DW

Item 1
Id 74647098
Date 2025-11-06
Title Alemanha condena enfermeiro que matou pacientes para trabalhar menos
Short title Enfermeiro condenado por matar 10 para trabalhar menos
Teaser

Condenado à prisão perpétua, réu afirmou que não tinha intenção de matar pacientes

Tribunal na Alemanha considerou homem culpado de assassinar pacientes do setor de cuidados paliativos, ao sedá-los para aliviar sua carga de trabalho durante turnos noturnos.Um ex-enfermeiro foi condenado nesta quarta-feira (06/11) em Aachen, na Alemanha, à prisão perpétua por uma série de assassinatos de pacientes do setor de cuidados paliativos. O Tribunal Regional de Aachen considerou o homem de 44 anos culpado, entre outros crimes, de dez homicídios e 27 tentativas de homicídio. Assim, o condenado tem pouca chance de ser libertado após 15 anos, o tempo mínimo que pode ser cumprido por uma sentença de prisão perpétua na Alemanha. O "comportamento cínico" do réu durante o julgamento "exigiu muito" tanto das famílias enlutadas quanto do tribunal, disse o juiz presidente Markus Vogt ao final da exposição da sentença, que durou mais de duas horas. De acordo com o tribunal, o réu cometeu os crimes entre dezembro de 2023 e maio de 2024 em um hospital em Würselen, perto de Aachen. O enfermeiro injetava medicamentos nos pacientes, geralmente idosos e com necessidades complexas, "a seu próprio critério", principalmente o sedativo midazolam, disse Vogt. Os crimes ocorreram durante os turnos da noite, quando o enfermeiro geralmente trabalhava sozinho e sem supervisão. Os promotores pediram a condenação pela morte de 13 pessoas, a constatação de culpa agravada e proibição vitalícia de exercer a enfermagem. A defesa pediu a absolvição. Inicialmente, ele foi acusado por nove homicídios e 34 tentativas de homicídio, mas, à medida que o processo se aproximava do fim, o tribunal se convenceu de que o réu havia matado uma décima pessoa. Ele foi considerado culpado de tentativa de homicídio em 27 casos. Os promotores acusaram o enfermeiro de sedar pacientes para aliviar sua carga de trabalho durante os turnos da noite. O réu afirmou que não administrava medicamentos com o objetivo de tirar a vida de alguém. "Autorizado a decidir pelo paciente" O réu se considerava "autorizado" a decidir "se a vida de um paciente valia a pena", disse Vogt. O homem de 44 anos não agiu por compaixão. Em vez disso, ele percebia o sofrimento dos pacientes como uma perturbação ao seu próprio bem-estar e senso de ordem. A potencial morte dos pacientes era "indiferente" para ele. Vogt descreveu um réu como alguém com distúrbios narcisistas, incapaz de empatia genuína. Em seu trabalho, o enfermeiro reagia "rápida e frequentemente com mágoa" a tratamentos que considerava injustos. Além disso, ele se sentia "constantemente incompreendido e subestimado" por causa de sua experiência. Ele "não reconhecia" a autoridade profissional dos médicos, disse Vogt. Quando os pacientes morriam, o réu considerava isso "um resultado perfeitamente desejável". Ele chegou a afirmar durante o julgamento que havia feito um "excelente trabalho" quando os pacientes morriam em paz. Aparentemente, ele queria que suas ações servissem de modelo para outros enfermeiros. O homem de 44 anos admitiu em grande parte ter administrado a medicação. No entanto, negou qualquer intenção de matar. Alegou que apenas queria aliviar o sofrimento dos pacientes. "Ótima fase" O tribunal, porém, não aceitou esse argumento. Vogt afirmou que o réu sabia, com base em sua experiência, que administrar os medicamentos poderia ser fatal. Os "comentários cínicos" do réu sobre o sofrimento dos pacientes e sua difamação das vítimas durante o julgamento também demonstraram sua falta de compaixão, de acordo com o juiz. Entre outras coisas, o réu comentou, após a morte de vários pacientes, que estava "em uma ótima fase". Vogt também comentou sobre as deficiências da clínica. O clima no local não oferecia "nenhuma restrição" às ações do réu, mesmo que seus superiores tivessem notado o aumento no número de mortes. Em maio de 2024, colegas do enfermeiro suspeitaram do que ocorria e contaram os medicamentos, descobrindo discrepâncias. O enfermeiro foi então suspenso de suas funções, sendo preso em meados de 2024. Legalmente, o tribunal considerou que os homicídios foram cometidos com motivações vis em todos os casos e, em muitos casos, também com premeditação. O tribunal também determinou a gravidade agravada da culpa e impôs a proibição vitalícia de trabalhar em profissões da área da enfermagem. O julgamento estava em andamento desde março. Este pode não ser o último julgamento contra o enfermeiro. Segundo um porta-voz, a Procuradoria de Aachen está investigando outras mortes, e corpos foram exumados como parte dessa investigação. De acordo com as informações disponíveis, novas acusações são esperadas. md/ra (DPA, AFP, Reuters)


Short teaser Vítimas em cuidados paliativos na Alemanha teriam sido sedadas para que homem tivesse menos trabalho, segundo tribunal.
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Image caption Condenado à prisão perpétua, réu afirmou que não tinha intenção de matar pacientes
Image source Marijan Murat/dpa/picture alliance
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Item 2
Id 74646643
Date 2025-11-06
Title Do Rio à Amazônia: a expansão do crime organizado no Brasil
Short title Do Rio à Amazônia: a expansão do crime organizado no Brasil
Teaser Enquanto governos federal e estaduais divergem sobre curso de ação, facções consolidam poder territorial e criam até mesmo uma ameaça à soberania nacional em regiões como a Amazônia, dizem especialistas.

O enfrentamento ao crime organizado entrou no topo das prioridades da agenda pública nacional. Após a operação policial que deixou 121 mortes no Rio de Janeiro, incluindo quatro policiais, o governo federal enviou projetos ao Congresso para liderar uma reação do Estado. A menos de um ano das eleições de 2026, governadores de oposição se articulam em torno de uma resposta integrada, sem a participação de Brasília. Enquanto as disputas políticas afastam soluções, o avanço dos grupos criminosos se torna uma ameaça cada vez maior à soberania nacional, do Rio de Janeiro à Amazônia.

O Comando Vermelho(CV), alvo da megaoperação, surgiu no antigo presídio da Ilha Grande, há pelo menos 50 anos. Nesse período, a organização se consolidou no domínio de territórios no Rio, na oferta de serviços ilegais e até na economia formal.

O CV se expandiu: hoje, mantém alianças com facções na América do Sul e enfrenta a polícia com drones utilizados na guerra da Ucrânia. A Amazônia se tornou um entreposto fundamental no mapa de atuação do grupo. Ante a frágil presença do Estado na floresta, seus rios são cada vez mais utilizados como rota internacional do tráfico.

No interior da floresta, ribeirinhos já trocam ovos de tartarugas por drogas do CV. O pesquisador Rodrigo Chagas, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), deparou-se com a cena em recente viagem de campo à região.

"Não é uma novidade. É o que a gente chamava de regatão: essa figura do mercador, o mascate flutuante que vai levar produtos industrializados a um valor absurdo para os ribeirinhos em troca dos produtos da floresta que eles pegam de uma maneira muito barata para vender em mercados locais e até internacionais por preços altíssimos. Esse esquema de dívidas, ameaças, funcionou durante todo o período da borracha", detalha.

Novo padrão de domínio do território

O avanço das facções no Norte do país coincide com a criação de presídios federais na região durante a última década. A transferência de membros dessas organizações propiciou que novas conexões se estabelecessem na Amazônia, um local estratégico.

O Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, atuava em parceria com o CV nas prisões federais até o final de 2016, quando um acerto de contas rompeu o acordo. A fragilização do controle territorial nos anos seguintes abriu espaço para a expansão desses grupos. Com o acordo de paz na Colômbia, dissidências das FARC se associaram a CV e PCC.

"O que muda de fato com isso tudo é que agora você tem uma nova configuração, com um novo padrão de violência, um novo padrão de domínio de território", ressalta o pesquisador. Ele realizou dezenas de entrevistas com detentos ligados ao PCC em Roraima – muitos ligados à extração ilegal de ouro. "Existe uma série de afinidades entre essas atividades. Historicamente, a utilização da droga dentro do garimpo sempre foi muito presente. São trabalhos muito puxados. E o piloto de aviação do garimpo sempre foi muito interessante para o narcotráfico", detalha Chagas.

Quando o governo federal iniciou a operação de desintrusão no território Yanomami, havia cerca de 20 mil garimpeiros ilegais no território, além de 180 pistas de pouso clandestinas. No estudo Cartografias da violência na Amazônia, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rodrigo Chagas identificou que o PCC atua desde 2015 em áres de garimpo ilegal na terra indígena.

PCC: atuação mundial

Assim como o Comando Vermelho, o PCC nasceu em um presídio, a Casa de Custódia de Taubaté, no interior de São Paulo, como um "sindicato do crime", a fim de denunciar violações no sistema prisional. Sob a liderança de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, o PCC tornou-se uma espécie de empresa. Sua operação se caracteriza por vínculos de confiança quem está no topo da "irmandade” e relações terceirizadas na ponta.

Esse modus operandi favorece a capilaridade internacional da organização, presente em 28 países. Na Europa, atua em associação com máfias sérvias e albanesas; no oeste da África – Nigéria e Guiné, por exemplo –, operam grandes rotas de cocaína. O PCC mantém uma estrutura financeira sofisticada, investindo em postos de combustíveis, terminais portuários e até clubes de futebol. As investigações da operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, revelaram que o PCC movimentou R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, dinheiro que foi lavado em instituições financeiras.

"A força do PCC está menos no fuzil apontado e mais na capacidade de arbitrar conflitos e organizar mercados" explica Camila Dias, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP. A disputa sangrenta por territórios, cotidiana no Rio, não faz parte da realidade de São Paulo, onde o grupo exerce uma forma de monopólio do crime. "Para atuar como regulador de mercados ilícitos, o PCC busca evitar confrontos abertos que prejudiquem seus fluxos financeiros”, complementa Dias.

Já no Rio, a face do problema é aberta e territorial. O Comando Vermelho exerce controle sobre áreas densamente povoadas, oferecendo serviços como internet clandestina, transporte alternativo e até resolução de conflitos. A resposta do Estado se dá principalmente por meio de operações policiais ostensivas, frequentemente acompanhadas de mortes, mas sem mudança duradoura no controle da área.

"Há um padrão que se repete: a polícia entra, produz letalidade, apreende armas, e vai embora. O território continua sob domínio do grupo armado. Não há política pós-operação" analisa Pablo Nunes, coordenador do Observatório da Segurança Pública no Rio de Janeiro. Para ele, a ausência de um plano de ocupação estatal sustentada — com escolas, serviços, urbanismo e justiça — transforma as operações em "eventos", não em política pública.

Governo federal busca responder

Nesta terça-feira (04/11), o presidente Lula subiu o tom e chamou de "matança" a operação ordenada por Cláudio Castro no Rio de Janeiro. Na tentativa de liderar uma resposta ao problema, o governo federal enviou dois projetos ao Congresso: a PEC da Segurança, que busca melhorar a integração entre as polícias estaduais, e o PL antifacção, o qual prevê aumento de pena para o crime de organização criminosa, dentre outras medidas.

O desafio é romper com uma tradição de pouco diálogo e desconfiança entre as forças de segurança. Enquanto PCC e CV mantêm conexões nacionais e internacionais, as estruturas oficiais permanecem fragmentadas entre União, estados e municípios, com rivalidades institucionais e disputas políticas. "O resultado é que as facções se articulam como uma federação, enquanto o Estado age como ilhas desconectadas", afirma Roberto Uchôa, pesquisador na Universidade de Coimbra e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Estudos recentes mostram que as duas facções mantêm atuação simultânea em praticamente todos os estados. Hoje, o CV se consolida em rotas fluviais no Norte, enquanto o PCC controla sistemas prisionais do Sudeste e Centro-Oeste. No Nordeste, o Comando Vermelho vem ganhando terreno nos últimos anos — com avanços notáveis no Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte e Pernambuco — e já disputa (ou compartilha) mercados com grupos locais e com o PCC. Das 88 organizações criminosas mapeadas no país, pela Secretaria Nacional de Políticas Penais, 46 atuam nos nove estados nordestinos, indicando a região como novo polo de expansão e conflito entre facções nacionais e redes locais.

Amazônia: soberania nacional em risco?

O caso da Amazônia é especialmente preocupante. Na região, o Brasil faz fronteira com os países que concentram a produção exportada aos mercados globais. CV e PCC construíram alianças pragmáticas com atores armados locais para garantir rota, proteção e escoamento: na tríplice fronteira Brasil–Colômbia–Peru, o Comando Vermelho aparece associado a dissidências das FARC, em especial o Frente Carolina Ramírez, e a redes peruanas como os Comandos de la Frontera (CDF). O Tren de Aragua, organização da Venezuela que é alvo da ofensiva dos EUA na região, mantém conexões com o PCC em Roraima, que envolvem rotas de drogas, armas e migração.

Há dois anos, os governos da região criaram uma iniciativa para monitorar e combater o avanço do crime organizado na região de forma conjunta, pela primeira vez. Em outubro, foi inaugurado em Manaus o Centro Internacional de Cooperação Policial da Amazônia, pensado para coordenar ações de investigação financeira, patrulhamento fluvial e operações multipaís contra tráfico de drogas, ouro ilegal e crimes ambientais.

Apesar da importante articulação internacional, a situação no território brasileiro representa uma ameaça à soberania nacional. "Eu temo, não só em termos de segurança pública. Temo enquanto estrutura de país: perder um território daquele, de vez, é ‘um pulo'', avalia Uchôa. "Ainda mais hoje, com o governo dos Estados Unidos querendo tratar tudo como se fosse a mesma bagunça, é um passo para chegar ali e falar que tem que tomar conta do território para botar ordem na casa", alerta.

Short teaser Enquanto governos divergem, facções consolidam poder territorial e ameaçam soberania nacional, dizem especialistas.
Author João Pedro Soares
Item URL https://www.dw.com/pt-br/do-rio-à-amazônia-a-expansão-do-crime-organizado-no-brasil/a-74646643?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 3
Id 74309696
Date 2025-11-06
Title "O Agente Secreto" confronta Brasil com passado mal resolvido
Short title "O Agente Secreto" confronta Brasil com fantasmas do passado
Teaser Diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho surfa o bom momento do cinema nacional com thriller político arrojado sobre a ditadura militar, com estreia simultânea no Brasil, Alemanha e Portugal em 6 de novembro.

O cinema brasileiro tem uma longa tradição de filmes sobre a ditadura militar (1964-1985), a exemplo de Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. O Agente Secreto, quinto longa metragem do cineasta Kleber Mendonça Filho e aposta do Brasil na premiação do ano que vem, também busca reconstruir esse momento histórico, mas de um jeito diferente.

As primeiras cenas do filme se passam em 1977, uma época "cheia de pirraça", como se lê na tela. O protagonista Armando, vivido por Wagner Moura, aparece dirigindo um fusca amarelo em direção ao Recife, em pleno carnaval. Ele é um pesquisador de universidade perseguido pelo regime militar que adota uma identidade falsa, sob o nome de Marcelo, para retornar à sua cidade natal – e do diretor.

Kleber Mendonça tinha nove anos na época retratada e conta que acessou referências reais da sua infância para construir o filme, como o vocabulário, cenários meticulosamente reconstituídos, além de memórias que "pegou emprestadas" de outras pessoas. Ele havia reunido muitas imagens e relatos de moradores durante a produção do seu longa anterior, Retratos Fantasmas, em que faz uma ode aos saudosos cinemas de rua recifenses.

Mas o diretor também foi fundo nas lendas e pilhérias que ocuparam o imaginário de sua geração. "Eu venho de uma cidade que – ainda bem – é muito irreverente, de muitas, muitas formas", argumentou, durante uma das sessões de pré-estreia em Berlim.

Apesar de ser um thriller político sangrento com toques de realismo fantástico, a obra tem a qualidade histórica de transmitir a "sensação" daquele tempo, ainda presente no país, definiu o diretor. "O filme vem desse momento recente, de um ex-presidente que será preso, que tentou trazer de volta elementos muito conhecidos pelo regime militar", afirmou, em referência à condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

A obra faz ainda alusão a episódios trágicos recentes da memória nacional, como a morte do menino Miguel, que tinha apenas cinco anos quando caiu do nono andar de um prédio de luxo onde sua mãe trabalhava como empregada doméstica no Recife, em junho de 2020.

A mãe da criança, a empregada doméstica Mirtes Renata Souza, precisou levar Miguel consigo para o trabalho, já que a escola estava fechada naquele momento da pandemia de covid-19. Enquanto Mirtes descia para passear com o cachorro da família, Miguel ficou sob os cuidados da patroa, Sari Corte Real. Imagens das câmeras de segurança mostram a criança chorando, tentando encontrar a mãe, e sendo colocada sozinha no elevador por Sari. Miguel apertou botões aleatoriamente, saiu no nono andar e caiu de uma altura de cerca de 35 metros.

Condenada a sete anos de prisão pela morte do menino, Sari Corte Real nunca chegou a ser presa, já que foi autorizada a recorrer em liberdade.

No filme, uma patroa ficcional aparece no local de trabalho de Marcelo (Armando) para prestar depoimento e é confrontada pela doméstica desesperada, mãe do garoto morto, apenas para ser protegida por policiais.

Estreia simultânea no Brasil, Portugal e Alemanha

O filme tem lotado sessões em eventos de divulgação em todo o mundo. Na Alemanha, ele estreou no Festival de Cinema de Hamburgo, no fim de semana passado, e depois teve duas exibições em Berlim.

O longa entrará oficialmente em cartaz nesta quinta-feira (06/11) no Brasil, na Alemanha e em Portugal.

"A ideia é que haja um diálogo entre o público desses países. É divertido quando os amigos e a família do Brasil podem recomendar e conversar sobre o filme com quem está aqui, do outro lado do oceano", disse à DW Fred Burle, um dos coprodutores da obra, que vive em Berlim.

A estreia simultânea marca um momento de prestígio da produção cinematográfica brasileira na Alemanha e em outras partes da Europa, com obras como O Último Azul, de Gabriel Mascaro, vencedor do Urso de Prata no último Festival de Berlim.

"Nosso cinema cresce enquanto comunidade e isso é bonito de ver. O Oscar para Ainda Estou Aqui nos trouxe visibilidade, mas a corrente só continuou porque entregamos mais e mais filmes de qualidade, com potencial de atingir público dentro e fora do Brasil", afirma Burle.

"Talvez o bom momento do cinema brasileiro tenha muito mais relação com as boas políticas públicas de incentivo à cultura e um governo que valoriza nossos artistas e os possibilita fazerem seus trabalhos com dignidade. Só O Agente Secreto foi responsável pela geração de mais de 1,3 mil empregos diretos e indiretos", diz o produtor.

Wagner Moura, Tânia Maria e a perna cabeluda

Premiado neste ano em Cannes por sua interpretação, Wagner Moura foi uma das primeiras certezas do filme – que abocanhou ainda o troféu de melhor direção na última edição do prestigiado festival. "Escrevi o roteiro para ele, sob medida", contou o diretor.

Wagner Moura é atualmente um dos brasileiros que mais transitam pelos estúdios de Hollywood. Nos últimos anos, protagonizou grandes produções internacionais, como as séries Narcos e Ladrões de Drogas e o filme Guerra Civil. Ele agora tem empenhado seu carisma e influência na promoção do filme, uma estratégia parecida com a campanha de Fernanda Torres para Ainda Estou Aqui.

Maria Fernanda Cândido, Alice Carvalho, Gabriel Leone e Carlos Francisco também integram o elenco, além de Tânia Maria, que interpreta a carismática Sebastiana, dona do prédio que acoberta Marcelo e outros "refugiados" da ditadura. A atriz potiguar de 78 anos, que era artesã até ser chamada para atuar em Bacurau, serve os melhores alívios cômicos do filme, chegando a ser cotada para concorrer ao Oscar de melhor coadjuvante pela revista Variety – primeira publicação americana a apostar na indicação de Fernanda Torres na categoria de melhor atriz.

Outro personagem que tem chamado a atenção do público é a "perna cabeluda", célebre lenda urbana do Recife que ganhou tração na época do governo de Ernesto Geisel (1974-1977). O membro decepado marcou presença inclusive na estreia no Festival do Rio, nesta semana.

A entidade aparece pela primeira vez no filme dentro da barriga de um tubarão, enquanto os cinemas da "cidade dos tubarões" – como Recife é conhecida devido aos casos de ataques a banhistas na praia de Boa Viagem – exibem o primeiro blockbuster da história: Tubarão, de Steven Spielberg.

A partir de então, ninguém segura a figura mitológica pernambucana, que ataca na escuridão quem atenta contra o pudor.

Kleber Mendonça conta que lembra da mãe, a historiadora Joselice Jucá, lendo no café da manhã histórias da "perna cabeluda", escritas como notícias na sessão policial do jornal, com direito a ilustração. A temida criatura noturna era, na verdade, invenção de jornalistas que, sob censura, atribuíam a ela crimes violentos cometidos pelas forças policiais ou militares, principalmente contra a comunidade LGBT. "Encontraram uma maneira de dizer aquilo sem dizer", explica.

Processos e escolhas

Foram dois anos para escrever o roteiro, um ano de preparação e filmagem, sete meses de montagem e três meses de pós-produção, conta Kleber Mendonça.

O tratamento de imagem amarelado e o diligente trabalho de restaurar uma Recife (e uma São Paulo e uma Brasília) dos anos 1970 – sem uso de inteligência artificial, como faz questão de frisar o diretor – desperta uma sensação ambígua de nostalgia, em meio a atrocidades e derramamentos de sangue ultraexplícitos.

"Tinha que ser muito violento porque, em primeiro lugar, acho que no cinema a violência costuma ser muito fácil e muito limpa. É muito fácil matar alguém na maioria dos filmes de ação", disse Kleber Mendonça.

Parte da pós-produção foi feita na Alemanha, no estúdio Babelsberg, o maior e um dos mais antigos da Europa, situado em Potsdam (do lado de Berlim).

Sobre a memória de um país

O Agente Secreto é uma obra que "confronta os brasileiros com o seu próprio presente ao analisar o passado", define Fred Burle. "Sem romantizar, o filme é tenso quando tem que ser, é violento quando tem que ser, é irônico quando tem que ser. Infelizmente, perseguições políticas, ideias estapafúrdias de perdoar crimes, não são algo exclusivo do período da ditadura militar no Brasil."

"Esses regimes de ultradireita, infelizmente, não foram exclusividade do Brasil e ainda são encontrados em muitos países do mundo. Por isso, nosso filme também dialoga com um público internacional", complementa o produtor.

Para Kleber Mendonça, o Brasil tem um problema real com a sua memória, o que, para ele, foi agravado pela lei da anistia de 1979 – proposta pelos militares para passar uma borracha em todos os crimes cometidos durante a ditadura, perdoando tanto perseguidos quanto perseguidores.

"Pode ter parecido uma boa ideia em 1979, depois de tanta violência e tanto sofrimento. Mas acho que isso realmente traumatizou a psique do Brasil", diz o diretor.

Não é por acaso que um dos cenários mais importantes para o filme é o São Luiz, um dos últimos cinemas de rua ainda de pé no Brasil, na contramão das salas em shopping centers. O espaço aparece como um dos poucos lugares seguros da trama, um templo da memória preservada.

Short teaser Diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho surfa bom momento do cinema nacional com thriller político sobre a ditadura.
Author Sofia Fernandes
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Item 4
Id 74640864
Date 2025-11-06
Title Alemanha sob pressão para devolver busto de Nefertiti ao Egito
Short title Egípcios pressionam Berlim por retorno de busto de Nefertiti
Teaser Inauguração do Grande Museu Egípcio reaviva apelos pela repatriação do famoso artefato encontrado por equipe alemã em 1912 e levado para Berlim. Alemães dizem que não há pedido oficial do governo egípcio.

Ela é um símbolo global duradouro de beleza, poder e mistério, que fascinou Hitler, Beyoncé e os ativistas da Primavera Árabe: a rainha Nefertiti, cujo nome significa "a bela chegou", é uma das figuras mais icônicas do mundo antigo.

A grande esposa real do faraó Akhenaton – que transformou radicalmente a religião egípcia ao promover o culto a Aton, o deus sol único – governou a região há mais de 3,3 mil anos.

A fama atual de Nefertiti se deve em grande parte à descoberta em 1912 de um busto de calcário revestido de estuque pintado por uma equipe arqueológica alemã liderada por Ludwig Borchardt.

Levada para Berlim, a peça é hoje "a estrela indiscutível do Neues Museum", como afirma o site da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, que supervisiona o acervo da instituição que é parte da Ilha dos Museus, na capital alemã.

Aumentam os pedidos de restituição

O clamor pela repatriação do busto ao Egito começou logo após sua descoberta. Agora, com a inauguração do Ilha dos Museus no Cairo, as reivindicações vêm ganhando força.

Pessoas que participam das visitas guiadas ao Grande Museu Egípcio são convidadas a assinar uma petição iniciada no ano passado pelo ex-ministro do Turismo e Antiguidades do Egito, Zahi Hawass, pedindo a devolução do item.

"Apesar de muitos apelos ignorados por um diálogo significativo, bem como pedidos de reconhecimento de como este artefato único foi parar na Alemanha, a petição visa reacender o debate, inspirar o retorno do busto ao Cairo e obter uma resposta digna das autoridades alemãs", afirma o documento, que pede ao ministro alemão da Cultura e à Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano que tratem do assunto.

Um porta-voz do ministro alemão da Cultura disse à DW em comunicado que "questões relativas à proteção de bens culturais relacionados ao Egito, incluindo o busto de Nefertiti, são da jurisdição do Ministério do Exterior da Alemanha".

O ministério alemão do Exterior, por sua vez, afirma que "não recebeu nenhuma solicitação de órgãos oficiais egípcios para a devolução do busto de Nefertiti" e que "desconhece qualquer solicitação desse tipo feita ao governo alemão".

A Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano não respondeu aos pedidos de comentários da DW, embora a posição da entidade sobre o assunto não tenha mudado nos últimos anos.

Aquisição legal, mas "ilegítima"?

"O busto de Nefertiti foi encontrado durante uma escavação autorizada pela Administração Egípcia de Antiguidades", afirmou à DW um porta-voz da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, em nota de outubro de 2024. "Ele chegou a Berlim com base em uma divisão – até então comum – da descoberta, que abrangia muitos outros objetos."

"O busto foi legalmente retirado do país e não há nenhuma reivindicação de restituição por parte do governo egípcio", dizia o comunicado.

A explicação é contestada pela pesquisadora egípcia e ativista em prol do patrimônio cultural Monica Hanna. Segundo ela, Ludwig Borchardt minimizou de maneira intencional e fraudulenta o valor do busto no momento de dividir as descobertas. Ele o descreveu como "uma princesa real pintada", enquanto suas próprias anotações mostram que ele sabia que retratava a Rainha Nefertiti.

"Descrevê-la é inútil, precisa ser vista", acrescentou o arqueólogo de maneira entusiasmada em suas próprias anotações.

O historiador alemão Sebastian Conrad, autor de The making of a global icon: Nefertiti's twentieth-century career ("A criação de um ícone global: a carreira de Nefertiti no século 20", em tradução livre), pondera que, além dos detalhes controversos em torno da divisão da descoberta, sua validade ética também deve ser questionada.

"É uma lei que só poderia existir sob as relações de poder desiguais da era imperialista, uma vez que o Egito era essencialmente uma colônia inglesa na época. Isso significa, na minha opinião, que a verdadeira questão é se alguém pode invocar legitimamente tal lei", afirma à DW. "Eu diria o seguinte: foi [uma ação] formalmente legal, mas ilegítima dentro da perspectiva atual."

O historiador Jürgen Zimmerer, que estuda colonialismo e genocídio, lembrou que um debate semelhante ocorreu na Alemanha em relação a obras de arte que foram tomadas dos judeus durante o regime nazista.

"Não ficamos inertes dizendo simplesmente que 'era legal naquela época, e que por isso eles não têm direito a nada'. Em vez disso, vemos como uma conquista moral dizer que 'não insistimos na literalidade da lei, mas sim, no espírito da lei'. Sabemos que essas eram leis ilegais que desapropriaram judeus, e não queremos lucrar com isso", afirmou o historiador à DW. "Eu me pergunto por que deveríamos proceder de forma diferente em um contexto colonial."

Tentativa de restituição bloqueada por Hitler

A egiptóloga Monica Hanna também questionou a posição da Alemanha de que não há reivindicação de restituição por parte do governo egípcio. Ela lembrou que as autoridades egípcias solicitaram a devolução do busto logo após sua primeira exibição pública em Berlim, em 1924. "O museu realmente precisa que o governo faça esse pedido? A opinião pública no Egito é muito clara quanto ao desejo de ter o busto de Nefertiti de volta. O que nos pertence, nos pertence", observou.

Em 1925, o Egito ameaçou proibir escavações alemãs em seu território, a menos que o busto fosse devolvido. James Simon, o filantropo que financiou as escavações de Borchardt e doou o famoso busto de Nefertiti aos museus estatais de Berlim, defendeu pessoalmente uma troca de peças com o Egito e contribuiu para a negociação da devolução de Nefertiti, conforme descrito pela pesquisadora Ruth E. Iskin em seu artigo The other Nefertiti: symbolic restitutions ("A outra Nefertiti: restituições simbólicas", em tradução livre).

Embora a importância de James Simon como mecenas das artes tenha sido reconhecida em Berlim através da relativamente nova galeria que leva seu nome, localizada na entrada principal da Ilha dos Museus, seus esforços para devolver o busto foram apagados da narrativa oficial alemã.

A troca planejada por Simon não aconteceu, nem na tentativa seguinte em 1933. O líder nazista Hermann Göring esperava garantir a lealdade política do Egito à Alemanha devolvendo o busto, mas o ditador Adolf Hitler, um grande admirador de Nefertiti, bloqueou o projeto. "Eu nunca abrirei mão da cabeça da rainha", afirmou.

A Alemanha argumentou anteriormente que o busto seria muito frágil para ser transportado de volta ao Egito.

Mas a justificativa é dispensada pelo historiador Sebastian Conrad, já que "no final da Segunda Guerra Mundial, ela [o busto de Nefertiti] foi colocada em um saco plástico e armazenada em uma mina de sal na Turíngia. Depois, foi transportada para Wiesbaden. Portanto, ela já fez várias viagens, não apenas do Cairo para Berlim".

Questão fundamental para a Alemanha

Autoridades alemãs estão atualmente empenhadas na restituição de objetos coloniais, principalmente através da devolução dos Bronzes de Benim à Nigéria, pilhados durante o período colonial.

Embora a ação tenha sido o resultado de uma longa campanha levada adiante por ativistas, fazer tal concessão foi relativamente mais fácil, já que parte da coleção de 512 objetos pôde ser devolvida à Nigéria, enquanto outra parte pôde ser mantida em exibição no Fórum Humboldt, em Berlim, por meio de um empréstimo de longo prazo.

Nefertiti é, obviamente, uma peça única. Conrad e Zimmerer, no entanto, acreditam que existem alternativas, como a exibição de uma reprodução do busto original juntamente com a história da descoberta e os esforços de restituição. Isso "certamente seria convincente", afirma Conrad.

"O que faltaria seria a chamada aura de autenticidade", acrescenta Zimmerer. Ele, no entanto, questionou se um museu de Berlim deveria lucrar com essa "aura", considerando que ela está manchada pela injustiça colonial. "Na minha opinião, não deveria."

Short teaser Inauguração do Grande Museu Egípcio reaviva apelos pela repatriação do famoso artefato que está em Berlim desde 1913.
Author Elizabeth Grenier
Item URL https://www.dw.com/pt-br/alemanha-sob-pressão-para-devolver-busto-de-nefertiti-ao-egito/a-74640864?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 5
Id 74641090
Date 2025-11-06
Title Copiar retórica da extrema direita ajuda a recapturar seus eleitores?
Short title Copiar a ultradireita ajuda a recapturar seus eleitores?
Teaser

Cartaz eleitoral dos ultradireitistas da AfD em frente a uma sede da conservadora CDU, que estampa o rosto do atual chanceler federal Friedrich Merz

Pesquisadores na Alemanha concluem que tática de alguns partidos de centro que vêm adotando bandeiras ou retórica da ultradireita acaba involuntariamente legitimando extremistas em vez de esvaziá-los.Tanto partidos de centro-direita quanto de centro-esquerda estão, involuntariamente, fortalecendo partidos de extrema direita ao repetirem suas ideias e retórica, em uma tentativa fadada ao fracasso de diminuir seu apoio, segundo um novo estudo do Centro de Ciências Sociais de Berlim (WZB, na sigla em alemão). O estudo, divulgado no final de setembro na publicação especializada European Journal of Political Research e baseado na análise de mais de 500 mil artigos de seis jornais alemães ao longo de 26 anos, concluiu que atores de extrema direita não apenas arrastam o centro político para suas pautas, mas que isso se aplica tanto a partidos de centro-direita quanto de centro-esquerda. Nos últimos anos, a extrema direita vem ganhando terreno de forma constante na Europa, com o partido populista de direita Reform UK e o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) frequentemente liderando as pesquisas de intenção de voto. Isso ocorre apesar – ​​ou talvez por causa – do fato de que líderes das principais legendas centristas têm tentado conquistar seus eleitores impondo medidas cada vez mais rígidas em relação à imigração e utilizando uma retórica cada vez mais anti-imigração. Na Alemanha, o uso de retórica racista tem sido tema de debate público nas últimas semanas – e, em muitos setores, mesmo de indignação – após declarações do chanceler federal alemão, Friedrich Merz, sobre a "paisagem urbana" alemã e o suposto impacto dos imigrantes sobre ela. Alguns dias depois, ao ser questionado por um jornalista para esclarecer a declaração, ele reiterou sua posição, dizendo: "Perguntem às suas filhas o que eu quis dizer". Lógica contraproducente Essas falas refletem a linguagem usada por líderes de centro-esquerda em outros países europeus: em maio, o primeiro-ministro britânico, o trabalhista Keir Starmer, disse que, sem mais restrições à imigração, o Reino Unido corre o risco de se tornar "uma ilha de estranhos". Da mesma forma, o antecessor de Merz, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, declarou à revista Der Spiegel em 2023: "Precisamos finalmente deportar em larga escala" – a mesma promessa que Merz fez na semana passada. Isso parece sugerir que os partidos políticos de centro acreditam que a melhor estratégia para combater a ascensão da extrema direita seja adotar uma postura e agir de forma mais rigorosa em relação à imigração. Mas essa lógica é falha, de acordo com Teresa Völker, cientista política do WZB e uma das autoras do novo estudo. "Se políticos de centro-direita e centro-esquerda tentam atrair eleitores com retórica anti-imigração, eles aumentam a visibilidade de questões defendidas pela extrema direita", disse ela à DW por e-mail. "Quando os partidos tradicionais imitam a retórica anti-imigração da extrema direita, eles trazem essas ideias das margens para o debate público. Dessa forma, legitimam a extrema direita e suas reivindicações. "Aqueles que adotam as estruturas interpretativas e as questões da extrema direita promovem a disseminação de ideias de extrema direita", acrescentou. Correlação ou causalidade? Mas nem todos os especialistas foram convencidos pelas conclusões do estudo. Uwe Jun, cientista político da Universidade de Trier, na Alemanha, acredita que, embora os comentários de Merz possam ser controversos, o mundo real da política é mais complexo do que o estudo reconhece e que os políticos são forçados a tentar estratégias diferentes. "Trata-se de uma correlação, não de uma causalidade", afirmou. "Eles não podem provar que a ascensão da extrema direita pode realmente ser atribuída a isso. Os partidos conservadores, como todos os partidos, têm de ser responsivos. Têm de refletir os seus membros e eleitores, e muitos dos seus membros e eleitores não estão tão distantes dos partidos populistas de direita ou de extrema direita." Essa realidade, disse Jun, coloca Merz e os partidos conservadores em toda a Europa numa posição estratégica difícil. "Por um lado, querem implementar o que os seus próprios eleitores e membros desejam; por outro lado, são acusados ​​de seguir os populistas de direita", ressaltou. É verdade que os cientistas políticos ainda divergem sobre se existe uma relação causal direta entre a adoção generalizada da linguagem e das políticas de extrema direita e o sucesso dos partidos de extrema direita – mas há evidências que apontam nessa direção. Um estudo sobre transições eleitorais publicado em 2022, intitulado Does accommodation work? (Acomodação funciona?), de Werner Krause, Denis Cohen e Tarik Abou-Chadi, concluiu que não há, pelo menos, nenhuma evidência sugerindo que as estratégias de Merz e Starmer reduzam o apoio à extrema direita. "Na verdade, nossos resultados sugerem que elas levam a um aumento de eleitores migrando para a extrema direita", concluíram os autores. Esse efeito é particularmente pronunciado, constataram os autores, quando os partidos de extrema direita já estão bem estabelecidos, como é o caso da maioria dos partidos de extrema direita europeus atualmente. Diane Bolet, professora assistente de comportamento político na Universidade de Essex, no Reino Unido, concordou. "Há evidências que sugerem que acomodar a extrema direita não ajuda os partidos tradicionais, mas uma coisa que sabemos que ajuda é a levantar a questão da imigração, e isso tende a beneficiar o partido que domina o assunto", disse ela. "Alemanha não aprendeu com vizinhos" A AfD foi fundada apenas em 2013, e outros partidos de extrema direita na Alemanha, incluindo o Republikaner e o Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD), não conseguiram se firmar no eleitorado nas últimas décadas da mesma forma que a AfD conseguiu. Em contraste, outros países europeus têm partidos de extrema direita consolidados em seu cenário político há décadas – como a Frente Nacional na França (agora Reunião Nacional) e o Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ). Mas isso apenas demonstra que a Alemanha não aprendeu com seus vizinhos, de acordo com Constantin Wurthmann, pesquisador do Centro de Pesquisa Social Europeia de Mannheim. Houve, segundo ele, muitos estudos em outros países europeus que revelaram os mesmos processos encontrados no novo estudo do WZB. Mas eles não foram levados a sério, afirmou. "Nossos políticos poderiam ter aprendido com outros países europeus se quisessem", disse ele. "Mas, da perspectiva atual, eu diria que parece que nossos políticos não quiseram aprender." Wurthmann argumenta que adotar a linguagem da extrema direita – como Merz fez – só contribui para fortalecer os partidos de extrema direita. "É claro que, com isso, posições da extrema direita radical chegam ao centro político", disse Wurthmann. "Parece que os políticos em atividade aparentemente não têm consciência de quão fundamental é sua tarefa em impedir que algo assim aconteça."


