Item 1 | |||
Id | 72276464 | ||
Date | 2025-04-20 | ||
Title | Por que o Brasil se chama Brasil | ||
Short title | Por que o Brasil se chama Brasil | ||
Teaser |
Da explicação convencional que fala de um certo tipo de madeira à mitologia celta, o nome do país carrega significados anteriores ao conceito de nação. Entenda como o país foi "batizado". Muito provavelmente foi assim que você aprendeu na escola. Quando a frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral (1467-1520) aportou no hoje território brasileiro, em 22 de abril de 1500, primeiro a porção então conquistada foi chamada de Ilha de Vera Cruz, depois Terra de Vera Cruz, depois Terra de Santa Cruz, então Santa Cruz e, só então, Brasil. Também deve ter aprendido que a nomenclatura Brasil tinha a ver com a abundância de pau-brasil da costa então invadida, e esta madeira têm esse nome pelo tom avermelhado da tinta que dela se extrai, daí a analogia entre a cor e a brasa, a brasa e o nome pau-brasil. De certa forma tudo isso pode ser entendido como verdade. Mas com o cuidado necessário para o fato de que a verdade história também é uma construção — e ao longo de 525 anos, interesses vários se sobrepuseram na construção mítica e nacional do país que depois surgiria nessas terras, a hoje República Federativa do Brasil. "As nomenclaturas eram embaralhadas pela profusão e composição de descrições, relatos e de muita imaginação. O pensamento analógico predominou na compreensão e na explicação do mundo moderno. Este não é um raciocínio linear. É ordenado por aproximações entre imagens e sentidos atribuídos, a partir de dados imprecisos, simbolismos e interpretações", diz o historiador Paulo Henrique Martinez, professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp). O batismo de um paísCostuma-se dizer que o Brasil é um raro exemplo de país com "certidão de nascimento". No caso, considera-se a carta assinada pelo escrivão Pero Vaz de Caminha (1450-1500), integrante da frota de Cabral incumbido de reportar à Coroa portuguesa sobre a viagem, como o primeiro documento redigido no território brasileiro. Datada de 1º de maio de 1500, a dá informações sobre como os primeiros portugueses chamaram estas terras. Sobre o dia 22 de abril, ele comenta que o capitão, no caso Cabral, chamou a montanha primeiramente avistada de Monte Pascoal — era época da Páscoa — e "à terra, Terra de Vera Cruz". De acordo com o estudo da linguista Maria Vicentina do Amaral Dick (1936-2024), que era professora na Universidade de São Paulo (USP) e ficou conhecida como notória especialista em toponímias, esta escolha não se deu por acaso: a expedição chefiada por Cabral trazia, como amuleto, lascas daquilo que se acreditava, como relíquia, ser a verdadeira cruz na qual Jesus foi executado. Daí o batismo de Vera Cruz, ou seja, "cruz verdadeira". A mesma carta de Caminha, contudo é assinada como "da vossa Ilha de Vera Cruz". O que denota uma confusão, na cabeça daqueles pioneiros, quanto ao tamanho das terras conquistadas. Gradualmente, na documentação, observa-se que ilha vai perdendo espaço para terra, e Vera Cruz vai sendo simplificada para Santa Cruz. Outros nomes também passam a coexistir. Pindorama, a partir de idioma indígena. Terra dos Papagaios, pela abundância dessas aves por aqui. Mas Brasil também aparece, é verdade. As diferentes nomenclaturas conviviam. Da mesma maneira que a ideia territorial da então colônia portuguesa na América era uma realidade difusa, fluida, imprecisa. Havia, nesse princípio de colonização, quem se referisse ao território como Nova Lusitânia e Cabrália — em homenagem a Pedro Álvares Cabral —, por exemplo. "Em 1501, os portugueses utilizaram o nome Terra Nova, refletindo a novidade da descoberta", pontua o historiador Vitor Soares, do podcast História em Meia Hora. O primeiro mapa pós-descobrimento a grafar a palavra Brasil é o Planifério de Cantino, de 1502. Mas não há consenso se o autor estava se referindo ali ao território ou à árvore pau-brasil. No fim dessa mesma década, o cosmógrafo português Duarte Pacheco Pereira (1460-1533) chama a região de "terra do Brasil de além-mar". Segundo o historiador Martinez, o consenso na explicação etimológica para o nome do Brasil, ou seja, ligando o nome da terra ao nome da madeira, "foi estabelecido […] pelo pragmatismo político e pela construção do imaginário nacional do século 19". Ou seja: antes disso não se ensinava que o Brasil se chamava Brasil por causa do pau-brasil. O historiador Soares lembra que esta é a explicação mais aceita para o nome do país: a origem "diretamente relacionada à exploração do pau-brasil, árvore abundante no litoral atlântico e muito valorizada pelos europeus [da época] eplo seu corante vermelho". "Os portugueses começaram a chamar a região de Terra do Brasil já nos primeiros anos do século 16 e, pouco depois, o nome foi reduzido simplesmente para Brasil", ressalta. Professora no Serviço Social da Indústria (Sesi) e pesquisadora na Unesp, a historiadora Bruna Gomes do Reis ressalta que é uma "teoria" a ideia de que o nome do Brasil deriva da madeira pau-brasil. "O corante avermelhado da madeira já era conhecido pelos portugueses e tinha variações do nome […] que significa cor de brasa ou vermelho", diz ela, lembrando que então autores do período colonial, como o jesuíta José de Anchieta (1534-1597) acabam popularizando o nome Brasil para o território. "[Mas] é inegável que a palavra brasil surgiu antes." Reis lembra que a historiadora Laura de Mello e Souza, professora na Universidade Sorbonne, na França, diz que a palavra Brasil era "um nome a procura de um lugar”. Isto tem a ver com a mitologia celta, por mais incrível que possa parecer. "O nome Brasil antecedeu a localização geográfica", comenta o filósofo e educador Marcos da Silva e Silva, professor na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). A versão celtaSe por um lado parece fazer muito sentido pensar em Brasil como uma referência ao pau-brasil, então a primeira riqueza explorada pelos portugueses no território, por outro é intrigante perceber que o nome Brasil e algumas variações já estravam presentes em mapas e documentos europeus anteriores ao episódio conhecido como "descobrimento”. Isso é muito curioso e indica que, assim como Atlântida e outras terras míticas, a ideia de Brasil como um local paradisíaco já estava presente no imaginário europeu. "Desde a Alta Idade Média [do ano 476 até o ano 1000], circulavam lendas sobre uma ilha misteriosa chamada Hy-Brasil […]. Em um de seus livros relacionado ao tema, a pesquisadora Barbara Freitag [socióloga e brasilianista, professora emérita da Universidade de Brasília] explica que essa ilha apareceu em diversos mapas náuticos entre os séculos 14 e 19, sendo retratada, por exemplo, no mapa de Angelino Dulcert, de 1325, e no atlas de Andrea Bianco, de 1436", diz Soares. Silva e Silva comenta que "mapas europeus [feitos] entre 1351 e 1500 descreviam Brasil", com grafias variadas, para "designar um lugar diferente, uma ilha". Era como uma miragem, uma terra especial que haveria de existir. "A ilha era descrita como visível apenas uma vez a cada sete anos, surgindo da névoa como um ‘paraíso celta' ou ‘Ilha dos Abençoados'", complementa Soares. Brasil derivaria, portanto, da palavra celta "bress”, que significa "abençoar”. Reis lembra que essa explicação vem de "antigas tradições e lendas que falam de ilhas atlânticas perdidas no tempo e no espaço”, locais bem-aventurados, afortunados e místicos”". "Deste modo, a relação com o território descoberto na América seria de que eram lugares paradisíacos, como descrevem as primeiras cartas de Caminha, místicos e ainda a serem explorados", comenta. Os nomes indígenasEntre os habitantes nativos, é compreensível imaginar que não havia um nome que compreendesse todo o território: afinal, viviam aqui pelo menos 3,5 milhões de indígenas de cerca de 1 mil povos diferentes. O nome Pindorama, por exemplo, que acabou convencionado como a maneira como os indígenas denominavam o Brasil, seria a maneira como um povo se referia a uma parcela das terras. "Antes da chegada dos europeus, as terras que hoje chamamos Brasil eram um mosaico de territórios indígenas, cada qual com seus próprios topônimos, muito anteriores a qualquer ideia de ‘país' unificado", explica Soares. Os tupi, que dominavam a faixa litorânea, chamavam-na de Pindorama, do tupi pindó, ‘palmeira', e rama, ‘lugar', ou seja, Terra das Palmeiras”, exemplifica. Estes mesmos habitantes litorâneos chamavam o interior, então ocupado por povos do tronco jê e outras etnias, de nomes como Tapuiretama ou Tapuitetama, ou seja, Terra do Inimigo. "Culturalmente distintos e ocupando lugares descontínuos, os indígenas que viviam no Brasil antes da chegada dos portugueses não se organizavam a partir de uma unidade cultural, geográfica, linguística ou qualquer outra", lembra Reis. "A fragmentação espacial e cultural imperava. Além de que a noção de unidade territorial, estado-nação e país eram conceitos que não faziam parte do pensamento indígena." O nascimento do BrasilSe a referência ao nome do Brasil aparece desde antes da invasão do território em si, é importante lembrar que os historiadores têm um consenso de que o Brasil não passou a existir em 1500, com a chegada dos portugueses. Isto porque a ideia de nação, de país, é necessariamente posterior à Independência — antes, o que havia era uma colônia portuguesa, ainda que em dado momento tenha passado a ser chamada de Brasil. Assim, o país nasce mesmo em 1822 — para alguns especialistas, somente em 1889, com a proclamação da República. "A compreensão de quando o Brasil deixou de ser apenas um conjunto de capitanias coloniais para se afirmar como nação envolve muito mais do que marcos formais", pontua Soares. "Mas também as narrativas simbólicas que foram forjando uma consciência coletiva." "Para além dos eventos políticos [como Independência e Proclamação da República], a consolidação do Brasil como entidade simbólica e cultural passa pelo estabelecimento de mitos fundadores", ressalta ele. "O Brasil enquanto nação plena não nasceu em um único dia." |
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Short teaser | Da explicação convencional à mitologia celta, o nome do país carrega significados anteriores ao conceito de nação. | ||
Author | Edison Veiga | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/por-que-o-brasil-se-chama-brasil/a-72276464?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 2 | |||
Id | 72266801 | ||
Date | 2025-04-20 | ||
Title | O que acontece durante e após a morte? | ||
Short title | O que acontece durante e após a morte? | ||
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Para muitos crentes, a morte não é o fim de tudo. Mas o que acontece biologicamente durante e após ela? Existe uma alma separada do corpo? A ciência é capaz de analisar e explicar fatores físicos. O resto é artigo de fé.Na Páscoa, os cristãos celebram a ressurreição de Jesus, e a vitória da vida sobre a morte. Também os judeus ortodoxos e os muçulmanos acreditam na ressurreição. Para os hindus e budistas, a ênfase está sobretudo na redenção através da reencarnação. Portanto para os crentes, misturada ao luto pela perda de um ente querido devido a doença, idade, acidente ou violência, está sempre a esperança de que a morte não represente o fim de tudo.
Porém o consolo de uma vida após a morte não é exclusividade das grandes religiões mundiais. Também entre os primeiros coletores e caçadores, os egípcios, vikings e muitas outras culturas, aqueles que ficavam despediam-se com rituais e oferendas fúnebres, aplainando assim o caminho para o além-morte.
Biologicamente, o limite de funcionamento do corpo humano é de cerca de 120 anos. Porém a expectativa de vida concreta depende das condições de saúde e higiene, e ao longo do tempo tem se prolongado consideravelmente. Na Alemanha, por exemplo, a cada ano ela aumenta em três meses.
Entretanto, para a maioria, não é tanto a morte em si a despertar temor, mas sim a incerteza do que ocorre quando se morre, e depois. Do ponto de vista médico, há mais de uma forma de óbito: na morte clínica, o sistema cardiovascular entra em colapso, pulso e respiração param, os órgãos deixam de ser supridos de oxigênio e nutrientes. Uma reanimação através de ventilação artificial e massagem cardíaca ainda é possível, e muitas vezes com êxito.
No caso da morte cerebral, contudo, não há mais essa possibilidade: cérebro, cerebelo e tronco cerebral deixam de funcionar. Certas células cerebrais, nas camadas mais profundas, ainda podem estar ativas, porém a consciência está irreversivelmente perdida.
Apesar disso, ainda se pode manter artificialmente a vida de "mortos cerebrais" por muito tempo. Certos pacientes talvez até reajam a impulsos externos, por exemplo durante cirurgias, mas do ponto de vista da medicina, trata-se de meros de reflexos medulares, não de sensações dolorosas.
Patógenos permanecem perigosos
Os órgãos humanos ainda resistem por algum tempo sem ser supridos. Só após algum tempo a divisão celular vai parando gradualmente, até que as células morrem. Se o número delas é grande demais, uma regeneração dos órgãos não é mais possível.
O primeiro a sucumbir é o cérebro, cujas células já morrem após três a cinco minutos sem oxigênio. O coração aguenta ainda cerca de meia hora. O sangue que para de circular cede à gravidade, depositando-se nas partes mais baixas e formando manchas de hipóstase, ou livor mortis.
Passadas duas horas, cessa a formação do transportador de energia trifosfato de adenosina, e os músculos se enrijecem. Esse estado de rigor mortis, ou rigidez cadavérica, se desfaz após alguns dias.
O trato gastrointestinal só morre após dois a três dias, e as bactérias que contém aceleram a decomposição do corpo. Os patógenos do organismo, contudo, permanecem em parte perigosos por bastante tempo. Os vírus da hepatite, por exemplo, seguem ativos por dias; os bacilos da tuberculose, até por anos. Ao todo, a decomposição total de um corpo humano leva uns 30 anos.
Experiências de quase-morte e o enigma da alma
A ciência registra experiências de quase-morte entre a morte clínica e a reanimação. Porém também as religiões e o esoterismo se ocupam intensamente das sensações relatadas, as quais variam fortemente, de acordo com os diferentes condicionamentos culturais.
Uma parte dos pacientes não tem qualquer lembrança dessa fase. Outros contam sobre uma avalanche de lembranças, libertação do corpo, paisagens ou uma luz forte (no fim do túnel). Enquanto uns sentem grande felicidade, outros sentem medo ou pânico.
Há indícios de que experiências de quase-morte sejam mais frequentes quando a reanimação leva mais tempo, e o fornecimento de oxigênio ao cérebro é suspenso mais longamente. Essa carência tem impacto especial nos lobos temporais e parietais, assim como na zona de conexão entre ambos, o giro angular. Não está claro se é lá que se formam as sensações de quase-morte.
Embora a morte seja parte da vida, é difícil para os seres humanos aceitá-la como um fim inevitável. Na maioria dos casos, o termo "alma" designa a essência nuclear de uma pessoa, separada do corpo. Em muitas regiões, é ela que define um indivíduo.
A crença numa alma imortal está profundamente arraigada numa mentalidade dualista, que divide o mundo em duas categorias antagônicas: bem x mal, certo x errado, corpo x alma. Filósofos como Platão, Sócrates e Descartes consideravam corpo e alma duas unidades separadas.
Dados das ciências neurológicas sugerem que todos os processos mentais estão conectados com a função cerebral. Desse modo, seria possível explicar toda a "vida anímica" através de neurônios, mensageiros químicos e redes.
Mas será que a essência, a alma humana se reduz realmente a atividades cerebrais mensuráveis, processos bioquímicos e influências socioculturais? Ou será que se trata de uma interação altamente complexa de tudo isso? Cientificamente não há como provar nem tal interação, nem a existência de uma alma. E para além das ciências empíricas começa a fé.
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Short teaser | Para muitos crentes, a morte não é o fim de tudo. Mas o que acontece biologicamente durante e após ela? | ||
Author | Alexander Freund | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-que-acontece-durante-e-após-a-morte/a-72266801?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Rituais de Páscoa: um modo de se convencer de que nem tudo acaba com a morte? | ||
Image source | Markus Schreiber/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 3 | |||
Id | 72289401 | ||
Date | 2025-04-19 | ||
Title | Seu cérebro funciona assim quando você vê arte abstrata | ||
Short title | Seu cérebro funciona assim quando você vê arte abstrata | ||
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Pesquisa analisou a atividade cerebral de pessoas enquanto olhavam para arte abstrata e identificou por que interpretamos as manchas de tinta na tela de forma tão única.Quando você olha para uma pintura abstrata em um museu, por exemplo, o que você vê e o que sente? Ela evoca uma lembrança antiga, um senso de espiritualidade ou confusão?
Há muito tempo, artistas e filósofos tentam responder a essas perguntas, inclusive sobre o que a arte significa. Os cientistas também estão agora investigando. Uma nova pesquisa analisou o que acontece no cérebro das pessoas quando elas olham para a arte abstrata.
Publicado na revista PNAS, o estudo fornece uma visão de como o cérebro interage com diferentes formas de arte e constrói experiências subjetivas.
Os pesquisadores afirmam que suas descobertas corroboram o conceito de Beholder's Share (A parte do observador), segundo o qual as obras de arte são completadas pelo espectador – todas suas memórias pessoais, emoções e pecadilhos impregnam significados na obra de arte.
"Nossas descobertas revelaram respostas mais específicas de cada pessoa para pinturas abstratas, indicando que os indivíduos contribuem com mais associações pessoais para a arte abstrata do que para a arte representativa", escreveram os pesquisadores.
Como nossos cérebros reagem à arte
São as diferentes maneiras como interpretamos a arte que dão aos cientistas pistas sobre nossas mentes individuais e como o cérebro constrói experiências subjetivas.
Para o estudo, os pesquisadores mediram a atividade cerebral de 59 pessoas, usando uma técnica chamada ressonância magnética funcional (fMRI). Os participantes foram colocados em um scanner cerebral enquanto viam pinturas artísticas abstratas e realistas.
Antes de falarmos sobre os resultados, alguns princípios básicos:
Quando vemos arte, o fluxo de informações visuais vai do olho para uma parte do cérebro conhecida como córtex visual. É lá que a informação visual é processada pela primeira vez. Para dar significado a essas informações, elas são enviadas para "instâncias superiores" do cérebro.
Agora vamos às descobertas. O estudo revelou que não havia diferenças reais entre a atividade cerebral dos participantes no córtex visual.
Em outras palavras, seus cérebros provavelmente criaram percepções visuais semelhantes da obra de arte – eles viram a mesma coisa.
Mas havia diferenças na atividade cerebral das pessoas nas regiões de instância superior, que são importantes para a experiência subjetiva. Em particular, houve diferenças na atividade cerebral na rede de modo padrão – uma rede cerebral envolvida na imaginação, na busca da memória e no pensamento autorreferencial.
Isso sugere que a variabilidade subjetiva decorre de processos cognitivos mais elevados, em vez de diferenças no processamento sensorial inicial no córtex visual.
Os pesquisadores afirmam que o estudo abre espaço para novas perguntas sobre por que as pessoas interpretam obras de arte de forma diferente.
Por exemplo, as diferenças nas respostas interpretativas se devem a diferenças na capacidade das pessoas de gerar representações da arte a partir de estímulos ambíguos? Ou, em vez disso, elas podem surgir de diferenças nas respostas emocionais ou no gosto estético?
Olhar para a arte beneficia seu cérebro
Pesquisas mostram que ver arte tem efeitos benéficos para o cérebro e a psicologia.
Por exemplo, ver arte é comprovadamente um alívio para o estresse. Em 2003, pesquisadores pediram a trabalhadores de Londres que cuspissem em um tubo antes e depois de passar o intervalo de almoço em uma galeria de arte. A análise laboratorial constatou que os níveis de cortisol haviam caído depois de ver arte, o que indicava que os níveis de estresse haviam se normalizado.
É por isso que a arte abstrata é usada na terapia de condições relacionadas ao estresse, como o transtorno de estresse pós-traumático e a depressão, e tem demonstrado ajudar os pacientes a processar emoções e reduzir o estresse.
A arte também é uma ferramenta incrivelmente eficaz para o aprendizado – algo bem conhecido por nossos ancestrais, que usavam a arte rupestre para educar os outros da comunidade ao longo do tempo.
Quando você olha para a arte, os conceitos ou as histórias retratados se fixam em sua mente como o pólen nas patas das abelhas. Pesquisas sugerem que parar para apreciar a estética de algo facilita o aprendizado sobre o assunto. Essa ideia de "parar para obter conhecimento" é motivada pelo prazer e pela curiosidade, e o leva a fazer perguntas e buscar informações.
Arte e neurociência, duas formas de entender o mundo
De certa forma, tanto a arte como a ciência tentam entender e descrever o mundo ao nosso redor. O que difere são seus métodos e formas de comunicação.
A arte cria experiências que são mais memoráveis ao evocar emoções ou compreensão, enquanto a ciência fornece as ferramentas para a observação empírica e a razão.
Uma das maiores questões que mobilizam os dois campos é por que nossas experiências conscientes e os mundos percebidos diferem entre si – ou seja, o que torna nossas mentes únicas.
Poetas e artistas vêm explorando esse tema há milênios, mas somente agora as ferramentas de pesquisa neurocientífica estão ficando sofisticadas o suficiente para sondar a mente humana e encontrar respostas.
As pesquisas estão começando a abordar e responder questões como por que algumas pessoas têm depressão e outras não, ou como a gravidez reconfigura o cérebro das mães. Mas os cientistas ainda estão longe de entender como o cérebro cria a consciência e como recriar o pensamento humano em máquinas.
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Short teaser | Pesquisa usou ressonância magnética para entender por que interpretamos as manchas de tinta na tela de forma tão única. | ||
Author | Fred Schwaller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/seu-cérebro-funciona-assim-quando-você-vê-arte-abstrata/a-72289401?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Como você interpretaria esta pintura de Jackson Pollock? Um novo estudo sugere que o processamento da imagem em instâncias superiores do cérebro é o que dá a ela seu significado individual. | ||
Image source | Sabine Glaubitz/dpa/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/72136692_354.jpg&title=Seu%20c%C3%A9rebro%20funciona%20assim%20quando%20voc%C3%AA%20v%C3%AA%20arte%20abstrata |
Item 4 | |||
Id | 72264514 | ||
Date | 2025-04-19 | ||
Title | Famosa por causa de Goethe, taverna em Leipzig comemora 500 anos | ||
Short title | Famosa por causa de Goethe, taverna em Leipzig faz 500 anos | ||
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De início adega para estudantes, Auerbachs Keller ganhou significado mítico ao virar palco de uma cena da tragédia 'Fausto', do poeta alemão. Mas o papel do local na cultura alemã vai mais longe. O Auerbachs Keller é um dos restaurantes mais famosos do mundo. Anualmente são servidos lá 36 mil bifes à rolê caseiros, 90 mil litros de cerveja e a mesma quantidade de vinho. "Temos uns 300 mil clientes por ano, muitos do exterior", relata Tanja Pieper, porta-voz e "embaixadora" do jubileu da casa. Porém o estabelecimento em Leipzig, no estado da Saxônia, deve sua popularidade sobretudo ao autor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) que, 250 anos atrás, situou no Porão de Auerbach uma cena central da primeira parte seu icônico poema teatral Fausto, uma tragédia. Esse fato atrai até hoje fãs literários de todo o mundo. Foi na Páscoa de 1525 que o médico e acadêmico Heinrich Stromer von Auerbach serviu pela primeira vez vinho para estudantes em seu porão. Entre os frequentadores, estava também o teólogo e reformador religioso Martinho Lutero, que durante um tempo chegou a se esconder lá de seus inimigos. Séculos mais tarde, outro frequentador famoso do Auerbachs Keller foi o compositor Robert Schumann (1810-1856). O ponto alto do quinto centenário é festejado justamente na época pascal com um respeitável banquete, entre outros eventos. "Nós copiamos da época de Goethe: tem um grande 'schlampamp', uma comilança, a santa trindade de 'comida, bebida e boa companhia', em torno de mesas compridas, como nos velhos tempos", antecipa Pieper. Os pratos serão servidos em tábuas e travessas, exatamente como no século 18. Tudo começa com um pacto com o diaboO protagonista da tragédia de Goethe é o velho e depressivo professor Henrique Fausto (Heinrich Faust), que vende a alma a Mefistófeles (Mephisto). Sob a condição de nunca se fixar num momento, ao ponto que querer que seja eterno, ele volta a ser jovem e ganha nova vontade de viver. Porém o diabo tem o dedo na balança, e impele jovem Fausto a seduzir e engravidar a bela e ingênua Margarida (Margarete ou Gretchen). Desesperada, ela mata o recém-nascido, é presa, e no cárcere reza pela redenção divina. No fim da segundo parte da tragédia, será ela a redimir a alma do antigo amado. Também na cena que se desenrola no Porão de Auerbach, Mefistófeles manipula os acontecimentos. Sob o pretexto de colocar Fausto em "alegre companhia", ele conjura um delicioso vinho com seus poderes mágicos, e mais tarde deixa o local cavalgando um barril. Hoje em dia, a cada Páscoa se realiza a "Fasskellerzeremonie" (Cerimônia da Adega) no porão dos barris sob o restaurante, a nove metros de profundidade. Na qualidade de "Fasskellermeister", há 30 anos, encarnando Mefistófeles, o ator Hartmut Müller leva os visitantes numa viagem histórico-cultural através das abóbadas da adega. Primeiro servem-se comida e bebidas e, "a horas avançadas, por uma porta separada, se desce ainda mais, até a Cozinha das Bruxas", conta a porta-voz do local. Nessa pequena câmara, 12 metros debaixo da terra, os comensais recebem uma poção da juventude – assim como Fausto no início da peça. Pieper segue descrevendo a folia para turistas, que em seguida devem "recitar o be-a-bá da feitiçaria e dançar num pé só em torno da fogueira das bruxas". Por fim, há um concurso para ver quem consegue montar no Grande Barril – como Mefistófeles ao fim da cena na taverna. O vencedor pode ficar com ele, "mas o barril continua sob a nossa custódia", esclarece a embaixadora do jubileu. Da velha saga ao "Fausto de Bach"A tragédia de Fausto ocupou o poeta alemão de 1772 a 1828. Porém ele não a inventou do nada: sua origem está numa saga folclórica, Historia von D. Johann Fausten, publicada por Johann Spies em 1587, a qual, já no fim do século 16, também inspirara a peça teatral do inglês Christopher Marlowe (1564-1593) A trágica história da vida e morte do Doutor Fausto. Goethe já conhecia os contos de Spies, porém ao avistar na adega de Auerbach duas tábuas de madeira de 1625 ilustrando a cavalgada do barril do mago Doutor Faustus, ele ficou tão fascinado que decidiu incluir o episódio em sua tragédia. As tábuas históricas estão penduradas até hoje no Salão Goethe, que comporta 30 comensais. Com o mesmo número de lugares, a sala Lutherstübchen homenageia Lutero. No século 18, o Auerbach era uma gigantesca adega onde se servia exclusivamente vinho. A bebida ainda não era engarrafada, mas servida diretamente a partir dos barris. A comida vinha da taverna Auerbachs Hof, que não existe mais. Só no século 19 se passou a cozinhar no Auerbachs Keller. Faz parte também do jubileu de 500 anos o Bachs Faust, uma espécie de musical de Michael Maul, diretor artístico do festival dedicado a Johann Sebastian Bach (1685-1750) em Leipzig, todos os anos em junho. De 1723 até sua morte, o compositor atuou como Thomaskantor, ou seja, diretor musical da Igreja de São Tomás. Seu caminho diário para o trabalho passava pelo Auerbachs Keller. "No Fausto, Goethe também menciona muita música, sem precisar qual fosse", explica o diretor do Bachfest. Mas, como o autor estimava muito a obra bachiana, em sua peça Maul decidiu acompanhar, ilustrar e comentar o Fausto com corais e árias do mestre barroco. Ele dá um exemplo: "Quando, no começo do drama, Fausto quer acabar com a própria vida, no momento em que prepara a poção, ele ouve, à distância, o hino de Páscoa Christ ist erstanden [Cristo se levantou]. Na nossa peça, se escuta o coral de Bach Christ lag in Todesbanden [Cristo jazia acorrentado pela morte]." Com atores, cantores e instrumentistas, Bachs Faust estreou em 15 de junho de 2025 no grande salão do Auerbachs Keller. Um grande encontro de monstros sagrados da cultura alemã em Leipzig. |
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Short teaser | Auerbachs Keller ganhou significado mítico ao virar palco de uma cena da tragédia 'Fausto', do poeta alemão. | ||
Author | Rayna Breuer | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/famosa-por-causa-de-goethe-taverna-em-leipzig-comemora-500-anos/a-72264514?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Famosa%20por%20causa%20de%20Goethe%2C%20taverna%20em%20Leipzig%20comemora%20500%20anos |
Item 5 | |||
Id | 38384707 | ||
Date | 2025-04-19 | ||
Title | A tradicional trança de Páscoa alemã | ||
Short title | A tradicional trança de Páscoa alemã | ||
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Na Alemanha, café da manhã do domingo de Páscoa costuma incluir uma "hefezopf". Com ou sem recheio, pão doce trançado pode ser apreciado com manteiga e geleia e costuma ser decorado com ovos coloridos.Na Alemanha, a Páscoa é um acontecimento quase tão grande quanto o Natal. Mais de um mês antes da data, os supermercados se enchem de coelhos, ovos e ovelhas de chocolate, e lojas vendem artigos de decoração com os mesmos motivos. Além da Sexta-feira Santa, há mais um dia de feriado por aqui, a Ostermontag (segunda-feira de Páscoa), o que significa que as famílias têm mais tempo de se reunir e, é claro, sentar à mesa juntas.
A Sexta-feira Santa é dia de comer peixe, assim como no Brasil. No domingo de Páscoa é comum preparar pratos com cordeiro, e muitas famílias fazem um longo café da manhã ou brunch antes de distribuir os ovos de chocolate.
Além da tradição de pintar ovos cozidos – aqui há uma tinta específica para isso – e da Osterlamm (cordeiro pascoal), um bolo em formato de cordeiro, é tradicional servir pela manhã uma hefezopf ou osterzopf – um pão doce em forma de trança.
A receita básica, coberta de açúcar, pode ser comida com manteiga ou geleia. Há variações com cobertura de amêndoas ou recheio de passas, chocolate, marzipã, damasco, entre outros. Por causa do fermento biológico fresco, a massa fica fofa e aerada. Ela é pincelada com ovo antes de ir ao forno, o que lhe dá um belo aspecto dourado.
A hefezopf costuma ser preparada no dia antes da Páscoa, assim como os ovos cozidos e coloridos, que são muitas vezes usados para decorar a trança. O pão doce também é muitas vezes servido no Ano Novo. Aprenda a receita clássica:
Ingredientes
250 ml de leite
20 g de fermento biológico fresco
75 g de açúcar
1 ovo
1,5 colher (chá) de sal
500 g de farinha de trigo
75 g de manteiga
2 colheres (sopa) de açúcar cristal
Modo de preparo
Aquecer o leite até ficar morno. Despedaçar o fermento numa tigela pequena e misturar bem com um pouco do leite morno e o açúcar. Bater o ovo. Levar 3 colheres de sopa do ovo batido à geladeira num recipiente coberto.
Acrescentar o restante do ovo batido, o restante do leite, o sal e a farinha à mistura de fermento e bater na batedeira em velocidade baixa por cerca de 3 minutos. Aumentar a velocidade e bater por mais cinco minutos. Acrescentar a manteiga em cubos aos poucos e bater por mais cinco minutos até obter uma massa homogênea. Se desejar, acrescentar passas ou gotas de chocolate à massa.
Cobrir a tigela com a massa com um pano de prato úmido e deixar descansar em temperatura ambiente por uma hora.
Trabalhar a massa sobre uma superfície levemente enfarinhada. Dividi-la em três e deixar descansar coberta por mais dez minutos.
Com os três terços de massa formar três rolos de cerca de 40 cm de comprimento cada. Trançá-los sem apertar muito. Colocar a trança sobre uma fôrma coberta com papel-manteiga, cobri-la e deixar descansar por mais 45 minutos.
Pincelar a trança com o ovo resfriado. Polvilhar com o açúcar cristal (e com lascas de amêndoas, se desejar) e assar em forno preaquecido a 200 °C por 25 minutos. Se estiver ficando dourado muito rapidamente, cobrir com papel alumínio nos últimos dez minutos.
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Short teaser | Na Alemanha, café da manhã do domingo de Páscoa costuma incluir uma "hefezopf", pão doce trançado. | ||
Author | Luisa Frey | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-tradicional-trança-de-páscoa-alemã/a-38384707?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | "Hefezopf" pode ser coberta de açúcar, amêndoas ou nozes | ||
Image source | Fotolia/A_Lein | ||
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Item 6 | |||
Id | 4170856 | ||
Date | 2025-04-19 | ||
Title | Pequena história do coelho, do ovo e das tradições de Páscoa | ||
Short title | Pequena história do coelho, do ovo e das tradições de Páscoa | ||
Teaser |
Várias símbolos e costumes surgiram e se popularizaram ao longo dos 1.700 anos em que a Páscoa é celebrada no mundo.Há séculos, famílias de diversas partes do mundo celebram a maior festa do Cristianismo de maneira parecida. No sábado, com a missa da Vigília Pascal seguida da queima simbólica do Judas e, no domingo, através da missa de Páscoa e da busca por ovos coloridos no jardim e pela casa.
No entanto, já nem todo mundo sabe por que se celebra a Páscoa. E a figura do coelho da Páscoa não exatamente ajuda, já que ele nada tem a ver com a ressurreição de Cristo.
Não se sabe exatamente como e onde surgiu o costume do coelhinho de Páscoa. Há várias explicações para esse fato. Além de símbolo de fertilidade, o coelho também é visto como um mensageiro da primavera na Europa.
Tradição protestante
A primeira menção sobre o coelho da Páscoa trazendo ovos é do século 17. Posteriormente, no século 19, o símbolo ganhou popularidade na Alemanha, sendo promovido pelo setor da confeitaria. Segundo o pesquisador de costumes Alois Döring, de Bonn, o coelho teria sido uma invenção protestante.
"Crianças católicas sabiam que na Páscoa poderiam voltar a comer ovos, que durante a Quaresma eram proibidos. Mas como explicar às crianças protestantes por que, de repente, havia tantos ovos na Páscoa?", explica Döring.
Foi por isso que os protestantes criaram as histórias do coelho que distribuía, de casa em casa, os ovos acumulados durante o período. Além disso, o coelho era um símbolo da fertilidade – o que aliás não explicava como o animal, na condição de mamífero, tinha tantos ovos.
Os protestantes não se preocuparam muito com a biologia, mas, sim, com os costumes católicos como o de fazer os fiéis rirem durante as missas de Páscoa. Enquanto protestantes celebravam a ressurreição de Cristo no domingo de Páscoa com muita seriedade e silêncio, em muitas igrejas católicas procurava-se comemorá-la de forma festiva.
Durante o período barroco, era comum até que padres católicos contassem anedotas aos fiéis. E o púlpito, muitas vezes, era transformado em ateliê. "De muitos sermões, pode-se até tirar belas passagens sobre a pintura e a decoração de ovos de Páscoa, que nos séculos 17 e 18 eram comuns. Ou foram se tornando comuns", conta Döring.
Um ovo, dois ovos, três ovos pra mim
Até o começo do século 20, o coelho não era conhecido como símbolo da Páscoa no Brasil. O costume foi levado ao país por imigrantes alemães na região Sul, entre 1913 e 1920.
Uma antiga lenda conta que uma mulher pobre coloriu alguns ovos e os escondeu em um ninho para dá-los a seus filhos como presente de Páscoa. Quando as crianças descobriram o ninho, um grande coelho passou correndo. Espalhou-se, então, a história de que o coelho é quem trouxe os ovos.
Segundo a tradição alemã, as crianças procuram no domingo de Páscoa ovos de chocolate "presenteados e escondidos pelo coelho" no quintal ou jardim de casa. Além disso, ganham cestas com coelhinhos, pequenos ovos de chocolate e de galinha cozidos e coloridos com tinta especial. Existem ainda diversas receitas de bolos especiais para a Páscoa.
Os ovos de Páscoa
Historiadores afirmam que o costume de cozinhar e depois colorir ovos de galinha para serem dados de presente surgiu entre os antigos egípcios, persas e algumas tribos germânicas. Hoje se atribui aos chineses o costume milenar de presentear parentes e amigos com ovos nas festas de primavera.
Já os reis e príncipes da Antiguidade confeccionavam ovos de prata e ouro recobertos de pedras preciosas. O povo, sem recursos para tais luxos, manteve a tradição de pintar e decorar os ovos de galinha.
Os ovos sempre foram tidos como símbolo de vida nova e, assim sendo, da ressurreição de Jesus Cristo. A tradição de pintar, decorar e presentear os ovos já existia desde os primórdios do Cristianismo.
