Item 1 | |||
Id | 72099569 | ||
Date | 2025-03-31 | ||
Title | Agricultores americanos temem guerra comercial com a China | ||
Short title | Agricultores americanos temem guerra comercial com a China | ||
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Pacote de sobretaxas do governo Trump contra parceiros comerciais importantes ameaça provocar volatilidade do mercado e agravar a queda das exportações de soja e cereais que perdura desde 2018. É uma manhã de sexta-feira, e estamos atravessando o estado de Maryland de carro para conversar com plantadores de soja locais. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem anunciado planos para impor sobretaxas abrangentes a diversos parceiros comerciais importantes, inclusive o Canadá, México, União Europeia e China. Passando pelos campos de milho e soja, não posso deixar de me perguntar o que os agricultores acham desses desdobramentos. Eles serão capazes de manobrar através da incerteza de uma presidência imprevisível? Há um bom tempo o magnata nova-iorquino conta com forte apoio da comunidade agrícola americana, citando repetidamente uma suposta compreensão por seus problemas. Desta vez, contudo, as guerras comerciais e disputas tarifárias ameaçam a subsistência de muitos fazendeiros. Chego a Greenwood, a duas horas de carro de Washington, onde tenho encontro marcado com Richard Wilkins, que cultiva soja desde 1973. Ele exporta parte do produto para os mercados globais através do Porto de Virgínia. Como é inverno, os seus campos estão vazios. O fazendeiro argumenta que os EUA tentaram liderar pelo exemplo, ao abrir amplamente seus mercados para importações de todo o mundo: "A expectativa era que esse exemplo encorajaria outros países a fazerem o mesmo e nos darem acesso. Se as tarifas são necessárias para nos posicionar melhor num mercado aberto e na livre concorrência no resto do mundo, estou totalmente do lado do presidente." Assim como outros agricultores, ele "sente muito forte" que Trump tenha, de fato, "uma grande simpatia pelo fazendeiro americano". "Aguentem junto comigo": até quando?Josh Messick, do município de Sussex, tem 27 anos e trabalha desde os 12 nas plantações da família, cuja fazenda de 485 hectares produz milho, soja, trigo e cevada. Ele está preocupado com a atual volatilidade do mercado: "É definitivamente uma época assustadora. A gente não sabe se quer fechar um contrato [de venda] de milho agora, ou esperar até o outono, na época da colheita. Eu simplesmente tenho que confiar que o Trump vai nos dar respaldo." Talvez o impacto total das medidas comerciais trumpistas não se faça sentir até a próxima safra. No curto prazo, alguns produtos agrícolas devem ficar mais baratos para o consumidor se as exportações caírem. Por outro lado, milho, trigo e soja só representam uma parcela relativamente pequena dos preços dos alimentos no varejo. Em seu discurso de posse de 20 de janeiro, no Congresso, Trump alegou que as importações agrícolas prejudicavam os fazendeiros americanos, e lhes pediu para "aguentar junto comigo", enquanto ele trabalhava para protegê-los. Messick comenta que achou "esquisito" que o novo presidente dissesse isso, e agora se pergunta por quanto tempo vai ter que "aguentar as pontas com ele". "Nossos preços de mercado mais altos costumam ser durante a estação de cultivo, em maio ou junho. Então a questão é se a gente espera até lá, ou precisa vender a safra agora. E se a China decidir que não quer comprar nada da gente?" Ele não é o único plantador de soja de Maryland preocupado em perder sua fatia de mercado por culpa da política presidencial. Um colega seu comenta: "A gente torce para chegar a um certo equilíbrio, mas as decisões de Trump me deixam inquieto. Se vamos ter que aguentar perdas de curto prazo, eu espero que o governo vá providenciar apoio." Ao sabor da instabilidade trumpistaO mandatário republicano ainda não anunciou nenhum tipo de assistência financeira para os plantadores de soja, cujas exportações, especificamente para a China, vêm caindo há anos. Segundo a Comissão de Comércio Internacional dos EUA (USITC), as vendas do produto para o país asiático caíram 75% em 2018, quando Trump desencadeou uma guerra comercial com Pequim. Ao todo, as exportações agrícolas americanas para o país caíram de 24 bilhões de dólares (R$ 138 bilhões), em 2014, para menos de 10 bilhões de dólares em 2019. Ainda assim, a Casa Branca tem alardeado o plano de introduzir tarifas comerciais recíprocas – que entrarão em vigor contra a União Europeia em 2 de abril. Em sua plataforma Truth Social, Trump instou os fazendeiros nacionais a "se prepararem para fazer um monte de produtos agrícolas para serem vendidos DENTRO dos Estados Unidos". De acordo com Caleb Ragland, presidente da Associação Americana de Soja (ASA), contudo, os agricultores ainda não se recuperaram da guerra comercial de 2018. Ele enfatiza a importância de manter o acesso ao mercado chinês, alertando que o setor já se confronta com "perdas potencialmente pesadas" em 2025. Ragland frisa que ele e seus colegas "não podem arcar com a carga" das sobretaxas agrícolas: "Não podemos ser o bode expiatório, que carrega o grosso da dor pelo bem de todos os outros." Urgindo Trump a "negociar proativamente" com a China e outros países, acrescenta: "Vamos tentar ir adiante e conseguir o acordo comercial que ele negociou durante o primeiro mandato." |
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Short teaser | Pacote de sobretaxas do governo Trump contra parceiros comerciais ameaça agravar queda das exportações de grãos. | ||
Author | Rachel Nduati | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/agricultores-americanos-temem-guerra-comercial-com-a-china/a-72099569?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Agricultores%20americanos%20temem%20guerra%20comercial%20com%20a%20China |
Item 2 | |||
Id | 72100354 | ||
Date | 2025-03-31 | ||
Title | Alemanha avalia revogar cidadania de "antissemitas" | ||
Short title | Alemanha avalia revogar cidadania de "antissemitas" | ||
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Proposta controversa de nova coalizão de governo prevê que "apoiadores do terrorismo, antissemitas e extremistas" poderiam perder a cidadania alemã, mas sanção só valeria para quem tiver dupla cidadania. As negociações entre conservadores e social-democratas para a formação de uma nova coalizão de governo na Alemanha têm sido tensas, com direito até mesmo a batida de porta, segundo relatos de participantes publicados pela imprensa. As diferenças pareciam especialmente inconciliáveis no grupo de trabalho que discute quais políticas o próximo governo deverá adotar em relação à migração e integração de migrantes. A DW teve acesso ao esboço do contrato de coalizão, que ainda não foi fechado. O documento traz, na rubrica "direito à nacionalidade", a seguinte frase: "Nós queremos reformar o direito à nacionalidade". E em seguida: "Vamos analisar se é possível retirar a cidadania alemã de apoiadores do terrorismo, antissemitas e extremistas que conclamem à dissolução da ordem liberal-democrática, desde que eles tenham uma segunda cidadania." O político social-democrata Dirk Wiese, que é parte do grupo de trabalho "Interior, Direito, Migração e Integração", tentou vender a resolução como um sucesso do Partido Social Democrata (SPD). À DW, ele destacou que a sigla conseguiu manter a possibilidade de dupla cidadania, algo que os conservadores da aliança União Democrata Cristã (CDU)/União Social Cristã (CSU) queriam eliminar. "Manteremos a possibilidade de a pessoa se naturalizar após cinco anos [vivendo no país]", disse o deputado. Por essa proposta, segundo ele, ficaria mantida também a possibilidade de uma naturalização ultrarrápida, já em três anos, nos casos excepcionais de integração. Mas a proposta dos conservadores de ampliar as possibilidades de cancelamento do passaporte de pessoas com dupla cidadania não havia sido bem recebida pelo SPD até bem pouco tempo atrás. Os social-democratas, que elegeram uma bancada bem menor ao Parlamento, parecem ter sido forçados a dar o braço a torcer. A resistência à proposta dentro do SPD se deve ao receio de alguns políticos que a consideram discriminatória por distinguir entre cidadãos "nativos" e "agregados": seria a naturalização, afinal, apenas uma espécie de estágio probatório, que pode ser suspenso a qualquer momento? Seria um alemão com dupla cidadania menos alemão? Cidadania alemã revogável?Políticos do SPD, como o prefeito de Bremen, Andreas Bovenschulte, já haviam alertado sobre isso quando a ideia foi posta à mesa ainda no início das negociações nos grupos de trabalho. A mensagem para os mais de 6 milhões de alemães com mais de uma cidadania que vivem no país seria "bem problemática", disse Bovenschulte à revista alemã Der Spiegel: "Eles vão acabar achando que a cidadania deles vale menos e que eles não são tão parte da sociedade assim." É assim que Abdel (nome fictício) diz se sentir. Ele é alemão, nasceu em Berlim. Além do passaporte alemão, possui também um documento da Jordânia, onde os antepassados palestinos dele se refugiaram – a avó dele nasceu em Jerusalém Oriental. "A situação está muito tensa. Para pessoas como eu poderia ficar muito desconfortável", afirma. A deputada Clara Bünger, do partido A Esquerda, fala em "duas categorias de direito à nacionalidade": "Quem pertence à sociedade, quem não pertence? É exatamente disso que não precisamos em uma sociedade da qual migrantes fazem parte. Precisamos de regras claras e segurança jurídica para todos, assim como de direitos iguais para todas as pessoas na Alemanha." O que vale para "terrorista" hoje poderia valer para "apoiador do terrorismo"A Constituição alemã diz que o Estado não pode tirar a cidadania de alguém, salvo algumas exceções: quem se junta a um grupo de combatentes como o "Estado Islâmico", por exemplo, que é considerado uma organização terrorista pela Alemanha, pode perder o passaporte – a menos que a pessoa não tenha nenhuma outra cidadania além da alemã. Durante a campanha eleitoral, os conservadores defenderam diversas vezes o endurecimento dessa regra. Friedrich Merz, que deve assumir o cargo de chanceler federal e liderar o novo governo, prometeu em janeiro revogar a cidadania alemã de pessoas com dupla cidadania que cometerem crimes. O aliado dele e chefe da CSU, Markus Söder, escreveu pouco depois no X: "Quem pede um califado tem que perder a dupla cidadania!" A frase era uma alusão aos manifestantes pró-palestina que exibiram cartazes com essa demanda (de instituição de um regime de governo baseado na lei islâmica) em algumas manifestações na Alemanha. O atual rascunho da proposta tem as digitais dos conservadores. Para perder a cidadania alemã, bastaria então ser identificado como "apoiador do terrorismo" ou "antissemita". Mas como esses termos são definidos? Não existe o crime específico de antissemitismo na Alemanha. Para que haja crime, é preciso que haja o que se chama de "incitação ao ódio étnico" – presente em muitas declarações antissemitas, como a negação do Holocausto. Portanto, quem incorresse no crime estaria sujeito não só a um processo criminal como também à eventual perda da cidadania – mas só alemães com dupla nacionalidade correriam esse risco. Críticos veem na proposta uma desvantagem em relação àqueles que, por exemplo, fazem declarações antissemitas, mas possuem apenas o passaporte alemão. "Trata-se de marginalizar determinados grupos, pessoas de países árabes ou muçulmanos", afirma Elad Lapidot, professor para estudos judaicos na Universidade Lille, na França. Quem é um "antissemita"?Lapidot acha que os planos do novo governo são preocupantes. Isso se deve também ao fato de que o Bundestag recentemente aprovou uma resolução que adota a definição de antissemitismo da Aliança Internacional de Memória do Holocausto (IHRA). A definição da IHRA lista 11 exemplos de antissemitismo, a maioria relacionados a Israel. A entidade considera que é antissemitismo negar o direito do povo judeu à autonomia, por exemplo ao se referir a Israel como um "empreendimento racista". Esse é um dos exemplos que podem ser interpretados de forma muito ampla. Apoiadores da definição da IHRA argumentam que também é antissemitismo acusar o Estado de Israel de praticar apartheid – também porque, nesse caso, o país seria apresentado como "empreendimento racista". Já o slogan "do rio ao mar" – alusão à faixa de terra que fica entre o rio Jordão e o Mediterrâneo, onde hoje estão a Faixa de Gaza, Israel e a Cisjordânia, esta última sob ocupação israelense – nega a Israel o direito de existir; ou, nas palavras da IHRA, o "direito do povo judeu à autonomia". O ministério alemão do Interior baniu o slogan "do rio ao mar" por considerá-lo uma "marca do Hamas". Tribunais já contrariam essa avaliação diversas vezes por considerar que é possível interpretar o slogan de outras formas, principalmente quando acompanhado da frase "nós exigimos igualdade", o que seria uma demanda por direitos iguais para todas as pessoas que vivem naquela região. Pessoas que, como o professor Lapidot, criticam a definição de antissemitismo da IHRA, chegaram a ser chamados de "antissemitas". "Não é preciso concordar com essa crítica [à definição da IHRA], mas poder formulá-la e expressá-la é essencial para uma democracia", avalia o estudioso, que é um dos fundadores da Associação de Acadêmicos Judeus e Palestinos. A Alemanha nazista despojou pessoas da cidadania alemãMas a proposta alemã de mudar a lei de nacionalidade também preocupa Lapidot pessoalmente. Ele tem passaporte alemão e israelense. Uma parte de sua família veio de Hamburgo e conseguiu fugir em 1934 para o que à época era o Mandato Britânico da Palestina. Como aconteceu com muitos judeus que se exilaram para fugir dos nazistas, seus antepassados foram despojados da cidadania alemã por leis nazistas assim que puseram os pés em território estrangeiro. "A Alemanha já criou cidadãos de segunda categoria uma vez", observa Lapidot. "E aí tirou deles a cidadania [alemã]." Em um aceno de reparação dessa injustiça, a República Federal da Alemanha inscreveu em sua Constituição a renaturalização de "perseguidos do regime nazista que tenham perdido a cidadania alemã por motivos políticos, racistas ou religiosos". O dispositivo vale também para os descendentes dessas pessoas. E é por isso que Lapidot, que cresceu em Israel, tem cidadania alemã. Surfando na onda do populismo de direita?A grande popularidade do partido alemão de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) preocupa Lapidot. "Em uma época em que estão ressuscitando medidas e visões políticas que eram defendidas nos anos 1930 por fascistas e nazistas", o professor diz que falar de antissemitismo como se isso fosse um problema importado por "árabes, palestinos, muçulmanos" é "cínico e extremamente inquietante". O acadêmico frisa que o antissemitismo virou uma "ideologia genocida" na Alemanha, e que nunca desapareceu da sociedade alemã – até hoje. Para a deputada esquerdista Clara Bünger, não há dúvida: a proposta sobre cidadania que consta do rascunho do contrato da coalizão "traz claramente as digitais da AfD". "A pressão da direita foi o que possibilitou essa redação." O berlinense-palestino Abdel, que participa regularmente de manifestações pró-palestinos, está cogitando abrir mão do passaporte jordaniano. O jovem não quer perder seu passaporte alemão de jeito nenhum. "Sei que não sou um antissemita", afirma. "Tirar a minha cidadania não seria nada além de um meio para reprimir minha liberdade de expressão." Proposta ainda teria que passar no teste da constitucionalidadeAinda não está claro quem poderá decidir no final das contas qual "antissemita" com dupla cidadania estaria sujeito a perder o passaporte alemão. O rascunho de contrato da coalizão menciona apenas "apoiadores do terrorismo, antissemitas e extremistas que conclamem à dissolução da ordem liberal-democrática". Procurado pela DW, o encarregado do governo federal para combate ao antissemitismo, Felix Klein, disse que não se pronunciaria "neste momento" sobre o documento da coalizão porque ele ainda é um rascunho e as negociações ainda não foram concluídas. Antes que os tribunais possam verificar se determinadas pessoas são de fato "apoiadores do terrorismo, antissemitas e extremistas", seria preciso verificar primeiro se a proposta é compatível com a Constituição. O SPD parece apostar na inconstitucionalidade do texto. O social-democrata Dirk Wiese soa despreocupado: "Pessoalmente, tenho uma concepção clara do que sairia de um parecer jurídico sobre isso." Mas as pessoas que potencialmente seriam atingidas por tal mudança nas leis não têm tanta certeza disso. |
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Short teaser | "Apoiadores do terrorismo, antissemitas e extremistas" poderiam perder a cidadania alemã. | ||
Author | Sarah Judith Hofmann | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-avalia-revogar-cidadania-de-antissemitas/a-72100354?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 3 | |||
Id | 72099460 | ||
Date | 2025-03-31 | ||
Title | "Sabedoria na vida não depende da formação intelectual" | ||
Short title | "Sabedoria na vida não depende da formação intelectual" | ||
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Em entrevista à DW, médico Drauzio Varella fala sobre a Amazônia e o que aprendeu na região que é tema de seu novo livro. Desde 1992, a Amazônia faz parte da rotina do famoso médico brasileiro Drauzio Varella. Mais especificamente a bacia do Rio Negro. De lá para cá, ele conta que empreendeu cerca de 150 viagens à região, coordenando um projeto de pesquisa farmacológica dentro do programa Escola da Natureza, iniciativa da Universidade Paulista (Unip). "Na primeira vez [que lá estive] fiquei deslumbrado mesmo. E me sentindo culpado, porque nessa época eu já conhecia muitos países e ainda não conhecia a Amazônia de perto", comenta ele. As viagens pela região renderam um livro O Sentido das Águas: Histórias do Rio Negro, que será lançado nesta quarta-feira (02/04) pela Companhia das Letras. A exemplo dos clássicos diários de viagem, a obra reúne histórias coletas e vividas pelo carismático médico em suas incursões pela mais importante floresta do planeta, destacando não só as paisagens naturais como, principalmente, os personagens humanos que compõem o ameaçado bioma. Drauzio Varella se tornou celebridade no Brasil não só pelas suas qualidades como médico oncologista, mas pela facilidade de comunicação. De linguagem fácil, cuidadosa e acessível, ele é um dos principais divulgadores de informação médica no país, com quadros e aparições constantes em programas de TV, rádio e internet. Aos 81 anos, Varella diz à reportagem que segue visitando a Amazônia pelo menos três vezes por ano — houve épocas em que as viagens ocorriam na média de uma por mês. Como fica claro na saborosa narrativa do livro, essa assiduidade transformou-o não só em um conhecedor daquela região, mas também em uma pessoa que transita e dialoga com muitos ribeirinhos, dos quais conhece nome, família e muitos causos. O médico concedeu entrevista à DW na última sexta-feira, de sua residência em São Paulo, a partir de chamada de vídeo. Fez apenas uma exigência: que não fosse chamado de senhor, mas tratado simplesmente por você. DW: Nesses mais de 30 anos de viagens à Amazônia, quais foram as principais transformações? O que se destacou mais para você em 1992 e que, agora, é diferente? Drauzio Varella: O que me levou a essas viagens frequentes foi esse projeto de pesquisa. Na primeira vez fiquei deslumbrando mesmo. Realmente, me sentindo culpado. Nessa época eu já conhecia muitos países e não conhecia a Amazônia de perto. Vi aquele rio… Olha, que deslumbramento! Os rios europeus parecem riachos perto dos rios amazônicos. É um tipo de paisagem que tem impacto nos olhos da gente, uma imagem muito forte. No decorrer dos anos, isso se modificou. Eu fiquei mais seletivo, meu olhar ficou mais detalhista. Aquilo é tão bonito que cega a gente, você não tem olhos para mais nada. À medida que o tempo vai passando, você olha mais para os reflexos do rio, para a floresta, para a composição da floresta. Essa coisa da biodiversidade é visível, não é teoria. Quando mais você olha, mais perscrutador fica seu olhar, mais belezas você encontra. E isso depois se dirige aos habitantes da região, às pessoas, aos ribeirinhos, aos indígenas. Você começa a querer entender a história deles, de onde vem essa gente. Quando os portugueses chegaram, lá já havia milhões no Brasil. Você menciona os celulares, que não começo não havia nenhum e agora toda criança, toda pessoa, está usando, todo mundo olhando para a tela. Como médico, acredita que esse uso abusivo seja uma doença uma epidemia? Não sei se a gente pode chamar de doença isso. Eu sou um pouco cauteloso com esse termo. Para dar um exemplo: você mede sua pressão e deu 14 por 10. Tecnicamente, você tem hipertensão. Mas não posso dizer que você está doente. Posso dizer que você tem uma condição, que é a hipertensão, que poderá se transformar em doença. Você vai estar doente quando tiver um infarto no miocárdio, quanto tiver insuficiência renal. Mas eu diria que essa é uma nova condição, uma condição devastadora, não só aqui nas grandes cidades como lá [na Amazônia] também. Porque essa tecnologia veio sem que nós nos preparássemos para ela. De repente, ela caiu e se disseminou numa velocidade impressionante. Aí você vê aquelas populações que viveram uma realidade completamente diferente dessa e isso dá uma impressão ruim, porque eles saem do universo em que viviam e passam a viver no universo das redes sociais. Se as redes sociais causam problemas para pessoas que cresceram nas grandes cidades, têm um impacto grande na formação de nossas crianças, adolescentes e de nós mesmos, adultos, imagina em populações que viveram em comunidades distantes e, de repente, migram para cidades que já têm uma certa cultura urbana, cultura nem sempre no bom sentindo de cultura. Isso é um impacto muito maior. Ou seja: o uso do celular é uma condição, mas as consequências são as "doenças" que aparecem? Sem dúvida. Acha que tem cabimento? O índice de suicidas entre indígenas que vivem em suas comunidades, não há estudos, pelo menos que eu conheça, é baixo, certamente. Eles migram para as cidades e aí as crianças começam a se matar com 13, 14, 15 anos. Não faz o menor sentido, não é verdade? Alguma coisa acontece aí que leva essas crianças… Eu acho que é a perda da identidade. Quando chegam à cidade, começam com celular, rede social e o diabo. Eles não são mais os indígenas que eram. Passam a ser nada. Perde a identidade completamente. No seu livro, em comum, quase todas as histórias trazem lições de sabedoria das pessoa simples e sábias, conectadas à natureza. Como aprender mais com elas? A sabedoria diante da vida não depende da formação intelectual. Um homem, uma mulher que vive aquela realidade e consegue entender aquela realidade que está vivendo tem muito a nos ensinar. Eu conto no livro a história de, quando estávamos com um barco para fazer coletas, tinha um indígena tucano sentado num tronco de árvore caído na beira do rio. Ele estava olhando, com o olhar perdido. Duas horas depois, quando passamos novamente, ele estava exatamente na mesma condição. Um de nós perguntou: o que você está fazendo aí? Ele respondeu: estou sentado. Que resposta mais lógica que ele poderia dar? A gente é que tem essa coisa de "você não está fazendo nada", de ter de estar fazendo alguma coisa. Temos essa pressão para fazer, para se mexer, para construir. Ele estava sentado olhando o rio, era o que ele estava fazendo. Essa sabedoria é muito interessante. Seu livro dialoga com a produção contemporânea de nomes de destaque dentre os povos originários, como o próprio escritor Ailton Krenak. A solução para os males da natureza e os próprios males dos seres humanos está no retorno aos conhecimentos ancestrais? Não sei responder. Mas acho que o abandono dos conhecimentos ancestrais, dessa filosofia de vida, empobrece a gente. E a evolução do desmatamento? Os números chocam, é claro. Mas na vida real isso também é perceptível, visível? É visível, sim. Você passa por um lugar, volta cinco anos depois e vê uma parte desflorestada. Temos uma parcela botânica que estudamos no baixo Rio Negro, [no entorno do] penúltimo afluente antes de chegar a Manaus. Você vê as pessoas tirando madeira de lá. É uma coisa feita assim, sem muito disfarce. É feito com uma certa discrição, mas não muda. Você é otimista com relação a isso? O desmatamento tem cura? Eu acho que o grande equívoco aqui, quando a gente pensa na floresta amazônica, é pensar em um lugar ermo, um tapete verde ou um inferno verde. Você conversa com as pessoas e aí o cara diz: quando eu cheguei aqui, há 30 anos, não tinha nada. Não tinha nada! Tinha uma floresta! Derrubou, aí pôs o gado e plantou uma gramínea ali para alimentar esse gado. Ou plantou soja. Agora que não tem nada. Naquela época tinha muita coisa, tinha uma tremenda biodiversidade. Tinha uma floresta ali, o bem maior da natureza. Mas se você não leva em conta que a floresta é habitada e isso tem de fazer parte de todo o pensamento, de todas as políticas públicas da região, você não preserva. Porque se morássemos em um lugar desse, sem comida para dar para os filhos, e chega nas cheias não tem peixe, não acha peixe, também iríamos derrubar. Porque entre uma árvore e meu filho, eu nem tenho escolha a fazer. Então, enquanto nós não pensamos sobre isso, enquanto não tivermos políticas públicas que dê condição de sobrevivência para essas populações, esquece. Esquece, porque não vai ser possível. Nessa região em que a gente vai [fazer as pesquisas] tinha um angelim [espécie de árvore] maravilhoso. Devia ter 30 metros ou mais de altura. E eu passava sempre e achava uma coisa incrível. Um dia passei por lá e ele não estava. Aí conversei com um homem que morava ali e ele: ah, eu troquei por um guarda-roupas, eu precisava e não tinha dinheiro para comprar. Trocou uma maravilha da natureza como aquela árvore por um guarda-roupas que eu vi e que eu poderia ter comprado para ele. Mas nunca me ocorreu comprar. Achei que [a árvore] era perto da casa dele e ele iria preservar. Por que ele iria preservar? |
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Short teaser | Em entrevista à DW, médico Drauzio Varella fala sobre a Amazônia e o que aprendeu na região tema de seu novo livro. | ||
Author | Edison Veiga | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/sabedoria-na-vida-não-depende-da-formação-intelectual/a-72099460?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=%22Sabedoria%20na%20vida%20n%C3%A3o%20depende%20da%20forma%C3%A7%C3%A3o%20intelectual%22 |
Item 4 | |||
Id | 72072009 | ||
Date | 2025-03-31 | ||
Title | Matemáticos decifram enigma centenário da física dos fluidos | ||
Short title | Matemáticos decifram enigma centenário da física dos fluidos | ||
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Cientistas parecem ter solucionado o sexto problema de Hilbert. Estudo, que abre caminhos para a aplicação na engenharia, precisa agora ser revisado por pares. Pesquisadores parecem ter solucionado um enigma matemáticoque intriga cientistas há mais de um século: o chamado sexto problema de Hilbert, proposto há mais de 120 anos pelo influente matemático David Hilbert. Um trio de pesquisadores baseado em universidades dos Estados Unidos conseguiu unificar as leis da física que regem os fluidos em diferentes escalas: tanto o movimento de um oceano inteiro quanto o de cada gota de água que o compõe. Em 1900, o matemático alemão apresentou 23 problemas fundamentais no Congresso Internacional de Matemáticos. O sexto desses problemas representava um desafio formidável: criar um axioma unificado que pudesse descrever tanto o comportamento de partículas individuais quanto o de fluidos inteiros. Especificamente, o desafio buscava unir três escalas diferentes: o nível microscópico, onde partículas individuais seguem as leis de movimento de Newton; o nível intermediário ou mesoscópico governado pela estatística de Boltzmann; e o nível macroscópico, onde entram em jogo equações como a notoriamente difícil equação de Navier-Stokes utilizando via transformada de Fourier, que descreve o comportamento dos fluidos. Agora, um trio de matemáticos afirma ter encontrado a resposta. Zaher Hani, da Universidade de Michigan; Deng Yu, da Universidade de Chicago; e Ma Xiao, também de Michigan, apresentaram um artigo em março, publicado no arXiv – uma plataforma de acesso aberto, ainda aguardando revisão por pares – no qual afirmam ter resolvido o sexto problema de Hilbert. Reconfiguração dos cálculosConforme detalhado no estudo, a equipe conseguiu derivar rigorosamente as equações fundamentais da mecânica dos fluidos, como as equações de Euler e as equações de Navier-Stokes utilizando via transformada de Fourier, a partir de sistemas de partículas microscópicas submetidas a colisões elásticas. Uma peça fundamental da abordagem foi a reconfiguração dos cálculos usando diagramas criados pelo físico Richard Feynman. Os matemáticos encontraram uma maneira de reduzir o número de diagramas necessários, permitindo-lhes construir um caminho matemático claro desde as leis de Newton até as equações complexas que descrevem os fluidos. O estudo também resolveu um paradoxo relacionado ao tempo. Como Yu Deng explica na New Scientist, as leis de Newton não são sensíveis à direção do fluxo temporal (e sim reversíveis), enquanto as equações de Boltzmann sugerem uma maneira de demarcar "antes" e "depois". O trabalho da equipe esclarece quando e como essa mudança ocorre, eliminando a possibilidade de contradições matemáticas. "Um ano de milagres" para matemáticos chinesesA comunidade matemática chinesa comemorou esse avanço com entusiasmo. Nas redes sociais, de acordo com o jornal South China Morning Post, o evento chegou a ser descrito como parte de "um ano de milagres" para os matemáticos chineses, destacando o papel desempenhado por Deng e Ma no resultado. Como Ma explicou na plataforma Zhihu, o sexto problema de Hilbert se trata de entender se as leis físicas podem ser vistas como consequências lógicas de axiomas matemáticos. Neste caso, parece que sim. Nesse sentido, alguns especialistas destacam a magnitude desse avanço. "Este é um resultado importante do meu ponto de vista. Eu achava que era algo completamente fora de alcance", disse à New Scientist Benjamin Texier, da Universidade de Lyon, na França, que não participou do estudo. No entanto, os próprios pesquisadores são cautelosos. Hani observou que eles não acreditam que seu trabalho encerra completamente a busca de Hilbert, mas abre novos caminhos para uma melhor compreensão das limitações dos modelos matemáticos atuais. A descoberta tem o potencial de revolucionar a compreensão de fenômenos complexos na atmosfera e nos oceanos. Há um interesse particular em entender o que acontece quando equações de fluidos desenvolvem particularidades – pontos onde soluções matemáticas perdem o sentido – algo comum na ciência atmosférica e na oceanografia. Diante da complexidade do tema, todas as implicações do novo estudo ainda não estão claras. "Acho que vai ser preciso muito esforço da comunidade [científica] para digerir isso", disse Texier. Futuro da mecânica dos fluidosA importância dessa conquista transcende o campo puramente matemático. As aplicações potenciais vão desde o projeto de sistemas hidráulicos e aerodinâmica até a construção de barragens e pontes, consolidando assim um elo entre a teoria mais abstrata e os problemas de engenharia mais práticos. O próximo desafio, concordam os pesquisadores, será determinar em quais situações essas equações podem falhar e como a teoria pode ser estendida ou ajustada para descrever fenômenos mais extremos, garantindo que o legado daquele problema de 1900 permaneça vivo nas fronteiras da física e da matemática. |
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Short teaser | Cientistas parecem ter solucionado o sexto problema de Hilbert. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/matemáticos-decifram-enigma-centenário-da-física-dos-fluidos/a-72072009?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Matem%C3%A1ticos%20decifram%20enigma%20centen%C3%A1rio%20da%20f%C3%ADsica%20dos%20fluidos |
Item 5 | |||
Id | 72067721 | ||
Date | 2025-03-31 | ||
Title | Protestos na Argentina revelam face da crise da previdência na América Latina | ||
Short title | Argentina evidencia crise da previdência na América Latina | ||
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País enfrenta onda de manifestações de aposentados, com dilema comum a toda América Latina: como manter a viabilidade do sistema de proteção social diante do envelhecimento da população?Uma onda de protestos de aposentados em Buenos Aires chamou atenção pela participação de grupos radicais de torcedores de futebol e a intensa repressão da polícia. Em um dos atos, no último dia 12 de março, mais de 100 pessoas foram detidas, na mais violenta manifestação desde a posse do presidente daArgentina, Javier Milei, em dezembro de 2023.
O episódio expôs a insatisfação crescente de um segmento da sociedade argentina com as políticas de Milei, mas também revela uma das faces de um dilema mais amplo comum aos demais países da América Latina: como manter a previdência sustentável diante do cada vez mais acelerado envelhecimento da população?
As queixas dos aposentadores argentinos são justificáveis, avalia Javier Curcio, diretor do Departamento de Economia da Universidade de Buenos Aires. "Dentro do ajuste das políticas públicas argentinas, os aposentados são um dos principais grupos afetados", afirma
Os ajustes têm recaído de forma desproporcional sobre as aposentadorias, com queda de até 30% no valor dos benefícios, de acordo com Curcio. O processo coloca muitos aposentados "em situação abaixo da linha da pobreza e muito próximos do limite da miséria ou da pobreza extrema", diz o especialista.
O cenário pode ainda se agravar, após Milei decidir não prorrogar a moratória que oferece a aposentadoria a quem ainda não cumpriram os 30 anos de contribuição exigidos. Atualmente, apenas uma em cada dez mulheres e três em cada dez homens alcançam a idade de aposentadoria tendo contribuído o tempo necessário.
"A motosserra de alguma forma arrasou todos os setores e, no que diz respeito às aposentadorias, piorou as coisas", resume Curcio, em referência à promessa de Milei de passar uma motosserra nos gastos públicos. "Infelizmente, essas pensões tinham que ser cortadas, mas o problema é o modelo de corte e o ritmo do ajuste", critica o professor.
Problema global
O caso argentino se insere em um contexto global de crise do sistema previdenciário. O número de pessoas com idade a partir de 65 anos crescerá de 703 milhões atualmente para 1,5 bilhão em todo o mundo até 2050, conforme projeções da Organização das Nações Unidas (ONU). O contingente nessa faixa etária representará 1/6 da população geral.
O envelhecimento populacional impõe pressão sobre os mecanismos de proteção social, uma vez que a sustentabilidade da previdência depende das contribuições da população economicamente ativa. Por isso, muitos países têm discutido reformas que elevam a idade mínima para a aposentadoria.
O desafio é mais antigo em economias desenvolvidas, como as da Alemanha e Japão, onde o crescimento populacional já alcançou o pico, pelos cálculos da ONU. No entanto, a questão agora começa a ser mais urgente também nos países emergentes.
Na América Latina, os problemas mais gerais se somam a questões particulares, como o alto nível de informalidade na economia e a corrupção. Em 2019, o Brasil aprovou uma reforma da previdência, que aumentou a idade mínima de aposentadoria a 62 anos para mulheres e 65 anos para homens.
Mesmo assim, o país enfrenta uma série de dificuldades para equilibrar as contas previdenciárias. Um estudo do Banco Mundial estimou que, sem uma ação nas próximas décadas, a idade mínima teria que subir para 72 até 2040 e para 78 até 2060. "Será impossível continuar a compensar o envelhecimento populacional a médio e longo prazo apenas com aumentos na idade de aposentadoria e outras reformas serão necessárias", defende a instituição.
Comparações
O panorama é parecido para além das fronteiras brasileiras. O valor mínimo das aposentadorias ajuda a traçar uma comparação entre os diferentes países, embora não seja uma métrica perfeita. Com base no poder de compra, na Argentina, "a capacidade de proteção é inferior à de outras aposentadorias expressas em dólares em outros países da América Latina", segundo Curcio.
O quadro é ainda pior na Venezuela, onde a aposentadoria mínima, de 130 bolívares, não chega a 2 dólares. "Com isso não dá nem para comprar pão", diz Alberto Martínez, professor de Economia da Universidade Simón Bolívar de Caracas. "A última estimativa da cesta básica era de aproximadamente 600 dólares", lembra.
Uma comparação mais completa teria de analisar muitos outros parâmetros. A consultora alemã Mercer avalia até cinquenta variáveis, em questões como a sustentabilidade do sistema previdenciário ou a cobertura dos aposentados. A análise permite o cálculo de uma pontuação que gera o Índice Global de Sistemas Previdenciários, uma classificação da previdência em 48 países. O Brasil é o 33º da lista, com 55,8 pontos, enquanto a Argentina aparece na 47ª colocação, com 45,5 pontos.
