiu arquitetura e design no século 20. Quase mil estudantes de todo o mundo procuram a universidade local como centro de saber e cultura.

"Tradição" letal de xenofobia

Mas, apesar de todos esses investimentos, pontos altos históricos, intercâmbios e encontros culturais, nas últimas décadas Dessau tem ocupado as manchetes sobretudo devido ao ódio e violência.

No ano 2000, três jovens neonazistas do bairro Rosslau assassinaram o moçambicano Alberto Adriano, de 39 anos. Sem qualquer motivo, só pelo fato de ele ser negro, o espancaram até a morte. Em seguida ao crime, o então chefe de governo alemão, Gerhard Schröder, conclamou a população a demonstrar coragem civil contra o extremismo de direita.

Cinco anos mais tarde, o solicitante de asilo Oury Jalloh, da Guiné, igualmente negro, morreu numa cela da delegacia de Dessau – queimado vivo, atado a um colchão. Vários indícios apontaram para ação criminosa, mas o caso não foi nunca esclarecido.

Em maio de 2016, a chinesa Li Yangjie, prestes a concluir o mestrado na conceituada Escola Superior de Arquitetura da cidade, foi violentada e assassinada. Após uma hora de luta desesperada, seu assassino simplesmente a atirou pela janela, totalmente desfigurada.

Dois anos mais tarde, o filho de policial Sebastian F. foi condenado a prisão perpétua pelo assassinato. Em seguida ao crime, a embaixada chinesa em Berlim expediu uma advertência relativa a viagens para Dessau: "Lá os moradores são tradicionalmente hostis em relação a estrangeiros."

Racismo, violência, extremismo: este é o sound de Dessau – e de diversas outras cidades do Leste alemão.

Um ex-neonazista como prefeito

Em julho de 2024, Laurens Nothdurft, da segunda sigla mais forte do país, a radical Alternativa para a Alemanha (AfD), foi eleito prefeito de Dessau-Rosslau, também com votos de outros partidos. Em sua função oficial, preside jubileus e se encontra com classes escolares nos dias comemorativos. Ele se sente conectado aos jovens.

Em 8 de maio de 2025, quando se celebraram os 80 anos desde a libertação da Alemanha da ditadura nacional-socialista, o ultradireitista fez um discurso para os colegiais. "O cerne do meu pronunciamento foi: dirigir o olhar para a frente", relatou, atendendo a uma consulta da DW. "Muito especificamente, em direção a um futuro positivo." Aos crimes de guerra nazistas, ao genocídio dos judeus europeus, Nothdurft não dedicou uma palavra.

A rigor, ele não poderia ser membro da AfD. No fim dos anos 1990, foi um dos líderes da associação Juventude Alemã Fiel à Pátria (HDJ) – proibida em 2009 devido a seu parentesco com o nazismo e a Juventude Hitlerista –, e oficialmente a AfD não aceita membros com passado neonazista. Interpelados, tanto o partido quanto Nothdurft recusaram-se a se manifestar sobre o assunto.

A própria AfD é classificada pelas autoridades de segurança da Saxônia-Anhalt como "seguramente extremista de direita". Isso não impede sua ascensão política no estado: nas eleições gerais de 2025, obteve 37% dos votos da região, e no pleito estadual de 2026 pretende assumir o governo, sozinha.

"O extremismo se aproxima cada vez mais do centro e se torna socialmente aceitável", resume Marcus Geiger, da associação Buntes Rosslau. Os ataques contra ele e a esposa, Mandy Mück, fazem parte do dia a dia.

"Já nos xingaram de 'carrapatos vermelhos' em plena rua. Também jogaram uma garrafa de cerveja pela nossa janela, ou pregos por cima do portão de entrada", relata a igualmente ativista Mück. Quanto aos vizinhos: "Ninguém ouve nada, vê nada, e ninguém acorre." O casal tem a impressão de que os agressores são agora mais jovens.

Extremismo atinge mais jovens – mas há esperança

Entretanto em Dessau há muitos cidadãos e cidadãs engajados, que procuram se opor ao ódio: o Projekt GegenPart, a Buntes Rosslau, os escoteiros cristãos, docentes, pessoas privadas, a universidade, escolas, mesmo políticos mais conservadores. E, acima de tudo, também os jovens.

A DW se encontra com sete deles no Alternatives Zentrum (AZ). "Em certos dias você tem sempre medo, em Dessau", confessa Sophie. "Em certos feriados, quando se bebe muito." E Max conta: "Eu só corro pela área em que moro." Paul Nolte se engaja também no Conselho Municipal pelos interesses dos jovens alternativos: "Muitos de nós passamos por essas experiências, eu e meu amigo Timm fomos ameaçados a faca."

Eles confirmam que a ideologia de extrema direita está cada vez mais propagada entre os jovens: "Outro dia eu passei diante da minha antiga escola primária", recorda Sophie. "Aí eu ouço as crianças dizendo que devia haver uma classe só para alemães de sangue puro."

A situação da cidade os preocupa, assim como a da Alemanha, mas, ainda assim "também há um cenário positivo": "Aqui em Dessau, cada pessoa conta. Dá para fazer e conseguir alguma coisa." Os clubes e associações se conectaram em rede para defender-se em conjunto das agressões da ultradireita. Apesar de todas as hostilidades e desafios, nenhum dos sete jovens pretende se mudar: Dessau é a sua cidade.

Short teaser Suásticas, ditos nazistas nas ruas de Dessau, onde racismo e xenofobia já resultaram em mortes. Mas a esperança resiste.
Author Hans Pfeifer
Item URL https://www.dw.com/pt-br/nazismo-deixa-de-ser-tabu-para-juventude-alemã/a-73038942?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 6
Id 72987024
Date 2025-06-25
Title Acordo nuclear Brasil-Alemanha estaria perto do fim?
Short title Acordo nuclear Brasil-Alemanha estaria perto do fim?
Teaser Apesar de fracasso no cumprimento de metas, tratado assinado há 50 anos é renovado constantemente. Parlamentares alemães veem momento propício para fim da parceria.

Um acordo entre Brasil e Alemanha que quase mais ninguém conhece no país europeu completa 50 anos em junho de 2025. Ele desafiou o movimento antinuclear alemão, além de sobreviver aos acidentes de Tchernobil, em 1986, e Fukushima, em 2011, e a transição energética da Alemanha, com o fechamento das últimas usinas nucleares do país em 2023.

Assinado em 27 de junho de 1975, o acordo nuclear entre Brasil e Alemanha previa a transferência de tecnologia alemã para o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, com a construção de oito usinas no Brasil. No entanto, 50 anos depois, das oito usinas, só uma saiu do papel – Angra 2, no estado do Rio de Janeiro, em operação desde 2001. Outra, Angra 3, também no Rio, segue em construção desde 1986, tendo consumido mais de R$ 20 bilhões.

O acordo foi assinado durante os governos do general Ernesto Geisel (1974-1979) e do chanceler federal alemão Helmut Schmidt (1974-1982), que comandava a coalizão formada Partido Social Democrata (SPD) e o Partido Liberal Democrático (FDP) na antiga Alemanha Ocidental.

"Em 1975, o tratado foi celebrado como o maior acordo tecnológico do século. O entusiasmo era enorme dos dois lados", lembra o sociólogo Luiz Ramalho, presidente do Fórum da América Latina, em Berlim. Crítico do acordo desde sua assinatura. há anos ele defende o cancelamento do pacto, que é renovado a cada cindo anos.

No final de 2024, Ramalho achava que o acordo estava condenado. Afinal a Alemanha era governada por uma "coalizão progressista", formada por SPD, FDP e pelo Partido Verde – a legenda que, em anos anteriores, apresentou moções no Bundestag (câmara alta do parlamento alemão) para encerrá-lo. Na época, os verdes comandavam os ministérios do Exterior, da Economia e do Meio Ambiente.

Segundo Ramalho, chegou a haver conversas nos ministérios e a rescisão do acordo foi avaliada. "Então veio o colapso do governo alemão no início de novembro."

Várias tentativas fracassadas

Em 2004, pela primeira vez, o Partido Verde, cujos protestos antinucleares fazem parte do seu mito fundador e do seu DNA, tentou cancelar o acordo. Na época, ele também integrava a coalizão de governo ao lado dos social-democratas e comandava o Ministério do Meio Ambiente.

O então chefe da pasta, Jürgen Trittin, tentou, sem sucesso, transformar o pacto numa parceria para o desenvolvimento de energias renováveis. Trittin contou em 2014 que os ministérios do Meio Ambiente dos dois países estavam negociando o fim da parceria, mas a então ministra brasileira de Minas e Energia, Dilma Rousseff, pediu a renovação.

Mais dez anos adiante, o Partido Verde apresentou uma moção no Bundestag para anular o acordo. Ela foi derrubada pela então coalizão do governo, formada pela União Democrata Cristã (CDU) e pelo SPD.

Para o deputado verde Harald Ebner, o resultado da cooperação entre os países é decepcionante: "Seis das oito usinas previstas nem chegaram a sair do papel. E as outras duas também não foram um sucesso. Há 40 anos, Angra 3 é um canteiro de obras inacabado, e Angra 2 foi finalizada em 2000, após 24 anos em construção, como a usina nuclear mais cara do mundo na época."

Ebner ressalta ainda que Angra 2 foi construída numa região vulnerável a terremotos, deslizamentos de terra e inundações, enquanto em sua área cada mais se acumulam resíduos nucleares altamente perigosos. "O Brasil e a Alemanha estavam equivocados sobre o acordo que fracassou em grande parte", conclui.

Ressurgimento da energia nuclear

Para Ebner, a energia nuclear pertence ao passado. Mas nem todos partilham essa visão: pelo contrário, a ela vive atualmente um renascimento. Um estudo da Agência Internacional de Energia (IEA) aponta que 40 países buscam expandir esse tipo de geração para atender à crescente demanda de eletricidade.

No Brasil, apenas 3% da eletricidade é de origem nuclear. Antigo crítico dessa fonte energética, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou grande interesse na experiência da Rússia com pequenas usinas nucleares durante uma reunião com seu homólogo russo, Vladimir Putin, em Moscou há algumas semanas.

E até na Alemanha, onde esse debate parecia ter sido encerrado, ele voltou a ganhar fôlego. Em 2011, logo após o acidente com um reator em Fukushima, no Japão, a então chanceler federal alemã, Angela Merkel, promoveu o desligamento de todas as usinas nucleares no país. Durante a última campanha eleitoral no início deste ano, vários políticos, porém, defenderam reativar essas usinas.

A atual ministra da Economia alemã, a democrata-cristã Katherina Reiche, também parece estar aberta ao uso da energia nuclear. Recentemente, ela se reuniu com colegas na Aliança Nuclear Europeia, uma associação de países como França, Suécia e Polônia a favor da promoção desta fonte energética.

O deputado Thomas Silberhorn, também da CDU, considera o acordo entre Brasil e Alemanha um marco das relações bilaterais e um exemplo de parceria tecnológica. "Hoje, a cooperação está focada em hidrogênio e energias renováveis, mas a abertura tecnológica e a independência da política energética continuam sendo relevantes para o Brasil, e também voltaram a ganhar importância na Alemanha e na Europa."

Nas mãos dos social-democratas

O futuro do acordo parece depender dos social-democratas na coalizão de governo. Durante muito tempo, os governos alemães e o SPD evitaram o tema por não querer contrariar o Brasil, enquanto parceiro estratégico no Sul Global. Uma rescisão unilateral poderia ser interpretada como um gesto hostil.

Mas para a porta-voz de política energética da bancada do SPD no Bundestag, Nina Scheer, esse seria o momento ideal para o fim do tratado: "O acordo de coalizão prevê uma intensificação da parceria estratégica como Brasil. Devido à importância da transição energética para o potencial de desenvolvimento sustentável e estratégico, isso também envolve a substituição do acordo nuclear Brasil-Alemanha por parcerias na transição para energias renováveis."

Essa seria a posição de Berlim que Miriam Tornieporth espera. Ela trabalha para a organização antinuclear alemã Ausgestrahlt, fundada em 2008 e que há anos faz campanha pelo fim do acordo nuclear entre os dois países. "Essa cooperação já passou da validade e não possui nenhum mecanismo de segurança, por exemplo, que deveria ser incluído na perspectiva atual", afirma.

O controverso acordo se tornou particularmente explosivo devido aos novos acontecimentos geopolíticos, mais especificamente a invasão da Ucrânia pela Rússia, desencadeando uma guerra que já dura mais de três anos. A empresa francesa Frematome produz batões de combustível para usinas nucleares em Lingen, no estado alemão da Baixa Saxônia, em parceria com a estatal russa Rosatom, que, por sua vez, fechou com o Brasil um acordo de fornecimento de urânio.

"Presumimos que o material russo seja processado na usina de enriquecimento de urânio de Gronau, também na Alemanha, assim como em Lingen, e posteriormente enviado ao Brasil. Ao contrário de outras formas de energia, a indústria nuclear russa escapou das sanções", explica Tornieporth. "Como a Alemanha fechou suas usinas nucleares, seria consequente também fechar as usinas de Gronau e Lingen."

Short teaser Apesar de fracasso no cumprimento de metas, tratado assinado há 50 anos é renovado constantemente.
Author Oliver Pieper
Item URL https://www.dw.com/pt-br/acordo-nuclear-brasil-alemanha-estaria-perto-do-fim/a-72987024?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 7
Id 72236964
Date 2025-06-25
Title O fracasso do acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha
Short title O fracasso do acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha
Teaser Assinado há 50 anos, pacto com Alemanha Ocidental previa construção de oito usinas no Brasil. Só uma saiu do papel. Para pesquisadores, falta de planejamento e erros do regime militar levaram ao fracasso do programa.

Em 27 de junho de 1975, a imprensa brasileira foi pega de surpresa. Em Bonn, então capital da Alemanha Ocidental, representantes do governo local e da ditadura militar brasileira anunciavam a assinatura de um ambicioso acordo entre as duas nações. Negociado em segredo, o documento oficializava a transferência de tecnologia alemã para o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, prevendo a construção de oito usinas nucleares nos estados do Rio (Angra 2, 3, 4 e 5) e em São Paulo (Iguapé 1, 2, 3 e 4).

Cinquenta anos depois, o tratado ainda subsiste, mas como um elefante branco. Das oito usinas, só uma saiu do papel – Angra 2, no estado do Rio de Janeiro, em operação desde 2001. Outra, Angra 3, também no Rio, segue em construção desde 1986, tendo consumido mais de R$ 20 bilhões. Dadas as circunstâncias, é natural ligar o fracasso do programa nuclear brasileiro ao acordo com a Alemanha. Mas de quem é a culpa?

Essa pergunta ocupou, durante seis anos, os pesquisadores Dawisson Belém Lopes e João Paulo Nicolini, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A conclusão foi publicada recentemente na revista acadêmica Science and Public Policy, de Oxford, no artigo intitulado Who's to blame for the Brazilian nuclear program never coming of age? (De quem é a culpa pelo programa nuclear brasileiro nunca ter amadurecido?), cuja pesquisa contou com 25 entrevistas com especialistas de todo mundo e a análise de documentos históricos. A princípio, a resposta é simples.

"Foi muito mais da gestão brasileira dos militares que de outros parceiros ou organizações internacionais", diz Nicolini, cuja tese de doutorado, orientada por Lopes, deu origem ao artigo.

"O maior problema foi a falta de interlocução com a comunidade acadêmica, com o empresariado e com a sociedade. Demos um passo maior que a própria perna e a falta de planejamento dos militares acarretou nisso", explica ele à DW.

Ambições

O tratado foi assinado durante a gestão do general Ernesto Geisel (1974-1979), mas Nicolini também atribui os problemas aos governos de Emilio Médici (1969-1974), envolvido na negociação, e de João Figueiredo (1979-1985), também responsável pela implementação.

Da perspectiva do contexto da época, o acordo surgia como ideal para os dois lados, o que levou a imprensa alemã a classificá-lo como o "negócio do século", prevendo que o governo em Bonn receberia cerca de 10 bilhões de dólares com as exportações de produtos nucleares aos brasileiros. Por causa da crise do petróleo de 1973, Brasil e Alemanha Ocidental tinham visto seus respectivos "milagres econômicos” das décadas anteriores caírem por terra.

Os europeus enfrentavam o maior desemprego em 20 anos, que passara de 500 mil em 1974 para mais de um milhão em 1975 – afetando principalmente a indústria. O Brasil, por sua vez, com uma inflação perto de 30% impactada pelo custo do petróleo, buscava a diversificação da matriz energética e, claro, um lugar ao sol junto às potências atômicas mundiais.

Além disso, era uma jogada dos dois países também para fugir da tutela dos Estados Unidos. A Alemanha, pioneira nos estudos sobre fissão atômica nos anos 1930 durante o governo nazista, ficara para trás na corrida nuclear por imposições dos aliados após a Segunda Guerra. Já o Brasil adquirira dos americanos sua primeira usina nuclear, a de Angra 1, em 1973, num modelo conhecido como "turning key", sem transferência de tecnologia nem troca de aprendizado.

Logicamente, os americanos não viram com bons olhos o "drible" de brasileiros e alemães ocidentais e tentaram de todas as formas boicotar a acordo. Não era interessante para os americanos que houvesse outra nação com poderio nuclear no território de influência na América Latina, nem a de que os alemães ocidentais estivessem abocanhando parte do mercado da tecnologia nuclear, aponta Belém Lopes.

"Naquele momento, esse movimento representava uma microrruptura. Esse canal direto entre Brasil e Alemanha Ocidental era uma forma de passar um recado para os Estados Unidos e de diminuir nossa dependência em relação a eles", afirma o professor de política internacional da UFMG.

A Alemanha Ocidental, inclusive, estava no radar brasileiro há pelo menos duas décadas. Em 1953, a compra de ultracentrífugas alemãs pelo Brasil tinha sido embargada por quatro anos pelos Estados Unidos e só chegou aqui quando já estava obsoleta.

Aposta equivocada

Foi no meio dos anos 1975, ressalta Lopes, que o jogo para a busca da tecnologia nuclear estava sendo efetivamente jogado no tabuleiro da geopolítica internacional. Naquele momento, as potências internacionais, lideradas pelos EUA, buscavam limitar o desenvolvimento da tecnologia para outros países. Uma das formas oficiais para isso era o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), cujos termos o Brasil só assinaria em 1998, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso.

"O Brasil também queria conservar para si um programa nuclear que eventualmente possibilitasse o uso dual, ou seja, de bomba atômica", diz o professor da UFMG. Esse objetivo, no entanto, aparece de forma esparsa nos documentos da época, acrescenta Nicolini. Afinal, as dificuldades já tinham começado na construção das usinas.

Primeiramente, a pressão dos Estados Unidos recaiu sobre a tecnologia oferecida. Como a principal fornecedora de equipamentos era a Urenco, empresa de capital dividido entre Inglaterra, Holanda e Alemanha, houve pressão americana sobre o governo holandês para impedir a venda ao Brasil, diz Nicolini. Por causa disso, a Alemanha Ocidental ofereceu outra tecnologia, ainda experimental, chamada jet-nozzle. Não funcionou, e o Brasil acabou gastando mais energia do que produzindo.

No entanto, o argumento por parte dos militares de que a tecnologia seria a principal culpada pelo fracasso do acordo é contestada por outro exemplo – a do programa nuclear da África do Sul, por volta da mesma época e que também contou com parceria alemã. "Os sul-africanos aperfeiçoaram o jet-nozzle e conseguiram enriquecer urânio e transformar em seis ogivas nucleares”, conta o cientista político.

Uma das teses que defendem o acordo afirma que o conhecimento tecnológico aprendido com os alemães foi utilizado para a criação do programa nuclear paralelo brasileiro, mantido em segredo até a transição democrática, em 1985.

"Mas, com a falta de interlocução com a sociedade e com o sistema de inovação brasileiro, aquilo nunca chegou a um nível que pudéssemos usar para a produção em escala industrial – enriquecimento de urânio, produção de reatores", afirma Nicolini. Hoje, um dos frutos do programa paralelo é o submarino de propulsão nuclear, cujo projeto data da década de 1970 e cujo lançamento, em parceria com a França desde 2009, deve ser lançado só em 2040, com custo de cerca de R$ 1 bilhão por ano ao Orçamento.

Quem lucrou com o acordo?

A falta de transparência no Brasil sobre as negociações com a Alemanha também impediu um debate público sobre o tema. Como explica Helen Miranda Nunes, doutora em história pela FGV Rio, o acordo só prosperou por causa do caráter antidemocrático do regime militar. Segundo ela, a própria imprensa da época só divulgou a assinatura na última hora.

"A opção pela tecnologia do jet-nozzle foi muito criticada pelos cientistas nucleares quando veio à tona. Se estivéssemos numa democracia à época, era possível que o acordo não deslanchasse, porque foi secreto e se valeu da privação de direitos da população”, diz ela, que pesquisou o tema na tese de doutorado.

Parte das obras do complexo de Angra dos Reis (RJ) ficou a cargo da Odebrecht, que assumiu a empreitada sem licitação. De acordo com Nunes, a empreiteira desenvolveu, a partir dessa época, um know-how na construção de obras estatais. Em 2017, durante a Operação Lava Jato, a delação de executivos da construtora acabou levando à prisão do almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, conhecido como um dos pais do programa nuclear brasileiro.

Mas, no geral, os maiores benefícios ficaram com as empresas alemãs – principalmente a Siemens, cuja subsidiária Kraftwerk Union (KTU) foi responsável por fornecer os reatores às usinas nucleares e tecnologia para Angra 2 e Angra 3. "Além disso, os bancos alemães emprestaram dinheiro para o Brasil e fizeram a festa aqui. Para a Alemanha, o acordo foi benéfico", diz a historiadora. Segundo ela, o trato escoou a produção nuclear alemã justamente num momento em que os movimentos ambientalistas pressionavam o país contra o uso da energia nuclear.

Não foi por acaso que o acordo ficou conhecido como "Negócio do Século", diz Rafael Brandão, professor de história da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O setor nuclear alemão vinha acumulando déficits e viu no Brasil a sua salvação. Ele lembra que a Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), estatal brasileira criada em 1975 com os alemães, tinha três instâncias de decisões – as duas primeiras com membros do governo brasileiro, mas a última só com integrantes alemães. "É claro que a última palavra era da KWU-Siemens", conta.

Em 1979, uma reportagem do Jornal do Brasil apresentou denúncias de superfaturamento nos insumos vendidos pela KWU em relação aos preços de mercado internacionais, além de críticas de envolvidos no projeto nuclear brasileiro que não havia troca de informações com cientistas alemães. Entre 1978 e 1982, suspeitas de corrupção levantadas pela revista alemã Der Spiegel já tinha levado à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o Acordo Brasil-Alemanha, contando inclusive com depoimentos de Norberto Odebrecht. Terminou em pizza.

Hoje, um movimento parecido ocorre a cada cinco anos no Parlamento Alemão, quando se abre a janela para a revogação do acordo unilateralmente – o último foi em 2024. Mesmo com pressão dos Verdes, o cancelamento nunca aconteceu. Do lado do Brasil, finalizá-lo também seria largar o projeto de Angra 3 pelo caminho. "O acordo está vivo também por uma dificuldade nossa de concluir o que estava previsto. A culpa é da ineficiência do planejamento nuclear brasileiro", conclui João Paulo Nicolini.

Short teaser Assinado há 50 anos, pacto com Alemanha Ocidental previa construção de oito usinas no Brasil. Só uma saiu do papel.
Author Fábio Corrêa
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-fracasso-do-acordo-nuclear-entre-o-brasil-e-a-alemanha/a-72236964?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 8
Id 73033957
Date 2025-06-25
Title [Coluna] Energia dos campos, o superpoder brasileiro subestimado
Short title Energia dos campos, o superpoder brasileiro subestimado
Teaser País é um modelo de soberania energética sustentável, porém o Ocidente só se concentra na devastação amazônica. Cabe aos brasileiros cuidar para que seu papel pioneiro seja reconhecido – e até faça escola.

Diante das guerras no Oriente Médio, nos últimos dias cresce o temor de que o preço do petróleo volte a atingir picos históricos. Isso seria ruim para a conjuntura mundial, pois combustível mais caro impulsiona a inflação, os bancos centrais seriam obrigados a aumentar seus juros. A consequência seria a estagnação da economia mundial, com inflação alta.

No Brasil tais cenários são vistos com menos dramaticidade do que na Europa ou na Ásia, as quais dependem de importações de petróleo. Por um lado, por o país ser, ele mesmo, um grande produtor do combustível fóssil. Por outro, pelo fato de a agricultura cobrir grande parte da demanda energética nacional: 30% da eletricidade e combustíveis do país provém das fazendas.

Trata-se de uma situação única, em todo o mundo. Nações como Índia, Tailândia ou China, que investem igualmente em bioenergia, apresentam percentagens muito mais baixas. Na Alemanha, que por longos anos subvencionou projetos de biogás com dinheiro dos contribuintes, apenas de 7% a 8% da energia provém dos campos.

Como mostra uma análise recém-publicada do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), nas fazendas a energia é produzida de diversas formas, todas substituindo o petróleo.

Cana-de-açúcar fornece etanol. Milho e soja são utilizados como combustível em forma de biodiesel puro ou combinado com outras fontes. Além disso, os conglomerados de cana alimentam a rede elétrica com a incineração de biomassa; em outras instalações, resíduos orgânicos são transformados em biogás.

Potencial de modelo para outras economias agrárias

A parcela da energia dos campos vai crescer no Brasil. A segunda geração da produção de etanol está apenas engatinhando, com a utilização de enzimas para extrair a substância das fibras de cana-de-açúcar.

Também cresce vertiginosamente o bioetanol a partir do milho, já tendo sido dada a partida para os primeiros projetos de combustível de aviação sustentável (SAF, sustainable aviation fuel). Cada vez mais empresas agrícolas injetam sua energia diretamente na rede elétrica, ou se tornam autônomas através de painéis solares. Assim, também participarão do desenvolvimento do hidrogênio combustível verde.

A Europa quase não registra essa autonomia energética sustentável brasileira. Mas também no país ela é subestimada – um dado surpreendente, pois, perante as atuais reviravoltas geopolíticas, a autonomia energética se torna, para as empresas, um fator cada vez mais importante na escolha de sua locação.

A Europa volta a vivenciar mais uma vez como é dependente de energia importada, seja gás natural russo, seja petróleo do Oriente Médio. Desde as "crises do petróleo" de meio século atrás, o continente não conseguiu reduzir essa dependência.

Por sua vez, o Brasil é basicamente independente, além de ostentar uma das produções de energia mais sustentáveis do mundo, cobrindo mais da metade do consumo nacional. Sua matriz energética é decentralizada, de cunho agrário e independente de combustíveis fósseis.

Nas negociações com os parceiros globais, o país deveria apostar mais fortemente em sua soberania energética, e seu modelo poderia servir de base para outros países agrários emergentes. Infelizmente, o Brasil se apresenta antes na defensiva, no âmbito internacional.

Com o argumento da devastação da Amazônia, seu papel pioneiro na sustentabilidade é obliterado. Sobretudo por nós, europeus, pois a China vê a situação de modo bem diferente, mostrando-se muito interessada em adaptar para si partes do sistema brasileiro de energia agrária.

Porém é também verdade que o boom agrário do Brasil transcorre em parte à custa do meio ambiente – ou seja, da floresta tropical e de outros biomas. Enquanto o país não reconhecer claramente a corresponsabilidade do agronegócio nos desmatamentos e não se opuser a ela com eficácia, nos grêmios internacionais ocidentais ele será classificado antes como pecador ecológico, não como pioneiro ambiental. Cabe exclusivamente ao próprio Brasil mudar essa situação.

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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

Short teaser País é modelo de soberania energética sustentável, porém o Ocidente só se concentra na devastação amazônica.
Author Alexander Busch
Item URL https://www.dw.com/pt-br/coluna-energia-dos-campos-o-superpoder-brasileiro-subestimado/a-73033957?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 9
Id 73035758
Date 2025-06-25
Title Por que você deveria conhecer Raul Seixas
Short title Por que você deveria conhecer Raul Seixas
Teaser Autor de 324 canções, roqueiro baiano marcou e continua marcando gerações. Criativo, irreverente e provocador são alguns dos adjetivos usados para descrevê-lo por especialistas.

Numa manhã qualquer de 1976, Tânia Menna Barreto acordou com o barulho da campainha. Naquela época, ela e o namorado, o cantor e compositor Raul Seixas, ainda não dividiam o mesmo teto: ela morava no Flamengo e ele em São Conrado, no Rio de Janeiro. "Tive um sonho maluco", explicou o roqueiro, no apartamento da Rua Senador Eusébio. "Sonhei que o mundo inteiro tinha parado."

Dias depois, em companhia do amigo Cláudio Roberto, parceiro de incontáveis sucessos como Maluco Beleza (1977), Aluga-se (1980) e Cowboy Fora da Lei (1987), Raul transformou o sonho em música: O Dia em que a Terra Parou (1977). Na letra, ele canta, entre outros versos, que o empregado, o guarda e o médico não saíram para trabalhar pois sabiam que o patrão, o ladrão e o paciente não estavam lá.

No dia 11 de março de 2020, Tânia se lembrou de Raul – e da profética O Dia em que a Terra Parou – quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou pandemia por causa da covid-19. "Era um gênio que, como ele mesmo gostava de dizer, veio a este planeta para deixar sua digital", afirma Tânia, coautora do livro Pagando Brabo (2024), ao lado de Tiago Bittencourt, e terceira mulher do cantor. "Tudo que ele escreveu é atemporal. Suas canções ecoam até hoje."

Entre namoro, separação e encontros ocasionais, Raul e Tânia conviveram oito anos: de 1976 a 1984. Ao todo, o pai do rock brasileiro teve cinco mulheres: Edith Wisner, Glória Vaquer, Tânia Menna Barreto, Ângela Costa (conhecida como Kika) e Lena Coutinho. Do casamento com Ângela, nasceu Vivian, a Vivi Seixas. Ela é a caçula de três filhas – suas meias-irmãs são Simone, de 55 anos, do relacionamento com Edith, e Scarlet, de 49, com Glória. As duas vivem hoje nos EUA.

"Meu pai era amoroso e divertido", lembra Vivi, hoje com 44 anos. "Quando brincávamos de Capitão Garfo, o primo do Capitão Gancho, ele pegava as minhas bonecas e as escondia no congelador", diverte-se.

DJ e produtora musical, Vivi vai participar do show-tributo O Baú do Raul – Especial 80 Anos, no próximo sábado (28/06) no Circo Voador, no Rio, ao lado de outros artistas, como Roberto Frejat, Paulinho Moska e Ana Cañas. "Mesmo quem nunca assistiu a um show dele ao vivo, sente algo diferente quando escuta uma de suas músicas", afirma Vivi. "Raul Seixas era um artista verdadeiro, ousado e provocador. Falava de coisas profundas com leveza, e tocava em temas que continuam atuais. As gerações mudam, mas Raul Seixas permanece."

O legado de Raul

Além de participar do show-tributo no Circo Voador, Vivi e a mãe, Kika, doaram parte do acervo do cantor para a exposição Baú do Raul, em cartaz a partir de 11 de julho no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. Quem também cedeu peças para a exposição foi Sylvio Passos, o fundador do primeiro e único fã-clube oficial de Raul Seixas, Raul Rock Club, fundado em 1981. "Meu ídolo não morreu. Está mais vivo do que muito artista vivo. Quem morreu de alcoolismo, no dia 21 de agosto de 1989, foi meu amigo. Até hoje, sinto muito a falta dele", emociona-se Passos.

Na opinião de Passos, se vivo estivesse, Raul Seixas não teria se aposentado. Pelo contrário, continuaria sendo a mosca na sopa de muita gente, brinca numa alusão à música homônima de 1973. "A música do Raul é essencialmente jovem porque trata de temas existenciais e filosóficos que não são tratados por outros artistas. Ele gostava de mexer em alguns vespeiros, sabe? Em vez de sugerir respostas, fazia questionamentos", afirma Passos, que é vocalista da Putos Brothers Band.

