DW

Item 1
Id 73602928
Date 2025-08-12
Title O que fazer em caso de violência doméstica na Alemanha
Short title O que fazer em caso de violência doméstica na Alemanha
Teaser Vítimas podem pedir proteção ou aconselhamento 24 horas ao dia, inclusive em português. Veja aqui as principais orientações.

Vítimas de violência doméstica na Alemanha têm à sua disposição mecanismos para pedir ajuda e proteção, inclusive em português. Para isso, é importante conhecer as orientações das autoridades sobre o que fazer.

A violência doméstica tem muitas formas, incluindo abuso físico, psicológico, sexual ou privação de liberdade. Apenas em 2024, quase 257 mil destes casos no ambiente doméstico ou familiar foram registrados pelo Departamento Federal de Polícia Criminal, um recorde histórico na Alemanha.

A maioria das vítimas é de mulheres. Dentre os casos registrados, elas são quase 80% das vítimas de violência por parceiros ou ex-parceiros íntimos e 73% no caso de agressões por um familiar.

Por isso, vários serviços especializados são voltados especificamente ao público feminino e podem oferecer suporte sob uma perspectiva de gênero.

Abaixo, as principais orientações sobre o que fazer em caso de violência doméstica na Alemanha.

Ligar para a polícia

Quando há perigo iminente, o governo da Alemanha recomenda ligar imediatamente para a polícia no número 110.

A polícia é, nestes casos, obrigada a comparecer ao local da denúncia imediatamente, documentar a visita e abrir uma queixa — além de oferecer as suas anotações à Justiça quando requerida.

Os policiais de cada estado estão habilitados para proteger vítimas de acordo com a legislação local. Isso pode significar, por exemplo, proibir o agressor de entrar em casa ou se aproximar das vítimas.

Pedir ajuda especializada

Uma linha telefônica de apoio a mulheres vítimas de violênciaestá disponível no número 116 016 para mulheres vítimas de abuso. O serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano, em diversas línguas, incluindo o português.

Ao telefonar, uma mulher pode obter ajuda para todos os tipos de violência, incluindo violência doméstica e sexual, de forma anônima e confidencial.

Atuando com a ajuda de intérpretes, as consultoras desta linha são especialistas qualificadas e experientes no tema. Elas oferecem uma primeira consulta psicossocial intervenção em situações de crise e encaminhamento a outros serviços especializados.

A linha de apoio também atende conhecidos e familiares de vítimas de violência doméstica que queiram prestar ajuda, bem como profissionais da área que precisem de aconselhamento. A consultoria está aberta a pessoas de todas as origens sociais ou étnicas, religião ou orientação e identidade sexual.

O aconselhamento para vítimas de violência deve ser oferecido exclusivamente por profissionais qualificados e reconhecidos pelo Estado.

Aconselhamento e representação legal podem ser necessários para casos que chegam à Justiça. Ou, então, para mulheres que querem entender as especificidades da legislação alemã ou de normas internacionais relevantes.

Reunir evidências

Segundo o Ministério da Justiça alemão, é importante formalmente reportar o crime à polícia e reunir possíveis evidências, como roupas usadas pelas vítimas no momento da agressão que contenham traços do agressor. As autoridades poderão então armazená-las para a fase de investigações.

Outra recomendação é anotar detalhadamente episódios de violência doméstica, incluindo a data, a hora e o autor das agressões.

Outras evidências devem também der entregues à polícia, incluindo fotos, mensagens ou emails que indiquem ter havido violência.

Documentar ferimentos visíveis

Certificados médicos podem também confirmar que houve ferimentos decorrentes de violência corporal. Em geral, médicos da família, ginecologistas ou médicos em hospitais podem emitir estes pareceres após o exame de corpo de delito (que se chama, em alemão, Untersuchung bei Gewalt ou Untersuchung nach sexualisierter Gewalt).

O exame é confidencial e voluntário, e a vítima pode ter um intérprete ao seu lado se desejar. É importante solicitar uma cópia do certificado médico e entregá-lo à polícia.

Além disso, vítimas de violência física ou sexual podem ter seus ferimentos visíveis documentados forensicamente em clínicas ambulatoriais dedicadas à proteção contra a violência – anonimamente, se preferirem. Isso não torna necessário registrar automaticamente uma queixa criminal.

Buscar lugar seguro

Em certos casos, mulheres podem precisar de um lugar seguro onde permanecer temporariamente.

Para isso, a Associação de Abrigos para Mulheres(Frauenhauskoordinierung, ou FHK, em alemão) oferece centenas de espaços de acolhimento e aconselhamento para mulheres e seus filhos ao redor da Alemanha. O objetivo é prevenir violência e assistir pessoas já abusadas.

Na maioria dos estados, a polícia também pode colocar o autor da violência sob custódia temporária para fazer cumprir a sua expulsão da casa.

Se a polícia considerar necessária a expulsão, na maioria dos casos ela retirará as chaves do apartamento da pessoa violenta e esperará que ela arrume os itens pessoais de que precisa. Caso a pessoa violenta não saia voluntariamente, a polícia poderá removê-la à força.

É possível ainda pedir proteção adicional por vias judiciais, a fim de proteger a integridade das vítimas.

Contatar autoridades do Brasil

O Itamaraty orienta que brasileiras em situação de violência doméstica, independentemente de situação migratória, procurem o consulado ou embaixada do Brasil.

O serviço ligue 180 funciona 24 horas por dia, inclusive do exterior e pelo WhatsApp: +55 (61) 9610-0180.

A cartilha Prevenção de Violências contra Mulheres Brasileiras no Exterior do governo brasileiro fornece elementos para identificar as diferentes formas de violência contra as mulheres e detalha os meios para proteção e denúncia para cidadãs brasileiras que moram em outros países.

ht (ots)

Short teaser Vítimas podem pedir ajuda 24 horas ao dia, inclusive em português. Veja aqui as principais orientações.
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Item 2
Id 73567391
Date 2025-08-12
Title Com real enfraquecido, Brasil atrai "turistas de saúde" do exterior
Short title Com real enfraquecido, Brasil atrai "turistas de saúde"
Teaser O chamado turismo médico vem crescendo de 15% a 25% por ano no Brasil. Cirurgias plásticas respondem por maior parte da demanda de pacientes vindos do exterior, que são atraídos pelos preços e boa fama do setor.

A advogada brasileira Carla Trigueiro, que mora em Veneza, na Itália, a secretária aposentada suíça Nicole Schultheiss e a recrutadora corporativa americana Adrianna Rains têm um ponto em comum em suas trajetórias: as três viajaram ao Brasil para fazer procedimentos médicos.

É um movimento cada vez mais frequente, conforme apontam pesquisas e levantamentos. Segundo a empresa de pesquisa em negócios Brain Inteligência Estratégica, o chamado turismo de saúde cresce de 15% a 25% por ano no país e deve movimentar cerca de 13 bilhões de dólares de 2023 a 2030.

A ampla estrutura hospitalar de cidades como São Paulo, a relativa boa fama internacional de médicos e hospitais brasileiros – sobretudo ao se considerar a rede privada de elite – e, principalmente, a desvalorização do real são apontados como motores desse fluxo de pacientes.

A capital paulista é o epicentro desse fenômeno, que reflete também em crescente procura por infraestrutura de hospedagem qualificada, próxima aos principais centros médicos. De acordo com a Brain, a cidade tem cerca de 200 hospitais e clínicas, com um total de 30,8 mil leitos. "Hoje, 12% dos turistas que vêm a São Paulo são ligados ao turismo médico", afirma Guilherme Werner, sócio da empresa de pesquisa. "Dos 575 mil médicos do país, 166 mil atuam na cidade de São Paulo. E mais ou menos metade deles são especialistas."

O maior ativo desse mercado é o setor das cirurgias plásticas. De acordo com relatório publicado em junho pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, o Brasil é o país que mais realiza esse tipo de procedimento no mundo – foram mais de 2 milhões em 2024. Segundo levantamento da revista americana especializada Patients Beyond Borders, 7% dos pacientes do nicho atendidos no país são estrangeiros. Ou seja: 140 mil por ano.

Das cirurgias plásticas realizadas no Brasil, 34% ocorrem no estado de São Paulo, sendo que a capital representa 60% dessa fatia.

Fama e preço

"Escolhi o Brasil porque eles [os médicos brasileiros] têm mais experiência e prática do que no meu país", diz a suíça Nicole Schultheiss. Ela conta que há 20 anos "teve a sorte" de conhecer o seu médico, quando foi ao Brasil para fazer uma abdominoplastia e colocar implantes mamários. "Fiquei muito satisfeita com os resultados."

Aos 68 anos, ela voltou ao Brasil neste ano, em abril. "Desta vez, para retirar meus implantes mamários", relata. "Fiquei uma semana no Brasil e, quanto ao acompanhamento pós-operatório, faço videochamada."

A americana Adrianna Rains, de 65 anos, fez o turismo hospitalar no Brasil em fevereiro do ano passado – também para procedimentos estéticos. No caso dela, na face. Moradora de Nova York, ela disse que chegou ao médico por indicação de "uma grande amiga brasileira". Além dos elogios da amiga, pesou também o custo, ela enfatiza. Nesse sentido, a desvalorização do real frente ao dólar nos últimos anos favorece o setor.

De acordo com levantamento da Brain, os custos da medicina privada brasileira atualmente são de 20% a 30% menores do que nos Estados Unidos.

"Fiz uma consulta por videochamada com o médico e enviei vários exames de sangue e informações sobre minha saúde. Quando cheguei [a São Paulo], fizeram exames adicionais de sangue, eletrocardiograma, mas foi tudo extremamente fácil. Fiquei 12 dias [na cidade] após a cirurgia e o médico e sua equipe me atenderam diversas vezes", conta Rains.

Em São Paulo, ela alugou um apartamento via Airbnb nas proximidades do consultório de seu cirurgião plástico.

"Já tive diversas consultas de acompanhamento remotas com ele, apenas para verificar a minha recuperação. E ele responde a todas as minhas perguntas", diz a americana. "Nunca estive tão tranquila em relação a um procedimento médico. Toda etapa foi muito simples."

Nascida em Natal, a advogada Carla Trigueiro, de 60 anos, morou 25 anos em Nova York e, desde o ano passado, vive em Veneza, na Itália. Ela também realiza seus procedimentos estéticos em São Paulo. Quatro anos atrás, esteve na cidade fazendo abdominoplastia, cirurgia no abdômen. Em 2023 voltou para fazer blefaroplastia (correção nas pálpebras) e ritidoplastia, operação conhecida também como lifting facial.

"Acredito firmemente que a qualidade dos médicos do Brasil seja, no geral, melhor do que a dos americanos", elogia. "Além disso, os procedimentos de cirurgia plástica nos Estados Unidos, além de caríssimos, fora de qualquer sentido, não são feitos em hospitais, mas em clínicas. Acho um risco enorme."

Para o cirurgião plástico Vitorio Maddarena, esta demanda estrangeira passou a fazer parte da rotina. Sua clínica, na zona sul de São Paulo, realiza uma verdadeira força-tarefa para conseguir acomodar essa clientela muitas vezes no curto tempo em que tal tipo de paciente tem de permanência no país.

O procedimento costuma começar com uma consulta remota, em que ele já planeja o procedimento e pede exames prévios que podem ser feitos no país de origem. Tudo para otimizar o cronograma. Depois, quando a pessoa chega ao Brasil, uma primeira consulta finaliza esse atendimento clínico pré-operatório e, eventualmente, termina com a realização de mais exames.

Depois da cirurgia, sua equipe se encarrega de flexibilizar ao máximo a agenda do consultório para que ele possa atender a esses pacientes com prioridade nos dias seguintes, antes da partida do país. "Por fim, sigo acompanhando por consultas on-line", conta ele.

Maddarena conta que muitos desses pacientes também pedem ajuda para conseguir lugar para hospedagem, motorista para os deslocamentos e até mesmo acompanhamento para o pós-operatório. "Essas demandas acabam fazendo com que a gente lá na clínica também atenda a essas questões. São adaptações que fizemos para o público que mora no exterior", afirma.

Na opinião do médico, essa busca de estrangeiros pelo Brasil no âmbito das cirurgias plásticas se apoia no preço e na boa fama que goza o setor. "Tem o fator do câmbio. Quando o Brasil tem preço mais competitivo, o paciente estrangeiro acaba preferindo vir", comenta. "Mas eles também preferem a cirurgia plástica brasileira, pelo renome que existe, o padrão de qualidade elevado."

Mercado imobiliário

A alta demanda por tratamentos em São Paulo movimenta também o setor imobiliário. Enquanto a procura aumenta por hotéis e apartamentos para estadia mais longa nas proximidades de clínicas e hospitais de referência, algumas construtoras focam nesse nicho, em empreendimentos que devem ser concluídos nos próximos anos.

É o caso do complexo de condomínios Parque Global, na zona sul de São Paulo. Em um terreno de 218 mil metros quadrados, estão sendo construídos prédios de alto padrão – quatro torres já foram entregues, mas o projeto todo só deve ser concluído em 2027.

A ideia é se aproveitar da localização para atender a hóspedes do turismo de saúde. Haverá nesse complexo uma unidade avançada do Hospital Israelita Albert Einstein, com um hotel-boutique integrado a ela – a ideia é que o local esteja pronto para hospedagens mais longas, conforme a necessidade de cada tratamento.

"Será um dos principais centros de excelência em saúde no mundo, e sem dúvida irá atrair uma grande quantidade de pacientes brasileiros e estrangeiros", acredita o CEO da incorporadora do projeto, Luciano Amaral.

Short teaser Turismo de saúde cresce de 15% a 25% por ano no país. Setor de cirurgias plásticas responde por maioria dessa demanda.
Author Edison Veiga
Item URL https://www.dw.com/pt-br/com-real-enfraquecido-brasil-atrai-turistas-de-saúde-do-exterior/a-73567391?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 3
Id 73606785
Date 2025-08-12
Title Construção de megabarragem chinesa alimenta tensões com a Índia
Short title Construção de megabarragem chinesa provoca tensões com Índia
Teaser Autoridades chinesas começaram a construir no Tibete a maior hidrelétrica do mundo, levantando temores na vizinha Índia, que vê risco de Pequim controlar o fluxo de água na região.

A China começou a construir em julho o que promete ser a maior usina hidrelétrica do mundo. A barragem será erguida no rio Yarlung Tsangpo, a cerca de 30 quilômetros da fronteira disputada com o estado indiano de Arunachal Pradesh – área no nordeste da Índia também reivindicada por Pequim.

O plano provocou imediato atrito com autoridades indianas, tanto pelos riscos ambientais que podem afetar o ecossistema da região do Tibete quanto pelo possível poder que a barragem dará à China sobre o fluxo de água do rio Yarlung Tsangpo – considerado o mais alto do mundo –, que segue do território chinês para o nordeste da Índia e Bangladesh.

Grupos tibetanos também afirmam que há locais sagrados ao longo do rio e que o governo não informou se esses pontos serão afetados.

O projeto, estimado em 170 bilhões de dólares (R$ 924 bilhões), pretende gerar 300 bilhões de quilowatts-hora de eletricidade por ano, fornecendo energia principalmente para outras partes da China e atendendo à demanda local no Tibete. A capacidade da hidrelétrica pode superar a da também chinesa Três Gargantas, atualmente a maior do mundo.

Disputa de fronteira de longa data

Especialistas acreditam que a hidrelétrica pode reacender tensões entre Índia e China, apesar de os países darem sinais recentes de cautelosa melhora nas relações.

China e Índia se acusam mutuamente de tentar tomar território ao longo de sua fronteira de fato, conhecida como Linha de Controle Real (LAC), que a Índia afirma ter 3.488 quilômetros, enquanto a China diz ser menor.

Após anos de tensão, ambos renovaram esforços para normalizar as relações. Em janeiro, concordaram em retomar voos comerciais após quase cinco anos de suspensão. Três meses depois, representantes dos dois lados decidiram reabrir rotas de peregrinações religiosas e o comércio fronteiriço.

No entanto, o projeto da barragem cria um novo ponto crítico, pois as mudanças ecológicas devem gerar uma série de questões geopolíticas e ambientais ao longo do Himalaia inferior.

Barragem pode reter água e sedimentos

Além do risco de a construção restringir o fluxo fluvial que abastece o nordeste da Índia, a barragem poderia reter sedimentos fundamentais para planícies mais baixas.

Diante da escalada do projeto, a Índia considera que o Mecanismo de Nível de Especialistas (ELM) – um acordo bilateral que obriga a troca de dados hidrológicos sobre rios que cruzam os dois países – não será suficiente para suprir a demanda por informações sobre os fluxos do Yarlung Tsangpo.

A ideia inicial do ELM era aumentar a transparência para evitar inundações, já que a Índia é afetada pelo fluxo de alguns rios que partem de áreas mais altas em território chinês. Contudo, Pequim costuma fornecer estas informações apenas durante a estação das monções.

"No longo prazo, como argumenta a Índia, a barragem não apenas reterá sedimentos ricos em nutrientes vitais para a fertilidade do solo a jusante em Assam e Bangladesh, afetando assim a irrigação", disse Aravind Yelery, professor associado do Centro de Estudos do Leste Asiático da Universidade Jawaharlal Nehru, à DW. Ela também "impactará a produção agrícola, a produtividade das lavouras e comprometerá os ecossistemas fluviais", acrescentou Yelery.

Na avaliação dele, a postura da China de alterar unilateralmente o ecossistema fluvial de um rio transfronteiriço é desastrosa do ponto de vista ambiental e diplomático.

Há risco de exploração da água?

"Do ponto de vista legal, a China está adotando um caminho ilícito ao negligenciar sua responsabilidade de preservar os fluxos fluviais devido a ambições geopolíticas", disse Yelery, acrescentando que isso já impactou a estratégia indiana nas negociações fronteiriças.

A China adotou postura semelhante no passado em relação ao rio Mekong, que nasce no planalto tibetano e segue para países como Mianmar, Laos, Tailândia, Camboja e Vietnã. Desde meados da década de 1980, Pequim assumiu controle a montante do rio, onde construiu até o momento 11 barragens.

"A China não celebrou nenhum acordo fluvial com seus vizinhos, apesar de controlar os mananciais da maioria dos principais rios da Ásia", disse Atul Kumar, especialista em China e membro da Fundação de Pesquisa Observer, à DW.

"Pequim adotou postura semelhante no caso do Yarlung Tsangpo e manteve Índia e Bangladesh desinformados sobre esses projetos. Até mesmo o compartilhamento de dados hidrológicos – um detalhe técnico inofensivo – muitas vezes depende da relação bilateral e, em períodos de tensão, fica indisponível", disse Kumar.

China diz que não busca "hegemonia fluvial"

A China vem defendendo em repetidas ocasiões que o projeto não afetará os países que dependem do rio. Em julho, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, disse que a barragem "não terá qualquer impacto negativo nas regiões a jusante".

Autoridades chinesas também dizem que não procuram uma "hegemonia fluvial". "A China continuará a manter os atuais canais de intercâmbio com os países a jusante e a intensificar a cooperação em matéria de prevenção e mitigação de catástrofes", afirmou um representante do ministério em dezembro.

"Ameaça existencial"

O governador do estado indiano de Arunachal Pradesh, Pema Khandu, porém, acredita que o megaprojeto é uma ameaça existencial muito maior do que a ameaça militar.

"O problema é que a China não é confiável. Ninguém sabe o que eles podem fazer", disse Khandu à agência indiana PTI. Ele destaca que Pequim não assina tratados internacionais sobre águas que poderiam obrigá-la a seguir normas globais.

Kumar também alertou para o risco de falha na barragem, que "sempre será uma bomba-relógio para as áreas a jusante no nordeste da Índia e em Bangladesh".

"Em um Himalaia instável e propenso a terremotos, um desastre natural, conflito ou até sabotagem pode causar destruição generalizada nas áreas a jusante", disse Kumar.

O ex-diplomata indiano Anil Wadhwa defendeu a construção de um mecanismo consultivo e disse que a China deveria divulgar detalhes sobre a capacidade da barragem, os fluxos de água e alinhamentos assim que a construção estiver concluída.

"É fundamental que a Índia adote todas as medidas defensivas em Arunachal Pradesh, construindo sua própria barragem o quanto antes", disse Wadhwa à DW. "A oposição local deve ser compensada e a comunicação aberta com a comunidade afetada ajudará a evitar que o problema cresça, como já vimos com outros megaprojetos no país."

Esse sentimento foi compartilhado pelo ex-diplomata indiano Ajay Bisaria: "Dada a recente história da China de usar a interdependência econômica e o comércio como ferramenta geopolítica, a Índia deve presumir que a China vai transformar a água em arma."

"Embora a disposição da China em fazê-lo seja evidente, sua capacidade e viabilidade técnica ainda precisam ser verificadas. Para mitigar esse risco, a Índia deve avaliar proativamente e simular o pior cenário possível", concluiu Bisaria.

Short teaser Projeto chinês gera atrito com autoridades da Índia, que veem risco de Pequim limitar fluxo de água.
Author Murali Krishnan
Item URL https://www.dw.com/pt-br/construção-de-megabarragem-chinesa-alimenta-tensões-com-a-índia/a-73606785?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 4
Id 73596601
Date 2025-08-11
Title Após fome, Gaza ainda pode ser palco de síndrome de realimentação
Short title Após fome, Gaza pode ser palco de síndrome de realimentação
Teaser Mesmo que a ajuda humanitária chegue aos habitantes de Gaza e outras zonas assoladas pela fome em quantidade suficiente, há risco de complicações quando a alimentação é retomada.

Até 8 de agosto, na última sexta-feira, 197 pessoas, incluindo 96 crianças, haviam morrido de fome em Gaza, como resultado do bloqueio e da ofensiva militar de Israel, de acordo com as autoridades de saúde do enclave palestino.

Segundo monitores de saúde apoiados pela ONU, cerca de 100 mil mulheres e crianças palestinas enfrentam desnutrição grave, e um terço da população de 2,1 milhões não come há dias.

Mas Gaza não é o único lugar assolado por uma fome catastrófica decorrente de conflitos. No Sudão, agências internacionais afirmam que 3,2 milhões de crianças menores de 5 anos vão sofrer de desnutrição aguda no próximo ano. Enquanto isso, pessoas sitiadas em El Fasher, em Darfur do Norte, já passam fome há um ano.

Na Nigéria, onde o financiamento de doadores internacionais foi cortado, a desnutrição levou à morte de 625 crianças nos primeiros seis meses de 2025. Haiti, Mali e Iêmen estão entre outros países que enfrentam fome.

Lidar com o problema, no entanto, pode ser mais difícil do que parece e requer mais do que apenas um fornecimento regular de alimentos saudáveis. Especialistas sanitários alertam que programas de realimentação para pessoas desnutridas podem ter complicações fatais se realizados sem os devidos cuidados.

"Quando os alimentos são reintroduzidos rapidamente, há uma mudança muito rápida de eletrólitos, e isso pode causar morte súbita", explica Marko Kerac, pediatra e pesquisador clínico da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, no Reino Unido.

Em entrevista à DW, Kerac defende, portanto, que o retorno à nutrição adequada seja cuidadosamente gerenciado.

O que é a síndrome de realimentação e por que ela é perigosa?

A síndrome de realimentação pode ocorrer quando pessoas desnutridas retomam a alimentação normal de forma muito rápida.

Entre as pessoas mais suscetíveis à síndrome de realimentação estão aquelas que apresentam insuficiência renal, transtornos alimentares, depressão e problemas com álcool.

O problema surge depois que o corpo desnutrido se adapta à nutrição reduzida. Com o metabolismo e as funções orgânicas desacelerados para lidar com a fome catastrófica, o corpo fica mal equipado para processar uma inundação repentina de nutrientes.

"Quando se está com a nutrição muito comprometida […], quando se está muito doente, é aí que surge o risco da síndrome de realimentação", disse Kerac.

O afluxo repentino de vitaminas e eletrólitos como potássio, fósforo e magnésio pode interromper processos orgânicos críticos e levar à arritmia (batimento cardíaco irregular), que pode ser fatal.

O que acontece com o corpo durante a inanição?

A inanição começa quando as pessoas não consomem calorias suficientes para atender às demandas energéticas do corpo.

A perda de nutrição adequada priva o corpo de materiais essenciais necessários para produzir hormônios e enzimas que o mantêm funcionando. Para compensar o déficit calórico, o corpo desacelera os processos metabólicos e a atividade dos órgãos.

Nos primeiros dois dias sem comida, as reservas de carboidratos do corpo se esgotam. Após três dias, o corpo começa a converter gorduras e proteínas vitais em combustível de emergência. É quando começam a se manifestar sintomas como perda de massa muscular, fadiga severa e um sistema imunológico enfraquecido.

A morte por inanição, por sua vez, costuma estar mais associada à falência de órgãos ou a uma infecção que o corpo não consegue combater devido à fraqueza.

Como lidar com o problema da fome generalizada?

O primeiro passo, segundo especialistas, é introduzir alimentos ou nutrientes lentamente, o que Kerac chama de "alimentos de estabilização". Isso pode incluir algo como fórmulas especiais de leite e alimentos terapêuticos prontos para uso (ATPUs).

Organizações de ajuda humanitária fornecem ATPUs como o Plumpy'Nut, uma pasta de amendoim fortificada, para ajudar a prevenir a síndrome de realimentação em regiões assoladas pela fome.

"Paradoxalmente, [ATPUs] são bastante leves em nutrientes, ainda que especialmente formulados. Eles têm baixo teor de sódio, alto teor de potássio e alto teor de fosfato", explica Kerac.

Os ATPUs são projetados para fornecer nutrição essencial especificamente para crianças gravemente desnutridas, em uma dosagem que não sobrecarrega o corpo e não traz riscos de uma síndrome de realimentação. Uma criança que recebe três sachês de Plumpy'Nut por dia pode se recuperar da desnutrição aguda grave em oito semanas.

"Os ATPUs [podem] prevenir a síndrome de realimentação em locais onde não é possível monitorar a síndrome de realimentação", afirmaram Wieger Voskuijl e Hanaa Benjeddi, pediatras do Centro Médico Universitário de Amsterdã, que prestaram serviços médicos em zonas de conflito e campos de refugiados.

Os pesquisadores também tentaram encontrar alternativas de ATPUs cujo preparo possa ser feito em locais mais próximos de áreas na África e na Ásia onde as taxas de insegurança alimentar são mais elevadas.

Esses produtos incluem ATPUs compostos de grão-de-bico, feijão-mungo, milho e lentilhas, todos cultivados localmente – algo que, além de ajudar a reduzir os custos de produção, diminui o risco de alergias.

Como retomar a ajuda em regiões afetadas pela fome

Caso não sejam tomadas medidas para aliviar a fome nas regiões afetadas, especialistas preveem um quadro de "mortes generalizadas".

Crucial no fornecimento de ajuda alimentar a regiões com fome catastrófica é a entrega de alimentos e fundos de apoio humanitário da maneira correta, permitindo a chegada de serviços de ajuda em regiões como Gaza e Sudão, disseram Voskuijl e Benjeddi à DW.

"O ponto crucial é que prevenir a síndrome de realimentação é quase impossível em locais com alta demanda e baixa quantidade de profissionais de saúde ou de ajuda humanitária", afirmam os pediatras

Voskuijl e Benjeddi defendem ainda que os governos em regiões atingidas pela fome devem priorizar condições seguras para que as agências de ajuda humanitária retomem seu trabalho e evitem uma crise humanitária.

"E isso necessita de pressão internacional. Se olharmos para Gaza, mas também para o Sudão, esses são dois governos que estão negando esse acesso a crianças desnutridas e mulheres grávidas", afirmam.

Short teaser Mesmo que a ajuda alimentar chegue aos habitantes de Gaza e outras zonas assoladas pela fome, há risco de complicações.
Author Matthew Ward Agius
Item URL https://www.dw.com/pt-br/após-fome-gaza-ainda-pode-ser-palco-de-síndrome-de-realimentação/a-73596601?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 5
Id 73602096
Date 2025-08-11
Title "Você está demitido": um jeito Trump para ditar a realidade
Short title "Você está demitido": um jeito Trump para ditar a realidade
Teaser Ainda é possível confiar nos dados oficiais dos EUA? Demissão da chefe das estatísticas levanta dúvidas sobre até que ponto os números refletem a economia. E quem será o próximo?

O presidente dos EUA, Donald Trump, é conhecido por demitir pessoas. A frase "Você está demitido", aliás, virou sua marca registrada no programa de TV O Aprendiz. Agora, como presidente, não poderia ser diferente.

A demissão de Erika McEntarfer no início de agosto, no entanto, foi um tanto peculiar. Ela não perdeu o cargo de chefe do Bureau of Labor Statistics (Escritório de Estatísticas do Trabalho) por criticar Trump ou por ter se indisposto com os republicanos.

McEntarfer, cuja nomeação foi confirmada por ampla maioria bipartidária (86 a 8) no Senado dos EUA em janeiro de 2024, perdeu o cargo simplesmente por fazer o seu trabalho.

"Eu a demiti!"

No início de agosto, o gabinete de McEntarfer apresentou seu relatório periódico sobre a evolução do mercado de trabalho americano. Segundo o documento, a criação de empregos nos EUA foi menor do que o esperado nos últimos meses.

Poucas horas depois, McEntarfer foi demitida. A jornalistas, Trump qualificou os números como phony, o que pode significar falsos ou simplesmente estranhos, e acrescentou: "Eu a demiti".

Mas o que aconteceu exatamente? "O número de novos empregos criados teve que ser revisado significativamente para baixo; a previsão anterior não se concretizou", explica Hendrik Mahlkow, economista do Instituto da Economia Mundial (IfW), em Kiel.

"Nos últimos dois meses, foram criados mais de 200 mil empregos a menos do que o esperado. Isso mostra que as políticas de Trump estão enfrentando obstáculos", disse Mahlkow no podcast de negócios da DW (em alemão).

Portadores de más notícias sob constante tensão

Em sua plataforma social Truth Social, Trump voltou a bater na mesma tecla, e chamou McEntarfer de "incompetente" e a acusou de alterar os números para prejudicá-lo.

Para Mahlkow, especialista do IfW, não há "nenhuma evidência" sobre isso. Fato é que o Bureau of Labor Statistics primeiro elabora um prognóstico – ou seja, uma estimativa de como o mercado de trabalho poderá se desenvolver nos próximos meses.

Essa estimativa é baseada em pesquisas de opinião. "Posteriormente, quando são disponibilizados os números reais de quantos novos empregos foram criados, as previsões precisam ser revisadas."

As revisões podem ir em ambas as direções. Neste caso, elas foram para baixo – o que irritou Trump. "O cerne da política de Trump é que ele se apresenta como um líder que promove a recuperação econômica", diz Mahlkow. "Se os indicadores econômicos não se encaixam nessa narrativa, o portador de más notícias é demitido."

Mas quem pensa que isso não passa de apenas mais um capricho de Trump está subestimando a importância dos dados oficiais para a economia.

Deste episódio, surgem algumas perguntas. Por exemplo: quão confiáveis serão esses dados no futuro? Será que em breve todas as estatísticas passarão a ser revisadas antes da publicação para determinar se podem ou não desagradar a Trump? E até que ponto tais números ainda refletem a realidade?

Quem precisa desses dados?

Investidores nas bolsas de valores americanas também se fizeram perguntas semelhantes, com os índices caindo significativamente no dia da demissão de McEntarfer. Demitir a chefe de estatísticas foi um "ataque deliberado à integridade dos dados econômicos dos EUA e de todo o sistema estatístico", disse Jed Kolko, do Instituto Peterson de Economia Internacional em Washington, D.C., à BBC.

Dados precisos sobre o mercado de trabalho também são fundamentais para o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). Entre as funções do órgão, está viabilizar o pleno emprego por meio de sua política monetária.

"Se o Fed não puder mais confiar nos dados do mercado de trabalho, a política monetária não poderá mais reagir de forma confiável", disse o economista Mahlkow, do IfW.

Por décadas, os dados econômicos americanos eram apresentados como um modelo de excelência, disse Mahlkow. "Ter dados tão bons e detalhados para uma economia tão grande distinguia os EUA. Agora, isso está se deteriorando."

Os EUA estão se tornando como a China?

O exemplo da China, a segunda maior economia do mundo depois da americana, pode trazer algumas pistas sobre aonde isso tudo pode levar. Lá, a liderança comunista faz questão de garantir que seus planos sejam cumpridos – o que resulta em baixa confiança nos números oficiais de crescimento econômico.

"Investidores, bancos e organizações internacionais têm se esforçado para interpretar os números supostamente verdadeiros", diz Mahlkow. Eles comparam, por exemplo, os números oficiais sobre exportações de produtos chineses com dados de importação de outras economias ou tentam tirar conclusões sobre a atividade econômica a partir de dados de mobilidade.

O ceticismo em relação aos dados dos EUA ainda não é tão grande, diz Mahlkow. "Mas os acontecimentos dos últimos meses mostram a rapidez com que uma base de confiança construída ao longo de décadas se erode."

Isso especialmente porque a confiança é rara numa época em que ameaças alfandegárias, acordos e prazos mudam semanalmente.

"Trump nos ensinou que as regras não se aplicam mais a ele e aos EUA. Agora só existe o direito do mais forte, e as pessoas estão constantemente testando até aonde podem ir", avalia Florian Heider, diretor científico do Instituto Leibniz de Pesquisa de Mercado Financeiro e professor da Universidade Goethe em Frankfurt am Main.

A incerteza resultante é um veneno para os mercados financeiros, que recentemente tiveram uma leve recuperação achando que o pior das "tarifas recíprocas" já havia passado.

Uma nova demissão, porém, poderia causar pânico rapidamente. "Ele [Trump] só precisa demitir o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, por querer taxas de juros mais baixas", disse Heider à DW. "Ao fazer isso, ele questiona a independência do banco central. E aí as coisas podem degringolar de novo muito rapidamente."

Short teaser Ainda se pode confiar nos dados oficiais dos EUA? Demissão em Washington põe as estatísticas sob suspeita.
Author Andreas Becker
Item URL https://www.dw.com/pt-br/você-está-demitido-um-jeito-trump-para-ditar-a-realidade/a-73602096?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 6
Id 73577367
Date 2025-08-11
Title [Entrevista] "Fala-se pouco da motivação religiosa do 8 de Janeiro", diz Petra Costa
Short title "Fala-se pouco da motivação religiosa do 8 de Janeiro"
Teaser À DW, Petra Costa, que acabou de lançar documentário "Apocalipse nos Trópicos", analisa aliança entre extrema direita com "ímpeto revolucionário" e setores evangélicos fundamentalistas.

Na frente do Congresso Nacional, em Brasília, um grupo reza ajoelhado de forma fervorosa. A cena está no início do recém-lançado documentário Apocalipse nos Trópicos, da diretora Petra Costa, e aconteceu em 2016, durante a votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Esse momento simboliza a crescente influência da religião na política brasileira, em parte associada ao avanço da extrema direita. É dessa junção de forças que trata o filme, disponível na Netflix. Nele, Petra, que foi indicada ao Oscar por Democracia em Vertigem, continua sua investigação, feita em tom pessoal, dos últimos anos intensos da política brasileira.

O documentário lembra alguns momentos marcantes da história recente do país: a facada contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 e os ataques de 8 de Janeiro. Mas, desta vez, as lentes pessoais da diretora estão direcionadas ao papel de setores fundamentalistas evangélicos na política.

A DW conversou com Petra alguns dias depois de o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenar a prisão domiciliar de Bolsonaro. "Acho importantíssimo que finalmente estejam levando a sério, investigando e punindo uma trama golpista", disse ela.

Mesmo assim, não espere ver esses novos desdobramentos em um um novo filme da diretora. "Não, não estou filmando a prisão do Bolsonaro. Esse tipo de filme consome muito todas as suas subjetividades, você fica sequestrado pelos acontecimentos."

DW: De onde surgiu essa vontade de abordar o mundo dos evangélicos no país?

Petra Costa: Surgiu vendo a influência que certas lideranças evangélicas estavam tendo na política nacional. Acabei filmando aquele momento daquele impeachment interminável da Dilma, em 2016. Em uma hora de espera, filmei um ato profético do Silas Malafaia (uma das maiores lideranças evangélicas do país e aliado de Bolsonaro) em frente ao Congresso, que aparece ali no início do filme, em que uma pastora, fala: "que Deus tome o Legislativo, o Executivo e o Judiciário!".

Aquilo abriu os meus olhos para esse plano "dominionista" (conjunto de ideologias cristãs que postulam uma política exclusivamente religiosa, de base bíblica e fundamentalista) que está em curso no Brasil e que pouco se fala. O filme é um desejo de investigar esse fenômeno através do cinema direto, que eu gosto tanto.

Você acha que essa ligação entre a política e o fundamentalismo evangélico no Brasil ainda é pouco estudada e discutida?

Sim. Por exemplo, para mim a invasão do 8 de Janeiro tem muitas motivações. Mas a motivação religiosa foi muito pouco falada e estudada. Muitos pastores chamaram para aquela invasão. Se rezou muito durante aquela invasão. Houve uma visão do apocalipse naquela invasão. Enquanto nos Estados Unidos tem uns 30 livros sobre as ligações entre esse fundamentalismo religioso e o 6 de janeiro (quando houve a invasão ao Capitólio em 2021), acho que aqui ainda se fala muito pouco. E esse é um componente muito importante da extrema direita e desse movimento autocrático e teocrático.

Por que Bolsonaro virou um veículo para muitos evangélicos conservadores no Brasil, mesmo não tendo um histórico ligado a pautas religiosas?

O que o Malafaia diz é que, desde a eleição de 2014, com a Marina Silva, que teve 20% das intenções de voto, ele percebeu que existia uma força evangélica muito forte que poderia eleger um presidente. Ele e o Bolsonaro começam a ter vários movimentos de aproximação entre 2011 e 2013 e existe um encontro de interesses conservadores ali.

Entrevistei o Bolsonaro muitas vezes no Congresso, em 2016, 2017, e ele nunca falou em religião. Ele começa a falar em 2018, depois que existe uma aproximação clara entre ele e o Malafaia e outras lideranças evangélicas. A esposa dele (Michelle Bolsonaro) foi da igreja do Malafaia por muitos anos, o Malafaia inclusive casou os dois. E a facada, que ele levou em 2018, é a consagração desse casamento entre Bolsonaro e essas forças. Eles começam a falar que o Bolsonaro foi ungido por Deus e sobreviveu a aquela tentativa de assassinato para salvar o Brasil.