"Antigamente, era comum pintar os ovos apenas de vermelho, para simbolizar tanto a cor do sangue de Cristo quanto a do amor que ele nutria pela humanidade. Isso ainda é assim na Igreja Ortodoxa", conta Döring. "E a decoração servia para distinguir os ovos bentos dos não bentos durante a Páscoa."
Com o passar do tempo, diversos outros costumes foram criados em torno do ovo, como por exemplo, a brincadeira de escondê-los.
Páscoa: uma festa cristã
Com a intenção de celebrar a ressurreição de Jesus Cristo, a Páscoa é a principal festa cristã, comemorada no primeiro domingo de lua cheia depois do início da primavera europeia, isto é, entre os dias 22 de março e 25 de abril. A Páscoa vem sendo celebrada há 1.700 anos, desde o Primeiro Concílio de Niceia, em 325, que fixou a data para a festividade.
A mensagem central da Páscoa é que a morte não é o fim de tudo. "A vida triunfa sobre a morte, a verdade sobre mentira, a justiça sobre a injustiça, o amor sobre o ódio", resume a doutrina da fé do catecismo católico.
A festa religiosa incorpora o Pessach, comemoração judaica que recorda a travessia dos judeus do Egito até a Terra Prometida, marcada pela travessia do Mar Vermelho.
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Short teaser | Várias símbolos e costumes surgiram e se popularizaram ao longo dos 1.700 anos em que a Páscoa é celebrada no mundo. | ||
Author | Sabine Damaschke, Stefanie Leipert | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/pequena-história-do-coelho-do-ovo-e-das-tradições-de-páscoa/a-4170856?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Historiadores afirmam que o costume de dar ovos de presente surgiu entre os antigos egípcios, persas e algumas tribos germânicas | ||
Image source | picture-alliance/dpa/P. Pleul | ||
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Item 7 | |||
Id | 68690143 | ||
Date | 2025-04-18 | ||
Title | Trilha sonora da Páscoa: "Paixão segundo São João", de Bach | ||
Short title | Trilha sonora da Páscoa: "Paixão segundo São João", de Bach | ||
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Não há Páscoa sem a obra-prima de Bach, que estreou na Sexta-feira Santa de 1724 com corais e árias que apelam por mais humanidade. Um homem de 33 anos é acusado de um crime que não cometeu: Jesus Cristo, que é preso, torturado e morre pregado numa cruz. Seus semelhantes, inclusive sua mãe, têm de assistir à cruel tortura e não podem fazer nada. O capítulo mais sombrio da história do cristianismo é descrito de forma pessoal e vívida por uma testemunha: o evangelista João, amigo de Jesus. É assim que se resume o tema da Paixão segundo São João – a obra de Johann Sebastian Bach que, ao lado da Nona Sinfonia de Beethoven, é considerada por muitos como uma das maiores realizações da música europeia. "São os temas atemporais que tornam essa obra tão atual e universal", diz Michael Maul, pesquisador de Bach e diretor do Bachfest, o Festival de Bach de Leipzig, à DW. "Amor e compaixão. Lidar com a traição, com o luto. Você não precisa ser um cristão devoto ou mesmo um luterano para sentir isso." Era uma vez uma Páscoa há 300 anosNa Sexta-feira Santa de 1724, no dia 7 de abril, o compositor Johann Sebastian Bach, então com 39 anos, passava sua primeira Páscoa em Leipzig. Há pouco menos de um ano, ele havia se mudado para a cidade da Saxônia com sua segunda esposa, Anna Magdalena, e seus quatro filhos do primeiro casamento, para assumir a função de diretor musical da cidade, inclusive do coral da Igreja de São Tomás. A população de Leipzig não via Bach como a primeira opção para aquele cargo: "Como não conseguimos um dos melhores, não há mais nada a fazer a não ser recorrer a alguém intermediário", foi o comentário desapontado que correu na prefeitura. Mas Bach era ambicioso e queria provar para todos, e a si mesmo, que era capaz. E a música da Semana Santa era a melhor maneira de fazer isso: era o mais importante evento musical do ano eclesiástico. A composição para a Sexta-feira Santa era apresentada após o tempus clausum, um período de abstinência musical que dura várias semanas durante a Quaresma. E era a única época do ano em que o regente da Igreja de São Tomás podia convocar todas as forças musicais da cidade, que em regra ficavam espalhadas pelas quatro principais igrejas de Leipzig. Mas isso não era suficiente para o compositor. Bach selecionou dois capítulos do Evangelho segundo João para sua obra, com cerca de 40 composições para coro, árias, recitativos e corais alternados. Ele também precisava de quatro solistas, duas flautas, dois oboés e outros instrumentos de luxo de bela sonoridade, como oboés da caccia, violas d'amore e alaúde. Pelo menos 15 músicos no total, sendo que o coro representa um terço da cantata. Uma superprodução. Não há registros da reação da plateiaPor mais detalhada e burocrática que era a documentação que antecedia às estreias na época, pouco se sabe sobre como a obra foi recebida pelo público. "Ainda não encontramos relatos de testemunhas da época que tenham escrito como se sentiram em relação a essa obra-prima", lamenta Michael Maul. O pesquisador também acha uma pena não haver gravações de som naquela época. "Se houvesse, poderíamos nos surpreender com algumas diferenças, como, por exemplo, a estética do som, o tempo." Podemos supor que algumas pessoas ficaram impressionadas, pois a música de Bach é drástica, dramática, quase agressiva. E que a congregação religiosa estava exausta no final – afinal, com sermões e outros "interlúdios", a obra toda durou quase cinco horas. Mas sobre algo os pesquisadores têm certeza: nenhum celular tocou durante a apresentação. Paixão segundo São João em tempos de pandemiaDurante o período da pandemia de covid-19, na Sexta-feira Santa de 2020, em Leipzig e em qualquer lugar do mundo, as apresentações das Paixões estavam fora de cogitação. Mas o Bachfest em Leipzig quis fazer história: desenvolveu um projeto artístico único com um pequeno grupo de mentes criativas. Na hora da morte de Jesus, às 15 horas, no dia 10 de abril de 2020, uma versão da Paixão segundo São João foi tocada no túmulo de Bach, na Igreja de São Tomás, por apenas três músicos: o percussionista Philipp Lamprecht, a cravista Elina Albach e o tenor Benedikt Kristjánsson. Nessa forma reduzida, a música de Bach às vezes perde seu colorido, mas a mensagem da Paixão foi transmitida de forma ainda mais drástica e clara. Steven Walter, o diretor artístico do Beethovenfest, o Festival de Beethoven em Bonn, que teve a ideia da Paixão como um trio, também participou. A apresentação foi transmitida ao vivo e a comunidade global de adoradores de Bach foi convidada a cantar junto. O vídeo foi visto milhões de vezes. A Paixão como cobertura ao vivoDesde então, o projeto bem-sucedido já foi apresentado mais de 50 vezes em vários locais. "Acho que a Paixão segundo São João ainda é uma obra que tem muito a nos dizer, mesmo 300 anos após sua estreia, e soa diferente a cada vez", diz Elina Albach à DW. "A cada apresentação, a cada concerto, temos a sensação de que estamos contando a história de novo." Esse também foi o caso no final da Quaresma de 2022, quando as imagens de Bucha, na Ucrânia, abalaram o mundo. "Tocamos a Paixão segundo São João naquele dia", lembra Albach. "E, de repente, os textos da crucificação soaram como reportagens de jornal ou notícias que chegavam ao vivo da Ucrânia." "Bach expõe, Bach acusa, mas Bach também conforta", diz a musicóloga Patricia Siegert, e acrescenta: "Ele segura um espelho e vira para todos nós, cheio de reflexões sobre responsabilidade, amor, vida e morte." |
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Short teaser | Obra-prima de Bach estreou na Sexta-feira Santa de 1724, com corais e árias que apelam por mais humanidade. | ||
Author | Anastassia Boutsko | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/trilha-sonora-da-páscoa-paixão-segundo-são-joão-de-bach/a-68690143?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 8 | |||
Id | 72249012 | ||
Date | 2025-04-18 | ||
Title | Pequena África põe memória negra na rota do turismo no Rio | ||
Short title | Pequena África põe memória negra na rota do turismo no Rio | ||
Teaser |
Circuito na zona portuária já rivaliza com cartões-postais mais tradicionais, como Cristo Redentor, em movimento de resgate da história de uma região que foi o maior ponto de entrada de africanos escravizados no Brasil. Por décadas, milhões de africanos negros escravizados desembarcaram em condições desumanas no antigo Valongo, zona portuária do Rio de Janeiro. Era o fim de uma degradante jornada transatlântica e o começo do calvário que só seria legalmente abolido no final do século 19. Mas eram também os capítulos iniciais de uma história que tem samba, feijoada e batuque, na região que hoje é conhecida como Pequena África e se consolida na rota do turismo carioca. Palco de tantas contradições, o passeio nem sempre é fácil para as emoções. Retrata os detalhes de uma tragédia que ainda deixa cicatrizes econômicas, sociais e urbanísticas no Brasil. Mesmo assim, o tour vem atraindo contingente cada vez maior de turistas interessados no resgate de memórias que, por muito tempo, ficaram enterradas. Fora do eixo das famosas praias da zona sul ou do verde da Floresta da Tijuca, o território histórico já divide os holofotes com cartões-postais mais tradicionais da cidade. O circuito entrou na lista dos dez locais do Rio mais visitados por turistas no primeiro semestre do ano passado, conforme os dados mais atualizados da Secretária Municipal de Turismo (SMTUR-Rio). Foram 354.810 visitas no período, que deram à área a nona colocação no ranking, à frente do Pão de Açúcar (12º), Jardim Botânico (14º) e Cristo Redentor (17º). O movimento ganhou força após a Unesco reconhecer o Cais do Valongo como Patrimônio da Humanidade, em 2017. Desde então, a região se transformou em um dos principais expoentes do afroturismo, que promove um mergulho pelas raízes da história negra. "Berço da brasilidade e negritude"Criado em 2011 por decreto municipal, o Circuito da Herança Africana abrange o Cais do Valongo e outros pontos focais da economia escravagista. Uma lei estadual de 2018 ampliou o escopo da Pequena África para incluir, entre outros, o remanescente da casa onde nasceu Machado de Assis, no Morro do Livramento. Também houve a adição das Docas Dom Pedro II, projetadas pelo arquiteto negro André Rebouças em 1871. Pelo caminho, o turista encontra os badalados bares do Largo do São Francisco, o samba da Pedra do Sal e restaurantes típicos da culinária brasileira. "É um dos berços da brasilidade e da nossa negritude", define a historiadora Luana Ferreira, ao descrever as razões por trás da crescente popularização da Pequena África. Há sete anos, Ferreira é uma das guias turísticas que ajudam a mudar o panorama da zona portuária. Ela recebe grupos de diversas origens que buscam mais informações sobre a experiência negra no Brasil. Muitas empresas também procuram o tour como uma ferramenta de promoção de programas internos de diversidade. Pelas ladeiras e asfaltos dos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, a excursão promove uma espécie de radiografia do legado da escravidão. Ferreira reconhece que o tema é duro, mas se esforça para mostrar que há mais do que apenas sofrimento na cultura afrobrasileira. "Não quero que os visitantes saiam daqui depressivos, assim como não quero que romantizem a situação", afirma. "É um passeio que emociona, mas a partir de um lugar de leveza e altivez." Para isso, ela percorre também aspectos centrais da identidade brasileira, como a capoeira, a religiosidade e a intelectualidade negra. Todos esses elementos tiveram naquela área da cidade um ponto de efervescência, que atravessaram gerações principalmente pelo relato oral. Uma história enterradaAs marcas materiais dessa memória, por outro lado, foram sucessivamente descaracterizadas pela evolução do tecido urbano. No começo do século passado, as reformas do então prefeito do Rio, Pereira Passos, aterraram o Cais da Imperatriz, que havia surgido anos antes em substituição ao Cais do Valongo. Foi só em 2011, como parte do projeto de revitalização da zona portuária, que os ancoradouros foram redescobertos em uma escavação coordenada pela antropóloga Tania Andrade de Lima, do Museu Nacional. O resgate do porto trouxe de volta o maior vestígio material do tráfico escravista na América. O cais começou a ser construído em 1811, por ordem de Dom João 6º, que havia se mudado para o Brasil junto com toda a família real três anos antes. As obras se arrastaram até 1821, quando a região se firma como principal núcleo do comércio escravista na passagem do Brasil Colônia para a Independência. As estimativas mais aceitas indicam que cerca de 1 milhão de africanos escravizados desembarcaram no local. Mas é difícil estimar quanto desse contingente passou pelo cais por falta de registros formais, afirma o historiador Cláudio de Paula Honorato, coordenador de pós-graduação do Instituto Pretos Novos. Em muitos casos, eles chegavam pelas praias e já eram vendidos, sem precisar transitar pela estrutura. "O cais sozinho não é muito coisa, mas dentro desse complexo mais amplo do Valongo, ele é a representação simbólica de todo esse processo escravista que acontece naquela região", explica. No auge das operações, o entorno do ancoradouro tinha uma vasta infraestrutura de apoio à arquitetura escravagista. Sobrados e barracões funcionavam como lojas de compra e venda de pessoas escravizadas e de produtos de tortura. Na Gamboa, um prédio abrigava o Lazareto, onde os africanos acometidos por doenças passavam por uma quarentena em condições insalubres. "As famílias mais ricas do Brasil controlavam esse mercado. Eles tinham dinheiro para produzir ou alugar navios, controlar as companhias de seguro, além dos mercados de secos e molhados", afirma Honorato. Para inglês verEm 1831, a edição da Lei Feijó proíbe o fluxo transatlântico de escravizados por pressão da Inglaterra. Ainda assim, o comércio – agora contrabando – continua a trazer africanos ao Brasil e dá origem à expressão "para inglês ver". Só em 1850 que a Lei Eusébio de Queirós começa a aplicar a regra com mais rigor. Àquela altura, o Cais do Valongo já havia sido substituído pelo Cais da Imperatriz, reformado para receber a esposa do imperador Dom Pedro 2°, a princesa Teresa Cristina, em 1843. Nas décadas seguintes, a região é estigmatizada na imprensa, o que abre caminho para o aterramento do cais durante as reformas de Pereira Passos. Cortiços são destruídos e as pessoas mais pobres são forçadas a buscar terrenos mais desvalorizados. É nesse período que surge a primeira favela brasileira, o Morro da Providência, próximo ao porto. Pelas batucadas do samba, os golpes da capoeira e as cantigas da umbanda e do candomblé, porém, a região consegue resistir como uma espécie de meca da cultura negra. "Houve uma tentativa de isolamento e invisibilização dessa área, mas, por conta desse mesmo processo, a região preservou sua história e sua memória", diz Honorato. "O poder público e a sociedade em geral desconhecem essa história, mas Pequena África sempre esteve vive na memória da comunidade afrodescendente". Uma história resgatadaA turismóloga Emily Borges e a historiadora Bruna Cordeiro perceberam nas discussões globais sobre equidade racial uma oportunidade para resgatar essa história e transformá-las em negócio. Elas são sócias da Etnias Turismo e Cultura, com uma equipe de 20 guias que conduzem um roteiro de quatro horas pela região. O ponto de partida é o Largo de Santa Rita, onde foi instalado o primeiro cemitério de negros escravizados do Rio. De lá, os participantes percorrem uma rota que inclui o Cais do Valongo e o Museu da História e Cultura Afrobrasileira. No Instituto Pretos Novos, os visitantes conhecem os achados arqueológicos de outro cemitério que recebeu restos mortais de pessoas negras vindas da África. Há ainda uma parada para discutir os eventos da Revolta da Vacina, uma onda de protestos contra a obrigatoriedade da vacina contra a varíola decretada em 1904. "Eu não consigo contar conta a história de cada pessoa negra que pisou naquele lugar, mas cada vez que eu conto uma história, eu tento trazer um pouco mais de dignidade para eles", afirma Cordeiro. As sócias contam que observaram um considerável aumento no interesse dos turistas pela região. Os cariocas costumam ficar surpresas com o apagamento histórico em uma área tão central da cidade, elas dizem. Entre os estrangeiros, os americanos representam a maior parcela do público. "Eles sempre comentam que, no fundo, a história é a mesma, mas ficam chocados como temos a cultura afrobrasileira tão enraizada em todos os segmentos da sociedade", relata Borges. Desafios antigos persistemQuem trabalha no turismo da Pequena África reconhece que houve investimentos públicos para potencializar os atrativos da região. As reformas para os Jogos Olímpicos de 2016 derrubaram o antigo elevado da Perimetral e construíram um passeio público. No mês passado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançou um edital para financiar três projetos liderados por arquitetos ou urbanistas negros que desenvolvam intervenções urbanísticas no Distrito Cultural Pequena África. Apesar disso, a ascensão do polo turístico esbarra em problemas antigos. Como parte da candidatura do Cais do Valongo ao título de patrimônio mundial, o governo se comprometeu a construir um Centro de Interpretação no prédio das Docas Dom Pedro 2º, mas o projeto não saiu do papel. No ano passado, a Justiça Federal determinou que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Fundação Cultural Palmares deveriam iniciar as obras em um prazo de 180 dias. Procurados, o Iphan e a Fundação Palmares não responderam aos questionamentos da reportagem. Nos arredores, há também o problema de segurança pública. É comum ver pessoas em situação de rua e há relatos de circulação de drogas, segundo as guias turísticas que conversaram com a DW. Desde 2022, a prefeitura fez mais de 2 mil apreensões na área da Pequena África, incluindo de objetos perfurocortantes e materiais destinados ao uso de droga. À reportagem, a Secretaria de Ordem Pública (Seop) do município disse realizar diariamente ações de ordenamento, desobstrução de áreas públicas e acolhimento às pessoas em situação de rua, junto com a Secretaria de Assistência Social. Emily Borges, da Etnias Turismo e Cultura, vê ainda um processo de gentrificação que expulsa populações tradicionais que ocupavam aquele espaço. "Há cada vez mais empreendimentos imobiliários que tiram a população local dali e a joga para trás, como sempre fizeram ao longo da história", diz. São desafios que se repetem na história brasileira e dificultam a preservação da memória. Mas a guia turística Luana Ferreira está confiante no potencial da Pequena África para continuar resistindo. "Os africanos civilizaram o Brasil e o Rio é o grande distribuidor dessa cultura. A região do porto é a base disso", afirma. |
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Short teaser | Em movimento de resgate da história afrobrasileira, região do porto atrai turistas e já rivaliza com cartões-portais. | ||
Author | André Marinho | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/pequena-áfrica-põe-memória-negra-na-rota-do-turismo-no-rio/a-72249012?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Pequena%20%C3%81frica%20p%C3%B5e%20mem%C3%B3ria%20negra%20na%20rota%20do%20turismo%20no%20Rio |
Item 9 | |||
Id | 72253047 | ||
Date | 2025-04-17 | ||
Title | Rins por dinheiro: Por dentro de uma rede de tráfico de órgãos que vai do Quênia à Alemanha | ||
Short title | A rede de tráfico de órgãos que vai do Quênia à Alemanha | ||
Teaser |
Investigação da DW mostra como um grupo internacional vem explorando africanos em situação de vulnerabilidade, "comprando" e "vendendo" seus rins para pacientes desesperados em Israel, na Alemanha e outros países.O queniano Amon Kipruto Mely, de 22 anos, acreditava que poderia começar uma vida melhor após tomar a difícil decisão de vender o seu rim. Morador de um vilarejo no oeste do Quênia, no leste da África, ele enfrentava dificuldades financeiras cada vez mais graves após a pandemia da covid-19, enquanto trocava constantemente de emprego na tentativa de alcançar uma renda estável.
A busca por um alívio financeiro pareceu ter chegado ao fim quando um amigo lhe contou sobre uma maneira rápida e fácil de ganhar 6 mil dólares (R$ 35 mil). "Ele me disse que vender meu rim seria um bom negócio", conta Amon. O que parecia um golpe de sorte, porém, mergulhou o jovem em uma rede obscura de exploração, desespero e arrependimento.
Esta reportagem é resultado de meses de uma investigação conjunta conduzida pela revista Der Spiegel, a rede ZDF e a DW. Os três veículos alemães coletaram denúncias, analisaram documentos, conversaram com profissionais da área e rastrearam a atividade de vendedores e compradores de órgãos para identificar como uma rede internacional – que opera do Quênia à Alemanha – explora pessoas vulneráveis desesperadas, de um lado, por dinheiro, e do outro, por um órgão que lhes salve a vida.
Após decidir vender seu rim, Amon Mely foi apresentado a um intermediário que organizou seu transporte para o Hospital Mediheal na cidade de Eldoret, no oeste do Quênia. Lá, ele foi recebido por médicos indianos que lhe entregaram documentos em inglês, um idioma que ele não entende.
No processo, o jovem não foi informado sobre riscos à saúde do procedimento. "Eles não me explicaram nada. A pessoa que me levou apontou para outros ao meu redor e disse: Veja, todos eles doaram e estão até voltando a trabalhar."
Após a operação, ele recebeu apenas 4 dos 6 mil dólares prometidos. Com o dinheiro – cerca R$ 23,3 mil – conseguiu comprar um telefone e um carro. Mas logo depois, sua saúde piorou. Amon se sentiu tonto e fraco e acabou desmaiando em casa. No hospital, sua mãe, Leah Metto, ficou chocada ao saber que o filho havia vendido o rim. "Eles estão ganhando dinheiro com crianças pequenas como Amon", disse ela.
A história do queniano é uma entre muitas. Willis Okumu, pesquisador de crime organizado do Instituto de Estudos de Segurança na África, sediado em Nairóbi, conversou com vários jovens do município de Oyugis que lhe disseram ter vendido seus rins. A cidade fica a 180 quilômetros de Eldoret – onde os transplantes são realizados.
"De fato, isso é crime organizado", disse ele. Okumu calcula que até cem jovens venderam seus órgãos só em Oyugis, muitos dos quais agora sofrem de problemas de saúde, depressão e trauma psicológico. "Acho que eles não chegarão aos 60 anos", acrescentou Okumu, cujo trabalho sobre o assunto foi publicado em janeiro do ano passado no Enact, um projeto implementado pela Interpol.
Além de Amon Mely, a DW conversou com outros quatro jovens de Oyugis que dizem ter vendido seus rins por cerca de 2 mil dólares (R$ 11 mil). Eles relatam que após realizarem a própria cirurgia, os intermediadores lhes ofereciam para recrutar novos doadores por uma comissão de 400 dólares cada.
Cadeia de exploração
"Há uma área cinzenta na legislação que esse grupo explora", explicou Okumu. "Não há lei que impeça você de doar seu rim por dinheiro e você não pode ser processado por isso", disse ele, referindo-se às informações que recebeu da unidade de crime organizado transnacional da polícia queniana.
O que é permitido, de acordo com a lei queniana, são doações de órgãos para parentes e por razões altruístas, ou seja, por vontade própria. Isso é usado para estabelecer uma cadeia de exploração no país.
Falando à DW sob condição de anonimato, um ex-funcionário do Hospital Mediheal afirmou que a compra e venda de órgãos acontece há anos no local.
Inicialmente, receptores somalis vinham ao hospital para receber o novo órgão. Mas em 2022, as cirurgias foram dominadas por "clientes" de Israel e, a partir de 2024, da Alemanha. Doadores de diversos países, como Azerbaijão, Cazaquistão e Paquistão, além dos quenianos, são levados a Eldoret para a remoção do órgão.
Os doadores são obrigados a assinar documentos declarando serem parentes dos receptores e consentindo com a remoção do rim, sem serem informados sobre os possíveis riscos à saúde. "Por causa da barreira do idioma, eles simplesmente assinam", disse o ex-funcionário.
Mudança para um mercado mais lucrativo
Desde a mudança de receptores somalis para israelenses e alemães, os negócios se ampliaram, acrescentou ele. O custo por um rim pago por cada cliente chega a 200 mil dólares (R$ 1,1 milhão) – um número corroborado por várias fontes.
O ex-funcionário do hospital disse à DW que uma agência chamada "MedLead" era responsável por encontrar doadores e receptores internacionais.
Em seu site voltado para o público alemão, a MedLead afirma fornecer doações de rins dentro de 30 dias "seguindo a lei de doação de órgãos" e promete que os doadores são "100% voluntários", ou seja, que estão de acordo com a retirada do rim.
"A MedLead conecta pacientes renais em todo o mundo com uma rede internacional de hospitais e soluções médicas", diz o site.
Em sua página no Facebook, há diversos vídeos com depoimentos de pessoas agradecendo à empresa pela ajuda na obtenção de um novo rim. Alguns gravados em Eldoret, no Quênia.
O vídeo mais recente do site mostra Sabine Fischer-Kugler, uma mulher de 57 anos de Gunzenhausen, Alemanha, que sofre de uma doença renal há 40 anos. Depois que um primeiro rim substituto parou de funcionar, ela estava desesperada para encontrar um segundo.
No entanto, a lista de espera para receber o órgão na Alemanha é longa e pode levar de 8 a 10 anos. No país, somente os rins de pessoas falecidas que concordaram explicitamente em vida com a doação de órgãos podem ser usados para transplantes, e não há doadores suficientes para as mais de 10 mil pessoas que estão na fila.
"Soluções inovadoras fora da Alemanha oferecem aos pacientes a chance de escapar da espera insuportável. Por que perder anos quando a ajuda está disponível hoje?", escreve a MedLead em uma publicação no Facebook.
Escassez de doações de órgãos alimenta desespero
Sabine Fischer-Kugler conheceu seu doador brevemente – segundo ela, um homem de 24 anos do Azerbaijão. O contrato alegava que ele não estava sendo pago, embora Fischer-Kugler tenha dito que pagou entre 100 mil e 200 mil dólares à MedLead (R$ 584 a R$ 1,1 mil).
"Talvez eu seja um pouco egoísta porque eu queria esse rim e, o mais importante, o contrato parecia correto. Mas está claro. A operação não é tão limpa quanto parece."
De acordo com a lei alemã, pagar por um órgão é ilegal, e os infratores podem pegar até cinco anos de prisão.
O homem por trás da MedLead é Robert Shpolanski, um cidadão israelense. Em 2016, ele foi acusado no Tribunal de Magistrados de Tel Aviv de ter realizado "um grande número de transplantes renais ilegais" em países como Sri Lanka, Turquia, Filipinas e Tailândia, ao lado de Boris Wolfman, que supostamente chefiava a rede criminal. Wolfman também foi apontado como responsável por atividades de transplante ilegal em outros lugares.
"É um pouco suspeito. Você não deveria pagar, mas paga"
Shpolanski nega qualquer ligação com Wolfman. Em um e-mail para Der Spiegel, ZDF e DW, a MedLead declarou que não tem nenhum envolvimento na localização dos doadores, que todos são 100% voluntários e que a empresa tem operado de forma transparente e em total conformidade com a lei desde a sua fundação.
Sem se identificar como jornalistas, a reportagem se hospedou no Eka Hotel, em Eldoret, localizado a apenas um quilômetro do Hospital Mediheal. É ali que diversos pacientes estrangeiros que aguardam os transplantes ficam hospedados – alguns visivelmente debilitados, viajando com membros da família.
Uma mulher russa, que estava esperando por uma cirurgia renal para o marido, disse que "ninguém dá o rim de graça". Já um israelense de 72 anos, que faz diálise no hospital Mediheal afirmou que o procedimento "é um pouco estranho".
"Você não deveria pagar, mas paga. A história é que [o doador] é um antigo primo meu que, de alguma forma, veio para a África ao mesmo tempo que eu", disse. Na sua idade, ele não teria chances de receber um rim em Israel, conta.
Em Nairóbi, diretor da Kenya Renal Association, Jonathan Wala, já tratou vários pacientes que chegam em sua clínica com complicações pós-cirúrgicas. "Temos relatos de pacientes israelenses que vieram com infecções graves, alguns com rins que basicamente pararam de funcionar", afirma. Seus colegas alertaram as autoridades quenianas sobre os transplantes realizados no Mediheal Hospital.
Negócio multimilionário protegido
Uma investigação encomendada pelo Ministério da Saúde do Quênia, de 2023, identificou que os doadores e receptores muitas vezes não eram parentes. Alguns transplantes de alto risco eram realizados em pacientes com câncer ou em pessoas extremamente idosas. A apuração também apurou que quase todos os procedimentos eram pagos em dinheiro.
O relatório recomendou que "a alegação de tráfico de órgãos deve ser investigada pelas autoridades competentes". Apesar das descobertas alarmantes, a investigação nunca foi tornada pública e nenhuma medida foi tomada.
Um investigador particular local em Eldoret, que rastreou o comércio ilegal de transplantes, disse à reportagem que pelo menos dois outros hospitais também estão envolvidos no esquema. Ele argumenta que não pode investigar estes casos por risco de vida. "Há pessoas muito poderosas que podem estar envolvidas."
O fundador e presidente do Mediheal Group é Swarup Mishra. O indiano é ex-deputado e tem boas relações com o presidente do Quênia, William Ruto. Apesar das persistentes acusações de tráfico de órgãos, Ruto o nomeou presidente do Kenya BioVax Vaccine Institute, de propriedade estatal, em novembro passado, função que permite que Mishra represente o Quênia como pessoa de contato da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de autoridades governamentais estrangeiras. Mishra não respondeu aos repetidos pedidos de entrevista e deixou uma lista de perguntas sem resposta.
Enquanto isso, Amon e outros como ele lutam para sobreviver com um rim e com a saúde comprometida. "Se eu pudesse voltar no tempo, não teria aceitado a remoção do meu rim. Eu me odeio por isso."
Atualização em 17 de abril: após a publicação desta reportagem, o governo queniano reagiu prometendo investigar o caso e anunciando a suspensão das operações de transplante de rins no Hospital Mediheal.
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Short teaser | Investigação da DW mostra como um grupo explora quenianos em situação de pobreza, "comprando" e "vendendo" seus rins. | ||
Author | Mariel Müller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/rins-por-dinheiro-por-dentro-de-uma-rede-de-tráfico-de-órgãos-que-vai-do-quênia-à-alemanha/a-72253047?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Amon Kipruto Mely: "Se eu pudesse voltar no tempo, não teria aceitado a remoção do meu rim" | ||
Image source | Mariel Mueller/DW | ||
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Item 10 | |||
Id | 72279374 | ||
Date | 2025-04-17 | ||
Title | Polícia alemã investiga protestos contra deportação de ativistas pró-palestinos | ||
Short title | Polícia alemã investiga manifestantes anti-deportação | ||
Teaser |
Grupo ocupou um auditório da Universidade Humboldt, em Berlim, em protesto contra deportação de ativistas pró-palestinos – três deles, cidadãos da UE. Corporação diz que foi agredida com fogos de artifício.Após dissolver a ocupação de um auditório da Universidade Humboldt de Berlim, em protesto contra uma ofensiva para deportar manifestantes pró-palestinos – três deles, cidadãos da União Europeia –, a polícia alemã anunciou nesta quinta-feira (17/04) a abertura de 100 investigações criminais.
A ocupação, da qual participaram 89 pessoas, foi montada na véspera e durou apenas algumas horas antes de ser dissolvida pelos agentes. Eles precisaram romper uma barricada.
A corporação disse investigar uma série de suspeitas de crimes, como invasão, séria perturbação da paz pública e uso de símbolos associados a organizações terroristas ou inconstitucionais.
A polícia também afirma que seus agentes foram agredidos pelos manifestantes com um líquido incerto – possivelmente urina – e fogos de artifício.
A administração da universidade alega ainda que o auditório ocupado foi vandalizado, e calcula danos em torno de 60 mil a 100 mil euros.
Tensões são reflexo da guerra em Gaza
A capital alemã tem sido palco de protestos frequentes contra a ofensiva militar israelense em Gaza. Mas acampamentos de estudantes têm ocorrido por todo o país, seja dentro das universidades ou nas proximidades delas.
A polícia tem frequentemente reagido aos protestos com excessiva dureza, o que tem rendido críticas à Alemanha.
O governo alemão também tem sido criticado por seu apoio a Israel. Na quarta-feira, os manifestantes mencionaram o "apoio inabalável a ações de Israel na Palestina que afrontam o direito internacional".
Mas a ocupação desta quarta-feira era também um ato de protesto contra os esforços das autoridades berlinenses para deportar quatro estudantes que participaram de protestos pró-palestinos na Universidade Livre de Berlim.
Os quatro – dois cidadãos irlandeses, um polonês e um americano – são acusados pela polícia de envolvimento em protestos "violentos" ocorridos em 17 de outubro de 2024. A corporação alega que eles ameaçaram funcionários da universidade com machados e porretes.
Os estudantes, porém, não foram condenados por nenhum crime.
Os dois irlandeses e o polonês tiveram revogado seu direito à liberdade de ir e vir na UE. Um tribunal, porém, deu recurso favorável a um cidadão irlandês, o que significa que ele não poderá ser deportado.
Por que a universidade acionou a polícia
A ocupação da quarta-feira terminou quando a administração da Humboldt pediu ajuda à polícia, alegando ter avistado faixas que "negavam o direito de existência do Estado de Israel". Cerca de 350 agentes participaram da ação.
Após várias horas, a polícia conseguiu entrar no auditório e conduzir 89 pessoas para fora. Outras 120 pessoas teriam acompanhado o protesto na rua.
Por causa do Holocausto, a Alemanha considera que tem a obrigação moral de proteger judeus e o direito de existência de Israel.