Das centenas de itens doados por Vivi, Kika e Passos para a exposição Baú do Raul, o que mais chamou a atenção de seu curador, André Sturm, foi a letra manuscrita de um dos maiores clássicos do roqueiro, Gita (1974). Inspirada em um texto religioso hindu, o Bhagavad Gita, a música nasceu durante uma viagem do cantor a Dias d'Ávila, na Bahia. Segundo Carlos Minuano, autor de Por Trás das Canções, a música ficou pronta, mais ou menos, em dez minutos!

Gita é uma das parcerias de Raul com o escritor Paulo Coelho. Juntos, compuseram, entre outros hits, Al Capone (1973), Sociedade Alternativa e Como Vovó Já Dizia (1974), Tente Outra Vez (1975) e Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás (1976). "Era um artista genial que misturava humor debochado com crítica social", avalia o diretor do MIS. Além de manuscritos, a exposição conta com roupas, violões, prêmios, discos e fotografias.

O início, o fim e o meio

Além do show no Rio e da exposição em São Paulo, os 80 anos de Raul Seixas serão celebrados com o lançamento de Eu Sou, Eu Fui, Eu Vou: Uma Biografia de Raul Seixas, escrito pelo jornalista Rogério Medeiros, e da estreia de Eu Sou, série do Globoplay dirigida pelo cineasta Paulo Morelli.

No livro, Medeiros revisita histórias bizarras, como a vez em que seu biografado foi confundido com um impostor durante um show em Caieiras (SP) e levado para a delegacia, e revela bastidores curiosos, como o dia em que ele e Paulo Coelho compuseram, à luz de velas e debaixo de chuva, Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás. "Cada livro novo sobre o Raul completa os que vieram antes", afirma Medeiros. "No meu caso, o que mais chamou a atenção é a quantidade de música que ele compôs e nunca gravou."

Segundo o ECAD, Raul Seixas compôs, sozinho ou em parceria, 324 canções. A mais executada é Cowboy Fora da Lei (1987), com Cláudio Roberto, e a mais regravada, Medo da Chuva (1974), com Paulo Coelho.

Na série que estreia nesta quinta-feira (26/06), Morelli conta a história de Raul Santos Seixas, desde o dia em que nasceu, em 28 de junho de 1945, em Salvador (BA), até o dia de sua morte, em 21 de agosto de 1989, em São Paulo (SP). Raul é interpretado por Ravel Andrade e Paulo Coelho por João Pedro Zappa. Quem interpretou o parceiro de Raul no filme Não Pare na Pista (2014), de Daniel Augusto, foi Júlio Andrade, irmão de Ravel.

"Estava à frente do seu tempo. Era quase um líder espiritual", define Morelli, o criador e diretor geral da série. "Se Raul tivesse sobrevivido a si mesmo, estaria em plena atividade. Uma fonte permanente de criatividade."

Apesar de suas parcerias com Cláudio Roberto, a mais longeva, e com Paulo Coelho, a mais famosa, Raul Seixas também compôs sozinho. Caso de Sessão das Dez (1971), Mosca na Sopa, Metamorfose Ambulante e Ouro de Tolo (1973) e O Trem das 7 (1974), entre outras.

"Para quem faz rock no Brasil, Raul Seixas é fundamental. Raul, Rita e a dupla Roberto e Erasmo, aliás, são o tripé do rock brasileiro", analisa Roberto Frejat que já cantou Tente Outra Vez (1975), Só Pra Variar (1980) e Carpinteiro do Universo (1989) em disco ou show, e participa do tributo no Circo Voador. "É uma figura importante na minha formação."

Entre Elvis Presley e Luiz Gonzaga

Em 21 anos de carreira, Raul Seixas gravou 22 álbuns – o primeiro foi Raulzito e Os Panteras (1968) e o último, A Panela do Diabo (1989), com Marcelo Nova. Entre um e outro, teve até trilha de novela, O Rebu (1974), e álbum ao vivo, Raul Seixas ao Vivo – Único e Exclusivo (1984), gravado em São Paulo, no dia 26 de fevereiro de 1983.

"Raul Seixas tinha uma visão futurista. Se não tivesse morrido tão precocemente, continuaria a ser o contestador que sempre foi", afirma Marco Mazzola que produziu cinco álbuns do cantor: Krig-Ha, Bandolo! (1973), Gita e O Rebu (1974), Novo Aeon (1975) e O Dia em que a Terra Parou (1977). "Muitas das suas músicas viraram hinos."

Contestador para Marco Mazzola, criativo para Toninho Buda. Coautor de Coisas do Coração – Minha História com Raul (2020), autobiografia escrita por Kika, Buda explica que, versátil, Raul Seixas compôs em 30 ritmos diferentes, como blues, bolero, country, jazz, reggae, samba, tango e valsa, entre outros. Um exemplo é Let Me Sing, Let Me Sing (1972), que mistura, na mesma música, rock e baião.

"Os inimigos da liberdade, identificados em Cowboy Fora da Lei como o Estado, a polícia e a religião, jogam cada vez mais sujo para escravizar os fracos. Na contramão, Raul Seixas pregava a autonomia para fazer o que quiser de sua vida. Isso atrai quem busca liberdade", afirma Toninho Buda.

Short teaser Autor de 324 canções, roqueiro baiano marcou e continua marcando gerações.
Author André Bernardo
Item URL https://www.dw.com/pt-br/por-que-você-deveria-conhecer-raul-seixas/a-73035758?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 10
Id 73033440
Date 2025-06-25
Title Por que Irã não usou trunfo em resposta a ataques
Short title Por que Irã não usou trunfo em resposta a ataques
Teaser

Bloqueio do Estreito de Ormuz teria prejudicado as exportações de petróleo do Irã e indisposto o país com vizinhos e parceiros

Regime dos aiatolás tinha uma arma que poderia impactar economia global: pelo Estreito de Ormuz passam por dia 20 milhões de barris de petróleo bruto, condensado e combustíveis.O conflito entre Israel e o Irã, com a intervenção dos Estados Unidos, deixou o mundo em suspense por alguns dias, mas agora a situação parece ter se acalmado. No Irã, o regime dos aiatolás tentou impor sua narrativa à própria população e disse que o ataque iraniano a uma base militar dos EUA no Catar contribuiu para que o cessar-fogo fosse "imposto ao inimigo sionista". Porém, o ataque à base catari foi, ao que tudo indica, feito na medida para manter as aparências: forte o suficiente para virar manchete e servir de propaganda interna ao regime em Teerã e fraco o suficiente para não causar danos nem ao Catar nem aos EUA – o Irã, afinal, notificou os EUA com antecedência sobre a ofensiva. Nos mercados financeiros, em vez de causar pânico, o ataque à base dos EUA no Catar gerou alívio, e os preços do petróleo despencaram na noite de segunda-feira. E isso apesar de o Irã ter um trunfo poderoso nas mãos: o Estreito de Ormuz, por onde são transportados cerca de 20 milhões de barris de petróleo bruto, condensado e combustíveis por dia. Se bloqueado, o impacto na economia global seria forte. Mas isso teria sido bom ou ruim para o Irã? Se comparada à de muitos outros países no Oriente Médio, a economia iraniana é até diversificada, de acordo com a EIA, a agência de informação de energia dos EUA. Só que a indústria do país atende sobretudo o mercado interno. Assim, as exportações de petróleo bruto e derivados de petróleo acabam sendo uma importante fonte de divisas e de receita para o governo. Elas representam mais de 17% do total das exportações (só o gás quase 12%). Em 2023, o país era o quarto maior produtor de petróleo bruto da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e, em 2022, o terceiro maior produtor de gás natural seco (gás com teor muito baixo ou nulo de hidrocarbonetos no estado líquido), de acordo com a EIA. Exportações apesar das sanções O regime do Irã é, já há muitos anos, alvo de sanções internacionais, mas isso não o impediu de exportar petróleo. Quem mais lucrou com isso foi a China. Em 2023, quase 90% das exportações iranianas foram para o país asiático. Em 2023, o país exportou mais de 35 bilhões de dólares em petróleo, segundo o ministro do Petróleo, Javad Owji, citado pelo jornal britânico Financial Times. Naquele ano o setor petrolífero representou mais de 8% do Produto Interno Bruto (PIB). No ano seguinte, os volumes de petróleo exportados aumentaram ainda mais, de acordo com estimativas que se baseiam em dados da empresa de análise Vortexa. O bloqueio do Estreito de Ormuz teria, portanto, prejudicado o próprio Irã, pois sua própria receita com a venda de petróleo teria sido afetada. Além disso, o Irã teria irritado seu principal parceiro comercial, a China, que se beneficia do petróleo barato iraniano. A emissora de TV Iran International, que tem sede em Londres, estima que o Irã vende seu petróleo com um desconto de 20% em relação ao preço de mercado, pois o comprador assume o risco de ter problemas devido às sanções americanas. "As refinarias chinesas são as principais compradoras dos embarques ilegais de petróleo do Irã, que são misturados por intermediários com fornecimentos de outros países e declarados na China como importações de Singapura ou de outros locais", informou a emissora. A China importa quase 11 milhões de barris de petróleo bruto por dia, e cerca de 10% vêm do Irã, de acordo com a Rystad Energy, uma empresa de pesquisas em energia com sede na Noruega. Bloqueio teria ainda afetado países vizinhos Um bloqueio do Estreito de Ormuz poderia ainda gerar tensões com países vizinhos. Kuwait, Iraque e Emirados Árabes Unidos também transportam seu petróleo por essa passagem. Se fechasse o estreito, Teerã "minaria as alianças que ainda restam com os Estados da região", avalia o economista, Justin Alexander, especialista em Golfo Pérsico. Resta ainda a questão de por quanto tempo o Irã conseguiria manter o bloqueio. Ele poderia levar a uma forte e imediata resposta militar dos EUA e de países europeus, avalia o analista Homayoun Falakshahi, da empresa de análise Kpler, em declarações ao site alemão Tagesschau. Ele diz que o Irã conseguiria manter o Estreito de Ormuz fechado por no máximo dois dias. Sanções e inflação Uma nova piora da situação econômica também não seria bem recebida pela população iraniana. Com as sanções, o padrão de vida voltou ao que era há 20 anos, avalia o professor de economia Djavad Salehi-Isfahani, da universidade americana Virginia Tech. As sanções valem não só para a indústria petrolífera, mas também para os pagamentos internacionais ao Irã. Isso impulsionou a inflação. Ela teve forte alta desde o início do ano, atingindo mais de 38,7% em maio de 2025, na comparação com maio de 2024. As sanções e a desvalorização cambial estão tornando a vida cotidiana no Irã cada vez mais cara.


Short teaser Regime dos aiatolás tinha uma arma que poderia impactar economia global: a via marítima para o transporte de petróleo.
Author Insa Wrede
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Image caption Bloqueio do Estreito de Ormuz teria prejudicado as exportações de petróleo do Irã e indisposto o país com vizinhos e parceiros
Image source Ahmad Halabisaz/XinHua/dpa/picture alliance
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Item 11
Id 73020570
Date 2025-06-25
Title "Fungo letal do faraó" pode ser arma no combate ao câncer
Short title "Fungo letal do faraó" pode ser arma no combate ao câncer
Teaser Até então associado à "maldição de Tutancâmon", Aspergillus flavus revela propriedades promissoras contra células leucêmicas. Descoberta abre campo a novas pesquisas médicas dos fungos, para muito além da penicilina.

O Aspergillus flavus é um fungo tóxico que não só afeta as safras, como foi associado a mortes em escavações de sepulturas antigas. No entanto, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Pensilvânia, nos Estados Unidos, conseguiu transformá-lo num potente composto anticancerígeno, ao modificar certas moléculas do fungo e experimentá-las contra células leucêmicas.

A descoberta abre perspectivas para novos medicamentos derivados desses organismos situadosentre o mundo vegetal e o animal: "Os fungos nos deram a penicilina. Agora, estes resultados demonstram que estão por se descobrir muitos mais medicamentos derivados de produtos naturais", comenta a professora de bioengenharia Sherry Gao, principal autora do estudo publicado na revista Nature Chemical Biology.

De vilão a herói

O A. flavus tem fama de vilão desde que arqueólogos liderados por Howard Carter abriram a câmara funerária do soberano egípcio Tutancâmon (1341 a 1323 a.C.), na década de 1920, e uma série de mortes misteriosas entre a equipe de escavação deu origem à lenda da "maldição do faraó". Décadas mais tarde, deduziu-se que os esporos (amarelos, daí o epíteto latino "flavus") do microrganismo, latentes há séculos, poderiam ser os causadores.

A tragédia se repetiu na década de 1970, quando 12 cientistas penetraram na sepultura de Casimiro 4º da Polônia (1427-1492). Dentro de poucas semanas, dez deles morreram prematuramente. Análises posteriores revelaram a presença do fungo, cujas toxinas provocam infecções pulmonares.

A partir do atual estudo, porém, a reputação do Aspergillus flavus poderá mudar radicalmente. Sua potencial utilidade para a terapia do câncer se baseia numa classe de peptídios (moléculas compostas de dois ou mais aminoácidos) modificados.

Identificados pelo acrônimo RiPP (ribosomally synthesized and post-translationally modified peptide), eles são substâncias sintetizadas pelos ribossomas (estruturas que fabricam proteínas nas células) e posteriormente alterados para intensificar suas propriedades anticancerígenas.

Pesquisas anteriores haviam demonstrado que o Aspergillus podia conter RiPPs, e para identificar a melhor fonte, a equipe analisou geneticamente uma dúzia de cepas, chegando ao A. flavus.

Ação específica promissora

Após purificar quatro RiPPs distintos, descobriu-se que as moléculas partilhavam estruturas de anéis entrelaçados, que foram batizadas "asperigimicinas". Mesmo sem modificações, ao serem combinadas com células leucêmicas humanas, duas dessas quatro variantes demonstraram efeitos anticancerígenos potentes.

A uma terceira variante os cientistas da Pensilvânia acrescentaram um lipídio também encontrado na geleia real das abelhas: o composto funcionou tão bem quanto a citarabina e a daunorrubicina, dois fármacos aprovados pelas autoridades sanitárias dos EUA, empregados há décadas no tratamento da leucemia.

Experimentos adicionais indicaram que as asperigimicinas provavelmente interrompem o processo de reprodução celular. "As células cancerosas se dividem de modo descontrolado. Esses compostos bloqueiam a formação de microtúbulos, essenciais para a divisão celular", explica Gao.

Notou-se ainda que os compostos tiveram pouco ou nenhum efeito sobre células do câncer de mama, fígado e pulmão, ou sobre diversas bactérias e fungos. Isso sugere que a ação disruptiva das asperigimicinas é específica para certos tipos de célula – uma característica fundamental para eventuais usos terapêuticos.

Além de demonstrar o potencial médico dessas substâncias, o estudo identificou grupos semelhantes de genes em outros fungos, sugerindo que há mais RiPPs fúngicos a serem descobertos. O passo seguinte será testar as asperigimicinas em modelos animais, visando futuros ensaios clínicos em humanos.

av/cn (EFE, ots)

Short teaser Associado à "maldição de Tutancâmon", Aspergillus flavus revela propriedades promissoras contra células leucêmicas.
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Item 12
Id 73026872
Date 2025-06-24
Title Migração faz Alemanha voltar a ter famílias mais numerosas
Short title Migração faz Alemanha voltar a ter famílias mais numerosas
Teaser

Famílias como esta, com seis filhos, são a exceção absoluta na Alemanha, onde a média de filhos por mulher é de 1,38

Em 2024, 26% das crianças viviam com dois ou mais irmãos; 30% eram filhos únicos. Entre imigrantes ou filhos de imigrantes, incidência de famílias numerosas é quase o dobro em relação a núcleos sem raízes no exteriorA proporção de crianças na Alemanha que vivem em famílias numerosas voltou a aumentar na última década, principalmente graças aos imigrantes que chegaram ao país desde 2015, informou o Escritório Federal de Estatísticas (Destatis). Esse índice havia caído de 25% em 1996 para 23% em 2015, mas voltou a subir e chegou a 26% em 2024. O ano de 2015 marcou o início do que ficou conhecido como a crise dos refugiados, quando centenas de milhares de imigrantes chegaram à Europa fugindo de conflitos no Oriente Médio, especialmente na Síria. Na Alemanha, a definição do Destatis de família numerosa se aplica a lares com três ou mais crianças que vivem debaixo do mesmo teto. Irmãos que vivam em outro endereço não são considerados. Entre imigrantes ou filhos de imigrantes, a incidência de famílias numerosas é praticamente o dobro daquelas sem raízes imigrantes: no primeiro grupo, esse índice é de 18,5%; nas demais famílias, de 9,5%. Isso quer dizer que, de cada dez famílias formadas por imigrantes ou seus descendentes, praticamente duas têm três ou mais filhos. Nas demais famílias, esse é o caso de uma em cada dez. Na Alemanha, as famílias são pequenas Em 2024, 8% das crianças viviam com três ou mais irmãos, enquanto 18% viviam com dois. A maioria (44%) vivia com um irmão, e 30% eram filhos únicos. A incidência de famílias numerosas é ligeiramente maior nos estados da antiga Alemanha Ocidental: 13% contra 11% na antiga Alemanha Oriental. Os dados são do microcenso anual, baseados em entrevistas com 1% da população. Segundo os dados mais recentes do Destatis, de 2023, 18,8% da população alemã tinha menos de 20 anos, contra 29,8% acima dos 60. No Brasil, segundo o Censo 2022, brasileiros com 60 anos ou mais eram 15,8% da população. ra (ots)


Short teaser Em 2024, 26% das crianças viviam com dois ou mais irmãos. Alta veio na esteira da crise de refugiados de 2015.
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Image caption Famílias como esta, com seis filhos, são a exceção absoluta na Alemanha, onde a média de filhos por mulher é de 1,38
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Item 13
Id 73023908
Date 2025-06-24
Title Como a China utiliza terras raras como arma estratégica
Short title Como a China utiliza terras raras como arma estratégica
Teaser Domínio chinês sobre terras raras, essenciais para smartphones, carros elétricos e tecnologia militar, coloca país em situação de vantagem e expõe vulnerabilidades dos EUA e da União Europeia.

O domínio da China sobre as matérias-primas conhecidas como terras raras (minerais essenciais para sistemas eletrônicos, automotivos e de defesa) colocou o país numa situação de vantagem perante os EUA durante recentes negociações comerciais e tarifárias em Londres.

Responsável por mais de 60% da produção global de terras raras e por quase 90% do refino, a China reforçou o controle sobre elas em abril, ao limitar as exportações de sete elementos de terras raras e de ímãs permanentes.

As restrições, em parte em resposta às elevadas tarifas sobre as exportações chinesas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, expuseram vulnerabilidades dos EUA, que carece de capacidade doméstica de refino. As resultantes interrupções em cadeias de fornecimento atingiram duramente fábricas americanas.

A montadora Ford, por exemplo, anunciou recentemente que se viu obrigada a reduzir a produção de SUVs em Chicago, enquanto as fornecedoras de autopeças Aptiv e BorgWarner afirmaram que estavam desenvolvendo motores com uso mínimo ou inexistente de terras raras para contornar restrições de fornecimento.

O consultor automotivo Michael Dunne declarou ao jornal The New York Times que as restrições da China podem até mesmo paralisar completamente as fábricas de automóveis dos Estados Unidos.

China quer manter sua posição de vantagem

Uma pesquisa da Câmara de Comércio dos EUA na China mostrou que 75% das empresas americanas avaliam que seus estoques de terras raras chegarão ao fim em até três meses. Empresários americanos pediram a Washington que negociasse o fim das restrições e, em Londres, a China concordou em acelerar o processo de aprovação de licenças de exportação, embora ainda haja um grande acúmulo de pedidos.

Também não está claro se o acordo contempla o acesso para fornecedores militares dos EUA, que dependem desses minerais para caças e sistemas de mísseis.

O uso estratégico de terras raras pela China como ferramenta geopolítica não é novidade. Em 2010, Pequim suspendeu as exportações para o Japão por dois meses devido a uma disputa territorial, o que levou a picos de preços e gerou riscos para as cadeias de suprimentos.

O consultor Gabriel Wildau, da empresa de consultoria para CEOs Teneo, alertou que o regime de licenciamento de exportação da China é permanente, não apenas uma resposta às tarifas de Trump, e que os cortes de fornecimento continuarão sendo uma ameaça constante, sinalizando a intenção da China de manter uma situação que a coloca em posição de vantagem perante os EUA.

Decisão da China também afeta a UE

Os Estados Unidos não são o único país a enfrentar uma escassez de terras raras. A União Europeia depende da China para 98% dos seus ímãs de terras raras, necessários para componentes automotivos, caças e equipamentos de imagem hospitalar.

A Associação Europeia de Fornecedores de Autopeças (Clepa) alertou no início deste mês que o setor estava passando por interrupções significativas devido às restrições à exportação impostas pela China, incluindo a paralisação de linhas de produção e de fábricas em toda a Europa, e que novos impactos eram esperados para as próximas semanas.

O analista Alberto Prina Cerai, do Instituto de Estudos Políticos Internacionais (ISPI), da Itália, avalia que a União Europeia precisa urgentemente "ganhar tempo".

"Em termos de escala, não temos como alcançar a China", alerta Prina Cerai. "Eles têm uma cadeia de suprimentos integrada, da mina ao ímã, que é muito difícil de replicar." Renunciar completamente à China é, portanto, impensável no curto prazo, e a UE deveria "administrar essa interdependência com uma estratégia industrial coerente", opina.

No âmbito da sua Lei de Matérias-Primas Críticas, a Comissão Europeia quer chegar a 7 mil toneladas de ímãs fabricados na UE até 2030. Diversos projetos de mineração, refino e reciclagem estão em andamento. Uma enorme planta de processamento de terras raras deverá ser inaugurada na Estônia no fim de 2025, e outra grande instalação no sudoeste da França entrará em operação em 2026.

Após se reunir com seu colega de pasta chinês no início deste mês, o comissário de Comércio da UE, Maros Sefcovic, disse que as restrições impostas pela China são "extremamente disruptivas" para os setores automotivo e industrial da Europa.

Apesar de a China ter proposto um canal para agilizar as aprovações de licenças de exportação para empresas da UE, especialistas alertam que as aprovações podem levar até 45 dias.

Como o domínio da China dificilmente será contestado num futuro próximo, os líderes do G7, reunidos no Canadá em 15 de junho, definiram uma estratégia para antecipar uma situação crítica de falta de terras raras, prometendo uma resposta conjunta a perturbações deliberadas de mercado, como a feita pela China, bem como medidas para diversificar a produção e o fornecimento.

Para Prina Cerai, do ISPI, o acesso a terras raras vai se tornar mais crítico para o Ocidente à medida que tecnologias mais avançadas surgirem e se tornarem mercados importantes.

Quais seriam as outras opções?

Oito países respondem por 98% das reservas mundiais de terras raras. Depois da China, com 44 milhões de toneladas de depósitos de terras raras, o Brasil, a Índia e a Austrália possuem os maiores depósitos, totalizando pouco mais de 31 milhões de toneladas, de acordo com o Serviço Geológico dos EUA. Cerca de 20 milhões de toneladas foram descobertas recentemente no Cazaquistão.

Alguns países, como os Estados Unidos e a Austrália, estão mais avançados na elevação do seu processo de produção e processamento de terras raras, enquanto outros países têm planos ainda em estágio inicial ou intermediário, exigindo de cinco a dez anos, considerações ambientais e bilhões de dólares em investimentos.

O Brasil, com 21 milhões de toneladas, possui a segunda maior reserva mundial, mas a produção ainda é incipiente, com uma participação mundial de apenas 1%. Especialistas dizem que o país tem condições de ampliar essa participação, com universidades e institutos de pesquisa capacitados para formar recursos humanos e desenvolver ou adaptar tecnologias na cadeia de produção.

Também a Índia, apesar de possuir a quinta maior reserva mundial de terras raras, com 6,9 milhões de toneladas, responde por menos de 1% da produção global de terras raras, pois não possui capacidade de refino suficiente para prepará-las para uso em aplicações de alta tecnologia. A própria Índia depende das exportações chinesas e também foi afetada pelas restrições.

A agência Reuters noticiou recentemente que Nova Déli ordenou que sua mineradora estatal IREL interrompesse as exportações dos minerais produzidos para assegurar o fornecimento aos produtores do país. No ano passado, a IREL entregou um terço das 2.900 toneladas das terras raras que extrai para o Japão, por meio de uma empresa de processamento japonesa.

Outra fonte futura pode ser a Groenlândia, apesar de suas condições climáticas adversas. Os EUA e a UE já assinaram acordos de cooperação e, em 2023, o Projeto Tanbreez, no sul da Groenlândia, foi classificado como o principal projeto de terras raras, com uma estimativa de 28,2 milhões de toneladas de minerais, por um serviço de compilação de dados para a indústria de mineração.

A Reuters noticiou que a agência de créditos para exportação dos Estados Unidos, a Exim Bank, está prestes a aprovar um empréstimo de até 120 milhões de dólares para a empresa que administra o Projeto Tanbreez. Esse seria o primeiro investimento estrangeiro do governo Trump num projeto de mineração. Trump ameaçou repetidamente adquirir a Groenlândia para fins estratégicos dos EUA, mas a nação insular, que pertence à Dinamarca, descarta essa possibilidade.

Já a UE identificou que 25 dos 34 minerais de sua lista oficial de matérias-primas críticas são encontrados na Groenlândia.

Mas, até que cadeias de fornecimento alternativas de terras raras sejam significativamente ampliadas, a China continuará a usar esse recurso crítico como uma poderosa arma geopolítica, mantendo as indústrias e nações globais sob seu controle.

Short teaser Domínio chinês sobre terras raras, essenciais para smartphones e carros elétricos, expõe vulnerabilidade de EUA e UE.
Author Nik Martin
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Item 14
Id 73021307
Date 2025-06-24
Title Bactérias transformam plástico em paracetamol
Short title Bactérias transformam plástico em paracetamol
Teaser Pesquisadores desenvolvem técnica pioneira que pode revolucionar a gestão de resíduos e produção sustentável de medicamentos.

Uma equipe de cientistas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, desenvolveu uma técnica pioneira para transformar resíduos plásticos em paracetamol usando bactérias geneticamente modificadas. A descoberta, publicada nesta segunda-feira (23/06) na revista científica Nature Chemistry, pode revolucionar tanto a gestão de resíduos quanto a produção sustentável de medicamentos.

A pesquisa mostra que a bactéria Escherichia coli (E. coli), comumente usada em biotecnologia, pode transformar o ácido tereftálico – uma molécula presente em garrafas e recipientes plásticos de politereftatalato de etileno (pet) – no ingrediente ativo do popular analgésico e antitérmico.

"Utilizando micróbios vivos, realizamos transformações químicas sofisticadas que podem abrir novas formas mais ecológicos e sustentáveis para produzir materiais valiosos, como medicamentos, a partir de resíduos", afirmou Stephen Wallace, autor do estudo, citado pelo jornal espanhol El País.

Através de um processo de fermentação semelhante ao da cerveja, os pesquisadores conseguiram concluir o processo de transformação do plástico em paracetamol em menos de 24 horas, com eficiência de 90%, ou de até 92% em condições otimizadas.

O procedimento é realizado em temperatura ambiente e gera emissões mínimas de carbono, ao contrário do método industrial comum, que depende do petróleo e contribui significativamente para as mudanças climáticas.

"Este trabalho demonstra que o plástico pet não é apenas um resíduo ou um material destinado a se tornar mais plástico. Microrganismos podem transformá-lo em produtos valiosos, incluindo medicamentos", explicou Wallace, que também é professor de biotecnologia química na Universidade de Edimburgo.

"Supraciclagem" química

Mais de 350 milhões de toneladas de resíduos plásticos são geradas a cada ano, grande parte proveniente de pet, como garrafas de água e recipientes de alimentos. De fato, embora existam métodos de reciclagem mecânica e química, muitos produzem novos plásticos ou materiais de baixo valor, com altos custos energéticos e ambientais.

Essa nova abordagem, porém, representa um salto em direção à chamada "supraciclagem" química, ou seja, a conversão de resíduos em compostos farmacêuticos, com menor pegada de carbono e maior valor agregado.

Embora a técnica ainda não esteja pronta para aplicação industrial, os pesquisadores acreditam que ela marca o início de uma nova era na produção sustentável de medicamentos. Eles acreditam que o método pode ser adaptado a outros resíduos plásticos e à síntese de diversos medicamentos.

A equipe utilizou uma reação química conhecida como reordenamento de Lossen, que até então não havia sido induzida em células vivas. A enzima foi ativada por compostos naturalmente presentes no interior das bactérias.

"A engenharia biológica tem enorme potencial para reduzir nossa dependência de combustíveis fósseis, promover uma economia circular e gerar produtos sustentáveis", disse Ian Hatch, diretor de consultoria da Edinburgh Innovations, que apoiou a pesquisa, juntamente com a agência britânica EPSRC e a farmacêutica AstraZeneca.

rc/cn (EFE, ots)

Short teaser Pesquisadores desenvolvem técnica pioneira que pode revolucionar a gestão de resíduos e produção de medicamentos.
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Item 15
Id 73013039
Date 2025-06-23
Title Veja imagens do espaço feitas pela maior câmera do mundo
Short title O espaço visto pelas lentes da maior câmera do mundo
Teaser O Observatório Vera C. Rubin, no Chile, divulgou as primeiras imagens de berçários estelares e galáxias. Supercâmera pode detectar até mesmo pequenas mudanças no céu e é ideal para encontrar asteroides.

O Observatório Vera C. Rubin, no Chile, divulgou as primeiras imagens de cenas de dentro da nossa galáxia, a Via Láctea, bem como de galáxias remotas, revelando objetos distantes com uma nitidez sem precedentes.

O observatório, financiado pelos Estados Unidos, está localizado no alto do Cerro Pachón, no centro do Chile, onde o céu noturno é particularmente claro e livre de poluição. Ele está equipado com a maior câmera digital do mundo e um telescópio de 8,4 metros.

"O maior filme astronômico de todos os tempos"

Segundo o site do observatório, o telescópio e a câmera "tirarão imagens detalhadas do céu do hemisfério sul por dez anos, cobrindo todo o céu a cada poucos dias e criando um registro em lapso de tempo ultra-amplo e de altíssima definição – o maior filme astronômico de todos os tempos."

Entre as primeiras imagens divulgadas está uma foto composta da Nebulosa Trífida e da Nebulosa da Lagoa, capturada ao longo de sete horas. Ambas são berçários de estrelas localizados dentro da nossa galáxia, a Via Láctea, mas a milhares de anos-luz de distância – e a imagem revela detalhes nunca antes vistos.

Outra imagem mostra o Aglomerado de Virgem, que inclui até 2 mil galáxias.

O observatório, que levou duas décadas para ser construído, dará início ainda este ano ao seu projeto principal: o Levantamento de Legado do Espaço e do Tempo (LSST, na sigla em inglês), em que o céu noturno será escaneado de forma altamente precisa todos os dias, ao longo de uma década.

O observatório tem sido elogiado por, entre outras coisas, ser capaz de rastrear asteroides e detectar objetos interestelares que passam pelo sistema solar.

O observatório é uma iniciativa conjunta da Fundação Nacional de Ciência e do Departamento de Energia americanos, e leva o nome da astrônoma americana pioneira Vera C. Rubin (1928–2016).

A pesquisa de Rubin sobre as velocidades de rotação das galáxias forneceu as primeiras evidências convincentes da existência da chamada matéria escura – que alguns acreditam que é o que mantém as galáxias coesas apesar de estarem em rotação tão rápida, algo que de outra forma faria com que elas se desintegrassem.