Qual foi e é o papel dos religiosos dos EUA na organização dos evangélicos do Brasil?

A gente só começou a arranhar a superfície de uma investigação que precisa ser levada mais a fundo. O que a gente descobriu, graças ao nosso pesquisador uruguaio, que é evangélico, são documentos que mostram como a organização de lobby americano The Family Fellowship, que surge durante a Guerra Fria justamente para levar a religião evangélica fundamentalista para dentro da política americana e mundial, com objetivo de acabar com as "ameaças comunistas", manda vários missionários para o Brasil, mais precisamente para o Congresso Nacional, para evangelizar congressistas sobre o disfarce de que estariam "dando aula de inglês".

Alguns críticos dizem que seu filme usou os evangélicos como um "bode expiatório" para uma guinada conservadora no Brasil, quando existem outros atores, como outros setores ideológicos, empresariais e até grupos religiosos que também atuam nesse sentido. Como você responde a essas críticas?

A gente produz poucos documentários para dar conta da riqueza e complexidade dos nossos fenômenos. Precisam ser feitos documentários que investiguem o papel das redes sociais no crescimento da extrema direita no Brasil desde 2013, e também o papel dos militares.

Acho que principalmente esses dois elementos são cruciais na nossa política atual e muito pouco estudados para a relevância que eles têm. O que a gente fez é um pouco uma fusão entre cinema de ensaio com o que se chama cinema direto, que acompanha alguns personagens ao longo de um tempo. Não dá para retratar tudo em um filme.

O papel e a influência dos evangélicos foi mal compreendido pela esquerda progressista nas últimas décadas? A esquerda pode avançar no eleitorado evangélico?

O que acho que acontece muito no campo progressista em relação aos evangélicos é, ou uma atitude de desprezo ou uma atitude de condescendência, de falar: "ah, esse é um campo muito diverso, religião não se discute", quando, na verdade, com isso, se deixa de olhar um fenômeno que diz respeito a todos.

Existe uma teologia "dominanista" em curso. Se ela é levada a cabo, acaba com a democracia brasileira. Isso diz respeito a todos. Me surpreende o quão pouco isso é parte do debate público, dada a importância e a rapidez com que esse projeto está sendo bem-sucedido no Brasil.

Quanto ao campo progressista, já existem muitos pastores progressistas. Acho que o principal desafio que eles enfrentam é uma perseguição muito grande. Há lideranças evangélicas que perseguem esses pastores e muitas vezes os expulsam. O que estamos vendo? Uma perseguição religiosa que nos traz de volta para a Idade Média. As guerras religiosas levaram à morte de muitas pessoas. E a gente viu um pouco disso acontecer na última eleição, quando tiveram mortes. Se a gente não tomar conhecimento disso e não criar medidas para impedir isso, a tendência é que só aumente.

Uma das críticas à esquerda nos últimos tempos é que ela não consegue mais falar com a periferia, com os trabalhadores. No filme, você diz que a extrema direita passou a encarnar um "fervor revolucionário" e o próprio Lula diz, em entrevista a você, que os sindicatos, por exemplo, não conseguem se comunicar com alguém que perdeu um emprego. Como acha que as forças de esquerda podem voltar a se comunicar com essa parcela da população?

As pessoas precisam de transcendência, precisam sonhar futuros utópicos. E a esquerda, infelizmente, virou gerente de crise do sistema capitalista, um sistema com o qual ela nunca concordou, mas que agora virou defensora. Enquanto isso, a extrema direita adotou um ímpeto revolucionário e quer fazer essa "Revolução Francesa" ao contrário.

Querem acabar com a República, acabar com a democracia e estabelecer reis ungidos por Deus. É isso que o Trump está fazendo nos Estados Unidos e isso é o que a extrema direita quer fazer no Brasil. E o que a esquerda quer? Eu acho que a esquerda ainda não sabe o que ela quer. E isso não só no Brasil como no mundo. A esquerda ainda está vivendo a crise existencial da queda do muro (de Berlim), do fim da Guerra Fria, e tendo que lidar com essas invasões subterrâneas das redes sociais, do fundamentalismo religioso. A gente precisa urgentemente inventar mecanismos de controle, de regulamentação, porque essas forças sequestraram a nossa democracia.

Short teaser À DW, cineasta Petra Costa analisa aliança entre extrema direita com "ímpeto revolucionário" e setores evangélicos.
Author Nina Lemos
Item URL https://www.dw.com/pt-br/entrevista-fala-se-pouco-da-motivação-religiosa-do-8-de-janeiro-diz-petra-costa/a-73577367?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 7
Id 73469413
Date 2025-08-10
Title O que escondem os túneis subterrâneos esquecidos de São Paulo
Short title O que escondem os túneis subterrâneos esquecidos de SP
Teaser

Plataforma construída nos anos 1970 na Estação D. Pedro 2° que nunca foi usada

Espaços previstos para linhas de metrô que não se concretizaram funcionam agora como abrigo para pessoas em situação de rua. Outros túneis servem à drenagem do lençol freático ou para manobras de trens.Quem circula diariamente pela Estação Pedro 2º, no centro de São Paulo, dificilmente imagina que, 20 metros abaixo dos trilhos, existe uma plataforma que jamais recebeu um trem. Uma espécie de estação fantasma, resultado de um projeto de expansão do metrô paulistano que acabou abortado – mas que encontrou novo uso em noites geladas: abrigo emergencial para a população em situação de rua. A plataforma subterrânea foi construída nos anos 1970, quando os engenheiros que projetavam o metrô acreditavam que a cidade cresceria em direção à zona sudeste. A ideia era que uma futura linha – hoje associada ao traçado da Linha 4-Amarela – fizesse um arco vindo de Pinheiros até o Ipiranga, interceptando a Linha Vermelha no subsolo da Pedro 2º. O crescimento urbano, porém, seguiu outro ritmo e outras direções. A linha jamais foi construída naquele trecho, mas a estrutura foi mantida. "Essa plataforma foi feita já pensando numa linha futura. A engenharia da época deixou tudo pronto no subsolo para que não fosse preciso demolir a estação, caso o traçado fosse implantado", explica o arquiteto e gerente de projetos do metrô João Carlos Santos. "Se ela tivesse sido construída como previsto, hoje estaríamos exatamente aqui, esperando o trem." Mesmo sem trilhos, o espaço subterrâneo não ficou abandonado. Desde 2022, durante as noites mais frias, o governo de São Paulo transformou o local em abrigo temporário com capacidade para cerca de 150 pessoas. Ali são oferecidos camas, mantas, roupas, alimentação, café da manhã e até um espaço específico para quem chega com animais de estimação – algo que em outros abrigos não é permitido. "Recebemos homens, mulheres, famílias inteiras, inclusive com bebês e pets", relata o capitão Eduardo Schulte, diretor de recuperação da Defesa Civil de São Paulo. "Muitos preferem passar frio nas ruas a deixar seus animais. Aqui eles não precisam fazer essa escolha." Paulo Francisco de Oliveira, ex-cozinheiro, é um dos frequentadores do abrigo. Acolhido ao lado da companheira e de uma cadelinha de dois meses, diz se sentir mais seguro ali do que nos albergues tradicionais. "Você vai para um albergue, é pior até que na rua. Você leva uma coisa, o cara toma de você. Rouba. Aqui a gente consegue relaxar um pouco", afirma ele. No entanto, apesar do alívio, o sono de apenas uma hora a uma hora e meia se mantém. "Força do hábito." Mistério da Engenharia A ideia de uma rede de túneis inacabados ou estações fantasmas pode soar como algo saído de um romance de mistério. Mas, no caso paulistano, é fruto da combinação entre planejamento de longo prazo e mudanças nas dinâmicas urbanas. A capital paulista conta hoje com cerca de 104 quilômetros de linhas de metrô, menos da metade do que previa o plano original elaborado há cinco décadas. O traçado das linhas Azul, Vermelha e Verde foi ajustado sucessivas vezes ao longo dos anos. Algumas bifurcações e ramais planejados, como o "Ramal Moema", entre as estações Paraíso e Ana Rosa, nunca se concretizaram. A bifurcação da Linha Azul, que teria como destino o bairro da zona sul, hoje é utilizada como estacionamento de trens de manutenção. Na Estação São Bento, outra obra subterrânea chama atenção: túneis com até 32 metros de profundidade, que mais lembram cavernas, isolados do solo por paredes conhecidas como "diafragma". Servem como contenção da colina histórica da região central, mantendo a estação seca e segura mesmo abaixo do leito do rio Anhangabaú. "Essas paredes seguram toda a carga do entorno e funcionam como drenagem do lençol freático", explica José Luís de Carvalho, supervisor de manutenção. "Além disso, garantem que toda infiltração vá para o subsolo, aliviando a estação da pressão lateral." Além da Pedro 2º, há outras plataformas "invisíveis" em diferentes pontos da cidade. Algumas servem como áreas técnicas, outras seguem interditadas ao público. Com o tempo, ganharam fama entre urban explorers, curiosos e até como cenário de lendas urbanas. Para os engenheiros do metrô, porém, são apenas vestígios de um sistema pensado com ambição e visão de futuro, mas que teve que se adaptar às transformações da cidade. "No passado, havia essa preocupação em antecipar o crescimento urbano e já deixar preparado o que pudesse ser aproveitado depois", comenta João Carlos Santos. "A cidade mudou, os estudos também, e a demanda apontou para outros rumos. Mas o que ficou pôde ser ressignificado." É o que vem acontecendo. Espaços projetados para trens se transformam, hoje, em abrigos. Túneis não utilizados garantem a estabilidade de estações. Plataformas inacabadas viram prova de que até nas profundezas esquecidas da cidade é possível encontrar uma função, abrigo e humanidade.


Short teaser Espaços previstos para linhas de metrô que não se concretizaram funcionam como abrigo para gente em situação de rua.
Author Gustavo Basso
Item URL https://www.dw.com/pt-br/o-que-escondem-os-túneis-subterrâneos-esquecidos-de-são-paulo/a-73469413?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Plataforma construída nos anos 1970 na Estação D. Pedro 2° que nunca foi usada
Image source Gustavo Basso/DW
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Item 8
Id 73592814
Date 2025-08-10
Title Prestes a completar 100 dias de governo, Merz enfrenta impopularidade crescente
Short title Com 100 dias no poder, governo Merz vê reprovação crescer
Teaser

Friedrich Merz tomou posse em maio como chanceler federal da Alemanha

Governo do chanceler federal da Alemanha, que tomou posse em maio, é mal avaliado por 60% dos alemães. Nível de insatisfação com líder conservador supera marca negativa de seu antecessor social-democrata no mesmo períodoPerto de completar a marca de 100 dias no poder, o governo liderado pelo chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, tem enfrentado impopularidade crescente. Uma pesquisa elaborada pelo instituto Insa e divulgada neste domingo (10/08) pelo jornal Bild am Sontag apontou que apenas 27% dos alemães estão satisfeitos com o trabalho da coalizão de governo, formado pelo bloco conservador CDU/CSU de Merz e o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda. Outro 60% expressaram insatisfação e 13% não responderam à pesquisa. No início de junho, cerca de um mês após a coalizão assumir o poder, 37% afirmaram estar satisfeitos, enquanto os insatisfeitos chegavam a 44%. Dessa forma, a porcentagem de alemães insatisfeitos com o governo saltou 16 pontos percentuais em pouco mais de dois meses. As opiniões sobre a performance pessoal do chanceler federal Merz são similares. De acordo com a pesquisa divulgada neste domingo, apenas 30% dos alemães apontam estar satisfeitos com o trabalho do líder conservador, enquanto 59% o veem de maneira negativa Os números são piores que os enfrentados pelo antecessor de Merz na chefia da chancelaria, o social-democrata Olaf Sholz, que em março de 2022 registrou aprovação de 43% quando completou 100 dias de governo. Scholz, que governou pouco mais de três anos, viu seu breve governo desintegrar em 2024 após disputas internas envolvendo parceiros de coalizão. A pesquisa deste domingo também questionou os entrevistados sobre como eles comparavam Merz e Scholz. Entre os entrevistados, 26% apontaram que viam Merz pessoalmente desempenhando um trabalho melhor que Scholz, enquanto 41% não viam diferença e 27% opinaram que o atual chanceler federal é pior que seu antecessor. A comparação entre os dois governos também mostrou números similares, com 28% apontando que a coalizão liderada por Merz está desempenhando um trabalho melhor que o governo Scholz, 24% opinando que ela é pior e 38% afirmando que não veem diferença. A pesquisa ouviu 1.321 pessoas entre os dias 4 e 6 de agosto. Cem dias de governo A última eleição federal na Alemanha ocorreu em fevereiro e, após semanas de negociações, o novo governo tomou posse em 6 de maio. A marca de 100 dias será atingida na quinta-feira (14/08). Entre as principais marcas do governo formado pelo bloco CDU/CSU e o SPD no período está o endurecimento da política migratória e a imposição de novos controles de fonteira. Após dois anos de recessão, relacionados principalmente à invasão da Ucrânia pela Rússia e o consequente aumento dos preços da energia, a maior economia europeia esperava se recuperar este ano. Antes de assumir o cargo, Merz também conseguiu articular um fundo de 500 bilhões de euros para modernizar a infraestrutura do país na próxima década e também promover mais gastos com defesa. Porém, os números econômicos da Alemanha ainda patinam. No segundo trimestre, o produto interno bruto da Alemanha retrocedeu 0,1%, após um aumento de 0,3% no primeiro. Para todo o ano de 2025, o FMI prevê uma quase estagnação (+0,1%). Na política externa, Merz também tem tentado fortalecer laços com outros parceiros europeus e evitar antagonizar com os EUA. O governo de Merz também tem ensaiado, algumas mudanças em relação a Israel, em meio à crescente visão negativa do público alemão com a conduta de Israel no conflito em Gaza. Nesta semana, por exemplo, ele anunciou a suspensão das exportações de armas que poderiam ser utilizadas no violento conflito na Faixa de Gaza. Apesar disso, Merz tem se posicionado contra esforços de outros países europeus para isolar Israel diplomaticamente e tem enfatizado "o direito de Israel de se defender". Membros do governo também contatos frequentes com os israelenses. Nos primeiros cem dias de governo, a coalizão entre conservadores e social-democratas também enfrentou alguns conflitos internos. O mais significativo envolveu a nomeação de três juízes do Tribunal Constitucional. Na ocasião, um número significativo de deputados conservadores rejeitou uma candidata apoiada pelos social-democratas, evidenciando diferenças na coalizão. Com apenas doze assentos a mais do que a maioria necessária no Parlamento Federal (Bundestag), a coalizão conta com uma margem de manobra legislativa reduzida. jps (dpa, ots, AFP)


Short teaser Governo do chanceler federal da Alemanha, que tomou posse em maio, é mal avaliado por 60% dos alemães.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/prestes-a-completar-100-dias-de-governo-merz-enfrenta-impopularidade-crescente/a-73592814?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Friedrich Merz tomou posse em maio como chanceler federal da Alemanha
Image source Markus Schreiber/AP Photo/picture alliance
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Item 9
Id 73515526
Date 2025-08-10
Title Como a geração Z está redefinindo a espiritualidade na Índia
Short title Como a geração Z está redefinindo a espiritualidade na Índia
Teaser

Uso de redes sociais marca a relação de jovens indianos com a espiritualidade

Os jovens indianos não rejeitam a religião, mas vivem suas crenças à sua maneira. Para muitos, trata-se de uma experiência personalizada, e não de uma prática rígida baseada apenas em rituais.Rohit Singh nasceu em uma família hindu, mas não se diz religioso. Aos 24 anos, porém, ele frequenta tanto o templo hinduísta local como também o gurudwara, um local de culto e reunião de outra religião, o sikhismo, que é monoteísta. Singh também acredita em astrologia e, neste mês, se juntou aos primos na Kanwar Yatra, a peregrinação anual de devotos do deus Shiva, uma das três principais divindades hindus veneradas na Índia. "Eu não sou religioso, sou espiritual", disse ele à DW. "Não vou ao templo com a mesma frequência que meus pais, vou de vez em quando pela vibe calma e pacífica. Comecei a ir quando não conseguia encontrar emprego e minha saúde mental estava péssima." Residente de Gurugram, polo de tecnologia e finanças próximo à capital Nova Délhi, Singh ainda não conseguiu emprego, mas diz que a espiritualidade ajudou sua saúde mental. "Muitos dos meus amigos são como eu. Só queremos um pouco de tranquilidade", conta. Geração Z usa espiritualidade para lidar com desafios Um estudo do Pew Research Center mostrou que a afiliação religiosa caiu 1% globalmente na década de 2010 a 2020. No mesmo período, a porcentagem de pessoas sem religião cresceu de 23% para 24,2%. Entretanto, a Índia segue no caminho oposto. O mesmo estudo do Pew indica que a população global de hindus – 95% dos quais vivem na Índia, onde são 80% da população do país – se manteve estável. Já o número de muçulmanos, que representam mais de 14% dos indianos, cresceu. Ao contrário de muitos jovens ao redor do mundo, a juventude da Índia dá sinais de que se reconecta com a religião e a espiritualidade, mas de uma forma própria. Uma pesquisa YouGov-Mint mostrou que 53% da geração Z da Índia, pessoas nascidas entre 1997 e 2012, acreditam que a religião é importante, e 62% delas oram regularmente. Um estudo da MTV Youth de 2021 também identificou que 62% destes jovens indianos acreditam que a espiritualidade ajuda a ter mais clareza. Quase 70% disseram se sentir mais confiantes após rezar. Jovens sobrepõem espiritualidade, religião e bem-estar "A geração Z tem muito mais vocabulário para explicar o que sente, diferente de gerações anteriores", disse à DW a psicóloga Manavi Khurana. "Termos como cura, equilíbrio interior, conexão consigo mesmo. Espiritualidade, religião, bem-estar. Tudo isso se mistura, embora também tenha interseções", explicou Khurana. Ela é fundadora da organização de saúde mental Karma Care, em Nova Délhi, que atende tanto millennials (nascidos entre 1981 e 1996) quanto os mais jovens. "Também há muitas pessoas se conectando ao hinduísmo devido ao clima político atual", afirmou Khurana. No país, o nacionalismo hindu do chefe de governo, Narendra Modi, tem marcado a polarização no país e exacerbado embates com a população muçulmana. "Muitos encontram consolo na religião. Quando perdem completamente a esperança, encontram na religião ou em mantras e crenças algo que devolve essa esperança. Talvez não tenham outros sistemas de apoio no momento", disse. "Se a espiritualidade leva ao extremismo, não é o melhor cenário. Mas se alguém a usa para se conectar consigo mesmo e como mecanismo de resiliência, isso é muito importante", concluiu. Menos rituais, mais personalização Surya, 27 anos, é viajante solo e influenciadora com mais de 290 mil seguidores no Instagram. Muitas de suas viagens têm cunho espiritual. Surya já participou mais de uma vez, por exemplo, do Kumbh Mela, um dos mais importantes festivais do hinduísmo que acontece a cada quatro anos, e visitou o Kedarnath, templo dedicado a Shiva que fica na região dos Himalaias. Ela acredita que as redes sociais tornaram a religião mais acessível às novas gerações. "A espiritualidade não é mais vista como 'chata' ou só para os mais velhos. Está virando um jeito de encontrar paz em uma vida moderna e caótica", disse à DW. "A juventude de hoje não segue cegamente. Quer saber o porquê, explorar o como e abraçar o que faz sentido pessoalmente", completou. Ela sugere que, ao invés dos jovens irem ao templo por obrigação, podem visitar cidades como Varanasi, considerada a capital espiritual da Índia, Rishikesh, conhecida por ser um centro de yoga e meditação, ou mesmo se envolver com a Isha Foundation, organização que oferece retiros e iniciativas humanitárias. Governo promove o hinduísmo Durante discurso no parlamento este ano, Narendra Modi disse que os jovens estão "abraçando tradições, fé e crenças com orgulho, refletindo uma forte conexão com o patrimônio cultural da Índia". Ele falava antes do Maha Kumbh Mela, a mais sagrada e importante de todas as Kumbh Melas, realizado de janeiro a fevereiro deste ano, e que acontece a cada 144 anos. Em 2025, uma aglomeração no evento resultou na morte de dezenas de pessoas. O governo nacionalista hindu de Modi investiu recursos no desenvolvimento e promoção de locais religiosos, como Ayodhya, uma das sete cidades sagradas do hinduísmo. Os estados de Uttar Pradesh e Maharashtra também anunciaram planos para revitalizar centros de importância religiosa, histórica e mitológica. Conteúdo espiritual nas redes sociais Para críticos, a crescente importância das redes sociais no interesse e engajamento dos jovens com a espiritualidade torna a experiência mais performática. A psicóloga Khurana entende que, embora esse fenômeno seja real, a rede social não tira a autenticidade da relação dos jovens com a religião ou a espiritualidade. "Só porque muitos da geração Z se comunicam pelo Instagram ou pela internet e essa é a forma de eles criarem comunidade, não podemos tomar como performático", disse, lembrando que esses jovens cresceram cercados por tecnologia. Yoga, meditação, astrologia e até líderes e palestrantes espirituais usando linguagem acessível atraem os jovens do país. Segundo pesquisa de 2023 do aplicativo OMTV, de narrativas espirituais, 80% dos indianos de 18 a 30 anos consomem conteúdo espiritual ou religioso online. "O mundo da geração Z é mais barulhento e rápido do que nunca. Então, os caminhos deles para a espiritualidade são diferentes. Talvez não leiam escrituras inteiras, mas ouçam um vídeo curto com sabedoria do Gita [diálogo filosófico hindu]. Talvez não fiquem horas em um templo, mas façam uma meditação guiada de dez minutos à noite. Isso não torna menos real, apenas mais moderno", concluiu Surya.


Short teaser Os jovens indianos não ignoram a religião, mas escolhem viver suas crenças por meio de experiências personalizadas.
Author Tanika Godbole
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-a-geração-z-está-redefinindo-a-espiritualidade-na-índia/a-73515526?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/73359147_354.jpg
Image caption Uso de redes sociais marca a relação de jovens indianos com a espiritualidade
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Item 10
Id 73592603
Date 2025-08-10
Title Lesão cerebral mata dois boxeadores no mesmo evento no Japão
Short title Lesão cerebral mata dois boxeadores no mesmo evento no Japão
Teaser Atletas japoneses, ambos com 28 anos, foram hospitalizados após lutas separadas ocorridas no mesmo dia e não resistiram aos ferimentos na cabeça.

Dois boxeadores japoneses morreram em decorrência de lesões cerebrais sofridas em lutas separadas no mesmo dia 2 de agosto último e no mesmo evento em Tóquio, informou a mídia japonesa neste domingo (10/08).

O superpluma Shigetoshi Kotari morreu na última sexta-feira e o peso leve Hiromasa Urakawa, neste sábado. Ambos tinham 28 anos. Eles foram levados ao hospital, onde passaram por uma cirurgia no cérebro, mas não resistiram.

Os dois atletas foram operados no crânio devido a um hematoma subdural, quando ocorre acúmulo de sangue entre o cérebro e o crânio.

Kotari empatou após 12 rounds contra o também japonês Yamato Hata e desmaiou logo depois.

Já Urakawa perdeu por knockout no oitavo e último round contra Yoji Saito. O atleta "sucumbiu tragicamente aos ferimentos sofridos em sua luta", informou a Organização Mundial de Boxe no Instagram.

Entidade reformula regra

Tsuyoshi Yasukochi, secretário-geral da Comissão Japonesa de Boxe, disse à mídia local que esta pode ser "a primeira vez no Japão que dois lutadores passaram por cirurgias de abertura de crânio para tratar ferimentos sofridos no mesmo evento".

Em resposta, a entidade anunciou que todas as lutas pelo título da Federação de Boxe do Oriente e do Pacífico serão reduzidas de 12 para 10 rounds.

Terceira morte no boxe em um ano

A morte de Urakawa marca a terceira fatalidade no boxe mundial devido a lesões no ringue neste ano.

Em fevereiro passado, o boxeador irlandês John Cooney morreu, também aos 28 anos, uma semana após ser hospitalizado após sua derrota pelo título superpluma do Celtic para Nathan Howells em Belfast.

Ele sofreu uma lesão cerebral grave durante a luta.

Apelos por uma supervisão mais rigorosa do boxe – tanto no Japão quanto internacionalmente – vêm ganhando força após as fatalidades.

Ativistas exigem lutas mais curtas, exames médicos obrigatórios após as lutas e aplicação mais rigorosa dos protocolos de concussão.

md (Reuters, AFP, AP)

Short teaser Atletas japoneses, ambos com 28 anos, foram hospitalizados após lutas separadas realizadas no mesmo dia.
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Item 11
Id 73591843
Date 2025-08-10
Title Maioria dos alemães apoia reconhecimento de Estado palestino
Short title Maioria dos alemães apoia reconhecimento de Estado palestino
Teaser

Manifestação pró-palestinos em junho em Berlim

De acordo com pesquisa, 54% são a favor do reconhecimento de um Estado palestino, questão que é um dilema para a Alemanha. Enquanto 31% se opõem à ideia.De acordo com pesquisa publicada neste domingo (10/08), a maioria dos alemães apoia o reconhecimento de um Estado palestino, questão que é um dilema para a Alemanha. Na pesquisa, realizada pelo Instituto Forsa para a revista política International Politik, 54% dos entrevistados responderam "sim" à pergunta: "A Alemanha deveria agora reconhecer a Palestina como um Estado?". Enquanto 31% se opuseram à ideia. Maior apoio entre eleitores de esquerda A pesquisa, foi realizada no final de julho com 1.001 pessoas na Alemanha. O apoio foi ligeiramente maior no leste do país (59%) do que no oeste (53%). Também foi particularmente alto entre aqueles com idade entre 18 e 29 anos (60%) e aqueles com 60 anos ou mais (58%). Por ideologia, entre os apoiadores do Partido de Esquerda, 85% eram a favor do reconhecimento. O apoio também foi alto entre os eleitores do Partido Verde (66%) e dos apoiadores do Partido Social-Democrata (SPD), com 52%. O apoio foi menor entre os eleitores da aliança conservadora que reúne União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), com 48%, e do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), com 45%. O governo alemão afirma apoiar uma solução de dois Estados, na qual israelenses e palestinos convivam pacificamente. No entanto, considera que o reconhecimento da Palestina deva ser o passo final de um processo de paz negociado e descartou a adoção da medida a curto prazo. O presidente Emmanuel Macron anunciou que a França dará esse passo em setembro. O Canadá também se comprometeu a reconhecer a Palestina em setembro, sujeito a certas condições, assim como o Reino Unido. md (DPA, AFP)


Short teaser Segundo pesquisa, 54% são a favor do reconhecimento de um Estado palestino, questão que é um dilema para a Alemanha.
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Image caption Manifestação pró-palestinos em junho em Berlim
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Item 12
Id 73559728
Date 2025-08-10
Title Por que o Dia dos Pais é "menos importante" do que o Dia das Mães?
Short title Por que o Dia dos Pais "importa menos" que o Dia das Mães?
Teaser Data gera metade do faturamento que o comércio tem no Dia das Mães. Para especialistas, isso diz muito sobre o papel que se espera do homem na criação dos filhos.

Na ponta do lápis do comércio brasileiro, o Dia dos Pais, celebrado neste domingo (10/08), vale metade do Dia das Mães, comemorado anualmente no segundo domingo de maio. É esse o peso da data comemorativa na economia brasileira. Enquanto o Dia das Mães de 2025 movimentou R$ 14,4 bilhões, o Dia dos Pais deve representar R$ 7,8 bilhões, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

De acordo com com a entidade, o Dia dos Pais é a quarta principal data comemorativa do país, perdendo para, nesta ordem, Natal, Dia das Mães e Dia das Crianças.

Para além do aspecto meramente econômico, especialistas ouvidos pela DW veem nesse quadro um reflexo de como os papéis de gênero são encarados na hora de criar os filhos — revelando uma sociedade ainda machista e patriarcal, em que a maternidade parece mais valorizada do que a paternidade.

"A presença materna é celebrada com mais convicção. Até porque o pai pode até 'não dar conta' [da paternidade] porque tem a mãe para dar conta. Então acaba sendo aquela coisa da sociedade machista que privilegia os homens, como se o pai pudesse decidir não ser pai porque o filho será criado pela mãe", comenta o psicanalista e palestrante Thiago Queiroz, pai de quatro crianças, autor do livro O Poder do Afeto e idealizador do site Paizinho, Vírgula!.

Quando encara a discrepância dos dados de faturamento entre as duas datas comemorativas, ele lembra que o Brasil tem milhares de crianças que nem sabem quem é o pai e outras tantas que são filhas de casais separados e não convivem com o progenitor. "É uma leitura sintomática: o cuidado paterno é marcado pela ausência", afirma. "Como você presenteia a ausência?"

Dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) apontam que, dos quase 26 milhões de nascimentos registrados em cartórios no país somente de 2016 para cá, 1,4 milhão (5%) não têm pai declarado.

Já uma análise da Fundação Getúlio Vargas revelou que, em 2022, mais de 11 milhões de mães criavam seus filhos sozinhas no Brasil.

"Apelo emocional e cultural mais forte"

Economista da Associação Comercial de São Paulo (ACS), Ulisses Ruiz de Gamboa atribui a preponderância do Dias das Mães ao "apelo emocional e cultural mais forte". Além disso, o Dia das Mães tem mais lastro social: a oficialização da data é anterior.

"Tradicionalmente, a figura materna está mais associada ao cuidado, ao afeto e à celebração familiar, o que impulsiona o consumo em diversos segmentos, como flores, perfumes, roupas, eletrodomésticos e experiências afetivas", diz ele, acrescentando que o Dia dos Pais também tem "padrões de consumo menos consolidados".

A questão, portanto, passa pela maneira como a própria sociedade enxerga as funções da mãe e as funções do pai.

"Essa diferença revela tanto a centralidade histórica e cultural do papel materno na sociedade brasileira quanto a construção social de gênero que associa a mulher mais diretamente ao cuidado e à afetividade", avalia a psicóloga Mariana Malvezzi, professora na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Oficialmente, o Dia das Mães foi oficializado no Brasil em 1932. Já o Dia dos Pais foi inventado em 1953, por ideia do publicitário Sylvio Bhering. De início, a data era fixa: 16 de agosto. Décadas mais tarde, mudou para o segundo domingo do mês. Mas só pegou mesmo, em termos comerciais, a partir dos anos 1970.

Machismo estrutural

Para especialistas, não dá para ver esses dados econômicos sem entender que eles refletem uma construção historicamente patriarcal sobre os papéis de gênero.

"É um traço machista e misógino da sociedade na qual a gente vive o fato de a mãe estar sobrecarregada e ser exigida que ela seja a única pessoa responsável realmente pelo cuidado do filho", diz Queiroz.

O que ocorre é que, no imaginário coletivo, a figura paterna ainda tende a ser vista como a que fica no papel de provedor, enquanto a responsabilidade afetiva, do cuidado e da educação recai sobre as mães. Ou seja: os dois não ocupam o mesmo espaço emocional e simbólico. E o próprio pai, muitas vezes, não se vê como alguém central na construção do vínculo e das memórias afetivas.

"Na prática, isso gera uma desconexão: a criança cresce vendo a mãe como a principal referência afetiva e o pai como alguém que está mais na borda do cotidiano", explica a neurocientista Telma Abrahão, autora do livro Educar é um ato de amor, mas também de ciência.

Ela ressalta que isso tem tudo a ver com o consumo porque, especialmente em datas comemorativas, a compra de um presente "costuma ser uma tentativa de simbolizar afeto". "Se o pai é visto como menos presente emocionalmente, a data também perde força simbólica e, consequentemente, perde força comercial."

Por toda essa construção sócio-histórica, o Dia dos Pais carrega o peso de uma representação do papel distante do provedor — e não da proximidade calorosa do cuidador. "Isso impacta o engajamento da data", conclui a psicóloga Dani Fioravante, autora do livro Eduque sem medo de errar (nem de acertar!).

Como melhorar o cenário

Mas o cenário está mudando. Cada vez mais se vê pais que entendem que seu papel não é simplesmente pagar contas ou mesmo "ajudar" a mãe. Queiroz conta que em suas palestras tem observado essa mudança de postura, e fica feliz em perceber mais e mais figuras paternas entendendo que a criação precisa ser conjunta — das tarefas diárias ao carinho constante.

Isso se reflete até na publicidade, já que a própria data comemorativa, como costuma ocorrer em casos assim, foi uma invenção de marqueteiros. As campanhas de Dia dos Pais, em geral, também têm realizado um deslocamento de significado, deixando de focar no papel de homem-provedor para apresentar a figura de um pai amoroso e presente.

"Temos visto um movimento nesse sentido", observa Malvezzi. "Marcas […] têm investido em narrativas que refletem a paternidade ativa e diversa, incluindo pais que choram, cuidam e representam diferentes configurações familiares."

O psicanalista Queiroz acredita que a mudança social só vai ser realmente efetiva quando homens passarem a conversar entre si sobre a paternidade — um exercício muito raro, diga-se.

"A gente não conversa [sobre isso] entre a gente. É esse pacto do silêncio que só serve para reforçar essa sociedade machista e patriarcal que continua sobrecarregando as mulheres", reconhece.