Short teaser Pesquisa conclui que partidos de centro permitem que a extrema direita domine debate político ao repetirem seu discurso.
Author Ben Knight
Item URL https://www.dw.com/pt-br/copiar-retórica-da-extrema-direita-ajuda-a-recapturar-seus-eleitores/a-74641090?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/71753110_354.jpg
Image caption Cartaz eleitoral dos ultradireitistas da AfD em frente a uma sede da conservadora CDU, que estampa o rosto do atual chanceler federal Friedrich Merz
Image source Michael Kappeler/dpa/picture alliance
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Item 6
Id 74632302
Date 2025-11-06
Title Civilização amazônica perdida desmente mito da floresta intocada
Short title Estudo mapeia civilização perdida na Amazônia boliviana
Teaser Até então, cientistas acreditavam que região de solo pobre e sujeita a inundações fora pouco habitada. Mapeamento a laser revelou povoamento sofisticado, séculos antes da chegada dos colonizadores.

Há décadas a Bacia Amazônica é considerada um ícone da natureza intocada. Novos achados arqueológicos e scanners aéreos modernos, porém, contrariam a ideia de que ali só havia vida selvagem. Entre as savanas e pântanos da planície beniana, região nas terras baixas da Bolívia também conhecida como Llanos de Moxos, esconde-se uma paisagem cultural que revoluciona o conhecimento histórico sobre a floresta tropical.

Inundações dificultam a vida na planície beniana

Por muito tempo, cientistas acreditaram que eram poucas as sociedades caçadoras e coletoras que habitaram a planície beniana. Isso porque a região no norte boliviano, uma savana de 100 mil quilômetros quadrados, não é muito propícia para isso. A área está exposta a inundações o ano inteiro, e o solo é pobre em nutrientes.

Há mais ou menos um século o etnólogo sueco Erland Nordenskiöld e, depois dele, o geógrafo americano William Denevan descobriram ali vestígios de ocupação humana. Seus habitantes deixaram marcas decisivas na paisagem habitada há mais de mil anos: aquedutos, campos de cultivo, entre outros.

A hipótese foi claramente comprovada por projetos de pesquisa bolivianos e alemães. Munidos de uma tecnologia de sensoriamento remoto a laser que permite medir distâncias e criar mapas tridimensionais detalhados de um ambiente, pesquisadores revelaram a verdadeira dimensão desses assentamentos: estruturas de defesa, plataformas em formato de pirâmide e centros ritualísticos, integrados a um sistema de irrigação inteligente.

A tecnologia, batizada de LiDAR – acrônimo para Light Detection and Ranging, ou Detecção e Medição de Distâncias por Luz –, usa laser para escanear um terreno a partir de um helicóptero ou avião. Os pulsos de laser atravessam mesmo a vegetação mais densa, produzindo uma representação em alta definição da topografia da região.

Civilização amazônica perdida

O mapeamento a laser motivou uma expedição multidisciplinar a uma área até então pouco pesquisada da planície beniana em 2021, sob a liderança da professora e arqueóloga Carla Jaimes Betancourt, da Universidade de Bonn, na Alemanha.

Os focos da expedição eram os grandes lagos Rogaguado e Ginebra, parte do Río Yata, zona úmida protegida de importância internacional reconhecida pela Unesco sob a Convenção de Ramsar.

Debaixo dos campos e da água, os pesquisadores descobriram resquícios de campos elevados, sistemas de canais sofisticados e fartos depósitos de cerâmica – todos testemunhos de uma paisagem cultural criada e mantida ao longo de gerações.

Medições de radiocarbono e análises botânicas comprovam uma alimentação diversa, com milho, leguminosas e diversos tipos de palmeiras – e complementada pela caça e pela pesca, principalmente leões-marinhos, tucunarés e piramboias, além de répteis como jacarés e tartarugas, e mamíferos como porquinhos-da-índia, pacas e tatus.

O escaneamento com tecnologia LiDAR e datações de radiocarbono comprovam assentamentos subsequentes na região desde por volta do ano 600 até 1400 d.C.

Os habitantes souberam, por séculos, usar a dinâmica sazonal do Rio Amazonas a seu favor . "Em vez de dominar a natureza, os antigos habitantes do Amazonas trabalhavam com os ritmos [do rio] e aproveitavam inundações sazonais", afirma Betancourt em um artigo no periódico científico Frontiers in Environmental Archaeology.

Povos guardiões da herança biocultural

Ainda hoje a região é habitada por povos cayubaba e movima. Ali eles plantam arroz, mandioca, banana, cana-de-açúcar e outras culturas, além de criar gado. Sua presença de longa data e seus conhecimentos mantêm viva uma herança biocultural em que a diversidade ecológica e cultural por séculos se desenvolveram juntas, segundo Betancourt.

"Numa era em que o desmatamento, a agricultura industrial e as mudanças climáticas ameaçam a integridade do Amazonas, paisagens como Rogaguado e Ginebra oferecem mais do que meros conhecimentos arqueológicos; elas oferecem lições de sustentabilidade", argumenta a arqueóloga.

Ela não se refere apenas aos habitantes da planície beniana. Em muitas áreas da Bacia do Amazonas há comunidades e povos ameaçados pela expansão do agronegócio, pelo desmatamento e pelas mudanças climáticas. Isso vale tanto para as comunidades já conhecidas quanto para os cerca de 180 povos isolados que entidades de defesa dos direitos como a Survival International afirmam viver só no lado brasileiro da Bacia do Amazonas.

Adaptação em vez de exploração: lição que o passado ensina

Os achados arqueológicos da planície beniana não trazem à tona apenas resquícios do passado, mas revelam também um contínuo biocultural duradouro, caracterizado por uma interação cuidadosamente ajustada entre seres humanos, plantas e animais, afirma Betancourt.

As sociedades compreendiam a dinâmica das enchentes sazonais e a aproveitavam por meio de condução estratégica da água e de estratégias de cultivo diversas.

Para Betancourt, esse conhecimento nos lembra que a resiliência nasce da diversidade – de diferentes formas de vida, espécies e perspectivas. Por isso, argumenta, quem deseja preservar a floresta tropical precisa também proteger a memória cultural e os direitos de seus guardiões.

Short teaser Povoamento sofisticado, muito anterior à chegada dos colonizadores, contraria mito da "Amazônia intocada".
Author Alexander Freund
Item URL https://www.dw.com/pt-br/civilização-amazônica-perdida-desmente-mito-da-floresta-intocada/a-74632302?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 7
Id 74638368
Date 2025-11-06
Title Antes da COP30, líderes tentam destravar financiamento climático
Short title Antes da COP30, líderes tentam destravar fundo climático
Teaser Comandado por Lula, encontro de líderes nesta quinta-feira tenta emplacar fundo de investimento para florestas. Reunião marca início de negociações climáticas antes da COP30.

Quando chefes de Estado desembarcarem em Belém do Pará para o Encontro dos Líderes, nesta quinta-feira (06/11), vão sentir um calor mais intenso do que o normal. Os 31°C esperados para o dia superam a média histórica de 27,4°C para o mês, calculada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A subida nos termômetros em todo o planeta – e seus impactos devastadores – acontece pouco antes da abertura da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, marcada para iniciar dia 10. Neste ano, o presidente anfitrião Luiz Inácio Lula da Silva precisou antecipar a agenda por conta da crise de hospedagem na cidade sede.

Depois do risco de cancelamento da participação de diversos países por conta dos preços exorbitantes, 143 delegações confirmaram presença, e 57 delas virão com representantes máximos.

A vinda dos líderes antes da abertura oficial das negociações e o que eles dirão ao mundo ao fim do encontro vai dar o tom do que a diplomacia vai priorizar em Belém. Não se pode fugir da conta cara da adaptação às mudanças climáticas, opina Marina Silva, ministra do Meio Ambiente.

"Se não tiver ajuda global para que se possa dar respostas locais para o problema da mudança do clima, os países vulneráveis vão continuar pagando o maior preço e o maior custo", declarou a ministra numa coletiva de imprensa em Brasília antes de seguir para a COP30, em Belém.

Entre os participantes do Encontro de Líderes desta quinta, estavam previstas as participações do príncipe britânico William, do presidente da França, Emmanuel Macron, o chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Rumo ao trilhão

O tópico quente da rodada será o financiamento climático. Numa madrugada fria de Baku, no Azerbaijão, ano passado, a negociação da COP29enterrou de vez um antigo objetivo – nunca atingido – fechado em 2015 no Acordo de Paris. Em vez dos 100 bilhões de dólares anuais prometidos naquela ocasião, o que passaria a vigorar seria um novo sistema, a Nova Meta Quantificada Coletiva (NCQG, na sigla em inglês).

Mas o montante anunciado causou revolta em quem acompanhava o desfecho. No documento final, países desenvolvidos se comprometeram a disponibilizar 300 bilhões de dólares por ano até 2035 para os menos desenvolvidos lidarem com as mudanças climáticas. O mínimo necessário, segundo estimativas de especialistas, é de 1,3 trilhão de dólares anuais.

Desde então, um grupo de diplomatas vem tentando traçar o roteiro para este dinheiro aparecer. Ele foi apresentado nesta quinta-feira no relatório intitulado Baku to Belém Roadmap to 1,3T, liderado pelo embaixador brasileiro André Corrêa do Lago, presidente da COP30, e Mukhtar Babayev, que exerceu a função em seu país, Azerbaijão, na COP29.

Com 81 páginas, o documento conclui: é possível. E aponta os princípios básicos para mobilizar essa soma de recursos por ano: aumento de doações e financiamentos; criação de espaço fiscal que possibilite até aos países trocarem suas dívidas por investimento na natureza; uso de finanças privadas; reforma dos sistemas financeiros com inclusão de riscos climáticos em regulações.

Agora resta saber o quanto o documento vai influenciar as conversas entre chefes de Estado e, depois, entre negociadores, para que o roteiro sugerido saia do papel.

"Muitos dos negociadores estão recebendo o relatório agora, ainda não o leram e, portanto, não podem negociar nada especificamente. Mas, se decidirem fazê-lo, poderão dar orientações sobre como desejam levar o processo adiante, e nós faremos consultas para ouvir deles o que querem fazer", respondeu Ana Toni, CEO da COP30, à DW durante uma coletiva de imprensa.

Com esse dinheiro em mãos, diz o relatório, a prioridade deve ser investir na adaptação, perdas e danos provocados pelas mudanças climáticas. Geração de energia limpa, conservação e restauração da natureza, crédito rural e incentivos para agricultura resiliente, transição justa com inclusão social são os outros pontos destacados.

Mesmo que este dinheiro realmente apareça, não há garantia de que ele chegue facilmente a quem mais precisa. "Os países vulneráveis enfrentam barreiras de acesso, devido à burocracia e exigências de credenciamento de instituições financeiras”, lembra Marina Guião, analista de política climática do Instituto Laclima, em entrevista à DW.

Uma longa briga por dinheiro

A COP acontece no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC), criada durante a histórica Rio-92 ou ECO-92. Naquele ano, Fernando Collor ainda era presidente e líderes como ​​George Bush (EUA), François Mitterrand (França) e Fidel Castro (Cuba).

Ali já ficou estabelecido que as nações ricas são as responsáveis históricas pelo aquecimento do planeta, cujos impactos ainda pareciam projeções futuras. Foram esses países os primeiros a queimar combustível fóssil em grande quantidade para ampliarem suas economias, na esteira da Revolução Industrial.

Isso criou as bases para o aconteceu em 1997 no Protocolo de Kyoto, quando surgiu o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

Segundo ele, países ricos podiam financiar projetos limpos s em países do Sul global em troca de créditos de carbono. Os créditos, por sua vez, eram comprados para que os países poluidores abatessem suas emissões e atingissem a meta estipulada pelo protocolo.

Pouco mais de dez anos depois, em 2009, as negociações travadas ao longo da COP15, em Copenhague, renderam pelo menos uma esperança. Costurado com a ajuda de chefes de Estado como Barack Obama (EUA), Lula, Wen Jiabao (China) e Jacob Zuma (África do Sul), um acordo prometia 100 bilhões de dólares por ano até 2020 que pagaria pela adaptação dos mais vulneráveis. Nunca foi cumprido.

"Os fundos climáticos devem passar por revisão de governança, captação e transparência durante a COP30. Os países devem analisar o relatório Baku to Belém, repensar critérios, como ampliar a base de doadores e contabilizar aportes via bancos multilaterais", comenta Tatiana Oliveira, da ONG WWF Brasil, mencionando ainda o Fundo de Perdas e Danos, criado na COP28, em Dubai.

Almoço com florestas no cardápio

Em Belém, Lula oferecerá um almoço aos líderes com um item especial a ser discutido: Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). Idealizado pelo Brasil, a iniciativa quer reconhecer com dólares quem protege suas florestas, importantes para conter a crise climática.

O arranjo da iniciativa é considerado inovador. Ele é inspirado em instrumentos de investimento soberano, não em doação direta, e é uma das "entregas” aguardadas desta COP30. O TFFF pretende mobilizar 125 bilhões de dólares, com aportes iniciais de 25 bilhões de fundos soberanos. Para quem investir, a expectativa de retornos anuais é na casa dos 4 bilhões de dólares.

"Esses ganhos seriam distribuídos entre os investidores e uma parte para os países detentores de florestas, de modo a recompensar financeiramente a preservação ambiental", explica Guião.

Como está fora do âmbito das negociações formais da COP, o TFFF traz uma maior flexibilidade para atrair novos doadores e investidores privados, adiciona a analista. O Brasil garante que os investidores irão recuperar o montante investido e terão remuneração compatível com as taxas médias de mercado.

Segundo Oliveira, o TFFF é "bem-visto" por organizações ambientais por propor um arranjo mais equitativo entre Norte e Sul, tanto na captação quanto na alocação dos recursos. Ela destaca que o mecanismo prevê a destinação de até 20% dos recursos para povos indígenas e comunidades tradicionais.

"Grupos indígenas do Brasil e de outras regiões participaram ativamente do processo de negociação e chegaram a um acordo com representantes do mecanismo e do Banco Mundial, que vai operacionalizar os recursos do fundo", elogia Oliveira.

"Banheira furada"

À medida que a crise do clima se agrava e as temperaturas sobem, a disputa pelo dinheiro aumenta. Há uma grande pressão para que os países desenvolvidos aumentem seus aportes, e eles têm dado várias desculpas para não o fazer, como problemas fiscais internos e turbulência política.

Aliviar a histórica tensão Norte x Sul deve ser uma das prioridades do presidente do Brasil, que tem falado sobre o complexo contexto geopolítico e a importância do multilateralismo global.

Na avaliação de Gustavo Souza, diretor sênior de políticas públicas e incentivos da Conservação Internacional (CI-Brasil), os velhos fundos e sistemas de financiamento climático carregam problemas estruturais.

"A gente está tentando encher essa ‘banheira' com novos recursos, mas ao mesmo tempo é uma banheira furada, porque toda a estrutura de subsídios que estão causando danos ambientais e sociais continua aí", explica.

É preciso atrair novos investimentos sustentáveis e redirecionar aqueles que financiam a destruição ambiental, defende Souza, realocando esses recursos na conservação e uso sustentável dos ecossistemas, fechando de uma vez por todas a torneira do dinheiro que vai para atividades econômicas que promovem o desmatamento e a degradação.

Short teaser Comandado por Lula, encontro de líderes tenta emplacar fundo de investimento para florestas.
Author Nádia Pontes
Item URL https://www.dw.com/pt-br/antes-da-cop30-líderes-tentam-destravar-financiamento-climático/a-74638368?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 8
Id 74630019
Date 2025-11-05
Title O tarifaço dos EUA ajudou a diminuir os preços dos alimentos no Brasil?
Short title O tarifaço dos EUA diminuiu o preço da comida no Brasil?
Teaser Depois de subir quase 8% em 2024 e de acumular nova elevação no começo desse ano, preço da comida está em queda desde junho, em parte por causa de Trump. Especialistas, no entanto, advertem que retração é temporária.

Exatos três meses depois de entrarem em vigor, as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre 36% das exportações brasileiras ao país tiveram impactos menores do que se esperava sobre o preço dos alimentos no mercado interno, mostram dados analisados pela DW e especialistas ouvidos pela reportagem.

Um dos vilões da conjuntura econômica do Brasil no início deste ano, o grupo de alimentos e bebidas do Índice Geral de Preços ao Consumidor (IPCA) registrou queda de 1,17% no acumulado dos últimos quatro meses.

De janeiro a maio, a inflação desse grupo chegou a 3,82%, fazendo com que famílias de todas as classes sociais readequassem hábitos de alimentação, como uma reportagem da DW mostrou em março. Em 2024, mais do que isso, os preços dos alimentos e bebidas tinham subido 7,69%, num patamar acima da taxa geral (4,83%) do ano.

Assim, quando o tarifaço foi anunciado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, no começo de julho, algumas análises apontaram que a medida faria o preço da comida no país subir mais, já que, com a restrição tarifária ao mercado dos EUA, a produção brasileira tenderia a cair. O Ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, foi um dos que conjecturou essa possibilidade no fim daquele mês.

A hipótese, ainda, era que os efeitos seriam mais intensos sobre os produtos que permaneceram taxados depois que os EUA publicaram uma lista de 694 exceções, como carne, café e algumas frutas – como uva e manga, por exemplo.

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam, porém, que o tarifaço não surtiu esses efeitos por uma série de motivos, que vão do esforço do governo brasileiro em buscar novos mercados às próprias dinâmicas dos setores afetados pelas taxas.

Reposição de mercados

André Braz, economista que coordena os Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre), acredita que as tarifas, na verdade, ajudariam a baixar os preços dos alimentos de qualquer maneira.

Isso porque a produção antes enviada ao mercado dos EUA, agora taxada, passaria a ser ofertada mais ao consumo interno. Seria uma consequência suficiente para impedir a esperada redução produtiva. "Então, o tarifaço desaceleraria a inflação da comida no país por si só", observa ele.

Na verdade, aponta ele, o que fez a comida baratear no Brasil de junho para cá foi, principalmente, a valorização do real frente ao dólar, moeda utilizada no mercado internacional. O câmbio entrou em 2025 cotado acima de R$ 6 e, hoje, está perto de R$ 5,50, um valor ainda elevado em comparação a anos passados. Os resultados positivos das safras – sobretudo de arroz e feijão, e ainda da produção de carnes – também foram determinantes para a retração.

Na análise dele, como o Brasil conseguiu encontrar mercados substitutos ao dos EUA com rapidez – principalmente na Ásia, também taxada por Trump, não houve tempo para que a produção excedente desaguasse no mercado brasileiro e jogasse os preços para baixo. "Isso foi mais relevante no caso das carnes, porque o produto brasileiro, além de bom, está mais barato no mercado internacional, já que o real ainda está desvalorizado", diz ele.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MIDC) publicou um relatório há alguns dias mostrando, de fato, que o Brasil subiu as exportações da sua agropecuária em 18% em setembro – mês seguinte à entrada em vigor das tarifas dos EUA.

No cômputo geral, que inclui todos os tipos de produtos, a corrente de comércio brasileira cresceu 12% no período em comparação ao mesmo mês de 2024.

Nesse intervalo, o país expandiu as vendas de commodities agrícolas para alguns dos seus principais clientes no continente asiático, sobretudo a China (alta de 15% em setembro) e a Índia (124%), mas também para atores menores nesse jogo de trocas internacionais, como Cingapura (133%) e Bangladesh (80,6%).

Já na relação com os norte-americanos, as remessas de produtos taxados caíram 25,7% em setembro, pelos dados da Câmara do Comércio para o Brasil (Ancham). O intrigante é que, mesmo com as tarifas, as vendas de carnes (6,9%) e café (66%) para os Estados Unidos subiram no mês, indicando sobrevida do mercado mesmo com o vigor das taxas.

"O resultado disso é que o tarifaço, que poderia ter resultado em uma queda mais intensa do preço da comida no Brasil, registrou retração mais modesta, já que não sobrou tanta produção assim por aqui ao mercado interno", complementa Braz.

Se, por um lado, a diminuição desses últimos meses não foi suficiente, ainda, para repor a elevação do ano passado e do primeiro semestre de 2025, por outro, Braz já calcula que a inflação geral do Brasil deve ser impactada pelo fenômeno. "Como nós já temos uma previsão de que os alimentos e bebidas vão cair em outubro [os dados serão divulgados na semana que vem], é muito possível que o país termine o ano dentro do intervalo da meta", explica, em referência ao teto de 4,5% de alta nos preços definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no começo do ano.

"Em janeiro, a expectativa era que a inflação ficasse em 8% em 2025. Agora nós já estamos trabalhando com uma taxa de 4%. Caiu pela metade, e muito por conta do comportamento dos preços da comida", revela.

Pressão sobre preços em dólar

A economista Cristina Helena de Mello, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), por sua vez, entende que o tarifaço exerceu papel mais decisivo na retração dos alimentos no mercado brasileiro, à medida em que ele pressionou para baixo os preços das principais commodities do país no mercado global.

Ela observa que, de um lado, as tarifas encareceram a comida para o consumo dos norte-americanos, mas, de outro, obrigaram países produtores a sair em busca de novos clientes, tentando atraí-los com preços mais baixos. "Quando nós perdemos os Estados Unidos, que são grandes compradores, nós precisamos compensar em outros mercados. O efeito disso foi uma diminuição dos preços das toneladas, em dólar, que nós colocamos nesses mercados, de forma a repor a perda", explica ela.

O impacto, então, é sentido no mercado interno, já que uma cotação mais baixa lá fora também desinfla os preços internamente.

A má notícia, observa Mello, é que a retração dos alimentos no país é temporária. Isso vai acontecer porque, na contramão da análise de Braz, ela espera por uma redução na produção agrícola nos próximos meses – e não apenas por conta da variação das safras. "É que, com as tarifas, as expectativas dos produtores com as vendas futuras estão baixas. Eles estão pessimistas. Além do mais, vamos começar a passar pelo verão, um período de chuvas intensas que geram enchentes e, para alguns casos, significa quebra produtiva".

"Então, vamos ter uma estabilização dos preços e, para alguns segmentos, até uma alta", completa.

Para Patrícia Lino Costa, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o principal problema disso é que, depois, muitos desses preços não voltam a patamares anteriores. "Uma vez que a carne sobe, ela nunca mais volta ao valor de outrora. O preço alto vira o padrão. Isso impacta na forma como as pessoas se alimentam. O café, logo mais, vai deixar de ser um item comum na mesa dos brasileiros, por exemplo."

Impactos setoriais

Para ela, que também é economista, as tarifas dos EUA passaram a vigorar em meio a conjunturas de produção variadas e, por isso, impactaram os alimentos de maneiras diferentes. O café é o melhor exemplo disso, aponta ela.

"De outubro de 2024 em diante, em meio a uma crise de outros países produtores, o Brasil recebeu uma pressão muito grande. Os contratos futuros do café na Bolsa de Nova York passaram a influenciar o preço no presente. A especulação joga um papel central nesse processo", diz ela, lembrando da elevação de 143% no preço interno do café em 2024, segundo uma pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP).

"Daí, em julho, veio o tarifaço do Trump, durante a época de colheita. Com isso, a oferta para o mercado brasileiro cresceu e o preço caiu um pouco", continua, "mas não o suficiente para voltar aos níveis de 2019, 2020". Pelos dados do IPCA, o quilo do café retraiu 2,17% em agosto em comparação a julho, mas permanece vendido a cerca de R$ 60 o quilo.

É um exemplo, para ela, de como as tarifas ajudaram a desinflar os preços – o que, de outra forma, não aconteceria.

As carnes – que foram mantidas na lista de produtos taxados por Trump –, por sua vez, devem ficar mais caras a partir do próximo mês, calcula Costa. "É que, neste caso, a entressafra está começando. É um período de queda nos abates de animais e, além disso, tem o nosso grande volume de exportação à China. Sobra menos no mercado interno e, daí, o custo sobe."

Em 12 meses até setembro, o preço da carne bovina subiu 22% no Brasil, pelos dados do IPCA. Porém, está em queda nos últimos dois meses: -0,47% no mês de agosto e 0,31% em setembro. Na análise da economista do Dieese, esses números não capturam o fenômeno da substituição que, no cotidiano, mantém o consumo de proteína das famílias.

"Quando o consumidor não consegue comprar carne de primeira [qualidade], ele migra para a de segunda – que, no Brasil, historicamente é o frango. Daí começa o aumento da demanda desse produto, que faz o preço subir. Os índices pegam só a elevação no valor, mas não essa mudança de um para o outro", explica ela.

Mudança na conjuntura

Mas, se os mercados globais, sobretudo da Ásia, repuseram o excedente do Brasil, o recente acordo dos Estados Unidos com a China pode mudar esse panorama de novo, nota André Braz, do FGV-Ibre.

Com a assinatura do pacto, feita na Coreia do Sul, no fim de outubro, mercadorias chinesas estão entrando no mercado norte-americano, agora, com 47% de taxa.

"Neste momento, o Brasil está no teto das tarifas dos EUA [ao lado da Índia]. Não é a posição de antes, o que significa que, a partir de agora, estamos em desvantagem. Vai sobrar pouco espaço para novas quedas dos alimentos – até porque uma parte do acordo dos EUA com a China envolve, justamente, a volta das compras de soja norte-americana pelos chineses", diz ele.

"Em poucos dias teremos uma posição sobre nosso acordo com os EUA, mas, para fins estratégicos, temos que seguir criando parcerias com outros mercados."

Para Patrícia Lino, do Dieese, a preocupação cai mais, justamente, sobre a soja, o carro-chefe do agronegócio brasileiro. No ano passado, a China comprou, no total, 105 milhões de toneladas de soja – sendo que 71% desse montante saiu do Brasil, pelos dados da Organização Mundial do Comércio (OMC). No balanço de 2024, ela foi a principal mercadoria agrícola exportada – tanto em quantidade quanto pelos montantes envolvidos.

"O acordo preocupa, sem dúvidas”, admite ela, "porque é um grande comprador e uma nova dinâmica no mercado global. Mas é outra maneira de pressionar nosso país a diversificar suas culturas", finaliza ela.

Short teaser Depois de subir quase 8% em 2024, preço da comida está em queda desde junho deste ano.
Author Vinícius Mendes
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-tarifaço-dos-eua-ajudou-a-diminuir-os-preços-dos-alimentos-no-brasil/a-74630019?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 9
Id 74633047
Date 2025-11-05
Title Sob protestos, Shein inaugura sua primeira loja física em Paris
Short title Sob protestos, Shein inaugura primeira loja física em Paris
Teaser

Manifestantes pediram boicote da Shein por seu modelo contrário ao consumo sustentável

Ícone da ultra fast fashion, varejista chinesa enfrenta críticas por modelo de baixo custo e escândalo por venda de bonecas sexuais de aparência infantil. Governo francês inicia procedimentos para suspender site.A abertura da primeira loja física da varejista de moda chinesa Shein provocou protestos nesta quarta-feira (05/11) em Paris. Criticando o seu modelo de negócios de baixo custo, um ícone da ultra fast fashion global, manifestantes pediram um boicote na unidade em inauguração. Outras dezenas de compradores passaram horas na fila para entrar na loja do distrito de Marais, que tem mil metros quadrados. A nova loja já vinha causando reação negativa de alguns políticos, incluindo a prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo. Varejistas reclamam que a marca chinesa tem "vantagem injusta" sobre o resto do mercado. "Paris não será jamais a fitrine da ultra fast fashion!” dizia uma publicação compartilhada por Hidalgo nas redes sociais. "Eu repito, a Shein não tem seu lugar em Paris!” No mesmo dia, o ministério das Finanças anunciou que iniciou procedimentos e um pedido na Justiça para suspender o acesso ao site da Shein na França, em razão da venda de bonecas sexuais de aparência infantil. A oferta de produtos na loja online foi revelada no fim de semana anterior, engrossando a lista de críticas à marca. Em resposta às medidas do governo francês, a Shein disse ter punido os vendedores responsáveis e banido completamente a venda de bonecas sexuais. A empresa também se antecipou parcialmente ao bloqueio do seu site, suspendendo a venda de produtos de vendedores parceiros até uma análise mais aprofundada. Na noite de quarta-feira, o site francês ainda permanecia acessível a partir de servidores no país. Não está claro se as medidas poderão afetar a loja física. Preço ou qualidade A esperança da Société des Grands Magasins (SGM), a rede que opera a loja da Shein em Paris, é atrair uma maior clientela jovem à famosa loja de departamento BHV Marais. "Todos os dias, nós ouvimos que as lojas físicas estão morrendo, que milhares de empregos estão em risco e que a indústria têxtil francesa está morrendo. Estes mesmos críticos não estão nos oferecendo soluções”, afirmou Frederic Merlin, presidente da SGM. "Eu acredito que, sem inovação, o futuro honestamente não parece brilhante." No primeiro dia da loja, o cliente Yuting Yu disse ter ido à loja para procurar boas ofertas. "Neste momento, com a economia diminuindo, as pessoas não têm dinheiro para comprar coisas boas,” disse. Já a aposentada Chantal Piot disse ter sido atraída pelos baixos preços da Shein, mas queria verificar a qualidade das roupas pessoalmente. Antipatia do mercado Por outro lado, a França discute uma nova lei para conter a ultra fast fashion, que poderia proibir propagandas de lojas que adicionam mais de mil novos produtos por dia às suas plataformas. "Nós temos lutado contra a Shein por dois anos. Ver esta marca se estabelecer num prédio histórico, que simboliza a indústria têxtil francesa, é uma provocação inaceitável,” disse a legisladora Anne-Cécile Violland, do partido de centro-direita Horizons, que encabeça a discussão sobre o tema. Buscando a simpatia do resto do mercado, a Shein tentou mostrar na quarta-feira que poderia levar impacto positivo aos varejistas franceses. Cada consumidor no dia da inauguração ganhava um voucher para gastar em outras lojas dentro da BHV, válido até domingo. O nome da BHV será usado nas sete lojas de departamento da SGM, das quais cinco terão lojas da Shein. A operadora recentemente terminou o acordo de franquia das tradicionais galerias Lafayettes. De acordo com o seu relatório de transparência mais recente para a União Europeia, exigido pelo bloco de grandes plataformas, a Shein teve uma média de 27,3 milhões de consumidores ao mês entre fevereiro e julho. ht (Reuters, dpa)


Short teaser Varejista chinesa enfrenta críticas por modelo de baixo custo e venda de bonecas sexuais de aparência infantil.
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Image caption Manifestantes pediram boicote da Shein por seu modelo contrário ao consumo sustentável
Image source Sarah Meyssonnier/REUTERS
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Item 10
Id 74628066
Date 2025-11-05
Title O que é preciso para que cuidadores fiquem na Alemanha?
Short title O que é preciso para que cuidadores fiquem na Alemanha?
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Uma cuidadora indiana que optou pela Alemanha por meio do programa de recrutamento Triple Win

A Alemanha está recrutando cuidadores estrangeiros para trabalhar em hospitais e lares de idosos, e 300 mil já optaram pelo país. No entanto, permanência de longo prazo depende de fatores que vão além do salário.Mais de 300 mil pessoas deixaram seus países de origem nos últimos anos e hoje cuidam de idosos e doentes na Alemanha. Isso certamente é bom para a Alemanha, mas é também bom para os próprios cuidadores? Uma equipe interdisciplinar de pesquisadores da Universidade de Erlangen-Nurembergue fez um estudo para saber como essas pessoas se sentem na Alemanha e o que é necessário fazer para que cuidadores com histórico de migração fiquem no país. Para isso eles entrevistaram cuidadores, gestores de hospitais e de lares de idosos, escolas de idiomas, centros de aconselhamento e agências de recrutamento. O estudo mostra o que é importante para o bem-estar desses profissionais, tanto no ambiente de trabalho como também na vida privada fora do trabalho. Alemanha depende dos profissionais de fora Os cuidadores são uma mão de obra disputada por muitos países. Estudiosos falam até mesmo de uma indústria internacional da migração. O processo de migração de mão de obra no setor de cuidados é altamente profissionalizado, enfatiza o geógrafo Stefan Kordel, da Universidade de Erlangen-Nurembergue. Entidades públicas e privadas, até mesmo alguns hospitais e casas de repouso, estão envolvidos na competição por enfermeiros, cuidadores e até mesmo estagiários qualificados. Interesses econômicos estão em jogo. A Alemanha depende fortemente da imigração de cuidadores. Sem eles, o setor de cuidados entraria em colapso, diz a Agência Federal do Trabalho (BfA). Quase um em cada quatro cuidadores em lares de idosos tem nacionalidade estrangeira, segundo os dados oficiais. Se forem consideradas todas as profissões da área da saúde, uma em cada cinco pessoas na Alemanha vem do exterior. E a tendência é crescente, pois faltam profissionais qualificados. Muitos cuidadores estão se aposentando e outros estão abandonando a profissão devido à exaustão profissional, um fenômeno apelidado de pflexit (união do alemão pflege, ou cuidados, com o inglês exit). Além dos cuidadores vindos do exterior, há profissionais qualificados em hospitais e lares de idosos que são alemães com um histórico de migração na família, por exemplo filhos de imigrantes. E outros são refugiados, muitos deles da Síria ou da Ucrânia. Todos trabalham para que os idosos e doentes na Alemanha recebam cuidados, e isso diante de uma necessidade crescente devido ao envelhecimento da sociedade alemã. Folhetos coloridos do recrutamento "Berlim é linda, Heidelberg é romântica": folhetos coloridos com dizeres como esses são usados pelas agências de recrutamento para atrair profissionais do exterior. Muitos deles, porém, acabam em áreas onde a vida é bem diferente do idílio sugerido pelos folhetos. Para os cuidadores, acaba sendo uma questão de sorte em qual instituição eles vão parar e que apoio vão receber para construir uma nova vida num novo país. Com alguns países, como Filipinas, Índia, Indonésia e Tunísia, a Alemanha mantém programas oficiais chamados Triple Win. A ideia desses programas é que os três lados saiam ganhando: os países de origem, a Alemanha e os indivíduos recrutados, para os quais, por exemplo, os custos de cursos de idiomas e passagens aéreas são cobertos. Agências privadas de recrutamento recebem um selo de aprovação do governo de "recrutamento justo". Mas há também casos de intermediários que exigem grandes somas de dinheiro dos cuidadores, relata Kordel. Ele menciona casos em que 12 mil euros foram pagos, para os quais foram feitos empréstimos ou a família se uniu para juntar os recursos. Já na Alemanha, os cuidadores recrutados precisam arrumar um segundo emprego, além do trabalho de cuidador, para pagar dívidas. Kordel observa que situações assim precisam ser mais bem divulgadas no exterior. Diferenças na formação profissional Outra questão recorrente é a da formação profissional. Em muitos países de origem, cuidador de idosos não é uma formação técnica, como na Alemanha, mas universitária. Profissionais que não foram devidamente informados sobre isso muitas vezes ficam sabendo só na Alemanha que vão passar uma boa parte do tempo realizando cuidados básicos, como dar banho em pessoas ou ajudá-las a se alimentar. Em alguns países de origem, isso geralmente é feito por familiares ou auxiliares. A decepção costuma ser grande quando cuidadores formados nas Filipinas, por exemplo, não são autorizados a administrar soro intravenoso ou inserir cateteres na Alemanha, diz Myan Deveza-Grau, da organização da diáspora filipina PhilNetz. "Eles não conseguem entender por que não podem fazer isso." A dificuldade para aprender alemão A língua também costuma ser uma barreira para a adaptação ao novo país. "Tenho que estudar muito alemão à noite. Por isso, não tenho tempo para outras atividades. Nos fins de semana, temos que nos preparar para provas e para o curso de alemão. E também temos que frequentar o curso de alemão aos domingos", relata uma estagiária do Vietnã. Ela diz que quase não sobra tempo para criar laços sociais. Além disso, há muita burocracia, reclama, o que torna os programas de mentoria e a compreensão dos colegas ainda mais importantes. Os pesquisadores dizem que estudantes e cuidadores fazem cursos de alemão em seus países de origem e obtêm certificados de proficiência, mas que frequentemente há um longo período de espera antes de poderem entrar na Alemanha. Outra dificuldade são os dialetos falados em algumas regiões da Alemanha. Discriminação e racismo "Que conselho você daria a alguém do exterior que quer trabalhar como cuidador na Alemanha?", perguntaram os pesquisadores a profissionais desse setor. "Que você certamente sofrerá racismo", respondeu uma mulher da Guiné que vive na Alemanha há mais de dez anos e tem passaporte alemão. Ela não é um caso isolado, como demonstra o estudo. Hospitais e casas de repouso se esforçam para conscientizar seus funcionários, mas isso não se aplica aos próprios pacientes e seus familiares. "Se a pessoa que precisa de cuidados diz: 'Não vou deixar que uma pessoa negra cuide de mim', então as coisas se complicam", diz o pesquisador Tobias Weidinger, da Universidade de Erlangen-Nurembergue. E a discriminação também é sentida em outros locais, como já mostraram outros estudos: em repartições públicas, no transporte público, nas ruas e no mercado imobiliário. Que um profissional estrangeiro se sinta bem na Alemanha depende de toda a sociedade, resume Kordel. "Experiências de discriminação e racismo influenciam a decisão de permanecer ou de deixar o emprego, o local de residência ou até mesmo a Alemanha", diz. Deveza-Grau relata que cuidadoras filipinas também se mostram preocupadas com o avanço do partido de ultradireita AfD. Algumas dizem que avaliam se mudar para o Canadá, que também recruta ativamente esses profissionais, se a situação não mudar. "Vou ficar onde minha família está bem, onde não sofro bullying, onde tenho amigos", resume um cuidador.