Short teaser Observatório Vera C. Rubin, no Chile, revela primeiras imagens de berçários estelares e galáxias feitas com supercâmera.
Author Timothy Jones (com AFP)
Item URL https://www.dw.com/pt-br/veja-imagens-do-espaço-feitas-pela-maior-câmera-do-mundo/a-73013039?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 16
Id 73008966
Date 2025-06-23
Title Qual o impacto da guerra entre Israel e Irã para o Brasil
Short title Qual o impacto da guerra entre Israel e Irã para o Brasil
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Conflito eleva custo global do petróleo, com efeito-cascata inflacionário em outros setores

Escalada do conflito e possível fechamento do Estreito de Ormuz pressiona preços do petróleo e provoca temores de efeito-cascata em outras cadeias de produção.A escalada do conflito entre Israel e Irã e o envolvimento dos EUA eleva o risco de uma campanha militar mais ampla na região, cujos impactos econômicos seriam sentidos em todo o mundo, incluindo o Brasil. Até o momento, o governo brasileiro condenou os ataques e diz acompanhar com "forte preocupação" a ofensiva israelense. Do ponto de vista econômico, o temor é que uma consequente elevação dos preços do petróleo tenha efeito-dominó, afetando outros produtos importados e exportados pelo Brasil. Em 2024, quando as tensões entre Israel e Irã estavam num patamar muito mais baixo, o Ministério de Minas e Energia já havia demonstrado preocupação com a falta de suprimentos se o conflito se ampliasse. Israel mira gás e petróleo do Irã Ao lançar mísseis contra o Irã, Israel mirou a infraestrutura militar do regime iraniano mas também suas instalações de produção energética. O complexo South Pars, que abriga um dos maiores campos de gás natural do mundo, foi atingido, assim como refinarias de petróleo no sul do país. Apesar disso, não há relatos de impactos diretos na capacidade produtiva iraniana de derivados fósseis. Ainda assim, a ofensiva militar pressionou os preços mundiais do Brent (petróleo bruto), que subiram 19% desde a véspera dos primeiros ataques israelenses. A expectativa é que os valores possam alcançar o pico observado no início da invasão russa da Ucrânia, por exemplo. Na ocasião, houve impacto inflacionário direto sobre diversas cadeias produtivas. Nesta segunda-feira (23/06) a commodity sofreu uma nova escalada, chegando a 77,1 dólares (R$ 419) por barril. O movimento ecoa a entrada direta dos EUA no conflito e a decisão do parlamento iraniano de fechar o Estreito de Ormuz. O pequeno trecho marítimo de 33 quilômetros de comprimento conecta o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã e escoa 20% da produção mundial de petróleo, o equivalente a 19 milhões de barris por dia. Por ali também passa um terço do petróleo transportado por via marítima, majoritariamente produzido pelos países que compartilham as águas do Golfo Pérsico: além do Irã, Kuwait, Bahrein, Iraque, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Omã, dos quais cinco constam entre os 10 maiores produtores de petróleo do mundo. O estreito também permite a distribuição de gás natural liquefeito, grande parte produzido em South Pars e na refinaria catariana de North Dome, além de produtos químicos e fertilizantes. O Irã, por exemplo, é o 8º maior fornecedor de ureia ao Brasil, que em 2025 comprou 20 milhões de dólares (R$ 110 milhões) do produto. No caso do petróleo, o Brasil, apesar de ser produtor, ainda precisa comprar: em 2023, por exemplo, 22% das importações vieram da Arábia Saudita. Bruno Cordeiro, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, avalia que mesmo a alternativa de escoar a produção pelo Mar Vermelho pode ser arriscada e manter os preços em patamares elevados, já que a via marítima é alvo de ataques dos rebeldes houthis do Iêmen, apoiados pelo Irã. Risco de fechamento do estreito O fechamento da passagem marítima ainda depende de uma série de instâncias deliberativas e do aval do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Mas sua possibilidade já alimenta a especulação, e os custos globais de petróleo e gás. A expectativa também encarece os custos de frete e de seguros, desencadeando um aumento de preços global. Especialistas avaliam um risco de efeito-cascata também nos custos dos alimentos. Para o doutor em Geografia e pesquisador de pós-doutorado na Unicamp Gustavo Glodes Blum, o Brasil é pouco dependente da economia iraniana e israelense, mas muito interdependente num contexto mais amplo, sofrendo efeitos indiretos da reorganização dos fluxos comerciais. "Um conflito pode fazer esses países desenvolverem práticas de limitação da circulação, seja dos recursos financeiros, seja de produtos a serem exportados", afirma. O fechamento de Ormuz é um exemplo desse efeito sistêmico, pois envolve não apenas o Irã, mas os demais países do Golfo. "Um conflito internacional traz consequências de um ponto de vista mais amplo, como a disrupção dos corredores econômicos, das vias de circulação e a relação que o Brasil tem com outros países que estão envolvidos." Blum avalia que a interrupção da navegação no estreito incorre num efeito diferente ao observado na última vez em que foi fechado, na década de 1980, durante a guerra Irã-Iraque. Na ocasião, o principal temor era a escassez de fornecimento de petróleo ao Ocidente. Hoje, o impacto também poderia implicar o impedimento da exportação de produtos aos países do Golfo, alguns altamente dependentes da compra de alimentos. As exportações brasileiras, por exemplo, podem ser afetadas. Em 2024, o país vendeu 10,6 bilhões de dólares (R$ 58,6 bilhões) em produtos ao Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Entre os mais vendidos estão cana-de-açúcar, milho, soja, carnes e derivados. Desarranjo dos mercados Em entrevista ao Uol, o assessor internacional da Presidência, Celso Amorim, também cita o risco de o conflito atingir uma dimensão maior e impactar um mercado já pressionado pela política tarifária americana: "Se somar ao cenário a guerra tarifária, acho que o mundo está correndo o risco de afundar como eu nunca vi." Outro desdobramento comum quando há tensões elevadas é o desarranjo dos mercados. Em análise publicada nos primeiros dias do conflito, analistas do holding financeiro JPMorgan avaliaram que preços mais altos de insumos energéticos poderiam afetar a confiança dos investidores, consequentemente afetando os gastos. Um dos resultados seria a busca por alternativas mais seguras, como o dólar e o ouro, desvalorizando o real. Nos últimos cinco dias, a Ibovespa opera em queda. Alternativas ao petróleo do Golfo Por outro lado, o JPMorgan e outros analistas observam que o mundo tem alternativas para contornar uma alta dos preços do petróleo, um mercado que já se confronta com o crescimento das energias renováveis. "Se observarmos uma interrupção significativa, a cadeia de suprimento de energia parece ter mais capacidade de absorver o choque do que em décadas passadas", diz a análise do JPMorgan. "Por exemplo, tais eventos provavelmente resultariam em outros produtores de petróleo aumentarem a oferta. A Opep+ tem capacidade ociosa, e a produção dos EUA tem demonstrado flexibilidade." Essa também é a análise de Bruno Cordeiro, analista de Inteligência de Mercado da StoneX. Um dos produtores que pode se beneficiar, a médio prazo, é justamente o Brasil. "Uma eventual redução da produção iraniana poderia, por exemplo, ser compensada por um aumento da oferta brasileira, não no curto prazo. [...] O Brasil poderia ampliar o escoamento de petróleo para outros países, principalmente países que demandam muito petróleo do Oriente Médio, que se localizam principalmente no continente asiático", afirma Cordeiro. Em entrevista ao Estadão, a gerente geral de Petróleo, Gás, Energias e Naval da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Karine Fragoso, ressalta que, no curto prazo, uma disrupção na região comprometeria o estoque de petróleo brasileiro: "Hoje, temos menos de 13 anos [de reserva de petróleo], o que nos acrescenta riscos desnecessários e nos coloca numa posição de desvantagem frente a outras economias."


Short teaser Escalada do conflito pressiona preços do petróleo e gera temores de efeito-cascata em outras cadeias de produção.
Author Gustavo Queiroz
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Image caption Conflito eleva custo global do petróleo, com efeito-cascata inflacionário em outros setores
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Item 17
Id 72687064
Date 2025-06-23
Title Como editoras atraem leitores com brasileiros lendo menos
Short title Como editoras atraem leitores com brasileiros lendo menos
Teaser Na hora de vender livros vale tudo: de relançar clássicos da literatura a apostar em escritores não convencionais. Editores contam as estratégias da busca por leitores.

Thalita Rebouças tinha 26 anos quando participou de sua primeira Bienal do Livro, em 2001. A autora de Traição Entre Amigas (2000) chegou cedo ao Riocentro, na Barra da Tijuca, com uma pilha de livros debaixo do braço. Uma hora depois, não tinha vendido nenhum. Dali a pouco, uma garota se aproximou: "Moça, onde fica o banheiro?". Cansada de se sentir invisível, Thalita subiu numa cadeira e começou a gritar: "Eu sou escritora! Não estou aqui para dar informação. Estou aqui para dar autógrafo". "Quem comprar meu livro", esgoelou-se, "leva um autógrafo. Vai que eu fico famosa, hein? Vocês não vão precisar mais entrar em fila ziguezague para pegar meu autógrafo!"

Por ironia do destino, três bienais depois, Thalita sofreu uma tendinite de tanto autografar. O médico prescreveu anti-inflamatório e repouso. "Jura? Ainda faltam quatro dias…", fez as contas, apavorada. O jeito foi substituir sua assinatura por um carimbo personalizado.

"A Bienal não é mais uma feira de livros. Virou um parque de diversões literário!", brinca ela hoje, aos 50 anos. "Não tem truque, tem humor. Quando o adolescente se identifica com o que lê, ri de si mesmo. Não quero passar lição de moral, quero que ele entenda que não está sozinho. Quando você fala com verdade as coisas que quer falar, chega nas pessoas que tem que chegar", explica a autora.

Nesses 24 anos, muita coisa mudou: tanto para Thalita quanto para a Bienal. Desde Traição Entre Amigas, ela já publicou 30 títulos, foi traduzida para mais de 20 idiomas e vendeu cerca de 2,3 milhões de exemplares. Alguns deles, como Tudo por um Pop Star (2003), Fala Sério, Mãe! (2004) e Uma Fada Veio Me Visitar (2007), foram adaptados para o teatro, o cinema e o streaming.

Ler é a maior diversão

Thalita não exagera quando diz que a Bienal virou "um parque de diversões literário". Na edição deste ano, que começa dia 13 de junho e vai até 22 de junho, tem até roda-gigante, a Leitura nas Alturas. Cada cabine, um universo diferente: Turma da Mônica, Lilo & Stitch, As Crônicas de Nárnia...

"Essas atrações ajudam a conectar as pessoas aos livros porque transformam a literatura em experiência. Não basta vender livros, queremos criar memórias. Precisamos acabar com essa história de que ler é ‘chato' ou ‘difícil'. Na Bienal, mostramos que literatura pode ser algo divertido, leve e emocionante", explica Tatiana Zaccaro, diretora da GL Events Exhibitions, uma das realizadoras da Bienal Internacional do Livro.

De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, 53% dos brasileiros não leram nenhum livro nos três meses anteriores ao levantamento realizado em 2024. Esse foi o menor número registrado desde a primeira edição da pesquisa em 2007. Também foi a primeira vez que o número de não leitores ultrapassou o de leitores.

A pesquisa identificou ainda que, nos últimos quatro anos, o Brasil perdeu quase 7 milhões de leitores. Diante desse cenário, editoras precisam buscar meios para alcançar esse público, que cada vez mais perde o interesse pela leitura.

A estratégia de transformar literatura em experiência tem dado resultado na Bienal. A edição de 2023 registrou recorde de público (600 mil pessoas) e de venda (5,5 milhões de exemplares). "Em um país que perde milhares de leitores todo ano, arrastar multidões que transformam autores em celebridades e compram uma média de oito a nove livros é incrível", avalia Zaccaro.

Segundo levantamento do Ministério da Cultura (MinC), o Brasil tem hoje cerca de 320 eventos literários, entre feiras, bienais e saraus. Desses, um dos mais concorridos é a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip.

Outra estratégia bem-sucedida é apostar em edições de bolso. Quem garante é Ivan Pinheiro Machado, um dos fundadores da L&PM. "Foram mais de 30 milhões de exemplares vendidos, custando menos da metade de um livro convencional e com a mesma qualidade editorial", explica Pinheiro Machado, o PM da sigla L&PM – o L é de Paulo Lima, o outro sócio.

Atualmente, a coleção L&PM POCKET tem 1.500 títulos disponíveis: de William Shakespeare a Monteiro Lobato, de Fernando Pessoa a Millôr Fernandes, de Charles Bukowski a Martha Medeiros. "Ninguém fez mais para a cultura do livro nestas últimas décadas do que essa coleção", gaba-se Pinheiro Machado.

Vale a pena ler de novo

Na hora de conquistar novos leitores ou fidelizar os antigos (ou assíduos, como prefere Bruno Zolotar, diretor comercial e de marketing da Rocco), nada melhor do que relançar um clássico. Um bom exemplo disso é A Hora da Estrela (1977), de Clarice Lispector.

"O livro sempre vendeu bem, mas, com a edição de 2020, ganhou maior distribuição, foi lido pela geração Z, mereceu resenhas nas redes sociais e voltou a ser comentado por gente como a atriz Cate Blanchett e a cantora Olivia Rodrigo", orgulha-se Zolotar. "Não por acaso, voltou à lista dos mais vendidos, décadas depois da morte de sua autora. Tudo pode acontecer a partir de uma nova edição."

Relançar clássicos é uma dica (quase) infalível. Com roupa nova, então, melhor ainda: nova tradução, textos extras (notas, prefácios e posfácios) e capa dura. E nem precisa ser tão antigo assim. É o caso de Uma Autobiografia (2016), de Rita Lee. O livro foi relançado em 2023, por ocasião da morte da roqueira, numa edição de luxo, com pintura lateral em tie-dye, fitilho marcador de página e um novo caderno de fotos, com documentos de época e imagens inéditas. Em uma delas, Rita "ajuda" a derrubar o Muro de Berlim, em 1989. "Esses relançamentos são atrativos porque apresentam uma obra importante a um novo público", afirma Guilherme Samora, editor da Globo Livros.

Na Harper Collins Brasil, dois clássicos indiscutíveis – o dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues e a escritora inglesa Agatha Christie – ganharam coleções exclusivas. A da Rainha do Crime vem com brindes, como uma ecobag e um calendário.

"Muitas vezes, clássicos são associados à leitura escolar obrigatória. Quando apresentados com uma linguagem mais contemporânea, que pode ser uma nova tradução ou uma edição ilustrada, tornamos a leitura mais acessível", observa Leonora Monnerat, CEO do grupo HarperCollins Brasil. "Mais do que uma obrigação, ler precisa ser algo prazeroso. Um entretenimento como assistir a um filme ou disputar um game."

E não basta conquistar leitores. É preciso engajá-los em comunidades. É o que faz o Harlequin, um dos selos do grupo HarperCollins Brasil. Referência na publicação de livros de romance, criou o Festival de Literatura Romântica do Brasil (Flir) para leitores do gênero. "É um evento temático, anual e interativo que cultiva esse senso de pertencimento. Quando um leitor encontra outras pessoas que compartilham do mesmo gosto literário, ele se sente parte de algo maior. É uma estratégia que ajuda a disseminar o hábito da leitura", afirma Monnerat.

Com quantos selos se faz uma editora

Dividir uma editora em subeditoras, aliás, virou quase uma regra. Na Planeta, são treze selos. Desses, Ana Carolina Fontoura, diretora de marketing e comunicação, destaca dois: o Tatu-Bola, que apresenta volumes infantis, e o Crítica, que reúne títulos históricos. Enquanto o primeiro se propõe a conquistar novos leitores, ou seja, crianças a partir de um ano de idade, o segundo ambiciona fidelizar os antigos, isto é, quem não se importa de pagar mais por um livro de qualidade.

"É preciso identificar o que o público de cada selo está buscando e entregar", explica Fontoura. "Não há segredo. O que há é um catálogo amplo e variado para atender a todos os tipos de leitores."

Uma palavra que os editores costumam usar é curadoria. "Muitas vezes, os leitores confiam tanto na curadoria da Todavia que compram esse ou aquele livro tão somente porque ele está saindo pela editora", explica Leandro Sarmatz. "Sabem que houve um trabalho prévio de garimpo e um processo editorial de qualidade."

Em 2024, a Todavia ganhou três Jabutis: dois de ficção (Romance de Entretenimento para O Crime do Bom Nazista, de Samir Machado de Machado, e Romance Literário para Salvar o Fogo, de Itamar Vieira Júnior) e um de não ficção (Biografia e Reportagem para Baviera Tropical, de Betina Anton). "O que dá errado é pretender ser o que não é: uma editora literária embarcar num filão comercialóide ou uma comercial investir em literatura experimental."

Para turbinar suas vendas, muitos editores apostam em escritores não convencionais. São religiosos, médicos, atores, youtubers, influenciadores digitais... Mas, será que isso funciona? Talvez sim, arrisca Cassiano Elek Machado, diretor editorial do Grupo Record, desde que a pessoa tenha algo a dizer.

"Livros feitos por personalidades que tenham muitos fãs ou seguidores em diferentes canais ou redes sociais podem atrair leitores não tradicionais. Mas, só a popularidade não garante vendas. Tem de estar envolvido no projeto, e não apenas emprestar o nome e a fama", destaca Machado.

Na livraria física ou na online

Um bom editor tem que pensar em tudo: título instigante, capa bonita, preço competitivo... Pensa que acabou? Ainda não! "Temos que ir aonde nossos potenciais leitores estão: nas redes sociais", explica Mariana Kaplan, diretora de marketing da Sextante. "Temos feito parceria com influenciadores cujos perfis não são dedicados a livros. Eles conseguem apresentar de forma nativa o conteúdo de nossos livros e despertar o interesse em seus seguidores."

Dentro do ponto de venda físico, a primeira coisa a fazer é garantir uma boa exposição do livro. "Se não estiver em uma posição de destaque, não adianta capa bonita nem título instigante", pondera Kaplan.

É por essas e outras que Rui Campos, sócio da Livraria da Travessa, gosta de dizer que aposta em três A's: arquitetura (ambiente agradável e funcional), acervo (obras do mundo inteiro) e atendimento (livreiros interessantes e interessados). "Uma livraria nunca é igual à outra", observa Campos. "Quem tem uma perto de casa corre o risco de se tornar leitor."

Segundo levantamento da Associação Nacional de Livrarias (ANL), o Brasil tem hoje 2.972 espaços físicos dedicados à venda de livros. Só a Travessa tem 14 lojas físicas – 13 delas no Brasil e uma em Portugal.

Além do livro de papel, o leitor pode levar para casa o digital e o audiolivro. Houve um tempo que o digital foi visto como inimigo do impresso. Hoje, há leitores que compram um mesmo título no formato digital, para ler no metrô, e no físico, para guardar em casa.

"Enquanto o e-book atrai leitores já familiarizados com a leitura, o audiobook é uma oportunidade de atrair novos leitores. O Brasil é, historicamente, um grande consumidor de áudio – primeiro do rádio e agora dos podcasts", pondera Mariana Kaplan, da Sextante.

Livro x mercadoria

Independentemente do formato, o importante é consumir conteúdo. Mas, o que pensam eles, os escritores? "Leitor não é cliente. Não do autor, ao menos. Talvez seja da editora ou da livraria, e aí se pode falar em conquistar leitores pela qualidade do papel ou do desconto da loja", ressalva Samir Machado de Machado, autor do livro O Crime do Bom Nazista (2023). "O escritor escreve para expressar um conjunto de ideias e torce, a cada livro, para que isso seja interessante para mais alguém além dele próprio."

Autor do livro Ainda Estou Aqui, que deu origem ao filme que ganhou o primeiro Oscar do cinema brasileiro, Marcelo Rubens Paiva garante que não escreve para atrair leitores. "Livro não é mercadoria. Escrever é uma missão. Escrevo porque amo escrever. Não escrevo por obrigação, escrevo por prazer", discorre.

Ele lembra que, dos 17 livros que publicou, Feliz Ano Velho (1982) e Ainda Estou Aqui (2015) fizeram sucesso, mas Meninos em Fúria (2016), também autobiográfico, não. "Já escrevi outros livros depois de ganhar outros prêmios e não muda muita coisa. Escrever é um ato solitário. Quando escrevo, estou mais preocupado com os meus pesadelos do que com as minhas glórias", relata ele, que acaba de lançar O Novo Agora (2025) pela Alfaguara, selo da Companhia das Letras.

O ato de escrever pode até ser solitário, mas a tarefa de fazer do Brasil um país de leitores é coletiva. É um esforço conjunto que abrange, entre outros, professores, bibliotecários e governantes. "Um livro pode ser transformador na vida de um leitor porque traz reflexão, aprendizado e entretenimento", afirma Guilherme Samora, da Globo Livros.

Short teaser Na hora de vender livros vale tudo: de relançar clássicos da literatura a apostar em escritores não convencionais.
Author André Bernardo
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Item 18
Id 15183132
Date 2025-06-22
Title 1941: Alemanha nazista invade a URSS
Short title 1941: Alemanha nazista invade a URSS
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Marcha da Wehrmacht na Lituânia em 1941, durante a Operação Barbarossa

Planejada desde 1933, a invasão da União Soviética pelas tropas nazistas, chamada Operação Barbarossa, foi lançada em 22 de junho de 1941, dando início a um dos episódios mais brutais da era moderna.Já desde 1933, a liderança nazista se preparava para a guerra contra a então União Soviética, mas a investida, denominada Operação Barbarossa, ocorreria oito anos mais tarde. Em 22 de junho de 1941, um exército de 3 milhões de soldados marchou rumo ao leste da Europa, dando início a uma das guerras mais brutais já vistas na era moderna. Não foi um ataque preventivo do exército alemão, mas um ataque que ia contra o direito internacional e contra nações e pessoas completamente despreparadas. Foi o início de uma guerra de extermínio, com genocídio e uma ocupação brutal. O pacto de não agressão entre alemães e soviéticos, fechado quase dois anos antes, ainda valia. Mesmo assim, neste 22 de junho de 1941 foram postos em marcha três milhões de soldados alemães, com tudo o que a indústria de armamento nazista possuía: tanques, aviões, armas. Na madrugada, começava para a então União Soviética uma luta pela sobrevivência. A lenda de que Hitler teria se antecipado a uma invasão do Exército Vermelho planejada por Stalin perdurou por muitos anos. Mas não há provas históricas disso, segundo o historiador Wolfram Wette. Império do Atlântico aos Urais "O objetivo era conquistar a União Soviética e dizimar a população para explorar o país e, num futuro distante, colonizá-lo com alemães, criando um grande império alemão do Atlântico até os Urais", afirma o especialista. O genocídio dos judeus do Leste Europeu e a morte em massa de civis e prisioneiros de guerra foram planejados. Não houve resistência por parte da elite militar, mas a população alemã reagiu com consternação, apesar da onda de propaganda, temendo que ocorresse uma escalada desastrosa. Mas ninguém ainda imaginava que milhões de mortes ocorreriam do lado alemão. Além do exército alemão, marcharam também forças dos países aliados Itália, Finlândia e Romênia. "Blitzkrieg" fracassada Os países bálticos Belarus e Ucrânia foram simplesmente atropelados. Hitler e seus generais contavam com uma marcha rápida até a capital soviética, previam uma "blitzkrieg" de algumas semanas. Mas se enganaram. Poucos meses após a investida, o inverno pararia as unidades alemãs antes de chegarem a Moscou. Na perspectiva atual, aquele era o prelúdio da derrota de 1945. Três milhões de soldados alemães não retornariam à terra natal. "Mas a própria Rússia perdeu dez vezes mais pessoas. Delas, cerca de 10 milhões eram soldados do Exército Vermelho. Mais de 3 milhões eram prisioneiros de guerra russos nos campos alemães. Também 3 milhões de judeus russos foram sistematicamente assassinados pelos alemães. Cerca de 6 milhões de civis soviéticos caíram, de alguma forma, vítimas da política alemã de extermínio", ressalta Wette. Durante décadas, a responsabilidade alemã pela guerra de extermínio no leste não era tido como um tema abordado em debate público. Os alemães se recordavam, sobretudo, do próprio sofrimento. Além disso, persistiu por muito tempo a lenda de que o exército alemão praticou uma "guerra limpa", e que a responsabilidade pelos crimes de então fora das organizações nazistas, como as SS. Até pouco tempo, a população alemã jamais havia manifestado piedade pelo sofrimento do lado soviético. Somente pesquisas de historiadores críticos, e mais tarde exposições e debates despertaram um processo de mudança nessa mentalidade.


Short teaser Alemanha nazista invade a URSS, iniciando um dos episódios mais brutais da era moderna, na chamada Operação Barbarossa.
Author Cornelia Rabitz
Item URL https://www.dw.com/pt-br/1941-alemanha-nazista-invade-a-urss/a-15183132?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Marcha da Wehrmacht na Lituânia em 1941, durante a Operação Barbarossa
Image source picture-alliance/dpa/Buss
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Item 19
Id 72960625
Date 2025-06-22
Title O que é o Estreito de Ormuz, que o Irã ameaça fechar
Short title O que é o Estreito de Ormuz, que o Irã ameaça fechar
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Via por onde os petroleiros podem navegar tem largura reduzida, o que a torna congestionada e perigosa

Gargalo do comércio de petróleo, via marítima escoa cerca de 20 milhões de barris por dia. Guerra entre Israel e Irã encarece frete e aumenta medo na região.Após ter instalações nucleares bombardeadas pelos Estados Unidos, o parlamento do Irã aprovou neste domingo (22/06) o fechamento do Estreito de Ormuz, via por onde transitam navios vindos do Golfo Pérsico em direção ao Mar Arábico. A medida ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional, órgão liderado por um emissário do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Se concretizada, vai estrangular o fluxo de quase um quarto do petróleo comercializado por via marítima e atingir duramente interesses do Ocidente, provocando alta de preços e desestabilizando a economia global. Um bloqueio da via marítima também deve irritar os Estados Unidos, que têm uma frota inteira da Marinha baseada na região para assegurar a sua navegabilidade. Com apenas 33 quilômetros de largura, o Estreito de Ormuz é o gargalo para o transporte de petróleo mais importante do mundo, na definição da Administração de Informações de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês). No seu ponto mais estreito, a via pela qual os navios podem navegar tem apenas 3,2 quilômetros de largura em cada direção, o que a torna congestionada e perigosa. Grandes volumes de petróleo bruto extraídos por países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque, passam pelo estreito antes de chegarem a países consumidores em todo o mundo. Estima-se que cerca de 20 milhões de barris de petróleo bruto, condensado e combustíveis sejam transportados por ali diariamente, segundo dados da Vortexa, uma consultoria do mercado de energia e frete. O Catar, um dos maiores produtores mundiais de gás natural liquefeito (GNL), também depende fortemente do estreito para transportar suas exportações da commodity. Qual é a situação atual no estreito? A escalada do conflito entre Israel e o Irã aumentou a tensão sobre a segurança da hidrovia. No passado, o Irã já ameaçou fechar o Estreito de Ormuz ao tráfego em retaliação à pressão de países do Ocidente. Armadores estão cada vez mais cautelosos em usar o estreito. Alguns navios reforçaram a segurança a bordo, enquanto outros cancelaram rotas que passariam por ali, informou a agência de notícias AP. Por ora, não houve nenhum ataque significativo à navegação comercial na região. Mas dois petroleiros colidiram na costa dos Emirados Árabes Unidos em 17 de junho – os navios pegaram fogo, mas não houve vítimas nem derramamento de óleo. A interferência eletrônica nos sistemas de navegação de navios comerciais aumentou nos últimos dias ao redor da hidrovia e do Golfo, disseram fontes navais à agência de notícias Reuters. Essa interferência afeta os navios que navegam pela região. Como não parece haver um fim à vista para o conflito, os mercados ficam em alerta. Qualquer bloqueio da hidrovia ou interrupção no fluxo de petróleo poderia provocar um forte aumento nos preços do petróleo bruto e afetar os países importadores, especialmente na Ásia. O frete dos navios que transportam petróleo bruto e derivados na região já aumentou nos últimos dias. O custo do transporte de combustíveis do Oriente Médio para o Leste Asiático subiu quase 20% em três sessões até segunda-feira, informou a Bloomberg, citando dados da Baltic Exchange. O frete para a África Oriental aumentou mais de 40%. Quem seria mais afetado em um bloqueio? A EIA estima que 82% dos carregamentos de petróleo bruto e outros combustíveis que atravessam o estreito vão para consumidores asiáticos. China, Índia, Japão e Coreia do Sul são os principais destinos – esses quatro países juntos respondem por quase 70% de todo o fluxo de petróleo bruto e condensado que atravessa o estreito. Esses mercados provavelmente seriam os mais afetados por interrupções no transporte marítimo ali. Como um bloqueio afetaria o Irã e os países do Golfo? Se o Irã tomar medidas para fechar o estreito, isso poderia potencialmente provocar uma intervenção militar dos Estados Unidos. A Quinta Frota dos EUA, estacionada no vizinho Barein, tem a tarefa de proteger o transporte comercial na área. Qualquer movimento do Irã para interromper o fluxo de petróleo pela hidrovia também poderia comprometer as relações de Teerã com os países árabes do Golfo, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos – países com os quais o Irã tem melhorado as relações nos últimos anos de forma meticulosa. Os países do Golfo Pérsico vêm criticando Israel pelos ataques contra o Irã, mas se as ações de Teerã obstruírem suas exportações de petróleo, eles podem ser pressionados a se posicionar contra Teerã. Além disso, o Irã também depende do Estreito de Ormuz para enviar seu petróleo aos clientes, e fechar o estreito poderia ser um tiro no próprio pé. "A economia do Irã depende fortemente da livre passagem de mercadorias e navios pela rota marítima, já que suas exportações de petróleo são inteiramente marítimas", afirmaram à agência de notícias Reuters os analistas Natasha Kaneva, Prateek Kedia e Lyuba Savinova, do JP Morgan. "Fechar o Estreito de Ormuz seria contraproducente para o relacionamento do Irã com seu único cliente de petróleo, a China", disseram. Existem alternativas ao estreito? Países do Golfo Pérsico, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, desenvolveram nos últimos anos infraestruturas que lhes permitem transportar parte de seu petróleo bruto por outras rotas, contornando o estreito. A Arábia Saudita, por exemplo, opera o Oleoduto Leste-Oeste, com capacidade para transportar cinco milhões de barris por dia até o Mar Vermelho. E os Emirados Árabes Unidos têm um oleoduto que liga seus campos petrolíferos terrestres ao terminal de exportação de Fujairah, no Golfo de Omã. A EIA estima que cerca de 2,6 milhões de barris de petróleo bruto por dia produzidos na região poderiam contornar o Estreito de Ormuz em caso de bloqueio da hidrovia.


Short teaser Cerca de 20 milhões de barris de petróleo passam por ali por dia. Guerra encarece frete e aumenta medo na região.
Author Srinivas Mazumdaru
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-que-é-o-estreito-de-ormuz-que-o-irã-ameaça-fechar/a-72960625?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Via por onde os petroleiros podem navegar tem largura reduzida, o que a torna congestionada e perigosa
Image source Hamad I Mohammed/REUTERS
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Item 20
Id 72983727
Date 2025-06-21
Title Cidades alemãs oferecem estadia grátis para atrair moradores
Short title Cidades alemãs oferecem estadia grátis para atrair moradores
Teaser Municípios no leste do país estão convidando interessados a se hospedar na região, na esperança de incentivá-los a virar moradores. Crise demográfica e ultradireita preocupam.

"Não é difícil encontrar acomodações com preços acessíveis, não há engarrafamentos, não há hora do rush e nunca tive dificuldade em encontrar vaga para estacionar", diz Anika Franze, sorridente, atrás de sua mesa no centro da pequena cidade de Guben.

A mulher de 38 anos nasceu em Berlim Oriental, na antiga Alemanha comunista, e viveu a maior parte da sua vida antes e depois da queda do muro no mesmo bairro da capital. Mas ela diz que a agitação, a sensação de impotência em relação à crescente desigualdade e a dificuldade do mercado imobiliário há muito a faziam querer partir.