Short teaser Data comemorativa menos movimentada para o comércio sugere papel "menos importante" de homens na criação dos filhos.
Author Edison Veiga
Item URL https://www.dw.com/pt-br/por-que-o-dia-dos-pais-é-menos-importante-do-que-o-dia-das-mães/a-73559728?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 13
Id 73381968
Date 2025-08-10
Title Akakor: a lenda da cidade perdida na Amazônia
Short title Akakor: a lenda da cidade perdida na Amazônia
Teaser

Cidade mítica Akakor estaria escondida no meio da Floresta Amazônica

Nos anos 1970, um jornalista alemão persegue a história de uma cidade mítica revelada por um suposto indígena de um povo desconhecido. Anos depois, estrangeiros que tentaram chegar ao local desapareceram.Diz a lenda que uma das civilizações mais antigas do mundo teria sido fundada por volta de 15 mil a.C. por seres extraterrestres na Amazônia. Essa cidade perdida teria ainda abrigado mais de 2 mil nazistas que deixaram a Alemanha por volta de 1930. Eles teriam vivido escondidos em túneis subterrâneos junto aos nativos, e eram protegidos por essa tribo secreta. Parece loucura, mas nos anos 1970 um respeitado correspondente alemão no Brasil acreditou na história. Mergulhou fundo na investigação e até publicou um livro sobre a cidade mítica Akakor. Anos depois, ele foi assassinado quando se preparava para viver na Amazônia e tentar encontrar essa civilização. O caso do jornalista não foi o único: todos os que partiram atrás da cidade mítica jamais retornaram. A trama atraiu até Jacques Cousteau, além de inspirar obras como Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008), de Steven Spielberg. Hoje, 40 anos depois da morte ou desaparecimento de vários exploradores estrangeiros, o mito de Akakor contina a fascinar os que buscam desvendar os mistérios dessa história. O documentarista Rapha Erichsen, autor do livro recém-lançado O enigma de Akakor: Farsas e segredos na Floresta Amazônica, é amigo do cineasta Jorge Bodanzky, que trabalhou nos anos 1970 com Karl Brugger, o jornalista alemão que propagou o mito da cidade perdida. À DW, conta que soube da história do eldorado amaldiçoado por acaso, quando viu o livro Crônica de Akakor na estante do colega de trabalho, Bodanzky. "Deixa esta história para lá, ela tem um mal agouro", teria dito o cineasta. Mesmo assim, Erichsen tomou o livro emprestado, sem pedir. Desde então, tornou-se mais um dos fascinados pelo mito. Em seu livro-documentário, percorre rotas inóspitas e reúne arquivos da época para tentar desvendar os mistérios da lenda amazônica. "Apesar da fantasia, a trama de Akakor inspira e cativa todos os que se envolvem com ela. Quando você se envolve, nunca mais sai." Um jornalista alemão fascinado Quando, em meados de 1971, Karl Brugger ouviu os relatos de um suposto indígena que se autodenominava Tatunca Nara em um bar no município de Barcelos, localizado a 370 quilômetros de Manaus, os seus olhos brilharam diante do que seria a grande reportagem da sua vida. Tatunca Nara – um homem branco, que falava alemão fluente – disse ao jornalista que era o herdeiro da civilização mais antiga do mundo na Amazônia, e que só ele sabia como chegar lá. Segundo o suposto indígena, Akakor ficava em algum lugar entre Peru, Brasil e Bolívia, e tinha outras duas "cidades irmãs": Akahim (no noroeste da Amazônia) e Akanis (em Yucatán, no México). As três localidades seriam unidas por túneis subterrâneos. O suposto indígena também dizia que era filho de um príncipe Ugha Mongulala, a tribo que viveria na cidade mítica, e de uma freira alemã que chegou nos anos 1930 à Amazônia. Contou ainda que o seu povo acolheu (e viveu muito bem) com 2 mil nazistas enviados à floresta tropical brasileira por Adolf Hitler, pouco antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial. De fato, os nazistas enviaram uma expedição à Amazônia em 1935, para pesquisar a região. A expedição, no entanto, era formada por dois alemães, um teuto-brasileiro e ajudantes locais. Também por isso, a mítica Akakor fascinou Karl Brugger. Segundo os relatos do estranho indígena, a cidade podia ser reconhecida por suas montanhas em forma de pirâmide, mas seu caminho permanecia oculto, escondido atrás de uma cachoeira de acesso quase impossível. O jornalista resolveu encontrá-la e pouco tempo depois organizou uma expedição em busca da cidade perdida. História boa demais O então cinegrafista brasileiro Jorge Bodanzky – hoje um dos mais renomados cineastas do país – acompanhava Brugger na empreitada. Eles haviam se conhecido alguns anos antes na Alemanha. Juntos, eles cobriram reportagens na Amazônia, temas sociais críticos e até o golpe de Estado no Chile. Bodanzky contou que, desde o início, desconfiava daquele suposto indígena que falava alemão. Ainda assim, a perspectiva de registrar a descoberta de uma cidade mítica no meio da floresta era tentadora demais para ser ignorada. "Aquela primeira expedição foi frustrante. Tatunca nos encalhou em frente a Barcelos. Ele saiu prometendo trazer uma permissão oficial dos líderes Ugha Mongulala para entrarmos em Akakor, mas nunca voltou, e tivemos que regressar", relembra o cineasta. Apesar do fracasso da missão, o entusiasmo de Brugger em encontrar Akakor permaneceu intacto. "No fundo, Brugger acreditava que poderia encontrar Akakor. Ele disse certa vez: 'Se em 1911 descobriram Machu Picchu, por que não seria possível encontrar outra cidade na Amazônia? Era perfeitamente plausível que pudesse haver uma cidade escondida por lá'", relata Bodanzky. Além disso, "a história era boa, e para o jornalista o que conta é a história", relembra Bodanzky as palavras do amigo jornalista alemão. A busca incessante por Akakor se tornou um projeto de vida para Brugger. Em 1976, ele publicou o livro Crônica de Akakor, escrito a partir dos relatos de Tatunca Nara. O correspondente alemão, mergulhado na história, já nem temia perder a sua reputação. No livro, aborda a origem do universo até a história moderna na perspectiva dos supostos Ugha Mongulala. Fala ainda de contatos desse povo com os egípcios, fenícios e outros, muito antes da chegada dos espanhóis e portugueses. Apesar de inusitada, a obra causou um verdadeiro frisson nos anos 1970, especialmente entre os círculos esotéricos e da contracultura. O prefácio era assinado por Erich von Däniken, autor do célebre Eram os Deuses Astronautas?. O livro conquistou uma geração, atraindo viajantes e curiosos para a Amazônia em busca de Tatunca Nara. Mas quase todas essas histórias acabaram mal. Contornos macabros Em setembro de 1971, o município de Sena Madureira, no Acre, sofreu seu pior acidente aéreo: um avião caiu após falha no motor, matando todas as 33 pessoas a bordo. Entre as vítimas estava o bispo Monsenhor Giocondo Grotti, que, segundo relatos, teria recebido de Tatunca Nara documentos e relatos sobre a civilização perdida, embora nunca a tivesse conhecido pessoalmente. Nos anos seguintes, uma série de estrangeiros fascinados pela lenda de Akakor desapareceria na Amazônia após encontros com Tatunca. Em 1980, o americano John Reed, de 28 anos, escreveu aos pais dizendo estar a dois dias da cidade mítica antes de desaparecer. Em 1983, o suíço Herbert Wanner, de 22 anos, sumiu durante uma expedição com Tatunca; seu corpo foi encontrado no ano seguinte com um tiro na cabeça. Já Karl Brugger foi morto a tiros em Ipanema, no Rio de Janeiro, em 1° de janeiro de 1984, supostamente durante um assalto. Tinha acabado de deixar o posto de correspondente e se preparava para ir morar na Amazônia. No dia da morte, estava com o colega Ulrich Encke, que afirmou que Brugger tentava pegar a carteira quando foi baleado no peito – exatamente onde tinha uma tatuagem de tartaruga igual à de Tatunca Nara. Na época, o autor dos disparos foi reconhecido como um morador da comunidade Cantagalo, embora a única testemunha tenha viajado para a Alemanha no dia seguinte. Até hoje, o caso permanece sem solução, cercado de suspeitas e teorias conspiratórias. Outra história envolve Christine Heuser, professora de yoga da Alemanha que, após ler Crônica de Akakor, acreditava ter sido casada com Tatunca Nara em uma vida passada. Fascinada pela ideia, viajou à Amazônia, apaixonou-se pelo "príncipe indígena" e, em 1987, decidiu viver na selva. Após uma discussão com Tatunca, partiu sozinha floresta adentro. Nunca mais foi vista. As suspeitas sobre Tatunca chegaram às autoridades. O suposto indígena se chamava na verdade Hans Günther Hauck, um alemão que abandonou a família nos anos 1960 para adotar uma falsa identidade na floresta brasileira. O Ministério Público do Amazonas e a Polícia Criminal Federal da Alemanha (BKA) investigaram Hauck por envolvimento em homicídios e desaparecimentos. Nada foi adiante. Os processos acabaram arquivados, e Tatunca seguiu vivendo da fama que criou em torno de si mesmo. Nos anos 1990, o programa Fantástico, da TV Globo, foi atrás do "último descendente dos Ugha Mongulala", mantendo viva a lenda de Akakor e seu enigmático narrador. Em 2024, um documentário da emissora pública alemã ARD também abordou a história. Sem comprovação científica "Ugha Mongulala? Parece nome japonês!", disse à DW, aos risos, um indígena que é profundo conhecedor dos mitos amazônicos e vive em Yauaretê, na região do Uaupés, fronteira entre Brasil e Colômbia. Arlindo Maia conta que "nunca ouviu falar de Akakor". O arqueólogo italiano Filippo Stampanoni Bassi, diretor do Museu da Amazônia (MUSA), também nunca ouviu falar sobre Akakor, tampouco sobre os supostos Ugha Mongulala. Apesar da recente descoberta de ruínas de uma cidade com 3.500 anos, a mais antiga da América do Sul, no Peru, Bassi explicou que não há nada nas pesquisas sobre a arqueologia na Amazônia brasileira que indiquem a existência de pirâmides, muito menos túneis subterrâneos. "Temos uma tecnologia capaz de mapear com precisão estruturas no solo. Sabemos que existiram civilizações conectadas entre si, mas não ao alto nível de complexidade", disse. Além disso, uma questão ainda mais intrigante sobre Akakor e Tatunca Nara tem a ver com o contexto geopolítico da época. Segundo o documentarista Rapha Erichsen e outros jornalistas que têm investigado o tema, há uma hipótese de que o "indígena" alemão possa ter sido informante do regime militar sobre as atividades de Karl Brugger. "Por que Tatunca recebeu um documento de identidade do governo brasileiro? E por que as investigações não avançaram no Brasil e na Alemanha?", também questionou Bodanzky. Conhecedores do tema levantam ainda a hipótese de que Tatunca Nara teria relação com o serviço secreto militar e estrangeiros interessados em minerais, principalmente no urânio, que poderia ser usado em programas nucleares. Na época, depósitos de urânio estavam sendo identificados em várias áreas da região amazônica. Mas todas essas teorias não têm nenhuma comprovação. Já Tatunca Nara ainda está vivo e continua morando em Barcelos, na Amazônia, onde oferece tours guiados a quem queira conhecer Akakor.


Short teaser Nos anos 1970, um jornalista alemão persegue a história de uma cidade mítica revelada por um suposto indígena.
Author Tainã Mansani
Item URL https://www.dw.com/pt-br/akakor-a-lenda-da-cidade-perdida-na-amazônia/a-73381968?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Cidade mítica Akakor estaria escondida no meio da Floresta Amazônica
Image source Maurício de Paiva/DW
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Item 14
Id 73565144
Date 2025-08-09
Title Estudo desvenda mistério da raiz comum entre finlandês, húngaro e estoniano
Short title Estudo desvenda raiz comum do finlandês, húngaro e estoniano
Teaser

Povos que falam línguas urálicas na Estônia (como as crianças da foto), Finlândia e Hungria têm registros no DNA de ascendência compartilhada

Pesquisa baseada em genética e arqueologia resolveu mistério sobre a terra ancestral e as rotas de migração dos povos urálicos, cujos integrantes falam idiomas relacionados.Pesquisadores resolveram um mistério de longa data sobre as origens das línguas urálicas, como finlandês, húngaro e estoniano. Sabia-se que elas remontam a milhares de anos, mas quem as falava originalmente? Para responder isso, uma nova pesquisa, publicada na revista científica Nature, combinou dados genéticos e arqueológicos para rastrear as origens ancestrais dos povos que hoje falam essas línguas. O resultado mostrou como as populações de línguas urálicas se disseminaram pela Eurásia de 11 mil a 4 mil anos atrás, originalmente da Sibéria até o mar Báltico e o leste da Ásia, levando consigo avanços tecnológicos e o seu idioma. Hoje há cerca de 25 milhões de falantes de línguas urálicas, que podem rastrear essa ancestralidade em seu DNA. "Este estudo é muito empolgante para mim, como estoniana. Nós, falantes de línguas urálicas, temos essa pequena contribuição do DNA siberiano – cerca de 5% [do nosso DNA total]. Agora, parece que esses genes conectam todos os povos urálicos às nossas culturas e línguas ancestrais", afirmou Kristiina Tambets, especialista em arqueogenética da Universidade de Tartu, na Estônia, que não participou da pesquisa. Qual é a terra ancestral dos povos urálicos? Os cientistas já haviam rastreado as origens dos idiomas indo-europeus, que se ramificaram em grupos modernos como o germânico, o eslavo e o românico. Essa raiz linguística começou há 5 mil anos, por meio de povos que migraram da Ásia Central para a Europa e a Índia. Mas as línguas urálicas são completamente diferentes, e os especialistas não compreendiam totalmente suas origens nem como elas evoluíram. Linguistas acreditam que elas podem ter surgido em algum lugar próximo aos Montes Urais, que ficam na Rússia e no Cazaquistão. Mas debate-se sobre de onde exatamente elas vieram e como se espalharam pela Eurásia. Os autores da pesquisa tinham como objetivo resolver esse mistério estudando os genes de povos urálicos antigos. Ao analisar padrões e variações no DNA de indivíduos desses povos, puderam reconstruir como essas populações migraram ao longo de muitas gerações. Eles testaram os genomas de 180 povos urálicos antigos, que viveram de 11 mil a 4 mil anos atrás em uma vasta área da Eurásia, equivalente hoje à Rússia moderna e seus vizinhos. E compararam esses dados genômicos antigos com o DNA de outros 1.312 povos antigos já estudados por cientistas. Os dados mostraram um quadro complexo de como os povos urálicos migraram ao longo de milhares de anos, a partir de várias áreas da Sibéria. "Nosso estudo mostra que os falantes urálicos atuais derivam uma parte de sua ancestralidade ao extremo leste, na região de Yakutia, na Sibéria", disse um dos autores do estudo, Tian Chen Zeng, da Universidade de Harvard, nos EUA. Diversas ramificações pela Eurásia Rastreando a genética, os pesquisadores descobriram que os primeiros povos proto-urálicos se ramificaram em vários grupos diferentes ao longo de milênios. Um grupo importante foi para o oeste, para o Báltico – áreas como Finlândia, Estônia e noroeste da Rússia, onde falantes da língua urálica vivem hoje. Outro grupo proto-urálico, chamado yeniseians, ramificou-se há cerca de 5.400 anos para viver na Sibéria central. Lá, a única língua yeniseiana sobrevivente é o ket. E outro grupo migrou para o leste da Ásia há cerca de 4.500 anos, o que, segundo os autores, é a razão pela qual muitos povos que falam línguas urálicas hoje têm alguma ascendência do leste asiático. Alguns desses povos migraram para as Américas e deram origem aos nativos americanos. Outros grupos urálicos nas estepes da Eurásia central migraram para o oeste, para a Hungria, há cerca de 3 mil anos. A pesquisa apoia a ideia de que os Montes Urais orientais são a origem das línguas urálicas. "Dito isso, não é possível afirmar quais línguas as pessoas falavam baseado em seus genes", observou Tambets. Influências dos povos urálicos na cultura moderna Tambets, que é diretor do Centro de Excelência das Raízes Estonianas, disse que a pesquisa é um caminho para resolver questões sobre ancestralidade. "Ela reúne todos esses diferentes fios sobre genética, língua e arqueologia. Mostra como os povos de língua urálica hoje podem traçar como seus ancestrais seguiram essa rota e se espalharam com avanços tecnológicos superbacanas há 4 mil anos." Por "avanços superbacanas", Tambets se refere à metalurgia, particularmente com cobre e bronze, e às redes comerciais que os primeiros povos urálicos desenvolveram. Os povos urálicos migrantes "interagiram amplamente com diversos povos em seu caminho para a Europa", incluindo outros povos pescadores-coletores e pastores, disse Zeng à DW em um e-mail. No Báltico, "os primeiros colonos [indo-europeus] do Báltico se uniram aos povos de língua urálica que chegaram mais tarde, após essa migração em massa", afirmou Tambets. "Eu sou um mosaico dessa integração." Além de preservar suas próprias línguas, os povos urálicos também influenciaram as línguas indo-europeias que a maioria dos europeus fala hoje. Por exemplo, os linguistas acreditam que palavras em inglês como water (água), pot (panela) e fish (peixe) podem ter se originado do proto-urálico.


Short teaser Pesquisa arqueogenética rastreou terra ancestral e migração dos povos urálicos, que falam idiomas relacionados.
Author Fred Schwaller
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Image caption Povos que falam línguas urálicas na Estônia (como as crianças da foto), Finlândia e Hungria têm registros no DNA de ascendência compartilhada
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Item 15
Id 73577449
Date 2025-08-08
Title Governo alemão hesita sobre acolher crianças doentes de Gaza
Short title Governo alemão hesita sobre acolher crianças doentes de Gaza
Teaser

Crianças palestinas feridas após um ataque aéreo israelense na Faixa de Gaza em julho

Algumas cidades alemãs querem tratar crianças palestinas gravemente doentes e traumatizadas, mas dois ministérios federais travaram a iniciativa.Cinco cidades alemãs ofereceram-se para acolher e prestar tratamento médico a crianças gravemente doentes ou traumatizadas da Faixa de Gaza, que está devastada após 22 meses de guerra. A proposta foi apresentada pela cidades de Hannover, Düsseldorf, Bonn, Leipzig e Kiel, mas elas precisam do respaldo do governo federal para isso. As autoridades federais teriam que assumir os procedimentos de entrada no país, a seleção das crianças e a coordenação geral dos esforços de ajuda humanitária. Em uma carta ao ministro do Interior, Alexander Dobrindt, da União Social Cristã (CSU), e ao ministro do Exterior, Johann Wadephul, da União Democrata Cristã (CDU), os prefeitos dessas cidades pediram ajuda. Mas o governo federal tem dúvidas sobre a iniciativa, e os ministérios do Exterior e do Interior querem primeiro examinar a situação. O apoio dependeria "fundamentalmente da situação de segurança", bem como da "possibilidade de viagem e outros fatores”, disse um porta-voz do Ministério do Interior na quarta-feira (06/08). O foco principal seguiria sendo "a ampliação da assistência médica no local e na região". Em princípio, no entanto, o governo federal vê a oferta de forma positiva. É "uma preocupação importante" apoiar os atores da sociedade civil no tratamento médico de crianças da Faixa de Gaza, segundo um porta-voz do Ministério do Exterior. O ministro do Interior, Dobrindt, foi um pouco mais claro na quinta-feira. "Devemos ser muito cuidadosos com as possíveis medidas que estamos agora discutindo”, disse ele à plataforma Table Media. O governo federal já está apoiando a população da Faixa de Gaza, pontuou. "A prioridade deve ser a prestação de ajuda no local." Ele afirmou que compreende a ideia, mas que o objetivo deve ser ajudar o maior número possível de pessoas, não apenas algumas. Secretária da CDU fala em ideia eleitoreira Já Serap Güler (CDU), secretária de Estado do Ministério do Exterior, causou indignação. Ela não viu a oferta das cidades como algo totalmente altruísta, pelo menos não no caso das duas cidades do estado da Renânia do Norte-Vestfália, Düsseldorf e Bonn, onde haverá eleições legislativas locais em setembro. "Essa ideia é boa para a campanha eleitoral ou para ganhar pontos, mas não ajuda as pessoas em si", disse Güler ao jornal Kölner Stadt-Anzeiger. Ines Schwerdtner, líder do partido de oposição Die Linke, classificou a declaração como "mesquinha". Não pode ser "que a Alemanha seja um dos poucos países da União Europeia a ficar de braços cruzados vendo as pessoas morrerem”. Até mesmo uma porta-voz do Ministério do Exterior rejeitou posteriormente a declaração feita por sua própria secretária. Receio de nova onda de migração Mas há algo mais por trás da relutância dos dois ministérios, liderados pela CSU e pela CDU. Os dois partidos conservadores temem uma nova onda de migração, mesmo que inicialmente envolva apenas algumas dezenas de crianças. A migração foi uma dos temas mais importantes da última campanha eleitoral, e limitá-la foi uma promessa feita tanto pela CDU e como pela CSU. A migração também é uma questão sempre explorada pelo partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) para pressionar o governo. Essa suspeita foi confirmada por Alexander Hoffmann, líder da bancada da CSU no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão). Em entrevista ao jornal Bild, ele disse: "Os Estados árabes vizinhos são os principais responsáveis pela possível admissão de grupos vulneráveis”. E então veio a frase decisiva: "Um movimento migratório para a Alemanha não pode ser a resposta." Palestinos são considerados apátridas na Alemanha Aparentemente, os membros dos dois partidos estão preocupados em especial com o fato de que isso não se limitaria ao tratamento médico das crianças, mas que seus parentes também poderiam vir para a Alemanha por meio da reunião familiar e viver aqui permanentemente. Seu retorno à terra natal também seria dificultado pelo fato de que os palestinos são considerados apátridas na Alemanha, pois o país não reconhece os territórios palestinos como um Estado. O Partido Social-Democrata (SPD), que integra a coalizão de governo com CDU e CSU, por outro lado, está mais aberto a aceitar crianças de Gaza. Dirk Wiese, secretário da bancada do SPD no Bundestag, disse que dar tratamento médico às crianças seria um "sinal de humanidade". O pré-requisito é uma viagem segura. "Se houver possibilidades, se puderem ser feitos acordos para fornecer tratamento médico na Alemanha, acredito que devemos fazê-lo." Belit Onay, filiado ao Partido Verde e prefeito de Hannover, uma das cidades que deseja acolher crianças palestinas, também rechaçou as críticas do Ministério do Exterior. A iniciativa é apoiada por uma ampla rede de participantes, independentemente de filiação partidária, disse Onay ao Serviço de Imprensa Evangélico. Além disso, a Alemanha já acolheu feridos da Ucrânia e membros da minoria yazidi que sofreram violência no Iraque no passado: "Este é um procedimento testado e comprovado. Basta querer fazê-lo." Outros países europeus já recebem crianças de Gaza A hesitação do governo alemão contrasta com iniciativas de outros países europeus. Itália e Espanha já estão acolhendo crianças gravemente feridas de Gaza para tratamento. O governo britânico também anunciou uma operação de evacuação, mas os números são baixos, pouco mais de cem crianças. Organizações humanitárias estão pedindo ao governo em Londres que aja rapidamente. Crianças já morreram em Gaza por causa de processos burocráticos demorados. O prefeito de Hannover, Onay, sugeriu uma cooperação com o Reino Unido. O chanceler federal Friedrich Merz, da CDU, ainda não se pronunciou sobre a oferta das cidades alemãs.


Short teaser Algumas cidades alemãs querem tratar crianças palestinas, mas dois ministérios federais travaram a iniciativa.
Author Christoph Hasselbach
Item URL https://www.dw.com/pt-br/governo-alemão-hesita-sobre-acolher-crianças-doentes-de-gaza/a-73577449?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Crianças palestinas feridas após um ataque aéreo israelense na Faixa de Gaza em julho
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Item 16
Id 73564967
Date 2025-08-08
Title Nova lei pode mudar a vida de quem sofre com fibromialgia
Short title Nova lei pode mudar a vida de quem sofre com fibromialgia
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Mulheres são especialmente mais afetadas pela síndrome

Condição afeta milhões de brasileiros e, agora, garante acesso aos mesmos direitos de pessoas com deficiência. Pacientes relatam dor crônica, estigma e dificuldades para diagnóstico."A fibromialgia roubou minha vida. Realmente é uma deficiência." É assim que a servidora pública Nathália Torres, de 39 anos, define o sentimento de muitos pacientes diante de uma condição ainda invisibilizada socialmente e que, agora, passa a ser reconhecida no Brasil. "É muito incapacitante, me limita em muitas coisas." A partir de janeiro de 2026, pessoas diagnosticadas com fibromialgia, síndrome da fadiga crônica e síndrome complexa de dor regional passarão a ter essas condições consideradas como deficiência. A mudança foi estabelecida pela Lei 15.176/2025, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 24 de julho e publicada no Diário Oficial da União. Além de equiparar essas síndromes a uma deficiência, a nova lei determina que o governo federal implemente um programa nacional voltado à organização do atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). Embora o acesso integral ao tratamento já fosse previsto em lei antes, a legislação recém-sancionada detalha como esse atendimento deve ser conduzido. Entre os pontos estabelecidos estão: a oferta de cuidado multidisciplinar, ações de conscientização sobre essas doenças, capacitação de profissionais da rede pública, apoio às famílias, incentivo à pesquisa científica e estímulo à reinserção dos pacientes no mercado de trabalho. Torres espera que a mudança dê mais visibilidade aos pacientes que, assim como ela, sofrem todos os dias com os efeitos da síndrome. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a condição aflige de 2% a 3% da população brasileira – o equivalente a até 6 milhões de pessoas, segundo os números do Censo de 2022 –, com uma maior incidência em mulheres do que em homens. Sintomas e diagnóstico tardio Foi somente em 2019, depois de ir a diversos médicos, que Torres conseguiu fechar o diagnóstico para sua condição. Segundo ela, foram quase três anos até os especialistas confirmarem o que ela tinha. "Sofria com fadiga, ​​consultava clínicos e cardiologistas e ninguém descobria meu problema. Até que um clínico me aconselhou ir a um reumatologista", diz. Ela sentia dores crônicas e relata que, muitas vezes, chegou a cancelar compromissos familiares de última hora – até mesmo o casamento do irmão e o batismo do próprio afilhado. A gravidade dos sintomas era tal que ela foi afastada do trabalho por um ano em 2024. "É uma dor que você não consegue fazer nada. É algo que lateja, como um tombo ou um soco nas costas. Ela queima como se estivesse com febre, em todo o corpo", diz. Segundo especialistas ouvidos pela DW, o diagnóstico da fibromialgia costuma ser demorado porque não há exames laboratoriais ou de imagem que confirmem a condição. A identificação depende da avaliação clínica e da exclusão de outras doenças. Maurício Leite, ortopedista e membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), explica que a síndrome é caracterizada por vários sintomas, dificultando o diagnóstico rápido. "É uma dor que não passa, uma dor crônica que pode atingir múltiplos membros. Ela está associada a depressão, alterações do sono, do trânsito intestinal. São múltiplos fatores que precisam ser investigados durante uma boa avaliação clínica", afirma. Com o passar dos anos, os sintomas de Torres pioraram e ela precisou se tratar com medicações fortes. "Eu cheguei a tomar opioides de tanta dor que fiquei. Cheguei no nível 10", relata. Muitas vezes, chegou a ser carregada ou ter auxílio de uma cadeira de rodas. "Já precisei sair correndo da fila do mercado porque senti que ia desmaiar de tanta dor." Atualmente, ela gasta pouco mais de R$ 1.000 com medicações para tratar a síndrome e segue fazendo acompanhamento médico. "Nenhum ser humano nasceu para ficar com dor", desabafa. Estigma afeta rotina O reconhecimento da fibromialgia como deficiência pode representar um avanço na forma como pacientes são acolhidos pelo sistema de saúde e pela sociedade. Durante décadas, a condição foi tratada com desconfiança, inclusive por profissionais da área médica, o que dificultava tanto o diagnóstico quanto o início de um tratamento adequado. "Sofri discriminação. Não nasci com fibromialgia, eu adoeci por fibromialgia, e entrei numa depressão grave. Não faltei aos compromissos porque quis. Muitas vezes, a cabeça quer ir e o corpo não", enfatiza Nathália. O relato dela traduz o que muitos pacientes sentem ao lidar com julgamentos e incompreensão, mesmo diante de limitações reais e incapacitantes. Segundo o ortopedista Lúcio Gusmão, especialista em dor crônica e em medicina regenerativa, a dor crônica provocada pela síndrome não está relacionada a inflamações ou lesões visíveis, mas sim a uma sensibilização do sistema nervoso central. Isso faz o corpo reagir de forma exagerada a estímulos normalmente não dolorosos, levando à limitação de movimentos, incapacidade funcional temporária e perda de autonomia, o que pode resultar em isolamento social e dependência de terceiros. No ambiente de trabalho, as consequências vão desde afastamentos frequentes até aposentadorias por invalidez. "Eu já acompanhei casos de demissão, perda de bolsa de estudo, e principalmente essa exclusão social", relata o médico. Além disso, os custos com exames, consultas e medicamentos afetam não apenas o paciente, mas toda a estrutura familiar, já que o tratamento é contínuo e multidisciplinar. Leite reforça também que muitos pacientes ainda são vistos como preguiçosos ou pouco comprometidos, o que agrava o sofrimento psicológico. Ele acredita que a nova legislação, junto com a criação de centros especializados, pode ajudar a reduzir o tempo de diagnóstico e minimizar os impactos da doença na vida profissional e social dessas pessoas. O que muda na prática com a nova lei A nova lei reconhece pessoas com fibromialgia como pessoas com deficiência. Isso garante o acesso aos direitos previstos na Lei Brasileira de Inclusão e na Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que tem status de norma constitucional no Brasil. Para isso, será necessário apresentar laudo médico com base nos critérios clínicos do CID 11 (MG30.01) e, em alguns casos, passar por perícias para obtenção de benefícios previdenciários ou assistenciais. Entre os principais direitos assegurados estão o acesso gratuito ao transporte público, isenção de impostos em determinadas situações (isenção de IPI e, dependendo do estado, de ICMS e IPVA na compra de veículos), pagamento de meia-entrada em eventos culturais, como cinemas, teatros e shows, além da prioridade de atendimento em estabelecimentos públicos e privados. A legislação também contempla o direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), destinado a pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade social. Outro direito garantido é o custeio de deslocamento e hospedagem para tratamento médico em outros municípios, incluindo o acompanhante, desde que o atendimento seja feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Marcelo Válio, especialista em Direitos dos Vulneráveis e mestre em Direito do Trabalho pela PUC-SP, a concretização do acesso total aos direitos dependerá de regulamentação que ainda será definida até 2026, com a possibilidade de adequações em âmbito federal, estadual e municipal. Ele afirma ainda que o reconhecimento representa um avanço importante, mas alerta que o combate à discriminação ainda depende de conscientização e da denúncia de atitudes capacitistas, previstas como crime no artigo 88 da Lei Brasileira de Inclusão. "Abre-se uma grande oportunidade de que outras deficiências invisíveis também sejam reconhecidas legalmente por meio de novas legislações, como é o caso da Síndrome de Burnout, que ainda carece de proteção mais específica", diz Válio. "É um avanço relevante para as pessoas com fibromialgia. O cotidiano ainda pode trazer dificuldades, mas os direitos estão assegurados. E caso não sejam respeitados, é essencial buscá-los, porque o direito não socorre os que dormem", opina. Para Nathália, a nova legislação representa um passo importante para tornar visível o impacto da síndrome. "Ela vai servir para mostrar a gravidade da síndrome para a sociedade e para o governo. E a forma como nós somos tratados. Certamente agora terá um tratamento mais humano e digno. Eles vão saber de fato como é a síndrome."


Short teaser Condição que gera dor crônica afeta milhões de brasileiros e, agora, garante acesso a direitos previstos em lei.
Author Priscila Carvalho
Item URL https://www.dw.com/pt-br/nova-lei-pode-mudar-a-vida-de-quem-sofre-com-fibromialgia/a-73564967?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Mulheres são especialmente mais afetadas pela síndrome
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Item 17
Id 73575766
Date 2025-08-08
Title Wim Wenders, 80 anos: o cinema e a "arte de se perder"
Short title Wim Wenders, 80 anos: o cinema e a "arte de se perder"
Teaser

"Quando você está perdido, você vê. Se você tem seu mapa e sabe o caminho, não vê tanto quanto nos momentos em que está perdido", diz Wim Wenders

Retrospectiva sobre o cineasta alemão mostra como sua vida e sua obra foram influenciadas pelo fascínio por viagens e pela beleza de perder o rumo.Para Wim Wenders, se perder não é um fracasso, mas sim uma benção: "Quando você está perdido, realmente abandona a si mesmo. Simplesmente, está lá", filosofa o cineasta alemão que, por mais de cinco décadas, convidou o público justamente a se perder em seus filmes, que vagam por paisagens desconhecidas e silenciosos espaços sentimentais. Com Wenders completando 80 anos neste mês de agosto – precisamente, no dia 14 –, o museu Bundeskunsthalle, na cidade de Bonn, na Alemanha, revisita sua extensa obra – filmes, fotografias, gravuras e escritos – numa retrospectiva guiada pela pergunta sobre o que significa mover-se pelo mundo. Um andarilho nascido nas ruínas O movimento nunca foi apenas uma questão de distância para Wenders, mas sim de descoberta. Ele, que frequentemente se define como um viajante, nasceu em Düsseldorf ao fim da Segunda Guerra Mundial e cresceu em uma cidade quase totalmente reduzida a escombros. O contraste surreal entre a Alemanha do pós-guerra e os lugares distantes que encontrou na enciclopédia do avô e nos jornais do pai o marcaram profundamente. "Essa foi uma grande descoberta para mim e a força motriz da minha vida. O mundo era melhor. Eu sempre quis saber tudo sobre ele... Se tivesse ficado em casa, não estaria aqui", afirmou no lançamento da exposição. Aquele desejo infantil de explorar foi a base para uma carreira criativa que abrange diferentes continentes e gêneros. Caminhos para revelações Wenders começou a fazer filmes na década de 1970, emergindo como figura-chave do Novo Cinema Alemão ao lado de cineastas como Werner Herzog e Rainer Werner Fassbinder. Sua trilogia de road movies – Alice nas Cidades (1974), Movimento em Falso (1975) e No Decurso do tempo (1976) – explora um de seus temas centrais: pessoas em movimento, tanto em termos físicos quanto emocionais, em busca de conexão ou pertencimento – o estilo "road" usa a viagem como recurso narrativo. A fama internacional, no entanto, se consolidou com Paris, Texas (1984), road movie ambientado no sudoeste americano sobre perda e redenção emocionais. O filme acompanha um homem que aparece no deserto, sem memória, e embarca em uma jornada para se reconectar com o filho pequeno e a mãe do menino, em duas jornadas distintas. Hoje considerado um clássico, o filme rendeu a Wenders a Palma de Ouro em Cannes e o BAFTA de melhor diretor. Outro clássico, Asas do Desejo (1987) apresenta anjos – um dos temas favoritos do diretor – voando sobre uma Berlim dividida no pós-guerra, observando a vida no chão, até que um deles se apaixona pelo mundo humano. O filme teria inspirado Cidade dos Anjos (1998), estrelado por Meg Ryan e Nicolas Cage, embora alguns críticos o tenham considerado um desserviço em comparação ao original de Wenders. Sobre solidão e som Mais recentemente, Wenders dirigiu Dias Perfeitos (2023), um sereno estudo de personagens ambientado em Tóquio que acompanha um zelador cujas rotinas ordinárias mostram alegria, isolamento e a sacralidade da vida cotidiana. O filme rendeu a Koji Yakusho o prêmio de melhor ator em Cannes e foi selecionado como representante oficial do Japão no Oscar de 2024. No mesmo ano, Wenders lançou Anselm, um documentário 3D sobre o pintor e escultor alemão Anselm Kiefer, seu contemporâneo, nascido em março de 1945. Certa vez, o cineasta disse: "Todo filme é uma jornada, não apenas física, mas em direção à compreensão de algo". E o que seria de uma viagem sem uma trilha sonora? A música sempre desempenhou um papel crucial na obra de Wenders. Um exemplo notável é o documentário indicado ao Oscar Buena Vista Social Club (1999), no qual ele aborda a história de músicos cubanos idosos que saem da obscuridade para a fama mundial. O álbum homônimo, vencedor do Grammy, não apenas vendeu mais de 8 milhões de cópias em todo o mundo, como também reavivou o interesse global pela música tradicional cubana. Wenders também dirigiu videoclipes, incluindo Stay (Faraway, So Close!), da banda irlandesa U2. A arte de ver ao se perder Além de cineasta, Wenders é um fotógrafo prolífico, conhecido por imagens austeras de espaços abandonados, recantos esquecidos e estradas longas e silenciosas. Sua fotografia reflete bem sua obra cinematográfica, com foco no vazio, na quietude e na dignidade do espaço. Ao mesmo tempo, Wenders segue viajando. Além de várias idas à China, ele finalmente realizou seu desejo de conhecer a Índia. "Viajei pela Índia durante quatro semanas. Ainda não fui à Patagônia, um dos meus sonhos mais antigos... Nunca fui à Antártida ou ao Polo Norte. Evitei zonas frias. Conheço todas as partes quentes do planeta, mas não todas as frias", brinca, em conversa com a DW. Wenders também relembra, quase que saudosamente, os tempos pré-digitais, quando era possível se perder deliberadamente em novas cidades: "Em todas as grandes cidades do mundo, eu tentava me perder quando chegava pela primeira vez. E quando conseguia me perder, só então eu acho que realmente entendia a cidade". Com GPS em todos os telefones e mapas em todos os lugares, se perder tornou-se algo raro, o que deixa tudo isso ainda mais significativo para Wenders: "Quando você está perdido, você vê. Se você tem seu mapa e sabe o caminho, não vê tanto quanto nos momentos em que está perdido". Na exposição no Bundeskunsthalle, não é preciso ser fã de Wenders para se sentir atraído. A obra dele fala a qualquer um que já tenha se sentido fora de lugar ou almejado algo mais. As histórias que ele conta nos lembram que, ao nos perdermos, podemos descobrir novas maneiras de ver não apenas o mundo, mas também nós mesmos. A exibição fica em cartaz até 11 de janeiro de 2026.


Short teaser Retrospectiva mostra como a vida e a obra do cineasta alemão foram influenciadas pela beleza de perder o rumo.
Author Brenda Haas
Item URL https://www.dw.com/pt-br/wim-wenders-80-anos-o-cinema-e-a-arte-de-se-perder/a-73575766?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/73488527_354.jpg
Image caption "Quando você está perdido, você vê. Se você tem seu mapa e sabe o caminho, não vê tanto quanto nos momentos em que está perdido", diz Wim Wenders
Image source Christoph Hardt/Panama Pictures/picture alliance
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Item 18
Id 73575614
Date 2025-08-08
Title Comida apimentada protege coração e cérebro, sugere estudo
Short title Comida apimentada protege coração e cérebro, sugere estudo
Teaser Pesquisa realizada ao longo de 21 anos na China indica que consumir pimenta todo dia, mas com moderação, pode evitar doenças.

Um estudo chinês detectou uma possível relação entre o consumo habitual de alimentos picantes e uma menor incidência de doenças que afetam o cérebro e o coração.

Os resultados, publicados na revista Chinese Journal of Epidemiology, foram obtidos a partir de dados coletados durante 21 anos e relativos a mais de 50 mil habitantes do município de Pengzhou, em Sichuan, província da China conhecida pela gastronomia rica em pimentas.

Com base em pesquisas iniciadas em 2004, os pesquisadores avaliaram fatores como a frequência do consumo de pimenta, o grau de picância preferido, as formas habituais de consumo e a idade em que a alimentação picante foi incorporada regularmente à dieta.

Picante com moderação

Segundo o estudo, as pessoas que consomem alimentos picantes seis ou sete vezes por semana apresentam 11% menos risco de sofrer doenças cardio e cerebrovasculares do que aquelas que raramente os incluem na alimentação.

Os dados também sugerem uma redução de 14% na probabilidade de ter cardiopatias isquêmicas. Para doenças cerebrovasculares e acidentes vasculares cerebrais, os riscos apontados são, respectivamente 12% e 15% mais baixos.

Quanto ao nível de picância, aqueles que preferem um sabor moderadamente picante teriam, segundo a análise, 14% menos probabilidade de desenvolver as doenças, contra 9% dos apreciadores de picante intenso e 7% dos que optam por sabores suaves.

Segredo é composto ativo

No entanto, observou-se que os benefícios aparecem independentemente da forma de consumo da pimenta — seja fresca, seca, em óleo ou em molhos.

O estudo está alinhado a pesquisas anteriores na China que destacaram o papel da capsaicina, composto ativo da pimenta, na dilatação dos vasos sanguíneos e na redução da pressão arterial.

Os pesquisadores ressaltaram que os mecanismos por trás dessas associações ainda não foram identificados com certeza, em parte devido à falta de dados sobre as quantidades exatas consumidas, a frequência diária ou a tolerância individual ao picante.

ht/ra (efe)

Short teaser Pesquisa realizada ao longo de 21 anos na China indica que comer pimenta todo dia, com moderação, pode evitar doenças.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/comida-apimentada-protege-coração-e-cérebro-sugere-estudo/a-73575614?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 19
Id 73563670
Date 2025-08-07
Title Dependência de fertilizantes russos põe Brasil na mira de Trump
Short title Uso de fertilizantes russos põe Brasil na mira de Trump
Teaser Maior parte do insumo utilizado pelo agronegócio no país é importada da Rússia. Alta no tarifaço para a Índia devido à compra de petróleo russo acende alerta para produtores rurais no Brasil.

O tarifaço de Donald Trump taxou em 50% grande parte dos produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos e fez do Brasil, até agora, o país mais atingido dentre uma lista de mais de 60 nações e territórios que tiveram suas tarifas revistas pelo governo americano. A medida, no entanto, pode ser apenas o começo de uma longa batalha comercial envolvendo o agronegócio.

Isso porque o país é um grande comprador de insumos da Rússia, principalmente diesel e fertilizantes. Já a partir desta sexta-feira (08/08), os Estados Unidos poderiam pressionar e taxar ainda mais o Brasil em um dos seus mais fortes mercados, o de exportação de produtos agrícolas, que já tende a sofrer com o tarifaço atual, em vigor desde a meia-noite desta quinta-feira.

A desconfiança aumentou ainda mais quando Trump anunciou aumento das tarifas para produtos importados da Índia, que estão em 25% e devem passar a 50% a partir de 28 de agosto – empatando, assim, com o Brasil no topo dos países mais taxados. A medida foi justificada como retaliação indireta à Rússia pela guerra na Ucrânia, já que a Índia é grande compradora de petróleo russo.

Os fertilizantes são compostos químicos aplicados no solo para preparar e melhorar as condições para o plantio, o que influencia diretamente na produção agrícola.

