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Item 1
Id 68916623
Date 2024-04-25
Title "Burnon": quando o estresse constante leva à depressão
Short title "Burnon": quando o estresse constante leva à depressão
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Trabalho, família, amigos são importantes, mas o estresse constante pode fazer mal á saúde

Ao contrário do que ocorre na síndrome de burnout, ao invés de colapsarem, as pessoas com burnon continuam a correr em suas "rodas de hamster", o que pode causar depressão crônica por exaustão.Muitas pessoas parecem estar constantemente eletrificadas. Elas são apaixonadas por suas profissões; seus celulares são suas companhias constantes e elas sempre podem ser encontradas, à noite ou nos finais de semana. Elas gostam do trabalho, embora seus afazeres continuem acumulando cada vez mais. De um lado, os prazos; de outro, os problemas. Isso tudo além da família, crianças e amigos: eles querem tratar todos da maneira correta. Apesar desse ritmo frenético, ainda querem praticar esportes e comparecer a eventos. Mas, permanecer o tempo todo "aceso" pode ser perigoso. O estresse constante, sem pausas reais, pode adoecer as pessoas. Essa sobrecarga crônica é descrita como um termo relativamente novo: burnon. Diferenças entre burnon e burnout: O termo burnon foi criado pelos psicólogos Timo Schiele e Bert te Wildt, da clínica psicossomática em Kloster Dießen, próximo a Munique, que oferece tratamento a pacientes com síndrome de burnout. Os sintomas de burnout incluem exaustão, performance reduzida e cinismo – uma distância mental do trabalho. No caso do burnon, os sintomas são diferentes, explica Timo Schiele à DW. "Ao contrário, as pessoas afetadas descrevem uma conexão demasiadamente próxima e entusiástica com seu trabalho, às vezes mais como uma super excitação. Isso fez com que surgisse a descrição da síndrome de burnon." Sintomas de burnon As pessoas afetadas possuem paixão pelo trabalho, mas o estresse constante gera tensões constantes. Muitos sofrem inicialmente de dores no pescoço, nas costas, dores de cabeça e bruxismo (ato de ranger os dentes). A vida exaustiva em suas rodas de hamster os leva ao desespero. Eles perdem a esperança de melhorar suas condições, não conseguem mais se sentir felizes e questionam o sentido das coisas. "Além das comorbidades psicológicas e doenças secundárias, como depressão, ansiedade ou vícios, também acreditamos que os afetados podem sofrer cada vez mais de fenômenos psicossomáticos, como pressão alta, e suas possíveis consequências", diz, Schiele. A pressão sanguínea alta aumenta significativamente o risco de ataques cardíacos e derrames. Causas mais comuns de burnon Nossas vidas cotidianas estão cada vez mais frenéticas. O sucesso profissional e o reconhecimento social têm importância central. A competição intensa, as crises econômicas e os preços altos podem aumentar o estresse. Até agora, existem mais dados sobre o burnout. A empresa alemã de seguros de saúde Provona registrou um aumento de 20% nos casos em 2023, em comparação com o ano anterior, sendo que um quinto dos trabalhadores teme adquirir a síndrome. Qualquer pessoa que queira não apenas concluir vários afazeres em seu cotidiano frenético, mas também completá-los da melhor maneira possível, está especialmente propensa à síndrome de burnon. "Acreditamos que multas das pessoas afetadas possuem alto nível de motivação para realizar funções e se sentem mal ao cometer erros ou não fazer as coisas de maneira perfeita". Segundo Schiele, essas pessoas pensam ter uma capacidade de ação reduzida devido a determinadas restrições. "Com frequência, vemos pessoas que impõem muitas restrições a si mesmas, por exemplo, através do perfeccionismo." Como tratar o burnon Para conseguir escapar da roda de hamster e da tensão crônica constante, é necessário, primeiramente, reconhecer o problema, diz o especialista. "O primeiro passo no tratamento, como costuma ser o caso, é se tornar consciente do problema. As pessoas com síndrome de burnon com frequência aparentam estar funcionais, motivo pelo qual costumamos nos basear em relatos de familiares ou pessoas próximas. É também importante refletirmos sobre nossos próprios valores pessoais." Em particular quando as pessoas são apaixonadas pelo trabalho, elas tendem a negligenciar suas necessidades pessoais em meio ao cotidiano estressante. "Se isso se torna uma condição permanente, ficamos cada vez mais insatisfeitos. Por isso, é importante parar para perguntar a si mesmo: 'O quão importante para mim são as coisas com as quais preencho minha vida diária? Estou usando minha energia nas áreas adequadas para mim?' Se a resposta for negativa, é porque está na hora de mudar algo e tentar ver quais espaços pequenos somos capazes de criar, interna e externamente. Este é, com frequência, um grande passo", diz Schiele. Como reduzir o estresse constante O tipo de relaxamento que é bom para cada pessoa depende das preferências individuais. Podem ser caminhadas, meditação ou ioga. O fundamental é desacelerar a vida diária e se acalmar. Também faz sentido buscar ajuda profissional, como cuidados terapêuticos ou médicos. A importância de se dar nome à doença O burnout é considerado já há algum tempo como uma doença da moda. Até hoje, nem o burnout ou o burnon foram definidos como doenças mentais autônomas, mesmo que seus graves impactos à saúde sejam reconhecidos. Os sintomas possuem grande variação, o que dificulta classificar as síndromes de maneira uniformizada, como na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS), que também relaciona problemas mentais. Ainda assim, a existência do termo burnon é de extrema importância para as pessoas afetadas para descrever seus sintomas, diz Schiele. "Encontrar a si mesmo em um fenômeno definido é um alívio bastante grande para muitas das pessoas atingidas, e um primeiro passo rumo a uma mudança. Essas pessoas sentem que não estão mais sozinhas. Eles podem ganhar esperança ao verem que há outras pessoas que também sofrem do mesmo mal."


Short teaser Pessoas com burnon correm sem parar em suas "rodas de hamster", o que pode causar depressão crônica por exaustão.
Author Alexander Freund
Item URL https://www.dw.com/pt-br/burnon-quando-o-estresse-constante-leva-à-depressão/a-68916623?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Trabalho, família, amigos são importantes, mas o estresse constante pode fazer mal á saúde
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Item 2
Id 68919837
Date 2024-04-25
Title Número de abortos na Alemanha é o maior em 12 anos
Short title Número de abortos na Alemanha é o maior em 12 anos
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Cornelia Klisch, deputada estadual na Turíngia pelo SPD, durante protesto contra criminalização do aborto na Alemanha

País teve 106 mil interrupções de gravidez em 2023. Governo estuda descriminalizar o procedimento, atualmente considerado ilegal, mas livre de punição se realizado até a 12ª semana de gestação.Segundo dados do Departamento Federal de Estatísticas (Destatis) da Alemanha divulgados nesta quarta-feira (24/04), foram realizados no ano passado 106 mil abortos no país, o que significa um aumento de 2,2% em relação ao ano anterior. Os dados correspondem a 63 abortos para cada 100 mil mulheres. A última vez em que o número esteve em patamar mais alto foi em 2012, com 107 mil casos. Entre os anos de 2014 e 2020, o total variou entre 99 mil e 101 mil. "Com base nos dados disponíveis, não é possível encontrar uma causa definida para o aumento em 2023", concluiu o Destatis, após analisar registros de clínicas e consultórios médicos onde os abortos são geralmente realizados. A grande maioria dos procedimentos no ano passado (96%) foi feita nesses locais, dentro da chamada regra de aconselhamento, que permite a interrupção da gravidez nas primeiras 12 semanas de gestação. Em outros 4% dos casos, o aborto foi realizado por indicação médica ou em decorrência de um estupro. Queda entre jovens Na comparação com o período anterior de dez anos, houve significativamente menos abortos nas faixas etárias mais jovens do que nas mulheres de 30 anos de idade ou mais. Segundo o Destatis, sete entre cada dez mulheres que realizaram o procedimento tinham idades entre 18 e 34 anos, sendo que 19% estavam na faixa entre 34 e 39 anos. O grupo das mulheres com mais de 40 anos representou em torno de 8% dos abortos. Menores de 18 anos eram cerca de 3%. No total, 42% das mulheres que interromperam a gestação nunca tinham dado à luz antes de realizarem o procedimento. O que diz a lei alemã O aborto é ilegal na Alemanha, mas não é punível se ocorrer sob certas condições. Na prática é possível interromper a gravidez nas primeiras 12 semanas de gestação ou mais tarde, se houver razões médicas ou em caso de estupro. De acordo com o parágrafo 218 do Código Penal, uma mulher que pratica um aborto infringiu uma lei e "será punida com pena de prisão de até três anos ou multa". Mas há exceções, e elas estão previstas no parágrafo 218a. A exceção mais frequente é a da chamada regra do aconselhamento, usada quando o aborto ocorre por iniciativa da gestante. Nesses casos, o aborto é possível se for feito até 12 semanas após a concepção e se a gestante comprovar que passou por uma sessão de aconselhamento. O aspecto mais importante é que a decisão a favor ou contra o aborto deve sempre ser da mulher grávida. Os passos para abortar são os seguintes: Em primeiro lugar, a gravidez deve ser confirmada por um médico e deve ser determinada com exatidão a semana de gravidez em que a gestante se encontra. Depois, a gestante deve fazer uma consulta num centro de aconselhamento reconhecido pelo Estado, ao fim da qual ela recebe um certificado de que passou pelo aconselhamento. Sem esse documento, qualquer mulher que fizer um aborto pode ser processada, assim como o médico que realizar o procedimento. Depois da conversa de aconselhamento, a gestante tem mais três dias para refletir sobre sua decisão. Só depois desse prazo ela pode se dirigir a um médico e fazer o aborto. Possíveis mudanças na lei Na semana passada, uma comissão convocada pelo governo federal recomendou a descriminalização do aborto na fase inicial da gestação argumentando que a ilegalidade não é sustentável do ponto de vista jurídico. "O legislador deve aqui agir e tornar o aborto legal e não punível", concluiu a comissão. Segundo a recomendação, o limite para o aborto seria o início da vida autônoma do feto, por volta da 22ª semana após o começo da última menstruação. A partir daí, o aborto seguiria ilegal, excetuados casos de estupro ou riscos à saúde da gestante. A comissão avaliou que a atual regra do Código Penal Alemão não resistiria a uma análise pela ótica constitucional, do direito internacional e do direito europeu. rc/ra (DPA, EPD, AFP)


Short teaser País teve 106 mil interrupções de gravidez em 2023. Procedimento não é punido se realizado até a 12ª semana de gestação.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/número-de-abortos-na-alemanha-é-o-maior-em-12-anos/a-68919837?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Cornelia Klisch, deputada estadual na Turíngia pelo SPD, durante protesto contra criminalização do aborto na Alemanha
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Item 3
Id 68921883
Date 2024-04-25
Title Alemanha apoia proposta do Brasil de taxar super-ricos
Short title Alemanha apoia proposta do Brasil de taxar super-ricos
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"Dinheiro público, sozinho, não irá bastar nunca para cobrir a necessidade de investimentos climáticos", disse Svenja Schulz

Ministra Svenja Schulze defende ideia apresentada por Fernando Haddad no G20 para financiar combate à fome e às mudanças climáticas: "Há riqueza e dinheiro suficientes no mundo." África do Sul e Espanha também apoiam.A ministra alemã do Desenvolvimento, Svenja Schulze, endossou nesta quinta-feira (25/04) uma proposta do governo brasileiro de taxar os super-ricos do mundo para financiar a proteção do clima e o combate às desigualdades sociais. "Os bilionários são responsáveis pelas maiores pegadas de carbono, mas continuam a contribuir muito pouco para uma solução", disse Schulze durante um encontro em Berlim do qual a ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, também participa. A ideia de taxação dos super-ricos foi apresentada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na abertura da 1ª reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20, no final de fevereiro, quando ele defendeu uma "tributação justa" dos bilionários. "Há riqueza e dinheiro suficientes no mundo" "O mundo está passando por ondas recordes de calor, temporais e chuvas. Ele precisa agora de esforços recorde pela proteção climática global", afirmou Schulze. "Dinheiro público, sozinho, não irá bastar nunca para cobrir a necessidade de investimentos climáticos. Ao mesmo tempo, há riqueza e dinheiro suficientes no mundo. Por isso é tão importante a iniciativa da presidência brasileira do G20 para finalmente taxar os super-ricos de forma justa." Segundo a social-democrata, a reforma do Banco Mundial assegurou 70 bilhões de dólares (R$ 362 bilhões) adicionais em investimentos nos próximos anos em proteção climática e outros desafios globais. O evento em Berlim, com duração de dois dias, reúne representantes de 40 países – incluindo as nações do G20 – e a cúpula do governo alemão, com a presença do chanceler federal, Olaf Scholz; do vice-chanceler e ministro da Economia e Proteção Climática, Robert Habeck, e da ministra do Exterior, Annalena Baerbock. Um dos objetivos do encontro é preparar a participação alemã na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 29) no Azerbaijão, em novembro deste ano. O que diz a proposta brasileira O Brasil está à frente do G20 desde dezembro de 2023, permanecendo até novembro deste ano. O grupo reúne as vinte maiores economias do mundo, além da União Europeia (UE) e da União Africana. Juntos, esses países são responsáveis por cerca de 80% das emissões globais. Segundo Haddad, a proposta para taxar os super-ricos constituiria um terceiro pilar para a cooperação tributária internacional. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) trabalha em uma solução de dois pilares, que inclui a tributação mínima de empresas multinacionais com lucros bilionários e uma taxação de plataformas digitais. Ao apresentar a ideia ao G20, o ministro disse que os países ricos devem olhar para os mais vulneráveis e pensar em soluções globais, e não apenas domésticas, e contribuir com propostas para a redução da pobreza no mundo. O plano foi detalhado em artigo publicado nesta quinta-feira na imprensa europeia e assinado por Haddad, Schulze e pelos ministros sul-africano Enoch Godongwana (Finanças) e espanhóis María Jesús Montero (Finanças) e Carlos Cuerpo (Economia). O texto menciona que há cerca de 3 mil bilionários no mundo, e sugere um imposto mínimo anual de 2% sobre o seu patrimônio – que não seria aplicado aos que já pagam essa "fatia justa" por meio de imposto de renda. O artigo afirma que os bilionários pagam atualmente em média 0,5% de suas fortunas anualmente por meio de imposto de renda da pessoa física. O economista Gabriel Zucman, um dos formuladores da proposta, estima que um imposto mínimo de 2% sobre o patrimônio dos bilionários, cobrado anualmente, renderia uma arrecadação anual de cerca de 250 bilhões de dólares (R$ 1,3 trilhão). No artigo desta quinta-feira, o quinteto de ministros justifica a medida argumentando que a mera taxação de bilionários por países isolados é ineficaz, já que eles podem escolher se mudar para um país onde paguem menos impostos. "É por isso que uma reforma tributária dessas deve estar na agenda do G20. Cooperação internacional e acordos globais são essenciais para a eficácia da taxação." Prioridade do Brasil no G20 Haddad deixou claro que o assunto será uma prioridade durante a presidência do Brasil no G20, e disse que um grupo de trabalho está sendo organizado para especificar a aplicação dos recursos arrecadados. Segundo o ministro, o objetivo é combater a insegurança alimentar e facilitar a transição para uma economia sustentável. Ele também destacou a necessidade de um consenso global até o final do ano, o que, segundo disse, representaria um marco histórico na cooperação internacional em prol da justiça fiscal. rc/ra/bl (AFP, EPD, KNA, DPA, ots)


Short teaser Ministra alemã defende ideia apresentada por Haddad no G20 para financiar combate à fome e às mudanças climáticas.
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Image caption "Dinheiro público, sozinho, não irá bastar nunca para cobrir a necessidade de investimentos climáticos", disse Svenja Schulz
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Item 4
Id 68891812
Date 2024-04-25
Title Como a guerra afeta o desenvolvimento das crianças
Short title Como a guerra afeta o desenvolvimento das crianças
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Crianças em uma sala de aula improvisada dentro de uma estação de metrô na Ucrânia: guerra deixa marcas profundas nos pequenos

Traumas na primeira infância podem reconfigurar o cerébro em caráter permanente. Efeitos disso, que incluem maior risco de doenças, depressão e ansiedade, muitas vezes só serão percebidos na vida adulta.A violência ao redor do mundo chegou a patamares que não se viam há pelo menos 30 anos. Além das guerras na Ucrânia e entre Israel e o Hamas, no Oriente Médio, existem ao menos outros 110 conflitos armados acontecendo na África, na Ásia, na América Latina e na Europa. Muitas dessas guerras estão sendo travadas em cidades e áreas civis densamente habitadas. Como consequência, ataques com mísseis e drones têm afetado civis, escolas, hospitais e abrigos. Autoridades alertam que hoje, mais do que nunca na história moderna do planeta, as maiores vítimas dessas disputas geopolíticas são crianças. O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, disse diversas vezes que elas estão carregando o peso dos conflitos modernos de forma "desproporcional". Parte desse fardo é físico: muitas crianças vivendo em zonas de guerra são recrutadas para o combate; outras são abusadas sexualmente por agressores armados. Mas independente de terem ou não sua integridade física violada, crianças em áreas de conflito armado passam por um sofrimento psicológico profundo. Crianças em cidades ucranianas na linha de frente da guerra, por exemplo, passaram entre 3 mil e 5 mil horas de suas vidas – o equivalente a entre quatro e sete meses – em abrigos subterrâneos desde o início da invasão russa, dois anos atrás. "A mistura de medo, luto e separação de entes queridos está tendo um impacto tremendo em crianças à medida que a guerra se arrasta ", afirma Leah James, especialista em apoio à saúde mental do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Segundo ela, 40% dessas crianças não estão tendo aulas presenciais. O resultado disso tudo é que milhões de pessoas devem sofrer futuramente com níveis desproporcionalmente altos de problemas de saúde mental e psiquiátrica, alertam especialistas. Impactos no desenvolvimento e maior propensão a doenças Na Ucrânia, assistentes psicossociais temem que a longa duração da guerra possa estar provocando atrasos severos no desenvolvimento das crianças. Segundo Christoph Anacker, neurocientista da Universidade de Columbia nos Estados Unidos, isso é algo confirmado pela ciência. "Estressores na primeira infância podem causar anomalias específicas no desenvolvimento e na função dos circuitos neurais na vida adulta, principalmente aqueles envolvidos na resposta ao estresse." Anacker explica que o trauma nessa fase inicial da vida altera as respostas ao estresse e ao medo no cérebro, "ensinando-o" a ser mais suscetível ao estresse na vida adulta. Daí o motivo de os hormônios do estresse serem muitas vezes liberados mais frequentemente nas pessoas que passaram por adversidades na infância. Além disso, o neurocientista diz que crianças com esse perfil têm um risco maior de sofrerem mais tarde com transtornos de ansiedade, depressão e doença de Alzheimer. E embora tanto adultos quanto crianças que vivenciam uma guerra possam sofrer de transtorno do estresse pós-traumático, Anacker pondera que o cérebro adulto é muito mais resiliente porque é menos "plástico" – ou seja, não tende a sofrer grandes alterações. Danos são de difícil reversão Durante a infância, o cérebro passa pelo que especialistas chamam de "períodos sensíveis" do desenvolvimento. Se uma criança é hiperestimulada por causa de um luto ou da ansiedade de estar sob um bombardeio, ou se é privada de estímulos sociais e emocionais durante esses períodos, como acontece quando são separadas da família, por exemplo, Anacker diz que isso pode levar a uma reconfiguração do cérebro. O dano que isso causa é irreparável, afirma Anacker. "Não há maneiras eficazes de reverter os efeitos do trauma infantil em adultos." Daí a importância, segundo o neurocientista, de minimizar a exposição de crianças a fatores estressores durante os períodos sensíveis de desenvolvimento. James, da Unicef, afirma que o órgão tem trabalhado para reduzir os efeitos de longo prazo dos estressores na primeira infância em crianças na Ucrânia. "Algumas das intervenções que realizamos são simples: garantir que as crianças tenham um espaço seguro para brincar e se conectar com outros, ensinar habilidades básicas para lidar com o luto e a separação", lista James. "Mas grande parte consiste em apoiar os cuidadores para que possam ser modelos positivos para as crianças. Cuidar de alguém em tempos de guerra é incrivelmente difícil. Aliviar o estresse deles também impacta seus filhos." Porta-voz da Unicef, Joe English ressalta, porém, que crianças em conflitos em outras regiões não têm tido o mesmo apoio. "Diante da escala das necessidades em conflitos ao redor do mundo e do subfinanciamento crítico e crônico de questões humanitárias em geral e proteção infantil mais especificamente, muitas crianças não conseguem obter o apoio de que podem estar precisando", afirma English. Enquanto há maior disponibilidade de dados sobre crianças e famílias ucranianas, a extensão do problema em outras zonas de guerra no mundo, inclusive em Gaza, Iêmen e Sudão, ainda é desconhecida devido à falta de dados confiáveis.


Short teaser Traumas na primeira infância podem reconfigurar o cerébro; muitas vezes, efeitos só serão percebidos na vida adulta.
Author Fred Schwaller
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-a-guerra-afeta-o-desenvolvimento-das-crianças/a-68891812?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Crianças em uma sala de aula improvisada dentro de uma estação de metrô na Ucrânia: guerra deixa marcas profundas nos pequenos
Image source Ashley Chan/SOPA Images/ZUMA Press Wire/picture alliance
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Item 5
Id 68891799
Date 2024-04-25
Title Quando o café deixa de ser benéfico à saúde e vira vício
Short title Quando o café deixa de ser benéfico à saúde e vira vício?
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Café combina mais de mil substâncias, inclusive polifenóis, vitamina B e magnésio

Assim como outras bebidas estimulantes, o café faz parte da vida humana há séculos. Para muitos, um dia sem ele é impensável. Mas, dependendo da dose, o prazer pode se transformar em dependência.Uma xícara logo pela manhã, um cafezinho com os colegas ou amigas: ele relaxa, anima, é um elo de conexão social. Enfim: a infusão marrom-escuro é parte inalienável da vida de muita gente. Mas o café "pode definitivamente criar dependência", alerta o toxicologista Carsten Schleh, autor do livro Die Wahrheit über unsere Drogen (A verdade sobre as nossas drogas). Diversos estudos chegam à mesma conclusão, ao ponto de o distúrbio de consumo de cafeína (caffeine use disorder) ser atualmente um diagnóstico médico reconhecido. Segundo a revista Psychopharmacology, o café é a droga psicoativa mais consumida do mundo. O país onde se consome mais café é Luxemburgo, com 8,5 quilos per capita anuais. Na Alemanha, essa cifra é de 4,8 quilos, acima dos 4,5 quilos por ano do Brasil. É possível que nos próximos anos o consumo vá cair, já que as mudanças climáticas ameaçam sua produção e colheita, fazendo subirem os preços. No momento, contudo, a tendência vai na direção de alta. O que contém o café? O café é uma mistura complexa de mais de mil substâncias, entre as quais polifenóis, corantes e flavorizantes naturais, vitamina B e magnésio. No entanto, o que torna seus grãos tão cobiçados é o alcaloide cafeína, também presente nas favas de cacau e em grande quantidade nos energy drinks. Certas folhas de chá contêm teína, uma substância quase idêntica. Entre 15 a 30 minutos após o primeiro gole, a cafeína chega ao cérebro, onde se conecta aos receptores de adenosina. A adenosina tem como função bloquear a liberação de neurotransmissores como dopamina e noradrenalina, ela "põe o cérebro para dormir, deixa a gente cansada e preguiçosa", explica Schleh. Ao se conectar a esses receptores e bloqueá-los, a cafeína impede a ação tranquilizante e adormecedora da adenosina, deixando o organismo desperto. O efeito positivo, então, é que "o café estimula a tensão arterial, deixando mais disposto, ágil e produtivo". Quando o café vira vício? Assim como muitas outras substâncias psicoativas, a cafeína também eleva a liberação de dopamina, apelidada "hormônio da felicidade" por seu efeito físico estimulante. E essa ação é ainda potencializada pelo fato de os receptores da adenosina já estarem bloqueados pela cafeína. Isso também desencadeia efeitos fisiológicos: "Quando se bebe muito café, formam-se novos receptores de adenosina", e com isso a demanda dessa substância calmante aumenta, diz Schleh. A falta da bebida pode resultar em cansaço e irritabilidade, e outros sintomas de abstenção são: dores de cabeça, falta de concentração, prostração e insatisfação. O toxicologista desfaz a ilusão: "A sensação deliciosa, relaxante da primeira xícara de café matinal também se deve ao abrandamento desses sintomas de privação." Com o café, "a dose faz o veneno" Apesar de seu potencial de criar dependência, um consumo moderado de café não é prejudicial para adultos saudáveis: "A dose é que faz o veneno", resume Schleh. A Autoridade Europeia para Segurança Alimentar (EFSA) recomenda um máximo de 400 miligramas de cafeína ao longo do dia, ou seja, de duas a cinco xícaras, dependendo do tamanho. Gestantes não devem exceder os 200 miligramas diários. Dentro desses limites, a infusão tem francas vantagens para a saúde, sendo associada a uma menor probabilidade de diabetes 2, moléstias cardíacas, câncer hepático e uterino, de doença de Parkinson e depressão. Quem reage à retirada do café com sintomas como tremores, suor frio ou ansiedade depressiva, pode estar sofrendo de dependência de cafeína. Como durante muito tempo ela não foi reconhecida como vício, é comum os afetados não serem devidamente levados a sério. Carsten Schleh aconselha que quem ingere cafeína acima dos limites recomendados vá reduzindo o consumo gradativamente. Como "a cafeína é uma das drogas mais inofensivas", raramente é preciso uma privação radical, a qual, além de potencialmente envolver sintomas bem desagradáveis, aumenta o risco de uma recaída.


Short teaser O café faz parte da vida humana há séculos. Mas, dependendo da dose, o prazer pode se transformar em dependência.
Author Julia Vergin
Item URL https://www.dw.com/pt-br/quando-o-café-deixa-de-ser-benéfico-à-saúde-e-vira-vício/a-68891799?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Café combina mais de mil substâncias, inclusive polifenóis, vitamina B e magnésio
Image source Andres Victorero/Zoonar/picture alliance
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Item 6
Id 68901632
Date 2024-04-25
Title IA pode tornar a previsão do tempo mais exata?
Short title IA pode tornar a previsão do tempo mais exata?
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Apps de meteorologia aparentam uma confiabilidade impossível na prática

Meteorologia clássica sempre apresenta elemento de incerteza, pois depende de medições complexas. Há quem veja na inteligência artificial uma alternativa, sobretudo para regiões de infraestrutura mais fraca.Ao longo das décadas, a previsão do tempo se tornou muito mais exata, graças aos dados que as estações de medição, satélites, navios, boias e também aviões comerciais estão constantemente coletando. Na terra e no ar medem-se, por exemplo, temperatura, pressão atmosférica e precipitações. Esses dados são processados em computadores segundo modelos de física, permitindo prognósticos meteorológicos bastante exatos para um determinado período. No entanto, a atmosfera terrestre é o que se denomina um sistema caótico e conta com o que se popularizou como "efeito borboleta": "Mesmo as menores diferenças de temperatura, pressão, vento, podem ter um grande efeito, até em locais relativamente distantes e com grande defasagem de tempo", explica o meteorologista Peter Knippertz, do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT). Num sistema caótico tão complexo como esse, não há frequência de medição que baste para garantir certeza: "Mesmo com computadores cada vez maiores, satélites cada vez melhores ou outros sistemas de medição, sempre haverá uma margem de insegurança." Como previsões absolutas são impossíveis, portanto, a meteorologia opera com probabilidades em relação a chuva, borrascas, tempestades e outros fenômenos. Por que os apps de meteorologia são às vezes menos confiáveis? Aplicativos meteorológicos do smartphone se apresentam como extremamente precisos, capazes de "ver dez dias pelo futuro adentro, predizer exatamente como vai ser o tempo", diz Knippertz. Na realidade, eles trabalham com informações fortemente comprimidas. "Quando um app prevê, por exemplo, '21ºC com leve nebulosidade', o usuário pensa: 'OK, parece muito preciso'." Na realidade, eles estão sujeitos às mesmas inseguranças que os serviços de meteorologia, só que sem qualquer controle de qualidade de âmbito mundial. "Atualmente é um mercado aberto, qualquer um pode lançar seu aplicativo meteorológico e, por exemplo, ganhar dinheiro com publicidade. De onde vêm as informações e como são processadas, a maioria dos operadores comerciais não vai necessariamente querer que a gente saiba." A inteligência artificial vai melhorar os prognósticos no futuro? Até agora, a previsão do tempo tem se baseado em modelos físicos, enquanto previsões por meio de inteligência artificial (IA) se baseiam principalmente em dados compilados e têm um caráter mais estatístico. A inteligência artificial deriva padrões e estruturas a partir dos dados meteorológicos disponíveis, e elabora suas previsões a partir de um algoritmo. Ou seja, ela aprende as leis da física de maneira indireta. Knippertz admite que os progressos da IA são impressionantes, também na meteorologia. No entanto, como estabelece os padrões a partir de dados do passado, partindo de um valor médio, sobretudo em circunstâncias extremas a IA bate em seus limites. "Por isso no futuro deve-se tentar cada vez mais construir sistemas de previsão híbridos, combinando métodos convencionais com equações físicas e recursos de IA, a fim de continuar reduzindo os riscos de prognósticos errados." IA pode ser uma alternativa em regiões com pouca infraestrutura? Como nem todos os locais dispõem de dados de estações de medição, boias, etc., há quem deposite na inteligência artificial grandes esperanças de previsões confiáveis. O meteorologista do KIT é cético. "Nas regiões do mundo em que até agora há poucas observações, necessitamos mais esforços para fechar essas lacunas, talvez também da comunidade internacional. De olho nos eventos meteorológicos extremos, seria importante para a meteorologia global expandir as capacidades de observação na África, América Latina ou no Sudeste Asiático. Na minha opinião, nenhuma IA pode assumir essa tarefa por nós." Como as mudanças climáticas afetam as previsões do tempo? As mudanças climáticas em nada alteram as leis da física e os problemas básicos da previsão meteorológica. No entanto as zonas climáticas se modificam e, com elas, também os eventos extremos. "Furacões, temporais e também secas podem se tornar ainda mais violentos do que no passado, e o impacto sobre os seres humanos, proporcionalmente maior." Daí resultam "novos desafios na previsão, no processo de alerta, mas também na prontidão da população a levar a sério tais alertas e se comportar de forma condizente", observa Knippertz. Por que os alertas de tempestade costumam ser tão dramáticos? Em caso de temporal, borrasca ou tempestade, é comum as advertências das autoridades serem mais dramáticas do que o evento meteorológico na prática, o que muitas vezes gera incompreensão e um certo grau de dessensibilização. "Se os cidadãos são evacuados e depois não acontece nada, costuma em seguida cair uma shitstorm nas redes sociais e na internet: 'Que besteira foi essa? Eles ficaram malucos? Que histeria!'", comenta Peter Knippertz. Alertas são sempre uma decisão difícil. "Os custos de uma evacuação – dormir uma noite no ginásio de esportes, no colchonete de camping – são, a meu ver, bem pequenos comparando com uma morte cruel por afogamento no próprio porão. Mas acho que para isso há muito pouca consciência e compreensão entre a população."