Dirigindo seu carro pelo estado vizinho de Brandemburgo, tendo apenas a rádio local como companhia, ela ouviu falar de um programa de "moradia de teste" (Probewohnen), que oferecia às pessoas a chance de se hospedar gratuitamente por até quatro semanas em Guben, na fronteira com a Polônia. A ideia era incentivar mais pessoas a se mudarem para a cidade e ajudar a combater o despovoamento.

Franze mora aqui há oito meses e agora gerencia o projeto que a trouxe à cidade. No local, ela consegue alugar um apartamento de 100 metros quadrados com closet por menos do que pagaria por um quarto em um dos apartamentos compartilhados menos desejáveis de Berlim.

"Aqui é sempre tranquilo, não há poluição sonora, há menos lixo nas ruas e você sempre encontra pessoas conhecidas, o que acho muito bom", explica ela durante um tour pelo centro da cidade, que inclui um rápido passeio à beira do rio Neisse para comer um bolo sofisticado em um café polonês.

Trinta pessoas participaram do programa de Guben no ano passado, e seis delas se mudaram para cá para ficar por um longo período. Franze diz que mais pessoas buscaram o programa como resultado da cobertura da imprensa.

Projetos semelhantes também foram lançados em cidades próximas na região de Lusácia, incluindo Frankfurt (Oder) e, mais recentemente, em Eisenhüttenstadt, originalmente chamada de Stalinstadt, a primeira cidade-modelo socialista planejada e construída na finada República Democrática Alemã.

Novas soluções para população em declínio

Guben é apenas uma das centenas de cidades industriais da antiga Alemanha Oriental que passaram por grandes mudanças demográficas após a Reunificação Alemã, em 1990. O declínio da taxa de natalidade, a emigração em especial de jovens para estados do oeste do país e o aumento da expectativa de vida aceleraram o envelhecimento da população.

Atualmente, 16,6 mil pessoas vivem em Guben, quase metade dos 29,1 mil habitantes registrados em 1995. Espera-se que esse número diminua mais 16% até 2030, com uma redução estimada de 27% na população em idade produtiva. A idade média atual é de 58 anos, e segue aumentando. "Estamos perdendo uma geração inteira", disse o prefeito da cidade, Fred Mahro, ao jornal TAZ quando o programa foi lançado.

No outono passado, a Bertelsmann Stiftung, uma fundação independente da sociedade civil, publicou um estudo que concluiu que a Alemanha continuaria dependendo da imigração para cobrir sua demanda estimada do mercado de trabalho. Além disso, devido à situação demográfica parecida em outros países europeus, a migração teria que vir de países de fora da UE.

"Do ponto de vista econômico, precisamos garantir que os locais continuem atrativos, que sejam criados incentivos para que as empresas se instalem lá, mas é muito mais do que isso – por exemplo, uma cultura acolhedora e interação social", diz Susanne Schultz, especialista em política de migração da Fundação Bertelsmann.

Schultz aponta para uma pesquisa publicada pela Agência Federal de Emprego na semana passada, mostrando que pouco mais de um quarto das pessoas nascidas no exterior e que imigraram para a Alemanha entre 18 e 65 anos consideraram no ano passado deixar o país.

Dois terços dos entrevistados citaram a discriminação como motivo para partir, e um terço disse não se sentir bem-vindo ou apenas ligeiramente bem-vindo. A retórica e as políticas de imigração, como, por exemplo, a recente decisão de impedir que as famílias de certos grupos de refugiados se mudem para a Alemanha, estão enviando sinais errados, segundo Schultz.

"A insatisfação com a política foi o principal motivo, e acho que muito disso tem a ver com os acontecimentos do último ano e meio – o clima realmente mudou na Alemanha", disse ela à DW, acrescentando que é necessária uma abordagem multifacetada para ajudar as pessoas a se integrarem social e economicamente.

O problema de imagem provocado pela ultradireita

No esforço para atrair novos residentes, os estados do leste da Alemanha também têm que lidar com o problema da imagem associada a ser um dos berços do extremismo de direita. Guben ganhou as manchetes em 1999 quando um requerente de asilo argelino, Farid Guendoul, sangrou até a morte ao colidir contra uma vidraça enquanto fugia de neonazistas.

Cerca de 42% dos moradores locais votaram no partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) nas eleições federais de fevereiro de 2025. Franze diz que os números não refletem a vida cotidiana na cidade, e está frustrada com o foco na AfD, quando quase 60% dos moradores votaram em partidos moderados ou liberais.

"As pessoas têm seus preconceitos e clichês, mas, pela minha experiência, ainda é possível se conectar com elas, talvez elas só precisem de um pouco de tempo porque não estão acostumadas com muita diversidade", diz. "Não imagino que seja diferente em qualquer outra pequena cidade europeia."

Agora no seu segundo ano, o programa em Guben recebeu 40 inscrições de toda a Alemanha, bem como da Bélgica, Argélia, Egito e Brasil. Os candidatos selecionados serão alojados em apartamentos recém-reformados por uma contribuição de apenas 100 euros.

Há também a oportunidade de participar de encontros sociais semanais com os moradores, fazer uma contribuição artística para a cidade em cooperação com um museu local e fazer um estágio em uma empresa local.

Guben já foi famosa por sua indústria têxtil e chapelaria: os primeiros chapéus de feltro de lã à prova de intempéries foram fabricados aqui, e uma fábrica de fibras sintéticas, inaugurada em 1960, foi por muito tempo a maior empregadora do distrito.

Investimentos da União Europeia e do governo alemão estão agora sendo injetados na região da Lusácia, à medida que a mineração de lignite, também conhecida como carvão marrom, é gradualmente eliminada como parte da transição para uma economia neutra em carbono.

Franze diz que atualmente há cerca de 300 vagas de emprego abertas: a fabricante americana de salames BiFi abriu uma fábrica aqui em 2024, a rede de padarias Dreissig também tem uma unidade de produção no local e a produtora canadense de baterias de lítio Rock Tech vai inaugurar uma fábrica do tamanho de 17 campos de futebol.

No momento, Franze desfruta de uma vida um pouco mais tranquila do que na capital alemã, e realizou seu sonho de infância de aprender a andar a cavalo. "Não sei se quero envelhecer aqui, mas também não sei se gostaria de fazer isso em Berlim", diz.

Short teaser Municípios no leste do país convidam interessados a se hospedar lá, na esperança de incentivá-los a virarem moradores.
Author Rina Goldenberg-Huang
Item URL https://www.dw.com/pt-br/cidades-alemãs-oferecem-estadia-grátis-para-atrair-moradores/a-72983727?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 21
Id 72983763
Date 2025-06-21
Title Café ajuda mulheres a envelhecerem com mais saúde, diz estudo
Short title Com café, mulheres envelhecem mais saudáveis, diz estudo
Teaser

Café pode oferecer benefícios em combinação com fatores como exercícios regulares e dieta saudável

Consumo regular de café reduz risco de doenças cardiovasculares e protege contra demência diabetes e AVCs, segundo estudo da Universidade de Harvard.Com seu aroma, sabor intenso e efeito revigorante, o café é uma espécie de elixir da vida para muita gente ao redor do mundo. Cerca de 70% da população mundial degusta a bebida regularmente. Ela não serve só para despertar, mas também tem efeitos significativamente mais positivos na saúde do que se pensava anteriormente. De acordo com um novo estudo da Universidade de Harvard, o consumo regular de café ajuda as mulheres a envelhecerem de modo saudável. Consumir até 2,5 xícaras por dia reduz o risco de doenças cardiovasculares, especialmente em mulheres de meia-idade, e pode prevenir o diabetes tipo 2. A pesquisa foi apresentada na reunião anual da Sociedade Americana de Nutrição, em Orlando. Ela se baseou em dados dos últimos 30 anos de cerca de 47 mil mulheres, contidos no relatório Nurses' Health Study, que desde 1984 coleta informações nutricionais e de saúde, incluindo o consumo de cafeína. "Envelhecimento saudável" foi definido no estudo como a vida até os 70 anos ou mais, sem doenças crônicas graves ou limitações físicas, mentais e cognitivas. Cafeína não é igual a cafeína A cafeína tem efeito revigorante porque bloqueia os receptores de adenosina no cérebro, que normalmente causam sensação de cansaço. Assim, as células nervosas funcionam mais ativamente, deixando o indivíduo mais alerta e com pensamentos mais claros. A substância também estimula a liberação do neurotransmissor dopamina, conhecido como "hormônio da felicidade", relacionado à sensação de bem-estar. Porém o estudo de Harvard ressalva que outras fontes de cafeína, como refrigerantes de cola ou energéticos, não têm o mesmo efeito positivo. Pelo contrário: apenas um copo por dia dessas bebidas reduz a probabilidade geral de um envelhecimento saudável em 19%. O consumo de café ou chá descafeinado tampouco promove o envelhecimento saudável. "Os resultados sugerem que o café com cafeína – ao contrário do chá ou do café descafeinado – pode auxiliar de forma única o processo de envelhecimento, preservando assim funções mentais e físicas", afirma Sara Mahdavi, que liderou o estudo. O que é causa, o que é efeito? Os autores do estudo também abordam a questão da causalidade ou correlação: as mulheres envelhecem melhor porque bebem café regularmente, ou outros fatores proporcionam um envelhecimento saudável? Entre esse fatores poderiam estar uma dieta saudável e atividades físicas regulares. Os estilos de vida, em particular, mudaram significativamente nos últimos 30 anos. "O consumo moderado de café pode oferecer alguns benefícios protetores quando combinado a outros comportamentos que promovem a saúde, como exercício regular, uma dieta saudável e o abandono do tabagismo. Embora este estudo reforce as indicações já existentes de que o consumo de café está associado ao envelhecimento saudável, os efeitos positivos da bebida são relativamente pequenos em comparação com a influência de hábitos de vida saudáveis em geral, e requerem mais investigação", observa Sara Mahdavi. Vários indícios dos efeitos positivos do café O café não é nem exclusivamente saudável, nem nocivo. Consumido com moderação, pode ter efeitos positivos, enquanto o consumo excessivo pode ter consequências negativas, especialmente para os idosos, podendo causar nervosismo, aumento da pressão arterial e distúrbios do sono. Contudo, nos últimos anos, um número surpreendente de estudos confirmou os efeitos positivos do café para a saúde. Ainda assim, são necessárias mais pesquisas para confirmar essas conclusões. Por exemplo, em 2024, pesquisadores chineses constataram que o consumo moderado de café (três xícaras por dia) reduz significativamente o risco de problemas de acidentes vasculares cerebrais (AVCs), diabetes, hipertensão, dislipidemia e obesidade. Segundo outros estudos, o consumo moderado reduz ligeiramente o risco de AVCs em mulheres, além de favorecer o coração, pulmões e bexiga, proteger contra doenças hepáticas e reduzir a gordura corporal. O café também protege contra a demência, inibe as placas de Alzheimer e previne o mal de Parkinson, e acredita-se que reduza o risco de depressão e proteja contra perda auditiva e tinidos. Antioxidantes e vitaminas no café O café é composto por mais de mil componentes diferentes, dos quais cerca de 80% já foram estudados. Os mais importantes são cafeína, carboidratos, gorduras (lipídios), proteínas, ácidos, vitaminas do complexo B e outros, minerais e antioxidantes. Ainda são necessários estudos mais aprofundados para determinar exatamente quais componentes afetam a saúde e como. No entanto, são muitos os indícios de que o consumo moderado de café pode ser realmente saudável. Para adultos saudáveis isso significa um máximo de 400 miligramas de cafeína por dia, ou seja, 3 a 4 xícaras de café de filtro ou 4 a 5 expressos. Os componentes naturais são mais eficazes quando o café é bebido puro e sem açúcar. É melhor evitar adicionar creme, mas um pouco de leite não prejudica os antioxidantes que a bebida contém. Antioxidantes são substâncias especiais, como o ácido clorogênico, que neutralizam os radicais livres nocivos, reduzindo assim os danos celulares, inflamação e enfermidades relacionadas à idade, como problemas cardíacos, câncer ou doenças cerebrais. Tudo isso retarda o processo de envelhecimento.


Short teaser Consumo de café reduz risco de doenças cardiovasculares e protege contra demência e diabetes, afirma estudo de Harvard.
Author Alexander Freund
Item URL https://www.dw.com/pt-br/café-ajuda-mulheres-a-envelhecerem-com-mais-saúde-diz-estudo/a-72983763?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Café pode oferecer benefícios em combinação com fatores como exercícios regulares e dieta saudável
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Item 22
Id 72986020
Date 2025-06-21
Title Ataques israelenses agravam situação de refugiados afegãos no Irã
Short title Conflito agrava situação de refugiados afegãos no Irã
Teaser Em meio à ofensiva israelense, refugiados no Irã enfrentam abusos, fome e medo de deportação enquanto buscam segurança longe do regime talibã.

O conflito entre Irã e Israel está sendo sentido pelos afegãos tanto em seu país quanto do outro lado da fronteira, no Irã. O combate piora ainda mais as condições já críticas do Afeganistão, onde os preços dos produtos importados do lado iraniano dispararam.

Enquanto isso, milhões de afegãos que fugiram para o Irã em busca de segurança enfrentam agora incertezas e pressões renovadas das autoridades, com a escalada do conflito armado: "Não temos onde morar", queixa-se a refugiada afegã Rahela Rasa. "Tiraram a nossa liberdade de ir e vir. Somos assediados, insultados e maltratados."

Condições deterioram para afegãos no Irã

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) registra que cerca de 4,5 milhões de afegãos residem no Irã, embora segundo outras fontes esse número possa ser muito maior. O Irã já deportou milhares de afegãosnos últimos anos, mas o afluxo continua. Muitos buscam emprego ou refúgio do regime do Talibã.

Depois da saída dos Estados Unidos do Afeganistão, em 2021, o Talibã desmantelou a mídia e a sociedade civil do país, perseguiu ex-membros das forças de segurança e impôs severas restrições a mulheres e meninas, proibindo-as de trabalhar e estudar.

As condições também se deterioraram para os afegãos que vivem em solo iraniano. Os refugiados só têm permissão para comprar alimentos a preços extremamente inflacionados e estão proibidos de sair da capital, Teerã.

Sob anonimato, uma refugiada comenta que não consegue comprar leite em pó para seu bebê: "Em todo lugar aonde eu vou, eles se recusam a vender para mim, porque não tenho documentos necessários."

Sem opção de retorno

Atualmente alvo de ataques israelenses, o Irã, que antes oferecia abrigo, já não parece mais seguro. Alguns afegãos já morreram em bombardeios. Abdul Ghani, da província afegã de Ghor conta que seu filho Abdul Wali, de 18 anos, recentemente concluiu os estudos e se mudou para o Irã para ajudar a família.

"Na segunda-feira, falei com o meu filho e pedi que nos enviasse algum dinheiro. Na noite seguinte, seu empregador me ligou para informar que ele havia sido morto em um ataque. Meu coração está partido. O meu filho se foi."

Retornar ao Afeganistão não é uma opção viável para a maioria dos refugiados, que temem ser perseguidos pelo regime talibã. Um ex-membro das forças de segurança do Afeganistão, falando sob anonimato, revela que vivia em medo constante: "Não podemos voltar ao Afeganistão, o Talibã nos perseguiria."

Mohammad Omar Dawoodzai, ex-ministro do Interior afegão e embaixador no Irã no governo anterior, insta a comunidade internacional a agir para proteger ex-funcionários e militares que podem ser forçados a retornar ao Afeganistão se o conflito entre Israel e Irã se prolongar.

"Estou particularmente preocupado com os ex-militares e servidores públicos que fugiram para o Irã após a tomada do poder pelo Talibã. A comunidade internacional deve responsabilizar o Talibã e garantir que os repatriados não sejam perseguidos."

Traficantes de pessoas exploram medos

Redes de tráfico humano parecem estar explorando o desespero dos refugiados afegãos. Circularam rumores sugerindo que a Turquia abriu as suas fronteiras.

Mas Ali Reza Karimi, um defensor dos direitos dos migrantes, nega a abertura das fronteiras, afirmando tratar-se de informação de falsa, espalhada por traficantes. Os voos estão suspensos, e a fronteira da Turquia só está aberta para cidadãos iranianos e viajantes com passaporte e visto válidos, e permanece fechada para afegãos. Ele aconselha os refugiados afegãos a não caírem nas mentiras dos traficantes e evitarem armadilhas.

O ex-ministro Dawoodzai reforça: "Fui informado que traficantes de pessoas estão dizendo aos refugiados para se dirigirem à Turquia, alegando que as fronteiras estão abertas, mas isso cria mais uma tragédia. Chegando lá, eles só vão descobrir que as fronteiras estão fechadas."

Ele apela aos refugiados afegãos no Irã para que não precipitem: "Na medida do possível, nosso povo deve permanecer onde está e esperar pacientemente. E se, por qualquer motivo, forem forçados a se mudar, que se dirijam à fronteira afegã, não à Turquia."

Short teaser Conflito Irã-Israel agrava crise de refugiados afegãos no Irã, que enfrentam abusos, fome e medo de deportação.
Author Shakila Ebrahimkhail, Ahmad Waheed Ahmad
Item URL https://www.dw.com/pt-br/ataques-israelenses-agravam-situação-de-refugiados-afegãos-no-irã/a-72986020?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Ataques%20israelenses%20agravam%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20refugiados%20afeg%C3%A3os%20no%20Ir%C3%A3

Item 23
Id 72989247
Date 2025-06-20
Title Deutsche Welle nomeia sua nova diretora-geral
Short title Deutsche Welle nomeia sua nova diretora-geral
Teaser

Barbara Massing foi nomeada diretora-geral da DW, tornando-se a primeira mulher a liderar a emissora alemã

Emissora internacional da Alemanha terá sua primeira diretora-geral. Barbara Massing foi nomeada pelo Conselho de Radiodifusão da DW e substituirá Peter Limbourg a partir de outubro.A emissora internacional alemã Deutsche Welle (DW) anunciou nesta sexta-feira (20/06) que Barbara Massing substituirá Peter Limbourg na direção da empresa a partir de 1º de outubro de 2025. "Estou muito feliz em nomear Barbara Massing como a próxima diretora-geral", disse Karl Jüsten, presidente do Conselho de Radiodifusão da DW e do comitê de seleção. Segundo Jüsten, Massing "traz não apenas liderança de alto nível e experiência jornalística, mas também a visão estratégica necessária a posicionar a Deutsche Welle para o sucesso de longo prazo num ambiente midiático global desafiador". Como diretora executiva de administração de negócios, Massing tem sido fundamental para a expansão da programação da DW, bem como para a otimização da organização. Jüsten enfatizou que ela "é exatamente a líder que a Deutsche Welle precisa para fortalecer seu papel como uma voz global confiável e independente pela democracia e a liberdade". Achim Dercks, vice-diretor do conselho consultivo, também elogiou o sucesso de Massing na expansão e reestruturação das atividades da emissora e se comprometeu a trabalhar ao lado dela para garantir que a DW "continue sendo uma voz relevante no mundo, fornecendo informações gratuitas", em tempos que descreveu como "geopoliticamente desafiadores". Massing agradeceu ao conselho pela confiança em sua liderança e pela oportunidade de ajudar a moldar o futuro da emissora: "O jornalismo confiável e baseado em fatos é o nosso maior patrimônio e é mais importante do nunca, em tempos de conteúdos manipulados por inteligência artificial e desinformação", comentou Massing. A indicação de Massing foi apresentada após uma decisão unânime do comitê de seleção de sete membros do Conselho de Radiodifusão. Massing substituirá o diretor-geral atual, Peter Limbourg, que anunciou sua aposentadoria em setembro de 2024, tendo ocupado o cargo desde 2013. Primeira mulher a liderar a DW Advogada de formação, Barbara Massing ingressou na DW em 2006 e passou a integrar da equipe de gestão em 2014, após ter trabalhado como produtora para a emissora pública alemã ARD e para a franco-alemã Arte. Ocupando, entre outros, cargos nos conselhos consultivos do festival Beethovenfest e do Hospital Universitário de Bonn, ela se tornará a primeira mulher a liderar a DW desde a fundação da empresa, em 3 de maio de 1953. Ao longo da carreira, tem se dedicado à transformação digital, cultura organizacional e sustentabilidade. A direção-geral é responsável por dirigir e coordenar as atividades estratégicas e operacionais da DW, em estreita colaboração com seus órgãos dirigentes. De acordo com a Lei da DW, o diretor-geral deve ser eleito por voto secreto pelo Conselho de Radiodifusão para um mandato de seis anos, sendo necessário maioria de dois terços. A reeleição é permitida. Como emissora internacional da Alemanha, a DW fornece notícias e informações em 32 idiomas ao redor do mundo, com serviços de TV, online e rádio que atingem 320 milhões de usuários por semana. A empresa emprega cerca de 4 mil funcionários de 140 países. O trabalho da DW é voltado para tópicos como liberdade e direitos humanos, democracia e Estado de direito, comércio mundial e justiça social, saúde, educação e proteção ambiental, tecnologia e inovação.


Short teaser Emissora internacional da Alemanha terá sua primeira diretora-geral. Barbara Massing assumirá a DW em outubro.
Author Jon Shelton
Item URL https://www.dw.com/pt-br/deutsche-welle-nomeia-sua-nova-diretora-geral/a-72989247?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/72978165_354.jpg
Image caption Barbara Massing foi nomeada diretora-geral da DW, tornando-se a primeira mulher a liderar a emissora alemã
Image source Ayse Tasci/DW
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Item 24
Id 72982855
Date 2025-06-20
Title Escrever texto com ChatGPT faz mal ao cérebro, sugere estudo
Short title Escrever texto com ChatGPT faz mal ao cérebro, sugere estudo
Teaser

Disseminado no Brasil, uso de inteligência artificial na rotina de estudos preocupa especialistas por possíveis danos à criatividade e ao aprendizado

Pesquisa americana mostra que quem usa excessivamente a inteligência artificial arrisca não saber mais reproduzir ou explicar argumentos. Para especialistas, resultados do levantamento causam preocupação.Usar ferramentas de inteligência artificial (IA) como o ChatGPT para escrever textos pode provocar custos cognitivos nos usuários e diminuir a capacidade de aprendizado. Esta foi a revelação de um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, que investigou o potencial impacto de modelos de linguagem de larga escala na educação. Segundo os pesquisadores, os usuários destas ferramentas tendem a apresentar desempenho consistentemente inferior nos níveis neural, linguístico e comportamental. "Esses resultados levantam preocupações sobre as implicações educacionais de longo prazo da dependência dos Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs, na sigla em inglês) e ressaltam a necessidade de uma investigação mais profunda sobre o papel da IA no aprendizado", afirmou o estudo publicado neste mês. Os pesquisadores argumentam que mais conhecimento sobre os seus impactos é necessário diante do avanço rápido da IA pelo mundo. Neurônios menos ativos O estudo contou com 54 participantes, que foram divididos em três grupos de 18 pessoas para produzir redações: usuários do modelo GPT-4o da OpenAI, que funciona no aplicativo ChatGPT, usuários do Google como mecanismo de busca e autores recorrendo apenas ao próprio cérebro, sem auxílio de nenhuma ferramenta externa. Os recrutados incluíram estudantes, cientistas e engenheiros de cinco universidades da região de Boston. Ao longo de quatro meses, cada participante participou de três sessões de escrita, com todos recebendo as mesmas tarefas. Para cada sessão, os participantes deveriam escolher uma dentre três opções de tema, incluindo assuntos que falam a experiências individuais ou de conhecimento geral, como felicidade, coragem, entusiasmo, arte ou filantropia. Por meio de encefalogramas, os pesquisadores mediram o seu engajamento e carga cognitivos durante as sessões — ou seja, quanto cada um estava efetivamente envolvido com a tarefa e qual era o esforço mental para processar as informações necessárias para completá-la. No final, 18 dos participantes ainda integraram uma quarta sessão, na qual foram trocados de grupo. Os exames revelaram "diferenças significativas na conectividade do cérebro", escreveram os pesquisadores, com reduções sistemáticas de acordo com a quantidade de ajuda externa utilizada pelos autores das redações. Os participantes que não recorreram a nenhuma ferramenta externa apresentaram o funcionamento cerebral mais forte e bem distribuído. Já os usuários de mecanismos de busca tiveram engajamento moderado, e aqueles que usaram ferramentas de IA demonstraram menor conectividade, sugerindo menos esforço e engajamento. "Questão urgente" para aprendizado Os autores dos textos foram também entrevistados após cada sessão e tiveram suas produções avaliadas por professores e por uma ferramenta de IA criada especificamente para o estudo. Para os participantes que escreveram com ajuda de IA, foi menor a capacidade de responder a perguntas simples sobre o próprio trabalho, mesmo poucos minutos após a sua finalização. Dentre eles, 83% não conseguiram recitar uma frase do próprio texto de cabeça, contra 11% no grupo que só usou ajuda do Google. Além disso, nenhum dos autores que tiveram ajuda de IA soube corretamente reproduzir corretamente os pontos principais da redação. Já no grupo que usou o Google, apenas três pessoas não conseguiram. Dentre os participantes que não usaram ferramenta nenhuma, o número caiu para dois participantes. "Embora os LLMs ofereçam conveniência imediata, nossas descobertas destacam possíveis custos cognitivos", avaliam os oito cientistas que assinam a pesquisa. "Demonstramos a questão urgente de uma provável redução nas habilidades de aprendizagem." Outros estudos já indicaram que ferramentas como o ChatGPT reduzem o esforço cognitivo imediato para os usuários, mas podem também diminuir a capacidade de pensamento crítico e a criatividade. Para os pesquisadores do MIT, o fenômeno levanta preocupações para contextos educacionais, onde é fundamental desenvolver capacidades cognitivas robustas. Uso exacerbado no Brasil Já uma pesquisa do ano passado realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), em parceria com a Educa Insights, revelou que sete a cada dez estudantes universitários ou que consideram entrar para a graduação usam a IA para estudar. De 300 entrevistados ouvidos entre 2023 e 2024 ao redor do Brasil, 42% disse usar ferramentas de IA semanalmente e 29%, diariamente. O que torna a nova tecnologia atraente para os estudantes é, sobretudo, a possibilidade de aprender a qualquer momento e em qualquer lugar, o acesso a conteúdo atualizado e diverso e a capacidade de resolver problemas ou dúvidas de maneira mais rápida e eficiente, de acordo com o estudo. Mais de 40% dos participantes também reconhecem, entretanto, o risco de dependência excessiva de tecnologias que podem ficar obsoletas rapidamente e de que a IA produza erros. Orientações para sala de aula Diante do desafio, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) publicou no ano passado um guia para uso de IA generativa no ensino e pesquisa, a fim de que o seu uso seja "orientado a proteger a agência humana e a beneficiar genuinamente os estudantes, os aprendizes e os pesquisadores". Na prática, as recomendações incluem adotar medidas que possam manter a motivação dos alunos para crescer e aprender. Por exemplo, evitar o uso de IA em detrimento da observação do mundo real, discussões em grupos, a realização de experimentos ou exercícios de raciocínio lógico. Além disso, os especialistas afirmam que é importante garantir interação social e exposição à criatividade humana, para evitar que os estudantes se tornem viciados ou dependentes da IA. "A IA não deve usurpar a inteligência humana. Pelo contrário, ela nos convida a reconsiderar as nossas compreensões estabelecidas sobre o conhecimento e a aprendizagem humana," disse Stefania Giannini, Diretora-Geral Adjunta de Educação da Unesco. O documento enfatizou, ainda, a necessidade de instituições educacionais validarem, inclusive recorrendo a especialistas, os sistemas usados em sala de aula quanto à sua educação ética e pedagógica. Aos governos ao redor do mundo, por sua vez, cabe criar regulações, segundo a agência da ONU. ht (Agência Brasil, ots)


Short teaser Pesquisa mostra que quem usa inteligência artificial tende a não saber reproduzir ou explicar argumentos.
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Image caption Disseminado no Brasil, uso de inteligência artificial na rotina de estudos preocupa especialistas por possíveis danos à criatividade e ao aprendizado
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Item 25
Id 72974087
Date 2025-06-20
Title Aumento de câncer de apêndice entre jovens preocupa cientistas
Short title Câncer de apêndice cresce entre jovens e alarma cientistas
Teaser

Câncer de apêndice fazer parte de uma tendência de aumento nas taxas de câncer em jovens adultos

Embora incidência ainda seja extremamente baixa, casos chegaram a quadriplicar entre os mais jovens. Na tentativa de entender os motivos, cientistas apontam fatores ambientais.Um aumento na incidência de um dos tipos mais raros de câncer tem intrigado os cientistas. O alerta partiu de um novo estudo publicado na revista Annals of Internal Medicine, onde consta que o número de casos de câncer de apêndice, cuja incidência geralmente se limita a adultos mais velhos, aumentou drasticamente nos últimos anos, sobretudo entre pessoas nascidas após a década de 1970. Embora o número de pessoas com câncer de apêndice ainda seja muito baixo — apenas algumas pessoas por milhão desenvolvem a doença por ano — a incidência chegou aumentou significativamente nas gerações mais jovens, em comparação com aqueles nascidos na década de 1940. Em comparação com as pessoas nascidas de 1941 a 1949, as taxas de incidência de câncer de apêndice mais do que triplicaram entre as pessoas nascidas entre 1976 e 1984 e mais do que quadruplicaram entre as pessoas nascidas entre 1981 e 1989, de acordo com pesquisa. Pelo levantamento, esses aumentos na incidência ocorreram de 1975 a 2019. O que preocupa os especialistas em saúde é o fato de o câncer de apêndice fazer parte de uma tendência de aumento nas taxas de câncer em jovens adultos. Nesta faixa etária (entre 15 e 39 anos), tem se observado maior número de casos de câncer colorretal, testicular, de mama, de ovário e de pâncreas, entre outros. A tendência é observada em todas as regiões do mundo. Um estudo publicado na revista The Lancet constatou que as taxas de incidência de câncer colorretal de início precoce têm aumentado em 27 dos 50 países e territórios examinados. O principal desafio para a saúde no futuro é que os jovens podem carregar esse risco aumentado de câncer consigo na velhice, o que pode prejudicar o progresso significativo no tratamento do câncer nas últimas décadas. "Essa mudança deixou muitos especialistas perplexos e em busca de respostas", escreveu Justin Stebbing, cientista biomédico da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, na publicação especializada Conversation. O que está provocando o aumento das taxas de câncer entre jovens adultos? Ainda não se sabe o que está fazendo com que a incidência de câncer entre jovens seja maior hoje do que há cinquenta anos. Embora haja um consenso de que certos fatores de risco podem influenciar tais doenças, os pesquisadores ainda não conseguem responder como ou mesmo se de fato há uma correlação direta. Tabagismo, obesidade e dieta são fatores de risco já comprovados, mas como eles impactam a doença permanece um enigma. Cientistas descartaram fatores genéticos, pois afirmam que esta tese não explicaria por que isso acontece em uma faixa etária específica. Até agora, a melhor explicação é que pessoas nascidas na década de 1990 foram expostas a produtos químicos e outros fatores ambientais que não existiam até então. Alguns estudos, por exemplo, atribuem o aumento à exposição a microplásticos e "produtos químicos eternos", também chamados PFAS, encontrados no ambiente. Outros associam o aumento nas taxas de câncer de início precoce a alterações no microbioma intestinal, com mudanças na dieta ou o aumento do uso de antibióticos como possíveis causas. Alguns estudos também culpam a chamada "dieta ocidental" e o consequente aumento das taxas de obesidade pelo aumento na incidência de câncer de início precoce. A típica dieta ocidental é caracterizada por um alto consumo de alimentos ultraprocessados ​​e açúcar, além da escassez de frutas, vegetais e fibras. Até o momento, contudo, tais estudos forneceram apenas ligações correlativas, ou seja, todos esses fatores podem estar meramente associados à doença ou até favorecê-la, sem necessariamente ser a causa da mesma, especialmente entre os mais jovens. Como reduzir o risco de câncer O conselho dos médicos é focar na prevenção e na conscientização, com a principal recomendação em torno do estilo de vida, a fim de reduzir a exposição aos fatores de risco. "Manter um peso saudável, ter uma dieta balanceada, rica em frutas, vegetais e grãos integrais, e permanecer fisicamente ativo são medidas que podem reduzir o risco de muitos tipos de câncer", escreveu Stebbing. A Cancer Research UK, uma das muitas organizações no mundo voltada ao tema, tem as seguintes dicas sobre como reduzir os riscos de contrair câncer: • Tenha uma dieta saudável e equilibrada, rica em alimentos frescos e não processados • Use protetor solar • Reduza o consumo de álcool e tabaco • Mantenha um peso saudável e pratique exercícios regularmente • Tome a vacina contra o HPV


Short teaser Embora incidência ainda seja extremamente baixa, câncer de apêndice chegou a quadriplicar entre os mais jovens.
Author Fred Schwaller
Item URL https://www.dw.com/pt-br/aumento-de-câncer-de-apêndice-entre-jovens-preocupa-cientistas/a-72974087?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Câncer de apêndice fazer parte de uma tendência de aumento nas taxas de câncer em jovens adultos
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Item 26
Id 72978946
Date 2025-06-19
Title Morre o ator Francisco Cuoco, aos 91 anos
Short title Morre o ator Francisco Cuoco, aos 91 anos
Teaser Com mais de 60 anos de carrreira, Cuoco marcou uma geração com novelas como "Selva de Pedra" e "O Astro" e se tornou um dos grandes nomes da TV brasileira.