A importação de fertilizantes russos pode bater um novo recorde em 2025. De janeiro a junho deste ano, foram adquiridas quase 6 milhões de toneladas. Em 2024, o maior número da série histórica, foram 12,5 milhões de toneladas.

Outro produto que o Brasil também adquire em grande quantidade da Rússia é o diesel, igualmente na mira de sanções dos EUA. Senadores brasileiros que visitaram o país na semana passada, a fim de tentar sensibilizar o governo Trump, retornaram com a informação de que o montante de combustível russo adquirido pelo Brasil pode estar incomodando ainda mais os americanos.

O diesel fica atrás somente dos fertilizantes no ranking de produtos importados pelo Brasil. Em 2025, mais de 60% do combustível que o país comprou no exterior veio da Rússia.

Mais de 30% dos fertilizantes vêm da Rússia

O Brasil importa mais de 80% dos fertilizantes usados para aumentar a produtividade das lavouras e potencializar áreas produtivas, com o potássio tendo um papel de destaque entre essas substâncias.

Historicamente, 95% do potássio utilizado no Brasil é importado, sendo Rússia e Belarus dois fornecedores tradicionais, ao lado do Canadá. Em 2022, com as dúvidas sobre a continuidade do fornecimento em meio à guerra na Ucrânia, os preços dispararam no mercado internacional, e estimularam a criação do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF).

Quase um terço (31%) do total de fertilizantes importados pelo Brasil vem da Rússia, seguida de China (14%), Marrocos (11%) e Canadá (10%). Dos Estados Unidos, são importados apenas 4%.

O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, com 8% do total, atrás apenas de China, Índia e EUA. E produtos como soja, milho e cana-de-açúcar respondem por mais de 70% do insumo usado no país – o Brasil compete justamente com os Estados Unidos como maior exportador global de soja.

Uma das alternativas, segundo especialistas, seria reestruturar a logística de importações e abrir novas negociações, a fim de concluir novos acordos e ampliar os mercados, a exemplo do aumento das parcerias com Canadá e Marrocos. Isso, no entanto, pode levar tempo.

Medo de sanções

Um aumento das tarifas para o Brasil não tende a ser aplicado diretamente sobre a importação de fertilizantes a partir da Rússia, mas sim sobre as exportações de outros produtos brasileiros para os EUA, em forma de retaliação e pressão econômica.

Em declaração ao jornal Folha de S.Paulo no dia 5 de agosto, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, alertou que o governo brasileiro precisa estar atento para o caso de as sanções americanas envolverem proibições de compras de produtos.

"A posição dos Estados Unidos dada à Rússia foi que, se ela não resolvesse o problema da guerra, eles iriam abrir retaliações que envolveriam quem compra produtos da Rússia. E nós compramos petróleo e fertilizantes, que são muito sensíveis ao agronegócio", comentou.

Investimentos na produção interna

Se as sanções entrarem mesmo em vigor, seria difícil resolver o problema da noite para o dia. Ainda que o Brasil tenha lançado o PNF em 2022, a meta é produzir cerca de 50% do insumo consumido pelo país somente até 2050. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária, os investimentos devem chegar a R$ 25 bilhões até 2030.

A produção interna, porém, é um imenso desafio. Desde 2022, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, os impactos do conflito levaram à disparada de preços e busca por fontes alternativas a uma série de produtos, a exemplo de fertilizantes no caso do Brasil. Isso levou setores a se mobilizarem para que reservas nacionais, incluindo terras indígenas, também passem a ser mais exploradas.

Na época, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro determinou a autossuficiência como prioridade, incluindo a mineração do cloreto de potássio em terras indígenas. O principal projeto fica no Amazonas, na região de Autazes, e é alvo de disputas jurídicas.

No ano passado, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, defendeu o avanço da extração em Autazes. "Potássio é mina, eu não escolho, é natureza. É fundamental para a produção de alimentos. Existe tecnologia para que isso seja feito com sustentabilidade. Estou confiante que teremos uma boa solução, que vai gerar riqueza e trazer segurança alimentar", afirmou.

Recursos na Amazônia

A expectativa é de que o projeto possa suprir até 25% da demanda brasileira. O relatório A crise dos fertilizantes no Brasil: da tragédia anunciada às falsas soluções, elaborado pelo departamento de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra que 11% do total das reservas na Bacia do Amazonas estão em terras indígenas e quase 80% dos recursos se encontram fora da Amazônia, com Minas Gerais possuindo 75% das reservas.

Em Autazes, a mineração gera conflito com o povo indígena mura, já que as jazidas estão em território ocupado pela população. Teme-se que os indígenas sejam obrigados a abandonar as terras, além dos efeitos negativos para o meio ambiente na região. O relatório anual de 2023 do Observatório dos Conflitos da Mineração no Brasil destaca o caso como uma das explorações que mais tiveram disputas agravadas recentemente no país.

gb/ra (DW, ots)

Short teaser Alta no tarifaço para a Índia devido à compra de petróleo russo acende alerta para produtores rurais no Brasil.
Item URL https://www.dw.com/pt-br/dependência-de-fertilizantes-russos-põe-brasil-na-mira-de-trump/a-73563670?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 20
Id 73436800
Date 2025-08-07
Title A fórmula da Costa Rica para se tornar um país rico
Short title A fórmula da Costa Rica para se tornar um país rico
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Turismo impulsionou economia da Costa Rica

Costa Rica foi classificada como de renda alta pelo Banco Mundial. Caso raro na América Latina, país colhe frutos de estabilidade política, crescimento econômico constante e baixa inflação.A Costa Rica foi classificada em julho como um país de renda alta pelo Banco Mundial. O anúncio reflete o crescimento econômico sustentado da nação, que alcançou uma Renda Nacional Bruta (PNB) per capita de 15.620 dólares em 2024 – acima da média global de 13.439 dólares. O indicador mede a renda total gerada por todos os residentes e empresas de um país e ajuda a analisar o padrão de vida no local. A mudança de patamar pode parecer técnica, mas carrega forte peso político e econômico: a Costa Rica se junta a um grupo seleto de países latino-americano, como Chile e Uruguai, com desempenho acima da média regional. Em meio a crises em países da região, o país da América Central mostra que a estabilidade traz resultados. O Banco Mundial afirma que a Costa Rica passou da categoria de renda média-alta para a de renda alta, devido a um crescimento forte e consistente do Produto Interno Bruto (PIB), com uma taxa média de 4,7%, impulsionado pela forte demanda interna, que mistura consumo privado e investimentos. Conforme os países avançam economicamente, essas classificações seguem desempenhando um papel fundamental na definição de políticas e estratégias de desenvolvimento. "Compreender os fatores que influenciam a classificação de renda pode orientar os esforços para estimular o crescimento econômico, ajudar a controlar a inflação e aprimorar a integração à economia global", disse a instituição, em relatório. Estabilidade política, investimento social e turismo O PNB per capita de 15.620 dólares da Costa Rica fica acima do Brasil, que é considerado um país de renda média-alta pela organização, com 9.950 dólares, e coloca o país no patamar de Chile e Uruguai, que marcam 15.750 e 21.580 dólares, respectivamente, como os únicos da América Latina a serem considerados de renda alta. Para isso, a Costa Rica surfa uma estabilidade política rara na região. A Venezuela, que passa por uma turbulência política nos últimos anos, por exemplo, era classificada como um país de renda média-alta até o ano fiscal de 2021, e "não foi classificada desde então devido à indisponibilidade de dados". "A Costa Rica tem colhido frutos de esforços feitos desde o fim de sua última guerra civil, em 1948, em que se pactuou socialmente pelo fim do exército, em troca de investimentos e fortalecimento de políticas sociais induzidas pelo Estado", afirma Carolina Silva Pedroso, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que morou no país. A estabilidade política e foco no social trazem resultados econômicos reais. De acordo com o economista Luis Vargas Montoya, pesquisador da Universidade da Costa Rica, houve um crescimento de cerca de 10% nas exportações de manufaturas e serviços especializados nos últimos cinco anos, e, contando com zonas francas, atraiu até 20% mais investimentos estrangeiro por ano no período. Hoje, a Costa Rica é o terceiro país no mundo em atração de novos investimentos em relação ao seu PIB e o primeiro na América Latina. "É justamente o crescimento desses setores o principal motor da economia costarriquenha, o que a levou a aumentar sua renda per capita e a mudar seu status na escala do Banco Mundial", diz Montoya. A inflação no país deve ser de apenas 1,6% neste ano e a dívida pública está abaixo dos 60%, segundo o Banco Central do país. Além disso, o turismo também é parte importante do crescimento e representou 6,3 % do PIB entre 2023 e 2024, segundo o Banco Central e o Instituto de Turismo da Costa Rica (ITCR). Não à toa, viagens para o paradisíaco destino vêm chamando a atenção dos brasileiros – que aumentaram sua presença em 25% no primeiro trimestre deste ano, segundo o ITCR. "A população entende que o turismo está ali como fonte de renda para eles. É um país encantador. Muito parecido com o Brasil, porém muito, mas muito preservado e cuidado. Belezas naturais incríveis, povo acolhedor, comida boa, inclusive para veganos, clima tranquilo e seguro. Voltaria muitas vezes para lá", conta a designer gaúcha Julia Poloni. Dessa forma, a projeção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é que o PIB costarriquenho cresça 3,5% neste ano e 3,6% no ano que vem, em um ciclo positivo para os moradores locais. "A classificação de um país como de alta renda gera confiança externa. Isso poderia contribuir para atrair investimentos, turismo e aposentados, o que poderia potencialmente aumentar o crescimento econômico", diz Montoya. Desafios ainda persistentes Mas, para além das lições que a Costa Rica apresenta à América Latina, o país também guarda algumas das lacunas presentes em diversos locais do continente, como a desigualdade e a dependência de exportações de baixo valor agregado, o que cria certa vulnerabilidade, dado o alto dinamismo e a incerteza nas cadeias globais de valor. "Infelizmente, ainda temos duas Costa Ricas em muitas áreas, como a produção, onde a realidade das empresas em regime especial [zonas francas] com altos níveis de produtividade é muito diferente daquela das empresas em regime permanente, como o restante da economia, por exemplo, os setores agrícola, comercial e de construção", afirma Montoya. Segundo o especialista, a desigualdade também aparece na educação: quem tem ensino médio completo ou superior, especialmente técnico ou universitário, vive em condições muito melhores do que quem não concluiu o ensino médio. Além disso, há disparidades de gênero, com mulheres em desvantagem no mercado de trabalho – e de idade, pois há poucas oportunidades para os jovens. "Na minha opinião, há uma ausência quase total de políticas produtivas voltadas para os setores e populações com menos oportunidades. As poucas tentativas que foram feitas carecem das condições mínimas que garantem sua viabilidade: conteúdo orçamentário, um arcabouço jurídico-institucional, uma estrutura operacional, liderança clara e mecanismos de avaliação", afirma. O coeficiente de Gini – que mede a desigualdade em um país, sendo que, quanto menor, menos desigual – da Costa Rica foi de 45,8, enquanto o de Uruguai e Chile foram de 40,9 e 43,0, respectivamente, segundo últimos dados disponíveis no Banco Mundial. O Brasil tem 51,6 pontos. Para Carolina Pedroso, da Unifesp, essa desigualdade persistente também aparece no aumento da violência no país, tema que tem ganhado destaque nos últimos anos. "Isso explica, por exemplo, a aproximação do governo de Rodrigo Chaves, da Costa Rica, a Nayib Bukele [presidente de El Salvador], chegando, inclusive, a cogitar a possibilidade de contratar o exército salvadorenho como uma espécie de guarda mercenária para conter a onda de violência", afirma.


Short teaser Costa Rica foi classificada como de renda alta pelo Banco Mundial. País é um caso raro na América Latina.
Author Vinicius Pereira
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Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/65739009_354.jpg
Image caption Turismo impulsionou economia da Costa Rica
Image source Zdenk Mal/Zoonar/picture alliance
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Item 21
Id 73561838
Date 2025-08-07
Title Medo de invasão chinesa inspira série de TV e jogos em Taiwan
Short title Taiwan imagina invasão pela China com série de TV e jogos
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Lançamento recente de série crítica à influência chinesa acirrou ânimos políticos em Taiwan

Recém-lançado, drama "Zero Day Attack" divide opiniões ao retratar distopia na ilha asiática em 2028. Falar em escalada política e militar com Pequim deixou de ser tabu.O ano é 2028 e um caça chinês desaparece ao sobrevoar a costa de Taiwan. A China, então, bloqueia a ilha asiática para resgatar a aeronave. Mas, na verdade, trata-se de um pretexto para uma invasão militar chinesa contra a ilha asiática, que tem um governo autônomo desde 1949 e um novo presidente prestes a tomar posse. Este é o enredo de uma nova série taiwanesa que, desde a estreia no sábado (02/08), ganha popularidade e divide opiniões. O drama de dez episódios, intitulado Zero Day Attack (Ataque de dia zero, em tradução livre), ganha elogios de parte dos espectadores por supostamente ajudar os taiwaneses a entenderem quão profundamente o Partido Comunista Chinês (PCC) se infiltra em suas vidas. A produção foi parcialmente financiada pelo governo de Taiwan. Outros, entretanto, enxergam na série uma tentativa de fabricar e vender uma sensação de ruína nacional, possivelmente aumentando a ansiedade pública num momento de alta tensão política e militar. Quebra de tabu Taiwan é uma democracia autogovernada que a China afirma fazer parte do seu território. O PCC diz desejar a "reunificação" com o continente, inclusive pelo uso da força, caso necessário. Durante anos, cineastas taiwaneses em grande parte evitaram tramas envolvendo o conflito entre os dois lados para não comprometer o acesso ao lucrativo mercado de mídia chinês. Mas, agora, imaginar uma invasão chinesa deixa de ser tabu, segundo Yu-Hui Tai, professora associada de economia política da comunicação na Universidade Nacional Yang Ming Chiao Tung, em Taiwan. "Essa tendência reflete como quebramos a espiral do silêncio", disse ela à DW. "Passou de algo sobre o qual não queríamos falar para algo que agora podemos imaginar e até simular." A produção da série começou em 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia. No contexto atual, a China intensifica sua presença militar na região e realiza exercícios regulares ao redor de Taiwan. "Testemunhar a gravidade da guerra na Ucrânia me fez sentir que, se não abordássemos esse tema agora, talvez nunca mais tivéssemos outra chance", afirma a roteirista Cheng Hsin-mei. Discussão entre partidos A maioria dos países democráticos segue a "Política de Uma Só China", o que significa não reconhecer oficialmente Taiwan como Estado soberano. Entretanto, eles se opõem a qualquer tentativa unilateral de mudança do status quo. Em maio, Zero Day Attack estreou durante um evento pela democracia realizado em Copenhague, na Dinamarca, onde foi ovacionada de pé. A série também estreará em setembro em um evento em Washington, capital dos Estados Unidos, e será lançada em uma plataforma de streaming japonesa em meados de agosto. Com cerca de metade do orçamento da produção subsidiada pelo governo, o principal partido de oposição de Taiwan, o Kuomintang (KMT), criticou o governista Partido Democrático Progressista (DPP) por usar fundos públicos. Para Cheng, a criticada "sensação de ruína nacional" vem da "realidade de que um regime autoritário poderoso constantemente alerta que não abandonará o uso da força contra Taiwan". Diferentemente de dramas de guerra tradicionais cheios de cenas épicas de batalhas, a série foca nas lutas internas de Taiwan diante de uma possível guerra, retratando as divisões políticas e o caos na ilha. A ideia foi desenvolvida por meio de pesquisas e consultas com especialistas em segurança nacional, disse a roteirista, já que "a guerra moderna depende de várias formas de infiltração para semear o medo ou provocar rendição". Brincando de guerra Taiwan também vê surgirem no mercado jogos que tematizam estratégias de infiltração política da China. No início deste ano, o jogo de tabuleiro 2045 foi oficialmente lançado após uma campanha de financiamento coletivo bem-sucedida. O jogo simula um ataque militar chinês em 2045, após o qual Taiwan se divide em seis forças diferentes, incluindo unidades de autodefesa e grupos pró-reunificação. Já o jogo para celular Reversed Front criou um "Continente Oriental" virtual e permite aos jogadores infiltrar o PCC a partir de Taiwan, Hong Kong ou outras áreas vizinhas. Em junho, autoridades de Hong Kong proibiram o aplicativo, alegando violação da Lei de Segurança Nacional. A proibição, no entanto, só impulsionou o número de downloads. "Nosso objetivo é apresentar um retrato realista do cenário político no Leste Asiático", disse Johnny, porta-voz do Reversed Front, que usou um pseudônimo devido à sensibilidade do tema. "Independentemente da ameaça ou dos métodos de infiltração vindos de Pequim, esperamos que Taiwan aprenda como tomar contramedidas." Emoções em jogo Por outro lado, aumentam as preocupações com o impacto psicológico dessas obras. Uma loja de jogos de tabuleiro em Taiwan disse à DW que, embora a maioria dos clientes visite o local para relaxar e se divertir, jogar 2045 pode deixar alguns se sentindo emocionalmente sobrecarregados ou pressionados. "É inevitável que haja ansiedade", disse Tammy Lin, professora titular na Universidade Nacional Chengchi, em Taiwan, que estuda jogos digitais e psicologia da mídia. "Para Taiwan, este é um tema de pesadelo, que as pessoas prefeririam não mencionar nem enfrentar." Já Yu-Hui, a professora de economia política da comunicação, afirmou que é natural que filmes e jogos evoquem uma variedade de emoções, dado o profundo racha partidário de Taiwan sobre as relações com a China continental. "A forma como facilitamos o diálogo entre essas emoções diferentes, em vez de deixá-las colidir, é um verdadeiro teste da sabedoria taiwanesa", disse. Para ela, Pequim provavelmente verá essas séries e jogos como um sinal de que o sentimento público em Taiwan está se afastando ainda mais da China, o que pode levar o governo chinês a "intensificar seus esforços ideológicos". O Ministério da Defesa chinês já criticou a série Zero Day Attack, classificando-a como uma produção com motivação política que visa "forçar os compatriotas de ambos os lados do Estreito de Taiwan a entrar em conflito e a se prejudicar e destruir mutuamente". "A divisão é um terreno fértil para a guerra da informação e as fake news", disse Yu-Hui. "A pergunta é: queremos criar medo ou fomentar um diálogo racional?"


Short teaser Nova série divide opiniões ao retratar distopia em 2028. Falar em escalada política e militar deixou de ser tabu.
Author Yuchen Li (em Taipei)
Item URL https://www.dw.com/pt-br/medo-de-invasão-chinesa-inspira-série-de-tv-e-jogos-em-taiwan/a-73561838?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/73557467_354.jpg
Image caption Lançamento recente de série crítica à influência chinesa acirrou ânimos políticos em Taiwan
Image source Ann Wang/REUTERS
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Item 22
Id 73553481
Date 2025-08-07
Title Moraes autoriza visita de parentes e políticos a Bolsonaro
Short title Moraes autoriza visita de parentes e políticos a Bolsonaro
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Bolsonaro está em prisão domiciliar desde a última segunda-feira

Ministro do STF permitiu que o ex-presidente, em prisão domiciliar, receba alguns aliados, inclusive o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ele também já havia liberado a visita de parentes.O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou nesta quinta-feira (07/08) que o ex-presidente Jair Bolsonaro, que está em prisão domiciliar, receba a visita de seis políticos aliados. Foram permitidas a visita do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), da vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP-DF), de três deputados federais, inclusive do líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), e do presidente do PL em Angra dos Reis, Renato de Araújo Corrêa. As visitas de políticos aliados deverão ocorrer em dias específicos, sem a possibilidade de coincidirem, e devem ocorrer desta quinta-feira até a próxima quinta-feira. Um dia antes, na quarta-feira, Moraes já havia permitido também a visita de familiares de Bolsonaro sem que eles precisassem pedir autorização prévia. O ministro escreveu que a decisão abrange "filhos, cunhadas, netas e netos" de Bolsonaro e que as visitas podem ocorrer "sem necessidade de prévia comunicação, com a observância das determinações legais e judiciais anteriormente fixadas". Bolsonaro está em prisão domiciliar desde a noite da última segunda-feira, por determinação de Moraes. Na ocasião, houve nova apreensão de celulares do ex-presidente, que já teve diversos aparelhos levados pelos investigadores. Ao impor a prisão, Moraes havia determinado que as visitas ficassem restritas apenas a advogados. Além disso, proibiu Bolsonaro de usar celulares, inclusive de terceiros. Razões da prisão Na decisão da última segunda, o ministro afirmou que Bolsonaro segue "ignorando e desrespeitando" o STF, tendo violado "deliberadamente" medidas cautelares que haviam sido determinadas antes, como a ordem de não utilizar as redes sociais, em perfis próprios ou de terceiros. "A Justiça não permitirá que um réu a faça de tola, achando que ficará impune por ter poder político e econômico", escreveu o ministro. Moraes anexou postagens nas redes sociais dos filhos do ex-presidente no último domingo, nas quais Bolsonaro aparece fazendo uma saudação a manifestantes que foram às ruas naquele dia para defender uma anistia aos envolvidos em uma suposta tentativa de golpe de Estado. Na terça, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que a publicação em seu perfil foi feita por sua iniciativa, sem a participação do pai, que não teria violado a proibição de uso das redes sociais. A defesa de Bolsonaro afirmou ter sido "pega de surpresa" pela decretação da prisão domiciliar. A equipe de advogados do ex-presidente prepara recurso contra a medida, que deve ser analisado pela Primeira Turma do Supremo, formada por cinco ministros: Cristiano Zanin, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Flávio Dino, além do próprio Moraes. Recurso Nos bastidores, uma ala de ministros do STF tem manifestado insatisfação com a prisão domiciliar de Bolsonaro, por verem na medida uma escalada desnecessária das tensões diante de uma possível condenação do ex-presidente na ação penal da trama golpista ainda neste ano. Essa mesma ala, contudo, avalia ser difícil que a prisão seja revertida pela Primeira Turma, o que seria visto com uma capitulação diante das pressões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mencionando o caso de Bolsonaro, o governo dos EUA anunciou sanções a Moraes e outros ministros do Supremo. Em paralelo, também citando o que seria uma "caça às bruxas" contra o ex-presidente brasileiro, Trump impôs um tarifaço de 50% sobre alguns produtos importados do Brasil, medida que entrou em vigor nesta quarta. md/bl/ra (Agência Brasil, ots)


Short teaser Ministro do STF permitiu que o ex-presidente, em prisão domiciliar, receba alguns aliados, além de parentes.
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Image caption Bolsonaro está em prisão domiciliar desde a última segunda-feira
Image source Eraldo Peres/AP Photo/picture alliance
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Item 23
Id 73561658
Date 2025-08-07
Title Do Antigo Egito ao Instagram: como os gatos conquistaram o mundo
Short title Do Egito ao Instagram: como os gatos conquistaram o mundo
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Amor dos humanos por esses pequenos predadores remonta a mais de 10 mil anos

Os gatos fascinam há milênios – seja como divindades, amuletos da sorte ou, atualmente, mascotes da internet. Nem mesmo Vladimir Putin parece resistir aos encantos dos felinos.Para milhões de fãs de gatos ao redor do mundo, o Dia Mundial do Gato não se celebra apenas nesta sexta-feira (08/08), e sim todos os dias. Isso é verdade sobretudo nas redes sociais, onde o conteúdo sobre estes pequenos predadores domésticos estão entre os mais populares e clicados da internet. No Instagram, ninguém é páreo para nala_cat, a gata com o maior número de seguidores na plataforma: 4,4 milhões. Mestiça de gato siamês, ela lançou sua própria marca de ração com uma ampla variedade de sabores em seu "cat-álogo". Ao lado de seus amigos peludos, até mesmo grandes astros mundiais como Taylor Swift, Miley Cyrus e Justin Bieber parecem pessoas normais ao postarem fotos com seus bichanos, hoje também famosos. Mas gatos-celebridades definitivamente não são uma invenção das redes. Há mais de 10 mil anos ao nosso lado Independentes como são, gatos não dependem da internet para serem populares – afinal, o amor dos humanos por esses caçadores silenciosos remonta a mais de 10 mil anos. A aproximação entre gatos e humanos começou com o advento da agricultura e do armazenamento de suprimentos. Isso foi por volta de 9000 a.C. na região do Crescente Fértil, no Oriente Médio. Logo os felinos também passaram a ser levados em navios como caçadores de camundongos e ratos. Foi então que eles acabaram se espalhando por quase todo o globo. Hoje, os bichanos estão em todos os continentes, com exceção da Antártida. Em quase todas as culturas, eles eram considerados úteis e fascinantes. Muito estimados como controladores de pragas, os gatos também sempre cativaram a imaginação das pessoas por sua natureza jamais completamente domesticável. Gatos na história cultural: do Egito ao leste asiático No Antigo Egito, por exemplo, o gato doméstico simbolizava as qualidades positivas da deusa Bastet. Filha de Rá em forma de gato, a divindade era considerada a guardiã da casa, afastando maus espíritos e doenças. Os egípcios, aliás, veneravam seus gatos. De acordo com os relatos do historiador grego Heródoto (490/480 – 424 a.C.), após a morte de um animal de estimação querido, eles raspavam as sobrancelhas em sinal de luto, mandavam embalsamá-lo e enterrá-lo em um vaso consagrado. Os gatos também têm uma história longa e complexa na cultura do leste asiático, com sua presença sendo frequentemente associada a sorte, prosperidade e proteção. Não é à toa: na China, os gatos protegem as preciosas plantações de bicho-da-seda e chá de ratos e pássaros desde sua domesticação, por volta de 1400 a.C. Já no Japão, humanos e gatos só se entenderam cerca de 1.800 anos depois – por muito tempo, acreditava-se por lá que o gato tinha a capacidade de se transformar em demônio. Maneki-Neko: o gato da sorte do Japão Hoje, o Maneki-Neko japonês (ou "gato acenando", em português) é onipresente – e não apenas no Japão: segundo a crença, o famoso gato com a patinha em movimento atrai sorte e riqueza. Com seu sorriso eterno, o gato da sorte já se espalhou por grande parte do globo há muito tempo, assim como os gatos na vida real. A propósito: a pata com a qual ele acena traz diferentes significados. Segundo a tradição popular, gatos com a pata direita levantada representam gatos machos, que supostamente atraem prosperidade e boa sorte. Já um Maneki-Neko erguendo a pata esquerda é considerado uma fêmea e serve para atrair clientes e visitantes. Gatos na Idade Média: de amuleto da sorte a bode expiatório Mas os bichanos nem sempre gozaram de boa fama pelo mundo. Na Europa medieval, por exemplo, eles foram por muito tempo suspeitos de serem os causadores da Peste. O Papa Inocêncio 8º (1432-1492), que aparentemente abominava gatos, declarou-os oficialmente "animais pagãos em aliança com o diabo". Por causa disso, os felinos foram atormentados, torturados e até queimados por muitos anos. Gatos pelo mundo: onde eles são especialmente populares Ainda que existam regiões do mundo onde os gatos são hoje, na melhor das hipóteses, apenas tolerados, eles têm se tornado cada vez mais populares como animais de estimação. A maioria dos gatos domésticos, cerca de 74 milhões, vive nos Estados Unidos, seguida pela China, com 53 milhões – o Brasil aparece na lista em sexto lugar, com 12,5 milhões de gatos. A maioria dos donos de gatos, no entanto, encontra-se na Rússia: 58% de todas as famílias russas têm um ou mais gatos. Mas de onde vem tanto fascínio? Ao contrário dos católicos, a Igreja Ortodoxa via os gatos com bons olhos devido à sua utilidade e, assim, como símbolo de riqueza, eles se tornaram inquilinos bem-vindos em casas abastadas. Durante séculos, dezenas de gatos, a maioria machos, viveram no Museu Hermitage de São Petersburgo para manter as extensas adegas praticamente livres de roedores. Hoje, é possível inclusive "adotar" os gatos do Hermitage. Os bichanos ganham assim garantia de comida e cuidados – custos não cobertos pelo Estado russo. Entretanto, espera-se que o grande amor da Rússia por gatos agora também beneficie o presidente russo, Vladimir Putin: ele formará uma dupla com o gato Matroskin na popular série de animação Prostokvashino, de acordo com a produtora do programa. O Kremlin, oficialmente, não tem objeções. Fiéis à sua natureza, os gatos, provavelmente, também não estão nem aí.


Short teaser Os gatos fascinam há milênios – seja como divindades, amuletos da sorte ou mascotes da internet.
Author Katharina Abel
Item URL https://www.dw.com/pt-br/do-antigo-egito-ao-instagram-como-os-gatos-conquistaram-o-mundo/a-73561658?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/73543479_354.jpg
Image caption Amor dos humanos por esses pequenos predadores remonta a mais de 10 mil anos
Image source Dmitrii Marchenko/Zoonar/picture alliance
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Item 24
Id 73558518
Date 2025-08-07
Title O mito das 8 horas: Sono saudável não depende da quantidade, mas da regularidade
Short title Fórmula do sono saudável não está nas 8 horas, aponta estudo
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Para suas conclusões, cientistas monitoraram os padrões de sono de mais de 88 mil adultos por quase sete anos

Pesquisadores indicam que manter padrões irregulares de sono pode ser mais prejudicial à saúde do que dormir pouco. Ter horários consistentes para dormir e acordar pode diminuir risco de Doença de Parkinson e depressão."Oito horas diárias de sono": um mantra repetido por décadas e que agora écolocado em xeque. Desafiando crenças arraigadas sobre o descanso, novas pesquisas sugerem que a qualidade do sono, e não a quantidade de horas dormidas, pode desempenhar um papel mais importante na saúde. A descoberta vem de um amplo estudo internacional publicado na revista científica Health Data Science, no qual cientistas da Universidade de Pequim e da Universidade Médica do Exército Chinês monitoraram os padrões de sono de 88.461 adultos por quase sete anos usando sofisticados sensores acoplados ao corpo dos participantes. Regularidade, a chave para um sono saudável A análise, que contou com dados do repositório de pesquisa Biobank do Reino Unido, examinou seis elementos-chave do sono (duração, início, ritmo, intensidade, eficiência e despertares noturnos), concluiu que, embora a duração adequada do sono continue sendo vital para a nossa saúde, a regularidade do sono – manter horários consistentes para dormir e acordar – tem um impacto mais decisivo na saúde do que as horas gastas para dormir. Essa revelação sugere que ritmos previsíveis podem ser muito mais benéficos para o bem-estar do que a ciência havia considerado até então. O estudo identificou ainda uma relação clara entre padrões de sono irregulares e um risco maior de desenvolver até 172 doenças. Curiosamente, ritmos irregulares de sono/vigília foram associados a quase metade dessas doenças, triplicando o número de condições relacionadas à duração do sono ou ao horário exato em que os participantes foram para a cama, conforme relatado pela plataforma online Science Alert. Riscos associados a padrões irregulares de sono Entre as descobertas de destaque está o fato de que dormir regularmente após às 00h30 aumenta o risco de cirrose hepática em 2,57 vezes em comparação com aqueles que vão para a cama antes das 23h30. Além disso, a baixa estabilidade nos ciclos diários de sono/vigília aumenta o risco de gangrena em até 2,6 vezes, conforme indicado no artigo original na Health Data Science. O estudo também aponta riscos significativos associados a padrões irregulares de sono, incluindo um risco 2,8 vezes maior de desenvolver a Doença de Parkinson e uma chance 60% maior de desenvolver diabetes tipo 2, de acordo com resultados destacados pela Science Alert. Outras doenças associadas a esses padrões irregulares incluem hipertensão primária, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), insuficiência renal aguda e depressão. Desconstruindo mitos sobre sono excessivo A pesquisa também desafia um dos mitos mais difundidos sobre o sono: o de que dormir demais (9 horas ou mais) é prejudicial à saúde. Dados objetivos coletados por meio de dispositivos conectados ao corpo revelaram que esse hábito apresenta associação significativa apenas com uma única doença. A origem desse mal-entendido parece estar em uma estatística reveladora: 21,67% dos participantes que relataram dormir mais de nove horas, na verdade, dormiram menos de seis. Portanto, o verdadeiro problema não estava no sono excessivo, mas na percepção equivocada de se estar dormindo quando, na realidade, não estavam tendo um descanso eficaz. Essa discrepância, observam os autores, provavelmente distorceu as conclusões de estudos anteriores baseados apenas em pesquisas subjetivas. "Nossas descobertas ressaltam a importância frequentemente negligenciada da regularidade do sono", disse o epidemiologista Shengfeng Wang, principal autor do estudo. "É hora de ampliar nossa definição de sono de qualidade para além da mera duração", acrescentou. Os cientistas também confirmaram a relevância dessas associações em uma amostra dos EUA, o banco de dados NHANES, reforçando a validade das descobertas em diferentes contextos culturais e sanitários. Mas por que o sono irregular tem um impacto tão profundo? Embora os mecanismos ainda não estejam totalmente esclarecidos, pesquisadores apontam as vias inflamatórias do corpo como uma possível ligação biológica. O próximo passo será explorar se intervenções específicas para o sono — como programas para melhorar sua regularidade — podem reduzir efetivamente os riscos de doenças a longo prazo.


Short teaser Pesquisadores concluem que manter padrões irregulares de sono pode ser mais prejudicial à saúde do que dormir pouco.
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Image caption Para suas conclusões, cientistas monitoraram os padrões de sono de mais de 88 mil adultos por quase sete anos
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Item 25
Id 73559005
Date 2025-08-07
Title Santo Sudário cobriu mesmo Jesus? Pesquisador brasileiro diz que não
Short title Pesquisa de brasileiro põe Santo Sudário em cheque
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Imagem do Sudário é mais coerente com matriz de baixo-relevo do que com corpo humano, diz análise de pesquisador brasileiro.