Short teaser País já conta com 300 mil cuidadores estrangeiros. Mas permanência de longo prazo depende de vários fatores
Author Andrea Grunau
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-que-é-preciso-para-que-cuidadores-fiquem-na-alemanha/a-74628066?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Uma cuidadora indiana que optou pela Alemanha por meio do programa de recrutamento Triple Win
Image source Oliver Dietze/dpa/picture alliance
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Item 11
Id 74609758
Date 2025-11-04
Title Tragédia de Mariana: dez anos de dor, luta e resiliência das vítimas
Short title Tragédia de Mariana: dez anos de dor, luta e resiliência
Teaser Dez anos depois da destruição de vilarejos pelos rejeitos das mineradoras Samarco, Vale e BHP, moradores tentam se adaptar a nova vida e dizem que espírito unia a comunidade se perdeu.

Dispersas pelos morros, as casas recém-acabadas se destacam na paisagem ainda dominada por vegetação. Elas formam o bairro mais novo de Mariana, em Minas Gerais, feito para abrigar quem perdeu tudo para os rejeitos da mineração produzidos por Samarco, Vale e BHP Billiton em 5 de novembro de 2015.

Foram quase dez anos de espera para Alexandra Sales. No novo endereço, uma casa de esquina, não há lembranças do antigo lar, que ficava em Paracatu de Baixo. Tudo foi soterrado pela lama após o rompimento da barragem de Fundão.

"O processo demorou muito. Eu gostava muito da minha casa, preferiria o antes. Mas isso não posso ter. Agora é se adaptar a esta nova vida, a este novo lugar, que é bem diferente do que a gente tinha", conta Sales.

A disposição das construções no novo Paracatu é quase a mesma do antigo povoado. A mãe de Sales está na casa ao lado, a escola fica na praça à frente, num prédio mais moderno, com laboratórios, mas só oito alunos frequentam as aulas por enquanto.

A unidade em Paracatu de Baixo era cheia de estudantes. As ruínas no antigo distrito ainda estão à mostra, com banheiros e salas marcados por rejeitos. As mesas, cadeiras e livros estão revirados, cercados por mato alto, gado solto e carrapatos.

No novo Paracatu, as hortas nos fundos dos terrenos, o vai e vem dos moradores e o senso de comunidade desapareceram. A longa batalha por reparação e pagamentos indenizatórios trouxeram também uma rivalidade velada. "Eu gostava da vida saudável que a gente tinha. A comunidade era mais unida, tinha a parte humana de um ajudar o outro. A vida era simples, mas gostosa", detalha Sales.

Ela estava grávida quando a onda de rejeitos varreu a região e passaria os dias restantes da gestação num quarto de hotel provisório, vivendo de doações. Salles ainda se lembra do barulho e cheiro de enxofre quando o tsunami passou por Paracatu de Baixo, já na escuridão daquela quinta-feira. Era o som de 44,5 milhões de metros cúbicos de lama, que chegaram pelo rio Doce foram até o Oceano Atlântico, no Espírito Santo. A tragédia deixou 19 mortos e mudou a vida de mais de 1 milhão de pessoas.

Dez anos sem paz

Para as famílias deslocadas após a tragédia, a última década foi de batalha. Luzia Queiroz, da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão, conta que brigou muito para que os direitos fossem respeitados pelas mineradoras ao mesmo tempo em que lidava com o medo de não ter onde morar, de ter perdido tudo depois de uma vida de trabalho.

"Nós brigamos para termos um projeto individualizado para construção das casas. E isso ainda não acabou: agora lidamos com diversos problemas como trincas, pintura que descasca como papel, entupimento e outros", afirma Queiroz, que acabou de se mudar para o novo Paracatu.

A negociação após a tragédia foi com a Fundação Renova, criada com dinheiro das mineradoras para cuidar da reparação. No fim de 2024, ela foi extinta por efeito do acordo de R$ 100 bilhões firmado entre empresas e diversos órgãos do governo, que passou a gerir os recursos direcionados aos programas de reparação.

Quando precisam resolver alguma pendência sobre o novo lar, os atingidos se dirigem à Samarco. À DW, a mineradora disse que entregou 367 casas nos dois novos bairros e seis estão em construção.

Algumas famílias atingidas preferiram não viver mais no município e escolheram uma residência em outra região. Essas casas também foram pagas pela mineradora. A Samarco não informou quantos seguiram esta opção.

A área que abrigava a antiga barragem, o Vale do Fundão, é monitorada 24 horas por dia. Os rejeitos remanescentes do rompimento estão contidos por estruturas reforçadas, afirma a empresa.

"Não está ruim, mas bom não está"

No novo Bento Rodrigues, algumas casas já passam por pequenos reparos, outras ainda estão em construção. As primeiras moradias foram entregues em 2023. O reassentamento se assemelha a um condomínio de alto padrão moderno, com um visual diferente do antigo povoado, fundado há 300 anos e destruído pelos rejeitos.

Igrejas, praças, posto de saúde, escola e campo de futebol estão à disposição dos moradores, mas praticamente não se vê pessoas transitando pelas ruas pavimentadas sobre os morros. Raimundo Alves, 83 anos, não se sente confiante para caminhar fora de casa. "No antigo Bento era tudo plano, aqui é diferente. As pessoas mudaram muito também, e a gente não conhece mais os vizinhos", diz sentado numa das cadeiras de sua sala.

É perto da hora do almoço. A esposa de Alves, Geralda Alves, prepara algumas hortaliças na cozinha que vieram do enorme quintal em aclive. Mandioca e alguns legumes não crescem ali, por mais que seu Raimundo, acostumado a plantar, tenha tentado. "Não posso dizer que está ruim, mas bom também não está. Eu tento não pensar muito", afirma.

Dona Geralda conta que antigos moradores retornam sempre às ruínas de Bento Rodrigues, mas ela não vai por achar tudo muito triste. A imagem da casa onde morava com a família sendo levada pela lama ainda é fresca na cabeça, um acontecimento que quase a paralisou durante a correria de toda a vizinhança para escapar.

No novo Bento, a circulação visível é de homens uniformizados da construção civil, empregados nas obras ainda em andamento. São esses trabalhadores que movimentam o único restaurante do bairro, de portas abertas há dois anos. Darlisa Eusébio serve almoço todos os dias ali, com a ajuda do filho e do irmão.

"Estou contente de voltar a trabalhar. Lá no antigo Bento os moradores eram meus clientes. Aqui nem abro no fim de semana porque não tem movimento", conta Eusébio enquanto serve um cliente.

"Para lá eu não vou"

Próxima à praça mais central, a casa de dois andares feita para José do Nascimento de Jesus, seu Zezinho, como é conhecido, está em reforma. Ninguém nunca morou lá. Os reparos são feitos a pedido do novo dono, que comprou o imóvel de seu Zezinho e da companheira há poucos meses.

Aos olhos de seu Zezinho, o reassentamento é cheio de defeitos. No celular, ele mostra as trincas, paredes com tinta descascando, critica as técnicas de construção usadas. "Para lá eu não vou", diz no endereço que tem vivido nos últimos nove anos, decidido a não se mudar para o reassentamento do qual acompanhou de perto toda a construção.

Às vésperas de completar 80 anos, ele mora sozinho num apartamento que decidiu comprar na parte urbana de Mariana. Com um marcapasso no coração, ele ainda toca violão nas missas e festejos religiosos e vende biscoitos pela cidade.

Do antigo Bento Rodrigues a única lembrança material é uma foto ampliada pendurada na parede da sala. A imagem mostra um banco feito por seu Zezinho, que construiu 37 casas do povoado destruído há dez anos.

Short teaser Moradores tentam se adaptar a nova vida e dizem que espírito unia a comunidade se perdeu após a destruição de vilarejos.
Author Nádia Pontes (de Mariana)
Item URL https://www.dw.com/pt-br/tragédia-de-mariana-dez-anos-de-dor-luta-e-resiliência-das-vítimas/a-74609758?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Trag%C3%A9dia%20de%20Mariana%3A%20dez%20anos%20de%20dor%2C%20luta%20e%20resili%C3%AAncia%20das%20v%C3%ADtimas

Item 12
Id 74617158
Date 2025-11-04
Title Federação Albanesa de Voleibol exige "teste de gênero" em jogadora brasileira
Short title Liga albanesa de vôlei exige "teste de gênero" de brasileira
Teaser

Brasileira jogou em diversos países e tem 15 anos de carreira

Jogadora do KV Dinamo, Nayara Ferreira foi suspensa após denúncias de times rivais. Federação é acusada de discriminação contra atleta, que realizou o exame e se diz "destruída" pelas acusações.Uma decisão recente da Federação Albanesa de Voleibol (FSHV) de suspender a jogadora brasileira Nayara Ferreira e exigir que ela seja submetida a um teste de gênero tem gerado crescentes críticas no país dos Balcãs. O caso se tornou público no final de outubro e levou a fortes pressões contra a FSHV, acusada de discriminação contra a atleta. Ferreira, que defende o KV Dinamo, time da principal divisão feminina da Albânia, acumula 15 anos de carreira internacional, segundo o clube. Sites especializados mostram que ela passou por clubes de países europeus como Portugal, Finlândia e Espanha, e atua no vôlei feminino desde as categorias de base. No Brasil, iniciou no esporte em times como São Bernardo e Pinheiros. "Para maior transparência perante a opinião pública, confirmamos que as informações [de que uma investigação foi aberta] são verdadeiras", disse o KV Dinamo em nota publicada em 25 de outubro. "A decisão da Federação [...] surpreendeu completamente nosso clube, e não foi acompanhada de qualquer esclarecimento sobre os motivos concretos ou a base regulatória que justificasse um pedido tão incomum", concluiu. Em entrevista à DW, Ferreira diz não entender por que foi colocada nesta situação. "Me sinto destruída, como se estivesse perdendo a cabeça, porque penso muito sobre por que isso aconteceu comigo, porque fizeram isso comigo. Todo dia, no meu quarto, me faço essa pergunta e até agora não sei", disse ela. "Eles me pediram um teste de gênero. Eu já joguei em sete países, inclusive na Arábia Saudita. Nunca me fizeram essa pergunta antes, nunca." Ferreira fez o teste exigido pela FSHV voluntariamente, apenas porque não queria prejudicar o clube. "Não preciso provar a ninguém que sou mulher, porque eu sou mulher. 100%. [...] Não tenho palavras para explicar exatamente o que sinto”, acrescentou Ferreira. "Por que vocês [a FSHV] estão fazendo isso comigo? Só por olharem para meu rosto, só por verem meu cabelo?", continua. Equipes rivais exigem investigação Ferreira foi suspensa em outubro pela FSHV depois que duas equipes rivais, Vllaznia e Pogradec, solicitaram uma investigação. Em comunicado, a Federação afirmou que "análises pertinentes" seriam realizadas para "verificar o desempenho físico natural e determinar o gênero da jogadora". "A FSHV está agindo com cuidado e discrição, respeitando os princípios do fair play, da igualdade no jogo e da dignidade humana", escreveu o órgão. Até o momento, a brasileira ficou fora de três partidas. "Na ausência de quaisquer elementos concretos ou procedimentos definidos nos atos regulatórios, a exigência de submeter-se a tal teste, que afeta diretamente a dignidade e a integridade pessoal da jogadora, deixa margem para muitas incertezas sobre como esta questão foi conduzida e sobre os padrões que deveriam ser respeitados no esporte moderno", continuou o Dinamo em sua nota. A capitã do Dinamo, Elena Bego, disse que foi uma situação difícil para a equipe. "Em parte, coube a mim comunicar a notícia às outras jogadoras. Ficamos todos chocados. Este caso é extremamente escandaloso", disse Bego à DW. "Apoiamos Nayara durante todo o tempo." O treinador do Dinamo, Orlando Koja, acrescentou que a ausência de Nayara também teve um grande impacto esportivo, já que a equipe ficou desfalcada em partidas importantes. "Suspensão por motivos discriminatórios" Ao jornal Balkan Insight o Comissário da Albânia para a Proteção contra a Discriminação, Robert Gajda, diz que a suspensão de Ferreira foi discriminatória e "homofóbica". Ele acredita que todo o caso está sendo alimentado pela mesma desinformação que tem alimentado ataques a um projeto de lei para a igualdade de gênero que está em discussão no país. "Existem vários problemas à primeira vista. A situação começou inteiramente com base no preconceito, e uma suspensão foi imposta totalmente por motivos discriminatórios", disse ele ao Balkan Insight. "A jogadora está registrada internacionalmente, tem uma experiência muito longa em muitos clubes ao redor do mundo e é legalmente documentada como mulher." Em declarações posteriores, a Federação se disse preocupada sobre como o caso, que afirmou ser "de natureza inteiramente esportiva" se tornou um pretexto para "violar os direitos de indivíduos ou de certas comunidades". Também afirmou que encaminhará medidas disciplinares contra "insultos públicos e intimidação" supostamente praticados pela equipe do Dinamo. A questão de gênero no esporte feminino tem se tornado um tema de maior controvérsia nos últimos anos, especialmente após a polêmica global envolvendo Imane Khelif, a atleta olímpica argelina que conquistou ouro no boxe em Paris. Neste ano, a federação de boxe passou a exigir testes obrigatórios de gênero para todos os atletas.


Short teaser Jogadora do KV Dinamo, Nayara Ferreira realizou o exame e se diz "destruída" pelas acusações.
Author Jonathan Harding
Item URL https://www.dw.com/pt-br/federação-albanesa-de-voleibol-exige-teste-de-gênero-em-jogadora-brasileira/a-74617158?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/61491866_354.jpg
Image caption Brasileira jogou em diversos países e tem 15 anos de carreira
Image source Gelhot/Fotostand/picture alliance
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Item 13
Id 74617136
Date 2025-11-04
Title Governo alemão considera treinar alunos para desastres e situação de guerra
Short title Alemanha avalia treinar alunos para desastres e guerra
Teaser Ministro propõe inclusão de treinamento para situações de crise no currículo escolar, em momento de tensão sobre a Rússia. Críticos alertam para alarmismo que pode ser prejudicial para estudantes.

O Ministro do Interior da Alemanha, Alexander Dobrindt, quer que o treinamento para situações de crise, desastre e guerra integre o currículo escolar. A proposta vem num momento em que, diante de uma percebida crescente ameaça da Rússia, aumenta na sociedade alemã a tensão sobre um hipotético cenário de guerra.

Na prática, a sugestão do ministro, membro do partido conservador União Democrata Cristã (CDU), significaria que os alunos aprenderiam habilidades como usar um extintor de incêndio, prestar socorro a um colega ferido e até performar reanimação cardiopulmonar.

"Minha sugestão é que, uma vez por ano letivo, seja realizada uma aula prolongada com os alunos mais velhos, abordando vários cenários de ameaças possíveis e como se preparar para eles," disse Dobrindt ao jornal Handelsblatt.

Numa declaração recente, o chanceler federal alemão, Friedrich Merz, afirmou que "nós não estamos em guerra, mas também não mais em paz" ao se referir à Rússia.

Boa recepção nas escolas

Muitos especialistas consideram possível que a Rússia, sob o comando do presidente Vladimir Putin, ataque o território da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) antes do fim da década.

A Alemanha tem demonstrado que quer se preparar com o reforço de meios militares e de defesa civil desde que a guerra da Ucrânia foi deflagrada.

A proposta para o currículo escolar foi bem-recebida pela influente Associação de Professores Alemães (DL, na sigla em alemão), que representa 165 mil docentes escolares.

"A guerra há muito tempo chegou às salas de aula, e é necessário ser honesto e apenas dizer isso", disse o presidente da associação, Stefan Düll, à DW. "Os jovens têm em última instância o direito de discutir abertamente aquilo que pode afetá-los."

Para Quentin Gärtner, secretário-geral do Conselho Federal de Estudantes Escolares (BSK, na sigla em alemão), que representa os interesses dos alunos, os treinamentos seriam úteis, mas devem ser acompanhados por psicólogos e assistentes sociais.

"As pessoas se sentem mais seguras se estão preparadas para uma emergência e sabem o que vai acontecer", segundo ele, enfatizando que uma "sociedade resiliente" seria particularmente importante num cenário de guerra.

Críticas no Parlamento

Entre os partidos de oposição, entretanto, as reações foram mistas. "O objetivo claro é incitar medo", disse Nicole Gohlke, líder do A Esquerda no Parlamento, à agência AFP. "Considero esse alarmismo, especialmente com crianças e jovens, inaceitável."

Do outro extremo do espectro político, um porta-voz da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido populista e de ultradireita que costuma adotar posições simpáticas à Rússia, disse que o ministro do Interior faz "a aproximação de uma guerra parecer inevitável."

A ideia teve apoio, no entanto, do Partido Verde. O co-líder do partido Felix Banaszak discordou, em entrevista à emissora RTL, que haja alarmismo na proposta. Disse ainda não estar convencido de que uma aula prolongada por ano seja suficiente.

Cabe ao governo federal apenas fazer recomendações sobre o conteúdo ensinado nas escolas. Somente os ministérios da educação de cada estado têm autoridade para decidir sobre o currículo.

Onde fica o limite da precaução?

O governo alemão quer aumentar significativamente os gastos com proteção civil e proteção contra desastres. Cerca de 10 bilhões de euros (R$ 62 bilhões) foram orçados até 2029 para um "pacto de proteção civil", que inclui a modernização de abrigos, sistemas de alerta, fornecimento de reservas de água e veículos de emergência.

Na entrevista ao Handelsblatt, Dobrindt também exortou a população a estocar suprimentos. "Não custa nada. Suprimentos para alguns dias, uma lanterna, pilhas ou um rádio a pilhas são precauções razoáveis. Quem tem isso não está em pânico, mas sim preparado."

A Polônia, que também divide fronteiras com a Alemanha e a Ucrânia, tem treinamento obrigatório sobre o uso de armas e segurança para jovens de 14 a 15 anos. Não são utilizadas munições reais, mas os alunos aprendem a montar, carregar e descarregar uma arma de fogo. O tiro é praticado com lasers ou munições de festim.

"A vida é assustadora hoje em dia, então você tem que estar preparado para qualquer coisa", disse Marta Stolinska, da escola primária Nicolaus Copernicus em Skarszewy, perto de Gdansk, à DW em 2024. Diversos pais e professores apoiam o treinamento com armas.

A abordagem, entretanto, é vista com ceticismo por parte da sociedade alemã. "Os pátios das escolas alemãs não são campos de parada em quartéis”, prosseguiu Düll, da associação de professores, à DW. Aprender a atirar não é "tarefa dos alunos, mas do Exército", acrescentou.

Short teaser Ministro propõe "precaução" em momento de tensão sobre a Rússia. Critícos falam em "alarmismo" prejudicial a estudantes.
Author Volker Witting
Item URL https://www.dw.com/pt-br/governo-alemão-considera-treinar-alunos-para-desastres-e-situação-de-guerra/a-74617136?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 14
Id 74616531
Date 2025-11-04
Title Como o Clube da Esquina ultrapassou as fronteiras do Brasil
Short title Como o Clube da Esquina ultrapassou as fronteiras do Brasil
Teaser Liderado por Milton Nascimento e Lô Borges, movimento musical surgido em Minas Gerais inspirou nomes como Alex Turner, do Arctic Monkeys, e Björk, além de músicos da Alemanha e até do distante Belarus.

As singelas casas de muro baixo, o cheiro do café coado e a silhueta da Serra do Curral no dourado de um fim de tarde são um lugar-comum do tranquilo bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte.

A imagem, que poderia muito bem ficar circunscrita a um mero clichê bairrista, foi muito mais longe do que possivelmente imaginava aquela meia dúzia de garotos que, nos anos 1960, se encontravam no cruzamento das esquinas das ruas Paraisópolis e Divinopólis para bater papo e tocar violão.

Foi ali, no coração da capital mineira, que surgiu um dos movimentos mais influentes da música brasileira. O chamado Clube da Esquina foi eternizado no disco homônimo de 1972, gravado por Milton Nascimento e seu parceiro de primeira-hora Lô Borges, que morreu no último domingo (02/11), em Belo Horizonte, aos 73 anos, em decorrência de uma intoxicação medicamentosa.

A mescla do cancioneiro brasileiro com toques dos Beatles e harmonia inspirada no rock progressivo inglês entrou de uma vez no rol das obras-primas da música brasileira, além de arrastar, junto de Lô e Milton, toda uma turma de mineiros como Beto Guedes, Toninho Horta, Flávio Venturini e Wagner Tiso para o panteão da MPB.

No entanto, os ventos daquelas tardes sem fim transcenderam as Minas Gerais e o Brasil, chegando à Europa e aos Estados Unidos e aos ouvidos de fãs e de artistas da prateleira de cima do escalão mundial.

O primeiro a romper as fronteiras nacionais foi Milton Nascimento. Em 1969, o artista gravou nos Estados Unidos o álbum Courage, produzido por Eumir Deodato, outro brasileiro já atuante em terras norte-americanas. Já na década seguinte, Milton foi convidado pelo saxofonista Wayne Shorter, que havia participado do lendário quinteto de Miles Davis, para dividir um disco.

O resultado virou Native Dancer (1975), que conta com cinco faixas do fundador do Clube da Esquina e serviu para impulsionar o nome de Milton nos Estados Unidos, tendo sido citado por artistas como Maurice White, do Earth Wind and Fire, e Esperanza Spalding com influências. A jazzista norte-americana, por sinal, lançou, em 2024, com Nascimento, o disco Milton + Esperanza, indicado ao Grammy do mesmo ano.

Mineiros no hemisfério Norte

Mas não foi só no jazz que as intricadas harmonias e melodias do Clube da Esquina encontraram ressonância. Nos anos 1990, a cantora Björk ganhou de presente uma fita cassete com a versão de Elis Regina para Travessia, canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, principal letrista do Clube da Esquina, e se apaixonou pela obra do brasileiro. A cantora islandesa chegou inclusive a gravar a canção, que foi produzida por Deodato, mas nunca a lançou oficialmente.

Já Alex Turner, do Arctic Monkeys, revelou a sua admiração por Lô Borges à revista especializada Mojo, da Inglaterra – em especial pela faixa Aos Barões, do disco Lô Borges (1972). A canção figurou numa lista de músicas que inspiraram o britânico na composição do álbum Tranquility Base Hotel & Casino, de 2018.

Mas os contornos daquela esquina belo-horizontina também aportaram em locais ainda mais surpreendentes, como na distante ex-república soviética de Belarus, país natal do músico Alex Chumak, idealizador do projeto Soyuz. O compositor lembra quando ouviu, pela primeira vez, Cais, segunda faixa de Clube da Esquina.

"Era outono, com aquelas folhas douradas e tudo se encaixou perfeitamente. Fiquei totalmente arrebatado", lembra ele à DW, que confessa ter ficado dias a fio escutando sem parar a canção. "Depois fui descobrindo as outras músicas e, posteriormente, os outros discos dos integrantes do Clube da Esquina, como Lô Borges e Beto Guedes", acrescenta o músico, que hoje vive em Varsóvia, na Polônia.

A admiração pela música mineira é evidente no som do Soyuz. Em 2022, o grupo lançou seu terceiro álbum, Force of the Wind (2022), cujo nome é inspirado na canção A Força do Vento, de Lô Borges. Depois, Chumak foi até o Brasil gravar KROK, quarto álbum que acaba de ser lançado pelo selo inglês Mr. Bongo e que conta com a participação de Tim Bernardes.

"Aprendi muito a compor com o Clube da Esquina. São canções em que cada mudança de acordes, cada passagem, tem algo a dizer, um sentimento novo para apresentar. É tudo muito complexo, ao mesmo tempo em que não há nelas o medo de ser pop. Além disso, é uma música universal e atemporal", descreve o belarusso à DW.

Encontro com Lô

Assim como com a islandesa Björk, foi uma fita-cassete que arrastou o alemão Sebastian Dingler para o meio do Clube da Esquina – e, mais precisamente, Lô Borges. O jornalista e músico, integrante da banda de música brasileira Bossa 68, de Saarbrücken, viveu em Brasília nos anos 1990, quando chegou às suas mãos uma K7 com Trem Azul e Tudo Que Você Podia Ser.

Fã de rock progressivo, Dingler reconheceu imediatamente as similaridades do Clube da Esquina com grupos ingleses que já conhecia, como Yes e King Crimson. "Eu senti na hora aquelas semelhanças. Mas tinha algo a mais ali, uma coisa meio mágica", diz ele à DW, citando a canção Equatorial, de Lô Borges. "É exatamente como eu me sinto, andando por uma cidade brasileira numa noite de verão."

Mas foi da maneira inusitada que a paixão pela música de Minas o aproximou de Lô Borges – literalmente. Há alguns anos, Dingler vendeu uma coleção de livros alemães no eBay para um conterrâneo residente em Itabira, também em Minas.

Ambos ficaram amigos e, em uma conversa, o jornalista citou a admiração por Borges. Foi quando o colega itabirano revelou uma inusitada conexão com o músico mineiro, cuja enteada é apadrinhada por Lô.

Em 2023, Dingler resolveu visitar Minas e descobriu que o músico faria um show na capital mineira dali alguns dias. O casal de amigos o convidou e, instantes antes do show, o alemão pôde conhecer Lô Borges no camarim do Palácio das Artes, coincidentemente o mesmo local onde o artista foi velado nesta terça-feira (04/11).

"Contei a história para ele, mas senti que ele era alguém muito tímido, retraído mesmo. Mas ele era um dos meus heróis musicais e entendi um pouco de quem ele era naquele encontro", conta Dingler, que escreveu sobre o encontro com Lô num artigo para o jornal Saarbrücker Zeitung, com o título: Como o eBay realizou um sonho musical.

O jornalista lamenta que a música de Lô ainda seja pouco conhecida na Alemanha, mas espera ter contribuído para converter ao menos um conterrâneo para o universo do Clube da Esquina: "Tive uma grata surpresa: um leitor do jornal enviou uma mensagem agradecendo pela dica."

Short teaser Movimento inspirou nomes como Alex Turner e Björk, além de músicos da Alemanha e até do distante Belarus.
Author Fábio Corrêa
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Item 15
Id 74595230
Date 2025-11-04
Title Denúncia liga trabalho escravo ao café de Nestlé e Starbucks
Short title Denúncia liga trabalho escravo ao café de Nestlé e Starbucks
Teaser

Lei da Alemanha abriu portas para ONGs acionarem na Justiça do país multinacionais que importam café do Brasil

Empresas foram denunciadas na Alemanha por supostamente comprarem produtos de fazendas brasileiras com violações de direitos humanos. Companhias negam.A Nestlé e a AmRest, que administra a Starbucks, foram denunciadas na Alemanha por comprarem café brasileiro supostamente associado a trabalho análogo à escravidão, trabalho infantil e tráfico de pessoas. Também foram relatadas violações de direitos humanos na China, no México e em Uganda. Os relatos foram apresentados na última quarta-feira (29/10) ao Escritório Federal de Economia e Controle de Exportação da Alemanha (Bafa, na sigla em alemão), com base na Lei de Devida Diligência na Cadeia de Suprimentos. A norma, de 2023, responsabiliza grandes empresas por violações de direitos humanos e danos ambientais em suas cadeias de fornecimento. À DW, a Nestlé e a Starbucks negaram as acusações. O Neumann Kaffee Gruppe também foi incluído nas reclamações, mas por situações não relacionadas ao Brasil. "Nossos relatórios revelam graves violações de direitos humanos nas cadeias globais de fornecimento de café. Em plantações que abastecem a Nestlé, a Starbucks, a Neumann Kaffee Gruppe e outras empresas, crianças trabalham, pessoas são assediadas e têm seus direitos negados", disse à DW Etelle Higonnet, diretora da Coffee Watch, uma das organizações responsáveis pelas revelações. "Acreditamos que os problemas são extremamente sérios, sistemáticos e generalizados. As autoridades alemãs precisam agir para garantir que as empresas mencionadas finalmente assumam sua responsabilidade", afirmou Higonnet. Além da Coffee Watch, as reclamações foram apresentadas por outras organizações não governamentais, como a International Rights Advocates. Violações na cadeia do café As revelações têm como base investigações conduzidas pelos seus autores, pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), pela Repórter Brasil e por outras entidades de defesa dos direitos humanos. Essas apurações também resultaram em ações nos Estados Unidos. Em abril, a Coffee Watch protocolou uma reclamação na Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos. Pediu a suspensão das importações de café brasileiro pelas multinacionais Starbucks, Nestlé, Jacobs Douwe Egberts (JDE), Dunkin', Illy e McDonald's por suposta ligação com trabalho análogo à escravidão. Também em abril, a International Rights Advocates entrou com uma ação contra a Starbucks na Carolina do Norte, pedindo indenização de R$ 1 bilhão para oito trabalhadores resgatados em fazendas em Minas Gerais em situações análogas a trabalho escravo. Eles estariam em propriedades que fariam parte da cadeia de fornecimento das empresas. Segundo Higonnet, da Coffee Watch, é difícil propor ações na Justiça em muitos países consumidores de café. Então, viram na Lei da Cadeia de Suprimentos uma possibilidade de responsabilização das empresas na Alemanha. A lei prevê que as empresas disponibilizem canais ou processos de reclamação e denúncia acessíveis publicamente. Assim, após uma reclamação junto às empresas, elas podem responder e, eventualmente, corrigir possíveis violações. Caso as companhias não possuam canais do tipo ou não houver reação, pessoas afetadas podem encaminhar, junto à Bafa, uma solicitação oficial para que as autoridades tomem providências. As respostas enviadas pela Nestlé e AmRest (Starbucks) não foram consideradas suficientes pela Coffee Watch – por isso, as organizações fizeram um requerimento formal na última quarta-feira. De acordo com as organizações, a Nestlé e a AmRest (Starbucks) comprariam o café da cooperativa Cooxupé, de Guaxupé (MG). A Nestlé também adquiriria os produtos da Cooabriel, de São Gabriel da Palha, no Espírito Santo. As violações de direitos humanos, como trabalho análogo à escravidão, trabalho infantil e tráfico de pessoas, teriam ocorrido em fazendas que fornecem o café para as duas cooperativas. Adolescente e escravidão Um dos casos relatados ocorreu em 2024, quando um adolescente de 16 anos foi resgatado pelo MPT e pela Polícia Federal em uma fazenda no sul de Minas Gerais. Morador de um quilombo, ele teria sido aliciado por um "gato", como são chamados os recrutadores dos trabalhadores. A promessa incluía, segundo as organizações, boas condições de trabalho e pagamento justo. Mas o adolescente encontrou condições degradantes: jornadas de 11 a 12 horas diárias, sem descanso, sem equipamento de proteção e sem acesso à água potável ou banheiros. Um relatório do MPT obtido pelas organizações classificou o caso como trabalho escravo e uma das piores formas de trabalho infantil. O documento destacou que o jovem trabalhava descalço e em condições inadequadas para sua idade. A fazenda, segundo a denúncia, fornecia café à Cooxupé. Um outro caso relatado está ligado à Cooabriel. Em 2023, 10 trabalhadores foram resgatados em uma fazenda em Vila Pavão (ES), após serem submetidos a jornadas exaustivas, salários abaixo do mínimo, moradias precárias e vigilância armada para impedir fugas. O que dizem os acusados Em nota enviada à DW, a Nestlé disse ter levado as alegações a sério e investigado as acusações. "Confirmamos que a Nestlé não tinha ligação direta com as fazendas em questão ou que já encerrou o relacionamento com um fornecedor devido ao não cumprimento de nossos padrões." De acordo com a empresa, a Nestlé tem processos rigorosos para evitar violações de direitos humanos. "Quando tomamos conhecimento de preocupações relacionadas à nossa cadeia de fornecimento, conduzimos as devidas investigações e trabalhamos com nossos fornecedores diretos para tomar medidas rápidas quando necessário – incluindo o encerramento da relação com o fornecedor nos casos em que nossos padrões não são atendidos." A Starbucks, também em nota, disse estar comprometida com o direito dos trabalhadores. Informou que a base do trabalho é feita pelo programa de verificação C.A.F.E. Practices, desenvolvido com especialistas externos e que inclui uma rigorosa verificação e auditoria por terceiros. "Não compramos café de todas as fazendas que fazem parte da cooperativa Cooxupé, que reúne mais de 19 mil produtores. A Starbucks adquire café de apenas uma pequena fração dessas fazendas – e somente daquelas que foram verificadas por meio do nosso programa C.A.F.E. Practices, um dos mais rigorosos do setor e que vem sendo continuamente aprimorado desde sua criação em 2004." E nota à DW, a Cooxupé afirmou que "repudia de forma veemente qualquer prática análoga à escravidão ou que viole direitos fundamentais em sua cadeia de valor". Disse que, sempre que toma conhecimento de situações que envolvam situações trabalhistas por parte dos cooperados, adota providências, como interrupção do fornecimento do café ou devolução dos grãos. "Já houve casos pontuais em que essas ações foram aplicadas preventivamente. No entanto, essas situações representam menos de 0,1% do universo de mais de 21 mil propriedades cooperadas, majoritariamente familiares, que atuam em conformidade com a legislação". A Cooabriel não respondeu à DW. Até mudar o cenário Antes de fundar a Coffee Watch, Etelle Higonnet trabalhou no Greenpeace e no Mighty Earth, atuando no combate a violações de direitos humanos e problemas ambientais em outras cadeias produtivas, como da soja, carne e cacau. Decidiu focar na cadeia produtiva do café por ser um setor até então pouco investigado. "Descobri que o problema dos direitos humanos é ainda mais profundo que o problema ambiental", avaliou. Com investigações e denúncias em diversos países, a organização almeja mudar o cenário na cadeia do café. "Como é possível ter pobreza intensa, desmatamento e violações de direitos humanos? Eu espero que a indústria compreenda que não vamos parar, vamos seguir fazendo mais e mais até que esses crimes comecem a mudar."