O ator Francisco Cuoco, considerado um dos grandes nomes da televisão brasileira, morreu nesta quinta-feira (19/06) aos 91 anos, após 20 dias de internação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A causa da morte foi falência múltipla dos órgãos.

Nascido em 29 de novembro de 1933, em São Paulo, Cuoco estreou profissionalmente no teatro no final da década de 50, em peça ao lado de Fernanda Montenegro. Com mais de 60 anos de carreira, passou também pela televisão e pelo cinema.

Na TV Globo, marcou uma geração por sua atuação em novelas como O Cafona (1971), Selva de Pedra (1972), Pecado Capital (1975), O Astro (1977) e O Outro (1987). Aos poucos, se tornou um dos eternos galãs da televisão brasileira, contracenando com nomes como Betty Faria e Tarcísio Meira.

Entre o final da década de 90 e o início dos anos 2000, atuou em filmes como Traição (1998), Gêmeas (1999), Um Anjo Trapalhão (2000), A Partilha (2001) e Cafundó (2005).

Em 2005, voltou ao teatro ao lado de Gracindo Jr. e Chico Tenreiro com a peça Três Homens Baixos.

Seu último papel na televisão foi em 2023, na série No Corre, do Multishow. Cuoco deixa três filhos.

"Lendária figura do eterno galã"

Nas redes sociais, artistas se despediram de Cuoco.

O ator Miguel Falabella escreveu que agora "cai o pano para este ator que habitou o imaginário de todos nós por tantos anos". "Por trás da lendária figura do eterno galã, havia um homem sensível, um colega engraçado e espirituoso e um profissional de primeira", disse.

O dramaturgo Walcyr Carrasco também se manifestou. "Francisco Cuoco foi um mestre em cena, um ator que marcou gerações. Sua arte ficará para sempre em nossos corações."

gq (Lusa, ots)

Short teaser Ator marcou uma geração com novelas como "Selva de Pedra" e "O Astro" e se tornou um dos grandes nomes da TV brasileira.
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Item 27
Id 72978681
Date 2025-06-19
Title IA ajuda a desvendar mistério sobre autoria da Bíblia
Short title IA ajuda a desvendar mistério sobre autoria da Bíblia
Teaser

Os pesquisadores encontraram padrões linguísticos ocultos em textos bíblicos escritos há aproximadamente 2.800 anos

Pesquisadores identificaram padrões linguísticos típicos dos grupos autorais de diferentes capítulos bíblicos. Análise sugere, por exemplo, que trechos do livro de Gênesis foram adicionados em um período posterior.Um grupo internacional de pesquisadores desenvolveu um método que utiliza inteligência artificial (IA) e modelagem estatística para identificar quais grupos autorais escreveram partes da Bíblia. Publicado neste mês na revista acadêmica Plos One, o estudo combina tecnologia de ponta com análise linguística para diferenciar os estilos autorais de diversos trechos bíblicos, alguns dos quais foram escritos há aproximadamente 2.800 anos e evoluíram ao longo dos séculos. Thomas Römer, especialista bíblico do Collège de France e coautor do estudo, esclarece que a Bíblia não possui autores no sentido moderno. "As versões originais dos pergaminhos foram continuamente reelaboradas e reescritas por redatores que acrescentavam, alteravam e, às vezes, também omitiram partes dos textos anteriores." Na prática, a IA foi usada para identificar padrões linguísticos e diferenciar autores de capítulos bíblicos. Por exemplo, a análise indica que trechos sobre Abraão no livro de Gênesis não correspondem às principais correntes autorais, reforçando a hipótese de que foram redigidos posteriormente. Origens do projeto Em 2010, a matemática Shira Faigenbaum-Golovin e o arqueólogo Israel Finkelstein se uniram para analisar inscrições em fragmentos antigos de cerâmica. Aplicando técnicas estatísticas para comparar estilos de escrita, conseguiram diferenciar autores de textos datados de 600 a.C. O modelo usado em inscrições feitas em peças de barro foi levado para a análise de textos bíblicos. "Chegamos à conclusão de que os achados nessas inscrições podiam oferecer pistas valiosas para datar textos do Antigo Testamento", explica Faigenbaum-Golovin, segundo comunicado da Universidade de Duke. A equipe, liderada por Faigenbaum-Golovin, reuniu profissionais de diversas áreas: arqueólogos, especialistas em Bíblia, físicos, matemáticos e cientistas da computação. Palavras diferenciam tradições autorais Os pesquisadores focaram nos nove primeiros livros da Bíblia hebraica, que também compõem o Antigo Testamento. 50 capítulos foram classificados em três tradições autorais já conhecidas pela crítica bíblica: os textos do Deuteronômio, a História Deuteronomista (de Josué a Reis) e os Escritos Sacerdotais (presentes em Gênesis, Êxodo e Levítico). "Descobrimos que cada grupo de autores tem um estilo diferente; surpreendentemente, até no que diz respeito a palavras simples e comuns como 'não', 'que' ou 'rei'. Nosso método identifica com precisão essas diferenças", afirma Römer. A equipe adaptou um algoritmo desenvolvido no campo da estatística que analisa a distribuição das palavras e criou um dicionário de termos para cada escola de autoria, com aproximadamente 1.447 termos únicos. Segundo o jornal israelense The Times of Israel, os pesquisadores descobriram que palavras como Elohim (um dos nomes para Deus) e lo (que significa "não" em hebraico) caracterizam os textos do Deuteronômio. A História Deuteronomista inclui essas mesmas palavras com frequência, além de melech (rei) e asher (que). Já zahav (ouro) é característica do corpus dos Escritos Sacerdotais. "Pegamos uma palavra específica e verificamos quantas vezes ela aparecia em um texto", explicou Faigenbaum-Golovin. "Podíamos quantificar a distribuição da palavra no texto um e no texto dois e verificar se eram iguais." Descobertas inesperadas "Em 84% dos casos, a atribuição automática coincidiu com as avaliações dos estudiosos bíblicos", afirmaram os pesquisadores ao Times of Israel. O sistema confirmou que o Deuteronômio e os livros históricos são mais semelhantes entre si do que aos textos sacerdotais, algo que já é consenso entre os especialistas em Bíblia. Mas a análise também apontou diferenças em livros que eram considerados de mesma autoria. Diferente do que se pensava, embora as duas seções da Narrativa da Arca tratem do mesmo tema e estejam nos livros de Samuel, elas foram escritas por autores diferentes. Os textos narram a jornada da Arca da Aliança. "A maioria dos estudiosos pensa que a narrativa de 1 Samuel e a de 2 Samuel pertencem à mesma história, enquanto uma minoria considera que a primeira é uma história originalmente independente. Nossa análise demonstrou que a opinião da minoria está correta", explicaram os pesquisadores. Essa ferramenta também foi aplicada a textos cuja origem é mais debatida, como o Livro de Ester, o único que não menciona Deus explicitamente, ou os trechos sobre Abraão no livro de Gênesis. Em ambos os casos, o algoritmo concluiu que não se encaixam em nenhum dos três estilos principais, reforçando a tese de que foram produzidos por autores externos às correntes dominantes da Bíblia hebraica. Desafios metodológicos Para chegar às conclusões, a equipe enfrentou obstáculos significativos. Como a Bíblia foi editada várias vezes ao longo dos séculos, os pesquisadores precisaram localizar segmentos que mantivessem sua redação original. "Passamos muito tempo nos convencendo de que os resultados que obtínhamos não eram simplesmente lixo", disse Faigenbaum-Golovin, segundo o comunicado. "Precisávamos estar absolutamente certos da relevância estatística." Para superar o problema da escassez de dados, em vez de usar o tradicional machine learning (aprendizado de máquina), que requer grandes volumes de informação, os pesquisadores empregaram um método mais direto comparando padrões de frases e frequências de palavras. Novas aplicações para textos antigos As implicações vão além da Bíblia. "O estudo introduz um novo paradigma para analisar textos antigos", resumiu Finkelstein. Faigenbaum-Golovin aponta que a mesma técnica poderia ser aplicada a outros documentos históricos. "Se se buscam fragmentos de documentos para descobrir se foram escritos por Abraham Lincoln, por exemplo, esse método pode ajudar a determinar se são reais ou uma falsificação." Os pesquisadores planejam agora aplicar seu modelo a outras partes da Bíblia e a textos como os Manuscritos do Mar Morto. "Há muitas questões em aberto relacionadas aos livros proféticos, assim como às últimas revisões do Pentateuco", afirmou Römer. "Esse método será de grande ajuda para obter resultados mais objetivos." gq (dw, ots)


Short teaser Pesquisadores identificaram padrões linguísticos típicos dos grupos autorais de diferentes capítulos bíblicos.
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Image caption Os pesquisadores encontraram padrões linguísticos ocultos em textos bíblicos escritos há aproximadamente 2.800 anos
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Item 28
Id 72976707
Date 2025-06-19
Title Rocha em memória de vítimas do nazismo ofende poloneses
Short title Rocha em memória de vítimas do nazismo ofende poloneses
Teaser

Memorial para vítimas polonesas do regime nazista, no centro de Berlim

Há anos a Alemanha planeja um memorial para os milhões de mortos na Polônia ocupada na 2ª Guerra. Atrasos levaram a solução provisória, e "pedra da vergonha" em Berlim desperta antigo clamor por reparação trilionária.Em Berlim, uma rocha de quase 30 toneladas recorda, desde a segunda-feira (16/06), os 5 a 6 milhões de poloneses mortos pelos invasores nazistas durante a Segunda Guerra Mundial(1939-1945). Justamente nesse local do bairro Tiergarten, entre a Chancelaria Federal e o histórico Reichstag, sede do parlamento, ficava a Casa de Ópera Kroll, onde em 1º de setembro de 1939 Adolf Hitler anunciou a invasão da Polônia. Trata-se de uma iniciativa de sociedade civil, lançada em 2017 por amigos alemães da Polônia, entre os quais políticos de ponta, e agora alvo de críticas cáusticas. O projeto original, de uma Casa Teuto-Polonesa, abrigando, além de um memorial, também um centro de documentação e um polo de encontro, vem sendo adiado há bastante tempo. A pedra memorial é uma solução provisória, com o fim de polir um pouco a imagem da Alemanha, não só junto à parcela liberal e pró-europeia da sociedade polonesa, como também aos meios conservadores em torno do líder do Partido Lei e Justiça (PiS), Jaroslaw Kaczynski. No fim das contas, porém, o cálculo deu errado. Pedra da discórdia indigna conservadores poloneses Como todo projeto teuto-polonês, a bem-intencionada ideia foi parar no redemoinho político entre o governo de centro-esquerda do primeiro-ministro Donald Tusk e a oposição nacional-conservadora. Pois a desconfiança em relação a Berlim é parte inalienável da visão de mundo do PiS. "Um espetáculo absurdo. Em vez de reparação real, flores debaixo de uma rocha", exclamou na plataforma X um dos afiliados ilustres da legenda populista de direita, o ex-chefe de governo Mateusz Morawiecki. "Nenhum político polonês deve se ajoelhar diante de uma pedra antes que os alemães se ajoelhem diante da verdade e acertem contas por seus crimes." Outro político do PiS, o deputado Szymon Szynkowski vel Sek, justificou assim seu rechaço: "Por um lado, os alemães não querem falar de reparações e indenizações pela Segunda Guerra Mundial, por outro, forçam a gente a se alegrar com uma pedra." O ex-ministro do Exterior Pawel Jablonski condenou o monumento como expressão da "mentirosa política histórica alemã", afirmando que toda presença de um político polonês na inauguração seria "traição dos interesses nacionais da Polônia". "Depois de 80 anos... uma pedra ao invés de compensação real. Um símbolo indigno, perante a dimensão do sofrimento polonês", queixou-se no X Arkadiusz Mularczyk. De 2022 a 2023, como secretário de Estado no Ministério do Exterior do governo liderado pelo PiS, ele coordenava os esforços pelas reparações alemãs, as quais, segundo cálculos poloneses, chegariam a 1,3 trilhão de euros. Já o ministro do Exterior do atual governo de coalizão, Wladyslaw Teofil Bartoszewski, defendeu o projeto: "Há anos nos engajamos por esse memorial. É bom que ele vá ser criado. Primeiro vem a pedra, depois o memorial, numa localização muito boa de Berlim. É um marco." História sem fim Nas redes sociais da Polônia há dias se agita uma verdadeira shitstorm: fala-se de "pedra da vergonha", "descaramento alemão", "um espetáculo vergonhoso". Também usuários moderados colocam em dúvida a boa fé dos alemães, perguntando-se se o projeto da Casa Teuto-Polonesa vai mesmo dar em algo. Até veículos de imprensa não ligados ao PiS veem a homenagem com olhos entre céticos e críticos: "Os alemães não entendem os poloneses", afirmou Estera Flieger no jornal Rzeczpospolita. "Trata-se de estar na mesma altura, olho a olho: ou as relações teuto-polonesas serão de parceria, ou não vai haver relação nenhuma." A Polônia não é mais "a irmã mais pobre da Alemanha na Europa", advertiu, acusando os alemães de não terem registrado essa mudança. De fato, os esforços por um memorial digno para as vítimas polonesas da Segunda Guerra Mundial lembram uma história sem fim. Como encarregado de Varsóvia para contatos com a Alemanha e Israel, de 2007 a 2015 o ex-prisioneiro do campo de concentração de Auschwitz Wladyslaw Bartoszewski exigiu insistentemente um local de homenagem. Como esses apelos não encontraram ressonância, em 2017 a sociedade civil alemã tomou a iniciativa. Endossada por líderes políticos, reivindicou do parlamento e da opinião pública um memorial "no centro de Berlim" às vítimas do terror nazista na Polônia ocupada. Apesar de críticos advertirem contra uma "nacionalização do discurso da vítima", em 2020 o Legislativo aprovou a criação de um "local de recordação e encontro". Mas só em junho de 2024 o governo finalmente deu andamento ao projeto do memorial – até a queda do governo de coalizão liderado pelo social-democrata Olaf Scholz pôr todos os projetos teuto-poloneses no freezer. O projeto de construção do memorial, porém, foi resgatado no acordo de coalizão de governo do atual chanceler federal Friedrich Merz. "Os poloneses chateiam" A rocha da discórdia provisória é uma forma de apresentar algo concreto por ocasião dos 80 anos do fim da Segunda Guerra, pelo menos mostrando que a Alemanha não esqueceu as vítimas polonesas. Porém o presidente polonês eleito, Karol Nawrocki – político independente aliado ao PiS que deverá assumir em 6 de agosto –, já anunciou que manterá a pressão por uma indenização. "A questão das reparações, ao contrário do que pensa Tusk, esse lacaio do Estado alemão, não está resolvida", disse ele a um jornal antes mesmo do segundo turno das eleições, prometendo lutar pela causa "desde o primeiro dia de sua presidência". O novo parlamento alemão deverá dar em breve o sinal verde para a realização da Casa Teuto-Polonesa. Porém alguns anos deverão passar até sua inauguração, sendo pouco provável que as últimas testemunhas polonesas dos crimes de guerra alemães possam vivenciar esse momento. E assim o tema continuará ocupando a política e a mídia. "Os poloneses chateiam, e chateiam com razão: eles fizeram por merecer que a Alemanha os leve a sério", comentou o editor-chefe do jornal Berliner Zeitung, da capital alemã, Tomasz Kurianowicz.


Short teaser Memorial provisório em Berlim para milhões de mortos da Polônia ocupada reacende clamor por reparação trilionária.
Author Jacek Lepiarz
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Image caption Memorial para vítimas polonesas do regime nazista, no centro de Berlim
Image source Wojciech Szymanski/DW
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Item 29
Id 72974242
Date 2025-06-19
Title Como a internet conecta jovens ao tráfico de animais
Short title Como a internet conecta jovens ao tráfico de animais
Teaser Maioria dos envolvidos no comércio ilegal nas redes tem até 30 anos, segundo estudo recente. Conteúdos online que exibem bichos silvestres mantidos como pets impulsionam mercado.

Após dias de investigação, policiais e agentes ambientais encontraram, em meados de maio deste ano, uma filhote de macaco-prego escondida dentro de uma pequena bolsa preta. Com sinais de estar dopada, ela havia sido caçada e capturada por um casal dentro do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. Os traficantes pretendiam vender o animal pelas redes sociais ou em feiras clandestinas.

O caso exemplifica um fenômeno cada vez mais preocupante no tráfico de animais: o uso da internet e das redes sociais para compra e venda ilegal de bichos selvagens, com protagonismo da juventude. Uma pesquisa da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), finalizada em abril, revelou que a maioria dos internautas que comercializam espécies silvestres têm até 30 anos.

Essas negociações são feitas, geralmente, em grupos do WhatsApp, Facebook e Telegram. "A Renctas está presente em cerca de 800 grupos. Há uma quantidade absurda de troca de mensagens. A média é de 5 mil a 6 mil por dia. Mas já houve dias em que tiveram 70 mil", descreve Dener Giovanini, coordenador-geral da Renctas.

Outro fenômeno que se espalha pelas redes sociais, também relacionado à juventude, é a exibição de animais silvestres. "O influencer bota roupinha do Flamengo no filhote de macaco, dá coxinha e sai com ele na rua, onde as pessoas querem tirar foto. Tudo gera like. Muitos jovens olham aquilo e dizem: ‘Nossa, eu quero um também'", afirma o chefe substituto do Núcleo de Fiscalização da Fauna (Nufau) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Bruno Ramos.

Segundo o Ibama, ao dar visibilidade a esse tipo de conteúdo, os internautas fomentam o desejo de outras pessoas de adquirir esses animais. Por isso, em parceria com a ONG WWF-Brasil, o instituto lançou a campanha "Se não é livre, eu não curto". O objetivo é conscientizar a população sobre o tema, para que evite interagir com conteúdos que exploram as espécies silvestres e denuncie a violação dos direitos dos animais.

Tráfico ou hobby?

A Renctas analisou quase três mil mensagens no WhatsApp sobre o tráfico de animais no segundo semestre de 2023. Cerca de 80% das pessoas identificadas tinham entre 11 e 30 anos.

"[Isso] demonstra que o tráfico online tem forte apelo entre públicos mais jovens, familiarizados com o uso de redes sociais, aplicativos de mensagens e plataformas de e-commerce. Essa faixa etária cresceu em meio à cultura digital e sabe como operar com discrição, utilizando mecanismos como perfis falsos, linguagens cifradas e redes criptografadas", apontou o relatório.

Na análise do coordenador-geral da Renctas, os jovens também atuam no tráfico de animais pela possibilidade de ganhar dinheiro rápido com pouco investimento, aliado à percepção de baixo risco das consequências.

Os anúncios envolvem uma enorme variedade de animais, como escorpiões, saguis, papagaios, araras, cobras, tartarugas, iguanas e até mesmo formigas. Um vendedor postou um vídeo em um desses grupos de um filhote de macaco tomando mamadeira, incentivando-os com a seguinte frase: "Vem realizar seu sonho."

Em um dos grupos do Facebook, um perfil anônimo postou a foto de uma naja, uma cobra venenosa: "Nao é barato. Nao é para quem começou agora no hobby. Não vou responder a perguntas do tipo 'o que ela come'." O anúncio mostra que grande parte desses internautas sabe o que faz: ao chamar de "hobby", mascaram a prática ilegal de tráfico de animais.

"A expressão mais usada por eles é 'nós somos hobbistas'", relata Giovanini. Segundo ele, há ainda um componente de vaidade na prática. "Entre essa turma jovem, você percebe que existe aquela coisa do 'eu quero o maior', 'eu quero o mais perigoso', 'quero o mais raro'."

Na última terça-feira (17/06), uma operação da Polícia Civil do Paraná junto com o Ibama mostrou a força da internet no tráfico de animais. Após dois anos monitorando grupos virtuais, os policiais prenderam 16 pessoas em flagrante nos estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais. Além disso, resgataram mais de mil animais, como cobras, pássaros, sapos, tartarugas, macacos, lagartos e até axolotes, uma espécie de anfíbio ameaçada de extinção.

O circo das redes sociais

Há pouco tempo, era comum a presença de animais selvagens em circos no Brasil. Com denúncias de maus-tratos, conscientização da população e aprovação de leis municipais e estaduais restringindo a prática, essa atração praticamente deixou de existir. "A gente conseguiu eliminar o uso de animais em circos. Mas hoje estamos percebendo o circo virtual", afirma Bruno Ramos, do Ibama.

Os influenciadores, segundo ele, estão usando animais selvagens, como filhote de macaco, capivara, arara, saruê e quati, por exemplo, como animais domésticos, os chamados pets. Além disso, os exibem em atitudes humanas, com o uso de fraldas e alimentação inadequada, como pipoca, coxinha e refrigerante. "Eles entenderam que isso dá like e monetização."

Na visão do agente ambiental, a exposição desses animais em redes sociais gera um efeito manada, principalmente entre jovens, que passam a querer ter um desses bichos.

Ele cita uma situação que viveu em 2024, quando esteve no Rio de Janeiro para participar de uma apreensão de macacos de origem ilegal. Ao sair para almoçar, foi interpelado por uma garotinha: "Você é do Ibama? Como eu faço para ter um macaco?" Surpreso, ele explicou que ela não podia ter um animal silvestre. "Nossa, mas tem um monte de gente no TikTok com macaco", retrucou a menina.

Como combater o tráfico de animais?

Há duas formas principais de combater o tráfico de animais, segundo os especialistas: educação ambiental e aprimoramento da legislação.

A campanha do Ibama e do WWF busca conscientizar, mostrar "um lado que muita gente nem imagina, que é o quanto as nossas curtidas e compartilhamentos nas redes sociais podem alimentar o tráfico de animais silvestres", afirma Anna Carolina Lins, analista de conservação do WWF-Brasil. "Às vezes a gente vê um vídeo fofinho, engraçadinho e acaba compartilhando sem nem pensar. Mas por trás disso tem uma cadeia de muito sofrimento, de maus-tratos e até de crime ambiental."

Para a analista, a juventude tem um papel essencial nessa causa, porque é quem mais está nas redes. "O primeiro passo para ajudar a combater o tráfico de animais é simples: parar de engajar com conteúdos que mostram animais como se fossem bichos de estimação ou em qualquer situação fora do natural deles. Isso já ajuda muito, porque esse tipo de conteúdo só continua circulando porque dá engajamento."

Do ponto de vista da legislação, há diversos projetos tramitando no Congresso buscando aumentar a punição dos traficantes e receptores. Atualmente, conforme a Lei de Crimes Ambientais, a pena para o tráfico de animais varia de três meses a um ano, além de multa.

Um dos projetos, o PL 347, de 2003, defende que a pena de reclusão seja de 2 a 5 anos se o crime for permanente, em grande escala ou em caráter nacional ou internacional. No dia 11 de maio, em uma audiência pública na Câmara dos Deputados, o cantor Ney Matogrosso defendeu a proposta.

"É por essa razão que estou aqui. Eu apoio totalmente esse projeto. Se não for assim, não vai mudar. Enquanto as pessoas não se sentirem ameaçadas, elas não vão mudar a maneira de pensar", disse o artista.

O coordenador-geral da Renctas, Dener Giovanini, no entanto, é contra o aumento de pena. Para ele, seria mais efetivo que as multas, que muitas vezes não são pagas, fossem realmente cobradas ou que tivessem alguma influência na vida do infrator, como suspensão da carteira de motorista e passaporte ou a inserção do nome no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).

Milhões de animais traficados

A Renctas estima que 38 milhões de animais são traficados por ano no Brasil. A captura costuma ser extremamente cruel. É comum os caçadores matarem os macacos adultos para pegar seus filhotes. Há casos de traficantes que usam redes de malha fina para capturar aves, deixando-as por dias na floresta.

Além disso, a maioria morre durante o transporte, porque são levados em carros, caminhões ou ônibus escondidos por dias, sem água ou comida.

Com 25 anos de experiência no combate ao tráfico, Giovanini nunca se esqueceu de uma cena que presenciou há cerca de dez anos, quando participou de uma abordagem nas estradas de Brasília.

Em uma blitz, ele viu algumas caixas se moverem dentro de um caminhão e alertou um policial. Dentro, havia 30 garrafas de café fechadas. Cada uma delas abrigava um sagui, dando para ver apenas seus pequenos olhos. Mas apenas alguns estavam vivos.

Short teaser Conteúdos que circulam nas redes sociais exibindo bichos silvestres mantidos como pets impulsionam mercado ilegal.
Author Maurício Frighetto
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-a-internet-conecta-jovens-ao-tráfico-de-animais/a-72974242?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Como%20a%20internet%20conecta%20jovens%20ao%20tr%C3%A1fico%20de%20animais

Item 30
Id 72949625
Date 2025-06-18
Title [Coluna] Entre ruínas e oportunidades: repensando o Centro carioca
Short title Entre ruínas e oportunidades: repensando o Centro carioca
Teaser Finalmente, um plano municipal busca reverter o abandono do Centro do Rio. É um exemplo que outras cidades deveriam seguir.

Recentemente passei algum tempo caminhando pelo Centro do Rio de Janeiro para resolver diversos assuntos. Mais uma vez me chamou atenção a grande discrepância entre o enorme potencial do bairro e sua triste realidade, algo comum às grandes cidades brasileiras de relevância histórica. De um lado, ainda existem milhares de edifícios com grande qualidade histórica, arquitetônica e estética. Do outro, essas construções se deterioram, são negligenciadas e permanecem cinzentas, tristes e abandonadas. Muitos edifícios têm lojas ou restaurantes no térreo, mas os andares superiores estão em decadência. Quanto espaço residencial e comercial foi desperdiçado e acabou migrando para shoppings ou subúrbios?

No Rio, muitos prédios que antes eram belíssimos foram espremidos entre as construções feias e funcionais da arquitetura da segunda metade do século passado, que hoje, infelizmente, dominam o Centro. Essa cacofonia visual é a expressão mais clara da relação de muitos brasileiros com a história do país, especialmente da classe empresarial e dos políticos que a apoiam. Ignora-se e destrói-se a história em nome da crença de que é possível lucrar mais de outra forma. Trata-se de uma ilusão tola.

A verdade é justamente o contrário: preservando o patrimônio histórico pode-se gerar, no mínimo, o mesmo lucro – se quisermos falar apenas de economia. Quem já visitou os maravilhosos centros históricos restaurados de cidades como Cartagena (Colômbia), Oaxaca (México) ou Santo Domingo (República Dominicana) sabe bem do que estou falando. Esses locais são verdadeiros ímãs que atraem milhões de visitantes interessados na atmosfera histórica única.

Contudo, durante décadas, no Rio não foram priorizadas a memória, a preservação, a beleza ou a coerência arquitetônica dos bairros, mas sim a maximização do uso do espaço. O resultado é uma arquitetura feita para investidores: alta, feia, funcional e fria.

Em alguns lugares do Centro não há mais diferença perceptível entre o Rio e as inúmeras cidades inexpressivas e feias do interior brasileiro – que são muito mais jovens. O horrível mix arquitetônico, resultado da ausência de regras, fica especialmente evidente ao olhar para o Teatro Municipal – atrás do qual se ergue a parede nua de um prédio de concreto horroroso. Pelo menos, seria possível ali – a exemplo de várias fachadas em Manaus – criar enormes murais artísticos.

Questão de planejamento urbano

A indústria imobiliária sempre exerceu enorme influência política no Rio para fazer valer seus interesses. Por isso, é necessário e corajoso que, agora sob o prefeito Eduardo Paes, se tente abrir um novo capítulo.

Há poucas semanas, a Prefeitura do Rio lançou a iniciativa "Reviver Centro Patrimônio Pró-APAC", que visa promover a restauração de imóveis históricos em áreas selecionadas do Centro da cidade, muitos deles abandonados ou degradados. O programa oferece um subsídio de R$ 3.212 por metro quadrado para a restauração desses imóveis, com a condição de que as obras sejam concluídas no prazo estipulado. Caso contrário, o imóvel retorna à posse da cidade, que então poderá assumir a responsabilidade pela restauração ou atribuir outras finalidades, visando preservar a integridade histórica da região.

Especialmente relevante é o último ponto: a redistribuição fundiária e a desapropriação daqueles que deixam prédios históricos apodrecerem. Edifícios deteriorados não são apenas um risco para a segurança pública, como demonstrado recentemente pelo desabamento de dois prédios no Rio, que resultou em uma morte, mas também refletem irresponsabilidade e desrespeito à sociedade.

Por muito tempo, no Rio e no restante do Brasil, os interesses privados de poucos prevaleceram sobre os interesses públicos. Na construção e planejamento urbano prevalece um capitalismo sem regras, sem lógica nem compreensão sobre bairros feitos para pessoas, e não para carros ou investidores. Um exemplo disso é a ausência geral de grandes praças públicas bem iluminadas, seguras, limpas e verdes, onde as pessoas se sintam confortáveis mesmo após anoitecer (uma exceção que me ocorre é a Praça São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas, em Manaus).

Agora, pela primeira vez no Rio, busca-se romper com essa lógica. Os custos não ficarão apenas a cargo da prefeitura. A iniciativa APAC – Área de Proteção do Ambiente Cultural, um nome que esperamos ser efetivamente concretizado – pretende atrair investidores privados dispostos a restaurar imóveis históricos, segundo a descrição oficial. Espera-se que o programa não termine em esquemas de corrupção habituais. Além disso, torce-se pela continuidade, para que o próximo prefeito não o abandone ou descontinue por interesses eleitorais.

Por isso, é importante obter resultados rapidamente, mostrando claramente as possibilidades: transformar o centro histórico do Rio, atualmente negligenciado, decadente, escuro e sujo, em um espaço vivo, iluminado, seguro e vibrante. Parece que, sob Eduardo Paes, a prefeitura reconheceu finalmente o potencial cultural, urbano e econômico da antiga região central, desperdiçado por décadas.