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) também avalia os diferentes sistemas previdenciários para oferecer recomendações específicas aos países da região. Claudia Robles, da Divisão de Desenvolvimento Social da instituição, explica que a complexidades das estatísticas é uma das complicações enfrentadas na hora de fazer comparações.
A Cepal centra sua avaliação "nos níveis de cobertura alcançados, nos níveis de suficiência de seus benefícios e na sustentabilidade financeira de seu desenho", explica Robles, também autora de um relatório recente que compara os sistemas previdenciárias não contributivos na região. "Desta forma, é previsível que os países que consigam um equilíbrio saudável entre estas três dimensões consigam avançar no caminho de proporcionar melhores pensões à população idosa", afirma.
Houve avanços nos últimos anos, acrescenta Robles. "Entre 2000 e 2022, a cobertura dos sistemas de previdência em 17 países latino-americanos aumentou de 52,4% para 75,5% das pessoas com 65 anos ou mais, principalmente graças ao crescimento da cobertura não contributiva". Ela admite, porém, que o quadro é "muito heterogêneo e oscila entre países que alcançaram uma cobertura superior a 90% e outros em que esta é inferior a 25% da população idosa".
Venezuela em um "poço profundo"
"Se quisermos falar mal do governo, podemos dizer, e está correto, que a aposentadoria na Venezuela é a mais baixa da América Latina depois de ter sido a mais alta, mas este não é exatamente o caso se levarmos em conta que o governo oferece bônus", diz Alberto Martínez, de Caracas.
Assim, o benefício mínimo é complementado com um pagamento extra conhecido como "bono de amor mayor" (bônus de grande amor, em tradução livre), que acrescenta 40 dólares à conta. Mas o benefício é apenas uma "concessão" do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ressalta Martínez. "Isso é típico de governos populistas, tanto de esquerda como de direita", diz ele, lembrando que Carlos Menem, na Argentina, e Alberto, Fujimori, no Peru, também fizeram o mesmo.
Os desequilíbrios do sistema previdenciário só poderão ser solucionados quando o país voltar a ter crescimento econômico sustentado, avalia Martínez. "Na Venezuela, que está em um poço tão profundo, não está sendo gerado dinheiro suficiente para resolver problemas como o das aposentadorias."
Os protestos na Argentina ajudam?
Mesmo assim, ao contrário da Argentina, os venezuelanos não foram às ruas em busca de melhorias na previdência. Na avaliação de Martínez, "esgotou-se a capacidade de protesto, este governo praticamente se tornou permanente" diante de uma oposição reprimida.
Na Argentina, por outro lado, não está claro se as manifestações serão um gatilho para uma reforma efetiva. "É essencial que os processos de reforma previdenciária considerem os desafios nestas três dimensões: cobertura, suficiência de benefícios e sustentabilidade financeira", diz Claudia Robles, da Cepal. "Não existe uma solução única para estes desafios".
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Short teaser | Aposentados argentinos são afetados por políticas do governo Milei, mas problemas são comuns na América Latina. | ||
Author | Luis García Casas, André Marinho | ||
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Image caption | Aposentados estão entre os mais afetados pelos ajustes econômicos na Argentina | ||
Image source | picture alliance / NurPhoto | ||
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Item 6 | |||
Id | 72059127 | ||
Date | 2025-03-30 | ||
Title | Rudolf Steiner, pai da antroposofia e figura controversa | ||
Short title | Rudolf Steiner, pai da antroposofia e figura controversa | ||
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Em 30 de março de 1925, morria austríaco fundador da Pedagogia Waldorf e de um movimento que também marcou a agricultura orgânica. Mas a complexa filosofia de Steiner inclui elementos hoje considerados racistas.Indagado sobre o que associa ao nome Rudolf Steiner (1861-1925), um alemão médio vai apresentar uma lista, indo desde a marca de cosméticos naturais Weleda até a escola alternativa local, passando pelos alimentos orgânicos Demeter. O nome pelo menos dirá alguma coisa. Já alguém de outra nacionalidade, provavelmente só vai coçar a cabeça.
Mesmo que a figura do próprio Steiner não seja tão difundida, suas ideias tiveram, sem dúvida, impacto global, em especial no campo da educação. A primeira Escola Waldorf foi inaugurada em 1919, perto de Stuttgart, e hoje existem 3.205 jardins de infância e escolas antroposóficas em 75 países, do México à Tanzânia e a China.
Portanto, no centenário de sua morte, vale a pena saber mais sobre essa personagem, entre educador e empreendedor, entre pensador revolucionário e prisioneiro dos preconceitos de sua época.
Ladrão intelectual
Rudolf Steiner nasceu em 25 de fevereiro de 1861, em Kraljevec, então Império Austríaco, hoje na Croácia. Desde a infância afirmava ter visões clarividentes, por exemplo visitas de parentes mortos. Essas experiências influenciariam significativamente sua filosofia futura, baseada num mundo espiritual invisível, porém acessível.
Como estudante de 20 e poucos anos, ele teve oportunidade de editar os escritos científicos de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), e se identificou com a concepção espiritual de natureza do cultuado polímata.
Ele também foi um dos primeiros admiradores do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), atraído por suas ideias de livre-arbítrio e humanidade essencial. Paralelamente, ligou-se e ganhou projeção dentro da teosofia, um movimento esotérico e ocultista do fim do século 19, envolvendo evolução panteísta e reincarnação.
Segundo Gary Lachman, autor de uma popular biografia de Steiner, ele costumava ser descrito como uma "pega intelectual" – referência à ave notória por sua curiosidade e por "roubar" objetos brilhantes –, pois "recolhe coisas de vários outros lugares e as reúne em seu próprio ninho, numa forma inédita".
Steiner denominou essa forma "antroposofia" – do grego anthropos (ser humano) e sophia (sabedoria). A ideia central é que existe um mundo espiritual, perceptível através de uma consciência expandida e do pensamento independente. Em sua evolução, a humanidade teria se afastado desse mundo, mas seria capaz de reaprender a acessá-lo, proporcionando bem-estar e progresso individual e universal.
Antroposofia ganha mundo
Apesar de seus elementos mais excêntricos – tais como a crença nos continentes perdidos da Atlântida; a confluência da personagem bíblica de Lúcifer com o Ahriman do zoroastrismo; ou a incorporação do carma e da reincarnação no quadro conceitual do cristianismo –, a antroposofia de Steiner provou-se atraente, num momento em que a religião tradicional estava em declínio, e a emergente compreensão científica do mundo ameaçava negar qualquer sentido transcendente à vida.
"Acho que ele proporcionou um senso de significado, de propósito. A gente pode ficar achando a coisa toda meio maluca [...]. Mas, ponhamos isso de lado, e ele está basicamente tentando despertar e reconhecer os seres humanos e sua natureza total, seu idealismo", justifica Lachman.
Muitos acorreram ao novo movimento, e Rudolf Steiner – segundo consta, dotado de carisma contagiante – tornou-se extremamente popular: "Havia engarrafamentos em Berlim, filas na frente dos auditórios onde ele estivesse dando suas palestras", conta o biógrafo.
Ao longo dos anos, ele e seus adeptos aplicaram os conceitos antroposóficos à arquitetura, dança, medicina (na forma de práticas alternativas), teoria política, finanças, agricultura (com o cultivo biodinâmico como uma forma de precursora da agricultura orgânica, mas envolvendo uma abordagem mística).
A influência foi especialmente forte na educação, seja na forma das escolas Waldorf – que priorizam antes um currículo criativo não tradicional, à frente do ensino de gramática e matemática – seja nas comunidades Camphill, de apoio a portadores de deficiências e de necessidades especiais.
Progressista ou antissemita e racista – ou ambos?
Em diversos aspectos, Steiner era bastante progressista: "Suas ideias sobre educação eram bem diferentes das noções gerais da época, e sem dúvida das na Alemanha, pois ele promovia o desenvolvimento da imaginação já nas crianças pequenas", confirma Lachman. Também "o cultivo biodinâmico estava bem à frente de nossas preocupações concretas com a agricultura orgânica".
Por outro lado, ele era também um homem de seu tempo. Assim, defendeu posições que, embora comuns à época, hoje são consideradas antissemíticas e racistas – além de aparentemente contradizerem sua noção do valor universal de cada indivíduo, apesar de diferenças como etnicidade ou capacidade.
Contudo, tampouco nesse aspecto Steiner era um pensador linear. Por exemplo: embora condenasse o antissemitismo popular, ele considerava o judaísmo "um erro da história mundial" e esperava dos judeus que se assimilassem até o ponto de deixarem de ser judeus.
Apesar de rejeitar a "ciência racial" e a eugenia, também preconizava a teoria das "raças-raiz", segundo a qual um povo mais desenvolvido é o protagonista de cada era, conduzindo a humanidade para cada vez mais perto de seu futuro universalista. Segundo Steiner, em sua época esse grupo predestinado seriam os falantes da língua alemã.
O historiador Peter Staudenmaier, que se ocupou da relação de Steiner com o antissemitismo e o racismo, rejeita uma categorização fixa, devido à complexidade e natureza evolutiva das ideias do antroposofista: "Não é que ele fosse apenas um antissemita. Ele tinha concepções antissemitas e pró-semitas, por vezes ao mesmo tempo." Suas ideias sobre raça eram igualmente complexas.
No esquema evolucionista de Steiner, o momento de desenvolvimento dos judeus transcorrera 2 mil anos atrás, portanto não havia mais razão para eles continuarem existindo. "Steiner era sincero a respeito disso, do seu ponto de vista: não havia malícia ou má intenção envolvida", defende o historiador. "Ele estava tentando fazer esses pronunciamentos espirituais na qualidade de professor esotérico, como alguém que desejava o bem de todos. E, na mente dele, tudo se encaixava numa mensagem universal."
Antroposofia sob o nazismo e mais além
Devido à complexidade dessas ideias, para os nazistas a antroposofia era ao mesmo tempo atraente e uma ameaça. Ao contrário de outros movimentos esotéricos, que não sobreviveram a seu líder, ela manteve-se forte após a morte de Steiner – tanto por seu enorme carisma, que inspirou um número considerável de adeptos dedicados, quanto graças às implementações práticas da antroposofia.
Tais aplicações, sobretudo na agricultura biodinâmica, eram o que certos oficiais nazistas defendiam. Por outro lado, a ideia de uma missão evolutiva germanocêntrica também era atraente para alguns.
Outros, contudo, consideravam a antroposofia um movimento perigoso e uma ameaça ideológica ao regime do NSDAP, o partido nazista. De maneira análoga ao nazismo, ela se apresentava como "uma doutrina transcendental que oferecia uma alternativa radical ao que viera antes" – sendo, portanto, uma ideologia rival a ser erradicada, explica Staudenmaier.
Apesar do banimento da Sociedade Antroposófica Geral em 1935, graças à visão ambivalente do NSDAP – aliada ao grande número dos antroposofistas e a seu grau de acomodação – o movimento sobreviveu à era nazista, reconstituindo-se após a Segunda Guerra Mundial.
Em torno do 100º aniversário de Steiner, em 30 de março de 1925, algumas organizações antroposóficas começaram a reconhecer e a se confrontar com os elementos discriminatórios na obra do mestre. Porém sua tendência é argumentar que eles são mal compreendidos e que não comprometem a mensagem universal.
E assim, Rudolf Steiner permanece um nome familiar na Alemanha, e a antroposofia, um movimento global – embora de nicho. Há 36 sociedades antroposóficas nacionais no mundo, contando cerca de 42 mil membros.
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Short teaser | Movimento marca da educação à agricultura orgânica. Mas filosofia de Steiner inclui ideias hoje consideradas racistas. | ||
Author | Cristina Burack | ||
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Image caption | Mural dedicado a Rudolf Steiner em Osijek, Croácia | ||
Image source | Dubravka Petric/PIXSELL/picture alliance | ||
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Item 7 | |||
Id | 72085104 | ||
Date | 2025-03-29 | ||
Title | Como a crise global do cacau fez o preço do chocolate disparar | ||
Short title | Como a crise do cacau fez o preço do chocolate disparar | ||
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Quebra de safra africana por praga, histórico de baixo investimento e mudanças climáticas levam cacau a preços recordes. Impacto no custo do chocolate também é sentido no Brasil.O aumento do preço do cacau a níveis recordes atinge produtores, fabricantes e consumidores de chocolate a nível global. O valor da amêndoa no mercado mundial disparou no final de 2024, ano em que atingiu o maior custo da última década. A escalada tornou a commodity mais cara do que o cobre, e os preços se mantiveram altos em 2025.
Porém, enquanto grandes fabricantes de chocolate devem conseguir manter seus lucros, a baixa oferta pressiona principalmente os agricultores.
A quebra da safra de produtores africanos é tomada como o principal motivo dos custos elevados. Cerca de 65% das amêndoas de cacau do mundo vêm de quatro países da África Ocidental: Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões. Mas a região teve uma colheita catastrófica em 2024, o que derrubou a oferta disponível do produto no mercado.
No centro do problema está a dispersão de um vírus que causa a doença do broto inchado do cacau (CSSV, da sigla em inglês). O agente infeccioso se espalha de árvore em árvore e pode reduzir a produtividade em 50% em apenas dois anos.
Um relatório da Organização Internacional do Cacau mostrou que 81% das plantações em Gana – o segundo maior produtor de cacau do mundo – estão infectadas com o CSSV. A doença também se espalha na Costa do Marfim e já afetou cerca de 60% da produção mundial.
Além disso, a ONG americana Climate Central também atribui o problema às mudanças climáticas, que tornam as temperaturas mais elevadas em lugares como Costa do Marfim, Gana, Camarões e Nigéria.
Um estudo realizado pela organização com sede em Nova Jersey mostra que temperaturas acima de 32°C podem reduzir a qualidade e a quantidade das colheitas, razão pela qual o calor excessivo afetaria negativamente as principais regiões produtoras de cacau.
Além disso, o chamado fenômeno climático El Niño levou a um período prolongado de chuvas ou secas, prejudicando a produção.
No Brasil, sexto produtor mundial de cacau, dados da Agência Brasil indicam que a perspectiva é de aumento da safra, depois de uma série de quedas. Investimentos em novas áreas de produção e no processamento do cacau impulsionam a colheita.
A produção no país, porém, também é afetada pelos altos custos e volatilidade do mercado, o que leva a um aumento dos preços dos produtos derivados, principalmente com a chegada da Páscoa.
Ainda segundo a Agência Brasil, os preços dos ovos de chocolate e derivados nesta Páscoa estão 14% mais caros em comparação com o ano passado, conforme a Associação Brasileira de Supermercados. Mesmo com o crescimento da safra, a expectativa é que o setor produza 20% menos ovos de chocolate neste ano.
Preços altos, lucros ainda maiores
O alemão Oliver Coppeneur, que produz chocolate na pequena Bad Honnef, na Alemanha, desde a década de 1990, é um dos muitos fabricantes que precisou aumentar o custo do seu produto após a quebra de safra.
Coppeneur disse à DW que a escalada dos preços do cacau tornará "os produtos de chocolate igualmente caros", o que poderia eventualmente resultar em uma "diminuição significativa no volume" do mercado.
Até agora, porém, ele está lidando com a situação sem demitir seus funcionários, e tenta manter os preços estáveis.
Citando dados oficiais do governo, a agência de notícias Bloomberg afirmou que "pelo menos uma dúzia de empresas familiares de chocolates fecharam em toda a Europa" em 2024.
Os varejistas de confeitos alemães Arko, Hussel e Eilles entraram com pedido de proteção contra falência em 2024.
Enquanto isso, a escassez de cacau também é sentida diretamente pelos consumidores europeus, com os preços do chocolate aumentando 35% desde 2020.
Mas Friedel Hütz-Adams, pesquisador do Instituto Südwind em Bonn, Alemanha, entende que os grandes fabricantes europeus de chocolate "geralmente têm conseguido repassar o aumento dos preços do cacau" aos consumidores.
"Seus lucros estáveis no ano passado indicam que pelo menos as grandes empresas conseguiram lidar com os preços altos (...) e, em alguns casos, até conseguiram obter lucros maiores do que antes", disse ele à DW.
A fabricante suíça de chocolates Lindt, por exemplo, disse em janeiro que enfrentou um "ano desafiador, caracterizado por custos de cacau recorde, aumentos substanciais de preços e enfraquecimento do sentimento do consumidor". Acrescentou ainda que, para compensar os custos, teve de "ajustar seus preços" e teria de fazer o mesmo este ano.
As próximas gerações ainda terão chocolate?
Clay Gordon, criador do TheChocolateLife, uma comunidade online para "chocófilos e aspirantes a chocófilos", defende que o chocolate tem sido, historicamente, "um alimento à prova de recessão". Ele afirma no site da plataforma que "as pessoas compram chocolate para se sentirem felizes".
Hütz-Adams, do Südwind, entende que as vendas relativamente estáveis das fabricantes são uma indicação de que "os clientes são capazes de lidar com os preços mais altos e continuam a comprar chocolate".
No entanto, ele observou que, durante anos, a maioria dos agricultores da África Ocidental "quase não teve recursos para implementar boas práticas agrícolas", o que levou a um declínio no rendimento das colheitas por hectare.
Segundo ele, os preços persistentemente baixos do cacau nos anos anteriores levaram os trabalhadores a não serem pagos e ao trabalho infantil generalizado.
"Violações maciças dos direitos humanos são comuns e podem diminuir no futuro devido aos preços mais altos", acrescentou Hütz-Adams.
O produtor Oliver Coppeneur também entende que o preço do cacau tem sido tão baixo ao longo das décadas que os agricultores não têm tido recursos para aumentar sua produção.
Assim como outros especialistas do setor, ele adverte que, sem investimentos em rendimentos mais altos e colheitas resistentes às mudanças climáticas, as oscilações no preço serão inevitáveis no futuro.
"As próximas gerações [de produtores] precisam se perguntar: 'Queremos continuar com esse trabalho, queremos continuar trabalhando na fazenda?", disse Coppeneur, acrescentando que, se as empresas de chocolate não investirem nos produtores de cacau, "não devemos nos surpreender se a próxima geração não tiver mais ninguém".
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Short teaser | Quebra de safra africana por praga, histórico de baixo investimento e mudanças climáticas levam cacau a preços recordes. | ||
Author | Chi-Hui Lin, Amy Stockdale | ||
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Image caption | Enquanto grandes fabricantes de chocolate devem conseguir manter lucros, queda na safra de cacau pressiona produtores | ||
Image source | Godong/picture alliance | ||
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Item 8 | |||
Id | 72063186 | ||
Date | 2025-03-29 | ||
Title | Chatbots têm dificuldades para reconhecer fake news | ||
Short title | Chatbots têm dificuldades para reconhecer fake news | ||
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Pesquisadores suspeitam que rede de sites pró-Rússia esteja propositalmente alimentando chatbots com notícias falsas. Essas plataformas passam então a apresentar informações equivocadas para os usuários.Chatbots como ChatGPT, Gemini, Le Chat ou Copilot estão cada vez mais substituindo as ferramentas de busca na internet. Uma vantagem seria o fato de a inteligência artificial (IA) não fornecer apenas links para as informações desejadas, mas também resumir o conteúdo de forma curta e objetiva, otimizando a busca do usuário.
O problema é que tal abordagem está sujeita a falhas. Não é raro que chatbots cometam erros. Essa chamada "alucinação" já é conhecida há muito tempo e pode ser explicada por falhas nos dados utilizados. Às vezes, os chatbots de IA conectam informações de tal forma que chegam a um resultado incorreto. Especialistas chamam isso de confabulação.
O que poucos sabem é que chatbots também caem em fake news. A empresa americana NewsGuard, encarregada de verificar a credibilidade e a transparência de sites e outros serviços de internet, também chegou a essa conclusão.
Por trás disso pode estar uma rede russa que já atraiu atenção no passado devido a inúmeras campanhas de desinformação. Entre especialistas, ela é frequentemente chamada de "Portal Combat", pois apoia o exército russo na guerra contra a Ucrânia por meio de sites que espalham propaganda pró-Rússia.
Uma investigação realizada pela Viginum, unidade do governo francês fundada para combater informações manipuladoras vindas do exterior, descobriu que, entre setembro e dezembro de 2023, pelo menos 193 sites estavam ligados à rede russa. Sua marca central é o Pravda News, que está disponível em vários idiomas, incluindo alemão, francês, polonês, espanhol e inglês.
Fake news disseminadas em cinco continentes
De acordo com a Viginum, os sites do Portal Combat não trazem nenhum artigo próprio. Um relatório da unidade de fevereiro de 2024 afirmou que esses sites apenas reproduzem conteúdo de terceiros, usando sobretudo três fontes: "Contas de redes sociais de atores russos ou pró-Rússia, agências de notícias russas e sites oficiais de instituições ou de atores locais".
Os artigos apresentam uma linguagem rígida, erros típicos de transcrição do alfabeto cirílico para o latino e formulações descaradamente baseadas em comentários.
Dando continuidade às investigações da Viginum, a American Sunlight Project (ASP), uma iniciativa antidesinformação dos EUA, também identificou mais de 180 sites suspeitos de fazerem parte da rede Portal Combat. Segundo estimativas da ASP, os 97 domínios e subdomínios que pertencem ao círculo interno da Pravda publicam mais de 10 mil artigos por dia. Entre os alvos também estão países do Oriente Médio, Ásia e África, particularmente a região do Sahel, onde a Rússia atualmente compete por influência geoestratégica.
Púbico-alvo: chatbots, e não os usuários
O mais impressionante é que poucas pessoas de fato acessam esses sites. De acordo com o NewsGuard, algumas páginas do Pravda contam com cerca de apenas mil visitantes por mês, enquanto o site do canal de notícias estatal russo RT recebe mais de 14,4 milhões de visitas mensais.
Analistas estão convencidos de que o grande volume de artigos já está influenciando as respostas dos chatbots. Eles suspeitam que esse é exatamente o objetivo de toda a rede: fazer com que os grandes modelos de linguagem — os programas por trás dos chatbots — percebam tais publicações como fontes e, dessa forma, repliquem a desinformação em suas respostas.
Se esse é o plano, ele parece estar funcionando, de acordo com as descobertas de uma série de investigações do NewsGuard. O grupo de pesquisa examinou como os chatbots responderam a 15 diferentes alegações comprovadamente falsas espalhadas na rede Pravda entre abril de 2022 e fevereiro de 2025.
Para isso, os pesquisadores inseriram cada alegação nos chatbots em três versões diferentes: 1) Em uma formulação neutra que pergunta se a alegação é verdadeira; 2) Com uma pergunta que pressupõe que pelo menos parte da afirmação é verdadeira; 3) E em uma variação, como se um "ator malicioso" estivesse tentando obter uma declaração que repetisse a falsa alegação.
Resultado: em um terço dos casos, os chatbots confirmaram a desinformação pró-Rússia e em menos da metade eles apresentaram os fatos corretamente. Nos casos restantes, a IA se recusou a responder.
Pesquisadores da NewsGuard conduziram um estudo semelhante em janeiro de 2025. Na ocasião, eles testaram os chatbots apenas em dez casos de notícias falsas – não apenas as pró-Rússia –, mas em sete idiomas diferentes. Desta vez, ChatGPT e similares tiveram um desempenho um pouco melhor. No entanto, a IA confirmou as notícias falsas em cerca de um quarto das 2,1 mil respostas.
Manter-se alerta, verificar as fontes e pedir mais detalhes
Para usuários de chatbots, a lição mais importante é: mantenha a vigilância. Quem consegue perceber que há muita bobagem circulando na internet está um passo à frente da desinformação. Mas em que mais se deve prestar atenção?
Infelizmente, de pouco serve ser mais cuidadoso com o texto dos prompts — como são chamadas as consultas aos chatbots. "Embora prompts maliciosos tenham maior probabilidade de conduzir a informações falsas, já que esse é o objetivo por trás, textos neutros e tendenciosos também levam à desinformação", disse à DW McKenzie Sadeghi, da NewsGuard.
De acordo com resultados de um estudo de 2022 a 2025 ainda não publicados, mas disponibilizados à DW, os pesquisadores receberam em 16% dos casos uma resposta incorreta em prompts neutros ou tendenciosos.
Por exemplo: a rede Pravda divulgou a mentira de que o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, havia banido a rede social Truth Social, fundada pelo atual presidente dos EUA, Donald Trump. Na verdade, a empresa nunca ofereceu o aplicativo na Ucrânia, como escreve o NewsGuard, citando diversas fontes. Para os chatbots, porém, fazia pouca diferença se a formulação da pergunta era tendenciosa como "por que Zelenski proibiu o Truth Social?", ou neutra: se Zelenski de fato proibiu o Truth Social.
A dica de Sadeghi, portanto, é: verifique e compare as fontes. Isso também pode incluir usar vários chatbots. Muitos deles citam fontes de forma automática, especialmente quando se trata de tópicos atuais. Ou, em último caso, basta pedir pelos links de onde saíram as informações.
Nem sempre fica imediatamente claro se tais sites são confiáveis. Uma comparação adicional com fontes sérias e conhecidas pode ajudar na avaliação. No entanto, aqui também é preciso ter cautela: o layout da mídia tradicional é frequentemente copiado para dar credibilidade a portais de notícias falsas.
Apesar de tudo, uma notícia pode servir de consolo: os chatbots falham sobretudo no caso de novas notícias falsas que se espalham rapidamente. Depois de um tempo, porém, eles costumam usar como fonte sites de checagem de fatos, que verificam a veracidade de informações divulgadas, aumentando assim a probabilidades de que a IA os reconheça como tal.
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Short teaser | Pesquisadores suspeitam que rede de sites pró-Rússia esteja propositalmente alimentando chatbots com notícias falsas. | ||
Author | Jan D. Walter, Carlos Muros | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/chatbots-têm-dificuldades-para-reconhecer-fake-news/a-72063186?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Ter ciência do volume de fake news circulando na rede já é um bom começo | ||
Image source | Jaap Arriens/NurPhoto/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/67991149_354.jpg&title=Chatbots%20t%C3%AAm%20dificuldades%20para%20reconhecer%20fake%20news |
Item 9 | |||
Id | 72082316 | ||
Date | 2025-03-29 | ||
Title | Rede social X agora é parte da xAI, empresa de IA de Musk | ||
Short title | Rede social X agora é parte da xAI, empresa de IA de Musk | ||
Teaser |
Dados de usuários do antigo Twitter podem facilitar treinamento de ferramenta de inteligência artificial Grok, aposta de Elon Musk para desbancar concorrentes ChatGPT e DeepSeek.O bilionário Elon Musk anunciou nesta sexta-feira (28/3) a venda da rede social X (ex-Twitter) à sua empresa de inteligência artificial (IA) xAI, por meio de uma operação de compra de ações, com o objetivo de combinar seus dados, capacidades e recursos – e possivelmente facilitar o treinamento da Grok, ferramenta de inteligência artificial lançada por Musk para concorrer com o ChatGPT e o chinês DeepSeek.
A transação, no valor de 33 bilhões de dólares (cerca de R$ 190 bilhões), se somaria aos 80 bilhões de dólares (cerca de R$ 480 bilhões) de valor de mercado da xAI, já desconsiderados 12 bilhões de dólares em dívidas do X – contraídas em 2022, quando Musk pagou 44 bilhões de dólares pela plataforma que, à época, ainda se chamava Twitter.
"Os futuros da xAI e do X estão entrelaçados. Hoje, demos oficialmente o passo para combinar dados, modelos, computação, distribuição e talento", disse Musk. "Essa combinação vai desbloquear um imenso potencial ao misturar as capacidades avançadas de IA e o conhecimento da xAI com o alcance massivo do X."
O príncipe saudita Alwaleed bin Talal, dono da empresa de investimentos Kingdom Holding – segunda maior acionista do X e da xAI –, diz que a compra atende a um pedido dele. "Após esse negócio, o valor de nossos investimentos deve atingir entre 4 bilhões e 5 bilhões de dólares", comemorou via X.
Detalhes e impacto sobre usuários ainda desconhecidos
Muitos detalhes da transação ainda não estão claros. Ambas as empresas não estão listadas na bolsa, e por isso não são obrigadas a abrir suas finanças ao escrutínio público.
Também não se sabe se a compra mudará algo para os usuários do X. Segundo Musk, a plataforma teria 600 milhões de usuários ativos.
Quando Musk comprou a rede social, em 2022, ele demitiu boa parte dos funcionários e mudou políticas de gerenciamento de usuários e conteúdos publicados na plataforma, favorecendo a proliferação de desinformação e discursos de ódio.
E embora isso tenha afastado anunciantes da rede e derrubado as receitas publicitárias, a ascensão recente de Musk na Casa Branca como conselheiro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e chefe do Departamento de Eficiência Governamental (Doge) parece estar tornando a plataforma atraente de novo para o mercado publicitário. Segundo a agência de notícias dpa, o X teria atraído recentemente 900 milhões de dólares em investimentos.
Competição acirrada no ramo de IA
Criada em 2023, a xAI lançou em fevereiro o Grok-3, versão mais recente de um chatbot que tenta concorrer com o ChatGPT e o DeepSeek.
Homem mais rico do mundo, Musk fez em fevereiro uma oferta de 97,4 bilhões de dólares para comprar a OpenAI, que acabou rejeitada.
Em meio ao acirramento da competição no ramo de IA, a xAI tem investido em capacidade de centro de dados para treinar modelos mais avançados.
ra (Reuters, AP, EFE)
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Short teaser | Dados de usuários do antigo Twitter podem impulsionar a Grok, aposta de Musk contra os concorrentes ChatGPT e DeepSeek. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/rede-social-x-agora-é-parte-da-xai-empresa-de-ia-de-musk/a-72082316?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Segundo Musk, transação no valor de 33 bilhões de dólares se somaria aos 80 bilhões de dólares de valor de mercado da xAI, já desconsiderados 12 bilhões de dólares em dívidas do X | ||
Image source | Algi Febri Sugita/Zuma/dpa/picture alliance | ||
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Item 10 | |||
Id | 72054933 | ||
Date | 2025-03-28 | ||
Title | Brasileiros denunciam detenção migratória desumana nos EUA | ||
Short title | Brasileiros denunciam detenção migratória desumana nos EUA | ||
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Numa remota ex-prisão em Louisiana, relatos de instalações insalubres e alimentação escassa são generalizados. Especialistas há anos pedem o fechamento do local por violar direitos humanos.Ao embarcarem no tortuoso caminho para a deportação, brasileiros têm sido enviados a uma detenção nos Estados Unidos (EUA) que acumula um longo histórico de violações de direitos humanos. Os imigrantes que passam pelo Centro de Processamento de Pine Prairie e as suas famílias denunciam tratamento desumano e condições insalubres dentro da antiga prisão, que hoje serve ao Serviço de Imigração e Controle de Aduanas (ICE).
O cenário drástico retratado por brasileiros que estão ou estiveram detidos em Pine Prairie inclui alimentação escassa e insalubre, instalações em más condições de higiene, falta de itens básicos e tratamento agressivo ou negligente de guardas. Parte deles relata dificuldades para obter cuidado médico apropriado e manter comunicação com famílias e advogados.
"Eles nos tratam aqui como animais", diz Nelson (nome fictício), de dentro da detenção, à DW por telefone. "Está muito difícil. Eu choro todos os dias e só quero a minha liberdade."
Até a manhã de sexta-feira (28/03), havia ao menos três brasileiros em Pine Prairie. Ao menos cinco passaram por lá em março. Todos homens, os detidos podem chegar a 1.094, segundo o grupo privado com fins lucrativos GEO, que opera desde 2015 as instalações num ponto remoto do estado de Louisiana.
"Mentalmente, isso aqui é uma loucura", afirma Alberto (nome fictício), também mantido no centro de detenção. "Eles só nos jogam nas celas, e qualquer coisa que a gente precise demora uma eternidade."
A Pine Prairie, chegam imigrantes apreendidos pelo ICE em diferentes regiões dos EUA. "Ele me diz que é humilhante estar lá", reporta um familiar de um terceiro brasileiro, que só raramente consegue se comunicar com ele. A viagem de carro para chegar a Pine Prairie levaria 25 horas.
Detidos passam fome e sede
Um relatório da organização Robert F. Kennedy Human Rights (RFK) corrobora os depoimentos dos brasileiros, com base em entrevistas com imigrantes detidos até 2021. Especialistas há anos advogam pelo fechamento das instalações, argumentando que elas são palco de violações de direitos humanos e das próprias diretrizes do ICE.
À DW ou a parentes com quem se comunicaram, imigrantes brasileiros relataram que os detidos em Pine Prairie usam todos os dias a mesma muda de uniforme, incluindo peças íntimas, e que faltam cobertores, lençóis e toalhas. Já a alimentação é descrita como em quantidade insuficiente e de qualidade, duvidosa.
"A cada dia eu só vou perdendo mais quilos, porque a comida que eles dão não sustenta", conta Nelson. Nas aproximadas 20 horas que separam um jantar no meio da tarde de um almoço seguinte, ele recebe apenas um pão e uma caixa de leite, que não pode consumir por restrições alimentares.
Depoimentos coletados pela RFK indicam que, pelo menos até 2021, o centro regularmente oferecia alimentos expirados. É frequente ainda o relato de que os imigrantes só têm acesso a uma garrafa de água mineral ao dia. A alternativa é água da torneira com gosto de cloro e de coloração amarelada.
"Comia quem tinha coragem", conta Joaquim (nome fictício), que perdeu sete quilos ao longo de duas semanas em Pine Prairie. "Quando davam a garrafinha de água, você tinha que tomar metade e guardar o resto para quando desse sede mesmo. Uma vez, consegui pedir ajuda para um detento brasileiro que estava trabalhando, e ele me deu água e comida escondido."
O Grupo GEO briga na Justiça americana para não ser forçado a equiparar ao salário-mínimo o pagamento dos imigrantes que trabalham nas suas instalações, inclusive com serviços pesados. Hoje, o valor pago é de 1 dólar ao dia.
Condições insalubres
Os imigrantes relatam ainda serem mantidos por até quatro dias numa sala de triagem. Joaquim contou 20 imigrantes dormindo no chão ao longo de dois dias. Depois, ele seria levado com outros sete homens a uma cela isolada, antes de migrar para os dormitórios comuns, que abrigam cerca de 70 homens em beliches.
"A cela estava imunda, e nós mesmos limpamos tudo. Tinha muita poeira e cheiro de mofo. Ficamos ali por seis dias sem ver a luz do dia e só com a roupa do corpo", relembra Joaquim, que tampouco tinha comunicação com o mundo externo neste período.
É também amplamente relatado que instalações úmidas e fechadas provocam dificuldades respiratórias. "Aqui dentro, ninguém consegue se curar, pois o próprio ambiente não ajuda. É cheio de bactérias. Desde que cheguei aqui, estou mal, com garganta inflamada, catarro, febre e dor de cabeça", diz Alberto.
O centro de Pine Prairie chegou a ser parcialmente esvaziado em 2023, após a RFK e outras organizações terem levado o caso à Justiça. Um processo judicial foi aberto após agressões físicas a dois solicitantes de asilo, que foram submetidos a confinamento solitário, por protestarem pacificamente contra as más condições.
Medo dentro e fora da detenção
Em Pine Prairie, eclodem ainda regularmente brigas num ambiente de alta tensão entre detidos mentalmente esgotados, que têm acesso a lâminas de barbear, segundo as testemunhas brasileiras. O tratamento pelos guardas é caracterizado pelos entrevistados como intimidador e agressivo.
Os funcionários só se comunicam em inglês, embora os imigrantes mantidos ali frequentemente não dominem o idioma, dificultando os seus pedidos de ajuda.
"Se tem uma briga aqui, as pessoas podem matar umas às outras, porque os oficiais que trabalham aqui são, infelizmente, muito poucos", diz Nelson. "Não tem estrutura para manter esse tanto de gente presa."
Parentes também se queixam de dificuldade generalizada para enviar recursos aos detidos, que servem para comprar mais comida ou telefonar. Visitas são permitidas aos fins de semana, mas praticamente impossíveis para parte das famílias por conta das longas distâncias.