Pesquisador usou softwares livres de modelagem 3D para examinar se um dos artefatos mais enigmáticos da história poderia de fato ter envolvido Jesus Cristo após crucificação.O Sudário de Turim é consagrado como um dos artefatos mais enigmáticos da história. Este antigo tecido de linho, que mostra a imagem tênue de um homem de cabelos longos e barba, tem fascinado e dividido cientistas, historiadores e fiéis ao longo dos séculos. Documentado pela primeira vez na França em 1354, o Sudário tem sido venerado por alguns cristãos como o autêntico lençol que envolveu o corpo de Jesus Cristo após sua crucificação. A Igreja Católica, entretanto, não adotou posição oficial. Agora, um novo estudo publicado na revista Archaeometry de autoria do pesquisador brasileiro Cícero Moraes, designer e especialista autodidata em reconstrução facial histórica, lança luz sobre um dos mistérios históricos ao redor do cristianismo com ajuda da tecnologia. Inconsistências anatômicas Moraes, especialista na comparação de imagens em 2D e 3D, notou algo peculiar nas formas do corpo representado no Sudário: pareciam rígidas e retas demais para serem compatíveis com a anatomia humana real. Para chegar à conclusão, o brasileiro utilizou softwares livres de modelagem 3D, como MakeHuman, Blender e CloudCompare, e comparou dois cenários. De um lado, um lençol colocado sobre um corpo humano virtual em 3D. De outro, o mesmo tecido sobre uma figura achatada em baixo-relevo. No primeiro caso, a imagem resultante mostrava uma distorção evidente, com proporções alargadas — algo que os especialistas chamam de "efeito máscara de Agamenon". Trata-se de uma referência à famosa máscara funerária de Micenas, na Grécia, que, ao ser achatada, perdeu suas proporções originais. Já o modelo em baixo-relevo gerou uma figura muito mais fiel à observada no Sudário real. Moraes sustenta que os traços representados no tecido são rígidos, retos e pouco naturais demais para terem sido causados pelo contato com um corpo humano real. "A imagem do Sudário de Turim é mais coerente com uma matriz de baixo-relevo", explicou Moraes ao site Live Science. "Essa matriz poderia ter sido feita de madeira, pedra ou metal, e pigmentada", afirmou. Desvendando mistérios históricos Segundo sua hipótese, a imagem teria sido obtida por fricção ou aplicação térmica, gerando assim um contorno semelhante ao de uma fotocópia. Ou seja, sem profundidade, deformações, nem volume real. A abordagem não é totalmente nova. Em 1978, sugeriu-se pela primeira vez que a imagem do Sudário era uma obra artística. Mas a contribuição, segundo explica Moraes, está em ter reproduzido o processo digitalmente, permitindo que qualquer pessoa com conhecimentos básicos possa replicá-lo com ferramentas gratuitas. "Este trabalho destaca o potencial das tecnologias digitais para desvendar mistérios históricos, entrelaçando ciência, arte e tecnologia numa busca colaborativa e reflexiva por respostas", afirma o autor, em uma citação reproduzida pelo site Phys.org. Data é controvérsia científica Embora o estudo não entre no polêmico terreno da datação do Sudário, ele atravessa uma discussão há séculos insolucionada. Em 1989, um teste de radiocarbono situou o tecido entre os anos 1260 e 1390 d.C., o que coincide com sua primeira aparição documentada na França, em 1354. Mas em 2022, uma análise mais recente e controversa baseada em raios X sugeriu que o linho poderia ser do século 1º d.C., o que recolocaria o manto na época de Jesus. O estudo foi liderado pelo cientista italiano Liberato De Caro, do Instituto de Cristalografia em Bari, e publicado na revista Heritage. A pesquisa, que emprega técnicas avançadas de dispersão de raios X, sugere que o envelhecimento da celulose nas fibras do linho pode ter sido afetado pelas baixas temperaturas nas quais foi conservado por séculos. Isso explicaria por que a maior parte do desgaste do tecido teria ocorrido antes do século 14, tornando a datação por radiocarbono menos precisa do que se imaginava. No entanto, os próprios pesquisadores alertam que suas conclusões exigem comprovar que o lençol foi mantido em condições muito específicas de temperatura e umidade durante 13 séculos antes de sua aparição documentada. Nenhuma dessas provas foi definitiva, e o debate continua em aberto. Debate sem fim à vista Por sua vez, alguns especialistas consideram que o trabalho de Moraes, embora visualmente impressionante, não é revolucionário. "Sem dúvida, ele criou algumas imagens belíssimas com a ajuda de software, mas não descobriu nada que já não soubéssemos", escreveu na revista Skeptic Andrea Nicolotti, professor de História do Cristianismo na Universidade de Turim. "Há pelo menos quatro séculos sabemos que a imagem corporal do Sudário é comparável a uma projeção ortogonal sobre um plano, o que certamente não poderia ter sido criado por contato com um corpo tridimensional", acrescentou. Em nota divulgada na última terça-feira (05/08) pelo Vaticano o arcebispo de Turim, Roberto Repole, refutou a pesquisa de Moraes, dizendo-se preocupado "com a superficialidade de certas conclusões" e apontando falta de originalidade na abordagem. Segundo Repole, "numerosos estudos físico-químicos" já teriam descartado "a origem pictórica ou por contato com um baixo-relevo" da relíquia. Por ora, o Sudário de Turim segue envolto em seu próprio véu de mistério. Embora as evidências visuais e geométricas do estudo de Moraes sugiram que a imagem não tenha sido impressa por um corpo humano real, e sim criada mais provavelmente por técnicas artísticas medievais, o debate científico permanece aberto. Entre a datação por radiocarbono que o situa na Idade Média e as novas análises que apontam para uma antiguidade muito maior, o enigmático tecido continua desafiando cientistas, historiadores e fiéis, mantendo viva a controvérsia sobre um dos artefatos mais estudados da história. ht/ra (ots)


Short teaser Pesquisador usou 3D para examinar se artefato enigmático poderia de fato ter envolvido Jesus Cristo após crucificação.
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Image caption Imagem do Sudário é mais coerente com matriz de baixo-relevo do que com corpo humano, diz análise de pesquisador brasileiro.
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Item 26
Id 73557325
Date 2025-08-07
Title Itália anuncia construção de megaponte para ligar a Sicília ao continente
Short title Itália anuncia megaponte para ligar a Sicília ao continente
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O Estreito de Messina separa a Sicília da região da Calábria

Saudado pelo governo Meloni como uma obra de impulso econômico, projeto provoca críticas devido aos elevados custos e riscos causados por terremotos. Se concluída, construção pode se tornar maior ponte suspensa do mundo.Um comitê de ministros italianos aprovou nesta quarta-feira (06/08) a construção de uma ponte de 3,3 quilômetros de extensão, conectando a ilha da Sicília, através do Estreito de Messina, à Itália continental. O polêmico projeto vem sendo discutido há décadas. Agora, os planos mais recentes preveem a conclusão da ponte até 2032. Se concluída, a Ponte do Estreito de Messina pode tomar o recorde de maior ponte suspensa do mundo da Ponte Çanakkale, na Turquia, que tem 2,02 quilômetros de extensão. A ser financiado por meio de verbas estatais, o projeto foi saudado pela coalizão de governo liderada pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, como um impulso econômico para o sul empobrecido da Itália. "Não é uma tarefa fácil, mas consideramos um investimento no presente e no futuro da Itália, e gostamos de desafios difíceis quando eles fazem sentido", disse Meloni, segundo seu gabinete, durante o encontro que aprovou a construção. Em uma coletiva de imprensa em Roma, o ministro dos Transportes, Matteo Salvini, também comemorou a decisão, qualificando a ponte como "o maior projeto de infraestrutura do Ocidente". Por que a ponte é controversa? Críticos chamam atenção sobretudo para os riscos da construção de uma ponte suspensa com extensão recorde em uma zona de terremotos, apontando também para seus custos, os possíveis danos ambientais e o receio de que a máfia possa se infiltrar em contratos de construção. No início desta semana, associações ambientais apresentaram uma queixa à União Europeia sobre os sérios riscos da construção da ponte para o meio ambiente local. Nicola Fratoianni, parlamentar da coligação oposicionista Aliança Verde-Esquerda, criticou duramente o "megaprojeto que desviará uma enorme quantidade de recursos públicos" e que "corre o risco de se transformar em um gigantesco buraco negro". Já o Partido Democrático, de centro-esquerda, alertou que o projeto "viola as normas ambientais, de segurança e europeias, além do bom senso". Muitos acreditam que o megaprojeto, que vem sendo discutido desde a década de 1960, nunca se concretizará. Mas os ministros consideraram a aprovação de quarta-feira pelo comitê governamental o maior avanço que o projeto já teve. O que se sabe sobre o projeto? O custo do projeto foi estimado em 13,5 bilhões de euros (86,2 bilhões de reais). A ponte foi projetada para atravessar uma estreita faixa de água entre a Sicília e a região da Calábria, com duas linhas ferroviárias no centro e três faixas de tráfego em cada lado. A expectativa dos defensores da ponte é que ela reduza significativamente o tempo de viagem de ida e volta para a Sicília, que atualmente sofre atrasos devido a viagens de balsa que envolvem longas esperas. O ministro dos Transportes Salvini estimou o início das obras já em setembro ou outubro. Ele também elogiou o projeto, juntamente com um conjunto de outras novas estradas, ferrovias e estações, como um "acelerador de desenvolvimento" para as regiões empobrecidas da Sicília e da Calábria. Ele sinalizou inclusive o possível alcance de propósitos militares com a nova construção: "É óbvio que [o projeto] é de dupla utilização e, portanto, pode ser usado também por razões de segurança", disse em entrevista coletiva. ip (AFP, Reuters, ots)


Short teaser Defendido pelo governo Meloni, projeto sofre críticas devido aos altos custos e possíveis impactos ambientais.
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Image caption O Estreito de Messina separa a Sicília da região da Calábria
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Item 27
Id 73553969
Date 2025-08-06
Title Lula quer resposta conjunta do Brics ao tarifaço de Trump
Short title Lula quer resposta conjunta do Brics ao tarifaço de Trump
Teaser Presidente brasileiro visa coordenar reação às taxas dos EUA com líderes de Índia e China e disse que não pretende anunciar tarifas recíprocas, mas admite que não há abertura para negociação neste momento.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vai conversar com as lideranças do Brics sobre a taxação dos Estados Unidos aos produtos dos países membros do grupo. Em entrevista à agência de notícias Reuters publicada nesta quarta-feira (06/08), ele informou que pretende ligar para o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e para o presidente da China, Xi Jinping.

"Vou tentar fazer uma discussão com eles sobre como cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão", afirmou Lula, lembrando que o Brics tem dez países no G20, o grupo que reúne 20 das maiores economias do mundo.

Prioridades

No Brasil, entraram em vigor nesta quarta-feira as tarifas de 50% impostas sobre parte das exportações brasileiras para os Estados Unidos. Também nesta quarta, o presidente americano, Donald Trump, publicou um decreto impondo tarifa adicional de 25% sobre os produtos da Índia, com o argumento de que o país importa direta ou indiretamente petróleo russo.

Segundo Lula, a prioridade do governo brasileiro, neste momento, é ajudar as empresas brasileiras a encontrar novos mercados para seus produtos e cuidar da manutenção dos empregos.

O texto da medida provisória (MP) com as ações planejadas pelo governo em resposta ao tarifaço, que deve ser enviado ao Palácio do Planalto pelo Ministério da Fazenda, seria finalizado ainda nesta quarta-feira.

"Não vou me humilhar"

Lula disse que o Brasil não pretende anunciar tarifas recíprocas e não vai desistir das negociações comerciais, mesmo admitindo que não vê abertura para negociação com Trump neste momento.

"Não liguei porque ele não quer telefonema. Não tenho por que ligar para o presidente Trump, porque nas cartas que ele mandou e nas suas decisões ele não fala em nenhum momento em negociação, o que ele fala é em novas ameaças", ressaltou Lula.

"Pode ter certeza de uma coisa: o dia em que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar", frisou.

O presidente brasileiro reafirmou que quer fazer tudo o que for possível antes de "tomar outra medida que signifique que as negociações [com os Estados Unidos] acabaram".

Retaliação cruzada

Segundo fontes ouvidas pela agência de notícias Reuters, o governo estuda medidas de retaliação aos EUA, mas não por meio de tarifas. Até agora, o que foi estudado é a chamada retaliação cruzada: para compensar os prejuízos da indústria brasileira, o governo brasileiro deixaria de repassar a empresas americanas royalties de produtos farmacêuticos e copyrights da indústria cultural, por exemplo.

Lula disse que o Brasil recebeu o comunicado da taxação de forma totalmente autoritária: "Não é assim que estamos acostumados a negociar", declarou.

"Eu estou fazendo tudo isso [negociando] quando poderia anunciar uma taxação dos produtos americanos. Não vou fazer porque não quero ter o mesmo comportamento do presidente Trump. Eu quero mostrar que quando um não quer, dois não brigam, e eu não quero brigar com os Estados Unidos", acrescentou.

Intromissão

O presidente Lula afirmou que não é admissível que o presidente americano resolva "dar pitaco" no Brasil: "Não é uma intromissão pequena, é o presidente da república dos Estados Unidos achando que pode ditar regras em um país soberano como o Brasil. Não é admissível que os Estados Unidos e nenhum país grande ou pequeno resolva dar um pitaco na nossa soberania".

"Ele que cuide dos Estados Unidos. Do Brasil, cuidamos nós. Só tem um dono este país, e só um dono que manda no presidente da República: é o povo, o povo que elegeu, o povo que pode tirar", complementou.

O presidente também citou trechos da decisão de Trump que criticam a legislação brasileira sobre as grandes empresas de tecnologia americanas, as big techs.

"Este país é soberano, tem uma Constituição, tem uma legislação. É nossa obrigação regular o que a gente quiser regular de acordo com os interesses e a cultura do povo brasileiro. Se não quiser regulação, saia do Brasil", concluiu Lula.

md (Agência Brasil, Reuters, ots)

Short teaser Presidente brasileiro pretende coordenar reação às taxas dos EUA com líderes de Índia e China.
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Item 28
Id 73552098
Date 2025-08-06
Title Por que Moraes concentra as decisões sobre Bolsonaro?
Short title Por que Moraes concentra as decisões sobre Bolsonaro?
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Até o momento, atuação de Moraes nos casos envolvendo Bolsonaro tem o respaldo formal do STF

Há mais de seis anos, ministro brasileiro vem liderando a atuação do Supremo sobre extremistas de direita. Entenda de onde veio esse poder e quais são as críticas.Antes de entrar na mira do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que o puniu com a Lei Magnitsky, e do homem mais rico do mundo, Elon Musk, que pediu seu impeachment, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), já era visto há anos como adversário preferencial por Jair Bolsonaro, que diversas vezes usou palanques para fustigar o magistrado. A animosidade deriva do fato de Moraes conduzir inquéritos e ações penais no STF que já deram e podem continuar a dar muita dor de cabeça ao ex-presidente e a seus apoiadores – como a recente decisão que o obrigou a usar uma tornozeleira eletrônica e, depois, a decretação de sua prisão domiciliar. Moraes também foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral durante as eleições de 2022, e como tal era o maior responsável por organizar o pleito e avaliar a conduta dos candidatos – o que, no caso de Bolsonaro, envolvia repetir mentiras sobre as urnas eletrônicas e sugerir que havia fraudes no processo eleitoral. Essa ampla atuação de Moraes nos casos envolvendo Bolsonaro não ocorre sem críticas de partes da classe política e jurídica brasileira, mas até agora tem sido formalmente respaldada pelo STF. Entenda por que o ministro concentra tantas decisões contra o ex-presidente e as controvérsias a respeito. Mais de seis anos de olho em bolsonaristas A trajetória de Moraes como figura-chave no Judiciário brasileiro envolvida no combate ao extremismo de direita e a ataques a instituições democráticas começa em março de 2019, ainda no começo do governo Bolsonaro. Naquela época, o então presidente do STF, ministro Dias Toffoli, instaurou ele mesmo um inquérito para investigar notícias falsas e ameaças contra ministros da corte, e designou Moraes como relator. Esse inquérito tinha duas particularidades que o distanciavam do procedimento normal no direito brasileiro. Em regra, cabe ao Ministério Público instaurar um inquérito, e não ao Judiciário. Além disso, o relator costuma ser definido por sorteio. Na época, Toffoli justificou sua decisão com base em uma norma do regimento interno do Supremo que autoriza a abertura de inquéritos quando há infração à lei penal nas dependências do tribunal, cuja interpretação abrangeu possíveis infrações contra seus ministros. Moraes começou então a determinar operações de busca e apreensão e a receber provas e laudos policiais sobre bolsonaristas que promoviam e financiavam a distribuição de notícias falsas contra ministros do STF. Isso colocou Moraes, já no início do governo Bolsonaro, em uma posição privilegiada para compreender e combater essas redes. Houve muito debate no meio jurídico sobre esse inquérito, que ficou conhecido como inquérito das fake news. Ele foi questionado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), até que o plenário do Supremo confirmou em 2020, por 10 votos a 1, a sua legalidade. Por que Moraes é relator de tantos inquéritos? A partir desse primeiro inquérito, surgiram diversos outros inquéritos no âmbito do STF para investigar os atos antidemocráticos de 2020, a atuação coordenada de milícias digitais e a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em janeiro de 2023. Todos eles foram assumidos por Moraes devido à regra da prevenção, que estabelece que novos inquéritos que possuam conexão com inquéritos anteriores devem ter a relatoria assumida pelo mesmo magistrado. O objetivo é garantir coerência nas decisões judiciais sobre temas conexos. Os atos antidemocráticos de 2020 ocorreram durante a pandemia de covid-19, quando bolsonaristas insatisfeitos com as medidas de isolamento social impostas por governadores e prefeitos, respaldadas pelo STF, foram às ruas em diversas cidades do país. Muitos pediram o fechamento do Congresso e do STF e uma intervenção militar, e Bolsonaro discursou em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília. Dois meses depois, foi aberto o inquérito dos atos antidemocráticos, a pedido da PGR, para investigar a organização e o financiamento dessas mobilizações. Esse inquérito foi encerrado em julho de 2021, mas no mesmo dia Moraes abriu um novo, o inquérito das milícias digitais, baseado em investigações da Polícia Federal sobre a atuação coordenada de bolsonaristas para atacar instituições democráticas. O inquérito das milícias digitais investigava originalmente os núcleos para produção, publicação, financiamento e uso político de desinformação para atentar contra a democracia. Prorrogado diversas vezes, ele segue aberto até hoje, sob a relatoria de Moraes, e foi apelidado por críticos como "inquérito do fim do mundo", devido à sua extensão. Ele já abarcou investigações variadas, inclusive sobre a falsificação de cartões de vacina da covid-19, a venda de joias presenteadas por autoridades estrangeiras e a recusa do dono do X, Elon Musk, em cumprir ordens judiciais brasileiras para remoção de conteúdo e perfis. Em janeiro de 2023, foram abertos três novos inquéritos para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro, com o intuito de apurar as condutas de financiadores, autores intelectuais e executores da invasão e depredação dos prédios públicos em Brasília, que também ficaram sob a relatoria de Moraes devido à regra da prevenção. A mesma regra foi utilizada pelo STF para encaminhar outros inquéritos correlatos também para a relatoria de Moraes, como um aberto em maio a pedido da PGR que investiga o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em razão de sua atuação junto ao governo dos Estados Unidos nos últimos meses para pressionar o Brasil a suspender o processo contra seu pai. A investigação apura "tentativa de submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal ao crivo de outro Estado", o que poderia caracterizar crime de atentado à soberania nacional. O que faz um relator? O relator de um inquérito ou de uma ação penal atua como se fosse um gerente daquele processo e pode tomar decisões urgentes (como liminares) e determinar diligências (como buscas e apreensões). Idealmente, após tomar uma decisão monocrática importante, o relator em seguida a submete ao colegiado para avaliação. No caso de Moraes, ele integra a Primeira Turma do STF, composta também por Cristiano Zanin, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Flávio Dino. Foi o que fez Moraes após determinar a Bolsonaro que usasse uma tornozeleira eletrônica e ordenar medidas cautelares como o recolhimento domiciliar no período da noite, a proibição de contato com embaixadores e autoridades estrangeiras e a proibição de acesso a redes sociais. A decisão monocrática de Moraes foi confirmada quatro dias depois pela Primeira Turma do STF, por quatro votos a um – Luiz Fux foi o último a votar e o único a divergir. Moraes ainda não revelou se pretende submeter sua decisão que decretou a prisão domiciliar de Bolsonaro à Primeira Turma. Em tese, como ela é um desdobramento de uma decisão cautelar anterior já avaliada pelo colegiado, não seria necessário submetê-la. Cabe exclusivamente ao colegiado, no entanto, dar o veredito final sobre o processo, o que, no caso de Bolsonaro, pode ocorrer nos próximos meses. Quais são as críticas? O acúmulo de tanto poder nas mãos de Moraes desperta críticas variadas. Em abril deste ano, um editorial da revista britânica The Economist, por exemplo, afirmou que o "entusiasmo" com que Moraes exercia seu cargo era "alarmante", e que o ministro "às vezes se excede gravemente" – apesar de reconhecer que "alguns de seus alvos agiram claramente fora da lei". Dentro da própria Primeira Turma, Moraes costuma enfrentar a oposição do ministro Luiz Fux. Ele defendeu que os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023 deveriam ter sido julgados pela primeira instância, considerou algumas das penas a bolsonaristas excessivas e disse que as medidas cautelares contra Bolsonaro restringiam de forma desproporcional direitos fundamentais, como a liberdade de expressão. Em 2024, o Partido Progressista (PP) chegou a mover duas ações no STF questionando o fato de Moraes ter assumido por conexão as investigações sobre a venda de joias e a falsificação de cartões de vacina. Ambas acabaram rejeitadas pela corte. O argumento do partido era que esses casos deveriam ter sido distribuídos à primeira instância e sorteados aleatoriamente para um juiz responsável. "Cidadãos estão sendo submetidos à infundada e ilegítima investigação travestida de 'Petição' violadora de inúmeros princípios constitucionais e indevidamente conduzida por órgão incompetente e por relator/julgador desprovido de imparcialidade, o que lhes ocasiona diuturnamente prejuízos irreparáveis", dizia a ação. Moraes também também já foi alvo de cerca de 30 pedidos de impeachment. No final de julho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) propôs um deles após a ordem do ministro que impôs medidas cautelares contra o ex-presidente e pai dele. Esse pedido de impeachment afirma que Moraes age "com nítida carga político-partidária, que avança sobre o mérito da acusação sem o devido processo legal, atribui caráter criminoso a manifestações políticas e diplomáticas legítimas e impõe medidas cautelares gravíssimas em evidente contexto de perseguição ideológica". Cabe ao do Senado processar e julgar pedidos de impeachment de ministros do STF. O início de um processo do tipo depende de uma decisão do presidente da Casa, atualmente Davi Alcolumbre (União-AP).


Short teaser Há mais de seis anos, ministro brasileiro vem liderando a atuação do Supremo sobre extremistas de direita.
Author Bruno Lupion
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Image caption Até o momento, atuação de Moraes nos casos envolvendo Bolsonaro tem o respaldo formal do STF
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Item 29
Id 73553068
Date 2025-08-06
Title Trump eleva a 50% tarifa sobre a Índia por comprar petróleo da Rússia
Short title Trump eleva a 50% tarifa sobre Índia por petróleo da Rússia
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Trump com o premiê indiano, Narendra Modi [foto de 2020]

Presidente americano assinou decreto impondo taxas adicionais de 25% ao país, em retaliação à compra do combustível exportado por Moscou. Agro brasileiro teme ser o próximo na fila por importar fertilizantes russos.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto nesta quarta-feira (06/08) em que impõe tarifas adicionais de 25% à Índia, em retaliação à compra de petróleo russo pelo país, elevando a tarifa total sobre as importações indianas para 50%. De acordo com o texto divulgado pela Casa Branca, o novo imposto só vai entrar em vigor em 27 de agosto. Anteriormente, o governo Trump já havia imposto uma tarifa de 25% sobre as importações da Índia, com o objetivo de reduzir o déficit comercial bilateral. Trump, frustrado há semanas com a recusa de seu colega russo, Vladimir Putin, em interromper os combates na Ucrânia, anunciou na segunda-feira que aumentaria as tarifas sobre a Índia pela compra de "grandes quantidades de petróleo russo". "Eles não se importam com quantas pessoas na Ucrânia estão sendo mortas pela máquina de guerra russa", afirmou em sua plataforma Truth Social. Caso a tarifa acumulada de 50% de fato entre em vigor, a Índia se juntará ao Brasil, que até então era o único alvo de uma tarifa tão elevada. País é 3° maior importador Terceira maior importadora de petróleo bruto do mundo, a Índia adotou uma postura neutra e pragmática na guerra na Ucrânia. Se antes a Rússia respondia por 2% do petróleo importado pelo país, esse volume depois passou a mais de um terço e fez de Moscou seu principal fornecedor, aproveitando os descontos oferecidos pelo Kremlin. Apesar da crescente pressão dos EUA, o governo indiano diz que a importação de petróleo russo é questão de "interesse nacional" e contribui para a estabilidade energética global. Na última terça-feira, Trump deu ao Kremlin um novo ultimato de dez dias para declarar uma trégua na Ucrânia, prazo que expiraria na próxima sexta-feira (08/08), quando ele poderia anunciar novas sanções contra a Rússia. Temor de empresários brasileiros Segundo noticiado pelo jornal Folha de S.Paulo nesta quarta-feira, tmpresários brasileiros também estão preocupados com possíveis sanções de Washington, já que dependem de fertilizantes da Rússia – Moscou é o maior fornecedor do insumo ao Brasil, além de ser também o maior fornecedor de diesel ao Brasil, respondendo nos últimos meses por cerca de 60% das importações brasileiras do combustível. No mês passado, Trump afirmou que, se não houver um acordo de paz da Rússia com a Ucrânia, os Estados Unidos imporão "tarifas secundárias de 100%" sobre países que continuam comprando exportações russas. A informação foi confirmada pelo secretário Internacional do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e pelo secretário-geral da aliança militar Otan, Mark Rutte. md/ra (EFE, ots)


Short teaser Medida é retaliação dos EUA à Índia por comprar combustível da Rússia. Agro brasileiro teme ser o próximo da fila.
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Image caption Trump com o premiê indiano, Narendra Modi [foto de 2020]
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Item 30
Id 73552028
Date 2025-08-06
Title Brasil vai à Organização Mundial do Comércio contra tarifas de Trump
Short title Governo Lula vai à OMC contra tarifas de Trump
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Carne brasileira está na lista de produtos tarifados em 50% nos EUA

Trâmite do caso deve ser longo, com pouca probabilidade de ter algum efeito prático, já que a Organização Mundial do Comércio foi esvaziada pelos Estados Unidos nos últimos anos.O Ministério das Relações Exteriores informou nesta quarta-feira (06/08) que o governo brasileiro acionou os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas impostas pelo presidente americano, Donald Trump, contra o Brasil. O chamado pedido de consulta foi entregue à missão dos Estados Unidos na instituição. A probabilidade de a iniciativa ter algum resultado prático é baixa. Em primeiro lugar, a consulta tem que ser aceita por Washington, algo altamente improvável; depois, precisaria ser posteriormente encaminhada ao órgão de apelação da OMC, que desde 2019 se encontra paralisado. No entanto, a medida tem caráter simbólico, por marcar a posição brasileira em defesa do multilateralismo de solução de disputas comerciais. Consulta é a primeira de três fases Por meio da consulta, quem reclama pede ao outro país informações sobre as práticas comerciais e modificações das medidas. Se a disputa não for resolvida em 60 dias, o demandante pode pedir a instauração de um painel, formado por três membros aprovados consensualmente por ambas as partes. Ao final desta fase, é emitido um relatório no prazo teórico de até seis meses. Ultimamente, isso tem ocorrido em cerca de um ano, ou até mais, em casos mais complexos. Quem sair derrotado no relatório do painel pode entrar com recurso, iniciando uma terceira e última fase: a contestação no Órgão de Apelação, que pode manter ou modificar a conclusão do painel. A decisão é de implementação obrigatória pelos países-membros. Entretanto, essa última instância está paralisada desde 2019 por causa dos EUA. Desde o primeiro mandato de Trump, Washington não fecha acordo para preencher as vagas do colegiado que forma o Órgão da Apelação. A tarifa anunciada por Trump entrou em vigor nesta quarta-feira, afetando cerca de 35,9% das exportações brasileiras aos EUA, conforme estimativa do do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Os EUA cobram uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros que entram no país. A medida tem uma longa lista de exceções como suco de laranja, aeronaves civis, petróleo, veículos e peças, fertilizantes e produtos energéticos. md/ra (ots)


Short teaser Trâmite do caso deve ser longo, com pouca probabilidade de ter efeito prático, já que órgão foi esvaziado pelos EUA.
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Image caption Carne brasileira está na lista de produtos tarifados em 50% nos EUA
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Item 31
Id 73540403
Date 2025-08-06
Title O dilema alemão sobre o reconhecimento do Estado palestino
Short title O dilema alemão sobre o reconhecimento do Estado palestino
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Bandeiras palestinas em manifestação pró-palestinos em Berlim

Violência cresce na região, palestinos e reféns passam fome, e Gaza pode ser completamente ocupada. Mas Berlim se contém nas críticas a Israel e ainda não se dispõe a reconhecer um Estado palestino.No fim de semana, foram divulgados vídeos do Hamas e da Jihad Islâmica mostrando reféns israelenses esqueléticos na Faixa de Gaza. Eles são mantidos em cativeiro pelos dois grupos militantes palestinos e seus simpatizantes desde o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 contra Israel. O ataque foi encabeçado pelo Hamas, que governa Gaza e é classificado por Estados Unidos, União Europeia, Alemanha e outros países como organização terrorista. Agora, surgem notícias de que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pretende ocupar totalmente a Faixa de Gaza para libertar os reféns. Ao mesmo tempo, a fome e a morte da população civil palestina em Gaza continuam. O chanceler federal alemão, Friedrich Merz, expressou seu horror com as imagens. "O Hamas está torturando os reféns, aterrorizando Israel e usando sua própria população na Faixa de Gaza como escudo humano", disse Merz ao tabloide Bild. O presidente francês, Emmanuel Macron, falou em "desumanidade sem limites" do Hamas, em uma postagem na rede X. Ele reforçou que a libertação imediata de todos os reféns ainda mantidos na Faixa de Gaza é "prioridade absoluta" de seu governo. Merz enfatizou ao Bild que o Hamas "não deve desempenhar nenhum papel no futuro de Gaza". Macron fez comentários semelhantes. Paris e Berlim discordam sobre questão palestina No entanto, França e Alemanha seguem caminhos diferentes sobre a questão do reconhecimento de um Estado palestino. Macron anunciou recentemente sua intenção de reconhecer um Estado palestino em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU. Israel condenou o anúncio; segundo Netanyahu, isso recompensaria o terrorismo. Agora o Reino Unido e o Canadá também querem se juntar à França, totalizando três países influentes do G7. Outras nações da União Europeia fizeram anúncios semelhantes. O governo alemão, no entanto, não planeja tal medida por enquanto, mas defende que o reconhecimento de um Estado palestino só faz sentido como resultado de um processo de negociação. A Palestina é um Estado? Três critérios básicos devem ser atendidos para que um Estado seja designado como tal, de acordo com o especialista em direito internacional Aaron Dumont, da Universidade de Bochum, na Alemanha. Isso inclui, em primeiro lugar, um território claramente definido; em segundo lugar, uma nação; e, em terceiro lugar, um governo exercendo poder estatal. "Dois dos três critérios básicos são definitivamente atendidos. A questão do poder estatal é mais complexa. Pode-se argumentar que isso ainda não existe para um Estado da Palestina. E, portanto, ainda não há nenhum Estado." A definição de reconhecimento estatal é controversa entre os juristas internacionais, assim como a questão sobre a existência de um Estado palestino. A especialista em Oriente Médio Muriel Asseburg, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), explica que um possível reconhecimento da Palestina por outros países teria, inicialmente, pouco impacto na vida prática das pessoas na região. Algumas nações já mantêm relações diplomáticas diretas com a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia e Jerusalém Ocidental. Seu presidente, Mahmoud Abbas, declarou em 2013 que não falaria mais em Autoridade Palestina, e sim em Palestina como um Estado. Abbas, que tem 89 anos, é uma figura controversa entre os próprios palestinos. A última eleição na região ocorreu há quase duas décadas. O partido dele, o Fatah, reconhece o Estado de Israel. Já em Gaza, quem governa – e submete a população a um regime de medo e terror – é o Hamas, que não reconhece Israel. Para a maioria dos países que já reconhecem um Estado palestino, é totalmente inaceitável ter o Hamas como parceiro de negociações. O reconhecimento de um Estado palestino também é difícil porque as fronteiras entre Israel e os territórios palestinos não são claras, assim como o status de Jerusalém Oriental. Israel controla de fato, com sua ocupação, grandes áreas que oficialmente estão sob responsabilidade da Autoridade Palestina. A ocupação dos territórios palestinos – Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza – foi classificada como ilegal em parecer da Corte Internacional de Justiça (CIJ). "Reconhecer um Estado da Palestina sinalizaria que não estamos apenas exigindo uma solução de dois Estados em abstrato, mas que agora queremos contribuir para garantir que haja um Estado palestino ao lado de Israel. Isso exigiria medidas para pôr fim à ocupação israelense", explica Asseburg. Dos 193 Estados-membros das Nações Unidas, 147 já reconhecem a Palestina como um Estado soberano. "Não se pode dizer que seja necessário que um número determinado de Estados no mundo reconheçam a Palestina para que ela se torne um Estado", diz Dumont. No entanto, a plena adesão da Palestina à Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, permanece improvável por enquanto. "[Isso] Não aconteceria inicialmente porque exigiria uma resolução do Conselho de Segurança da ONU. Também exigiria a aprovação dos Estados Unidos. Mas isso não é de se esperar", explica Asseburg. Desde 2012, a Palestina tem status de observador na Assembleia Geral da ONU – considerado uma etapa anterior à plena adesão. Isso lhe deu acesso como membro a muitas outras organizações internacionais, incluindo o Tribunal Penal Internacional, informa Asseburg. Compromisso da Alemanha com Israel A pressão sobre o governo alemão para que adote uma postura mais crítica em relação a Israel está aumentando. Após relatos da intenção do primeiro-ministro israelense Netanyahu de ocupar Gaza por completo, Lea Reisner, porta-voz do partido de oposição A Esquerda, exigiu: "É necessária pressão política, inclusive contra aliados". Ela descreveu a atual postura do governo alemão em relação a Israel como uma "declaração de falência da política externa alemã". Há repetidos apelos pelo reconhecimento da Palestina. Mas a Alemanha até agora ainda está longe de adotar a medida, dada a responsabilidade especial do país em relação a Israel por causa do Holocausto, o assassinato de milhões de judeus durante a era nazista. Isso levou a Alemanha a se comprometer com a defesa da segurança de Israel, transformando esse princípio em "razão de Estado". Embora tenha endurecido o tom com Israel ao pedir um cessar-fogo permanente em Gaza e mais ajuda humanitária de Israel para a população local, o chanceler federal, Friedrich Merz, não quer irritar um parceiro com quem a Alemanha mantém laços tão estreitos. Merz afirmou que o reconhecimento da Palestina só pode ocorrer ao final de um processo rumo a uma solução de dois Estados entre Israel e os palestinos. Ele disse que não considera o reconhecimento atualmente "o passo certo". Nota da redação: Este texto foi atualizado para incluir informações adicionais de contexto sobre a classificação do Hamas como grupo terrorista por alguns países ocidentais e a sobre a Autoridade Palestina, bem como a postura de ambos em relação a Israel. Erramos: uma versão anterior deste texto informava erroneamente que 149 países reconhecem um Estado palestino. Na verdade, são 147.


Short teaser Enquanto tensão cresce, Berlim se contém nas críticas a Israel e ainda não quer reconhecer um Estado palestino.
Author Volker Witting
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Image caption Bandeiras palestinas em manifestação pró-palestinos em Berlim
Image source Chris Emil Janssen/picture alliance
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Item 32
Id 73546219
Date 2025-08-06
Title Grande Barreira de Coral da Austrália sofre maior branqueamento já registrado
Short title Barreira de Coral da Austrália sofre branqueamento recorde
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A Grande Barreira de Coral foi declarada Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco em 1981, mas tem sofrido com degradação nos últimos anos

Maior estrutura viva do mundo, barreira sofreu com aumento da temperatura das águas entre 2024 e 2025. Cientistas alertam que barreira pode estar perto de atingir "ponto de não retorno" e não conseguir mais se recuperarA Grande Barreira de Coral, na costa leste da Austrália, sofreu seu maior declínio coralino desde o início dos registos oficiais, em 1986, indica um relatório publicado nesta quarta-feira (06/08), que abordou um fenômeno recorde de "branqueamento" nesse imenso ecossistema marinho, considerado a maior estrutura viva do mundo. O Instituto Australiano de Ciências Marinhas documentou a condição de 124 recifes entre agosto de 2024 e maio de 2025 para determinar o branqueamento generalizado de corais nas três secções da Grande Barreira, que tem 2.300 quilômetros de extensão. O impacto foi maior nas áreas do norte (Cape York a Cooktown), com um declínio de 24,8% em relação aos níveis de 2024, e do sul (Proserpine a Gladstone), com 30,6%, representando estes dois valores "o maior declínio anual na cobertura de coral" em 39 anos. Na região central (Cooktown a Proserpine), o declínio registrado foi de 13,9%. Branqueamento O branqueamento é um fenômeno que ocorre quando os corais estão sob estresse térmico, causado pelo aumento da temperatura da água, e que ameaça a sobrevivência dos corais. Quando as águas registram um aumento de temperatura anormal, os corais acabam involuntariamente expelindo as chamadas zooxantelas, microalgas que vivem em simbiose com os corais. Estes pequenos organismos proporcionam aos corais nutrientes através da fotossíntese e dão aos recifes sua cores vibrantes. Sem as zooxantelas, os corais ficam brancos e podem acabar morrendo devido a escassez de nutrientes. Segundo o relatório do Instituto Australiano de Ciências Marinhas, o último episódio foi provocado precisamente pelas elevadas temperaturas do oceano em 2024, que desencadearam "níveis de estresse térmico sem precedentes". Os corais foram atingidos por ciclones tropicais e pela forte presença de grandes quantidades de estrela-do-mar-coroa-de-espinhos (nome científico: Acanthaster planci), um organismo que se alimenta vorazmente de corais. "Mas a causa principal foi a mudança climática", afirmou Mike Emslie, pesquisador do instituto australiano. "Não há dúvidas em relação a isso", disse ele. Segundo o relatório do instituto, a Grande Barreira de Coral "experimentou níveis sem precedentes de stress térmico, resultando no branqueamento mais extenso e severo de que há registo até à data". A agência australiana alertou ainda para o risco de o habitat atingir "um ponto de não retorno", em que o coral não consegue mais recuperar com rapidez suficiente entre eventos catastróficos. Riscos Patrimônio da Humanidade desde 1981, a Grande Barreira de Coral já registrou seis eventos de branqueamento maciço desde 2016, um fenômeno que era extremamente raro na década de 1990. Segundo o instituto australiano, o branqueamento está a tornando-se "mais frequente, à medida que o mundo aquece". "O tempo entre estes eventos está ficando mais curto, dando aos corais menos tempo para recuperar (...) A perda de biodiversidade parece inevitável", afirmam os cientistas, apontando que a recuperação da barreira - que abriga 400 tipos de corais, 1.500 espécies de peixes e 4.000 variedades de moluscos - pode levar anos. O estudo pede ainda um maior esforço na aplicação de políticas ambientais, como a redução das emissões de gases de efeito estufa, e para o aumento da investigação sobre a adaptação e a recuperação dos recifes. jps (AFP, Lusa, ots)


Short teaser Cientistas alertam que ecossistema pode estar perto de atingir "ponto de não retorno" e não conseguir mais se recuperar
Item URL https://www.dw.com/pt-br/grande-barreira-de-coral-da-austrália-sofre-maior-branqueamento-já-registrado/a-73546219?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption A Grande Barreira de Coral foi declarada Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco em 1981, mas tem sofrido com degradação nos últimos anos
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Item 33
Id 73545800
Date 2025-08-06
Title Tarifaço de Trump contra o Brasil entra em vigor
Short title Tarifaço de Trump contra o Brasil entra em vigor
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Café brasileiro, sujeito a tarifa de 50%, abastece cerca de um terço do mercado dos EUA