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Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para jornais da Alemanha, Suíça e Áustria. Ele viaja frequentemente entre Alemanha, Brasil e outros países do continente americano. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

Short teaser Finalmente, um plano municipal busca reverter o abandono do Centro do Rio. Outras cidades deveriam seguir o exemplo.
Author Philipp Lichterbeck
Item URL https://www.dw.com/pt-br/coluna-entre-ruínas-e-oportunidades-repensando-o-centro-carioca/a-72949625?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=%5BColuna%5D%20Entre%20ru%C3%ADnas%20e%20oportunidades%3A%20repensando%20o%20Centro%20carioca

Item 31
Id 72784522
Date 2025-06-18
Title Literatura indígena ganha espaço no Brasil após séculos ignorada
Short title Literatura indígena ganha espaço após séculos ignorada
Teaser

Organização política dos povos indígenas brasileiros para defender seus territórios foi fundamental para consolidar a literatura indígena

Livros de autores indígenas começaram a ser publicados no país somente a partir da década de 1980. Escritores rompem com preconceitos e estereótipos, mas ainda enfrentam desafios.A morte do escritor e gramático Evanildo Bechara abriu uma nova cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) e a oportunidade de torná-la mais indígena. A professora, escritora e ativista Eliane Potiguara se candidatou à vaga e pode se somar ao escritor e ativista Ailton Krenak, o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na academia. Tanto a presença de Krenak quanto a candidatura de Potiguara representam muito mais do que apenas o acesso à ABL, falam sobre a importância e reconhecimento que a literatura indígena contemporânea tem ganhado no Brasil atualmente. O país tem cerca de 83 escritores indígenas, de 39 povos distintos, e mais de 200 obras de autoria indígena catalogadas, de acordo com o projeto Bibliografia das publicações indígenas do Brasil. "A literatura indígena contemporânea rompe com séculos de silenciamento e apagamento das vozes indígenas no Brasil. Não é apenas uma forma de expressão artística, mas um ato de afirmação de identidade", afirma Djalma Enes Filho, professor e pesquisador da Universidade Federal do Acre (UFAC) Campus Floresta. Essa jornada de visibilidade se fortaleceu com o próprio reconhecimento da identidade indígena, a partir da Constituição de 1988, e com a chegada dos indígenas na condição de autores ao mercado editorial e não mais como personagens de uma narrativa escrita por não-indígenas. Mas, apesar dos exemplos de Potiguara e Krenak, essa área ainda enfrenta muitos desafios para a sua consolidação, como a subidentificação – fruto da impossibilidade de se dizer indígena – e o discurso que associa os indígenas apenas à oralidade. "Não sabemos quantos autores indígenas estão subidentificados na literatura brasileira porque não podiam afirmar a identidade indígena", explica a escritora e pesquisadora Trudruá Dorrico, doutora em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e indígena da etnia Macuxi. Dorrico lembra que o próprio processo de colonização interrompeu o desenvolvimento do que poderia ser compreendido como a escrita dos povos indígenas – visível nas letras ancestrais registradas em pedras, tecidos, cestarias e casas. "A oralidade está presente, mas ela não pode ser o fundamento das nossas sociedades, porque nós sabemos escrever. Nos dê a técnica que vamos aprender e compartilhar coletivamente", diz. Dos indigenistas à literatura indígena contemporânea Até a década de 1990, era difícil encontrar obras publicadas com nome de autores indígenas na capa ou na ficha catalográfica. Os povos costumavam ser retratados por meio do que se conhece como literatura indigenista, corrente que abordava a temática e se apropriava dos elementos das etnias, mas era escrita por não-indígenas. É o que se vê em obras consideradas clássicas como Iracema e O Guarani, do escritor cearense José de Alencar (1829-1877), e em Macunaíma, do paulistano Mário de Andrade (1893-1945). "As representações que temos da literatura brasileira sobre povos indígenas são vastas, mas são descompromissadas com qualquer humanidade, valor e política dos povos indígenas", afirma Dorrico. A introdução dos indígenas como autores das obras, que começou de maneira esporádica com a própria Eliane Potiguara ainda na década de 1970 e se fortaleceu duas décadas depois, é o que marca a diferença entre o passado e o presente. "Os indígenas trazem suas identidades, pertencimentos, povos e valores [para a literatura], que o Brasil mesmo tentava extinguir. A literatura indígena é demarcada por esse território da autoria, de ser reconhecido como indígena e receber os direitos patrimoniais e morais", diz Dorrico. Essa literatura nasceu também da organização política dos povos indígenas brasileiros para defender seus territórios. "Esse movimento impulsionou a produção cultural e intelectual como forma de resistência e de afirmação de identidade", diz Enes Filho. A partir daí, muitos escritores indígenas começaram a se apropriar da educação formal e da escrita como instrumento de luta. "A literatura indígena veio de mãos dadas com a educação indígena. Ela fez esse papel de conversar com a necessidade dos povos indígenas de ter materiais e a necessidade de a sociedade não-indígena entender o nosso território como plurinacional", explica Jamille Anahata, ativista do povo indígena Mura, poeta e pesquisadora de relações étnico-raciais. Lei estimula busca por obras A primeira publicação de livro de autoria indígena no Brasil aconteceu em 1980, com a obra bilíngue Antes o mundo não existia: mitologia dos antigos Desana – Kêhíripõrã, de Umusi Pãrõkumu e Tõrãmu Kehíri, escrita em português e desana (uma língua indígena falada na Amazônia brasileira e colombiana). Depois vieram outras obras importantes, como o livro Oré awé roiru'a ma: Todas as vezes que dissemos adeus, de Kaká Werá Jecupé, em 1994, considerado o primeiro livro literário de autoria individual publicado por um indígena no Brasil. Em seguida, veio Histórias de índio, de Daniel Munduruku, de 1996, o primeiro para o público infantil. A partir dos anos 2000, com a publicação da Lei 11.645/2008, que estabelece a obrigatoriedade ensino das culturas indígenas e afro-brasileiras no currículo escolar, as editoras passaram a buscar cada vez mais por obras produzidas por indígenas. Isso foi reforçado pelo Programa Nacional do Biblioteca na Escola, que entre 1997 e 2015 distribuiu livros de autores indígenas nas redes públicas de ensino, e pelo interesse da academia no assunto, já que pesquisadores de diferentes áreas passaram a estudar essa produção. "Muitos autores começaram a ocupar espaço nas redes sociais, feiras literárias, em debates acadêmicos e na mídia em geral", acrescenta Enes Filho. Um dos projetos de divulgação existentes nas redes sociais é o Leia Mulheres Indígenas, mantido por Dorrico e Anahata. Criado pouco antes da pandemia de covid-19, ganhou força durante a crise sanitária mundial e tem hoje cerca de 20 mil seguidores. "A literatura de autoria indígena é muito colocada como produção para o público infantil, e essa iniciativa tem o papel também de mostrar em que outros lugares da literatura as autoras estão, e também a diversidade de povos, lugares e rostos", conta Anahata. Características da literatura indígena contemporânea Além do marco autoral, a produção tem outras características fundamentais, pois parte de outro paradigma de mundo, em que natureza e cultura não estão dissociadas. "A literatura indígena traz muito o espaço da floresta, porque é de onde vem o nosso conhecimento, mas também traz espaços urbanos. E, mesmo em cidades, a floresta está presente", explica Dorrico. "A natureza não é só um pano de fundo", complementa Anahata. Essa relação com a natureza também influencia na construção dos personagens, pois seres encantados não são descritos como folclóricos, e o espaço-tempo não está, necessariamente, ancorado no tempo histórico. A narrativa tampouco é apenas linear. "Isso revela uma visão de mundo profundamente conectada com o território e a espiritualidade. O uso simbólico da natureza é um ponto de expressar valores coletivos e éticos que contrapõe a lógica da exploração e da destruição ambiental", diz Enes Filho. As obras também têm hibridismos de linguagens, em que um livro pode misturar gêneros – como poesia, ensaios e relatos. Outra característica é a capacidade de transitar entre a escrita e outras formas de expressão, como a música. "Muitos textos assumem uma estrutura narrativa que lembra os relatos orais tradicionais com repetições, ritmo, musicalidade e uso de expressões das línguas indígenas", explica Enes Filho. É também uma literatura instrumento de resistência social, cultural e política, que pode ser vista na obra de escritores como Daniel Munduruku, Olívio Jekupé, Eliane Potiguara, Cristino Wapichana, entre outros. "Eles utilizam a palavra como ferramenta de denúncia contra o racismo e a invisibilização histórica dos povos originários. É uma literatura que reivindica a memória, a identidade e o território", diz Enes Filho. Como exemplos dessa reivindicação estão obras como Metade Cara, Metade Máscara, de Eliane Potiguara, A Terra dos Mil Povos, de Kaká Werá Jecupé, e Meu vô apolinário: Um Mergulho no rio da (minha) memória, de Daniel Munduruku. Apesar da visibilidade, desafios para expansão permanecem Mesmo diante da inserção no mercado editorial, a literatura indígena contemporânea ainda enfrenta muitos desafios para se expandir. O principal deles é o preconceito contra os povos indígenas, que ainda faz muitas editoras enxergarem a produção de autores indígenas com desconfiança ou classificá-las como de um "nicho exótico". O preconceito impede também que os povos indígenas sejam enxergados como produtores de conhecimento. Ainda é comum que muitos daqueles que chegaram às universidades e espaços de formação sejam descritos como não-indígenas. Outro desafio é a falta de representatividade no próprio circuito, já que são poucos os editores, editoras, revisores, curadores e agentes literários indígenas. Isso impede que os valores culturais e estéticos dos povos originários entrem nas mesas de decisão sobre o que é publicável. Depois de publicadas, essas obras ainda enfrentam o desafio de receber investimentos para divulgação, distribuição e marketing. Apesar da Lei 11.645, ainda há também resistência para inserção dos autores indígenas nas escolas e universidades, seja pela falta de materiais didáticos disponíveis nas bibliotecas ou pela falta de formação dos docentes para o tema. "A inserção dessa literatura no ambiente escolar ainda é tímida e depende muito do esforço individual de professores que sejam realmente comprometidos", diz Enes Filho. Para superar esses desafios, há alguns projetos em curso no país. Alguns deles são o Prêmio Akuli, da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), voltado ao reconhecimento das histórias de tradição oral indígenas, quilombolas e ribeirinhas, e o Prêmio Cunhambebe Tupinambá, do Museu Nacional dos Povos Indígenas e da Funai. Há algumas editoras também, como a Pachamama, que publica livros bilíngues. Além disso, há o encontros de escritores. Fortalecimento da literatura indígena Questionados, os Ministérios dos Povos Indígenas (MPI) e da Cultura (MinC) afirmaram que assinaram um protocolo, em maio, para entre outras ações fortalecer a literatura indígena com apoio na formação de autores, incentivo à produção de livros e ampliação do acesso a políticas de fomento. O MinC afirmou que ainda está em curso no país um projeto para traduzir a Constituição Federal para línguas indígenas. Na área da educação, o Ministério da Educação (MEC) afirmou que assessora a formulação de políticas voltadas à alfabetização de estudantes indígenas, com apoio à produção de materiais bilíngues distribuídos nas escolas públicas. Em 2025, foi criada a Rede de Coordenadores dos Saberes Indígenas (ReCo-ASIE), para a produção de metodologias e materiais didáticos específicos, incluindo obras literárias de autoria indígena. No ensino superior, o MEC afirmou ainda que tem estimulado a inclusão de autores indígenas nos currículos dos cursos de licenciatura e que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem, já incluiu textos de autores como Daniel Munduruku, Eliane Potiguara, Kaká Werá Jecupé, Graça Graúna e Olívio Jekupé em edições recentes do exame.


Short teaser Livros de autores indígenas começaram a ser publicados no país somente a partir da década de 1980.
Author Alice de Souza
Item URL https://www.dw.com/pt-br/literatura-indígena-ganha-espaço-no-brasil-após-séculos-ignorada/a-72784522?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/68924546_354.jpg
Image caption Organização política dos povos indígenas brasileiros para defender seus territórios foi fundamental para consolidar a literatura indígena
Image source Adriano Machado/REUTERS
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/68924546_354.jpg&title=Literatura%20ind%C3%ADgena%20ganha%20espa%C3%A7o%20no%20Brasil%20ap%C3%B3s%20s%C3%A9culos%20ignorada

Item 32
Id 72954004
Date 2025-06-17
Title Café, a bebida que une épocas, culturas e mentes
Short title Café, a bebida que une épocas, culturas e mentes
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À moda etíope, servido na jebena: tudo teria começado com o pastor Kaldi e suas cabras assanhadas

Com 2 bilhões de xícaras consumidas por dia, a bebida tem, sem dúvida, status global. Sua história é tão antiga quanto rica, entrelaçando ritual, filosofia, colonialismo e revolução.Dos 30 anos que o icônico Frappuccino da Starbucks completa em 2025, às últimas modas das redes sociais, convidando a provar o café Dalgona, não há dúvida que o status pop dessa bebida está firmemente estabelecido. Sua história vai longe no tempo e no espaço, do café filtrado em cerimônias ou bebericado nos salões chiques, alimentando tanto o colonialismo quanto ideias revolucionárias. Atualmente, temperaturas globais em alta e chuvas erráticas atingem duro os cafeicultores, catapultando os preços do produto. Ainda assim, pelo menos por enquanto, o café permanece parte intrínseca da cultura global, com um total cerca de 2 bilhões de xícaras consumido diariamente. Diversão e tradição; sabores queijo, ovo e... cocô? Reza a lenda que tudo começou já pelo ano 850, quando o pastor etíope Kaldi notou que suas cabras ficavam assanhadas ao comer certas frutinhas vermelhas. Embora a história seja provavelmente apócrifa, o café – especificamente a variedade arábica – é, de fato, nativo da região de Kaffa, na Etiópia, onde ainda tem um significado ritual. A cerimônia etíope do café – em que os grãos são tostados sobre uma chama viva e macerados numa jebena de argila – é um momento de pausa, hospitalidade e comunidade. No Senegal, o cafe Touba, perfumado com pimenta-de-são-Tomé e cravo-da-índia, originou-se de tradições do sufismo islâmico, constituindo tanto uma bebida quanto uma prática espiritual. Na Turquia, depois de se tomar o café não filtrado, infundido num cezve de cobre, costuma-se ler o futuro no pó usado: trata-se de uma tradução secular, ainda cultivada, mesmo entre os turcos da "geração Z". No Brasil, o cafezinho, curto e doce, é símbolo de boas-vindas, oferecido nos lares e nas esquinas. E nunca é tarde para se criar mais uma "velha tradição": em 2020, em meio ao confinamento ditado pela pandemia de covid-19, o café Dalgona – café instantâneo batido com açúcar e água – tomou conta do TikTok. Além de prazer estético, a moda proporcionava um ritual simples e reconfortante. De cultura em cultura, a bebida tomou as formas mais inesperadas. Em países nórdicos como Finlândia e Suécia, há séculos café preto fervido é derramado sobre cubos de kaffeost, ou "queijo de café", feito de leite de vaca ou rena. No Vietnã, uma improvisação dos tempos de guerra chegou para ficar: no cà phê trúng (café de ovo), a xícara de café quente ou frio é coroada com gema de ovo batida misturada a leite condensado açucarado. E há ainda o kopi luwak da Indonésia, considerado o "Santo Graal dos cafés", em que os grãos são parcialmente digeridos e defecados por civetas ou gatos-almiscarados. Apesar de louvada por seu sabor redondo, levemente fermentado, a bebida é questionável do ponto de vista ético: devido à alta demanda, certos produtores mantêm os animais em jaulas, submetendo-os a alimentação forçada. Cafeína para a exploração colonial Com seus vapores inebriantes, ao longo da história o café não tem viajado apenas em sacos de estopa, mas também nos ventos de monções, nas viagens espirituais e nas ambições imperiais. Apesar de descoberto na Etiópia, a primeira menção escrita ao cultivo do café aponta para o Iêmen, onde foi denominado qahwa, termo árabe significando originalmente "vinho", que deu origem ao nome internacional. Os místicos sufistas o bebiam para manter o foco espiritual durante seus cânticos rituais pela noite adentro. O porto de Mocha, no Mar Vermelho iemenita, transformou-se num centro de comércio a partir do qual os grãos atravessavam o mundo muçulmano e chegavam até a Ásia. Segundo uma lenda, no século 17 o santo sufi indiano Baba Budan teria contrabandeado sete grãos férteis do Iêmen para o sul da Índia, rompendo o monopólio árabe e iniciando os cafezais da região de Chikmagalur, no estado de Karnataka. Em breve, as potências coloniais europeias também perceberam o futuro contido nas frutinhas vermelhas e seus grãos: os holandeses as plantaram em Java, os franceses no Caribe. E os portugueses no Brasil, aonde o café chegou no século 18 e fez do país o maior produtor do mundo. Cada expansão dessas foi patrocinada por um império e alimentada por trabalho escravo. Até mesmo a Austrália, que entrou na festa relativamente tarde, desenvolveu uma cultura cafeeira robusta. Curiosidade: o país compete com a Nova Zelândia pelo mérito de ter inventado na década de 1980 o flat white – um expresso com uma fina camada de espuma de leite por cima. Filosofia, conspirações, café para gatos Ao longo da história, os cafés provaram ser mais do que locais de gastronomia, afirmando-se como celeiros de ideias, arte e revolução. Na Istambul do século 16, as autoridades tentaram por várias vezes proibi-los, temendo que os encontros à base de cafeína pudessem ser a semente de revoltas. Na Europa iluminista, desde que passaram a ser frequentados por artistas e pensadores como Voltaire e Jean-Jacques Rousseau, a ida aos cafés prometia sempre uma boa dose de ideias radicais. Na América do Norte colonial, a bebida café tornou-se o substituto patriótico para o chá sob taxação inglesa. A Green Dragon Tavern de Boston, apelidada "Quartel-General da Revolução", era local de encontro dos Filhos da Liberdade, ativistas que organizavam a resistência contra a dominação da Inglaterra, acabando por gerar a Revolução Americana. Mais recentemente, as cafeterias se transformaram também em refúgios da vida moderna e numa espécie de bem-vindo "terceiro lugar": nem casa, nem escritório. O começo foi nos primeiros anos da década de 1990, quando nem todas as casas dispunham de acesso à internet, e a oferta nos cafés atraía os jovens a usá-los como local de trabalho. Mas a inventividade em torno do café e seus locais de consumo parece longe de ter chegado ao fim. Na capital taiwanesa, Taipei, foi inaugurado em 1998 o primeiro bar-café para gatos, o Cat Flower Garden, onde os frequentadores podem socializar em companhia felina enquanto bebericam. A moda explodiu no Japão, e agora floresce mundo afora: a combinação de cafeína e calma parece ser um grande atrativo em meio às metrópoles e seu excesso de estímulos.


Short teaser Com 2 bilhões de xícaras por dia, história da bebida é antiga e rica, indo do ritual ao colonialismo e revolução.
Author Brenda Haas
Item URL https://www.dw.com/pt-br/café-a-bebida-que-une-épocas-culturas-e-mentes/a-72954004?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/72761872_354.jpg
Image caption À moda etíope, servido na jebena: tudo teria começado com o pastor Kaldi e suas cabras assanhadas
Image source Michael Tewelde/Xinhua/picture alliance
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/72761872_354.jpg&title=Caf%C3%A9%2C%20a%20bebida%20que%20une%20%C3%A9pocas%2C%20culturas%20e%20mentes

Item 33
Id 72948613
Date 2025-06-17
Title Quase um século de disputa entre família nobre e Alemanha tem final feliz
Short title Disputa de décadas entre nobres e Alemanha tem final feliz
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Era uma vez um imperador: coroa prussiana de 1889 está exposta no Castelo Hohenzollern, em Hechingen, Baden-Württemberg

Quadros, móveis e louças preciosos: Casa Hohenzollern, do último imperador alemão exigia devolução de seus bens, tomados pelo Estado após as duas guerras mundiais. A boa notícia: os valiosos objetos continuam nos museus.Uma disputa jurídica de quase um século se aproxima do fim na Alemanha. Trata-se de um momento realmente histórico, pois assim ficará esclarecida a situação de propriedade de milhares de obras de arte sob ameaça de ser retiradas das vistas do público. A Casa Hohenzollern – dinastia nobre a que pertencia também o último imperador alemão, Guilherme 2º – reivindicava diversos objetos em museus do país, além de exigir compensações milionárias por castelos e inventário expropriado – entre preciosas louças, móveis de marfim e quadros importantes. Tudo começou depois de a Alemanha perder a Segunda Guerra Mundial, quando tropas soviéticas ocuparam seus territórios a leste do rio Elba, e assim, a maior parte das propriedades dos Hohenzollern. Uma vez que, na visão da União Soviética, os "junkers", a nobreza rural da Prússia, eram inimigos de classe e pilar do sistema nazista, em 1945 ela fez processo sumário, desapropriando sem indenização todas as casas nobres em sua zona de ocupação. Quatro anos mais tarde, o país se dividia, ficando a parte oriental, a República Democrática Alemã (RDA) sob regime comunista, subordinada à URSS. Em 1989 caía o Muro de Berlim, a Alemanha era reunificada, e diversos antigos castelos e propriedades do Hohenzollern passaram a integrar de uma hora para a outra a República Federal da Alemanha (RFA). Do tratado de unificação de 1990 constava, entretanto, que a reforma territorial de 1945 não seria anulada, portanto a família teria que desistir de seus antigos imóveis no leste. Porém mais de três décadas mais tarde os herdeiros do último monarca alemão exigiram do Estado a restituição de seus bens culturais. Inutilmente: o caso passou para o âmbito judicial. Guilherme da Prússia e o "impulso considerável" ao nazismo Na disputa por indenização, uma questão ocupava papel central: os representantes da Casa Hohenzollern haviam colaborado com o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores (NSDAP), que governara a Alemanha de 1933 a 1945? Concretamente: os herdeiros do imperador Guilherme 2º, que renunciara em 1918, haviam dado "impulso considerável" ao nazismo? E qual fora a participação do filho do último monarca, ex-príncipe herdeiro Guilherme da Prússia durante as guerras mundiais? Ele ajudara os nazistas visando restabelecer a monarquia? A Lei de Ressarcimento (Ausgleichsleistungsgesetz) de 1994, que regulamenta a compensação por terras confiscadas no leste em 1945, estipula: quem forneceu "impulso considerável" a Adolf Hitler e os nazistas não tem direito a indenização. De fato: documentos históricos confirmam a proximidade entre Guilherme e o nazismo, fotos mostram o príncipe herdeiro com o Hitler e outros líderes do partido. Até hoje se debate acaloradamente sobre o papel do aristocrata no Estado nazista: certo está que sua esperança de ser coroado novo imperador se frustrou. Historiadores como Lothar Machtan e Stephan Malinowski apresentam Guilherme da Prússia como antidemocrata radical, que admirava o líder fascista italiano Benito Mussolini e procurava aproximar-se de Hitler, com a meta declarada de retomar o trono imperial. Ambos concluem: com sua conduta, Guilherme prestou "impulso considerável" ao estabelecimento e consolidação do regime nazista. Comprovadamente, no pleito de 1932 para presidente do Império Alemão ele se colocou do lado Hitler, gabando-se mais tarde de ter-lhe angariado 2 milhões de votos. Além disso, demonstrou publicamente o alinhamento com as novas elites. O historiador Jacco Pekelder declarou numa entrevista à TV: "O capital simbólico dos Hohenzollern foi muito importante para os nazistas em 1932-33, mesmo que o príncipe herdeiro tivesse sua própria agenda." Final feliz extrajudicial Contudo, os editores da coletânea Die Hohenzollerndebatte (O debate dos Hohenzollern), publicada em 2021, colocam em séria dúvida essa tese. O historiador Frank-Lothar Kroll atribui a Guilherme um "engajamento antes marginal" em prol dos nazistas: apesar de ter bajulado Hitler, ele não teria partilhado a ideologia totalitária deste. Seus colegas Christian Hillgruber e Michael Wolffsohn dizem ver pouca base para as acusações de "impulso considerável". Ao longo de décadas, hordas de advogados, políticos e historiadores se ocuparam com as exigências de devolução e ressarcimento por parte dos descendentes da família imperial. O caso só tomou uma guinada em 2023, quando o bisneto de Guilherme 2º Georg Friedrich, príncipe da Prússia, mudou de estratégia, retirando a queixa e abrindo o caminho para negociações extrajudiciais. Iniciadas no fim do ano seguinte, já em maio de 2025 estas resultaram no anúncio da criação da Fundação do Patrimônio Hohenzollern, envolvendo os governos federal alemão e dos estados de Berlim e Brandemburgo. Em meados de junho, o projeto obteve o sinal verde definitivo. A nova fundação de interesse público se encarregará da gestão dos objetos de arte e cultura até então reivindicados pela Casa, além de administrar o inventário de mais de 70 palácios, vilas e outras propriedades em Berlim e Potsdam – não só os que possuía ou utilizava até 1945, como outros que haviam sido expropriados já em 1918, com o fim da monarquia. O grande ganhador é o público, já que milhares de antigos objetos da família Hohenzollern continuarão podendo ser apreciados nos museus alemães.


Short teaser Casa Hohenzollern exigia devolução de valiosos bens tomados pelo Estado após as duas guerras mundiais.
Author Stefan Dege
Item URL https://www.dw.com/pt-br/quase-um-século-de-disputa-entre-família-nobre-e-alemanha-tem-final-feliz/a-72948613?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Era uma vez um imperador: coroa prussiana de 1889 está exposta no Castelo Hohenzollern, em Hechingen, Baden-Württemberg
Image source Patrick Seeger/dpa/picture alliance
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Item 34
Id 72873408
Date 2025-06-14
Title Quem foi São João, o padroeiro da festa junina no Brasil
Short title Quem foi São João, o padroeiro da festa junina no Brasil
Teaser Santo deu origem a uma das maiores manifestações culturais do mês de junho e influenciou tradições populares em todo o país.

Embora o Dia de São João seja celebrado apenas em 24 de junho, as festas juninas já começaram em diferentes regiões do Brasil e devem seguir ao longo do mês e, em muitos lugares, até julho. Fogueiras, bandeirinhas, quadrilhas e comidas típicas voltam a ocupar praças, escolas, parques e outros espaços, seguindo uma das tradições mais populares do calendário nacional.

A centralidade de São João nessas celebrações, que antigamente eram chamadas de "joaninas", tem raízes na tradição católica europeia, especialmente portuguesa. "Ele era associado à fertilidade da terra, à alegria da chegada do verão no hemisfério norte e ao senso de comunidade no campo", diz Ana Beatriz Dias Pinto, doutora em Teologia e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Essas festas, no entanto, começaram muito antes do catolicismo. Na Europa pré-cristã, povos como celtas e nórdicos celebravam o solstício de verão agradecendo pela renovação da vida após o inverno. Com o avanço do cristianismo, a Igreja passou a incorporar essas comemorações ao calendário religioso. "Essas celebrações pagãs foram gradualmente associadas a santos populares", destaca Dias Pinto.

Trazidas pelos portugueses ao Brasil no período colonial, as festas se misturaram aos costumes indígenas, como as danças circulares, e africanos, com seus ritmos e instrumentos. O resultado foi uma manifestação cultural própria, que ressignificou os símbolos religiosos em expressões festivas profundamente brasileiras.

Quem foi São João Batista

São João Batista é o personagem bíblico que inspirou as festas juninas no Brasil, especialmente a do dia 24 de junho, data em que se comemora seu nascimento. Figura central do Novo Testamento, João era filho de Isabel e Zacarias e, segundo a tradição, primo de Jesus.

A relação entre ambos é marcada por simbolismos, onde João anuncia a chegada do Messias e realiza o batismo de Cristo, episódio que, segundo os especialistas, é considerado decisivo na narrativa cristã. "A tradição cristã conta que Isabel teria acendido uma fogueira para avisar Maria que João havia nascido", afirma Estevam Machado, doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Machado destaca que as datas dos nascimentos de João e Jesus estão separadas por seis meses, coincidindo com os solstícios de verão e inverno no hemisfério norte. A festa de São João, portanto, também dialoga com antigos rituais ligados à terra e à renovação da vida, incorporados posteriormente ao calendário cristão.

Além do papel de precursor do Messias, João Batista tornou-se referência na prática do batismo, que mais tarde seria um dos sacramentos centrais da Igreja Católica. Sua figura, segundo Machado, representa o último grande profeta e o último grande anunciador.

O nome Batista vem justamente do ritual que ele realizava no rio Jordão como forma de iniciação na fé. "Foi ele quem anunciou o Messias e batizou Cristo no rio Jordão", diz Luiz Antonio Simas, escritor e autor do livro Santos de Casa: Fé e festas de cada dia.

Porém, a história de São João termina de forma violenta. Conforme relatos históricos e bíblicos, João Batista criticava abertamente o relacionamento entre Herodes Antipas e Herodíades, considerada uma união incestuosa, o que levou a sua prisão e execução.

Segundo Simas, a filha de Herodíades, Salomé, após dançar para Herodes em seu aniversário, recebeu o direito de fazer um pedido ao governante. A pedido da mãe, exigiu a cabeça de João Batista numa bandeja. O episódio selou o "martírio" do santo, posteriormente canonizado. Ainda de acordo com o escritor, os envolvidos na trama também tiveram finais trágicos, descritos como cumprimento de uma profecia feita por Batista antes de ser decapitado.

Santos juninos: São João, Santo Antônio e São Pedro

As festas que originalmente homenageavam apenas São João passaram a incluir também Santo Antônio e São Pedro devido ao calendário litúrgico católico. Os três santos têm dias comemorativos em junho: Santo Antônio no dia 13, São João em 24 e São Pedro em 29. Com isso, o termo "joaninas" foi substituído para incluir as celebrações dedicadas ao trio de santos.

"Santo Antônio é conhecido como santo casamenteiro. São João, como o santo da terra e da colheita, e São Pedro, padroeiro dos pescadores e guardião das chaves do céu", explica Dias Pinto.

A presença dos três nas festas também se relaciona à devoção popular no Brasil, marcada por um vínculo afetivo e prático com diferentes santos. A professora destaca ainda que o dia 24 de junho marca a contagem regressiva de seis meses para o Natal, o que reforça o simbolismo da data e sua ligação com a religiosidade cristã.

Machado reforça que a origem da celebração múltipla vem da tradição ibérica. "O São João era muito celebrado tanto na Espanha como em Portugal. Como nós fomos colonizados pelos portugueses, e os portugueses trazem essa tradição católica, a gente acaba herdando essa festa."

No Brasil, as festas foram adaptadas ao contexto local, ganhando novos elementos. Ao contrário do verão europeu, as comemorações por aqui ocorrem no inverno. A fogueira, segundo Machado, passou a ter um papel ainda mais importante como ponto de calor e acolhimento. E foi ao redor dela que a festa se transformou.

"A festa se modifica com elementos, trazendo itens da cultura indígena, por exemplo. Aqui no Brasil, o milho era a base alimentar das populações americanas, das populações ameríndias, e ele vai ser transformado em vários subprodutos. Vai ter bolo de milho, canjica, e por aí vai. Até o próprio milho assado, milho cozido, a pamonha."

Consolidação das festas e influência nordestina

A transformação das festas juninas em grandes eventos urbanos foi impulsionada por políticas públicas e estratégias de desenvolvimento local. A partir das décadas de 1970 e 1980, gestores municipais começaram a enxergar o São João como um ativo econômico, investindo em grandes espetáculos para aquecer o turismo e o comércio.

"O Estado vai colocar a mão e vai colocar pesadamente lá em duas cidades polos", explica Machado, referindo-se a Campina Grande (PB) e Caruaru (PE). Segundo ele, a festa deixou de ser apenas uma celebração familiar para se tornar um espetáculo de massa, com impacto direto na rede hoteleira, nos serviços e na economia local.

Além da força do poder público, as festas foram moldadas pelas disputas entre coletivos culturais e pela profissionalização dos grupos de quadrilhas juninas. "A transformação das festas juninas acompanha a evolução técnica e mercadológica voltada para a competição dos coletivos, mobilizando toda uma rede de produção e consumo, cultura e sociabilidade", afirma Antonio George Paulino, coordenador do Laboratório de Antropologia e Imagem da Universidade Federal do Ceará.

Para ele, o Nordeste se destaca como polo central não apenas por tradição, mas por articular elementos identitários, como a valorização da colheita do milho e a forte conexão comunitária.