Short teaser Meteorologia é sempre incerta, pois depende de medições complexas. Há quem veja a inteligência artificial como opção.
Author Alexander Freund
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Image caption Apps de meteorologia aparentam uma confiabilidade impossível na prática
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Item 7
Id 68910853
Date 2024-04-24
Title Mulheres reconhecem a velhice mais tarde que homens, diz estudo
Short title Mulheres reconhecem a velhice mais tarde que homens
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Estudo analisa como o sexo e o estado de saúde influenciam as diferenças na percepção da velhice

De acordo com pesquisa liderada por cientista alemão, mulheres têm a percepção de que a velhice começa, em média, dois anos depois que os homens. Diferença na expectativa de vida e estigmas podem ser a explicação.Um estudo publicado pela Psychology and Aging, revista da Associação Americana de Psicologia, traz uma outra percepção sobre a velhice. Segundo a pesquisa, para os adultos de meia-idade (40 a 60 anos) e mais velhos, ter 70 anos já não tem o mesmo significado que antigamente. Para eles, a velhice agora começa mais tarde. O aumento da expectativa de vida e o atraso no ato de se aposentar podem explicar essa mudança na percepção do público sobre a chamada terceira idade. Em relação à forma como o gênero influencia, o estudo constatou que as mulheres consideram que a velhice começa dois anos mais tarde do que os homens – e esta percepção tem aumentado ao longo do tempo. Isso pode estar relacionado ao fato de as mulheres geralmente viverem mais tempo e também enfrentarem mais estigmas à medida que envelhecem. Markus Wettstein, da Universidade Humboldt de Berlim, que liderou a investigação, diz que as mulheres podem definir a velhice mais tarde para se distanciarem das conotações negativas associadas a ela. Em geral, de acordo com Wettstein e sua equipe, os adultos de hoje sentem que a velhice começa mais tarde do que as pessoas nascidas nas décadas anteriores. "A expectativa de vida aumentou, o que pode contribuir para uma percepção mais tardia do início da velhice. Além disso, alguns aspectos da saúde melhoraram ao longo do tempo, de modo que pessoas de uma determinada idade que eram consideradas velhas no passado podem não ser mais hoje", diz Wettstein. Duas décadas e meia de pesquisa A equipe, composta por investigadores das universidades de Luxemburgo, Stanford (Estados Unidos) e Greifswald (Alemanha), examinou dados de 14.056 participantes no Inquérito Alemão sobre o Envelhecimento, um estudo que inclui pessoas residentes na Alemanha nascidas entre 1911 e 1974. Os participantes responderam perguntas até oito vezes ao longo de 25 anos (1996-2021), enquanto tinham entre 40 e 100 anos. À medida que as primeiras gerações da pesquisa entravam na velhice, a equipe recrutava novos participantes (com idades entre 40 e 85 anos). Embora os participantes tivessem que responder muitas perguntas, a principal era: "com que idade você descreveria alguém como velho?" Assim, os pesquisadores descobriram que, em comparação com os participantes nascidos mais no cedo, os que nasceram mais tarde percebiam a velhice mais tardiamente. Por exemplo, quando os participantes nascidos em 1911 tinham 65 anos, definiram o início da velhice aos 71 anos. Em contrapartida, quando os participantes nascidos em 1956 tinham os mesmos 65 anos, diziam que a velhice começava, em média, aos 74. Os investigadores também descobriram que a tendência para perceber o início da velhice mais tarde diminuiu nos últimos anos. "A tendência para adiar a velhice não é linear e pode não continuar necessariamente no futuro", conclui Wettstein. Quanto mais velho você for, mais longe estará a velhice Os pesquisadores também analisaram como a percepção dos participantes sobre a velhice mudava à medida que eles envelheciam Segundo o estudo, a resposta dos participantes com 64 anos era, em média, a de que a velhice começava aos 74,7 anos. Mas, quando esses mesmos participantes chegaram aos 74 anos, eles passaram a dizer que a velhice começava aos 76,8 anos. Em média, a percepção do início da velhice aumentou aproximadamente um ano para cada quatro ou cinco anos de envelhecimento real. Foi descoberto também que as pessoas que se sentiam mais solitárias e tinham pior saúde e acabavam se sentindo mais velhas. Elas afirmaram que a velhice começava mais cedo, em média, do que aquelas que se sentiam menos solitárias, que tinham a saúde melhor e, portanto, se sentiam mais jovens. Para os pesquisadores, os resultados podem ter implicações sobre quando e como as pessoas se preparam para o seu próprio envelhecimento e como encaram os idosos em geral. enk/le (ots)


Short teaser De acordo com pesquisa, mulheres têm a percepção de que a velhice começa, em média, dois anos depois que os homens.
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Image caption Estudo analisa como o sexo e o estado de saúde influenciam as diferenças na percepção da velhice
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Item 8
Id 68908421
Date 2024-04-24
Title Por que o mundo não consegue eliminar a malária
Short title Por que o mundo não consegue eliminar a malária
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O mosquito Anopheles é transmissor da malária

Após duas décadas em queda, cifra de casos no mundo se estabilizou e até aumentou em algumas áreas, apesar de todos os esforços e campanhas. O que ocorreu?Na década de 1990, instituições de caridade, governos e filantropos individuais investiram bilhões de dólares em uma meta: o controle da malária. Até 2010, eles queriam reduzir pela metade o número global de mortes pela doença, lembrada nesta quinta-feira (25/04), Dia Mundial da Luta contra a Malária. Na época, a malária representava uma das maiores ameaças mundiais à saúde. Pelo menos um milhão de pessoas morriam em decorrência da doença a cada ano, a grande maioria crianças pequenas. A campanha "Roll Back Malaria" foi lançada oficialmente em 1998. Com bilhões de dólares em financiamento de instituições globais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Banco Mundial, os parceiros começaram a distribuir nas regiões afetadas mosquiteiros e sprays de inseticida para ambientes internos. Também introduziram novos medicamentos para tratar pacientes em áreas onde os mosquitos haviam se tornado resistentes à cloroquina, principal antimalárico usado na época. Esses esforços contribuíram para reduzir quase pela metade o número de mortes por malária em menos de duas décadas. Estagnação e salto no número de casos Mas, em 2015, as coisas começaram a se estagnar. Nos anos seguintes, os números de casos estimados permaneceram os mesmos – e, depois, começaram a aumentar. Em 2020, as mortes globais por malária atingiram o nível mais alto em seis anos. E, em 2022, o número estimado de casos de malária em todo o mundo disparou para mais de 248 milhões, frente a 230 milhões em 2014. Essas estatísticas decepcionantes levaram Nicholas White, especialista em malária e professor de medicina tropical da Universidade de Oxford, a publicar na revista científica The Lancet um apelo à OMS. Ele disse que, de acordo com os números da própria organização, a cifra de casos de malária estimada em 2022 era exatamente a mesma de 2000. Se isso fosse verdade, o que estaria acontecendo de errado? "Será que, depois de bilhões de dólares de investimento global, anos de pesquisa sobre terapias preventivas e o desembolso de bilhões em tratamentos, o número de casos não mudou?", questionou o cientista. A OMS respondeu à pergunta de White, dizendo que ele havia interpretado os números de forma errada, pois não havia levado em conta o crescimento da população global. "Se a taxa global de incidência e mortalidade da malária em 2000 fosse aplicada às populações em risco anualmente até 2020, os investimentos feitos nos últimos 20 anos teriam contribuído para salvar cerca de 11 milhões de vidas e evitar 1,7 bilhão de casos desde 2000", escreveu a OMS. Ainda assim, a organização reconheceu no título de sua resposta que "a mensagem sobre a malária é clara: o progresso estagnou". "Corrida armamentista" contra a malária As razões para essa estagnação, segundo a OMS, são "complexas". Em sua resposta a White, a organização explicou que a África subsaariana, a área mais ameaçada pela malária, está tendo menos financiamento para intervenções e sofre de falta de acesso a cuidados sanitários de qualidade. As ferramentas disponíveis estão comprometidas por "ameaças biológicas", afirmou. Especialistas consultados pela DW disseram ser provável que a estagnação se deva, pelo menos em parte, à capacidade dos mosquitos transmissores da malária de se adaptarem rapidamente e contornarem as intervenções. "Em todo o mundo, muitos dos mosquitos que espalham a malária se tornaram resistentes ao principal inseticida usado, enquanto em algumas regiões o parasita que causa a malária se tornou resistente aos medicamentos usados para tratar a doença", disse à DW Jackie Cook, codiretora do Centro de Malária da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Além disso, um novo mosquito, o Anopheles stephensi, surgiu no leste da África nos últimos 10 anos. Ao contrário de outros vetores da malária, o stephensi é capaz de se espalhar nas cidades, o que representa uma ameaça para as populações que vivem em áreas urbanas densamente povoadas. "O controle da malária deve ser visto como uma corrida armamentista", disse à DW Umberto D'Alessandro, pesquisador de malária e líder da Unidade do Conselho de Pesquisa Médica de Gâmbia da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. "Tão rápido como os sprays inseticidas, medicamentos ou testes rápidos são desenvolvidos, os mosquitos ou parasitas também se adaptam", disse ele. Além disso, afirmam os pesquisadores, o financiamento dos estudos sobre malária está em baixa. Em 2022, o ano mais recente disponível no registro, ele atingiu o nível mais baixo nos últimos 15 anos, de acordo com a OMS. "Em 2007, Bill e Melinda Gates anunciaram que queriam que ela [a malária] fosse eliminada durante a vida deles, o que eu acho extremamente improvável, mas houve um grande impulso para tentar fazer isso", disse Cook. "Obviamente, houve sucessos, mas acho que as pessoas estão começando a perceber que não será uma coisa muito simples." Sem análise aprofundada White, pesquisador da malária em Oxford, rejeita a ideia de que a estagnação possa ser explicada de forma conclusiva pela capacidade dos vetores de contornar rapidamente as intervenções. "Não houve nenhuma análise aprofundada, pelo menos que eu saiba – e eu deveria saber – que realmente explique por que eles estimam que a malária piorou desde 2015", disse White à DW, falando sobre as estimativas de casos de malária da OMS. Ele disse suspeitar que grande parte da estagnação esteja relacionada a fatores que não estão sob a alçada dos sistemas de saúde, como "guerra, privação e recessão econômica" e coisas, segundo ele, "sobre as quais ninguém quer falar, como corrupção e ineficiências". Em seu relatório de 2023 sobre a malária no mundo, a OMS atribuiu a estagnação nos 11 países mais afetados ao acesso limitado aos serviços de saúde, aos conflitos em andamento, ao efeito da covid-19 na prestação de serviços, à falta de financiamento e a problemas como a resistência a inseticidas. As vacinas também estão começando a desempenhar um papel na luta contra a doença. Até o momento, duas vacinas contra a malária, a RTS,S e a R21/Matrix M, foram aprovadas pela OMS. A distribuição da RTS,S já começou, enquanto o lançamento da R21 está programado para o próximo mês. Os especialistas estão otimistas, mas alertam que a vacinação não é uma bala de prata.


Short teaser Após duas décadas em queda, cifra de casos no mundo se estabilizou e até aumentou em algumas áreas, apesar dos esforços.
Author Clare Roth
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Image caption O mosquito Anopheles é transmissor da malária
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Item 9
Id 68908005
Date 2024-04-24
Title Economia de Israel dá sinais de recuperação apesar da guerra
Short title Economia de Israel dá sinais de recuperação apesar da guerra
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Nas ruas de cidades como Tel Aviv há pouca evidência de uma economia de guerra ou qualquer sensação de escassez

Depois da forte contração no último trimestre de 2023, em decorrência dos ataques terroristas de 7 de Outubro e do conflito subsequente, dados recentes mostram melhora no cenário.A economia israelense está mostrando sinais de retorno à normalidade, apesar da pressão que a guerra contra o grupo terrorista Hamas exerceu sobre ela. Apesar de os dados econômicos oficiais dos primeiros três meses de 2024 ainda não terem sido divulgados pelo governo, dados recentes do mercado de trabalho do órgão oficial de estatísticas e de transações com cartões de crédito do Banco Central sugerem que a economia de Israel está se recuperando do choque causado pelos ataques terroristas de 7 de Outubro e da guerra que se seguiu. A economia israelense sofreu uma grande contração no último trimestre de 2023, após os ataques terroristas: ela encolheu 5,2% em comparação com o trimestre anterior. Grande parte desse cenário se deve à diminuição da força de trabalho resultante da convocação de cerca de 300 mil reservistas para as Forças Armadas. Entretanto, o economista Benjamin Bental, da Universidade de Haifa, diz que o mercado de trabalho está se recuperando da saída repentina de tantos trabalhadores e proprietários de pequenas empresas. "O mercado de trabalho está realmente se estabilizando com bastante rapidez", diz. Ele ainda não alcançou o nível anterior à guerra, mas o desemprego formal está 1% menor do que em setembro de 2023, observa. O retorno contínuo de alguns reservistas elevou a oferta de mão de obra, enquanto os dados positivos dos cartões de crédito sugerem o retorno do otimismo do consumidor após uma grande queda no final de 2023. No entanto, Bental lembra que certos setores continuam a ser gravemente afetados pela escassez de mão de obra, especialmente a construção civil. Isso se deve, em grande parte, ao fato de o setor depender muito de trabalhadores palestinos vindos da Cisjordânia ocupada por Israel, que agora não podem trabalhar em Israel devido à situação de segurança. Cerca de 75 mil palestinos costumavam se deslocar diariamente da Cisjordânia para Israel para trabalhar na construção civil. A ausência deles fez com que o trabalho nas obras fosse quase totalmente interrompido: a construção residencial caiu 95% no final de 2023. O setor se recuperou um pouco depois que Israel trouxe milhares de trabalhadores da Índia, do Sri Lanka e do Uzbequistão, mas o quadro completo só estará claro quando os dados do primeiro trimestre forem divulgados. Déficit orçamentário A guerra forçou o governo israelense a um forte aumento de gastos, sobretudo na defesa, mas também na reconstrução associada aos ataques do Hamas e na necessidade de realojar dezenas de milhares de israelenses deslocados no norte e no sul do país. No mês passado, Israel anunciou um orçamento revisado para 2024 de 584 bilhões de shekels (cerca de R$ 800 bilhões). O orçamento prevê um déficit de 6,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, acima do nível anterior à guerra, de 2,25%. Mas Bental diz que já está claro que o novo percentual está subestimado e que um déficit de 8% parece mais realista. "Isso supondo que não haja uma deterioração ainda maior da situação de segurança", disse ele, referindo-se às atuais tensões com o Irã. Há uma pressão óbvia sobre as finanças do governo, que planeja emitir dívidas no valor de cerca de 60 bilhões de dólares este ano, além de aumentar impostos, e insiste que isso tudo é possível. "Os fundamentos econômicos estão aí", afirmou o contador-geral do Ministério das Finanças israelense, Yali Rothenberg, ao jornal britânico Financial Times antes do anúncio do orçamento revisado. Ele citou como exemplos os indicadores do setor de alta tecnologia, dos investimentos em infraestrutura e do consumo privado. Aprender com o passado Antes dos ataques terroristas do Hamas, em 7 de outubro, a economia de Israel estava indo bem. "A inflação estava caindo, e toda a situação monetária estava sob controle", observa Bental. Ele destaca que Israel caminhava para um crescimento de 3,5% antes dos ataques terroristas e que ainda conseguiu um crescimento de 2% em 2023, apesar do choque do último trimestre. Bental enfatiza que nas ruas de cidades como Tel Aviv ou Haifa há pouca evidência de uma economia de guerra ou qualquer sensação de escassez ou privação. No entanto, ele adverte que a experiência de Israel com o impacto na economia de guerras e crises de segurança anteriores deve orientar o atual governo. Bental se diz preocupado com os elevados gastos em defesa, por exemplo. Durante a Guerra do Yom Kippur de 1973, Israel também aumentou drasticamente os gastos com defesa, a ponto de chegarem a 30% do PIB, o que é "totalmente insustentável". Junto com a crise do petróleo e a crise econômica global da época, o conflito de então "levou a um verdadeiro desastre econômico" para Israel, com "uma inflação muito alta e basicamente nenhum crescimento por quase dez anos". Para Bentai, a Segunda Intifada dos palestinos, que ocorreu entre 2000 e 2005, tem mais semelhanças com o conflito atual por envolver civis. "É possível aprender um pouco sobre os danos causados pela perda de confiança da população civil e a perda da sensação de segurança durante esse episódio específico", diz. "E há estimativas de que, ao longo desses anos, digamos três ou quatro anos, o PIB israelense encolheu cerca de 10% só por causa disso." Outro exemplo que ele deu foi o conflito de 2006 com o Hisbolá e o Líbano – um conflito que mostrou a rapidez com que a economia pode se recuperar quando os combates cessam. "Estamos falando de uma situação em que, por basicamente um mês, a região norte de Israel não funcionou", observa. "Mas quando você olha para os dados e procura qualquer vestígio disso, não encontra. Isso é realmente incrível. A economia, findo o conflito, recuperou-se em pouco tempo." Bental espera que esse seja o caso quando o conflito atual terminar e sugere que os recentes sinais de recuperação indicam que assim deverá ser.


Short teaser Depois da forte contração no fim de 2023, em decorrência dos ataques terroristas e da guerra, indicadores reagem.
Author Arthur Sullivan
Item URL https://www.dw.com/pt-br/economia-de-israel-dá-sinais-de-recuperação-apesar-da-guerra/a-68908005?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Nas ruas de cidades como Tel Aviv há pouca evidência de uma economia de guerra ou qualquer sensação de escassez
Image source Hannah McKay/REUTERS
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Item 10
Id 68908246
Date 2024-04-24
Title Brasil é um dos países mais desiguais, diz Anistia Internacional
Short title Anistia Internacional: Brasil é um dos países mais desiguais
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No ano passado, 12% da população brasileira vivia em favelas.

Relatório anual da organização destaca violência policial no país e falha das autoridades em garantir itens básicos, como alimentação, moradia e segurança.Um dos países mais desiguais, um lugar especialmente difícil para mulheres, negros e LGBTQ+, que pelo 14° ano seguido é o que mais mata pessoas trans no mundo. É assim que o mais recente relatório da Anistia Internacional, divulgado nesta quarta-feira (24/04), retrata o Brasil. O documento, chamado "O estado dos direitos humanos no mundo", é divulgado anualmente e mostra um panorama sobre a garantia de direitos humanos em 155 países, passando por questões sociais, econômicas, culturais e políticas. De acordo com a análise da organização, a situação no Brasil é preocupante. O texto cita que, até dezembro de 2023, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos havia registrado mais de 3,4 milhões de denúncias de violações de direitos humanos, como racismo, violência física e psicológica e assédio sexual. Esse número representa um aumento de 41% em comparação com 2022. Desigualdade e fome Apesar de um aumento do salário mínimo pouco acima da inflação e da expansão do programa Bolsa Família no ano passado, o 1% mais rico da população brasileira ainda detinha quase metade da riqueza do país, de acordo com dados de 2023 do Banco Mundial destacados pelo relatório. A insegurança alimentar é alarmante: 21,1 milhões de pessoas passaram fome no Brasil em 2023, o equivalente a 10% da população. As famílias negras são prejudicadas de forma desproporcional: 22% dos domicílios chefiados por mulheres negras encontravam-se em estado de fome. O déficit habitacional no Brasil também é preocupante. Há pelo menos 215 mil pessoas sem teto, de acordo com dados da Universidade Federal de Minas Gerais. No ano passado, 12% da população brasileira vivia em favelas. Violência O relatório chama atenção para o uso excessivo e desnecessário da força no Brasil, uma vez que o governo ignorou medidas para reduzir a violência policial, como o uso de câmaras corporais. Isso resultou em homicídios ilegais e outras graves violações de direitos, com prevalência da impunidade. A Anistia Internacional, em parceria com o Conselho Nacional de Direitos Humanos e outras organizações, documentou 11 casos de violações graves dos direitos humanos perpetradas por agentes do Estado brasileiros, incluindo execuções extrajudiciais, entrada ilegal em residências, tortura e outros maus-tratos. O relatório lembra do caso da morte do ativista Pedro Henrique Cruz, em 2018, em Tucano, na Bahia. Ele era conhecido por denunciar violências policiais e foi morto dentro de casa. Os três policiais indiciados pelo crime ainda não foram levados a julgamento, e sua mãe, Ana Maria, continua a sofrer ameaças e intimidações. A Anistia mostra que nas escolas brasileiras a violência aumentou. Até o final de outubro, 13 ataques violentos com armas aconteceram no ambiente escolar, que deixaram nove pessoas mortas. Isso representa 30% de todos os incidentes do tipo ocorridos nos últimos 20 anos. Todos os agressores eram do sexo masculino, enquanto a maioria das vítimas era do sexo feminino. Violência de gênero Em todo o continente americano, a violência de gênero permaneceu arraigada, segundo o diagnóstico da Anistia Internacional. As autoridades não conseguiram enfrentar a impunidade para esses crimes nem proteger mulheres, meninas e outros grupos de pessoas em risco. Houve avanços limitados na proteção aos direitos das pessoas LGBTQ+ em alguns países, mas os ataques a esses direitos se intensificaram em muitos outros. Essa comunidade foi alvo de hostilidades, discriminações, ameaças, ataques violentos e assassinatos, além de enfrentarem obstáculos ao reconhecimento legal em países como Argentina, Brasil, Canadá, Colômbia, Estados Unidos, Guatemala, Honduras, Paraguai, Peru e Porto Rico, destaca o relatório. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans. Em 2023, houve 155 mortes, sendo 145 casos de assassinatos e dez suicídios após violências ou devido à invisibilidade trans. Meio ambiente Segundo a organização, as autoridades brasileiras também não tomaram medidas suficientes e eficazes para garantir o direito das pessoas a um meio ambiente saudável e mitigar os efeitos da crise climática. Eventos climáticos extremos causaram mortes, destruição de propriedades e deslocamentos no Brasil. Os povos indígenas foram privados do pleno exercício de seus direitos, e a demarcação de terras aconteceu de forma lenta. A Anistia destaca a crise humanitária e sanitária do povo Yanomami, que ainda sofre com a presença do garimpo ilegal da região. O mundo em retrocesso No geral, a Anistia relata um ressurgimento de sistemas autoritários e observa que cada vez menos pessoas vivem agora em uma sociedade democrática. No prefácio do relatório, a secretária-geral da Anistia, Agnes Callamard, observa que é como se o mundo estivesse "em espiral no tempo, retrocedendo em relação à promessa de 1948 de direitos humanos universais". Em 2023, diz ela, em muitos governos e sociedades, "as políticas autoritárias corroeram as liberdades de expressão e associação, atacaram a igualdade de gênero e corroeram os direitos sexuais e reprodutivos". Ela observa que a tecnologia está facilitando a erosão generalizada de direitos, perpetuando políticas racistas, permitindo a disseminação de desinformação e restringindo a liberdade de expressão. "No entanto, se deixarmos os tecnocriminosos com suas tecnologias ardilosas cavalgarem livremente no Velho Oeste digital, é provável que essas violações dos direitos humanos só aumentem em 2024, um importante ano eleitoral. Essa é a previsão de um futuro que já chegou", afirma Callamard. No que diz respeito aos direitos das mulheres, a organização lamenta novas restrições no Afeganistão e no Irã, e o fato de o Irã também implementar software de reconhecimento facial contra mulheres que não usam hijab. A Anistia relata retrocessos nos Estados Unidos e na Polônia em torno da regulamentação legal do aborto. Quinze estados norte-americanos proibiram completamente o aborto ou só o permitirão em casos muito excepcionais. O relatório também chama atenção para o fato de que existem mais de 60 países em todo o mundo onde as pessoas LGBTQ+ são criminalizadas e os seus direitos restringidos. sf/cn (ots)


Short teaser Relatório anual da organização destaca violência policial no país e falha das autoridades em garantir itens básicos.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/brasil-é-um-dos-países-mais-desiguais-diz-anistia-internacional/a-68908246?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption No ano passado, 12% da população brasileira vivia em favelas.
Image source picture-alliance/imageBROKER/F. Kopp
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Item 11
Id 68903599
Date 2024-04-23
Title Alemanha vê aumento de espionagem chinesa e russa
Short title Alemanha vê aumento de espionagem chinesa e russa
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Seis suspeitos de espionagem foram presos pelas autoridades alemãs em menos de uma semana. Serviços de segurança da Alemanha veem elo com a guerra da Ucrânia, interesses econômicos e ofensiva contra a democracia.A assessoria de imprensa do Ministério Público Federal da Alemanha está muito ocupada ultimamente. "Prisão por suspeita de atuação como agente de serviço secreto" apontou o título de um comunicado à imprensa divulgado nesta terça-feira (23/04). Era exatamente o mesmo título usado em um comunicado divulgado no dia anterior. Em ambos os casos, os quatro suspeitos envolvidos - três homens e uma mulher - foram acusados de espionar para a China. Um dos casos chamou a atenção por envolver um assessor de um eurodeputado de ultradireita. Em 18 de abril, já havia sido a vez de as autoridades alemãs anunciarem a prisão de dois homens, acusados de planejarem ataques a alvos militares na Alemanha a serviço da Rússia. Neste caso, a ação foi anunciada com o título "Prisões por atividades de agente de inteligência e associação à organização terrorista estrangeira ‘República Popular de Donetsk'", em referência ao estado fantoche criado pela Rússia no leste da Ucrânia em 2014 e que foi ilegalmente anexado por Moscou. Revelações não são uma surpresa As prisões geraram forte repercussão no meio político e na mídia da Alemanha. "Precisamos finalmente encarar que essa é uma ameaça muito séria e muito real à nossa segurança", disse o deputado federal Konstantin von Notz, do Partido Verde, e que chefia a Comissão Parlamentar de Controle dos Serviços de Inteligência. "Devemos agir de forma rápida e decisiva, tanto nos procedimentos judiciais quanto na descoberta das estruturas e redes." Thomas Haldenwang, presidente do Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV) - principal agência de inteligência interna da Alemanha, disse em entrevista à DW que isso já está sendo feito: "Nós iniciamos essas investigações - e, quando as evidências ficaram claras, pudemos entregar os casos à polícia e ao Ministério Público". As recentes revelações sobre espionagem estrangeira na Alemanha não surpreenderam o chefe do BfV. Sua agência já havia alertado em um relatório publicado em 2023 do que a China era capaz. "As ambições globais da China estão sendo perseguidas para obter cada vez mais poder, e é de se esperar que ela intensifique ainda mais suas atividades de espionagem, bem como busque influenciar atores estatais", dizia o documento. Haldenwang também havia falado sobre a ameaça potencial em um simpósio organizado pelo BfV em Berlim, que ocorreu no dia da prisão de três suspeitos de espionagem. Na ocasião, respondendo a uma pergunta da DW sobre a estratégia de espionagem do país, ele disse: "A China quer ser a potência política, militar e econômica número um do mundo até 2049 - esse objetivo está sendo perseguido continuamente - por meios legais, mas também por meios ilegais". Alvos: universidades e empresas A presença de estudantes chineses em universidades alemãs é também um campo fértil para a espionagem. "Essas pessoas são obrigadas a passar informações para o Estado", aponta Haldenwang. A ministra alemã de Educação e Pesquisa, Bettina Stark-Watzinger, também leva a sério esse alerta: "Não devemos ser ingênuos em nossas relações com a China", diz a política liberal, que aponta ainda que é necessária uma „avaliação ainda mais crítica dos riscos e benefícios da cooperação, especialmente na ciência e nas universidades". Essa também é a opinião do BfV ao analisar a cooperação econômica com a China. A formação de joint ventures e investimento direto chinês na Alemanha têm como consequência a vinda de executivos e outros funcionários da China à Alemanha, aponta Haldenwang, do BfV, que identifica nisso uma porta de entrada potencial para a espionagem: "Os segredos comerciais também podem chegar à China". Um espião no gabinete de um político da AfD? A prisão de um suspeito de atuar como agente chinês nesta terça-feira, no entanto, envolveu diretamente o campo da política alemã, e não o da ciência ou dos negócios. Jian G. era um colaborador próximo do eurodeputado Maximilian Krah, um membro do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD). A AfD, que no momento está sendo monitorada em todo o país pelo Departamento Federal para a Proteção da Constituição por suspeita de extremismo, também é rotineiramente de manter laços estreitos com a Rússia. Entretanto, de acordo com as descobertas dos serviços de inteligência, os motivos da Rússia para espionar a Alemanha são diferentes dos da China. "Devido à guerra conduzida pela Rússia, seria negligente não presumir a capacidade e a disposição de seus serviços de inteligência para conduzir operações complexas na Europa", apontou Haldenwang. No ano passado, serviços de inteligência alemães já haviam revelado outros suspeitos de espionarem para Russia. O chefe da inteligência doméstica prevê que a espionagem russa continue a aumentar e que ocorram novas tentativas de recrutamento na Alemanha. Logo após o início da guerra da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, a Alemanha expulsou cerca de 40 agentes suspeitos que atuavam na embaixada russa em Berlim. Desde então, surgiram relatos de tentativas de Moscou de recrutar russos que vivem na Alemanha. "Mas, até agora, essa comunidade tem se mostrado muito resistente", diz Haldenwang. Entretanto, há também casos isolados de pessoas desse círculo que são altamente simpáticas a Putin e à Rússia. "Nesse sentido, pode haver uma reserva de pessoas disponíveis aqui que também estão preparadas para agir em prol dos interesses da Rússia." Ministra do Interior elogia autoridades de segurança Após a prisão sem precedentes de seis suspeitos de espionagem em seis dias, a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, fez um balanço positivo: "Nossas autoridades de segurança, sobretudo o Departamento Federal de Proteção à Constituição, reforçaram enormemente as medidas de combate à espionagem. É assim que nos protegemos contra as ameaças híbridas do regime russo, mas também contra a espionagem da China. Os sucessos investigativos atuais demonstram isso".