"Quem ataca agentes com fogos de artifício e urina não está só abandonando a área do protesto legítimo, mas também se afastando da aceitação social", disse um representante da polícia em resposta à operação de quarta-feira.
ra (dpa, AFP, ots)
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Short teaser | Grupo ocupou auditório da Universidade Humboldt, em Berlim, em protesto contra deportação de ativistas pró-palestinos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/polícia-alemã-investiga-protestos-contra-deportação-de-ativistas-pró-palestinos/a-72279374?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Policiais romperam barricada erguida dentro da Universidade Humboldt e detiveram manifestantes | ||
Image source | Erbil Basay/Anadolu/picture alliance | ||
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Item 11 | |||
Id | 72277580 | ||
Date | 2025-04-17 | ||
Title | Produção de vinho atinge nível mais baixo em mais de 60 anos | ||
Short title | Produção de vinho atinge nível mais baixo em mais de 60 anos | ||
Teaser |
Mudanças no clima, no comportamento do consumidor, preços mais altos: há vários motivos para o declínio mundial na fabricação da bebida. Na Europa, os viticultores da França foram particularmente afetados em 2024. A produção global de vinho caiu em 2024 para seu nível mais baixo em mais de 60 anos devido a condições climáticas extremas, segundo dados do setor. A produção caiu para 225,8 milhões de hectolitros, uma queda de 4,8% em relação ao ano anterior, de acordo com a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), em Dijon, França. Um hectolitro corresponde a aproximadamente 133 garrafas de vinho. A entidade mencionou condições climáticas extremas, incluindo chuvas fortes, granizo, geadas tardias na primavera, períodos de seca e, como resultado dessas condições climáticas, infestações de pragas. Além das mudanças climáticas, a situação econômica e a queda da demanda tiveram um impacto negativo na produção de vinho. A indústria do vinho também teme que seus produtos sejam envolvidos no conflito tarifário desencadeado pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Os Estados Unidos são o maiores importadores de vinho em valor, com 6,3 bilhões de euros (R$ 41,9 bilhões) em 2024. Em seguida está o Reino Unido, com 4,6 bilhões de euros, e a Alemanha, com 2,5 bilhões de euros. Na União Europeia, a produção de vinho foi de 138,3 milhões de hectolitros no ano passado, 3,5% a menos do que em 2023. Na Alemanha – o quarto maior país produtor europeu – a produção caiu 9,8%, para 7,8 milhões de hectolitros, de acordo com dados da OIV. Menor produção na França desde 1957A Itália, maior produtora de vinho do mundo, registrou um aumento na produção de 44,1 milhões de hectolitros, mas ainda ficou 6% abaixo da média de cinco anos. A França, o segundo maior produtor, registrou queda de 23,5%, para 36,1 milhões de hectolitros, a menor produção desde 1957. A Espanha, em terceiro lugar, também permaneceu 11,1% abaixo da média de cinco anos, com uma produção de 31 milhões de hectolitros. O consumo global de vinho em 2024 foi estimado em 214,2 milhões de hectolitros, uma queda de 3,3% em relação ao ano anterior e o menor volume desde 1961, segundo a OIV. Isso dá continuidade a uma tendência que, além de razões econômicas de curto prazo, como a inflação, também se deve a mudanças no estilo de vida, hábitos sociais e comportamentos diferentes do consumidor, especialmente entre a geração mais jovem. Tendência de alta nos preçosNa UE, o consumo caiu 2,8% em relação ao ano anterior, chegando a 103,6 milhões de hectolitros, o que representa um declínio médio de 5,2% em cinco anos. Na Alemanha, o consumo foi 3% menor que em 2023, atingindo 17,8 milhões de hectolitros. O valor das exportações globais de vinho é estimado em 35,9 bilhões de euros em 2024, representando apenas uma ligeira queda em comparação ao ano anterior. O preço médio de exportação também permanece inalterado, em 3,60 euros por litro. A OIV avalia que o nível geral de preços se mantém alto, em parte porque a tendência para vinhos com preços mais altos se tornou cada vez mais pronunciada nos últimos anos. Hoje, os consumidores pagam em média 30% a mais pelo vinho do que em 2019/2020. rc/bl (AFP, Reuters, DPA) |
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Short teaser | Mudanças no clima, no comportamento do consumidor e preços altos entre os motivos para o declínio mundial. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/produção-de-vinho-atinge-nível-mais-baixo-em-mais-de-60-anos/a-72277580?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Produ%C3%A7%C3%A3o%20de%20vinho%20atinge%20n%C3%ADvel%20mais%20baixo%20em%20mais%20de%2060%20anos |
Item 12 | |||
Id | 72276053 | ||
Date | 2025-04-17 | ||
Title | Cientistas detectam sinal mais forte até agora de possível vida fora da Terra | ||
Short title | O sinal mais forte até agora de possível vida fora da Terra | ||
Teaser |
Pesquisadores descobriram indicador de um processo biológico em planeta a 120 anos-luz da Terra. São necessários mais dados e estudos para avaliar possível existência de organismos vivos. Uma equipe de cientistas anunciou nesta quarta-feira (16/04) ter encontrado os sinais mais fortes até agora de possível vida em um planeta além do nosso Sistema Solar. "O que descobrimos neste momento são indícios de possível atividade biológica fora do Sistema Solar", disse Nikku Madhusudhan, astrofísico da Universidade de Cambridge. Em coletiva de imprensa, Madhusudhan disse que o primeiro indício de um mundo alienígena potencialmente habitado foi a detecção de "impressões digitais" químicas de gases que na Terra são produzidos apenas por processos biológicos. "Este é um momento revolucionário", disse o pesquisador aos jornalistas ao divulgar a descoberta potencialmente transformadora obtida com a utilização do telescópio espacial James Webb. Vida extraterrestre em K2-18 b?A equipe se apressou em pedir cautela, afirmando que não estava anunciando a descoberta de organismos vivos reais e que mais observações eram necessárias para determinar exatamente o que eles estavam observando. O estudo, publicado na publicação científica Astrophysical Journal Letters, afirma que os pesquisadores descobriram uma possível bioassinatura ou um indicador de um processo biológico em um planeta que orbita uma estrela a 120 anos-luz da Terra. Essa evidência potencial de vida microbiana está em um planeta chamado K2-18 b, que tem cerca de 8,6 vezes a massa da Terra e um diâmetro cerca de 2,6 vezes maior que o do nosso planeta. Cientistas já haviam revelado a presença de moléculas portadoras de carbono, incluindo metano e dióxido de carbono (moléculas à base de carbono são os blocos de construção da vida) no exoplaneta – nome dado a um planeta que orbita estrelas fora do nosso Sistema Solar. Estudos anteriores sugeriram que o K2-18 b poderia ser um exoplaneta de uma classificação denominada hycean, que são planetas com potencial para possuir uma atmosfera rica em hidrogênio e uma superfície coberta por oceanos de água. Busca por vida fora da Terra requer paciênciaChristopher Glein, cientista principal da divisão de ciência espacial do Instituto de Pesquisa do Sudoeste, no Texas, descreveu K2-18 b como "um mundo tentador", mas alerta que a comunidade científica deve ter "o cuidado de testar os dados o mais exaustivamente possível". Sara Seager, professora de ciência planetária no Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), também pediu paciência, apontando para um caso em que alegações anteriores de vapor d'água na atmosfera do K2-18 b revelaram se tratar de um gás diferente. rc/bl (AFP, Reuters) |
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Short teaser | Pesquisadores descobriram indicador de processo biológico em um planeta que orbita estrela a 120 anos-luz da Terra. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/cientistas-detectam-sinal-mais-forte-até-agora-de-possível-vida-fora-da-terra/a-72276053?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 13 | |||
Id | 72268797 | ||
Date | 2025-04-17 | ||
Title | Alvo de contrabando, Mounjaro vira febre para perda de peso | ||
Short title | Alvo de contrabando, Mounjaro vira febre para perda de peso | ||
Teaser |
Remédio injetável aprovado para diabetes ainda não é vendido no Brasil, mas é anunciado no TikTok por usuários com incentivo à automedicação para emagrecimento. Entenda os riscos e efeitos colaterais.Um novo medicamento, ainda não à venda no Brasil, têm aparecido em vídeos do TikTok sobre emagrecimento: o Mounjaro, indicado para pacientes com diabetes tipo 2 e usado também para tratamento contra obesidade e sobrepeso. Com uso em alta na Europa e nos EUA, algumas brasileiras que moram no exterior têm compartilhado na rede relatos sobre os efeitos da droga.
Nos comentários de alguns vídeos, mulheres oferecem o produto de forma ilegal – ele só deve ser usado com prescrição médica. Devido à sua ação rápida na perda de peso, a droga começou a ser alvo de contrabando e está sendo trazida ao Brasil por criminosos.
Na madrugada do último sábado (12/04), a Receita Federal reteve uma carga com 389 doses injetáveis do medicamento, avaliada em cerca de R$ 1 milhão, no Aeroporto Internacional do Recife, em Pernambuco. Três dias depois, outra ação no mesmo aeroporto e contra o mesmo passageiro apreendeu 249 doses injetáveis, avaliadas em cerca de R$ 800 mil.
A corrida pelo remédio se intensificou porque ele ainda não está disponível no Brasil, embora tenha sido aprovado pela Anvisa em setembro de 2023. A Eli Lilly, farmacêutica que produz o medicamento, afirma que ele deve chegar ao país em junho. No Reino Unido, o Mounjaro já é mais popular que o Wegovy nos consultórios particulares, segundo uma reportagem da agência de notícias Reuters.
Apesar do efeito positivo no emagrecimento, especialistas ouvidos pela DW alertam para os riscos do uso sem acompanhamento. "Ele não é recomendado para pessoas que não tenham indicação clínica para o uso da medicação. Todo medicamento tem potenciais benéficos e efeitos adversos", diz Simone van de Sande Lee, diretora do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
"Sabemos que há muito uso inadequado, sem prescrição e sem acompanhamento, o que além de ser um risco para a saúde das pessoas, pode diminuir o acesso de quem faz uso para o tratamento de doenças", afirma.
Como o medicamento funciona
O Mounjaro é o nome comercial da tirzepatida, um medicamento que age "imitando" a ação dos hormônios GLP-1 e GIP, substâncias produzidas naturalmente pelo organismo que regulam a saciedade e a digestão. Ele estimula os mesmos receptores desses hormônios e é indicado para o tratamento de diabetes tipo 2 e, em alguns países, obesidade.
A aplicação do medicamento é feita por injeção subcutânea no abdômen, coxa ou braço, alternando os pontos da injeção.
A administração é semanal e deve seguir orientação médica. "A dose é ajustada conforme a tolerância e necessidade do paciente. O acompanhamento médico é essencial, assim como o suporte nutricional", afirma Juliana Saldanha, nutricionista e membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
"Canetas emagrecedoras"
A popularização de medicamentos injetáveis como Ozempic, Wegovy e Mounjaro levou ao uso do termo "canetas emagrecedoras" nas redes sociais, por causa do formato do aplicador em que são vendidos — semelhante a uma caneta, para uso subcutâneo semanal. Apesar de amplamente usado pelo público, o termo é criticado por alguns especialistas.
Além disso, é muito comum se deparar com publicações nas redes sociais, onde muitas pessoas mostram a "caneta" como prêmio e até em tom de brincadeira, alegando que adquirir o produto foi uma conquista e um investimento que valeu a pena.
Samara Rodrigues, endocrinologista e nutróloga do Grupo Valsa Saúde, no Rio de Janeiro, afirma que a expressão não é tecnicamente precisa. "A tirzepatida não é um produto exclusivamente destinado à perda de peso, mas, sim, um medicamento que atua no controle do diabetes tipo 2 e que, como efeito secundário, pode resultar em redução de peso", diz. A substância tem mostrado eficácia tanto no controle da glicemia quanto na redução de peso em pessoas com obesidade ou sobrepeso, segundo ela.
A diretora da SBEM reforça ainda que o termo não é recomendado por entidades médicas. "Ele dá a impressão de que qualquer pessoa que queira emagrecer alguns quilos poderia usar o medicamento, o que não é o caso. A SBEM e a Abeso orientam que se use 'medicamentos para tratamento da obesidade', para deixar claro que se trata de uma doença, e não apenas de um sintoma", afirma.
Os eventos adversos relacionados ao uso desses medicamentos motivaram a Anvisa a anunciar nesta quarta-feira (16/04) um controle mais rigoroso, que passa a exigir a retenção da receita na farmácia para a venda. Segundo a agência, uma análise comparativa apontou "muito mais eventos adversos relacionados ao uso fora das indicações aprovadas pela Anvisa no Brasil do que os dados globais". A medida vale para todos os medicamentos agonistas do GLP-1.
Riscos à saúde
O uso de Mounjaro sem orientação de um médico pode resultar em sérios riscos à saúde. As especialistas alertam que o tratamento com tirzepatida só deve ser iniciado após uma avaliação clínica completa. "É essencial verificar se há indicação para o uso do medicamento, se existem contraindicações e quais potenciais efeitos adversos podem ocorrer", explica a diretora da SBEM.
Além disso, a aplicação inadequada e o uso de doses incorretas podem aumentar a probabilidade de reações adversas. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão náuseas, vômitos e distúrbios gastrointestinais, que tendem a ser leves a moderados, mas podem se intensificar quando o medicamento é usado de maneira errada.
O uso de medicamentos falsificados ou contrabandeados também eleva os riscos. Embora seja menos comum, a automedicação e o uso sem acompanhamento adequado podem resultar ainda em complicações mais graves, como reações alérgicas ou até à formação de pedras na vesícula, um problema observado também em outros tratamentos para obesidade.
Além dos efeitos imediatos, o tratamento com tirzepatida pode afetar a composição corporal, levando à perda de massa muscular, o que pode ser uma dificuldade para pessoas sem obesidade. "As pessoas com obesidade em geral têm mais massa muscular do que as pessoas sem obesidade, então essa perda na maioria das vezes não é um problema. Inclusive, os estudos mostram que existe melhora da função física com o tratamento, nas pessoas com obesidade. No entanto, em pessoas sem obesidade, essa perda de massa muscular (mesmo que pequena) pode ser um problema", diz Sande Lee.
O acompanhamento de um profissional de saúde contínuo é importante não só para monitorar os resultados, mas também para ajustar a dose do medicamento e prevenir interações medicamentosas que possam comprometer a saúde do paciente.
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Short teaser | Remédio não é vendido no Brasil, mas é oferecido no TikTok para emagrecimento. Entenda os riscos e efeitos colaterais. | ||
Author | Priscila Carvalho | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alvo-de-contrabando-mounjaro-vira-febre-para-perda-de-peso/a-72268797?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Mounjaro tem ação parecida com a do Ozempic e do Wegovy | ||
Image source | Oliver Berg/dpa/picture alliance | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/72269008_354.jpg&title=Alvo%20de%20contrabando%2C%20Mounjaro%20vira%20febre%20para%20perda%20de%20peso |
Item 14 | |||
Id | 72273203 | ||
Date | 2025-04-17 | ||
Title | "Item de luxo": por que a carteira de motorista é tão cara na Alemanha | ||
Short title | Por que a carteira de motorista é tão cara na Alemanha | ||
Teaser |
Quem quiser dirigir na Alemanha precisa ter dinheiro de sobra. Custando R$ 20 mil ou mais, obtenção da habilitação de trânsito passou a ser considerada um "artigo de luxo". País discute como baratear processo.Hoje em dia, quem quiser aprender a dirigir na Alemanha não precisa de apenas nervos de aço, mas também de muito dinheiro. De acordo com a associação de automobilismo alemã ADAC, o processo para conseguir uma carteira de motorista no país custa entre 2.500 (R$ 16,7 mil) e 3.500 euros (R$ 23 mil). Em alguns casos, até significativamente mais. Para os jovens que estão em formação ou estudando, a carteira de motorista está se tornando cada vez mais um artigo de luxo.
Embora uma carteira de motorista obtida na Europa possa ser usada em todo o continente, o caminho para ober a habilitação difere em cada país. Cada país tem seus próprios conceitos de autoescola, que por sua vez determinam o preço.
Na Alemanha, o treinamento em autoescolas é abrangente e regulamentado por lei. Um aprendiz de motorista deve completar pelo menos 14 aulas duplas de teoria e 12 sessões práticas de direção. Em comparação, na vizinha Polônia, o treinamento de motoristas é muito mais compacto e menos regulamentado. Os interessados pagam entre 600 e 900 euros por uma carteira de habilitação.
Diante desse quadro, alguns políticos alemães, como Florian Müller, especialista em política de transportes do partido conservador União Democrata Cristã (CDU), estão reivindicando uma "formação de condutores" mais acessível e que também leve em consideração as condições atuais do trânsito. Porque, segundo ele, o carro "ainda é o meio de transporte número um" na Alemanha, e muitas pessoas ainda dependem da carteira de motorista.
"Dirigir na Alemanha é privilégio de poucos"
Varsha Iyer, que veio da Índia para estudar na Alemanha em 2018, conta que teve um caminho difícil para tirar a carteira de motorista, tanto do ponto de vista financeiro quanto emocional. Ao mesmo tempo, ela disse que tinha que obter o documento, por causa da complicada conexão de transporte público entre sua casa, em Kronenberg, até a faculdade, em Wuppertal.
Para poder financiar as aulas de direção enquanto estudava, ela trabalhou em uma padaria. Embora tenha passado no exame teórico na primeira tentativa, teve que fazer o exame prático um total de cinco vezes.
"O principal problema foram as condições rigorosas dos exames", disse Iyer. "Eu entendo a importância de testes rigorosos, mas, na minha opinião, eles não refletem verdadeiramente como as pessoas dirigem na vida real."
No total, a carteira de motorista custou a ela mais de 5 mil euros (R$ 33 mil) – e levou todas as suas economias.
Particularmente difícil é a situação para migrantes como ela, que enfrentam barreiras linguísticas e vêm de países com sistemas de trânsito diferentes. "Dirigir na Alemanha claramente ainda é um privilégio. Pouquíssimas pessoas têm recursos ilimitados para pagar por esse tipo de treinamento para motoristas", diz Iyer.
No caso dos brasileiros residentes na Alemanha, a CNH emitida no país sul-americano só tem validade reconhecida por seis meses. Em casos excepcionais, as autoridades podem prorrogar o prazo de validade por até mais seis meses. Depois disso, resta aos residentes tirar uma carteira alemã ou em outro país europeu.
Ir para o exterior também não é opção
Vários estrangeiros ou até mesmo alemães chegam a considerar tirar a carteira de motorista em países vizinhos, como a Polônia, onde o processo é mais barato.
Mas esse atalho não é tão fácil assim, segundo a porta-voz do ADAC, Katharina Lucà. "Muitas pessoas esquecem que é preciso ter vivido no país por mais de meio ano, mais exatamente 185 dias. E depois há os custos de acomodação e viagem", explica. Por isso, ela afirma serem necessárias soluções de longo prazo para tornar as carteiras de motorista mais baratas na Alemanha e para reformar o sistema de autoescolas.
Para o especialista em trânsito da CDU, Florian Müller, o processo de treinamento constitui uma barreira adicional. "Observamos que o caminho para que os aprendizes de motoristas passem no teste de direção se tornou significativamente mais longo", sublinha. De acordo com a organização certificadora alemã TÜV, a taxa de reprovação no teste teórico está em um nível recorde: quase um em cada dois candidatos é reprovado. Enquanto isso, no exame prático, o número é superior a um terço.
Aulas práticas encarecem o processo
Os secretários de Transporte dos estados federais alemães estão pedindo, entre outras coisas, que a parte teórica do treinamento para a carteira de motorista seja simplificada. No entanto, Kurt Bartels, presidente da Associação de Instrutores de Condução da Renânia do Norte, duvida que isso tornará as carteiras de motorista mais baratas.
Isso porque a inscrição para o teste teórico custa apenas 25 euros. "O que realmente torna a carteira de motorista cara é o aumento do número de aulas de direção", explica.
"Nossa clientela mudou. Os jovens não olham mais para a rua, mas para seus smartphones. Eles vêm até nós e não têm mais noção do trânsito", diz Bartels.
Ele diz que a situação do trânsito também se tornou significativamente mais complexa nos últimos anos. Bartels ressalta ser importante que atualmente os alunos de direção saibam lidar com os novos integrantes do trânsito e que, por conta disso, o treinamento leve em consideração coisas patinetes elétricos ou os novos sistemas eletrônicos de assistência ao motorista. Isso custa dinheiro, segundo o especialista. Além disso, ele argumenta que as autoescolas alemãs estão enfrentando custos mais altos com aluguel e veículos, além de uma crescente escassez de instrutores de direção.
Em outros países europeus, como a França, os simuladores de direção já são parte integrante do treinamento de motoristas. Na Alemanha, estes equipamentos ainda aguardam reconhecimento.
Kurt Bartels, no entanto, permanece cético. "Se um simulador for usado, ele deve ser supervisionado por um instrutor de direção. Além disso, o simulador nunca poderá substituir as autoescolas no trânsito real, especialmente quando se trata da prática em rodovias ou durante a noite."
Contraste entre exigência e realidade
Uma proposta de Florian Müller para uma carteira de motorista mais acessível foi rejeitada recentemente no Bundestag, o Parlamento alemão. A pressão para agir é grande: desde 2020, os custos com autoescolas e exames aumentaram 38% – significativamente mais do que a inflação.
"Talvez nosso treinamento para motoristas seja caro, mas também é particularmente completo", diz a porta-voz do ADAC, Katharina Lucà. "Ao mesmo tempo, também vemos que em outros países com preços mais baratos para carteiras de motorista, o número de acidentes não é automaticamente maior."
Na Áustria, por exemplo, é possível preencher parte das horas obrigatórias de aulas práticas treinando com parentes ou amigos – sob certas condições estipuladas pelas autoridades. Isso pode reduzir bastante os custos. Na Alemanha, no entanto, a carteira de motorista continua sendo "um privilégio que traz consigo outros privilégios", diz Varsha Iyer.
Aqueles que podem pagar estão em vantagem. Para todos os outros, o volante permanece algo fora de alcance.
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Short teaser | Custando R$ 20 mil ou mais, documento é tido como privilégio de poucos. Políticos querem uma habilitação mais acessível. | ||
Author | Enno Hinz | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/item-de-luxo-por-que-a-carteira-de-motorista-é-tão-cara-na-alemanha/a-72273203?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Com processo de treinamento de alto custo, permissão para dirigir na Alemanha passou a ser vista como documento de elite | ||
Image source | Frank Hoermann/SVEN SIMON/picture alliance | ||
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Item 15 | |||
Id | 72259321 | ||
Date | 2025-04-16 | ||
Title | Médicos sírios que atuam na Alemanha voltam ao país natal para reconstruir sistema de saúde | ||
Short title | Médicos sírios na Alemanha retornam para ajudar país natal | ||
Teaser |
Mais de 6 mil médicos sírios atuam na Alemanha. Após a queda de Assad, alguns estão retornando como voluntários para realizar cirurgias gratuitas e reconstruir infraestrutura. Hospitais alemães temem efeito de ausências. Uma missão médica composta por profissionais nascidos na Síria que vivem e trabalham na Alemanha salvou a vida do também sírio Mohammed Qanbat. Os médicos viajaram à Síria para realizar uma série de cirurgias. Qanbat, de 55 anos, passou por um procedimento de coração aberto, que raramente é realizado no país devido à condição deteriorada do sistema de saúde após 14 anos de guerra civil. "Não consigo expressar o quanto estou feliz e grato", disse Qanbat à DW. "É algo que vai além das palavras. Esperamos tanto tempo para que nossos filhos viessem nos ajudar", disse ele, referindo-se ao fato de que muitos sírios fugiram de seu país durante o extenso conflito civil. "Mas eles não se esqueceram de nós. Eles voltaram para nos ajudar." Não há dados exatos sobre quantos profissionais de saúde deixaram o país durante este período. De acordo com o Banco Mundial, cerca de 30 mil médicos atuavam na Síria em 2010, um ano antes da eclosão do conflito. Em 2020, o único período em que a ONU coletou dados similares, menos de 16 mil continuavam a atuar no país. Enfermeiros, farmacêuticos e dentistas também fugiram. A política de abertura da ex-chanceler federal alemã Angela Merkel e a carência de profissionais da saúde no país abriram caminho para muitos sírios irem para a Alemanha. Hoje, mais de 6 mil médicos de nacionalidade síria trabalham no sistema de saúde alemão, o maior grupo de estrangeiros atuando no país. A projeção, porém, é que esse número chegue a 10 mil, já que a estatística considera apenas os médicos que possuem passaporte sírio. Ou seja, aqueles que receberam a cidadania e passaporte alemães não são mais contabilizados como funcionários estrangeiros. Primeira missão na SíriaApós a queda do ditador sírio Bashar al-Assad no início de dezembro de 2024, alguns desses médicos sírios se uniram para fundar a Syrian German Medical Association, a Associação Médica Alemã-Síria, ou SGMA. Tudo começou com um pequeno grupo de WhatsApp de profissionais que queriam ajudar a população de seu país natal, conta Nour Hazzouri, médico sênior especializado em gastroenterologia que trabalha no Hospital Helios em Krefeld, no oeste da Alemanha. Logo o grupo de WhatsApp se tornou uma página no Facebook e, em meados de janeiro, a SGMA foi oficialmente fundada. Atualmente, ela tem cerca de 500 membros. "Até nós ficamos surpresos com a rapidez com que ela cresceu", observou Hazzouri. Este mês, os membros da SGMA realizaram sua primeira missão no país. Desde o início de abril, cerca de 85 médicos sírios do grupo estão na Síria dando palestras educacionais, avaliando a condição do sistema de saúde sírio e realizando cirurgias em todo o país. Até a queda de Assad, muitos não podiam retornar ao país devido à perseguição do regime. Um dos desafios tem sido o estado dos equipamentos nos hospitais sírios, afirmou Ayman Sodah, médico sênior e cardiologista do hospital Rhön Klinikum em Bad Neustadt, na Baviera, ao canal de notícias Al Jazeera, ao sair da sala de cirurgia do município de Hama. "Está claro que, durante os [últimos] 15 anos, nada foi renovado", disse ele. "Antes da guerra, a Síria era um país de renda média com indicadores de saúde relativamente bons", informou anteriormente a Brookings Institution, um think tank com sede em Washington. No entanto, durante o conflito, instalações de saúde foram regularmente atacadas pelo regime de Assad. Sanções internacionais também deterioraram a economia e a capacidade do país de renovar suas instalações médicas. Mas este não foi o foco de uma reunião sobre o tema que reuniu 300 pessoas em Damasco, no último domingo. Na ocasião, a delegação da SGMA falava a autoridades locais, médicos e organizações civis sobre a missão de saúde com um clima de esperança e otimismo. "Estou bastante animado", disse Mustafa Fahham, médico sênior do departamento de nefrologia e diálise do Hospital Bremerhaven, no norte da Alemanha, à DW em Damasco. "Todos os sírios tinham, no fundo de suas mentes, um medo que estava ligado a Assad. Agora esse medo se foi. Portanto, estou me sentindo bem e feliz por estar aqui em Damasco, onde finalmente posso ajudar a apoiar o sistema de saúde sírio." "A ideia para realizar essa missão durante os feriados [da Páscoa e do Ramadã] surgiu porque muitos médicos queriam visitar suas famílias na Síria, algumas das quais não viam há 14 anos", explica Hazzouri, o gastroenterologista do hospital de Krefeld. "Isso despertou a ideia de usar esse período para prestar assistência médica também." A missão começou com um questionário online e, em uma semana, mais de 80 voluntários se inscreveram. Hazzouri admitiu que a segurança ainda é um problema em algumas partes da Síria, portanto os médicos não podem trabalhar em todos os lugares. "Mas o maior desafio foi realmente o custo dos materiais", disse ele. Parcerias úteisOs voluntários sírios custearam a maior parte da viagem por conta própria, pagando a viagem e arrecadando dinheiro para equipamentos médicos, disse Hazzouri à DW. "Muitos trouxeram doações de suas clínicas. Ao mesmo tempo, lançamos uma campanha online de arrecadação de fundos, por meio da qual conseguimos angariar quase 100 mil euros em um mês, principalmente de médicos sírios na Alemanha. As ONGs sírias locais também nos apoiaram com doações de materiais." Até o momento, não houve apoio oficial do governo alemão. No entanto, os membros da SGMA participaram da conferência do Ministério do Desenvolvimento da Alemanha, em meados de fevereiro, sobre alianças hospitalares entre a Alemanha e a Síria, que Hazzouri descreveu como "um passo importante na direção de uma possível parceria". O Ministério da Saúde da Síria forneceu autorizações para os médicos da SGMA trabalharem. O novo ministro da saúde da Síria, o neurocirurgião Musab al-Ali, também trabalhou anteriormente na Alemanha e esteve envolvido com a Syrian Community in Germany (Comunidade Síria na Alemanha), uma organização de defesa de direitos. Outra campanha de ajuda médica que também foi lançada este mês na Síria, "Shifa, Hand in Hand for Syria", está mais diretamente ligada à Comunidade Síria na Alemanha e ao Ministério da Saúde da Síria. Cerca de 100 médicos sírios também estão envolvidos nessa campanha. Em casa, na Síria ou na Alemanha?A maioria dos médicos voluntários da SGMA retornará a seus empregos na Alemanha. No entanto, uma pesquisa recente da Associação Síria de Médicos e Farmacêuticos na Alemanha constatou que 76% de seus membros pensam em voltar para seu país natal permanentemente. Em uma entrevista à DW realizada em dezembro, o presidente do conselho da Associação Alemã de Hospitais, Gerald Gaß, disse que o sistema de saúde do país depende de trabalhadores estrangeiros e que uma saída em massa afetaria o atendimento em todo o país. Em entrevistas recentes à mídia alemã, os médicos sírios expressam regularmente sua preocupação com o aumento da ultradireita e da pauta anti-imigração, bem como com a dificuldade que alguns encontraram para serem totalmente aceitos na Alemanha. "Nós consideramos [permanecer] na Alemanha e, é claro, nem todos os médicos iriam embora de uma vez", disse Fahham, médico do Hospital Bremerhaven, à DW em Damasco. "Por outro lado, também nos sentimos leais à Síria. Mas acredito que podemos chegar a algum tipo de plano em que possamos ajudar aqui, e cobrir também o sistema de saúde alemão." De fato, as palestras da SGMA na Síria também serviram para aconselhar estudantes de medicina ou médicos que querem trabalhar na Alemanha, disse Muaz al-Moarawi, um médico que atua em Gelsenkirchen e que estava em Damasco para a SGMA. "A Síria precisa de muita ajuda neste momento para reconstruir seu sistema de saúde. Mas a Alemanha também precisa de médicos e equipes médicas sírias", defendeu al-Moarawi à DW. "O que queremos é ser uma ponte entre a Síria e a Alemanha, uma ponte da qual ambos os lados possam se beneficiar." |
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Short teaser | Profissionais de saúde retornaram à Síria em missão voluntária para rodada de cirurgias após anos de guerra civil. | ||
Author | Omar Albam, Cathrin Schaer | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/médicos-sírios-que-atuam-na-alemanha-voltam-ao-país-natal-para-reconstruir-sistema-de-saúde/a-72259321?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 16 | |||
Id | 72267819 | ||
Date | 2025-04-16 | ||
Title | Criadora da cafeteira moka italiana, Bialetti é comprada por chineses | ||
Short title | Cafeteira italiana Bialetti é comprada por chineses | ||
Teaser |
Empresa centenária criou a icônica cafeteira moka em 1933, presente hoje em lares mundo afora e venerada como símbolo do design industrial italiano.A Bialetti, marca que inventou a cafeteira moka venerada como ícone do design industrial italiano, será vendida a investidores chineses e deixará de ser uma empresa de capital aberto listada na bolsa.
Carro-chefe da Bialetti, a cafeteira moka foi lançada em 1933 pelo fundador da empresa, Alfonso Bialetti (1888-1970). Após a Segunda Guerra Mundial, o utensílio passou a ser fabricado em alumínio e, posteriormente, aço, e está presente em lares de todo o mundo. Uma peça original de 1933 está em exibição no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York.
O anúncio da compra foi feito nesta quarta-feira (16/04) pela Bialetti e a NUO Capital, uma investidora registrada em Luxemburgo e controlada pela família Pao Cheng, uma das mais ricas de Hong Kong.
O negócio, que ainda precisa ser aprovado pelo governo italiano e órgãos reguladores, prevê a compra pela NUO Capital de 78,6% das ações da Bialetti, ao preço de 53 milhões de euros (R$ 351,3 milhões). Uma oferta pelas ações restantes será então lançada a um preço mínimo de 46,7 centavos de euros cada.
Empresa tem 81,9 milhões de euros em dívidas
A Bialetti tem enfrentado dificuldades financeiras nos últimos anos por causa de maus investimentos e da competição com fabricantes de máquinas de café em cápsula.
A estratégia de expansão da empresa baseada na abertura de lojas em shoppings e nos centros das cidades acabou sendo sabotada pela pandemia de covid-19, e a tentativa de diversificar seu rol de produtos também não deu certo.
A empresa também vende cafeteiras elétricas, xícaras e café, bem como outros apetrechos, e tem lojas em diversas cidades italianas.
Em 2024, a Bialetti registrou perda de 1,1 milhão de euros (R$ 7,3 milhões) e fechou o ano com uma dívida de 81,9 milhões de euros (R$ 542,8 milhões). Relatos na imprensa sugerem que esse passivo pode ser maior, superando os 100 milhões de euros (R$ 662,8 milhões).
O anúncio da compra valorizou as ações da empresa, que no dia anterior haviam fechado na Bolsa de Milão ao valor de 27,9 centavos de euros. Nesta quarta, as ações não chegaram a ser negociadas, mas indicavam alta de 50%.
O acordo para a compra prevê ainda o refinanciamento de dívidas da Bialetti por meio de empréstimos que totalizam até 75 milhões de euros (R$ 497,1 milhões). A NUO Capital também diz querer aportar ao menos 49,5 milhões de euros (R$ 328 milhões) na empresa.
Segundo o comunicado conjunto, o CEO da Bialetti, Egidio Cozzi, continuará no comando da empresa.
ra/bl (Reuters, dpa, ots)
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Short teaser | Empresa centenária criou em 1933 a cafeteira moka, ícone do design industrial italiano presente hoje em vários lares. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/criadora-da-cafeteira-moka-italiana-bialetti-é-comprada-por-chineses/a-72267819?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Carro-chefe da Bialetti, a cafeteira moka foi lançada em 1933 pelo fundador da empresa, o italiano Alfonso Bialetti (1888-1970) | ||
Image source | Christoph Sator/dpa/picture alliance | ||
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Item 17 | |||
Id | 72265577 | ||
Date | 2025-04-16 | ||
Title | O que falta para a Ucrânia começar a explorar seu lítio? | ||
Short title | O que falta para a Ucrânia começar a explorar seu lítio? | ||
Teaser |
País detém uma das maiores reservas europeias do mineral crítico para a transição energética. Moradores da região relatam à DW suas dúvidas e esperanças, enquanto Washington e Kiev discutem acordo de terras raras.O tempo parece ter parado em Polokhivske, no coração da Ucrânia. Apenas um punhado de pessoas vive aqui, as casas estão vazias e dilapidadas, e os campos de restolho se estendem até o horizonte. A situação não é diferente no vilarejo vizinho de Kopanki, onde quase só restam casas abandonadas. Segundo relatam as poucas pessoas que permaneceram na aldeia, em todo o ano de 2024 apenas uma criança nasceu no local.
"Comecei a trabalhar aqui em 1976", recorda o aposentado Volodimir, de Kopanki. "Eu era o 400º trabalhador da fazenda coletiva, e agora tem provavelmente menos de cem moradores aqui. Só há funerais, nenhum casamento, as coisas não são costumavam ser." As pessoas deixaram Kopanki por falta de emprego. Hoje em dia, só passa ônibus duas vezes por semana no vilarejo.
É bastante improvável que Donald Trump já tenha ouvido falar de Polokhivske ou Kopanki. E, no entanto, é bem provável que o presidente dos EUA esteja bastante interessado nessa área – ou melhor, no que existe debaixo dela. Aqui, bem no centro da Ucrânia, está um dos maiores depósitos de lítio da Europa.
Demora no acordo com os EUA
Esse lítio pode se tornar parte do chamado acordo de terras raras entre a Ucrânia e os EUA. Uma tentativa inicial de negociações falhou em fevereiro, e ambos os lados ainda não conseguiram concordar com uma versão final do acordo. Na segunda semana de abril, entretanto, negociações em Washington foram apontadas por fontes ucranianas como "construtivas".
Detalhes não foram divulgados, mas a ministra da Justiça ucraniana, Olha Stefanischyna, disse em entrevista à televisão ucraniana de que isso é "sinal positivo" de que o tema está indo adiante.
A existência de lítio na Ucrânia é conhecida desde a década de 70. O depósito sob Polokhivske e Kopanki, porém, é o único que já foi analisado conforme os padrões atuais – todos os outros remontam à era soviética. Entretanto, o minério de lítio nunca foi extraído no país.
Nenhuma mineração de lítio à vista
Em 2017, a empresa ucraniana UkrLithiumMining recebeu permissão para explorar o depósito de Polokhivske. Segundo os levantamentos mais recentes, de 2018 e 2020, estima-se que o depósito abrigue 40 milhões de toneladas de lítio – o que faria dele o maior da Europa.
O diretor da empresa, Mykhailo Heichenko, disse na televisão ucraniana que os testes de perfuração iniciais, alguns dos quais com mais de 600 metros de profundidade, projetam a extração de até um milhão e meio de toneladas de minério por ano durante um período de 20 anos. A empresa, no entanto, não avançou mais, e de acordo com o município de Smoline, que inclui Polokhivske e Kopanki, nenhuma obra está sendo realizada no local.
O fato de os planos de mineração não estarem progredindo é uma preocupação para as autoridades locais. Já em 2023, os deputados do conselho do vilarejo descreveram as ações da UkrLithiumMining como insatisfatórias. "O conselho municipal de Smoline quer que a empresa intensifique seu trabalho aqui. Também pedimos à empresa que discuta questões sociais importantes para a comunidade. Mas, até agora, nada disso aconteceu", disse o prefeito de Smoline, Mykola Masura.
Um comunicado publicado no site da empresa em março afirmou que o depósito de Polokhivske pertence ao povo ucraniano, mas que a empresa recebeu uma licença para explorá-lo e pagou o equivalente a aproximadamente 2,6 milhões de euros por ele.
Receios de danos ambientais
Moradores locais com quem a DW conversou continuam esperançosos de que a mineração trará empregos para a região. Ao mesmo tempo, alguns temem as consequências ambientais. "Não somos contra", diz Tetjana, de Kopanki. "Mas precisamos garantir que não fiquemos sem água e estradas, e que nossa infraestrutura seja expandida. É claro que queremos que isso aconteça rapidamente e que o dinheiro flua para o orçamento do município."
O medo de que a água se torne escassa também é compartilhado pelo prefeito de Smoline, Mykola Masura. "Soubemos recentemente que a UkrLithiumMining planeja perfurar poços de profundidades variadas e usar a água para seus próprios fins. Isso seria uma catástrofe, pois os poços de água de pessoas em um raio de vários quilômetros poderiam secar. A água já está escasseando nos poços devido às mudanças climáticas e outros fatores, e os lagos também estão secando", aponta.
No segundo semestre de 2024, a UkrLithiumMining já havia comentado em seu site sobre possíveis consequências ambientais do projeto, afirmando ter examinado os impactos da exploração. Imediatamente após a publicação desta reportagem no site ucraniano da DW, a UkrLithiumMining declarou, por e-mail, que a captação de água para fins técnicos no caso da exploração do depósito de Polokhivka "não terá nenhum impacto nas fontes utilizadas pelo município".
Sobre a acusação de atraso nas obras, o comunicado afirma: "Em abril de 2024, a empresa concluiu o estudo preliminar de viabilidade, um marco fundamental no caminho para a exploração do depósito. A preparação da próxima fase importante – o estudo definitivo de viabilidade – está em curso."