Alíquota de 50% é uma das maiores aplicadas pela Casa Branca, mas produtos brasileiros importantes escaparam da medida. Trump tenta pressionar Brasil sobre julgamento de Bolsonaro.Os Estados Unidos começaram a cobrar nesta quarta-feira (06/08) as novas tarifas de importação sobre produtos brasileiros, anunciadas em julho pelo presidente americano Donald Trump como forma de pressionar o Brasil a anular o julgamento do seu aliado e ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. O Brasil, que no início da guerra tarifária global deflagrada por Trump havia sido poupado e mantido a alíquota base de 10%, agora verá diversos de seus produtos serem tarifados a 50%, uma das maiores aplicadas pelo governo americano. A nova tarifa atingirá produtos importantes da pauta de exportação brasileira, como café, carne bovina e açúcar. No entanto, o decreto da Casa Branca que regulamenta a medida deixou muitos produtos brasileiros de fora da alíquota de 50%, incluindo aeronaves civis, veículos, suco de laranja e petróleo. O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, afirmou que a nova tarifa de 50% se aplicará a apenas cerca de 36% das exportações brasileiras para os Estados Unidos. Quase 700 produtos brasileiros ficaram de fora da alíquota mais alta. "As tarifas não são boas, mas eles [o governo brasileiro] esperavam algo pior", escreveu em uma nota Valentina Sader, especialista em Brasil do think tank Atlantic Council, que prevê que a economia brasileira provavelmente "resistirá às tarifas". "O governo parece estar considerando subsidiar alguns dos setores mais impactados, mas podemos ver o Brasil tentando diversificar seus mercados de exportação”, afirmou ela à agência de notícias AFP. Governo brasileiro espera café e carne na lista de isentos A ministra brasileira do Planejamento, Simone Tebet, afirmou na terça-feira esperar que o café e a carne brasileiros também sejam incluídos na lista de exceções à alíquota de 50%. O Brasil é o maior fornecedor mundial desses produtos, e a tarifa mais alta terá impacto sobre os preços pagos pelos consumidores americanos. "Duas coisas que ficaram de fora da lista e que são apreciadas por eles são a carne e o café. Por isso, consideramos que, quando analisarem a inflação que essa medida provocará e realizarem um estudo de opinião pública sobre o seu encarecimento, vão rever a decisão", disse Tebet. Mesmo que isso não ocorra, ela afirmou que o Brasil poderá redirecionar sua produção de café para outros mercados, em um contexto de alta dos preços mundiais do produto. Quanto à carne, Tebet avalia que os EUA dificilmente encontrarão fornecedores alternativos. Em 2024, o Brasil exportou 8,1 milhões de sacas de café para os EUA, o equivalente a 16% das exportações brasileiras do grão e a aproximadamente um terço do mercado norte-americano. As vendas de carnes para os EUA, segundo maior destino das exportações brasileiras do setor, totalizaram 1,6 bilhão de dólares em 2024, representando 16,7% dos embarques totais do produto. Juntos, o café e as carnes corresponderam a cerca de 9% do valor das exportações brasileiras para os EUA no ano passado. Os argumentos da Casa Branca O anúncio do tarifaço de Trump contra o Brasil teve repercussão mundial, pois o argumento central do presidente americano – de que as tarifas eram necessárias para reduzir o déficit comercial dos EUA – não se aplica neste caso: os EUA têm superávit comercial na sua relação com o Brasil desde 2009. As justificativas para as tarifas contra o Brasil foram detalhadas no decreto da Casa Branca da semana passada, que afirmou que a medida era necessária "para lidar com políticas, práticas e ações recentes do governo do Brasil que constituem uma ameaça incomum e extraordinária à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos." O documento destaca que "a perseguição política, intimidação, assédio, censura e processos judiciais contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e milhares de seus apoiadores constituem graves abusos de direitos humanos que minaram o Estado de Direito no Brasil." Ao anunciar o tarifaço, no início de julho, Trump escreveu em um post que "esse julgamento não deveria estar acontecendo". "É uma caça às bruxas que deve acabar imediatamente!". No final do mês, a Casa Branca também sancionou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator dos processos relativos à denúncia de tentativa de golpe de Estado, com a Lei Magnitsky, utilizada para punir estrangeiros acusados de violações graves de direitos humanos ou de corrupção. O apoio de Trump deixou Bolsonaro mais à vontade para seguir buscando formas de escapar de seu julgamento no STF, que pode ocorrer nos próximos meses, mas parece não ter demovido Moraes, que nesta segunda-feira decretou a prisão domiciliar do ex-presidente brasileiro. Há também motivos econômicos na decisão da Casa Branca de tarifar o Brasil. O decreto afirma que o governo brasileiro havia adotado "políticas e ações incomuns e extraordinárias" que prejudicam empresas americanas, os direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos, a política externa dos EUA e a economia americana. O texto cita decisões brasileiras que exigiram redes sociais americanas a "censurar discurso político, remover usuários de plataformas, entregar dados sensíveis de usuários americanos ou alterar suas políticas de moderação de conteúdo". Em setembro de 2024, a rede social X chegou a ser bloqueada no país por um período após não cumprir ordens judiciais. Uma investigação comercial contra o Brasil aberta pelo governo dos Estados Unidos no contexto das novas tarifas mira diversas práticas que a Casa Branca descreveu como potencialmente "desleais", citando as obrigações e multas contra redes sociais americanas, acordos comerciais brasileiros com o México e a Índia e tarifas aplicadas sobre o etanol, entre outras. Nenhuma delas teve tanta repercussão entre os brasileiros como a menção a uma suposta prática injusta com "meios de pagamentos eletrônicos criados pelo governo" – o Pix. A investigação foi aberta sob a seção 301 da legislação de comércio norte-americana, que abrange "atos, políticas ou práticas de um país estrangeiro que são desarrazoadas ou discriminatórias e prejudicam ou restringem o comércio dos EUA". O relatório da agência federal responsável por comércio internacional dos EUA (USTR, na sigla em inglês) afirma que esses meios de pagamento poderiam prejudicar "a competitividade de empresas americanas que atuam no comércio digital e em serviços de pagamento eletrônico". Sem conversa entre Lula e Trump As tarifas de 50% entraram em vigor sem que o Trump e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tivessem conversado sobre o tema. Em 1º de agosto, Trump chegou a dizer que o brasileiro poderia ligar para ele "a qualquer momento", e Lula respondeu que o Brasil sempre esteve "aberto ao diálogo". Nesta terça-feira, porém, Lula afirmou que iria ligar para Trump não para tratar do tarifaço, mas para convidá-lo a ir à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas 30 (COP30) que será realizada em Belém, em novembro. "Não vou ligar para o Trump para comercializar, porque ele não quer falar. Mas pode ficar certa, Marina (Silva, ministra do Meio Ambiente), que vou ligar para convidá-lo para vir pra COP, porque quero saber o que ele pensa da questão climática, vou ligar para ele, para Xi Jinping (presidente da China), para o Narendra Modi (primeiro-ministro da Índia)", afirmou o brasileiro. O Brasil considera recorrer à Organização Mundial de Comércio (OMC) e argumentar que o tarifaço de Trump representa "sério risco à arquitetura internacional de comércio", além de descumprir obrigações dos EUA com os acordos da entidade e carecer de fundamento técnico. No entanto, a OMC está no momento paralisada pelos EUA, que não indicou árbitros e não vem participando da organização. Nesta quarta-feira, o governo da China, maior parceiro comercial do Brasil, expressou apoio ao país em resistir ao "comportamento de bullying" da Casa Branca. Em uma ligação do ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, com o assessor especial da Presidência Celso Amorim, ele afirmou que Pequim apoia Brasília na sua oposição a interferências externas "desarrazoadas" nos assuntos internos brasileiros, sem mencionar Washington expressamente. bl (AFP, Reuters, Lusa, ots)


Short teaser Alíquota de 50% é uma das maiores aplicadas pela Casa Branca, mas produtos brasileiros importantes escaparam da medida.
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Image caption Café brasileiro, sujeito a tarifa de 50%, abastece cerca de um terço do mercado dos EUA
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Item 34
Id 73544874
Date 2025-08-06
Title EUA cancelam financiamento de vacinas de RNA mensageiro
Short title EUA cancelam financiamento de vacinas de RNA mensageiro
Teaser Governo Trump questiona segurança de vacinas mRNA, utilizadas para combater pandemia da covid-19, e engaveta contratos no valor de US$ 500 milhões, afetando empresas como Pfizer e Moderna. Especialistas criticam decisão

Os Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira (06/08) que vão encerrar contratos e cortar o financiamento de vacinas desenvolvidas para combater vírus respiratórios como a covid-19 e a gripe, em uma decisão que gerou críticas de especialistas em saúde.

Ao todo, serão engavetados 22 contratos federais para vacinas baseadas em RNA mensageiro (mRNA), no valor de 500 milhões de dólares (R$2,7 bilhões). O departamento questiona a segurança do uso destes imunizantes no combate às doenças.

"Os dados mostram que essas vacinas não protegem de forma eficaz contra infecções respiratórias como a covid e a gripe", justificou o secretário nacional de Saúde Robert Kennedy Jr em um comunicado. "Revisamos a ciência, ouvimos os especialistas e agimos", completou.

As mudanças afetam a pesquisa da vacina contra a gripe aviária desenvolvida pela Moderna, assim como múltiplos pré-contratos com as gigantes farmacêuticas Pfizer e Sanofi. Projetos em estágio avançado foram mantidos para "preservar investimentos anteriores".

"Estamos realocando esses recursos para plataformas de vacinas mais seguras e amplas, que continuem eficazes mesmo com a mutação dos vírus", disse Kennedy. Sem especificar quais imunizantes seriam esses, o secretário disse em evento posterior que o foco do governo é desenvolver uma "vacina universal" que imite a "imunidade natural".

"Acreditamos que ela será eficaz. Não apenas contra os coronavírus, mas também contra a gripe", disse ele.

Secretário questiona vacinação

Antes de assumir o cargo no governo do presidente americano Donald Trump, Kennedy era um crítico vocal da vacinação e chegou a dizer que "nenhuma vacina é segura e efetiva".

Ao ser indicado para o cargo na Saúde, passou a recusar o título de "ativista antivacina". Desde que assumiu a chefia do Departamento, porém, demitiu o painel de especialistas em vacinas que aconselhava o governo e encomendou um estudo sobre a já amplamente desmentida ligação entre o imunizante e autismo.

"Quero deixar absolutamente claro: o Departamento de Saúde apoia vacinas seguras e eficazes para todos os americanos que desejam tomá-las. É por isso que estamos indo além das limitações do mRNA e investindo em soluções melhores", disse.

Ataques contra o imunizante

Diferentemente das vacinas tradicionais, que geralmente utilizam formas enfraquecidas ou inativadas do vírus ou bactéria, as vacinas de mRNA entregam instruções genéticas às células do organismo, fazendo com que elas produzam uma réplica inofensiva do patógeno para treinar o sistema imunológico a combater a ameaça real.

O método permitiu a produção mais acelerada do imunizante durante a pandemia da covid-19. As vacinas da Pfizer-Biontech e Moderna foram as primeiras com essa tecnologia a serem usadas em humanos.

Os pioneiros da tecnologia, Katalin Karikó e Drew Weissman, receberam o Prêmio Nobel de Medicina de 2023 por sua contribuição para o que foi descrito como "uma taxa de desenvolvimento de vacinas sem precedentes durante uma das maiores ameaças à saúde humana dos tempos modernos."

Afirmações falsas de que o método seria capaz de alterar o DNA humano foram sistematicamente desmentidas por especialistas. Alegações de que haveria relação entre a vacina e a mpox também não se comprovaram. A tecnologia, inclusive, é também estudada no combate a doenças como malária, HIV e mesmo o câncer.

Especialistas criticam decisão

Infectologistas alertam que futuras pandemias serão mais difíceis de conter sem a ajuda da tecnologia de mRNA.

"Não acho que eu tenha visto uma decisão mais perigosa em saúde pública nos meus 50 anos de atuação", disse Mike Osterholm, especialista da Universidade de Minnesota em doenças infecciosas e preparação para pandemias.

Ele destacou que a tecnologia de mRNA tem o benefício de ser produzida rapidamente, algo crucial caso surja uma nova pandemia que exija uma vacina inédita.

Para Paul Offit, especialista em vacinas do Hospital Infantil da Filadélfia, o engavetamento dos projetos é "míope", especialmente com as preocupações crescentes sobre uma possível nova pandemia de gripe aviária.

"Ela certamente salvou milhões de vidas", disse Offit sobre o imunizante.

gq (AFP, AP)

Short teaser Governo questiona segurança do imunizante utilizado durante a pandemia de covid-19 e engaveta 22 contratos de pesquisa.
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Item 35
Id 73513851
Date 2025-08-03
Title Por que nascem cada vez menos crianças na Alemanha
Short title Por que nascem cada vez menos crianças na Alemanha
Teaser Número de filhos por mulher chegou a 1,35 em 2024 – menor patamar em quase duas décadas. Quadro preocupa políticos e economistas, mas não é irremediável, apontam especialistas.

Recebido com entusiasmo no mercado editorial alemão, o livro I'm not kidding, da influencer e humorista Julia Brandner, também tem despertado reações muito viscerais. Na obra, lançada no início deste ano, a autora suíça de 30 anos baseada em Berlim explica por que nunca quis ter filhos nem acha que deve desculpas a ninguém por isso. E fala, com franqueza cômica, da sua decisão de se submeter a uma esterilização.

À DW, Brandner exemplifica a reação dos críticos citando um episódio recente em um evento aberto ao público, onde foi rudemente xingada de egoísta diante da plateia por uma senhora de 72 anos e mãe de três filhos.

"[Os críticos] Te taxam de 'revoltadinha'. Quando você diz que não quer ter filhos, te responsabilizam logo, acusam de sabotar o sistema previdenciário e o contrato geracional, e te culpam pela extinção da humanidade", afirma.

As críticas a Brandner se baseiam em um número que, para uns, é sinal de progresso na emancipação feminina e, para outros, de decadência econômica da Alemanha à medida em que a população segue encolhendo: 1,35. Essa é a média de filhos por mulher na Alemanha, segundo dados de 2024 do Escritório Federal de Estatísticas. Entre alemãs, esse número é ainda menor, de 1,23; entre estrangeiras, de 1,84.

Em 2024, nasceram 677.117 crianças na Alemanha – 15 mil a menos que no ano anterior.

AfD explora o tema

Julia Brandner tinha 28 anos quando foi esterilizada. Para fazer o procedimento, teve que apresentar à ginecologista um atestado de sanidade assinado por um psiquiatra. Ela diz ter se surpreendido que o livro tenha gerado um debate tão acalorado.

Brandner afirma observar uma guinada crescente à direita em tempos de instabilidade, com um retorno a valores mais tradicionais, que preconizam que as mulheres deveriam voltar a cuidar exclusivamente da casa e dos filhos.

Não à toa, a queda nas taxas de natalidade está na agenda do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que quer resolver o problema da falta de trabalhadores especializados no país com mais nascimentos em vez de imigração.

Mas Brandner critica que, ainda hoje, o tema filhos continua a recair quase inteiramente sobre a mulher. "Justamente as muitas mães solo são deixadas sozinhas, enquanto os pais são pouco cobrados", afirma.

Ela também aponta para o fato de que, na Alemanha, ter filhos costuma significar trabalhar menos para poder cuidar das crianças, ter menos renda e possivelmente depender de terceiros para sobreviver, além de uma aposentadoria insuficiente no futuro – apesar de a sociedade como um todo depender, no modelo atual, dos impostos pagos pelas novas gerações.

"Ter filhos representa um enorme risco de pobreza para as mulheres. Não é possível que, ainda hoje, uma mulher tenha que sacrificar seu próprio bem-estar para garantir o bem-estar da sociedade."

Por que as mulheres estão tendo menos filhos

A Alemanha não é o único país a lidar com a queda na taxa de fecundidade. Os números têm caído drasticamente no mundo inteiro, com exceção da região do Sahel, na África, onde as mulheres ainda têm, em média, mais de cinco filhos. No outro extremo desta estatística está a Coreia do Sul, com 0,75. No Brasil, a taxa era de 1,55, segundo o Censo de 2022.

A socióloga Michaela Kreyenfeld, que ajudou a produzir um relatório sobre o tema para o governo federal alemão, vê uma relação cada vez maior entre múltiplas crises e a taxa de fecundidade.

"Mulheres não querem ter filhos por egoísmo ou por escolha? Estamos discutindo isso pelo menos desde os anos 1970, não é algo novo", afirma. A novidade, pontua, são as crises múltiplas: "A pandemia de covid-19, a rápida mudança climática, a inflação alta", elenca. "Isso é uma situação nova principalmente para os jovens."

A resposta da direita conservadora

Nos EUA há um movimento em resposta à queda de fecundidade, apoiado pelas pessoas mais ricas do mundo: o pronatalismo, do qual o bilionário Elon Musk é garoto-propaganda. O objetivo de seus defensores: pôr tantas crianças no mundo quanto for possível para salvar a humanidade de um suposto "colapso".

Outro vocal defensor da ideia é o presidente russo Vladimir Putin – que ameaça quem fizer "propaganda" encorajando a não procriação com multas que podem passar de 4 mil dólares. Mas o Kremlin não está muito interessado no bem-estar das crianças nem dos pais, muito menos das mães, argumenta Kreyenfeld: em algumas partes do país, há relatos de que o governo paga para que adolescentes tenham filhos.

Aumentar as taxas de natalidade na marra pode ser uma má ideia, pondera a socióloga, citando o exemplo da Romênia: "O presidente Ceausescu [que governou o país de 1974 a 1989], na época, impulsionou drasticamente a taxa de natalidade de 1,8 para 4 em apenas um ano, ao restringir o acesso a métodos contraceptivos e impor punições draconianas ao aborto. O resultado foi a chamada 'Geração Perdida': ou seja, uma geração cujos pais não cuidaram dos filhos porque, na verdade, não os queriam."

A taxa de fertilidade não reflete a quantidade de filhos que mulheres gostariam de ter

Como, então, convencer as pessoas a terem mais filhos? Especialista no tema, o diretor interino do Instituto Federal para Pesquisa Demográfica (BiB) Martin Bujard diz que a discussão sobre mulheres como Julia Brandner, que optam por não ter filhos, foge do verdadeiro foco.

"Se alguém não quer ter filhos, é uma decisão livre. Isso não deveria ser estigmatizado. A vida sem filhos é cada vez mais aceita", afirma. O ponto, argumenta, é outro: "Nós perguntamos às pessoas sobre se e quantas crianças gostariam de ter. E aí vemos que esse desejo em 2024 era de em média 1,8 crianças para cada mulher e cada homem – quer dizer, claramente acima da taxa de fecundidade de 1,35. Se esse desejo, que existe, se realizasse, teríamos problemas demográficos menores e, a longo prazo, muito mais prosperidade econômica."

A esse fenômeno descrito por Bujard dá-se o nome de "gap da fertilidade" – ou seja, a diferença entre o número médio de filhos desejados e a real taxa de fecundidade.

Na vida real, há mulheres que têm menos filhos do que gostariam, ou que adiam esse desejo – seja porque não encontraram alguém com quem formar família, por falta de rede de apoio, razões profissionais ou econômicas. E também porque, na Alemanha, crianças ainda são socialmente mais frequentemente vistas como um problema do que como algo que enriquece a vida, e a política poderia fazer mais para incentivar as pessoas a terem mais filhos.

Alemanha precisa tornar a vida familiar mais compatível com a vida profissional

Bujard, do BiB, elogia os esforços da política alemã no passado para ajudar os alemães a terem mais filhos, como a expansão dos jardins de infância e escolas em tempo integral, bem como a introdução de benefícios sociais específicos para pais. Foi uma mudança de paradigma que ganhou atenção internacional, após a Alemanha figurar por décadas entre os países com a menor taxa de fecundidade.

Mas Bujard também vê problemas: "Desde 2013 há o direito legal a creches, mas ele não é mais tão confiável, pois frequentemente falta pessoal. Há uma escassez de profissionais nessa área, e, no fim das contas, entra pouco dinheiro no sistema. Se houvesse recursos suficientes, poderíamos também falar sobre salários mais altos para educadores e educadoras."

Mais mulheres e homens entre 30 e 50 anos sem crianças

A Alemanha precisa se esforçar mais em suas políticas de apoio familiar, já que 22% das mulheres e 36% dos homens com idade entre 30 e 50 anos hoje não têm filhos, segundo o Ministério da Família, dos Idosos, das Mulheres e da Juventude. E a média de filhos entre homens na Alemanha foi de 1,24 em 2024, segundo dados oficiais – ou seja, ainda menor que entre as mulheres.

Principalmente jovens mulheres com ensino superior estão deixando de ter filhos. Por isso, Bujard aponta que o único caminho para reverter esse cenário é melhorar a compatibilidade da vida profissional com a vida familiar.

"O pior cenário é que, com a queda contínua da fecundidade, nós teremos problemas de longo prazo com a seguridade social ainda mais graves em 2030. Isso custaria muito bem-estar econômico: as contribuições para a previdência teriam que ser aumentadas, as aposentadorias encolheriam, novos cortes teriam que ser feitos no sistema de saúde."

Colaborou Rayanne Azevedo.

Short teaser Número de filhos por mulher chegou a 1,35 em 2024 – menor patamar em quase duas décadas. Quadro preocupa políticos.
Author Oliver Pieper
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Item 36
Id 73502582
Date 2025-08-01
Title Como os espiões da Stasi vigiavam a população na Alemanha Oriental
Short title Como a Stasi espionava a população na Alemanha Oriental
Teaser Uma vida à la James Bond? A maioria dos funcionários da Stasi, o Ministério de Segurança do Estado, estava longe disso: atuavam como burocratas, em escritórios, ou vigiavam parentes e amigos.

"Camaradas, precisamos saber tudo!", costumava dizer Erich Mielke, chefe do Ministério da Segurança do Estado (Stasi) de 1957 a 1989, a seus funcionários. E, assim sendo, os cidadãos da República Democrática Alemã (RDA) – o nome oficial da finada Alemanha Oriental – eram sistematicamente vigiados.

Os informantes da Stasi podiam estar em qualquer lugar, entre colegas de trabalho ou amigos. A tarefa: localizar "parasitas do povo", que, para a RDA, eram pessoas que criticavam ou desafiavam o regime e se aliavam ao "inimigo de classe", ou seja, aos capitalistas "imperialistas" ou "fascistas" do Ocidente.

Com o argumento de proteger seus próprios cidadãos da suposta ameaça ocidental, o Muro de Berlim começou a ser erguido de 13 de agosto de 1961 como uma "barreira antifascista".

Métodos: vigilância e intimidação

O "inimigo", no entanto, também estava dentro do país, onipresente. Podia ser alguém que tivesse contado uma piada sobre o presidente do Conselho de Estado, ouvido música proibida, recebido cartas suspeitas com selos de países ocidentais ou mesmo pedido autorização para visitar a República Federal da Alemanha, a Alemanha Ocidental.

Tudo era suspeito, tudo estava no radar da Stasi. Fundada em 1950, a organização se considerava o "escudo e a espada" do Partido Socialista Unitário da Alemanha (SED), que deveria neutralizar todos os "inimigos" e, assim, garantir seu domínio na RDA.

Os funcionários da Stasi abriam o correio, grampeavam telefones e invadiam residências sem autorização. Intimidavam as pessoas, espalhavam boatos de que alguém era alcoólatra ou homossexual – ou, ainda mais perverso, de que mantinha contato com a Stasi. Muitos cidadãos da RDA acabaram presos por criticarem o regime.

Razões para trabalhar na Stasi

O próprio povo chamava a Stasi de "A firma" ou "Horch und Guck" (ouça e observe). Quando o Muro de Berlim caiu, no final de 1989, a Stasi tinha cerca de 90 mil funcionários efetivos e – dependendo da fonte – entre 100 mil e 200 mil colaboradores "não oficiais"; isto é, informantes que, voluntariamente ou sob pressão, denunciavam o "comportamento inadequado" de amigos e familiares.

O que os levava a apoiar um regime tão injusto? "Pode ter sido a sensação de poder sobre os outros. Mas também pode ter sido uma tradição familiar, de seguir os passos dos pais e talvez até dos avós que já faziam esse trabalho. Claro, havia também as promessas do ministério de que poderia ser uma atividade interessante, que talvez fosse possível até mesmo trabalhar no exterior. E, no fim das contas, era um emprego seguro, inclusive para quem não tinha uma carreira", explica o historiador Philipp Springer.

Cotidiano monótono

Para seu livro "Die Hauptamtlichen" (que em tradução livre seria algo como "Os funcionários de carreira"), Springer encontrou no arquivo da Stasi fotos raras que mostram funcionários no trabalho. Normalmente, como supervisores, eles não apareciam na frente, mas sim atrás das câmeras. No entanto, o imaginário popular de uma vida emocionante de agente não era algo concreto.

"Talvez tenha havido um pouco de vida ao estilo James Bond quando se estava em missão no exterior e se espionava secretamente, por assim dizer. Na RDA, em áreas que não estavam tão próximas da atividade de espionagem propriamente dita, não era tão emocionante quanto se poderia imaginar", diz Springer.

As fotos do livro apresentam momentos mais banais e amadores. Vê-se um homem na copiadora, outro numa escrivaninha e uma mulher trabalhando na cozinha. Às vezes, aparece apenas uma mão que pega um arquivo, ou pés diante de um aquecedor.

"É claro que são áreas que, à primeira vista, parecem totalmente normais e nada emocionantes, mas, ao mesmo tempo, são interessantes e enfadonhas como se aquelas pessoas trabalhassem numa empresa qualquer", afirma o autor.

"No fim das contas, porém, todos esses funcionários também contribuíram para manter o aparato funcionando. Todos faziam parte desse sistema e foram treinados política e ideologicamente para acreditar que suas tarefas eram extremamente importantes para preservar o socialismo na RDA e defender o país dos supostos inimigos do Ocidente", complementa.

Pequenas engrenagens na máquina da "firma"

Nem todos os retratados puderam ser identificados pelo nome. Quando isso foi possível, Philipp Springer contou suas histórias.

Um exemplo é a tenente Elfi-Elke Mertens, cujo pai já havia trabalhado na Stasi, e seu marido também era funcionário. Ela foi elogiada por seus superiores por sua "excelente disposição e dedicação", sendo considerada "diligente" e "muito disposta". Tanto que prometeu influenciar uma parente que queria viajar para o Ocidente. "Eu e meu marido conversaremos com ela novamente e, se ela não estiver disposta a desistir da viagem, romperemos nossos laços com ela", comprometeu-se Mertens com seus superiores.

A sargento Sylke Kindler também está no livro. Ela apresentou a proposta de fixar uma câmera no fundo da cesta de compras para fotografar discretamente os arredores por meio de um orifício.

Consta também o ambicioso major-general Horst Böhm, tão leal ao regime que cometeu suicídio após o colapso da RDA, em 1990.

É permitido publicar fotos e nomes de funcionários da Stasi, diz Springer, mesmo daqueles que ainda estão vivos e talvez temam por sua reputação.

"A gente sempre pensa: 'Bem, é uma máquina enorme e todos são pequenas engrenagens'. Mas, no fim das contas, são pessoas que decidem participar ou não de algo assim e dedicam toda a sua vida a trabalhar para um aparato injusto. E, claro, elas também precisam lidar com o fato de que existem arquivos sobre elas", argumenta Springer.

Aprender com o passado

O fim definitivo dos serviços secretos da RDA ocorreu em janeiro de 1990. Mais de 111 quilômetros de arquivos, 41 milhões de fichas e mais de 1,7 milhão de fotos seguem disponíveis, além de cerca de 15 mil sacos de arquivos destruídos.

Muitos cidadãos da RDA solicitaram acesso a esses materiais: queriam saber qual papel seus amigos ou familiares desempenharam. Eram vítimas ou perpetradores? Ainda hoje, segundo Springer, há muitas solicitações.

"Mas também no plano político ou nacional isso deveria ter um papel importante, na minha opinião, porque foi todo um aparato que cometeu injustiças. É importante manter viva a memória disso. E acho que os jovens também deveriam se interessar por esse assunto, para que compreendam que têm a responsabilidade de garantir, em última instância, o nosso sistema democrático", conclui.

Short teaser Uma vida à la James Bond? A maioria dos funcionários da Stasi, o Ministério de Segurança do Estado, estava longe disso.
Author Suzanne Cords
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Item 37
Id 73216916
Date 2025-07-13
Title O drama de um boxeador vítima de doping na Alemanha Oriental
Short title O drama de um boxeador vítima de doping na Alemanha Oriental
Teaser Cerca de 15 mil atletas da antiga Alemanha Oriental foram dopados durante anos sem seu consentimento, com danos graves e duradouros à saúde. Um deles é o boxeador Andreas Wornowski.

Andreas Wornowski teve a sensação de que algo estava errado em 1993, quatro anos após a mudança política que derrubou o regime comunista da República Democrática da Alemanha (RDA), a Alemanha Oriental. "Um médico no hospital da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) me perguntou diretamente sobre drogas para melhorar o desempenho esportivo. Minha resposta foi dar de ombros. Não admiti essa ideia, nunca mais pensei no assunto e o ignorei."

Há mais de quatro décadas o ex-boxeador de 54 anos sofre consequências graves para a sua saúde, com dores dia e noite – a começar pela mão esquerda, que usava para dar socos, incapacitada. O quadro é agravado por uma depressão grave. O ex-atleta da RDA se deu conta de que essas são consequências do doping forçado na RDA, o que fez com que ele começasse a lidar com seu passado.

Início de carreira aos 13 anos

O caminho de Wornowski para os esportes de elite começou relativamente tarde, aos onze anos. Com talento, disciplina e dedicação aos treinamentos, ele se tornou campeão distrital em sua faixa etária em Magdeburg apenas um ano depois.

Aos treze anos, ingressou na Escola de Esportes Infantis e Juvenis de Berlim, um internato esportivo de elite onde a RDA formava seus futuros medalhistas, onde Wornowski morou até atingir a maioridade, só podendo voltar para casa a cada quatro semanas.

Inicialmente, sua mãe, enfermeira de profissão, era estritamente contra o boxe. O esporte era brutal demais para ela. Mas o pai de Wornowski e o conselho distrital de sua cidade natal a convenceram.

Olhando para o passado, Wornowski compreende a preocupação de sua mãe. Praticar boxe significava consentir com agressões físicas. Se a força dos golpes fosse então aumentada com medicamentos, culminava em um verdadeiro "massacre com material corporal", nas palavras do ex-boxeador, com golpes de "martelo a vapor" na cabeça.

Na seleção juvenil da RDA

Ele descreve o período que viveu a partir de então como "uma espécie de campo de treinamento extremo", no qual crianças e adolescentes eram obrigados a atingir seu potencial máximo por meio de medicamentos para melhorar o desempenho, aliviar a dor e desinibir, sob enorme pressão psicológica e física para demonstrarem bom desempenho.

Qualquer um que não conseguisse suportar isso ou fizesse perguntas incômodas sobre comprimidos ou injeções era expulso. Na 8ª série havia 21 jovens e, na 10ª, apenas quatro.

Wornowski rapidamente alcançou o sucesso e chegou à seleção juvenil da RDA. A partir de 1986, ele passou a receber regularmente vários medicamentos na forma de cápsulas azuis, pretas e vermelhas oficialmente rotuladas como "vitaminas e agentes de reforço imunológico".

Hoje, Wornowski está convencido de que esses medicamentos incluíam o agente anabolizante Oral-Turanibol, o esteroide anabolizante Mestanolona, a substância de teste esteroide 646 e drogas psicotrópicas projetadas para aumentar a agressividade.

Esses medicamentos foram comprovadamente administrados a todo o grupo de treinamento de Wornowski durante os tratamentos experimentais de treinamento sob a direção de Hans Gürtler, um renomado médico esportivo da Alemanha Oriental e corresponsável pelo programa estatal de doping, que, a partir de 1974, ficou conhecido como "Plano Estatal Tema 14.25".

Sessões brutais de treinamento

O auge esportivo de Wornowski começou aos 16 anos, quando ele se tornou campeão juvenil dos meio-pesados da Alemanha Oriental e venceu torneios internacionais. Tornou-se representante da RDA, um "diplomata de agasalho de treino", como era chamado na época.

Um memorando da Stasi, a polícia secreta da RDA, atestava que Wornowski "determina o nível de desempenho da RDA em sua idade e categoria de peso." A decisão em suas lutas era frequentemente tomada por nocaute no primeiro round. "Por mais de um ano, ninguém ficou em pé", diz o ex-boxeador.

Mas, paralelamente à sua fama, seu declínio físico aumentou. As dores aumentaram e seus ferimentos se acumularam: um nariz quebrado, pálpebras costuradas e dentes arrancados.

Somou-se a isso um treinamento implacável com até quatro sessões de duas horas por dia. Em circunstâncias normais, isso vai além dos limites de resistência física. "Eu realmente não conseguia continuar, mas fui em frente mesmo assim. Hoje eu diria [que aquelas eram] condições brutais", lembra Wornowski.

Ele afastava a dor ingerindo até 20 analgésicos por dia, algo que não era incomum para ele. Para perder peso antes de uma competição, ele frequentemente tinha que fazer seu treinamento com luvas – socos com luvas de boxe em almofadas especiais seguradas pelo treinador – em uma sauna a uma temperatura de 90º C.

Na Universidade Alemã de Cultura Física e Esportes em Leipzig, ele foi até forçado a desmaiar em uma esteira ergométrica para testar seus limites de desempenho. Apenas uma cinta o impedia de cair.

Fim de carreira por razões políticas

A carreira esportiva de Wornowski terminou abruptamente aos 19 anos, na primavera de 1989, mais de seis meses antes da queda do Muro de Berlim. Oficialmente, isso ocorreu devido a seus problemas de saúde, principalmente oculares. Wornowski, no entanto, acredita que o motivo teria sido o fato de que ele havia se recusado a se filiar ao partido estatal da Alemanha Oriental, o Partido Socialista Unitário (SED).

O que lhe restou foi uma profissão para a qual nunca havia se formado: mecânico de automóveis. Wornowski nunca havia visto o interior de uma oficina mecânica, mas a Stasi lhe forneceu um exame profissional.

Oficialmente, como todos os atletas competitivos na RDA, ele era considerado amador, já que não havia em caráter oficial esportes profissionais no regime socialista.

Após a Reunificação alemã – em 3 de outubro de 1990 – foi somente em 1997 que alguns processos judiciais trouxeram à tona a extensão do doping estatal da Alemanha Oriental. Em resposta, diversas leis de auxílio às vítimas de doping foram aprovadas em 2002 e posteriormente. Por meio delas, cerca de 2.000 pessoas afetadas, incluindo Wornowski, receberam pagamentos únicos de 10.500 euros cada (R$ 67 mil).

Essas leis, porém, já expiraram. Os procedimentos atuais de reconhecimento são complicados e envolvem enormes obstáculos. A Associação de Assistência às Vítimas de Doping estima que cerca de 15.000 pessoas sejam afetadas.

Wornowski luta por uma pensão mensal devido aos danos causados à sua saúde. Um pedido foi rejeitado, uma vez que é difícil provar os danos causados pelo doping da RDA. Todos os seus registros médicos desapareceram, o que o levou a entrar com uma ação judicial.

"Esta é uma grande tragédia. O verdadeiro problema para as pessoas afetadas é que seus registros médicos desapareceram e elas estão em uma situação difícil que provavelmente não será resolvida mesmo com a emenda" explica o advogado de Wornowski, Ingo Klee, se referindo a uma nova regulamentação que visa beneficiar as vítimas de doping da RDA.

Mudança na lei traz novas esperanças

Alguns ex-funcionários e médicos do sistema esportivo da RDA ocupam cargos importantes ainda nos dias atuais, afirma Michael Lehner, presidente da Associação de Assistência às Vítimas de Doping.

No caso de Wornowski, o chefe dos serviços médicos do estado de Brandemburgo redigiu um parecer médico negativo. O especialista trabalhou no serviço de medicina esportiva da RDA no final da década de 1980, justamente a instituição responsável pela implementação prática do doping forçado. O médico em questão, porém, nega qualquer envolvimento em práticas de doping.

Lehner tem esperanças em uma nova regulamentação que visa inverter o ônus da prova: para certas doenças típicas, o doping deve ser considerado a causa. No entanto, isso não é de forma alguma automático, alerta Klee. O advogado de Wornowski diz que os órgãos de Previdência Social ainda podem duvidar dos danos resultantes do doping, por exemplo, citando um histórico de saúde familiar.

"Não é só a falta de provas, os problemas de saúde, as dificuldades financeiras – isso tudo é repugnante e quase insuportável", diz Wornowski. Hoje, ele e a esposa vivem uma vida isolada em sua casa em uma floresta. Alguns de seus antigos companheiros de treino já faleceram. "Em todos os funerais, todos têm o mesmo pensamento: quem vai saber o que nos deram naquela época?"

Short teaser Cerca de 15 mil atletas foram dopados durante anos sem consentimento. Um boxeador ainda luta pela verdade dos fatos.
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Item 38
Id 72986020
Date 2025-06-21
Title Ataques israelenses agravam situação de refugiados afegãos no Irã
Short title Conflito agrava situação de refugiados afegãos no Irã
Teaser Em meio à ofensiva israelense, refugiados no Irã enfrentam abusos, fome e medo de deportação enquanto buscam segurança longe do regime talibã.

O conflito entre Irã e Israel está sendo sentido pelos afegãos tanto em seu país quanto do outro lado da fronteira, no Irã. O combate piora ainda mais as condições já críticas do Afeganistão, onde os preços dos produtos importados do lado iraniano dispararam.

Enquanto isso, milhões de afegãos que fugiram para o Irã em busca de segurança enfrentam agora incertezas e pressões renovadas das autoridades, com a escalada do conflito armado: "Não temos onde morar", queixa-se a refugiada afegã Rahela Rasa. "Tiraram a nossa liberdade de ir e vir. Somos assediados, insultados e maltratados."

Condições deterioram para afegãos no Irã

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) registra que cerca de 4,5 milhões de afegãos residem no Irã, embora segundo outras fontes esse número possa ser muito maior. O Irã já deportou milhares de afegãosnos últimos anos, mas o afluxo continua. Muitos buscam emprego ou refúgio do regime do Talibã.

Depois da saída dos Estados Unidos do Afeganistão, em 2021, o Talibã desmantelou a mídia e a sociedade civil do país, perseguiu ex-membros das forças de segurança e impôs severas restrições a mulheres e meninas, proibindo-as de trabalhar e estudar.

As condições também se deterioraram para os afegãos que vivem em solo iraniano. Os refugiados só têm permissão para comprar alimentos a preços extremamente inflacionados e estão proibidos de sair da capital, Teerã.

Sob anonimato, uma refugiada comenta que não consegue comprar leite em pó para seu bebê: "Em todo lugar aonde eu vou, eles se recusam a vender para mim, porque não tenho documentos necessários."

Sem opção de retorno

Atualmente alvo de ataques israelenses, o Irã, que antes oferecia abrigo, já não parece mais seguro. Alguns afegãos já morreram em bombardeios. Abdul Ghani, da província afegã de Ghor conta que seu filho Abdul Wali, de 18 anos, recentemente concluiu os estudos e se mudou para o Irã para ajudar a família.

"Na segunda-feira, falei com o meu filho e pedi que nos enviasse algum dinheiro. Na noite seguinte, seu empregador me ligou para informar que ele havia sido morto em um ataque. Meu coração está partido. O meu filho se foi."

Retornar ao Afeganistão não é uma opção viável para a maioria dos refugiados, que temem ser perseguidos pelo regime talibã. Um ex-membro das forças de segurança do Afeganistão, falando sob anonimato, revela que vivia em medo constante: "Não podemos voltar ao Afeganistão, o Talibã nos perseguiria."

Mohammad Omar Dawoodzai, ex-ministro do Interior afegão e embaixador no Irã no governo anterior, insta a comunidade internacional a agir para proteger ex-funcionários e militares que podem ser forçados a retornar ao Afeganistão se o conflito entre Israel e Irã se prolongar.

"Estou particularmente preocupado com os ex-militares e servidores públicos que fugiram para o Irã após a tomada do poder pelo Talibã. A comunidade internacional deve responsabilizar o Talibã e garantir que os repatriados não sejam perseguidos."