Short teaser Seis suspeitos de espionagem foram presos pelas autoridades alemãs em menos de uma semana.
Author Marcel Fürstenau
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Item 12
Id 68903371
Date 2024-04-23
Title Lula quer estratégia internacional contra extrema direita
Short title Lula quer estratégia internacional contra extrema direita
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Lula e Macron durante visita do presidente francês ao Brasil no fim de março

Presidente brasileiro propõe encontro de "presidentes democratas" para discutir como barrar crescimento da extrema direita mundo afora. Segundo Lula, ideia já foi apresentada aos líderes da França e da Espanha.O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira (23/04) que pretende promover um encontro com chefes de governo e de Estado "democratas" para discutir estratégias para conter o crescimento da extrema direita mundo afora. Lula da Silva disse que já apresentou a proposta ao premiê espanhol, Pedro Sánchez, e ao Presidente francês, Emmanuel Macron, e que pretende discuti-la com outros líderes, antes da Assembleia Geral das Nações Unidas, marcada para setembro, em Nova York. O presidente recebeu recentemente Sánchez e Macron no Brasil, em duas visitas de Estado. "Os setores de esquerda, progressista, os setores democratas têm que se organizar. Eu falei com Pedro Sánchez, falei com Macron, estou tentando ver se a gente consegue fazer uma reunião com os chamados presidentes democratas por ocasião da Assembleia Geral das Nações Unidas para a gente definir uma estratégia de como vamos, a nível internacional, enfrentar o crescimento da extrema direita e suas matizes", disse Lula, durante um café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. Avanço da extrema direita Lula ainda apontou que em seus mandatos anteriores a maioria dos países da América do Sul era governada por presidentes "com compromisso com a esquerda e com a tese de um Estado socialmente justo". "Se você pegar América do Sul hoje, você percebe que houve um retrocesso exatamente pelo conhecimento da extrema-direita, pelo crescimento da xenofobia, pelo crescimento do racismo, da perseguição a minorias, a pauta de costumes muitas vezes com assuntos retrógrados. Isso ganhou corpo e, por isso, o Brasil tem destaque", disse. O presidente também citou casos de violência e intolerância no Brasil e avaliou que há um ódio estabelecido que "não existia no país e agora virou uma coisa corriqueira". Ele lembrou que movimentos semelhantes também vêm ocorrendo em nações da Europa e nos Estados Unidos, citando a invasão ao Capitólio por uma turba de extremistas em 6 de janeiro de 2021. "Foi uma afronta à democracia, e você não pode permitir que a negação das instituições prevaleça. Instituições que foram criadas para manter a democracia, por mais defeitos que elas tenham, é extremamente importante que sejam fortes. Então, os Estados Unidos, que eram a imagem do respeito à democracia, do respeito às instituições, estão do jeito que estão", disse. Lula ainda comparou os acontecimentos no Capitólio com o ataque às sedes dos Três Poderes em janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente e de extrema direita Jair Bolsonaro depredaram prédios públicos em Brasília. Aproveitar imagem do Brasil O presidente disse que pretende aproveitar agora o "otimismo nas relações diplomáticas" com o Brasil para fazer uma "discussão política" sobre esses movimentos e o seu enfrentamento. "Há uma expectativa muito grande com relação ao Brasil e uma expectativa muito grande com relação ao simbolismo da volta da democracia neste país", disse, destacando sua participação em diversos fóruns internacionais deste o início do terceiro mandato. Segundo Lula, os líderes democráticos "não podem permitir que prevaleça a negação de todas as instituições que foram criadas para manter a democracia" e devem unir forças contra um movimento extremista para o qual "o que há de mais valioso é a mentira". O líder brasileiro comentou brevemente o ato organizado por Jair Bolsonaro na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, no último domingo. "Não vi o ato [de Bolsonaro]. Não me preocupa atos de fascista, não. Me importa o seguinte, vou fazer esse país dar certo", disse. jps (Reuters, Lusa, Agência Brasil)


Short teaser Presidente brasileiro propõe reunir "presidentes democratas" para discutir como barrar crescimento da extrema direita
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Image caption Lula e Macron durante visita do presidente francês ao Brasil no fim de março
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Item 13
Id 68899548
Date 2024-04-23
Title UE cria direito de conserto de eletroeletrônicos
Short title UE cria direito de conserto de eletroeletrônicos
Teaser É mais barato comprar um novo do que consertar? Uma nova lei da União Europeia quer mudar isso, com efeitos positivos para o consumidor e o meio ambiente.

Na Europa, aparelhos como geladeiras e smartphones geralmente não são consertados quando estragam, pois costuma ser mais barato jogar o produto fora e comprar um novo. Uma nova lei da União Europeia (UE), aprovada nesta terça-feira (23/04) no Parlamento Europeu, quer mudar isso e introduzir o chamado direito de reparo para os consumidores.

O direito de reparo quer impulsionar a economia circular na UE e reduzir as montanhas de lixo de produtos eletroeletrônicos. De acordo com os cálculos da Comissão Europeia, cerca de 35 milhões de toneladas de lixo são produzidas todos os anos porque produtos são jogados fora muito cedo em vez de serem consertados. Para os consumidores, o prejuízo anual estimado é de 12 bilhões de euros.

No Parlamento Europeu, 584 deputados votaram a favor do direito ao reparo, com três votos contra e 14 abstenções. O Conselho dos 27 estados-membros ainda precisa aprovar formalmente a lei. Por fim, os estados-membros têm dois anos para transpor o direito de reparo às suas leis nacionais.

O que se quer com o direito de reparo?

Com a lei, a UE está introduzindo um direito a consertos para os consumidores: qualquer pessoa que queira consertar um produto elétrico deverá ter a opção de fazê-lo, desde que o produto ainda possa ser consertado e mesmo se a garantia já estiver vencida. Isso significa que os fabricantes devem oferecer consertos e ter instruções e peças de reposição suficientes disponíveis.

Mesmo após o término da garantia, os consumidores devem poder realizar um reparo simples e econômico sempre que possível.

A lei também tem como objetivo reduzir o lixo eletroeletrônico e reduzir as emissões de CO2.

A quais aparelhos a lei se aplica?

Eletrodomésticos em geral, como geladeiras, freezers, máquinas de lavar, secadoras, lava-louças, aspiradores de pó e televisores, por exemplo. Os smartphones e as bicicletas elétricas também são abrangidos pelas novas regulamentações. A Comissão Europeia ainda se reserva o direito de futuramente ampliar a lista.

E o que fazer quando o aparelho estragar?

Os consumidores poderão entrar em contato diretamente com o fabricante para fazer consertos, mesmo que tenham comprado o aparelho defeituoso de um varejista. Se essa não for uma opção, por exemplo, porque a empresa fabricante não existe mais, a responsabilidade poderá recair sobre o varejista.

Por quanto tempo a garantia legal é válida?

Isso varia de país para país. Na Alemanha, em geral, é de dois anos. Na Holanda está vinculada à vida útil esperada do produto.

Haverá garantia também para produtos consertados?

Sim, deve ser introduzida uma garantia válida por um ano após o reparo. O objetivo é dar aos consumidores a certeza de que o conserto vale a pena.

Onde os consumidores podem encontrar a oficina certa para o conserto?

A UE deverá criar um portal online onde os consumidores poderão procurar oficinas, lojas de aparelhos antigos consertados ou interessados em comprar aparelhos com defeito. Os preços dos consertos devem ser transparentes.

Como as oficinas independentes podem ser fortalecidas?

Muitos fabricantes dificultam o conserto de seus aparelhos por oficinas independentes ou mesmo por amadores, como o próprio comprador. Por exemplo exigindo uma ferramenta especial para os reparos ou por meio de configurações de software. Muitas empresas também não vendem suas peças de reposição para oficinas independentes. A nova lei da UE proíbe medidas desse tipo.

As novas regras também facilitam o reparo de um produto por parte de amadores. Isso começa já na fase de desenvolvimento do produto. Os fabricantes serão obrigados a garantir que os produtos sejam fáceis de consertar, ou seja, que não haja obstáculos embutidos no software ou no hardware que dificultem a abertura com ferramentas comuns. Além disso, os serviços de reparo independentes não serão mais impedidos de instalar peças de reposição usadas ou impressas em 3D.

A ideia é que telefones celulares, laptops e máquinas de lavar possam ser consertados com mais facilidade, rapidez e economia.

A lei tornará os reparos mais baratos?

É o que se espera. A Comissão Europeia espera que a lei crie concorrência entre as oficinas, fazendo com que os preços caiam. Atualmente, as peças de reposição são o maior fator de custo dos consertos. Nesse caso, a lei também pode fazer com que os preços caiam porque os fabricantes terão que manter mais peças de reposição em estoque.

De que outra forma os reparos serão incentivados?

A diretiva propõe várias outras medidas, das quais os estados-membros só precisam implementar uma. Essas medidas incluem a emissão de vales para reparos, nos quais o Estado assume parte dos custos de um conserto, e a criação de campanhas informativas, a oferta de cursos de conserto ou incentivos fiscais. Na Alemanha, alguns estados já oferecem esses incentivos, como o bônus de reparo na Turíngia.

Que impacto o projeto terá sobre o meio ambiente?

As novas regras terão um impacto positivo no meio ambiente, pois a tendência é de que menos produtos sejam descartados devido a pequenos defeitos. Quando a Comissão Europeia apresentou a proposta, ela estimou que 18,5 milhões de toneladas de emissões de gases do efeito estufa e 1,8 milhão de toneladas de recursos seriam economizados e que 3 milhões de toneladas a menos de lixo seriam produzidas em 15 anos.

Short teaser É mais barato comprar um novo do que consertar? Uma nova lei da União Europeia quer mudar isso.
Author Alexandre Schossler (com AFP e DPA)
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Item 14
Id 68899175
Date 2024-04-23
Title Automóveis encalham nos estacionamentos dos portos europeus
Short title Automóveis encalham nos estacionamentos dos portos europeus
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Á espera de compra ou embarque, automóveis estacionados enchem o porto de Bremerhaven

Fatores como corte dos subsídios para elétricos e aumento das importações fazem carros amargar longa estadia nos terminais marítimos até a compra. Entre as soluções propostas, veículos autônomos que se embarcam sozinhos.Automóveis são um tipo especial de mercadoria: por um lado, mais manuseáveis do que plataformas de petróleo, por exemplo, já que são expedidos individualmente e com "montagem completa". Por outro, são tão grandes que não é possível simplesmente colocá-los na prateleira: cada unidade ocupa até dez metros quadrados, mesmo se não é utilizada. Isso causa problemas aos portos em que são carregados e descarregados os navios que os transportam. Na Alemanha, os principais são os das cidades de Emden e Bremerhaven. O Autoterminal Bremerhaven, no norte, é um dos maiores portos automobilísticos do mundo. Segundo seus próprios dados, o grupo BLG Logistics embarca lá mais de 1,7 milhão de veículos por ano. Julia Wagner, porta-voz dessa empresa, especifica que o porto, com lugar para cerca de 70 mil carros, é utilizado por todas as montadoras de renome e "cada ano mais de mil porta-automóveis chegam ao terminal". Mas uma mudança nos trânsitos tem se registrado nos últimos anos: "Por muito tempo, tivemos 80% de exportações e 20% de importações. Agora essa proporção está em 50-50." O porto de Zeebrügge, na cidade medieval belga Bruges, recebe duas vezes mais carros do que Bremerhaven. Também lá, no momento, está estacionado um grande número de veículos que foram descarregados, mas cujo transporte ainda não prosseguiu. Segundo Elke Verbeelen, do departamento de comunicação dos portos de Antuérpia/Bruges, "isso acontece em todos os portos europeus que transportam grande quantidade de automóveis". Contudo, a estadia prolongada se deve menos ao enorme volume de carros importados, mas sim "por eles não serem levados embora rapidamente". Por enquanto, a capacidade dos grandes terminais ainda permite que os carros fiquem estacionados, não havendo "uma 'constipação' do terminal, como alegam alguns meios de comunicação", assegura Julia Wagner, de Bremerhaven. O mesmo se aplica a Antuérpia/Bruges. Redução de vendas contribui para encalhe nos portos Na prática, o transporte marítimo de automóveis é um negócio pouco transparente, pois não há como determinar, à primeira vista, onde cada um foi fabricado, nem onde será vendido. Fabricantes ocidentais como a Tesla mandam produzir seus carros na China e aí os trazem para a Europa. Ao mesmo tempo, muitas montadoras abastecem mercados asiáticos, ou sucursais específicas nos Estados Unidos – entre outros motivos, a fim de evitar as taxas aduaneiras. Outro aspecto é que "não temos a menor ideia de quantos carros são embarcados em contêineres", admite Verbeelen. Essa forma de transporte costuma ser empregada por pessoas físicas ou por negociantes que só expedem poucos veículos. Pelo fato de ficarem "empacotados" por todo o caminho, entretanto, esses carros não ocupam vagas de estacionamento. Diversos outros fatores contribuem para o acúmulo de automóveis nos portos europeus. Um deles é o modelo de venda direta ao cliente, adotado por algumas marcas: "Aí o carro fica no porto [até ser comprado], não chegando a ir para o showroom da concessionária", explica a encarregada de comunicação de Antuérpia/Bruges. Fatores conjunturais como "vendas relativamente baixas" também geram a grande lotação dos estacionamentos portuários. Julia Wagner de Bremerhaven confirma: "A permanência dos automóveis de todas as montadoras no terminal se prolongou com o corte dos subsídios estatais para mobilidade elétrica", diminuindo as vendas na Alemanha. Por outro lado, o faturamento automotivo em geral cresceu, aponta Verbeelen. Ainda não se alcançou o nível de antes da pandemia de covid-19, porém se importa e exporta bem mais, "em comparação com 2020-2021. AutoLog: quando os autônomos se autoembarcam A falta de mão de obra especializada no setor de expedições também se faz notar, com uma capacidade diminuída de transporte rodoviário de automóveis, devido à escassez de motoristas de caminhão. Tudo isso resulta em permanências mais prolongadas nos estacionamentos dos portos. A sucursal da Volkswagen em Emden, no norte alemão, e o terminal automobilístico no porto local buscam outros caminhos para combater o fenômeno, pretendendo acelera a carga e descarga dos navios, também com redução do pessoal. O jornal Ostfriesen Zeitung informa que o Ministério dos Transportes da Alemanha está patrocinando com 3,2 milhões de euros o projeto AutoLog, para testar se é praticável os carros autônomos se embarcarem e desembarcarem por conta própria. Os experimentos se encerram em 2026. Caso bem-sucedidos, resultarão na "economia" de até 2 mil postos de trabalho em Emden, e o processo poderá se estender "por toda a cadeia de distribuição, da montadora à concessionária", abrindo assim vagas nos estacionamentos dos portos europeus.


Short teaser Fatores como corte dos subsídios para elétricos e aumento de importação fazem carros amargar longa estadia em terminais.
Author Dirk Kaufmann
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Image caption Á espera de compra ou embarque, automóveis estacionados enchem o porto de Bremerhaven
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Item 15
Id 68896246
Date 2024-04-23
Title Como micróbios podem ajudar a desvendar assassinatos
Short title Como micróbios podem ajudar a desvendar assassinatos
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Cientistas apostam na análise de micróbios na cena do crime para resolver casos complexos

Cientistas esperam usar bactérias e fungos presentes em cenas de crimes para resolver casos difíceis. Análise de insetos já acontece, mas não é tão precisa.Há cerca de 800 anos, o mistério tomou conta de uma aldeia chinesa quando um corpo foi descoberto com múltiplas facadas. Após a inspeção, o detetive local Song Ci determinou que os ferimentos foram causados ​​por uma foice. Para localizar o culpado, ele reuniu os moradores em uma tarde quente e disse-lhes que largassem as foices para inspeção. As moscas varejeiras começaram a pulular. Elas finalmente decidiram por uma única foice. Atraídas por vestígios de sangue da vítima, as moscas identificaram o agressor, que foi levado implorando por misericórdia. Caso encerrado. Esse é o primeiro caso conhecido de um detetive que identificou um suspeito de assassinato por meio do estudo de insetos – um campo hoje conhecido como entomologia forense. Mark Benecke, um cientista forense radicado na Alemanha, analisa rotineiramente os ciclos de vida de insetos como moscas, formigas e besouros em cadáveres em cenas de crimes. Por mais horrível que pareça, o seu trabalho tem sido fundamental em processos judiciais, ajudando a identificar quando, e muitas vezes como, alguém morreu. Em 2017, por exemplo, Benecke determinou que um homem de 80 anos na Itália tinha morrido por negligência, ao estudar os ciclos de vida de moscas e formigas encontradas na casa do morto. "Não há muitos entomologistas forenses por aí", diz Benecke. Mas o seu trabalho pode fornecer o elo perdido em casos difíceis de resolver. Mas embora os insetos possam ser úteis em circunstâncias muito específicas, Benecke afirma que muitas vezes é difícil coletar as informações corretas na cena do crime para fornecer uma análise útil para um processo judicial. Os ciclos de vida dos insetos dependem dos níveis de temperatura, umidade e luz do ambiente. Eles são particularmente difíceis de determinar no inverno ou em climas mais frios, quando é menos provável que os insetos estejam por perto. Além disso, "muitas vezes, não são coletados insetos suficientes [no local] ou eles são mal armazenados", conta Benecke. "Certa vez, me pediram para fazer um caso com a fotografia de um inseto esmagado." Finalmente, estudar os ciclos de vida dos insetos geralmente não oferece precisão suficiente para determinar a hora exata da morte – informação crucial em casos de suspeita de homicídio. Bactérias e fungos podem fornecer visão mais detalhada Nos últimos anos, cientistas têm pesquisado se a análise de bactérias e fungos poderia oferecer um método preciso para identificar o momento e causas de morte. Em um estudo recente, os investigadores parecem ter encontrado algum apoio para essa hipótese. Eles identificaram um grupo de micróbios que parecem impulsionar a decomposição dos corpos, independentemente do clima ou da estação. O estudo envolveu a análise de cadáveres em diferentes climas dos Estados Unidos durante as quatro estações. Os investigadores deixaram os corpos em locais diferentes durante 21 dias, depois analisaram o material genético de amostras de tecidos e criaram um mapa detalhado das populações de bactérias e fungos de cada corpo. Depois, eles inseriram esses dados em um algoritmo de inteligência artificial (IA) que poderia identificar com precisão a hora da morte. Os pesquisadores conseguiram então localizar 20 micróbios que, como um relógio, apareceram em todos os corpos analisados ​​durante o período de 21 dias. A alegria, pelo menos para os patologistas, era que as mesmas espécies microbianas colonizavam sempre os cadáveres com a mesma velocidade, independentemente da localização do corpo ou do clima em que se encontrava. Os pesquisadores também conseguiram identificar comunidades microbianas distintas que colonizaram cadáveres em diferentes ambientes. Alguns dos micróbios que colonizaram os corpos no deserto, por exemplo, eram diferentes daqueles que colonizaram os corpos nas florestas. Isto poderia permitir aos cientistas dizer onde um corpo provavelmente se decompôs com base em pequenas variações entre microbiomas. Micróbios ainda não são analisados em cenas de crime A análise de micróbios em cenas de crime poderia ajudar os patologistas forenses a determinar possíveis suspeitos e a confirmar ou refutar álibis em casos de suspeita de homicídio, especialmente quando a hora da morte não é clara. É garantido que evidências microbianas estejam presentes na cena da morte, ao contrário de impressões digitais, manchas de sangue, testemunhas ou a coleta de varejeiras na arma do crime. Mas os cientistas forenses ainda não estão usando micróbios como prova nas cenas dos crimes. Segundo Benecke, são necessários mais dados para compreender os muitos fatores que influenciam o seu crescimento. "No momento ainda está em fase de pesquisa. Mas sempre vale a pena usar todas as informações disponíveis [na cena do crime]", argumenta. "Dados em massa e estatísticas baseadas em inteligência artificial podem permitir uma boa estimativa do intervalo post-mortem [tempo decorrido desde a morte] e muito mais. Porém, dá muito trabalho. As pessoas precisam amar o tópico, e não muitos o fazem", acrescenta Benecke.


Short teaser Cientistas esperam usar bactérias e fungos presentes em cenas de crimes para resolver casos difíceis.
Author Fred Schwaller
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Image caption Cientistas apostam na análise de micróbios na cena do crime para resolver casos complexos
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Item 16
Id 68896525
Date 2024-04-23
Title Assessor da AfD é preso por suspeita de espionar para a China
Short title Assessor da AfD é preso por suspeita de espionar para China
Teaser Funcionário de eurodeputado da ultradireita, suspeito é acusado de repassar informações sobre o Parlamento Europeu e oposicionistas chineses a Pequim.

Um assessor do eurodeputado Maximilian Krah, do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), foi preso na madrugada desta terça-feira (23/04) por suspeita de espionagem para a China, noticiaram a emissora alemã ARD e outros veículos da imprensa alemã.

Jian G., de 43 anos, que mora em Dresden e em Bruxelas, teria fornecido informações a um serviço secreto chinês em Pequim sobre oposicionistas chineses no exterior e sobre assuntos relacionados ao Parlamento Europeu.

G. era um "funcionário de um serviço secreto chinês", afirmou o Ministério Público Federal, em Karlsruhe. Em janeiro de 2024, o detido transmitiu repetidamente "informações sobre negociações e decisões no Parlamento Europeu para seu cliente do serviço secreto". Ele também espionou membros da oposição chinesa na Alemanha para o serviço secreto chinês.

China rejeita acusação de espionagem

Krah, que é o candidato cabeça de chapa da AfD para as eleições ao Parlamento Europeu, em junho, disse na manhã desta terça-feira que ficou sabendo da prisão pela imprensa. "Espionar para um Estado estrangeiro é uma alegação séria. Caso as alegações se provem verdadeiras, isso resultaria na rescisão imediata da relação de trabalho", afirmou.

Em Pequim, o Ministério do Exterior da China rejeitou as acusações de espionagem relacionadas à prisão na Alemanha. Essas acusações teriam a intenção de difamar a China e de "destruir a atmosfera de cooperação entre a China e a Europa", declarou o ministério.

A AfD declarou que a prisão de um assessor de Krah "é muito preocupante". "Como atualmente não temos mais informações sobre esse caso, devemos aguardar o resultado da investigação", acrescentou o partido. Mais tarde, a direção acrescentou que convocou Krah para Berlim para uma reunião de emergência.

Espionagem de oposicionistas

O acusado, Jian G., foi preso em Dresden durante a madrugada. G. não é um estranho para as autoridades de segurança alemãs: ele teria se oferecido a elas como informante há pelo menos dez anos. Entretanto, aparentemente não houve cooperação. Na época, ele foi considerado pouco confiável e um possível agente duplo da China.

G. é de origem chinesa e cidadão alemão há vários anos. Ele veio para Dresden em 2002, como estudante, e também trabalhou como empresário. Por um tempo foi membro do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD).

Em 2023, o site de notícias alemão T-Online foi o primeiro a informar sobre as conexões duvidosas de Krah com a China, bem como sobre seu assistente G. e a fundação de empresas e associações com vínculos com a China.

Quando Krah entrou para o Parlamento Europeu pela AfD, em 2019, ele contratou G. como seu assessor. Nessa função, ele tinha acesso a informações parlamentares que teriam sido de grande valor para o serviço secreto chinês.

G. também há anos participa ativamente do movimento de oposição chinês no exterior. Ele teria usado suas conexões para espionar membros da oposição chinesa para o serviço secreto chinês.

Outras três prisões

A prisão se soma a de outras três pessoas ocorridas nesta segunda-feira, também por suspeita de espionagem para a China. Entretanto, os dois casos aparentemente não estão relacionados.

As prisões ocorreram poucos dias depois de uma viagem do chanceler federal Olaf Scholz ao país asiático, que é um dos principais parceiros comerciais da Alemanha.

as/cn (ARD, Efe)

Short teaser Funcionário de eurodeputado da ultradireita, suspeito é acusado de repassar informações sobre o Parlamento Europeu.
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Item 17
Id 68893229
Date 2024-04-22
Title Áustria prende grupo que celebrou aniversário de Hitler
Short title Áustria prende grupo que celebrou aniversário de Hitler
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A casa onde Hitler nasceu em Braunau, na Áustria

Quatro alemães foram flagrados pela polícia em Braunau no sábado depositando flores e fazendo a saudação nazista na casa onde o ditador nasceu, em 20 de abril de 1889.A polícia austríaca anunciou nesta segunda-feira (22/04) que prendeu quatro cidadãos alemães que depositaram rosas brancas na casa onde o ditador Adolf Hitler nasceu, em Braunau am Inn. O grupo foi detido no último sábado, 20 de abril, o aniversário de Hitler. Segundo a polícia da Áustria, foram presas duas irmãs de 24 e 26 anos de idade, bem como seus parceiros de 29 e 31 anos. Os nomes não foram divulgados. Ainda de acordo com as autoridades, as rosas foram depositadas pelo grupo no parapeito de uma janela da casa. Uma das mulheres também foi vista pela polícia fazendo a saudação nazista, e o grupo posou para fotos. Interpelada pela polícia, a mulher disse que o gesto era uma brincadeira. No entanto, após uma inspeção no telefone da mulher, a polícia encontrou mensagens de bate-papo e fotos com temas nazistas sendo compartilhadas entre os quatro. A polícia disse que os quatro foram indiciados por suspeita de violação de uma lei austríaca que proíbe a exibição de símbolos do nazismo. Patrulhas policiais costumam ser intensificadas em 20 de abril de cada ano na região, com atenção especial para a casa em Braunau am Inn. O passado austríaco de Hitler Hitler, o fundador do nazismo e ditador da Alemanha entre 1933 e 1945, nasceu em 20 de abril de 1889 nessa cidade de 17 mil habitantes não distante da fronteira com o estado alemão da Baviera. Ele viveu lá até os três anos de idade e posteriormente sua família se mudou para Passau, na Alemanha. Por anos, a casa onde o ditador nasceu foi tema de debates acalorados na Áustria. No passado, as autoridades decidiram converter o imóvel, hoje uma propriedade estatal, em uma delegacia de polícia – um projeto destinado a desestimular peregrinações de neonazistas. A Alemanha nazista anexou a Áustria em 1938. Apesar do fato de que vários cúmplices de Hiltler eram de nacionalidade austríaca, assim como originalmente o próprio ditador, historiadores apontam que o país alpino demorou para reconhecer sua responsabilidade no Holocausto e por outros crimes cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Em frente à casa há um memorial de granito com a inscrição: "Pela paz, liberdade e democracia, fascismo nunca mais, advertem milhões de mortos". jps/bl (dpa, DW, ots)


Short teaser Quatro alemães foram flagrados pela polícia em Braunau depositando flores na casa na qual o ditador nazista nasceu.
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Image caption A casa onde Hitler nasceu em Braunau, na Áustria
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Item 18
Id 68842710
Date 2024-04-22
Title Apesar de seus 300 anos, Immanuel Kant continua atual
Short title Apesar de seus 300 anos, Immanuel Kant continua atual
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Estátua de Kant em Kaliningrado

Ninguém que confie na voz da razão pode ignorar o pensador de Königsberg. As visões de mundo do pioneiro do Iluminismo ainda valem até os dias de hoje, em meio a mudanças climáticas, guerras e crises.Para entender o mundo não é preciso necessariamente viajar por ele. Quem provou isso foi Immanuel Kant (1724-1804). Nesta segunda-feira (22/04), o mundo comemora o 300º aniversário do nascimento deste filósofo alemão que nunca deixou sua terra natal, Königsberg, na Prússia Oriental – hoje Kaliningrado, um exclave russo. Mas isso não prejudicou sua compreensão sobre o planeta: suas ideias revolucionaram a filosofia e fizeram dele um pioneiro do Iluminismo. Sua obra mais famosa, Crítica da razão pura, é considerada um marco na história da filosofia. Kant continua sendo um dos pensadores mais importantes de todos os tempos. Muitas de suas conclusões são válidas ainda hoje – época de mudança climática, guerras e crises. O que, por exemplo, poderia levar a uma paz duradoura entre as nações? Kant recomendou em 1795, em seu ensaio À paz perpétua, a criação de uma "liga das nações", como uma federação de Estados republicanos. De acordo com Kant, a ação política deve ser sempre guiada pela lei moral. Seu trabalho tornou-se o modelo para a fundação da Liga das Nações após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a precursora das Nações Unidas. Além do direito internacional, Kant também desenvolveu uma lei de cidadania mundial. Ao fazer isso, ele rejeita o colonialismo e o imperialismo e formula ideias para o tratamento humano dos refugiados. De acordo com o filósofo, toda pessoa tem o direito de visitação em todos os países, mas não necessariamente o direito de hospitalidade. Em favor da razão e dos argumentos Kant justifica a dignidade humana e os direitos humanos não religiosamente, com Deus, mas filosoficamente, com a razão. Kant acreditava muito nas pessoas em geral. Ele as considerava capazes de assumir responsabilidades – por si mesmas e pelo mundo. Acreditava que a vida pode ser administrada com razão e argumentos e formulou uma regra básica para isso: "Aja de tal maneira que a máxima de sua vontade possa, ao mesmo tempo, ser considerada como o princípio da legislação geral". Ele chamou isso de "imperativo categórico". Hoje, nós o formularíamos da seguinte maneira: você só deve fazer o que for para o melhor de todos. Em 1781, Kant publica o que é provavelmente sua obra mais importante. Em Crítica da razão pura, ele apresenta as quatro questões fundamentais da filosofia: O que posso saber? O que devo fazer? O que posso esperar? O que é o ser humano? Sua busca por respostas a essas perguntas é conhecida como teoria do conhecimento. Ao contrário de muitos filósofos anteriores a ele, Kant explica em seu tratado que a mente humana não pode responder a perguntas como a existência de Deus, a alma ou o início do mundo. "Kant não é uma luz do mundo, mas um sistema solar radiante de uma só vez." Que elogio o escritor Jean Paul (1763-1825) fez a seu contemporâneo! Mas outros grandes intelectuais acharam os escritos de Kant difíceis de digerir. O filósofo Moses Mendelssohn reclamou que era preciso "suco nervoso" para lê-los. Ele próprio não conseguia. Pioneiro do Iluminismo Os ensinamentos e escritos de Immanuel Kant lançaram as bases para uma nova forma de pensar. Sua frase "Sapere aude" (tenha a coragem de fazer uso de seu próprio entendimento) ficou famosa e fez de Kant um pioneiro do Iluminismo. Esse movimento intelectual que surgiu na Europa no final do século 17, declarou a razão humana e seu uso correto como padrão para todas as ações. Em seus escritos, Kant pedia para que as pessoas se libertassem de quaisquer instruções (como os mandamentos de Deus) e assumissem a responsabilidade por suas próprias ações. Daí que vem também esta famosa citação: "Não faça aos outros o que você não gostaria que fizessem a você". Até hoje em dia, ainda circulam muitos boatos e preconceitos sobre Kant. O filósofo alemão e especialista em Kant Otfried Höffe colocou alguns deles à prova em seu novo livro Der Weltbürger aus Königsberg (O cosmopolita de Königsberg, em tradução livre), incluindo a questão de saber se Kant era um "racista eurocêntrico" ou se Kant discriminava as mulheres. Em ambos os casos, sua resposta é: "Sim, mas...". Devorador de diários de viagem Kant não era um racista no sentido moderno, pelo contrário: ele condenava o colonialismo e a escravidão. Kant nunca saiu de Königsberg, mas a capital da Prússia Oriental era uma cidade comercial vibrante na época, uma "Veneza do Norte". Além disso, Kant também devorava diários de viagem a outros países. E finalmente: Kant era um estudioso de salão rabugento e misantropo? Hoje, a ciência também está desfazendo esse preconceito. Embora Kant tivesse uma rotina diária estritamente regulamentada, ele gostava de almoços prolongados com amigos e conhecidos, adorava bilhar e jogos de cartas, ia ao teatro e era considerado uma ótima companhia de conversa nos salões da cidade. Celebrações por toda parte Muitos eventos comemoram Kant e seu legado neste ano, inclusive na Alemanha. O Bundeskunsthalle em Bonn, por exemplo, sediará uma grande exposição sobre o filósofo. Uma importante conferência acadêmica será realizada em Berlim em junho, seguida de um congresso internacional em Bonn no segundo semestre, que foi originalmente planejado para Kaliningrado, mas não poderá ser realizado devido à guerra russa de agressão contra a Ucrânia. O túmulo de Kant adorna a parede traseira da Catedral de Königsberg – marco da cidade até hoje. A igreja gótica foi um dos poucos edifícios históricos a sobreviver aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial e à subsequente onda de demolições no Estado soviético. Por mais popular que Kant seja hoje, seus escritos foram apropriados por muitos movimentos políticos. E quem descreve a si mesmo como seu pensador favorito? Isso mesmo – Immanuel Kant!