Um acordo inédito – caso seja assinado
Até agora, quatro depósitos de lítio foram analisados na Ucrânia. Dois deles estão localizados nos territórios ocupados pela Rússia: o campo Kruta-Balka, na região de Zaporíjia, e o campo Shevchenko, na região de Donetsk. Os demais estão localizados no centro da Ucrânia – um perto de Polokhivske e outro perto de Dobra. Este último é considerado ainda mais promissor. De acordo com o geólogo ucraniano Bohdan Slobodyan, o local já foi investigado durante a era soviética e poderia ser duas vezes maior que o de Polokhivske. Entretanto, não há nenhuma pesquisa atual sobre isso.
No início de março, o jornal Financial Times informou que a empresa irlandesa TechMet tinha interesse em explorar o depósito de Dobra e que queria fazer uma oferta. Um parceiro de investimentos da TechMet é o bilionário Ronald Lauder, amigo do presidente dos EUA, Donald Trump.
De acordo com o jornal, esse poderia ser um dos primeiros projetos do acordo de terras raras entre os EUA e a Ucrânia – desde que seja assinado. Isso também poderia fazer avançar os planos de mineração de lítio em Polokhivske.
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Short teaser | País detém uma das maiores reservas europeias do mineral. Moradores da região relatam à DW suas dúvidas e esperanças. | ||
Author | Maryna Barba | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-que-falta-para-a-ucrânia-começar-a-explorar-seu-lítio/a-72265577?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Campo agrícola perto de Polokhivka, no centro da Ucrânia: um dos maiores depósitos de lítio da Europa fica logo abaixo | ||
Image source | DW | ||
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Item 18 | |||
Id | 72264082 | ||
Date | 2025-04-16 | ||
Title | O quanto há de ciência nos filmes de ficção científica? | ||
Short title | O quanto há de ciência nos filmes de ficção científica? | ||
Teaser |
Em algumas produções de Hollywood, cientistas trabalham ao lado de diretores para criar cenários verossímeis, como buracos negros ou viagens planetárias. Sem perder de vista o objetivo principal: entreter o público.Em Hollywood, a produção de um filme costuma levar anos, além de envolver o trabalho de centenas, às vezes milhares de pessoas.
Em meio a orçamentos apertados, divergências criativas e outros aspectos do processo cinematográfico, pequenos detalhes acabam sendo deixados de lado.
Uma das primeiras vítimas desse processo pode acabar sendo o realismo. Quem nunca assistiu a um filme e pensou: "Fala sério, isso não é possível"?
Em última análise, os filmes são feitos para entreter, e o que é divertido e interessante muitas vezes prevalece sobre o que é plausível.
Às vezes, porém, os produtores se dão ao trabalho de convocar uma assessoria especial para garantir que o filme acerte: consultores científicos. Para muitos desses professores e pesquisadores, a ficção científica é seu gênero preferido.
"A diferença entre ficção científica e fantasia é que a ficção científica tem uma base na ciência real", explica Mohamed Noor, biólogo da Universidade Duke que já foi consultor de duas temporadas da série Star Trek: Discovery. "[Nosso trabalho] é fazer com que a base na realidade seja a mais precisa possível."
Na prática, isso significa garantir que as ideias apresentadas no programa sejam consistentes com os princípios científicos ou que uma hipótese sobre o que pode ser possível no futuro também seja baseada na ciência atual.
Ficção baseada em ciência pura
Em um dos episódios de Discovery, os roteiristas estavam atrás de uma nova espécie alienígena com uma doença misteriosa que seria extremamente difícil de curar.
Noor sugeriu então o uso de doenças causadas por príons.
Essas doenças extremamente raras são causadas por mutações de proteínas no cérebro que, eventualmente, levam à morte. A encefalopatia espongiforme bovina – mais conhecida como doença da vaca louca ou EEB – é um exemplo real.
"Não existe uma cura definitiva [para a EEB] no momento", disse Noor à DW. "Então não é tão absurdo que, daqui a algumas centenas de anos, ainda não exista uma cura definitiva para ela. Sugeri príons como o conceito e, em seguida, diversas partes específicas relacionadas".
Mas os consultores nem sempre conseguem dobrar os roteiristas. Quando foi chamado para ajudar a conceituar uma espécie alienígena totalmente estranha à compreensão humana, ele sugeriu uma raça que use comunicação química, semelhante à forma como os cães se comunicam por meio de odores. A premissa de Noor exigiria que os personagens humanos liberassem substâncias químicas para interagir com os alienígenas.
Os roteiristas, porém, acabaram considerando o conceito muito complicado.
"No fim das contas, a história prevalece sobre a ciência", disse Noor. "Se alguém tiver que fazer algo que simplesmente não seja possível, eu o farei chegar o mais próximo do possível."
"Mas o resto são 'avanços científicos futuros que ainda não descobrimos'."
Os espectadores querem ciência de verdade na ficção?
Uma pesquisa de 2017 realizada pelo Pew Research Center constatou que a representação em tela "não faz diferença" para 72% dos espectadores de ficção científica para a sua compreensão da ciência.
Mas Noor disse estar convencido de que uma representação fiel ainda é importante para o público.
"As pessoas reagiram com entusiasmo a Perdido em Marte", aponta Noor ao lembrar do longa de 2015 dirigido por Ridley Scott. "Houve muita discussão online sobre como praticamente tudo o que foi mostrado naquele filme emocionante era realista. Interestelar é outro exemplo."
Em Interestelar, quem esteve por trás foi o físico ganhador do Prêmio Nobel Kip Thorne, que se baseou em suas próprias teorias para criar as representações de buracos negros do filme.
Já em Perdido em Marte, o crédito pelas representações realistas da vida solitária em uma estação no planeta vermelho – em parte responsáveis pela aclamação do público – , cabe a Jim Green, ex-chefe do escritório de operações de dados de ciência espacial da Nasa.
Ambos os filmes também foram sucessos de bilheteria, arrecadando centenas de milhões de dólares globalmente, além de várias indicações ao Oscar. Interestelar chegou a ganhar o Oscar de melhores efeitos visuais.
Para Noor, os diferentes graus de realismo oferecidos por esses filmes podem ser comparados com um bufê: cada um escolhe o que lhe agrada mais.
"Tenho certeza de que tem gente que não se importa muito [...] mas há aqueles que realmente apreciam e buscam realmente entender".
Qual é o valor da ficção científica na educação?
Segundo dados da Associação Internacional para a Avaliação do Desempenho Educacional, sediada na Holanda, os Estados Unidos continuam apresentando queda nas notas dos testes de ciências do ensino fundamental. Os alunos americanos do quarto ano se encontram agora nove pontos abaixo dos níveis de 1995, quando o estudo foi realizado pela primeira vez.
Ao mesmo tempo, adolescentes e adultos estão se afastando dos meios de comunicação tradicionais e migrando para as mídias sociais em busca de notícias e informações, que priorizam o entretenimento em detrimento do valor educacional.
Os consultores científicos, portanto, veem seu trabalho não apenas como uma paixão, mas também como um dever de ajudar a engajar o público por meio de qualquer meio.
"Há pessoas que vão se tornar ornitólogos ou cientistas de qualquer jeito. Isso é ótimo", disse Noor. "Nem todo mundo vai fazer isso. E se simplesmente aceitarmos o fato de que nem todo mundo vai fazer isso, de que outras maneiras podemos empolgá-los?"
Na Universidade Duke, ele incorporou Star Trek ao seu currículo, usando a série fictícia como exemplos para teorias da evolução e genética. Ele também leva essas palestras para convenções, na esperança de inspirar os fãs a explorar a ciência do mundo real.
A estratégia de inspirar decisões reais por meio da ficção já funcionou no passado: em uma entrevista à revista PC Mag, Green chegou a mencionar a série original de Star Trek como uma inspiração para seu interesse desde cedo pela ciência.
"Há uma razão pela qual chamamos isso de 'cultura pop' – 'pop' vem de 'popular'", diz Noor. "Se eu conseguir alavancar essa popularidade e entusiasmá-los pela ciência, acho que tudo está bem."
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Short teaser | Em algumas produções, cientistas ajudam diretores a criar cenas verossímeis, como buracos negros ou viagens espaciais. | ||
Author | Nicholas Counter | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-quanto-há-de-ciência-nos-filmes-de-ficção-científica/a-72264082?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | "Perdido em Marte" (2015) foi elogiado pela precisão científica, graças à consultoria de um ex-diretor da Nasa | ||
Image source | Giles Keyte/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 19 | |||
Id | 70798837 | ||
Date | 2025-04-15 | ||
Title | UE aprova novo tratamento contra o Alzheimer | ||
Short title | UE aprova novo tratamento contra o Alzheimer | ||
Teaser |
Embora cura ainda não esteja à vista, medicamentos como o Lecanemab prometem retardar o avanço da doença degenerativa, que afeta milhões ao redor do mundo.A Comissão Europeia aprovou nesta terça-feira (15/04) um medicamento para o tratamento do Alzheimer: o Lecanemab, um anticorpo monoclonal que promete retardar a evolução da doença em seu estágio inicial.
Trata-se do primeiro medicamento na Europa que trata a doença degenerativa, em vez dos sintomas dela.
A droga atua se ligando aos amiloides, reduzindo a formação de placas da proteína anormal no cérebro de pacientes – mas sem curar ou reverter danos causados pela doença.
Seu uso, porém, estará sujeito ao cumprimento de rigorosos critérios, e por isso estará disponível apenas para um grupo restrito de pacientes.
Além de ser autorizado apenas para tratamento de pequenas limitações cognitivas no estágio inicial da doença, o medicamento só poderá ser usado por quem tiver apenas uma ou nenhuma cópia do gene ApoE4. Isso porque esses pacientes apresentam uma probabilidade menor de sofrer efeitos colaterais graves, como inchaços e hemorragias no cérebro.
A droga – de uso quinzenal e intravenoso – ainda deve demorar alguns meses até chegar ao mercado, já que o fabricante foi obrigado a elaborar instruções detalhadas e treinar médicos. A farmacêutica também terá que criar um cadastro de observações.
Riscos de uso da droga foram reavaliados
A decisão da Comissão Europeia veio quatro meses depois de a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reavaliar o medicamento após barrá-lo inicialmente alegando alto risco de efeitos colaterais graves. A EMA concluiu que os benefícios advindos do tratamento com o Lecanemab superam os riscos para um grupo específico de pacientes, desde que sejam adotadas medidas para minimizar eventuais riscos.
Nos Estados Unidos, a droga – fabricada pela americana Biogen e a japonesa Eisai e comercializada sob o nome Leqembi – foi aprovada em 2023 pelo órgão regulador responsável, a FDA. Ela também já é comercializada no Japão e no Reino Unido.
Segundo reportagem publicada pelo jornal americano New York Times em outubro de 2024, o medicamento tem benefício limitado: desacelera o declínio cognitivo em pacientes por cerca de cinco meses.
Especialistas ouvidos pelo NYT também disseram temer que os riscos associados ao uso desse tipo de droga anti-amiloide ainda não sejam totalmente compreendidos.
Por que o tratamento contra o Alzheimer ainda patina?
Cerca de 55 milhões de pessoas no mundo sofrem alguma forma de demência, categoria que inclui o Alzheimer. Destas, dois terços vivem em países em desenvolvimento. Com o envelhecimento da população, espera-se que esse número chegue a 139 milhões até 2050, com crescimento particularmente significativo na China, Índia, América do Sul e na África Subsaariana.
O desenvolvimento de medicamentos eficazes é desafiador porque muitos processos cerebrais relacionados ao Alzheimer ainda não são totalmente compreendidos, incluindo a razão pela qual as células cerebrais morrem em pessoas com a doença.
Estudo aponta novos caminhos
Pessoas com Alzheimer têm um acúmulo de proteínas anormais no cérebro – conhecidas como amiloide e tau. Mas até recentemente não se sabia qual era a relação direta entre essas proteínas.
Pesquisadores belgas e britânicos acreditam ter desvendado esse mistério. Um estudo publicado em outubro de 2024 na revista científica Science aponta um elo direto entre proteínas anormais que se acumulam no cérebro e a necroptose, um tipo de morte celular.
A necroptose normalmente atua em processos de defesa imunológica ou inflamatórios, eliminando células indesejadas para permitir a formação de novas células.
Quando o fornecimento de nutrientes é interrompido, as células incham e suas membranas plasmáticas se rompem, o que leva à inflamação e morte dessas células.
Segundo o estudo, pacientes com Alzheimer têm células cerebrais inflamadas por causa do acúmulo de amiloides anormais entre os neurônios, que alteram sua química interna.
Esses amiloides formam "placas", enquanto a proteína tau se acumula em feixes fibrosos, ou "emaranhados". Isso leva as células cerebrais a produzir uma molécula chamada MEG3 – que, ao ser bloqueada pelos pesquisadores, salvou os neurônios da morte.
O experimento utilizou células cerebrais humanas transplantadas para o cérebro de camundongos, que haviam sido geneticamente modificados para produzir grandes quantidades de amiloide anormal.
"É a primeira vez que temos uma pista sobre como e por que os neurônios morrem na doença de Alzheimer. Faz 30, 40 anos que se especula muito, mas ninguém conseguiu identificar os mecanismos exatos", afirmou Bart De Strooper, um dos autores do estudo e professor do Dementia Research Institute do University College London.
Esperança para novos medicamentos
Os pesquisadores da KU Leuven, na Bélgica, e do Dementia Research Institute britânico esperam que essas descobertas possam abrir novos caminhos para o desenvolvimento de medicamentos contra o Alzheimer.
Essa esperança é reforçada pelos avanços recentes, como o medicamento Lecanemab, que atua especificamente contra a proteína amiloide. Se medicamentos futuros conseguirem bloquear a molécula MEG3, poderá ser possível interromper o processo de morte celular no cérebro.
Com informações de Alexander Freund.
ra (DW, Reuters, dpa, ots)
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Short teaser | Medicamento promete retardar avanço de doença degenerativa que afeta milhões ao redor do mundo. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ue-aprova-novo-tratamento-contra-o-alzheimer/a-70798837?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Desenvolvimento de medicamentos eficazes contra o Alzheimer é desafiador porque muitos processos cerebrais relacionados à doença ainda não são totalmente compreendidos | ||
Image source | Jens Wolf/dpa/picture-alliance | ||
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Item 20 | |||
Id | 72256126 | ||
Date | 2025-04-15 | ||
Title | Restringir a migração pode limitar produtividade, alerta FMI | ||
Short title | Restringir a migração pode limitar produtividade, alerta FMI | ||
Teaser |
Implementar políticas restritivas contra migrantes legais e refugiados pode aliviar sobrecarga da infraestrutura e dos serviços de um país, mas também desperdiçar oportunidade econômica no longo prazo, aponta o órgão.Restringir a migração pode aliviar a sobrecarga da infraestrutura e dos serviços de um país, mas também minar ganhos de produtividade e riqueza, desperdiçando uma "oportunidade valiosa" de impulsionar a economia no longo prazo, aponta estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado nesta terça-feira (15/04).
Ao mesmo tempo, argumentam os autores da análise, regras mais restritivas para migrantes e refugiados não tendem a impedir que eles deixem seus países; na prática, esses fluxos migratórios acabam sendo redirecionados para outras regiões do planeta.
"Implementar políticas restritivas de migração e refúgio pode, em alguns casos, interromper uma oportunidade valiosa de impulsionar a produtividade e o resultado potencial, ao mesmo tempo em que transfere o ônus da superlotação para outro lugar", afirma o estudo.
No curto e médio prazo, países anfitriões que adotam políticas de migração mais restritivas têm uma modesta redução do produto interno bruto (PIB), com um pequeno impulso à produção em outras regiões devido ao aumento da oferta de mão de obra.
Assim, políticas mais restritivas que diminuam em 20% os fluxos migratórios a um grupo de países podem aumentar a afluência a outras regiões em 10% e incrementar sua produção em 0,2% em cinco anos.
Mas os efeitos na produtividade podem ser maiores se as habilidades dos migrantes e refugiados complementarem as da população local, suprindo demandas ainda não atendidas.
A capacidade de absorção do país anfitrião também conta, sendo mais limitada em economias emergentes e em desenvolvimento. Porém, é neste grupo de países que, segundo o FMI, os benefícios de uma boa integração de migrantes podem ser "particularmente elevados".
O relatório do FMI defende a necessidade de medidas para aliviar a pressão sobre os serviços e infraestrutura dos países que recebem migrantes, priorizando o investimento público e o desenvolvimento do setor privado. Isso poderia, segundo a entidade, contribuir para que os benefícios da migração se "materializem mais cedo".
A cooperação internacional também é apontada como uma forma de ajudar a distribuir de maneira mais equitativa os custos de curto prazo associados à recepção de fluxos grandes e inesperados de migrantes.
Migrantes respondem por pelo menos 3,7% da população global
Segundo o FMI, a população mundial de migrantes legais e refugiados chegou, em 2024, a 304 milhões – 3,7% da população global e quase o dobro do que foi registrado em 1995. Dessas pessoas, uma em cada seis eram refugiadas ou requerentes de asilo.
O estudo também contraria a percepção de que nações ricas estariam inundadas de imigrantes, uma narrativa propagada por políticos anti-imigração: economias emergentes e em desenvolvimento abrigam três em cada quatro refugiados e absorvem cerca de 40% dos migrantes legais.
Que nações mais pobres estejam recebendo uma quantidade "desproporcional" de refugiados pode ser um problema, já que eles tendem a ir para a economia informal. "Fortalecer os incentivos para a inserção no trabalho formal — inclusive por meio de sistemas de impostos e [programas de] transferência [de renda] bem desenhados e melhor acesso a serviços públicos de saúde e educação — pode ajudar essas economias a colher os benefícios desses fluxos migratórios", aponta o relatório.
FMI destaca importância de migrantes em contexto de "perspectiva de crescimento anêmico"
O FMI destaca que os migrantes geralmente possuem maior mobilidade geográfica do que os nativos, o que lhes permite reagir com mais rapidez às mudanças no mercado. Além disso, eles costumam ser mais jovens – assim como os refugiados –, o que pode gerar ganhos econômicos que superam os custos fiscais.
Embora os refugiados frequentemente enfrentem dificuldades para se inserir no mercado de trabalho ou encontrar oportunidades compatíveis com suas qualificações, se forem devidamente integrados, os benefícios de suas contribuições são considerados maiores – especialmente no longo prazo.
O FMI ressalta a importância das políticas de migração e refúgio "no contexto de uma perspectiva de crescimento anêmico e de crescentes pressões demográficas".
A migração também afeta a inflação numa via de mão dupla: ao mesmo tempo em que a maior disponibilidade de trabalhadores contém a alta nos preços ao conter também a alta nos salários, o súbito crescimento populacional também pode estimular a demanda por bens e serviços, pressionando os preços no curto prazo. No longo prazo, porém, os benefícios se sobrepõem.
ra (EFE, ots)
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Short teaser | Medida pode aliviar sobrecarga da infraestrutura de um país, mas também desperdiçar chance econômica no longo prazo. | ||
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Image caption | Segundo os cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), número de migrantes legais e refugiados foi de 304 milhões em 2024, o equivalente a 3,7% da população global e quase o dobro do que era em 1995 | ||
Image source | Jan Woitas/dpa/picture alliance | ||
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Item 21 | |||
Id | 72255236 | ||
Date | 2025-04-15 | ||
Title | Euro se valoriza como porto seguro em meio a tumulto nos EUA | ||
Short title | Euro se valoriza como porto seguro em meio a tumulto nos EUA | ||
Teaser |
Investidores estão se afastando do dólar americano em resposta às políticas comerciais agressivas dos EUA e à renovada confiança na zona do euro. Mas valor elevado da moeda pode afetar exportações europeias.As políticas comerciais protecionistas do presidente dos EUA, Donald Trump, e a crescente confiança de investidores na economia europeia promoveu uma escalada do euro, que subiu mais de 10% em relação ao dólar americano desde janeiro. Nesta terça-feira (15/10), um euro valia 1,13 dólar.
A chamada zona do euro é um subgrupo que inclui 20 dos 27 países da União Europeia (UE) que adotam o euro como moeda oficial. O bloco monetário vem se recuperando de uma leve recessão vivida em 2023, e registrou crescimento de 0,8% no ano passado. A projeção para 2025 é de crescimento de 1,3%.
As iminentes tarifas de 20% dos EUA sobre as importações da UE – atualmente suspensas por 90 dias – ainda podem prejudicar essa perspectiva. As sobretaxas impostas por Washington sobre o aço, o alumínio e os veículos também afetam as previsões e já reduziram a expectativa de crescimento da Alemanha, por exemplo.
Mesmo assim, antecipando uma recuperação europeia e em meio à incerteza econômica nos EUA, muitos investidores estrangeiros têm preferido transferir ativos em dólar para ações e títulos europeus.
O movimento chamado de "fuga do dólar" acaba por valorizar o euro e subir seu preço. Na comparação com o real, por exemplo, a moeda saiu de R$ 6,13 em 1º de abril para R$ 6,66 10 dias depois.
Políticas monetárias divergentes
A força do euro também está sendo alimentada por políticas monetárias divergentes. Nos EUA, o Federal Reserve vem reduzindo as taxas de juros. Ao fazer isso, os empréstimos ficam mais baratos, e os investimentos em renda fixa entregam retornos menores.
Enquanto isso, o Banco Central Europeu (BCE) mantém uma postura mais cautelosa em resposta à inflação persistente em partes da zona do euro. Com o menor rendimento de ativos como os títulos do tesouro americano, investidores passam a preferir investimentos mais lucrativos e seguros. Para isso, vendem dólares, aumentam a oferta da moeda e baixam seu preço no mercado cambial.
Mesmo assim, grandes oscilações cambiais de 10% em poucos meses são relativamente raras. O euro está sendo visto cada vez mais como um contrapeso ao dólar durante a turbulência da economia americana. O medo de recessão nos EUA também facilita a fuga do dólar.
"Trump está minando a confiança na racionalidade da formulação de políticas dos EUA, nas perspectivas de longo prazo para o crescimento dos EUA e na sustentabilidade de suas finanças públicas", disse Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank, à DW.
Recentemente, o euro atingiu o maior valor em 17 meses em relação à libra esterlina e o maior valor em 11 anos em relação ao yuan da China
Como resultado, o dólar perde parte de seu valor, diz Schmieding. No entanto, ele acredita que o euro "não é uma alternativa real", pois os danos provocados pelas tarifas de Trump devem também pesar sobre o crescimento da zona do euro e exigir que o BCE responda com cortes nas taxas de juros.
A consultoria econômica Oxford Economics estima que, se Trump mantiver as tarifas de 20% sobre a UE, o crescimento da zona do euro poderá diminuir em até 0,3 ponto percentual neste ano e no próximo. A projeção pressupõe que Bruxelas responderia com contramedidas direcionadas aos produtos dos EUA, em vez de uma retaliação em grande escala.
Estímulo de 1 trilhão de euros da Alemanha aumenta a confiança
O superpacote de gastos com defesa, infraestrutura e proteção climática recém-aprovado na Alemanha abre espaço para um estímulo fiscal significativo de 1 trilhão de euros (R$ 6,6 trilhões) na economia alemã ao longo da próxima década.
O anúncio aumentou ainda mais a confiança dos investidores no euro, reforçando a recente recuperação da moeda.
Além disso, grande parte dos gastos alemães será financiada pelo aumento da dívida pública, o que aumenta os retornos pela compra de títulos alemães e atrai investidores estrangeiros. O Commerzbank, o segundo maior credor da Alemanha, prevê que o índice de endividamento do país poderá aumentar para 90% do produto interno bruto (PIB) na próxima década, o que tornaria os ativos em euros mais atraentes.
"Os empréstimos públicos adicionais tornarão o segmento de curto prazo do mercado de renda fixa alemão um pouco mais profundo e líquido e, portanto, mais atraente", disse Schmieding à DW.
No mês passado, o Goldman Sachs projetou que o superpacote aumentaria o PIB da Alemanha em um ponto percentual no próximo ano e impulsionaria o crescimento da zona do euro em 0,2% pontos percentuais.
"Um dos motivos é que esperamos que o crescimento mais forte da Alemanha se espalhe pelos países vizinhos", escreveu Sven Jari Stehn, economista-chefe europeu do Goldman Sachs Research. "Outro motivo é que agora esperamos que o restante da zona do euro aumente os gastos militares um pouco mais rapidamente em resposta ao anúncio da Alemanha."
Espera-se que a França, a Itália e a Espanha elevem seu investimento em segurança para perto de 3% do PIB nos próximos dois anos.
Títulos conjuntos poderiam ajudar o euro?
O ambicioso plano conjunto de ampliar os gastos militares na Europa tem impulsionado apelos para a emissão de títulos conjuntos de dívida, emitidos em colaboração pelos países da zona do euro, conhecidos como eurobonds.
"Os títulos conjuntos são um ponto forte que vale a pena impulsionar. A criação de um programa que substitua o plano de recuperação pós-pandemia arrecadaria dinheiro e incentivaria o mundo a negociar em euros", defendeu Rebecca Christie, ex-economista do BCE e membro sênior do think tank Bruegel.
Ela se refere ao pacote de estímulo de 750 bilhões de euros (R$ 4,9 trilhões) lançado após a pandemia da covid-19, mais da metade dele financiado por meio de títulos conjuntos.
A criação dos eurobonds é apoiada pelos estados do sul da UE, mas sofre oposição dos membros do norte da UE, incluindo a Alemanha.
Prós e contras de um euro mais forte
A atual força da moeda única é, por enquanto, uma vantagem para os consumidores e as empresas europeias que podem comprar produtos fabricados nos EUA a preços mais baixos.
O turismo da Europa para os EUA também ficou mais barato, enquanto as commodities cotadas em dólares, como petróleo e gás, estão mais acessíveis.
Christie observou que as companhias aéreas e os militares europeus também poderiam se beneficiar dos preços mais baratos de aeronaves, que também são comprados em dólares.
"Ao mesmo tempo, alguns exportadores europeus podem sentir os efeitos de seus produtos se tornarem um pouco mais caros para o resto do mundo", disse ela.
A Alemanha é a mais vulnerável a essa medida, uma vez que as exportações representaram cerca de metade de seu PIB no ano passado.
Uma moeda mais forte torna os carros, as máquinas e os produtos químicos alemães mais caros em um momento em que a maior economia da Europa já enfrenta os desafios do custo da energia, a fraca demanda global e a intensa concorrência da China.
Embora alguns traders de moeda prevejam que o euro possa se fortalecer ainda mais em relação ao dólar antes do final do ano, a maioria dos principais bancos de investimento avalia que o nível deve ficar próximo ao atual.
"Tudo está extremamente incerto no momento, e não está claro se o euro continuará subindo em relação ao dólar ou se estabilizará. No momento, ele ainda está dentro de sua faixa histórica", disse Christie, do Bruegel, à DW.
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Short teaser | Investidores se afastam do dólar em resposta às políticas agressivas dos EUA e à renovada confiança na zona do euro. | ||
Author | Nik Martin | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/euro-se-valoriza-como-porto-seguro-em-meio-a-tumulto-nos-eua/a-72255236?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Euro se recupera com maior confiança nas políticas fiscais do Banco Central Europeu | ||
Image source | Robert Schmiegelt/Geisler-Fotopress/picture-alliance | ||
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Item 22 | |||
Id | 72253765 | ||
Date | 2025-04-15 | ||
Title | Estudo refuta ideia de que "renda grátis" induza à preguiça | ||
Short title | Estudo refuta ideia de que "renda grátis" induza à preguiça | ||
Teaser |
Pesquisadores testaram na Alemanha, por três anos, o impacto da renda básica universal. Uma das principais descobertas: os beneficiários seguiram trabalhando, em média, 40 horas semanais. Uma renda básica universal – ou "dinheiro grátis" para todos, sem a necessidade de trabalhar – pode parecer um sonho irreal. Mas economistas têm refletido seriamente sobre as vantagens dessa ideia e desenvolvido modelos de como ela poderia funcionar. Figuras públicas que se declararam a favor do conceito vão de pensadores marxistas ao papa e ao bilionário Elon Musk. Isso é algo que a Alemanha vem discutindo desde a década de 70. De certa forma, o país já oferece uma forma de renda básica para quem está desempregado. Mas, diferentemente dos sistemas atuais de seguro-desemprego, a renda básica universal é concebida como um subsídio mensal pago sem quaisquer condições, independentemente da renda de outras fontes. Em outras palavras, as pessoas podem continuar trabalhando e ganhar mais dinheiro se quiserem. Mas será que alguém continuaria trabalhando?Essa é uma das grandes questões que pesquisadores alemães buscavam responder por meio de um estudo de longo prazo chamado Projeto-Piloto de Renda Básica – um dos estudos mais abrangentes do mundo para testar empiricamente o impacto da renda básica incondicional. Os resultados foram agora divulgados, junto com uma série de documentários que acompanha alguns dos participantes do estudo, Der grosse Traum: Geld für alle (O grande sonho: dinheiro para todos), dirigido por Alexander Kleider. Como o estudo foi feitoMais de 2 milhões de pessoas se inscreveram para participar do estudo, iniciado pela organização sem fins lucrativos alemã Mein Grundeinkommen (Minha renda básica) e conduzido por diferentes grupos de pesquisa, incluindo o Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW Berlin). Entre os candidatos, 122 indivíduos foram selecionados aleatoriamente para receber 1,2 mil euros (R$ 7,9 mil) por mês durante três anos, a partir de junho de 2021. Um grupo de controle de 1.580 pessoas respondeu às mesmas perguntas da pesquisa ao longo do estudo, a fim de comparar como a renda afeta a vida dessas pessoas. Para criar conjuntos de dados comparáveis, todas as pessoas no estudo tinham entre 21 e 40 anos, moravam sozinhas e tinham uma renda líquida mensal entre 1,1 mil euros e 2,6 mil euros. Utopia encontra "o alemão médio"A série documental acompanha cinco desses sortudos participantes, os pesquisadores que conduzem os estudos qualitativos e quantitativos, assim como os ativistas da associação Mein Grundeinkommen. A organização luta pela renda básica há mais de uma década, arrecadando doações por meio de financiamento coletivo e redistribuindo o dinheiro por meio de diferentes experimentos. O primeiro episódio da série abre com Michael Bohmeyer, que fundou o Mein Grundeinkommen em 2014. O diretor do documentário, Alexander Kleider, sentiu que o trabalho de Bohmeyer e o estudo de três anos eram material inspirador para um projeto de filme. "Sempre quis fazer um documentário sobre renda básica incondicional porque sou fascinado pelo tema e porque parecia que poderia ser uma resposta, uma espécie de terceira via entre o capitalismo e, digamos, o socialismo – uma abordagem completamente nova", disse Kleider. "Eu não queria fazer um filme de propaganda; eu buscava uma história pessoal. Em algum momento, conheci Michael Bohmeyer e descobri sobre o projeto-piloto, e então ficou evidente, é claro, que o que eles estavam fazendo é algo excepcional." Até 2014, Bohmeyer foi diretor-geral de uma startup de sucesso. Ao deixar o cargo, permaneceu como um dos coproprietários passivos, por meio da qual recebia uma distribuição mensal de lucros de mil euros. Bohmeyer via isso como sua "renda básica pessoal" e acreditava firmemente que todos também deveriam ter acesso a uma mesada, o que o levou a se envolver profundamente nessa causa. Enquanto isso, os cinco participantes retratados na série foram selecionados para representar diferentes tipos de personalidades e estilos de vida, sendo que dois deles moravam em Berlim e três em cidades alemãs menores. Embora esse não fosse o objetivo principal do documentário, a série destaca o contraste entre o idealismo que motiva ativistas como Bohmeyer e as prioridades consumistas de alguns dos participantes. Afinal, eles de repente tinham 1,2 mil euros adicionais por mês à disposição, e alguns deles rapidamente gastaram esse dinheiro como se fossem os vencedores de um concurso de televisão. Bohmeyer admite no documentário que "ficaria irritado" se o único resultado do experimento fosse que os participantes aumentam seu "consumo bruto, o que é irrefletido e, de alguma forma, serve como uma distração de outras questões". Os resultados do estudoUma das principais descobertas do experimento de três anos é que as pessoas que recebiam a renda básica continuaram trabalhando em média 40 horas por semana, desfazendo o mito de que a renda básica tornaria as pessoas preguiçosas. No entanto, um percentual significativamente maior de participantes do grupo de renda básica mudou de emprego em comparação com o grupo de controle. Saber que tinham um plano de reserva financeira provavelmente os ajudou a fazer a mudança. Também foi constatado que mais pessoas no grupo de renda básica começaram a estudar, às vezes paralelamente ao trabalho. As mudanças de emprego ocorreram principalmente nos primeiros 18 meses do período do estudo. Após o tempo em que receberam a renda básica, os beneficiários se descreveram como significativamente mais satisfeitos com sua situação de trabalho – independentemente de terem ou não mudado de ocupação. Os participantes que receberam a renda básica sentiram que seu nível de satisfação com a vida aumentou, um dos aspectos que a psicóloga Susann Fiedler, chefe do Instituto de Cognição e Comportamento, considerou particularmente revelador. Como a ideia poderia ser financiada?Em 1º de maio, o Mein Grundeinkommen selecionará aleatoriamente outro grupo de pessoas que receberão renda básica por um ano. A organização está investindo mais de 500 mil euros, arrecadados de diferentes contribuintes que acreditam na ideia. Mas como a renda básica incondicional poderia ser financiada na vida real? A proposta é vista como uma redistribuição de riqueza por meio de impostos. Nos cálculos dos ativistas, os que mais ganham na Alemanha – 10% da população – acabariam contribuindo com parte de sua renda para todos os outros. Eles estimam que 83% da população teria, assim, acesso a mais dinheiro. Os 7% restantes, de renda média, não seriam afetados pelo esquema de redistribuição. Em época de populismo crescente, os ativistas da renda básica acreditam que esta é uma forma de combater a insatisfação da população devido à desigualdade de renda. Como eles apontam, o estudo demonstra claramente que a renda básica não leva as pessoas a pararem de trabalhar. "O que vemos é que a renda básica não é um retiro, mas um trampolim social. A renda básica empodera as pessoas", disse Klara Simon, atual líder da associação Mein Grundeinkommen, na coletiva de imprensa que apresentou os resultados. "E aqueles que conhecem esses resultados e ainda não estão fazendo nada estão se opondo ao potencial desta sociedade; contra o poder inovador que se encontra adormecido dentro dela; contra a igualdade de oportunidades e contra uma democracia mais forte." |
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Short teaser | Pesquisa testou a renda básica universal na Alemanha. Beneficiários seguiram trabalhando, em média, 40 horas semanais. | ||
Author | Elizabeth Grenier | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/estudo-refuta-ideia-de-que-renda-grátis-induza-à-preguiça/a-72253765?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 23 | |||
Id | 72253194 | ||
Date | 2025-04-15 | ||
Title | Tomografia computadorizada aumenta risco de câncer | ||
Short title | Tomografia computadorizada aumenta risco de câncer | ||
Teaser |
Estudo mostra que exame poderá causar 5% dos casos de câncer registrados por ano nos EUA. Pesquisadores alertam para o emprego excessivo e desnecessário de tomografias computadorizadas.Pesquisadores americanos alertaram nesta segunda-feira (14/04) sobre os riscos de exames de tomografia computadorizada (TC) – um procedimento padrão para obter imagens detalhadas de estruturas internas do corpo para o diagnóstico de doenças. Segundo um estudo, se o uso excessivo desse método não diminuir, exames de TC poderão ser responsáveis por 5% dos casos de câncer registrados em um ano.
"A TC pode salvar vidas, mas seus riscos potenciais são frequentemente ignorados", afirmou Rebecca Smith-Bindman, radiologista da Universidade da Califórnia em São Francisco, que coordenou a pesquisa.
A TC combina uma série de radiografias para criar uma imagem tridimensional do paciente. O tomógrafo se parece com um grande anel, no qual o paciente deitado é posicionado. Ele então é movido para dentro desse anel, que faz centenas de raios-X da área analisada no corpo.
A tomografia computadorizada é diferente da ressonância magnética (RM), embora o equipamento tubular usado no exame seja parecido. Diferente da TC, os scanners de RM usam ímãs magnéticos potentes para enviar ondas de rádio pelo corpo para criar as imagens. Ambos permitem a produção de imagens altamente detalhadas, porém, a exposição ao raio X na TC traz riscos.
Um em cada 20 casos
Para o alerta, os pesquisadores modelaram a probabilidade do desenvolvimento de câncer em 61,5 milhões de pacientes que realizaram uma tomografia computadorizada nos Estados Unidos. O estudo usou como base os números de exames de tomografia computadorizada realizados atualmente e as taxas de câncer.