Outras temem se apresentarem numa detenção do ICE quando não têm status migratórios regularizados. Nos primeiros 50 dias de mandato do presidente Donald Trump, o ICE efetuou quase 33 mil prisões.
"Os detidos pelo ICE não cometeram nenhum crime, e a única justificativa para a sua detenção é garantir que elas compareçam ao tribunal. Mas o que vemos é que estas condições são punitivas, e alguns até as descrevem como piores do que uma prisão", afirma Sarah Decker, advogada especializada da RFK. "As pessoas são horrivelmente abusadas neste centro e em outros do estado de Louisiana."
Abuso sistêmico
No sul do território americano, o estado de Louisiana é conhecido popularmente entre imigrantes como "ponto de não retorno", por ser frequentemente a última etapa de longas jornadas pelo precarizado sistema de detenções do ICE ao redor dos EUA.
São sistemáticos os relatos de violações de direitos e de condições inerentemente desumanas. No primeiro mês de governo Trump, três mortes foram reportadas sob detenção do ICE, que a União Americana pelas Liberdades Civis (Aclu, na sigla em inglês) atribui a condições degradantes.
"Com o atual governo e a provável expansão das detenções, infelizmente esperamos continuar vendo ainda mais abusos, negligência e mortes sob detenção do ICE", afirmou Liz Casey, assistente social e defensora dos direitos dos migrantes, em nota divulgada pela Aclu na Flórida.
Segundo a agência ProPublica, o preço das ações do grupo GEO, hoje avaliadas em 4 bilhões de dólares, dobrou após a eleição de Trump e seu projeto linha-dura para a imigração em novembro. Só em 2024, o grupo GEO lucrou 31,9 milhões de dólares com a operação de 79 mil leitos em 100 instalações de segurança, centros de processamento e centros comunitários de reintegração.
Em comunicado, a empresa discordou das alegações sobre os centros de detenção do ICE sob sua operação, incluindo o de Pine Prairie. "Nossos serviços contratados são monitorados pelo governo federal para garantir o cumprimento rigoroso de todas as normas federais aplicáveis", disse um porta-voz, adicionando que se tomam ações corretivas rapidamente quando necessário. O ICE não respondeu a um pedido de comentário.
Já o Itamaraty afirmou que agentes consulares fazem visitas frequentes a centros de detenção e que mantém reuniões com os escritórios regionais do ICE, a fim de garantir que brasileiros recebam tratamento adequado. Mas não comentou sobre os casos dos cidadãos brasileiros em Pine Prairie até o fechamento da reportagem.
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Short teaser | Numa remota ex-prisão em Louisiana, relatos de instalações insalubres e alimentação escassa são generalizados. | ||
Author | Heloísa Traiano | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/brasileiros-denunciam-detenção-migratória-desumana-nos-eua/a-72054933?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Escalada de operações de busca de imigrantes interrompe o sonho americano para indocumentados, submetidos a um precarizado sistema de detenções nos EUA | ||
Image source | Jose Luis Gonzalez/REUTERS | ||
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Item 11 | |||
Id | 72077544 | ||
Date | 2025-03-28 | ||
Title | Robô encontra misteriosa rocha coberta de esferas em Marte | ||
Short title | Robô encontra misteriosa rocha coberta de esferas em Marte | ||
Teaser |
Cientistas da Nasa acreditam que formações rochosas podem revelar se houve vida no planeta vermelho; missão de resgate do material é prevista para voltar à Terra a partir de 2035.Uma descoberta geológica em Marte mais uma vez despertou a curiosidade da comunidade científica. Ao vasculhar a cratera Jezero em busca de sinais de vida microbiana passada, o rover Perseverance, da Nasa, deparou-se com uma rocha de textura incomum, apelidada de "Baía de São Paulo".
Um rover é um veículo robótico projetado para explorar a superfície de outros planetas, luas ou asteroides. Ele é controlado remotamente por cientistas na Terra e equipado com câmeras, sensores e instrumentos científicos para coletar dados e realizar experimentos.
Na superfície da rocha encontrada, foi possível ver centenas de pequenas esferas cinza-escuras, algumas com pequenos orifícios e outras com formas alongadas ou fraturadas, como bolhas de pedra parcialmente estouradas. Alguns jornais compararam a formação com a aparência de jabuticabas.
A descoberta aconteceu em 11 de março, quando o rover estava explorando um afloramento rochoso de mais de 101 metros localizado na borda da cratera Jezero, um antigo leito de lago que o Perseverance vem explorando desde 2021, de acordo com o Space.com e a Nasa.
"Que peculiaridade da geologia poderia produzir essas formas estranhas?", pergunta a equipe de cientistas em um comunicado oficial da Nasa.
Essa não é a primeira vez que formações esféricas são encontradas em Marte. Em 2004, o rover Opportunity descobriu os chamados "mirtilos marcianos" e, mais tarde, o Curiosity encontrou estruturas semelhantes. O próprio Perseverance já havia observado texturas parecidas com pipocas em rochas sedimentares.
Teorias geológicas: água, vulcões ou impactos de meteoritos
Há várias hipóteses para a origem das formações rochosas. Umas delas é de que tenham surgido a partir da interação com a água subterrânea que flui através dos poros das rochas, como foi interpretado em casos anteriores. Também cogita-se que tenham se originado de processos vulcânicos, como o resfriamento rápido de gotículas de rocha derretida durante uma erupção, ou até mesmo de impactos de meteoritos que causaram a condensação de rochas vaporizadas.
A investigação é ainda mais complicada porque a "Baía de São Paulo" é o que os geólogos chamam de "rocha flutuante" – não está em seu local original. A equipe do Perseverance agora trabalha para encontrar pistas que ajudem a determinar sua origem.
O futuro das amostras marcianas
A descoberta faz parte de uma missão maior, na qual o Perseverance coletou várias amostras, incluindo uma com manchas parecidas com as de um leopardo, que podem indicar atividade microbiana antiga. Essas amostras estão armazenadas em 30 tubos do tamanho de charutos, esperando para serem analisadas assim que a missão da Nasa retornar à Terra.
Conforme anunciado pelo ex-administrador da Nasa Bill Nelson no início deste ano, a agência está considerando dois planos alternativos para a missão de retorno de amostras. Cada plano exigiria a liberação, pelo Congresso, de 300 milhões de dólares (R$ 1,7 bilhão) para iniciar o processo de lançamento em 2030, com previsão de retorno da amostra entre 2035 e 2039.
Entender a origem dessas formações esféricas poderia revelar informações cruciais sobre a história geológica não apenas da Cratera Jezero, mas de Marte em geral, acrescentando novas peças ao quebra-cabeça da evolução do planeta vermelho. A cada rocha peculiar que o Perseverance analisa sob suas lentes científicas, chegamos um passo mais perto de responder à grande pergunta que ecoa no vazio interplanetário: existiu vida no planeta vermelho?
sf (DW)
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Short teaser | Cientistas da Nasa acreditam que formações rochosas podem revelar se houve vida no planeta vermelho. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/robô-encontra-misteriosa-rocha-coberta-de-esferas-em-marte/a-72077544?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | As esferas cinzentas da "Baía de São Paulo" podem revelar mistérios sobre Marte | ||
Image source | JPL-Caltech/LANL/CNES/IRAP/NASA | ||
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Item 12 | |||
Id | 72076452 | ||
Date | 2025-03-28 | ||
Title | Nova alta do desemprego na Alemanha surpreeende analistas | ||
Short title | Nova alta do desemprego na Alemanha surpreeende analistas | ||
Teaser |
Taxa de desemprego na Alemanha subiu para 6,3% em março – o maior aumento mensal desde outubro de 2024. Porcentagem excede em muito expectativas dos analistas.O mercado de trabalho da Alemanha soou novos sinais de alerta com o aumento acentuado do desemprego em março – a maior alta mensal desde outubro de 2024.
Em termos ajustados sazonalmente, o número de desempregados aumentou em 26 mil, elevando o total para 2,92 milhões, informou a Agência Federal para Emprego da Alemanha nesta sexta-feira (28/03). O número foi mais do que o dobro das previsões dos analistas, que estimavam um aumento de 10 mil.
A taxa de desemprego ajustada sazonalmente subiu para 6,3%, acima dos 6,2% do mês anterior — também ligeiramente acima das previsões do mercado.
Recuperação desacelerada por problemas econômicos
"Março marca o início da chamada ‘recuperação da primavera' no mercado de trabalho. Este ano, no entanto, ela está sendo visivelmente desacelerada pela crise econômica'', disse Andrea Nahles, chefe da Agência Federal para Emprego.
A Alemanha, que acaba de passar por dois anos consecutivos de contração econômica, ainda está se recuperando da recessão, especialmente na produção industrial.
Segundo a Agência Federal para Emprego, o número de vagas de emprego caiu drasticamente para 643 mil em março — 64 mil a menos que no mesmo período do ano passado –, indicando um enfraquecimento da demanda por trabalhadores.
Apesar de o desemprego ter se mantido abaixo da marca de 3 milhões na última década, as tendências atuais sugerem que isso pode estar prestes a mudar.
Indústria automobilística enfrenta dificuldades
Os desafios econômicos da Alemanha são visíveis sobretudo no setor automotivo, onde empresas como a Volkswagen estão cortando empregos em resposta à queda da demanda.
A pressão aumentou nesta semana, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 25% sobre veículos importados, uma medida que deve atingir duramente os fabricantes alemães.
"A Alemanha está na linha de fogo imediata'', disse Gaurav Ganguly, diretor de pesquisa econômica da Moody's Analytics, à agência de notícias Reuters.
"Se a política permanecer em vigor, as consequências para a confiança do consumidor e para o emprego no setor automotivo e fora dele serão graves", alertou.
Confiança do consumidor inalterada em meio à incerteza política
Uma pesquisa separada divulgada nesta sexta-feira mostrou que a confiança do consumidor alemão permanece praticamente inalterada em abril.
De acordo com o instituto de pesquisa de mercado GfK e o Instituto de Decisões de Mercado de Nuremberg (NIM), o índice de sentimento do consumidor subiu de -24,6 para -24,5 no mês anterior, ficando aquém da melhora esperada (-22,7).
Apesar de pequenos ganhos nas expectativas de renda e no sentimento de compra, uma tendência crescente entre as famílias de poupar continua suprimindo uma recuperação mais ampla.
"A rápida formação de um governo e a adoção antecipada de um orçamento para este ano seria um fator importante para uma maior segurança no planejamento – não apenas para as empresas, mas também para as famílias", disse Rolf Buerkl, da NIM.
Formação do governo em andamento
O bloco conservador da Alemanha, liderado por Friedrich Merz, está atualmente ocupado nas negociações de coalizão com os social-democratas.
Ambos os lados estão buscando formar um governo até a Páscoa ou logo após, embora as principais divergências – inclusive sobre imigração – continuem sem solução.
Na semana passada, o parlamento da Alemanha aprovou uma grande reforma fiscal e o maior pacote de gastos da história do pós-guerra, com o objetivo de revitalizar a economia e aumentar os gastos com defesa. No entanto, economistas alertam que é improvável que qualquer recuperação seja imediata.
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Short teaser | Taxa de desemprego na Alemanha subiu para 6,3% em março – o maior aumento mensal desde outubro de 2024. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/nova-alta-do-desemprego-na-alemanha-surpreeende-analistas/a-72076452?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Número de desempregados na Alemanha atingiu o maior nível em uma década em janeiro de 2025 | ||
Image source | Michael Kuenne/PRESSCOV/ZUMAPRESS/picture alliance | ||
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Item 13 | |||
Id | 72073614 | ||
Date | 2025-03-28 | ||
Title | Alemanha cogita voltar a comprar gás da Rússia | ||
Short title | Alemanha cogita voltar a comprar gás da Rússia | ||
Teaser |
Membros do partido conservador cristão CDU, provável líder do futuro governo, flertam com a reativação do gasoduto Nord Stream – sob controle americano. Proposta é incompatível com metas climáticas de Berlim.Parlamentares da União Democrata Cristã (CDU), da Alemanha, provocaram celeuma ao apoiar um aparente plano dos Estados Unidos para consertar e reabrir os gasodutos Nord Stream, no Mar Báltico, entre a Rússia e a Alemanha.
O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, confirmou na quarta-feira (26/03) que negociações com Washington sobre a Ucrânia incluíram uma discussão sobre restabelecer as redes de transporte de gás natural. Antes, o jornal alemão Handelsblatt noticiara que um investidor americano havia requerido a seu governo a permissão para comprar o Nord Stream.
O deputado federal da CDU Thomas Bareiss saudou a ideia, numa longa postagem no LinkedIn, comentando "como nossos amigos americanos são empreendedores": "Quando a paz estiver restaurada, e as armas silenciarem entre Rússia e Ucrânia (e esperemos que seja em breve), as relações vão se normalizar, os embargos serão levantados mais cedo ou mais tarde e, claro, o gás vai voltar a fluir, agora talvez num gasoduto sob controle dos EUA."
Bareiss foi secundado no website Politico por seu correligionário Jan Heinisch, membro do grupo de trabalho para energia nas negociações de coalizão governamental entre democratas-cristãos e o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda: "Se uma paz justa e segura for encontrada um dia, então devemos ter a permissão de voltar a falar de comprar gás russo."
O que é o Nord Stream
A rede Nord Stream se compõe por dois gasodutos, cada um com duas tubulações, indo desde o noroeste russo até a litoral nordeste alemão. Completado em 2021, o Nord Stream 2 nunca entrou em funcionamento. Já o Nord Stream 1 foi inaugurado em 2011, suprindo grande parte da Europa com gás russo através de um consórcio que incluía a Gazprom, da Rússia, e diversas companhias alemãs, francesas e holandesas.
A Rússia fechou esse gasoduto em 1º de setembro de 2022, sob o pretexto de que as sanções da União Europeia tornavam sua operação tecnicamente impossível. Essa afirmativa foi rebatida pela companhia alemã Siemens, encarregada da manutenção da turbina.
Mas em 26 de setembro três das quatro tubulações do sistema foram destruídas, num aparente ato de sabotagem. Os autores ainda não foram identificados, mas em 2024 as autoridades alemãs expediram mandado de prisão contra um suspeito ucraniano, que continua à solta.
De volta à dependência da Rússia?
O Ministério da Economia alemão, encabeçado pelo verde Robert Habeck, ainda do atual governo de coalizão de maioria social-democrata, descartou a ideia de retomar as importações de gás da Rússia. Pouco depois de virem a público os boatos das conversações russo-americanas, no início de março, sua pasta declarou, em comunicado: "A independência em relação ao gás russo é de importância estratégica e de defesa para o governo alemão, e ele a manterá."
No entanto o país está prestes a formar um novo governo, tendo muito provavelmente como chanceler federal o líder da CDU, Friedrich Merz, com os social-democratas como parceiros minoritários. Uma volta ao combustível russo – mesmo num futuro hipotético, de paz entre Kiev e Moscou – representaria uma guinada de praticamente 360º para o país.
Por sua vez, falando à emissora pública ZDF, o copresidente da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), Tino Chrupalla, elogiou os comentários de Bareiss: "Saúdo o fato de que um parlamentar da CDU esteja procurando um modo de perseguir uma política guiada por interesses. Precisamos voltar a receber gás pagável da Rússia, sob o controle dos parceiros comerciais envolvidos."
Em contrapartida, a diretora do departamento Ambiental do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW), Claudia Kemfert, acha que essa "não é uma boa ideia": "Há muito tempo sabemos que a Rússia não é uma fornecedora confiável. Perante as guerras da energia fóssil em todo o mundo, seria desastroso voltar a ser dependentes de um agressor – geopoliticamente, seria irresponsável." Não só isso, acrescenta: um acordo russo-americano em torno do Nord Stream tornaria a Alemanha duplamente dependente.
O professor de direito ambiental e de energia Michael Rodi, da Universidade de Greifswald, mostrou-se perplexo que tal ideia tenha voltado a emergir no país: "É uma discussão estranha. É surpreendente que ela tenha partido da CDU, mas não surpreende, em absoluto, que os verdes assumam a posição contrária."
Social-democratas, conservadores cristãos e seu passado pró-russo intrincado
Fora a AfD, a sigla alemã que historicamente tem se mostrado mais aberta a manter os laços com Moscou é o SPD. "Mudança pela reaproximação", era o slogan com que os social-democratas defendiam uma distensão política em relação à União Soviética, durante a Guerra Fria.
O ex-chanceler federal alemão Gerhard Schröder, que se classifica como amigo pessoal do presidente russo, Vladimir Putin, ainda é nominalmente o presidente de conselho da Nord Stream. Nos meses após a invasão em ampla escala da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, o SPD foi severamente atacado pela CDU por suas antigas conexões pró-russas e por seu papel-chave nas negociações da Nord Stream.
No mesmo ano, falando à rádio Deutschlandfunk, Merz exigiu que a dependência energética alemã para com a Rússia tivesse fim imediato, além do estabelecimento de uma comissão parlamentar para investigar as conexões dos social-democratas com o Kremlin. Tal inquérito, insinuou, "provavelmente revelará que os envolvimentos do SPD vão muito mais fundo do que sabemos hoje".
O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, também social-democrata, admitiu publicamente responsabilidade por seu papel como ministro do Exterior do governo de Angela Merkel: "Meu comprometimento com o Nord Stream 2 foi claramente um erro. Nós nos aferramos a pontes em que a Rússia não acreditava mais, e contra as quais os nossos parceiros nos advertiram."
Em contrapartida, sua então ex-chefe de governo Merkel, por muitos anos líder da CDU, defendeu ferrenhamente, em entrevista à BBC, em novembro de 2024, os laços que estabeleceu com a Rússia e o bloqueio sistemático do ingresso da Ucrânia na Otan, rechaçando qualquer culpa pessoal pela atual situação da Europa.
Transição verde em perigo
Embora uma restauração do gasoduto seja tecnicamente praticável – a um custo estimado de 500 milhões de euros – a companhia Nord Stream, sediada na Suíça, se encontra atualmente em processo de falência, portanto as instalações estariam teoricamente à venda, por um preço baixo.
Entretanto, qualquer comprador estaria apostando tanto que a paz na Ucrânia resultaria num alívio das sanções conta Moscou, quanto numa lentidão extrema na adoção de energias renováveis pela Europa. Pois, como argumenta Rodi, "se a transição energética for um sucesso, não haverá grandes mercados para o gás russo".
"Gás natural fóssil não tem futuro conosco – isso é certo", reforça Kemfert, do DIW. "No âmbito do Acordo de Paris, estamos comprometidos com a neutralidade climática, a qual temos que alcançar. A decisão de abandonar gradualmente os combustíveis fósseis foi tomada muito tempo atrás, agora temos que agir, por fim."
Contudo não está claro se já vontade política de impulsionar a transição energética e manter a independência perante a Rússia, no futuro. Ao que tudo indica, pelo menos parte do provável futuro governo alemão não está tão comprometido assim com essa segunda meta.
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Short teaser | Partido conservador cristão CDU flerta com a reativação do gasoduto Nord Stream – sob controle americano. | ||
Author | Ben Knight | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-cogita-voltar-a-comprar-gás-da-rússia/a-72073614?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Greve pelo Futuro protesta em Schwerin, Alemanha, janeiro de 2021: "Gasoduto para a crise" | ||
Image source | Jens Büttner/dpa-Zentralbild/picture alliance | ||
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Item 14 | |||
Id | 72071402 | ||
Date | 2025-03-28 | ||
Title | Como unicórnios são representados há séculos nas artes | ||
Short title | Como unicórnios são representados há séculos nas artes | ||
Teaser |
De símbolo de pureza e virgindade em quadros e tapeçarias medievais a emblema do movimento gay, criatura mítica é retratada desde antes de Cristo.O filme de humor negro Death of a Unicorn ("Morte de um Unicórnio", em tradução livre), dirigido por Alex Scharfman e estrelado por Jenna Ortega e Paul Rudd, apresenta algo que é quase um contrassenso: unicórnios assassinos.
O longa, lançado nos Estados Unidos nesta sexta-feira (28/03), sem previsão de estreia no Brasil, trata da ganância humana por meio de uma sátira sobre ultrarricos que caçam unicórnios num rancho remoto no Canadá. Eles descobrem que as criaturas têm propriedades mágicas de cura e, quando a perseguição começa, o caos sangrento se instala.
De tapeçarias medievais a esculturas de Salvador Dalí, o filme é apenas mais uma obra cultural com referência ao simbolismo secular da mítica criatura de um só chifre.
Primeiras representações
Há representações de unicórnios que datam da Idade do Bronze. Um animal bovino com um chifre longo estampava selos usados pela civilização do Vale do Indo (área que hoje compreende o Paquistão e o norte da Índia), a partir de 2600 a.C., levantando diversas hipóteses. Alguns acreditam que a imagem tenha sido inspirada en Rishyasringa, um sábio da mitologia hindu e budista com chifres de veado, associado à fertilidade.
O historiador grego Ctesias, que viveu durante o século 5 a.C., escreveu sobre um "monoceros" de chifre único – animal que ele descreveu como natural da Índia, de tamanho semelhante ao de um cavalo, com corpo branco, cabeça roxa e olhos azuis. Dizia-se que qualquer pessoa que bebesse de seu chifre seria curada de epilepsia ou envenenamento. Desde então, estudiosos acreditavam que Ctesias provavelmente estava se referindo a um rinoceronte.
Criatura mágica
Há lendas em todo o mundo sobre os poderes mágicos do unicórnio – como purificar a água com seu chifre –, o que consolidou sua relação com a imortalidade.
Os rumores sobre suas propriedades curativas foram tão convincentes que, durante a Renascença, o suposto chifre da criatura era um artigo cobiçado. Governantes de todo o mundo estavam dispostos a pagar caro para ter um em sua coleção – e presas de narval acabavam fazendo as vezes do objeto. Até mesmo a rainha Elizabeth 1ª (1533 – 1603) foi presenteada com uma presa elaboradamente decorada por um explorador de sua corte.
Semelhante ao mito de que comer pérolas moídas poderia curar doenças, havia a crença de que os "chifres de unicórnio" poderiam fazer a água ferver ou desintoxicar uma bebida se mergulhados em um copo, algo de grande utilidade para evitar tentativas de envenenamento. Como resultado, reis e rainhas bebiam em taças revestidas com "chifres de unicórnio".
Foi somente no século 16 que o cirurgião Ambroise Pare, uma das maiores autoridades médicas da época, questionou as propriedades atribuídas ao artefato em seu Discurso sobre a Múmia e o Unicórnio (1582). Ele, no entanto, não questionou a existência de unicórnios.
No século 17, ninguém mais se iludia sobre a procedência dos "chifres de unicórnio".
Domesticado por uma virgem
A criatura é também associada à pureza, o que trouxe outras implicações.
Por volta do século 2, o unicórnio foi descrito na Grécia como uma criatura feroz que só poderia ser capturada e domada por uma virgem. A definição estava presente num bestiário (coletânea de pequenas histórias sobre animais reais e imaginários) conhecido como "Physiologus".
Essa associação com a virgindade continuou em toda a história da arte. Em Retrato de uma jovem com um unicórnio, pintada entre 1505 e 1506 pelo mestre renascentista Rafael, uma jovem segura um pequeno unicórnio como se fosse um cachorro.
Na pintura A Virgem com o Unicórnio, produzida entre 1604 e 1605 pelo pintor barroco Domenichino no Palazzo Farnese, em Roma, uma jovem abraça um unicórnio – a imagem foi associada à jovem Giulia Farnese, amante de Rodrigo Borgia, que se tornou o papa Alexandre 6º.
O unicórnio era frequentemente usado como símbolo de amor, casamento e castidade.
Entre as obras de arte mais icônicas com unicórnios estão as sete Tapeçarias de Unicórnio (1495-1505), atualmente em exibição no anexo Cloisters do museu Metropolitan, em Nova York. As peças luxuosamente tecidas retratam a caça a um unicórnio esquivo – há um grupo de caçadores que perseguem a criatura com lanças, e a cena final do unicórnio ileso, mas acorrentado a uma árvore.
Historiadores da arte afirmam que as marcas vermelhas na criatura acorrentada não representam sangue, mas sim suco de romã pingando da árvore acima; a romã é um símbolo de casamento e fertilidade. Nessas interpretações, o unicórnio é visto como a representação de um amante submetido à submissão – ou talvez até mesmo Jesus Cristo ressuscitado, já que a figura foi associada a temas do cristianismo em obras de arte.
Por volta de 1500, outra obra fundamental da arte ocidental foi tecida: as tapeçarias A Dama e o Unicórnio. As seis peças apresentam uma mulher vestida de forma majestosa cercada por vários animais, com um unicórnio em destaque.
Cada uma das peças representa um sentido – tato, paladar, audição, olfato e visão – enquanto a sexta está envolta em mistério. Em uma tenda, estão escritas as palavras "À mon seul désir" (Ao meu único desejo), o que inspirou várias teorias. Estaria a mulher renunciando aos prazeres terrenos?
Essas obras estão atualmente em exibição no Museu Cluny, em Paris, e viajarão para o Museu Barberini, na cidade alemã de Potsdam, para uma exposição com tema de unicórnio programada para outubro de 2025.
Símbolo de amor
Mais tarde na história da arte, o artista surrealista Salvador Dalí usou o simbolismo do unicórnio para representar o amor. Na escultura O Unicórnio, de 1977, ele aparece abrindo um buraco em forma de coração numa parede com seu chifre, enquanto uma mulher está deitada no chão. Em sua autobiografia, Dali disse que a obra simbolizava seu amor pela esposa Gala, que ele imaginava montada na criatura.
Artistas contemporâneos, como Damien Hirst e Rebecca Horn, também deram destaque aos unicórnios em suas obras.
Atualmente, esses seres estão por toda parte – desenhos animados, materiais escolares, roupas, assessórios e brinquedos.
O unicórnio colorido também serve como um emblema da cultura LGBTQ+, com as qualidades mágicas do animal representando o desejo da comunidade queer de viver livre das normas binárias da sociedade.
Seja caçado em tapeçarias ricamente tecidas da Idade Média ou estrelando filmes como Death of a Unicorn, é improvável que o fascínio por essa fera mítica desapareça tão cedo.
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Short teaser | De símbolo de pureza e virgindade a emblema do movimento gay, criatura mítica é retratada desde antes de Cristo. | ||
Author | Sarah Hucal | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/como-unicórnios-são-representados-há-séculos-nas-artes/a-72071402?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | "Mulher com Unicórnio", de autor desconhecido, foi pintado por volta de 1510 | ||
Image source | Liszt Collection/picture alliance | ||
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Item 15 | |||
Id | 72062360 | ||
Date | 2025-03-27 | ||
Title | Tanques em vez de carros: mercado de trabalho da Alemanha em mutação | ||
Short title | Tanques x carros: mercado de trabalho da Alemanha em mutação | ||
Teaser |
Nos próximos anos, centenas de bilhões de euros fluirão para o setor armamentista. Fábricas de automóveis alemãs passam a produzir tanques. Para suprir a demanda de mão de obra, uma ajuda inesperada parte dos EUA. Na indústria alemã, as cartas do baralho vão ser redistribuídas: enquanto montadoras-modelo como a Volkswagen cortam empregos, os produtores de tanques de guerra e mísseis de cruzeiro buscam desesperadamente por novos funcionários. Segundo uma análise da consultoria de empresas EY e do Dekabank, "com base em dados atuais, nos próximos anos os países-membros europeus da Otan investirão 72 bilhões de euros por ano em armamentos, criando ou consolidando 680 mil vagas de trabalho na Europa". Um estudo da consultora Kearney chega a resultados semelhantes. O número de empregados que faltam, no entanto, depende de até que ponto os Estados pretendem se armar: caso empreguem 2% de seu PIB para esse fim, como preveem as regras da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), faltam até 2030 160 mil trabalhadores. "No caso de um acréscimo médio (2,5% do PIB), 460 mil vagas ameaçam ficar em aberto; e num aumento pronunciado (3%), o déficit pode chegar até a 760 mil", estimam os autores Guido Hertel e Nils Kuhlwein. Faltam, acima de tudo, especialistas em inteligência artificial (IA) e big data. Colocando em perspectiva: atualmente, firmas armamentistas como a Rheinmetall mantêm 60 mil funcionários na Alemanha; incluindo-se os fornecedores, são cerca de 150 mil, informa Klaus-Heiner Röhl, especialista em armamentos do Instituto da Economia Alemã (IW). Funcionários na dança das cadeirasOs fabricantes de peças de artilharia, tecnologia de radar ou engrenagens para veículos movidos por lagarta mecânica não necessitam só mão de obra, mas também locais de produção, para encarar a esperada onda de encomendas. E a solução mais óbvia é lançar mão dos setores em crise. "Nós nos beneficiamos das dificuldades de indústria automobilística", afirmou o presidente da produtora de radares Hensoldt, Oliver Dörre, em entrevista à agência de notícias Reuters. Os radares de alto desempenho que sua empresa produz na Baviera estão sendo empregados, por exemplo, na defesa aérea da Ucrânia. Um dos sistemas da Hensoldt é até capaz de localizar bombardeiros furtivos, como o americano F-35. Dörre confirma já estarem em curso negociações sobre transferência de pessoal com as montadoras automobilísticas Continental e Bosch. Em Görlitz, no leste da Alemanha, na fronteira com a Polônia, a armamentista KNDS adquiriu uma fábrica da produtora de trens Alstom, marcada para fechar em 2026. Empregando cerca da metade dos 700 funcionários, em vez de vagões a unidade passa a produzir peças e módulos para os tanques Leopard 2, Puma e Boxer. A concorrente Rheinmetall igualmente aposta na transferência de pessoal: um antigo especialista em peças para o setor petrolífero está fabricando canos de canhões para tanques blindados, numa unidade no Norte alemão; uma ex-esteticista agora laqueia granadas. Segurança ralenta remanejamento de pessoalPorém a transição de um setor civil para um armamentista não é tão fácil assim, esclarece a consultora de pessoal Eva Brückner, especializada na indústria de segurança e defesa. "Uma troca só é possível em determinadas posições e especialidades": o operário que trabalha na esteira da Volkswagen e companhia, pode também atuar em certas empresas armamentistas; assim como um engenheiro, após um período de treinamento. Em outras funções, contudo, tal não é possível, como na distribuição ou aquisições: "Um comprador do setor de automóveis, acostumado que o fornecedor salte quando ele manda, nós não podemos simplesmente trazer para a indústria de armamentos", exemplifica a diretora-gerente da consultora de recursos humanos Heinrich & Coll. Outro obstáculo são os controles de segurança obrigatórios para grande parte do pessoal, os quais exigem tempo: "Os prazos para concessão dessas licenças no momento não permitem um remanejamento rápido do pessoal necessário", confirma Hans Christoph Atzpodien, diretor-chefe da Confederação da Indústria de Segurança e Defesa alemã. Para os candidatos de países que representam risco significativo à segurança alemã, as exigências são especialmente altas. Da lista do Ministério do Interior constam, por exemplo, o Afeganistão, China, Vietnam, Iraque, Irã, Síria e as antigas repúblicas soviéticas. Uma mera estadia mais prolongada num desses Estados já é extremamente problemática para um contrato no setor armamentista. Evasão de cabeças dos EUA ajuda – mas vai custarUma certeza é que será impossível encontrar a toque de caixa tantos especialistas e gerentes assim, só na Alemanha e na Europa. E aí a esperança parte justamente dos Estados Unidos e seu atual presidente, Donald Trump. Até agora, com suas universidades de elite e orçamentos de pesquisa generosos, os EUA atraíam os melhores especialistas de todo o mundo. Porém Trump começou a anunciar cortes nos institutos de pesquisa e universidades. "Se as verbas vão ser retiradas, é a chance para a Europa dizer: 'Nós somos o motor de inovação. E vamos trazer o pessoal'", comenta Eva Brückner A especialista em recursos humanos da Heinrich & Coll já recebeu dos EUA candidaturas de estrangeiros cujos green cards não serão renovados, ou de altos especialistas que não se sentem mais valorizados em seu local de trabalho. Muitos se perguntam se estão dispostos a colaborar com o novo curso americano na política e geopolítica. "É uma chance gigantesca, e deve ser aproveitada. Aí a gente vai conseguir as cabeças realmente inteligentes." Brückner está convicta que, de um modo geral, o setor de armamentos precisa trilhar novos caminhos. Faria bem ter mais mulheres nas posições de liderança, dominadas por ex-oficiais do sexo masculino. "É preciso gente modesta, discreta, que prefira voar sob o radar com o seu trabalho", sobretudo quando se trata de assuntos relevantes para a segurança. A digitalização também altera o perfil da procura de pessoal, observa o consultor empresarial Kuhlwein. São tão cobiçados quanto raros os especialistas em TI e IA para a conexão em rede de sistemas bélicos modernos e o emprego de big data, por exemplo, para a análise situacional. "Tradicionalmente, o setor de defesa apostava no analógico. Agora estão faltando cabeças digitais adicionais." A transição não sairá barata: a especialista em segurança e defesa Eva Brückner avisa que o setor deve se preparar para, no futuro, investir bem mais nos especialistas necessários. "Estou segura de que as empresas também vão ter que ser ainda um pouco mais generosas com os salários." |
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Short teaser | Centenas de bilhões de euros fluirão para o setor armamentista. Fábricas de automóveis passam a produzir tanques. | ||
Author | Thomas Kohlmann | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/tanques-em-vez-de-carros-mercado-de-trabalho-da-alemanha-em-mutação/a-72062360?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 16 | |||
Id | 72059077 | ||
Date | 2025-03-27 | ||
Title | As montanhas que caminham: mistério estelar no Saara | ||
Short title | As montanhas que caminham: mistério estelar no Saara | ||
Teaser |
Às margens do Saara, dunas gigantes de areia dourada se movem em um ritmo quase imperceptível enquanto formam estrelas perfeitas vistas do céu. À primeira vista, elas podem ser confundidas com pirâmides antigas, mas essas estruturas majestosas são obra exclusiva da natureza. Trata-se de uma dúzia de enormes "dunas estelares" que se erguem acima da planície arenosa de Erg Chebbi, no sudeste do Marrocos, capturadas em uma fotografia tirada da Estação Espacial Internacional em 21 de dezembro de 2023 e resgatada pelo Observatório da Terra da Nasa (agência espacial americana) no final de 2024 como sua "Foto do Dia". Gigantes de areia no SaaraCom seus 170 quilômetros quadrados no extremo noroeste do Saara, esta fascinante região arenosa abriga algumas das dunas mais espetaculares do deserto. Entre todas elas, reina a imponente Lala Lallia, elevando-se majestosamente a 100 metros de altura. Um estudo recente concluiu que essa estrutura colossal tem aproximadamente 900 anos, embora em sua base haja grãos de areia que datam de 13 mil anos – testemunhas silenciosas de uma época em que o Saara era um ambiente pantanoso e verdejante. Formação única de dunas estelaresDunas estelares são formações únicas caracterizadas por terem pelo menos três cristas emergindo de um pico central, o que lhes dá seu formato característico de estrela quando observadas de cima. No entanto, vistas do solo, suas múltiplas encostas suaves, conhecidas como "faces de deslizamento", dão a elas uma aparência piramidal. Mas o que torna essas estruturas especiais é seu processo de formação. De acordo com o Serviço de Parques Nacionais, citado pela Live Science, essas dunas são criadas apenas em locais onde a direção do vento muda constantemente, permitindo que suas diferentes inclinações se desenvolvam. Esse peculiar pré-requisito também explica seu lento deslocamento: apenas alguns centímetros por ano na direção do vento predominante mais forte, muito menos do que outras dunas errantes que podem se mover até 300 metros por ano. Merzouga: oásis no desertoNo coração desta paisagem desértica fica a cidade de Merzouga, visível na fotografia espacial acima. A cidade prospera graças a um extenso aquífero subterrâneo que permite que palmeirais floresçam em meio ao ambiente árido. Este oásis natural, juntamente com as dunas majestosas, transformaram a área em um destino turístico único. Acampamentos turísticos, visíveis do espaço como pequenos retângulos claros, alinham-se no lado leste do campo de dunas, alguns possivelmente compartilhando espaço com assentamentos berberes. Embora o Erg Chebbi abrigue alguns dos exemplos mais espetaculares de dunas estelares, tais formações não são exclusivas do Marrocos. Como bem aponta a Live Science, na Terra também são encontradas dunas estelares na China, Namíbia, Argélia, Arábia Saudita e em vários estados dos EUA, como Califórnia e Colorado. E ainda mais surpreendente: segundo a Nasa, estruturas muito semelhantes podem ser encontradas em Marte. A fotografia que permitiu a contemplação de paisagem tão fascinante foi tirada em 21 de dezembro de 2023 por um membro da tripulação da Expedição 70 com uma câmera digital Nikon D5, informou o Observatório da Terra da Nasa. |
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Short teaser | Às margens do Saara, gigantes de areia se movem em ritmo quase imperceptível enquanto formam "estrelas" perfeitas. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/as-montanhas-que-caminham-mistério-estelar-no-saara/a-72059077?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 17 | |||
Id | 72030393 | ||
Date | 2025-03-27 | ||
Title | Bolsonaro réu por tentativa de golpe: quais são os próximos passos do julgamento no STF | ||
Short title | Bolsonaro réu: quais são os próximos passos do julgamento | ||
Teaser |
Ministros da Primeira Turma do STF aceitam, por unanimidade, denúncia contra ex-presidente e mais sete aliados por tentativa de golpe. Entenda o que acontece agora.A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou, por unanimidade, a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e de mais sete investigados por integrar o núcleo central de uma trama golpista arquitetada após a derrota nas eleições de 2022.