Short teaser Empresas são acusadas na Alemanha de comprar de fazendas brasileiras que violam direitos humanos. Companhias negam.
Author Maurício Frighetto
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Image caption Lei da Alemanha abriu portas para ONGs acionarem na Justiça do país multinacionais que importam café do Brasil
Image source Igor Do Vale/ZUMA Press Wire/picture alliance
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Item 16
Id 74598082
Date 2025-11-03
Title [Coluna] Um país dividido também no combate ao crime organizado
Short title Um país dividido também no combate ao crime organizado
Teaser

Operação no Rio de Janeiro fez sobretudo uso da violência

Operações no Rio e em São Paulo expõem duas abordagens distintas para enfrentar facções, que evidenciam profundas divergências nas políticas de segurança pública do Brasil.Em dois meses, o Brasil vivenciou duas grandes operações do Estado contra o crime organizado. Elas se diferenciam fundamentalmente em suas estratégias e ainda deverão dominar o debate sobre segurança pública durante um bom tempo. Se no Rio de Janeiro fez-se sobretudo uso da violência, em São Paulo houve coordenação e troca de informações entre órgãos do Estado. Na Operação Contenção, no dia 28 de outubro no Rio de Janeiro, várias unidades policiais caçaram membros do Comando Vermelho (CV) no Complexo do Alemão. O CV é o mais influente grupo do crime organizado brasileiro. Ele tem origem no Rio, e é lá que estão os seus chefes. Várias comunidades do Rio são controladas pelo CV, com suas centenas de membros fortemente armados. O CV não está avançando só no Rio, mas também na região amazônica e no Nordeste, onde disputa o controle com grupos locais em ações violentas. Na megaoperação no Rio de Janeiro, as forças de segurança mataram em algumas horas mais de uma centena de membros do Comando Vermelho. Mesmo defensores de operações desse tipo, como o ex-capitão do Bope Rodrigo Pimentel, dizem que a operação no Rio não vai mudar nada no monopólio da violência do CV ou na vida das pessoas que vivem nos territórios controlados pelo grupo. Os membros presos ou assassinados serão substituídos, e novas armas serão compradas. As pessoas continuarão servindo de escudo para o tráfico de drogas e continuarão sendo extorquidas com taxas e proteção. Comunidades como o Complexo do Alemão precisam ser ocupadas pelo Estado, para que haja uma melhora significativa na vida dos moradores delas, diz Pimentel. Assim como ocorreu há cerca de dez anos, no âmbito dos grandes eventos esportivos (Copa do Mundo e Jogos Olímpicos), ao menos por algum tempo. Mas essa integração das comunidades não é planejada pelo governador Cláudio Castro. Atuação coordenada em São Paulo Já em São Paulo ocorreu no dia 28 de agosto de 2025 a Operação Carbono Oculto, com 1.400 policiais. Eles executaram 14 mandados de prisão. Sete pessoas foram presas, e nenhum tiro foi dado. Pela primeira vez, os investigadores realizaram batidas também na Avenida Faria Lima, o centro financeiro de São Paulo. Eles tinham indícios de que o Primeiro Comando da Capital (PCC) usava fintechs para a lavagem de dinheiro. Com isso chegaram ao centro do setor financeiro brasileiro. Ao longo de dois anos, a unidade especial Gaeco do Ministério Público do Estado de São Paulo descobriu, em investigações sobre o crime organizado, um gigantesco esquema de lavagem de dinheiro e sonegação de impostos do PCC que envolvia postos de combustíveis, refinarias, fazendas de cana, usinas e transportadoras. Em vez de tentar localizar criminosos, o Gaeco se concentrou em tentar entender como funcionam os mercados ilegais no qual o PCC atua. Equipes da Polícia Federal, do Ministério Público e da Receita Federal estiveram envolvidas. Cada uma investigou por conta própria, e depois elas juntaram as peças do mosaico. "Queríamos restringir gradualmente o alcance das atividades de organizações como o PCC", disse-me um procurador ao falar sobre o objetivo da operação. Tema na campanha eleitoral A enorme influência danosa do PCC sobre a sociedade brasileira não é imediatamente aparente. Ao contrário do CV, o PCC prefere evitar atos de violência ou confronto com o Estado. O maior perigo decorre da crescente infiltração no Estado e na economia, facilitada pelos níveis tradicionalmente elevados de corrupção na política. É aí que entra o crime organizado, como o PCC. Ele financia campanhas eleitorais e, em troca, recebe contratos governamentais. O crime organizado está ganhando cada vez mais espaço em licitações públicas municipais para transporte público, hospitais e coleta de lixo. Especialistas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública avaliam que o PCC já lucra mais em outras áreas de atuação do que com o comércio de cocaína. Isso inclui o contrabando ou a falsificação de produtos como gasolina, cigarros e automóveis, investimentos em imóveis ou empresas e contratos públicos. É provável que o combate ao crime organizado desempenhe um papel decisivo na campanha eleitoral de 2026. A extrema direita, que disputa o espólio de Jair Bolsonaro, vai querer pontuar com o tema segurança e a abordagem mão firme contra o crime. Pesquisas mostram que a maioria da população apoio operações como a ocorrida na semana passada no Rio. Já a esquerda, que tem como principal candidato o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ignorou a questão do crime organizado por muitos anos e continua reagindo de forma bem tímida. Mesmo a bem-sucedida Operação Carbono Oculto, com sua abordagem nova no combate ao crime, foi amplamente ignorada pelo governo em Brasília. Isso agora está se voltando contra ele. ==================== Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.


Short teaser Operações no Rio e em São Paulo expõem duas abordagens distintas para enfrentar facções.
Author Alexander Busch
Item URL https://www.dw.com/pt-br/coluna-um-país-dividido-também-no-combate-ao-crime-organizado/a-74598082?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Operação no Rio de Janeiro fez sobretudo uso da violência
Image source Jose Lucena/TheNEWS2/ZUMA/dpa/picture alliance
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Item 17
Id 74600465
Date 2025-11-03
Title Como a ofensiva contra o CV pode fortalecer milícias e facções rivais no Rio
Short title Ação contra o CV pode fortalecer milícias e facções rivais?
Teaser Ao concentrar esforços no combate ao Comando Vermelho sem plano concreto, governo arrisca desequilibrar o cenário criminal no Rio e favorecer nova expansão de milícias e facções rivais, advertem especialistas.

A megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) foi celebrada por autoridades como um dos maiores golpes já desferidos contra o crime organizado. Mas, por trás dos números oficiais – mais de uma centena de mortos e um arsenal apreendido – cresce um risco estrutural: o enfrentamento a apenas uma facção pode realinhar o centro da disputa entre grupos criminosos e dar início a uma nova guerra por controle de território e tráfico de drogas no Rio de Janeiro, advertem especialistas.

Ao todo, o estado possui três grandes facções, sendo o Comando Vermelho a maior delas, além das milícias. Todas disputam o controle do território como modo de aumentar as receitas, que podem ser provenientes da venda de drogas, extorsão, roubo de cargas, dentre outros meios.

Dessa forma, apesar da capilaridade nacional do Comando Vermelho, a necessidade de repor pessoal nos Complexos do Alemãoe da Penha, alvos da polícia nesta semana e considerados o quartel-general da facção, pode desfalcar outras áreas dominadas – abrindo um flanco para que esses demais grupos lutem pelo domínio dos pontos de tráfico – sem vantagem para o Estado.

"Sem dúvidas [há o risco]. Essas disputas por território têm uma dinâmica própria e difícil de prever. Mas o que é certo é que operações, como a que ocorreu, cujo impacto na estrutura do CV é modesto, não têm um significado substancial na ‘recuperação' ou ‘reocupação' de territórios por parte do Estado, como se apresenta como objetivo do governo", diz o professor de Criminologia e Direito Penal da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, Antonio Martins.

Comando Vermelho cresceu nos últimos anos

De acordo com uma pesquisa do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com a ONG Fogo Cruzado, as milícias chegaram a controlar quase 60% do território da capital do Rio de Janeiro, enquanto que o Comando Vermelho possuía cerca de 11%, e demais facções, 4%.

Segundo Pablo Nunes, cientista social e coordenador adjunto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), essa expansão territorial da milícia ocorreu com a organização de Wellington da Silva Braga, conhecido como Ecko. Com a morte dessa liderança, as milícias passaram por um vácuo de poder e o CV, mais recentemente, começou a ganhar terreno novamente.

Desde então, o grupo criminoso vinha ampliando sua influência e atualmente domina mais da metade das áreas controladas por facções ou milícias na região metropolitana do Rio.

"A partir desse processo [da morte de Ecko] a gente tem o avanço do Comando Vermelho. Ele, sim, empodera e fortalece suas posições e abre flancos de disputa territorial com os grupos milicianos. É nesse sentido que a gente teve esse fortalecimento do Comando Vermelho visto agora", conta.

Além disso, em algumas localidades, também houve a fusão de atividades entre milícia e as facções.

"O que observamos é uma certa convergência entre milícia e tráfico. Mais traficantes extorquem e milícias começam a traficar – o que ocorria menos antes. Há uma diferenciação maior entre o tráfico e milícia, não são iguais, mas não tão diferentes", conta Ignácio Cano, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e membro do Laboratório de Análise da Violência da instituição.

Dentre outros fatores, esse crescimento do CV também conta com uma composição histórica. Para José Cláudio Souza Alves, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e estudioso do crime organizado há mais de três décadas, a formação de relações e de percepções do mundo que o CV tem é muito mais próxima às dimensões das camadas populares do que as de outras facções.

"O Comando Vermelho aprendeu a dialogar com as camadas mais pobres e se apoia nelas em sua reação contra o sistema. Essa reatividade nasce da miséria e de um discurso que se opõe às estruturas de poder, ao Estado e à lógica capitalista. Assim, o grupo consolidou uma postura mais contestatória e combativa diante das forças de segurança e da ordem social dominante", diz.

Segundo Alves, apesar desse posicionamento, CV é permitido pela estrutura de segurança pelo montante movimentado – que chega nas mãos de atores do Estado. "O Comando só existe e só é permitido pela estrutura de segurança pública a partir disso", afirma.

Vácuo

A megaoperação buscou prender Edgar Alves Andrade, conhecido como Doca, líder do CV, e atingir esse crescimento da facção. Além da não prisão da liderança, o efeito colateral pode ser o aumento de conflitos armados por poder pelo Rio de Janeiro.

"Eu acho que a curto prazo, ninguém irá tentar entrar [no Complexo do Alemão] pois ali é o coração do CV, mesmo com todas as perdas terríveis, com tantas mortes. Mas é possível que o CV tenha que deslocar pessoas de outros lugares para a região, abrindo espaço para que a milícia ou facções rivais tentem tomar outros locais", analisa Ignácio Cano.

De acordo com especialistas ouvidos pela DW, a falta de um diagnóstico profundo da situação de domínio territorial e do desenvolvimento de estratégias eficazes para o "day after" por parte do poder público faz com que a operação se mostre ineficaz para reduzir a influência do CV no local.

"Se a estratégia continuar sendo operar com essas operações, com essas ações militarizadas de incursão em favelas, apenas e somente, a gente vai ter pouca mudança no cenário de domínio do Comando Vermelho no Rio", afirma Pablo Nunes.

Além disso, na avaliação de Ignácio Cano, da UERJ, a operação pode ainda desencadear uma mudança de tática do CV e um aumento do financiamento a novas munições e treinamento de táticas para enfrentar o poder público. Por isso, o Estado precisa se fazer presente com um projeto multifatorial e de longo prazo.

"O Estado precisa tomar regiões menores, com contingentes menores, e permanecer para recuperar o controle territorial, com a filosofia das UPPs. A volta à tradição de invasão periódica, em uma escala maior, dessa estratégia de confronto é terrível", diz.

Para Antonio Martins, sem a presença constante do Estado, uma revisão na política de guerra às drogas e a possibilidade de benesse econômica aos moradores locais, não haverá a possibilidade de sucesso no controle dos territórios dominados pelo crime por parte das autoridades.

"O fracasso dessa política criminal conduz à corrupção das instituições estatais, tanto no sentido de as próprias polícias agirem à margem da lei, tornando as fronteiras entre legalidade e ilegalidade porosas, permeáveis", completa.

Short teaser Especialistas advertem que governo do Rio arrisca favorecer nova expansão de milícias e facções rivais.
Author Vinicius Pereira
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-a-ofensiva-contra-o-cv-pode-fortalecer-milícias-e-facções-rivais-no-rio/a-74600465?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 18
Id 74601187
Date 2025-11-03
Title Morre o músico Lô Borges, cofundador do Clube da Esquina
Short title Morre o músico Lô Borges, cofundador do Clube da Esquina
Teaser Compositor de "Trem Azul" e parceiro de Milton Nascimento morreu no domingo em decorrência de uma intoxicação por medicamentos, em Belo Horizonte. Ele tinha 73 anos.

O compositor Lô Borges, um dos principais nomes da MPB e coautor do icônico álbum Clube da Esquina (1972) com Milton Nascimento, morreu na noite de domingo (02/11). Ele estava internado desde o dia 17 de outubro em um hospital de Belo Horizonte devido a uma intoxicação medicamentosa. Borges tinha 73 anos.

No último dia 25, Borges, que estava sedado, havia sido submetido a uma traqueostomia. De acordo com o boletim médico divulgado nesta segunda-feira (3/11), Lô sofreu falência múltipla de órgãos às 20h50 de domingo.

A família do músico também se pronunciou, no perfil oficial do artista, na manhã desta segunda. "Ele lutou bravamente por 17 dias, mas agora foi descansar. Sua arte viverá para sempre", diz a publicação.

Nos últimos anos, Lô Borges estava seguindo uma movimentada agenda de shows e lançamentos. O último álbum do mineiro saiu em agosto deste ano – Céu de Giz, uma parceria com o maranhense Zeca Baleiro, cujo primeiro single leva o título Antes do Fim. Desde 2019, o artista vinha lançando um álbum de inéditas por ano.

O trabalho de mais sucesso, no entanto, foi o primeiro com o nome de Lô Borges na capa: Clube da Esquina, eleito o melhor álbum brasileiro de todos os tempos numa votação de 2022 com participação de 162 especialistas.

O disco surgiu após Lô, então aos 19 anos, receber um convite de Milton Nascimento, dez anos mais velho e já consolidado no cenário musical brasileiro, para produzir um trabalho conjunto. O sucesso de Clube da Esquina catapultou a carreira de Lô, com faixas como Trem Azul, canção que chegou a ser gravada posteriormente por Tom Jobim.

O título do álbum de Milton e Lô foi inspirado nos encontros que os artistas da capital mineira faziam em uma esquina do bairro de Santa Tereza e que acabou batizando também o movimento musical mineiro que misturava a música popular brasileira com o rock inglês, incluindo figuras importantes da cena local como Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta e o letrista Fernando Brant.

Classificando Lô como "uma das pessoas mais importantes da sua vida e obra", Milton Nascimento lamentou a morte do parceiro nas redes sociais.

"Foram décadas e décadas de uma amizade e cumplicidade lindas, que resultaram em um dos álbuns mais reconhecidos da música no mundo: o Clube da Esquina. Lô nos deixará um vazio e uma saudade enormes, e o Brasil perde um dos seus artistas mais geniais, inventivos e únicos", publicou o perfil oficial do artista, em um post com fotos e vídeos dos dois amigos juntos.

Lô Borges será velado nesta terça-feira (4/11), das 9h às 15h, no Palácio das Artes, no Centro de Belo Horizonte, em cerimônia aberta aos fãs e admiradores.

fcl (ots)

Short teaser Compositor de "Trem Azul" e parceiro de Milton Nascimento morreu no domingo. Ele tinha 73 anos.
Author Fábio Corrêa
Item URL https://www.dw.com/pt-br/morre-o-músico-lô-borges-cofundador-do-clube-da-esquina/a-74601187?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 19
Id 74507796
Date 2025-11-02
Title O que sociedades matriarcais nos ensinam em tempos de crise
Short title "No princípio, as mães": lições de sociedades matriarcais
Teaser

Comunidade indígena Uro, localizada no território peruano e às margens do Lago Titicaca, é exemplo de sociedade matriarcal

Modelos sociais centrados no cuidado, no consenso e na equidade de gênero desafiam a lógica dominante – e não são utopia, mas realidade em partes do mundo.Um sistema em que as decisões são tomadas por consenso e a opinião de todos têm o mesmo peso, independente de gênero, e em que jovens, adultos e anciãos decidem em conjunto, respeitando o saber de cada etapa da vida. A sociedade é matrilinear – ou seja, centrada nas mães e sua importância como nutridoras na comunidade. O sistema político é igualitário, e não baseado na centralização de poder. A economia é assentada em partilha justa, e não em acumulação. A espiritualidade é vivida em conexão aos ciclos da natureza e as pessoas percebem divindades como imanentes, não como uma força externa masculina e onipotente. Parece utópico? É a descrição de uma sociedade matriarcal, sistemas que existiram há milhares de anos e ainda são preservados por algumas comunidades tradicionais ao redor do mundo – inclusive na América do Sul e no Brasil. Movimentos e pesquisas resgatam essas formas de vida e de organização social, que podem oferecer esperança em um mundo que enfrenta múltiplas crises. Pioneira de estudos modernos de matriarcado é alemã A pioneira nos estudos de matriarcado é a alemã Heide Göttner-Abendroth, uma pesquisadora de 84 anos com cabelos grisalhos e fala calma que vive nos arredores de Munique, no sul da Alemanha. Ela começou a se interessar pelo tema aos 21 anos, enquanto ainda era estudante de filosofia. A curiosidade latente e a escassez de pesquisas sobre matriarcado a levaram a iniciar os estudos modernos sobre o tema, que conduz desde 1986 na Academia Hagia, fundada por ela ao se dar conta da reprodução da lógica patriarcal em espaços universitários e do interesse crescente pela área à qual passou a dedicar a vida. Ela enfatiza que, para entender o conceito de matriarcado, é necessário compreender a etimologia da palavra, que provém do grego e significa "no princípio, as mães", enquanto patriarcado significa "o domínio dos pais" ou "o domínio dos homens”. Para ela, isso já entrega que o matriarcado não é simplesmente a oposição ao patriarcado, mas um modelo completamente distinto. Conforme Göttner-Abendroth, o patriarcado é baseado em três pilares: a crença de que o ser humano pode subjugar a natureza (antropocentrismo); a crença na superioridade masculina sobre a feminina (machismo); e a crença na necessidade de subjugar outras nações (imperialismo). Em sociedades matriarcais, as mulheres não necessariamente governam, porque as decisões são tomadas por consenso. Ali, existe o aspecto da equidade entre gênero e idade e a proposição de modelos igualitários e complexos, que vão além da linha matrilinear. "Elas são mais democráticas do que nossas democracias formais", explica. "Essas questões são tão fascinantes que elas são relevantes para o nosso mundo hoje." É possível implementar o matriarcado? "O modelo matriarcal não é uma utopia, ele é uma realidade, porque ele existe e existiu por muito tempo", afirma Göttner-Abendroth. Segundo ela, esses sistemas dão esperança às pessoas porque elas passam a ter "algo pelo qual lutar, não só algo contra o qual lutar": "um modelo no qual todas as pessoas são respeitadas e vivem bem". "Sociedades matriarcais eram fortes no passado porque as mulheres lideravam sua comunidade. Precisamos disso hoje novamente", defende a pesquisadora. "Vivemos em tempos tão estranhos, em que os direitos das mulheres são questionados, a extrema direita fica cada vez mais radical, há guerras por toda parte." Göttner-Abendroth diz que é preciso encontrar formas de implementar características de sociedades matriarcais hoje, mas que isso não pode ser feito simplesmente por imitação ou cópia. Na economia, isso poderia passar pela priorização da divisão coletiva de bens em vez da posse; na cultura, pelo reconhecimento da Terra como mãe de toda a vida e do fomento ao respeito pela natureza; na esfera política, pela busca de consenso coletivo nas tomadas de decisões. "Não precisamos nos deixar comandar, mas podemos, em nossas redes, comunidades, círculos de amigos, encontrar o consenso", exemplifica. Há comunidades que ainda vivem o matriarcado ao redor do mundo. Na África e na Ásia, as etnias moso, minankabau e kasi são as mais preservadas. Porém, Göttner-Abendroth afirma que achou mais desafiador encontrar etnias matriarcais bem preservadas na América do Sul e no Brasil, justamente por causa da colonização e da fragmentação de alguns povos. Ela mencionou os wayuu em La Guajira, localizado em partes da Venezuela e norte da Colômbia, os uros, que vivem no Lago Titicaca, ainda no território peruano, e os arawak, no Brasil, como exemplos de povos que ainda preservam padrões matriarcais, embora estejam ameaçados. Povos indígenas no Brasil resgatam tradições matriarcais pré-colonização Povos indígenas do Brasil buscam resgatar tradições matriarcais pré-colonização, que foram dissolvidas com a chegada do homem branco. A indígena mura Monica Lima é uma dessas ativistas. Ela é coordenadora de Medicina Ancestral Matrilinear do movimento Matriarcado Ancestral, professora da Universidade Indígena Pluriétnica Aldeia Maraka'nã (UIPAM) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Fundado na pandemia, o Matriarcado Ancestral tem o objetivo de resgatar tradições que, segundo Lima, foram apagadas. A sede do coletivo é na Aldeia Portal da Floresta, na Ilha Grande (RJ), e o grupo trabalha com plantas medicinais, espiritualidade, formação e atividades pedagógicas. "Na essência, somos um coletivo de mulheres que acolhem mulheres e seus filhos que estejam em uma situação de violência de algum tipo", resume Lima. Ali, eles fazem o que Lima nomeia de "retomada indígena": o processo de reconhecer a própria ancestralidade – trabalho que já lhes rendeu ataques e ameaças, afirma a indígena. "Viver o matriarcado não quer dizer que a mulher vai dominar o homem. É a justiça, a equidade entre as forças masculinas e femininas. Nesse matriarcado, as mulheres geriam a terra, cuidavam da terra, plantavam, como até os dias de hoje nós cuidamos da alimentação das pessoas, mas não gerimos mais a terra, porque a terra e a terra-corpo já foram tomadas pelo capitalismo neoliberal", explica. Lima afirma que, no matriarcado indígena, o cuidado com a prole é coletivo. "É diferente da sociedade do branco e do colonizador, em que as mulheres e os idosos são isolados. No momento em que a mulher mais precisa de apoio e de rede, que é quando ela tem um filho, é quando ela mais se isola", critica. Também há o respeito por pessoas de todas as idades e decisões tomadas por consenso. "O idoso tem que ser honrado, eles são nossas bibliotecas. Nós honramos essa ancestralidade e temos o diferencial de resolver de igual para igual, com muito papo e coletividade, tentando sempre o acordo", pontua. Ela também lembra que a figura do cacique nas aldeias é o de mediador de conflitos, papel que ficou centralizado como "chefe de aldeia" com a chegada da colonização. "Esse retorno do matriarcado é a negação de tudo o que a gente vive hoje. Se a gente viver o matriarcado, a gente cura todas as crises existentes, porque se para de desmatar e as mulheres vão voltar a ocupar o lugar que é ocupado pelo capitalismo. Não é à toa que a sede do Matriarcado Ancestral é atacada", afirma a indígena. O poder da mulher em sociedades pré-incas Entender a história é também um exercício de reinterpretação. Por isso, há pesquisadoras que questionam o que chamam de "olhar patriarcal dominante" sobre o passado. É o caso da historiadora peruana Maritza Villavicencio, que estuda o poder da mulher em sociedades pré-incas. Ela é autora do livro Poder feminino: 5000 anos de história no Peru, que trata do protagonismo de mulheres no Peru pré-hispânico. Descobertas arqueológicas recentes interpretadas por ela apontam que, ao contrário do que se disseminava até então, as mulheres tinham poder político, geriam bens e governavam sociedades em povos que ocuparam o território que hoje é o Peru. No entanto, Villavicencio lembra que não se pode afirmar que essas sociedades eram matriarcais, mas que o poder era matrilinear. No início de seu trabalho, ela enfrentou resistência de pesquisadores homens, que a criticavam por entrar no ramo arqueológico sendo historiadora. Além disso, ela conta que não se sentia representada pelo olhar do Norte Global nas pesquisas. "E quem disse que se o meu país tem mais de 14 mil anos de história eu tenho que estudar somente os últimos 500?", questiona Villavicencio. A historiadora afirma que havia mulheres de muito poder no Peru pré-inca, como a Senhora de Cao, que governava uma sociedade mochica e foi descoberta em 2008, e a Senhora de Chornancap, que foi encontrada enterrada ao lado de outras oito mulheres na região de Lambayeque, no norte do Peru. Villavicencio questionou as pesquisas que as apontavam apenas como "sacerdotisas" e afirma que elas governavam, gozando de prestígio e status social. "Se a linhagem matrilinear tinha esse peso, é porque a vida tinha outro peso", diz. Ela reforça que tudo o que hoje é colocado como "cuidado" feminino eram atividades reconhecidas e valorizadas nessas sociedades. "Os espaços de poder para as mulheres eram a maternidade, a alimentação, a taumaturgia [magia], a produção têxtil e a mineração", explica. Os símbolos de poder femininos também podem ser observados, segundo ela, na cerâmica e na arquitetura. "A história pode servir para isso: para tomar modelos e identificar onde houve espaços de poder das mulheres", reflete. Nessas sociedades, Villavicencio pontua que "a guerra não era mais importante do que dar à vida, a arte de matar não era superior a dar à luz". "Isso não significa que não havia conquistas ou anexação [de territórios], mas eram de outra maneira." "O que temos que fazer é alterar o olhar. A vida e a força de trabalho eram as mulheres", finaliza.


Short teaser Sociedades centradas no cuidado, no consenso e na equidade de gênero desafiam a lógica dominante – e não são utopia.
Author Cândida Schaedler
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Image caption Comunidade indígena Uro, localizada no território peruano e às margens do Lago Titicaca, é exemplo de sociedade matriarcal
Image source picture-alliance/robertharding/L. Grier
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Item 20
Id 74542908
Date 2025-11-01
Title China mira domínio dos EUA na inteligência artificial
Short title China mira domínio dos EUA na inteligência artificial
Teaser

Chinês Deepseek consegue competir de frente com americanos ChatGPT e Grok

China pretende liderar setor de inteligência artificial até 2030, e seus modelos já se equiparam aos dos EUA. Especialistas dizem que essa corrida não é só tecnológica.A inteligência artificial (IA) é a nova moeda de troca do poder global, e a China a está acumulando em larga escala. Em 2017, Pequim declarou a ambição de se tornar a principal potência mundial em IA até 2030 e iniciou investimentos bilionários em inovação tecnológica. Só em 2025, se somados os setores público e o privado, a China deverá investir quase 100 bilhões de dólares em IA. Os primeiros resultados já apareceram. A China surpreendeu a comunidade tecnológica global com a DeepSeek, uma startup cujo modelo de linguagem de grande escala (LLM) rivaliza com as principais empresas ocidentais, como ChatGPT e Grok. A DeepSeek tem um desempenho comparável por um custo bem menor. A Alibaba, por sua vez, lançou um modelo de IA poderoso e anunciou planos para construir mais data centers ao redor do mundo, numa demonstração de que as maiores empresas de tecnologia da China levam a sério a disputa com os EUA pelo domínio na IA. Já a Tencent intensificou ainda mais essa disputa com o lançamento do Hunyuan-A13B, um modelo de IA de código aberto projetado para ser melhor e mais rápido do que a concorrência, incluindo a da própria China. Tudo isso mostra como os principais atores do ecossistema de IA da China – startups, gigantes da tecnologia e o Estado – estão se mobilizando para diminuir a distância em relação ao Ocidente. O CEO da fabricante de chips Nvidia, Jenson Huang, alertou contra a complacência, afirmando que os EUA "não estão muito à frente" da China na corrida da IA. Huang também observou, em entrevista à emissora CNBC, que a sociedade chinesa é "muito rápida na adoção de novas tecnologias". Como a China está diminuindo a distância A enorme população da China, com mais de 1 bilhão de pessoas online, serve como uma espécie de base para testes integrados, o que faz com que novos produtos de IA se disseminem rapidamente entre consumidores, serviços e indústrias. Como os modelos chineses também são projetados para rodar em hardware menos sofisticado, eles são muito mais baratos para serem implementados. "A China está se movendo na mesma velocidade que os EUA", avalia o professor de ciência da computação Pedro Domingos, da Universidade de Washington. "Eles se recuperaram ao longo dos anos e agora estão na fronteira, tentando passar à frente." Domingos acrescenta que havia um "equívoco" de que os EUA estavam muito à frente em modelos de linguagem de grande escala (LLM), os modelos de IA que entendem e podem gerar linguagem semelhante à humana. Ele diz que esforços da China, como o grupo de aprendizado profundo da Baidu em 2010, estavam à frente de muitas empresas americanas. Ao tornar modelos de IA poderosos como DeepSeek, Qwen-3 e Kimi K2 de código aberto, as empresas chinesas estão dando aos desenvolvedores acesso gratuito a ferramentas de ponta. As rivais ocidentais costumam manter seus códigos-fontes fechados. "As empresas americanas costumavam tornar seus modelos de IA abertos, o que impulsionava o progresso”, observa Domingos. "Agora, elas estão sendo sigilosas por questões de concorrência, o que é lamentável para a inovação.” Analistas chineses chamaram a atenção para a intensa competição entre as empresas de IA do país. Em julho, elas haviam lançado mais de 1.500 modelos de LLM, informou a mídia estatal chinesa. Isso representa 40% dos 3.755 modelos lançados globalmente até meados do ano. A questão agora é quantas dessas startups algum dia darão lucro e se esse elevado número pode acabar prejudicando as ambições da China no setor de IA? O regime em Pequim se deu conta do problema e instou o setor de tecnologia a evitar a concorrência "desordenada”. A China detém 14 dos 20 principais modelos de IA do mundo se classificados por áreas como raciocínio, conhecimento geral, matemática e habilidades de codificação, de acordo com a classificação da OpenCompass, uma plataforma de avaliação de modelos de IA. As empresas dos EUA ocupam as primeiras posições, mas o que chama a atenção nas chinesas é que nove delas são de código aberto, o que não é o caso de nenhuma das americanas. Sanções fazem pesquisa avançar Apesar do rápido progresso em IA, a China ainda está atrás em chips avançados, necessários para treinar rapidamente os modelos LLM. As limitações de exportação impostas pelos EUA bloquearam o acesso da China a semicondutores de ponta e dificultaram a fabricação de chips, forçando as empresas chinesas a depender de hardware mais antigo e menos eficiente. Em resposta, a China proibiu importações de fornecedores importantes dos EUA, como a Micron, e redobrou os esforços para construir sua própria indústria de chips. Num sinal de quão grandes são esses investimentos, a Cambricon Technologies, rival chinesa da Nvidia, relatou na semana passada um aumento de 14 vezes na receita trimestral e de 44 vezes no primeiro semestre do ano. A empresa se beneficiou das sanções tecnológicas dos EUA, que obrigaram as startups de IA chinesas a buscar alternativas locais. A pressão para inovar em meio a essas restrições está levando a China a encontrar soluções mais inteligentes e eficientes e fazendo com que metas de longo prazo, como maior independência, sejam alcançadas mais cedo – esse é um resultado bem distante daquilo que Washington pretendia. "As restrições dos EUA à exportação de chips para a China são contraproducentes. Elas incentivam empresas como a DeepSeek a otimizar hardware mais antigo e fazem a pesquisa avançar", comenta Domingos, referindo-se à maneira como a empresa chinesa construiu modelos de IA poderosos usando chips menos avançados. China ganha terreno em impacto da IA Os EUA ainda lideram a pesquisa em IA, descobrindo como construir sistemas que entendam melhor a linguagem humana, seguir instruções de forma mais confiável e evitar comportamentos prejudiciais. Empresas de tecnologia americanas também estão pesquisando IA avançada para imagens, vídeos e até mesmo para tomar decisões por conta própria. Porém, a China ganha terreno no impacto e no alcance internacional dessa tecnologia ao exportar infraestrutura de IA e modelos de código aberto para países em desenvolvimento, ávidos por infraestrutura digital. Empresas como Alibaba e Huawei estão construindo data centers e plataformas de nuvem na Ásia, na África e na Europa, oferecendo alternativas mais baratas do que as das concorrentes americanas. Pequim também está impulsionando internacionalmente suas estruturas de governança de IA, com o objetivo de moldar os padrões globais aos seus interesses. Ao promover modelos treinados com dados e valores sociais chineses, o governo quer influenciar a forma como os sistemas de IA interpretam a história e a cultura – ou seja, pela visão de um regime autoritário onde a liberdade de expressão é rigidamente controlada. "Quem controla os modelos de linguagem de grande escala controla o passado e o futuro. Os modelos de linguagem de grande escala moldam a realidade, e a China quer modelos que reflitam a sua visão." O diretor do Instituto de Direito e Inovação em IA da Universidade da Califórnia em São Francisco, Robin Feldman, vai além e descreve a corrida da IA como uma nova forma de Guerra Fria. "Essa guerra será vencida pelo país que conseguir desenvolver e manter a liderança em inteligência artificial."