Short teaser Ninguém que confie na voz da razão pode ignorar o pensador de Königsberg. Suas visões de mundo ainda valem até hoje.
Author Stefan Dege
Item URL https://www.dw.com/pt-br/apesar-de-seus-300-anos-immanuel-kant-continua-atual/a-68842710?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Estátua de Kant em Kaliningrado
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Item 19
Id 68869281
Date 2024-04-22
Title Kant, 300 anos: como pensamento do filósofo alemão influenciou a sociedade brasileira
Short title Como o pensamento de Kant influenciou a sociedade brasileira
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Immanuel Kant (1724-1804)

Da bandeira às bases republicanas, do direito ao mundo das artes: no aniversário de 300 anos do filósofo alemão, especialistas analisam impacto da obra kantiana no país.Quando na fuga das tropas napoleônicas o então príncipe dom João 6° (1767-1826) transferiu a corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, em 1808, ele trouxe em sua bagagem aquele que pode ter sido o primeiro livro sobre a filosofia de Immanuel Kant(1724-1804) a aportar em terras brasileiras. Foi a obra Philosophie de Kant ou Principes Fondamentaux de la Philosophie Trascendental, publicada pelo francês Charles Villers (1765-1815). De acordo como filósofo Luiz Armando Bagolin, professor no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), este pode ser considerado o marco da inserção kantiana no país. “Depois, em 1829, reflexões sobre a obra do filósofo aparecem nos Cadernos de Filosofia do padre Diogo Antônio Feijó [(1784-1843)]”, aponta ele. Conhecido como Regente Feijó, o sacerdote, além de religioso, também foi filósofo e político. Mas sem dúvida a influência no Brasil mais visível e conhecida da filosofia desse alemão nascido há exatos 300 anos esteja em um desdobramento de sua filosofia iluminista, pragmática e racional: o positivismo, corrente capitaneada pelo francês Auguste Comte (1798-1857). “Comte foi um grande leitor de Kant e o lema da bandeira brasileira, ‘ordem e progresso’, tem inspiração positivista. Comte não tirou isso do nada: ele quis dizer que quanto maiores fossem os progressos técnicos, científicos e industriais, mais harmônica e perfeita, com mais ordem será a sociedade”, afirma o filósofo e sociólogo Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo (FESPSP) e da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “Essa ideia originalmente tem ponto de partida nas obras de Kant.” Era um pensamento que saudava a ideia de que as sociedades humanas estavam substituindo a superstição e a religião pela eficácia científica. “O próprio Kant usa a ideia de que abandonaremos a minoridade para alcançarmos a maioridade, com o saber científico, prático e empírico”, detalha Ramirez. Política e direito A filosofia kantiana está na base da organização política e do direito no Brasil. “Porque não há como falar de positivismo sem falar de Kant, e não há como falar da Proclamação da República [ocorrida em 1889] sem pensar na influência social do pensamento kantiano. Inclusive em ideais presentes hoje nos militares, como exaltação ao progresso, à técnica, os militares que tanto ovacionam o lema da bandeira”, diz o filósofo e sociólogo. “Não à toa falamos permanentemente da busca pelo progresso, sobretudo em campanhas eleitorais”, acrescenta ele. Ao longo do século 20, diversos autores brasileiros se debruçaram sobre a filosofia de Kant para compreender, explicar e teorizar o país. E essa interação entre academia e sociedade também influencia a organização da nação. “A noção kantiana de política e de direito é fundamental para os tempos atuais porque se fundamenta no princípio de que a ação política somente atribui sentido à história como uma doutrina executiva do direito”, argumenta Bagolin. “Este, por sua vez, leva em consideração a moderação ou prudência como aquilo que permite a paz e garante o direito público, de todos, como o fim de toda a sociedade. Em outras palavras, a política visa ao bem-estar de todos, mas a ação deve ter sempre como ponto de partida a prudência resguardada pelo direito.” Ramirez lembra que a prática do “direito consensual” também se fundamenta, no Brasil, em Kant. “É a ideia otimista dele de que os sujeitos dotados de racionalidade e de ciência poderiam promover o que ele chamava de imperativo categórico, a ideia de que a gente tem de tornar universais, portanto transformar em leis, premissas racionais como usar o cinto de segurança ou questões ambientais”, explica. “A sociedade civil, conceito inventado por Kant, tem a capacidade de pressionar os poderes públicos para que hajam leis em benefício da humanidade.” Ele também salienta que Kant está no cerne do chamado “direito positivo”, em que a ideia é promover a resolução de conflitos entre partes divergentes por meio de acordos racionais, mediados pelos seus advogados. Nas universidades e na arte Professor na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o filósofo Diego Kosbiau Trevisan lembra que “a recepção inicial mais substancial do pensamento de Kant [no Brasil] se deu prioritariamente nas faculdades de direito”. Segundo obra do jurista Tercio Sampaio Ferraz Jr., professor na USP, a “doutrina de Kant já era […] de algum modo conhecida” quando a Faculdade de Direito foi criada em São Paulo em 1827 — atual USP. “Já na primeira metade do século 20, Kant […] foi influência central do [jurista] Miguel Reale [(1910-2006)] e seu ‘historicismo axiológico’ e sua ‘teoria tridimensional do direito’”, ressalta Trevisan. “Atualmente, a comunidade de pesquisadores kantianos é uma das maiores, senão a maior, na filosofia brasileira”, comenta a filósofa Silvia Altmann, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente da Sociedade Kant Brasileira. Ela afirma que “o pensamento de Kant marcou e ainda marca profundamente em particular o ensino e a pesquisa em filosofia no Brasil”. Isto desde o início dos cursos de graduação, a partir dos anos 30, “intensificando-se a partir do final da década de 50 e, em um segundo momento, quando a estruturação do sistema de pós-graduação no país a partir da década de 70”. A sociedade que ela preside foi criada em 1988 e mantém publicações regulares, como a revista Studia Kantiana. Mas a filosofia de Kant, lembra Altmann, também está presente em outras áreas, como sociologia, história e direito, além da “interação com áreas ligadas à ciência cognitiva”. Segundo a professora, isso ocorre, entre outras razões, porque se pode “utilizar as contribuições kantianas para investigações contemporâneas em ciências da natureza e ciência cognitiva, em problemas clássicos de fundamentação da ciência e na investigação das funções cognitivas humanas”. “Em filosofia prática, essa influência se manifesta no tratamento de questões morais e de teoria política e jurídica, procurando aplicar aos diferentes desafios políticos e sociais o esclarecimento sistemático de suas fundamentações mais básicas”, contextualiza. Na ciência de modo geral, a influência kantiana aparece “em vários segmentos da pesquisa acadêmica” e pode ser verificada na “proposta de superação da tensão entre racionalismo e empirismo”, avalia o filósofo e teólogo Junio Cezar da Rocha, professor na Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. Bagolin também vê a influência de Kant no campo da estética, sendo uma ferramenta teórica do mercado artístico. “A filosofia kantiana é fundamental, pois ela se estrutura em torno de uma argumentação que busca justificar que uma obra seja ‘arte’ desde que produzida por um indivíduo singular, o ‘gênio, visto como a disposição natural inata pela qual a natureza dá a regra à arte”, explica. “Kant afirma que a verdade arte é a ‘arte desinteressada’ ou livre, à qual opõe o artesanato. Numa perspectiva pós-kantiana, quase sempre, e mesmo hoje, a crítica de arte sempre parte da possibilidade de justificar o trabalho artístico a partir da condição de singularidade do artista, que acaba por determinar aspectos ou qualidades em sua obra, nem sempre racionais ou compreendidos pelo próprio artista, mas que merecem ser partilhados universal e racionalmente, através do juízo, a outrem”, complementa. “Ou seja, ainda que tratemos hoje em dia da arte contemporânea em contextos locais, brasileiros, internacionais ou do assim falado ‘sul global’, a argumentação parte quase sempre da apresentação e valoração das obras de arte seguindo uma direção pensada no final do século 18 por um filósofo alemão”, comenta ele. Brasil como referência Os estudos kantianos têm ganhado mais importância no país nas décadas recentes. E isto tem despertado reconhecimento internacional da comunidade científica. Prova disso é o fato de que, em 2005, o Congresso Kant Internacional, considerado o mais importante evento de pesquisadores do filósofo, foi realizado no Brasil — pela primeira vez, não na Alemanha ou nos Estados Unidos. “Além disso, uma série de eventos internacionais dedicados à filosofia de Kant foi sediada no Brasil. Alguns deles já se tornaram regulares, como o Congresso da Sociedade Kant Brasileira, o Colóquio Kant Multilateral, os Colóquios Kantianos de Marília, os Encontros do Centro de Investigações Kantianas e o Colóquio Kant de Campinas”, destaca a física e filósofa Patricia Maria Kauark Leite, professora na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para Leite, como o “impacto de Kant na filosofia e na ciência em geral é enorme”, com influência no pensamento de “filósofos, cientistas sociais, juristas, epistemólogos e teóricos políticos”, os estudos produzidos no Brasil “têm muito a oferecer em tempos de resultados originais”. A trajetória da própria professora é um exemplo bem-sucedido de reconhecimento internacional. Em 2012, seu trabalho de pesquisa que mostra conexões teóricas entre a filosofia transcendental de Kant e a física quântica lhe rendeu o prêmio Louis Liard da Academia Francesa de Ciências Morais e Políticas.


Short teaser Da bandeira à base republicana, do direito ao mundo das artes, especialistas analisam impacto da obra kantiana no país
Author Edison Veiga
Item URL https://www.dw.com/pt-br/kant-300-anos-como-pensamento-do-filósofo-alemão-influenciou-a-sociedade-brasileira/a-68869281?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Immanuel Kant (1724-1804)
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Item 20
Id 68863465
Date 2024-04-22
Title Evangélicos dominam posts de extrema direita, revela estudo
Short title Evangélicos dominam posts de extrema direita, revela estudo
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Algumas postagens no X classificaram a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 como "dia da traição dos patriotas"

Postagens no Brasil exploram sentimentos de ameaça, medo e desconfiança, enaltecem bolsonarismo e defendem práticas antidemocráticas. Rede social X (ex-Twitter) é a mais popular entre os extremistas, mostra pesquisa.A menos de seis meses das eleições municipais no Brasil, uma pesquisa inédita mostra que entre os dez publicadores de extrema direita mais influentes nas redes sociais, oito são evangélicos. O estudo, que radiografou a movimentação de extremistas ao longo de três meses, aponta Santa Catarina e São Paulo como os dois principais centros dessas postagens. "No universo acompanhado pela pesquisa, os atores que se autodeclaram evangélicos são os que mais postam e os que têm maior alcance junto aos seguidores desse espectro político", diz Christina Vital, professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e uma das coordenadoras da pesquisa divulgada nesta segunda-feira (22/04), que mapeou perfis e técnicas usadas pela extrema direita. Realizado por pesquisadores da UFF e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) entre novembro do ano passado e janeiro de 2024, o estudo contou com financiamento da FundaçãoHeinrich Böll. O campo é marcado por publicações curtas e conteúdos que exploram sentimentos de ameaça, medo e desconfiança, e pela repetição de palavras negativas e críticas sem propostas construtivas. "Em muitos casos, as postagens apenas direcionam o leitor para links que induzem à leitura de outros materiais desse ecossistema", observa Vital, que dividiu a coordenação da pesquisa com Michel Gherman, professor do Programa de Pós-Gradução em História da UFRJ. O estudo investigou 191 "atores sociais" de extrema direita, divididos em quatro grupos: políticos, influenciadores, blogs ou sites e antidemocráticos. Deste total, 14 eram mulheres, 111 homens e 66 coletivos – como sites de notícias ou comunidades com histórico de publicações de apoio à tentativa de golpe de 8 de janeiro ou ao ex-presidente Jair Bolsonaro, além de agendas associadas ao extremismo. Na lista dos oito perfis com maior engajamento no campo evangélico, aparecem nomes como os do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), do senador Flávio Bolsonaro(PL-RJ), e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro – única mulher a constar no grupo, segundo a pesquisadora. Entre as quatro redes sociais analisadas, o X (antigo Twitter) – cujo dono, Elon Musk, fez ataques recentes contra o ministro Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes –, aparece disparado como a mídia mais utilizada pelos perfis extremistas mais populares, seguido por Instagram, Facebook e YouTube. Militares retratados como melancias No último 8 de janeiro, aniversário de um ano dos atos golpistas em Brasília, um fluxo febril de postagens com ataques contra o STF se disseminou desde cedo em perfis de extrema direita nas redes sociais. Havia também muitas mensagens favoráveis ao ex-presidente Jair Bolsonaro. "Nas postagens, eles tentavam separar a manifestação do vandalismo, e imputar a desordem ao atual governo. Para esses influenciadores extremistas, o STF é o verdadeiro inimigo da democracia. É a chamada 'retorsão' do argumento", explica Vital. Também no X, uma postagem do perfil Movimento sem Picanha, chamou especialmente a atenção da pesquisadora. A publicação dizia que o 8 de janeiro foi o "dia da traição dos patriotas" e trazia uma imagem das Forças Armadas criada por inteligência artificial, que retratava seus integrantes como melancias, abaixados no chão e pintando faixas no asfalto. "No linguajar do militarismo, a melancia é associada aos traidores – com o verde por fora, vinculado ao Exército, e o vermelho por dentro, vinculado à esquerda e ao comunismo. Seria mais um indício de que um golpe estava sendo armado, mas foi esvaziado no último minuto pelas Forças Armadas?", indaga a pesquisadora. A coleta de dados, feita com um software de inteligência artificial, alcançou 50 milhões de pessoas por dia. "Em sua maioria, os atores mais atuantes e com maior alcance são homens, brancos, influenciadores, políticos e lideranças religiosas", diz Vital. Evangélicos de extrema direita são minoria Para o cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Joanildo Burity, o resultado da pesquisa confirma o potencial de mobilização dos evangélicos de extrema direita no Brasil – apesar de o segmento ser minoritário no país. Projeções de institutos de pesquisa indicam que cerca de 30% da população brasileira, estimada em 230 milhões de habitantes, se identifica como evangélica. "Em termos numéricos, o segmento de extrema direita não deve ser maior do que 10% da população evangélica. Mas é um grupo militante, com muito acesso à mídia, recursos financeiros e conexões internacionais, o que faz com que tenha uma capacidade de projeção muito maior do que o seu tamanho", diz o pesquisador. Estigmatizada por sua associação com a ditadura militar, com os skinheads e com grupos pró-nazismo, a extrema direita não tinha popularidade, nem bases sociais no país, observa Burity. E foi exatamente isso que a militância religiosa trouxe. "Os evangélicos deram uma base social de massas para o movimento de extrema direita. Se você tirar essa militância religiosa da extrema direita, ela se reduz ao que sempre foi: grupelhos de intelectuais, de empresários, de militares, muito coesos, mas capazes de reunir bem pouca gente". Conexões internacionais com Bannon e Tea Party Para Burity, essa projeção dos evangélicos nas redes não é casual. Ela é facilitada pela formação que eles recebem tradicionalmente nas igrejas para "comandarem a palavra" – o que traz vantagens do ponto de vista da comunicação pública. Também é resultado de um processo deliberado de mobilização política – inclusive internacional. Apesar de majoritariamente conservadores, do ponto de vista político e moral, os evangélicos não tinham, até pouco tempo, uma posição de extrema direita, muito menos militante, diz o pesquisador. Essa vinculação foi se construindo: "desde 2017, mais ou menos, começou a haver uma aproximação entre a família Bolsonaro e o Steve Bannon [ex-estrategista de Donald Trump], nos EUA. O Bannon resolveu investir em um braço do seu movimento, o seu The Movement, no Brasil. E o Eduardo Bolsonaro [deputado federal pelo PL-SP] foi o contato. Eles organizaram eventos, atividades, investiram recursos". Além disso, houve uma intensificação da atuação de think thanks de extrema direita americanos no Brasil. "Não foi algo voltado especificamente para os evangélicos, mas para mobilizar certos segmentos – sobretudo os mais jovens, nesse campo". O pesquisador cita ainda uma série de articulações entre evangélicos brasileiros e grupos da extrema direita americana, que envolvem, por exemplo, o Tea Party, ala ultraconservadora do Partido Republicano, e o grupo Capitol Ministries, ligado à direita cristã nos Estados Unidos, que chegou a ter acesso direto à Casa Branca no governo Trump. O impacto desse segmento hoje pode ser explicado também pela atuação coordenada de pastores, políticos, empresários, teólogos e leigos, que começou há cerca de uma década no Brasil. "Assim se formou o discurso de alinhamento desses evangélicos em relação a posições altamente reacionárias". Ataques contra o "PL das Fake News" Além da tentativa de golpe, também ganhou destaque nas postagens de extremistas mapeados pela pesquisa a descoberta de uma rede internacional de prostituição infantil, que serviu de pano de fundo para conteúdos que propagavam "a ameaça da perda da autoridade dos pais sobre os filhos, um tema caro aos evangélicos", diz Vital. Viralizaram ainda postagens sobre o suicídio de Jéssica Canedo, de 22 anos, ocorrido após a divulgação de fake news sobre um suposto caso amoroso entre a jovem e o influenciador Whindersson Nunes. A empresa Mynd 8 – que agencia artistas que apoiaram o presidente Lula em sua campanha – foi apontada como responsável pela difusão das notícias falsas, e passou a ser citada "como exemplo da perversidade e da falta de valores da esquerda", aponta a pesquisadora. Os extremistas aproveitaram o caso, diz Vital, para insinuar que a esquerda tem envolvimento com a disseminação de notícias falsas – tentando, ao mesmo tempo, "atrair políticos da situação para o bloqueio ao trâmite do chamado PL das Fakes News, a regulação das big techs criticada pela maioria desses perfis". Após concluir as investigações, em março, a Polícia Civil de Minas Gerais disse que a própria jovem foi a autora das fake news. Os pesquisadores identificaram ainda uma frase repetida à exaustão em postagens que atacavam o STF e, ao mesmo tempo, tentavam blindar o ex-presidente Jair Bolsonaro: "conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". "Eles usam essa passagem bíblica para dizer que os 'portadores da verdade' sempre serão perseguidos, e que é preciso revelar o que estaria oculto – como, por exemplo, os 'reais interesses' por trás da suposta perseguição a Bolsonaro", diz Vital. Com isso, qualquer investigação da Justiça que recaia sobre eles passa a ser vista como uma busca de "obstrução dessa 'verdade'". "A extrema direita quer que o campo evangélico seja um curral" A mobilização desses religiosos nas redes não teria, no entanto, relação direta com a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os evangélicos apontada em pesquisas recentes, acredita Burity. Até porque, "muitos aspectos podem pesar na avaliação de um governo". O que existe, diz o cientista político, é uma reação da extrema direita para neutralizar qualquer tentativa de Lula e da esquerda de retomada do espaço perdido nesse campo. Burity lembra que, em 2018, quando foi impedido de ser candidato, Lula ainda contava com o apoio majoritário dos evangélicos. "A esquerda não chegou a recuperar essa maioria, mas conseguiu se reposicionar o suficiente para diminuir o impacto do bolsonarismo lá dentro. E essa é uma luta que ainda está sendo travada. A extrema direita quer que o campo evangélico seja um curral completamente controlado por ela", afirma o cientista político. Vital concorda que a queda na popularidade se deve a múltiplos fatores. Mas observa que Lula "enfrenta uma enxurrada contínua e crescente de críticas, desinformações e difamações", que não estariam sendo rebatidas à altura. Não são poucos os especialistas que sinalizam a deficiência na comunicação presidencial com a população, diz a pesquisadora. "Hoje, não basta somente o carisma no cara a cara com a população. Ocupar as redes com autenticidade e intimidade é fundamental. E Lula ainda não captou bem isso". Para a professora, o presidente tem uma visão de mundo "que nega os novos tempos" em favor da "verdadeira política" – mas esta não é mais feita predominantemente na rua, e sim "no território digital". Os obstáculos nesse caminho, porém, são grandes. "Lula precisa se atualizar. Mas jamais poderá falar com a rapidez e a liberdade de um influenciador digital, porque um governo tem restrições políticas, institucionais e de linguagem, além de legais", diz Burity. Essa lacuna, diz ele, terá que ser preenchida pelos diversos setores da esquerda, incluindo intelectuais, artistas e a sociedade civil. Impacto vai continuar nas eleições municipais O impacto dessa militância digital deve continuar nas próximas eleições municipais. "Lula ainda não conseguiu desmontar o contexto de polarização no país. E ter influenciadores com grande poder de penetração nas bases da sociedade é um trunfo muito importante para a direita", explica Burity, que prevê uma forte representação do campo conservador saindo das urnas em novembro. Mas seria "temerário" afirmar que esses influenciadores serão a "ponta de lança" na definição das eleições. "Elas envolvem muitas outras coisas, além de religião e de gente berrando nas redes sociais". Para Marilene de Paula, coordenadora de Direitos Humanos da Fundação Heinrich Böll no Brasil, a pesquisa enfatiza "o papel central dos influenciadores religiosos nas redes sociais para propagar a retórica da extrema direita". Para viabilizar projetos políticos que possam se contrapor a essa realidade, diz a coordenadora, é preciso ter "uma compreensão profunda desse fenômeno".


Short teaser Postagens no Brasil exploram ameaça e desconfiança, enaltecem bolsonarismo e defendem práticas antidemocráticas.
Author Cristiane Ramalho
Item URL https://www.dw.com/pt-br/evangélicos-dominam-posts-de-extrema-direita-revela-estudo/a-68863465?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Algumas postagens no X classificaram a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023 como "dia da traição dos patriotas"
Image source UESLEI MARCELINO/REUTERS
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Item 21
Id 68884451
Date 2024-04-21
Title Com elogios a Musk, Bolsonaro reúne apoiadores em Copacabana
Short title Com elogios a Musk, Bolsonaro reúne apoiadores em Copacabana
Teaser

Manifestantes enalteceram Elon Musk, dono do X

Ex-presidente convoca ato "em defesa da democracia" e aproveita discurso para negar participação em minuta golpista e defender dono do X, a quem chamou de "mito da liberdade".Apoiadores e aliados políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro realizaram neste domingo (21/04) um ato na orla da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, sob o argumento de "defesa da democracia". O próprio Bolsonaro usou as redes sociais para convocar seus apoiadores ao ato, que também contou com discurso efusivo do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Com várias falas que misturaram política e religião, os aliados do ex-presidente fizeram discursos em favor de Bolsonaro e em defesa do bilionário Elon Musk, dono da rede social X (ex-Twitter) e que recentemente entrou em rota de colisão com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O ministro, aliás, foi um dos principais alvos dos manifestantes, que também criticaram o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, veículos de imprensa e as investigações em relação à tentativa de golpe de Estado. Alguns dos presentes levaram cartazes pedindo intervenção militar. Cerca de três quarteirões de Copacaba foram ocupados por manifestantes, assim como parte da areia da praia. Vítima de "covardia" Ao falar em cima de um trio elétrico, Bolsonaro se disse vítima da "covardia" de um "sistema" que quer o ver "fora de combate em definitivo". O ex-presidente é investigado em inquérito sobre a tentativa de golpe ocorrida no dia 8 de janeiro de 2023. Seu passaporte foi apreendido pela Polícia Federal (PF), em fevereiro, por determinação de Moraes, durante a operação Tempus Veritatis. Segundo a PF, quando ainda era presidente, Bolsonaro discutiu com militares uma minuta de golpe de Estado em que previa prender Moraes, o também ministro do STF Gilmar Mendes e Rodrigo Pacheco. Além disso, a minuta previa a realização de novas eleições presidenciais, usando como justificativa falsas denúncias de fraudes nas urnas eletrônicas. Aos manifestantes em Copacabana, Bolsonaro usou seu discurso para se defender do suposto envolvimento na elaboração da minuta golpista. "Nunca jogamos fora das quatro linhas. Alguém já viu essa minuta de golpe? Quando se fala em estado de sítio, é uma proposta que o presidente, dentro de suas atribuições constitucionais, pode submeter ao parlamento brasileiro. O presidente não baixa decreto nenhum. Só baixa decreto depois que o parlamento der o sinal verde", disse Bolsonaro. À PF, os ex-chefes do Exército e da Aeronáutica no governo Bolsonaro afirmaram que o ex-presidente apresentou proposta de golpe. "Órfãos de pais vivos" Em Copacabana, Bolsonaro também defendeu seus apoiadores presos durante a invasão de 8 de janeiro às sedes dos Três Poderes em Brasília e voltou a atacar o processo eleitoral brasileiro. "Temos pelo Brasil órfãos de pais vivos", disse o ex-presidente, referindo-se aos presos pela invasão. "A anistia é algo que sempre existiu na história do Brasil. Ninguém tentou, por meio de armas, tomar o poder em Brasília. Aquelas pessoas estavam com a bandeira verde e amarela nas costas, e muitas com uma Bíblia embaixo do braço. Não queiram condenar um número absurdo de pessoas porque alguns erraram invadindo e depredando o patrimônio, como se fossem terroristas, como se fossem golpistas", disse o ex-presidente. Mais uma vez, Bolsonaro questionou a legitimidade e transparência do sistema eleitoral brasileiro, como fez ao longo de seu mandato e após perder a eleição de 2022. "Que nós possamos disputar as eleições sem qualquer suspeição. Afinal de contas, a alma da democracia é uma eleição limpa, onde ninguém pode sequer pensar em duvidar dela. Não estou duvidando das eleições, página virada. Até porque podemos ver, um dia, um time de futebol sem torcida ser campeão, mas pela primeira vez na história do Brasil, nós estamos vendo um presidente eleito, sem povo ao seu lado". Em junho do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornou Bolsonaro inelegível por oito anos, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, já que, em julho de 2022, durante a campanha eleitoral, o então candidato à reeleição convocou uma reunião com embaixadores para atacar o sistema eletrônico de votação, sem apresentar provas – discurso que já vinha repetido antes da reunião e seguiu proferindo depois. Em outubro do mesmo ano, Bolsonaro tornou-se inelegível pela segunda vez pelo TSE por abuso de poder político. Por maioria, os ministros consideraram que ele aproveitou as celebrações de 200 anos da independência do Brasil, em 7 de setembro de 2022, para seu benefício em sua campanha eleitoral pela reeleição. Críticas a Lula e aplausos a Musk Ainda em seu discurso, Bolsonaro criticou o presidenteLuiz Inácio Lula da Silva e pediu uma salva de palmas a Musk, a quem chamou de "mito da Liberdade". Musk começou uma ofensiva contra Moraes por decisões do STF que determinaram o bloqueio de contas na plataforma de acusados de ameaçar a democracia e o processo eleitoral brasileiro. De um lado, o bilionário acusa Moraes de ser autoritário em suas decisões de retirar perfis do ar sem justificativa expressa. Moraes, por sua vez, alega que sua conduta visa conter a disseminação de discursos de ódio e de movimentos golpistas que ameaçam a democracia no país, como foi visto nas vésperas dos ataques de 8 de janeiro de 2023. Embora Bolsonaro tenha evitado citar o nome de Moares e de Pacheco, Malafaia não mediu palavras. "Eu não vim aqui atacar aqui o STF. A maioria dos ministros não concorda com o Alexandre de Moraes. Vocês não podem se calar. Alexandre de Moraes está jogando o STF na lata do lixo da moralidade", disse Malafia, classificando Moraes de "ditador de toga". Malafaia usou seu discurso ainda para criticar as investigações da PF sobre atos golpistas e atacar os atuais comandantes das Forças Armadas. "Se esses comandantes militares honram a farda que vestem, que renunciem aos seus cargos e que nenhum outro comandante assuma até que haja uma investigação do Senado", afirmou. Também discursaram no ato a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que orou no palanque e convocou as mulheres a fazerem uma "política feminina e não feminista"; o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que, ao criticar Moares disse que o Brasil precisa de "menos leis e mais testosterona"; e o deputado Gustavo Gayer (PL-GO), que chegou a falar em inglês, na esperança de que seu discurso chegasse até Musk. O deputado federal Alexandre Ramagem (PL), pré-candidato à prefeitura do Rio, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e os governadores do Rio, Claudio Castro (PL), e de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), também estiveram presentes no ato. Costa Neto e Braga Netto falaram rapidamente ao microfone antes da chegada de Bolsonaro – ambos estão proibidos de encontrar Bolsonaro devido à decisão judicial no âmbito das investigações sobre a trama golpista. le/as (Agência Brasil, ots)


Short teaser Ex-presidente convoca ato "em defesa da democracia" e aproveita discurso para negar participação em minuta golpista.
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Image caption Manifestantes enalteceram Elon Musk, dono do X
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Item 22
Id 68884178
Date 2024-04-21
Title Nevascas em plena primavera causam transtornos na Alemanha
Short title Nevascas em plena primavera causam transtornos na Alemanha
Teaser Geada, granizo e pistas escorregadias em meio à onda de frio resultam em vários acidentes em rodovias, queda de árvores e na morte de um homem de 65 anos. Baixas temperaturas devem persistir nos próximos dias.

Fortes nevascas em plena primavera europeia têm causado transtornos em partes da Alemanha neste fim de semana – ao menos uma pessoa morreu.

Neste domingo (21/04), a montanha Grosser Arber, na Floresta da Baviera, ficou coberto por meio metro de neve; na Floresta da Turíngia e nas montanhas do Erzgebirge, na fronteira com a República Tcheca, havia mais de 20 centímetros de neve fresca acumulada.

O Serviço Alemão de Meteorologia (DWD) alerta que o frio deve permanecer nos próximos dias, com neve, geada e gelo negro (camada de gelo vítreo que se forma sobre uma superfície, deixando-a escorregadia).

Os maiores transtornos estão sendo registrados nas estradas. Um homem de 65 anos morreu num acidente envolvendo vários carros perto de Ilmenau, no estado da Turíngia, durante uma queda de granizo – as temperaturas ficaram pouco acima de 0 °C. Outras duas pessoas ficaram feridas.

Devido a vários acidentes, a Autobahn 8, ao sul de Munique, foi completamente fechada no sábado. Equipes de emergência e resgate tiveram que ser acionadas.

Em algumas estradas do estado da Baviera foi emitido o alerta de trânsito possível "apenas com equipamento de inverno", como no Riedbergpass, em Obermaiselstein.