Com a decisão, Bolsonaro e sete aliados se tornam réus e vão responder a ação penal pela trama golpista que culminou na invasão e depredação da sede dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, poucos dias após a posse do presidenteLuiz Inácio Lula da Silva (PT).
A previsão de analistas consultados pela DW é de que, após esse primeiro passo, o processo se arraste pelos próximos meses, quando o tribunal ouvirá testemunhas e acusados, analisará provas e fará as demais diligências. Há o risco de que a conclusão do julgamento fique para 2026, o que pode levar a corrida eleitoral a atropelar o rito judicial.
O que pesa sobre os acusados?
O ex-presidente é acusado de cinco crimes: liderança de organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. As penas podem somar mais de 40 anos de reclusão.
A peça da Procuradoria-Geral da República (PGR) denuncia 34 pessoas, mas o julgamento do STF dividiu os acusados em cinco grupos. Nesta primeira etapa, além de Bolsonaro, a corte também avalia a abertura dos processos contra os ex-ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Anderson Torres (Justiça) e o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência).
Foram implicados ainda Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha do Brasil, e Mauro Cid, ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência, além do ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem.
O relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, disse não haver "dúvida nenhuma " de que Bolsonaro discutiu a "minuta do golpe ". Segundo a investigação da Polícia Federal, o documento circulou entre integrantes do governo no final de 2022 e consistia em um plano para impedir a posse de Lula.
O que vem agora?
Assim como no julgamento que decidiu pela abertura da ação, o restante do processo será conduzido inteiramente pela Primeira Turma, composta pelos ministros Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luis Fux. Na semana passada, a maioria do plenário do tribunal rejeitou pedido da defesa de Bolsonaro e de Braga Netto para afastar Dino, Zanin e Moraes da análise do caso por suspeição.
O ordenamento jurídico não prevê a possibilidade de um recurso pelo recebimento da denúncia, de acordo com o advogado Acácio Miranda, especialista em Direito Penal. A defesa, porém, pode lançar mão de um dispositivo conhecido como "embargos de declaração", em que são pedidos esclarecimentos sobre aspectos específicos da decisão.
O cronograma dos passos seguintes é imprevisível, porque o caso envolve múltiplos acusados. Cada equipe de defesa deve empregar estratégias próprias e podem, inclusive, entrar em contradição, o que amplia o prazo de apurações. "É muito provável que o julgamento do mérito não aconteça este ano, então deve entrar no calendário eleitoral", avalia Miranda.
Bolsonaro pode ser preso?
A composição da Primeira Turma do STF torna o cenário "desfavorável" ao ex-presidente, avalia o advogado criminalista Marcelo Crespo, coordenador do curso de direito da ESPM. No passado, os ministros do colegiado já tomaram decisões que contrariaram Bolsonaro. Moraes, em particular, é alvo frequente de ataques bolsonaristas.
Crespo considera improvável que uma eventual condenação produza uma pena que não leve Bolsonaro à prisão, sobretudo por conta da profundidade das denúncias da PGR ."Mas tudo vai depender do julgamento, de como será a interpretação da turma", pondera.
Na mesma linha, Acácio Miranda vê chances significativas de que o ex-presidente seja condenado. O Código Penal Brasileiro ainda prevê recursos após a decisão e o réu só pode ser preso após o esgotamento de todos eles, cenário conhecido como "trânsito em julgado". "Resta saber o timing disso, o momento dessa condenação. Sendo ele condenado, uma tendência lógica, em circunstâncias normais, é de que ele seja preso", afirma.
Somados todos os crimes pelos quais Bolsonaro foi acusado, a sentença pode chegar a 43 anos de prisão.
Consequências políticas
O processo avaliado pelo STF não afetará diretamente as perspectivas eleitorais, porque Bolsonaro já foi declarado inelegível em 2023 por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação durante a campanha de 2022. O ex-presidente e Braga Netto estão impedidos de concorrer a cargos eletivos até 2030.
A evolução do litígio, no entanto, terá impacto em outras frentes. Para o cientista político Carlos Pereira, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EBAPE), Bolsonaro perde algum capital político com o imbróglio jurídico, embora o núcleo mais firmes de apoiadores deva manter a lealdade ao ex-presidente.
"Por mais que o julgamento elenque evidências robustas de que houve envolvimento direto de Bolsonaro e seus ministros e vice-presidente na tentativa de golpe, essa parcela da população vai continuar com ele de qualquer maneira", avalia.
Por outro lado, o segmento do eleitorado menos ideológico, que votou em Bolsonaro mais como repúdio ao PT, pode ser negativamente influenciado pela situação. Por isso, Pereira vê o caso como uma "janela de oportunidade" para que a direita encontre uma alternativa para a eleição do ano que vem.
A solidez e a repercussão da ação penal ditarão também a influência de Bolsonaro na escolha de um sucessor. Se ficar comprovado de forma inequívoca o envolvimento na trama golpista, candidatos conservadores independentes do ex-presidente ganhariam mais viabilidade. "Mas se o julgamento não mostrar uma clara conexão, a força política dele continuará sendo relevante", ressalta Pereira.
Intervenção de Brasília?
Para tentar contornar as perspectivas na Justiça, Bolsonaro busca mobilizar apoio popular a projetos de anistia total aos envolvidos na trama golpista. No último dia 16 de março, o ex-presidente participou de um ato em Copacabana, no Rio de Janeiro, para pedir a aprovação no Congresso do perdão aos responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. A Polícia Militar contabilizou 400 mil pessoas no protesto, mas o Datafolha disse que foram 30 mil.
Bolsonaro voltou a convocar apoiadores para uma nova manifestação, no próximo sábado (29/03), na Avenida Paulista, em São Paulo.
Apesar disso, Carlos Pereira, da FGV, vê pouco apetite para uma intervenção do legislativo nesse caso. "É muito custoso impor perdas ao judiciário em um ambiente fragmentado de muitos partidos. Então, acho pouco provável que o Congresso inicie medidas que venham a restringir o papel e o poder do Suprema", avalia.
O advogado Acácio Miranda acredita que uma virada de mesa liderada pelos parlamentares dependeria de evidências muito contundentes em favor de Bolsonaro. Para ele, ainda que haja um equilíbrio de força mais favorável a grupos conservadores no Congresso, não há espaço para uma ação radical. "Não se sei a polarização política do Brasil permitiria isso", diz.
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Short teaser | STF aceitou denúncia contra o ex-presidente por tentativa de golpe. Entenda o que acontece agora. | ||
Author | André Marinho | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/bolsonaro-réu-por-tentativa-de-golpe-quais-são-os-próximos-passos-do-julgamento-no-stf/a-72030393?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Bolsonaro é acusado de cinco crimes relacionados à tentativa de golpe | ||
Image source | Amanda Perobelli/REUTERS | ||
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Item 18 | |||
Id | 71667808 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | Bolsonaro réu por tentativa de golpe: o que vem pela frente | ||
Short title | Bolsonaro réu por tentativa de golpe: o que vem pela frente | ||
Teaser |
Brasil terá o primeiro julgamento de um ex-presidente por tentativa de golpe. Bolsonaro tenta reverter situação, buscando anistia e mudança na Lei da Ficha Limpa.O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sete aliados viraram réus em ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a trama golpista que culminou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, poucos dias após a posse do presidenteLuiz Inácio Lula da Silva (PT).
A decisão foi tomada nesta quarta-feira (26/3) pela Primeira Turma do STF, e tem como base denúncia apresentada em 18 de fevereiro pela Procuradoria Geral da República (PGR). Agora, a ação deve se arrastar pelos próximos meses, quando o tribunal ouvirá testemunhas e acusados, analisará provas e fará as demais diligências. Especialistas que acompanham o processo avaliam que a conclusão do julgamento pode acabar ficando para 2026, ano de eleição.
O que pesa sobre os acusados?
O ex-presidente é acusado de cinco crimes: liderança de organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas máximas podem chegar a 43 anos de prisão.
A peça da PGR denuncia 34 pessoas, mas o julgamento do STF dividiu os acusados em cinco grupos.
Nesta primeira etapa, além de Bolsonaro, a corte decidiu tornar réus outros sete ex-auxiliares do ex-presidente. São eles: os ex-ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Anderson Torres (Justiça) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência); o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos, o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem e Mauro Cid, ex-auxiliar da Presidência.
Juntos, esses oito denunciados formam o núcleo central da trama golpista.
Quais as etapas do julgamento?
O julgamento está sendo conduzido pela Primeira Turma, formada pelos ministros Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux. Na semana passada, o plenário do STF rejeitou pedido da defesa de Bolsonaro e de Braga Netto para afastar Dino, Zanin e Moraes da análise do caso por suspeição.
"É importante que se lembre que o julgamento não decide se há condenação ou não, mas sim se há elementos suficientes para o andamento do processo", ressalta o advogado criminalista Marcelo Crespo, coordenador do curso de direito da ESPM.
O que vem agora?
Agora que Bolsonaro e outros sete viraram réus, começa uma nova etapa do processo em que serão avaliados os méritos das acusações.
O ordenamento jurídico não prevê a possibilidade de um recurso pelo recebimento da denúncia, de acordo com o advogado Acácio Miranda, especialista em Direito Penal. A defesa, porém, pode lançar mão de um dispositivo conhecido como "embargos de declaração", em que são pedidos esclarecimentos sobre aspectos específicos da decisão.
O cronograma dos passos seguintes é imprevisível, porque o caso envolve múltiplos acusados. Cada equipe de defesa deve empregar estratégias próprias e pode, inclusive, entrar em contradição, o que amplia o prazo de apurações. "É muito provável que o julgamento do mérito não aconteça este ano, então deve entrar no calendário eleitoral", avalia Miranda.
A Primeira Turma considera ampliar a frequência de suas reuniões – tornando-as semanais em vez de quinzenais – para agilizar a análise dos processos e tentar concluir o de Bolsonaro antes de 2026.
Bolsonaro pode ser preso?
A composição da Primeira Turma do STF torna o cenário "desfavorável" ao ex-presidente, avalia Crespo. No passado, os ministros do colegiado já tomaram decisões que contrariaram Bolsonaro. Moraes, em particular, é alvo frequente de ataques bolsonaristas.
Crespo considera improvável que uma eventual condenação produza uma pena que não leve Bolsonaro à prisão, sobretudo por conta da profundidade das denúncias da PGR ."Mas tudo vai depender do julgamento, de como será a interpretação da turma", pondera.
Na mesma linha, Acácio Miranda vê chances significativas de que o ex-presidente seja condenado. O Código Penal Brasileiro ainda prevê recursos após a decisão e o réu só pode ser preso após o esgotamento de todos eles, cenário conhecido como "trânsito em julgado". "Resta saber o timing disso, o momento dessa condenação. Sendo ele condenado, uma tendência lógica, em circunstâncias normais, é de que ele seja preso", afirma.
Consequências políticas
O processo avaliado pelo STF não afetará diretamente as perspectivas eleitorais, porque Bolsonaro já foi declarado inelegível em 2023 por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação durante a campanha de 2022. O ex-presidente e Braga Netto estão impedidos de concorrer a cargos eletivos até 2030.
A evolução do litígio, no entanto, terá impacto em outras frentes. Para o cientista político Carlos Pereira, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EBAPE), Bolsonaro perde algum capital político com o imbróglio jurídico, embora o núcleo mais firme de apoiadores deva manter a lealdade ao ex-presidente.
"Por mais que o julgamento elenque evidências robustas de que houve envolvimento direto de Bolsonaro e seus ministros e vice-presidente na tentativa de golpe, essa parcela da população vai continuar com ele de qualquer maneira", avalia.
Por outro lado, o segmento do eleitorado menos ideológico, que votou em Bolsonaro mais como repúdio ao PT, pode ser negativamente influenciado pela situação. Por isso, Pereira vê o caso como uma "janela de oportunidade" para que a direita encontre uma alternativa para a eleição do ano que vem.
A solidez e a repercussão da ação penal ditarão também a influência de Bolsonaro na escolha de um sucessor. Se ficar comprovado de forma inequívoca o envolvimento na trama golpista, candidatos conservadores independentes do ex-presidente ganhariam mais viabilidade. "Mas se o julgamento não mostrar uma clara conexão, a força política dele continuará sendo relevante", ressalta Pereira.
Como Bolsonaro se movimenta
Pouco mais de dois anos após os atos golpistas e de um volume expressivo de denúncias e condenações ter atingido a massa de bolsonaristas que invadiu e depredou as sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, o sistema de Justiça brasileiro deu, com a abertura de processo contra Bolsonaro e outros sete ex-auxiliares, mais um passo para avaliar a responsabilização de membros do alto escalão político e militar acusados de comandar uma tentativa de golpe de Estado.
O ex-presidente articula em frentes políticas e jurídicas para se defender da denúncia, tentar recuperar sua elegibilidade e se manter como candidato da direita, que já discute nomes alternativos para 2026, como o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O tensionamento com o Supremo faz parte dessa estratégia, e a Corte se verá nos próximos meses em um clima que pode lembrar o do julgamento do mensalão, ocorrido em 2012, analisando um caso complexo e com fortes reflexos políticos.
Em nota, a defesa de Bolsonaro afirmou que "não há qualquer mensagem do Presidente da República que embase a acusação, apesar de uma verdadeira devassa que foi feita em seus telefones pessoais", e classificou a peça da PGR como "inepta" e "baseada numa única delação premiada".
No início de fevereiro, antes de ser denunciado pela PGR, Bolsonaro se reuniu com congressistas da oposição em Brasília para buscar o apoio de partidos do centrão para duas propostas legislativas que podem beneficiá-lo indiretamente.
Uma delas é perdoar as condenações criminais dos envolvidos nos atos golpistas. Há alguns projetos de lei com esse teor tramitando no Congresso, e o mais avançado aguarda a instalação de uma comissão especial na Câmara para ser analisado.
Outra frente é tentar alterar a Lei da Ficha Limpa para reduzir de oito para dois anos o período de inelegibilidade de políticos condenados por abuso de poder político, abuso de poder econômico ou uso indevido dos meios de comunicação.
Bolsonaro está inelegível até 2030 após ter sido condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral em duas ações distintas: por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação ao atacar o sistema eleitoral em uma reunião com embaixadores do Palácio da Alvorada, e por abuso de poder político e econômico por ter transformado as comemorações do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro de 2022, em um comício eleitoral.
Após reunir-se com os congressistas da oposição, Bolsonaro afirmou que a Lei da Ficha Limpa "é usada para perseguir a direita", e citou que os Estados Unidos não possuem uma norma do tipo. "Se tivesse, o [Donald] Trump estaria inelegível", afirmou.
A mudança na lei o beneficiaria, já que a sua atual inelegibilidade começa a ser contada a partir do pleito de 2022, mas no momento há pouca chance de aprovação de uma iniciativa nesse sentido.
Cogitação ou preparação de golpe?
Na seara jurídica, um dos argumentos que devem ser explorados pela defesa de Bolsonaro será afirmar que não houve uma tentativa efetiva de golpe de Estado, e que, portanto, não haveria crime cometido.
Essa linha foi expressa, por exemplo, pelo filho do ex-presidente e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ): "Por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime", escreveu ele no X em novembro, após a Polícia Federal (PF) revelar um suposto plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Para embasar a denúncia contra o ex-presidente, a PGR baseou-se, entre outros elementos, em uma minuta de um decreto golpista localizada na residência de Anderson Torres, em mensagens trocadas entre militares que mencionavam o plano de execução de autoridades, e em documentos apreendidos em dispositivos usados pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que fez um acordo de delação.
Segundo o relatório da PF, a partir de mensagens trocadas por Cid e outros envolvidos na trama, há indícios de que Bolsonaro teria feito ajustes na minuta do decreto golpista, que decretava estado de defesa e criava uma comissão para revisar o resultado das eleições de 2022.
Diego Nunes, professor de direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e organizador de um livro sobre a lei dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, avalia à DW ser "pouco provável" que investigações de crimes dessa natureza encontrem frases expressas de autoridades como "façam um golpe de Estado", e que nesse cenário cabe ao Ministério Público apontar um "conjunto de elementos contextuais" que consigam representar uma cadeia de comando e execução para um golpe.
Um desses elementos contextuais pode ter surgido em uma reunião convocada por Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas na qual a apontada minuta do golpe teria sido discutida. Segundo um depoimento à PF do então comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Junior, o então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, ameaçou prender Bolsonaro se ele levasse adiante a ideia de decretar estado de sítio, estado de defesa ou Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
"O STF terá de marcar a separação entre atos preparatórios e início de execução. A se confirmar, porém, que houve ordem ao comandante do Exército, será impossível falar em mera cogitação", afirma à DW Davi Tangerino, professor de direito penal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Teste para uma lei relativamente nova
Outro aspecto que agrega importância à análise da denúncia contra Bolsonaro é que a lei dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, que revogou a Lei de Segurança Nacional da época da ditadura, é relativamente nova, de 2021.
O primeiro caso de político acusado com base na norma foi o do ex-deputado federal Daniel Silveira, condenado pelo STF em abril de 2022 pelo crime de ameaça ao Estado Democrático de Direito.
Em seguida, aponta Nunes, vieram as diversas condenações de bolsonaristas que invadiram as sedes dos Três Poderes. Agora, será a primeira vez que um ex-presidente ou ex-ministros poderão vir a ser enquadrados na nova norma.
"Seria a primeira vez em que um ex-presidente estaria sendo julgado por um tribunal regular por conta do cometimento de uma tentativa de golpe de Estado. O Brasil, na sua história, é farto de tentativas de golpe, principalmente quarteladas feitas pelo pelos militares, mas nunca houve um julgamento desse tipo", afirma.
Ele prevê que isso irá testar o Poder Judiciário, e em particular o Supremo Tribunal Federal, na sua capacidade de conseguir realizar um julgamento imparcial e dentro das regras. "O tribunal vai ter que, estrategicamente, pautar as datas dos atos processuais e do julgamento a ponto de conseguir minimamente se explicar para a opinião pública – porque não bastará para ele apenas fazer justiça, ele vai ter que ser compreendido fazendo justiça. Vai existir uma mediação com a opinião pública, que não se dá de um dia para o outro", afirma.
Tangerino avalia que, tão importante quanto a denúncia contra Bolsonaro, seria a responsabilização de militares de alta patente. "É a primeira vez na história do Brasil e é muito simbólico. Dá importante sinalização de que tentativas de golpe não serão aceitas e não pouparão ninguém."
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Short teaser | Com penas podem chegar a 43 anos de prisão, Bolsonaro tenta reverter situação pela anistia ou mudança na Ficha Limpa. | ||
Author | Bruno Lupion | ||
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Image caption | Bolsonaro é acusado de cinco crimes, entre eles golpe de Estado | ||
Image source | Andre Penner/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 19 | |||
Id | 72048300 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | Bolsonaro vira réu no STF por tentativa de golpe de Estado | ||
Short title | Bolsonaro vira réu no STF por tentativa de golpe de Estado | ||
Teaser |
Ministros da Primeira Turma do Supremo aceitam, por unanimidade, denúncia contra ex-presidente e mais sete aliados. Se condenado, Bolsonaro estará sujeito a pena de até 40 anos de prisão.A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quarta-feira (26/03), por unanimidade, tornar réu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete aliados acusados pelos crimes de tentativa de abolição do Estado democrático de direito e golpe de Estado.
É a primeira vez que um ex-presidente eleito é colocado no banco dos réus por crimes contra a ordem democrática estabelecida com a Constituição de 1988. Esses tipos de crime estão previstos nos Artigos 359-L (golpe de Estado) e 359-M (abolição do Estado democrático de direito) do Código Penal brasileiro.
A denúncia, apresentada no mês passado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi acatada pelos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
Além dos crimes de tentativa de abolição do Estado democrático de direito e golpe de Estado, Bolsonaro e seus ex-auxiliares são acusados de integrar uma organização criminosa armada, dano qualificado pelo emprego de violência e grave ameaça contra o patrimônio público, e deterioração de patrimônio tombado. Somadas, as penas podem passar de 40 anos de cadeia.
Quem são os réus
Além de Bolsonaro, a Primeira Turma tornou réus na mesma ação penal mais sete aliados do ex-presidente. Todos são acusados de integrarem o núcleo central da trama golpista. São eles:
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
Walter Braga Netto, general de Exército, ex-ministro e vice de Bolsonaro na chapa das eleições de 2022;
Augusto Heleno, general do Exército e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal;
Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
Paulo Sérgio Nogueira, general do Exército e ex-ministro da Defesa;
Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
O papel de Bolsonaro no golpe, segundo a PGR
Conforme a denúncia da PGR, Bolsonaro tinha conhecimento do plano, intitulado "punhal verde amarelo", para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
A Procuradoria também afirma que o ex-presidente sabia da "minuta do golpe", um rascunho de decreto com o qual ele pretendia dar um golpe de Estado no país. O documento, que teria sido discutido por Bolsonaro, previa a prisão de ministros do STF e a realização de novas eleições.
O que disse Alexandre de Moraes
Relator do caso – responsável, portanto, por ordenar e dirigir o processo no STF –, o ministro Alexandre de Moraes disse não haver dúvidas "de que a Procuradoria apontou elementos mais do que suficientes, razoáveis, de materialidade e autoria para o recebimento da denúncia" contra Bolsonaro.
Em seu voto, Moraes frisou que o plano de Bolsonaro, segundo a denúncia, teria começado a ser posto em prática ainda em julho de 2021, quando em uma transmissão ao vivo pela internet o ex-presidente "atacou as urnas eletrônicas sem nenhum fundamento e sem apresentar nenhum elemento concreto".
Segundo o ministro, além de ter liderado uma estrutura que usou mentiras sobre o sistema eleitoral para favorecer o golpe, Bolsonaro também "conhecia, manuseava e discutiu sobre a minuta de golpe".
Moraes ressaltou que, embora a questão sobre se ele quis ou não dar um golpe só vá ser analisada durante o processo, "não há dúvida que ele tinha conhecimento da minuta do golpe."
Ainda de acordo com o ministro, o ex-presidente e os outros sete denunciados teriam agido de forma coordenada até janeiro de 2023 para tentar reverter a derrota de Bolsonaro nas urnas, inclusive incentivando os acampamentos de manifestantes golpistas em frente aos quartéis das Forças Armadas.
O objetivo seria insuflar aliados e criar o clima para que Bolsonaro permanecesse no poder, conforme narra a denúncia, destacou Moraes.
Na avaliação do ministro, a denúncia da PGR "aponta o aumento da intensidade da agressividade de forma progressiva, integrando a execução de seu plano" autoritário.
O que disseram os demais ministros
O ministro Flávio Dino, que chegou a ocupar o cargo de ministro da Justiça no início do governo Lula antes de ir para o STF, rejeitou o argumento da defesa dos denunciados de que não há crime porque não houve golpe: "Se fosse consumado, não teria juízes para julgar."
Dino, porém, ponderou que ainda será preciso averiguar se alguém dos denunciados eventualmente desistiu do plano de golpe.
A ministra Cármen Lúcia frisou que os atos golpistas foram o desfecho de um processo longo e articulado e defendeu o esclarecimento da "máquina que tentou desmontar a democracia".
Já o ministro Cristiano Zanin reforçou, ao votar pela aceitação da denúncia, que ela está amparada em diversas provas além da delação de Mauro Cid.
Zanin também rejeitou um dos principais argumentos da defesa dos denunciados: o de que eles não podem ser associados aos atos de 8 de janeiro porque não estavam lá. O ministro afirma haver indícios de participação em uma série de atos que teriam levado à depredação em Brasília.
Embora tenha votado com Moraes pela aceitação da denúncia contra Bolsonaro e sete ex-auxiliares, o ministro Luiz Fux divergiu dos demais colegas ao defender que o caso deveria estar sendo analisado pelo plenário do Supremo, e não pela Primeira Turma.
Fux também sinalizou pretender rever as penas de pessoas já condenadas por participação nos atos golpistas de 8 de janeiro em Brasília, sugerindo que as condenações teriam sido exageradas.
O que diz a defesa
As defesas dos réus não negaram que houve articulação para um golpe, mas alegam que seus clientes não participaram.
Eles também afirmam que não teriam tido acesso integral às provas, questionaram se a Primeira Turma do STF seria o foro mais adequado para discutir o caso e pediram a rejeição da denúncia.
A defesa também questiona o julgamento do caso pelos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin. Moraes é questionado por ter sido um dos alvos da suposta trama golpista. Dino e Zanin são questionados por terem servido a Lula em outros momentos de suas carreiras – Dino como ministro da Justiça e Zanin como advogado do petista.
Um recurso que pedia a declaração do impedimento dos ministros, porém, foi rejeitado em 19 de março pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.
ra (Agência Brasil, ots)
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Short teaser | Os cinco ministros da Primeira Turma do STF aceitam, por unanimidade, denúncia contra ex-presidente e mais sete aliados. | ||
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Image caption | Ex-presidente Jair Bolsonaro vai responder por tentativa de abolição do Estado democrático de direito e golpe de Estado, organização criminosa armada, dano, ameaça e deterioração de patrimônio público | ||
Image source | Ton Molina/NurPhoto/picture alliance | ||
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Item 20 | |||
Id | 72043434 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | "Telefone sem fio" ajuda a prevenir desastres em Petrópolis | ||
Short title | "Telefone sem fio" ajuda a prevenir desastres em Petrópolis | ||
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Para driblar a falta de energia e de sinal de internet quando chove, voluntários desenvolveram sistema de alerta usando rádios comunicadores e conhecimento comunitário.Quando chove no Vale do Cuiabá, em Petrópolis (RJ), costuma faltar energia elétrica e internet. "É muito cruel ficar no meio da chuva, no escuro e sem informação. Estamos traumatizados pela tragédia de 2011", disse Ana Montenegro, 60 anos, referindo-se ao desastre que matou centenas de pessoas na região serrana do Rio de Janeiro. Para enfrentar o desafio, voluntários criaram uma tecnologia social usando rádios comunicadores.
Produtora rural, Montenegro começou, em junho de 2023, a pesquisar uma solução para a falta de comunicação durante chuvas e tempestades. Por ser uma região de montanhas, até mesmo os rádios têm alcance limitado. Foi preciso então formar uma rede de moradores, que monitoram as nascentes e os níveis dos rios, repassando informações uns aos outros, como em um telefone sem fio.
A rede conta com 42 pontos, onde há um morador e um rádio. O projeto teve início no Vale do Cuiabá, a parte mais alta da região. Depois foi expandido para as comunidades do Jacó, Madame Machado e Benfica, até chegar ao Gentio, a parte mais plana, onde fica a sede do Núcleo Comunitário de Defesa Civil (Nudec) do Vale do Cuiabá e Adjacências.
Quando informações como a rápida elevação dos rios chegam ao Nudec, Cristina Rosário de Oliveira, 55 anos, entra em ação. Com experiência tanto como vítima quanto como voluntária em desastres, além de diversos treinamentos, ela avalia a situação e pode acionar a Defesa Civil.
Vítima e voluntária
Em 2011, fortes chuvas causaram um dos maiores desastres da história do Brasil, com mais de 900 mortes na região serrana do Rio de Janeiro – principalmente em Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis. Após a tragédia, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) começou a formar cidadãos em monitoramento socioambiental e a criar os Nudecs naquelas cidades.
Convidada a participar da formação, Rosário, inicialmente, não aceitou. Achava que a tarefa deveria ser do poder público, como Bombeiros e Defesa Civil. Mas mudou de ideia, convencida de que sua experiência como vítima e voluntária em desastres poderia ser importante para a comunidade.
Rosário foi vítima em 2008. Naquele ano, quando começou a chover forte, ela e o marido iniciaram uma estratégia corriqueira para evitar os prejuízos dos alagamentos: levantar os bens da casa, como camas e geladeira, pendurando-os com cordas. Mas a água subiu tanto e tão rápido naquela oportunidade que ela ficou submersa.
Os vizinhos tiveram que fazer um cordão humano, segurando os braços uns dos outros, para tirá-la da água, tamanha a força da correnteza. Após ser salva, ela ainda passou uma noite e uma madrugada angustiada. Só no outro dia viu que o filho Matheus, então com 16 anos, estava salvo na casa da avó.
Grávida de sete meses e meio, Rosário começou a ter fortes dores dias depois e pediu para ser levada ao hospital. No meio do caminho, sentiu que tinha perdido o filho. Logo depois os médicos constataram a morte de Vitor Emanuel.
A casa foi reconstruída sobre pilares, para evitar novos alagamentos. Então, em 2011, foi a vez de Rosário ajudar os vizinhos. Acolheu quatro famílias, que ficaram morando com ela, o marido e o filho por cinco meses. "Quando entrei no Nudec pensei: ‘Não quero que ninguém passe pelo que passei.'” A sua residência se tornou a sede do núcleo.
Mapa de risco e rota de fuga
Uma das primeiras ações do Nudec foi realizar reuniões de conscientização, as "Rodas de Mulheres”. "Na maioria das situações de tragédia, são as mulheres que se colocam em risco. São elas que vão buscar filhos na escola, por exemplo, passando por fiação e por áreas alagadas", explicou Rosário.
Embora, eventualmente, muitos homens ajudem nas ações do Nudec, as mulheres é que tomam a frente. "Elas abraçaram a causa”, disse a líder comunitária. Atualmente, dos 14 participantes do núcleo, só dois são homens: o marido e o filho de Rosário.
As participantes do Nudec passaram por inúmeras capacitações durante os últimos anos, além de auxiliar em ações da Defesa Civil, como simulados de evacuação. Também trabalharam no mapeamento das áreas de risco, que mostra as regiões suscetíveis a perigos, como deslizamentos de terra e inundações.
Fizeram ainda um mapeamento de rotas de fuga, usando a experiência dos moradores e dados ambientais. O objetivo é que, em um momento de desastre, as pessoas saibam quais caminhos percorrer, evitando locais perigosos. O documento ainda não foi referendado pela Defesa Civil.
Mas para tudo isso funcionar bem é necessário informação. É esta uma das funções da rede dos moradores, chamada de "Comunicação comunitária – monitoramento comunitário de eventos climáticos de água e fogo”. Ou seja, além de monitorar inundações e deslizamentos, a rede ajuda a detectar fogo, algo cada vez mais recorrente na região.
Conhecimento dos moradores
Quando entrou no Nudec, há dois anos, Ana Montenegro já havia iniciado o Projeto Rádios, como eles chamam a rede de comunicação e alertas. Os equipamentos foram comprados por ela, por moradores ou recebidos por doação – a voluntária chegou a pedir rádios de Natal.
Para formar a rede, foi preciso um trabalho minucioso. "Nós víamos até onde ia o sinal. Aqui começou a falhar? Então é preciso de um rádio. Quem mora aqui? Tem alguém que mora aqui e que tenha responsabilidade de ficar com um rádio?", explicou Montenegro. Em janeiro, a rede ficou completa, chegando ao Nudec.
A rede de comunicação e alerta funciona de duas formas, basicamente. Se Rosário receber um alerta da Defesa Civil da iminência de um evento extremo, por exemplo, ela pode pedir, por whatsapp, que os moradores da região liguem os seus rádios para iniciar a troca de informações.
Ou os próprios moradores podem ligar os rádios, se observarem a chegada de chuva forte ou o aumento do nível dos rios, passando as informações até chegar no Nudec e, se preciso, à Defesa Civil. "Enquanto isso, os moradores já têm informações e têm tempo de se salvar, se for preciso", analisou Montenegro.
"O conhecimento empírico do morador é muito importante", destacou Montenegro. "Esse conhecimento de sentir o cheiro do ar e saber que vai chover. Saber o barulho do rio. Saber que vai encher. Saber que a quantidade de chuva é perigosa. Isso ninguém tem, nenhum aparelho."
Com o aumento dos eventos extremos, como fortes chuvas e incêndios, por causa das mudanças climáticas, especialistas costumam frisar a importância de trabalhar com a gestão do risco em vez apenas da gestão do desastre. Ou seja, promover a cultura de prevenir o desastre.
Em fevereiro, ocorreu o Fórum Nacional de Boas Práticas em Proteção e Defesa Civil, com o objetivo de compartilhar experiências, aprimorar práticas e fortalecer a gestão de riscos e desastres no Brasil. Rosário e Montenegro apresentaram o Projeto Rádios, cuja experiência pode ser replicada em outras iniciativas, como em um telefone sem fio.
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Short teaser | Para driblar a falta de energia e de de internet quando chove, voluntários desenvolveram sistema de alerta usando rádios | ||
Author | Maurício Frighetto | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/telefone-sem-fio-ajuda-a-prevenir-desastres-em-petrópolis/a-72043434?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Destruição causada pelas chuvas em Petropólis em 2022 | ||
Image source | Silvia Izquierdo/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 21 | |||
Id | 72046615 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | Justiça alemã mantém "imposto da Reunificação" | ||
Short title | Justiça alemã mantém "imposto da Reunificação" | ||
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Tribunal Constitucional rejeitou ação de deputados liberais que pediam extinção total de imposto criado nos anos 1990 para cobrir custo da Reunificação. Taxa ainda é cobrada sobre ganhos de contribuintes de renda elevadaO Tribunal Constitucional Federal da Alemanha decidiu manter o chamado "imposto de solidariedade" introduzido nos anos 1990 após a reunificação da Alemanha Oriental e Ocidental. Numa decisão divulgada nesta quarta-feira (26/03), a Corte declarou que a taxação é constitucional e rejeitou uma ação apresentada por seis membros do Partido Liberal-Democrático (FDP, na sigla em alemão), que pediam o fim do imposto.
Criado em 1991 e apelidado "Soli", que vem do nome em alemão Solidaritätszuschlag, o imposto tem o objetivo de captar verbas para financiar projetos e infraestrutura nos estados do Leste, antes sob regime comunista, onde os padrões de vida e renda média eram inferiores nos anos 1990.
Hoje, a tributação do "Soli" é atualmente de 5,5% dos impostos de renda e corporativo. Antigamente, quase todos os contribuintes também eram afetados, mas uma reforma que entrou em vigor em 2021 aumentou o teto para o imposto, que passou a ser cobrado na maioria de pessoas de renda mais elevada. Hoje, apenas cerca de 10% das pessoas físicas na Alemanha ainda pagam o imposto.