Short teaser China pretende liderar setor de inteligência artificial até 2030, e seus modelos já se equiparam aos dos EUA.
Author Nik Martin
Item URL https://www.dw.com/pt-br/china-mira-domínio-dos-eua-na-inteligência-artificial/a-74542908?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/72575792_354.jpg
Image caption Chinês Deepseek consegue competir de frente com americanos ChatGPT e Grok
Image source David Talukdar/ZUMA Press Wire/picture alliance
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Item 21
Id 74561177
Date 2025-11-01
Title Do E.T. à IA: como alienígenas povoam o imaginário popular
Short title Do E.T. à IA: como alienígenas povoam o imaginário popular
Teaser

Cena da série americana "Resident Alien": representação dos extraterrestres diz muito sobre nós mesmos

Iconografia alienígena evoluiu ao longo das décadas. Ideia de extraterrestres reflete a forma como definimos o medo, o fascínio e os "outros" entre nós.O que lhe vem à mente ao ouvir a palavra "alienígena"? Homenzinhos verdes com antenas e trajes prateados? Seres de pele cinza e olhos esféricos? Óvnis brilhantes pairando no céu? Chupa-cabra ou ET de Varginha? Para Christian Peters, cientista social e político, a evolução da iconografia alienígena na cultura pop reflete uma combinação de relatos de testemunhas oculares, discurso cultural e cobertura da mídia. Peters, diretor da Escola Internacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade de Bremen, na Alemanha, explica como os homenzinhos verdes e os alienígenas de traje prateado da década de 1950 foram sucedidos pelos extraterrestres cinzentos que também figuram no universo dos emojis atuais. Ele citou o exemplo do livro Communion (1987), o best-seller em que o autor de terror americano Whitley Strieber relata seus supostos encontros com alienígenas. O livro foi posteriormente adaptado para o cinema em 1989, originando o filme Estranhos Visitantes, com Christopher Walken no papel principal. "A capa do livro apresentava o agora icônico rosto cinza – o tipo de rosto visto por pessoas que afirmam ter tido experiências de abdução ou primeiros contatos [com alienígenas]", ressaltou Peters. A mídia também ajudou a consolidar imagens recorrentes de alienígenas. Em 1947, o piloto americano Kenneth Arnold descreveu nove objetos brilhantes cruzando o céu perto do Monte Rainier, no estado de Washington, EUA, dizendo que se moviam "como pires deslizando sobre a água". Os jornais descreveram as naves como tendo formato de pires, o que deu origem ao termo "disco voador". A imagem moldou décadas de iconografia dos óvnis. De invasores a empáticos A falta de provas definitivas da existência de forças vitais extraterrestres deu aos cineastas liberdade criativa na representação de alienígenas e a capacidade de usá-los como uma representação simplificada das ansiedades sociais. Na década de 1950, a paranoia da Guerra Fria impregnou filmes como Vampiros de Almas (1956), onde os alienígenas eram amplamente interpretados como infiltrados comunistas. No final da década de 1970 e na década de 1980, o foco se voltou para a exploração corporativa e o medo ecológico. No filme de ficção científica Alien, de Ridley Scott (1979), uma empresa movida pelo lucro planeja produzir armas usando a composição biológica de um alienígena assassino que ataca os funcionários humanos da empresa. Já E.T. O Extraterrestre (1982), de Steven Spielberg, apresentou o alienígena como um forasteiro gentil em busca de conexão. Enquanto isso, na década de 1990, a série de televisão de enorme sucesso Arquivo X sugeriu uma conspiração na qual um grupo de elites humanas e uma raça de extraterrestres buscavam colonizar e escravizar a humanidade. Após o 11 de setembro, o remake Guerra dos Mundos (2005), baseado em obra de H.G. Wells, reimaginou a invasão alienígena como uma catástrofe repentina que causa trauma e deslocamento. Filmes mais recentes como A Chegada (2016) e Não! Não Olhe! (2022) foram mais introspectivos, explorando o luto, a linguagem e nossa obsessão pelo espetáculo. Embora muitos filmes de ficção científica com alienígenas tenham sido centrados nos EUA, Distrito 9 (2009), produzido por Peter Jackson, retratou alienígenas como refugiados discriminados em favelas segregadas da África do Sul. Enquanto isso, o filme indiano Você Não Está Sozinho (2003) explorou a exclusão social e a aceitação, através da amizade entre um alienígena e um humano neurodivergente. Iguais, mas diferentes? Curiosamente, na maioria das representações ou filmes, muitos desses extraterrestres andam eretos, têm olhos e membros e demonstram emoções suficientes para que os humanos os compreendam. Essa tendência antropocêntrica de ver e interpretar através de uma lente humana ficou evidente no grotesco ser alienígena de Alien, uma criatura inspirada na pintura surrealista de H.R. Giger, Necronom IV. "Ele é bípede, tem olhos, boca e orelhas", disse Christian Peters. "Não se diria que é humano, mas é uma espécie de interpretação demoníaca da natureza terrestre – o pior predador que poderíamos conceber." A palavra "alienígena" é anterior à ficção científica. Vinda do latim "alienus", significa "pertencente a outro", "estrangeiro" ou "estranho". Em inglês, o termo pode ser usado também para descrever alguém que não é cidadão ou nacional. Em muitos países, a palavra evoca exclusão, suspeita e alteridade, especialmente no contexto dos debates atuais sobre migração e integração. IA: alienígena criado por nós? Por fim, a inteligência artificial (IA) – não humana, não biológica e frequentemente descrita como uma espécie de mente alienígena – está remodelando a vida como a conhecemos. Como disse o professor de Harvard, Chris Dede, em uma entrevista de 2023 para a publicação TechTrends sobre chatbots de IA como o ChatGPT: "A IA não é uma forma fraca de inteligência humana. É uma inteligência alienígena." Concordando que "a IA é muito alienígena", Peters acrescentou: "A maneira como a tecnologia que inventamos chega ao resultado final que produz é uma situação historicamente nova que nunca existiu antes." À medida que os sistemas de IA se tornam mais complexos e difíceis de interpretar, eles evocam um certo desconforto – algo semelhante à perspectiva de extraterrestres, migrantes ou outros seres percebidos como forasteiros. Talvez esse desconforto não provenha do que esses "outros" são, mas sim de quão pouco realmente entendemos sobre eles.


Short teaser Ideia de extraterrestres reflete a forma como definimos o medo, o fascínio e os "outros" entre nós.
Author Brenda Haas
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Image caption Cena da série americana "Resident Alien": representação dos extraterrestres diz muito sobre nós mesmos
Image source James Dittinger/Syfy/Everett Collection/picture alliance
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Item 22
Id 74577261
Date 2025-10-31
Title Egito prepara abertura de museu monumental, sua nova vitrine cultural
Short title Egito prepara abertura de novo museu monumental
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Após anos de atrasos, Grande Museu Egípcio será aberto para o público geral

Nova vitrine cultural do país, maior museu do mundo dedicado a uma única civilização levou décadas para ser concluído e abrirá completamente em novembro. Local concentra peças inéditas de Tutancâmon e outras dinastias.Nos arredores do Cairo, ao lado das famosas Pirâmides de Gizé, ergue-se do deserto uma fachada monumental de vidro e arenito claro. Atrás dessa estrutura de aproximadamente 800 metros de comprimento, foi criada uma verdadeira homenagem à história. O projeto cultural recente mais ambicioso do Egito, o Grande Museu Egípcio (GEM), foi concluído e agora celebra sua inauguração completa – após anos de atraso. Projetado pelo escritório irlandês Heneghan Peng Architects, o imponente edifício ocupa cerca de 500 mil metros quadrados – o equivalente a cerca de 70 campos de futebol. Ele tem espaço suficiente para mais de 100 mil artefatos que representam sete milênios de história egípcia, incluindo antiguidades faraônicas, gregas e romanas. Isso o torna o maior museu do mundo dedicado a uma única civilização. O grande destaque da exposição permanente é a coleção completa do faraó Tutancâmon, que inclui mais de 5 mil artefatos recuperados de sua tumba que serão expostos pela primeira vez, além de sua lendária máscara funerária de ouro. Outro item da coleção é o barco funerário de 42 metros de comprimento e mais de 4 mil anos do faraó Quéops, também conhecido como barco de Khufu, a maior e mais antiga embarcação de madeira encontrada no Egito. As galerias principais contam com diversas seções temáticas relacionadas à realeza, sociedade e religião. Os elementos centrais do museu são uma imponente escadaria que se estende por todos os andares e um átrio com uma estátua de 11 metros de altura do faraó Ramsés 2º sentado em seu trono. Um projeto monumental, décadas em construção Planejado desde os anos 1990 e com construção iniciada em 2004, o projeto sofreu vários adiamentos. Os motivos incluíram a pandemia da covid-19 e as tensões políticas no Oriente Médio. Desde outubro de 2024, o museu está em fase de abertura gradual, permitindo a visitação de áreas selecionadas e reservas de tours especiais. Agora, a inauguração de todo o complexo se aproxima, e o primeiro-ministro do Egito, Mostafa Madbouly, espera que diversos chefes de Estado participem da cerimônia de abertura no dia 1º de novembro. Será "uma noite inesquecível”, prometeu o ministro do Turismo e Antiguidades, Sherif Fathy, à revista The National, de Abu Dhabi. A lista de celebridades internacionais da política, cultura e entretenimento é extensa. O presidente alemão Frank-Walter Steinmeier e a ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes, já confirmaram presença. A abertura contará com uma procissão à luz de tochas, durante a qual os famosos achados do túmulo de Tutancâmon serão transportados do antigo museu na Praça Tahrir, no Cairo, para o novo ambiente. O mundo dos faraós em um só lugar O que torna a exposição especial é que ela rompe com antigas formas de apresentação. O novo conceito busca proporcionar aos visitantes a compreensão de um panorama mais amplo, e não apenas de objetos individuais. Poder, cotidiano e crenças são narrados ao longo das diversas dinastias. "No passado, artefatos do Antigo, do Médio e do Novo Império eram exibidos separadamente”, explicou o arqueólogo Magdi Shakir ao jornal turco Daily Sabah. "Agora, cada tema é apresentado em uma narrativa panorâmica. Cada objeto no Grande Museu Egípcio segue uma história curatorial única, oferecendo uma nova perspectiva até mesmo sobre peças familiares. Tornando a experiência inédita.” Cultura e identidade no século 21 Mostafa Madbouly defende que o museu fortalecerá a posição do Egito como destino cultural mundial. Sua proximidade com as famosas Pirâmides de Gizé (cerca de 4 km) é uma vantagem, ja que turistas do mundo inteiro que visitam as pirâmides dificilmente deixarão de conhecer o museu. Em entrevista à rádio egípcia Nile FM, o egiptólogo Mustafa Al-Waziri descreveu o GEM como "um ícone, celebrando a rica herança do Egito e reforçando seu status como um dos principais destinos culturais e turísticos”. Além de criar novas oportunidades para o turismo – estima-se que receberá de cinco a oito milhões de visitantes por ano – o GEM também impulsionará a ciência. Ele abriga uma das instalações de restauração mais modernas do mundo e um centro de pesquisa com laboratórios especializados em múmias, madeira, metal e pedra. Diante da crise climática, o design do edifício seguiu exigentes normas ecológicas: conta com resfriamento passivo, iluminação otimizada e reciclagem. O complexo deve consumir até 60% menos energia e 34% menos água do que construções convencionais de tamanho equivalente. Possui usina de energia solar própria, telhado refletivo e proteção solar externa. A orientação do edifício aproveita o vento para resfriamento natural. Vozes críticas No entanto, o projeto não está livre de controvérsias. O jornal britânico Financial Times cita custos de construção superiores a 1 bilhão de dólares (R$ 5,3 bilhões), financiados em parte por empréstimos japoneses, fundos governamentais e receitas de exposições itinerantes no exterior. Críticos reclamam da longa duração da obra e questionam se tal quantia está sendo bem empregada em um país que enfrenta sérios desafios sociais e econômicos. O GEM também é criticado por centralizar o turismo e eventualmente prejudicar outras regiões do Egito. Há também a questão da influência política, já que o próprio presidente egípcio Abdel Fatah Al-Sisi preside o conselho de curadores, responsável pela direção estratégica e pelas operações do museu. Ainda assim, para muitos egípcios, o GEM é um marco da identidade nacional. O museu já é considerado o novo símbolo cultural do país, que une tesouros antigos e alta tecnologia. Para assistir à inauguração ao vivo, o evento será transmitido no TikTok oficial do Grande Museu Egípcio no dia 1º de novembro às 18h (13h no horário de Brasília).


Short teaser Com 100 mil artefatos, museu que levou décadas para ser concluído abrirá completamente em novembro.
Author Silke Wünsch
Item URL https://www.dw.com/pt-br/egito-prepara-abertura-de-museu-monumental-sua-nova-vitrine-cultural/a-74577261?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Após anos de atrasos, Grande Museu Egípcio será aberto para o público geral
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Item 23
Id 74576927
Date 2025-10-31
Title O alemão que descobriu por acaso ser neto do arquiteto do Holocausto
Short title O alemão que descobriu ser neto do arquiteto do Holocausto
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Himmler com Hitler, durante uma manobra militar

Coach de relacionamentos e pastor diz ter descoberto ao ler artigo na Wikipédia que sua avó havia se relacionado e tido dois filhos com Heinrich Himmler, líder da SS e braço direito de Hitler na execução do HolocaustoO alemão Henrik Lenkeit diz que levou um susto ao ver na internet uma foto de sua avó em uma página sobre o líder nazista Heinrich Himmler. Aquela velhinha, que agradava o neto com chocolate quando ele a visitava na cidade de Baden-Baden, fora secretária pessoal e amante do segundo homem mais poderoso do Terceiro Reich depois de Adolf Hitler, e um dos principais arquitetos do Holocausto. Era uma tarde de agosto de 2024 quando o alemão Henrik Lenkeit, um coach de relacionamentos e pastor evangélico, resolveu assistir no seu computador um documentário sobre Heinrich Himmler, o segundo homem mais poderoso do Terceiro Reich depois de Adolf Hitler, e um dos principais arquitetos do Holocausto. Depois de ver o documentário, ele relatou que resolveu saber mais sobre o tema no verbete de Himmler na enciclopédia online Wikipédia. Foi quando se deparou no artigo com um retrato de uma jovem Hedwig Potthast, que fora secretária pessoal e amante de Himmler, e com quem teve dois filhos. Ela tinha as mesmas feições e o nome de sua avó. Além disso, os dois filhos que Hedwig teve com Himmler se chamavam assim como seu tio de lado materno, Helge, e sua mãe, Nanette Dorothea. Nesse momento, não restava mais dúvidas. "Totalmente chocado" "Eu fiquei totalmente chocado", conta Lenkeit à revista alemã Der Spiegel. Em julho passado, ele procurou a publicação por e-mail para contar sobre sua história, cuja veracidade o periódico afirma ter confirmado através de documentos, fotografias e consultas com historiadores. Mas a publicação admite ser difícil comprovar se o coach de relacionamento só ficou mesmo sabendo do parentesco com Himmler havia cerca de um ano, como afirma, já que os outros descendentes do líder nazista não querem falar sobre o caso e recusaram as tentativas contato feitas pela revista. Os pais e o tio de Lenkeit já morreram. O historiador militar Jens Westemeier, que estudou extensivamente a história dos membros da SS – organização paramilitar nazista chefiada por Himmler –, considera plausível que Lenkeit não soubesse mesmo de nada. "Esse é um comportamento típico em famílias assim", afirma à Der Spiegel. Lenkeit, que mora desde 2018 no sul da Espanha com sua mulher, mexicana, e três filhos, lembra que, diante do computador, precisou de alguns momentos para se recobrar do choque. E apesar das evidências, não conseguia acreditar no que tinha visto na internet. Diz que foi até a esposa e perguntou: "Então eu sou mesmo o filho desse cara?". Ao que ela respondeu: "Bom, parece que sim". Ele conta que por um tempo tentou se convencer de que aquilo não era verdade, tinha esperança de que se tratava de um erro. Até que contatou a cientista política Katrin Himmler, sobrinha-neta de Heinrich Himmler, que havia pesquisado a história da família. Ela ajudou Lenkeit a conseguir a certidão de nascimento de sua mãe. O documento registra o então ministro de Hitler como pai. "De repente, era descendente de um monstro" "Minha avó se casou com um homem depois da guerra, adotou o sobrenome dele, e por 47 anos eu o considerei meu avô biológico. Agora eu levava um soco no estômago: meu verdadeiro avô era Heinrich Himmler", desabafou Henrik Lenkeit em entrevista ao jornal austríaco Tagesanzeiger. "De repente, me deparei com o fato de ser descendente de um homem que carregava na consciência a morte de milhões. Um monstro. Além disso, meus pais, que já haviam falecido, mentiram para mim sobre as origens da nossa família durante toda a vida. Meu pai sempre me dizia: 'Você precisa ser íntegro, direto, honesto'", recorda-se Lenkeit. "Eu cresci cercado por mentiras." Ele contou ao periódico que resolveu vir a público um ano depois porque "o processo de aceitação" levou tempo. E porque, nesse ínterim ele escreveu um livro para o qual busca uma editora. "Aceitar o fato de que Heinrich Himmler era meu avô é comparável a um processo de luto. Choque, não querer aceitar como verdade, depressão. Minha fé cristã me ajudou a superar isso", diz o pastor evangélico." À medida que escrevia, capítulo por capítulo, me tornava cada vez mais consciente do erro que havia sido reprimir tudo isso", ressalta. Lenkeit diz que deseja voltar à Alemanha para falar sobre sua história e a de sua família, dar palestras, falar em comunidades religiosas e escolas, além de organizar conferências. Ele afirmou ao semanário Der Spiegel querer fazer de sua própria história uma missão de vida, para ajudar os alemães a aceitar o legado nazista em suas famílias e conseguir repelir as forças de extrema direita no país. "A ideologia nazista nunca foi erradicada. Isso me incomoda profundamente", afirma. Para ele, essa é uma das razões pelas quais o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) se tornou o segundo maior partido do parlamento alemão.


Short teaser Coach e pastor evangélico diz que ficou chocado após saber pelo Wikipedia que seu avô era Heinrich Himmler.
Author Marcio Damasceno
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Image caption Himmler com Hitler, durante uma manobra militar
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Item 24
Id 74566239
Date 2025-10-31
Title Esfaqueador de Aschaffenburg irá para hospital psiquiátrico
Short title Esfaqueador de Aschaffenburg irá para hospital psiquiátrico
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Agressor também feriu uma menina síria de dois anos, uma professora e homem de 72 anos que tentou proteger as crianças

Juiz reconhece que afegão que matou criança de 2 anos e homem que tentou detê-lo sofre de graves transtornos mentais. Caso acirrou debate sobre imigração na Alemanha pouco antes das eleições no país.Um tribunal alemão determinou nesta quinta-feira (30/10) que um migrante afegão que atacou um grupo de crianças de um jardim de infância em Aschaffenburg, no sul da Alemanha, seja internado em um hospital psiquiátrico. O homem de 28 anos, identificado como Enamullah O., matou um menino de dois anos e um homem de 41 anos que tentou impedir o ataque ocorrido em um parque da cidade em janeiro deste ano. O agressor também feriu uma menina síria de dois anos, uma das professoras e um homem de 72 anos que tentou proteger as crianças. Os promotores acusaram o suspeito de homicídio, tentativa de homicídio, homicídio culposo, tentativa de homicídio culposo e de diversos crimes de lesão corporal. O réu confessou os atos através de seu advogado, mas o juiz Karsten Krebs, do Tribunal Regional de Aschaffenburg, declarou que ele não poderia ser responsabilizado pelo ataque devido a uma doença psiquiátrica. Krebs afirmou que "não há motivo ou explicação psicológica normal" para o ataque, acrescentando que Enamullah O. agiu durante uma "fase psicótica aguda de esquizofrenia". Ele poderá permanecer internado em um hospital psiquiátrico pelo resto de sua vida, embora avaliações regulares deverão determinar se ele continua ou não representando uma ameaça. O réu permaneceu contido durante o julgamento, olhando fixamente para a mesa à sua frente. No início do processo, seu advogado descreveu o ataque como um "ato de um homem louco". Ataque acirrou debate sobre imigração Em 22 de janeiro, cinco crianças de uma turma de um jardim de infância estavam em um parque público, acompanhadas por duas professoras, quando o agressor as atacou com uma faca de cozinha. O incidente, que ocorreu apenas um mês antes das eleições gerais na Alemanha, foi mais um em uma série de ataques violentos que aumentaram as preocupações com a imigração e impulsionaram o apoio ao partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que chegou em segundo lugar no pleito e atualmente lidera algumas pesquisas de opinião. À época, o então candidato do partido conservador de centro direita União Democrata Cristã (CDU), Friedrich Merz, reagiu ao atentado exigindo uma revisão das regras de asilo e a imposição de controles rígidos nas fronteiras do país. Mais tarde, a CDU venceria as eleições e Merz se tornaria o chanceler federal da Alemanha. Nesta quinta-feira, porém, o juiz Krebs foi enfático ao afirmar que o intenso debate nacional em torno do ataque não teve qualquer influência na decisão do tribunal. "Discussões políticas não têm lugar em processos criminais", disse o magistrado, acrescentando que as consequências do ataque foram devastadoras para todos os afetados. rc/cn (Reuters, DPA, AFP)


Short teaser Juiz reconhece que afegão que matou criança de 2 anos e homem que tentou detê-lo sofre de graves transtornos mentais.
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Image caption Agressor também feriu uma menina síria de dois anos, uma professora e homem de 72 anos que tentou proteger as crianças
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Item 25
Id 74514819
Date 2025-10-31
Title Gatos pretos: entre superstição, bruxas e Halloween
Short title Gatos pretos: entre superstição, bruxas e Halloween
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Cercados por aura misteriosa, gatos negros simbolizam o sobrenatural em muitas culturas

Seja como companheiros de bruxas, arautos do azar ou símbolos da boa sorte, animais são fonte de fascinação há séculos. Qual a origem dessa reputação e por que eles têm um papel especial no Dia das Bruxas?Quando um gato preto atravessa repentinamente o caminho de alguém, muitos se encolhem instintivamente. Dizem que eles são arautos do azar – especialmente quando cruzam indo da esquerda para a direita. Com seu olhar penetrante, pelo brilhante e andar elegante e furtivo, o gato preto é cercado por uma aura misteriosa; em muitas culturas, é um símbolo do sobrenatural. O Halloween é celebrado em 31 de outubro, e em torno da data encontramos essas criaturas sombrias em muitos lugares: decorações, filmes, fantasias. Mas como os gatos pretos se tornaram ícones de histórias de assombração? De animal de bruxaria a símbolo do Halloween A reputação sinistra remonta à Idade Média. Eles eram um bode expiatório, uma vítima do medo do mal: durante a caça às bruxas, as pessoas acreditavam que os gatos pretos eram, na verdade, bruxas transformadas, capazes de se esgueirar sem serem detectadas durante a noite e trazer azar. Eles eram considerados criaturas do diabo e frequentemente eram queimados junto com supostas bruxas. Em algumas pinturas e desenhos antigos é comum ver gatos pretos ao lado de bruxas. Em alguns lugares da França, até o século 18, 13 gatos pretos eram jogados vivos em fogueiras no solstício de verão; em Ypres, na Bélgica, eles eram atirados de torres de igrejas, como descreve o jornalista francês Jean-Louis Hue em seu livro Le Chat Dans Tous Ses États (O gato em todos os seus estados, em tradução livre). Os primeiros emigrantes europeus levaram consigo suas superstições. Quando o Halloween se tornou popular como festa folclórica nos EUA, no século 19, o gato preto tornou-se parte integrante do festejo. Até hoje, ele aparece com uma corcova torta e olhos brilhantes e sombrios em cartões de Halloween, estatuetas de lápides e abóboras. Em outras culturas, ele traz sorte O gato preto não é considerado um mau presságio em todos os lugares. No Reino Unido e na Irlanda, diz-se que os gatos pretos trazem boa sorte quando cruzam o caminho ou entram em uma casa. Na Escócia, um gato preto na porta anuncia prosperidade. No Japão, o gato preto também simboliza sorte e prosperidade, e é considerado protetor contra doenças. Os gatos que acenam, os tradicionais amuletos da sorte japoneses (Maneki-neko), também vêm na cor preta: eles afastam demônios. Além disso, diz-se que uma mulher que possui um gato preto tem mais sorte com os homens. Gatos pretos também eram frequentemente bem-vistos em navios. Eram considerados um bom presságio, supostamente para afastar tempestades e garantir o retorno para casa. E, claro, caçavam camundongos e ratos. No Antigo Egito, a deusa Bastet era adorada como protetora de mulheres grávidas, mães e crianças, além de responsável pela alegria, música e dança. Ela foi inicialmente retratada como um ser humano com cabeça de gato e, mais tarde, cada vez mais, como um gato de corpo inteiro. Naturalmente, ela era negra. Mas por que os gatos pretos são negros? Uma lenda diz que Deus criou o gato preto antes do corvo. Foi assim que ele adquiriu a cor preta mais pura. A cor de sua pelagem, no entanto, não tem nada a ver com magia, mas sim com genética. O chamado gene B garante a produção do pigmento escuro eumelanina, que escurece a pelagem e, frequentemente, também o nariz e as patas. A maioria dos gatos pretos são machos. O motivo: o gene B está localizado no cromossomo X, do qual os gatos machos possuem apenas um. As gatas têm dois cromossomos X, e é mais raro que ambos sejam ocupados por um gene B. Curiosamente, a variante genética que causa a pelagem preta também parece conferir resistência a doenças – semelhante à forma como certos genes protegem contra o HIV em humanos. Isso é o que descobriram pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde, uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA. A cor escura também pode ser vital para a sobrevivência dos gatos, ajudando-os a ser camuflar à noite e protegendo-os durante a caça. Entre Poe e a cultura pop Os gatos pretos têm um lugar significativo na arte e na cultura ocidental. Em 1843, o escritor americano Edgar Allan Poe dedicou a eles o conto O Gato Preto, um texto de terror tematizando assassinato e loucura. Na cultura pop, o gato preto mais tarde se tornou um símbolo de frieza, teimosia e rebeldia: na série de TV Sabrina, a Bruxinha Adolescente (1996), o gato sarcástico Salem tornou-se um personagem cult, com seus comentários peculiares. Na série animada Sailor Moon, Luna, a gata preta falante com o signo lunar, é a mentora e protetora das heroínas – um símbolo da intuição e sabedoria femininas. Em filmes de Tim Burton, como O Estranho Mundo de Jack e A Noiva Cadáver, gatos pretos fazem parte de sua peculiar linguagem visual rebuscada e melancólica. Com o sucesso do filme de super-heróis da Marvel Studios Pantera Negra (2018), muitas pessoas adotaram gatos pretos de estimação e os batizaram com nomes de personagens do filme, como T'Challa e Shuri. Na cultura rock e gótica, o gato preto é considerado um símbolo de individualidade e poder de atração mística, elegância, distanciamento e orgulho. No Halloween, os gatos pretos representam o obscuro: não claramente o bem ou o mal, mas algo entre os dois. Talvez seja esse o seu apelo – eles personificam a essência do Halloween: brincar com o medo, a alegria do mistério. Superstição com consequências Apesar de seu status cult, os gatos pretos ainda lutam contra preconceitos que vão além da superstição. Em uma pesquisa de 2020 da Associação Alemã de Bem-Estar Animal, 48% dos abrigos de animais pesquisados ​​confirmaram que gatos pretos são mais difíceis de serem adotados. Aparentemente, muitas pessoas acham gatos pretos menos atraentes e preferem animais de outras cores. Eles são mais difíceis de fotografar e não tão instagramáveis ​​quanto gatos de cores mais claras. Muitos abrigos de animais se recusam a doar gatos pretos perto do Halloween para evitar que sejam usados ​​indevidamente como adereços de festas ou até mesmo vítimas de rituais. Das sombras para os holofotes Hoje, campanhas tentam corrigir a imagem dos gatos pretos. Lançados nos EUA em 2011, o Black Cat Appreciation Day (Dia de Apreciação do Gato Preto), em 17 de agosto, e o National Black Cat Day (Dia Nacional do Gato Preto), em 27 de outubro no Reino Unido, têm como objetivo mostrar que eles não são arautos do azar, mas simplesmente gatos com personalidade. O escritor francês Max O'Rell capturou isso bem no século 19: "Se um gato preto traz boa ou má sorte depende se você é um rato ou um humano." Talvez seja hora, especialmente no Halloween, de vê-los não como um símbolo de terror, mas como o que esses amigos peludos pretos realmente são: elegantes, misteriosos, independentes – e um pouco mágicos.


Short teaser Qual a origem da reputação deles e por que têm um papel especial no Dia das Bruxas?
Author Silke Wünsch
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Image caption Cercados por aura misteriosa, gatos negros simbolizam o sobrenatural em muitas culturas
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Item 26
Id 74561824
Date 2025-10-30
Title Disputa pela Nexperia expõe desafios das montadoras europeias
Short title Disputa pela Nexperia expõe desafios de montadoras europeias
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Paralisações na produção podem ocorrer depois de a fornecedora de chips Nexperia ter alertado contra disputa entre a Holanda e a matriz chinesa dela

Briga entre Holanda e China por fabricante de chips Nexperia evidencia dificuldades enfrentadas pelo setor automobilístico europeu, que afetam em especial a Alemanha.Como se as montadoras europeias ainda precisassem de lembretes de sua dependência da China, novos exemplos continuam surgindo. Paralisações na produção podem ocorrer depois de a fornecedora de chips Nexperia, uma subsidiária da chinesa Wingtech, ter alertado que uma disputa entre a Holanda, país onde a empresa está localizada, e a matriz chinesa dela pode afetar o fornecimento. As montadoras também estão se preparando para uma escassez de matérias-primas essenciais para motores elétricos após novos dados da alfândega chinesa, divulgados na semana passada, mostrarem que as exportações de terras raras da China caíram 31% em setembro em relação a agosto. Os dois casos ocorrem num ano de queda acentuada nos lucros e cortes de empregos e evidenciam um grande desafio para o setor na Europa: os fornecedores locais, centrados na tecnologia de motores a combustão, estão em dificuldades, enquanto os fornecedores de componentes críticos para carros elétricos, como ímãs, chips e baterias, estão sediados em outros lugares. Em especial para a Alemanha, o país que mais fabrica carros na Europa, as consequências dessa situação vão além das linhas de produção e ameaçam a própria existência do setor. "O motor de combustão não é apenas parte de um carro, é a vantagem competitiva decisiva da indústria automobilística na Alemanha", comenta o especialista Andreas Herrmann, da Universidade de St. Gallen, em Zurique. "Essa indústria obviamente precisa de mais tempo para desenvolver novas áreas e novos componentes que lhe deem novamente uma vantagem competitiva", diz. Terras raras cada vez mais raras As grandes montadoras alemãs já dependem fortemente da China, que é o maior mercado de vendas para as três grandes montadoras alemãs: Volkswagen (VW), Mercedes e BMW. Mas é o domínio estrangeiro em certos componentes e autopeças que ameaça a base da indústria. A primavera europeia passada marcou a primeira desaceleração nas exportações de ímãs de terras raras da China, como resposta de Pequim às novas tarifas de importação dos EUA. De acordo com um estudo do Instituto Mercator para Estudos da China (Merics), em Berlim, a China responde por mais de 90% das exportações de terras raras para a UE. As exportações se recuperaram no verão europeu após um acordo entre os EUA e a China. Mas agora Pequim está voltando a adotar uma postura mais rígida. No início deste mês, o governo chinês criou um regime de licenciamento para muitas exportações de terras raras, uma medida que, segundo especialistas, pode desacelerar ainda mais as importações para a Europa. Escassez de chips A falta de chips não deveria mais ser um problema. Depois de uma alta na demanda durante a pandemia de covid-19 ter levado a custosas paralisações na produção em 2021, as montadoras europeias prometeram diversificar suas fontes de fornecimento. Atrair a produção para fora de Taiwan, Coreia do Sul, Japão e China tem sido uma parte importante dos planos das montadoras. A Alemanha convenceu a gigante taiwanesa de chips TSMC a inaugurar uma fábrica em Dresden em 2027. Porém, o cenário do fornecimento de chips é complexo, pois alguns automóveis necessitam de milhares de semicondutores. Como mostra o caso da Nexperia, uma empresa até há pouco quase desconhecida, a falta de um único chip pode gerar graves problemas. A presidente da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA), Sigrid de Vries, observou recentemente que, nos últimos anos, as montadoras tomaram medidas para diversificar as cadeias de fornecimento, mas que os riscos não podem ser totalmente eliminados. Uma estratégia para baterias As baterias, ao contrário dos chips e das terras raras, representam uma parte significativa da cadeia de valor dos veículos elétricos, de cerca de 30%, de acordo com a Associação Europeia de Fornecedores Automotivos (CLEPA). As montadoras europeias querem fabricar baterias em vez de importá-las. Hoje elas dependem das exportações da Coreia do Sul e da China, que detêm a maior parte do mercado. O maior esforço europeu na área de baterias até o momento, a fabricante sueca Northvolt, fracassou espetacularmente, com a empresa declarando falência em 2024. Outras iniciativas surgiram, incluindo a PowerCo, da Volkswagen, e a Verkor, liderada pela Renault. Mas ainda não está claro se elas conseguirão atingir uma economia de escala suficiente para cobrir os custos iniciais. A Porsche anunciou recentemente que desistiu de seu objetivo de produzir baterias, alegando que, no mercado atual, a produção não é mais lucrativa. Outra questão é o papel da China, que impôs novas restrições ao compartilhamento de tecnologia e conhecimento sobre sua moderna tecnologia de baterias. Dificuldades na Alemanha Os riscos para a indústria automobilística europeia estão se tornando cada vez mais evidentes, com a Alemanha em particular enfrentando dificuldades. A Associação Alemã da Indústria Automobilística (VDA) estima que cerca de 773 mil pessoas estavam empregadas no setor em 2024. Esse número, que vinha diminuindo nos últimos anos, agora está caindo rapidamente. De acordo com uma estimativa, 51.500 postos de trabalho na indústria automobilística foram cortados entre o verão europeu de 2024 e o de 2025. Isso é quase o mesmo que os 61 mil empregos que desapareceram nos seis anos anteriores. Embora esses cortes estejam previstos para ocorrer ao longo de anos, os problemas da indústria já estão afetando cidades e trabalhadores. A cidade de Ingolstadt, no sul da Alemanha, onde fica sede da Audi, está tentando sanar um rombo orçamentário de quase 80 milhões de euros depois que os impostos corporativos ficaram muito abaixo do esperado, resultado direto dos problemas da montadora pertencente ao Grupo Volkswagen. Em setembro, a Associação de Fornecedores Automotivos previu que até 23% do valor agregado por carro na UE poderia migrar para outros países até 2030 caso nada mude. Razões para otimismo? Os projetos de fabricação de baterias estão avançando. A Volkswagen está construindo sua primeira fábrica de baterias em Salzgitter, na Alemanha. A Verkor, que tem como parceira a Renault, está construindo a sua em Dunquerque, na França. Novas tecnologias e uma reciclagem mais eficiente podem reduzir a quantidade de ímãs de terras raras necessária para veículos elétricos, e assim também as importações. A ZF Friedrichshafen desenvolveu um motor elétrico que não necessitas de metais de terras raras e utiliza eletromagnetismo em vez de ímãs permanentes. Novas linhas de veículos elétricos podem impulsionar as vendas das montadoras europeias. Os novos modelos de SUVs elétricos da BMW e da Mercedes receberam avaliações positivas. O Grupo Volkswagen promete lançar em 2026 quatro novos modelos de carros elétricos compactos e urbanos na faixa de 25 mil euros. A durabilidade das concorrentes chinesas permanece uma incógnita – o excesso de investimento já levou a bolhas especulativas no passado. Pequim está tentando disciplinar a competição acirrada entre suas montadoras, temendo que isso possa causar mais danos do que benefícios. Seja como for, a Europa terá que desenvolver mais tecnologias se quiser reduzir sua dependência, diz Herrmann. Mas ele se declara otimista de que a indústria automobilística europeia não entrará em colapso. "Ela está passando por uma crise profunda, mas espero que saia dela mais forte", diz.