O estudo publicado nesta segunda-feira estimou que a exposição à radiação da TC pode causar no futuro cerca de 103 mil casos de câncer entre o grupo estudado. Isso equivale a 5% do total de novos diagnósticos de câncer por ano nos Estados Unidos.
A TC está sendo cada vez mais utilizada para diagnósticos. Desde 2007, houve um aumento de 30% na realização desse tipo de exame nos EUA. Esse exame é mais frequente entre pacientes na faixa etária de 60 a 69 anos.
O estudo também revelou que tomografias computadorizadas de abdômen e pelve tinham a maior probabilidade de causar câncer em adultos, já entre as crianças os riscos eram maiores em exames de crânio. Ainda de acordo com pesquisa, crianças que fizeram uma TC antes de completar um ano apresentaram um risco dez vezes maior de desenvolver um câncer do que em qualquer outra faixa etária.
"Nosso estudo coloca a TC no mesmo nível de outros fatores de risco, como consumo de álcool e excesso de peso", salienta Smith-Bindman. "Reduzir o número de tomografias computadorizadas pode salvar vidas."
Uso excessivo
O estudo se baseou em pacientes do sistema de saúde americano. Os pesquisadores apontaram nesse caso o uso excessivo e desnecessário de exames de TC, como para o diagnóstico de infecções respiratórias e dores de cabeça. Smith-Bindman também destacou que em alguns casos as doses de radiação para a realização do exame também foram excessivas.
Outros profissionais de saúde concordam que o uso indevido de TCs pode colocar pacientes em risco. "É fato bem estabelecido que a radiação causa câncer", afirmou Pradip Deb, especialista em segurança radiológica da Universidade RMIT, na Austrália, que não participou do estudo.
Deb pontuou que, embora seja conhecido que a radiação ionizante pode danificar o DNA, ainda não está claro como isso funciona. "Nem todos os expostos à radiação desenvolverão câncer", acrescentou.
Embora os raios X estejam no espectro perigoso, eles são também uma ferramenta fundamental na medicina e podem fornecer informações vitais sobre as condições de um paciente. "Esse estudo estabeleceu claramente a importância de limitar a dose de radiação sempre que possível e evitar TCs desnecessárias", reforçou Deb.
Por que raios X são prejudiciais
O espectro eletromagnético é divido nas frequências de radiação dos diferentes comprimentos de onda. No centro, está o espectro visível, que inclui os comprimentos de ondas do vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e violeta.
Há ainda as faixas de baixa frequência, que incluem ondas de rádio, micro-ondas e infravermelho, e as de alta frequência, que incluem radiação ultravioleta (UV), raios X e raios gama. Essa radiação de alta frequência, conhecida como radiação ionizante, representa um risco à saúde.
A radiação ionizante pode remover elétrons de um átomo. Isso significa que ela tem energia suficiente para danificar moléculas. Em humanos, esses danos podem causar uma série de problemas, incluindo o câncer.
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Short teaser | Estudo mostra que exame poderá causar 5% dos casos de câncer registrados por ano nos EUA. | ||
Author | Matthew Ward Agius | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/tomografia-computadorizada-aumenta-risco-de-câncer/a-72253194?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Tomografia computadorizada combina uma série de radiografias para criar uma imagem tridimensional do paciente | ||
Image source | picture-alliance/dpa/M. Schutt | ||
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Item 24 | |||
Id | 72251479 | ||
Date | 2025-04-15 | ||
Title | Fritz Haarmann: os crimes do "Jack, o Estripador alemão" | ||
Short title | Fritz Haarmann: os crimes do "Jack, o Estripador alemão" | ||
Teaser |
Em 15 de abril de 1925 era guilhotinado na Alemanha o serial killer conhecido como o "Vampiro de Hanôver", que matou a dentadas no pescoço pelo menos 24 – possivelmente mais de 50 – rapazes entre 10 e 22 anos.Friedel Rohte tinha acabado de fazer 17 anos quando desapareceu em Hanôver, em setembro de 1918. Antes, fora visto num café com um senhor distinto, chamado Fritz Haarmann. Ele era conhecido da polícia, pois trabalhava para ela como informante.
Ao chegar em seu apartamento para interrogá-lo, os agentes o surpreendem na cama com um garoto de 13 anos seminu. Mas não encontraram o desaparecido. "Deviam ter procurado direito, porque o crânio de Friedel Rohte estava num nicho, escondido debaixo de revistas e livros", conta o detetive aposentado Jürgen Veith.
Em seus Mord(s)-Touren (Tours assassinos) Veith percorre com turistas os rastros do chamado "vampiro de Hanôver", que confessou o homicídio de 24 rapazes (ou 27, segundo outras fontes). "Essas foram as mortes de que ele se lembrava. Na verdade, devem ter sido mais de 50", explica Veith, sentenciando: "Haarmann foi, em princípio, o Jack, o Estripador alemão."
Fritz Haarmann nasceu em Hanôver em 25 de outubro de 1879, o caçula de seis irmãos. "Ele teve uma infância terrível. Parece que o pai era dependente do álcool – um beberrão, como se costumava dizer – e também o espancava muito. E Fritz provavelmente sofreu abuso sexual por parte de um irmão mais velho."
Isso, em si, não faz de alguém um maníaco assassino, observa a psicóloga criminal Lydia Benecke: "Claro que a maioria dos que são expostos a fatores tão adversos assim no início da vida não comete crimes graves."
Porém estudos científicos demonstraram que, entre um pequeno grupo, maus tratos do gênero podem desencadear tendências a cometer delitos graves, culminando até em assassinatos em série, na forma mais extrema. "Uma falácia fundamental é achar que se note quando um ser humano comete crimes graves. Na maioria dos casos, não é assim."
A observação se aplica também a Haarmann: no dia a dia, ele parecia confiável, sempre bem-vestido, amigável e discreto. Impressionava positivamente também a polícia, que até o contrataria como alcaguete, para fornecer informações a respeito do bairro de prostituição.
Assassino – talvez vendedor de carne humana e canibal
Seus crimes coincidem com os primeiros anos após o fim da Primeira Guerra Mundial. Desempregados enchem as ruas, a comida é escassa, tanto o mercado negro quanto a prostituição prosperam. No grande saguão da central ferroviária, Haarmann negocia com roupas masculinas, carne e outros artigos – e espreita suas vítimas.
"Ele tinha um bom faro para rapazes que, na má situação econômica dos anos 1920, vagavam mais ou menos sem destino e desamparados", conta Veith. "'Ah, vem, tu estás certamente com fome. Estás parecendo cansado. Podes dormir na minha casa e também ganhar alguma coisa para comer': era assim que ele provavelmente atraía as suas vítimas."
Os jovens que seguiam Haarmann até a mansarda no bairro pobre de Mitte tinham entre 10 e 22 anos de idade. Muitos haviam fugido de casa e, na confusão do pós-guerra, inicialmente ninguém sentia sua falta. Os vizinhos não se importavam com os barulhos assustadores que vinham do apartamento: Haarmann matava rasgando a garganta das vítimas com os dentes. Como deporia mais tarde, o ato o excitava sexualmente.
No entanto, o transtorno de eliminar os cadáveres lhe era um fardo: "Eu sempre fiz esse trabalho com horror, mas a minha paixão era mais forte do que o horror do esquartejamento."
"Supõe-se que Haarmann vendesse a carne das suas vítimas no então prosperante mercado negro. O comércio ilegal de carne era rotina, então vender podia ser tanto um método pragmático de se livrar dos pedaços do cadáver, e ao mesmo tempo se enriquecer", relata Benecke. "Permanece em aberto se realmente vendia a carne humana, ou se até a comia, ele mesmo."
Confissão arrancada por métodos pouco ortodoxos
Certo está que Haarmann jogou muitos ossos de suas vítimas no rio Leine, e esse método acaba o condenando: brincando nas margens, crianças encontram alguns crânios. No começo se pensa tratar-se dos restos mortais de afogados. Porém o aparecimento de cada vez mais ossos – por fim, cerca de 500 – coloca a polícia em alerta.
Os cidadãos da cidade na Baixa Saxônia têm medo: quem é o assassino em meio a eles? O "Carniceiro", "Lobisomem", o "Vampiro de Hanôver" faz manchetes pelo mundo. Pouco a pouco, os indícios levam até Fritz Haarmann, que em junho de 1924 é preso.
Devido aos bons serviços como informante, até então a polícia fizera vista grossa por seus pequenos delitos. Mas, assassino em série? Os agentes estão céticos. Até que, numa revista em seu apartamento, encontram marcas de sangue e peças de roupa ensanguentadas.
Como de início ele se recusa a depor, a polícia apela para o que Veith denomina "métodos escusos", colocando, num canto da cela do suspeito, caveiras iluminadas, com as órbitas cobertas de papel vermelho, ou um saco cheio de ossos humanos.
A mensagem era que, se não confessasse, os mortos viriam em busca dele. E ele acaba confessando: seus "garotinhos de brinquedo" tinham sido sempre tão carinhosos com ele, gostaram de participar. Ele os matara num "delírio sexual".
O processo é um evento midiático sensacionalista. Haarmann ganha até uma paródia de uma canção da moda: Warte, warte noch ein Weilchen (Espera, espera mais um pouquinho – que a felicidade vem para ti) vira "Espera, espera mais um pouquinho, que o Haarmann logo vem com o cutelinho e faz patê de ti".
"Meu monumento vai ser atração daqui a mil anos"
O julgamento começa em dezembro de 1924. "Nos dias de hoje, um processo tão gigantesco não seria concluído em prazo tão curto", comenta Veith. Já na época, houve quem questionasse sua legitimidade legal: "Poucas vezes um processo tão significativo foi realizado de modo tão incompetente, mesquinho e equivocado", argumentava o jornalista Theodor Lessing: a sanidade mental de Haarmann, por exemplo, sequer fora devidamente examinada.
Ainda assim, o assassino é condenado à morte e executado em 15 de abril de 1925, com o uso de uma guilhotina, metódo usado à época. Antes, desejara que se erigisse um monumento em sua homenagem: "Vai ser uma atração turística, mesmo daqui a mil anos. Todo mundo vai vir para admirar", afirmou ao psiquiatra que o examinou na prisão.
A história do maníaco homicida foi levada várias vezes aos palcos e às telas. Haarmann, junto com outros serial killers alemães do período, acabou servindo de ispiração para o filme M, o Vampiro de Düsseldorf (1931), de Fritz Lang. Mais diretamente biográfico é O assassino (1995), de Romuald Karmakar, indicado para o Oscar.
Peças de radioteatro, um musical, vários livros, uma história em quadrinhos, até mesmo um – bastante polêmico – jogo de tabuleiro assassino, se inspiraram do "Carniceiro de Hanôver". A ele foram também dedicadas canções, como Most evil, de 2023, pela banda japonesa Church of Misery, de doom metal.
O escultor vienense Alfred Hrdlicka (1928-2009) dedicou-lhe até mesmo mais de uma estátua – como o assassino desejara. Enfim: Fritz Haarmann queria fama – e conseguiu.
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Short teaser | Em 1925 era guilhotinado na Alemanha o serial killer que matou a dentadas no pescoço mais de 50 rapazes. | ||
Author | Suzanne Cords | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/fritz-haarmann-os-crimes-do-jack-o-estripador-alemão/a-72251479?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Distinto, simpático, alcaguete, maníaco assassino: Fritz Haarmann | ||
Image source | dpa/picture alliance | ||
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Item 25 | |||
Id | 72247804 | ||
Date | 2025-04-15 | ||
Title | "Volta para sua terra": o cotidiano de intolerância contra brasileiros em Portugal | ||
Short title | O cotidiano de xenofobia contra brasileiros em Portugal | ||
Teaser |
Cerca de 360 mil brasileiros vivem no país europeu. Queixas de xenofobia cresceram 142% nos últimos anos. Herança colonial reforça intolerância, que se soma ao preconceito linguístico, racismo e misoginia."Só descobri o que é ser uma pessoa racializada aqui", afirma a brasileira Priscila Valadão, que mora há 10 anos em Portugal. "Já fui chamada de macaca, puta, falam que a minha certidão (de naturalização) é de plástico."
Ela relata ainda que, enquanto caminhava na rua, um homem português, ao notar que ela falava com sotaque brasileiro, gritou: "volta para sua terra" e a agrediu com uma bengala. "Vivi, trabalhei e criei meus filhos aqui, mas não me sinto em casa, percebi que nunca vou ter direito a ser como os portugueses."
Um balanço da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial aponta que em 2021, foram registradas 109 queixas de xenofobia contra brasileiros em Portugal, uma alta de 142% na comparação com 2018, quando houve 45 denúncias.
Os casos vão desde situações veladas como dificuldade em alugar um apartamento, conseguir trabalho ou acessar serviços de saúde, por exemplo, a pedidos para falar em inglês ao invés do português brasileiro, até ofensas explícitas e agressões.
Alta na imigração alimenta tensões
O fluxo migratório em Portugal disparou a partir de 2015, quando o total de estrangeiros passou de 383,7 mil para mais de 1 milhão em 2023. Assim os imigrantes passaram a compor cerca de 10% da população do país. Desses, 360 mil são brasileiros, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, e representam a principal comunidade estrangeira no país.
Apesar da alta, a presença de brasileiros é vista como indesejada por uma fatia considerável da população portuguesa. Segundo uma pesquisa da Fundação Francisco Manual dos Santos, 38% dos portugueses consideram que os brasileiros trazem desvantagens ao país e 51% afirmaram que a entrada de desses imigrantes tem que diminuir.
Além disso, o número de brasileiros barrados ao tentar embarcar para Portugal subiu 700% entre 2023 e 2024 – passando de 179 para 1.470 pessoas, conforme aponta o Relatório Anual de Segurança Interna.
"De uma forma em geral, a sociedade portuguesa está mais intolerante face aos imigrantes em geral e aos imigrantes brasileiros em particular", pondera a pesquisadora do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (Ispa), Mariana Machado. "Eu penso que possa ser uma percepção de ameaça que existe por parte dos portugueses a ver os brasileiros como concorrentes diretos por empregos qualificados e por benefícios sociais."
Relação metrópole e colônia
A herança colonial está na raiz da discriminação de que os brasileiros são alvo atualmente em Portugal, argumenta Mariana Machado. "Existe no Brasil e em Portugal um mito 'lusotropicalista' que vê a miscigenação entre portugueses, indígenas e pessoas negras como uma prova de uma identidade naturalmente integradora dos portugueses. Mas é justamente isso que invisibiliza as violações sistemáticas de escravizados e depois das mulheres brasileiras livres." Uma das faces dessa discriminação é o gênero, de modo que as mulheres são associadas erroneamente à prostituição e a uma hipersexualização.
Entre a população negra, as discriminações se acumulam. "Os fenômenos são diferentes, porque uma pessoa branca pode sofrer xenofobia, enquanto uma pessoa negra também é alvo de racismo. Há uma perpetuação da hierarquia racial", afirma a presidente da Casa do Brasil em Lisboa, Ana Paula Costa.
Ao negociar um período de férias no bar em que trabalhava em Lisboa, a pedagoga Larissa dos Santos foi assediada pela supervisora. "Ela me disse que eu deveria me portar igual uma escravinha. Depois, disse que eu era muito petulante, que se pudesse me amarraria em um tronco e me daria chibatadas para aprender a me portar. Percebo que situações como essa, flagrantemente preconceituosas, não são consideradas como racismo. Depois disso, ela fez da minha vida um inferno, e pedi demissão."
Além da origem e da cor da pele, o uso do idioma é mais uma fonte de discriminação. Para tentar passar despercebida, a socióloga Jéssica Ribeiro acabou adotando uma forma híbrida de falar o idioma. "A pronúncia sai automática, não forço para fazer. Acho que é uma defesa inconsciente para evitar ser corrigida no uso das palavras. Já me disseram que falava errado, e mesmo com palavras conhecidas, não querem compreender. Isso aconteceu tantas vezes que me deixou insegura. É como se a nossa língua fosse inferior", relata.
Avanço da extrema direita
Assim como em outros países europeus, em Portugal, o discurso anti-imigração recrudesceu com o avanço eleitoral de partidos de extrema direita, como o Chega!. Nas eleições legislativas de março do ano passado, a legenda elegeu 48 parlamentares, e se tornou a terceira maior força política do Parlamento, quadruplicando o número de representantes eleitos em relação a 2022.
"Importaram uma retórica política que não existia aqui", diz Mariana Machado. "Usam os migrantes como bodes expiatórios e sobrevalorizam os estereótipos ligados à criminalidade, à hipersexualização." O Chega! tem como principal bandeira propostas que pretendem restringir a imigração.
Em 2020, o dirigente do partido, André Ventura, teve uma fala xenofóbica repudiada por todas as outras siglas da Assembleia da República. Em uma publicação no Facebook, ele sugeriu que a deputada Joacine Katar Moreira, do Livre, fosse deportada para Guiné-Bissau depois que ela defendeu a devolução do patrimônio cultural dos museus portugueses aos países de origem.
Denúncias de xenofobia
No entanto, sanções por racismo e xenofobia são raras no país. A lei n.º 93/2017, que trata do combate a esses casos prevê o pagamento de uma indenização quando há condenações. No Brasil, a legislação é mais dura. O crime de racismo, assim como o de injúria racial, é inafiançável, e além da multa, também prevê prisão de 2 a 5 anos.
As denúncias por xenofobia e racismo em Portugal podem ser registradas no e-mail da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (cicdr@acm.gov.pt). Havia um formulário virtual para coletar as queixas, que está fora do ar.
Carolina Vieira, fundadora da Plataforma Geni – que orienta as vítimas de xenofobia sobre onde encontrar apoio –, incentiva os brasileiros a registrarem as denúncias. "Assim geramos dados estatísticos e podemos pressionar as autoridades por sanções."
Carolina reconhece que a impunidade dificulta as denúncias. "Eu mesma já fiz três queixas e até hoje não fui chamada para depor em nenhuma delas." O levantamento da Casa do Brasil de Lisboa aponta que 76% dos brasileiros alvos de discurso de ódio em Portugal não prestaram queixa. "Os principais motivos destacados pelas pessoas migrantes inquiridas para não denunciar foram medo, sensação de impotência, sentimento de impunidade, custo financeiro e falta de acolhimento", descreve o documento.
Reação à impunidade
Movimentos sociais de combate ao racismo e a xenofobia em Portugal consideram que a legislação para punir os agressores é frouxa. Por isso, diversos grupos articularam um abaixo-assinado para uma Iniciativa Legislativa Cidadã. O objetivo da proposta é alterar o Código Penal para que, em vez de serem considerados apenas ilícitos administrativos, a discriminação racial e de origem passe a ser crime no país.
"É imprescindível uma reformulação jurídica que enquadre estas condutas como crimes, com as devidas consequências penais, para assim garantir a proteção efetiva dos direitos fundamentais e reforçar o compromisso do Estado com a justiça e a igualdade", diz o documento.
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Short teaser | Cerca de 360 mil brasileiros vivem no país. Queixas de xenofobia crescem 142% nos últimos anos. | ||
Author | Jéssica Moura, Maurício Cancilieri, Thiago Melo | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/volta-para-sua-terra-o-cotidiano-de-intolerância-contra-brasileiros-em-portugal/a-72247804?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Vista de Lisboa. Imigrantes passaram a compor cerca de 10% da população de Portugal nos últimos anos. | ||
Image source | Maurício Cancilieri/DW | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&image=https://static.dw.com/image/72248035_354.jpg&title=%22Volta%20para%20sua%20terra%22%3A%20o%20cotidiano%20de%20intoler%C3%A2ncia%20contra%20brasileiros%20em%20Portugal |
Item 26 | |||
Id | 72237673 | ||
Date | 2025-04-14 | ||
Title | Por que a guerra comercial derrubou os preços do petróleo? | ||
Short title | Por que a guerra comercial derrubou os preços do petróleo? | ||
Teaser |
Tarifaço de Trump gera incertezas sobre economia global. Aumento da oferta da Opep+ amplifica choque e leva commodity ao menor nível em 4 anos – com consequências para países produtores.A sequência de anúncios sobre tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, jogou os mercados financeiros em uma montanha-russa nos últimos dias, mas uma commodity em particular emergiu como uma das principais vítimas: o petróleo.
O preço do contrato Brent, usado como referência inclusive pela Petrobras, já vinha em queda desde a volta de Trump à Casa Branca, em janeiro. No entanto, após o republicano anunciar generalizadas tarifas recíprocas na semana passada, o ativo despencou ao menor nível em quatro anos.
O barril do Brent agora tem operado perto da faixa dos US$ 60, nos patamares mais baixos desde o choque causado pela pandemia de covid-19, no começo de 2020.
A guerra tarifária entre EUA e China pressiona as expectativas de crescimento econômico global, enquanto a incerteza geral sobre o comércio pesa fortemente no preço do petróleo.
Mais do que as tarifas por si só, investidores temem o quadro contínuo de dúvidas sobre a retaliação dos países envolvidos, avalia Carole Nakhle, CEO da consultoria de energia Crystol Energy.
"Acrescente-se o fato de que isso acontece enquanto a demanda por petróleo já não estava crescendo enquanto a oferta é abundante e o resultado são os níveis de preços que estamos observando agora", explica.
Choque da Opep+
Para agravar o cenário, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) provocou mais um grande choque nos mercados no dia seguinte ao anúncio de Trump. O grupo formado por 12 membros do cartel mais outros 10 grandes exportadores informou que aumentaria a oferta da commodity significativamente a partir de maio.
Sob a liderança de Arábia Saudita e Rússia, a Opep+ vinha limitando a produção petrolífera na última década para manter os preços elevados. A expectativa era pela manutenção dessa postura.
Mas analistas acreditam que a mudança repentina é uma tentativa de controlar países como Cazaquistão e Iraque, que desrespeitaram o acordo aos produzir mais do que o combinado.
Essas nações "esgotaram a paciência dos membros mais disciplinados", que estavam "carregando o fardo dos cortes" na oferta há algum tempo, afirma Nakhle.
O Cazaquistão, por exemplo, irritou a Arábia Saudita ao ampliar a produção no campo de petróleo de Tengiz, no noroeste do país. Já o Iraque reduziu a oferta recentemente, mas não prometeu compensar o descumprimento de suas cotas nos últimos anos.
Para Nakhle, a aliança está preparada para um ambiente de longo prazo de preços mais baixos. "A Opep+ acredita que seria melhor para alguns membros, especialmente aqueles que investiram pesadamente na expansão de sua capacidade de produção, protegerem sua participação de mercado", ressalta.
Nakhle acrescenta que a organização pode estar se posicionando para uma redução da oferta de membros como Rússia, Venezuela e Irã por conta de fatores geopolíticos, como sanções e uma possível operação militar contra os iranianos. "Então, o mercado pode absorver os barris adicionais sem sucumbir os preços", diz.
Preocupação no Kremlin
Trump tem promovido a queda nas cotações do petróleo como um reflexo do sucesso de suas políticas, essencial para o alívio no valor da gasolina nas bombas. "Temos tudo [os preços] em níveis que ninguém nunca achou ser possível”, escreveu na rede social Truth Social.
Vários analistas, porém, veem o movimento como um sinal de preocupação sobre o estado da economia mundial. O banco de investimentos americano Goldman Sachs prevê que o Brent pode cair abaixo de US$ 40 por barril até o final de 2026 em um "cenário extremo”.
Para a Rússia, em particular, o quadro teria profundas consequências políticas e econômicas. O país conseguiu resistir a sanções do Ocidente desde o começo da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022, em parte, por conta da escalada dos preços do petróleo, que impulsiona as receitas domésticas.
Na visão de especialistas, a reversão dessa tendência teria impacto considerável nos planos orçamentários e de gastos do Kremlin, o que poderia levá-lo a repensar a campanha militar em andamento.
As despesas com defesa mais que triplicaram desde 2021 e devem atingir um recorde de 13,5 trilhões de rublos (R$ 960 bilhões) no orçamento de 2025, com um aumento de 25%.
De acordo com dados compilados pela agência de notícias Reuters, o preço do petróleo dos Urais, referência para a Rússia, caiu a US$ 53 no final da semana passada.
Chris Weafer, consultor de investimentos que vive e trabalha na Rússia há mais de 25 anos, disse à DW que a eventual persistência dessa queda forçará o Banco Central russo a "enfraquecer significativamente o rublo" e possivelmente também obrigará o governo a reduzir seus planos de gastos.
Weafer reconhece que petróleo não representa mais a mesma parcela das receitas russas que antes, caindo de cerca de 50% há uma década para cerca de 30% hoje. Mesmo assim, uma baixa sustentada nos preços teria um grande impacto em todos os aspectos da política do Kremlin, afirma.
O governo russo não teria "dinheiro sobrando” se essas receitas desabassem mais. "A posição financeira da Rússia parecerá muito menos segura, talvez dentro de um ano, e isso claramente poderia minar a capacidade da Rússia de negociar um acordo em relação à Ucrânia", acrescentou.
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Short teaser | Tarifaço de Trump e aumento da oferta da Opep+ levaram commodity ao menor nível em quatro anos. | ||
Author | Arthur Sullivan | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/por-que-a-guerra-comercial-derrubou-os-preços-do-petróleo/a-72237673?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Petróleo caiu ao menor nível desde o início da pandemia de covid-19 | ||
Image source | Feng Renhua/Imaginechina/dpa/picture alliance | ||
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Item 27 | |||
Id | 72242630 | ||
Date | 2025-04-14 | ||
Title | Poluição da água com ansiolítico torna peixes mais destemidos | ||
Short title | Água contaminada com ansiolítico deixa salmão mais destemido | ||
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Estudo sueco descobriu que traços do medicamento clobazam, um ansiolítico comum que tem poluído cursos d’água pelo mundo, alteram a forma como o salmão selvagem do Atlântico migra.Usado para tratar a ansiedade, um medicamento comum que vem poluindo os cursos d'água mundo afora parece agora estar influenciando o comportamento migratório do salmão selvagem do Atlântico, concluiu um estudo realizado na Suécia.
Publicado na revista Science, o estudo descobriu que o salmão selvagem se tornou menos avesso a riscos quando exposto ao medicamento psicoativo clobazam (nomes comerciais: Frisium, Urbanil). Isso, por sua vez, teria mudado forma como os peixes migram.
"[Os salmões expostos ao clobazam] tiveram maior probabilidade de completar sua migração para o mar e passaram por barreiras artificiais, como represas hidrelétricas, mais rápido do que os peixes não expostos", disse Jack Brand, da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas em Uppsala e principal autor do estudo.
"Embora um aumento no sucesso da migração possa inicialmente parecer algo positivo, qualquer disrupção nos comportamentos naturais pode ter consequências negativas que se alastram pelos ecossistemas", ponderou Brand à DW.
Pesquisas em rios do mundo inteiro encontraram contaminação por fármacos em cursos d'água de todos os continentes da Terra – até mesmo na Antártida. Quase mil medicamentos ativos distintos foram detectados no meio ambiente, prejudicando desde a biodiversidade e o funcionamento dos ecossistemas até a saúde pública.
Como a poluição por medicamentos altera a migração do salmão
Para estudar os efeitos do clobazam no comportamento do salmão, os pesquisadores conduziram amplos estudos de campo e experimentos controlados em laboratório.
Em experimentos de campo, os pesquisadores implantaram um dispositivo de rastreamento telemétrico em 279 salmões selvagens, juntamente com um implante que liberava lentamente pequenas quantidades de clobazam.
Os salmões tiveram seu trajeto rastreado enquanto migravam pelo Rio Dal, na Suécia, passando por duas represas hidrelétricas e, em seguida, para o Mar Báltico.
Os pesquisadores descobriram que um grupo de controle, que não havia sido exposto ao clobazam, atravessou as barragens hidrelétricas mais lentamente do que os peixes expostos à droga.
"Suspeitamos que essas mudanças observadas na migração podem resultar de mudanças induzidas pela droga na dinâmica social e no aumento do comportamento de risco – efeitos que podem ser explicados pela natureza ansiolítica da droga", disse Brand.
Como o clobazam altera o comportamento do salmão
Experimentos de laboratório também descobriram que o clobazam alterou a maneira como o salmão se movimentava em cardumes: eles criaram cardumes menos compactos, principalmente na presença de predadores, o que poderia aumentar os riscos que eles enfrentavam na natureza.
"Alterações no ritmo da migração podem fazer com que os peixes cheguem ao mar em condições abaixo do ideal ou aumentar sua exposição a predadores e outros perigos. Com o tempo, essas mudanças sutis podem alterar a dinâmica populacional e até mesmo perturbar o equilíbrio do ecossistema", alerta Brand.
O estudo não revelou quaisquer efeitos a longo prazo da poluição farmacêutica em cursos d'água sobre as populações de salmão.
"Os pesquisadores acompanharam os peixes durante o período de migração, que foi de aproximadamente 10 dias", disse Josefin Sundin, ecologista do Instituto de Pesquisa de Água Doce em Drottningholm, Suécia, e que não teve participação no estudo.
"Não sabemos se ou como os salmões jovens foram afetados durante sua vida no Mar Báltico, ou se haveria efeitos quando eles retornassem ao rio quando adultos para acasalar", disse Sundin à DW.
Como as drogas poluem cursos d'água em outras partes do mundo
O estudo é o mais recente a destacar o impacto ecológico da poluição farmacêutica.
Pesquisadores já investigaram os efeitos de mais de 400 compostos farmacêuticos distintos em quase 200 espécies diferentes de animais aquáticos.
Os fármacos entram no meio ambiente por meio de águas residuais tratadas ou não tratadas e de efluentes de gado ou veterinários. Dessa forma, acabam se acumulando nos corpos e cérebros de animais selvagens.
Em 2006, experimentos realizados no Canadá revelaram que populações de peixes estavam sendo expostas a um estrogênio sintético comum, usado em pílulas anticoncepcionais. O acúmulo do hormônio em peixes selvagens levou à feminização dos machos e ao quase colapso das populações locais de peixes.
"Muitos estudos, mas não todos, constataram que o medicamento testado teve efeito no comportamento animal", disse Sundin.
Dada a ampla presença de substâncias farmacêuticas em cursos d'água em todo o mundo, Brand suspeita que muitas espécies diferentes possam estar vulneráveis aos seus efeitos. Estudos mostram que os fármacos podem circular por toda a cadeia alimentar.
"Isso pode afetar não apenas a vida aquática, mas também os animais terrestres que se alimentam de insetos ou peixes de cursos d'água contaminados, mostrando o quão abrangente esses efeitos podem ser", disse Brand.
Como reduzir a poluição farmacêutica
Os métodos convencionais de tratamento de água nem sempre são eficazes na remoção de produtos farmacêuticos, o que explica, em parte, o vazamento de vestígios desses compostos em águas naturais.
Alguns métodos avançados de tratamento de águas residuais, como novos processos de filtração por membrana e oxidação, têm se mostrado eficazes na redução da contaminação farmacêutica.
No entanto, eles permanecem inacessíveis em muitas partes do mundo devido à infraestrutura insuficiente e aos custos associados. É por isso que a modernização dos sistemas de tratamento de águas residuais é parte da solução, mas não é a única, afirmou Brand.
Cientistas destacaram o potencial da "química verde" na redução da poluição causada por medicamentos. Isso envolve o desenvolvimento de medicamentos que se biodegradem mais rapidamente no meio ambiente ou se tornem menos tóxicos após o uso.
"Do ponto de vista político, regulamentações mais rigorosas e práticas aprimoradas de descarte podem ajudar a limitar a quantidade de poluição farmacêutica que acaba na água", disse Brand.
"Nenhuma solução isolada será suficiente, mas ao combinar esforços entre ciência, política e tecnologia, podemos reduzir os riscos que a poluição farmacêutica representa para a vida selvagem", acrescentou.
Fontes:
Pharmaceutical pollution influences river-to-sea migration in Atlantic salmon (Salmo salar): www.science.org/doi/10.1126/science.adp7174
Collapse of a fish population after exposure to a synthetic estrogen: www.pnas.org/doi/epdf/10.1073/pnas.0609568104
The urgent need for designing greener drugs: www.nature.com/articles/s41893-024-01374-y
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Short teaser | Estudo conclui que traços de clobazam, encontrados em cursos d’água pelo mundo, alteram a forma como o salmão migra. | ||
Author | Fred Schwaller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/poluição-da-água-com-ansiolítico-torna-peixes-mais-destemidos/a-72242630?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Quando jovens, os salmões migram de seus locais de desova para o oceano | ||
Image source | A. Hartl/blickwinkel/picture alliance | ||
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Item 28 | |||
Id | 72244913 | ||
Date | 2025-04-14 | ||
Title | Provável novo líder alemão quer fornecer mísseis à Ucrânia | ||
Short title | Provável novo líder alemão quer fornecer mísseis à Ucrânia | ||
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Friedrich Merz acena com envio a Kiev dos mísseis de cruzeiro Taurus, que têm 500 km de alcance, e sugere destruir ponte da Crimeia. Ex-presidente russo Medvedev reage com ameaça.A Alemanha poderá fornecer mísseis de cruzeiro Taurus para a Ucrânia, caso conte com a aprovação dos aliados europeus, afirmou o provável novo chanceler federal alemão Friedrich Merz à emissora de TV ARD neste domingo (13/04). Tal passo constituiria uma mudança de paradigma por parte da coalizão de governo entre o bloco conservador formado por União Democrata Cristã e União Social Cristã (CDU/CSU) e o Partido Social-Democrata (SPD), que deve ser empossada em 6 de maio.
Até agora, o chanceler federal em exercício, Olaf Scholz, do SPD, rechaçara a entrega dos Taurus, por temer que a arma de precisão com 500 quilômetros de alcance pudesse ser usada para atingir o interior da Rússia, inclusive a capital Moscou. Além disso, o emprego dos mísseis exigiria inevitavelmente a mobilização de soldados alemães para o controle de mira, o que transformaria o país num partido da guerra deflagrada em 24 de fevereiro de 2022, justificava Scholz.
Em outubro de 2024, ainda como líder da oposição, Merz defendeu o fornecimento dos Taurus, afirmando que então caberia ao presidente russo, Vladimir Putin, decidir "até que ponto ele ainda quer escalar essa guerra". Os social-democratas o acusaram na época de impor ultimatos perigosos e de brincar com a segurança alemã.
"Pensa duas vezes, nazista!"
Na entrevista deste domingo, Merz argumentou que os Taurus poderiam representar para os ucranianos a chance de sairem da defensiva. No caso de novas ofensivas russas, Kiev deveria estar apta a "por exemplo, destruir a principal ligação terrestre entre a Rússia e a Crimeia", pois na península ucraniana anexada ilicitamente pela Rússia em 2014 encontraria-se a maior parte das reservas militares do exército russo.
O vice-chefe do Conselho Nacional de Segurança russo e ex-presidente, Dmitri Medvedev, reagiu com virulência às declarações do conservador: "Pensa duas vezes, nazista!", ameaçou na plataforma X. Quanto à sugestão de destruir a ponte para a Crimeia, acrescentou: "Fritz Merz é assombrado pela lembrança de seu pai, que serviu na Wehrmacht de Hitler."
Citado pela agência estatal de notícias Tass, o porta-voz Kremlin, Dmitri Peskov, classificou Merz como "um defensor de uma postura mais dura e de diversos passos" que "inevitavelmente podem e vão resultar numa escalada ainda maior na Ucrânia". A Rússia estaria registrando ainda "posições semelhantes" em outras capitais europeias.
O posicionamento de Merz em relação aos Taurus teve boa repercussão entre os ministros do Exterior da UE reunidos em Luxemburgo nesta segunda-feira. "Acho que seria um sinal bem importante de onde a Europa se encontra, nesta situação", observou o chefe de pasta holandês, Caspar Veldkamp.
Seu colega polonês, Radoslaw Sikorski, elogiou a proposta do líder conservador alemão como "muito boa".
A chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Kaja Kallas, enfatizou: "Temos que fazer mais para que a Ucrânia possa se autodefender e que civis não tenham que morrer." A política estoniana informou ainda que a comunidade europeia está elaborando o 17º pacote de sanções contra Moscou, a ser apresentado na próxima reunião dos ministros do Exterior, em maio.
av/bl (Reuters,DPA,ots)
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Short teaser | Merz acena com enviodos mísseis de cruzeiro Taurus, que têm 500 km de alcance, e sugere destruir ponte da Crimeia | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/provável-novo-líder-alemão-quer-fornecer-mísseis-à-ucrânia/a-72244913?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Até agora, Berlim tem rejeitado entrega do Taurus (míssil verde na foto) à Ucrânia, para não se envolver diretamente na guerra deflagrada pela Rússia | ||
Image source | MBDA Deutschand/ABACA/picture alliance | ||
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Item 29 | |||
Id | 72242314 | ||
Date | 2025-04-14 | ||
Title | Novo governo alemão quer construir prédios no maior parque de Berlim | ||
Short title | Novo governo alemão quer prédios no maior parque de Berlim | ||
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Ex-aeroporto que virou espaço aberto, Tempelhofer Feld pode perder 40% da área para edifícios residenciais e comerciais. Provável novo chanceler quer construir moradias e escritórios – contra referendo realizado em 2014. Outrora um campo de parada militar para o exército da Prússia e, mais tarde, um aeroporto que se tornou famoso como base para a ponte aérea que alimentou Berlim Ocidental durante a Guerra Fria, o Tempelhofer Feld, como agora é oficialmente chamado, foi aberto ao público como uma área recreativa em 2010. Estendendo-se por mais de três quilômetros quadrados, é um dos maiores espaços verdes urbanos do mundo e um dos favoritos dos moradores locais e dos turistas. Agora, os planos de construção na área, antes descartados, estão ganhando novo impulso. O governo de Berlim gostaria de ver a construção de vários edifícios de cinco a dez andares e diversos arranha-céus, reduzindo a área central do gramado interno de três quilômetros quadrados para 1,80 quilômetro quadrado. Cinquenta por cento da área construída seria destinada a uso comercial. Os planos para desenvolver o antigo campo de aviação já foram frustrados uma vez por um referendo organizado localmente em 2014. No entanto, o provável futuro chanceler federal Friedrich Merz, do partido conservador União Democrata Cristã (CDU), pronunciou-se no período que antecedeu às eleições federais em fevereiro sugerindo que os políticos devem estar preparados para construir no terreno, mesmo que contra a vontade dos moradores locais. A falta de moradias a preços acessíveis e a disparada dos aluguéis na Alemanha se tornaram uma das questões sociais mais urgentes do país. Há uma escassez de mais de 800 mil apartamentos, de acordo com o Departamento Federal de Estatística (Destatis), e o aluguel médio mensal cobrado em Berlim aumentou 85,2% de 2015 a 2024, passando de 8,50 euros (R$ 56,5) por metro quadrado para 15,74 euros (R$ 104,7). Para resolver o problema, a nova coalizão de governo da Alemanha, formada pelo bloco de CDU e União Social Cristã (CDU/CSU) e pelo Partido Social-Democrata (SPD), anunciou planos para turbinar a construção de moradias (Wohnungsbau-Turbo), reduzir a burocracia, cortar impostos e oferecer programas de financiamento para construção e modernização. Os planos logo foram recebidos como "um enorme passo à frente" pela Federação de Empresas Alemãs de Habitação e Imóveis (GdW). O grupo de interesse do setor de construção apontou, em particular, para as "simplificações" das regras de planejamento, aquisição e meio ambiente, assim como para um fundo de investimento proposto para a construção de moradias. Berlim ainda busca saída para crise habitacionalA Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Construção e Habitação de Berlim estima que são necessários mais de 100 mil novos apartamentos para aliviar o mercado superaquecido na situação atual. Espera-se que cerca de 200 mil pessoas se mudem para Berlim até 2040, fazendo com que a cidade precise construir uma média de 20 mil novos apartamentos por ano para atender à demanda esperada. No entanto, as estatísticas oficiais mais recentes mostram um declínio na atividade de construção em 2023, quando apenas 15.965 apartamentos foram concluídos – fato atribuído às condições econômicas ruins e ao aumento das taxas de juros. Mas fracassaram as tentativas de amenizar a crise habitacional com medidas que vão desde o controle de aluguéis a leis de locação mais rígidas, passando por tentativas de reprimir os especuladores que deixam as propriedades vazias ou alugam apenas apartamentos de curto prazo totalmente mobiliados, segundo Christian Müller, presidente da Associação de Arquitetos e Engenheiros de Berlim-Brandemburgo (AIV). Müller é a favor de um desenvolvimento bem projetado na borda do Tempelhofer Feld, área de localização central e bem conectada, como um compromisso entre os vários grupos de interesse – também porque o local é de propriedade pública e, portanto, significativamente mais barato para os desenvolvedores. "É importante que sejam construídos apartamentos com preços justos no local. Deve haver uma boa combinação. As associações habitacionais de propriedade do Estado devem estar envolvidas, e devemos manter a diversidade", disse Müller à DW. Embora ele admita que quando se transformou de aeroporto em área de lazer o Tempelhofer Feld tenha sido extremamente bem recebido pelos moradores locais, assim como pelos políticos estaduais e federais, ele diz que a situação habitacional mudou drasticamente. "Noventa por cento dos berlinenses querem que tudo permaneça como está. Até o momento em que recebem uma ordem de despejo e têm que procurar um apartamento no mercado imobiliário", diz Müller, acrescentando que poderiam ser criadas moradias para 100 mil pessoas em toda a área, sem que ela ficasse apertada demais. Descrédito na promessa de moradias acessíveisParte reserva natural, parte área de lazer, o Tempelhofer Feld é agora o lar de vários projetos comunitários, desde um espaço experimental para arquitetura sustentável até áreas geridas por artistas, uma oficina de conserto de bicicletas e um clube de xadrez. É também um local de nidificação para várias espécies de pássaros em perigo de extinção na Alemanha, entre elas as cotovias, e um rebanho de ovelhas da raça skudde, em perigo de extinção, foi realocado para a área no intuito de ajudar a promover a biodiversidade. "O Tempelhofer Feld é único. Ele só funciona como um todo – tire só mesmo uma parte dele e você destrói todo o seu valor", diz Anita Möller, membro do grupo de ação dos cidadãos 100% Tempelhofer Feld, que organizou o referendo que impediu o desenvolvimento de projetos de moradia no local em 2014. Olhando para as hortas comunitárias que surgiram no Tempelhofer Feld, onde os moradores cultivam flores, verduras e legumes, Möller aponta para um estudo de 2021 da Secretaria de Meio Ambiente de Berlim que enfatizou o caráter único do espaço urbano, com sua mistura de grandes áreas de conservação da natureza e de recreação. O estudo também destacou sua importância ecológica em termos de manutenção da biodiversidade, melhoria da qualidade do ar e resfriamento dos bairros densamente povoados do entorno. Em 2014, cerca de dois terços dos eleitores berlinenses (64,3%) decidiram a favor da proteção do espaço contra a construção de moradias no terreno, e a lei de preservação resultante proíbe a construção ou expansão de edifícios existentes no local. Agora, o governo local de coalizão CDU-SPD – que chegou ao poder em uma eleição de 2023 em que 39% dos eleitores citaram a habitação como a questão mais importante, acima de qualquer outra – está mais uma vez explorando planos para construir no local. Seu acordo de coalizão afirma que "desvios" de compromissos anteriores de não vender terras estatais "podem ser permitidos em casos individuais para cooperativas habitacionais orientadas para o bem comum". E eles já lançaram uma série de consultas públicas e um concurso internacional de planejamento urbano para obter ideias sobre a melhor forma de construir no antigo campo de aviação. Por enquanto, a sugestão é construir apenas na periferia da área – o prefeito de Berlim, Kai Wegner (CDU), disse ao jornal Tagesspiegel em novembro de 2024 que seria possível construir de 15 mil a 20 mil apartamentos no local – mas há forte oposição até mesmo a isso. O Partido Verde e A Esquerda, oposição em Berlim, acusam a coalizão CDU-SPD de desperdiçar milhões de dólares dos contribuintes em consultas públicas e concursos de planejamento urbano, na tentativa de influenciar a opinião pública a favor da construção de apartamentos que, na realidade, apenas uma pequena parcela dos moradores poderia pagar. "Eles continuam alegando que há necessidades habitacionais, mas sejamos honestos: o que importa aqui é dinheiro, especulação e sonhos de investidores. Se realmente se tratasse de resolver a crise imobiliária, teríamos opções melhores", diz Möller, referindo-se ao Plano de Desenvolvimento Urbano 2040 do governo, que identifica outros locais onde até 222 mil moradias poderiam ser construídas. A ideia de que o caminho para moradias mais acessíveis exige mais construção está ultrapassada, segundo Möller, que acredita que o governo precisa investir em novos tipos de desenvolvimento urbano "democrático e sustentável" que "respeitem nossos limites ambientais e o valor dos espaços abertos". Por enquanto, pelo menos a área é protegida pela Lei de Preservação do Tempelhofer Feld, introduzida após o referendo de 2014. Mas, como Möller aponta, isso poderia ser facilmente derrubado por uma maioria de votos no Legislativo de Berlim. "Moradia acessível fracassou em outros lugares. Por que deveríamos acreditar que de repente funcionará aqui? Uma vez construída, a área está perdida para sempre", diz ela. |
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Short teaser | Ex-aeroporto que virou espaço aberto, Tempelhofer Feld pode perder 40% da área para edifícios residenciais e comerciais. | ||
Author | Helen Whittle | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/novo-governo-alemão-quer-construir-prédios-no-maior-parque-de-berlim/a-72242314?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 30 | |||
Id | 72238769 | ||
Date | 2025-04-14 | ||
Title | O que é ficção e realidade na minissérie sobre Maria Bonita | ||
Short title | O que é ficção e realidade na minissérie sobre Maria Bonita | ||
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"Maria e o Cangaço" é inspirada em biografia da primeira mulher integrante de um grupo de cangaceiros. Movimento da virada do século 19 para o 20 ainda desperta fascínio e curiosidade. O avião estava prestes a decolar quando Tânia Alves sentiu um cutucão no braço. Ela olhou para o lado e viu a mão de uma mulher segurando um pedaço de papel. "Ah, é pedido de autógrafo!", pensou, abrindo um sorriso. Não era. Era um bilhete carinhoso: "Muito prazer! Sua filha". Virou-se e viu, numa poltrona atrás da sua, Expedita Ferreira Nunes, hoje com 92 anos, filha do casal Lampião e Maria Bonita. "Nos abraçamos aos prantos feito duas loucas", recorda a atriz que interpretou Maria Gomes de Oliveira (1910-1938), a mulher de Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), na minissérie Lampião e Maria Bonita, escrita por Aguinaldo Silva e Doc Comparato e exibida pela TV Globo entre os dias 26 de abril e 5 de maio de 1982. "Eu acordava todos os dias às 4h para maquiar o corpo todo. Maria Bonita era mais morena do que eu. Sou meio branquela", admite a atriz que, diferentemente da personagem, não nasceu na Bahia, mas no Rio de Janeiro. "Todo mundo acha que eu sou nordestina", solta uma risada. Quarenta e três anos depois de Tânia Alves interpretar a protagonista da primeira minissérie da TV brasileira, Ísis Valverde é convidada para dar vida à primeira mulher a fazer parte de um bando de cangaceiros. "Bando, não; grupo de cangaceiros", corrige o cineasta Sérgio Machado, diretor e roteirista de Maria e o Cangaço, minissérie que estreou dia 4 deste mês no Disney Plus. "Lampião não gostava que chamassem seu grupo de bando." A ideia de transformar a biografia Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, de Adriana Negreiros, numa minissérie foi do ator Wagner Moura. Foi ele quem chamou Sérgio Machado para participar do projeto. Para desenvolver a história, o diretor convidou os roteiristas Sandra Delgado, Armando Praça e Letícia Simões. "Quando você adapta uma obra literária ou biográfica, tem plena liberdade para adicionar elementos da ficção. O que não pode é obrigar este ou aquele personagem a fazer algo que ele não faria", explica Machado, que dirigiu a minissérie ao lado de Thalita Rubio e Adrian Teijido. "Fio da peste"Decidido a ser o mais fiel possível à história de Maria Bonita e Lampião, Sérgio Machado recrutou 52 atores nordestinos – apenas quatro, incluindo Ísis Valverde, mineira de Aiuruoca, a 423 quilômetros de Belo Horizonte, e Júlio Andrade, gaúcho de Porto Alegre, não são de lá. Gravou as cenas em locações como Cabaceiras (PB), mais conhecida como a "Roliúde Nordestina", e Piranhas (AL), município onde foram expostas as cabeças degoladas dos cangaceiros. "Em suas andanças pelo Nordeste, Lampião percorreu sete estados", afirma o pesquisador Jairo Luiz Oliveira. "As únicas exceções são Maranhão e Piauí." E contou com a consultoria de dois especialistas: o historiador Frederico Pernambucano de Mello, de 77 anos, e o pesquisador Jairo Luiz Oliveira, de 55. Além de ministrar um workshop para o elenco, onde ensinou os atores, entre outras habilidades, a montar a cavalo, Jairo leu os capítulos da minissérie e propôs ajustes no texto. "Nos combates entre cangaceiros e volantes [nome dado às tropas de policiais e civis que perseguiam os cangaceiros pelo Nordeste brasileiro], havia xingamento de ambos os lados. Sugeri alguns como ‘fio da peste' e ‘corno sem vergonha'", diz. Heróis ou vilões?Não é a primeira vez que Jairo presta consultoria para produções do gênero. Em seu currículo constam pelo menos mais duas: o filme Entre Irmãs (2017), de Breno Silveira (1964-2022), e a novela Guerreiros do Sol, de Rogério Gomes. Prevista para estrear este ano, a novela do Globoplay foi adaptada do livro Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste do Brasil, de Frederico Pernambucano de Mello, e narra o romance fictício entre Rosa (Isadora Cruz) e Josué (Tomás Aquino). Frederico Pernambucano de Mello é autor de Estrelas de Couro: A Estética do Cangaço, Benjamin Abrahão: Entre Anjos e Cangaceiros e Apagando o Lampião: Vida e Morte do Rei do Cangaço. Jairo também é guia turístico em Angicos (SE), a 174 quilômetros de Aracaju. Foi lá que, no dia 28 de julho de 1938, Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros perderam a vida numa emboscada. "As perguntas que mais ouço são: ‘Lampião era bandido ou herói?' e ‘Maria Bonita era tão má quanto Lampião?' ", comenta o turismólogo. "Nessas horas, respondo que Lampião tinha defeitos e virtudes, e que Maria Bonita era forte, mas não era violenta." Pelos cálculos do diretor, 90% das cenas de Maria e o Cangaço são baseadas em histórias reais. Duas, admite, são pura invencionice: a cena do eclipse durante uma batalha, logo no primeiro episódio, e a visita de Lampião a uma ex-cantora de ópera, no quarto episódio. "Não aconteceram, mas poderiam ter acontecido", despista. A cena do eclipse, inclusive, foi inspirada num "causo" que ele ouviu em 1998 quando era assistente de direção de Walter Salles no filme Central do Brasil. "As pessoas não acreditavam que aquilo [eclipse] pudesse acontecer", relata. Outra "liberdade artística e poética" tomada por Sérgio Machado na minissérie é mostrar Maria Bonita pegando em armas. Quem afirma é a própria autora do livro, Adriana Negreiros. "Não era uma Joana D'Arc da caatinga", pondera a jornalista. "Tinha espírito aventureiro, mas não era a heroína que todos pensam. No cangaço, pegar em armas era prerrogativa masculina. Mas, imagino que, se precisasse, Maria era brava o bastante para combater. " Na minissérie adaptada do livro de Adriana Negreiros, a história do cangaço é contada através da perspectiva feminina. "Há um fascínio histórico em construir narrativas que tornam as mulheres excepcionais apenas quando vinculadas a grandes homens. Em nossa abordagem, revelamos uma Maria protagonista de sua história. Uma mulher que não só participou do cangaço, mas que o transformou. Maria Bonita foi revolucionária. Não por ser perfeita, mas por ser humana. Era livre num mundo que a queria domesticada", exalta a roteirista Letícia Simões. Uma rajada de balasO livro de Adriana Negreiros não foi o único a ser publicado em 2018, por ocasião do aniversário de 80 anos da morte de Lampião e Maria Bonita – ou seria de Maria Bonita e Lampião? Houve outros, como Lampião e Maria Bonita: Uma História de Amor e Balas, do jornalista Wagner G. Barreira. "Maria Bonita foi um produto de seu meio. Não era heroína, nem feminista. O que não se pode tirar dela é a potência de abandonar um casamento infeliz e buscar o amor, ainda que o objeto de sua paixão tenha sido o bandoleiro mais famoso de seu tempo", define Barreira. Em suas pesquisas, Barreira investigou a influência do cangaço nos segmentos culturais brasileiros: da literatura de Graciliano Ramos (1892-1953) às pinturas de Cândido Portinari (1903-1962), da música de Luiz Gonzaga (1912-1989) à moda de Zuzu Angel (1921-1976). Isso, sem falar no cinema. De O Cangaceiro (1953) a Bacurau (2019), passando por Mazzaropi (O Lamparina, de 1964), pornochanchada (A Ilha das Cangaceiras Virgens, de 1976), Os Trapalhões (O Cangaceiro Trapalhão, de 1983) e retomada pós-Collor (O Baile Perfumado, de 1996). "Lampião era um fora da lei que se apaixona por uma mulher casada. No entanto, esses personagens históricos projetaram uma sombra muito maior", analisa Barreira. "Lampião sobreviveu, sem paradeiro, pelo menos de 1922 a 1938. Quando morreu, deixou um rastro de violência e a fama de valente. Isso criou uma mitologia. Os mitos gregos também nasceram de histórias contadas e recontadas muito antes da escrita." Se depender da roteirista Letícia Wierzchowski e do diretor Jayme Monjardim, o mito de Maria Bonita não vai desaparecer tão cedo. A dupla está preparando um longa-metragem sobre a rainha do cangaço, ainda sem título definitivo ou previsão de estreia. O cineasta já se encontrou até com a filha do casal, Expedita Ferreira Nunes, que aprovou o projeto. "Não fez qualquer exigência", afirma Wierzchowski. "Apenas pediu que não disséssemos inverdades sobre a família dela, nem que a tratássemos com muita dureza." No roteiro, a escritora gaúcha enfatiza o lado materno da personagem. As cangaceiras não podiam criar os filhos. Se chorassem, denunciariam o paradeiro do grupo. Eram obrigadas a entregá-los para adoção. No caso de Expedita, que tinha cinco anos quando os pais foram mortos, ela foi criada por um casal que tinha treze filhos. "Os filmes de cangaço são o faroeste do cinema nacional", compara o roteirista Doc Comparato, um dos autores da minissérie Lampião e Maria Bonita, no catálogo do canal de streaming Globoplay. "São uma espécie de Bonnie & Clyde do sertão nordestino", arremata o diretor Sérgio Machado, fazendo alusão ao casal de assaltantes de banco dos Estados Unidos que foram mortos pela polícia em uma emboscada no dia 23 de maio de 1934. "Jovens e indomáveis, Lampião e Maria Bonita são dois personagens absolutamente fascinantes e extraordinários." |
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Short teaser | "Maria e o Cangaço" é inspirada em biografia da primeira mulher integrante de um grupo de cangaceiros. | ||
Author | André Bernardo | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-que-é-ficção-e-realidade-na-minissérie-sobre-maria-bonita/a-72238769?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 31 | |||
Id | 72223389 | ||
Date | 2025-04-14 | ||
Title | Cirurgia em Bolsonaro é concluída após 12 horas | ||
Short title | Cirurgia em Bolsonaro é concluída após 12 horas | ||
Teaser |
Ex-presidente foi submetido a procedimento para desobstruir o intestino e reconstruir a parede abdominal. Segundo hospital, Bolsonaro apresenta quadro estável clinicamente. Após ser submetido a um procedimento cirúrgico de 12 horas para desobstruir o intestino e reconstruir a parede abdominal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passa bem e já foi transferido para um quarto no Hospital DF Star, em Brasília. A informação foi divulgada neste domingo (13/04) pela ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em suas redes sociais. Segundo boletim médico, o procedimento ocorreu sem intercorrências e sem necessidade de transfusão de sangue. No momento, Bolsonaro encontra-se na Unidade de Terapia Intensiva, estável clinicamente, sem dor, recebendo medidas de suporte clínico, nutricional e prevenção de infecções." Desde sexta-feira, Bolsonaro enfrentava um quadro permanente de obstrução intestinal, sem apresentar melhora mesmo após tratamento medicamentoso. Ele passou então por um procedimento cirúrgico de laparotomia exploradora, para liberação de aderências intestinais e reconstrução da parede abdominal, informou a equipe médica. A laparatomia é um procedimento que exige uma incisão no abdômen para acesso ao intestino. No caso de Bolsonaro, foi necessária a retirada de "aderências" que impedem a digestão. Em texto publicado nas redes sociais antes da operação, Bolsonaro afirmou que seu médico, Cláudio Biolini, considera este o "quadro mais grave" desde o atentado que sofreu em 2018. "Estou estável, em recuperação, e mais uma vez cercado por profissionais competentes", escreveu. Uma coletiva de imprensa sobre o estado de saúde do ex-presidente será realizada nesta segunda-feira, às 9h, no Auditório do Hospital DF Star. Ex-presidente foi hospitalizado às pressasO ex-presidente sentiu fortes dores abdominais na manhã de sexta-feira (11/04) durante um evento político no Rio Grande do Norte. Ele foi internado às pressas em uma unidade pública de saúde no município de Santa Cruz. Após ser medicado, Bolsonaro foi levado em um helicóptero da Polícia Militar a um hospital particular em Natal. O vereador Carlos Bolsonaro , filho do ex-presidente, informou nas redes sociais que seu pai sentia dores desde a madrugada, mas foi piorando quando iniciou compromissos políticos no município. Ele estava na região como parte de uma agenda do Partido Liberal para fortalecer a presença da sigla no Nordeste. Em Natal, o ex-presidente foi submetido a exames e permaneceu lúcido, com estado de saúde estável. Ainda na sexta-feira, o médico que o atendeu, Luiz Roberto Fonseca, afirmou que Bolsonaro foi admitido com inchaço e dor abdominal e submetido a um tratamento antibacteriano. No final da tarde, o ex-presidente publicou nas redes sociais uma foto em que aparece acamado no hospital. Ele disse que estava sem febre e com boa evolução clínica. "A causa foi uma complicação no intestino delgado, consequência das múltiplas cirurgias que precisei realizar após o atentado sofrido em 2018", escreveu. No sábado, o ex-presidente optou por continuar o tratamento em Brasília. "Por decisão pessoal do senhor ex-presidente, em conjunto com sua família, e visando dar continuidade ao tratamento com o suporte e proximidade de seus entes queridos, está programada para o decorrer do dia de hoje sua transferência para a cidade de Brasília/DF", disse o boletim assinado pelo diretor técnico do hospital Rio Grande, Luiz Roberto Leite Fonseca. Cirurgias frequentesDesde o atentado de 2018, Bolsonaro já passou por quatro cirurgias abdominais. Em 2019, precisou de intervenção cirúrgica para reconstruir o intestino e corrigir lesões no fígado. Entre 2021 e 2022, precisou corrigir aderências intestinais e tratar uma obstrução intestinal. No ano seguinte, passou por uma nova operação para corrigir uma hérnia de hiato. Agenda políticaO PL divulgou uma nota oficial pedindo orações pela recuperação do ex-presidente. Segundo o partido, a agenda de Bolsonaro foi cancelada para que ele se recupere. Apesar de estar inelegível às eleições presidenciais de 2026, o ex-presidente vem se mobilizando politicamente. O objetivo do projeto Rota 22, que se iniciava hoje com a presença de Bolsonaro, era visitar municípios que receberam obras de sua gestão à frente do governo federal. No Rio Grande do Norte, ele também estava acompanhado do senador Rogério Marinho (PL). gq (ots)
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Short teaser | Ex-presidente foi submetido a procedimento para desobstruir o intestino e reconstruir a parede abdominal. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/cirurgia-em-bolsonaro-é-concluída-após-12-horas/a-72223389?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 32 | |||
Id | 72236964 | ||
Date | 2025-04-14 | ||
Title | O fracasso do acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha | ||
Short title | O fracasso do acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha | ||
Teaser |
Assinado há 50 anos, pacto com Alemanha Ocidental previa construção de oito usinas no Brasil. Só uma saiu do papel. Para pesquisadores, falta de planejamento e erros do regime militar levaram ao fracasso do programa. Em 27 de junho de 1975, a imprensa brasileira foi pega de surpresa. Em Bonn, então capital da Alemanha Ocidental, representantes do governo local e da ditadura militar brasileira anunciavam a assinatura de um ambicioso acordo entre as duas nações. Negociado em segredo, o documento oficializava a transferência de tecnologia alemã para o desenvolvimento do programa nuclear brasileiro, prevendo a construção de oito usinas nucleares nos estados do Rio (Angra 2, 3, 4 e 5) e em São Paulo (Iguapé 1, 2, 3 e 4). Cinquenta anos depois, o tratado ainda subsiste, mas como um elefante branco. Das oito usinas, só uma saiu do papel – Angra 2, no estado do Rio de Janeiro, em operação desde 2001. Outra, Angra 3, também no Rio, segue em construção desde 1986, tendo consumido mais de R$ 20 bilhões. Dadas as circunstâncias, é natural ligar o fracasso do programa nuclear brasileiro ao acordo com a Alemanha. Mas de quem é a culpa? Essa pergunta ocupou, durante seis anos, os pesquisadores Dawisson Belém Lopes e João Paulo Nicolini, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A conclusão foi publicada recentemente na revista acadêmica Science and Public Policy, de Oxford, no artigo intitulado Who's to blame for the Brazilian nuclear program never coming of age? (De quem é a culpa pelo programa nuclear brasileiro nunca ter amadurecido?), cuja pesquisa contou com 25 entrevistas com especialistas de todo mundo e a análise de documentos históricos. A princípio, a resposta é simples. "Foi muito mais da gestão brasileira dos militares que de outros parceiros ou organizações internacionais", diz Nicolini, cuja tese de doutorado, orientada por Lopes, deu origem ao artigo. "O maior problema foi a falta de interlocução com a comunidade acadêmica, com o empresariado e com a sociedade. Demos um passo maior que a própria perna e a falta de planejamento dos militares acarretou nisso", explica ele à DW. AmbiçõesO tratado foi assinado durante a gestão do general Ernesto Geisel (1974-1979), mas Nicolini também atribui os problemas aos governos de Emilio Médici (1969-1974), envolvido na negociação, e de João Figueiredo (1979-1985), também responsável pela implementação. Da perspectiva do contexto da época, o acordo surgia como ideal para os dois lados, o que levou a imprensa alemã a classificá-lo como o "negócio do século", prevendo que o governo em Bonn receberia cerca de 10 bilhões de dólares com as exportações de produtos nucleares aos brasileiros. Por causa da crise do petróleo de 1973, Brasil e Alemanha Ocidental tinham visto seus respectivos "milagres econômicos” das décadas anteriores caírem por terra. Os europeus enfrentavam o maior desemprego em 20 anos, que passara de 500 mil em 1974 para mais de um milhão em 1975 – afetando principalmente a indústria. O Brasil, por sua vez, com uma inflação perto de 30% impactada pelo custo do petróleo, buscava a diversificação da matriz energética e, claro, um lugar ao sol junto às potências atômicas mundiais. Além disso, era uma jogada dos dois países também para fugir da tutela dos Estados Unidos. A Alemanha, pioneira nos estudos sobre fissão atômica nos anos 1930 durante o governo nazista, ficara para trás na corrida nuclear por imposições dos aliados após a Segunda Guerra. Já o Brasil adquirira dos americanos sua primeira usina nuclear, a de Angra 1, em 1973, num modelo conhecido como "turning key", sem transferência de tecnologia nem troca de aprendizado. Logicamente, os americanos não viram com bons olhos o "drible" de brasileiros e alemães ocidentais e tentaram de todas as formas boicotar a acordo. Não era interessante para os americanos que houvesse outra nação com poderio nuclear no território de influência na América Latina, nem a de que os alemães ocidentais estivessem abocanhando parte do mercado da tecnologia nuclear, aponta Belém Lopes. "Naquele momento, esse movimento representava uma microrruptura. Esse canal direto entre Brasil e Alemanha Ocidental era uma forma de passar um recado para os Estados Unidos e de diminuir nossa dependência em relação a eles", afirma o professor de política internacional da UFMG. A Alemanha Ocidental, inclusive, estava no radar brasileiro há pelo menos duas décadas. Em 1953, a compra de ultracentrífugas alemãs pelo Brasil tinha sido embargada por quatro anos pelos Estados Unidos e só chegou aqui quando já estava obsoleta. Aposta equivocadaFoi no meio dos anos 1975, ressalta Lopes, que o jogo para a busca da tecnologia nuclear estava sendo efetivamente jogado no tabuleiro da geopolítica internacional. Naquele momento, as potências internacionais, lideradas pelos EUA, buscavam limitar o desenvolvimento da tecnologia para outros países. Uma das formas oficiais para isso era o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), cujos termos o Brasil só assinaria em 1998, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso. "O Brasil também queria conservar para si um programa nuclear que eventualmente possibilitasse o uso dual, ou seja, de bomba atômica", diz o professor da UFMG. Esse objetivo, no entanto, aparece de forma esparsa nos documentos da época, acrescenta Nicolini. Afinal, as dificuldades já tinham começado na construção das usinas. Primeiramente, a pressão dos Estados Unidos recaiu sobre a tecnologia oferecida. Como a principal fornecedora de equipamentos era a Urenco, empresa de capital dividido entre Inglaterra, Holanda e Alemanha, houve pressão americana sobre o governo holandês para impedir a venda ao Brasil, diz Nicolini. Por causa disso, a Alemanha Ocidental ofereceu outra tecnologia, ainda experimental, chamada jet-nozzle. Não funcionou, e o Brasil acabou gastando mais energia do que produzindo. No entanto, o argumento por parte dos militares de que a tecnologia seria a principal culpada pelo fracasso do acordo é contestada por outro exemplo – a do programa nuclear da África do Sul, por volta da mesma época e que também contou com parceria alemã. "Os sul-africanos aperfeiçoaram o jet-nozzle e conseguiram enriquecer urânio e transformar em seis ogivas nucleares”, conta o cientista político. Uma das teses que defendem o acordo afirma que o conhecimento tecnológico aprendido com os alemães foi utilizado para a criação do programa nuclear paralelo brasileiro, mantido em segredo até a transição democrática, em 1985. "Mas, com a falta de interlocução com a sociedade e com o sistema de inovação brasileiro, aquilo nunca chegou a um nível que pudéssemos usar para a produção em escala industrial – enriquecimento de urânio, produção de reatores", afirma Nicolini. Hoje, um dos frutos do programa paralelo é o submarino de propulsão nuclear, cujo projeto data da década de 1970 e cujo lançamento, em parceria com a França desde 2009, deve ser lançado só em 2040, com custo de cerca de R$ 1 bilhão por ano ao Orçamento. Quem lucrou com o acordo?A falta de transparência no Brasil sobre as negociações com a Alemanha também impediu um debate público sobre o tema. Como explica Helen Miranda Nunes, doutora em história pela FGV Rio, o acordo só prosperou por causa do caráter antidemocrático do regime militar. Segundo ela, a própria imprensa da época só divulgou a assinatura na última hora. "A opção pela tecnologia do jet-nozzle foi muito criticada pelos cientistas nucleares quando veio à tona. Se estivéssemos numa democracia à época, era possível que o acordo não deslanchasse, porque foi secreto e se valeu da privação de direitos da população”, diz ela, que pesquisou o tema na tese de doutorado. Parte das obras do complexo de Angra dos Reis (RJ) ficou a cargo da Odebrecht, que assumiu a empreitada sem licitação. De acordo com Nunes, a empreiteira desenvolveu, a partir dessa época, um know-how na construção de obras estatais. Em 2017, durante a Operação Lava Jato, a delação de executivos da construtora acabou levando à prisão do almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, conhecido como um dos pais do programa nuclear brasileiro. Mas, no geral, os maiores benefícios ficaram com as empresas alemãs – principalmente a Siemens, cuja subsidiária Kraftwerk Union (KTU) foi responsável por fornecer os reatores às usinas nucleares e tecnologia para Angra 2 e Angra 3. "Além disso, os bancos alemães emprestaram dinheiro para o Brasil e fizeram a festa aqui. Para a Alemanha, o acordo foi benéfico", diz a historiadora. Segundo ela, o trato escoou a produção nuclear alemã justamente num momento em que os movimentos ambientalistas pressionavam o país contra o uso da energia nuclear. Não foi por acaso que o acordo ficou conhecido como "Negócio do Século", diz Rafael Brandão, professor de história da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O setor nuclear alemão vinha acumulando déficits e viu no Brasil a sua salvação. Ele lembra que a Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), estatal brasileira criada em 1975 com os alemães, tinha três instâncias de decisões – as duas primeiras com membros do governo brasileiro, mas a última só com integrantes alemães. "É claro que a última palavra era da KWU-Siemens", conta. Em 1979, uma reportagem do Jornal do Brasil apresentou denúncias de superfaturamento nos insumos vendidos pela KWU em relação aos preços de mercado internacionais, além de críticas de envolvidos no projeto nuclear brasileiro que não havia troca de informações com cientistas alemães. Entre 1978 e 1982, suspeitas de corrupção levantadas pela revista alemã Der Spiegel já tinha levado à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o Acordo Brasil-Alemanha, contando inclusive com depoimentos de Norberto Odebrecht. Terminou em pizza. Hoje, um movimento parecido ocorre a cada cinco anos no Parlamento Alemão, quando se abre a janela para a revogação do acordo unilateralmente – o último foi em 2024. Mesmo com pressão dos Verdes, o cancelamento nunca aconteceu. Do lado do Brasil, finalizá-lo também seria largar o projeto de Angra 3 pelo caminho. "O acordo está vivo também por uma dificuldade nossa de concluir o que estava previsto. A culpa é da ineficiência do planejamento nuclear brasileiro", conclui João Paulo Nicolini. |
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Short teaser | Assinado há 50 anos, pacto com Alemanha Ocidental previa construção de oito usinas no Brasil. Só uma saiu do papel. | ||
Author | Fábio Corrêa | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/o-fracasso-do-acordo-nuclear-entre-o-brasil-e-a-alemanha/a-72236964?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 33 | |||
Id | 72233584 | ||
Date | 2025-04-13 | ||
Title | A difícil busca pelos últimos criminosos nazistas vivos | ||
Short title | A difícil busca pelos últimos criminosos nazistas vivos | ||
Teaser |
Passados 80 anos desde o fim da Segunda Guerra, não sobraram muitos que ainda possam ser levados a julgamento. Um procurador responde por que não é tarde demais para condenar os que restaram.A Alemanha deve ao empenho de gente como Serge e Beate Klarsfeld a localização e a condenação de muitos criminosos e colaboradores do nazismo. A lista de nazistas caçados pelo casal franco-alemão inclui Klaus Barbie, que chefiou de 1942 a 1944 a Gestapo – a polícia secreta –, e cuja crueldade rendeu-lhe o apelido "carniceiro de Lyon", e Kurt Lischka e Herbert Hagen, responsáveis pela deportação de 76 mil judeus da França, dos quais 11,4 mil eram crianças, para campos de concentração.
Graças ao trabalho de Serge e Beate, esses criminosos não tiveram uma velhice tranquila – diferentemente de outros tantos nazistas que nunca precisaram pagar pelas monstruosidades que fizeram, e que levaram o resto de suas vidas despreocupados.
"Perseguíamos apenas os criminosos que decidiram sobre o destino de judeus, os líderes da 'solução final'. Nossa busca e envolvimento na prisão de Barbie após uma luta de 12 anos, de 1971 a 1983, nos rendeu grande aprovação na França", diz à DW o advogado e sobrevivente do Holocausto Serge Klarsfeld, hoje com 89 anos.
Barbie, que havia fugido para a Bolívia, foi deportado em 1983 para a França – para desespero dele, que contava com a complacência da Justiça alemã. Durante o pós-guerra, o "carniceiro de Lyon" atuou como "caçador de comunistas" a serviço de países do Ocidente e manteve boas conexões com a Alemanha Ocidental, tendo visitado o país diversas vezes até a década de 1980. Barbie foi condenado à prisão perpétua em 1987, e morreu em 1991 na prisão, aos 77 anos.
O caso de Barbie provocou alvoroço na Alemanha, onde por décadas a busca por criminosos do Holocausto havia se limitado a algumas poucas lideranças. O trabalho dos Klarsfeld, que tinham na caça a nazistas uma missão de vida, rendeu a eles em 2015 a Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha. Eles também receberam condecorações em 2007 e 2024 na França.
O impacto do trabalho da dupla foi tamanho que levou o Bundestag (Parlamento) a fazer em 1979 uma mudança histórica no ordenamento jurídico alemão, tornando crimes de assassinato e genocídio imprescritíveis. E isso depois de quase 20 anos de debate no Parlamento sobre como lidar com os crimes do nazismo.
"Se os alemães tivessem aceitado a lei de 1979 em 1954, os casos de milhares de criminosos nazistas poderiam ter sido averiguados por promotores e tribunais. Mas muitos juízes pertenceram ao partido nazista e teriam sido complacentes", afirma Klarsfeld.