Na Alta Francônia, também na Baviera, a pista escorregadia provocou um grande engavetamento na A70 envolvendo 29 veículos, entre eles um ônibus – ao menos 15 pessoas ficaram feridas

Perto de Kassel, no norte do estado de Hessen, a Autobahn 7 na direção norte foi completamente fechada devido a veículos parados e quebrados. Além disso, diversas estradas federais e estaduais da região foram bloqueadas em razão de queda de árvores. As autoridades pediram "urgentemente" às pessoas no distrito de Kassel e arredores que evitassem dirigir e frequentar florestas. O peso da neve nas árvores pode fazer com que muitas delas não resistam e caiam, ferindo pessoas e bloqueando estradas.

No distrito de Zwickau, na Saxônia, na noite de sábado, estradas congeladas causaram vários acidentes, ferindo quatro pessoas. Em Osthessen, no distrito de Fulda, quatro pessoas ficaram levemente feridas. Na Saxônia-Anhalt outro acidente devido à queda de granizo deixou sete feridos na A36, no distrito de Harz.

A neve também causou problemas no estado da Renânia do Norte-Vestfália: várias árvores no leste da Vestfália-Lippe quebraram com o peso da neve, criando 20 pontos de perigo, de acordo com a polícia.

Alerta segue

Neste domingo, o alerta do DWD era para neve em regiões do sul do país localizadas a mais de 400 metros de altitude, com acúmulo mais intenso na Floresta da Turíngia e a região de Mittelgebirge. De acordo com o DWD, neve ou condições escorregadias também podem ser esperadas em Baden-Württemberg, mesmo em altitudes mais baixas, e em locais dos estados da Renânia-Palatinado e do Sarre.

Nesta segunda-feira, as mínimas podem chegar a 6 °C negativos. As máximas não devem ultrapassar os 11 °C em toda a Alemanha – e há alerta de geada em várias regiões.

Além de transtornos para a população, sobretudo para os motoristas, o frio intenso, a neve e a geada podem prejudicar as flores, que já vinham desabrochando com a primavera. O meteorologista Lars Kirchhübel, do DWD, alerta que "as plantas com flores, em particular, estão em risco e devem ser protegidas".

Abril de contrastes

Segundo o DWD, o motivo do frio intenso fora de época é um sistema de alta pressão de bloqueio sobre o Atlântico. Isso faz com que áreas de baixa pressão se desloquem do norte para a Europa Central.

A atual onda de frio vem após um começo de abril mais quente do que o normal. As temperaturas médias na primeira quinzena do mês ficaram de quatro a quase sete graus acima da média.

De acordo com o DWD, mesmo com a queda acentuada na temperatura nos últimos dias, ainda assim os valores médios continuam dois a quatro graus acima do habitual em abril.

le/as (ots)

Short teaser Geada, granizo e pistas escorregadias em meio à onda de frio resultam em vários acidentes e na morte de um idoso.
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Item 23
Id 68884032
Date 2024-04-21
Title Beckenbauer será homenageado com estátua em Munique
Short title Beckenbauer será homenageado com estátua em Munique
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Estátua do "Kaiser" vai ficar ao lado da de Gerd Müller, outra lenda do futebol alemão

Ídolo do futebol alemão morto em janeiro passado vai ser lembrado com monumento em frente ao estádio Allianz Arena, do Bayern, clube com o qual o jogador ganhou vários títulos.O ídolo do futebol alemão Franz Beckenbauer, morto em janeiro passado, será homenageado com uma estátua em frente ao estádio Allianz Arena, do Bayern de Munique, anunciou neste domingo (21/04) uma fundação de torcedores do clube bávaro. O grande jogador e técnico, também conhecido como "Kaiser" (imperador), será moldado em bronze em uma pose elegante como o maestro do jogo. A Fundação Kurt Landauer disse que ele ficará em um pedestal no formato do losango da bandeira da Baviera. Beckenbauer, amplamente considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos, morreu em 7 de janeiro passado em Salzburgo, na Áustria, aos 78 anos, e foi sepultado em um cemitério ao sul de Munique, perto de onde ele cresceu. Beckenbauer e Müller juntos novamente A estátua ficará ao lado da do ex-companheiro de equipe e atacante do Bayern, Gerd Müller, que foi inaugurada em setembro. Müller, que ainda detém o recorde de gols na Bundesliga, morreu em agosto de 2021, aos 75 anos. "O elegante capitão Franz e seu amigo Gerd Müller, juntos, lançarão suas sombras positivamente nos dias atuais, e a consciência da grande história do nosso clube será levada para as próximas gerações", disse Christian Kröll, da Fundação Kurt Landauer. A Fundação Kurt Landauer também foi responsável pela estátua de Gerd Müller, que foi erguida na esplanada do Allianz Arena. A fundação espera que o projeto Beckenbauer leve cerca de 18 meses para ser concluído. Ela já lançou uma campanha para coletar para o projeto doações dos torcedores e das torcidas organizadas do Bayern. Carreira impressionante Beckenbauer fez seu nome no Bayern de Munique, ajudando o clube a ser promovido pela primeira vez à Bundesliga antes de ganhar diversos títulos com a equipe. O Bayern também ajudou a lançar a impressionante carreira de Beckenbauer na seleção alemã, onde ele ganhou a Copa do Mundo como técnico e como jogador. Apenas três homens conseguiram esse feito. Beckenbauer desempenhou um papel fundamental na construção do Allianz Arena, estádio que foi inaugurado para a Copa do Mundo de 2006, sediada na Alemanha. md (AFP, DPA)


Short teaser Ídolo do futebol alemão morto em janeiro vai ser lembrado com monumento em frente ao estádio Allianz Arena, do Bayern.
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Image caption Estátua do "Kaiser" vai ficar ao lado da de Gerd Müller, outra lenda do futebol alemão
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Item 24
Id 68872104
Date 2024-04-21
Title Estradas sem limite de velocidade viram dilema na Alemanha
Short title Estradas sem limite de velocidade viram dilema na Alemanha
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Apesar de aparentemente metade da população ser a favor, forças econômicas e políticas poderosas travam a adoção de um limite de velocidade

Liberdade de correr nas lendárias "autobahnen" chega a ser anunciada como atração turística, mas cresce o número de apoiadores a um limite de velocidade que reduziria emissões, barulho e acidentes. Debate divide o país."Cidadãos livres exigem passagem livre": com esse slogan o Allgemeine Deutsche Automobilclub (ADAC) protestava em 1973-74 contra o limite de velocidade de 100 quilômetros por hora, imposto nas rodovias federais alemãs devido à crise mundial do petróleo, a fim de economizar gasolina. Embora só tenha vigorado por alguns meses, a medida gerou indignação em todo o país. Nos 50 anos desde então, diversas tentativas por um limite de velocidade generalizado têm fracassado. Isso, apesar de mais da metade da população – inclusive os sócios do automóvel-clube ADAC – ser a favor. No entanto, os opositores são poderosos e muito ativos: a conservadora União Social-Cristã (CSU), partido da ex-chanceler federal Angela Merkel, chegou a iniciar uma petição em grande escala. Ao contrário de quase todos os demais países, na Alemanha os motoristas podem trafegar nas autoestradas federais sem qualquer restrição de velocidade, exceto em alguns trechos. Em 70% das grandes rodovias, vigora apenas uma "velocidade recomendada" de 130 km/h. Assim, a corrida louca nas lendárias autobahnen é até mesmo tratada como atração turística pelas locadoras de automóveis esportivos no exterior. Para que serve um limite de velocidade Quanto mais devagar um carro roda, menos combustível consome e, portanto, menos substâncias tóxicas emite – como, por exemplo, óxidos de nitrogênio, micropartículas e dióxido de carbono (CO2), corresponsável pela deterioração do clima global. Um limite de 120 km/h nas rodovias alemãs pouparia o equivalente a 4,6 milhões de toneladas de CO2 por ano, segundo cálculos recentes do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha. Em relação às emissões de 2018, seria uma redução de 2,9%. Considerando-se que o limite de velocidade incentivaria a escolher vias de menor porte, tomar rotas mais curtas pelo campo ou a abrir mão de trajetos supérfluos, essa economia poderia alcançar 6,7 milhões de toneladas de CO2, ou 4,2%. Se nas estradas rurais se adotasse o máximo de 80 km/h, então, a redução chegaria até mesmo a 8 milhões de toneladas. Outra vantagem: haveria menos acidentes, pois carros que rodam mais devagar freiam mais rápido. Contudo, uma redução de cerca de 70% só se daria a partir de um limite de 100 km/h nas rodovias federais. Menos rapidez significa também menos barulho: um automóvel a 100 km/h é aproximadamente 50% mais silencioso do que um a 130 km/h. Os engarrafamentos seriam, ainda, menos numerosos devido ao menor acúmulo de carros nas ruas simultaneamente. A 100 km/h ou menos, o efeito seria ainda mais marcante. Quais os argumentos contra a velocidade restrita Segundo uma consulta da seguradora Allianz, os opositores do limite são sobretudo homens, motoristas que percorrem mais de 50 mil quilômetros por ano e jovens abaixo de 24 anos, alegando temer mais engarrafamentos e viagens mais alongadas. Ainda assim, na prática, 77% já trafegam voluntariamente a menos de 130 km/h na autobahn. Há ainda discrepâncias sobre até que ponto uma velocidade máxima reduziria de fato os acidentes. Segundo a ADAC, atualmente, na Alemanha, não ocorrem mais acidentes graves nas rodovias federais do que em países onde há limites. Comparando-se o número de mortos por quilômetro rodado, as autoestradas da França, da Itália, da República Tcheca, da Hungria e dos Estados Unidos são realmente mais fatais; porém, em números absolutos, a Alemanha continua sendo campeã, com 317 vítimas por ano. Quem é a favor do limite de velocidade, quem é contra? Organizações ambientalistas, sindicatos da polícia e associações de ajuda às vítimas de acidentes de trânsito estão entre os que reivindicam um limite de velocidade na Alemanha, também pleiteando um máximo de 80 km/h nas estradas rurais, em vez dos atuais 100 km/h. Segundo estimativas do setor de seguros, tal medida de fato favoreceria a segurança nessas vias. Entre os partidos políticos, o Verde, o Social-Democrata (SPD) e o A Esquerda defendem uma velocidade limite nas autoestradas federais – além de mais da metade da população ser igualmente a favor. Em contrapartida, é forte a oposição partindo das conservadoras União Democrata Cristã (CDU) e CSU, assim como da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) e do Partido Liberal Democrático (FDP). Estes argumentam que o custo de um impacto ambiental mínimo seria a forte restrição à mobilidade da população. O FDP, que compõe o governo federal juntamente com verdes e social-democratas, descartou o limite de velocidade no próprio contrato de coalizão. Os liberais até contrapõem o estudo do Ministério do Meio Ambiente com outro que indica uma redução bem menos significativa das emissões de dióxido de carbono. No entanto, seus autores são professores de economia que questionam a mudança climática de fabricação humana. A pesquisa é criticada tanto pelo ministério encarregado quanto por associações ambientalistas e outras siglas políticas. Metas climáticas da Alemanha contemplam uma velocidade máxima na autobahn? A Lei do Clima alemã de 2021, firmada pela então coalizão entre social-democratas e conservadores cristãos, prescreve uma redução das emissões de CO2 de 65% até 2030 e de e de 88% até 2040, em relação aos níveis de 1990. Ela previa ainda a adoção de um programa emergencial assim que os níveis de emissão de CO2 no setor dos transportes alcançassem níveis que comprometessem o cumprimento das metas climáticas da Alemanha. Embora isso tenha ocorrido em 2023, o ministro dos Transportes, o liberal Volker Wissing, não tomou as medidas cabíveis. A atual coalizão em Berlim reformou a legislação climática: agora emissões excessivas em um setor como o dos transportes podem ser compensadas por outro – por exemplo, o das energias renováveis. Sobre um limite de velocidade nas autoestradas alemãs, continua não constando nada na Lei do Clima.


Short teaser Cresce o apoio a restrições que reduziriam emissões, barulho e acidentes nas rodovias, mas debate ainda divide o país.
Author Jeannette Cwienk
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Image caption Apesar de aparentemente metade da população ser a favor, forças econômicas e políticas poderosas travam a adoção de um limite de velocidade
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Item 25
Id 68879935
Date 2024-04-20
Title Companhia de trens proibirá maconha nas estações da Alemanha
Short title Companhia de trens proibirá maconha nas estações da Alemanha
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Com nova regra na Alemanha, maiores de 18 anos podem portar até 25 gramas de maconha

Deutsche Bahn afirma que medida visa a proteção dos viajantes, sobretudo de crianças e adolescentes. País legalizou parcialmente o consumo de maconha desde 1º de abril.Desde 1º de abril, está valendo na Alemanha novas regras para o consumo de maconha, em uma legalização vista como parcial. Embora agora a substância seja liberada em várias situações, em muitos casos segue proibida, como perto de escolas, creches, parquinhos ou instalações esportivas públicas. Também não é permitido o uso em calçadões entre 7h e 20h. Em breve, a proibição deve valer, também, para as estações de trem. A empresa ferroviária estatal alemã Deutsche Bahn anunciou que mudará suas regras internas e colocará cartazes de proibição nas estações e plataformas a partir da próxima semana, noticiou o jornal Bild am Sonntag, citando uma porta-voz da companhia. A informação foi confirmada posteriormente pela DB a agências de notícias. O motivo, segundo a DB, é a proteção dos viajantes. "Derivado da proibição legal do consumo de cannabis durante o dia em calçadões ou perto de escolas e parques infantis, queremos proteger nossos viajantes, especialmente as crianças e os jovens, nas nossas estações ferroviárias", disse a porta-voz. "É por isso que proibiremos o consumo de cannabis nas nossas estações ferroviárias". O ajuste das regras deverá ser concluído em quatro semanas. A partir de 1º de junho, a DB passará a punir os infratores. Até lá, os funcionários da DB deverão pedir "amigavelmente" a quem for flagrado fumando maconha que se abstenha do consumo enquanto estiver na estação. A única exceção é o uso de cannabis por motivos médicos, que já era permitido mesmo antes da nova legislação. Tabaco segue liberado em algumas estações Ao contrário da maconha, o tabaco continuará sendo permitido em algumas áreas designadas dentro de algumas estações ferroviárias. Desde 2007, há uma proibição geral de cigarros nas estações. Só é permitido fumar em áreas especialmente marcadas. De um total de 5.400 estações por toda a Alemanha, em apenas 400 há áreas para fumantes. Apesar disso, é comum que as pessoas desrespeitem a regra, fumando fora do local determinado. Nessas áreas delimitadas a maconha também é proibida. Também nesta semana, autoridades do estado da Baviera anunciaram que será proibido o consumo de cannabis na Oktoberfest de 2024 em Munique. Desde 1º de abril, maiores de 18 anos podem portar até 25 gramas de maconha. Essa quantidade equivale a entre 50 e 100 baseados. Além disso, maiores de idade também podem cultivar até três plantas, desde que destinadas ao uso pessoal, e armazenar até 50 gramas da erva seca dentro de casa. A maconha pode ser adquirida nos chamados "clubes sociais de cannabis" – associações sem fins lucrativos com até 500 membros. Os associados podem comprar até 50 gramas de cannabis por mês – ou 30 gramas para quem tem entre 18 e 21 anos. le (dpa, epd, ots)


Short teaser Deutsche Bahn disse que medida visa a proteção dos viajantes, sobretudo crianças e adolescentes.
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Image caption Com nova regra na Alemanha, maiores de 18 anos podem portar até 25 gramas de maconha
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Item 26
Id 68863499
Date 2024-04-20
Title Bienal de Veneza sob o signo da guerra no Oriente Médio
Short title Bienal de Veneza sob o signo da guerra no Oriente Médio
Teaser

Pavilhão de Israel em Veneza: "os artistas só abrirão a mostra quando for alcançado um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns"

Dirigido pelo brasileiro Adriano Pedrosa, festival de arte reflete os conflitos no resto do mundo. Palestinos exigem exclusão de Israel; África quer descolonização. Francisco é primeiro papa a visitar a Bienal.A Bienal de Veneza é um dos festivais internacionais de artes plásticas mais prestigiosos do mundo. Em 2024, ela se realiza de 20 de abril a 24 de novembro, paralelamente à Documenta de Kassel. Na edição anterior, a cidade italiana dos canais bateu recordes, atraindo mais de 800 mil amantes das artes, dois terços vindos do exterior. Na 60ª edição, o exacerbamento do conflito no Oriente Médio confere uma nova tensão ao evento. Um coletivo de ativistas pró-palestinos, Art Not Genocide Alliance (ANGA – Aliança Arte Não Genocídio) tem reivindicado a exclusão de Israel. Em carta aberta, criticou os "padrões duplos" dos organizadores que, tendo condenado a guerra de agressão russa na Ucrânia, agora silenciam sobre as operações militares de Israel na Faixa de Gaza. O documento online já reúne quase 24 mil signatários. A Bienal rejeitou os apelos por boicote: seus curadores já teriam decidido sobre a concepção e os participantes da exposição central muito antes dos atentados de 7 de outubro de 2023 em solo israelense pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas, que suscitaram a retaliação em Gaza. Israel protesta, pavilhão da Rússia segue vazio Mas agora as portas do pavilhão israelense permanecerão fechadas, de qualquer modo. A artista que o protagoniza, Ruth Patir, nascida em Nova York em 1984, anunciou em nota, na terça-feira (16/04), que a mostra só será inaugurada "quando for alcançado um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns". "A decisão da artista e dos curadores é não se cancelarem, nem a exposição; em vez disso optaram por assumir uma posição de solidariedade com as famílias dos reféns e a ampla comunidade que está exigindo mudança em Israel", consta do website de Patir. Israel mantém desde 1950 um pavilhão nacional em Veneza. A obra M/otherLand (um jogo de palavras entre "Terra-Mãe" e "Outra terra") contém uma instalação de vídeo com antigas estatuetas de museu: "mulheres quebradas voltam à vida e participam de uma procissão, numa expressão pública coletiva de luto, dor e cólera. O ponto de vista da câmera é o de um observador ou testemunha da cena, alegando, portanto, uma visão subjetiva, corpórea, dos eventos mundiais." Enquanto isso, o pavilhão permanente da Rússia ficará mais uma vez vazio. A Bienal não excluiu o país oficialmente, mas após a invasão em ampla escala da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, os artistas e curadores russos selecionados renunciaram a participar sob a bandeira nacional. A Ucrânia está presente com a mostra coletiva Net making (Fabricação de redes). Estrangeiros por toda parte, luz sobre a descolonização Intitulada Stranieri ovunque – Foreigners everywhere, a mostra principal tem curadoria do brasileiro Adriano Pedrosa, que é o primeiro diretor da Bienal de Veneza proveniente do Sul Global. Sua meta é mostrar arte de regiões menos privilegiadas e menos industrializadas. Assim, o foco primário da mostra – que se estende pelo parque Giardini della Biennale, os galpões do estaleiro histórico Arsenale e outras locações da cidade na Laguna – são "artistas, eles mesmos, estrangeiros, expatriados, diaspóricos, émigrés, exilados ou refugiados", explicou Pedrosa em comunicado. O título da 60ª edição, da qual participam 330 artistas, inspira-se num trabalho do coletivo parisiense Claire Fontaine, apresentando o slogan "Estrangeiros por toda parte" em 53 idiomas diferentes, em letreiros de neon que agora iluminam o Arsenale. Lá também a maioria dos 88 países que não tem pavilhão próprio apresenta suas exposições. Quatro nações estreiam em 2024 no mais antigo festival de arte do mundo: Benin, Etiópia, Tanzânia e Timor-Leste; enquanto Nicarágua, Panamá e Senegal terão pela primeira vez seu pavilhão. O continente africano tem reforçado de maneira especial sua presença em Veneza: Gana e Madagascar estrearam em 2019, Uganda, Camarões e Namíbia seguiram-se em 2022. Antes da abertura da edição, o curador do Benin, o crítico de arte nigeriano Azu Nwagbogu, declarou à imprensa que pretende lançar nova luz sobre a descolonização da arte: além da restituição de objetos, ele quer promover uma "restituição de saber". Com a ajuda de uma "biblioteca de resistência", pretende dar voz às mulheres em temáticas como identidade africana, ecologia e ciência. Indagado se acha que as vozes africanas estão suficientemente representadas em Veneza, ele disse que "gostaria de ver muitas mais": "mais importante, eu gostaria de ver mais infraestrutura cultural construída e apoiada no continente [europeu] e mais apoio àqueles eventos imponentes que já construímos por toda a África". Alemanha "no limiar", estreia do papa Entre os 28 pavilhões permanentes nos Giardini, o programa da Alemanha abre com uma instalação do diretor de teatro Ersan Mondtag, de Berlim, e do artista israelense Yael Bartana: sob o título Thresholds (Limiares), eles empreendem uma exploração do passado e do futuro inspirada por diversos conceitos artísticos. A curadora alemã em 2024 é a arquiteta natural de Istambul Çağla Ilk, codiretora do salão de arte Kunsthalle Baden-Baden. Quanto ao título da mostra, ela explica que no limiar "não há certeza sobre nada". Por sua vez, o Vaticano é responsável por uma das exposições que mais despertam atenção em 2024: seu pavilhão se localiza no presídio feminino de Veneza, dentro do qual detentas acompanharão os visitantes num itinerário artístico. O papa Francisco prometeu visitar o pavilhão, como primeiro pontífice na Bienal de Veneza em toda a história do evento. Indígenas: estrangeiros em sua própria terra O pavilhão do Brasil exibirá a exposição Ka’a Pûera: nós somos pássaros que andam, de Glicéria Tupinambá e convidados, com curadoria de Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana. Durante a mostra, o local será renomeado para Pavilhão Hãhãwpuá, termo dos Pataxó para o território que, depois da colonização, ficou conhecido como Brasil, mas que já teve muitos outros nomes. A exposição brasileira destaca a memória da floresta, da capoeira e dos pássaros camuflados, como uma metáfora das lutas dos povos indígenas brasileiros e suas estratégias de ressurgimento e resistência. A artista Glicéria Tupinambá traz a perspectiva do tema geral da Bienal, "estrangeiros por toda parte", para a realidade dos povos indígenas do Brasil, cuja história inclui séculos de marginalização em seu próprio território.


Short teaser Palestinos exigem Israel excluído do festival dirigido por brasileiro. Francisco é primeiro papa a visitar a Bienal.
Author Stefan Dege
Item URL https://www.dw.com/pt-br/bienal-de-veneza-sob-o-signo-da-guerra-no-oriente-médio/a-68863499?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Pavilhão de Israel em Veneza: "os artistas só abrirão a mostra quando for alcançado um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns"
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Item 27
Id 68872094
Date 2024-04-19
Title Para Justiça, reconhecimento fotográfico que prendeu professor não serve como prova
Short title Reconhecimento fotográfico não serve como prova na Justiça
Teaser

Clayton Ferreira Gomes dos Santos não tinha nenhuma passagem pela polícia, mesmo assim sua foto aparecia em um álbum de suspeitos

Especialistas em segurança afirmam que prisão de professor negro sem passagem pela polícia com base apenas em reconhecimento por foto revela falhas na investigação e falta de critérios para formular álbuns de suspeitos.Foram três dias e duas noites mal dormidas na carceragem do 26º DP, na zona sul de São Paulo. Clayton Ferreira Gomes dos Santos, de 40 anos, ficou preso sem saber que crime que teria cometido. "Os policiais que me questionavam ficavam irritados quando eu não sabia informar o artigo pelo qual tinha sido preso temporariamente", conta o professor de educação física, solto na última quinta-feira (18/04) após habeas corpus. Uma decisão que, segundo ele, veio apenas após seu caso ganhar repercussão nacional. Santos foi preso temporariamente, suspeito de envolvimento em um caso de sequestro relâmpago ocorrido no final de outubro em Iguape, a 200 km de São Paulo. A única prova apresentada pela Polícia Civil contra ele foi o reconhecimento fotográfico feito pela vítima. Foi o suficiente para que polícia, Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) expedissem o pedido de prisão temporária, apesar de a Escola Estadual Rubens do Amaral, onde Santos trabalha, atestar que ele estava lecionando no dia e horário do crime. Quando pisou no 26º DP de Sacomã, na zona sul de São Paulo, na manhã da última terça-feira, respondia a uma notificação para "prestar esclarecimentos". Acreditava estar colaborando com um caso de furto do qual fora vítima – mas saiu da sala onde era interrogado diretamente para a carceragem, algemado. "Já estava achando tudo muito estranho desde que cheguei na delegacia, mas a maior humilhação foi ser colocado numa cela com um cheiro horroroso, onde era impossível sentar no chão, com uma garrafa de plástico com água e outra para usar como banheiro", narra. Da carceragem, saiu somente três dias depois, pela porta dos fundos e entre lágrimas. Para ele, não há dúvida de que sofreu racismo ao longo do processo – e ainda teme o resultado do julgamento, mesmo com todas as evidências apontando para sua inocência. Reconhecimento fotográfico como única prova A vítima do sequestro relâmpago, uma mulher de 75 anos, havia sido forçada a sacar R$ 11 mil para os criminosos, e por meio de uma foto apresentada no celular de um dos investigadores da delegacia de Iguape, apontou Santos como um dos responsáveis. O procedimento realizado, porém, é alvo de críticas de especialistas e irregular segundo decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Além disso, especialistas ouvidos pela DW questionam outro fato: como a foto de Santos, que nunca havia sido fichado, fazia parte do arquivo policial? "Inúmeras pessoas pretas e pobres foram reconhecidas e ainda têm sido reconhecidas como autores de delitos a partir de um reconhecimento que não constitui uma prova segura no processo penal e nem confiável", avalia o diretor do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), Antonio Pedro Melchior. Ele cita uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de 2021 contrária ao uso isolado do reconhecimento fotográfico como prova de um crime. Em dezembro daquele ano, a sexta turma da corte decidiu, num julgamento de pedido de habeas corpus, que o reconhecimento fotográfico não serve "como prova isolada e única da autoria do delito, devendo ser corroborada por outras provas independentes e idôneas produzidas na fase judicial, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa". Naquela ocasião, o acusado de um assalto em Tubarão (SC) foi condenado em primeira e segunda instâncias apenas com base em reconhecimento fotográfico feito durante o inquérito. O Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) entendeu que seria perfeitamente possível o reconhecimento por foto no inquérito. A resolução 484 de 2022 estabelece diretrizes para o trabalho de identificação de suspeitos. Uma das regras afirma que "a inclusão da pessoa ou de sua fotografia em procedimento de reconhecimento, na condição de investigada ou processada, será embasada em outros indícios de sua participação no delito, como a averiguação de sua presença no dia e local do fato ou outra circunstância relevante". Algo que no caso de Santos não foi seguido pela polícia civil paulista. Investigação questionável Diretor presidente do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), o advogado criminalista Guilherme Carnelós ressalva que o reconhecimento fotográfico pode servir de indício para a investigação, jamais como fundamentação para uma prisão. "A prisão é a medida mais grave que um processo penal pode trazer, segundo a legislação brasileira. Como você aplica a medida mais grave com base no reconhecimento fotográfico, um mecanismo que é muito mais frágil que qualquer outra produção de prova?", destaca. Tanto Melchior quanto Carnelós questionam os rumos da investigação, que não consideraram outros fatores, como testemunhas da presença do professor em aula na zona sul de São Paulo ou o uso da localização do celular de Santos como elementos contrários à acusação. Consultada, a Secretaria de Segurança Pública responsável pelo distrito policial de Iguape, que comanda o inquérito, afirmou que "a autoridade policial reuniu o conjunto probatório e representou ao Judiciário pela prisão temporária dos investigados. O MP manifestou parecer favorável ao pedido, que foi concedido pelo juiz. Qualquer denúncia de irregularidade pode ser notificada à corregedoria da Polícia Civil". Para Carnelós, MP e Tribunal de Justiça são igualmente responsáveis pela prisão considerada injusta. "É muito fácil criticarmos a polícia e tirar da equação a responsabilidade do Ministério Público, que é o controlador externo da atividade policial, e do Judiciário, que é quem autoriza a prisão", afirma. "É o Ministério Público e o juiz que no final do dia devem olhar para aquilo que eles chamam de conjunto probatório e recusá-lo, já que há decisão do STJ proibindo a prisão baseada no reconhecimento fotográfico", explica Carnelós. Questionado, o MP-SP afirmou que o processo corre em segredo de Justiça e disse que não comentaria o caso. O julgamento do pedido de habeas corpus de Santos, de responsabilidade do desembargador Roberto Porto, entretanto, esclarece que o único elemento usado para o pedido de prisão foi a foto apresentada à vítima. Na decisão, Porto afirma que o reconhecimento pode ser utilizado como indício e ferramenta útil ao serviço policial, mas que, diante dos demais fatores, "os indícios de autoria se enfraquecem". "Já passou o momento de falar de forma mais certa sobre a responsabilidade civil do Estado por erros Judiciários em especial os que decorrem de equívocos no reconhecimento de pessoas", defende o criminalista. "Nada é capaz de recompor os danos materiais e morais que essa pessoa está vivendo, mas alguma indenização tem de ser exigida do Estado." Como é feito um álbum de suspeitos? O que mais intriga os diretores dos organismos de avaliação do sistema criminal é como a fotografia de Santos – indivíduo negro que nunca havia sido preso – foi parar na delegacia de Iguape. "O reconhecimento fotográfico no Brasil tem um problema endêmico que é o chamado álbum de suspeitos, um tipo de livro ou álbum composto, em sua maioria esmagadora, por pessoas pretas em estado de vulnerabilidade social", afirma Melchior, doutor em criminalística pela UFRJ. Canelós explica que os álbuns são montados cada qual a seu modo, uma vez que não há nenhuma lei que preveja a sua criação ou os critérios utilizados para a inclusão das fotos, o que revela falta de transparência. "Como a foto de um homem com uma conduta correta e sem antecedentes foi parar lá? Não dá para a gente ter um Estado que não explique para a população de forma geral como que ele age, isso é autoritarismo", avalia. "Se é para ter um álbum de suspeitos, eu quero saber os critérios para sua criação e a fonte de cada uma das fotografias que o alimenta, porque também há outra questão agora: a foto do Clayton vai continuar lá?, questiona. Em 2022, o IDDD de Carnelós publicou o relatório "Por que eu?", com a consulta de 1.018 pessoas em São Paulo e Rio de Janeiro. O estudo aponta que ser negro nos dois estados pesquisados significa ter risco 4,5 vezes maior de sofrer uma abordagem policial, em comparação com uma pessoa branca. Outro dado obtido foi que pessoas negras têm 2,4 vezes mais chance de terem seus documentos fotografados durante uma abordagem. Em um dos casos relatados é de um carioca, chamado apenas de "Paulo". Negro, ele ficou quase quatro anos preso em virtude de 70 reconhecimentos. Canelós conta que um dia ele foi identificado dentro de um álbum de suspeitos, no qual constava uma foto sua retirada do Facebook. Segundo ele, nenhum juizado olhou para o caso com coragem até chegar no STJ. "Hoje, em qualquer lugar que ele vai, tira uma foto e manda para amigos e parentes, para usar como comprovação caso seja novamente reconhecido em um álbum de suspeitos. Que tipo de vida é essa?", destaca Carnelós, que teme que algo parecido aconteça com Clayton dos Santos, cuja investigação será acessível em caso de abordagens policiais. "Juridicamente, ele deve sair com as certidões de antecedentes limpas, mas fica lá o registro de que houve uma prisão, e aí ele tem que andar no bolso com uma cópia da decisão de absolvição. Ele vai ter que dar muitas explicações a vida toda sobre o fato de ter sido preso, infelizmente essa é uma realidade". Realidade esta que Melchior avalia que não deve mudar tão cedo, apesar da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que proibiu, em julgamento no último dia 11 de abril, que abordagens policiais sejam feitas com base na raça, o chamado perfilamento racial, nem por sexo, orientação sexual, cor da pele ou aparência física. Segundo a corte, as abordagens agora devem estar fundamentadas em elementos objetivos, como a posse de arma proibida, objetos ou papéis que constituam corpo de delito.