Short teaser Briga entre Holanda e China por fabricante de chips Nexperia evidencia dificuldades do setor automobilístico europeu.
Author Steven Beardsley
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Image caption Paralisações na produção podem ocorrer depois de a fornecedora de chips Nexperia ter alertado contra disputa entre a Holanda e a matriz chinesa dela
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Item 27
Id 74553491
Date 2025-10-30
Title Trump e Xi Jinping fecham acordo sobre tarifas e terras raras
Short title Trump e Xi Jinping fecham acordo sobre taxas e terras raras
Teaser

Ele elogiou o Xi como "um líder extraordinário de um país muito poderoso" e anunciou que visitará a China em abril

China deve retomar compra de soja americana, manter fluxo de exportação de terras raras e combater tráfico de fentanil. Em troca, EUA reduzem taxas de importação de produtos chineses de 57% para 47%.O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta quinta-feira (30/10) que teve uma reunião "incrível" com o presidente chinês, Xi Jinping, afirmando ter chegado a um acordo para reduzir as tarifas sobre a China. Em contrapartida, Pequim deve retomar a compra de soja americana, manter o fluxo de exportações de terras raras e combater o tráfico de fentanil. "Acho que foi uma reunião incrível", disse Trump após o encontro com Xi Jinping em uma base aérea na cidade sul-coreana de Busan. Ele elogiou o Xi como "um líder extraordinário de um país muito poderoso" e anunciou que visitará a China em abril. "Irei à China em abril, e ele virá aqui logo depois, seja para a Flórida, Palm Beach ou Washington", disse Trump a repórteres a bordo do Air Force One. A reunião de duas horas, realizada à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) em Busan, Coreia do Sul, foi o primeiro encontro presencial entre Xi e Trump desde 2019. Pouco depois, a China confirmou que suspenderá por um ano a implementação dos controles de exportação sobre terras raras e outros materiais estratégicos, adotados em 9 de outubro. Em resposta aos obstáculos às exportações de terras raras – grupo de minerais essenciais em diversas indústrias cuja produção e processamento a China controla globalmente –, Trump havia ameaçado nas últimas semanas impor uma tarifa adicional de 100% sobre produtos chineses a partir de 1º de novembro. "Grande sucesso" Trump classificou seu encontro com Xi como um "grande sucesso", afirmando que os dois líderes concordaram com um acordo que inclui a redução das tarifas americanas sobre produtos chineses de 57% para 47%. Em troca, Pequim prometeu manter o fluxo de exportações chinesas de terras raras. Trump acrescentou que a China também compraria "grandes quantidades" de soja americana e intensificaria o combate ao tráfico de fentanil. O acordo permanecerá em vigor por pelo menos um ano. Por sua vez, Xi enfatizou que chegou a um "consenso" com Trump para resolver suas disputas comerciais e pediu que o trabalho subsequente seja concluído "o mais rápido possível", segundo a mídia estatal chinesa. O republicano também revelou que, após o encontro, "grandes quantidades de soja e outros produtos agrícolas serão compradas imediatamente". O setor agrícola dos EUA foi duramente atingido pela guerra comercial entre EUA e China, com os produtores de soja americanos tendo sido os mais afetados, registrando uma queda de 3 bilhões de dólares (R$ 16 bilhões) no comércio com a China no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024. Tradicionalmente, a China tem sido a maior compradora de soja dos EUA, adquirindo quase metade da safra em 2024. Mas as tarifas retaliatórias chinesas sobre a soja praticamente paralisaram as vendas da leguminosa dos EUA para a China a partir de maio. O acordo pode representar um grande revés para países latino-americanos como Brasil e Argentina, que aumentaram suas exportações para o gigante asiático em meio à disputa entre Washington e Pequim. Terras raras, fentanil Trump acrescentou que também foi assinado um acordo renovável de um ano referente ao fornecimento de elementos de terras raras pela China, essenciais para indústrias como a de defesa e a de tecnologia. "Tudo relacionado às terras raras foi resolvido, e isso vale para o mundo", disse o presidente americano a repórteres a bordo do Air Force One. No início de outubro, Pequim havia anunciado restrições à exportação desses materiais, um setor no qual a China tem enorme domínio. "Quanto ao fentanil, concordamos que ele trabalharia muito para interromper seu fluxo. Impus uma tarifa de 20% sobre a China devido à entrada" desse opioide, disse Trump, que, pelo mesmo motivo, ameaçou o México. "Vou reduzi-la em 10%", acrescentou. Fentanil é um opioide sintético que é o principal medicamento responsável por mortes por overdose nos Estados Unidos. A China é a principal fonte dos precursores químicos usados na produção de fentanil. Os mercados chineses reagiram positivamente à esperança de uma redução das tensões comerciais. md/cn (AFP, Reuters, EFE)


Short teaser China deve retomar compra de soja americana e manter exportação de terras raras. EUA reduzem taxas contra China.
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Image caption Ele elogiou o Xi como "um líder extraordinário de um país muito poderoso" e anunciou que visitará a China em abril
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Item 28
Id 74543974
Date 2025-10-29
Title Como as mudanças climáticas estão nos deixando doentes
Short title Como as mudanças climáticas estão nos deixando doentes
Teaser

Clima mais quente está ampliando territórios de mosquitos que transmitem doenças

A recente descoberta de mosquitos na Islândia é apenas uma das formas pelas quais a crise climática ameaça a saúde. Um novo estudo afirma que a humanidade está diante de riscos sem precedentes.As consequências das mudanças climáticas nunca foram tão perigosas para a saúde humana. É o que alertam os 128 principais cientistas por trás do Lancet Countdown Report, considerado um indicador renomado das conexões científicas entre saúde e aquecimento global. De ataques cardíacos e exaustão pelo calor a problemas de saúde mental e à disseminação de doenças tropicais, a crise climática está ameaçando cada vez mais pessoas ao redor do mundo, segundo um relatório publicado nesta terça-feira (28/10). "O balanço de saúde deste ano pinta um quadro sombrio e inegável dos danos devastadores à saúde que estão alcançando todos os cantos do mundo", disse Marina Romanello, diretora executiva do Lancet Countdown, uma colaboração internacional independente de pesquisa, sediada na University College London. As mortes relacionadas ao calor aumentaram 23% desde os anos 1990 e já passam de meio milhão por ano. A fumaça de incêndios florestais foi associada a um recorde de 154 mil mortes em 2024, enquanto a poluição do ar causada pela queima de combustíveis fósseis mata 2,5 milhões de pessoas todos os anos. Riscos à saúde aumentaram no último ano "Estamos vendo milhões de mortes todos os anos por causa da nossa persistente dependência de combustíveis fósseis, por causa do atraso na mitigação das mudanças climáticas e dos atrasos na adaptação às mudanças que não podem mais ser evitadas", disse Romanello. As conexões entre saúde e aquecimento global estão se tornando mais evidentes à medida que as mudanças climáticas, impulsionadas pela queima de carvão, petróleo e gás, continuam causando devastação no planeta. O ano passado foi o mais quente já registrado, e os níveis de CO₂ na atmosfera atingiram novos recordes. Em 2024, devido às mudanças climáticas, o mundo enfrentou em média 16 dias adicionais de calor extremo prejudicial à saúde. Para os grupos mais vulneráveis da sociedade, como bebês e pessoas acima de 65 anos, esse número subiu para 20 dias extras de ondas de calor. Segundo o relatório, 13 dos 20 indicadores que representam riscos à saúde humana aumentaram significativamente no último ano. O aspecto mais preocupante é que quase todos os indicadores estão indo na direção errada, explicou Romanello. Custos para a saúde e para a economia As mudanças climáticas estão intensificando eventos climáticos extremos, que estão se tornando mais frequentes e intensos ao redor do mundo. Ondas de calor – a forma mais mortal de evento climático extremo – podem superaquecer o corpo, sobrecarregar órgãos vitais e dificultar o sono. Inundações podem contaminar a água potável e espalhar infecções, enquanto as secas estão agravando a desnutrição e a fome com a perda de colheitas. A fumaça dos incêndios florestais – que em 2024 corresponderam a uma área maior que a Índia – prejudica os pulmões, o coração e até bebês ainda no útero. Na sequência de desastres climáticos, a interrupção do fornecimento de energia e os danos na infraestrutura também dificultam o acesso a suprimentos e cuidados médicos. Segundo Romanello, a maioria dos afetados por eventos climáticos extremos no mundo não tem seguro de saúde, o que os torna ainda mais vulneráveis aos riscos à saúde. Esses riscos não custam apenas vidas humanas, mas também têm impacto econômico. A escassez de água ou alimentos e as condições sanitárias precárias após desastres custam centenas de bilhões de dólares por ano. Segundo estimativas, o calor extremo custou mais de um trilhão de dólares em 2024 – cerca de 1% da produção econômica global – devido à perda de produtividade por doenças e ausências no trabalho. Dengue e doenças tropicais estão se espalhando Mosquitos, carrapatos e mutucas – alguns dos quais transmitem doenças infecciosas mortais – também estão se espalhando para mais regiões à medida que as temperaturas se elevam. Em outubro, mosquitos foram documentados pela primeira vez na Islândia, o que pesquisadores associam às mudanças climáticas. Com o aumento das temperaturas abrindo novos habitats para insetos, o número de infectados com dengue, malária, leishmaniose e outras doenças está crescendo no mundo todo. Em 2024, o número de casos de dengue no mundo bateu recorde, com mais de 7,6 milhões de infectados. Segundo o relatório, o potencial médio global de transmissão da dengue aumentou 49% desde os anos 1950. "Sabemos que as mudanças climáticas estão alimentando pelo menos parte dessa disseminação", diz Romanello. Mesmo que nem todas essas infecções sejam fatais, quem adoece muitas vezes fica semanas sem poder trabalhar, gerando consequências econômicas negativas. Saúde mental também é impactada As mudanças climáticas também estão aumentando o risco de doenças mentais. Pessoas que vivenciam eventos climáticos extremos como incêndios florestais, furacões ou enchentes severas podem sofrer transtorno de estresse pós-traumático, afirma Jenni Miller, diretora executiva da Global Climate and Health Alliance, uma ONG dos Estados Unidos. Perdas na colheita devido à seca, escassez de água ou perda de meios de subsistência podem causar ansiedade e levar direta ou indiretamente a problemas de saúde mental. Isso é agravado pela falta de sono causada por noites excessivamente quentes, segundo o relatório. Como prevenir mais doenças e mortes Os autores do relatório recomendam três medidas principais para mitigar as consequências da crise climática sobre a saúde. Primeiro, é preciso expandir a produção de energia renovável para conter o aumento das temperaturas globais. O boom de energia limpa ajudou a reduzir a poluição do ar e evitou mais de 160 mil mortes entre 2010 e 2022, segundo Romanello. Medidas de adaptação às mudanças climáticas, como tornar edifícios residenciais e infraestrutura pública adequados às condições climáticas extremas, também precisam ser aceleradas. E, por fim, os cientistas alertam que os sistemas de saúde globais precisam ser urgentemente adaptados e equipados para enfrentar os desafios adicionais que as mudanças climáticas apresentam.


Short teaser Novo estudo afirma que a humanidade está diante de riscos sem precedentes.
Author Tim Schauenberg
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Image caption Clima mais quente está ampliando territórios de mosquitos que transmitem doenças
Image source Claude Ponthieux/picture alliance
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Item 29
Id 74529350
Date 2025-10-28
Title Contato de pele com a mãe ao nascer ajuda bebê, diz ciência
Short title Contato de pele com a mãe ao nascer ajuda bebê, diz ciência
Teaser Prática beneficia adaptação, amamentação e sobrevivência dos recém-nascidos. Separação imediata após o parto para procedimentos de rotina "não é mais ética" e deve ser revista, defendem especialistas.

O contato pele a pele com a mãe logo após o nascimento é "o melhor começo" que um bebê pode ter na vida. Evidências científicas apontam que esse gesto simples é uma importante estratégia terapêutica que traz benefícios fundamentais à saúde.

A revista Cochrane, que analisa o estado da ciência em diferentes áreas para fundamentar decisões de saúde, atualizou o conhecimento sobre o assunto com base nas pesquisas mais recentes.

Desde 2016, ano da última revisão, 26 novos estudos foram realizados com mais de 7 mil pares de mães e bebês — a maioria, em países do Norte Global.

Melhora a amamentação

O contato pele a pele consiste em colocar o recém-nascido nu sobre o peito descoberto da mãe imediatamente após o parto e mantê-lo assim por pelo menos uma hora.

Segundo os cientistas, a prática ajuda os bebês a se adaptarem melhor e mais rapidamente à vida fora do útero. Mantém-nos aquecidos, com bons níveis de açúcar no sangue, reduz o estresse e o choro e favorece funções vitais, como a respiração e os batimentos cardíacos.

Os resultados mostram que mães que praticam o contato pele a pele têm mais chances de fazer amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida do bebê.

Cerca de 75% dos bebês que receberam contato pele a pele eram exclusivamente amamentados ao completar um mês, contra 55% dos bebês dos grupos que não tiveram a mesma experiência.

Outras pesquisas em países do Sul Global, como a Índia, demonstraram que o contato pele a pele pode fazer diferença para a sobrevivência de bebês com baixo peso ao nascer.

Nova recomendação

Historicamente, bebês foram separados das mães imediatamente após o nascimento para procedimentos de rotina como exame físico, pesagem e banho, impedindo o contato pele a pele imediato, segundo especialistas.

Mas os resultados indicam que há evidências suficientes para que o contato pele a pele imediato após o nascimento seja a norma de atenção à saúde em todo o mundo, destacam os autores da revisão na Cochrane.

"Negar o contato pele a pele não deveria ser ético a partir de agora, pois há evidências suficientes de que essa prática melhora a saúde e a sobrevivência dos recém-nascidos", afirmou Karin Cadwell, pesquisadora do projeto estadunidense Crianças Saudáveis.

Embora alguns estudos também indiquem benefícios do contato pele a pele para a mãe, a evidência sobre sua relevância para a saúde materna não é tão clara quanto no caso dos bebês.

ht/ra (EFE, ots)

Short teaser Prática beneficia adaptação e amamentação. Para especialistas, separação após o parto "não é mais ética".
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Item 30
Id 74518245
Date 2025-10-27
Title Alemanha sacrifica 500 mil aves para conter gripe aviária
Short title Alemanha sacrifica 500 mil aves para conter gripe aviária
Teaser Doença tem afetado granjas e aves selvagens no país. Propagação tem se agravado com migração de aves no outono e eleva temor de aumento de preços.

Mais de meio milhão de aves foram sacrificadas na Alemanha para tentar conter a propagação da gripe aviária, segundo números divulgados pelas autoridades do país europeu nesta segunda-feira (27/10).

Desde o início de setembro, foram detectados 31 surtos da doença em granjas, que se viram obrigadas a sacrificar suas aves, informou o centro nacional alemão de pesquisas de zoonoses, o Instituto Friedrich Loeffler (FLI).

Além desses episódios, foram detectados 73 casos em aves selvagens desde o início do mês passado. Entre as aves sacrificadas estão galinhas, patos, gansos e perus.

Em Neutrebbin, perto da capital, Berlim, uma empresa agrícola teve que sacrificar 50 mil frangos, que foram despejados às centenas na caçamba de um caminhão com a ajuda de uma retroescavadeira.

"A situação evolui tão rapidamente que os números são apenas retratos do momento e refletem mais a magnitude da epizootia que os totais exatos", declarou uma porta-voz do FLI.

Na semana passada, o o ministro da Agricultura, Alois Raine, já havia alertado sobre um "aumento muito rápido das infecções" por vírus da Gripe Aviária de Alta Patogenicidade (GAAP) no país, afirmando que a principal prioridade era "prevenir a propagação do vírus, proteger os animais e evitar danos na agricultura e indústria alimentar".

Propagação

As aves selvagens que migram para as regiões do sul são consideradas as principais portadoras da gripe aviária. Embora a doença esteja agora presente na Alemanha durante todo o ano, o risco de infecção aumenta drasticamente durante a migração do outono.

De acordo com o FLI, a atual onda de infecções começou mais cedo do que o habitual. Grous, aves de pernas e pescoço longos que atingem 1 m de altura, também têm sido afetados de forma sem precedentes, particularmente no noroeste do estado alemão de Brandemburgo, onde estão morrendo em grande número. Na semana passada, em Linum, perto de Berlim, voluntários, vestidos com macacões e máscaras, recolheram centenas de grous-comuns selvagens que morreram por causa da doença.

Os números do FLI são apenas parciais, já que a situação está mudando muito rapidamente, disse uma porta-voz do instituto. "Mais casos são esperados", disse um porta-voz.

Impacto

Em meio a temores de aumento dos preços do frango e dos ovos na Alemanha, há cada vez mais pedidos para que as aves sejam mantidas em recintos isolados para evitar a infecção por aves selvagens. As aves criadas ao ar livre teriam então que ser temporariamente mantidas em galpões fechados. O presidente da Associação da Indústria Aviária alemã, Hans-Peter Goldnick, considerou que um confinamento em escala nacional seria a forma mais eficaz de frear a doença.

O presidente da União de Avicultura da Baviera, Robert Schmack, vem alertando para um potencial aumento de 40% no preço dos ovos e uma menor variedade de produtos nos supermercados.

Goldknick, no entanto, discorda, e afirmou à emissora pública ZDF que "não espera explosões de preços no curto prazo", nem na época do Natal, até porque a maioria dos gansos na Alemanha é importada da Hungria e da Polônia.

A gripe aviária é uma doença altamente contagiosa entre as aves, causada por diferentes mutações do vírus influenza, transmissor da gripe comum. Segundo o Instituto Federal para Avaliação de Riscos da Alemanha (BfR, na sigla em alemão), a gripe aviária, também conhecida como gripe do frango, costuma ser fatal principalmente em perus e galinhas.

A contaminação da gripe aviária em humanos costuma ser restrita a pessoas que têm contato com aves infectadas, vivas ou mortas, como tratadores ou profissionais do setor. Nesses casos, a letalidade é alta, de cerca de metade dos casos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em aproximadamente duas décadas, o vírus infectou cerca de 950 pessoas, causando a morte de cerca de 460.

Para ajudar a prevenir a propagação do vírus, o FLI recomenda evitar o contato com aves mortas e não usar botas sujas perto de galinheiros que abrigam animais vulneráveis.

jps (AFP, dpa, Lusa)

Short teaser Doença tem afetado granjas e aves selvagens no país. Propagação tem se agravado com migração de aves no outono.
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Item 31
Id 74487179
Date 2025-10-27
Title Pioneiro no Brasil, orçamento participativo avança no mundo
Short title Pioneiro no Brasil, orçamento participativo avança no mundo
Teaser Participação popular na alocação de recursos municipais ganhou força após iniciativa precursora de Porto Alegre. Apesar de benefícios comprovados, proposta enfrenta desafios políticos para se consolidar.

A ideia de destinar uma fração do orçamento municipal à execução de projetos propostos e aprovados pela própria população ganhou força no Brasil nas últimas décadas, país pioneiro a adotar este modelo de alocação de recursos.

O chamado orçamento participativo (OP) foi adotado por Porto Alegre em 1989, e, desde então levou a uma maior participação democrática em municípios de tamanhos, regiões e características distintas que replicaram a medida, dentro e fora do país. Estudos indicam que o modelo levou até mesmo à redução da mortalidade infantil em alguns cenários.

No entanto, enquanto a prática brasileira passou a servir de exemplo e avançar pelo mundo, muitos projetos nacionais acabaram enfrentando limitações e disputas políticas, levando a uma estagnação no número de municípios que de fato permitem à população decidir o destino dos recursos.

Benefícios sociais

Os desafios crescem apesar dos benefícios da prática. Um estudo de 2013 publicado na revista científica World Development sugeriu que o OP aumentou a proporção do orçamento público gasto em saúde e saneamento em 2 a 3 pontos percentuais nos municípios analisados, o que representou de 20% a 30% da média da amostra de quotas orçamentais desta categoria em 1990.

Diante disso, a pesquisa registrou uma queda significativa na mortalidade infantil entre uma e duas crianças para cada mil residentes – cerca de 5% a 10% da taxa total de mortalidade infantil no início do período em 1990.

Ainda que seja complicado estabelecer relação direta entre as questões, a descentralização de recursos representou melhora em indicadores, incluindo mais obras para saneamento e postos de saúde com acompanhamento pré-natal, avalia Luciana Andressa Martins de Souza, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Para se estabelecer o destino dos recursos, conselhos cidadãos se reúnem e discutem os problemas mais urgentes da população, criando oportunidades para melhor entender os problemas e demandas que afetam outros públicos. Para Souza, isso faz com que os prefeitos tenham uma noção qualitativa do que acontece na cidade, como nos casos de investimento em iluminação e creches.

"Essa priorização ajuda a explicar a queda na mortalidade infantil, pois os OPs promoveram investimentos em infraestrutura básica, como água e esgoto, reduzindo riscos sanitários", afirmam os pesquisadores Vitor Castro, professor da Loughborough University e Fabiana Rocha, professora da Universidade de São Paulo (USP), que recentemente publicaram um artigo em revisão do tema no Brasil.

"OPs promoveram redistribuição de renda e inclusão social, beneficiando periferias e minorias", apontam Castro e Rocha. "Eles também impulsionaram coesão comunitária, com participação de até 100 mil pessoas anualmente em algumas cidades, e elevaram a arrecadação tributária ao aumentar a confiança na gestão", destacam.

Da ideia à prática

A aplicação do OP no Brasil não é uniforme. Alguns municípios destinam menos de 1% de seus recursos ao programa, enquanto outros somam até 5%. Outra dificuldade está nas tomadas de decisões. Entre conselhos que escolhem representantes para debater e fiscalizar a execução de propostas até ao voto online, há ampla diversidade de como realizar os processos.

Enquanto municípios menores costumam centralizar a deliberação da alocação de recursos, cidades maiores, como São Paulo, costumam dividir os OPs por regiões. No plano para 2026, cada uma das 32 subprefeituras da capital paulista terá R$ 10 milhões à disposição para projetos escolhidos pela população.

Castro e Rocha citam munícipios tipicamente urbanos, com densidade populacional alta, níveis educacionais elevados e entre 100 mil e 500 mil habitantes, concentrados no Sul e Sudeste, como aqueles em que os OPs tiveram mais êxito no Brasil.

"Esses locais exibem maior adesão inicial e longevidade dos programas graças a maior engajamento cidadão e capacidade administrativa", apontam. Por outro lado, dificuldades surgem nas maiores capitais, devido à fragmentação política, burocracia complexa e interesses corporativos que diluem a participação.

Abandono dos programas gera retrocessos

Ao longo da aplicação, Souza aponta que OPs costumam enfrentar embates políticos assim como os processos que passam pelos legislativos locais. "Há inclusive conflitos. Em certos casos, vereadores se sentem ameaçados", diante da transferência de poder à outra instância, indica.

O estudo de Castro e Rocha avaliou 248 municípios que adotaram o OP no Brasil entre 2000 e 2012. Destes, 167 abandonaram em algum momento – 15 dos quais foram retomados posteriormente. Apenas 32% dos municípios mantiveram o projeto durante todo o período analisado.

"Em municípios que abandonaram os programas, há evidências de retrocesso em indicadores sociais: aumento na mortalidade infantil e piora em saneamento", apontam os pesquisadores. "A descontinuidade, associada a trocas de prefeito, fragiliza a coesão comunitária, com redução na participação popular e enfraquecimento da accountability, resultando em gastos menos alinhados a demandas locais", explicam.

Segundo eles, as causas do declínio na ampliação dos OPs no Brasil incluem a rigidez fiscal imposta pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que limitou discricionariedade orçamentária e investimentos, e a estratégia política de usar os OPs como ferramenta eleitoral. Muitos municípios abandonam os projetos após os pleitos locais ou com a mudança de sigla à frente da prefeitura.

Modelo ganha apelo internacional

Pelo mundo, existem mais de 17 mil iniciativas de OP. Muitas citam a experiência da capital gaúcha como um ponto de partida. Nestes lugares, a consolidação e expansão da participação democrática costuma ser o principal argumento para defender a ideia.

Autora do livro recém-publicado "Justiça Orçamentária: Sobre a Construção de Políticas e Solidariedades de Base", a professora da Universidade da Cidade de Nova York Celina Su destaca o Brasil como uma referência que abriu as portas para novas práticas. Através do Fórum Social Mundial (FSM), evento que Porto Alegre sediou em diversas ocasiões no início dos anos 2000, ela aponta que foi possível que "pessoas e políticos do mundo tivessem acesso a uma ideia básica, mas que ainda não haviam se dado conta".

Um dos lugares que incorporou o orçamento participativo foi Nova York. Segundo a autora, o modelo surgiu na cidade americana há uma década, unindo demandas do movimento Ocuppy Wall Street, que pedia maior participação popular, e do Tea Party, grupo ligado ao Partido Republicano, que exigia maior prestação de contas do governo. Su aponta que o OP é decisivo em temas caros à população, como moradia acessível.

"É uma forma de agir no meio do caminho entre eleições e protestos", defende ela. Diante a polarização política aguçada no país nos últimos anos, a autora acredita que estes espaços são uma forma de conciliar demandas e escapar de um cenário de disputa política. "É um jeito de conseguir coisas que queremos, e não apenas raiva".

Na Polônia, onde o OP é obrigatório em municípios com mais de 100 mil habitantes, votações via orçamento participativo chegaram a ultrapassar 30% de participação em algumas cidades. No final de 2022, 85,6% das cidades polonesas com mais de 50 mil habitantes usavam o modelo.

"O orçamento participativo na Polônia está se tornando cada vez mais comum nos governos locais, o que aumenta o envolvimento dos moradores. A polarização política no nível central significa que os cidadãos são mais propensos a usar instrumentos de cooperação democrática e codecisão no governo local para influenciar sua realidade", explica Monika Augustyniak, professora da Universidade Jan Kochanowski.

Segundo ela, isso se aplica em particular a projetos sociais e de saúde, à criação de espaços verdes, pequenos jardins ou infraestrutura local em seu entorno imediato. "O interesse pelo próprio espaço público e pelas necessidades sociais é certamente uma reação à insatisfação social com o exercício do poder no nível central. O instrumento do OP é uma espécie de resposta à insatisfação com o atual nível de democracia no país", avalia.

Short teaser Participação popular na alocação de recursos ganhou força após iniciativa de Porto Alegre, mas enfrenta desafios.
Author Matheus Gouvea de Andrade
Item URL https://www.dw.com/pt-br/pioneiro-no-brasil-orçamento-participativo-avança-no-mundo/a-74487179?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 32
Id 74489071
Date 2025-10-27
Title Controlar o açúcar na infância previne doenças cardíacas na vida adulta
Short title Controlar o açúcar na infância previne doenças cardíacas
Teaser

Pesquisa usou dados sobre período de racionamento de açúcar no Reino Unido

Estudo indica que reduzir o consumo de açúcar na gravidez e nos 2 primeiros anos de vida diminui o risco de doenças do coração na vida adulta.Restringir o açúcar na infância traz benefícios duradouros para o coração na vida adulta, sugere um novo estudo publicado no British Medical Journal. Especialistas de nove países identificaram que adultos que foram expostos a uma dieta com pouco açúcar nos mil primeiros dias desde a concepção, ou seja, durante a gestação e nos dois primeiros anos de vida, têm menor probabilidade de sofrer doenças como ataque cardíaco, insuficiência cardíaca e derrame. Para tais conclusões, os pesquisadores analisaram dados sobre um período durante a Segunda Guerra Mundial em que houve racionamento de açúcar no Reino Unido. Com informações obtidas no biobanco britânico UK Biobank, a equipe examinou informações de 63.433 pessoas nascidas entre outubro de 1951 e março de 1956, sem histórico de doenças cardíacas. O estudo também incluiu 40.063 pessoas que foram expostas ao racionamento de açúcar (que durou de 1940 a 1953) e outras 23.370 que não foram. Os registros médicos foram revisados ​​em busca de casos de doenças cardíacas, infartos, insuficiência cardíaca, arritmias, derrames e mortes por essas causas. Resultados: menor risco de problemas cardíacos Em comparação com as pessoas que nunca foram expostas ao racionamento, aquelas que tiveram restrições de açúcar enquanto estavam na barriga da mãe e durante os dois primeiros anos de vida apresentaram: 20% menos risco de doença cardíaca, 25% menos risco de infarto, 26% menos risco de insuficiência cardíaca, 24% menos risco de fibrilação auricular, 31% menos risco de acidente cerebrovascular e 27% menos risco de morte cardiovascular. Quanto maior o período de racionamento, menores os riscos cardíacos, em parte devido à menor incidência de diabetes e pressão arterial mais baixa. Estes adultos também registraram períodos mais longos sem problemas cardíacos, até dois anos e meio a mais, do que aqueles que não enfrentaram racionamento. Durante esse período, a ingestão de açúcar para todos, incluindo gestantes e crianças, foi limitada a menos de 40 gramas por dia, e o açúcar adicionado não era permitido na dieta de bebês menores de dois anos. "Os primeiros mil dias após a concepção são uma janela crítica na qual a nutrição molda o risco cardiometabólico ao longo da vida", concluiu a equipe, liderada por pesquisadores da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong e da Escola de Medicina de Boston (EUA). A equipe lembra que muitos bebês e crianças consomem açúcares adicionados em excesso por meio da dieta materna, fórmulas infantis e os primeiros alimentos sólidos. "A restrição precoce de açúcar foi associada a menores riscos de ataque cardíaco, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial, derrame e mortalidade cardiovascular", conclui. Ip (DPA, OTS)


Short teaser Reduzir o consumo de açúcar nos 2 primeiros anos de vida diminui o risco de doenças do coração na vida adulta.
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Image caption Pesquisa usou dados sobre período de racionamento de açúcar no Reino Unido
Image source Anthony Devlin/empics/picture alliance
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Item 33
Id 74503732
Date 2025-10-26
Title O Ocidente pode romper o monopólio chinês das terras raras?
Short title O Ocidente pode romper o monopólio chinês das terras raras?
Teaser

Apesar da oferta, países ocidentais não dominam processamento de terras raras

China vê estes minerais como "recurso estratégico" e domina a cadeia de suprimentos há duas décadas. Oferta de outros países esbarra em baixa capacidade de processamento e refino.O conflito comercial reaberto entre os EUA e a China colocou novamente no centro das atenções o grupo de metais conhecidos como elementos de terras raras, onipresentes nas tecnologias modernas, de smartphones a aviões de combate. A China domina todas as etapas da cadeia de suprimento de terras raras, controlando quase 70% da mineração global e produzindo até 90% dos elementos processados no mundo. Um relatório publicado esta semana pela Agência Internacional de Energia (AIE) destacou que essa "alta concentração de mercado" deixaria as cadeias de suprimento globais em setores estratégicos, como energia, automotivo, defesa e centros de dados de IA, "vulneráveis a possíveis interrupções". No início deste mês, Pequim endureceu o controle sobre o fornecimento de terras raras. A partir de 1º de dezembro, empresas estrangeiras em qualquer lugar do mundo precisarão da aprovação do governo chinês para exportar produtos que contenham mesmo pequenas quantidades dos minerais críticos que tenham origem na China ou que tenham sido produzidos usando tecnologia chinesa. A medida foi uma resposta à expansão, pelos EUA, da lista de empresas chinesas impedidas de acessar chips semicondutores americanos de última geração e outras tecnologias. A decisão da China levantou preocupações sobre possível escassez de suprimentos que poderiam afetar a produção de outros produtos, como veículos elétricos, equipamentos de defesa e sistemas de energia renovável. O Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, criticou as novas medidas de Pequim como "incrivelmente agressivas" e "desproporcionais", enquanto o chefe de comércio da União Europeia, Maros Sefcovic, as chamou de "injustificadas e prejudiciais". Em retaliação, os EUA impuseram novas tarifas de 100% contra produtos chineses. Neste domingo (26/10), porém, os dois países discutiram a estrutura de um acordo comercial para pausar tanto as tarifas extras americanas e quanto os controles de exportação chineses de terras raras. Os termos serão posteriormente negociados em um possível encontro entre o presidente americano Donald Trump e o chinês Xi Jinping. Por que as terras raras são tão importantes? Os elementos de terras raras se tornaram parte essencial da vida moderna devido às suas propriedades físicas, magnéticas e químicas únicas. Eles são fundamentais para a produção de ímãs que mantêm suas propriedades magnéticas indefinidamente sem necessidade de energia externa. Esses metais são ingredientes essenciais em todos os tipos de produtos de alta tecnologia, incluindo smartphones, laptops, carros híbridos, turbinas eólicas e células solares, entre outros. Também possuem aplicações importantes na defesa, como motores de caças a jato, sistemas de orientação de mísseis, defesa antimísseis, satélites espaciais e sistemas de comunicação. Apesar do nome, as terras raras são abundantes na crosta terrestre, algumas até mais comuns que substâncias como cobre, chumbo, ouro e platina. No entanto, raramente são encontradas em concentrações altas o suficiente para serem extraídas economicamente. Além da China, depósitos de metais de terras raras podem ser encontrados em países como Canadá, Austrália, EUA, Brasil, Índia, África do Sul e Rússia. Os elementos estratégicos são tipicamente divididas em duas categorias conforme o processo de separação. A China tem quase um monopólio sobre o processamento da categoria de terras raras pesadas. De acordo com a Benchmark Mineral Intelligence, empresa britânica de pesquisa e precificação de minerais para transição energética, empresas chinesas respondem por até 99% do processamento global de terras raras pesadas. Uso estratégico dos minerais críticos Os Estados Unidos já foram autossuficientes em terras raras, mas nas últimas duas décadas a China passou a dominar sua produção. O controle do país asiático sobre esses materiais estratégicos se tornou evidente há uma década. Muitos suspeitavam que Pequim poderia usar isso como uma moeda de troca em disputas geopolíticas. Em 2010, por exemplo, a China interrompeu as exportações de terras raras para o Japão devido a um conflito territorial. No auge da disputa comercial EUA-China em 2019, durante o primeiro governo de Donald Trump, a mídia estatal chinesa sugeriu que as exportações de terras raras para os EUA poderiam ser cortadas em resposta às medidas americanas. Na época, Xi Jinping chamou os elementos de "um recurso estratégico importante". EUA buscam aumentar produção Os esforços para reduzir a dependência das terras raras chinesas até agora avançaram pouco. Para combater o domínio da China, a administração Trump tentou fechar acordos com parceiros para garantir o fornecimento de terras raras. O tema incide inclusive sobre as negociações com o Brasil. Mas especialistas dizem que o verdadeiro desafio para diversificar a oferta está em aumentar a capacidade do Ocidente de refino e processamento. "A primeira coisa que os Estados Unidos precisam fazer é priorizar o 'midstream', que é o processamento e refino," disse Karl Friedhoff, especialista do Chicago Council on Global Affairs, em um blog publicado em 16 de outubro. "Sem controle do midstream, temos os minerais brutos, mas ainda precisamos enviá-los à China para serem processados," explicou, ressaltando a necessidade de instalar fábricas de processamento e refinarias em outros países. Isso, no entanto, viria com "uma série de problemas, especialmente no lado ambiental," acrescentou. Quais são os desafios para autossuficiência? O avanço no processamento de terras raras carrega um alto custo ambiental e social. A mineração envolve riscos ambientais e à saúde humana, já que os minérios contêm elementos radioativos como urânio e tório, que podem contaminar o ar, água, solo e lençóis freáticos. Os desafios também incluem instalar plantas de processamento que cumpram rígidas normas ambientais em países ocidentais, o que pode ser mais caro e demorado. O processamento também consome muita energia e água, o que gera oposição pública nas regiões onde tais instalações são planejadas. Além disso, a China mantém forte liderança tecnológica com décadas de experiência na área, pessoal treinado e um ecossistema industrial difícil de replicar. De acordo com um relatório do Center for Strategic and International Studies (CSIS), dos EUA, publicado em julho, a China possui "expertise técnica incomparável no processamento de terras raras, especialmente na extração por solvente" – uma etapa crítica e complexa na separação desses minerais críticos. "As empresas ocidentais têm enfrentado dificuldades devido a limitações na força de trabalho, pesquisa e desenvolvimento, e regulamentações ambientais," afirma o relatório. Diversificar a oferta exige nova infraestrutura Diversificar a oferta de terras raras chinesas exigiria não apenas ativar novas minas fora da China, mas também novas instalações de refino, mão de obra qualificada e incentivos econômicos para empresas. Os autores do relatório do CSIS incentivaram os EUA a desenvolver uma estratégia para reconstruir a expertise técnica em terras raras e estabelecer centros de processamento. "É necessário garantir acesso confiável a energia de baixo custo, infraestrutura de transporte eficiente, tecnologias avançadas de processamento e mão de obra qualificada e acessível", observaram. Mesmo que todas as medidas fossem implementadas, os especialistas acreditam que a China continuaria a dominar o setor no futuro próximo. "Sem ação rápida e coordenada, a janela para combater o domínio enraizado da China continuará a se estreitar, colocando tecnologias críticas, indústrias e interesses de segurança em risco contínuo."