O São João pode ser enxergado ainda como um símbolo de resistência cultural. Segundo Dias Pinto, entre os séculos 19 e 20, a festa rural e religiosa ganhou fôlego como expressão urbana e turística. "As quadrilhas se tornaram encenações teatrais, os trajes foram estilizados e a música nordestina [xote, baião, forró] ganhou centralidade", afirma.

A professora afirma ainda que, apesar das mudanças promovidas pela tecnologia, pelos meios de comunicação e até por gerações, o sentido de pertencimento e celebração da coletividade continua sendo o eixo principal das festas juninas, especialmente no Nordeste. "Nesse ponto, cidades como Caruaru e Campina Grande têm sido palco dessa tensão entre o passado e o presente. Ambas investem em grandes atrações de apelo nacional, mas também vêm buscando preservar espaços exclusivos para o forró tradicional, valorizando artistas locais e criando ‘ilhas’ culturais dentro da grande festa."

Short teaser Santo deu origem a uma das maiores manifestações culturais do mês de junho e influenciou tradições populares.
Author Priscila Carvalho
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Item 35
Id 57531509
Date 2025-06-13
Title Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel
Short title Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel
Teaser Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011. Devido ao custo alto, só é empregado para proteger áreas habitadas.

A escalada das agressões entre Israel e Irã nesta sexta-feira (13/06) colocou à prova a eficácia do sistema antimísseis israelense Iron Dome (Domo de Ferro), que desde 2011 é empregado para impedir ataques aéreos estrangeiros no país.

Após o exército israelense atingir instalações nucleares iranianas, Teerã retaliou lançando dezenas de mísseis contra Israel. A maioria foi interceptada pelo sistema de defesa, mas alguns conseguiram furar o bloqueio e atingir sete pontos da capital.

Em outubro de 2024, o sistema foi mais eficiente. Na ocasião, o Irã lançou mísseis contra Tel Aviv em retaliação à ofensiva israelense no sul do Líbano, mas o Domo de Ferro impediu danos maiores. Desde o início do conflito contra o Hamas, em outubro de 2023, o sistema também já barrou projéteis disparados de Gaza, Líbano, Síria, Iraque e Iêmen.

Sistema de três elementos

A defesa aérea israelense consiste em um sistema de três níveis. O "David's Sling" (também conhecido como a parede mágica) é responsável por barrar mísseis de médio alcance, drones e mísseis de cruzeiro. O sistema Arrow tem como alvo os mísseis de longo alcance.

Já o Domo de Ferro intercepta mísseis de curto alcance e projéteis de artilharia.

Louvado como "seguro de vida para Israel", o Domo de Ferro consiste de uma unidade de radar e um centro de controle, com a capacidade de reconhecer, logo após seu lançamento, projéteis – por exemplo, foguetes – que se aproximem voando, e de calcular sua trajetória e alvo.

O processo leva apenas segundos. O Domo também conta com baterias para lançamento de mísseis. Cada sistema possui três ou quatro delas, com lugar para 20 projéteis de defesa, os quais só são disparados quando está claro que um míssil mira uma área habitada. Eles não atingem o foguete inimigo diretamente, mas explodem em sua proximidade, destruindo-o. No entanto, a consequente queda de destroços ainda pode causar danos.

Os dez sistemas atualmente operacionais em Israel são móveis, podendo ser deslocados segundo a necessidade. Segundo a fabricante, a empresa armamentista estatal Rafael Advanced Defence Systems, uma única bateria é capaz de proteger uma cidade de tamanho médio.

90% de êxito, mas com custos altos

O "Domo de Ferro" é especializado na neutralização de projéteis de curto alcance. Como cada unidade age num raio de até 70 quilômetros, seriam necessárias 13 delas para garantir a segurança de todo o país.

De acordo com a fabricante, o sistema tem uma taxa de sucesso de 90%. Em seu site, a empresa estatal de defesa fala que mais de 5 mil projéteis já foram interceptados desde suas instação em 2011.

Cada projétil interceptador do Domo de Ferro pode custar entre 40 mil e 50 mil euros (R$ 221 mil a 277 mil), segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA. Por este motivo, só são contidos os mísseis que cairiam em áreas habitadas.

Nova arma a laser "Iron Beam"

Em vista dos altos custos, o exército israelense quer complementar o Domo de Ferro com uma nova arma de defesa a laser, o chamado "Iron Beam".

O laser de alta energia foi projetado para destruir pequenos mísseis, drones e projéteis de morteiro. Ele também deve ser capaz de neutralizar enxames de drones.

A Iron Beam foi apresentada em fevereiro de 2014 pela Rafael Systems. A empreiteira de defesa americana Lockheed Martin também está envolvida no projeto desde 2022.

As vantagens em comparação com o "Iron Dome" são os custos menores por lançamento, um suprimento teoricamente ilimitado de munição e custos operacionais mais baixos.

Os valores variam consideravelmente: um lançamento a laser custaria até 2 mil dólares (R$ 5,5 mil). A implantação da nova tecnologia está planejada para 2025.

Short teaser Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011.
Author Uta Steinwehr
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-funciona-o-domo-de-ferro-sistema-antimísseis-de-israel/a-57531509?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 36
Id 72865963
Date 2025-06-13
Title Nova lei escancara "fábrica" de cidadania italiana no Brasil
Short title Nova lei escancara "fábrica" de cidadania italiana no Brasil
Teaser

A obtenção da cidadania italiana pode custar dezenas de milhares de reais e anos de burocracias

Cresce número de queixas de consumidores que perderam direito à nacionalidade e temem prejuízos. Assessorias cautelosas paralisam pagamentos e abertura de processos, mas outras insistem em angariar novos clientes.A limitação do acesso à cidadania italiana para descendentes de emigrados colocou em crise uma lucrativa indústria de assessoria jurídica e administrativa atuando no Brasil e na Itália. Explodem as reclamações de consumidores brasileiros, não raro com contratos já parcial ou totalmente pagos, que se veem lesados por parte de um setor inflado nos últimos anos. Nos casos extremos, a clientela teme prejuízos de dezenas de milhares de reais ou perdeu, ao menos por ora, o direito à cidadania, por não ter tido seus processos judiciais protocolados na Itália a tempo. Neste ano, as empresas do ramo viram a bolha estourar ao sofrerem dois golpes consecutivos do governo italiano, que alega ser necessário conter abusos da fábrica de cidadanias. A mais recente lei, que restringe a cidadania a filhos e netos de nascidos na Itália, acerta em cheio o Brasil, onde vivem 32 milhões de descendentes de italianos, a maioria de quarta ou quinta geração. A plataforma Reclame Aqui registrou de janeiro a maio 567 reclamações, em comparação a 126 no mesmo período do ano passado, de acordo com um levantamento feito pela empresa a pedido da DW, que considerou 50 empresas. As queixas mais comuns incluem descumprimento de contrato ou acordo, mau atendimento ou demora na execução de serviços. Já no Procon de São Paulo, os atendimentos relativos à indústria da cidadania italiana aumentaram de 16 em 2024 para 55 nos primeiros cinco meses deste ano, sobretudo por oferta não cumprida, dificuldade para alterar ou cancelar o serviço, dificuldade de contato ou demora no atendimento. Dentre estas, 33 ocorreram em abril e maio, na sequência da mudança das regras. Crise anunciada As queixas de lentidão e falta de transparência na preparação da documentação e na condução de processos judiciais já eram conhecidas no setor. Mas, em janeiro, o aumento dos custos administrativos para processos ainda não protocolados a 600 euros (equivalente a cerca de 3,8 mil reais) por requerente da cidadania — e não mais 300 euros por família — fez soar o alarme entre os clientes. Cada processo familiar chega a ter dezenas de requerentes. Depois, um decreto-lei de 28 de março impediu a realização dos serviços já contratados por bisnetos ou tataranetos de emigrados que aguardavam, às vezes por vários meses, seus processos serem protocolados pelas assessorias, inclusive após a efetuação de pagamentos e a reunião da papelada necessária no Brasil e na Itália. O decreto seria aprovado pelo Congresso em maio. À DW, dez clientes de três empresas citadas no Reclame Aqui pelo menos cem vezes nos últimos seis meses relataram dificuldades em se comunicar com as empresas ou obter a restituição dos montantes já pagos por serviços não prestados. A reportagem teve acesso a contratos, provas de tentativas de contato pelos clientes e comunicações com as empresas neste ano. O investimento total previsto num contrato conjunto para 18 membros da família de Keroley Paes de Almeida, moradora de Balneário Camboriú (SC), superou 65 mil reais com a Áquila Global Group, sediada em Curitiba. As tratativas se arrastam desde março de 2023, mas não se converteram na abertura de um processo judicial na Itália, segundo a cliente. Um boletim de ocorrência foi registrado em maio na Polícia Civil de Santa Catarina. Ela relata que tampouco chegou o reembolso resultante da rescisão do contrato pela família no ano passado, depois de alegados prazos não cumpridos, erros na reunião de documentos e comunicação evasiva ou deficiente. "A comunicação já estava muito ruim antes de sair a nova lei. Depois que aconteceu tudo isso, a gente não teve mais resposta nenhuma", afirma Paes de Almeida. Direito perdido A Áquila se apresenta como uma gigante do setor com 10 mil processos para obtenção da cidadania italiana ou portuguesa em curso, além de mais de 4 mil já exitosos. Em 2022, a empresa afirmou à imprensa ter assumido o caso da família do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em janeiro, outra cliente já recorrera à Polícia Civil do Paraná, alegando o não reembolso de quase 10 mil reais pagos por um serviço nunca realizado. O caso corre atualmente na Justiça. Já em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, a nutricionista Stephanie Biasio e três parentes contrataram a Nostrali Cidadania Italiana por 35 mil reais em outubro. Agora sem mais direito à cidadania, ela afirma ter sido encorajada a fechar negócio à época pela empresa, que já citava o risco de uma mudança legislativa no futuro próximo. Falhou a promessa de aproveitar os últimos minutos das regras mais flexíveis, segundo Stephanie. "Nós só entramos (com o processo) porque eles deram a garantia que em dezembro estaria tudo protocolado", relata. É o mesmo que conta o programador Cássio Rivadávia, que mora em Lisboa e contratou a empresa no fim do ano passado. "Quando estourou esse decreto, comecei a receber e-mails de cobrança. E aí eles não atendiam mais em nenhum canal." Enquanto isso, dezenas de consumidores que se reconhecem como vítimas da Áquila se mobilizam virtualmente. No total, seis deles, que moram em cidades diferentes no Brasil e no exterior, disseram à reportagem não receber respostas ao longo de semanas ou meses por canais oficiais de atendimento, incluindo email, ligações telefônicas e mensagens por aplicativo. Ou, então, que obtiveram apenas declarações vagas e inconclusivas ao questionarem sobre o impacto das novas regras. Permanecem pendentes pedidos de rescisão de contratos, devolução de documentos originais ou de esclarecimentos sobre a viabilidade dos seus processos. "Não tenho mais a certeza do direito garantido, que eu tinha quando a legislação não era aprovada", diz Felipe Almeida, de Taubaté. Um contrato estabelecia o pagamento de 20 mil reais em 2023 para o reconhecimento da cidadania da sua esposa e filho, bisneta e tataraneto de emigrado italiano, com a documentação necessária sendo reunida até dezembro passado. Problemas em cadeia A Áquila acumula também 219 reclamações dos últimos seis meses no Reclame Aqui, em comparação a 209 em todo o ano passado. O Procon do Paraná recebeu ainda quatro queixas contra a empresa desde o decreto, somadas a três anteriores em 2025 e outras três em 2024 e 2023. "Muitos dos requerentes estão pagando em boletos bancários, em 36 vezes. As pessoas estão pagando por uma coisa que, muito provavelmente, não vamos ter mais," afirma Vinícius da Rós, um dos clientes que se mobilizam virtualmente. Já contra a Nostrali, foram 26 reclamações no Procon do Paraná, todas no mesmo dia em fevereiro e por pessoas diferentes. Consumidores alegaram ter sofrido cobrança de tarifas não informadas, cobrança por serviço não fornecido e propaganda enganosa. No Reclame Aqui, a empresa reúne 121 reclamações, das quais 99 foram abertas nos últimos seis meses, frequentemente citando perda de comunicação com representantes. Em contato com a reportagem, a Nostrali Cidadania Italiana não se pronunciou. Já a Áquila Global Group atribuiu, em nota, as crescentes dificuldades à lentidão dos órgãos públicos da Itália, à recente mudança legislativa e à natureza da sua atividade. "Os atrasos impactam diretamente toda a cadeia produtiva, gerando mais trabalho operacional, aumento de reclamações e demandas de esclarecimento, além de potencialmente afetar a imagem institucional, com consequente perda de receita e necessidade de ajustes no quadro de colaboradores", disse o comunicado. A assessoria afirmou também que a maior parte das reclamações se refere a clientes que já tiveram a cidadania reconhecida, sem comentar os casos apurados pela reportagem. E, ainda, que trabalha para agilizar o atendimento e adota as medidas legais cabíveis contra "manifestações inverídicas, caluniosas ou difamatórias". Outras empresas do setor alvo de reclamações semelhantes incluem a Eu na Europa, Cidadania4U e Cidadania Já. Juntas, elas somam 369 reclamações nos últimos seis meses no Reclame Aqui. Nenhuma respondeu a pedidos de comentário. Vendendo promessas Continua, entretanto, a captação de clientes em parte da fábrica da cidadania italiana. A aposta para manter a roda do setor girando é vender a promessa de sucesso da contestação a nível judicial da constitucionalidade da nova legislação italiana. No entanto, a tese jurídica ainda deve ser testada, e não há garantia de aprovação perante o magistrado. A DW contatou em maio e junho os canais de atendimento ao cliente de oito empresas de assessoria jurídica, expressando interesse nos serviços atualmente disponíveis para bisnetos de italianos. Sete delas indicaram, num primeiro contato, aceitar novos clientes de quarta geração, apesar da legislação vigente, incluindo a Áquila e a Nostrali. Por outro lado, durante a apuração, a DW constatou que ao menos uma empresa congelou pagamentos, e outras duas não aconselham o fechamento de novos contratos enquanto durar a incerteza jurídica. O Procon de São Paulo explica que a mudança na legislação dá ao consumidor o direito de terminar contratos com o setor. Os serviços efetivamente executados até o momento do decreto, entretanto, podem ser abatidos dos pagamentos a serem restituídos. "O fato de hoje, com contrato em vigência, as regras estarem completamente alteradas por fatores que não são de responsabilidade do consumidor não pode ser elemento para a empresa atribuir responsabilidade, inclusive ônus, ao consumidor", explica Patrícia Alvarez, diretora de assuntos jurídicos do Procon-SP. Segundo ela, a mudança legislativa faz parte do risco da atividade do prestador de serviço. Briga na Corte Constitucional O reconhecimento dos ítalo-descendentes será tema de audiência na Corte Constitucional da Itália em 24 de junho. Em jogo estarão questionamentos quanto à constitucionalidade da cidadania jus sanguinis (por descendência) sem limites, levantados por quatro tribunais onde correm processos pelo reconhecimento da cidadania. Os processos dizem respeito a 23 brasileiros e 12 uruguaios, explica o advogado italiano Marco Mellone, que representa 31 dos 35 requerentes. A decisão deverá servir de argumento para manter ou derrubar as restrições introduzidas pela nova legislação. "Na minha opinião, tem muitos motivos para essa lei não poder ser considerada em acordo com Constituição italiana", afirma Mellone. "Antes de tudo, o fato de que pretende tirar um direito que a lei anterior estabelecia desde o nascimento, e a lei não pode ser retroativa." Observadores argumentam que, diante do cenário de incerteza, é momento de cautela para ítalo-descendentes que cogitam se comprometer com novos investimentos para a obtenção da cidadania. "Tenho dito para as pessoas que aguardem esse julgamento. Vejo propagandas de quem está se aproveitando e dizendo aos clientes que não desistam", diz Walter Petruzziello, membro do conselho de presidência do Conselho Geral de Italianos no Exterior, instituição que representa ítalo-descendentes. "Existem tantas empresas que já não se sabe mais quantas são sérias ou não." Por enquanto, uma petição online contra a mudança nas regras já acumulou assinaturas de 133 países, sendo o Brasil o primeiro deles, com mais de 63 mil assinaturas, segundo a plataforma Change.org.


Short teaser Cresce número de queixas de consumidores que perderam direito à nacionalidade e temem prejuízos.
Author Heloísa Traiano , Amanda Saori
Item URL https://www.dw.com/pt-br/nova-lei-escancara-fábrica-de-cidadania-italiana-no-brasil/a-72865963?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/72084198_354.jpg
Image caption A obtenção da cidadania italiana pode custar dezenas de milhares de reais e anos de burocracias
Image source Tetiana Chernykova/Zoonar/picture alliance
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Item 37
Id 72885769
Date 2025-06-12
Title Do Taj Mahal ao Grupo Baader-Meinhof: quando o amor escreve história
Short title Do Taj Mahal à RAF: quando o amor escreve história
Teaser Alexandre e Heféstio, Gertrude e Alice, Gudrun e Andreas, Bonnie e Clyde: Cercado de lendas, amor é capaz de inspirar tanto as mais belas obras de arte quanto as piores violências.

O Brasil celebra nesta quinta-feira (12/06) o Dia dos Namorados. Conheça alguns dos casais mais famosos da história.

Alexandre Magno e Heféstio: amantes ou amigos?

Os protagonistas do casal gay mais famoso da Antiguidade provavelmente eram só platônicos amigos íntimos. Se o rei Alexandre Magno (356-323 a.C.) e seu conselheiro de confiança e guarda-costas Heféstio realmente partilhavam o leito, é uma questão que divide os historiadores até hoje. Certo está que na época relações homossexuais não eram nada fora do comum.

Há registros de que ambos lutaram juntos nas grandes campanhas bélicas de Alexandre, e segundo escritos antigos, o luto do rei da Macedônia pelo amigo foi tão profundo, que ele o declarou semideus postumamente, massacrou toda uma tribo por pura dor, e mandou torturar e matar o médico pessoal de Heféstio. Tais narrativas, contudo, carecem de base histórica.

Cleópatra e César: amor e política

Egito, 48 a.C.: a luta de poder entre Cleópatra e seu irmão – e marido – Ptolomeu redundara numa cruel guerra civil. Buscando apoio de Roma, a imperatriz tenta seduzir o general local com seu charme e beleza. Júlio César morde a isca: além de um romance com a mais bela e poderosa mulher da Antiguidade, ele tenta obter assim ainda mais influência, pois uma aliança romano-egípcia lhe permitiria manter sua posição no leste do Mediterrâneo.

Seus exércitos decidem a guerra a favor da amante, Ptolomeu sofre um conveniente acidente fatal. César vai viver com Cleópatra em Roma. Embora esse relacionamento com uma monarca estrangeira fosse alvo de críticas, muitos romanos também reconhecem suas vantagens políticas. Até que em 44 a.C. César é assassinado. A egípcia inicia um outro romance, não menos politicamente explosivo, com o general Marco Antônio. Mas essa é outra história.

Heloísa e Abelardo: luxúria, filosofia e castração

Heloísa de Argenteuil, de 18 anos, é considerada a moça mais bela da Paris do século 12; Pedro Abelardo, de 40 anos, o maior erudito de toda a Europa. Ele quer conquistá-la, mas para tal precisa contornar a vigilância do tio dela, o cônego Fulberto. Então é contratado como seu preceptor particular.

Abelardo lhe ensina não só arte e ciência, mas também as artes do amor, fato de que se gaba para seus demais discípulos. Em breve, toda Paris está fofocando sobre o caso. Fulberto é o último a saber, mas quando sua raiva passa, negocia com Abelardo o casamento imediato com a jovem.

O acordo é que a união permanecerá secreta, já que o papel de marido prejudicaria a reputação do estudioso nos meios filosóficos. Porém, quando o tio quebra sua palavra e torna público o matrimônio, Abelardo, exasperado, envia a esposa para um convento.

Fulberto interpreta o fato como uma tentativa do professor pecaminoso de escapar das obrigações do casamento e, furioso, manda castrá-lo. Abelardo se refugia num mosteiro e vira monge; para Heloísa nada resta senão adotar o hábito, mais tarde tornando-se abadessa. Apesar de separados pela distância e por seus votos religiosos, ambos permanecem intimamente unidos pelo resto da vida.

Ana Bolena e Henrique 8º: um rei de perder a cabeça

Em 1527, o rei Henrique 8º da Inglaterra está casado com Catarina de Aragão. Em meios às dificuldades para que ela lhe dê um herdeiro, porém, sua jovem dama de companhia, Ana Bolena, chama a atenção do monarca, que a considera bem mais atraente. Ele a corteja com ardorosas cartas de amor, mas ela deixa claro que não terá sexo fora do casamento.

Henrique está tão obcecado por essa paixão que corta os laços com a Igreja Católica Romana, de modo a poder divorciar-se de Catarina. Contudo o novo casamento tampouco resulta num herdeiro masculino para o trono inglês – em vez disso, Bolena dá à luz a futura rainha Elizabeth 1ª.

O casal se desentende, chegam aos ouvidos do rei boatos de que sua esposa estaria tendo um caso amoroso, ele a manda encarcerar na Torre de Londres. Condenada por alta traição, Ana Bolena é executada na manhã de 19 de maio de 1536. Henrique não está entre os milhares que vão assisti-la ser decapitada com uma espada. Ele ainda se casa mais quatro vezes. Sua quinta esposa, Catarina Howard, seria igualmente decapitada por adultério.

Mumtaz Mahal e xá Jahan: luto e imponência arquitetônica

Quando, em 1607, o príncipe Khurram – futuro xá Jahan, grande mogul da Índia –, de 15 anos, e Arjumand Banu Begum, de 14 anos, se encontraram, foi amor à primeira vista. Cinco anos mais tarde se casavam. Esposa favorita do monarca, passou a ser chamada "Mumtaz Mahal", a joia do palácio. Ela o acompanhava em todas as viagens e ambos tiveram 14 filhos.

Durante seu último parto, tem uma hemorragia fatal. Em seu leito de morte, pede ao xá que lhe erga o maior e mais magnífico túmulo que o mundo já vira. Conta a lenda que a barba do viúvo ficou branca da noite para o dia. O mausoléu de mármore branco, que mandou construir em Agra, deveria ser o edifício mais perfeito da história humana. Concluído em 1648, até hoje o Taj Mahal fascina os visitantes com seu brilho.

Gertrude Stein e Alice B. Toklas: 40 anos de vida em comum

Na virada do século 19 para o 20, a elite da vanguarda parisiense se encontrava no salão da judia americana Gertrude Stein. Além de muito dinheiro, a autora e colecionadora tinha um faro certeiro para as novas tendências artísticas. As paredes de seu salão ostentam pinturas de Paul Gauguin, Pablo Picasso, Henri Matisse e outros, que também eram convidados constantes, da mesma forma que autores como Ernest Hemingway e T.S. Eliot.

Discretamente, circula nos bastidores o grande amor da vida de Stein, a escritora Alice B. Toklas. Ambas haviam se apaixonado em 1907: além de amante, a também americana era sua cozinheira, secretária, musa, editora e crítica. Elas viveram juntas até a morte de Stein, em 1946, Toklas ainda viveria mais 21 anos. Ela está sepultada ao lado da companheira em Paris, seu nome inscrito em letras de ouro na parte de trás da lápide de Stein.

Bonnie e Clyde: romance fora da lei

Nascidos na pobreza, Bonnie Parker e Clyde Barrow conheceram-se no Texas em 1930. O romance é interrompido quando ele é condenado a dois anos de prisão, mas Bonnie o espera, e quando ele é liberado, unem-se para assaltar lojas, postos de gasolina e bancos em diversos estados americanos, sempre conseguindo escapar por um triz dos perseguidores.

Os jornais publicam fotos do casal posando armado, celebrando-o como anti-heróis da era da Grande Depressão (1929-1939). Contudo a simpatia popular se esgota quando seus golpes redundam em mortes. A história de amor encontra um fim sangrento em 1934: atraídos a uma armadilha, durante 16 segundos ininterruptos a polícia dispara contra seu automóvel. Bonnie e Clyde morrem perfurados por dezenas de balas, ela aos 23 anos, ele aos 25.

Maria Callas e Aristóteles Onassis: a (auto)destruição de uma diva

Em 1959, a cantora lírica greco-americana Maria Callas estava no auge de sua carreira, e ainda casada com o industrial Giovanni Battista Meneghini, quando encontrou-se com Aristóteles Onassis, igualmente casado, numa glamorosa festa de alta sociedade no iate de luxo do armador grego.

Inicia-se um relacionamento tempestuoso: Onassis a cobre de presentes caros, ela está louca por ele. Ambos se divorciam, Callas quer casar-se, mas o magnata não tem pressa de formalizar a união, que se torna cada vez mais tóxica. Ela só canta quando ele quer, sua obsessão com ele lhe afeta a voz, ela faz fiasco nos palcos.

Enquanto destrói sua carreira artística e se agarra a ele, Onassis se afasta mais e mais. Quando encontra a viúva presidencial Jacqueline Kennedy e se casa com ela, só resta a Callas observar, impotente. Ambos ainda se encontram de tempos em tempos, mas a chama se apagou. A ex-diva morre em 1977 em Paris, de um ataque cardíaco, aos 53 anos.

Gudrun Ensslin e Andreas Baader: até que a morte os separe

Os ativistas de extrema esquerda alemães Gudrun Ensslin e Andreas Baader conheceram-se durante um protesto estudantil em Berlim, em 1967. Ambos integram a "oposição extraparlamentar", um grupo que não se sente representado no Parlamento alemão, o que expressa em atos de sabotagem.

No ano seguinte, ambos cometem seus primeiros crimes: dois atentados contra lojas de departamentos. Juntamente com a militante de esquerda Ulrike Meinhof, fundam o Grupo Baader-Meinhof, sendo responsáveis pelos primeiros ataques terroristas da Facção do Exército Vermelho (RAF, na sigla em alemão), que abalaram a Alemanha na década de 1970.

Capturados em 1972, Baader e Ensslin são submetidos a um longo processo, coberto em detalhe pela imprensa. No tribunal, apresentam-se como amantes, com grande efeito midiático. Em outubro de 1977, ambos são encontrados mortos em suas celas, em circunstâncias não esclarecidas até hoje.

Short teaser Cercado de lendas, amor é capaz de inspirar tanto as mais belas obras de arte quanto as guerras mais terríveis.
Author Silke Wünsch
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Item 38
Id 72595695
Date 2025-05-19
Title Esportes "ninja" conquistam a Alemanha
Short title Esportes "ninja" conquistam a Alemanha
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Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo

Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV estreou sua própria "Bundesliga". O chamado "playground de adultos" agrada também crianças e pode ajudar no desenvolvimento motor infantil."É como um playground gigante para nós, adultos. Todos nos divertimos muito", conta Marlies Brunner à DW, com brilho nos olhos. "Ficamos tão felizes quanto crianças por podermos praticar esse esporte." A jogadora de 23 anos viajou da Áustria para Bonn, na Alemanha, para participar da estreia da Ninja Bundesliga ("liga nacional"). Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo. Acima de tudo, os atletas precisam de força, resistência, coordenação e técnica, além de vigor mental, para chegar à linha de chegada sem cair no colchão de ar ou nos colchonetes, sendo fiel ao lema "o chão é lava". "Você voa bastante pelo ar, se sente leve e não mais preso à gravidade", explica Ouissal Touiher à DW. É completamente diferente se mover apenas com as mãos e não com os pés, diz a jovem de 20 anos. "Há muitos movimentos diferentes que tornam o esporte tão especial", afirma Brunner, que no ano passado se tornou campeã austríaca da modalidade. O que soa como algo espetacular, parece, de fato, ser. Os ninjas escalam, deslizam, balançam ou "voam" pela pista de obstáculos, com todo o peso do corpo quase que inteiramente apoiado nos dedos. "Acho admirável o quanto as mãos são capazes de suportar", diz Brunner. "Sou muito grata ao meu corpo por me permitir fazer tudo isso." Os atletas iniciam o percurso um após o outro, alguns com tanta adrenalina que chegam ao limite e falham logo no primeiro obstáculo. Um erro ao tentar agarrar um obstáculo ou uma ação desconcentrada e a competição acaba. "Parquinhos infantis são muito 'ninjas'" O atual esporte da moda, que ainda é pouco conhecido na Alemanha, cresceu rapidamente nos últimos anos e vem se tornando cada vez mais popular. Existem atualmente no país quase 1.300 ninjas que praticam essa modalidade regularmente. Muitos deles migraram de outros esportes, como o montanhismo, boulder, acrobacia ou ginástica. Há também cada vez mais crianças aderindo aos esportes ninjas e crescendo com eles. Atualmente, cerca de metade dos praticantes ativos têm menos de 16 anos. "As crianças geralmente adoram ser ativas. Os parquinhos infantis são muito 'ninjas'. Elas se balançam e escalam", explica Touiher. "Elas definitivamente deveriam frequentar mais os ginásios ninja." Steffen Moritz, um dos fundadores da Ninja Bundesliga, concorda com essa afirmação. "Quem costumava escalar ou se pendurar muito vai se lembrar daqueles tempos. As crianças sabem imediatamente o que precisam fazer no percurso", afirmou Moritz à DW. Esses movimentos, segundo diz, estão ausentes em muitas crianças hoje em dia. Isso também se confirma por dados atuais de um estudo da empresa Seguradora de Saúde do Comércio (KKH), segundo o qual, cada vez mais crianças e jovens na Alemanha sofrem de distúrbios de desenvolvimento motor. A proporção de crianças de seis a 18 anos afetadas pelo problema aumentou cerca de 64% entre 2008 e 2023. Em 2023, mais de 311.000 alunos foram diagnosticados. A causa geralmente é a falta de exercícios, de acordo com o estudo da seguradora. Os esportes ninjas podem ajudar a resolver o problema. Os organizadores estão satisfeitos com a adesão de um número cada vez maior de ninjas mais jovens à modalidade. "Queremos ser uma plataforma para esse esporte que foi inventado no Japão e tem origem em um programa de televisão", explica Moritz. Origem EM programa de TV japonês Na Alemanha, o esporte ficou conhecido através do programa de TV Ninja Warrior Germany ("Guerreiro Ninja Alemanha"). O programa, transmitido pelo canal de televisão RTL desde 2016, foi adaptado do original americano American Ninja Warrior. No entanto, o conceito de Ninja Warrior teve origem no Japão, onde foi transmitido pela primeira vez em 1997 sob o nome Sasuke. Esses programas também são muito populares no Vietnã e na Austrália. Ao longo dos anos, uma comunidade internacional de entusiastas se desenvolveu, influenciada pelos programas de TV. O desafio para Steffen Moritz e sua equipe agora é fazer com que esse "esporte televisivo" se estabeleça na Alemanha. Como dinheiro e patrocinadores ainda são escassos, muito ainda funciona através do trabalho voluntário. "Este esporte é financiado principalmente pelas taxas de inscrição que os atletas têm que pagar se quiserem participar da Bundesliga", diz Moritz. Contudo, os desenvolvimentos recentes deixam não apenas os organizadores, mas também os ninjas confiantes de que mais e mais patrocinadores acabarão tomando conhecimento do novo esporte. Jovens prevalecem na estreia da Bundesliga "O esporte progrediu enormemente. Há cada vez mais academias ninja, competições incríveis e muitos eventos como a Bundesliga Ninja na Alemanha", diz Marlies Brunner. "É possível perceber que o esporte já se tornou muito grande." É fascinante ver o quanto as crianças se divertem e o quanto elas já se saem bem no esporte, diz a austríaca. "Nós, adultos, realmente precisamos correr atrás para acompanhar." Dessa forma, não é nenhuma surpresa que Jonas Elting, o vencedor do evento de estreia da Bundesliga em Bonn, tenha apenas 17 anos.