Short teaser Especialistas em segurança destacam falta de critérios claros para formular álbuns de suspeitos.
Author Gustavo Basso
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Image caption Clayton Ferreira Gomes dos Santos não tinha nenhuma passagem pela polícia, mesmo assim sua foto aparecia em um álbum de suspeitos
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Item 28
Id 68875653
Date 2024-04-19
Title O que o Brasil tem a ganhar apostando mais no etanol
Short title O que o Brasil tem a ganhar apostando mais no etanol
Teaser

Cerca de 30% dos carros com motor flex no Brasil são abastecidos exclusivamente com etanol

Lei que aumenta etanol na gasolina ajuda a reduzir emissões de CO2, mas deve ter efeito limitado no bolso dos motoristas. Especialistas alertam que aposta sem planejamento pode levar monocultura para áreas sensíveis.A presença do etanol deve aumentar nos carros movidos a combustão no Brasil. A aposta do governo federal é ampliar a participação do combustível renovável em até 30% na mistura da gasolina vendida nos postos. Desde 2015, a proporção máxima é de 27%. A mudança está prevista na lei batizada como "combustível do futuro" (PL 4516/23), em discussão no Senado depois da aprovação na Câmara dos Deputados em março passado. Antes da mistura chegar aos postos, porém, será preciso comprovar sua viabilidade técnica, diz a lei. Para especialistas do setor automotivo, o pedido de testes é uma mera formalidade. A alteração na mistura não deve trazer grandes problemas para os brasileiros que abastecem o tanque somente com gasolina. "Estamos falando de uma tecnologia dominada no país há 60 anos. Efetivamente, o impacto da adição de 3% a mais de etanol nos motores será baixo e o benefício ambiental é grande", avalia Camilo Adas, conselheiro da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil). Mas a investida na lei que incentiva o etanol, fonte mais limpa, não significa freio no petróleo. O plano da brasileira Petrobras é abrir uma nova frente de exploração do combustível fóssil, maior responsável pelas emissões de gases do efeito estufa que aceleram as mudanças climáticas. Até 2028, a petroleira pretende perfurar 16 poços na Margem Equatorial, na bacia marítima da Foz do Amazonas. O pedido de licença está em análise pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além disso, especialistas ouvidos pela DW apontam que mais etanol na mistura não irá impactar, necessariamente, de forma positiva no bolso dos motoristas e que a possível futura necessidade de mais áreas de cana-de-açúcar pode levar a monocultura a regiões sensíveis. Reforço à tradição brasileira O etanol à base de cana-de-açúcar é uma invenção brasileira desenvolvida em meados da década de 1920. Desde 1931, é adicionado à gasolina – naquela época, um decreto obrigou importadores de petróleo a misturar 5% do álcool ao combustível fóssil. O impulso maior veio na década de 1970, com a crise mundial do petróleo. O Programa Nacional do Álcool (Proacool) estimulou a produção do etanol para diminuir a dependência brasileira das exportações de petróleo. "Esse combustível foi e segue sendo importante como estratégia de diversificação das fontes energéticas, para que o país não seja dependente apenas da gasolina. Ele ajuda também a reduzir emissões por ser um biocombustível", afirma Felipe Barcellos, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema). No Brasil, a estimativa é que 85% dos carros leves em circulação tenham motor flex, adaptados tanto para etanol quanto para gasolina. Por outro lado, cerca de 30% deles são abastecidos exclusivamente com etanol. A distribuição e os preços do biocombustível sofrem grande variação de estado para estado, a depender da proximidade com a região produtora. Produzido principalmente a partir da biomassa de cana, o etanol pode ser considerado neutro em emissões de dióxido de carbono, explica Barcellos. No seu crescimento, a cana retira da atmosfera CO2, o que funciona como uma "poupança" mais tarde, quando o mesmo gás é liberado na queima do combustível. "Etanol é uma molécula incrível. Ela é cheia de energia, líquida como o petróleo, mas é sustentável. Se as usinas forem feitas para capturar carbono, isso melhora ainda mais a performance ambiental", avalia Gonçalo Pereira, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Etanol x carros elétricos Mesmo com montadoras pelo mundo afora anunciado metas para extinguir motores a combustão e investir em carros elétricos, o biocombustível brasileiro deve ter vida longa, prevê Camilo Adas, que tem mais de três décadas de experiência no setor automotivo. "Discussões e publicações recentes mostram que boa parte das montadoras brasileiras vão adotar múltiplas rotas tecnológicas, independentemente do que outros mercados irão definir. Não tem bala de prata", afirma Adas à DW. A depender damatriz energética, adiciona o engenheiro, a eletrificação dos carros não é a melhor solução. Ou seja, um país que tem uma frota grande de elétricos nas ruas, mas gera eletricidade em usinas movidas a carvão não abate tanto suas emissões de CO2. No Brasil, a expectativa é que as montadoras invistam em carros híbridos, que podem ser movidos tanto a combustível quanto a eletricidade. "É preciso olhar qual a eficácia das rotas tecnológicas. Aumentar a mistura do etanol na gasolina é uma melhoria e tem que ser feita sem paixão, mas com conhecimento e análise de tecnologia", analisa Adas. Baixo efeito nos preços Para Luís Augusto Barbosa Cortez, engenheiro-agrônomo e autor do livro The Future Role of Biofuels in the New Energy Transition, Lessons and perspectives of biofuels in Brazil, lançado em 2023, o Brasil só tem a ganhar com a investida, mas os preços para o consumidor final não devem mudar muito. "Ganha a Petrobras, que compra etanol para a mistura e vende a preço de gasolina, que segue a cotação internacional", analisa em entrevista à DW. Helder Queiroz, professor da Universidade Federal do Rio Janeiro (UFRJ) e coordenador do grupo de Economia e Energia, concorda que a política é uma solução interessante, mas seu efeito no bolso do motorista é limitado. "Não dá para dizer se o preço para o consumidor vai melhorar ou piorar, isso vai depender da incidência de carga tributária, do preço do frete e do preço da gasolina", detalha Queiroz, lembrando que o valor do etanol vendido na bomba tem a tendência de acompanhar o da gasolina. Preocupação com monocultura A lei "combustível do futuro" inclui ainda a elevação dos teores de mistura de biodiesel no diesel para 20% até 2030. Até 2031, a proporção deverá ser de 25%. Ao contrário do etanol, não será preciso comprovar a viabilidade técnica que leve em conta os impactos técnico-mecânicos, econômicos e ambientais da medida. "O aumento da mistura do biodiesel é fundamental. Mas há bastante coisa a ser testada, principalmente na cadeia de produção. A regulação é boa, o país pode perder uma grande oportunidade se não olhar para frota específica de veículos", comenta Adas, mencionando os caminhões. Felipe Barcellos, do Iema, ressalta que o incentivo aos biocombustíveis pode se refletir diretamente na dinâmica do uso do solo. As monoculturas para sua produção, seja cana-de-açúcar ou milho, precisam de grandes extensões de terras e geralmente se concentram nas mãos de poucos donos, o que pode gerar conflitos. "O etanol não necessariamente cria isso hoje. Ele não pode ser plantado na Amazônia, por exemplo. Mas se o plano é aumentar muito essa participação, é necessário olhar para este potencial impacto e fazer um planejamento de área, até quando esta área pode crescer e para onde, para que não se deixe tudo apenas ao sabor do mercado", diz Barcellos.


Short teaser Lei que aumenta etanol na gasolina ajuda a reduzir emissões de CO2, mas deve ter efeito limitado no bolso.
Author Nádia Pontes
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-que-o-brasil-tem-a-ganhar-apostando-mais-no-etanol/a-68875653?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/68876103_354.jpg
Image caption Cerca de 30% dos carros com motor flex no Brasil são abastecidos exclusivamente com etanol
Image source Bruno Escolastico Sousa Silva/NurPhoto/picture alliance
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Item 29
Id 68871387
Date 2024-04-19
Title Bienal de Veneza paga dívida histórica, diz curador brasileiro
Short title Curador brasileiro: Bienal de Veneza paga dívida histórica
Teaser Primeiro latino-americano encarregado da organização e seleção de obras do maior evento de arte do mundo, Adriano Pedrosa afirma: em 2024 o objetivo é descolonizar, diversificar e rever a história da arte do século 20.

Com o título Stranieri ovunque – Foreigners everywhere (Estrangeiros por toda parte), a 60ª edição da Bienal de Veneza transcorre de 20 de abril a 24 de novembro. Por trás do tema, que busca dar visibilidade a artistas até então marginalizados pelo mercado da arte, está o brasileiro Adriano Pedrosa, diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Pedrosa falou à DW sobre como buscou trazer um olhar verdadeiramente global para o maior e mais antigo evento de arte do mundo. Em 130 anos de história da Bienal, ele é o quarto curador não europeu e o primeiro latino-americano.

Para ele "isso é de uma importância significativa, se a gente fala em processos de revisão, transformação e mesmo descolonização da história da arte, do panorama da arte moderna e contemporânea".

"Procurei trazer essa perspectiva. É claro que há muitas perspectivas, e frequentemente me perguntam: 'você traz a perspectiva latino-americana?'. Não, eu trago uma perspectiva que é minha, pessoal, formada pela minha história de vida, de trabalho, pela minha pesquisa, minhas leituras."

Descolonizar e diversificar

A mostra, com obras de mais de 300 artistas, se divide em duas sessões: uma para trabalhos contemporâneos e outra para produção do século 20. Na seleção, estão obras do tunisiano Hatem El Mekki (1918) e da paquistanesa Zubeida Agha (1922-1997), por exemplo.

Do Brasil, estão representados de Di Cavalcanti (1897-1976), Djanira (1914-1979), Cândido Portinari (1903-1962), Tarsila do Amaral (1886-1973), Ismael Nery (1900-1932) e dos artistas contemporâneos Joseca Yanomami e André Taniki, do povo Yanomami.

"Achei revelante para o momento apresentar esses artistas que trabalharam no século 20 na América Latina, na África, na Ásia, no Oriente Médio. É muito curioso, porque muitos deles, na verdade, são figuras extremamente conhecidas e canônicas naquela própria cultura, naquele próprio território e contexto, mas que são totalmente desconhecidos no panorama internacional."

Uma exceção citada por Pedrosa é a mexicana Frida Kahlo (1907-1954), que, mesmo famosa em todo o mundo, só agora vai integrar a Bienal de Veneza, pela primeira vez.

"Eu acho que, trazendo esses artistas históricos, tem essa ideia de descolonizar, diversificar e rever a história da arte do século 20 de uma maneira mais global. Nesse sentido, a Bienal, através do meu trabalho, paga uma certa dívida histórica em relação a tantos artistas que não tinham participado e mereciam ter participado, na minha opinião. Eu estou nessa posição e pensei de forma estratégica em como compor a lista nesse sentido."

Short teaser Adriano Pedrosa afirma que em 2024 o evento visa descolonizar, diversificar e rever a história da arte do século 20.
Author Sofia Fernandes
Item URL https://www.dw.com/pt-br/bienal-de-veneza-paga-dívida-histórica-diz-curador-brasileiro/a-68871387?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 30
Id 68861093
Date 2024-04-18
Title Novas normas da UE condenam carros antigos à extinção
Short title Novas normas da UE condenam carros antigos à extinção
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Digitalização e interconexão de automóveis modernos são portas de entrada ideias para hackers

Normas europeias de cibersegurança automotiva não deixam espaço para modelos menos avançados. Para especialistas, profusão de sensores e câmeras transforma veículos em "máquinas de espionagem sobre rodas".Enquanto no cinema o superespião James Bond muitas vezes salva o mundo com seus bem-equipados automóveis, os vilões contemporâneos há muito encontraram meios de transformar carros comuns em instrumentos para seus propósitos criminosos. A União Europeia se propôs colocar freios nos crescentes riscos de segurança relacionados à moderna tecnologia de automóveis, sobretudo elétricos. Pois, além de servir à conveniência de seus motoristas e contribuir para a segurança nas ruas, o equipamento eletrônico que eles contêm também permite que os carros e seus usuários sejam cada vez mais vigiados. Reconhecendo esse fato, a Organização das Nações Unidas e a UE reagiram elaborando as regulamentações R155 e R156 da ONU, voltadas às ameaças à cibersegurança que representam a atualização de software. As normas, que entram em vigor na UE em 7 de julho, impõem exigências mais rigorosas às montadoras e seus fornecedores. Para o economista alemão Moritz Schularick, cibersegurança na indústria automobilística chega a ser "uma questão de segurança nacional": "Ela afeta dados sensíveis capazes de serem 'sugados', sobretudo dos carros elétricos. Do ponto de vista dos serviços de informações, esses veículos, com seus muitos sensores câmeras, não passam de máquinas de espionagem sobre quatro rodas", comentou ao jornal Handelsblatt em março. Numa conferência sobre cibersegurança promovida pela DW em dezembro, Schularick alertava que os modernos carros elétricos trafegando pelo mundo "filmam tudo o que acontece à sua volta" e repassam os dados a seus fabricantes, grande parte dos quais, na China. "A gente quer isso? Os olhos e ouvidos de um governo estrangeiro vigiando as nossas ruas através de milhões de automóveis?", interpelou o público. Hackers sequestraram buzinas e infotainment da Tesla Publicado em março de 2024, o relatório Cibersegurança automotiva, elaborado pelo Centro de Gestão Automotiva (CAM) da Alemanha, em cooperação com a gigante americana de software Cisco Systems, confirma que os riscos à cibersegurança na indústria automobilística são iminentes. A ameaça de ciberataques evolui na mesma medida da interconexão e digitalização de carros, produção e logística: "Com a proliferação de veículos definidos por software, eletromobilidade, direção autônoma e cadeia de abastecimento interconectada, os ciber-riscos aumentam sem cessar", comenta Stefan Bratzel, diretor do CAM e um dos autores do estudo. Sua análise ilustra vividamente até que ponto a indústria se tornou vulnerável: dois anos atrás, por exemplo, a Toyota foi forçada a suspender a produção quando um fornecedor foi afetado por um presumível ciberataque. Em 2022, a fabricante internacional de componentes automobilísticas Continental foi alvo de cibercriminosos, que roubaram dados cruciais de seus sistemas de TI, apesar da proteção maciça contra investidas do gênero. Outro exemplo citado pelo CAM é o da pioneira automotiva Tesla: em março de 2023, hackers obtiveram acesso a funções de programação para controle dos veículos, como buzinar, abrir o porta-malas, ligar os faróis e operar o sistema de informação e diversão. "Só quem garante segurança terá confiança do consumidor" As novas normas estão forçando alguns fabricantes a retirarem certos modelos de seu catálogo. Para a alemã Volkswagen, isso inclui o carro compacto Up e a van Transporter T6.1. A montadora de luxo Porsche suspendeu a produção dos modelos Macan, Boxster e Cayman, passando a só vendê-los em versão com motor a combustão em países com regulamentos menos rigorosos. Recentemente, a agência de notícias DPA informou que a Audi, Renault e Smart igualmente cessaram a produção de modelos mais antigos, que não preenchem os novos padrões de cibersegurança. O diretor de marcas da Volkswagen, Thomas Schäfer, observou que as medidas eram necessárias devido aos altos custos da conformidade: "Senão, teríamos que integrar toda uma nova arquitetura eletrônica, que simplesmente seria cara demais." Wiebke Fastenrath, da divisão de veículos comerciais da montadora alemã, confirma que a implementação dos novos regulamentos na van T6.1, por exemplo, teria exigido "investimentos muito elevados" para uma plataforma que em breve será extinta. "Devido à brevidade da vida restante do modelo, esses investimentos não foram feitos, sobretudo pelo fato de seus sucessores já estarem no mercado." Assim, a Volkswagen estaria pronta a fazer a mudança "para o novo modelo de 2025". A conceituada Mercedes-Benz está igualmente "bem-preparada" a adotar a eletrônica automotiva mais segura, assegura a porta-voz Juliane Weckenmann: "As normas não têm impacto sobre nosso catálogo. Toda a nossa arquitetura preenche os requisitos e será oportunamente certificada de acordo com a UN R155/R156." O diretor da CAM Bratzel observa que uma estratégia profissional de cibersegurança está ganhando importância para "uma limpeza da indústria de automóveis". O coautor Christian Korff, da Cisco Systems está convencido que o setor "não pode se permitir vulnerabilidades no campo cibernético". "Só quem proporciona veículos e serviços seguros em todos os níveis conservará a confiança dos consumidores", conclui o estudo conjunto.


Short teaser Para especialistas, profusão de sensores e câmeras transforma veículos em "máquinas de espionagem sobre rodas".
Author Dirk Kaufmann
Item URL https://www.dw.com/pt-br/novas-normas-da-ue-condenam-carros-antigos-à-extinção/a-68861093?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Digitalização e interconexão de automóveis modernos são portas de entrada ideias para hackers
Image source Michaela Rehle/REUTERS
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Item 31
Id 68850850
Date 2024-04-17
Title Alta do dólar inquieta economias, e não só as emergentes
Short title Alta do dólar inquieta economias, e não só as emergentes
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Dólar está se valorizando em relação a moedas de diversos países, com reflexos em endividamento público e taxas de juros

Não é só no Brasil: moeda americana está se fortalecendo e causando preocupação em todo o mundo. Principal motivo é perspectiva cada vez mais distante de queda dos juros nos EUA.O fortalecimento do dólar desde o início de 2024 tornou-se uma grande preocupação em países de todo o mundo, causando temores não apenas nas economias emergentes, mas também em países industrializados avançados. As moedas do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, estão quase todas se desvalorizando. A lira turca lidera o declínio desde o início do ano, com mais de 8%. No mesmo período, o iene japonês caiu 8% e o won, da Coreia do Sul, 5,5%. Nos últimos sete dias, o dólar disparou também em relação ao real. A moeda americana se valorizou mais de 5% nesse curto espaço de tempo e valia por volta de R$ 5,25 nesta quarta-feira (17/04). Essa tendência de alta da moeda dos EUA se verifica também nas economias desenvolvidas, com o dólar australiano, o dólar canadense e o euro em queda de 4,4%, 3,3% e 2,8%, respectivamente. Por que o dólar está subindo? O principal impulso por trás da alta do dólar é a perspectiva cada vez menor de que o Banco Central dos EUA reduza suas taxas de juros em breve. O índice de preços ao consumidor (CPI), divulgado na quarta-feira passada, subiu um pouco acima das expectativas do mercado, o que significa que a inflação continua acelerando nos EUA. Consequentemente, os investidores reduziram suas apostas em possíveis cortes nas taxas de juros pelo Fed, o que impulsionou a alta do dólar. Além disso, as crescentes tensões no Oriente Médio após o ataque sem precedentes do Irã a Israel também impulsionaram a moeda americana devido ao seu status de porto seguro. E embora muitas economias em todo o mundo estejam experimentando um crescimento moderado, os indicadores econômicos dos EUA, desde os números de emprego até as vendas no varejo, superam consistentemente as expectativas. Se várias economias emergentes ainda oferecem rendimentos mais altos em seus títulos do que os EUA, essa diferença está caindo. No início do ano passado, a taxa de juros do Brasil era de 13,75%, a do Chile era de 11,25% e a da Hungria, de 13%. Desde então, os bancos centrais dessas três economias reduziram suas taxas básicas, diminuindo a vantagem de rendimento para os possíveis investidores. Atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano. No Brasil, há ainda o fator local. O dólar disparou nesta terça-feira depois de o governo anunciar a revisão da meta fiscal para 2025, que passou de um resultado primário de 0,5% para zero. "Tem muita coisa que está fazendo com que o mundo esteja atento ao que está acontecendo nos Estados Unidos, e o dólar está se valorizando frente às demais moedas. Eu diria que isso não explica tudo o que está acontecendo no Brasil, mas explica dois terços", comentou o ministro das Finanças, Fernando Haddad, minimizando a relação entre a revisão da meta fiscal e a alta do dólar. Riscos para os emergentes Países em desenvolvimento são particularmente sensíveis aos efeitos negativos da alta do dólar, pois esse aumento faz com que os juros de suas dívidas em dólar subam, aumentando a sua carga total de juros. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), um aumento de 10% do dólar reduziria o Produto Interno Bruto (PIB) das economias emergentes em 1,9% após um ano, com efeitos econômicos adversos que durariam mais de dois anos. Em 2022, quando um fortalecimento semelhante do dólar estava em andamento, o Sri Lanka entrou efetivamente em default com a desvalorização de sua moeda. Outras economias emergentes tentaram evitar a desvalorização de suas moedas aumentando as taxas de juros antes do Fed em 2021 e 2022. No início de 2024, muitos acreditavam que as taxas de juros dos EUA cairiam até o fim do ano e que a alta do dólar seria contida. Mas agora há sinais de que o dólar pode estar apenas no início de uma longa curva de valorização e que o retorno aos patamares anteriores pode demorar mais do que o esperado. BC interveio no câmbio Governos de alguns países emergentes já começaram a agir. No início de abril, o Banco Central do Brasil interveio no mercado de câmbio pela primeira vez no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora governo e Banco Central não tenham explicado claramente suas intenções, o palpite no mercado é de que o objetivo era controlar a desvalorização do real. O Banco Central da Indonésia vem intervindo para sustentar a rupia, que está em seu nível mais baixo em quatro anos, oscilando em torno de 16 mil rupias por dólar. O Banco Central da Turquia também aumentou sua taxa de juros em 5 pontos percentuais, para 50% em março, em resposta à desvalorização da lira e à aceleração da inflação. No entanto, aumentar as taxas de juros, com o objetivo de conter a inflação, também tem um efeito negativo na economia, pois o encarecimento do crédito desestimula o consumo e desacelera o crescimento. O analista Kota Hirayama, da SMBC Nikko Securities, afirma que o risco de um retorno da inflação está aumentando nas economias emergentes devido às taxas de câmbio e ao aumento dos preços do petróleo. "Entretanto, é improvável que esses países aumentem as taxas de juros. Em vez de reagir com a política monetária, é provável que respondam temporariamente à desvalorização de suas moedas por meio de intervenções para ganhar tempo", afirmou, numa nota aos investidores. A China, por exemplo, está usando sua fixação diária de moeda para apoiar o yuan, e alguns bancos estatais chineses estão vendendo reservas em dólares. O Banco da Indonésia está mais ou menos fazendo o mesmo, pois usa suas reservas cambiais para comprar rupias. G20 abordará a força do dólar Essas preocupações não se limitam apenas às economias em desenvolvimento: o Japão e outros países desenvolvidos estão nervosos com a contínua desvalorização de suas moedas. O ministro das Finanças do Japão, Shunichi Suzuki, disse que o dólar deverá estar na pauta da próxima reunião dos ministros das Finanças e dos presidentes dos bancos centrais do G20, que será realizada esta semana em Washington, nos EUA. "Já discutimos a fuga de capitais anteriormente", declarou.


Short teaser Não é só no Brasil: moeda americana está se fortalecendo e causando preocupação em todo o mundo.
Author Uwe Hessler
Item URL https://www.dw.com/pt-br/alta-do-dólar-inquieta-economias-e-não-só-as-emergentes/a-68850850?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Dólar está se valorizando em relação a moedas de diversos países, com reflexos em endividamento público e taxas de juros
Image source picture alliance / blickwinkel
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Item 32
Id 68851095
Date 2024-04-17
Title Entusiasmo e apreensão antecedem Jogos Olímpicos de Paris
Short title Entusiasmo e apreensão antecedem Jogos Olímpicos de Paris
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Acesa a chama olímpica em templo na cidade grega de Olímpia, de 2.600 anos

Maior parte dos 10 milhões de ingressos para evento esportivo já foi vendida. Um desafio gigantesco para a capital francesa, em termos de infraestrutura e segurança. Participação de Rússia e Belarus é pomo da discórdia.A contagem regressiva começou: nas ruínas do Templo de Hera, na antiga cidade de Olímpia, no sudoeste da Grécia, com 2.600 anos de existência, foi acesa nesta terça-feira (16/04) a chama olímpica para os Jogos de Paris. De 26 de julho a 11 de agosto, apresentam-se na metrópole europeia 10.500 atletas de 32 categorias, vindos de 206 países. Quais são as precauções de segurança? Estarão diariamente de prontidão até 45 mil policiais e gendarmes, assim como 18 mil soldados e 20 mil seguranças particulares. Além disso, mais de 2 mil policiais estrangeiros observam os Jogos Olímpicos, entre os quais agentes da Polícia Federal da Alemanha. Após o atentado por terroristas islamistas em Moscou, em fins de março, com mais de 140 mortos, também na França vigora alerta máximo antiterrorismo. A cerimônia de abertura já será um gigantesco empreendimento logístico para as forças de segurança: estima-se que mais de 300 mil espectadores vão assistir aos esportistas atravessarem seis quilômetros da metrópole sobre o rio Sena, em 160 barcos. "Podemos fazê-lo e vamos fazê-lo", declarou o presidente Emmanuel Macron. Caso se anuncie uma ameaça terrorista aguda, há planos alternativos na gaveta, como realizar a festa de abertura num estádio esportivo. Como os Jogos Olímpicos vão afetar o dia a dia parisiense? A incerteza da situação mundial – sobretudo com a guerra de agressão russa na Ucrânia e a ameaça de escalada no Oriente Médio – compromete o entusiasmo em torno dos Jogos Olímpicos. Ainda assim, a capital francesa se prepara para receber mais de 15 milhões de visitantes. Já foram vendidos quase 8 milhões de ingressos para os diferentes eventos, dos 10 milhões disponíveis. A infraestrutura parisiense será testada até o limite. Clément Beaune, até a reformulação do governo em janeiro de 2024 ministro dos Transportes, classificou como "hardcore" os planos para organizar a mobilidade. De fato, haverá diversas barricadas de segurança e desvios, sobretudo em torno da Torre Eiffel e da Praça da Concórdia, no centro da cidade. Algumas estações de metrô ficarão fechadas. O fato de que os bilhetes de metrô custarão o dobro do preço normal durante o torneio não contribui para o entusiasmo dos moradores em relação aos Jogos. Numa enquete do instituto Odoxa, 44% dos parisienses classificaram o acolhimento do evento esportivo como "uma coisa ruim". Rússia e Belarus participam dos Jogos Olímpicos 2024? Em dezembro de 2023, o Comitê Olímpico Internacional (COI) liberou com restrições a participação de atletas individuais da Rússia e de Belarus, que deverão concorrer sob bandeira neutra. Times não são permitidos. Os hinos nacionais de ambos os países não serão executados; bandeiras e outros símbolos nacionais estão proibidos; os participantes ativos estão excluídos da cerimônia de abertura. Além disso, não podem ter conexões com as Forças Armadas ou órgãos de segurança, nem ter manifestado apoio ativo à invasão da Ucrânia. Segundo o COI, até agora só se qualificaram 12 russos e cinco belarussos – números que poderão chegar a até 36 e 22, respectivamente. Em Tóquio 2021, havia 330 russos e 104 belarussos. Na semana anterior ao acendimento da chama olímpica, a Ucrânia exigiu mais uma vez a total exclusão da Rússia e Belarus. Que pressões pesam sobre o COI devido à decisão sobre Rússia e Belarus? "Sim, é possível competir duro e, ao mesmo tempo, conviver pacificamente sob o mesmo teto", comentou o presidente do COI, Thomas Bach, na antiga cidade grega, ao acender a chama olímpica para os Jogos de Paris. Apesar de enfatizar sem cessar os efeitos do esporte para a amizade entre os povos, o próprio dirigente alemão está atravessando tempos turbulentos, pois as decisões do COI sobre Rússia e Belarus o expuseram a hostilidades de diversos lados. Uma porta-voz do Ministério russo do Exterior o acusou de "racismo e nazismo"; enquanto o ministro ucraniano do Exterior, Dmytro Kuleba, alega que o Comitê teria dado ao Kremlin "luz verde para usar os Jogos Olímpicos como arma". E a ONG alemã Sociedade para os Povos Ameaçados tachou Bach de "dinossauro incapaz de aprender". O COI dá total respaldo a seu presidente, rechaçando as críticas. Como o mandato de Bach se encerra em 2025, estes seriam seus últimos Jogos. Alguns membros da organização reivindicam uma alteração dos estatutos, para que o alemão de 70 anos possa continuar chefiando por mais quatro anos. Ele próprio disse que só decidirá depois do evento em Paris.