Short teaser China domina minerais estratégicos há duas décadas. Oferta global é limitada por baixa capacidade de processamento.
Author Srinivas Mazumdaru
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Image caption Apesar da oferta, países ocidentais não dominam processamento de terras raras
Image source Wang chun lyg/Imaginechina/picture alliance
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Item 34
Id 74474366
Date 2025-10-26
Title Por que as mulheres precisam dormir mais do que os homens?
Short title Por que mulheres precisam dormir mais do que homens?
Teaser Seja por conta dos hormônios ou de pressões familiares e sociais, muitas mulheres relatam precisar de mais do que oito horas de sono por noite. Tal impressão é corroborada pela ciência.

O sono é uma necessidade humana universal, mas fatores biológicos e sociais moldam a forma como ele influencia cada pessoa. Estudos indicam, por exemplo, que as mulheres não apenas dormem de forma diferente dos homens, como também precisam dormir mais.

A DW conversou com mulheres de várias regiões do mundo, que compartilharam histórias de sono defasado e relataram os efeitos da chamada "privação de sono".

Sana Akhand, por exemplo, chefiava um departamento de recursos humanos no setor de tecnologia de Nova York quando atingiu um ponto de exaustão, percebeu que isso estava afetando sua saúde mental e se sentiu forçada a deixar o emprego.

"Eu costumava tomar uma taça de vinho e desabar na frente da TV todas as noites", contou à DW. "Eu estava exausta."

Hoje, o sono é algo inegociável para o bem-estar de Akhand. É também um dos motivos pelos quais ela decidiu não ter filhos. Todas as noites, ela vai para a cama às 22h e dorme por nove horas. "Acordo por volta das 8h. É o que meu corpo quer", conclui.

O que a ciência diz sobre sexo biológico e sono

Mulheres dormem em média de 11 a 13 minutos a mais por noite do que os homens. Alguns estudos sugerem que elas podem precisar de até 20 minutos extras para sustentar funções complexas durante o dia, como realização de múltiplas tarefas simultâneas, regulação emocional e ciclo menstrual.

Durante a primeira metade do ciclo menstrual, a fase folicular, o aumento dos níveis de estrogênio melhora a qualidade do sono e aumenta o sono REM – fase ligada aos sonhos, à memória e ao processamento emocional.

Mas na segunda metade do ciclo, a fase lútea, o aumento da progesterona pode causar sonolência e, paradoxalmente, piorar o sono – com mais despertares noturnos e até 27% menos sono profundo.

Shantani Moore, coach de inteligência corporal em Los Angeles, disse à DW que organiza sua rotina diária com base no ciclo menstrual e nos padrões de sono.

"É algo que trabalho conscientemente", disse Moore. "Quando não durmo o suficiente, é como um casamento tóxico entre estar elétrica e exausta. Aí vem a mente confusa, decisões ruins, irritação com o parceiro, dizer 'sim' para coisas que não deveria... tudo se acumula."

O peso da estrutura social

Além da biologia, fatores sociais e estruturais também afetam como e quão bem as mulheres dormem.

Sabrina, que vive em Karachi, no Paquistão, e pediu que seu nome fosse alterado na reportagem, disse que as demandas do dia a dia eram uma grande fonte de exaustão. Ela conta que costumava dormir apenas de seis a sete horas por noite, e que sentia que isso não era suficiente.

"Para me sentir descansada e manter a mente tranquila durante a semana, preciso de 12 horas [de sono por noite]. É mais do que a média de oito", disse Sabrina.

Quando não consegue dormir tudo isso, ela tenta compensar com cochilos, que às vezes duram horas. "Um cochilo de 30 minutos pode virar quatro horas."

Ela afirma que não é só o trabalho que a sobrecarrega, mas também o esforço mental e doméstico constante.

"De manhã, passo roupa, preparo o café da manhã e o almoço, limpo a casa e faço o jantar. E quando estou exausta demais para fazer isso, começo a me culpar mentalmente. Me sinto preguiçosa, mesmo que seja algo que leve só 10 minutos", conta.

Nos fins de semana, quando visita a família, Sabrina dorme de 12 a 13 horas seguidas, sem interrupções.

Especialistas dizem que esse fardo não é apenas anedótico, e sim, sistêmico.

"As mulheres sofrem mais com distúrbios relacionados ao trabalho em turnos, além de trabalharem mais em horários não convencionais, sofrendo mais com os efeitos negativos disso", disse Emerson Wickwire, especialista em sono da Universidade de Maryland, nos EUA.

"Se considerarmos [o horário] 'das 9 às 17' como padrão de jornada, isso significa que, em relação aos homens, as mulheres trabalham até fora desses horários, incluídas as demandas sociais", disse Wickwire à DW.

Clara Paula, profissional autônoma em Berlim, parece ter encontrado uma solução como freelancer. À DW, ela conta como os horários flexíveis a permitem dormir mais quando precisa.

"Agora durmo sete, oito, até nove horas", disse Clara. "Ninguém me obriga a ficar na frente do computador. Começo mais tarde, faço pausas e termino mais rápido. "

Mas não se trata apenas da quantidade de horas, e sim da qualidade do sono. Pesquisas indicam que a fisiologia feminina faz com que as mulheres precisem dormir mais profundamente do que os homens.

"Com isso, nos referimos a mais sono N3, a fase mais profunda do sono não REM, e geralmente mais sono REM também", explicou Julio Fernandez-Mendoza, psicólogo do sono e pesquisador clínico da Penn State Health, nos EUA.

Mesmo em estudos laboratoriais controlados, onde homens e mulheres saudáveis são monitorados sem estresse ou privação de sono, as mulheres dormem consistentemente mais e de forma mais profunda.

"É daí que vem a ideia de que mulheres talvez precisem biologicamente de mais sono", disse Fernandez-Mendoza.

Esse conjunto de fatores pode estar ligado à resiliência biológica – um sistema de proteção observado em outras áreas da pesquisa, como saúde cardiovascular e longevidade.

"É natural que quando um corpo tem a capacidade de gerar vida ele precise ser protegido. Uma mulher precisa conseguir dormir e funcionar mesmo enquanto carrega outro ser humano", pontuou o psicólogo.

Apesar dessa resiliência biológica, as mulheres relatam sintomas de insônia com o dobro de frequência em relação aos homens.

Segundo Fernandez-Mendoza, isso começa já na puberdade. "Por volta dos 11 ou 12 anos, as meninas começam a relatar mais dificuldades para dormir do que os meninos, e essa tendência continua na vida adulta."

Dormir até mais tarde pode ajudar?

"Dormir até mais tarde [nos finais de semana] pode ajudar a recuperar o sono defasado e fazer com que você se sinta mais alerta", explica o psicólogo do sono.

Mas isso não significa que o corpo esteja totalmente recuperado.

"Pode aliviar a sonolência, mas talvez não reverta os efeitos acumulados sobre a saúde", disse ele.

Estudos mostram, por exemplo, que funções cognitivas, como atenção e tempo de reação, demoram muito mais para se recuperar.

Short teaser Seja por conta dos hormônios ou de pressões sociais, muitas mulheres relatam sensação de sono defasado.
Author Kaukab Shairani
Item URL https://www.dw.com/pt-br/por-que-as-mulheres-precisam-dormir-mais-do-que-os-homens/a-74474366?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 35
Id 74459019
Date 2025-10-26
Title Lipoaspiração: a cirurgia plástica mais realizada no Brasil
Short title Lipoaspiração: a cirurgia plástica mais realizada no Brasil
Teaser

Brasil lidera o ranking mundial de procedimentos cirúrgicos estéticos

Brasil realiza mais de 790 lipoaspirações por dia e lidera ranking mundial de cirurgias plásticas. Apesar de ser considerado de baixo risco, procedimento estético pode ter complicações durante e depois da operação.Foi para eliminar gordura abdominal que a gerente de marketing Renata Junqueira Strada, de 38 anos, recorreu a cirurgia de lipoaspiração. O procedimento estético foi realizado em outubro do ano passado para remodelar o abdômen. "Eu sempre tive uma relação difícil com o meu corpo. Fui magra, depois engordei um pouco e voltei a emagrecer. Mesmo fazendo musculação, a gordura abdominal não desaparecia, por isso decidi pela cirurgia. Eu queria me olhar no espelho e gostar do meu corpo", conta. Assim como Renata, outras 289 mil pessoas recorreram à lipoaspiração em busca de um corpo considerado ‘perfeito' no ano passado no Brasil, o equivalente a pouco mais de 790 cirurgias por dia. O procedimento estético aparece no topo do ranking das cirurgias plásticas mais realizadas no país em 2024, segundo o último levantamento da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). A lipoaspiração ficou à frente de procedimentos como prótese de mama (232 mil), cirurgia nas pálpebras (231 mil) e abdominoplastia (192 mil). Ainda segundo o levantamento, o Brasil lidera o ranking mundial de procedimentos cirúrgicos estéticos, com mais de 2,3 milhões de cirurgias realizadas em 2024. O número representa 75% dos procedimentos estéticos feitos no país, os outros 25% (769.245) são considerados não cirúrgicos como aplicação de toxina botulínica, preenchimentos e outras intervenções minimamente invasivas. A popularização da lipoaspiração no Brasil não segue uma tendência mundial. Globalmente, a cirurgia estética mais procurada é a nas pálpebras (2,11 milhões de procedimentos), que ultrapassou a lipoaspiração pela primeira vez, que teve 2,08 milhões de procedimentos realizados. Em seguida aparecem o aumento de mamas (1,65 milhões), a revisão de cicatriz (1,1 milhões) e a rinoplastia (1,08 milhões), completando o ranking dos cinco procedimentos cirúrgicos mais realizados no mundo. Por que lipoaspiração é tão popular Especialistas apontam que a popularidade da lipoaspiração não é por acaso e reflete fatores culturais. O Brasil tem uma forte tradição de valorização da aparência física, impulsionada pelo clima tropical, pela mídia, redes sociais e pela influência de celebridades que expõem resultados de cirurgias e procedimentos estéticos como sinônimo de sucesso pessoal. "A mídia social coloca essa cirurgia plástica como mais um item de desejo, como mais um item de qualidade de vida e isso leva a um aumento do número de procedimentos e aumento da procura", avalia Daniel Regazzini, cirurgião plástico e diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Além disso, a ampliação do acesso com preços competitivos tem contribuído para o aumento do número de procedimentos. É comum encontrar pacotes de lipoaspiração sendo oferecidos em consórcios, com parcelamento facilitado e campanhas publicitárias com "antes e depois" circulam nas redes, despertando o desejo. "É uma cirurgia que dá resultados espetaculares, mas precisa ser bem indicada, ou seja, não é uma cirurgia para ser realizada em paciente obeso. Paciente que está acima do peso, precisa emagrecer e estar em seu peso ideal. Somente depois é indicado retirar as gorduras localizadas com lipoaspiração", explica Marco Cassol, cirurgião plástico. Como é feito o procedimento e os riscos Segundo especialistas, a lipoaspiração é uma intervenção de baixo risco. No procedimento, são utilizadas cânulas que fazem a retirada da gordura localizada, fazendo o contorno corporal. "Atualmente, essas cânulas são conectadas a um aparelho elétrico também que fazem uma vibração, com isso removem a gordura com muito mais facilidade, diminuindo o trauma nos tecidos, diminuindo as dores no pós-operatório e fazendo uma retirada muito mais controlada e segura", explica Rodrigo Mangaravite cirurgião plástico e membro do hospital Israelita Albert Einstein. Nos últimos anos, as técnicas de lipoaspiração evoluíram, com o surgimento de versões menos invasivas, como a lipo HD e a lipoaspiração a laser, que prometem resultados mais precisos e recuperação mais rápida. Ainda assim, especialistas alertam que todas são consideradas intervenções cirúrgicas e têm riscos. Apesar de ser considerado um procedimento de baixo risco, é necessário o uso de anestesia, demanda que o paciente esteja com boa saúde e faça exames pré-operatórios. Além disso, ela deve ser realizada apenas por cirurgião plástico e em ambiente hospitalar preparado para lidar com complicações. O volume máximo de gordura retirado de um paciente não deve ultrapassar 10% do seu peso corporal, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. "Os riscos do procedimento vão desde perfuração na região do abdômen, a lesões de pele, como queimaduras e deformidades estéticas com retirada excessiva de gordura. Essas são as complicações mais graves", acrescenta Mangaravite. O pós-operatório também é uma etapa delicada. É preciso usar cinta compressiva por algumas semanas, evitar esforços, fazer drenagens linfáticas com profissionais habilitados e manter acompanhamento médico. Quando essas orientações não são seguidas, há risco de acúmulo de líquidos, infecção, fibroses e irregularidades na pele. "Outros riscos incluem sangramento, anemia, trombose e infecção. Também pode ter sofrimento de pele numa lipoaspiração muito agressiva, pode ter embolismo gorduroso, quando for realizado um enxerto de gordura e esses procedimentos podem ter um desfecho muito negativo. Então, os riscos estão muito relacionados ao exagero", acrescenta Fernando Amato, cirurgião plástico membro da SBCP. Apenas médico pode realizar a lipoaspiração A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica reforça que apenas cirurgiões plásticos podem realizar esse tipo de procedimento. O paciente deve verificar antes de fazer a cirurgia se o profissional é membro da entidade, confirmar se ela será feita em hospital com estrutura adequada e realizar todos os exames pré-operatórios indicados. Para verificar se o profissional está habilitado para fazer esse tipo de procedimento, o paciente pode entrar no site da SBCP, no campo "Encontre Um Cirurgião", e digitar o nome do médico. Todos os profissionais que são membros da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica têm o nome e cadastro completo na plataforma. "Existe uma exploração de não especialistas em cirurgia plástica e de não médicos aproveitando dessa popularização e tentando fazer procedimentos, inclusive em ambientes não adequados, não cirúrgicos. Isso pode sim ser um grande risco à vida do paciente. Então não cabe a um farmacêutico ou um biomédico fazer uma lipoaspiração", reforça Amato.


Short teaser Brasil realiza mais de 790 lipoaspirações por dia e lidera ranking mundial de cirurgias plásticas.
Author Simone Machado
Item URL https://www.dw.com/pt-br/lipoaspiração-a-cirurgia-plástica-mais-realizada-no-brasil/a-74459019?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Brasil lidera o ranking mundial de procedimentos cirúrgicos estéticos
Image source Jens Schierenbeck/dpa Themendienst/picture alliance
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Item 36
Id 74459192
Date 2025-10-22
Title Chip ajuda quem sofre perda de visão a enxergar de novo
Short title Chip ajuda quem sofre perda de visão a enxergar de novo
Teaser Implante pode, junto com óculos especiais, recuperar pacientes com degeneração macular, uma das principais causas de perda de visão em idosos. Estudo mostra melhora em mais de 80% dos casos.

Restaurar a visão – ou pelo menos melhorá-la – pode em breve ser possível para quem sofre de degeneração macular. A esperança está em um novo sistema que consiste num pequeno chip e óculos especiais.

Juntos, chip e óculos se mostraram eficazes no tratamento de um tipo de doença ocular conhecida como Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI).

Após um ano de monitoramento, mais de 80% dos pacientes em centros de estudo nos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Holanda e Itália apresentaram melhora significativa na visão central.

Com o implante, os pacientes conseguiram ler números e palavras em casa e melhoraram sua capacidade de leitura em 25 letras – ou cinco linhas – em uma tabela padrão de exame oftalmológico.

A maioria dos participantes, com mais de 50 anos de idade, teve a visão melhorada para cerca da metade da acuidade visual padrão de 20/20 – ou o nível de detalhes que um indivíduo médio consegue enxergar a uma distância de 6 metros.

"É a primeira vez que ficou demonstrado que a visão pode ser restaurada em uma área da retina cega que é importante para a vida cotidiana", disse Frank Holz, líder do estudo e chefe do departamento de oftalmologia da Universidade de Bonn, à DW.

À medida que algumas pessoas envelhecem, a mácula – parte da retina responsável pela visão central – pode se deteriorar, levando inicialmente ao embaçamento da visão e, depois, à degeneração progressiva.

A degeneração macular atrófica relacionada à idade (DMRI atrófica) é uma das principais causas de perda de visão em idosos, afetando pelo menos 5 milhões de pessoas em todo o mundo.

Implante é esperança para quem tem DMRI atrófica

Um olho saudável "enxerga" ao receber luz do mundo exterior e convertê-la em sinais elétricos que são enviados ao cérebro pelo nervo óptico para interpretação. A degeneração macular reduz a capacidade do olho de realizar esse processo.

A solução de implantar na retina um chip do tamanho da cabeça de um alfinete capaz de compensar essa deterioração inspirou Daniel Palanker, oftalmologista da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Para o desenvolvimento da tecnologia, ele colaborou com um especialista em visão, o francês Jose-Alain Sahel, da Escola de Medicina de Pittsburgh. A ideia era criar um implante que eliminasse a necessidade de fios sob a pele.

Mas o chip é apenas uma parte do que eles chamam de sistema Prima.

A outra parte consiste em um conjunto especial de óculos. Eles utilizam uma câmera acoplada para transmitir dados visuais ao implante, que envia essas informações a um processador portátil para aprimoramento e, em seguida, recebe as imagens com qualidade melhorada de volta.

As imagens são convertidas em impulsos elétricos, utilizando as células remanescentes da retina para enviar as informações ao cérebro.

"É necessário, especialmente nessa doença, que o biocomputador, por assim dizer, a fiação [biológica] anterior ao chip, ainda esteja presente", disse Holz, referindo-se às células do olho que ainda funcionam.

"Se todas as células da retina estão mortas, o chip não funciona. [O implante] apenas substitui os fotorreceptores e basicamente traduz a luz em estímulos elétricos, que é o que a natureza faz no olho por meio da retina."

Resultado de colaboração

Tanto Sahel, em Pittsburgh, quanto Palanker, em Stanford, estavam trabalhando em tecnologias distintas para resolver o mesmo problema quando se conheceram em uma conferência em 2012.

Foi então que eles decidiram unir esforços para desenvolver o implante, começando com estudos menores com alguns pacientes e depois evoluindo para o ensaio mais recente, que envolveu mais de 30 pessoas.

Em 2024, porém, o estudo atual quase teve que ser interrompido por causa da falência da empresa responsável pelo desenvolvimento do Prima.

"Lembro vividamente daqueles dias, não muito distantes, em que tudo estava prestes a ruir justamente quando o estudo estava quase concluído", recorda Sahel em entrevista à DW. "Poderia ter acontecido de termos um produto funcional e não haver forma de fazê-lo chegar às pessoas."

Entretanto, a empresa desenvolvedora acabou sendo adquirida pela americana Science Corporation, que assumiu a produção e atualmente busca aprovação da Food and Drug Administration (FDA), agência dos Estados Unidos equivalente à Anvisa no Brasil, para uso como terapia médica nos Estados Unidos, além da certificação CE para uso na Europa.

Ao realizar o estudo em vários países e locais diferentes, a equipe espera conseguir aprovação em ambas as regiões.

"Queremos demonstrar que a tecnologia não está limitada a um ou dois cirurgiões altamente especializados", disse Sahel à DW. "E que pacientes de diferentes perfis também podem se beneficiar dela."

É um critério essencial para os órgãos reguladores que os pesquisadores comprovem que operações complexas como essa implantação podem ser realizadas com sucesso por cirurgiões oftalmológicos. Embora alguns efeitos adversos tenham sido relatados por alguns pacientes, eles desapareceram até o final do período de estudo de 12 meses.

"Demonstrar que houve consistência nos resultados em 13 locais diferentes e com diferentes cirurgiões permite ampliar o acesso a mais centros e pacientes", afirmou Sahel.

Implantação do chip: uma cirurgia complexa

Sahel e Holz destacaram que há limitações na nova tecnologia. Embora a implantação do chip já tenha sido realizada com sucesso por diversos cirurgiões ao redor do mundo, eles disseram à DW que não se trata de uma operação simples.

"Trata-se de uma cirurgia muito complexa, que requer uma boa capacitação", afirmou Sahel.

Outro desafio está no próprio paciente. Existem barreiras logísticas que podem afetar a adequação ao tratamento, como a capacidade de visitar repetidamente uma clínica para reabilitação pós-cirúrgica e de contar com apoio em casa durante esse período.

Holz explica que quem recebe o implante precisa estar disposto a passar por avaliações contínuas após a cirurgia, além da necessidade de passar por um treinamento para usar a câmera e o processador, a fim de utilizar o implante com sucesso.

Atualmente, o programa de reabilitação leva cerca de 12 meses.

Short teaser Implante pode recuperar pacientes com degeneração macular, uma das principais causas de perda de visão em idosos.
Author Matthew Ward Agius
Item URL https://www.dw.com/pt-br/chip-ajuda-quem-sofre-perda-de-visão-a-enxergar-de-novo/a-74459192?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 37
Id 74224547
Date 2025-10-02
Title Futebol do Leste alemão segue em crise, 35 anos após Reunificação
Short title Futebol do Leste alemão segue em crise após Reunificação
Teaser

1. FC Magdeburg, que já conquistou a Europa, é um dos poucos times do Leste nas principais divisões do futebol alemão

Dos 56 times nas três principais divisões alemãs, apenas seis são da antiga Alemanha Oriental. Mas, apesar das disparidades com o Oeste, uma nova geração de jogadores traz esperanças.Há pouco mais de 50 anos, o 1. FC Magdeburg conseguiu um feito do qual nenhum outro time da Alemanha Oriental chegou perto, ao conquistar a Copa da Europa – a atual Liga dos Campeões. Hoje, após uma longa jornada nas ligas inferiores, o clube está na segunda divisão do futebol alemão. "Acho que era impossível prever naquela época o que aconteceria com o futebol no Leste, especialmente logo após a Reunificação da Alemanha. Havia muitos fatores desconhecidos. Acho que as pessoas podem ter sido um pouco ingênuas", disse à DW Carsten Müller, que jogou no Magdeburg antes e depois da queda do Muro de Berlim e agora dirige as categorias de base da equipe. A transformação do Magdeburg, de rei continental para um time de segunda divisão, reflete o destino de muitos de seus pares na Alemanha Oriental. Dos 56 times profissionais nas três principais divisões da Alemanha, apenas seis são da antiga República Democrática da Alemanha (RDA). O sétimo clube do Leste, o RB Leipzig, foi fundado após a Reunificação. Décadas após a queda do Muro de Berlim, as divisões geográficas permanecem tanto no futebol masculino quanto no feminino. Sonhos despedaçados "Quando as empresas que cercam um clube se desintegram e a situação econômica da cidade e da região só piora, você se depara repentinamente com uma onda de desafios. Jogadores e clubes são constantemente submetidos a novos testes", disse Müller. O choque gerado pela onda de privatizações que atingiu a indústria da Alemanha Oriental após a queda do Muro de Berlim também impactou o futebol. Clubes anteriormente estatais do Leste repentinamente tiveram que competir com os abastados times ocidentais. "Muitos jogadores do Leste foram rapidamente levados para a Bundesliga [a primeira divisão do futebol alemão] pelos clubes ocidentais", disse Marco Hartmann, ex-jogador do Dínamo Dresden e atual chefe das categorias de base, à DW. "Isso significou que os melhores jogadores do Dínamo também foram rapidamente contratados naquela época, e a um preço bastante baixo, o que não beneficiou muito o clube." O Dínamo Dresden, oito vezes campeão da Alemanha Oriental – atualmente jogando na segunda divisão –, tornou-se apenas mais uma peça na liquidação do Leste para os ricos clubes da Bundesliga. A partir daí, as coisas só pioraram. "Muitos clubes do Leste tiveram gestões financeiras extremamente ruins. Acho que isso se deveu a todas as novas possibilidades que não estavam disponíveis anteriormente através do financiamento estatal", disse Hartmann. Rebaixamentos e falências, muitas vezes andando de mãos dadas, tornaram-se comuns. Os dois únicos clubes da Bundesligada região, o Union Berlin e o RB Leipzig, são exceções. O Union Berlin, na primeira divisão desde 2019, se beneficia de uma infraestrutura mais ampla e de maiores oportunidades financeiras à sua disposição por ser um time da capital. A controversa propriedade estrangeira do RB Leipzig e a falta de um histórico na Guerra Fria tornam a trajetória do clube dificilmente comparável com seus rivais na Bundesliga. Caminhos diferentes, destinos semelhantes Enquanto os clubes masculinos do Leste se esforçavam ao máximo para se manter vivos, um time feminino da antiga RDA ascendia ao topo do futebol. O Turbine Potsdam conquistou seis títulos da Bundesliga e dois da Liga dos Campeões entre 2004 e 2012, em parte porque o futebol feminino oferecia um ambiente significativamente mais equilibrado. "Acho que no futebol feminino não era preciso investir tanto, em comparação com um time masculino", disse à DW a ex-jogadora Anja Mittag. Ela acredita que o clube prosperou graças à influência do técnico Bernd Schröder, que comandou a equipe desde sua fundação, em 1971, até 2016. O sucesso ajudou o clube a conquistar apoio e infraestrutura vitais. "Ainda precisávamos de bons patrocínios e público para ganhar dinheiro. Foi grandioso, tínhamos uma cidade que realmente nos apoiava em Potsdam", disse Mittag. "Se você tem sucesso, atrai jogadoras. Acho que vencer a Liga dos Campeões nos deu uma grande vantagem", acrescentou. "Além disso, não havia muitos outros times de ponta para escolher naquela época, principalmente em comparação com o futebol masculino." Desde então, o Turbine tem lutado para acompanhar vários clubes masculinos que recentemente investiram pesadamente no futebol feminino, a grande maioria dos quais está no oeste. O antigo clube de Mittag passou por uma década de lento declínio, que finalmente o levou ao rebaixamento em 2023. O time feminino oriental de maior sucesso agora é o RB Leipzig, onde Mittag é treinadora. A ex-atleta da seleção alemã ingressou no clube como jogadora da terceira divisão e acompanhou o Leipzig durante a ascensão à Bundesliga em 2023, como reserva. "Acho importante para a região criar oportunidades diferentes. Acho que isso realmente cria muitas possibilidades para jovens jogadoras e torna as coisas mais atraentes", observou. Esperanças para o futuro Segundo Mittag, o RB Leipzig se concentra em suas categorias de base para fortalecer seu elenco e alcançar a meta de classificação para a Liga dos Campeões a médio prazo. Embora a classificação europeia seja um sonho distante para a maioria dos times masculinos da antiga Alemanha Oriental, o sucesso nas categorias de base pode ser a única maneira de se tornar mais competitivo em um ambiente cada vez mais desigual. "Trata-se de desenvolver jogadores titulares que se identifiquem com o clube e sejam apaixonados por jogar pelo Dínamo Dresden. É muito importante para nossos sócios e torcedores que tenhamos jogadores da região e, idealmente, os próprios torcedores, no time", disse Hartmann. "Não acho que ser considerado um clube em desenvolvimento seja algo ruim", afirmou Müller. "Precisamos encontrar maneiras de desenvolver jogadores para o nosso time principal. [O Magdeburg] tem muito potencial e investiu pesado no futuro." Embora a disparidade financeira entre os times ocidentais da Bundesliga e a maioria dos clubes do Leste ainda permaneça intransponível, o investimento no futebol juvenil já começa a dar resultados. Segundo a emissora alemã ZDF, 22% dos 880 jogadores que representaram a Alemanha nas categorias de base na última década são do Leste. Considerando que apenas 18% da população alemã vem de estados da região, a super-representação no futebol juvenil é um sinal de que as coisas estão caminhando na direção certa. Seja qual for o futuro, os clubes do Leste – assim como seus torcedores – o aceitarão com naturalidade. "O futebol no Leste sempre mostrou que raramente caímos em lamentações. Em vez disso, sempre mostramos que, independentemente das dificuldades, mantemos a cabeça erguida. É disso que as pessoas se orgulham", disse Müller.


Short teaser Dos 56 times nas três principais divisões alemãs, apenas seis são da antiga Alemanha Oriental.
Author Dave Braneck
Item URL https://www.dw.com/pt-br/futebol-do-leste-alemão-segue-em-crise-35-anos-após-reunificação/a-74224547?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption 1. FC Magdeburg, que já conquistou a Europa, é um dos poucos times do Leste nas principais divisões do futebol alemão
Image source Melanie Zink/Sportfoto Zink/picture alliance
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Item 38
Id 63791517
Date 2025-09-10
Title Quais as diferenças entre os Artigos 4° e 5° da Otan?
Short title Quais as diferenças entre os Artigos 4° e 5° da Otan?
Teaser

Estado-membro da Otan pode invocar o Artigo 4° do tratado quando se sentir ameaçado

Polônia invocará Artigo 4° da aliança após derrubar drones russos que invadiram seu espaço aéreo. Otan possui mecanismos com medidas a serem adotadas em caso de ataque a seus países-membros.Após drones russo terem invadido nesta quarta-feira (10/09) o espaço aéreo da Polônia, o país – que faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – anunciou que invocará o Artigo 4° da aliança. Um Estado-membro da Otan pode invocar o Artigo 4° do tratado quando se sentir ameaçado por um outro país ou organização terrorista. Logo em seguida, os 30 membros da aliança iniciam consultas formais e analisam se existe uma ameaça e como combatê-la, tomando decisões por unanimidade. O Artigo 4° não significa, entretanto, que haverá uma pressão direta para agir. Esse mecanismo de consulta foi acionado várias vezes na história da Otan. Por exemplo, pela Turquia, há um ano, quando soldados turcos foram mortos num ataque da Síria. Naquela época, a aliança fez consultas entre seus membros, mas decidiu não tomar atitudes. Quais as diferenças entre os Artigos 4° e 5°? Após a Rússia invadir a Ucrânia no final de fevereiro, os membros da Otan Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia evocaram o Artigo 4°. Junto com a Eslováquia, Hungria e Romênia, esses países fazem parte do chamado "flanco oriental" da Otan, que foi reforçado com milhares de tropas de membros da aliança. Na Carta da Otan, o Artigo 4° difere do 5°. Este último estabelece a assistência militar de toda a aliança se um dos Estados-membros for atacado. O Artigo 5° foi acionado apenas uma vez: após os ataques da Al-Qaeda contra os EUA, quando a organização terrorista causou a morte de mais de 3 mil pessoas. Em resposta aos ataques terroristas de 11 de Setembro, os aliados da Otan também se juntaram aos EUA na luta no Afeganistão. O tratado da Otan se aplica apenas aos Estados-membros. Pelo fato de a Ucrânia não fazer parte da aliança, Kiev não pode acionar o Artigo 4° nem o 5°.


Short teaser Polônia invocará Artigo 4° da aliança após derrubar drones russos que invadiram seu espaço aéreo.
Author Bernd Riegert
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Image caption Estado-membro da Otan pode invocar o Artigo 4° do tratado quando se sentir ameaçado
Image source Christoph Hardt/Panama/picture alliance
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Item 39
Id 73592603
Date 2025-08-10
Title Lesão cerebral mata dois boxeadores no mesmo evento no Japão
Short title Lesão cerebral mata dois boxeadores no mesmo evento no Japão
Teaser Atletas japoneses, ambos com 28 anos, foram hospitalizados após lutas separadas ocorridas no mesmo dia e não resistiram aos ferimentos na cabeça.

Dois boxeadores japoneses morreram em decorrência de lesões cerebrais sofridas em lutas separadas no mesmo dia 2 de agosto último e no mesmo evento em Tóquio, informou a mídia japonesa neste domingo (10/08).

O superpluma Shigetoshi Kotari morreu na última sexta-feira e o peso leve Hiromasa Urakawa, neste sábado. Ambos tinham 28 anos. Eles foram levados ao hospital, onde passaram por uma cirurgia no cérebro, mas não resistiram.

Os dois atletas foram operados no crânio devido a um hematoma subdural, quando ocorre acúmulo de sangue entre o cérebro e o crânio.

Kotari empatou após 12 rounds contra o também japonês Yamato Hata e desmaiou logo depois.

Já Urakawa perdeu por knockout no oitavo e último round contra Yoji Saito. O atleta "sucumbiu tragicamente aos ferimentos sofridos em sua luta", informou a Organização Mundial de Boxe no Instagram.

Entidade reformula regra

Tsuyoshi Yasukochi, secretário-geral da Comissão Japonesa de Boxe, disse à mídia local que esta pode ser "a primeira vez no Japão que dois lutadores passaram por cirurgias de abertura de crânio para tratar ferimentos sofridos no mesmo evento".

Em resposta, a entidade anunciou que todas as lutas pelo título da Federação de Boxe do Oriente e do Pacífico serão reduzidas de 12 para 10 rounds.

Terceira morte no boxe em um ano

A morte de Urakawa marca a terceira fatalidade no boxe mundial devido a lesões no ringue neste ano.

Em fevereiro passado, o boxeador irlandês John Cooney morreu, também aos 28 anos, uma semana após ser hospitalizado após sua derrota pelo título superpluma do Celtic para Nathan Howells em Belfast.

Ele sofreu uma lesão cerebral grave durante a luta.

Apelos por uma supervisão mais rigorosa do boxe – tanto no Japão quanto internacionalmente – vêm ganhando força após as fatalidades.