Short teaser Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV pode ajudar no desenvolvimento motor das crianças.
Author Thomas Klein
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Image caption Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo
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Item 39
Id 72504004
Date 2025-05-11
Title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
Short title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
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Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte

Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006. Federação prepara plano para resgatar interesse dos jovens pelo esporte.Na Alemanha, o entusiasmo pela participação da seleção na Copa do Mundo de 2026 contrasta com uma realidade preocupante para o esporte: desde 2006, o país perdeu quase 6 mil equipes masculinas de futebol nas categorias sub-19 e sub-17. Em resposta à crise que ameaça o futuro do futebol no país, a Federação Alemã de Futebol (DFB) vem desenvolvendo uma série de reformas estruturais coordenadas por Hannes Wolf, ex-treinador da Bundesliga – o campeonato alemão – e atual diretor de futebol juvenil da entidade. "Temos que garantir que não haja uma participação falsa, mas que os jovens realmente se envolvam", disse em uma conferência da entidade. "Se você já está no banco no sub-13 e não é bom o suficiente para se dedicar à sua paixão, então eu também diria aos meus filhos que se dediquem a outra coisa." A conferência realizado em Frankfurt reuniu 220 representantes das 21 federações regionais da Alemanha. O objetivo era construir um novo plano nacional para as categorias de base, com foco na identidade do esporte — onde a diversão precede os resultados. As propostas discutidas devem ser apresentadas até setembro, durante o Dia Nacional da Juventude da Alemanha, e testadas por federações regionais antes da adoção plena em 2026. "O futebol precisa se modernizar se quiser continuar sendo atraente para os jovens no futuro", disse Bernd Neuendorf, presidente da DFB. "Mesmo que atualmente tenhamos longas listas de espera nos clubes de muitas cidades, já não é garantido que as crianças comecem a jogar futebol e permaneçam nas categorias de base." O que vem mudando no futebol europeu O desafio enfrentado pela Alemanha não é exclusivo. Na Inglaterra, por exemplo, houve crescimento na adesão de crianças e adolescentes de 5 a 16 anos ao futebol após a pandemia da covid-19, mas a faixa de 16 a 24 anos registrou queda de 27% na participação entre 2015 e 2023, segundo levantamento da Sport England. A Federação Inglesa de Futebol (FA) respondeu com uma nova estratégia lançada em 2024. Entre as medidas, está o formato 3 contra 3 para menores de 7 anos, com estreia prevista para 2026, com o objetivo de aumentar o tempo de contato com a bola. Na Alemanha, Hannes Wolf acredita que a criatividade precisa voltar aos treinamentos. Uma das ideias é popularizar jogos em campos oficiais que simulem o estilo do futebol de rua. Pressões, custos e novas prioridades Plataformas digitais, altos custos para praticar o esporte, cronogramas excessivos e expectativas desproporcionais são apenas alguns dos obstáculos. Lesões, separações familiares e mudanças de cidade completam o quadro. Thomas Broich, diretor da categoria de base do Borussia Dortmund, alertou recentemente que o futebol juvenil pode se tornar um "grande problema cultural" para a Alemanha. Já o treinador Malte Boven, radicado em Hamburgo, observa que reformas feitas em 2019 priorizaram os mais novos, deixando os adolescentes em segundo plano — justamente os que estão mais próximos do futebol profissional. Para ele, compreender por que esta faixa etária tem desistido do esporte exige olhar para múltiplos fatores, especialmente as mudanças culturais. "Acho que o 'porquê' e o 'como' queremos jogar se tornaram mais importantes para os jogadores nos últimos anos", disse Boven à DW. "Há uma diferença social entre gerações." Confiança e estrutura como resposta Apesar de não prever uma escassez iminente de jogadores, Boven defende ajustes importantes para que o futebol continue sendo uma escolha atrativa. Isso inclui rever o modo de comunicação com atletas e pais, melhorar o acesso a instalações esportivas e ensinar os jovens a lidar com a pressão de forma conjunta com os treinadores. Ele apoia as propostas da Federação Alemã de Futebol, mas reconhece que a cultura do resultado ainda domina. "A participação é uma realidade quando se trata de vencer no futebol juvenil, especialmente em clubes amadores. Nesse caso, há uma pseudoparticipação de todos os jogadores envolvidos, porque não lhes dou a oportunidade de realmente fazer parte do jogo", pontua. "É preciso incutir neles a máxima confiança de que podem fazer isso, que merecem jogar no clube, que há um motivo para vestirem essa camisa. Porque, como treinador ou como clube, decidimos que eles joguem esse esporte, e agora nossa obrigação e responsabilidade é lhes dar tempo de jogo." Estratégias além do campo Boven também propõe alternativas para tornar o futebol mais relevante: oferecer aos jovens atletas uma "carta de desenvolvimento de habilidades" ao deixarem as categorias de base, ajudando a dar os próximos passos no mercado de trabalho. "Eu teria um incentivo completamente diferente de simplesmente me tornar um jogador profissional. Ainda quero ser, mas sei que aqui vou ter algo para mostrar pelo meu esforço", afirma. Para ele, é o futebol profissional — com sua mentalidade, cultura e influência — que mais precisa de atenção.


Short teaser Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006.
Author Jonathan Harding
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Image caption Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte
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Item 40
Id 72410915
Date 2025-05-01
Title Federação inglesa vai barrar mulheres trans no futebol feminino
Short title Federação inglesa vai barrar trans no futebol feminino
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Entidade que regula futebol no país diz que nova regra segue decisão da Suprema Corte britânica, de que a definição legal de mulher é baseada somente no sexo biológico.As mulheres transgênero serão impedidas de participar em competições femininas de futebol da Inglaterra a partir de junho, anunciou a Associação de Futebol (FA) do país nesta quinta-feira (01/05), duas semanas após a Suprema Corte do Reino Unido decidir que, para fins legais, o termo "mulher" deve ser definido somente com base no sexo biológico de nascimento. A decisão da FA ocorre dois dias depois de a Associação Escocesa de Futebol (SFA) ter tomado uma decisão no mesmo sentido. Segundo o comunicado, a modificação no regulamento na Escócia entrará em vigor a partir da temporada 2025/26. "Entendemos que isto será difícil para as pessoas que querem simplesmente praticar o esporte que gostam, no gênero com o qual se identificam", indicou a inglesa FA, apontando que a decisão do Supremo a obriga a seguir esse rumo. O regulamento anterior da FA permitia que mulheres trans participassem do futebol feminino, mas isso mudará a partir de 1º de junho. "A decisão da Suprema Corte no dia 16 de abril significa que estaremos mudando nosso regulamento", disse o órgão regulador do futebol inglês em um comunicado. "As mulheres transgênero não poderão mais jogar futebol feminino na Inglaterra, e essa política será implementada a partir de 1º de junho de 2025." A associação ainda apontou que pretende contatar as mulheres transgênero federadas, a fim de lhes "explicar as mudanças" que a decisão do Supremo do Reino Unido implica e de as informar sobre a forma "como podem continuar a praticar" futebol. Segundo a rede BBC, a decisão deve afetar 20 jogadoras transgêneros registradas na Inglaterra Já a associação escocesa informou que vai "fornecer orientações sobre a forma como atualizará os regulamentos e as oportunidades de participação adequadas às mulheres transgênero, antes da entrada em vigor, no início da próxima temporada". Decisão do Supremo Em abril, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu, por unanimidade, que "os termos 'mulher' e 'sexo', na Lei da Igualdade de 2010 [que combate a discriminação], referem-se a mulher biológica e sexo biológico". A decisão, que exclui pessoas trans dessa definição jurídica, encerrou uma longa disputa entre o grupo feminista For Women Scotland (FWS) e o governo escocês. O regramento britânico reconhece o direito de pessoas trans obterem documentos legais, como a mudança do nome social, por exemplo. Contudo, a decisão da Suprema Corte entende que uma pessoa que passou por uma transição de gênero não pode ser considerada legalmente uma mulher para fins de igualdade. Isto implica em um dos pontos mais controversos do debate – o acesso a espaços exclusivos para um gênero. Na prática, o veredicto significa que as mulheres trans podem ser excluídas de alguns espaços destinados exclusivamente para mulheres, como vestiários, abrigos para sem-teto, áreas de natação. Além de serviços médicos ou de ou de aconselhamento oferecidos somente a mulheres. Espaços e serviços exclusivos "só funcionarão corretamente se 'sexo' for interpretado como sexo biológico", apontou o Supremo. Contudo, a lei também "oferece proteção às pessoas trans contra discriminação em seu gênero adquirido", afirmou o juiz Patrick Hodge ao anunciar o veredicto. "Todo mundo sabe o que é sexo, e você não pode mudá-lo", disse Susan Smith, codiretora da FWS após a decisão. "É bom senso, puro e simples. O fato de termos ido parar em um buraco de coelho onde as pessoas tentaram negar a ciência e a realidade... esperamos que agora voltemos à realidade." jps (Reuters, Lusa, ots)


Short teaser Entidade diz que nova regra segue decisão da Justiça, de que a definição de mulher é baseada somente no sexo biológico.
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Item 41
Id 72119729
Date 2025-04-04
Title Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança
Short title Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança
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Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau

Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e de extermínio do nazismo. Ser um jogador ou lutador importante podia trazer privilégios e esperança, ou perseguição cruel.Os campos de concentração do nazismo eram locais de horror e morte, de tortura e humilhação para os detentos. Para esse fim, o pessoal de vigilância também os submetia regularmente a exercícios esportivos cruéis. "Os guardas mandavam os presos fazerem flexões ou saltarem, ou correrem até cair de exaustão", conta a historiadora do esporte Veronika Springmann, autora do livro Gunst und Gewalt – Sport in nationalsozialistischen Konzentrationslagern (Favoritismo e violência – Esporte nos campos de concentração nacional-socialistas). Quem estava no chão geralmente ainda era chutado e insultado: "Era realmente um ritual cotidiano." Além do esporte imposto com violência, havia atividades esportivas que os prisioneiros praticavam de forma mais ou menos espontânea. Devido às condições desumanas, submetidos a duros trabalhos forçados ou experimentos médicos macabros, para a maioria deles não era como praticar esporte como lazer. E tampouco havia lugar para tal nos campos. Além disso, havia uma hierarquia interna estrita. O fato de pertencer a um determinado grupo definia, em grande parte, as condições de prisão e, portanto, as chances de sobrevivência. Por exemplo: presos políticos ou criminosos profissionais em geral recebiam tratamento melhor do que judeus, homossexuais ou os assim chamados "antissociais". Quem estava mais no alto na hierarquia era menos maltratado pelos guardas, recebia trabalho e alojamento melhor, roupas mais quentes, tinha acesso a mais comida, estando, portanto, mais apto praticar esportes. No total, porém, o número desses privilegiados era pequeno. Entre eles estavam os "presos funcionais" (Funktionshäftlinge), designados para vigiar os companheiros e manter a ordem. Enquanto alguns se tornaram assim cúmplices do horror do sistema de concentração e extermínio, outros aproveitavam sua posição melhor para proteger outros detentos. Futebol e boxe para sobrevivência e esperança Dentro dos campos de concentração, promoviam-se regularmente partidas de futebol e lutas de boxe. Com o avançar da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942 as condições mudaram para alguns dos prisioneiros. "A mão de obra dos internos era necessária para a indústria armamentista", explica Springmann. "Todas as firmas do setor produziam nos campos de concentração ou em instalações externas. Os que trabalhavam especialmente bem, ou que atuavam como presos funcionais, tinham permissão para organizar partidas de futebol." Assim, o número de jogos aumentou. Os times eram, em geral, divididos por nações, embora raramente tivessem 11 jogadores completos. Os detentos tentavam até mesmo providenciar uniformes. No memorial do campo de Dachau, próximo a Munique, está exposta uma taça de madeira. Organizar esses eventos também tinha a ver com esperança. "Planejamento está sempre direcionado para o futuro", lembra a historiadora do esporte. "Ou seja: eu espero que ainda vá estar viva amanhã, depois de amanhã, no próximo domingo. Isso fortalece e dá esperança. E esperança é um recurso importante para a sobrevivência" Entretanto é preciso jamais esquecer que apenas uma parcela mínima dos presos tinha permissão ou condições para participar dos jogos – que, além disso, se realizavam num ambiente em que paralelamente se torturava e assassinava. Lutando e jogando para sobreviver Enquanto para os detentos e sobreviventes do sexo masculino havia diversas opções para praticar esportes, o mesmo não se aplicava às mulheres: "Naquela época o esporte simplesmente não contava como uma prática cotidiana feminina", explica Springmann. "Mas eu partiria do princípio de que no campo de concentração de Ravensbrück, por exemplo, as prisioneiras fizessem ginástica de vez em quando. Mas elas não escreveram a respeito." Havia entre os presos também atletas profissionais, mas, como eles não eram tão presentes na imprensa como hoje em dia, muitas vezes passavam despercebidos pelos guardas dos campos de concentração. No início do século 20, Julius Hirsch era considerado um dos melhores futebolistas da Alemanha, duas vezes campeão nacional e integrante da seleção nacional entre 1911 e 1913. Por ser judeu, em março de 1943 foi deportado para Auschwitz e lá morreu. No entanto não está documentado que ele tenha sido identificado como ex-craque, ou que sequer tenha jogado lá. O boxe era um esporte importante e popular para os nazistas. Alguns profissionais foram reconhecidos nos campos de concentração ou se apresentaram quando os guardas procuravam concorrentes talentosos para as lutas que organizavam para sua própria diversão. Dois exemplos foram o polonês Antoni Czortek – participante dos Jogos Olímpicos de Berlim, em1936 – e o tunisiano Victor Perez – campeão mundial de peso-mosca em 1931 e 1932. Como judeus, ambos foram internados em Auschwitz em 1943, onde por diversas vezes tiveram que enfrentar outros detentos. Era literalmente questão de vida ou morte: o perdedor ou era abatido a tiros imediatamente ou enviado para morrer nas câmaras de gás. Assim, com ironia macabra, o boxe salvou várias vidas nos campos de concentração nazistas. Czortek só morreu em 2003, aos 89 anos; Perez sobreviveu a Auschwitz, mas não ao Holocausto: ele foi fuzilado em janeiro de 1945, numa das "marchas da morte" em que, no fim da Segunda Guerra, os presos dos campos perto do front eram transferidos de lugar, à medida que os Aliados avançavam. Para Johann "Rukeli" Trollmann, a arte do boxe não trouxe vantagens: o ex-campeão de peso-médio da Alemanha era cigano da etnia sinti, e quando seu passado veio à tona, os guardas do campo de concentração passaram a espancá-lo com frequência e crueldade extremas. Ele morreu em 1944 no campo secundário de Wittenberge: tendo vencido um dos "kapos" numa luta, foi abatido pouco mais tarde pelo perdedor, traiçoeiramente, durante os trabalhos forçados.


Short teaser Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e extermínio do nazismo.
Author Andreas Sten-Ziemons, Alima Hotakie
Item URL https://www.dw.com/pt-br/esporte-no-campo-de-concentração-entre-tortura-e-esperança/a-72119729?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau
Image source Sven Hoppe/dpa/picture alliance
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Item 42
Id 71689720
Date 2025-02-20
Title Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora
Short title Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora
Teaser

Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney

Antigo presidente da federação de futebol da Espanha Luis Rubiales foi condenado a pagar quase 11 mil euros por beijar atleta na boca sem consentimento na Copa de Sydney, em 2023. Ele pretende recorrer da sentença.A Justiça da Espanha condenou nesta quinta-feira (20/02) o ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, a pagar 10.800 euros (R$ 64,2 mil) pelo crime de agressão sexual, por beijar a jogadora Jennifer Hermoso na boca após a conquista da Copa do Mundo em Sydney em 20 de agosto de 2023, sem o consentimento dela. Por outro lado, Rubiales foi absolvido do crime de coação sobre a jogadora para declarasse que o gesto fora consensual. O ex-técnico da seleção feminina espanhola, Jorge Vilda, e outros dois ex-diretores, Albert Luque y Rubén Rivera, também foram absolvidos de coação. Luque era diretor de futebol da seção masculina, enquanto Rivera, gerente de marketing da federação, acompanhou as jogadoras na viagem à ilha de Ibiza, no Mediterrâneo, com a qual foram premiadas pela conquista da Copa do Mundo. Restrições a contato com jogadora A decisão do juiz José Manuel Fernández-Prieto, da Audiência Nacional, onde foi realizado o julgamento, também proíbe Rubiales de se aproximar de Hermoso num raio de 200 metros e de se comunicar com ela por um ano. O Ministério Público da Audiência Nacional havia solicitado uma pena total de dois anos e seis meses de prisão para Rubiales, dos quais um ano pelo crime de agressão sexual, mais um ano e meio por coação. Por este último crime, o representante do Ministério Público também havia pedido uma pena de um ano e seis meses para os outros três acusados. O advogado de Rubiales já anunciou que recorrerá da sentença. Beijo acabou com carreira do dirigente "Rubi", como é chamado pelos amigos, era presidente da RFEF desde maio de 2018. Ele viu sua carreira desandar após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina em Sydney. Em 20 de agosto de 2023, diante das câmeras, ele agarrou a cabeça de Hermoso com as duas mãos e a beijou de surpresa na boca: um ato "espontâneo", em sua opinião, mas "inapropriado" para Hermoso, que negou ter dado seu consentimento. Diante da indignação pública, Rubiales pediu demissão em setembro de 2023 e encerrou uma carreira no futebol iniciada aos 14 anos de idade, quando ingressou no clube da pequena cidade de Motril, em Andaluzia, no sul da Espanha. Nascido em Las Palmas há 47 anos, Luis Manuel Rubiales Béjar iniciou uma carreira discreta nas divisões inferiores antes de pendurar as chuteiras na Escócia com o Hamilton Academical em 2009. Escândalos Extrovertido e franco, Rubiales foi cercado por escândalos durante seu período à frente da RFEF. Ele causou alvoroço ao demitir o técnico da seleção espanhola Julen Lopetegui dois dias antes do início da Copa do Mundo de 2018. Reeleito em 2020, transferiu a Supercopa da Espanha para a Arábia Saudita, num contrato controverso que foi examinado pelo Judiciário por suspeita de corrupção e acordos irregulares durante seu mandato. Ele chegou a ser detido no contexto do caso, que também envolve o ex-jogador do FC Barcelona Gerard Piqué, cuja empresa teria recebido uma comissão de 1 milhão de dólares para intermediar o acordo com Riad. Rubiales negou qualquer irregularidade. Mas o ex-cartola é também reconhecido por ter aumentado a renda e o patrocínio da federação, e procurado melhorar as condições do futebol juvenil, o que lhe rendeu o apoio das federações regionais. Ele também multiplicou o orçamento para o futebol feminino, embora tenha enfrentado a "rebelião das 15" que exigia melhorias estruturais e teve apoio de Jenni Hermoso. Desde que caiu em desgraça, Rubiales tem vivido discretamente na cidade andaluza de Granada como “só mais um vizinho”, segundo a mídia espanhola. md/av (EFE, AFP)


Short teaser Ex-chefe da federação de futebol condenado a pagar 11 mil euros por beijar atleta anuncia que recorrerá da sentença.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/ex-cartola-espanhol-condenado-por-beijo-forçado-em-jogadora/a-71689720?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney
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Item 43
Id 70932615
Date 2024-12-01
Title Briga de torcidas deixa 79 feridos no leste da Alemanha
Short title Briga de torcidas deixa 79 feridos na Alemanha
Teaser Partida da quarta divisão do futebol alemão em Jena, no leste do país, foi marcada por confrontos com a polícia e brigas entre torcedores rivais.

Confrontos entre torcedores antes e durante uma partida de uma liga regional de futebol do leste da Alemanha no sábado (30/11) deixaram 79 feridos, incluindo dez policiais e cinco seguranças.

Os incidentes ocorreram na cidade de Jena, no estado da Turíngia, e tiveram como pano de fundo uma partida entre o Carl Zeiss Jena e o BSG Chemie Leipzig, duas equipes que disputam a Regionalliga Nordost, liga equivalente à quarta divisão do futebol alemão.

Além dos 79 feridos - que incluíram 64 torcedores de ambos os times -, foram registradas 40 acusações criminais e de contravenção.

Jena fica a cerca de 100 quilômetros de Leipzig, cidade-sede do rival Chemie e que fica no estado da Saxônia. Apesar de ambas às torcidas serem associadas à ideologia de esquerda, as autoridades esperavam confusão, e a partida foi considerada de alto risco devido à antipatia entre os grupos de torcedores.

Uma multidão de 7.224 espectadores, incluindo 1.084 torcedores do Chemie, compareceu à partida em Jena.

De acordo com a polícia, cerca de 350 torcedores do visitante Chemie fizeram uma marcha pela cidade antes do jogo, sem aviso prévio. Durante o ato, torcedores dispararam fogos de artificio e a polícia disse que teve de intervir "com o uso de força física e violência física, além de cassetetes e gás lacrimogêneo".

Mais tarde, durante a partida - vencida pelo Carl Zeiss Jena por 5 a 0 -, houve confrontos entre as duas torcidas dentro do estádio.

Clubes condenam a violência

O Carl Zeiss Jena divulgou uma declaração no domingo sugerindo que grande parte da culpa foi dos torcedores visitantes. "Um grande grupo de aproximadamente 1.200 torcedores visitantes do Leipzig rompeu violentamente a barreira entre o bloco de visitantes e o Bloco N e obteve acesso à área da torcida do Jena", apontou o comunicado.

"Acima de tudo, o FC Carl Zeiss Jena deseja aos afetados uma rápida recuperação. O clube terá um quadro abrangente do que aconteceu nos próximos dias.”

O Chemie Leipzig adotou uma postura semelhante, criticando "a má conduta de uma minoria" de seus torcedores.

"Como clube, sofremos grandes danos ontem. De acordo com nossas evidências, fogos de artifício foram lançados repetidamente do setor visitante em direção ao setor da torcida adversária", disse um comunicado no site do clube. "Condenamos a violência na forma de confrontos físicos, especialmente o uso de fogos de artifício contra pessoas. Isso não tem lugar em nossos jogos de futebol e não será tolerado por nós."

Ambos os clubes disseram que ainda pretendem investigar os incidentes.

jps (DW, dpa, ots)

Short teaser Partida da 4° divisão do futebol alemão no leste do país foi marcada por confrontos com a polícia e briga de torcidas
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Item 44
Id 70919291
Date 2024-12-01
Title A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids
Short title A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids
Teaser Em 1991, o então astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se um marco na luta contra a aids. Até hoje, ele segue empenhado em campanhas de esclarecimento sobre a doença.

Em meio a lágrimas dos repórteres veteranos, Earvin "Magic" Johnson permanece calmo. "Vou ter que me aposentar do Lakers porque contraí o vírus HIV", afirma. O astro do basquete tinha 32 anos quando proferiu essa frase, com voz firme, em 7 de novembro de 1991. Em seguida, acrescentou que não tinha aids, mas apenas HIV, o que havia sido confirmado pelo Dr. Michael Mellman pouco antes da coletiva de imprensa.

O médico do Los Angeles Lakers havia chamado Johnson depois de uma viagem do time para lhe dar a má notícia. "Quando ele me contou pela primeira vez, eu pensei: 'Ah, cara, eu vou morrer. Acho que acabou'. E ele disse: 'Não, não, não acabou'", lembrou Johnson mais tarde em uma entrevista à emissora pública PBS. Melman lhe disse que ele tinha que começar a tomar medicação e aprender a se sentir confortável com sua nova condição. Assim, poderia viver por muito tempo.

Em 1991, a infecção pelo HIV ainda era considerada uma sentença de morte pela opinião pública. Isso explica por que a coletiva de imprensa de Johnson causou um choque tão grande, comparável, para alguns, com a morte de John F. Kennedy, assassinado em 1963, ou com a renúncia de Richard Nixon após o caso Watergate em 1974.

"Magic" Johnson estava no auge da carreira e era uma superestrela do esporte em todo o mundo. Ele havia conquistado cinco títulos da NBA com o Lakers e tinha sido eleito o Jogador Mais Valioso (MVP) da temporada três vezes. "Magic" Johnson era famoso em quase todo o mundo.

Até então, muitos viam a aids como uma doença que só afetava gays ou viciados em drogas. Johnson, entretanto, não pertencia a nenhum desses grupos.

"Agora estou me tornando um porta-voz do HIV porque quero que as pessoas entendam que não há como evitar o sexo seguro. Às vezes, pensamos que somente os homossexuais podem contrair o vírus, que isso não pode acontecer comigo. Mas agora estou aqui para dizer que pode acontecer com qualquer um, até comigo. Todos deveriam ter mais cuidado", disse Johnson.

Dois meses antes do anúncio, em setembro de 1991, Johnson havia se casado com sua esposa Cookie. Na coletiva de imprensa, disse que sua esposa grávida não era portadora do vírus. Foi somente mais tarde que ele revelou que havia contraído o HIV durante relações sexuais desprotegidas com outra mulher.

"Efeito Johnson" em testes de HIV

Ainda em 1991, o astro do basquete criou a Fundação Magic Johnson, que apoia financeiramente grupos e campanhas contra a aids. E ele nunca se cansou de engajar ações para afetados e para aumentar a conscientização sobre a doença. Em 1º de dezembro de 1999, no Dia Mundial da Aids das Nações Unidas, ele foi um dos principais oradores, descrevendo a doença como "inimigo público número um".

As palavras de Johnson não foram em vão. Em 2021, cientistas americanos estimaram que a coletiva de imprensa de 7 de novembro de 1991 fez com que um número significativamente maior de homens nos EUA fizesse o teste de HIV nos meses seguintes, principalmente entre heterossexuais negros e hispânicos em cidades com clubes da NBA.

A carreira de "Magic" Johnson, porém, não terminou naquele dia de novembro. Em 1992, ele jogou no time All-Star da NBA pela conferência oeste – esse jogo coloca frente a frente jogadores de equipes do leste e do oeste dos EUA. No mesmo ano, fez parte do chamado "Dream Team" que ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona.

Na temporada 1995/96, Johnson comemorou outro retorno como jogador do Lakers antes de se aposentar definitivamente. Em homenagem ao ex-atleta, o clube aposentou a camisa número 32. E "Magic" Johnson entrou para o Hall da Fama do Basquete em 2002.

Bilionário e filantropo

"Magic" Johnson está agora com 65 anos. Investiu com sucesso o dinheiro que ganhou no esporte, em imóveis, cinemas e empresas como a seguradora de vida EquiTrust e a rede de cafeterias Starbucks. A revista Forbes estima que a fortuna atual de Johnson seja de 1,2 bilhão de dólares.

Há muito tempo, a Fundação Magic Johnson apoia não somente projetos de combate à aids, mas também outras organizações ligadas à educação, à saúde e que atuam para atuar carências sociais em cidades etnicamente diversas. Johnson está sempre envolvido, geralmente acompanhado de sua esposa Cookie e, com frequência, de seus filhos Earvin "EJ", Elisa e Andre, de um relacionamento anterior.

Quando Johnson foi diagnosticado com HIV em 1991, havia apenas um medicamento contra a aids no mercado, a azidotimidina, ou AZT. Atualmente, há várias substâncias ativas que ajudam a reduzir a carga viral do HIV. Quando bem-sucedido, o sistema imunológico do paciente se recupera e ele pode viver e trabalhar normalmente. O HIV é considerado altamente tratável, se a infecção for detectada precocemente e o tratamento for iniciado imediatamente.

Mas ainda há uma clara divisão entre os hemisférios Norte e Sul: o número de soropositivos no mundo todo é estimado em cerca de 40 milhões, com mais da metade vivendo no sul da África. Um quarto de todas os infectados não recebe nenhum medicamento.

"Não estou curado. Apenas tomei minha medicação. Estou fazendo o que devo fazer e, graças a Deus, o HIV no meu sistema sanguíneo e no meu corpo está praticamente morto. E não queremos que nada o desperte", disse Johnson em uma entrevista à PBS há alguns anos.

Short teaser Em 1991, astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se marco na luta contra o vírus.
Author Stefan Nestler
Item URL https://www.dw.com/pt-br/a-luta-de-magic-johnson-contra-o-hiv-e-a-aids/a-70919291?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 45
Id 64814042
Date 2023-02-25
Title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
Short title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
Teaser

O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia

UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção. Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março. Lei antioligarca De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda. Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias. Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado. Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares. Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados ​​por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas. Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares. Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país. Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros. A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões. Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares. Não existem mais oligarcas ucranianos? Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política. Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los". De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE. Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra. "Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos. Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.


Short teaser UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas.
Author Eugen Theise
Item URL https://www.dw.com/pt-br/qual-ainda-é-o-real-poder-dos-oligarcas-ucranianos/a-64814042?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia
Image source Daniel Naupold/dpa/picture alliance
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Item 46
Id 64820664
Date 2023-02-25
Title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Short title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Teaser

Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil

De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02). A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes. Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros. O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro. Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado. Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos. De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas. Turquia começa reconstrução As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção. Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep. Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente. Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad. Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados. Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares. Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores. Istambul precisa de 40 bilhões de dólares Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto. "A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico. De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia. Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil. le (EFE, DPA, Reuters, ots)


Short teaser De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos.
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Image caption Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil
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Item 47
Id 64819106
Date 2023-02-25
Title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
Short title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
Teaser

"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,

Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado. Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética. Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia. Acordo após mais de 24 horas de reuniões As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões. "Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter. O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca. Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen. O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE. Sanções contra firmas iranianas Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia. As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas. Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco. O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia. No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional. md (EFE, Reuters, AFP)


Short teaser Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou.
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Image caption "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,
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Item 48
Id 64816115
Date 2023-02-24
Title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
Short title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
Teaser

Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia

Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia. Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou. Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor." Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz. "No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter. Estreitar laços O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra. Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou. Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo". O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra". Proposta da China Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países. "Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou. Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev. cn/bl (Reuters, AFP, Efe)


Short teaser Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev.
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Image caption Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia
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Item 49
Id 64811757
Date 2023-02-24
Title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Short title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Teaser Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado.

Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos.

Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares.

Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia.

Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%.

No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente.

Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim.

"A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico.

A proposta da China para a guerra na Ucrânia

Até a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta.

Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito.

No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada.

"A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW.

Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia.

O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais.

"Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia.

"No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou.

Mediador duvidoso

Além disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou.

Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin.

"É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner.

Campanha de relações públicas sem riscos

A proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática.

"O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura.

"Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou.

"Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner.

Outros pontos da proposta

O texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais.

A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta.

"O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang.

Short teaser Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia.
Author Alena Zhabina
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Item 50
Id 64811407
Date 2023-02-24
Title Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin
Short title Zelenski, o presidente subestimado por Putin
Teaser Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente.

As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo.

Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!".

"Preciso de munição, não de carona"

Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido.

A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos.

A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo.

Câmeras, as armas mais poderosas de Zelenski

Em seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana.

No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos".

No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo.

Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas.

Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação.

Putin não levou Zelenski a sério

Muitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin.

A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia.

Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado.

Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente.

Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir.

Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos.

Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar.

Nem tudo é fácil

Isso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos.

Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana.

O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia.

Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana.

Short teaser Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores.
Author Roman Goncharenko
Item URL https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 51
Id 64810396
Date 2023-02-24
Title Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Short title Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Teaser

Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia

Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online. Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa. "Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema." A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha". Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída. Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real. Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala. "Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW. Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos. Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento. Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real. "Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman. Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização. "É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman. Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse. "Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman. Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos. O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum". "Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças. Fadiga por compaixão em relação a refugiados Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia. "Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW. Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo. É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África. "Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa. A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo. "Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW. Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis. "Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW. Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida. Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.


Short teaser Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia.
Author Fred Schwaller
Item URL https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/64260087_354.jpg
Image caption Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia
Image source Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance
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Item 52
Id 64809638
Date 2023-02-24
Title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
Short title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
Teaser

Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos. Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março. Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados. Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos. Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas." Pressão por interdição total do TikTok nos EUA Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos. O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas". "Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro. Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China. TikTok nega ingerência de Pequim Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos. Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados. Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados. av/bl (AFP, Reuters, ots)


Short teaser Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos.
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