Criminosos que restaram já são (quase) centenários
Outros "peixes pequenos" da máquina nazista levados a julgamento nos últimos anos também esperavam por complacência. Era esse o caso de Irmgard Furchner, ex-secretária do campo de concentração de Stutthof condenada em 2022 por cumplicidade no assassinato de mais de 10 mil pessoas. Furchner, que atuou entre 1943 e 1945, dos 18 aos 19 anos, morreu em janeiro deste ano, aos 99 anos.
O processo dela havia sido iniciado pelo procurador Thomas Will, que há cinco anos comanda o Órgão Central das Administrações de Justiça dos Estados para o Esclarecimento de Crimes Nazistas.
"Nossa missão foi e continua sendo encontrar pessoas que precisam ser processadas. Nós ainda investigamos crimes em campos de concentração. Ainda há possivelmente diversas pessoas vivas que passaram por esses campos, e que nós ainda não pudemos localizar", explica Will à DW.
Mas o procurador reconhece que, passados quase 80 anos desde o fim da Segunda Guerra, já não restam mais muitos criminosos vivos. "Realisticamente falando, só vêm ao caso apenas [suspeitos nascidos de] 1925 a 1927, 1928."
Atualmente o tribunal estadual de Hanau julga o caso de um ex-vigilante do campo de concentração de Sachsenhausen acusado de cumplicidade no assassinato de mais 3,3 mil pessoas. O réu tem 100 anos.
Achar esses criminosos depois de todos esses anos não é tarefa fácil para Will e sua equipe. É raríssimo encontrar dados pessoais completos dos suspeitos, como onde e quando eles nasceram. E quanto menos dados os investigadores têm, menores são as chances de levar o processo adiante. "Encontrar um Karl Müller [nome bastante comum na Alemanha] sem informações adicionais é praticamente impossível", exemplifica o procurador.
Acerto de contas
Desde a criação do Órgão Central das Administrações de Justiça dos Estados para o Esclarecimento de Crimes Nazistas, em 1958, foram reunidos 1,78 milhão de fichas sobre pessoas, cenas de crime e unidades nazistas. Quase 19 mil processos foram abertos nas procuradorias e tribunais em toda a Alemanha. As investigações, porém, têm alcance internacional – afinal, muitos criminosos nazistas fugiram da Alemanha.
Segundo o historiador Andreas Eichmüller, do Centro de Documentação do Nazismo em Munique, cerca de 175 mil suspeitos foram investigados por crimes nazistas de 1945 a 2019, mas só 16.789 foram denunciados aos tribunais, dos quais 13.986 foram julgados e 6.676 efetivamente condenados, sendo mais de mil por assassinato. Seis em cada dez processos tiveram pena de até um ano de reclusão, e em apenas 9% dos casos a sentença de prisão foi superior a cinco anos. Só 182 pessoas foram punidas com a prisão perpétua ou, no caso dos processos até 1949, condenadas à morte.
Esses números consideram apenas os dados da antiga Alemanha Ocidental, mais os processos que tramitaram após a reunificação alemã, em 1990. Muitos inquéritos e processos acabaram engavetados por falta de provas, porque os suspeitos não puderam ser localizados ou em função de anistias, prescrição, má saúde ou morte dos suspeitos.
No caso da antiga Alemanha Oriental, mais de 22 mil pessoas foram levadas a julgamento, com 12.888 condenações. Uma parte desses processos, porém, não teve consequências na esfera criminal, enquanto outros visavam pessoas já mortas ou julgadas à revelia. E alguns historiadores argumentam que os processos apresentados a partir dos anos 1949/1950 foram instrumentalizados politicamente pelo regime comunista.
Mais de dois terços dos julgamentos ocorreram até o fim da década de 1940, especialmente na Alemanha Ocidental, diminuindo consideravelmente na década de 1960, com o acirramento da Guerra Fria e da disputa geopolítica entre Estados Unidos e Rússia.
A título de comparação: no final da Segunda Guerra, em 1945, o partido nazista tinha cerca de 9 milhões de membros. E a SS – organização paramilitar do partido nazista e principal responsável pela política genocida da Alemanha nazista – teve em seu auge, em 1944, 900 mil homens.
Por que levar idosos centenários a julgamento?
Há quem questione se faz sentido investigar e processar idosos centenários – que, ainda por cima, frequentemente são declarados incapazes. O procurador Will ouve esse questionamento com frequência e tem uma resposta clara para ele: "Só a condenação já é muito importante, porque constata a culpa e a responsabilidade criminal, ainda que tardiamente. E isso também é extremamente importante para os familiares das vítimas."
Will é uma das vozes críticas da Justiça pós-nazismo. Para ele, a Alemanha condenou poucos criminosos daquele período. Uma das razões para isso é que o direito penal da época não havia sido concebido para processar crimes em massa executados a mando do Estado. Além disso, prevaleceu no passado uma concepção que diferenciava entre os principais líderes, aqueles considerados responsáveis por tudo, e os ajudantes "seduzidos" pelo nazismo.
"As condições sociais tiveram que mudar primeiro. Mas, sem dúvida, mesmo assim poderia e deveria ter havido mais condenações. Por isso, também é importante compreender o nosso trabalho e os muitos documentos surgidos desde então como um testemunho da forma como a sociedade alemã do pós-guerra lidou com seu passado nazista."
Colaborou Rayanne Azevedo
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Short teaser | Passados 80 anos desde o fim da Segunda Guerra, não sobraram muitos que ainda possam ser levados a julgamento. | ||
Author | Oliver Pieper | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-difícil-busca-pelos-últimos-criminosos-nazistas-vivos/a-72233584?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | A ex-secretária do campo de concentração de Stutthof Irmgard Furchner (1925-2025), condenada em 2024 por facilitar o assassinato de mais de 10 mil pessoas, morreu aos 99 anos | ||
Image source | Christian Charisius/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 34 | |||
Id | 72166048 | ||
Date | 2025-04-12 | ||
Title | Atendimento médico específico para adolescentes ainda é raro no Brasil | ||
Short title | Faltam tratamentos específicos para adolescentes no Brasil | ||
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País tem poucas centenas de profissionais especializados na hebiatria, ramo da medicina dedicado à saúde física e mental dos jovens, acompanhando-os desde a rotina escolar até a vida sexual. A série Adolescência chamou atenção para os riscos a que jovens estão expostos, especialmente nos ambientes digitais. No Brasil, poucos pais sabem a qual especialista recorrer nesta idade para acompanhá-los em seu desenvolvimento. O país tem poucas centenas de profissionais especializados na hebiatria, ramo da medicina voltado para adolescentes. A hebiatria é baseada em consultas abrangentes, e aborda aspectos mais amplos dos pacientes, cobrindo desde a rotina escolar à vida sexual. Mas apesar de uma série de questões complicadas que assolam esta faixa da população, definida entre os 10 e os 20 anos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nem mesmo nos meios médicos a especialização é bem conhecida. Além dos dois anos tradicionais de especialização em pediatria, a formação específica para cuidados com adolescentes demanda um período adicional de dois anos de imersão no tema. No Brasil, a especialidade foi reconhecida pela Associação Médica Brasileira (AMB) em 1998. "É necessária uma formação ampla para além da questão biológica, incluindo noções de psicologia e psiquiatria", pontua a hebiatra Mônica Mulatinho, que atua em Brasília. Profissionais como ela fazem uma avaliação de saúde integral dos adolescentes, considerando temas como alimentação, sono e atividades físicas, e como estas questões podem estar ligadas à saúde mental. Mulatinho conta que nunca havia ouvido falar na área durante a graduação em medicina, até que soube da possibilidade de se aprofundar no tema durante a especialização em pediatria, em meados da década de 1990. "Muitos médicos ainda passam pela universidade e não têm grande contato com a hebiatria", afirma. A médica faz parte de um grupo online que buscou reunir todos os profissionais da área no país, chegando a pouco mais de 300 integrantes, em grande parte mulheres. Uma delas é Valéria Barbosa, que atende em Belo Horizonte. Segundo ela, grande parte da divulgação da especialidade ainda é feita por "boca a boca". "A maioria das pessoas ainda não conhece." O número pequeno de vagas de residências médicas para formação em medicina do adolescente é uma das razões que reforça esse cenário, aponta Elizete Prescinotti Andrade, presidente do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). Além disso, ela diz que há desconhecimento de pais e responsáveis sobre a importância de consultas regulares durante a adolescência. "A consulta médica não se resume apenas a problemas físicos imediatos, e sim tem papel importantíssimo na avaliação de riscos, tais como saúde mental, acidentes e uso de substâncias psicoativas", pontua. Limitações no atendimentoAlém de esbarrarem na falta de informação, pais costumam ter dificuldades em encontrar especialistas. "No Sistema Único de Saúde (SUS), não há atendimento voltado para os adolescentes, que na maioria das vezes são invisíveis nas Unidades Básicas de Saúde (UBS)", afirma Andrade, do SPSP. "Os adolescentes vão pouco ao médico, pois não ficam fisicamente doentes com frequência. E quando vão, perde-se a oportunidade de fazer prevenção de risco e mesmo de vacinação. Não existe programa contínuo de saúde escolar que poderia aproximar o adolescente e as UBS", acrescenta. Nos planos de saúde, a especialidade geralmente não é oferecida. E o interesse dos médicos nesses atendimentos é limitado, segundo Andrade, porque os convênios não os remuneram adequadamente, apesar de essas consultas demandarem mais tempo dos profissionais. Por isso, muitos recorrem ao atendimento particular. Andrade argumenta que, assim como houve políticas públicas mais amplas para gestantes e diabéticos, o mesmo poderia ser feito para o atendimento aos adolescentes no país. Mulatinho concorda, e cita como exemplo os sucessos do país em grandes campanhas de conscientização no passado, como no caso da AIDS. Estigmas e "fase complicada"A escassez de hebiatras também é atribuída aos estigmas negativos sobre a adolescência. Segundo Barbosa, a percepção de que é difícil lidar com esses pacientes – expressa no termo pejorativo "aborrecência" – afasta alguns profissionais. Apesar de ver méritos em filmes e séries de sucesso sobre esta fase da vida, com a tematização dos efeitos das redes sociais sobre a juventude, Barbosa acha que essas produções podem fomentar uma visão negativa desta fase da vida. "A adolescência, como todas as faixas etárias, possui particularidades do desenvolvimento que os profissionais têm que estar capacitados a reconhecer e saber como atuar diante delas", aponta Andrade, da SPSP. "Esse conhecimento muda essa visão de fase difícil; passamos a entender a importância dos cuidados e o quanto é recompensador trabalhar com eles." Para ela, a percepção na sociedade sobre o período contribui para que "profissionais de saúde, pais, professores e mesmo o poder público se distanciem dos adolescentes, sendo omissos em garantir seus cuidados e direitos". Relação com a tecnologia traz novos desafios à saúdeSegundo Barbosa, a busca pela especialidade aumentou diante das complicações na saúde mental associadas à pandemia e ao uso de telas. Além do tempo excessivo em dispositivos, questões como déficit de atenção, vício em apostas e a chamada síndrome FOMO (fear of missing out)– um temor constante de perder ou ficar de fora de algo – são desafios trazidos pela relação com a tecnologia. Outro problema comum nos consultórios, também agravado pela exposição midiática excessiva, são os transtornos alimentares. "Séries como Adolescência mostram não apenas os riscos das redes sociais, mas também a importância das relações em casa", lembra Mulatinho. "Neste caso, ficou muito claro algo que sempre observamos: é possível estar próximo fisicamente dos adolescentes, mas com grande distância." A hebiatra aponta que, muitas vezes, falta conhecimento sobre a rotina dos filhos, ainda que os responsáveis possam estar próximos. Esse paradoxo é reforçado pelos dispositivos eletrônicos. Mulatinho observa que, nos últimos anos, a busca pela especialidade apenas em casos graves vem reduzindo, com muitos pais recorrendo aos hebiatras para check-ups e procurando acompanhar o desenvolvimento dos adolescentes. Há alguns anos, ela lembra que a demanda por esses tratamentos normalmente ocorria com o "caldo entornado", em situações nas quais os riscos para o paciente já eram bem elevados. Na visão de Andrade, para alunos e residentes de medicina, a possibilidade de estar em uma área que certamente vai ter cada vez mais demanda de atendimento é um atrativo. Além disso, ela observa que pediatras gerais ou com outras especializações que têm pacientes que agora são adolescentes eventualmente sentem necessidade de ter maior conhecimento nesta área. Diferenças no tratamentoOs profissionais reforçam que a grande vantagem da especialidade está nas consultas, geralmente ampliadas em relação às convencionais, e que envolvem momentos com e sem a presença dos responsáveis. Quando os adolescentes estão sozinhos, há a garantia de total sigilo, o que possibilita a discussão de temas desconfortáveis, mas vitais, como o consumo de drogas e a sexualidade. "Muitas coisas não seriam contadas caso os pais estivessem ali. É um momento de privacidade. Os pacientes se abrem logo na primeira consulta. Às vezes, mudam até sua postura quando estão sem os responsáveis", afirma Barbosa. "Os adolescentes querem contar o seu lado e as suas versões." Para Mulatinho, um dos grandes méritos das consultas especializadas é o de conseguir lidar com casos de abusos, que em sua maioria são cometidos dentro dos núcleos intrafamiliares. "São situações que necessitam de uma escuta muito bem apurada, na qual são observadas todas as reações do paciente", afirma. Os benefícios e riscos de tratamentos como o uso de remédios para a eliminação de acnes, comuns nesta fase, também recaem sobre os profissionais. Recentemente, os hebiatras passaram a ter como uma de suas prioridades a avaliação e acompanhamento do uso de suplementos para ganhar massa muscular, assim como as atividades nas academias dos adolescentes, que recorrem cada vez mais cedo a estes recursos, muitas das vezes impulsionados por perfis nas redes Indo até os pacientesAs redes sociais estão ligadas a alguns dos principais problemas enfrentados pelos adolescentes hoje, mas também são um meio usado por muitos especialistas para se aproximar do público. Mulatinho conta que os hebiatras mais presentes nas redes têm um grupo em que conversam sobre conteúdos e ajudam a divulgar a especialidade. Em seu caso, o Instagram foi uma forma de publicar sobre o tema, e também abrir espaço para que interessados possam se consultar. Barbosa foi pelo mesmo caminho, e afirma que teve que se adaptar às preferências do público alvo, o que implica, por exemplo, publicar vídeos de duração mais curta. Em seus perfis, alguns profissionais costumam oferecer a possibilidade de consultas remotas – boa parte dos especialistas está em maiores centros. Ao redor do Brasil, iniciativas conjuntas também buscam divulgar o tema e oferecer tratamentos aos adolescentes, muitas vezes de forma voluntária. No caso de Brasília, há o Adolescentro, em que Mulatinho é colaboradora. Em Belo Horizonte, há o Janela da Escuta, projeto no qual Barbosa atua como voluntária, e que funciona como extensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ainda em Minas Gerais, o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM/Ebserh) oferece atendimentos no Centro de Atenção Integrada em Saúde (Cais). Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente mantém o programa Aquarela, voltado para o atendimento de jovens transgênero. |
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Short teaser | País tem poucas centenas de profissionais especializados na hebiatria, ramo da medicina que cuida da saúde dos jovens. | ||
Author | Matheus Gouvea de Andrade | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/atendimento-médico-específico-para-adolescentes-ainda-é-raro-no-brasil/a-72166048?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 35 | |||
Id | 72186632 | ||
Date | 2025-04-09 | ||
Title | "Fica um vazio": parentes de desaparecidos nas enchentes no RS vivem luto sem fim | ||
Short title | Parentes de desaparecidos no RS vivem luto sem fim | ||
Teaser |
Quase um ano após enchentes que deixaram rastro de destruição no estado, 27 vítimas seguem desaparecidas. Buscas são consideradas cada vez mais difíceis, prolongando sofrimento de parentes."Ficamos com um vazio no coração não sabendo onde eles estão e não podendo dar um destino certo a eles". É com essa frase que a assistente administrativa Luana Dutra Marquete, 24 anos, define o sentimento dos últimos meses.
Moradora de Muçum, no Rio Grande de Sul, ela e o marido Eduardo Brino, de 25 anos, perderam, em uma única tarde, seis familiares nas enchentes que atingiram o estado entre o final de abril e o início de maio de 2024. Os avós Elirio e Erica Brino, de 78 anos, seguem desaparecidos até hoje.
"Precisamos seguir nossas vidas, mas seguimos vivendo o luto daqueles dias. Tem momentos em que a gente para, fica pensando em tudo o que aconteceu e as lágrimas escorrem”, diz Luana.
Elirio e Erica viviam com o filho, Dorly, de 58 anos, e com a mulher de Dorly, Janice, de 49, em uma pequena propriedade rural em Roca Sales, no Vale do Taquari, onde criavam bois e porcos. No local também moravam Maria Eduarda, de 20 anos, e Gabriela, de 9 anos, filhas de Dorly e Janice e netas dos idosos. Eduardo, irmão mais velho das meninas, vive com Luana em Muçum (RS), município vizinho.
A tragédia que devastou a família Brino aconteceu no dia 30 de abril de 2024. As intensas chuvas dos dias anteriores fizeram com que um morro próximo desmoronasse, cobrindo tudo que existia nas imediações.
"Por volta das 15 horas, chovia muito e foi quando tudo aconteceu. Vizinhos que estavam junto ao Dorly e Janice minutos antes, apenas ouviram o barulho e saíram correndo, e tudo o que se via era uma fumaça branca e a visibilidade era zero. Eu e o Eduardo, estávamos em Muçum. Ele havia saído de casa para poder ajudar as pessoas a carregar as coisas por causa da enchente, quando um compadre veio em nossa casa e deu a notícia. A ficha não caiu na hora", recorda Luana.
"Sabíamos o transtorno que a enchente causava às pessoas, porém um deslizamento de terra nunca pensamos que isso pudesse acontecer na propriedade. Tanto que eu e Eduardo estávamos construindo nossa casa no morro onde ocorreu o deslizamento”, acrescenta.
Toda a família que estava na propriedade foi atingida pelo deslizamento. Os corpos dos pais e das irmãs de Eduardo foram encontrados dias após o ocorrido. Já os avós nunca foram localizados.
Dados da Defesa Civil do Rio Grande do Sul apontam que 27 pessoas seguem desaparecidas após um ano da tragédia. Os desaparecidos são de 15 diferentes cidades. Oficialmente, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul contabilizou 183 mortes no desastre. Ao todo, 478 municípios gaúchos foram atingidos por inundações, quedas de barreiras e deslizamentos de terra.
As buscas
Com o passar dos meses a busca pelos desaparecidos se torna um desafio cada vez maior.
O acúmulo de entulho e as camadas de sedimentos já endurecidas dificultam os trabalhos. Segundo o Corpo de Bombeiros, em algumas áreas, os sedimentos resultantes dos deslizamentos chegam a 12 metros de altura.
"Não há meios para rastrear ou tecnologia que nos permita localizar corpos em meio a esses sedimentos ou até mesmo submersos nos rios", diz o Ricardo Mattei, coronel do Corpo de Bombeiros, subcomandante geral da corporação no estado.
O passar do tempo, também dificulta o trabalho dos cães farejadores, já que o odor se dissipou. E a extensão da área atingida pela enchente é outro desafio que impacta diretamente na localização dos desaparecidos.
"A enchente atingiu quatro calhas de rios que cortam nosso estado, fazendo com que a área atingida fosse de mais de 300 km de extensão. A possibilidade de encontrar essas vítimas, infelizmente, é muito pequena", acrescenta Mattei.
Além das dificuldades em encontrar as vítimas desaparecidas, a identificação delas também não é considerada fácil, já que o grande volume de água resultante da enchente pode fazer com que o corpo seja localizado em outro município.
Esse foi o caso de Josiani Carolini da Silva, uma das últimas vítimas encontradas pela corporação, em julho de 2024. A mulher constava como desaparecida da cidade de Lajeado, no entanto seu corpo foi encontrado em Cruzeiro do Sul, cidade vizinha.
"Sempre que encontramos ossos ou fragmentos, eles são encaminhados para o Instituto Geral de Perícia (IGP) para a identificação através de DNA. Porém, os cemitérios das cidades também foram atingidos pela enchente e muitas vezes, o que encontramos são de pessoas que já haviam falecido antes da tragédia", detalha Mattei.
Luto sem ritualização
O luto por pessoas desaparecidas é um processo marcado pela incerteza. Sem um corpo ou uma confirmação definitiva, familiares vivem em um estado de não encerramento emocional de um ciclo, o que, segundo os especialistas, pode dificultar a aceitação da perda e prolongar todo o sofrimento.
"Dentro da teoria do luto, a gente fala de um termo que se chama luto ambíguo. Nesse tipo de luto, ao mesmo tempo que a pessoa sabe que o ente tenha morrido na enchente porque ele desapareceu, ela ainda pode nutrir uma esperança, porque essa perda não foi ritualizada. Então quando não tem um corpo, a situação fica em aberto", explica Natália Aguilar, psicóloga com especializações em Psicologia Perinatal e Parental, Perdas e Luto.
Essa ritualização da morte e de despedida, segundo os profissionais, é importante porque traz concretude para o luto e ajuda a organizar internamente essa questão da morte para que a pessoa possa ir para uma outra etapa, que é de fato vivenciar o luto em si.
"A forma como cada pessoa vai lidar com essa falta é que vai fazer com que a elaboração do processo chegue ao fim. O luto, ele é eterno, mas o processo para elaboração, ressignificação dessa perda e reestruturação psíquica da pessoa tem fim", explica o psicólogo Paulo Torres, vice-coordenador do grupo Amigos Solidários na Dor do Luto.
Ainda segundo os profissionais, enfrentar o luto em situações de tragédias, como a ocorrida no Rio Grande do Sul, é ainda mais difícil porque além da dor da perda do ente querido, a comoção de ver cidades destruídas também impacta o estado emocional dessas famílias.
"Essas pessoas enfrentam diversas perdas de uma única vez. Tem a perda do familiar, da moradia, financeira, das memórias e da rotina. Essas pessoas tiveram perdas nas esferas mais profundas e é necessária muita resiliência e apoio emocional para retomar a vida", acrescenta Aguilar.
Declaração de "Morte Presumida"
Uma das maneiras de oficializar a morte de um ente querido em caso de desaparecimento é através da presunção de morte.
A legislação brasileira prevê, no artigo 7º do Código Civil, uma decisão judicial que declara a morte de uma pessoa, mesmo que não haja provas concretas, ou seja, quando o corpo não é encontrado.
Assim, familiares que tiverem desaparecido numa catástrofe como as enchentes do Rio Grande do Sul podem fazer essa solicitação judicial.
O especialista em direito processual civil, o advogado Anderson de Carvalho Sales, explica que, como não há um corpo para que um médico possa assinar o atestado de óbito, as famílias das vítimas devem entrar na Justiça com um pedido de morte presumida.
A entrada do processo tem de ser feita por meio de advogado particular ou da Defensoria Pública do estado.
"A declaração só pode ser dada quando esgotadas todas as buscas, sendo que a sentença fixa uma data provável de falecimento, como o dia em que a casa da família foi levada pelas águas. A família precisa desse documento para obter a certidão de óbito e seguir com outros trâmites como pedir pensão por morte, se for o caso, e começar o inventário", explica.
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Short teaser | Quase um ano após desastre, 27 vítimas seguem desaparecidas. Buscas são consideradas cada vez mais difíceis. | ||
Author | Simone Machado | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/fica-um-vazio-parentes-de-desaparecidos-nas-enchentes-no-rs-vivem-luto-sem-fim/a-72186632?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Fotografia encontrada em uma casa destruída pelas enchentes na cidade gaúcha de Sinimbu | ||
Image source | Luciana Kaempf Gastal/DW | ||
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Item 36 | |||
Id | 72119729 | ||
Date | 2025-04-04 | ||
Title | Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança | ||
Short title | Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança | ||
Teaser |
Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e de extermínio do nazismo. Ser um jogador ou lutador importante podia trazer privilégios e esperança, ou perseguição cruel.Os campos de concentração do nazismo eram locais de horror e morte, de tortura e humilhação para os detentos. Para esse fim, o pessoal de vigilância também os submetia regularmente a exercícios esportivos cruéis.
"Os guardas mandavam os presos fazerem flexões ou saltarem, ou correrem até cair de exaustão", conta a historiadora do esporte Veronika Springmann, autora do livro Gunst und Gewalt – Sport in nationalsozialistischen Konzentrationslagern (Favoritismo e violência – Esporte nos campos de concentração nacional-socialistas). Quem estava no chão geralmente ainda era chutado e insultado: "Era realmente um ritual cotidiano."
Além do esporte imposto com violência, havia atividades esportivas que os prisioneiros praticavam de forma mais ou menos espontânea. Devido às condições desumanas, submetidos a duros trabalhos forçados ou experimentos médicos macabros, para a maioria deles não era como praticar esporte como lazer. E tampouco havia lugar para tal nos campos.
Além disso, havia uma hierarquia interna estrita. O fato de pertencer a um determinado grupo definia, em grande parte, as condições de prisão e, portanto, as chances de sobrevivência. Por exemplo: presos políticos ou criminosos profissionais em geral recebiam tratamento melhor do que judeus, homossexuais ou os assim chamados "antissociais".
Quem estava mais no alto na hierarquia era menos maltratado pelos guardas, recebia trabalho e alojamento melhor, roupas mais quentes, tinha acesso a mais comida, estando, portanto, mais apto praticar esportes. No total, porém, o número desses privilegiados era pequeno.
Entre eles estavam os "presos funcionais" (Funktionshäftlinge), designados para vigiar os companheiros e manter a ordem. Enquanto alguns se tornaram assim cúmplices do horror do sistema de concentração e extermínio, outros aproveitavam sua posição melhor para proteger outros detentos.
Futebol e boxe para sobrevivência e esperança
Dentro dos campos de concentração, promoviam-se regularmente partidas de futebol e lutas de boxe. Com o avançar da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942 as condições mudaram para alguns dos prisioneiros.
"A mão de obra dos internos era necessária para a indústria armamentista", explica Springmann. "Todas as firmas do setor produziam nos campos de concentração ou em instalações externas. Os que trabalhavam especialmente bem, ou que atuavam como presos funcionais, tinham permissão para organizar partidas de futebol."
Assim, o número de jogos aumentou. Os times eram, em geral, divididos por nações, embora raramente tivessem 11 jogadores completos. Os detentos tentavam até mesmo providenciar uniformes. No memorial do campo de Dachau, próximo a Munique, está exposta uma taça de madeira. Organizar esses eventos também tinha a ver com esperança.
"Planejamento está sempre direcionado para o futuro", lembra a historiadora do esporte. "Ou seja: eu espero que ainda vá estar viva amanhã, depois de amanhã, no próximo domingo. Isso fortalece e dá esperança. E esperança é um recurso importante para a sobrevivência"
Entretanto é preciso jamais esquecer que apenas uma parcela mínima dos presos tinha permissão ou condições para participar dos jogos – que, além disso, se realizavam num ambiente em que paralelamente se torturava e assassinava.
Lutando e jogando para sobreviver
Enquanto para os detentos e sobreviventes do sexo masculino havia diversas opções para praticar esportes, o mesmo não se aplicava às mulheres: "Naquela época o esporte simplesmente não contava como uma prática cotidiana feminina", explica Springmann.
"Mas eu partiria do princípio de que no campo de concentração de Ravensbrück, por exemplo, as prisioneiras fizessem ginástica de vez em quando. Mas elas não escreveram a respeito."
Havia entre os presos também atletas profissionais, mas, como eles não eram tão presentes na imprensa como hoje em dia, muitas vezes passavam despercebidos pelos guardas dos campos de concentração.
No início do século 20, Julius Hirsch era considerado um dos melhores futebolistas da Alemanha, duas vezes campeão nacional e integrante da seleção nacional entre 1911 e 1913. Por ser judeu, em março de 1943 foi deportado para Auschwitz e lá morreu. No entanto não está documentado que ele tenha sido identificado como ex-craque, ou que sequer tenha jogado lá.
O boxe era um esporte importante e popular para os nazistas. Alguns profissionais foram reconhecidos nos campos de concentração ou se apresentaram quando os guardas procuravam concorrentes talentosos para as lutas que organizavam para sua própria diversão.
Dois exemplos foram o polonês Antoni Czortek – participante dos Jogos Olímpicos de Berlim, em1936 – e o tunisiano Victor Perez – campeão mundial de peso-mosca em 1931 e 1932. Como judeus, ambos foram internados em Auschwitz em 1943, onde por diversas vezes tiveram que enfrentar outros detentos. Era literalmente questão de vida ou morte: o perdedor ou era abatido a tiros imediatamente ou enviado para morrer nas câmaras de gás.
Assim, com ironia macabra, o boxe salvou várias vidas nos campos de concentração nazistas. Czortek só morreu em 2003, aos 89 anos; Perez sobreviveu a Auschwitz, mas não ao Holocausto: ele foi fuzilado em janeiro de 1945, numa das "marchas da morte" em que, no fim da Segunda Guerra, os presos dos campos perto do front eram transferidos de lugar, à medida que os Aliados avançavam.
Para Johann "Rukeli" Trollmann, a arte do boxe não trouxe vantagens: o ex-campeão de peso-médio da Alemanha era cigano da etnia sinti, e quando seu passado veio à tona, os guardas do campo de concentração passaram a espancá-lo com frequência e crueldade extremas. Ele morreu em 1944 no campo secundário de Wittenberge: tendo vencido um dos "kapos" numa luta, foi abatido pouco mais tarde pelo perdedor, traiçoeiramente, durante os trabalhos forçados.
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Short teaser | Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e extermínio do nazismo. | ||
Author | Andreas Sten-Ziemons, Alima Hotakie | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/esporte-no-campo-de-concentração-entre-tortura-e-esperança/a-72119729?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau | ||
Image source | Sven Hoppe/dpa/picture alliance | ||
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Item 37 | |||
Id | 71689720 | ||
Date | 2025-02-20 | ||
Title | Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora | ||
Short title | Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora | ||
Teaser |
Antigo presidente da federação de futebol da Espanha Luis Rubiales foi condenado a pagar quase 11 mil euros por beijar atleta na boca sem consentimento na Copa de Sydney, em 2023. Ele pretende recorrer da sentença.A Justiça da Espanha condenou nesta quinta-feira (20/02) o ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, a pagar 10.800 euros (R$ 64,2 mil) pelo crime de agressão sexual, por beijar a jogadora Jennifer Hermoso na boca após a conquista da Copa do Mundo em Sydney em 20 de agosto de 2023, sem o consentimento dela.
Por outro lado, Rubiales foi absolvido do crime de coação sobre a jogadora para declarasse que o gesto fora consensual. O ex-técnico da seleção feminina espanhola, Jorge Vilda, e outros dois ex-diretores, Albert Luque y Rubén Rivera, também foram absolvidos de coação.
Luque era diretor de futebol da seção masculina, enquanto Rivera, gerente de marketing da federação, acompanhou as jogadoras na viagem à ilha de Ibiza, no Mediterrâneo, com a qual foram premiadas pela conquista da Copa do Mundo.
Restrições a contato com jogadora
A decisão do juiz José Manuel Fernández-Prieto, da Audiência Nacional, onde foi realizado o julgamento, também proíbe Rubiales de se aproximar de Hermoso num raio de 200 metros e de se comunicar com ela por um ano.
O Ministério Público da Audiência Nacional havia solicitado uma pena total de dois anos e seis meses de prisão para Rubiales, dos quais um ano pelo crime de agressão sexual, mais um ano e meio por coação. Por este último crime, o representante do Ministério Público também havia pedido uma pena de um ano e seis meses para os outros três acusados.
O advogado de Rubiales já anunciou que recorrerá da sentença.
Beijo acabou com carreira do dirigente
"Rubi", como é chamado pelos amigos, era presidente da RFEF desde maio de 2018. Ele viu sua carreira desandar após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina em Sydney.
Em 20 de agosto de 2023, diante das câmeras, ele agarrou a cabeça de Hermoso com as duas mãos e a beijou de surpresa na boca: um ato "espontâneo", em sua opinião, mas "inapropriado" para Hermoso, que negou ter dado seu consentimento.
Diante da indignação pública, Rubiales pediu demissão em setembro de 2023 e encerrou uma carreira no futebol iniciada aos 14 anos de idade, quando ingressou no clube da pequena cidade de Motril, em Andaluzia, no sul da Espanha.
Nascido em Las Palmas há 47 anos, Luis Manuel Rubiales Béjar iniciou uma carreira discreta nas divisões inferiores antes de pendurar as chuteiras na Escócia com o Hamilton Academical em 2009.
Escândalos
Extrovertido e franco, Rubiales foi cercado por escândalos durante seu período à frente da RFEF. Ele causou alvoroço ao demitir o técnico da seleção espanhola Julen Lopetegui dois dias antes do início da Copa do Mundo de 2018.
Reeleito em 2020, transferiu a Supercopa da Espanha para a Arábia Saudita, num contrato controverso que foi examinado pelo Judiciário por suspeita de corrupção e acordos irregulares durante seu mandato. Ele chegou a ser detido no contexto do caso, que também envolve o ex-jogador do FC Barcelona Gerard Piqué, cuja empresa teria recebido uma comissão de 1 milhão de dólares para intermediar o acordo com Riad. Rubiales negou qualquer irregularidade.
Mas o ex-cartola é também reconhecido por ter aumentado a renda e o patrocínio da federação, e procurado melhorar as condições do futebol juvenil, o que lhe rendeu o apoio das federações regionais.