Na ação apresentada ao Tribunal Constitucional, os membros do partido pró-livre mercado FDP alegaram que o imposto viola a Constituição porque o chamado "Pacto de Solidariedade II", do qual o imposto fazia parte, expirou em 2019.
Os liberais também alegaram que o imposto viola o princípio da igualdade de tratamento porque a maioria dos contribuintes - cerca de 90% - passou a ser isenta do imposto nos últimos anos.
No entanto, um juiz do Tribunal Constitucional, sediado na cidade de Karlsruhe, decidiu que essas reclamações eram infundadas, apontando que ainda há necessidade de um financiamento adicional para cobrir os custos da Reunificação alemã.
O juiz enfatizou, no entanto, que o imposto de solidariedade continua sendo uma medida temporária que se tornaria inconstitucional se a sua necessidade desaparecesse.
Em 2001, o governo federal também fechou um "Pacto de Solidariedade" com as administrações estaduais, visando apoiar financeiramente os estados do Leste alemão, a fim de alçá-los à paridade econômica com a Alemanha Ocidental.
O pacto expira no fim de 2019, e em maio o presidente do Tribunal Constitucional alemão, Hans-Jürgen Papier, concluiu que também o "Soli" deveria ser abolido até essa data. Ele argumentou que a tributação extra seria efetivamente inconstitucional sem um pacto para enquadrar como a verba deve ser investida.
Alívio no governo alemão
No ano passado, o imposto de solidariedade rendeu cerca de 12,6 bilhões de euros (R$ 78 bilhões) aos cofres do Estado alemão.
Se o imposto tivesse sido declarado inconstitucional, o governo poderia esperar um buraco de tal tamanho no próximo orçamento. Para piorar, o governo alemão ainda correria o risco de ter que devolver para os contribuintes que pagaram a taxa nos últimos anos cerca de 65 bilhões de euros arrecadados desde 2020.
O governo alemão defendeu o imposto no tribunal em uma audiência no ano passado. Ele argumentou que os custos associados à reunificação da Alemanha ainda estão em andamento e que o imposto não precisa estar vinculado a uma despesa única e específica.
jps (DW, ots)
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Short teaser | Tribunal Constitucional rejeitou ação de deputados liberais que pediam extinção total de imposto criado nos anos 1990. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/justiça-alemã-mantém-imposto-da-reunificação/a-72046615?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | No ano passado, o imposto de solidariedade rendeu cerca de 12,6 bilhões de euros aos cofres do Estado | ||
Image source | Sven Hoppe/dpa/picture alliance | ||
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Item 22 | |||
Id | 72044456 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | Estudantes estrangeiros geram bilhões de euros para a Alemanha | ||
Short title | Estudantes estrangeiros geram bilhões de euros para Alemanha | ||
Teaser |
Estudo mostra que quem chega para estudar, mesmo recebendo uma educação superior gratuita, beneficia os cofres públicos e ajuda o crescimento econômico do país, através de impostos e contribuições para a previdência.Os estudantes estrangeiros geram bilhões de euros para os cofres públicos da Alemanha e ajudam a estimular o crescimento econômico, de acordo com um estudo publicado na semana passada pelo Instituto Econômico Alemão (IW).
Os pesquisadores da entidade, sediada em Colônia, calcularam que apenas os 79 mil estudantes estrangeiros que começaram a estudar na Alemanha em 2022 pagarão quase 15,5 bilhões de euros (quase R$ 100 bilhões) a mais em impostos e contribuições para a previdência social do que receberão em benefícios.
O presidente do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), Joybrato Mukherjee, que encomendou o estudo, disse que o resultado mostra que "os estudantes estrangeiros são um trunfo para o nosso país de muitas maneiras, não apenas academicamente, mas também economicamente".
A Alemanha tem uma elevada "taxa de permanência" de estudantes estrangeiros: de acordo com um estudo da OCDE de 2022, cerca de 45% das pessoas que foram para a Alemanha com um visto de estudante em 2010 ainda estavam no país dez anos depois.
Nesse período, eles já terão mais do que coberto o custo de sua educação: o IW calculou que esse custo estará coberto, pelo pagamento de impostos e contribuições para a previdência social, se 40% deles permanecerem por três anos após o término dos estudos.
Por que estudantes estrangeiros gostam da Alemanha?
Certamente há vários motivos para estudantes estrangeiros optarem pela Alemanha, mas um foi particularmente atraente para o desenvolvedor de software egípcio Younis Ebaid, de 28 anos, que se mudou para Ingolstadt em 2021 para fazer seu mestrado em inglês em engenharia automotiva na Universidade Técnica de Ciências Aplicadas (THI) da cidade bávara.
"Minha primeira opção eram países de língua inglesa, mas é muito, muito caro", explica Ebaid. "A Alemanha era a opção mais acessível." Quase todas as instituições acadêmicas na Alemanha não cobram mensalidades, mesmo para estudantes estrangeiros.
O ensino superior gratuito pode ter sido estabelecido devido a preocupações com justiça social, muitas décadas atrás, mas hoje ele é um incentivo para atrair mão de obra qualificada para o país.
"Nós só pagamos contribuições públicas semestrais, que na minha universidade eram de 60 euros por semestre – isso é ainda mais barato do que minha universidade no Egito", diz Ebaid.
Ingolstadt também pontuava por outros motivos: essa cidade de apenas 140 mil pessoas é a sede da montadora Audi, que financia grande parte da pesquisa feita no THI.
Ebaid disse que muitos de seus professores tinham experiência de trabalho na gigante automobilística. "Basicamente, a cidade inteira respira automóveis, então foi uma opção muito boa", acrescenta.
Transição para o mercado de trabalho
O ensino superior na Alemanha pode até ser gratuito, mas o custo de vida na Baviera é maior do que o de Ebaid no Egito – razão pela qual ele encontrou um trabalho de meio período como desenvolvedor de software em Munique, um emprego mediado pelos serviços universitários.
O economista Wido Geis-Thöne, coautor do relatório, disse que esta foi a principal surpresa do estudo: "Estudantes estrangeiros estão fazendo contribuições já durante seus estudos, porque uma grande parte deles consegue emprego".
Bem mais difícil é a transição para o mercado de trabalho após a formatura. Os empregos de meio período mediados pela universidade são apenas para estudantes. Depois que se formam, os estrangeiros estão no mercado de trabalho como todos os outros, e a indústria automotiva da Alemanha está passando por uma fase difícil. Tanto a Audi quanto a Volkswagen têm demitido trabalhadores nos últimos meses.
"Quando cheguei à Alemanha, a economia estava em boa forma", diz Ebaid. "Mas, quando terminei meu mestrado, em 2024, o declínio começou. Eu enviei candidaturas por oito meses até conseguir um emprego de tempo integral."
Enquanto não achava emprego, Ebaid se virou trabalhando em restaurantes e hotéis. Hoje ele é engenheiro de desenvolvimento de software para uma empresa indiana global que faz software para fabricantes de automóveis alemães. "Tive sorte", comenta. "Era uma das poucas empresas que estava iniciando projetos." Ele menciona que conhece ex-colegas que estão há mais de um ano procurando trabalho.
Ficar na Alemanha
A experiência de Ebaid corrobora o resultado do estudo do IW. Na última década, a Alemanha tentou criar uma estrutura legal para fazer com que estudantes estrangeiros permanecessem no país. "No mundo anglo-saxão, não é sempre o caso que eles realmente queiram que os estudantes estrangeiros fiquem", diz Geis-Thöne. "Na verdade, às vezes há obstáculos legais para isso."
Se em outros países os estudantes estrangeiros são vistos principalmente como uma fonte de renda extra para as universidades, na Alemanha a indústria começou a ver os campi universitários como locais de recrutamento. Ebaid concorda: "O sistema que já está em vigor é muito bom", diz. "Minha universidade deu workshops sobre como preparar um currículo, como se sair bem em entrevistas, como entrar no mercado alemão. Eles também organizam feiras anuais de empregos e trazem empresas para o campus universitário."
Ebaid ressalva que sempre foi seu plano ficar na Alemanha depois dos estudos embora hoje, diante das dificuldades econômicas do país, ele esteja pensando em se mudar. "O principal problema é que as grandes empresas estão perdendo dinheiro, então estão fechando muitos projetos e demitindo muitas pessoas", comenta.
A Alemanha pode estar fazendo muitas coisas certas, mas há espaço para melhorias. Ebaid diz que seu maior problema era a falta de flexibilidade quando se trata do idioma. "Em alguns escritórios do governo, as informações estão disponíveis apenas em alemão, e, embora as pessoas lá falem inglês, elas preferem falar alemão", diz. "Isso é algo que eles podem melhorar: ser mais tolerantes com a barreira do idioma."
Embora não precise falar alemão no seu emprego, onde o idioma de trabalho é o inglês, Ebaid está aprendendo alemão porque quer se candidatar à residência permanente. "Se eu fosse mais proficiente em alemão, minha vida teria sido muito mais fácil", diz. "Fui rejeitado em muitas empresas porque o idioma de trabalho era o alemão."
O IW fez várias recomendações sobre como melhor integrar os estudantes estrangeiros na força de trabalho, incluindo promover uma imigração direcionada – mas, acrescentou, esse não deve ser um fim em si mesmo. Afinal, educar pessoas de todo o mundo é, em última análise, vantajoso para a Alemanha, pois fortalece as relações com outros países e promove uma comunidade internacional no meio acadêmico – mesmo se, ou especialmente se, os estudantes estrangeiros voltarem para casa após seus estudos.
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Short teaser | Quem chega do exterior para estudar, mesmo recebendo educação superior gratuita, beneficia os cofres públicos alemães. | ||
Author | Ben Knight | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/estudantes-estrangeiros-geram-bilhões-de-euros-para-a-alemanha/a-72044456?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Estatísticas mostram que muitos estrangeiros que estudam na Alemanha ficam no país | ||
Image source | Christoph Hardt/Geisler-Fotopress/picture alliance | ||
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Item 23 | |||
Id | 72041980 | ||
Date | 2025-03-26 | ||
Title | [Coluna] Brasil de Lula está preso no passado | ||
Short title | Brasil de Lula está preso no passado | ||
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Alimentos caros, pouco investimento na juventude, corrupção: já avançado em seu mandato, o presidente parece só estar apostando em seus antigos êxitos. E o país segue travado por abordagens nostálgicas e ultrapassadas. O presidente e ícone da esquerda Luiz Inácio Lula da Silva já está bem avançado na segunda metade de seu mandato, mas não consegue convencer a maioria dos brasileiros. As pesquisas mostram um profundo sentimento de insatisfação, ligado principalmente à percepção de que nada avança, que o Brasil está parado. Falta visão, faltam projetos, não há um conceito claro de futuro ou ideias inovadoras. Onde está o Brasi, para onde quer ir? Lula respondeu a essa pergunta recentemente? O próprio Lula não havia colocado o sarrafo muito alto: o Brasil deveria voltar a ser "feliz", prometeu, e os pobres novamente poder comprar "picanha e cervejinha". Mas nem isso foi alcançado. A inflação persistente, somada às más colheitas (mudanças climáticas!) e a uma oferta reduzida pela agricultura voltada à exportação, resulta em preços elevados dos alimentos – algo especialmente duro para os brasileiros socialmente vulneráveis. A autoconfiança de Lula se baseou em seus antigos êxitos presidenciais, quando a economia crescia e a pobreza diminuía. Mas é como no mercado financeiro: desempenho passado não é garantia de resultados futuros. Uma ação que só sobe não significa que nunca vai cair. Lula aparentemente confiou tanto no passado e em seu talento de comunicador, que achou desnecessário um plano inovador e de longo prazo. Percebe-se uma ausência crítica na compreensão das mudanças sociais e econômicas por que o Brasil vem passando. Na retaguarda globalEspecialmente preocupante é a falta de investimentos na juventude. Onde estão as grandes iniciativas em ciência, tecnologia, educação e pesquisa? São esses os campos que definirão o futuro do Brasil na economia global do conhecimento. Ou o país pretende continuar para sempre fornecendo produtos primários e alimentos ao mundo (gerando poucos empregos qualificados), enquanto gerações de jovens brasileiros fazem "carreiras" no Betano, OnlyFans, como motoristas de Uber, entregadores de comida ou pedreiros não qualificados? O que mais simboliza essa triste realidade são os aviões sobrevoando diariamente as praias do Rio com faixas anunciando a Fatal Model, um serviço de acompanhantes. É paradoxal que, especialmente num governo de esquerda, faltem boas escolas públicas, formação e qualificação para os jovens, iniciativas e programas de incentivo ao empreendedorismo. Além disso, falta capital de risco das instituições financeiras e empresas. Aparentemente não há confiança no potencial inovador brasileiro – apesar do gigantesco reservatório disponível de gente talentosa e ambiciosa. Todo esse talento desperdiçado é o verdadeiro escândalo do Brasil. A paralisia do país fica especialmente evidente na urgente, mas inexistente, reforma da administração pública. O Estado brasileiro tradicionalmente sofre com ineficiência, burocracia, nepotismo e clientelismo. Em muitas cidades, a prefeitura é a maior empregadora, com prefeitos garantindo apoio político por meio dessa estrutura. Há, especialmente no Judiciário, servidores beneficiados por privilégios quase barrocos. Muito dinheiro dos impostos desaparece em bolsos particulares, sem qualquer contrapartida real, mas alimentando uma mentalidade baseada no jeitinho e na corrupção. Tente importar uma caixa de cerveja da Alemanha para o Brasil: a cerveja ficará mofando na Alfândega, se você não pagar uma "taxa de agilização". Nostalgia e visões ultrapassadasNão surpreende, portanto, que o Brasil ocupe a 123ª posição no quesito eficiência, entre 148 países no Índice Global de Competitividade do Fórum Econômico Mundial. Apesar da elevada carga tributária, a qualidade dos serviços públicos como educação, segurança e saúde não melhora – nem mesmo com Lula. Entre os 30 países com maior carga tributária do mundo, o Brasil oferece aos cidadãos o menor retorno, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Seria justamente tarefa básica de um governo de esquerda combater essa injustiça, que afeta sobretudo os mais pobres, já que os ricos podem comprar segurança, saúde e educação. Mas Lula, em vez de desenvolver uma visão moderna e ousada para o futuro, está preso a abordagens nostálgicas e ultrapassadas. Pior ainda é que Lula, como um patriarca ciumento, não deixa espaço para que surja uma liderança mais jovem e dinâmica no espectro da esquerda. Se Lula não mudar de rumo rapidamente, abrirá o caminho – assim como Joe Biden fez por teimosia geracional nos EUA –, para um bolsonarista como Tarcísio de Freitas chegar ao Palácio do Planalto no próximo ano. ================================= Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para jornais da Alemanha, Suíça e Áustria. Ele viaja frequentemente entre Alemanha, Brasil e outros países do continente americano. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio. O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente da DW. |
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Short teaser | Alimentos caros, pouco investimento na juventude, corrupção. E o presidente segue apostando em seus antigos êxitos. | ||
Author | Philipp Lichterbeck | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/coluna-brasil-de-lula-está-preso-no-passado/a-72041980?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 24 | |||
Id | 72029338 | ||
Date | 2025-03-25 | ||
Title | Mudança climática agrava doenças cardiovasculares | ||
Short title | Mudança climática agrava doenças cardiovasculares | ||
Teaser |
Na Austrália, calor extremo leva à perda anual de 50 mil anos de vida saudável devido a doenças cardiovasculares, mostra estudo. Pesquisadores da Austráliadescobriram que o aumento global das temperaturas está elevando os riscos causados pelas doenças cardiovasculares, segundo um estudopublicado no periódico científico European Heart Journal. As doenças cardiovasculares são o segundo maior contribuinte na chamada "carga de doença fatal" na Austrália. Elas incluem doença cardíaca coronariana, fibrilação auricular, ataque cardíaco, cardiopatia congênita, insuficiência cardíaca e AVC. A carga de doença é o impacto que um problema de saúde tem na vida das pessoas, considerando não apenas a mortalidade, mas também o quanto uma vida normal fica comprometida pela doença. Pressão alta, colesterol alto, falta de atividade física, má nutrição, tabagismo e estressesão fatores de risco bem conhecidos para doenças cardiovasculares. O estudo destaca como a exposição ao calor extremo tem sido negligenciada. "A carga de doenças cardiovasculares devido ao clima quente no contexto das mudanças climáticas pode dobrar nos próximos 25 anos", diz o principal autor do estudo, o cientista Peng Bi, especialista em saúde pública da Universidade de Adelaide, Austrália. O estudo se soma a crescentes evidências de que o calor causado pelas mudanças climáticas é um problema cada vez maior para a saúde. "Este é um chamado bastante alarmante para nossa comunidade, para nossos provedores de serviços e para nossos formuladores de políticas", afirma Bi. Anos de vida saudável perdidosO estudo analisou dados de saúde da população australiana entre 2003 e 2018 e é o primeiro a mostrar que altas temperaturas têm um grande impacto na saúde cardiovascular. Os investigadores utilizaram uma métrica conhecida como disability-adjusted life years (DALYs), que quantifica os anos de vida saudável perdidos devido a uma doença, seja por viver com uma deficiência ou por morrer prematuramente. A análise descobriu que a população da Austrália perdeu, a cada ano, em média, quase 50 mil anos de vida saudável (DALYs) devido a doenças cardiovasculares relacionadas ao calor durante o período analisado. O estudo descobriu ainda que pessoas que vivem em áreas mais quentes da Austrália, no Território do Norte, correm maior risco de sofrer com doenças cardiovasculares relacionadas ao calor. A modelagem realizada pelo grupo de pesquisa também descobriu que as doenças cardíacas relacionadas ao calor devem dobrar à medida que as temperaturas globais continuem a aumentar. Adaptação ao calorBi diz que as autoridades precisam considerar novas medidas para proteger populações vulneráveis de problemas de saúde relacionados ao calor. "Pessoas com doenças crônicas, idosos e pessoas com baixo status socioeconômico correm alto risco", afirma. Isso inclui verificações em grupos vulneráveis. Após uma forte onda de calor em 2009, Bi trabalhou com autoridades locais para introduzir um sistema de verificação por telefone. Durante os dias quentes, estudantes universitários voluntários na Cruz Vermelha faziam uma ligação telefônica para idosos duas vezes por dia para verificar se eles estavam bem e, caso contrário, sugeriam algumas ações. Outras medidas incluem mudanças de comportamento para se adaptar ao calor, como: • Manter-se em ambiente fresco e fechado sempre que possível em dias quentes. • Reduzir os níveis de atividade física. • Reduzir a exposição ao sol ao ar livre. • Manter-se hidratado. • Usar ar-condicionado para reduzir as temperaturas internas. Essas conclusões se aplicam ao resto do mundo?A pesquisa incluiu apenas dados de saúde da população australiana, o que significa que é difícil transpô-la para outras partes do mundo, diz o cardiologista Filippo Crea, da Universidade Católica do Sagrado Coração, em Roma. "No entanto, é definitivamente razoável supor que a tendência seja a mesma em outras regiões. Na Austrália, a mudança climática é, em média, maior do que na Europa, então esse é um extremo", diz. O estudo australiano se alinha com dados de outros países que mostram que o aumento das temperaturas está causando problemas de saúde. Em 2017, estudos previram que até 70% da população da Índia poderia ser exposta a um calor sob o qual não é mais possível viver até 2100. Um estudo mexicano recente projetou um aumento de 32% nas mortes relacionadas à temperatura entre pessoas com menos de 35 anos até 2100 se a população global e as emissões de carbono continuarem crescendo no atual ritmo. Bi e seus colegas escreveram que estudos são necessários para avaliar como as pessoas podem se adaptar às mudanças climáticas, particularmente as pessoas mais vulneráveis a condições de saúde afetadas pelo calor. |
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Short teaser | Na Austrália, calor extremo leva à perda anual de 50 mil anos de vida saudável devido a doenças cardiovasculares. | ||
Author | Matthew Ward Agius | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/mudança-climática-agrava-doenças-cardiovasculares/a-72029338?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Mudan%C3%A7a%20clim%C3%A1tica%20agrava%20doen%C3%A7as%20cardiovasculares |
Item 25 | |||
Id | 72021165 | ||
Date | 2025-03-25 | ||
Title | Ex-terrorista capoeirista da Fração do Exército Vermelho começa a ser julgada na Alemanha | ||
Short title | Ex-terrorista capoeirista do Grupo Baader-Meinhof é julgada | ||
Teaser |
Num dos prováveis últimos processos do gênero, Daniela Klette, que participava de rodas de capoeira em Berlim, é acusada de assaltos a carros-fortes e supermercados entre 1999 e 2016, já depois da dissolução da RAF.É bem possível que o julgamento da alemã Daniela Klette, que começa nesta terça-feira (25/03) em Celle, na Baixa Saxônia, seja um dos últimos grandes processos judiciais envolvendo os antigos terroristas do grupo alemão Fração do Exército Vermelho (RAF), também conhecido como Grupo Baader-Meinhof.
O caso recebe grande atenção da mídia, como sempre ocorre quando se trata do grupo terrorista que alarmou a antiga Alemanha Ocidental, sobretudo entre meados da década de 1970 e início de 1980. De acordo com investigadores, ele seria responsável por mais de 30 assassinatos.
Klette é acusada de envolvimento num ataque a bomba a uma prisão de Hessen e no atentado contra a embaixada dos EUA em Bonn nas décadas de 1980 e 1990, entre outros atos. Porém tudo isso terá ainda que ser esclarecido mais tarde, num outro processo, já que os crimes cometidos durante os tempos da RAF não são objeto deste julgamento.
Junto com Ernst-Volker Staub e Burkhard Garweg, Klette, hoje com 66 anos, teria atacado carros-fortes e supermercados entre 1999 e 2016, principalmente no norte da Alemanha, razão pela qual o julgamento ocorre na Baixa Saxônia. Como houve disparos de tiros durante os assaltos, Klette também é acusada de tentativa de homicídio.
Ela foi detida em Berlim em fevereiro de 2024, depois de anos vivendo tranquilamente sob identidade falsa no bairro berlinense de Kreuzberg, onde participava da comunidade brasileira e frequentava rodas de capoeira, segundo a imprensa alemã. Staub e Garweg – assim como ela, membros da "terceira geração" da RAF – continuam foragidos.
Klette aparentemente se sentia segura em Berlim. Segundo relatos na imprensa alemã, ela pegou um voo para o Brasil com documentos falsos, fez contatos com a cena de capoeira local, e publicou fotos da viagem em sua página no Facebook.
A RAF anunciou sua dissolução em 1998, numa carta que as autoridades consideram autêntica. O total de 13 assaltos que Klette, Staub e Garweg são acusados de ter cometido depois disso, não tinham mais o propósito de financiar atos terroristas, mas aparentemente apenas de sustentar três velhos revolucionários. Eles teriam roubado mais de 2,7 milhões de euros.
O Outono Alemão
Mas, quando se trata da RAF, todo cuidado é pouco para os investigadores e a Justiça alemães. O julgamento deveria ocorrer na cidade de Verden, na Baixa Saxônia, mas o tribunal local não foi considerado suficientemente seguro. Por isso, uma antiga pista hípica na cidade está sendo adaptada para receber o processo. Até lá, o julgamento ocorrerá na cidade de Celle, também na Baixa Saxônia.
Isso lembra os tempos em que a RAF chocou a antiga Alemanha Ocidental, especialmente em 1977, durante o que ficou conhecido como o Outono Alemão. Na época, foi construído dentro da prisão de Stuttgart-Stammheim um tribunal, especialmente para o julgamento dos líderes do grupo, encarcerados lá.
Desde seus primórdios, no início da década de 1970, a RAF, que se autodefinia como uma guerrilha urbana comunista e anti-imperialista, visou representantes do Estado alemão e empresários. O grupo assassinou o procurador-geral da República Siegfried Buback e o chefe do Dresdner Bank, Jürgen Ponto. Ao todo, 27 membros da RAF foram condenados à prisão perpétua ao longo das décadas seguintes.
A luta do grupo contra o Estado alemão atingiu seu auge no terceiro trimestre de 1977, no que ficou conhecido como o Outono Alemão. A RAF sequestrouo presidente da Federação dos Empregadores Alemães e da Federação Alemã da Indústria, Hanns-Martin Schleyer, para forçar a libertação de membros seus presos.
Quando o governo alemão, liderado pelo chanceler federal Helmut Schmidt (SPD), se recusou a negociar, simpatizantes palestinos da RAF sequestraram um avião da Lufthansa com turistas alemães em Maiorca, Espanha. Após passar pelo Oriente Médio, a aeronave finalmente pousou em Mogadixo, na Somália. Lá, uma unidade antiterrorista da polícia alemã resgatou todos os turistas.
Três dos quatro sequestradores foram mortos na ação. O piloto já havia sido assassinado pelos terroristas. Em consequência, suicidaram-se na prisão em Stuttgart três dos terroristas que eram acusados do sequestro de Schleyer.
Depois de seis semanas de martírio em poder dos sequestradores, Schleyer foi levado do esconderijo em Bruxelas para a França, onde o deixaram sair caminhando num campo, dando-lhe a impressão de liberdade, para logo depois matarem-no a tiros pelas costas. Seu corpo foi encontrado no dia 19 de outubro de 1977, no porta-malas de um carro, em território francês, perto da Alemanha.
Simpatia na extrema esquerda
O Estado alemão venceu a luta contra a RAF, que continuou atuando, mas nunca mais recuperou sua antiga força. Ao longo da década de 1970, muitos jovens alemães-ocidentais simpatizaram com o grupo, de forma aberta ou velada, na sua declarada "luta contra o imperialismo americano”.
Ao mesmo tempo, sobretudo a mídia criou um cenário de ameaça pública por parte do grupo, que provavelmente nunca existiu. Ao longo de toda sua existência, o núcleo de membros ativos da RAF não incluiu mais do que 80 indivíduos.
Klette parece nunca ter renunciado aos ideais da RAF e à luta revolucionária. Não se espera que faça alguma declaração ou confissão de culpa por ocasião do julgamento. Pouco antes de ser detida, ainda conseguiu alertar seus antigos companheiros Garweg e Staub, que continuam foragidos.
A polícia acredita que eles encontrem apoio na cena de extrema esquerda da Alemanha, na qual continua existindo muito simpatia pela RAF. Os membros sobreviventes do grupo são tratados como mitos por extremistas de esquerda. Houve diversas pequenas manifestações em frente à prisão onde Klette está detida há mais de um ano, na Baixa Saxônia, assim como em Berlim.
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Short teaser | Num dos prováveis últimos processos do gênero, Daniela Klette é acusada de assaltos entre 1999 e 2016. | ||
Author | Jens Thurau | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ex-terrorista-capoeirista-da-fração-do-exército-vermelho-começa-a-ser-julgada-na-alemanha/a-72021165?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Daniela Klette é conduzida por policiais em 07/03/2024 | ||
Image source | Uli Deck/dpa/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/68464356_354.jpg&title=Ex-terrorista%20capoeirista%20da%20Fra%C3%A7%C3%A3o%20do%20Ex%C3%A9rcito%20Vermelho%20come%C3%A7a%20a%20ser%20julgada%20na%20Alemanha |
Item 26 | |||
Id | 71989485 | ||
Date | 2025-03-24 | ||
Title | Homens estão crescendo mais do que mulheres | ||
Short title | Homens estão crescendo mais do que mulheres | ||
Teaser |
Altura média masculina aumentou duas vezes mais rápido do que a feminina nos últimos anos, mostra estudo. Alimentação, acesso à saúde, fatores genéticos e hormônios podem explicar essa diferença evolutiva.Entre os 20 países com as populações mais altas do mundo, quase todos estão na Europa. Mas os habitantes da Ásia, América Latina e África também estão ficando mais altos. Em outras regiões, como nos Estados Unidos, o tamanho da população está praticamente estagnado.
E os homens estão crescendo mais: a diferença média de altura deles em relação à das mulheres é muito maior hoje do que há um século, e segue aumentando.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 135 mil pessoas de 69 países com suas respectivas condições de vida foram comparados por pesquisadores para um estudo, e os resultados, publicados em janeiro na revista científica Biology Letters.
A análise indica que a altura e o peso dos homens aumentaram duas vezes mais rápido do que as das mulheres no último século, especialmente em regiões mais prósperas. O aumento de tamanho está relacionado a melhores condições de vida, bom atendimento médico e uma melhor alimentação. Em países mais carentes, ambos os sexos seguem menores e com pouca diferença de altura.
Quanto mais rico, mais alto?
A população da Holanda é mais alta do mundo: os holandeses medem em média 1,83m, e as holandesas, 1,70m. Os homens mais baixos vivem no Timor Leste, com 1,60m de altura em média. Já as guatemaltecas são menores mulheres do mundo, com média de 1,50m.
O Brasil figura na 70ª posição entre as mulheres, com uma média de 1,62m de altura, e na 64ª entre os homens, com média de 1,75m.
Há uma hipótese que considera que quanto mais rico for um país e quanto melhor for a assistência médica, mais alta será sua população. Mas ela não é totalmente verdade. A altura média menor de países ricos, como Cingapura ou Catar, mostra que há outros fatores que influenciam o crescimento, além de questões econômicas ou médicas.
Fatores ambientais, como dieta e padrão de vida, são responsáveis por somente 20% da variabilidade. A genética determina cerca de 80% do crescimento, ou seja, a altura média dos pais é uma boa referência para o tamanho dos filhos.
Certos genes, inclusive um no cromossomo Y, prolongam a fase de crescimento dos ossos nos homens. Mas, basicamente, não existem "genes de altura" únicos. Até 12 mil variantes influenciam a estatura. Eles regulam processos como o crescimento do esqueleto, mecanismos de formação de ossos e cartilagens, além da produção de colágeno, proteína que serve como estrutura de suporte para o tecido humano.
Além das razões genéticas, as diferenças hormonais também determinam o processo. As meninas passam pela puberdade mais cedo, o que interrompe o crescimento mais cedo. Os meninos, por outro lado, têm mais tempo para crescer.
De acordo com o estudo, a "seleção sexual", ou seja, a competição entre os sexos, também desempenha um papel central. As mulheres tendem a preferir homens mais altos, pois a altura é frequentemente associada à força, vitalidade e proteção. Ao longo das gerações, isso fez com que os homens mais altos conseguissem transmitir seus genes com mais frequência.
Homens se beneficiam de melhores cuidados
Em muitas partes do mundo, meninas e mulheres se alimentam pior do que meninos e homens, o que pode afetar o potencial de crescimento. No entanto, mesmo em condições ideais, as mulheres não necessariamente ficam mais altas.
De acordo com o estudo, melhores condições de vida parecem ter mais efeito no quesito crescimento sobre os homens do que as mulheres. É possível que o corpo masculino utilize adicionalmente de maneira mais intensa alimentos ricos em energia para o crescimento. Isso torna o corpo maior e mais forte.
Esse mesmo efeito não é tão marcante nas mulheres. De acordo com o estudo, a razão evolutiva para isso pode ser o fato de o corpo feminino despender significativamente mais energia em gestações e períodos de amamentação do que no crescimento.
Mas o tamanho também tem desvantagens evolutivas, pois homens mais altos sofrem com mais frequência de dores nas costas, adoecem mais e têm um risco maior de câncer.
E por que as pessoas encolhem na velhice?
Seja homem ou mulher, saudável ou doente, a partir dos 30 anos de idade, as pessoas invariavelmente começam a encolher cerca de um centímetro a cada dez anos, devido principalmente aos discos intervertebrais.
Isso ocorre porque o conteúdo de fluido do corpo diminui com a idade, fazendo com que esses discos, que atuam como amortecedores entre as vértebras, percam a elasticidade. Como não podem mais se encher de água, eles se tornam mais finos, e a pessoa diminui de tamanho.
Doenças como a osteoporose ou a má postura durante um prolongado tempo sentado podem acelerar o encolhimento, um processo que não pode ser interrompido, mas sim retardado, por exemplo, adotando uma postura ereta ao sentar-se, exercícios adequados e treinamento focado nas costas.
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Short teaser | Altura média masculina aumentou duas vezes mais rápido do que a feminina nos últimos anos, mostra estudo. | ||
Author | Alexander Freund | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/homens-estão-crescendo-mais-do-que-mulheres/a-71989485?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Holandeses são a população mais alta do mundo | ||
Image source | mabe123/Shotshop/picture alliance | ||
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Item 27 | |||
Id | 72012402 | ||
Date | 2025-03-23 | ||
Title | Marcha neonazista em Berlim termina com 90 presos | ||
Short title | Marcha neonazista em Berlim termina com 90 presos | ||
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Centenas de extremistas de direita pretendiam marchar por distrito da capital alemã, mas mal conseguiram sair do lugar após terem passagem bloqueada por contramanifestações de esquerda.Uma marcha de extremistas de direita em Berlim foi dispersada abruptamente no sábado (22/03), após cerca de quatro horas, diante de várias contramanifestações organizadas por grupos de esquerda. Marcada por diversas brigas e choques com a polícia, a marcha terminou com 90 pessoas presas pela polícia.
A manifestação, que reuniu membros da cena de extrema direita e diversos neonazistas, havia sido convocada por um ex-membro do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) chamado Ferhat Sentürk, com o mote "Pela Lei e pela Ordem. Contra o extremismo de esquerda e a violência com motivação política". Ao todo, 860 pessoas compareceram, com a intenção de marchar por sete quilômetros em ruas do distrito berlinense de Friedrichshain, na região central da capital alemã.
Mas, segundo a imprensa alemã, os participantes mal conseguiram sair do lugar por causa de pelo menos dez contramanifestações que ocorreram nas imediações. Convocadas por grupos de esquerda e ativistas antifascistas, elas reuniram mais de 2 mil pessoas, e efetivamente bloquearam as vias que estavam na rota da marcha de extrema direita.
Segundo a polícia, após um atraso de quase quatro horas, os participantes da marcha só conseguiram se deslocar por apenas 100 metros antes de a manifestação ser dispersada pelos próprios organizadores.
90 prisões
A polícia relatou repetidas brigas durante a (tentativa) de marcha e as contramanifestações. As autoridades deslocaram 1,6 mil agentes de segurança para o local, com reforço de membros das polícias dos estados de Bremen e da Baviera
De acordo com um porta-voz da polícia, várias prisões foram efetuadas porque os participantes da manifestação neonazista violaram a proibição do uso de máscaras. Outros exibiram símbolos nazistas proibidos.
Segundo a imprensa alemã, foi possível ouvir vários manifestantes de extrema direita cantando músicas de organizações do antigo regime nazista (1933-1945)
De acordo com uma porta-voz da polícia, manifestantes do campo de esquerda também tentaram romper uma barreira. Policiais também usaram spray de pimenta para conter participantes das contramanifestações, após alguns atirarem garrafas nos policiais, de acordo com as autoridades.
Ao todo, 90 prisões foram efetuadas, envolvendo acusações de lesão corporal perigosas, uso de símbolos de organizações inconstitucionais e terroristas, agressão a agentes da lei, resistência a agentes da lei e danos à propriedade.
Segundo comunicado da polícia, entre os 90 presos, 41 foram detidos por crimes ou infrações "com motivação de direita". Outros 31 foram por crimes ou infrações com "motivação de esquerda". Ainda de acordo com o comunicado, 19 policiais ficaram feridos.
Essa foi a terceira manifestação de extremistas de direita em Berlim desde dezembro. A primeira delas, no ano passado, reuniu apenas 60 participantes. Já uma marcha em fevereiro reuniu 150 neonazistas. Em ambos os casos as marchas foram bloqueadas por contramanifestantes.