Ativistas exigem lutas mais curtas, exames médicos obrigatórios após as lutas e aplicação mais rigorosa dos protocolos de concussão.

md (Reuters, AFP, AP)

Short teaser Atletas japoneses, ambos com 28 anos, foram hospitalizados após lutas separadas realizadas no mesmo dia.
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Item 40
Id 73216916
Date 2025-07-13
Title O drama de um boxeador vítima de doping na Alemanha Oriental
Short title O drama de um boxeador vítima de doping na Alemanha Oriental
Teaser Cerca de 15 mil atletas da antiga Alemanha Oriental foram dopados durante anos sem seu consentimento, com danos graves e duradouros à saúde. Um deles é o boxeador Andreas Wornowski.

Andreas Wornowski teve a sensação de que algo estava errado em 1993, quatro anos após a mudança política que derrubou o regime comunista da República Democrática da Alemanha (RDA), a Alemanha Oriental. "Um médico no hospital da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) me perguntou diretamente sobre drogas para melhorar o desempenho esportivo. Minha resposta foi dar de ombros. Não admiti essa ideia, nunca mais pensei no assunto e o ignorei."

Há mais de quatro décadas o ex-boxeador de 54 anos sofre consequências graves para a sua saúde, com dores dia e noite – a começar pela mão esquerda, que usava para dar socos, incapacitada. O quadro é agravado por uma depressão grave. O ex-atleta da RDA se deu conta de que essas são consequências do doping forçado na RDA, o que fez com que ele começasse a lidar com seu passado.

Início de carreira aos 13 anos

O caminho de Wornowski para os esportes de elite começou relativamente tarde, aos onze anos. Com talento, disciplina e dedicação aos treinamentos, ele se tornou campeão distrital em sua faixa etária em Magdeburg apenas um ano depois.

Aos treze anos, ingressou na Escola de Esportes Infantis e Juvenis de Berlim, um internato esportivo de elite onde a RDA formava seus futuros medalhistas, onde Wornowski morou até atingir a maioridade, só podendo voltar para casa a cada quatro semanas.

Inicialmente, sua mãe, enfermeira de profissão, era estritamente contra o boxe. O esporte era brutal demais para ela. Mas o pai de Wornowski e o conselho distrital de sua cidade natal a convenceram.

Olhando para o passado, Wornowski compreende a preocupação de sua mãe. Praticar boxe significava consentir com agressões físicas. Se a força dos golpes fosse então aumentada com medicamentos, culminava em um verdadeiro "massacre com material corporal", nas palavras do ex-boxeador, com golpes de "martelo a vapor" na cabeça.

Na seleção juvenil da RDA

Ele descreve o período que viveu a partir de então como "uma espécie de campo de treinamento extremo", no qual crianças e adolescentes eram obrigados a atingir seu potencial máximo por meio de medicamentos para melhorar o desempenho, aliviar a dor e desinibir, sob enorme pressão psicológica e física para demonstrarem bom desempenho.

Qualquer um que não conseguisse suportar isso ou fizesse perguntas incômodas sobre comprimidos ou injeções era expulso. Na 8ª série havia 21 jovens e, na 10ª, apenas quatro.

Wornowski rapidamente alcançou o sucesso e chegou à seleção juvenil da RDA. A partir de 1986, ele passou a receber regularmente vários medicamentos na forma de cápsulas azuis, pretas e vermelhas oficialmente rotuladas como "vitaminas e agentes de reforço imunológico".

Hoje, Wornowski está convencido de que esses medicamentos incluíam o agente anabolizante Oral-Turanibol, o esteroide anabolizante Mestanolona, a substância de teste esteroide 646 e drogas psicotrópicas projetadas para aumentar a agressividade.

Esses medicamentos foram comprovadamente administrados a todo o grupo de treinamento de Wornowski durante os tratamentos experimentais de treinamento sob a direção de Hans Gürtler, um renomado médico esportivo da Alemanha Oriental e corresponsável pelo programa estatal de doping, que, a partir de 1974, ficou conhecido como "Plano Estatal Tema 14.25".

Sessões brutais de treinamento

O auge esportivo de Wornowski começou aos 16 anos, quando ele se tornou campeão juvenil dos meio-pesados da Alemanha Oriental e venceu torneios internacionais. Tornou-se representante da RDA, um "diplomata de agasalho de treino", como era chamado na época.

Um memorando da Stasi, a polícia secreta da RDA, atestava que Wornowski "determina o nível de desempenho da RDA em sua idade e categoria de peso." A decisão em suas lutas era frequentemente tomada por nocaute no primeiro round. "Por mais de um ano, ninguém ficou em pé", diz o ex-boxeador.

Mas, paralelamente à sua fama, seu declínio físico aumentou. As dores aumentaram e seus ferimentos se acumularam: um nariz quebrado, pálpebras costuradas e dentes arrancados.

Somou-se a isso um treinamento implacável com até quatro sessões de duas horas por dia. Em circunstâncias normais, isso vai além dos limites de resistência física. "Eu realmente não conseguia continuar, mas fui em frente mesmo assim. Hoje eu diria [que aquelas eram] condições brutais", lembra Wornowski.

Ele afastava a dor ingerindo até 20 analgésicos por dia, algo que não era incomum para ele. Para perder peso antes de uma competição, ele frequentemente tinha que fazer seu treinamento com luvas – socos com luvas de boxe em almofadas especiais seguradas pelo treinador – em uma sauna a uma temperatura de 90º C.

Na Universidade Alemã de Cultura Física e Esportes em Leipzig, ele foi até forçado a desmaiar em uma esteira ergométrica para testar seus limites de desempenho. Apenas uma cinta o impedia de cair.

Fim de carreira por razões políticas

A carreira esportiva de Wornowski terminou abruptamente aos 19 anos, na primavera de 1989, mais de seis meses antes da queda do Muro de Berlim. Oficialmente, isso ocorreu devido a seus problemas de saúde, principalmente oculares. Wornowski, no entanto, acredita que o motivo teria sido o fato de que ele havia se recusado a se filiar ao partido estatal da Alemanha Oriental, o Partido Socialista Unitário (SED).

O que lhe restou foi uma profissão para a qual nunca havia se formado: mecânico de automóveis. Wornowski nunca havia visto o interior de uma oficina mecânica, mas a Stasi lhe forneceu um exame profissional.

Oficialmente, como todos os atletas competitivos na RDA, ele era considerado amador, já que não havia em caráter oficial esportes profissionais no regime socialista.

Após a Reunificação alemã – em 3 de outubro de 1990 – foi somente em 1997 que alguns processos judiciais trouxeram à tona a extensão do doping estatal da Alemanha Oriental. Em resposta, diversas leis de auxílio às vítimas de doping foram aprovadas em 2002 e posteriormente. Por meio delas, cerca de 2.000 pessoas afetadas, incluindo Wornowski, receberam pagamentos únicos de 10.500 euros cada (R$ 67 mil).

Essas leis, porém, já expiraram. Os procedimentos atuais de reconhecimento são complicados e envolvem enormes obstáculos. A Associação de Assistência às Vítimas de Doping estima que cerca de 15.000 pessoas sejam afetadas.

Wornowski luta por uma pensão mensal devido aos danos causados à sua saúde. Um pedido foi rejeitado, uma vez que é difícil provar os danos causados pelo doping da RDA. Todos os seus registros médicos desapareceram, o que o levou a entrar com uma ação judicial.

"Esta é uma grande tragédia. O verdadeiro problema para as pessoas afetadas é que seus registros médicos desapareceram e elas estão em uma situação difícil que provavelmente não será resolvida mesmo com a emenda" explica o advogado de Wornowski, Ingo Klee, se referindo a uma nova regulamentação que visa beneficiar as vítimas de doping da RDA.

Mudança na lei traz novas esperanças

Alguns ex-funcionários e médicos do sistema esportivo da RDA ocupam cargos importantes ainda nos dias atuais, afirma Michael Lehner, presidente da Associação de Assistência às Vítimas de Doping.

No caso de Wornowski, o chefe dos serviços médicos do estado de Brandemburgo redigiu um parecer médico negativo. O especialista trabalhou no serviço de medicina esportiva da RDA no final da década de 1980, justamente a instituição responsável pela implementação prática do doping forçado. O médico em questão, porém, nega qualquer envolvimento em práticas de doping.

Lehner tem esperanças em uma nova regulamentação que visa inverter o ônus da prova: para certas doenças típicas, o doping deve ser considerado a causa. No entanto, isso não é de forma alguma automático, alerta Klee. O advogado de Wornowski diz que os órgãos de Previdência Social ainda podem duvidar dos danos resultantes do doping, por exemplo, citando um histórico de saúde familiar.

"Não é só a falta de provas, os problemas de saúde, as dificuldades financeiras – isso tudo é repugnante e quase insuportável", diz Wornowski. Hoje, ele e a esposa vivem uma vida isolada em sua casa em uma floresta. Alguns de seus antigos companheiros de treino já faleceram. "Em todos os funerais, todos têm o mesmo pensamento: quem vai saber o que nos deram naquela época?"

Short teaser Cerca de 15 mil atletas foram dopados durante anos sem consentimento. Um boxeador ainda luta pela verdade dos fatos.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-drama-de-um-boxeador-vítima-de-doping-na-alemanha-oriental/a-73216916?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 41
Id 72986020
Date 2025-06-21
Title Ataques israelenses agravam situação de refugiados afegãos no Irã
Short title Conflito agrava situação de refugiados afegãos no Irã
Teaser Em meio à ofensiva israelense, refugiados no Irã enfrentam abusos, fome e medo de deportação enquanto buscam segurança longe do regime talibã.

O conflito entre Irã e Israel está sendo sentido pelos afegãos tanto em seu país quanto do outro lado da fronteira, no Irã. O combate piora ainda mais as condições já críticas do Afeganistão, onde os preços dos produtos importados do lado iraniano dispararam.

Enquanto isso, milhões de afegãos que fugiram para o Irã em busca de segurança enfrentam agora incertezas e pressões renovadas das autoridades, com a escalada do conflito armado: "Não temos onde morar", queixa-se a refugiada afegã Rahela Rasa. "Tiraram a nossa liberdade de ir e vir. Somos assediados, insultados e maltratados."

Condições deterioram para afegãos no Irã

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) registra que cerca de 4,5 milhões de afegãos residem no Irã, embora segundo outras fontes esse número possa ser muito maior. O Irã já deportou milhares de afegãosnos últimos anos, mas o afluxo continua. Muitos buscam emprego ou refúgio do regime do Talibã.

Depois da saída dos Estados Unidos do Afeganistão, em 2021, o Talibã desmantelou a mídia e a sociedade civil do país, perseguiu ex-membros das forças de segurança e impôs severas restrições a mulheres e meninas, proibindo-as de trabalhar e estudar.

As condições também se deterioraram para os afegãos que vivem em solo iraniano. Os refugiados só têm permissão para comprar alimentos a preços extremamente inflacionados e estão proibidos de sair da capital, Teerã.

Sob anonimato, uma refugiada comenta que não consegue comprar leite em pó para seu bebê: "Em todo lugar aonde eu vou, eles se recusam a vender para mim, porque não tenho documentos necessários."

Sem opção de retorno

Atualmente alvo de ataques israelenses, o Irã, que antes oferecia abrigo, já não parece mais seguro. Alguns afegãos já morreram em bombardeios. Abdul Ghani, da província afegã de Ghor conta que seu filho Abdul Wali, de 18 anos, recentemente concluiu os estudos e se mudou para o Irã para ajudar a família.

"Na segunda-feira, falei com o meu filho e pedi que nos enviasse algum dinheiro. Na noite seguinte, seu empregador me ligou para informar que ele havia sido morto em um ataque. Meu coração está partido. O meu filho se foi."

Retornar ao Afeganistão não é uma opção viável para a maioria dos refugiados, que temem ser perseguidos pelo regime talibã. Um ex-membro das forças de segurança do Afeganistão, falando sob anonimato, revela que vivia em medo constante: "Não podemos voltar ao Afeganistão, o Talibã nos perseguiria."

Mohammad Omar Dawoodzai, ex-ministro do Interior afegão e embaixador no Irã no governo anterior, insta a comunidade internacional a agir para proteger ex-funcionários e militares que podem ser forçados a retornar ao Afeganistão se o conflito entre Israel e Irã se prolongar.

"Estou particularmente preocupado com os ex-militares e servidores públicos que fugiram para o Irã após a tomada do poder pelo Talibã. A comunidade internacional deve responsabilizar o Talibã e garantir que os repatriados não sejam perseguidos."

Traficantes de pessoas exploram medos

Redes de tráfico humano parecem estar explorando o desespero dos refugiados afegãos. Circularam rumores sugerindo que a Turquia abriu as suas fronteiras.

Mas Ali Reza Karimi, um defensor dos direitos dos migrantes, nega a abertura das fronteiras, afirmando tratar-se de informação de falsa, espalhada por traficantes. Os voos estão suspensos, e a fronteira da Turquia só está aberta para cidadãos iranianos e viajantes com passaporte e visto válidos, e permanece fechada para afegãos. Ele aconselha os refugiados afegãos a não caírem nas mentiras dos traficantes e evitarem armadilhas.

O ex-ministro Dawoodzai reforça: "Fui informado que traficantes de pessoas estão dizendo aos refugiados para se dirigirem à Turquia, alegando que as fronteiras estão abertas, mas isso cria mais uma tragédia. Chegando lá, eles só vão descobrir que as fronteiras estão fechadas."

Ele apela aos refugiados afegãos no Irã para que não precipitem: "Na medida do possível, nosso povo deve permanecer onde está e esperar pacientemente. E se, por qualquer motivo, forem forçados a se mudar, que se dirijam à fronteira afegã, não à Turquia."

Short teaser Conflito Irã-Israel agrava crise de refugiados afegãos no Irã, que enfrentam abusos, fome e medo de deportação.
Author Shakila Ebrahimkhail, Ahmad Waheed Ahmad
Item URL https://www.dw.com/pt-br/ataques-israelenses-agravam-situação-de-refugiados-afegãos-no-irã/a-72986020?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 42
Id 57531509
Date 2025-06-13
Title Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel
Short title Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel
Teaser Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011. Devido ao custo alto, só é empregado para proteger áreas habitadas.

A escalada das agressões entre Israel e Irã nesta sexta-feira (13/06) colocou à prova a eficácia do sistema antimísseis israelense Iron Dome (Domo de Ferro), que desde 2011 é empregado para impedir ataques aéreos estrangeiros no país.

Após o exército israelense atingir instalações nucleares iranianas, Teerã retaliou lançando dezenas de mísseis contra Israel. A maioria foi interceptada pelo sistema de defesa, mas alguns conseguiram furar o bloqueio e atingir sete pontos da capital.

Em outubro de 2024, o sistema foi mais eficiente. Na ocasião, o Irã lançou mísseis contra Tel Aviv em retaliação à ofensiva israelense no sul do Líbano, mas o Domo de Ferro impediu danos maiores. Desde o início do conflito contra o Hamas, em outubro de 2023, o sistema também já barrou projéteis disparados de Gaza, Líbano, Síria, Iraque e Iêmen.

Sistema de três elementos

A defesa aérea israelense consiste em um sistema de três níveis. O "David's Sling" (também conhecido como a parede mágica) é responsável por barrar mísseis de médio alcance, drones e mísseis de cruzeiro. O sistema Arrow tem como alvo os mísseis de longo alcance.

Já o Domo de Ferro intercepta mísseis de curto alcance e projéteis de artilharia.

Louvado como "seguro de vida para Israel", o Domo de Ferro consiste de uma unidade de radar e um centro de controle, com a capacidade de reconhecer, logo após seu lançamento, projéteis – por exemplo, foguetes – que se aproximem voando, e de calcular sua trajetória e alvo.

O processo leva apenas segundos. O Domo também conta com baterias para lançamento de mísseis. Cada sistema possui três ou quatro delas, com lugar para 20 projéteis de defesa, os quais só são disparados quando está claro que um míssil mira uma área habitada. Eles não atingem o foguete inimigo diretamente, mas explodem em sua proximidade, destruindo-o. No entanto, a consequente queda de destroços ainda pode causar danos.

Os dez sistemas atualmente operacionais em Israel são móveis, podendo ser deslocados segundo a necessidade. Segundo a fabricante, a empresa armamentista estatal Rafael Advanced Defence Systems, uma única bateria é capaz de proteger uma cidade de tamanho médio.

90% de êxito, mas com custos altos

O "Domo de Ferro" é especializado na neutralização de projéteis de curto alcance. Como cada unidade age num raio de até 70 quilômetros, seriam necessárias 13 delas para garantir a segurança de todo o país.

De acordo com a fabricante, o sistema tem uma taxa de sucesso de 90%. Em seu site, a empresa estatal de defesa fala que mais de 5 mil projéteis já foram interceptados desde suas instação em 2011.

Cada projétil interceptador do Domo de Ferro pode custar entre 40 mil e 50 mil euros (R$ 221 mil a 277 mil), segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA. Por este motivo, só são contidos os mísseis que cairiam em áreas habitadas.

Nova arma a laser "Iron Beam"

Em vista dos altos custos, o exército israelense quer complementar o Domo de Ferro com uma nova arma de defesa a laser, o chamado "Iron Beam".

O laser de alta energia foi projetado para destruir pequenos mísseis, drones e projéteis de morteiro. Ele também deve ser capaz de neutralizar enxames de drones.

A Iron Beam foi apresentada em fevereiro de 2014 pela Rafael Systems. A empreiteira de defesa americana Lockheed Martin também está envolvida no projeto desde 2022.

As vantagens em comparação com o "Iron Dome" são os custos menores por lançamento, um suprimento teoricamente ilimitado de munição e custos operacionais mais baixos.

Os valores variam consideravelmente: um lançamento a laser custaria até 2 mil dólares (R$ 5,5 mil). A implantação da nova tecnologia está planejada para 2025.

Short teaser Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011.
Author Uta Steinwehr
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-funciona-o-domo-de-ferro-sistema-antimísseis-de-israel/a-57531509?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 43
Id 72595695
Date 2025-05-19
Title Esportes "ninja" conquistam a Alemanha
Short title Esportes "ninja" conquistam a Alemanha
Teaser

Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo

Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV estreou sua própria "Bundesliga". O chamado "playground de adultos" agrada também crianças e pode ajudar no desenvolvimento motor infantil."É como um playground gigante para nós, adultos. Todos nos divertimos muito", conta Marlies Brunner à DW, com brilho nos olhos. "Ficamos tão felizes quanto crianças por podermos praticar esse esporte." A jogadora de 23 anos viajou da Áustria para Bonn, na Alemanha, para participar da estreia da Ninja Bundesliga ("liga nacional"). Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo. Acima de tudo, os atletas precisam de força, resistência, coordenação e técnica, além de vigor mental, para chegar à linha de chegada sem cair no colchão de ar ou nos colchonetes, sendo fiel ao lema "o chão é lava". "Você voa bastante pelo ar, se sente leve e não mais preso à gravidade", explica Ouissal Touiher à DW. É completamente diferente se mover apenas com as mãos e não com os pés, diz a jovem de 20 anos. "Há muitos movimentos diferentes que tornam o esporte tão especial", afirma Brunner, que no ano passado se tornou campeã austríaca da modalidade. O que soa como algo espetacular, parece, de fato, ser. Os ninjas escalam, deslizam, balançam ou "voam" pela pista de obstáculos, com todo o peso do corpo quase que inteiramente apoiado nos dedos. "Acho admirável o quanto as mãos são capazes de suportar", diz Brunner. "Sou muito grata ao meu corpo por me permitir fazer tudo isso." Os atletas iniciam o percurso um após o outro, alguns com tanta adrenalina que chegam ao limite e falham logo no primeiro obstáculo. Um erro ao tentar agarrar um obstáculo ou uma ação desconcentrada e a competição acaba. "Parquinhos infantis são muito 'ninjas'" O atual esporte da moda, que ainda é pouco conhecido na Alemanha, cresceu rapidamente nos últimos anos e vem se tornando cada vez mais popular. Existem atualmente no país quase 1.300 ninjas que praticam essa modalidade regularmente. Muitos deles migraram de outros esportes, como o montanhismo, boulder, acrobacia ou ginástica. Há também cada vez mais crianças aderindo aos esportes ninjas e crescendo com eles. Atualmente, cerca de metade dos praticantes ativos têm menos de 16 anos. "As crianças geralmente adoram ser ativas. Os parquinhos infantis são muito 'ninjas'. Elas se balançam e escalam", explica Touiher. "Elas definitivamente deveriam frequentar mais os ginásios ninja." Steffen Moritz, um dos fundadores da Ninja Bundesliga, concorda com essa afirmação. "Quem costumava escalar ou se pendurar muito vai se lembrar daqueles tempos. As crianças sabem imediatamente o que precisam fazer no percurso", afirmou Moritz à DW. Esses movimentos, segundo diz, estão ausentes em muitas crianças hoje em dia. Isso também se confirma por dados atuais de um estudo da empresa Seguradora de Saúde do Comércio (KKH), segundo o qual, cada vez mais crianças e jovens na Alemanha sofrem de distúrbios de desenvolvimento motor. A proporção de crianças de seis a 18 anos afetadas pelo problema aumentou cerca de 64% entre 2008 e 2023. Em 2023, mais de 311.000 alunos foram diagnosticados. A causa geralmente é a falta de exercícios, de acordo com o estudo da seguradora. Os esportes ninjas podem ajudar a resolver o problema. Os organizadores estão satisfeitos com a adesão de um número cada vez maior de ninjas mais jovens à modalidade. "Queremos ser uma plataforma para esse esporte que foi inventado no Japão e tem origem em um programa de televisão", explica Moritz. Origem EM programa de TV japonês Na Alemanha, o esporte ficou conhecido através do programa de TV Ninja Warrior Germany ("Guerreiro Ninja Alemanha"). O programa, transmitido pelo canal de televisão RTL desde 2016, foi adaptado do original americano American Ninja Warrior. No entanto, o conceito de Ninja Warrior teve origem no Japão, onde foi transmitido pela primeira vez em 1997 sob o nome Sasuke. Esses programas também são muito populares no Vietnã e na Austrália. Ao longo dos anos, uma comunidade internacional de entusiastas se desenvolveu, influenciada pelos programas de TV. O desafio para Steffen Moritz e sua equipe agora é fazer com que esse "esporte televisivo" se estabeleça na Alemanha. Como dinheiro e patrocinadores ainda são escassos, muito ainda funciona através do trabalho voluntário. "Este esporte é financiado principalmente pelas taxas de inscrição que os atletas têm que pagar se quiserem participar da Bundesliga", diz Moritz. Contudo, os desenvolvimentos recentes deixam não apenas os organizadores, mas também os ninjas confiantes de que mais e mais patrocinadores acabarão tomando conhecimento do novo esporte. Jovens prevalecem na estreia da Bundesliga "O esporte progrediu enormemente. Há cada vez mais academias ninja, competições incríveis e muitos eventos como a Bundesliga Ninja na Alemanha", diz Marlies Brunner. "É possível perceber que o esporte já se tornou muito grande." É fascinante ver o quanto as crianças se divertem e o quanto elas já se saem bem no esporte, diz a austríaca. "Nós, adultos, realmente precisamos correr atrás para acompanhar." Dessa forma, não é nenhuma surpresa que Jonas Elting, o vencedor do evento de estreia da Bundesliga em Bonn, tenha apenas 17 anos.


Short teaser Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV pode ajudar no desenvolvimento motor das crianças.
Author Thomas Klein
Item URL https://www.dw.com/pt-br/esportes-ninja-conquistam-a-alemanha/a-72595695?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo
Image source Toni Köln/DW
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Item 44
Id 72504004
Date 2025-05-11
Title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
Short title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
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Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte

Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006. Federação prepara plano para resgatar interesse dos jovens pelo esporte.Na Alemanha, o entusiasmo pela participação da seleção na Copa do Mundo de 2026 contrasta com uma realidade preocupante para o esporte: desde 2006, o país perdeu quase 6 mil equipes masculinas de futebol nas categorias sub-19 e sub-17. Em resposta à crise que ameaça o futuro do futebol no país, a Federação Alemã de Futebol (DFB) vem desenvolvendo uma série de reformas estruturais coordenadas por Hannes Wolf, ex-treinador da Bundesliga – o campeonato alemão – e atual diretor de futebol juvenil da entidade. "Temos que garantir que não haja uma participação falsa, mas que os jovens realmente se envolvam", disse em uma conferência da entidade. "Se você já está no banco no sub-13 e não é bom o suficiente para se dedicar à sua paixão, então eu também diria aos meus filhos que se dediquem a outra coisa." A conferência realizado em Frankfurt reuniu 220 representantes das 21 federações regionais da Alemanha. O objetivo era construir um novo plano nacional para as categorias de base, com foco na identidade do esporte — onde a diversão precede os resultados. As propostas discutidas devem ser apresentadas até setembro, durante o Dia Nacional da Juventude da Alemanha, e testadas por federações regionais antes da adoção plena em 2026. "O futebol precisa se modernizar se quiser continuar sendo atraente para os jovens no futuro", disse Bernd Neuendorf, presidente da DFB. "Mesmo que atualmente tenhamos longas listas de espera nos clubes de muitas cidades, já não é garantido que as crianças comecem a jogar futebol e permaneçam nas categorias de base." O que vem mudando no futebol europeu O desafio enfrentado pela Alemanha não é exclusivo. Na Inglaterra, por exemplo, houve crescimento na adesão de crianças e adolescentes de 5 a 16 anos ao futebol após a pandemia da covid-19, mas a faixa de 16 a 24 anos registrou queda de 27% na participação entre 2015 e 2023, segundo levantamento da Sport England. A Federação Inglesa de Futebol (FA) respondeu com uma nova estratégia lançada em 2024. Entre as medidas, está o formato 3 contra 3 para menores de 7 anos, com estreia prevista para 2026, com o objetivo de aumentar o tempo de contato com a bola. Na Alemanha, Hannes Wolf acredita que a criatividade precisa voltar aos treinamentos. Uma das ideias é popularizar jogos em campos oficiais que simulem o estilo do futebol de rua. Pressões, custos e novas prioridades Plataformas digitais, altos custos para praticar o esporte, cronogramas excessivos e expectativas desproporcionais são apenas alguns dos obstáculos. Lesões, separações familiares e mudanças de cidade completam o quadro. Thomas Broich, diretor da categoria de base do Borussia Dortmund, alertou recentemente que o futebol juvenil pode se tornar um "grande problema cultural" para a Alemanha. Já o treinador Malte Boven, radicado em Hamburgo, observa que reformas feitas em 2019 priorizaram os mais novos, deixando os adolescentes em segundo plano — justamente os que estão mais próximos do futebol profissional. Para ele, compreender por que esta faixa etária tem desistido do esporte exige olhar para múltiplos fatores, especialmente as mudanças culturais. "Acho que o 'porquê' e o 'como' queremos jogar se tornaram mais importantes para os jogadores nos últimos anos", disse Boven à DW. "Há uma diferença social entre gerações." Confiança e estrutura como resposta Apesar de não prever uma escassez iminente de jogadores, Boven defende ajustes importantes para que o futebol continue sendo uma escolha atrativa. Isso inclui rever o modo de comunicação com atletas e pais, melhorar o acesso a instalações esportivas e ensinar os jovens a lidar com a pressão de forma conjunta com os treinadores. Ele apoia as propostas da Federação Alemã de Futebol, mas reconhece que a cultura do resultado ainda domina. "A participação é uma realidade quando se trata de vencer no futebol juvenil, especialmente em clubes amadores. Nesse caso, há uma pseudoparticipação de todos os jogadores envolvidos, porque não lhes dou a oportunidade de realmente fazer parte do jogo", pontua. "É preciso incutir neles a máxima confiança de que podem fazer isso, que merecem jogar no clube, que há um motivo para vestirem essa camisa. Porque, como treinador ou como clube, decidimos que eles joguem esse esporte, e agora nossa obrigação e responsabilidade é lhes dar tempo de jogo." Estratégias além do campo Boven também propõe alternativas para tornar o futebol mais relevante: oferecer aos jovens atletas uma "carta de desenvolvimento de habilidades" ao deixarem as categorias de base, ajudando a dar os próximos passos no mercado de trabalho. "Eu teria um incentivo completamente diferente de simplesmente me tornar um jogador profissional. Ainda quero ser, mas sei que aqui vou ter algo para mostrar pelo meu esforço", afirma. Para ele, é o futebol profissional — com sua mentalidade, cultura e influência — que mais precisa de atenção.


Short teaser Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006.
Author Jonathan Harding
Item URL https://www.dw.com/pt-br/os-adolescentes-alemães-perderam-o-amor-pelo-futebol/a-72504004?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte
Image source motivio/dpa/picture alliance
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Item 45
Id 72410915
Date 2025-05-01
Title Federação inglesa vai barrar mulheres trans no futebol feminino
Short title Federação inglesa vai barrar trans no futebol feminino
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Entidade que regula futebol no país diz que nova regra segue decisão da Suprema Corte britânica, de que a definição legal de mulher é baseada somente no sexo biológico.As mulheres transgênero serão impedidas de participar em competições femininas de futebol da Inglaterra a partir de junho, anunciou a Associação de Futebol (FA) do país nesta quinta-feira (01/05), duas semanas após a Suprema Corte do Reino Unido decidir que, para fins legais, o termo "mulher" deve ser definido somente com base no sexo biológico de nascimento. A decisão da FA ocorre dois dias depois de a Associação Escocesa de Futebol (SFA) ter tomado uma decisão no mesmo sentido. Segundo o comunicado, a modificação no regulamento na Escócia entrará em vigor a partir da temporada 2025/26. "Entendemos que isto será difícil para as pessoas que querem simplesmente praticar o esporte que gostam, no gênero com o qual se identificam", indicou a inglesa FA, apontando que a decisão do Supremo a obriga a seguir esse rumo. O regulamento anterior da FA permitia que mulheres trans participassem do futebol feminino, mas isso mudará a partir de 1º de junho. "A decisão da Suprema Corte no dia 16 de abril significa que estaremos mudando nosso regulamento", disse o órgão regulador do futebol inglês em um comunicado. "As mulheres transgênero não poderão mais jogar futebol feminino na Inglaterra, e essa política será implementada a partir de 1º de junho de 2025." A associação ainda apontou que pretende contatar as mulheres transgênero federadas, a fim de lhes "explicar as mudanças" que a decisão do Supremo do Reino Unido implica e de as informar sobre a forma "como podem continuar a praticar" futebol. Segundo a rede BBC, a decisão deve afetar 20 jogadoras transgêneros registradas na Inglaterra Já a associação escocesa informou que vai "fornecer orientações sobre a forma como atualizará os regulamentos e as oportunidades de participação adequadas às mulheres transgênero, antes da entrada em vigor, no início da próxima temporada". Decisão do Supremo Em abril, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu, por unanimidade, que "os termos 'mulher' e 'sexo', na Lei da Igualdade de 2010 [que combate a discriminação], referem-se a mulher biológica e sexo biológico". A decisão, que exclui pessoas trans dessa definição jurídica, encerrou uma longa disputa entre o grupo feminista For Women Scotland (FWS) e o governo escocês. O regramento britânico reconhece o direito de pessoas trans obterem documentos legais, como a mudança do nome social, por exemplo. Contudo, a decisão da Suprema Corte entende que uma pessoa que passou por uma transição de gênero não pode ser considerada legalmente uma mulher para fins de igualdade. Isto implica em um dos pontos mais controversos do debate – o acesso a espaços exclusivos para um gênero. Na prática, o veredicto significa que as mulheres trans podem ser excluídas de alguns espaços destinados exclusivamente para mulheres, como vestiários, abrigos para sem-teto, áreas de natação. Além de serviços médicos ou de ou de aconselhamento oferecidos somente a mulheres. Espaços e serviços exclusivos "só funcionarão corretamente se 'sexo' for interpretado como sexo biológico", apontou o Supremo. Contudo, a lei também "oferece proteção às pessoas trans contra discriminação em seu gênero adquirido", afirmou o juiz Patrick Hodge ao anunciar o veredicto. "Todo mundo sabe o que é sexo, e você não pode mudá-lo", disse Susan Smith, codiretora da FWS após a decisão. "É bom senso, puro e simples. O fato de termos ido parar em um buraco de coelho onde as pessoas tentaram negar a ciência e a realidade... esperamos que agora voltemos à realidade." jps (Reuters, Lusa, ots)


Short teaser Entidade diz que nova regra segue decisão da Justiça, de que a definição de mulher é baseada somente no sexo biológico.
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Item 46
Id 64814042
Date 2023-02-25
Title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
Short title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
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O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia

UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção. Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março. Lei antioligarca De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda. Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias. Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado. Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares. Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados ​​por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas. Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares. Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país. Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros. A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões. Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares. Não existem mais oligarcas ucranianos? Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política. Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los". De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE. Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra. "Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos. Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.


Short teaser UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas.
Author Eugen Theise
Item URL https://www.dw.com/pt-br/qual-ainda-é-o-real-poder-dos-oligarcas-ucranianos/a-64814042?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/61090061_354.jpg
Image caption O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia
Image source Daniel Naupold/dpa/picture alliance
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Item 47
Id 64820664
Date 2023-02-25
Title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Short title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
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Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil

De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02). A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes. Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros. O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro. Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado. Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos. De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas. Turquia começa reconstrução As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção. Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep. Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente. Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad. Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados. Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares. Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores. Istambul precisa de 40 bilhões de dólares Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto. "A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico. De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia. Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil. le (EFE, DPA, Reuters, ots)


Short teaser De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos.
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Item 48
Id 64819106
Date 2023-02-25
Title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
Short title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
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"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,

Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado. Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética. Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia. Acordo após mais de 24 horas de reuniões As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões. "Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter. O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca. Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen. O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE. Sanções contra firmas iranianas Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia. As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas. Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco. O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia. No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional. md (EFE, Reuters, AFP)


Short teaser Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou.
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Item 49
Id 64816115
Date 2023-02-24
Title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
Short title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
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Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia

Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia. Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou. Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor." Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz. "No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter. Estreitar laços O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra. Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou. Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo". O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra". Proposta da China Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países. "Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou. Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev. cn/bl (Reuters, AFP, Efe)


Short teaser Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev.
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Item 50
Id 64811757
Date 2023-02-24
Title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Short title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Teaser Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado.

Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos.

Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares.

Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia.

Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%.

No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente.

Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim.

"A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico.

A proposta da China para a guerra na Ucrânia

Até a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta.

Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito.

No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada.

"A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW.

Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia.

O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais.

"Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia.

"No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou.

Mediador duvidoso

Além disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou.

Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin.

"É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner.

Campanha de relações públicas sem riscos

A proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática.

"O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura.

"Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou.

"Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner.

Outros pontos da proposta

O texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais.

A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta.

"O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang.

Short teaser Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia.
Author Alena Zhabina
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Item 51
Id 64811407
Date 2023-02-24
Title Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin
Short title Zelenski, o presidente subestimado por Putin
Teaser Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente.

As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo.

Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!".

"Preciso de munição, não de carona"

Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido.

A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos.

A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo.

Câmeras, as armas mais poderosas de Zelenski

Em seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana.

No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos".

No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo.

Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas.

Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação.

Putin não levou Zelenski a sério

Muitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin.

A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia.

Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado.

Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente.

Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir.

Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos.

Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar.

Nem tudo é fácil

Isso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos.

Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana.

O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia.

Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana.

Short teaser Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores.
Author Roman Goncharenko
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Item 52
Id 64810396
Date 2023-02-24
Title Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Short title Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão?
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Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia

Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online. Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa. "Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema." A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha". Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída. Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real. Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala. "Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW. Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos. Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento. Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real. "Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman. Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização. "É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman. Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse. "Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman. Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos. O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum". "Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças. Fadiga por compaixão em relação a refugiados Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia. "Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW. Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo. É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África. "Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa. A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo. "Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW. Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis. "Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW. Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida. Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.


Short teaser Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia.
Author Fred Schwaller
Item URL https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia
Image source Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance
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