Ele também multiplicou o orçamento para o futebol feminino, embora tenha enfrentado a "rebelião das 15" que exigia melhorias estruturais e teve apoio de Jenni Hermoso. Desde que caiu em desgraça, Rubiales tem vivido discretamente na cidade andaluza de Granada como “só mais um vizinho”, segundo a mídia espanhola.
md/av (EFE, AFP)
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Short teaser | Ex-chefe da federação de futebol condenado a pagar 11 mil euros por beijar atleta anuncia que recorrerá da sentença. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/ex-cartola-espanhol-condenado-por-beijo-forçado-em-jogadora/a-71689720?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney | ||
Image source | Noe Llamas/Sport Press Photo/ZUMA Press/picture alliance | ||
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Item 38 | |||
Id | 70932615 | ||
Date | 2024-12-01 | ||
Title | Briga de torcidas deixa 79 feridos no leste da Alemanha | ||
Short title | Briga de torcidas deixa 79 feridos na Alemanha | ||
Teaser |
Partida da quarta divisão do futebol alemão em Jena, no leste do país, foi marcada por confrontos com a polícia e brigas entre torcedores rivais. Confrontos entre torcedores antes e durante uma partida de uma liga regional de futebol do leste da Alemanha no sábado (30/11) deixaram 79 feridos, incluindo dez policiais e cinco seguranças. Os incidentes ocorreram na cidade de Jena, no estado da Turíngia, e tiveram como pano de fundo uma partida entre o Carl Zeiss Jena e o BSG Chemie Leipzig, duas equipes que disputam a Regionalliga Nordost, liga equivalente à quarta divisão do futebol alemão. Além dos 79 feridos - que incluíram 64 torcedores de ambos os times -, foram registradas 40 acusações criminais e de contravenção. Jena fica a cerca de 100 quilômetros de Leipzig, cidade-sede do rival Chemie e que fica no estado da Saxônia. Apesar de ambas às torcidas serem associadas à ideologia de esquerda, as autoridades esperavam confusão, e a partida foi considerada de alto risco devido à antipatia entre os grupos de torcedores. Uma multidão de 7.224 espectadores, incluindo 1.084 torcedores do Chemie, compareceu à partida em Jena. De acordo com a polícia, cerca de 350 torcedores do visitante Chemie fizeram uma marcha pela cidade antes do jogo, sem aviso prévio. Durante o ato, torcedores dispararam fogos de artificio e a polícia disse que teve de intervir "com o uso de força física e violência física, além de cassetetes e gás lacrimogêneo". Mais tarde, durante a partida - vencida pelo Carl Zeiss Jena por 5 a 0 -, houve confrontos entre as duas torcidas dentro do estádio. Clubes condenam a violênciaO Carl Zeiss Jena divulgou uma declaração no domingo sugerindo que grande parte da culpa foi dos torcedores visitantes. "Um grande grupo de aproximadamente 1.200 torcedores visitantes do Leipzig rompeu violentamente a barreira entre o bloco de visitantes e o Bloco N e obteve acesso à área da torcida do Jena", apontou o comunicado. "Acima de tudo, o FC Carl Zeiss Jena deseja aos afetados uma rápida recuperação. O clube terá um quadro abrangente do que aconteceu nos próximos dias.” O Chemie Leipzig adotou uma postura semelhante, criticando "a má conduta de uma minoria" de seus torcedores. "Como clube, sofremos grandes danos ontem. De acordo com nossas evidências, fogos de artifício foram lançados repetidamente do setor visitante em direção ao setor da torcida adversária", disse um comunicado no site do clube. "Condenamos a violência na forma de confrontos físicos, especialmente o uso de fogos de artifício contra pessoas. Isso não tem lugar em nossos jogos de futebol e não será tolerado por nós." Ambos os clubes disseram que ainda pretendem investigar os incidentes. jps (DW, dpa, ots) |
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Short teaser | Partida da 4° divisão do futebol alemão no leste do país foi marcada por confrontos com a polícia e briga de torcidas | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/briga-de-torcidas-deixa-79-feridos-no-leste-da-alemanha/a-70932615?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Briga%20de%20torcidas%20deixa%2079%20feridos%20no%20leste%20da%20Alemanha |
Item 39 | |||
Id | 70919291 | ||
Date | 2024-12-01 | ||
Title | A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids | ||
Short title | A luta de "Magic" Johnson contra o HIV e a aids | ||
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Em 1991, o então astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se um marco na luta contra a aids. Até hoje, ele segue empenhado em campanhas de esclarecimento sobre a doença. Em meio a lágrimas dos repórteres veteranos, Earvin "Magic" Johnson permanece calmo. "Vou ter que me aposentar do Lakers porque contraí o vírus HIV", afirma. O astro do basquete tinha 32 anos quando proferiu essa frase, com voz firme, em 7 de novembro de 1991. Em seguida, acrescentou que não tinha aids, mas apenas HIV, o que havia sido confirmado pelo Dr. Michael Mellman pouco antes da coletiva de imprensa. O médico do Los Angeles Lakers havia chamado Johnson depois de uma viagem do time para lhe dar a má notícia. "Quando ele me contou pela primeira vez, eu pensei: 'Ah, cara, eu vou morrer. Acho que acabou'. E ele disse: 'Não, não, não acabou'", lembrou Johnson mais tarde em uma entrevista à emissora pública PBS. Melman lhe disse que ele tinha que começar a tomar medicação e aprender a se sentir confortável com sua nova condição. Assim, poderia viver por muito tempo. Em 1991, a infecção pelo HIV ainda era considerada uma sentença de morte pela opinião pública. Isso explica por que a coletiva de imprensa de Johnson causou um choque tão grande, comparável, para alguns, com a morte de John F. Kennedy, assassinado em 1963, ou com a renúncia de Richard Nixon após o caso Watergate em 1974. "Magic" Johnson estava no auge da carreira e era uma superestrela do esporte em todo o mundo. Ele havia conquistado cinco títulos da NBA com o Lakers e tinha sido eleito o Jogador Mais Valioso (MVP) da temporada três vezes. "Magic" Johnson era famoso em quase todo o mundo. Até então, muitos viam a aids como uma doença que só afetava gays ou viciados em drogas. Johnson, entretanto, não pertencia a nenhum desses grupos. "Agora estou me tornando um porta-voz do HIV porque quero que as pessoas entendam que não há como evitar o sexo seguro. Às vezes, pensamos que somente os homossexuais podem contrair o vírus, que isso não pode acontecer comigo. Mas agora estou aqui para dizer que pode acontecer com qualquer um, até comigo. Todos deveriam ter mais cuidado", disse Johnson. Dois meses antes do anúncio, em setembro de 1991, Johnson havia se casado com sua esposa Cookie. Na coletiva de imprensa, disse que sua esposa grávida não era portadora do vírus. Foi somente mais tarde que ele revelou que havia contraído o HIV durante relações sexuais desprotegidas com outra mulher. "Efeito Johnson" em testes de HIVAinda em 1991, o astro do basquete criou a Fundação Magic Johnson, que apoia financeiramente grupos e campanhas contra a aids. E ele nunca se cansou de engajar ações para afetados e para aumentar a conscientização sobre a doença. Em 1º de dezembro de 1999, no Dia Mundial da Aids das Nações Unidas, ele foi um dos principais oradores, descrevendo a doença como "inimigo público número um". As palavras de Johnson não foram em vão. Em 2021, cientistas americanos estimaram que a coletiva de imprensa de 7 de novembro de 1991 fez com que um número significativamente maior de homens nos EUA fizesse o teste de HIV nos meses seguintes, principalmente entre heterossexuais negros e hispânicos em cidades com clubes da NBA. A carreira de "Magic" Johnson, porém, não terminou naquele dia de novembro. Em 1992, ele jogou no time All-Star da NBA pela conferência oeste – esse jogo coloca frente a frente jogadores de equipes do leste e do oeste dos EUA. No mesmo ano, fez parte do chamado "Dream Team" que ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona. Na temporada 1995/96, Johnson comemorou outro retorno como jogador do Lakers antes de se aposentar definitivamente. Em homenagem ao ex-atleta, o clube aposentou a camisa número 32. E "Magic" Johnson entrou para o Hall da Fama do Basquete em 2002. Bilionário e filantropo"Magic" Johnson está agora com 65 anos. Investiu com sucesso o dinheiro que ganhou no esporte, em imóveis, cinemas e empresas como a seguradora de vida EquiTrust e a rede de cafeterias Starbucks. A revista Forbes estima que a fortuna atual de Johnson seja de 1,2 bilhão de dólares. Há muito tempo, a Fundação Magic Johnson apoia não somente projetos de combate à aids, mas também outras organizações ligadas à educação, à saúde e que atuam para atuar carências sociais em cidades etnicamente diversas. Johnson está sempre envolvido, geralmente acompanhado de sua esposa Cookie e, com frequência, de seus filhos Earvin "EJ", Elisa e Andre, de um relacionamento anterior. Quando Johnson foi diagnosticado com HIV em 1991, havia apenas um medicamento contra a aids no mercado, a azidotimidina, ou AZT. Atualmente, há várias substâncias ativas que ajudam a reduzir a carga viral do HIV. Quando bem-sucedido, o sistema imunológico do paciente se recupera e ele pode viver e trabalhar normalmente. O HIV é considerado altamente tratável, se a infecção for detectada precocemente e o tratamento for iniciado imediatamente. Mas ainda há uma clara divisão entre os hemisférios Norte e Sul: o número de soropositivos no mundo todo é estimado em cerca de 40 milhões, com mais da metade vivendo no sul da África. Um quarto de todas os infectados não recebe nenhum medicamento. "Não estou curado. Apenas tomei minha medicação. Estou fazendo o que devo fazer e, graças a Deus, o HIV no meu sistema sanguíneo e no meu corpo está praticamente morto. E não queremos que nada o desperte", disse Johnson em uma entrevista à PBS há alguns anos. |
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Short teaser | Em 1991, astro do basquete foi diagnosticado com HIV, e sua declaração pública tornou-se marco na luta contra o vírus. | ||
Author | Stefan Nestler | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-luta-de-magic-johnson-contra-o-hiv-e-a-aids/a-70919291?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 40 | |||
Id | 70326170 | ||
Date | 2024-09-25 | ||
Title | Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher | ||
Short title | Promotoria acusa trio de chantagem contra família Schumacher | ||
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Três homens são acusados de exigirem 15 milhões de euros dos parentes do heptacampeão de Fórmula 1 em troca da não publicação de imagens privadas.O Ministério Público de Wuppertal, oeste da Alemanha, apresentou nesta quarta-feira (25/09) acusações contra três homens por supostamente tentarem extorquir dinheiro da família do ex-piloto de Fórmula 1 Michael Schumacher para não publicarem imagens privadas dele.
Os três acusados são um segurança de boate, 53 anos, seu filho, de 30 anos, e um ex-funcionário de segurança da família do ex-campeão mundial, de 53 anos.
De acordo com a investigação, o ex-funcionário da família de Schumacher disponibilizou gravações privadas ao segurança, que as teria adquirido para tentar fazer chantagem contra a família do ex-piloto.
Telefonemas exigindo 15 milhões de euros
Os supostos criminosos fizeram várias ligações exigindo 15 milhões de euros (R$ 79 milhões) da família Schumacher, caso contrário publicariam arquivos e materiais privados, obtidos e fornecidos pelo próprio ex-funcionário.
No momento da primeira prisão, em junho, foram apreendidos até 1.500 documentos, incluindo fotografias, vídeos e relatórios médicos do alemão em discos rígidos, pen drives e telefones celulares.
Os investigadores dizem que o material contém fotos e vídeos particulares da coleção da família, alguns tirados antes e outros depois do acidente de esqui de Schumacher em 2013.
O segurança de boate implicou seu filho no momento da prisão (ele foi o primeiro a ser preso), que foi liberado sob fiança com a obrigação de se apresentar, e foi o pai que revelou aos investigadores a identidade da pessoa que lhes forneceu os documentos de Schumacher.Duas semanas depois, o ex-funcionário dos Schumacher foi preso em seu apartamento em Wülfrath, no estado de Renânia do Norte-Vestfália, onde foram confiscados mais dispositivos eletrônicos contendo material sensível do sete vezes campeão mundial de Fórmula 1.
O caso não é o primeiro envolvendo de tentativa de chantagem contra os Schumachers. Em 2017, um homem de 25 anos recebeu uma sentença suspensa de 21 meses de prisão por exigir 900 mil euros da mulher do ex-piloto, Corinna Schumacher. Esse caso foi julgado em Reutlingen, no sudoeste da Alemanha.
Em 2013, ex-piloto sofreu uma grave lesão na cabeça em um acidente de esqui na França, tendo passado quase seis meses em coma induzido. Desde então, tem sido recebido cuidados em sua casa na Suíça, longe da mídia, e não se sabe exatamente qual é sua condição física.
md (EFE, AFP, DPA, SID)
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Short teaser | Três homens são acusados de exigirem dinheiro dos parentes do ex-piloto em troca da não publicação de imagens privadas. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/promotoria-acusa-trio-de-chantagem-contra-família-schumacher/a-70326170?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Michael Schumacher e sua mulher, Corinna, em 2001 | ||
Image source | Oliver Multhaup/dpa/picture-alliance | ||
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Item 41 | |||
Id | 70166593 | ||
Date | 2024-09-08 | ||
Title | Brasil pela primeira vez no top 5 dos Jogos Paralímpicos | ||
Short title | Brasil pela primeira vez no top 5 dos Jogos Paralímpicos | ||
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País bate próprio recorde nos Jogos de Paris com 89 medalhas, sendo 25 ouros, 26 pratas e 38 bronzes, e alcança sua melhor colocação na história da competição.O Brasil encerrou neste domingo (08/09) sua participação nos Jogos Paralímpicos de Paris com sua melhor campanha na história do evento. Foram 89 medalhas, sendo 25 de ouro, 26 de prata e 38 de bronze, que deixaram o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas.
A grande campeã foi a China, com 84 ouros, seguida pelo Reino Unido (49 ouros), Estados Unidos (36) e Holanda (27). O Brasil manteve uma disputa acirrada com a Itália pelo quinto lugar, que apenas foi resolvida no último dia da competição. A batalha foi decidida com dois ouros – um no halterofilismo, com Tayana Medeiros, e outro na canoagem, com Fernando Rufino.
A campanha brasileira superou o melhor resultado obtido pelo país até então. Nos Jogos de Tóquio, em 2021, os brasileiros conquistaram 72 pódios e garantiram a sétima posição. Esta é a quinta edição seguida que o Brasil termina no top 10 dos Jogos Paralímpicos. Os brasileiros ficaram em 8º nos Jogos do Rio 2016; em 7º em Londres 2012, e 9º em Pequim 2008.
Em Paris, a maioria das medalhas brasileiras veio da natação (28 medalhas) e do atletismo (36), sendo estas as melhores participações na história em números quantitativos dessas modalidades. O nadador Gabriel Araújo, o Gabrielzinho, foi um dos grandes destaques, conquistando três ouros.
Os judocas também tiveram grande contribuição para o bom resultado da delegação brasileira, conquistando quatro ouros.
Meta mais do que atingida
"Em cada brasileiro pulsa hoje um coração Paralímpico", festejou o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado. "Nossa meta era 75 a 90 [medalhas]. Era ficar entre os oito, ficamos entre os cinco. Muita sensação de que o trabalho compensa."
Conrado disse que o plano, a partir de agora, é ampliar a participação de mulheres. "Essa delegação já teve 40% de mulheres. Se a gente olhar para China, mais de 60% das medalhas foram conquistadas por mulheres. Se a gente oportunizar, elas vão ser cada vez mais protagonistas."
rc/as (ots)
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Short teaser | País bate próprio recorde nos Jogos de Paris com 89 medalhas e alcança sua melhor colocação na história da competição. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/brasil-pela-primeira-vez-no-top-5-dos-jogos-paralímpicos/a-70166593?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Campanha brasileira em Paris deixou o país na quinta colocação no quadro geral de medalhas | ||
Image source | Umit Bektas/REUTERS | ||
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Item 42 | |||
Id | 70166081 | ||
Date | 2024-09-08 | ||
Title | Alemanha investiga novos casos de manipulação de resultados em jogos de futebol | ||
Short title | Alemanha apura manipulação de resultados em jogos de futebol | ||
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Casos estariam diretamente ligados à atuação das "bets", as empresas de apostas online. Autoridades analisam "decisões suspeitas dos árbitros" e comportamento de jogadores em 17 partidas de divisões diferentes. A polícia alemã confirmou a abertura de investigações sobre 17 partidas das divisões mais baixas do futebol alemão por suspeitas de manipulação de resultados em associação a empresas de apostas online – as chamadas "bets". Autoridades nos estados de Hesse e no Sarre deram inicio à análise de partidas consideradas suspeita. O Departamento Federal de Investigações Criminais (BKA) – a Policia Federal alemã – confirmou estar "envolvido no processo, no papel de coordenador central". As investigações se seguiram a uma matéria publicada no jornal Hamburger Morgenpost neste fim de semana. A reportagem denunciou esquemas de manipulação de resultados em partidas na terceira divisão do futebol alemão (3. Liga), no torneio semiprofissional da quarta divisão (Regionallliga) e na liga amadora que equivale a 5ª divisão (Oberliga). As manipulações estariam ocorrendo por intermédio das casas de apostas online desde novembro de 2022. Nos 17 jogos em questão, as autoridades disseram que estão sendo observadas decisões suspeitas dos árbitros das partidas e algum comportamento incomum de goleiros e defensores. As discussões sobre manipulação teriam ocorrido na chamada dark web. As trocas de mensagens revelam que os ganhos ilegalmente acumulados seriam pagos em criptomoedas, como o Bitcoin. Salários baixos propiciam manipulaçãoO jornal Hamburger Abendblatt denunciou outros dois incidentes na quinta divisão da Oberliga de Hamburgo, na semana passada, onde os chamados scouts de dados foram descobertos enviando informações em tempo real para plataformas de apostas durante as partidas. Após os scouts serem retirados dos estádios, não era mais possível apostar nesses jogos. A Associação Alemã de Futebol (DBF) afirmou não ter provas concretas, mas disse estar em contato com as autoridades e que analisa os casos junto a sua empresa parceira de monitoramento de apostas, a Genius Sports. A DFB disse que não vai comentar o caso em razão de as investigações estarem em andamento. Na Alemanha, é proibido apostar em atividades do esporte amador, mas as legislações vigentes não se aplicam a empresas estrangeiras de apostas. No final do ano passado, promotores públicos passaram a investigar uma quantidade incomum de apostas feitas em uma partida da quarta divisão do futebol alemão, envolvendo a equipe do FSV Frankfurt, após uma dica dada por uma empresa de apostas. Hannes Beuck, fundador da Gamesright, uma entidade que apoia apostadores que perderam dinheiro em casinos online, avalia que o potencial para manipulação de resultados no esporte amador é mais alto, uma vez que jogadores e juízes recebem salários menores, ou inexistentes. Lembranças do escândalo HoyzerAs novas investigações reavivaram a memória dos alemães de um escândalo de 2005, quando foi revelado que o árbitro Robert Hoyzer manipulou partidas da segunda e da quarta divisão alemã e da Copa da Alemanha, em colaboração com uma máfia de apostas da Croácia. Hoyzer foi condenado a dois anos e cinco meses de prisão. Também foi envolvido no escândalo o árbitro Felix Zwayer, que foi banido por seis meses por não denunciar imediatamente uma propina de 300 euros (R$ 1.856) oferecida por Hoyer em 2004. Zwayer negou ter aceitado o dinheiro e até hoje é árbitro da DFB e da União das Associações Europeias de Futebol (Uefa). rc (dpa, AP) |
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Short teaser | Casos estariam ligados à atuação das "bets". Autoridades analisam "decisões suspeitas de árbitros" e de jogadores. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/alemanha-investiga-novos-casos-de-manipulação-de-resultados-em-jogos-de-futebol/a-70166081?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 43 | |||
Id | 64814042 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
Short title | Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos? | ||
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UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção.
Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março.
Lei antioligarca
De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda.
Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias.
Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado.
Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos
A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares.
Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas.
Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares.
Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo
A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país.
Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros.
A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões.
Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares.
Não existem mais oligarcas ucranianos?
Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política.
Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los".
De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE.
Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra.
"Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos.
Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.
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Short teaser | UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas. | ||
Author | Eugen Theise | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/qual-ainda-é-o-real-poder-dos-oligarcas-ucranianos/a-64814042?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia | ||
Image source | Daniel Naupold/dpa/picture alliance | ||
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Item 44 | |||
Id | 64820664 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
Short title | Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil | ||
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De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02).
A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes.
Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros.
O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro.
Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado.
Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos.
De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas.
Turquia começa reconstrução
As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção.
Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep.
Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente.
Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad.
Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados.
Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares.
Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores.
Istambul precisa de 40 bilhões de dólares
Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto.
"A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico.
De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia.
Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil.
le (EFE, DPA, Reuters, ots)
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Short teaser | De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/mortos-em-terremoto-na-turquia-e-na-síria-passam-de-50-mil/a-64820664?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil | ||
Image source | Selahattin Sonmez/DVM/abaca/picture alliance | ||
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Item 45 | |||
Id | 64819106 | ||
Date | 2023-02-25 | ||
Title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
Short title | UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia | ||
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Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou.
"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE.
O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado.
Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética.
Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia.
Acordo após mais de 24 horas de reuniões
As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões.
"Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter.
O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca.
Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen.
O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE.
Sanções contra firmas iranianas
Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia.
As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas.
Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco.
O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia.
No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional.
md (EFE, Reuters, AFP)
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Short teaser | Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e retaliações a empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. | ||
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Image caption | "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen, | ||
Image source | Zhang Cheng/XinHua/dpa/picture alliance | ||
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Item 46 | |||
Id | 64816115 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
Short title | Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz | ||
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Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia.
Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou.
Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor."
Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz.
"No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter.
Estreitar laços
O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra.
Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou.
Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo".
O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra".
Proposta da China
Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países.
"Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou.
Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev.
cn/bl (Reuters, AFP, Efe)
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Short teaser | Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/zelenski-quer-américa-latina-envolvida-em-processo-de-paz/a-64816115?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia | ||
Image source | President of Ukraine/apaimages/IMAGO | ||
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Item 47 | |||
Id | 64811757 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Short title | "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas | ||
Teaser |
Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado. Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos. Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares. Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia. Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%. No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente. Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim. "A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico. A proposta da China para a guerra na UcrâniaAté a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta. Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito. No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada. "A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW. Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia. O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais. "Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia. "No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou. Mediador duvidosoAlém disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou. Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin. "É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner. Campanha de relações públicas sem riscosA proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática. "O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura. "Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou. "Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner. Outros pontos da propostaO texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais. A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta. "O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang. |
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Short teaser | Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia. | ||
Author | Alena Zhabina | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Item 48 | |||
Id | 64811407 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin | ||
Short title | Zelenski, o presidente subestimado por Putin | ||
Teaser |
Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente. As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo. Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!". "Preciso de munição, não de carona"Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido. A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos. A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo. Câmeras, as armas mais poderosas de ZelenskiEm seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana. No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos". No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo. Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas. Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação. Putin não levou Zelenski a sérioMuitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin. A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia. Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado. Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente. Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas. A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir. Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos. Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar. Nem tudo é fácilIsso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos. Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana. O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia. Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana. |
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Short teaser | Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores. | ||
Author | Roman Goncharenko | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
RSS Player single video URL | https://rssplayer.dw.com/index.php?lg=bra&pname=&type=abs&title=Volodimir%20Zelenski%2C%20o%20presidente%20subestimado%20por%20Vladimir%20Putin |
Item 49 | |||
Id | 64810396 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Short title | Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão? | ||
Teaser |
Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online.
Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa.
"Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema."
A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha".
Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída.
Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência
Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real.
Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala.
"Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW.
Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos.
Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento.
Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real.
"Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman.
Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional
De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização.
"É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman.
Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse.
"Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman.
Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos.
O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum".
"Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças.
Fadiga por compaixão em relação a refugiados
Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia.
"Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW.
Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo.
É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África.
"Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa.
A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida
A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo.
"Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW.
Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis.
"Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW.
Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida.
Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.
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Short teaser | Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. | ||
Author | Fred Schwaller | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
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Image caption | Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia | ||
Image source | Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 50 | |||
Id | 64809638 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok | ||
Short title | Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok | ||
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Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos.
Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março.
Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados.
Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos.
Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas."
Pressão por interdição total do TikTok nos EUA
Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos.
O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas".
"Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro.
Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China.
TikTok nega ingerência de Pequim
Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos.
Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados.
Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados.
av/bl (AFP, Reuters, ots)
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Short teaser | Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos. | ||
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Image source | Jakub Porzycki/NurPhoto/picture alliance | ||
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Item 51 | |||
Id | 64800152 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | Como e quando poderia haver paz na Ucrânia? | ||
Short title | Como e quando poderia haver paz na Ucrânia? | ||
Teaser |
Um ano após o início da guerra, nenhum dos lados parece disposto a negociações. Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para o conflito.Dezenas de milhares de soldados mortos e mutilados dos dois lados, milhares de vidas de civis ucranianos perdidas, cidades destruídas. A isso se somam uma crise energética mundial, inflação em diversos países em desenvolvimento e fome. Este é o balanço de uma guerra que, depois de um ano, parece longe de ter fim.
O presidente russo, Vladimir Putin, não alcançou seu objetivo de conquistar totalmente a Ucrânia. Mas a Rússia ocupa atualmente um quinto do território vizinho.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, por sua vez, afirma reiteradamente que pretende reconquistar toda a área tomada pelos russos – inclusive a Península da Crimeia, anexada ilegalmente em 2014.
Em discurso sobre o estado da naçãona última terça-feira (21/02), Putin não se mostrou disposto a ceder – pelo contrário. "É impossível derrotar nosso país no campo de batalha", afirmou.
O mandatário escalou o discurso com o anúncio da suspensão da participação da Rússia no tratado de desarmamento nuclear New Start, o último acordo do tipo ainda em vigor entre Moscou e Washington.
O anúncio parece ter sido uma reação à visita surpresa do presidente americano, Joe Biden, a Kiev no dia anterior. Biden garantiu a continuidade do apoio dos EUA a Zelenski. "Não se trata apenas da liberdade da Ucrânia. Trata-se da própria liberdade da democracia", disse Biden.
Em seguida, em visita à capital polonesa, Varsóvia, Biden reforçou que a Ucrânia "jamais será uma vitória para a Rússia".
Porém, tanto entre os republicanos no Congresso americano quanto entre a população dos EUA, a disposição em apoiar a Ucrânia no longo prazo está diminuindo.
Temor de uma terceira guerra mundial
A pressão para negociações de paz também aumenta na Alemanha. A mais recente Deutschlandtrend – pesquisa de opinião mensal da emissora pública ARD, realizada pelo instituto Infratest dimap – mostra que 58% dos entrevistados consideram que os esforços diplomáticos para encerrar a guerra são insuficientes – um recorde histórico.
Uma petição encabeçada por Sahra Wagenknecht, da legenda A Esquerda, e pela feminista Alice Schwarzer pede o início imediato de negociações de paz e o fim do envio de armas à Ucrânia pela Alemanha, que reviu seu pacifismo de décadas e adotou uma postura voltada à remilitarização com o início do conflito. O documento, assinado por teólogos, artistas e políticos, alerta contra uma nova guerra mundial.
O embaixador ucraniano em Berlim, Oleksei Makeiev, disse a um portal alemão de notícias que não consegue entender esse temor: "A Ucrânia já está na Terceira Guerra Mundial. A Rússia lidera uma guerra de aniquilação contra nós."
Reconquista de territórios ocupados
Já no ano passado, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, descartou, em entrevista à DW, passos unilaterais para alcançar a paz. O motivo: "Se a Ucrânia encerrar os combates, vai deixar de existir como Estado independente." Por isso, segundo Stoltenberg, Kiev precisaria vencer a guerra.
Para que a Ucrânia possa manter sua liberdade, países ocidentais vêm reforçando seu auxílio militar à nação invadida pela Rússia. No início deste ano, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, decidiu após longa hesitação, enviar tanques alemães à Ucrânia, depois que os EUA e outros países da Otan, como o Reino Unido, anunciaram o envio de blindados a Kiev.
Especialmente o modelo Leopard 2, fabricado na Alemanha, poderia ajudar a "superar a desvantagem da Ucrânia no campo de batalha", afirmou o coronel reformado Roderich Kiesewetter, que também é político do partido conservador alemão CDU, em mensagem por escrito à DW. "Mas, se os ucranianos conseguirão uma virada na linha de frente, dependerá do número, do tempo de fornecimento e da continuidade do envio de tanques", avalia.
A Ucrânia não espera só rechaçar ataques russos com os blindados. O consultor em segurança Nico Lange, que desde julho de 2022 trabalha para a iniciativa Zeitenwende da Conferência de Segurança de Munique e já ocupou posições de liderança na Fundação Konrad Adenauer, ligada à CDU, considera "realistas as chances militares de a Ucrânia reconquistar a totalidade dos territórios ocupados [pela Rússia] e, assim, reconstituir a paz".
Em entrevista à DW, Lange diz acreditar que "Putin só estará disposto a negociar quando a situação militar ficar tão favorável à Ucrânia que ele entenderá que não vai conseguir vitórias com essa guerra de agressão".
O general aposentado da Bundeswehr Helmut Ganser não partilha dessa visão. Na edição de fevereiro da publicação especializada em política internacional Journal für Internationale Politik und Gesellschaft, ele traça dois cenários para uma contraofensiva ucraniana rumo ao sul do país, na direção do Mar de Azov, com a atuação de tanques ocidentais.
No quadro mais pessimista, a ofensiva ucraniana ficaria atolada em meio à defesa maciça da Rússia. Para esse caso, Ganser já tenta preparar a opinião pública ocidental para "imagens de tanques Leopard destroçados", que a Rússia divulgaria na internet com prazer.
Para Ganser, o cenário mais otimista é ainda mais perigoso: as unidades de blindados avançariam até o Mar de Azov e ficariam diante da Península da Crimeia. O ex-general suspeita que seria no máximo nesse momento que Putin "expandiria a área total da guerra ao território dos países ocidentais apoiadores", e alerta: "Está aumentando o perigo de um deslizamento lento e, na verdade, não intencional, rumo a uma grande catástrofe para toda a Europa."
Já Lange vê a ameaça nuclear da Rússia como "um instrumento de guerra psicológica". Ele não apenas considera uma reconquista da Crimeia "possível do ponto de vista militar", mas endossa também a tentativa como algo aconselhável: "Exatamente pelo fato de que [perder] a Península da Crimeia seria uma vergonha para Vladimir Putin, a pressão militar sobre a Crimeia é uma possibilidade de fazer com que a Rússia se disponha a negociar", avalia.
Onde está o limite?
Os especialistas ouvidos pela DW se dividem quanto à possibilidade de a pressão militar aumentar ou a disposição de negociar da Rússia ou o risco de uma guerra nuclear.
O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), sempre sublinhou que a Alemanha não pode se tornar parte diretamente envolvida no conflito. Por isso, houve longa hesitação do país em decidir enviar tanques à Ucrânia, e Scholz ainda descarta o envio de aviões de guerra a Kiev. Biden também não prometeu caças a Zelenski.
Já o político da CDU e ex-militar Kiesewetter não "traçaria linhas vermelhas no que se refere a certos sistemas de armas". No contexto do direito internacional, um país só se transforma em parte envolvida numa guerra quando se envia soldados próprios, aponta Kiesewetter, que descarta tal cenário.
Objetivos incompatíveis de pacificação
Porém, entre os países que apoiam a Ucrânia, há muitos que acreditam que não será possível encerrar o conflito sem alguma disposição de Kiev de chegar a um acordo político. Na própria Ucrânia, essa vontade é quase imperceptível, segundo avalia o jornalista Roman Goncharenko, da redação ucraniana da DW.
"Nas primeiras semanas depois da invasão, Kiev estava disposta a fazer concessões, como neutralidade em vez de se tornar país-membro da Otan. Mas a brutalidade do Exército russo e a anexação de mais regiões praticamente impossibilitaram a busca de um compromisso. Uma pesquisa encomendada pela Conferência de Segurança de Munique mostrou que 93% dos ucranianos veem uma retirada completa da Rússia – também da Crimeia – como condição para um cessar-fogo", explica Goncharenko.
Um cenário irrealista na avaliação do cientista político Johannes Varwick, da Universidade alemã de Halle: "Muito provavelmente, no final, haverá uma Ucrânia neutra que não ficará na zona de influência do Ocidente ou da Rússia de forma nítida", especula.
Varwick vê urgência numa iniciativa de negociação do Ocidente. "Se, ao final de uma guerra longa ou que foi intensificada, tivermos o mesmo resultado que já seria possível hoje, não faz sentido continuar lutando com dezenas de milhares de mortos e pessoas traumatizadas", pontua.
Há sinais reais de pacificação?
Na última semana, a embaixada russa em Berlim divulgou o seguinte tuíte: "Todas as ações de combate terminam em negociações, estamos dispostos a elas. Mas apenas a negociações sem condições prévias e com base na realidade válida e considerando os objetivos que comunicamos publicamente."
Uma declaração que não pode ser interpretada como disposição a um acordo. A "realidade válida" inclui a ocupação russa de um quinto da Ucrânia, enquanto um dos objetivos era até mesmo a aniquilação completa do Estado ucraniano.
Durante a Conferência de Segurança de Munique deste ano, a China anunciou um plano de paz. Os governos do Ocidente, no entanto, veem o anúncio com ceticismo devido ao fato de a China nunca ter condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia. O Secretário de Estado americano, Antony Blinken, também teme que a China possa enviar armas à Rússia – o que Pequim contesta.
Vitória militar ou paz com compromissos?
O economista americano Jeffrey Sachs escreveu na edição de janeiro da revista britânica The Economist que, para uma solução de paz "credível", é decisivo que "os interesses de segurança mais importantes dos dois lados sejam respeitados". "A soberania e a segurança da Ucrânia precisam ser garantidas, enquanto a Otan precisaria prometer não se expandir para o leste."
Sachs espera impulsos de pacificação vindos sobretudo dos países que recusaram uma condenação da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas – além da China, Índia, Brasil e África do Sul, que são parceiros da Rússia no Brics.
"Esses países não odeiam nem a Rússia, nem a Ucrânia", afirma o economista. "Eles não querem nem que a Rússia conquiste a Ucrânia, nem que a Otan se expanda para o leste."
Kiesewetter, da CDU, alerta contra concessões a Moscou: "É um equívoco pensar que basta dar um pouco de terra para a Rússia para que o país mate sua sede de destruição. E uma eventual conquista de território pela Rússia serviria de modelo para outros países autocráticos definirem novas fronteiras militares, recorrendo a chantagem ou ameaça nuclear." O especialista acredita que principalmente a China já encara a Europa como uma "área de teste", tendo em vista a soberania de Taiwan.
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Short teaser | Analistas ouvidos pela DW se dividem entre vitória militar da Ucrânia e concessões a Moscou como solução para a guerra. | ||
Author | Christoph Hasselbach | ||
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Image caption | Um ano após a invasão da Ucrânia pela Rússia, analistas avaliam que conflito está longe de terminar | ||
Image source | Libkos/AP Photo/picture alliance | ||
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Item 52 | |||
Id | 64793993 | ||
Date | 2023-02-24 | ||
Title | A guerra na Ucrânia em números | ||
Short title | A guerra na Ucrânia em números | ||
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Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em apoio militar e várias sanções. Dez gráficos ilustram as consequências de um ano de guerra de agressão russa.A Rússia está em guerra com a Ucrânia há um ano. Apesar da recaptura bem-sucedida de várias áreas pelo Exército ucraniano, grandes partes do país permanecem sob controle russo. Recentemente, em 19 de janeiro de 2023, as forças ucranianas se retiraram de Soledar, na região do Donbass, e desde então a cidade voltou às mãos dos russos.
Milhões de pessoas em fuga
De acordo com a Acnur, a agência de refugiados da ONU, a guerra desencadeou a segunda maior crise de deslocamento do mundo. Na Europa, 6,3 milhões de refugiados ucranianos encontraram abrigo até agora. Outros 6,6 milhões de pessoas estão em fuga dentro do próprio país.
De acordo com as Nações Unidas, muitas pessoas são deportadas para a Rússia ou instadas a emigrar para lá, especialmente das áreas do leste da Ucrânia. Isso explica o alto número de refugiados na Rússia, país que usam para tentar chegar à União Europeia.
Pobreza e recessão
De acordo com o Acnur, a situação humanitária na Ucrânia "deteriorou-se rapidamente". Cerca de 40% da população depende agora de ajuda para sobreviver.
A situação econômica também é catastrófica. De acordo com o Banco Mundial e o Ministério da Agricultura da Ucrânia, o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 35% em 2022. Sessenta por cento da população vive agora na linha da pobreza. A destruição da infraestrutura doméstica pela guerra é estimada em mais de 130 bilhões de euros.
Resiliência na Rússia
Em contraste com a Ucrânia, a situação na Rússia é menos crítica do que o estimado. Entretanto, os especialistas esperam uma deterioração este ano devido às sanções adicionais da União Europeia (UE) contra a Rússia adotadas em fevereiro deste ano.
As projeções para o desenvolvimento econômico da Rússia variam muito: enquanto a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) espera que a economia russa retroceda em 5,6% este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um pequeno crescimento, de 0,3%.
As receitas da Rússia provenientes das exportações de energia inicialmente cresceram acentuadamente após a explosão dos preços em março de 2022, mas depois caíram de forma constante. Entretanto, se estabilizaram no nível de dezembro de 2021, anterior à guerra.
Em vista da queda dos preços do gás e do petróleo, bem como da diminuição da demanda, especialmente na UE, mas também em vista da estagnação na China, espera-se no ano em curso uma nova queda na receita da Rússia proveniente das exportações de energia.
Bilhões para a defesa ucraniana
Bilhões de dólares em ajuda militar, humanitária e financeira têm fluído para a Ucrânia desde que a guerra começou. Com mais de 70 bilhões de euros em ajuda, os Estados Unidos encabeçam a lista de países doadores.
A UE e seus membros já mobilizaram mais de 50 bilhões de euros. A Alemanha é um dos maiores fornecedores de armas para a Ucrânia. Para 2023, estão previstos 2,2 bilhões de euros em ajuda militar.
Em vista da esmagadora superioridade militar da Rússia sobre a Ucrânia, a Otan também expandiu sua presença militar em seu flanco oriental. As chamadas forças de combate multinacionais foram destacadas para os Estados bálticos e a vigilância aérea na região foi reforçada.
Queda do preço do trigo
Pelo menos uma das catástrofes previstas não se concretizou: uma crise alimentar global devido à escassez de trigo foi evitada. De acordo com os ministérios da Agricultura da Ucrânia e dos Estados Unidos, a produção global de trigo aumentará de 778 milhões de toneladas na safra de 2021/2022 para 783 milhões de toneladas na de 2022/2023.
O preço do trigo, que após a invasão russa da Ucrânia atingiu um pico de mais de 430 euros por tonelada no mercado mundial em maio de 2022, voltou a cair para pouco menos de 300 euros a tonelada. O valor aproxima-se assim do preço de antes da guerra, quando o grão era comercializado por 275 euros a tonelada.
As perdas de produção na Ucrânia − ainda um dos principais produtores mundiais de trigo − estão sendo compensadas por outros países. A Austrália e a Rússia, em particular, aumentaram sua produção. Segundo a agência de notícias russa Tass, o aumento se deve "à incorporação de quatro territórios ucranianos". Com 102 milhões de toneladas, o Ministério da Agricultura russo também espera uma safra muito maior do que a estimada pelo Departamento de Agricultura americano.
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Short teaser | Cidades bombardeadas, milhões de refugiados, bilhões em ajuda militar: dez gráficos mostram consequências do conflito. | ||
Author | Astrid Prange de Oliveira | ||
Item URL | https://www.dw.com/pt-br/a-guerra-na-ucrânia-em-números/a-64793993?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste | ||
Image URL (940 x 411) |
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Image caption | Destruição devido à guerra em Kherson, no sul da Ucrânia | ||
Image source | Nina Lyashonok/Avalon/Photoshot/picture alliance | ||
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