Traficantes de pessoas exploram medos

Redes de tráfico humano parecem estar explorando o desespero dos refugiados afegãos. Circularam rumores sugerindo que a Turquia abriu as suas fronteiras.

Mas Ali Reza Karimi, um defensor dos direitos dos migrantes, nega a abertura das fronteiras, afirmando tratar-se de informação de falsa, espalhada por traficantes. Os voos estão suspensos, e a fronteira da Turquia só está aberta para cidadãos iranianos e viajantes com passaporte e visto válidos, e permanece fechada para afegãos. Ele aconselha os refugiados afegãos a não caírem nas mentiras dos traficantes e evitarem armadilhas.

O ex-ministro Dawoodzai reforça: "Fui informado que traficantes de pessoas estão dizendo aos refugiados para se dirigirem à Turquia, alegando que as fronteiras estão abertas, mas isso cria mais uma tragédia. Chegando lá, eles só vão descobrir que as fronteiras estão fechadas."

Ele apela aos refugiados afegãos no Irã para que não precipitem: "Na medida do possível, nosso povo deve permanecer onde está e esperar pacientemente. E se, por qualquer motivo, forem forçados a se mudar, que se dirijam à fronteira afegã, não à Turquia."

Short teaser Conflito Irã-Israel agrava crise de refugiados afegãos no Irã, que enfrentam abusos, fome e medo de deportação.
Author Shakila Ebrahimkhail, Ahmad Waheed Ahmad
Item URL https://www.dw.com/pt-br/ataques-israelenses-agravam-situação-de-refugiados-afegãos-no-irã/a-72986020?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 39
Id 57531509
Date 2025-06-13
Title Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel
Short title Como funciona o Domo de Ferro, sistema antimísseis de Israel
Teaser Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011. Devido ao custo alto, só é empregado para proteger áreas habitadas.

A escalada das agressões entre Israel e Irã nesta sexta-feira (13/06) colocou à prova a eficácia do sistema antimísseis israelense Iron Dome (Domo de Ferro), que desde 2011 é empregado para impedir ataques aéreos estrangeiros no país.

Após o exército israelense atingir instalações nucleares iranianas, Teerã retaliou lançando dezenas de mísseis contra Israel. A maioria foi interceptada pelo sistema de defesa, mas alguns conseguiram furar o bloqueio e atingir sete pontos da capital.

Em outubro de 2024, o sistema foi mais eficiente. Na ocasião, o Irã lançou mísseis contra Tel Aviv em retaliação à ofensiva israelense no sul do Líbano, mas o Domo de Ferro impediu danos maiores. Desde o início do conflito contra o Hamas, em outubro de 2023, o sistema também já barrou projéteis disparados de Gaza, Líbano, Síria, Iraque e Iêmen.

Sistema de três elementos

A defesa aérea israelense consiste em um sistema de três níveis. O "David's Sling" (também conhecido como a parede mágica) é responsável por barrar mísseis de médio alcance, drones e mísseis de cruzeiro. O sistema Arrow tem como alvo os mísseis de longo alcance.

Já o Domo de Ferro intercepta mísseis de curto alcance e projéteis de artilharia.

Louvado como "seguro de vida para Israel", o Domo de Ferro consiste de uma unidade de radar e um centro de controle, com a capacidade de reconhecer, logo após seu lançamento, projéteis – por exemplo, foguetes – que se aproximem voando, e de calcular sua trajetória e alvo.

O processo leva apenas segundos. O Domo também conta com baterias para lançamento de mísseis. Cada sistema possui três ou quatro delas, com lugar para 20 projéteis de defesa, os quais só são disparados quando está claro que um míssil mira uma área habitada. Eles não atingem o foguete inimigo diretamente, mas explodem em sua proximidade, destruindo-o. No entanto, a consequente queda de destroços ainda pode causar danos.

Os dez sistemas atualmente operacionais em Israel são móveis, podendo ser deslocados segundo a necessidade. Segundo a fabricante, a empresa armamentista estatal Rafael Advanced Defence Systems, uma única bateria é capaz de proteger uma cidade de tamanho médio.

90% de êxito, mas com custos altos

O "Domo de Ferro" é especializado na neutralização de projéteis de curto alcance. Como cada unidade age num raio de até 70 quilômetros, seriam necessárias 13 delas para garantir a segurança de todo o país.

De acordo com a fabricante, o sistema tem uma taxa de sucesso de 90%. Em seu site, a empresa estatal de defesa fala que mais de 5 mil projéteis já foram interceptados desde suas instação em 2011.

Cada projétil interceptador do Domo de Ferro pode custar entre 40 mil e 50 mil euros (R$ 221 mil a 277 mil), segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais dos EUA. Por este motivo, só são contidos os mísseis que cairiam em áreas habitadas.

Nova arma a laser "Iron Beam"

Em vista dos altos custos, o exército israelense quer complementar o Domo de Ferro com uma nova arma de defesa a laser, o chamado "Iron Beam".

O laser de alta energia foi projetado para destruir pequenos mísseis, drones e projéteis de morteiro. Ele também deve ser capaz de neutralizar enxames de drones.

A Iron Beam foi apresentada em fevereiro de 2014 pela Rafael Systems. A empreiteira de defesa americana Lockheed Martin também está envolvida no projeto desde 2022.

As vantagens em comparação com o "Iron Dome" são os custos menores por lançamento, um suprimento teoricamente ilimitado de munição e custos operacionais mais baixos.

Os valores variam consideravelmente: um lançamento a laser custaria até 2 mil dólares (R$ 5,5 mil). A implantação da nova tecnologia está planejada para 2025.

Short teaser Aclamado como "seguro de vida" do país, sistema teria interceptado ao menos 5 mil projéteis desde 2011.
Author Uta Steinwehr
Item URL https://www.dw.com/pt-br/como-funciona-o-domo-de-ferro-sistema-antimísseis-de-israel/a-57531509?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 40
Id 72595695
Date 2025-05-19
Title Esportes "ninja" conquistam a Alemanha
Short title Esportes "ninja" conquistam a Alemanha
Teaser

Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo

Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV estreou sua própria "Bundesliga". O chamado "playground de adultos" agrada também crianças e pode ajudar no desenvolvimento motor infantil."É como um playground gigante para nós, adultos. Todos nos divertimos muito", conta Marlies Brunner à DW, com brilho nos olhos. "Ficamos tão felizes quanto crianças por podermos praticar esse esporte." A jogadora de 23 anos viajou da Áustria para Bonn, na Alemanha, para participar da estreia da Ninja Bundesliga ("liga nacional"). Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo. Acima de tudo, os atletas precisam de força, resistência, coordenação e técnica, além de vigor mental, para chegar à linha de chegada sem cair no colchão de ar ou nos colchonetes, sendo fiel ao lema "o chão é lava". "Você voa bastante pelo ar, se sente leve e não mais preso à gravidade", explica Ouissal Touiher à DW. É completamente diferente se mover apenas com as mãos e não com os pés, diz a jovem de 20 anos. "Há muitos movimentos diferentes que tornam o esporte tão especial", afirma Brunner, que no ano passado se tornou campeã austríaca da modalidade. O que soa como algo espetacular, parece, de fato, ser. Os ninjas escalam, deslizam, balançam ou "voam" pela pista de obstáculos, com todo o peso do corpo quase que inteiramente apoiado nos dedos. "Acho admirável o quanto as mãos são capazes de suportar", diz Brunner. "Sou muito grata ao meu corpo por me permitir fazer tudo isso." Os atletas iniciam o percurso um após o outro, alguns com tanta adrenalina que chegam ao limite e falham logo no primeiro obstáculo. Um erro ao tentar agarrar um obstáculo ou uma ação desconcentrada e a competição acaba. "Parquinhos infantis são muito 'ninjas'" O atual esporte da moda, que ainda é pouco conhecido na Alemanha, cresceu rapidamente nos últimos anos e vem se tornando cada vez mais popular. Existem atualmente no país quase 1.300 ninjas que praticam essa modalidade regularmente. Muitos deles migraram de outros esportes, como o montanhismo, boulder, acrobacia ou ginástica. Há também cada vez mais crianças aderindo aos esportes ninjas e crescendo com eles. Atualmente, cerca de metade dos praticantes ativos têm menos de 16 anos. "As crianças geralmente adoram ser ativas. Os parquinhos infantis são muito 'ninjas'. Elas se balançam e escalam", explica Touiher. "Elas definitivamente deveriam frequentar mais os ginásios ninja." Steffen Moritz, um dos fundadores da Ninja Bundesliga, concorda com essa afirmação. "Quem costumava escalar ou se pendurar muito vai se lembrar daqueles tempos. As crianças sabem imediatamente o que precisam fazer no percurso", afirmou Moritz à DW. Esses movimentos, segundo diz, estão ausentes em muitas crianças hoje em dia. Isso também se confirma por dados atuais de um estudo da empresa Seguradora de Saúde do Comércio (KKH), segundo o qual, cada vez mais crianças e jovens na Alemanha sofrem de distúrbios de desenvolvimento motor. A proporção de crianças de seis a 18 anos afetadas pelo problema aumentou cerca de 64% entre 2008 e 2023. Em 2023, mais de 311.000 alunos foram diagnosticados. A causa geralmente é a falta de exercícios, de acordo com o estudo da seguradora. Os esportes ninjas podem ajudar a resolver o problema. Os organizadores estão satisfeitos com a adesão de um número cada vez maior de ninjas mais jovens à modalidade. "Queremos ser uma plataforma para esse esporte que foi inventado no Japão e tem origem em um programa de televisão", explica Moritz. Origem EM programa de TV japonês Na Alemanha, o esporte ficou conhecido através do programa de TV Ninja Warrior Germany ("Guerreiro Ninja Alemanha"). O programa, transmitido pelo canal de televisão RTL desde 2016, foi adaptado do original americano American Ninja Warrior. No entanto, o conceito de Ninja Warrior teve origem no Japão, onde foi transmitido pela primeira vez em 1997 sob o nome Sasuke. Esses programas também são muito populares no Vietnã e na Austrália. Ao longo dos anos, uma comunidade internacional de entusiastas se desenvolveu, influenciada pelos programas de TV. O desafio para Steffen Moritz e sua equipe agora é fazer com que esse "esporte televisivo" se estabeleça na Alemanha. Como dinheiro e patrocinadores ainda são escassos, muito ainda funciona através do trabalho voluntário. "Este esporte é financiado principalmente pelas taxas de inscrição que os atletas têm que pagar se quiserem participar da Bundesliga", diz Moritz. Contudo, os desenvolvimentos recentes deixam não apenas os organizadores, mas também os ninjas confiantes de que mais e mais patrocinadores acabarão tomando conhecimento do novo esporte. Jovens prevalecem na estreia da Bundesliga "O esporte progrediu enormemente. Há cada vez mais academias ninja, competições incríveis e muitos eventos como a Bundesliga Ninja na Alemanha", diz Marlies Brunner. "É possível perceber que o esporte já se tornou muito grande." É fascinante ver o quanto as crianças se divertem e o quanto elas já se saem bem no esporte, diz a austríaca. "Nós, adultos, realmente precisamos correr atrás para acompanhar." Dessa forma, não é nenhuma surpresa que Jonas Elting, o vencedor do evento de estreia da Bundesliga em Bonn, tenha apenas 17 anos.


Short teaser Modalidade esportiva que tem origem em programas de TV pode ajudar no desenvolvimento motor das crianças.
Author Thomas Klein
Item URL https://www.dw.com/pt-br/esportes-ninja-conquistam-a-alemanha/a-72595695?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Praticar esportes ninjas significa completar um percurso complexo com muitos obstáculos diferentes dentro de um determinado tempo
Image source Toni Köln/DW
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Item 41
Id 72504004
Date 2025-05-11
Title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
Short title Os adolescentes alemães perderam o amor pelo futebol?
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Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte

Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006. Federação prepara plano para resgatar interesse dos jovens pelo esporte.Na Alemanha, o entusiasmo pela participação da seleção na Copa do Mundo de 2026 contrasta com uma realidade preocupante para o esporte: desde 2006, o país perdeu quase 6 mil equipes masculinas de futebol nas categorias sub-19 e sub-17. Em resposta à crise que ameaça o futuro do futebol no país, a Federação Alemã de Futebol (DFB) vem desenvolvendo uma série de reformas estruturais coordenadas por Hannes Wolf, ex-treinador da Bundesliga – o campeonato alemão – e atual diretor de futebol juvenil da entidade. "Temos que garantir que não haja uma participação falsa, mas que os jovens realmente se envolvam", disse em uma conferência da entidade. "Se você já está no banco no sub-13 e não é bom o suficiente para se dedicar à sua paixão, então eu também diria aos meus filhos que se dediquem a outra coisa." A conferência realizado em Frankfurt reuniu 220 representantes das 21 federações regionais da Alemanha. O objetivo era construir um novo plano nacional para as categorias de base, com foco na identidade do esporte — onde a diversão precede os resultados. As propostas discutidas devem ser apresentadas até setembro, durante o Dia Nacional da Juventude da Alemanha, e testadas por federações regionais antes da adoção plena em 2026. "O futebol precisa se modernizar se quiser continuar sendo atraente para os jovens no futuro", disse Bernd Neuendorf, presidente da DFB. "Mesmo que atualmente tenhamos longas listas de espera nos clubes de muitas cidades, já não é garantido que as crianças comecem a jogar futebol e permaneçam nas categorias de base." O que vem mudando no futebol europeu O desafio enfrentado pela Alemanha não é exclusivo. Na Inglaterra, por exemplo, houve crescimento na adesão de crianças e adolescentes de 5 a 16 anos ao futebol após a pandemia da covid-19, mas a faixa de 16 a 24 anos registrou queda de 27% na participação entre 2015 e 2023, segundo levantamento da Sport England. A Federação Inglesa de Futebol (FA) respondeu com uma nova estratégia lançada em 2024. Entre as medidas, está o formato 3 contra 3 para menores de 7 anos, com estreia prevista para 2026, com o objetivo de aumentar o tempo de contato com a bola. Na Alemanha, Hannes Wolf acredita que a criatividade precisa voltar aos treinamentos. Uma das ideias é popularizar jogos em campos oficiais que simulem o estilo do futebol de rua. Pressões, custos e novas prioridades Plataformas digitais, altos custos para praticar o esporte, cronogramas excessivos e expectativas desproporcionais são apenas alguns dos obstáculos. Lesões, separações familiares e mudanças de cidade completam o quadro. Thomas Broich, diretor da categoria de base do Borussia Dortmund, alertou recentemente que o futebol juvenil pode se tornar um "grande problema cultural" para a Alemanha. Já o treinador Malte Boven, radicado em Hamburgo, observa que reformas feitas em 2019 priorizaram os mais novos, deixando os adolescentes em segundo plano — justamente os que estão mais próximos do futebol profissional. Para ele, compreender por que esta faixa etária tem desistido do esporte exige olhar para múltiplos fatores, especialmente as mudanças culturais. "Acho que o 'porquê' e o 'como' queremos jogar se tornaram mais importantes para os jogadores nos últimos anos", disse Boven à DW. "Há uma diferença social entre gerações." Confiança e estrutura como resposta Apesar de não prever uma escassez iminente de jogadores, Boven defende ajustes importantes para que o futebol continue sendo uma escolha atrativa. Isso inclui rever o modo de comunicação com atletas e pais, melhorar o acesso a instalações esportivas e ensinar os jovens a lidar com a pressão de forma conjunta com os treinadores. Ele apoia as propostas da Federação Alemã de Futebol, mas reconhece que a cultura do resultado ainda domina. "A participação é uma realidade quando se trata de vencer no futebol juvenil, especialmente em clubes amadores. Nesse caso, há uma pseudoparticipação de todos os jogadores envolvidos, porque não lhes dou a oportunidade de realmente fazer parte do jogo", pontua. "É preciso incutir neles a máxima confiança de que podem fazer isso, que merecem jogar no clube, que há um motivo para vestirem essa camisa. Porque, como treinador ou como clube, decidimos que eles joguem esse esporte, e agora nossa obrigação e responsabilidade é lhes dar tempo de jogo." Estratégias além do campo Boven também propõe alternativas para tornar o futebol mais relevante: oferecer aos jovens atletas uma "carta de desenvolvimento de habilidades" ao deixarem as categorias de base, ajudando a dar os próximos passos no mercado de trabalho. "Eu teria um incentivo completamente diferente de simplesmente me tornar um jogador profissional. Ainda quero ser, mas sei que aqui vou ter algo para mostrar pelo meu esforço", afirma. Para ele, é o futebol profissional — com sua mentalidade, cultura e influência — que mais precisa de atenção.


Short teaser Alemanha viu desaparecer quase 6 mil equipes masculinas nas categorias de base desde 2006.
Author Jonathan Harding
Item URL https://www.dw.com/pt-br/os-adolescentes-alemães-perderam-o-amor-pelo-futebol/a-72504004?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption Federação Alemã de Futebol propõe reformas para resgatar adolescentes no esporte
Image source motivio/dpa/picture alliance
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Item 42
Id 72410915
Date 2025-05-01
Title Federação inglesa vai barrar mulheres trans no futebol feminino
Short title Federação inglesa vai barrar trans no futebol feminino
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Entidade que regula futebol no país diz que nova regra segue decisão da Suprema Corte britânica, de que a definição legal de mulher é baseada somente no sexo biológico.As mulheres transgênero serão impedidas de participar em competições femininas de futebol da Inglaterra a partir de junho, anunciou a Associação de Futebol (FA) do país nesta quinta-feira (01/05), duas semanas após a Suprema Corte do Reino Unido decidir que, para fins legais, o termo "mulher" deve ser definido somente com base no sexo biológico de nascimento. A decisão da FA ocorre dois dias depois de a Associação Escocesa de Futebol (SFA) ter tomado uma decisão no mesmo sentido. Segundo o comunicado, a modificação no regulamento na Escócia entrará em vigor a partir da temporada 2025/26. "Entendemos que isto será difícil para as pessoas que querem simplesmente praticar o esporte que gostam, no gênero com o qual se identificam", indicou a inglesa FA, apontando que a decisão do Supremo a obriga a seguir esse rumo. O regulamento anterior da FA permitia que mulheres trans participassem do futebol feminino, mas isso mudará a partir de 1º de junho. "A decisão da Suprema Corte no dia 16 de abril significa que estaremos mudando nosso regulamento", disse o órgão regulador do futebol inglês em um comunicado. "As mulheres transgênero não poderão mais jogar futebol feminino na Inglaterra, e essa política será implementada a partir de 1º de junho de 2025." A associação ainda apontou que pretende contatar as mulheres transgênero federadas, a fim de lhes "explicar as mudanças" que a decisão do Supremo do Reino Unido implica e de as informar sobre a forma "como podem continuar a praticar" futebol. Segundo a rede BBC, a decisão deve afetar 20 jogadoras transgêneros registradas na Inglaterra Já a associação escocesa informou que vai "fornecer orientações sobre a forma como atualizará os regulamentos e as oportunidades de participação adequadas às mulheres transgênero, antes da entrada em vigor, no início da próxima temporada". Decisão do Supremo Em abril, a Suprema Corte do Reino Unido decidiu, por unanimidade, que "os termos 'mulher' e 'sexo', na Lei da Igualdade de 2010 [que combate a discriminação], referem-se a mulher biológica e sexo biológico". A decisão, que exclui pessoas trans dessa definição jurídica, encerrou uma longa disputa entre o grupo feminista For Women Scotland (FWS) e o governo escocês. O regramento britânico reconhece o direito de pessoas trans obterem documentos legais, como a mudança do nome social, por exemplo. Contudo, a decisão da Suprema Corte entende que uma pessoa que passou por uma transição de gênero não pode ser considerada legalmente uma mulher para fins de igualdade. Isto implica em um dos pontos mais controversos do debate – o acesso a espaços exclusivos para um gênero. Na prática, o veredicto significa que as mulheres trans podem ser excluídas de alguns espaços destinados exclusivamente para mulheres, como vestiários, abrigos para sem-teto, áreas de natação. Além de serviços médicos ou de ou de aconselhamento oferecidos somente a mulheres. Espaços e serviços exclusivos "só funcionarão corretamente se 'sexo' for interpretado como sexo biológico", apontou o Supremo. Contudo, a lei também "oferece proteção às pessoas trans contra discriminação em seu gênero adquirido", afirmou o juiz Patrick Hodge ao anunciar o veredicto. "Todo mundo sabe o que é sexo, e você não pode mudá-lo", disse Susan Smith, codiretora da FWS após a decisão. "É bom senso, puro e simples. O fato de termos ido parar em um buraco de coelho onde as pessoas tentaram negar a ciência e a realidade... esperamos que agora voltemos à realidade." jps (Reuters, Lusa, ots)


Short teaser Entidade diz que nova regra segue decisão da Justiça, de que a definição de mulher é baseada somente no sexo biológico.
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Item 43
Id 72119729
Date 2025-04-04
Title Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança
Short title Esporte no campo de concentração: entre tortura e esperança
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Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau

Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e de extermínio do nazismo. Ser um jogador ou lutador importante podia trazer privilégios e esperança, ou perseguição cruel.Os campos de concentração do nazismo eram locais de horror e morte, de tortura e humilhação para os detentos. Para esse fim, o pessoal de vigilância também os submetia regularmente a exercícios esportivos cruéis. "Os guardas mandavam os presos fazerem flexões ou saltarem, ou correrem até cair de exaustão", conta a historiadora do esporte Veronika Springmann, autora do livro Gunst und Gewalt – Sport in nationalsozialistischen Konzentrationslagern (Favoritismo e violência – Esporte nos campos de concentração nacional-socialistas). Quem estava no chão geralmente ainda era chutado e insultado: "Era realmente um ritual cotidiano." Além do esporte imposto com violência, havia atividades esportivas que os prisioneiros praticavam de forma mais ou menos espontânea. Devido às condições desumanas, submetidos a duros trabalhos forçados ou experimentos médicos macabros, para a maioria deles não era como praticar esporte como lazer. E tampouco havia lugar para tal nos campos. Além disso, havia uma hierarquia interna estrita. O fato de pertencer a um determinado grupo definia, em grande parte, as condições de prisão e, portanto, as chances de sobrevivência. Por exemplo: presos políticos ou criminosos profissionais em geral recebiam tratamento melhor do que judeus, homossexuais ou os assim chamados "antissociais". Quem estava mais no alto na hierarquia era menos maltratado pelos guardas, recebia trabalho e alojamento melhor, roupas mais quentes, tinha acesso a mais comida, estando, portanto, mais apto praticar esportes. No total, porém, o número desses privilegiados era pequeno. Entre eles estavam os "presos funcionais" (Funktionshäftlinge), designados para vigiar os companheiros e manter a ordem. Enquanto alguns se tornaram assim cúmplices do horror do sistema de concentração e extermínio, outros aproveitavam sua posição melhor para proteger outros detentos. Futebol e boxe para sobrevivência e esperança Dentro dos campos de concentração, promoviam-se regularmente partidas de futebol e lutas de boxe. Com o avançar da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1942 as condições mudaram para alguns dos prisioneiros. "A mão de obra dos internos era necessária para a indústria armamentista", explica Springmann. "Todas as firmas do setor produziam nos campos de concentração ou em instalações externas. Os que trabalhavam especialmente bem, ou que atuavam como presos funcionais, tinham permissão para organizar partidas de futebol." Assim, o número de jogos aumentou. Os times eram, em geral, divididos por nações, embora raramente tivessem 11 jogadores completos. Os detentos tentavam até mesmo providenciar uniformes. No memorial do campo de Dachau, próximo a Munique, está exposta uma taça de madeira. Organizar esses eventos também tinha a ver com esperança. "Planejamento está sempre direcionado para o futuro", lembra a historiadora do esporte. "Ou seja: eu espero que ainda vá estar viva amanhã, depois de amanhã, no próximo domingo. Isso fortalece e dá esperança. E esperança é um recurso importante para a sobrevivência" Entretanto é preciso jamais esquecer que apenas uma parcela mínima dos presos tinha permissão ou condições para participar dos jogos – que, além disso, se realizavam num ambiente em que paralelamente se torturava e assassinava. Lutando e jogando para sobreviver Enquanto para os detentos e sobreviventes do sexo masculino havia diversas opções para praticar esportes, o mesmo não se aplicava às mulheres: "Naquela época o esporte simplesmente não contava como uma prática cotidiana feminina", explica Springmann. "Mas eu partiria do princípio de que no campo de concentração de Ravensbrück, por exemplo, as prisioneiras fizessem ginástica de vez em quando. Mas elas não escreveram a respeito." Havia entre os presos também atletas profissionais, mas, como eles não eram tão presentes na imprensa como hoje em dia, muitas vezes passavam despercebidos pelos guardas dos campos de concentração. No início do século 20, Julius Hirsch era considerado um dos melhores futebolistas da Alemanha, duas vezes campeão nacional e integrante da seleção nacional entre 1911 e 1913. Por ser judeu, em março de 1943 foi deportado para Auschwitz e lá morreu. No entanto não está documentado que ele tenha sido identificado como ex-craque, ou que sequer tenha jogado lá. O boxe era um esporte importante e popular para os nazistas. Alguns profissionais foram reconhecidos nos campos de concentração ou se apresentaram quando os guardas procuravam concorrentes talentosos para as lutas que organizavam para sua própria diversão. Dois exemplos foram o polonês Antoni Czortek – participante dos Jogos Olímpicos de Berlim, em1936 – e o tunisiano Victor Perez – campeão mundial de peso-mosca em 1931 e 1932. Como judeus, ambos foram internados em Auschwitz em 1943, onde por diversas vezes tiveram que enfrentar outros detentos. Era literalmente questão de vida ou morte: o perdedor ou era abatido a tiros imediatamente ou enviado para morrer nas câmaras de gás. Assim, com ironia macabra, o boxe salvou várias vidas nos campos de concentração nazistas. Czortek só morreu em 2003, aos 89 anos; Perez sobreviveu a Auschwitz, mas não ao Holocausto: ele foi fuzilado em janeiro de 1945, numa das "marchas da morte" em que, no fim da Segunda Guerra, os presos dos campos perto do front eram transferidos de lugar, à medida que os Aliados avançavam. Para Johann "Rukeli" Trollmann, a arte do boxe não trouxe vantagens: o ex-campeão de peso-médio da Alemanha era cigano da etnia sinti, e quando seu passado veio à tona, os guardas do campo de concentração passaram a espancá-lo com frequência e crueldade extremas. Ele morreu em 1944 no campo secundário de Wittenberge: tendo vencido um dos "kapos" numa luta, foi abatido pouco mais tarde pelo perdedor, traiçoeiramente, durante os trabalhos forçados.


Short teaser Autora alemã revela o papel ambivalente dos esportes nos campos de trabalhos forçados e extermínio do nazismo.
Author Andreas Sten-Ziemons, Alima Hotakie
Item URL https://www.dw.com/pt-br/esporte-no-campo-de-concentração-entre-tortura-e-esperança/a-72119729?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/71387605_354.jpg
Image caption Futebol era um dos esportes praticados no campo de Dachau
Image source Sven Hoppe/dpa/picture alliance
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Item 44
Id 71689720
Date 2025-02-20
Title Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora
Short title Ex-cartola espanhol condenado por beijo forçado em jogadora
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Beijo de Luis Rubiales em Jennifer Hermoso na Copa do Mundo em Sydney

Antigo presidente da federação de futebol da Espanha Luis Rubiales foi condenado a pagar quase 11 mil euros por beijar atleta na boca sem consentimento na Copa de Sydney, em 2023. Ele pretende recorrer da sentença.A Justiça da Espanha condenou nesta quinta-feira (20/02) o ex-presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, a pagar 10.800 euros (R$ 64,2 mil) pelo crime de agressão sexual, por beijar a jogadora Jennifer Hermoso na boca após a conquista da Copa do Mundo em Sydney em 20 de agosto de 2023, sem o consentimento dela. Por outro lado, Rubiales foi absolvido do crime de coação sobre a jogadora para declarasse que o gesto fora consensual. O ex-técnico da seleção feminina espanhola, Jorge Vilda, e outros dois ex-diretores, Albert Luque y Rubén Rivera, também foram absolvidos de coação. Luque era diretor de futebol da seção masculina, enquanto Rivera, gerente de marketing da federação, acompanhou as jogadoras na viagem à ilha de Ibiza, no Mediterrâneo, com a qual foram premiadas pela conquista da Copa do Mundo. Restrições a contato com jogadora A decisão do juiz José Manuel Fernández-Prieto, da Audiência Nacional, onde foi realizado o julgamento, também proíbe Rubiales de se aproximar de Hermoso num raio de 200 metros e de se comunicar com ela por um ano. O Ministério Público da Audiência Nacional havia solicitado uma pena total de dois anos e seis meses de prisão para Rubiales, dos quais um ano pelo crime de agressão sexual, mais um ano e meio por coação. Por este último crime, o representante do Ministério Público também havia pedido uma pena de um ano e seis meses para os outros três acusados. O advogado de Rubiales já anunciou que recorrerá da sentença. Beijo acabou com carreira do dirigente "Rubi", como é chamado pelos amigos, era presidente da RFEF desde maio de 2018. Ele viu sua carreira desandar após a vitória da Espanha na Copa do Mundo feminina em Sydney. Em 20 de agosto de 2023, diante das câmeras, ele agarrou a cabeça de Hermoso com as duas mãos e a beijou de surpresa na boca: um ato "espontâneo", em sua opinião, mas "inapropriado" para Hermoso, que negou ter dado seu consentimento. Diante da indignação pública, Rubiales pediu demissão em setembro de 2023 e encerrou uma carreira no futebol iniciada aos 14 anos de idade, quando ingressou no clube da pequena cidade de Motril, em Andaluzia, no sul da Espanha. Nascido em Las Palmas há 47 anos, Luis Manuel Rubiales Béjar iniciou uma carreira discreta nas divisões inferiores antes de pendurar as chuteiras na Escócia com o Hamilton Academical em 2009. Escândalos Extrovertido e franco, Rubiales foi cercado por escândalos durante seu período à frente da RFEF. Ele causou alvoroço ao demitir o técnico da seleção espanhola Julen Lopetegui dois dias antes do início da Copa do Mundo de 2018. Reeleito em 2020, transferiu a Supercopa da Espanha para a Arábia Saudita, num contrato controverso que foi examinado pelo Judiciário por suspeita de corrupção e acordos irregulares durante seu mandato. Ele chegou a ser detido no contexto do caso, que também envolve o ex-jogador do FC Barcelona Gerard Piqué, cuja empresa teria recebido uma comissão de 1 milhão de dólares para intermediar o acordo com Riad. Rubiales negou qualquer irregularidade. Mas o ex-cartola é também reconhecido por ter aumentado a renda e o patrocínio da federação, e procurado melhorar as condições do futebol juvenil, o que lhe rendeu o apoio das federações regionais. Ele também multiplicou o orçamento para o futebol feminino, embora tenha enfrentado a "rebelião das 15" que exigia melhorias estruturais e teve apoio de Jenni Hermoso. Desde que caiu em desgraça, Rubiales tem vivido discretamente na cidade andaluza de Granada como “só mais um vizinho”, segundo a mídia espanhola. md/av (EFE, AFP)


Short teaser Ex-chefe da federação de futebol condenado a pagar 11 mil euros por beijar atleta anuncia que recorrerá da sentença.
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Item 45
Id 64814042
Date 2023-02-25
Title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
Short title Qual ainda é o real poder dos oligarcas ucranianos?
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O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia

UE condicionou adesão da Ucrânia ao bloco ao combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência dos oligarcas na política.Durante uma visita a Bruxelas em 9 de fevereiro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que Kiev espera que as negociações sobre a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE) comecem ainda em 2023. O bloco salientou, porém, que essa decisão depende de reformas a serem realizadas no país, como o combate à corrupção. Para isso, é necessário reduzir a influência dos oligarcas na política ucraniana. A chamada lei antioligarca, aprovada em 2021 e que pretende atender a esse requisito, está sendo examinada pela Comissão de Veneza – um órgão consultivo do Conselho da Europa sobre questões constitucionais –, que deverá apresentar as conclusões em março. Lei antioligarca De acordo com a lei, serão considerados oligarcas na Ucrânia quem preencher três dos quatro seguintes critérios: possuir um patrimônio de cerca de 80 milhões de dólares; exercer influência política; ter controle sobre a mídia; ou possuir um monopólio em um setor econômico. Aqueles que entrarem para o registro de oligarcas não podem financiar partidos políticos, ficam impedidos de participar de grandes privatizações e devem apresentar uma declaração especial de imposto de renda. Durante décadas, a política ucraniana girou em um círculo vicioso de corrupção política: os oligarcas financiaram – principalmente de forma secreta – partidos para, por meios de seus políticos, influenciar leis ou regulamentos que maximizariam seus lucros. Por exemplo, era mais lucrativo garantir que os impostos do governo sobre a extração de matérias-primas ou o uso de infraestrutura permanecessem baixos do que investir na modernização de indústrias. Entretanto, a lei antioligarca já surtiu efeitos. No verão passado, o bilionário Rinat Akhmetov foi o primeiro a desistir das licenças de transmissão de seu grupo de mídia. O líder do partido Solidariedade Europeia, o ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko, também perdeu oficialmente o controle sobre seus canais de TV. E o bilionário Vadim Novinsky renunciou ao seu mandato de deputado. Guerra dilacerou fortunas de oligarcas ucranianos A destruição da indústria ucraniana após a invasão russa reduziu a riqueza dos oligarcas. Em um estudo publicado no final de 2022, o Centro para Estratégia Econômica (CEE), em Kiev, estimou as perdas dos oligarcas em 4,5 bilhões de dólares. Rinat Akhmetov foi o mais impacto: com a captura de Mariupol pelas tropas russas, sua empresa Metinvest Holding perdeu a importante siderúrgica Azovstal e mais um outro combinat. O CEE estima o valor das plantas industriais em mais de 3,5 bilhões de dólares. Além disso, a produção na usina de coque de Akhmetov – localizada em Avdiivka, perto de Donetsk, avaliada em 150 milhões de dólares – foi paralisada devido a danos causados ​​por ataques russos. Os bombardeios do Kremlin também destruíram muitas instalações das empresas de energia de Akhmetov, especialmente usinas termelétricas. Devido à guerra, especialistas da revista Forbes Ucrânia estimam as perdas de Akhmetov em mais de 9 bilhões de dólares. No entanto, ele ainda lidera a lista dos ucranianos mais ricos, com uma fortuna de 4 bilhões de dólares. Já Vadim Novinsky, sócio de Akhmetov na Metinvest Holding, perdeu de 2 bilhões de dólares. Antes da guerra, sua fortuna era estimada em 3 bilhões de dólares. Kolomojskyj: sem passaporte ucraniano e refinaria de petróleo A fortuna do até recentemente influente oligarca Igor Kolomojskyj também diminuiu drasticamente. No ano passado, ataques russos destruíram sua principal empresa, a refinaria de petróleo Kremenchuk, e o CEE estima os danos em mais de 400 milhões de dólares. Kolomoiskyi, juntamente com seu sócio Hennady Boholyubov, controlava uma parte significativa do mercado ucraniano de combustíveis. Eles eram donos, inclusive, da maior rede de postos de gasolina do país. Por meio de sua influência política, Kolomojskyj conseguiu por muitos anos controlar a administração da petroleira estatal Ukrnafta, na qual possuía apenas uma participação minoritária. O controle da maior petrolífera do país, da maior refinaria e da maior rede de postos de gasolina lhe garantia grandes lucros. A refinaria foi destruída, e o controle da Ukrnafta e da refinaria de petróleo Ukrtatnafta foi assumido pelo Estado durante o período de lei marcial. O oligarca, que também possui passaportes israelense e cipriota, perdeu ainda a nacionalidade ucraniana, já que apenas uma cidadania é permitida na Ucrânia. Ele ainda responde a um processo por possíveis fraudes na Ukrnafta, na casa dos bilhões. Dmytro Firtash – que vive há anos na Áustria – é outro oligarca sob investigação. Ele também é conhecido por sua grande influência na política ucraniana. Neste primeiro ano de guerra, ele também perdeu grande parte de sua fortuna. Sua fábrica de fertilizantes Azot, em Sieveirodonetsk, que foi ocupada pela Rússia, foi severamente danificada pelos combates. O CEE estima as perdas em 69 milhões de dólares. Não existem mais oligarcas ucranianos? Os oligarcas perderam recursos essenciais para influenciar a política ucraniana, afirmou Dmytro Horyunov, um especialista do CEE. "Os investimentos na política estão se tornando menos relevantes", disse e acrescentou que espera que a lei antioligarca obrigue as grandes empresas a abrir mão de veículos de imprensa e de um papel na política. Ao mesmo tempo, Horyunov não tem ilusões: muito pouco tem sido feito para eliminar completamente a influência dos oligarcas na política ucraniana. "Enquanto tiverem bens, eles farão de tudo para protegê-los ou aumentá-los". De acordo com os especialistas do CEE, os oligarcas tradicionalmente defendem seus interesses por meio do sistema judicial. Desde 2014, a autoridade antimonopólio da Ucrânia impôs multas de mais de 200 milhões de dólares às empresas de Rinat Akhmetov e dezenas de milhões de dólares às companhias de Ihor Kolomoiskyi e Dmytro Firtash por abuso de posição dominante. Todas essas multas foram contestadas no tribunal, e nenhuma foi paga até o momento, disse o CEE. Apesar de alguns oligarcas terem renunciado formalmente a empresas de comunicação, Ihor Feschtschenko, do movimento "Chesno" (Honesto), duvida que as grandes empresas ficarão de fora das eleições após o fim da guerra. "Acho que a primeira coisa que veremos por parte dos oligarcas é a criação de novos canais de TV e, ao mesmo tempo, partidos políticos ligados a eles", avalia Feshchenko. Ele salienta que, para bloquear o fluxo de fundos não transparentes para as campanhas eleitorais é necessário implementar a legislação sobre partidos políticos. Os especialistas do CEE esperam que, durante o processo de integração à UE, grandes investidores europeus se dirijam à Ucrânia. Ao mesmo tempo, eles apelam às instituições financeiras internacionais, de cuja ajuda a Ucrânia agora depende extremamente, para vincular o apoio a Kiev a progressos no processo de desoligarquização e apoiar as empresas que competiriam com os oligarcas.