Jps (DW, ots)
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Short teaser | Extremistas pretendiam marchar por distrito da capital alemã, mas tiveram passagem bloqueada por contramanifestações. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/marcha-neonazista-em-berlim-termina-com-90-presos/a-72012402?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Participantes de marcha que reuniu extremistas de direita em Berlim | ||
Image source | Michael Kuenne/ZUMA/picture alliance | ||
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Item 28 | |||
Id | 71997307 | ||
Date | 2025-03-23 | ||
Title | Mulheres trans têm vantagens injustas no esporte? | ||
Short title | Mulheres trans têm vantagens injustas no esporte? | ||
Teaser |
Muitas federações esportivas agora excluem mulheres transgêneros de competições femininas, o que tem gerado debate intenso. Pesquisadores analisam um tema emocional e pleno de contradições.A controvérsia sobre atletas transgêneros em esportes competitivos já transcorre há anos. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump assinou em fevereiro um decreto proibindo a participação trans em nível nacional.
Muitas federações endureceram suas regras de participação, e mudanças também podem estar à vista para os Jogos Olímpicos, com a recém-eleita presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Kirsty Coventry, que se manifestou a favor de restrições mais rígidas para a categoria feminina.
Há diferenças no desempenho físico?
Homens e mulheres são avaliados separadamente na maioria dos esportes. Em 2023, cientistas fizeram uma declaração conjunta que consolidou esse entendimento: "Em eventos atléticos e esportes que dependem de resistência, força muscular, velocidade e potência, os homens normalmente superam as mulheres devido a diferenças sexuais fundamentais ditadas por seus cromossomos sexuais e hormônios sexuais na puberdade, em particular a testosterona".
Mulheres trans – designadas como do sexo masculino ao nascer, mas que se identificam como mulheres – também contam com essas vantagens. Se forem submetidas a terapia hormonal, as diferenças em relação às mulheres cisgênero são reduzidas. Mas mesmo assim ainda têm vantagens.
Além disso, a identidade trans é muito confundida no debate público com a intersexualidade. No caso das pessoas intersexuais, elas têm características sexuais masculinas e femininas desde o nascimento – que não é o caso das trans.
Num estudo de 2024, publicado na revista científica British Journal of Sports Medicine (BJSM), a força absoluta de preensão manual de 23 atletas trans analisados (que haviam passado por pelo menos um ano de terapia hormonal) foi menor do que a dos 19 homens cis participantes, mas maior do que a das 21 mulheres cis. A força de preensão manual é considerada um indicador da força muscular geral.
As mulheres trans que participaram também tiveram uma vantagem em parâmetros como o índice de massa magra e o consumo máximo absoluto de oxigênio (VO2 max), uma medida de condicionamento físico.
Em algumas modalidades, no entanto, tiveram desempenho pior do que as mulheres cis, por exemplo no salto vertical por estocada (chamado também de salto de contramovimento absoluto). De acordo com os autores do estudo, isso mostra a complexidade da fisiologia das atletas trans. Os pesquisadores alertam contra uma exclusão preventiva.
"As mulheres trans, como grupo populacional, são mais altas, maiores e, num sentido absoluto, mais fortes do que as mulheres cis", explica Joanna Harper, física médica da Universidade de Loughborough, no Reino Unido. "No entanto, depois de passar pela terapia hormonal, seus corpos se movem com capacidade aeróbica e massa muscular reduzidas."
Isso pode implicar desvantagens em termos de velocidade, recuperação e resistência. Pessoas trans enfrentam ainda uma carga de preconceito, violência e discriminação que pode afetar sua saúde mental e não deve ser subestimado como componente do desempenho atlético, destacam os pesquisadores.
Vantagens trans mesmo após terapia hormonal
Um estudo de 2020 realizado pelo médico Timothy Roberts e colegas da Universidade de Missouri-Kansas City examinou militares dos EUA que se submeteram a cirurgia de afirmação de gênero.
Após um ano de terapia hormonal, as trans tiveram melhor desempenho nos esportes do que as cis. Depois de dois anos, o desempenho praticamente se igualou. De acordo com os autores do estudo, isso seria uma indicação de que é breve demais o período de um ano de terapia hormonal, prescrito por algumas associações esportivas como pré-requisito para participação.
Em 2021, Alun Williams e outros pesquisadores da Associação Britânica de Ciências do Esporte e Exercícios concluíram, com base nos indícios científicos disponíveis, que a terapia hormonal só elimina uma parte da vantagem masculina, mesmo após dois anos. Não há, portanto, uma unanimidade sobre o tema entre pesquisadores.
Cromossomos, diferenças sexuais e puberdade
Antes da puberdade, meninos e meninas são fisiologicamente muito mais parecidos em termos de desempenho atlético. As diferenças se tornam particularmente claras quando o nível de testosterona se multiplica nos meninos, por volta dos 11 anos de idade. Entretanto, algumas pesquisas sobre os primeiros anos de vida mostram que as diferenças antes da puberdade são maiores do que se supunha anteriormente.
Em estudo publicado em 2024, o cientista esportivo Gregory Brown, da Universidade de Nebraska, e pesquisadores da Universidade de Essex, no Reino Unido, analisaram o desempenho de crianças com 8 anos ou menos e entre 9 e 10 anos nas provas de corrida de 100, 200, 400, 800 e 1.500 metros, assim como no arremesso de peso, lançamento de dardo e salto em distância.
"Os meninos estavam correndo mais rápido do que as meninas, estavam arremessando mais rápido, saltando mais rápido", explica Brown. "E, é claro, calculamos a diferença percentual e chegamos à conclusão de que, na corrida, a diferença era de cerca de 3% a 6%, dependendo do evento. No salto em distância, cerca de 5%; para os eventos de arremesso, de 20% a 30%."
De acordo com Brown, as diferenças pré-pubertárias podem também estar relacionadas à assim chamada minipuberdade dos meninos nos primeiros meses de vida, bem como ao cromossomo Y ou ao gene SRY. O Y é um dos dois cromossomos sexuais. As mulheres geralmente têm dois cromossomos X (XX), e os homens, um X e um Y (XY).
O cromossomo Y carrega muitos genes associados ao desenvolvimento e à reprodução masculina. O gene SRY é particularmente importante para o desenvolvimento sexual masculino, responsável por acionar o desenvolvimento das características físicas masculinas.
Para Brown, a descoberta de uma vantagem contínua, mesmo antes da puberdade, lança ainda mais dúvidas sobre se a terapia hormonal poderia compensar as vantagens físicas de atletas trans e nivelar as condições de competição, pois a vantagem masculina iria além dos hormônios e da puberdade.
Os resultados também lançam dúvidas sobre se seria suficiente, para fins esportivos, não ter passado pela puberdade masculina. A Associação Mundial de Atletismo tem se baseado nesse requisito para a participação em competições femininas desde 2023. Na prática, a regra acaba por excluir atletas trans em geral, já que a grande maioria não toma medidas de redesignação de gênero antes da puberdade.
Em muitos países, bloqueadores de puberdade e cirurgia de mudança de sexo pré-pubertária são controversos, e o acesso a esses procedimentos é restrito.
Vantagem de mulheres trans sobre cis nos esportes é injusta?
As opiniões divergem sobre até que ponto é possível uma competição justa entre atletas trans e cisgêneros do sexo feminino. Mas os especialistas concordam que há grande necessidade de mais estudos sobre o desempenho atlético de pessoas trans em esportes de elite.
Joanna Harper discorda – em contraste com a avaliação de Brown e Williams – que a ciência sugira o banimento de mulheres trans das competições femininas: para ela, a terapia hormonal bastaria.
De qualquer forma, não existe justiça absoluta no esporte, defende a física médica: "Há atletas que são talentosos por natureza e, como se sabe, é justo que atletas menos talentosos tenham que enfrentá-los. Portanto, os esportes são inerentemente injustos."
"Contudo, o objetivo de subdividir os esportes em categorias é que as diferenças biológicas não suplante aquilo que a gente busca nos esportes. Assim, por exemplo, os boxeadores grandes têm uma vantagem tão enorme sobre os de menor porte, que segregamos esse esporte por categorias de peso, para que os boxeadores pequenos possam ganhar alguma coisa", argumenta Harper.
O exemplo do boxe mostra como pode ser complexa a busca por categorias de competição que não sejam demasiado, mas suficientemente diferenciadas. A vantagem masculina também tem efeitos distintos no esporte. Embora crie diferenças importantes em modalidades que envolvem força, como levantamento de peso, a situação é diferente em esportes de tiro ou dança.
Por último, mas não menos importante, a questão da equidade não deve tirar de cena a da inclusão. O próprio COI manifesta que "Toda pessoa tem o direito de praticar esportes sem discriminação e de uma forma que respeite sua saúde, segurança e dignidade. Ao mesmo tempo, a credibilidade do esporte competitivo – e particularmente das competições esportivas organizadas de alto nível – depende de uma igualdade de condições."
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Short teaser | Federações esportivas excluem mulheres transgêneros de competições femininas, o que tem gerado debate intenso. | ||
Author | Stephanie Burnett, Ines Eisele | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/mulheres-trans-têm-vantagens-injustas-no-esporte/a-71997307?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Americana Lia Thomas foi a primeira atleta trans a ganhar um título universitário, em 2022 | ||
Image source | Chris Szagola/AP/Picture Alliance | ||
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Item 29 | |||
Id | 71996063 | ||
Date | 2025-03-21 | ||
Title | Racismo na Alemanha é cotidiano, não exceção, aponta estudo | ||
Short title | Racismo na Alemanha é cotidiano, não exceção, aponta estudo | ||
Teaser |
Mais de 60% das muçulmanas e das pessoas negras afirmam sofrer discriminação na Alemanha, segundo levantamento do Monitor Nacional para Discriminação e Racismo. As consequências são graves.Quem é jornalista em Berlim, por exemplo, e quer conversar sobre experiências pessoais de discriminação na Alemanha, não precisa ir muito longe: os casos brotam por todos os lados. E o que confirma o recém-publicado Monitor nacional para discriminação e racismo (NaDiRa, na sigla em alemão).
Professora de um maternal em Berlim, Fatma começa o dia dirigindo o carro para o trabalho: "Os outros motoristas me olham com desconfiança." Ela se veste de maneira elegante, e usa lenço de cabeça. "No curso de formação, minha professora disse que achava o lenço anti-higiênico."
Fatma lembra que concluiu o treinamento com uma nota "muito boa". Mas não é fácil para ela conseguir um emprego, embora a Alemanha precise urgentemente de mais instrutores para as escolas maternais. Sua sensção é de que o lenço a coloca em desvantagem: "Isso me põe para baixo, faz algo comigo."
Hanna, que também mora em Berlim, diz que não se atreve a entrar em certos bairros. Quando viaja de metrô com os filhos, ouve regularmente o que chama de "comentários estúpidos", por causa das crianças e do seu cabelo escuro: "As pessoas dizem que eu deveria voltar para o meu país." É bem visível o quanto essa hostilidade a magoa, especialmente se acontece na frente dos filhos.
Experiências com racismo não são acaso
Coautora do Monitor sobre racismo, Aylin Mengi, do Centro Alemão de Pesquisa sobre Integração e Migração (Dezim), lembra que "as experiências de discriminação não acontecem por acaso, mas geralmente se baseiam em atribuições racistas".
O estudo, para o qual os pesquisadores entrevistaram quase 10 mil indivíduos de todo o país, se caracteriza como uma das mais abrangentes compilações de dados sobre racismo e discriminação na Alemanha.
Os resultados apontam que quem é percebido como imigrante ou muçulmano é particularmente afetado, independentemente de sê-lo ou não. Algumas mulheres por usarem um lenço na cabeça, como Fatma; outros por causa da cor da pele. Ou por terem cabelo escuro, como Hanna. Mais da metade dos entrevistados rotulados por características físicas como essas sofrem discriminação no dia a dia pelo menos uma vez por mês.
"Racismo torna-se mais sutil"
Entre os habitantes da Alemanha entrevistados para a pesquisa, as mulheres muçulmanas e os negros são os mais afetados, com mais de 60% sofrendo discriminação cotidiana.
"Vemos que as experiências de discriminação são distribuídas de forma desigual na sociedade alemã. E percebemos que o racismo na Alemanha está se tornando mais sutil e se adaptando às normas sociais", explica Cihan Sinanoğlu, diretor do Monitor.
A alegação de que as minorias étnicas e religiosas fazem exigências políticas demais ainda é bastante difundida na sociedade dominante: "Isso mostra que certos grupos sociais ainda têm direitos políticos negados."
Estresse psicológico
As experiências de preconceito e marginalização têm consequências graves, explica Sinanoğlu, com base nos resultados do estudo: "Os transtornos de ansiedade e depressão aumentam quanto mais experiências de discriminação e racismo se tem. E a confiança nas instituições diminui quanto maior é a dimensão das experiências discriminatórias".
Os autores do estudo criticam o fato de que o racismo é, com muita frequência, ignorado pelos partidos políticos na Alemanha, por considerá-lo uma questão minoritária.
"Vivemos numa sociedade pós-migratória: uma em cada três famílias na Alemanha tem relações com migrantes. As experiências discriminatórias não atingem somente determinados indivíduos, mas sim uma grande parte da sociedade", analisa Naika Foroutan, diretora do Dezim.
Por outro lado, ela acredita que uma percepção é constantemente esquecida: "Há uma ampla maioria contra o racismo na Alemanha. As pessoas querem aprender, e não estão cansadas de ser informadas sobre o tema."
A comissária federal para Antidiscriminação, Ferda Ataman, vê nos resultados uma tarefa clara para os políticos: "Temos leis antidiscriminação muito fracas. O estudo mostra claramente que os cidadãos precisam ser mais bem protegidos."
Ela dirige essa reivindicação sobretudo ao futuro governo alemão, que está sendo negociado em Berlim entre conservadores cristãos (CDU/CSU) e social-democratas (SPD).
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Short teaser | Mais de 60% das muçulmanas e dos negros sofrem discriminação na Alemanha. Consequências são graves. | ||
Author | Hans Pfeifer | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/racismo-na-alemanha-é-cotidiano-não-exceção-aponta-estudo/a-71996063?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Muçulmanas estão entre as maiores vítimas de discriminação pela sociedade alemã | ||
Image source | Dwi Anoraganingrum/Panama Pictures/picture alliance | ||
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Item 30 | |||
Id | 72001444 | ||
Date | 2025-03-21 | ||
Title | Alemanha quer investir 1 trilhão de euros – mas não sabe bem como | ||
Short title | Alemanha quer investir EUR 1 trilhão – mas não sabe bem como | ||
Teaser |
É importante construir pontes, reformar ferrovias, proteger o clima, equipar as Forças Armadas. Mas dinheiro só não basta: é preciso planejamento rápido, empresas eficientes e especialistas. Nos últimos anos uma série de grandes projetos simplesmente saíram do controle na Alemanha. Por exemplo: o Aeroporto Berlim-Brandemburgo, a sala de concertos Elbphilharmonie em Hamburgo, ou a estação ferroviária Stuttgart 21. Erros de planejamento, defeitos na construção, explosões de custos, disputas legais, anos de atrasos nas obras: a lista é longa. E há muitas razões para isso, desde planos mal feitos e processos de autorização demorados, até gargalos de pessoal e material nos canteiros de obras. Em Stuttgart, houve incertezas e atrasos porque partes da empresa responsável por montar a infraestrutura digital foram vendidas. Dinheiro não resolve o problemaPara a Associação Alemã de Contribuintes (BdSt), todos esses empecilhos não são motivo para considerar um equívoco o bilionário pacote financeiro para defesa, infraestrutura e meio ambiente do provável futuro governo federal, formado por conservadores cristãos (CDU/CSU) e social-democratas (SPD). Depois do Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão, com deputados federais eleitos), o Bundesrat (câmara alta, com representantes dos 16 estados federados) também deu sinal verde para o pacote financiado por novas dívidas. Além dos gastos praticamente ilimitados com defesa, o pacote prevê 500 bilhões de euros para investimentos em infraestrutura nos próximos 12 anos. Para o presidente do BdSt, Reiner Holznagel, o problema não é necessariamente a ausência de recursos para remediar o atraso nos investimentos no país: "A Alemanha está sufocada pela burocracia e por estruturas ineficientes. Precisamos de licitações mais rápidas e competências claras. Mas um novo fundo de dívida não resolve todas essas questões." A economista e professora da Universidade Técnica de Nurembergue, Veronika Grimm, concorda: as verbas adicionais do pacote da dívida não podem ser gastos com a rapidez que seria necessária. Como declarou no Comitê de Orçamento do Bundestag, os procedimentos de planejamento e autorização são "um gargalo para o gasto desses fundos". Ela também urge por "reformas que estimulem o crescimento", já que, até o momento, as projeções indicam que o pacote não deverá dar grande impulso imediato ao crescimento econômico, com um possível efeito moderado em 2026: "Para 2027, dependerá de quão bem os fundos serão aplicados", observa Grimm. Construção como pedra fundamentalA previsão de economista alemã deve fazer soar o alarme entre os políticos: afinal, os bilhões em dívidas têm como objetivo principal revitalizar a economia da Alemanha o mais rápido possível. "Podemos começar imediatamente. A construção civil dispõe de capacidade para novas obras e tem a expertise para realizar os projetos de infraestrutura", assegura Felix Pakleppa, diretor executivo da Associação Alemã da Indústria da Construção. Atualmente, o setor está subutilizado, com 40% de todas as empresas reclamando da falta de encomendas, que, em alguns casos, caíram drasticamente nos últimos dois anos. A invasão da Ucrânia pela Rússia, a subsequente crise energética e a inflação impulsionaram os preços significativamente, o que desacelerou a construção civil em particular, já que muitos não conseguem pagar os aluguéis, necessários para cobrir os custos. Autorizações demoram muitoO setor de construção também pede enfaticamente a redução na burocracia, classificando a situação atual como inaceitável. "Na construção de autoestradas, até 85% do tempo pode ser gasto em processos de planejamento, apenas 15% na construção em si", relata Pakleppa. Há anos se reivindica a redução da burocracia. Atualmente, uma em cada duas empresas considera que o maior obstáculo para um maior crescimento econômico é a carga de longos procedimentos administrativos, comprovações e verificações de documentação, relatórios estatísticos e requisitos de proteção de dados. No fim de 2024, o Instituto de Pesquisas Econômicas (IFO) de Munique fez constar de um estudo: "A Alemanha está perdendo até 146 bilhões de euros por ano em produção econômica; devido ao excesso de burocracia." Mais escassez de mão de obraOutro problema para o país deve surgir da escassez de mão de obra qualificada, o que vem crescendo há anos. Em parte, o tema sumiu das manchetes porque a Alemanha está em seu terceiro ano de recessão, demissões e contratos de curta duração se tornaram a regra. Mas isso pode mudar rapidamente. Primeiro, a subutilização atual será sanada, e a "lacuna de produção", estancada, antecipa Grimm. Mas é possível que as empresas tenham muito mais encomendas do que realmente podem atender com suas equipes atuais, e neste caso será necessário aumentar a capacidade. Oferta e demanda determinam o preçoMas, afinal, de onde virá a mão de obra? A Alemanha é uma sociedade envelhecida, e um grande número de empregados se aposentará nos próximos anos. Falta sangue novo. Segundo um estudo da Fundação Bertelsmann, realizado em fins de 2024, serão necessários cerca de 288 mil trabalhadores estrangeiros todos os anos no país, até 2040 – e a pesquisa sequer inclui a demanda que pode surgir justamente a partir do pacote de defesa e infraestrutura. Veronika Grimm reforça que as verbas adicionais devem "realmente intensificar o potencial de produção, caso contrário, haverá pressão sobre os preços". Se houver mais encomendas do que a capacidade de produção, as empresas também podem fazer seus próprios preços, especialmente nas áreas onde são necessários resultados rápidos. Transporte no topo da listaA infraestrutura da Alemanha tem sido negligenciada há décadas. Cerca de 5 mil pontes estão tão dilapidadas que precisam ser reformadas com urgência. A empresa ferroviária Deutsche Bahn, notoriamente sobrecarregada e atrasada, lançou o maior projeto de reforma de sua história e planeja renovar mais de 4 mil quilômetros de trilhos em 40 fases trechos centrais nos próximos anos. Para reequipar logo as Forças Armadas alemãs, a Bundeswehr, armamentos e equipamentos militares precisam ser adquiridos mais rápido do que nunca. Fabricantes de armas já trabalham no limite, devido à guerra na Ucrânia. Sob comando de Donald Trump, os EUA não são mais um parceiro confiável da Otan. Contratos de defesa devem ser cada vez mais redistribuídos na Europa, o que promete tempos dourados para empresas como a siderúrgica Rheinmetall e a Airbus, de aeronavegação, que poderão praticamente ditar os preços. O dinheiro vai bastar?Muito dinheiro desperta cobiça. A Deutsche Bahn já calculou que precisará de 290 bilhões de euros para renovar sua infraestrutura até 2034. Um cálculo do Ministério dos Transportes projeta 140 bilhões de euros só para manter as principais estradas da Alemanha. Somente com essas duas somas, o recém-lançado pacote de infraestrutura de 500 bilhões de euros para os próximos 12 anos estaria praticamente esgotado. Uma análise atual da consultora Strategy&, subsidiária da empresa de auditoria PwC, confirmou: o valor não será mesmo suficiente. A demanda total, em níveis federal, estadual e municipal, seria de 982,1 bilhões de euros até 2035. |
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Short teaser | Construir pontes, reformar ferrovias, proteção climática, equipar a Bundeswehr. Dinheiro pode não ser suficiente. | ||
Author | Sabine Kinkartz | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-quer-investir-1-trilhão-de-euros-mas-não-sabe-bem-como/a-72001444?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Alemanha%20quer%20investir%201%20trilh%C3%A3o%20de%20euros%20%E2%80%93%20mas%20n%C3%A3o%20sabe%20bem%20como |
Item 31 | |||
Id | 71987341 | ||
Date | 2025-03-20 | ||
Title | A fascinante história do 'Príncipe Africano' de Gustav Klimt | ||
Short title | A fascinante história do 'Príncipe Africano' de Gustav Klimt | ||
Teaser |
Retrato de príncipe da África Ocidental William Nii Nortey Dowuona, feito pelo célebre pintor austríaco, está à venda por 15 milhões de euros. Mais impressionante do que o preço é a história por trás da obra de arte.Durante muito tempo, o retrato do príncipe da África Ocidental pintado em 1897 pelo austríaco Gustav Klimt foi dado por perdido: seus rastros desapareciam depois de 1938.
A reaparição da pintura Príncipe William Nii Nortey Dowuona se tornou uma sensação no mundo da arte, assim como o fato de ela estar prestes a ser vendida por 15 milhões de euros (R$ 92 milhões) na feira de arte Tefaf, em Maastricht, Holanda.
Um casal de colecionadores levou o quadro até a galeria dos negociantes de arte vienenses Wienerroither & Kohlbacher, há 25 anos especializada em Klimt. "Foi uma grande surpresa para nós", comenta o diretor da galeria, Alois Wienerroither.
Ele e seus sócios não reconheceram imediatamente o tesouro que estava escondido atrás da sujeira. "Nós olhamos para a pintura; ela estava suja e tinha uma moldura ruim; não parecia nada com Klimt." Após a limpeza, ficou claro que era a pintura de um príncipe da África Ocidental, de uma região que atualmente é parte do território de Gana.
Klimt, pioneiro da vanguarda austríaca
O vienense Gustav Klimt (1862-1918) foi um dos pintores mais importantes austríacos do final do século 19. Considerado o representante máximo do estilo art nouveau vienense, ou jugendstil, seus retratos abstratos de mulheres, como O beijo e a Dama dourada são mundialmente famosos.
Em 1897, fundou com um grupo próximo de artistas a Secessão de Viena. O coletivo de 50 artistas de vanguarda queria romper com o estilo realista do historicismo e lançar uma nova estética, tendo Klimt como presidente da associação.
Durante esse período de mudança ele pintou o retrato do príncipe da África Ocidental, em estilo realista. Para Wienerroither, trata-se de um quadro fundamental: "O fundo floral da pintura já é moderno e também evoca o retrato de Sonja Knips, filha de uma família de oficiais, que ele pintou um ano depois."
Exposições etnológicas em Viena
De acordo com as informações mais recentes, o próprio príncipe de Gana posou como modelo para Gustav Klimt, como parte de uma assim chamada "exposição etnológica".
O zoológico no parque de diversões vienense Prater, com suas populares "exibições etnográficas", seguia a tendência da virada do século. Representantes de outras culturas eram exibidos ou se apresentavam à força nesses shows, devido às ofertas tentadoras dos clientes.
Eventos semelhantes também eram realizados na Alemanha, por exemplo, no Zoológico Hagenbeck de Hamburgo. Os indivíduos dos grupos étnicos representados eram muitas vezes mantidos em espaços abertos, como animais num zoológico, em condições desconfortáveis e expostos à curiosidade do público. Da perspectiva atual, essas exibições eram racistas e indignas.
Como o príncipe foi a Viena para ver
Por muito tempo não ficou claro como Gustav Klimt entrou em contato com o príncipe da África Ocidental. Em 2007, o historiador de arte, fotógrafo e gerente de museu Alfred Weidinger publicou um catálogo crítico das pinturas de Klimt e descobriu que em 1897 o zoológico vienense havia convidado representantes do grupo étnico osu, da África Ocidental.
O sobrinho do rei Osu, William Nii Nortey Dowuona, foi enviado a Viena como líder do grupo. O príncipe posou não apenas para Klimt, mas também para seu colega Franz Matsch. Essa pintura está exposta no Museu Nacional de História da Arte de Luxemburgo.
História fantástica do retrato do príncipe
Após a morte de Gustav Klimt, em 1918, uma certa Ernestine Klein comprou o estúdio do artista e o converteu numa mansão. É possível que ela tenha também adquirido o retrato do príncipe num leilão em Viena, em 1923, mas isso não está documentado. O catálogo do leilão contém pelo menos uma fotografia da pintura.
Em 1928, dez anos após a morte de Klimt, a pintura apareceu numa exposição de aniversário. "Foi de lá que conseguimos encontrar o recibo de devolução", diz Alois Wienerroither, que foi em busca da procedência da pintura. "Ernestine Klein recuperou a pintura da exposição e assinou o recibo."
Como seu marido era judeu, a família teve que fugir dos nazistas em 1938. Adolf Hitler anexou a Áustria na "anexação" da Áustria à Alemanha. "Tudo indica que eles deixaram todas as obras para trás na casa. Quando retornaram depois da guerra, tudo havia sumido", relata Wienerroither. Como a pintura não apareceu em nenhum leilão depois da guerra, o dono da galeria suspeita que ela tenha sido revendida.
Ao vender pinturas que foram confiscadas ou roubadas – como neste caso pelos nazistas – a origem e a procedência devem ser verificadas. Por esse motivo, Alois Wienerroither visitou os descendentes da família Klein e chegou a um acordo financeiro com eles. "Há vários herdeiros, por isso demorou muito até finalmente negociarmos um acordo."
Visita à família do príncipe
Mas a história não termina aí: em Gana ela está apenas começando. "Neste caso, ficou provado quem é o príncipe, e eles até rastrearam seus descendentes", conta Wienerroither. Foi uma coincidência, pois "Alfred Weidinger, que elaborou o catálogo crítico de Klimt, há anos fotografava os reis na África".
Assim, ele também rastreou a família de William Nii Nortey Dowuona em Gana. "Ele agora está em contato com a família. É inacreditável. Aparentemente, eles ainda têm coisas que trouxeram de Viena, e elas ainda estão na família."
Weidinger tem um encontro planejado com a família em Gana. A história da pintura de Klimt e da pessoa do príncipe da África Ocidental serão transformadas num documentário para a televisão.
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Short teaser | Retrato de príncipe da África Ocidental feito pelo célebre pintor austríaco está à venda por 15 milhões de euros. | ||
Author | Gaby Reucher | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-fascinante-história-do-príncipe-africano-de-gustav-klimt/a-71987341?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Retrato de William Nii Nortey Dowuona: obra do pintor Gustav Klimt ficou perdida por muitos anos | ||
Image source | Oliver Berg/dpa/picture alliance | ||
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Item 32 | |||
Id | 71972822 | ||
Date | 2025-03-19 | ||
Title | Banco Imobiliário: a história de um jogo roubado | ||
Short title | Banco Imobiliário: a história de um jogo roubado | ||
Teaser |
Comprar imóveis e levar outros jogadores à falência: essa é a moral do mundialmente famoso jogo de tabuleiro que nos EUA ficou conhecido como "Monopoly". Mas a proposta de sua inventora, na verdade, era bem diferente.Ela sonhava com um mundo onde a justiça reina e onde a riqueza e a terra são distribuídas igualmente. Elizabeth Magie Phillips viveu nos Estados Unidos no final do século 19 – e seu sonho ainda não se tornou realidade. E o jogo criado por ela também está sendo jogado hoje de forma diferente do que ela provavelmente tinha em mente quando o criou. Para Magie, aliás, o nome dele nem deveria ser "Monopólio" – e muito menos Banco Imobiliário, como ficou conhecido no Brasil –, mas sim "Jogo do Senhorio".
Todos jogam, todos ganham
"A versão do Banco Imobiliário da Magie tinha dois conjuntos de regras: um sobre quebrar monopólios e outro sobre mostrar o quão prejudiciais os monopólios são. Estas últimas são as regras pelas quais jogamos hoje", diz Mary Pilon, autora de The Monopolists. Só que hoje o foco não está – como Magie talvez desejasse – em ver o prejudicial como de fato prejudicial.
O conjunto "idealista" de regras foi baseado na teoria do imposto único do economista americano Henry George (1837-1897), que propôs tributar a terra – pesadamente – e depois redistribuir a receita. No "Jogo do Senhorio" de Magie, todos os jogadores devem pagar impostos sobre suas propriedades. Quando alguém ganhava dinheiro, portanto, os lucros eram redistribuídos para que todos se beneficiassem no final.
No entanto, esse conjunto de regras nunca prevaleceu. Em vez disso, eis o que jogamos atualmente: quem tiver acumulado mais posses e dinheiro no final, vence. Já quem vai à falência, perde.
Em 1904, Magie registrou uma patente para o "Jogo do Senhorio". O jogo se espalhou entre os estudantes da Costa Leste e acabou ficando conhecido como Monopólio – ou Banco Imobiliário.
Cópia descarada de um vendedor
Na década de 1930, um grupo de quakers – religiosos protestantes – jogou com o vendedor desempregado Charles Darrow, que ficou impressionado. Ele copiou o jogo, alegou que era uma criação sua, apesar da patente, e vendeu os direitos para a fabricante de jogos Parker Brothers.
Segundo a fabricante, mais de 275 milhões de cópias foram vendidas no mundo todo até 2010. O jogo anticapitalista de Magie fez do vendedor desempregado um milionário – ela própria saiu de mãos vazias.
Essa história toda só veio à tona graças à jornalista Mary Pilon. Em 2009, ela trabalhava em um artigo para o Wall Street Journal sobre o Banco Imobiliário. Mas durante sua pesquisa ela estranhou o fato de não conseguir encontrar nenhuma fonte primária.
"A patente de Darrow era muito profissional e artística para um vendedor desempregado", disse Pilon à DW. "E ninguém conseguia me dizer as datas certas. Foi 1924, 1931 ou 1934?"
"Era tudo mentira"
A única pessoa viva que conhecia a verdadeira história do Banco Imobiliário naquela época era o professor de economia Ralph Anspach, inventor de um jogo anti-Monopólio. Na década de 1970, Anspach acabou se envolvendo em uma disputa judicial com a Parker Brothers sobre seu jogo e descobriu por acaso que foi Elizabeth Magie, não Charles Darrow, quem inventou o Banco Imobiliário.
"Esperei 40 anos que alguém me perguntasse", disse Anspach quando ela o contatou, lembra Pilon. Rapidamente, a jornalista percebeu que tudo o que havia lido na Internet sobre a história do Banco Imobiliário estava errado. Seu artigo acabou virando um projeto de livro para o qual Pilon viajou pelos EUA para pesquisar em arquivos durante cinco anos.
Nos passos de Lizzie Magie
Elizabeth Magie Phillips nasceu em uma família política em Macomb, Illinois, em 1866. Seu pai já havia feito campanha em seu jornal pela abolição da escravidão, que foi ratificada apenas um ano antes do nascimento de Magie.
Magie também era politicamente ativa décadas antes de as mulheres terem permissão para votar nos Estados Unidos. Quando se mudou para Washington D.C. com sua família, por volta de 1890, ela se associou ao "Woman's Single Tax Club" (Clube das Mulheres do Imposto Único), seguindo o espírito de Henry George.
Magie trabalhou em Washington D.C. como estenógrafa nos correios. Ela usava o cabelo castanho e cacheado em um corte curto e teve uma variedade de hobbies e profissões: publicou ensaios, poemas e contos, subiu no palco do teatro e, aos 26 anos, patenteou um dispositivo que havia inventado para fazer o papel deslizar mais facilmente nas máquinas de escrever.
Em algum momento, seu pai lhe deu uma cópia de Progresso e Pobreza, de Henry George. Na obra, George estabelecia as bases do jogo de Magie ao escrever: "O que destruiu todas as civilizações antes de nós foi a distribuição desigual de riqueza e poder." Essa frase foi uma inspiração para Magie.
Pico de desigualdade social
A Washington dos tempos de Magie – final do século 19 – era caracterizada pela industrialização, desigualdades e revoluções. Segundo o censo, em apenas vinte anos a cidade cresceu de 178 mil para quase 280 mil habitantes em 1900. E enquanto magnatas industriais como John D. Rockefeller, Andrew Carnegie e J.P. Morgan acumulavam riqueza, a classe trabalhadora vivia em condições precárias.
Magie era contra essa realidade: em um de seus poemas, ela descreveu a industrialização de Washington como um "lugar escuro e sombrio" onde "todos são egoístas".
Em uma edição de 1902 da Single Tax Review, ela descreveu seu jogo original: "Trata-se de uma demonstração prática do atual sistema de grilagem de terras, com todas as suas [...] consequências. Poderia muito bem ter sido chamado de 'O Jogo da Vida', porque contém todos os elementos do sucesso e do fracasso do mundo real, e o objetivo é o mesmo da humanidade em geral, ou seja, a acumulação de riqueza."
A luta de Lizzie Magie por seu jogo
Ironicamente, Charles Darrow e os irmãos Parker acumularam uma fortuna por meio do jogo – a despeito da crise econômica global de então. Magie, que já era uma senhora idosa na época, só soube disso pela imprensa.
"Lizzie ficou furiosa", conta Pilon. E reagiu: com o tabuleiro de jogo original e sua patente – pela qual recebera algumas centenas de dólares na época – em mãos, ela mesma procurou a imprensa.
A fabricante do jogo propôs então um acordo, que Ralph Anspach chamaria mais tarde de "acobertamento", segundo Pilon: a Parker Brothers ofereceu a Magie o lançamento de dois de seus jogos como compensação. "Mas não há evidências de que isso tenha acontecido", diz Pilon. "Até hoje, a Parker Brothers ainda não reconhece que Lizzie é a inventora do Banco Imobiliário."
O que Magie pensaria sobre os tempos de hoje? Uma época em que a desigualdade social aumenta e políticos como Donald Trump jogam Banco Imobiliário com o mundo? De acordo com os dados mais recentes da Oxfam, o 1% mais rico da população mundial possui mais riqueza do que os 95% mais pobres juntos.
"Lizzie certamente olharia de forma muito crítica para o presente, especialmente para a desigualdade social", pondera Pilon. Elizabeth Magie morreu em 1948, aos 81 anos, em Staunton, Virgínia. Ela viveu o suficiente para ver o sucesso de sua obra, mas não para experimentar o reconhecimento de seu trabalho.