Short teaser Maioria dos 10 milhões de ingressos para evento já foi vendida. Um desafio gigantesco de infraestrutura e segurança.
Author Stefan Nestler
Item URL https://www.dw.com/pt-br/entusiasmo-e-apreensão-antecedem-jogos-olímpicos-de-paris/a-68851095?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Acesa a chama olímpica em templo na cidade grega de Olímpia, de 2.600 anos
Image source Alkis Konstantinidis/REUTERS
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Item 33
Id 68836938
Date 2024-04-16
Title Em novo livro, Salman Rushdie reflete sobre o atentado que sofreu
Short title Em novo livro, Rushdie reflete sobre o atentado que sofreu
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Salman Rushdie recebeu o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão

Autor de "Os versos satânicos" diz que "Faca" é sua maneira de lidar com o que aconteceu e "responder à violência com arte".Em fevereiro de 1989, em reação à publicação do livro Os versos satânicos, o aiatolá Ruhollah Khomeini, então o guardião supremo da fé islâmica no Irã, emitiu uma fatwa contra o escritor Salman Rushdie. Khomeini impôs a sentença de morte a Rushdie e a todos os envolvidos na publicação do livro. Rushdie passou a viver na clandestinidade, mas não se calou. Ele se sentia seguro em seu país de adoção, os Estados Unidos, mas o dia 12 de agosto de 2022 mostrou que essa sensação de segurança era um erro de avaliação – e que o ódio que há anos era dirigido contra ele não havia diminuído. Um homem de 24 anos atacou Rushdie com uma faca num evento literário no estado americano de Nova York e o feriu gravemente. Na época, Rushdie disse que teve muita sorte. "Se o agressor tivesse me atingido em qualquer outra parte do corpo, seria o fim da minha história." Até hoje o escritor de 76 anos, ganhador do Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão, sofre com as consequências: ele ficou cego de um olho e não consegue mais mexer uma das mãos. Rushdie: "Minha resposta à violência é a arte" Lançado nesta terça-feira (16/04) em mais de 15 países (incluindo o Brasil), o livro Faca – Reflexões sobre um atentado é a sua maneira de "lidar com o que aconteceu e responder à violência com arte", explicou Rushdie, por meio de sua editora, a Penguin Random House. "Rushdie empunha a espada mais afiada contra seu agressor: ele transforma esse ato inconcebível numa história sobre medo, gratidão e a luta por liberdade e autodeterminação", afirmou a editora. Já em fevereiro de 2023 Rushdie havia falado à revista americana The New Yorker sobre seus planos de escrever um livro sobre o ataque. Ele disse que só poderia escrever essa história na primeira pessoa. "Quando alguém lhe esfaqueia com uma faca, então isso é uma história em primeira pessoa", afirmou. Ele disse que esse não seria o livro mais fácil do mundo, mas ele teria que escrevê-lo como forma de lidar com o ataque e assim poder seguir adiante. "Não posso simplesmente escrever um romance que não tenha nada que ver com tudo isso", disse ele na longa entrevista. Nos anos imediatamente seguintes à fatwa, ele também teria se sentido assim. Fatwa nunca foi revogada Desde a fatwa, em fevereiro de 1989, o escritor vive sob o constante perigo de ser atacado por extremistas islâmicos – mas Rushdie nunca quis ceder ao medo. O agressor de agosto de 2022 teve facilidade para agir no evento cultural, pois as medidas de segurança eram praticamente inexistentes. Ele foi posteriormente dominado e detido. Ele rejeitou a acusação de tentativa de homicídio e se declarou inocente. O julgamento contra ele deveria ter começado em janeiro de 2024, mas a defesa argumentou que o acusado teria direto a ver o manuscrito do novo livro, que seria uma potencial prova no processo. Uma nova data para o início do julgamento ainda não foi determinada.


Short teaser Autor de "Os versos satânicos" diz que "Faca" é sua maneira de lidar com ataque e "responder à violência com arte".
Author Silke Wünsch
Item URL https://www.dw.com/pt-br/em-novo-livro-salman-rushdie-reflete-sobre-o-atentado-que-sofreu/a-68836938?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Salman Rushdie recebeu o Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão
Image source Arne Dedert/dpa/picture alliance
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Item 34
Id 68838551
Date 2024-04-16
Title Como os mercados repercutiram o ataque iraniano a Israel
Short title Como os mercados repercutiram o ataque iraniano a Israel
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Explosões sobre Tel Aviv durante bombardeio iraniano a Israel

Economia global não se abalou com o bombardeio. Mercados importantes, como o de petróleo, já haviam precificado uma possível ofensiva de Teerã, enquanto o ouro e as bolsas sofreram apenas leves alterações.Muitos investidores estão prendendo a respiração após o ataque sem precedentes de drones e mísseis do Irã contra Israel ocorrido em 13 de abril. O bombardeio foi o primeiro ataque direto lançado do território iraniano e ocorreu no mesmo dia em que a Guarda Revolucionária do Irã deteve um navio de contêineres ligado a Israel perto do Estreito de Ormuz. O ataque iraniano foi amplamente antecipado depois que o Irã culpou Israel pela destruição de parte do complexo da embaixada iraniana em Damasco, na Síria, em 1º de abril. Ainda assim, há o temor de uma escalada no conflito entre os dois países, mesmo com a ONU e os Estados Unidos pressionando Israel a demonstrar moderação. A maioria das empresas não gosta de incertezas, e a possibilidade de uma guerra aberta mais ampla deixa a região nervosa. Preços do petróleo e energia Se o conflito se alastrar pelo Oriente Médio, o maior risco para a economia global será a resposta dos mercados de energia, especialmente nos preços do petróleo. "Um aumento nos preços do petróleo complicaria os esforços para trazer a inflação de volta à meta nas economias avançadas, mas só terá um impacto significativo sobre as decisões dos bancos centrais se preços mais altos de energia se infiltrarem no núcleo da inflação", escreveu Neil Shearing, economista-chefe do grupo da consultoria Capital Economics, em uma nota aos clientes. Entretanto, os preços do petróleo não se moveram muito desde o ataque. Parece que o mercado já havia levado em conta a atual situação de instabilidade e não se assustou com o ataque iraniano no fim de semana. Cotas de produção da OPEP+ De fato, os preços do petróleo bruto Brent subiram de 83 dólares por barril há um mês para mais de 90 dólares por barril na semana passada, onde permaneceram, "estimulados, em parte, por preocupações com os suprimentos e os riscos geopolíticos dos conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia", escreveu Shearing. O economista destacou que outro motivo para a calma no mercado de petróleo é a pressão de alguns membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) para aumentar as cotas de produção. "Uma expansão na oferta de petróleo obviamente ajudará a limitar qualquer aumento em seu preço", seja devido às crescentes tensões ou a problemas na cadeia de suprimentos, como as perigosas rotas marítimas do Mar Vermelho. Jorge Leon, vice-presidente sênior da empresa norueguesa de análise do ramo de energia Rystad Energy, concorda. Embora a Opep+ tenha uma tarefa complicada de coordenar e gerenciar o mercado de petróleo, é provável que ela reduza os cortes voluntários de produção em uma reunião em junho, escreveu ele em uma nota na segunda-feira. Isso poderia liberar 6 milhões de barris por dia em capacidade ociosa para limitar as pressões sobre os preços, já que é do interesse do grupo evitar uma crise energética global. Se os preços do petróleo aumentarem e permanecerem altos, isso poderia alimentar a inflação global em uma época em que vários países sofrem com a inflação alta de longo prazo. Isso poderia criar um dilema para os bancos centrais, como foi observado após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, argumentaram os analistas do Deutsche Bank em uma nota aos clientes. "Por um lado, existe o risco de que um choque geopolítico prejudique o crescimento, antecipando o momento dos cortes nas taxas", de acordo com o banco. Ouro como porto seguro Quanto às bolsas de valores, quando os mercados abriram na segunda-feira, muitos índices de ações asiáticos, como o Nikkei, estavam em baixa. "Mas isso reflete, em parte, uma recuperação da venda que já havia ocorrido na sexta-feira após o fechamento, quando surgiram manchetes sugerindo que poderia ocorrer um ataque", escreveram os analistas do Deutsche Bank. Por sua vez, os mercados europeus abriram em alta. De modo geral, os analistas não veem muitas mudanças entre os principais ativos desde sexta-feira, "com os investidores esperançosos de que qualquer escalada será contida". Um pequeno sinal de que os investidores estão procurando um investimento mais seguro é a alta do preço do ouro, que subiu 0,51% na segunda-feira, para pouco mais de 2.356 dólares (cerca de R$ 12.200) a onça. Ainda é cedo, e o conflito pode se ampliar e atingir outros países, levar a mais sanções dos EUA contra o Irã ou danificar ou destruir a infraestrutura de petróleo. Algumas companhias aéreas ocidentais suspenderam temporariamente os voos para a região, enquanto outras redirecionaram rotas para evitar o espaço aéreo do Oriente Médio. Se o Irã ou os rebeldes houthi continuarem a atacar navios ligados a Israel na importante rota comercial através do Estreito de Ormuz, "existe o risco de falsos alvos e danos colaterais", de acordo com a Ambrey, uma empresa de gerenciamento de riscos marítimos. Esse ou outro ataque aéreo poderia atrair ainda mais os EUA para o conflito, aumentar os custos globais de transporte e causar estragos na economia mundial.


Short teaser Mercados como o de petróleo já haviam precificado possível ofensiva, enquanto ouro e bolsas sofreram leves alterações.
Author Timothy Rooks
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-os-mercados-repercutiram-o-ataque-iraniano-a-israel/a-68838551?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/68813730_354.jpg
Image caption Explosões sobre Tel Aviv durante bombardeio iraniano a Israel
Image source picture alliance/dpa/JINI/XinHua
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Item 35
Id 68765286
Date 2024-04-08
Title Richarlison inspira maior valor à saúde mental no futebol
Short title Richarlison inspira maior valor à saúde mental no futebol
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Richarlison: "Hoje eu posso falar, procure um psicólogo, você que está precisando"

Atacante tornou público seu período de depressão após a Copa do Mundo e como uma psicóloga esportiva "salvou sua vida". Relato do jogador ajuda a trazer a pauta da saúde mental para o esporte brasileiro.Em março, o atacante Richarlison, camisa 9 da seleção brasileira na última Copa do Mundo e atualmente no clube inglês Tottenham, disse à ESPN Brasil que a terapia salvou a sua vida e sua carreira no futebol. "Sabemos o quanto as pessoas são preconceituosas quando dizemos que estamos procurando ajuda [psicológica]", disse o jogador de 26 anos. "Eu falo sobre isso porque salvou minha vida. Eu estava no fundo do poço. Só os jogadores sabem a pressão que sofremos, não só dentro de campo, mas também fora dele. Hoje eu posso falar, procure um psicólogo, você que está precisando, procure porque é legal você se abrir assim, você estar conversando com a pessoa", alertou o Pombo, como é carinhosamente chamado pelos torcedores brasileiros. Os comentários de Richarlison foram apenas o exemplo mais recente de um atleta falando publicamente sobre sua saúde mental, algo que tem se tornado mais frequente nos últimos cinco anos. No Brasil, porém, essas declarações não são tão comuns como em outros lugares. De acordo com um artigo de 2023 de Tânia Maria de Araújo e Monica Torrenté publicado na Revista do SUS, os esforços para melhorar os tratamentos de saúde mental em todo o país são prejudicados pela falta de acesso a serviços do tipo. Em um capítulo do livro Mental Health in Elite Sport: Applied Perspectives from Across the Globe (Saúde mental em esportes de elite: perspectivas aplicadas em todo o mundo), oito autores reuniram informações sobre a saúde mental no esporte brasileiro e revelaram o impacto que fatores socioeconômicos, como o acesso à nutrição e ao saneamento adequados, têm sobre os jovens jogadores. Apesar disso e da enorme popularidade do futebol no Brasil, equipes multidisciplinares que atendem às necessidades técnicas, táticas, psicológicas e de saúde mental de jogadores e técnicos não são comuns no país. Os psicólogos do esporte não costumam fazer parte do quadro de funcionários dos times principais e, embora sejam obrigatórios nas categorias de base, muitas vezes estão sob enorme pressão, gerenciando vários times sozinhos. Esse, no entanto, não é um problema exclusivo do Brasil, mas também em muitas escolas e clubes de futebol em todo o mundo. "Essa questão é maior do que o futebol", disse Cauan de Almeida, técnico do América Mineiro, à DW. E no América, clube onde Richarlison começou sua carreira, Almeida e sua equipe estão fazendo o possível para ajudar os jogadores a se desenvolverem emocionalmente dentro e fora do campo. Nova geração, novos valores Almeida, de 35 anos, faz parte de uma nova geração de técnicos no Brasil, que desenvolveu suas habilidades na escola do clube e agora está trazendo esses valores para o time principal. Ele veio da base do América e aplica valores como resiliência, respeito, coragem, responsabilidade e pertencimento a um grupo ao treinamento técnico e tático. Isso não quer dizer que o foco do clube não seja vencer. Como um dos clubes mais tradicionais do país, o América Mineiro está desesperado para voltar à primeira divisão, mas Almeida e sua equipe sabem que há valor ainda maior em criar um significado além da vitória em campo. "Entendemos que, se cumprirmos esses valores e essa filosofia, no dia a dia poderemos oferecer algo mais consistente aos nossos jogadores como um grupo. Quando trazemos esses valores para os jogadores, estamos colocando esses valores na cabeça deles, não apenas para o nosso clube, mas também para nossas famílias. Estamos inspirando novos líderes. Eles serão melhores jogadores e melhores pessoas e, em casa, poderão passar esse conhecimento para suas famílias", explica o jovem técnico. "Mente sã em corpo são" "Entendemos que é muito importante para o nosso time, mas também para o futebol brasileiro como um todo", afirma Almeida. "Nós, como líderes do processo, também lidamos com essa situação. Podemos sentir o que o Richarlison sentiu. Precisamos entender a pressão do resultado e como lidar com ela quando você perde o jogo. Precisamos estar emocionalmente fortes." Para esse objetivo, Almeida trabalha com um dos principais psicólogos esportivos do país para orientar a si mesmo e seus jogadores. Ao ser perguntado se essa é uma prática comum no futebol do país, a resposta dele é reveladora: "Acho que não, pois minha psicóloga me disse que sou o primeiro técnico de futebol que ela atende." Legado do Pombo O maior desafio para o futebol brasileiro é deixar de lado a perspectiva de que ser jogador brasileiro significa possuir uma habilidade que seria puramente um dom natural, e passar para uma que reconheça a importância da pessoa e de sua mente. "Também entendemos que, quando trabalhamos com esses valores, deixamos um legado para o clube e os jogadores", explica Almeida. Ele quer que esses valores permaneçam no coração do clube para que, quando chegar o dia em que ele não for mais o técnico, o fruto do trabalho ainda esteja lá, com uma estratégia que permita o desenvolvimento pessoal e profissional duradouro de cada profissional. Richarlison abriu as portas para essas mudança em sua geração, e Almeida está se certificando de que o América Mineiro vá fazer o melhor para dar sequência. A esperança do técnico é que o futebol brasileiro jogue unido nesse propósito.


Short teaser Atacante tornou público seu período de depressão após a Copa do Mundo e como uma psicóloga esportiva "salvou sua vida".
Author Jonathan Harding
Item URL https://www.dw.com/pt-br/richarlison-inspira-maior-valor-à-saúde-mental-no-futebol/a-68765286?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/68748410_354.jpg
Image caption Richarlison: "Hoje eu posso falar, procure um psicólogo, você que está precisando"
Image source Marvin Ibo Güngör/GES/picture alliance
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Item 36
Id 68734715
Date 2024-04-03
Title Ex-cartola Rubiales é preso na Espanha acusado de corrupção
Short title Ex-cartola Rubiales é preso na Espanha acusado de corrupção
Teaser

O ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol Luis Rubiales, em foto de arquivo

Réu em uma ação na Justiça do país por beijo não consentido em jogadora, ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol também é investigado por suspeita de irregularidades em contratos firmados durante sua gestão.O ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) Luis Rubiales foi detido nesta quarta-feira (03/04) pela polícia no aeroporto de Madri, na esteira de uma investigação que apura irregularidades em contratos firmados durante o período em que ele chefiou a entidade. Rubiales, que regressava de uma viagem à República Dominicana, prestou depoimento ainda dentro do aeroporto e foi liberado logo depois, informou a Guarda Civil. Segundo uma rádio espanhola, os policiais também estiveram na República Dominicana, onde revistaram os locais onde Rubiales se hospedou e apreenderam um laptop e um celular. Um dos negócios sob suspeita é um acordo, no valor de 120 milhões de euros (R$ 657,9 milhões), para realizar a Supercopa da Espanha na Arábia Saudita, numa negociação que envolveu Rubiales e a Kosmos, uma empresa do ex-jogador do Barcelona Gerard Pique. Em conversas vazadas, a dupla teria discutido comissões milionárias, o que ensejou a abertura de uma investigação em 2022. A lista de crimes investigados inclui corrupção, negligência administrativa e lavagem de dinheiro. Sete pessoas foram presas pelo Judiciário espanhol desde o início das apurações na RFEF. Rubiales – que, assim como Pique, nega as acusações – deveria ter sido detido ainda no final de março, quando a polícia fez uma operação de busca e apreensão em escritórios da RFEF e em outros imóveis, incluindo a casa do ex-cartola em Granada. Cartola responde a processo por agressão sexual O ex-presidente da RFEF deixou o cargo em setembro do ano passado, após o polêmico beijo na boca que deu na jogadora da seleção feminina espanhola Jenni Hermoso – segundo ela, uma ação não consensual –, após a vitória da equipe no Mundial, diante de todo o estádio e da imprensa que acompanhava a cerimônia de entrega de medalhas. Após tentar convencer a própria jogadora e a opinião pública de que o gesto havia sido consensual e trivial, o ex-dirigente acabou banido do esporte por três anos por decisão da Federação Internacional de Futebol (Fifa). Hermoso também denunciou Rubiales à Justiça, que agora julgará o ex-cartola por agressão sexual e coerção, o que pode lhe render uma sentença de dois anos e meio de prisão. ra/le (AFP, Reuters, dpa)


Short teaser Réu por beijo não consentido em jogadora, ele também é suspeito de irregularidades em contratos da federação espanhola.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/ex-cartola-rubiales-é-preso-na-espanha-acusado-de-corrupção/a-68734715?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption O ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol Luis Rubiales, em foto de arquivo
Image source Manu Fernandez/AP Photo/picture alliance
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Item 37
Id 68715352
Date 2024-04-01
Title Adidas bloqueia personalização de camisas após polêmica com nazismo
Short title Adidas barra venda de camisas personalizadas após polêmica
Teaser Empresa de material esportivo interrompeu venda de camisas personalizadas da seleção alemã após usuários de redes sociais apontarem que tipografia do número 44 tinha semelhanças com símbolo da organização nazista SS.

A empresa de material esportivo Adidas interrompeu a venda de camisas personalizadas da seleção alemã em seu site após usuários de redes sociais apontarem que uma das opções de número tinha semelhanças com o símbolo de uma organização nazista.

Nesta segunda-feira (01/04), o site da Adidas não estava mais oferecendo a opção de personalização com nome e número na venda das camisas. A controvérsia eclodiu no fim de semana, quando começaram a circular imagens de uma camisa personalizada com o número 44.

A combinação do número e o tipo de fonte oferecida pela Adidas levaram vários usuários a apontarem uma semelhança sinistra com a "doppelte Siegrune", o símbolo da Schutzstaffel (SS), uma organização paramilitar nazista que figurou entre as principais executoras do Holocausto. Até o mesmo a personalização com um solitário número 4 foi apontada como semelhante a um dos símbolos usados pela antiga Juventude Hitlerista, a organização juvenil do Partido Nazista.

Na Alemanha, a exibição pública e a disseminação do símbolo da SS e de outras antigas organizações nazistas são proibidas e podem render processos criminais.

Adidas confirma bloqueio

O porta-voz da Adidas, Oliver Brüggen, disse à agência de notícias alemã dpa que não era a intenção da empresa que tal semelhança ocorresse.

"Bloquearemos a personalização das camisetas em nossa loja online", disse Brüggen.

A Federação Alemã de Futebol (DFB) também suspendeu as entregas de camisetas personalizadas com o número 44 em sua loja online.

A Adidas, por sua vez, culpou a DFB e sua empresa parceira 11Teamsport pelas fontes dos nomes e números.

Brüggen disse à DPA que "como empresa, nos opomos ativamente à xenofobia, ao antissemitismo, à violência e ao ódio em qualquer forma".

"Quaisquer tentativas de promover visões divisivas ou marginalizantes não fazem parte de nossos valores como marca", acrescentou.

DFB diz que está desenvolvendo fonte alternativa

Enquanto isso, a DFB disse ao jornal alemão Bild que estava trabalhando com a 11Teamsport para desenvolver uma nova fonte para o número 4, que deve exigir uma aprovação da União das Associações Europeias de Futebol (UEFA).

A porta-voz da DFB, Franziska Wülle, relatou ao jornal como foi o processo de desenvolvimento do design polêmico.

Wülle disse que a DFB "concedeu uma licença para de 'nome e numeração' à 11Teamsport por seis anos. Nossos colegas da 11Teamsport desenvolveram sua própria tipografia para a nova camisa e a coordenaram com a DFB".

Wülle ainda afirmou que as partes envolvidas no processo de design do número 4 não enxergaram nenhum simbolismo nazista na época.

Nenhum jogador da Alemanha usou a camisa de número 44. As camisas da equipe para a Eurocopa de 2024 são numeradas de 1 a 23. Os jogadores no usaram as camisas de números 4 e 14.

A polêmica envolvendo a "camisa da SS" ocorre pouco menos de dusas semanas depois de a seleção nacional de futebol da Alemanha anunciar que deixará de ser patrocinada pela empresa alemã Adidas, pondo fim a uma parceria de mais de sete décadas, e passará a usar uniformes, chuteiras e outros itens esportivos fornecidos pela americana Nike.

O acordo de patrocínio com a Nike terá início em 2027 e se estenderá até pelo menos 2034, disse a DFB em um comunicado. Na ocasião, o anúncio da troca de patrocinador da seleção nacional e a escolha de uma empresa americana gerou críticas de membros do governo da Alemanha.

jps (DW, dpa, ots)

Short teaser Empresa interrompeu venda de camisas da seleção alemã após usuários apontarem que tipografia remetia a símbolo nazista.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/adidas-bloqueia-personalização-de-camisas-após-polêmica-com-nazismo/a-68715352?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 38
Id 48295198
Date 2024-04-01
Title A tal da Segunda-Feira de Páscoa
Short title A tal da Segunda-Feira de Páscoa
Teaser

Páscoa continua na segunda em Berlim

Na Alemanha o feriadão religioso dura um pouco mais. Em Berlim a Segunda-Feira de Páscoa é um dos poucos feriados oficiais da cidade. Mas, afinal, o que é celebrado nesta data?Esta segunda-feira é feriado aqui em Berlim – aliás, é feriado na Alemanha inteira. É uma das poucas datas comemorativas oficiais da capital alemã, que é um dos estados do país com o menor número de feriados – com apenas 10, frente aos 13, por exemplo, da Baviera. Assim como no Brasil, os feriados de Berlim estão atrelados a eventos comemorativos da fé cristã, datas históricas e temos também o Ano Novo. Mas o que chamou atenção no meu primeiro ano na cidade foi o feriado celebrado hoje: a tal da Segunda-Feira de Páscoa. Cresci dentro de uma família cristã, além de estudar em colégio católico, e jamais tinha ouvido falar de uma Segunda de Páscoa. A vida inteira, até aquele momento, havia aprendido que as celebrações desta data religiosa começavam no Domingo de Ramos, lembrando a entrada de Jesus Cristo em Jerusalém, passando pela Quinta-Feira Santa, que recorda a Última Ceia, e pela Sexta-Feira Santa, que relembra a crucificação de Jesus, terminando no Domingo de Páscoa, que comemora a ressurreição. O que é celebrado? Mas e na Segunda-Feira de Páscoa, o que teria acontecido? Seria um dia de descanso para os fiéis, após a ressurreição? Intrigada, fui pesquisar sobre o tema e descobri que na Alemanha a data remete à aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos de Emaús. De acordo com essa passagem bíblica, três dias após a crucificação, dois jovens caminhavam de Jerusalém para Emaú, quando um terceiro homem, inicialmente desconhecido, se reuniu a eles na estrada. Depois de lamentar os últimos acontecimentos, os dois convidam o terceiro para jantar, e quando Jesus parte o pão é finalmente reconhecido pelos jovens, que voltam imediatamente para Jerusalém para contar o ocorrido. Como o episódio teria aparentemente ocorrido na noite de domingo, dessa maneira, a Segunda de Páscoa é uma continuação do Domingo de Páscoa, lembrando o dia em que os jovens voltaram a Jerusalém para contar sobre o encontro com Jesus. Diferente do domingo, quando as crianças são convidadas a procurar ovos coloridos e de chocolates escondidos por suas casas, em Berlim não há nenhuma comemoração tradicional na segunda, como ocorre em algumas cidades alemãs, onde há corridas com ovos ou antigos rituais para expulsar o inverno. Para muitos, a data é o dia de voltar para casa depois do feriado prolongado. Assim, as celebrações cristãs do domingo podem ser realizadas com calma e não ficam comprometidas com viagens.


Short teaser Segunda-Feira de Páscoa é um dos poucos feriados oficiais de Berlim. Mas, afinal, o que é celebrado nesta data?
Author Clarissa Neher
Item URL https://www.dw.com/pt-br/a-tal-da-segunda-feira-de-páscoa/a-48295198?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/48292780_354.jpg
Image caption Páscoa continua na segunda em Berlim
Image source picture-alliance/dpa/M. Huber
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Item 39
Id 38384707
Date 2024-03-30
Title Tradicional trança de Páscoa alemã
Short title Tradicional trança de Páscoa alemã
Teaser

"Hefezopf" pode ser coberta de açúcar, amêndoas ou nozes

Na Alemanha, café da manhã do domingo de Páscoa costuma incluir uma "hefezopf". Com ou sem recheio, pão doce trançado pode ser apreciado com manteiga e geleia e costuma ser decorado com ovos coloridos.Na Alemanha, a Páscoa é um acontecimento quase tão grande quanto o Natal. Mais de um mês antes da data, os supermercados se enchem de coelhos, ovos e ovelhas de chocolate, e lojas vendem artigos de decoração com os mesmos motivos. Além da Sexta-feira Santa, há mais um dia de feriado por aqui, a Ostermontag (segunda-feira de Páscoa), o que significa que as famílias têm mais tempo de se reunir e, é claro, sentar à mesa juntas. A Sexta-feira Santa é dia de comer peixe, assim como no Brasil. No domingo de Páscoa é comum preparar pratos com cordeiro, e muitas famílias fazem um longo café da manhã ou brunch antes de distribuir os ovos de chocolate. Além da tradição de pintar ovos cozidos – aqui há uma tinta específica para isso – e da Osterlamm (cordeiro pascoal), um bolo em formato de cordeiro, é tradicional servir pela manhã uma hefezopf ou osterzopf – um pão doce em forma de trança. A receita básica, coberta de açúcar, pode ser comida com manteiga ou geleia. Há variações com cobertura de amêndoas ou recheio de passas, chocolate, marzipã, damasco, entre outros. Por causa do fermento biológico fresco, a massa fica fofa e aerada. Ela é pincelada com ovo antes de ir ao forno, o que lhe dá um belo aspecto dourado. A hefezopf costuma ser preparada no dia antes da Páscoa, assim como os ovos cozidos e coloridos, que são muitas vezes usados para decorar a trança. O pão doce também é muitas vezes servido no Ano Novo. Aprenda a receita clássica: Ingredientes 250 ml de leite 20 g de fermento biológico fresco 75 g de açúcar 1 ovo 1,5 colher (chá) de sal 500 g de farinha de trigo 75 g de manteiga 2 colheres (sopa) de açúcar cristal Modo de preparo Aquecer o leite até ficar morno. Despedaçar o fermento numa tigela pequena e misturar bem com um pouco do leite morno e o açúcar. Bater o ovo. Levar 3 colheres de sopa do ovo batido à geladeira num recipiente coberto. Acrescentar o restante do ovo batido, o restante do leite, o sal e a farinha à mistura de fermento e bater na batedeira em velocidade baixa por cerca de 3 minutos. Aumentar a velocidade e bater por mais cinco minutos. Acrescentar a manteiga em cubos aos poucos e bater por mais cinco minutos até obter uma massa homogênea. Se desejar, acrescentar passas ou gotas de chocolate à massa. Cobrir a tigela com a massa com um pano de prato úmido e deixar descansar em temperatura ambiente por uma hora. Trabalhar a massa sobre uma superfície levemente enfarinhada. Dividi-la em três e deixar descansar coberta por mais dez minutos. Com os três terços de massa formar três rolos de cerca de 40 cm de comprimento cada. Trançá-los sem apertar muito. Colocar a trança sobre uma fôrma coberta com papel-manteiga, cobri-la e deixar descansar por mais 45 minutos. Pincelar a trança com o ovo resfriado. Polvilhar com o açúcar cristal (e com lascas de amêndoas, se desejar) e assar em forno preaquecido a 200 °C por 25 minutos. Se estiver ficando dourado muito rapidamente, cobrir com papel alumínio nos últimos dez minutos.


Short teaser Na Alemanha, café da manhã do domingo de Páscoa costuma incluir uma "hefezopf", pão doce trançado.
Author Luisa Frey
Item URL https://www.dw.com/pt-br/tradicional-trança-de-páscoa-alemã/a-38384707?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/17580787_354.jpg
Image caption "Hefezopf" pode ser coberta de açúcar, amêndoas ou nozes
Image source Fotolia/A_Lein
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Item 40
Id 68673299
Date 2024-03-29
Title "A polarização é muito forte no Brasil há muito tempo"
Short title "Quis apresentar ditadura e cultura brasileira a franceses"
Teaser Em entrevista à DW, o quadrinista franco-brasileiro Matthias Lehmann conta como foi a pesquisa para produzir "Chumbo", obra que aborda a ditadura militar brasileira por meio da história de uma família mineira.

O Brasil sempre esteve no coração do francês Matthias Lehmann. E na língua – o português foi sua primeira língua. Filho de mãe brasileira e pai francês, ele cresceu ouvindo memórias do país e, quase todos os anos, visitando parentes em Minas Gerais.

Mais tarde, passou a querer entender a história brasileira – e, claro, os horrores da ditadura, inaugurada com o golpe que completa 60 anos, passou a fazer parte da sua consciência. Desde que se tornou ilustrador, quadrinista e pintor, planejava produzir algo sobre o assunto. "Eu sempre tive esse sentimento de que precisava fazer algo importante sobre o Brasil para, de certo modo, compensar o fato de não ter crescido no país", diz.

Em agosto do ano passado, ele lançou na França e originalmente em francês a HQ Chumbo, que conta a história de uma família mineira, ambientada no contexto da ditadura. Neste mês, o livro chega às livrarias brasileiras, em versão traduzida para o português. Lehmann conta que a obra "surpreendeu muitos leitores" franceses. "Aqui poucos sabem o que foi a ditadura, sua violência e sua extrema longevidade", comenta.

Consciente do atual momento mundial, em que ânimos políticos estão polarizados, ele entende o livro como parte de "um movimento geral de vigilância frente a esta onda reacionária" e pontua que a polarização no Brasil "se acentuou ainda mais durante a era Bolsonaro". "Na França, estamos a redescobrir tudo isto, depois de décadas de batalhas políticas relativamente respeitosas", ressalta.

Lehmann é sobrinho do escritor e jornalista brasileiro Roberto Drummond (1933-2002), autor de Hilda Furacão, entre outros livros.

DW: Em primeiro lugar, gostaria de saber um pouco sobre sua relação com o Brasil. Você sempre sentiu alguma identificação com o país?

Matthias Lehmann: Bom, minha mãe sendo brasileira, tomei consciência dessa herança de modo muito rápido. Além disso, meu pai, que é francês, morou no Brasil por um tempo antes de conhecê-la, então ele também falava português. Por isso, quando eu era pequeno [esta] foi minha primeira língua. Cheguei à escola francesa e falei em português com a professora, que não entendia nada. Depois aprendi… A gente visitava os familiares em BH [Belo Horizonte, capital de Minas Gerais] todos os anos. Foi muito importante para minha mãe. Ela tinha muita saudade, então queria transmitir esse sentimento de pertencimento ao Brasil para minhas irmãs e para mim.

Sua mãe era irmã do Roberto Drummond, é isso?