Short teaser UE condiciona adesão da Ucrânia ao bloco a combate à corrupção. Para isso, país precisa reduzir influência de oligarcas.
Author Eugen Theise
Item URL https://www.dw.com/pt-br/qual-ainda-é-o-real-poder-dos-oligarcas-ucranianos/a-64814042?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Image caption O oligarca ucraniano Rinat Akhmetov sofreu a maior perda após a Rússia invadir a Ucrânia
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Item 46
Id 64820664
Date 2023-02-25
Title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
Short title Mortos em terremoto na Turquia e na Síria passam de 50 mil
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Turquia registrou a grande maioria dos mortos: mais de 44 mil

De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos. Prefeito de Istambul diz ser necessário até 40 bilhões de dólares para se preparar para possível novo grande tremor.Duas semanas e meia após o terremoto de 7,8 de magnitude na área de fronteira turco-síria, o número de mortos aumentou para mais de 50 mil, informaram as autoridades dos dois países nesta sexta-feira (24/02). A Turquia registrou 44.218 mortes, de acordo com a agência de desastres turca Afad, e a Síria reportou ao menos 5,9 mil mortes. Nos últimos dias, não houve relatos de resgate de sobreviventes. Tremores secundários continuam a abalar a região. Neste sábado (25/02), um tremor de magnitude 5,5 atingiu o centro da Turquia, informou o Centro Sismológico Euro-Mediterrânico, a uma profundidade de 10 quilômetros. O observatório sísmico de Kandilli disse que o epicentro foi localizado no distrito de Bor, na província de Nigde, que fica a cerca de 350 quilômetros a oeste da região atingida pelo grande tremor de 6 de fevereiro. Graves incidentes e vítimas não foram reportados após o tremor deste sábado. Segundo a Turquia, nas últimas três semanas, foram mais de 9,5 mil tremores secundários e a terra chegou a tremer, em média, a cada quatro minutos. De acordo com o governo turco, 20 milhões de pessoas no país são afetadas pelos efeitos do terremoto. As Nações Unidas estimam que na Síria sejam 8,8 milhões de pessoas afetadas. Turquia começa reconstrução As autoridades turcas começaram a construir os primeiros alojamentos para os desabrigados. O trabalho de escavação de terra está em andamento nas cidades de Nurdagi e Islahiye, na província de Gaziantep, escreveu no Twitter o ministro do Meio Ambiente, Planejamento Urbano e Mudança Climática, Murat Kurum. Inicialmente, estão previstos 855 apartamentos. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan prometeu a reconstrução em um ano. Críticos alertam que erguer prédios tão rapidamente pode fazer com que a segurança sísmica dos edifícios seja negligenciada novamente. A oposição culpa o governo de Erdogan, que está no poder há 20 anos, pela extensão do desastre porque não cumpriu os regulamentos de construção. Também neste sábado, o ministro da Justiça turco, Bekir Bozdag, disse que pelo menos 184 pessoas foram detidas por suposta negligência em relação a prédios desabados após os terremotos. Entre eles, estão empreiteiros e o prefeito do distrito de Nurdagi, na província de Gaziantep. Até agora, o Ministério do Planejamento Urbano inspecionou 1,3 milhão de edifícios, totalizando mais de meio milhão de residências e escritórios, e relatou que 173 mil propriedades ruíram ou estão tão seriamente danificadas que precisam ser demolidas imediatamente. Ao todo, quase dois milhões de pessoas tiveram de abandonar suas casas, demolidas ou danificadas pelos tremores, e vivem atualmente em tendas, casas pré-fabricadas, hotéis, abrigos e diversas instituições públicas, detalhou um comunicado do Afad. Cerca de 528 mil pessoas foram evacuadas das 11 províncias listadas como regiões afetadas, acrescentou o comunicado do serviço de emergência, enquanto 335 mil tendas foram montadas nessas áreas e 130 núcleos provisórios de casas pré-fabricadas estão sendo instalados. Em março e abril começará a construção de 200 mil novas casas, prometeu o ministério turco. Estima-se que o terremoto de 6 de fevereiro tenha custado à Turquia cerca de 84 bilhões de dólares. Na Síria, o noroeste é particularmente atingido pelos efeitos do tremor. Há poucas informações sobre o país devastado pela guerra. Diante de anos de bombardeios e combates, muitas pessoas ali já viviam em condições precárias antes dos tremores. Istambul precisa de 40 bilhões de dólares Enquanto isso, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, disse a cidade, que fica perto de uma grande falha geológica, precisa de um programa urgente de urbanização no valor de "cerca de 30 bilhões a 40 bilhões de dólares" para se preparar para um possível novo grande terremoto. "A quantia é três vezes maior do que o orçamento anual da cidade de Istambul, mas precisamos estar prontos antes que seja tarde demais", disse Imamoglu a um conselho científico. De acordo com um relatório de 2021 do observatório sísmico de Kandilli, um potencial terremoto de magnitude superior a 7,5 danificaria cerca de 500 mil edifícios, habitados por 6,2 milhões de pessoas, cerca de 40% da população da cidade, a mais populosa da Turquia. Istambul fica ao lado da notória falha geológica do norte da Anatólia. Um grande terremoto em 1999 que atingiu a região de Mármara, incluindo Istambul, matou mais de 18 mil. le (EFE, DPA, Reuters, ots)


Short teaser De acordo com autoridades turcas, 173 mil prédios ruíram ou precisam ser demolidos.
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Item 47
Id 64819106
Date 2023-02-25
Title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
Short title UE impõe 10° pacote de sanções contra a Rússia
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"Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos", disse Ursula von der Leyen,

Medidas incluem veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra firmas iranianas que fornecem drones a Moscou. Mais de 100 indivíduos e entidades russas são afetados.A União Europeia prometeu aumentar a pressão sobre Moscou "até que a Ucrânia seja libertada", ao adotar neste sábado (25/02) um décimo pacote de sanções contra a Rússia, acordado pelos líderes do bloco no dia anterior, que marcou o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia. O conjunto de medidas inclui veto à exportação de tecnologia militar e, pela primeira vez, retaliações contra empresas iranianas que fornecem drones a Moscou. "Agora temos as sanções de maior alcance de todos os tempos – esgotando o arsenal de guerra da Rússia e mordendo profundamente sua economia", disse a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, através do Twitter, acrescentando que o bloco está aumentando a pressão sobre aqueles que tentam contornar as sanções da UE. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, alertou que o bloco continuará a impor mais sanções contra Moscou. "Continuaremos a aumentar a pressão sobre a Rússia – e faremos isso pelo tempo que for necessário, até que a Ucrânia seja libertada da brutal agressão russa", disse ele em comunicado. Restrições adicionais são impostas às importações de mercadorias que geram receitas significativas para a Rússia, como asfalto e borracha sintética. Os Estados-membros da UE aprovaram as sanções na noite de sexta-feira, depois de uma agitada negociação, que foi travada temporariamente pela Polônia. Acordo após mais de 24 horas de reuniões As negociações entre os países da UE ficaram estagnadas durante a discussão sobre o tamanho das cotas de borracha sintética que os países poderão importar da Rússia, uma vez que a Polônia queria reduzi-las, mas finalmente houve o acordo, após mais de 24 horas de reuniões. "Hoje, a UE aprovou o décimo pacote de sanções contra a Rússia" para "ajudar a Ucrânia a ganhar a guerra", anunciou a presidência sueca da UE, em sua conta oficial no Twitter. O pacote negociado "inclui, por exemplo, restrições mais rigorosas à exportação de tecnologia e produtos de dupla utilização", medidas restritivas dirigidas contra indivíduos e entidades que apoiam a guerra, propagandeiam ou entregam drones usados pela Rússia na guerra, e medidas contra a desinformação russa", listou a presidência sueca. Serão sancionados, concretamente, 47 componentes eletrônicos usados por sistemas bélicos russos, incluindo em drones, mísseis e helicópteros, de tal maneira que, levando em conta os nove pacotes anteriores, todos os produtos tecnológicos encontrados no campo de batalha terão sido proibidos, de acordo com Ursula von der Leyen. O comércio desses produtos, que as evidências do campo de batalha sugerem que Moscou está usando para sua guerra, totaliza mais de 11 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões), segundo autoridades da UE. Sanções contra firmas iranianas Também foram incluídas, pela primeira vez, sete empresas iranianas ligadas à Guarda Revolucionária que fabricam os drones que Teerã está enviando a Moscou para bombardear a Ucrânia. As novas medidas abrangem mais de 100 indivíduos e empresas russas, incluindo responsáveis pela prática de crimes na Ucrânia, pela deportação de crianças ucranianas para a Rússia e oficiais das Forças Armadas russas. Todos eles terão os bens e ativos congelados na UE e serão proibidos de entrar no território do bloco. O décimo pacote novamente foca na necessidade de evitar que tanto a Rússia como os oligarcas contornem as sanções, tendo sido acordado considerar a utilização de bens do Banco Central russo congelados na UE para a reconstrução da Ucrânia. No entanto, vários países têm dúvidas jurídicas sobre a possibilidade de utilizar esses recursos para a reconstrução e pedem o máximo consenso internacional. md (EFE, Reuters, AFP)


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Item 48
Id 64816115
Date 2023-02-24
Title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
Short title Zelenski quer América Latina envolvida em processo de paz
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Zelenski fez declaração em coletiva de imprensa que marcou um ano da guerra na Ucrânia

Presidente ucraniano propõe cúpula com os países da região e diz ter convidado Lula para ir a Kiev. Ele diz ainda que nações da África, além de China e Índia, deveriam se sentar na mesa de negociações.O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou nesta sexta-feira (24/02) que deseja que países da América Latina e África, além da China e Índia, façam parte de um processo de paz para o fim da guerra com a Rússia. A declaração foi feita durante uma coletiva de imprensa para veículos internacionais que marcou um ano da invasão russa na Ucrânia. Buscando fortalecer os laços diplomáticos, Zelenski propôs a realização de uma cúpula com os líderes latino-americanos. "É difícil para mim deixar o país, mas eu viajaria especialmente para essa reunião", destacou. Ao manifestar a intenção de reforçar os contatos bilaterais, Zelenski citou especificamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser questionado por um jornalista brasileiro. "Eu lhe mandei [a Lula] convites para vir à Ucrânia. Realmente espero me encontrar com ele. Gostaria que ele me ajudasse e apoiasse com uma plataforma de conversação com a América Latina", disse Zelenski. "Estou realmente interessado nisso. Estou esperando pelo nosso encontro. Face a face vou me fazer entender melhor." Nesta sexta-feira, Lula voltou a defender uma iniciativa de "países não envolvidos no conflito" para promover as negociações de paz. "No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz", escreveu o presidente brasileiro no Twitter. Estreitar laços O presidente ucraniano destacou ainda que seu governo começou a abrir novas embaixadas na América Latina e África, onde alguns países continuam mantendo boas relações com a Rússia e se recusam a condenar a guerra. Zelenski ressaltou ainda que Kiev deve tomar medidas para construir relações com os países africanos. "A Ucrânia deve dar um passo à frente para se encontrar com os países do continente africano", declarou. Ele propôs também organizar uma cúpula com "países de todos os continentes" após Kiev ter recebido um apoio generalizado na Assembleia Geral da ONU, que na quinta-feira aprovou uma resolução sobre o fim das hostilidades e a retirada das tropas russas do território ucraniano. Ele disse que essa reunião deve ocorrer num país "que seja capaz de reunir o maior número possível de países do mundo". O presidente ucraniano aludiu indiretamente às abstenções registradas durante essa votação, incluindo a China e a Índia, e disse que o seu governo trabalha "para transformar essa neutralidade num estatuto de não-neutralidade diante a guerra". Proposta da China Apesar de ter manifestado algum ceticismo, Zelenski saudou alguns elementos do "plano de paz" apresentado pela China e disse esperar que a posição da liderança chinesa evolua no sentido de exigir que a Rússia respeite os princípios básicos do direito internacional, no qual se incluem a soberania e a integridade territorial dos países. "Pelo menos, a China começou a falar conosco, nos chamou de 'país invadido' e julgo que isso é bom. Mas a China não é propriamente pró-ucraniana e temos que ver que atos seguirão as palavras", afirmou. Ele também destacou ser promissor a China estar pensando em intermediar a paz, mas reiterou que qualquer plano que não incluir a retirada total das tropas russas de territórios ucranianos é inaceitável para Kiev. cn/bl (Reuters, AFP, Efe)


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Item 49
Id 64811757
Date 2023-02-24
Title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Short title "Plano de paz" chinês deixa mais dúvidas do que respostas
Teaser Desde que o principal diplomata da China, Wang Yi, anunciou um plano de Pequim para um acordo político sobre a Ucrânia, surgiram especulações sobre seu papel na resolução da guerra. O plano foi agora divulgado.

Durante a Conferência de Segurança de Munique na semana passada, o representante máximo da diplomacia chinesa, Wang Yi, anunciou a proposta de Pequim de um "plano de paz" para resolver a guerra na Ucrânia por meios políticos.

Nesta sexta-feira (24/02), no aniversário de um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou a proposta de 12 pontos. Entre eles, estão críticas às sanções unilaterais do Ocidente e apelos para retomar as negociações de paz e reduzir os riscos estratégicos associados às armas nucleares.

Por muito tempo, a China relutou em assumir um papel ativo no conflito, preferindo apresentar-se como neutra e ignorar os apelos de países do Ocidente para pressionar a Rússia.

Faz sentido, tendo em vista que a China é uma das principais beneficiárias das sanções contra a Rússia. Devido ao isolamento internacional de Moscou, a China ganhou forte influência sobre os suprimentos russos de energia e seus preços. Em 2022, as exportações chinesas para a Rússia aumentaram 12,8%, enquanto as importações, incluindo recursos naturais, cresceram 43,4%.

No entanto, os impactos negativos da guerra estão lentamente superando os ganhos de curto prazo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a China está considerando fornecer armas letais à Rússia. O suposto apoio de Pequim a Moscou já resultou em controles de exportação mais rígidos e restrições a investimentos do Ocidente.

Análises sugerindo que o que acontece hoje na Ucrânia pode ser repetido no futuro pela China em relação a Taiwan também provocam preocupação no Ocidente e afetam as relações com os EUA e a União Europeia (UE), os maiores parceiros comerciais de Pequim.

"A Rússia não ajudou Pequim ao despertar o mundo para essa ameaça antes que Pequim estivesse pronta para empreender uma possível invasão de Taiwan", disse à DW Blake Herzinger, membro não residente do American Enterprise Institute especialista na política de defesa do Indo-Pacífico.

A proposta da China para a guerra na Ucrânia

Até a divulgação nesta sexta-feira, os detalhes do plano chinês estavam sendo mantidos em sigilo. Wang Yi apresentou os pontos-chave ao ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em Munique. No entanto, nem Kuleba nem o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, viram o texto da proposta.

Após a conferência em Munique, Wang Yi visitou a Rússia e se reuniu com várias autoridades de alto escalão, incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. Embora Wang Yi estivesse na Rússia apenas dois dias antes da divulgação do documento, Moscou informou que não houve negociações sobre o chamado "plano de paz da China" e que o lado chinês apenas expressou vontade de desempenhar um papel "construtivo" no conflito.

No documento divulgado nesta sexta-feira pelo Ministério das Relações Exteriores da China, o foco principal é na soberania e integridade territorial. No entanto, a China não especifica como essa questão, fundamental tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia, deve ser abordada.

"A China defende da boca para fora a integridade territorial, mas não pediu à Rússia para parar com sua guerra ilegal de conquista e retirar suas tropas", disse à DW Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute, à DW.

Ao contrário de muitas expectativas, o plano também não pediu a interrupção do fornecimento de armas à Ucrânia.

O documento menciona o diálogo e as negociações como a única solução viável para a crise. Atualmente, porém, as conversas entre Rússia e Ucrânia têm se resumido à troca de prisioneiros e a raros contatos informais.

"Para ser bem-sucedida, a mediação de paz precisa da disposição das partes em conflito", disse à DW Artyom Lukin, professor da Universidad Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok, na Rússia.

"No entanto, agora há poucos sinais de que Moscou e Kiev estejam interessadas em chegar a um acordo. Moscou ainda está determinada a se apossar de todas as regiões de Donetsk e Lugansk, mantendo o controle sobre as áreas das regiões de Zaporíjia e Kherson que foram tomadas pelas forças russas em 2022. Kiev parece determinada a expulsar a Rússia do Donbass, de Zaporíjia e Kherson, e talvez ir atrás da Crimeia em seguida. É difícil imaginar como as posições de Rússia e Ucrânia possam chegar a um ponto comum no momento", acrescentou.

Mediador duvidoso

Além disso, o papel da China como mediadora no conflito parece duvidoso, uma vez que o país não atua como um ator imparcial. No ano passado, a China intensificou os laços políticos, militares e econômicos com a Rússia. Na proposta desta sexta-feira, Pequim, mais uma vez, opôs-se a "sanções unilaterais não autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU", o que claramente se refere às sanções do Ocidente a Moscou.

Além disso, o presidente chinês, Xi Jinping, não se encontrou ou ligou para Zelenski nem uma vez, apesar de manter contato regular com Putin.

"É tolice acreditar que uma parte que está envolvida com um dos lados, neste caso a China do lado da Rússia, possa desempenhar o papel de mediador. Da mesma forma, a Europa não poderia ser um mediador porque está firmemente no lado de Kiev", disse Benner.

Campanha de relações públicas sem riscos

A proposta da China parece ser em grande parte uma declaração de princípios, e não uma solução prática.

"O que me impressionou em particular é o fato de que não há propostas para incentivar ou influenciar Moscou na direção de uma mudança de comportamento", disse à DW Ian Chong, cientista político da Universidade Nacional de Cingapura.

"Não há nenhuma pressão ou e não há nenhuma oferta que possa beneficiar a Rússia caso ela cumpra o proposto. Apenas na linguagem da declaração, não está claro por que haveria um incentivo para a Rússia, e não está claro por que haveria um incentivo para a Ucrânia, se não há um motivo para a Rússia parar a invasão em primeira instância", destacou.

"Acho que a China está fazendo isso apenas como objetivo de relações públicas. Esse 'plano de paz' e falar de si mesmo como mediador é sobretudo uma ferramenta retórica que Pequim usa, em um esforço para reparar as relações com a Europa e melhorar o diálogo com o resto do mundo, bem como para apoiar a mensagem de que os Estados Unidos é o culpado pela guerra e que a China, na verdade, é uma força pela paz", afirma Benner.

Outros pontos da proposta

O texto pede ainda um cessar-fogo, proteção para prisioneiros de guerra e cessação de ataques a civis, sem dar mais detalhes, além de defender a manutenção da segurança das centrais nucleares e dos acordos para facilitar a exportação de cereais.

A proposta também condena a "mentalidade de Guerra Fria", um termo usado frequentemente pela China quando se refere aos Estados Unidos ou à Otan. "A segurança de uma região não deve ser alcançada pelo fortalecimento ou expansão de blocos militares", diz a proposta.

"O tom básico e a mensagem fundamental da política são bastante pró-Rússia", afirmou o professor de política externa chinesa e segurança internacional da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, Li Mingjiang.

Short teaser Pequim divulgou seu esperado plano de 12 pontos para um acordo político sobre a Ucrânia.
Author Alena Zhabina
Item URL https://www.dw.com/pt-br/plano-de-paz-chinês-deixa-mais-dúvidas-do-que-respostas/a-64811757?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 50
Id 64811407
Date 2023-02-24
Title Volodimir Zelenski, o presidente subestimado por Vladimir Putin
Short title Zelenski, o presidente subestimado por Putin
Teaser Um ano após a invasão russa, a Ucrânia continua resistindo. A resiliência de Kiev deve-se também ao presidente Volodimir Zelenski, que surpreendeu todos – especialmente o país agressor.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, detém um recorde mundial: nenhum outro chefe de Estado fez pronunciamentos diários durante um período tão longo. Os discursos de Zelenski acontecem há um ano – diariamente.

As mensagens em vídeo do presidente ucraniano, gravadas alternadamente em seu escritório ou num bunker, são sua crônica da guerra. Documentam como o país – e ele mesmo – mudaram depois da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022.

No dia anterior, poucas horas antes do ataque russo à Ucrânia, Zelenski gravou uma mensagem especial. Dirigiu-se aos seus compatriotas, principalmente aos cidadãos russos, tentando impedir a ameaça de guerra. Pediu protestos na Rússia, e soou o alarme. "Se formos atacados, se tentarem tomar nosso país, nossa liberdade, nossa vida e a vida dos nossos filhos, vamos nos defender", disse Zelenski, em russo.

Foi a última vez em que ele, então com 44 anos, foi visto com a barba feita e vestindo terno e gravata. "Com um ataque, vocês verão os nossos rostos, não as nossas costas!".

"Preciso de munição, não de carona"

Depois da invasão, Zelenski e seu governo ficam na capital, Kiev – mesmo com o avanço das tropas russas na periferia da cidade. A atitude surpreendeu. Especialmente o presidente russo, Vladimir Putin, parecia apostar na fuga de Zelenski para o oeste da Ucrânia, ou o exterior. Teria havido ofertas ao mandatário ucraniano nesse sentido.

A resposta de Zelenski, divulgada pela agência de notícias AP, já se tornou lendária: "Preciso de munição, não de carona". Não é possível verificar se Zelenski formulou a frase exatamente desse jeito. Mas a mensagem foi passada, e Zelenski conquistou muitas simpatias no plano internacional, além de fortalecer o espírito de combate dos ucranianos.

A mensagem também simboliza uma reviravolta de 180 graus na atitude do presidente ucraniano. Semanas antes, seu comportamento foi motivo de especulação. Quando serviços secretos do Ocidente e chefes de Estado e de governo alertaram contra uma invasão russa iminente e retiraram pessoal das embaixadas internacionais em Kiev, Zelenski reagiu com impaciência, desconfiança e críticas. Mais tarde, explicou que queria evitar pânico. A invasão russa, porém, mudou tudo.

Câmeras, as armas mais poderosas de Zelenski

Em seu pronunciamento de 24 de fevereiro de 2022, o primeiro dia da guerra, o presidente ucraniano usava uma camiseta verde-oliva. Até hoje, a vestimenta militar permanece sua marca, assim como a barba de três dias. É assim que o mundo o conhece, é assim que ele aparece em inúmeras entrevistas e manchetes da imprensa mundial. O uniforme também foi usado durante cerimônia em homenagem aos soldados mortos no conflito e que marcou o primeiro ano da guerra nesta sexta-feira (24/02) na praça em frente à Catedral de Santa Sofia em Kiev, diante do monumento de domo verde e dourado que simboliza a resistência da capital ucraniana.

No segundo dia da guerra, Zelenski gravou um dos seus vídeos mais importantes e mais conhecidos. As imagens com duração de meio minuto mostram Zelenski em seu gabinete à noite, diante da sede da Presidência, em Kiev. A mensagem principal: "Todos estamos aqui, ficaremos e lutaremos".

No início do conflito, Zelenski ainda se mostrou disposto a concessões, a exemplo da entrada desejada pela Ucrânia na aliança militar altântica Otan. Mas, depois da divulgação dos primeiros massacres perpetrados pelo Exército russo e da anexação ilegal de regiões pró-russas da Ucrânia por Moscou, ele rechaçou quaisquer compromissos. E sabia que a maioria da população concordava com ele – um presidente ainda altamente popular na Ucrânia devido à conexão diária com os cidadãos do país via mensagens de vídeo.

Como presidente numa guerra, Zelenski aposta naquilo que domina melhor: a comunicação. A câmera tornou-se sua arma mais poderosa. O mandatário ucraniano grava vídeos na capital, dissemina confiança, passa a impressão de proximidade com as pessoas e encontra as palavras certas.

Além disso, viajou diversas vezes para o front, encontrou soldados na cidade libertada de Izium, no nordeste do país, ou em Bakhmut, no leste, cercada pelos russos. Em alguns discursos por vídeo, são inseridas imagens das cidades destruídas pelo Exército russo. Seus índices de popularidade, em declínio vertiginoso antes da invasão russa, triplicaram desde o início da guerra e, atualmente, oscilam entre 80% e 90% de aprovação.

Putin não levou Zelenski a sério

Muitos observadores se perguntam como Zelenski pôde ser tão subestimado pelo presidente russo, Vladimir Putin.

A resposta está no passado do presidente ucraniano. Zelenski não é político de carreira, e sua vitória na eleição de 2019 foi uma surpresa. Antes de se candidatar a presidente, era um comediante, ator e produtor de sucesso. Chegou até a se apresentar no palco para o ex-presidente russo Dmitri Medvedev durante uma visita à Ucrânia.

Sua ascensão política tem paralelos com a série satírica de TV Servidor do Povo, na qual Zelenski interpretava o papel de um professor que, mais tarde, se torna chefe de Estado.

Por esse motivo, a liderança russa não levou Zelenski a sério e, depois, ficou irritada pelo fato de ele não querer fazer maiores concessões como presidente.

Como comediante que fala russo, Zelenski chegou a tirar sarro frequentemente do modo de vida ucraniano e também de políticos pró-Ocidente no país. Por outro lado, pegava bastante leve com o ex-presidente pró-russo Viktor Yanukovitch. Zelenski também tinha ligações estreitas com a Rússia e ganhou dinheiro se apresentando no país até depois da anexação da Península da Crimeia em 2014 – algo que incomodou bastante seus compatriotas.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, porém, mudou tudo. Os críticos de Zelenski silenciaram, e ele conquistou muitos céticos ao permanecer em Kiev em vez de fugir.

Essa determinação pode ter relação com sua educação. Filho privilegiado de um professor universitário, Zelenski cresceu em Kryvyi Rih, cidade industrial da classe trabalhadora no sudeste da Ucrânia. Porém, sua geração viveu os duros anos finais da União Soviética. A experiência lhes ensinou a não fugir de conflitos.

Quando Putin atacou a Ucrânia, Zelenski pôde recorrer a essa vivência. O presidente russo subestimou seu homólogo e o tratou como um político fraco e sem experiência que acreditava ser fácil de derrotar.

Nem tudo é fácil

Isso não quer dizer, no entanto, que tudo sempre foi fácil para Zelenski. Seu governo cometeu erros: alguns líderes políticos foram forçados a deixar seus cargos, e amigos próximos do presidente ucraniano perderam seus postos.

Zelenski também causou irritação internacional quando afirmou, em novembro passado, que um míssil russo tinha atingido território polonês, matando duas pessoas – porém, de acordo com relatórios dos Estados Unidos, o míssil provavelmente foi disparado por uma bateria anti-aérea ucraniana.

O incidente representou, porém, uma discórdia rara entre aliados. Acima de tudo, Zelenski considera o uso da mídia para atrair atenção para seu país como sua principal tarefa. Repetidamente, apelou a políticos do Ocidente pedindo – ou, na opinião de alguns, implorando – por armas. Na maior parte dos casos, Zelenski teve sucesso, já que o Ocidente vem enviando mais armamentos à Ucrânia.

Zelenski também detém o recorde mundial de pronunciamentos em vídeo em conferências e parlamentos ao redor do mundo. Sua aparição mais recente foi uma transmissão para as estrelas reunidas para a abertura do festival de filmes de Berlim, a Berlinale, na última semana.

Short teaser Um ano após invasão russa, resistência da Ucrânia deve-se também ao presidente Zelenski, que surpreendeu os agressores.
Author Roman Goncharenko
Item URL https://www.dw.com/pt-br/volodimir-zelenski-o-presidente-subestimado-por-vladimir-putin/a-64811407?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
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Item 51
Id 64810396
Date 2023-02-24
Title Após um ano de guerra na Ucrânia: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Short title Após 1 ano de guerra: Por que sofremos fadiga por compaixão?
Teaser

Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia

Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia. Depende de como a mídia e os usuários de redes sociais representam as crises.É comum desviarmos o nosso olhar de notícias ou postagens nas redes sociais sobre guerra e violência. Afinal, somos constantemente bombardeados com imagens de eventos traumáticos quando estamos online. Esse fenômeno, chamado fadiga por compaixão, provoca uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. E nos tira a capacidade de reagir e ajudar quem precisa. "Senti isso depois da invasão da Ucrânia", disse Jessica Roberts, professora de ciências da comunicação da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Quando ouvi falar das atrocidades pela primeira vez, foi horrível. Mas, depois, quando ouvi sobre [atrocidades em] outra cidade, a minha reação foi menos extrema." A fadiga por compaixão, porém, não precisa ser permanente. Como Susan Sontag escreveu em seu livro Diante da dor dos outros, de 2003, "a compaixão é uma emoção instável, e precisa ser traduzida em ação – ou ela murcha". Então, como podemos transformar a compaixão em ação? A DW encontrou estudos e conversou com especialistas sobre como a compaixão pode tanto se esvair como também ser reconstruída. Fadiga por compaixão e insensibilidade à violência Brad Bushman, um pesquisador de mídia da Ohio State University, nos EUA, conduziu experimentos que ilustram como a violência em mídias como videogames e filmes pode dessensibilizar as respostas das pessoas ao sofrimento ou à violência na vida real. Em um estudo feito por Bushman e seus colegas, um grupo de alunos jogou um videogame violento, e outro grupo, um jogo não violento, ambos por 20 minutos. Após o jogo, todos os 320 participantes foram instruídos a responder um questionário. Porém, durante esse tempo, eles ouviram uma briga no corredor do lado de fora da sala. "Na realidade, era uma gravação de atores profissionais simulando uma briga. Também tínhamos um assistente de pesquisa do lado de fora da sala chutando uma lata de lixo e, depois, gemendo", disse Bushman à DW. Assim, os pesquisadores mediram quanto tempo levou para os participantes ajudarem o assistente que supostamente havia participado de uma briga e gemia do lado de fora: em média, as pessoas que jogaram o jogo não violento levaram 16 segundos; já os que jogaram o jogo violento, 73 segundos. Bushman disse que os participantes que jogaram o jogo violento relataram que a briga era menos séria do que aqueles que jogaram o jogo não violento. Seria simplório concluir que videogames violentos geram violência. Mas, nos experimentos de Bushman, jogos violentos parecem mudar temporariamente as respostas das pessoas à violência no mundo real. "Ver imagens violentas faz com que as pessoas fiquem insensíveis e pensem que a violência não é um grande problema. A consequência no mundo real é que temos uma probabilidade menor de ajudar alguém que é vítima de violência", contou Bushman. Fadiga por compaixão é uma forma de proteção emocional De acordo com Bushman, o mecanismo psicológico subjacente por trás da fadiga por compaixão é a dessensibilização. "É realmente uma espécie de filtragem emocional ou de atenção que nos protege de um sofrimento que se torna estressante ou traumático demais para lidar", disse Bushman. Também é possível detectar a dessensibilização em relação a imagens violentas nas respostas fisiológicas das pessoas ao estresse. "Se medirmos as respostas cardiovasculares ou as ondas cerebrais [usando eletroencefalografia], veremos que as respostas de choque fisiológico a imagens violentas serão atenuadas nas pessoas que acabaram de jogar um videogame violento", disse Bushman. Entretanto, ele argumentou que a dessensibilização à violência e ao trauma pode ser uma estratégia de adaptação importante para profissionais cujo trabalho envolve a exposição frequente a eventos traumáticos, como soldados, trabalhadores humanitários e médicos. O problema surge quando essa dessensibilização é detectada na população "comum". "Essa adaptação é um dos mecanismos que estimulam mais agressão e violência na sociedade", afirmou Bushman, referindo-se a uma pesquisa que mostra como o conflito em Israel e na Palestina intensifica a violência em crianças. Fadiga por compaixão em relação a refugiados Yasmin Aldamen, da Universidade Ibn Haldun, em Istambul, enfatizou os perigos de como a fadiga por compaixão pode levar a uma maior violência e discurso de ódio na sociedade. A pesquisa de Aldamen se concentra no impacto que a fadiga por compaixão e as representações negativas da mídia têm sobre os refugiados sírios na Turquia e na Jordânia. "Descobrimos que destacar imagens e mensagens negativas sobre refugiados na mídia abre as portas para que o público perca a empatia por eles – ou até mesmo tenha ódio pelos refugiados", disse Aldamen à DW. Infelizmente, essas conclusões não são novas ou surpreendentes: a violência contra refugiados e migrantes existe desde que os humanos têm fugido de conflitos para outros lugares. A novidade é a rapidez com que a mídia e as redes sociais podem estimular a fadiga por compaixão e, consequentemente, o discurso de ódio e o racismo. É algo que vemos repetidas vezes, por exemplo, após parte da população fugir da tomada do Afeganistão pelo Talibã, e com os refugiados fugindo da guerra na Ucrânia e das mudanças climáticas no norte da África. "Há evidências mostrando que, após um desastre, as pessoas dão menos dinheiro ao longo do tempo. E isso já está acontecendo com as vítimas do terremoto na Turquia e na Síria", disse Roberts, da Universidade Católica Portuguesa. A fadiga por compaixão é temporária e pode ser revertida A fadiga por compaixão pode ser revertida, de acordo com Roberts e Aldamen. Elas dizem que as pessoas podem reconstruir a capacidade de compaixão ao longo do tempo. "Podemos usar as redes sociais para criar empatia e compaixão entre as pessoas. Em nossa pesquisa, analisamos o [fotoblog e livro de relatos de rua e entrevistas] Humans of New York, que se concentra nas histórias positivas sobre a vida das pessoas, em vez de seus traumas. E isso ajudou a criar grande empatia", contou Roberts à DW. Aldamen tem uma missão semelhante: ela pede aos meios de comunicação e às pessoas nas redes sociais que mudem a forma como representam os refugiados e outras populações vulneráveis. "Meu estudo recomenda reportar a crise dos refugiados sírios [e outras crises] com uma perspectiva mais humanista. Os veículos de mídia precisam exibir algumas das histórias mais positivas sobre a crise dos refugiados, para garantir que o público não sofra a fadiga por compaixão devido à exposição a histórias trágicas", disse Aldamen à DW. Ela também contou que é importante que as notícias incluam chamados à ação de indivíduos ou formuladores de políticas públicas para que os leitores possam ajudar os necessitados, em vez de apenas observar uma crise que acham que não pode ser resolvida. Veja como doar para os esforços de ajuda às vítimas do terremoto na Síria e na Turquia.


Short teaser Indiferença é uma resposta natural à superexposição ao sofrimento, mas é possível reconstruir a empatia.
Author Fred Schwaller
Item URL https://www.dw.com/pt-br/após-um-ano-de-guerra-na-ucrânia-por-que-sofremos-fadiga-por-compaixão/a-64810396?maca=bra-vam-volltext-brasildefato-30219-html-copypaste
Image URL (940 x 411) https://static.dw.com/image/64260087_354.jpg
Image caption Muitas pessoas já não mais se sensibilizam com as imagens do sofrimento na Ucrânia
Image source Andriy Andriyenko/AP Photo/picture alliance
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Item 52
Id 64809638
Date 2023-02-24
Title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
Short title Comissão Europeia proíbe funcionários de utilizarem TikTok
Teaser

Aplicativo chinês de compartilhamento de vídeos representaria risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celulares corporativos "o mais rápido possível", insta o braço executivo da União Europeia.Alegando considerações de cibersegurança, o departamento de tecnologia da informação da Comissão Europeia pediu a todo o quadro de pessoal que desinstale o aplicativo TikTok de seus telefones de serviço, assim como de aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos. Os funcionários do órgão executivo da União Europeia receberam a notificação a respeito via e-mail, na manhã desta quinta-feira (23/02). Dele consta que a desinstalação do app chinês deve se realizar o mais rápido possível, no máximo até 15 de março. Segundo o comissário da UE para Mercados Internos, Thierry Breton: "Estamos extremamente ativos [...] para assegurar a proteção de nossos colegas." Ele mencionou ter conversado com o diretor executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sobre apreensões relativas à privacidade de dados. Em seguida à iniciativa da Comissão, o Conselho da União Europeia anunciou que também banirá de seus telefones de serviço o app de compartilhamento de vídeos. Em resposta, a companhia chinesa argumentou que a proibição se baseia numa ideia equivocada de sua plataforma: "Estamos desapontados com essa decisão, que acreditamos ser mal orientada, baseada em concepções falsas." Pressão por interdição total do TikTok nos EUA Devido a suas conexões com Pequim, já há bastante tempo a empresa-matriz da TikTok, a ByteDance, de propriedade chinesa, é alvo de apelos por seu banimento nos Estados Unidos. O país aprovou em fins de 2022 uma lei proibindo o uso do aplicativo em dispositivos cedidos pelo governo, nos níveis federal e estadual. Em janeiro, o autor do projeto, senador republicano Josh Hawley, requereu a interdição total do TikTok no país, classificando-o como "entrada dos fundos da China para as vidas americanas". "Ele ameaça a privacidade das nossas crianças, assim como sua saúde mental. No mês passado, o Congresso o baniu de todos os aparelhos governamentais. Agora vou introduzir uma legislação para proibi-lo em toda a nação", anunciou no Twitter em 24 de janeiro. Na mesma época, diversas universidades americanas, algumas de grande porte, proibiram a utilização do app de compartilhamento em seus campus, a fim de coibir eventual espionagem por parte da China. TikTok nega ingerência de Pequim Apesar desses antecedentes nos EUA, a Comissão Europeia assegura não ter havido qualquer pressão por parte de Washington para sua decisão de solicitar a desinstalação do app dos celulares corporativos. Em novembro de 2022, o TikTok admitiu ser possível acessar dados pessoais de usuários em todo o mundo a partir de sua sede na China. Mais tarde, foi forçado a reconhecer que funcionários da ByteDance acessaram dados da plataforma de vídeo para rastrear jornalistas, com o fim de identificar fontes de vazamentos de dados para a imprensa. A companhia nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre ela ou acesso a dados. Na Alemanha, na quarta-feira o encarregado de Proteção de Dados, Ulrich Kelber, também reivindicou que o governo em Berlim suspenda a operação de sua presença no Facebook. O motivo seria a página não preencher todos os requisitos de proteção de dados. av/bl (AFP, Reuters, ots)


Short teaser Aplicativo chinês de vídeo representa risco de cibersegurança e deve ser desinstalado dos celelulares corporativos.
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Image source Jakub Porzycki/NurPhoto/picture alliance
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