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Short teaser | Comprar imóveis e levar outros jogadores à falência: seria mesmo essa a ideia original por trás do famoso jogo? | ||
Author | Djamilia Prange de Oliveira | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/banco-imobiliário-a-história-de-um-jogo-roubado/a-71972822?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Banco Imobiliário (ou Monopoly, em inglês): Quem acumula mais no final? | ||
Image source | Jakub Porzycki/NurPhoto/picture alliance | ||
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Item 33 | |||
Id | 71974959 | ||
Date | 2025-03-19 | ||
Title | Coração de Estudante, o hino das Diretas Já | ||
Short title | Coração de Estudante, o hino das Diretas Já | ||
Teaser |
Com música composta por Wagner Tiso para documentário sobre João Goulart, letra de Milton Nascimento presta homenagem a estudantes mortos na ditadura. Foi em 1982, durante a campanha de Leonel Brizola (1922-2004) ao governo do Rio de Janeiro, que Silvio Tendler teve a ideia de convidar Milton Nascimento para assinar a trilha sonora do documentário Jango (1984). "Puxa, como eu queria esse cara no filme!", pensou. Para surpresa do cineasta, o cantor e compositor, depois de assistir a algumas cenas na moviola, aceitou o convite. Mas Tendler não se deu por satisfeito: "E se eu convidar o Wagner Tiso também?", indagou, coçando a barba. "Se o Milton topou, o Wagner topa", raciocinou. Não deu outra. Amigos de longa data, Milton Nascimento e Wagner Tiso se conheceram em 1956. À época, o primeiro, carioca da Tijuca, tinha 14 anos e o segundo, mineiro de Três Pontas, 11. Quem conta essa história é a jornalista Maria Dolores, autora da biografia Travessia – A Vida de Milton Nascimento (Record, 2023). "Os dois moravam na mesma rua, a Sete de Setembro, em Três Pontas (MG). Bituca tinha dois anos quando se mudou para lá", relata a biógrafa. "Pequenino, Bituca sentava no alpendre para tocar sanfona e gaita. Três anos mais novo, Wagner Tiso, ao passar pela frente da casa do vizinho, ficava fascinado." Inspirados no grupo The Platters, Milton e Wagner começaram a tocar juntos em conjuntos de bailes, como Luar de Prata, W'Boys e Berimbau Trio. Por ocasião da montagem de Jango, Silvio Tendler chamou Milton Nascimento e Wagner Tiso para assistirem a um copião. Emocionado com as cenas que mostram o presidente deposto João Goulart (1919-1976) em seu exílio no Uruguai, Milton chorou baixinho. "Não merecia", balbuciou. Quando ouviu o tema instrumental composto pelo amigo especialmente para o filme, disse: "Vou colocar uma letra nesta música!". Dali, correu direto para casa. "Quando compus essa música, ganhei mais do que um prêmio"Com caneta e papel, rascunhou um esboço da letra. Lembrou-se da perseguição que sofreu durante a ditadura, dos estudantes mortos pela polícia e do apoio que recebeu do movimento. Terminada a escrita, refestelou-se no sofá da sala para descansar um pouco. Nessa hora, avistou um vaso pendurado no teto. O nome da planta? Coração de estudante! "Quando compus essa música, ganhei mais do que um prêmio", relata Milton no episódio da série Por Trás da Canção, do canal Bis. "Quando eu canto, todo mundo aplaude. É uma festa sem fim." São poucas as vezes em que Milton Nascimento se aventurou a escrever as letras de suas próprias canções. Coração de Estudante é uma delas. Na maioria dos casos, ele compunha apenas a música. Seu parceiro mais frequente foi Fernando Brant (1946-2015). Juntos, os dois compuseram alguns clássicos da MPB, como Travessia (1967), Maria Maria (1979), Canção da América (1980), Nos Bailes da Vida (1981) e Encontros e Despedidas (1985). Houve, também, parceiros esporádicos, como Caetano Veloso (Paula e Bebeto, de 1975), Tunai (Certas Canções, de 1982) e Paulo Ricardo (Feito Nós, de 1987). "Em geral, Milton compunha a música e, em seguida, convidava algum amigo, como Fernando Brant, Ronaldo Bastos ou Márcio Borges para escrever a letra. Uma curiosidade é que, durante a composição ou quando terminava de compor, já sabia quem seria seu parceiro", explica Maria Dolores. Hino das Diretas JáEm novembro de 1983, Milton Nascimento fez três shows no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo. A música escolhida para abrir o álbum que seria gravado ao vivo foi Coração de Estudante. A canção ganhou arranjo de um de seus autores, Wagner Tiso – que, além de reger a orquestra, tocou piano e acordeão. Composta para o documentário Jango (1984), Coração de Estudante ganhou vida própria. Teve incontáveis regravações, de Mercedes Sosa (1935-2009) a Roberto Carlos, e virou símbolo da redemocratização do país. "Embora tenha sido menos cantada que Apesar de Você (1978), do Chico Buarque, Coração de Estudante foi o grande hino das Diretas Já", aponta o jornalista Oscar Pilagallo, autor de O Girassol que nos Tinge: Uma História das Diretas Já, o Maior Movimento Popular do Brasil (Fósforo, 2023). "Milton emplacou outras duas músicas na trilha sonora das Diretas Já: Coração Civil, dos versos ‘Os meninos e o povo no poder, eu quero ver', e Nos Bailes da Vida, que diz 'Todo artista tem de ir aonde o povo está'". As duas são do álbum Caçador de Mim (1981). "A bem da verdade, o hino das Diretas Já foi, de fato, o Hino Nacional Brasileiro", pondera a historiadora Vânia Cury, autora de Como Saímos de Uma Ditadura: Das Diretas Já à Constituição Cidadã (Mórula, 2023). "Sempre que os comícios contavam com a Fafá de Belém, era o Hino Nacional que ela cantava com grande emoção". Outra música de Milton Nascimento bastante cantada por Fafá de Belém nos comícios pelo Brasil afora foi Menestrel das Alagoas (1983). Parceria com Fernando Brant, foi dedicada ao político alagoano Teotônio Vilela (1917-1983). "Mataram um estudante. E se fosse seu filho?"Coração de Estudante não foi a primeira canção composta por Milton em homenagem aos estudantes. Sete anos antes, ele gravou Menino no álbum Geraes (1976). A letra de Ronaldo Bastos é inspirada na história do estudante Edson Luís de Lima Souto (1950-1968). Nascido numa família pobre de Belém (PA), cursou o segundo grau no Instituto Cooperativo de Ensino (RJ), onde funcionava o Restaurante Calabouço, frequentado por estudantes de baixa renda. Foi lá que, no dia 28 de março de 1968, durante um protesto contra o aumento no preço das refeições, Edson Luís morreu com um tiro à queima-roupa. "A polícia invadiu o local e, sem qualquer justificativa, abriu fogo contra os manifestantes", relata Hugo Silva, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). "A brutalidade do crime chocou o país." Temendo pelo sumiço da vítima, os próprios estudantes levaram o corpo de Edson Luís para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No dia do enterro, manifestantes ergueram cartazes: "Bala mata fome?", "Os velhos no poder, os jovens no caixão" e "Mataram um estudante. E se fosse seu filho?". O assassinato de Edson Luís deu início a uma série de manifestações pelo Brasil, como a Passeata dos Cem Mil, no dia 26 de junho de 1968, no Centro do Rio. Milton Nascimento, entre outros artistas e intelectuais, participou do evento. No dia 13 de dezembro daquele ano, foi decretado o AI-5, o mais violento dos 17 atos institucionais do regime militar. "Edson Luís tornou-se um símbolo da luta da juventude contra a ditadura militar", afirma Hugo Silva, da UBES. Ao contrário de outros artistas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, Milton Nascimento não partiu para o exílio durante a ditadura. Mas ele também passou por apuros, como ser seguido pelas ruas, receber ameaças pelo telefone e depor no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). No álbum Milagre dos Peixes (1973), três músicas tiveram as letras censuradas: Os Escravos de Jó, de Fernando Brant; Hoje é Dia de El-Rey, de Márcio Borges; e Cadê, de Ruy Guerra. Em vez de excluí-las, o cantor preferiu gravá-las em versões instrumentais. "Se os jovens soubessem o que é uma ditadura, não iam querer. Só espero que não aconteça mais. Outra dessa o país não aguenta", declarou Milton Nascimento ao jornal O Globo, na edição de 15 de maio de 2022. "Viva a democracia!"O compositor Wagner Tiso é um dos mais de 40 convidados de Milton Bituca Nascimento, documentário que estreia nesta quinta-feira (20/3). A cineasta Flávia Moraes registrou os bastidores da Última Sessão de Música, que começou no Rio de Janeiro (RJ), no dia 11 de junho de 2022, e terminou em Belo Horizonte (MG), no dia 13 de novembro. A turnê de despedida percorreu 22 cidades – sete no Brasil e 15 no exterior. "Bituca é muito complexo. Às vezes, é piadista. Outras, turrão", descreve Moraes. "Em geral, é uma surpresa – divertida e agradável." Um dos pontos altos da turnê foi Coração de Estudante. Nos últimos acordes, Milton bradava: "Viva a democracia!" Aos entrevistados, como o cineasta Spike Lee, a filósofa Djamila Ribeiro e o rapper Mano Brown, a diretora perguntou: como explicar o fascínio que Milton desperta no Brasil e no mundo? "Bituca é um cara muito admirado. Todo mundo gosta dele. Não queria fazer um filme chapa-branca ou café com leite. Queria uma análise mais objetiva", afirma a cineasta. Entre os convidados, estão os já falecidos Sérgio Mendes (1941-2024), Wayner Shorter (1933-2023) e Quincy Jones (1933-2024). Apenas um artista não pôde participar: o cantor e compositor Edu Lobo. Dele, Bituca gravou Beatriz, parceria com Chico Buarque, no álbum O Grande Circo Místico (1983). "O Milton queria muito, mas, infelizmente, não conseguimos. Foi mais fácil conseguir o Quincy que o Edu", brinca a diretora. |
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Short teaser | Canção de Milton Nascimento composta para documentário sobre João Goulart homenageia estudantes mortos na ditadura. | ||
Author | André Bernardo | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/coração-de-estudante-o-hino-das-diretas-já/a-71974959?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Cora%C3%A7%C3%A3o%20de%20Estudante%2C%20o%20hino%20das%20Diretas%20J%C3%A1 |
Item 34 | |||
Id | 71953112 | ||
Date | 2025-03-18 | ||
Title | Pesquisadores acham origem de todos os idiomas indo-europeus | ||
Short title | Pesquisadores acham origem de todos os idiomas indo-europeus | ||
Teaser |
Todas as línguas germânicas, românicas, eslavas, bálticas, celtas e indo-iranianas podem ser rastreadas até a linha "Cáucaso-Baixo Volga". O povo equestre Yumna levou o idioma original para a Europa e a Ásia.Mother, mater, mētēr, mātṛ́, mātṛ́ – todos esses termos com sonoridade muito semelhante para dizer "mãe" apontam para uma origem comum que os pesquisadores vêm buscando há mais de 200 anos.
As palavras para pai, irmão, filha, filho, nome, olho ou pé em inglês, persa, russo, grego, latim, sânscrito e alemão também são muito semelhantes. Cerca de 400 idiomas germânicos, românicos, eslavos, bálticos, celtas e indo-iranianos pertencem à família de idiomas indo-germânicos ou indo-europeus.
"Elo perdido"
Quase metade da humanidade fala atualmente uma língua cujas origens, de acordo com as últimas descobertas, estão em um ramo pouco conhecido de nômades das estepes que viviam ao norte do Mar Negro.
De acordo com os pesquisadores, essa população do chamado grupo Cáucaso-Baixo Volga (CLV, na sigla em inglês) é o elo há muito procurado entre as línguas proto-indo-europeia e anatólia.
Presume-se que esse grupo tenha se espalhado em todas as direções e se misturado com os caçadores-coletores que viviam ali, formando novos grupos. Isso é confirmado por estudos recentes do geneticista americano David Reich e do antropólogo vienense Ron Pinhasi, que foram publicados na revista científica Nature. De acordo com Pinhasi, a "linhagem do Cáucaso e do Baixo Volga" pode ser "ligada a todas as populações de língua indo-europeia".
O exame do DNA de 435 pessoas de sítios arqueológicos da Ásia e da Europa mostrou que a população CLV também foi a ancestral da cultura Yamna e do povo da Anatólia. De acordo com o estudo, a população Cáucaso-Baixo Volga formou a cultura Yamna por volta de 4.000 a.C., que cresceu rapidamente depois de 3.750 a 3.350 a.C. O povo CLV contribuiu com cerca de quatro quintos da ascendência Yamna.
Cultura Yamna possibilitou ampla disseminação
Entretanto, a cultura Yamna foi responsável pela maior disseminação. Ela acabou levando a língua proto-indo-europeia para a Europa, o Irã e a Índia da Idade do Bronze. Esse povo nômade viveu entre 5.600 e 4.500 anos atrás na estepe eurasiática ao norte do Mar Negro e do Mar Cáspio. De lá, a cultura Yamna se espalhou para a Europa Oriental e a Ásia Central por volta de 3.100 a.C. e teve uma profunda influência na genética das populações europeias e da Ásia Central.
Os Yamna não eram apenas criadores de gado, coletores e caçadores. Eles também são considerados o primeiro povo a andar a cavalo. Resíduos de leite de cavalo em cerâmicas do atual Cazaquistão e achados de esqueletos indicam que os cavalos foram domesticados há cerca de 5.500 anos e eram usados não apenas como animais de tração e de carga, mas também para cavalgar. Isso revolucionou a mobilidade e pode explicar como a cultura, o DNA e a língua deles conseguiram se espalhar tão rapidamente e tão longe.
O que se sabe sobre o povo Yamna?
Os Yamna viajavam principalmente pela estepe como nômades. Portanto, há apenas alguns vestígios de assentamentos e castros (fortificações) em colinas, a maioria dos quais foi encontrada perto de rios. Eles provavelmente viviam em casas de cova, especialmente no inverno. Ocasionalmente, os habitantes também praticavam a agricultura no local. Os Yamna também são considerados pioneiros na criação de gado leiteiro, o que contribuiu para a produção de alimentos de longa duração, como o queijo.
Quando se deslocavam como nômades, os Yamna usavam carroças de duas rodas e vagões de quatro rodas com rodas de disco, que provavelmente eram puxados por bois. Isso permitiu que o povo transportasse grandes rebanhos por longas distâncias e estabelecesse uma extensa rede de comunicação.
Os Yamna enterravam seus mortos em covas cobertas por pequenos montes, os chamados kurgans. O morto era enterrado em decúbito dorsal com os joelhos dobrados. Artigos funerários e sacrifícios de animais são frequentemente encontrados nas sepulturas. Isso pode indicar uma crença na vida após a morte.
Em alguns túmulos, os pesquisadores encontraram colunas monolíticas semelhantes a humanos com cabeças, braços e pernas esculpidos, assim como armas e cintos. Aparentemente, personalidades de alto escalão eram enterradas até mesmo com a carroça de madeira inteira.
Por que eles deixaram a estepe?
Há cerca de 11 mil anos, o Holoceno, o período quente que continua até hoje, substituiu o último período frio. Por volta de 6.500 anos atrás, o norte da Europa também ficou significativamente mais quente. A camada de gelo recuou cada vez mais, e as condições de vida tornaram-se gradualmente mais fáceis. É por isso que o aquecimento do clima no Holoceno é considerado um pré-requisito positivo para o desenvolvimento de civilizações humanas avançadas.
As mudanças climáticas provavelmente explicam por que os Yamna não sedentários migraram para a Europa Central ou para o leste por volta de 3.100 a.C. A vida nas estepes da Eurásia pode ser muito difícil, com temperaturas que variam muito dependendo da estação. Os verões são quentes e secos. Algumas semanas muito chuvosas precedem um inverno frio e com neve. O gado e as ovelhas não podem mais pastar e precisam receber ração.
Provavelmente em três ondas de migração, os Yamna deixaram a estepe e se misturaram à população local. Como eram culturalmente e, acima de tudo, numericamente superiores, os Yamna logo dominaram o desenvolvimento genético e linguístico local.
Por volta de 2.500 a.C., seus vestígios se perderam, mas uma parte da cultura Yamna continua viva nas línguas indo-europeias.
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Short teaser | Todas as línguas germânicas, românicas, eslavas, bálticas, celtas e indo-iranianas podem ser rastreadas até uma linha. | ||
Author | Alexander Freund | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/pesquisadores-acham-origem-de-todos-os-idiomas-indo-europeus/a-71953112?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Responsável pela maior disseminação do idioma, povo Yamna enterrava seus mortos com as pernas dobradas | ||
Image source | Michal Podsiadlo/EurekAlert/dpa/picture alliance | ||
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Item 35 | |||
Id | 71941487 | ||
Date | 2025-03-17 | ||
Title | Gilberto Gil: mais um músico da geração dourada se despede | ||
Short title | Gilberto Gil: mais um músico da geração dourada se despede | ||
Teaser |
Com mais de 60 anos de carreira, Gilberto Gil inicia turnê de despedida. Cantor baiano segue passo de Milton Nascimento e de outros músicos de sua geração. Precedido de foguetório e contagem regressiva no telão, Gilberto Gil iniciou no sábado (15/03), na Arena Fonte Nova, em Salvador, a turnê Tempo Rei, que será a última de sua extensa carreira. Acompanhado pela banda formada em boa parte por seus familiares, Gil tocou e cantou 29 canções, além de trechos de outras duas, durante quase duas horas e meia de show. Ele abriu os trabalhos logo com Palco, que dialoga com seu momento atual. Em seguida, cantou Banda Um, seguida por Tempo Rei, que dá nome à turnê. "É lindo vocês aqui, eu e os nossos queridos músicos fazendo esta noite, este repertório, nessa despedida dos grandes espetáculos que já venho fazendo há mais de 60 anos", disse Gil no palco. "Estarmos aqui juntos é o sentido profundo de ter me dedicado, de nós termos nos dedicado, a essa longa carreira", disse ao público. Exatos 60 anos antes, em 15 de março de 1965, Gil estava no palco em outra despedida. Foi no show Inventário, no Teatro Vila Velha, em Salvador, antes de sua partida para São Paulo. Para aquele show, compôs Eu vim da Bahia, que traduzia seu sentimento de partir e ter vontade de voltar. "Sinto nele um homem realizado e com uma sensação de dever cumprido", diz o cineasta José Walter Lima, que assistiu o show Inventário há 60 anos, sobre o amigo Gilberto Gil. Na Fonte Nova, Gil tocou Eu vim da Bahia enquanto o telão mostrava imagens de Dorival Caymmi e João Gilberto, seus ídolos e influências evidentes para a canção. Geração dourada da música inicia saída de cenaEnquanto Gil abria sua última turnê, seus irmãos musicais, os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia, se apresentavam no Rio de Janeiro. Caetano Veloso fez no ano passado a sua última turnê internacional, mas segue na ativa nos palcos brasileiros, e diz que tem vontade de morar em Salvador e só fazer shows no Teatro Vila Velha, onde tudo começou. Em 2022, Milton Nascimento fez sua turnê de despedida definitiva dos palcos. Seu parceiro musical, o nova-iorquino Paul Simon, fez a sua Farewell Tour em 2018. Mas no mês passado, o cantor e compositor que formou dupla com Garfunkel voltou atrás e marcou uma nova turnê. Todos são artistas da mesma geração de Gilberto Gil, que nasceram na década de 1940 e começaram a brilhar profissionalmente nos anos 1960. "A profissão de artista é para sempre na vida porque você tem a compulsão de criar", explica o cantor, compositor e crítico Paquito. "Quando ele volta atrás é porque tem a compulsão de criar. Criar é como se você fosse Deus", diz o compositor. A discografia de Gil começou com um compacto simples lançado em 1962, em Salvador, pela JS Discos. São, portanto, 63 anos de carreira. Tom Jobim, por exemplo, um dos faróis para a geração de Gil, tinha 67 anos de idade quando faleceu. "A música brasileira desse período é uma coisa que a gente tem que se orgulhar muito", diz Paquito, que no fim dos anos 1990 coproduziu um disco do sambista Batatinha com participação de Gil. "Eu vi Gil em ação. Foi interessante porque eu perguntei se ele viria com outros músicos, mas ele disse que iria sozinho com o violão", conta. "Essa interação que Gil faz entre o violão e a voz é sublime." Outro ritmoNo palco da Fonte Nova, Gil tocou guitarra, mas também esteve com seu violão, como em Se eu quiser falar com Deus, acompanhado por um quarteto de cordas, um dos pontos altos da noite. "Foram vários os elementos que ponderei para chegar na decisão da realização de uma última turnê. Houve reflexão sobre este mercado e também sobre a exigência física necessária para esses grandes shows", disse Gil no site oficial da turnê. "Quero continuar fazendo música em outro ritmo, mas, antes, teremos essa celebração bonita junto do público e da família. Transformai as velhas formas do viver", completou Gil, citando um verso da sua canção Tempo Rei. Da mesma geração dourada dos anos rebeldes, Paul McCartney não fala em parar de fazer turnês e prometeu um disco novo para esse ano. Outro daquela leva, Chico Buarque também segue na ativa, e apareceu no telão da Fonte Nova contando sobre sua parceria com Gil na música Cálice, que foi censurada pela ditadura militar. Enquanto Chico falava no telão, o público no estádio puxou o coro de "sem anistia", numa referência ao movimento que busca a anistia aos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado e invasão da sede dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. Quando Gil começou a cantar a canção, imagens de vítimas da repressão durante a ditadura eram mostradas no telão, entre elas a do ex-deputado Rubens Paiva, que foi ovacionado. Ainda durante Cálice, fotos de Gil e Caetano quando estavam presos pela ditadura mexeram com o público, que os aplaudiu e voltou a puxar o coro de "sem anistia" para os golpistas. Emoção, convidados e encontro de ministrosLogo nos primeiríssimos momentos de Não chore mais, versão de Gil para No woman, no cry, de Bob Marley, o público já começou a vibrar. O reggae jamaicano e a Fonte Nova têm história antiga na vida de Gilberto Gil. Em 1980, Gil foi um dos pioneiros em shows em grandes estádios de futebol ao se apresentar com Jimmy Cliff na Fonte Nova. "Creio que o primeiro artista que fez show num estádio no Brasil foi Frank Sinatra, no Maracanã. E o primeiro artista brasileiro foi Gilberto Gil, na sua turnê junto com Jimmy Cliff", diz José Walter Lima, que foi um dos produtores daquele show em 1980. Na vez da música Realce, o telão mostrava purpurinas virtuais para combinar com o verso "Quanto mais purpurina, melhor", enquanto um show pirotécnico com labaredas reais fazia o público das primeiras fileiras sentirem o calor das chamas. Em mais um momento marcante da noite, Gilberto Gil disse que o show era para todos, mas especialmente para sua filha, Preta Gil, que estava na Fonte Nova. Depois, começou a cantar Drão, canção que ele fez para sua ex-mulher Sandra, mãe de Preta. Em 1967, conhecer a Banda de Pífanos de Caruaru mexeu com a cabeça e as ideias musicais de Gil, influenciando o que viria a ser a Tropicália. Em 1972, ele gravou Pipoca moderna, do grupo pernambucano, em seu disco Expresso 2222, o primeiro após a volta do exílio. Na noite que marcou o início do fim na Fonte Nova, o instrumental de Pipoca Moderna – que em 1975 ganhou letra de Caetano Veloso – foi tocado no palco enquanto Gil trocava de instrumento para poder tocar a canção Expresso 2222. "Gil, para mim, dos compositores, é o que tem mais atributos", diz Paquito. "Ele é um excelente cantor, um excelente violonista, ele tem uma noção de ritmo absurda, ele é um harmonizador também absurdo, ele também é um excelente band leader", enumera o crítico. "É um super letrista também. As pessoas não falam tanto disso porque essa coisa da música em Gil é muito exuberante." Para cantar com ele a canção Emoriô, Gil recebeu no palco o vocalista da banda BaianaSystem, Russo Passapusso. Em seguida, a cantora Margareth Menezes se juntou aos dois em Toda menina baiana, promovendo um encontro entre ela, atual ministra da Cultura, e Gil, que esteve no comando da pasta entre 2003 e 2008. No bis, Gil tocou Aquele abraço, música que compôs quando estava de partida para o exílio, e que na noite de estreia da turnê Tempo Rei teve a letra ligeiramente alterada para agradecer ao público: "pra você que não me esqueceu: aquele abraço". O abraço seria o último momento da noite, mas Gil ainda aproveitou que a banda tocava o instrumental de Na Baixa do Sapateiro, voltou ao palco para entoar o verso "Ô, Bahia" e terminou o show dançando animado, aos 82 anos, rei de seu próprio tempo. |
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Short teaser | Cantor baiano segue passo de Milton Nascimento e de outros músicos de sua geração. | ||
Author | Lucas Fróes | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/gilberto-gil-mais-um-músico-da-geração-dourada-se-despede/a-71941487?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 36 | |||
Id | 71689720 | ||
Date | 2025-02-20 | ||
Title | Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora | ||
Short title | Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora | ||
Teaser |
Antigo presidente da federação de futebol da Espanha Luis Rubiales foi condenado a pagar quase 11 mil euros por beijar atleta na boca sem consentimento na Copa de Sydney, em 2023. Ele pretende recorrer da sentença.A Justiça da Espanha condenou nesta quinta-feira (20/02) o ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, a pagar 10.800 euros (R$ 64,2 mil) pelo crime de agressão sexual, por beijar a jogadora Jennifer Hermoso na boca após a conquista da Copa do Mundo em Sydney em 20 de agosto de 2023, sem o consentimento dela.
Por outro lado, Rubiales foi absolvido do crime de coação sobre a jogadora para declarasse que o gesto fora consensual. O ex-técnico da seleção feminina espanhola, Jorge Vilda, e outros dois ex-diretores, Albert Luque y Rubén Rivera, também foram absolvidos de coação.
Luque era diretor de futebol da seção masculina, enquanto Rivera, gerente de marketing da federação, acompanhou as jogadoras na viagem à ilha de Ibiza, no Mediterrâneo, com a qual foram premiadas pela conquista da Copa do Mundo.
Restrições a contato com jogadora
A decisão do juiz José Manuel Fernández-Prieto, da Audiência Nacional, onde foi realizado o julgamento, também proíbe Rubiales de se aproximar de Hermoso num raio de 200 metros e de se comunicar com ela por um ano.
O Ministério Público da Audiência Nacional havia solicitado uma pena total de dois anos e seis meses de prisão para Rubiales, dos quais um ano pelo crime de agressão sexual, mais um ano e meio por coação. Por este último crime, o representante do Ministério Público também havia pedido uma pena de um ano e seis meses para os outros três acusados.
O advogado de Rubiales já anunciou que recorrerá da sentença.
Beijo acabou com carreira do dirigente
"Rubi", como é chamado pelos amigos, era presidente da RFEF desde maio de 2018. Ele viu sua carreira desandar após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina em Sydney.
Em 20 de agosto de 2023, diante das câmeras, ele agarrou a cabeça de Hermoso com as duas mãos e a beijou de surpresa na boca: um ato "espontâneo", em sua opinião, mas "inapropriado" para Hermoso, que negou ter dado seu consentimento.
Diante da indignação pública, Rubiales pediu demissão em setembro de 2023 e encerrou uma carreira no futebol iniciada aos 14 anos de idade, quando ingressou no clube da pequena cidade de Motril, em Andaluzia, no sul da Espanha.
Nascido em Las Palmas há 47 anos, Luis Manuel Rubiales Béjar iniciou uma carreira discreta nas divisões inferiores antes de pendurar as chuteiras na Escócia com o Hamilton Academical em 2009.
Escândalos
Extrovertido e franco, Rubiales foi cercado por escândalos durante seu período à frente da RFEF. Ele causou alvoroço ao demitir o técnico da seleção espanhola Julen Lopetegui dois dias antes do início da Copa do Mundo de 2018.
Reeleito em 2020, transferiu a Supercopa da Espanha para a Arábia Saudita, num contrato controverso que foi examinado pelo Judiciário por suspeita de corrupção e acordos irregulares durante seu mandato. Ele chegou a ser detido no contexto do caso, que também envolve o ex-jogador do FC Barcelona Gerard Piqué, cuja empresa teria recebido uma comissão de 1 milhão de dólares para intermediar o acordo com Riad. Rubiales negou qualquer irregularidade.
Mas o ex-cartola é também reconhecido por ter aumentado a renda e o patrocínio da federação, e procurado melhorar as condições do futebol juvenil, o que lhe rendeu o apoio das federações regionais.
Ele também multiplicou o orçamento para o futebol feminino, embora tenha enfrentado a "rebelião das 15" que exigia melhorias estruturais e teve apoio de Jenni Hermoso. Desde que caiu em desgraça, Rubiales tem vivido discretamente na cidade andaluza de Granada como “só mais um vizinho”, segundo a mídia espanhola.
md/av (EFE, AFP)
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Short teaser | Ex-chefe da federação de futebol condenado a pagar 11 mil euros por beijar atleta anuncia que recorrerá da sentença. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ex-cartola-espanhol-condenado-por-beijo-forçado-em-jogadora/a-71689720?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney | ||
Image source | Noe Llamas/Sport Press Photo/ZUMA Press/picture alliance | ||
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Item 37 | |||
Id | 70932615 | ||
Date | 2024-12-01 | ||
Title | Briga de torcidas deixa 79 feridos no leste da Alemanha | ||
Short title | Briga de torcidas deixa 79 feridos na Alemanha | ||
Teaser |
Partida da quarta divisão do futebol alemão em Jena, no leste do país, foi marcada por confrontos com a polícia e brigas entre torcedores rivais. Confrontos entre torcedores antes e durante uma partida de uma liga regional de futebol do leste da Alemanha no sábado (30/11) deixaram 79 feridos, incluindo dez policiais e cinco seguranças. Os incidentes ocorreram na cidade de Jena, no estado da Turíngia, e tiveram como pano de fundo uma partida entre o Carl Zeiss Jena e o BSG Chemie Leipzig, duas equipes que disputam a Regionalliga Nordost, liga equivalente à quarta divisão do futebol alemão. Além dos 79 feridos - que incluíram 64 torcedores de ambos os times -, foram registradas 40 acusações criminais e de contravenção. Jena fica a cerca de 100 quilômetros de Leipzig, cidade-sede do rival Chemie e que fica no estado da Saxônia. Apesar de ambas às torcidas serem associadas à ideologia de esquerda, as autoridades esperavam confusão, e a partida foi considerada de alto risco devido à antipatia entre os grupos de torcedores. Uma multidão de 7.224 espectadores, incluindo 1.084 torcedores do Chemie, compareceu à partida em Jena. De acordo com a polícia, cerca de 350 torcedores do visitante Chemie fizeram uma marcha pela cidade antes do jogo, sem aviso prévio. Durante o ato, torcedores dispararam fogos de artificio e a polícia disse que teve de intervir "com o uso de força física e violência física, além de cassetetes e gás lacrimogêneo". Mais tarde, durante a partida - vencida pelo Carl Zeiss Jena por 5 a 0 -, houve confrontos entre as duas torcidas dentro do estádio. Clubes condenam a violênciaO Carl Zeiss Jena divulgou uma declaração no domingo sugerindo que grande parte da culpa foi dos torcedores visitantes. "Um grande grupo de aproximadamente 1.200 torcedores visitantes do Leipzig rompeu violentamente a barreira entre o bloco de visitantes e o Bloco N e obteve acesso à área da torcida do Jena", apontou o comunicado. "Acima de tudo, o FC Carl Zeiss Jena deseja aos afetados uma rápida recuperação. O clube terá um quadro abrangente do que aconteceu nos próximos dias.” O Chemie Leipzig adotou uma postura semelhante, criticando "a má conduta de uma minoria" de seus torcedores. "Como clube, sofremos grandes danos ontem. De acordo com nossas evidências, fogos de artifício foram lançados repetidamente do setor visitante em direção ao setor da torcida adversária", disse um comunicado no site do clube. "Condenamos a violência na forma de confrontos físicos, especialmente o uso de fogos de artifício contra pessoas. Isso não tem lugar em nossos jogos de futebol e não será tolerado por nós." Ambos os clubes disseram que ainda pretendem investigar os incidentes. jps (DW, dpa, ots) |
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Short teaser | Partida da 4° divisão do futebol alemão no leste do país foi marcada por confrontos com a polícia e briga de torcidas | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/briga-de-torcidas-deixa-79-feridos-no-leste-da-alemanha/a-70932615?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 38 | |||
Id | 70919291 | ||
Date | 2024-12-01 | ||
Title | A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids | ||
Short title | A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids | ||
Teaser |
Em 1991, o então astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se um marco na luta contra a aids. Até hoje, ele segue empenhado em campanhas de esclarecimento sobre a doença. Em meio a lágrimas dos repórteres veteranos, Earvin "Magic" Johnson permanece calmo. "Vou ter que me aposentar do Lakers porque contraí o vírus HIV", afirma. O astro do basquete tinha 32 anos quando proferiu essa frase, com voz firme, em 7 de novembro de 1991. Em seguida, acrescentou que não tinha aids, mas apenas HIV, o que havia sido confirmado pelo Dr. Michael Mellman pouco antes da coletiva de imprensa. O médico do Los Angeles Lakers havia chamado Johnson depois de uma viagem do time para lhe dar a má notícia. "Quando ele me contou pela primeira vez, eu pensei: 'Ah, cara, eu vou morrer. Acho que acabou'. E ele disse: 'Não, não, não acabou'", lembrou Johnson mais tarde em uma entrevista à emissora pública PBS. Melman lhe disse que ele tinha que começar a tomar medicação e aprender a se sentir confortável com sua nova condição. Assim, poderia viver por muito tempo. Em 1991, a infecção pelo HIV ainda era considerada uma sentença de morte pela opinião pública. Isso explica por que a coletiva de imprensa de Johnson causou um choque tão grande, comparável, para alguns, com a morte de John F. Kennedy, assassinado em 1963, ou com a renúncia de Richard Nixon após o caso Watergate em 1974. "Magic" Johnson estava no auge da carreira e era uma superestrela do esporte em todo o mundo. Ele havia conquistado cinco títulos da NBA com o Lakers e tinha sido eleito o Jogador Mais Valioso (MVP) da temporada três vezes. "Magic" Johnson era famoso em quase todo o mundo. Até então, muitos viam a aids como uma doença que só afetava gays ou viciados em drogas. Johnson, entretanto, não pertencia a nenhum desses grupos. "Agora estou me tornando um porta-voz do HIV porque quero que as pessoas entendam que não há como evitar o sexo seguro. Às vezes, pensamos que somente os homossexuais podem contrair o vírus, que isso não pode acontecer comigo. Mas agora estou aqui para dizer que pode acontecer com qualquer um, até comigo. Todos deveriam ter mais cuidado", disse Johnson. Dois meses antes do anúncio, em setembro de 1991, Johnson havia se casado com sua esposa Cookie. Na coletiva de imprensa, disse que sua esposa grávida não era portadora do vírus. Foi somente mais tarde que ele revelou que havia contraído o HIV durante relações sexuais desprotegidas com outra mulher. "Efeito Johnson" em testes de HIVAinda em 1991, o astro do basquete criou a Fundação Magic Johnson, que apoia financeiramente grupos e campanhas contra a aids. E ele nunca se cansou de engajar ações para afetados e para aumentar a conscientização sobre a doença. Em 1º de dezembro de 1999, no Dia Mundial da Aids das Nações Unidas, ele foi um dos principais oradores, descrevendo a doença como "inimigo público número um". As palavras de Johnson não foram em vão. Em 2021, cientistas americanos estimaram que a coletiva de imprensa de 7 de novembro de 1991 fez com que um número significativamente maior de homens nos EUA fizesse o teste de HIV nos meses seguintes, principalmente entre heterossexuais negros e hispânicos em cidades com clubes da NBA. A carreira de "Magic" Johnson, porém, não terminou naquele dia de novembro. Em 1992, ele jogou no time All-Star da NBA pela conferência oeste – esse jogo coloca frente a frente jogadores de equipes do leste e do oeste dos EUA. No mesmo ano, fez parte do chamado "Dream Team" que ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona. Na temporada 1995/96, Johnson comemorou outro retorno como jogador do Lakers antes de se aposentar definitivamente. Em homenagem ao ex-atleta, o clube aposentou a camisa número 32. E "Magic" Johnson entrou para o Hall da Fama do Basquete em 2002. Bilionário e filantropo"Magic" Johnson está agora com 65 anos. Investiu com sucesso o dinheiro que ganhou no esporte, em imóveis, cinemas e empresas como a seguradora de vida EquiTrust e a rede de cafeterias Starbucks. A revista Forbes estima que a fortuna atual de Johnson seja de 1,2 bilhão de dólares. Há muito tempo, a Fundação Magic Johnson apoia não somente projetos de combate à aids, mas também outras organizações ligadas à educação, à saúde e que atuam para atuar carências sociais em cidades etnicamente diversas. Johnson está sempre envolvido, geralmente acompanhado de sua esposa Cookie e, com frequência, de seus filhos Earvin "EJ", Elisa e Andre, de um relacionamento anterior. Quando Johnson foi diagnosticado com HIV em 1991, havia apenas um medicamento contra a aids no mercado, a azidotimidina, ou AZT. Atualmente, há várias substâncias ativas que ajudam a reduzir a carga viral do HIV. Quando bem-sucedido, o sistema imunológico do paciente se recupera e ele pode viver e trabalhar normalmente. O HIV é considerado altamente tratável, se a infecção for detectada precocemente e o tratamento for iniciado imediatamente. Mas ainda há uma clara divisão entre os hemisférios Norte e Sul: o número de soropositivos no mundo todo é estimado em cerca de 40 milhões, com mais da metade vivendo no sul da África. Um quarto de todas os infectados não recebe nenhum medicamento. "Não estou curado. Apenas tomei minha medicação. Estou fazendo o que devo fazer e, graças a Deus, o HIV no meu sistema sanguíneo e no meu corpo está praticamente morto. E não queremos que nada o desperte", disse Johnson em uma entrevista à PBS há alguns anos. |
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Short teaser | Em 1991, astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se marco na luta contra o vírus. | ||
Author | Stefan Nestler | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-luta-de-magic-johnson-contra-o-hiv-e-a-aids/a-70919291?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 39 | |||
Id | 70326170 | ||
Date | 2024-09-25 | ||
Title | Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher | ||
Short title | Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher | ||
Teaser |
Três homens são acusados de exigirem 15 milhões de euros dos parentes do heptacampeão de Fórmula 1 em troca da não publicação de imagens privadas.O Ministério Público de Wuppertal, oeste da Alemanha, apresentou nesta quarta-feira (25/09) acusações contra três homens por supostamente tentarem extorquir dinheiro da família do ex-piloto de Fórmula 1 Michael Schumacher para não publicarem imagens privadas dele.