Minha mãe era mineira, era irmã do Roberto. Os meus pais se casaram no Brasil e vieram embora para a França. E ficaram. Acho que a minha mãe não gostava tanto da França porque sentia falta do Brasil e da família. E dos brasileiros. Com certeza os franceses não são tão aconchegantes, de modo geral… De certa forma, ela também transmitiu essa saudade para a gente.

Você viajava muito ao Brasil na infância?

Infelizmente, grande parte da minha família já faleceu, mas ainda tenho umas primas em BH que vejo quando vou lá e até quando elas viajam para a Europa. Na verdade, elas viajam mais do que eu! Quando era criança, ia todos os anos para BH, todo verão [europeu, ou seja, durante as férias escolares de julho e agosto], e, assim que fui crescendo, continuei indo regularmente. Também tentei conhecer outras partes do país além de Minas Gerais. Já faz quase cinco anos que não vou, por vários motivos. Mas, se tudo der certo, irei em maio para acompanhar o lançamento do Chumbo.

Falando sobre o livro, como foi o processo de pesquisa, principalmente para o pano de fundo histórico?

Lendo muita coisa. Principalmente ensaios históricos. Um livro sempre abre o caminho para outro livro e assim, em geral, a lista de leitura só vai crescendo e rapidamente se torna faraônica. Felizmente, digo entre aspas, não tive tempo de ler tudo e aí tive que fazer escolhas. É óbvio que você não pode colocar tudo em uma história de ficção. O objetivo era, acima de tudo, ter uma base histórica bastante sólida, mas obviamente não sou historiador. Vários trabalhos foram muito marcantes para mim nesse processo de pesquisa. [Li obras da historiadora] Heloisa Starling, [do jornalista] Elio Gaspari, [do também jornalista] Rubens Valente e [do escritor, cronista e jornalista] Humberto Werneck. E também documentos, tipo o relatório da Comissão Nacional da Verdade em Minas […]. Também pesquisei muitas coisas mais visuais, entre fotos, design gráfico, arquitetura… Isso foi bastante importante.

E por que escrever uma história tão brasileira?

Sempre convivi com essa dualidade França-Brasil em mim. Mas cresci na França, né? Eu sempre tive esse sentimento de que precisava fazer algo importante sobre o Brasil para, de certo modo, compensar o fato de não ter crescido no país. Quando eu era pequeno, a relação com o Brasil parecia natural, já que esse vínculo era através da família. Mas, com o tempo passando, meus tios e tias falecerem e eu senti que tinha que fazer o Brasil meu, através dos meus próprios meios. E a melhor maneira que conheço, para fazer as minhas coisas, é fazer quadrinhos.

A graphic novel foi lançada na França no ano passado. Como foi a recepção? De que maneira você acha que é importante para quem não é brasileiro também conhecer esse percurso histórico?

O livro foi muito bem recebido na França, até surpreendeu muitos leitores e leitoras que admitiram não conhecer bem a história do Brasil. Aqui poucos sabem o que foi a ditadura, sua violência e sua extrema longevidade. O pessoal associa mais ditadura com Chile ou Argentina… Afinal, foi [o ex-presidente] Jair Bolsonaro, com suas loucuras midiáticas, quem empurrou os franceses a se interessarem novamente pela política brasileira. [Mas] para a maioria das pessoas aqui, o Brasil continua sendo o país do futebol, do carnaval e das festas! Alguns dos meus leitores dizem [agora] compreender melhor o período Bolsonaro, à luz desse legado ideológico que foi a ditadura militar.

Na obra, você aborda o integralismo e, de forma central, a ditadura militar brasileira. Em tempos de ascensão de extremismos de direita, esta temática se torna mais necessária?

Em relação ao Brasil, eu queria muito falar sobre os mecanismos da ditadura e do golpe de Estado, e as repercussões de tudo isso no núcleo familiar. Esse fenômeno de polarização é muito forte no Brasil há muito tempo e se acentuou ainda mais durante a era Bolsonaro. Na França, estamos a redescobrir tudo isto, depois de décadas de batalhas políticas relativamente respeitosas entre os diferentes partidos, enquanto a extrema direita permanecia demonizada. Mas as coisas mudaram muito. Agora, a direita tradicional, inclusive o partido do [presidente francês Emmanuel] Macron, integrou ideias e parte do programa da extrema direta. Chumbo participa de um movimento geral de vigilância frente a esta onda reacionária. Mas, obviamente, é preciso que a sociedade civil reaja na sua globalidade diante desse fenômeno. A respeito disso, no momento, estou mais otimista com o Brasil do que com a França.

Os dois irmãos retratados em Chumbo, Severino e Ramires, seguem cada um para um lado da polarização ideológica: um milita na esquerda, outro defende os militares. De certa forma, é o retrato de muitas famílias brasileiras contemporâneas, divididas entre o bolsonarismo e o petismo. Você tinha essa consciência enquanto produzia a graphic novel?

Sim, claro, acompanhei de perto as notícias brasileiras durante o período em que estava escrevendo o livro, então isso com certeza me influenciou. De qualquer forma, existe uma certa continuidade histórica e é impossível explicar o período Bolsonaro sem levar em conta o golpe de Estado de 64 e as consequências da ditadura. Terminei de desenhar Chumbo alguns meses depois da posse do Lula e a tentativa de golpe do 8 de janeiro [de 2023] estava muito presente. Imagina!

O livro traz elementos muito importantes para a cultura brasileira, como o conjunto da Pampulha e referências a personagens como o escritor Fernando Sabino e a cantora Clara Nunes. Você também se orgulha desse Brasil cultural?

Sim. E também queria apresentá-lo aos leitores franceses. Espero que alguns aprofundem as suas pesquisas. Como em muitos países, no Brasil certas pessoas foram capazes do pior e outras do melhor e foi muito importante para mim ter referências literárias, históricas ou artísticas sólidas, para mostrar esse aspecto. [Lehmann enumera então alguns nomes que lhe são importantes, como os escritores Clarice Lispector e Mario de Andrade, a pintora Tarsila do Amaral, a arquiteta Lina Bo Bardi e os cantores Zé Keti e Nara Leão, entre outros]. Tantas e tantos… Foi importante para mim fazer essas referências [no livro]. Mas, antes de tudo, foi um prazer!

Short teaser Quadrinista franco-brasileiro Matthias Lehmann conta como se inspirou para criar "Chumbo", obra que aborda a ditadura.
Author Edison Veiga
Item URL https://www.dw.com/pt-br/a-polarização-é-muito-forte-no-brasil-há-muito-tempo/a-68673299?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
RSS Player single video URL https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=%22A%20polariza%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20muito%20forte%20no%20Brasil%20h%C3%A1%20muito%20tempo%22

Item 41
Id 68662625
Date 2024-03-25
Title Daniel Alves deixa prisão na Espanha após pagar fiança
Short title Daniel Alves deixa prisão na Espanha após pagar fiança
Teaser Defesa do ex-jogador de futebol da Seleção depositou 1 milhão de euros, valor estabelecido pela Justiça espanhola como requisito para a liberdade provisória do brasileiro. Ele foi condenado por estupro.

O ex-jogador de futebol Daniel Alves deixou nesta segunda-feira (25/03) a prisão em Barcelona, em regime de liberdade provisória, após pagar fiança de 1 milhão de euros (cerca de R$ 5,4 milhões).

Alves foi condenado a quatro anos e meio de prisão por estuprar uma jovem em uma casa noturna de Barcelona em dezembro de 2022.

O jogador deixou a pé o centro penitenciário Brians 2, onde estava preso desde 20 de janeiro de 2023, acompanhado de sua advogada, Inés Guardiola, até um carro que os aguardava no estacionamento, em meio a grande expectativa midiática.

A 21ª seção do Tribunal de Apelação de Barcelona concordou na última quarta-feira, com o voto dissidente de um dos três magistrados, em permitir que o ex-jogador de futebol deixasse a prisão se pagasse uma fiança de um milhão de euros, para aguardar em liberdade o julgamento de recursos contra a sentença que o condenou.

A Justiça espanhola determinou que, para que o ex-jogador pudesse entrar em liberdade condicional, além da fiança, ele deveria entregar seus dois passaportes, brasileiro e espanhol, para que não possa deixar o país. Ele também deve comparecer ao tribunal semanalmente.

Além disso, Daniel Alves é obrigado a manter uma distância de pelo menos um quilômetro da residência da vítima, de seu local de trabalho ou de qualquer outro lugar frequentado por ela, que também vive na capital catalã. Ele também está proibido de tentar estabelecer contato com a denunciante.

Recurso contra libertação

Por sua vez, a Promotoria Provincial de Barcelona apresentou um recurso contra a libertação de Alves sob fiança – medida similar também foi anunciada pela defesa da vítima –, argumentando que ainda se mantêm os motivos pelos quais a prisão provisória do jogador de futebol brasileiro foi adotada há um ano.

O Ministério Público afirmou na última sexta-feira que considera que o risco de fuga do jogador de futebol é "ainda mais intenso tendo em vista o fato de que o sr. Alves foi condenado a 4 anos e 6 meses de prisão como autor de um crime de agressão sexual".

Alves conseguiu a quantia depois de quase uma semana. Inicialmente, ele recorreu à família de seu ex-companheiro de equipe no Barcelona, o também jogador Neymar Jr., que na época do crime se gabou publicamente de tê-lo ajudado a pagar a fiança de 150 mil euros (R$ 800 mil) como indenização à vítima, o que ajudou a reduzir a pena. Mas, na semana passada, o pai de Neymar deixou claro, em um comunicado, que dessa vez não arcaria com os custos.

"Espero que o Daniel encontre junto à sua própria família todas as respostas que ele procura. Para nós, para minha família, o assunto terminou", afirmou o pai de Neymar em comunicado.

Durante todo o julgamento, a defesa do jogador da seleção brasileira argumentou que a solvência financeira do jogador se esvaiu após sua prisão, pois seu contrato com o clube mexicano Pumas, onde jogava, foi rescindido, assim como os acordos de patrocínio com várias marcas que ele representava.

md/le (EFE, ots)

Short teaser Defesa depositou valor de 1 milhão de euros pedido pela Justiça espanhola como requisito para liberdade provisória.
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Item 42
Id 68646653
Date 2024-03-22
Title Políticos criticam troca de patrocínio da seleção alemã
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"Quase não consigo imaginar a camisa da seleção alemã sem as três listras", disse ministro alemão da Economia, Robert Habeck

Anúncio de que americana Nike substituirá alemã Adidas após mais de 70 anos de parceria repercute mal entre membros do governo da Alemanha. Ministro da Economia e vice-chanceler lamenta falta de "patriotismo".O anúncio da troca de patrocinador da seleção nacional de futebol da Alemanha, da alemã Adidas para a americana Nike, gerou críticas de membros do governo da Alemanha. "Eu teria apreciado um pouco mais de patriotismo local", lamentou nesta sexta-feira (22/03) o ministro da Economia e vice-chanceler federal alemão, Robert Habeck, ao comentar o negócio. Na quinta-feira, a Federação Alemã de Futebol (DFB) anunciou que deixará de ser patrocinada pela Adidas, pondo fim a uma parceria de mais de sete décadas, e passará a usar uniformes, chuteiras e outros itens esportivos fornecidos pela Nike. O acordo de patrocínio com a Nike terá início em 2027 e se estenderá até pelo menos 2034, disse a DFB em comunicado. Acordo milionário Com o novo acordo, a seleção alemã para o ranking dos times de futebol mais bem pagos do mundo. De acordo com o jornal Handelsblatt, a Adidas vai pagar à DFB cerca de 100 milhões de euros por ano, ou um total de mais de 800 milhões pelos 8 anos de contrato – frente aos cerca de 50 milhões de euros anuais oferecidos pela Adidas, conforme o diário. Em comparação: o Real Madrid supostamente recebe da Adidas 120 milhões de euros por temporada e o Barcelona, 105 milhões de euros da Nike. O anúncio ocorre menos de três meses antes do início da Eurocopa masculina de 2024 na Alemanha (14 de junho a 14 de julho). "Quase não consigo imaginar uma camisa da seleção alemã sem as três listras" da marca alemã Adidas, reagiu Habeck. "Para mim, Adidas e preto-vermelho-amarelo", as cores da bandeira alemã, "sempre foram inseparáveis ", acrescentou o político do Partido Verde. "Decisão errada" O ministro da Saúde, Karl Lauterbach, um social-democrata, também expressou sua decepção. Classificando em sua conta no X como "uma decisão errada" a escolha de uma empresa americana para vestir a 'Mannschaft', lamentando que "o comércio destrua uma tradição e um pedaço da pátria". "O futebol alemão sempre fez parte da história econômica da Alemanha. A equipe nacional joga com as três listras – isso era tão claro quanto dizer que a bola é redonda e que uma partida dura 90 minutos", afirmou Markus Soder, governador do estado da Baviera, no sul da Alemanha, onde fica a sede da Adidas. md (AFP, SID)


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Item 43
Id 64814042
Date 2023-02-25
Title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
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O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia

UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção. Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março. Lei antioligarca De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda. Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias. Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado. Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares. Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados ​​por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas. Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares. Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país. Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros. A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões. Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares. Não existem mais oligarcas ucranianos? Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política. Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los". De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE. Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra. "Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos. Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.


Short teaser UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas.
Author Eugen Theise
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Image caption O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia
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Item 44
Id 64820664
Date 2023-02-25
Title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Short title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
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Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil

De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02). A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes. Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros. O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro. Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado. Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos. De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas. Turquia começa reconstrução As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção. Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep. Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente. Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad. Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados. Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares. Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores. Istambul precisa de 40 bilhões de dólares Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto. "A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico. De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia. Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil. le (EFE, DPA, Reuters, ots)


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Item 45
Id 64819106
Date 2023-02-25
Title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
Short title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
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"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,

Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado. Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética. Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia. Acordo após mais de 24 horas de reuniões As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões. "Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter. O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca. Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen. O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE. Sanções contra firmas iranianas Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia. As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas. Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco. O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia. No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional. md (EFE, Reuters, AFP)


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Item 46
Id 64816115
Date 2023-02-24
Title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
Short title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
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Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia

Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia. Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou. Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor." Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz. "No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter. Estreitar laços O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra. Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou. Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo". O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra". Proposta da China Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países. "Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou. Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev. cn/bl (Reuters, AFP, Efe)


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Image caption Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia
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Item 47
Id 64811757
Date 2023-02-24
Title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Short title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Teaser Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado.

Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos.

Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares.

Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia.

Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%.

No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente.

Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim.

"A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico.

A proposta da China para a guerra na Ucrânia

Até a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta.

Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito.

No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada.

"A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW.

Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia.

O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais.

"Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia.

"No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou.

Mediador duvidoso

Além disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou.

Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin.

"É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner.

Campanha de relações públicas sem riscos

A proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática.

"O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura.

"Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou.

"Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner.

Outros pontos da proposta

O texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais.

A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta.

"O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang.

Short teaser Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia.
Author Alena Zhabina
Item URL https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 48
Id 64811407
Date 2023-02-24
Title Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin
Short title Zelenski, o presidente subestimado por Putin
Teaser Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente.

As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo.

Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!".

"Preciso de munição, não de carona"

Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido.

A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos.

A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo.

Câmeras, as armas mais poderosas de Zelenski

Em seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana.

No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos".

No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo.

Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas.

Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação.

Putin não levou Zelenski a sério

Muitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin.

A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia.

Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado.

Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente.

Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir.

Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos.

Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar.

Nem tudo é fácil

Isso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos.

Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana.

O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia.

Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana.

Short teaser Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores.
Author Roman Goncharenko
Item URL https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 49
Id 64810396
Date 2023-02-24
Title Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Short title Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Teaser

Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia

Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online. Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa. "Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema." A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha". Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída. Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real. Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala. "Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW. Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos. Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento. Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real. "Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman. Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização. "É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman. Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse. "Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman. Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos. O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum". "Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças. Fadiga por compaixão em relação a refugiados Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia. "Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW. Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo. É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África. "Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa. A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo. "Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW. Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis. "Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW. Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida. Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.


Short teaser Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia.
Author Fred Schwaller
Item URL https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia
Image source Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance
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Item 50
Id 64809638
Date 2023-02-24
Title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
Short title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
Teaser

Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos. Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março. Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados. Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos. Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas." Pressão por interdição total do TikTok nos EUA Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos. O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas". "Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro. Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China. TikTok nega ingerência de Pequim Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos. Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados. Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados. av/bl (AFP, Reuters, ots)


Short teaser Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos.
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Item 51
Id 64800152
Date 2023-02-24
Title Como e quando poderia haver paz na Ucrânia?
Short title Como e quando poderia haver paz na Ucrânia?
Teaser

Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar

Um ano após o início da guerra, nenhum dos lados parece disposto a negociações. Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para o conflito.Dezenas de milhares de soldados mortos e mutilados dos dois lados, milhares de vidas de civis ucranianos perdidas, cidades destruídas. A isso se somam uma crise energética mundial, inflação em diversos países em desenvolvimento e fome. Este é o balanço de uma guerra que, depois de um ano, parece longe de ter fim. O presidente russo, Vladimir Putin, não alcançou seu objetivo de conquistar totalmente a Ucrânia. Mas a Rússia ocupa atualmente um quinto do território vizinho. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por sua vez, afirma reiteradamente que pretende reconquistar toda a área tomada pelos russos – inclusive a Península da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014. Em discurso sobre o estado da naçãona última terça-feira (21/02), Putin não se mostrou disposto a ceder – pelo contrário. "É impossível derrotar nosso país no campo de batalha", afirmou. O mandatário escalou o discurso com o anúncio da suspensão da participação da Rússia no tratado de desarmamento nuclear New Start, o último acordo do tipo ainda em vigor entre Moscou e Washington. O anúncio parece ter sido uma reação à visita surpresa do presidente americano, Joe Biden, a Kiev no dia anterior. Biden garantiu a continuidade do apoio dos EUA a Zelenski. "Não se trata apenas da liberdade da Ucrânia. Trata-se da própria liberdade da democracia", disse Biden. Em seguida, em visita à capital polonesa, Varsóvia, Biden reforçou que a Ucrânia "jamais será uma vitória para a Rússia". Porém, tanto entre os republicanos no Congresso americano quanto entre a população dos EUA, a disposição em apoiar a Ucrânia no longo prazo está diminuindo. Temor de uma terceira guerra mundial A pressão para negociações de paz também aumenta na Alemanha. A mais recente Deutschlandtrend – pesquisa de opinião mensal da emissora pública ARD, realizada pelo instituto Infratest dimap – mostra que 58% dos entrevistados consideram que os esforços diplomáticos para encerrar a guerra são insuficientes – um recorde histórico. Uma petição encabeçada por Sahra Wagenknecht, da legenda A Esquerda, e pela feminista Alice Schwarzer pede o início imediato de negociações de paz e o fim do envio de armas à Ucrânia pela Alemanha, que reviu seu pacifismo de décadas e adotou uma postura voltada à remilitarização com o início do conflito. O documento, assinado por teólogos, artistas e políticos, alerta contra uma nova guerra mundial. O embaixador ucraniano em Berlim, Oleksei Makeiev, disse a um portal alemão de notícias que não consegue entender esse temor: "A Ucrânia já está na Terceira Guerra Mundial. A Rússia lidera uma guerra de aniquilação contra nós." Reconquista de territórios ocupados Já no ano passado, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, descartou, em entrevista à DW, passos unilaterais para alcançar a paz. O motivo: "Se a Ucrânia encerrar os combates, vai deixar de existir como Estado independente." Por isso, segundo Stoltenberg, Kiev precisaria vencer a guerra. Para que a Ucrânia possa manter sua liberdade, países ocidentais vêm reforçando seu auxílio militar à nação invadida pela Rússia. No início deste ano, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, decidiu após longa hesitação, enviar tanques alemães à Ucrânia, depois que os EUA e outros países da Otan, como o Reino Unido, anunciaram o envio de blindados a Kiev. Especialmente o modelo Leopard 2, fabricado na Alemanha, poderia ajudar a "superar a desvantagem da Ucrânia no campo de batalha", afirmou o coronel reformado Roderich Kiesewetter, que também é político do partido conservador alemão CDU, em mensagem por escrito à DW. "Mas, se os ucranianos conseguirão uma virada na linha de frente, dependerá do número, do tempo de fornecimento e da continuidade do envio de tanques", avalia. A Ucrânia não espera só rechaçar ataques russos com os blindados. O consultor em segurança Nico Lange, que desde julho de 2022 trabalha para a iniciativa Zeitenwende da Conferência de Segurança de Munique e já ocupou posições de liderança na Fundação Konrad Adenauer, ligada à CDU, considera "realistas as chances militares de a Ucrânia reconquistar a totalidade dos territórios ocupados [pela Rússia] e, assim, reconstituir a paz". Em entrevista à DW, Lange diz acreditar que "Putin só estará disposto a negociar quando a situação militar ficar tão favorável à Ucrânia que ele entenderá que não vai conseguir vitórias com essa guerra de agressão". O general aposentado da Bundeswehr Helmut Ganser não partilha dessa visão. Na edição de fevereiro da publicação especializada em política internacional Journal für Internationale Politik und Gesellschaft, ele traça dois cenários para uma contraofensiva ucraniana rumo ao sul do país, na direção do Mar de Azov, com a atuação de tanques ocidentais. No quadro mais pessimista, a ofensiva ucraniana ficaria atolada em meio à defesa maciça da Rússia. Para esse caso, Ganser já tenta preparar a opinião pública ocidental para "imagens de tanques Leopard destroçados", que a Rússia divulgaria na internet com prazer. Para Ganser, o cenário mais otimista é ainda mais perigoso: as unidades de blindados avançariam até o Mar de Azov e ficariam diante da Península da Crimeia. O ex-general suspeita que seria no máximo nesse momento que Putin "expandiria a área total da guerra ao território dos países ocidentais apoiadores", e alerta: "Está aumentando o perigo de um deslizamento lento e, na verdade, não intencional, rumo a uma grande catástrofe para toda a Europa." Já Lange vê a ameaça nuclear da Rússia como "um instrumento de guerra psicológica". Ele não apenas considera uma reconquista da Crimeia "possível do ponto de vista militar", mas endossa também a tentativa como algo aconselhável: "Exatamente pelo fato de que [perder] a Península da Crimeia seria uma vergonha para Vladimir Putin, a pressão militar sobre a Crimeia é uma possibilidade de fazer com que a Rússia se disponha a negociar", avalia. Onde está o limite? Os especialistas ouvidos pela DW se dividem quanto à possibilidade de a pressão militar aumentar ou a disposição de negociar da Rússia ou o risco de uma guerra nuclear. O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), sempre sublinhou que a Alemanha não pode se tornar parte diretamente envolvida no conflito. Por isso, houve longa hesitação do país em decidir enviar tanques à Ucrânia, e Scholz ainda descarta o envio de aviões de guerra a Kiev. Biden também não prometeu caças a Zelenski. Já o político da CDU e ex-militar Kiesewetter não "traçaria linhas vermelhas no que se refere a certos sistemas de armas". No contexto do direito internacional, um país só se transforma em parte envolvida numa guerra quando se envia soldados próprios, aponta Kiesewetter, que descarta tal cenário. Objetivos incompatíveis de pacificação Porém, entre os países que apoiam a Ucrânia, há muitos que acreditam que não será possível encerrar o conflito sem alguma disposição de Kiev de chegar a um acordo político. Na própria Ucrânia, essa vontade é quase imperceptível, segundo avalia o jornalista Roman Goncharenko, da redação ucraniana da DW. "Nas primeiras semanas depois da invasão, Kiev estava disposta a fazer concessões, como neutralidade em vez de se tornar país-membro da Otan. Mas a brutalidade do Exército russo e a anexação de mais regiões praticamente impossibilitaram a busca de um compromisso. Uma pesquisa encomendada pela Conferência de Segurança de Munique mostrou que 93% dos ucranianos veem uma retirada completa da Rússia – também da Crimeia – como condição para um cessar-fogo", explica Goncharenko. Um cenário irrealista na avaliação do cientista político Johannes Varwick, da Universidade alemã de Halle: "Muito provavelmente, no final, haverá uma Ucrânia neutra que não ficará na zona de influência do Ocidente ou da Rússia de forma nítida", especula. Varwick vê urgência numa iniciativa de negociação do Ocidente. "Se, ao final de uma guerra longa ou que foi intensificada, tivermos o mesmo resultado que já seria possível hoje, não faz sentido continuar lutando com dezenas de milhares de mortos e pessoas traumatizadas", pontua. Há sinais reais de pacificação? Na última semana, a embaixada russa em Berlim divulgou o seguinte tuíte: "Todas as ações de combate terminam em negociações, estamos dispostos a elas. Mas apenas a negociações sem condições prévias e com base na realidade válida e considerando os objetivos que comunicamos publicamente." Uma declaração que não pode ser interpretada como disposição a um acordo. A "realidade válida" inclui a ocupação russa de um quinto da Ucrânia, enquanto um dos objetivos era até mesmo a aniquilação completa do Estado ucraniano. Durante a Conferência de Segurança de Munique deste ano, a China anunciou um plano de paz. Os governos do Ocidente, no entanto, veem o anúncio com ceticismo devido ao fato de a China nunca ter condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia. O Secretário de Estado americano, Antony Blinken, também teme que a China possa enviar armas à Rússia – o que Pequim contesta. Vitória militar ou paz com compromissos? O economista americano Jeffrey Sachs escreveu na edição de janeiro da revista britânica The Economist que, para uma solução de paz "credível", é decisivo que "os interesses de segurança mais importantes dos dois lados sejam respeitados". "A soberania e a segurança da Ucrânia precisam ser garantidas, enquanto a Otan precisaria prometer não se expandir para o leste." Sachs espera impulsos de pacificação vindos sobretudo dos países que recusaram uma condenação da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas – além da China, Índia, Brasil e África do Sul, que são parceiros da Rússia no Brics. "Esses países não odeiam nem a Rússia, nem a Ucrânia", afirma o economista. "Eles não querem nem que a Rússia conquiste a Ucrânia, nem que a Otan se expanda para o leste." Kiesewetter, da CDU, alerta contra concessões a Moscou: "É um equívoco pensar que basta dar um pouco de terra para a Rússia para que o país mate sua sede de destruição. E uma eventual conquista de território pela Rússia serviria de modelo para outros países autocráticos definirem novas fronteiras militares, recorrendo a chantagem ou ameaça nuclear." O especialista acredita que principalmente a China já encara a Europa como uma "área de teste", tendo em vista a soberania de Taiwan.


Short teaser Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para a guerra.
Author Christoph Hasselbach
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-e-quando-poderia-haver-paz-na-ucrânia/a-64800152?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar
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Item 52
Id 64793993
Date 2023-02-24
Title A guerra na Ucrânia em números
Short title A guerra na Ucrânia em números
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Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia

Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em apoio militar e várias sanções. Dez gráficos ilustram as consequências de um ano de guerra de agressão russa.A Rússia está em guerra com a Ucrânia há um ano. Apesar da recaptura bem-sucedida de várias áreas pelo Exército ucraniano, grandes partes do país permanecem sob controle russo. Recentemente, em 19 de janeiro de 2023, as forças ucranianas se retiraram de Soledar, na região do Donbass, e desde então a cidade voltou às mãos dos russos. Milhões de pessoas em fuga De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, a guerra desencadeou a segunda maior crise de deslocamento do mundo. Na Europa, 6,3 milhões de refugiados ucranianos encontraram abrigo até agora. Outros 6,6 milhões de pessoas estão em fuga dentro do próprio país. De acordo com as Nações Unidas, muitas pessoas são deportadas para a Rússia ou instadas a emigrar para lá, especialmente das áreas do leste da Ucrânia. Isso explica o alto número de refugiados na Rússia, país que usam para tentar chegar à União Europeia. Pobreza e recessão De acordo com o Acnur, a situação humanitária na Ucrânia "deteriorou-se rapidamente". Cerca de 40% da população depende agora de ajuda para sobreviver. A situação econômica também é catastrófica. De acordo com o Banco Mundial e o Ministério da Agricultura da Ucrânia, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 35% em 2022. Sessenta por cento da população vive agora na linha da pobreza. A destruição da infraestrutura doméstica pela guerra é estimada em mais de 130 bilhões de euros. Resiliência na Rússia Em contraste com a Ucrânia, a situação na Rússia é menos crítica do que o estimado. Entretanto, os especialistas esperam uma deterioração este ano devido às sanções adicionais da União Europeia (UE) contra a Rússia adotadas em fevereiro deste ano. As projeções para o desenvolvimento econômico da Rússia variam muito: enquanto a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) espera que a economia russa retroceda em 5,6% este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um pequeno crescimento, de 0,3%. As receitas da Rússia provenientes das exportações de energia inicialmente cresceram acentuadamente após a explosão dos preços em março de 2022, mas depois caíram de forma constante. Entretanto, se estabilizaram no nível de dezembro de 2021, anterior à guerra. Em vista da queda dos preços do gás e do petróleo, bem como da diminuição da demanda, especialmente na UE, mas também em vista da estagnação na China, espera-se no ano em curso uma nova queda na receita da Rússia proveniente das exportações de energia. Bilhões para a defesa ucraniana Bilhões de dólares em ajuda militar, humanitária e financeira têm fluído para a Ucrânia desde que a guerra começou. Com mais de 70 bilhões de euros em ajuda, os Estados Unidos encabeçam a lista de países doadores. A UE e seus membros já mobilizaram mais de 50 bilhões de euros. A Alemanha é um dos maiores fornecedores de armas para a Ucrânia. Para 2023, estão previstos 2,2 bilhões de euros em ajuda militar. Em vista da esmagadora superioridade militar da Rússia sobre a Ucrânia, a Otan também expandiu sua presença militar em seu flanco oriental. As chamadas forças de combate multinacionais foram destacadas para os Estados bálticos e a vigilância aérea na região foi reforçada. Queda do preço do trigo Pelo menos uma das catástrofes previstas não se concretizou: uma crise alimentar global devido à escassez de trigo foi evitada. De acordo com os ministérios da Agricultura da Ucrânia e dos Estados Unidos, a produção global de trigo aumentará de 778 milhões de toneladas na safra de 2021/2022 para 783 milhões de toneladas na de 2022/2023. O preço do trigo, que após a invasão russa da Ucrânia atingiu um pico de mais de 430 euros por tonelada no mercado mundial em maio de 2022, voltou a cair para pouco menos de 300 euros a tonelada. O valor aproxima-se assim do preço de antes da guerra, quando o grão era comercializado por 275 euros a tonelada. As perdas de produção na Ucrânia − ainda um dos principais produtores mundiais de trigo − estão sendo compensadas por outros países. A Austrália e a Rússia, em particular, aumentaram sua produção. Segundo a agência de notícias russa Tass, o aumento se deve "à incorporação de quatro territórios ucranianos". Com 102 milhões de toneladas, o Ministério da Agricultura russo também espera uma safra muito maior do que a estimada pelo Departamento de Agricultura americano.


Short teaser Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em ajuda militar: dez gráficos mostram consequências do conflito.
Author Astrid Prange
Item URL https://www.dw.com/pt-br/a-guerra-na-ucrânia-em-números/a-64793993?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia
Image source Nina Lyashonok/Avalon/Photoshot/picture alliance
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