Os três acusados são um segurança de boate, 53 anos, seu filho, de 30 anos, e um ex-funcionário de segurança da família do ex-campeão mundial, de 53 anos.
De acordo com a investigação, o ex-funcionário da família de Schumacher disponibilizou gravações privadas ao segurança, que as teria adquirido para tentar fazer chantagem contra a família do ex-piloto.
Telefonemas exigindo 15 milhões de euros
Os supostos criminosos fizeram várias ligações exigindo 15 milhões de euros (R$ 79 milhões) da família Schumacher, caso contrário publicariam arquivos e materiais privados, obtidos e fornecidos pelo próprio ex-funcionário.
No momento da primeira prisão, em junho, foram apreendidos até 1.500 documentos, incluindo fotografias, vídeos e relatórios médicos do alemão em discos rígidos, pen drives e telefones celulares.
Os investigadores dizem que o material contém fotos e vídeos particulares da coleção da família, alguns tirados antes e outros depois do acidente de esqui de Schumacher em 2013.
O segurança de boate implicou seu filho no momento da prisão (ele foi o primeiro a ser preso), que foi liberado sob fiança com a obrigação de se apresentar, e foi o pai que revelou aos investigadores a identidade da pessoa que lhes forneceu os documentos de Schumacher.Duas semanas depois, o ex-funcionário dos Schumacher foi preso em seu apartamento em Wülfrath, no estado de Renânia do Norte-Vestfália, onde foram confiscados mais dispositivos eletrônicos contendo material sensível do sete vezes campeão mundial de Fórmula 1.
O caso não é o primeiro envolvendo de tentativa de chantagem contra os Schumachers. Em 2017, um homem de 25 anos recebeu uma sentença suspensa de 21 meses de prisão por exigir 900 mil euros da mulher do ex-piloto, Corinna Schumacher. Esse caso foi julgado em Reutlingen, no sudoeste da Alemanha.
Em 2013, ex-piloto sofreu uma grave lesão na cabeça em um acidente de esqui na França, tendo passado quase seis meses em coma induzido. Desde então, tem sido recebido cuidados em sua casa na Suíça, longe da mídia, e não se sabe exatamente qual é sua condição física.
md (EFE, AFP, DPA, SID)
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Short teaser | Três homens são acusados de exigirem dinheiro dos parentes do ex-piloto em troca da não publicação de imagens privadas. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/promotoria-acusa-trio-de-chantagem-contra-família-schumacher/a-70326170?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Michael Schumacher e sua mulher, Corinna, em 2001 | ||
Image source | Oliver Multhaup/dpa/picture-alliance | ||
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Item 40 | |||
Id | 70166593 | ||
Date | 2024-09-08 | ||
Title | Brasil pela primeira vez no top 5 dos Jogos Paralímpicos | ||
Short title | Brasil pela primeira vez no top 5 dos Jogos Paralímpicos | ||
Teaser |
País bate próprio recorde nos Jogos de Paris com 89 medalhas, sendo 25 ouros, 26 pratas e 38 bronzes, e alcança sua melhor colocação na história da competição.O Brasil encerrou neste domingo (08/09) sua participação nos Jogos Paralímpicos de Paris com sua melhor campanha na história do evento. Foram 89 medalhas, sendo 25 de ouro, 26 de prata e 38 de bronze, que deixaram o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas.
A grande campeã foi a China, com 84 ouros, seguida pelo Reino Unido (49 ouros), Estados Unidos (36) e Holanda (27). O Brasil manteve uma disputa acirrada com a Itália pelo quinto lugar, que apenas foi resolvida no último dia da competição. A batalha foi decidida com dois ouros – um no halterofilismo, com Tayana Medeiros, e outro na canoagem, com Fernando Rufino.
A campanha brasileira superou o melhor resultado obtido pelo país até então. Nos Jogos de Tóquio, em 2021, os brasileiros conquistaram 72 pódios e garantiram a sétima posição. Esta é a quinta edição seguida que o Brasil termina no top 10 dos Jogos Paralímpicos. Os brasileiros ficaram em 8º nos Jogos do Rio 2016; em 7º em Londres 2012, e 9º em Pequim 2008.
Em Paris, a maioria das medalhas brasileiras veio da natação (28 medalhas) e do atletismo (36), sendo estas as melhores participações na história em números quantitativos dessas modalidades. O nadador Gabriel Araújo, o Gabrielzinho, foi um dos grandes destaques, conquistando três ouros.
Os judocas também tiveram grande contribuição para o bom resultado da delegação brasileira, conquistando quatro ouros.
Meta mais do que atingida
"Em cada brasileiro pulsa hoje um coração Paralímpico", festejou o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado. "Nossa meta era 75 a 90 [medalhas]. Era ficar entre os oito, ficamos entre os cinco. Muita sensação de que o trabalho compensa."
Conrado disse que o plano, a partir de agora, é ampliar a participação de mulheres. "Essa delegação já teve 40% de mulheres. Se a gente olhar para China, mais de 60% das medalhas foram conquistadas por mulheres. Se a gente oportunizar, elas vão ser cada vez mais protagonistas."
rc/as (ots)
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Short teaser | País bate próprio recorde nos Jogos de Paris com 89 medalhas e alcança sua melhor colocação na história da competição. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/brasil-pela-primeira-vez-no-top-5-dos-jogos-paralímpicos/a-70166593?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Campanha brasileira em Paris deixou o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas | ||
Image source | Umit Bektas/REUTERS | ||
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Item 41 | |||
Id | 70166081 | ||
Date | 2024-09-08 | ||
Title | Alemanha investiga novos casos de manipulação de resultados em jogos de futebol | ||
Short title | Alemanha apura manipulação de resultados em jogos de futebol | ||
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Casos estariam diretamente ligados à atuação das "bets", as empresas de apostas online. Autoridades analisam "decisões suspeitas dos árbitros" e comportamento de jogadores em 17 partidas de divisões diferentes. A polícia alemã confirmou a abertura de investigações sobre 17 partidas das divisões mais baixas do futebol alemão por suspeitas de manipulação de resultados em associação a empresas de apostas online – as chamadas "bets". Autoridades nos estados de Hesse e no Sarre deram inicio à análise de partidas consideradas suspeita. O Departamento Federal de Investigações Criminais (BKA) – a Policia Federal alemã – confirmou estar "envolvido no processo, no papel de coordenador central". As investigações se seguiram a uma matéria publicada no jornal Hamburger Morgenpost neste fim de semana. A reportagem denunciou esquemas de manipulação de resultados em partidas na terceira divisão do futebol alemão (3. Liga), no torneio semiprofissional da quarta divisão (Regionallliga) e na liga amadora que equivale a 5ª divisão (Oberliga). As manipulações estariam ocorrendo por intermédio das casas de apostas online desde novembro de 2022. Nos 17 jogos em questão, as autoridades disseram que estão sendo observadas decisões suspeitas dos árbitros das partidas e algum comportamento incomum de goleiros e defensores. As discussões sobre manipulação teriam ocorrido na chamada dark web. As trocas de mensagens revelam que os ganhos ilegalmente acumulados seriam pagos em criptomoedas, como o Bitcoin. Salários baixos propiciam manipulaçãoO jornal Hamburger Abendblatt denunciou outros dois incidentes na quinta divisão da Oberliga de Hamburgo, na semana passada, onde os chamados scouts de dados foram descobertos enviando informações em tempo real para plataformas de apostas durante as partidas. Após os scouts serem retirados dos estádios, não era mais possível apostar nesses jogos. A Associação Alemã de Futebol (DBF) afirmou não ter provas concretas, mas disse estar em contato com as autoridades e que analisa os casos junto a sua empresa parceira de monitoramento de apostas, a Genius Sports. A DFB disse que não vai comentar o caso em razão de as investigações estarem em andamento. Na Alemanha, é proibido apostar em atividades do esporte amador, mas as legislações vigentes não se aplicam a empresas estrangeiras de apostas. No final do ano passado, promotores públicos passaram a investigar uma quantidade incomum de apostas feitas em uma partida da quarta divisão do futebol alemão, envolvendo a equipe do FSV Frankfurt, após uma dica dada por uma empresa de apostas. Hannes Beuck, fundador da Gamesright, uma entidade que apoia apostadores que perderam dinheiro em casinos online, avalia que o potencial para manipulação de resultados no esporte amador é mais alto, uma vez que jogadores e juízes recebem salários menores, ou inexistentes. Lembranças do escândalo HoyzerAs novas investigações reavivaram a memória dos alemães de um escândalo de 2005, quando foi revelado que o árbitro Robert Hoyzer manipulou partidas da segunda e da quarta divisão alemã e da Copa da Alemanha, em colaboração com uma máfia de apostas da Croácia. Hoyzer foi condenado a dois anos e cinco meses de prisão. Também foi envolvido no escândalo o árbitro Felix Zwayer, que foi banido por seis meses por não denunciar imediatamente uma propina de 300 euros (R$ 1.856) oferecida por Hoyer em 2004. Zwayer negou ter aceitado o dinheiro e até hoje é árbitro da DFB e da União das Associações Europeias de Futebol (Uefa). rc (dpa, AP) |
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Short teaser | Casos estariam ligados à atuação das "bets". Autoridades analisam "decisões suspeitas de árbitros" e de jogadores. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-investiga-novos-casos-de-manipulação-de-resultados-em-jogos-de-futebol/a-70166081?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 42 | |||
Id | 70114392 | ||
Date | 2024-09-02 | ||
Title | Atletas norte-coreanos podem ser punidos por selfie com sul-coreanos | ||
Short title | Atletas norte-coreanos podem ser punidos por selfie em Paris | ||
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Mesatenistas teriam sido colocados sob "vigilância ideológica" após interação com colegas do país vizinho nos Jogos Olímpicos e podem ser punidos se não demonstrarem arrependimento e remorso pelo gesto. Uma das imagens mais emblemáticas dos Jogos Olímpicos de Paris pode ter gerado graves problemas para alguns atletas norte-coreanos. Há semanas, mesatenistas da Coreia do Sul e Norte protagonizaram um momento histórico após disputarem o pódio na categoria de duplas mistas. Após receberem a medalha de bronze, os sul-coreanos Lim Jong-hoon e Shin Yu-bin se juntaram aos norte-coreanos Kim Kum-yong e Ri Jong-sik, que conquistaram a prata em Paris, para uma selfie. Os chineses Wang Chuqin e Sun Yingsha, também aparecem na imagem. O gesto foi visto internacionalmente como um símbolo de como o esporte é capaz de superar barreiras e unir os povos. Uma das imagens foi postada no Instagram oficial dos Jogos de Paris e gerou enorme repercussão positiva, sendo considerada um dos grandes momentos do megaevento esportivo. Contudo, relatos divulgados na imprensa sugerem que Kim e Ri teriam sido colocados sob "escrutínio ideológico" após retornarem ao seu país. O portal de notícias sobre a Coreia do Norte Daily NK, com sede em Seul, citou uma autoridade de alto escalão em Pyongyang que disse que atletas e membros do Comitê Olímpico Norte-Coreano passaram por uma "lavagem ideológica" de um mês de duração. De acordo com a reportagem, este seria um procedimento padrão no país imposto aos atletas que forem expostos à vida fora do regime comunista. "Lavagem ideológica"Segundo o Daily NK, o termo "lavagem ideológica" reflete como Pyongyang avalia que passar algum tempo fora de suas fronteiras pode "contaminar" seus cidadãos ao serem expostos a outras culturas. O portal destaca que os atletas norte-coreanos recebem instruções para não interagirem com competidores de outros países, incluindo da Coreia do Sul, e teriam sido advertidos que tais "confraternizações" seriam passíveis de punição. Os mesatenistas teriam sido alvo de críticas em um relatório enviado às autoridades do regime de Pyongyang por sorrirem enquanto posavam ao lado de atletas do país vizinho, que o regime comunista considera como seu pior inimigo. Não está claro qual punição deve ser dada aos atletas. O portal Korea Times sugeriu que isso pode depender da intensidade do arrependimento demonstrado pelos esportistas. Segundo o portal, os atletas norte-coreanos que retornam de competições internacionais no exterior costumam passar por sessões de "avaliação ideológica" em três etapas. As avaliações terminam em sessões de autorreflexão, nas quais eles devem criticar "comportamentos inadequados" dos integrantes de suas equipes, além de suas próprias ações. O Korea Times citou o relato de uma fonte anônima, segundo a qual, expressões emocionadas de arrependimento podem poupar os atletas de "punições políticas ou administrativas", cujo teor é desconhecido. Pressão por resultadosA ONG Human Rights Watch disse que os relatos revelam os esforços do regime do ditador Kim Jong-un para controlar seus cidadãos além de suas fronteiras. "O Comitê Olímpico Internacional (COI) tem a responsabilidade de proteger os atletas de todas as formas de assédios e abusos, como consta na Carta Olímpica", disse a entidade, em nota. "Os atletas norte-coreanos não deveriam temer retaliações por suas ações durante os Jogos, menos ainda quando incorporam os valores do respeito e da amizade, sobre os quais se ergue o movimento olímpico." Segundo os relatos, outros atletas que não conquistaram medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris teriam sido punidos pela suposta baixa performance nas competições. O Daily NK menciona o caso da seleção de futebol norte-coreana que foi eliminada da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, depois de perder os três jogos da fase de grupos e sofrer 12 gols. Segundo o portal, os jogadores teriam sido alvos de uma bronca de horas de duração por supostamente traírem o regime. O técnico da equipe teria sido forçado a trabalhar na construção civil. rc/md (Reuters, ots) |
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Short teaser | Mesatenistas teriam sido colocados sob "vigilância ideológica" após interação com sul-coreanos nos Jogos Olímpicos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/atletas-norte-coreanos-podem-ser-punidos-por-selfie-com-sul-coreanos/a-70114392?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 43 | |||
Id | 64814042 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
Short title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
Teaser |
UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção.
Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março.
Lei antioligarca
De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda.
Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias.
Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado.
Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos
A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares.
Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas.
Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares.
Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo
A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país.
Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros.
A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões.
Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares.
Não existem mais oligarcas ucranianos?
Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política.
Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los".
De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE.
Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra.
"Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos.
Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.
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Short teaser | UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas. | ||
Author | Eugen Theise | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/qual-ainda-é-o-real-poder-dos-oligarcas-ucranianos/a-64814042?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia | ||
Image source | Daniel Naupold/dpa/picture alliance | ||
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Item 44 | |||
Id | 64820664 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
Short title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
Teaser |
De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02).
A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes.
Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros.
O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro.
Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado.
Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos.
De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas.
Turquia começa reconstrução
As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção.
Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep.
Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente.
Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad.
Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados.
Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares.
Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores.
Istambul precisa de 40 bilhões de dólares
Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto.
"A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico.
De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia.
Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil.
le (EFE, DPA, Reuters, ots)
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Short teaser | De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. | ||
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Image caption | Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil | ||
Image source | Selahattin Sonmez/DVM/abaca/picture alliance | ||
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Item 45 | |||
Id | 64819106 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
Short title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
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Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou.
"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE.
O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado.
Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética.
Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia.
Acordo após mais de 24 horas de reuniões
As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões.
"Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter.
O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca.
Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen.
O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE.
Sanções contra firmas iranianas
Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia.
As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas.
Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco.
O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia.
No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional.
md (EFE, Reuters, AFP)
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Short teaser | Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ue-impõe-10°-pacote-de-sanções-contra-a-rússia/a-64819106?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen, | ||
Image source | Zhang Cheng/XinHua/dpa/picture alliance | ||
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Item 46 | |||
Id | 64816115 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
Short title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
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Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia.
Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou.
Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor."
Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz.
"No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter.
Estreitar laços
O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra.
Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou.
Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo".
O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra".
Proposta da China
Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países.
"Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou.
Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev.
cn/bl (Reuters, AFP, Efe)
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Short teaser | Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/zelenski-quer-américa-latina-envolvida-em-processo-de-paz/a-64816115?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia | ||
Image source | President of Ukraine/apaimages/IMAGO | ||
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Item 47 | |||
Id | 64811757 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Short title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Teaser |
Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado. Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos. Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares. Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia. Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%. No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente. Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim. "A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico. A proposta da China para a guerra na UcrâniaAté a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta. Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito. No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada. "A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW. Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia. O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais. "Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia. "No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou. Mediador duvidosoAlém disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou. Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin. "É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner. Campanha de relações públicas sem riscosA proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática. "O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura. "Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou. "Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner. Outros pontos da propostaO texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais. A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta. "O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang. |
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Short teaser | Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia. | ||
Author | Alena Zhabina | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 48 | |||
Id | 64811407 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin | ||
Short title | Zelenski, o presidente subestimado por Putin | ||
Teaser |
Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente. As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo. Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!". "Preciso de munição, não de carona"Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido. A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos. A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo. Câmeras, as armas mais poderosas de ZelenskiEm seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana. No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos". No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo. Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas. Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação. Putin não levou Zelenski a sérioMuitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin. A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia. Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado. Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente. Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas. A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir. Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos. Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar. Nem tudo é fácilIsso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos. Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana. O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia. Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana. |
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Short teaser | Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores. | ||
Author | Roman Goncharenko | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 49 | |||
Id | 64810396 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Short title | Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Teaser |
Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online.
Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa.
"Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema."
A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha".
Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída.
Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência
Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real.
Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala.
"Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW.
Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos.
Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento.
Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real.
"Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman.
Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional
De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização.
"É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman.
Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse.
"Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman.
Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos.
O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum".
"Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças.
Fadiga por compaixão em relação a refugiados
Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia.
"Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW.
Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo.
É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África.
"Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa.
A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida
A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo.
"Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW.
Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis.
"Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW.
Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida.
Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.
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Short teaser | Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. | ||
Author | Fred Schwaller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
https://static.dw.com/image/64260087_354.jpg![]() |
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Image caption | Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia | ||
Image source | Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/64260087_354.jpg&title=Ap%C3%B3s%20um%20ano%20de%20guerra%20na%20Ucr%C3%A2nia%3A%20Por%20que%20sofremos%20fadiga%20por%20compaix%C3%A3o%3F |
Item 50 | |||
Id | 64809638 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok | ||
Short title | Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok | ||
Teaser |
Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos.
Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março.
Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados.
Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos.
Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas."
Pressão por interdição total do TikTok nos EUA
Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos.
O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas".
"Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro.
Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China.
TikTok nega ingerência de Pequim
Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos.
Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados.
Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados.
av/bl (AFP, Reuters, ots)
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Short teaser | Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/comissão-europeia-proíbe-funcionários-de-utilizarem-tiktok/a-64809638?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image source | Jakub Porzycki/NurPhoto/picture alliance | ||
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Item 51 | |||
Id | 64800152 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Como e quando poderia haver paz na Ucrânia? | ||
Short title | Como e quando poderia haver paz na Ucrânia? | ||
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Um ano após o início da guerra, nenhum dos lados parece disposto a negociações. Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para o conflito.Dezenas de milhares de soldados mortos e mutilados dos dois lados, milhares de vidas de civis ucranianos perdidas, cidades destruídas. A isso se somam uma crise energética mundial, inflação em diversos países em desenvolvimento e fome. Este é o balanço de uma guerra que, depois de um ano, parece longe de ter fim.
O presidente russo, Vladimir Putin, não alcançou seu objetivo de conquistar totalmente a Ucrânia. Mas a Rússia ocupa atualmente um quinto do território vizinho.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por sua vez, afirma reiteradamente que pretende reconquistar toda a área tomada pelos russos – inclusive a Península da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014.
Em discurso sobre o estado da naçãona última terça-feira (21/02), Putin não se mostrou disposto a ceder – pelo contrário. "É impossível derrotar nosso país no campo de batalha", afirmou.
O mandatário escalou o discurso com o anúncio da suspensão da participação da Rússia no tratado de desarmamento nuclear New Start, o último acordo do tipo ainda em vigor entre Moscou e Washington.
O anúncio parece ter sido uma reação à visita surpresa do presidente americano, Joe Biden, a Kiev no dia anterior. Biden garantiu a continuidade do apoio dos EUA a Zelenski. "Não se trata apenas da liberdade da Ucrânia. Trata-se da própria liberdade da democracia", disse Biden.
Em seguida, em visita à capital polonesa, Varsóvia, Biden reforçou que a Ucrânia "jamais será uma vitória para a Rússia".
Porém, tanto entre os republicanos no Congresso americano quanto entre a população dos EUA, a disposição em apoiar a Ucrânia no longo prazo está diminuindo.
Temor de uma terceira guerra mundial
A pressão para negociações de paz também aumenta na Alemanha. A mais recente Deutschlandtrend – pesquisa de opinião mensal da emissora pública ARD, realizada pelo instituto Infratest dimap – mostra que 58% dos entrevistados consideram que os esforços diplomáticos para encerrar a guerra são insuficientes – um recorde histórico.
Uma petição encabeçada por Sahra Wagenknecht, da legenda A Esquerda, e pela feminista Alice Schwarzer pede o início imediato de negociações de paz e o fim do envio de armas à Ucrânia pela Alemanha, que reviu seu pacifismo de décadas e adotou uma postura voltada à remilitarização com o início do conflito. O documento, assinado por teólogos, artistas e políticos, alerta contra uma nova guerra mundial.
O embaixador ucraniano em Berlim, Oleksei Makeiev, disse a um portal alemão de notícias que não consegue entender esse temor: "A Ucrânia já está na Terceira Guerra Mundial. A Rússia lidera uma guerra de aniquilação contra nós."
Reconquista de territórios ocupados
Já no ano passado, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, descartou, em entrevista à DW, passos unilaterais para alcançar a paz. O motivo: "Se a Ucrânia encerrar os combates, vai deixar de existir como Estado independente." Por isso, segundo Stoltenberg, Kiev precisaria vencer a guerra.
Para que a Ucrânia possa manter sua liberdade, países ocidentais vêm reforçando seu auxílio militar à nação invadida pela Rússia. No início deste ano, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, decidiu após longa hesitação, enviar tanques alemães à Ucrânia, depois que os EUA e outros países da Otan, como o Reino Unido, anunciaram o envio de blindados a Kiev.
Especialmente o modelo Leopard 2, fabricado na Alemanha, poderia ajudar a "superar a desvantagem da Ucrânia no campo de batalha", afirmou o coronel reformado Roderich Kiesewetter, que também é político do partido conservador alemão CDU, em mensagem por escrito à DW. "Mas, se os ucranianos conseguirão uma virada na linha de frente, dependerá do número, do tempo de fornecimento e da continuidade do envio de tanques", avalia.
A Ucrânia não espera só rechaçar ataques russos com os blindados. O consultor em segurança Nico Lange, que desde julho de 2022 trabalha para a iniciativa Zeitenwende da Conferência de Segurança de Munique e já ocupou posições de liderança na Fundação Konrad Adenauer, ligada à CDU, considera "realistas as chances militares de a Ucrânia reconquistar a totalidade dos territórios ocupados [pela Rússia] e, assim, reconstituir a paz".
Em entrevista à DW, Lange diz acreditar que "Putin só estará disposto a negociar quando a situação militar ficar tão favorável à Ucrânia que ele entenderá que não vai conseguir vitórias com essa guerra de agressão".
O general aposentado da Bundeswehr Helmut Ganser não partilha dessa visão. Na edição de fevereiro da publicação especializada em política internacional Journal für Internationale Politik und Gesellschaft, ele traça dois cenários para uma contraofensiva ucraniana rumo ao sul do país, na direção do Mar de Azov, com a atuação de tanques ocidentais.
No quadro mais pessimista, a ofensiva ucraniana ficaria atolada em meio à defesa maciça da Rússia. Para esse caso, Ganser já tenta preparar a opinião pública ocidental para "imagens de tanques Leopard destroçados", que a Rússia divulgaria na internet com prazer.
Para Ganser, o cenário mais otimista é ainda mais perigoso: as unidades de blindados avançariam até o Mar de Azov e ficariam diante da Península da Crimeia. O ex-general suspeita que seria no máximo nesse momento que Putin "expandiria a área total da guerra ao território dos países ocidentais apoiadores", e alerta: "Está aumentando o perigo de um deslizamento lento e, na verdade, não intencional, rumo a uma grande catástrofe para toda a Europa."
Já Lange vê a ameaça nuclear da Rússia como "um instrumento de guerra psicológica". Ele não apenas considera uma reconquista da Crimeia "possível do ponto de vista militar", mas endossa também a tentativa como algo aconselhável: "Exatamente pelo fato de que [perder] a Península da Crimeia seria uma vergonha para Vladimir Putin, a pressão militar sobre a Crimeia é uma possibilidade de fazer com que a Rússia se disponha a negociar", avalia.
Onde está o limite?
Os especialistas ouvidos pela DW se dividem quanto à possibilidade de a pressão militar aumentar ou a disposição de negociar da Rússia ou o risco de uma guerra nuclear.
O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), sempre sublinhou que a Alemanha não pode se tornar parte diretamente envolvida no conflito. Por isso, houve longa hesitação do país em decidir enviar tanques à Ucrânia, e Scholz ainda descarta o envio de aviões de guerra a Kiev. Biden também não prometeu caças a Zelenski.
Já o político da CDU e ex-militar Kiesewetter não "traçaria linhas vermelhas no que se refere a certos sistemas de armas". No contexto do direito internacional, um país só se transforma em parte envolvida numa guerra quando se envia soldados próprios, aponta Kiesewetter, que descarta tal cenário.
Objetivos incompatíveis de pacificação
Porém, entre os países que apoiam a Ucrânia, há muitos que acreditam que não será possível encerrar o conflito sem alguma disposição de Kiev de chegar a um acordo político. Na própria Ucrânia, essa vontade é quase imperceptível, segundo avalia o jornalista Roman Goncharenko, da redação ucraniana da DW.
"Nas primeiras semanas depois da invasão, Kiev estava disposta a fazer concessões, como neutralidade em vez de se tornar país-membro da Otan. Mas a brutalidade do Exército russo e a anexação de mais regiões praticamente impossibilitaram a busca de um compromisso. Uma pesquisa encomendada pela Conferência de Segurança de Munique mostrou que 93% dos ucranianos veem uma retirada completa da Rússia – também da Crimeia – como condição para um cessar-fogo", explica Goncharenko.
Um cenário irrealista na avaliação do cientista político Johannes Varwick, da Universidade alemã de Halle: "Muito provavelmente, no final, haverá uma Ucrânia neutra que não ficará na zona de influência do Ocidente ou da Rússia de forma nítida", especula.
Varwick vê urgência numa iniciativa de negociação do Ocidente. "Se, ao final de uma guerra longa ou que foi intensificada, tivermos o mesmo resultado que já seria possível hoje, não faz sentido continuar lutando com dezenas de milhares de mortos e pessoas traumatizadas", pontua.
Há sinais reais de pacificação?
Na última semana, a embaixada russa em Berlim divulgou o seguinte tuíte: "Todas as ações de combate terminam em negociações, estamos dispostos a elas. Mas apenas a negociações sem condições prévias e com base na realidade válida e considerando os objetivos que comunicamos publicamente."
Uma declaração que não pode ser interpretada como disposição a um acordo. A "realidade válida" inclui a ocupação russa de um quinto da Ucrânia, enquanto um dos objetivos era até mesmo a aniquilação completa do Estado ucraniano.
Durante a Conferência de Segurança de Munique deste ano, a China anunciou um plano de paz. Os governos do Ocidente, no entanto, veem o anúncio com ceticismo devido ao fato de a China nunca ter condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia. O Secretário de Estado americano, Antony Blinken, também teme que a China possa enviar armas à Rússia – o que Pequim contesta.
Vitória militar ou paz com compromissos?
O economista americano Jeffrey Sachs escreveu na edição de janeiro da revista britânica The Economist que, para uma solução de paz "credível", é decisivo que "os interesses de segurança mais importantes dos dois lados sejam respeitados". "A soberania e a segurança da Ucrânia precisam ser garantidas, enquanto a Otan precisaria prometer não se expandir para o leste."
Sachs espera impulsos de pacificação vindos sobretudo dos países que recusaram uma condenação da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas – além da China, Índia, Brasil e África do Sul, que são parceiros da Rússia no Brics.
"Esses países não odeiam nem a Rússia, nem a Ucrânia", afirma o economista. "Eles não querem nem que a Rússia conquiste a Ucrânia, nem que a Otan se expanda para o leste."
Kiesewetter, da CDU, alerta contra concessões a Moscou: "É um equívoco pensar que basta dar um pouco de terra para a Rússia para que o país mate sua sede de destruição. E uma eventual conquista de território pela Rússia serviria de modelo para outros países autocráticos definirem novas fronteiras militares, recorrendo a chantagem ou ameaça nuclear." O especialista acredita que principalmente a China já encara a Europa como uma "área de teste", tendo em vista a soberania de Taiwan.
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Short teaser | Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para a guerra. | ||
Author | Christoph Hasselbach | ||
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Image caption | Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar | ||
Image source | Libkos/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 52 | |||
Id | 64793993 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | A guerra na Ucrânia em números | ||
Short title | A guerra na Ucrânia em números | ||
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Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em apoio militar e várias sanções. Dez gráficos ilustram as consequências de um ano de guerra de agressão russa.A Rússia está em guerra com a Ucrânia há um ano. Apesar da recaptura bem-sucedida de várias áreas pelo Exército ucraniano, grandes partes do país permanecem sob controle russo. Recentemente, em 19 de janeiro de 2023, as forças ucranianas se retiraram de Soledar, na região do Donbass, e desde então a cidade voltou às mãos dos russos.
Milhões de pessoas em fuga
De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, a guerra desencadeou a segunda maior crise de deslocamento do mundo. Na Europa, 6,3 milhões de refugiados ucranianos encontraram abrigo até agora. Outros 6,6 milhões de pessoas estão em fuga dentro do próprio país.
De acordo com as Nações Unidas, muitas pessoas são deportadas para a Rússia ou instadas a emigrar para lá, especialmente das áreas do leste da Ucrânia. Isso explica o alto número de refugiados na Rússia, país que usam para tentar chegar à União Europeia.
Pobreza e recessão
De acordo com o Acnur, a situação humanitária na Ucrânia "deteriorou-se rapidamente". Cerca de 40% da população depende agora de ajuda para sobreviver.
A situação econômica também é catastrófica. De acordo com o Banco Mundial e o Ministério da Agricultura da Ucrânia, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 35% em 2022. Sessenta por cento da população vive agora na linha da pobreza. A destruição da infraestrutura doméstica pela guerra é estimada em mais de 130 bilhões de euros.
Resiliência na Rússia
Em contraste com a Ucrânia, a situação na Rússia é menos crítica do que o estimado. Entretanto, os especialistas esperam uma deterioração este ano devido às sanções adicionais da União Europeia (UE) contra a Rússia adotadas em fevereiro deste ano.
As projeções para o desenvolvimento econômico da Rússia variam muito: enquanto a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) espera que a economia russa retroceda em 5,6% este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um pequeno crescimento, de 0,3%.
As receitas da Rússia provenientes das exportações de energia inicialmente cresceram acentuadamente após a explosão dos preços em março de 2022, mas depois caíram de forma constante. Entretanto, se estabilizaram no nível de dezembro de 2021, anterior à guerra.
Em vista da queda dos preços do gás e do petróleo, bem como da diminuição da demanda, especialmente na UE, mas também em vista da estagnação na China, espera-se no ano em curso uma nova queda na receita da Rússia proveniente das exportações de energia.
Bilhões para a defesa ucraniana
Bilhões de dólares em ajuda militar, humanitária e financeira têm fluído para a Ucrânia desde que a guerra começou. Com mais de 70 bilhões de euros em ajuda, os Estados Unidos encabeçam a lista de países doadores.
A UE e seus membros já mobilizaram mais de 50 bilhões de euros. A Alemanha é um dos maiores fornecedores de armas para a Ucrânia. Para 2023, estão previstos 2,2 bilhões de euros em ajuda militar.
Em vista da esmagadora superioridade militar da Rússia sobre a Ucrânia, a Otan também expandiu sua presença militar em seu flanco oriental. As chamadas forças de combate multinacionais foram destacadas para os Estados bálticos e a vigilância aérea na região foi reforçada.
Queda do preço do trigo
Pelo menos uma das catástrofes previstas não se concretizou: uma crise alimentar global devido à escassez de trigo foi evitada. De acordo com os ministérios da Agricultura da Ucrânia e dos Estados Unidos, a produção global de trigo aumentará de 778 milhões de toneladas na safra de 2021/2022 para 783 milhões de toneladas na de 2022/2023.
O preço do trigo, que após a invasão russa da Ucrânia atingiu um pico de mais de 430 euros por tonelada no mercado mundial em maio de 2022, voltou a cair para pouco menos de 300 euros a tonelada. O valor aproxima-se assim do preço de antes da guerra, quando o grão era comercializado por 275 euros a tonelada.
As perdas de produção na Ucrânia − ainda um dos principais produtores mundiais de trigo − estão sendo compensadas por outros países. A Austrália e a Rússia, em particular, aumentaram sua produção. Segundo a agência de notícias russa Tass, o aumento se deve "à incorporação de quatro territórios ucranianos". Com 102 milhões de toneladas, o Ministério da Agricultura russo também espera uma safra muito maior do que a estimada pelo Departamento de Agricultura americano.
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Short teaser | Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em ajuda militar: dez gráficos mostram consequências do conflito. | ||
Author | Astrid Prange | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-guerra-na-ucrânia-em-números/a-64793993?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia | ||
Image source | Nina Lyashonok/Avalon/Photoshot/picture alliance | ||
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